Permcultura I

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    PNFC- Projeto Novas Fronteitras da CooperaoPara o Desenvolvimento Sustentvel

    Conceitos Bsicos de

    PERMACULTURA (Andr Luis Jaeger Soares, 1998)INDICE :

    O que Permacultura? Quando surgiu?

    Por que Permacultura? A tica da Permacultura Design ou desenho? Planejamneto por setores Planejamento por zonas A ecologia da Permacultura Lendo a Terra (exerccio prtico) Climas e microclimas Latitude e altitude Inclinao Aspecto

    Quebra-ventos Solos gua rvores: os agentes da mudana Os animais e seus benefcios O ensino da Permacultura Bibliografia

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    O QUE PERMACULTURA?

    Em poucas palavras, Permacultura uma sntese das prticas agrcolas tradicionais comidias inovadoras. Unindo o conhecimento secular s descobertas da cincia moderna,proporciona o desenvolvimento integrado da propriedade rural de forma vivel e segurapara o agricultor familiar.

    0 projeto permacultural envolve o planejamento, a implantao e a manuteno conscientesde ecossistemas produtivos que tenham a diversidade, a estabilidade e a resistncia dosecossistemas naturais. Ele resulta na integrao harmoniosa entre as pessoas e a paisagem,provendo alimentao, energia e habitao, entre outras necessidades materiais e no -materiais, de forma sustentvel.

    A palavra PERMACULTURA ainda no existe nos dicionrios brasileiros. Ela foiinventada por Bill Mollison para descrever essa transformao, da agricultura convencionalem uma Permanente agricultura.

    Como campo de trabalho, a Permacultura uma carreira reconhecida internacionalmente,em vrias instituies de ensino superior. Apesar disso, no um campo de"especializao" e, sim, de "generalizao". 0 permacultor utiliza conhecimentos de muitasreas para fazer sua anlise e tomar suas decises..

    QUANDO SURGIU?

    A Permacultura foi desenvolvida no comeo dos anos 70 pelos australianos Bili Mollison eDavid Holmgren, como uma sntese das culturas ancestrais sobreviventes com osconhecimentos da cincia moderna. A partir de ento, passou a ser difundida na Austrlia,considerando que, naquele pas, a agricultura convencional j estava em decadnciaadiantada, mostrando sinais de degradao ambiental e perda de recursos naturaisirrecuperveis. Na verdade, em situao muito similar do Brasil de hoje.

    Desde ento, os inmeros casos de sucesso na aplicao da Permacultura tm provado ser,ela, uma soluo vivel no somente para a Austrlia, como para todo o Planeta. Osconceitos de agricultura permanente comearam a ser expandidos como uma culturapermanente, envolvendo fatores sociais, econmicos e sanitrios para desenvolver umaverdadeira disciplina holstica de organizao de sistemas.

    Hoje, existem institutos de Permacultura em todos os continentes, em mais de cem naes.Diversos pases, como o Brasil, vm adotando a Permacultura como metodologia agrcolae, at mesmo, escolas de todos os nveis esto incluindo a Permacultura no seu currculobsico.

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    POR QUE PERMACULTURA?

    0 Planeta Terra encontra-se em um momento crtico. Apesar da evoluo rpida dastecnologias existentes, os nossos sistemas naturais esto em crise. Por toda a parte,constata-se a degradao ambiental em diversas formas. 0 mundo perde bilhes detoneladas de solos frteis, anualmente. Os desertos continuam crescendo a uma velocidadeameaadora. 0 abastecimento de energia e gua potvel para o futuro prximo estameaado, alm de outros problemas generalizados que continuam se agravando, como asmudanas climticas recentes ocasionadas pelo impacto do nosso consumo excessivo decombustveis fsseis.

    No Brasil, a famlia rural carente de informaes e de recursos para sobreviversustentavelmente, com o conseqente xodo rural que, por sua vez, tem repercusso na

    qualidade de vida nas zonas urbanas.Precisamos trazer solues prticas para a pessoa do campo. Solues que venham deencontro s realidades culturais, sociais e ambientais de cada regio. Solues sistmicas,acessveis e simples, que tragam segurana famlia e um potencial de desenvolvimentohumano sustentvel.

