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PRETEXTO 2009 | Belo Horizonte | v. 10 | n. 3 | p. 23-35 | jul./set. | ISSN 1517-672 X (Revista impressa) | ISSN 1984-6983 (Revista online) 23 Afonso Carneiro Lima Universidade de São Paulo José Augusto Giesbrecht Silveira Universidade de São Paulo Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: 05 nov. 2008 | Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: 02 set. 2009 | Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Double blind review Universidade FUMEC / FACE. Prof. Dr. Cid Gonçalves Filho | Prof. Dr. Luiz Cláudio Vieira de Oliveira | Prof. Dr. Mário Teixeira Reis Neto PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO RISK PERCEPTION AT INVESTMENT DECISION MAKING RESUMO O trabalho, dentro do campo das finanças comportamentais, teve como objetivo investigar a atitude gerencial em relação ao risco, no âmbito de um grupo de empresas algodoeiras localizadas na região central do Estado do Ceará. A pesquisa qualitativa e exploratória examinou a atitude de gestores quanto ao risco, por meio de um questionário fechado e entrevistas não-estruturadas. Influências psicológicas se evidenciaram de algumas formas: os gestores pesquisados associaram risco a resultados negativos, relativos a eventos, não aplicando a abordagem financeira, em especial a consideração da variância nas medidas de probabilidade de risco; entenderam que informações adicionais seriam irrelevantes no que se refere à mitigação da incerteza e do risco associado à decisão de investimento. A pesquisa revelou que estariam propensos a ignorar tanto dados estatísticos quanto oportunidades promissoras; a partir dessas decisões, interpretam o risco de maneira determinista e, assim, negligenciam decisões que possam se firmar como oportunidades futuras. PALAVRAS-CHAVE Racionalidade financeira. Teoria da Perspectiva. Risco. Inteligência de risco. Empresas algodoeiras.

PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO · PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO ABSTRACT The purpose of this paper, under the theme of behavioral finance, was

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AFONSO CARNEIRO LIMA | | | | | JOSÉ AUGUSTO GIESBRECHT SILVEIRA

Afonso Carneiro LimaUniversidade de São Paulo

José Augusto Giesbrecht SilveiraUniversidade de São Paulo

Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: Data de submissão: 05 nov. 2008 | Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: Data de aprovação: 02 set. 2009 | Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Sistema de avaliação: Double blind reviewUniversidade FUMEC / FACE. Prof. Dr. Cid Gonçalves Filho | Prof. Dr. Luiz Cláudio Vieira de Oliveira | Prof. Dr. Mário Teixeira Reis Neto

PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃODE INVESTIMENTO

RISK PERCEPTION AT INVESTMENT DECISION MAKING

RESUMO

O trabalho, dentro do campo das finanças comportamentais, teve como objetivo investigar a atitudegerencial em relação ao risco, no âmbito de um grupo de empresas algodoeiras localizadas naregião central do Estado do Ceará. A pesquisa qualitativa e exploratória examinou a atitude degestores quanto ao risco, por meio de um questionário fechado e entrevistas não-estruturadas.Influências psicológicas se evidenciaram de algumas formas: os gestores pesquisados associaramrisco a resultados negativos, relativos a eventos, não aplicando a abordagem financeira, em especiala consideração da variância nas medidas de probabilidade de risco; entenderam que informaçõesadicionais seriam irrelevantes no que se refere à mitigação da incerteza e do risco associado àdecisão de investimento. A pesquisa revelou que estariam propensos a ignorar tanto dadosestatísticos quanto oportunidades promissoras; a partir dessas decisões, interpretam o risco demaneira determinista e, assim, negligenciam decisões que possam se firmar como oportunidadesfuturas.

PALAVRAS-CHAVE

Racionalidade financeira. Teoria da Perspectiva. Risco. Inteligência de risco. Empresas algodoeiras.

