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1 “FMI” Comunicação Empresarial Economia

Pesquisa Sobre o FMI E PORTUGAL-Economia

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“FMI”

Comunicação Empresarial

Economia

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Sumário:

Pág.

Agradecimentos ............................................................................................... 3

Introdução ......................................................................................................... 4

1. Enquadramento Teórico .......................................................................... 5

1.1 O FMI ...................................................................................................................... 5 1.1.1 O que é o FMI? ........................................................................................... 5 1.1.2 Intervenções do FMI em Portugal .................................................... 7 1.1.3 Razões da Intervenção .......................................................................... 8 1.1.4 O timing da intervenção ........................................................................ 9 1.3 A Troika ............................................................................................................. 10 1.3.1 O acordo .................................................................................................... 11 1.3.2 As medidas .............................................................................................. 12 1.4 Avaliação dos termos do acordo ............................................................. 14 1.4.1 A experiência da Grécia ...................................................................... 15 1.5 Monitorização e penalizações ............................................................. 17 1.6 Riscos e expectativas .................................................................................... 18

2. Enquadramento Prático ......................................................................... 19

2.1 Pequena entrevista a Dra. Maria Do Carmo Seabra ........................ 19 2.1.2 Introdução à entrevista ....................................................................... 19 2.1.2 Entrevista .................................................................................................. 20

Conclusão ......................................................................................................... 22

Bibliografia ...................................................................................................... 23

Anexos: Letter of Intent, Memorandum of Economic and Financial Policies, and Technical Memorandum of Understanding.

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Agradecimentos:

A realização deste trabalho não teria sido bem sucedida se não fosse pela ajuda e apoio da Dra. Maria do Carmo Seabra. Como tal, gostaria de agradecer pelo tempo disponibilizado e pelo esclarecimento das dúvidas que foram surgindo ao longo da investigação.

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Introdução:

No âmbito da disciplina de Economia foi me pedido uma análise e comparação da situação verificada em Portugal, inserida no contexto da intervenção financeira do Fundo Monetário Internacional no país, com a situação de qualquer outro país que já tenha tido a intervenção financeira do FMI, com focalização nas similaridades e particularidades entre ambos, assim como as medidas seguidas pelo FMI.

Como tal, e tendo como base os conhecimentos adquiridos ao longo deste semestre, recorri a uma investigação cientifica acerca do tema escolhido, “FMI em Portugal”.

O trabalho está dividido em duas partes essenciais, uma parte teórica onde o leitor é orientado para o tema de trabalho, através de uma breve explicação sobre o tema objecto de análise. Neste são abordadas várias partes essenciais à compreensão do mesmo, assim apresento umas breves explicações sobre o que é o FMI, intervenções passadas, os motivos desta última intervenção, assim como as medidas propostas pela Troika FMI, BCE e CE. Depois destas breves explicações, é feita uma análise do caso da Grécia, verificando as principais diferenças com o nosso país.

A segunda parte do trabalho apresenta a vertente prática, através de uma pequena entrevista a Maria do Carmo Seabra.

Por fim uma breve Conclusão do trabalho, uma Bibliografia onde refiro as principais fontes utilizadas para a elaboração do trabalho e em último lugar uma área reservada para os anexos.

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1. Enquadramento Teórico

1.1 O FMI

1.1.1 O que é o FMI? O Fundo Monetário Internacional (FMI) define-se como uma organização internacional, cujo objectivo é trabalhar "a favor de uma cooperação monetária global, para assegurar a estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover altos níveis de emprego e desenvolvimento económico sustentável, além de reduzir a pobreza".

Estes objectivos são conduzidos pela autoridade máxima constituída pelo conselho de governadores, do qual constam 2 representantes de cada país, normalmente os ministros das finanças e governadores dos bancos centrais nacionais de cada Estado-membro. É normalmente realizada uma reunião por ano.

Diariamente, o trabalho é assegurado pelo directório executivo, composto por 24 representantes: oito permanentes que representam os Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, China e Arábia Saudita. Os outros representantes são eleitos bienalmente e representam grupos de países.

É este directório executivo que decide o que responder aos pedidos de resgate aos países que recorrem ao FMI, assim como em que condições lhes irá emprestar dinheiro.

Estas decisões são tomadas através de votos, e consoante o contributo de cada país para o FMI é atribuída uma percentagem de votos diferente. É este contributo, disponibilizado por cada Estado-membro, que vai gerar a principal fonte de recursos do FMI. Cada país paga uma quota definida através, entre outros critérios, pelo PIB nacional e a sua importância

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relativamente ao PIB mundial. Quanto maior o contributo, maior poder de decisão. O FMI foi criado em 1945, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. No inicio participavam 45 países. Actualmente, conta com 187 Estados-membros, entre os quais Portugal, cuja adesão foi feita a 29 de Março de 1961.

