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So Lus MA, 25 a 28 de agosto 2009
PERFIL DA ECONOMIA SOLIDRIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Renata da Fonseca Silva1
RESUMO
Este trabalho resulta de pesquisa, sobre a economia solidria no Rio de Janeiro, identificando seus atores, espaos de atuao e rede institucional que mobiliza e apia. O texto apresenta os traos scio-institucionais dessa atividade na cidade tomando como base o mapeamento realizado pelo Ministrio do trabalho e Emprego atravs de sua Secretaria Nacional de Economia Solidria SENAES, nos anos de 2005 e 2007. Esse mapeamento parte do Sistema de Informaes em Economia Solidria SIES e se baseia em levantamentos de dados sobre a economia solidria em todo territrio brasileiro. Palavras-chave: Economia Solidria, Cooperativismo Popular e
Trabalho.
ABSTRACT
This work results from research on the solidarity economy in Rio de Janeiro, identifying its actors, areas of expertise and institutional network that mobilizes and supports. The text presents traces of socio-institutional activity in the city building upon the mapping carried out by the Ministry of Work and Employment through its National Secretariat of Solidarity Economy - SENAES, in the years 2005 and 2007. The mapping is part of the Information System in Solidarity Economics - SIES and is based on surveys of data on the solidarity economy throughout the Brazilian territory. Keywords: solidarity economy, Cooperatives and Work.
1 INTRODUO
A reestruturao produtiva do capitalismo nos ltimos anos, definiu novos
processos de trabalho e diversificadas formas de utilizao da fora de trabalho
baseadas na flexibilizao das relaes de trabalho. Junto reforma do Estado,
estas mudanas conformaram o cenrio de desemprego e precarizao das 1Graduanda de Servio Social-Universidade do Estado do Rio de Janeiro.E-Mail: [email protected]
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relaes de trabalho no mundo contemporneo (BARBOSA, 2007. TAUILE, 2001).
E, esse reordenamento da ordem mercantil foi adensado na conjuntura nacional (e
carioca) pela ausncia de polticas pblicas de gerao de emprego, forando os
trabalhadores a buscarem, por meios prprios, alternativas de obteno de renda.
Neste contexto, a partir da dcada de 1990 surgem polticas pblicas de
gerao de trabalho e renda como forma de enfrentamento das altas taxas de
desemprego. A economia solidria, promotora do cooperativismo popular uma
dessas estratgias polticas que ganha estatuto de ateno publica no mbito da
esfera federal, no Governo de Luiz Incio Lula da Silva, em 2003. O marco dessa
ateno pblica federal a institucionalizao da Secretaria Nacional de Economia
Solidria SENAES no mbito do Ministrio de Trabalho e Emprego2, que define a
economia solidria como conjunto de atividades econmicas de produo,
distribuio, consumo, poupana e crdito organizadas e realizadas solidariamente
por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionria. (SENAES,
2006, p.11)
Assim, para elaborao deste trabalho foi realizado inicialmente estudo de
bibliografia referente ao tema da economia solidria, sobre a crise do modelo de
produo fordista e os processos da reestruturao produtiva que trouxeram srias
implicaes no mundo do trabalho no contexto neoliberal, situando a base scio-
histrica em que emergem as prticas de economia solidria no Brasil.
O trabalho de campo envolveu abordagens junto s instituies,
entrevistas e observao participante nos espaos de discusso sobre economia
solidria. As entrevistas, orientadas por perguntas abertas semi-estruturadas, foram
realizadas com os representantes de instituies identificadas como de relevncia
para o fomento e promoo da economia solidria no Rio de Janeiro como o Instituto
Brasileiro de Anlises sociais e Socioeconmicas IBASE, o Centro de Ao
Comunitria CEDAC, e a Delegacia Regional do Trabalho DRT3 e um
representante do FBES.
O acesso aos dados do SIES atravs da SENAES e a utilizao dos
procedimentos metodolgicos citados possibilitou uma aproximao com as
2 A Secretaria Nacional de Economia Solidria SENAES foi instituda pela LEI 10.638 de 28/05/2003 e Decreto 4.764 de 24/07/2003. 3 A Delegacia Regional do Trabalho passou a ser Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego a partir de 2008, sob o Decreto 6.341 de 2008.
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experincias e prticas de economia solidria desenvolvidas na cidade do Rio de
Janeiro, que ser exposta a seguir em seus traos gerais.
