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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE - FaC CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO NO SENAC FORTALEZA FORTALEZA/CE 2013

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE ... CHRISTIAN SILVA MORAES PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO NO SENAC FORTALEZA Monografia submetida à aprovação

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE - FaC

CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM

ESTUDO DE CASO NO SENAC FORTALEZA

FORTALEZA/CE

2013

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DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE

CASO NO SENAC FORTALEZA

Monografia submetida à aprovação Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação sob orientação Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves.

FORTALEZA/CE

2013

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M828p Moraes, Danielle Christian Silva.

Pessoas com deficiência no mercado de trabalho: um estudo de

caso no Senac Fortaleza / Danielle Christian Silva Moraes. – 2012.

89 f.

Orientador: Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2012.

1. Trabalho. 2. Mercado de trabalho - pessoas deficientes. 3.

Pessoas deficientes - inclusão. I. Gonçalves, Rúbia Cristina Martins. II.

Título.

CDU 331.5-056.26

CDU 323.285-055.2

CDU 658.153.2

Bibliotecária Maria Albaniza de Oliveira CRB-3/867

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DANIELLE CHRISTIAN SILVA MORAES

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO: UM ESTUDO DE

CASO NO SENAC FORTALEZA

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação: _____ / _____ / _____

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves (Orientadora)

Faculdade Cearense - FaC

Prof.ª Dra. Cristiane Porfírio de Oliveira do Rio

Faculdade Cearense - FaC

Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel

Faculdade Cearense - FaC

FORTALEZA/CE

2013

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Dedico este trabalho a Deus, primeiramente,

e a minha família.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, principalmente meu esposo e filho por suportarem minha

ausência em períodos de lazer por razões de dedicação aos estudos. A minha irmã

que nunca desistiu da minha carreira profissional. A minha orientadora, pelo

momento de dedicação nas orientações. E agradeço a Deus, principalmente, porque

sem Ele nada disso seria possível.

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Todos os dias quando acordo,

Não tenho mais o tempo que passou

Mas tenho muito tempo

Temos todo o tempo do mundo.

(Legião Urbana)

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RESUMO

O presente trabalho procura abordar de forma ampla as configurações do mercado de trabalho para as pessoas com deficiência e as políticas de qualificação para a inserção profissional diante dos antagonismos capitalistas e demandas do público em questão no competitivo mercado contemporâneo tendo como campo de investigação o SENAC. Faz mister, portanto para o enriquecimento do trabalho, analisarmos as contradições do processo capitalista e a luta de classes no contexto histórico visto aos olhos de autores marxistas que retratam minuciosamente as categorias trabalho, questão social e educação. A investigação empírica utilizou-se de metodologia qualitativa e pesquisa bibliográfica tendo como finalidade averiguar as pessoas com deficiência que trabalham no SENAC usando como instrumento necessário a análise da entrevista semi-estrurada. Os resultados confirmaram as contradições existentes no universo capitalista e no que cerne às políticas de inclusão e qualificação profissional para pessoas com deficiência através de entrevistas realizadas com seis pessoas que trabalham no SENAC Fortaleza na unidade Centro relatando as dificuldades para a inserção no mercado de trabalho, a adequação das condições e práticas de trabalho na organização, a igualdade em relação aos rendimentos salariais e postos de trabalho considerando o nível de escolaridade.

PALAVRAS-CHAVES: pessoas com deficiência, trabalho, qualificação profissional e educação.

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ABSTRACT

The present work seeks to address broadly the settings of the labor market for people with disabilities and the policies of qualification for the professional insertion before the capitalist antagonisms and demands of the public concerned in the competitive market as having contemporary research field SENAC. Makes mister, so to enrich the work, we analyze the contradictions of the capitalist and class struggle in historical context seen in the eyes of Marxist authors who meticulously depict the categories work, education and social issues. Empirical research we used qualitative methodology and literature and aims to ascertain people with disabilities who work in SENAC using as a necessary tool to analyze the semi-structured. The results confirmed the existing contradictions in the capitalist world and the heart that inclusion policies and professional training for people with disabilities through interviews with six people who work in the unit SENAC Fortaleza Center reporting difficulties in entering the labor market, the adequacy of conditions and work practices in the organization, equal wages for income and jobs considering the level of education.

KEYWORDS: people with disabilities, employment, vocational training and education.

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LISTA DE SIGLAS

BPC – BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

CIPA – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO CONTRA ACIDENTES

CLT – CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO

CONADE – CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA

CORDE – COORDENADORIA NACIONAL PARA A INTEGRAÇÃO DA PESSOA

COM DEFICIÊNCIA

DRT – DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO

EPI – EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

INSS – INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO NACIONAL

LOAS – LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

MTE – MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO

PRONATEC – PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E

EMPREGO

PSG – PROGRAMA SENAC GRATUIDADE

SENAC – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL

SENAI – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL

SINE – SISTEMA NACIONAL DE EMPREGO

SIPE – SISTEMA PÚBLICO DE EMPREGO

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 – Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho.................................57

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

I – DISCUTINDO AS CATEGORIAS DO OBJETO DE ESTUDO. ........................... 20

1.1 O Trabalho e a Teleologia ................................................................................... 20

1.2 O Trabalho Como Protoforma da Práxis Social ................................................... 23

1.3 Divisão do Trabalho e Sociedade ........................................................................ 27

1.4 As Transformações no Mundo do Trabalho ........................................................ 31

1.5 A Questão Social no Brasil: Uma Análise no Contexto Histórico do Capitalismo 34

II – PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO E

INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO ........................................................... 43

2.1. Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência ........................ 43

2.2. Qualificação Profissional como Exigência do Capitalismo Contemporâneo. ...... 47

2.3. Sobre a Educação Inclusiva ............................................................................... 50

2.4. Direitos e Demandas na Sociedade Capitalista ................................................. 55

III – TRABALHO COMO PERSPECTIVA DE INCLUSÃO? O PROCESSO

CONTRADITÓRIO .................................................................................................... 60

3.1. Uma Análise do Campo de Investigação. ........................................................... 60

3.2. Definições e Características do Trabalho Social de Inclusão no SENAC-Ce ..... 64

3.3. O Mercado de Trabalho para Pessoas com Deficiência.................................... 67

3.4. O SENAC e as Oportunidades de Trabalho para Pessoas com Deficiência. ..... 70

3.5. Percepção das Pessoas com Deficiência. .......................................................... 71

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 84

APÊNDICE ................................................................................................................ 87

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o processo de inserção das

pessoas com deficiência no mercado de trabalho e as necessidades de formação

profissional frente às novas exigências impostas pelo capitalismo.

O interesse pelo tema pesquisado surgiu a partir de uma experiência de

estágio junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC no período

de abril de 2010 a abril de 2012, através da qual houve a oportunidade de participar

de um novo projeto, ainda em debate, direcionado para pessoas com deficiência e o

seu processo de inclusão no mercado de trabalho.

Diante da expectativa de se ver o projeto concluído e posto em prática, nos

interessou, portanto, averiguar as condições dessas pessoas com deficiência, suas

limitações no mercado de trabalho e todo o processo de inclusão e exclusão dentro

da sociedade capitalista. Faz-se importante frisar que o acesso das pessoas com

deficiência à formação e ao mercado de trabalho contribui para a redução da

pobreza e a construção de uma sociedade livre de preconceitos e discriminações.

Analisando as categorias referentes ao objeto de estudo, iremos trabalhar

com pesquisas de autores que se fundamentam no processo histórico do trabalho e

nas suas características que embasam a sua essência e a sua desfiguração tendo

como consequência a alienação do homem como trabalhador.

Autores como Karl Marx (1988; 1998), que construiu as bases para a

formulação de conhecimentos que englobam o mundo do trabalho, e Gyorgy LuKács

(1979) terão importante contribuição no caminho dessa pesquisa. Outros autores

como Marilda Iamamoto (2008) e Ricardo Antunes (1999;2007), que partem de

pressupostos dos estudos de Marx para conceituar as transformações sociais,

contribuirão com suas concepções teóricas sobre o trabalho e a questão social para

compreender as mutações ocorridas historicamente no universo do capitalismo.

Demerval Saviani (2004; 2007), que aborda as relações do trabalho com a

educação, possibilitará meios de compreender as configurações atuais do mercado

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de trabalho e a exigência de trabalhadores qualificados para o desenvolvimento

econômico.

Marx (1998) idealiza pressupostos constitutivos importantes ao processo de

trabalho o qual define como elementos que contribuem para o projeto final destinado

pelo trabalhador que são o trabalho, puro e simples; a matéria; e os meios que serão

utilizados no processo de produção, ou seja, os instrumentos realizados para

transformar a matéria.

O trabalho é fonte de realização do ser humano e segundo Marx (1998), o

processo de trabalho é uma interação entre o homem e a natureza na qual é

regulada por ações que direcionam um meio e um fim. Por meio do trabalho o

homem condiciona ações inerentes ao corpo buscando modificar e transformar

aquilo já tem em mente.

Segundo Marx (1998), o homem utiliza tais elementos para construir o objeto

especificado em sua mente e transforma a natureza a fim de priorizar suas

necessidades, feito isso, o trabalho extingue-se e tem-se então o produto final.

Através da produtividade do trabalho, a classe dominante opera a condição de mais-

valia e estabelece as regras para manter-se no poder. Com o alardeamento do

acúmulo capitalista, as desigualdades sociais encontram-se imbricadas no processo

de desenvolvimento do Brasil e caracteriza-se, segundo Marilda Iamamoto, peculiar

na historicidade do país.

Iamamoto (2008) prioriza o contexto histórico da sociedade brasileira e as

formas de dominação do capitalismo vinculadas à contemporaneidade, pois de

acordo com seu pensamento, as marcas históricas prevalecem até os dias atuais,

surgem apenas modificações recriadas através da modernidade. A partir de novas

intervenções históricas construídas dentro dos moldes capitalistas, a questão social

surge reconfigurada e demandante de políticas sociais no cenário contemporâneo

do Brasil.

A crise do capitalismo a partir da década de 1970 produziu efeitos que

dinamizaram o apoderamento da classe dominante através da exploração trabalhista

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e elevação da taxa de juros a fim de obter lucratividade. Com efeito, a consequência

da desregulamentação do capital é o aumento do desemprego e com isso o

alargamento da competitividade, pois com a crise financeira, a redução de custos do

capital atinge a figura do trabalhador, que torna-se polivalente para suprir as

necessidades do empresariado. A intensificação do trabalho, a redução de postos de

emprego e a precarização e/ou ausência de direitos trabalhistas agravam as redes

de sociabilidade, causando o isolamento e a individualização. Em contrapartida, o

Estado aliado e comprometido com a classe dominante, desvincula-se do papel de

promover políticas sociais e subverte os direitos da população à crise financeira do

capital, ou seja, “conclama-se a necessidade de reduzir a ação do Estado para o

atendimento das necessidades das grandes maiorias mediante a restrição de gastos

sociais (...)” (Iamamoto, 2008, p.144).

Diante dessa conjuntura, Iamamoto (2008) deixa claro que a debilidade das

formas de sociabilidade está cada vez mais evidente nos segmentos trabalhistas da

modernidade na qual o cidadão é livre para fazer suas escolhas e assumir os riscos

que a comprometem. Reluz-se então as transformações produzidas pelo advento do

neoliberalismo e o surgimento da “velha questão social” metamorfoseada.

As contradições inerentes aos meios de produção capitalista transcorre por

meio de lutas sindicais com o propósito de garantia de direitos da classe

trabalhadora e a redução da jornada de trabalho a fim de minimizar as

desigualdades sociais.

Nesse contexto, as lutas em favor dos menos favorecidos protagoniza a

questão social e demandas por ações do Estado que visam ampliar políticas sociais

bem como o aumento de postos de trabalho e a regulamentação de leis trabalhistas.

Os sentidos do trabalho são abordados por Ricardo Antunes (1999) de uma

forma peculiar que menciona as ideologias, discursos, hegemonias e reprodução

que envolve a classe-que-vive-do-trabalho e as relações de subordinação e

estranhamento a partir da produção capitalista.

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O autor profere sobre as mutações ocorridas no mundo do trabalho e a

necessidade de ir além da aparência manifesta pelo capitalismo alertando sobre as

mediações de segunda ordem do trabalho que introduz elementos fetichizadores e

alienantes de controle social metabólico.

É evidente então que com a modernização do capital, a educação e a

qualificação profissional tornam-se imprescindíveis para o indivíduo se manter no

mercado de trabalho e ter suporte suficiente para exercer as funções que o mercado

competitivo exige.

Demerval Saviani (2004) enfatiza bem essa problemática da educação frente

às novas tendências do capitalismo. O autor vai dizer que a educação passa a ser

entendida como algo decisivo para o desenvolvimento econômico e que a mesma

potencializa o trabalho, isto é, a educação é de suma importância para a fase

funcional do sistema capitalista e sobrepõe-se como fonte qualificadora da mão-de-

obra.

O estímulo à educação faz parte da envergadura do capital de reproduzir-se

e manter-se no poder e não o contrário, equivale assim incitar a formação

intelectual na qual traduz-se em sinônimo de qualidade na produção capitalista,

todavia o trabalhador continua alienado e subordinado à classe dominante. Nesse

projeto surge o termo inclusão educacional que tem a finalidade de fortalecer ideias

legais e político-filosóficas em benefício de pessoas com deficiência com

atendimento educacional especializado, principalmente na rede pública de ensino, a

criação de programas de prevenção com atendimento exclusivo e a qualificação

profissional como forma de determinar o acesso ao mercado de trabalho. (Diretrizes

nacionais para a educação especial na educação básica, 2001 p. 09 e 10).

No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência teve início na época do

Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos,

em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos,

em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES,

ambos no Rio de Janeiro. Em 1961, o atendimento educacional às pessoas com

deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e

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Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos

excepcionais à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino.

Nesse contexto, a educação inclusiva tem participação no projeto de educação

básica no Brasil e organiza-se a partir de pressupostos da prática pedagógica

social1.

Analisa-se então uma progressão nos âmbitos educacionais em que

“prevalecem as ideias de respeito às diferenças individuais e do direito à igualdade

de oportunidades que todos devem ter , sem discriminação ou privilégios.” (

Tendências e desafios da educação especial, 1994, p.125).

Quando se fala em pessoas com deficiência convém questionar seus

conceitos, limites e diferenciações. O autor João Ribas (1998) em seu livro “O que

são pessoas deficientes?” relata que as pessoas não são fisicamente iguais, ou seja,

cada ser humano tem sua cor de pele, sua raça, altura e etc. Portanto, as pessoas

com deficiência possuem diferenças das demais, pois possuem sinais ou sequelas

mais notáveis, mas segundo o autor a realidade natural desses indivíduos não

pode ser transpassada para a realidade social, ou seja, nós construímos a

sociedade em que vivemos e “pensar numa sociedade melhor para as pessoas

deficientes é necessariamente pensar numa sociedade melhor para todos”. (Ribas,

1998, p. 13).

Vários entraves se manifestam para a inclusão da pessoa com deficiência,

mas desde abril de 2004 foi decretada uma lei que exige que as empresas com mais

de cem empregados, utilizem a contratação de um deficiente (MTE, 2007, p. 03).

As leis são promulgadas, porém, causa desânimo o fato da exigência por

parte do patronato, de garantir o profissional adequado para compor seu quadro de

funcionários com capacitação profissional que atenda suas expectativas.

O Método Dialético, que permeia a exploração dessa pesquisa, propõe

analisar as contradições do universo capitalista postulados em sua fase histórica

1 Disponível em: http://portal.mec.gov.br; Acesso em 21/11/212.

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contracenando com as classes trabalhadoras, de modo a focalizar as pessoas com

deficiência no mercado de trabalho e sua qualificação profissional.

A pesquisa, de cunho qualitativo, permite uma interação entre o objeto e os

sujeitos pesquisados dentro do campo empírico em que possibilitará uma análise

investigativa que busca responder as indagações propostas no decorrer da

pesquisa.

Para o enriquecimento da pesquisa fez-se necessário um estudo

bibliográfico voltado ontologicamente ao capitalismo e às classes trabalhadoras e

seus antagonismos históricos ao longo dos séculos vistos aos olhos de autores que

retalham minuciosamente a busca da classe subalterna pela imposição junto ao

capital. Correlacionar-se-á então, as formas de sociabilidade das pessoas com

deficiência no Brasil, buscando apontar de forma enumerada as fases de

superações no decorrer das metamorfoses do capitalismo.

Ressaltamos que além da pesquisa bibliográfica, realizamos a pesquisa de

campo qualitativa. O tema a ser investigado é bastante amplo, no entanto não nos

debruçamos muito na pesquisa por razões do curto período de tempo, mas nos

propomos a nos aprofundar em estudos futuros.

No que cerne ao campo de investigação, a pesquisa foi realizada na

Instituição SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – na unidade do

centro de Fortaleza, que lida com as concepções de inclusão social para pessoas

com deficiência trabalhando de modo a integrar a qualificação profissional e inserção

no mercado de trabalho para esse público em questão.

Os instrumentos utilizados no decorrer da pesquisa para reunir informações

sobre o tema estão relacionados ao aprofundamento bibliográfico sobre o projeto

pedagógico do SENAC em relação às pessoas com deficiência e entrevistas aos

seis profissionais (Cf Apêndice) inseridos no mercado de trabalho através da

instituição.

