PETRÓLEO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

Embed Size (px)

Citation preview

  • Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    PETRLEO NA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA:GEOLOGIA, EXPLORAO, RESULTADOS E

    PERSPECTIVAS

    E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa

    O conceito de sistema petrolfero agrupa os diversos elementos que controlam aexistncia de jazidas de petrleo numa bacia sedimentar. Tal conceito, visualizadonuma escala global, parece justificar de maneira adequada as diversas provnciaspetrolferas conhecidas. A evoluo tectono-sedimentar meso-cenozica da margemcontinental brasileira propiciou o desenvolvimento desses elementos-chave, cujapresena requisito fundamental a que uma determinada regio seja atrativa paraa prospeco petrolfera. Merece destaque nesse particular o segmento de guasprofundas da Bacia de Campos, que, na viso contempornea, representa a poromais bem aquinhoada em termos de volumes descobertos de toda a margembrasileira. Em termos histricos, a explorao de petrleo no Brasil inclui trs grandesfases: o perodo pr-Petrobras, basicamente de atividades pioneiras dereconhecimento; a etapa de exclusividade da Petrobras, onde se vislumbram quatroetapas - 1954/1968: Fase Terrestre, 1969/1974: Fase Martima/Plataforma Rasa, 1975/1984: Fase Martima/Plataforma Rasa/Bacia de Campos, e 1985/1997: Fase Martima/Bacia de Campos/guas Profundas, cada uma delas com caractersticas particularese responsvel por sucessivos incrementos na reserva petrolfera do Pas, quealcana hoje cerca de 16 bilhes de barris de leo-equivalente; e a fase atual, soba vigncia da Nova Lei do Petrleo, caracterizada por intensa atividade em quevrias companhias nacionais e estrangeiras atuam tanto em reas anteriormentetrabalhadas como em desafiadoras novas fronteiras.

    Palavras-chave: Explorao de Petrleo; Provncias Petrolferas; Reserva petrolferado Brasil; Margem continental.

    PETROLEUM IN THE BRAZILIAN CONTINENTAL MARGIN: GEOLOGY,EXPLORATION, RESULTS AND PERSPECTIVES - The set of geologicalelements that control the petroleum existence and distribution in the sedimentarybasins are integrated under the concept of petroleum systems. Such a conceptseems to adequately justify the known petroleum provinces worldwide. TheMesozoic-Cenozoic tectono-sedimentary evolution of the Brazilian marginprovided the key elements for petroleum existence. In the present day view, thedeep water domain of the Campos Basin appears as the area where petroleumsystems worked in a very favourable manner, being the region that presentlyholds most of Brazilian oil and gas reserves. The history of petroleum explorationin Brazil includes three major phases: the pre-Petrobras phase, characterized bypioneer recognition activities; the Petrobras period, when the Company workedunder the monopoly regime, including the following sub-phases 1954/1968:exploration in land, 1969/1974: shallow water activities; 1975/1984: shallowwater in Campos Basin; and 1985/1997: deep water exploration; each one ofthese sub-phases had very peculiar characteristics, and the Brazilian petroleumreserves increased progressively during the entire phase, reaching today theamount of 16 billion barrels of oil-equivalent. Today, the Country is living under

    Received September 27, 2001 / Accepted December 05, 2001

  • 352 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    O CONCEITO DE SISTEMA PETROLFERO

    A indstria petrolfera foi gradualmentepercebendo, ao longo de dcadas de explorao, quepara se encontrar jazidas de hidrocarbonetos devolume significativo era imperioso que um determinadonmero de requisitos geolgicos ocorressemsimultaneamente nas bacias sedimentares. O estudodestas caractersticas de maneira integrada e asimulao preliminar das condies timas para suaexistncia concomitante, com o objetivo de permitira diminuio do risco exploratrio envolvido nasperfuraes de poos, um item de elevado custo,foram consolidados em um nico conceito: o desistema petrolfero (Magoon & Dow, 1994).

    Um sistema petrolfero ativo compreende aexistncia e o funcionamento sncronos de quatroelementos (rochas geradoras maturas, rochas-reservatrio, rochas selantes e trapas) e doisfenmenos geolgicos dependentes do tempo(migrao e sincronismo), que sero descritos a seguir.

    Rochas geradoras

    O elemento mais importante e fundamental para aocorrncia de petrleo em quantidades significativasem uma bacia sedimentar, em algum tempo geolgicopassado ou presente, a existncia de grandesvolumes de matria orgnica de qualidade adequadaacumulada quando da deposio de certas rochassedimentares que so denominadas de geradoras. Soestas rochas que, submetidas a adequadastemperaturas e presses, geraram o petrleo emsubsuperfcie. Se este elemento faltar em uma bacia,a Natureza no ter meios de substitu-la, ao contrriodos outros cinco elementos constituintes do sistema

    petrolfero, que mesmo estando ausentes, podem serde alguma forma compensados por condies deexcees geolgicas ou por algumas coincidnciasadequadas.

    Rochas geradoras so normalmente constitudasde material detrtico de granulometria muito fina(frao argila), tais como folhelhos ou calcilutitos,representantes de antigos ambientes sedimentares debaixa energia e que experimentaram, por motivosdiversos, exploses de vida microscpica. Osremanescentes orgnicos autctones (materialplanctnico) ou alctones (material vegetal terrestrecarreado para dentro do ambiente) so incorporadoss lamas sob a forma de matria orgnica diluda. Aprincpio, quanto maior a quantidade de matriaorgnica, mais capacidade ter a rocha para gerargrandes quantidades de petrleo. Entretanto, aincorporao desta matria orgnica na rocha devevir acompanhada da preservao de seu contedooriginal, rico em compostos de C e H. Para isto, oambiente deve estar livre de oxignio, elementoaltamente oxidante e destruidor da riqueza em C e Hdas partculas orgnicas originais. Em suma, ambientesanxicos favorecem a preservao da matria orgnicae, conseqentemente, a manuteno da riquezaoriginal de rochas geradoras.

    De uma maneira geral, rochas sedimentares comunsapresentam teores de Carbono Orgnico Total (COT,teor em peso) inferior a 1%. Para uma rocha serconsiderada como geradora seus teores devem sersuperiores a este limite de 1% e, muito comumente,situados na faixa de 2% - 8%, no sendo incomunsvalores de at 14%; mais raramente, at 24%. O tipode petrleo gerado depende fundamentalmente do tipode matria orgnica preservada na rocha geradora.Matrias orgnicas derivadas de vegetais superiores

    Petrleo Brasileiro S.A. - PetrobrasAv. Chile 65, Sala 1302-Q

    CEP: 20035-900 - Rio de Janeiro RJtel: 21-2534-1479fax: 21-2262-1677

    [email protected]

    the New Regulation of the Petroleum Sector; new players came into the game, re-exploring older provinces and reachingbrand new, challenging frontiers.

    Key words: Petroleum exploration, Petroleum Provinces; Brazilian petroleum reserves; Continental margin.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 353

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    tendem a gerar gs, enquanto o material derivado dezooplancton e fitoplancton, marinho ou lacustre tendea gerar leo. O estgio de maturao trmica de umarocha geradora, ou seja, a temperatura na qual elaest gerando petrleo, tambm influenciar no tipode petrleo gerado. Em condies normais, umarocha geradora comea a transformar seu querognioem petrleo em torno de 600oC. No incio, forma-seum leo de baixa maturidade, viscoso. medida quea temperatura aumenta, o leo gerado vai ficandomais fluido e quantidade de gs vai aumentando. Porvolta de 900oC, as rochas geradoras atingem seu picode gerao, expelindo grandes quantidades de leoe gs. Com o aumento da temperatura at os 1200oC,o leo fica cada vez mais fluido e mais rico em gsdissolvido. Por volta desta temperatura, a quantidadede gs predominante e o leo gerado j pode serconsiderado um condensado. Entre 1200 - 1500oC,apenas gs gerado pelas rochas-fonte.

    Migrao

    Uma vez gerado o petrleo, ele passa a ocuparum espao/volume maior do que o querogniooriginal na rocha geradora. Esta se tornasupersaturada em hidrocarbonetos e a pressoexcessiva dos mesmos faz com que a rocha-fonte sefrature intensamente, permitindo a expulso dosfluidos para zonas de presso mais baixa. A viagemdos fluidos petrolferos, atravs de rotas diversas pelasubsuperfcie, at chegada em um local portadorde espao poroso, selado e aprisionado, apto paraarmazen-los, constitui o fenmeno da migrao. Asrotas usuais em uma bacia sedimentar so fraturasem escalas variadas, falhas e rochas porosas diversas(rochas carreadoras), que ligam as cozinhas degerao, profundas, com alta presso, a regiesfocalizadoras de fluidos, mais rasas, com pressesmenores.

    Trapa ou Armadilha

    Uma vez em movimento, os fluidos petrolferosso dirigidos para zonas de presso mais baixas queos arredores, normalmente posicionadas em situaesestruturalmente mais elevadas que as vizinhanas. As

    configuraes geomtricas das estruturas das rochassedimentares que permitem a focalizao dos fluidosmigrantes nos arredores para locais elevados, que nopermitam o escape futuro destes fluidos, obrigando-os a l se acumularem, so denominadas de trapasou armadilhas. Elas podem ser simples como o flancode homoclinais ou domos salinos, ou, maiscomumente, como o pice de dobras anticlinais/arcos/domos salinos, ou at situaes complexas comosuperposio de dobras e falhas de natureza diversas.Este tipo de aprisionamento, em uma estruturaelevada, denominado de trapeamento estrutural.

    Nem sempre o petrleo aprisionado em situaesestruturais. Eventualmente, a migrao do petrleopode ser detida pelo acunhamento da camada-transportadora, ou bloqueio da mesma por umabarreira diagentica ou de permeabilidade, ficandoento retido em posies estruturalmente no-notveis. Neste caso, teremos um trapeamento decarter estratigrfico.

    Rochas-reservatrio

    Rochas-reservatrio so normalmente litologiascompostas por material detrtico de granulometriafrao areia a seixo, representantes de antigosambientes sedimentares de alta energia, portadoresde espao poroso onde o petrleo ser armazenadoe, posteriormente, ser extrado. Tais rochas sogeralmente os arenitos, calcarenitos e conglomeradosdiversos. Entretanto, qualquer rocha que contenhaespao poroso, no necessariamente intergranular, denatureza diversa causado por fraturamento oudissoluo tambm pode fazer s vezes de rochas-reservatrio. Como exemplos temos rochas gneas emetamrficas cristalinas fraturadas, ou maisprecisamente, qualquer tipo de rocha fraturada,mrmores lixiviados, entre vrios outros.

    As rochas-reservatrio mais comuns so areiasantigas, depositadas em dunas, rios, praias, deltas,plancies litorneas sujeitas influncia de ondas/mars/tempestades, e em mares e lagos profundos,atravs de correntes de turbidez. Depois dos arenitos,os reservatrios mais comuns so rochas calcriasporosas depositadas em praias e planciescarbonticas, desenvolvidas em latitudes tropicais e

  • 354 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    livres de detritos siliciclsticos, calcrios de recifesde organismos diversos, e, finalmente, calcriosdiversos afetados por dissoluo por guasmetericas. Os valores de porosidade mais comunsdas rochas-reservatrio variam de 5% - 35%,concentrando-se na faixa de 15% - 30%.

    As rochas porosas no servem apenas comoarmazenadores finais do petrleo acumulado. Elasservem igualmente como rotas de migraoimportantssimas para os fluidos petrolferos, atuandocomo carrier beds.

