percussão ler

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PARTE A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS ESCOLA DE E ARTES CNICAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO EM MSICA Auditrio Belkiss Carneiro de Mendona CAMPUS II UFG Data: 28 de Maro de 2005 s 20.00 hs RECITAL DE MESTRADO Candidato: EDUARDO FRAGA TULLIO, percusso Convidado: PHILIPE DAVIS, percusso

ProgramaCage Abertura para duo de percusso (1991) Cenas Amerndias n 1 (Brasiliana) (1986- 87) Carrousel (1987) Fernando Iazzetta (n. 1966) Ney Rosauro (n.1952) David Friedman (n 1947) e David Samuels (n.1948) Camargo 1993) Guarnieri (1907-

Dana Negra

(Arranjo para marimba com dois executantes) Philipe Davis (n.1975)

Dueto para Bloco chins e Tom-tons (1978) Orao para So Francisco de Assis Pequena Sute para vibrafone (1996) II Mov. Lundu Tcu Tcu T Tum (1997)

Luiz DAnunciao (n.1926) Joo Catalo (n. 1978) Luiz DAnunciao (n.1926) Philipe Davis (n.1975)

Recital apresentado por Eduardo Fraga Tullio ao Curso de Mestrado em Msica da Escola de Msica e Artes Cnicas da Universidade Federal de Gois, como requisito parcial para

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obteno do ttulo de Mestre em Msica, sob a orientao da Prof. Dr. Snia Marta Rodrigues Raymundo.

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NOTAS DE PROGRAMA O repertrio para o recital final foi definido em funo dos instrumentos disponveis para a execuo das obras. As obras dos compositores Luiz DAnunciao, Ney Rosauro e Fernando Iazzetta que esto no programa foram descritas no Artigo que faz parte do trabalho final do mestrado. Alm destas obras, este recital contm obras de compositores nacionais e estrangeiros e foram escolhidas para este recital por serem obras consideradas idiomticas (tema central do Artigo final), de importantes percussionistas-compositores e por fazerem parte do repertrio do Duo Perc-Ao!. O recital conta com a participao do percussionista Philipe Davis, que junto com Eduardo Tullio forma o Duo Perc-Ao!. Cage Abertura para Duo de percusso (1991) Composta em Novembro de 1991, a obra dedicada ao Duo Contexto, formado pelos percussionistas Eduardo Leandro e Ricardo Bologna. A obra apresenta uma introduo em que os percussionistas tocam em unssono executando o tema inicial em sextinas. Aps uma seo com pequenos motivos rtmicos, outras duas frases em sextinas do seqncia, passando a uma seo em que os percussionistas deixam de tocar em unssono. Seguindo com uma base rtmica na mo direita e motivos rtmicos na mo esquerda com pergunta e resposta entre os percussionistas, estabelecido um ostinato rtmico, caracterstico da msica afro, que serve de base para os improvisos dos intrpretes. Apresenta uma seo final onde o andamento dobra, mostrando virtuosidade e a inteno de vigor da obra. A performance nesta obra se torna de grande importncia, pois os percussionistas tocam um de costas para o outro. Iazzetta natural de So Paulo. Graduou-se em percusso pelo Instituto de Artes da Unesp em 1988, tendo atuado a partir de 1985 em orquestras paulistas e grupos de cmara. Foi pesquisador associado e professor no Programa de Estudos Ps-Graduados em Comunicao e Semitica da PUC-SP de 1997 a 2002. Realizou seu doutorado em Comunicao e Semitica pela PUC-SP com a tese Sons de Silcio: Corpos e Mquinas Fazendo Msica. Atualmente professor na rea de Msica e Tecnologia do Departamento de Msica da Escola de Artes da Universidade de So Paulo e Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Artes da mesma universidade.

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Cenas Amerndias I (Brasiliana) Escrita entre 1986 e 1987 em Braslia, esta pea para percusso mltipla baseada nos ritmos e melodias dos ndios nativos da Amrica do Sul. Os instrumentos de percusso usados em combinao com os instrumentos de teclados, alm de adicionarem um rico colorido tmbrico, tem tambm uma importante funo meldica dialogando constantemente com a voz principal. O uso de acordes aumentados e melodias com intervalos de segundas e stimas so algumas das ocorrncias encontradas na pea. Brasiliana, para marimba e instrumentos de madeira (temple blocks, wood blocks e chimes de bambu) foi escrita em homenagem cidade de Braslia e suas melodias tristes evocam a memria do planalto seco e solitrio, onde a cidade localizada. Esta composio tem uma estrutura simtrica que est diretamente relacionada com as formas geomtricas em que a cidade foi construda. Rosauro natural do Rio de Janeiro. Estudou entre 1972 e 1978 na Universidade de Braslia fazendo o curso de Composio e Regncia. Em 1976 comeou seus estudos de percusso sinfnica com Luiz DAnunciao no Rio de Janeiro. Entre 1980 e 1982 fez cursos de especializao em Percusso e Pedagogia Musical sob a orientao de Siegfried Fink na Hochschule fr Musik Wrzburg (Alemanha), onde cursou o Mestrado em Percusso (1985 a 1987). Concluiu seu curso de Doutorado em Percusso na Universidade de Miami (EUA) em 1992, sob a orientao de Fred Wickstrom. Atualmente chefe do departamento de percusso da Universidade de Miami. Carousel (1987) A obra foi composta por Friedman e Samuels, dois importantes percussionistascompositores que formam o Duo Double Image. Esta pea gira em torno de um ostinato rtmico-meldico cclico tocado com escalas pentatnicas e executada pela tcnica de quatro baquetas na marimba e vibrafone. Em seguida so apresentados trs solos, de vibrafone, marimba e novamente vibrafone. Finalizando a obra o tema inicial reapresentado dando a obra uma forma cclica. David Samuels, natural de Chicago (EUA), um importante marimbista e vibrafonista de jazz. J se apresentou e gravou ao lado de renomados artistas como Frank Zappa, Gerry Mulligan, Stan Getz, Pat Metheny, dentre outros.

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David Friedman, tambm vibrafonista e marimbista, atualmente chefe do departamento de Jazz da Hochschule der Knste em Berlim-Alemanha e autor dos livros Mirror From Another e Vibraphone Technique, Dampening and Pedaling, literatura de grande importncia no estudo de vibrafone. Dana negra (1998) Este arranjo escrito para dois percussionistas em uma mesma marimba surgiu a partir da obra original para piano solo de Guarnieri. De uma maneira generalizada, um percussionista toca a parte da mo esquerda e o outro a parte da mo direita, com vrias adaptaes para a tcnica do instrumento. Na obra usada a tcnica de quatro baquetas e para execuo da obra necessrio uma marimba com a extenso de 4 oitavas e uma tera, chamada na percusso de marimba em l. Philipe Davis (n.1976) natural de Barbacena e iniciou-se na msica primeiramente tocando bateria, continuando seus estudos em percusso na Escola de Msica Villa-Lobos (RJ). Escreve arranjos e obras para percusso, j tendo suas msicas apresentadas pelo grupo de percusso da Escola de Msica Villa-Lobos. Suas obras obtiveram boa classificao no Concurso para percusso da Percussive Arts Society (Brasil) em 2001. Atualmente est concluindo a Licenciatura em Msica na UniRio e integra a Orquestra Sinfnica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dueto para blocos chineses e tom-tons (1978) A obra utiliza cinco blocos chineses e dois tom-tons. iniciada por uma frase nos blocos chineses, seguida por uma imitao rtmica nos tom-tons. Escrita no compasso ternrio, o dueto uma obra curta onde trabalhado o contraponto rtmico entre os instrumentos. DAnunciao natural de Sergipe e estudou percusso com os professores John K. Galm na Universidade do Colorado, Phill Krauss em Nova York e Jos Bethencourt em Chicago. Pinduca como conhecido, um dos pioneiros em composies solo para percusso no Brasil. Atualmente est aposentado pela Orquestra Sinfnica Brasileira (RJ).

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Orao para So Francisco de Assis (1999) Este solo para vibrafone uma fantasia sobre o tema da Orao de So Francisco de Assis. Escrito no compasso 6;8, a obra utiliza tcnicas fundamentais do vibrafone como o uso do pedal e o abafamento. Joo Catalo (n.1978) natural de Braslia e formado em percusso pela Universidade Federal de Santa Maria. Sua obra Boa Vista para quarteto de percusso obteve o segundo lugar no concurso de composio da Percussive Arts Society (Brasil) em 2001. Recentemente completou uma especializao em vibrafone com o vibrafonista Emmanuel Sejourne na cidade de Strasbourg na Frana.

Pequena Sute para vibrafone (1995-96) Composta entre 1995 e 1996 a sute formada pelos seguintes movimentos: Acalanto, Lundu, Schottisch e Toccata (Cco de Embolada). Estas peas constam no volume II Livro B, Caderno 3 do Manual de percusso do compositor e apresentam as dificuldades compatveis ao nvel intermedirio (Schottisch) e ao nvel adiantado (Acalanto, Lundu e Toccata). So obras curtas que apresentam contrapontos entre as vozes, melodias bem definidas e sncopes caractersticas da msica brasileira. Tcu Tcu T tum (1997) A obra foi originalmente escrita para solo de percusso sendo posteriormente arranjada para duo de percusso. Esta foi a primeira obra composta por Philipe Davis e que motivou a formao do Duo Perc-Ao!, que fez sua estria em Novembro de 1997. A obra apresenta uma introduo executada somente com voz e gestual, sendo seguida pelo unssono instrumental. Aps uma seo de solos onde a performance se torna de grande importncia, o tema inicial reapresentado levando a uma coda final.

