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Ensaio sobre a língua portuguesa, editado em 1911
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LIESPhilologia PortuguesaclMCias
na BibliotUeoa Naolonal de
L,isl~>oa
D."
J.
LEITE DEmesma
VASCONCELLOSBibilolhcca, e Professor
Primeiro Conservador da
do Curso
de Bibliothecario-Archivista
LISBOALIVRARIA CLSSICA EDITORA
DE A. M.
TEIXEIRA & Cj1911
PRAA DOS r!ESTAm.\DO. 20
LIESPhiloloma Portuguesadadas naBibliottieca Nacional d Lisboa
D."
J.
LEITE DEmesma
VASCONCELLOSBibliotheca, e Professor
Primeiro Conservador da
do Curso
de Bibliothecario-Archivista
LISBOALIVRARIA CLSSICA EDITORA
DE A. M.
TEIXEIRA & C."1911
PRAA DOS RESTAUKAOOKBS, 20
Pc
\V\
-
1958
r
OFTORO^
Porlo
IMP.
PORTUeUEZA
Rua
Formosa,
1121911
AO
EX."" SR.
Jlio Moreiraconsagra, lubeniissimo corde atque animo, o antigo discpulo:
. .
eu com teu juyzo tenho conta
outros que sey que delle pendem. que monta? Os mais, que digo bem, que mal,
E com
(Diogo Bebnardez, o Lyma,carta xii, ao D.or Antnio Ferreira)
Lisboa, 1596,
fl.
99,
J. L.
DE V.
PROLOGO
Em
1903 pediram-me alguns alumnos do Curso de
Bibliothecario-Archivista
que lhes
fizesse
na Bibliotheca
Nacional de Lisboa umas preleces de Philologia Portuguesa, principalmente a respeito da lingoa archaica; accedi
de bom grado ao seu pedido,isso auctorizao superior.
e logo tratei de obter para
Por Portaria de 31 de Dezembro de 1903, emanada doento Ministrio do Reino, sob proposta do Sr. Bibliothe-
cario-Mr interino, fui officialmente encarregado das referidas preleces,
sem encargo para
o thesouro
^
.
J antes
porm
d'aquelle dia ellas
tinham comeado, com auctoriza-
o provisria do Sr. Director da Bibliotheca.
As
conferencias, que a princpio se destinavam,
como
disse, aos
alumnos do Curso de Bibliothecario-Archivista,
emde
breve comearam a ser assistidas de alumnos de cursosfora, e
tambm de
professores, escritores, e outras pese
soas.
Assim enthusiasmado
honrado com
tal fafvor,
que
1
Yid. Dirio do Governo de 8 do Janeiro do 1904 (n.
5), p. 69.
VIII
PROLOGO
menos dependia da capacidade dono devia circumscrever-me,
conferente, que da curio-
sidade que o assunto despertava no pblico, entendi que
nem na
Philologia archaica,
nem num annorios
nico, e por isso, no s perlustrei os vsciencia,
campos da
mas continuei em annos
successi-
vos,
ao todo, oito at
hoje, o
que perfaz cento e doze
conferencias, absolutamente gratuitas^.
Naexiste
Bibliotheca Nacional de Lisboa, j desde 1844 que
uma
cadeira de Numismtica^, qual;
em
1887
se
aggregou a de Bibliologia 'tres
Conservadores que na
em 1864, um dos mais illusmesma Bibliotheca houve, o
eruditissimo Antnio Jos Yiale, hoje fallecido, recebeu do
Governo a permisso de reger ahi uma aula de grego elatim,
como
auxiliar da 2.* cadeira do. Curso Superior de
Letras, d'onde Viale era lente*.
Na
Bibliotheca Nacional
1
No
1.
anno vinto
e
duas preleces; nonove; no6. oito;
2.
onze; no
3. 8.
dede-
zoito;zoito.^
no 4 quinze; no
5.
no 1 onze; nosaliir
Em
alguns annos foram poucas, por eu ter de
da capital.
Portaria de 19 de Dezembro.
^ *
Decreto de 29 de Dezembro.