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

ABSTRACT

The purpose of this paper, under the theme of behavioral finance, was to survey managerial attitudeconcerning risk in a small set of cotton ginning companies in the central region of Ceará State. Thisqualitative and exploratory inquiry used a survey based questionnaire and an interview for datacollection. A few psychological influences were witnessed: the managers surveyed associated riskto negative outcomes concerning events, not using the financial approach based on variance as ameasure of risk probability; neither did they accept information as a source of mitigation of uncertaintyor risk in the investment decision. In this way, one can agree they would be prone to ignorehistorical data and promising opportunities from investment decisions. The investigation pointedthat they interpret risk from a deterministic point of view, neglecting decisions that might lead topromising opportunities.

KEYWORDS

Financial rationality. Prospective theory. Risk. Risk intelligence. Cotton ginners.

INTRODUÇÃO

Segundo Knight (1921, p. 19), o termoincerteza deve estar dissociado da noção de risco.Em se tratando do risco, é importante notar umaspecto essencial: em alguns casos, trata-se deuma quantidade suscetível de mensuração – aindaque, em muitos outros, isso não seja possível. Há,no entanto, diferenças cruciais no tratamentodesse fenômeno, dependendo em qual dos doisestá realmente presente e operante (KNIGHT,1921, p. 19).

A abordagem teórica de finanças em relaçãoao risco e à incerteza (baseada na variância) temcomo pressuposto a racionalidade dos gerentesem considerar todos os resultados possíveis eanalisá-los pelas suas chances de ocorrência(CLEMEN, 1996; KREPS, 2004; GITMAN, 2007).Contudo, essa abordagem geralmente éconsiderada pouco praticada pelos tomadores dedecisão, especialmente porque, no dia-a-dia, cadadecisão leva consigo diversos outros fatores a

serem ponderados, além dos ganhos ou perdasmonetários (KAHNEMAN, 2003; KAHNEMAN;TVERSKY, 1979).

Por vezes, os tomadores de decisão estãoexcessivamente inclinados a encarar os problemascomo únicos, negligenciando tanto estatísticashistóricas quanto múltiplas oportunidades futuras.São, assim, suscetíveis a dois vieses: suasperspectivas ou projeções de eventos futurosestão geralmente ancoradas em planos e cenáriosde sucesso em vez de em resultados passados, eassim, demasiadamente otimistas; ou suasavaliações se baseiam em prospectos arriscadose únicos, negligenciando possibilidades decompartilhamento de riscos mostrando-se, dessaforma, tímidos (KAHNEMAN; LOVALLO, 1993;YATES, 1994, p. 52). Ainda de acordo com essesautores, o equilíbrio desses dois vieses afeta apropensão à aceitação de risco em decisõesindividuais e organizacionais.

Trabalhos realizados em diferentes contextosindicam que gerentes não enxergam a variânciacomo um auxílio na medida de risco; eles não

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selecionam um projeto com o maior resultadoesperado e com menor desvio padrão deresultados, como sugere a teoria econômico-financeira. Em vez disso, há uma tendência de seconcentrarem em análises dos piores resultadospossíveis e olharem para o risco como um conceitoamplo, não representado fielmente por umnúmero gerenciável.

Problema de pesquisa e objetivo

Um dos setores que mais incorpora umcenário de incertezas no Brasil é o da cotonicultura.Embora tenha conseguido reverter sériosimpasses que afetavam sua competitividade nomundo ao longo dos últimos quinze anos – baixaprodutividade e tecnologias deficitárias (GORINI;SIQUEIRA, 1997, p. 148) –, tornando-se uma dasmais desenvolvidas atualmente (GAMEIRO;BALLAMINUT, 2007, p. 46), a cotoniculturabrasileira ainda busca sustentabilidade econômica.Vários são os atores contemplados nesse setor,assim como os caminhos em direção a esse estadodesejado. Por parte dos produtores, um dessescaminhos seria a profissionalização das atividadesligadas à gestão financeira. Em outras palavras, “éfundamental um gerenciamento econômico-financeiro da produção de algodão e de todas asatividades empresariais dos agricultores”(WEDEKIN, 2007, p. 7).