    Rochas Selantes

    Uma vez atrados para o interior de uma trapa ouarmadilha, os fluidos petrolferos devem encontrar umasituao de impermeabilizao tal que os impea deescaparem. Normalmente, esta condio providapor rochas selantes, situadas acima das rochas-reservatrio, que impedem o escape dos fluidos,aprisionando-os e formando assim uma acumulaopetrolfera.

    Rochas selantes so normalmente de granulometriafina (folhelhos, siltitos, calcilutitos) ou qualquer rochade baixa permeabilidade, cuja transmissibilidade afluidos seja inferior dos reservatrios a elasrelacionados em vrias ordens de grandeza (porexemplo, evaporitos diversos, rochas gneasintrusivas). Eventualmente, mudanas faciolgicas ou

    diagenticas dentro da prpria rocha-reservatrio, oumesmo elementos estruturais tais como falhamentos,podero servir de selo para o petrleo.

    Sincronismo

    Sincronismo, no tocante geologia do petrleo, o fenmeno que faz com que as rochas geradoras,reservatrios, selantes, trapas e migrao se origineme se desenvolvam em uma escala de tempo adequadapara a formao de acumulaes de petrleo. Assimsendo, uma vez iniciada a gerao de hidrocarbonetosdentro de uma bacia sedimentar, aps umsoterramento adequado, o petrleo expulso da rochageradora deve encontrar rotas de migrao jformadas, seja por deformao estrutural anterior oupor seu prprio mecanismo de sobrepressodesenvolvido quando da gerao. Da mesma maneira,a trapa j deve estar formada para atrair os fluidosmigrantes, os reservatrios porosos j devem ter sidodepositados, e no muito soterrados para perderemsuas caractersticas permo-porosas originais, e asrochas selantes j devem estar presentes paraimpermeabilizar a armadilha.

    Se estes elementos e fenmenos no seguirem umaordem temporal favorvel, o sincronismo, de nadaadiantar a existncia defasada de grandes estruturas,abundantes reservatrios e rochas geradoras comelevado teor de matria orgnica na bacia sedimentar.

    Figura 1 Ilustrao esquemtica do sistema petrolfero atuante na Bacia de Campos (segundo Rangel & Martins, 1998).

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 355

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    A falta de sincronismo entre os elementoscomponentes do sistema petrolfero tem sido uma dascausas mais comuns no insucesso de perfuraesexploratrias no mundo inteiro. A Fig. 1 ilustra osistema petrolfero ativo na Bacia de Campos eresponsvel pelas maiores acumulaes de petrleoj descobertas no Brasil.

    A DISTRIBUIO DE PETRLEO NOMUNDO

    A distribuio geogrfica do petrleo no mundo um dos fatos mais difceis de ser entendido porpessoas leigas em cincias geolgicas. Poucos pases,normalmente cobertos por desertos ou por selvas eextremamente pobres em riquezas naturaissuperficiais, concentram a maioria das reservaspetrolferas do planeta. J os demais pases, situadosem climas temperados e bem aquinhoados com outrasriquezas naturais, possui uma frao muito pequenado petrleo mundial e, neste aspecto so

    implacavelmente dependentes dos paseshegemnicos do petrleo, proprietrios desta imensariqueza em combustveis fsseis. Isto se deve ao fatode que tal distribuio no guarda qualquer relaocom geografia e sim com a geologia do subsolo, coma distribuio de bacias sedimentares formadas hdezenas ou at centenas de milhes de anos, e quenenhum compromisso guardam com os limitesartificiais, polticos, impostos recentemente pelahumanidade na superfcie terrestre.

    O conceito de sistema petrolfero apresentadoacima explica o porqu de as regies mais ricas empetrleo do planeta (Fig. 2) estarem concentradas emuma faixa grosseiramente Leste-Oeste, nas regiessub-tropicais a sub-temperadas do hemisfrio norte(Amrica do Norte/Mediterrneo/Oriente Mdio/siaCentral/Sudeste Asitico/Sudoeste Pacfico). Amesma rocha geradora rica em matria orgnica(folhelhos neojurssicos), elemento base do conceitode sistemas petrolferos, est presente no subsolo detoda esta faixa. O mesmo ambiente tectnico - coliso

    Figura 2 Distribuio dos sistemas petrolferos com maiores reservas de petrleo (exclusive guas profundas e ultraprofundas) domundo. O tamanho do crculo proporcional s reservas (petrleo recupervel) encontradas no sistema petrolfero. As reas mais ricas soo Oriente Mdio, a Bacia da Sibria Ocidental e a Venezuela (Bacia de Maturin e Lago Maracaibo).

  • 356 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    de placas continentais - deformou ou influenciouestruturalmente esta faixa. Os mesmos reservatrios- carbonatos juro-cretcicos - so abundantes aolongo desta faixa.

    Este intervalo de tempo (Neojurssico e o inciodo Mesojurssico, 160 - 135Ma) engloba as rochasgeradoras mais ricas conhecidas, estando elasrelacionadas a um paleo-mar denominado de Tethys,que se desenvolveu em paleolatitudes quentes eequatoriais, desenvolvendo abundantes plataformascarbonticas e camadas anxicas repletas de matria

    de Tethys) no Golfo do Mxico. Muito embora notenha havido uma coliso continental nesta rea, ainterao entre a Placa do Caribe e a Placa Norte-Americana foi suficiente para fornecer um ambientetectnico compressional ativo semelhante s colisesdo outro lado do Atlntico.

    A Placa Africana colidiu com a Europa formandoas cadeias de montanhas do Atlas, Pirineus, Alpes(Itlia/Sua/ustria e Dinricos) e Crpatos. Muitoembora as produes de petrleo destas reasgeologicamente conturbadas sejam pequenas, duas

    Tabela 1 Doze regies do planeta contm 70% do volume de petrleo descoberto at hoje. Do volume total (2.767 bilhes de barris), 37%(1.009 bilhes de barris) j foram produzidos e consumidos pela humanidade, restando ainda 63% (1.758 bilhes de barris) como reservasconhecidas e produzveis.

    orgnica, mas que, posteriormente, foi destrudo/assimilado por sucessivas colises continentais daPlaca Eurasiana com vrias outras vindas do sul, nofinal do Cretceo e, principalmente, durante oTercirio. Uma longa cicatriz de montanhas e baciassedimentares pouco ou muito amarrotadas, repletasde petrleo, marca a localizao deste paleo-mar,outrora muito rico em matria orgnica..

    De oeste para leste, aparece a provncia petrolferade carbonatos do Mxico, a oeste da Pennsula deYucatan (e em menor escala, Cuba) e o delta doMississipi (uma feio sedimentar posterior que sedesenvolveu de maneira fortuita sobre uma extensopaleo-setentrional da antiga rocha geradora do Mar

    importantssimas provncias petrolferas se associamao paleo-mar de Tethys na Europa. A Bacia daSibria Ocidental (Rssia), a segunda mais rica doplaneta, e o Mar do Norte (Reino Unido e Noruega).Mesmo relativamente distantes da cicatriz atual dofechamento do paleo-mar neojurssico, e comdesenvolvimento tectnico distinto da colisocontinental ocorrente mais a sul (bacias intracratnicasconstitudas por riftes aulacognicos cobertas pordepresses circulares tipo sag), ambas reasreceberam transgresses marinhas paleo-setentrionaisoriundas do paleo-mar de Tethys, semelhana doGolfo do Mxico. Ambas bacias sedimentarespossuem em suas profundezas os ricos folhelhos

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 357

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    geradores do Neojurssico, responsveis pela maioriado petrleo ocorrente nestas duas reas.

    A regio mais rica em petrleo o Oriente Mdio(vide Tabela 1). Arbia Saudita, Iran, Iraque e Kuwaitdominam o cenrio petrolfero mundial com asmaiores reservas e maiores produes de petrleo.Seguem de perto os Emirados rabes, Oman e Qatar.As principais razes geolgicas para tal abundnciaso (i) a presena de rochas geradoras ricas, contnuase extensas no Jurssico Superior (principal), Cretceoe Siluriano, (ii) a existncia de numerosas rochascarbonticas porosas como excelentes reservatriosno Jurssico, Cretceo e Tercirio, alm de arenitosigualmente porosos paleozicos e tercirios, e (iii) umtectonismo ativo, recente (Tercirio) e relativamentesimples, composto por dipiros salinos e estruturascompressionais relacionadas coliso da PlacaArbica com a Placa Eurasiana ao longo dasMontanhas Zagros. Relacionada ainda a esteambiente de rochas geradoras jurssicas ricas emmatria orgnica e reservatrios porosos juro-cretcicos est a regio situada entre o Mar Negro eo Mar Cspio, posicionada do lado norte da colisodas Placas Eurasiana e Arbica. Atravs do Sudesteda sia (Paquisto, Afganisto e ndia, relacionados coliso da Placa da ndia com a Eurasiana) e doSudoeste do Pacfico (Papua-Nova Guin e Noroesteda Austrlia, relacionados coliso da PlacaAustraliana com a Placa Pacfica) provnciaspetrolferas de menor importncia indicam ainda osresqucios da vasta rea de ocorrncia dos ricosfolhelhos geradores neojurssicos.

    Outras reas clssicas ricas em petrleo estorelacionadas a outras rochas geradoras de idadesdiferentes. O Norte da Amrica do Sul (Venezuela,Colmbia, Equador e Trinidad-Tobago), uma partedo Golfo do Mxico (U.S.A.), a parte central dosEstados Unidos (bacias intermontanas e foreland dasMontanhas Rochosas), a Bacia de Sirte na Lbia, nortedo Egito e parte do Iran tiveram seu petrleo geradonos folhelhos ricos em matria orgnica depositadosdurante eventos anxicos globais no Cenomaniano-Turoniano (96 - 88 Ma).

    As bacias sedimentares sub-apalachianas dosEstados Unidos (a oeste dos Apalaches, onde seiniciou a indstria petrolfera, e a norte das montanhasOuachita), as provncias gaseferas do Rio Urucu na

    Bacia do Solimes e da Argentina/Bolvia, a riqussimaregio gasefera da parte sul do Mar do Norte eEuropa Ocidental, a regio que abrange o Mar Cspioe o lado ocidental dos Montes Urais, o norte da frica(oeste da Lbia e Arglia) e parte da Arbia Sauditativeram seu petrleo gerado a partir de folhelhos ricosem matria orgnica de idades bem mais antigas,paleozicas, principalmente do Siluriano (435 - 425Ma), do Devoniano (400 - 355 Ma) e do Permiano(260 - 250 Ma). Rochas geradoras mais novas, doTercirio (65 - 5 Ma), so responsveis pela riquezade clssicas provncias petrolferas tais como o Deltado Nger, as bacias interiores da China, as baciasoffshore do Sudeste Asitico (Indonsia, Malsia eFilipinas), Califrnia, Golfo de Suez no Egito e algumasbacias interiores da Europa Central.

    O petrleo em guas profundas

    De 1985 para os dias de hoje, tem ocorrido umaacelerada busca pelas riquezas petrolferas situadasem guas profundas (lminas dgua superiores a600m) e ultraprofundas (lminas dgua superiores a2000m) dos taludes e sops das margens continentaisde determinadas regies do planeta. Esta corrida,motivada pelos contnuos aumentos do preo dopetrleo impostos pelo mercado internacional, pelodecrscimo das reservas e produes de petrleo dospases industrializados e economicamente emergentes(USA, Canad, Reino Unido, Frana, Itlia, Brasil) epela instabilidade poltica das principais regiesexportadoras de petrleo, trouxe consigo umdesenvolvimento tecnolgico sem paralelo na indstriapetrolfera (hoje, com um retrospecto de atividadesque alcana os 150 anos). Atualmente, a exploraoe a produo de petrleo em guas profundas mereceum captulo parte na histria da indstria petrolferamundial.