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PARTE B

O IDIOMATISMO NAS COMPOSIES PARA PERCUSSO DE LUIZ DANUNCIAO, NEY ROSAURO E FERNANDO IAZZETTA:ANLISE, EDIO E PERFORMANCE DE OBRAS SELECIONADAS

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INTRODUO O presente projeto de pesquisa surgiu justamente da preocupao do Duo PercAo! (formado pelo percussionista Philipe Davis e por mim), com a escolha de um repertrio exclusivo de obras brasileiras para percusso, as quais se encontram, em sua maioria, carentes de reviso e edio. Nesta busca, a questo idiomtica foi um dos critrios principais de escolha, alm da formao para duo e diversidade de instrumentos envolvidos em cada pea. Numa pesquisa bibliogrfica preliminar sobre idiomatismo na msica, constatou-se que apesar do termo idiomtico ser amplamente empregado em trabalhos da rea, pouco se discute sobre o seu significado e aplicabilidade em msica. Vale ressaltar a ausncia do termo em vrios dicionrios e enciclopdias de msica em portugus e ingls (exceo feita para o The New Harvard Dictionary of Music). Alguns pesquisadores brasileiros tm feito da questo idiomtica o centro de suas questes de pesquisa. Projetos envolvendo a colaborao entre compositores e intrpretes, a exemplo do Prolas e Pepinos do Contrabaixo desenvolvido por Fausto Borm na Universidade Federal de Minas Gerais UFMG (Borm, 2000) e Tcnica Expandida para Violino na Msica Brasileira, desenvolvido por Eliane Tokeshi na Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS (Tokeshi e Copetti, 2004), tm gerado composies mais idiomticas, as quais tm chamado a ateno inclusive de iniciativas editoriais, a exemplo da Goldberg e da Irokun, duas editoras que prestigiam obras recentes de compositores brasileiros. Outro trabalho que promove a aproximao entre compositores e intrpretes realizado no Rio de Janeiro atravs do grupo de compositores Preldio XXI, formado por Caio Senna, Alexandre Schubert, Neder Nassaro, Heber Schnemann, Jos Orlando Moraes e Srgio Oliveira. Em 2004 o grupo participou no projeto Sbados Clssicos do Sesc Flamengo-RJ, compondo obras para Quarteto (clarinete, violoncelo e duo de percusso). Para a composio de tais obras, os compositores realizaram encontros com os intrpretes para discutir aspectos inerentes a cada instrumento envolvido e buscar solues mais idiomticas para suas idias. Os resultados foram mostrados ao pblico ao final do projeto. No caso de composies para percusso h outra considerao a ser feita com relao a disponibilizao de material para o intrprete. As obras de muitos compositores brasileiros so pouco divulgadas por carecerem de alguma forma de edio, problema

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ainda agravado pela escassez de edies musicais no pas. Obras de compositores brasileiros em atividade, a exemplo de Luiz DAnunciao (1926), Fernando Iazzetta (1966), Tim Rescala (1961), Tato Taborda (1960), Ney Rosauro (1952) e Carlos Eduardo Di Stasi (1962), dentre outros, apesar de estarem disponveis, no so encontradas em bibliotecas ou acervos pblicos de partituras de msica, sendo seu acesso dependente de um contato direto com os prprios compositores ou seus alunos. O presente artigo pretende discutir um conceito funcional do que seria idiomatismo na msica, relacionar aspectos idiomticos de obras para percusso e apresentar um recital com demonstraes das concluses mais relevantes da pesquisa. Para tambm atingir os ideais do Duo Perc-Ao!, inspirao primeira para o surgimento deste trabalho, as obras escolhidas sero de trs compositores brasileiros, representantes de geraes diferentes e coexistentes no cenrio nacional da percusso brasileira: Luiz DAnunciao (1926), Ney Rosauro (1952) e Fernando Iazzetta (1966). Numa dimenso mais ampla, o presente trabalho pretende tambm colaborar com a difuso e ampliao da literatura para percusso no pas; ampliar as pesquisas que promovem a interao compositor/intrprete e finalmente, contribuir com as pesquisas em performance musical relacionadas editorao e edio de partituras.

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1. OS COMPOSITORES 1.1. Luiz DAnunciao (1926) DAnunciao natural de Sergipe. Estudou nos seminrios de msica da Universidade Federal da Bahia entre 1955 a 1959, tendo como mestres Hans J. Koellreuter, Sebastian Benda, Kurt Thomas, Damiano Cozzella e Ernest Widmer. Completou posteriormente o estudo da percusso com os professores John K. Galm na Universidade do Colorado, o de vibrafone com Phill Krauss em Nova York e o de marimba com Jos Bethencourt em Chicago. um dos pioneiros em composies solo para percusso no Brasil. Suas obras demonstram uma utilizao primorosa de recursos tcnicos da percusso e caractersticas da msica nordestina. Podemos destacar no seu mtodo para berimbau, a sistematizao da escrita para duas baquetas no berimbau e nas suas obras, o uso da coordenao motora entre as quatro baquetas na marimba e o uso do pandeiro brasileiro na obra Dana para pandeiro estilo brasileiro e Obo. Gravou cinco de suas obras no CD Mosaico editado pela Escola Brasileira de Msica no Rio de Janeiro. Participou em concertos com importantes msicos tais como: Celso Woltzenlogel criando o Duo Instrumentalis e Snia Maria Vieira no Duo Percusso de Cmara. Tambm exerce intensa atividade como solista em percusso. Atualmente est aposentado pela Orquestra Sinfnica Brasileira (RJ). Dentre todas suas obras pode-se destacar: Um choro para Radams (marimba solo 1992), Dana para pandeiro estilo brasileiro e Obo (1991), Pequena Sute para Vibrafone (Modinha - 1995, Schottich - 1995, Lundu - 1995 e Toccata - 1996), Motivos Nordestinos (Sute para marimba, flauta, piccolo, berimbau e vibrafone - 1990) e Divertimento para Berimbau e Violo (1989). Algumas destas obras tm sido muito executadas por alunos e professores ligados a ncleos de ensino de percusso no Brasil, principalmente, nas cidades do Rio de Janeiro (RJ), So Paulo (SP), Santa Maria (RS) e Uberlndia (MG). 1.2. Ney Rosauro (1952) Rosauro natural do Rio de Janeiro. Estudou entre 1972 e 1978 na Universidade de Braslia fazendo o curso de Composio e Regncia. Em 1976 comeou seus estudos de

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percusso sinfnica com Luiz DAnunciao no Rio de Janeiro, com quem teve aula no Colgio preparatrio de instrumentistas da OSB at 1980. Entre 1980 e 1982 fez cursos de especializao em Percusso e Pedagogia Musical sob a orientao de Siegfried Fink na Hochschule fr Musik Wrzburg (Alemanha), onde cursou o Mestrado em Percusso (1985 a 1987). Concluiu seu curso de Doutorado em Percusso na Universidade de Miami (EUA) em 1992, sob a orientao de Fred Wickstrom. Gravou cinco lbuns: Marimba Brasileira (1989, em vinil), Rapsdia (1993), Grupo de Percusso da UFSM (1996), Ney Rosauro in Concert (1998) e Brazilian Music for Percussion Ensemble (2000) que foram muito bem aceitos pelo pblico e tem recebido crticas elogiosas da imprensa internacional. Participou em importantes concertos solo, como na Conveno da Percussive Arts Society de 1986, e com orquestras em vrios pases, dentre as quais, a Orquestra Sinfnica Brasileira no Rio de Janeiro e orquestras dos seguintes pases: Argentina, Uruguai, Cuba, Colmbia, Venezuela, Guatemala, Porto Rico, Mxico, Chile, Crocia, Polnia, ustria, Luxemburgo, Sua, Sucia, Alemanha, Inglaterra, Esccia, Dinamarca, Espanha, Holanda, Itlia, Frana, Taiwan, China, Japo e nos EUA. Dentre todas suas obras pode-se destacar: Sute Popular Brasileira para marimba solo (1980/82), Concerto n 1 para Marimba e Orquestra (1986), Cenas Amerndias I e II (1986/87), Rapsdia para percusso solo e Orquestra (1992) e Concerto para vibrafone e Orquestra (1997). Suas composies j foram gravadas em cds e vdeos por artistas de projeo internacional, como a percussionista inglesa Evelyn Glennie e a London Symphony Orchestra. Seu Concerto n 1 para Marimba e Orquestra j foi tocado por mais de 500 orquestras nos cinco continentes. Rosauro, influenciado diretamente por Luiz DAnunciao, fez o uso nas suas obras de citaes diretas de elementos usados na msica popular brasileira, incluindo instrumentos, melodias e ritmos tradicionais da msica brasileira, alm de aspectos caractersticos da msica folclrica. Muitas de suas composies so escritas para marimba e vibrafone. A escrita utilizada nas composies de Rosauro baseada em recursos tcnicos dos instrumentos a exemplo do uso de rulos independentes, toques repetidos e alternados da tcnica de quatro baquetas, diferentes manulaes da tcnica de caixa-clara e diferentes sonoridades no vibrafone (atravs do uso do cabo da baqueta na tecla). O compositor explora tambm diferentes instrumentaes e muito influenciado pela obra de Villa-Lobos, fazendo em suas obras citaes como no Preldio n 2 para marimba solo, dedicado a memria de Villa-Lobos, em que apresenta uma seo similar harmonia e

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melodia utilizada na Bachianas Brasileiras n 4. Desde 2000 o diretor dos estudos de percusso na Universidade de Miami.

