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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO O Processo de Negociação e Decisão de Investimento em uma Empresa de Distribuição de Combustível no Mercado Brasileiro CLÁUDIO FRANCO DE SOUZA ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES Rio de Janeiro, 19 de Fevereiro de 2009

O Processo de Negociação e Decisão de Investimento em uma ...s3.amazonaws.com/.../df/dis_2009_34_-_claudio_franco_de_souza.pdf · o processo de negociaÇÃo e decisÃo de investimento

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

O Processo de Negociação e Decisão de Investimento em uma Empresa de

Distribuição de Combustível no Mercado Brasileiro

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Rio de Janeiro, 19 de Fevereiro de 2009

O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO E DECISÃO DE INVESTIMENTO EM UMA EMPRESA DE DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO

CLAUDIO FRANCO DE SOUZA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES

Rio de Janeiro, 19 de Fevereiro de 2009

O PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO E DECISÃO DE INVESTIMENTO EM UMA

EMPRESA DE DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS NO MERCADO BRASILEIRO

CLAUDIO FRANCO DE SOUZA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES (Orientador) Instituição: Ibmec/RJ _____________________________________________________

PROF. DR. CARLOS FRANCISCO SIMÕES GOMES Instituição: Ibmec/RJ _____________________________________________________

PROF. DR. LUIS ALBERTO DUNCAN RANGEL Instituição: UFF – Volta Redonda

Rio de Janeiro, 19 de Fevereiro de 2009.

FICHA CATALOGRÁFICA

658.152 S729

Souza, Cláudio Franco de. O processo de negociação e decisão de investimento em uma empresa de distribuição de combustíveis no mercado brasileiro / Cláudio Franco de Souza - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2009. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração geral. 1. Decisões de investimento. 2. Mercado de combustíveis. 3. Negociação. 4. Índices financeiros.

v

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa, Ana Paula, pelo seu amor, seu apoio, incentivo e sua infinita paciência durante esta empreitada, que consumiu grande parte do tempo que seria dedicado ao nosso convívio.

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha Mãe. Por tudo. Impossível traduzir em palavras sua falta, impossível

agradecer uma vida de dedicação...

Agradeço à Isabella Van Oppen, por ser a pessoa que é. Sua confiança em mim e em meu

trabalho viabilizaram este curso.

Agradeço à Chevron Brasil e a meus colegas de trabalho.

Ao Prof. Autran pela atenção e orientação durante o curso.

Sem Deus nada existiria.

vii

RESUMO

O presente trabalho pretende descrever a ligação entre negociação e decisão de investimento

via orçamentação de capital em postos de serviço no mercado de distribuição de combustíveis

brasileiro, destacando o impacto dos vieses de comportamento no processo. Baseia-se em uma

empresa distribuidora de combustíveis, que não será identificada, e tem como cenário o

processo de negociação entre os representantes da Empresa e os revendedores, culminando

com a decisão de investimento. Será demonstrada ainda uma ferramenta – o Gráfico de

Qualidade de Decisão - cujo objetivo é avaliar a qualidade de uma decisão, mas que, neste

trabalho, também terá por objetivo identificar vieses de comportamento apresentados pelos

indivíduos envolvidos no processo, incluindo observações de como estes indivíduos,

profissionais experimentados, reagem a experimentos feitos anteriormente com estudantes.

No computo final, as observações feitas confirmaram, salvo algumas exceções que são

comentadas no texto, os resultados de testes de laboratório sobre vieses de comportamento, o

que sugere a necessidade de se implementar uma técnica que identifique os problemas, antes

que afetem os resultados e processos das empresas, seja no que tange à análise de

investimento ou ao processo de negociação. No que diz respeito à análise de investimento e

ao processo de negociação, foi feita uma revisão da literatura de ambos e citados exemplos

que os contextualizam no mercado em questão.

Palavras Chave: Mercado de Combustível. Negociação. Índices Financeiros.

viii

ABSTRACT

The present dissertation aims to describe the link between negotiation and investment

decisions through capital budgeting techniques in service stations in the Brazilian market of

fuel distribution (downstream), highlighting the impact of cognitive biases on the process. It is

based on a major oil company, which is not identified, and has as scenario the negotiations

between the company representatives and its retailers with the subsequent investment

decision. It will also be showed a tool – Decision Quality Spider - whose original target is to

assess the quality of a decision, but in this paper has also the objective of recognizing biases

that are presented by the people involved in the process including observations on how these

individuals, experienced professionals, react when exposed to experiments already performed

with students. These observations ultimately resulted in the confirmation of previous results,

despite some deviations also commented in the text below, which suggests the need for

implementation of a technique capable of identifying problems before they reach the

company’s results or processes, be it either in the investment analysis sector or in the

negotiation process. With respect to the investment decision through capital budgeting

techniques and to the negotiation process, it is also provided a review of the literature of both

items and cited examples that contextualize the literature in the market under study.

Key Words: Downstream. Negotiation. Capital Budgeting.

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Market-Share Sindicom............................................................................................18 Figura 2- Fluxo Simplificado de Atividades ............................................................................24 Figura 3- Ambiente Externo e Ambiente Interno.....................................................................25 Figura 4- Influências sobre Negociadores e Analistas .............................................................29 Figura 5- Margem Total ...........................................................................................................34 Figura 6- Quadro Exemplo Priorização de Projetos.................................................................52 Figura 7- Modelo Analítico e Simplificado de Tomada de Decisão ........................................67 Figura 8- Gráfico de Qualidade de Decisão .............................................................................69 Figura 9- Gráfico de Qualidade de Decisão - Exemplo de Utilização .....................................88

x

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Dados Gerais do Mercado Brasileiro de Combustíveis..........................................11 Tabela 2 – Análise de Alternativas...........................................................................................91 Tabela 3 – Análise de Oferta Revendedor................................................................................92 Tabela 4 – Evolução das vendas de combustível por produto (2000 a 2008) ........................107 Tabela 5 – Variação no Percentual de Participação de Grandes Distribuidora por produto. .108 Tabela 6 – Variação por estado e por ano e percentual por estado entre 2007 e 2006..........109

xi

LISTA DE ABREVIATURAS

AMD Apoio Multicritério à Decisão ou Multiple Criteria Decision Making

ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BATNA Best Alternative for a Negotiated Agreement ou Melhor Alternativa para um

Acordo Negociado

EVA Economic Value Added

FCD Fluxo de Caixa Descontado

KM Quilômetro

NDM Naturalistic Decision-Making

OECD Organisation for Economic Cooperation and Development

Payback Período de Retorno de Investimento

Sindicom Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e

Lubrificantes (www.sindicom.com.br)

xii

TIR Taxa Interna de Retorno

VPL Valor Presente Liquido

WACC: Weighted Average Cost of Capital ou Custo Médio Ponderado de Capital

ZOPA Zone of Possible Agreement ou Zona de Possibilidade de Acordo

xiii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS.......................... ................................................4

3 METODOLOGIA ........................................ ..........................................................8

4 O AMBIENTE DE NEGÓCIOS ............................. .............................................10

4.1 Relações Contratuais ............................................................................................................................ 12

4.2 Análise de Mercado............................................................................................................................... 14 4.2.1 Rivalidade entre os Concorrentes....................................................................................................... 14 4.2.2 Poder de Negociação dos Fornecedores ............................................................................................. 15 4.2.3 Ameaça de Novos Entrantes............................................................................................................... 15 4.2.4 Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos..................................................................................... 16 4.2.5 Poder de Negociação dos Clientes...................................................................................................... 17

4.3 Negociação de Contratos ...................................................................................................................... 18

5 TOMADA DE DECISÃO, NEGOCIAÇÃO E ANÁLISE DE INVESTIM ENTO....23

5.1 Tomada de Decisão e Alternativas....................................................................................................... 23

5.2 Visão Sistêmica...................................................................................................................................... 24 5.2.1 Fluxo de Aprovação de Projetos......................................................................................................... 24 5.2.2 Enfoque Sistêmico.............................................................................................................................. 25 • Meio Ambiente ....................................................................................................................................... 26 • Entradas ou Insumos (recursos) .............................................................................................................. 27 • Saídas (resultados ou produtos)............................................................................................................... 27 • Processos, Subsistemas e Modelos.......................................................................................................... 27

5.3 Decisões em Grupo e Correlação entre Negociação e Decisão .......................................................... 29

5.4 Correlação entre Negociação e Análise de Investimento ................................................................... 30

5.5 Negociação ............................................................................................................................................. 31 5.5.1 Negociação por Princípios.................................................................................................................. 31 5.5.2 Análise de Negociação ....................................................................................................................... 32 5.5.3 A Questão da Obtenção de Informação.............................................................................................. 34

xiv

5.5.4 Governança Corporativa: Questões Éticas e Negociação................................................................... 37

5.6 Análise de Investimento ........................................................................................................................ 38 5.6.1 Fluxo de Caixa Descontado (FCD) .................................................................................................... 39 5.6.2 Outros Métodos de Análise de Investimento...................................................................................... 48

5.7 Captura de Itens Não Financeiros ....................................................................................................... 50 5.7.1 Relação de Itens Qualitativos ............................................................................................................. 53

5.8 Teoria dos Jogos.................................................................................................................................... 57

5.9 Conexão entre Ambiente de Negócios, Negociação e Investimento ............................................... 59

5.10 Satisficing ............................................................................................................................................... 64

6 PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO...................... ...................................66

6.1 A Ferramenta ........................................................................................................................................ 67 6.1.1 Perspectiva Apropriada ...................................................................................................................... 69 6.1.2 Alternativas Criativas e Exeqüíveis.................................................................................................... 70 6.1.3 Informações Significativas e Confiáveis ............................................................................................ 70 6.1.4 Valores Claros e segurança sobre o que está se abrindo mão ou trocando......................................... 70 6.1.5 Argumentação e lógica correta........................................................................................................... 70 6.1.6 Comprometimento para agir............................................................................................................... 71

6.2 Desconfirmando Informações .............................................................................................................. 71

7 QUALIDADE DE DECISÃO E VIÉS DE COMPORTAMENTO ....... ..................73

7.1 Perspectiva Apropriada........................................................................................................................ 74

7.2 Informações Significativas e Confiáveis .............................................................................................. 75

7.3 Argumentação e Lógica Correta.......................................................................................................... 77

8 CASO “ÓLEO I” ...................................... ..........................................................79

8.1 Resumo da Situação .............................................................................................................................. 79

8.2 Análise do Caso ..................................................................................................................................... 83

8.3 Utilizando o Gráfico De Qualidade de Decisão................................................................................... 84 8.3.1 Perspectiva Apropriada ...................................................................................................................... 84 8.3.2 Alternativas Criativas e Exeqüíveis.................................................................................................... 84 8.3.3 Informações Significativas e Confiáveis: ........................................................................................... 85 8.3.4 Valores Claros e Segurança sobre o que se está Abrindo Mão ou Trocando: .................................... 86 8.3.5 Argumentação e Lógica Correta:........................................................................................................ 86 8.3.6 Comprometimento para Agir:............................................................................................................. 87

8.4 Revisando o Caso .................................................................................................................................. 89

8.5 O Novo Posto ......................................................................................................................................... 89

8.6 Análise de Alternativas ......................................................................................................................... 90

9 CONCLUSÕES..................................................................................................94

xv

10 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS............... ....................97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................99

ANEXO A - MERCADO BRASILEIRO DE COMBUSTÍVEIS ....... ..........................107

ANEXO B - HISTÓRICO DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS NO B RASIL ........111

1

1 INTRODUÇÃO

Dados os sucessivos processos de reorganização sofridos pelas empresas nos últimos anos,

principalmente com a evolução da capacidade de processamento de computadores pessoais,

tecnologias de comunicação e internet, as empresas acabaram por eliminar níveis funcionais

diversos, e seus funcionários, principalmente os de grandes corporações, passaram a ter maior

independência de suas gerências diretas e a trabalhar com áreas geograficamente maiores e

mais dispersas.

Por outro lado, no mercado que serve de contexto para este trabalho, ao término de um

contrato, os revendedores têm três possibilidades: (i) renová-lo com a mesma distribuidora,

(ii) mudar de distribuidora, ou (iii) implementar sua própria marca.

Partindo desta condição, todas as renovações de contrato ou novos contratos conseguidos pela

distribuidora demandam um processo de negociação em duas direções: (i) externo, com o

cliente, e (ii) interno, para a aprovação do contrato, normalmente associado a algum

investimento.

Os profissionais que negociam diretamente com os clientes têm, portanto, a capacidade de

influir decisivamente na conclusão de uma negociação e, assim sendo, o objetivo desta

dissertação é fazer uma ponte entre o processo de negociação, com suas técnicas, e a decisão

2

final de investimento. Outra consideração deste trabalho é a questão dos vieses cognitivos de

comportamento, comuns ao ser humano, e, portanto ao dia a dia de qualquer organização,

visto que influenciam diretamente seu resultado em virtude de seu poder sobre o processo

decisório, mais especificamente sobre a qualidade do processo de decisão.

Quando uma empresa, representada por um funcionário encarregado de uma negociação,

identifica uma oportunidade de renovar um contrato antigo ou de negociar um novo contrato

para o qual será necessário, por exemplo, um desembolso de caixa ou aquisição de

equipamentos, além das incertezas inerentes ao processo de investimento propriamente dito,

ainda se fazem presentes os riscos associados ao excesso (ou falta) de cuidado na hora da

negociação, excesso (ou falta) de confiança, preconceito em relação a novas idéias ou idéias

pré-concebidas acerca de um determinado cliente ou ponto de vendas.

O risco proveniente de percepções, preconceitos, ou qualquer tipo de viés de comportamento

apresentado por um profissional dificilmente é medido em termos quantitativos, tornando

subjetiva qualquer avaliação (DAMODARAN, 2003).

Considerando que o fluxo de aprovação de um projeto se origine na identificação de uma

oportunidade que pode estar distante de qualquer um dos atores da decisão (GOMES,

GOMES & ALMEIDA, 2006) e prossegue através de uma negociação entre as partes

envolvidas, conforme destacado acima, qualquer negociador tem o poder, independente de

seu nível hierárquico ou até de sua intenção racional, de recusar ou perder um projeto na sua

raiz ou durante os primeiros estágios de negociação, antes mesmo de percorrido o caminho

necessário até a pessoa com poder efetivo de aprová-lo ou recusá-lo.

3

Tais oportunidades são parte crítica do planejamento e do sucesso de qualquer empresa à

medida que garantem a correta aplicação de seus fluxos de caixa, e, portanto, suas

expectativas futuras de receita.

A identificação destes vieses e a subseqüente colocação deste assunto na pauta da empresa

podem contribuir para:

• Gerar políticas internas, como, por exemplo, de treinamento intenso em negociação e

análise de negociação;

• O desenvolvimento de uma fórmula (filtros e/ou processos) que permita aos

funcionários “desconfirmar” situações (RUSSO, SCHOEMAKER & HITTLEMAN,

2002);

• Conscientizar os funcionários do risco que Simon (1997) denomina “satisficing”, que

seria o ato de procurarem um curso de ação que seja satisfatório ou bom o suficiente

(SIMON, 1997), e se satisfazerem com uma solução rápida e cômoda, mas não

necessariamente a melhor para a empresa em situações complexas como, por

exemplo, impasses surgidos no decorrer de negociações.

4

2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

Neste trabalho serão estudados os processos de negociação e de análise de investimento no

mercado nacional de distribuição de combustíveis. As características deste processo requerem

que sejam feitas dois tipos de análise, sendo (a) o ambiente externo à empresa, composto

pelas relações e negociações com os revendedores e (b) o aspecto interno, que são

negociações dentro das áreas ou departamentos da empresa encarregados dos trâmites e

análises para a aprovação dos projetos.

Projeto, neste contexto, é definido como uma negociação feita com um revendedor e/ou um

terceiro envolvendo um contrato e algum tipo de investimento, conforme será detalhado mais

a frente no texto.

Este mercado merece atenção pelo impacto econômico que causa não somente em nosso país,

mas também em outras nações, especialmente nas que são susceptíveis às variações

internacionais do preço do barril de petróleo ou que não são grandes exportadoras deste

combustível.

Este mercado é importante também pela sua presença em nosso cotidiano, já que parte

expressiva da população, especialmente nos grandes centros urbanos, se utiliza dos serviços

5

de postos de combustível por (i) necessidades profissionais, (ii) por motivos particulares, (iii)

por eventuais dificuldades com o transporte público.

Tal importância justifica o estudo, sendo o link a ser feito com a literatura sobre assuntos,

tanto como a negociação, como a análise de investimento, importante para balizar os

posicionamentos tomados pelos revendedores, assim como pelas empresas distribuidoras de

combustível.

Para adicionar dados objetivos ao exposto acima e demonstrar a relevância do mercado,

recorremos ao sitio na internet do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras

de Combustíveis e Lubrificantes, 2008), onde se encontram os seguintes dados:

“POSTOS DE SERVIÇOS:

• 2,5 bilhões de operações de abastecimento de combustíveis ao ano;

• Faturamento anual de mais de R$ 162 bilhões;

• Arrecadação de tributos na ordem de R$ 52 bilhões/ano;

• Investimentos anuais de R$ 800 milhões;

• Mais de R$ 3 bilhões mobilizados na atividade;

• Gerador de mais de 330 mil empregos diretos e indiretos.”

“LOJAS DE CONVENIÊNCIA:

• Média de 15 transações comerciais realizadas a cada segundo;

• Cerca de R$ 2,2 bilhões de faturamento;

6

• Mais de 500 milhões de transações/ano;

• Geração de mais de 185 mil empregos diretos e indiretos;

• Recolhimento acima de R$ 310 milhões de reais em impostos”

Além dos dados acima, outra característica importante deste mercado é que um lado

(empresas ou revendedores) depende do outro em função de restrições legais, que serão

comentadas posteriormente. Em decorrência disto, surge a necessidade de se negociar para

conseguir os melhores pontos de venda, sob a melhor condição financeira possível,

principalmente após a desregulamentação do mercado efetivada em 2002, após um período de

transição de cinco anos, iniciado em 1997 (Sindicom, 2008).

Considerando a importância tanto do processo de negociação quanto do processo de análise

de investimento para estas empresas, será feita uma conexão entre análise de investimento e o

processo de negociação, sendo que esta ligação se faz importante do ponto de vista do gestor

da empresa, mas não necessariamente da área financeira ou da área de negócios. Também

serão observados vieses cognitivos de comportamento no processo de negociação que afetam

a qualidade deste processo.

No que tange à qualidade, será utilizada a ferramenta “Gráfico de Qualidade de Decisão”

(HOWARD, 2007), a ser explicado no capítulo seis e exemplificado no capitulo oito, que

afere a qualidade de uma decisão já tomada ou a ser tomada. Ao longo da apresentação desta

ferramenta será feita uma associação desta com tipos específicos de vieses de comportamento,

visto que estes têm impacto no processo de negociação e, portanto, na qualidade de uma

decisão a ser tomada.

7

Em conjunto com a explicação sobre o gráfico de qualidade de decisão (HOWARD, 2007),

será feita a exposição do resultado de observações de como negociadores profissionais,

funcionários de uma grande empresa, reagem quando expostos a problemas que exemplificam

tipos de vieses de comportamento.

