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DENTINHO PARA ENCHER O COFRE CORINTIANO, ELE VAI SAIR PÔSTER A EVOLUÇÃO DO FUTEBOL: A BOLA OS MACETES DA EVASÃO DE RENDA ROGÉRIO CENI FÁBIO, DO CRUZEIRO GRAFITE TAISON PARREIRA FÁBIO COSTA ALEX, DO CHELSEA 9 770104 176000 01330> ED 1330 • MAIO 2009 • R$ 10,00 SMS: PLACAR PARA: 22745 O FENÔMENO MOSTROU QUE DÁ PARA JOGAR NO BRASIL , GANHAR BEM E AINDA CURTIR A VIDA. SAIBA QUEM MAIS QUER VOLTAR... ELES QUEREM SER RONALDO

Placar Maio 2009

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edição de maio de 2009 da revista Placar

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Page 1: Placar Maio 2009

DENTINHOPARA ENCHER O COFRE

CORINTIANO, ELE VAI SAIR

PÔSTERA EVOLUÇÃO

DO FUTEBOL:A BOLA

OS MACETESDA EVASÃO

DE RENDAROGÉRIO

CENIFÁBIO, DOCRUZEIROGRAFITE

TAISONPARREIRA

FÁBIO COSTAALEX, DOCHELSEA

9 7 7 0 1 0 4 1 7 6 0 0 0

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E D 1 3 3 0 • M A I O 2 0 0 9 • R$ 10,00

SMS:

PLA

CAR

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A:

2274

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O FENÔMENOMOSTROU QUE DÁPARA JOGAR NOBRASIL, GANHARBEM E AINDACURTIR A VIDA.SAIBA QUEM MAISQUER VOLTAR...

ELESQUEREMSER RONALDO

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maio 2009

E D I Ç Ã O 1 3 3 0

© 1 E U G Ê N I O S Á V I O © 2 E D I S O N VA R A © 3 R E N ATO P I Z Z U T TO

✚ S E M P R E N A P L A C A R

8 VOZ DA GALERA

10 TIRA-TEIMA

12 PLACAR NA REDE

14 IMAGENS

22 AQUECIMENTO

36 MEU TIME DOS SONHOS

38 MILTON NEVES

83 PLANETA BOLA

93 CHUTEIRA DE OURO

94 BATE-BOLA: ALEX, DO CHELSEA

96 BATE-BOLA: CARLOS ALBERTO PARREIRA

98 MORTOS-VIVOS

k★ D E S T A Q U E S

42 Efeito RonaldoAdriano e companhia miram-se no Fenômeno e querem voltar ao Brasil

50 Evolução do futebolA transformação das bolas, de forma ilustrada, em novo capítulo da série

53 Penetras liberadosOs macetes de um problema quase insolúvel: a evasão de renda

58 Não olhe para trásFábio, do Cruzeiro, virou gigante após o maior frango de sua vida

66 Menino prodígioO garoto Taison rouba a cena no centenário e vencedor Internacional

72 O predadorOs dois lados de Fábio Costa: o milagreiro e o encrenqueiro

78 Segunda dentiçãoDentinho ensaia o adeus depois de ter devolvido o Corinthians à elite

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© 1

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M E T A O P A U , E L O G I E , F A Ç A O Q U E Q U I S E R . M A S E S C R E V A . . .

“Li “As duas faces

de Ronaldo”. Nada

surpreende. A mídia

o colocou como

semideus. Ele nunca

esteve preparado

para a fama.Edson Varon, por e-mail

O Leão rugeConfesso que fiquei muito honrado e

feliz ao saber que na edição de abril

sairia uma matéria especial sobre o

Sport. Mas fiquei decepcionado ao ler

o tópico “As armadilhas da Ilha”. Essa

prática (de soltar fogos perto do hotel

do visitante) também se repete em

todo o país pelas torcidas. Todos

os adversários que vêm nunca

reclamaram da nossa estrutura.

Bruno Batista, Recife (PE)

Caro Bruno. A matéria era sobre a festa e

a ótima estreia do Sport na Libertadores.

As informações do “As armadilhas da

Ilha” foram colhidas com clubes como

Corinthians, Inter e Vasco, que passaram

recentemente por Recife. Como sempre,

Placar ouviu os dois lados. A defesa

do Sport foi publicada em cada item.

vozdagalera

★ F A L E C O M A G E N T E

NA INTERNET www.placar.com.br ATENDIMENTO AO LEITOR | POR CARTA: Av. das Nações Unidas, 7 221, 7º andar, CEP 05425-902, São Paulo

(SP) | POR E-MAIL: p lacar.abri [email protected] | POR FAX: (11) 3037-5597. As car tas podem ser editadas por razões de espaço ou clareza. Não

publ icamos car tas, faxes ou e-mai ls enviados sem identif icação do leitor (nome completo, endereço ou telefone para contato). Não atendemos

pedidos de envio de pesquisas par t iculares sobre história do futebol, de camisas de clubes ou outros brindes. Não fornecemos telefones nem

endereços pessoais de jogadores. Não publ icamos fotos enviadas por leitores. EDIÇÕES ANTERIORES Venda exclusiva em bancas, pelo preço da

últ ima edição em banca acrescido da despesa de remessa. Sol icite ao seu jornaleiro. LICENCIAMENTO DE CONTEÚDO Para adquir ir os direitos

de reprodução de textos e imagens das publ icações da revista Placar em l ivros, jornais, revistas e sites, acesse www.conteudoexpresso.com.

br ou l igue para (11) 3089-8853. TRABALHE CONOSCO www.abri l .com.br/trabalheconosco

✖ E R R A T A S

EDIÇÃO DE ABRIL

■ Na pág. 34 da edição de abril, há uma

incorreção. A Wolff Sports & Marketing não

comercializou o patrocínio no uniforme

do Corinthians no jogo contra o Palmeiras.

A empresa intermediou a comercialização

do patrocínio da Locaweb para o time

na partida Corinthians x Estudiantes.

■ Diferentemente do que foi publicado

na página 88, o “floorball” não é praticado

com patins, e sim com tênis.

Sacanagem, pô!Sacanagem essa reportagem sobre o

Ronaldo bem na reta final do Paulista.

Seria interessante deixar o Ronaldo um

pouco de lado e falar da competição.

Carlos Alberto Ignacio de Oliveira,

[email protected]

TardelliDevorei em minutos a matéria sobre o

Tardelli. Muito bem escrita, com muitas

informações e detalhes interessantes.

Rosa Santos, [email protected]

Alma castelhanaAcho que o Grêmio e os gremistas não

querem ser argentinos, como sugere a

reportagem “Están locos?”. Os gaúchos

têm em seu DNA muito da cultura

platina. Isso parece não ser levado

em conta para quem nasce fora da

região Sul. Aliás, é até compreensível

essa forma de pensar num país que

faz de tudo para mostrar no exterior

que o Brasil é só Carnaval, Samba

e Floresta Amazônica.

Luciano Duarte de Melo,

[email protected]

E o Robinho Arantes?Cada vez mais me surpreendo com a

cara de pau do jornalista Milton Neves.

Ele teve a petulância de dizer para

deixarem de secar o Neymar e pararem

de fazer comparações dele com Pelé

ou Robinho. Mas, quando o Robinho

surgiu, ele o chamava de Robinho

Arantes do Nascimento...

Daniel Collyer, Rio de Janeiro (RJ)

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PESQUISA PLACAR

GALLUP 1971

SÃO PAULO

CORINTHIANS 29%

PALMEIRAS 17%

SÃO PAULO 15%

SANTOS 9%

RIO DE JANEIRO

FLAMENGO 35%

VASCO 18%

FLUMINENSE 16%

BOTAFOGO 14%

PORTO ALEGRE

INTERNACIONAL 47%

GRÊMIO 44%

BELO HORIZONTE

ATLÉTICO 43%

CRUZEIRO 42%

PESQUISA PLACAR

GALLUP 1983

FLAMENGO 31%

CORINTHIANS 17%

PALMEIRAS 9%

VASCO 9%

SANTOS 7%

ATLÉTICO 7%

SÃO PAULO 6%

BOTAFOGO 5%

CRUZEIRO 5%

BAHIA 5%

GRÊMIO 5%

FLUMINENSE 4%

INTERNACIONAL 4%

Sou torcedor do Sport e tenho um amigo tricolor que insiste em um tal título do Santa Cruz chamado Fita Azul. Segundo ele, trata-se do único título internacional de um time do Nordeste. Favor esclarecer melhor esse torneio — além de dizer que ele não vale nada...Marconi Maciel, Caruaru (PE)

k Seu amigo tricolor está certo,

Marconi, ao menos em relação

à existência do título. O Santa ganhou a

Fita Azul, mas na verdade tratava-se de

um título honorário concedido pela CBD

(posteriormente pela Gazeta Esportiva)

aos clubes que permanecessem

invictos em excursões ao exterior.

Portuguesa de Desportos (11 jogos em

1951), Portuguesa Santista (15 jogos

em 1959) e Coritiba (6 jogos em 1972)

também receberam o título. Em 1979,

o Santa jogou 12 partidas no Oriente

Médio e Europa. Venceu dez e empatou

Quais eram as dez maiores torcidas do Brasil em 1970? Luiz Henrique C. da Silva, Rio de Janeiro (RJ)

k É difícil precisar esse ranking, Luiz, mas dá para oferecer uma ideia

das torcidas brasileiras em 1971. Foi quando Placar publicou sua primeira pesquisa, realizada pelo Instituto Gallup de Opinião Pública. Foram ouvidos torcedores nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas os resultados foram divididos por estado. A primeira pesquisa nacional da Placar, também feita pelo Gallup, foi realizada em 1983. Na parte de cima do ranking não há muitas novidades; Flamengo e Corinthians já eram as maiores. Mas nota-se, por exemplo, o crescimento da torcida do São Paulo e a decadência da do Bahia.

A S D Ú V I D A S M A I S C A B E L U D A S R E S P O N D I D A S P E L A P L A C A R

tirateima

© 1 F O T O N I C O E S T E V E S © 2 F O T O A L E X A N D R E B A T T I B U G L I

© 1

Givanildo era parte do elenco que voltou invicto do Oriente Médio e da Europa e recebeu a Fita Azul

Edição de 31/12/1971, que trouxe a primeira pesquisa Placar de torcidas

OS JOGOS DO SANTA CRUZ

1/3 SANTA CRUZ 5 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT

6/3 SANTA CRUZ 1 X 1 SELEÇÃO DO KUWAIT

8/3 SANTA CRUZ 3 X 0 SELEÇÃO DO BAHREIN

11/3 SANTA CRUZ 4 X 0 SELEÇÃO DO CATAR

13/3 SANTA CRUZ 4 X 1 SELEÇÃO DO CATAR

14/3 SANTA CRUZ 2 X 1 SELEÇÃO DE DUBAI

17/3 SANTA CRUZ 3 X 0 SELEÇÃO DE ABU-DABHI

18/3 SANTA CRUZ 3 X 0 AL-AIM

20/3 SANTA CRUZ 6 X 2 NASSER ESPORT CLUB

23/3 SANTA CRUZ 3 X 0 ALHLAL, DA ARÁBIA SAUDITA

30/3 SANTA CRUZ 4 X 2 SELEÇÃO DA ROMÊNIA

1/4 SANTA CRUZ 2 X 2 PARIS SAINT-GERMAIN

O ELENCO DO SANTA CRUZ

GOLEIROS: JOEL MENDES E CLÁUDIO

LATERAIS: CARLOS ALBERTO BARBOSA,

VACIL E PEDRINHO

ZAGUEIROS: ALFREDO SANTOS E PARANHOS

MEIO-CAMPISTAS: GIVANILDO, DEINHA, JADIR,

BETINHO E GONÇALVES

ATACANTES: VOLNEY, NEINHA,

ZÉ ROBERTO E LULA

TÉCNICO: EVARISTO DE MACÊDO

duas, tendo vencido inclusive a seleção

do Kuwait, treinada por Carlos Alberto

Parreira. Agora, daí a considerar

a Fita Azul efetivamente um título

internacional, são outros quinhentos...

ZEIRO 42% de torcidas

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placarNaredeO V E R D O S E D E F U T E B O L E M W W W . P L A C A R . C O M . B R

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Acabou a brincadeira: a Placar agora tem um bolão.

Enfim, uma grande oportunidade de você tirar um sarro

dos seus amigos e provar que realmente entende de futebol.

Em um aplicativo do Bolão Placar no Orkut estarão

disponíveis para apostas todos os principais torneios

de futebol do Brasil e do mundo. Para completar, os

cinco melhores colocados no ranking no fim do mês

terão seus nomes devidamente divulgados na revista.

Não perca tempo, entre na disputa.

Bolão Placar

FICHAS

Agora você pode

acompanhar o

desempenho

individual de todos

os jogadores durante

o Brasileiro. Isso

porque o novo site

da Bola de Prata

traz uma ficha

personalizada de

cada atleta, na qual

é possível comparar,

em gráficos,

jogadores, clubes e

os melhores em cada

posição. Também é

possível acompanhar

o retrospecto de

cada jogador em

anos anteriores.

BANCO

Um arquivo completo com todos os jogadores

que disputaram o Brasileiro desde 2003.

Para as edições anteriores, Placar também

disponibiliza um campinho com os premiados

em suas respectivas posições desde 1970.

NOVO SITE BOLA DE PRATAPrêmio de maior credibilidade no futebol brasileiro,

a Bola de Prata ganhou um site só seu. Confira

o desempenho dos atletas e dos clubes durante

o Campeonato Brasileiro, rodada a rodada.

NOVIDADES

O que já era bom ficou melhor. O novo site da

Bola de Prata agora terá vídeos com os gols

da rodada, podcasts com análises das notas

dos jogadores, sobe-e-desce, enquetes,

além do Bola de Prata pelo celular.

PL1329 SITE.indd 12 4/20/09 8:15:45 PM

Page 9: Placar Maio 2009
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imagensimagens

Dores do

crescimentoNo jogo de ida das quartas-de-final da Champions

League, contra o Chelsea, “El Niño” Fernando Torres

começou como um gigante, marcando um gol logo

aos 5 minutos. Mas o Liverpool permitiu a virada,

perdeu a partida por 3 x 1 e a vaga nas semifinais

no jogo seguinte, um épico 4 x 4

F O T O P A U L E L L I S / A F P

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imagens

Telefone

sem fioA mensagem deveria ser clara: contra o Santos,

no Palestra Itália, só a vitória deixaria o Palmeiras

vivo no Paulistão. Mas o time de Luxemburgo

e Marcos não se entendeu em campo e deu adeus

ao sonho do bicampeonato

F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O

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imagens

Quero-quero driblar Na partida contra o Paranavaí, no Couto Pereira,

Carlinhos Paraíba parece combinar um drible de

corpo com um quero-quero, frequentador assíduo de

nossos gramados. A parceria deu certo: vitória dos

donos da casa por 3 x 0

F O T O R O D O L F O B U H R E R

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aquecimento

k

I M A G E N S , N O T Í C I A S E C U R I O S I D A D E S D O F U T E B O L

E D I Ç Ã O R I C A R D O P E R R O N E D E S I G N L . E . R A T T O

Se pudesse, Rogério Ceni riscaria o mês de abril da folhi-

nha. No dia 5, falhou nos dois gols do São Caetano. No dia

9, calculou mal uma bola alta e entrou com bola e tudo na

partida contra o Defensor pela Libertadores. No dia 12,

quase engoliu dois frangos contra o Corinthians na semifi -

nal do Paulistão. Nos descontos, tomou um gol de fora da

área num lance em que poderia estar mais bem posiciona-

do. Um dia depois, em um treino recreativo, fraturou o tor-

nozelo. De quatro a seis meses longe dos gramados.

No fundo, talvez Rogério preferisse riscar o ano todo de

2009 de sua vida. Ele não marcou um único gol (uma rari-

dade), já tinha falhado feio em um jogo contra o Braganti-

no, já tinha sofrido uma lesão muscular importante. O ano

de 2009 só não foi para o vinagre por uma razão: na tarde

de 4 de fevereiro, mesmo dia do peru contra o Bragantino

e do problema muscular, Ceni renovou contrato com o clu-

be. Uma demonstração de carinho e confi ança incomuns

nos dias de hoje. O São Paulo decidiu renovar com um go-

leiro veterano por longos quatro anos. Com 36 anos nas

costas, Rogério está garantido no clube até 2012, quando

completará 40. Nem TV Mitsubishi tem tanta garantia.

A renovação de contrato coincidiu com a pior fase de sua

carreira. E cada uma dessas falhas coincidiu também com

uma explosão de alegria. Os torcedores rivais soltaram fo-

guetes. Corintianos, palmeirenses e santistas odeiam Ceni.

Dizem que ele é arrogante, marqueteiro, falso e enganador.

Um anticristo. Quase comemoraram sua fratura. Os que

não tiveram coragem de dizer isso abertamente duvidaram

da contusão. Disseram que o raio X era falso, que ele simula

lesões sempre que começa a falhar. Dá para acreditar?

Seria de supor que uma fi gura tão abjeta assim desper-

tasse os piores instintos no mundo do futebol. Mas não é o

que acontece. Placar conversa diariamente com jogadores,

técnicos e dirigentes. A opinião sobre Ceni é quase unâni-

me. Ele é admirado. Os jogadores do São Paulo o enxergam

como verdadeiro líder. Aquele que estuda os adversários,

enche a bola dos colegas, briga pelas premiações. Os adver-

sários o respeitam pelas mesmas razões. Alguém já viu um

atacante chutar Rogério numa dividida? Quando alguém

esbarra nele, é um tal de pedir desculpas e salamaleques...

Como um sujeito assim desperta tanto ódio nos torcedo-

res rivais? Talvez Rogério seja exatamente aquilo que mais

incomoda o brasileiro. Seu sucesso não vem de um dom es-

pecial. Rogério não venceu pela bênção do talento, mas

pelo trabalho. Há goleiros com mais refl exos, mas Ceni so-

bressaiu pelo conjunto da obra. É econômico nos gestos

e tem foco no resultado. Não se verá Rogério dando pontes

inúteis para sair na foto. Ele irá preferir esperar em pé a

bola que talvez volte da trave. Romário, Robinho, Ronaldo e

outros bafejados pelo talento são muito mais “Brasil” do

que ele. Carregam a descontração do craque que se huma-

niza com os atrasos, sumiços ou noitadas. Sem a genialida-

de dos outros, Rogério vive só de seu trabalho. Quem sabe

não seja essa efi ciência que desperta o ódio dos rivais?

O anticristoPor que Rogério Ceni é tão admirado no meio do futebol

e tão odiado pelos torcedores rivais?P O R S É R G I O X AV I E R F I L H O

© F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O

P E R S O N A G E M D O M Ê S

Rogério Ceni e

Marcos: admirado

pelos colegas,

odiado pelas

torcidas dos rivais

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aquecimento

© 4 T H I A G O B E R N A R D E S © 5 R A C

Eles deixaram o

São Paulo no azulDenílson, Júlio Baptista e Madonna garantiram dinheiropara clube não fechar 2008 com as contas no vermelho

© 1

★ L E N D A S D A B O L A

O inacreditável, o impressionante, o sobrenatural. As histórias que os gramados não contam P O R M I L T O N T R A J A N O

© 5

ÍDOLO DO ÍDOLO

“Meu ídolo de verdade

sempre foi o Ronaldo.

Quando ele surgiu no

Cruzeiro, era tão rápido

que fez com que eu

observasse seus dribles

e arrancadas. Depois o

acompanhei no PSV, no

Barcelona, na Inter, no Real

e agora no Corinthians.

Quando ele pegava na

bola, eu sabia que alguma

coisa boa ia acontecer.

MADSON

MEIA DO SANTOSÍDOLO: RONALDO, ATACANTE DO CORINTHIANS E DA SELEÇÃO NAS COPAS DE 1994, 1998, 2002 E 2006

© 1

© 6

© 1 R I C A R D O C O R R Ê A © 2 P I E R G I A V E L L I © 3 R E G I N A L D O T E I X E I R A

kMadonna, Júlio Baptista e De-

nílson evitaram que o São Pau-

lo terminasse 2008 no vermelho. Se-

gundo o diretor fi nanceiro Osvaldo

Vieira de Abreu, o clube encerrou

o ano com superávit de 2,2 milhões de

reais graças a receitas geradas pela

cantora e pelos dois jogadores.

O dirigente havia dito que o São

Paulo poderia apresentar um défi cit

de até 12 milhões de reais em suas

contas do ano passado. “Teríamos di-

reito a um bônus se o Denílson fi zesse

um determinado número de partidas

Caminho de voltaDe segunda a sexta, Casagrande enfrenta rotinaem consultórios de psicólogo e psiquiatra

como titular pelo Arsenal. E ele al-

cançou essa marca. O dinheiro entrou

no fi m do ano e nos ajudou”, afi rma

o cartola. Entraram nos cofres do Mo-

rumbi cerca de 4 milhões de reais.

Como clube formador, o Tricolor

recebeu por volta de 1,3 milhão de re-

ais com a mudança de Júlio Baptista,

que trocou o Real Madrid pela Roma.

Já os shows de Madonna renderam

2,4 milhões de reais. O prêmio pelo

título brasileiro e as últimas rendas

do Nacional também incrementaram

as receitas. R I C A R D O P E R R O N E

Casão entre Ataliba e Biro Biro; Placar revelou seu drama em 2008

Mesmo longe

do Morumbi,

Denílson e

Júlio Baptista

geraram

receita; shows

de Madonna

também

Ronaldo agora enfrenta admiradores

© 2

A esposa Luanda curte o visual de Nego

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© 2

© 2

© 3

© 4

© 5

kPor uma noite, em março, Ca-

sagrande interrompeu a rotina

solitária imposta por seus médicos

para ser homenageado por torcedores

do Corinthians e ex-colegas dos tem-

pos de Democracia Corintiana.

