11
Percepção do Processo Saúde-doença: Significados e Valores da Educação em Saúde Perceptions of the Health-disease Process: Meanings and Values in Health Education Ana Maria Chagas Sette Câmara I Vinícius Lins Costa Melo I Maria Gabriela Pimentel Gomes I Bruna Calado Pena I Ana Paula da Silva I Kênia Marice de Oliveira I Ana Paula de Sousa Moraes I Gabriella Rodrigues Coelho I Luciana Ribeiro Victorino I PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde Representações Sociais Promoção de Saúde. RESUMO A relevância sociológica do estudo das representações sociais do processo saúde-doença está no fato de que elas fundamentam práticas e atitudes dos seus atores, assim como as relações que eles estabelecem com o seu contexto social e com aquilo que lhes acontece. O problema dessa pesquisa consiste em conhecer as represen- tações sociais do processo saúde-doença dos profissionais do PSF, considerando que esse conhecimento pode ser fundamental para o desenvolvimento de práticas educativas em saúde. A abordagem metodológica desta pesquisa foi qualitativa, tendo por base as representações sociais dos profissionais de apoio e das equipes de saúde da família do Centro de Saúde Milionários, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Para a coleta de dados, foi utilizada entrevista individual semi-estruturada abordando os seguintes aspectos: processo saúde-doença; educação em saúde; e barreiras ou dificuldades para prescrição/adoção de hábitos saudáveis. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo, a partir das categorias: dimensões do processo saúde-doença; barreiras ou dificuldades para adoção de hábitos saudáveis; e significados e valores da educação em saúde. Os dados apontam que há necessidade de modificações conceituais na formação permanente desses profissionais e da inclusão do enfoque coletivo, abordando o conceito ampliado de saúde com seus determinantes sociais e contextuais. Faz-se necessária também a busca de novas metodologias de educação em saúde, para que os profissionais do PSF possam ir além da informação e consigam a ressignificação dos conceitos do processo saúde-doença, podendo de fato estabelecer novas práticas e novos processos de trabalho em saúde. KEYWORDS: Health Education Social Representations Health Promotion. ABSTRACT The sociological relevance of social representations of the health-disease process lies in the fact that they underlie the various participants’ practices and attitudes, as well as the relations they establish with their social context and the health events that affect them. This study focused on social representations of the health-disease process among health workers in the Family Health Program, assuming that such know- ledge is essential for developing health education practices. The study adopted a qualitative methodologi- cal approach, based on social representations by support staff and family health teams at the Milionários Health Center in Belo Horizonte, Minas Gerais State. Data collection used a semi-structured individual interview on the following issues: health-disease process; health education; and barriers or difficulties in prescribing/adopting healthy habits. The data were submitted to content analysis, based on the following categories: dimensions of the health-disease process; barriers or difficulties in adopting healthy habits; and meanings and values in health education. The data point to the need for conceptual changes in con- tinuing training of these health workers and the inclusion of a collective focus, approaching the expanded concept of health and its social and contextual determinants. There is also a need for new methodologies for health workers in the Family Health Program to extend beyond information and redefine concepts in the health-disease process, establishing new practices and processes in health work. Recebido em:01/04/2010 Reencaminhado em: 20/09/2010 Aprovado em: 21/09/2010 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 36 (1, Supl. 1) : 40-50; 2012 40 I Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Percepção Saude Doença

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Percepção Saude Doença - artigo

Citation preview

  • Percepo do Processo Sade-doena: Significados e Valores da Educao em Sade

    Perceptions of the Health-disease Process: Meanings and Values in Health Education

    Ana Maria Chagas Sette CmaraI

    Vincius Lins Costa MeloI

    Maria Gabriela Pimentel GomesI

    Bruna Calado PenaI

    Ana Paula da SilvaI

    Knia Marice de OliveiraI

    Ana Paula de Sousa MoraesI

    Gabriella Rodrigues CoelhoI

    Luciana Ribeiro VictorinoI

    PALAVRAS-CHAVE:

    Educao em Sade

    Representaes Sociais

    Promoo de Sade.

    RESUMOA relevncia sociolgica do estudo das representaes sociais do processo sade-doena est no fato de que elas fundamentam prticas e atitudes dos seus atores, assim como as relaes que eles estabelecem com o seu contexto social e com aquilo que lhes acontece. O problema dessa pesquisa consiste em conhecer as represen-taes sociais do processo sade-doena dos profissionais do PSF, considerando que esse conhecimento pode ser fundamental para o desenvolvimento de prticas educativas em sade. A abordagem metodolgica desta pesquisa foi qualitativa, tendo por base as representaes sociais dos profissionais de apoio e das equipes de sade da famlia do Centro de Sade Milionrios, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Para a coleta de dados, foi utilizada entrevista individual semi-estruturada abordando os seguintes aspectos: processo sade-doena; educao em sade; e barreiras ou dificuldades para prescrio/adoo de hbitos saudveis. Os dados foram analisados pela tcnica de anlise de contedo, a partir das categorias: dimenses do processo sade-doena; barreiras ou dificuldades para adoo de hbitos saudveis; e significados e valores da educao em sade. Os dados apontam que h necessidade de modificaes conceituais na formao permanente desses profissionais e da incluso do enfoque coletivo, abordando o conceito ampliado de sade com seus determinantes sociais e contextuais. Faz-se necessria tambm a busca de novas metodologias de educao em sade, para que os profissionais do PSF possam ir alm da informao e consigam a ressignificao dos conceitos do processo sade-doena, podendo de fato estabelecer novas prticas e novos processos de trabalho em sade.

    KEYWORDS:

    Health Education

    Social Representations

    Health Promotion.

    ABSTRACTThe sociological relevance of social representations of the health-disease process lies in the fact that they underlie the various participants practices and attitudes, as well as the relations they establish with their social context and the health events that affect them. This study focused on social representations of the health-disease process among health workers in the Family Health Program, assuming that such know-ledge is essential for developing health education practices. The study adopted a qualitative methodologi-cal approach, based on social representations by support staff and family health teams at the Milionrios Health Center in Belo Horizonte, Minas Gerais State. Data collection used a semi-structured individual interview on the following issues: health-disease process; health education; and barriers or difficulties in prescribing/adopting healthy habits. The data were submitted to content analysis, based on the following categories: dimensions of the health-disease process; barriers or difficulties in adopting healthy habits; and meanings and values in health education. The data point to the need for conceptual changes in con-tinuing training of these health workers and the inclusion of a collective focus, approaching the expanded concept of health and its social and contextual determinants. There is also a need for new methodologies for health workers in the Family Health Program to extend beyond information and redefine concepts in the health-disease process, establishing new practices and processes in health work.