Em
17 de Julho de 1867 apresentou Viale ao
Governo
um
re-
latrio
da regncia de 1866-1867, o qual lho mereceu
uma
Poi-taria
de louvor com data de 29 do
mesmo
ms. Portaria e relatrio appa-
receram publicados no Diatio de Lisboa de 9 do Agosto de 1867.D'aquella consta que a aula fora auctorizada por outra Portaria, de6 de
Dezembro de
1864. Cfr. Dicc. Bibliogr. de Innocencio, viii, 218.
Entre
os discpulos que Viale teve, contam-so o Sr.
Epiphanio
Dias, o Sr. Gonalves Viana, e o Sr. Pereira do Miranda.
O
ensino
de Viale tinha caracter verdadeiramente clssico, porque as traduces do grego faziam-so nSo raro para latim, e este ora s vezes o
PROLOGO
IX
de Paris ensinou Oppert o sanscrito \
Em
bibliotliecas
dos Estados Unidos existem salas especiaes para conferencias
pblicas,
que
l
se
effectuam frequentemente:la
e^est
une extension du
role ducateur dvolu
bibliofhque^.
Eu
tinha pois
bons exemplos que seguir.
Alm
d'isso,
constituindo a Philologia para
mim, desde
os verdes annos,
um
dos estudos da
minha
paixo, no
encargo que
me davam,
e pelo
me era molesto o contrrio me aprazia, e meo Sr. A.
estimulava a trabalhar mais.
A instancias do benemrito editor lisbonenseTeixeira, organizei
M.
um
livro
com
as matrias dos
seis pri-
meiros annos escholares, e hoje o dou a lume na sua casa'.
Para a organizao eu
dispunha de.
trs
processos:
apresentar as lies pela ordemquaes; apresent-las
em que foram
dadas, taes
em ordem
methodica, dentro de cada
nico idioma que durante as lies se usava.
Convm accroscentarprofessoi* recebia re-
que
nem1
os
alumnos dispendiam nada, nem ogrtis.
munerao alguma: tudo
L' Anthrojwlogie, xvi, 597.
'^
Courrier des bibliothqnes, 1901 (Paris), p. 115-116.
''
Os resumos de algumas1.
lies
sahiram impressosviii,
em
peridi-
cos: do
anno, na Revista Lusitana,opsculo); do4,
159-170 (d'onde se fez se-
parata,
em
anno,
nO
Sculo de 20 de
Novembro
e
17 de
Dezembro de
1906, e 22 e 28 de Janeiro de 1907, nos Echos da
Avenida do 3 e 10 de Maro de 1907, e no Jornal do Commercio de 22de Maro de 1907; do5.
anno, nas Noticias de Lisboa de 24 de Ja8,
neiro, 19 de Fevereiro, 5,
19 e 22 do Junho, e 8 e 16 de Julho
de 1908; do(oito
6.
anno, ibidem, de 23 de Janeiro a 6 de Maro de 1909
nmeros).
O
que a pag. 355 digo do Auto da Festa, apparoceu
primeiro nos citados Echos. de 16 e 23 de Dezembro de 1906.
X
PROLOGO
anno; tomar de cada grupo o que constituir
cominum
a todos, e
com
isso,
embora completando-o ou ampliando-o,
um
tratado uniforme.
O
primeiro processo tornava-se
fasti-
dioso ao leitor, porque o obrigava, j a continuas repeties,
j
a
grandes interrupes; o terceiro causava-me
grande fadiga, porque eu precisava de desmanchar o planodos respectivos grupos de lies, e aproveitar muito diver-
samentevisto
da
inteno
primitiva
os
meus apontamentos,
que nunca pensara
em
coordenaristo ,
um
compndio;
adoptei pois
um
meio termo,
o segundo processo.
Aindaties;
assim, no evitei por completo interrupes e repe-
mas
obviei
um
pouco ao inconveniente, formando
com
as matrias estudadas
um
quadro synoptico de Philo-
logia Portuguesa, que vae no fim do volume.