Estava assustado com a agitação

num bar da zona leste de São Paulo.

Natural para quem está saindo pouco

e tem telefonemas atendidos por pa-

rentes, que fi ltram suas amizades.

“Estou retomando o contato com

as pessoas, vendo como me recebem.

Não sofri preconceito, mas depen-

dente químico é a segunda classe que

mais sofre preconceito. A primeira é

homossexual”, diz o ex-jogador.

Em meio à algazarra, o ex-jogador

corintiano Ataliba conta que fi cou

oito meses sem ver o amigo, que há

seis meses deixou uma clínica para

dependentes químicos.

“Hoje é difícil falar com ele. Você

liga no celular, tem que falar com

o pai, com a mãe...”, diz Ataliba, antes

de ser repreendido pelo ex-lateral

Vladimir. Ele não gostou de Ataliba

dizer que espera voltar a jogar com

Casão no Veneno (time de várzea).

Enquanto o garçom serve o segundo

copo do que parece ser caipirinha, Ca-

são fala do tratamento para tentar se

livrar da cocaína. “Você quer saber

qual é minha rotina? Segunda, quarta

e sexta vou ao psicólogo. Terça e quin-

ta, ao psiquiatra”, diz ele, que come-

çou o caminho para voltar a comentar

jogos pela TV Globo parti cipando do

programa Arena SporTV. Em abril,

deixou de ir a um evento com outros

ex-jogadores por ter fi cado doente.

R I C A R D O P E R R O N E

TINTA FRESCAO lateral Nego, de 23 anos, que

disputou o Paulista pela Ponte Preta

e até o dia 20 de abril negociava

com o São Caetano, cumpre um

ritual a cada 45 dias. Pinta o cabelo

de loiro para ficar parecido com

o cantor Belo. E agradar à esposa,

Luanda Cristina da Silva.

Começou em 2005. “Em Natal (RN),

se eu deixar o cabelo preto, ninguém

me reconhece. Todo mundo me

chama de Nego Belo”, conta. Ele só

deixou de homenagear o pagodeiro

enquanto defendeu o Atlético-MG.

Afirma que a torcida pegou

em seu pé por causa do visual.

Graças à semelhança com Belo,

o jogador aplicou uma pegadinha,

sem querer, no técnico Sérgio

Soares, que treinava a Ponte.

Quando viu o lateral pela primeira

vez, ele achou que estava diante do

pagodeiro. “Foi um riso só”, diz Nego.

O jogador vira alvo de gozações

dos companheiros quando a tintura

começa a desbotar. “Eles falam

que fico parecido com o Tiririca.”

E L I A S A R E D E S J Ú N I O R

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aquecimento

© 1 F O T O F U T U R A P R E S S © 2 D I V U L G A Ç Ã O

*S

ITU

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S I

ND

EF

INID

AS

AT

É 2

0/4

kDa grana ao caos. Eis a saga da

Champs, marca que é coman-

dada pela Leandrini Confecções e que

está desde 2007 no mercado. Com 19

clubes das quatro séries do Brasilei-

rão e a promessa de suprir a demanda

de uniformes com contratos vantajo-

sos, a fornecedora ampliou neste ano

seu portfólio e também seus proble-

mas. Vieram atraídos por ofertas que

variavam de 1 milhão a 6 milhões de

reais Náutico, Ponte Preta, Vitória e

Vasco. Junto com eles, as primeiras

reclamações. Jogos incompletos (o

goleiro Eduardo, do Náutico, atuou

com o uniforme antigo, com o logo da

Wilson coberto por um esparadrapo)

e quantidades insufi cientes (a Ponte

realizou cinco partidas com a mesma

roupa). Talvez o maior pecado tenha

sido enviar para a Ponte uniformes

verdes, a cor do rival Guarani, vestido

pela mesma grife.

Clube dos descamisados Fornecedora de 19 equipes das quatro séries do Brasileirão, a Champs enfrenta problemas para cumprir contratos e pode dar adeus a times maiores

A Ponte rescindiu com a marca.

“Ela abraçou vários clubes e não con-

seguiu desovar a produção”, afi rma

Márcio Della Volpe, diretor de marke-

ting do clube. Segundo ele, a Champs

entregou poucas peças para as lojas

e a camisa alusiva aos 100 jogos do go-

leiro Aranha nem sequer saiu.

O advogado da Champs, Adriano Di

Gregório, culpa a torcida ponte-

pretana pela rescisão “amigável”. “O

problema era a Champs fornecer tam-

bém para o Guarani”, afi rma. Segundo

ele, a fábrica passou por pequenos

problemas de logística, cuja fusão

com a Lupo deve equacionar. “A em-

presa cresceu muito rápido. Em breve

todos os contratos estarão regulariza-

dos”, diz. Os descontentes já deram

um ultimato. Com o Náutico, foi assi-

nado um termo de ajustamento de

conduta. Di Gregório fala até em sa-

botagem. M A R C O S S É R G I O S I L V A

COM QUE ROUPA EU VOU?

LOTTO LOTTO

UMBRO UMBRO, KAPPA

OU FILA*

CHAMPS CHAMPS*

KANXA KANXA

KAPPA FILA

NIKE NIKE

LOTTO LOTTO

REEBOK REEBOK

NIKE OLYMPIKUS

ADIDAS ADIDAS

LOTTO LOTTO

PUMA PUMA

REEBOK REEBOK

CHAMPS CHAMPS, FILA,

PENALTY OU TOPPER*

ADIDAS ADIDAS

FINTA LOTTO

UMBRO UMBRO

REEBOK REEBOK

LOTTO LOTTO

CHAMPS CHAMPS*

ATLÉTICO-MG

ATLÉTICO-PR

AVAÍ

BARUERI

BOTAFOGO

CORINTHIANS

CORITIBA

CRUZEIRO

FLAMENGO

FLUMINENSE

GOIÁS

GRÊMIO

INTER

NÁUTICO

PALMEIRAS

SANTO ANDRÉ

SANTOS

SÃO PAULO

SPORT

VITÓRIA

CLUBES ATUAL BRASILEIRÃO 2009

© 1

NÃO PERCA!

R A P R E S S © 2 D I V U L G A Ç Ã O

Camisa da Ponte com a faixa

fora de lugar

GUIA DO BRASILERÃOA partir do dia 6 de maio, começa a chegar às bancas a mais completa edição do Campeonato Brasileiro. São fotos e fichas detalhadas de 680 jogadores das séries A e B, com o tempo de contrato de cada atleta, os autógrafos e e-mails de seus ídolos, as tabelas destacáveis do campeonato... E, claro, nossos palpites sobre as chances de seu clube no Brasileirão!

PL1330 aquecimento4.indd 26 4/20/09 10:05:36 PM

Page 16: Placar Maio 2009

kVocê vai ser árbitro de um

campeonato de videogame de

futebol. “Como assim, você pega

o joystick e controla o juiz?” Essa

é a pergunta mais comum quando co-

mento que coordenarei a equipe de

Juiz virtualSaiba como atua um árbitro oficial de videogame

arbitragem na Fifa Interactive World

Cup, o Mundial de futebol virtual.

Nesse caso, um árbitro humano cui-

da da conduta de quem está com o

controle, como o tempo gasto para fa-

zer mudanças antes de cada partida.

A eliminatória latino-americana de

2009 rolou no dia 28 de março, no

Museu do Futebol do Pacaembu. Há

etapas em todos os continentes, e os

vencedores fazem a fi nal em Barcelo-

na. Há gente que treinou duro e tam-

bém jogadores de ocasião.

Tanto que a primeira rodada mal

começa e um jogador se recusa a jo-

gar. “O meu controle não funciona

e não consigo fazer as mudanças”,

diz. Faço os testes, está tudo perfeito.

Ele havia trocado Cristiano Ronaldo

e Van der Saar de lugar no Manches-

ter United. Não sabia o que fazia.

Na fi nal, Ruben Morales, mexicano,

bateu o brasileiro Sergio Pires por 2 x 1

e tornou-se bicampeão. O dia termina

após quase 12 horas de trabalho, mas

a vontade de voltar em 2010 supera o

cansaço. D A N I E L P E R A S S O L L I

Partida de

videogame© 2

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Page 17: Placar Maio 2009

28 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9

kA imagem do volante Jairo, do

Figueirense, treinando com um

vestido rosa, que fez barulho nos meios

de comunicação, não surpreendeu di-

rigentes do Atlético-PR. Eles colecio-

nam histórias de Roberto Fernandes,

o técnico do Figueirense, que traba-

lhou no Furacão por 72 dias em 2008.

O repertório em Curitiba, segundo

os cartolas, inclui dicas de moda para

O estrategistaDirigentes do Atlético-PR têm repertório de “causos” de Roberto Fernandes, o técnico que comandou treino no Figueirense com um jogador usando vestido

aquecimento

© I L U S T R A Ç Ã O F I D O N E S T I

1Na chegada ao Atlético-PR, Roberto Fernandes exige vaga

no estacionamento coberto no CT do Caju. Nem o supercartola

Mário Celso Petraglia desfrutava de tal regalia. O treinador

teve de se contentar com uma vaga descoberta.

3Diretores e funcionários do clube preparam-se para acompanhar

um treino do time. Ficam surpresos ao serem barrados. “Se era

um treino secreto, por que o administrativo tinha de estar lá?

Eu não ia ao escritório do clube”, diz o treinador.

2A maneira como os jogadores se vestem desagrada ao

treinador. Ele comenta que os atletas parecem ter se produzido

para uma balada, e não para trabalhar. Sugere que usem camisa

social ou polo em vez de camisetas estampadas e joias.

4 Atento a tudo que ocorria no clube, Fernandes analisa

o cardápio dos atletas e constata: precisam de alimentação

com mais “sustância”. Sugere então iguarias típicas do

Nordeste, como carne-seca com macaxeira. Não é atendido.

os jogadores e a frase “Falta testostero-

na ao elenco”.

Os dirigentes também afi rmam que

ele fi cava com os louros das vitórias

e culpava os jogadores pelas derrotas.

Em entrevista à Placar, o treinador

primeiro negou a veracidade de todas

as histórias, como negou ter obrigado

Jairo a usar roupa feminina por treinar

mal. Diz que o castigo foi escolhido pe-

los jogadores. Depois, afi rmou que as

perguntas “eram questões internas”,

então não falaria sobre elas. Mas admi-

tiu um dos casos e disse ter sido duro

com os jogadores em certas ocasiões.

Por fi m, acusou os dirigentes de tentar

denegrir sua imagem. “Querem me fa-

zer de palhaço. Não vou aceitar”, re-

trucou, encerrando a conversa por te-

lefone. A L T A I R S A N T O S

A DIRETORIA JURA QUE ACONTECEU

PL1330 aquecimento4.indd 28 4/20/09 10:24:23 PM

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30 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9

DONO DO COXA? O Conselheiro do Coritiba Sedu

Protágio Branco Júnior tenta desde

2007, no Instituto Nacional de

Propriedade Industrial, tomar posse

da marca Coxa. E trava uma batalha

com o clube. Veja o que ele diz.

A marca coxa-branca já não

é de domínio público?

Talvez o INPI entenda como domínio

público. Eu acredito que não, pois

o Palmeiras registrou a marca Porco

e o Flamengo fez o mesmo com

o Urubu. O que eu quero é zelar

pela reputação da marca.

Se o senhor ganhar, vai proibir a

torcida de gritar “Coxa” no estádio?

Quem falou isso é mal-intencionado.

Querem jogar a torcida contra mim.

O senhor sabe como surgiu

o apelido Coxa-Branca?

Dizem que foi cunhado pelo Jofre

Cabral e Silva (ex-presidente do

Atlético) no primeiro Atletiba de 1941.

Havia um zagueiro nosso alemão

e o Jofre o xingou do alambrado: “Vai

embora, coxa-branca!” A expressão

tornou-se popular.

O senhor é Coxa ou atleticano?

Eu sou sócio remido do Coritiba

desde 1967. Colaborei para construir

o estádio, fui gandula do clube e já

pertenci às torcidas organizadas.

A L T A I R S A N T O S

Remo e Paysandu completaram 700 confrontos em abril; duelo paraense supera os outros dérbis do país

kNão há lugar no Brasil em que

dois clubes rivais tenham se

enfrentado mais vezes quanto no

Pará. Remo e Paysandu completaram

em abril 700 partidas disputadas.

É um número muito maior que o de

qualquer outro dérbi nacional. Quem

chega mais perto são Maranhão

e Sampaio Corrêa, com 594 confron-

tos. As contas do Re-Pa cresceram re-

centemente. O jornalista e historiador

Ferreira da Costa, autor do livro

A História do Clássico Remo e Paysan-

du, “descobriu” quatro jogos que não

constavam da estatística. “Nesses últi-

mos seis anos, encontrei embasamen-

to para mudar os números”, afi rma. O

primeiro Re-Pa foi em 10 de junho de

1914, nove anos depois do primeiro

Botafogo x Fluminense, considerado

o clássico mais antigo do Brasil. O que

fez a diferença a favor do “Clássico

Rei da Amazônia” foi a quantidade de

torneios curtos e jogos amistosos. Em

1967, por exemplo, Remo e Paysandu

fi caram frente à frente 17 vezes. “Para

qualquer grande contratação de um

dos clubes, tinha de haver um Re-Pa

para apresentá-la”, afirma Quarenti-

nha, o maior jogador da história do

Paysandu — ninguém jogou tantos

clássicos paraenses quanto ele: 135.

“Os duelos entre os dois são sempre

de muita emoção.” L E O N A R D O A Q U I N O

© 2

CINCO RE-PA’S HISTÓRICOS A MAIOR GOLEADA

PAYSANDU 7 X 0 REMO (22/7/1945)Seis dos sete gols foram marcados

só no segundo tempo.

VIRADA EMOCIONANTE

PAYSANDU 3 X 2 REMO (13/10/1971)O Papão empatou aos 35 minutos do 2º tempo

e virou o jogo a 3 minutos do fim da prorrogação

O MAIOR PÚBLICO

REMO 1 X 1 PAYSANDU (29/4/1979)64 000 torcedores no Mangueirão para ver

a estreia de Dadá Maravilha no Paysandu

O TABU

REMO 3 X 1 PAYSANDU (7/5/1997)Entre 1993 e 1997, o Remo passou 33 jogos

sem perder. No último jogo da escrita, o Leão

venceu sem técnico, dirigido pelo zagueiro

Belterra e pelo volante Agnaldo

O RE-PA DO SÉCULO

REMO 3 X 2 PAYSANDU (12/11/2000)Os dois rivais decidiram o terceiro lugar

do módulo amarelo da Copa João Havelange

e uma vaga nas oitavas-de-final da competição,

além do acesso à elite do futebol brasileiro

Clássico do Pará ostenta recorde

M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 31

Apelido dado pela torcida vira alvo de disputa

© 4

© 6

aquecimento

P O R E N R I Q U E A Z N A R

★ O H O M E M M A I S I R A D O D A C I D A D E

Não suporto mais o luto no futebol. Com todo o respeito aos mortos, ninguém

precisa aguentar essas tarjas pretas coladas, sabe-se lá como, nas mangas

das camisas. O que tem de comentarista confundindo jogador de luto com

capitão... No segundo tempo, tem uns quatro enlutados e o resto de uniforme

limpo. Uma zona só. De uma hora para outra, resolveram homenagear todos os

conselheiros mortos. Pô. É quase todo mundo velhinho! Morre um por semana,

sério. Conseguiram vulgarizar os defuntos. Respeito aos mortos! É o mínimo.

kDe onde vem o Íbis? O Pássaro

Preto — ou Fábrica de Artilhei-

ros (dos adversários, claro) — nasceu

no bairro de Santo Amaro das Salinas,

em Recife, e migrou para Olinda, Pau-

lista, Tracunhaém, Camaragibe, Goia-

na, Timbaúba e Bonito antes de fi car

sem lar e sem lugar no Pernambucano

da segunda divisão deste ano. Tentou a

cidade de Carpina em vão: o prazo

para defi nir o local de mando dos jogos

já terminara. A trajetória do primeiro

campeonato perdido por W.O. nos 70

anos do Íbis encerra O Voo do Pássaro

Preto, livro assinado por Israel Leal. O

jornalista pesquisou o rubro-negro e

descobriu histórias além das “menti-

ras” contadas por aquele que se diz “O

Pior do Mundo” (o retrospecto contra

os grandes do estado inclui goleadas

a favor, como o 5 x 3 contra o Náutico

em 1948). Viu um clube sem bolas,

água ou dinheiro para o ônibus. “Ven-

cer desse jeito é difícil”, diz o alemão

Kai Franz, coordenador técnico em

2008, talvez não entendendo que

a missão é justamente esta: perder

sempre. M A R C O S S É R G I O S I L V A

É duro ser o piorLivro sobre a história do Íbis registra penúria do clube e até inesperadas goleadas a favor contra grandes de PE

© 1 J O S É L E O M A R © 2 I S R A E L L E A L © 3 I L U S T R A Ç Ã O M I L T O N T R A J A N O © 4 R E P R O D U Ç Ã O © 5 P E D R O P I N T O © 6 R O D O L F O B U H R E R

© 3

VOO PARA O BANCOForam 18 anos longe de casa.

Negociado com o Vasco em 1991,

Jardel se tornou ídolo no Grêmio,

brilhou em Portugal, envolveu-se

em polêmicas e, nesta temporada,

decidiu, enfim, retornar ao Ferroviário,

clube do Ceará que o revelou. Sua

apresentação, em fevereiro, foi digna

de um astro. Chegou de helicóptero

ao estádio Elzir Cabral. Passada a

festa, Jardel ralou um mês para entrar

em forma. Fez sua reestreia contra

o Quixadá, pelo Estadual. Balançou a

rede em seu primeiro chute a gol. A

poeira baixou e ele foi parar no banco.

Não agradou ao técnico Arnaldo Lira.

“Não jogo porque ele não quer. Não

vejo a hora de ele sair daqui”, disse

o jogador. M A R C U S A L V E S

Jardel voltou e só

agradou no início

© 2 © 2

© 1

Ozir Ramos,

presidente de honra

do clube, grita com

o time sem esquecer

a cervejinha; falta

dinheiro até para

o ônibus

© 5

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32 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9

kEle chegou a deixar Ronaldo, o Fenômeno, no banco

da seleção brasileira sub-17 antes que os dois for-

massem dupla de ataque no time. Quando foram lançados

no profissional, aos 16 anos, em 1993, por Atlético e Cruzei-

ro, respectivamente, seu início foi superior, inclusive com

um gol no clássico de estreia. Mais de 15 anos depois, po-

rém, a situação vivida por ambos é bem diferente. O craque

corintiano segue mostrando seu talento pelos gramados, a

despeito das lesões. Reinaldo Rosa, 32 anos, cansado dos

calotes dos últimos times que defendeu, trocou, pelo me-

nos temporariamente, o futebol pelo pagode.

O ex-atleticano toca tantã na banda Pagode do Rei, que

começa a conquistar seu público na região metropolitana

de Belo Horizonte. Bancada por Reinaldo, nada mais justo

que a banda tenha sido batizada com o apelido que ele ga-

nhou nos bons tempos como jogador. “O pagode sempre foi

uma paixão. A banda começou de uma brincadeira, mas

está indo bem”, afirma Reinaldo.

O ex-atacante garante que voltará ao futebol. Tem uma

chance de jogar no Chipre e mantém a forma numa acade-

mia. Contato com a bola? Só quando defende o Vila Nova,

de Santa Luzia, num torneio amador. A L E X A N D R E S I M Õ E S

Separados no berçoReinaldo, concorrente de Ronaldo no começo de carreira, hoje toca pagode

aquecimento

© 1 F O T O P E D R O S I L V E I R A © 2 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O

VIRADO À PAULISTAComo em São Paulo, a Federação

Mineira aposta em um nome sem

experiência prática na área para

contornar uma crise no apito.

O professor de educação física da

Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG) Jurandy Gama Filho assumiu

a presidência da comissão de

arbitragem da entidade.

Ele entrou na vaga de Lincoln

Afonso Bicalho, que deixou o cargo

em março, após o presidente do

Atlético-MG, Alexandre Kalil, denunciar

suposto esquema para beneficiar

o Cruzeiro. A entidade já enfrentava

problemas por causa do assalto que

levou quase 1 milhão de reais de seu

cofre e desencadeou investigações

do Ministério Público sobre a

procedência do dinheiro roubado.

O escândalo envolvendo o juiz de

São Paulo Edilson Pereira de Carvalho,

em 2005, fez a Federação Paulista

nomear o tenente-coronel da reserva

da PM Marcos Marinho para chefiar a

comissão de arbitragem. Foi para dar

credibilidade. Ainda hoje há dirigente

reclamando que ele não é do ramo.

“Até o ano que vem, a arbitragem

mineira será mais respeitada”,

diz Jurandy. B R E I L L E R P I R E S

Jurandy: é ele

quem apita na

arbitragem

mineira © 1

oVENENO!

