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PLANEJAMENTO EMPRESARIAL E TRIBUTÁRIO TRIBUTÁRIO - AULA 20 Pedro Bonifácio - 23.03.19 Imposto de Renda e o Planejamento Tributário 1. Regras gerais do IRP RECEITA COMEÇA A RECEBER DECLARAÇÕES DO IR EM 7 DE MARÇO "No ano passado, recebemos 29,7 milhões de declarações e a estimativa da Receita é de que sejam entregues 30,5 milhões de declarações em 2019. O número de envios por meio de aplicativos para tablets e smartphones deve crescer de 300 mil em 2018 para 700 mil a 800 mil neste ano", destacou o subsecretário de gestão corporativa do Fisco, Marcelo de Melo Souza. https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2019/02/22/internas_economia,1032826/rec eita-comeca-a-receber-declaracoes-do-imposto-de-renda-em-7-de-marco.shtml MALHA FINA = DIVERGÊNCIA DE INFORMAÇÕES QUEM SE OBRIGA A DECLARAR * Decreto que aglutina todas as legislações do Imposto de Renda.

PLANEJAMENTO EMPRESARIAL E TRIBUTÁRIO · 1.2 – Se for negado o retroativo pode-se ingressar com uma ação judicial 2.1 – Se não for reconhecida a isenção, por recomendação,

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PLANEJAMENTO EMPRESARIAL E TRIBUTÁRIO

TRIBUTÁRIO - AULA 20

Pedro Bonifácio - 23.03.19 – Imposto de Renda e o Planejamento Tributário

1. Regras gerais do IRP

RECEITA COMEÇA A RECEBER DECLARAÇÕES DO IR EM 7 DE MARÇO

"No ano passado, recebemos 29,7 milhões de declarações e a estimativa da Receita é de

que sejam entregues 30,5 milhões de declarações em 2019. O número de envios por meio

de aplicativos para tablets e smartphones deve crescer de 300 mil em 2018 para 700 mil

a 800 mil neste ano", destacou o subsecretário de gestão corporativa do Fisco, Marcelo

de Melo Souza.

https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2019/02/22/internas_economia,1032826/rec

eita-comeca-a-receber-declaracoes-do-imposto-de-renda-em-7-de-marco.shtml

MALHA FINA = DIVERGÊNCIA DE INFORMAÇÕES

QUEM SE OBRIGA A DECLARAR

* Decreto que aglutina todas as legislações do Imposto de Renda.

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BASE DE CÁLCULO

É a soma de todos os rendimentos auferidos durante o ano menos as deduções,

dependentes, os rendimentos isentos, os não tributáveis, os tributáveis na fonte e os

sujeitos à tributação definitiva.

Rendimentos isentos ou não tributáveis – art. 35 do Decreto 9580/2018.

CRITÉRIO MATERIAL

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Conceito de renda e proventos: A RENDA é o acréscimo patrimonial produto do

CAPITAL ou do TRABALHO, e PROVENTOS são o acréscimo patrimonial decorrente

de uma atividade que já cessou.

Acréscimo patrimonial significa riqueza nova, de modo que corresponde ao que sobeja

de todos os investimentos e despesas efetuados para a obtenção do ingresso, o que tem

repercussão na apuração da base de cálculo do imposto.

Sendo o acréscimo patrimonial o fato gerador do Imposto de Renda, nem todo o ingresso

financeiro implicará a sua incidência. Tem-se que analisar a natureza de cada ingresso

para verificar se realmente se trata de renda ou proventos novos, que configure

efetivamente acréscimo patrimonial. As indenizações em geral, não configuram o fato

gerador do Imposto de Renda.

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SÚMULAS

Súmula 93 do STF: Não está isenta do Imposto de Renda a atividade profissional do

arquiteto.

Súmula 94 do STF: É competente a autoridade alfandegária para o desconto, na fonte, do

Imposto de Renda correspondente às comissões dos despachantes aduaneiros.

Súmula 584 do STF: Ao Imposto de Renda calculado sobre os rendimentos do ano-base,

aplicasse a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

Súmula 585 do STF: Não incide o Imposto de Renda sobre a remessa de divisas para

pagamento de serviços prestados no exterior, por empresa que não opera no Brasil.

Súmula 586 do STF: Incide Imposto de Renda sobre os juros remetidos para o exterior,

com base em contrato de mútuo.

Súmula 587 do STF: Incide Imposto de Renda sobre o pagamento de serviços técnicos

contratados no exterior e prestados no Brasil.

Súmula 125 do STJ: O pagamento de férias não gozadas por necessidade do serviço não

está sujeito à incidência do Imposto de Renda.

Súmula 136 do STJ: O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do

serviço não está sujeito ao Imposto de Renda.

Súmula 184 do STJ: A microempresa de representação comercial é isenta do Imposto de

Renda.

Súmula 215 do STJ: A indenização recebida pela adesão a programa de incentivo à

demissão voluntária não está sujeita à incidência do Imposto de Renda.

Súmula 262 do STJ: Incide o Imposto de Renda sobre o resultado das aplicações

financeiras realizadas pelas cooperativas.

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Súmula 386 do STJ: São isentas de imposto de renda as indenizações de férias

proporcionais e o respectivo adicional.

Súmula 447 do STJ: Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de

restituição de imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores.

Súmula 463 do STJ: Incide imposto de renda sobre os valores percebidos a título de

indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes de acordo

coletivo.

Súmula 498 do STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.

Súmula 556 do STJ: É indevida a incidência de imposto de renda sobre o valor da

complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada e em relação

ao resgate de contribuições recolhidas para referidas entidades patrocinadoras no período

de 1º/1/1989 a 31/12/1995, em razão da isenção concedida pelo art. 6.º, VII, b, da Lei

7.713/1988, na redação anterior à que lhe foi dada pela Lei 9.250/1995.

Súmula 39 do TFR: Não está sujeita ao Imposto de Renda a indenização recebida por

pessoa jurídica, em decorrência de desapropriação amigável ou judicial.

Súmula 76 do TFR: Em tema de Imposto de Renda, a desclassificação da escrita somente

se legitima na ausência de elementos concretos que permitam a apuração do lucro real da

empresa, não a justificando simples atraso na escrita.

Súmula 100 do TFR: O lucro obtido com a exportação de açúcar demerara, adquirido e

exportado pelo Instituto do Açúcar e do Álcool, está isento do Imposto de Renda.

Súmula 101 do TFR: As multas fiscais não são dedutíveis como despesas operacionais,

para fins do Imposto de Renda.

Súmula 130 do TFR: No cálculo do Imposto de Renda, não se inclui o ágio cambial pago

na aquisição da moeda estrangeira a ser remetida para o Exterior a título de juros devidos.

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Súmula 174 do TFR: A partir da vigência do Decreto-Lei 1.418, de 1975, o imposto de

renda incide na fonte sobre a remessa de divisas para o exterior, em pagamento de

serviços técnicos, de assistência técnica, administrativa e semelhantes, ali prestados por

empresa estrangeira, sem prejuízo das isenções previstas no Decreto-Lei 1.446, de 1976.

Súmula 182 do TFR: É ilegítimo o lançamento do Imposto de Renda arbitrado com base

apenas em extratos ou depósitos bancários

PARTICIPANTE DO SHOW DO MILHÃO RECEBERÁ INDENIZAÇÃO

SOLUÇÃO DE CONSULTA DISIT/SRRF03 Nº 3009, DE 12 DE MARÇO DE 2019

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MULTAS DE RESCISÃO DE CONTRATO DE LOCAÇÃO TRIBUTÁVEIS

INDENIZAÇÕES

- Dano moral: não incide imposto de renda - Súmula 498 do STJ

- Dano estético: não incide imposto de renda

- Dano material: pode representar pagamento de IR quando superior ao prejuízo

CRITÉRIO QUANTITATIVO

Base de cálculo: rendimento BRUTO

RENDIMENTO TRIBUTÁVEL (-) DEDUÇÕES LEGAIS

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2. Regime de tributação

DEDUÇÕES LEGAIS – COMPLETA X SIMPLIFICADA – 20%

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DEDUÇÃO DEPENDENTES

- Deduzir até R$2.275,08

- Se o gasto com o dependente ultrapassar R$28.559,70 no ano, mesmo se ele for menor

de idade, a declaração tem de ser feita, obrigatoriamente, de forma separada.

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DEDUÇÃO PENSÃO ALIMENTÍCIA

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DEDUÇÃO PREVIDÊNCIA SOCIAL

DEDUÇÃO EDUCAÇÃO

O STF tem entendido que não cabe ao Judiciário ampliar os limites à dedução com

educação, sob pena de atuar com o legislador positivo.

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DEDUÇÃO SAÚDE

A despesas médicas estas sem limite de valor.

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*Obs.:

- Quem é dependente não pode ser alimentando na mesma declaração e vice-versa

- Dependente (legal) por ser incluído mesmo que proporcionalmente

- Dependentes (pessoais) as despesas devem ser proporcionais

DECLARAÇÃO NA PRÁTICA - http://receita.economia.gov.br/

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3. Sociedade Conjugal

A – Civil

B - Estável (5 anos, salvo filho)

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C – Separação de fato

D – Homoafetiva

- Declaração por ser conjunta ou separada (recomendado em regra – cálculo)

Caso...

DECLARAÇÃO SEPARADA

DECLARAÇÃO CONJUNTA

4. Ganho de capital

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Valor de Transferência > Valor de Aquisição (IR) = GANHO DE CAPITAL

Valor de Transferência = Valor de Aquisição (IR) = NADA A PAGAR

Nova Tabela Progressiva para Ganhos de Capital – Lei 13.259/16

Situações em que mais ocorre o ganho de capital:

1) Venda.

2) Doação.

3) Transferência por separação do casal.

4) Transferência de bens por herança.

5) Dação em pagamento.

6) Permuta.

ISENÇÕES – GANHO DE CAPITAL

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- Se for alienado mais de 1 imóvel, no prazo de 180 dias, SERÁ CONTADO A PARTIR

DA DATA DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO RELATIVO A 1ª OPERAÇÃO.

- Se os valores forem RECEBIDOS A PRAZO, são considerados para fins de isenção,

apenas os valores recebidos no curso dos 180 dias, contados da celebração do contrato.

- A isenção aplica-se, inclusive: I - aos contratos de permuta de imóveis residenciais, com

torna; e II- à venda ou aquisição de imóvel residencial em construção ou na planta.

Jurisprudência ...

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- O valor pago na corretegem PODE ser reduzido do ganho de capital

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- Lucros e dividendos e o ganho da capital – ISENTOS

- Carnê leão – http://receita.economia.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-

parcelamentos/pagamento-do-imposto-de-renda-de-pessoa-fisica/carne-

leao/2019/programa-carne-leao-2019

• As pessoas físicas que percebem rendimentos de outras pessoas físicas devem

providenciar o pagamento mensal do imposto de renda através do denominado

carnê-leão.

• Por si próprias, apuram o montante devido e realizam o recolhimento mensal

respectivo, procedendo, posteriormente, ao ajuste anual até o final do mês de abril

do exercício subsequente.

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5. Requerimento de isenções

- Artigo 35 do RIR

- Se preenchia a condição pode perdi a restituição

Súmula 627 do STJ: O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do

Imposto de Renda, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos

sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade.

Súmula 612 do STJ: O certificado de entidade beneficente de assistência social (Cebas),

no prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo

seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por

lei complementar para a fruição da imunidade.

Súmula 598 do STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o

reconhecimento judicial da isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda

suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova.

- Como buscar o direito a restituição e o reconhecimento da isenção?

1 – Requerimento de isenção de imposto de renda – administrativo

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1.1 - Se for concedida a isenção pode ser pedido o dinheiro retroativo

1.2 – Se for negado o retroativo pode-se ingressar com uma ação judicial

2.1 – Se não for reconhecida a isenção, por recomendação, interpor o Mandado de

Segurança no prazo de 120 (cento e vinte e dias) para realizar o pedido judicial na vara

federal.

2.2 – Se for reconhecida judicialmente e isenção e o contribuinte não for pagar mais

nenhum imposto federal, para pedir o retroativo vai ter que ingressar com outra ação.

Agora se ela ainda pago imposto federal dever ser requerido o retroativo por compensação

- Súmula 461 do STJ.

6. Rendimentos Recebidos Acumuladamente

7. Criação de PJ para Tributação da PF – anexos

- Lei 11.196/2015 – recomenda-se uma LTDA, EIRELI evitando a sociedade simples

(confusão patrimonial).

- Decisões anteriores a Lei:

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IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA 2018

https://www.youtube.com/watch?v=zVTwlxHfxZ8

BONS ESTUDOS!!!!

MONITOR: ZOZIMAR RAMONDA

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jkér^.Vann• .7 MINISTÉRIO DA FAZENDA• ,uri.:t PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

,-94.1L•° QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Recurso n°. : 146.398Matéria : IRPF - Ex(s): 2001 a 2004Recorrente : CARLOS ROBERTO MASSARecorrida : 4° TURMA/DRJ-CURITIBA/PRSessão de : 24 de maio de 2006Acórdão n°. : 104-21.583

NULIDADE DO LANÇAMENTO POR CERCEAMENTO DO DIREITO DEDEFESA - Se o autuado revela conhecer plenamente as acusações que lheforam imputadas, rebatendo-as, uma a uma, de forma meticulosa, medianteextensa e substanciosa impugnação, abrangendo não só questão preliminarcomo também razões de mérito, descabe a proposição de cerceamento dodireito de defesa.

RENDIMENTOS DE PRESTAÇÃO INDIVIDUAL DE SERVIÇOS -APRESENTADOR/ANIMADOR DE PROGRAMAS DE RÁDIO ETELEVISÃO - SUJEITO PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA - Sãotributáveis os rendimentos do trabalho ou de prestação individual deserviços, com ou sem vínculo empregaticio, independendo a tributação dadenominação dos rendimentos, da condição jurídica da fonte e da forma depercepção das rendas, bastando, para a incidência do imposto, o benefíciodo contribuinte por qualquer forma e a qualquer título. Salvo disposições delei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidadepelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública,para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributáriascorrespondentes. Desta forma, os apresentadores e animadores deprogramas de rádio e televisão, cujos serviços são prestados de formapessoal, terão seus rendimentos tributados na pessoa física, sendoirrelevante a existência de registro de pessoa jurídica para tratar dos seusinteresses.

APLICAÇÃO DE LEI SUPERVENIENTE AO FATO GERADOR—AUSÊNCIADE CARÁTER INTERPRETATIVO — Inaplicável o art. 129 da Lei n°. 11.196,de 2005, a fatos geradores pretéritos, uma vez que dito dispositivo legal nãopossui natureza interpretativa, mas sim instituiu um novo regime detributação.

RECLASSIFICAÇÃO DE RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICAPARA RENDIMENTOS DE PESSOA FÍSICA - COMPENSAÇÃO DETRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA - Devem ser compensados naapuração de crédito tributário os valores arrecadados sob o código detributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada econvertida em rendimentos de pessoa física, base de cálculo do lançamentode oficio. a

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• K4lhiliSTÉPIO'DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

MULTA DE LANÇAMENTO DE OFICIO - CARÁTER CONFISCATÓRIO -INOCORRÊNCIA - A falta ou insuficiência de recolhimento do imposto dácausa a lançamento de ofício, para exigi-lo com acréscimos e penalidadeslegais. Desta forma, é perfeitamente válida a aplicação da penalidadeprevista no art. 44, I, da Lei n°. 9.430, de 1996, sendo inaplicável àspenalidades pecuniárias de caráter punitivo o principio de vedação aoconfisco.

Preliminar rejeitada.

Recurso parcialmente provido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto porCARLOS ROBERTO MASSA.

ACORDAM os Membros da Quarta Câmara do Primeiro Conselho deContribuintes, por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar argüida pelo Recorrente e,no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso para admitir a compensação dos tributospagos na Pessoa Jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos dePessoa Física, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.

AhrldECNktit)TTA CARDOZOPRESIDENTE

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FORMALIZADO EM: 23 JUN 2006

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros OSCAR LUIZ MENDONÇADE AGUIAR, PEDRO PAULO PEREIRA BARBOSA, HELOISA GUARITA SOUZA,GUSTAVO LIAN HADDAD e REMIS ALMEIDA ESTOL. Ausente a Conselheira MARIABEATRIZ ANDRADE DE CARVALHO.

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' • MINilStÉRIO DA FAZENDA' PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

, QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Recurso n°. 146.398Recorrente : CARLOS ROBERTO MASSA

RELATÓRIO

CARLOS ROBERTO MASSA, contribuinte inscrito no CPF/MF 205.246.929-04, com domicílio fiscal na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, a Av. Iguaçu, n°. 2.689, 5°andar, Bairro Água Verde, jurisdicionado a DRF em Curitiba - PR, inconformado com adecisão de primeira instância de fls. 419/440, prolatada pela Quarta Turma de Julgamentoda DRJ em Curitiba - PR, recorre, a este Primeiro Conselho de Contribuintes, pleiteando asua reforma, nos termos da petição de fls. 452/489.

Contra o contribuinte acima mencionado foi lavrado, em 04/10/04, Auto deInfração de Imposto de Renda Pessoa Física (fis. 3031314, com ciência, em 28/10/04,exigindo-se o recolhimento do crédito tributário no valor total de R$ 39.065.201,92 (padrãomonetário da época do lançamento do crédito tributário), a título de Imposto de RendaPessoa Física, acrescidos da multa de lançamento de ofício de 75% (art. 44, I, da Lei n.°9.430/96); e dos juros de mora, de no mínimo, de 1% ao mês ou fração, calculados sobre ovalor do imposto, relativo aos exercícios de 2001 a 2004, correspondente, respectivamente,aos anos-calendário de 2000 a 2003.

A exigência fiscal em exame teve origem em procedimentos de fiscalizaçãoonde a autoridade fiscal lançadora constatou as seguintes irregularidades:

1 - OMISSÃO DE RENDIMENTOS DO TRABALHO COM VINCULOEMPREGATICIO RECEBIDO DE PESSOA JURÍDICA: Omissão de rendimentos recebidosde pessoa jurídica, decorrente de trabalho com vinculo empregatício junto à TV SBT Canal 4de São Paulo, conforme o descrito no Termo de Verificação Fiscal que é parte integrante e

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• MINISIIÉRIO IDA FAZENDA' PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES, QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

inseparável deste Auto de Infração. Infração capitulada nos 1° ao 3° e §§, da Lei n° 7.713,de 1988; artigos 1° ao 3°, da Lei n.° 8.134, de 1990; artigo 1° da Lei n° 9.887, de 1999 eartigo 1° da Lei n°10.451, de 2002.

2 - OMISSÃO DE RENDIMENTOS DO TRABALHO SEM VÍNCULOEMPREGATÍCIO RECEBIDOS DE PESSOAS JURÍDICAS: Omissão de rendimentosrecebidos de pessoas jurídicas, decorrente do trabalho sem vinculo empregaticio, conformeo descrito no Termo de Verificação Fiscal que é parte integrante desta Auto de Infração.Infração capitulada nos 1° ao 3° e §§, da Lei n° 7.713, de 1988; artigos 1° ao 3°, da Lei n.°

8.134, de 1990; artigo 1° da Lei n.° 9.887, de 1999 e artigo 1° da Lei n°10.451, de 2002.

A Auditora-Fiscal da Receita Federal, responsável pela constituição docrédito tributário, esclarece ainda, através do Termo de Verificação Fiscal de fls. 285/291,entre outros, os seguintes aspectos:

- que o contribuinte trabalha como apresentador de programa televisivo deprojeção nacional junto à TV SBT - Canal 4 de São Paulo, conforme contrato de fls. 62/71,atuando também em campanhas publicitárias, através de aparições pessoais, em comerciaisde Televisão e anúncios veiculados através da imprensa, conforme contratos de fls. 72/81 enotas fiscais da empresa Massa & Massa;

- que verificando suas declarações de imposto de renda pessoa física (fls.05/32) constata-se que não são declarados rendimentos provenientes de atuações emcampanhas publicitárias, bem como do trabalho como apresentador de televisão, mas simpró-labore e lucros distribuídos pelas empresas das quais é sócio, particularmente aempresa Massa & Massa Ltda., CNPJ 81.262.364/0001-27, da qual é sócio com a esposa,possuindo 51% das quotas e ela 49% (fls. 46/61);

/-1-7

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• ' lv4l4 iNiSTER.10 DA FAZENDA' PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

- que o trabalho como apresentador está ajustado no contrato de fls. 62/71,celebrado entre a empresa Massa & Massa e a TV SBT - Canal 4 de São Paulo. Oscontratos entre a empresa Massa &e Massa e a emissora de televisão têm por objeto aprestação de serviços em programas televisivos pela primeira, consistindo esses serviços naautuação do contribuinte como apresentador/entrevistador desses programas;

- que o que chama atenção nestes contratos é a clareza ao determinar quea prestação do serviço (leia-se apresentação dos programas) seja realizada somente pelocontribuinte e a obrigá-lo pessoalmente por isso. Os contratos são tão contundentes aoapontar individualmente a pessoa do contribuinte como apresentador dos programas, eninguém mais, que descem a minúcias de especificar como serão realizados os programasquando o contribuinte gozar férias. Assume, também, a empresa do contribuinte, ocompromisso de não deixar que este (pessoa física) exerça qualquer atividade, ainda quediferente dos serviços ali contratados, em e para quaisquer emissoras de televisãolocalizadas no território nacional ou no exterior, garantindo a exclusividade de seus serviçosem televisão às emissoras contratantes;

- que toda a produção dos programas fica a cargo da emissora de televisão,que disponibiliza pessoal para integrar a equipe do programa e fica responsável pela infra-estrutura técnica e operacional. A empresa do contribuinte fica obrigada apenas a que este,pessoalmente, atue como apresentador dos programas;

- que se observa que esses contratos têm caráter eminentemente pessoal,sendo personalíssima à prestação dos serviços. Senão vejamos: nos contratos de prestaçãode serviços entre pessoas jurídicas em geral é necessário e suficiente que seusrepresentantes legais (sócios-gerentes, prepostos, procuradores, etc.) contratem em nomedessas. Diferentemente do caso em pauta, onde o contribuinte, além de contratar comorepresentante da empresa Massa & e Massa, garante pessoalmente o cumprimento do quefoi avençado, como interveniente-anuente;

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- que essa é uma garantia para a emissora de televisão, diante daimpossibilidade da empresa Massa & Massa obrigar o profissional Carlos Roberto Massa àprestação das obrigações ali estabelecidas, caso esse não o deseje. Da mesma forma, écautela necessária quando se vislumbra a possibilidade da venda das quotas do sócio-apresentador e de sua esposa a terceiros, estranhos à sociedade conjugal: que poderesteria a empresa, juntamente com seus novos sócios, para fazer cumprir esses contratos? Equem responderia pela multa compensatória de R$ 136.922.969,90 junto à TV SBT - Canal4 de São Paulo, se a sociedade por quotas de responsabilidade limitada tem um capitalsocial de R$ 20.000,00 ? Não é por outra razão que os sócios Carlos Roberto Massa eSolange Martinez Massa assinam também o contrato na qualidade de fiadores e principaispagadores;

- que justamente para prevenir-se das distorções que ocorrem ao contrataros serviços da pessoa jurídica, quando o que ocorre na realidade é a contratação dosserviços individuais da pessoa física, é que a emissora de televisão acautela-se e contratatanto com a empresa Massa & Massa, denominada contratada, quanto à pessoa física doapresentador, denominado interveniente-anuente. Observa-se nesses contratos a claraintenção em contratar os serviços pessoais e individuais do profissional/apresentador CarlosRoberto Massa, em arte "Ratinho". Para tanto, utilizou-se artificiosamente contratos deprestação de serviços entre pessoas jurídicas quando o que de fato ocorre é a contrataçãode uma pessoa física. No caso, o profissional e dono da empresa está vendendo única etão-somente seus serviços profissionais, de caráter personalíssimo;

- que a cláusula 8° do contrato com a TVSBT - Canal 4 de São Paulo S/Atrata da remuneração dos serviços contratados, ou seja, da remuneração pelos serviços deapresentação dos programas televisivos;

- que reforçando o caráter pessoal do trabalho, verifica-se que quando aempresa Massa & Massa negocia a divulgação de produtos através da utilização dessasquotas de merchandising (contratos de fls. 82/280) novamente é reforçado o caráter pessoal

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dos serviços. No caso, os contratos prevêem sempre a participação pessoal doapresentador Carlos Roberto Massa, em arte Ratinho, no anúncio dos produtos;

- que, assim, tendo em vista o caráter rennuneratório da atividade doapresentador junto à TV SBT - Canal 4 de São Paulo S/A, essas quotas de merchandisingse caracterizam como rendimentos da pessoa física;

- que o contribuinte também trabalha em campanhas publicitárias, medianteatuações em comerciais de TV, anúncios na imprensa e divulgação de sua voz e imagem,vinculados ao produto anunciado. Foram solicitados à empresa todos os contratos comvigência no período fiscalizado, sendo que essa apresentou o de fls. 71/81, informando nãohaver outros contratos;

- que se verificou, então, que para concretizar essas aparições emcampanhas publicitárias à empresa Massa & Massa, de propriedade do contribuinte e suaesposa, formaliza contratos de divulgação publicitária e termo de licença de uso de imagemdo profissional Carlos Roberto Massa, em arte Ratinho (fls. 72/81), sendo que também sãorealizadas divulgações e campanhas publicitárias sem contrato, conforme se depreende daanálise das notas fiscais e da resposta à intimação (fl. 42);

- que nos caso em que não existe contrato,verifica-se através das notasfiscais da empresa que se trata de atuações pessoais do profissional Carlos Roberto Massaem diversas campanhas, como com: Pref. Mun. De São José dos Pinhais, BF UtilidadesDomésticas Ltda., Consórcio Nacional Panamericano SC Ltda. e Liderança CapitalizaçãoS/A;

- que no contrato de fls. 72/81 verifica-se que o objeto é a "... licença parauso de imagem (fotos, voz e imagem) do apresentador Carlos Roberto Massa, em arteRatinho". Ali é muito clara a natureza personalíssima do serviço:" ... os LICENCIADORES

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•• M. • .

INISTÉRIO1DA FAZENDA

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disponibilizam a presença pessoal do apresentador Carlos Roberto Massa no total máximode 04 horas a cada três semanas ...";

- que reforçando o caráter pessoal e intransferível da prestação do serviço, acláusula quinta do mesmo contrato dispõe: " A LICENCIADA obriga-se a zelar pelo bomnome e imagem do apresentador Carlos Roberto Massa, em arte Ratinho ...". Já a cláusula13 estipula a não extinção do contrato em caso de falecimento, retirada ou interdição dosintegrantes das empresas contratantes. Entretanto, seu parágrafo único excetua o sócioCarlos Roberto Massa, em arte Ratinho, em virtude das obrigações personalíssimas domesmo em relação a este contrato ...". É mister assim dispor, já que o contrato realmentecontrata o artista que atuará na campanha publicitária; se esse vier a retirar-se da sociedadeou falecer não haverá mais interesse por parte da contratante;

- que não restam dúvidas que também nos casos de campanhaspublicitárias o que ocorre é a contratação dos serviços e direito do uso da imagem dapessoa física, utilizando-se artificiosamente de contratos de prestação de serviços entrepessoas jurídicas. No caso, o profissional, e dono da empresa está vendendo única e tão-somente os seus serviços profissionais, de caráter personalíssimo;

- que considerando que a legislação tributária define expressamente a formade tributação para os rendimentos obtidos por profissionais no exercício individual de suafunção, não pode remanescer dúvida que os rendimentos obtidos pelo contribuinte ao atuarem comerciais e campanhas publicitárias, exercer a atividade de apresentador e animadorde programas televisivos e realizar merchandising no decorrer de seus programas devemser tributados na declaração de pessoa física;

- que se utilizou o regime de caixa, computando-se os valores efetivamenterecebidos em cada mês, conforme escriturados nos Livros Razão da empresa Massa &Massa. Não foram computadas as notas fiscais que não se referem a serviços pessoais do

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apresentador, como as relativas a receitas de royalties e as relativas à utilização de voz eimagem dos artistas Tunico e Xaropinho e dos artistas Caroço e Azeitona.

Em sua peça impugnatória de fls. 318/350, apresentada, tempestivamente,em 29/11/04, o suplicante, após historiar os fatos registrados no Auto de Infração, seindispõe contra a exigência fiscal, com base, em síntese, nas seguintes argumentações:

- que a fiscalização presumiu a existência de contrato de trabalho na pessoafísica do contribuinte, dado ao fato de atuar no contrato de prestação de serviços daempresa Massa & Massa Ltda com referida emissora na condição de interveniente-anuente,obrigando-se pessoalmente ao cumprimento da prestação de serviços;

- que afirmou que da análise das notas fiscais emitidas, da escrituração edos contratos da empresa Massa & Massa Ltda., infere-se que seu faturamento decorreexclusivamente do trabalho pessoal do apresentador, em programas de televisão, naschamadas publicitárias (merchandising) e nos comerciais que realiza;

- que acabou por utilizar a teoria da desconsideração da personalidadejurídica, quando afirma que:Infere-se, portanto, que o que realmente ocorre é a exploraçãoindividual da atividade profissional de apresentador e artista, sob a capa de empresaprestadora de serviços.";

- que conclui, mas uma vez desconsiderando a personalidade jurídica daempresa Massa & Massa para tributar a pessoa física do apresentador, e dando ares deilicitude para possíveis atos de elisão fiscal, que o profissional faz uso de sua empresa paratributar rendimentos próprios de sua pessoa física, com o fim de enquadrá-los em umatributação menos onerosa;

- que uma vez municiada de alguns documentos pertencentes à empresaMassa & Massa Ltda., adquiridos em procedimento de fiscalização realizado através de

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outro Mandado de Procedimento Fiscal, sequer ofereceu a oportunidade ao contribuinte dese pronunciar sobre os mesmos, prestando eventuais esclarecimentos;

- que de qualquer forma, apesar de entender ter ocorrido flagrante violaçãoao seu direito de ampla defesa e contraditório, o qual deve ser respeitado inclusive noâmbito do processo administrativo fiscal, passa o contribuinte a esclarecer alguns equívocosperpetrados pela i. Auditora, em especial por desconhecimento de fatos que facilmentepoderia ter conhecido caso questionasse ao contribuinte diretamente;

- que conforme "contrato de parceria comercial, licenciamento de uso deimagem e outras avencas firmado entre Massa & Massa Ltda e Carlos Roberto Massa,entabulou-se a relação jurídica a ser travada entre o contribuinte e a pessoa jurídica emquestão, no desenvolvimento e exploração econômica do personagem e marca "Ratinho";

- que pelo que se depreende das argumentações tecidas pela Fiscalização,a mesma opera gigantesco equívoco ao entender que dentro das relações contratuaisentabuladas pela empresa Massa & Massa Ltda., junto a outras empresas, na consecuçãode contratos de merchandising, propaganda, licenciamento de produtos, apresentação deprogramas, etc, existia única e exclusivamente um trabalho de prestação de serviços porparte do contribuinte Carlos Roberto Massa;

- que dentro da relação contratual existente e estabelecida entre Massa &Massa Ltda. e o contribuinte existem diversos aspectos absolutamente negligenciados pelaFiscalização, em especial aqueles que se referem aos direitos de imagem, direitos de voz,direitos de marca, gestão de negócios, consultoria em contratos, incorporação depersonagem, dentre outros;

- que alguns aspectos até são observados pela Auditora, tais como osdireitos de uso de voz e imagem, contudo, a mesma sequer procurou tentar saber ou

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entender qual seria a relação jurídica relativa à exploração comercial de tais direitos, bemcomo a quem pertenciam os direitos de exploração;

- que a relação jurídica contratual existente entre Carlos Roberto Massa eMassa & Massa Ltda. é absolutamente clara e gira em torno de uma parceria comercial paraa exploração e desenvolvimento do personagem e da marca "Ratinho", os quais não são detitularidade do contribuinte, mas sim da empresa Massa & Massa;

- que a Auditora infelizmente acabou incorrendo na mesma simplicidadecom que a pessoa comum do povo olha para os fatos que o circundam, operando confusãoevidente entre a pessoa física de Carlos Roberto Massa e as marcas relativas ao nome e aopersonagem "Ratinho";

- que destarte, naturalmente verifica-se o fato de que a Auditora confundetotalmente os conceitos jurídicos envolvidos na presente relação, unificando-osequivocadamente na idéia de prestação de serviços, e o que é pior, em alguns casos, denatureza empregaticia, como o fez no que se refere ao contrato entre Massa & Massa Ltda.e TVSBT;

- que os contratos firmados pela empresa Massa & Massa Ltda. frente aoutras empresas, na consecução dos objetivos da parceria, foram objeto de análise eapuração por esta Administração Fiscal, tendo sido, ao final, considerado que toda aatividade dessa pessoa jurídica consiste única e exclusivamente na prestação de serviçosdo contribuinte;

- que o desenvolvimento e exploração do objeto da parceria comercial, agestão dos negócios, a valorização e proteção das marcas, a cessão das marcas, aconsultoria nos contratos firmados, a busca e negociação de novos clientes e todas asdemais atividades de suporte inerentes às obrigações da Massa & Massa Ltda foram

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completamente olvidadas pela Fiscalização, fazendo crer que o único bem com apreciaçãoeconômica na parceria seria a prestação de serviços;

- que a empresa detém estrutura organizacional para consecução de seustrabalhos e cumprimento de seus deveres contratuais para com terceiros, sendo que o fatonão só é reconhecido, como comprovado pela própria Auditora-Fiscal, a qual, em seudemonstrativo constante dos autos, confirmou o fato de que essa pessoa jurídica tevegastos médios, aproximados, de R$ 1.000.000,00 por ano, para seu funcionamento, edespesas de meio milhão, em média, nos últimos anos, com pessoal e funcionários;

- que se tem por evidente o equívoco perpetrado pela Administração Fiscal,posto que em momento algum os rendimentos tributados no presente Auto de Infraçãoreferiam-se ao desenvolvimento de atividade exclusiva de prestação de serviços por partedo contribuinte, mas de desenvolvimento de contrato de parceria comercial envolvendo osmais diversos elementos jurídicos e econômicos;

- que não paira qualquer sombra de dúvida de que a própria fiscalizaçãoreconhece que a disponibilidade econômica e jurídica da renda submetida à tributaçãosempre foi da pessoa jurídica Massa & Martinez Ltda., posteriormente Massa & Massa Ltda.;

- que não havendo disponibilidade econômica ou jurídica de renda ouproventos, por parte do Sr. Carlos Roberto Massa, relativamente aos valores elencados pelafiscalização, não há como ter-se por ocorrido o fato gerador do tributo, sendo, comoasseverado anteriormente, totalmente inconstitucional e ilegal a lavratura do auto de infraçãonesses termos;

- que do conjunto de argumentos expendidos no auto de infração lavradodenota-se com clareza a intenção da Administração Pública em questionar o modo pelo quala empresa Massa & Massa Ltda. e o particular Carlos Roberto Massa conduzem suas vidas

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e seus negócios, chegando ao cúmulo de asseverar que o formado jurídico dos contratosfirmados pela empresa retro elencada deveriam ser de outra forma;

- que a desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributáriadeverá vir acompanhada de expressa autorização legal para efeitos de sua aplicação porparte do Poder Judiciário, sendo que no âmbito da esfera administrativa a mesma sequerpoderia vir a ser realizada;

- que por todos os argumentos anteriormente apresentados, resta evidente ofato de que as hipóteses de utilização da doutrina da desconsideração da personalidadejurídica somente é autorizada em situações extremamente restritas;

- que no campo do Direito Tributário, sequer seria possível a sua invocação,todavia, ainda que se entendesse pela possibilidade, seguindo os primados da estritalegalidade e tipicidade, somente nos casos em que o legislador expressamente oautorizasse e apenas, por ato do Poder Judiciário;

- que sob este prisma, mesmos vencidas todas as barreiras levantadas comsolidez nos itens anteriores, restaria impossibilitado o chancelamento da proposta delançamento efetivada pela Auditora, visto que não é possível, dentro da esfera do direitotributário, mormente em sede administrativa, outorgar titularidade e responsabilidade àpessoa física de um sócio, por atos jurídicos praticados pela pessoa jurídica;

- que apenas com o expediente de última cautela, caso efetivamente aautoridade fiscal realmente entenda que subsiste o lançamento realizado pela Auditora, notodo ou em parte, necessariamente deverá ser realizado o abatimento do imposto pago pelaempresa Massa & Massa Ltda.;

- que a multa aplicada à impugnante, como se depreende da própriaNotificação, foi equivalente a 75% do valor do imposto supostamente devido. Através de tal

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imposição realizasse ofensa direta ao princípio constitucional do não-confisco, consagradoimplicitamente pela Constituição, em seu artigo 5°, XXII.