1.3. Fernando Iazzetta (1966) Iazzetta natural de So Paulo. Graduou-se em percusso pelo Instituto de Artes da Unesp em 1988, tendo atuado a partir de 1985 em orquestras paulistas e grupos de cmara. Foi pesquisador associado e professor no Programa de Estudos Ps-Graduados em Comunicao e Semitica da PUC-SP de 1997 a 2002. Durante esse perodo coordenou o Centro de Linguagem Musical (CLM). Realizou seu doutorado em Comunicao e Semitica pela PUC-SP com a tese Sons de Silcio: Corpos e Mquinas Fazendo Msica. Atualmente professor na rea de Msica e Tecnologia do Departamento de Msica da Escola de Artes da Universidade de So Paulo e Coordenador do Programa de PsGraduao em Artes da mesma universidade. Como percussionista, Iazzetta recebeu prmios importantes por suas performances de altssimo nvel em que podemos destacar o primeiro lugar no Prmio Eldorado de Msica de 1986, como membro do Grupo de Percusso do Instituto de Artes do Planalto (PIAP). Enquadra-se na gerao mais recente dentre os trs compositores abordados na presente pesquisa. Trabalhou em suas obras a juno do aspecto aleatrio combinado com ostinatos rtmicos, e mais recentemente tem utilizado novas tecnologias e se concentrado na produo de msica de cmara e eletroacstica. Sua obra importante para o repertrio da percusso em especial pela instrumentao utilizada, como o giro, tamborim de samba, almglocken (cowbell suo), logdrum (tambor de fenda), guizos, matraca, pratos hi-hat da bateria e o berimbau. Um ponto caracterstico o tipo de escrita usada em Urbanas II e Promenade, utilizando a grafia no-convencional. Suas obras apresentam sees para improvisos dos intrpretes e exploram recursos tcnicos dos instrumentos, como o uso da surdina nos tmpanos e o berimbau tocado de uma forma no tradicional. Certas passagens nas obras requerem um nvel adiantado de execuo e exploram dentre vrios fatores, o uso dos rudimentos e sonoridades comuns na msica contempornea, como raspar o tam-tam com baquetas de tringulo. Uma de suas primeiras obras para percusso, que est inclusa na pesquisa Unka (1986) e foi escrita quando o compositor era ainda aluno do segundo ano de

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graduao. Naquela poca suas composies para grupos de cmara j apresentavam um equilbrio entre as partes, bem como a busca pela utilizao de timbres inusitados como o do giro (instrumento da famlia dos raspadores). Dentre suas obras podemos destacar: Cage-Abertura para duo de percusso (1991), Urbanas II (1991), Prakat (1992), Promenade (1997) e PerCurso (pea eletroacstica-1997), peas para formaes de cmara, alm de arranjos para grupo de percusso, a exemplo do conhecido Jongo de Paulo Belinatti e de Sons do Brasil II (uma seleo de canes brasileiras). Dentre as vrias gravaes de suas obras esto os lbuns Duos e Trios Contemporneos (selo LAMI, 2003) e Msica Eletroacstica Brasileira (selo Sociedade Brasileira de Msica Eletroacstica, 1999). As obras de Iazzetta j foram executadas na Bienal de Msica Brasileira Contempornea (1991, 1995, 1997 e 2003) e apresentadas nas principais cidades e festivais de msica do Brasil, sendo interpretadas por grupos de grande expresso nacional como o Duo Contexto (percusso), Grupo Novo Horizonte (Orquestra de Cmara) e Grupo Piap (percusso).

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2. O TERMO IDIOMTICO Na origem etimolgica da palavra idiomtico, idio significa elemento de composio derivado de grego idio-, de dios, isto , prprio, pessoal, privativo (Cunha, 1997). Apesar de bastante usado em trabalhos sobre msica, o termo idiomtico no se encontra neles profundamente discutido. Por outro lado, outras reas o fazem com mais freqncia. Na literatura, o termo est ligado s expresses e figuras de estilo, que deixam claras em uma primeira leitura as caractersticas bsicas de um estilo potico ou um determinado autor. Na lingstica, uma expresso idiomtica uma lexia complexa indecomponvel, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradio cultural (Xatara, 2001) e pode tambm indicar um adjetivo, ou seja, indica aquilo que relativo a ou prprio de um idioma. Pode ser ainda a lngua de uma nao ou a lngua peculiar a uma regio (Ferreira, 1999). Na msica, o que identifica o idiomatismo em uma obra utilizao das condies particulares do meio de expresso para o qual ela escrita (instrumento/s, voz/es, multimdia ou conjuntos mistos). As condies oferecidas por um veculo incluem aspectos como: timbre, registro, articulao, afinao e expresses. Quanto mais uma obra explora aspectos que so peculiares de um determinado meio de expresso, utilizando recursos que o identificam e o diferenciam de outros meios, mais idiomtica ela se torna. Neste sentido, se comparado aplicao lingstica do conceito, o idioma de um instrumento musical seria o equivalente a um fonema especfico de uma lngua falada. A origem do virtuoso (tanto em cantores como instrumentistas) no sculo XIX associada com a crescente escrita idiomtica, mesmo em msicas que no eram tecnicamente difceis. Obras mais idiomticas tm sido escritas devido intensificao da relao entre intrpretes e compositores, principalmente. Segundo Borm (2000) um dos objetivos do Projeto Contrabaixo para Compositores iniciado em 1994 o estmulo colaborao compositor-contrabaixista no desenvolvimento de uma escrita mais idiomtica do instrumento e, conseqentemente, na ampliao qualitativa e quantitativa do repertrio musical brasileiro. Outros trabalhos que promovem a associao de compositores e intrpretes so as obras do compositor Estrcio Marques Cunha (n. 1941), em Goinia e o do grupo de compositores Preldio XXI, no Rio de Janeiro.

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Estrcio Marques Cunha um compositor goiano que tem escrito obras atravs do convite de instrumentistas. Nascido em Goiatuba (GO), no ano de 1941, iniciou seus estudos musicais com aulas de piano, estudando posteriormente no Conservatrio Goiano de Msica de Goinia. Sua formao musical posterior inclui estudos no Conservatrio Brasileiro de Msica no Rio de Janeiro e na Universidade de Oklahoma nos Estados Unidos. Tem obras escritas para: piano solo, piano e flauta, canto e piano, quinteto de sopros, violino e piano, trombone solo, orquestra de cordas, contrabaixo e orquestra, dentre outras. O trabalho realizado pelo Preldio XXI acontece atravs de um grupo de compositores oriundos da UniRio, UFRJ e Conservatrio Brasileiro de Msica, visando a criao de novas composies. Geralmente estas novas obras so apresentadas em uma srie de concertos chamada Msica Nova na UniRio. Atravs de encontros dos compositores com os intrpretes, so realizados workshops onde so exemplificadas as possveis tcnicas dos instrumentos e colocaes quanto instrumentao disponvel de ser utilizada, bem como a extenso dos instrumentos. Geralmente nestes trabalhos os intrpretes passam informaes detalhadas sobre os instrumentos, e s vezes ocorre um trabalho de composio coletiva quando as obras so compostas, corrigidas e melhoradas inmeras vezes. Este tipo de elaborao das obras acaba se tornando muito produtivo para a escrita de obras idiomticas. Supe-se atravs destas iniciativas (com resultados satisfatrios), que a tendncia da unio entre compositores e intrpretes ser acontecer cada vez mais em um mbito maior. Segundo Borm (2000), uma avaliao do resultado sonoro da partitura diretamente com o intrprete, tanto isoladamente em cada instrumento quanto no contexto da orquestrao, ainda a ferramenta mais til no processo de confirmar, refinar ou excluir partes da escrita imaginada pelo compositor. Borm comenta, como eu e o professor Fernando Rocha tivemos o privilgio de trabalhar diretamente com Lewis Nielson durante uma semana antes da estria de Danger Man, o processo de experimentao mostrou-se muito proveitoso na realizao das idias do compositor, na confirmao das mudanas negociadas e instrudas via Internet, no ajuste de articulaes, timbres, andamentos e carter, para que finalmente, chegssemos verso final da obra. Concluindo, Borm afirma que a experimentao realizada diretamente no prprio contrabaixo, paralelamente ao processo criativo, permitiu ao compositor checar o resultado sonoro de suas idias e

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incorporar tcnicas e detalhes de instrumentao tornando obras mais idiomticas e mais confortveis do ponto de vista de sua realizao. s vezes o idiomatismo pode parecer no estar presente de uma forma clara. Neste aspecto pode-se citar dois exemplos: partituras manuscritas que apresentam dvidas ao intrprete na forma de execuo, no demonstrando o idiomatismo presente, e segundo, o compositor no deixa claro na notao da partitura a sua inteno ou forma correta de execuo. Borm (2000) descreve quatro fatores fundamentais do ponto de vista da interpretao musical que colaboram para uma obra se tornar parte de um repertrio: 1) exeqibilidade de todos os parmetros musicais: alturas, dinmicas, articulaes e timbres, 2) um nvel razovel de conforto na sua realizao, 3) satisfao para o intrprete que estuda a obra e 4) interesse do ponto de vista do pblico. Borem conclui dizendo: de fato, poderamos generalizar que, quando um ou mais desses fatores negligenciado pelo compositor, so menores as chances da obra se tornar parte do repertrio. Acredita-se que composies com uma escrita idiomtica, certamente se tornaro parte do repertrio e cada vez mais, executadas por um nmero maior de intrpretes. Muitos compositores apresentam em suas obras aspectos idiomticos devido a trs motivos: por tocarem o instrumento, pela experincia de composies anteriores ou pela aproximao com os instrumentistas. O conhecimento do instrumento e sua tcnica que fazem a escrita e a msica se tornarem idiomticas. Por exemplo, Steve Reich (n. 1936) estudou percusso em Ghana no ano de 1970 e, conseqentemente, suas obras se tornaram muito idiomticas para a percusso. Outro ponto de discusso o idiomatismo relacionado msica brasileira, e neste aspecto notamos que alguns pesquisadores verificam a influncia de ritmos brasileiros no repertrio de instrumentos solo ou em msica de cmara. Pode-se citar a pesquisa de Ray (1999) verificando a influncia dos ritmos baio, choro e samba no repertrio erudito para contrabaixo. Nota-se tambm esta influncia no repertrio para a percusso, tanto pela anlise dos elementos musicais explcitos nas partituras, quanto pelo nome das obras: Um choro para Radams e Motivos Nordestinos do compositor Luiz DAnunciao, Sute Popular Brasileira (Baio, Xote, Caboclinhos e Maracatu) e Cenas brasileiras para quarteto de percusso (Baio e Frevo) do compositor Ney Rosauro. Farias (2003) cita em seu trabalho: Muitos compositores brasileiros compem ou compuseram obras que remetiam s caractersticas inerentes da msica nordestina,

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escrevendo idiomaticamente dos conjuntos regionais para os conjuntos camersticos e sinfnicos. Fazendo um histrico das primeiras obras para percusso no pas que apresentavam algum aspecto idiomtico, possvel encontrar obras pioneiras como: Estudos para instrumentos de percusso (1953) composta por Camargo Guarnieri, que utiliza instrumentos tradicionais brasileiros como o reco-reco. Outra obra Rhythmetron (1968) do compositor Marlos Nobre. Composta por trs movimentos a obra escrita para dez percussionistas e utiliza 38 instrumentos, muitos do folclore brasileiro. Esta msica contm ritmos do folclore nordestino como o maracatu no primeiro movimento e samba no terceiro movimento. Mais uma obra que se pode citar Divertimento para marimba e orquestra de cordas (1982) de Radams Gnatalli que se torna idiomtica pelo uso de clulas rtmicas caractersticas da msica brasileira. Sua cadncia foi escrita por Luiz DAnunciao.