Partindo-se dessa premissa, coloca-se oseguinte problema de pesquisa: “como a variável‘risco do investimento’ é interpretada perantegerentes de empresas ligadas à etapa produtivade beneficiamento de algodão?” Em termosespecíficos, o trabalho tem como objetivoinvestigar a atitude gerencial em relação ao riscono âmbito das empresas dessa natureza,localizadas na região central do Estado do Ceará.Além da conveniência amostral, um fato que vemjustificar a realização da pesquisa é o nãoacompanhamento dessa região frente ao

revigoramento do setor em outras regiões do paísa partir do final da década de 1990.

Na revisão da literatura, o artigo tratainicialmente do paradigma racional em relação aorisco; em seguida, traz contribuições daabordagem psicológica e, por fim, trata do conceitode inteligência de risco (risk intelligence) (APGAR,2006a, 2006b) que insere a competitividade naanálise do risco de investimentos produtivos. Nasegunda parte do trabalho, explora-se ametodologia empregada e, em seguida, osresultados dos questionários são comentados. Naúltima parte, expõem-se algumas conclusões.

Revisão Bibliográfica

O risco segundo a racionalidade financeira

Inerente a toda e qualquer tomada de decisãogerencial, o risco é normalmente percebido comoalgo negativo, indesejável ou a ser evitado. Emtermos gerais, ele vem a ser definido como apossibilidade de perda ou reversão, seja deganhos, seja de vantagens, diferentemente doque se é esperado de uma decisão ou umaatividade (APGAR, 2006a, p. 11). Sob o ponto devista específico da administração financeira, deacordo com Gitman (2007, p. 184),“fundamentalmente, riscoriscoriscoriscorisco é a possibilidade deperda financeira. Os ativos considerados maisarriscados são os que oferecem maiorespossibilidades de perda financeira. [...] Refere-seà variabilidade dos retornos associados a um ativo”.

Várias são as fontes de risco no âmbito daempresa. Uma útil categorização de fontes de risconesse ambiente é fornecida ainda por Gitman(2007, p. 185) através dos quadros 1 e 2. Essesriscos possuem diversos graus de impacto naorganização e seus resultados são sentidos portodos seus stakeholders. Entretanto, os chamadosriscos específicos da empresa – operacional efinanceiro – estão intimamente associados àatividade gerencial.

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

QUADRO 1Riscos específicos da empresa

FONTE: GITMAN, 2007, p. 185.

QUADRO 2Riscos para a empresa e acionistas

FONTE: GITMAN, 2007, p. 185.

O risco, seja analisado sob uma óticaestritamente financeira, seja sob um enfoque maisgeral, possui algumas características que lhe sãofundamentais. Segundo Yates (1994, p. 4), algunselementos críticos para o seu construto são: (a)

perdas potenciais, (b) a importância dessas perdase (c) a incerteza dessas perdas. Ainda segundo oautor, esses elementos são responsáveis pelo graude deterioração do valor que pode trazer umadada alternativa (YATES, 1994, p. 4).

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Resumidamente, acerca do risco, pode-seaveriguar os seguintes questionamentos:

O que pode acontecer?

Qual o impacto desse(s) acontecimento(s)?

Até que ponto ele(s) pode(m) acontecer?

Embora tais questionamentos possamparecer simplórios, suas respostas podem trazervariados graus de complexidade no caso deexigirem análises mais sofisticadas em termos deprospecção.

O primeiro questionamento acarreta umaatividade de prospecção intelectual, tendo-se emvista averiguar quais tipos de perdas podem vir aocorrer. Os dois outros, diferentemente, exigemum exercício mais analítico. A teoria econômico-financeira que trata do risco fornece uma vantagemao trabalhar a previsão de acontecimentos ouresultados com base em mensuraçõesquantitativas da incerteza (BROSS, 1952;CLEMEN, 1996; KREPS, 2004; YATES, 1994).

A teoria da probabilidade fornece um método para se

medir a incerteza. A aplicação dessa teoria aponta para

previsão de sistemas que associam a probabilidade com

cada resultado possível e essa probabilidade pode ser

utilizada para se tomar decisões (BROSS, 1952, p. 53).