Após resumir os fatos constantes da autuação e as principais razõesapresentadas pelo impugnante, a autoridade julgadora de Primeira Instância conclui pelaprocedência da ação fiscal e pela manutenção integral do crédito tributário lançado,baseado, em síntese, nas seguintes considerações:

- que cabe observar, inicialmente, que o procedimento fiscal teve origem naanálise dos Contratos de Prestação de Serviços e de Parceria Empresarial apresentadospela empresa Massa & Massa Ltda., da qual o contribuinte é sócio, onde foi constatado ocaráter eminentemente pessoal na prestação de serviços e que motivou o lançamento dosrendimentos decorrentes dos serviços realizados individual e pessoalmente pelo contribuintena declaração de sua pessoa física;

- que as intimações para apresentar os Contratos de Prestação de Serviçosde Parcerias, além do Contrato Social, Alterações Contratuais e documentos fiscais foramemitidas em nome da empresa Massa & Massa Ltda., uma vez que figurava comocontratada nos referidos contratos, tendo sido o contribuinte cientificado do início da açãofiscal (fl. 03), em 30/08/04, nos termos do Mandado de Procedimento Fiscal emitido peloDelegado da Receita Federal em Curitiba (fl. 01), e dada ciência do Termo de VerificaçãoFiscal e respectivo Auto de Infração, em 28/10/04 (fl. 315);

- que em conseqüência, a situação alegada pelo interessado, reportando-seao fato de não lhe haver dado a oportunidade de se pronunciar durante o procedimentofiscal, não é pertinente, pois, de acordo com o art. 14 do Decreto n°+ 70.235, de 1972, coma redação dada pela Lei n° 8.748, de 1993, que regula o Processo Administrativo Fiscal, afase litigiosa do procedimento somente se instaura com a impugnação do contribuinte ao atoadministrativo do lançamento, atendendo, assim, ao que dispõe o art. 5° d, inciso LV, daConstituição Federal, de 1988, que assegura aos litigantes, em processo judicial ou

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administrativo, e aos acusados em geral, o prelecionado contraditório e ampla defesa, comos meios e recursos a ela inerentes. É nesse sentido que o art. 59, II, do PAF somenteadmite a caracterização de cerceamento do direito de defesa como causa de nulidadequando se tratar de decisões e despachos e não contra atos administrativos. Portanto, nãohá que se falar em cerceamento ao direito de defesa na fase investigatória do processo;

- que observa-se que a legislação tributária define expressamente a formade tributação para os rendimentos obtidos por profissionais no exercício de sua função,devendo tais verbas ser oferecidas à tributação na declaração de rendimentos de ajusteanual da pessoa física. A partir desse contexto, independentemente do nome pelo qual sequeira atribuir a origem dos rendimentos: direitos de imagem, direitos de voz, direitos demarcas, gestão de negócios, consultorias em contratos, incorporação de personagem ouqualquer outro, para fins de determinar a natureza dos rendimentos e conseqüentemente aforra de tributação, deve ser verificada a necessidade ou mesmo a obrigatoriedade de osserviços serem executados de forma pessoal pelo profissional, caracterizando, assim, oexercício de sua função;

- que às fls. 62/71, consta cópia do "Instrumento Particular de Contrato dePrestação de Serviços para Realização de Programas de Televisão e Outras Avenças",firmado em 20/12/00, entre TVSBT Canal 4 de São Paulo (Contratante), Massa e MartinezLtda. (Contratada) e Carlos Roberto Massa (Interveniente-Anuente), que tem por objeto aprestação de serviços em programas televisivos pela atuação do contribuinte comoapresentador;

- que pelas cláusulas, não pairam dúvidas que os serviços a seremprestados referem-se à realização de programas de televisão produzidos pela TV SBT -Canal 4 de São Paulo S/A e que serão prestados pessoalmente pela pessoa física de CarlosRoberto Massa, sendo correto afirmar que os valores pagos pela TV SBT à empresa Massa& Martinez. (Massa & Massa Ltda.), relacionado ao contrato, correspondem ao trabalhopessoal do contribuinte;

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- que há de se notar, embora o contrato tenha sido firmado com a pessoajurídica Massa & Martinez Ltda., existe a previsão de exclusividade em relação aos serviçosprestados pelo Interveniente-anuente, Sr. Carlos Roberto Massa, conforme estabelecido nacláusula 4° e seus parágrafos;

- que constata-se, assim, o trabalho ou prestação de serviço de caráterpessoal, não se podendo negar que os valores percebidos relativamente à prestaçãopessoal de tais serviços e relativos ao contrato em análise correspondem a rendimentosobtidos por profissional no exercício de sua função. Restou patente, pelas próprias cláusulascontratuais, a obrigatoriedade de que os serviços sejam executados de forma pessoal peloprofissional Carlos Roberto Massa. Não há espaço para que a contratada Massa & Massacumpra a obrigação firmada no instrumento sem a presença pessoal do contribuinte. Não hácomo substituí-lo, pois a essência do contrato +e que a execução dos serviços sejarealizada somente pelo interveniente-anuente;

- que deve-se salientar que o fato de a fiscalização ter intitulado como"Rendimentos do Trabalho com Vínculo Empregando" os valores recebidos da TV SBTCanal 4 de São Paulo não significa que o Fisco teve a intenção de declarar a existência ounão de relação jurídica de emprego, nos termos da CLT, já que, como aventado pelointeressado, essa não é a sua área de competência, mas apenas separou os rendimentospor suas características em dois grupos de acordo com a origem dos rendimentos: da TVSBT, por se tratar de contrato com periodicidade praticamente diária (06 programas porsemana) e com prazo de duração mais longo; e demais contratos com outras empresas,pelo qual o tempo de interviniência pessoal do apresentador é menor. No entanto, em quepese às considerações do impugnante, como já visto, a teor do § 40 do art. 3 da Lei n°7.713, de 1988, a denominação dada aos rendimentos é absolutamente irrelevante paraefeitos de tributação;

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- que considerando que a legislação tributária, expressamente, define aforma de tributação para os rendimentos obtidos por profissionais no exercício individual desua função, não pode remanescer dúvida de que os rendimentos obtidos pelo contribuinteno exercício da atividade de apresentador devam ser tributados na declaração da pessoafísica, sendo, por conseguinte, irrelevantes o registro no cadastro de pessoa jurídica, aexistência de estabelecimento no qual desenvolva suas atividades e que empregueauxiliares, sem qualificação profissional equivalente, para colaborar na execução dostrabalhos;

- que da mesma forma, não pode prevalecer o conceito de que seriamtributados como da pessoa jurídica todos os rendimentos que o contribuinte classificassecomo tal, bastando para isso à existência de uma sociedade que emita notas fiscais dessesrendimentos. Os rendimentos devem ser submetidos às normas de tributação relativas aoImposto de Renda Pessoa Física, independendo a tributação da denominação dosrendimentos, da condição jurídica da fonte e da forma de percepção das rendas;

- que além dos rendimentos provenientes do contrato firmado com a TVSBT, o contribuinte também realiza campanhas publicitárias a outras empresas, medianteatuações em comerciais de TV, anúncios na imprensa e divulgação de sua voz e imagem,que foram considerados como rendimentos sem vinculo empregaticio, por ficarcaracterizada a natureza personalíssima dos serviços prestados;

- que em todos os contratos, as cláusulas relativas à remuneraçãodirecionam o pagamento à empresa Massa & Massa Ltda., pela cessão dos direitos deimagem do apresentador Carlos Roberto Massa;

- que tanto em relação ao Instrumento firmado com a TV SBT quanto aoscontratos firmados com as demais empresas, as respostas a essas indagações estariamcontidas no Contrato de Parceria Comercial, Licenciamento de Uso de Imagem e OutrasAvencas, trazido aos autos às fls. 406/411. Primeiramente, há de se notar que o referido

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Contrato não contém assinaturas de duas testemunhas e não consta como transcrito noRegistro Público, na forma estabelecida pelo art. 135 da Lei n°3.071, de 1916- Código Civil;

- que de qualquer maneira, seria apenas pelo retorno financeiro que estãodimensionadas em 2% dos valores auferidos no desenvolvimento das parcerias comerciais ede 3% pelo licenciamento e utilização do uso dos direitos de imagem e voz? Ao que parece,o Contrato de Parceria Comercial, Licenciamento de Uso de Imagem e Outras Avenças sófoi possível por ser contratante e o contratado a mesma pessoa, ou seja, o próprioapresentador Carlos Roberto Massa;

- que qual a necessidade de se seguir "as riscas" o referido contrato?Caberia uma discussão judicial dele contra ele próprio, por descumprimento de algumacláusula contratual? Obviamente, não, já que os rendimentos decorrentes da prestaçãopessoal dos serviços pelo contribuinte ingressaram ao seu patrimônio, ainda que de formaàs avessas, sob o manto de lucros distribuídos pela empresa Massa & Massa. De fato, naforma pela qual foram dimensionados e distribuídos os rendimentos, em nenhum momentoos serviços do apresentador e artista foram remunerados nem pela emissora de televisão àqual detém exclusividade, nem pelas demais empresas contratantes de seus serviços, ousequer pela empresa da qual é sócio;

- que é evidente que o Contrato de Parceria Comercial, Licenciamento deUso de Imagem e Outras Avenças, que, repita-se, "contratado" entre a mesma pessoa: deum lado o apresentador como contratado e de outro o próprio apresentador, mas na figurade sócio majoritário da empresa Massa & Massa Ltda., não é possível num mundo real. Éimpensável que uma pessoa com extraordinária facilidade de comunicação com a massapopular e de grande destaque na mídia nacional possa abrir mão de toda a suaremuneração a uma terceira pessoa. Fica claro que o preço ajustado não passa de meraficção, tratando-se de um negócio que só não é "de pai para filho" porque os contratantessão uma só pessoa. Não se pode imaginar outra verdade se não o intuito de carrear, ainda

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• . OINISHtÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.00821512004-78Acórdão n°. : 104-21.583

que ao arrepio da legislação, os rendimentos próprios da pessoa física para a pessoajurídica e ali ser tributada de forma menos onerosa;

- que vale a pena reprisar, que a discussão versa sobre a tributação derendimentos recebidos pela prestação de serviços individual do contribuinte e nãosimplesmente o uso da marca "Ratinho", como argüido. Ê fácil visualizar que, nos casos daprestação de serviços, não há mínima possibilidade de outra pessoa substituir oapresentador Carlos Roberto Massa, ainda que com o cognome de "Ratinho". Tal tese,apenas teria fundamento nos casos de utilização especifica do nome "Ratinho" nacomercialização ou mesmo em nome de produtos, como, aliás, é comumente exploradopelas indústrias de brinquedos, para a confecção de jogos infantis/juvenis ligados apersonagens que tenham destaque na mídia. Aliás, outro não foi o objeto do Contrato deLicença de Direitos Autorais e Direitos Conexos com a Manufatura de Brinquedos estrelaS/A (fls. 281/284), onde foi cedido o direito para fabricação do brinquedo "Ratinho", queconsiste na figura de um boneco do artista Carlos Roberto Massa. Entretanto,acertadamente a remuneração correspondente a esse Contrato não foi objeto do Auto deInfração. Essa +e a distinção que deve ser feita entre os rendimentos decorrentes deserviços executados por uma pessoa física e as receitas auferidas pela utilização de umamarca. Obviamente, é nesse contexto que se enquadram, no dizer do impugnante, osrendimentos astronômicos aos detentores dos direitos de exploração econômica de marcasfamosas como "yahoo", "coca-cola", "Windows", dentre outras. Nesses casos, não importase o detentor da marca é fulano ou beltrano, se pertence à empresa X ou à empresa Y;

- que é certo, portanto, que os rendimentos do trabalho pessoal ou deprestação individual de serviços auferidos por profissionais das telecomunicações nãooferecidos à tributação nas declarações de ajuste anual provoca o enquadramento e oembasamento legal descrito pela autoridade fiscal, sendo certo que os rendimentos obtidospelo contribuinte ao atuar em comerciais, exercer a atividade de apresentador e animador deprogramas televisivos e realizar merchandising devem ser tributados na declaração depessoa física;

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- que a respeito da citada doutrina "Disregar Doctrine", constata-se peloselementos que compõem os autos, e que já foi amplamente discorrido, que a fiscalizaçãonão dotou procedimentos no sentido de efetivar a desconsideração jurídica da empresaMassa & Massa Ltda. em sede administrativa, mesmo porque, como também já mencionadoa tributação em causa, co supedâneo no enquadramento legal consignado no auto deinfração, mormente o preceituado no § 4° do art. 3° da lei n° 7.713, de 1988, e em face dodisposto nos arts. 4°, 118 e 123 do CTN, independia de tal providência, bem como dadescaracterização da escrita fiscal da pessoa jurídica citada, já que a empresa não foi objetode fiscalização. Portanto, não há que se falar em desconsideração jurídica da empresaMassa & Massa Ltda.;

- que no que se refere à multa de ofício do art. 44, I, da Lei n° 9.430, de1996 é de se dizer que o percentual aplicado está de acordo com a legislação de regência,sendo incabível a alegação de inconstitucionalidade baseada na noção de confisco, por nãose aplicar o disposto constitucional à espécie dos autos;

- que por fim, quanto à solicitação de compensação com o imposto pagopela empresa Massa & Massa Ltda., vale salientar que, em se tratando de pagamentoindevido ou maior que o devido do imposto, a Delegacia da receita Federal que jurisdicionao domicílio do contribuinte tem a competência legal para apreciação, em primeira instância,de eventual pedido de restituição e/ou compensação de tributos:

A decisão de Primeira Instância está consubstanciada nas seguintesementas:

"Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF

Ano-calendário: 2000, 2001, 2002, 2003

Ementa: NULIDADE CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA.

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A falta de intimação ou solicitação de esclarecimentos antes de concretizadoo lançamento, com a lavratura do Auto de Infração, não caracterizacerceamento ao direito de defesa do contribuinte.

TRIBUÇÃO DE RENDIMENTOS. ATIVIDADE DE APRESENTADOR EMPROGRAMAS DE TELEVISÃO.

Os rendimentos obtidos pelo contribuinte na atividade de apresentador deprogramas televisivos e em campanhas publicitárias devem ser tributadosna declaração da pessoa física, independendo a tributação da denominaçãodos rendimentos, da condição jurídica da fonte e da forma de percepção dasrendas, bastando, para a incidência do imposto, o beneficio do contribuintepor qualquer forma e a qualquer título.

MULTA DE OFICIO

A multa de 75% é devida no lançamento de ofício, em face da infração àsregras instituídas pelo Direito Fiscal.

Lançamento Procedente."

Cientificado da decisão de primeira instância, em 10/05/05, conforme Termoconstante às fls. 441/444, o recorrente interpôs, tempestivamente, em 05/06/05, o recursovoluntário de fls. 452/489, instruído pelos documentos de fls. 490/493, onde manifesta o seuinconformismo, baseado, em síntese, nas mesmas razões expendidas na fase impugnatória.

Consta nos autos às fls. 490/493 a Relação de Bens e Direito ParaArrolamento, objetivando o seguimento do recurso administrativo, sem exigência do préviodepósito de 30% a que alude o art. 10, da Lei n.° 9.639, 1998, que alterou o art. 126, da Lein°8.213, de 1991, com a redação dada pela Lei n°9.528, de 1997.

É o Relatório.

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• .15À1NiBfÉRIODA FAZENDA. PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

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VOTO

Conselheiro NELSON MALLMANN, Relator

O presente recurso voluntário reúne os pressupostos de admissibilidadeprevistos na legislação que rege o processo administrativo fiscal e deve, portanto, serconhecido por esta Câmara.

A matéria em discussão no presente litígio, como se pode verificar no Autode Infração e Termo de Verificação Fiscal, refere-se à omissão de rendimentos recebidos depessoas jurídicas, decorrentes de trabalho com e sem vinculo empregatício, cuja origemprovém da análise dos Contratos de Prestação de Serviços e de Parceria Empresarialapresentados pela empresa Massa & Massa Ltda., da qual o contribuinte é sócio, onde foiconstatado o caráter eminentemente pessoal na prestação de serviços e que motivou olançamento dos rendimentos decorrentes dos serviços realizados individual e pessoalmentepelo contribuinte na declaração de sua pessoa física.

Esclareça-se que o lançamento consta como fundamentação legal, além dasnormas relativas aos acréscimos legais (juros e atualização monetárias), os seguintesdispositivos: artigos 1° ao 3° e §§, da Lei n° 7.713, de 1988; artigos 1° ao 3°, da Lei n°.

8.134, de 1990; artigo 1° da Lei n°9.887, de 1999 e artigo 1° da Lei n° 10.451, de 2002.

Inicialmente o recorrente alega nulidade do procedimento fiscal porcerceamento do direito de defesa sob o entendimento de que a fiscalização requereudocumentação da pessoa jurídica do qual é sócio sem ter tido a oportunidade para semanifestar sobre os mesmos.

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Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Da análise dos autos, observa-se que as intimações para apresentar osContratos de Prestação de Serviços de Parcerias, além do Contrato Social, AlteraçõesContratuais e documentos fiscais foram emitidas em nome da empresa Massa & MassaLtda., uma vez que figurava como contratada nos referidos contratos, tendo sido ocontribuinte cientificado do início da ação fiscal (fl. 03), em 30/08/04, nos termos doMandado de Procedimento Fiscal emitido pelo Delegado da Receita Federal em Curitiba (fl.01), e dada ciência do Termo de Verificação Fiscal e respectivo Auto de Infração, em28/10/04 (fl. 315).

Assim, a situação alegada pelo recorrente, reportando-se ao fato de não lhehaver dado a oportunidade de se pronunciar durante o procedimento fiscal, não é pertinente,pois, de acordo com o art. 14 do Decreto n° 70.235, de 1972, com a redação dada pela Lein° 8.748, de 1993, que regula o Processo Administrativo Fiscal, a fase litigiosa doprocedimento somente se instaura com a impugnação do contribuinte ao ato administrativodo lançamento, atendendo, assim, ao que dispõe o art. 5 0, inciso LV, da ConstituiçãoFederal, de 1988, que assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aosacusados em geral, o prelecionado contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos aela inerentes. É nesse sentido que o art. 59, II, do PAF somente admite a caracterização decerceamento do direito de defesa como causa de nulidade quando se tratar de decisões edespachos e não contra atos administrativos. Portanto, não há que se falar em cerceamentoao direito de defesa na fase investigatória do processo.

Entendo, que o procedimento fiscal realizado pelo agente do fisco foiefetuado dentro da estrita legalidade, com total observância ao Decreto n°70.235, de 1972,que regula o Processo Administrativo Fiscal, não se vislumbrando, no caso sob análise,qualquer ato ou procedimento que tenha violado ou subvertido o princípio do devidoprocesso legal.

O princípio da verdade material tem por escopo, como a própria expressãoindica, a busca da verdade real, verdadeira, e consagra, na realidade, a liberdade da prova,

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no sentido de que a Administração possa valer-se de qualquer meio de prova que aautoridade processante ou julgadora tome conhecimento, levando-as aos autos,naturalmente, e desde que, obviamente dela dê conhecimento às partes; ao mesmo tempoem que deva reconhecer ao contribuinte o direito de juntar provas ao processo até a fase deinterposição do recurso voluntário.

O Decreto n°. 70.235/72, em seu artigo 9°, define o auto de infração e anotificação de lançamento como instrumentos de formalização da exigência do créditotributário, quando afirma:

"A exigência do crédito tributário será formalizado em auto de infração ounotificação de lançamento distinto para cada tributo."

Com nova redação dada pelo art. 1° da Lei n°. 8.748/93:

"A exigência de crédito tributário, a retificação de prejuízo fiscal e aaplicação de penalidade isolada serão formalizados em autos de infração ounotificações de lançamento, distintos para cada imposto, contribuição oupenalidade, os quais deverão estar instruídos com todos os termos,depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis àcomprovação do ilícito."

O auto de infração, bem como a notificação de lançamento por constituírempeças básicas na sistemática processual tributária, a lei estabeleceu requisitos específicospara a sua lavratura e expedição, sendo que a sua lavratura tem por fim deixar consignado aocorrência de uma ou mais infrações à legislação tributária, seja para o fim de apuração deum crédito fiscal, seja com o objetivo de neutralizar, no todo ou em parte, os efeitos dacompensação de prejuízos a que o contribuinte tenha direito, e a falta do cumprimento deforma estabelecida em lei torna inexistente o ato, sejam os atos formais ou solenes. Se

houver vício na forma, o ato pode invalidar-se.

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Ademais, a jurisprudência é mansa e pacífica no sentido de que quando ocontribuinte revela conhecer as acusações que lhe foram impostas, rebatendo-as, uma auma, de forma meticulosa, mediante extensa impugnação, abrangendo não só as questõespreliminares como também as razões de mérito, descabe a proposição de cerceamento dodireito de defesa.

Como se vê não procede à alegação de preterição do direito de defesa, hajavista que o suplicante teve a oportunidade de oferecer todos os esclarecimentos queachasse necessário e exercer sua ampla defesa na fase do contencioso administrativo.

Antes de adentrar no mérito propriamente dito e em razão da matéria tersido levantada na fase da sustentação oral se faz necessário algumas considerações arespeito do art. 129 da Lei n° 11.196, de 2005, abaixo transcrito:

"Para fins fiscais e previdenciários, a prestação de serviços intelectuais,inclusive os de natureza científica, artística ou cultural, em caráterpersonalíssimo ou não, com ou sem a designação de quaisquer obrigaçõesa sócios ou empregados da sociedade prestadora de serviços, quando poresta realizada, se sujeita tão-somente à legislação aplicável às pessoasjurídicas, sem prejuízo da observância do disposto no art. 50 da Lei n°10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil."

Dispõe o artigo 50 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - o CódigoCivil:

"Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio definalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimentoda parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejamestendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoajurídica."

Não há dúvidas, que o artigo 129 foi editado para resolver problemasrelacionados à tributação dos rendimentos produzidos em decorrência da prestação de

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serviço de natureza pessoal, oferecido ao mercado por intermédio de uma sociedade compersonalidade jurídica ("empresas unipessoais"). Entretanto, no caso em discussão, ocrédito tributário constituído se reporta a fato gerador ocorrido antes da vigência damencionada lei, razão pela qual se faz necessária a verificação se o referido dispositivo legalfaz inovação ou criação de regime jurídico novo, ou apenas expressa entendimento sobrelegislação já existente, ou seja, é esta norma meramente interpretativa?

Indiscutivelmente a lei interpretativa não pode inovar, limita-se a esclarecerdúvida a respeito de dispositivo de lei anterior.

No meu entendimento o art. 129 da Lei n° 11.196, de 2005 traz inovação ecria as "empresas unipessoais" para fins de tributação como pessoas jurídicas, antesconsideradas pessoas físicas perante a legislação tributária.

Entretanto, a norma acima não possui caráter interpretativo, sendo incorretoalegar aplicação retroativa com base no art. 106, inciso 1, do CTN.

O art. 106, inciso 1, do CTN assim dispõe:

"Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

1 - em qualquer caso, quando expressamente interpretativa, excluída aaplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

Segundo Eduardo Espinola e Eduardo Espinola Filho, "denominam-se leisinterpretativas as que têm por objeto determinar, em caso de dúvida, o sentido das leisexistentes, sem introduzir disposições novas" (A Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro,atualizado por Silva Pacheco, 3 8 ed., Ed. Renovar, 1999, vol. 1, p.294).

Portanto, para que uma lei seja considerada interpretativa, são necessáriosos seguintes requisitos:

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Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

§ 5° As sociedades cooperativas de consumo, que tenham por objeto acompra e fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se às mesmasnormas de incidência dos impostos e contribuições de competência daUnião, aplicáveis às demais pessoas jurídicas (Lei n° 9.532, de 1997, art.69).

§ 6° Sujeita-se à tributação aplicável às pessoas jurídicas o Fundo deInvestimento Imobiliário nas condições previstas no § 2° do art. 752 (Lei n°9.779, art. 2°).

§ 7° Salvo disposição em contrário, a expressão pessoa jurídica, quandoempregada neste Decreto, compreende todos os contribuintes a que serefere este artigo.

CAPITULO IPESSOAS JURÍDICAS

Art. 147. Consideram-se pessoas jurídicas, para efeito do disposto no incisoI do artigo anterior

I - as pessoas jurídicas de direito privado domiciliadas no País, sejam quaisforem seus fins, nacionalidade ou participantes no capital (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 27, Lei n°4.131, de 3 de setembro de 1962, art. 42, eLei n°6.264, de 1975, art. 1°);

II - as filiais, sucursais, agências ou representações no País das pessoasjurídicas como sede no exterior (Lei n°3.470, de 1958, art. 76, Lei n°4.131,de 1962, art. 42, e Lei n°6.264, de 1975, art. 1°);

III - os comitentes domiciliados no exterior, quanto aos resultados dasoperações realizadas por seus mandatários ou comissários no País (Lei n°3.470, de 1958, art. 76).

Art. 148. As sociedades em conta de participação são equiparadas àspessoas jurídicas (decreto-Lei n°2.303, de 21 de novembro de 1986, art. 7°,e Decreto-Lei n°2.308, de 19 de dezembro de 1986, art. 3°).

Art. 149. Na apuração dos resultados dessas sociedades, assim como natributação dos lucros apurados e dos distribuídos, serão observadas asnormas aplicáveis às pessoas jurídicas em geral e o disposto no art. 254, II(Decreto-Lei n°2.303, de 1986, art. 7°, parágrafo único).

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1) o caráter interpretativo tem que ser expresso;2) indicação da lei anterior que está sendo interpretada;3) existência de lei anterior disciplinando a matéria tratada na lei

interpretativa; e4) existência de dúvida quanto ao sentido de uma lei anterior.

Diz o Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto n° 3.000,de 1999:

"TRIBUTAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICASCONTRIBUINTES

Art. 146. São contribuintes do imposto e terão seus lucros apurados deacordo com este Decreto (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 27):

I - as pessoas jurídicas (Capítulo 1);

II - as empresas individuais (Capitulo II).

§ 1° As disposições deste artigo aplicam-se a todas as firmas e sociedades,registradas ou não (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 27, § 2°).

§ 2° As entidades submetidas aos regimes de liquidação extrajudicial e defalência sujeitam-se às normas de incidência do imposto aplicáveis àspessoas jurídicas, em relação às operações praticadas durante o períodoem que perdurarem os procedimentos para a realização de seu ativo e opagamento do passivo (Lei n°9.430, de 1996, art. 60).

§ 3° As sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos aoexercício de profissão legalmente regulamentada são tributadas peloimposto de conformidade com as normas aplicáveis às demais pessoasjurídicas (Lei n° 9.430, de 1996, art. 55).

§ 4° As empresas públicas e as sociedades de economia mista, bem comosuas subsidiárias, são contribuintes nas mesmas condições das demaispessoas jurídicas (CF, art. 173, § 1°, e Lei n° 6.264, de 18 de novembro de1975, arts. 1° a 3°

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CAPITULO IIEMPRESAS INDIVIDUAIS

Art. 150. As empresas individuais, para os efeitos do imposto de renda, sãoequiparadas às pessoas jurídicas (Decreto-Lei n° 1.706, de 23 de outubro de1979, art. 2°).

§ 1° São empresas individuais:

I - as firmas individuais (Lei n°4.506, de 1964, art. 41, § 1 0 , alínea "a");

II - as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual eprofissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil oucomercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros debens ou serviços (Lei n°4.506, de 1964, art. 41, § 1°, alínea "b");

III - as pessoas físicas que promoverem a incorporação de prédios emcondomínio ou loteamento de terrenos, nos termos da Seção II desteCapitulo (Decreto-Lei n° 1.381, de 23 de dezembro de 1974, arts. 1° e 3°,inciso III, e Decreto-Lei n° 1.510, de 27 de dezembro de 1976, art. 10, incisoI).

§ 2° O disposto no inciso II do parágrafo anterior não se aplica às pessoas- físicas que, individualmente, exerçam as profissões ou explorem as

atividades de:

I - médico, engenheiro, advogado, dentista, veterinário, professor,economista, contador, jornalista, pintor, escritor, escultor e de outras quelhes possam ser assemelhadas (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°,alínea "a", e Lei n°4.480, de 14 de novembro de 1964, art. 3°);

II - profissões, ocupações e prestação de serviços não comerciais (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea "b");

III - agentes, representantes e outras pessoas sem vínculo empregatícioque, tomando parte em atos de comércio, não os pratiquem, todavia, porconta própria (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea "c");

IV - serventuários da justiça, como tabeliães, notários, oficiais públicos eoutros (Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea "d"

V - corretores, leiloeiros e despachantes, seus prepostos e adjuntos(Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea "e");

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Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

VI - exploração individual de contratos de empreitada unicamente de favor,qualquer que seja a natureza, quer se trate de trabalhos arquitetônicos,topográficos, terraplenagem, construções de alvenaria e outras congêneres,quer de serviços de utilidade pública, tanto de estudos como de construções(Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea T);

VII - exploração de obras artísticas, didáticas, cientificas, urbanísticas,projetos técnicos de construção, instalações ou equipamentos, salvo quandonão explorados diretamente pelo autor ou criador do bem ou da obra(Decreto-Lei n°5.844, de 1943, art. 6°, alínea "g")."