    Recebido em:01/04/2010

    Reencaminhado em: 20/09/2010

    Aprovado em: 21/09/2010

    REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1, Supl. 1) : 40-50; 201240 I Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201241

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    INTRODUO

    A complexidade da vida contempornea, com mudanas glo-balizadas somadas transio demogrfica e difuso de novos hbitos e padres de comportamento, alterou as condies e a qualidade de vida da populao, o que causou mudanas no perfil das doenas e agravos sade1. Essas mudanas tam-bm se refletem na transio epidemiolgica brasileira, persis-tindo, de um lado, as doenas que emergem e/ou reemergem, como as infectocontagiosas, e, de outro, a predominncia de condies crnicas, freqentemente referidas como doenas e agravos no transmissveis (DANT).

    As doenas crnicas podem se desenvolver a partir de modos de vida, sendo considerados fatores de risco a alimen-tao inadequada, a falta de atividade fsica e o tabagismo. O sedentarismo tem sido considerado como o fator de risco mais prevalente na populao, independentemente do sexo. Asso-ciada a pouca atividade fsica, a alimentao inadequada vem contribuindo para aumentar o nmero de obesos. De acordo com estimativas globais da Organizao Mundial de Sade (OMS), mais de um bilho de adultos apresentam excesso de peso, sendo 300 milhes considerados obesos1. Assim, a pro-moo de modos de vida saudveis uma ao importante.1

    Segundo Relatrio Mundial de Sade (2003)2, dos seis principais fatores de risco para o desenvolvimento das do-enas e agravos no transmissveis, cinco esto intimamente ligados alimentao e atividade fsica hipertenso arte-rial, hipercolesterolemia, baixo consumo de frutas e vegetais, excesso de peso corporal e atividade fsica insuficiente. No Brasil, houve aumento do sedentarismo e modificaes dos hbitos alimentares. Atualmente, verifica-se que inmeros so os desafios encontrados para que a populao brasileira alcan-ce um nvel timo de nutrio e de atividade fsica.

    O Ministrio da Sade vem desenvolvendo aes progra-mticas3, que focam a promoo da sade e a preveno de DANT no Brasil. Entre elas, encontram-se a Poltica Nacional de Promoo da Sade (PNPS), Pactos pela Sade e pela Vida, em Defesa do Sistema nico de Sade (SUS) e de Gesto (PS), Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (PNAN) e o Pro-grama de Sade da Famlia (PSF).

    O fomento adoo de hbitos saudveis de vida, por meio de aes intersetoriais e intervenes planejadas, con-siste em estratgia de promoo da sade, alm de medida preventiva e teraputica de DANT. Constitui, portanto, uma prtica de educao em sade em consonncia com o modelo de vigilncia sade. A elevada prevalncia e a significativa morbi-mortalidade das doenas e agravos no transmissveis coloca-as entre os maiores problemas de sade pblica na atualidade3,4.

    Segundo Uchoa e Vidal (1994), muitos estudos revelam que os comportamentos de uma populao diante de seus pro-blemas de sade, incluindo a utilizao dos servios mdicos disponveis, so construdos a partir da percepo de sade dessa populao, a qual se ergue a partir de seu contexto so-ciocultural. O conhecimento prvio dessa percepo de sade da comunidade, que determina o pensar e o agir da populao perante o processo sade-doena, fundamental para a efici-ncia das aes de assistncia e educao em sade5.

    Diante desse cenrio, observa-se a dimenso da importn-cia da educao em sade na orientao de hbitos de vida saudveis pelos profissionais da equipe PSF. Os profissionais do PSF so atores sociais responsveis pela democratizao do conhecimento do processo sade-doena, uma da diretri-zes da ESF6.

    A Educao em Sade

    A educao em sade surge como estratgia para promover sade e preveno primria e secundria e deve ser uma pr-tica social centrada na problematizao do cotidiano, na valo-rizao da experincia dos indivduos e grupos, tendo como referncia a realidade na qual eles esto inseridos. a soma de todas as experincias que modificam ou exercem influncia nas atitudes ou condutas de um indivduo em relao sade e aos processos que necessitam ser modificados7. Tem como objetivo estimular as pessoas (pblico em foco/populao) a realizar aes de promoo sade seja pela adoo de h-bitos de vida saudveis, seja pela utilizao de forma correta e cuidadosa dos servios de sade sua disposio. Estimula-se a conscincia na tomada de decises, tanto individual como coletivamente, buscando melhorar suas condies de sade e as condies do meio ambiente. Busca, ainda, desenvolver nas pessoas o senso de responsabilidade pela prpria sade e pela sade da comunidade a que pertencem e a capacidade de participar da vida comunitria de uma maneira construti-va. Essa educao em sade tem grande papel para diminuir a distncia existente entre descobertas/estudos cientficos e a aplicao desses na vida diria das pessoas. ainda a ligao entre as expectativas da populao por uma vida melhor e as projees e estimativas dos governantes ao oferecer progra-mas de sade mais adequados a essa populao8,9.

    As aes de sade focadas somente na condio de sa-de/doena contrariam o que preconizado pela Organizao Mundial de Sade (OMS)10, que define sade como um esta-do pleno de desenvolvimento mental, fsico e de bem-estar social,no sendo meramente a ausncia de doena. Conside-rando esse modelo, a abordagem das aes e da educao em sade deve considerar, alm dos sinais e sintomas das

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201242

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    doenas, o impacto destes na funcionalidade dos indivduos, voltado para o entendimento de fatores sociais, psicolgicos e ambientais que possam influenciar todas as funes exercidas.Considera-se funcionalidade todas as funes e estruturas do corpo e a capacidade do indivduo em realizar atividades e ta-refas relevantes para sua rotina diria, bem como sua partici-pao na sociedade na qual est inserido. A incapacidade, por sua vez, engloba as diversas manifestaes de uma condio de sade, como prejuzos nas estruturas e funes do corpo e dificuldades no desempenho de tarefas dirias, bem como em desvantagens na interao entre indivduos e sociedade11-14. A incapacidade no , portanto,um atributo individual, mas o resultado direto das interaes entre os diversos fatores me-diadores relativos determinada condio de sade. Esses mediadores envolvem tanto os aspectos especficos do indi-vduo (como deficincias nas estruturas e funes corporais patologias), como aqueles referentes ao contexto externo ao sujeito, dentre eles: diferenas culturais e a disponibilidade de servios e de polticas pblicas voltadas para a sade da popu-lao (fatores ambientais)11,15.

    A educao em sade deve ser capaz de utilizar elemen-tos importantes dos aspectos socioculturais de uma popula-o e integr-los aos conhecimentos tcnico-cientficos da di-menso biolgica, para explicar a complexidade do processo sade-doena e orientar novas prticas de cuidados com a sade16. A educao e a sade so reconhecidas por Pereira (2003) como espaos de produo de prticas e conhecimen-tos determinantes do desenvolvimento das potencialidades humanas, no limitadas ao campo da sade, mas ampliadas para o campo social17,18.

    A educao em sade tem papel central nas aes de pro-moo da sade e, a partir de seus princpios e prticas, apa-rece como estratgia relevante para superar o assistencialismo curativista fundamentado na tecnificao dos procedimentos da sade enfocados na doena exclusivamente.

