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UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju Publicação Tese: “Impacto da perda dentária na qualidade de vida de adultos” Autora: Marília Jesus Batista Orientadora: Maria da Luz Rosário de Sousa Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) ISABEL GARDENAL [email protected] Fotos: Divulgação Dentista constata que 80% dos 240 adultos examinados, em Piracicaba, apresentaram problema Pesquisa da FOP dimensiona impactos da perda dentária Marília Jesus Batista durante visita domiciliar (acima) e em atendimento odontológico (abaixo) em Piracicaba: trabalho foi feito em 30 setores censitários do município perda dentária impacta negativa- mente a saúde pública. A dentista Marília Jesus Batista comprovou isso no seu estudo de douto- rado defendido recentemente na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), ao constatar que 80% dos 240 adultos examinados na cidade de Piracicaba apresentaram esse problema. Vinte e cinco por cento deles perderam de 13 a 31 dentes. O estudo ainda apontou que 20% da po- pulação não perdeu nenhum dente por cárie ou por doença periodontal; 4,4% perdeu ape- nas os primeiros molares permanentes (que rompem em torno de sete anos); 17,8% per- deu até 12 dentes posteriores; 26,3% perdeu até 12 dentes anteriores; 25% dos idosos per- deram de 13 a 31 dentes; e 6,6% deles eram edêntulos (perda total dos dentes). A perda do dente, explica, diminui a capacidade funcional da mastigação e da fonação, traz prejuízos nutricionais, psico- lógicos e estéticos, além de problemas nas relações sociais. Três dimensões principais impactaram a qualidade de vida na pesquisa: social (a capa- cidade do indivíduo de se socializar e de se sentir confortável com outras pessoas); fun- cional (a capacidade de mastigar, deglutir, falar); emocional ou psicológica (de se cons- tranger com a aparência; a pessoa sorri com a mão na boca). Mas o fator que mais afetou a qualidade de vida dessas pessoas na tese foi o desconforto psicológico. “Quarenta e oito por cento dos adultos tiveram ao menos um impacto severo desse desconforto na sua qualidade de vida”, apurou ela. O que promove tal impacto? O núme- ro de dentes perdidos ou a posição que eles ocupam? Marília afirma que antes de sua pes- quisa não havia proposta de uma medida que associasse as duas variáveis e realizasse uma avaliação conjunta. Com esses resultados, Marília passou a defender que é preciso medir a perda – em estudos epidemiológicos – em função do nú- mero de dentes que se foram, mas é certo que também é necessário considerar a posição que eles ocupam na arcada dentária. Uma pessoa que perde dez dentes do fun- do sofre um impacto diferente em compara- ção àquela que perde dez dentes da frente, assim como a pessoa que permanece sem os dentes e aquela que passa por um plane- jamento de reabilitação, para fazer reposição com prótese. CAMPO O trabalho foi efetuado em 30 setores cen- sitários sorteados de Piracicaba, por meio de visitas domiciliares aos bairros. Este foi o pri- meiro estudo em domicílios nesse município e um dos poucos no Brasil. A autora estudou a faixa etária de 20 a 64 anos, ampliando a recomendação da Organi- zação Mundial da Saúde (OMS), que incenti- va que adolescentes sejam examinados entre 15 e 19 anos, adultos entre 35 e 44 anos, e idosos entre 65 e 74 anos. Observando os levantamentos epidemio- lógicos ao longo dos anos no país, a autora notou discrepâncias quanto ao número de dentes perdidos, em especial entre as faixas etárias preconizadas pela OMS. Por isso, tanto no mestrado quanto no doutorado, a pesquisadora ampliou essa faixa, de modo a abranger os intervalos de adolescentes a idosos e para ver o que movia achados tão díspares. A doutoranda informa que a perda dentá- ria, que ocorre quando o indivíduo extrai o dente por doença, por motivos ortodônticos ou por trauma, tem a cárie e a doença perio- dontal como maiores limitantes. Marília ainda constatou que o Brasil exi- be uma alta prevalência de perda dentária comparado aos países mais desenvolvidos. Em 1997, uma pesquisa apontou que a França tinha 0% de edêntulos adultos, um resultado formidável. Em 2004, o México registrava 2,4%, em contraste com o Brasil, que sinalizava 9%, quase quatro vezes esse número. Em Piraci- caba, onde o município bate a porta dos 360 mil habitantes, esse número é um pouco me- nor: 6%”, revela a dentista. Outros números relevantes. Dentre os adultos brasileiros em 2010, 17 dentes em média foram acometidos pela cárie, dos quais 8 eram dentes perdidos. Os idosos chegaram a uma média de 