    A Permacultura se adapta a transies lentas ou rpidas. Voc pode comear lentamente,utilizando uma pequena parcela de terra, e os recursos disponveis localmente, outransformar toda a propriedade, de uma s vez, de acordo com suas condies financeiras ea quantidade de ajuda com que voc pode contar. No esquecendo o auxlio que a natureza

    oferece, quando comeamos a colaborar com ela.Integrando todos os aspectos da sobrevivncia e da existncia de comunidades humanas, aPermacultura muito mais do que agricultura ecolgica ou orgnica, englobandoEconomia, tica, sistemas de captao e tratamento de gua, tecnologia solar ebioarquitetura. Ela uma sistema holstico de planejamento da nossa permanncia noPlaneta Terra.

    A TICA DA PERMACULTURA

    "Os sistemas bsicos de sustentao da vida no Planeta esto em crise. A continuar assim, oHomo sapiens poder entrar para a lista das espcies em perigo de extino."

    JornalThe Examiner- Londres 1992

    Para realizar a Permacultura, necessrio adotar uma tica especfica de sustentabilidadeque exija um repensar dos nossos hbitos de consumo e dos nossos valores, em geral. Ospontos fundamentais so definidos assim:

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    0 cuidado com o planeta Terra -Esta uma afirmao simples e profunda, com ointuito de guiar nossas aes para a preservao de todos os sistemas vivos, deforma a continuarem indefinidamente no futuro. Isso pressupe uma valorizao detudo o que vivo e de todos os processos naturais. A rvore tem valor intrnseco, valiosa para ns, no somente pela madeira ou pelos frutos. porque viva e realizaum trabalho que proporciona a continuidade da vida no Planeta. Assim, tambm tmvalor a gua, os animais, o solo e toda a complexidade de relaes entre organismosvivos e minerais existentes na Terra.

    0 cuidado com as pessoas -0 impacto do ser humano no Planeta Terra , semdvida, o mais marcante. Portanto, a qualidade da vida humana um fator essencialno desenvolvimento de estratgias de sobrevivncia.

    Somos mais de cinco bilhes habitando % da superfcie terrestre. Assim, se pudermosgarantir o acesso aos recursos bsicos necessrios existncia, reduziremos a necessidadede consumir recursos no-renovveis.

    Portanto, os sistemas que planejarmos devem, prover suas necessidades de materiais eenergia, como, tambm, as necessidades daquelas pessoas que neles habitam.

    Distribuio dos excedentes -Sabemos que um sistema bem planejado temcondies de alcanar uma produtividade altssima, produzindo assim um excessode recursos. Portanto, devemos criar mtodos de distribuio equitativos, garantindoo acesso aos recursos a todos que deles necessitam, sem a interveno de sistemasdesiguais de comrcio ou acumulao de riqueza de forma imoral. Qualquer pessoa,instituio ou nao que acumule riqueza ao custo do empobrecimento de outrasest diminuindo a expectativa de sustentabilidade da sociedade humana.

    Limites ao consumo -Isso requer um repensar de valores, um replanejamento dosnossos hbitos e uma redefinio dos conceitos de qualidade de vida. Alimentosaudvel, gua limpa e abrigo existem em abundncia na natureza; basta que comela cooperemos.

    DESIGN OU DESENHO?

    Nesse contexto, a traduo da palavra "design" mais do que desenho. Design planejamento consciente, considerando todas as influncias e os inter-relacionamentos queocorrem entre os elementos de um sistema vivo.

    Os resultados de um bom design permacultural devero incluir:

    estratgias para a utilizao da terra sem desperdcio ou poluio; sistemas estabelecidos para a produo de alimento saudvel, possivelmente com

    excesso, restaurao de paisagens degradadas, resultando na preservao de espcies e

    habitats, principalmente espcies em perigo de extino,

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    integrao, na propriedade, de todos os organismos vivos em um ambiente deinterao e cooperao em cicios naturais;

    mnimo consumo de energia; captao e armazenamento de gua e nutrientes, a partir do ponto mais alto da

    propriedade.

    PLANEJAMENTO POR SETORES

    importante que tenhamos compreendido todas as energias externas que tenham influnciadentro do nosso stio, luz solar, ventos, chuvas, incndios, poluio sonora, atmosfrica,visual etc.

    Aps a observao cuidadosa desses efeitos, realizamos um planejamento para direcionarou bloquear essas energias, de acordo com as nossas necessidades. Esse planejamento feito por setores, onde o stio o centro do sistema e um crculo representa os 360 graus depossvel influncia externa. Assim, marcamos os setores de acordo com as informaes quecoletamos: setor de luz solar no inverno e no vero, setor dos ventos, setor de perigo deincndio, e assim por diante.