    Dickson e Abegg citado por Kriger19 definem trs funda-mentos como princpios inseparveis da promoo da sade e possibilidades de educao em sade: 1) reconceituar a sa-de como mudana de ideologia capaz de ampliar a meta de melhorar o estado de sade, seja individual ou coletiva, para buscar a justia social; 2) potencializao como processo pelo qual indivduos e comunidades so capazes de tomar o poder e agir para transformar suas vidas e seu meio;e 3) participao comunitria, considerando que a sade determinada pela equidade e justia social, em que a participao efetiva da po-pulao passa a ocupar lugar de destaque.

    Nessa perspectiva, repensar os contedos e prticas edu-cativas de sade direcionadas comunidade, incluindo a

    dimenso social e poltica do processo sade-doena para o fortalecimento do controle social, um objetivo necessrio nos processos de educao em sade20. Contribui para o desenvol-vimento do conceito de cidadania, entendido como direito e dever do cidado de participar ativamente de processos re-levantes de interesse pblico, como o caso da sade, e para benefcio da coletividade.

    Representaes de Sade e Doena

    Apesar de todos os conceitos estabelecidos sobre sade e do-ena, sabe-se que eles, ao longo dos anos, tm sido compre-endidos ou enfrentados de acordo com as diversas formas de existir das sociedades, expressas nas diferentes culturas e formas de organizao. Eles dependem do entendimento que se tem do ser e de sua relao com o meio em que est in-serido. Esse entendimento varia de acordo com a cultura de cada lugar e o momento histrico. Por tudo isso, a conceitua-o de sade se faz to difcil de ser fixada, uma vez que est condicionada ao momento histrico e s condies concretas e peculiares de existncia21.

    Adam e Herzlich (2000)22 analisaram muitos trabalhos internacionais sobre as representaes de sade e doena e concluram que as pessoas se apoiam em conceitos, smbolos e estruturas interiorizadas na interpretao dos fenmenos orgnicos, conforme os grupos sociais a que pertencem. Algu-mas doenas firmam-se no imaginrio coletivo, enquanto ou-tras, os indivduos, em funo de suas experincias e contexto, podem elaborar ou reelaborar interpretaes, apoiando-se em recursos coletivos.

    As continuidades e descontinuidades das distintas con-cepes de doena, desde a Antiguidade at o incio do sculo 20, foram identificadas na abordagem histrica das represen-taes sociais da doena, realizada por Sevalho (2003)23, que percorre um conjunto de autores como Canguilhen, Le Goff, Rosen, Foucault, Tamayo, Capra e outros.

    As representaes sociais so conceituaes que buscam explicar as alteraes/mudanas e experincias (assim como a experincia de sade-doena) do homem por uma perspec-tiva coletiva, mas sem deixar de lado a sua individualidade. Traduzem a maneira como uma comunidade vive, age e pensa suas relaes, sendo resultado do acmulo de experincias, tradies carregadas por geraes. No devem ser vistas como sistemas fechados que iro determinar as prticas do indiv-duo, pois so a todo momento refeitas e ampliadas em decor-rncia das interaes indivduo-meio e indivduo-indivduo24.

    Entendidas como abordagem e ferramenta de pesquisa, so capazes de revelar dados em uma perspectiva interdisciplinar, buscando as subjetividades coletivas, podendo ser aplicadas

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201243

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    na rea da sade,tendo em vista a integralidade para a eluci-dao de questes relacionadas aos determinantes sociais do processo sade-doena. Dessa forma, as representaes so-ciais buscam investigar a significao, os valores, interesses e viso de mundo de diferentes segmentos da populao, sendo amplamente discutidas e documentadas na literatura acad-mica25,26. Por isso, estudos focados na percepo de sade das equipes multiprofissionais so importantes para o entendi-mento do processo de trabalho desses profissionais e para o planejamento das aes de educao permanente em sade5,27.

    OBJETIVO

    O problema desta pesquisa consiste em conhecer as repre-sentaes sociais do processo sade-doena dos profissionais de sade de uma unidade de ateno bsica envolvidos nos processos de educao em sade, considerando que esse co-nhecimento pode ser fundamental para o desenvolvimento de prticas educativas em sade.

    METODOLOGIA

    Tipo e Local da Pesquisa

    O presente estudo teve carter transversal exploratrio e foi realizado com uma amostra de convenincia de profissionais da sade da Unidade Bsica de Sade (UBS) Milionrios, do municpio de Belo Horizonte, Minas Gerais. O projeto foi aprovado pelo Comit de tica da UFMG e da Prefeitura Mu-nicipal de Belo Horizonte.

    Sujeitos

    Sendo uma abordagem metodolgica qualitativa, o nmero da amostra foi determinado pelo critrio de saturao. Foram entrevistados 68 profissionais da sade da UBS Milionrios, incluindo porteiros, guardas municipais de sade, auxiliares administrativos, auxiliares e tcnicos de enfermagem, agentes da zoonose, odontlogos, psiclogos, tcnicos e auxiliares de higiene bucal e membros das equipes de sade das Equipes de Sade da Famlia: mdicos, enfermeiros e agentes comu-nitrios.

    Aspectos ticos

    Este estudo faz parte do projeto de pesquisa Promoo de Modos Saudveis de Vida em Adultos e Idosos Residentes em reas de Abrangncia de Unidades Bsicas de Sade do Municpio de Belo Horizonte, Minas Gerais, desenvolvido por docentes e discentes da UFMG, dentro do projeto Programa de Educao pelo Trabalho em Sade em parceria com a Secre-taria Municipal de Sade de Belo Horizonte, no ano de 2009. O trabalho foi aprovado pelos Comits de tica em Pesquisa

    da UFMG e da Secretaria Municipal de Sade, tendo sido fi-nanciado com recursos do Pr-Sade UFMG/PBH e do PET--Sade 2009.

    Todos os envolvidos aceitaram participar voluntariamen-te da pesquisa aps a leitura e assinatura do Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido.

    Forma de Coleta e Tratamento dos Dados

    Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas semi-estru-turadas cujas gravaes foram realizadas na Unidade Bsica de Sade. O roteiro da entrevista foi constitudo de seis ques-tes abordando os seguintes temas: processo sade-doena; educao em sade; barreiras ou dificuldades para prescri-o/adoo de hbitos saudveis. Para interpretao dos da-dos foi utilizada a tcnica de anlise de contedo28, que um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes. Essa tcnica se refere a procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das falas, obtendo indicadores, qualitativos ou no, que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo dessas falas. Aps a leitura das entrevistas, esse material foi organizado, definindo-se as unidades de registro e de contexto. Para a anlise dos dados foram criadas categorias, tais como: 1) dimenses do proces-so sade-doena; 2) barreiras ou dificuldades para adoo de hbitos saudveis; e 3) significados e valores da educao em sade.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Para melhor contextualizao dos resultados desta pesquisa, cabe descrever o Centro de Sade Milionrios, uma das vinte Unidades Bsicas de Sade do Distrito Sanitrio do Barreiro, no municpio de Belo Horizonte, Minas Gerais. O centro tem sob sua responsabilidade sanitria uma populao de 21.300 habitantes29. Sua rea de abrangncia classificada como de mdio risco e dispe da seguinte estrutura operacional: cinco equipes de sade da famlia; duas equipes de sade bucal;um assistente social; e quatro mdicos de apoio, sendo um gine-cologista, um clnico geral e dois pediatras. O centro ainda se constitui sede de uma equipe matricial de sade mental (um psiquiatra e duas psiclogas), a qual presta assistncia po-pulao adstrita de mais duas outras UBSs. Conta ainda com o servio de zoonoses, contando com seis agentes de campo e um coordenador; servio administrativo (quatro funcion-rios); servio de higienizao (dois funcionrios) e gerncia.