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3. O IDIOMATISMO EM COMPOSIES PARA PERCUSSO Nas composies para percusso, o idiomatismo se deve ao fato de que muitos compositores so tambm intrpretes ativos. Existem obras para percusso em que os compositores-intrpretes tocam diferentemente da verso da partitura, no as corrigindo. J Rosauro (apud Weiss, 1999) comenta que cada msica que ele escreve para teclados tocada vrias vezes antes de ser enviada para publicao, fazendo as correes necessrias para que a pea se encaixe confortavelmente no teclados. Rosauro afirma ter aprendido muito no processo de compor e de explorar detalhes que ajudaram-no a desenvolver a tcnica de quatro baquetas, peculiaridade de suas obras pra teclados em percusso. Freqentemente os compositores buscam explorar timbres caractersticos de um determinado instrumento, fazendo assim com que o intrprete tenha a oportunidade de pesquisar melhor a sonoridade em seu instrumento. Na percusso, os compositores percussionistas demonstram preocupaes em relao ao timbre, indicando com que baqueta se deve tocar (o que bastante comum nos ltimos vinte anos, at as obras mais atuais) bem como o uso de diferentes instrumentos, divididos entre os msicos executantes de formas iguais. Na escrita para os pratos, por exemplo, pode vir especificado a regio a ser tocada - borda, cpula ou meio, e essa variedade de timbres de um mesmo instrumento que faz a diferena no idiomatismo. Uma possibilidade de se utilizar instrumentos de carter popular no Brasil de uma forma idiomtica o uso das tcnicas tradicionais dos instrumentos. Por exemplo, berimbau e repinique so muito utilizados nas obras de DAnunciao e Rosauro, respeitando-se seu carter de uso tradicional na msica brasileira. Algumas escolhas dos compositores so fundamentais para uma escrita idiomtica para percusso. A seguir discorre-se sobre procedimentos idiomticos para percusso selecionados. Cabe ressaltar que cinco destes aspectos sero detalhados no item 5 do presente trabalho.

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3.1 Tcnica de quatro baquetas Existem trs formas principais de segurar as quatro baquetas. A primeira chamada Tradicional as baquetas ficam cruzadas na mo, apoiada pelo dedo mnimo. Na segunda chamada Burton, a baqueta externa pressionada contra a palma da mo apoiada pelo dedo mdio. Esta segunda maneira tem uma variao chamada Extenso do grip Burton elaborado por Ney Rosauro. No estilo Rosauro a baqueta externa apoiada pelo dedo anelar este estilo tambm merece meno, uma vez que muito utilizado no Brasil por ex-alunos dele. Na terceira chamada Stevens, as baquetas no se cruzam. A primeira baqueta segurada pelos dedos polegar e indicador e a segunda baqueta apoiada pelos dedos anelar e mnimo. Conforme demonstrado na figura n1 abaixo.

Figura n 1. Gianessella, Eduardo. Revista Cover Batera, Outubro, 1999, p. 54-55.

No uso da tcnica de quatro baquetas, as quatro formas mais comuns esto descritas a seguir: A primeira, a harmonia realizada pela mo esquerda e melodia pela mo direita ou vice-versa. Os intervalos mais simples de serem executados na mo esquerda esto

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entre uma segunda maior e uma sexta. Este fato se justifica em funo das teclas aumentarem significativamente de tamanho na regio grave, exigindo maior abertura das baquetas. Entretanto na mo direita, os intervalos mais simples de serem executados esto entre uma segunda maior e uma oitava. Maiores intervalos so conseguidos com facilidade na regio aguda em funo das teclas serem menores e exigirem menor abertura das baquetas. Na segunda maneira, as teclas so percutidas com as quatro baquetas em toques rpidos e alternados. Neste caso, as baquetas so numeradas de 1 a 4, sendo o padro mais utilizado aquele que numera as baquetas da esquerda para direita. Assim, as duas baquetas da mo esquerda so enumeradas 1 e 2, e as duas baquetas da mo direita so enumeradas 3 e 4. O uso de seqncias como 1234, 1243, 4321, 1324, 4312 so fortemente solicitadas em obras para teclados, a exemplo de peas da compositora e percussionista japonesa Keiko Abe (n. 1937), dos americanos Gordon Stout (n. 1952) e Mitchell Peters (n. 1928), dentre outros. Estas seqncias so tambm apresentadas em vrios mtodos de percusso como forma de aprimoramento da tcnica e aquecimento para os intrpretes. Na terceira maneira, o uso do rulo independente tambm caracterstico da tcnica de quatro baquetas. No rulo independente uma das mos executa um rulo atravs de movimentos alternados com as baquetas e a outra executa melodias ou ritmos. No caso de melodias, uma possibilidade um rulo com uma das mos para sustentar a harmonia e a outra mo executar melodias. Este tipo de rulo tambm utilizado para passagens meldicas no mais diversos intervalos, enquanto a outra mo ocupa-se de ostinatos de sustentao desta melodia ou contrapontos. Outra possibilidade um rulo em um prato com uma das mos e a outra executando ritmos em outros instrumentos. Na quarta maneira, o uso de acordes comum na tcnica de quatro baquetas. Os acordes podem ser usados em posio fechada (trades ou ttrades em teras superpostas) ou posio aberta. Os acordes podem ser tambm executados com rulo. Alguns acordes se tornam difcies de serem executados devido distncia entre as mos e/ou as notas a serem tocadas. O uso de acordes encontrado em muitas obras, sendo seu uso mais caracterstico na marimba e vibrafone. No xilofone e glockenspiel encontramos poucas obras que utilizam a tcnica de quatro baquetas. Na execuo de linhas meldicas simples pode-se combinar as baquetas 2 e 3 (mais difundida entre os marimbistas), 2 e 4 (mais popular no vibrafone devido influncia de Gary Burton), e as menos utilizadas 1 / 3 e 1 / 4. E finalmente, podemos incluir o emprego

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de somente trs das baquetas em certas passagens meldicas, para facilitar a execuo destas passagens isto determina uma cuidadosa abordagem na escolha do baquetamento destas passagens. 3.1.2. Explorao de timbres diferentes O uso de sonoridades especficas de determinados instrumentos ou obtidas por diferentes formas de se articular o instrumento ocorre em muitas obras para percusso. Os recursos de variaes de timbres so inmeros e podese citar os mais utilizados nas obras. O uso do cabo da baqueta nas teclas do vibrafone ou marimba (na partitura indicado tocar com o cabo ou rattan e outra forma de descrever este uso a utilizao de um x no mesmo espao da nota). Algumas baquetas de vibrafone e marimba so de rattan, uma espcie de bambu, neste caso a sonoridade se torna incomum pelo som obtido, diferente da ponta das baquetas de marimba e vibrafone, geralmente encapadas com l ou linha. Ainda nos teclados alguns compositores j empregaram vassourinhas, baquetas com chocalhos colocados no cabo, fachos de bambu leve tocados na borda das teclas, entre outros acessrios que diversificam o timbre natural da marimba, vibrafone e xilofone em especial. Uma possibilidade o uso de diferentes timbres de um mesmo prato, como borda, cpula e meio. Nos pratos, os sons graves so encontrados prximos borda, os sons mdios no meio e os sons mais agudos na cpula. Os pratos tambm podem ser tocados por diversos tipos de baquetas como: baquetas de caixa, baquetas de marimba, baqueta tipo vassourinha e baquetas de tringulo. O som obtido pelo raspar de baquetas de tringulo nos pratos e no tam-tam so citados em algumas obras. Existem ainda os chamados pratos chuveiros, que podem ser pratos comuns nos quais colocado um acessrio de metal (como um esteira de caixa clara) para criar um efeito de zumbido alguns pratos so construdos especialmente para este efeito. O som de metal do aro dos tambores, geralmente grafado com um x, muito usado em obras para caixa-clara e percusso mltipla, onde o percussionista toca com as baquetas no aro do tambor. O recurso de ligar e desligar a esteira da caixa-clara durante a execuo de uma obra tambm j foi bastante utilizado. Outra possibilidade no som de tambores o uso de distintas regies da pele. Este recurso muito usado nos tmpanos e tambores como no bombo e caixa-clara. O local de toque na pele dos tmpanos pode ser dividido em regies como no centro, na borda, e entre o centro e a borda. No livro Eight

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Pieces for four timpani (1968) de Elliot Carter (n.1908) este recurso de timbre muito explorado. Existe a possibilidade de se explorar timbres em um mesmo instrumento atravs do som do corpo do instrumento. Muitas obras requerem tocar no corpo dos tmpanos, ou seja, tocar na lateral do instrumento. Uso de instrumentos no convencionais como: panelas, frigideiras, garrafas de vidro, pedaos de metal, apitos e sirenes so recursos no uso de timbres incomuns nas obras para percusso. Sons de pedaos de ferro (o termo muito usado em ingls, anvil) e sons de sirene com dois timbres distintos (agudo e grave) so encontrados na obra Ionisation (1934) de Edgar Vrese (1883-1965). De outra forma, o uso de recursos sonoros adaptados a instrumentos convencionais como: temple bell (pequeno sino) sobre a pele caixa aparece na obra Cano simples para tambor (1990) de Carlos Stasi (n.1962) e bolas de ping-pong colocadas sobre a pele do bombo aparecem na obra Rumores I (1992) de Paulo Chagas (n.1953). O som de copos de cristal podem ser obtidos por baquetas muito finas ou pela frico dos dedos na borda que geram um som contnuo, sendo necessrio haver gua no copo e que o instrumentista tenha os dedos molhados. O uso deste timbre encontrado na obra Rapsdia para solo de percusso e orquestra (1992) de Ney Rosauro. Mais um recurso de timbres diferentes a percusso corporal. Neste caso usado o som de estalar de dedos, sons da perna (na coxa e perto do joelho), som das palmas e assobios. Outra possibilidade o uso da percusso cnica, e como exemplo pode-se citar Bravo (1996) de Tim Rescala (1961), escrita para msicos interpretarem uma platia de concerto com palmas em polirritmia e assobios. Pode-se ainda mencionar os recursos de utilizao da gua nas msicas, como por exemplo em Mitos Brasileiros para Quarteto de Percusso (1992) de Ney Rosauro, no qual ele emprega uma bacia de gua e copos para criar a iluso de uma corrente de gua durante um dos movimentos. A principal forma de descrio de todos estes recursos de timbres pela incluso de legendas expostas nas pginas iniciais das msicas.