Do texto acima transcrito é possível se concluir que as atividades exercidaspor pessoas físicas abaixo relacionadas não se caracterizam como empresa individual,ainda que, por exigência legal ou contratual, encontrem-se cadastradas no CNPJ ou quetenham seus atos constitutivos registrados em Cartório ou Junta Comercial:

(1) a pessoa física que, individualmente, exerça profissões ou exploreatividades sem vínculo empregando, prestando serviços profissionais, mesmo quandopossua estabelecimento em que desenvolva suas atividades e empregue auxiliares, aexemplo de: médico, engenheiro, advogado, dentista, veterinário, professor, economista,contador, jornalista, pintor, escritor, escultor e de outras que lhes possam ser assemelhadas;

(2)a pessoa física que explore, individualmente, contratos de empreitadaunicamente de mão-de-obra, sem o concurso de profissionais qualificados ouespecializados;

(3)a pessoa física receptora de apostas da Loteria Esportiva e da Loteria deNúmeros (Lotomania, Supersena, Mega-Sena etc) credenciada pela Caixa EconômicaFederal, ainda que, para atender exigência do órgão credenciador, esteja registrada comopessoa jurídica, e desde que não explore, no mesmo local, outra atividade comercial;

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• .MINIS-1"É4IO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.00821512004-78Acórdão n°. : 104-21.583

(4)representante comercial que exerça exclusivamente a mediação para arealização de negócios mercantis, como definido pelo art. 1° da Lei n° 4.886, de 1965, umavez que não os tenha praticado por conta própria;

(5)pessoa física que faz o serviço de transporte de carga ou de passageirosem veículo próprio ou locado, mesmo que ocorra a contratação de empregados, comoajudantes ou auxiliares.

Como se observa, a legislação tributária nunca permitiu que as pessoasfísicas que, individualmente, exerçam profissões ou explorem atividade de médico,engenheiro, advogado, dentista, veterinário, professor, economista, contador, jornalista,pintor, escritor, escultor e de outras que lhes possam ser assemelhadas, tributassem seusrendimentos como se fossem pessoas jurídicas.

Ora, não há dúvidas que os valores recebidos pelo suplicante sãodecorrentes de natureza eminentemente pessoal, ou seja, decorrem do fruto de seudesempenho pessoal.

Indiscutivelmente, os rendimentos provenientes da cessão do direito ao usoda imagem, do direito de arena, do uso de nome profissional e execução de contrato detrabalho com natureza personalíssima, com cláusula que impossibilite de serem procedidaspor outra pessoa, jurídica ou física que não o titular contratado são rendimentos que devemser tributadas na pessoa física do efetivo prestador de serviços.

Da mesma forma, é sabido que as sociedades civis de prestação deserviços profissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada sãotributadas pelo imposto de conformidade com as normas aplicáveis às demais pessoasjurídicas. Entretanto, estas sociedades civis devem preencher determinadas condições, taiscomo: (a) a natureza de suas atividades e dos serviços prestados deve ser exclusivamentecivil; (b) todos os sócios devem estar em condições legais de exercer a profissão

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• 1%.;11NES'IÉRIO DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES, QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

regulamentada para a qual estiverem habilitados, ainda que diferentes entre si, desde quecada um desempenhe as atividades ou prestem os serviços privativos de suas profissões eesses objetivos estejam expressos no contrato social; (3) as receitas da sociedade devemprovir da retribuição ao trabalho profissional dos sócios ou empregados igualmentequalificados; (4) as sociedades civis são aquelas em que todos os sócios estejamlegalmente capacitados a atender às exigências dos serviços por elas prestados, etc. Comcerteza não é o caso do suplicante, já que a sociedade é formada pelo suplicante e suaesposa, que não exerce atividade igual ao do suplicante.

Como se vê, nunca houve dúvidas que salários e rendimentos provenientesde serviços personalíssimos seriam tributados na pessoa física, tendo como única exceçãoa sociedade civil de profissão legalmente regulamentada, o que não é o presente caso. Olegislador sempre foi inequívoco no sentido de que, em relação a salários e rendimentosproduzidos pelo exercício de profissões e pela prestação de serviços de natureza nãocomercial, o contribuinte será a pessoa física que realiza pessoalmente o fato gerador.

A jurisprudência deste Primeiro Conselho de Contribuintes, em casossemelhantes, sempre se firmou no sentido de que rendimentos provenientes de serviçospersonalíssimos devem ser tributados na pessoa física.

É nítido que o referido artigo inovou no ordenamento jurídico, pois até então,a legislação tributária acerca do imposto de renda nunca deixou dúvidas que rendimentosprovenientes da exploração do serviço individualmente prestado por um artista, ou seja,serviço personalíssimo, seria tributado na pessoa fisica prestadora do serviço, mesmo queos serviços fossem contratados e ajustados por meio de uma pessoa jurídica, pois severifica que, na realidade, o que foi contratado foi um serviço individual.

Tenho para mim, que a referida norma tem por objetivo maior esclarecer eorientar os agentes da administração pública para que, no exercício de suas funções, não

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• fs;fINIST-ÉRIO DA FÁZENDA- PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

desconsiderem a personalidade jurídica de sociedades legalmente constituídas paraprestação de serviços intelectuais, com a finalidade de tributar os sócios.

Assim, as empresas legalmente constituídas para a prestação de serviçosintelectuais (sociedades de engenheiros, arquitetos, advogados, médicos etc) não podemser descaracterizadas pelos agentes fiscais ao argumento de que o serviço prestado pelosprofissionais aos seus contratantes seria regido pelas normas da CLT, com todos os reflexostrabalhistas e tributários daí decorrentes.

Em conclusão, o art. 129 da Lei n° 11.196, de 2005, é lei inovadora,portanto, inaplicável a regra contida no art. 106, inciso I, do CTN, aos serviços prestados por"empresas unipessoais" (caráter personalíssimo) antes da publicação da referida lei, já quea legislação tributária anterior vedava que os rendimentos oriundos da prestação de serviçoem caráter pessoal fossem tributados como de pessoa jurídica

Quanto ao mérito em si, verifica-se que em sua peça recursal, o suplicantequestionou a totalidade do lançamento do crédito tributário, oferecendo seusesclarecimentos, pontos de vista, considerações, argumentos, etc. Assim, após a síntese dapeça acusatória, não vejo necessidade de tecer comentários quanto á extensa peçadefensória, já exposta no Relatório. Desta forma, reordeno em tópicos os assuntos trazidosna peça recursal, para serem apreciados, como segue.

I - RELACÃO COMERCIAL MASSA & MASSA LTDA x CARLOS ROBERTO MASSA:

Com relação à Massa & Massa Ltda e Carlos Roberto Massa, têm-se que noque se refere às alegações da existência formal da pessoa jurídica Massa & Massa Ltda.,cabe reforçar que a fiscalização não negou tal existência, bem como não houve a suadesconstituição, como se pode constatar no Termo de Verificação Fiscal de fls. 285/291, eao qual o recorrente se atém para elaborar suas argumentações.

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• KÁINiSítáld DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Verifica-se, que a empresa referida, conforme contratos sociais de fls. 46/56e 57/61, Massa & Martinez Ltda. até 01/03/99 e dai em diante Massa & Massa Ltda., é umasociedade constituída por marido e mulher, ou seja, Carlos Roberto Massa e SolangeCipriano Martinez, tendo por objeto mercantil o ramo de publicidade e promoções.

Não pairam dúvidas, para quem analisa as peças contidas nos autos, que setrata, realmente, de um caso de trabalho pessoal, ou seja, prestação de serviços denatureza pessoal, prestados pelo próprio litigante, na geração dos rendimentos em causa,pois sem ele, com absoluta certeza que o faturamento da empresa ficaria em torno dereceita bruta "quase zero", pois é de uma pretensão sem fronteiras querer fazer crer queretirando o Sr. Carlos Roberto Massa que o faturamento continuaria no mesmo patamar.

Indiscutivelmente, os rendimentos provenientes da cessão do direito ao usoda imagem, do direito de arena, do uso de nome profissional e execução de contrato detrabalho com natureza personalíssima, com cláusula que impossibilite de serem procedidaspor outra pessoa, jurídica ou física que não o titular contratado são rendimentos que devemser tributadas na pessoa física do efetivo prestador de serviços.

Constata-se, da mesma forma, que diante dos indícios apontados no Termode Verificação Fiscal de fls. 285/291 a autoridade lançadora procedeu à desconsideraçãodos atos jurídicos aparentes (contratos de prestação de serviços, contratos de cessão dodireito de imagem e do uso do nome profissional), entendendo que o objeto de tais contratossão direitos personalíssimos, ou seja, não podem ser prestados por outra pessoa que nãoseja a detentora da imagem e do nome profissional em questão.

Entendimento esse amplamente defendido pelo relator da matéria quandodo julgamento em Primeira Instância do qual só posso compartilhar, como já manifestadoem outros julgados.

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• IVIINIS:TÉRIO DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Com relação às alegações da existência formal da pessoa jurídicaenvolvida, cabe reforçar que a fiscalização não negou tal existência, bem como não houve asua desconstituição, o que houve foi desconsideração dos atos jurídicos aparentes, ou seja,transferência dos rendimentos / receitas lançadas como que fossem da pessoa jurídica paraa pessoa física envolvido, que é o beneficiário de fato.

Nem poderia ser diferente, já que o Instrumento Particular de Contrato dePrestação de Serviços para Realização de Programas de Televisão e Outras Avenças de fls.62/71 e os Contratos de Parceria Para Divulgação Publicitária e Termo de Licença Onerosade Uso de Imagem de fls. 721194, firmados entre o suplicante e as empresas recebem aanuência / interveniência deste. Em última análise, é este ato que dá eficácia a cadacontrato, porque somente o apresentador Carlos Roberto Massa, por ato de sua vontade,que pode dispor da sua imagem ou dos seus serviços. Vale dizer, que a pessoa jurídicaMassa & Massa em questão não tem poder para dispor sobre o objeto do contrato, em facede tratar-se de direitos da personalidade.

Não pairam dúvidas, para quem analisa as peças contidas nos autos, querealmente se trata de direitos da personalidade, já que não se pode olvidar o trabalhopessoal, ou prestação pessoalmente de serviços, do chamado "um homem só", no caso opróprio beneficiário final dos rendimentos, na geração dos rendimentos em causa, pois semele, com absoluta certeza que o faturamento da empresa ficaria em torno de receita bruta"zero", repito o que já disse, ou seja, que é de uma pretensão sem fronteiras querer fazercrer que retirando o apresentador Carlos Roberto Massa que o faturamento continuaria nomesmo patamar.

Não tenho dúvidas, que as cláusulas contratuais, esclarecem sem margemde erro que os serviços a serem prestados serão prestados pessoalmente pela pessoa físicado apresentador Carlos Roberto Massa, de forma que não se pode negar que os valorespagos pelas empresas envolvidas, relativos ao trabalho pessoal do apresentador CarlosRoberto Massa, são rendimentos tributáveis na pessoa física.

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lvilaleTÉRIO. DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

•QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Como, também, não tenho dúvidas, que o direito à imagem integra osdireitos da personalidade e os rendimentos daí decorrentes, são de tributação na pessoafísica.

É de se reforçar, que no caso em questão, o próprio apresentador CarlosRoberto Massa é o responsável pelo cumprimento do contrato, pois, sem ele nada feito, nãohá como outro sócio substituí-lo, até porque as cláusulas contratuais são nítidas nestesentido.

Assim, não se pode negar que os valores percebidos relativamente àprestação pessoal de tais serviços e relativos aos contratos em análise correspondem arendimentos obtidos por profissional no exercício de sua função. Restou patente, pelaspróprias cláusulas contratuais, a obrigatoriedade de que os serviços sejam executados deforma pessoal pelo profissional Carlos Roberto Massa. Não há espaço para que acontratada Massa & Massa cumpra a obrigação firmada no instrumento sem a presençapessoal do contribuinte. Não há como substituí-lo, pois a essência do contrato é que aexecução dos serviços seja realizada somente pelo interveniente-anuente.

É de se salientar que o fato de a fiscalização ter intitulado como"Rendimentos do Trabalho com Vínculo Empregaticio" os valores recebidos da TV SBTCanal 4 de São Paulo não significa que o Fisco teve a intenção de declarar a existência ounão de relação jurídica de emprego, nos termos da CLT, já que, como aventado pelointeressado, essa não é a sua área de competência, mas apenas separou os rendimentospor suas características em dois grupos de acordo com a origem dos rendimentos: da TVSBT, por se tratar de contrato com periodicidade praticamente diária (06 programas porsemana) e com prazo de duração mais longo; e demais contratos com outras empresas,pelo qual o tempo de interveniência pessoal do apresentador é menor. No entanto, em quepese às considerações do impugnante, como já visto, a teor do § 40 do art. 3 da Lei n°

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"MIMI .ST'ERIO DA FAZENDA•• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

7.713, de 1988, a denominação dada aos rendimentos é absolutamente irrelevante paraefeitos de tributação.

Não tenho dúvidas, que as cláusulas contratuais, esclarecem sem margemde erro que os serviços a serem prestados referem-se à realização de programas detelevisão produzidos pela TV SBT e que serão prestados pessoalmente pela pessoa físicade Carlos Roberto Massa, de forma que não se pode negar que os valores pagos pela TVSBT à empresa Massa & Massa Ltda., relacionado no contrato, relativos ao trabalho pessoaldo Sr. Carlos Roberto Massa, são de tributação na pessoa física.

II- ELISÃO FISCAL E A DOUTRINA DA INTERPRETAÇÃO ECONÔMICA:

No que se refere a este item, nada mais há para se comentar que não tenhasido comentado pela autoridade julgadora em Primeira Instância, razão pela qual adoto naíntegra as suas razões de decidir de fls. 436/439 como argumentações do meu voto.

III - DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA EM SEDE ADMINISTRATIVA:

Analisando este item, constata-se pelos elementos que compõem os autosque, ao contrário do argumento do litigante, a fiscalização não adotou procedimentos nosentido de efetivar a desconsideração jurídica da empresa Massa & Massa Ltda. em sedeadministrativa, mesmo porque, como já exaustivamente repetido em itens anteriores, atributação em causa, com supedâneo no enquadramento legal consignado no auto deinfração, mormente o preceituado no § 40 do art. 3° da Lei n° 7.713/88, e em face do

disposto nos arts. 4 0, 118 e 123 do CTN, independia de tal providência, bem como dadescaracterização da escrita fiscal da pessoa jurídica citada; cabe acrescer que não foiobjeto de fiscalização a empresa referida, de forma que não subsistem as alegaçõesrelativas a lucros por ela distribuídos, e despesas e compras incorridas. Não há mais o quecomentar ou fundamentar já que não houve a desconsideração jurídica das empresas em

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••n 1 ,• MIMSTERIO DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

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questão. O que houve foi o deslocamento de parte da receita lançada como de pessoajurídica para a pessoa física.

IV - RENDIMENTOS COM VÍNCULO EMPREGATÍCIO:

Não prospera a argumentação do suplicante, concernente a pretender ofisco ver declarado vínculo empregando com a empresa TV SBT Canal 4 de São PauloS.A., tendo em vista que o fisco não declarou a existência de vínculo empregatício, e nem aela compete tal façanha, o que se verifica, foi a simples separação dos rendimentos,conforme se pode constatar pelas planilhas de fls. 292/302, onde a autoridade lançadoraseparou os rendimentos, por suas características em vínculo empregatício e sem vínculoempregatício. É uma separação pura e simples, já que para fins de tributação se tornairrelevante esta separação.

V - RENDIMENTOS SEM VINCULO EMPREGATÍCIO:

Após análise dos documentos contido nos autos de fls. 72/284, chega-se àconclusão que o suplicante não tem razão quando alega que os valores relacionados comosendo oriundo de rendimentos sem vínculo empregatício nada tem haver com a atividade dapessoa física do Sr. Carlos Roberto Massa, já que foi auferida pela empresa Massa &Massa, proveniente do licenciamento de produtos oriundos do direito do personagem"Ratinho", bem como no gerenciamento de publicidade deste personagem.

Inicialmente, é de se esclarecer que deve haver distinção entre a figura dopersonagem ("Ratinho"), representação do animal rato, e a figura do artista / apresentador /animador "Ratinho", pessoa física do Sr. Carlos Roberto Massa, já que nas notas fiscais, aexemplo da constante às fls. 367, consta à expressão "merchandising no programa doratinho", pessoa física do artista/animador/apresentador, e não a utilização da imagem doboneco "Ratinho", imitando a figura do animal rato.

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• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

Já se manifestou a autoridade julgadora em Primeira instância no sentido deque "é evidente que o Contrato de Parceria Comercial, Licenciamento de Uso de Imagem eOutras Avenças, que, repita-se, "contratado" entre a mesma pessoa: de um lado oapresentador como contratado e de outro o próprio apresentador, mas na figura de sóciomajoritário da empresa Massa & Massa Ltda., não é possível num mundo real. É impensávelque uma pessoa com extraordinária facilidade de comunicação com a massa popular e degrande destaque na mídia nacional possa abrir mão de toda a sua remuneração a umaterceira pessoa. Fica claro que o preço ajustado não passa de mera ficção, tratando-se deum negócio que só não é "de pai para filho" porque os contratantes são uma só pessoa. Nãose pode imaginar outra verdade se não o intuito de carrear, ainda que ao arrepio dalegislação, os rendimentos próprios da pessoa física para a pessoa jurídica e ali sertributada de forma menos onerosa".

Ora, vale a pena reprisar, que a discussão versa sobre a tributação derendimentos recebidos pela prestação de serviços individual do contribuinte e nãosimplesmente o uso da marca "Ratinho", como argüido. É fácil visualizar que, nos casos daprestação de serviços, não há mínima possibilidade de outra pessoa substituir oapresentador Carlos Roberto Massa, ainda que com o cognome de "Ratinho". Tal tese,apenas teria fundamento nos casos de utilização específica do nome "Ratinho" nacomercialização ou mesmo em nome de produtos, como, aliás, é comumente exploradopelas indústrias de brinquedos, para a confecção de jogos infantis/juvenis ligados apersonagens que tenham destaque na mídia. Aliás, outro não foi o objeto do Contrato deLicença de Direitos Autorais e Direitos Conexos com a Manufatura de Brinquedos estrelaS.A. (fls. 281/284), onde foi cedido o direito para fabricação do brinquedo "Ratinho", queconsiste na figura de um boneco do artista Carlos Roberto Massa. Entretanto,acertadamente a remuneração correspondente a esse Contrato não foi objeto do Auto deInfração.

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-IVITNIST0210 DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES• QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

VI - COMPENSAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA E CONTRIBUIÇÕESRECOLHIDOS NA EMPRESA MASSA & MASSA, RELATIVO AOS RENDIMENTOSTRANSFERIDOS DE OFÍCIO PARA A PESSOA FÍSICA DE CARLOS ROBERTO MASSA:

Com referência ao pedido de compensação dos recolhimentos efetuadospela empresa Massa & Martinez Ltda. (Massa & Massa Ltda.), no sentido de deduzi-los doimposto de renda pessoa jurídica e contribuições devidos apurado nas declarações deajuste anual do autuado, entendo que é, totalmente, procedente o pedido do suplicante.Aliás, diga-se de passagem, deveria ter sido compensado de ofício pela autoridadelançadora, já que se trata de desclassificação de rendimentos da pessoa jurídica parapessoa física, tendo por base documentação da pessoa jurídica, não faz nenhum sentidomanter a tributação da pessoa jurídica no que se refere ao valor transferido para pessoafísica.

Com a devida vênia dos que assim não entendem, é de se dar razão aocontribuinte no que se refere ao pedido de compensação dos recolhimentos efetuados pelaempresa Massa & Martinez Ltda. (Massa & Massa Ltda.), no sentido de deduzi-los do valordo imposto apurado na pessoa física do autuado.

O Estado não possui qualquer interesse subjetivo nas questões, também noprocesso administrativo fiscal. Daí, os dois pressupostos basilares que o regulam: alegalidade objetiva e a verdade material.

Sob a legalidade objetiva, o lançamento do tributo é atividade vinculada, istoé, obedece aos estritos ditames da legislação tributária, para que, assegurada suaadequada aplicação, esta produza os efeitos colimados (artigos 3° e 142, parágrafo único doCódigo Tributário NaCional).

Nessa linha, compete, inclusive, à autoridade administrativa, zelar pelocumprimento de formalidade essenciais, inerentes ao processo. Dai, a revisão do

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lançamento por omissão de ato ou formalidade essencial, conforme preceitua o artigo 149,IX da Lei n.° 5.172/66. Igualmente, o cancelamento de ofício de exigência infundada, contraa qual o sujeito passivo não se opôs (artigo 21, parágrafo 1 0 , do Decreto n.° 70.235/72).

Sob a verdade material, citem-se: a revisão de lançamento quando deva serapreciado fato não conhecido ou não provado (artigo 149, VIII, da Lei n.° 5.172/66); asdiligências que a autoridade determinar, quando entendê-las necessárias ao deslinde daquestão (artigos 17 e 29 do Decreto n.° 70.235/72); a correção, de ofício, de inexatidõesmateriais devidas a lapso manifesto (artigo 32, do Decreto n.° 70.235/72).

Como substrato dos pressupostos acima elencados, o amplo direito dedefesa é assegurado ao sujeito passivo, matéria, inclusive, incita no artigo 5°, LV, daConstituição Federal de 1988.

A lei não proíbe o ser humano de errar: seria antinatural se o fizesse;apenas comina sanções mais ou menos desagradáveis segundo os comportamentos eatitudes que deseja inibir ou incentivar.

Todo erro ou equívoco deve ser reparado tanto quanto possível, da formamenos injusta tanto para o fisco quanto para o contribuinte.

Nesse contexto, entendo que deva ser compensado, proporcionalmente, ostributos (imposto de renda e contribuições) recolhidos na pessoa jurídica oriundo de valorescujo fato gerador foi transferido para a pessoa física.

É de se observar, que deve ser compensado o imposto e contribuiçõesrecolhidos na pessoa jurídica com o imposto apurado no auto de infração, antes de qualquercálculo de acréscimos legais (multa e juros).

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VII - DA MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO COM EFEITOS DECONFISCO:

Não procede a argumentação do suplicante de que a multa de lançamentode ofício lançado possui efeitos de confisco.

Ora, a falta ou insuficiência de recolhimento do imposto dá causa alançamento de oficio, para exigi-lo com acréscimos e penalidades legais. Desta forma, éperfeitamente válida a aplicação da penalidade prevista no art. 44, I, da Lei n* 9.430/96.Sendo inaplicável às penalidades pecuniárias de caráter punitivo o princípio de vedação aoconfisco.

Assim, a multa de 75% é devida, no lançamento de ofício, em face dainfração às regras instituída pela legislação fiscal, não declarada inconstitucional peloSupremo Tribunal Federal, cuja matéria não constitui tributo, e sim de penalidade pecuniáriaprevista em lei, sendo inaplicável o conceito de confisco previsto no art. 150, IV da CF, nãoconflitando com o estatuído no art. 5°, XXII da CF, que se refere à garantia do direito depropriedade. Desta forma, o percentual de multa aplicado está de acordo com a legislaçãode regência, sendo incabível a alegação de inconstitucionalidade baseada na noção deconfisco, por não se aplicar o disposto constitucional à espécie dos autos.

Para concluir o presente voto, entendo que no Direito Privado, se asimulação prejudica um terceiro, o ato torna-se anulável O Estado é sempre um terceirointeressado nas relações entre particulares que envolvem recolhimento de tributos; porconseguinte, poderia provocar a anulação destes atos. Entretanto, a legislação tributáriapreferiu recompor a situação e cobrar o imposto devido.

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Assim, as simulações que envolvem tributos não são tratadas no DireitoTributário como seriam no Direito Privado. Neste último, a conseqüência é a anulabilidadedo ato praticado; e no Direito tributário é o lançamento ex officio do imposto, que overdadeiro ato geraria, acrescido das penalidades cabíveis.

A Fazenda Nacional, representante legítimo da União, tem o poder de impornormas que visem a impedir a manipulação de bens ou valores que repercutamnegativamente nos resultados da cobrança de tributos.

E, como no direito processual brasileiro, para provar-se um fato, sãoadmissíveis todos os meios legais, inclusive os moralmente legítimos ainda que nãoespecificados na lei adjetiva, sendo livre a convicção do julgador, e nesta linha depensamento firmo a minha convicção que estão corretos, tanto o procedimento fiscal comoa decisão recorrida, no que se refere à desclassificação dos rendimentos da pessoa jurídicapara a pessoa física.

Enfim, a matéria se encontra longamente debatida no processo, sendodespiciendo maiores considerações, razão pela qual, estou convicto que a fartadocumentação carreada aos autos não só evidencia como comprova de forma inequívocaque parte dos valores contabilizados na pessoa jurídica de Massa & Massa, são, naverdade, rendimentos de pessoa física do artista/apresentador/animador Carlos RobertoMassa. Resta evidenciado nos autos que a exação não resulta de mera presunção oususpeita, tendo, ao contrário, respaldo em fatos fartamente documentados. Não tenhodúvidas que os serviços foram prestados pela pessoa física do apresentador, com acontratação de terceiros que não poderiam, sob nenhuma hipótese, substituí-lo em suasfunções por disposição contratual expressa.

Diante do conteúdo dos autos e pela associação de entendimento sobretodas as considerações expostas no exame da matéria e por ser de justiça, voto no sentido

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tirSTÉRIO DA FAZENDA• PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 10980.008215/2004-78Acórdão n°. : 104-21.583

de rejeitar a preliminar de nulidade por cerceamento do direito de defesa e, no mérito, darprovimento parcial ao recurso para admitir a compensação dos tributos pagos na PessoaJurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de Pessoa Fisica.

Sala das Sessões - DF, em 24 de maio de 2006

7N S, á e -,A Cl 7

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESSEXTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.003823/2003-26Recurso n°. : 141.697Matéria : IRPF - Ex(s): 1999Recorrente : LUIZ FELIPE SCOLARIRecorrida : 4° TURMA/DRJ em PORTO ALEGRE - RSSessão de : 20 DE OUTUBRO 2004Acórdão n°. : 106-14.244

IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS FÍSICAS — São rendimentos dapessoa física para fins de tributação do Imposto de Renda aquelesprovenientes 'do trabalho assalariado, as remunerações por trabalhoprestado no exercício de empregos, cargos, funções e quaisquerproventos ou vantagens percebidos tais como salários, ordenados,vantagens, gratificações, honorários, entre outras denominações.

IRPF - LANÇAMENTO DE OFÍCIO. DECADÊNCIA — Quando osrendimentos da pessoa física sujeitarem-se tão-somente ao regime detributação na declaração de ajuste anual e independentemente deexame prévio da autoridade administrativa, por caracterizar-selançamento por homologação, o prazo decadencial tem inicio em 31 dedezembro do ano-calendário, tendo o Fisco cinco anos, a partir dessadata, para realizar o lançamento de ofício.

SIMULAÇÃO — Não se caracteriza simulação para fins tributáriosquando ficar incomprovada a acusação de conluio entre empregador,'sociedade esportiva, e o empregado, técnico de futebol profissional,por meio de empresa já constituída com o fim de prestar serviços detreinamento de equipe profissional futebol.

MULTA QUALIFICADA DE OFÍCIO - Para que a multa de ofícioqualificada no percentual de 150% possa ser aplicada é necessário quehaja descrição e inconteste comprovação da ação ou omissão dolosa,na qual fique evidente o intuito de sonegação, fraude ou conluio,capitulado na fôrma dos artigos 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64,respectivamente.

APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS — Devem ser aproveitados naapuração de crédito tributário os valores arrecadados sob o código detributos exigidos da pessoa jurídica cuja receita foi desclassificada econvertida em rendimbntos da pessoa física, base de cálculo delançamento de ofício.

Recurso provido parcialmente.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto

por LUIZ FELIPE SCOLARI.

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MINISTÉRIO DA FAZENDAz.s.fp:;.<4.r PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

SEXTA CÂMARA

Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

ACORDAM os Membros da Sexta Câmara do Primeiro Conselho deContribuintes, Pelo voto de qualidade, em preliminar, RECONHECER a inexistênciade simulação, e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso para: a) excluir dabase de cálculo os valores recebidos a titulo de pro-labore; b) desqualificar a muita deoficio; e c) considerar, na liquidação do crédito tributário, os valores recolhidos pelapessoa jurídica relativos aos rendimentos da pessoa física, nos termos do relatório evoto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos, porque davam provimentointegral, os Conselheiros Romeu Bueno de Camargo, Gonçalo Bonet Allage, JoséCarlos da Matta Rivitti e ilfrido Au to Marques, que apresentará declaração devoto.

C(/JOSÉ RIBAMAR B I 9 PENHAPRESIDENTE E R L

FORMALIZADO EM: O 6 DEZ 2004

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros SUELI EFIGÊNIAMENDES DE BRITTO, LUIZ ANTONIO DE PAULA e ANA NEYLE OLÍMPIOHOLANDA.

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244 •

Recurso n° : 141.697Recorrente : LUIZ FELIPE SCOLARI .

RELATÓRIO

Luiz Felipe Scolari, qualificado nos autos, recorre a este Conselho de

Contribuintes objetivando reformar o Acórdão DRJ/POA n° 3.756, de 19 de maio de

2004 (fls. 280-306) pelo qual os membros da 4° Turma da Delegacia da Receita

Federal de Julgamento em Porto alegre - RS, por unanimidade de votos, decidiram

julgar procedente em parte o lançamento objeto do Auto de Infração (fls. 03-10)

correspondente ao crédito tributário de R$2.111.181.97, relativo a Imposto de Renda,

inclusive juros de mora e multa de oficio (150%), em face da Omissão de rendimentos

do trabalho recebidos de pessoa jurídica no ano-calendário de 1998, no total de'

R$2.318.923,87.

Referidos rendimentos decorrem de contrato firmado entre a Socieda-oe

Esportiva Palmeiras, contratante, e a L. F. Promoções, Serviços e Representações

Ltda. contratada, tendo como objeto a prestação de serviços de treinamento da equipe.

profissional de futebol e supervisão de todas as equipes amadoras (cláusula primeira),

obrigatoriamente, pelo seu sócio Luiz Felipe Scolari (cláusula segunda).

A contraprestação pelos serviços foi feita uma parte mensalmente,

outras fixas e, ainda, parte variável a titulo de taxa de sucesso (cláusula terceira), cujos

pagamentos foram realizados mediante a apresentação de Notas Fiscais de Prestação

de Serviços emitidas pela contratada que os contabilizou e procedeu aos recolhimentos

relativos a IRPJ, CSLL, Cofins, PIS e !SS.

O agente do fisco entendeu que os serviços foram realizados de forma

individual e personalíssima pelo que a remuneração contratual foi considerada

rendimentos tributáveis na pessoa física do sócio, omitidos na Declaração de Ajuste

Anual.

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Recurso n° : 141.697Recorrente : LUIZ FELIPE SCOLARI

RELATÓRIO

Luiz Felipe Scolari, qualificado nos autos, recorre a este Conselho deContribuintes objetivando reformar o Acórdão DRJ/POA n° 3.756, de 19 de maio de2004 (fls. 280-306) pelo qual os membros da 48 Turma da Delegacia da ReceitaFederal de Julgamento em Porto alegre - RS, por unanimidade de votos, decidiramjulgar procedente em parte o lançamento objeto do Auto de Infração (fls. 03-10)correspondente ao crédito tributário de R$2.111.181.97, relativo a Imposto de Renda,inclusive juros de mora e multa de oficio (150%), em face da Omissão de rendimentosdo trabalho recebidos de pessoa jurídica no ano-calendário de 1998, no total deR$2.318.923,87.

Referidos rendimentos decorrem de contrato firmado entre a SociedadeEsportiva Palmeiras, contratante, e a L. F. Promoções, Serviços e RepresentaçõesLtda. contratada, tendo como objeto a prestação de serviços de treinamento da equipeprofissional de futebol e supervisão de todas as equipes amadoras (cláusula primeira),obrigatoriamente, pelo seu sócio Luiz Felipe Scolari (cláusula segunda).

A contraprestação pelos serviços foi feita uma parte mensalmente,outras fixas e, ainda, parte variável a titulo de taxa de sucesso (cláusula terceira), cujospagamentos foram realizados mediante a apresentação de Notas Fiscais de Prestaçãode Serviços emitidas pela contratada que os contabilizou e procedeu aos recolhimentosrelativos a IRPJ, CSLL, Cofins, PIS e ISS.

