Upload
flavioferreira81
View
67
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
5/14/2018 Pesquisa-ConceitosIniciais - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/pesquisa-conceitosiniciais 1/4
Universidade Vale do Rio Verde – UninCorCurso de Licenciatura em Música à Distância
Seminário de Pesquisa I – 2010/02Prof. Flávio Ferreira da Silva
Pesquisa e Ciência: conceitos iniciais
Pesquisa, em definição genérica, é atividade de estudo e investigação com finalidade
de gerar conhecimento sobre um tema qualquer. Como mostram CLARK & CASTRO
(2003, p.67), “a pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem
como metas principais gerar novo conhecimento e/ou corroborar ou refutar algum
conhecimento preexistente”. Em outras palavras, pesquisa é toda atividade suscitadapela curiosidade e por questionamentos direcionados a um objeto específico que gera
um conhecimento novo sobre este objeto. A partir da curiosidade sobre determinado
assunto, levantam-se questionamentos sobre ele e, ao se defrontar com uma questão
para a qual não existe resposta, ou cuja resposta não seja satisfatória, surge o
problema de pesquisa . A pesquisa é a atividade pela qual o pesquisador procura a
resposta para esta questão.
Atividades de pesquisa são realizadas em todos os campos do conhecimento e, paramelhor definição de pesquisa, é necessário conceituar conhecimento . Conhecimento é
o produto que resulta da relação do sujeito (aquele que pode conhecer) com o objeto
(aquele que pode ser conhecido) através de um processo de elaboração de
informações. Em sua relação com o meio, o sujeito adquire informações que são
apropriadas pelo pensamento e elaboradas, transformando-se em conhecimento. A
capacidade de criar, acumular, transformar e transmitir conhecimento é uma
característica própria do ser humano e é o que o diferencia dos demais seres vivos.
Para alguns autores (BRAGA, 2010; CORREIA, 2010; LAKATOS & MARCONI, 2001;
TEIXEIRA, 2005) o conhecimento pode ser discriminado em quatro tipos:
conhecimento popular, conhecimento religioso, conhecimento filosófico e
conhecimento científico. Como mostram LAKATOS & MARCONI (2001), estes quatro
tipos de conhecimento não se diferenciam pelo seu conteúdo, mas pelo contexto
metodológico, pelas formas de observação e pelos instrumentos utilizados. O
conhecimento popular , denominado senso comum , é empírico, adquirido
informalmente através da experiência pessoal do sujeito em ações não planejadas.
Por se conformar com “a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto” é
5/14/2018 Pesquisa-ConceitosIniciais - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/pesquisa-conceitosiniciais 2/4
considerado falível e inexato (LAKATOS & MARCONI, 2001, p. 78). O conhecimento
religioso ou teológico é aquele que se baseia em doutrinas religiosas e tem como
pressuposto a fé. É um tipo de conhecimento inspiracional, ou seja, baseado em
revelações divinas, e por isso, é considerado infalível, pois não pode ser confirmado
ou negado. O conhecimento filosófico é reflexivo, racional e baseado em especulações
lógicas; é considerado um conhecimento sistemático, mas não experimental, pois suas
hipóteses são discutidas racionalmente e não verificadas através de experimentos.
BRAGA (2010, p.2), diz que “a Filosofia, voltada reflexiva e criticamente para os
fundamentos do conhecimento e buscando compreender os valores que dirigem a
ação, procura conhecer a origem dos problemas e criar para eles respostas racionais,
à base de provas especulativas”. Por fim, o conhecimento científico é racional,
sistemático e verificável, pois tem como princípio metodológico a comprovação
experimental de suas proposições; tem como objeto de estudo ocorrências e fatos
concretos que sejam perceptíveis ou pelos sentidos ou por instrumentos e que possam
ser submetidos à experimentação. O conhecimento científico é considerado
(aproximadamente) exato e falível, pois suas hipóteses podem ser refutadas e suas
teorias não são definitivas. “Conhecemos uma coisa de maneira absoluta, dizia
Aristóteles, quando sabemos qual é a causa que a produz e o motivo porque não pode
ser de outro modo. Isto é saber por demonstração; por isso a ciência reduz-se à
demonstração” (BRAGA, 2010, p. 4).