    Os resultados encontrados foram analisados e organiza-dos em trs categorias dimenses do processo sade-doena; dificuldades e barreiras para a adoo de hbitos de vida sau-dveis; e significados e valores da educao em sade A seguir

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201244

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    sero apresentadas as falas, classificadas em cada categoria de anlise:

    Dimenses do Processo Sade-doena

    Sade voc poder fazer as coisas que voc deseja... voc

    ter hbito de vida boa... voc no precisar s vezes de tomar

    nenhum medicamento.

    Sade a preveno...preveno contraa doena... pra no

    chegar adoena.

    No meu entendimento do que sade... um estado em que

    o indivduo se encontra sem...como que eu vou falar?... sem

    manifestaes de anormalidades.

    Os dados revelam que h um predomnio da concepo biomdica sobre o estado de sade, centralizando a doena no processo, presentes nas vinhetas que apresentaram o maior nmero de repeties, limitando as causas do estado de sa-de ao autocuidado sobre o corpo. Doena considerada como alterao da estrutura e funo corporal, decorrente muitas vezes de descuido individual com o prprio corpo.

    Doena seria algo que no vai bem com o nosso corpo.

    Doena qualquer fator que leva ao prejuzo das funes

    normais do organismo, causando danos e prejudicando o dia

    a dia daquela pessoa ... acho que s isso.

    Doena a perda da capacidade fsica... a falta de uma ali-

    mentao adequada, de lazer ... t fazendo doena como, por

    exemplo, diabetes, hipertenso ... obesidade ... acho que isso

    que d pra concluir que doenaou sade ...

    Doena tudo aquilo quevem afetar o bem-estar da pessoa ...

    tanto doena psicolgica quanto... fsica ...

    Todas as falas priorizam o cuidado com o corpo e o seu bom funcionamento. H ainda um discurso higienista e as-sistencialista sobre o corpo, a partir da prescrio de hbi-tos e comportamentos individuais como nica possibilidade de se evitar as doenas. Esse mesmo dado foi observado no estudo de Medeiros (2007)25 com profissionais de servio e moradores da comunidade do Corips,em Blumenau, Santa Catarina.

    Sade pra mim uma boa qualidade de vida, mantendo

    exerccio fsico [...] que ajuda muito [...] alimentao, ter la-

    zer e, sobretudo, t tranqilo [...] ter um trabalho legal, n?

    Ah... doena a falta... falta de moradia... de uma assistn-

    cia bsica adequada... falta de escolaridade...isso tudo...falta

    de uma boa escola... ou seja... uma estrutura... isso tudo causa

    falta da sade...a falta das necessidades bsicas...

    interessante observar que j identificam alguns elemen-tos do conceito ampliado da sade considerando fatores con-textuais27,30,31. A participao/insero e vida social do indiv-duo, assim como os fatores ambientais,fazem-se presentes de maneira incipiente. No entanto, quando falam sobre cuidado e preservao da sade, ainda reduzem aes preveno de doenas e aes individuais por meio de uma boa alimentao e prtica de atividade fsica para o bem-estar e promoo de sade.

    Tenho bastante cuidado com a limpeza... tipo assim... tipo

    de sade... doenas que passam... n ?... contagiosas... cui-

    dados... lavar as mos todas as vezes... toda hora que pegar

    em alguma coisa lavar as mos... cuidando da sade mesmo...

    limpeza, higienizao.

    ... eu fiz uma reeducao, n ?... eu comecei a fazer a cami-

    nhada, foi com isso que foi tirada a medicao da hiperten-

    so... s depois disso e isso bater e valer... eu paro de fazer

    caminhada... s vezes uns quarenta trinta dias... a minha

    presso aumenta a quando eu volto a fazer caminhada minha

    presso abaixa, e diminu o sal, diminu a fritura...

    ... a atividade fsica, ela vai propiciar ter uma boa sade... e

    agora, caso contrrio, se a pessoa ficar na vida no sedentaris-

    mo, alimentao inadequada ... isso a vai provocando danos

    ao organismo e vai causando com isso doenas, n ?

    A grande maioria dos entrevistados ainda no tem clareza da relao do estilo de vida com a doena. Um deles, quando questionado se havia alguma relao do seu estilo de vida com a sua sade, respondeu:

    Meu estilo de vida com a minha sade? Sim h relao... eu

    tenho um estilo de vida e por isso eu tenho a sade que eu tenho.

    Talvez se eu bebesse ou fumasse, eu teria outra... ento h.

    Esse mesmo entrevistado respondeu questo seguinte, que questionava sobre a relao do seu estilo de vida e a do-ena, respondeu:

    Acho que no... acho que no.

    Aqueles que fazem alguma correlao deram maior im-portncia ao ritmo de vida como possvel disparador de dese-quilbrio da sade. clara a responsabilizao individual pelo adoecimento:

    ... eu me alimento mal e fora do horrio...

    Eu fumo...

    ... sou sedentrio

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201245

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    Os fatores socioambientais no so citados, o que preo-cupante devido influncia deles em todo o processo de ado-ecimento, podendo representar a sua principal causa.

    Existe... acho que a correria do dia a dia acaba deixando a

    gente um pouquinho estressado...

    Acho que a dificuldade a falta de tempo... e tambm... que

    a gente passa no dia a dia... a correria... isso afeta assim... o

    psicolgico... deixa a gente mais cansada mais estressada...

    Procuro me alimentar bem... dormir bem... tomar bastante

    lquido... evito bebida alcolica, cigarro e alimentos gorduro-

    sos... isso a...

    ...me alimento bem...fao exerccios e fao check-up... pelo

    menos uma vez no ano eu vou ao mdico.

    Resultado semelhante pode ser observado em uma pes-quisa realizada com adultos residentes em reas de abran-gncia de 240 Unidades Bsicas de Sade das regies Sul e Nordeste. Entre os adultos, o primeiro fator priorizado para a manuteno da sade foi a alimentao saudvel, o segundo foi o exerccio fsico regular e o terceiro fator, no Sul, foi no fumar, j no Nordeste, foi consultar o mdico regularmente32.

    Esses resultados so preocupantes, j que se esperava que os entrevistados tivessem uma viso mais ampla do autocuidado, o qual, de acordo com Neves e Wink (2007)33, est alm dos cuidados com a alimentao, exerccios fsicos e exames peridicos, devendo ir alm do modelo biomdi-co e englobar o plano fsico, mental, emocional, espiritual e energtico.

