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1 Perceção do envelhecimento em adultos mais velhos Maria Eugénia Duarte Silva, Joana Henriques Calado, Sara Lourenço, Andreia Marques, Bárbara Tavares, Carlota Sacoto, Diana Junqueira, Isabel Silva, Ismael Yassine e Marta Keong Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa Resumo Na população envelhecida, a saúde e a saúde percebida têm sido referidas como das variáveis mais relevantes na longevidade e no bem-estar. Envelhece-se num meio ecológico e cultural que, a par das experiências individuais decorrentes do curso de vida, moldam perspetivas pessoais sobre o próprio envelhecimento. Essas perspetivas, por sua vez, terão impacto na autoavaliação da saúde. Objetivo: Este estudo visa explorar, em adultos mais velhos, as alterações experienciadas na saúde física, percebidas como resultantes ou não do processo de envelhecimento, e outros aspetos associados à perceção do envelhecimento na sua multidimensionalidade, avaliação de consequências positivas ou negativas e do autocontrolo sobre o processo de envelhecimento, do ponto de vista das consequências positivas ou negativas. Metodologia: Amostra constituída por 328 participantes, ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 60 e os 91 anos (M = 72.81, DP = 7.36). Os participantes responderam a um questionário sócio-demográfico e ao Questionário de Perceções do Envelhecimento (QPE) (Barker, O’Hanlan, McGee, Hickey, & Conroy, 2007), adaptação portuguesa de Claudino (2007). Resultados: Descrevem-se transformações da saúde física, por grupos de idade e por género, e apresenta-se o estudo correlacional entre vários aspetos da perceção do envelhecimento (e.g., consequências positivas e negativas, controlo positivo e negativo) e a avaliação das transformações experienciadas na saúde, evidenciando as diversas associações significativas. Conclusões: Os resultados são discutidos tendo em conta a

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Perceção do envelhecimento em adultos mais velhos

Maria Eugénia Duarte Silva, Joana Henriques Calado, Sara Lourenço, Andreia Marques,

Bárbara Tavares, Carlota Sacoto, Diana Junqueira, Isabel Silva, Ismael Yassine e Marta

Keong

Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa

Resumo

Na população envelhecida, a saúde e a saúde percebida têm sido referidas como das variáveis

mais relevantes na longevidade e no bem-estar. Envelhece-se num meio ecológico e cultural

que, a par das experiências individuais decorrentes do curso de vida, moldam perspetivas

pessoais sobre o próprio envelhecimento. Essas perspetivas, por sua vez, terão impacto na

autoavaliação da saúde. Objetivo: Este estudo visa explorar, em adultos mais velhos, as

alterações experienciadas na saúde física, percebidas como resultantes ou não do processo de

envelhecimento, e outros aspetos associados à perceção do envelhecimento na sua

multidimensionalidade, avaliação de consequências positivas ou negativas e do autocontrolo

sobre o processo de envelhecimento, do ponto de vista das consequências positivas ou

negativas. Metodologia: Amostra constituída por 328 participantes, ambos os sexos, com

idades compreendidas entre os 60 e os 91 anos (M = 72.81, DP = 7.36). Os participantes

responderam a um questionário sócio-demográfico e ao Questionário de Perceções do

Envelhecimento (QPE) (Barker, O’Hanlan, McGee, Hickey, & Conroy, 2007), adaptação

portuguesa de Claudino (2007). Resultados: Descrevem-se transformações da saúde física,

por grupos de idade e por género, e apresenta-se o estudo correlacional entre vários aspetos

da perceção do envelhecimento (e.g., consequências positivas e negativas, controlo positivo e

negativo) e a avaliação das transformações experienciadas na saúde, evidenciando as diversas

associações significativas. Conclusões: Os resultados são discutidos tendo em conta a

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associação entre a saúde percebida e vários aspetos da perceção do envelhecimento,

considerando género, grupos de idade e nível de escolaridade. São apontadas sugestões

interventivas ao nível da autoperceção do envelhecimento.

Palavras chave: adultos mais velhos; saúde; perceção do envelhecimento

O envelhecimento global da população, à escala mundial, tem sido unanimemente

referido como uma realidade incontornável e de consequências variadas (Powell, 2010),

sendo Portugal um país muito envelhecido, com cerca de 19.4% da sua população com 65 ou

mais anos (Instituto Nacional de Estatística, 2011).