Pois que as minhas preleces no obedeciam a planofixo,
merc,
como estavam, da frequncia
e ndole do
auditrio,
que no era sempre o mesmo, eu tinha liberdade
de lhes dar a amplitude que
me
parecesse,
com
tanto que
no ultrapassasse as fronteiras da sciencia: por esse motivos vezes occupo muitas pginas
com um
assunto que
facil-
mente poderia versar em poucas
linhas; e vice-versa. partes:
Cada preleco constou de duas
a
primeira,
destinada a interpretao de trechos antigos contidos na
minha chrestomathiaperguntasdos
intitulada Textos Archaicos^ ; a se-
gunda, destinada a factos vrios, por exemplo, respostas aouvintes,noticias
de livros apparecidos,
explicaes de occasio.
Em
quanto interpretava os trechos,
1." ed.,
1905; 2.' ed., 1907-1908.
PSOLOQO
XI
aproveitava o ensejo de desenvolver pontos detica,
Gramma-
e
apresentar etymologias.
Assim
se explica a feio
polygraphica do livro. Neste supprimi, por suprfluas, certasobservaes que j
andam nos
Textos Archaicos, 2.*
ed.,
a
que a cima
me
referi.
Bemjeito,
conheo a quo grande responsabilidade
me
su-
dando a lume o presente livro. Sirva-me comtudo de
desculpa, por
um
lado, o querer eu,
embora parcamente,
concorrer para o progresso dos estudos ptiilologicos entrens, pelo que,
segundo
uma^,
expresso de Fr. Bernardo de
Brito, no
me
tenha ningum a mal, particularizar tantoe
as cousas de Portugal
por outro lado, o serem muito
falhas de obras philologicas as livrarias pblicas de Lis-
boa: basta lembrar que a Bibliotheca Nacional, a
pesar
de,
na rea das scienciasse
historico-philologicas,
muito
tereu,
enriquecido nestes ltimos vintena qualidade de Bibliothecarioefre-
annos, comoquentadoras revistas
d'ella,
posso dar testemunho, no possue todasa pag. 499-500, e das ahi existentes
que
cito
esto incompletas algumas.
Ora
claro
que
um
particular,
por muito que compre, no pode comprar quanto
vem
ao
mercado, tanto mais que
a
bibliographia romnica
au-
gmenta
l fora
cada dia prodigiosamente.
Campolide, 10 de Junho de 1911,dia da fosta de Cames.
J.
Leite de Vasconcellos.
*
Monarchia Lusytana,
liv. I, cap.
xxiii (Alcobaa, 1597,
fl.
70
v.).
SIGNAES E ABREVIATURAS
y~*
deuota thema ou radical.posto antes de
no
se encontra
uma palavra designa que ella nem na lingoa actual, nemdeve ter existido;porex.
em documentos, mas queisto,
que
theorica,
*Cuda,
forma deduzida de Transcudani, nome de
um
povo que sabemos que habitava na anti-
> <
....
guidade
uma
das margens do Coa.
entre duas palavras iudica que a segunda
provm da primeira, por
ex.
bene>6e>
.....
indica que a primeira
provm da segunda:
6eroda.
-.
.
.
.
numa
citao significam que
supprimiu alguma que no vinha ao caso.latino conferre: compara,
cfr.
=confer, imperativo do verboisto :
compare-se
fr.
=7= francs.
hes2).= hespanbol.
= = latim. = provenal. pr. ou rum. = rumeno.it.
italiano.
lat,
x^fov.
E
assimt;6.
tambm
:
mir.
= mirands,
caf.
= catalo,
gal.
=
gallego,
= verbo,
etc.
SIGNAES E ABREVIATUEAS
XV
Zs. f. rom. Phil. Or. des l. rom,
=
Zeitsclirift fiir
romauische Philologie.
=Grammaire
des langues romanes.
Lat.- rom.
Wb.
Et,
Wh.
Wrterbuch. =: Etymologisches Wrterbuch.
= Lateinisch-romanisches
Wh.
= Wrterbuch.outras abreviaturas, fceis de conhecer.
Ha
TABOADA DAS MATRIAS
Dedicatria
vVII
PrologoSiornaes e abreviaturas
xin
(axno lectivo de 1903-1904)
Noes preliminares:(XomenclaturaGlottologia.e
definies)
Graraniatica
e
outras disciplinas.
3
Historia
de
uma
lingoa
.