A entrevista, como técnica instrumental de pesquisa, tem a capacidade de

coletar dados que enriquecem o trabalho do pesquisador e segundo Minayo (2007),

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“A entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores,

realizada por iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir informações

pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador de temas

igualmente pertinentes com vistas a este objetivo” (Minayo, 2007, p.64).

Em relação aos capítulos abordamos, logo no início, o trabalho como fonte

de transformação da natureza humana tendo como referência as concepções

marxianas. A categoria trabalho foi desenvolvida de forma peculiar, ou seja, desde à

sua transposição teleológica para a alienação do trabalhador através da exploração

capitalista dando concretude às lutas classistas e a amplitude da questão social.

No segundo capítulo, fizemos uma análise das exigências de qualificação

profissional para a inserção no mercado de trabalho, tendo como foco as pessoas

com deficiência e a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência.

No terceiro capítulo analisamos o campo de investigação – SENAC – e os

principais projetos de inclusão social desenvolvidos pela a empresa. Partimos da

concepção do projeto de inserção das pessoas com deficiência nas ações

educativas do SENAC e inserção no mercado de trabalho. Em seguida dialogamos

as percepções das pessoas com deficiência que trabalham na instituição com

referenciais teóricos que analisam a inserção profissional das pessoas com

deficiência no mercado de trabalho.

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I – DISCUTINDO AS CATEGORIAS DO OBJETO DE ESTUDO

O trabalho constitui-se como protoforma da práxis social e como fonte de

realização da vontade humana. Ao falarmos de trabalho ressaltamos a importância

de discorrer em nossa pesquisa o pensamento de Marx (1998) e seus seguidores

tornando como parte importante o movimento dialético.

No princípio da pesquisa sobre as pessoas com deficiência no mercado de

trabalho nos propomos investigar o trabalho como forma inerente à realização

humana e as contradições impostas pelo capitalismo a partir da exploração dos

trabalhadores tendo como consequência a divisão e luta das classes (burguesia e

proletariado).

O fenômeno da luta de classes perpassa a historicidade do capitalismo

diante das suas artimanhas para se manter no poder. As classes subalternas,

porém, exploradas e destituídas de direitos, lutam por melhores condições de vida,

redução na jornada de trabalho e proteções trabalhistas. A questão social possui

formas multifacetadas, o que requer o olhar inclinado do Estado na defesa de seus

direitos e políticas que assegurem mudanças contestáveis por parte do

empresariado.

A questão social reflete no país acontecimentos recorrentes da época da

colonização brasileira. Sobre o tema Marilda Iamamoto (2008) demonstra que a

questão social no Brasil ressurge metamorfoseada apresentando “traços” novos de

acordo com as inovações presentes na contemporaneidade.

A importância de falarmos sobre o trabalho e suas configurações reflete no

fato de que as pessoas com deficiência sempre estiveram à margem do capitalismo

e que a luta por direitos e igualdade só tornou-se concreta no Brasil com a

Constituição de 1988 e a Política Nacional de Inclusão da Pessoa com Deficiência

no Mercado de Trabalho em 1991.

1.1 O Trabalho e a Teleologia

Ao iniciarmos o nosso ponto de reflexão sobre as categorias de análise do

presente estudo, devemos focalizar, antes de tudo, o trabalho como processo

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natural da força humana em que se determina através da natureza de acordo com o

pensamento de Marx (1998) e a ontologia do ser social segundo Lukács (1979).

O trabalho nada mais é que um processo de participação entre o homem e a

natureza, transformando-a e articulando-a segundo suas intenções previstas no

pensamento.

O homem ao defrontar-se com a natureza como uma de suas forças, põe em

movimento as forças naturais de seu corpo com a finalidade de construir o que antes

foi-lhe determinado em pensamento e por conseguinte, utiliza-se dessa força para

dar concretude ao seu pensamento.

Segundo Marx (1998), o homem ao modificar a natureza, tem sua própria

natureza modificada quando desenvolve as potencialidades nela adormecidas e

submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. É nesse contexto que Marx

classifica o trabalho como uma forma exclusivamente humana quando o define:

No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade (Marx, 1998, p.212).

Marx (1998) vai além ao definir que o ato de trabalho, tendo como resultado

o produto, produz uma configuração que articula meio e objeto de trabalho como

núcleos fundantes do processo produtivo. É nesse patamar, então que o homem ao

adaptar um objeto exterior às suas necessidades, cria um produto através de um

trabalho produtivo unindo trabalho manual e trabalho intelectual (Marx, 1998).

A partir desse ponto verifica-se a alteração do produto, que antes era

individual, tornar-se então em produto social, produto que agora gera trabalho

coletivo exigindo, para sua confecção, diferentes membros determinados em

variadas operações.

Para efetuar um trabalho produtivo não é necessário que se execute um trabalho manual, basta apenas ser um membro do trabalho coletivo ou desempenhar uma função qualquer dele. Porém, não é isso o que caracteriza de uma maneira especial o trabalho produtivo no sistema

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capitalista. (Marx, 1998,p.152)

Para Antunes (1999) o ser social cria e recria as próprias condições da sua

reprodução e faz isso a partir de sua vida societal por meio do trabalho e luta por

sua existência. Ou seja, o trabalho segundo o autor, é um saber teleológico que

consiste em uma definição prévia idealizado a partir da consciência humana.

Segundo o pensamento de Lukács (1979):

“(...) através do trabalho, uma posição teleológica é realizada no interior do ser material, como nascimento de uma nova objetividade. A primeira consequência disso é que o trabalho torna-se protoforma de toda a práxis social (...) sua forma originária desde que o ser social se constitui. O simples fato de que o trabalho é a realização de uma posição teleológica é para todos uma experiência elementar da vida cotidiana” (Lukács, 1979, p.99).

Para analisar mais a fundo a concepção de trabalho, Antunes se

fundamenta através de posições de Luckács (1979) quando menciona as complexas

relações entre a teleologia e a causalidade.

Segundo o autor a “teleologia está presente na própria colocação de

finalidades e a causalidade é dada pela materialidade fundante, pelo movimento que

se desenvolve em suas próprias bases(...)” (Antunes, 1999, p.137).

Aprofundando, o autor diz que há uma inteira relação de reciprocidade entre

teleologia e causalidade, composta de uma essência dada pela realização material

de uma idealidade posta, é portanto, um fim previamente idealizado em que

transforma a realidade material introduzindo-lhe algo qualitativa e radicalmente novo

em relação ao que era antes, ou seja, a natureza pura e simples.

Ao comparar o trabalho com as formas precedentes do ser,

orgânicas e inorgânicas, o autor exemplifica dizendo que o trabalho está na

ontologia do ser social como uma categoria qualitativamente nova em que o ato

teleológico é seu elemento constitutivo central e, por conseguinte, que funda a

especificidade do ser social.

É por meio do trabalho e através da realização de suas necessidades que o

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homem se insere na vida em sociedade e deixa, portanto, de ser epifenômeno2 e de

ter uma consciência meramente adaptável ao meio ambiente para tornar-se uma

atividade autogovernada. De acordo com Antunes “o lado ativo e produtivo do ser

social torna-se pela primeira vez ele mesmo visível através do pôr teleológico

presente no processo de trabalho e da práxis social” (1999, p.138).

O trabalho, segundo o autor, “não é um mero ato decisório, mas um

processo, de uma contínua cadeia temporal que busca sempre novas alternativas”

(Antunes, 1999, p.138). O desenvolvimento do trabalho está na busca de

alternativas presentes na práxis humana, significa apoiar-se sobre decisões entre

alternativas presentes, é

“(...) ir além da animalidade por meio do salto humanizador conferido pelo trabalho, o ir além da consciência epifenômenica, determinada de modo meramente biológico, adquire então, com o desenvolvimento do trabalho, um momento de refortalecimento, uma tendência em direção à universalidade” (Antunes, 1999, p.138).

Dentro da esfera da necessidade humana e da realização desta têm-se o

trabalho como elemento mediador em que se dá uma vitória do comportamento

consciente sobre a mera espontaneidade do instinto biológico. A intervenção do

trabalho como mediador entre a necessidade e a satisfação imediata no processo de

autorrealização humana, “(...) do avanço do ser consciente em relação ao seu

instintivo, bem como do seu avanço em relação à natureza, configura-se o trabalho

como referencial ontológico fundante da práxis social” (Antunes, 1999, p.138).

1.2 O Trabalho Como Protoforma da Práxis Social

O sentido do trabalho segundo Antunes (1999) é entendido de forma

2 Um "Epifenômeno" designa aquilo que é adicionado a um fenômeno sem exercer qualquer influência

sobre ele. A palavra epifenômeno refere-se a condição ou a algo "sobre" ou "acima" do fenômeno, derivando de uma causa primária. É produto direto do termo fenômeno. Desta forma, a mente é produzida por algum fenômeno e nossa compreensão exclusivamente científica endereça os processos cerebrais como fenômeno da mente. Já para as correntes filosóficas dualistas, a "mente" é um fenômeno por si mesmo, independente do cérebro. Ela é a razão única, ou causa de si mesma.(Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Epifen%C3%B3meno ; Acesso em: 03/11/2012).

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genérica e abstrata com a relação metabólica entre o ser social e a natureza. Em

seu sentido primitivo, o trabalho aparece como ato laborativo em que objetos

naturais são transformados em coisas úteis. A seguir, tem-se sua forma

desenvolvida, como práxis social e paralelamente a essa relação homem-natureza

desenvolvem-se inter-relações com outros seres sociais com vistas à produção de

valores-de-uso. A partir de então, surge a práxis social interativa com o objetivo de

convencer outros seres sociais a realizar determinado ato teleológico.

Ao analisarmos a temática trabalho, deparamo-nos com um paradoxo, uma

contradição: ao mesmo tempo em que o trabalho constrói o homem, ele também o

destrói. Dessa maneira, primeiramente iremos analisar de que modo o trabalho é um

fator positivo para a estruturação dos homens e dos grupos sociais e de que modo o

trabalho é um fator de negação da potencialidade humana.

Iniciemos então com a positividade do trabalho, que se encontra em seu

sentido ontológico. O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ou

protoforma da atividade humana, da práxis (Antunes, 1999).

Nesse sentido, o trabalho se torna humano através da atividade de

intercâmbio entre o homem e a natureza, no qual ele a transforma de acordo com as

suas necessidades e simultaneamente ele também se transforma.

O trabalho é também uma atividade essencialmente humano, pois ele é

dotado de teleologia e configura-se como um projeto que é previamente planejado

de modo intencional pela mente do homem, como ser da práxis, visando uma

determinada finalidade. Esse é o fator que diferencia o trabalho humano do trabalho

de todos os outros animais, ou seja, ele é intencional (Marx, 1998).

A posição teleológica de esfera interativa visa atuar teleologicamente sobre

outros seres sociais configurando-se como expressões mais desenvolvidas e

crescentemente complexificadas da práxis social, guardando por isso maior

distanciamento em relação ao trabalho, às posições teleológicas primárias.

As ações interativas acabam assumindo uma supremacia frente aos níveis

inferiores, mesmo se constituindo como base de sua existência, nesse sentido

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Lukács (1979) as define como secundárias, “ em relação ao sentido originário do

trabalho, das posições teleológicas primárias, que tem um estatuto ontológico

fundante” (Lukács, 1979, p.24).

Na análise de Antunes (1999), o trabalho é a forma fundamental, mais

simples e elementar daqueles complexos cuja interação dinâmica constitui-se na

especificidade do ser social.

O trabalho realiza materialmente o relacionamento radicalmente novo do

metabolismo com a natureza, enquanto as formas mais complexificadas da práxis

social tem na reprodução humana em sociedade a sua inseparável pré-condição.

É a partir de tal análise, portanto, que o autor vai dizer que as formas mais

avançadas da práxis social encontram no ato laborativo sua base originária e que,

por mais complexas, diferenciadas e distanciadas, elas se constituem em

prolongamento e avanço e não em uma esfera inteiramente autônoma e

desvinculada das posições teleológicas primárias. Segundo Lukács (1979):

A auto elevação em relação às formas anteriores, o caráter autóctone que o ser social adquire, expressa-se precisamente pela supremacia dessas categorias onde o novo e o mais alto desenvolvimento desse tipo de ser ganha expressão em relação aos que lhe deram fundamento” (Lukács, 1979, p.33).

Verifica-se que nas posições teleológicas secundárias, a subjetividade

adquire um sentido novo prosseguindo-se de sua real complexificação. No que se

refere à objetividade, configura-se um autocontrole que emerge inicialmente a partir

do trabalho, no domínio crescente sobre sua esfera biológica e espontânea. A partir

desses dois fenômenos dá-se uma nova forma de inter-relação entre subjetividade e

objetividade, entre teleologia e causalidade, no interior do modo humano e societal

de preenchimento das necessidades.

O processo de humanização do homem em seu sentido amplo constitui-se a

partir da gênese do trabalho e de seu desenvolvimento. É nesse aspecto que o

trabalho altera a natureza e autotransforma o próprio ser que trabalha. A natureza

humana é também metamorfoseada a partir do processo laborativo, dada a

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existência de uma posição teleológica e de uma realização prática.

Nesse processo de transformação – entre natureza e homem ou vice-versa

– Antunes (1999) compreende que surge então um novo ser social em que a

consciência humana deixa de ser um epifenômeno biológico e se constitui num

momento ativo e essencial da vida cotidiana.

A consciência humana é, portanto, um fato ontológico objetivo e a busca de

uma vida cheia de sentido, dotada de autenticidade, encontra no trabalho seu lócus

primeiro de realização. A busca de uma vida cheia de sentido consiste, socialmente,

na composição de seres sociais para sua auto-realização individual e coletivamente.

Na palavras de Antunes:

“Dizer que uma vida cheia de sentido encontra na esfera do trabalho seu primeiro momento de realização é totalmente diferente de dizer que uma vida cheia de sentido se resume exclusivamente ao trabalho, o que seria um completo absurdo. Na busca de uma vida cheia de sentido, a arte,a poesia, a pintura, a literatura, a música, o momento de criação, o tempo de liberdade, tem um significado muito especial. Se o trabalho se torna autodeterminado, autônomo e livre, e por isso dotado de sentido, será também (...) por meio da arte, da poesia, da pintura, da literatura, da música, do uso autônomo do tempo livre e da liberdade que o ser social poderá se humanizar e se emancipar em seu sentido mais profundo” (Antunes, 1999, p.143).

Vale dizer que o sentido do trabalho, simples e abstrato, como criador de

valores de uso, configura cada ato laborativo a partir de seu pôr teleológico que o

desencadeia, ou seja, sem o ato teleológico, nenhum trabalho seria possível. Dessa

forma o ato teleológico, expresso por meio da colocação de finalidades é, portanto,

uma manifestação vinculada à liberdade dentro do processo de trabalho. É, pois, um

momento efetivo de interação entre subjetividade e objetividade, causalidade e

teleologia, necessidade e liberdade.

Segundo as análises de Antunes (1999), o trabalho é portanto, protoforma

da práxis social, constitui-se como momento fundante, categoria originária em que

os nexos entre causalidade e teleologia se desenvolvem de modo substancialmente

novo. O trabalho é categorizado como mediação, o qual permite um salto ontológico

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entre os seres anteriores e o ser que se torna social, ou seja, ao mesmo tempo em

que transforma a relação metabólica entre homem e natureza e num patamar

superior, entre os próprios seres sociais, autotransforma o próprio homem e a sua

natureza humana.

1.3 Divisão do Trabalho e Sociedade

De acordo com as reflexões sobre a categoria trabalho e a ontologia do ser

social cabe-nos questionar sobre o trabalho em sociedade tendo como embate a

divisão socioeconômica das classes.

Nesse sentido, ao analisarmos a obra de Marx (1998) nos propugnamos a

compreender a divisão social do trabalho e a correspondente limitação dos

indivíduos nas esferas profissionais particulares. A divisão social do trabalho,

segundo Marx, surge através da troca entre ramos de produção que são

originalmente diversos e independentes entre si. Conforme Marx,

(...) quando a divisão fisiológica do trabalho constitui o ponto de partida, os órgãos particulares de um todo unificado e compacto se desprendem uns dos outros, se dissociam, sob a influência da troca de mercadorias com outras comunidades, e tornam-se independentes até o ponto em que a conexão entre os diversos trabalhos se processa por intermédio dos produtos como mercadorias. No primeiro caso, o que era independente se torna dependente; no segundo, o que era dependente se torna independente (Marx, 1998, p.407).

Marx (1998) afirma que o fundamento de toda divisão do trabalho

desenvolvida e processada através da mercadoria é a separação entre a cidade e o

campo e que de certa maneira essa divisão depende da magnitude e densidade da

população, que correspondem à aglomeração dos operários numa oficina.

Seguindo o pensamento Marxiano, sendo a produção e a circulação de

mercadorias condições fundamentais do modo de produção capitalista, a divisão

manufatureira do trabalho pressupõe que a divisão do trabalho na sociedade tenha

atingido certo grau de desenvolvimento, nesse sentido há uma reciprocidade em tal

pensamento quando afirma que “ a divisão manufatureira do trabalho, reagindo,

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desenvolve e multiplica a divisão social do trabalho” (Marx, 1998, p. 408). Ocorre

então que com a diferenciação das ferramentas Marx (1998) afirma que se

diferenciam cada vez mais os ofícios que fazem tais ferramentas.