    Motivados pelos baixos custos de descobertadestes grandes volumes de petrleo no offshoreprofundo e pela grande produtividade dosreservatrios turbidticos (na casa de dezenas demilhares de barris por dia), a indstria petrolfera,liderada pela Petrobras, se lanou de maneira maciana prospeco de petrleo nas guas profundas.Cerca de 12 bilhes de barris de reservas foramencontradas pela Petrobras na Bacia de Campos

  • 358 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    (Guardado et al., 1990). Esta bacia foi o laboratriomundial do desenvolvimento tecnolgico que nestesquinze anos permitiu a entrada em produo decampos situados em lminas dgua desde 400 m(Campo de Marimb) at 1900 m (Campo deRoncador). O Golfo do Mxico, liderado pela Shell,participou deste corrida, fornecendo um grandenmero de descobertas que, embora apresentassemvolumes significativamente inferiores aos da Bacia deCampos (cerca de 3 bilhes de barris de reservas),puderam ser colocados em produo pelo imensomercado faminto de energia situado em suasadjacncias e pela gigantesca infra-estrutura jexistente em suas guas rasas. Vinte campos depetrleo situados, entre lminas dgua entre 600 e1600 m j entraram em produo no Golfo doMxico.

    A costa oeste da frica, notadamente nas guasprofundas de Angola (delta do Congo) e Nigria (deltado Niger), completa o chamado tringulo douradodas guas profundas (Fig. 3). Uma srieimpressionante de descobertas feitas por companhiascomo a Elf e a Total (hoje TotalFinaElf), Esso (hojeExxonMobil), British Petroleum (hoje BP-Amoco) eTexaco j somam cerca de 8 bilhes de barris dereservas. Entretanto, o nico campo em produoatualmente em lminas dgua superiores a 600 mencontra-se na Guin Equatorial (Campo de La Ceiba)operado pela pequena companhia Triton.

    Outras reas em franco desenvolvimento nonmero de descobertas e na perspectiva de entradaem produo de campos de petrleo em guasprofundas so o sudeste asitico (Indonsia, Filipinase Malsia), o Mediterrneo (delta do Nilo no Egito eIsrael, e Mar Adritico na Itlia, este j com um campoem produo em 800 m de lmina dgua), o Mar doNorte, Austrlia, Trinidad Tobago e outros pases dafrica Ocidental (Guin Equatorial, Congo, Costa doMarfim e Mauritnia).

    Nas guas profundas e ultraprofundas, a maioriados sistemas petrolferos ativos so deltaicos. Asrochas geradoras podem ser folhelhos prodeltaicos(eocnicos-oligocnicos), existentes antes daprogradao de grandes deltas oligo-miocnicos, taiscomo nos deltas do Niger, do Nilo e do Mahakam(Indonsia), ou folhelhos mais antigos, relacionadosa depsitos anxicos do Cenomaniano/Turoniano,

    cobertos igualmente por progradaes deltaicas oligo-miocnicas, tais como os deltas do Orinoco (TrinidadTobago) e do Congo (Angola/Congo). No caso dodelta do Mississipi, no Golfo do Mxico, as rochasgeradoras principais so os folhelhos neojurssicos,com uma significante contribuio dos folhelhoscenomaniano-turonianos. As rochas-reservatrio sopredominantemente arenitos turbidticos, adeformao/trapeamento do tipo compressional(relacionado a sistemas gravitacionais interligados dedeslizamento-encurtamento) ou associado tectnicasalina e a subsidncia necessria para a maturao emigrao do petrleo originada pela sobrecarga dosespessos pacotes deltaicos sobre as rochas geradorassubjacentes.

    No caso particular da Bacia de Campos, o mesmosistema petrolfero atuante nas guas rasas atuaigualmente em guas profundas, ou seja, as rochasgeradoras so folhelhos lacustrinos do CretceoInferior e as rochas reservatrio so turbiditos deidades diversas, variando do Albiano at o Mioceno(Fig. 1). A maturao necessria para a gerao dopetrleo parece estar ligada progradao terciriado delta do rio Paraba do Sul.

    Evoluo Tectono-Sedimentar da MargemContinental Brasileira

    A margem divergente da Amrica do Sul,estendendo-se por mais de 12.000 km desde o Deltado Orinoco no Oriente Venezuelano at a Terra doFogo, no extremo sul da Argentina, inclui um sistemacontnuo de bacias sedimentares originadas pelosmecanismos de distenso litosfrica que, a partir doMesozico, conduziram ruptura do paleocontinenteGondwana, e separao definitiva das placasAfricana e Sul-Americana, acompanhando a formaodo Oceano Atlntico Sul.

    Considerando-se a natureza e a orientao doscampos de tenses regionais durante a fase derifteamento e a dinmica das placas Africana e Sul-Americana durante a fase de deriva continental, trsdomnios distintos (Fig. 4) podem ser reconhecidosao longo da margem: uma regio dominantementedistensiva, entre o sul da Argentina e o extremonordeste da costa brasileira; um segmento de naturezatransformante, correspondente ao Atlntico

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 359

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    Figura 3 Distribuio dos sistemas petrolferos de guas profundas e ultraprofundas no mundo. O tamanho do crculo proporcional sreservas encontradas. As reas mais ricas so a Bacia de Campos, o Golfo do Mxico e a frica Ocidental (da Nigria at Angola).

    Figura 4 A Placa Sulamericana e os domnios da margem atlntica.

    Equatorial; e a regio ao norte da Foz do Amazonas,onde novamente operaram processos de carterdominantemente distensional (Milani & Thomaz Filho,2000).

    No domnio distensivo meridional, o estilo estruturaldurante a fase rifte foi marcado pela atividade defalhas normais orientadas principalmente na direoparalela costa. Este estilo pode ser observado emcada uma das bacias individuais ao longo da margem(Ojeda, 1982; Chang et al., 1992). Falhas detransferncia ocorrem a altos ngulos em relao direo regional de desenvolvimento das falhasnormais. O conjunto de falhas normais evoluiu eacabou por definir a orientao regional de aberturada margem passiva, e as zonas de transferncia dorifte nuclearam as grandes falhas transformantes doassoalho ocenico, cuja projeo contra a borda docontinente se d em ngulo reto.

    O estilo tectnico da margem adjacente ao AtlnticoEquatorial foi diferente (Zaln, 1985; Szatmari et al.,1987; Mascle et al., 1988; Matos, 2000).Cisalhamento dextrgiro foi o mecanismo responsvel

  • 360 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    pela ruptura crustal, originando um padro de falhasoblquas subverticais que controlaram o rifteamentoe evoluram para grandes zonas de fratura ocenicasparalelas costa (Gorini, 1977), entre as quaisincluem-se Fernando de Noronha, Chain, Romanchee So Paulo.

    Uma terceira regio na margem divergente daAmrica do Sul corresponde ao trecho situado aonorte da Foz do Amazonas. Tal domnio faz parte deum outro contexto distensivo, o do Oceano AtlnticoCentral, mais antigo que o restante da margem umavez que l se encontram documentados processos deruptura ativos j no Trissico.

    Os vrios setores individuais ou bacias ao longoda extensa e contnua margem divergente docontinente compartilham algumas caractersticascomuns, como por exemplo os clssicos estgiostectono-sedimentares evolutivos que incluem o rifte,a fase transicional e a marinha aberta (Asmus & Ponte,1973). Entretanto, diferenas significativas ocorremmuitas vezes entre setores da margem, o que em partejustifica serem tratadas como entidades geolgicasindividualizadas.

    Segmento do Atlntico Central

    A poro da margem da Amrica do Sulposicionada ao norte da Foz do Amazonas (Fig. 5),em que se inclui o segmento correspondente costado Estado do Amap, constitui em termosgeotectnicos a extremidade meridional do OceanoAtlntico Central, documentando em seu registrosedimentar-magmtico o processo em grande escalade individualizao, ruptura e separao entre asplacas Norte Americana e Africana, ativo durante oNeotrissico e Eojurssico (Manspeizer, 1988).

    A Bacia de Cacipor-Foz do Amazonas bordejada a NW por um enxame de diques bsicosaflorante, que corresponde ao registro desse episdiode ruptura. Alguns poos perfurados igualmenteamostraram em subsuperfcie rochas gneas toleiticascom idades radiomtricas entre 222 e 186 Ma(Brando & Feij, 1994) que, associadas a red bedscontinentais, esto includas na Formao Caloene.Um segundo - e de fato o mais importante - episdiode rifteamento na rea teve lugar durante oValanginiano ao Meso-Albiano, quando foram

    Figura 5 Bacias sedimentares no contexto da Margem Equatorial brasileira.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 361

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    acumulados at 7.000 m de sedimentos sintectnicose rochas gneas associadas (125 Ma) em profundosgrbens, constituindo a Formao Cacipor. Orestante da seo cretcea-terciria representadopor pacotes siliciclsticos e carbonticos; uma feioparticular ocorre no intervalo ps-Mioceno em guasprofundas: o Cone do Amazonas, um gigantesco lequesedimentar submarino com vrios quilometros deespessura e constitudo por argilas parcialmenteinconsolidadas a que se intercalam depsitos dearenitos turbidticos, potencialmente reservatriospara acumulaes petrolferas. As estruturascaractersticas na rea do Cone do Amazonas sofalhas lstricas de crescimento (distensivas), dipirosde argila e falhas de empurro na poro mais distaldos grandes sistemas de escorregamento gravitacional.

    A propagao trissico-jurssica no sentido sul dorifteamento do Atlntico Central teve como segmentoterminal o rifte de Maraj. A Bacia de Maraj situa-se no Estado do Par, sendo dominada em superfciepelos terrenos pantanosos das vizinhanas da foz doRio Amazonas. uma bacia com formato de meia-lua com 52.000 km2 de rea, continuando paranordeste sob o Oceano Atlntico. Seu arcabouoestrutural inclui trs depocentros: Mexiana, Limoeiroe Camet. O primeiro orienta-se a SW-NE e constituia conexo da bacia interior com a margem continental,exibindo um padro complexo de dobramentos, falhasnormais e transcorrentes com magmatismo associado(220-200 Ma). A sub-bacia de Limoeirodesenvolveu-se segundo um trende NW-SE, sendoa maior dessas sub-bacias; em seu depocentro, oembasamento encontra-se soterrado sob mais de

    Figura 6 Arcabouo estratigrfico da margem equatorial brasileira.

  • 362 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    10.000 m de sedimentos. Grandes falhas normaissintticas de geometria lstrica compem seuarcabouo tectnico. A sub-bacia de Cametrepresenta a terminao SE deste rifte, tendo seimplantado sobre as seqncias paleozicas da Baciado Parnaba.

    Com o declnio da atividade das falhas normaisque caracterizaram a fase rifte, seguiu-se um estgiode sag, a partir do Cenomaniano, quando foramdepositados sedimentos predominantementeargilosos. Condies ps-rifte foram alcanadas noMaastrichtiano, e cerca de 4.000 m de sedimentoscontinentais a marinho-marginais foram acumulados(Formao Maraj). Uma grande parte destasedimentao corresponde descarga da baciaamaznica durante o Cenozico.

    Margem Equatorial

    A tectnica transcorrente, peculiar na evoluo daMargem Equatorial, imps caractersticas especficasquele segmento no que se refere dinmica dorifteamento e ao padro estrutural das baciassedimentares associadas. A arquitetura convencionaldas bacias do tipo rifte, onde a subsidncia controlada por uma importante falha normal de borda,a que se associam possantes leques deconglomerados sintectnicos, no um padrofacilmente identificvel nas bacias da MargemEquatorial (Matos & Waick, 1998).