“O Lulinha é

meia, mas

o Mano

Menezes

o escala

como

ponta, para

marcar o

lateral. Não

funcionaWagner Ribeiro,

agente de Lulinha

“Enquanto

eu for

presidente

do

Corinthians,

o Vanderlei

Luxemburgo

não será

o técnicoAndres Sanches,,

fechando as portas do

Parque São Jorge para o

treinador palmeirense

Reinaldo, tratado

como promessa no

Atlético-MG, agora

banca o grupo de

pagode em que toca

© 2

© 2

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34 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 93434343434434 | | | | | | | WWW.WWW.WWW.WWW.WWWWWWW PLACPLACPLAPLACPLACPLACPLACAR.CAR.CAR.CAR CAR.CAR CAR COM.BOM.BOM.BOM BOM BOM BOM BOM RRRRRRRR | M| M | M| M| M| M| | A IA I OA I OA I OA I O OOOO | 2 0| 2 0| 2 0| 2| 2| 2| 2 0| 2 0|| 0 90 900 90 90 90 90 990 9

aquecimento

© I L U S T R A Ç Ã O C Á S S I O B I T T E N C O U R T

k O que Túlio, Viola, Clemer,

Adãozinho e Fernando têm em

comum? Todos eles chegaram aos

40 anos ainda nos gramados. O fenô-

meno antes restrito a poucos — a len-

da inglesa Stanley Matthews só parou

aos 50 anos e o longevo goleiro Man-

ga inspirou até slogan de rádio (“Dura

tanto quanto o Manga e é muito mais

bonito”) — em breve deve receber Ju-

nior Baiano e Macedo, ambos com 39.

A vida começa aos 40A idade tabu, que significava a aposentadoria compulsória de um jogador de futebol, deixou de ser uma barreira. Saiba como os veteranos conseguem se manter na ativa

Mas não basta querer para chegar às

quatro décadas em campo. “Todos

que tiveram lesões graves não passam

nem perto dessa idade”, diz Turíbio

Leite de Barros, fisiologista do São

Paulo. Para ele, a idade máxima em

que um jogador poderia atuar seriam

mesmo os 40, mas os atletas com téc-

nica apurada compensam a falta do

vigor físico — até o cansaço pesar bem

mais nessa balança. “Ele começa a

COMO O CORPO DO JOGADOR REAGE...

sentir os efeitos dos muitos anos de

prática, como lesões degenerativas

nas cartilagens e meniscos nos joe-

lhos, hérnias de disco na coluna lom-

bar”, afi rma outro especialista, Wag-

ner Castropill, da Sociedade Brasileira

de Ortopedia e Traumatologia e do

Comitê Olímpico Brasileiro. A pedido

de Placar, ele analisou as etapas de

um jogador até chegar à fase em que a

vida (de aposentado) começa.

LIGAMENTOSAumentam

distensões,

estiramentos,

rupturas e

tendinites

LIGAMENTOSLesões degenerativas

na cartilagem e

meniscos dos joelhos

TECIDOSComeça a haver

perda da elasticidade

por causa da queda

na produção de

testosterona

TECIDOSO desgaste

fica ainda

maior

LIGAMENTOSRisco de

entorses

com lesões

ligamentares

e/ou meniscais

CORAÇÃOAumentam

os riscos de

problemas

cardíacos

COLUNAHérnias de

disco na

coluna

lombar

MÚSCULOSA recuperação

é mais lenta. A

massa muscular

começa a diminuir

1% por ano

MÚSCULOSA perda

de massa

muscular se

torna mais

acentuada

MÚSCULOSContusões

e lesões.

Detecção

precoce facilita

a recuperação

25 30 40ANOS ANOS ANOS

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meutimedossonhosO S 1 1 M E L H O R E S D E T O D O S O S T E M P O S P A R A . . .

36 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9

“Só escolhi brasileiros porque aqui

estão os melhores talentos. Poucos

se comparam aos que temos aqui

Roberto CostaO ex-goleiro, bicampeão da Bola de Ouro em 1983 e 1984, monta sua equipe com cinco jogadores da seleção de 82

★ G O L E I R O

Taffarel “Tive a oportunidade de jogar com ele no

Internacional e o vejo como um dos melhores do Brasil”

★ L A T E R A I S

Carlos Alberto Torres “Um dos primeiros

alas que defendiam e atacavam muito bem. Quando foi jogar

de zagueiro, também atuou de maneira excelente”

Júnior “Apoiava, defendia, jogava no meio… Ele foi um

dos laterais que começaram a se infiltrar pelo meio-campo.

Era destro e jogava como ninguém na lateral esquerda”

★ Z A G U E I R O S

Oscar “Um capitão. Sabia comandar. Era firme, bom nas

bolas aéreas. Sobressaiu na Ponte Preta e mostrou grande

futebol em todo lugar por onde passou”

Luizinho “Compunha a zaga da seleção de 82 com

o Oscar. De muita técnica, foi um dos atletas mais

clássicos que eu vi jogar”

★ V O L A N T E S

Clodoaldo “Já jogava muito bem no Santos e se

transformava quando ia para a seleção. Tinha suas limitações,

mas desarmava e saía distribuindo o jogo”

Falcão “Tinha técnica apuradíssima. Era muito versátil.

Ele atacava e defendia com extrema eficiência e elegância”

★ M E I A S

Pelé “O título de rei do futebol o credencia para estar

no meu time dos sonhos. Jogador completíssimo”

Zico “Com objetividade e criatividade, transformou

o Maracanã no templo do futebol mundial”

★ A T A C A N T E S

Romário “Um atacante que possuía uma qualidade ímpar

para fazer gols, principalmente quando estava dentro da área”

Ronaldo “Finaliza muito bem perto do gol. Tinha explosão

e rapidez difíceis de encontrar em jogadores hoje em dia.

Ele está no meu time por tudo que passou no futebol”

★ T É C N I C O

Telê Santana “É o técnico dessa equipe

pelos títulos que conquistou no São Paulo e em

todos os lugares por que passou”

© 1 F O T O A R Q U I V O P E S S O A L

© 1

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miltonneves

Os cinco mais bonitosO concurso aqui não é de beleza exterior. Estamos falando de beleza da alma.

E os eleitos são Garrincha, Nilton Santos, Zico, Marcos e... Ronaldo

Não, não quero comentar a lista internacional dos mais

feios jogadores “eleitos”, que saiu recentemente na Europa

e foi encabeçada por um tal Dowie, do Queens Park Ran-

gers, da Inglaterra. Até porque o Amaral Coveiro, o Ro-

semiro, o ex-lateral Paulinho, do Inter e do Operário de

Campo Grande, o Luiz Carlos Beleza, que mora em Cuiabá,

e o Acosta foram indecentemente injustiçados pelos arro-

gantes europeus votantes.

E também não estou aqui analisando a beleza propria-

mente dita de Manicera, Perfumo, Raul, Doval, Kaká, Bar-

birotto, Bettega, Leivinha ontem e Sérgio Valentim. Essa

relação foi escolhida a dedo e lupa pelo analista Mauro

Beting, observador de tudo e de todos, ontem e hoje, em

seu imbatível best seller “A vida é a vida”.

Na verdade, o que importa para mim são os cinco histó-

ricos jogadores brasileiros mais bonitos em sua alma, em

seu interior, no respeito e no carinho que recebem ou re-

ceberam do torcedor.

São eles o goleiro Marcos, do Palmeiras, o campeoníssi-

mo do tema Garrincha, o glorioso Nilton Santos, o querido

Zico e... Ronaldo! Pelé perde essa e não entra no top 5 por-

que a torcida do Corinthians, a mais importante de todas,

não gosta dele por seculares traumas a ela transmitidos

pelo Rei nos anos 50 e 60.

Agora, Ronaldo, sim, e como! Ronaldo, esse Bill Gates

da grana, Madre Teresa de Calcutá da humildade, Pelé da

artilharia das Copas e Edmundo da falsa malandragem!

Quanto dinheiro ele merecidamente tem, quanta paciência

transmite, quanto gol importante fez e quanto rolo burro

ele arruma, hein?

“Ronaldo é esse Bill Gates da

grana, Madre Teresa de Calcutá

da humildade, Pelé da artilharia

das Copas e Edmundo da falsa

malandragem!”

© F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O

Ronaldo: tudo

nele acaba sendo

especial

PL1330 MILTON.indd 38 4/21/09 2:20:10 AM

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VOLTA DO FENÔMENO AO BRASIL INFLUENCIOU ADRIANO E BALANÇA CRAQUES COMO RONALDINHO E ROBINHO

P O R R I C A R D O P E R R O N E , S É R G I O X AV I E R F I L H O E B E R N A R D O I T R I

D E S I G N K . K . U . L . I L U S T R A Ç Ã O S T E FA N

SER RONALDOTODOS QUEREM

© F O T O I L U S T R A Ç Ã O R O D R I G O M A R O J A

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44 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 45

© F O T O 1 E D I S O N V A R A © F O T O 2 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O S P I E R G I A V E L L I

ELES PODEM PINTAR POR AQUI

ROBERTO CARLOS EMERSON LINCOLN

DIDA MINEIRO ZÉ ROBERTO

Cartolas e agentes brasileiros se preparam para o retorno de uma nova leva de jogadores. O lateral Roberto Carlos, com o Palmeiras na mira, deve puxar a fila

Enquanto dirigentes brasileiros acre-

ditam que o “efeito Ronaldo” fará

mais atletas voltarem, empresários

da maioria dos veteranos tentam

segurar seus clientes no exterior.

Eles preferem vê-los jogando na

Arábia ou em outros mercados fora

da Europa, em que há mais dinheiro,

a vê-los no Brasil. Já os atletas se

queixam de saudade de parentes e

amigos. O retorno desses jogadores

fica cada vez mais próximo a partir

do momento em que suas atuações

lá fora decepcionam. “Muitos atletas

que voltam ao Brasil o fazem por

não estarem bem em seus clubes”,

afirma o empresário Gilmar Veloz,

sobre o regresso dos jogadores.

Mesmo com contrato longo, ele

quer ainda jogar no Santos. Mas

empresários dão como certos sua

volta e seu destino: Palmeiras.

Reserva até outro dia, tem pou-

cas perspectivas de continuar

fora. Sua volta deve causar dor

de cabeça em goleiros do Brasil.

Já não havia jogado bem no Her-

tha Berlin. A pedido de Felipão,

foi para o Chelsea, pouco jogou

e agora está no time B do clube.

Foi disputado a tapas pelos gran-

de de São Paulo e fez o Santos

pagar alto para tê-lo. Empresá-

rios dizem que ele está voltando.

Seu contrato com o Milan está

prestes a terminar e a renovação

é muito difícil. Veterano, não tem

muito mercado na Europa.

Foi procurado pelo São Paulo no

ano passado, mas a negociação

não deu certo. Está insatisfeito

no Galatasaray, da Turquia.

oncentrados para

enfrentar Equador

e Peru, jogadores da

seleção conversam

sobre a felicidade

de Ronaldo por vol-

tar a jogar no Brasil. E debatem: vale-

ria a pena retornar da Europa antes

dos 30 anos? Ganhar menos num clu-

be de seu país em troca de curtir a

vida ao lado dos amigos de infância e

da família? A resposta fica no ar. Mal

a seleção se desfaz e Adriano, 27 anos,

abandona a poderosa Internazionale

de Milão. Para empresários e dirigen-

tes, a deserção do Imperador é o iní-

cio do “efeito Ronaldo”. Que, segundo

eles, também faz Ronaldinho e Robi-

nho balançarem.

Ronaldo se encarrega de espalhar

que está radiante e provoca uma pon-

ta de inveja nos colegas, aparente-

mente fartos de seus clubes europeus.

“A noite de São Paulo é ótima e estou

a 40 minutos de avião do Rio”, diz aos

amigos, por telefone.

Gente que convive com Adriano as-

segura que o exemplo de Ronaldo in-

fluenciou na decisão. E que se apo-

sentar agora não passa por sua cabeça,

apesar de o atacante acenar com essa

possibilidade, após passar dias na fa-

vela em que foi criado no Rio. O plano

é seguir os passos do Presidente (ape-

lido de Ronaldo entre os boleiros) e

tocar a carreira no Brasil. Agora pra

valer, sem data para voltar à Europa,

como na passagem pelo São Paulo.

O comentário entre os colegas de

seleção é que o atacante está apala-

vrado com o Flamengo. Lá voltaria a

ser amado por uma torcida, como Ro-

naldo é hoje. Ficaria mais perto dos

amigos, que vão até Milão atrás dele.

Enquanto isso, membros do estafe

de Ronaldinho e Robinho afirmam

C

ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID

CLUBE ATUAL FENERBAHÇE

CONTRATO 12/2010

ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS

CLUBE ATUAL MILAN

CONTRATO JUNHO/2010

ÚLTIMO CLUBE HERTHA BERLIN

CLUBE ATUAL CHELSEA

CONTRATO JUNHO/2009

ÚLTIMO CLUBE SANTOS

CLUBE ATUAL BAYERN

CONTRATO JUNHO/2009

ÚLTIMO CLUBE REAL MADRID

CLUBE ATUAL MILAN

CONTRATO JULHO/2009

ÚLTIMO CLUBE SCHALKE 04

CLUBE ATUAL GALATASARAY

CONTRATO JUNHO/2011

E F E I T O R O N A L D O

“ O RONALDO MOSTROU O CAMINHO. MOSTROU QUE É POSSÍVEL UM GRANDE JOGADOR ATUAR AQUIM U R I C Y R A M A L H O , T É C N I C O D O S Ã O P A U L O

Cartolas do

Flamengo

afirmam que

Adriano não

dava trabalho

Ronaldinho,

no Grêmio,

onde era o

bom menino

No Santos,

Robinho logo

forçou a saída

para o Real

Madrid

© 1

© 2

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Page 30: Placar Maio 2009

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ELES NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI

RONALDO

D'ALESSANDRO NILMAR KLEBER

FRED THIAGO NEVES

Crise mundial emperrou a venda de jogadores para o exterior e forçou clubes brasileiros a segurarem seus craques. Ao mesmo tempo, jogadores infelizes lá fora voltaram

Ficou sem clube na Europa e veio

se recuperar no Brasil. Acabou

contratado numa jogada de mar-

keting e agora inspira colegas.

O Inter só o trouxe graças ao em-

presário Delcir Sonda. Torcedor

colorado, ele investiu num atleta

fora do perfil jovem promissor.

Sua contusão impediu o Corin-

thians de vendê-lo. A crise mun-

dial dificultou, mas ele deve sair

na próxima janela europeia.

Descontente na Ucrânia, não

atraiu mercados mais fortes nem

indo bem no Palmeiras. Foi para

o Cruzeiro como moeda de troca.

Vivia de cara amarrada no Lyon.

Estava inconformado por não ser

titular no clube francês. Bateu

o pé para ir para o Fluminense.

Não emplacou na Alemanha, onde

ficou seis meses. Vendido ao

Al-Hilal, forçou seu empréstimo

ao Flu antes de ir para a Arábia.

ÚLTIMO CLUBE MILAN

CLUBE ATUAL CORINTHIANS

CONTRATO DEZEMBRO/2009

ÚLTIMO CLUBE SAN LORENZO

CLUBE ATUAL INTERNACIONAL

CONTRATO AGOSTO/2010

ÚLTIMO CLUBE CORINTHIANS

CLUBE ATUAL INTERNACIONAL

CONTRATO SETEMBRO/2011

ÚLTIMO CLUBE PALMEIRAS

CLUBE ATUAL CRUZEIRO

CONTRATO DEZEMBRO/2013

ÚLTIMO CLUBE LYON

CLUBE ATUAL FLUMINENSE

CONTRATO DEZEMBRO/2013

ÚLTIMO CLUBE HAMBURGO

CLUBE ATUAL FLUMINENSE

CONTRATO JULHO/2009

A última janela de transferências

para a Europa foi uma das mais fra-

cas para os clubes brasileiros. Entre

os jogadores da elite, poucos foram

negociados, como Alex, do Inter,

e Guilherme, do Cruzeiro. “Além de

o dinheiro estar curto, tem muito

brasileiro fazendo feio lá fora.

Isso também atrapalhou”, diz

o empresário Wagner Ribeiro.

A expectativa é que no segundo

semestre a situação melhore. “Se o

Kaká for vendido, o dinheiro acaba

chegando aqui de alguma maneira”,

afirma o empresário Carlos Leite.

que ambos sonham regressar ao

Brasil com a mesma intensidade com

que um dia sonharam partir. Mas hoje

suas multas contratuais não deixam.

“Ouvi de um veterano que voltou ao

futebol brasileiro o seguinte: a me-

lhor fase da vida de um homem é dos

25 aos 30 anos. Jogador passa esse pe-

ríodo longe da família e dos amigos. O

Ronaldo mostrou para o pessoal que

dá para voltar mais cedo e aproveitar

a vida por aqui”, afirma o empresário

Wagner Ribeiro, que trabalhava com

Robinho até a transferência do ata-

cante para o Manchester City.

“Acho que os jogadores pensam

mesmo em voltar mais cedo. Hoje não

é difícil ganhar 150000 reais jogando

aqui. Tem gente que recebe 300000,

isso dá uns 150000 euros. Com a cri-

se, não está fácil fazer um contrato

desses na Europa”, diz Júlio Mariz,

presidente da Traffic.

Ronaldo ganha 400000 reais men-

sais livres de impostos. E pode chegar

a 1,5 milhão por mês com cotas de pa-

trocínio no Corinthians. Adriano fa-

tura 1,75 milhão de reais mensais na

Inter. Robinho, que tem mais três

anos de contrato, abocanha cerca de

1,4 milhão no Manchester City. O ex-

santista triplicou os rendimentos que

tinha no Real Madrid. Mas está infe-

liz, como o clube com ele.

“O desejo do Robinho é voltar ao

Santos, mas agora é meio impossível”,

diz Evandro Souza, o “Bad Boy”, fun-

cionário de Robinho, do tipo faz-tudo.

“Campeão, estamos bem no Milan.

São 30 milhões de euros em jogo”,

afirma Assis, irmão e empresário de

Ronaldinho, lembrando o valor da

multa rescisória. Entre os principais

agentes brasileiros, Assis é visto como

a única pessoa que impede Ronaldi-

nho de antecipar seu regresso.

“ ADRIANO TEM DEFEITOS QUE MUITAS PESSOAS TÊM. E QUALIDADES QUE POUCAS TÊMG I L M A R R I N A L D I , A G E N T E D E A D R I A N O

No Barça,

Ronaldinho

viveu o auge

de sua carreira

Robinho

chegou

ao Real

prometendo

ser o melhor

do mundo

O Imperador

na Inter: depois

do sucesso,

problemas

com álcool

E F E I T O R O N A L D O

© F O T O 1 G I U L I A N O B E L I L A C Q U A © F O T O 2 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O 3 P I E R G I A V E L L I © F O T O 1 R E N A T O P I Z Z U T T O © F O T O 2 P H O T O C A M E R A © F O T O 3 E D U A R D O M O N T E I R O © F O T O 4 E D I S O N V A R A © F O T O 5 E D U A R D O S Á V I O

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A trajetória de Adriano e Robinho

fora dos gramados cada vez mais se

assemelha com a de Ronaldo: o gosto

pelas noitadas, escândalos e casos de

polícia. A situação do Imperador é

mais dramática. Não consegue se li-

vrar do álcool e vez por outra tem de

negar a pessoas próximas que usa dro-

gas. Para piorar, é vítima de uma série

de boatos. De acordo com o mais re-

A decisão de Adriano de não voltar

à Inter surpreendeu os amigos

que o recepcionaram na favela da

Vila Cruzeiro. “Ninguém entendeu,

ficou todo mundo se perguntando o

que estava acontecendo. Aí alguns

ligaram para o Adriano, que disse

que está tudo bem. Mas as pesso-

as ainda estão tentando entender”,

afirmou o volante Ives, que acabou

de ser rebaixado no Campeonato

Carioca com o Mesquita e conhece

o Imperador de longa data.

O amigo assistiu a uma pelada de

veteranos com o atacante. Depois

foram para a piscina e, mais tarde,

encontraram outros moradores

numa pracinha. “O Adriano jogou

baralho, eu prefiro dominó. Lá,

ele anda descalço e sem camisa.

Ninguém repara, é normal. Onde

mais pode fazer isso?”, diz Ives.

Enquanto isso, a torcida italiana se

desiludia. “Acho que a relação entre

Adriano, a Inter e nós se deterio-

rou. A solução é o fim do casamen-

to”, diz Gaetano Chiappini, de uma

das torcidas mais antigas do time.

O treinador José Mourinho também

irritou-se com o brasileiro. “O Mou-

rinho estava bravo, mas expliquei a

situação do Adriano e ele entendeu.

Aliás, essa história do Adriano

não gostar do técnico é mentira”,

declara o agente Gilmar Rinaldi.

Na Vila Cruzeiro e em Milão, a

pergunta sem resposta é: qual o

problema de Adriano? A dúvida gera

boatos. “Garanto que ele não usa

drogas”, diz Rinaldi. Mas há uma

certeza: o atacante não se livrou

do álcool. P O R F L Á V I A R I B E I R O E

F E R N A N D A C . M A S S A R O T T O

PISCINA

E BARALHO

NA FAVELA

Adriano já sentiu o gosto

de voltar a atuar no Brasil

Robinho não

demonstra

felicidade na

Inglaterra

Ronaldinho

no Milan:

frequentador

do banco

cente, ele teria morrido na favela. Ro-

naldinho gosta da noite, mas consegue

aparecer menos nos jornais.

As derrapadas fora do campo podem

ser perdoadas por torcedores e dirigen-

tes. Desde que eles sejam recompensa-

dos com gols e boas atuações. E o Fenô-

meno ensinou ao trio que no Brasil,

diante de adversários menos qualifica-

dos, essa missão é bem mais fácil.