Com a divisão territorial do trabalho ocorre o confinamento de ramos

particulares de produção em áreas determinadas de um país, recebendo novo

impulso com a atividade manufatureira que explora todas as peculiaridades. O

processamento da divisão do trabalho na sociedade acontece através da compra e

venda de produtos dos diferentes ramos de trabalho. Marx (1998) relata então sobre

a conexão, dentro das manufaturas, dos trabalhos parciais que se realizam através

da venda de diferentes forças de trabalho ao mesmo capitalista que as empregam

como força de trabalho coletiva.

A divisão do trabalho, de acordo com Marx (1998), pressupõe a

concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista, ou seja, a divisão

social do trabalho, dispersão dos meios de produção entre produtores de

mercadorias, independentes entre si.

De acordo com Marx (1998), a divisão do trabalho em uma determinada

nação obriga, em primeiro lugar, à separação entre o trabalho industrial e comercial

e o trabalho agrícola e, como consequência, tem-se a separação entre o campo a

cidade e consequentemente à oposição dos seus interesses. Desse modo o

desenvolvimento da cidade conduz à separação do trabalho comercial e do trabalho

industrial.

(...) devido à divisão de trabalho no interior dos diferentes ramos, assiste-se ao desenvolvimento de diversas subdivisões entre os indivíduos que cooperam em trabalhos determinados. A posição de quaisquer destas subdivisões particulares relativamente às outras é condicionada pelo modo de exploração do trabalho agrícola, industrial e comercial (patriarcado, escravatura, ordens e classes). O mesmo acontece quando o comércio se desenvolve entre as diversas nações (Marx, 1998, p. 12).

A divisão manufatureira do trabalho distorce o sentido natural do trabalho

como práxis humana ao pressupor que a autoridade incondicional do capitalista

sobre os seres humanos os transforma em simples membros de um mecanismo que

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a ele pertence. A divisão social do trabalho faz confrontarem-se produtores

independentes de mercadorias e que, segundo Marx (1998), não reconhecem outra

autoridade além da concorrência, da coação exercida sobre eles pela pressão que

se propugna através de interesses de ambas as partes, ou seja

“O mesmo espírito burguês que louva (...) a divisão manufatureira do trabalho, a condenação do trabalhador a executar perpetuamente uma operação parcial e sua subordinação completa ao capitalismo, com a mesma ênfase denuncia todo o controle e regulamentação sociais conscientes do processo de produção como um ataque aos invioláveis direitos de propriedade, de liberdade e de iniciativa do gênio capitalista” (Marx, 1998, p.411).

Através do pensamento de Marx (1998), consentimos então ao afirmar que

na sociedade em que rege o modo capitalista de produção, condicionam-se

reciprocamente a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão

manufatureira do trabalho. Mais além, Marx (1998) transcreve que enquanto a

divisão social do trabalho, diante do processo de troca de mercadorias ou não, é

inerente às mais diversas formações econômicas da sociedade, a divisão do

trabalho na manufatura é uma criação específica do modo de produção capitalista.

Dentro da produção manufatureira a força de trabalho constitui-se como

ponto de partida para revolucioná-la, já na indústria moderna Marx vai dizer que a

revolução está no instrumental do trabalho e que é mister, portanto, investigar como

o instrumental de trabalho se transforma de ferramenta manual em máquina e,

assim, fixar a diferença que existe entre a máquina e a ferramenta.

A maquinaria, nas análises de Marx (1998), consiste em três partes distintas:

o motor, a transmissão e a máquina-ferramenta. O motor traduz-se em força motriz

de todo o mecanismo; a transmissão regula o movimento e transforma-o quando

necessário; a máquina-ferramenta constitui-se num mecanismo que realiza com

suas ferramentas as mesmas operações que antes eram realizadas pelo trabalhador

com ferramentas semelhantes.

Na concepção de Marx (1998), mesmo com a força motriz do homem ou de

outra máquina, a coisa não muda em sua essência, ou seja, a ferramenta

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propriamente dita se transfere do homem para um mecanismo, a máquina toma o

lugar da simples ferramenta, mas o homem continua sendo o primeiro motor. O

número de ferramentas com que o homem pode operar ao mesmo tempo é limitado

pelo número de seus instrumentos naturais de produção que são seus órgãos

físicos.

Depois então que os instrumentos se transformam de ferramentas manuais

para ferramentas incorporadas a um aparelho mecânico, Marx (1998) vai dizer que a

máquina adquire uma forma independente e inteiramente livre dos limites da força

humana.

Nesse sentido, com o crescimento das invenções e a procura crescente de

novas máquinas, cada vez mais se diferenciava em ramos autônomos a produção

de máquinas e se desenvolvia a divisão do trabalho nas manufaturas que

construíam máquinas. É nesse patamar, portanto, que a manufatura se constitui em

base técnica imediata da indústria moderna. Melhor contextualizando, a manufatura

produzia a maquinaria e por conseguinte a máquina eliminava o artesanato e a

manufatura nos ramos de produção de que se apoderava.

Com efeito, a revolução no modo de produção de um ramo industrial acaba

se propagando a outros e não obstante, a indústria moderna teve então de

apoderar-se de seu instrumento característico de produção, ou seja, a própria

máquina, e de produzir máquinas com máquinas. Nas palavras de Marx:

O instrumental de trabalho, ao converter-se em maquinaria, exige a substituição da força humana por forças naturais, e da rotina empírica, pela aplicação consciente da ciência. Na manufatura, a organização do processo de trabalho social é puramente subjetiva, uma combinação de trabalhadores parciais. No sistema de máquinas, tem a indústria moderna o organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e acabado como condição material da produção. Na cooperação simples e mesmo na cooperação fundada na divisão do trabalho, a supressão do trabalhador individualizado pelo trabalhador coletivizado parece ser algo mais ou menos contingente. A maquinaria, (…) só funciona por meio de trabalho diretamente coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pela natureza do próprio instrumental de trabalho (Marx, 1998, p. 442).

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É válido dizer então que, o capital faz o operário trabalhar não mais com

uma ferramenta manual, mas com uma máquina que maneja os próprios

instrumentos e que, nesse processo a indústria moderna aumenta

extradiornariamente a produtividade do trabalho ao incorporar as gigantescas forças

naturais e a ciência ao valioso processo de produção.

Sob esse aspecto, Marx (1998) enfatiza afirmando que o ponto de partida da

indústria moderna é pois, a revolução do instrumental de trabalho e esse

instrumental assume uma forma mais desenvolvida no sistema orgânico de

máquinas da fábrica, o que de fato, gera consequências imediatas da produção

mecanizada sobre o trabalhador. Dentre as consequências tem-se a apropriação

pelo capital das forças de trabalho suplementares, o trabalho de mulheres e

crianças, o prolongamento da jornada de trabalho bem como a intensificação deste.

Nisso, podemos compreender que a tendência do capital é alardear os

rumos de conflitudes entre as classes subalternas ao mesmo tempo em que procura

compensar-se por meio desta com a elevação sistemática do grau de intensidade do

trabalho como base de ampliação da mais-valia.

1.4 As Transformações no Mundo do Trabalho

Com as crescentes mudanças ocorridas no mundo do trabalho, verifica-se

constantemente a desproletarização do trabalho industrial fabril nos países de

primeiro mundo com afetação mínima na industrialização nos chamados países

emergentes. Concomitantemente, tem-se notado a ampliação do trabalho

assalariado e sua heterogeneização com acentuada inserção feminina dentro da

classe operária. Paralelo a essas circunstâncias, presencia-se no universo

trabalhista as formas de precarização dos meios de subsistência da vida humana em

que Ricardo Antunes a define como subproletarização que marca um duplo sentido

no capitalismo avançado.

Como resultado dessas transformações, surge o aumento do desemprego

estrutural atingindo dramaticamente toda a esfera global gerando o que podemos

chamar de uma via de mão dupla dentro dos anseios do capital moderno, ou seja, se

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de um lado tem-se a redução do operário industrial; de outro vê-se o aumento do

subproletariado, o trabalho precário, a terceirização de mão-de-obra, trabalho

parcial, temporário e a informalidade.

Os trabalhadores, dentro dessa esfera de transformação do capital, têm

entre si algo em comum: a precariedade do emprego e da remuneração bem como o

vinculo ao trabalho protegido, que consiste em lhes garantir direitos trabalhistas de

acordo com a lei vigente, no entanto o capitalismo burla esse direito de modo a

precarizar as proteções trabalhistas.

Segundo Harvey (1992) “ a atual tendência dos mercados de trabalho é

reduzir o número de trabalhadores centrais e empregar cada vez mais uma força de

trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos...”(1992, p.144).

De acordo com Antunes (2007), a classe-que-vive-do-trabalho está cada vez

mais complexa, pois nela estão inseridos homens e mulheres formando uma grande

massa heterogênea que comporta indivíduos particulares com identidades e

subjetividades singulares e que no decorrer do processo produtivo e/ou vida social

cada um irá expor essa individualidade.

Outro agravante se configura nesse universo controverso do capitalismo, ou

seja, verifica-se o aumento gradativo do assalariamento dos setores médios por

conta da expansão do setor de serviços. Isso significa dizer que segundo pesquisas

sobre o desenvolvimento das sociedades industrializadas, verifica-se um grau de

elevação que se imbrica no setor de serviços abrangendo gradativamente esse

segmento comercial. Antunes relata que

“ deve-se afirmar, entretanto, que a constatação do crescimento desse setor não nos deve levar à aceitação da tese das sociedades pós-industriais, pós-capitalistas (...) da maioria dos serviços. Pois não se trata de setores com acumulação de capital autônomo; ao contrário, o setor de serviços permanece dependente da acumulação industrial propriamente dita e (...) da capacidade das indústrias correspondentes de realizar mais-valia nos mercados mundiais” (2007,p. 55).

As inquietações referentes ao trabalho e ao capitalismo produz

consequências que refletem a uma dupla direção na classe trabalhadora: a redução

do trabalhador operário ao mesmo tempo em que necessita de qualificação

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profissional do trabalhador e paralelo a isso, desqualifica significativamente outra

massa de empregados. Ricardo Antunes (2007) relata que essas mudanças do

trabalho vivo pelo trabalho morto, ou seja, essa troca de valores, oferece ao

trabalhador a chance de regular o processo de produção, porém, essa lógica tem

elucidações abstratas que envolve novas formas de capturar e alienar o trabalhador

dentro do processo produtivo do capital. Segundo Marx (1998):

O capital mesmo é a contradição em processo, (pelo fato de) que tende a reduzir a um mínimo de tempo de trabalho, enquanto que, por outro lado, converte o tempo de trabalho na forma de tempo de trabalho necessário, para aumentá-lo na forma de trabalho excedente. (...) Por um lado desperta para a vida todos os poderes da ciência e da natureza, assim como da cooperação e do intercâmbio social, para fazer com que a criação da riqueza seja (relativamente) independente do tempo de trabalho empregado por ela (1998, p. 257).

A outra consequência que atua paralelamente dentro da classe trabalhadora

é a desqualificação do operariado industrial, concentrando dois paradigmas

contemporâneos, isto é, ocorre uma desespecialização3 do trabalho operário

advento do fordismo e concentra uma grande massa de trabalhadores à deriva e

oscilantes entre a terceirização, subcontratos, informalidade e etc.

A introdução dos trabalhadores flexíveis decorrentes do toyotismo dentro

das grandes indústrias, possibilitou a desespecialização do trabalho dos operários

com o intuito do capitalismo adquirir vantagens no processo de produção ao mesmo

tempo em que aumentava a intensidade do trabalho.

Ricardo Antunes (2007) divide a “periferia da força de trabalho” em dois

subgrupos: o primeiro ele classifica como trabalhadores em tempo integral e que

estão incluídos secretárias, trabalho rotineiro, setor financeiro e etc. O segundo está

situado na periferia e com maior flexibilidade nas rotinas trabalhistas; nesse grupo

3 O mundo do trabalho no capitalismo contemporâneo contém múltiplas processualidades, ou seja,

verifica-se a desproletarização do trabalho industrial e fabril nos países de capitalismo avançado com maior ou menor repercussão em áreas industrializadas do Terceiro Mundo. Em outras palavras, houve uma diminuição da classe operária industrial tradicional, mas, paralelamente, efetivou-se uma expressiva expansão do trabalho assalariado, a partir da enorme ampliação do assalariamento no setor de serviços.(Disponível em: http://www.estudosdotrabalho.org/5RicardoAntunes.pdf; Acesso em: 03/11/2012)).

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estão incluídos os trabalhadores subcontratados, os temporários, e em tempo

parcial; verifica – se portanto a expansão significativa desse grupo nas últimas

décadas.

As configurações apontadas por Ricardo Antunes (2007) no mundo do

trabalho, evidenciam o contraste provocado pelo capitalismo dentro da classe

trabalhadora em que ao mesmo tempo este exige a qualificação profissional também

provoca a desqualificação em diversos ramos do processo produtivo gerando enfim,

uma contradição em âmbito trabalhistas.

1.5 A Questão Social no Brasil: Uma Análise no Contexto Histórico do

Capitalismo

As desigualdades sociais atingem o processo de desenvolvimento do Brasil

construindo sob a égide do capital os paradoxos que configuram os reflexos da

questão social no país. A hegemonia do capitalismo e os distúrbios lançados por ele

na sociedade não são recentes, as marcas históricas persistem na

contemporaneidade, diferencia-se somente o modo de agir de acordo com a

modernidade em que ele está inserido e infiltra-se de forma mascarada com a

mesma essência precedente ao longo da história. Iamamoto nos diz que “ o novo

surge pela mediação do passado, transformado e recriado em novas formas nos

processos sociais do presente” (Iamamoto, 2008, p.128).

No atual mercado mundial, o Brasil consegue controlar sua economia e se

destaca no comércio exterior, ou seja, aparece no cenário como um país de

economia emergente e direciona uma forma particular no trato com a organização

da produção, com as relações entre o Estado e a sociedade. Diante dessa atuação,

a formação do universo político-cultural das classes, grupos e indivíduos sociais

encontra-se comprometida com a lógica capitalista e subverte seus direitos para o

crescimento e autonomia da economia do país no grande cenário do comércio

internacional.

Dentro desse cenário, Celso Furtado (2003) destaca as tendências da

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economia internacional contemporânea. Para o autor, três ordens de fatores iriam

contribuir para que um novo tipo de sistema internacional se estruturasse,

proporcionando-lhe coerência e estabilidade. Dentre eles estavam os fatores de

ordem política, fatores ligados à posição da economia americana no mundo e os

fatores decorrentes do sistema monetário internacional que se apoiava nas

instituições de Bretton Woodes4.

Nesse sentido, diferentemente da antiga economia mundial que se baseava

em um mercado internacional de produtos, a nova começou a definir-se em um

sistema multinacional em que, um dos traços mais significativos diante dessa

mudança estava no papel estratégico do Estado, o qual assumia-se como sujeito

estabilizador das economias nacionais.

O uso de políticas monetária e fiscal para proporcionar estabilidade aos sistemas econômicos nacionais (...) abriu nova fase evolutiva ao capitalismo, cujo alcance ainda não pôde ser percebido em toda sua complexidade (Furtado, 2003, p. 57).

É, portanto, nesse capitalismo pós-cíclico5 que as funções econômicas do

Estado encontram-se atreladas às funções de natureza da empresa, tornando-as

como centro de decisões no processo do poder econômico. Nisso, o autor nos diz

que a estabilidade dos sistemas econômicos favoreceu a tendência já manifesta

anteriormente de abandono dos preços flexíveis para então serem administrados, o

que de certa forma, beneficiaria as empresas que estavam em condições de planejar

a longo prazo (maior poder financeiro).

4 As Conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento

econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes (Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bretton_Woods; Acesso em 20/11/2012).

5 Desde 1825, um fenômeno econômico mundial se repete de forma periódica. Clement Juglar

registrou a repetição, a partir de 1862. Segundo ele, as crises econômicas se repetem num período que varia entre 7 e 11 anos. Embora estudos comprovem a sua existência, no pós-segunda guerra mundial, os economistas acabaram com o problema chamando o capitalismo de “pós-cíclico”. As flutuações econômicas, termo que passou a designar as crises, eram então acidentes do capitalismo que facilmente poderiam ser resolvidos (Disponível em: www.blogpost.com.br; Acesso em: 01/01/2012).

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As mutações ocorridas na esfera econômica traduzem-se na possibilidade,

quase ilimitada, do capital diversificar-se funcional e geograficamente sugerindo-se

que a eficácia econômica é a grande razão de ser da empresa-gigante. Nesse

sentido, quanto mais diversificada a experiência da empresa em setores funcionais e

áreas geográficas, mais amplos são os horizontes que se abrem.

A curto prazo, a grande empresa pode intensificar os investimentos nas economias que apresentam possibilidades imediatas, mediante a mobilização de recursos financeiros retirados de outras áreas. A longo prazo mais longo ela se beneficia do fato de que planeja num horizonte temporal mais amplo e dispõe de grande poder financeiro (Furtado, 2003, p.60).

É mister saber que, o processo de exploração de novos produtos torna-se

uma das principais vantagens de concentração de renda para o empresariado e,

paralelo a isso está a ampliação industrial e comercial. A concentração significa a via

de acesso ao poder financeiro e permite a maximização de vantagens das ações

diversificadas e do planejamento a mais longo prazo.

Voltando ao papel do Estado, José Paulo Neto (1992) avalia que este

sempre interveio no processo econômico a partir dos interesses dos donos do poder

e que

(...) na certeira caracterização marxiana, o representante do capitalista coletivo, atuara como o cioso guardião das condições externas da produção capitalista. Ultrapassava a fronteira de garantidor da propriedade privada dos meios de produção burgueses somente em situações precisas – donde um intervencionismo emergencial, episódico, pontual. Na idade do monopólio, ademais da preservação das condições externas da produção capitalista, a intervenção estatal incide na organização e na dinâmica econômicas desde dentro, e de forma contínua e sistemática. Mais exatamente, no capitalismo monopolista, as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com as suas funções econômicas (Netto, 1992, p. 21).

