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Mcnga Liiclke Marli E. D. A. André Capítulo 2 Abordagens qualitativas de pesquisa: a pesquisa etnográfica e o estudo de caso Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas É cada vez mais evidente o interesse que os pesquisadores da área de educação vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitati- vas. Apesar da crescente popularidade dessas metodologias, ainda parecem existir muitas dúvidas sobre o que realmente caracteriza uma pesquisa qualitativa, quando c ou não adequado utilizá-la c como se coloca a questão do rigor científico nesse tipo de investigação. Outro aspecto que também parece gerar ainda muita confusão c o uso de termos como pesquisa qualitativa, etnográfica, naturalística, partici- pante, estudo de caso c estudo de campo, muitas vezes empregador indevidamente como equivalentes. Em seu livro A Pesquisa Qualitativa cm Educação, Bogdan c Biklcn (1982) discutem o conceito de pesquisa qualitativa apresentando cinco características básicas que configurariam esse tipo de estudo: 1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Segundo os dois autores, a pesquisa qualitativa supõe o contato dircto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo. Por exemplo, se a questão que está sendo estudada é a da indisciplina escolar, o pesquisador procurará presenciar o maior núme- ro de situações em que esta se manifeste, o que vai exigir um contato dircto c constante com o dia-a-dia escolar. Como os problemas são estudados no ambiente em que eles ocorrem naturalmente, sem qualquer manipulação intencional do pesquisador, X6019G

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Mcnga LiiclkeMarli E. D. A. André Capítulo 2

Abordagens qualitativas de pesquisa: apesquisa etnográfica e o estudo de caso

Pesquisaem Educação:

Abordagens QualitativasÉ cada vez mais evidente o interesse que os pesquisadores da área

de educação vêm demonstrando pelo uso das metodologias qua l i ta t i -vas. Apesar da crescente popularidade dessas metodologias, a indaparecem existir muitas dúvidas sobre o que realmente caracteriza umapesquisa quali tat iva, quando c ou não adequado utilizá-la c como secoloca a questão do rigor científico nesse tipo de investigação. Outroaspecto que também parece gerar ainda muita confusão c o uso determos como pesquisa qualitativa, etnográfica, naturalística, par t ic i -pante, estudo de caso c estudo de campo, muitas vezes empregadorindevidamente como equivalentes.

Em seu livro A Pesquisa Qualitativa cm Educação, Bogdan c Biklcn(1982) discutem o conceito de pesquisa qualitativa apresentando c incocaracterísticas básicas que configurariam esse tipo de estudo:

1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fontedireta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento.Segundo os dois autores, a pesquisa qualitativa supõe o contato dirctoe prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que estásendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo decampo. Por exemplo, se a questão que está sendo estudada é a daindisciplina escolar, o pesquisador procurará presenciar o maior núme-ro de situações em que esta se manifeste, o que vai exigir um contatodircto c constante com o dia-a-dia escolar.

Como os problemas são estudados no ambiente em que eles ocorremnaturalmente, sem qualquer manipulação intencional do pesquisador,

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esse tipo de estudo c também chamado de "naturalístico". Para essesautores , po r t an to , todo estudo qual i ta t ivo é também naturalístico.

A j u s t i f i c a t i v a para que o pesquisador mantenha um contato estreitoc dircto com a situação onde os fenómenos ocorrem naturalmente é ade que estes são muito influenciados pelo seu contexto. Sendo assim,as circunstâncias particulares em que um determinado objeto se inseresão essenciais para que se possa entendê-lo. Da mesma maneira aspessoas, os gestos, as palavras estudadas devem ser sempre referen-ciadas ao contexto onde aparecem.

2. Os dados colctados são predominantemcnte descritivos. O mate-rial obtido nessas pesquisas c rico em descrições de pessoas, situações,acontecimentos; inclui transcrições de entrevistas e de depoimentos,fo togra f ias , desenhos e'extrátos de vários tipos de documentos. Cita-ções são f requentemente usadas para subsidiar uma afirmação ouesclarecer um ponto de vista. Todos os dados da realidade são conside-rados importantes . O pesquisador deve, assim, atentar para o maiornúmero possível de elementos presentes na situação estudada, pois umaspecto supos tamentc t r iv ia l pode ser essencial para a melhor com-preensão do problema que está sendo estudado. Questões aparente-mente simples, como: por que as carteiras nesta escola estão dispostascm grupos nas primeiras séries e cm fileiras nas terceiras e quartasséries?, e outras desse mesmo tipo, precisam ser sempre colocadas esistematicamente investigadas. ;

3. A preocupação com o processo é muito maior do que com oproduto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado pro-blema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedi-mentos e nas interações cotidianas. Por exemplo, numa pesquisa daspráticas de alfabetização na escola pública, Kramer e André (1984)mostraram como as medidas disciplinares de sala de aula serviam aopropósito de organização para o trabalho e como isso interferia no"clima" de sala c no envolvimento das crianças nas tarefas propostas.Essa complexidade do cotidiano escolar é sistematicamente retratadanas pesquisas qualitativas.

4. O "significado" que as pessoas dão às coisas e à sua vida sãofocos de atenção especial pelo pesquisador. Nesses estudos há sempreuma tentat iva de capturar a "perspectiva dos participantes", isto é, amaneira como os informantes encaram as questões que estão sendofocalizadas. Ao considerar os diferentes pontos de vista dos partici-pantes, os estudos qualitativos permitem iluminar o dinamismo internodas situações, geralmente inacessível ao observador externo.

O cuidado que o pesquisador precisa ter ao revelar os pontos devista dos participantes c com a acuidade de suas percepções. Deve, por

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isso, encontrar meios de checá-las, discutido-as abertamente com osparticipantes ou confrontando-as com outros pesquisadores para queelas possam ser ou não confirmadas.

5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Ospesquisadores não se preocupam em buscar evidências que compro-vem hipóteses definidas antes do início dos estudos. As abstrações seformam ou se consolidam basicamente a partir da inspeção dos dadosnum processo de baixo para cima.

O fato de não existirem hipóteses ou questões específicas f o r m u l a -das a priori não implica a inexistência de um quadro teórico que or ientea coleta e a análise dos dados. O desenvolvimento do estudo aproxima-se a um f u n i l : no início há questões ou focos de interesse m u i t oamplos, que no final se tornam mais diretos e específicos. O pesquisa-dor vai precisando melhor esses focos à medida que o estudo sedesenvolve.

A pesquisa qualitativa ou naturalíst ica, segundo Bogdan c D i k l c n(1982), envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos rio conta todireto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o proces-so do que o produto e se preocupa em retratar a perspect iva dosparticipantes.

Entre as várias formas que pode assumir uma pesquisa q u a l i t a t i v a ,destacam-se a pesquisa do tipo etnográfico e o estudo de caso. Ambosvêm ganhando crescente aceitação na área de educação, devido princi-palmente ao seu potencial para estudar as questões relacionadas àescola.