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3.1.3. Teclados Os instrumentos tradicionalmente chamados de teclados da percusso so: marimba, vibrafone, xilofone e glockenspiel. Nos teclados da percusso existe a possibilidade do uso de dois teclados simultneos ou alternados por um mesmo percussionista. No uso de teclados simultneos, uma possibilidade a realizao da harmonia na marimba e melodia no vibrafone. Pode-se citar como exemplo a msica Sonata Ciclos da vida (1993) de Rosauro que utiliza a juno do vibrafone com a marimba. No uso de teclados alternados, outra forma distinta no uso destes instrumentos, a passagem do intrprete de um teclado para outro em uma mesma msica. Vrias obras utilizam para um mesmo intrprete dois teclados. Uma das primeiras obras o Concerto para marimba, vibrafone e orquestra (1947) de Darius Milhaud (1892-1974) o qual utiliza-se, no segundo movimento, da marimba e do vibrafone alternadamente. Uma possibilidade sonora nos teclados o uso de dead strokes (toque morto). O dead stroke consiste em tocar a tecla e pression-la, com a cabea da baqueta, de modo a impedir que a tecla vibre. Este uso encontrado em muitas obras, dentre vrias pode-se citar o Concerto n 1 para Marimba e Orquestra de Rosauro. Outra possibilidade sonora a regio da tecla a ser percutida. Por exemplo, o som da tecla em cima do n (local onde passa a corda que sustenta as teclas) tem menos projeo sonora que o centro da tecla. Isso ocorre pela posio dos tubos abaixo da teclas. Obras como Estudo n 1 (1980) de Smadbeck indica para que as baquetas venham gradualmente do n at o centro da tecla. Este recurso muito usado para variaes de dinmica. No uso dos teclados pode-se citar como referncia: Estudos iniciais para barrafnicos (1993) de Rosauro, Contemporany percussion (1970) de Brindle e Modern school for xilophone, marimba, vibraphone de Goldenberg (1950), alm das obras j citadas. 3.1.4. Instrumentos de carter popular no Brasil O berimbau, repinique e tamborim so instrumentos muito utilizados em obras para percusso de compositores nacionais. O berimbau pode ser tocado na forma tradicional da tcnica do instrumento ou de diferentes maneiras, como, por exemplo, ser apoiado sobre um cavalete. O repinique um pequeno tambor usado com afinao aguda e pele plstica,

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geralmente de 10 ou 12 polegadas. Em uma seqncia de quatro semicolcheias tocado por trs notas com a mo direita e uma com a esquerda. Pode ainda ser tocado no corpo do instrumento ou tocado na pele com o aro simultaneamente. Seu principal uso no ritmo do samba. O tamborim, tambm usado no samba, pode ser tocado da forma tradicional segurado pela mo esquerda e percutido pela direita, ou preso em uma estante. H a possibilidade de se tocar de uma forma estilizada alguns instrumentos, como: a zabumba, o surdo (usado no samba e frevo) e o tringulo. Neste caso o percussionista usa uma bateria, onde o bumbo ou o tambor surdo representam a zabumba e o prato hi-hat representa o bacalhau (que a vareta tocada na pele inferior da zabumba). Para a substituio do surdo, usado para marcar o tempo no samba e frevo, o bumbo da bateria pode ser tocado com o som aberto (com ressonncia) e fechado (sem ressonncia). O uso do som aberto e fechado so indicados pela escrita tradicional da percusso com smbolos colocados em cima da nota. Geralmente estes smbolos so descritos nas pginas iniciais das msicas com uma bolinha branca para o som aberto e uma bolinha escura para o som fechado ou o sinal de + tambm para o som fechado. Usando ainda a coordenao motora na bateria, podem ser tocados simultaneamente o bumbo, os pratos hi-hat e o tringulo, segurado pela mo esquerda e percutido pela direita. 3.1.5. Rulo Segundo Frungillo (2002) o rulo na percusso uma tcnica utilizada para executar uma certa quantidade de toques no instrumento (sobretudo nos membranofnicos) de modo que simule a produo de um som contnuo. O rulo , de fato, a criao de uma iluso sonora semelhante ao um som contnuo atravs de uma sucesso de repetidos toques, em velocidades apropriadas ao instrumento, ao registro (grave, mdio ou agudo) e a dinmica desejada. Os tmpanos, por exemplo, no necessitam de rulos rpidos para notas graves p ou pp basta um movimento com velocidade suficiente para fazer a pele vibrar e projetar um som que simule uma nota longa. Algumas obras o indicam como trinado (tr.), mas nos teclados, o rulo descrito com trinado pode ser facilmente confundido com o trilo entre duas notas adjacentes. Os rulos so executados pela alternncia das mos ou rebotes das baquetas em movimentos rpidos. Os tipos de rulos mais importantes so: simples (rulo de toques alternados, usados em grandes tambores como nos tmpanos e bombos e tambm nos teclados), fechados (rulo de

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toques mltiplos, muito usado na caixa e tambores em geral tambm chamado de rulo orquestral, sinfnico ou buzz roll na nomenclatura inglesa) e abertos (rulo de toques duplos, realizados pelo rebote da baqueta, ex. DDEE ou EEDD, onde D representa a mo direita e E representa a mo esquerda). Todos estes podem ser executados nos tambores. Nos teclados, os rulos simples so executados para prolongar uma melodia ou uma harmonia. Nos pratos, acessrios e tringulo o rulo mais usado tambm o simples, podendo ser usados tambm o rulo fechado e aberto. Nos tmpanos somente o rulo simples executado dentro da tcnica tradicional. Os outros tipos de rulos so possveis de serem realizados nos tmpanos, mas no fazem parte da tcnica do instrumento. No pandeiro sinfnico ou de samba pode ser usado o rulo de dedo, feito pela presso dos dedos contra a pele. Este tipo de rulo tambm chamado de thumb roll na nomenclatura inglesa. Os rulos tambm podem ser executados em dois instrumentos simultneos ou comear em um instrumento e terminar em outro. H a possibilidade dos rulos serem ligados ou desligados da nota posterior, ou seja, executados sem interrupo para a prxima nota ou interrompidos antes da prxima nota. Atravs da tcnica de quatro baquetas nos teclados possvel realizar o rulo independente, que a coordenao motora entre as mos, sendo que uma mo prolonga o som de uma ou duas notas e a outra executa melodias, intervalos ou ritmos. Tm-se como referncias: Dicionrio de percusso (2002) de Frungillo, Snare drum method (1967) de Firth, Alfreds Drum Method Book 1 (1987) de Feldstein, Mtodo completo de caixa-clara (2001) de Rosauro, Stick Control (1968) de Stone e a tabela Percussive Arts Society drum rudiments (1984). 3.1.6. Acessrios Dentre a grande variedade de instrumentos de percusso os mais comuns denominados cotidianamente na percusso como acessrios so: pandeiros, tringulos, pratos, sinos de vaca (cowbells), blocos sonoros (wood e temple blocks) e efeitos (utilizao musical de diversos materiais como: conchas, nozes, bambus, copos de cristal, pedras, caxixis, apitos de pssaros e panelas). Estes instrumentos so muito usados em obras para percusso e quase sempre usados na percusso mltipla. Todos estes instrumentos so tambm muito utilizados nas obras orquestrais. Os pandeiros sinfnicos se diferenciam do pandeiro de samba pelo nmero maior de platinelas e podem ser

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suspensos em estantes de prato. Os pratos tambm podem ser de vrios tamanhos e tipos, geralmente suspensos por estantes ou um suporte especfico que coloca vrios pratos em uma s estante. Os pratos mais usados variam no seu tamanho de 10 a 22 polegadas. comum o uso de pratos chineses, tam-tans e gongos. Estes instrumentos tm um som extico e so oriundos da msica oriental. Os cowbells so geralmente usados de um a trs com tamanhos graduais. Os blocos sonoros em geral so usados de um a cinco e tem a sonoridade prxima a uma escala pentatnica. Os efeitos so instrumentos artesanais geralmente tocados com a mo, mas possvel encontrar seu uso com baquetas como acontece na msica Cenas Amerndias n I (Brasiliana) de Rosauro onde se deve tocar o chimes de bambu com as baquetas de marimba. Como referncia no uso de acessrios pode-se citar: Blades (1973), Whaley (1982), Rosauro (1984) e Brindle (1970). 3.1.7. Rudimentos (ornamentos) Os rudimentos so oriundos das mais antigas tcnicas de caixa-clara e podem ser executados em qualquer tambor de pele. Alguns rudimentos podem ser executados nos teclados, acessrios e outros instrumentos. So divididos em Rulos (sustentao do som), Diddles (combinaes de manulaes), Flams (apogiaturas simples) e Drags (apogiaturas duplas). Os rulos so definidos pelo seu tempo de durao e so nomeados por simples, fechados ou abertos se tocados com toques simples, mltiplos ou duplos. As combinaes de manulaes so chamadas de paradiddle e podem ser simples, duplos e triplos (sendo os duplos e triplos variaes a partir do simples). As apogiaturas podem ser simples, duplas, triplas ou qudruplas, sendo as duas ltimas combinaes da simples com a dupla. As simples so chamadas de flam seguidas de variaes como, por exemplo, flam tap e flamacue. As duplas so chamadas de drag ou ruff. As triplas e qudruplas ocorrem principalmente em obras orquestrais e so consideradas ornamentos. 3.1.8. Combinao de instrumentos (percusso mltipla) O uso simultneo de instrumentos de peles (tambores diversos), teclados (marimba, xilofone, vibrafone e glockenspiel), metal (tringulos, pratos e acessrios), madeira (wood

