Plano de Aula Diferenciabilidade no Rn

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Diferenciabilidade no Rn

Citation preview

  • Plano de Aula- Leticia Tonetto -

    Apresentado ao Departamento de Desenvolvimento de Pessoas daUniversidade Federal de Santa Catarina para o concurso de ProfessorAdjunto (Edital 154/DDP/2015) para vaga em Matemtica Aplicada -

    Campus Blumenau.

    Blumenau, 2016.

  • Ttulo da aulaDiferenciabilidade no Rn: Derivada parciais, derivadas direcionais e diferenciabilidade.

    Objetivos da aula Estender o conceito de diferenciabilidade de funes reais de uma varivel, para o mesmoconceito relativo funes reais de n variveis; Definir derivadas parciais e derivadas direcionais. Estabelecer critrios que garantam a diferenciabilidade de funes reais de n variveis,bem como estabelecer que funes diferenciveis em Rn so contnuas, e que ter derivadasparciais e direcionais em algum ponto no garante que a funo f seja contnua nesseponto.

    Recursos didticosQuadro branco, caneta para quadro branco, recurso multimdia.

    Pr-requisitosPara o desenvolvimento desta aula o aluno deve ter conhecimentos prvios de Anlisena Reta, bem como familiaridade com noes topolgicas no Rn, dentre elas limites econtinuidade .

    1 MotivaoUma funo f de uma varivel derivvel ou diferencivel em x0 se tiver uma derivadaem x0, ou seja, se existir o limite

    f (x0) = limh0

    f(x0 + h) f(x0)h

    . (1)

    Como uma consequncia de (1), uma funo diferencivel possui as seguintes propriedades

    O grfico de y(x) = f(x) tem uma reta tangente no-vertical no ponto (x0, f(x0)); f poder ser bem aproximada por uma funo linear perto de x0; f contnua em x0.Para uma funo de uma varivel a noo de diferenciabilidade baseada na ideia

    de que uma funo diferencivel num ponto se na proximidade desse ponto puder seraproximada por uma funo linear.

  • Questo: como estender essa noo para funes reais de n variveis?

    2 Metodologia

    2.1 Derivadas parciaisQuando se estudam funes reais de n variveis, isto , definidas em subconjuntos doespao Rn, se busca para essas funes uma noo de derivada com propriedades anlogass de derivada de uma funo definida em um intervalo. A definio que surge de maneiramais imediata a de derivada parcial.

    Definio 1 Seja f : U R uma funo real definida em um subconjunto aberto U Rn.Dado um ponto a U , a i-sima derivada parcial de f no ponto a (onde 1 i n) o limite

    f

    xi(a) = lim

    t0f(a+ tei) f(a)

    t, (2)

    com ei = (0, ..., 1, ..., 0). Notao: if(a) ou fxi(a)

    ExemplosU R2f : U R2 uma funo real de duas variveis, escreve-se f(x, y) para indicar

    seu valor no ponto c = (a, b) U . Suas derivadas parciais podem ser representadas por

    fx1

    (c) e fx2

    (c) ou fx(c), f

    y(c) ou fx(c) e fy(c).

    Analogamente, se U R3, f : U R uma funo de trs variveis reais x, y, e z esuas derivadas parciais em um ponto d = (a, b, c) U so representadas por

    fx(d), f

    y(d) e f

    z(d).

    Interpretao geomtrica

    Quando n = 2 f uma superfcie em R3 .

    fx(c), c = (a, b) a inclinao da reta tangente no ponto (a, b, f(a, b)) contido na curva

    obtida pela interseo da superfcie z com o plano horizontal paralelo ao eixo x e fazendoy constante igual a b.

  • Figura 1: Derivada partial f(c)x , c = (a, b).

    Nota: O clculo prtico da i-sima derivada parcial de uma funo real f(x1, x2, ..., xn)se faz considerando todas as variveis como se fossem constantes, exceto a i-sima e entoaplicando as regras usuais de derivao relativamente a essa varivel.