Experimenta-se, primeiro que tudo, o envelhecimento no corpo, e daí o ponto de vista

biológico e fisiológico, afetos ao modelo médico, terem contribuído para a predominância

deste modelo sobre outros modelos, no que toca à compreensão do processo de

envelhecimento (Bowling, 2007). As alterações decorrentes da senescência, muitas delas

associadas à idade cronológica, apresentam, com frequência, uma tradução na saúde

experienciada e na saúde autopercebida, com impacto na forma como os indivíduos

concebem e se expressam relativamente às consequências positivas ou negativas do

envelhecimento, ao controlo que exercem sobre as mesmas, e ainda como admitem que as

transformações vão decorrendo, se por etapas ou se paulatinamente. A idade subjetiva e a

negação do envelhecimento estão mais intimamente relacionadas com as atitudes e receios

associados ao próprio processo de envelhecimento do que com as atitudes generalizadas da

população para com os mais velhos. Parece então que, para da além da forma como a

generalidade das pessoas concebem o envelhecimento e a velhice, é a visão do indivíduo

sobre o seu envelhecimento, dentro do seu próprio subjetivismo, que exerce um papel

determinante (Montepare & Lachman, 1989).

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As autoperceções do envelhecimento representam um construto multidimensional que

abrange facetas como a satisfação com o envelhecimento e a idade subjetiva (Kotter-Grühn,

Kleinspehn-Ammerlahn, Gerstorf, & Smith, 2009). De acordo com os autores citados, a

satisfação com o envelhecimento indicia o quanto os indivíduos estão satisfeitos com o seu

próprio envelhecimento e as mudanças relacionadas com o mesmo; e a idade subjetiva

apresenta-se como um termo mais abrangente, no âmbito da autoperceção do

envelhecimento, podendo incluir reflexões e ideias do próprio. Por seu lado, Hummert (1990)

também sublinha a natureza multidimensional das autoperceções do envelhecimento,

acrescentando-lhes uma perspetiva dicotómica, tanto podem ser mais positivas, como mais

negativas.

Outros autores referem que as autoperceções do envelhecimento se poderão constituir

como melhores preditores do funcionamento físico e psicológico do que a idade cronológica

(Montepare & Lachman, 1989). Nesta medida, o envelhecimento seria entendido em termos

da perceção individual e das experiências do próprio indivíduo, moldadas pelas interações

dinâmicas com os sistemas sociais e culturais que enquadram a compreensão do processo de

envelhecimento, à luz do que constitui uma população envelhecida (Demakakos, Gjonca, &

Nazroo, 2007). Enfrentar visões e preconceitos negativos a respeito da velhice e dos mais

velhos não será contudo tarefa fácil, atendendo a que, tal como mencionam Löckenhoff et al.

(2009), os valores e crenças culturais são relevantes nas diferenças verificadas face às

atitudes e perceções do envelhecimento.

À medida que as pessoas envelhecem, o equilíbrio entre ganhos e perdas torna-se cada

vez mais negativo (Baltes, 1987), ainda assim, apesar das muitas mazelas e das perdas

inevitáveis em todos os campos, o envelhecimento pode também apresentar características

positivas, tais como a sabedoria, a maturidade emocional e a capacidade para usar estratégias

pró-ativas capazes de dar maior significado à vida (Oliveira, 2010). A pergunta que se pode

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colocar, tal como o fizeram Kotter-Grühn et al. (2009), é se os muito mais velhos mantêm

uma autoperceção positiva do envelhecimento, mesmo quando estão mais próximos da morte

ou na experiência das vicissitudes associadas à saúde, que a precedem.

A aceitação ou não das mudanças ocorridas, que pode traduzir o medo de envelhecer bem

como a satisfação de vida, estão ligadas às autoperceções de envelhecimento (Montepare &

Lachman, 1989), sendo as autoperceções positivas um bom indicador do desenvolvimento

positivo na velhice, e as autoperceções negativas e pessimistas potenciarem experiências de

stress (Chasteen, 2000). Quando os mais velhos se apercebem do declínio no seu

funcionamento físico e/ou cognitivo podem justificar essas mudanças com o seu

envelhecimento. Esta atribuição mais negativa pode resultar, consequentemente, num

declínio da sua autoperceção do envelhecimento (Kotter-Grühn et al., 2009).

A relação entre as autoperceções do envelhecimento e outras variáveis pertinentes tem

sido muito explorada. Por exemplo, Demakakos et al. (2007) referem que a autoperceção do

envelhecimento é preditiva da sobrevivência e da mortalidade dos adultos mais velhos, tendo

também verificado uma associação entre autoperceção do envelhecimento e várias dimensões

da saúde e do nível de funcionalidade. Numa amostra de idosos, os autores verificaram que

aqueles que se sentiam mais jovens do que a sua idade cronológica, ou que acreditavam que a

meia-idade terminava mais tarde, demonstravam ter, na generalidade, melhores índices de

saúde e sofrer menos de hipertensão e diabetes do que aqueles que não se sentiam mais

jovens do que a sua idade cronológica, ou que acreditavam que a meia-idade terminava mais

cedo. Uma identidade mais jovem e perceções de envelhecimento positivas promovem um

aumento nos recursos psicossociais que, por sua vez, beneficiam a fase mais tardia do ciclo

de vida e a longevidade (Demakakos et al., 2007).