    Esses setores serviro, mais tarde, para definir o posicionamento de quebra-ventos, aposio da casa e dos abrigos dos animais, entre muitos outros elementos.

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    0 planejamento por setores complementado com o planejamento por Zonas.

    PLANEJAMENTO POR ZONAS

    Ao contrrio dos setores, as zonas dizem respeito s energias internas do sistema.Principalmente, em relao ao trabalho humano e movimentao de gua e nutrientes.

    Planejamos todo o projeto de forma a realizar uma economia mxima de trabalho erecursos, criando pontos de utilizao que estejam ligados aos pontos onde esses recursosesto sendo produzidos.

    Assim, podemos alcanar a maior eficincia energtica possvel, colocando aqueleselementos que necessitam de maior ateno humana mais prximos casa. Aqueles quepodem ser mantidos com pouco ou nenhum manejo, ficaro mais longe.

    Tambm pensamos na conexo entre todos os elementos, de forma a que os produtos (ourecursos) de um elemento sejam utilizados como insumos por outros. a vertcalzao dosistema - lixo o recurso ainda no aproveitado.

    Dessa forma, reduzimos ao mximo a necessidade de trabalho e, ao mesmo tempo,evitamos a poluio ou a contaminao.

    Podemos definir, ento, as seis zonas bsicas de um sistema permacultural:

    Zona 0 - a casa, o centro do sistema, a partir do qual iniciamos o nosso trabalho, pondo acasa em ordem.

    Na prpria casa, e sua volta, existem muitos espaos que podem se tornar produtivos.Peitorais de janelas, laterais de parede... enfim, toda a habitao pode ser planejada oumodificada para que seja mais eficiente na utilizao de recursos e na produo dealimento. Esse trabalho contribui para o controle da temperatura no interior da habitao,alm de utilizar os microclimas criados pela existncia da prpria estrutura.

    Zona 1 -compreende a rea mais prxima da casa, que visitaremos diariamente e ondecolocamos os elementos que necessitam cuidado dirio: a horta, as ervas culinrias, algunsanimais de pequeno porte e rvores frutferas de uso freqente (ex. limo). Tambm ondeconcentraremos a armazenagem de ferramentas e de alimentos, para utilizao a longoprazo.

    A horta um elemento essencial da Zona 1, pois funciona como base de sustentao daalimentao da famlia. Ela poder ser manejada com o auxlio de animais que faam otrabalho de fertilizao e controle. na Zona 1 que inclumos os elementos necessrios nossa sobrevivncia elementar: gua potvel, espao para a produo de composto e umarea onde lavar os produtos da horta e as ferramentas. Um viveiro de mudas tambm deveser includo, como base para a diversificao da produo.

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    Zona 2 -um pouco mais distante da casa, a Zona 2 envolve aqueles elementos quenecessitam de manejo freqente sem a intensidade da Zona 1. Algumas frutferas de mdioporte, galinhas e tanques pequenos de aqicultura podero fazer parte dessa Zona, bemcomo outros animais menores (patos, gansos, pombos, coelhos, codornas etc.) Essa reaoferece proteo Zona 1.

    Zona 3 - j mais distante da casa, poderemos nela incluir as culturas com fins comercias,que ocupam mais espao e no necessitam de manejo dirio. Tambm poderemos incluir acriao de florestas de alimentos, animais de mdio e grande portes com rodzio depastagens; produo comercial de frutos e castanhas, entre outros elementos essenciais diversidade da produo.

    Zona 4 -visitada raramente, nela poderemos incluir a produo de madeiras valiosas,audes maiores e a produo de espcies silvestres comerciais. Em regies de floresta, oextrativismo sustentvel e o manejo florestal tambm podero fazer parte desta Zona, bemcomo a recriao de florestas de alimentos em regies que foram desmatadas.

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    Zona 5 -Aqui, s entraremos para aprender ou para uma coleta ocasional de sementes. onde no interferimos, permitindo, assim, que exista o desenvolvimento natural da floresta.Sem esta Zona ficamos sem referncia para a compreenso dos processos que tentamosincluir nas outras zonas.

    importante incluir elementos de armazenamento e captao de gua e nutrientes em todasas zonas, a partir do ponto mais elevado da propriedade.