Kreps (2004) clarifica a relação quanto aoconhecimento das possíveis consequências deuma decisão e suas respectivas probabilidades.Segundo esse autor, quando as consequências deuma decisão são incertas, mas tais consequênciase suas probabilidades são objetivamenteconhecidas, a situação envolve risco ou incertezaobjetiva; quando os possíveis resultados sãoconhecidos, mas suas probabilidades não sãoobjetivamente conhecidas, a situação passa aenvolver incerteza ou incerteza subjetiva. Equando a lista de possíveis resultados édesconhecida, a situação envolve ambiguidade oucontingências imprevisíveis (KREPS, 2004, p. 366).

As contingências imprevisíveis, ainda segundoesse autor, colocam-se como uma incógnita àmodelagem econômica. No entanto, para o queo autor chama de incerteza subjetiva, é possível,através da modelagem econômica, que o tomadorde decisão atribua probabilidades a diferentesresultados possíveis, e que considereprobabilidades subjetivas precisamente da mesmaforma que probabilidades objetivas, computandovalores esperados com base em estimativas,sejam estas baseadas numa experiência ou numa“noção geral” (KREPS, 2004, p. 377).

Em grande parte das situações que envolvema tomada de decisão em investimentos naempresa, esses julgamentos de probabilidadespodem ser aplicados a situações futuras. Quandoessas probabilidades se fazem disponíveis, pode-se utilizar a abordagem do valor monetárioesperado, onde valor esperado de uma alternativadecisória é a soma dos payoffs com seus devidospesos atribuídos.

A teoria econômico-financeira se utiliza dopressuposto da racionalidade do tomador dedecisão no momento de análise de opções deinvestimento. Essa racionalidade leva em conta apreferência por uma opção que lhe traga amaximização de retornos financeiros, mas aconsideração de diferentes níveis de variância (ourisco) em situações em que diferentes níveis deretorno é possível. Assim, sua escolha dependeráde sua propensão a incorrer o risco.

Para a análise de possíveis opções deinvestimento, de seus respectivos retornos eprobabilidades de ocorrência, a árvore deprobabilidades vem a ser uma útil ferramenta. Sobum foco mais específico, dois métodoscomumente tratados na literatura de finançaspodem ainda ser utilizados para lidar com o riscode um projeto, a partir da captação da variabilidadedas entradas de caixa e dos VPLs: as análises decenário e de sensibilidade.

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

A análise de sensibilidade pode ser usadapara determinar como as mudanças nasprobabilidades ou alterações dos payoffs afetamuma alternativa recomendada (ANDERSON;SWEENEY; WILLIAMS, 2003, p. 636). Sob a óticafinanceira, segundo Gitman (2007, p. 367), aanálise de sensibilidade engloba inúmeros valorespossíveis para certo fator, como as entradas decaixa, por exemplo, em que se avalia o seuimpacto no retorno da empresa, medidogeralmente pelo VPL. A importância dessa técnicasão os parâmetros que ela traz em relação àvariabilidade do retorno, considerando asmudanças no fator analisado. “Uma dasabordagens de sensibilidade mais comum éestimar VPLs associados a estimativas de entradasde caixa pessimistas, mais prováveis e otimistas.Subtraindo-se o resultado pessimista do VPLotimista, determina-se a amplitude provável deresultado” (GITMAN, 2007, p. 367).

A análise de cenário, similarmente à análisede sensibilidade, pode ser caracterizada por umescopo mais amplo.

Ela avalia o impacto sobre o retorno da empresa de

alterações simultâneas de diversas variáveis, como

entradas de caixa, saídas de caixa e custo de capital. [...]

Cada cenário afetará as entradas de caixa, saídas de

caixa e o custo de capital, resultando, portanto, em

diferentes níveis de VPL (GITMAN, 2007, p. 368).

Abordagem psicológica em relação ao risco

Apesar da possibilidade de manipulaçãoobjetiva, o risco inerente a uma decisão não setrata de algo estritamente objetivo. Ao contrário,ele representa uma interação entre a alternativae aquele que tomará o risco para si, o que fazdele um construto subjetivo.

Em se tratando de subjetividade em decisões,a Teoria da Perspectiva em muito vem ajudando acompreender como as pessoas tendem a tomardecisões. Essa teoria, disseminada por Kahneman

e Tversky, caracteriza padrões decomportamentos a partir de duas falhas humanas:a emoção, que em muitos casos destrói oautocontrole, imprescindível à tomada de decisõesracional; e o fato de que as pessoas muitas vezesnão conseguem entender plenamente com o queestão lidando, isto é, apresentam dificuldadescognitivas (BERNSTEIN, 1997, p. 271).