O agente do fisco entendeu que os serviços foram realizados de formaindividual e personalíssima pelo que a remuneração contratual foi considerada

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

O contrato firmado entre as mencionadas pessoas jurídicas foiconsiderado simulado o que ensejou a qualificação da multa de ofício (150%).

As autoridades julgadoras de primeira instância julgaram procedenteem parte o lançamento para considerar o Imposto de Renda Retido na Fonte deR$39.087,78, pelo que determinou a redução do valor lançado.

Do voto condutor do Acórdão prolatado pela DRJ é de destacar osseguintes pontos:

- como houve a ocorrência de simulação, (.4 entendemos que o Fiscopoderia ter efetuado o lançamento já no exercício de 1999, iniciando-sea contagem do prazo decadencial em 1° de janeiro de 2000 eterminando em 31 de dezembro de 2004; (fl. 290) (destaque original)

- concordamos com o impugnante que não há vedação alguma para aconstituição e exploração de sociedades civis para a prestação deserviços; todavia há a necessidade de os profissionais reunidos seremda mesma atividade e/ou de profissões legalmente habilitadas,conforme os exemplos citados pelo contribuinte, que obviamenteseriam tributados na pessoa jurídica, sociedade civil, se assim fossemconstituídos e se comportassem, não prestando individualmente e emseu nome pessoal os serviços; (fl. 292)

- caso a profissão de técnico de futebol seja uma profissãoregulamentada, o contribuinte poderia ter constituído uma sociedadecivil para prestar serviços técnicos, o que no presente caso nãoocorreu, sendo os serviços prestados de forma individual e pessoal;todavia fora constituída uma "sociedade mercantil", comercial,devidamente arquivada na Junta Comercial, e não no Registro Civil dePessoas Jurídicas, qualificados os sócios como do "comércio"; (fl. 292)

- entendo que o trabalho prestado pelo contribuinte foi exercido deforma individual e personalíssima, é um direito personalíssimo, poisqualquer outro sócio, ou funcionário empregado de sua empresa,mesmo que não houvesse vedação contratual estipulada com aSociedade Esportiva PALMEIRAS, não poderia exercer, ou nãodesempenharia com a mesma "performance", requerida pela SEP; (fl.296)

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

- CTN, em seu art. 116, parágrafo único, autoriza a autoridade autuantea desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidadede dissimular a natureza dos elementos constitutivos da obrigaçãotributária, tal como a sujeição passiva, ou mesmo a ocorrência do fatogerador do tributo; (296)

- também fundamentado no parágrafo único do art. 116 e no art. 123,entendemos que os técnicos de futebol, cujos serviços são prestadosde forma pessoal e individual, terão seus rendimentos tributados napessoa física; (fl. 296)

- ao restringir no contrato em sua Cláusula Segunda, item 3.2:"Representar-se obrigatoriamente pelo seu sócio Luiz Felipe Scolari,independentemente de outros profissionais, no cumprimento destecontrato" (grifamos e realçamos), excluindo voluntariamente quaisqueroutros profissionais sócios ou empregados da pessoa jurídicaprestadora de serviços, característica fundamental da prestação deserviços quer seja a sociedade civil, quer seja mercantil, está efetivada,a meu ver, a contrafação pessoal do profissional; (fl. 300)

- ser remuneração personal auferida pelo brilhante profissional emtécnica desportiva, o não oferecimento à tributação em suaDIRPF/1999 provoca o enquadramento e o embasamento legaldescrito pela autoridade fiscal autuante; (fl. 300)

- compensação pela pessoa física dos tributos pagos pela pessoajurídica, sendo lançados e aproveitados em sua contabilidade, tambémnão procede tal pedido, pois são entidades distintas; (fl. 301) não podepleitear os impostos apurados, lançados e recolhidos, mesmo queindevidamente, pela pessoa jurídica, a única entidade competente parapleitear a restituição deste indébito é a própria PJ, na forma dalegislação e por meio de seus representantes, falando em nome dapessoa jurídica; (fl. 301)

- houve uma ação conjunta entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e ocontribuinte com o intuito de modificar as características essenciais dofato gerador da obrigação tributária, deslocando para a pessoa jurídicainterposta como beneficiária de um rendimento que é um direitopersonalíssimo (..); (fi. 302)

- tal procedimento denota "simulação", perfeitamente subsumida aoinciso I do art. 102 do antigo Código Civil, vigente à época, pois o atojurídico aparentou conferir direitos a pessoa diversa, ou seja à pessoa

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

jurídica de natureza comercial, impossibilitada de prestar um serviçopersonalíssimo de natureza civil. (fl. 302)

O julgado está ementado nos seguintes termos:

DECADÊNCIA. O lançamento de tributo é procedimento exclusivo daautoridade administrativa. Tratando-se de lançamento de ofício o prazode 5 anos para constituir o crédito tributário é contado do exercícioseguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.Configurada a presença de simulação, não se aperfeiçoa o lançamentopor homologação e o prazo para constituir o crédito tributário é de 5anos, contados do exercício seguinte àquele em que o lançamentopoderia ter sido efetuado.OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA— CONTRATO DE TRABALHO DE NATUREZA PERSONALÍSSIMA —Os rendimentos auferidos pela prestação individual de serviços detécnico de futebol, que são prestados de forma pessoal, são tributadosna pessoa física. As convenções particulares, relativas àresponsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas àFazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivodas obrigações tributárias correspondentes.IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE — DIREITOPERSONALÍSSIMO — O imposto de renda retido pela fonte pagadora,Sociedade Esportiva, para os rendimentos auferidos na prestaçãoindividual de serviços de técnico de futebol, é considerado antecipaçãodo tributo, mesmo que retidos em alíquota imprópria, e são redutoresdo IRPF apurado no lançamento de oficio.MULTA QUALIFICADA — É de se manter a multa qualificada de 150%,estando configurado o intuito de fraude, utilizada a simulação, com aconseqüente redução do imposto devido.

DO RECURSO VOLUNTÁRIO

O recorrente protesta inicialmente contra a definição da infração comosendo omissão de rendimentos quando o que teria ocorrido era uma reclassificação derendimentos auferidos, recebidos e originalmente tributados (R$2.318.923,87) napessoa jurídica, L. F. Promoções, Serviços e Representações Ltda.. A declaração etributação, por si sós, afastariam a caracterização de fraude, sonegação ou conluio.

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

No mesmo diapasão, o acolhimento da impugnação apenas quanto ao

IRFON descontado da L. F. Promoções, sem abranger o IRPJ, CSLL, PIS e COFINS,

calculados sobre a mesma base, representaria confisco proibido constitucionalmente.

As razões impugnadas são reafirmadas no seguinte sentido:

- decadência parcial no período de janeiro a novembro de 1999, nos

termos do art. 150, § 4°, do CTN, por incomprovada a ocorrência de fraude, sonegação

ou conluio que justificasse a adoção da contagem do hiato decadencial segundo o

previsto no art. 173 do CTN;

- a nulidade do auto de infração por desconsiderada a personalidade

jurídica da empresa L. F. Promoções, Serviços e Representações Ltda., sem

fundamentação e sem autorização judicial;

- inconsistência do lançamento, pois os rendimentos, de fato e de

direito, pertencem à pessoa jurídica tendo sido tributados regular e tempestivamente ao

amparo do art. 55 da Lei n° 9.430, de 1996, não havendo óbice legal à constituição da

pessoa jurídica;

- a quantificação do valor submetido à tributação na pessoa física

também apresenta inconsistência no valor submetido à tributação;

- caso a persistência da reclassificação dos rendimentos, á

compensação integral dos tributos pagos pela pessoa jurídica em atendimento ao

requisito da verdade real;

- refuta-se a aplicação da multa de 150% por incomprovadas infrações

aos artigos 71, 72 ou 73 da Lei n° 4.502, de 1964, posto que a controvérsia cinge-se à

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possibilidade de constituir pessoa jurídica aos fins o que não se caracterizaprocedimento doloso.

As razões supra são fundamentadas conforme segue:

Decadência parcial

Transcritas as justificativas do relator no voto condutor do acórdão, orecorrente contesta-as, primeiro porque a ausência de pagamento nãodescaracterizaria a modalidade do lançamento por homologação do IRPF, a teor doentendimento esposado no Acórdão n° 101-92.642, de 14.04.99, segundo o qual aausência de recolhimento não altera a natureza do lançamento, "já que se homologa éa atividade exercida pelo sujeito passivo".

Assim, inexistiria omissão de parte da pessoa física ou da pessoajurídica, posto que ambas cumpriram o dever instrumental de apresentar ascorrespondentes declarações de ajuste, bem como outras providências acessóriasrelativas aos rendimentos objeto do lançamento de conhecimento do Sujeito Ativo.

Em outros pontos, não havendo comprovação de dolo, fraude ousimulação, pereceriam os argumentos de alongamento do prazo decadencial do art.173 do CTN, carecendo de base legal o entendimento segundo o qual o lançamento deofício inviabilizaria a aplicação do prazo decadencial do art. 150, § 4° do CTN.

Em último passo, o recorrente tem como certo que o fato gerador doIRPF ocorre no último dia de cada mês em que são auferidos os rendimentos a teor doParecer Normativo Cosit n° 1, de 24 de setembro de 2002, do informado no Auto deinfração e da pacificada jurisprudência objeto dos Acórdãos 102-45.417, de 19 demarcos de 2002, e 102-45.440, de 21.03.2002, que transcreve por ementas.

Os artigos 2°, § 2°, 38, parágrafo único, e no art. 620, § 1° do RIR199deixariam induvidoso ser o fato gerador do IR mensal.

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SEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Nulidade do lançamento por irregular desconsideração dapersonalidade jurídica.

O recorrente considera que o relator utilizou o instituto da entidade paraafastar os pleitos impugnados, mas não se manifestou sobre a desconsideração dapersonalidade jurídica, efetuada pelo Fisco sem o embasamento legal extensamenteargüido na impugnação.

Conforme o constante do Relatório Fiscal e do Acórdão recorrido oFisco teria entendido que houve desvirtuamento de finalidade da pessoa L. F.Promoções, Serviços e Representações Ltda., trazendo à pessoa física do sócio toda arenda e toda a responsabilidade obrigacional tributária decorrente.

Não houve iniciativa do Fisco para investigar as atividades da pessoajurídica e identificar eventuais desvios de finalidade. Também nenhum pedido deesclarecimentos foi dirigido à contratante.

Cônscio que houve desconsideração da pessoa jurídica, o recorrentetranscreve os termos do art. 50 da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 — CódigoCivil, para aduzir da necessidade de decisão judicial nos casos de abuso dapersonalidade jurídica pelo desvio de finalidade. A este respeito, o recorrente lembraainda os termos do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei n° 8.078/90.

Assim, por falta de expressa autorização judicial o procedimento fiscalpadeceria de nulidade.

Procedimento Fiscal sem Embasamento Legal

Sob o nomem juris acima, o recorrente contesta os termos da autuaçãoquanto à expressão "omissão de rendimentos recebidos de pessoa jurídica" posto quede fato e de direito foram auferidos pela pessoa jurídica L. F. Promoções, Serviços eRepresentações Ltda. que juntamente com outras receitas, de menor valor, derivadasde serviços de propaganda, foram recebidos e originalmente tributados.

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As razões argüidas pelo relator para justificar a exclusão da receita dadeclaração da pessoa jurídica e tributação na pessoa física do sócio como rendimentosomitidos são contestadas porque a empresa foi constituída regularmente, seus sóciossão ambos professores, profissão regulamentada, relacionada no art. 192, inciso XIII,do RIR/99, como serviços profissionais regulamentados.

Quanto aos serviços terem sido prestados de forma individual epessoal através de sociedade mercantil, que o relator alegara, o que conflitaria com oconceito de sociedades civis admitidas pela legislação tributária, o Parecer Normativon° 15/83, item 2, trazido no Acórdão, respaldaria a situação, observando que "asatividades comerciais previstas no contrato social nunca foram exercidas pelasociedade". A prestação individual e pessoal dos serviços por meio da pessoa jurídicatambém estaria conforme a orientação objeto do item 5 do mencionado ParecerNormativo.

Por outro ver, também há participação direta da sócia nos serviçoscontratados. Na sua especialidade de professora ela é responsável pela preparação decentenas de palestras exigidas ao desempenho da atividade contratada. Também,além do serviço de "ensinar a jogar futebol e orientar os profissionais quando daexecução dessa atividade", existem outras tarefas que precisam ser cumpridas na áreaadministrativa, na programação de eventos, na preparação de palestras nãorelacionadas com os serviços contratados com o Palmeiras, na programação deviagens para palestras e para observações técnicas.

Os serviços contratados pela empresa são prestados pelos sóciosembora prepondere a participação do Recorrente quando se trate da atividade principalda sociedade, reitera.

Acerca da natureza do trabalho prestado de forma individual epersonalíssima, que ensejou a tributação na pessoa física, após destacar osfundamentos legais indicados no Auto de Infração, o recorrente tem em conta que asdeterminações expendidas no art. 3°, § 4° da Lei n° 7.713, de 1988, e artigos 43 e 45

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do RIR/99, não inviabilizam que empresas aufiram rendimentos decorrentes daprestação de serviços profissionais.

Conforme o art. 146 do RIR199, as prestadoras de serviçosprofissionais são tributadas como pessoas jurídicas como as que compreendemserviços de médicos, advogados, contadores etc., pelo que a argüição padeceria deembasamento legal. Não haveria na legislação tributária nenhuma determinação quevincule a tributação à pessoa física do profissional que executa o serviço, pelo que oprocedimento fiscal colidiria com as disposições do artigo supra, §§ 3° e 7° e art. 147,também do RIR/99.

Diante da legislação indicada, o recorrente é assente que a empresaconstituída em 26 de dezembro de 1995, o foi nos termos do ordenamento e assimrealizou em 1998 os seus objetivos sociais e obrigações legais, comerciais e tributárias,pelo que "enquanto a lei não relacionar as atividades que obrigatoriamente devam sertributadas na pessoa física, a opção pela constituição de sociedade, para exerceratividades lícitas, seja pelo motivo que for, tem amparo legal".

A formulação estaria conforme a Carta Maior quanto à plena liberdadede associação para fins lícitos assegurados no art. 5°, inciso XVII. Por outro lado, orecorrente entende que a empresa não infringiu o disposto no art. 150, inciso II,também da Carta, acerca de tratamento desigual àqueles que se encontrem emsituação equivalente.

Outro argumento contestado respeita à interpretação dada ao art. 123do CTN, a respeito da existência de convenções opostas à Fazenda para modificar adefinição de sujeito passivo. No caso em questão, o recorrente considera que aformulação constitucional não se aplica, mesmo porque milhares de pessoasconstituem empresas sob as mais diversas justificativas mesmo que residam apenasem economia fiscal.

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Processo nu : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Seria inadmissível rotular tais procedimentos de manobra paramodificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias. A situação daL. F. Promoções, Serviços e Representações Ltda., quanto à prestação de serviço pelosócio majoritário, assemelha-se à empresa do cantor Roberto Carlos, cuja presença éobrigatória quando contratada para a realização de shows. Outros exemplos deserviços pessoal ou personalíssimo prestado por sócio de empresas são enfatizados eque não desconsideraria a pessoa jurídica.

Ainda, acerca de prejuízos a encargos trabalhistas, o recorrente aduznão serem do terreno do Imposto de Renda. Também, a respeito dos prejuízos aprevidência social, a autuação do IRPF não é a via adequada e mesmo porque, osclubes de futebol recolhem a contribuição previdenciária sobre a arrecadação.

O recorrente destacando excertos da autuação segundo o qual osinteresses fazendários seriam lesados pela manobra, encaminha a questão a serenfrentada pelo legislador ordinário uma vez que enquanto a lei der direito a opçãopara a constituição de pessoa jurídica ao invés de tributar os rendimentos na pessoafísica nada pode ser tachado de ilegal. O art. 647 do RIR199 também daria amparo àtributação dos rendimentos via pessoa jurídica.

Dos Equívocos na quantificação da exigência

Neste tópico, o recorrente argumenta sobre incorreções na apuraçãoda base de cálculo, por não levar em conta o pro labore já tributados na pessoa físicaapesar de integrar os rendimentos reclassificados, o que representaria duplaincidência; por não considerar como "Livro Caixa" a escrituração da pessoa jurídica(art. 75 do RIR/99); por inobservar o caráter indenizatório dos valores auferidos emface da cláusula terceira do contrato; e por não compensar os tributos pagos antes daincidência da multa de ofício e dos juros de mora tudo isto em face do princípio daverdade real.

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Da necessária compensação de tributos pagos na pessoa jurídica

A este respeito, o recorrente enfatiza que o julgamento ao acatar, como

redutor do lançamento, apenas o IRRF retido pela pessoa jurídica, embora tenha

havido também recolhimento de Cofins (R$46.967,83), PIS (R$17.256,05), IRPJ

(161.152,80) e CSLL (R$38.373,15) no total de R$263.749,78, conforme anexo I, agiu

em divergência ao decidido no Acórdão n°104-18.641, de 19 de março de 2002.

Da inaplicabilidade da multa qualificada — ausência de evidente

intuito de fraude

Transcritas as justificativas do Fisco para qualificar a multa de oficio,

segundo as quais teria havido simulação, o recorrente entende que esta é a

impropriedade mais flagrante do lançamento.

A relação contratual da L. F. Promoções, Serviços e Representações

Ltda. com a Sociedade Esportiva Palmeiras não ensejaram a existência de dolo, fraude

ou simulação, figuras penais exigidas à imputação da multa qualificada. Por outro ver, a

pessoa jurídica teria cumprido todas as determinações legais, comerciais e tributáveis,

tais como: emissão de Nota Fiscal de Prestação de Serviço; retenção do imposto de

renda na fonte; contabilização dos rendimentos e tributação dos mesmos perante o

ISSC)N, IRPJ, CSLL, PIS. COFINS; e apresentação das DCTF, DIRF e DIRPJ.

Todo o funcionamento regular da empresa antecedeu qualquer ato de

fiscalização da Receita Federal "sem caracterizar fraude, pois não evitou ou retardou a

ocorrência do fato gerador. Todas as providências tomadas, mesmo que tenham

minimizado o ônus tributário observaram estritamente as alternativas legais, bem como

antecedera a ocorrência do Fato Gerador".

Por entender desproporcional a multa qualificada, "caso mantida a

exigência relativa ao imposto, o que se aceita para argumentar, acolha o recurso neste

particular e proponha a desqualificação da multa de 150%".

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PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESSEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

No pedido, requer a reforma da decisão a que para decretar a nulidadedo lançamento em face da decadência parcial e por ser jurídica a relação contratual viaa L. F. Promoções, Serviços e Representação Ltda., ou a insubsistência do auto emface das razões de mérito, ou, não provido o recurso, seja determinada a compensaçãodos tributos pagos em nome da pessoa jurídica e a desqualificação da multa.

Comprova-se o deposito recursal de 30% do crédito tributário medianteGuia de Depósito junto à Caixa Econômica Federal (fl. 447).

11É o relatório.

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

VOTO

Conselheiro JOSÉ RIBAMAR BARROS PENHA, Relator

O Recurso Voluntário, apresentado junto ao órgão preparador em16.07.2004, deve ser conhecido por atender às disposições do art. 33 do Decreto n°70.235, de 1972, inclusive quanto à garantia de instância, verificando-se que a ciênciado Acórdão recorrido teve lugar em 17.06.2004 (fl. 309).

Conforme relatado, o Recurso Voluntário tem por objeto reformar oAcórdão prolatado no âmbito da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em PortoAlegre-RS que acolheu procedente em parte o lançamento do crédito tributário relativoà omissão de rendimentos recebidos junto à Sociedade Esportiva Palmeiras etributados na pessoa jurídica da qual o autuado é detentor preponderante do capitalsocial.

As razões recorridas podem ser resumidas nos seguintes tópicos:

a) decadência do direito de lançar da Fazenda Nacional relativa aoperíodo de janeiro a novembro de 1998 (fato gerador mensal);

b) nulidade do lançamento por irregular desconsideração dapersonalidade jurídica;

c) erro identificação da infração como omissão de rendimentosrecebidos de pessoa jurídica (haveria reclassificação dos rendimentos auferidos,recebidos e tributados na pessoa jurídica, e não omissão);

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d) inexistência de proibição legal para tributar a remuneração docontrato de técnico de futebol na pessoa jurídica;

e) erro na quantificação da base de cálculo e falta de compensaçãodos tributos federais recolhidos; e

f) qualificação indevida da multa de oficio por inexistência desimulação.

De ver, portanto, que o julgamento, a não ser quanto à decadência,que é tema razoavelmente pacificado no âmbito dos Conselhos de Contribuintes,depende de se reconhecer a quem o contrato de prestação de serviço de técnico defutebol junto à Sociedade Esportiva Palmeiras tem validade: à L. F. Promoções,Serviços e Representações Ltda. ou ao Técnico Profissional de Futebol, Luiz FelipeScolari, pessoa física.

Iniciemos por transcrever os dispositivos legais que fundamentam olançamento:

Lei n° 7.713, de 1988:

Art. /° Os rendimentos e ganhos de capital percebidos a partir de 1° dejaneiro de 1989, por pessoas físicas residentes ou domiciliadas noBrasil, serão tributados pelo imposto de renda na forma da legislaçãovigente, com as modificações introduzidas por esta Lei.

Art. 2° O imposto de renda das pessoas físicas será devido, mensalmente, à medida em que os rendimentos e ganhos de capitalforem percebidos.

Art. 3° O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquerdedução, ressalvado o disposto nos arts. 9°a 14 desta Lei.

§ 1° Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalhoou da combinação de ambos, os alimentos e pensões percebidos emdinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim tambémentendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aosrendimentos declarados.

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

§ 40 A tributação independe da denominação dos rendimentos títulosou direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte,da origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção dasrendas ou proventos, bastando, para a incidência do imposto, obenefício do contribuinte por qualquer forma e a qualquer título.

Lei n°8.134. de 1990:

Art. 1° A partir do exercício financeiro de 1991, os rendimentos eganhos de capital percebidos por pessoas físicas residentes oudomiciliadas no Brasil serão tributados pelo Imposto de Renda naforma da legislação vigente, com as modificações introduzidas por estalei.

Art. 2° O Imposto de Renda das pessoas físicas será devido à medidaem que os rendimentos e ganhos de capital forem percebidos, semprejuízo do ajuste estabelecido no art. 11.

Art. 3° O Imposto de Renda na Fonte, de que tratam os arts. 70 e 12 daLei n° 7.713, de 22 de dezembro de 1988, incidirá sobre os valoresefetivamente pagos no mês.

Lei n° 9.532, de 1997:

Art. 21. Relativamente aos fatos geradores ocorridos durante os anos-calendários de 1998 e 1999, a alíquota de 25% (vinte e cinco porcento), constante das tabelas de que tratam os arts. 3° e 11 da Lei n°9.250, de 1995, e as correspondentes parcelas a deduzir, passam aser, respectivamente, de 27,5% (vinte e sete inteiros e cinco décimospor cento), R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais) e R$ 4.320,00(quatro mil, trezentos e vinte reais). (Alterado pela Lei n° 9.887, de7.12.99)(destaques postos)

Da exegese das disposições supra, em princípio, os rendimentos

advindos da prestação se serviço individual da pessoa natural são tributados pelas

normas do imposto de renda da pessoa física. Passo a formalizar o voto conforme os

itens elencados acima.

a) decadência do direito de lançar da Fazenda Nacional relativa ao

período de janeiro a novembro de 1998 (fato gerador mensal).

Acerca da decadência, as razões impugnadas foram no sentido de que

em relação aos fatos geradores ocorridos no período de janeiro a novembro de 1998, já

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MINISTÉRIO DA FAZENDA•!k PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

havia decaído o direito de a Fazenda Nacional constituir o crédito tributário, quando dolançamento regularmente notificado em 29 de dezembro de 2003.

É que o lançamento do imposto de renda pessoa física amolda-se àmodalidade por homologação que trata o art. 150 do Código Tributário Nacional, sendoo prazo decadencial contado a partir da homologação, nos termos do § 40 do mesmoartigo, que se faria conforme o fato gerador ocorrido mensalmente.

O julgamento de Primeira Instância considerou que o tempodecadencial devia ser o estabelecido no art. 173, inciso I, do CTN, por ter havido olançamento de ofício em face da omissão de rendimentos, e, ainda, por constatada aocorrência de dolo, fraude ou simulação. Assim, o direito de lançar se extinguiriasomente em 31.12.2004.

O recorrente contesta os argumentos do Acórdão porque a ausência derecolhimento não alteraria a natureza do lançamento, pois o que se homologa é aatividade exercida pelo sujeito passivo, como consta de julgados do Primeiro Conselhode Contribuintes transcrito por ementa.

Tendo apresentado sua Declaração de renda e pago o impostocorrespondente, diferenças que persistissem a tributar deveriam ser constituídas noprazo de cinco anos a contar do mês seguinte ao do recebimento dos rendimentos,posto que o fato gerador seria mensal como indicado no Auto de Infração, na legislaçãoconsolidada no RIR199 e na jurisprudência que indica e transcreve.

Conforme o disposto no art. 2° da Lei n° 7.713, de 1988, acima, oimposto de renda das pessoas físicas será devido mensalmente à medida que osrendimentos forem percebidos. A este comando a Lei n° 8.134, de 1990, complementaconforme as disposições a seguir, verbis:

Art. 9° As pessoas físicas deverão apresentar anualmente declaraçãode rendimentos, na qual se determinará o saldo do imposto a pagar oua restituir.

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Art. 11. O saldo do imposto a pagar ou a restituir na declaração anual(art. 9°) será determinado com observância das seguintes normas (...).

Da exegese dos dispositivos supra é de observar que embora a

tributação seja mensal, quando o sujeito passivo deve apurar e recolher o imposto de

renda - o que caracteriza o lançamento por homologação - o mesmo não se pode dizer

quanto ao fato gerador. Este, por definição dos artigos 90 e 11 da Lei n° 8.134, de

1990, ocorre ao fim de um período denominado ano-calendário, isto é, em 31 de

dezembro, quando, então, é possível elaborar e apresentar da Declaração de Ajuste

Anual.

É nessa oportunidade que o fato gerador do imposto de renda pessoa

física está concluído. Por ser do tipo complexo (ou complexivo), segundo classificação

doutrinária, o fato gerador do imposto de renda pessoa física resta inteiro no último dia

do ano-calendário. Só então o contribuinte, em face de sua situação especifica, pode

realizar os ajustes considerando os rendimentos auferidos, as despesas realizadas

(dedutíveis), as deduções legais por dependentes e outras, as antecipações feitas, e

assim apresentar a Declaração de Ajuste Anual a ser submetida à homologação da

Fisco.

A jurisprudência atual consolidada nas diversas Câmaras do Primeiro

Conselho de Contribuintes e na Câmara Superior de Recursos Fiscais quanto ao

Imposto de Renda das Pessoas Físicas, salvo raras exceções, é a seguinte: tendo o

contribuinte prestado o dever instrumental de apresentação da Declaração de Ajuste

Anual o lançamento é por homologação e o fato gerador anual, concluso em 31 de

dezembro.

A exemplo o Acórdão CSRF/01-04.963, de 14.06.2004, por ementa:

IRPF — MODALIDADE DE LANÇAMENTO — Cora o advento doDecreto-lei n° 1968, de 1982, que estabelece o pagamento do tributosem o prévio exame da autoridade administrativa, a construçãojurisprudencial é no sentido de que o lançamento do imposto de rendapessoa física é por homologação, salvo quando ato legal ouadministrativo específico definir outra modalidade, a exemplo do

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

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Processo nu : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

ocorrido no exercício de 1993, quando em face do disposto no art. 3°da Portaria MF n° 43, de 1993, o lançamento foi por declaração.

DECADÊNCIA — A contagem do prazo decadencial para fins delançamento do Imposto de Renda Pessoa Física deve ser contado dofato gerador, que ocorre em 31 de dezembro do correspondente ano-calendário, quando o lançamento obedecer à modalidade porhomologação, ou no primeiro dia do exercício seguinte (art. 173, I, doCTN), nos casos de lançamento por declaração.

Em face do exposto, quanto a rendimentos auferidos durante o ano-

calendário de 1998, o fato gerador completou-se em 31 de dezembro daquele ano.

Logo, o direito de a Fazenda Nacional realizar o lançamento do IRPF, quanto ao fato

gerador ocorrido no ano-calendário de 1998, o termo inicial ocorre em 1 0 .01.1999 e o

final em 31.12.2003.

No caso presente, mesmo deixando por enfrentar, por enquanto, o

tema da simulação, tendo o contribuinte sido regularmente notificado em 29.12.2003,

ainda não havia ocorrido o lapso decadencial. Informe-se que o entendimento

esposado nos Acórdãos n° 102-45.417 e 45.440, já não se encontra atual, tendo sido

reformados os julgados que alçaram à Câmara Superior de Recursos Fiscais.

b) nulidade do lançamento por irregular desconsideração da

personalidade jurídica.

O recorrente entende que no presente procedimento houve

desconsideração da personalidade jurídica da empresa L. F. Promoções, Serviços e

Representações Ltda., feita ao arrepio da autorização judicial prevista no art. 50 do

Código Civil, Lei n° 10.406, de 2002.

Não vejo razão ao recorrente. Como visto, no presente lançamento não

se cogitou desconsiderar a existência da pessoa jurídica que permanece com sua

personalidade intacta. Uma prova disto está no fato de o julgador refutar o pedido de

compensação dos impostos recolhidos sob a justificativa que só à empresa, por seus

representantes legais, compete promover ações neste sentido.20

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4, M1/41)MINISTÉRIO DA FAZENDA

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Processo n° : 11020.00382312003-26Acórdão n° : 106-14.244

Afaste-se a preliminar de nulidade de lançamento argüida pelorecorrente.

c) erro identificação da infração como omissão de rendimentosrecebidos de pessoa jurídica (haveria reclassificação dos rendimentos auferidos,recebidos e tributados na pessoa jurídica, e não omissão)

Segundo o recorrente a autuação fiscal careceria de fundamentaçãolegal porque, ao invés de omissão de rendimentos, o lançamento decorre dareclassificação dos rendimentos que já haviam sido declarados pela pessoa jurídica.

Há que se verificar que esta situação tem muito mais a ver com asistemática da fiscalização do imposto de renda do que com o direito em si. É que nãotendo sido informados na DIRPF os rendimentos atribuídos à pessoa física estes, porconseqüência, foram omitidos, segundo a linguagem fiscal.

A fundamentação do lançamento nos dispositivos das Leis n°7.713, de1988, n° 8.134, de 1990, como acima transcrito, corresponde à tributação dosrendimentos percebidos por pessoa física como produto do trabalho prestado individuale pessoalmente.

Ainda quanto à capitulação legal, as disposições do Decreto n° 1.041,de 1994— RIR194, indicadas no Termo de Verificação Fiscal, parte integrante do Autode Infração, verbis:

LIVRO!TRIBUTAÇÃO DAS PESSOAS FÍSICAS

CAPITULO IIIRENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS

Seção IRendimentos do Trabalho Assalariado e Assemelhados

Art. 45. São tributáveis os rendimentos provenientes do trabalhoassalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício deempregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens

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percebidos, tais como (Lei n° 4.506, de 1964 art. 16. Lei n° 7.713, de1988, art. 3°, § 4°, Lei n° 8.383, de 1991, art. 74):I - salários, ordenados, vencimentos, soldos, soldadas, vantagens,subsídios, honorários, diárias de comparecimento, bolsas de estudo ede pesquisa, remuneração de estagiários;

IV - gratificações, participações, interesses, percentagens, prêmios equotas-partes de multas ou receitas;

X - verbas, dotações ou auxílios, para representações ou custeio dedespesas necessárias para o exercício de cargo, função ou emprego;

Art. 47. São tributáveis os rendimentos do trabalho não-assalariado,tais como (Lei n° 7.713, de 1988, art. 3°, § 4°):I - honorários do livre exercício das profissões de médico, engenheiro,advogado, dentista, veterinário, professor, economista, contador,jornalista, pintor, escritor, escultor e de outras que lhes possam serassemelhadas;

II - remuneração proveniente de profissões, ocupações e prestação deserviços não-comerciais;

VII - direitos autorais de obras artísticas, didáticas, científicas,urbanísticas, projetos técnicos de construção, instalações ouequipamentos, quando explorados diretamente pelo autor ou criador dobem ou da obra;

A autoridade responsável pelo lançamento entendeu que os serviçosde treinamento da equipe profissional de futebol e supervisão de todas as equipesamadoras do Clube Palmeiras, embora contratados com a pessoa jurídica, foramprestados de forma personalíssima pelo sócio majoritário da empresa, com o queaquiesceram os julgadores de Primeira Instância ao acolherem o voto do relator porunanimidade.