28 dentes perdidos, dos 32 que constituem a arcada. A dentição no adulto é composta de 12 dentes molares (que trituram e moem os ali- mentos), oito pré-molares (que promovem a mastigação e preensão de alimentos), quatro caninos, ou presas (que os cortam e dilace- ram), e oito incisivos (que os cortam). QUESTIONÁRIO No estudo, junto com o exame clínico, a pesquisadora aplicou um questionário com vistas à obtenção de dados socioeconômicos, demográficos, e de percepção da saúde bucal e do impacto na qualidade de vida, que foram avaliados através do instrumento Oral Health Impact Profile (OHIP-14). Foram 14 perguntas relacionadas às di- mensões da limitação funcional (desconforto ao comer), da dor física, do desconforto psi- cológico, da incapacidade física (não conse- guir comer), da incapacidade psicossocial e para realizar alguma atividade diária. Avaliou-se ainda uma nova questão: a health literacy, chamada literacia (alfabetizar em saúde), que envolve o conhecimento que a pessoa tem acerca da saúde bucal e se sabe julgar as informações que recebe. Na tradição, literacia implica a destreza com uma língua – leitura, escrita e oralidade, que desempenha um papel na comunicação e na compreensão das ideias. Apesar da maioria dos adultos dizerem que têm informações sobre saúde bucal, pou- cos conseguem interpretar e aplicar isso ao seu dia a dia, como hábito, salienta a dentista. Esses conteúdos são captados da mídia e de informativos que circulam em clínicas. Também a ampliação do serviço odontoló- gico na rede pública fez com que avançasse esse conhecimento. “Mesmo assim, faltam programas efe- tivos. E isso salta aos olhos, assim como a perda dentária ligada a fatores sociais como escolaridade e renda”, reforça Marília. Outro investimento a ser feito é na conscientização e educação para saúde, para que o indivíduo, vendo seu problema, busque tratamento e prevenção, caminhando para a autonomia no autocuidado. O acesso ao serviço público é um marcador do nível socioeconômico e do tipo de serviço empregado. “Logo, é preciso reduzir a ponte entre os sem acesso e os com acesso”, alerta Marília. As políticas de saúde pública têm se desenvolvido nessa direção. É o caso da estra- tégia do Programa de Saúde da Família (PSF), que vai aos domicílios e conscientiza a popu- lação. “Ocorre que ainda esforços devem ser feitos para diminuir as desigualdades sociais, que é um desafio no mundo inteiro.” A FOP também mantém uma parceria com a Prefeitura local. Deste modo, os alunos de mestrado profissional estagiam nas unida- des do PSF, o que tem trazido um reforço à equipe de saúde bucal. QUALIDADE As dimensões que interferem na qua- lidade de vida se refletem nas atividades diárias (trabalho, amizades, relações afe- tivas), porque a boca está em evidência em todas as situações. No estudo, o que mais impactou a qualidade de vida foi o constrangimento com a aparência ou sen- tir vergonha. A classificação para medir a perda dentária foi feita por Marília sob orientação da docente da FOP Maria da Luz Rosário de Sousa, numa parceria com a Faculdade de Odontologia da Universidade de Toronto, Canadá, sob super- visão da professora Herenia Lawrence, onde a dentista fez um doutorado-sanduíche. Essa classificação é categórica e avalia quanti e qualitativamente a perda, pois têm sido sugeridas variações com relação à quali- dade de vida e aos fatores associados. Na tese, a periodontite (inflamação que acomete os tecidos de sustentação dos den- tes) foi associada aos indivíduos que per- deram dentes anteriores. Também a idade mostrou-se preditiva, isso porque as políticas públicas das gerações com idade entre 20 e 64 anos foram muito diferentes. Os mais velhos, por exemplo, não tiveram o benefício da água com flúor na infância e na juventude. O tratamento no passado era deveras mu- tilador, relembra Marília. “Quando o paciente chegava com dor, o dente era logo extraído.” Hoje, há maior acesso aos tratamentos mais especializados, como o tratamento endodôn- tico (de canal), restaurações e uso de coroas. Não obstante, em levantamento de 2010, dos adultos de 35 a 44 anos, entre 6% e 7% deles nunca tinham ido ao dentista. É um achado que não faz jus ao título que o Brasil detém: “do maior número de odontólogos do mundo”. A dentista aconselha que, no grupo de 20 a 44 anos, se invista na prevenção da perda dentária; já, no grupo dos idosos, se invista em reabilitação, por ajudar a resgatar as con- dições de interagir socialmente e a autoesti- ma, visto que a falta de dentes retrai o prazer de uma vida social, enfatiza. Campinas, 10 a 16 de junho de 2013 2