O nome da firma objeto deste estudo não será divulgado - será doravante denominada

“Empresa” - nem tampouco os resultados completos das observações feitas. Embora, de uma

maneira geral, os resultados tenham sido semelhantes aos reportados nos testes originais,

algumas respostas e comentários, no entanto, divergiram de maneira significativa dos

resultados originais e serão expostas.

As observações supracitadas objetivam responder às seguintes perguntas:

1. Negociadores profissionais estão sujeitos a vieses de comportamento?

2. Negociadores profissionais são susceptíveis a ancoragem?

3. Até que ponto as empresas podem ou devem conviver com vieses de

comportamento?

As respostas a estas perguntas, assim como as observações feitas, certamente não vão esgotar

o assunto, mas poderão contribuir para um melhor entendimento do que se passa com

profissionais, visto que já se conhece os resultados de testes de laboratório (TVERSKY &

KAHNEMAN, 1986) e até intuitivamente observa-se em situações diárias.

O capítulo oito do presente trabalho será voltado para um caso desenvolvido pelo autor com o

objetivo de exemplificar uma situação próxima à realidade, onde a utilização de análise de

negociação, bem como da aplicação da ferramenta, são descritas.

8

3 METODOLOGIA

As questões acima foram respondidas através da observação de como um ou mais grupos de

indivíduos que têm como atividade profissional o desafio de negociar em bases diárias

condições comerciais e, periodicamente, de investimento com os clientes da Empresa

estudada reagem quando expostos a alguns problemas, como os de número cinco e seis que

Tversky e Kahneman (1986) montaram em seus estudos.

As seguintes ações foram tomadas para essas observações:

1. Os participantes foram divididos em grupos, variando de 10 a 15 pessoas, por

critério de equipe (por exemplo: funcionários baseados na Região Norte do

Brasil);

2. Os participantes foram informados no começo das apresentações que por vezes

o nosso cérebro nos confunde e nos leva a erros não racionais, e que não se

trataria de qualquer tipo de avaliação deles como profissionais;

3. A exposição dos problemas foi feita em voz alta para o grupo com o apoio de

slides com a projeção do problema e as respostas, por sua vez, também foram

9

dadas em voz alta, sem qualquer seqüência de indivíduos especialmente

selecionada.

Certamente o formato apresenta uma limitação e, de antemão, foi visualizada a possibilidade

de efeito de pensamento de grupo, ou seja, uma resposta influenciar a próxima. Entretanto,

dadas às limitações enfrentadas pelo autor, este foi o formato adotado. Portanto, mesmo com

algum impacto do viés já citado (pensamento de grupo) foi observado também até que ponto

um indivíduo é capaz de influenciar o grupo, já que na prática são colegas de trabalho.

10

4 O AMBIENTE DE NEGÓCIOS

De acordo com Porter (1999), as principais forças que atuam nos mercados são:

• Poder de negociação dos fornecedores;

• Poder de negociação dos clientes;

• Ameaça de novos entrantes;

• Ameaça de produtos ou serviços substitutos;

• Rivalidade entre os Concorrentes.

Mas o foco deste trabalho é nas relações entre as empresas distribuidoras de combustível e os

revendedores, que são os proprietários ou arrendatários de postos de combustível,

representando o ambiente externo, e a decisão de investimento, que é um aspecto interno da

empresa.

No que tange às distribuidoras de combustível, as empresas associadas ao Sindicom -

Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes

representam 46% da quantidade de postos de combustível, mas seu volume de vendas é de

11

aproximadamente 78% do volume vendido no Brasil (Sindicom A, 2008), o que representa

uma enorme penetração de mercado, aliada, ou mais provavelmente, gerada pela eficiência na

escolha dos postos que elas mantêm sob contrato. Os principais números do mercado estão

resumidos na tabela 1.

A Empresa cujos funcionários foram observados e que não será identificada está entre as

associadas ao Sindicom.

Mercado Fato

Nº Distribuidoras 230

Nº Postos 35.017

Sindicom 7 Empresas*

Postos Sindicom 16.322

Bandeira Branca 15.089

Outras Bandeiras 3.606

Vendas Totais 97.785.715M3

Sindicom Volume 78%

Sindicom Nº Postos 46%

* Shell, Esso, Texaco, Alesat, Ipiranga, BR e Repsol

Tabela 1 – Dados Gerais do Mercado Brasileiro de Combustíveis

Fonte: Sindicom A, 2008 e ANP, 2008

O restante dos postos, aproximadamente 54% da rede de postos de abastecimento no território

nacional, está dividido entre 224 pequenas distribuidoras e postos bandeira branca, que são

definidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP, 2008)

como aqueles que “optaram por não ter a marca comercial de qualquer distribuidor”, embora

devam “identificar, de forma destacada e de fácil visualização pelos consumidores, em cada

bomba abastecedora, o distribuidor fornecedor do respectivo combustível.”

12

4.1 RELAÇÕES CONTRATUAIS

As distribuidoras não são autorizadas a operar postos de combustíveis diretamente

(AMARAL & DELGADO, 2005), e, então, os tipos de contratos entre distribuidoras de

combustível e revendedores giram em função da propriedade do imóvel e do tipo de

comprometimento que as partes desejam.

Deve ser destacado que, uma vez firmado contrato com uma distribuidora, o revendedor

deverá comprar combustível desta com exclusividade (ANP, 2008). Entretanto, um

revendedor pode ter um contrato com uma empresa em um posto e com outra empresa em

outro posto, não havendo restrições com respeito a isso previstas em lei.

Em relação às modalidades de contrato, Amaral e Delgado (2005, p. 4), em uma análise

jurídica sobre a legalidade dos contratos entre distribuidores e revendedores, comentam que

há “obrigações de várias naturezas (compra e venda, comodato, financiamento, uso de

marca).” Isto é equivalente a dizer que seria possível haver um dos contratos abaixo, todos ou

alguma combinação, dependendo da negociação feita entre revendedor e distribuidora:

• Compra e venda de combustíveis;

• Comodato de equipamentos pertencentes à distribuidora;

• Financiamento – Um empréstimo para o Revendedor fazer o investimento necessário

no posto de combustível;

13

Mas, também há a questão da propriedade do imóvel, que não invalida os contratos acima,

mas pode incluir mais algumas variações:

• Imóvel de propriedade da distribuidora.

Neste caso, assina-se um contrato de locação com o revendedor. O revendedor paga

aluguel e compra desta distribuidora o combustível que revenderá.

• Imóvel de propriedade do revendedor.

Neste caso, assina-se um contrato com a distribuidora no qual o revendedor se

compromete a comprar, por um determinado período, daquela distribuidora, cuja

marca caracterizará o posto.

Existem diversas possibilidades de modalidades de investimento, variando de uma

simples pintura no imóvel até contratos de longo prazo - os contratos podem chegar a

10, 15 ou até mesmo 20 anos, embora atualmente estes prazos estejam se reduzindo -

envolvendo valores expressivos, seja via empréstimo de recursos financeiros, compra

e instalação de equipamentos no posto, benfeitorias no imóvel ou mesmo investimento

à fundo perdido, ou seja, um investimento em dinheiro a ser utilizado pelo revendedor

no negócio, seja como capital de giro ou em obras no posto (por exemplo: obras de

adequação às normas de meio-ambiente podem ter um custo expressivo) com a

contrapartida, legal inclusive, da compra exclusiva de combustíveis pela duração do

contrato.

14

• O imóvel pode pertencer a um terceiro, ou seja, não pertencer nem a distribuidora,

nem ao revendedor. Neste caso, a distribuidora ou o revendedor pode assinar um

contrato com o proprietário do imóvel. Havendo também a possibilidade de se fazer

ou não algum tipo de investimento, nos moldes descritos anteriormente.

4.2 ANÁLISE DE MERCADO

Apesar do foco deste trabalho não ser a análise do mercado de combustíveis, mas sim o

processo de negociação e de investimento, entende-se como necessário comentar os principais

movimentos do mercado e fazer uma análise, ainda que superficial, das forças que atuam

sobre ele. Esta análise será feita sob a ótica de Porter (2008).

4.2.1 Rivalidade entre os Concorrentes

O problema mais grave para a indústria é a questão das práticas ilegais, notadamente

clonagem de postos (que é a reprodução dos principais elementos de uma marca conhecida

com uma diferença mínima, que não é perceptível aos olhos do consumidor), adulteração de

combustível, e/ou sonegação de impostos, que dão uma vantagem competitiva brutal, porém

ilegal, a quem as pratica.

No que se refere à competição dentro da legalidade, ou seja, sem adoção de práticas ilícitas,

deve ser estabelecida uma distinção entre a rivalidade na revenda para o consumidor final e a

rivalidade entre as distribuidoras.

No que tange à revenda, deve ser ressaltado que o preço de venda ao consumidor final é livre

e de responsabilidade do revendedor, sendo infrações a este aspecto reguladas pela lei de

formação de cartéis e/ou pelos órgãos de defesa do consumidor.

15

Entre as distribuidoras, os contratos são respeitados, mas há competição acirrada por

participação de mercado que inclui qualidade de serviços, lançamento de produtos,

treinamento de funcionários, programas de qualidade de combustível e campanhas de

marketing.

4.2.2 Poder de Negociação dos Fornecedores

Ao falar-se em fornecedores neste mercado, fala-se de Petrobras, a principal força do

mercado. Conforme seu próprio sítio na internet (www.petrobras.com.br – dentro do tópico:

perfil, área de atuação, abastecimento) diz:

“A Petrobras abastece quase toda a demanda do mercado brasileiro por derivados de

petróleo - cerca de 1.847 mil barris por dia - bpd de petróleo e LGN 370 mil barris de

gás natural”

Por esta afirmação pode-se ver que a Petrobras domina o mercado, deixando espaço apenas

para usinas produtoras de álcool (um não derivado de petróleo), que podem negociar contratos

e vendas de álcool hidratado direto com as distribuidoras.

4.2.3 Ameaça de Novos Entrantes

Em 2007 e 2008, o mercado presenciou um forte movimento de concentração com a entrada

do Grupo Ultra e do Grupo Cosan através de grandes aquisições (vide anexo), além da

compra da rede de postos Repsol pela empresa AleSat Combustíveis (Ale, 2008).

Estas aquisições alteraram o perfil do mercado, já que passou a existir um grande competidor

a menos, pois em 3 anos a marca Texaco será substituída pela marca Ipiranga no sul e sudeste

16

do país e, em 5 anos, nas demais regiões, conforme o acordo entre a empresa Chevron

(proprietária da marca Texaco) e o Grupo Ultra (IPIRANGA, 2008).

Neste novo contexto, a Petrobras Distribuidora passou a ter um rival mais próximo,

representado pelo Grupo Ultra quando computada a sua aquisição da rede de postos Texaco

em 2008, somada à parte adquirida da Ipiranga em 2007.

O Grupo Cosan, que adquiriu a rede de postos Esso em 2008 (Cosan, 2008) e é um grupo

produtor de álcool, mais precisamente o segundo maior do mundo, com produção de 1,57

bilhão de litros (Cosan, 2008), poderá ter uma vantagem competitiva por ter se verticalizado e

produzir um dos produtos que venderá a seus revendedores – álcool.

Ao final do ano de 2008, a empresa AleSat Combustíveis anunciou a aquisição da rede de 327

postos da Repsol, cuja marca será substituída até 2010 (ALESAT, 2009), o que reforça o

processo de consolidação do setor, embora sem o impacto das outras transações.

Dado que estas operações ocorreram em 2007 e 2008 quando, provavelmente, as empresas

ainda estejam se estruturando e aprendendo a lidar com suas novas realidades, deve-se esperar

o ano de 2009 que será crucial para se melhor entender quais serão os passos destas empresas

em termos de estratégia ou posicionamento de mercado.

4.2.4 Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos

Deve ser esclarecido que o “produto” em questão aqui não é o combustível vendido, mas sim

os postos de abastecimento. Neste sentido, não há ainda um produto, ou mais

apropriadamente, serviço substituto para a distribuição, ou para postos de combustíveis, em

17

que pese testes com carros elétricos ou movidos a hidrogênio, os quais caso se efetivem como

realidade, podem, mas não necessariamente farão alterações no local de abastecimento.

4.2.5 Poder de Negociação dos Clientes

Com exceção de situações específicas como a que será vista no capítulo 5, as principais

distribuidoras têm poder na sua relação com os revendedores, haja vista que estes são

inúmeros e pulverizados

No entanto, o posto não é obrigado a se associar a uma bandeira e pode buscar a melhor

condição comercial (por exemplo: preço e prazo) possível no mercado. Sua única obrigação

legal é identificar devidamente nas bombas de abastecimento, de acordo com as disposições

da ANP, a origem, ou seja, qual é o fornecedor daquele combustível (ANP, 2008).

Dado o último ponto acima, Porter (1999, p. 37) em seus comentários sobre “ações

estratégicas”, diz que “uma empresa pode melhorar sua postura estratégica encontrando

fornecedores ou compradores que possuam o menor poder para influenciá-la de forma

adversa”. E prossegue dizendo que “o mais comum é a empresa escolher para quem vai

vender - em outras palavras, seleção de comprador”.

Essa situação se repete no mercado em estudo, pois apesar de, por um lado, não haver uma

variedade efetiva de fornecedores dada à onipresença da Petrobras, por outro lado, a escolha

de compradores, ou seja, revendedores/postos de combustível é crítica. E o que se observa é

uma escolha criteriosa de parceiros feita pelas grandes empresas associadas ao Sindicom,

sendo isso comprovado pelo índice de participação combinada de mercado que é de 78%.

18

Considerando apenas o mercado formado por estas empresas, o chamado “mercado

sindicom”, a participação relativa de cada uma delas em 2007 é ilustrada pela figura 1 abaixo,

extraída do sitio do Sindicom na internet (Sindicom A, 2008).

Certamente, os dados consolidados de 2008 apresentarão uma distribuição diferente.

Figura 1- Market-Share Sindicom

Fonte: Sindicom A, 2008

4.3 NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS

Para atingir a participação de 78% citada anteriormente, faz-se necessário negociar. No

mercado de distribuição de combustíveis, os funcionários (conhecidos como, por exemplo,

vendedores, assessores ou representantes de vendas e aqui neste estudo chamados de

negociadores) das empresas distribuidoras de combustível e os revendedores interagem em

bases diárias para negociar condições comerciais (preços, reajuste de preços, prazos) e

também periodicamente quando do vencimento dos contratos.

19

Este quadro se refere ao que Raiffa, Richardson e Metcalfe (2007, p. 90) denominam de

repetitive game, pois as partes negociam freqüentemente, o que gera preocupação com a

reputação para negociações futuras, e, portanto, barganhas são feitas de forma mais

cooperativa (e honesta) que negociações com pessoas com as quais não se terá mais contato.

De acordo com a Teoria dos Jogos, as negociações de novos contratos ou renovações de

contratos seriam classificadas como “jogos finitos”, visto que se encerram com a decisão de

investimento ou assinatura do contrato, e as negociações diárias sobre condições comerciais

seriam classificados como “jogos infinitos”.

O momento que este trabalho busca analisar é o da negociação ou renegociação dos contratos,

pois nesta ocasião o revendedor tem a possibilidade de receber um investimento da empresa à

qual está ligado ou com a qual está negociando. Estes investimentos envolvem, ou podem

envolver:

• Fundos a serem investidos no negócio;

• Compra de equipamentos específicos para atender a necessidade daquele posto;

• Reformas completas ou reformas em maior/menor grau a serem arcadas pela

distribuidora em troca de um período, também negociável, de contrato.

Ainda neste momento, os concorrentes (outras distribuidoras, pequenas ou grandes) podem

procurar o revendedor com algum tipo de proposta, mas há ainda outra possibilidade, que

seria a de um posto bandeira branca iniciar uma negociação com alguma empresa ou várias ao

mesmo tempo.

20

Observando-se o anexo A, pode ser notado que há variações negativas no market-share das

distribuidoras e, em função destas variações, não seria exagero dizer-se que a vasta maioria

dos funcionários encarregados de negociação ou vendas neste mercado têm como objetivo

principal o aumento de volume de vendas, que é a principal medida de desempenho de um

posto, sendo que em algumas situações a própria manutenção dos níveis correntes já se

revelaria um desafio.

Por outro lado, grandes empresas em geral e, especificamente a estudada, têm seus limites de

investimento estabelecidos por níveis de autoridade, políticas internas e, principalmente,

ganhos mínimos, independente da forma como sejam medidos. Isso gera um limite de

investimento de, no mínimo, o seu custo de capital, mas que pode variar de acordo com o

volume envolvido, ou com a localização do ponto de vendas, já que algumas áreas

geográficas apresentam mais oportunidades de crescimento que outras – vide anexo A para

informações detalhadas sobre variações de volume entre estados, produtos e distribuidoras.

4.3.1 Comunicação entre Distribuidora e Revendedor

Considerando-se as dimensões continentais do Brasil, e levando-se em conta que as principais

empresas têm atuação nacional, devemos também tecer considerações sobre a questão da

comunicação entre empresa e cliente.

Na introdução deste estudo foram destacadas as atuais facilidades de comunicação e

tecnologia, fato este que nos remete a outro ponto que é a pluralidade de canais de

comunicação utilizados no contato entre as partes, visto que pode haver uma distância física

considerável entre eles. Isso se dá devido à dispersão dos postos e seus revendedores por um

lado e, por outro, a base onde estão localizados os negociadores pelo lado da distribuidora, o

21

que pode, ocasionalmente, acarretar em poucas visitas presenciais, ou em um espaço de tempo

considerável entre as visitas.

Esses vazios devem necessariamente ser compensados com outro tipo de contato, e para tanto,

pode-se dispor de chamadas telefônicas, trocas de e-mail, e até de mensagens de texto via

telefone celular, levando-nos a concluir que, intencionalmente ou não, os canais de

comunicação também podem ser considerados canais de negociação. Seja via uma página na

internet, e-mail, telefone fixo ou celular, o fato é que cada vez mais os assuntos são discutidos

e informações são trocadas sem contato visual.

Morris et al (2000) abordam a questão da comunicação durante o processo de negociação. De

acordo com esses autores, se por um lado o e-mail tem a vantagem de colocar ofertas

detalhadas de maneira direta e pensada, por outro, as pessoas ou destinatários podem ler

apenas partes do texto e ignorar pontos importantes, ou palavras chaves, ou ainda, se sentirem

insultadas com algum ponto.

Mas, talvez, o maior problema seja a falta de interação pessoal, ou como dizem, a “conversa

fiada”. Tem-se como exemplo a discussão sobre o jogo de futebol do dia anterior, ou seja,

icebreakers antes de se iniciar a negociação propriamente dita, que se não afetam diretamente

o resultado das negociações ao menos melhoram o convívio, o que torna as reuniões mais

naturais.

Em comunicações telefônicas, esse tipo de interação até pode ocorrer, porém, por telefone,

perde-se a capacidade de se interpretar a linguagem corporal da outra parte envolvida, o que é

uma das vantagens da interação presencial. No caso do e-mail existe também a possibilidade

22

de se manter a comunicação sem interferências e dada à praticidade, à facilidade e à rapidez

deste meio, ele é utilizado pesadamente.