O exame da relação empregatícia tem matriz legal na Consolidaçãodas Leis do Trabalho, Decreto-lei n°5.452, de 01.05.1943, que estabelece, verbis:

Art. 2° Considera-se empregador a empresa individual ou coletiva, que,assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirigea prestação de serviços.

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§ 1° Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos darelação de emprego, os profissionais liberais, as instituições debeneficência, as associações recreativas ou outras instituições semfins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados.

Art. 3° Considera-se empregado toda pessoa física que prestarserviços de natureza não eventual a empregador, sob dependênciadeste e mediante salário.

Parágrafo único. Não haverá distinções relativas á espécie de empregoe à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnicoou manual.

Pelo sentido da lei a relação empregaticia da pessoa física decorre danatureza não eventual dos serviços, da dependência do empregado ao empregador edo pagamento do salário, este compreendido "a importância fixa estipulada, comotambém as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens eabonos pago pelo empregador" (§ 1°, do art. 457 da CLT).

A relação trabalhista entendida pelas autoridades lançadora ejulgadora de primeira instância advém de o trabalho ser prestado de forma individual epersonalíssima, repita-se, o que estaria conforme os ensinamentos doutrináriostranscritos no Termo de Verificação Fiscal e no Acórdão recorrido.

O Sr. Luiz Felipe Scolari, como ficou notório aos amantes do esporte,prestou os serviços de treinamento da equipe profissional de futebol do Palmeiras.Conforme os termos do contrato firmado entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e a L.F. Promoções, Serviços e Representações Ltda., o objeto contratado era a prestaçãode serviços de treinamento da equipe profissional de futebol e supervisão de todas asequipes amadoras (cláusula primeira), obrigatoriamente pelo sócio Luiz Felipe Scolari(cláusula segunda) mediante pagamentos mensais fixos e variáveis conforme relatado.

Se foi este, pessoa física, quem prestou os serviços a este cabe aremuneração e a correspondente tributação do Imposto de Renda como determina alegislação tributária transcrita.

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Assim, a alegação de erro na identificação da infração como omissãoao invés de reclassificação da receita declarada na PJ para o lançamento de ofício naPF não prejudica a autuação, quiçá quanto à aplicação da multa qualificada.

Firme-se, portanto, que ao sujeito passivo da obrigação tributária —auferir rendimentos do trabalho junto à pessoa jurídica — cabe imputar a tributação doIRPF.

d) inexistência de proibição legal para tributar a remuneração docontrato de técnico de futebol pela pessoa jurídica

A autoridade lançadora, com relação à existência da empresa L. F.Promoções, Serviços e Representações Ltda., destaca que a empresa foi constituídasob forma de uma sociedade limitada, com registro na Junta Comercial do Rio Grandedo Sul em 02/01/1996, tendo por finalidade a exploração de prestação de serviços detreinador de futebol, ações de merchandising, cessão de Imagem e representaçõescomerciais de artigos esportivos em geral.

Destaca, também, o domicílio fiscal da empresa que coincide com oendereço residencial dos sócios e sobre as receitas e despesas, aquelasprovenientes, no ano-calendário de 1998, noventa e cinco por cento, do contrato com aSociedade Palmeiras e o restante da participação em comerciais; já as despesas,foram mínimas, predominantemente tributárias.

A autoridade julgadora de Primeira Instância, por sua vez, em face daimpugnação apresentada em que se argumenta a inexistência de impedimento legal àconstituição da empresa, foi enfática quanto a não vedação legal para a constituição eexploração de sociedades civis para a prestação de serviços, desde que osprofissionais reunidos atuassem na mesma atividade e/ou em profissões legalmentehabilitadas a exemplo de categorias de médicos e advogados constituídos emsociedade civil e prestando serviços em nome da sociedade e não individualmente eem nome pessoal.

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

A julgadora destaca como pontos impeditivos à prestação dos serviçospor meio da empresa não ser regulamentada a profissão de técnico de futebol, não sera pessoa jurídica uma sociedade civil e sim uma sociedade mercantil, sendo os sóciosqualificados como do comércio.

O recorrente encontra nas disposições do art. 146 e 147 do RIR/99amparo para a constituição da empresas aos moldes em que se encontram. Osdispositivos têm a seguinte redação e localização, verbis:

LIVRO IITRIBUTAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS

TÍTULO ICONTRIBUINTES E RESPONSÁVEIS

SUB TITULO ICONTRIBUINTES

Art. 146. São contribuintes do imposto e terão seus lucros apurados deacordo com este Decreto (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 27):- as pessoas jurídicas (Capítulo I);

II- as empresas individuais (Capítulo II).§ /° As disposições deste artigo aplicam-se a todas as firmas esociedades, registradas ou não (Decreto-lei n° 5.844, de 1943, art. 27,§ 2°).

§ 3° As sociedades civis de prestação de serviços profissionaisrelativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada sãotributadas pelo imposto de conformidade com as normas aplicáveis àsdemais pessoas jurídicas (Lei n° 9.430, de 1996, art. 55).

CAPÍTULO IPESSOAS JURÍDICAS

Art. 147. Consideram-se pessoas jurídicas, para efeito do disposto noinciso I do artigo anterior

I - as pessoas jurídicas de direito privado domiciliadas no País, sejamquais forem seus fins, nacionalidade ou participantes no capital

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'4:44MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

Abrilea,•-t> SEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

(Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 27, e Lei n° 4.131, de 3 desetembro de 1962, art. 42, e Lei n° 6.264, de 1975, art 1°);

Na interpretação da norma legal o aplicador do direito deve fazê-la detal modo que aplicada uma norma outra não seja inviabilizada. Primeiro, entendido queos serviços foram prestados pela pessoa física de forma personalíssima, a tributaçãodeve ser com base na lei de tributação das pessoas físicas. Isto, no caso presente,torna despicienda a discussão sobre a regularidade ou não da empresa L. F.Promoções, Serviços e Representações Ltda., a não ser para estacar o estudo relativoà existência das atitudes simuladas.

As disposições do art. 146 e 147 encontram-se no Livro II que trata datributação das pessoas jurídicas. No esclarecimento feito pelo legislador por meio do §3° do art. 146, as pessoas jurídicas instituída sob a forma de sociedade civil, atributação deve ser pelas regras da pessoa jurídica.

No caso presente não resta dúvida que a empresa L. F. Promoções,Serviços e Representações Ltda. não é uma sociedade civil. Os seus sócios, emboraprofessores, como se alega (não há os correspondentes diplomas), não constituíramuma sociedade civil em que seus sócios trabalhassem em nome desta (sociedade) nasatribuições de professores. Como visto, os objetivos sociais desta empresa não sãorelativos ao magistério.

Para mera finalidade de raciocínio, dois profissionais da medicina queresolvessem atuar, conjuntamente, no ramo de restaurantes não poderiam constituiruma sociedade civil. Dois professores atuando em áreas diversas das de suasformações acadêmicas, do mesmo modo, não encontrariam amparo para a constituiçãouma sociedade civil.

Assim, é de entender-se que a empresa em referência não poderia tera sua constituição obstacularizada. Contudo, isto não lhe garante uma tributaçãoprivilegiada mediante a conversão dos rendimentos auferidos pelo seu sócio porserviços prestados individualmente em receitas da pessoa jurídica.

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MINISTÉRIO DA FAZENDA;osy'S, PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

SEXTA CÂMARA

Processo n u: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Os dispositivos constitucionais, art. 5 0 , inciso XVII, e art. 150, inciso II,não restaram ofendidos pela autuação. A liberdade de associação não foi atingidamesmo porque a empresa não foi desconsiderada como já ficou assente. Tampoucotratamento desigual houve àqueles que se encontrem em situação equivalente. Esta,situação equivalente, pelo contrário, corresponde aos trabalhadores que têm relaçãodireta com o empregador, prestam serviços pessoalmente e são tributados comopessoa física. Tributar como pessoa jurídica, sim, seria o tratamento desigual.

Também, não ampara o contribuinte as disposições do art. 192, incisoXIII, do RIR199, por endereçar-se às Pessoas jurídicas que prestem serviçosprofissionais cuja opção pelo SIMPLES não é permitida. Já o art. 647, RIR/99, trata daincidência de imposto de renda na fonte de importâncias pagas por pessoas jurídicas aoutras pessoas jurídicas que prestam serviços profissionais, o que não é o caso dopresente lançamento.

Conclui-se que a legislação tributária não proíbe a constituição deempresa para a exploração de serviços qualquer que seja a natureza, inclusive detreinamento de futebol profissionais a serem prestados por locação de mão de obra deseus empregados.

Por outro lado, com vistas à constituição de sociedade civil há que seussócios possuírem profissões regulamentadas e nestas exercerem atividades por contae em nome da sociedade civil. Em assim sendo, a tributação segue as regras aplicadasàs pessoas jurídicas.

e) quantificação da base de cálculo da exigência e compensaçãodos tributos recolhidos

Sobre a utilização do Livro Caixa para poder abater as despesas, adespeito da falta de amparo legal já esclarecida na Primeira Instância, vejo de poucaeficácia uma vez que estas foram de pequena monta, praticamente, relativas aencargos tributários.

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESSEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Também, quanto as verbas contratuais designadas de indenizações,não tem razão o recorrente. Adiciona-se aos esclarecimentos já prestados na fase dejulgamento precedente, que as situações de indenizações, por isso rendimentosisentos ou não tributáveis, estão expressas no art. 40, incisos XVI a XX, do RIR/94.

Já quanto à exclusão da base de cálculo do lançamento o valor pagoao contribuinte a título de pro-labore pela L. F. Promoções, Serviços e RepresentaçõesLtda., entendo pertinente. No mesmo sentido, quanto à utilização na apuração docrédito tributário lançado dos valores pagos a título de tributos federais pela pessoajurídica em face dos rendimentos auferidos pela pessoa do sócio.

O próprio Fisco disse não ter a pessoa jurídica auferido a receitaproveniente do contrato cumprido pela pessoa física do Sr. Luiz Felipe Scolari. Foi opróprio agente do Fisco quem transferiu a receita da empresa à pessoa física, com anatureza de rendimentos.

Neste caso, não restaria outra alternativa senão de fazer constar naautuação os créditos já recolhidos e determinando, também de oficio, a retificação dosrecolhimentos (código do tributo) para quitar o correspondente valor do impostolançado na pessoa física. Não vejo como poder-se agir de outro modo.

Assim, na apuração da base de cálculo é pertinente que sejamexcluídos os valores recebidos a título de pro-labore, tributados na DIRPF apresentada,cuja origem tenha sido a receita proveniente do contrato em questão. De igual modo,na apuração do crédito objeto do presente lançamento, confirmados os recolhimentoobjeto dos DARF de fls. 377, e a vinculação com a receita transferida à pessoa física,sejam tais valores considerados como IR antecipado.

f) qualificação da multa de oficio (não teria havido simulação)

Segundo o responsável pelo lançamento, no presente caso, ocorreuevasão fiscal não permitida pelo ordenamento jurídico, completando que "é legítimo

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Processo nu : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

que, diante de duas formas possíveis de se efetuar um negócio, a escolha do

contribuinte recaia sobre aquela que lhe impõe um menor ônus tributário. É o que se

chama de 'elisão fiscal', permitida pela legislação".

Esta conceituação encontra respaldo tanto na doutrina especializada

quanto na jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais.

Neste sentido, "é licito ao contribuinte planejar seus atos visando

incidência de menor carga tributária sobre seus negócios, desde que o faça

observando os termos legais, o que caracteriza hipótese de elisão fiscal"(TRF 1°

Região, AC-01082083, Processo 199501082083—MG, de 26.03.2002); "planejamento

tributário praticado pelas empresas deve limitar-se à prática da economia fiscal licita

(elisão), não se admitindo em nosso ordenamento a evasão (economia fiscal ilícita)

(TRF 4° Região, AC 170380, de 21.09.2000); "é lícito ao contribuinte planejar seus atos

visando incidência de menor carga tributária sobre seus negócios, desde que o faça

observando os termos legais, o que caracteriza hipótese de elisão fiscal" (TRF 4a

Região, AC, Processo 9604559303— SC, de 17.12.1998).

Oportunas, também, as lições da Ministra Eliana Calmon, do Superior

Tribunal de Justiça, em pronunciamento durante o "Seminário elisão, simulação e

crimes contra a ordem tributária. www.stj.gov.br" - acesso em 19.04.2003, segundo a

qual "na doutrina brasileira é a elisão defendida como uma conduta lícita do

contribuinte, antes da ocorrência do fato gerador, sem envolver nenhuma prática

simulatória, com o escopo de obter uma carga tributária menor, legalmente aceita",

alertando que "na execução de práticas elisivas o contribuinte pode acabar

extrapolando e caindo no terreno da simulação".

Nos termos postos, em visão apressada, poder-se-ia dizer que só há

dois caminhos para aquele que, por equivocar-se na interpretação da legislação, deixar

de recolher os tributos na medida entendida correta pelo Fisco: ou está perdoado

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

porque praticara elisão; ou será autuado pela ocorrência da evasão, extrapolando-separa a simulação com o evidente intuito de fraudar o fisco.

Nas palavras das autoridades lançadoras e julgadoras o contratofirmado entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e a L. F. Promoções, Serviços eParticipações Ltda. estaria atingido pela evasão fiscal em face de simulação perpetradapelos contratantes em cujo cerne está o dolo de fraudar o pagamento de ónus fiscais(além de previdenciários e trabalhistas).

A autoridade julgadora, desde o exame da preliminar de decadênciaapresentada, afirma que "para o caso concreto houve a ocorrência de simulação".Conclui "que houve uma ação conjunta entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e ocontribuinte com o intuito de modificar as características essenciais do fato gerador daobrigação tributária, deslocando para a pessoa jurídica interposta como beneficiária deum rendimento que é um direito personalíssimo" e que "tal procedimento denota'simulação', perfeitamente subsumida ao inciso I do art. 102 do antigo Código Civil,vigente à época, pois o ato jurídico aparentou conferir direitos a pessoa diversa, ouseja à pessoa jurídica de natureza comercial, impossibilitada de prestar um serviçopersonalíssimo de natureza civil".

A I. Julgadora de Primeira Instância, também preleciona que "o próprioCTN, em seu art. 116, parágrafo único, autoriza a autoridade autuante a desconsideraratos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a natureza doselementos constitutivos da obrigação tributária, tal como a sujeição passiva, ou mesmoa ocorrência do fato gerador do tributo". Equívocos à parte, é sabido que estedispositivo trazido ao Código Tributário Nacional pela Lei Complementar n° 104, de2001, está à mercê de regulamentação por meio de lei ordinária.

Tenho a convicção que, no caso presente, a simulação não ficoucaracterizada. Parlo das palavras do Ministro do Tribunal Superior do Trabalho acercade empresa contratante de jogadores de futebol, trazidas aos autos pelas autoridadesa quo:

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Processo n°nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Fausto observou ainda que trabalhadores contratados como empresasdificilmente recorrem à Justiça para reclamar direitos trabalhistas."Estas pessoas são altamente bem remuneradas. Evitam ir à Justiça,pois temem perder a oportunidade de um novo contrato".

Para o presidente do TST o problema só deve ser resolvido quando osempregados como pessoas jurídica entrarem com ações para pedirreparação de danos. "A conclusão será pela relação de emprego. Ai,as conseqüências serão as que estão na lei: pagamento de todos osdireitos".

Das informações supra, colhe-se que as pessoas físicas, jogadores defutebol, vêm sendo contratados por intermédio de pessoa jurídica, especialmente,porque esta é a prática reinante nesta atividade laborai. E que se recorrerem à Justiça,embora tenham seus direitos reconhecidos, não terão mais oportunidades de novoscontratos. No caso dos treinadores de futebol, por certo, a situação não é diferente.

Mais que evitar a tributação dos rendimentos do jogadores na pessoafísica, denota, de maior relevância, na situação em comento, a imposição do Clube emnão contratar como empregado o treinador em face dos encargos trabalhistas eprevidenciários.

Na presente situação, teria ocorrido a simulação por parte doscontratantes mediante dolo para fraudar o pagamento de ônus fiscais, no que interessaao processo. Por isso a qualificação da multa de oficio ao percentual supra.

Nas palavras do recorrente em nenhum momento comprova-se aintenção de lesar o fisco mediante a prática de simulação. A Fazenda Nacional sempresoube da existência da empresa L. F. Promoções, Serviços e Representações Ltda.,criada em 1996, pelo que deve ter acompanhado os recolhimentos dos diversostributos federais e da entrega das declarações exigidas pela legislação tributária.

De fato, o distanciamento temporal entre a constituição da empresa aL. F. Promoções, Serviços e Representações Ltda., desde 1996, leva a conclusãoprimária que não teve a participação da Sociedade Atlética Palmeiras posto que só viriaa contratá-la no final de 1997.

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

Não se pode assegurar a existência da figura típica do conluio entre otreinador e os dirigentes do clube na elaboração de plano fraudulento em face daconstituição da empresa L. F. Promoções. Já o conluio em face do contrato firmado, éo próprio Ministro do Superior Tribunal do Trabalho que afirma ser esta a práticareinante no pais do futebol. Assim, não enxergo presente a figura do conluio naassinatura do contrato entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e o Treinador de Futebol,Luiz Felipe Scolari.

Entendo, conclusivamente, que embora presente a expectativa deeconomia de imposto mediante a elisão esta não se configura em face da prestaçãolaborai cuja remuneração tributa-se pela legislação do imposto de renda das pessoasfísicas.

As outras figuras típicas da fraude e da sonegação, relacionadas nos71 e 72 da Lei n° 4.502, de 1964, também, não considero indiscutível nos termos dosfatores antes mencionados.

A aplicação da multa de ofício no percentual referido tem sido acatadapelos órgãos de julgamento administrativo nos casos em que a autoridade lançadoradeixa induvidoso o evidente intuito de fraude por parte do contribuinte infrator. Asementas transcritas a seguir, espelham o entendimento pacificado:

LANÇAMENTO DE OFÍCIO - MULTA QUALIFICADA - JUSTIFICATIVA- Qualquer circunstância que autorize a exasperação da multa delançamento de oficio de 75%, prevista como regra geral, deverá serminuciosamente justificada e comprovada nos autos. Além disso, paraque a multa de 150% seja aplicada, exige-se que o contribuinte tenhaprocedido com evidente intuito de fraude. Se a fiscalização nãodemonstrou, nos autos, que a ação do contribuinte teve o propósitodeliberado de impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência dofato gerador da obrigação tributária, utilizando-se de recursos quecaracterizam evidente intuito de fraude, não cabe a aplicação da multaqualificada. Recurso de oficio negado (Ac. 104-18487, de 2001).IRPF - MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA - Para que a multa de oficioqualificada possa ser aplicada é necessário que se comprove de

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

maneira inequívoca o evidente intuito de fraude. Recurso de ofícionegado (Acórdão 106-13193, de 2003).

MULTA DE OFÍCIO - ART. 44, INCISO II, DA LEI 9.430/96 - Paraaplicação da multa de ofício agravada, na forma do inciso II, do art. 44da Lei n° 9.430/96, é imprescindível que haja descrição e incontestecomprovação da ação ou omissão dolosa, na qual fique evidente ointuito de sonegação, fraude ou conluio, capitulados na forma dosartigos 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64, respectivamente (Acórdão 303-29280, de 2000)

No caso presente, afastada a existência de simulação, o evidenteintuito de fraudar o fisco fica prejudicado, o que determina a aplicação da multa deofício no percentual de 75%, sem qualificação.

Voto, portanto, por DAR provimento parcial ao recurso para que sejareduzida a base de cálculo do lançamento no valor pago a título de pro-laboretributados na DIRPF cuja origem tenha sido a receita da L. F. Promoções, Serviços eRepresentação Ltda., transferida como rendimentos à pessoa física; deduzido doimposto devido apurado no Auto de Infração os tributos federais recolhidos em face dadita receita transferida; e reduzida a multa de ofício ao percentual de 75%.

Sala das Se s s - DF, r, 20 de outubro de 2004.

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

DECLARAÇÃO DE VOTO

Conselheiro WILFRIDO AUGUSTO MARQUES,

A matéria trazida a litígio abrange dois aspectos fundamentais: oprimeiro, de mérito, referente à adequação jurídica da tributação em si; o segundo,pertinente ao cabimento, in casu, da multa qualificada pelo ilícito penal-tributário.

A acusação que dá azo à tributação e à aplicação da multa qualificadaé de simulação. A fiscalização desconsiderou o contrato de prestação de serviçosmantido entre a Sociedade Esportiva Palmeiras e a L. F. Promoção, Serviços eRepresentações Ltda., empresa da qual o Recorrente é sócio majoritário, por entenderque a avença tinha caráter personalíssimo e, desta forma, deveria ter sido formalizadacom o Recorrente — pessoa física — e não com a pessoa jurídica da qual é sócio, jáque nesta modalidade redundou em redução da carga tributária.

O que está sob exame deste Conselho é a questão da evasão fiscalcaracterizada pela simulação, já que foi a desconsideração do negócio dito simuladoque ensejou tributação e ainda serviu para agravar a multa de ofício.

Primeiramente, há que se diferenciar elisão x evasão fiscal. A buscapor esta diferenciação remonta a séculos. Também é histórica a atenção com que osEstados atuam no sentido de reprimir e punir a evasão fiscal, e também, em algunscasos, a elisão fiscal.

Por certo que a evasão, a seu turno, encontra tipicidade normativavasta no sentido de sua ilicitude, inclusive penal. A legislação civil, inclusive, volta-seao delineamento da simulação dos atos jurídicos. Porém, em que pese a produçãodoutrinária sobre o tema, na prática, é "nebulosa" a fronteira entre elisão (redução licita

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

da incidência tributária) e a evasão (escape ilícito do ônus tributário), emprestando aquio termo utilizado por Hermes Marcelo Huck em obra sobre o tema (Evasão e elisão, ed.Saraiva, 1997).

Na obra citada, o autor estabelece uma das diferenças entre a elisão ea evasão fiscal, dizendo: "a elisão lícita, vista como forma de planejamento tributáriolegalmente praticado, distingue-se da simulação, pois, na primeira, os meiosempregados devem ser lícitos, ao passo que, na simulação, haverá sempre um ilícitooculto."(p. 121).

Em trilha semelhante, Luciano Amaro registrou sua visão acerca dotema, versando sobre a tese do "abuso de forma", nos seguintes termos:

"Parece-nos que, se a forma utilizada pelo contribuinte for licita (valedizer, prevista ou não defesa em lei), ela não pode ser consideradaabusiva, o que traduziria uma contradição.Ninguém pode ser obrigado, p. ex., a utilizar a forma da compra evenda para transferir um imóvel para uma empresa (que seria umaoperação sujeita a imposto de transmissão), se o indivíduo tem o direitode utilizar outra forma (igualmente lícita), que é a conferência do imóvelna integralização de capital da sociedade (operação que não estariasujeita àquele imposto).O problema não nos parece que possa ser solucionado com a simplesconsideração de que esta ou aquela forma é ou não a que"usualmente" (ou "normalmente, se emprega. Se a forma empregadaé lícita, qual o motivo jurídico para não se poder emprega-la? Sedois indivíduos desejam permutar bens, qual a razão pela qualpudessem ser forçados a realizar dois negócios de compra e venda? Ese quiserem fazer doisnegócios de compra e venda, porque teriam que formalizar umapermuta? Se a opção por uma outra dessas formas for menos onerosafiscalmente, não há razão jurídica para obrigar os indivíduos autilizarem a outra forma." (in Planejamento Fiscal — Teoria e Prática,ed. Dialética, 1995).

Segundo Ricardo Mariz de Oliveira, três perguntas, se respondidasafirmativamente, afastariam a hipótese de ilícito, para revelar a prática de elisão. Sãoelas:

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• n 3

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Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

- a economia fiscal decorreu de ato ou omissão anterior à ocorrência do fatogerador?

- a economia fiscal decorreu de ato ou omissão praticados sem infração à lei?- A economia fiscal decorreu de ato ou omissão efetivamente ocorridos, tal como

refletidos na respectiva documentação e escrituração, e sem terem sidoadulterados nestas?

A resposta para essas questões, no caso em comento, é sempreafirmativa.

De fato, o Recorrente não constituiu empresa apenas para manter ocontrato com a Sociedade Esportiva Palmeiras, ao revés, o contrato social jungido àsfls. 44/47 revela que a sociedade foi formada em 1995, ou seja, anos antes daformalização do contrato, que somente ocorreu em 1997 (fls. 71), tendo outrosobjetivos sociais que não apenas o de Prestação de Serviços de TreinamentoProfissional.

Não se cogita de infração à lei, já que o Recorrente usou de expedientepróprio, permitido a todos, formalizando contrato . também sob as formas da lei. Os atosdeclarados, escriturados e narrados pelo Recorrente efetivamente ocorreram, e não hásinal ou alegação de adulteração dos mesmos.

Ora, de acordo Hermes Marcelo Huck, na obra supra citada, elisãofiscal "é a faculdade clássica do indivíduo em configurar seu negócio jurídicolicitamente, utilizando-se das formas disponíveis no direito privado, de tal modo a nãoconstituir um fato imponível, abortando o nascimento da obrigação tributária" (pág. 22).O caso, portanto, não se enquadra na espécie evasão fiscal, mas sim em elisão fiscal,considerada pelo próprio relatório da fiscalização como figura permitida no DireitoTributário (fls. 15).

Dito isto, cabe fazer algumas breves considerações sobre o contratoque respaldou a autuação, apenas para analisar os pontos ventilados no RelatórioFiscal.

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Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

O Recorrente discorreu em sua defesa e no seu recurso, no sentido de

demonstrar as "motivações" para a forma como eram formalizados os contratos, e me

parece que estas guardam plena identidade com o serviço que foi desempenhado.

É que ao contrário do que afirma a fiscalização, o contrato mantido

entre Sociedade Esportiva Palmeiras e L.F. Promoções e Representações Ltda. não

exigia que os serviços fossem prestados com exclusividade por Luiz Felipe Scolari,

mas que a representação fosse realizada obrigatoriamente por este,

"independentemente de outros profissionais, no cumprimento deste contrato".

E ninguém cogitaria da prestação de serviços de treinamento

profissional a um de nossos grandes times por um único profissional isolado, sem o

auxílio de outros. Certamente inúmeras informações são necessárias, vasto

conhecimento técnico dos times envolvidos no campeonato, assessoramento na

organização das atividades, enfim atos de profissionais que devem munir o Mestre no

treinamento profissional que deverá ser desempenhado.

O contrato firmado entre Sociedade Esportiva Palmeiras e L. F.

Promoções e Representações Ltda., ao dizer da necessidade de "outros profissionais,

no cumprimento deste contrato", revela o que já é de conhecimento geral — a

necessidade de outros profissionais envolvidos com a atividade para sua adequada

realização. O que se indaga é como pode ter esta afirmação contratual passado

desapercebida pela fiscalização, para que considerasse o contrato como de caráter

personalíssimo?

A situação de contrato de caráter personalíssimo não está

caracterizada sequer no contrato mencionado pela fiscalização, por qual razão então

foi feita afirmação tão contundente? O contrato foi firmado com uma empresa e

menciona-se nesse a necessidade de uma empresa (vários profissionais) para

realização das atividades e não de um único profissional. Não há razões, portanto, para

que se considere vício de simulação ou mesmo abuso de forma.

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

.,42-'41itioí), SEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

O Recorrente cita um exemplo que bem espelha a situação do contratoque lastreou a autuação, qual seja, o do Cantor Roberto Carlos. Contrata-se a pessoajurídica, composta por todos os profissionais necessários para realização do show, masexige-se que esse seja realizado pelo Cantor, sob pena de rescisão do contrato.

Adentrei em seara subjetiva, a despeito de não ser esta compatívelcom a atividade de tributação, apenas para fazer ponderações que consideroimportantes e de relevo para o julgamento. Opiniões e visões sobre o que é razoávelou não, padecem da influência subjetiva da autoridade fiscal, de forma exacerbada. Osuporte legal para a desconsideração dos atos lícitos (que impliquem elisão fiscal),como registrei anteriormente, chegou ao nosso Direito no ano de 2001, portanto apósos fatos em apreço, e nem mesmo consolidou-se.

Assim, acredito que a questão é de verificar se os atos praticadosforam lícitos. A meu ver, a licitude está presente, pelo que se está diante de simplesplanejamento tributário lícito.

Nesse sentido, trago para apreciação, os seguintes registros dejulgados proferidos nesta Sexta Câmara, de que participei, e da Primeira Câmara,também do Primeiro Conselho de Contribuintes:

Número do Recurso: 006102 Câmara: SEXTA CÂMARANúmero do Processo: 13884.000029/95-33Tipo do Recurso: VOLUNTÁRIOMatéria: IRPFRecorrente: LUIZ AUGUSTO SACCHIRecorrida/Interessado: DRJ-CAM P I NAS/S PData da Sessão: 18/09/1997 00:00:00Relator: Genésio DeschampsDecisão: Acórdão 106-09343Resultado: DPM - DAR PROVIMENTO POR MAIORIATexto da Decisão: DAR PROVIMENTO POR MAIORIA. VENCIDOS OS

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MINISTÉRIO DA FAZENDAtT.7.--2L1- +I;‘‘&p:::*$:,- PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

SEXTA CÂMARA

Processo nu: 11020.003823/2003-26Acórdão n° : 106-14.244

CONSELHEIROS DIMAS RODRIGUES DE OLIVEIRA EHENRIQUE ORLANDO MARCONI.

Ementa: IRPF - GANHOS DE CAPITAL - SIMULAÇÃO - Para quese possa caracterizar a simulação, em atos jurídicos, éindispensável que os atos praticados não pudessem serrealizados, fosse por vedação legal ou por qualqueroutra razão. Se não existia impedimento para a realizaçãode aumentos de capital, a efetivação de incorporação edecisões, tal como realizadas e cada um dos atospraticados não é de natureza diversa daquele que de fatoaparenta, isto é, se de fato e de direito não ocorreram atosdiversos dos realizados, não há como qualificar-se aoperação de simulada. Os objetivos visados com aprática dos atos não interferem na qualificação dos atospraticados, portanto, se os atos praticados eram lícitos,as eventuais conseqüências contrárias ao fisco devemser qualificadas como casos de elisão fiscal e não deevasão ilícita.IRPF - ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS -DIREITO ADQUIRIDO - Não há incidência de imposto derenda sobre ganhos de capital apurados na alienação departicipações societárias ocorridas após 01.01.89,adquiridas até 31.12.83, a teor da alínea "d" do artigo 4° doDecreto-lei N° 1.510/76, face ao principio do direitoadquirido.Recurso provido.

Número do Recurso: 131653Câmara: PRIMEIRA CÂMARANúmero do Processo: 16327.001715/2001-26Tipo do Recurso: VOLUNTÁRIOMatéria: IRPJRecorrente: FOCOM TOTAL FACTORING LTDA.Recorrida/Interessado: 8a TURMA/DRJ-SÃO PAULO/SP IData da Sessão: 28/02/2003 00:00:00Relator: Sandra Maria FaroniDecisão: Acórdão 101-94127Texto da Decisão: Por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso.Ementa: IRPJ - SIMULAÇÃO NA INCORPORAÇÃO.- Para que se

possa materializar, é indispensável que o ato praticadonão pudesse ser realizado, fosse por vedação legal oupor qualquer outra razão. Se não existia impedimentopara a realização da incorporação tal como realizada e o ato

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MINISTÉRIO DA FAZENDA';.).qp.,,'<cé PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

SEXTA CÂMARA

Processo n° : 11020.00382312003-26Acórdão n° : 106-14.244

praticado não é de natureza diversa daquela que de fatoaparenta, não há como qualificar-se a operação desimulada. Os objetivos visados com a prática do ato nãointerferem na qualificação do ato praticado. Portanto, seo ato praticado era lícito, as eventuais conseqüênciascontrárias ao fisco devem ser qualificadas como casosde elisão fiscal e não de "evasão ilícita." (Ac. CSRF/01-01.874/94).IRPJ- INCORPORAÇÃO ATÍPICA- A incorporação deempresa superavitária por outra deficitária, embora atípica,não é vedada por lei, representando negócio jurídicoindireto.

Por estas razões, voto pelo provimento do recurso, para julgar

insubsistente a autuação, por entender que não houve ilícito nas operações em tela,

registrando-se caso de mero planejamento tributário, lícito, que não encontra óbice na

legislação aplicável aos fatos em apreço.

Sala das Sessões - DF, em 20 de outubro de 2004.

WILFRIDO A GUST• MAR UES

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QUARTA CÂMARA•

Processo n°. : 11020.002220/2004-98 •Recurso n°. : 144.929Matéria : IRPF - Ex(s): 2000 a 2003Recorrente : LUIZ FELIPE SCOLARIRecorrida : 4a TURMA/DRJ-PORTO ALEGRE/RSSessão de : 11 de agosto de 2005Acórdão n°. : 104-20.915

PAF - NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO - Não provada violação dasdisposições contidas no art. 142 do CTN, tampouco dos artigos 10 e 59 doDecreto n° 70.235, de 1972 e artigo 5° da Instrução Normativa SRF n° 94, de1997, não há . que se falar em nulidade, quer do lançamento, quer doprocedimento fiscal que lhe deu origem, quer do documento que formalizoua exigência fiscal.