    A ECOLOGIA DA PERMACULTURA

    A Ecologia o estudo dos sistemas naturais. Um ecossistema consiste em grupos deorganismos que interagem uns com os outros dentro de seu ambiente natural, coexistindopara formar um sistema complexo de relaes, de forma a perpetuar a evoluo dasespcies e manter os mecanismos de transformao de energia de forma sustentvel.

    Seres humanos so parte integrante dos ecossistemas onde vivem. Portanto, se desejamsobreviver, devem aceitar o imperativo de viver de forma integrada ao meio ambiente,repondo os recursos que retiram e alimentando os cicios vitais de regenerao.

    Observe a floresta natural. Veja como, nela, todos os organismos interagemharmoniosamente, visando uma produtividade imensurvel. Agora, imagine como seria se

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    pudssemos recriar essa harmonia com a mesma produtividade, introduzindo espcies deplantas e animais que fossem teis s necessidades humanas. Na verdade, esse trabalho possvel e necessrio. Ecossistemas cultivados podem, at, superar os ecossistemas naturaisquanto produtividade para os seres humanos.

    Ecologia cultivada um termo muito comum, entre os permacultores. Para que possamoscultivar um ecossistema, necessrio compreender o funcionamento de sistemas naturais,de tal forma que nossas intervenoes obedeam um critrio de sustentabi 1 idade, tanto como ambiente natural de hoje como para as futuras geraes, que dele dependero.

    A grande diferena entre um ecossistema natural e um cultivado que, no cultivado, existea presena de um grande nmero de especies (e da biomassa) introduzidas para a utilizaode humanos e de seus animais. A diversidade e a estabilidade permanecem altas,garantindo, assim, a sobrevivncia a longo prazo.

    necessrio, no entanto, que tenhamos uma viso sistmica da nossa presena no mundo, eque reconsideremos nossos conceitos antiquados de produo, lucro, fertilidade, ciclos erecursos, que so relativos s nossas experincias individuais, as quais, por sua vez, soregidas pela tica que escolhermos.

    Alguns dos princpios bsicos que regem a existncia de ecossistemas so:

    1. Fluxo de energia -Todas as formas de vida requerem energia para sobreviver. NoPlaneta Terra, a fonte primordial de energia o sol. A partir dele, todos osorganismos vivos retiram, direta (como as plantas) ou indiretamente (como osanimais), sua alimentao.

    2. Cicios de aproveitamento -Em sistemas naturais, a matria constantementereaproveitada. A quantidade de matria total no Planeta constante, por isso osorganismos vivos dependem da utilizao e da reciclagem dos materiais. Assim,quando recolhemos as folhas cadas no cho e colocamos no lixo, estamosinterferindo negativamente, privando o solo da matria orgnica necessria gerao de alimento para as plantas, que, por sua vez, iriam nos alimentar.

    3. Cadeias alimentares -Cada organismo vivo est ligado a outros. As cadeiasalimentares representam as relaes de alimentao entre os seres vivos, em umdeterminado habitat. Uma cadeia frgil (ex.-. uma lavoura de trigo) inclui poucasespcies e, assim, poucas oportunidades de sobrevivncia. Uma cadeia forte( ex.:floresta), ao contrrio, tem multas espcies que se alimentam umas das outras,perpetuando sua existncia mesmo com a ocorrncia de eventos inesperados.

    4. Sucesso e dimenses -Imagine a floresta aps uma queimada. Mesmo que o solotenha sido desnudado de sua cobertura natural, a natureza trabalhapermanentemente para recuperar sua diversidade no local. Novas espciesaparecem, colonizando o local em etapas sucessivas, com grupos de plantasdiferentes, at que, com o tempo, a floresta amadurea novamente. Essas plantas soconhecidas, para fins de estudo, como espcies pioneiras (no primeiro estgio),intermedirias e de clmax.

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    Essa colonizao sucessiva, no tempo e no espao, conhecida como sucesso; a utilizaode vrios "andares" um exemplo da eficincia dos processos naturais, na utilizao doespao. Na realidade, elas ocorrem constantemente, na medida em que grandes rvores vomorrendo e abrindo espao para o reinicio do processo. Na Permacultura, precisamosobservar os processos de sucesso natural do local para recriarmos e acelerarmos esseprocesso com as espcies que nos so teis, sem negligenciar as necessidades bsicas dosistema.