“ LIGUEI E O ADRIANO ME DISSE: “ESTOU BEM, DEU MEU TEMPO LÁ. ELES QUE NÃO QUEREM VER ISSO”

C A R L O S A L B E R T O , J O G A D O R D O V A S C O

© 1

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© F O T O 1 A L E X A N D R E B A T T I B U G L I © F O T O 2 A F P © F O T O 3 P I E R G I A V E L L I

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★ a evolução do futebol ★ 03| A BOLA

1930Na final da Copa, curiosi-dade: o primeiro tempo é jogado com uma bola dos argentinos e o segundo, com uma dos uruguaios, que viram o jogo

1994A inovação da polêmica Adidas Questra, usada na Copa dos EUA, é uma camada de espuma de polietileno que deixa a bola mais veloz e macia

2009Em uma década, a Nike entra firme na briga dos novos materiais e forma-tos. A Total 90 Omni tem pentágonos maiores e mais esfericidade

Século 16A bola mais antiga já en-contrada pertencia à rai-nha Maria I da Escócia. Eram placas de couro costuradas sobre uma bexiga de porco inflada

Século 19Chega de inflar bexigas ani-mais: Charles Goodyear (o do pneu) cria a bola de fu-tebol com câmara de borra-cha. Ela é usada na inven-ção do basquete, em 1891

1950Modelos como a Super-ball, usada na Copa, já têm a válvula no exterior. Em 1951, para facilitar a visua- lização na TV, surgem as primeiras bolas brancas

1986A Adidas Azteca é a primeira bola 100% sintética na his-tória das Copas do Mundo. O couro é substituído por uma camada de fibras de-senvolvidas em laboratório

2006Na Adidas +Teamgeist, o “padrão Buckminster” é abandonado e não há mais costuras: os 14 gomos são unidos por meio de um pro-cesso de soldagem térmica

1970A Adidas passa a forne-cer as bolas da Copa. A Telstar, de 1970, consa-gra o “padrão Buckmins-ter”, de 20 gomos hexa-gonais e 12 pentagonais

Na caçapa

A sinuca inspirou a “Bola 8”, da Penalty, cujo nome se refere ao número de gomos que tem

Da pátria

Em tempos de Copa surgem modelos para o torcedor, como o que a Nike fez para o Brasil em 2006

Viva a cor

Até em torneio oficial os tons de branco sumiram: foi na Copa Africana de Nações de 2008

Pessoal

O marketing pede produtos com a cara dos ídolos, como esta bola personalizada para Ronaldinho

Tribal

As cores vivas da África do Sul dão o tom do modelo oficial da Copa das Confedera-ções de 2009

Exclusiva

O Paulistão adota modelo com selo para identificar o Corinthians x Palmeiras da volta de Ronaldo

Uso único

Para cada jogão, uma bola: a da final da Liga dos Campeões foi lançada meses antes da partida

POR BRUNO SASSI, L.E. RATTO, RODRIGO MAROJA, SATTU E LUIZ IRIA

BALL IS

FASHION

As constantes inova-ções já não têm a ver apenas com tecnologia, mas também com o visual

Costura externa para dar acesso à válvula

A câmara (A) agora é coberta por uma camada de fibras (B)

O formato clássico da Telstar: um icosaedro truncado

Válvula externa, entremeada na costura dos gomos

Linha e agulha para quê? Basta soldar os gomos termicamente

Câmara (A), camada de fibras (B) e espuma de polietileno (C)

Pentágonos maiorese mais encaixados nos hexágonos

Simples: bexiga de porco (A) envolta em couro (B)

Charles Miller(pioneiro do futebol no Brasil)

Guillermo Stábile(artilheiro da Copa de 1930)

Ademir Menezes(artilheiro da Copa de 1950)

Gerd Müller(artilheiro da Copa de 1970)

Gary Lineker(artilheiro da Copa de 1986)

Hristo Stoichkov(artilheiro da Copa de 1994)

Miroslav Klose(artilheiro da Copa de 2006)

Lionel Messi(um dos melhores do mundo hoje)

Câmara de borracha (A) sob o couro (B)

Uma bexiga de porco

coberta com couro ou

uma composição de

fibras sintéticas?

A

B

A

B

A

B

C

B

A

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54 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 55

A prática gera perda de receitas

para os clubes e pode provocar super-

lotação. Acontece um pouco de tudo

nas portarias antes dos jogos. Como

um torcedor ser liberado para entrar

no Palestra Itália por ser padre. Ou

um juiz de futsal ganhar passe livre

no Morumbi como recompensa por

trabalhar em um jogo do São Paulo.

Dois dirigentes do São Paulo pedem

anonimato ao apontarem a PM como

principal responsável pela evasão de

renda. E jornalistas que usam creden-

ciais para assistirem a jogos como tor-

cedores em segundo lugar.

Contra o Fluminense, no Brasileiro

de 2008, o São Paulo, de acordo com

um de seus diretores, registrou em

listas nas portarias a entrada de 300

policiais militares ou convidados de-

les sem comprarem ingresso.

O clube iniciou operação para tapar

os buracos de seu queijo suíço. Qua-

tro funcionários foram demitidos por

facilitarem a entrada de torcedores.

Segundo a diretoria, algumas partidas

tiveram 20% do público formado por

bicões. “Melhoramos, mas há muito a

fazer”, diz Adalberto Dellape, diretor

de marketing são-paulino.

O problema está mesmo longe de

ser resolvido. Contra o Palmeiras,

pela primeira fase do Campeonato

Paulista de 2009, entraram ao menos

60 pessoas sem pagar no Morumbi

usando o nome da PM, de acordo com

um fiscal da Federação Paulista de

Futebol (FPF).

“Ninguém da PM entra sem ingres-

so. São Paulo, Palmeiras e Corinthians

nos mandam entradas como cortesia.

Para o jogo do São Paulo contra o Pal-

meiras foram 50”, afirmou o tenente-

coronel Hervando Velozo, coman-

dante do 2º Batalhão de Choque da

QUEIJO SUÍÇO

SÃO PAULO F.C. INDICA POLICIAIS MILITARES COMO OS QUE MAIS “INVADEM”. PM NEGA E DIZ GANHAR INGRESSOS DOS CLUBES

CONHEÇA ALGUNS DOS TRUQUES QUE OS PENETRAS USAM PARA ENTRAR NO PRINCIPAIS ESTÁDIOS DE SÃO PAULO

abe aquela sensa-

ção de que o públi-

co no estádio é

maior que o divul-

gado pelo placar

eletrônico? Você

arriscaria dizer o que policiais milita-

res e civis, jornalistas e dirigentes têm

a ver com essa história? Placar acom-

panhou a rotina em portões vulnerá-

veis no Morumbi, no Palestra Itália e

no Pacaembu. Ouviu diretores, teve

acesso a relatórios e fl agrou penetras.

O resultado é um roteiro com poli-

ciais, cartolas, jornalistas e funcioná-

rios de clubes como personagens que

contribuem consideravelmente para

a evasão de renda.

DEU PAUCARTEIRADAINGRESSO PARA INGLÊS VERALGEMA INVISÍVELJORNALISTA-TORCEDORNOME NA LISTA

PM, que cuida dos estádios.

“Tenho todo interesse em apurar

isso. Mas os clubes têm que fazer a

denúncia. Ouvi falar que existia lista

de convidados da PM antes do meu

tempo. Agora não”, completou.

O São Paulo nega que mande in-

gressos aos policiais. O Corinthians

confirma. “Tratamos a PM como par-

ceira. Não queremos o constrangi-

mento de barrar um PM”, diz Lúcio

Blanco, do setor de arrecadação do

clube do Parque São Jorge. Quando

cede ingressos “oficiais”, o clube dei-

xa de ganhar, mas paga impostos e

evista o risco de superlotação.

Antes do jogo com o Botafogo, pelo

Campeonato Paulista, o Palmeiras fez

reunião para declarar guerra aos bi-

cões. Porém, a reportagem viu dezenas

de penetras. “Infelizmente, tem dire-

tor que acha que pode colocar amigos

de graça. Vamos explicar que isso faz

parte do passado. Tem gente com car-

teira da Federação, e tem o pessoal da

PM”, diz Wlademir Pescarmona, dire-

tor administrativo do Palmeiras.

S

O fiscal de uma das catracas fica de costas

para os torcedores, impedindo a passagem

deles. Simula um defeito no equipamento.

A fila aumenta e a torcida se irrita. Sob

o pretexto de evitar confusão, ele recolhe

os ingressos manualmente, libera a roleta

e passa os bilhetes para cambistas.

O torcedor apresenta ao porteiro uma carteira

qualquer, que não serve para liberar a entrada.

As preferidas são as que têm

o brasão da República. Se não der certo,

o torcedor ainda solta a frase: “Sabe com

quem está falando?” Já teve gente usando

carteira de funcionário de cartório.

Do lado de fora, o amigo de um funcionário do

clube promete colocar torcedores no estádio

sem ingresso, com preços menores ou no

mesmo valor de bilheteria quando a venda

já acabou. Pequenos grupos são formados

e levados até um portão. Rapidamente,

o funcionário deixa todos passarem.

Relatório feito por conselheiros do Palmeiras

registra caso em que políciais passam pelo

portão como se estivessem conduzindo

torcedores presos. Eles estão cabisbaixos

e com as mãos para trás. Mas ninguém

consegue ver as algemas. Os torcedores

são conduzidos para dentro do estádio.

Em vez de se dirigir ao portão destinado à

imprensa, os jornalistas procuram portarias

nas quais os funcionários não estão

acostumados a lidar com eles. Exigem que

o porteiro libere a entrada de seus parentes.

Mesmo com credencial de trabalho, há quem

vá com a camisa do time de coração.

Quem conhece funcionários e dirigentes tenta

colocar o nome numa lista de pessoas que

poderão entrar sem ingresso. Quem

não tem nome na lista chega ao portão

e telefona para o amigo. Depois de alguns

minutos, alguém do clube aparece

para liberar a entrada.

Numeradas Portão principal

Arquibancada Arquibancada

PL1330 ingressos.indd 54-55 4/21/09 4:49:09 AM

Page 37: Placar Maio 2009

56 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 M A I O | 2 0 0 9 | WWW.PLACAR.COM.BR | 57© 1 F O T O F U T U R A P R E S S © 2 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O © 3 F O T O A G Ê N C I A E S T A D O

Os clubes costumam dar ingressos

para jogadores, membros da comis-

são técnica e funcionários de seus

departamentos de futebol distribuí-

rem a amigos e parentes. A prática,

às vezes, facilita a ação de cambistas.

No jogo do Corinthians contra o

Santos, pela primeira fase do Campe-

onato Paulista, ao menos um desses

bilhetes acabou com um cambista.

Um torcedor corintiano comprou

o tíquete e depois da partida

o entregou à reportagem de Placar.

No verso do bilhete, no local reserva-

do para o nome do cliente, está

escrito: “Diretoria do Corinthians”.

Segundo Lúcio Blanco, do setor de

arrecadação do Corinthians, isso

significa que o ingresso faz parte

do lote destinado pelos dirigentes

aos componentes do time. Nos

casos de compra feita na bilheteria,

aparece o nome do torcedor.

“Às vezes, o jogador se sensibiliza

com alguém que está no portão

e dá o ingresso. Aí o cara joga

na mão do cambista”, diz Blanco.

Ele afirmou que poderia identificar

quem no clube recebeu o bilhete, mas

não respondeu à reportagem depois

de receber os dados do ingresso.

CAMBISTA

OFICIAL

D E B I C O N A F E S T A

Este é o portão mais problemático do Palestra Itália. É o mesmo por onde entram as equipes

MORUMBI, 28 DE MARÇO

PALESTRA ITÁLIA, 5 DE ABRIL

PACAEMBU, 31 DE MARÇO

“DEIXE ENTRAR. É NOSSO INTERESSE.

ELE APITOU JOGO DO SÃO PAULO”

“PODE DEIXAR ESSE AÍ ENTRAR, NEM PRECISA

ANOTAR O NOME DELE. ELE É PADRE”

INGRESSO DADO PARA

CARTOLAS E ATLETAS

ACABA REVENDIDO

DELEGADO ENTRA EM JOGO DO CORINTHIANS EXIBINDO IDENTIFICAÇÃO.

CARTEIRINHA DE DIRIGENTE DO CLUBE SERVE COMO INGRESSO

Faltam 20 minutos para São Paulo x Palmeiras pelo Cam-

peonato Paulista. Um fiscal da Federação Paulista, conheci-

do como “seu” Guedes, cuida do portão ao lado da entrada

principal, por onde passam os ônibus dos times. Ele avisa à

recepcionista: “Vão chegar 60 japoneses do Osmar”. Dito e

feito. Descem de um ônibus 60 jovens japoneses. São acom-

panhados por seis brasileiros. Ninguém tem ingresso, mas o

grupo é bem recebido. Depois, a diretoria do São Paulo afir-

mou que deve se tratar de convênio feito pelas categorias

de base. Mas que o ideal seria que eles tivessem recebido

entradas e passado pelas catracas.

Na sequência, no mesmo portão, um grandalhão, com jei-

to de segurança, dá o recado: “O sargento Gonzaga vai en-

trar por aqui, com duas crianças”. Está quase na hora do

clássico. Mas não para de chegar gente. Um PM passa com

dois torcedores que vestem a camisa do São Paulo. Atraves-

sam a apertada recepção, e ele pergunta em que lugar do

estádio os são-paulinos ficarão para ver o jogo.

Chega um PM fardado, com a identificação “soldado

Vieira” no uniforme. Orgulhoso, diz: “Oi, seu Guedes. Hoje

não vim para assistir jogo, vim para trabalhar”.

Mais dois tricolores uniformizados aparecem. “O Eduar-

do do futsal mandou a gente procurar o tenente Mello [ fun-

cionário do clube]”. O fiscal da Federação pede o nome de

um deles e confere uma lista. Não está lá. Aí vem o tenente

Mello, que confunde o repórter de Placar com um funcio-

nário do São Paulo e solta: “É de interesse nosso, deixa en-

trar, ele apitou o jogo de futsal do São Paulo”.

Um dos torcedores confirma: “É, fui eu que apitei, sou o

Roberto Paganini”. No dia 10 de março o árbitro atuou na

vitória do Tricolor por 4 x 2 sobre o São José, pelo Troféu

Cidade de São Paulo de futsal. Mello entra com os dois e dá

um tapinha no peito do repórter, num gesto de cumplicida-

de. Minutos depois, Mello, um dos responsáveis pela segu-

rança no Morumbi e policial militar aposentado, desconfia

que cometeu uma gafe. Aborda o repórter de Placar. “Pen-

sei que você fosse subordinado à nossa diretoria.” Questio-

nado, diz que por lá só entra quem trabalha.

Na partida entre São Paulo e Corinthians, pelas semifi-

nais do Paulista, a reportagem flagrou policiais fardados

passando pelo mesmo portão com gente sem ingresso.

Faltam 25 minutos para Corinthians x

Ituano pelo Campeonato Paulista. Um

homem de terno chega ao portão por

onde entram jornalistas. Pega uma

credencial e diz: “Delegado”. É o sufi-

ciente para entrar. Ele não explica se

está a trabalho. Segundo a Secretaria

Municipal de Esportes, Lazer e Recre-

ação não há lei que permita a entrada

gratuita de policiais no estádio da pre-

feitura. O decreto municipal 25202,

de 1987, reserva 54 lugares no Paca-

embu para a Secretaria. São ainda 64

para a Federação Paulista de Futebol e

54 para membros dos poderes Execu-

tivo, Legislativo e Judiciário. Depois

do policial, chegam seis conselheiros

corintianos, alguns da oposição. A

maioria apresenta um convite de pa-

pel, e um deles mostra a carteirinha

do Conselho Deliberativo. Ninguém é

barrado, apesar de a diretoria alegar

Faltam 55 minutos para começar Pal-

meiras x Botafogo, pelo Campeonato

Paulista. Dois homens se aproximam

do fiscal da Federação Paulista que

controla o portão por onde entram os

times. Parece que vão perguntar algo,

mas percebem que o representante da

Federação está concentrado na retira-

da de uma placa com o escudo do Pal-

meiras. Aproveitam e entram. O por-

tão fica perto do vestiário e do acesso

às arquibancadas. É a portaria mais

vulnerável do Palestra Itália.

Agora a placa já foi retirada. Dois

fiscais da FPF estão por lá, junto com

seguranças do Palmeiras. Um casal

chega, cumprimenta a todos e entra.

Em seguida, seis homens passam.

Nem deixam os nomes numa lista que

os fiscais carregam.

Jean Patrick, diretor do clube,

orienta os seguranças: “Mesmo quan-

do a pessoa estiver autorizada, demo-

rem um pouco. Senão, quem está por

perto acha que é fácil e tenta”. Em se-

guida, um torcedor e uma torcedora

pedem passagem. São 10 minutos até

a liberação. O fiscal tenta anotar os

nomes, mas ouve de um homem cha-

mado Valdeci: “Não precisa, deixe en-

trar. Ele é padre”. E lá se vai o padre

para a arquibancada, vestindo a cami-

sa do Palmeiras com o nome de Jorge

Preá nas costas.

Pronunciar o nome de Valdeci é

como proferir uma palavra mágica

que abre o portão. “O Valdeci libe-

rou”, diz um torcedor, acompanhado

de dois amigos. Deixam os nomes na

lista e estão dentro.

Um segurança do clube sai apressa-

do pelo portão. Volta com o volante

Pierre, que não vai jogar, e dois ami-

gos. Eles passam, mas são barrados no

vestiário. Pierre os deixou para trás.

Questionado pela reportagem, Jean

Patrick diz que entram somente as

pessoas que estão trabalhando, mas

ressalta que não está autorizado a fa-

lar pelo Palmeiras.

que precisariam de ingressos. Outro

torcedor exibe carteirinha com o es-

cudo do time e diz: “Diretoria”. Tam-

bém passa facilmente.

Uma mulher põe a cara no portão e

chama o repórter de Placar: “É você

que está esperando ingresso?” Diante

da negativa, fica parada com o bilhete

na mão. Enquanto isso cambistas gri-

tam: “Ingresso sobrando eu compro”.

E há bilhetes nos guichês.

ra

Bilhete vendido por cambista

Este é o portão mais vulnerável

do Morumbi

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Page 38: Placar Maio 2009

P O R ALEXANDRE SIMÕES E JONAS OLIVEIRA

D E S I G N L . E . R AT T O

F O T O S E U G Ê N I O S ÁV I O

PODE UM GOLEIRO QUE SOFREU UM GOL HUMILHANTE EM UM CLÁSSICO RECUPERAR O PRESTÍGIO JUNTO À TORCIDA? O CRUZEIRENSE FÁBIO PROVOU QUE SIM, FAZENDO DO PIOR MOMENTO DE SUA CARREIRA O COMBUSTÍVEL PARA DAR A VOLTA POR CIMA

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Page 39: Placar Maio 2009

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atingido a marca de 259 jogos pelo

clube, e estava prestes a tomar de

Paulo César Borges (263 partidas) o

posto de quarto goleiro que mais

atuou com a camisa do clube. Ainda

que sua média de gols sofridos após o

fatídico episódio do gol de costas não

tenha se alterado de forma muito sig-

nifi cativa — caiu de 1,16 para 1,13 gols

por partida —, a percepção de seu de-

sempenho melhorou de forma consi-

derável. O Fábio que antes cometia

falhas tão espetaculares quanto algu-

mas de suas defesas deu lugar a um

goleiro mais regular. Tanto que, no

ano passado, fi cou atrás apenas de

imagem rodou o mun-

do: o goleiro caminha

cabisbaixo em dire-

ção ao gol, de costas

para o círculo central,

quando o atacante do time adversário

rouba a bola, ganha a dividida do za-

gueiro e chuta para o gol vazio. O gol,

o quarto da vitória por 4 x 0 do Atléti-

co sobre o Cruzeiro no primeiro jogo

da fi nal do Campeonato Mineiro de

2007, teve efeito devastador no clube.

Jogadores dispensados, pedido de de-

missão do treinador, protestos da tor-

cida. Grande protagonista do lance, o

goleiro Fábio, que já era tido como ir-

regular por parte da torcida do Cru-

zeiro, conquistou a unanimidade, mas

pelo lado negativo. Além de aturar as

piadas dos rivais — que foram desde o

apelido “Fábio de Costas” à imagem

de um suposto novo uniforme, com

um espelho retrovisor —, o goleiro

teve de ser afastado devido a uma sé-

ria contusão, sofrida em um lance do

mesmo jogo. Era a senha para o tér-

mino de seu ciclo no clube.

O que poderia ter sido o fi m se tor-

nou o começo de tudo para Fábio. De

improvável, seu retorno se transfor-

mou em uma surpreendente volta por

cima. De renegado, Fábio passou a ca-

pitão e ídolo da torcida (apesar de

ainda dividir opiniões). Até o fecha-

mento desta edição, Fábio já havia

máximo para ajudar o Cruzeiro”, diz.

Paulo Autuori também defende o jo-

gador. “Fábio é um ótimo profi ssional,

uma boa pessoa e um cara de perfi l vi-

torioso. Aquele foi um lance inco-

mum. Fui conversar na ocasião com

Fábio, sim. Fiz isso porque essa é mi-

nha maneira de viver, não apenas de

trabalhar. Vivo sempre entendendo

que erros acontecem e, no trabalho,

sei quem é quem”, diz Autuori, atual-

mente no Al-Rayyan, do Qatar.

Quem assumiu o Cruzeiro logo após

as fi nais do Mineiro foi Dorival Jú-

nior, que hoje dirige o Vasco. “Já co-

nhecia o Fábio e sabia o que ele repre-

sentava para a equipe. Por isso, logo

que cheguei ao Cruzeiro disse que era

para ter tranquilidade, pois, assim que

estivesse recuperado da contusão,

voltaria a ser o titular”, diz o treina-

dor, que não poupa elogios a Fábio.