No contexto da reflexão de Netto (1992), podemos concluir a nítida inflexão

do Estado em favor do capitalismo monopolista, o que caracteriza-se como uma

imbricação orgânica entre os aparatos privados dos monopólios e as instituições

estatais, ou seja, entre o público e o privado.

Nesse âmbito de refuncionalização do Estado para atender aos interesses

do capital, as necessidades e demandas da classe trabalhadora tornam-se latentes

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e paralelamente a isso tem-se um aumento significativo da questão social no país.

Com tal reorganização, o Estado passa a incumbir-se da preservação e do

controle da força de trabalho ocupada e excedente, combinando repressão policial

com outras formas de ação que garantem o consenso. Segundo Netto (1992), essa

função do Estado surge para favorecer o grande capital, ou seja, para que o mesmo

possa valorizar-se e reproduzir-se.

Não se trata aqui, simplesmente da “socialização dos custos” (...) obviamente que este é o fenômeno geral, através do qual o Estado transfere recursos sociais e públicos aos monopólios. O processo é mais abrangente e preciso: quer pelas contradições de fundo do ordenamento capitalista da economia, quer pelas contradições intermonopolistas e entre os monopólios e o conjunto da sociedade – o Estado – como instância da política econômica do monopólio – é obrigado não só a assegurar continuamente a reprodução e manutenção da força de trabalho, ocupada e excedente, mas é compelido (...) a regular a sua pertinência a níveis determinados de consumo e a sua disponibilidade para ocupação sazonal, bem como a instrumentalizar mecanismos gerais que garantam a sua mobilização e alocação em função das necessidades e projetos do monopólio (Netto,1992, p.23).

Ao relatar fatos da sociedade capitalista podemos observar que o modo de

produzir, distribuir e acumular bens materiais e riqueza é um produto histórico, ou

seja, é o resultado da ação de homens e mulheres que , diante de suas

necessidades, reproduzem as relações sociais (Mota, 2010).

Tais condições e relações, segundo Mota (2010), continuam a revelar a

coexistência planetária de uma polaridade: riqueza e pauperismo. Cabe então

pensar em tais temas no âmbito do desenvolvimento histórico do capitalismo, pois

de acordo com a autora

O modo de produção capitalista, ao mesmo tempo em que institui o trabalhador assalariado e o patronato, também produz o fenômeno do pauperismo, responsável pelo surgimento da pobreza como questão social (Mota, 2010, p.25).

Em meados do século XIX até o início do século XXI, o modo de produção

capitalista, na concreção das formações econômico-sociais que o corporificam

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planetariamente, transformou-se notavelmente. Segundo a autora (Mota, 2010), na

contemporaneidade há uma diferença central em relação ao passado, ou seja, há

uma diminuição e restrição no horizonte economicamente expansivo do capitalismo,

no quadro da crise geral do assalariamento, dos mecanismos públicos de proteção

aos riscos sociais do trabalho e da organização política dos trabalhadores e na

expansão e hipertrofia do capital financeiro, do desemprego constante e da nítida

diminuição do dever e responsabilidades sociais do Estado.

Com o crescimento das desigualdades sociais, torna-se evidente o

processo de mudanças entre o novo e o velho em que alteram-se em direções

contrapostas, ou seja, “a modernidade das forças produtivas do trabalho social

convive com padrões retrógrados nas relações no trabalho, radicalizando a questão

social” (Iamamoto, 2008, p.139).

Segundo Iamamoto (2008), o desenvolvimento desigual é causado por

contraposições de interesses no qual a hegemonia de uma categoria condiciona o

enfraquecimento de outra: a desigualdade entre o desenvolvimento econômico e o

desenvolvimento social, entre a expansão das forças produtivas e as relações

sociais na formação capitalista.

É nesse terreno que o capitalismo mascara a essência da realidade e atribui

fetichismos e mistificações que obscurecem os efeitos de sua produção e

acumulação e operacionaliza o atraso da sociedade brasileira que está no centro do

capitalismo (Martins Apud Iamamoto, 1994).

Iamamoto (2008) relata o progresso da sociedade brasileira no contexto

histórico no qual Martins considera como “sociologia da história lenta”, ou seja, o

país ainda convive com padrões retrógrados articulados pelo capitalismo, o qual

alude-se de novas roupagens para transpor de forma lenta as transformações

sociais. O desafio, portanto, segundo o referido autor é compreender as articulações

do capitalismo empreendidas em seu tempo e as diferentes relações reproduzidas

em sua lógica (Martins Apud Iamamoto, 1994).

Nesse patamar podemos considerar que a burguesia produz a desigualdade

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ao longo da história através de movimentos antidemocráticos, ou seja, as decisões

políticas eram comandadas de cima para baixo e excluía-se as classes subalternas,

confirmando a destituição do direito à cidadania através da participação na política.

Na década de 1950 do século XX, a burguesia constrói novos meios de

sobrepor seus interesses acima das classes subalternas para consolidar o

crescimento da economia e, enfim, relaciona-se com a expansão monopolista e

incorpora-se à esse crescimento.

A transição da burguesia para o crescimento monopolista transcreve uma

falsa democracia, ou seja, restrita à classe dominante que tinha o objetivo de

desenvolver um capital interno autônomo.

O país então descaracteriza-se da democracia dos oligarcas para tematizar

em seu perfil a democracia do capital estreitando os laços de dependência com o

exterior sem deixar a herança colonial, permanecendo então as formas de

subordinação da produção agrícola para a exportação.

Para se consolidar no poder, as classes dominantes ignoram qualquer ideia

de romper com o passado e percorre o caminho para a modernidade implantando

novas formas de conter as pressões populares realizando mudanças para preservar

a ordem.

Com a exportação do mercado brasileiro, o capital estrangeiro se insere no

país e o converte à modernização, porém aumentam as taxas de urbanização e

transforma a estrutura social em condições complexas. Conforme Caio Prado Jr.:

A situação de dependência e subordinação orgânica e funcional da economia brasileira com relação ao conjunto internacional de que participa, é um fato que se prende às raízes da formação do país, (...) Será essencialmente uma economia colonial, no sentido mais preciso, em oposição ao que denominaríamos de economia "nacional", que seria a organização da produção em função das necessidades próprias da população que dela participa. Esta é a circunstância principal que tornará o Brasil tão vulnerável à penetração do capital financeiro internacional quando o capitalismo chega a esta fase do seu desenvolvimento. O país far-se-á imediata e como que automaticamente, sem resistência alguma, em fácil campo para suas operações. (Prado, 2006, p.206).

Nesse sentido o imperialismo das classes dominantes atua como um

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poderoso fator de exploração da riqueza nacional, em outras palavras, a exploração

não se faz em benefício de uma classe brasileira - haja vista a grupos

insignificantes ligados diretamente ao capital financeiro e tão internacionais quanto

ele - mas de classes e interesses completamente estranhos ao país. Isto significa

dizer que neste processo não é apenas a classe trabalhadora que se desfalca, mas

o “país em conjunto que vê escoar-se para fora de suas fronteiras a melhor parcela

de suas riquezas e recursos” (Prado, 2006, p.214).

Caio Prado Jr. (2006) faz uma alusão à economia brasileira ao afirmar que a

intervenção do imperialismo desvirtua seu funcionamento, subordinando-a a fatores

estranhos e impedindo sua estruturação normal na base das verdadeiras e

profundas necessidades da população do país.

É nisso, portanto, que o pensamento do autor iguala-se ao de Iamamoto

(2008) quando exemplifica dizendo que o imperialismo representa o sentido de

manter a economia brasileira na função primária, que vem do seu passado colonial,

de fornecedora de gêneros tropicais ao comércio internacional.

Não obstante, todos os fatores que hoje se mostram favoráveis a uma

ruptura definitiva com este passado opõe-se nitidamente a ação do imperialismo e o

estímulo para libertar o país de suas contingências coloniais ficam então em

segundo plano.

De acordo com Iamamoto (2008) a transmutação do capital se deu graças a

acordos entre as frações de classes economicamente dominantes, à exclusão

forçada das forças populares e à sua repressão permanente bem como a

intervenção econômica do Estado.

Nesse sentido, todas as opções concretas enfrentadas pelo Brasil, direta ou

indiretamente ligadas à transição e evolução do capitalismo se deram de forma

elitista e antipopular.

As pressões populares – em meados do século XX - frente às classes

dominantes iniciaram-se unitariamente, ou seja, sem grandes repercussões, mas

desperta na democracia uma prática restauradora de adicionar mudanças nas

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relações de poder, pois mesmo que timidamente, as reivindicações das classes

subalternas ameaçavam uma transformação de “baixo para cima”( Iamamoto, 2008).

O Estado e a burguesia mantêm laços constantes na história do Brasil e é

através dessa aliança e da subalternidade da sociedade civil que se expõe uma

democracia enfraquecida: mencionando o que já fora dito antes, o processo histórico

das relações do Estado, da burguesia e das classes subalternas atravessam as

fronteiras do tempo articulando-se às novas dimensões da modernidade.

A burguesia brasileira está ligada ao poder oligárquico e compartilham

interesses para renovar a expansão comercial, financeira e industrial. O fim da

oligarquia não acontece, pelo contrário, “a velha oligarquia agrária recompõe-se,

moderniza-se economicamente, refaz alianças para se manter no poder,

influenciando decisivamente as bases conservadoras da dominação burguesa no

Brasil” (Iamamoto, 2008, p.135).

Com a República, os direitos dos cidadãos referente ao alcance político são

colocados em tese para possíveis concretizações. Medidas como a abolição da

escravatura, a generalização do trabalho livre e a instauração da propriedade de

terra sanearam a organização capitalista da produção e do mercado de trabalho.

A livre-concorrência é fator dominante na burguesia brasileira, porém

prevalecem as ações de mandonismo, inerentes à tradição histórica do capital, para

preservar a base de sua estrutura econômica e o seu status de valor no que se

refere às formas de dominação e poder.

Iamamoto (2008) atribui à questão agrária como forma de compreender o

Estado historicamente no que diz respeito à sua atuação no espaço social brasileiro

e no que tange à política de poder e as transformações ocorridas no território

nacional.

É nesse contexto que se fundem os interesses do capital e da renda da

terra, o que causará um dúbio apontamento entre o proprietário de terras e o

capitalista. O favorecimento desse bloco de poder revelou o aumento da população

sobrante, o que consequentemente causou a diminuição dos salários dos

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trabalhadores sem afetar os interesse desse bloco dominante e a modernização

capitalista, porém, ao mesmo tempo, arcaica.

A questão democrática mais uma vez é atingida pelos anseios da classe

dominante e permanece debilitada em decorrência do conservadorismo político e do

ideário liberal. O liberalismo transcreve sua trajetória no Brasil através do

envolvimento das elites dominantes com o mercado agroexportador e mesclam-se

com as ideologias do liberalismo que contracena com a lógica do lucro, da liberdade

e igualdade.

A partir de concepções europeias, a burguesia demonstra o desacordo

contra o arbítrio e a escravidão, no entanto, na prática traduz a sua essência e

revela-se o favor e o clientelismo como traços constantes dentro de instituições à

qual pregava de forma ilusória o direito e a igualdade.

Aqui os princípios liberais não se forjaram na luta da burguesia contra a aristocracia e a realeza e não evoluíram em função da revolução industrial. A industrialização no Brasil só se consolida tardiamente no século XX. (...) Os limites do liberalismo no Brasil, nas suas origens, foram definidos pela escravidão, pela sobrevivência das estruturas arcaicas de produção e pela dependência colonial nos quadros do sistema capitalista internacional. Trata-se de um liberalismo que nasceu tendo como base social as classes de extração rural e sua clientela (Iamamoto, 2008, p.138).

É nesse patamar, portanto, que a burguesia insere a economia brasileira na

condição monopolista e produz o agravamento da questão social e a “permanente

exclusão dos trabalhadores urbanos e rurais das decisões do Estado e ao arbítrio do

poder privado dos chefes políticos locais e regionais” (Iamamoto, 2008, p.139).

Diante do exposto, podemos verificar que, sobre a lógica do capital em seu

percurso histórico na sociedade brasileira, percebe-se o aprofundamento das

desigualdades sociais e do desemprego e a vitória do neo-liberalismo no presente,

no qual os indivíduos estão absorvidos por essa lógica e amparados pela sua

própria sorte, ou seja, a única opção é de se virarem no mercado de trabalho atual

que configura-se como competitivo e excluísta, ou seja, produz na sua essência o

ato de favorecer apenas aos seus interesses.

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II – PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO E

INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Falar sobre pessoas com deficiência é muito mais complexo do que

poderíamos pensar. O problema reside no fato de que qualquer definição ou

conceito sobre o tema sugere em uma imagem que nós fazemos de tais pessoas.

Quando nos perguntamos o que são pessoas deficientes, nos colocamos a

imaginar que são pessoas que “despossuem” alguma parte física ou laboral, ou seja,

“(...) a pessoa que você imaginou tem as características de um cego, de um

demente, ou de um paralítico com todas as possíveis ideias que se podem fazer a

respeito dessas palavras?” (Ribas, 1998, p.08).

De acordo com Ribas (1998), o termo “pessoas deficientes” refere-se a

qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as

necessidades de uma vida individual ou social normal, sendo essa deficiência em

decorrência de ser congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais.

Nesse contexto, podemos avaliar que a deficiência está ligada a possíveis

sequelas que restringiram a execução de uma atividade. Nesse ponto Ribas vai

dizer que “a incapacidade diz respeito aos obstáculos encontrados pelos deficientes

em sua interação com a sociedade, levando-se em conta a idade, sexo, fatores

sociais e culturais” (1998, p. 10).

2.1. Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência

Dentro do universo de contradições do processo de produção e reprodução

da mais-valia em favor da riqueza do empresariado, encontram-se as pessoas com

deficiência, que estão à margem das mistificações idealistas de cunho capitalista. O

processo de exclusão, historicamente imposto às pessoas com deficiência, deve ser

superado por intermédio da implementação de inclusão e pela conscientização

acerca das potencialidades desses indivíduos. Esse tipo de idealização messiânica

deve ser retirado e substituído pela analise das correlações de força que pressionam

e gradativamente tem buscado alterar esse quadro.

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Ao realizarmos uma análise sobre o longo caminho ,percorrido em busca de

direitos e igualdades das pessoas com deficiência, percebemos que as lutas e

conquistas se propagam desde a Revolução Francesa de 1789 em que a concepção

de cidadania consolidou-se como declaração de liberdade.

Já no século XIX, a busca por direitos sociais com ações estatais que

compensassem as desigualdades, garantiu aos desvalidos direitos implantados e

construídos de forma coletiva, em prol da saúde, da educação, da moradia, do

trabalho e da cultura para todos.

Mas, foi apenas após a Segunda Guerra Mundial que houve a afirmação da

cidadania completa, ou seja, percebeu-se a necessidade de valorizar a vontade da

maioria e o respeito às minorias com suas necessidades e peculiaridades. Nesse

contexto, tem-se aí o fundamento das políticas em favor de quaisquer minorias no

qual se enquadram também as pessoas com deficiência, os quais passarão a ser

sujeitos de seu próprio destino.

O Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) relacionado ao censo de 2010 e publicado em 2011, tem hoje cerca de 45

milhões de pessoas com deficiência, ou seja, um total de 23,9% dentro de uma

população brasileira de quase 191 milhões de habitantes (IBGE, 2010).

No Estado do Ceará os dados do IBGE indicam que este possui 27,7% do

total dessa população, que é equivalente a 2,3 milhões de habitantes. Do total de

pessoas que possuem alguma deficiência no Brasil, a grande maioria vive em

condições de extrema pobreza, sem acesso à escola, lazer, cultura e muito menos

acesso ao trabalho.

Para reverter esse quadro exigiu-se respostas do poder público no âmago

dessas classes com o conceito de inserção social através do aumento do nível de

escolaridade e, por conseguinte do acesso ao mercado de trabalho.

A Convenção nº 159 de 1983 da Organização Internacional do Trabalho

(OIT) foi confirmada no Brasil como força de Lei em 28 de agosto de 1989 tendo

como princípio a garantia de um emprego adequado e a possibilidade de integração

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ou reintegração das pessoas com deficiência na sociedade.

De acordo com o art. 1º da Convenção sobre os direitos das Pessoas com

Deficiência:

“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”

De acordo com o art. 3º da Convenção sobre os direitos das Pessoas com

Deficiência:

I – deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

Além do aspecto clínico direcionado a esclarecer o conceito das pessoas

com deficiência, inclui-se também a questão social, comumente relacionada a essa

classe e que estabelece o alcance da maior ou menor possibilidade de participação

dessas pessoas em sociedade.

Nesses termos o art. 5º da Política Nacional para Integração da Pessoa com

Deficiência considera que para haver uma consonância entre Estado e sociedade no

que diz respeito aos direitos humanos e a participação das pessoas com deficiência

em sociedade, obedecer-se-á aos seguintes princípios:

I- desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a assegurar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto socioeconômico e cultural; II- estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais que assegurem às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico; e III- respeito às pessoas portadoras de deficiência, que devem

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receber igualdade de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados, sem privilégios ou paternalismos.