    5. Fatores limitantes -Muitos fenmenos influenciam no desenvolvimento deecossistemas. Clima, temperatura, regime de chuvas, quantidade de luz solar diria equalidade do solo so apenas alguns dos fatores que podem limitar a diversidade e aprodutividade de um sistema vivo. Dentro da Permacultura, trabalhamos para amenizaresses fatores, de forma a criar uma variedade de microclimas que permitam o cultivo demuitas espcies, mesmo que as caractersticas gerais do local sejam limitadas.

    LENDO A TERRA (exerccio prtico)

    0 primeiro passo para executar um planejamento adequado da utilizao de algum espaode terra, seja este um lote na zona urbana ou algumas centenas de alqueires, umacompreenso profunda dos processos naturais existentes nesse espao. Anotar as espciesque nele vivem, as variaes topogrficas e seus impactos no microclima, bem como osprocessos que estejam faltando para um equilbrio.

    1. Colete o maior nmero de informaes possvel, a respeito da rea de terra que vocvai trabalhar. Procure mapas, ndices de pluviosidade (chuva), fotografias antigas emodernas, o mximo de dados que puder descobrir. Ainda que grande fonte deinformaes sejam os vizinhos mais antigos, no aceite tudo como verdadeabsoluta, pois sua observao que vai determinar a concluso. Pergunte de ondevem o vento no vero e no inverno, qual a poca das maiores chuvas etc. Anote tudoem um caderno. Procure, tambm, os rgos pblicos na regio (EMBRAPA,113GE, Prefeitura etc.), que podero, tambm, fornecer informaes valiosas.

    2. Agora, faa um reconhecimento da terra. Ande por todos os lados, observe asdiferenas entre os vrios terrenos. Descubra a inclinao especfica de cada rea.

    3. Pegue uma fita mtrica ou utilize o tamanho do seu passo para descobrir as

    distncias entre os elementos importantes existentes na terra, casas, galpes,plantios, hortas, audes etc.4. Marque com preciso os locais onde exista gua (nascentes, crregos, poos etc.)5. Agora, faa um mapa da terra, no esquecendo de incluir a orientao com relao

    ao Norte. Junto a esse mapa, coloque todas as anotaes referentes ao stio. Anotetodas as espcies de plantas e animais (domsticos e silvestres), colete amostras dasespcies que voc no conhece, para uma futura identificao. Essas espcies iroinformar muito sobre o estado em que essa terra se encontra.

    6. Faa um perfil da inclinao do terreno com os diversos elementos existentes bemcomo as alturas respectivas.

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    CLIMAS E MICROCLIMAS

    A superfcie da Terra absorve calor e, assim, aquece de baixo para cima a atmosfera quenos cerca. Esse ar quente sobe e, nas camadas mais altas da atmosfera, perde calornovamente, fazendo o ar frio descer. Esse padro geral o responsvel pelas variaesclimticas predominantes no Planeta.

    Os fatores climticos influenciam, profundamente, a seleo das espcies e a escolha datecnologia apropriada para cada situao. Alm das mudanas climticas amplas, dalocalizao da terra em relao ao mar, da altitude e da latitude, outros fatores maislocalizados tambm se relacionam uns com os outros para criarem microclimas especficos.Assim, mesmo que um stio esteja em uma localidade de clima subtropical, por exemplo,podem haver locais especficos, dentro do stio, que apresentem caractersticas de climatemperado, clima tropical seco ou mido. A identificao desses "microstios" podesignificar a diferena entre uma produo sustentvel e uma agricultura medocre,dependendo da diversidade das espcies e do oportunismo do projetista em aproveitar-sedessas situaes.

    LATITUDE E ALTITUDE

    A linha do equador representa o centro de uma faixa volta do Planeta que recebe a maiorquantidade de irradiao solar, durante o ano. Isso devido posio do Planeta, nopercurso que faz volta do sol.

    medida em que nos afastamos do equador (latitude 0), a quantidade de irradiao solardiminui com o ngulo do sol em relao ao horizonte. Assim, quanto maior for a latitude,menores sero as temperaturas mdias anuais.

    Para efeitos de projeto, cada 100 metros de altitude acima do nvel do mar equivalem a 1grau a mais, de latitude.

    Concluindo - um stio que esteja a 15 graus de latitude e a 500 metros acima do nvel domar, ser considerado como estando a 20 graus de latitude, no clculo das temperaturasmdias.

    INCLINAO

    Este fator relativo ao grau de elevao no terreno, em relao a uma linha horizontal.Terrenos com inclinao demasiada (maior do que 20 graus) so considerados, em geral,imprprios para o cultivo. Devem ser revegetados com espcies de floresta, para evitareroso, ou cuidadosamente cultivados com terraos. Terrenos muito planos causamdificuldades na drenagem e, geralmente, so pobres em diversidade de microclimaspossveis.