Philologia
....
Origem
e
evoluo da lingoa portuguesa:geral.
Latim vulgar emrico.
Latim
brbaro.
Lingoas ronanicvs. Latim vulgar ib pocas da lingoa portuguesa. On.de
pode estudar-se_o_portugus antigo.goa.
Geographia
da nossa
lin-
Dialectos
11
Fontes do lxico portugus
O
latim a fonte principal.rias.
Palavras populares palavras Formas divergentes. Fontes pre-romanas. Fontes gerelittera-
mnicas e arbicas.
Outras fontes
23
B
XVIII
TABOADA DAS MATRIAS
Conspecto de phonologia histrica:Prosdia.
Classificao phonetica.
com
os latinos.
Relao Com os de outras linguas
dos sons portugueses
2^
Vestgios dos casos latinos:casos romnicos. Genetivo possessivo Outros restos de casose
Casos latinosmedieval.
no portugus
41
PronomesClasses decos.
e artigos:
pronomes (antigos
e
modernos).
Algunse os
usos syntacti-
Connexo
dos artigos
com
os
pronomes
numeraes.
Origens
51
Explicao de textos antigos:
Testamento de D. Affonso
ii.
noticia da poesia provenal).
Duas poesias trovadorescas (com uma Notas lexicoiogicas ....II
6^
.
(anno lectivo db 1904-1905)
Latim lusitanico, e portugus archaico:Vocbulos pr-romanos da Ibria.ptionuin Latinarum.gar na parte com quelxico.
Importncia do Corpus Inscn Summrio de Grammatica do latim vulse justifica a
portuguesa.
Amostras do
Testemunho
de
S.
Isidoro
Hispalense.
Portugus11
pr- e protohistorico.
Monumentos da lingoa portuguesa archaica.fallar hodierno:
Phenomenos archaicos no
a) Grammatica: Terminaes -om
e
-am,
e
plural dos nomes.-eo e -ea.
Vogaes abertas de syllabas atonas.-^Digraphos
Plu-
TABOADA DAS MATRIAS
XIX
ral
em
-les (de
-l).
Genetivos
medievaes mantidos
prprios.culas.
Syntaxe.
Adjectivos. Pronomes. Formas
em nomes
vcrbaes.
Parti139
b) Lxico: Vrios vocbulos
Discusso gramiqatico-iexicologica:
Oenero de certos nomes.Lavandeira.
Comparativos. Anis. Cotitradana. Similo
201
Exemplos de dssimllao:
Generalidades.
Dissirailao
consonantica.:
Haplologia. Appendice
Dissimilao voclica.213
a palavra ser?-72rt
Observaes ortfiograpliicas:
OrthographiaXVIII.
medieval.
GrammaticosViana
dos
sculos
xvi,
xvii e
Verney.
Gonalves
223
III
(anno lectivo de 1905-1906)
Plano de estudos philologicos:
Lxico.
Onomstico. Grammatica. Fases da lingoa portuguesa. Potica, Estudo de certos AA. ou obras. Publicao de textos. Historia da litteratura. Geographia da nossa lingoa. Dialectologia. Historia philologica, Bibliographiaetc.e..
.
229
Herldica e Lingiiistica:
Brases de famliasgicas erradas, que
e de terras
baseados
em
interpretaes etimol.
deram
s vezes origem a lendas herldicas.
251
XX
,
TABOADA DAS MATRIAS
Vocbulos avulsos, e flexes verbaes:Certo
como adverbio.
suas accepes.
Co>n})arar. Dia. Eigleija. Fazenda Namorado, e o caracter dos Portugueses.
e
Sazom.
Ventuira. Verbos archaicos e modernos;
verbos defe-
ctivos e inchoactivos; nivelamento de flexes
273
IV(anno lectivo db 1996-1907)
O estudo da lingoa ptria,Palavras latinase
e suas vantagens:
lusitano-latjnas que se tornaram portuguesas.c
Evoluo no tempo
no espao.
Hbitos phoneticos. Scien287
cia linguistica, e patriotismo
O L
latino
em portugus:do l latino, e suas alteraes.