PAF - NULIDADE DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA - Não se cogitade nulidade da decisão de primeira instância quando esta enfrenta todas asmatérias em litígio e apresenta com clareza as razões de decidir, em estritaobservância das regras que regem o Processo Administrativo Fiscal.

IRPF - REMUNERAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE PROFISSÃO, ATIVIDADEOU PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE NATUREZA NÃO COMERCIAL —CONTRIBUINTE - São tributados como rendimentos de pessoas físicas asremunerações por serviços prestados, de natureza não comercial, com ousem vínculo empregatício, independentemente da denominação que se lhes•dê. O fato de formalmente a relação contratual ter sido estabelecida emnome de pessoa jurídica não muda o efetivo contribuinte, que é definido emlei e com base na natureza dos rendimentos.

MULTA DE OFICIO - BASE DE CÁLCULO - A base de cálculo da multadeve ser a totalidade ou diferença do tributo devido, conforme o caso. Nasua apuração devem ser subtraídos os valores comprovadamente pagos,ainda que por pessoa diversa e sob rubrica distinta.

IRPF - PRO LABORE - NATUREZA DO RENDIMENTO - O pro labore éremuneração pelo trabalho do sócio da empresa, fixada por convenção entreos sócios e não guarda relação com as receitas da empresa. A tributação napessoa física do sócio, de rendimento contabilizado como receita daempresa, em nada altera a natureza dessa remuneração e, desse modo,não há falar em subtrair, dos rendimentos lançados na pessoa física, osvalores recebidos a esse título.

IRPF - DEDUÇOES - LIVRO CAIXA - São admitidas como deduções a títulode Livro Caixa, aquelas despesas necessárias à percepção da renda, taiscomo remuneração de empregados, aluguel, taxas, emolumentos, materiais,

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

etc. e devidamente comprovadas e escrituradas no Livro Caixa. Incabível adedução de despesas a esse título sem a específica e precisa identificaçãode sua efetividade e de sua necessidade à percepção da renda.

IRPF - DESPESAS DE VIAGENS, HOSPEDAGENS E ALIMENTAÇÃO -Apenas os valores comprovadamente destinados a custear despesas detransporte, hospedagem e alimentação no caso de remoção do beneficiário

- de um município para outro não ficam sujeitos ao imposto de renda. Sem acomprovação de que os valores recebidos se destinaram a custear essasdespesas deve ser mantida a tributação.

MULTA DE OFÍCO QUALIFICADA - A multa de ofício qualificada, nopercentual de 150%, é aplicável nos casos em que fique caracterizado oevidente intuito de fraude, conforme definido pelos arts. 71, 72 e 73 da Lei n°4.502, de 1964. A simples realização de contrato entre a empresa da qual ocontribuinte era sócio e terceiro para a prestação de serviços de naturezapessoal pelo sócio, ainda que com o propósito de se beneficiar de tributaçãomais favorecida, não caracteriza o evidente intuito de fraude. Já a realizaçãode operações envolvendo empresas com o propósito de dissimular orecebimento de remuneração por serviços prestados por pessoa física,caracteriza a simulação e, conseqüentemente, o evidente intuito de fraude, •ensejando a exasperação da penalidade.

JUROS MORATÓRIOS - SELIC - A exigência de juros com base na taxaSELIC decorre de legislação, não cabendo ao julgador dispensá-losunilateralmente, mormente quando sua aplicação ocorre no equilíbrio darelação Estado/Contribuinte, sendo a taxa também utilizada na restituição deindébito.

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA - EXAME DA LEGALIDADE/CONSTITUCIONALIDADE - Não compete à autoridade administrativa dequalquer instância o exame da legalidade/constitucionalidade da legislaçãotributária, tarefa exclusiva do Poder Judiciário.

Preliminares rejeitadas

Recurso parcialmente provido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto porLUIZ FELIPE SCOLARI.

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

ACORDAM os Membros da Quarta Câmara do Primeiro Conselho deContribuintes, por unanimidade de votos, REJEITAR as preliminares de nulidade argüidaspelo Recorrente. No mérito, pelo voto de qualidade, DAR provimento PARCIAL ao recursopara: 1) subtrair da base de cálculo da multa de ofício os valores dos tributos e contribuiçõespagos pela empresa L.F. Promoções, na proporção dos rendimentos que serviram de basede cálculo para esses tributos e que foram considerados rendimentos da pessoa física doRecorrente; II) Reduzir para 75% o percentual da multa de ofício incidente sobre osrendimentos originalmente declarados como receitas da empresa L.F. Participações.Vencidos os Conselheiros José Pereira do Nascimento, Meigan Sack Rodrigues, Oscar LuizMendonça de Aguiar e Remis Almeida Estol que, além disso, reduziam a multa de ofícioaplicada à empresa Gol Consultoria, nos termos do relatório e voto que passam a integrar opresente julgado.

MARIA'HELENA COTTA CARDOZPRESIDENTE

PR0,(AAto ? c:t.4Á,TW.4f ?ULO PEREI BARBOSA

RELATOR

FORMALIZADO EM: 04..3 sET 2005 .

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros NELSON MALLMANN e

MARIA BEATRIZ ANDRADE DE CARVALHO.

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Recurso n°. : 144.929Recorrente : LUIZ FELIPE SCOLARI

RELATÓRIO

Contra LUIZ FELIPE SCOLARI, Contribuinte inscrito no CPF/MF sob o n°

114.701.780-87, foi lavrado o Auto de Infração de fls. 05/13 para formalização de exigência

de crédito tributário de Imposto sobre a Renda de Pessoa Física no montante total de R$

9.138.749,87, incluindo multa de ofício qualificada e juros de mora, estes calculados até

31/08/2004.

A infração apurada está assim descrita no Auto de Infração:

RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOAS JURÍDICAS — OMISSÃO DE RENDIMENTOS

RECEBIDOS DE PESSOAS JURÍDICAS — Omissão de rendimentos recebidos de pessoas

jurídicas, nos anos-calendário 1999 a 2002, conforme TERMO DE VERIFICAÇÃO FISCAL

em anexo.

Os fatos geradores apontados no Auto de Infração referem-se ao período de

28/02/1999 a 31/10/2002 e os fatos estão descritos no Termo de Verificação Fiscal às fls.

16/50, nos termos a seguir resumidos.

Segundo o Termo de Verificação Fiscal, o Contribuinte, no ano de 1999,

atuou como técnico de futebol, na Sociedade Esportiva Palmeiras e, ainda, participou de

programa de televisão, mediante remuneração, sem contudo ter declarado nas DIRPF

referentes a esses períodos o recebimento dos rendimentos decorrentes dessas atividades

como tributáveis, tendo declarado, entretanto, o recebimento de rendimentos isentos e não

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

tributáveis, a título de lucros distribuídos, recebidos da empresa L.F. Promoções, Serviços e

Representações Ltda., CNPJ n° 45.543.477/0001-51 (doravante L.F.Representações), da

qual era sócio, com sua esposa, na proporção de 95% e 5% de participação no capital,

respectivamente.

Da análise do contrato firmado entre a empresa acima referida e o clube de

futebol verificou-se que este tem por objeto a prestação de serviços técnicos relativos ao

treinamento de equipe profissional de futebol e na supervisão das equipes amadoras, com

cláusula que previa que a prestação dos serviços deveria ser realizada obrigatoriamente

pelo próprio Autuado; que a remuneração prevista no contrato referia-se a uma parte fixa e

uma parte variável, esta última a título de taxa de sucesso, com previsão de pagamento de

acordo com os resultados obtidos pelo time; que parte, ainda, referia-se a despesas para a

prestação dos serviços contratados, tais como viagens, despesas de estada, taxas, etc.; que

a remuneração era paga mensalmente ao contratado, após encaminhamento à contratante

de Nota Fiscal de Serviço, conforme cláusula contratual.

-

Diz ainda o Termo de Verificação Fiscal que a empresa foi constituída sob a

'forma de sociedade limitada, em 02/01/1996 e tendo por finalidade mercantil a exploração

do ramo de prestação de serviços de treinamento profissional, ações de merchandising,

cessão de imagem e representações comerciais de artigos esportivos em geral.

Da análise das notas fiscais emitidas, da escrituração e dos contratos,

-concluiu a Fiscalização que o faturamento da empresa decorreu quase exclusivamente dos

serviços prestados à Sociedade Esportiva Palmeiras, além da participação no programa

televisivo "Super Técnico". Anota também que nas notas fiscais n° 86 e 87 consta como •

discriminação dos serviços "valor referente diferença de salário"; que há referências a

documentos apresentados pela Empresa Traffic Assessoria e Comunicações S.C. Ltda. a

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

"pagamento de cachê dos técnicos que participarão do programa SUPER TÉCNICO" e

"cachê pago ao técnico Luis Felipe Scolari".

Disso concluiu a Fiscalização que "o que efetivamente ocorreu foi a

exploração individual da atividade profissional de técnico de futebol e de sua imagem, sob a

capa de empresa prestadora de serviço". E salienta o Relatório, em complemento, "que esse

profissional cujo trabalho gera para a empresa a receita apontada no quadro acima, não é

remunerado na proporção dos rendimentos que gera e dos serviços que presta."

Concluiu a Fiscalização que "o profissional fez uso de sua empresa para

tributar rendimentos próprios de sua pessoa física, com o fim de enquadrá-lo em uma

tributação menos onerosa, o que constitui infração à legislação tributária". E procedeu ao

lançamento considerando como omissão de rendimentos recebidos de pessoa jurídicas os

valores recebidos pela L.F. Promoções, oriundos esses valores do exercício da atividade

profissional e individual do Contribuinte.

Relativamente aos anos-calendário de 2000, 2001 e 2002, os fatos

relatados, em relação à L.F. Promoções são semelhantes, mudando apenas alguns detalhes

das operações. Relativamente aos anos-calendário de 2000 e 2001 o Autuado declarou,

também, rendimentos isentos e não tributáveis, recebidos a título de distribuição de lucros

da empresa Gol Consultoria Esportiva Ltda., CNPJ 03.098.326/0001-91 (doravante GOL —

Consultoria), da qual o Autuado era sócio juntamente com outras pessoas ligadas ao esporte

e, mais especificamente, ao Cruzeiro Esporte Clube, anotando que um dos administradores

da referida empresa, inclusive, era funcionário do mencionado clube.

Em relação aos valores recebidos de GOL — Consultoria os fatos

resumidamente são os seguintes: em julho de 2002 o autuado firmou com a empresa

Cruzeiro Esporte Clube dois contratos, um tendo por objeto dirigir, treinar e comandar a6

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'MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTES

•QUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

equipe de futebol do Cruzeiro, pelo prazo de 30 (trinta) meses, pelo valor avençado de R$

540.000,00 por ano contratado, incluindo 13° salário, a serem pagos mensalmente; outro,

tendo por objeto a cessão dos direitos de sua imagem, pelo valor avençado de US$

1.700.000,00, por ano contratado, incluindo 13° salário, a serem pagos mensalmente. Nessa

,mesma época (17/07/2000), o Autuado foi admitido como sócio da empresa GOL -

Consultoria Esportiva Ltda. da qual eram sócios vários atletas profissionais do clube

Cruzeiro, ficando o ora Recorrente com uma participação de 20% do capital da empresa. O

objetivo social da empresa era "a prestação de serviços na área esportiva, bem como a

exploração e divulgação de imagem de atletas profissionais e demais profissionais da área

esportiva e a prestação de serviços de profissionais liberais". A GOL — Participações firmou

com Cruzeiro Esporte Clube, em 01/02/1999, contrato em que esta cedia à primeira o direito

de explorar "a imagem de todos os atletas profissionais participantes do quadro societário da

CONTRATADA, podendo esta alterar este quadro societário a qualquer tempo...", devendo-

se notar que nesse contrato não foi fixado valor, constando na cláusula terceira que "os

valores a serem pagos pela prestação dos serviços ora contratados, serão definidos em

comum acordo entre as partes, mensalmente, levando em consideração o volume e as

características dos serviços efetivamente executados pela contratada"; nos anos de 2000 e

2001, o Recorrente recebeu da empresa GOL — Consultoria as importâncias,

respectivamente, de R$ 1.295.692,44 e R$ 1.831.132,74 a titulo de distribuição de lucro,

valores esses que serviram de base para o lançamento.

O Termo de Verificação Fiscal traz ainda os fundamentos que justificaram a

qualificação da penalidade e baseia-se na afirmáção de que teria havido simulação por parte

do Contribuinte e de empresas contratantes, cujo objetivo teria sido o de fraude. O próprio

relatório assim resume os fatos que levaram a essa conclusão:

"uma total desconformidade entre a realidade e a manifestação de vontadedeclarada. Para essa fiscalização, não restam dúvidas de que o verdadeiro

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

contratado pelos instrumentos firmados com a L. F. Promoções, Serviços eRepresentações foi a pessoa física do sócio Luiz Felipe Scolari. Com relaçãoà pessoa jurídica Gol Consultoria Esportiva Ltda, constituída por atletas defutebol profissional, preparadores físicos e técnicos, a maioria com vínculoempregatício simultâneo com o Cruzeiro Esporte Clube, ficou claro que suaatividade era puramente ficcional, resumindo-se a repassar aos "sóciosesportistas", dentre eles Luiz Felipe Scolari, no período de julho de 2000 ajulho de 2001, os pagamentos que lhes foram feitos pelos clubes, com afinalidade de disfarçar sua real natureza".

Disso concluiu o relatório, invocando doutrina de Marco Aurélio Greco, que

caracterizada a simulação, pode o Fisco desconsiderar seus efeitos para fins fiscais. E

complementa:

"Ressalto que a principal questão analisada é a natureza personalíssima doobjeto dos contratos firmados no período, de que é titular individual a pessoafísica do contribuinte. Simulou-se ser o sujeito das relações jurídicas, não otécnico de futebol Luiz Felipe Scolari, mas as pessoas jurídicas por esteconstituídas. O fim de tal simulação, no que tange ao interesse da FazendaPública, foi escamotear ônus fiscais, haja vista a menor carga tributária aque estão sujeitas as pessoas jurídicas. Em conseqüência procedeu-se àtributação pertinente no real sujeito da relação jurídica (Pessoa Física),descaracterizando a relação jurídica simulada (Pessoa Jurídica)".

Impugnação

Inconformado com a exigência, o Contribuinte apresentou a impugnação de

fls. 885/928, com as alegações de defesa a seguir resumidas.

Argúi, inicialmente, o Contribuinte, a nulidade do Auto de Infração pelo fato

de o Fisco ter desconsiderado a personalidade jurídica das empresas L. F. Promoções e

GOL — Consultoria, "sem fundamentação e, principalmente, sem a autorização judicial

exigida pelo art. 50 do Código Civil". Diz o Impugnante:

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"De outra parte, caso os atos ou negócios praticados pelas empresas L. F.Promoções e Gol tenham sido desconsiderados com fundamento noparágrafo único do art. 116 do CTN, é de se ressaltar ser esse artigo éinaplicável enquanto não estabelecidos, por lei ordinária, os procedimentos aserem observados. Nesse rumo, ' não custa lembrar que os arts. 13 a 19 daMP 66/2002 que sugeriam a regulamentação não foram convertidos em lei".

Ainda sobre essa matéria, cita acórdão da Câmara Superior de Recursos

Fiscais (CSRF/01-04.835, de 16 de fevereiro de 2004) segundo o qual a empresa individual

não pode ter sua personalidade jurídica descaracterizada pelo simples fato de não possuir

empregados.

Quanto ao mérito, o Impugnante comenta acerca da natureza dos

rendimentos objeto do lançamento, dizendo que as receitas objeto da controvérsia

decorrem, na maioria, do contrato firmado entre a empresa L. F. Promoções e a Sociedade

Esportiva Palmeiras e, também, de participação em programa de televisão, de campanhas

publicitárias e de palestras proferidas; que outra parte dos rendimentos tem origem em

lucros distribuídos por Gol Consultoria, que prestou os serviços ao Cruzeiro Esporte Clube, e

que contabilizou os rendimentos daí derivados, pagou o IRPJ e, por fim, distribuiu os lucros

aos sócios.

Feito esse relato, contesta o Autuado o procedimento do Fisco que

considerou as receitas como tendo sido obtidas diretamente pela Pessoa Física, ao

argumento de que esse procedimento não tem amparo legal. Diz, ainda, que o argumento de

que o fato de a tributação das receitas como rendimentos de pessoa jurídica ser mais

favorável, também não fundamenta o procedimento do Fisco. "Afinal, não foi indicado

qualquer dispositivo legal que vede a pessoa física a constituir pessoa jurídica no caso de

resultar tributação menor. Ainda, o Fisco não comprovou ter havido, no caso, tributação

menor. Sequer tomou conhecimento dos tributos pagos nas pessoas jurídicas".

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Argumenta o Defendente que os fundamentos da autuação seriam válidos

não fosse o fato de que o beneficiário dos rendimentos constituiu pessoa jurídica e que não

há nenhuma legislação que proíba qualquer pessoa física de se associar a outras para a

prestação de serviços lícitos; que a vedação contida no § 2°, inciso II, do art. 150 do RIR/99

não é aplicável ao litigante, uma vez que não se trata, como referido no dispositivo legal, de

firmas individuais. Mas, prossegue, "mesmo que os serviços em questão tivessem sido

explorados em nome de firma individual, ainda assim não poderia ser desconsiderada a

forma de tributação adotada (pessoa jurídica)". É que o inciso II do § 2° do art. 150 do

RIR/99 teria sido revogado pelo art. 1° da Lei n° 154/1947, o que teria sido reconhecido pela

própria CSRF no já referido Acórdão n° CSRF/01-04.835.

Defende o Contribuinte a regularidade do seu modo de proceder em relação

à tributação, contestando os fundamentos da autuação, ao argumento de que quem define

se os serviços devam ser prestados em nome individual ou em nome de sociedade são os

contratantes e não o Fisco e que a legislação apenas diz que determinados serviços

vinculados a determinadas profissões, quando prestados por pessoas físicas, em nome

individual, serão tributados na pessoa física, o que não seria o caso, posto que aqui os

,serviços não foram prestados em nome individual.

Argumenta, ainda, que o procedimento fiscal colide com o disposto no art.

146, § 3° do RIR/99 segundo o qual as sociedades civis devem ser tributadas de

conformidade com as demais sociedades. Invoca, também, em favor da tese de que

qualquer tipo de serviço profissional pode ser enquadrado como rendimento de pessoa

jurídica o § 2° do art. 647 do RIR/99, segundo o qual "o imposto incide independentemente

de qualificação profissional dos sócios da beneficiária e do fato desta auferir receitas de

qualquer outra atividade, seja qual for o valor dos serviços em relação à Receita Bruta".

io

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" MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Argumenta a Defesa, considerando a hipótese de exigibilidade dos tributos

na pessoa física, que houve erro na apuração da base de cálculo do imposto, posto que: (i)

não foi deduzido o pro labore recebido; (ii) as despesas contabilizadas pelas empresas L.F.

Participações e Gol - Consultoria, deveriam ser deduzidas como despesas de Livro Caixa;

(Hl) não foram subtraídos os valores referentes ao Imposto de Renda Retido na Fonte; (iv) no

caso da Gol - Consultoria houve mudança de critério, pois considerou-se como rendimento o

valor distribuído e sobre esse também houve incidência do Imposto de Renda Retido na

Fonte; (v) os valores pagos por L.F. Promoções, provenientes do estipulado nos parágrafos

segundo e terceiro, da Cláusula Terceira do contrato, de fls. 64 a 71, têm caráter

indenizatório, por não se enquadrarem no conceito de renda ou proventos de qualquer

natureza, e não podem integrar a base de cálculo do imposto.

Refere-se, por fim, ainda reivindicando exclusões da base de cálculo, que os

impostos pagos por L. F. Promoções deveriam ser compensados, "uma vez que parte dos

rendimentos tributados pelo impugnante é proveniente dos rendimentos já tributados na

empresa; quanto à Gol Consultoria, que também pagou tributos, deveria haver

compensação da parte correspondente a seus rendimentos.

Sobre a multa qualificada, reafirma o lmpugnante que não houve a alegada

simulação e, portanto, não há a caracterização de fraude e, desse modo, não estão

presentes as razões para a aplicação da penalidade qualificada.

Rebela-se, também, contra a incidência de juros com base na taxa Selic ao

argumento de que falta embasamento legal para tanto.

Por fim, o próprio Defendente sintetiza suas razões de defesa nos termos a

seguir reproduzidos:

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Li

MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

"- nas preliminares pede-se a nulidade do Auto de Infração pelo fato doFisco ter desconsiderado a personalidade jurídica das empresas L. F.Promoções, Serviços e Representações Ltda. e GOL — Consultoria EsportivaLtda., sem fundamentação e, principalmente, sem a autorização judicialexigida pelo art. 50 do CC; de outra parte, caso os atos ou negóciospraticados tenham sido desconsiderados com base no parágrafo únicocolado ao art. 116 do CTN alterado pela LC 104/2001, este é inaplicávelenquanto não estabelecidos os procedimentos a serem observados;(argumentação no item 2 da impugnação) (base legal art. 59, I e 61, do Dec.70.235)72);

- no mérito, é demonstrada a inconsistência do lançamento, pois parte dosrendimentos imputados à pessoa física do Litigante, de fato e de direito,pertencem à L.F. Promoções, Serviços e Representações Ltda., onde foramregular e tempestivamente tributados, com amparo no art. 55 da lei n°9.430/96 (§ 3°, art 146, do RIR/99);

- o litigante mostra que o procedimento do Fisco é destituído defundamentação legal, por revogado o embasamento pretendido, voltado paraas firmas individuais; ao provar que a vedação alegada pelo Fisco sequeralcança as firmas individuais, avalia-se o procedimento do autuado, poisesse operou através de sociedade ilimitada, sem qualquer restrição legal(item 3.1 e 3.2 da impugnação);

- mostra-se, também, que os lucros distribuídos ao litigante pela empresaGOL — Consultoria Esportiva Ltda. foram corretamente apurados edistribuídos, sendo isentos conforme determina o art. 39, inc. XXIX, doRIR/99 (argumentação nos itens 3.1 e 3.2 da impugnação);

- também, mesmo que os rendimentos fossem imputáveis ao reclamante, oque se admite para argumentar, ainda assim a exigência não poderiaprosperar, por conter inconsistências na quantificação do valor submetido àtributação (item 3.3 da impugnação) (art. 43 do CTN);

- ainda, mesmo que a desconsideração das duas pessoas jurídicas fosseadmissivel, ao menos deveriam ser compensados os impostosreclassificados (argumentação no item 3.4 da impugnação);

- finalmente, caso persista a exigência, a multa qualificada, porincomprovada qualquer razão que a justifique, deve ser afastada, em vista

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MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

dos argumentos desenvolvidos no item 3.5 da impugnação (base legal: art.71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64)".

Decisão de primeira instância•

A DRJ/PORTO ALEGRE/RS julgou procedente em parte o lançamento com

os fundamentos consubstanciados nas ementas a seguir reproduzidas:

"Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física — IRPFExercício: 2000, 2001, 2002, 2003

Ementa: NULIDADE — Somente enseja a nulidade os atos e termos lavradospor pessoa incompetente e os despachos e decisões proferidos porautoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa.OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA —CONTRATO DE TRABALHO DE NATUREZA PERSONALÍSSIMA — Osrendimentos auferidos pela prestação individual de serviço de técnico defutebol e pela exploração do direito de imagem, que são prestados de formapessoal, são tributados na pessoa física. As convenções particulares,relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem seropostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeitopassivo das obrigações tributárias correspondentes.

IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE — DIREITO PERSONALÍSSIMO— O imposto de renda retido pela fonte pagadora, Sociedade Esportiva, paraos rendimentos auferidos na prestação individual de serviços de técnico defutebol, são considerados antecipação do tributo, mesmo que retidos emalíquota imprópria, e são redutores do IRPF apurado no lançamento deofício.

MULTA QUALIFICADA — É de se manter a multa qualificada de 150%,estando configurado o intuito de fraude, utilizada a simulação, com aconseqüente redução do imposto devido.

TAXA SELIC — APLICABILIDADE — Sobre os créditos tributários vencidos enão pagos a partir de abril de 1995, incidem juros de mora equivalentes àtaxa Selic para títulos federais.

Lançamento Procedente em Parte"

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P

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

A Turma Julgadora de primeira instância rejeitou a preliminar de nulidade

sob o fundamento de que não houve a alegada desconsideração da pessoa jurídica, mas,

tão-somente a tributação dos rendimentos que teriam sido prestados, efetivamente, pela

pessoa física.

No mérito, a decisão atacada ressaltou a natureza individual e

personalíssima dos serviços prestados, devendo a remuneração por esses serviços ser

tributada na pessoa física e que os contratos firmados em nome de pessoas jurídicas para a

prestação desses serviços não podem mudar a definição legal do sujeito passivo da

obrigação tributária.

Acolheu, em parte a solicitação do Contribuinte para reduzir do imposto

devido os valores retidos na fonte sobre os pagamentos efetuados, mas rejeitou todas as

demais compensações solicitadas sob o fundamento de que os rendimentos recebidos a

título de pro labore são de natureza distinta dos que serviram de base para o lançamento; de

que pelo princípio da entidade as despesas escrituradas nas empresas não podem se

confundir com despesas de livro caixa do contribuinte pessoa física; de que, mesmo

recolhido indevidamente pela pessoa jurídica, os tributos por ela pagos não podem ser

utilizados para compensar impostos devidos pela pessoa física.

Considerou devida a exigência da multa qualificada por entender que houve

uma ação conjunta entre a contratantes e o Contribuinte com o intuito de modificar as

características essenciais do fato gerador da obrigação tributária, caracterizando a

simulação e, portanto, estaria configurada a hipótese prevista nos art. 71, 72 ou 73 da Lei n°

4.502, de 1964 e, em decorrência, a hipótese referida no art. 44, II da Lei n°9.430, de 1996.

Recurso

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'MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Não se conformando com a decisão de primeiro grau, da qual tomou ciência

em 01/02/2005 (fls. 969), o Contribuinte apresentou o recurso de fls. 972/1070 onde repete,

em síntese, as mesmas razões de defesa da peça impugnatória, agregando-lhe outras a

seguir resumidas.

Pleiteia a nulidade da decisão de primeira instância por ter esta ignorado

diferenças fáticas entre este processo e outro anterior, dando-lhe, indevidamente, tratamento

igual.

Sob o título "O CASO DA EMPRESA GOL CONSULTORIA ESPORTIVA

LTDA". o Contribuinte salienta que a empresa foi constituída em 1999 e que somente em

17/07/2000 passou a integrar o seu quadro societário e que em 15/07/2001 cedeu suas

quotas, retirando-se da sociedade, que continuou a existir. Afirma que o procedimento

quanto à prestação de serviços e recebimento da remuneração ocorreu dentro da

normalidade e repete argumentos da peça impugnatória quanto à possibilidade jurídica

dessa forma de relação contratual e do direito de os contribuintes por ela optarem.

Ressalta que o que o Fisco fez, nesse caso, foi tributar o lucro distribuído, o

que estaria vedado pela legislação tributária (art. 10 da Lei n° 9.249/95). E por essa razão

requer a exclusão dos valores recebidos a título de Distribuição de Lucros da Gol

Consultoria.

Repudia a afirmação contida na decisão recorrida de que o lançamento,

neste particular, teria legitimidade no § único do art. 116 e no art. 123 do CTN, que permitiria

à autoridade fiscalizadora desconsiderar atos ou negócios jurídicos e reafirma que o que foi

tributado foi o lucro distribuído.

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1. •.• •

'MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Sob o titulo "O CASO DA EMPRESA L.F. PROMOÇÕES, SERVIÇOS E

REPRESENTAÇÕES LTDA. diz que este lançamento se distingue de outro, anterior, pelos

fatos e pelo tratamento tributário dado no Auto de Infração. E rechaça os fundamentos da

decisão recorrida, os quais resume nos seguintes termos:

"3.2.2.2.1 — Os sócios da pessoa jurídica não teriam a mesma profissão,citando Parecer Normativo CST n° 15/1983;

3.2.3.3.2 - A sociedade prestadora dos serviços não seria uma sociedadecivil, mas sociedade comercial, cujo contrato social estaria registrado naJunta Comercial, e não no Registro Civil de Pessoa Jurídica;

3.2.3.3.3 — O trabalho prestado teria caráter personalíssimo e que somentepoderia ter sido prestado pelo Recorrente, e não por outro sócio oufuncionário da pessoa jurídica no que pertine à relação contratual com aSociedade Esportiva Palmeiras;

3.2.3.3.4 — As convenções particulares relativas à responsabilidade pelopagamento de tributos não poderiam ser opostas à Fazenda Pública;

3.2.3.3.5 — O parágrafo único do art. 116 do CTN permitiria adesconsideração de atos ou negócios jurídicos;"

Sustenta o Recorrente, referindo-se aos itens 3.2.3.3.1 e 3.2.3.3.2, acima

reproduzidos, que a fundamentação do citado Parecer Normativo CST n° 15/1983 tem por

pressuposto restringir o conceito de sociedade civil e que contém disposições que conflitam

com o fundamento da decisão recorrida. Afirma que, no Parecer, não se dá relevância à

distinção de se a sociedade foi registrada na Junta Comercial ou no Registro Civil, o que

considerou a base da argumentação da decisão recorrida.

Sobre o fundamento resumido no item 3.2.3.3.3 diz que o objeto social da

empresa abrange diversos serviços e o auferimento de diversas receitas, além das

recebidas da sociedade Esportiva Palmeiras, como a organização de palestras e eventos,

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ah,Vão

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'MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

com a participação não só do Recorrente, mas da sócia Olga, que realizou tratativas

burocráticas, agendamentos, organização, etc. Enfim, que as atividades da sociedade foram

realizadas em equipe "e extrapolam os instantes de apresentação, para abranger todos os

atos anteriores e posteriores de que não participou o Recorrente".

Ressalta que o contrato com a Sociedade Esportiva Palmeiras previa, além

do treinamento da equipe profissional, a supervisão de todas as equipes amadoras, ou seja,

"serviço impossível de ser prestado individualmente, mesmo que nos atos de representação

legal estivesse prevista a intervenção do Recorrente."

Rejeita o fundamento constante do Termo de Verificação Fiscal de que a

legislação trabalhista conduziria à conclusão de que os rendimentos deveriam ser tributados

na pessoa física, devido à caracterização de relação de emprego, argumentando que a

própria decisão recorrida relativizou o peso desse fundamento, admitindo-o apenas como

subsidiário.

Arremata, referindo-se aos fundamentos da decisão recorrida, dizendo que

"o suposto fundamento jurídico nada mais é do que uma seqüência ilógica de argumentos e

reproduções absolutamente imprestáveis para os fins e as conclusão propostas".

Sobre o argumento resumido no item 3.2.3.3.4 diz que o dispositivo legal

citado (art. 123 do CTN) não é aplicável à hipótese dos autos. que o referido dispositivo se

refere exclusivamente às convenções que tratam de responsabilidade pelo pagamento de

tributos, o que não seria o caso dos autos.

Quanto ao fundamento resumido no item 3.2.3.3.5, repete argumento da

peça impugnatória de que o art. 116 do CTN não foi regulamentado, não podendo ser

aplicado.

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MINISTÉRIO DA FAZENDA -PRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Declara o Recorrente que parte significativa do valores recebidos de Gol —

Consultoria referem-se a direitos de imagem. Sobre essa parcela das receitas, contesta

fundamentos da autuação de que o valor do direito de imagem era desproporcional em

relação aos salários recebidos pelo Recorrente, afirmando que não há vedação legal para

que os contratantes fixem livremente esse tipo de proporção, e invoca o princípio da

liberdade de contratar, apoiando-se na doutrina de Alberto Xavier. Ademais, afirma que, no

caso concreto, não haveria tal desproporção.

Contesta também o fundamento de que o direito de imagem seria

personalíssimo, e em decorrência, não passível de cessão a terceiros, afirmando que o

direito é pessoal, mas que pode ser passível de cessão ou permissão a terceiros, que

"decorre da livre iniciativa e é corolário do direito da pessoa de usar, gozar e dispor dos bens

e direitos integrantes do seu patrimônio como melhor lhe aprouver".

Refuta também o fundamento de que o direito de arena, previsto na Lei Pelé

está restrito aos jogadores de futebol, como estaria previsto no art. 42, § 1° da referida lei.