Outros estudos têm demonstrado que uma autoperceção positiva do envelhecimento está

associada a um menor risco de morrer seis, treze ou vinte e três anos após uma avaliação

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inicial (Levy, Slade, Kunkel, & Kasl, 2002; Kotter-Grühn et al., 2009). Deste modo, é

plausível considerar que as autoperceções positivas do envelhecimento estão ligadas a baixos

níveis de ocorrência de morte (Demakakos et al., 2007). Declínios nas autoperceções

positivas do envelhecimento podem, assim, ser interpretados como um declínio na

capacidade geral de aceitar as perdas antes da morte (Baltes & Smith, 2003). Na mesma

ordem de ideias, Levy et al. (2002) referem que autoperceções do envelhecimento positivas

contribuem para um aumento da longevidade. Além disso, níveis elevados e estabilidade nas

autoperceções positivas do envelhecimento constituem indicadores de resiliência e adaptação

com sucesso aos agentes stressores físicos, psicológicos e ambientais, que se manifestam com

o avanço da idade, ao longo do desenvolvimento (Sneed & Whitbourne, cit. por Kotter-Grühn

et al., 2009). Num outro estudo recente, Sargent-Cox et al. (2012) corroboram muito do que

foi referido, concluindo que as autoperceções do envelhecimento mais negativas estão

relacionadas com declínios na saúde e funcionalidade física dos indivíduos de idade avançada

e que, por outro lado, as autoperceções do envelhecimento mais positivas constituem fatores

de proteção contra declínios no funcionamento físico ao longo da velhice. Adultos mais

velhos que apresentam autoperceções do envelhecimento mais negativas acreditam que as

perdas que derivam do envelhecimento serão algo inevitáveis e que estão fora do seu

controlo.

Nesta linha de ideias, as autoperceções do envelhecimento podem estar associadas a (1)

comportamentos que promovem a saúde ou que a colocam em risco, (2) processos

fisiológicos ou psicoimunológicos que contribuem para o surgimento de doenças, (3)

disposições relacionadas com o lidar dos desafios da vida adulta ou (4) exposição diferencial

aos fatores de risco ambientais (Demakakos et al., 2007).

Numa perspetiva de género, Kotter-Grühn et al. (2009) referem que os homens registam

mais autoperceções positivas do envelhecimento do que as mulheres. Assim, é sugerido que

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estes podem envelhecer mais positivamente do que as mulheres, ainda que também vivam

mudanças objetivas ligadas ao envelhecimento, como por exemplo na aparência física.

Barker, O’Hanlon, McGee, Hickey, e Conroy (2007) verificaram igualmente relações

entre as autoperceções do envelhecimento e componentes ligados à saúde psicológica, tais

como satisfação de vida, qualidade de vida, solidão e depressão. A um nível comportamental,

as autoperceções do envelhecimento estão também relacionadas com a adoção de

comportamentos saudáveis e de estratégias de coping adequadas. Estas conclusões são

particularmente relevantes devido ao facto de, desta forma, as perceções e crenças negativas

sobre o envelhecimento serem passíveis de mudança, bem como ser possível explorar

intervenções que promovam a saúde, física e psicológica, na idade adulta avançada.

Como ainda é pouco claro se as perceções de envelhecimento dos idosos refletem uma

visão estável do próprio ou demonstram mudanças que acompanham as transições no curso

de vida, torna-se importante identificar os seus padrões de desenvolvimento (Montepare &

Lachman, 1989).

O presente estudo visa pois explorar, em adultos mais velhos, as alterações

experienciadas na saúde física, percebidas como resultantes ou não do processo de

envelhecimento, e outros aspetos associados à perceção do envelhecimento na sua

multidimensionalidade, avaliação de consequências positivas ou negativas e do autocontrolo

sobre o processo de envelhecimento.

Metodologia

Participantes

A amostra pertencente à população normal, não institucionalizada, dita de conveniência,

recolhida através do método “bola de neve”, é constituída por 328 participantes, 222

participantes do sexo feminino e 106 de sexo masculino, com idades compreendidas entre os

60 e os 91 anos (M = 72.81, DP = 7.36). Os participantes foram divididos por grupos de

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idade, distribuindo-se pelo grupo dos 60-69 anos, 118 indivíduos (36%); pelo grupo dos 70-

79 anos, 152 indivíduos (46.3%); e pelo grupo dos 80 ou mais anos, 58 indivíduos (17.7%).