    Outra percepo da sade apresentada nas entrevistas foi relacionada qualidade de vida, como exemplifica a fala: Sade ter uma boa qualidade de vida. Dizer, portanto, que o conceito de sade se relaciona intimamente qualidade de vida amplia a concepo de sade apenas como ausncia de doena e representa um grande avano, porque manifesta o desconforto dos profissionais sobre o reducionismo biomdi-co. Apesar disso, ainda no o suficiente para realmente de-finir com clareza e profundidade o conceito de tal questo e revela a dificuldade dos profissionais para encontrar algum sentido terico e epistemolgico fora do marco referencial do sistema mdico, que, sem dvida, domina a reflexo e a prti-ca do campo da sade pblica.

    Os profissionais da UBS Milionrios, quando indagados sobre o que doena, revelam-na, em sua maioria, como au-sncia de sade. Muitos profissionais tambm conceituam do-ena como o funcionamento inadequado do organismo, uma disfuno biolgica.

    Doena qualquer fator que leva ao prejuzo do organismo

    e das suas funes vitais, causando danos e prejudicando o

    dia daquela pessoa.

    Doena exatamente a falta das condies bsicas de cuida-

    do, de higiene e at de nvel mental.

    Ao longo das entrevistas, alguns profissionais relataram vrios fatores que podem influenciar na presena ou no da doena. possvel inferir que a doena extrapola o aspecto fsico, mas envolve a instncia psicolgica e uma diversidade de fatores determinantes das condies de sade e/ou de do-ena de cada cidado.

    Pode-se observar que o processo sade-doena, ainda hoje, est intimamente relacionado ao processo fisiopatolgico em si, devido freqente presena da doena em relao com a manifestao de mal-estar fsico. Alm disso, a anlise con-junta dos dois conceitos, sade-doena, permite afirmar que, embora o conceito ampliado da OMS para sade seja bastante divulgado e reproduzido nas falas, ele no de todo compre-endido, pois os profissionais da sade entrevistados revela-ram, em suas respostas, que no conseguem perceber a sade em toda a sua dimenso.

    Dificuldades e Barreiras para a Adoo de Hbitos de Vida Saudveis

    A prtica de atividades fsicas e a ingesto de uma alimenta-o balanceada e saudvel, ou seja, a manuteno de hbitos de vida saudveis, constituem hoje dois importantes ele-mentos de promoo da sade, comprovadamente eficazes, na teraputica de diversas doenas crnicas cardiovascula-res, respiratrias, steo-musculares, endcrino-metablicas, psiquitricas, dentre outras33-40. Contudo, h grande dificul-dade de se programar essas mudanas na vida dos indiv-duos.

    A anlise do eixo temtico Dificuldades para a adoo de hbitos saudveis de vida revelou que a maioria dos entre-vistados associa a dificuldade de adoo de hbitos saudveis de vida s condies inerentes realidade atual, em que a fal-ta de tempo e o estilo de vida ocidental regem a priorizao das atividades e compromissos na vida.

    Eu acho que a correria do dia a dia, muito estresse, movi-

    mento, trnsito, tudo isso ajuda a prejudicar.

    O prprio ritmo de vida. necessrio trabalhar muito. A

    violncia, o trnsito, o prprio ritmo de vida muito acelera-

    do, com tudo isso fica muito difcil. Se voc precisa trabalhar

    muito, se voc tem uma vida muito corrida, como voc vai

    promover hbitos saudveis de vida? Voc tem muito pouco

    tempo para isso, voc se dedica durante o dia todo s outras

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201246

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    pessoas e a voc se esquece de voc, sobra pouco tempo para

    voc, para se cuidar.

    Acho que s vezes a gente preenche os horrios com trabalho

    e acaba no sobrando tempo. Acho que mais assim, o tempo

    mesmo.

    No que diz respeito orientao/prescrio de hbitos de vida saudveis, muitos entrevistados no compreenderam a pergunta. Outros afirmaram no haver dificuldades para tal, e sim para que o usurio adote tal prescrio/orientao.

    A fragilidade da comunicao e a falta de tempo tambm foram citadas como dificuldade para orientao/prescrio de hbitos saudveis de vida.

    Eu acho que a dificuldade no prescrever, e sim o usu-

    rio fazer aquilo que voc prescreveu. A gente sempre orienta

    sobre os hbitos saudveis, mas tem hora que nem a gente

    consegue cumprir esses hbitos saudveis; e o paciente tem a

    mesma dificuldade, ter que trabalhar muito e no ter tempo

    para cuidar da prpria sade. Ento, at que a prescrio seja

    feita, o problema o cumprimento dela.

    Para orientar no tenho nenhuma dvida. S que s vezes

    a pessoa no tem condio de seguir o hbito saudvel que a

    pessoa orienta.

    Os entrevistados consideram que hbitos de vida sau-dveis so relativos alimentao saudvel e prtica de atividade fsica. Para eles, a maior barreira para a adoo de hbitos de vida saudveis a dificuldade de se alterar um cos-tume adquirido h muito tempo e j presente no dia a dia das pessoas. A maioria demonstra ter conscincia da necessidade de mudana, mas no conseguem aplicar em suas vidas os h-bitos considerados saudveis no dia a dia.

    Eu acho que o cansao... que eu chego to... cansada em

    casa... e desaminada de sair para fazer uma atividade fsica...

    s isso...

    ... nossa... eu acho que no ter... igual eu no tive... ... na

    minha famlia... todo mundo tem esse tipo de hbito... ento

    eu no fui acostumada com isso... ento pra eu poder mudar...

    pra mim muito complicado sabe,... pra poder... eu no con-

    sigo... tem certos tipos de coisas que eu no como mesmo...

    muito complicado... Porque eu no fui acostumada com isso

    desde pequena... ento pra poder mudar ... difcil.

    A falta de tempo para colocar em prtica esses conhe-cimentos refora a ideia de que muito do que transmitido como importante para o cuidado com a sade no faz parte da realidade de vida dessas pessoas.

    A dificuldade mesmo a falta de tempo... com correria do dia

    a dia... a gente corre atrs de muita coisa e s vezes esquece

    da gente... porque hoje em dia... a gente t num lugar muito

    competitivo... ento a gente corre demais atrs das coisas e

    esquece da gente... isso a.

    Em geral... ou pra mim?... as dificuldades... eu acho que ...

    talvez a preguia das pessoas, n?... em ter esses hbitos sau-

    dveis... o dia a dia... a correria do dia a dia... o tempo... isso

    a eu acho que prejudica muito... na adoo desses hbitos

    saudveis... das pessoas...

    A dificuldade na adoo de novos hbitos e a falta de in-teresse em escutar orientaes foram os principais aspectos apontados como barreiras para a prescrio e orientao de hbitos saudveis. Essa falta de interesse ou motivao em participar das atividades educativas, identificada no estudo de Medeiros (2007)25, considerada como um desafio na edu-cao de adultos.