“Qualquer treinador gostaria de con-

tar com um atleta como o Fábio no

seu grupo. Ele é uma liderança muito

positiva, um jogador equilibrado. Na

recuperação daquele grupo do Cru-

F Á B I O

Rogério Ceni, do São Paulo, e Victor,

do Grêmio, entre os goleiros na Bola

de Prata de Placar — foi o quinto me-

lhor jogador do Brasileirão.

Era de esperar que Fábio quisesse

esquecer a todo custo o lance do gol

sofrido quando estava de costas. Mas

o jogador usou o fato como combustí-

vel para sua volta por cima. “Foi um

dos momentos mais difíceis da minha

carreira. Mas para mim tudo começou

ali. Foi onde encontrei o verdadeiro

caminho, que leva a Jesus Cristo, e co-

mecei a segui-lo. Hoje, agradeço a

Deus por ter sido na dor”, diz o golei-

ro, que já era evangélico, mas só se tor-

nou praticante de fato após o episódio.

“Passei a encarar a vida de outra ma-

neira. Eu achava que era o melhor, que

não precisava fazer esforço por ter

uma qualidade acima da média. Acha-

va que ia pegar qualquer bola e justa-

mente as bolas fáceis se tornavam as

mais difíceis, e assim aconteciam os

erros”, afi rma o jogador.

Fábio afi rma ter pedido para sair do

clube, mas foi convencido pelo dire-

tor de futebol Eduardo Maluf e o en-

tão presidente Alvimar de Oliveira

Costa a permanecer. “Eles disseram

que eu era o menos culpado pela der-

rota. O Paulo Autuori [então treinador

do Cruzeiro] também foi muito im-

portante naquele momento. Ele me

disse que sabia que eu tinha feito o

“ FÁBIO É UM ÓTIMO

PROFISSIONAL. ERROS

ACONTECEM E, NO TRABALHO,

SEI QUEM É QUEMPaulo Autuori, ex-técnico do Cruzeiro

k

Acima, o momento em que Fábio busca as duas bolas, após o “gol de costas”. Desde então, ele e o Cruzeiro somam uma invencibilidade de dez jogos contra o rival, que seria posta à prova nas finais do Mineiro

A

ACIMA DA MÉDIA

“Ti h b

Tem a menor média de gols sofridos. Foi o goleiro dos títulos da Supercopa em 1991 e 1992 e Copa do Brasil de 1993.

Maior goleiro da história do clube, conquistou 11 títulos — entre eles a Taça Brasil de 1966 e a Libertadores de 1976.

Último grande ídolo a vestir a camisa 1. Foi fundamental nas con-quistas da Copa do Brasil em 1996 e da Libertadores de 1997.

Chegou à seleção, mas também não era unanimidade. Foi o goleiro do título brasileiro e da Copa do Brasil em 2003.

Como titular, venceu apenas dois Campeonatos Mineiros. A torcida o acusa de falhar nos momentos decisivos.

Sofreu várias lesões que o impediram de ter uma sequência no clube. Foi o goleiro do título da Copa do Brasil de 2000.

zeiro, no Brasileiro de 2007, ele foi

fundamental”, diz Dorival.

CONTUSÃO

Não bastassem a goleada e o caráter

inusitado do quarto gol, Fábio ainda

sofreu uma grave lesão. No segundo

gol, após levar um chapéu do atacante

Danilinho, Fábio chocou seu joelho

esquerdo contra a trave e rompeu o

ligamento cruzado posterior. “Na

hora senti que tinha machucado, mas

estava com o corpo quente ainda e

minha musculatura é muito forte. Es-

tava jogando porque não tinha mais

como entrar um jogador. Ia fi car pior

ainda se alguém da linha fosse para o

gol. Falei que ia para o sacrifício”, diz

Fábio. Na época, a contusão do golei-

ro chegou a levantar suspeitas, pelo

fato de ele ter continuado em campo

após a contusão (o lance ocorreu aos

37 minutos do segundo tempo). “O li-

gamento que o Fábio lesou é menos

exigido nos movimentos executados

por um goleiro, pois ele é mais força-

do no giro e o goleiro trabalha

Paulo César Borges Raul Plasmann Dida Gomes Fábio* André

0,71 0,79 0,99 1,00 1,15 1,19

1989 a 1993 e 1998 1966 a 1978 1994 a 1998 2002 a 2004 2000 e desde 2005 1999 a 2003

263 J 189 G 549 J 434 G 303 J 301 G 110 J 110 G 259 J 298 G 123 J 147 G

ENTRE OS MAIORES GOLEIROS DA HISTÓRIA DO CRUZEIRO,

APENAS ANDRÉ TEM PIOR MÉDIA DE GOLS SOFRIDOS QUE FÁBIO

* A T É 1 9 / 4 / 2 0 0 9© 1 F O T O E U G Ê N I O S Á V I O © 2 F O T O A N D R É P O S S A T I / O T E M P O

© 1

© 2

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Na comunidade do Cruzeiro no

site de relacionamentos Orkut, os

temas mais populares costumam

render até 300 comentários. O tó-

pico recordista, criado em novem-

bro de 2007, se chama “Fábio......

O PEGA NADA...”, e já tem mais de

38600 mensagens. “Pelas mani-

festações, acho que pelo menos

30% dos cruzeirenses não gostam

dele”, diz Paulo Couto Lessa, 36

anos, criador da comunidade. Em

contrapartida, Fábio tem um fã-clu-

be com 150 associados. “Quando

ele sofreu o gol de costas, chega-

ram a mandar mensagens xingando

ele e a gente. Mas não nos inti-

midamos”, diz Bárbara Olimpia,

de 15 anos, que preside o fã-clube.

em cinco partidas, sofreu dez gols.

Em seguida, o próprio Lauro se con-

tundiu e deu lugar ao jovem Gatti, que

sofreu 12 gols em seis jogos — embora

tenha se notabilizado por defender

um pênalti em um clássico contra o

Atlético, vencido por 4 x 2 pelo Cru-

zeiro. A torcida, que aguardava a con-

tratação de um novo goleiro, surpre-

endeu-se com o retorno de Fábio,

antes do tempo esperado. O Cruzeiro

optou por um tratamento não-cirúr-

gico, que no geral exigiria quatro a

seis meses de recuperação. No entan-

to, o goleiro voltou a campo dois me-

ses e meio depois da contusão. “Voltei

sem fazer esforço nenhum. A torcida,

que tinha pedido minha saída, estava

pedindo minha volta ao gol do Cru-

zeiro”, diz Fábio.

Para Sérgio Freire Júnior, o sucesso

da recuperação se deveu à dedicação

do atleta. Para Fábio, tratou-se de um

milagre. “Fiz uma oração diante da

TV. Estava assistindo a um programa

do pastor R.R. Soares, da Igreja Inter-

nacional da Graça de Deus, de São

Paulo, e depois daquele momento tive

a certeza de que iria voltar e bem.

Cheguei a sentir o joelho queimar du-

rante a oração”, afi rma o goleiro.

SELEÇÃOA última convocação de Fábio para a

seleção foi em setembro de 2006, para

os amistosos contra Argentina e País

de Gales. Ao todo, o goleiro tem 16

convocações para o time brasileiro,

embora não tenha atuado um minuto

sequer. “Sou o único goleiro que foi

convocado e não teve a oportunidade

de jogar. Outros que passaram, como

Gomes, Júlio César, Doni, Renan,

Hélton, todos tiveram oportunidade.

Na seleção é fundamental poder ser

analisado, e isso só aconteceu comigo

em treinos”, diz.

De lá para cá, Fábio perdeu o espaço

para outros goleiros, como Doni, da

Roma, e Renan, do Valencia, que de-

fendeu a seleção na Olimpíada. Ainda

assim, com 28 anos, Fábio acredita

merecer a terceira vaga para a Copa

de 2010. “O Fábio Costa já é mais ve-

lho [31 anos]. Felipe e Fernando Hen-

rique se destacam, mas são muito no-

vos [ambos têm 25]. Acho que fi ca mais

entre o Hélton e o Gomes. O impor-

tante é analisar quem está bem, inde-

pendentemente de em qual país joga”,

diz Fábio. Dorival Júnior endossa a

candidatura de Fábio. “Vejo o Fábio

tecnicamente como um dos melhores

goleiros do Brasil, incluindo os que

atuam fora do país. Ele tem totais con-

dições de brigar por uma vaga na sele-

ção e, se ele mantiver a regularidade e

a sequência que vem tendo, com cer-

teza será convocado”, afi rma.

No início do ano, Fábio renovou o

contrato com o Cruzeiro até dezem-

bro de 2011. Seu salário, em torno de

120 000 reais, seria o segundo maior

do clube, menor apenas que o de Klé-

ber, estimado em 150 000. “Tive a

chance de ir para o Osasuna, da Espa-

nha, logo depois que voltei da lesão.

Este ano, o Cruzeiro fez o máximo

que podia para me segurar. Em ter-

mos fi nanceiros, o que tenho aqui é o

que ia ganhar lá fora”, diz o goleiro,

que pretende jogar por mais 12 anos.

“Tenho a oportunidade de tirar o pas-

saporte italiano, isso vai ajudar muito.

Este ano tive proposta de um clube da

Escócia, de um clube menor da Ingla-

terra, que seria uma ponte para um

clube maior, depois que tirasse o pas-

saporte. Estava sendo tratado pelo

Kia [Joorabchian, ex-presidente da

MSI] desde o ano passado. Mais re-

centemente, recebi proposta de um

clube russo”, diz Fábio.

A meta de ser o terceiro goleiro em

2010 parece distante, mesmo com as

boas atuações de Fábio. Para quem es-

teve nas primeiras convocações de

Dunga, fi car fora do Mundial da Áfri-

ca do Sul pode parecer um sinal de

fracasso. Mas, partindo do pressupos-

to de que seria reserva, ir à Copa não

o faria dar o grande salto que falta em

sua carreira: vencer um grande título

como titular — conquistou uma Copa

do Brasil pelo Cruzeiro, um Campeo-

nato Brasileiro pelo Vasco e uma Copa

América pela seleção, todos como re-

serva. Fábio precisa contar de novo

com seus milagres, e com a ajuda de

seus companheiros, para conquistar a

Libertadores e entrar de vez na gale-

ria dos grandes goleiros do Cruzeiro.

E poder olhar para trás, desta vez para

enxergar sua bela volta por cima. ✪

Um dos grandes mentores de Fábio é, quem diria, um dos maiores ídolos

da história do Atlético. “O João Leite foi um precursor, que começou com os

Atletas de Cristo. Ele conta a dificuldade que era, que havia muito preconcei-

to, mas com fé e perseverança Deus o colocou num lugar de destaque e ele

segue carregando isso até hoje”, diz Fábio, que espera tomar emprestado de

João Leite o título de “Goleiro de Deus”. “Espero que não só eu, mas outros

goleiros também.” Também evangélico, João Leite ganhou a alcunha por ter

o hábito de entregar Bíblias aos adversários antes das partidas. João Leite

retribui a admiração de Fábio. “Estive com Fábio algumas vezes nos encontros

dos Atletas de Cristo e ele e a esposa são líderes junto aos outros jogadores.

O Fábio é um excelente goleiro”, afirma o ex-goleiro.

mais com movimentos laterais,

para a frente e para trás e saltos. Além

disso, a força muscular dele ajudou na

sua permanência em campo até o fi m

da partida”, afi rma o médico do Cru-

zeiro, Sérgio Freire Júnior.

Caso semelhante aconteceu com o

goleiro André, que sofreu rompimen-

to do ligamento cruzado com lesão do

menisco no joelho esquerdo. Foi num

lance com Fábio Aurélio, aos 27 mi-

nutos do segundo tempo, em 16 de

agosto de 2000, num empate por 2 x 2

entre Cruzeiro e São Paulo, no Minei-

rão, pela Copa João Havelange. No

mesmo dia seu reserva, Rodrigo Pos-

so, sofreu uma lesão muscular no

aquecimento. “Na hora senti o estalo

no joelho, mas não deu para parar

porque o lance estava correndo. A dor

era grande, mas deu para controlar e

continuar em campo”, afi rmou André

na época. No dia seguinte à contusão,

André foi convocado para a seleção

brasileira por Vanderlei Luxemburgo,

para uma partida contra a Bolívia, pe-

las Eliminatórias. Acabou cortado e

Velloso foi chamado em seu lugar.

Enquanto Fábio se recuperava da

lesão, o goleiro Lauro (hoje no Inter-

nacional) assumiu o gol do Cruzeiro:

Em sua primeira

passagem pelo

Cruzeiro, em

2000, Fábio não

foi aproveitado e

acabou emprestado

ao Vasco.

Lá, foi convocado

pela primeira vez

para a seleção

Fábio: malhado no Orkut, amado pelo fã-clube

ACHAVA QUE IA PEGAR QUALQUER BOLA E JUSTO AS FÁCEIS SE TORNAVAM AS MAIS DIFÍCEIS ”

ATAQUE E DEFESA

GOLEIRO DE DEUS

F Á B I O

k

© 1 F O T O E D U A R D O M O N T E I R O

© 1

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INFÂNCIA MISERÁVEL, FALTA DE COMIDA, DESNUTRIÇÃO... QUEM

VÊ O BRIGADOR TAISON VOANDO NO INTER NÃO TEM IDEIA DO QUE

ELE PASSOU. ATÉ ONDE ESSE RAPAZ OBSTINADO E EVIDENTEMENTE

FOMINHA PODE CHEGAR?

P O R L E A N D R O B E H S D E S I G N K . K . U . L .

F O T O S E D I S O N VA R A

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O L U T A D O R

A TRANSFORMAÇÃO

nha de Navegantes 2 (uma vila popu-

lar que fi cou grande demais e ganhou

status de bairro) a inscrição nas esco-

linhas do Brasil de Pelotas. Ficou

pouco tempo lá; afi nal, era preciso pa-

gar para frequentar o clube. A vizinha

não teve condições de continuar qui-

tando as mensalidades, e os Barcellos

Freda tinham outras prioridades na-

quele momento. Taison saiu, mas se-

guiu batendo bola em times de várzea.

Até que um dia foi visto pelo presi-

dente do Progresso — equipe amado-

ra da cidade, que revelou o volante

Émerson, do Milan, e Daniel Carva-

lho, do CSKA, entre outros —, Alcione

Dornelles. Encantado com os dribles

em velocidade do meia-ata cante ma-

gricelo e de pernas fi ninhas, ele foi

até dona Rosângela. Queria levar o

menino para o Progresso. Descobriu

que Taison tinha anemia e difi culda-

des alimentares. “Ele foi para o Pro-

gresso. Passou por um tratamento

com sulfato ferroso para recuperar a

saúde e começou a fazer as refeições

no clube. Em três meses, virou outra

pessoa”, afi rma Dornelles. A cada jogo do Progresso, Taison

começava a se destacar. Aos poucos,

foi se tornando o dono do time. Em

2004, então com 16 anos, o atacante

foi levado por Dornelles ao Beira-Rio

para um teste. Acabou reprovado.

Disseram que ele era muito mirrado,

não tinha corpo para aguentar as pan-

cadas dos zagueiros. Naquele mesmo

ano, Progresso e Inter se encontraram

na semifi nal do Estadual Juvenil. Jo-

gando em Pelotas, Taison foi o desta-

que da vitória do Progresso sobre os

colorados. No jogo de volta, em Porto

Alegre, o Inter acabou eliminando o

adversário. E Taison nem voltou para

casa. Ficou morando na concentração

do Beira-Rio, com Alexandre Pato,

que o considera seu “sucessor”.

Sempre antes de entrar em campo,

Taison cumpre um ritual. Telefona

para a mãe e pede a bênção. Só assim

joga tranquilo. Apesar dos 21 anos,

ainda tem uma ligação umbilical com

dona Rosângela. Foi ela quem conse-

guiu criar os fi lhos com dignidade,

longe das drogas, algo comum entre a

garotada da Navegantes 2. Talvez por

esse apego à mãe ele tenha custado a

estourar no Inter. Após dois anos de

clube, Taison voltou para Pelotas e

não apareceu mais no Beira-Rio. Era o

fi m da temporada 2006, e ele surgia

como o grande trunfo do Inter...

“Ele havia sido eleito o melhor jo-

gador em um torneio na Holanda. Ha-

via europeus de olho, estávamos in-

vestindo pesado nele, realizando k

“ ELE PRECISAVA SER

FORTE PARA VENCER NA VIDA.

POR ISSO O NOME: TAISON

Freda, a manter os 11 fi lhos. “Guarda-

va 2 reais para jogar fl iperama”, afi r-

ma Taison, que tinha então 10 anos,

lembrando alguns dos poucos mo-

mentos de alegria de sua infância.

Com um time de futebol para cui-

dar e separada do pai de seus fi lhos,

dona Rosângela diz que teve um pres-

ságio na hora em que foi registrar

o oitavo fi lho. Se os demais se chama-

vam Tatiana, Felipe, Fabiana, Leandro

e Márcio (gêmeos), Diego, Jaqueline

— e, depois de Taison, ainda vieram

Yasmin, Camila e Humberto —, por

que dar um nome americanizado, de

um boxeador famoso, à criança?

“Acho que tive um ‘cutuque’. Ele

nasceu ‘pequeninho’ demais, precisa-

ria ser forte para vencer na vida. Gos-

tava de ver o Mike Tyson lutar na TV.

Era forte, como sempre sonhei para

meus meninos. Só que o meu Taison

se escreve diferente, né? Registraram

assim no cartório. Mas o som do nome

é o mesmo”, diz a mãe coruja.

Aos 15 anos, mesmo menorzinho

que os demais guris de sua idade, Tai-

son ganhou de presente de uma vizi-

izer que a maioria

dos jogadores surgi-

dos no Brasil saiu da

base da pirâmide

social é lugar-co-

mum. Geralmente os que vencem vie-

ram de famílias pobres, com poucos

recursos, e passaram por uma infân-

cia de difi culdades. O novo ídolo do

Inter, porém, vivenciou o lado mais

doloroso da miséria: a fome.

Nas noites de frio em Pelotas, para

ter o que comer em casa, Taison pre-

cisava entrar na fi la do “sopão do po-

bre”, na porta lateral da Igreja Cabe-

luda (como é conhecida a Catedral

Anglicana de Pelotas, que recebeu o

apelido depois que uma trepadeira

cobriu o prédio de folhas e galhos).

Panelinha na mão, geralmente vestia

um abrigo e um par de chinelos. Ho-

ras antes de se juntar a muitos outros

necessitados, ele já havia passado a

tarde nas ruas do bairro Fragata, tra-

balhando como fl anelinha, cuidando

de carros por alguns trocados. Ganha-

va de 7 a 8 reais por dia. Dava 5 para

auxiliar a mãe, Rosângela Barcellos

F O T O R E N A T O P I Z Z U T T O

Como passar de promessa

a principal jogador do time?

Para Taison não foi fácil. Não

fosse um desafio proposto

pelo dirigente Fernando Car-

valho, talvez a história fosse

diferente. Incomodado com a

falta de apetite pela artilharia,

Carvalho propôs uma aposta.

Caso Taison marcasse 20 gols

até a metade do ano, teria

100% de aumento; passaria de

15000 para 30000 reais men-

sais. Até a fim do Gauchão, o

atacante já havia marcado 17...

Mas não foi só por dinheiro

que Taison passou a marcar

gols. Após a transformação

física, ele foi treinado para

destruir goleiros. Desde outu-

bro de 2008, o auxiliar-técnico

Cléber Xavier vem trabalhando

finalizações com o guri. Neste

ano, ele trabalha escanteios,

faltas e pênaltis. “Taison é do

nível de Nilmar, de Keirrison,

mas vai atingir o auge lá por

2010, 2011”, afirma Xavier.

Em 2008, Taison foi promovido aos profissionais e

entregue ao coordenador de preparação física do Inter,

Élio Carravetta. Precisava aumentar a massa muscular.

Ganhou 5 kg. Passou para 69,5 kg, com 49,5% de massa

muscular. Uma conquista à base de treinamento e carboi-

dratos. Ganhou em explosão muscular, força, arranque,

agilidade e velocidade. “Modificamos a estrutura genéti-

ca do Taison e a adaptamos para o futebol”, resume Car-

ravetta. Hoje, Taison é um dos jogadores mais velozes do

Brasil. Ele e Nilmar correm a cerca de 30 km/h, conforme

os fisicultores colorados. Taison é mais rápido em linha

reta, Nilmar tem maior agilidade para se livrar

de adversários. Problemão para as defesas inimigas.

D O N A R O S Â N G E L A , m ã e d e T a i s o n e f ã d o o u t r o , o b o x e a d o r

Contra o Novo

Hamburgo, pelo

Gauchão: o melhor

do campeonato

Comemorando um título, como um boxeador: ainda faltam músculos

Carvalho: apostando em seu menino

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um trabalho de reforço muscular.

Mas ele foi para casa, sentia muita fal-

ta da mãe e sabia que precisava traba-

lhar para ajudar a família”, diz Jorge

Macedo, diretor da base do Inter. “Só

conseguimos convencê-lo a voltar

quando dissemos a ele que a melhor

forma de ajudar em casa seria se tor-

nando profi ssional.”