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1.1.2 Intervenções do FMI em Portugal

Em dois momentos diferentes da história, Portugal enfrentou sérias crises económicas, as quais foram eventualmente ultrapassadas com a intervenção do FMI.

A primeira crise levou a uma intervenção em Maio de 1978 e durou um ano. De forma a solucionar o segundo período desequilíbrio externo, foi assinado um acordo em Setembro de 1983, cujo efeito duraria de Outubro de 1983 a Fevereiro de 1985.

No contexto da primeira intervenção, de 1978-1979, o pedido de assistência visava mitigar o défice, o aumento acentuado do desemprego, os preços da energia e as pressões inflacionistas, numa época de mudanças políticas e sociais aliadas a uma recessão global. O montante disponibilizado pelo FMI a Portugal nessa altura totalizou 111 milhões de euros.

Em 1983, Portugal pediu ajuda ao FMI para conseguir fazer face à recessão, ao aumento das taxas de juros no exterior, aos desequilíbrios comerciais e mais uma vez elevado défice. O total financiado, tendo em conta as taxas de câmbio actuais, foi de 555 milhões de euros.

O total dos montantes em dívida foram pagos de volta na sua totalidade.

A 06 de Abril de 2011, o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, anunciou que o Governo havia feito um pedido de ajuda externa à Comissão Europeia. Após aprovação do Orçamento de Estado para 2011 na Assembleia da República a 03 de Novembro de 2010, o Governo tentou aumentar a credibilidade da economia portuguesa nos mercados europeus, de forma a reduzir as taxas de juros, mas o chumbo do PEC IV na Assembleia da República a 23 de Março de 2011 levou à demissão de José Sócrates. Portugal terá sido, nesta altura, o 3º país a pedir resgate financeiro, depois da Grécia e a Irlanda o solicitarem em 2010. O programa de assistência financeira da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional a Portugal ronda os 78 mil milhões de euros.

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1.1.3 Razões da Intervenção Portugal tem assistido a um processo gradual de perda de competitividade nos sectores transaccionáveis, com o aumento dos salários face à produtividade, redução das tarifas de exportação de baixo valor da Ásia para a Europa. Além disso, enfrenta um elevado défice comercial, um financiamento externo muito elevado, assim como se assiste a uma incapacidade das autoridades para ajustar medidas sociais aos recursos disponíveis. Enfrentando um crescimento económico praticamente nulo, o Governo português tem tido dificuldades em obter a resposta necessária para arcar com os gastos públicos. Os gastos do próprio Governo também têm sido altos, devido em parte a uma sucessão de projectos excessivamente caros – especialmente no que toca ao sector dos transportes – tendo em vista o aumento da competitividade. Assim que a crise financeira global estourou, o país passou a enfrentar uma grande dívida pública, que se revelou cada vez mais difícil de ser financiada e administrada, com o aumento das taxas de juros que é obrigado a pagar, devido à reacção preocupada dos investidores de que o país será incapaz de pagar os seus empréstimos. De modo a aumentar a confiança na economia portuguesa, José Sócrates tentou adoptar medidas de austeridade para reduzir os gastos do governo. O pacote (PEC IV) congelamentos e cortes nas pensões e a revisão e limitação dos benefícios e deduções fiscais, em sede de IRS e IRC. A oposição reagiu considerando estas medidas demasiado drásticas e chumbou o PEC IV no Parlamento, em Março de 2011, levando a que José Sócrates se demitisse do cargo de primeiro-ministro. À crise económica e social juntou-se a instabilidade política, que levaram finalmente à decisão do país de pedir um resgate ao FMI.

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1.1.4 O timing da intervenção

O anuncio de um pedido nacional para uma intervenção externa do FEEF e do FMI não terá sido propriamente uma surpresa para a maioria dos portugueses. A dúvida que poderia restar seria o timing dessa iniciativa, o que nos obrigou a viver os últimos meses numa espécie de limbo existencial, misto de ansiedade e de suspensão pelos dias que hão-de vir, num futuro próximo. Num contexto de crise económica, social e política, esta última desencadeada por um geral desentendimento entre os partidos sobre o PEC, que levou à demissão do primeiro-ministro, e impulsionado pelo facto de a Banca portuguesa declarar não ter mais dinheiro para emprestar. Após meses de resistência, o primeiro-ministro demissionário José Sócrates anuncia o pedido de resgate financeiro à União Europeia.