2 PERFIL SCIO-INSTITUCIONAL DA ECONOMIA SOLIDRIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: traos deixados pelos mapeamentos 2005 2007
A pergunta central aqui : qual a cara e o tamanho da economia solidria
carioca? Vejamos alguns traos no processo de mapeamento de 2005-2007. O SIES
identificou 201 empreendimentos econmicos solidrios, distribudos entre
cooperativas populares, associaes, empresas autogestionrias e grupos
informais.4 Isto significa 14,97% do total de empreendimentos do estado do Rio de
Janeiro. Considerando que o estado do Rio de Janeiro tem 1.343 empreendimentos
mapeados, o que lhe d a condio de 6 maior Estado da federao em quantidade
de empreendimento, afirmamos que tanto a cidade, quanto o estado do Rio de
Janeiro tem uma concentrao expressiva de empreendimentos.
Pelos dados levantados, percebe-se que esse tipo de organizao, de
fato de desenvolvimento recente na cidade acompanhando a tendncia nacional. Na
verdade, o desenvolvimento macio desta modalidade de atividade econmica
ocorre entre os anos de 2001 e 2007, com forte concentrao na Zona Oeste e na
Zona Norte da cidade. No perodo anterior, de 1969 a 2000 foram identificados 59
empreendimentos em toda a cidade, ao passo que entre os anos de 2001 e 2007
foram identificados 137 empreendimentos, sendo 122 somente entre a Zona Norte e
Zona Oeste. Estes dados confirmam que o desenvolvimento das atividades de
economia solidria na cidade do Rio est vinculado ao aumento das taxas de
desemprego e transformaes produtivas que se acentuaram a partir dos anos 2000.
A distribuio geogrfica dos empreendimentos solidrios no municpio
heterognea com grande concentrao na rea urbana da cidade, ocupando, como
visto principalmente a Zona Norte e Zona Oeste. Estas so regies perifricas do
4Cinco empreendimentos presentes no relatrio do mapeamento da cidade do Rio de Janeiro, no pertencem ao municpio. Tal erro pode ter ocorrido em um dos momentos de manuseio dos dados. Mesmo que seja um erro residual se considerarmos quantidade, podemos considerar que o mapeamento traz resultados suscetveis a erros e imprecises. Na anlise dos dados tendo como parmetro os dados da prpria cidade, foi considerado somente os empreendimentos econmicos solidrios que pertencem cidade, sendo assim, consideramos 196 empreendimentos de economia solidria mapeados na cidade do Rio de Janeiro. Mas para efeito de comparaes a nvel estadual de nacional ser considerado o nmero de 201 empreendimentos.
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espao urbano da cidade, onde se concentram grandes bolses de pobreza da
cidade. Segundo os dados do Instituto Pereira Passos, estas zonas concentram
proporcionalmente, maior quantidade de pessoas residentes em reas de favelas e
tambm apresentam os menores ndices de Desenvolvimento Humano (IDH). A
Zona Oeste possui um IDH de 0,73 e a Zona Norte 0,71, enquanto a Zona Sul e o
Centro apresentam 0,84 e 0,80 respectivamente.
A afirmao de que o aumento de empreendimentos de economia
solidria como reflexo do desemprego tambm pode ser verificada quando
analisamos a questo que identifica a motivao para iniciar a atividade econmica
solidria, onde a opo alternativa ao desemprego aparece mais recorrentemente
(40%), seguida pela opo motivao social, filantrpica ou religiosa, com 25,66%
e em terceiro (13,90%) a motivao fonte complementar de renda para os
associados. A essas opes confirmam, a motivao decorre da situao de
excluso desta populao do mercado formal de trabalho.
Em relao aos trabalhadores que constituem os empreendimentos,
foram identificados 3.455 scios, entre pessoa fsica e jurdica. Sendo deste total
60,55% representados por mulheres. Esta ascendncia feminina no aparece nos
resultados do mapeamento do estado do Rio de Janeiro, nem mesmo a nvel
nacional, onde, a participao masculina maior. Isso parece ilustrar os estudos
sobre desemprego no Rio de Janeiro e no pas, que paulatinamente apontam as
mulheres como as mais atingidas pelo desemprego se desagregarmos a varivel
gnero na populao economicamente ativa. Isso tambm justifica a indicao do
gnero feminino em situao de vulnerabilidade como um dos grupos do pblico
alvo do Programa Economia Solidria em Desenvolvimento da SENAES e de
variados programas de gerao de renda de outras instncias governamentais.
Outro ponto que podemos observar quanto forma de organizao dos
empreendimentos. A partir de anlise dos dados do mapeamento, comprova-se a
fragilidade em que os grupos se encontram, onde 157 empreendimentos so grupos
informais e apenas 39 empreendimentos compem cooperativas, associaes ou
outras formas de organizao com algum tipo de regulamentao. A informalidade
est presente em todas a