Fica claro então, segundo tal artigo, que a inserção social destina-se como

palavra-chave para nortear o sistema de proteção institucional da pessoa com

deficiência no Brasil, implicando a ideia de que há uma dívida secular com as

pessoas com deficiência. Cabe, portanto ao poder público e à sociedade civil

distribuir esforços para que barreiras arquitetônicas e atitudinais sejam removidas

para garantir a liberdade desses sujeitos.

No Brasil esses esforços estão sendo garantidos desde o estabelecimento

da lei n. 8.213/91 em seu art. 93 o qual determina a Reserva Legal de Cargos ou Lei

de Cotas em que a legislação estabeleceu a obrigatoriedade de as empresas com

cem ou mais empregados preencherem uma parcela de seus cargos com pessoas

com deficiência.

Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas (…).

O termo pessoa portadora de deficiência ou pessoa com deficiência foi

adotado na Constituição de 1988 por influência do Movimento Internacional de

Pessoas com Deficiência. Adota-se hoje também a expressão “pessoas com

necessidades especiais” ou “pessoa especial, demonstrando uma transformação de

tratamento que vai da invalidez e incapacidade à tentativa de nominar a

característica particular dessas pessoas, mas sem estigmatizá-la (MTE, 2007).

De acordo com uma concordância em nível internacional, a expressão

“pessoa portadora de deficiência” é abandonada, visto que as deficiências não se

portam, mas estão com a pessoa ou na pessoa. Pessoas com deficiência é,

portanto, a denominação usada internacionalmente com mais frequência.

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2.2. Qualificação Profissional como Exigência do Capitalismo Contemporâneo

Um novo perfil de qualificação do trabalhador é fundamental ao novo

contexto que se insere no Brasil, ou seja, sobressai, em primeiro plano, a

importância da educação básica sendo necessário o aprofundamento de

conhecimentos mais amplos por parte do trabalhador.

O núcleo de conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridos ao longo do

processo educacional constitui um requisito essencial para que a força de trabalho

possa ampliar as oportunidades de incorporação e de desenvolvimento no futuro

mercado de trabalho objetivando sua valorização pessoal e profissional e o

atendimento às novas exigências de qualificação no competitivo mercado de

trabalho.

De acordo com Demerval Savianni (2004), estamos vivendo o que algumas

pessoas chamam de Segunda Revolução Industrial, ou seja, diante das tecnologias

e inovações configura-se uma revolução da informática e da automação sendo

amplamente visível a transferência da intelectualidade humana para as máquinas.

Como consequência verifica-se que as qualificações intelectuais específicas

tendem a desaparecer dando lugar a elevação do patamar de qualificação geral que,

segundo Antunes (2007) para atender às exigências do mercado e com melhor

qualidade torna-se necessário que a produção se sustente em um processo

produtivo flexível permitindo que um mesmo trabalhador tenha diversas funções. É

a chamada polivalência junto ao trabalho em equipe que se articula como principal

tendência no mercado de trabalho contemporâneo.

Da mão-de-obra será exigido maior capacidade de auto-aprendizagem,

compreensão dos processos, capacidade de observar, de interpretar, de tomar

decisões e de avaliar resultados. É necessário, ainda, o domínio da linguagem

técnica, a capacidade de comunicação oral e escrita, a disposição e habilidade para

trabalhar em grupo, a polivalência cognitiva e a variação funcional no trabalho.

Segundo Pochmann (2001, p. 130), a natureza das transformações

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empresariais influencia o debate acerca da educação e da formação profissional. O

processo de educação profissional ganharia evidência como condição adicional de

competitividade e de produtividade.

As novas competências colocarão de maneira muito mais acentuada a

importância da educação formal e da complementação profissional, de modo a

propiciar a formação integral do trabalhador em um processo de educação

continuada. Novas habilidades ganham centralidade para a valorização pessoal do

trabalhador.

A superação da concepção tradicional de tarefa requer formas mais

abrangentes e organizadas de aprendizagem, em que o ato de pensar preside o ato

de fazer. De maneira crescente, é exigido menor grau de habilidades manipulativas

e maior grau de abstração no desempenho do trabalho produtivo. Esta habilidade

cognitiva deve ser desenvolvida no processo educativo, em especial durante a

formação profissional básica.

Dentro dessa lógica, torna-se importante o desenvolvimento da capacidade

de adquirir e processar intelectualmente novas informações, de superar hábitos

tradicionais, de gerenciar-se e de verbalizar e se comunicar com a equipe.

A modernização da produção capitalista tem levado a um enxugamento dos

postos de trabalho nas empresas em que o fenômeno da globalização via

tecnologias da informação ocorre o que, por conseguinte, agrava-se a crise do

desemprego no Brasil intensificando-se a competição em busca de melhores

condições trabalhistas entre a população.

A discussão sobre a educação e a qualificação profissional no Brasil tem

início, de forma mais nítida, no período de aceleração da industrialização nos anos

50, principalmente com o processo de substituição das importações.

Este é um aspecto de indiscutível valor da história do ensino profissional, pois revela uma preocupação do governo de engajar as indústrias na qualificação de seu pessoal, além de obrigá-las a colaborar com a sociedade na educação de seus membros. Este fato ocorreu da impossibilidade do sistema de ensino oferecer a educação profissional de

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que carecia a indústria e da impossibilidade de o Estado alocar recursos para equipá-lo adequadamente (Romaneli, 1980, p.166).

Para atender as necessidades do capitalismo o governo promoveu, na

década de 50, a expansão do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)

e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), para que se pudesse

garantir a capacitação da força de trabalho na quantidade e qualidade requeridas

pelo empresariado.

A importância da educação e da formação profissional para o

desenvolvimento econômico é inquestionável. Nota-se, contudo, que cada vez mais

há necessidade de maiores níveis de escolaridade, para que sejam ensinadas as

habilidades básicas para o desempenho de alguma função, e também porque

possibilita o aperfeiçoamento contínuo do trabalhador, exigência essa, dentro do

novo paradigma da escolaridade básica para adentrar no mercado de trabalho.

Para os trabalhadores, a ampliação de seus conhecimentos significa garantir

autonomia e maioridade dentro das novas configurações do mercado

contemporâneo, pois a escassez de conhecimentos produz incompatibilidade com

funções que garantem melhor qualidade de vida no trabalho e sociedade. Segundo

Gramsci

(...) a escola profissional não deve tornar-se uma incubadora de pequenos monstros aridamente instruídos num ofício, sem ideias gerais, sem cultura geral, sem alma, mas apenas com olhos infalíveis e uma mão firme (...). É também através da cultura profissional que se pode fazer com que do menino brote o homem, desde que essa seja cultura (1995, p. 118).

Nesse sentido, a formação profissional não gera emprego. O objetivo de sua

função é qualificar o trabalhador para ocupar emprego de acordo com as

necessidades do capital. Através do pensamento de Gramsci (1995) podemos

concluir que a educação não dever ser meio e forma articulada apenas para as

concepções de transformação capitalista, como sugere-se sua política idealista.

Gramsci mostra, através de seu pensamento, um posicionamento contra a

concepção tendenciosamente estreita da educação e da vida intelectual, cujo

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objetivo é manter o proletariado “no seu lugar”. Sobre isso o autor argumentou:

Não há nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer intervenção intelectual - o Homo faber não pode ser separado do Homo sapiens. Além disso, fora do trabalho, todo homem desenvolve alguma atividade intelectual; ele é, em outras palavras, um “filósofo”, um artista, um homem com sensibilidade; ele partilha uma concepção do mundo, tem uma linha consciente de conduta moral, e portanto contribui para manter ou mudar a concepção do mundo, isto é, para estimular novas formas de pensamento (Gramsci, 1995, p. 121).

Através da visão de Gramsci (1995) podemos observar que o ser humano

possui em sua essência uma visão intelectual, ou seja, todo ser humano contribui,

de uma forma ou de outra, para a formação de uma concepção de mundo

predominante. Isso significa dizer que , por maior que seja, nenhuma manipulação

vinda de cima, pode transformar o processo de modelagem da visão geral de

mundo constituída por concepções particulares dos indivíduos sociais.

2.3. Sobre a Educação Inclusiva

Pensar em inclusão significa pensar em direitos humanos. Quando falamos

em educação inclusiva há de se convir que nos referimos à inclusão dos “excluídos”,

dos “renegados” pela sociedade e mau vistos pelo capital diante da produção

capitalista.

Desse modo, a educação para pessoas com deficiência se torna um dos

principais debates nos centros educacionais, acadêmicos e poder público como

forma de articular iniciativas que se adequem como pressupostos para a inserção na

educação escolar e profissional e, por conseguinte no mercado de trabalho. Nesse

ponto, podemos concluir que a educação no Brasil somente se faz necessária na

medida em que as classes dominantes requeriam como uma necessidade de se

fazer alcançável aos menos favorecidos, ou seja, quando se surtia um desejo de

qualificá-los para seu proveito próprio, para garantir que suas necessidades seriam

atendidas, melhor contextualizando, a educação não se faz para emancipar

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determinado trabalhador, mas sim para qualificá-lo para determinada ação voltada

para o enriquecimento do empresariado.

Convém-nos falar, então, sobre as relações entre o trabalho e a educação

profissional. Essas relações têm sido abordadas na sociedade de formas peculiares

e diferenciadas. Demerval Saviani (1994), por exemplo, contextualiza as formas do

capital de se aprofundar na exploração incessante da classe trabalhadora, e como

hoje, esse mesmo capital que restringia a educação para a classe subalterna,

considera a educação como uma das principais ferramentas de seu progresso

próprio, ou seja, uma exigência particular para o individuo adentrar nas relações

contraditórias deste capital que se contrapõe ao longo do tempo.

A história da escola começa com a divisão dos homens em classes. Essa divisão da sociedade em classes coloca os homens em antagonismo, uma classe que explora e domina outra. Atingimos, com a sociedade capitalista, o máximo de desenvolvimento da sociedade de classes. A contradição entre as classes marca a questão educacional e o papel da escola. Quando a sociedade capitalista tende a generalizar a escola, esta generalização aparece de forma contraditória, porque a sociedade burguesa preconizou a generalização da educação escolar básica. Sobre esta base comum, ela reconstituiu a diferença entre as escolas de elite, destinadas predominantemente à formação intelectual, e as escolas para as massas, que ou se limitam à escolaridade básica ou, na medida que têm prosseguimento, ficam restritas a determinadas habilitações profissionais. Essa contradição da sociedade capitalista em relação à escola está presente desde as origens da sociedade capitalista (Savianni, 1994, p. 22).

Podemos ver, diante da concepção de Savianni (1994) que a contradição

entre as classes prioriza a prática segregadora, isto é , a exploração de uma classe

sobre a outra produz consequências até na formação educacional.

Ao pensarmos em tais contradições entre as classes, é mister dizer que

cada ser humano possui sua existência social e individual, sendo elas articuladas

entre si. Portanto, é a compreensão de cada pessoa sobre o próprio contexto é que

permite transformar conhecimentos e marcos legislativos em ações presentes no

cotidiano, fortalecendo os vínculos sociais e a democracia.

Hoje, ainda podemos constatar dificuldades por parte das pessoas com

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deficiência ao âmbito educacional, mas as mudanças relativas à essa

problematização já são bem nítidas com a criação da Lei nº 10.098/00 que

“estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das

pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências”

(Ministério da Educação, 2001, p.13).

Ao analisarmos as concepções marxistas sobre educação e trabalho

constatamos que Marx se manifesta, sobre o conteúdo pedagógico que, a seu ver,

deve constituir o ensino de caráter socialista, destacando três elementos: o ensino

intelectual, a educação física e a educação tecnológica que é a transmissão dos

fundamentos científicos gerais de todos os processos de produção e introdução ao

uso prático e capacidade de manejo dos instrumentos elementares de todos os

ofícios.

Seu êxito demonstrou pela primeira vez a possibilidade de vincular o ensino e a ginástica com o trabalho manual e daí também o trabalho manual com o ensino e a ginástica (Marx Apud Saviani, 2007c, p.3).

A questão da acessibilidade é um dentre os vários embates enfrentados

pelas pessoas com deficiência como forma de desmontar todas as barreiras que se

configuram como meios de privação de sua liberdade. Para garantir a educação

especial básica às pessoas com deficiência o Poder Público articulou dispositivos

legais e político-filosóficos, dos quais constam a seguir:

Constituição Federal:

Artigo 208:

III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público e subjetivo;

V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um.

Artigo 227:

II - § 1º - Criação de programas de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental,

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bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

Lei nº 10.172/01 – Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras

providências.

Lei nº 853/89 – Dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiências, sua

integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos

individuais e sociais.

Lei nº 9.394/96 – Estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional.

Decreto nº 3.298/99 – Regulamenta a Lei nº 7.853/89, que dispõe

sobre a Política Nacional para a integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras

providências.

Portaria MEC nº 679/99 – Dispõe sobre os requisitos de acessibilidade

a pessoas portadoras de deficiência para instruir processos de

autorização e de reconhecimento de cursos e de credenciamento de

instituições.

Declaração Mundial de Educação para Todos e Declaração de

Salamanca6.

Com relação à criação desses dispositivos legais, podemos notar o grande

avanço em benefício às pessoas com deficiência. Não por menos, tais dispositivos

exigem intensificação qualitativa e quantitativa na formação de recursos humanos,

6 O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com a

Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e ao mostrar consonância com os postulados produzidos em Salamanca (Espanha, 1994) na Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade (Disponível em: portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pd; Acesso em: 03/12/2012).

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financeiros bem como serviços de apoio pedagógicos públicos e privados

especializados para que se possa assegurar o desenvolvimento educacional dos

alunos.

Nesse aspecto, no âmbito da política da educação inclusiva, devemos

observar as palavras de Marx ao questionar a educação popular:

Educação popular (ou ensino elementar) para todos? O que se quer dizer com essas palavras? Acredita-se, talvez, que na sociedade atual (e apenas dessa se trata) o ensino possa ser igual para todas as classes? Ou, então, pretende-se que as classes superiores devam ficar coativamente limitadas àquele pouco de ensino – a escola popular – única compatível com as condições econômicas, tanto dos trabalhadores assalariados quanto dos camponeses?(...). Ensino geral obrigatório, instrução gratuita (...).O parágrafo sobre as escolas deveria, pelo menos, pretender escolas técnicas (teóricas e práticas) em união com a escola popular (...) proibição (geral) do trabalho das crianças(...) sua efetivação – se fosse possível – seria reacionária porque, ao regulamentar severamente a duração do trabalho segundo as várias idades e ao tomar outras medidas preventivas para a proteção das crianças, o vínculo precoce entre o trabalho produtivo e o ensino é um dos mais potentes meios de transformação da sociedade atual (Marx Apud Saviani, 2007c, p.4).

O discurso de Marx é bem claro quando enfatiza que o ensino, ou seja, a

educação é uma potente forma de transformar a sociedade. Nesse contexto,

podemos definir que a inserção das pessoas com deficiência começa em sala de

aula, pois é na formação das crianças que está a postura da sociedade no futuro. A

educação não deveria ser apenas um meio de atender as necessidades capitalistas,

pois como podemos ver, para o capitalismo contemporâneo, a qualificação

profissional é sinônimo de produtividade e poder econômico ativo.

Do que vale então, para a classe dominante, ou seja, o empresariado,

contratar pessoas despreparadas cuja única função é atender a fiscalização da Lei

de Cotas para pessoas com deficiência?

Essa é uma questão que podemos definir diante das conjunturas atuais, no

qual o governo se propõe a implementar políticas de educação profissional para que

a produtividade capitalista não seja ameaçada.

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2.4. Direitos e Demandas na Sociedade Capitalista

A discussão no Brasil acerca do desemprego sempre teve papel relevante

nos principais meios de comunicação do país. Na década de 1990, o desemprego

transformou-se em uma das principais características do modo de inserção da

População Economicamente Ativa7 no mercado de trabalho (Pochmann, 2001,

p.102), visto que este é repleto de desafios e dificuldades para todos os

trabalhadores que sobrevivem da venda de sua força de trabalho.

As dificuldades em relação ao desemprego têm sido abordadas de todas as

formas pelas principais correntes intelectuais do país. Ora o mercado de trabalho

tem pouca demanda por mão-de-obra, ora é exigido melhor qualificação do

trabalhador para atividades cada vez mais ínfimas.

Nesse sentido convém-nos expor as pessoas com deficiência no âmago das

classes trabalhadoras que, mesmo com suas limitações, tornam-se parte do exército

industrial de reserva, ou seja, da lei geral da acumulação capitalista.

A palavra “inclusão” significa compreender, abranger, conter em si, envolver.

Portanto, pensar a inclusão da pessoa com deficiência significa reconhecer o

cidadão, onde a sociedade e não a pessoa deve mudar. Para tanto, é preciso que a

sociedade esteja aberta a dialogar e reconhecer o potencial de todo cidadão.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT (1997, p.49), em

seu artigo I, descreve que o termo pessoa com deficiência “designa toda pessoa

cujas perspectivas de conseguir e manter um emprego conveniente e de progredir

profissionalmente são sensivelmente reduzidas em virtude de uma deficiência física

ou mental devidamente comprovada”.

O cenário econômico e social está marcado pelo desemprego, pela

7 Por População Economicamente Ativa ou Força de Trabalho compreende-se as pessoas com mais

de 10 anos de idade que ativamente encontram-se trabalhando ou à procura de trabalho no mercado detrabalho brasileiro (Disponível em:www.ibge.gov.br/home; Acesso em: 02/12/2012).