23

5 TOMADA DE DECISÃO, NEGOCIAÇÃO E ANÁLISE DE INVESTIM ENTO

5.1 TOMADA DE DECISÃO E ALTERNATIVAS

Gomes, Gomes e Almeida (2006, p. 1) dizem que, “em sua dimensão mais básica, um

processo de tomada de decisão pode conceber-se como a eleição por parte de um centro

decisor (um indivíduo ou um grupo de indivíduos) da melhor alternativa entre as possíveis.”

No caso em estudo, em princípio não há propriamente uma escolha de alternativas no sentido

de projetos mutuamente excludentes, ou seja, o investimento em um posto não significa

automaticamente excluir investimento em outro, mas sim alternativas entre aceitar-se ou não

um projeto por seus próprios méritos e a decisão de partir para uma renegociação, ou ainda de

aprovar a proposta tal como foi recebida.

No entanto, analisando-se por uma perspectiva mais ampla, há sim uma escolha entre

projetos, à medida que os recursos são finitos e, nesse sentido, todos os projetos disputam

uma verba limitada.

Contudo, o processo de negociação, aprovação, assinatura de contratos, levantamento de

documentos e afins é relativamente longo, possibilitando à Empresa tempo para equacionar

suas prioridades.

24

5.2 VISÃO SISTÊMICA

Neste item será construída uma visão sistêmica dos processos tratados neste trabalho. A

construção desta visão sistêmica será gradativa e começará com a descrição do fluxo de

aprovação de projetos, prosseguindo com o enfoque sistêmico e os cinco elementos que

compõem um sistema, e culminará com um diagrama de influência que retrata as pressões

externas e internas sofridas por negociadores e analistas ao longo do processo.

5.2.1 Fluxo de Aprovação de Projetos

Considera-se neste estudo que o processo de tomada de decisão se inicia pela definição e

divulgação de políticas por parte da alta gerência (também o centro decisor) que visam balizar

e criar os parâmetros para as atividades propriamente ditas, que são as (re) negociações de

contrato, seguidas pela análise do investimento proposto, com suas interações com a área de

negócio e culminando com a aprovação (ou não) do projeto, gerando o fluxo de atividades

descrito na figura 2.

Elaboração e Divulgação de Políticas

(Re)Negociaçãode

Contrato

Análisede

Investimento ou Negociação

Aprovação de Projeto

Elaboração e Divulgação de Políticas

(Re)Negociaçãode

Contrato

Análisede

Investimento ou Negociação

Elaboração e Divulgação de Políticas

(Re)Negociaçãode

Contrato

Análisede

Investimento ou Negociação

Aprovação de Projeto

Figura 2- Fluxo Simplificado de Atividades

25

Analisando-se a figura 2, pode ser observado que a área de análise de investimento está

colocada em paralelo à área de negociação, com uma seta para os dois lados, sugerindo assim

uma interação entre as áreas. Isso representa uma diferença em relação a uma parte da

literatura, especialmente alguns exemplos de casos da área financeira, que tendem a ignorar

aspectos negociais quando da análise de um investimento. A conexão com a fase seguinte,

que é a submissão do projeto para aprovação pelo centro decisor, é feita somente após as áreas

concordarem em fazê-lo.

5.2.2 Enfoque Sistêmico

A análise da figura 2 é a introdução para o delineamento de uma visão sistêmica do processo

de negociação e decisão de investimento tratado neste trabalho. O enfoque sistêmico se faz

necessário, pois o fluxo de aprovação de projetos representa uma seqüência de atividades com

elementos internos e externos (ver figura 3).

Decisão de

Investimento

Ambiente Externo Ambiente Interno

NegociaçãoAnálise:

Negociação ou Investimento

Decisão de

Investimento

Ambiente Externo Ambiente Interno

NegociaçãoAnálise:

Negociação ou Investimento

Figura 3- Ambiente Externo e Ambiente Interno

Para Gomes, Gomes e Almeida (2006, p.11), o enfoque sistêmico “tem como propósito:

a) Identificar a definição, missão e/ou a finalidade do sistema;

26

b) Entender como os elementos do sistema interagem e influenciam-se para a realização

dos objetivos do sistema;

c) Utilizar modelo(s) para auxiliar(em) na identificação do(s) problema(s) correto(s).”

Neste sentido, ainda de acordo com Gomes, Gomes e Almeida (2006, p. 10), poderia ser

citada a seguinte conceituação de sistema: “conjunto de partes (elementos ou subsistemas),

interdependentes, que interagem de modo a atingir determinado fim, de acordo com um plano

ou princípio”.

De acordo com Gomes, Gomes e Almeida (2006, p 13) “um sistema tem cinco elementos”,

que serão apresentados a seguir e já adaptados para o contexto deste trabalho.

• Meio Ambiente

Poderia ser dito que as negociações com os revendedores, por envolverem um fator

externo, que são os próprios revendedores, fazem parte do meio ambiente. Também

poderiam ser incluídas no elemento meio ambiente as políticas e estratégias estabelecidas

pelo centro decisor, pois estas condicionam o funcionamento do sistema, assim como as

negociações internas entre negociadores e analistas que são comentadas neste capitulo 5.

Os vieses de comportamento citados neste trabalho também fazem parte do meio

ambiente, pois são independentes, e são fatores externos.

27

• Entradas ou Insumos (recursos)

Além dos recursos financeiros, pois como já foi visto anteriormente grande parte dos

projetos envolve algum tipo de investimento, os próprios negociadores são recursos do

sistema, pois detém o conhecimento específico de cada caso e conhecem pessoalmente as

partes com as quais estão negociando, detendo inúmeras informações que não

necessariamente são capturadas por outros sistemas.

• Saídas (resultados ou produtos)

De acordo com a definição de Gomes, Gomes e Almeida (2006, p. 13) “são as variáveis

resultantes, output”. O resultado esperado no contexto deste trabalho é uma decisão, que

pode ser (i) a aprovação do projeto, gerando um contrato assinado com o revendedor, ou

(ii) a recusa do projeto, ocasionando o encerramento das negociações. Poderia ter-se

também uma solicitação de renegociação ou revisão dos termos negociados, o que

reiniciaria o ciclo resultando em algum das duas possibilidades já expostas.

• Processos, Subsistemas e Modelos

O processo principal aqui seria a interação entre negociadores e analistas que transcorre

no ambiente interno da Empresa estando, portanto, “sob o controle do sistema” (GOMES,

GOMES & ALMEIDA, 2006, p. 13). Este processo também pode ser visto na seção 5.4

desta dissertação.

28

Controle e Realimentação – feedback

Este item tem como objetivo extrair informações de negociações passadas para melhorar

negociações futuras. No tópico “Itens Qualitativos”, que está incluso na seção 5.7 -

“Captura de Itens Não Financeiros”, há maiores comentários sobre lições aprendidas.

Considerados todos os pontos acima, teríamos a figura 4 abaixo, que contém parte expressiva

dos elementos tratados no trabalho e os resume em um diagrama de influências. Nesta figura

podemos observar:

• O Centro Decisor relacionado às estratégias e políticas, pois ele as elabora;

• O Centro Decisor relacionado ao processo de análise, pois em última análise este

processo gera um projeto que será submetido para sua apreciação e decisão (ver

figura 2);

• Os vieses de comportamento, incluindo-se os escolhidos para este trabalho, que

impactam os negociadores;

• Que negociadores e analistas apesar de discutirem e negociarem o mesmo assunto

sofrem influências distintas na execução de suas atividades, sendo que:

o Os analistas estão mais voltados para o ambiente interno. Por exemplo:

identificação/eliminação de vieses de comportamento, cumprimento de

políticas e estratégias;

29

o Os negociadores são impactados tanto pelo ambiente interno, em função,

por exemplo, de suas metas de venda, como também pelo ambiente

externo, no que tange à relação com os clientes.

Viés de Comportamento

Metasde

Venda

Clientes

Desconfirmar

Analistas

Projetos

Estratégias&

Políticas

Centro Decisor

Ancoragem

Raciocínio Lógico x Intuitivo

Frame

Negociadores

Satisficing

Qualidade de Decisão

Figura 4- Influências sobre Negociadores e Analistas

5.3 DECISÕES EM GRUPO E CORRELAÇÃO ENTRE NEGOCIAÇÃO E DECISÃO

Na figura 4 está implícito que o analista também se preocupa com a questão da negociação e

“empresta” sua capacidade e experiência analítica para este processo que está se

desenvolvendo, estando assim comprometido não somente com os aspectos específicos de sua

área, como por exemplo, cálculo ou análise de índices financeiros, mas também com o

sucesso do projeto como um todo, devendo, portanto, ter responsabilidade sobre os

desdobramentos do negócio.

30

Isto leva à conclusão de que antes de uma submissão para aprovação de um determinado

investimento ou projeto houve a decisão das áreas envolvidas em fazê-lo, o que significa que

existiu uma decisão tomada em grupo.

Moreira (1998, p. 64) comenta que “nas decisões em grupo, o consenso é obrigatório”, mas

consenso não implica em unanimidade, surgindo então a necessidade de se fazer concessões,

o que, por sua vez, acarreta em negociação, sendo esta, de maneira resumida, a dinâmica da

aprovação interna de um projeto.

Em vista de negociações internas, ou seja, com outras áreas da empresa, e externas, com os

revendedores, no contexto em que este trabalho é escrito faz-se necessário estabelecer quais

são as principais práticas de negociação, assim como as de análise de investimento.

No que tange à ligação entre negociação e decisão, Thompson (2005, p. 2) define negociação

da seguinte forma: negociação é um processo de tomada de decisão interpessoal necessário

quando não podemos atingir nossos objetivos por nós mesmos. Moreira (1998, p. 2), por sua

vez, conclui que “o processo da negociação e decisão alimenta-se das divergências entre os

dois lados, para criar as convergências de interesses entre os campos opostos”.

5.4 CORRELAÇÃO ENTRE NEGOCIAÇÃO E ANÁLISE DE INVESTIMENTO

A correlação entre negociação e análise de investimento é crucial para este trabalho, pois

independente do lado estritamente comercial de uma transação, há a questão financeira que

deve e é efetivamente levada em conta no processo decisório, além de aspectos não-

financeiros (que serão discutidos no item “Captura de Itens Não Financeiros”) e mais difíceis

de serem capturados, como a estratégia da empresa, por exemplo. Entretanto, a base de tudo

neste mercado é a negociação feita entre a empresa e o revendedor.

31

5.5 NEGOCIAÇÃO

5.5.1 Negociação por Princípios

Um dos métodos mais populares de negociação é o método de “Negociação por Princípios”

dada a sua aceitação por pessoas, empresas e teóricos do assunto. Este método foi

mundialmente popularizado pelo best seller, Getting to Yes, de Fisher e Ury (1991).

De acordo com esses autores, o método tem por objetivo (i) separar posições dos problemas,

(ii) focar nos interesses das partes, sejam elas quantas forem, (iii) gerar várias possibilidades

antes da decisão do que fazer, e (iv) insistir que o resultado seja baseado em objetivos

definidos (FISHER & URY, 1991).

Sebenius (1992) compara este método com o de Raiffa (1982), classificando esses objetivos

de rules of thumb, ou seja, métodos empíricos, por serem menos analíticos, já que Raiffa

(1982) utiliza, por exemplo, conceitos de Teoria dos Jogos para suas análises.

Leite (2004, p. 127) traduz da seguinte forma o pensamento em relação ao livro, independente

de seu sucesso comercial: “Como principal ponto fraco, tem uma abordagem por vezes

idealista, beirando a ingenuidade, mas ainda assim é recomendado como primeira leitura para

aqueles que estão iniciando seus passos em negociação.”.

Outra crítica ao livro, e também ao método é feita por Bazerman e Neale (1992, p. 1): nosso

trabalho mostra que em muitos casos, nenhum acordo é melhor do que chegar ao sim

(trocadilho com Getting to Yes, o título do livro no original em inglês).

32

5.5.2 Análise de Negociação

Independente do sucesso comercial do livro mencionado acima, na realidade o grande divisor

de águas na literatura sobre negociação foi a obra The Art and Science of Negotiation

(RAIFFA, 1982).

Sebenius (1992) afirma que se trata da primeira síntese completa do ramo de estudo de análise

de negociação, ou como Raiffa, Richardson e Metcalfe (2007, prefácio) disseram: Análise

Para Negociadores.

Outro comentário expressivo é o de Bazerman e Curhan (2000, p. 282): o foco de Raiffa

(1982) em providenciar o melhor conselho para um negociador focal foi o ponto-chave da

virada na pesquisa sobre negociação. Esta frase, escolhida por ser das mais representativas,

carrega alguns pontos interessantes como quando fala em “conselho” e subentende-se ai que

há uma análise e, obviamente, um analista, onde o negociador não é mais visto como um ser

solitário, embora seja ainda o ponto focal.

Esse aspecto se encaixa perfeitamente no contexto aqui apresentado, pois a autoridade do

negociador neste trabalho é limitada pela hierarquia, pela sua área funcional e, num nível mais

amplo, pelo desejo da empresa expresso por suas políticas e não necessariamente pelo que o

negociador propriamente dito considera o melhor para ele. A questão que surge de um

possível conflito entre os objetivos do negociador e os da empresa será vista posteriormente,

ainda no capítulo 5.

Bazerman e Curhan (2000) também comentam que o livro de Raiffa (1982) deixou intocada

algumas questões, principalmente aquelas relacionadas à pesquisa sobre decisões tomadas

com base no comportamento (Behavorial Decision Research). No entanto, há uma questão

33

cronológica a ser considerada, já que os próprios Bazerman e Curhan (2000) citam estudos

dos anos 1970, de Daniel Kahneman e Amos Tversky e anteriores, como os de Herbert Simon

nos anos 1950, incluídos no livro de Raiffa (1982).

Retomando-se o tema da negociação propriamente dita, Luecke (2003) apresenta dois tipos de

negociação: Distributivas e Integrativas, as quais serão detalhadas abaixo:

1. Negociações Distributivas:

Raiffa, Richardson e Metcalfe (2007, p. 97) consideram que negociações distributivas são as

negociações que se preocupam com a divisão de um único bem.

No contexto deste trabalho, podemos dizer que as negociações de preço entre distribuidoras e

postos de gasolina são distributivas, pois tratam da margem da cadeia de negócios que seria a

soma da margem na venda para o posto com a subseqüente revenda para o consumidor final.

Neste caso, há uma margem total (margem da distribuidora somada à margem do revendedor)

que será dividida entre o posto e a empresa, tendendo obviamente a ser muito maior para o

posto, quando analisada caso a caso.

Mas, o que leva à classificação deste tipo de situação como distributiva e a se classificar a

negociação dos termos como uma negociação distributiva é que para uma das partes, seja a

empresa ou o revendedor, aumentar sua participação, significará que a outra parte

necessariamente deverá ceder espaço, abrindo mão de parte da sua margem. A figura 5 abaixo

ilustra a descrição acima, mas não busca reproduzir qualquer situação real.

34

Figura 5- Margem Total

Nota: Este exemplo descarta o impacto de ações tomadas pela concorrência e supõe um

momento de estabilidade de preços, sendo este comentário necessário em função da

característica dinâmica do mercado em questão.

2. Negociações Integrativas:

Ainda de acordo com Raiffa, Richardson e Metcalfe (2007), as negociações integrativas são

aquelas em que as partes somam capacidades e recursos para gerar maior valor, o que parece

ser o caso das negociações ou renovações de contrato no caso dos postos de gasolina.

Murnighan et al (1999) ressalva que são raros os extremos, ou seja, os casos de negociações

estruturadas com características puramente integrativas ou puramente distributivas.

5.5.3 A Questão da Obtenção de Informação

As expressões a seguir, com as definições de Thompson (2005, p. 41 e 78), foram criadas para

representar os pontos críticos da negociação e são vastamente utilizadas na literatura.

Margem Total = Margem Distribuidora + Margem Revendedor

Margem da Distribuidora Margem do Revendedor

Margem Total = Margem Distribuidora + Margem Revendedor

35

Batna (Melhor Alternativa para um Acordo Negociado ou Best Alternative to a Negotiated

Agreement): É definido como as alternativas que um negociador tem fora da negociação em

que está envolvido.

Ponto de Reserva: É a quantificação do Batna de um negociador.

Zopa: (Zone of Possible Agreement ou Zona de Possibilidade de Acordo): É a região entre o

ponto de reserva de cada uma das partes.

Alguns autores também comentam sobre a importância de se pesquisar sobre o batna e o

ponto de reserva da outra parte (THOMPSON, 2005), o que implica em se conseguir

informação, e sobre este aspecto Bernstein (1996, p. 202) diz que:

“A informação de que você dispõe não é a informação que você deseja.

A informação que você deseja não é a informação que você necessita.

A informação que você necessita não é a informação que você consegue obter.

A informação que você consegue obter custa mais do que você deseja pagar.”

Seria possível ainda acrescentar que a fonte da informação pode ser perfeita sob o ponto de

vista da sua qualidade, mas inviável do ponto de vista ético ou legal. Portanto, pesquisar e

conseguir informação não são tarefas simples, nem em negociação e nem tampouco em

análise de investimento.

Porém, além de se ter que lidar com a incerteza, tem-se ainda que considerar o custo para se

conseguir uma informação, o que sugere que esse custo deva ser comparado com o resultado

36

final da operação de modo a se ter uma atitude racional. Mas, e mais importante ainda, as

atitudes devem ser éticas e devem se manter dentro de limites legais.

Outro aspecto amplamente defendido na teoria e em pesquisas sobre negociação é em relação

à troca ou ao compartilhar de informações e preferências, já que nem sempre os interesses das

partes são antagônicos.

Um revendedor, por exemplo, pode precisar fazer uma pintura no posto e o representante da

empresa pode estar preocupado com um banheiro que está sempre fora das melhores

condições de manutenção (ambas preocupações recorrentes neste mercado). Nesse contexto,

pequenas concessões podem surgir como gestos de boa vontade e acabam por “aumentar o

bolo”, ou seja, as vendas do posto, o que atende ao interesse das partes (empresa e

revendedor).

No entanto, à medida que uma das partes resolve partir para a revelação de preferências,

prosseguindo para um nível mais significativo, como por exemplo, a revelação de seu batna

ou do seu ponto de reserva, deve-se levar em conta que, conforme exposto por Sebenius

(1992), a melhor resposta para o outro lado, sob o ponto de vista de negociação, é não expor

as suas próprias preferências. Cria-se assim o que ele chama de Dilema do Negociador, uma

analogia ao Dilema do Prisioneiro, que, por sua vez, é uma referência à Teoria dos Jogos,

brevemente comentada no item 5.8.

Murnighan et al (1999) descrevem situação semelhante, mas a denominam “Dilema da

Informação” citando duas pesquisas nas quais, em ambos os casos, negociadores mais

experientes levaram vantagem quando ambas as partes disponibilizam informações sobre suas

preferências, em um contexto em que havia grandes incentivos em jogo.