    No caso a ... eu acho que mais na educao mesmo... o

    brasileiro ele no tem essa coisa de na educao... j receber,

    por exemplo, de passar de pai pra filho... a gente no teve

    isso... ento hoje em dia eu tento passar pros meus filhos na

    educao de ter hbitos saudveis, mas como a gente no teve,

    eu no tive... fica difcil da gente adaptar a isso boas maneiras

    devida saudvel entendeu? A fica mais difcil...

    ... falta de vontade... tem pessoas que no ouvem de jeito

    nenhum...

    importante ressaltar que o estilo de vida de um indivduo determinado por diversos fatores: culturais, histricos, sociais, econmicos, educacionais, familiares, pessoais, dentre outros, que interferem diretamente no processo de modificao de seus hbitos ou comportamentos.Trabalhos cientficos discutem a influncia desses elementos no processo de mudana de hbi-tos dos indivduos, enquadrando-os em fatores predisponentes, fatores facilitadores e fatores reforadores. Dentre os fatores predisponentes, encontram-se elementos culturais, histricos e orgnicos. Fatores facilitadores se relacionam com o suporte poltico e social, bem como econmico e financeiro. Por fim, os fatores reforadores se referem aos agentes envolvidos na as-sistncia sade, aos familiares e s redes de relao social45,48.

    Voc j est acostumado com o hbito, ento difcil voc

    mudar tudo o que voc fez durante anos, mudar de uma hora

    para outra

    Disciplina. Primeiro ter a conscincia na verdade, consci-

    ncia do que que saudvel dessa escolha, e depois a disci-

    plina em manter os hbitos saudveis.

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201247

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    Diversos estudos que analisam os processos envolvidos na mudana do comportamento dos indivduos diante das demandas da sade, apontam a existncia de cinco fases para mudana de hbitos. Eles discutem que a no percepo, por parte dos profissionais, da fase em que o sujeito se encontra, pode explicar, em parte, a grande dificuldade que se obser-va para a adoo e prtica dos hbitos saudveis de vida por aqueles indivduos37-40.

    Primeiramente, na fase pr-contemplativa, encontram-se os indivduos que no tm desejo ou vontade de adotar quais-quer prticas saudveis ou modificaes de seu comporta-mento. J na fase contemplativa, existe, por parte dos sujeitos, a vontade de iniciar alguma modificao de seus hbitos, con-tudo, eles ainda no o fazem pela existncia de outros elemen-tos dificultadores, como condio financeira ruim, ausncia de aparelhos sociais (praas, pistas de caminhada, etc.), dentre outros. A partir da fase de preparao, os indivduos j reali-zam mudanas noseu estilo de vida, como a adoo da prti-ca de atividades fsicas e uma alimentao saudvel;contudo, nesta fase, essa prtica ainda no realizada com regularida-de. J na fase de ao, observa-se regularidade, inferior a seis meses, na prtica e adoo de mudanas nos hbitos de vida. Por fim, na fase de manuteno, tem-se a consolidao da mu-dana no estilo de vida, com o indivduo adotando prticas saudveis de vida h mais de seis meses45-48.

    A falta de estrutura e a falta de dinheiro foram ob-servadas nas respostas de uma pequena parcela dos entrevis-tados, como exemplificado na afirmao Dificuldade finan-ceira.

    Eu acho que ter acesso a essas coisas: acesso moradia, a

    um bom emprego, educao; voc precisa ganhar bem, ter

    uma condio. (...) Algum ou o governo proporcionarem isso

    para a pessoa.

    Belo Horizonte tem, historicamente, investido na formu-lao, implementao e concretizao de polticas de promo-o, proteo e recuperao da sade. H, pois, um grande esforo na construo de um modelo de ateno sade que priorize aes de melhoria da qualidade de vida dos sujeitos e coletivos. Nesse sentido, a promoo da sade e dos modos saudveis de vida so uma das estratgias de produo de sade que prope um modo de pensar e de operar articula-do s demais polticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de sade brasileiro, contribuindo, assim, para a construo de aes que possibilitam responder s necessidades sociais em sade. Especificamente na rea de abrangncia pesquisada, a existncia do aparelho social Academia da Cidade permite o

    acesso universal da populao adscrita, de modo a garantir o acesso livre prtica e adoo de hbitos saudveis de vida, como atividades fsicas, tal como referido no trecho:

    Eu no acredito que tem muita dificuldade no. Acho que

    basta querer, ainda mais aqui no bairro, depois com o Centro

    Esportivo; e, geralmente, a pessoa coloca a dificuldade finan-

    ceira.

    Por fim, alguns dos entrevistados ou no relatam possu-rem qualquer dificuldade na adoo de hbitos de vida sau-dveis ou no compreenderam a questo a eles dirigida sobre a temtica. O trecho: Acho que s tem dificuldade quando a gente no acostumada desde criana. Eu no tenho muita dificuldade no um dos que exemplificam tal considerao.

    Significados e Valores da Educao em Sade

    Dificuldades...talvez a disponibilidade das pessoas em estar

    ouvindo...capacitao tambm...da gente...de t aprendendo...

    de t conhecendo...pra t passando isso pras pessoas...

    ...a prescrio...orientao...ela no difcil...ela fcil...o

    problema realmente o entendimento...porque a prescrio

    voc pode somente colocar num papel ou ento fazer uma

    palestra...e o difcil... o paciente entender que realmente isso

    importante pra ele fazer.

    Os entrevistados se reconheceram despreparados para orientar atividades educativas sobre hbitos de vida saud-veis, pois eles mesmos no realizam todos os hbitos de vida considerados saudveis. Outros no consideram que orien-tar/prescrever hbitos de vida saudveis seja uma tarefa de sua responsabilidade, e sim responsabilidade exclusiva do mdico.

    Ah... assim... eu vou ao mdico... consulto... sou orientada...

    trabalho... tambm com o pblico... oriento muito as pessoas

    tambm... mas eu... na minha vida prtica... eu no fao.

    Pra mim t orientando pessoas?... Bom, eu procuro orientar

    assim... dentro do possvel...

    Eu no acho muito difcil orientar pessoas no... acho difcil a

    pessoa seguir minha orientao... o mais difcil isso... Tem

    pessoas que s vezes no seguem... Mas orientar a gente t

    sempre orientando...

    Eu acho assim entendeu... sobre prescrio... tem que ser

    igual medicamento: tem que tomar os medicamentos ... tudo

    prescrito... tudo prescrito pelo mdico... j vai farmcia ali...

    j compra o remdio e j toma, entendeu?... eu acho... que

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201248

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    tem que ter uma boa consulta primeiro... e ser prescrito pelo

    mdico.