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1.3 A Troika

Troika é uma palavra de origem russa mas que, em contexto político, representa um grupo de três líderes, estados ou entidades, que actuam em conjunto, formando uma liderança triangular. Neste contexto, a Troika é formada por três elementos, o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. É portanto, neste caso, a Troika que irá avaliar as contas reais de Portugal e definir as necessidades de financiamento do país. Será no fundo responsável pela reestruturação do país.

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1.3.1 O acordo

O Governo e a Troika chegaram a acordo para uma ajuda financeira a Portugal de 78 mil milhões de euros a três anos, mas a política económica terá de mudar. O programa a aplicar dilatou as metas orçamentais a cumprir até 2013: para 2011, o Governo negociou uma redução do défice para 5,9 por cento , de 4,5 para o próximo e de três por cento para 2013. As áreas de intervenção incluem a política orçamental antes referida, o mercado de trabalho e educação, o mercado da habitação, o enquadramento (sistema judicial), a regulação e supervisão do sector financeiro, a concorrência, aprovisionamento público e ambiente empresarial, e medidas orçamentais estruturais. Para tal foram apresentadas mais de vinte medidas, de forma a aumentar a competitividade e reduzir a despesa pública.

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1.3.2 As medidas A Troika apresentou ao governo um exigente memorando (memorando de entendimento) com duras exigências e reformas de fundo para o país. Entre elas destacam-se:

No imediato, o novo Governo terá de tomar várias decisões, entre elas encontrar um comprador para o BPN;

Terá também de definir os planos de custos e os limites de endividamento do sector empresarial;

O Governo terá de apresentar ao Parlamento uma legislação para alinhar as compensações por cessação dos actuais contratos com as alterações previstas para os novos contratos;

Eliminar as golden shares e os direitos especiais do Estado nas empresas cotadas;

Terá também de preparar uma proposta de reforma para introduzir ajustamentos aos casos de despedimentos individuais com justa causa, de forma a flexibilizar o mercado de trabalho;

Proposta de recalibragem do sistema fiscal, com vista a reduzir custos laborais e promover competitividade: redução da TSU;

Limitar as admissões na Administração Pública de forma a obter decréscimos anuais de 1% na administração central e de 2% nas administrações local e regional;

Revisão das taxas moderadoras do SNS; Implementar a 2ª fase do PRACE; Implementar medidas que aumentem a concorrência no

mercado das telecomunicações; Decidir sobre manutenção ou eventual encerramento, até Junho

de 2012, das entidades públicas ou semi-públicas, através de análise detalhada do seu custo/benefício;

Implementar incentivos fiscais em matéria de eficiência energética;

Reduzir em 15% os cargos dirigentes e serviços da administração pública;

Elaborar proposta de legislação ao Parlamento que vise alterar a nova Lei do Arrendamento Urbano até ao final do ano;

Avaliar as 20 maiores PPP, incluindo as PPP Estradas de Portugal mais importantes

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Elaborar um relatório avaliando as operações e a situação financeira do SEE a nível das administrações central, local e regional;

Alterar Código de Insolvência; Realizar e publicar levantamento de pagamentos em atraso

(despesa até Junho de 2011); Apresentar calendário de eliminação faseada das tarifas

eléctricas reguladas; Publicar previsões e documento de estratégia orçamental

subjacentes à preparação do OE; Desenvolver planos de limites de endividamento mais restritos

para as empresas do Sector Empresarial do Estado (SEE) da Administração Central;

Entre outras (poderão ser consultadas no anexo Letter of Intent, Memorandum of Economic and Financial Policies, and Technical Memorandum of Understanding).

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1.4 Avaliação dos termos do acordo: Após aprovação do plano de auxílio a Portugal, as primeiras verbas de ajuda da Comissão Europeia chegaram a 24 de Maio, sendo esta primeira tranche no valor de 6,1 mil milhões de dólares. Em menos de 2 meses, o novo Governo irá as medidas impostas pelo acordo. Portugal irá receber, no final de Julho, a primeira avaliação da Troika e, se o programa de ajustamento não estiver a ser comprovadamente aplicado, a transferência das novas tranches do empréstimo poderão estar comprometidas. Entretanto, os prazos políticos são incompatíveis com a urgência exigida pela Troika, principalmente porque o país se encontra em época de eleições. Por isso, é esperado que o Governo de gestão actual deixe parte do trabalho já preparado, de outra forma não será possível cumprir o prazo e a libertação das próximas tranches do empréstimo ficará comprometida.