Espcies de
portugus. Condies Portugus e hespanholl
293
Dos nomes numeraes:Cardinaes, ordinaes, distributivos, multiplicativos e fraccionarios.
Nmeros redondos.gios).
Systeraa
sexagesimal
e
vigesimal (vest-
Reflexo
dos
nomes numeraes no onomstico.
Vrios301
caracteres demopsychologicos
Phenomenos deAllitterao.
estilo e
syntaxe:
Attraco
syntactica.
Collocao'
de varias palavras
na orao.
EUipsee
313
Onomstico antigoPreliminares.
moderno:conservados athoje.
Nomes
lusitano-romanos
Vrios nomes de povoaes.
Perda
do de> no onomstico.
Deminutivos.
Saxonia
327
TABOADA DAS MATRIAS
XXI
Algo de Dialectologia:
Crioulos.
Ceilo. O ceilonense. Xo Fas o Sol (Algarve)
.
.
351
Auto da Festa:
publicado Auto da Festa, nouamente feito por Gil. Vicente, mentado pelo Conde de Sabugosa, Lisboa, 190(3
e
com355
V
(anno lectivo de 1907-1908)
Erros de lngoagem no uso quotidiano:
Consideraes geraes.
Erros
de
Grammatica (pronncia, orthogra363
phia, raorpliologia, s^-ntaxe).gallicisraos
Erros lexicologicos, pela nir parte
Dispensrio:
Condies de
uma
etymologia.
O
suffixo
-rio.
O
fr.
dispensaire.
DispensatrioAs palavrasAccentuao
d^ patena.
Lat.__vul g.
fica tu m
.
^Suffixos latino s
-ula e -ella
:
:
.
l
401
Passar uma perneta:Fernetapor planeta.
Aco
da
Astrologia.
Palavras
d'essa
mesma
familia seraatologica
405
XXII
^
TABOADA DAS MATRIAS
Euphemismos:Influencia
da religio
na
vida da lingoagem.
Bibliographia
do
assunto
413
Palavras criadas pela rima:Lista de algumas.
Araganas. Balrocas
417
GamaSuffixos
voclica na derivao:
que s dSferem uns dos outros na vogal tnica.
Differenase suffixos
de terra para terra.vivos
Agglutinao. Suffixos mortos,
421
Nomes ptrios
e gantilcos:
^um
v^j
Diferentes maneiras de designar a ptria de
individuo. -+ Suffixos
ethnicos e geographicos
\^
.
_.
,^
423
Nomes de ventos:
Nomes
antigos.
Designaes
vulgares, usadas no continente e ar-
chipelagos dos Aores e Madeira.
Poesia
popular
....
427
Classes de nomes pessoaes:
A
propsito de Carlos, Luis, e
Manoel
433
Anlyse lexioographica de duas poesias de S de Miranda:(Vid. Textos Archaicos, 2." ed., pag. 69-70)
441
Noticias bibliographicas:
Trabalhos de Gonalves Viana,ling, e
J. J.
Nunes, Jlio Moreira, O. Nobi-
Mrio Barreto
447
TABOADA DAS MATRIAS
XXIII
(anno lectivo de 1908-1909)
Vergilo> no
:
Documentos epigraphicos.
Uso medieval. Litteratura portuguesa.-ade e -aa:
453
A terminao atona
A
propsito de pliade ou pliada.
Formao
da palavra Lusadas
459
Um
vocbulo com trs formas:
Esquadnnhar.
JEscudrinhar. Esculdnnhar
463
Noticia do idioma de Riodonor:
Fallado no concelho de Bragana
465
Onomstico do concelho de Mertola:Estudo de vocbulos colhidos nas matrizes prediaes
467
*
Quadro synoptico de Philologia PortuguesaBibliographiandice dos vocbulos
481
499501'.
Addenda & corrigenda
517
(ANNO LECTIVO DE
1903-1904;
Noes prelirainares
(Nomenclatura
e definies) Grararaatica e outras disciplinas.
Glottologia.
HistoriaAtos.
de
uma
lingoa.
Philologia.uma frase que una em vrios elemen-
fortuna ajuda os
fortes. Eis aqui
quanto ao conceito geral, mas decomponivelpredicado; os fortes, complemento directo.