    Estilos estruturais caractersticos de um rifteamentotranstensivo ao longo desse limite de placasconduziram a uma evoluo segmentada da MargemEquatorial, com sub-bacias apresentando entre sihistrias contrastantes em termos de fluxo trmico,subsidncia e distribuio de fcies sedimentares,magmatismo, eventos de soerguimento e episdiosde deformao. Alguns setores da Margem Equatorialexperimentaram subsidncia contnua ao longo dotempo, similarmente ao padro dominante na MargemLeste, ao passo em que outros foram submetidos aimportantes episdios de soerguimento e inverso queproduziram significativas lacunas em seus registrosestratigrficos. Os dados disponveis indicam que afase rifte ao longo da Margem Equatorial ocorreu deforma rpida, no Aptiano (Matos e Waick, 1998),tendo sido a ruptura litosfrica na regio patrocinada

    por um binrio de cisalhamento dextrgiro; em talcontexto de acelerada quebra e subsidncia mecnicageneralizada, incurses marinhas provenientes doAtlntico Central foram facilitadas, tendo influenciadoa sedimentao j durante a fase rifte.

    Quatro domnios ou bacias individualizadas soreconhecidas na Margem Equatorial Brasileira: Par-Maranho, Barreirinhas, Cear e Potiguar (Fig. 5). ABacia do Par-Maranho, posicionada na faixaocenica defronte aos estados homnimos e com reade 50.000 km2, tem como caracterstica marcanteem seu registro estratigrfico um espesso pacote derochas carbonticas, acumulados no intervalo detempo entre o Maastrichtiano e o Recente econhecidos como Formao Ilha de Santana. Estepacote carbontico grada lateralmente para umaseqncia arenosa proximal (Formao Areinhas).No sentido das guas profundas, dominam osfolhelhos de talude e bacia a que se intercalam arenitosturbidticos (Fig. 6).

    A tectnica adiastrfica, propelida por fluxos demassa no sentido das regies mais distais da margemcontinental, define um estilo de deformao bemcaracterstico, denominado por Zaln (2001) degravitational fold-and-thrust belts. O fenmeno foiestudado em detalhe na regio do Par-Maranho, ecorresponde a um domnio com grande incidncia defalhas de empurro e dobras associadas, similares emgeometria e dimenses aos clssicos cinturesorognicos das reas compressionais do planeta.

    A Bacia de Barreirinhas, ocupando a porocosteira e de plataforma continental do Estado doMaranho, tem rea de 20.000 km2, dominantementeoffshore. A bacia implantou-se em um substratosedimentar paleozico; o pacote rifte representadopelo Grupo Canrias, uma seo de arenitos lticosimaturos, siltitos e folhelhos esverdeados, um conjuntode estratos interpretado como depositados numcontexto deltaico preenchendo uma bacia rifteprecocemente marinha. Seguem-se os grupos Caju eHumberto de Campos, documentando o estgio ps-rifte na evoluo da margem. O Grupo Humberto deCampos constitui o clssico complexo sedimentar deplataforma-talude-bacia, sendo que fcies de guasprofundas, com arenitos turbidticos associados, estoincludas na Formao Travosas (Brando & Feij,1994).

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 363

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    A Bacia do Cear ocupa a poro ocenicadefronte ao estado de mesmo nome, tendo rea de35.000 km2. Em funo de particularidades nos estilosestruturais e estratigrficos, trs segmentos soreconhecidos na bacia: de oeste para leste, as sub-bacias de Piau-Camocim, Acara-Icara e Mundacaracterizam diferentes domnios separados porimportantes feies transversais positivas,correspondentes a altos do embasamento, a grandescorpos gneos ou a anticlinais em ampla escalaproduzidos por inverso tectnica sin-sedimentar.Particularmente a sub-bacia de Piau-Camocim(Zaln, 1985) caracteriza um complexo segmento daMargem Equatorial Brasileira onde operaramprocessos de inverso transpressiva, mecanismosestes os responsveis pelo desenvolvimento degrandes hiatos no registro sedimentar daquela rea,que envolvem o intervalo temporal entre o Neo-Cenomaniano e o Neo-Eoceno. O hiato equivalentenas regies vizinhas a leste de menor expresso,mas ainda importante em Acara-Icara, e torna-sequase imperceptvel na sub-bacia de Munda.

    A fase rifte acomodou mais de 4.000 m desedimentos siliciclsticos continentais naquelesegmento da margem, correspondentes a fcies derochas aluviais, fluviais e lacustres da FormaoMunda (Beltrami et al., 1994). A partir do Albiano,passaram a dominar condies francamente marinhas.Entre o Eoceno e o Recente, uma sedimentaoarenosa grossa acomodou-se junto s reas proximaisda bacia, a Formao Tibau, que grada para oscarbonatos da Formao Guamar e aos folhelhosda Formao Ubarana no sentido das pores maisdistais da bacia. Outro aspecto significativo observadona Bacia do Cear, certamente ligado presena deimportantes lineamentos ocenicos em seu substrato, a abundncia de montes submarinos e guyots nasregies de guas profundas.

    A Bacia Potiguar constitui o segmento de ligaoentre a Margem Equatorial e a Margem Leste, e ocuparea de 27.000 km2 na poro offshore e 22.000km2 em terra. Por seu posicionamento geotectnicoparticular, este setor inclui elementos de ambos oscontextos, o que lhe emprestou uma complexaevoluo. O rifteamento iniciou no Neo-Berriasiano(Cremonini et al., 1998) como resultado de um campodistensivo WNW-ESSE, persistente at o Eo-

    Barremiano. Um segundo pulso extensional, orientadoa E-W, teve lugar entre o Neo-Barremiano e o Eo-Aptiano. Seguiu-se uma fase transicional aptiana e aetapa de evoluo marinha. No Neo-Campaniano,uma deformao transcorrente afetou a rea,originando um padro de estruturas orientado aWNW-ESSE e produzindo uma discordncia deamplo significado na poro offshore da bacia.

    No Cenozico, teve lugar um magmatismobasltico subaquoso, conhecido como FormaoMacau. Eventos tectnicos tardios nesta rea incluemreativaes de feies estruturais NE-SW porcampos de tenses E-W, cuja extenso ao Recentefaz desta uma das regies de maior sismicidade doPas.

    A poro terrestre da Bacia Potiguar inclui umgrben confinado, no-aflorante, que abrigasedimentos lacustres da fase rifte de idade neocomianacom espessura total de 6.000 m. Recobre a seorifte um pacote de rochas de idade aptiana acampaniana.

    O arcabouo estrutural da calha central da BaciaPotiguar terra inclui depocentros ou grbens, altosinternos e plataformas. Os grbens apresentam-seassimtricos com orientao geral SW-NE,desenvolvidos sob o controle de grandes falhasnormais, sendo a principal delas a Falha deCarnaubais. Plataformas marginais rasas bordejam ogrben central em ambos os lados, e nessas reasest ausente o pacote eocretcico. Falhastranscorrentes E-W afetaram a bacia durante oBarremiano-Eoaptiano. Uma persistente atividademagmtica teve lugar durante a evoluo do riftePotiguar, e suas manifestaes so conhecidas comoFormao Rio Cear-Mirim, datados entre 140-120Ma (Araripe & Feij, 1994).

    O pacote rifte na Bacia Potiguar representadopela Formao Pendncia, composta por folhelhoslacustres com turbiditos arenosos, arenitos flvio-deltaicos e conglomerados, abrangendo o intervalotemporal Berriasiano ao Eoaptiano. Este pacote limita-se ao grben central, sem afloramentos. O topo dopacote rifte marcado por uma discordncia regional,e a unidade encontra-se basculada para SE.

    A Formao Alagamar, de idade Neoaptiana,recobre o pacote rifte. Ela representa o estgiotransicional continental para marinho da evoluo da

  • 364 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    Figura 7 Bacias sedimentares da margem leste brasileira.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 365

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    bacia, e consiste de folhelhos negros, margas ecalcilutitos. Esta seo recoberta por arenitos fluviaisfinos a grossos e argilitos de idade albo-cenomaniana(Formao Au). Acima, ocorrem os carbonatos dealta energia da Formao Jandara, de idadeturoniana-campaniana. Um recorrente magmatismoproduziu, no Eoceno-Oligoceno, os depsitos daFormao Macau.

    Margem Leste

    O Neojurssico marcou o incio do efetivorifteamento na poro sul da Amrica do Sul (Uliana& Biddle, 1988; Urien & Zambrano, 1996). Naporo meridional da Argentina, esta fase precocede ruptura documentada por alguns pulsosmagmticos mais antigos, datados entre 200 e 180Ma (Keeley & Light, 1993), indicando que orompimento litosfrico e a instalao da margemcontinental j eram iminentes. O arcabouo estruturalpr-existente, que inclui trendes de idade pr-cambriana, paleozica e trissica, exerceu umimportante papel durante o rifteamento mesozico,uma vez que a ruptura do Atlntico Sul acomodou-secomo falhas normais sobre um gro estrutural maisantigo. Do mesmo modo, a presena de estruturastransversais criou complicaes neste quadrosimplificado de propagao do rifte de sul para norte.

    A margem continental da Amrica do Sul, vista apartir de seu extremo meridional, inicia com umextenso trecho retilneo, orientado a NE-SW, em queinclui-se a Bacia de Pelotas (Fig. 7). Na terminaonordeste deste trecho desenvolve-se a Dorsal de SoPaulo, cujo prolongamento para NW, no sentido docontinente, encontra o Arco de Ponta Grossa. Estafeio corresponde a um brao abortado do rifte sul-atlntico inteiramente dominado por magmatismobsico do Eocretceo (134-128 Ma; Turner et al.,1994) que afeta os pacotes sedimentares paleozicosda Bacia do Paran e as regies de embasamentovizinhas.

    A Dorsal de So Paulo tambm define o limite suldo Plat de So Paulo, uma regio onde a larguratotal da crosta distendida durante o rifteamento assumeuma dimenso mais ampla quando comparada aorestante da margem. Nessa rea, a crosta continentalestirada alcana 400 km de largura, e sobre o plat

    alojam-se as bacias de Santos e Campos. No sentidodo oceano, o Plat de So Paulo limitado por umaescarpa abrupta, em parte correspondente tambmao limite externo de ocorrncia dos evaporitosaptianos. Para NW, o Plat de So Paulo delimitadopela Serra do Mar, outra feio proeminente ao longoda margem leste brasileira. A configurao destasmontanhas costeiras dada por uma cadeia deescarpas com cerca de 1000 km de comprimento e2200 metros de altitude mxima; seu trende SW-NEfoi herdado do embasamento pr-cambriano.

    Para norte do Plat de So Paulo, a margembrasileira extende-se por cerca de 1200 km numadireo N-S, at alcanar uma bifurcao no paralelocorrespondente Cidade do Salvador; a se incluemas bacias do Esprito Santo-Mucuri, Cumuruxatiba,Jequitinhonha e Camamu-Almada. A partir da referidabifurcao, um ramo seguiu N-S continente-adentro,constituindo o rifte abortado do Recncavo-Tucano-Jatob, e o outro propagou-se ao longo da margemem desenvolvimento, definindo as bacias de Jacupe,Sergipe-Alagoas e Pernambuco-Paraba, at alcanaro Alto de Touros, no extremo nordeste do continente.

    A Bacia de Pelotas ocupa cerca de 200.000 km2na regio costeira e martima do Estado do RioGrande do Sul, dos quais 40.000 km2 na rea emersa.Em sua poro em terra, a Bacia de Pelotas inclui umpacote de rochas sedimentares siliciclsticas de idadeterciria com at 1.800 m de espessura (Dias et al.,1994; Fontana, 1995).