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UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor José Tadeu JorgeCoordenador-Geral Alvaro Penteado CróstaPró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon AtvarsPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria PastorePró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’OttavianoPró-reitor de Graduação Luís Alberto MagnaChefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfica e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

PublicaçãoTese: “Impacto da perda dentária na qualidade de vida de adultos”Autora: Marília Jesus BatistaOrientadora: Maria da Luz Rosário de SousaUnidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)

ISABEL [email protected]

Fotos: Divulgação

Dentista constata que 80% dos 240 adultos examinados, em Piracicaba, apresentaram problema

Pesquisa da FOP dimensionaimpactos da perda dentária

Marília Jesus Batista durante visita domiciliar (acima) e em atendimento odontológico (abaixo) em Piracicaba: trabalho foi feito em 30 setores censitários do município

perda dentária impacta negativa-mente a saúde pública. A dentista

Marília Jesus Batista comprovou isso no seu estudo de douto-rado defendido recentemente na Faculdade de Odontologia

de Piracicaba (FOP), ao constatar que 80% dos 240 adultos examinados na cidade de Piracicaba apresentaram esse problema. Vinte e cinco por cento deles perderam de 13 a 31 dentes.

O estudo ainda apontou que 20% da po-pulação não perdeu nenhum dente por cárie ou por doença periodontal; 4,4% perdeu ape-nas os primeiros molares permanentes (que rompem em torno de sete anos); 17,8% per-deu até 12 dentes posteriores; 26,3% perdeu até 12 dentes anteriores; 25% dos idosos per-deram de 13 a 31 dentes; e 6,6% deles eram edêntulos (perda total dos dentes).

A perda do dente, explica, diminui a capacidade funcional da mastigação e da fonação, traz prejuízos nutricionais, psico-lógicos e estéticos, além de problemas nas relações sociais.

Três dimensões principais impactaram a qualidade de vida na pesquisa: social (a capa-cidade do indivíduo de se socializar e de se sentir confortável com outras pessoas); fun-cional (a capacidade de mastigar, deglutir, falar); emocional ou psicológica (de se cons-tranger com a aparência; a pessoa sorri com a mão na boca).

Mas o fator que mais afetou a qualidade de vida dessas pessoas na tese foi o desconforto psicológico. “Quarenta e oito por cento dos adultos tiveram ao menos um impacto severo desse desconforto na sua qualidade de vida”, apurou ela.

O que promove tal impacto? O núme-ro de dentes perdidos ou a posição que eles ocupam? Marília afirma que antes de sua pes-quisa não havia proposta de uma medida que associasse as duas variáveis e realizasse uma avaliação conjunta.

Com esses resultados, Marília passou a defender que é preciso medir a perda – em estudos epidemiológicos – em função do nú-mero de dentes que se foram, mas é certo que também é necessário considerar a posição que eles ocupam na arcada dentária.

Uma pessoa que perde dez dentes do fun-do sofre um impacto diferente em compara-ção àquela que perde dez dentes da frente, assim como a pessoa que permanece sem os dentes e aquela que passa por um plane-jamento de reabilitação, para fazer reposição com prótese.

CAMPOO trabalho foi efetuado em 30 setores cen-

sitários sorteados de Piracicaba, por meio de visitas domiciliares aos bairros. Este foi o pri-meiro estudo em domicílios nesse município e um dos poucos no Brasil.

A autora estudou a faixa etária de 20 a 64 anos, ampliando a recomendação da Organi-zação Mundial da Saúde (OMS), que incenti-va que adolescentes sejam examinados entre 15 e 19 anos, adultos entre 35 e 44 anos, e idosos entre 65 e 74 anos.

Observando os levantamentos epidemio-lógicos ao longo dos anos no país, a autora notou discrepâncias quanto ao número de dentes perdidos, em especial entre as faixas etárias preconizadas pela OMS.

Por isso, tanto no mestrado quanto no doutorado, a pesquisadora ampliou essa faixa, de modo a abranger os intervalos de adolescentes a idosos e para ver o que movia achados tão díspares.

A doutoranda informa que a perda dentá-ria, que ocorre quando o indivíduo extrai o dente por doença, por motivos ortodônticos ou por trauma, tem a cárie e a doença perio-dontal como maiores limitantes.

Marília ainda constatou que o Brasil exi-be uma alta prevalência de perda dentária comparado aos países mais desenvolvidos. Em 1997, uma pesquisa apontou que a França tinha 0% de edêntulos adultos, um resultado formidável.

Em 2004, o México registrava 2,4%, em contraste com o Brasil, que sinalizava 9%, quase quatro vezes esse número. Em Piraci-caba, onde o município bate a porta dos 360 mil habitantes, esse número é um pouco me-nor: 6%”, revela a dentista.

Outros números relevantes. Dentre os adultos brasileiros em 2010, 17 dentes em média foram acometidos pela cárie, dos quais 8 eram dentes perdidos. Os idosos chegaram a uma média de 28 dentes perdidos, dos 32 que constituem a arcada.