Primeiramente temos: afortuna, sujeito da orao; ajuda,
A
esta anlyse cha
ma-se syntactica.deinido,tes
Em
segundo lugar notamos que a
artigo
fortuna substantivo, ajuda verbo, os outro
artigo, formaZ/ia. As apparentes excepes que ha, provm de analogia: myamo5> amabmus, por causa de amava,amavas, que temo accento
na segunda syllaba; mas o gallego
mantm aindaAs vogaesde longa-,
o accento primitivo, pois diz -abmos.tnicas latinas transformara m-se
em
portugus de(o
differentes maneiras,
conforme eram longas ou breves-):
sinal
o de breve
>a
32
LIES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA
consoante susceptvel de formar syllaba com a vogal antecedente:sol
de
sole-,e
cantar de
cantare.
Deve escrever-seao passo que e
cear, passear,
no ceiar, passeiar, embora se diga ceia eei,
passeio, pois e tnico antes de vogal soa
atono antes de vogal soa
i,
posto que representado orthographie
camente por
e.
Em
portugus archaico dizia-se enteiro,
hoje
diz-se inteiro (na lingoa litteraria).
A
vogal nasal final dos ver(escrito hoje
bos tornou-se ditongo:
e r ui
> er> eroou ou
-am).
Otoiro;
ditongo latino
av
tornou-se
i: tLuru
-> touro
ou
Lutumni\-> outono. Criaram-se ditongos novos, nascidos de alargamento de vogaes, como areia
g\imm.> goma; porta- >j?o?'te, bonu->(90>&om; fin- > filho, Ya.u>vao; * se i'a.n\i-> sero; lama->/rtma; mola- > moa > moo > m; nata > nada; radere > raer> reer>rer. Em ce e ci o c assibila-se: certu-> certo (que soacerto),
tiza-se:
cincta->CTWa (que soa cinta). Em ge e gi o a palagente- > perito (que soa jente), gingiv > gengivaa,
(que soa jenjiva).
Em
j o
i
latino (semi-vogal) de
iam
est
>
;
;
>
LIES DE PHILOLOGIA POETUGUESA
33
representado por palatal;
em
vi o
u
latino de
vidi (uidi) est
representado por
v.
O h
no soava no latim vulgar.
Das consoantes7iem); -t muda-se
finaes, -c ci-d,
{sG> si> sim,
nec>*i2e>
-M
ci,
excepto
em em
que tambm ci
certos
monosj^llabos
(erat> *erad> era); (amabam> amava;
c ume ci
>com; proclitico; rem>7"em^; -n nasala a vogal anterior em in > ^=em, non > no nom > no; a preposio a d
=
deu a; a preposio sub deu so;eircumstancias (craa, mais, Deus),
-s
comoci
sinal de flexo
man-
em algumas outras em foras >/ora. Entre vogaes -d- e -l- syncopam-se (fde->/ee>/; do\oxei-> door> dr ; -n- transforma-se em resonancia nasal, que em certa poca e em certos casos desapparece {\.w.\i^->lUa> lua), mas que s vezes permanece (sonu-> oo>5om, oxytm-se (plural dos nomes, formas verbaes), e
mas
tono).
As consoantes surdas tornam-se sonoras:
-p->; lupu-> lobo; -c->g: ami cu- > amigo;-T-> d: p r a t u pradoproveito
-F->v: -pYofeG\i->a
labial -b- torna-se geralmente
v {fa.\)2i-> fava): -g- pode cair
(legale->ZeaZ^, ou manter-se(xA.ugustu->*Agustu->/1^05fo;
rogare->estio),
rogar); a semi-vogal -v- ficae
em niue->
neve, ci
em
'bo\ie->boi
na terminao -ivv- (riuu->ro; aestiuu->i
em vivo amor, hora-> hora); ce e ci do ze e 21 (acetu->masfica
semi-vogal
i
d
azedo, v i c i n u -
> vizinho
(vezinho).
b) Consoantes agrupadas:
No
posso aqui tomar
em
conta seno alguns grupos mais
importantes,
O
destino dos grupos latinos varia s vezes tam-
bm com-PL-
a posio d'elles na palavra.