    O prximo exemplo mostra que derivadas parciais em um ponto no garantem a con-tinuidade da funo f nesse ponto.

    Exemplo 1 f : R2 R

    f(x, y) ={

    xyx2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0),0, se (x, y) = (0, 0). (3)

    Tem-se que

    fx(0, 0) = lim

    t0f(t,0)f(0,0)

    t= 0,

    fy(0, 0) = lim

    t0f(0,t)f(0,0)

    t= 0.

    As derivadas parciais calculadas com as regras usuais so

  • fx(x, y) ={

    y3x2y(x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0),0, se (x, y) = (0, 0).

    e fy(x, y) ={

    x3y2y(x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0),0, se (x, y) = (0, 0).

    (4)

    Embora f possua derivadas parciais em (0, 0) fcil ver que f no contnua em(0, 0), pois

    limt0 f(t, 0) = 0, e limt0 f(t, t) =

    12 .

    A existncia de todas as derivadas parciais em determinado ponto no garante a con-tinuidade da funo nesse ponto.

    2.2 Derivadas direcionais

    As derivadas parciais desacompanhadas de hipteses adicionais apenas fornecem informa-es sobre a funo ao longo de retas paralelas aos eixos . As derivadas direcionais surgemna tentativa de estender a noo de derivada parcial outras direes alm dessas.

    Definio 2 Sejam f : U Rn definida no aberto U , a U e v Rn. A derivadadirecional de f no ponto a, segundo o vetor v Rn. A derivada direcional de f no pontoa, segundo o vetor v por definio o limite

    f

    v(a) = lim

    t0f(a+ tv) f(a)

    t, (5)

    quando tal limite existe.

    Observaes

    As derivadas parciais so casos particulares das derivadas direcionais, quando v umdos vetores ej.

    Geometricamente fv(a) o coeficiente angular da reta tangente ao grfico de f, no ponto

    a e na direo v.

    No exemplo a seguir ilustrado o fato que a existncia de derivadas direcionais emtodas as direes em um determinado ponto no implica na continuidade da funo fnesse ponto .

  • Exemplo 2 f : R2 R

    f(x, y) ={

    xyx2+y2 , se(x, y) 6= (0, 0),0, se(x, y) = (0, 0). (6)

    fv(0, 0) existe para qualquer v R2, mas f no contnua na origem.

    Basta verificar que

    limt0

    f(a+ tv) f(a)t

    = limt0

    tv31v2t4v61 + v22

    = 0.

    Agora verifica-se que f no contnua em x = 0. De fato, tomando x = 0 e y = t,tem-se (x, y) (0, 0) quando t 0. Ento

    lim(x,y)(0,0)

    f(x, y) = limt0 f(0, t) = 0.

    Por outro lado, tomando x = t e y = t3, tem-se (x, y) (0, 0) quando t 0, mas

    lim(x,y)(0,0)

    f(x, y) = limt0 f(t, t

    3) = limt0

    t6

    2t6 =12 .

    Obervao

    Utilizou-se que f(x, y) contnua em (x0, y0) se f(x0, y0) estiver definida e se

    lim(x,y)(x0,y0)

    f(x, y) = f(x0, y0).

    2.3 Diferenciabilidade

    Definio 3 Se f : U R est definida no aberto U Rn e f tem todas as derivadasparciais em a U ento o gradiente de f no ponto a o vetor

    f(a) =(f

    x1(a), f

    x2(a)..., f

    xn(a)). (7)

    Definio 4 dito que uma funo f : U R definida no aberto U Rn diferencivel em

    a U quando existirem constantes A1, ..., An tais que para todo vetor a+ v U se tenha

  • f(a+ v) = f(a) + A11 + ...+ Ann + r(v), (8)

    com limv0

    r(v)|v| = 0.