    O pacote sedimentar que preenche a Bacia dePelotas assenta diretamente sobre o embasamentocristalino ou sobre seqncias paleozicaseqivalentes s da Bacia do Paran. O limite sul dabacia dado pela Zona de Fratura do Chuy, junto aolimite territorial com o Uruguai. Para norte, aPlataforma de Florianpolis e a Dorsal de So Pauloconstituem o limite entre as bacias de Pelotas e deSantos.

    A fase rifte ocorreu durante o Neocomiano, e entose acumularam rochas siliciclsticas grossas daFormao Cassino associadas aos fluxos baslticosda Formao Imbituba (Fig. 8). No domnio de guasrasas, onde a morfologia do rifte imageada pelosdados ssmicos, configuram-se meio-grbenscontrolados por falhas antitticas de alto ngulo. Osbasaltos da Formao Imbituba, num arranjo

  • 366 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    caracterstico de seaward dipping reflectors(Fontana, 1990; 1995), tem idade K/Ar de 1248,6Ma (Dias et al., 1994), uma idade que se aproxima do final do episdio magmtico Serra Geral(126,62,9 Ma, Ar/Ar, Milani, 1997; 126,82,0 Ma,Ar/Ar, Turner et al., 1994). Esta relao cronolgicaparece indicar um importante deslocamento do centromagmtico, do interior da placa para sua margemnascente.

    O registro da seqncia evaportica na Bacia dePelotas conhecido apenas na poro norte, sobre aPlataforma de Florianpolis, onde ocorre uma delgadaunidade de anidrita e carbonatos (Formao Ariri),com 50 m de espessura, sobrepostos a traqui-andesitos de 113,20,1 Ma (Ar/Ar, Dias et al., 1994)da Formao Curumim. A ausncia de evaporitosemprestou Bacia de Pelotas um aspecto montono,

    pouco deformado, em claro contraste ao resto damargem brasileira.

    Entre o Albiano e o Recente, predominaramcondies de subsidncia trmica. O Eoalbiano representado pelo pacote carbontico da FormaoPortobelo, de ocorrncia restrita poro norte dabacia, que recoberto pela sucesso siliciclstica dasformaes Tramanda e Cidreira. Estas unidades,abrangendo o intervalo temporal Neoalbiano-Recente, constituem uma clssica cunha sedimentarcom ermos arenosos junto margem, gradando asiltitos e calcrios de granulometria fina (FormaoAtlntida) e folhelhos (Formao Imb) no sentidodas pores mais distais da bacia. O pacote supra-Portobelo recortado por uma srie de superfcieserosivas que correspondem a tempos de quedarelativa do nvel do mar. Na poro sul da Bacia de

    Fig. 8 Arcabouo estratigrfico do segmento meridional da margem leste brasileira.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 367

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    Pelotas, ocorre um espesso pacote de sedimentosps-Paleoceno com at 6000 metros, definindo oCone do Rio Grande. Naquela rea, so abundantesas estruturas ligadas movimentao gravitacional deargila mergulho-abaixo, sendo comuns as ocorrnciasde hidratos de gs nos nveis estratigrficos maissuperficiais (Fontana, 1989).

    A Bacia de Santos uma vasta poro damargem leste, com orientao geral SW-NE egeometria cncava, abrangendo cerca de 200.000km2 do sudeste brasileiro. Para norte limitada peloArco de Cabo Frio, e para sul pela Plataforma deFlorianpolis, ambas sendo feies que se posicionamna terminao de lineamentos ocenicos expressivos(Cainelli & Mohriak, 1998).

    Para oeste, a Bacia de Santos limitada pela Serrado Mar, uma feio fisiogrfica que confina a baciamarginal ao domnio ocenico. O limite de ocorrnciado pacote pr-Aptiano dado por uma falha normalsinttica posicionada a cerca de 50 km do litoral ecujo trao paralelo linha de costa. Este falhamentopermaneceu ativo at o final do Cretceo, tendo sidorecoberto pelo pacote cenozico durante a fase desubsidncia trmica. A espessura total mxima dopacote Neocomiano a Recente estimada em cercade 11.000 m.

    A fase rifte na regio de Santos ocorreu entre oNeocomiano e o Eoaptiano, quando acumularam-seos sedimentos lacustres da Formao Guaratiba,escassamente amostrados na bacia. Este pacote incluicunhas de sedimentos siliciclsticos grossosavermelhados com fragmentos de basalto e quartzo,com coquinas associadas. A ocorrncia de depsitosanxicos suposta para os domnios mais distais dabacia (Pereira & Feij, 1994).

    A seqncia rifte coberta pelos evaporitosaptianos da Formao Ariri, constitudos porintercalaes de halita e anidrita. O fluxo mergulho-abaixo destes evaporitos, a partir do Albiano, definiuum estilo tectono-sedimntar em que so muitoimportantes as estruturas halocinticas. Grandesdipiros e muralhas de sal alcanam vrios quilometrosde altura na regio de guas profundas da Bacia deSantos.

    A sucesso Albiana, conhecida como formaesFlorianpolis, Guaruj e Itanham, consiste de,respectivamente, arenitos avermelhados, carbonatos

    e folhelhos cinza, um conjunto lito-faciolgicodepositado durante um progressivo aprofundamentoda bacia. As condies de mximo afogamento foramatingidas durante o Neocenomaniano-Turoniano,quando depositaram-se os folhelhos negros daFormao Itaja-Au. Nas regies mais proximais dabacia, uma espessa cunha de conglomerados(Formao Santos) e arenitos de ambiente marinhoraso (Formao Juria), abrangendo o intervalotemporal entre o Santoniano e o Maastrichtiano,invadiram a bacia em resposta subida da Serra doMar. Este evento datado entre 100 e 80 Ma poranlise de traos de fisso de apatita (Lelarge, 1993).O restante da evoluo da Bacia de Santos, j noCenozico, foi marcado por uma progradao desiliciclsticos (formaes Iguape e Sepetiba), queavanaram sobre o sistema peltico de plataforma etalude (Formao Marambaia).

    A Bacia de Campos situa-se em guas territoriaisdo Estado do Rio de Janeiro, cobrindo cerca de100.000 km2, dos quais apenas 500 km2 so emrea emersa. Para norte, a bacia parcialmenteisolada da Bacia do Esprito Santo, na regio de guasrasas, pelo Alto de Vitria, um bloco elevado deembasamento que coincide com a terminao oesteda Cadeia de Vitria-Trindade, um importantelineamento ocenico daquela rea. Em guasprofundas, no existe uma separao efetiva entre asbacias de Campos e do Esprito Santo.

    O embasamento cristalino foi escassamenteamostrado em subsuperfcie, e corresponde aosmesmos domnios litolgicos de gnaisses pr-cambrianos que afloram nas reas vizinhas baciamarginal. Para o sul, o Arco de Cabo Frio limita aBacia de Campos, e aquela regio comportou-secomo um foco de persistente magmatismo durante ahistria evolutiva da bacia. Naquela rea, sedimentosturonianos a campanianos ocorrem intercalados arochas vulcanoclsticas, basaltos e diques de diabsiode 90 a 80 Ma de idade. O magmatismo recorrentevoltou a formar cones vulcnicos durante o Eoceno(Mohriak et al., 1995).

    O pacote rifte da poro inferior da FormaoLagoa Feia na Bacia de Campos abarca o intervaloNeocomiano Superior-Barremiano, recobrindo elocalmente interdigitando-se com os basaltos e rochasvulcanoclsticas da Formao Cabinas, datadas entre

  • 368 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    130 e 120 Ma (Dias et al., 1990). A poro inferiorda Formao Lagoa Feia inclui conglomerados comabundantes clastos de basalto que formam grandesleques ao longo das falhas de borda; tambm ocorremarenitos, folhelhos ricos em matria orgnica ecoquinas, definindo um contexto de sedimentaolacustre. As coquinas alcanam at 400 m deespessura, constituindo-se em depsitos de carapaasde pelecpodes (Membro Coqueiros) associados aaltos estruturais e representando uma fcies particularde rochas porosas nesta bacia.

    A parte superior da Formao Lagoa Feia, apoiadaem expressiva discordncia, representada por umaseqncia de conglomerados e folhelhos avermelhadosde idade aptiana recobertos por uma seo deevaporitos do Neoaptiano (Membro Retiro). Aocorrncia do pacote aptiano e mais antigo limitadapor uma zona de falha sinttica de orientao geralSW-NE que desenvolve-se paralela e prxima linhade costa.

    Durante o Albiano-Cenomaniano, as condiesmarinhas prevaleceram na bacia. A Formao Macaconsiste em carbonatos clsticos e oolticos (MembroQuissam) que, localmente, aparecem completamentedolomitizados. A sucesso vertical inclui calcilutitos,margas e folhelhos (Membro Outeiro) e arenitosturbidticos (Membro Namorado). Nas pores maisproximais, a Formao Maca constituda porconglomerados e arenitos pobremente selecionados(Membro Goitacs).

    O Grupo Campos recobre discordantemente aFormao Maca, e representa o preenchimento destabacia marginal durante a fase final de subsidnciatrmica e basculamento do substrato para leste. Opacote representado por sedimentos proximais,areno-conglomertico-carbontico (FormaoEmbor) que gradam a folhelhos nas pores distais(Formao Ubatuba). A Formao Ubatubacompreende milhares de metros de espessura defolhelhos e margas, com arenitos turbidticosintercalados (Membro Carapebus).

    O basculamento progressivo da bacia para lestepropiciou o desenvolvimento de uma intensadeformao adiastrfica em funo do volumoso fluxode sal (Demercian et al., 1993). A tectnica salina eo estilos estruturais dela resultantes configuram doiscasos: prximo costa, nos primeiros 100 a 200 km,

    um regime francamente distensivo, que passa a umcontexto compressivo na regio de guas profundas,originada pela contrao mergulho-abaixo do pacoteem movimento. Falhas normais de geometria lstricaassociam-se em geral tectnica salina.

    A Bacia do Esprito Santo-Mucuri situa-se naregio costeira (20.000 km2) e na plataformacontinental (200.000 km2) do Estado do EspritoSanto e poro sul da Bahia, tendo evoludo sobreum complexo de terrenos gneos e metamrficos pr-cambrianos (Vieira et al., 1994). As indicaes maisantigas de processos distensivos mesozicos ativosnessa rea correspondem a diques de diabsiojurssicos orientados a NW-SE, conhecidos comoSute Fundo. Esta fase precoce de magmatismo foisucedida por um episdio extrusivo de idadeneocomiana-barremiana, quando basaltos toleiticose rochas vulcanoclsticas da Formao Cabinasacumularam-se conjuntamente aos sedimentos iniciaisda fase rifte na bacia.

    O pacote sedimentar sinrifte da Bacia do EspritoSanto-Mucuri conhecido como Formao Cricar,tendo espessura estimada em 5.000 m; correspondea conglomerados continentais, arenitos, coquinas edolomitos, associados a folhelhos ricos em carbonoorgnico. A seqncia acomodou-se em depressesfalhadas de orientao geral N-S a NE-SW, limitadaspor falhas normais sintticas, e seu topo definidopor uma importante superfcie de discordncia, sobrea qual se apoiam os sedimentos de naturezatransicional da Formao Mariricu, do Neoaptiano.Esta unidade formada por conglomerados, arenitosgrossos arcosianos e folhelhos (Membro Mucuri)recobertos por um pacote de evaporitos e folhelhosnegros conhecidos como Membro Itanas.