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1.4.1 A experiência da Grécia:

A situação da Grécia tem aspectos muito mais negativos que a situação em Portugal. Aliás, o processo que está a ser longo na Grécia será, se tudo correr bem, mais rápido em Portugal. A Grécia encontra-se numa situação preocupante, sem solução de reforço de financiamento por parte dos líderes europeus, arrastando os outros países da zona euro num efeito de contágio, e com as taxas de juro de dívida a não descer como consequência, como se verifica no caso de Portugal. Sabe-se agora que a Grécia mistificou as contas públicas ao longo de 10 anos e tem sido muito difícil às instituições Internacionais aperceberem-se da extensão efectiva do défice e das contas públicas. A lei laboral e situação geral do mercado de trabalho são ainda muito mais no sentido de defender os direitos dos trabalhadores empregados e as condições politicas têm mostrado que o estado tem grandes dificuldades em estabelecer os acordos políticos que convençam os emprestadores de que a Grécia será capaz de fazer as reformas que precisa para que a prazo venha a pagar os empréstimos que agora está a contrair. Outro grande problema verificado no país foi a elevada evasão fiscal, em grande parte por má gestão do sistema de cobrança de impostos, assim como a recessão, que se traduziu num aumento do IVA e que serviu de incentivo à fuga ao fisco, uma vez que o sistema de cobrança é ineficaz. Estão a ser estudadas várias hipóteses, para enfrentar a dívida abissal de 350 mil milhões de euros, ou 150 por cento do PIB, hipóteses essas que ponderam o reescalonamento voluntário dos prazos de amortização da dívida através de uma negociação com os investidores, e a possibilidade de uma intervenção externa no país para assegurar o cumprimento do programa de privatizações. Para que um novo reforço ao programa de 110 mil milhões de Euros, (concedidos pelos países do euro e FMI em 2010) seja concedido, foram impostas algumas condições à Grécia, entre elas o controlo do processo de privatizações e envolvimento dos privados. Este reforço consta de 60 mil milhões de euros, valor estimado quanto às necessidades de financiamento da Grécia e que será repartido igualmente através de empréstimos de parceiros e novas medidas de austeridade.

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Foi aliás no processo de privatizações que as medidas de austeridade falharam, enquanto que algumas reformas críticas na Segurança Social do país até conseguiram bons resultados. Outro dos motivos que levou à falha na intervenção na Grécia foi o facto de no memorando assinado há 1 ano não constarem medidas específicas em prol do crescimento. A decisão sobre o novo pacote de ajuda à Grécia, por parte da zona euro, depende agora do relatório da equipa técnica que se encontra de momento em Atenas a avaliar a situação real e exacta das contas públicas do país, e através do qual será determinada a libertação ou não de uma nova tranche de 12 mil milhões de euros do pacote total de 110 mil milhões e sem a qual Atenas entrará em incumprimento.

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1.5 Monitorização e penalizações:

“O pagamento trimestral de assistência financeira do Mecanismo de Estabilização Financeira Europeia (EFSM) será sujeito a revisões trimestrais de avaliação durante a duração do programa. A primeira revisão será realizada no terceiro trimestre de 2011, já em Julho, e a 12ª e última revisão terá lugar no segundo trimestre de 2014. A disponibilização das parcelas será baseada na observância dos critérios quantitativos de desempenho, no respeito das decisões e recomendações do Conselho da UE no âmbito do procedimento de défice excessivo, e numa avaliação positiva dos progressos realizados no que diz respeito aos critérios de política no Memorando de Políticas Económicas e Financeiras (MEFP) e no presente Memorando de Entendimento sobre condições específicas de política económica, que especifica os critérios detalhados que serão avaliados para a sucessivas revisões até o fim do programa. A revisão em curso em qualquer dos trimestres avaliará o cumprimento das condições a serem cumpridas até o final do trimestre anterior. Se as metas falharem ou se for previsível que falhem, medidas adicionais serão tomadas. As entidades comprometem-se a consultar a Comissão Europeia, o BCE e o FMI na adopção de políticas que não sejam compatíveis com o presente Memorando. Disponibilizarão também à Comissão Europeia, ao BCE e ao FMI, todas as informações solicitadas que esteja disponível para acompanhar os progressos durante a implementação do programa e acompanhar a situação económica e financeira. Antes da disponibilização das parcelas, as autoridades devem fornecer um relatório sobre a observância do cumprimento das condicionalidades.”