O modelo racional descreve as decisões noâmbito dos negócios como escolhas entre apostascom resultados financeiros e assume que ojulgamento dos gerentes, quanto à probabilidade,segue a teoria bayesiana, e que suas escolhasmaximizam a utilidade ou o bem-estar do decisor.De acordo com esse modelo, os riscos que nãodependem dele são reconhecidos e aceitos, umavez que são compensados pela possibilidade deganhos (KAHNEMAN; LOVALLO, 1993).

A abordagem psicológica referente ao riscovai ao encontro de peculiaridades presentes natomada de decisão gerencial, não tidas como“racionais” e baseia-se no princípio de aversão àperda a partir da decisão tomada. SegundoKahneman e Tversky (1979), esse conceito sugereque a experiência ou heurística é um fatorpreponderante no que diz respeito ao risco natomada de decisão.

Conforme coloca Bernstein (1997, p. 272),

tendemos a ignorar os componentes comuns de um

problema e concentramo-nos em cada parte

isoladamente [...]. Temos dificuldade em reconhecer

quanta informação é suficiente e quanta é excessiva.

Damos atenção demais a eventos de baixa

probabilidade, mas altamente dramatizados, e

negligenciamos eventos de ocorrência rotineira.

Tratamos diferentemente os custos e os prejuízos não-

ressarcidos, embora tenham o mesmo impacto sobre

a riqueza.

Em se tratando de pesquisas que abordamo risco na atividade gerencial, March e Shapira

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(1987) apontam para uma relação dedependência, entre o comportamento do gerenteem relação à propensão ao risco e desempenhosrecentes de decisões passadas; além disso,sugerem que o risco é enxergado pelos executivoscomo um conceito multidimensional, o qual nãopode ser reduzido significativamente a um valorobjetivamente identificado.

A partir desse ponto, verifica-se umadistância entre o que os gestores consideramcomo risco e o tratamento acerca do riscoencontrado na teoria econômico-financeira. Umaoutra pesquisa que ajuda a ilustrar tal ponto é ade MacCrimmon e Wehrung (1990). Essesautores, ao entrevistarem 509 executivos noCanadá e nos Estados Unidos, descobriram queos gerentes tendiam a associar o termo risco àexposição a acidentes ou perdas, e que situaçõesde risco geralmente poderiam ser representadaspor ausência de controle, ausência de informaçãoe falta de tempo.

A partir desses estudos pode-se ter umaideia de que não são poucos os fatores queparecem influenciar o comportamento em relaçãoao risco.

Para decisões importantes no âmbito daempresa, Yates (1994, p. 54), exibe três estratégiasque podem levar a uma identificação eficaz deriscos, minimizando assim os efeitos dasubjetividade. A primeira delas é a sondagem ativa,que consiste numa procura constante, por partedos gerentes, por possíveis perdas ou reveses.Essa estratégia pode exigir várias sessões dediscussão e seus resultados devem ser gravados.A segunda estratégia é a simulação. Considerandoque perdas potenciais não são identificáveis numprimeiro momento, a simulação pode anteciparriscos que muitos podem apenas ter uma noçãoa partir da experiência. A terceira estratégia é aconsulta. A procura por consultoria de profissionaisespecializados, que tenham guardadoexperiências quanto a situações passadas que

envolvam perdas, pode vir a ser um valioso ativono tocante à análise de risco gerencial.

Inteligência de risco

A terceira parte da revisão bibliográficaencerra a discussão sobre o risco inerente à gestãode investimento nas empresas, tratando acercada importância de sua análise como fator decompetitividade sob a visão de Apgar (2006a,2006b). A identificação de riscos potenciais, suasrespectivas mensurações (objetivas ou não), e oreconhecimento de influências comportamentaisna maneira de analisá-los são etapas importantespara um estágio de aprendizado, de maneira atorná-los menos intensos, ou, mesmo,descaracterizá-los como risco. Esse estágio serefere ao conceito de inteligência de risco (APGAR,2006a, 2006b), uma ferramenta a serviço dacompetitividade.