Diz que o próprio dispositivo faz ressalva prevendo a possibilidade de disposição em sentido

contrário. Invoca, também, a liberdade de iniciativa e de associação, que garante aos atletas

e demais profissionais o direito de se associarem. Como terceiro argumento, afirma que não

há vedação legal à cessão e licença de uso e do livre exercício de atividade econômica o

que tornaria irrelevante a quem a Gol Consultoria tenha prestado serviços, se a diversas

pessoas ou se a uma só.

Sobre a participação em programas de televisão diz que, "ao contrário do

que afirma o auto do lançamento, não há nexo lógico entre a constatação de ser um direito

personalíssimo e a conclusão de que não pode haver licença, cessão ou permissão de uso,

mormente quando feitas por prazo determinado e com sujeição a determinadas condições".

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'MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Reafirma que não houve simulação ou qualquer outro fato que caracterize o

evidente intuito de fraude, que justifique a aplicação da multa qualificada.

Reitera o pedido de que sejam compensados os valores dos tributos pagos

pela pessoa jurídica tendo como base os mesmos valores objeto do presente lançamento,

reduzindo o montante do principal, de forma a reduzir o valor da multa e juros. Argumenta

que sem esta providência estar-se-ia exigindo tributo em duplicidade.

Reitera, também, o pedido de que sejam descontados os valores recebidos

a título de pro labore, já tributado na pessoa física do Recorrente.

Rejeita os fundamentos da decisão recorrida que negou o pedido de que

fossem considerados como despesas de Livro Caixa os custos e despesas contabilizadas

pelas pessoas jurídicas. Argumenta que no caso concreto "há despesas escrituradas

necessárias à percepção da renda da pessoa física, que, em obediência ao previsto no art.

75 do RIR199, devem ser deduzidas para fins de apuração do valor principal supostamente

tributável".

Insiste na solicitação de que sejam excluídos da base de cálculo os valores

recebidos a título de reembolso de despesas, de caráter indenizatório. Contesta o

fundamento da decisão recorrida de que tais pagamentos são remuneração indireta.

Por fim, pede o afastamento da exigência dos juros cobrados com base na

taxa Selic, que classifica de abusivo, ilegal e inconstitucional, conforme já declarado pelo

Superior Tribunal de Justiça, nos termos de Acórdão que transcreve.

É o Relatório.19

Ifr

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

VOTO

Conselheiro PEDRO PAULO PEREIRA BARBOSA, Relator

O presente recurso voluntário reúne os pressupostos de admissibilidade

previstos na legislação que rege o processo administrativo fiscal e deve, portanto, ser

conhecido.

Preliminar — Nulidade do Auto de Infração

Argúi, inicialmente, o Contribuinte, a nulidade do Auto de Infração pelo

alegado fato de o 'Fisco ter desconsiderado a personalidade jurídica das empresas L. F.

Promoções e GOL — Consultoria, "sem fundamentação e, principalmente, sem a autorização

judicial exigida pelo art. 50 do Código Civil".

Contudo, não se verifica nos autos o fato alegado, o que afasta de plano a

pretensão da defesa. O lançamento, em momento algum desconsiderou a personalidade

jurídica das empresas. A acusação, claramente exposta na autuação, é de que os

rendimentos em questão, devido à natureza personalíssima dos serviços remunerados,

deveriam ser tributados como rendimentos de pessoa física.

Se tal procedimento está de conformidade com os preceitos legais vigentes

é questão a ser apreciada quando do exame do mérito. Neste ponto, basta deixar assentado

que o lançamento atende aos requisitos previstos nos artigos 10 e 59 do Decreto n° 70.235,

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n4

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

de 1972 e não vislumbro nos autos qualquer outro vício que possa ensejar sua nulidade,razão pela qual rejeito a preliminar.

Preliminar— nulidade da decisão de primeira instância

Sustenta o Recorrente que o acórdão recorrido, nas suas razões de decidir,adotou os mesmos fundamentos de decisão anterior, em outro processo, mas que guardamdiferenças com este, sem ter considerado devidamente tais diferenças.

Tal afirmação, entretanto, ataca os fundamentos do acórdão, no mérito. Nãohá falar, no caso, em nulidade de decisão, mas no mero exercício do direito ao contraditório.Caberia ao Recorrente contraditar os fundamentos da decisão, o que foi feito.

Rejeito, portanto, a preliminar de nulidade da decisão.

Mérito

Quanto ao mérito, o cerne da questão gira em torno da definição de quemdeve ser o contribuinte, se a pessoa física do ora Recorrente ou se as empresas L.F.Promoções e GOL — Consultoria. É o que passo á examinar.

Embora evidente, convém relembrar que no ordenamento jurídico tributáriobrasileiro não existe um imposto de renda das pessoas físicas e um outro imposto de rendadas pessoas jurídicas, mas um único Imposto sobre a Renda e Proventos de QualquerNatureza, cujo fato gerador está assim definido no art. 43 do CTN, verbis:

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

"Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos dequalquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidadeeconômica ou jurídica:

I — de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou dacombinação de ambos;

II — de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimospatrimoniais não compreendidos no inciso anterior".

Ninguém desconhece, também, que esse imposto pode ter contribuintes

pessoas físicas ou pessoas jurídicas. A questão, que está no cerne da discussão deste

processo, é definir quando o contribuinte do imposto deve ser uma pessoa física ou uma

pessoa jurídica. Entendo que essa definição deve ser buscada na materialidade do fato

gerador e na legislação específica do tributo.

É assente na doutrina que os critérios de identificação do sujeito passivo

estão presentes na própria descrição da hipótese de incidência. Contribuinte do imposto é

aquele que tem relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato

gerador, na dicção do art. 121 do CTN. Assim, em linhas gerais, seriam contribuintes os

proprietários ou possuidores de imóveis urbanos ou rurais, os proprietários de veículos

automotores, os importadores e aqueles que adquirem renda. O próprio CTN, no seu art. 45,

coerentemente com o critério acima referido, assim define o contribuinte do Imposto de

Renda, verbis:

"Art. 45. Contribuinte do imposto de renda é o titular da disponibilidade a quese refere o art. 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor,a qualquer título, dos bens produtores da renda ou dos proventostributáveis".

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

-

Esses parâmetros delimitam as possibilidades do legislador ordinário na

definição do sujeito passivo da obrigação tributária, nas diversas e variadas situações

possíveis de ocorrer no mundo real.

A identificação do contribuinte do imposto, portanto, não é uma questão de

escolha, quer do Fisco, quer das pessoas, físicas ou jurídicas.

Um exame da legislação do Imposto de Renda, já desde o Decreto-Lei n°

5.844, de 1943, demonstra, com clareza, que esta tem, sistemática e coerentemente, feito

distinção entre as situações em que o contribuinte do imposto será uma pessoa física e

aquelas em que será uma pessoa jurídica levando em conta, precisamente, a natureza da

renda auferida, bem como a posse dos bens produtores da renda'.

O Decreto-Lei n° 5.844, de 1943 já fazia claramente essa distinção, senão

vejamos:

"Art. 1° As pessoas físicas domiciliadas ou residentes no Brasil que tiveremrenda liquida anual superior a vinte e quatro mil cruzeiros (Cr$ 24.000,00),apurada de acordo com este Decreto-lei, são contribuintes do imposto derenda, sem distinção de nacionalidade, sexo, idade, estado ou profissão.(Redação dada pelo Decreto-Lei n° 8.430, de 24.12.1945)

Parágrafo único. São também contribuintes as que perceberem rendimentosde bens de que tenham a posse, como se lhes pertencessem, de acordocom a legislação em vigor.

Art. 18 Constitui rendimento líquido, em cada cédula, a diferença entre orendimento bruto e as deduções cedulares.

Parágrafo único. Quando não for solicitada dedução ou quando esta nãotiver cabimento, tomar-se-á comó líquido o rendimento bruto declarado".

1 Deixarei de me referir aos casos se sujeição passiva determinada pela posse do bem produtor da renda, por não ter relaçãodireta com o caso concreto em discussão.

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' MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Na cédula "D" eram classificados os rendimentos não compreendidos nas

demais cédulas, aí se incluindo os rendimentos de prestação de serviços. Dada sua

pertinência com a matéria ora em exame transcrevo a seguir o artigo correspondente do

referido Decreto-Lei:

"Art. 6° Na cédula "D" serão classificados os rendimentos nãocompreendidos nas outras cédulas, tais como:

a) honorários do livre exercício da profissão de médico, engenheiro,advogado, dentista, veterinário, contador e de outras que se lhes possamassemelhar. (Redação dada pela Lei n° 154, de 1947).

b) proventos de profissões, ocupações e prestação de serviços nãocomerciais;

c) remunerações dos agentes, representantes e outras pessoas que,tomando parte em atos de comércio, não os pratiquem, todavia, por contaprópria;

d) emolumentos e custas dos serventuários de justiça, como tabeliães,notários, oficiais públicos e Outros, quando não forem remuneradosexclusivamente pelos cofres públicos;

e) corretagens e comissões dos corretores, leiloeiros e despachantes, seusprepostos e adjuntos;

O lucros da exploração individual de contratos de empreitada unicamente delavor, qualquer que seja a natureza, quer se trate de trabalhosarquitetõnicos, topográficos, terraplenagem, construções de alvenaria eoutras congêneres, quer de serviços de utilidade pública, tanto de estudoscomo de construções;

g) ganhos da exploração de patentes e invenção, processos ou fórmulas defabricação, quando o possuído auferir lucros sem as explorar diretamente(redação dada pela Lei n° 154, de 1947);

h) (Suprimido pela Lei n° 154, de 1947)".

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Chamo a atenção neste ponto, para o fato que a alínea "h" do art. 6° acimatranscrito, e que dá fundamento legal para o inciso II, do § 2° do art. 150, do RIR/99,.não foirevogada pela Lei n° 154, de 1947, como afirma o Recorrente. A Consulta ao Diário Oficialdo dia 27/11/1947, seção I, mostra que a Lei n° 154, de 1947 suprimiu apenas a alínea "h"do referido artigo, que se referia a importâncias correspondentes a direitos autorais, e não à

-alínea "b".

Já a tributação das pessoas jurídicas foi tratada do seguinte modo noDecreto-Lei n° 5.844, de 1943:

"Art. 27 As pessoas jurídicas de direito privado domiciliadas no Brasil, quetiverem lucros apurados de acordo com este decreto-lei, são contribuintes doimposto de renda, sejam quais forem os seus fins e nacionalidade.

§ 1° Ficam equiparadas às pessoas jurídicas, para efeito deste decreto-lei,as firmas individuais e os que praticarem, habitual e profissionalmente, emseu próprio nome, operações de natureza civil ou comercial com o fimespeculativo de lucro.

§ 2° As disposições deste artigo aplicam-se a todas as firmas e sociedades,registradas ou não".

Note-se que as atividades de natureza civil ou comercial praticadas com ofim especulativo de lucro, por firmas ou sociedades, "registradas ou não", ou mesmo porpessoas físicas ou por firmas individuais, devem ser tributadas por contribuintes pessoasjurídicas; já os salários, honorários do livre exercício de profissões, proventos de ocupaçõesou prestação de serviços não comerciais, etc. devem ser tributados como rendimentos depessoas físicas. Com isso, a legislação claramente adota, como critério de identificação docontribuinte, no que se refere a ser este uma pessoa física ou uma pessoa jurídica, anatureza da renda. Isto é, os lucros, entendidos estes como produto da atividade comerciale/ou especulativa, são tributados como imposto de renda de pessoas jurídicas; os

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rendimentos decorrentes do trabalho pessoal são tributados como rendimentos de pessoas

físicas.

Essa concepção permanece até os dias de hoje. Está assim definida no

Regulamento do Imposto de Renda — RIR199:

"Art. 2° - As pessoas físicas domiciliadas ou residentes no Brasil, titulares dedisponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquernatureza, inclusive rendimentos e ganhos de capital, são contribuintes doimposto de renda, sem distinção na nacionalidade, sexo, idade, estado civilou profissão (Lei n° 4.506, de 30 de novembro de 1964, art. 1°, Lei n° 5.172,de 25 de outubro de 1966, art. 43, e Lei n° 8.383, de 30 de dezembro de1991, art. 4°).

§ 1° São também contribuintes as pessoas físicas que perceberemrendimentos de bens de que tenham a posse como se lhes pertencessem,de acordo com a legislação em vigor (Decreto n° 5.844, de 23 de setembrode 1943, art. 1°, parágrafo único, e Lei n° 5.172, de 1966, art. 45).

§ 2° O imposto será devido à medida em que os rendimentos e ganhos decapital forem percebidos, sem prejuízo do ajuste estabelecido no art. 85 (Lein° 8.134, de 27 de dezembro de 1990, art. 2°)".

Art. 146. São Contribuinte do imposto e terão seus lucros apurados deacordo com este Decreto (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 27):

I — as pessoas jurídicas (Capítulo I);

II — as empresas individuais (Capítulo II);

§ 1° As disposições deste artigo aplicam-se a todas as firmas e sociedades,registradas ou não (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 27, § 2°).

§ 2° As entidades submetidas aos regimes de liquidação extrajudicial e defalência sujeitam-se às normas de incidência do imposto aplicável àspessoas jurídicas, em relação às operações praticadas durante o período emque perdurarem os procedimentos para a realização de seu ativo e opagamento do passivo (Lei n° 9.430, de 1996, art. 60).

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§ 30 As sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativos aosexercício de Profissões legalmente regulamentada são tributadas peloimposto de conformidade com as normas aplicáveis às demais pessoasjurídicas (Lei n° 9.430, de 1996, art. 55).

§ 4° As empresas públicas e as sociedades de economia mista, bem comosuas subsidiárias, são contribuintes ns mesmas condições das demaispessoas jurídicas (CF. art. 173, § 1°, e Lei n° 6.264, de 18 de novembro de1975, arts. 1° a 3°).

§ 5° As sociedades cooperativas de consumo, que tenham por objeto acompra e fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se às mesmasnormas de incidência dos impostos e contribuições de competência daUnião, aplicáveis às demais pessoas jurídicas (Lei n° 9.432, de 1997, art.69).

§ 6° Sujeitam-se à tributação aplicável as pessoas jurídicas o Fundo deInvestimento Imobiliário nas condições previstas no § 2° do art. 752 (Lei n°9.779, de 1999, art. 2°).

§ 7° Salvo disposição em contrário, a expressão pessoa jurídica, quandoempregada neste Decreto, compreende todos os contribuintes a que serefere este artigo.

Art. 150. As empresas individuais, para efeitos do imposto de renda, sãoequiparadas às pessoas jurídicas (Decreto-Lei n° 1.706, de 23 de outubro de1979, art. 2°).

§ 1° São empresas individuais:

I — as firmas individuais (Lei n°4.506, de 1964, art. 41, § 1°, alínea "a");

II — as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual eprofissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil oucomercial, com o fim especulativo de lucro, mediante venda a terceiros debens ou serviços (Lei n°4.506, de 1964, art. 41, § 1°, alínea "b").

III — as pessoas físicas que promoverem a incorporação de prédios emcondomínio ou loteamento de térreos da Seção II deste Capitulo (Decreto-lei

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n° 1.831, de 23 de dezembro de 1974, arts. 1° e 3°, inciso III, e Decreto-Lein° 1.510, de 27 de dezembro de 1976, art. 10, inciso I).

§ 2° O disposto no inciso II do parágrafo anterior não se aplica às pessoasfísicas que, individualmente, exerçam as profissões ou explorem asatividades de:

I — médico, engenheiro, dentista, veterinário, professor, economista,contador, jornalista, pintor, escultor e de outras que lhes possam serassemelhadas (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "a", e Lei n°4.480, de 14 de novembro de 1964, art. 3°);

II — profissões, ocupações e prestação de serviços não comerciais (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "b"),

III — agentes, representantes e outras pessoas sem vínculo empregatícioque, tomando parte em atos de comércio, não os pratiquem, todavia, porconta própria (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "c");

IV — serventuários da justiça, como tabeliães, notários, oficiais públicos eoutros (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "d");

V — corretores, leiloeiros e despachantes, seus prepostos e adjuntos(Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "e");

VI — exploração individual de contratos de empreitada unicamente de lavor,qualquer que seja a natureza, quer se trate de trabalhos arquitetônicos,topográficos, terraplanagem, construções de alvenaria e outros congêneres,quer de serviços de utilidade pública, tanto de estudos como de construções(Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "f';

VII — exploração de obras artísticas, didáticas, científicas, urbanísticas,projetos técnicos de construção, instalações ou equipamentos, salvo quandonão explorados diretamente pelo autor ou criador do bem ou da obra(Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 6°, alínea "g").

Art. 219. A base de cálculo do imposto, determinada segundo a lei vigentena data de ocorrência do fato gerador, é o lucro real (Subtítulo III),presumido (Subtítulo IV) ou arbitrado (Subtítulo V), correspondente aoperíodo de apuração (Lei n° 5.172, de 1966, arts. 44, 104 e 144, Lei n°9.891, de 1995, art. 26, e Lei n°9.430, de 1996, art. 1°).

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

'Parágrafo único. Integram a base de cálculo todos os ganhos e rendimentosde capital, qualquer que seja a denominação que lhes seja dada,independentemente da natureza, da espécie ou da existência de título oucontrato escrito, bastando que decorra de ato ou negócio que, pela suafinalidade, tenha os mesmos efeitos do previsto na norma específica deincidência do imposto (Lei n° 7.450, de 1985, art. 51, Lei n°8.981, de 1995,art. 76, § 2°, e Lei n° 9.430, de 1996, arts. 25, inciso II, e 27, inciso II)."

Ora, coerentemente com o que foi dito inicialmente, que o critério de

identificação do sujeito passivo está contido na descrição da materialidade do fato gerador, o

legislador ordinário definiu, de forma inequívoca, que em relação a salários, honorários e

rendimentos produzidos pelo exercício de profissões e pela prestação de serviços de

natureza não comercial, o contribuinte será a pessoa física que realiza pessoalmente o fato

gerador. Assim como definiu que no caso dos rendimentos produzidos pelo exercício regular

de atividade de natureza comercial com o fim especulativo de lucro, serão tributados como

rendimentos de pessoa jurídica, ainda que a atividade seja exercida por uma pessoa física.

A distinção entre uma situação e a outra está na materialidade do fato, em como ocorre

concretamente o fato que enseja a tributação, na forma de produção e apuração da renda.

Se o contribuinte será uma pessoa física ou uma pessoa jurídica será uma conseqüência

desse fato.

Cumpre examinar, ainda, o caso das sociedades civis. O Decreto-lei n°

2.397, de 1987 introduziu um regime especial de tributação para as sociedades civis de

profissões legalmente regulamentadas, admitindo a apuração do resultado na pessoa

jurídica, sem a incidência do imposto na pessoa jurídica, porém determinando a distribuição

automática dos resultados, de acordo com a participação de cada sócio na sociedade, ao fim

de cada período de apuração, com a incidência do imposto na pessoa física. A seguir

transcrevo o próprio Decreto-Lei:

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Decreto-Lei n° 2.397, de 1987

"Art. 10 A partir do exercício financeiro de 1989, não incidirá o Imposto deRenda das pessoas jurídicas sobre o lucro apurado, no encerramento decada período-base, pelas sociedades civis de prestação de serviçosprofissionais relativos ao exercício de profissão legalmente regulamentada,registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e constituídasexclusivamente por pessoas físicas domiciliadas no País.

§ 1° A apuração do lucro de cada período-base será feita com observânciadas leis comerciais e fiscais, inclusive correção monetária dasdemonstrações financeiras, computando-se:

I - as receitas e rendimentos pelos valores efetivamente recebidos noperíodo-base;

II - os custos e despesas operacionais pelos valores efetivamentepagos no período-base;

III - as receitas, recebidas ou não, decorrentes da venda de bens doativo permanente;

IV - o valor contábil dos bens do ativo permanente baixados no cursodo período-base;

V - os encargos de depreciação e amortização correspondentes aoperíodo-base;

VI - as variações monetárias ativas e passivas correspondentes aoperíodo-base;

VII - o saldo da conta transitória de correção monetária, de que trata oart. 3°, II, do Decreto-lei n°2.341, de 29 de junho de 1987.

§ 20 Às sociedades de que trata este artigo não se aplica o disposto no art.6° do Decreto-lei n° 2.341, de 29 de junho de 1987.

Art. 2° O lucro apurado (art. 1°) será considerado automaticamentedistribuído aos sócios, na data de encerramento do período-base, de acordocom a participação de cada um dos resultados da sociedade.

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1° O lucro de que trata este artigo ficará sujeito à incidência do Imposto deRenda na fonte, como antecipação do devido na declaração da pessoafísica, aplicando-se a tabela de desconto do Imposto de Renda na fontesobre rendimentos do trabalho assalariado, exceto quando já tiver sofrido aincidência durante o período-base, na forma dos §§ 2° e 3°.

2° Os lucros, rendimentos ou quaisquer valores pagos, creditados ouentregues aos sócios, mesmo a título de empréstimo, antes doencerramento do período-base, equiparam-se a rendimentos distribuídos eficam sujeitos à incidência do Imposto de Renda na fonte, na data dopagamento ou crédito, como antecipação do devido na declaração dapessoa física, calculado de conformidade com o disposto no parágrafoanterior.

3° O Imposto de Renda retido na fonte sobre receitas da sociedade de quetrata o art. 1° poderá ser compensado com o que a sociedade tiver retido, deseus sócios, no pagamento de rendimentos ou lucros".

Convém ressaltar, ainda, que a partir de janeiro de 1996, os lucros pagos ou

creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitr.ado

passaram a não sofrer tributação, na fonte e na declaração e, a partir da Lei n° 9.430, de

1996, as sociedades civis passaram a ter o mesmo regime de tributação das demais

sociedades. Essa mudança legislativa foi introduzida pela Lei n° 9.249, de 1995, no seu

artigo 10, caput, verbis:

"Art. 10 — Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultadosapurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelaspessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado,não ficarão sujeitos à incidência do Imposto sobre a Renda na fonte, nemintegrarão a base de cálculo de Imposto sobre a Renda do Beneficiário,pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior".

Já a Lei n° 9.430, de 1996 assim dispôs sobre as sociedades civis:

"Art. 55. As sociedades civis de prestação de serviços profissionais relativosao exercício de profissão legalmente regulamentada de que trata o art. 1° do

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Decreto-lei n° 2.397, de 21 de dezembro de 1987, passam, em relação aosresultados auferidos a partir de 1° de janeiro de 1997, a ser tributadas peloimposto de renda de conformidade com as normas aplicáveis às demaispessoas jurídicas".

Note-se que, com a combinação das regras do art. 10 da Lei n° 9.249, de

1995 com o art. 55 da Lei n° 9.430, de 1995, a partir de 1° de janeiro de 1997, os resultados

das sociedades civis de profissões legalmente regulamentadas passaram a ser tributados

apenas nas pessoas jurídicas, assim como os resultados das demais pessoas jurídicas.

De tudo o que foi acima exposto, podemos concluir que são contribuintes do

imposto de renda como pessoas jurídicas as firmas individuais e as sociedades, inclusive as

sociedades civis de profissões legalmente regulamentadas, registradas ou não, que

obtiverem renda produzida pelo exercício de atividade civil ou comercial com o objetivo

especulativo de lucro ou, no caso das sociedades civis, em decorrência do exercício regular

da profissão regulamentada, sendo este, o lucro (real, presumido ou arbitrado) e não outro

tipo de renda qualquer, a base de cálculo do imposto; são contribuintes pessoas físicas as

pessoas naturais que aufiram rendimentos e proventos diversos, que não sejam produto do

exercício regular de atividade comercial ou especulativa de lucro, como rendimentos do

trabalho assalariado, exercício individual de profissão ou aqueles produzidos pela prestação

de serviços não comerciais.

Feita essa digressão, passo ao exame do caso presente. Compulsando os

autos verifico, inicialmente, que há uma diferença, que deve ser considerada, entre as

situações envolvendo a empresa L.F. Promoções e a GOL — Consultoria. É que, na primeira,

o ora Recorrente, até 31/12/2002, era sócio com sua esposa, na proporção de 95% e 5% do

capital, respectivamente, e, portanto, detinha total controle da empresa; na segunda, sua

participação, que se inicia em julho de 2000, era de 20% (7.500 de 37.500 quotas) do capital

social, ao lado de diversos outros sócios, na maioria atletas profissionais do Cruzeiro

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Esporte Clube. Ademais, no próprio lançamento, foi dado tratamento diferenciado às

situações envolvendo uma e outra empresa: no caso da L.F. Promoções, foram lançados

como rendimentos da Pessoa Física os valores formalmente recebidos pela empresa a título

de prestação de serviços, com base nas notas fiscais emitidas e escrituração contábil; no

caso da GOL — Consultoria, foram lançados como rendimentos tributáveis na Pessoa Físicas

os valores recebidos a título de distribuição de lucros.

Portanto, para maior clareza, examinarei, em separado, as situações

envolvendo uma e outra empresa.

L. F. Promoções

A empresa L.F. Promoções, constituída como sociedade mercantil, tem por

finalidade social "a prestação de serviços de treinamento profissional de esportes,

consultoria e assessoria esportiva, elaboração e apresentação de palestras e seminários,

ações de merchandising, cessão de imagens, licenciamentos, representações comerciais de

artigos esportivos em geral e locação de bens imóveis próprios" (fis. 100); tem como sócios

o ora autuado, Luis Felipe Scolari, qualificado como sendo "professor", com participação no

capital de 95%, e sua esposa Olga Pasinato Scolari, também qualificada como sendo

"professora" e com participação no capital de 5% (fls. 98).

Os autos mostram que as receitas contabilizadas pela sociedade e que

foram objeto do presente lançamento decorrem da remuneração pelas atividades de técnico

de futebol, por apresentações do autuado em programas de televisão, por cessão do uso de

•imagem e por apresentação de palestras.

A questão a ser respondida é: as rendas produzidas por essas atividades

podem ser caracterizadas como produto da exploração de atividade civil ou comercial, com o33

ti;

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objetivo de lucro ou como atividade especulativa de lucro? Pode a sociedade ser

caracterizada como sociedade civil de profissão legalmente regulamentada?

A resposta é negativa para ambas as indagações. Sobre a primeira questão,

é necessário tomar-se como ponto de partida a distinção entre a retribuição ou remuneração

por serviço prestado, e o lucro ou ganho gerado por um negócio, como fruto de atividade

comercial ou especulativa, continuadas. O lucro nesse caso é a diferença entre o capital

empregado e aquilo que ele produziu, dentro de certo tempo.

Nesse ponto, é de se ressaltar a importância da natureza personalíssima

dos serviços prestados. É dizer, esses serviços, pela sua natureza, necessariamente,

deveriam ser prestados, pessoalmente, pelo Autuado. Isso afasta de plano qualquer

possibilidade de se considerar a atividade como sendo de venda de serviços. O papel do

Autuado em nenhum momento foi, e não poderia ser, de comerciante ou investidor; de quem

aplica uma determinada quantidade de recursos com a expectativa de obter um ganho; de

alguém que realiza um negócio de venda de serviços que seriam prestados por terceiros. O

papel do Autuado sempre foi, e não poderia ser de outro modo, pela própria natureza dos

serviços, de alguém que iria realizar, pessoalmente, um determinado trabalho e, em

contrapartida, iria receber uma retribuição. Nesse caso, a materialidade do fato se identifica

perfeitamente como as situações definidas na legislação tributária, acima transcrita, em que

o contribuinte do imposto será sempre e necessariamente a pessoa física beneficiária dos

rendimentos.

Em reforço dessas conclusões, no caso presente abundam nos autos

elementos que denunciam a natureza da relação pessoal de trabalho entre o Sr. Luis Felipe

Scolari e os contratantes, como a exigência em contrato de que os serviços devam ser

prestados diretamente e pessoalmente pelo ora Recorrente, como referências a pagamentos

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de diferenças salariais, a pagamento de 13° salário, a pagamentos de cachês, referidos no

relatório.

Sobre ser ou não a empresa em questão uma sociedade civil de profissões

legalmente regulamentadas, a matéria foi analisada com profundidade pela decisão

recorrida, com fundamento nas conclusões do Parecer Normativo CST n° 15, de 21 de

setembro de 1983. A questão central, a meu juízo, é a necessidade, inafastável, de que os

objetivos da sociedade devam ser inerentes à formação profissional dos sócios e de que

essa formação profissional seja legalmente regulamentada. Não é o caso da atividade de

técnico de futebol, de palestrante ou de quem se apresenta em programas televisão. Essas

atividades não são inerentes à formação profissional de professores e nem as profissões

inerentes a essas atividades são legalmente regulamentadas. Portanto, de sociedade civil de

profissões regulamentadas não se trata na espécie.

Neste ponto, convém retomar a questão levantada pela defesa, em

preliminar, de que a autuação desconsiderou a personalidade da pessoa jurídica da

empresas em questão. Como afirmado quando da apreciação da preliminar, não é disso que

se trata no presente caso. A questão é que, sendo o contribuinte do imposto a pessoa física,

pelas razões exaustivamente expostas acima, por óbvio o lançamento deve ser feito na

pessoa física. Isso em nada afeta a personalidade jurídica da empresa, que permanece

intacta.

Assim, em conclusão, não tenho reparos a fazer ao lançamento quanto ao

imposto exigido com base nas receitas de serviços pagas em nome da empresa L.F.

Promoções.

GOL — Cosultoria

35

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• à

. • . .

MINISTÉRIO DA FAZENDAPRIMEIRO CONSELHO DE CONTRIBUINTESQUARTA CÂMARA

Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Aqui o lançamento se refere a valores recebidos pelo Autuado da empresa

Gol — Consultoria no período de julho de 2000 a junho de 2001. Em julho de 2000 o autuado

firmou com a empresa Cruzeiro Esporte Clube dois contratos; um tendo por objeto dirigir,

treinar e comandar a equipe de futebol do Cruzeiro, pelo prazo de 30 (trinta) meses, pelo

valor avençado de R$ 540.000,00 por ano contratado, incluindo 13 0 salário, a serem pagos

mensalmente; outro, tendo por objeto a cessão dos direitos de sua imagem, pelo valor

avençado de US$ 1.700.000,00, por ano contratado, incluindo 130 salário, a serem pagos

mensalmente. Nessa mesma época (17/0712000), o Autuado foi admitido como sócio da

empresa GOL - Consultoria da qual eram sócios vários atletas profissionais do clube

Cruzeiro, ficando o ora Recorrente com uma participação de 20% do capital da empresa. O

objetivo social da empresa era "a prestação de serviços na área esportiva, bem como a

exploração e divulgação de imagem de atletas profissionais e demais profissionais da área

esportiva e a prestação de serviços de profissionais liberais". A GOL — Consultoria firmou

com Cruzeiro Esporte Clube, em 01/02/1999, contrato em que esta cedia à primeira o direito

de explorar "a imagem de todos os atletas profissionais participantes do quadro societário da

CONTRATADA, podendo esta alterar este quadro societário a qualquer tempo...", devendo-

se notar que nesse contrato não foi fixado valor, constando na cláusula terceira que "os

valores a serem pagos pela prestação dos serviços ora contratados, serão definidos em

comum acordo entre as partes, mensalmente, levando em consideração o volume e as

características dos serviços efetivamente executados pela contratada"; nos anos de 2000 e

2001, o Recorrente recebeu da empresa GOL — Consultoria as importâncias,

respectivamente, de R$ 1.295.692,44 e R$ 1.831.132,74 a titulo de distribuição de lucro,

valores esses que serviram de base para o lançamento.

Como se vê, a situação aqui difere em alguns aspectos daquela envolvendo

a L.F. Promoções. É que aqui foram considerados tributáveis os valores recebidos de GOL —

Consultoria e não os valores recebidos por esta como naquele outro caso. É por essa razão

que o Recorrente sustenta que foram tributados os lucros distribuídos.36

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

I - da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, suanatureza ou circunstâncias materiais;

II - das condições pessoais de cóntribuinte, suscetíveis de afetar a obrigaçãotributária principal ou o crédito tributário correspondente.

Art . 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ouretardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigaçãotributária principal, ou a excluir ou modificar as suas característicasessenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar oudiferir o seu pagamento.

Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais oujurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72".

Concluo que deve ser mantida a qualificação da penalidade em relação à

parte do lançamento que teve como base de cálculo os rendimentos declarados como tendo

sido recebidos de GOL — Consultoria.

Quanto à cobrança dos juros de mora, o fundamento legal da exigência,

conforme explicitado no Auto de Infração, é o art. 61, § 3°, da Lei n° 9.430, 1996, que

transcrevo abaixo:

Lei n° 9.430, de 1996:

"Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos econtribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatosgeradores ocorrerem a partir de 1° de janeiro de 1997, não pagos nosprazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa demora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia deatraso.

(.-.)

