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Petição Inicial e seus Trâmites 1.1 - Introdução Uma vez levada ao Poder Judiciário, a petição inicial será registrada, autuada e distribuída para o juiz competente. A distribuição é feita por sorteio nas comarcas as quais haja mais de um juiz competente, ou seja, varas especializadas em determinada matéria. Chegando às mãos do magistrado, este terá várias providências a tomar. A princípio o magistrado verificará os casos de incompetência absoluta, ou seja, analisará se a petição inicial que foi dirigida a ele não apresenta incompatibilidade de matéria, pessoa ou de função do órgão hierárquico. Um exemplo de incompetência absoluta em razão da matéria seria a situação de um juiz da vara de família receber uma inicial sobre ação de despejo. Nesse caso, deverá o magistrado determinar remessa dos autos ao juízo competente, sob pena de nulidade pelos atos praticados. Outro aspecto que o magistrado irá observar é se os requisitos previstos em lei para a elaboração da petição inicial, intrínsecos ou extrínsecos, foram devidamente observados pelo autor. Uma vez feita tal verificação, o juiz poderá tomar três atitudes, a saber: 1. Deferimento da citação: caso o magistrado tenha verificado que todas as exigências legais foram cumpridas pelo autor, irá determinar a citação do réu através de despacho, que foi denominado pela doutrina despacho positivo. Tal medida está prevista no art. 285 do CPC: Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.

Petição Inicial e seus Trâmites

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Page 1: Petição Inicial e seus Trâmites

Petição Inicial e seus Trâmites

1.1 - Introdução

Uma vez levada ao Poder Judiciário, a petição inicial será registrada, autuada e distribuída para o juiz competente.

A distribuição é feita por sorteio nas comarcas as quais haja mais de um juiz competente, ou seja, varas especializadas em determinada matéria.

Chegando às mãos do magistrado, este terá várias providências a tomar.

A princípio o magistrado verificará os casos de incompetência absoluta, ou seja, analisará se a petição inicial que foi dirigida a ele não apresenta incompatibilidade de matéria, pessoa ou de função do órgão hierárquico.

Um exemplo de incompetência absoluta em razão da matéria seria a situação de um juiz da vara de família receber uma inicial sobre ação de despejo. Nesse caso, deverá o magistrado determinar remessa dos autos ao juízo competente, sob pena de nulidade pelos atos praticados.

Outro aspecto que o magistrado irá observar é se os requisitos previstos em lei para a elaboração da petição inicial, intrínsecos ou extrínsecos, foram devidamente observados pelo autor.

Uma vez feita tal verificação, o juiz poderá tomar três atitudes, a saber:

1. Deferimento da citação: caso o magistrado tenha verificado que todas as exigências legais foram cumpridas pelo autor, irá determinar a citação do réu através de despacho, que foi denominado pela doutrina despacho positivo.

Tal medida está prevista no art. 285 do CPC:

Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor.

Uma vez citado, a relação processual se completa, momento em que o réu passa a integrar à lide.

2. Saneamento da petição: pode o magistrado verificar que a petição inicial deixou de observar algum requisito exigido pela legislação, previsto no art. 282 ou art. 283 do CPC ou alguma irregularidade capaz de dificultar o julgamento do mérito.

Nessa hipótese, o membro do Poder Judiciário poderá mandar que autor emende a inicial, momento em que é concedida vista ao autor pelo prazo de 10 dias determinando que o vício seja sanado sob pena de indeferimento da inicial, conforme se depreende do art. 284 do CPC:

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Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

3. Indeferimento da petição: caso não seja cumprida a exigência de emenda da inicial, ou na hipótese do magistrado entender que a petição inicial carece de algum requisito essencial, poderá indeferi-la.

Nesse caso trata-se de uma decisão negativa, que impede a formação da relação processual por completo, pois o réu não integra à lide.

O magistrado, nesse caso, não proferiu decisão sobre o mérito da petição inicial, mas atuou de forma liminar, embasado pela falta de alguma formalidade que, no seu exame, deixou de ser observada e que impediria o processamento da exordial.

Dessa decisão de caráter negativo, que tem natureza de sentença, cabe recurso de apelação, e ao juiz será facultado, pelo prazo de 48 horas, exercer o juízo de retratação, ou seja, possibilidade de modificar de sua decisão, nos termos do art. 296 do CPC:

Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão.

Parágrafo único - Não sendo reformada a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente

Não havendo a retratação por parte do juiz, os autos serão encaminhados ao tribunal competente, órgão hierarquicamente superior ao de origem.

Nesta hipótese o réu, como ainda não integrou à lide, não é chamado a acompanhar a apelação. Só após o julgamento da apelação, caso esta seja procedente, é que os autos retornam ao juízo de origem, e ocorre a citação por determinação do acórdão.

O réu poderá deduzir em sua defesa qualquer tema que entender relevante, vez que, como o réu não participou da discussão relativa à matéria levantada pela apelação, a coisa julgada (pelo tribunal) não vale contra ele.