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precarização das condições de trabalho (baixos salários, redução de benefícios,

ambientes que propiciam ao stress e baixa autoestima, etc.) e pela grande exigência

de especialização e preparo para um mercado de trabalho que não cria condições

de crescimento profissional. Os baixos salários ou a ausência deles provocam a

pauperização da população e cria vários outros problemas sociais.

Dentro deste contexto está também a pessoa com deficiência, marcada pelo

preconceito, que precisa de meios legais que garantam o seu direito de buscar o seu

sustento e sua independência perante a família e à sociedade. Nesse sentido,

algumas leis foram criadas para garantir à pessoa com deficiência acesso e

dignidade no mercado de trabalho.

Dentre as leis mais importantes está a Lei nº 8213/1991, que torna

obrigatória a contratação de pessoas com deficiência a partir de um número

específico de funcionários na empresa. Além disso, torna também obrigatória a

reserva de vagas para pessoas com deficiência em concursos.

A Lei 8.213, a chamada “Lei de cotas para deficientes” foi instituída no ano

de 1991 e, desde então enfrenta dificuldades para ser de fato efetivada.

A Lei prevê a obrigatoriedade das empresas em cumprirem uma porcentagem como cota de pessoas com deficiência em relação ao total de trabalhadores que possui. Desta forma empresas com 100 ou mais colaboradores tornam-se obrigadas a inserir pessoas com algum tipo de deficiência em seu efetivo, cumprindo cota mínima previamente estabelecida pela legislação em vigor. O não cumprimento da lei acarreta à empresa o pagamento de multa, que variam conforme o número de colaboradores que possui (Portaria MPS, nº. 142, 2007).

O acesso ao mercado de trabalho representa para a pessoa com deficiência

uma forma de sobrevivência e participação na sociedade o que supõe abertura de

espaço e exercício da cidadania.

Mas, como tudo de fato no Brasil há restrição, àqueles indivíduos (pessoas

com deficiência) que não conseguem adentrar no mercado de trabalho - ou por falta

de oportunidade ou por não ter conhecimento e não se adequar ao perfil desejado

pela empresa - têm direito a receber o Benefício de Prestação Continuada de

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acordo com os pré-requisitos da política.

O BPC é um benefício da Política de Assistência Social, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e para acessá-lo não é necessário ter contribuído com a Previdência Social. É um benefício individual, não vitalício e intransferível, que assegura a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo ao idoso, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Em ambos os casos, devem comprovar não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo provido por sua família. A renda mensal familiar per capita deve ser inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente (MDS.gov.br).

Para analisarmos mais a fundo a inserção da pessoa com deficiência no

mercado de trabalho, propomo-nos a pesquisar a taxa de empregabilidade dessa

população no Estado do Ceará de acordo com dados obtidos no Instituto de

Desenvolvimento do Trabalho – SINE/IDT:

Tabela 1 – Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho

Intermediação das Pessoas com Deficiência no Estado do Ceará

Ano Cadastrados Colocados

2008 559 1.653

2009 495 1.921

2010 406 1.915

Pessoas com Deficiência em Fortaleza

2010

População Total 8.452.381

Pessoas com Deficiência 29,3 mil

Pessoas com Deficiência trabalhando

13,2 mil (45,3% do total)

Esses são dados relevantes, mas ainda há muito o que se fazer para que as

pessoas com deficiência tenham espaço efetivo no mercado de trabalho.

No ano de 2009, por exemplo, constatou-se que 61,34% das 1,2 milhões de

pessoas com deficiência acima de dezoito anos não estão inseridas nesse mercado

no Estado do Ceará. Principalmente as mulheres, que respondem por cerca de

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65,34% dessa condição.

Na região metropolitana de Fortaleza, segundo dados do Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), as vagas ocupadas no ano de 2011 por pessoas com

deficiência atingiram o total de 77,7 mil postos de trabalho. Desse total a maioria

possui ensino médio completo.

Esses dados foram divulgados através da pesquisa “As pessoas com

deficiência e o mercado de trabalho no Ceará: um olhar multifocal”, desenvolvida

pelo governo do Estado com o objetivo de criar políticas públicas para o deficiente,

vendo o que pode ser melhorado e no que se deve intervir.

Um dos motivos que objetivou tal pesquisa reside no fato de que a Lei que

estabelece uma cota de pessoas com deficiência nas empresas não está sendo

cumprida.

O segundo é a discriminação ainda existente não só de empresários, como

da família, da escola, do mercado e até mesmo do próprio deficiente. Por fim, o

medo de perder o Benefício da Prestação Continuada (BPC) para arriscar um

emprego e ser demitido mais à frente.

No entanto, hoje se constata que o INSS já assegura para a pessoa com

deficiência o retorno do benefício em casos de desemprego, mas é uma situação em

que muitos desconhecem seus direitos.

Há uma articulação do governo do Estado com o Ministério do Desenvolvimento Social para que o benefício, em caso de emprego do deficiente, continue sendo recebido por essa pessoa até que ela se adeque a essa nova realidade de trabalho. Outra proposta do Estado é para que o BPC volte a ser recebido pelo deficiente, caso ele fique desempregado, até surgir outra oportunidade (MDS.gov.br).

A proposta do BPC Trabalho (BRASIL, MDS, 2012) é quebrar o paradigma

de que pessoas com deficiência são incapazes de trabalhar. Hoje, o foco mudou:

não é a pessoa que é incapaz de trabalhar, mas o mercado que não está preparado

para recebê-la. E cabe ao Estado atuar para identificar e eliminar as barreiras que

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impedem o acesso ao trabalho.

No próximo capítulo iremos analisar como se dá o processo de inserção das

pessoas com deficiência no mercado de trabalho dentro da instituição SENAC. O

campo de análise é bastante amplo, pois configura ações de inclusão social através

da qualificação profissional e encaminha ao mercado de trabalho alunos qualificados

pela instituição.

É mister também analisar a qualificação profissional das pessoas com

deficiência que trabalham no SENAC e os trajetos enfrentados pelos mesmos para

inserir-se na educação profissional para atender as demandas capitalistas.

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III – TRABALHO COMO PERSPECTIVA DE INCLUSÃO? O PROCESSO

CONTRADITÓRIO

Este capítulo objetiva analisar o SENAC – Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial – e as pessoas com deficiência que trabalham na

instituição. O interesse pelo SENAC se deu durante a nossa experiência de estágio

na instituição no período de 2010 a 2012 após participarmos de um projeto referente

às pessoas com deficiência no mercado de trabalho e a qualificação profissional. A

pesquisa abrange também uma análise em relação ao projeto Deficiência e

Competência, proposto pelo SENAC Nacional a fim de possibilitar a qualificação

profissional para pessoas com deficiência e inserção no mercado de trabalho.

A entrevista com os funcionários deficientes da instituição objetivou

averiguar as oportunidades de trabalho, a qualificação profissional, os limites em

relação à deficiência no campo de trabalho e possíveis propostas para mudanças

em relação às barreiras arquitetônicas. A metodologia utilizada para coleta de dados

foi através de entrevista semi-estruturada fazendo-se necessário o uso de

gravadores e caderno para eventuais anotações.

Foram entrevistadas seis pessoas com deficiência que trabalham no SENAC

Fortaleza na Unidade Centro. Dos entrevistados três possuem nível superior

completo e os demais possuem superior em conclusão. Os cargos ocupados são

assistente administrativo e financeiro, auxiliar administrativo e operador de

telemarketing.

3.1. Uma Análise do Campo de Investigação

Consideramos como ponto de partida da proposta de investigação no qual

nos propomos caracterizar o processo de inclusão das pessoas com deficiência no

mercado de trabalho bem como os limites e possibilidades enfrentados pelos

mesmos, averiguar as oportunidades oferecidas para esse público através da

Instituição SENAC.

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O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial foi criado em 10 de janeiro

de 1946, quando a Confederação Nacional do Comércio foi autorizada a instalar e

administrar em todo o país escolas de aprendizagem comercial.

A resolução atendia a uma reivindicação de representantes de vários setores

da economia do país, que sugeriam ao Governo Federal a intensificação e o

aperfeiçoamento do ensino médio e superior em várias áreas, inclusive o comércio.

O objetivo do SENAC é, portanto, a contribuição educacional do empresariado do

comércio para o desenvolvimento do mundo do trabalho.

O SENAC é uma instituição profissionalizante e possui em seu quadro de

funcionários os mais diversificados cargos. A empresa oferece qualificação

profissional e aperfeiçoamento ao seu núcleo de empregabilidade e oportuniza

ações que favorecem o crescimento profissional de seus funcionários.

No que se refere à qualificação profissional para pessoas com deficiência, o

SENAC visa cumprir seu papel como uma escola inclusiva através dos seguintes

aspectos:

• a capacitação de docentes com habilidades específicas para o

atendimento adequado;

• a eliminação de barreiras arquitetônicas que dificultam – ou mesmo impedem – o acesso de pessoas portadoras de deficiência às unidades/escolas;

• a elaboração de uma proposta pedagógica para os cursos de educação profissional, criando condições para a habilitação do aluno com deficiência;

• a aquisição de equipamentos, acessórios e materiais didáticos que possibilitem o atendimento adequado a essas pessoas (SENAC, 2002).

O SENAC possui um projeto – Deficiência e Competência - destinado à

inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e a garantia de sua

profissionalização para atender as demandas capitalistas contemporâneas no que

cerne aos serviços de comércio, bens e turismo.

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Tal projeto nos leva a analisar suas conjunturas, mesmo que

superficialmente, para que em seguida possamos dar concretude ao nosso objetivo

final – analisar os limites e possibilidades das pessoas com deficiência no mercado

de trabalho.

O projeto visa, em nível nacional, a construção coletiva de um programa que

estimule a ampliação dos atendimentos regionais8 e que contribua tecnicamente

para a inclusão das pessoas com deficiência em diferentes setores da economia.

O processo de discussão e avaliação da proposta com todo o sistema visa

considerar a diversidade das realidades locais e consolidar as expectativas e as

possibilidades de todos em relação ao assunto em questão.

O Programa sugere o atendimento a pessoas com deficiência e define um

conjunto de ações para a elaboração de diretrizes (subsídios teóricos e práticos)

para uma política em nível nacional de atendimento dessas pessoas, à luz do

cenário da educação profissional e do mundo do trabalho (Senac, 2002, p.13).

Em relação à educação especial os princípios que norteiam o projeto são os

mesmos da educação geral, guiando-se pelos pressupostos democráticos de

igualdade, liberdade e respeito à dignidade. “A LDB 9.394/96 estabelece que a

educação especial é uma modalidade de educação que perpassa desde a educação

infantil até o ensino superior” (Senac, 2002, p.13).

Dentre os objetivos do projeto são considerados,

• A ampliação do acesso e a inclusão das pessoas com deficiência nas ações educacionais do SENAC, com fundamento no princípio do direito ao exercício pleno da cidadania;

• Apoiar a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho;

• Elaborar subsídios que fomentem a discussão do tema em âmbito

8 Por regional se entende a localização da instituição SENAC em diferentes capitais brasileiras. O SENAC usa o termo DR (Diretoria Regional) para situar o principal pólo de sua atuação, como por exemplo, a DR Fortaleza submete os SENACs de outros municípios do Ceará ao seu comando; e o DN (Departamento Nacional) submete as DRs ao seu comando.

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nacional. (SENAC, 2002).

Para o desenvolvimento das ações previstas no projeto, o SENAC

estabelece que cada Regional indique um profissional com envolvimento com o

tema do Programa. Esse coordenador estadual deverá estar constantemente em

contato com os representantes do Departamento Nacional e das instituições locais,

exercendo as funções de articulador do processo de construção e implantação do

Programa nos estados.

A criação de redes de articulação também constitui-se como foco para a

busca de parcerias para garantir a ampliação dos atendimentos, a sustentabilidade

do projeto bem como a sua continuidade. Estão previstos também fóruns estaduais

com o grupo técnico local, organizações governamentais e não-governamentais

envolvidas com o atendimento a pessoas com deficiência, especialmente na área

de educação, seja especial ou profissional (SENAC, 2002, p. 17).

Os eventos acima citados visam à obtenção de dados referentes à realidade

local e a possibilidade de parcerias que atendam as especificidades de cada Estado.

O documento final do projeto Deficiência e Competência estabelece que:

Serão realizados encontros regionais ou nacional com a presença dos coordenadores estaduais do Programa, de maneira a submeter a proposta do Regional ao grupo, para análise e considerações que se fizerem necessárias. O documento final deverá retratar a realidade do Sistema Senac e seu compromisso no processo de inclusão das pessoas portadoras de deficiência nas ações educacionais, motivando a participação de todos na implantação do Programa. Caberá ainda ao documento definir responsabilidades, fontes de recurso, parcerias e cronograma de ações para implantação e implementação do Programa, bem como divulgar amplamente as ações previstas, para dar visibilidade ao trabalho realizado pelo Senac nessa ação de responsabilidade social (Senac, 2002, p.19).

Essas são as principais características do projeto do SENAC que visa

garantir as condições necessárias às pessoas com deficiência diante de sua

integração ao ambiente educativo com vistas à profissionalização para o mercado de

trabalho.

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3.2. Definições e Características do Trabalho Social de Inclusão no SENAC

Ceará

O SENAC regional de Fortaleza possui um projeto que objetiva a inclusão

social por meio de cursos profissionalizantes voltados para jovens aprendizes,

pessoas com deficiência e pessoas com renda mínima.

Logo, tais programas, em parceria com o Governo Federal, visam qualificar

pessoas que se encontram em situação de risco social e formulam estratégias de

inserção no mercado de trabalho 9.

Os principais programas oferecidos pelo SENAC são:

Deficiência e Competência

Programa de Qualificação Profissional para Pessoas com Deficiência - o

objetivo do programa é ampliar o acesso e a inclusão de Pessoas com Deficiência

nas ações educacionais do Senac. Fundamentado no princípio do direito ao

exercício pleno da cidadania, apoia a inserção dessas pessoas no mercado de

trabalho, sensibilizando empresas e comunidades para o conceito de sociedade

inclusiva e realizando qualificação profissional através de parcerias com Empresas,

Ministério do Trabalho, DRT - Delegacia Reginal do Trabalho - IDT e ONGs.

PSG - Programa SENAC de Gratuidade

Programa voltado para pessoas com baixa renda, o qual inclui vagas

gratuitas em diversos cursos, da Formação Inicial ao Nível Técnico. Tal programa foi

resultado de um protocolo firmado entre o SENAC e o Governo Federal, ratificado

pelo Decreto 6633, de 05 de novembro de 2008.

PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

Instituído pela Lei Federal nº 12.513, de 26/10/2011, cujo órgão gestor é o

MEC, o objetivo do Pronatec é ampliar a oferta de educação profissional e

9 Disponível em: www.ce.senac.br; Acesso em: 11/12/2012.

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tecnológica à população brasileira por meio de uma série de subprogramas, projetos

e ações de assistência técnica e financeira. Em resposta à demanda governamental

para que haja o incentivo à ampliação de vagas para a educação profissional. O foco

de atuação do SENAC em relação ao Pronatec refere-se à oferta gratuita de cursos

de Formação Inicial e Continuada (FIC) e cursos de Habilitação Técnica de Nível

Médio, vinculada ao financiamento governamental, ou seja, o governo federal

financia a profissionalização através do SENAC tanto para estudantes de escola

pública como para pessoas vinculadas ao bolsa-família no âmbito previsto na bolsa-

formação10.

Esses são os principais programas de inclusão social do SENAC.

Ressaltamos que, além da inclusão do público de baixa renda nos cursos de

capacitação no programa gratuidade, é garantida também a inserção das pessoas

com deficiência com recursos que facilitam o seu desenvolvimento. Como exemplo

podemos citar a eliminação de barreiras arquitetônicas e a contratação de

intérpretes para deficientes auditivos.

A eliminação de barreiras e obstáculos físicos e arquitetônicos e de comunicação que afetam o local de treinamento e de emprego de pessoas com deficiência, bem como a livre circulação nos ditos locais; padrões apropriados devem ser levados em consideração na construção de novos edifícios e instalações públicas. (BRASIL, CORDE, 1997, p.41)

Ao falarmos sobre os programas de inclusão do SENAC podemos

estabelecer e correlacionar, diante de avaliação, as pessoas com deficiência que ali

trabalham ao articularmos as principais ferramentas utilizadas pela instituição no que

cerne ao trabalho social.

Nesse sentido, podemos falar sobre o setor do SENAC que encaminha para

o mercado de trabalho, pois além de qualificar o aluno para atender as demandas

empresariais, o SENAC possui um balcão de empregos exclusivo de

10 Além da gratuidade dos cursos, os beneficiários têm o direito ao material escolar, de acordo com o curso

demandante, auxílio transporte e lanche durante todo o período letivo do curso.

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encaminhamento para o trabalho, ou seja, tal setor, o Banco de Oportunidades, é

destinado a alunos e ex-alunos do SENAC, seja ele em âmbito regional ou nacional.

O Banco de Oportunidades do SENAC possui parceria com empresas que

demandam pessoas qualificadas para atuarem em setores específicos de acordo

com a formação educacional e profissional do aluno. Não por menos, estão inclusos

nesse sistema de cadastramento os alunos do Pronatec e do PSG (SENAC

Gratuidade).

O setor de empregos do SENAC também possui parceria com o SINE IDT

do Ceará. A parceria tem como objetivo encaminhar pessoas com deficiência

cadastradas no banco de dados do SINE - mesmo que o sujeito não tenha feito

quaisquer cursos de qualificação no SENAC - para uma oportunidade de inserção

no mercado de trabalho através do Banco de Oportunidades do SENAC.