37

5.5.4 Governança Corporativa: Questões Éticas e Negociação

Visto que este trabalho trata de negociação, análise e decisão de investimento que totalizam

milhões de reais por ano (Sindicom A, 2008), torna-se necessário comentar sobre como estas

atividades são ou poderiam ser reguladas dentro da empresa.

De acordo com a Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) apud

Arjoon (2005), Governança Corporativa é:

O sistema pelo qual corporações são dirigidas e controladas. A estrutura de

Governança Corporativa especifica a distribuição de direitos e responsabilidades

entre diferentes participantes em uma organização, como o board, gerentes,

acionistas, e outros stakeholders, e cria regras e procedimentos para a tomada de

decisão em assuntos corporativos. Através disso, também provê a estrutura pela

qual os objetivos da empresa serão estabelecidos, e os meios para atingir esses

objetivos, assim como do monitoramento do desempenho.

O aspecto aqui focado é mais a questão ética e menos a questão legal no processo de

negociação, com repercussão tanto no âmbito interno da empresa, como no externo, no que

tange ao relacionamento com os clientes.

Alguns dos possíveis desdobramentos legais são discutidos em outras partes do texto, ao

mencionar-se órgãos de defesa do consumidor, ou a lei de formação de cartel, por exemplo.

Nem todas as ações podem ser qualificadas como ilegais, mas nem por isso podem ser

consideradas éticas. Por exemplo, não se poderia qualificar como ilegal o fato de um

negociador dar indícios ou deixar subentendido, porém não explícito, que seguirá um

38

determinado curso de ação que seria vantajoso para a outra parte, pois ele sempre pode alegar

uma mudança de orientação prevendo uma recusa futura pelas instâncias superiores. O que

está em questão é o aspecto ético desta atitude.

Arjoon (2005) diz que ações legais nem sempre ajudam a recuperar ou construir a confiança

perdida e diz também que, em diversos setores da sociedade, dilemas éticos são resolvidos

com base em reflexão pessoal ou valores próprios do tomador de decisão, que não

necessariamente sempre fazem parte da alta gerência das empresas.

Talvez, a solução para dilemas deste tipo seja a conscientização dos indivíduos sobre o

assunto, e a criação, efetivação e cobrança de utilização de mecanismos de governança

corporativa, conforme citados na definição acima.

No entanto, no que tange à relação entre os envolvidos em uma negociação quando não se

pode impingir ao outro uma atitude deste tipo, cada um deve se preocupar com seu próprio

comportamento e desenvolver mecanismos próprios para evitar prejuízos na negociação em

andamento e, conseqüentemente, nos resultados da empresa em nível mais macro, sem serem

considerados aqui os aspectos morais da situação.

5.6 ANÁLISE DE INVESTIMENTO

Utiliza-se aqui como metodologia de análise de investimento, e fator preponderante para a

tomada de decisão, o método de fluxo de caixa descontado, por (i) ser o método mais popular

de estudo de retorno entre grandes empresas, o que é comprovado pelos estudos expostos

abaixo, (ii) por ser a forma como a empresa em questão faz suas análises; e (iii) porque o

conceito de valor do dinheiro no tempo é amplamente aceito tanto por teóricos como por

39

executivos, independente de críticas aos índices gerados por este tipo de cálculo, resumidas

mais adiante.

5.6.1 Fluxo de Caixa Descontado (FCD)

De acordo com a definição de Damodaran (2003, p.11), o método de fluxo de caixa

descontado “relaciona o valor de um ativo ao valor presente dos fluxos de caixa futuros

esperados relativos àquele ativo.”,

Aplicando-se a definição acima ao trabalho aqui realizado equivale dizer que as expectativas

de venda futura de um posto de combustível com o qual a empresa está negociando e com a

qual pode vir a fazer algum investimento, descontada por uma taxa que reflita o custo de

capital da empresa menos o investimento a ser feito pela empresa, tem que gerar no mínimo:

• Valor Presente Líquido (VPL) superior a zero;

• Índice de lucratividade maior que 1;

• Taxa interna de retorno (TIR) maior que o próprio custo de capital

• Prazo de payback inferior a vida útil do projeto.

ESTUDOS SOBRE O FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

Desde os anos 1960 são feitas pesquisas regulares sobre qual a forma que as Empresas

utilizam para analisar seus investimentos, qual a ferramenta de orçamentação de capital

favorita para elas e como é feita a estimativa do seu custo de capital.

40

Esses estudos consistem em se enviar um questionário para as empresas listadas na Fortune

1000, comparar qual a técnica mais utilizada (VPL, TIR, Payback, Índice de Lucratividade,

entre outras) e fazer uma análise estatística completa das respostas, cuja média histórica fica

em 20,5% (RYAN & RYAN, 2002).

Dentre estes estudos, o mais completo e recente é o de Ryan e Ryan (2002), que sumariza

todos os anteriores e aponta que, naquela ocasião - 2002, o VPL chegava a ser utilizado em

96% dos casos e a taxa interna de retorno em 92,1% das empresas.

Além do estudo de Ryan e Ryan (2002) que contou com 205 respostas, há também um mais

recente de Block (2005), que contou com 302 empresas. Este último é igualmente completo,

embora com foco diferente, e o autor diz que o fluxo de caixa descontado (baseado em VPL e

TIR) é quase universal (BLOCK, 2005, p. 60) e que nos anos 70 e 80 eram utilizados por 60%

a 80% das empresas respondentes (BLOCK, 2005). O estudo de Shall, Sundem, Geijsbeek

Junior (1978) falava em até 86% nos anos 70.

Por outro lado, Chen (2008) considera surpreendente que os estudos acima ignorem a

utilização de ferramentas não financeiras para decisão de investimento, apesar de já haver

críticas identificando este ponto na literatura sobre o assunto.

Chen (2008, p. 15) também comenta que firmas operando em mercados estáveis, com um

número limitado de produtos, relacionamentos simples e poucas oportunidades de

crescimento estão mais inclinadas a utilizar os índices gerados pelo FCD por os considerarem

mais úteis em função da capacidade de estimar os parâmetros.

41

Aplicando esta última frase ao mercado brasileiro de combustível, temos algumas

similaridades, pois:

• Há, na prática, um grande fornecedor para as empresas – Petrobras.

• Os produtos, ou seja, combustíveis vendidos em um posto são poucos: óleo diesel,

gasolina comum ou aditivada, álcool e gás natural;

• Para um crescimento expressivo e rápido é necessária a aquisição de outras empresas,

o que sucedeu recentemente (vide anexo B).

PRINCIPAIS CRÍTICAS

As principais críticas a este método se dividem em relação a: (i) os índices gerados, e (ii) o

método em si.

1. Críticas aos índices gerados:

No que tange aos índices normalmente gerados (VPL, TIR, Payback descontado, e Índice de

Lucratividade), apesar de sedimentados na cultura das empresas, de todo seu apelo intuitivo e

de na prática serem utilizados em conjunto (RYAN & RYAN, 2002), os comentários são de

que:

Valor Presente Liquido (VPL):

Apesar do conceito do valor do dinheiro no tempo estar mais do que estabelecido e ser

amplamente aceito tanto no meio acadêmico como no meio empresarial, o VPL, o favorito

dos acadêmicos e também das empresas (RYAN & RYAN, 2002), retorna valores

42

absolutos, ou seja, trata de maneira uniforme de todos os projetos sem levar em conta o

tamanho ou a relevância do investimento a ser feito, mas unicamente a riqueza gerada.

Exemplificando: supondo que tenhamos o mesmo VPL para dois postos de gasolina com

performance e características diferenciadas, porém um dos postos precisa passar por

reformas que requerem um investimento de $2 milhões, e o outro precisa passar por

reformas mais simples demandando um investimento de $700 mil. No caso de ser

necessário fazer escolhas que maximizem e/ou priorizem recursos e aplicá-las a este

exemplo, seria óbvio que o projeto que requer menor investimento levaria vantagem em

relação ao de maior investimento. O VPL quando analisado isoladamente não é capaz de

apontar isso. Obviamente, este exemplo se restringe ao tamanho do investimento.

Payback (prazo de retorno de investimento):

Segundo Brealey, Myers e Marcus (2002, p.180),

“talvez os gerentes prefiram projetos com retornos rápidos mesmo

quando esses têm VPL mais baixos porque eles acreditam que lucros

mais rápidos significam promoções mais rápidas”.

Nesta afirmativa já está implícita a principal crítica ao payback que é a de capturar os

fluxos de caixa somente até o momento em que acontece, deixando um período de tempo,

que pode ser significativo, fora de seus cálculos. Mas ainda há mais criticas:

• De que considera igual dois projetos que tenham o mesmo prazo de payback,

independe do valor (VPL) que agregam para a Empresa (BREALEY, MYERS &

MARCUS, 2002);

43

• De que tende a criar um viés na empresa por aceitar projetos de retorno mais rápidos

em detrimento a projetos de longo prazo (BREALEY, MYERS & MARCUS, 2002).

Neste ponto, pode-se argumentar que, caso dois projetos retornem o mesmo prazo de

payback, o escolhido seria o de vida útil mais longa, mas a réplica seria que, assim

como no exemplo do VPL, ele isoladamente não identificaria este ponto.

• De que ignora o valor do dinheiro no tempo (BOYLE & GUTHRIE, 2006). Esta

terceira crítica se refere à metodologia de cálculo, muito popular no passado (RYAN

& RYAN, 2002), que não leva em conta o valor do dinheiro no tempo. Essa situação é

contornada com o cálculo do payback descontado, que leva em conta o desconto pelo

custo de capital. Mas isso não resolve o problema principal que é não considerar os

fluxos de caixa após a data em que acontece.

Taxa Interna de Retorno (TIR):

A TIR desperta polêmica. Tanto sobre qual a técnica melhor (VPL ou TIR) como base

para decisão de investimento, quanto sobre a questão do re-investimento dos fluxos de

caixa intermediários.

Uma corrente expressiva de acadêmicos considera que uma vez tendo-se uma taxa interna

de retorno de um projeto, o custo do capital de projetos efetuados com os recursos

provenientes do primeiro projeto (fluxos de caixa intermediários do primeiro projeto)

deveria ser a TIR gerada neste primeiro projeto (RYAN & RYAN, 2002).

Exemplo:

• Imagine-se uma empresa com apenas um projeto, o projeto A;

• Calculado o fluxo de caixa do projeto A, chegou-se a uma TIR de 24%;

44

• Imagine-se que a empresa começou o projeto A, que passou a gerar fluxos de

caixa;

• A empresa, então, propõe-se a calcular o projeto A1. Obviamente se utilizará dos

fluxos de caixa intermediários gerados pelo projeto A;

• O custo de capital para o projeto A1 deve necessariamente ser de 24%, que foi a

TIR do projeto A, pois este está sendo executado com os fluxos de caixa

intermediários gerados durante a vida do projeto A e, portanto, caso este projeto

A1 gere VPL igual ou superior a zero pode ser aceito.

Outros estudiosos rebatem esta crítica, reputando-a como uma falácia (KEEF & ROUSH,

2001), pois, de acordo com Brealey e Myers (1995), apud Ryan e Ryan (2002) (nota:

Ryan e Ryan não disponibilizaram a referência bibliográfica de Brealey e Myers, 1995 em

seu artigo, o que impossibilita a reprodução da mesma na bibliografia do trabalho aqui

apresentado), não há exigência para que os fluxos de caixa intermediários sejam

reinvestidos.

Uma crítica à TIR é por não ser possível de ser calculada quando há mais de uma inversão

no fluxo de caixa, o que se corrigiu com a taxa interna de retorno modificada, apesar desta

ainda ser uma medida das menos populares, de acordo com o estudo de Ryan e Ryan

(2002). Este fato é preocupante, pois, caso os projetos das empresas que não a adotem

tenham inversões de caixa ao longo de sua vida, os resultados obtidos estariam

equivocados.

Ainda assim, a taxa interna de retorno é extremamente popular, tendo fortes aliados

principalmente por ter um caráter intuitivo, ou seja, quanto mais alta em relação ao custo

de capital melhor.

45

Índice de Lucratividade

Este parece ser um índice menos criticado, embora não seja popular (RYAN & RYAN,

2002). Este índice retorna a quantidade de dinheiro recebida (valor presente) descontada

pelo custo de capital ou não, em relação ao valor investido inicialmente.

Por este parâmetro, qualquer resultado que seja inferior a um é inaceitável. No entanto,

este índice também não acrescenta nada que já não se saiba via análise do próprio VPL

(MUKHERJEE, 1991). Por outro lado, ainda de acordo com Mukherjee (1991), o seu

poder advém do fato de relativizar, em vez de retornar valores absolutos. Se voltássemos

ao exemplo citado no VPL, o índice de lucratividade seria capaz de apontar o melhor

projeto.

Myers (1984) diz que a melhor forma de se priorizar projetos é através do VPL por

unidade investida, ou via programação linear. VPL por unidade investida nada mais é que

o índice de lucratividade. Embora Myers (1984) não o tenha citado explicitamente, isso

deve ser ressaltado.

2. Críticas ao método em si:

Outro argumento ou crítica em relação ao método de fluxo de caixa descontado e suas

técnicas de orçamentação de capital é que elas são: (i) impactados por vieses (seja otimista

ou pessimista), ressalvando que as firmas mais sofisticadas do ponto de vista de análise de

investimento podem se utilizar de análises de sensibilidade para o cálculo dos índices, e

(ii) de que não captura itens não-financeiros, como incorporar a estratégia de uma empresa

à análise.

• Impacto por Vieses de Comportamento:

46

Alguns dos vieses já foram citados acima, podendo ser otimistas ou pessimistas. Myers

(1984, p. 132) diz ainda que:

Propostas são geradas nos escalões intermediários das empresas e têm que

sobreviver à jornada ao topo da organização, colhendo as aprovações

necessárias a cada estágio. No processo são formadas alianças e as previsões

de fluxos de caixas são direcionadas para ficarem em padrões conhecidos.

Respostas, não necessariamente as corretas, são preparadas para perguntas já

antecipadas. A maioria dos projetos que chega ao topo da organização para

aprovação parece estar de acordo com os parâmetros de lucratividade

estabelecidos pela gerência.

Para eliminar vieses de comportamento, faz-se primeiro necessário identificá-los, e se pela

análise do FCD não for possível, conclui-se que é necessário uma ferramenta auxiliar que

o faça. A ferramenta sugerida é o Gráfico de Qualidade de Decisão (HOWARD, 2007),

cujas justificativas, descrição e utilização serão detalhadas no capítulo 6.

Incapacidade de lidar com itens não-financeiros:

Klammer (1993), e Shank e Govindarajan (1992) apud Chen (2008) sugerem que o

gerenciamento estratégico dos custos deveria ser integrado ao orçamento de capital

através de métodos como análise de cadeia de valor e análise de gerador de custos.

Myers (1984) destaca que, entre outros problemas, o FCD é de menos ajuda quando se

está avaliando negócios com oportunidades de crescimento substancial ou ativos

intangíveis, ou ainda quando se trata de pesquisa e desenvolvimento.

47

Outra crítica, feita por Rocha (2008), é que “há sérias limitações, especialmente quando se

está lidando com projeções de resultados de longo prazo em setores sujeitos a fortes

incertezas”.

A crítica mais agressiva ao FCD, embora nada acrescente ao que foi dito acima, é feita por

Adler (2006), que sugere que o método de fluxo de caixa descontado não seja mais

ensinado a alunos de graduação, pois o problema com o FCD (assim como com as opções

reais vistas abaixo) ocorre quando não há dados quantificáveis ou os dados não são

accessíveis, de forma a impedir previsões razoáveis seja sobre receitas ou custos, e

também que o FCD não colabora quando se trata de estratégia.

TAXA DE DESCONTO DE CAPITAL

Conforme descrito acima, o valor do dinheiro do tempo é um conceito dos mais claros para

todos envolvidos com o assunto, mas outra discussão é qual o método mais apropriado de

descontar o dinheiro no tempo. A seguir, apresenta-se a revisão da literatura sobre o tema.

Segundo Ryan e Ryan (2002), 83,2% das empresas que responderam a sua pesquisa preferem

o WACC (Weighted Average Cost of Capital ou Custo Médio Ponderado de Capital). Já, de

acordo com a pesquisa de Block (2005), um percentual menor, de 74,5%, se utiliza do

WACC, enquanto os outros 25,5% utilizam outras métricas.

De acordo com a definição de Damodaran (2003, p.77), o Custo Médio Ponderado de Capital

é “a média ponderada dos custos dos diversos componentes de financiamento, incluindo

dívida, patrimônio liquido e títulos híbridos utilizados por uma empresa para financiar suas

necessidades financeiras”.

48

Brealey, Myers e Marcus (2002, p.324) definem o custo de capital da empresa “como o custo

de oportunidade de capital para os ativos existentes da empresa” e o utilizam para “valorar

ativos novos que tem os mesmos riscos que os velhos. O custo médio ponderado de capital é

uma maneira de estimar o custo de capital da empresa; ele também incorpora um ajuste para

os impostos que uma empresa economiza quando toma dinheiro emprestado”.

Myers (1984, p.133) ressalta que o custo de capital depende do uso e não da fonte. Diz

também que sua estimativa é muito difícil de ser feita, já que o custo de oportunidade do

capital é uma taxa de retorno esperada.

Para Minardi e Saito (2007, p. 80), o WACC comete erros como “estimar a estrutura de capital

com base em valores contábeis, ou exigir que a estrutura de capital seja constante.”

5.6.2 Outros Métodos de Análise de Investimento

Ainda existem outras formas menos populares de análise de investimento que serão

brevemente comentadas.

Mesmo considerando a superioridade do VPL tanto do ponto de vista da literatura, quanto do

ponto de vista das empresas, o que é uma convergência de opiniões rara (RYAN & RYAN,

2002), convém destacar que em conjunto com o VPL, além da análise de sensibilidades já

citada acima, normalmente também se utiliza análise de ponto de equilíbrio, análise de

cenários e simulações de Monte Carlo (MINARDI & SAITO, 2007). Mas, outras formas de

análise de investimento incluem Opções Reais e EVA (Economic Value Added).

Segundo Minardi e Saito (2007, p.80), “o EVA nada mais é do que uma transformação do

método do WACC ou fluxo de caixa da empresa.” Apesar disto, Ryan e Ryan (2002) afirmam

49

que o modelo tem forte aceitação apesar de ser relativamente novo, e completam com a

informação de que este método é utilizado por cerca de metade dos que responderam aos

questionários por eles enviados. Por outro lado, Block (2005) não faz referência ao EVA.

Em relação a Opções Reais, há inúmeras defesas a este método na literatura. Myers (1984),

conforme já informado acima, vê este método como mais eficaz quando se trata de bens

intangíveis, e de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Minardi (2000, p.75) diz que flexibilidades gerenciais ou adaptação a mudanças são opções

reais. E cita como exemplos: “(a) postergar um projeto”, “(b) expandir ou contrair a escala de

produção”, “(c) abandonar temporariamente ou definitivamente um projeto”, “(d) abandonar

um projeto ainda em fase de execução”, “(e) alterar matérias-primas ou os produtos finais de

um projeto”, “(f) realizar outros investimentos dependentes de um projeto inicial (opções de

crescimento)”.