A dentição no adulto é composta de 12 dentes molares (que trituram e moem os ali-mentos), oito pré-molares (que promovem a mastigação e preensão de alimentos), quatro caninos, ou presas (que os cortam e dilace-ram), e oito incisivos (que os cortam).

QUESTIONÁRIONo estudo, junto com o exame clínico, a

pesquisadora aplicou um questionário com vistas à obtenção de dados socioeconômicos, demográficos, e de percepção da saúde bucal e do impacto na qualidade de vida, que foram avaliados através do instrumento Oral Health Impact Profile (OHIP-14).

Foram 14 perguntas relacionadas às di-mensões da limitação funcional (desconforto ao comer), da dor física, do desconforto psi-cológico, da incapacidade física (não conse-guir comer), da incapacidade psicossocial e para realizar alguma atividade diária.

Avaliou-se ainda uma nova questão: a health literacy, chamada literacia (alfabetizar em saúde), que envolve o conhecimento que a pessoa tem acerca da saúde bucal e se sabe julgar as informações que recebe.

Na tradição, literacia implica a destreza com uma língua – leitura, escrita e oralidade, que desempenha um papel na comunicação e na compreensão das ideias.

Apesar da maioria dos adultos dizerem que têm informações sobre saúde bucal, pou-cos conseguem interpretar e aplicar isso ao seu dia a dia, como hábito, salienta a dentista.

Esses conteúdos são captados da mídia e de informativos que circulam em clínicas. Também a ampliação do serviço odontoló-gico na rede pública fez com que avançasse esse conhecimento.

“Mesmo assim, faltam programas efe-tivos. E isso salta aos olhos, assim como a perda dentária ligada a fatores sociais como escolaridade e renda”, reforça Marília. Outro investimento a ser feito é na conscientização e educação para saúde, para que o indivíduo, vendo seu problema, busque tratamento e prevenção, caminhando para a autonomia no autocuidado.

O acesso ao serviço público é um marcador do nível socioeconômico e do tipo de serviço empregado. “Logo, é preciso reduzir a ponte entre os sem acesso e os com acesso”, alerta Marília. As políticas de saúde pública têm se desenvolvido nessa direção. É o caso da estra-tégia do Programa de Saúde da Família (PSF), que vai aos domicílios e conscientiza a popu-lação. “Ocorre que ainda esforços devem ser feitos para diminuir as desigualdades sociais, que é um desafio no mundo inteiro.”

A FOP também mantém uma parceria com a Prefeitura local. Deste modo, os alunos

de mestrado profissional estagiam nas unida-des do PSF, o que tem trazido um reforço à equipe de saúde bucal.

QUALIDADEAs dimensões que interferem na qua-

lidade de vida se refletem nas atividades diárias (trabalho, amizades, relações afe-tivas), porque a boca está em evidência em todas as situações. No estudo, o que mais impactou a qualidade de vida foi o constrangimento com a aparência ou sen-tir vergonha.

A classificação para medir a perda dentária foi feita por Marília sob orientação da docente da FOP Maria da Luz Rosário de Sousa, numa parceria com a Faculdade de Odontologia da Universidade de Toronto, Canadá, sob super-visão da professora Herenia Lawrence, onde a dentista fez um doutorado-sanduíche.

Essa classificação é categórica e avalia quanti e qualitativamente a perda, pois têm sido sugeridas variações com relação à quali-dade de vida e aos fatores associados.

Na tese, a periodontite (inflamação que acomete os tecidos de sustentação dos den-tes) foi associada aos indivíduos que per-deram dentes anteriores. Também a idade mostrou-se preditiva, isso porque as políticas públicas das gerações com idade entre 20 e 64 anos foram muito diferentes. Os mais velhos, por exemplo, não tiveram o benefício da água

perda dentária impacta negativa-mente a saúde pública. A dentista

Marília Jesus Batista comprovou

com flúor na infância e na juventude. O tratamento no passado era deveras mu-

tilador, relembra Marília. “Quando o paciente chegava com dor, o dente era logo extraído.” Hoje, há maior acesso aos tratamentos mais especializados, como o tratamento endodôn-tico (de canal), restaurações e uso de coroas.

Não obstante, em levantamento de 2010, dos adultos de 35 a 44 anos, entre 6% e 7% deles nunca tinham ido ao dentista. É um achado que não faz jus ao título que o Brasil detém: “do maior número de odontólogos do mundo”.

A dentista aconselha que, no grupo de 20 a 44 anos, se invista na prevenção da perda dentária; já, no grupo dos idosos, se invista em reabilitação, por ajudar a resgatar as con-dições de interagir socialmente e a autoesti-ma, visto que a falta de dentes retrai o prazer de uma vida social, enfatiza.

Campinas, 10 a 16 de junho de 20132