Assim que começou a ganhar me-

lhor, logo nos primeiros meses de

profi ssional, Taison comprou um

apartamento de dois quartos próximo

ao Beira-Rio e trouxe dona Rosângela

para a capital — junto com o irmão ca-

çula, Humberto. Adquiriu também

um Ford Fiesta, mas ainda não tem

carteira para dirigir. “Sempre ouço a

mãe. Ela costuma dizer para eu jamais

esquecer de onde saí. Nunca vou mas-

carar”, assegura ele, garantindo que,

se um dia for para a Europa, dona Ro-

sângela embarcará junto.

Por enquanto, o Inter pode curtir o

ídolo à vontade. Ele é o jogador do

ano do Colorado. Por conta dele, o

clube abriu mão de Alex, principal

atleta da equipe em 2008. “Ele ama-

dureceu muito rápido”, elogia o téc-

nico Tite. O dirigente Fernando Car-

valho acredita que Taison será a

grande revelação do ano no Brasil. Nilmar até pode ser vendido na aber-

tura da janela européia. Taison, não. A

multa contratual é de 40 milhões de

euros — os direitos federativos do jo-

gador pertencem 80% ao Inter e 20%

a Alcione Dornelles, seu descobridor.

Nos próximos dias, Taison terá per-

sonalizada a camisa 7 — assim como

D’Alessandro é o 10, e Guiñazu, o 5.

Com a autoridade de capitão do time,

Guiña vai além. “Não quero me meter

com a seleção de vocês, mas, em breve,

Taison estará pedindo passagem no

time de Dunga.” Alguém duvida?

Com Nilmar: a dupla

mais rápida do

futebol brasileiro

Contratado pelo Inter em

julho, D’Alessandro chegou a

Porto Alegre como o grande

nome do futebol gaúcho. No

vestiário, encontrou o con-

terrâneo Guiñazu, o primeiro

a dar-lhe as boas-vindas. Aos

poucos, porém, percebeu que

um guri curioso se aproxima-

va. Era Taison. Dos primeiros

dias de convivência nasceu

uma grande amizade. Taison

ensinou os primeiros palavrões

a D’Alessandro, que em troca

abriu sua casa para o guri.

Taison passou a conviver com

a esposa do meia, Erika, e os

filhos, Martina e Santín. Taison

ensinou D’Alessandro a gostar

de pagode. “Taison é um meni-

no de ouro. Teve uma infância

sofrida, certamente muito

mais dramática que a de qual-

quer um de nós. Hoje é ídolo do

Inter, algo difícil para qualquer

um”, diz D’Alessandro. “Eu me

inspiro muito nele. Quero ter

uma carreira tão bonita quanto

a do Dale”, devolve Taison.

k

D’Alessandro: fã incondicional de Taison

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k

© I L U S T R A Ç Ã O S O B R E F O T O S D E A F P / I M A G E F O R U M / M A U R I C I O L I M A E D I V U L G A Ç Ã O N I K E

FERAACUADA

POR T H I A G O B A S T O S

DESIGN K . K . U . L . F O T O M A U R Í C I O D E S O U Z A

COM UM CURRÍCULO CHEIO DE ENCRENCAS E DEFESAS EM

JOGOS DECISIVOS, FÁBIO COSTA ENFRENTA RESISTÊNCIA

NA VILA BELMIRO. E, ADIVINHE, NÃO ESTÁ NEM AÍ

oze de fevereiro de

2009, Estádio Bento

de Abreu. No inter-

valo do jogo contra

o Marília, Fábio

Costa chega ao vestiário e se desen-

tende com o zagueiro Fabiano Eller.

Eles são apartados, após discussão

que descambou para a agressão. O

goleiro tenta usar uma tesoura

como arma. Jogadores e seguranças

têm de intervir, enquanto o técnico

Márcio Fernandes acompanha a

cena, perplexo.

DO episódio é só mais um na exten-

sa lista de confusões que envolvem

Fábio Costa, desde que chegou à

Vila Belmiro em 2000. De lá para cá,

foram mais de 330 partidas com a

camisa do Santos, alternando defe-

sas espetaculares, falhas grosseiras

e explosões de fúria. Chamado pelos

fãs de “Fera” ou “Muralha”, o golei-

ro convive também com duras críti-

cas de quem reclama de seu tempe-

ramento e o acusa de estar sempre

acima do peso. “Não me considero

polêmico. Defendo minhas ideias.

As pessoas estão acostumadas com

jogadores que dizem ‘sim senhor’

pra tudo”, afi rma ele.

Após a briga com Eller, conselhei-

ros do clube pediram a cabeça do

camisa 1 ao presidente do Santos,

Marcelo Teixeira. Fábio reagiu

como uma fera arredia. “Recomen-

daria ao clube buscar um outro go-

leiro, desde que esteja disposto a

trazer alguém que não vai entrar em

campo. Porque quem vai jogar sou

eu. Sempre foi assim”, afi rma o go-

leiro de 31 anos. k

72 | WWW.PLACAR.COM.BR | M A I O | 2 0 0 9 Antes mesmo de chegar ao Santos, o goleiro já

revelava seu destempero. No Brasileirão de 1999,

num jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu golpes

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das no Parque São Jorge, aconteceu

pelo fato de o dirigente nunca ter en-

golido a saída de seu protegido. Mes-

mo no Corinthians, o goleiro recebia

ligações do cartola todas as semanas.

“Logo que assumi, em 2000, fomos

buscar o Fábio no Vitória. No Santos,

ele tem uma trajetória vitoriosa, sen-

do injustiçado em convocações para a

seleção, pois está entre os melhores

do mundo”, diz Teixeira.

No ano seguinte à conquista do

Brasileiro de 2002, Fábio estava no

auge da carreira. Pelas oitavas-de-fi-

nal da Libertadores, pegou três pênal-

tis contra o Nacional de Montevidéu,

na Vila Belmiro. Por que não foi con-

vocado? A explicação está no lado ne-

gativo da Fera. No fim de 2001, o Pei-

xe trouxe Carlos Alberto Parreira. O

descontrole do goleiro contribuiu

para encurtar a permanência do trei-

nador na Vila Belmiro, e provavel-

mente fechou suas portas na seleção

— mesmo antes de reassumir o co-

mando do time nacional, Parreira ti-

nha trânsito na CBF. Durante um pe-

ríodo de treinamentos no interior de

São Paulo, o massagista Ari Jarrão

lançou um copo de água para o golei-

k

O MÉDICO E O MONSTROFÁBIO COSTA COLECIONA ATUAÇÕES MEMORÁVEIS, ESPECIALMENTE EM JOGOS DECISIVOS. MAS SEU CURRÍCULO TAMBÉM TEM CONFUSÕES INESQUECÍVEIS

F Á B I O C O S T A

Acima, o início

de sua carreira,

no Vitória, onde

arrumou uma briga

memorável em

um jogo contra o

Atlético-MG. Pela

seleção brasileira,

fez parte do grupo

que conquistou

o torneio Pré-

Olímpico, em

2000. Ao lado, sua

passagem pelo

Corinthians — onde

protagonizou lance

polêmico com Tinga,

no Brasileirão de

2005 — antes de

retornar ao Santos

1 BOTAFOGO 0 X 1

SANTOS

18/10/08, Engenhão

De volta após longo período lesionado,

faz primeiro tempo de gala.

2 AMÉRICA-MÉX

0 X 0 SANTOS

16/5/07, Azteca

Segura os mexicanos pelas

quartas-de-final da Libertadores.

3 SANTOS 0 X 0

BRAGANTINO

22/4/07, Morumbi

Na semifinal do Paulista, faz pelo

menos três defesas importantes.

4 SANTOS 2 X 2

NACIONAL

07/5/03, Vila Belmiro

Defende três cobranças de pênalti

e classifica o time para as quartas-

de-final da Libertadores.

5 CORINTHIANS

2 X 3 SANTOS

15/12/02 Morumbi

Com três defesas espetaculares,

garante o título brasileiro.

1 MARÍLIA 2 X 1

SANTOS

12/2/09, Bento de Abreu

No intervalo, briga com Fabiano Eller

no vestiário. O desentendimento é o

estopim para o pedido de demissão

do técnico Márcio Fernandes.

2 SANTOS 1 X 2 BARUERI

31/1/08, Vila Belmiro

É afastado da concentração por

Emerson Leão após discutir com o

preparador de goleiros Pedro Santilli.

3 SANTOS 1 X 1

FLUMINENSE

20/9/06, Vila Belmiro

Torcedores reclamam da atuação do

goleiro, que responde com gestos obs-

cenos. Na saída do vestiário, briga com

a torcida. Um funcionário do Santos se

fere com vidro atirado pelo goleiro.

4 INTER 3 X 0

SANTOS

15/11/01, Beira-Rio

Desentende-se com o técnico Carlos Al-

berto Parreira por ter sido substituído em

um treino coletivo. Antes da derrota de 3

x 0 sofrida para o Inter, em Porto Alegre, o

técnico presencia Fábio Costa descon-

trolado no vestiário com o roupeiro.

5 AMISTOSO

14/7/01, Jalisco

Contra o Atlas, em Guadalajara

(México), atravessa o gramado

do Estádio Jalisco e acerta uma

voadora no peito de um adversário.

ro. O copo explodiu no peito da Fera.

Foi o sufi ciente para Fábio agredir o

funcionário. Contra o Internacional,

em novembro de 2001, o roupeiro es-

queceu em Santos a camisa que Fábio

utilizava de seu patrocinador. O golei-

ro explodiu em xingamentos no vesti-

ário, enquanto Parreira tentava orien-

tar os jogadores. No retorno a Santos,

o técnico pediu demissão.

“O Parreira é um cara muito culto e

eu era muito jovem, queria abraçar o

mundo. Ele me tirou de três coletivos

seguidos com 5 minutos. Minha cabe-

ça foi a mil. Discuti com ele. Mandei

[o técnico] para aquele lugar. Não foi

correto, mas entendo que fui sincero.

Pelo menos não fui fazer panelinha

para derrubá-lo pelas costas”, diz o

jogador, que acredita que o desenten-

dimento o tenha tirado da seleção.

“Adoraria ter disputado uma Copa,

mas aprendi a conviver sem isso. Não

me arrependo. O Leonardo deu uma

cotovelada na Copa [de 1994] e conti-

nuou sendo bonzinho. Nas cagadas

que faço, só eu me ferro.”

Quem convive com Fábio Costa diz

que ele é de lua. Capaz de descer para

o café da manhã e abraçar os compa-

nheiros e mudar de comportamento

no almoço, horas depois. O tempera-

mento difícil inibe quem é novo no

Santos. Fábio odeia quem chega ga-

nhando muito, sem ter identificação

com o clube. Os zagueiros temem er-

rar, alguns treinadores se sentem

pressionados. “É muito mais cômodo

elogiar que cobrar por um posiciona-

mento errado. Não faço nada para

agradar ninguém. É meu jeito. Jamais

mando recado; digo na cara. Sempre

fui assim e perdi muitas coisas no fu-

tebol por causa disso. Minha cachaça

é ser autêntico. Quem gosta, bem,

quem não gosta, azar”, dispara. k

Antes mesmo de chegar ao San-

tos, o goleiro já revelava seu destem-

pero. No Brasileirão de 1999, num

jogo entre Vitória e Atlético-MG, deu

golpes de capoeira em Lincoln e

Gallo, armando uma briga generali-

zada no Estádio Independência, em

Belo Horizonte. Apostando em seu

talento, o Santos deu de ombros e

trouxe no ano seguinte o goleiro tão

promissor quanto problemático.

Na Vila, Fábio Costa goza de muito

prestígio com o presidente, que o

considera um fi lho. Seu retorno ao

clube, em 2006, após duas tempora- Contra o Nacional, três pênaltis defendidos

© F O T O 1 F E R N A N D O V I V A S © F O T O 2 J A D E R D A R O C H A © F O T O 3 R E N A T O P I Z Z U T T O

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Sobre seu comportamento mui-

tas vezes intempestivo, Fábio se de-

fende. “Campo de jogo não é conven-

to. Não concordo em punirem um

jogador com quatro ou cinco meses

de suspensão. Tem bandido que mata

e não fi ca nem uma semana na ca-

deia”, afirma o goleiro. “Tento me

controlar, mas na hora não consigo.

Acho que sou foco de muita coisa por

ser capitão do time. Fico sobrecarre-

gado. Não justifica, mas chega uma

hora que acabo explodindo.” Francis-

co Lopes, ex-diretor de futebol do

Santos, conviveu com o goleiro e con-

ta que o clube desenvolveu uma téc-

nica para lidar com suas explosões.

“Sempre colocamos o baú de roupa ao

alcance do Fábio no vestiário. Quan-

do o Santos perde, ele arrebenta o

baú. Ele bate ali para não dar um soco

no treinador ou no diretor”, diz Lo-

pes. Fábio admite a histeria após um

revés. “Já quebrei várias portas de

vestiário pelo fato de um juiz meter a

mão no time ou por uma discussão

com alguém”, confi rma.

Mas, se treinadores menos tarim-

bados tinham receio de Fábio Costa,

com Emerson Leão era diferente. A

relação entre os dois era de respeito,

embora um desafiasse o outro cons-

tantemente. “Com o Leão minha rela-

ção foi totalmente profissional. Saí do

Santos [no fim de 2003] porque ele

não queria trabalhar comigo e tinha

um cara de confi ança que era o Júlio

Sérgio [goleiro reserva]. Mas não exis-

te corpo mole comigo. Jamais me de-

dicaria menos pelo fato de o Leão ser

o técnico”, afi rma Fábio.

Pelo Santos, Fábio não é só atleta. É

também torcedor. Associado do clube

desde 2006, comprou um camarote

para a família na Vila Belmiro e ajuda

os funcionários mais carentes. Em

2006, por exemplo, pegou o dinheiro

da caixinha dos jogadores, no fi m do

ano, e comprou várias TVs de 29 pole-

gadas para os funcionários mais hu-

mildes. Muito companheiros não

concordaram. Fábio nem ligou.

Fábio Costa tem contrato com o

Santos até 2012. Até lá, seus desafetos

terão de engolir seu temperamento —

e suas inegáveis boas atuações em jo-

gos decisivos. E, se seus planos derem

certo, terão de suportá-lo ainda por

muito tempo. “Quero parar bem da-

qui a quatro anos. Depois, tenho abso-

luta certeza de que vou contribuir

como dirigente. Não vou dar moleza,

mas também irei cumprir com minha

palavra. Não serei como esses diri-

gentes que enrolam jogador.”

F Á B I O C O S T A

k

Semifinal contra

o Palmeiras: nem

o frango ofuscou

sua atuação

CASO DE POLÍCIAEm março, o nome de Fábio Costa

esteve envolvido em um crime

passional. A polícia teve acesso aos

registros telefônicos do celular

de Ana Cláudia da Silva, 18 anos,

morta pelo ex-marido, Janken Ferraz

Evangelista, e confirmou que a

vítima havia feito uma ligação para

o goleiro santista, pouco antes de

ser assassinada. O telefonema

foi apontado pelo acusado como

o estopim para a briga entre o casal.

Em entrevista coletiva concedida

ao lado de sua esposa, Fábio disse

que conheceu a ex-mulher de Janken

em 2005, quando jogava no Corin-

thians. Ele negou, no entanto, ter

tido um relacionamento com ela. Ao lado da esposa, Fábio se explicou

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P O R M A R C O S S E R G I O S I LVA D E S I G N K . K . U . L .

F O T O S R E N AT O P I Z Z U T T O

O SORRISO DE DENTINHO TEM DIAS CONTADOS NO CORINTHIANS: A ESPERANÇA É FAZER ALGUM DINHEIRO COM O GAROTO DE 20 ANOS, UMA DAS POUCAS CRIAS DO TERRÃO QUE DERAM CERTO NO CLUBE NESTA DÉCADA

SEGUNDADENTIÇÃO

uando esta reporta-gem começou a ser apurada, tudo indi-cava que o destino de Dentinho seria a Itália. Inter e Juven-

tus eram as líderes dos boatos. Certo é que Dentinho — ou Bruno Bonfim, como seu primeiro técnico, Paulo Cesar Carpegiani, gostaria que fosse chamado (“Um nome tão bonito...”, diz o treinador, lamentando) — não deve ficar para o segundo semestre. Aos 20 anos, o atacante é a esperança

Qdo Corinthians de fazer dinheiro com a safra que colheu a grama mal-dita dos rebaixados em 2007.

“De 12 milhões a 15 milhões de eu-ros a gente aceita negociar”, chuta seu “descobridor” José Ferreira, o Talquinho. Dentinho tem a idade e o estilo que o Velho Mundo procura. Corre, arma e não sentiu o baque da progressão repentina, que contem-porâneos seus das categorias de base sofreram (veja texto na pág. 81). A camisa de titular lhe caiu bem.

O caso é raro em se tratando das

crias corintianas nesta década. Des-de a geração campeã da Copa São Paulo em 1999 um rebento da base não conquistava técnico e torcida. Nesse intervalo, não fixaram posição promessas como Jô e Rosinei.

Dentinho age como se não fosse deixar o país tão cedo. Uma oferta de 7 milhões de euros dos Emirados Árabes já foi recusada em 2008 por clube, jogador e pelo empresário, o ex-lateral do Palmeiras Cláudio Gua-dagno. A venda faria três partes lu-crarem: além do Corinthians, dono k

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comandado por Talquinho no vizinho

Jaguaré. Sua primeira ficha como jo-

gador foi preenchida no Força, clube

ligado à central sindical, na terceira

divisão do Campeonato Paulista.

A estreia entre os profissionais viria

no Brasileiro de 2007, na fatídica cam-

panha do rebaixamento. “Fui o treina-

dor das vacas magras”, afirma Paulo

Cesar Carpegiani, obrigado a recorrer

à base para repor as perdas. “Vieram

só quatro jogadores do Bragantino. O

restante tive que apelar para juvenis,

como o Dentinho.”

O elenco remendado não foi sufi-

ciente para manter o clube na série A.

Em 2008, Mano Menezes assumiria

como técnico e efetivaria Dentinho

no ataque. Em breve o garoto que imi-

tava as coreografias de Marcelinho

estaria comemorando seus gols. Nas

primeiras férias como profissional,

tatuou nos pulsos os nomes do pai e

da mãe. Desde então, beijá-los viraria

marca registrada e de sorte: terminou

2008 artilheiro do time, com 24 gols.

“Ele é veloz, finta com velocidade e

é goleador”, diz Adaílton Ladeira,

técnico de Dentinho no curto espaço

em que jogou nos juniores. “Mas ele

deveria passar mais tempo no amador

para ganhar nos fundamentos.” Se-

gundo Ladeira, Dentinho aproveitou

(bem) a série B para corrigir alguns

defeitos. Melhorou no arremate, nos

passes e nos cruzamentos, mas ainda

está longe do ideal. “Ele tem dificul-

dade no domínio da bola”, afirma.

Mas Dentinho ainda tem muito a

aprender. Até mesmo com o “pai” pos-

tiço, Ronaldo Fenômeno, que pratica-

mente adotou o menino nesses quatro

meses de Parque São Jorge. “Ele não

gostou muito quando disse que forma-

ríamos a dupla Dentinho e Dentão”,

diz, rindo, o jogador. “Pediu para arru-

mar outro parceiro.”

No clássico contra o Santos, no Pau-

lista, o brilho do menino ofuscou as

outras duas estrelas — além de Ronal-

do, Neymar — com o gol que decidiu o

duelo. Mais forte, Dentinho prevê que

o sorriso vai durar ainda mais nessa

fase “adulta”: os dentes de menino

podem dar lugar aos de astro do fute-

bol, neste ou no Velho Mundo.

© F O T O 1 E D I S O N V A R A

ELES AINDA NÃO VINGARAM

SORTE OU REVÉS

Com Ronaldo:

“pai” e “filho”

ou “Dentão”

e Dentinho

Lulinha: talento empacado no clube

O beijo nos nomes

da mãe e do pai nos

pulsos: marca própria

O Fenômeno no time

trouxe projeção ao ata-

cante. Ronaldinho Gaú-

cho, por tabela, já andou

falando bem do garoto.

Arsenal, Juventus e Inter

se interessaram

Quando Ronaldo che-

gou, Dentinho estava na

seleção sub-20. Voltou

sem lugar certo no time,

que ainda tinha Lulinha,

Souza, Jorge Henrique e

Otacílio Neto na posição

RONALDO

O Corinthians pós-MSI

era um time sem grana e

sem atletas, o que facili-

tou sua estreia. Na série

B, jogou contra equipes

mais frágeis, o que aju-

dou em sua adaptação

Dentinho pulou etapas

e chegou rápido ao pro-

fissional, mas deixou de

aprender alguns funda-

mentos — o passe e o

arremate, por exemplo,

precisam melhorar

A QUEDA

Tem como empresários

Talquinho (foto) e Cláu-

dio Guadagno, que fez

com que fosse testado

no Corinthians depois

de duas baterias prati-

camente ignorado

Guadagno hoje é ad-

versário da direção do

clube, o que faz com que

seu salário seja um dos

mais baixos do time —

45000 reais, inferior

aos de Acosta e Lulinha

O AGENTE

Nem tudo são fl ores na carreira de Dentinho. Desde que foi promovido, teve que passar por algumas provações

Os três vieram na mesma leva de Dentinho. Entenda o que aconteceu com cada um deles

ALLISON

Artilheiro do Corinthians na Copa

São Paulo de 2007, a mesma em

que Dentinho jogou, não foi apro-

veitado pelo time profissional.

Emprestado para o Atlético-PR

no fim de 2008, ainda não teve

chances na equipe principal.

RENATO

Zagueiro, considerado o “Breno

melhorado”, segundo Zé Augusto,

técnico da base. O Grupo Sonda

adquiriu 25% do passe no fim

do ano passado. Subiu para

o profissional no começo de

2008, mas não é aproveitado.