Alinhando o contexto deste trabalho com os comentários acima, deve ser dito que, como o

investimento aqui necessariamente envolve uma negociação com outra parte, pode-se assumir

que esta outra parte, o posto, tem um potencial que pode ou não ser ratificado com a decisão

do investimento, mas que no mínimo valeu o tempo e a atenção de um negociador.

Considerando este perfil de investimento, as chamadas “flexibilidades gerenciais” são

limitadas para a distribuidora, pois se esta optar por postergar ou recusar o projeto, o posto

não ficará esperando uma mudança de planos, e seguirá na busca por outro parceiro,

dependendo de suas próprias necessidades. Sendo um posto bem operado e bem localizado,

certamente vai encontrar este outro parceiro disposto a fazer o investimento, ou no mínimo

50

disposto a negociar, o que significa dizer que ambos os lados (distribuidora e revendedor)

podem exercer opções reais, guardadas as devidas proporções.

Ainda em relação a opções reais, uma crítica não propriamente ao modelo, mas à forma como

eventualmente o descrevem na literatura e ocasionalmente o utilizam na prática, é feita por

Rocha (2008). O autor comenta que quando há uma opção real, caso não se esteja falando de

um monopólio, ela é real para todas as empresas atuantes naquele mercado, e, portanto, a

concorrência (e suas ações) também deve ser modelada. Através de uma série de simulações,

no entanto, Rocha (2008) prova que em algumas situações a melhor alternativa não é a

utilização de opção real.

Adler (2006) avalia que o método das Opções Reais incorre no mesmo problema do FCD

quando há incertezas e dificuldade para se estimar fluxos de caixa futuros.

5.7 CAPTURA DE ITENS NÃO FINANCEIROS

Para a captura de itens não-financeiros, a utilização de modelos de Apoio Multicritério à

Decisão (AMD) parece ser essencial.

Gomes (2007, p. 21) diz que esses modelos “servem para selecionar, ordenar, classificar ou

descrever detalhadamente as alternativas mediante as quais se tomará uma decisão.”

Segundo Moreira (1998, p. 59), existem os seguintes modelos:

• Modelos Econômicos de Barganha: necessitam de uma função utilidade conhecida

e levam em conta “ofertas e as contra-ofertas”;

51

• Modelos baseados na Teoria dos Jogos: pressupõem informações completas e

precisas e uma função de utilidade calculável;

• Modelos de Agregação: baseiam-se também no cálculo de uma função de

utilidade;

• Modelos Táticos: lidam com informações incompletas e alternativas

desconhecidas;

• Modelos Comportamentais: podem ser contínuos ou discretos. “Os modelos

comportamentais apóiam e conduzem os decisores na avaliação e escolha das

alternativas-solução.” (MOREIRA, 1998, p. 64)

Deve ser levado em conta que Gomes (2007) adverte que o conhecimento apurado do método

escolhido é crítico para a sua utilização na situação apropriada e de maneira correta.

Estes modelos são capazes também de avaliar “qualitativa ou quantitativamente as soluções”

(MOREIRA, 1998, p. 58) e uma das vantagens de poder utilizar informações qualitativas é

que esses modelos se tornam mais completos do que as técnicas de orçamentação de capital,

que se utilizam somente de informações quantitativas, e poderiam passar, sob esse ponto de

vista, a ser mais um dos componentes da decisão, mas dependendo do peso que o centro

decisor atribua ao VPL.

Considerando-se que 96% das firmas tomam suas decisões com base em VPL (RYAN &

RYAN, 2002), nota-se que este tende a dominar qualquer outra característica.

52

No entanto, poderia ser sugerido um teste que consistiria em se perguntar ao centro decisor se

a empresa faria um investimento em um posto de abastecimento, cuja análise de viabilidade,

devidamente validada, apontasse VPL negativo. Se o centro decisor responder a essa pergunta

afirmando categoricamente que “não, em nenhuma hipótese”, então, qualquer item qualitativo

tem peso muito pequeno, sendo dominado pelo VPL, e não caberia qualquer outra discussão

sobre o assunto, exceto, talvez, a validação periódica da resposta.

Caso, no entanto, haja uma indicação de possíveis exceções a esta regra, poderia ser montada

uma lista que incluiria os itens listados no próximo tópico, típicos do mercado em estudo, de

forma que em conjunto com o VPL pudessem colaborar com o processo de decisão.

O peso relativo na decisão seria estabelecido pelo centro decisor com base na estratégia da

empresa. Existem inúmeros desdobramentos possíveis nesta situação, mas, com o objetivo de

ilustrar o tópico, será dado um único exemplo.

• A Empresa quer reforçar a presença em uma determinada região do país. Projetos

desta região ganhariam peso 50, e a performance (que poderia ser um múltiplo de

volume e margem), assim como o VPL poderiam ter peso 25.

PontuaçãoNota Peso Nota Peso Nota Peso Projeto

1 10 50 10 25 0 25 7502 6 50 8 25 7 25 6753 8 50 7 25 3 25 650

VPLPerformanceRegiãoProjeto

Figura 6- Quadro Exemplo Priorização de Projetos

Obviamente, para se ter um quadro como a figura 6 é necessária uma reunião com a

autoridade competente, ou alguém por ela designado, para estabelecer as faixas de notas (qual

53

a nota de um VPL de $1.000.000? Qual a nota de um VPL de $100.000?), quais os itens que

serão marcados como critérios, e quais os pesos de cada um destes itens.

Na figura 6, apenas o projeto 1 tem nota máxima no critério “Região” e, apesar de ter ótima

perfomance, o nível de investimento parece ser muito alto (o que explicaria a nota baixa no

critério VPL). Ainda assim, consegue alcançar um nível superior de prioridade quando

comparado aos demais.

5.7.1 Relação de Itens Qualitativos

Este item provê uma lista não exaustiva de itens que poderiam ser considerados como

importantes pelas empresas, revendedores e até pelos consumidores. Uma relação definitiva

de itens prioritários não pode ser feita, pois isto está diretamente relacionado à estratégia, ao

momento que uma firma esteja vivendo, ou a outro fator que seja julgado determinante.

Em se montando tal relação, os itens a seguir poderiam ser classificados pelas partes e

ordenados conforme seu impacto seja dimensionado, de forma que ajudassem (empresa,

revendedor e até consumidor final) na hora da tomada de decisão, possibilitando uma melhor

visualização dos trade-offs a serem feitos (RAIFFA, RICHARDSON & METCALFE, 2007).

1. Perspectiva da Empresa:

• Condições logísticas de suprimento. A importância deste ponto está diretamente ligada

à capacidade da empresa em suprir uma determinada localidade. Em caso negativo,

ainda há a possibilidade do revendedor ser proprietário de um caminhão-tanque, de

forma que ele próprio pudesse realizar o transporte do produto e, por conseguinte, o

abastecimento do posto.

54

• Concorrência na região. O fato de a empresa ter vários postos em uma determinada

área pode vir a significar otimização de recursos humanos, ou de gastos com

publicidade. No entanto, há alguma controvérsia em torno deste ponto, pois se, por um

lado podemos vir a ter os benefícios acima, também podemos nos deparar com

situações desconfortáveis como a canibalização do próprio volume. No entanto, por

um terceiro ponto de vista, se o volume tiver que ser dividido, talvez seja melhor

dividi-lo pela própria marca.

• Resultado de operações passadas. Faz-se necessária uma breve explanação sobre este

item, pois resultados de operações passadas não devem ser levados em conta no

cálculo de um novo fluxo de caixa por serem custo afundado. No entanto, caso haja

algum ativo re-utilizável, o seu valor residual, ou possível valor de mercado, deve ser

utilizado na composição do cálculo do fluxo de caixa.

O que se propõem com este item é a análise de uma decisão anterior de investimento

em um determinado ponto de venda, o que seria uma “análise de decisão ex post” com

o objetivo de: (a) “aprender a partir de decisões já tomadas” (GOMES, 2007, p. 27), e

(b) recuperar uma informação qualitativa sobre o resultado anterior.

Estes dois pontos poderiam aumentar a qualidade da decisão que está sendo tomada,

podendo também ser incorporados ao gráfico de qualidade de decisão que será

apresentado no capítulo 6.

• Performance. Em postos de combustível, a performance é medida pelo volume médio

de vendas. Obviamente, o nível de preço que gera este volume deve ser levado em

55

consideração: se os preços geram margem alta, baixa ou negativa é uma informação

preponderante para a análise.

2. Perspectiva do Revendedor:

• Experiência atual ou anterior com a empresa. A familiaridade com a empresa, aliada à

aprovação de seu modus operandi, contribui para a decisão.

• Concorrência na região. Caso não haja nenhum posto daquela empresa entre seus

concorrentes, o revendedor pode vir a ter um diferencial. Este ponto de vista é

relativamente controverso quando visto pela ótica da empresa.

• Referência de outros revendedores. A opinião de outros revendedores sobre a empresa

tem um peso considerável na decisão, pois, caso haja alguma informação negativa,

esta certamente será enfatizada.

• Posicionamento em relação à meio-ambiente. Como já comentado em outras partes do

texto, itens relacionados à meio-ambiente são extremamente importantes e,

dependendo da situação, caros.

• Programas de treinamento. Para novos revendedores, especialmente, os programas de

treinamento (como o de qualidade de combustível ou o de atendimento para frentistas)

têm um peso considerável.

56

• Condição financeira. O revendedor pode considerar que este não é um item

importante, mas que, naquele ponto especificamente, uma marca forte tem o poder de

aumentar suas vendas.

3. Perspectiva do Consumidor Final

Consumidor final no âmbito deste trabalho é o individuo que abastece o veículo em postos

de combustíveis.

Segundo o IBOPE Inteligência apud Sindicom (B), quando tem que abastecer seu veículo,

o consumidor considera importantes os seguintes aspectos:

• “Qualidade do combustível

• Preço do combustível

• Qualidade do atendimento do posto

• Ser próximo da casa ou do trabalho

• Marca da bandeira

• Aparência do posto”

57

5.8 TEORIA DOS JOGOS

Considerando-se que boa parte deste trabalho se refere ao aspecto “negociação” não se pode

deixar de citar a Teoria dos Jogos, que foi estruturada, da maneira como é conhecida hoje, por

John Von Neumann e Oskar Morgenstern na obra Theory of Games and Economic Behavior

(LUCE & RAIFFA, 1957, prefácio).

De acordo com Luce e Raiffa (1957, p. 2), a Teoria dos Jogos é definida como a abordagem

matemática moderna para o conflito de interesse. Esses autores acrescentam que a teoria lida

com as escolhas que as pessoas podem ou deveriam fazer para maximizar seus resultados, e

parte do principio de que os jogadores conhecem as preferências de seus adversários.

Somando a isto a capacidade do jogador perceber a situação em que está envolvido, tem-se o

chamado “jogador racional”.

Gomes (2006, p. 549) diz que a Teoria dos Jogos “desenvolve critérios racionais para a

seleção de uma estratégia” e “faz uso da modelagem matemática para expressar formalmente

as idéias compreendidas” e acrescenta que “o jogo é uma situação na qual um ou mais

jogadores confrontam-se em busca de certos objetivos conflitantes”.

Gomes (2006) também disponibiliza definições para jogadores, regras, conjunto de ações,

resultados, retornos e estratégias. Todos estes itens fazem parte de uma “situação estratégica”

(GOMES, 2006). As definições abaixo estão adaptadas do texto de Gomes (2006) para o

contexto deste trabalho.

a) Jogadores: neste trabalho temos de um lado a empresa e de outro seus revendedores,

cada um com seus próprios objetivos e valores. No que tange a valores, um ponto que

merece atenção é a questão da racionalidade. Gomes (2006) salienta que “uma decisão

58

pode ser racional pelos valores de um jogador e não ser racional pelos valores de

outro”. Esta questão é exemplificada no caso exposto no capítulo 8.

b) Regras: são as ações que a outra parte pode tomar, e as informações que eles (a outra

parte) detêm. Inferir ou deduzir as ações que a outra parte pode tomar em uma

negociação de contrato têm um grau menor de complexidade quando comparamos

com a questão das informações detidas por esta parte, sendo esse um ponto bem mais

complexo, visto que em grande parte das negociações as informações são incompletas.

Além disso, uma parte não consegue facilmente visualizar o que é um bom negócio

para a outra, pois partem de realidades muito distintas. Esse ponto será visto com mais

detalhes no capítulo 5.9.

c) Conjunto de Ações: são todos os movimentos feitos pelos jogadores, começando na

abordagem do revendedor pela empresa (e vice-versa), até a assinatura do contrato;

d) Resultados: “para cada conjunto de ações dos jogadores, tem-se o resultado do jogo”

(Gomes, 2006)

e) Retornos (ou payoffs): “quais são as preferências dos jogadores, e qual é a utilidade

que cada jogador obtém de cada resultado possível” (Gomes, 2006). Saber exatamente

quais as preferências de revendedores ou da empresa é uma tarefa extremamente

complexa e por vezes inviável. No item 5.10 são encontrados mais detalhes sobre estas

dificuldades.

f) Estratégia – Gomes (2006) diz que “uma estratégia é a lista de opções ótimas para

cada jogador, em qualquer momento do jogo”.

59

No que diz respeito ao Dilema do Prisioneiro, mencionado anteriormente neste trabalho, de

acordo com Raiffa, Richardson e Metcalfe (2007), este já era conhecido em 1950, sendo que o

jogo propriamente dito é sobre uma autoridade que sabe que dois criminosos cometeram um

crime e propõem aos dois prisioneiros, mantidos separados, a seguinte escolha:

1. Não confessar o crime: se nenhum dos dois confessar, eles ficariam presos por um

ano por acusações menores;

2. Se ambos confessarem, cada um ficará preso por três anos;

3. Se um confessar e o outro não, então quem confessou sai livre e o outro fica preso

por cinco anos.

Um requisito para a estrutura do jogo é que ambos os prisioneiros prefiram sair livre e ver o

seu comparsa preso por cinco anos em contraponto a ficar preso por um ano. (RAIFFA,

RICHARDSON & METCALFE, 2007).

A análise e a subseqüente solução do dilema acima implicariam em estudo da Teoria dos

Jogos, a qual não será tratada neste trabalho. No entanto, tem-se um exemplo quando se

discute “Decisões Prototípicas”, que seria o processo de análise de um revendedor quando

este tenta antecipar as ações de uma distribuidora em relação a sua negociação com ele. Neste

caso, o revendedor está utilizando, ainda que em níveis bem simples, conceitos de Teoria dos

Jogos.

5.9 CONEXÃO ENTRE AMBIENTE DE NEGÓCIOS, NEGOCIAÇÃO E INVESTIMENTO

Será sugerida aqui uma ponte entre técnicas de negociações e as questões financeiras ou

estratégicas vividas pelos negociadores da empresa, que culminam com a tomada de decisão.

60

Mas antes, é necessário analisar as perspectivas da decisão, sendo que os próximos dois itens

(perspectiva individual e decisões prototípicas) são adaptações de Raiffa, Richardson e

Metcalfe (2007) para o contexto aqui estudado.

Decompondo-se a informação descrita no capítulo “Ambiente de Negócios”, temos o

seguinte:

• A Perspectiva Individual (unitária):

Uma distribuidora de combustível não precisa se preocupar com um único posto, ou

um único revendedor, por melhor e mais representativo que este seja, dada à brutal

diferença de tamanho entre as partes. No entanto, como já explicado acima, o

negociador que está no dia-a-dia precisa se preocupar muito, pois ele tem, no mínimo

e com certeza, um objetivo de volume pelo qual sua performance será medida.

Pela perspectiva deste indivíduo, dificilmente ele abrirá mão de algum posto, pois,

neste caso, teria que buscar novos negócios, o que envolveria dispêndio de tempo em

prospecção e negociações demoradas, o que ao final de um determinado período pode

vir a impactar a sua avaliação, especialmente se o volume eventualmente perdido não

for recuperado.

• Decisões Prototípicas: Investir ou não.

Neste caso, o negociador, mesmo representando uma distribuidora imensa, pode abrir

mão involuntariamente desta condição e se portar como igual ou como alguém com

menor capacidade que o revendedor em termos de poder de negociação, pois este

único revendedor pode representar um percentual expressivo de sua carteira de

clientes, sugerindo uma mudança de direção no poder de barganha que favorece o

revendedor.

61

A partir daí surge a necessidade deste negociador analisar e pensar no que o

revendedor em questão fará. Por outro lado, o revendedor não tem conhecimento exato

de seu peso em relação à carteira de clientes deste negociador. Não sabe precisar (ou

não deveria saber) qual o seu poder de barganha dentro do contexto apresentado

acima, pois, se soubesse e conseguisse responder a uma das perguntas básicas da

Teoria dos Jogos em relação a qual escolha ele deve fazer para que sua influência

parcial sobre o resultado o beneficie ao máximo (LUCE & RAIFFA, 1957, p. 6),

estaria sempre se utilizando do recurso de jogar os participantes da indústria (neste

caso, as distribuidoras) uns contra os outros, a expensas da lucratividade da indústria

(PORTER, 2008, p. 83). Em função disso, também teria que pensar no que o

negociador faria e também no que o negociador estaria pensando à respeito do que ele

próprio, revendedor, faria, e assim por diante (SEBENIUS, 1992).

Criando um complicador, o negociador ainda deverá percorrer os caminhos internos para

aprovação de seu investimento, cuja dinâmica já foi abordada antes neste trabalho, e no

momento da efetiva tomada de decisão a distribuidora agirá com todo o seu peso e avaliará a

oportunidade que está em jogo sob sua própria ótica, sem maiores preocupações com o que o

revendedor pensa que a distribuidora fará. Este aspecto gera outra necessidade que é a de

garantir a aprovação interna, o que pode ser facilitado se houver consenso na análise,

conforme já mencionado anteriormente.

Cabe ressaltar que o processo de negociação (empresa x revendedor) prescinde de

informações claras, ou de informações completas, pois um determinado “dono de posto” pode

estar negociando com outra empresa concorrente da que está ligado [como Porter (2008)

prevê, já citado acima], pode ser ambíguo em sua postura, ou pode estar blefando em relação

62

a outras ofertas. Pode ainda, por outro lado, estar sendo claro em relação à situação como um

todo.

O fato é que as informações são imperfeitas, e normalmente tem-se um conhecimento apenas

parcial sobre elas. Porém, ambas as partes são racionais, mas esta racionalidade é afetada por

fatores diversos, que passam pela pressão pelo resultado, vieses de comportamento, e por

fatores subjetivos, como por exemplo, um revendedor a certo ponto de uma negociação pode

argumentar que foi criado no posto, que está com a Empresa há mais ou menos 50 anos e quer

passar o negócio para os seus filhos e netos.

Outro ponto que contribui para a falta de clareza nas informações e torna o cenário mais

impreciso é o fato de que um funcionário de uma Empresa não pode entrar em contato com

um competidor para esclarecer que tipo de oferta está sendo feita a um determinado

revendedor, pois, sem considerar-se o aspecto ético ou de governança da questão, ele poderia

ser enquadrado na legislação sobre mercado e concorrência, especificamente a lei nº. 8137 de

27 de Dezembro de 1990 (SEAE, 2008).