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    ASPECTO

    A direo, para a qual a inclinao do terreno estiver voltada, definida como o aspecto doterreno: Norte, Sul, Leste ou Oeste. Esse fator, conjuntamente com a inclinao e a latitudedo local, determinam a quantidade de irradiao solar direta que o terreno recebe. Esse fatortambm sofre a influncia de corpos que reflitam ou absorvam a luz (lagos, edificaesetc.). Quanto mais irradiao solar, mais quente. 0 local ideal, ento, incluiria umavariedade de aspectos e inclinaes, oportunizando uma maior diversidade de espcies euma variedade de tcnicas.

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    Assim, dentro da anlise de situao que o projetista executa antes de realizar um projeto,ele incluir um estudo dos microclimas, como apontado no mapa.

    Mesmo uma rocha, um muro, uma casa ou a prpria vegetao, modificam os microclimas sua volta. Com essa anlise, poderemos escolher os locais para a casa e para os animais,assim como a variedade das espcies vegetais que desejamos introduzir. devido existncia de microclimas favorveis que, em certas ocasies, descobrimos plantas tropicaisproduzindo em latitudes onde a geada ocorre todos os anos.

    QUEBRA - VENTOS

    Um local aberto, exposto aos ventos, pode diminuir muito a produtividade de um stio.Portanto, devemos projetar quebra - ventos , de forma a permitirem o desenvolvimentosaudvel das plantas.

    Quebra - ventos devero tambm, cumprir vrias outras funes, como a de atrair pssarossilvestres, produzir forragem animal, proteger do fogo e evitar a eroso.

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    0 quebra - vento ideal composto por vrias camadas de plantio, de forma a que o ventono seja totalmente interrompido no seu percurso (isso causa turbulncia e pode destruir oplantio), diminuindo em torno de 80% de sua intensidade.

    Com um planejamento adequado, poderemos posicionar os quebra -ventos de forma amelhorarem a polinizao das espcies produtivas que estivermos cultivando..

    SOLOS

    A grande maioria dos solos cultivados, no mundo de hoje, esto doentes, empobrecidospelo manuseio incorreto, contaminados pelo uso excessivo de biocidas e improdutivos pelafalta de manejo generalizada. 0 uso excessivo de fertilizantes sintticos tambm causaproblemas gerais fertilidade do solo.

    Hoje, sabemos que todos os desertos do Planeta esto aumentando, ao invadirem reasantes produtivas. Problemas de salinidade esto impedindo o cultivo no que, antes, era terrafrtil.

    Os desertos e as plancies salinas so exemplo vivo da nossa irresponsabilidade no manejodo solo.

    Solos saudveis so como um organismo vivo. Necessitam do nvel certo de umidade e dear para que a variedade imensa de organismos microscpicos e animais existentes possamrealizar o seu trabalho de converter matria orgnica em hmus, a base da vida terrestre no

    Planeta.Para que o solo mantenha-se frtil e saudvel, necessrio que o manejemos de formaadequada, evitando que fique desprotegido ou que seja trabalhado em excesso. Comomodelo para esse manejo, observamos, novamente, os ecossistemas naturais estveis e seusprocessos de reciclagem de nutrientes.

    Estas, so algumas das tcnicas que utilizamos, dentro da permacultura, para manter o solosaudvel:

    Adubao verde -utilizando as plantas que chamamos de "acumuladores

    dinmicos", poderemos devolver, ao solo, os nutrientes que j no esto maisdisponveis para as razes superficiais. Os acumuladores dinmicos resgatam essesnutrientes com suas razes profundas, trazendo-os at as folhas, que os devolvem aosolo para se decomporem. Um dos acumuladores dinmicos mais eficientes oConfrei.

    Mulch -solo descoberto solo pobre; a cobertura do solo, conhecida como mulch,pode ser de matria orgnica morta (folhas, galhos, jornais etc.), como na floresta,ou pode ser viva, com o plantio de espcies benficas rasteiras (batata doce, labe-labe). Essa cobertura serve para evitar a evaporao rpida da umidade do solo eprotege-lo contra a eroso, alm de evitar o ataque de pragas.