LULINHA

Era a maior aposta das catego-

rias de base: marcou 297 gols.

Entre os profissionais, teve seu

talento contestado pela torcida

e só marcou um gol neste ano.

Deve ser negociado.

de 52% do seu passe, o próprio

Guadagno, que detém 20% com Tal-

quinho, e o fundo de investimentos

Sonda (outros 28%).

“Não penso em ir para esses lugares

afastados”, afirma o próprio jogador,

amparado pelo discurso de Talquinho.

“Se pensasse apenas na independência

financeira, estaria tranquilo, mas seu

futuro como jogador estaria compro-

metido”, diz Talquinho. De fato, Denti-

nho quer jogar fora do país, mas prefere

escolher Espanha ou Itália.

Dinheiro seria determinante para o

garoto de família humilde, cria de uma

escolinha de futebol na região do Rio

Pequeno, zona oeste paulistana, e que

dependia da ajuda de 70 reais mensais

do São Paulo, primeiro clube em que

tentou a sorte no futebol. Dentinho

cresceu num conjunto residencial cons-

truído para abrigar funcionários do or-

fanato no qual seu pai, o vigia Adonias,

e sua mãe, a assistente social Nilce, tra-

balhavam. Da mãe herdou a religião bu-

dista. Na casa adquirida com o salário

de 45000 reais, abaixo do de colegas de

elenco como Souza, Acosta e Lulinha,

todos na reserva, guarda um oratório

em que dedica suas preces. “É na reli-

gião que encontro a tranquilidade. Por

isso estou sempre bem-humorado.”

Antes de chegar ao Corinthians,

Dentinho passou por algumas prova-

ções. Uma delas foi ser dispensado da

base do São Paulo ainda menino. “Foi

uma decepção muito grande”, afirma,

lembrando a fase em que seu corpo

franzino servia para questionar seu

talento com a bola nos pés. “Sempre

enfiei na cabeça que era magrinho,

mas habilidoso, e tinha que tomar

muito tapa para ganhar espaço”, diz.

De lá, migrou para a escolinha do

Rio Pequeno, mais tarde incorporada

ao Molecaje, um celeiro de jogadores

k

© 1

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planeta bola

k

C R A Q U E S E B A G R E S Q U E F A Z E M O F U T E B O L N O M U N D O

E D I Ç Ã O J O N A S O L I V E I R A D E S I G N K . K . U . L .

© F O T O P I E R G I A V E L L I

k Grafi te deixou o futebol brasileiro, em 2006, com

a carreira marcada por episódios polêmicos ou inu-

sitados. Em 2004, estava ao lado do zagueiro Serginho, do

São Caetano, quando ele teve uma parada cardíaca fulmi-

nante. Meses antes, marcou contra o Juventus no Campeo-

nato Paulista e salvou o Corinthians do rebaixamento. Em

2005, foi o pivô da prisão do zagueiro argentino Leandro

Desábato, do Quilmes, acusado de racismo em jogo da Li-

bertadores. No início desta temporada, já no Wolfsburg,

Pichando o seteCom uma carreira marcada por polêmicas e fatos inusitados, Grafite enfim passa a ser reconhecido na Alemanha por seu verdadeiro ofício: fazer gols

k

virou motivo de piada ao desmaiar durante um treino físico

do técnico Felix Magath. Agora Grafite volta às manchetes.

Desta vez pelos gols, muitos gols, que tem marcado.

O mais impressionante deles, na goleada por 5 x 1 sobre

o Bayern de Munique, escreveu defi nitivamente seu nome

na história da Bundesliga. O lance é repetido à exaustão na

televisão local e tornou o atacante uma celebridade em solo

alemão. Os pedidos de entrevista são tantos que a assessora

de imprensa do Wolfsburg já sabe de cor e salteado a his-

Grafite: em sua terceira temporada na Europa, ele reencontrou o gol

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planeta bola

k

Esqueceu de mimAbandonado por Dunga, Afonso Alves fala sobre a seleção brasileira e a reserva no quase rebaixado Middlesbrough

© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A F P © 3 F O T O D I V U L G A Ç Ã O

Melhor que Eto’oRodrigo Teixeira é o melhor brasileiro em ranking da IFFHS

© 1

kQuando foi seu último con-

tato com Dunga?

Faz tempo, mas não há nada de es-

tranho nisso. Se não faço gols, se mi-

nha equipe não vence, é normal que

eu não seja lembrado. Não tenho nada

para reclamar, pelo contrário.

As críticas ao Dunga quando o

convocou não foram poucas...

As pessoas falam mal do Dunga,

mas os jogadores gostam dele. Nunca

um treinador abriu tantas portas para

os jogadores de fora dos grandes cen-

tros. Deu chance a quem estava na

Rússia, Ucrânia, Holanda, convocou

vários jovens. E ganhou a Copa Amé-

rica, então ninguém pode criticá-lo.

No Middlesbrough, você é criti-

cado por ser a contratação mais

cara da história. O que houve?

Ah, os jornais aqui adoram escrever

isso de “o jogador mais caro”, mas eu

não dou bobeira para eles. Nosso time

tem bons jogadores, mas deixaram

kArtilheiro do Deportivo Cuen-

ca na Libertadores, Rodrigo

Teixeira pode ser considerado o me-

lhor atacante brasileiro em atividade

— ao menos pelos critérios da IFFHS

(Federação Internacional de História

e Estatística do Futebol). Conhecido

por seus rankings polêmicos, o órgão

internacional classifi cou Rodrigo na

nona posição entre os melhores arti-

lheiros de todo o mundo em 2009 — o

camaronês Eto’o, por exemplo, apare-

ce apenas em 50º. Natural de Barra

Mansa-RJ, Rodrigo surgiu para o fu-

RODÍZIO MEXICANOCarlos Vela e Giovani dos Santos, ambos com 20 anos, deixaram cedo o México

rumo à Europa. Aos 16, Vela fechava contrato com o Arsenal e Giovani era

descoberto por olheiros do Barcelona. Mas, enquanto Giovani despontava na

equipe principal do Barça em 2007, Carlos Vela estava esquecido, emprestado ao

Osasuna-ESP. Agora a situação se inverteu. Sem oportunidades no Barça, Giovani

foi vendido ao Tottenham e, no início de março, emprestado ao Ipswich Town, da

segunda divisão inglesa. Já o pupilo dos Gunners, de volta à Inglaterra desde o

ano passado, vive sua melhor fase. Começa a se firmar no time de Arsène Wenger

e ganha espaço, também, na seleção principal do México. B R E I L L E R P I R E S

Rodrigo Teixeira: o

melhor brasileiro em

atividade — ao menos

para a IFFHS...

tebol nas categorias de base do Vasco

da Gama — foi vice-campeão da Copa

São Paulo de Futebol Júnior em 1999.

Depois de ser emprestado para equi-

pes de pequena expressão no Brasil,

Rodrigo foi contratado pelos equato-

rianos do Esmeraldas Petrolero. De

lá, foi para o Barcelona de Guayaquil,

antes de chegar ao Deportivo. Em

2003, chegou a ser convidado para

defender a seleção do Equador. “Meu

empresário da época disse que era

melhor não. Me arrependo até hoje”,

diz o atacante. A L E X A N D R E S A L V A D O R

Na Bundesliga, média de gols impressionante

© 2

sair muitos jogadores experientes. Aí,

de uma hora para a outra, eu passei a

ser o mais velho do grupo. A cada der-

rota, a equipe sente muito, perde con-

fi ança. Até o técnico é jovem.

Você se arrepende de ter ido

para o Middlesbrough?

De jeito nenhum. Eu estou na me-

lhor liga do mundo, jogando sempre

contra os melhores. Mesmo o Man-

chester City, com o Robinho e todo o

dinheiro, está tendo problemas.

E fora de campo? Middles-

brough foi eleita a pior cidade

para morar na Inglaterra...

Realmente aqui não é um lugar dos

mais bonitos. Joguei na Suécia e na

Holanda, com cidades bem bonitas e

mulheres lindas também. Essa é ou-

tra grande diferença... Na Holanda,

você saía à noite e o técnico já estava

na balada [risos]. Mas, dentro de cam-

po, não dá para comparar. O nível aqui

é muito mais alto. R A F A E L M A R A N H Ã O

© 2Lembra do Afonso?

Nem o Dunga...

Vela e Giovani dos

Santos: sucesso

alternado

© 2

DOCE CAYMANImagine receber um bom salário,

morar em paraíso fiscal e turístico

do Caribe, falando inglês, com

sossego e excelente qualidade de

vida, trabalhando com o que mais

gosta: futebol. De bônus, competições

oficiais da Fifa e direito a voto na

eleição de craques do ano. Essa é a

vida do brasileiro Thiago Cunha, 30

anos, das Ilhas Cayman, arquipélago

britânico que, até o ano passado, era

o quinto maior centro financeiro do

planeta. Thiago chegou em 2003 para

criar a seleção feminina caimana.

Acumula ainda a preparação física

do time masculino. “É muito bom

comandar um país há cinco anos

e meio. São duas Eliminatórias de

Copa e uma do Mundial feminino,

dois Pré-Olímpicos em cada

categoria”, diz Cunha. E L I A N O J O R G E

Thiago (dir.) com a seleção feminina caimana

© 3

tória de vida do paulista de Campo

Limpo, que vendia sacos de lixo de

porta em porta e ganhou um apelido

politicamente incorreto quando joga-

va na Matonense. Seu nome, aliás,

provoca discussões intermináveis na

Alemanha quanto à pronúncia: fala-se

“Grafi TE” ou “Grafi TCH?”

Só nesta temporada, Grafi te marcou

29 gols em 25 partidas. “Eu teria feito

mais se não tivesse me machucado e

fi cado tanto tempo parado pela minha

cirurgia no joelho”, diz. Em seu se-

gundo ano na Alemanha, o jogador do

Wolfsburg tem aproveitamento infe-

rior apenas ao do lendário Gerd Mül-

ler, que tem média de 0,85 gol por par-

tida, contra 0,76 de Grafi te. Marcas

tão expressivas levam à clássica ques-

tão, tão repetida quanto o gol contra o

Bayern: como ele não está na seleção?

“Sonho com isso todos os dias, mas só

chegarei lá se estiver jogando bem.

Foi assim em 2005, quando fui convo-

cado para o lugar do Ronaldo para um

jogo contra a Argentina. Na mesma

semana sofri uma contusão e fui cor-

tado. Se continuar assim, acho que a

convocação acaba vindo”, afi rma.

C A R L O S E D U A R D O F R E I T A S

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planeta bola

DiegoTem sido o principal homem do

Werder Bremen na campanha da

Copa da Uefa. É um dos jogadores

mais cotados para jogar na Itália

na próxima temporada.

Michel BastosJogando como meia no Lille, o lateral-

esquerdo que passou por Grêmio

e Figueirense briga pela artilharia

do Campeonato Francês.

Rodrigo PossebonO volante do Manchester United,

que recentemente adquiriu a

cidadania italiana, foi convocado

pela seleção sub-20 da Azzurra.

lSOBE

pDESCE

Carlos EduardoLevou um gancho de cinco jogos

por ter dado uma cotovelada em

um adversário. E o Hoffenheim, que

chegou a liderar o campeonato,

despencou na tabela.

Edu DracenaCotado para se transferir para a

Roma na próxima temporada, sofreu

uma grave lesão no joelho e deve

ficar parado por quatro meses.

KerlonEm sua primeira temporada no

Chievo, o “Foquinha” não se livra

das contusões. Jogou apenas três

partidas e ainda não marcou.

kA comparação é inevitável.

Olhar para um brasileiro que

hoje faz sucesso pelo Lyon, da França,

meio-campista, e não vê-lo como um

sucessor de Juninho Pernambucano é

quase impossível. Atualmente, esse

cara se chama Éderson, que joga na

França há cinco anos — quatro pelo

Nice e um pelo Lyon. Já Juninho está

desde 2001 no time e venceu os sete

campeonatos franceses disputados.

Com o iminente fim de contrato de

Juninho Pernambucano (acaba no

meio de 2010), o caminho da sucessão

está aberto para Éderson. Apesar de

toda essa expectativa, o jogador não

gosta da comparação. “Eu sempre

disse que não seria o substituto do Ju-

ninho”, afirma o meia.

Éderson teve uma passagem discre-

ta no Brasil — atuou por RS, Juventu-

de e Inter. “Não consegui ter uma se-

quência de jogos. Sofri algumas lesões

Sucessor naturalMesmo sem aceitar comparações, Éderson segue os passos de Juninho e deve ser o brasileiro da vez do Lyon

1 Brasi lPara chegar ao título do Sul-Americano de 1920, o

Uruguai empatou com a Argentina e venceu os anfitriões

chilenos. Entre as duas partidas, goleou o Brasil por

6 x 0, no dia 18 de setembro. José Pérez e Ángel Romano,

artilheiros da competição, marcaram duas vezes cada.

Pior impossívelCom o 6 x 1 para a Bolívia, a Argentina igualou seu pior resultado na história. Mas há vexames piores POR LEANDRO GUIMARÃES

2 Itál iaO primeiro jogo entre Hungria e Itália foi

disputado em 1910, em Budapeste, com vitória da seleção

da casa: 6 x 1. Quatorze anos depois, em 6 de abril de 1924,

o jogo se repetiu na capital magiar. Mesmo sem a estrela

Imre-Schlosser Lakatos, a Hungria fez 7 x 1 na Azzurra.

3 InglaterraA primeira derrota inglesa para um time não-

britânico em Wembley veio em 1953, quando a Hungria

venceu por 6 x 3. Em 23 de maio de 1954, as seleções se

reencontraram em Budapeste. Dois gols de Puskas e dois

de Kocsis ajudaram a construir a goleada húngara por 7 x 1.

4 AlemanhaEm 1908, em plena Berlim, os ingleses venceram

os alemães por 5 x 1. Em 13 de março do ano seguinte, os

alemães viajaram a Oxford em busca da revanche. Mesmo

com uma seleção amadora, graças a três gols de Dunning

e outros três de Porter, a Inglaterra fez 9 x 0.

5 FrançaApesar de todos os placares elásticos, entre os

últimos campeões mundiais, ninguém supera a França. Em

22 de outubro de 1908, os Azuis foram a Londres enfrentar

a Dinamarca. O destaque foi Nielsen Sophus Erhard, que

sozinho fez dez gols.: vitória dinamarquesa por 17 x 1.

© 1 F O T O A F P © 2 F O T O D I V U L G A Ç Ã O

e acabei jogando pouco”, diz a nova

sensação do Lyon. Mesmo assim, foi

emprestado ao Nice em 2004, pelo

RS, e, após boas atuações, o clube o

contratou em definitivo.

Mas seu namoro com o Lyon existia

há tempos, desde que chegou à Fran-

ça. Juninho já começava um conven-

cimento para jogarem juntos. “Antes

adversários, nós conversávamos pou-

co, só nos jogos. Mas o Juninho falava

que o Lyon estava de olho em mim. Aí,

no início de 2008, ele começou a me

explicar os objetivos do clube”, diz

Éderson sobre sua relação com Juni-

nho. Hoje, além de companheiros de

clube, Éderson e Juninho fazem uma

parceria que pode render ao Lyon o

oitavo título consecutivo. Na próxima

temporada, ela deve continuar. Mas,

em 2011, se Pernambucano sair, Éder-

son, seu sucessor natural, deve virar a

engrenagem do time. B E R N A R D O I T R I Julio Santa Cruz: seguindo os passos do irmão

© 2

© 1 SANTA CRUZ DO PARAGUAIFeliz com o sucesso na equipe do

principal atacante paraguaio da

atualidade, Roque Santa Cruz, o

Blackburn se rendeu ao estilo sul-

americano dentro da área. Irmão mais

novo de Roque, Julio Santa Cruz, que

faz 19 anos este mês, era jogador das

categorias de base do Cerro Porteño

até a metade de 2008. Ajudado pelo

irmão, o também atacante ganhou

uma chance de mostrar seu valor na

Inglaterra. Não deu outra. O técnico

do Blackburn na época, Paul Ince, se

impressionou tanto com os testes de

Julio que lhe propôs um contrato de

três anos. Em sua primeira temporada

com os reservas dos Rovers, Julio

assegurou uma vaga como titular e

anotou seus primeiros gols. O caçula

também já figura no elenco principal,

esperando a oportunidade de estrear

na Premier League para, quem sabe,

realizar seu grande sonho. “Jogar ao

lado de Roque é um desejo pessoal.

Não é sempre que irmãos jogam

juntos no futebol profissional”,

diz Julio. M A R C E L O S I L V A

Éderson: alegria em sua primeira temporada no Lyon

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planeta bola

© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A F P

SETE POR SETE

Em 1911, por causa de ventos fortes, a maioria dos jogado-

res do Galatasaray não pôde chegar ao estádio do Fener-

bahçe. Com isso, o time começou o jogo com apenas sete

atletas e, mesmo assim, venceu por 7 x 0. Além disso,

o Fenerbahçe terminou a partida com dez jogadores,

depois de o goleiro ter se machucado.

Pancadaria no último

clássico: fim da chance

de título para ambos

GALATASARAY TÍTULOS

1 COPA DA UEFA

1 SUPERCOPA DA UEFA

17 CAMPEONATOS TURCOS

14 COPAS DA TURQUIA

FENERBAHÇE TÍTULOS

1 TAÇA DOS BÁLCÃS

17 CAMPEONATOS TURCOS

4 COPAS DA TURQUIA

★ CLÁSSICOS DO MUNDO ★

CENTENÁRIO

O primeiro clássico entre

Galatasaray e Fenerbahçe

ocorreu em 17 de janeiro de

1909, no local onde hoje está

o Sükrü Saracoglu, estádio do

Fenerbahçe. O Galatasaray,

que venceu a partida por

2 x 0, fica na porção euro-

peia de Istambul, enquanto

o Fenerbahçe fica na parte

asiática. A divisão é marcada

pelo estreito de Bósforo,

que liga o mar Negro

ao mar de Mármara.

APENAS 14

O menor público registrado

no clássico foi em 17 de

novembro de 1922, com

apenas 14 torcedores. Por

causa da forte tempes-

tade, o juiz Fethi Tahsin

Basaran apitou a partida

usando um guarda-chuva.

Já o jogo de maior público

foi em 21 de setembro de

2003, no estádio Atatürk

Olimpiyat, quando 70 125

pessoas compareceram.

ARTILHEIRO

O maior artilheiro do clássico foi Zeki Riza Sporel, do

Fenerbahçe. Ele jogou entre 1915 e 1934 e marcou 27 gols

em 42 jogos. Os outros grandes artilheiros também são do

Fenerbahçe. Alaattin Baydar fez 24 gols e Lefter Küçükan-

donyadis, 20. O maior artilheiro do Galatasaray no dérbi é

Metin Oktay, com 19 gols. Quem mais jogou o clássico foi

Turgay Seren, ex-goleiro do Galatasaray, com 55 jogos.

ÍDOLOS

Vários jogadores importantes do

futebol mundial passaram pelos

dois clubes, entre eles muitos bra-

sileiros. Defenderam o Galatasaray

o romeno Gheorghe Hagi, o goleiro

Taffarel e o atacante Jardel. Do lado

do Fenerbahçe, atuaram o argentino

Ariel Ortega, o francês Nicolas

Anelka, o nigeriano Jay-Jay Okocha

e o goleiro turco Rüstü Recber.

ÚLTIMO JOGO12/4 ESTÁDIO ALI SAMI YEN

Galatasaray 0 x 0 Fenerbahçe

© 1

O estreito de Bósforo divide a Istambul asiática da europeia

Rustu, com a camisa do Fenerbahçe

Zero a zero absolutoEm um clássico marcado pela violência em campo, o resultado diz tudo: sem gols, sem chances, sem sucesso para os inimigos mortais Galatasaray e Fernerbahçe

kHá 100 anos acontecia o pri-

meiro clássico turco entre Ga-

latasaray e Fenerbahçe, uma das

maiores rivalidades do mundo. Em

turco, a palavra “yüz” tem dois signi-

fi cados: “rosto” e “cem”. Se alguém

faz algo vergonhoso, pode-se dizer,

em turco: “yüz karasi”. No ano do

centenário do dérbi, o jogo entre as

equipes no estádio Ali Sami Yen, em

Istambul, foi realmente vergonhoso.

Os dois times decepcionaram seus

torcedores, mesmo com grandes per-

sonagens ali, como Dani Güiza, Ro-

berto Carlos, Harry Kewell e Milan

Baros. Quem perdesse o jogo perderia

ainda as esperanças de vencer o Cam-

peonato Turco. Um empate também

acabaria com as chances de troféu das

equipes e, quando os jogadores per-

ceberam que esse seria o desfecho do

jogo, transformaram a noite de espe-

táculo em pancadaria.

O curioso é que alguns dos atletas

que estrelaram a briga estavam juntos

na abertura de uma loja do ex-jogador

do Galatasaray Serhat Akyüz, no dia 8

de abril, e falaram sobre amizade na

seleção. Apenas cinco dias após essa

cordialidade, esses mesmos jogadores

mais pareciam heróis de luta-livre.

Depois de uma falta cobrada para fora

por Roberto Carlos, Lugano deu uma

cabeçada em Emre Asik e, a partir daí,

começou a pancadaria. O jogo fi cou

parado por 6 minutos e Semih, Luga-

no, Arda e Emre Asik foram expulsos.

Após o término da partida, a sete

rodadas do fi m da competição, as duas

equipes fi caram 8 pontos atrás do Si-

vasspor, a surpresa do torneio. Nunca

na história Galatasaray ou Fener-

bahçe perderam as chances de ser

campeões tão cedo, na 27ª rodada. O

placar refl etiu bem as notas que os ti-

mes merecem pela temporada — e

pela atitude em campo: 0 e 0.