Relativamente ao estado civil, 14 participantes eram solteiros (4.3%); 211 casados (64.3%);

84 viúvos (25.6%); e 19 divorciados (5.8%). No que diz respeito à escolaridade, 8

participantes eram analfabetos (2.4%); 52 com o ensino primário incompleto (15.9%); 116

com o ensino primário completo (35.4%); 33 com o ensino secundário incompleto (10.1%);

30 com o ensino secundário completo (9.1%); 16 com um curso médio (4.9%); 27 com

frequência do ensino superior (8.2%); e 46 com curso superior (14%).

Instrumentos

Foi aplicado um questionário para recolha de dados sócio-demográficos e psicossociais e

o Questionário de Perceções do Envelhecimento (QPE) (Barker et al., 2007), na adaptação

portuguesa de Claudino (2007). Este questionário compreende 49 itens sob a forma de

afirmações, 32 deles a serem avaliados, numa escala de Likert de 5 pontos (desde o discordo

fortemente, ao concordo fortemente), e distribuídos por 8 escalas distintas: a Identidade que

remete para queixas de saúde (Identidade A, 17 itens) e para a crença sobre a relação entre as

alterações na saúde experienciadas e o próprio envelhecimento (Identidade B), sendo a única

escala com resposta dicotómica de sim ou não; a Duração, para aspetos relacionados com a

experiência do processo de envelhecimentos, se percecionada como crónica e permanente

(Duração Crónica, 5 itens), se percecionada com variações no curso do tempo (Duração

Cíclica, 5 itens); as Consequências, se percecionadas como um impacto positivo, remetendo

para bem-estar subjetivo (Consequências Positivas, 3 itens), se percecionadas como um

impacto negativo, remetendo para baixo bem-estar subjetivo (Consequências Negativas, 5

itens); o Controlo, associado à perceção sobre a gestão do processo de envelhecimento, no

controlo das experiências positivas (Controlo Positivo, 5 itens) e no controlo das experiências

negativas (Controlo Negativo, 4 itens); e as Representações emocionais, dizendo respeito,

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fundamentalmente, a emoções com teor negativo como medo, raiva, tristeza (Representações

Emocionais, 5 itens). O estudo do instrumento revelou uma consistência interna aceitável,

com índices Alfa de Cronbach que oscilaram entre .825 (para as Consequências Negativas) e

.692 (para o Controlo Negativo).

Procedimento

Os participantes foram contactados nas suas casas ou em Centros de Dia, e

disponibilizaram-se para participar, voluntariamente, num estudo alargado sobre o processo

de envelhecimento. Estudantes do mestrado integrado em Psicologia apresentaram o conjunto

de questionários a preencher, de entre os quais fez parte um questionário de dados sócio-

demográficos e psicossociais, e o Questionário de Perceções de Envelhecimento (QPE)

(Barker et al., 2007; Claudino, 2007). A aplicação dos instrumentos foi realizada, na

generalidade, em regime de autoaplicação (as instruções, apresentadas por escrito),

excecionalmente em aplicação oral, no caso dos analfabetos e quando ocorriam dificuldades

de leitura ou de compreensão das frases. Foi garantido aos participantes que qualquer dúvida

seria esclarecida pelo investigador.

Resultados

Apresenta-se no Quadro 1 a estatística descritiva das escalas do Questionário de

Perceções do Envelhecimento (QPE) por género, e no Quadro 2, por grupo de idade.

Quadro 1

QPE: Comparação em Função do Género

Sexo Masculino a Sexo Feminino b

Variáveis M DP M DP

Duração Crónica 3.22 .62 3.14 .69

Duração Cíclica 3.13 .86 3.02 .84

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Conseq. Positivas 3.72 .79 3.71 .74

Conseq. Negativas 3.55 .84 3.50 .78

Controlo Positivo 3.59 .67 3.60 .65

Controlo Negativo 2.64 .76 2.77 .72

Repr. Emocionais 2.95 .92 2.91 .84

Identidade A 7.39 3.64 8.51 3.70

Identidade B 5.50 3.62 5.92 3.97

Nota. N = 328; na = 106; nb

= 222.