No primeiro semestre de 2012 foram encaminhadas dezesseis pessoas com

deficiência cadastradas no SINE para o setor de empregos do SENAC. A parceria

garantiu empregabilidade para um dos funcionários com deficiência no SENAC:

Na época eu estava procurando trabalho pelo SINE- IDT e um dia a moça do SINE me ligou para me informar que teria um curso com disponibilidade na modalidade gratuito, então resolvi participar. Esse curso foi a porta aberta que encontrei para entrar na instituição, pois na época não tinha condições de pagar um curso aqui. Depois do curso eles selecionaram alguns dos melhores alunos para participarem do processo seletivo e eu me enquadrei nesse processo. Foi um pouco difícil o processo seletivo devido muitas provas que teria que enfrentar, mas coloquei Deus em minha frente e consegui vencer e hoje estou aqui (Operadora de Telemarketing no SENAC, deficiente física).

Observamos, portanto que as políticas para a inserção profissional estão

disponíveis para as pessoas com deficiência, mas, de acordo com relato acima,

podemos identificar as dificuldades existentes para a empregabilidade na empresa

no processo de recrutamento e seleção.

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3.3. O Mercado de Trabalho para Pessoas com Deficiência.

O cenário para a abertura de vagas para pessoas com deficiência é

promissor em todo país porque basta a superação de barreiras culturais e atitudinais

por parte de gestores e dirigentes empresariais para compreenderem que deficiência

não é sinônimo de incapacidade.

De acordo com o Censo Demográfico do IBGE realizado em 2010 foi

indicado que 23,9% da população brasileira possui alguma deficiência, superando a

contagem de 45 milhões de brasileiros. Destes, 27 milhões tem idade para trabalhar

no mercado formal de trabalho, com direitos trabalhistas e previdenciários.

No caso da Lei de Cotas existem 701.000 vagas em aberto no país, porque

apenas 236 mil das 937 mil vagas reservadas por lei foram preenchidas (IBGE). Na

cidade de Fortaleza, segundo dados do SINE/IDT foram ofertadas 1.915 vagas para

pessoas com deficiência no ano de 2010 e dessas vagas 1.253 foram preenchidas

(SINE/IDT 2010).

Olhando por outro lado, o quadro pode ser revestido, pois basta direcionar o

olhar para a pessoa e não para a deficiência, que as possibilidades de ocupar

postos de trabalho podem ser ampliadas.

Ao falar sobre a contratação de pessoas com deficiência, muitos

empresários atribuem dificuldades não só ao quesito incapacidade ou capacitação,

mas também a falta desses sujeitos “disponíveis” para contratação.

Sendo assim, os principais argumentos utilizados por algumas empresas,

observados de acordo com minha experiência como estagiária na instituição no

período de abril de 2010 a abril de 2012, para não contratarem pessoas com

deficiência refletem-se no fato de que não tem pessoas com deficiência para serem

contratadas; as pessoas com deficiência não estão capacitadas; e as pessoas com

deficiência recebem benefícios do governo (BPC) e não querem trabalhar.

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De acordo com o Censo do IBGE de 2010, foi apontado que o Brasil tem

mais de 45 milhões de pessoas com deficiência e cerca de 27 milhões tem idade

para trabalhar com carteira registrada, mas apenas 306.013 estavam no mercado

formal naquele ano. No caso da Lei de Cotas apenas 1 a cada 4 vagas reservadas

por lei está ocupada.

Podemos aferir, diante dos dados, que o que falta é mais responsabilidade

por parte do governo em publicizar as políticas de inserção e capacitação

profissional para pessoas com deficiência, pois de fato a política existe, mas existe

descaso do empresariado e do governo em garantir que o acesso das pessoas com

deficiência às políticas de inserção seja realmente concretizado.

Sobre a capacitação, podemos afirmar que tal argumento é um pouco

contraditório, pois com as políticas atuais de inserção e eliminação de barreiras esse

argumento não se sustenta. Segundo o Censo do IBGE do ano de 2000, já se

demonstrava que as escolaridades de pessoas com e sem deficiências eram

semelhantes. E já naquela época ficamos sabendo que menos de 1% nascia com

alguma deficiência e 99% da população adquiria a deficiência ao longo da vida

diante dos riscos inerentes na infância, juventude, fase adulta e velhice. Soube-se

também que 86,5% das pessoas que tinham deficiência a adquiriram a partir dos 20

anos de idade, quando já haviam concluído seus estudos regulares na condição de

não deficientes, nas mesmas condições de ensino oferecidas ao restante da

população.

O terceiro argumento também não se sustenta, pois de acordo com o

decreto de 31 de agosto de 2011 que regulamentou a lei 12.470 possibilita o retorno

garantido ao BPC do beneficiário que perder o emprego formal conforme consta a

seguir:

§ 4º A cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com deficiência não impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os requisitos definidos em regulamento.

Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será suspenso pelo órgão concedente quando a pessoa com deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na condição de microempreendedor individual.

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§ 1o Extinta a relação trabalhista ou a atividade empreendedora de que

trata o caput deste artigo e, quando for o caso, encerrado o prazo de pagamento do seguro-desemprego e não tendo o beneficiário adquirido direito a qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida a continuidade do pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de realização de perícia médica ou reavaliação da deficiência e do grau de incapacidade para esse fim, respeitado o período de revisão previsto no caput do art. 21.

§ 2o A contratação de pessoa com deficiência como aprendiz não acarreta

a suspensão do benefício de prestação continuada, limitado a 2 (dois) anos o recebimento concomitante da remuneração e do benefício (Disponível em: http://www.planalto.gov.br).

Desta forma a pessoa com deficiência que recebe o BPC pode participar de

programas de aprendizagem sem perder o benefício e pode ingressar no mercado

de trabalho ficando com o benefício suspenso, que pode ser reativado a qualquer

momento caso o trabalho não der certo. E muitas vezes os salários, de acordo com

os cargos ocupados, podem ultrapassar o valor do benefício, o que sugere-se o

interesse desse público de adentrar no mercado de trabalho.

Ao analisarmos esses argumentos instituídos pelas empresas em relação à

contratação das pessoas com deficiência, podemos concluir que chegou o momento

do esforço de todos para incluir na vida social, escolar e no trabalho esta massa de

brasileiros à margem do mercado formal de trabalho.

As empresas agora podem contratá-los também como aprendizes – como já

foi dito antes, o SENAC possui um programa de aprendizagem, o qual proporciona

cursos de qualificação profissional para jovens de 14 a 24 anos com inserção no

mercado de trabalho - dando oportunidades para que tenham uma profissão, pois

se configura como uma forma de capacitá-los para o mercado, ou podem contratá-

los para exercerem atividade produtiva em suas instalações.

Nesse sentido, abrir vagas de trabalho dando oportunidades às pessoas

com deficiência é bom para o Brasil e promove a redução das desigualdades sociais

e o ensejo dessas pessoas nas discussões que contribuem para os movimentos

sociais e o controle social diante das políticas sociais.

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A contratação de pessoas com deficiência deve ser vista como qualquer

outra, isto é, o que se espera do trabalhador nessas condições é o profissionalismo,

dedicação e assiduidade. Enfim, atributos essenciais a qualquer empregado. As

organizações de pessoas com deficiência detêm um conhecimento acumulado há

décadas acerca das potencialidades das pessoas com deficiência e dos métodos

para sua profissionalização. Recente alteração legal (Lei nº11.180/05) possibilita a

formalização de contratos de aprendizagem para pessoas com deficiência, sem

limite máximo de idade, sendo possível a combinação de esforços entre as

empresas e as instituições mencionadas (Lei nº 10.097/00).

A equipe que efetua a seleção deve estar preparada para viabilizar a

contratação desse público, principalmente, precisa ser claro que as exigências a

serem feitas devem estar adequadas às peculiaridades que caracterizam as

pessoas com deficiência. Se isto não ocorrer vai ser exigido um perfil de candidato

sem qualquer tipo de restrição, o que acaba por inviabilizar a contratação dessas

pessoas. Como tal pode configurar uma espécie de fraude contra a Lei de Cotas,

que foi criada justamente para abrir o mercado de trabalho para um segmento que

não consegue competir em igualdade de condições com as demais pessoas (art. 36,

alínea “c”, da Recomendação nº 168 da OIT, c/c item 4 do Repertório de

Recomendações).

3.4. O SENAC e as Oportunidades de Trabalho para Pessoas com Deficiência

O SENAC Fortaleza possui em seu quadro de funcionários cerca de 500

empregados. Constata-se então que, de acordo com a Lei de Cotas 8.213/91 e Art.

93 a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a

cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas com

deficiência, ou seja, o SENAC deve ter em seu quadro de funcionários, no mínimo

15 pessoas com deficiência, considerando o percentual de 3% exigido pela lei.

Ao realizarmos nossa pesquisa na Instituição SENAC, constatamos que o

número de funcionários com deficiência não atende ao exigido pela Lei. A

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informação que tivemos durante a pesquisa, foi que apenas 06 pessoas com

deficiência estão trabalhando no SENAC de Fortaleza.

Tal número se revela ínfimo em relação à quantidade do número de

empregados presentes na instituição. Porém, segundo informações do setor de RH

da empresa, propõe-se ampliar o quadro de pessoas com deficiência no SENAC

para atingir a quantidade exigida pela legislação em vigor.

Podemos notar, diante do exposto, uma clara contradição, pois se o SENAC

possui um setor exclusivo de encaminhamento para o mercado de trabalho e possui

parceria com o SINE/IDT para oportunizar emprego às pessoas com deficiência, por

que em seu quadro de funcionários não há a quantidade exigia pela Lei de Cotas?

Hipoteticamente podemos concluir o que dissemos sobre as mais comuns

argumentações proferidas pelos grupos empresariais, ou seja: não há pessoas

deficientes suficientes para contratação; o medo de perder o BPC; e/ou não estão

preparados suficientemente para o mercado (falta de qualificação profissional –

outro ponto a ser questionado, já que o SENAC é uma escola de qualificação

profissional).

3.5. Percepção das Pessoas com Deficiência

Ao analisarmos uma pesquisa bibliográfica ampla sobre o capitalismo e o

processo contraditório entre as classes, prosseguimos na investigação in locus

sobre tais contradições.

Nosso foco, no entanto, são as pessoas com deficiência no mercado de

trabalho, sendo esse perfil particularizado dos demais trabalhadores por terem em

seu protótipo histórico as limitações e um amplo contexto de discriminação e

marginalização determinados pela sociedade.

Com os novos rumos e direitos conquistados nos séculos XX e XXI, as

pessoas com deficiência produzem conceitos e particularidades que se configuram

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como meios de sobressaírem-se das artimanhas do capital no que cerne à

desvalorização, preconceitos e destituição dos direitos sociais.

Diante disso, procuramos contactar as pessoas com deficiência em seu

âmbito trabalhista no intuito de investigarmos as principais dificuldades formativas

enfrentadas pelos mesmos; identificar os entraves mais frequentes postos à sua

inserção no mercado de trabalho; analisar a formação profissional e os métodos de

inserção no mercado de trabalho através da Instituição SENAC. Fizemos entrevista

com todas as pessoas com deficiência que trabalham no SENAC, ou seja, 06

pessoas.

Sobre o trajeto de inserção no SENAC, os entrevistados relataram as

dificuldades para atender o perfil desejado pela empresa, mas caracterizam o

processo como uma forma de enfrentamento e superação dos desafios para a

inclusão no mercado de trabalho.

De acordo com Carreira (Fernandes e Silva Apud Carreira, 2008) o processo

de recrutamento das pessoas com deficiência deve ser o mesmo adotado para as

pessoas não deficientes e a empresa deve utilizar veículos de comunicação

adequados para a divulgação das vagas a serem preenchidas, de forma com que

estas pessoas procurem a empresa que oferece a vaga à semelhança do que ocorre

com pessoas não deficientes.

No entanto, segundo Fernandes e Silva (2008) o ponto de vista de Carneiro

é insuficiente para o desenvolvimento de uma atuação socialmente responsável das

empresas, já que esta, quando caracterizada enquanto um espaço inclusivo, tem o

dever de adotar procedimentos e apoios especiais às pessoas com deficiência.

Verificamos, porém, de acordo com relatos dos entrevistados, que o

processo de recrutamento e seleção de pessoas com deficiência no SENAC é o

mesmo adotado para pessoas não deficientes, ou seja, assim caracterizado:

O 1º passo foi entregar o meu currículo na recepção. Após algumas semanas foram feitos 3 processos incluindo a triagem do currículo: 1º fase - 2 redações sobre mercado de trabalho e Inclusão de PCD no mercado; 2º -

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dinâmica em grupo; 3º - entrevista com os gestores (Entrevistado 1).

Entrar no SENAC não foi nada fácil, pois foram longos dois meses e cinco etapas. Não sei se fui o melhor, mas sei que estava preparado. O lance é estar no local certo, no tempo certo e eu estava (Entrevistado 6).

De acordo com relato de uma das entrevistadas sobre o recrutamento e

seleção do SENAC “(...) os desafios fazem parte da nossa trajetória e os processos

foram muito bem elaborados para testar nosso conhecimento profissional”. Desta

forma, o SENAC também possui uma metodologia igualada às pessoas não

deficientes, ou seja, de adequar ao seu banco de dados os candidatos que não

foram aprovados na segunda etapa do processo seletivo. Tal procedimento

oportuniza uma reavaliação do candidato para uma nova vaga que esteja ociosa,

como foi o caso de um dos entrevistados:

Para a minha pessoa foi um processo demorado, pois não atingi o perfil pelo o qual fui selecionada, porém estava cursando ainda a faculdade, tive que ficar aguardando no banco de oportunidades, daí surgiu a oportunidade na biblioteca, onde atingi o perfil e fui contratada (Entrevistado 3).

Em relação às vantagens de se trabalhar na empresa, os entrevistados

relacionaram o fato da instituição ser uma escola profissionalizante e com isso

possuírem livre acesso aos cursos ofertados, o conceito de ser uma empresa

renomada em todo o território nacional e o conhecimento com a prática adquirida

durante o processo de trabalho.

No quesito desvantagem, a única menção foi feita por um entrevistado, o

qual relatou sobre o distanciamento e dificuldade de acesso em relação à sua

residência.

Podemos notar, pelos entrevistados, que não há quaisquer menções em

relação a credibilidade, reconhecimento profissional e/ou promoção para cargos

elevados, mas há uma nítida visualização da não efetividade de uma pessoa com

deficiência em um cargo de chefia, mesmo que por promoção ou por recrutamento e

seleção. O que constatamos foi a efetivação de pessoas com deficiência em cargos

de Assistente Administrativo, operador de telemarketing e assistente financeiro.

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Uma entrevistada, há onze anos na função de operadora de telemarketing,

relatou-nos que sempre buscou aproveitar as oportunidades e a dar o melhor de si

mesma para conseguir sua ascensão profissional mesmo não tendo a oportunidade

de ocupar cargos superiores. Em relação a isso Souza (2009) vai dizer que

No Paradigma de Inclusão Organizacional não podemos mais identificar apenas aqueles postos que já são plenamente acessíveis para pessoas com deficiência física, auditiva, visual e/ou mental, como as únicas posições disponíveis para essas pessoas. A reserva apenas de postos plenamente acessíveis contraria o Decreto no 3.956, de 2002, que dispõe sobre a não discriminação em razão da deficiência. A determinação do grau de acessibilidade de todos os postos é o primeiro passo para a promoção do acesso, seguido da provisão de equipamentos, instrumentos e acessórios – ajudas técnicas, para permitir e favorecer a funcionalidade dos servidores (Souza ,2009, p. 26).

Desse modo, Souza (2009) sugere ações de melhoria para dar condições de

igualdade no trabalho às pessoas com deficiência, como a sensibilização das

chefias e funcionários quanto ao potencial dos deficientes, adequação das práticas

de seleção, treinamento e desenvolvimento voltadas para a inserção das pessoas

com deficiência, e adaptações nas condições e instrumentos de trabalho.

Constatamos também a escolaridade de todos os entrevistados, ou seja,

todos têm nível superior completo ou em andamento, mas ocupam cargos

hierarquicamente inferiores – auxiliar administrativo, assistente administrativo,

assistente financeiro e operador de telemarketing. Em relação ao tempo de casa, um

dos funcionários mais antigos possui onze anos na empresa e o mais novo, apenas

cinco meses.

Ao abordarmos sobre as limitações no campo de trabalho, só constatamos

uma pejorativa sobre a questão: “Trabalhar o dia todo é cansativo, minha agilidade

não é igual à das outras pessoas, mas tive que me trabalhar para não desistir e me

adequar a tudo” (Entrevistado 2).

Ao avaliarmos a citação da entrevistada podemos “retomar” o projeto

proposto pelo SENAC – Deficiência e Competência – o qual se disponibiliza

“eliminar barreiras adaptações (instalações físicas, equipamentos, materiais

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didáticos, capacitação de professores, currículos, metodologias) necessárias para o

atendimento a pessoas com deficiência” (SENAC, 2002, p.19). E podemos articular

ao projeto as falhas em relação às barreiras arquitetônicas e propor a reformulação

de melhorias ao ambiente de trabalho às pessoas com deficiência que trabalham na

instituição.

Os demais entrevistados concluíram não haver nenhuma limitação que afete

no processo de trabalho, pelo contrário, de acordo com relato, o ideal seria “diminuir

a burocracia em alguns procedimentos que é feito, para o bom andamento das

ações nos setores” (Assistente administrativo no SENAC).