    O pacote correspondente fase marinha abertana Bacia do Esprito Santo-Mucuri constitui o GrupoBarra Nova de idade albiana, e o Grupo EspritoSanto, abrangendo o intervalo Cenomaniano aoRecente. O primeiro consiste de arenitos grossos defcies marinha marginal (Formao So Mateus) quegrada para carbonatos no sentido do mar (FormaoRegncia). O Grupo Esprito Santo a clssicaseqncia de plataforma continental progradacional,formada por uma fcies arenosa proximal (FormaoRio Doce) intercalada com carbonatos (FormaoCaravelas); o conjunto torna-se peltico em seu

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 369

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    contexto distal, junto ao talude e bacia profunda(Formao Urucutuca).

    O Cenozico assistiu ao importante episdiomagmtico que definiu a Formao Abrolhos,impondo grandes rearranjos estruturais bacia. Estaunidade corresponde a rochas vulcnicas evulcaniclsticas sub-alcalinas a alcalinas que foramextrudidas durante o intervalo Paleoceno-Eoceno (60-40 Ma). Os corpos gneos intercalam-se com ossedimentos carbonticos da Formao Caravelas ecom os folhelhos da Formao Urucutuca. Aacumulao de grandes volumes de magma na poroexterna da plataforma continental trouxe complicaesao quadro convencional de halocinese mergulho-abaixo; ao alcanar esta barreira, o fluxo sedimentardescendente construiu um padro caracterstico de

    estruturas compressionais junto ao Complexo deAbrolhos.

    As Bacias de Cumuruxatiba/Jequitinhonhadesenvolvem-se no domnio martimo da costa daBahia, correspondendo a um trecho retilneo orientadoa N-S, com cerca de 350 km de comprimento e umarea em torno de 45.000 km2. O embasamento nessarea constitudo por terrenos grantico-gnissicospr-cambrianos do Crton do So Francisco. Opadro estrutural do rifte nestas bacias dado porfalhas normais sintticas orientadas a N-S e SW-NE,localmente interrompidas por falhas de transfernciae zonas de acomodao de direo NW-SE.

    O pacote sedimentar neocomiano a eoaptianonestas bacias corresponde ao Grupo Cumuruxatibae Formao Cricar (Fig. 9). O primeiro inclui uma

    Fig. 9 Arcabouo estratigrfico do segmento setentrional da margem leste brasileira.

  • 370 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    sucesso basal de rochas siliciclsticas (FormaoMonte Pascoal) representada por arenitos grossos amdios intercalados com folhelhos cinza e pretos econglomerados, interpretados como uma unidade pr-rifte. O pacote sinrifte representado pela seqncialacustre da Formao Porto Seguro (Santos et al.,1994) e Formao Cricar. Esta ltima, bem como orestante do pacote lito-estratigrfico na rea deCumuruxatiba/Jequitinhonha, incluindo os magmatitosdo Eocenozico da Formao Abrolhos, exibecaractersticas similares s sees equivalentesencontradas na vizinha Bacia do Esprito Santo-Mucuri, pelo que tomam dela emprestada anomenclatura estratigrfica formal.

    As Bacias de Almada/Camamu/Jacupecorrespondem poro da margem continentalbrasileira posicionada adjacente Baa de Todos osSantos, no Estado da Bahia, cobrindo cerca de110.000 km2, com apenas uma pequena parte emterra emersa. A Baa de Todos os Santos corresponde terminao sul do rifte abortado do Recncavo-Tucano-Jatob, e regio onde essa bacia interiorconecta-se com a margem. Isso define uma importantejuno tectnica, marcada por um complexo padroestrutural. Durante a evoluo da poro norte daBacia de Camamu, estilos estruturais distensivos ecompressivos desenvolveram-se simultaneamente,num padro singular ao longo da margem brasileira.

    Alguns intervalos litolgicos dessas baciasapresentam semelhanas ao encontrado nas seesequivalentes de reas vizinhas, e assim delas obtiveramsuas denominaes litoestratigrficas. Este o casodas unidades paleozicas da Formao Afligidos e opacote pr-rifte das formaes Aliana e Sergi,unidades clssicas na estratigrafia da Bacia doRecncavo. Acima dos arenitos da Formao Sergiassenta uma seo com cerca de 500 m de espessurade folhelhos avermelhados do Neocomiano inferior,conhecidos como Formao Itape e representandoa transio pr-rifte/rifte na bacia (Netto et al., 1994).

    A bacia sinrifte lacustre foi preenchida por folhelhos(Membro Jiribatuba) que gradam a arenitos nasregies mais proximais (Membro Tinhar); noconjunto, estas unidades constituem a FormaoMorro do Barro. Entre o Barremiano e o Eoaptiano,um pacote misto siliciclstico-carbontico de ambientelacustre foi depositado, conhecido como Formao

    Rio de Contas. Na Bacia de Jacupe, o pacoteNeocomiano est ausente e a Formao Rio deContas representa o estgio rifte, que naquela reatem idade Barremiano-Eoalbiano.

    Um pacote de evaporitos e siliciclsticos de idadeneoaptiana constitui a Formao Taipus-Mirim. Estaunidade consiste de arenito muito fino intercalado comsiltitos e folhelhos negros com elevado teor de carbonoorgnico (Membro Serinham); o Membro Igrapinarecobre a seo anterior e consiste de carbonatos,folhelho marrom, halita e anidrita, com barita associadaem alguns locais nas bacias de Almada e Camamu.

    A clssica seo de carbonatos albiano-cenomanianos aqui conhecida como FormaoAlgodes, e sucedida por uma seqncianeocretcica-cenozica que, nas Bacias de Almada/Camamu/Jacupe, guarda similaridades litolgicas eestratigrficas com as formaes Urucutuca,Caravelas e Rio Doce da Bacia do Esprito Santo-Mucuri.

    A Bacia de Sergipe-Alagoas situa-se na margemcontinental do nordeste brasileiro, cobrindo cerca de35.000 km2, dos quais dois teros esto na reamartima. Das bacias da margem leste, a de Sergipe-Alagoas a que registra a sucesso estratigrfica maiscompleta, incluindo remanescentes de umasedimentao paleozica, um pacote jurssico aeocretcico pr-rifte amplamente desenvolvido e asclssicas seqncias meso-cenozicas sinrifte e ps-rifte. A bacia uma das tradicionais produtoras depetrleo do Pas e, juntamente com a Bacia doRecncavo, escreveu as primeiras pginas na histriada Geologia do Petrleo brasileira.

    O Nordeste do Brasil foi um stio de amplasedimentao durante o Paleozico, e provavelmentetambm durante o Neoproterozico, o que documentado pelas incontveis reas de ocorrnciade remanescentes destas unidades que existem naregio. Estas unidades foram preservadas de umaremoo erosiva por subsidncia localizada devida tectnica distensiva mesozica. A Formao Estncia a mais antiga destas unidades, consistindo numasucesso no-deformada de conglomerados, arenitos,folhelhos e carbonatos do Neoproterozico-Cambriano, exposta na poro sudoeste da bacia.

    Remanescentes paleozicos na Bacia de Sergipe-Alagoas so includos no Grupo Igreja Nova (Feij,

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 371

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    1994c). A Formao Batinga, de idadeneocarbonfera, consiste de diamictitos, arenitosgrossos e siltitos laminados acumulados sob condiesglaciomarinhas; sua existncia, no nordeste brasileiro,introduz complicaes interessantes nos modelospaleogeogrficos da glaciao gondwnica do permo-carbonfero. A Formao Aracar, tambm de idadepaleozica, formada por arenitos vermelhos,folhelhos e carbonatos de idade eopermiana.

    A seo neojurssica-eocretcica pr-rifte daBacia de Sergipe-Alagoas corresponde ao GrupoPerucaba, sendo constituda por arenitos finosavermelhados (Formao Candeeiro) seguidos porfolhelhos vermelhos (Formao Bananeiras) e arenitosmdios a grossos, brancos e avermelhados comexuberantes estratificaes cruzadas de naturezaelica (Formao Serraria).

    O rifteamento nesse trecho da margem continental interpretado como tendo sido resposta a um binriode cisalhamento sinistral (Milani et al., 1988; Milani& Szatmari, 1998; Szatmari & Milani, 1999), tendoo processo de ruptura litosfrica sido completamentedesprovido de magmatismo associado. Um conjuntode grbens orientados a N-S desenvolveram-se numpadro en chelon ao longo do strike geral SW-NEda bacia, e foram preenchidos por sedimentosneocomianos lacustres (parte inferior do GrupoCoruripe). Esta unidade tambm inclui conglomeradosacumulados junto s falhas de borda (Formao RioPitanga), arenitos fluviais (Formao Penedo), umasucesso heteroltica sltico-arenosa de origem deltaica(Formao Coqueiro Seco), coquinas de idade jiqui(Membro Morro do Chaves) e folhelhos lacustres comarenitos lenticulares intercalados (Formao Barra deItiba).

    Uma fase distensiva recorrente aconteceu duranteo Eoaptiano, promovida por um campo regionalorientado a NW-SE. Como resultado, desenvolveu-se uma grande falha normal regional com trende geralSW-NE que aproximadamente coincide com a atuallinha de costa, separando as pores emersa emartima da bacia. A poro terrestre preserva umaseo sedimentar mais delgada, ao passo que nosgrandes baixos deposicionais da parte offshore opacote total alcana mais de 10.000 m de espessura.Esta segunda fase rifte foi tambm marcada pelo

    desenvolvimento de conglomerados da FormaoPoo na Sub-bacia de Alagoas e pela parte inferiorda Formao Macei na Sub-bacia de Sergipe.Seguiu-se a acumulao dos evaporitos neoaptianosdo Membro Ibura, correspondentes porosuperior da Formao Macei.

    Carbonatos albianos constituem a FormaoRiachuelo, que gradam para fcies proximais areno-conglomerticas (Membro Angico). O GrupoPiaabuu inclui as seqncias marginais marinhas doNeocretceo ao Recente, correspondendo aosarenitos da Formao Marituba, carbonatos daFormao Mosqueiro e folhelhos com arenitosturbidticos da Formao Calumbi. Localmente,segundo dados ssmicos, ocorrem corpos magmticosintercalados ao pacote de idade naocretcica-eoterciria nos domnios distais da bacia.

    A poro mais setentrional da margem lestebrasileira corresponde Bacia de Pernambuco-Paraba. A bacia ocupa 35.000 km2 de rea, sendo9.000 km2 em terra. Com respeito inteira margemcontinental distensiva do continente, este o trechoonde o rifteamento aconteceu por ltimo, tendo aruptura sido retardada at o Aptiano pela alta rigidezdo embasamento pr-cambriano naquela rea (Matos,1998). A natureza da sedimentao na poromartima da bacia ainda no foi amostrada por poos,sendo conhecida apenas com base em dados dessmica.

    A fase rifte foi muito rpida nessa rea, tendo suadurao sido estimada em cerca de 5 Ma (Matos,1998), durante o Neoaptiano. Nesse momento, foramdepositados pelo menos 3.000 m de conglomeradose arenitos (Formao Cabo). Estas rochassedimentares associam-se a rochas vulcnicasalcalinas e calco-alcalinas (Formao Ipojuca) eocuparam o espao de grbens abertos pelo eventodistensivo. Seguiu-se uma fase de subsidncia trmica,quando se acumularam os carbonatos albo-cenomanianos da Formao Estiva numa baciamarinha rasa.

    Durante o Senoniano, implantou-se um sistemasiliciclstico marinho marginal de arenitos grossos(Formao Beberibe) que geradam a siltitos e pelitos(Formao Itamarac). Do final do Cretceo aoRecente, carbonatos desenvolveram-se na bacia

  • 372 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    marginal rasa, um pacote que est includo nasformaes Gramame e Maria Farinha, que gradampara a Formao Calumbi nas pores distais.