    Eu acho que a falta s vezes do conhecimento... s vezes eu

    acho que de tcnicas mesmo... a respeito do colesterol...seu

    colesterol pode ir at tanto... s vezes conhecimento do que

    voc pode passar... a respeito da alimentao... qual alimen-

    tao... combina com qual,o que mais adequado... a gente

    s vezes orienta...no caso fazer atividade fsica...alimentar

    bem... comer muita fruta... verdura... falta mais esclareci-

    mento... mais segurana... naquilo que a gente vai falar pro

    paciente.

    De acordo com Gazzinelli et al.27 as prticas educativas pautadas na perspectiva conteudista, normativa e cientificis-ta demoraram a demonstrar que aquisio de saber institudo no resulta, necessariamente, em mudana de comportamen-to. Essa discusso, recorrente em outros estudos, demonstra que a educao em sade e as mensagens a serem adquiri-das pela populao no seguem uma lgica vertical, na qual o que transmitido comea a fazer parte da prtica cotidiana, tornando-se fator responsvel por transformaes5, 27,29. Esses conhecimentos no so simplesmente aceitos, mas devem ser inseridos no cotidiano da populao, para que se tornem atitudes habituais, com conseqente formao de representa-es sociais, que iro manter esse processo de enraizamento da nova prtica adquirida. Para que esse complexo processo ocorra, necessrio que os seguintes fatos sejam considera-dos: a vivncia da populao, a cultura e a prtica j adotados pelos indivduos, a viso de mundo, os valores dos cidados, e todas as suas representaes sociais. Ento, cabe ao indiv-duo, j informado, adotar e adequar a sua realidade, adaptar as suas significaes e individualismos culturais, sociais, am-bientais aos j existentes na sociedade,adequando-se s mu-danas27,29.

    Informar a populao transmitindo o conhecimento de maneira verticalizada deixa de lado toda a complexidade do indivduo e todos os diferentes fatores que influenciam a ado-o de seus comportamentos e modo de vida5. As discusses existentes indicam que todo modo de viver e todos os compor-tamentos de uma determinada populao diante de diferentes problemas, seja de sade seja de doena, e at mesmo a utiliza-o dos servios de sade acessveis a ela, so consequncias e construes decorrentes de todo o seu universo especfico, seus valores e aspectos culturais, sociais, ambientais e biol-gicos. Esses fatores demonstram a necessidade e importncia de construir programas e aes em sade coerentes e funda-mentados nas formas e singularidades de agir e viver de uma determinada populao a que visam5,27.

    CONCLUSO

    Os dados revelam que, apesar de terem a informao sobre o conceito ampliado de sade, os profissionais ainda percebem sade como o oposto de doena e ainda trabalham com esse enfoque. O modelo assistencial e o processo de trabalho ainda esto estruturados focalizando a doena, e todas as aes esto centradas no seu enfrentamento.

    H necessidade de modificaes conceituais na formao desses profissionais e a incluso do enfoque coletivo na edu-cao permanente, abordando o conceito ampliado de sade com seus determinantes sociais e contextuais. Faz-se necess-rio tambm a busca de novas metodologias de educao em sade que vo alm da informao,promovendo a ressignifi-cao dos conceitos do processo sade-doena e possibilitan-do, de fato,o estabelecimento de novas prticas e novos pro-cessos de trabalho em sade.

    Apoio: O presente estudo foi financiado com recursos do PROSAUDE UFMG e do PETSADE /2009.

    REFERNCIAS

    1. The World Health Report 2008: Primary Health Care Now More Than Ever [online]. United Nations; 2008 [acesso em 20 mar 2010]. Available: http://www.who.int/whr/2008/en/

    2. The Word Health Raport 2003: Shaping the Future [online]. United Nations; 2003 [acesso em 20 mar 2010]. Available: http://www.who.int/whr/2003/en/

    3. Brasil. Ministrio da Sade. Portal da Sade. [homepage]. Braslia; [acesso em 11 nov 2009]. Disponvel em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/default.cfm

    4. Brasil. Ministrio da Sade. Diretrizes e recomendaes para o cuidado integral de Doenas Cr nicas no trans-missveis. Braslia: MS; 2008. (Srie B. Textos Bsicos de Sade.) (Srie Pactos pela Vida; v.8)

    5. Uchoa E, Vital JM. A antropologia mdica: elementos con-ceituais e metodologia para uma anlise da sade e doen-a. Cad Sade Pblica. 1994;10:493-504.

    6. Brasil. Ministrio da Sade. Sade da famlia: uma estra-tgia para a reorientao do modelo assistencial. Braslia: MS; 1997.

    7. Levy S N, Silva JJC, Cardoso IFR, Werberich PM, Moreira LLS, Montiani H, Carneiro RM. Educao em Sade His-trico, Conceito e Propostas. In: Conferncia Nacional de Sade. [online] [acesso em 10 out. 2009]. Disponvel em: http://www.datasus.gov.br/cns/temas/educacaosaude/educacaosaude.htm

    8. Melo MC, Souza AL, Leandro EL, Mauricio HA, Silva I D, Oliveira JMO. A educao em sade como agente promo-tor de qualidade de vida para o idoso. Cincia & Sade

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201249

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    Coletiva [peridico na internet].2009 Set - Out [online] [acesso em 13 out. 2008]; 14.[cerca de 8 p.]. Disponvel em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000800031

    9. Candeias NMF. Conceitos de educao e de promoo em sade: mudanas individuais e mudanas organizacio-nais. Rev. Sade Pblica [peridico na internet].1997 Abr [online] [acesso em 13 out. 2009]; 31(2): [cerca de 6p.]. Dis-ponvel em: http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/cd26/fulltexts/0872.pdf

    10. Organizao Mundial da Sade. Organizao Pan-ame-ricana de Sade. CIF Classificao Internacional de Fun-cionalidade, Incapacidade e Sade. Universidade de So Paulo; 2003.

    11. Capra FH. O ponto de mutao: a cincia, a sociedade e a cultura emergente. So Paulo: Ed. Cultrix; 1992. cap. 10, p.299-350.

    12. Sampaio RF, Mancini MC, Gonalves GGP, Bittencourt NFN, Miranda ADE, Fonseca ST Aplicao da Classifi-cao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF) na prtica clnica do fisioterapeuta. Rev Bras Fisiot. 2005; 9(2): 129-136.

    13. Farias N, Buchalla, CM. A Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade da organizao mundial da sade: conceitos, usos e perspectivas. Ver. Bras. Epidemiol. 2005:8(2): 187-193.

    14. Sampaio RF, Luz MT Funcionalidade e Incapacidade hu-mana: explorando o escopo da classificao internacional da Organizao Mundial da Sade. Cad. Sade Pblica. 2009; 25(3): 475-483.

    15. Arajo ES. A Classificao Internacional de Funcionalida-de, Incapacidade e Sade (CIF) em fisioterapia: uma revi-so bibliogrfica. So Paulo; s.n.2008.

    16. Briane M, Joo LGCS. Educao em sade: representaes sociais da comunidade e da equipe de sade. Dynamis rev tecno-cientfica. out-dez/2007; 13 (1 ) 120-126.