    Definio equivalente f : U R diferencivel no ponto a U quando existem asderivadas parciais

    f

    xi(a), ..., f

    xn(a), (9)

    e alm disso, para todo v = (1, 2, ..., n), tal que a+ v U , se tenha

    f(a+ v) = f(a) + fxi

    (a)1 + ...+ fxn (a)n + r(v)

    = f(a)+ < f(a), v > + r(v),(10)

    onde limv0

    r(v)|v| = 0.

    Observaes

    Para testar que se f diferencivel em a, necessrio que f tenha todas as derivadasparciais no ponto a.

    Na definio de diferenciabilidade o importante saber se limv0

    r(v)|v| = 0, pois a

    igualdade (10) sempre verdadeira, basta definir r(v) = f(a+ v) f(a)f(a) v.

    Teorema 1Seja U um aberto em Rn. Toda funo f : U R diferencivel no ponto a contnua

    em a.

    Prova

    lim|v|0

    [f(a+ v) f(a)] = lim|v|0

    [f(a) v + r(v)] (11)

    Mas

    lim|v|0|f(a) v| lim

    |v|0|f(a)| |v| = 0 (12)

    e

    lim|v|0

    r(v) = lim|v|0|v|r(v)|v| = 0. (13)

  • Logo lim|v|0

    f(a+ v) f(a) = 0. E ento f contnua.

    Teorema 2Toda funo f :U R diferencivel em a, U aberto de Rn, tem todas as derivadas

    direcionais em a. E a derivada direcional definidaf(a)v

    = f(a) v,v Rn. (14)

    Prova

    Fixando v Rn, deve-se mostrar que

    limt0 |

    f(a+ tv) f(a)t

    f(a) v | = 0.

    De fato,

    limt0 |

    f(a+ tv) f(a)t

    f(a) v| = limt0 |f(a) tv + r(tv)

    tf(a) v| (15)

    = limt0 |

    r(tv)t| = lim

    t0 |r(tv)t|v| |v|| = 0 |v| = 0.

    Logo

    f

    v(a) = f(a) v. (16)

    Observao: A recproca do teorema no verdadeira

    Exemplo 3

    f(x, y) ={

    x3yx6+y2 , se(x, y) 6= (0, 0),0, se(x, y) = (0, 0).

    (17)

    Tem todas as derivadas direcionais em (0, 0), mas no contnua na origem. Logo fno diferencivel na origem.

    Definio 5 Seja U aberto de Rn e f :U R uma funo que possui as n derivadasparciais em todos os pontos do aberto U Rn. Ficam ento definidas as n funes

    f

    x1, ...,

    f

    xn: U R, onde f

    xi: x 7 f(x)

    xi, x U. (18)

  • Quando essas n funes so contnuas em U dito que f de classe C1 e escreve-sef C1(U).

    Teorema 3Se f C1(U) ento f diferencivel em U .

    Observao: A recproca do Teorema no verdadeira.Exemplo

    f(x, y) =

    (x2 + y2) sin( 1

    x2+y2 ), se (x, y) 6= (0, 0),

    0, se (x, y) = (0, 0),(19)

    f diferencivel em todos os pontos mas f no de classe C1(R2).

    3 Finalizao da aula-Resumo esquemtico

    f C1(U) implica que f diferencivel, ento f possui derivadas direcionais paratodo v U , em particular f possui todas as derivadas parciais.

    f possuir todas as derivadas parciais no implica que f possua derivadas direcionaispara todo v, que por sua vez no implica em f ser diferencivel.

    Se f de classe C1 ento diferencivel.

    Bibliografia

    [1] E.L.Lima, Curso de Anlise Volume 2, 2009, (Captulo III).[2] H. Anton, I. Bivens and S. Davis Clculo Volume II, 2007 (Captulo 14).

    Front page1 Motivao2 Metodologia2.1 Derivadas parciais2.2 Derivadas direcionais2.3 Diferenciabilidade

    3 Finalizao da aula