Quadro 2

QPE: Comparação em Função da Idade

60-69 a 70-79 b => 80 c

Variáveis M DP M DP M DP

Duração Crónica 3.04 .68 3.22 .65 3.27 .65

Duração Cíclica 2.95 .89 3.16 .80 3.00 .87

Conseq. Positivas 3.79 .69 3.69 .82 3.63 .69

Conseq. Negativas 3.28 .79 3.62 .78 3.71 .74

Controlo Positivo 3.67 .59 3.54 .70 3.61 .66

Controlo Negativo 2.79 .69 2.67 .77 2.76 .72

Repr. Emocionais 2.87 .87 3.01 .85 2.82 .91

Identidade A 7.74 3.93 8.34 3.61 8.48 3.48

Identidade B 4.80 3.74 6.16 3.70 6.79 4.16

Nota. N = 328; na = 118; nb

= 152; nc = 58.

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Apresentam-se no Quadro 3 as frequências das queixas de saúde (associadas à Identidade

A) e, quando ocorridas, a frequência da atribuição dessas queixas ao envelhecimento

(associadas à Identidade B).

Quadro 3

Experiência de Mudanças na Saúde e Atribuição das Mudanças ao Envelhecimento

Mudanças na saúde

Frequência (%)

Experienciou esta mudança Atribui a mudança ao

envelhecimento

Problemas de peso 42.0 38.7

Problemas em dormir 49.1 42.9

Hérnia discal 16.8 38.4

Dores nas articulações 75.6 78.6

Dificuldade movimentar-se 45.1 79.9

Perda do equilíbrio 32.6 67.8

Perda de força 62.2 86.9

Abrandar o ritmo 71.0 84.7

Cãibras 46.3 57.7

Problemas ossos/articulações 74.1 80.2

Problemas de coração 33.5 60.7

Problemas ouvidos/ouvir 43.7 73.5

Alterações olhos/visão 77.1 78.3

Problemas respiratórios 24.2 54.9

Problemas nos pés 42.7 65.8

Depressão 32.5 45.7

Ansiedade 46.9 45.3

Nota. N = 328.

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As queixas de saúde referidas por mais de 50% dos participantes são as dores nas

articulações, a perda de forças, a necessidade de abrandar o ritmo, os problemas nos ossos ou

nas articulações, e os problemas nos olhos ou na visão. Os problemas de peso, os problemas

em dormir, a hérnia discal, a ansiedade e a depressão são os menos vezes referidos como

decorrentes do processo de envelhecimento (por menos de 50% dos participantes que se

queixaram destes problemas).

No Quadro 4 apresentam-se as frequências das queixas de saúde tendo em conta o

género, e nos Quadros 5, 6, e 7, as frequências relativas aos três grupos de idade (Grupo 1,

60-69 anos; Grupo 2, 70-79 anos; Grupo 3, 80 ou mais anos), respetivamente.

Quadro 4

Experiência de Mudanças na Saúde e Atribuição das Mudanças ao Envelhecimento em

Função do Género

Mudanças na saúde

Sexo Masculino a Sexo Feminino b

Frequência (%) Frequência (%)

Experienciou

esta mudança

Atribui a

mudança ao

envelhecimento

Experienciou

esta mudança

Atribui a

mudança ao

envelhecimento

Problemas de peso 30.8 41.0 47.3 37.8

Problemas em dormir 44.3 55.1 51.4 38.0

Hérnia discal 18.9 33.3 15.8 41.3

Dores nas articulações 66.0 80.6 80.2 77.8

Dificuldade movimentar-se 30.2 77.1 45.9 78.7

Perda do equilíbrio 54.7 87.1 33.8 63.9

Perda de força 73.6 89.6 65.86 86.8

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Abrandar o ritmo 41.5 60.9 69.8 82.4

Cãibras 63.2 88.4 48.6 56.4

Problemas ossos/articulações 33.0 53.8 79.3 77.0

Problemas de coração 40.6 75.6 33.8 63.9

Problemas ouvidos/ouvir 78.3 75.9 45.2 72.6

Alterações olhos/visão 35.8 65.9 76.6 79.4

Problemas respiratórios 26.7 57.6 23.0 53.4

Problemas nos pés 35.8 65.9 45.9 65.8

Depressão 27.9 42.4 34.7 47.0

Ansiedade 31.7 43.2 54.1 45.9

Nota. na = 106; nb

= 222.