    Um aspecto particularmente interessante nageologia das bacias de Pernambuco-Paraba dadopela presena de boas exposies do contato K/T,uma condio no encontrada em outros locais aolongo da margem leste. Este intervalo estratigrficofoi estudado por Alberto (1995). Naquela rea ocontato K/T corresponde a uma zona situada cercade 60 cm acima do contato entre as formaesGramame, de idade maastrichtiana, e Maria Farinha,do Paleoceno-Oligoceno. O contato se expresssacomo uma superfcie erosiva que separa umaseqncia inferior de margas biomicrticas de ambientenertico e um pacote de carbonatos e folhelhos deambiente mais profundo, caracterizados pela presenade estratificaes cruzadas do tipo hummockyatribudas ao de tsunamis como modeladores dofundo marinho. Uma camada de marga apresentandoum alto teor de irdio e de carbono orgnico marca ocontato K/T e aqui, bem como a nvel global, estesindicadores de extino da biota pr-existente sointerpretados como produzidos pelo impacto de umcorpo extra-terrestre.

    A EXPLORAO DE PETRLEO NOBRASIL: DAS BACIAS TERRESTRES SGUAS ULTRAPROFUNDAS

    No momento em que uma nova ordenao jurdicapara o setor petrleo recm se instala no Pas oportuna uma reflexo sobre o petrleo, recursonatural to disputado e de to grande impacto naeconomia mundial. Pretende-se aqui, de formasumarizada, registrar o esforo realizado na pesquisado petrleo no Brasil desde suas origens, em meadosdo sculo 19, passando pelo sculo 20 e a criaoda Petrobras, at o sculo 21, j sob a gide da NovaLei e da Agncia Nacional do Petrleo.

    O petrleo e algumas de suas utilidades soconhecidos desde os tempos antigos, milhares de anosatrs; j foi utilizado como calafetante, iluminante(tochas fumarentas) e at como arma de guerra (fogogrego). Era obtido em exsudaes, que so locaisonde o petrleo, atravs de fraturas e fissuras nasrochas, extravasa na superfcie. Foi usado por

    chineses, gregos, romanos, povos do Oriente Mdio,no Egito dos Faras, em vrias civilizaes antigas.

    Desde a antiguidade at os tempos mais modernos,no sculo 19, sua utilizao pouco se modificou, tendoinclusive adquirido nos Estados Unidos duvidosasqualidades medicinais. Por esta poca, no mundointeiro havia uma grande demanda por iluminantes maiseficientes que os leos animais e vegetais entoutilizados, e tambm por lubrificantes eficientes paraas mquinas da recm-iniciada Era Industrial.

    Uma conjuno de fatores e a viso de um grupode americanos empreendedores, certamentealmejando ganhar dinheiro, resultaram no evento querepresenta o marco inicial da Explorao de Petrleo,o ciclo de busca sistemtica desse bem para utilizaoem bases industriais e comerciais. Um advogado,George Bissell, emigrando do Sul para o Norte dosEstados Unidos, por problemas de sade, tomouconhecimento do petrleo minerado nas exsudaesda Pensilvnia. Vislumbrando utilizaes maisimportantes que as medicinais da poca para aqueleproduto, conseguiu convencer um banqueiro de NovaJersey, que por sua vez encontrou investidores parao projeto. O prximo passo foi contratar um cientista,no caso o professor de qumica da Universidade deYale, Benjamim Silliman, que comprovasse asqualidades idealizadas por Bissell para o petrleo. Ocientista conseguiu, destilando aquele produtomalcheiroso, comprovar a existncia de vriossubprodutos dentre os quais o querosene e a graxa,que se formavam a diferentes temperaturas.

    Restava ento descobrir um modo mais eficientede extrair o petrleo. Existia na poca, nos EstadosUnidos, uma primitiva indstria de perfurao depoos artesianos para gua e tambm para a obtenode sal. Foi contratado um perfurador conhecido napoca, o Coronel Edwin L. Drake, que orientoualgumas modificaes nos equipamentos existentes efoi encarregado da perfurao que teria lugar nasproximidades de Oil Creek, localidade do condadode Titusville, na Pensilvnia, famosa pelos seeps depetrleo. Foi encontrada a pouco mais de 20 metrosde profundidade uma rocha-reservatrio, de ondefluiu petrleo de boa qualidade, parafnico, de fcildestilao. (Fig. 10) Estava assim iniciada a Era doPetrleo, que moldou a maior potncia da Terra, queoriginou fortunas, que motivou guerras pela sua posse

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 373

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    Figura 10 A Era do Petrleo, vista sob a perspectiva da evoluo do preo dessa commodity no mercado internacional.

  • 374 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    e que se tornou o recurso mineral mais influente dosculo 21. O sucesso de Drake ficou como um marcoinicial do crescimento explosivo da moderna indstriado petrleo.

    No Brasil, a histria tambm comeou por estapoca. Exsudaes de petrleo e gs eramconhecidas em vrias regies do pas, na Bahia, nahoje conhecida Bacia do Recncavo Baiano, em SoPaulo, Paran e Santa Catarina, na Bacia do Paran,no litoral baiano de Ilhus, Bacia de Camamu, noEstado do Maranho, Bacias de So Luiz eBarreirinhas, e em outros locais deste vasto pas-continente. Os primeiros registros histricos,documentados, foram as duas concesses outorgadasem 1858 pelo Imperador Dom Pedro II aparticulares, para a pesquisa e minerao de carvo,turfa e betume.

    A partir da, a histria da explorao do petrleobrasileiro evoluiu por diversos perodos e fasesinfluenciados e sustentados nestes 140 anos por umcrescimento do conhecimento geolgico, peloaumento expressivo da demanda por derivados dopetrleo, pela disponibilidade de recursos financeiros,pelos choques dos preos internacionais e pelosmarcos regulatrios implementados. O evento maisimportante no perodo foi a criao da Petrobras, coma responsabilidade de atuao exclusiva nestesegmento da industria, uma aventura de sucesso quecomeou em terra, migrou para o mar, avanou comsucesso para as regies de guas profundas (comcotas batimtricas entre 400 e 2.000 metros) e, desde1999, iniciou mais uma etapa em uma nova fronteira,as regies de guas ultraprofundas (mais de 2.000metros de lmina dgua).

    Figura 11 Bacias sedimentares brasileiras.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 375

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    A promulgao, em 06/08/97 da lei 9478/97, anova regulamentao do petrleo no Brasil, com aconseqente implantao da Agncia Nacional doPetrleo (ANP), encontram a atividade de exploraode petrleo em estgio crescente e maduro doconhecimento geolgico de grande parte das diversase complexas bacias sedimentares brasileiras.Possuindo grandes dimenses e uma rea sedimentartotal de 6.436.000 km2, o Brasil conta, em terra, commais de 20 bacias proterozicas, paleozicas,cretcicas e tercirias, algumas ainda inexploradas,espalhando-se por 4.880.000 km2, desde odesenvolvido Sul-Sudeste at o rido Nordeste e aAmaznia (Fig.11). O restante da rea sedimentar estna Plataforma Continental, onde 1.550.000 km2 sedistribuem por mais de 15 bacias sedimentarescretcico-tercirias de Margem Atlntica, at a cotabatimtrica de 3.000 metros, desde o extremo sul,

    em guas territoriais limtrofes com o Uruguai, at oextremo norte, na fronteira com a Guiana Francesa.A regio de guas profundas no mar brasileiro abrange780.000 km2 entre as cotas batimtricas de 400 e3.000 metros.

    Com uma populao de cerca de 160 milhes dehabitantes, o Brasil uma das grandes economias domundo, sendo a principal fora econmica daAmrica do Sul. Sua economia diretamenteinfluenciada pelos recursos energticos encontradosem suas bacias sedimentares, principalmente aquelasda margem continental. Hoje, cerca de 38% daenergia primria consumida no Pas proveniente dopetrleo. Uma mdia diria de cerca de 1.500.000barris de petrleo (leo + condensado + gs) soproduzidos a partir das bacias sedimentares brasileiras,correspondendo a cerca de 70% das necessidadesnacionais.

    Figura 12 Atividades exploratrias anteriores criao da Petrobras.

  • 376 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    A explorao no Perodo Pr-Petrobras

    Neste perodo, que se estendeu de 1853 at 1953(Fig. 10), as reas sedimentares brasileiras estiveramabertas iniciativa privada. O incio desta fase marcado pelas duas primeiras concesses outorgadaspelo Imperador Dom Pedro II a particulares, em1858, para a explorao de carvo, turfa e betumenos arredores do Rio Mara, em Ilhus, no estadoda Bahia, regio hoje conhecida como Bacia deCamamu, onde alguns seeps de leo e a ocorrnciade folhelho betuminoso eram conhecidos. Antesdisso, sabia-se de maneira esparsa, no registrada,da existncia de exsudaes de leo e gs em algumasregies do Brasil.

    A seguir, em 1859, foram descritos seeps de leoem cortes da estrada de ferro em construo noRecncavo Baiano, arredores de Salvador. Em 1864,Thomas Dennys Sargent requereu e recebeuconcesso do imperador para a pesquisa e lavra deturfa e petrleo na mesma regio de Ilhus e Camamu.Em 1867, foram concedidos direitos de exploraode betume na regio das bacias costeiras de So Luise Barreirinhas. Entre 1872 e 1874, vrias concessesforam registradas no interior do estado de So Paulo,nos arredores de Rio Claro, regio da Bacia do Paranconhecida pela ocorrncia de exsudaes de leo egs. Em 1876, com a fundao da Escola de Minasde Ouro Preto, em Minas Gerais, resolveu-separcialmente o problema de mo-de-obra nacionalespecializada para suprir, com algum conhecimentocientfico, a busca do petrleo. Em 1881, a lavra e aretortagem do folhelho pirobetuminoso da Bacia deTaubat proporcionaram combustvel para ailuminao da cidade, por aproximadamente doisanos.

    Porm, o marco mais importante desta poca foia perfurao, em 1892, na Bacia do Paran, emBofete, Estado de So Paulo, de um poo de petrleoque atingiu 488 metros de profundidade, um feito etanto para o Brasil daquele final de sculo. Umfazendeiro de caf de Campinas, Eugnio Ferreira deCamargo, entusiasmado com as notcias vindas doEstados Unidos a respeito do ouro negro, obteveconcesses na Bacia do Paran, na regio de RioClaro e Botucatu. Inicialmente contratou um cientista

    belga chamado Auguste Colon, que provavelmenterealizou os primeiros estudos geolgicos de campovisando a ocorrncia de petrleo no Brasil. Colon,ao final de seu trabalho, indicou duas reas, em Bofetee em Porto Martins, onde duas possveis estruturasgeolgicas poderiam conter petrleo. Camargoimportou uma sonda americana, com um sondadorexperiente e mais alguns trabalhadores especializados,e o poo foi perfurado em Bofete, e de onde teriamsido recuperados dois barris de petrleo.

    Em 1907, a criao do Servio Geolgico eMineralgico Brasileiro (SGMB) resultou no aumentosubstancial da atividade de perfurao de poos, embases um pouco mais profissionais. Sondas foramcompradas e alguns gelogos e engenheiros de minasbrasileiros fizeram parte da estrutura de pesquisa eperfurao para petrleo no SGMB. Em 1933, foicriado o Departamento Nacional da Produo Mineral(DNPM), porm a falta de recursos e peas dereposio para as sondas comeou a causarproblemas. A atividade de explorao de petrleo jestava mais organizada, graas ao SGMB e DNPM,porm a carncia de recursos e a ausncia de umrgo exclusivo responsvel pelo Setor Petrleo,motivaram a criao do Conselho Nacional doPetrleo (CNP), em abril de 1939. Nesta poca, oconsumo brasileiro j causava uma dependnciaincmoda dos produtos estrangeiros. O CNPmelhorou a estrutura da atividade de explorao depetrleo no Brasil e, aps a primeira descobertacomercial em Lobato, preferiu inicialmenteconcentrar-se no Recncavo Baiano.