In “Memorando de entendimento sobre condicionalismos específicos de política económica”

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1.6 Riscos e expectativas

De imediato, a expectativa mais temida é sem dúvida a possibilidade de falhar nos prazos exigidos pela Troika, dado a situação de instabilidade política que de certa forma atrasou o processo. Neste momento o governo terá de ser rápido e incansável na implementação das medidas apresentadas no Memorando de Entendimento. De acordo com a agência de notação financeira Standard & Poor’s (S&P), os 78 mil milhões de euros que Portugal vai receber da EU e FMI vão cobrir as necessidades de financiamento do país até meados de 2013, sendo previsto que as taxas de juro rondem os 4,7 a5,5 por cento. No entanto existem riscos significativos na implementação que decorrem essencialmente da actual situação política portuguesa, “dos

riscos macroeconómicos associados à desalavancagem do sector bancário e à pressão sobre os salários, consumo e investimento privado e público”, explica a agência. Em primeiro lugar, a necessidade de Governo de maioria para que seja possível implementar as medidas do programa, visto que muitas delas requerem aprovação parlamentar. Em segundo lugar, a possibilidade de os bancos precisarem de mais apoio governamental, uma vez que o custo de o Governo português suportar o sistema bancário deverá permanecer abaixo dos 3% do PIB, e caso esse valor seja ultrapassado, o rating nacional poderá ser revisto em baixa. Em contrapartida, “se Portugal atingir as metas orçamentais, continuar a implementar reformas promotoras de crescimento, mantiver o crescimento forte das exportações e reduzir a necessidade de financiamento do exterior, o rating pode estabilizar no nível actual”, salienta a agência.

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Enquadramento prático:

2.1 Pequena entrevista a Dra. Maria Do Carmo Seabra

2.1.2 Introdução à entrevista

Dra. Maria do Carmo Seabra

Maria do Carmo Seabra nasceu em Lisboa, a 27 de Janeiro de 1955, é Licenciada em Economia pela Universidade Católica (1977) e Doutorada nesta área pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (1987). Foi Assistente universitária e, mais tarde, professora Associada com Agregação. Depois de ter sido Administradora da Autoridade Nacional de Comunicações (2002 a 2004) foi ministra da educação do governo de Pedro Santana Lopes (o XVI Governo Constitucional), cargo que ocupou durante 7 meses (de 17 de Julho de 2004 a 12 de Maio de 2005). Como facto mais relevante do seu mandato consta a enorme polémica em torno do esquema informático de colocação dos professores.

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2.1.2 Entrevista

1. Esta intervenção do FMI em Portugal já devia ter acontecido

há mais tempo?

Penso que devia ter ocorrido há 3 ou 4 trimestres.

2. Como professora de economia, quando viu que Portugal estava num caminho que ia desaguar numa crise?

Pareceu-me desde o 1º governo de Sócrates que o governo governava como se Portugal não tivesse restrição orçamental. Alias, o 1º Ministro das Finanças de Sócrates, Luís Campos e Cunha, abandonou o governo 3 meses depois da tomada de posse já devido a divergências sobre a oportunidade de realização dos chamados “grandes projectos”… Já era claro nessa altura que o despesismo era a palavra de ordem. O melhor exemplo é o chamado “Plano Tecnológico” com os seus computadores grátis para todas as crianças, os acordos caríssimos com o MIT e Austin Texas, os investimentos loucos nas energias alternativas… Para não referir as nomeações, o alargamento de todos os conselhos de administração dos organismos públicos, as adjudicações sem concurso…

3. Olhando para estes sucessivos pacotes de austeridade, acha que são as medidas necessárias ou ainda faltam algumas?

Evidentemente que há sempre coisas a melhorar: nomeadamente no campo da justiça e da Educação, o acordo é, a meu ver, deficiente. Mas também penso que a questão agora não é mais medidas, mas sim implementar estas. Esse já seria um programa suficientemente ambicioso. Mas não será fácil impor este programa de austeridade com o PS na oposição, tal como o demonstra a história recente das tentativas de contenção orçamental dos governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes.

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4. Ultimamente fala-se num eventual possível abandono de Portugal da moeda única. Acha que isso é um cenário possível? Que consequências teria para um país como o nosso?

Não me parece provável que Portugal abandone o euro: a ocorrer, seria catastrófico para o país, com a taxa de inflação a voltar aos níveis da década de 80 e o PIB real a cair para muito além da queda que já se antecipa para o futuro próximo. Mas infelizmente acho que o fim do Euro já não é um cenário impossível.

5. Acha que Portugal irá conseguir cumprir o acordo estabelecido com a Troika?

Temos que acreditar e trabalhar para o tornar possível. Ou então, é melhor emigrarmos…

Lisboa, 02 de Junho de 2011