§ 3° Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de moracalculados à taxa a que se refere o § 3° do art. 5°, a partir do primeiro dia do

46 ,

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

A acusação, entretanto, é de que as quantias recebidas de GOL —

Consultoria referem-se a remunerações pela prestação de serviços de natureza pessoal,

conforme dito expressamente, no Termo de Verificação Fiscal, às fls. 28, a saber:

"Considerando que a legislação tributária define expressamente a forma de tributação para

os rendimentos obtidos por profissionais no exercício individual de sua função, conforme

descrito no item IV do presente relatório fiscal, não pode remanescer dúvida de que os

rendimentos obtidos pelo contribuinte em epígrafe devem ser tributados na declaração de

pessoa física".

Mais adiante, no mesmo relatório, a autoridade lançadora justifica o fato de

ter sido considerado como base de cálculo os valores recebidos a titulo de distribuição de

lucros pela impossibilidade material de segregar das receitas da empresa GOL — Consultoria

as parcelas relativas ao uso de imagem do Recorrente.

A questão a ser decidida, portanto, diz respeito à efetiva natureza dos

valores recebidos pelo Recorrente, se, conforme fundamento da autuação, tais valores

• referem-se à remuneração por exercício de atividade ou profissão de natureza pessoal, ou

se a lucros distribuídos, como quer a defesa.

Da análise conjunta de toda a operação, fica evidente que os pagamentos

feitos pela empresa GOL — Consultoria ao ora Recorrente referem-se, na verdade à

remuneração pelos serviços contratados pelo clube, na parte especificada como cessão de

direito de imagem. Note-se que embora o contrato entre o Recorrente e o Cruzeiro tenha

fixado um valor de US$ 1.700.000,00 por ano, incluindo 13 0 salário, como remuneração pela

cessão do direito de imagem, os únicos valores recebidos pelo Recorrente foram pagos por

GOL — Participações; que a quase totalidade das receitas de GOL — Consultoria é

37

C;?$

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

proveniente do próprio Cruzeiro, conforme atestam as notas fiscais de fis. 472/499 e

560/480.

Um resumo dos contratos e das movimentações financeiras entre o Autuado,

o Cruzeiro e a GOL — Consultoria não deixa dúvidas de que o Cruzeiro pagava seus atletas

e demais profissionais contratados, pelo menos é o caso do ora Recorrente, por intermédio

de GOL — Consultoria, senão vejamos: o Cruzeiro contrata com o técnico (e atletas

profissionais) o direito de uso de sua imagem por um valor determinado, contrata a empresa

GOL — Consultoria para explorar esse direito de imagem e paga a esta por esse serviço

quantia equivalente ao valor contratado com o profissional, e a empresa contratada paga ao

profissional o valor do contrato, porém como lucros distribuídos; o profissional nada recebe

diretamente do clube pela cessão de imagem, conforme havia sido avençado. Assim, o

resultado final é que o Profissional recebeu o valor contratado com o Cruzeiro porém sob a

forma de lucros distribuídos, com o conveniente resultado de afastar a incidência do imposto

de renda na pessoa física.

A desproporção entre os salários contratados e o direito de imagem é

apenas um fundamento adicional, para demonstrar a intenção deliberada de transferir para a

empresa GOL — Consultoria a responsabilidade pelo pagamento da maior parte do contrato.

Como também é relevante como fundamento adicional que, com o capital de R$ 7.500.00,

referente à participação societária na empresa GOL — Consultoria o Recorrente tenha obtido

no período de um ano um "lucro" de mais de R$ 3.200.000,00.

Assim, em conclusão, entendo que, conforme fundamento da autuação, os

valores recebidos pelo Recorrente da empresa GOL — Participações referem-se a

remuneração por serviços prestados ao Cruzeiro e/ou cessão a este de direito de uso de sua

imagem, de natureza pessoal e, portanto, tributáveis como rendimentos de pessoa física.

38

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Compensação dos tributos e contribuições pagos

O Recorrente pleiteia, caso mantida a autuação na pessoa física, a

compensação dos tributos e contribuições pagos pelas empresas. Nesse ponto,

acompanhando decisões anteriores desta e da 6 Câmara (Acórdãos 104-18641 e 106-

14.244), entendo que assiste razão ao Contribuinte, quanto aos tributos e contribuições

pagos pela empresa L.F. Promoções.

Embora reconhecendo que a empresa da qual o Autuado é sócio e sua

pessoa física são entidades distintas, como ressalta a decisão recorrida, não se pode

desconsiderar o fato de que, no exato instante em que a Fazenda Nacional afirma que os

valores lançados como receitas da Pessoa Jurídica são rendimentos da Pessoa Física, está

reconhecendo que os tributos recolhidos pela Pessoa Jurídica sobre essas mesmas receitas

eram indevidos. Ou, de outra forma, reconhecendo que parte do tributo que a Fazenda

deveria receber foi efetivamente pago, ainda que por outra entidade ou com outra

denominação.

Dir-se-á que a pessoa jurídica poderá pleitear a restituição do indébito. Tal

solução, entretanto, não é razoável. Primeiramente, porque afronta o princípio da celeridade

e economia processuais; depois, porque entre uma e outra opção opera uma grande

diferença na base de cálculo da multa de ofício, em desfavor do contribuinte, caso não se

proceda à compensação. Finalmente, porque imporia à empresa o ônus de, ao pleitear a

restituição dos tributos e contribuições pagos, reconhecer que as receitas foram tributadas

indevidamente na pessoa jurídica, contra suas próprias convicções, salvo se o pedido for

formulado apenas após o trânsito em julgado na esfera administrativa e judicial, quando

poderá sobrevir o término do prazo decadencial para pleitear a restituição, em prejuízo do

contribuinte.

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Processo n°. 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

Note-se, por fim, que a multa de ofício deve ser aplicada sobre a "totalidade

ou diferença de tributo ou contribuição", conforme dicção do caput do art. 44 da Lei n° 9.430,

de 1996. Ora, no caso, de uma forma ou de outra, parte do imposto já foi paga e, portanto, a

multa deve incidir apenas sobre a diferença.

Por todas essas razões, entendo que deve ser feita a compensação, antes

da aplicação da multa de ofício, dos tributos e contribuições pagos pela empresa L.F.

Promoções.

Quanto aos tributos e contribuições pagos por GOL — Consultoria, não se

aplica o mesmo raciocínio. Primeiramente, porque o valor tributado foi aquele efetivamente

recebido sob a rubrica de lucros distribuídos e não de receita da empresa, como no outro

caso. Depois, porque a acusação é de que os pagamentos feitos pela GOL — Consultoria

foram apenas uma forma simulada de o Contratante, por intermédio de uma interposta

pessoa, remunerar o ora Recorrente pelos serviços prestados.

Compensação dos valores recebidos a título de pro labore

O Contribuinte pleiteia a subtração da base de cálculo dos valores recebidos

e declarados a título de pro labore.

Como se sabe, o pro labore é a remuneração do sócio pelo seu trabalho

para a empresa. Ora, no caso, diferentemente do que afirma o Recorrente, não se

desconsiderou a personalidade da pessoa jurídica, que, como já dito acima, permaneceu

intacta. Registre-se, inclusive, que, embora as receitas contabilizadas pela empresa sejam

predominantemente aquelas provenientes do trabalho pessoal do Recorrente, não foram as

únicas. Portanto, é plenamente justificável que a empresa pague pro labore ao sócio,40

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Processo n°. : 11020.002220/2004-98Acórdão n°. : 104-20.915

mesmo desconsiderando as receitas objeto deste lançamento. Isto é, não há nenhuma

relação lógica entre o pagamento de pro labore e os rendimentos objeto deste lançamento.

Se é assim, o pro labore recebido se constitui rendimento do trabalho

recebido pelo Recorrente, independentemente de outros rendimentos, inclusive aqueles

objeto deste processo.

Consideração das despesas contabilizadas pela empresa como despesas de

Livro Caixa.

A pretensão da defesa não tem amparo legal. Embora a legislação admita

deduções sobre o rendimento bruto, estas devem ser aquelas previstas em lei. No caso de

deduções de Livro Caixa, as despesas admitidas são aquelas especificadas no art. 75 do

RIR199, verbis:

"Art. 75. O contribuinte que perceber rendimentos do trabalho não-assalariado, inclusive os titulares dos serviços notariais e de registro, a quese refere o art. 236 da Constituição, e os leiloeiros, poderão deduzir, dareceita decorrente do exercício da respectiva atividade (Lei n° 8.134, de1990, art. 6° e Lei n° 9.250, de 1995, art. 4°, inciso I).

I — a remuneração para a terceiros, desde que com vínculo empregatício, eos encargos trabalhistas e previdenciários;

II — os emolumentos pagos a terceiros;

III — as despesas de custeio pagas, necessárias à percepção da receita e àmanutenção da fonte produtora.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica (Lei n° 8.134, de1990, art. 6° § 1°, e Lei n° 9.250, de 1995, art. 34):

I — a quotas de depreciação de instalações, máquinas e equipamentos, bemcomo a despesas de arredamento;

41'

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II — a despesas como locomoção e transporte, salvo no caso derepresentante comercial autônomo;

III — em relação aos rendimentos a que se referem os arts. 47 e 48".•

Como se vê, a dedução de despesas a título de Livro Caixa está limitada a

determinados tipos de despesas e pressupõe a observância de determinados requisitos, um

deles a escrituração do Livro Caixa. Portanto, para se admitir a dedução, teria o contribuinte

que especificar que despesas pretende deduzir para que se verifique sua admissibilidade. O

que não ocorre na espécie.

Subtração de verbas de natureza indenizatória.

O Contribuinte pede, por fim, que sejam subtraídos da base de cálculo

valores recebidos a título do que classifica como verbas recebidas pelo ressarcimento de

despesas de viagens, restaurantes, etc. conforme consta de cláusula contratual.

A legislação tributária prevê a não incidência do imposto sobre valores

recebidos a título de ajuda de custo, no caso de deslocamento de um município para outro,

do beneficiário e de sua família, e de diárias recebidas para custear despesas de

alimentação e pousada, sempre no caso de necessidade de serviço. É o que consta dos art.

39, incisos I e XIII do RIR/99:

"Art. 39. Não entrarão no cômputo do rendimento bruto:

I — a ajuda de custo destinada a atender às despesas com transporte, frete elocomoção do beneficiário e seus familiares, em caso de remoção de ummunicípio para outro, sujeita a comprovação posterior pelo contribuinte (Lein° 7.713, de 1988, art. 6°, inciso XX).

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XIII - as diárias destinadas, exclusivamente, ao pagamento de despesas dealimentação e pousada, por serviço eventual realizado em municípiodiferente do da sede de trabalho, inclusive no exterior (Lei n° 7.713, de 1988,art. 6°, inciso 11)".

Fora dessas hipóteses, quaisquer valores recebidos, ainda que a título de

ressarcimento de despesas de viagem, hospedagem ou alimentação estarão sujeitos à

incidência do imposto. Caberia ao Contribuinte demonstrar que valores efetivamente

recebeu e qual a natureza desse recebimento, para que se pudesse exclui-los da base de

cálculo. A simples referência à cláusula contratual não basta para comprovar a natureza

indenizatória das verbas. Ademais, não está demonstrado nos autos que tais valores

entraram no cômputo da base de cálculo do imposto.

Multa qualificada

Sobre a multa qualificada examino separadamente os rendimentos

recebidos de L.F. Promoções e GOL - Consultoria. No caso da L.F. Promoções os contratos

foram firmados entre as fontes pagadoras e a empresa. O que o Fisco diz é que apesar

dessa forma contratual, os rendimentos efetivamente são da pessoa física, dada sua

-natureza.

Não vislumbro aí qualquer intuito de fraude, mas, tão-somente uma

pretensão do Contribuinte que não foi acolhida pelo Fisco. O procedimento adotado pelo

Contribuinte e pela empresa L.F. Promoções não caracterizam as situações previstas no art.

167, § 1° do Código Civil Brasileiro de 2002 (art. 102 do CC de 1916) como simulação,

senão vejamos:

"Art. 167. (...)

§ 1° Haverá simulação nos atos jurídicos quando:- - - 43

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I — aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelasàs quais realmente se conferem, ou transmitem;

II — contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III — os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados."

Não vejo que tenha ocorrido no caso nenhuma das hipóteses acima: os

contratos foram efetivamente realizados entre a L.F. Produções e os contratantes, os valores

foram efetivamente recebidos pela empresa, os serviços foram prestados pela pessoa física

do ora Recorrente e os "lucros" foram efetivamente distribuídos pela L.F. Promoções e

recebidos pelo Autuado. Nada aí foi simulado. Ao contrário, de tudo foi dado conhecimento à

Fazenda Nacional, mediante apresentação das declarações. O que ocorre, vale repetir, é

que, pela natureza dos serviços, o contribuinte deveria ser a pessoa física do prestador e

não a empresa, o que foi corrigido pelo lançamento.

• Situação diversa é a referente aos rendimentos recebidos do clube Cruzeiro.

Aí a pessoa física Luis Felipe Scolari firmou contrato com o clube Cruzeiro, de quem deveria

receber a quantia de US$ 1.700.000,00 por ano, incluindo 13° salário pela cessão do direito

de imagem, segundo o contrato. Porém, mediante a operação descrita acima, nada recebeu

diretamente do Cruzeiro, tendo recebido, entretanto, valor equivalente de GOL — Consultoria,

a título de lucros distribuídos.

Neste caso, vejo claramente o propósito deliberado de transmudar a

natureza dos rendimentos recebidos pelo Autuado e com isso produzir uma redução do

imposto devido. O recorrente tinha a receber do clube pela cessão do direito de imagem a

importância de US$ 1.700.000,00 anuais, mais 13° salário. Com a operação, de ingresso do

Recorrente na sociedade GOL — Consultoria e o contrato entre esta e o clube cruzeiro, etc. o

que ocorreu foi que o clube realizou pagamento de valor equivalente e o autuado recebeu

44_ _ _

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esse valor. A única coisa que efetivamente mudou é que se deu a esse recebimento a feição

de lucros distribuídos.

No caso da L.F. Promoções o Recorrente detinha o controle da empresa; foi

a empresa que contratou a prestação de serviços; os pagamentos pela prestação dos

serviços foram feitos à empresa. No caso da GOL — Consultoria foi a pessoa física do Sr.

Luiz Felipe Scolari que contratou com o Clube Cruzeiro; o contrato entre a GOL —

Consultoria e o clube tinha por objeto a exploração do direito de imagem e que, portanto,

não se referia à cessão dos direitos de imagem do Recorrente, que já os havia cedido ao

clube Cruzeiro, e, portanto, nada justificaria que o Recorrente deixasse de receber do Clube

o valor contratado.

Fica clara, portanto, a diferença entre uma situação e a outra. No primeiro

caso, não se cogita de simulação. Não se põe dúvida sobre a autenticidade das relações

contratuais firmadas entre a empresa L.F. Promoções e as contratantes dos serviços.

Apenas, considerando a natureza dos serviços prestados, a legislação tributária determina

que o contribuinte, no caso, deve ser a pessoa física prestadora dos serviços; no segundo

caso, os contratos entre a GOL — Consultoria e o clube Cruzeiro, bem como o ingresso e

posterior saída do Autuado da empresa, são meros artifícios para transmudar a natureza dos

rendimentos que, de qualquer forma, teria o Recorrente que receber como contrapartida pela

cessão dos direitos de imagem ou outro serviço qualquer.

Entendo, portanto, configurado o evidente intuito de fraude, conforme

definido pelos arts. 71,72 e 73 da Lei n°4.502, de 1964, verbis:

"Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ouretardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridadefazendária:

45- - -

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Processo n°. : 11020.00222012004-98Acórdão n°. : 104-20.915

mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao dopagamento e de um por cento no mês de pagamento."

A exigência dos juros Selic está expressamente prevista em normas

validamente inseridas no ordenamento jurídico brasileiro e em relação às quais não consta

declaração definitiva de inconstitucionalidade pelos Tributais Superiores.

Por outro lado, este Conselho não se ocupa do exame da eventual

inconstitucionalidade de normas legais. Isto porque os órgãos administrativos judicantes

estão impedidos de declarar a inconstitucionalidade de lei ou regulamento, matéria de

competência exclusiva do Poder Judiciário.

Ante todo o exposto, VOTO no sentido de rejeitar as preliminares de

nulidade do auto de infração e da decisão recorrida e, no mérito, dar provimento parcial ao

recurso para: 1) subtrair da base de cálculo da multa de ofício os valores dos tributos e

contribuições pagos pela empresa L.F. Promoções, na proporção dos rendimentos que

serviram de base de cálculo para esses tributos 'e que foram considerados rendimentos da

pessoa física do Recorrente; 2) Reduzir para 75% o percentual da multa de oficio incidente

sobre os rendimentos originalmente declarados como receitas da empresa L.F.

•Participações.

Sala das Sessões (DF), em 11 de agosto de 2005

? 1.0 . 4ÉDRO PAuL0 PE EIRA BARBOSA

47

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13/04/2019 Guga perde processo milionário no Carf - JOTA Info

https://www.jota.info/tributos-e-empresas/tributario/guga-perde-processo-de-mais-de-r-30-milhoes-no-carf-23112016 1/5

CARF

Guga perde processo milionário no CarfTenista foi acusado de usar empresa de gestão de direitos de imagem para recolher menos imposto

BÁRBARA MENGARDO

23/11/2016 11:49Atualizado em 23/11/2016 às 19:01

*Matéria atualizada às 19h55 para acréscimo de informações. 

O tenista Gustavo Kuerten perdeu, na manhã desta quarta-feira (23/11), processoque discutia no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), e poderá serobrigado a pagar R$ 7 milhões para a União. Guga é acusado de ter usado umaempresa para pagar menos impostos.

A decisão é da instância máxima do conselho, a Câmara Superior, o que signi�caque o tenista não pode mais discutir a cobrança tributária na esfera administrativa. É

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13/04/2019 Guga perde processo milionário no Carf - JOTA Info

https://www.jota.info/tributos-e-empresas/tributario/guga-perde-processo-de-mais-de-r-30-milhoes-no-carf-23112016 2/5

possível, porém, recorrer à Justiça, medida que será adotada pelo tenista.

No processo, eram discutidos R$ 30 milhões em impostos. O Carf, porém, permitiuque  Guga compense, do total a pagar de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), oque já foi recolhido de imposto pela sua empresa, a Guga Kuerten Participações eEmpreendimentos. Dessa forma, o tenista terá que recolher efetivamente R$ 7milhões aos cofres públicos.

O tenista classi�cou a decisão como “lamentável”. “Acho um absurdo a FazendaNacional me obrigar a classi�car como pessoa física os rendimentos recebidos etributados pela pessoa jurídica. Eu teria que receber as propostas, negociar osvalores, elaborar os contratos, agendar as campanhas e eventos, analisar os roteiros,de�nir a logística, aprovar �lmes e fotos, produzir releases, e ainda organizar toda aagenda com a imprensa mundial”, a�rmou, por meio de nota. (Leia a íntegra abaixo).

Guga tentava provar, no Carf, a regularidade da Guga Kuerten Participações eEmpreeendimentos, constituída com seu irmão, Rafael. A companhia detém o direitode uso de imagem do atleta, e é acusada pela Receita Federal de ser um veículo quepossibilitaria ao tenista pagar menos Imposto de Renda.

Com a companhia, Guga e seu irmão recolhem o Imposto de Renda Pessoa Jurídica(IRPJ) a uma alíquota de 20%. A Receita, porém, alega que as atividades deveriamser tributadas pelo próprio Guga, com uma alíquota de 27,5% de IRPF.

No Carf, foi vencedora a posição de que a exploração da imagem de um atleta nãopode ser feita por uma empresa. A decisão foi dada por voto de qualidade, queocorre quando há empate no julgamento, e o voto do presidente da turma – querepresenta o Fisco – é utilizado para resolver a questão.

A sessão desta quarta-feira foi iniciada com o voto-vista da conselheira Ana PaulaFernandes, que votou de forma favorável ao tenista. Para ela, a Guga KuertenParticipações e Empreeendimentos não faz parte de um planejamento tributário.

“O cidadão tem o direito de dispor de sua imagem, e tem o direito de criar umaempresa para isso”, disse.

O presidente da Câmara Superior, conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos, poroutro lado, defendeu que a jurisprudência do Carf só passou a permitir a tributaçãopela pessoa jurídica a partir de 2005. Como o processo de Guga diz respeito a fatosocorridos em anos anteriores, a cobrança deveria ser mantida.

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Ausente

O julgamento �nalizado nesta quarta-feira foi inicidado em outubro. Dessa vez,porém, Guga optou por não comparecer à sessão.

No mês passado o tenista fez sustentação oral, e chegou a chorar no plenário. Naocasião Guga a�rmou que o esporte ainda é visto de uma forma amadora no país.

“As pessoas enxergam o tenista que ganha os trofeus, e é bonita essa parte”, disse,salientando que, para que sua carreira fosse possível, foi necessário o trabalho deseu irmão, que realizou as tarefas administrativas.

Guga também recebeu homenagens dos julgadores. “O tenista vai estar sempre nonosso coração, o nosso querido Guga, que todo Brasil conhece o trabalho. Masindependentemente disso estamos tratando de uma questão tributária, que não tema ver com a questão da emoção”, a�rmou a conselheira Maria Helena Cotta Cardozo,que votou pela manutenção da cobrança tributária.

Na ocasião a advogada de Guga, Mary Elbe Queiroz, do Queiroz AdvogadosAssociados, alegou que a empresa existe até hoje, e possui empregados, contadorese rendimento. O fato comprovaria que a companhia não fazia parte de algum tipo deplanejamento tributário.

Ela salientou ainda que o artigo 87-A da Lei 9.615/98  de�ne que “o direito ao uso daimagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste contratualde natureza civil e com �xação de direitos, deveres e condições inconfundíveis como contrato especial de trabalho desportivo”.

A representante da Fazenda Nacional, a procuradora Patrícia de Amorim GomesMacedo, alegou que os contratos �rmados entre a empresa Guga KuertenParticipações e Empreeendimentos e outras companhias deveriam, na verdade, tercomo parte o próprio Guga. Prova disso é o fato de os contratos �rmados com apessoa jurídica terem a previsão de rescisão em caso de morte do atleta.

Além disso, segundo ela, os prêmios recebidos por Guga eram tributados em suapessoa física.

Leia a nota:

“LAMENTÁVEL”

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“É lamentável a decisão desse processo administrativo da Receita Federal e doConselho Administrativo de Recursos Fiscais, por voto de qualidade, em função doempate no julgamento, que me força a pagar como pessoa física os contratos de usode imagem nesse período, de 1999 a 2002.

Se eu quisesse utilizar a pessoa jurídica simplesmente para ter bene�cio �scal, seriamuito mais fácil ter ido morar fora do Brasil, �xado residência em Montecarlo ouqualquer outro país com isenção �scal e me livrado de pagar qualquer imposto, atéporque eu passava muito mais tempo no exterior do que aqui. Mas, para mim semprefez mais sentido trazer esse dinheiro para o Brasil e investir no meu país.

Assumi que essa era a melhor opção e, desde o início da minha carreira, todos osimpostos das premiações dos torneios que recebi como tenista, que dependemexclusivamente do meu rendimentos em quadra, eu paguei na pessoa física.

Agora, é inaceitável que nos contratos de uso de imagem, que envolvem muito maisdo que simplesmente os esforços do atleta, eu não tenha direito de escolha, sendoque, desde 1995, montamos uma empresa, com uma equipe preparada para cuidardesse assunto e de todo o trabalho que a minha carreira requisitava.

Em 1997, já tínhamos cinco pessoas, responsáveis por diferentes funções. Fomosinclusive reconhecidos por ser o primeiro tenista a ter uma assessoria de imprensaindividual. A formação dessa equipe foi essencial para que eu pudesse só mepreocupar em jogar tênis, e me arrisco a dizer que não teria uma outra empresa quepudesse cuidar melhor da minha imagem do que a gente fez nos últimos 21 anos.

Acho um absurdo a Fazenda Nacional me obrigar a classi�car como pessoa física osrendimentos recebidos e tributados pela pessoa jurídica. Ou seja, eu teria que receberas propostas, negociar os valores, elaborar os contratos, agendar as campanhas eeventos, analisar os roteiros, de�nir a logística, aprovar �lmes e fotos, produzirreleases, e ainda organizar toda a agenda com a imprensa mundial.

Analisando todas essas requisições �ca evidente que a imagem de um atleta vaimuito além das atividades em que ele está envolvido, depende do trabalho intenso eincessante de uma equipe especializada, cuidando dos mínimos detalhes. Inclusive, alei de 2005 deixou tudo isso muito claro, con�rmando a possibilidade da exploraçãoda imagem pela pessoa jurídica, e vale a pena lembrar que mesmo antes dessa época,não havia nenhuma proibição.

Infelizmente, após essa decisão incoerente, vamos seguir com o processo judicial,lutando por essa causa, acreditando que tudo o que a gente fez serve de exemplo para

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qualquer atleta que queira construir uma carreira de sucesso”.

GUSTAVO KUERTEN

BÁRBARA MENGARDO – Editora

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Carf reduz cobrança �scal contra NeymarJogador era acusado de criar empresas com o objetivo de pagar menos tributos

ALEXANDRE FACCIOLLA

16/03/2017 16:37

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As empresas criadas pelos pais do jogador Neymar Jr. para receber pagamentosfeitos a título de direito de imagem foram julgadas, em sua maioria, como legítimaspelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

O julgamento tomou o dia inteiro dos conselheiros da 2ª Turma da 4ª Câmara dotribunal nesta quarta-feira (16/3), que decidiu por legitimar pagamentos feitos para aempresa dos pais do atleta feitos por mais de uma centena de patrocinadoresenquanto ele ainda trabalhava no Santos. Entre pedidos de vista, o julgamento docaso levou três meses.

Com o novo cálculo, é possível que as multas e os tributos devidos cheguem apouco mais de R$ 50 milhões, frente aos R$ 188 milhões cobrados originalmentepela Receita Federal.

O Fisco cobrava de Neymar o recolhimento do Imposto de Renda Pessoa Física (IR-PF) e multas que ultrapassam 100% do valor cobrado em tributos. O jogador doBarcelona questionou a cobrança administrativamente. Os conselheiros do Carfforam chamados a decidir se Neymar agiu regularmente ao constituir três empresas,que detinham o direito de imagem do atleta.

O Fisco alega que o jogador criou as companhias com o objetivo de pagar menosimpostos: a NR Sport & Marketing, a N& N Consultoria Esportiva e a N&NAdministração de Bens. As empresas exploram o direito de imagem do atleta, econstam como parte, por exemplo, em contratos de publicidade �rmados porNeymar.

A irregularidade �scal, de acordo com a Receita, viria da diferença entre as alíquotasdo Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IR-PJ) e do IR-PF. As empresas de Neymarpagavam aproximadamente 17% em tributos. Mas caso as atividades fossemtributadas diretamente pelo jogador, seria pago 27,5% de IR-PF.

No caso da transferência do jogador para o Barcelona, os conselheiros entenderamque a situação é irregular e mantiveram na base de cálculo da cobrança as multasreferentes ao valor de 40 milhões de euros. O colegiado ponderou que o repasse nãodeve ser tratado como um empréstimo, mas sim como um adiantamento.

Entre outros pontos julgados, foi reconhecida a regularidade da base tributária,como no caso de uma empresa criada pelos pais do jogador para prospectar novostalentos futebolísticos no Brasil.

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Tanto a Fazenda Nacional quando Neymar devem recorrer da decisão para aCâmara Superior do tribunal administrativo, o que pode demorar até dois anos paraque sejam analisados os pedidos de revisão da decisão.

Caso paradgmático

O clima na tribuna foi de celebração. Pela parte da defesa, o julgamento foi “umavitória no campo do inimigo”, comentou um dos representantes do jogador.

“Esse caso é único. Em todos os outros casos, os atletas eram sócios da empresa”,a�rmou o advogado da causa, Marcos Neder, sócio do escritório Trench, Rossi eWatanabe.

Para Neder, um dos grandes ganhos da decisão da 2ª Turma da 4ª Câmara do Carffoi o reconhecimento da legitimidade de quase todas as transações da NeymarSports, que recebeu 80% dos ganhos por direito de imagem pagos ao jogador pormais de 100 patrocinadores. “A �scalização dizia que empresa não existia”.

Segundo ele, o voto da maioria entendeu que “ela operou em direito de imagemlegitimamente”.

Já em relação à parte paga pelo clube Santos, os julgadores entenderam que opagamento de direito de imagem �cava compreendido no campo do pagamento desalário e, portanto, deveria incidir a alíquota de 27,5% cobrados de Imposto de Rendade Pessoa Física, mais a multa agravada. A corte ponderou, como no caso dojogador Pato e do tenista Guga, que os valores já pagos na base de cálculo doImposto de Renda de Pessoa Jurídica (IR-PJ) devem ser abatidos das novascobranças avalizadas pelo Carf.

Interposição

A sessão de julgamento foi acompanhada de perto também por dois representantesda Receita Federal. Um deles, o auditor �scal Valmir da Cruz, fez parte da equipe de�scalização do jogador do Barcelona. Ele se mostrou satisfeito com o entendimentodo Carf, mas reforçou que a situação do jogador espelha caso de interposição depessoas.

“Esse caso é quando uma pessoa física desloca uma tributação para uma cargatributária menor”, a�rmou. “Isso foi reconhecido como uma infração, inclusive com amulta agravada”, de 150% sobre os valores devidos nos pontos validados pelo Carf.

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ALEXANDRE FACCIOLLA

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Advogado Marcos Neder: direito de imagemfoi tributado corretamente

16/03/2017 - 05:00

Neymar reduz em um terço valor de autuação no Carf

Por Beatriz Olivon e Laura Ignacio

Após quase dez horas de análise, o Conselho Administrativo de RecursosFiscais (Carf) julgou o recurso do jogador de futebol Neymar Júnior,reduzindo o valor de uma autuação fiscal, de aproximadamente R$ 200milhões, em cerca de um terço. O jogador vai recorrer à Câmara Superior doconselho. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) estuda se fará omesmo.

A 2ª Turma da 4ª Câmara da 2ª Seção do órgão analisou recurso do jogadorcontra autuação fiscal aplicada para cobrar Imposto de Renda da Pessoa Física(IRPF) sobre valores recebidos por uso da imagem do atleta e pela contratação do jogador pelo Barcelona, da Espanha, pormeio de uma das empresas de Neymar.

Pela manhã, o Carf definiu que a Neymar Sport pode explorar o direito de imagem e receber por isso. A fiscalização queriaque os valores fossem tributados por meio da pessoa física do Neymar. Entendeu que essa empresa só serviria para ojogador pagar menos tributos.

"O Carf decidiu que a empresa tem substância legítima e tudo o que explorou de direito de imagem foi tributadocorretamente", afirma o advogado tributarista Marcos Neder, do escritório Trench Rossi & Watanabe.

De acordo com o advogado, em relação ao direito de imagem, só foi mantida a autuação sobre a tributação das parcelaspagas pelo Santos. O clube brasileiro para o qual Neymar jogava antes de ir para o Barcelona pagava uma parcela de salárioe outra de direito de imagem à Neymar Sport. O Carf considerou tudo como salário.

"A decisão do Carf foi importante para a Neymar Sport porque ela recebe também de uma série de clientes mundo aforacomo Red Bull, Parmalat e Nike. A decisão chancela que todos esses contratos foram legítimos", afirma Neder.

Do total da autuação, aproximadamente metade era relacionada a direito de imagem, segundo Neder. E desse montante só20% relacionava-se ao Santos. Assim, com essa parte da decisão, o jogador já se livrava de pagar cerca de R$ 80 milhões."Ficou claro que a Neymar Sport existe e tem o direito de explorar a imagem dos clientes, inclusive a do Neymar", diz.

À tarde, o Carf manteve a parte da autuação fiscal que referia-se aos valores recebidos do Barcelona. Entendeu que os 40milhões de euros recebidos pela N&N como cláusula penal do contrato descumprido pelo jogador deveria ser atribuído aoNeymar Jr. Segundo Neder estima, essa parte da autuação representa hoje cerca de R$ 100 milhões.

O que reduziu esse valor foi o fato de o Carf também admitir a compensação dos tributos já pagos pelas empresas deNeymar. "A fiscalização não havia considerado esse pagamento. Isso corresponde a entre 50% e 60% do total da autuação",afirma Neder.

O advogado vai recorrer das derrotas no julgamento. "O Neymar Jr. nunca recebeu nenhum dinheiro desses 40 milhões deeuros. Esse montante está nas empresas. Assim não é salário. Numa discussão mais profunda achamos que vamosderrubar essa parte da autuação também", diz.

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A procuradora da Fazenda Nacional, Lívia Queiroz, aguarda a formalização do acórdão para decidir se recorrerá, na parteem que a União foi derrotada.

A procuradora afirma que, com a decisão, a Fazenda venceu duas teses importantes no Carf, sobre o uso da pessoa jurídicana venda do atleta para o Barcelona e no contrato com o Santos, que seria contrato de trabalho. "Consideramos duasvitórias significativas, porque o Carf ainda está consolidando seu entendimento sobre isso."