    Diante do entusiasmo causado por esta primeiradescoberta, em pouco tempo os resultadoscomearam a aparecer. A partir de 1941, e at 1953,foram descobertos os Campos de Candeias, Aratu,Dom Joo e gua Grande, at hoje os maiorescampos terrestres j descobertos no Recncavo. Aolongo desta fase, a explorao se expandiu para ocentro e poro norte da Bacia do Recncavo, saindodas proximidades da Baa de Todos os Santos.

    Este primeiro perodo de explorao de petrleono Brasil teve como participantes algunsempreendedores privados (em boa parte financiadose utilizando equipamentos do governo), governosestaduais, SGMB, DNPM e, no final, o CNP.Caracterizou-se, principalmente no incio, pelo

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 377

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    amadorismo e falta de equipamentos e recursos,situao esta que melhorou sensivelmente com aentrada em cena do SGMB, do DNPM e, finalmente,do CNP.

    A pesquisa de petrleo nesta fase utilizou comoferramenta principal a geologia de superfcie, no inciopraticada por curiosos e sempre nas proximidadesde seeps de leo e gs. Com a criao do SGMB eDNPM, alguns gelogos e engenheiros de minasentraram em cena e, no final da fase, a geofsicacomeou a ser utilizada, principalmente nos arredoresde So Pedro (SP), para a deteco de estruturasem subsuperfcie. A partir da criao do CNP, aexplorao passou a contar de forma mais rotineiracom o auxlio j importante da ssmica e com sondasde maior capacidade de perfurao (at 2.500metros). Foram perfurados 162 poos exploratriosterrestres rasos neste perodo, principalmente nasbacias do Recncavo, Paran, Amazonas e Sergipe-Alagoas (Fig.12).

    Entre 1858 e 1938, nenhum resultado positivo foireportado alm dos registros dos seeps de leo egs e das ocorrncias sub-comerciais de leo e gsda regio de So Pedro (Bacia do Paran-SP),Riacho Doce (Alagoas) e Bom Jardim/Itaituba(Amazonas). Entre 1939 e 1953, entretanto, sob ocomando do CNP, os resultados comearam aaparecer, tendo sido descobertos, aps Lobato, outros10 campos de petrleo, e as reservas nacionaisalcanado 298 milhes de barris para uma produodiria de 2.720 barris. Em 1953, existiam cerca de30 gelogos/geofsicos de petrleo no Brasil. Nesteperodo, prevaleceram as condies inspitas e seminfra-estrutura do interior brasileiro, valorizando aindamais o trabalho e os resultados alcanados por estesprimeiros exploracionistas brasileiros.

    O Perodo de exclusividade da Petrobras

    A Petrobras foi criada pela lei 2004 (03/10/1953),aps longa e inflamada campanha popular, e instaladaem 10/05/1954, para servir de base para a indstriado petrleo no Brasil e para exercer, em nome daUnio, o monoplio da explorao, produo, refinoe comercializao do petrleo e seus derivados. Fezparte tambm de um ciclo histrico em que se visoumontar as bases industriais brasileiras, pela criao

    de estatais nas reas de metalurgia, siderurgia,estaleiros e petrleo. A empresa tinha como missosuprir o mercado interno com petrleo e seusderivados, atravs da produo nacional ou pelaimportao. O perodo no qual a Petrobras exerceuo monoplio do petrleo em nome da Unio podeser dividido em vrias fases distintas, que estodescritas a seguir.

    - 1954/1968: Fase Terrestre

    O inicio deste perodo (at 1961) se caracterizoupela instalao da Petrobras, pela presena maciade tcnicos estrangeiros e pela concentrao deesforos no Recncavo e na Amaznia, e, na suasegunda metade (1961/1968) pela presena cada vezmaior de tcnicos brasileiros e pela concentrao deesforos ainda no Recncavo, porm j seexpandindo pelas demais bacias cretcicas costeiras.

    Com o contnuo aumento no consumo, adependncia externa se agravou, apesar do baixopreo do barril de petrleo. Logo em seguida criaoda Petrobras, em 1953, uma deciso importantssimafoi tomada pelo comando da recm criada companhia:organizar o Departamento de Explorao nos mesmosmoldes em que operavam as grandes companhiasinternacionais. Esta deciso resultou das mal sucedidasexperincias anteriores, com rgos estruturados demaneira pouco profissional e financeiramente instveis.Foi contratado o gelogo Walter K. Link, veterano ebem conceituado no cenrio da Explorao eProduo mundial, ex-profissional da Standard OilCo., com as tarefas de organizar o Departamento deExplorao nos moldes industriais consagrados norestante do mundo, promover uma anlise das baciasbrasileiras para direcionar a explorao de petrleonacional e ainda realizar as descobertas toansiosamente esperadas pelos brasileiros aps acampanha O Petrleo Nosso.

    Walter Link implantou na recm-edificadaPetrobras uma estrutura organizacional nos moldesda indstria americana, fortemente centralizada.Tcnicos estrangeiros, americanos e europeus, foramcontratados maciamente, enquanto gelogos/geofsicos brasileiros foram enviados para treinamentoe estudos no exterior. A sede da empresa foi instaladano Rio de Janeiro, com distritos operacionais em

  • 378 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    Tabela 2 Histrico da fora de trabalho de geocientistas da Petrobras no perodo 1954/1970. At 1961, o norte-americano Walter Linkchefiou o Departamento de Explorao.

    Tabela 3 Ranking de bacias sedimentares brasileiras segundo sua atratividade para petrleo, na viso de Link e de Moura & Oddone.

  • E. J. Milani, J. A. S. L. Brando, P. V. Zaln & L. A. P. Gamboa 379

    Brazilian Journal of Geophysics, Vol. 18(3), 2000

    Belm, Macei, Salvador e Ponta Grossa (PR).Inicialmente, foi feita uma reviso meticulosa dasbacias conhecidas, ficando as aes concentradas nasbacias do Recncavo (explorao e produo) eamaznicas (explorao), com esforo mais modestonas demais bacias. A estratgia era imediatista: umaumento rpido da produo e de novas descobertasna j razoavelmente conhecida Bacia do Recncavo,e realizar as grandes descobertas nas bacias da RegioAmaznica, onde se concentravam nossasexpectativas de redeno.

    Uma dificuldade inicial foi a carncia de pessoalespecializado, apesar do CENAP (Centro deAperfeioamento e Pesquisas de Petrleo) terrealizado alguns convnios com universidadesbrasileiras para formar gelogos de petrleo e doenvio ao exterior de alguns tcnicos brasileiros paraestudos e especializao, mas isso no era suficiente.Dezenas de gelogos e geofsicos norte-americanose europeus foram contratadas (Tab. 2), com ajustificativa de que seriam os professores e instrutoresdos tcnicos brasileiros e, mais importante, a de queos resultados exploratrios s poderiam ser obtidosno curtssimo prazo com a ajuda daquelesprofissionais. O plano inicial era que, medida queos profissionais brasileiros fossem sendo treinados,estes iriam substituindo os estrangeiros. Isto de fatoaconteceu, e a tabela abaixo mostra como foi estaevoluo.

    Walter K. Link, poca renomado gelogo comreconhecida capacidade e experincia no ramo daexplorao de petrleo, conhecia a indstria e asdificuldades das bacias brasileiras. Tendo aquichegado com um cenrio de leo barato e com asexpectativas nacionalistas exacerbadas pela campanhade criao da Petrobras (O Petrleo Nosso), sabiada necessidade de se encontrar rapidamente osbonanzas fields (denominao utilizada no Mxicoe Sul dos Estados Unidos para campos gigantes), comcampanhas exploratrias que se iniciariamrapidamente nas bacias mais apropriadas para estasdescobertas. Da, aps uma meticulosa reviso detodas as bacias sedimentares brasileiras, os esforosterem sido divididos entre o leo mais fcil e emquantidades modestas no Recncavo e Sergipe-Alagoas e a busca dos bonanzas nas imensas baciaspaleozicas Amaznicas, do Parnaba e Paran.

    Em 1955, um dos primeiros poos perfurados naBacia do Mdio Amazonas, regio de Nova Olinda,produziu algum leo, gerando grandes esperanas eintensificando a campanha amaznica. Em 1957, adescoberta da acumulao de Jequi foi a primeirana Bacia de Sergipe-Alagoas e, tambm, a primeirafora do Recncavo Baiano. A partir de 1960/61, asuniversidades brasileiras comearam a formarregularmente turmas de gelogos. Em 1961, osresultados negativos na Amaznia j comeavam acausar algum desconforto e, neste mesmo ano, foidivulgado o Relatrio Link (Link, 1960, apud Souza,1997), que concluiu pela inexistncia de acumulaesde grande porte nas bacias sedimentares terrestresbrasileiras.

    De modo geral, a partir do relatrio, Linkquestionava fortemente futuros investimentos emprogramas exploratrios muito audaciosos,desestimulando novas investidas nas baciaspaleozicas e recomendando a intensificao dostrabalhos no Recncavo e Sergipe-Alagoas,principalmente na poro sergipana da bacia. importante ressaltar que Link insistia que as conclusesapresentadas eram dependentes em grande parte dosescassos e pouco evoludos dados geofsicos dapoca, e que a evoluo desta ferramenta poderiareverter este quadro. Sugeriu ainda que o caminhopara as grandes descobertas to almejadas poderiaestar na Plataforma Continental, quela poca j comatividade intensa e descobertas animadoras no Golfodo Mxico americano, e tambm em concesses aserem adquiridas no exterior em bacias geologicamentemais atrativas. A polmica despertada peloRelatrio na imprensa e nos meios polticos foienorme, principalmente quanto ao pessimismo paracom as imensas bacias paleozicas brasileiras e devidoao mito criado da existncia de petrleo emabundncia no pas. Um anexo ao relatrio foiapresentado em novembro de 1960, com novasinformaes que rebaixavam as avaliaes da Baciado Mdio Amazonas e da poro terrestre da Baciade Sergipe-Alagoas, principalmente esta ltima(Alagoas).

    O clamor nos meios jornalsticos e polticosaumentou, levantando inclusive suspeitas acerca daidoneidade na conduo da poltica exploratria. Tudoisto coincidiu com a mudana do governo brasileiro e

  • 380 Petrleo na Margem Continental Brasileira

    Revista Brasileira de Geofsica, Vol. 18(3), 2000

    teve repercusso na direo da empresa, tendo sidotrocado o General Sardenberg pelo engenheiroGeonsio Barroso. Nos meios tcnicos tambm houvereao ao relatrio, porm esta reao se prendeumais ao que foi considerado pessimismo exageradocom relao a certas bacias frente a escassaquantidade de dados. Os argumentos dosexploracionistas que criticavam o Relatrio se referiamem grande parte metodologia, j que achavam quemuito pouco trabalho de detalhe havia sido feito atento para avaliaes to negativas.

    Em meados de 1961, ao trmino de seu contratoe ressentido com as crticas, muitas delas injustas eirrefletidas, a respeito do seu trabalho, Walter K. Linkdeixa o pas, aps demitir-se. s acusaes de m-f, por se encontrar a servio de interessesaliengenas, Link comenta simplesmente: no sou

    eu quem fez a geologia das bacias sedimentaresbrasileiras.

    Em maro de 1961, antes da sada de Link, foicriado por deciso da diretoria um grupo de trabalhocomposto pelos gelogos Pedro de Mou