Comparando as queixas de saúde referidas por homens e mulheres através da estatística

inferencial, verificou-se que queixas de problemas de peso (χ2 (1) = 7.94, p < .01), dores nas

articulações (χ2 (1) = 7.78, p < .01), problemas nos ossos ou articulações (χ2 (1) = 9.65, p <

.01) e ansiedade (χ2 (1) = 14.17, p < .0001) não são independentes do género, sendo as

mulheres quem apresenta mais frequentemente qualquer um destes tipos de queixas. Quanto à

atribuição das queixas de saúde ao envelhecimento, verificou-se que a atribuição dos

problemas em dormir (χ2 (1) = 4.16, p < .05) e dos problemas nos ossos e articulações (χ2 (1)

= 4.09, p < .05) depende do género, sendo as mulheres quem atribui com mais frequência

estas queixas ao envelhecimento. Testando as diferenças na Identidade A (número total de

queixas de saúde referidas) entre os géneros, com recurso ao teste de Mann-Whitney (devido

à distribuição não normal dos resultados), verificaram-se diferenças significativas de

resultados (U = 9664.5, z = -2.63, p < .01), sendo o género masculino o que apresenta menos

queixas (Mdn = 7, na amostra masculina; Mdn = 8, na amostra feminina).

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Não se verificaram correlações significativas das variáveis, Duração Crónica, Duração

Cíclica, Consequências Positivas, Consequências Negativas, Controlo Positivo, Controlo

Negativo e Representações Emocionais com o género.

Quadro 5

Experiência de Mudanças na Saúde e Atribuição das Mudanças ao Envelhecimento, Grupo 1

(60 aos 69 anos)

Mudanças na saúde

Frequência (%)

Experienciou esta mudança Atribui a mudança ao

envelhecimento

Problemas de peso 43.6 37.0

Problemas em dormir 50.8 40.3

Hérnia discal 20.3 37.9

Dores nas articulações 70.3 70.6

Dificuldade movimentar-se 36.4 73.3

Perda do equilíbrio 24.6 62.5

Perda de força 52.5 79.1

Abrandar o ritmo 61.9 74.7

Cãibras 44.9 47.3

Problemas ossos/articulações 66.1 75.6

Problemas de coração 33.1 46.5

Problemas ouvidos/ouvir 34.7 65.9

Alterações olhos/visão 86.4 70.9

Problemas respiratórios 22.0 46.7

Problemas nos pés 42.4 57.4

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Depressão 31.4 36.6

Ansiedade 52.5 22.8

Nota. n = 118.

Quadro 6

Experiência de Mudanças na Saúde e Atribuição das Mudanças ao Envelhecimento, Grupo 2

(70 aos 79 anos)

Mudanças na saúde

Frequência (%)

Experienciou esta mudança Atribui a mudança ao

envelhecimento

Problemas de peso 41.7 33.8

Problemas em dormir 50.7 40.2

Hérnia discal 17.9 36.8

Dores nas articulações 80.3 82.4

Dificuldade movimentar-se 48.7 83.1

Perda do equilíbrio 30.3 64.8

Perda de força 67.1 91.4

Abrandar o ritmo 75.7 90.5

Cãibras 48.0 55.8

Problemas ossos/articulações 79.6 84.0

Problemas de coração 36.2 63.5

Problemas ouvidos/ouvir 42.4 72.9

Alterações olhos /visão 69.7 78.2

Problemas respiratórios 27.6 54.0

Problemas nos pés 43.4 68.0

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Depressão 32.5 43.6

Ansiedade 43.0 51.4

Nota. n = 152.

Quadro 7

Experiência de Mudanças na Saúde e Atribuição das Mudanças ao Envelhecimento, Grupo 3

(80 ou mais anos)

Mudanças na saúde

Frequência (%)

Experienciou esta mudança Atribui a mudança ao

envelhecimento

Problemas de peso 39.7 56.0

Problemas em dormir 41.4 57.7

Hérnia discal 6.9 50.0

Dores nas articulações 74.1 83.3

Dificuldade movimentar-se 53.4 81.3

Perda do equilíbrio 55.2 78.1

Perda de força 69.0 87.8

Abrandar o ritmo 77.6 86.7

Cãibras 44.8 87.5

Problemas ossos/articulações 75.9 77.3

Problemas de coração 27.6 87.5

Problemas ouvidos/ouvir 65.5 83.8

Alterações olhos/visão 77.6 95.6

Problemas respiratórios 19.3 81.8

Problemas nos pés 41.4 76.9

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16

Depressão 35.1 70.0

Ansiedade 45.6 60.0

Nota. n = 58.