Ao refletirmos sobre os dois pontos de vista acima discutidos em relação às

limitações no ambiente de trabalho e modificações na instituição, podemos ter a

noção que o que caracteriza as limitações das pessoas com deficiência são suas

próprias particularidades. Tais particularidades podem ser visíveis ou não, pois a

deficiência pode ser auditiva, visual, física e etc.

De acordo com o autor Sassaki, “as empresas devem ser conscientizadas

sobre os benefícios da diversidade humana na força de trabalho, os princípios da

equiparação de oportunidades e os fundamentos da responsabilidade social” (2006,

p.99). O respeito às limitações da pessoa com deficiência está direcionada às

condições de estrutura e tipo de trabalho, as tecnologias assistivas que auxiliarão no

desenvolvimento de suas competências e habilidades.

Nisso, podemos concluir que cada particularidade merece seu destaque e é

nisso que as empresas devem atentar para que o ambiente de trabalho da pessoa

com deficiência seja passível de avaliações diante das condições expostas para os

mesmos.

No tocante a questão relacionada à limitação no mercado de trabalho,

questionamos os profissionais com deficiência sobre possíveis modificações na

empresa. Os entrevistados sugeriram redução na jornada de trabalho e atenção do

setor competente em relação aos acentos para deficientes, considerando que cada

um tem sua particularidade.

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Em relação à qualificação profissional, foi perguntado aos entrevistados

sobre suas carências dentro do processo contraditório da inclusão no mercado de

trabalho - aludimos ao fato de que a exigência em relação à capacidade de

profissionalização da pessoa com deficiência muitas vezes é questionada devido às

suas limitações.

Acho que ainda existe um preconceito no mercado de trabalho. Se não fosse a inclusão social em disponibilizar vagas diretamente para o deficiente físico acho que não tínhamos muita chance no mercado ( Entrevistado 4). Na maioria das vezes, alguns empregadores tem o preconceito de que o deficiente não tem as suas qualificações, claro que temos sim, daí vem a discriminação com relação ao seu potencial ao mercado de trabalho (Entrevistado 3).

Sobre sugestões para que outras pessoas com deficiência tenham melhores

possibilidades para a inserção profissional:

Eu sugeria que todos os deficientes fossem mais valorizados, pois minha deficiência não me dificulta a nada, mas tem outras pessoas que sim, e tem empresa que aceita pessoa com deficiência que não dificulta a jornada de trabalho, queria que todos tivessem o mesmo direito (Entrevistado 5). O lance é estar bem preparado, pois vagas em todo “canto” se oferece, o que não têm são pessoas preparadas para o exigente mercado (Entrevistado 6).

Nesse sentido, cabe-nos concernir com o pensamento do autor José Pastore

(2004) quando fala que as relações humanas são, na maioria das vezes, formadas

pela primeira impressão. O que o autor enfatiza é que chamam mais a atenção os

atributos (as deformidades) do que os portadores desses atributos, que são os seres

humanos. Em outras palavras, as deformidades vêm antes das pessoas. A partir daí,

compõe-se uma visão desumana e estereotipada das pessoas com deficiência.

O desafio então, para superar esse problema, segundo o autor, equivale

para os dois lados, ou seja, para a pessoa com deficiência e para os que não

possuem deficiência:

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Para as pessoas com deficiência, é importante ser capaz de aceitar as suas peculiaridades e demonstrar aos seus interlocutores que eles podem ajudar aos outros e a si mesmos. Para os não-deficientes, a educação tem de disseminar entre eles a ideia de que a realização humana não se faz apenas com base na estatura, beleza ou forma física mas, sobretudo, com fundamento na inteligência, respeito, denodo e competência (Pastore, 2000, p. 23).

Para a remoção dos preconceitos, portanto, sugere-se a informação das

pessoas, a conscientização da sociedade e o esforço das instituições para se reduzir

a visão deturbada do valor e capacitação das pessoas com deficiência, garantindo

então uma melhor integração na vida social e no trabalho.

Outros relatos foram direcionados à capacitação profissional de forma que

garanta um bom currículo no competitivo mercado de trabalho contemporâneo e

credibilidade no potencial em relação a sua produtividade no trabalho.

Em relação às dificuldades enfrentadas na tentativa de inclusão na

educação profissional e no mercado de trabalho tendo como ponto de vista a

deficiência, foram relatadas a timidez, insegurança, preconceito e a falta de

oportunidade “(...) provocada pela falta de conscientização dos poderes públicos e

privados, que precisam estar movidos obrigatoriamente por lei para capacitar os

deficientes” (Entrevistado 2). De acordo com uma das entrevistadas sobre tais

dificuldades:

A única dificuldade que encontrei foi o preconceito, as pessoas que olham para mim acham que não tenho condições de exercer certas tarefas e isso prova cada vez mais que as empresas olham pela aparência. Hoje em dia os projetos que o governo faz com parcerias com algumas empresas, estão abrindo e facilitando a entrada da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. (Entrevistado 4).

Outras dificuldades foram relacionas à remuneração:

Uma das dificuldades maiores que já encontrei é que as empresas não tem a ciência na remuneração, pois oferecem um valor muito pouco e não existem vagas que não seja em setores administrativos, independentemente da capacitação dos mesmos, poucas são as vagas de nível superior (Entrevistado 1).

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Em relação a este relato voltamos a questionar sobre as vagas

oportunizadas para as pessoas com deficiência. Podemos observar que os

entrevistados têm nível superior concluído ou em andamento, mas ocupam vagas

inferiores a sua formação profissional e consequentemente salários abaixo do nível

de capacitação.

As políticas, no entanto, buscam estratégias de mudanças desta realidade,

criando oportunidades equitativas para a capacitação profissional e a

empregabilidade das pessoas com deficiências no mundo do trabalho. Não basta

apenas criar vagas no setor administrativo, é necessário abranger os postos de

trabalho que não seja destinado a um único e exclusivo setor.

A empregabilidade é um conceito que ultrapassa a ideia de apenas uma

formação profissional em que são salientados os requisitos simples para a obtenção

de emprego. Ela abrange as questões de quebra de barreiras atitudinais,

arquitetônicas, programáticas, metodológicas e funcionais. Para Sassaki,

a empregabilidade não resulta apenas do esforço individual da pessoa com deficiência, que procuraria ser mais qualificada através de cursos de capacitação profissional. A empregabilidade dessa pessoa depende também de uma nova postura por parte de outras pessoas à sua volta: familiares, potenciais empregadores, instrutores de escolas profissionalizantes e assim por diante (2005, p. 3).

Em relação aos trajetos buscados para capacitação profissional foram

colhidos os seguintes relatos:

Procurei fazer uma faculdade, para aprimorar mais os meus conhecimentos e competir no mercado de trabalho (Entrevistado 3) . Cursos de Capacitação na área Administrativa, informática e outras capacitações (Entrevistado 1).

Busquei sempre aproveitar as oportunidades e a dar o melhor de mim, mesmo que algumas vezes não tivesse a oportunidade de mostrar isso (Entrevistado 4). Fui me capacitando com cursos, fiz faculdade mas tive que trancar devido as dificuldades financeiras. Trabalhei em algumas empresas por pouco tempo, e logo após vi um anuncio no SENAC das vagas para deficientes e

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me interessei. Fiz o processo seletivo e aqui estou feliz e satisfeita com meu trabalho (Entrevistado 5). Sempre estudei e busquei meu espaço. Minha única e maior experiência profissional foi no IBGE e graças a isso muitas portas se abriram para mim (Entrevistado 2). O principal foi superar a minha deficiência, pois tinha vergonha de mim mesmo. Após superados, fui correr atrás do tempo perdido e realizar meus sonhos, hoje sou ator e diretor de teatro e cinema (registrado na DRT) formado em pedagogia, tenho curso de Extensão em arte dramática na UFC, sou bem casado e presenteado com um casal filhos lindos, trabalho e tenho um ciclo enorme de grandes e verdadeiros amigos (Entrevistado 6). .

Podemos observar que diante de tais relatos, o processo de inclusão no

mercado de trabalho das pessoas com deficiência configura-se como ações

atitudinais não só dos poderes públicos e privados, ou seja, há uma ampla

demanda, por parte das pessoas com deficiência, por capacitação profissional e

garantia de empregabilidade.

Para Sassaki, a empregabilidade é um conceito que vai além da formação

profissional

(...) não resulta apenas do esforço individual da pessoa com deficiência, que procuraria ser mais qualificada por meio de cursos de capacitação profissional. A empregabilidade desta pessoa depende também de uma nova postura por parte das pessoas à sua volta: familiares, potenciais empregadores, instrutores de escolas profissionalizantes (2006, p.102).

A capacitação profissional precisa ter estreita relação com as necessidades

dos empregadores, e estes deverão investir na estrutura física, nos instrumentos, na

formação dos trabalhadores para a inclusão social, isto é, nas mudanças atitudinais

discriminatórias. Segundo o autor, “(...) é a sociedade que precisa se adaptar às

necessidades e habilidades das pessoas e não o inverso” (2006, p. 102).

A empregabilidade não sugere apenas os setores administrativos, mas

também é necessário nortear projetos que discutam a capacidade das pessoas com

deficiência de assumirem cargos mais elevados e/ou chefias.

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Nesse âmbito, podemos avaliar o SENAC como instituição nacional que

possui funcionários qualificados para capacitar as pessoas para o mercado de

trabalho oportunizando a inserção profissional. A parceria com o Governo Federal

viabiliza ações que garantem a qualificação profissional para pessoas de baixa

renda e com deficiência a fim de possuírem maiores chances no atual mercado

competitivo.

Nisso, vale-nos dizer que o SENAC possui ferramentas necessárias para

garantir que as pessoas com deficiência sejam capacitadas e possuam as

atribuições “necessárias” que o mercado de trabalho exige.

É mister, portanto, questionarmos as ações de inclusão em seu quadro de

funcionários. A credibilidade da empresa como maior e melhor instituição

profissional do país deve acordar com melhores cargos para as pessoas com

deficiência que ali trabalham.

De modo geral, concluiu-se que as pessoas com deficiência possuem

aptidões relevantes para o mercado de trabalho em relação à escolaridade e

capacitação profissional. No entanto, constatou-se que os cargos oferecidos

geralmente superestimam o perfil do candidato, ou seja, a qualificação supera o

cargo oferecido pela empresa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao focarmos, primeiramente, o trabalho como pressuposto investigativo do

nosso objeto de pesquisa tivemos a intenção de aprofundar as concepções da

categoria trabalho no processo histórico do capitalismo. Nosso objetivo foi averiguar

as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, portanto, fez-se necessário

partirmos da compreensão ontológica de autores que dominam o assunto através do

pensamento marxiano.

Os estudos de Marx sobre a categoria trabalho nos convida a pensar que o

homem e a natureza em seu processo de transformação configura-se como uma

ação pertinente à formação humana, no entanto, o trabalho deve ser livre de

ideologias e exploração impostos pelas classes dominantes.

Ao considerarmos o trabalho como protoforma da práxis social, colocamos

em evidência as pessoas com deficiência. Nesse sentido, cumpre-nos questionar

sobre os meios e as ações que vêm sendo utilizados para garantir uma formação

profissional que, de fato, sirva de suporte técnico para essas pessoas conquistarem

seu lugar no mercado de trabalho, de modo a usufruírem como as demais de seus

próprios meios de locomoção e habilidades necessárias para a sua liberdade

financeira e familiar.

Os direitos e conquistas das pessoas com deficiência no Brasil fizeram-se

possíveis através das políticas de inclusão social tendo como principal referência a

Constituição de 1988 que garante às pessoas com deficiência diversos direitos,

tendo como objetivo principal a busca constante da igualdade com as outras

pessoas.

Na esteira desse raciocínio, cabe ressaltarmos que qualquer lesão ou

ameaça aos direitos das pessoas com deficiência permite a busca de proteção

judicial, nos termos do art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.

Em relação ao trabalho das pessoas com deficiência, podemos constatar o

avanço através das políticas de qualificação profissional e inclusão no mercado de

trabalho, porém não alterou-se a ascensão profissional nos postos de trabalho

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oferecidos ao público em questão.

O processo histórico relativo à marginalização das pessoas com deficiência

deve ser superado por intermédio da implantação de leis constitucionais e pela

conscientização da sociedade sobre as potencialidades desses indivíduos.

Tenta-se, nesta pesquisa, colocar em pauta questionamentos e dúvidas

mais frequentes, sem a pretensão de esgotá-los. Ao contrário, espera-se que os

aspectos abordados sirvam também para incentivar outras análises e indagações.

O mundo das empresas, primeiramente, deve analisar a integração da

pessoa com deficiência no mercado de trabalho, sob a ótica das suas qualificações,

e não sob a ótica das suas restrições para o trabalho. Quando é solicitado de um

profissional o seu currículo, não se pergunta o que ele não sabe fazer. Deseja-se,

tão-somente, identificar suas aptidões para compará-las com o perfil do cargo e

escolher o melhor profissional.

A Inspeção do trabalho exerce papel fundamental na execução da política

afirmativa de exigência de contratação de pessoas com deficiência, não só no que

se refere à verificação do cumprimento da lei, mas pela sua missão mais importante:

aquela de agente de transformação social.

Em nosso campo de pesquisa investigamos as pessoas com deficiência que

trabalham no SENAC direcionando nosso olhar para os limites e possibilidades

enfrentados pelos mesmos em relação ao mercado de trabalho e a qualificação

profissional. Ao transpor nossa análise, verificamos que os seis “colaboradores” com

deficiência que trabalham na instituição possuem deficiência física e estão dentre

quatro meses e onze anos na função.

O nível de escolaridade verificado entre os entrevistados está entre o

superior concluído ou em conclusão. Notamos, porém que os cargos ocupados são

inferiores em relação ao nível de escolaridade dando consequência a baixos

salários.

Sobre essa problemática ressaltamos a importância e o renome da

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instituição empregadora – SENAC – em nível nacional como qualificadora de mão-

de-obra para as demandas capitalistas. De acordo com a pesquisa, verificamos que

o SENAC se propõe, em parceria com o Governo, de garantir a qualificação e

inserção profissional para pessoas com deficiência através do seu projeto

Deficiência e Competência.

A realidade, porém foi constatada através de relatos dos entrevistados que

descrevem desconforto e readaptação no ambiente de trabalho, falta de

oportunidades para mostrar habilidades, cargos hierarquicamente inferiores em

relação ao nível escolar e baixos salários em decorrência do cargo ocupado.

Nesse âmbito, podemos sugerir melhores cargos e salários para as pessoas

com deficiência, pois a política enfatiza a educação inclusiva e a inserção

profissional, porém há uma certa incredibilidade por parte das empresas em oferecer

vagas de maiores portes para as pessoas com deficiência, fiscalização do gestor e

pesquisa de ambientação e adaptação ao trabalho por parte da empresa ao

empregado com deficiência e propostas de cargos e salários a fim de oportunizar a

ascensão profissional das pessoas com deficiência.

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APÊNDICE

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APÊNDICE 1

Entrevista: Pessoas com Deficiência no SENAC

Nome:

Idade:

Escolaridade:

Função:

Tempo de Serviço:

1. Relate sobre o trajeto de inserção na Instituição Senac e os desafios durante

o processo de recrutamento.

2. Quais vantagens e desvantagens você atribui por estar trabalhando nessa

instituição?

3. Com relação à sua deficiência, fale sobre os limites aos quais se dispôs em

âmbitos trabalhistas e no SENAC.

4. Tendo como ponto de vista suas limitações, se fosse para modificar algo na

instituição, o quê você proporia ao SENAC?

5. Em relação à qualificação profissional, você como candidato ao mercado de

trabalho, quais as principais carências você lhe atribui ao enfrentar o

processo de inclusão?

6. Sobre essas carências, o quê você sugere para que outras pessoas com

deficiência tenham melhores possibilidades para a inserção profissional?

7. Quais os principais trajetos que você buscou para abranger sua capacitação

profissional?

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8. Fale sobre as dificuldades enfrentadas na tentativa de inclusão na educação

profissional e no mercado de trabalho tendo como ponto de vista sua

deficiência.

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APÊNDICE 2

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo tema é PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO, tendo por objetivo analisar o

processo de inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e as

necessidades de formação frente às novas exigências impostas pelo capitalismo.

Sua participação é voluntária, não lhe causando nenhum dano a sua

qualidade de vida. A qualquer momento, poderá desistir de participar do estudo sem

qualquer prejuízo e todas as informações obtidas serão mantidas em sigilo assim

como sua identidade.

A pesquisa será realizada através de entrevista semi-estruturada e

questionário. Destacamos que a entrevista será individualizada e gravada para que

não haja perda do conteúdo.

Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa

e os resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos, em revistas

especializadas e/ou encontros científicos, sem a identificação do entrevistado. Em

caso de dúvidas ou para outras informações, poderá entrar em contato com a

pesquisadora responsável, xxxxxxxxxx, pelo telefone (85) xxxxxxxx

Este termo terá duas vias iguais, sendo uma para o sujeito participante da

pesquisa ou para seu responsável legal e outro para o arquivo da pesquisadora.

Desse modo, tendo tomado conhecimento sobre o teor da pesquisa

concordo em participar dela de forma livre e esclarecida.

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Nome:________________________________________________________

Assinatura:____________________________________________________

Telefone:________________________

Data: ____________________________

______________________________________________________

Assinatura da Pesquisadora