Fazendo-se um paralelo entre os itens acima e negociação e considerando-se o método de

análise de fluxo de caixa descontado como parâmetro para decisão de investimento, ter-se-ia

algo como:

• Tipo de Negociação: Integrativa - em que pese os limites de investimento por parte da

empresa e de seu negociador. Mas, em tese, o ganho para as partes pode ser

aumentado com concessões de ambos os lados, seja uma alteração temporária no prazo

de vendas, seja uma atenção maior com a imagem do posto, ou uma participação em

63

promoções e atividades institucionais, ou seja, ações que levem o posto a melhorar

suas vendas e que, conseqüentemente, gerem ganhos para ambas as partes.

• Ponto de Reserva: O ponto inaceitável de um investimento é em regra geral o VPL

inferior a zero. Em tese, neste nível não há nenhuma possibilidade de se seguir em

frente com o investimento. Já com o VPL igual ou superior a zero, a decisão

dependerá das possibilidades negociadas.

Importante destacar que sobre este ponto Myers (1984) diz que um VPL positivo se

explica por duas razões: um desvio rápido do equilíbrio do mercado ou alguma

vantagem competitiva permanente. A localização de um posto aliada à capacidade

gerencial do revendedor são fatores fundamentais para o sucesso do mesmo. Nesse

caso, um desvio rápido do equilíbrio poderia ser uma alteração na direção das vias de

acesso ao posto, aumentando ou diminuindo o fluxo de veículos próximo ao posto que

o favoreça/desfavoreça. Uma vantagem competitiva permanente poderia ser, por

exemplo, a localização do posto, que deve ser em locais de grande volume de tráfego,

segundo estudo de Neves e Costa (2008).

• BATNA: Outra negociação em andamento para cobrir uma eventual perda de volume,

conforme citado anteriormente. O mais adequado é que o negociador tivesse vários

projetos ou negociações em andamento, em estágios diferentes para que, em um nível

mais pessoal, sua performance não fosse afetada, e no nível corporativo, a empresa

pudesse alavancar mais negócios, o que acabaria por gerar um circulo virtuoso.

64

• ZOPA: Por ser a região de intersecção entre os interesses das partes é onde deve ser

fechado o negócio, mas sempre se deve aperfeiçoar a participação na negociação para

evitar o risco de Satisficing.

5.10 SATISFICING

Um ponto importante a ser abordado é o da propensão em se negociar com os parceiros

usuais, mesmo que para a obtenção de um novo contrato. A explicação óbvia para isso é de

que é mais simples negociar com quem se conhece do que com um desconhecido.

No entanto, outro aspecto que deve ser considerado aqui é o da influência das relações sociais

na negociação (BAZERMAN & CURHAN, 2000, p. 283). Sobre esse ponto, Tenbrunsel et al

(1996) apud Bazerman e Curhan (2000, p.284) comentam sobre as implicações das relações

na seleção de um parceiro de negócios. Como ele mesmo diz: essencialmente eles

(TENBRUNSEL et al, 1996) argumentam que as pessoas se satisfazem e dão por suficiente

(satisfice, no original) quando encontram pessoas já conhecidas em vez de buscar novos

parceiros ao custo de encontrar parceiros mais apropriados.

A expressão criada por Simon (1997), Satisfice, que seria um neologismo juntando as palavras

satisfy e suffice, é, neste contexto, especialmente importante, pois é uma tentação para os

negociadores buscarem o mínimo aceitável, especialmente em condições de forte competição,

do que buscar o ótimo, que é mais complicado, podendo levar mais tempo.

Passando do nível individual, das ações de negociadores, para o nível corporativo, ou seja, o

ponto de vista da empresa como organização, convém citar March e Simon (1993, p. 4) que,

ao comentarem a questão da Atenção Organizacional, afirmam que duas “pequenas idéias”

têm impacto significativo, sendo a que primeira, Satisficing, seria a idéia que organizações se

65

focam em objetivos e distinguem mais criteriosamente entre sucesso (objetivos sendo

alcançados) e falhas (não alcançar os objetivos) que entre gradações entre um e outro. Com

isso eles querem dizer que entre sucessos e falhas tem-se uma área cinza que deve ser

explorada. E a segunda idéia é que organizações devotam mais atenção para atividades que

estão em determinado momento operando abaixo dos objetivos do que para atividades que

estão alcançando os objetivos. Ou seja, mesmo estando atingindo os objetivos, a empresa

pode estar “deixando na mesa” riqueza e recursos.

66

6 Processo de Tomada de Decisão

Conforme exposto anteriormente, uma das críticas ao método de fluxo de caixa descontado é

que há alguma facilidade em se adequar as métricas (no caso aqui exposto, previsão futura de

vendas e margens) a um resultado mínimo desejado, e também critica-se sua incapacidade de

lidar com dados não financeiros. Pelo lado da negociação, também existem fatores que

propiciam vieses como a necessidade de se fazer um negócio, além da característica otimista

de qualquer grupo de vendas.

No entanto, pode ser feita uma combinação do FCD com um modelo analítico e simplificado

de tomada de decisão, como o apresentado por Gustafsson (2006) e reproduzido na figura 5,

que enfoca o contexto em que a decisão é tomada e provê um roteiro a ser seguido pelos

analistas ou tomadores de decisão.

67

Figura 7- Modelo Analítico e Simplificado de Tomada de Decisão

Fonte: Gustafsson (2006)

Para complementar ambos, o FCD e o modelo apresentado por Gustafsson (2006), no que se

refere à questão dos vieses de comportamento, expõem-se aqui outra ferramenta, o Gráfico de

Qualidade de Decisão (HOWARD, 2007), que tem por objetivo aferir a qualidade de uma

decisão tomada ou a ser tomada.

6.1 A FERRAMENTA

Uma das grandes vantagens da ferramenta “gráfico de qualidade de decisão” é a sua fácil

utilização, que gera um gráfico, como o seu próprio nome já diz, possibilitando a visualização

dos resultados e levando os analistas e demais envolvidos a revisarem o processo de decisão

sob uma ótica diferenciada.

É também uma ferramenta accessível por não possuir nenhum aspecto matemático profundo,

traço este importante dado o perfil por vezes “não-matemático” de alguns dos envolvidos.

Além disso, contempla diversos tópicos que encontramos tanto na literatura de negociação,

como criação de alternativas e trade-offs, assim como na literatura sobre investimento, com a

relação risco/retorno ou o valor esperado da decisão a ser tomada.

Resultados Avaliados

Alternativa Selecionada Implementada

Alternativa Selecionada

Alternativas Geradas e Avaliadas

Problema Definido

68

Por outro lado, não há segurança contra a possibilidade de que alguém munido de intenções

duvidosas venha a manipulá-la. No entanto, os aspectos éticos dentro de uma organização já

foram discutidos em outro ponto deste estudo e o objetivo aqui é eliminar erros cometidos por

vieses cognitivos de comportamento aos quais estamos sujeitos por sermos seres humanos.

De acordo com o Howard (2007, p.38), qualidade de decisão é composta de seis elementos, a

saber:

...um frame apropriado, uma seleção de alternativas que respondam a este

frame, informações confiáveis a uma extensão apropriada ao frame, e

preferências em relação ao futuro. A lógica para se chegar a um curso de ação

deve ser clara e o tomador de decisão deve estar comprometido tanto com o

processo quanto com a significância da decisão.

Nota-se por esta frase que conceitualmente há grande semelhança com o modelo de

Gustafsson (2006) acima.

Para visualização mais clara do texto acima, os elementos são:

1. Perspectiva Apropriada

2. Alternativas Criativas

3. Informações confiáveis, incluindo modelagem

4. Preferências Claras

5. Lógica correta

6. Comprometimento para agir

Abaixo, observando a figura 8, podemos ver a representação gráfica destes elementos,

supondo-se um nível perfeito de qualidade em todos os seis elementos. Em seguida está

descrito o funcionamento e a forma de se interpretar o gráfico:

69

Figura 8- Gráfico de Qualidade de Decisão

O gráfico da figura 8 é alimentado por um questionário, composto de 24 perguntas no

total, sendo quatro perguntas para cada dimensão.

As respostas devem ser objetivas, isto é, as respostas serão sim ou não. Cada vez que se

responde sim, a linha vermelha se expande até tocar o círculo, o que é o máximo de

qualidade em um determinado elemento. No exemplo acima, todas as respostas foram

afirmativas.

Matheson e Matheson (1998, p. 23-24) sugerem as perguntas abaixo e as relacionam com

cada elemento do gráfico acima para a composição do questionário que dará base ao

gráfico.

6.1.1 Perspectiva Apropriada

• As premissas estão claramente identificadas?

• Este curso de ação está em linha com as forças da empresa e seus objetivos como

um todo?

Itens de Qualidade de Decisão

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

3 Informações Significativas e Confiáveis

4 Valores Claros e Trade-offs

5. Argumentação e lógicacorreta

6. Comprometimento paraagir

1. Perspectiva Apropriada

2. Alternativas Criativas eExeqüíveis

Alta Qualidade de DecisãoBaixa

70

• Diferentes áreas da empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

• Nós fizemos as perguntas corretas?

6.1.2 Alternativas Criativas e Exeqüíveis

• Alternativas foram identificadas e avaliadas?

• Há um plano para recuperação em caso de falha?

• Há um plano viável para implementar a decisão?

6.1.3 Informações Significativas e Confiáveis

• Nós fizemos as perguntas corretas e recebemos respostas válidas?

• Quais são as possibilidades de sucesso técnico e de mercado?

• Obtivemos o cruzamento de boas informações?

• Diferentes áreas da empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

6.1.4 Valores Claros e segurança sobre o que está se abrindo mão ou trocando

• Qual é a relação risco/retorno?

• Qual é o valor esperado da decisão que estamos para tomar?

• Qual é o custo no caso de falharmos?

6.1.5 Argumentação e lógica correta

• Há uma lógica clara na forma na forma que abordamos essa decisão?

• O que o nosso modelo financeiro nos diz?

71

• A decisão resultará em uma clara vantagem competitiva?

• Esta decisão parece estar correta?

6.1.6 Comprometimento para agir

• Diferentes áreas da empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

• Podemos comunicar esta decisão à organização?

• Há um plano viável para implementar a decisão?

É curioso notar que uma vez alterado o contexto em que se faz uma pergunta, essa mesma

pergunta pode assumir significado diferente. Daí a repetição da mesma em alguns dos

elementos.

A lista acima não exaure todas as possibilidades de perguntas, que podem e devem ser criadas

e adaptadas para o tipo de negócio ou situação em análise, mas oferece um começo. De uma

maneira geral, o que se espera é que as perguntas busquem “desconfirmar” o que se assumiu

como verdade, e que tendo uma maneira estruturada de se refletir sobre um problema (ou

oportunidade) chegue-se a conclusões (insights) que melhorem a qualidade da decisão.

6.2 DESCONFIRMANDO INFORMAÇÕES

De acordo com Medvec et al apud Tuncel (2005, p. 2 – nota: referência bibliográfica de

Medvec et al não está disponível no artigo), informação que desconfirma é definida como

informação que contraria preferências iniciais de membros (de um grupo). Por exemplo, se

uma preferência inicial for pela opção A, então uma informação que desacredita Opção A ou

indiretamente desacredita Opção A por apoiar outras opiniões, seria “desconfirmadora”.

72

Bazerman e Neale (1992) consideram que a maioria das pessoas busca informações que

confirmem um determinado curso de ação ou tomada de decisão, mas não buscam

informações que a contradigam. Além disso, ainda segundo Bazerman e Neale (1992), as

pessoas em geral se dispõem a buscar com mais afinco falhas em informação que contradigam

a preferência, do que falhas em informações que as confirmam.

Russo, Schoemaker e Hittleman (2002) recomendam que além de se desconfirmar suas

próprias idéias também se deve desconfirmar as fontes de dados.

Segundo Hogarth e Makridakis (1981), as pessoas têm uma tendência de reter informações de

maneira seletiva e à medida que se aumenta a quantidade de informação disponível, mais fácil

se torna provar o que se quer.

Consideradas todas as opiniões acima, entende-se que criar o hábito de desconfirmar

informações, seja via perguntas ou através de pesquisa, é um exercício poderoso tanto para

analistas quanto para negociadores.

73

7 QUALIDADE DE DECISÃO E VIÉS DE COMPORTAMENTO

Este tópico busca fazer a ligação entre a questão da qualidade da decisão tomada ou a ser

tomada, com vieses de comportamento em alguns elementos e entre a qualidade da decisão

com um dos problemas expostos na teoria dos prospectos em outro elemento.

A necessidade de se fazer essas conexões decorre da importância de se avaliar se o processo

que começou em uma negociação distante do centro de tomada de decisão passou por um

crivo e interações com a área de análise de investimento e que foi finalmente submetido à

aprovação está enviesado em alguma direção.

Pesquisas com estudantes mostram que estes apresentam vieses de comportamento, mas

replicando-se alguns destes experimentos com grupos formados por profissionais experientes,

qual seria o resultado?

Já foi discutido acima que o próprio método de fluxo de caixa não lida devidamente com itens

não financeiros e que a estrutura das empresas favorece vieses. Comentou-se também que

grupos de vendas são normalmente otimistas, e foi apresentada uma ferramenta que visa

identificar os vieses. Portanto, será feita, a seguir, uma associação das dimensões desta

ferramenta a vieses comuns, de forma a checar qual a reação dos profissionais de negociação

quando expostos a testes como os mencionados acima.

74

Os elementos pesquisados foram: Perspectiva Apropriada, Informações Significativas e

Confiáveis e Argumentação e Lógica Corretas.

7.1 PERSPECTIVA APROPRIADA

Perspectiva, neste contexto, é a forma como uma situação é entendida e analisada, podendo

ser apresentada como um problema ou oportunidade, dependendo de quem a está analisando,

ou apresentando, e pode ainda ser estruturada como positiva ou negativa.

Adequando ao trabalho, seria o caso de estruturar uma negociação de novo contrato e “vende-

la” internamente como uma oportunidade de se aumentar as vendas e uma renovação de

contrato como uma forma de se evitar perdas. Mas, se fosse necessário uma perspectiva

oposta, poderia ser dito que um novo contrato serve para evitar perdas e uma renovação serve

para se manter, ou até aumentar as vendas. Em resumo, de uma forma ou de outra, o resultado

é o mesmo, mas enfatizar um ganho ou uma perda pode ser interessante em uma determinada

situação, embora o efeito prático seja exatamente igual.

No entanto, essas diferenciações, sutis por vezes, podem ter impacto na decisão, conforme o

tomador de decisão e as informações disponíveis relativas às condições de mercado (entenda-

se aqui o viés da disponibilidade de informação, seja este de impacto efetivo ou não) no

momento em que a oportunidade está em análise.

O elemento número 1 do gráfico de qualidade de decisão (HOWARD, 2007), conforme

exposto acima, é “Perspectiva Apropriada”, e, a proposta é associar este elemento aos

problemas 5 e 6 do artigo de Tversky e Kahneman (1986).

75

O problema 5 trata de comparar a quantidade de vidas salvas efetivamente com a

probabilidade de se salvar vidas. No problema 6, o frame (ou ponto de vista) passa a ser

negativo, ou seja, o enunciado fala em mortes e probabilidade de se salvar vidas. Em ambos

os casos, um grupo de respondentes tem que se decidir por uma opção ou por outra.

Em linhas gerais, o resultado foi bastante semelhante aos relatados no artigo original se

considerarmos os problemas apresentados isoladamente, ou seja, um grupo analisa o problema

5, enquanto o outro analisa o problema 6.

Por outro lado, quando apresentados ao mesmo grupo em seqüência (isto é, o grupo analisa o

problema 5, coloca suas respostas e em seguida começa a analisar o problema 6), observou-se

uma repetição significativa do comentário de que os problemas seriam iguais, ou seja, a

mudança de frame de positivo para negativo foi percebida e comentada por parte considerável

dos respondentes. Porém, como entre as opções de resposta não há possibilidade de se fazer

este comentário, os resultados finais acabam tendendo a se aproximar dos resultados obtidos

na pesquisa original.

7.2 INFORMAÇÕES SIGNIFICATIVAS E CONFIÁVEIS

Para este elemento, a associação foi feita com o viés da ancoragem, ou seja, será que

negociadores profissionais são susceptíveis à ancoragem? Para se responder a esta questão, foi

feita uma combinação entre a pergunta sobre a população da Turquia, conforme exposta por

Hammond, Keeney e Raiffa (2006) e a sugestão de Russo, Schoemaker e Hittleman (2002).

A mecânica do experimento envolveu a divisão do grupo em dois e a formulação das

perguntas a seguir, sendo a segunda feita após a resposta da primeira

76

Pergunta 1: Qual a última dezena do seu telefone?

Pergunta 2: A população da Turquia é maior ou menor que X (sendo X a resposta a pergunta

anterior)

Consideradas todas as respostas, a conclusão é que as pessoas realmente se utilizam de

âncoras para seus julgamentos, ou para montar suas respostas. No entanto, em alguns grupos

surgiu a pergunta: “Qual a relação entre o telefone celular e a Turquia?”, o que evidencia que

nem todo mundo fica ancorado na última informação recebida.

Em um grupo especifico, esta pergunta foi feita por um membro mais novo, recém-chegado à

Empresa, que posteriormente comentou estar preocupado com a possibilidade de ter feito uma

pergunta irrelevante. Mas o que se testemunhou foi um efeito-manada, onde os outros

respondentes passaram a se perguntar a mesma coisa e reavaliaram suas respostas, pedindo

algum tempo para uma pesquisa rápida ou algo do gênero. Em outro grupo, casualmente

formado por negociadores mais experientes, além do questionamento sobre a lógica da

associação das perguntas, os respondentes ainda se mostraram relutantes em se

“comprometer” (segundo suas próprias palavras) com uma resposta.

Outra observação importante sobre ancoragem é que, na opinião de alguns participantes, a

primeira oferta em uma negociação não é automaticamente dada como irrelevante e

descartada de imediato. Se estiver muito distante do valor de mercado, ensejaria uma

contraproposta extremada claramente na direção inversa, o que eventualmente poderia causar

um impacto na negociação. Com relação a isso, Luecke (2003) comenta que a efetividade das

âncoras é maior quando há muitas incertezas sobre o assunto.

77

7.3 ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA CORRETA

Neste item, a intenção é verificar se as pessoas cedem a seus primeiros impulsos ao analisar

uma questão, ou seja, se são mais intuitivas do que racionais ao responder uma pergunta

aparentemente simples.

A pergunta feita ao grupo foi (KAHNEMAN & FREDERICK, 2006, p. 58):

Assuma que um conjunto de lápis e borracha custe R$1,10. Se o lápis custa R$1 a mais que a

borracha, quanto custa a borracha?

A resposta correta seria R$0,05. No entanto, uma parte expressiva das respostas foi de

R$0,10, o que seguiu o esperado, ou seja, o mesmo erro foi cometido por boa parte dos

respondentes, mas não por todos. Dentre os que não erraram, cabe ressaltar que uma parte

tinha como formação básica o curso de Engenharia e nem chegaram a hesitar quando a

questão foi proposta, dando a resposta certa de maneira rápida. Este item poderia ter

resultados diferentes se os respondentes formassem um grupo homogêneo e mais sofisticado

do ponto de vista matemático, independente de sua formação.