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blocks, temple blocks), efeitos e outros denominado como percusso mltipla. O uso da percusso mltipla se tornou constante principalmente nas obras do sculo XX. Alguns compositores descrevem a montagem dos instrumentos (set-up), outros j no descrevem deixando a cargo dos intrpretes um estudo visando a melhor montagem. Na percusso mltipla os instrumentos so descritos atravs da uma legenda no incio da msica e/ou atravs de smbolos que aparecem diretamente na partitura. comum em obras para teclados, mais especificamente marimba e vibrafone, o uso simultneo de acessrios como blocos sonoros, pandeiros, tringulos, pratos e cowbells. Na montagem dos tambores existe uma diferena na posio dos graves para os agudos. Na escola americana, mais utilizada, os graves ficam no lado esquerdo e na escola alem os graves ficam no lado direito. 3.1.9. Instrumentos de pele (tambores diversos) Os instrumentos de pele podem ser usados com peles animais ou peles sintticas. Nas caixas e tom-tons em geral so usadas peles sintticas e nos bongs e tumbadoras so usadas peles animais. Os tom-tons geralmente so usados em quatro tamanhos graduais. Existem obras que requerem quantidades elevadas de tambores se tornando mais complexas de serem executadas devido dificuldade de disponibilizao destes instrumentos. Muitas obras para percusso mltipla requerem a juno de vrios tambores. Os mais utilizados so: caixas-claras e tambores militares, bongs, tumbadoras, pequenos bombos, tmpanos, tom-tons e bumbo tocado com pedal. O bombo sinfnico tem seu uso mais restrito devido seu tamanho de propores avantajadas, mas empregado quando da necessidade de seu som grave, de longa durao, e suave ou forte conforme a necessidade. As caixas-claras podem ser utilizadas com a esteira desligada ou ligada e podem ser escritas para mais de uma, sendo uma com afinao aguda e outra com afinao grave (sendo ento utilizados instrumentos com afinao diferenciada entre si). A caixa grave geralmente chamada de tambor militar (militar drum). No uso de instrumentos de pele tm-se como referncias: Goldenberg (1971), Blades (1973), Whaley (1982), Rosauro (1995, 2001) e Keune (1975). 3.1.10. O pedal no vibrafone e a tcnica de abafamento

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O uso do pedal do vibrafone e o recurso do abafamento (damping ou dampening) so fundamentais na tcnica do vibrafone, devido sustentao sonora das teclas, que, por serem feitas de metal, possuem grande capacidade de vibrao. O uso destes dois recursos serve basicamente para controlar a sustentao do som, sendo fundamentais para a clareza de melodias e harmonias. Existem obras que descrevem de uma forma bem especfica o uso do pedal, como: sem pedal, meio pedal e pedal inteiro. A troca de pedal em msicas para vibrafone ocorre basicamente de duas formas. Na primeira, o pedal usado para a troca da harmonia. Na segunda o pedal usado em passagens meldicas para desenvolver o fraseado musical, evitando a confuso da vibrao simultnea de notas meldicas com funes harmnicas diferentes. O damping uma tcnica de abafamento com as baquetas que para a vibrao da tecla ao se tocar uma nota posterior para que o som fique claro. Geralmente intervalos de segundas menores e intervalos dissonantes so abafados. O vibrafone dispe de um motor para o efeito do vibrato e pode ser aplicado em obras de acordo com instrues do compositor ou discrio do intrprete, podendo a velocidade do vibrato ser controlada por meio de um boto. Essa tcnica tambm denominada dampening, presso da cabea da baqueta na tecla com o objetivo de cessar a vibrao (Friedman, 1989, p.1) utilizada unicamente no vibrafone e o torna um instrumento nico. Tm-se como referncias os mtodos e coletneas com obras: A musical approach to four mallet technique for vibraphone (1982) de David Samuels, Vibraphone Technique, Dampening and Pedaling, Mirror From Another e A Collection of Solo Pieces for Vibraphone de David Friedman, The Vibes Real Book (1996) de Arthur Lipner e artigos de Rackipov (1998) e Mattingly (1999). 3.1.11. Uso de vrios tipos de baquetas O uso de vrios tipos de baquetas em uma obra busca encontrar a melhor sonoridade do instrumento e a procura por diferentes timbres junto aos instrumentos. Dentre as baquetas mais utilizadas nas obras pode-se citar: baquetas de caixa-clara (feitas de madeira), baquetas de tmpanos (com a ponta encapada por um feltro), vassourinhas, baquetas de marimba e vibrafone (encapadas com l e linha), baquetas especficas de instrumentos como o do tamborim, de reco-reco, de tringulo.

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O uso de determinada baqueta se d tambm pelo gosto musical do percussionista. Em todas as baquetas existem vrios tamanhos e com diferentes pesos. Baquetas mais pesadas de caixa-clara so muito usadas em msicas marciais e baquetas mdias e leves so mais usadas em obras orquestrais. Baquetas de tmpanos, marimba, vibrafone e xilofone podem ser divididas em trs nveis bsicos: macia, mdia e dura. O que determina o uso de cada uma so as sees das msicas ou projeo sonora que se espera do instrumento, e no caso particular da marimba, a regio do instrumento que mais utilizada durante a obra. Nos tmpanos o uso do cabo da baqueta na pele um recurso muito explorado, como por exemplo, nas peas de Elliott Carter. Algumas obras como, The Love of LHistoire de Charles De Lancey (1973) descriminam a baqueta mais indicada a ser usada. Algumas obras dos anos 70 e 80 descreviam at o modelo e a marca como Felt sticks Musser n 4 (baqueta de feltro, da marca Musser, modelo n 4) e Rubber hard Musser n 8 (baqueta de borracha dura, marca Musser, modelo n 8). 4. BREVES CONSIDERAES SOBRE AS OBRAS SELECIONADAS As obras foram selecionadas em funo das seguintes questes: caractersticas idiomticas encontradas, importncia no conjunto da obra do compositor, diferentes formaes instrumentais utilizadas, disponibilizao das partituras e pela ocorrncia dos aspectos idiomticos detalhados neste trabalho (parte 3). Foi realizado um trabalho de reviso e edio das obras selecionadas do compositor Fernando Iazzetta que se encontravam em manuscrito. Dentre os problemas detectados nas obras pode-se destacar: ausncia de notas explicativas sobre a forma de executar algumas sees e notao musical gerando dvidas. As correes foram realizadas como auxlio do compositor atravs de correspondncias via Internet disponveis no anexo II. Assim, esto relacionadas a seguir as obras selecionadas e as breves consideraes a respeito de cada uma delas.

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4.1 Obras de Luiz DAnunciao 4.1.1. Motivos Nordestinos: Sute para marimba, flauta, piccolo, berimbau e vibrafone - Composta em 1990 a obra tem os seguintes movimentos: Cantiga de Violeiro (para marimba solo), Desafio (Interldio para flauta, vibrafone e marimba), Xaxado (para piccolo, vibrafone e marimba) e Capoeira (para flauta, berimbau afinado em sol e vibrafone). A Cantiga de violeiro um baio onde compositor utiliza o recurso da tcnica de quatro baquetas na seo inicial com melodia na mo direita e harmonia na mo esquerda. Posteriormente faz o uso das baquetas alternadas e com teras na melodia. O Desafio um movimento curto, apresentando basicamente uma melodia para flauta com um acompanhamento harmnico feito pela marimba e vibrafone. O Xaxado um alegre baio, onde a marimba introduz uma conduo harmnica para a entrada da melodia no piccolo seguida em cnone pelo vibrafone. A Capoeira tem a forma ABC com passagens solo entre as sees. A parte A introduzida por uma melodia sincopada na flauta seguida pelo berimbau. Na parte B o vibrafone apresenta uma melodia fazendo posteriormente um acompanhamento harmnico para uma nova melodia na flauta. Aps um solo de berimbau uma Coda conduz ao final. 4.1.2. Divertimento para berimbau e violo (1989)- Inserido no Caderno berimbau, do manual de percusso, volume I A percusso dos ritmos brasileiros, sua tcnica e sua escrita a obra tambm uma amostragem prtica da grafia para o berimbau. Inicia com uma introduo lenta em rubato pelo violo com pequenas intervenes do berimbau. Aps um pequeno solo de violo, uma cadncia para o berimbau desenvolvida. Em uma terceira seo os dois instrumentos seguem juntos onde o violo alterna acordes e melodias, concluindo com uma cadncia para o violo. A pea segue com uma quarta seo seguindo juntos os dois instrumentos, levando a uma coda mais livre com temas apresentados anteriormente. 4.1.3. Divertimento para tom-tons - A obra, escrita em 1986, dedicada a Ney Rosauro e utiliza quatro tom-tons discriminados pelo compositor como soprano, contralto, tenor e baixo. Escrita no compasso 6/8 a obra apresenta um tema inicial e segue com algumas variaes. Utiliza alguns rudimentos como apogiatura dupla e rulo. Apresenta uma passagem tecnicamente difcil, onde o compositor escreve uma seo em que o