    17. Pereira ALF As tendncias pedaggicas e a prtica educati-va nas cincias da sade. Cad. Sade Pblica. Rio de Janei-ro 2003; 19(5). [online] [acesso em 3 maio 2007]. Disponvel em www.scielo.br/pdf/%0D/csp/v19n5/17825.pdf

    18. Cordn JAP. A Insero da Odontologia no S.U.S. avanos e dificuldades. Braslia, 1998. Doutorado [Tese] Faculdade de Cincias da Sade da Universidade de Braslia.

    19. Kriger L. Promoo de sade bucal paradigma, cincia e humanizao. 3 ed. So Paulo: Artes Mdicas, 2003.

    20. Silveira JLGC, Campos MLC, Berndt RL. Educao em sade como estratgia para o controle social em sade. Pesq Bras odontoped Clin Integr. Joo Pessoa jan./abr. 2006; 6(1) 29-34.

    21. Souza ECF, Oliveira AGRC. O processo sade-doena: do xam ao cosmos. Odontologia Social: textos selecionados, publicado pelo Curso de Mestrado em Odontologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Rio Grande do Norte: Editora da UFRN; 1998.

    22. Adam P, Herzlich C. Sociologia da doena e da medicina. Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Corao, 2000.

    23. Sevalho G Uma abordagem histrica de representaes so-ciais de sade e doena. Cadernos de Sade Pblica 1993; 9(3) 349-365.

    24. Gomes R, Mendona EA, Pontes ML. Representaes So-ciais e a Experincia da Doena Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 18(5): 1207-1214 Set - Out, 2002.

    25. Medeiros B, Silveira JLGC. Educao em sade: representa-es sociais da comunidade e da equipe de sade. Dynamis revista tecno-cientfica (out-dez/2007) vol.13, n.1, 120 -126

    26. Moscovici S. Representaes sociais. Investigaes em psi-cologia social. 2 ed. Petrpolis: Vozes, 2004. 403 p.

    27. Gazzielli MF, Gazzielli A, Reis DC, Penna CMM. Educao em sade: conhecimentos, representaes sociais e experi-ncias da doena. Caderno de Sade Pblica 2005; 21(1): 200-206.

    28. Rodrigues MSP, Leopardo MT. O mtodo de anlise de contedo: uma verso para enfermeiros. Fortaleza: Funda-o Cearense de Pesquisa e Cultura; 1999.

    29. Belo Horizonte. Portal Sade . [online].2006. [acesso em 14 jun 2009] http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comuni-dade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=saude&lang=pt_BR&pg=5571

    30. Canesqui AM. Os estudos de antropologia da sade/doena no Brasil na dcada de 1990. Cinc. sade coleti-va [online] [peridico na Internet] 2003 [acesso em 3 nov. 2008]; 8(1):[cerca de 14 p.]. Disponvel em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413--81232003000100009&lng=en&nrm=isso

    31. Duarte LFD. Indivduo e pessoa na experincia da sade e da doena.Cincia & Sade Coletiva 2003;8(1).

    32. Siqueira FV. Fatores considerados pela populao como mais importantes para manuteno da sade. Rev. Sade Pblica So Paulo 2009; 43(6).

    33. Neves EP, Wink S. O autocuidado no processo de viver: enfermeiras compartilham concepes e vivncias em sua trajetria profissional. Texto Contexto - Enferm. Florian-polis mar 2007;16(1).

    34. Pescatello LS. A synopsis of the American College of Sports Medicine Position Stand: Exercise and Hyperten-sion. American Journal of Medicine & Sports (AJMS) Mas-sachusetts nov-out 2004; 6(4) 191-194.

  • REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAO MDICA

    36 (1 Supl. 1) : 40 50 ; 201250

    Ana Maria Chagas Sette Cmara et al. Significados e Valores da Educao em Sade

    35. Myres JN. Metabolic Syndrome: An Important target for exercise intervention. American College of Sports Medici-ne (ACSM) Indiana abr-jun 2006; 16(2) 1-10.

    36. Lafontaine T, Roitman J. Atherosclerosis, endothelial function, and exercise in coronary artery disease patients. ACSM Indiana mar 2001; 12(1)1-8.

    37. Wegner M. Summary of the national cholesterol education program (NCEP) adult treatment panel III. ACSM Indiana ago 2001; 11(2)1-4.

    38. Sorace P. Asthma & exercise. ACSM Indiana jul-set 2003;13(3)1-11.

    39. Dawes Jay. Exercising with fibromyalgia. ACSM Indiana jul-set 2004; 14(3)1-9.

    40. Boyd C. Exercise and frailty: does it make a difference? AJMS Massachusetts jan-fev. 2004; 6(1)40-41.

    41. Moore M B, Highstein G. Principles Of Behavioral Psycho-logy In Wellness Coaching ACSM Indiana abr-jun 2005; 15(2) 5-9.

    42. Glasser W, Choice Theory: A New Psychology Of Personal Freedom. New York: Harper Perennial, 2000.

    43. Andrasik, F. Organizational Behavior Modification In Bu-siness Settings: A Methodological And Content Review. Journal Of Organizational Behavior Management 1989; 10(1) 59-77.

    44. Mcgraw HDA. The Organizational Behavior Management Culture: Its Origin And Future Directions. Journal Of Or-ganizational Behavior Management, 2000; 20 (3/4) 958.

    45. Harper CGGW, Rossi SR, Reed GR, Wiley C, Prochaska J. Stages Of Change For Reducing Dietary Fat To 30% Of Energy Or Less. Journal Of The American Dietetic Associa-tion 1994; 10:1105-1110.

    46. Miller WR, Rollnick S. Motivational Interviewing Prepa-ring People For Change. New York: Guildford Press, 2002.

    47. Prochaska JO, Diclemente C. Stages And Process Of Self--Change Of Smoking: Toward An Integrative Model Of Change. J Consulting And Clinical Psychology. 1983; 51(3) 390-5, 1983.

    48. Prochaska J, Velicer W, Diclemente C, Fava J. Measuring Processes Of Change: Applications To The Cessation Of Smoking. J Consulting And Clinical Psychology. 1988; 56:520-8.

    CONTRIBUIO DOS AUTORES

    Ana Maria Chagas Sette Cmara a pesquisadora responsvel pelo estudo , anlise dos resultados e redao final do texto do artigo. Vincius Lins Costa Melo, Maria Gabriela Pimentel Go-mes, Bruna Calado Pena, Ana Paula da Silva e Knia Marise de Oliveira foram responsveis pela coleta dos dados, revi-so bibliogrfica, interpretao dos dados e redao do texto do artigo e Ana Paula de Sousa Moraes, Gabriella Rodrigues Coelho e Luciana Ribeiro Victorino foram responsveis pela transcrio das entrevistas, reviso da literatura, interpretao dos dados e redao do texto do artigo.

    CONFLITO DE INTERESSES

    Declarou no haver.

    ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA

    Ana Maria Chagas Sette CmaraRua Pratpolis, 85 apto 301 Graja Belo HorizonteCEP. 30 430-230 MGE-mail: [email protected]