Demos exemplos:
tij-> eh: i^lus
> chus'
(are):
plorare
> c/io?'ar;*
> Ih:
*
m anup
l,u -
>
*
molho >
maolho > moolho
molho:
;
34
LIES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA
MFL> ch: amplu-> anco; im^ler e> encher;FL->cons.
eh:
flamma-> c/iama; flore-> chrinflare
(dialectal);
pL
> ch: >l:
> incha?-;
afflare > achar;
ci,-> ch:cons.
clave->c/l.
c/iare;
clamare-> chamar;o g''Ii\-> olho;
-CL->lh: gY'dc''h\-> gralho;CL
*fasc'lu- >/ac/io, * muRc^lsL-
> mancha;
GL->
glande-
> lande; >
glattire>
latir;
-QL-> Ih: tGg''la,> telha; *cig'l2L> 'saL> nh: ung^\aL> unha;LTtello
cilha;
> ut,ss:
it:
a11ariu-
outeiro (oiteiro) ;
cultellu->
cui-
(are);
'Rs>
T^eYsonL>2)essa>(are. e pop.);
jjessoa;
Sanctu-Thyrsu->*tonsare>o5!r;
Santo Tisso
Ns>5SOEescreve
(j ein lat. vulg.)::
mensa-> me^a,;
> (i)x
pis ce-
> peixe
mas n a s c e r e
> nacer
(que se
com se); sGi> (i)x: *asciata>
gall.
eixada, portug. enxada:
CT
> it: >
actu-
NCT> nt:GNanho;7ih:
'ixinGu-> junto; sa.n et a-
> fruito (are. > santo; cognoscere > conhocer > conhecer; agnu- >octofr u c t u)
> eitO;
> oito,
X
= CS >
c;
axe-
> gall.
eixe, portug. eixo.origi-
Com
relao aos grupos,
convm observar que uns sooutrosso
nariamente latinos, como
em amplu-,
de origem
romnica, produzidos por syncope de consoante, como
em *maui,
nup'lu- (^*manupulu- por manipulus). O ditongonasce s vezes de dissoluo de consoantestransforma-se frequentemente
que
em
certos grupos,
em
u, ao passar da lingoa antiga,
para a moderna: cuitellofruto,
> cntello,
enxuito>isso
enxuto^ fruito
>
luita>hita., truita>ti'utB,; por
illogico escrever
fructo, porque, para se imitar o latira fructus, passa-se por
cima
de fruito.
Em
chuiva
(are.)
o
ui vem de pi u vi a; moderna-
mente mudou-se tambm eme chhia.
u, pois dizemose
na lingoa
litteraria
chuva, embora o povo no Norte
Centro diga chuiba (chuiva}
:
; ;
;
LIES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA
35
c)
Consoantes geminadas, dobradas ou duplas:
Simplificam-se, ao passarem ao portugus; embora s vezesse
mantenham na
escrita,
pronunciara-se sempre singelas. Por
exemplo:
NN>LLPP
n:l :
annu-> nocaballu-
(escreve-se
anno);
> > p: MM > m TT >
> cavaZo
(escreve-se cavallo);
;
stuppa->esopa; f 1 a m m a > chama (chamma)gutta>_f/ote (gotta):
;
ER ossu->
tornaram-se r forte: carruo?fo.
Devoll
> crro;
ss
soam como
s:
observar
que no
inteiramente
rigo-
roso dizer que o
de cavalo ou cavallo soa singelo, pois
eml,
ver-
dade soa M, comeste
precedido de gutturalizao de outrol
mas
pheuomeno d-se sempre que
esteja depois de vogal tnica,
ainda que no provenha de ll: assim se diz ou pde dizer soMo(solo).
d) As consoantes, quando ao contacto das semi-vogaes merecem considerao especial:^&-
(i,
u),
SI
>JIh:
;
v i s io n e -
> avejom > avejo[(pois
^i>nh: luiiu\-> Junho, linea->Zm/iaLI
>
mi]iu->:
milho, palea>jM?/iahoje,
-ea=-ia);
'"^s-Tn>j
hoG>
mas moiu-> moio;(de *vir'dis,
RDi>rf; ardeo>arfo, *vir'diariia de viridis)> vera:
como
vi-
ms tambm
se estabelecem
confuses entre estes sons:
puteu->jjofo, Gallicia>Galliza.STi
>
eh:
mustione-> mocho.em:
Haaipo;i,
attraco
cmedo> *cmeo> are. como
(simpli-
ficao analgica
moderna: como); prio>arc. pairo; apiu->
a attraco fica imperceptvel:
sapiam>5ai; rabia- > rawa. Quando a vogal tnica Limia-> *Liim a >ivzma.