POR GALIP ÖZTÜRK, DE ISTAMBUL

363JOGOS

137VITÓRIAS DO FENERBAHÇE

115VITÓRIAS DO GALATASARAY

11EMPATES

507GOLS DO FENERBAHÇE

462GOLS DO GALATASARAY

Taffarel, que defendeu o Galatasaray

© 2

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planeta bola

kA Hungria sempre foi mestra

na arte de surpreender o mun-

do do futebol. Primeiro, com a revela-

ção de craques como Kubala, Czibor e

Kocsis, que brilharam no Barcelona

nos anos 50. Depois, comandada pelo

maior dos craques húngaros, Ferenc

Puskas, foi vice-campeã mundial em

1954. A derrota por 3 x 2 para a Ale-

manha Ocidental naquela decisão,

que fi cou conhecida como “O Milagre

de Berna”, também foi uma surpresa

— a Hungria jogava o melhor futebol

da Copa e havia batido a própria Ale-

manha por 8 x 3 na primeira fase.

Com pouco mais de 10 milhões de

habitantes, o país já ocupou o topo do

ranking da Fifa, ganhou três meda-

lhas de ouro olímpicas (1952, 1964 e

1968), além de outro vice-campeona-

to mundial, em 1938. No entanto, a

Retorno magiarCom bagagem repleta de glórias e craques, a Hungria tenta voltar à Copa do Mundo e resgatar sua tradição

O lateral Szélesi

(esq.) em jogo contra

a Dinamarca: perto

da classificação

CAPITAL:

BUDAPESTE

IDIOMA:

HÚNGARO

MOEDA: FLORIM

HÚNGARO

POPULAÇÃO: 10 050 000

RANKING DA FIFA: 44º

NA FIFA DESDE: 1907

JOGADORES

REGISTRADOS: 127 226

CLUBES

REGISTRADOS: 2 778

HUNGRIA

© 1 F O T O P I E R G I A V E L L I © 2 F O T O A N P

última Copa disputada pela Hungria

foi em 1986, no México. De lá para cá,

os craques, que abundavam no passa-

do, pararam de surgir, e o futebol

húngaro entrou em decadência.

Mas a Hungria de tantas tradições

quer surpreender novamente. Nas

Eliminatórias para a Copa de 2010, a

seleção húngara ocupa o primeiro lu-

gar do grupo A, ao lado da Dinamar-

ca, com 13 pontos, deixando para trás

Suécia e Portugal. Nesses 23 anos fora

de uma Copa, a Hungria nunca esteve

tão perto da classifi cação. “Quando

cheguei, minha primeira impressão

da equipe não foi nada boa. Mas isso

mudou; todos os jogadores estão mo-

tivados a levar o país de volta à Copa”,

diz o técnico holandês Erwin Koe-

man. É ver para crer em mais uma

surpresa magiar. B R E I L L E R P I R E S

NOVO PUSKAS?Destaque da seleção e do PSV

Eindhoven, Balázs Dzsudzsák é uma

das maiores promessas do futebol

húngaro. Dono de uma canhota

habilidosa, o meia de 22 anos chega

a ser comparado na Hungria ao

lendário Puskas, que brilhou no Real

Madrid entre 1958 e 1967. Mas ao

contrário de Puskas, que marcou 84

gols pela seleção húngara, Dzsudzsák

não é muito de balançar as redes:

marcou apenas um gol pela Hungria,

num amistoso contra a Grécia.

Dzsudzsák, a grande promessa dos húngaros

© 2

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11ªchuteiradeouroP L A C A R P R E M I A O M A I O R A R T I L H E I R O D O B R A S I L

Gols sem moderaçãoDestaque do Mineiro, Tardelli é o cara deste mês. Pernambucanos dominam as outras posições

S - SELEÇÃO; BRA - BRASILEIRO - SÉRIE A; CB - COPA DO BRASIL; L - LIBERTADORES; CS - COPA SUL-AMERICANA; EST - PRINCIPAIS ESTADUAIS; EST/B - DEMAIS ESTADUAIS E SÉRIE B

kEm abril, Keirrison mantinha

uma boa distância entre seus

concorrentes à Chuteira. Ele não pa-

rava de fazer gols e, até o fim dos cam-

peonatos estaduais, o K9 dava pinta de

que permaneceria isolado. Mas, como

dizia a matéria de Placar do mês pas-

sado, “Antes tarde do que nunca”, Die-

go Tardelli marcou sete gols e agora é

líder ao lado do palmeirense.

Tardelli vem sendo decisivo para o

Atlético Mineiro. O Galo terminou a

primeira fase do Estadual como lí-

der, passou fácil nas quartas-de-final

e, nas semifinais, dos três gols mar-

cados pelo Atlético, dois vieram de

Tardelli. Nada mais merecido que

premiar essa fase com a liderança na

Chuteira de Ouro.

Abaixo de Tardelli e Keirrison, entre

o terceiro e o sétimo colocados, quatro

atletas são de Pernambuco. Gilmar

(Náutico), Marcelo Ramos (Santa

Cruz), Fabio (Central) e Ciro (Sport),

que disputaram o Pernambucano, es-

tão entre os maiores goleadores do

Brasil. A explicação para isso é a fragi-

lidade da competição. O fato de o arti-

lheiro ser o veteraníssimo Marcelo

Ramos e de o Sport vencer o campeo-

nato com sobras comprova a tese.

Agora o Brasileirão começa, os jo-

gos ganham equilíbrio, fazer gols se

torna cada vez mais difícil e a disputa

pela Chuteira de Ouro deve fi car ain-

da mais acirrada.

Tardelli:

especialista em

marcar gols

★ C H U T E I R A D E O U R O 2 0 0 9 | A T É 2 0 / 4

DIEGO TARDELLI ATLÉTICO-MG 0 0 6 (3) 0 32 (16) 0 38

KEIRRISON PALMEIRAS 0 0 12 (6) 0 26 (13) 0 38

3 GILMAR NÁUTICO 0 0 8 (4) 0 28 (14) 0 36

MARCELO RAMOS SANTA CRUZ 0 0 0 0 36 (18) 0 36

TAISON INTERNACIONAL 0 0 4 (2) 0 30 (15) 0 34

FABIO CENTRAL 0 0 0 0 32 (16) 0 32

CIRO SPORT 0 0 2 (1) 0 28 (14) 0 30

WASHINGTON SÃO PAULO 0 0 4 (2) 0 24 (12) 0 28

KLÉBER CRUZEIRO 0 0 4 (2) 0 22 (11) 0 26

KLÉBER PEREIRA SANTOS 0 0 6 (3) 0 20 (10) 0 26

MAICOSUEL BOTAFOGO 0 0 2 (1) 0 24 (12) 0 26

NILMAR INTERNACIONAL 0 0 0 0 26 (13) 0 26

PEDRÃO BARUERI 0 0 0 0 26 (13) 0 26

RAFAEL MOURA ATLÉTICO-PR 0 0 2 (1) 0 24 (12) 0 26

SANDRO SOTILLE SÃO JOSÉ-RS 0 0 0 0 26 (13) 0 26

BRUNO MENEGHEL GOIÁS 0 0 0 0 22 (11) 0 22

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batebolaP O R T I A G O L E M E , D E L O N D R E S

A concorrência na zaga do Chelsea é grande, e você

nem sempre é titular. Isso o incomoda?

O pessoal do clube sempre gostou de mim. Só que aqui tem

o Ricardo Carvalho e o John Terry, que são jogadores top, já

ganharam muita coisa. É difícil. Mesmo estando em um clu-

be grande, não é bom aceitar e se acostumar a ficar no banco.

Quero sempre jogar. Cheguei a falar que queria ir embora,

mas agora penso em dar continuidade, jogar.

Você chegou a pedir para sair do clube?

Falei com o Felipão que queria ir embora 15 dias após a

chegada dele. Conversei numa boa, mas ele falou que não me

liberaria. Na época do Avram Grant e do Felipão, eu jogava

sempre que o Terry ou o Ricardo se machucavam. Na FA Cup

do ano passado, joguei a Copa toda. Mas na final, contra o

Tottenham, o Grant me tirou porque o Terry estava voltando.

Isso não é bom para ninguém.

Você trabalhou com Guus Hiddink no PSV e ele o

conhece bem. Isso está ajudando agora?

Sempre me dei bem com o Hiddink, e estou jogando bas-

tante agora. Ele foi ver alguns jogos do Santos no Brasil, em

2002, e cheguei a conversar com ele. Foi ele quem pediu mi-

nha contratação. Espero que ele fique mais tempo aqui.

Na sua opinião, por que Felipão foi demitido?

Ele teve muitos problemas com o idioma, de comunicação.

Ele queria motivar os jogadores nas preleções, mas as pala-

vras em inglês fugiam. Ele também mudou muito os treina-

mentos. Eram no estilo do Brasil, muitos coletivos 11 contra

11, e o pessoal aqui não está acostumado a fazer isso. O nor-

mal aqui é treinar em campo curto, trabalhar mais forte.

Os jogadores reclamavam dos treinamentos dele?

Às vezes eles reclamavam um pouco porque não tinham

muito o costume. Tanto os ingleses quanto os holandeses

querem as coisas do jeito que eles são acostumados a fazer,

aí chega um treinador brasileiro e é totalmente diferente.

É verdade que o grupo estava rachado?

Não é verdade, pelo menos nunca presenciei nada. Teve

uma situação que foi um mal-entendido. O Felipão sempre

dava liberdade para o Peter Cech e falava: “Dentro da área

você é o capitão, você manda”. Aí, em um jogo contra o Fu-

lham, tomamos um gol no último minuto. Depois, o Felipão

falou que dentro da área quem mandava era o Cech. Mas ele

entendeu mal, entendeu que ele, Cech, disse que foi falta de

comunicação na área porque ele não teria falado nada no

lance. Mas não foi nada disso, depois esclareceu tudo.

A demissão dele já era esperada por vocês?

Foi uma surpresa quando vi a notícia na internet. Pensei

que ele ficaria até o fim da temporada. Mas não falei com ele

depois, ele não foi nem ao centro de treinamento se despedir.

Acho que o Felipão teve muita falta de sorte. A gente estava

ganhando alguns jogos que pareciam fáceis, mas dava um

branco e tomávamos gol no fim. Ele teve muito azar.

Quais são seus planos para o futuro?

Tenho contrato até a metade de 2011. Fico aqui se continu-

ar jogando. A cidade é boa, e minha família gosta bastante,

mas tenho de pensar nessa área também. Tem Copa do Mun-

do no próximo ano; quero voltar à seleção. Vou esperar para

ver o que acontece até o fim da temporada, e dependendo

disso a gente conversa com a diretoria.

Como foi a decepção de perder a final da última

Champions League nos pênaltis?

O Terry chorou até o dia seguinte. Saímos no outro dia de

manhã, e dava para ver que o olho dele estava bem fechado

de tanto que ele chorou. Mas o grupo deu apoio, porque ele

é uma pessoa muito boa, que ajuda todo mundo. O Lampard,

por exemplo, é mais fechado. Não que seja mala, mas o John

Terry é mais aberto, mais moleque, sempre brincalhão.

Você acha que deixou o Santos na hora correta?

No Brasil, se você está em um momento bom, acho que

tem que sair mesmo. Em 2003, o Cruzeiro estava muito bem

e a gente não conseguia chegar neles. Saía na rua em Santos

e o pessoal cobrava. Às vezes, você perdia jogos em casa e

não podia nem passear com a família. Aí você acaba ficando

chateado e quer ir embora. Aqui na Europa nunca passei por

isso. Ano passado não ganhamos nada no Chelsea, mas, mes-

mo em segundo lugar no Campeonato Inglês, demos a volta

olímpica no último jogo em casa e a torcida aplaudiu.

Pede pra sair!Feliz com a titularidade no Chelsea de Guus Hiddink, Alex diz que prefere sair do

clube a ficar no banco — e fala dos motivos que provocaram a demissão de Felipão

© F O T O T I A G O L E M E

“Felipão teve

muitos problemas

com o idioma,

de comunicação.

Ele queria motivar

os jogadores nas

preleções, mas

as palavras em

inglês fugiam

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Page 61: Placar Maio 2009

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batebolaP O R F L Á V I A R I B E I R O

Por que você deixou a seleção da África do Sul an-

tes da Copa do Mundo?

Larguei porque tive de largar mesmo. Foram problemas de

ordem familiar, mas não quero falar sobre isso. Lamentei ter

deixado para trás a oportunidade de participar de minha oi-

tava Copa do Mundo. Não estou aqui para brigar por recor-

des, mas gostaria de ter ido à Copa, claro.

É verdade que você recusou uma proposta do Fla-

mengo 30% melhor que a do Fluminense?

É boato, nem chegamos a falar sobre valores. Na época do

convite do Flamengo, ainda não podia aceitar. Recebi quatro

convites, um do próprio Fluminense, e foi duro ter de rejeitá-

los. Em março, então, três meses depois desses convites, re-

cebi mais um do Fluminense. A vida estava monótona e os

problemas familiares, resolvidos. Achei que não podia mais

recusar. E claro que ajudou ser o Fluminense, um time com

o qual tenho uma identificação. E ajudou ser no Rio. Conti-

nuo morando na minha cidade, pego minha neta na escola...

Quando começou a trabalhar na Traffic, você disse

que era um primeiro passo para sair das quatro li-

nhas. Por que voltou?

Cheguei a pensar que poderia sair mesmo. Mas não disse

que sairia com todas as letras porque é difícil cortar um cor-

dão umbilical de 40 anos. Passa a estar dentro de você.

Como foi seu trabalho na Traffic?

O trabalho ia começar agora, quando o centro de treina-

mento ficou pronto. Pouco fiz nesse tempo. O que eu ia fazer

era dar cursos para treinadores, trazer jovens jogadores de

fora e observar os daqui. Conversei com o Hawilla, e ele dis-

se: “Vai lá, faz seu trabalho no Fluminense. Quando você ter-

minar, a gente conversa de novo, se você quiser”.

O que você fez para não misturar o Parreira da Traf-

fic com o técnico?

Não teria condições de ficar ligado à Traffic, me desliguei

totalmente. Se vierem críticas, serão completamente injus-

tas e infundadas. Quando cheguei aqui, não trouxe ninguém.

No futuro, posso até indicar alguém de lá ou qualquer outro

grupo econômico, mas não vou indicar porque é da Traffic.

O que mudou no Fluminense desde a sua chegada?

Acho que incuti confiança na equipe. Aumentei também

a carga de trabalho em intensidade. Agora tenho de definir o

grupo. Não é bom trabalhar com 32, 35 jogadores. O time está

começando a ter uma cara, a ganhar uma identidade.

Como administrar um time em que uns recebem em

dia e outros convivem com salários atrasados?

Nunca ninguém comentou nada comigo. Até porque, hoje,

o Fluminense está com os salários em dia.

Mas nem sempre esteve. Você já passou por isso?

Já passei por isso. É muito difícil. Trabalhei em um clube

que teve jogador devolvendo carro, até casa. E o treinador

fica sem ter o que fazer. Todo mundo pensa que jogador

é rico. Alguns ganham muito bem, sim. Mas aqui mesmo, no

Fluminense, tem jogador que ganha 800 reais.

Você prefere seleção a clube?

Nunca preferi seleção a clube. Sempre aconteceu. Aí criei

esse perfil de seleção. É mais responsabilidade, você está en-

volvido com um país. Mesmo que o clube tenha uma torcida

muito exigente, é mais fácil que dirigir a seleção brasileira.

Você dirigiu uma seleção brasileira campeã e outra

que fracassou. O que faz uma seleção vencedora?

Mesmo com os melhores jogadores do mundo, foram

24 anos entre um título e outro, sem nem chegar a uma final

de Copa. O que leva ao título? São condições especiais, a quí-

mica da vitória. Em 1994, fizemos uma Eliminatória difícil,

mas fomos campeões. Em 2006, deu tudo certo até a Copa.

Aí não deu mais, e não chegamos à final. Jogadores impor-

tantes como Ronaldo, Ronaldinho e Adriano não estavam no

melhor de sua forma — e nunca voltaram a ser os mesmos.

Você voltaria a comandar a seleção brasileira?

Para voltar à seleção, você tem de ser a bola da vez. E eu

não sou. Tem mais é que dar oportunidade a caras novas. Já

dirigi a seleção quase 130 vezes.

E se fosse a bola da vez? Descartaria um convite?

Descartaria.

Aceitaria comandar alguma outra seleção?

Não saio mais do Brasil. Dificilmente saio do Rio.

O Rio é minha praiaDe volta ao Fluminense, Parreira lamenta não poder disputar a próxima Copa — mas descarta voltar à seleção brasileira e deixar o Rio de Janeiro

© F O T O A N D R E A M A R Q U E S / F O T O N A U T A

“Nunca preferi

seleção a clube.

Mesmo que

o clube tenha

uma torcida

muito exigente,

é mais fácil que

dirigir a seleção

brasileira

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Page 62: Placar Maio 2009

Do site ofi cial de Cláudio Milar:

12 janeiro 2009 — Cláudio Milar

em boa atuação ajudou o G.E. Brasil

a vencer o primeiro amistoso ofi cial

da temporada 2009. O jogo foi contra

a seleção do Chuy (Uruguai).

16 janeiro 2009 — É com muito

pesar que nós, administradores do

Blog de Cláudio Milar, anunciamos

o falecimento do nosso eterno camisa

7 Cláudio Milar na madrugada des-

sa sexta-feira em acidente de ônibus

junto à delegação do G.E. Brasil.

Roberto Cláudio Milar Decuadra

nasceu no dia 6 de abril de 1974 no lado uruguaio da fron-

teira, em Chuy. Seu início de carreira foi no Nacional de

Montevidéu. Passou pelo argentino Godoy Cruz. Mas em

1998 veio para o Brasil jogar no Caxias. Tinha 1,78 metro

de altura e talento para marcar gols.

Depois Milar virou ídolo no Recife, tanto pelo Santa Cruz

quanto pelo Náutico. Teve também uma ligeira passagem

pelo futebol carioca no Botafogo. A carreira de Cláudio Mi-

lar tomou então um rumo bizarro. Alternou passagens entre

o Brasil de Pelotas e uma carreira internacional por times

exóticos: Club Africain, da Tunísia (2001), o LKS Ptak, da

Polônia (2002), o israelense Hapoel Far Saba (2003-2004)

e outro clube polonês, o Pogon Szczecin (2005-2006).

Mas seu coração passou esses anos de século 21 planta-

do em Pelotas. Lá estabeleceu a mulher Caroline e o fi lho

Agustín. Ganhou uma camisa comemorativa ao marcar seu

centésimo gol pelo Brasil-RS em 2008. Comemorou tanto

o gol que suas chuteiras desapareceram. Procurou-as por

um bom tempo, e foi até apelidado de Cinderela.

A torcida xavante era devotada ao atacante uruguaio. Es-

pecialmente desde a volta à primeira divisão do Gaúcho,

em 2004. Milar retribuía comemorando seus gols com uma

flechada imaginária em direção às arquibancadas.

No dia 15 de janeiro de 2009, Milar

jogou um amistoso em Vale do Sol

contra o Santa Cruz do Sul. O Pelotas

ganhou por 2 x 1. O uruguaio tinha

jurado desde o fi m de 2007 não bater

mais pênaltis (quando cobrou três

vezes no mesmo torneio na trave do

Caxias). Nessa tarde, quebrou a pro-

messa: marcou de trivela, com o pé

direito. Foi o último gol de sua vida.

Na saída do jogo, um repórter de TV

perguntou se ele já tinha recuperado

as chuteiras perdidas. Sorrindo, o bo-

nitão e sempre bronzeado Milar res-

pondeu: “Sim, consegui. O rapaz que estava com ela levou

uma pressão muito grande da torcida, acabou devolvendo

e os gols voltaram. Está bem guardadinha, é uma chuteira

histórica tanto para mim quanto para o clube, e eu às vezes

uso em ocasiões especiais”. Foi sua última entrevista.

Pouco antes da meia-noite, o ônibus do clube seguia pela

RS-471, próximo à cidade de Canguçu. Entrou numa curva

ascendente que levava à BR-392 para os últimos quilôme-

tros rumo a Pelotas. Mas o motorista perdeu o controle.

No alto da rampa, o ônibus capotou e rolou 40 metros pelo

barranco. Parou com as quatro rodas para cima.

O primeiro a sair foi o goleiro Danrlei, o ex-ídolo gre-

mista. Antes mesmo de sair, ele já tinha visto que Cláudio

Milar havia morrido instantaneamente no desastre. Logo

chegou o resgate, e mais duas vítimas fatais foram encon-

tradas no ônibus: o zagueiro Régis e o preparador de go-

leiros Giovani Guimarães.

O dia 16 foi uma sexta-feira de choque e tristeza em Pe-

lotas. Os três caixões foram levados sob aplausos de 2 000

pessoas e velados no centro do estádio Bento Freitas. Em

seguida o corpo de Cláudio Milar seguiu para ser enterrado

no outro lado da fronteira, em Chuy. Seu plano era jogar até

o centenário do clube, em 7 de setembro de 2011.

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O Brasil de Pelotas fez do uruguaio Cláudio Milar seu maior ídolo. Uma curva de uma estrada o transformou em um mito xavante

Milar: carreira interrompida em uma curva

moRTOSvivos

Flechada na alma

P O R D A G O M I R M A R Q U E Z I

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Page 63: Placar Maio 2009