Analisando as observações acima, notam-se aspectos em comum com o que Gustafsson

(2006) denomina de Naturalistic Decision-Making (NDM), que tem como foco principal a

forma como decisões são tomadas na vida real e em ambientes complexos e executadas por

pessoas com diferentes graus de competência.

Em outro contexto, Larichev e Moshkovich (1997, p. 5) comentam que muitos estudos sobre

tomada de decisão são baseados em uma premissa implícita, compartilhada por muitos, que o

78

raciocínio humano é como o de um estatístico nascido com este talento, o que vai ao encontro

da posição de Gustafsson (2006).

Ainda de acordo com Gustafsson (2006), o NDM considera que decisões da vida real são

mais desafiadoras que os testes empregados em laboratório, embora estes tenham como base

elementos da vida real.

No entanto, como são empregados com participantes não necessariamente treinados nos

assuntos ou muito jovens para poderem discernir o que está efetivamente se passando, e as

respostas têm que ser dadas prontamente, os testes podem ter resultados diferentes dos

encontrados na vida real, cuja análise dos acontecimentos raramente apresenta uma condição

de simetria perfeita. Além disso, os testes estão normalmente embutidos em uma atividade

maior que o tomador de decisão está buscando cumprir (GUSTAFSSON, 2006).

De certa forma, as observações feitas para este trabalho confirmam esta posição,

especialmente no que tange aos problemas cinco e seis quando apresentados em seqüência.

79

8 CASO “ÓLEO I”

Com o intuito de exemplificar situações que envolvem negociação, decisão de investimento, e

utilização do gráfico de qualidade de decisão desenvolveu-se o caso a seguir. No entanto,

deve ser ressaltado que este caso não se baseia em fatos reais, e o seu único objetivo é ilustrar

o trabalho. Caso haja algum tipo de coincidência com algo que o leitor tenha tido

oportunidade de vivenciar ou tomar conhecimento, trata-se de mera coincidência.

8.1 RESUMO DA SITUAÇÃO

Chegando a uma importante capital de um estado brasileiro, o analista de investimentos da

empresa “Óleo Petróleo” é recebido pelo negociador responsável por aquela cidade e pelo

Gerente daquela região para juntos seguirem por cerca de 100KM até a cidade onde o posto

“Óleo I” está localizado. Lá eles se encontrariam com o revendedor cujo contrato estava

sendo renegociado e durante a viagem os detalhes do projeto em negociação seriam

repassados.

Basicamente, a área de negócios após exaustivas negociações para renovação de contrato com

o revendedor, submeteu ao centro decisor da empresa um projeto com um investimento de

$1.400.000 (quantia total, em espécie, a ser repassada ao revendedor na assinatura do

contrato), associado a um contrato de cinco anos, o que geraria um volume para a empresa de

54 milhões de litros de combustível no período do contrato.

80

A alta gerência, ou centro decisor, havia recusado o projeto apesar do mesmo apresentar VPL

positivo e comentado em seu relatório que uma das razões para a recusa era o parecer

desfavorável da área de análise. O projeto foi considerado muito arriscado visto que o volume

médio do projeto era cerca de 30% superior à média histórica do posto e não havia nenhum

indício que ocorreria algum fato novo que justificasse o incremento nas vendas. Além disso,

também não havia nenhum movimento em relação aos competidores que pudesse gerar tal

melhoria de desempenho.

Os índices financeiros foram recalculados pela área de análise, excluindo os 30% de

acréscimo que não foram devidamente explicados, tendo-se chegado aos seguintes resultados:

o VPL: $40.100;

o TIR: 11,4%;

o Payback: 4 anos e 9 meses;

o Índice de lucratividade de 1,03;

A área de negócios, por sua vez, solicitou uma visita de um analista ao local para uma melhor

avaliação do projeto. Para atender essa solicitação o analista de investimentos foi enviado

para a cidade.

Durante a viagem, alguns fatos significativos foram apurados pelo analista. Entre eles:

81

• O revendedor é importante membro da cidade em que vive e onde os postos estão

localizados;

• O revendedor é proprietário de três postos de combustível (incluindo o posto em

questão), todos caracterizados com a marca “Óleo Petróleo”;

• Os outros dois postos do revendedor apresentavam um volume de vendas

significativo, estando os três postos incluídos entre os 20% maiores do país no

ranking de performance da empresa “Óleo Petróleo”;

• Os contratos com os outros dois postos venceriam em um prazo de 14 meses e 20

meses, respectivamente;

• O Revendedor estava sendo assediado por um agressivo competidor que tinha

conhecimento da situação, ou seja, sabia que o contrato do posto em questão havia

vencido há cerca de dois meses e ainda não havia sido renovado;

Com um cálculo rápido, o analista concluiu que:

• A maior parte do volume vendido naquela localidade era para os postos daquele

revendedor;

• Com os outros contratos próximos do vencimento e o suposto assédio da competição,

a dificuldade da negociação era facilmente compreendida.

82

Ao se encontrarem com o revendedor, este comentou que era a primeira visita de alguém da

sede da empresa em mais de 15 anos, uma vez que a visita anterior havia ocorrido durante a

inauguração do posto, e que estava muito feliz por voltar a ser prestigiado pela administração

da empresa.

Iniciada a nova negociação, o revendedor se mostrava irredutível, até que lhe foi perguntado

qual seria o destino da verba em negociação, e a resposta foi que havia proposta semelhante

de um concorrente, o que estava de acordo com a justificativa constante do projeto recebido

na sede da empresa.

Considerando-se que a reunião transcorria em um clima de cordialidade, apesar da posição

irredutível do revendedor, a pergunta foi refeita, insistindo-se no ponto da utilização da verba

e não na oferta da concorrência.

Após longa pausa e novas tentativas de contornar a pergunta, o revendedor revelou que tinha

uma preocupação sobre como seria a divisão do seu patrimônio quando viesse a falecer, e

que utilizaria o investimento para algumas obras necessárias no posto, mas a maior parte

seria para comprar o posto de um dos seus concorrentes mais próximos, um posto bandeira

branca chamado “Novo Óleo” com ótimo potencial, estrategicamente localizado, fora da área

de competição direta, mas cujo revendedor já não o administrava devidamente.

No decorrer da sua resposta, o revendedor também esclareceu outro ponto que estava obscuro

no projeto, informando que o aumento no volume contratado para o posto “Óleo I” seria

proveniente de contratos existentes no posto “Novo Óleo” e que seriam migrados para o

posto “Óleo I”.

83

Esta oportunidade resolveria seu problema pessoal e sua maior preocupação, já que possuía

quatro filhos e três postos de combustível, o que vinha gerando certo atrito em sua família e

certamente acarretaria problemas ainda maiores em caso de futura divisão de bens.

A partir deste ponto, a situação ficou mais clara, e passou-se a discutir o negócio com

informações plenas e dados objetivos.

8.2 ANÁLISE DO CASO

- O projeto não foi aprovado, independente de alcançar índices financeiros mínimos;

- Pode-se perceber algum impacto de satisficing neste item, já que o projeto alcançava os

índices financeiros mínimos, independente de sua qualidade;

- Os motivos efetivos do revendedor, sem juízo de valor, não foram levantados;

- O projeto não contou com nenhuma interação entre as áreas de negócio e análise antes de ser

recusado pelo Centro Decisor;

- O revendedor certamente sabia de sua posição relativa de força;

- O fato da visita ter sido valorizada foi um diferencial que contribuiu para a melhoria da

conversa;

- O revendedor hesitou em partir para divulgação de suas razões verdadeiras, pois pode ter

considerado que ficaria vulnerável em relação à empresa.

84

8.3 UTILIZANDO O GRÁFICO DE QUALIDADE DE DECISÃO

As perguntas sugeridas no capítulo 6 poderiam ser utilizadas aqui. Elas foram extraídas de

Matheson e Matheson (1998, p. 23-24), onde têm o objetivo de gerar o gráfico de qualidade

de decisão. Neste tópico serão utilizadas para avaliarmos a situação como exposta acima, ou

seja, a decisão inicialmente tomada pela alta gerência de vetar o projeto, mas após a

ponderação da área de negócios, a opção de determinar uma revisão do projeto.

8.3.1 Perspectiva Apropriada

1. A oportunidade está claramente identificada?

Sim. Quando o projeto foi submetido foi informado de que se tratava da renovação de

um contrato.

2. Este curso de ação está em linha com as forças da Empresa e seus objetivos como um

todo?

Sim. Não há informação no texto que diga o contrário, e renovar o contrato de um

posto importante certamente está alinhado com os objetivos da empresa.

3. Diferentes áreas da Empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

Não. A área de análise se limitou a emitir um parecer, não havendo indicação de

interação com a área de negócios.

4. Nós fizemos as perguntas corretas?

Não. Na verdade não se fez pergunta alguma e o projeto foi recusado.

8.3.2 Alternativas Criativas e Exeqüíveis

1. Alternativas foram identificadas e avaliadas?

85

Não. Não há informação sobre análise de alternativas no texto.

2. Há um plano para recuperação em caso de falha?

Não. Há a possibilidade de o revendedor migrar para outra empresa e, com a relação já

desgastada, até os outros postos estão em risco, visto que a renovação dos outros

contratos está se aproximando.

3. Há um plano viável para implementar a decisão?

Sim. Seria a aprovação do projeto, e agora uma tentativa de renegociação.

4. Caso o projeto seja recusado, há outras alternativas para a recuperação do volume

perdido?

Não. Não se tem informação sobre isto no texto, mas dificilmente haveria, pois não

há nenhum fato novo na área que seja do conhecimento da empresa.

8.3.3 Informações Significativas e Confiáveis:

1. Nós fizemos as perguntas corretas e recebemos respostas válidas?

Sim. No momento em que se começou o questionamento as perguntas foram

válidas, assim como as respostas.

2. Há possibilidades de sucesso técnico e/ou de mercado?

Não. Não há informação de como o posto fará para conseguir o aumento do volume.

3. Obtivemos o cruzamento de boas informações?

Não. Não houve cruzamento de informações até este momento.

4. Diferentes áreas da Empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

Sim. A área de análise e seu parecer foram ouvidos pela alta gerência.

86

8.3.4 Valores Claros e Segurança sobre o que se está Abrindo Mão ou Trocando:

1. Houve análise da relação risco/retorno?

Sim. A área de análise providenciou uma análise completa, cujo parecer foi negativo.

2. Calculamos o valor esperado da decisão que estamos para tomar?

Sim. Neste caso, o valor esperado seria o VPL.

3. Calculamos o custo no caso de falharmos?

Não. Apesar de se ter a informação dos outros postos, não foi feito o cálculo de um

pior cenário

4. Analisamos a importância relativa daquele posto para aquela área de negócios?

Não. Não foi considerado o impacto associado dos outros postos no projeto.

8.3.5 Argumentação e Lógica Correta:

1. Há uma lógica clara na forma em que abordamos essa decisão?

Sim. A idéia é manter o posto sob contrato.

2. O modelo financeiro nos dá uma resposta?

Sim. A resposta é que o projeto é viável, mas muito próximo do mínimo aceitável.

3. A decisão resultará em uma clara vantagem competitiva?

Não. A decisão pode resultar numa perda de mercado.

4. Esta decisão parece estar correta?

Não. Não faz sentido perder um posto de bom volume.

87

8.3.6 Comprometimento para Agir:

1. Diferentes áreas da Empresa foram ouvidas sobre o assunto em questão?

Sim. Assume-se aqui que áreas como Suprimentos, Legal e Logística estão atualizadas

sobre o assunto.

2. No ambiente externo, já se conversou com as partes envolvidas?

Não. O assunto ainda está em discussão

3. Podemos comunicar esta decisão à organização?

Não. Somente após o retorno do analista.

4. Há um plano viável para implementar a decisão?

Não. A hipótese de recusa parece não ter sido considerada.

Consideradas todas as respostas afirmativas, e inserindo-se as respostas positivas no gráfico,

ter-se-ia a seguinte imagem na figura 9:

88

Figura 9- Gráfico de Qualidade de Decisão - Exemplo de Utilização

A figura 9 acima, que pode variar de formato de acordo com o individuo ou grupo que está

contribuindo com as respostas, diz que a qualidade da decisão a ser tomada é baixa, o que está

em concordância com a decisão da administração de recusar o projeto. Por outro lado, a área

de negócios conseguiu retomar o projeto e se recuperar a partir do momento que conseguiu

um analista para colaborar com o processo.

Certamente, após a visita do analista, do gerente e do próprio negociador se o gráfico acima

for refeito, apresentará outra configuração, muito mais favorável ao negócio, pois mais

informações foram levantadas e se terá meios para uma decisão melhor embasada,

independente de ser negativa ou positiva.

Itens de Qualidade de Decisão

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

3 Informações Significativas e Confiáveis

4 Valores Claros e Trade-offs

5. Argumentação e lógicacorreta

6. Comprometimento paraagir

1. Perspectiva Apropriada

2. Alternativas Criativas eExeqüíveis

Alta Qualidade de DecisãoBaixa

89

8.4 REVISANDO O CASO

A nova conversa com o revendedor gerou dados mais completos e possibilita à empresa,

escolher entre alguns cursos de ação ou alternativas:

• Focar apenas a renovação do contrato, o que desvincularia as negociações;

• Analisar a viabilidade de investimento em (a) no posto “Óleo I”, (b) no posto “Novo

Óleo”, ou (c) em ambos os postos.

Considerando-se que já estavam na região e o posto mencionado era conhecido do negociador

da área, a empresa optou por fazer um reconhecimento deste novo site, para análise das

condições do posto e da concorrência.

Em paralelo, foi solicitado ao revendedor que fizesse uma revisão de sua proposta incluindo

uma subdivisão dos custos que geraram a proposta de $1.400.000. O revendedor respondeu

que já tinha os números e seria capaz de fornecê-lo no dia seguinte, mas como tinha outros

compromissos combinaram nova reunião em três dias, o que seria suficiente para levantar

dados e fazer uma análise preliminar das alternativas.

8.5 O NOVO POSTO

O negociador responsável pela área informou que o posto em referência era mesmo excelente,

superando em cerca de 30% o volume do posto “Óleo I”, já tendo sido alvo de análises

passadas, mas o negócio nunca progrediu porque àquele revendedor somente interessava a

venda do imóvel como um todo, o que inviabilizaria a negociação.

90

Os custos de modernização do posto foram levantados no ano anterior, mas o valor total era

muito alto, pois incluía também o imóvel (condição do revendedor), que estava superestimado

na opinião de avaliadores profissionais.

A informação de cerca de um ano atrás era a seguinte:

Custos de modernização: $420.000

Imóvel:

1. Solicitação do proprietário do posto: $1.000.000

2. Valor de Mercado: $750.000 (média entre as avaliações feitas por especialistas)

Os representantes da empresa atualizaram estas informações, o que lhes tomou cerca de dois

dias, e chegaram à conclusão de que (i) não havia mudança no valor do imóvel, (ii) os custos

de modernização, incluindo a caracterização do posto, ficariam cerca de 10% mais caros.

8.6 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS

Aproveitando a oportunidade, também foi levantado o custo de modernização do posto “Óleo

I”, que chegou a $250.000.

Compiladas todas as opções, os representantes da Empresa resumiram suas análises no

seguinte quadro:

91

Tabela 2 – Análise de Alternativas

A análise de alternativas acima indica que:

• Considerando-se que a melhor opção é a que provê o maior VPL, a opção escolhida

seria a que gera o VPL de $1.106.000, e também o maior volume, o que se configura

como um item importante para o negociador e para a empresa;

• Pela ótica de custo, a opção mais eficiente é a do investimento mínimo de $250.000.

Esta opção gera um VPL de $870.000;

• A opção de fazer contrato apenas com o posto Novo Óleo repete a situação que já foi

recusada anteriormente. Não faria sentido reapresentá-la.

Com estes dados em mãos, já estava na hora de encontrar o revendedor do posto Novo Óleo

para analisar os seus dados, resumidos pela tabela 3 abaixo:

Óleo I Novo Óleo Total Óleo I Novo Óleo Total Situação Inicial 1.400.000 1.400.000 40.100 40.100 Alternativas Isoladas - Custo Mínimo Óleo I 250.000 250.000 870.000 870.000 Proposta Novo Óleo 1.400.000 1.400.000 40.100 40.100 Proposta Novo Óleo com Custo Correto 1.150.000 1.150.000 221.000 221.000 Alternativas Combinadas - - Novo Óleo + Óleo I (Custo Superestimado) 250.000 1.400.000 1.650.000 926.000 Novo Óleo + Óleo I (Custo de Mercado) 250.000 1.150.000 1.400.000 1.106.000

Custo VPL Descrição

92

Análise do Revendedor Custo

Custo Mínimo Posto "Óleo I" 100.000

Proposta "Novo Óleo"

Compra do Imóvel e Fundo de Comércio 700.000

Capital de Giro 600.000

Total 1.400.000

Tabela 3 – Análise de Oferta Revendedor

Comparando-se as alternativas, nota-se que o custo de adequação estimado pelo revendedor é

inferior ao estimado pela Empresa, e que o revendedor do posto “Óleo I” também tinha

conseguido uma negociação melhor que a estimativa do mercado.

A empresa e o revendedor, após discussão dos seus dados, se viram na seguinte situação:

• Ótica do revendedor: para o investimento de $1.400.000, a Empresa continuaria com a

marca no posto “Óleo I” e 30% das vendas do posto “Novo Óleo”, que continuaria

como bandeira branca. A discussão então se resumia em como fechar a negociação.

• A empresa propôs $1.400.000 pelos dois postos, ao que o revendedor respondeu que

não poderia concordar sem antes consultar sua família.

• No dia seguinte, a empresa fez nova proposta. Enfatizando que não entraria com mais

dinheiro, mas estaria disposta a arcar com os custos de adequação da imagem do

posto, ou seja, a caracterização do posto seria arcada pela empresa e que, além disso,

estava disposta a mandar seu pessoal de propaganda para ajudar na reinauguração do

posto.

93

• O revendedor respondeu que aquele seria um diferencial e que, naquelas condições,

poderia concordar com a proposta da empresa.

Posteriormente, o analista levou a proposta para a sede da empresa e fez a defesa do

acordo, que passou a envolver dois postos e um VPL de $926.000, em contraposição ao

inicialmente submetido que era de $40.100.

94

9 CONCLUSÕES

As principais conclusões deste trabalho são:

• Negociadores profissionais estão sujeitos a vieses de comportamento;

• A utilização de uma ferramenta para remover ou filtrar vieses de comportamento pode ser

considerada uma boa prática;

• Ter uma área de análise é fundamental para as empresas. Esta área pode se concentrar em

(i) investimento, (ii) negociação ou (iii) decisão, mas, prioritariamente, deve interagir com

outros departamentos e não atuar isoladamente.

Os vieses de comportamento supracitados foram observados em negociadores profissionais

assim como em estudantes, o que, pelo estudado neste trabalho, ratifica os resultados dos

testes efetuados em sala de aula. Entretanto, deve ser levado em conta que há diferenças entre

estudantes, que podem ou não ter experiência profissional, e profissionais experimentados, o

que está em linha com os preceitos da NDM.