Nas atividades universitárias, utilizamos, essencialmente, os conhecimentos filosófico
e científico por serem racionais e passíveis de discussão ou comprovação (como o
conhecimento popular não pode ser comprovado e o conhecimento religioso é
indiscutível, não é próprio para atividades acadêmicas). Estes dois tipos de
conhecimento se diferem pelo tipo de objeto estudado e pelos métodos empregados
na investigação. Como mostram LAKATOS & MARCONI (2001, p. 79), “se o
conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveispelos sentidos, através do emprego de instrumentos, técnicas e recursos de
observação, o objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceptuais,
exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão,
não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos), como
a que é exigida pela ciência experimental”. Mas será que existe uma distinção efetiva
entre ciência e filosofia? O conceito de cientificidade é aplicável somente a teorias
verificáveis por experimentação? Um trabalho filosófico não pode ser considerado
científico?
5/14/2018 Pesquisa-ConceitosIniciais - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/pesquisa-conceitosiniciais 3/4
Observando o verbete ciência no dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), identificamos
que, entre outras definições, o termo se refere a: (1) saber que se adquire pela leitura
ou meditação; (2) conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos,
dotados de universalidade e objetividade, estruturados com métodos e teorias
próprias, com a finalidade de compreender a natureza e as atividades humanas; (3)
campo circunscrito referente a aspectos da natureza ou da atividade humana, como a
química ou a sociologia, por exemplo. Assim, pela definição, é possível notar que
ciência não se refere exclusivamente a estudos comprováveis por experimentação,
mas a toda atividade sistemática de produção de conhecimento.
Umberto ECO (2009, pp. 20-24), no segundo capítulo do seu livro Como se faz uma
Tese , discute a distinção entre tese “científica” e tese política. Nesta discussão ele
apresenta seu conceito de cientificidade e o que para ele são os requisitos para que
um estudo possa ser considerado científico. Para Eco, o conceito de ciência é
corriqueiramente (e equivocadamente) relacionado às atividades das ciências naturais
e às pesquisas quantitativas, o que exclui, do panteão das “ciências”, boa parte dos
trabalhos realizados na universidade atualmente. Com a intenção de delinear as
características de um trabalho científico, Eco apresenta quatro requisitos para que um
estudo possa ser considerado como tal:
1. estudar um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja reconhecível
também pelos outros: “definir o objeto significa então definir as condições sob as
quais podemos falar, com base em certas regras que estabelecemos ou que
outros estabeleceram antes de nós (ECO, 2009, p. 21)”
2. dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob outra ótica;
3. ser útil aos demais: “um trabalho é científico se acrescentar algo ao que a
comunidade já sabia, e se todos os futuros trabalhos sobre o mesmo tema
tiverem que levá-lo em conta, ao menos em teoria” (idem, p. 22).4. apresentar elementos para verificação ou contestação das hipóteses, ou seja,
para continuidade dos estudos.
Eco termina dizendo que “os requisitos de cientificidade podem aplicar-se a qualquer
tipo de pesquisa” e que “o bom de um procedimento científico é que ele nunca faz os
outros perderem tempo: até mesmo trabalhar na esteira de uma hipótese científica
para depois descobrir que ela deve ser refutada significa ter feito algo positivo sob o
impulso de uma proposta anterior” (idem, p. 24).
5/14/2018 Pesquisa-ConceitosIniciais - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/pesquisa-conceitosiniciais 4/4
Assim, pode-se afirmar que trabalhos filosóficos, e até mesmo teológicos, podem ser
considerados científicos, desde que os procedimentos realizados correspondam aos
critérios de cientificidade. O importante de se considerar quanto aos conhecimentos
científico e filosófico é o tipo de objeto estudado e a forma de abordagem. A filosofia
se dedica a objetos de ordem supra-sensível (BRAGA, 2010) e às “grandes
indagações do espírito humano” (LAKATOS & MARCONI, 2001, p. 79) através de
abordagem lógico-racional e a ciência se dirige a objetos físicos, sensíveis, presentes
na realidade imediata através de procedimentos experimentais. Apesar desta
distinção, ambos podem corresponder aos requisitos de um trabalho científico.
Bibliografia
LAKATOS, Eva M. & MARCONI, Marina A. Fundamentos de Metodologia Científica.São Paulo: Atlas, 2001.
TEIXEIRA, Gilberto. Tipos de Conhecimento. Disponível em:http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=21&texto=1691 , 2005.
CORREIA, Wilson. Os diversos tipos de conhecimento. Disponível em:http://br.monografias.com/trabalhos913/diversos-tipos-conhecimento/diversos-tipos-conhecimento.shtml, 2010.
BRAGA, Wladimir F. L. O conhecimento. Disponível em:http://www.fdc.br/Artigos/..%5CArquivos%5CArtigos%5C14%5COConhecimento.pdf ,2005.
ECO, Umberto. Como se faz uma Tese. São Paulo: Perspectiva, 2009.
FERREIRA, Aurélio B. H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (versão 5.0). Positivo,2004.