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baquetamento proposto leva a mo esquerda a ser usada no tambor agudo, ocasionando o cruzamento das mos. 4.1.4. Dana para pandeiro estilo brasileiro e obo - Nesta Dana, composta em 1992, o pandeiro contrapontua o obo, com um elemento rtmico caracterstico do baquevirado do maracatu pernambucano, at surgir uma nova pulsao em trs por oito, sugerindo um scherzo que conduz, em dilogos e fragmentos de marcha-de-zabumba a um finale sbito. A escrita utilizada descrita no mtodo de pandeiro e descreve os timbres usados no pandeiro. A obra dedicada a Marcos Suzano, importante percussionista brasileiro conhecido por sua tcnica de pandeiro. 4.1.5. Dueto para bloco chins e tom-tons (1978) - A obra utiliza cinco blocos chineses e dois tom-tons. iniciada por uma frase nos blocos chineses, seguida por uma imitao rtmica nos tom-tons. Escrita no compasso ternrio, o dueto uma obra curta onde trabalhado o contraponto rtmico entre os instrumentos. 4.1.6. Pequena Sute para Vibrafone (1995-96) - A sute formada pelos seguintes movimentos: Acalanto, Lundu, Schottisch e Toccata (Cco de Embolada). Estas peas constam no volume II Livro B, Caderno 3 do Manual de percusso. Com objetivos didticos apresentam as dificuldades compatveis ao nvel intermedirio (Schottisch) e ao nvel adiantado (Acalanto, Lundu e Toccata) do estgio 4 da formao na Escola Brasileira de Msica. O propsito avaliar o preparo tcnico-musical e artstico necessrios a esses nveis. So obras curtas que apresentam contrapontos entre as vozes, melodias bem definidas e sncopes caractersticas da msica brasileira. 4.2. Obras de Ney Rosauro 4.2.1. Cenas Amerndias n. I e II - Escritas entre 1986 e 1987 em Braslia, estas duas peas para percusso mltipla so baseadas nos ritmos e melodias dos ndios nativos da Amrica do Sul. Os instrumentos de percusso usados em combinao com os instrumentos de teclados, alm de adicionarem um rico colorido tmbrico, iro tambm ter uma importante funo meldica dialogando constantemente com a voz principal. O uso de escalas de tons inteiros, acordes aumentados e melodias executadas com intervalos de

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segundas e stimas so algumas das ocorrncias divididas entre estas peas. Brasiliana para marimba e instrumentos de madeira foi escrita em homenagem cidade de Braslia. Suas melodias tristes evocam a memria do planalto seco e solitrio, onde a cidade localizada. Esta composio tem uma estrutura simtrica que est diretamente relacionada com as formas geomtricas em que a cidade foi construda. Eldorado para vibrafone e instrumentos de metal construda em trs sees contrastantes (Samba, Afro e Lamento) que representam aventuras e sonhos na busca pela mgica terra dourada. Foram estreadas pelo compositor em 1988 no I Encontro Brasileiro de Percussionistas realizado na Unesp. 4.2.2. Sonata Ciclos da Vida - Esta sonata escrita para vibrafone e marimba (apenas um executante) foi composta em Braslia no ano de 1985 e dedicada ao seu filho Gabriel. Os quatro movimentos: Amanhecer, Brincadeira, Canto e Rond representam os diferentes perodos da vida de uma pessoa. No primeiro e ltimo movimento o solista toca marimba e vibrafone simultaneamente. O segundo movimento um alegre baio para marimba solo que representa a infncia. O terceiro movimento um solo para vibrafone que representa a fase adulta. O compositor faz o uso nesta obra do motor do vibrafone ligado e desligado. A sonata foi estreada pelo autor em 1985 na Duke Ellington School of Music em Washington, USA. 4.2.3. Trs Preldios para marimba solo - O Preldio n 1 foi originalmente escrito para violo e usa uma harmonia baseada na msica flamenca. A verso para marimba foi completada em 1983 e dedicada a Rose Braustein. Atravs dos trs temas, o esprito da msica espanhola pode ser sentido e o terceiro tema lembra arpejos tocados no violo. Foi estreado pelo autor em 1985 no Teatro Nacional de Braslia. O Preldio n 2 foi escrito em homenagem ao grande compositor Heitor Villa-Lobos, que a principal fonte de motivao de Rosauro a escrever msica com razes brasileiras. O tema 1 um tributo ao mestre e os temas 2 e 3 so baseados em seqncias meldicas que so caractersticas das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos. Foi estreado pelo autor em 1988 no I Encontro Brasileiro de percussionistas realizado na Unesp. O Preldio n 3 foi escrito em 1987 logo aps a chegada de Rosauro em Santa Maria-RS e dedicado a Luiz DAnunciao. A introduo e coda so apresentadas com rulos e no estilo coral. Durante a segunda parte, dois novos temas so introduzidos pela rpida alternncia das quatro baquetas, que demonstram a virtuosidade do intrprete enquanto apresenta expressivas melodias. Foi

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estreado pelo autor em 1988 no I Encontro Brasileiro de percussionistas realizado na Unesp. 4.2.4. Concerto n 1 para Marimba e Orquestra Este concerto foi escrito entre Junho e Julho de 1986 em Braslia e dedicado ao seu filho Marcelo. Sua estria aconteceu no mesmo ano nos Estados Unidos com a Manitowoc Symphony Orchestra sobre direo de Manuel Prestamo. Com o sucesso comercial da gravao do concerto em cd e vdeo em 1990 pela percussionista inglesa Evelyn Glennie com a London Symphony Orchestra, o concerto rapidamente tornou-se conhecido com uma das maiores obras para percusso e considerado o mais popular concerto de marimba dos anos 90, tendo sido tocado por mais de 500 orquestras em todo o mundo. A parte solo explora muitas possibilidades da tcnica de quatro baquetas. Originalmente escrito para marimba e orquestra de cordas, o concerto contm quatro movimentos, diferente da forma de concerto tradicional (rpido, lento e rpido) a terceira parte apresenta um tempo mdio antes do final vigoroso. O modo brasileiro pode ser sentido por toda a pea que contm fortes padres rtmicos. A msica foi composta com a inteno da marimba liderar o material temtico e com isso a parte da marimba pode ser tocada quase como uma pea solo sem precisar do acompanhamento da orquestra. 4.2.5. Sute Popular Brasileira para marimba solo - A sute uma coleo de danas brasileiras e foram escritas entre 1980 e 1982. A obra originalmente escrita para marimba solo foi posteriormente arranjada para grupo de percusso, extendendo os movimentos com algumas improvisaes escritas. Esta foi a primeira obra para marimba solo que Rosauro comps. O Baio baseado nos modos ldio e mixolidio e sua forma pode ser definida como uma Introduo de carter recitativo seguida pela forma ABCA. Inicia com o tempo rubato com um rulo independente na mo direita apresentando a melodia na mo esquerda. Aps uma chamada com ritmo do baio em tempo allegro o primeiro tema apresentado em oitavas. Na segunda parte o baixo e tocado em contraponto melodia com notas simples. Na terceira parte a melodia com intervalos de sexta levam conduzem ao final com a melodia tocada com intervalos de tera. O Xote nesta verso para marimba apresenta um ostinato rtmico nordestino com uma leve influncia do reggae. Sua forma pode ser dividida em cinco partes, ABC somado a volta de BA para terminar. Caboclinhos, uma das poucas danas que tem origem dos ndios nativos

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brasileiros, inicia com o ritmo caracterstico do caboclinho para em seguida apresentar a melodia oitavada. So baseados na escala pentatnica e na segunda parte so acrescentadas apogiaturas na melodia. Maracatu um ritmo original de Pernambuco e nesta verso para marimba pode-se dividir este movimento em trs partes como ABC. Na introduo da parte A uma frase caracterstica do agog do maracatu apresentada, primeiramente na mo direita com a melodia na mo esquerda e posteriormente ao inverso. Na parte B o rulo independente usado na mo direita enquanto a mo esquerda toca a frase do agog apresentada anteriormente. Teve sua estria na Hochschule fr Musik Wrzburg em 1985 pelo compositor. 4.2.6. Cadncia para berimbau - Composta em Wrzburg Alemanha no ano de 1981, esta pea foi primeira pea que Rosauro comps para percusso. Esta obra basicamente um solo de berimbau acompanhado de marimba, congas ou bongs e surdo (tocado de uma forma estilizada no lugar da zabumba). Teve sua estria no IV Deutsche Percussion Symposium em Hammelburg no ano de 1981, pelo compositor ao berimbau, Mark Glentworth na marimba, Adel Shalaby nas congas e Mathias Schmitt no surdo. A melodia e ritmo da obra ilustram a atmosfera da capoeira. 4.2.7. Rapsdia para percusso solo e orquestra (reduo para piano) - Composta em Miami entre 1991 e 1992 esta obra baseada em uma simples melodia com a qual o pai de Rosauro recitava seu poema As espumas do mar. Este motivo temtico ser repetido ciclicamente e com variaes no decorrer de toda a pea. A introduo aleatria e o som de copos de friccionados se mistura com diferentes apitos de pssaros e glissandos nas cordas do piano criando um clima mstico e mgico. O tema principal apresentado com um tempo lento pelo piano, seguido por uma pequena cadncia tocada pelo vibrafone. Para concluir a primeira seo da obra o tema novamente apresentado pelo piano e vibrafone. A segunda seo comea aps uma pequena ponte onde o tempo allegro estabelecido com o vibrafone apresentando o novo tema alternando os compassos 4/4 e 7/8. Um interldio em 9/8 apresentado antes de cada variao posterior. A primeira variao esta construda com o mesmo esquema ritmo do tema. A segunda variao apresentada em 4/4 e tem uma forte influencia do jazz. Indo para uma tonalidade maior e um tempo rpido as prximas duas variaes em 5/4 alternam com um contraste linear da parte em 12/8.

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Na terceira seo, o piano apresenta um tema infantil (variao do motivo cclico) primeiro em unssono e depois em quatro variaes e sempre em um estilo imitativo. O solista toca repinique e muitos outros instrumentos de percusso, adicionando colorido e ritmos no seu desenvolvimento em que o tema cclico sempre lembrado. Aps um solo de piano, uma parte opcional comea para o solista, onde ele pode escolher entre tocar berimbau ou outro instrumento de carter popular de percusso que ele goste de tocar, criando uma harmonia modal sobre uma nota pedal. Durante a cadncia do solista alguns do temas apresentados em toda a pea so desenvolvidos pelo vibrafone e outros instrumentos de percusso. Aps a recapitulao do tema principal a mesma atmosfera mstica do comeo da obra usado para concluso. O solista toca: vibrafone, 2 tom-tons, caixa-clara, repinique, 4 pratos suspensos, 5 temple-blocks, 2 wood-blocks, 2 cowbells, castanholas, reco-reco, tringulo, 5 apitos de pssaros, 3 copos de gua e berimbau (afinado em sol) que pode ser substitudo por qualquer outro instrumento carter popular de percusso. Teve sua estria em 1992 na Universidade de Miami pelo compositor e Alan Mason no piano. 4.2.8. Seven Brazilian Children Songs (solo de marimba) - Esta coleo de canes so peas fceis para quatro baquetas e foram escritas entre 1996 e 1997. O objetivo destas peas desenvolver a tcnica e aspectos meldicos das quatro baquetas, bem como apresentar algumas melodias e ritmos do folclore brasileiro. Em todas as canes a textura utilizada melodia com acompanhamento harmnico. As canes so: A Canoa Virou, Ciranda Cirandinha, Pirulito que bate-bate, Terezinha de Jesus, O Cravo brigou com a Rosa, A Moda da tal Anquinha e Vamos maninha. 4.2.9. Bem - Vindo - Composta em 1988 em Santa Maria-RS para o nascimento do seu filho Ricardo, esta pea requer uma tcnica avanada para sua interpretao e introduz a tcnica de tocar com cinco baquetas. O primeiro tema apresentado na abertura ser desenvolvido e repetido em forma de variaes, tendo na maioria das vezes um ostinato rtmico politonal como acompanhamento. Na seo final, outros dois pequenos motivos iro aparecer intercalados pelo mesmo ostinato rtmico anterior, primeiramente no estilo Bachiano de Villa-Lobos e posteriormente como citao de melodias gachas, referindo-se ao local de nascimento de Ricardo. Foi estreada no Rio de Janeiro pelo compositor no XII Panorama da Msica Brasileira em 1989 e gravada no cd Rapsdia de Rosauro.