95

Entre essas diferenças pode-se destacar que profissionais são cuidadosos com suas opiniões e,

uma vez tendo vivenciado uma situação, não se envolvem em outra semelhante sem exercer

uma crítica ou pelo menos fazer comentários. Deve ser ressaltado, no entanto, que as

observações foram feitas de modo a permitir um diálogo entre observador e observado.

Na seqüência ao trabalho, foi feito um levantamento de quais seriam os principais métodos de

negociação, incluindo seus pontos fortes e as críticas recebidas. Buscou-se também fazer uma

ponte entre negociação e decisão de investimento, pois, sob o ponto de vista de administração

de uma empresa, não se pode simplesmente recusar ou aceitar um projeto pelo fato de ter

alcançado ou não um padrão determinado de índice financeiro. Igualmente, também não se

deve aceitar ou recusar o resultado de qualquer negociação, sem que, em ambos os casos

(negociação ou investimento), realize-se uma análise criteriosa do que já foi feito. Isto leva a

outra conclusão: o benefício que significa para as empresas a manutenção de uma área de

análise, que poderia ser de investimento, mas idealmente de negociação, em contato com a

área de negócios. O caso disponibilizado neste trabalho exemplifica esta conclusão.

Em relação à questão de viés de comportamento, sugere-se que a adoção de alguma

ferramenta que identifique vieses e promova o debiasing de uma análise é uma boa prática

tanto do ponto de vista de negociação, quanto de análise de investimento.

Neste aspecto, conclui-se que vieses de comportamento são parte comum do dia-a-dia de

qualquer empresa, independente do mercado em que esteja inserida e esses vieses não serão

eliminados. Para atenuar este aspecto devem ser criadas condições, filtros ou processos que

reduzam ou eliminem seu impacto antes que produzam efeitos danosos.

96

No que concerne ao ambiente de negócios deste trabalho, utilizou-se o mercado nacional de

distribuição de combustível por ter as características necessárias: decisões constantes de

investimento com forte base em negociação.

No entanto, buscou-se mais retratar as relações entre empresa e revendedor do que traçar um

retrato completo e detalhado deste mercado. As transações envolvendo os postos Ipiranga,

Texaco e Esso não foram discutidas profundamente, embora, caso seja necessário, os anexos

contenham informações gerais de forma a propiciar uma noção da situação antes da onda de

concentração acima.

Embora a Empresa que serviu de base para o estudo não tenha sido identificada, as questões

do relacionamento entre empresas e revendedores podem ser extrapoladas para as outras

distribuidoras, pois, com maior ou menor intensidade, todas as empresas passam por situações

semelhantes.

97

10 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Para trabalhos futuros, as recomendações seriam:

1. O desenvolvimento de uma pesquisa melhor estruturada sobre os vieses de

comportamento apresentados em grupos matematicamente sofisticados. Esse estudo

deveria ser realizado não com estudantes, mas sim com profissionais experientes, e

com um formato contendo espaço onde os respondentes pudessem justificar suas

respostas.

2. Uma pesquisa sobre as ferramentas que removem vieses de comportamento, com um

estudo de caso real que tornasse possível mensurar qualitativa e/ou quantitativamente

a sua aplicação.

3. Um estudo de caso sobre o movimento de concentração no mercado de combustíveis

ocorrido entre 2007 e 2008.

98

4. O desenvolvimento de um estudo que demonstre a perspectiva do revendedor sobre a

questão da renovação ou assinatura de contratos com uma empresa distribuidora de

combustíveis.

Essas recomendações baseiam-se no fato de que o trabalho aqui apresentado não exaure o

assunto, e elas propiciariam uma continuidade aos temas aqui abordados.

As duas primeiras recomendações estão voltadas para a questão da tomada de decisão e os

impactos que vieses de comportamento exercem sobre ela, e podem ser aplicadas a qualquer

mercado.

As outras duas recomendações estão voltadas para o contexto do trabalho, que é o mercado

nacional de distribuição de combustíveis:

• A terceira recomendação visa à obtenção de um ângulo alternativo de análise que é o

ângulo do revendedor. Esta é uma perspectiva importante dado que temos mais de

35.000 postos de abastecimento no Brasil, e seria possível obter-se insights

interessantes a partir de tal estudo.

• A quarta recomendação seria uma reflexão sobre o que se sucedeu nestes últimos dois

anos (2007 e 2008), e poderia proporcionar uma visão melhor dos acontecimentos do

período, podendo também analisar seus desdobramentos.

99

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107

ANEXO A - MERCADO BRASILEIRO DE COMBUSTÍVEIS

Um ponto crítico nas tabelas abaixo e nas informações geradas tanto pelo Sindicom, quanto

pela ANP é que os dados não fazem distinção entre vendas para postos de abastecimento e

vendas para clientes consumidores (por exemplo: empresas de ônibus, transportadoras,

montadoras de carro), mas demonstram as vendas por estado e por distribuidora, com sua

evolução anual.

Mercado Produto 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Sindicom ÁLCOOL HIDRATADO 2.315.091 1.724.312 1.889.416 1.611.820 2.181.503 2.626.820 2.836.223 5.222.169

GASOLINA DE AVIAÇÃO 71.857 67.112 65.208 55.812 54.720 46.633 53.928 53.970GNV 251.708 456.466 620.557 785.817 864.221 1.016.470 1.165.950 1.306.361ÓLEO DIESEL 28.918.207 30.045.782 30.861.319 30.217.00232.671.287 32.293.833 32.886.115 35.347.454ÓLEOS COMBUSTÍVEIS 10.196.317 9.169.553 7.687.357 6.102.821 5.457.867 5.077.490 4.989.352 5.452.326QUEROSENE DE AVIAÇÃO 4.671.296 4.563.655 4.208.969 4.042.396 4.392.506 4.460.188 4.506.904 4.871.688QUEROSENE ILUMINANTE 155.289 204.675 199.562 173.237 110.051 56.471 41.313 30.373GASOLINA C 15.833.294 16.204.340 17.197.069 16.407.681 17.652.959 17.783.367 18.303.591 18.904.661

Sindicom Total 62.413.060 62.435.895 62.729.457 59.396.586 63.385.115 63.361.271 64.783.376 71.189.003ANP ÁLCOOL HIDRATADO 4.603.588 3.501.993 3.791.880 3.245.322 4.512.926 4.667.223 6.186.553 9.366.836

GASOLINA DE AVIAÇÃO 198.550 70.831 63.342 58.897 61.427 55.464 52.262 54.744GNV 1.330.150 1.582.331 1.937.022 2.301.641 2.558.864ÓLEO DIESEL 35.151.264 37.024.903 37.668.348 36.853.254 39.225.675 39.167.155 39.008.397 41.558.180ÓLEOS COMBUSTÍVEIS 10.086.100 9.092.890 7.560.996 6.200.356 5.412.332 5.237.225 5.126.619 5.525.058QUEROSENE DE AVIAÇÃO 4.332.682 4.818.253 4.436.374 3.972.402 4.209.401 4.429.475 4.465.962 4.890.597QUEROSENE ILUMINANTE 144.534 201.667 200.833 177.393 116.005 58.769 42.236 30.671GASOLINA C 22.630.192 22.211.002 22.610.257 21.790.653 23.173.879 23.553.490 24.007.633 24.325.449

ANP Total 77.146.910 76.921.540 76.332.030 73.628.426 78.293.975 79.105.823 81.191.304 88.310.398

Tabela 4 – Evolução das vendas de combustível por produto (2000 a 2008)

Fonte: Sindicom, 2008

108

Produto:

Distribuidora 2,007 2,006 %

BR 32.81 26.69 23%

Ipiranga¹ 21.93 24.10 -9%

Shell 9.88 10.79 -8%

Chevron 8.76 9.84 -11%

Esso 4.79 4.88 -2%

Outras 21.82 23.68 -8%

Produto:

Distribuidora 2,007 2,006 %

BR 25.51 24.22 5%

Ipiranga1 15.87 16.03 -1%

Shell 10.71 10.18 5%

Chevron 9.26 9.12 2%

Esso 7.52 7.72 -3%

Outras 31.12 32.72 -5%

Produto:

Distribuidora 2,007 2,006 %

BR 17.89 15.07 19%

Ipiranga¹ 12.49 10.64 17%

Shell 10.61 8.39 26%

Chevron 6.82 6.01 14%

Esso 5.01 3.91 28%

Outras 47.18 55.99 -16%

Oleo Diesel

Gasolina C

Alcool Hidratado

Tabela 5 – Variação no Percentual de Participação de Grandes Distribuidora por produto.

Fonte: ANP, 2008

109

.Volume(m3) Ano VARIAÇÃO DO ESTADO Mercado UF 2003 2004 2005 2006 2007 2007 / 2006 (%)Sindicom Acre 227.047 196.364 200.492 169.607 171.096 0,9

Alagoas 392.997 449.159 449.347 493.745 503.980 2,1Amapá 190.099 252.411 295.136 275.266 317.907 15,5Amazonas 908.607 1.131.986 1.161.501 1.207.447 1.528.530 26,6Bahia 2.695.180 2.851.726 2.940.396 3.189.232 3.468.879 8,8Brasília Distrito Federal 1.294.653 1.507.738 1.292.539 1.318.986 1.443.381 9,4Ceará 938.540 948.818 962.120 1.082.932 1.188.619 9,8Espírito Santo 1.517.583 1.537.440 1.663.297 1.830.882 1.935.638 5,7Goiás 2.119.266 2.188.513 2.183.320 2.185.086 2.461.621 12,7Maranhão 923.725 1.016.844 1.026.175 1.113.262 1.283.747 15,3Mato Grosso 1.400.642 1.671.855 1.424.872 1.254.369 1.544.307 23,1Mato Grosso do Sul 1.081.995 1.127.699 1.009.654 957.112 1.027.618 7,4Minas Gerais 7.128.115 7.651.067 7.780.365 8.113.929 8.661.893 6,8Pará 2.181.486 2.277.449 2.302.062 2.609.883 2.834.500 8,6Paraíba 358.200 414.480 412.836 455.949 498.125 9,3Paraná 4.277.712 4.451.430 4.321.053 4.294.181 4.794.101 11,6Pernambuco 1.128.686 1.164.347 1.218.072 1.337.323 1.432.531 7,1Piauí 385.600 434.238 439.372 479.127 515.533 7,6Rio de Janeiro 5.252.097 5.457.777 5.565.106 5.563.063 5.841.880 5,0Rio Grande do Norte 493.963 541.528 528.427 638.450 711.761 11,5Rio Grande do Sul 4.444.387 4.637.842 4.433.935 4.371.129 4.619.688 5,7Rondônia 546.554 609.872 694.829 701.152 655.603 -6,5Roraima 92.497 90.822 87.149 92.374 102.674 11,2Santa Catarina 2.559.215 2.729.301 2.808.459 2.833.771 3.026.688 6,8São Paulo 16.012.639 17.157.079 17.266.713 17.259.586 19.553.851 13,3Sergipe 392.411 386.293 368.064 387.419 436.833 12,8Tocantins 452.691 501.038 525.981 568.115 628.019 10,5

Sindicom Total 59.396.586 63.385.115 63.361.271 64.783.376 71.189.003 9,9ANP Acre 245.633 221.473 232.947 201.392 204.944 1,8

Alagoas 503.313 537.442 528.726 548.830 556.073 1,3Amapá 194.574 256.035 286.265 278.370 309.876 11,3Amazonas 1.368.167 1.626.213 1.698.404 1.765.745 2.149.148 21,7Bahia 3.404.306 3.720.606 3.734.665 3.908.281 4.152.941 6,3Brasília Distrito Federal 1.365.237 1.415.227 1.416.784 1.439.258 1.548.781 7,6Ceará 1.132.415 1.191.125 1.237.469 1.359.592 1.464.567 7,7Espírito Santo 1.588.225 1.418.224 1.698.323 1.852.115 1.888.316 2,0Goiás 2.714.843 2.938.158 2.949.609 3.059.791 3.416.998 11,7Maranhão 1.063.631 1.176.260 1.233.489 1.276.373 1.424.326 11,6Mato Grosso 2.217.906 2.485.780 2.188.748 1.991.571 2.160.635 8,5Mato Grosso do Sul 1.380.457 1.463.896 1.330.078 1.252.397 1.375.800 9,9Minas Gerais 8.045.922 8.821.737 9.065.501 9.252.198 10.014.539 8,2Pará 2.258.371 2.420.512 2.482.930 2.814.023 3.033.302 7,8Paraíba 605.409 658.522 650.976 670.404 738.388 10,1Paraná 5.709.029 6.025.544 6.085.071 5.963.057 6.338.003 6,3Pernambuco 1.616.912 1.715.609 1.755.184 1.810.918 1.913.398 5,7Piauí 451.223 513.236 520.216 546.305 584.097 6,9Rio de Janeiro 4.790.052 4.811.893 4.895.739 4.773.065 5.143.102 7,8Rio Grande do Norte 627.083 698.095 701.714 742.263 785.324 5,8Rio Grande do Sul 5.033.621 5.302.219 4.970.043 4.890.969 5.114.005 4,6Rondônia 715.483 785.960 867.188 870.859 866.173 -0,5Roraima 101.738 107.860 103.101 110.095 118.768 7,9Santa Catarina 3.244.901 3.502.606 3.577.492 3.652.324 3.667.154 0,4São Paulo 20.994.965 21.894.577 21.936.967 22.818.873 24.991.972 9,5Sergipe 408.691 428.622 433.247 436.163 500.963 14,9Tocantins 516.170 574.212 587.924 604.432 732.009 21,1

ANP Total 72.298.277 76.711.644 77.168.801 78.889.663 85.193.600 8,0

Tabela 6 – Variação por estado e por ano e percentual por estado entre 2007 e 2006

Fonte: Sindicom, 2008

110

111

ANEXO B - HISTÓRICO DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS NO B RASIL

Conforme site do Sindicom (Sindicom, 2008), a evolução do mercado de combustíveis se deu

da seguinte forma:

Nota: O site do Sindicom não comenta as negociações feitas recentemente no mercado, logo

estas informações foram buscadas no site das empresas envolvidas nas transações, sendo a

fonte identificada.

“1912: Tem início a distribuição sistemática de derivados de petróleo no Brasil, realizada em

latas e tambores.”

“1922: Entrada no mercado brasileiro da Atlantic Refining Company of Brazil, em 07 de

julho”.

“1934: Entra em funcionamento a Destilaria Rio Grandense S.A. em Uruguaiana, Rio Grande

do Sul, que deu origem em 1937 a primeira Refinaria de Petróleo do país.”

“1938: Criado o Conselho Nacional do Petróleo, pelo Decreto-Lei nº. 395, de 29 de abril de

1938, com o objetivo de, dentre outros, regular e fiscalizar as atividades de exploração, refino,

importação, distribuição e comercialização de petróleo e seus derivados.”

112

“1941: Criação da Associação Profissional do Comércio Atacadista de Minérios e

Combustíveis, que deu origem em 1960 ao Sindicato do Comércio Atacadista de Minérios e

Combustíveis Minerais do Estado da Guanabara, passando a representação nacional em 1964

com a denominação de Sindicato Nacional do Comércio Atacadista de Minérios e

Combustíveis Minerais, hoje SINDICOM - Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras

de Combustíveis e de Lubrificantes.”

“1953: Estabelecido o monopólio da União sobre a lavra, refinação e transporte marítimo do

petróleo e seus derivados, sendo criada a Petrobrás para exercê-lo, de acordo com a Lei nº.

2004, de 3 de outubro de 1953.”

“1975: É lançado o Programa Nacional do Álcool - Proálcool, e as Distribuidoras começam a

adaptar suas instalações e bombas para o novo combustível.”

“1988: Consagrado o monopólio da União sobre o petróleo e seus derivados, através da

Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988.”

“1990: Criado o Programa Federal de Desregulamentação. Estabelecido o critério de preços

máximos nos postos revendedores e liberados os preços do querosene iluminante e dos

lubrificantes automotivos. Criação do Departamento Nacional de Combustíveis com a

extinção do Conselho Nacional do Petróleo.”

“1991: São inaugurados no Rio de Janeiro e em São Paulo os primeiros postos de

abastecimento de veículos leves (táxis) movidos a gás natural. Ainda nesse ano os

combustíveis aditivados são introduzidos no mercado brasileiro.”

113

1993: Ipiranga adquire Atlantic (Fonte: Ipiranga, 2008)

“1995: Os preços dos combustíveis são desequalizados, com a inclusão do valor dos fretes de

transferência/coleta (Álcool) na formação do preço.”

“1996: Liberação dos preços, a partir da Refinaria, da gasolina, do álcool hidratado e do

querosene de aviação.”

“1997: Aprovada pelo Congresso Nacional a Lei 9478, de 6 de agosto de 1997, que

regulamenta a flexibilização do monopólio. Ainda no ano de 1997, foi lançada a gasolina

premium no mercado brasileiro.”

“1998: Criação da Agência Nacional do Petróleo e óleo e conseqüente extinção do

Departamento Nacional de Combustíveis, pelo Decreto nº. 2455, de 14 de janeiro de 1998.”

“1999: Autorizada a importação de Óleos Combustíveis e exportação de Petróleo.”

“2000: Autorizada a produção de Gasolina pelas Centrais Petroquímicas. Portaria ANP

116/2000: Regulamenta o exercício da atividade de revenda varejista de combustível

automotivo.”

“2001: Reforma tributária nos combustíveis (Emenda Constitucional 33 e Lei 10.336 - CIDE).

Liberação do preço do Óleo Diesel.”

“2002: Fim do período de transição para a liberação do mercado, com a livre formação de

preços nas refinarias e liberdade para importação de Gasolina e Óleo Diesel.”

114

“2003: Redução da alíquota de ICMS no Álcool Hidratado no Estado de São Paulo.”

“2004: Criação do Programa Nacional do Biodiesel.”

“2005: Marco regulatório do Programa Biodiesel com a regulamentação da Lei 11.097/05,

que estabelece percentuais mínimos de mistura do novo produto ao diesel.”

“2006: Obrigatoriedade da adoção do corante no álcool anidro, instituída pela Agência

Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível – ANP, a fim de inviabilizar a fraude

neste combustível.”

“2007: Publicada a Resolução ANP nº. 07/2007, que proíbe a venda pelas distribuidoras a

postos de outras bandeiras e restringe a venda entre distribuidoras em até 5%.”

2007: Grupo Ultra, Petrobras e Braskem adquirem a Ipiranga. A distribuição de combustíveis

fica dividida entre Petrobras e Ultra (Ultra, 2008)

“2008: A partir de 1º de janeiro passa a ser obrigatória a adição de 2% de biodiesel a todo

óleo diesel comercializado no Brasil. (Resolução 05/2007 - CNPE).”

2008: “Exxonmobil vende os negócios de combustíveis e lubrificantes no Brasil para o Grupo

Cosan” (Esso, 2008)

2008: “Ultrapar assina contrato de compra do negócio de distribuição de combustíveis Texaco

no Brasil e passa a atuar nacionalmente no setor” (Ultra, 2008).

2008: AleSat adquire rede de postos Repsol (Ale, 2008)