A análise das frequências das respostas às mudanças na saúde referidas pelos três grupos

de idade (Quadros 5, 6, 7) evidencia que esses grupos não são homogéneos no que se refere

às dificuldades em movimentar-se (χ2 (2) = 5.99, p < .05), à perda de equilíbrio (χ2 (2) =

17.28, p < .0001), à perda de força (χ2 (2) = 7.37, p < .05), ao abrandar o ritmo (χ2 (2) = 7.61,

p < .05), aos problemas nos ossos ou nas articulações (χ2 (2) = 6.43, p < .05), aos problemas

nos ouvidos ou em ouvir (χ2 (2) = 15.17, p < .001), e às alterações nos olhos ou na visão (χ2

(2) = 10.52, p < .01). Relativamente à atribuição dos seus problemas de saúde ao

envelhecimento, verificou-se a heterogeneidade dos grupos no que se refere ao abrandar o

ritmo (χ2 (2) = 9.01, p < .01) , às cãibras (χ2 (2) = 11.29, p < .01), aos problemas de coração

(χ2 (2) = 8.65, p < .05), às alterações nos olhos e na visão (χ2 (2) = 11.23, p < .01), à

depressão (χ2 (2) = 6.23, p < .05) e à ansiedade (χ2 (2) = 7.27, p < .05).

Comparando os três grupos de idade relativamente ao número total de queixas de saúde

referidas por cada um deles (Quadros 5, 6, 7), não se verificaram diferenças significativas. No

entanto, no que diz respeito à atribuição das mudanças de saúde experimentadas ao processo

de envelhecimento, verificam-se diferenças significativas entre o Grupo 1 (Mdn = 4.5) e o

Grupo 3 (Mdn = 7), com resultados no teste de Mann-Whitney de U = 2429, z = -3.14, p <

.01, e entre o Grupo 1 e o Grupo 2 (Mdn = 6), com resultados de U = 6967.5, z = -3.16, p <

.01.

Exploraram-se as diferenças entre os três grupos de idade no que diz respeito à perceção

do envelhecimento, tendo-se observado que eles se distinguem entre si na Duração Crónica,

H (2) = 5.99, p < .05, e nas Consequências Negativas, H (2) = 19.53, p < .0001. Contudo, ao

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explorar as diferenças entre grupos, dois a dois, através do teste de Mann-Whitney e

aplicando a correção de Bonferroni, só se verificaram diferenças significativas nas

Consequências Negativas, entre o Grupo 1 e o Grupo 3 (U = 2256, z = -3.69, p < .0001), e

entre o Grupo 1 e o Grupo 2 (U = 6583, z = -3.78, p < .0001).

No que diz respeito à relação entre o nível de escolaridade e a perceção do

envelhecimento, verificaram-se correlações significativas entre a Duração Crónica (rs = -.31,

p < .01), Duração Cíclica (rs = -.25, p < .01), Consequências Negativas (rs = -.16, p < .01),

Controlo Negativo (rs = .16, p < .01), Representações Emocionais (rs = -.32, p < .01),

Identidade A – queixas de saúde (rs = -.20, p < .01) e a atribuição dessas queixas ao processo

de envelhecimento - Identidade B (rs = -.27, p < .01).

Discussão

Os resultados mostram que os adultos mais velhos apresentam uma grande diversidade de

queixas de saúde, muitas delas associadas ao processo de senescência (por exemplo as

alterações nos olhos e na visão) mas também dependentes de um estilo de vida sedentário,

fundamentalmente urbano e que se enquadra na cultura ocidental, e que pode ser associado a

pouco exercício físico, como por exemplo as dores nas articulações, dificuldades em

movimentar-se, e problemas de ossos e articulações. Estas queixas do sistema músculo-

esquelético são apontadas como dependentes do processo de envelhecimento e representam

as percentagens mais elevadas nessa atribuição, a par da necessidade de abrandar o ritmo.

A comparação entre homens e mulheres evidencia mais queixas de saúde nas mulheres,

como referido na literatura (e.g., Bowling, 2005), estas relativas ao sistema músculo-

esquelético, ao peso e à ansiedade, queixas essas também comuns na pós-menopausa e

frequentemente associadas a um estilo de vida mais sedentário. Mais uma vez a atribuição de

problemas de saúde ao envelhecimento é uma perspetiva tendencialmente feminina, focando-

se a maior frequência no dormir e nos problemas dos ossos e articulações. Na generalidade

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são também as mulheres as participantes que mais queixas de saúde apresentam, o que

corrobora a literatura. No entanto e curiosamente, os géneros não se distinguem na forma

como concebem o seu processo de envelhecimento, em termos de o percecionarem como

ocorrendo de uma forma crónica e progressiva ou por etapas (duração crónica e duração

cíclica), possibilitando bem-estar subjetivo mas também menor bem-estar (consequências

positivas e negativas), tendo nesse processo controlo sobre experiências positivas e

experiências negativas (controlo positivo e controlo negativo) e vivenciando afetos de teor

negativo (representações emocionais).