O apelo competitivo a partir da globalizaçãoexige novas maneiras de pensar a organização e,consequentemente, as decisões de seusadministradores. As atitudes dos tomadores dedecisão se mostram essenciais, uma vez que umaprudência excessiva pode levar à perda deoportunidades muitas vezes únicas; por outro lado,a ousadia agressiva pode levar uma grandeestrutura empresarial a grandes perdas. Alémdisso, sob uma ótica estratégica, há o fato de quegerentes podem estar assumindo certos riscos quedeveriam estar evitando e evitando outros quepossam estar sendo assumidos (APGAR, 2006b).

Geralmente, o modelo de priorização demuitos projetos se dá através da medida deretorno potencial ou valor. Entretanto, um modelobaseado no risco tem bastante utilidade na escolhade projetos, considerando o fato de que

Riscos operacionais não são aleatórios, mas

assimilados. Por exemplo, algumas empresas são

capazes de aprender mais do que outras quanto a riscos

de fluxo de trabalho ou processos-chave de negócios,

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

embora o risco ainda possa tornar os resultados de um

projeto imprevisíveis. Mesmo assim, algumas

organizações se dispõem a aprender mais rapidamente

do que outras acerca do que gera o risco. Tais

organizações deveriam buscar uma combinação mais

rica de projetos cujos riscos são mais incorporados do

que projetos que possuam outros tipos de risco que

ela não possua nenhuma vantagem em julgar (APGAR,

2006b).

As vantagens e desvantagens que se têm emjulgar diferentes tipos de riscos, que podem serassimilados, se desdobram no que Apgar (2006a,2006b) chama de inteligência de risco (riskintelligence), que varia de organização paraorganização e, dentro de uma organização, de umtipo de risco para outro. Trata-se, mais ou menos,de uma competência central (core competence)de um indivíduo, time, ou organização. É,geralmente, mais restrita do que a experiência ouinformação, mas mais ampla do que qualquerknow-how prático (APGAR, 2006a, p. 20).

O conceito de risco “assimilável” (learnablerisk), que o autor coloca, é aquele que se podetransformar em menos incerto, dadas asdisponibilidades de tempo e recursos para seaprender mais acerca dele. Por outro lado, riscosaleatórios (random risks) são aqueles queindependentemente de qualquer análise de causaou geração, faz-se menos incerto (APGAR, 2006a,p. 25-26).

Talvez, a ideia mais valiosa que Apgar (2006a,2006b) coloca é a de que

a possibilidade de que essa competência de julgamento

possa determinar o sucesso num projeto arriscado é a

razão para que se deva separar riscos, que possam ser

aprendidos ou assimilados, daqueles que são aleatórios.

Diferentes pessoas e diferentes organizações possuem

diferentes informações e níveis de aptidão em julgar

quaisquer novas classes de risco. Mas isso significa que

algumas pessoas e algumas organizações podem

desenvolver uma vantagem competitiva em julgar esses

riscos (APGAR, 2006a, p. 43).

Metodologia

As cinco empresas pesquisadas possuemfortes similaridades. Todas elas são empresasfamiliares, de pequeno porte, e o papel gerencialestá concentrado numa única pessoa, oproprietário, embora as decisões relacionadas ainvestimentos sejam tomadas envolvendo maismembros da família e de maneira consensual.

A pesquisa utilizou a abordagem qualitativa eenquadra-se como exploratória, já que teve comopropósito um contato inicial com a situação oufenômeno a ser pesquisado, assim comopromover o pesquisador de maior conhecimentosobre o objeto de estudo ou problema depesquisa levantado (GIL, 2006, p. 43;TRIVIÑOS,1987, p. 109).

A coleta de dados se deu a partir de umquestionário estruturado, adaptado a partir deHelliar, Power e Sinclair (2005) e dividido em duasseções, e também a partir de uma entrevista não-estruturada.