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4.2.10. Variaes sobre um tema do Rio Grande - Composta em 1993 em Santa Maria RS, estas variaes so re-harmonizaes e fantasias sobre o folclrico tema do sul do Brasil: Ai bota aqui o seu pezinho. O tema principal apresentado em d maior. A variao 1 apresentada em l menor no estilo imitativo. A variao 2 uma expressiva balada especialmente em sua segunda parte. A variao 3 lembra o estilo de Villa-Lobos e tem como subttulo O pzinho do Caipira. A variao 4 apresentada na escala de tons inteiros e com acordes aumentados. A variao 5, em f maior lenta e no estilo coral, ou seja, tocada com rulos. A variao 6, dentro do modo ldio sugere um clima nordestino e a variao 7 recapitula o tema principal em um final majestoso. A obra foi estreada em 1993 pelo autor em Santa Maria (RS) e foi gravada no cd Rapsdia de Rosauro e The World of Marimba de Gilmar Goulart para quem a obra dedicada. 4.2.11. Variaes para quatro tom-tons - Composta em Braslia no ano de 1984 e dedicada a Marco Vidal Donato, esta obra consiste em um Tema e 6 variaes. A obra tem uma finalidade didtica. O Tema apresentado no compasso 6/8 e tocado com baquetas de tmpanos. A primeira variao no compasso 4/4 e tocada com baquetas de caixa-clara. A segunda variao no compasso 5/8 e tocada com vassourinhas. A terceira variao no compasso 3/4 e tocada com baqueta de caixa na mo direita e baqueta de tmpano na mo esquerda. A quarta variao no compasso 3/2 e tocada com baquetas de tmpanos. A quinta variao no compasso 7/8 e tocada com os dedos. A sexta variao no compasso 3/4 na primeira parte, tocada com baquetas de caixa, e no compasso 6/8 na segunda parte, tocada com baquetas de tmpanos. 4.3 Obras de Fernando Iazzetta 4.3.1. Unka - Composta em 1986 para quarteto de percusso: giro, xilofone e marimba em l (duas pessoas em uma mesma marimba) a obra foi estreada pelo Grupo Piap em Julho de 1989. Unka demonstra equilbrio entre os instrumentos utilizados, juntamente com uma diferente formao camerista, utilizando timbres incomuns como o giro (instrumento da famlia dos raspadores). A obra apresenta uma linguagem atonal e sua forma pode ser dividida em trs sees. Na primeira seo, de carter rpido, os

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principais motivos so expostos seqencialmente. Na segunda seo, contrastante e menos movida, apresenta uma cadncia solo para o giro e posteriormente s os teclados so utilizados com ornamentaes e rulos. J na terceira seo, de carter rpido, os motivos que foram apresentados na primeira seo so re-expostos com variaes. Dentre grupos que j a executaram citamos: Grupo Piap, Grupo de percusso da Escola Municipal de Msica de So Paulo e Grupo de percusso da Universidade Federal de Uberlndia. tambm freqentemente executada em festivais de msica. 4.3.2. Prakat - Composta em Maro de 1992 a obra escrita para dois percussionistas e um pianista e foi estreada pelo Grupo Novo Horizonte no Teatro Municipal de So Paulo em 12 de Abril do mesmo ano. Na capa do manuscrito a obra chamada de trio para percusso, pois alm do piano ser um instrumento de percusso, o pianista toca alguns instrumentos de percusso. Sua instrumentao completa : percussionista 1- 4 Tigelas, berimbau (apoiado sobre um cavalete), reco-reco, bong; percussionista 2- 4 Temple Bells, berimbau (apoiado sobre um cavalete), reco-reco, bong; percussionista 3 (pianista)- 4 Bells tune, matraca, claves, berrante e piano. Alm de apresentar uma grafia musical no-convencional, existem duas sees diferenciadas na obra, que so: uma em que os percussionistas tocam clusters no piano e outra que utiliza uma tcnica diferente da tradicional no reco-reco, onde deve se tocar o reco-reco e o bong juntos. De acordo com Iazzetta (2003), a tcnica utilizada no reco-reco apoiado no bong da seguinte forma: cada nota raspada no reco-reco termina com uma nota no bong. Sobre os instrumentos pouco conhecidos usados na obra podemos citar: bell tune que so pequenas barras de alumnio e tigelas de porcelana de tamanhos graduais que podem ser percutidas com baquetas muito finas. Os berimbaus usados na msica devem ser suspensos por uma espcie de cavalete apoiados no cho. 4.3.3. Cage-Abertura para duo de percusso - Composta em Novembro de 1991 Cage dedicada ao Duo Contexto (formado pelos percussionistas Eduardo Leandro e Ricardo Bologna) e foi por eles estreada no III Encontro Nacional de Percussionistas em Maio de 1992. A obra utiliza na sua instrumentao: dois bombos, dois pares de bongs, dois pratos chineses e 4 tom-tons. O desenho da montagem dos instrumentos apresentada no manuscrito, trazendo tambm a seguinte observao: a manulao nas partes em unssono deve ser a mesma para ambos os percussionistas. A obra apresenta uma

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introduo em que os percussionistas tocam em unssono executando a frase inicial da obra em sextinas. Aps uma seo com pequenos motivos rtmicos, outras duas frases em sextinas do seqncia passando a uma seo em que os percussionistas deixam de tocar em unssono. Seguindo com um ostinato rtmico na mo direita e frases rtmicas na mo esquerda com pergunta e resposta entre os percussionistas, estabelecido um ostinato rtmico, caracterstico da msica afro, que serve de base para os improvisos dos intrpretes. Apresenta uma seo final onde o andamento dobra mostrando virtuosidade e a inteno de vigor da obra. A performance nesta obra se torna de grande importncia, pois os percussionistas tocam um de costas para o outro. 4.3.4. Promenade - Tambm dedicada ao Duo Contexto, a obra foi escrita para dois percussionistas e tape e composta entre Julho e Setembro de 1997. Como o Duo Contexto formado por dois percussionistas de grande experincia, Promenade foi composta para ser uma obra de nvel avanado, tanto pela escrita, quanto pela instrumentao. Utiliza os seguintes instrumentos: percussionista 1- Surdo ou tom-tom grave, tam-tam, almglocken em f sustenido (cowbell com afinao definida), chimes de bambu, pandeiro, tamborim de samba, tringulo, dois tom-tons agudos, matraca, wood block (bem grave), wood block (bem agudo), vibrafone e trs gongos; percussionista 2- bumbo com pedal, prato chins, almglocken em l bemol, log drum (caixa de ressonncia de madeira tambm chamado de tambor de rvore ou tambor de fenda), break drum (tambor de freio), tringulo, bong, trs temple bells, giro ou reco-reco, marimba (com a extenso em l). Alm destes instrumentos os dois percussionistas devem escolher alguns chocalhos e chimes para improviso aos dezenove segundos da obra. A minutagem da obra descrita na partitura nas principais entradas dos percussionistas e do tape. Passagens aleatrias so intercaladas com ritmos e andamentos claramente descritos na parte. Pode-se dividir a obra em duas grandes sees, a primeira seo, de maior tamanho, apresenta dilogos entre os percussionistas e o tape, a segunda parte, de grande dificuldade de execuo, apresenta um unssono com o tape, que traz o som de alguns timbres de percusso como: madeira, metal e de alguns instrumentos de percusso como: vibra slap, tringulo, sino (som de bell), tam-tam (tambm raspado com baquetas de tringulo). Apresenta grafia musical no-convencional.

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4.3.5. Urbanas II Trata-se de um sexteto de percusso com fortes influncias da Msica Minimalista. Sua instrumentao completa : percussionista 1- wood block grave, wood block agudo, cowbell grave, cowbell agudo, vibrafone; percussionista 2- claves e xilofone; percussionista 3- bong e glockenspiel; percussionista 4- tmpanos; percussionista 5- marimba; percussionista 6- guizos, prato chins, bombo, dois tom-tons, chimbau. Pode-se citar a anlise feita por Cervo (2002), a obra inicia com a repetio de um pulso introduzido por wood blocks, aps o estabelecimento desse pulso, outros instrumentos (claves, bong e vibrafone) vo sendo introduzidos atravs de pulsos mais lentos, que aceleram gradualmente at entrar em fase com o pulso principal inicial. A partir da segunda parte, os instrumentos comeam a serem explorados em gestos rtmicos que sugerem pergunta e resposta e tambm em passagens solo. A obra tem ainda uma terceira parte de carter meldico baseada na escala de tons inteiros. A maneira sui generis como Iazzetta utiliza-se das tcnicas composicionais do Minimalismo, em mistura com elementos livremente compostos, colabora para consumar essa obra de grande inventividade, na qual a influncia da rtmica da msica brasileira tambm marcante. Foi estreada pelo Grupo Piap durante a Bienal de Msica Brasileira Contempornea em setembro de 1991 no Rio de Janeiro. Apresenta grafia musical no-convencional e uma folha de rosto como legenda descrevendo notas para a execuo.