Os resultados vão de encontro ao esperado e de acordo com a literatura (e.g., Bond &

Cabrero, 2007; Bowling, 2005), quando se comparam grupos de idade (60-69, 70-79, 80 ou

mais anos). São de novo as queixas relativas ao sistema músculo-esquelético (dificuldade em

movimentar-se, perda de forças, problemas nos ossos e articulações) a necessidade de

abrandar o ritmo, a perda de equilíbrio, e os problemas visuais e auditivos, estes claramente

decorrentes do envelhecimento primário, os que distinguem os grupos. Verifica-se uma

frequência de queixas mais acentuada no grupo etário mais velho, como seria de esperar, com

exceção das queixas de visão que são mais frequentes no grupo mais jovem, muito

provavelmente decorrentes de experiências associadas às exigências adstritas a tarefas que

mais tarde virão a ser, espontaneamente, abandonadas. No que diz respeito à atribuição das

queixas ao processo de envelhecimento, os resultados mostram, na generalidade, que

sintomas mais diversificados (cãibras, problemas de coração, alterações na visão, depressão e

ansiedade) tendem, cada vez mais, a ser atribuídos ao envelhecimento à medida que a idade

aumenta, com a exceção do abrandar o ritmo, em que são os participantes dos 70 anos 79 os

que o atribuem, com mais frequência, a esse processo, provavelmente na sequência de novas

experiências recentemente vivenciadas. Parece interessante assinalar que, pela primeira vez,

sintomas do foro psicológico são associados ao processo do envelhecimento,

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fundamentalmente pelos dois grupos mais velhos. Esta perspetiva dependerá provavelmente

de uma imagem mais negativa da velhice avançada, ou da experiência própria de afetos

negativos a ela associados. Os três grupos de idade não se distinguem significativamente no

número de alterações de saúde que referem, mas sim no número de mudanças na saúde que

atribuem ao processo de envelhecimento. As grandes diferenças situam-se entre o grupo mais

jovem (60 aos 69 anos) e os dois grupos mais velhos, resultado que vai no sentido que será a

partir dos 70 anos que as mudanças autopercebidas na saúde sejam atribuídas à da

senescência.

No que diz respeito aos aspetos diferenciais associados à autoperceção do

envelhecimento, na generalidade os grupos de idade não se distinguem entre si, havendo uma

certa consonância de perspetivas. Contudo verificaram-se diferenças na apreciação das

consequências negativas, realçadas nos grupos de idade mais avançada, possivelmente

associadas às experiências do quotidiano, e também no contexto do que poderá ser esperado

como consequente do envelhecimento primário e secundário.

De entre as variáveis sócio-demográficas, o nível de escolaridade tem sido valorizado no

que toca a múltiplas variáveis afetas à saúde (e.g., Bowling, 2005; Walker, 2005). Os

resultados da amostra em estudo mostram como o grau de instrução dos participantes se

associa à forma como percecionam o envelhecimento. Assim, verificou-se que os

participantes que beneficiaram de mais escolaridade tendem a percecionar o envelhecimento

como menos crónico, com uma evolução menos cíclica, com menos consequências negativas,

com maior possibilidade de controlar as experiências negativas, com menos emoções de teor

negativo, com menos queixas de saúde e com menos atribuição das queixas de saúde ao

próprio processo de envelhecimento.

Conclusão

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Os resultados vão no sentido da revisão da literatura, mostrando uma avaliação da saúde

autopercebida mais positiva nos homens do que nas mulheres, mas uma autoperceção do

envelhecimento semelhante nos dois géneros; diferença nas frequências do tipo de queixas de

saúde e na atribuição dessas queixas ao envelhecimento, consoante o grupo de idade, mas

uma certa estabilidade no número de queixas apresentadas, muito embora a sua atribuição ao

processo de envelhecimento aumente do grupo mais jovem para os grupos mais velhos;

relevância do nível de escolaridade na autoperceção do envelhecimento, sendo essa

perspetiva globalmente mais favorável quando o nível de instrução aumenta. Estes resultados

preconizam a relevância da divulgação de informação fidedigna sobre o processo de

envelhecimento - a educação para a saúde, e da estimulação e prática de estilos de vida

saudáveis (mais exercício físico, por exemplo), a ocorrer no contexto de instituições de saúde

ou de instituições vocacionadas para o apoio a adultos mais velhos. Esta

informação/formação parece ser particularmente relevante para aqueles que tiveram menos

oportunidades educativas no seu curso de vida e/ou para os mais velhos, para que possam

questionar crenças, estimular a proatividade, a promoção do empowerment, possibilitando

uma gestão pessoal mais ampla e informada do seu processo de envelhecimento.

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