Em relação ao questionário, a primeira seçãotratou da percepção do risco a partir de uma escalagradativa. Na segunda seção, procurou-seexaminar o comportamento dos gerentes quantoao risco. Assim, foi-lhes solicitado tomaremdecisões baseadas em cenários de risco associadosa decisões de investimento, levando-se em contaa realidade do setor. Os resultados obtidos naprimeira parte ajudaram a compreender como osgerentes definem risco, assim como identificaraqueles fatores que influenciam suas atitudesquanto ao risco. A segunda parte revelou como arepresentação de um cenário afetaria a decisãotomada por eles.

A entrevista não-estruturada buscoupormenores acerca do “estilo gerencial”, que

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pudessem ser comparados às informações obtidasatravés dos questionários.

Análise dos resultados

O Quadro 3 exibe a pontuação fornecidapelos gerentes em relação a cada quesito em quesuas opiniões são demandadas acerca do risco emalgumas decisões. Para tal fim, foi utilizada umaescala de cinco pontos, com 1 indicando “semrisco” e 5 indicando “muito arriscado”. Apenas umadas dez opções tratadas foi encarada pelosrespondentes como não sendo associada ao risco:para eles, na medida em que a decisão era vistacomo um compromisso pessoal, suas impressõesacerca do risco não seriam influenciadas, isto é,observa-se um ofuscamento do risco pelaautoconfiança. Nos outros itens, há indícios de osgerentes acreditarem que as situações descritasou aumentavam ou diminuíam o risco da decisão.

Os fatores que tiveram pontuação média acimade 3 foram considerados como aumentadores derisco, como por exemplo “quanto maior a diferençaem relação aos resultados (positivos ou negativos)que possam resultar de uma decisão”; “quantomaior a possibilidade de um projeto ficar sujeito aperdas no futuro” e “quanto maior a grandeza dequalquer perda possível resultante de umadecisão”. O primeiro desses fatores está associadoàs considerações acerca do risco, na literaturabaseada no desvio padrão dos resultados.Entretanto, o segundo e o terceiro fator, comrespectivas médias de 3,6 e 4,6, sugerem umaconsistência do ponto de vista dos tomadores dedecisão com comportamentos baseados naaversão à perda, ou em análises de cenáriospessimistas (KAHNEMAN; LOVALLO, 1993),oriunda da definição psicológica do risco.

QUADRO 3Percepção gerencial em situações de risco - resultados

FONTE: Adaptado de Helliar et al. (2005).

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

O Quadro 3 aponta ainda para algumasiniciativas que, ao serem tomadas, poderiamreduzir o risco associado à decisão: obtenção demais informações, quantificação de possíveisresultados, maior controle sobre determinadasituação, o emprego de competências. Todosesses fatores, relativos às cinco empresas,obtiveram média abaixo de três, o que indica queforam percebidos como redutores de risco.

No Quadro 4, referente à segunda partedo questionário, procurou-se investigar se osgerentes consideravam o risco decisório demaneira isolada ou se os consideravamrelacionados. A eles foi solicitado escolher umaopção em duas situações diferentes. Dos cinco,três escolheram a opção A, na primeira decisão;e todos eles optaram pela opção C,na segundadecisão. Uma vez que o par de decisões quefornece um maior valor esperado é a combinaçãode B e C, observa-se que os gerentes tenderama considerar cada decisão isoladamente, nãoencarando a relação entre os payoffs dosproblemas.

QUADRO 4Percepção gerencial em situações de risco

FONTE: Elaborado pelos autores.

As entrevistas revelaram informaçõessignificantes, além de outras semelhantes àquelasevidenciadas através dos questionários. Elastrataram de experiências de investimentopassadas e evidenciaram em maior grau osseguintes aspectos: os gestores entendiam queo compartilhamento de informações com outrosempresários do segmento não se mostrava, emsuas concepções, como fator diminuidor de riscos;

quatro dos gestores explicitaram que informaçõespara a tomada de decisão assim como aquantificação de resultados decisórios não semostravam úteis como diminuidores de risco;todos eles enfatizaram seus esforços pessoais edificuldades superadas em situações em queobtiveram retornos bastante favoráveismonetariamente em projetos realizados.