Cumpre ressaltar que o indeferimento da inicial sem julgamento do mérito não impede que o autor ajuíze outra ação com o mesmo objeto.

Porém, em alguns casos o indeferimento da inicial implica em julgamento do mérito.

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Um exemplo disso ocorre quando o juiz verificar a ocorrência de prescrição ou decadência, conforme 295, IV do CPC:

Art. 295. A petição inicial será indeferida:

IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição;

Com as recentes alterações da legislação processual, o juiz, verificando a ocorrência de prescrição, a decretará de ofício, ou seja, independente das alegações das partes, nos termos do art. 219, §5º do CPC:

Art. 219. A citação válida torna prevento (prevenido) o juízo, induz litispendência (decurso de um processo judicial) e faz litigiosa (que é objeto de contestação na justiça) a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora (retardamento do credor ou do devedor no cumprimento de uma obrigação judicial) o devedor e interrompe a prescrição.

§ 5o O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.

Outro exemplo em que o indeferimento da inicial implica em julgamento do mérito é o caso previsto no art. 295, II, quando não houver

uma conclusão lógica dos fatos narrados pelo autor.

Art. 295 - A petição inicial será indeferida: I - quando for inepta;II - quando a parte for manifestamente ilegítima;III - quando o autor carecer de interesse processual;IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (Art. 219, § 5º);V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal;VI - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.

Parágrafo único - Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;III - o pedido for juridicamente impossível;IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Por exemplo: uma ação com pedido de prisão civil para compelir o cumprimento de obrigação infungível, ou seja, que não pode ser substituída por outra de mesma espécie, quantidade e qualidade.Ora, nesse caso, não há como pretender a prisão do devedor, pois de acordo com as regras vigentes, a situação se resolveria em perdas e danos.

Assim, o magistrado iria indeferir uma inicial nessas condições, pois não houve uma conclusão lógica dos fatos narrados pelo autor.

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1.2 - Casos de inépcia da inicial

De acordo com o art. 295, a petição inicial será considerada inepta nos seguintes casos:

Art. 295 - A petição inicial será indeferida: I - quando for inepta;II - quando a parte for manifestamente ilegítima;III - quando o autor carecer de interesse processual;IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (Art. 219, § 5º);V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal;VI - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.

Parágrafo único - Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;III - o pedido for juridicamente impossível;IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Partindo do primeiro inciso do art. 295 do CPC, a petição será considerada inepta quando incorrer em alguma das hipóteses previstas no art. 295, parágrafo único.

O segundo inciso refere-se à parte ilegítima para ação. Ora, nesse caso, o autor não é quem a lei prevê para postular o direito em litígio.

O terceiro inciso, por sua vez, refere-se ao interesse processual, que se traduz na necessidade de tutela jurisdicional para que o autor obtenha a satisfação de seu direito, ou seja, o interesse ou necessidade da tutela jurisdicional decorre da ameaça ou violação de um direito subjetivo.

O quarto inciso refere-se à verificação pelo juiz da decadência ou prescrição. Ora, conforme já fora dito nessa oportunidade, com as recentes alterações do CPC, art. 219, §5º, o juiz decretará de ofício a prescrição, indeferindo a inicial quando verificar a ocorrência de prescrição.

O inciso quinto refere-se ao procedimento escolhido pelo autor. Ora, nesse caso, vigora a regra da conversão ao procedimento adequado.

A petição inicial somente será indeferida, nessa hipótese, caso seja impossível fazer qualquer conversão, como por exemplo, quando a conversão implicar em alteração do próprio pedido.

Um exemplo seria a impossibilidade de se converter uma petição inicial de execução, em petição inicial de um processo de conhecimento.

Nesse caso, a conversão implicaria em alteração do próprio pedido, e assim, a exordial deverá ser indeferida.

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O inciso sexto, por fim, refere-se à inobservância do autor no cumprimento de diligências determinadas pelo juiz.

No caso do art. 39, a exigência é para que o advogado indique o endereço onde irá receber as intimações. E o art. 284, por sua vez, refere-se à determinação de emenda da inicial para sanar irregularidades apresentadas na inicial, conforme já fora comentado neste estudo.

Obs: Há de se ressaltar que o indeferimento da inicial de forma liminar, ou seja, antes da citação, deve ser tido como situação excepcional, pois obstrui o devido processo legal e o contraditório, o que não deve ocorrer com freqüência.

Uma vez completa a relação processual é o juiz que terá condições de analisar com maior critério o caso concreto, podendo proferir uma decisão mais embasada.

Com o exercício do contraditório, o juiz poderá, com maior propriedade, julgar extinto um processo sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, I, cujo motivo seria justamente o indeferimento da inicial:

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

I - quando o juiz indeferir a petição inicial;

1.3 - Extensão do indeferimento

O indeferimento pode ser parcial ou total.

Será parcial quando o autor tiver postulado vários pedidos, e o juiz indeferir um ou apenas alguns, deixando prosseguir o processo em relação aos demais.

Será total quando o indeferimento abranger a totalidade dos pedidos, trancando o processo e impedindo que a relação processual se complete.