OutrasARI-
> * ERi- > eir-
:
p rimariu-
> primeiro,
area
> eira
.
36
LIES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA
ERiteiro
> eir- monasteriu- (mon8teriu-) > mesteiro > moes> mosteiro, m a t e r a > madeira; ORi- > oir-: c o r > coiro, sectoria-> seifoira:ii 11
-
Guttural
+
;
QVA> qua.
ca:
nunqua(m)
> n^ncfl;
qusiiitu-> quanto,
are. e pop. canto;
-Q,v\->goa: .g\ia,-> agoa
O quemaspreleces.
fica exposto,
(pop. auga e aiigoa). mera synopse muito siimmria. Algu-
particularidades mais, sero mencionadas no
decorrer das
Ha-de entender-se quetransmittidas, de boca
as leis deduzidas a
cima
se
referem
geralmente s palavras de origem popular,
isto , s
que foram
em
boca, desde a poca lusitano-romana
at hoje. Aquellas que entraram
em
pocas posteriores, ou pro-
vieram de origem ecclesiastica ourias transformaes.
litteraria,
podem
ter tido v-
Assim
se
ancho
palavra popular e antiga,
evoluo de
amplu-,
j no acontece o
que
palavra litteraria e moderna.
mesmo com amplitude, No deve perturbar os prinJ noutra occasio alludioutra,
cipiantes esta apparente discrepncia.
a isto;
mas convm sempre
insistir.
As palavras que, sendo de origem pre-romana, ou porda romanizao, passaram para o lxicolatino,
pertencentes s lingoas falladas na Lusitnia antes e ao tempo
foram tratadas
comovm,
as palavras propriamente latinas:
assim, lousa, que pro-
como
disse,
do thema de lausiae,
palavra
lusitanica,
mesmo ou Q pouco, que provm de pau cu-, palavra romana; Portucale deu Portugal, como a palavra romana vocale- deu vogal, com a mesma transformao de -c- em g, e a mesma apocope de -e; o ditongo ae de Gallaecu- deu eapresenta o
em.Gallego, como o de laetu- deu ea phonetica, e
em
ledo.
At que ponto
em
geral a grammatica, das lingoas indgenas in-
luiram na transformao do latim, no o podemos
bem
saber,
por falta de elementos de investigao.
Vimos ha pouco quelingoas
o lxico latino encorporou vocbulos de
post-romanas.
Os
sons
d'estas
lingoas
adaptaram-se
LIES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA
37
pouco a pouco ao systema phonetico preexistente; no temos hoje
na nossa lingoa sons que sejam germnicos, ou arbicos.
Odeupor
germnico
foi
transformadoe
ema
i,
por exemplo
mrs-uf-,
grande em Belmiro-ulf-
Argemil;se
palavra
wulfs lobo,
na idade mdia, que
mudou
ulteriormente
em
exemplo Berulfi> Berufe (Brufe); werra deu guerra;
TH inicial deu t, e th medial deu d, por exemplo: Tugile< Teodegildi, que provm de thiuda povo e gilds valor >, e ^?*mmw?e
chamava Recareus Recaconscincia d*isso, e Recaredi
Recarei
tornou-se
applica s outras categorias. Hojegneres,
mero nome topographico. O mesmo se Fernandes, e os nomes con-
o
mesmo que
como Nunez (Nunes), Marquez (Marques) etc, valem Silva, Coelho, Mello; j no denotam que os pes
dos indivduos assim designados se
chamem Fernando, Nuno,
Marco.
Nos nomes de origem germnica
particularmente
notvel o genetivo acahado
em
-ani