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AFONSO CARNEIRO LIMA | | | | | JOSÉ AUGUSTO GIESBRECHT SILVEIRA

CONCLUSÕES

O presente trabalho procurou examinar aatitude de gestores quanto ao risco por meio deum questionário e de entrevistas nãoestruturadas.

As influências psicológicas em relação aosgestores das empresas consideradas no estudose evidenciaram de algumas formas. A primeiradelas diz respeito à associação constante do riscoa perdas, mesmo sendo esse risco passível demensuração objetiva. Assim, pode-se afirmar queos gestores estariam propensos a ignorarexperiências passadas, assim como oportunidadespromissoras, em termos de retorno, nas decisõesde investimento. Outro aspecto que merecedestaque é a concepção, por parte dos gestores,de que informações adicionais não teriam efeitorelevante no que se refere à mitigação da incertezae do risco associado à decisão de investimento.Tal observação aponta para uma interpretaçãodeterminista acerca do risco do investimento, demaneira que a tarefa de discriminação das váriasfontes de risco não é considerada e, assim, osgestores negligenciam decisões que possam sefirmar como oportunidades futuras.

Além dessas observações, houve falha por partedos gestores em considerar interdependênciascruciais, assim como dependência a partir de relaçõesnão embasadas. Os gestores associaram risco aresultados negativos associados a eventos, nãoaplicando a abordagem de análise presente na teoriaeconômico-financeira, em especial a consideraçãoda variância nas medidas de probabilidade de risco.

Embora tais aspectos se assemelhem aestudos prévios realizados em outros cenários,como em MacCrimmon e Wehrung (1990) eMarch e Shapira (1987), não se poderia ter umacomparação fiel, dado o número de indivíduospesquisados e seus diferentes perfis. Além disso,um detalhe importante que pode ter influenciadoos resultados seria que, nos casos aquiconsiderados, a figura do gerente se confunde com

a do proprietário da empresa. Mesmo assim, talinvestigação se mostrou pertinente na medida emque evidenciou aspectos relacionados ao estilogerencial em empresas da região e dessesegmento, importantes para a compreensão decertos aspectos ligados à competitividade.

A partir das entrevistas, pode-se concluir que,como principais fontes de risco, os gestoresrelataram impossibilidade de se manterem custosoperacionais sob controle, assim como a não-uniformidade de receitas, ambas ocasionadasparticularmente pela falta de matéria-prima(algodão em caroço) que atenda a certosparâmetros de qualidade específicos. Além dessesriscos, a impossibilidade de saldar obrigações juntoa instituições financeiras se mostrou como umaspecto preocupante por parte dos gestores. Oconceito de risk intelligence (APGAR, 2006a;2006b), nesse sentido, pode vir a ser bastanteútil como direcionador de uma gestão mais ativano que se refere à administração de riscosoperacionais e financeiros (GITMAN, 2007, p.185). A correta identificação deles, assim comosua consideração no processo decisório, podelevar os gestores a agirem no sentido de mitigá-loou eliminá-lo. Nesse caso, sugerem-se ações quepossam garantir tanto a regularidade quanto aconformidade da matéria-prima: a formação deum centro de treinamento e apoio no que serefere a aspectos técnicos de cultivo, manutençãoda lavoura, colheita, armazenagem e logística,voltado especificamente para agricultores e, ou,produtores locais; a instituição de uma agêncialocal de classificação de matéria-prima processada(algodão em pluma) que utilize tecnologiasmodernas de classificação de acordo com padrõesuniversais de qualidade.

Iniciativas como essas, na medida em que vãode encontro a algumas das causas dos riscos,podem ser consideradas fruto de uma “gestãobaseada no risco”. Dessa forma, os riscos sãoidentificados, compreendidos e ações gerenciaissão trabalhadas em torno deles, de maneira que

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PERCEPÇÃO DO RISCO NA DECISÃO DE INVESTIMENTO

os gestores tornem cada vez mais prováveis osresultados em que apostam, ou os retornos queesperam de seus projetos.

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Afonso Carneiro LimaUniversidade de São Paulo

Mestrando em administração pela USP

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José Augusto Giesbrecht SilveiraUniversidade de São Paulo

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