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    Leguminosas -muitas espcies da famlia das leguminosas, e algumas de outrasfamlias, trabalham em associao com microorganismos, de forma a retirar oNitrognio existente na atmosfera, fixando-o no solo em forma de ndulos. 0manejo dessas plantas poder adiantar em muito, o processo de recuperao desolos empobrecidos. Da mesma forma, pesquisas recentes demonstram umaassociao similar entre palmeiras e fungos, facilitando a absoro de fsforo. Acomplexidade de associaes entre plantas e organismos microscpicos, no solo,ainda um campo rico e relativamente inexplorado.

    Plantios de cobertura -da mesma forma que a adubao verde, os plantios decobertura tambm melhoram a estrutura geral dos solos. Alm de executarem essetrabalho, os plantios podero, tambm, ter outras funes, como forragem animal,alimentao humana ou mulch.

    Esterco animal -o valor do esterco animal como adubo j amplamente conhecidono Brasil. No entanto, a novidade que poderemos executar essa adubaodiretamente, sem a interveno humana no transporte ou no trato, utilizando astcnicas de tratores vivos e evitando o uso excessivo de energia.

    GUA

    Apesar de o Brasil estar em posio privilegiada em relao quantidade das chuvas totaisno Planeta, a quantidade de gua potvel disponvel para a utilizao direta das pessoas estdiminuindo. Imagine que se toda a gua existente no Planeta coubesse em uma garrafa, aquantidade de gua potvel ao nosso alcance no chegaria a uma gota.

    necessrio planejar adequadamente o uso da gua, em qualquer propriedade. Dentro doprincpio bsico da criao dos pontos de utilizao das energias que entram em umsistema, poderemos nos valer do mtodo "Yeomans" de modificao do terreno paraaumentar a eficincia das guas que passam pelo stio, melhorando, assim, a qualidade dosolo e a fertilidade total do sistema.

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    0 mtodo Yeomans pode ser resumido em:

    1. construo de canais de infiltrao, escavaes em nvel que permitem interrompero escorrimento superficial da gua e faz-la penetrar no solo. Com o tempo, essasfaixas de terreno se tornam extremamente frteis, alm de evitar a erososuperficial;

    2. cultivo por linha chave, uma forma de cultivo do solo que aumenta a fertilidade e acapacidade de reteno de gua;

    3. construo de audes interligados, outra forma muito econmica de armazenar guapara a utilizao em perodos de seca e para a criao de sistemas de aquicultura

    altamente produtivos. Alm de cumprir a funo de armazenamento, aumenta muitoa capacidade de produo do local, melhorando o microclima. Audes soelementos fundamentais de qualquer projeto de sustentabilidade. Para efeito deprojeto, qualquer rea de terra dever ser planejada para incluir, aproximadamente,12% a 20% de submerso em reservatrios de gua.

    Alm de melhorar a eficincia na utilizao da gua, deveremos, tambm, considerar ascondies de saneamento e a possvel reutilizao dos efluentes produzidos na casa.

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    A "gua cinza" aquela que j foi utilizada para a lavagem de roupas ou para os banhos.Essa gua poder ser direcionada produo vegetal, evitando a proliferao de mosquitose outros organismos que se reproduzem em poas e que ameaam a sade humana.

    A captao da gua da chuva uma alternativa muito vivel para o suprimento de guapotvel. Na verdade, basta calcular a quantidade de gua que o telhado da casa capta porano, e construir um sistema de calhas e tanque que armazene parte dessa gua longe da luzsolar e do acesso de insetos.

    COMO CALCULAR A QUANTIDADE DE CAPTAO DE UM TELHADO

    rea do telhado (em M) X Quantidade anual de chuva (em m) = m3

    RVORES: OS AGENTES DA MUDANA

    Um fato normalmente esquecido no planejamento dos usos da propriedade rural dizrespeito a implantao das rvores na modificao dos microclimas locais, inclusive,aumentando a quantidade total de precipitao muito alm da chuva que pode serobservada.

    Com os efeitos da evapora nsp i rao, durante o dia, e da condensao, durante a noite, aquantidade total de gua que chega ao solo, diariamente, aumentada em at 65% devido influncia das rvores.

    Em reas distantes do mar, a floresta chega a ser responsvel por at 75% da chuva. Assim,se derrubamos a floresta estamos criando desertos. As florestas retornam dez vezes maisgua ao solo do que os sistemas a solo nu - e, certamente, absorvem muito mais gua nomomento da chuva, evitando, assim, a eroso superficial.

    Na verdade, as florestas podem ser consideradas como imensos lagos cheios de gua emconstante reciclagem com o solo e a atmosfera.

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    OS ANIMAIS E SEUS BENEFCIOS

    Dentro da Permacultura, animais executam funes vitais de reciclagem de nutrientes e detrabalho mecnico. Apesar de serem pobres conversores de energia, quando comparados splantas, os animais so os elementos mveis de um sistema vivo e devem ser includos sejapara proverem parte da alimentao bsica, seja unicamente, como processadores denutrientes.

    Vamos analisar a galinha, por exemplo. ela um animal de pequeno porte, com umavariedade enorme de produtos e comportamentos, com certas necessidades bsicas quenecessitam ser supridas de dentro do sistema. Primeiro, criamos interaes com outroselementos, de forma a que as necessidades da galinha sejam supridas; ento, introduzimoselementos que utilizem seus produtos. At mesmo o trabalho de ciscar, que a galinhaexecuta, e o seu esterco podem ser utilizados diretamente, com um planejamento adequado.Isso o que chamamos de "tratores vivos".

    Tratores Vivos so tcnicas de utilizao do comportamento natural dos animais paralimpar, arar e fertilizar a terra. Galinhas, porcos, patos, gansos e outros animais podero ser

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    utilizados dessa forma, criando sistemas rotativos que economizam o trabalho da pessoa e,ao mesmo tempo, beneficiam o animal e o ambiente.

    O ENSINO DA PERMACULTURA

    A palavra Permacultura registrada, internacionalmente, como propriedade do Instituto dePermacultura - Austrlia. Qualquer pessoa que admita a tica da Permacultura pode utiliz-la no seu dia-a-dia com a nica restrio de que o ensino da Permacultura (cursos de curtaou longa durao) s poder ser ministrado por graduados do Instituto ou por aquelesformados por esses graduados.

    BIBLIOGRAFIA

    Mollison, Bill - Permaculture, A Designers Manual, Tagan Publications, Austrlia,1989.

    Mollison, Bill e Slay, Reny M. - Introduction to Permaculture, Tagari Publications, 1991.

    Morrow, Rosemary - Earth Users Guide to Permaculture, Rodale, 1992

    ELABORAO:

    Andr Luis Jaeger Soares

    APOIO:

    Marli Bianna do Nascimento Nunes, Ministrio da Agricultura e do Abastecimento - MA

    Carlos Alberto dos Santos Silva, PNFC - Projeto Novas Fronteiras da Cooperaopara o Desenvolvimento Sustentvel

    Aloysio Costa e Silva Jnior, PNFC - Projeto Novas Fronteiras da Cooperaopara o Desenvolvimento Sustentvel

    Catalogao na fonte. MA/SDR/CENAGRI Preservao da Memria Agrcola Nacional

    Soares, Andr Luis Jaeger.

    Conceitos bsicos sobre permacultura / por Andr Luiz Jaeger Soares. -- Braslia : MA/SDR/PNFC, 1998. 53 p. ; 25cm

    1. Permacultura - Agricultura alternativa. I.

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    Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para o Desenvolvimento sustentvel. II. Ttulo

    AGRIS E14CDU 631.151

    PNFC - Projeto Novas Fronteiras da CooperaoPara o Desenvolvimento Sustentvel

    A Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministrio da Agricultura e doAbastecimento, por meio do PNFC- Projeto Novas Fronteiras da Cooperao para oDesenvolvimento Sustentvel, adotou a Permacultura como metodologia de trabalhodestinada agricultura familiar, por ser um mtodo de trabalho e de desenvolvimentoadequado s condies climticas, ambientais e sociais do Brasil. Dentro doparadigma da sustentabilidade, almeja-se desenvolver e implantar sistemaspermaculturais de produo e comercializao em organizaes associativistas,apropriados a cada bioma do Pas.

    0 PNFC, com o Projeto Permacultura e Agricultura Orgnica, vemtrabalhando no desenvolvimento dessas tcnicas, de forma a que o agricultor familiarmelhore seu padro de vida, reduzindo sua dependncia de recursos financeiros. Estapublicao visa introduzir os princpios e prticas da Permacultura, sem a pretensode esgotar o assunto. A partir dela, o leitor poder aprofundar seus conhecimentospraticando e buscando mais informaes. Lembramos que a Permacultura fundamentalmente prtica, e que trabalhando na terra que a pessoa ir descobrir osprincpios aqui mencionados.