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PLANO DE CONTINGÊNCIA PARA PHYTOPHTHORA RAMORUM WERRES, DE COCK & MAN IN'T VELD MORTE SÚBITA DOS CARVALHOS Estabelece as bases estratégicas e respetivas ações de prevenção e controlo do agente biótico nocivo Phytophthora ramorum no território nacional, definindo as entidades envolvidas na sua execução Novembro, 2015 Fitossanidade Florestal Carvalhos, castanheiro, faia, freixo

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Dezembro, 2013

PLANO DE CONTINGÊNCIA PARA PHYTOPHTHORA RAMORUM

WERRES, DE COCK & MAN IN'T VELD

MORTE SÚBITA DOS CARVALHOS

Estabelece as bases estratégicas e respetivas ações de prevenção e controlo do agente biótico nocivo Phytophthora ramorum

no território nacional, definindo as entidades envolvidas na sua execução

Novembro, 2015

Fitossanidade Florestal

Carvalhos, castanheiro,

faia, freixo

Plano de Contingência para Phytophthora ramorum Werres, de Cock & Man in't Vel (Morte súbita dos carvalhos)

2015/2020

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Sumário executivo

Este plano de contingência está em conformidade com os objetivos e linhas de atuação previstas no

Programa Operacional de Sanidade Florestal (POSF), tem como principal objetivo o estabelecimento das

bases estratégicas de atuação para prevenir a introdução e dispersão da morte súbita dos carvalhos no

território nacional, instituindo um conjunto de ações de prospeção e amostragem dirigidas a este

agente biótico nocivo, bem como ações de controlo e erradicação do mesmo, nos casos em que o

agente biótico nocivo seja detetado precocemente, definindo também as várias entidades envolvidas

em todas as fases do plano.

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Coordenação: Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. ICNF, I.P.

Colaboração: Direção-Geral de Alimentação e Veterinária DGAV

Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. INIAV, I.P.

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ACRÓNIMOS e SIGLAS

ANEFA Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente

ASAE Autoridade de Segurança Alimentar e Económica

DGAV Direção-Geral de Alimentação e Veterinária

DRAP Direção Regional de Agricultura e Pescas

FITO Sistema de Gestão de Informação de Fitossanidade Florestal

GASF Grupo de Acompanhamento de Sanidade Florestal

GNR Guarda Nacional Republicana

ICNF, I.P. Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.

INIAV, I.P. Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.

MFR Materiais Florestais de Reprodução

OEPP Organização Europeia e Mediterrânica para a Proteção das Plantas

OPF Organização de Produtores Florestais

POSF Programa Operacional de Sanidade Florestal

SEPNA Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente

UE União Europeia

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GLOSSÁRIO

Agente biótico nocivo

- Qualquer espécie, estirpe ou biótipo de agentes patogénicos, animais ou vegetais, parasitas nocivos para os vegetais ou produtos vegetais

Cancro - Lesão necrótica muito visível numa árvore e relativamente localizada, manifestando-se principalmente ao nível da casca e do câmbio, traduzindo-se por uma depressão mais ou menos pronunciada.

Diagnóstico - Conhecimento ou determinação de um agente biótico nocivo pela observação dos seus sintomas e sinais.

Heterotálica - Refere a fungos. Gametângios masculinos e femininos ocorrerem em talos distintos (sexos separados).

Hospedeiro - Organismo vivo que serve de alimento a um parasita.

Monitorização - Procedimento, aplicado de forma contínua, que permite acompanhar a evolução temporal da população de um determinado agente biótico, com o objetivo de conhecer a dimensão do ataque e avaliar as suas consequências económicas no sentido de permitir a tomada de decisão.

Plano de contingência

- Plano de atuação dirigido à prevenção, deteção precoce e controlo dos agentes bióticos nocivos classificados como organismos de quarentena não existentes em Portugal.

Praga - Os inimigos dos vegetais ou dos produtos vegetais pertencentes ao reino animal ou vegetal, ou apresentando-se sob a forma de vírus, micoplasmas ou outros agentes patogénicos.

Prospeção - Procedimento que permite detetar a presença de um determinado agente biótico nocivo.

Sinal - Presença de um agente biótico nocivo associado a determinados sintomas.

Sintoma - Reação externa ou interna de uma planta, resultante da ação de um agente biótico nocivo.

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Índice

1. Introdução 8

2. Objetivos 9

3. Caraterização da Phytophthora ramorum e sintomas associados 9

3.1. Taxonomia e sinonímia 9

3.2. Hospedeiros 9

3.3. Distribuição geográfica 9

3.4. Sintomas 10

3.5. Biologia e disseminação 11

4. Ações a desenvolver 13

4.1. Ações de prevenção 14

4.1.1. Ações de prospeção em Materiais Florestais de Reprodução 15

4.1.2. Ações de prospeção em povoamentos 17

4.1.3. Outras medidas de caráter preventivo 18

4.1.4. Inspeção à importação 20

4.2. Medidas de controlo e fiscalização 20

4.3. Informação, sensibilização e formação 20

4.3.1. Informação 20

4.3.2. Sensibilização 20

4.3.3. Formação 21

5. Entidades envolvidas 21

6. Controlo interno 22

7. Vigência do plano 22

8. Bibliografia

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1. Introdução

Phytophthora ramorum Werres, de Cock & Man in't Vel vulgarmente conhecida como a morte súbita

dos carvalhos é um agente biótico nocivo, parecido com um fungo, que consta atualmente da Lista A2

da Organização Europeia e Mediterrânica para a Proteção das Plantas (OEPP) devido aos danos que

provoca não só em espécies florestais, mas também em espécies do sub-bosque, desequilibrando o

ecossistema florestal. Nas espécies florestais, o género Quercus foi, até agora, o que demonstrou maior

suscetibilidade a este agente biótico.

Esta praga está regulamentada pelas Decisões da Comissão Europeia 2002/757/CE, de 19 de setembro e

2007/201/CE, de 27 de março, transpostas para o direito interno pela Portaria n.º 719/2007, de 11 de

junho.

Este agente biótico nocivo detetado em vários países da Europa em 2002, em viveiros de espécies

ornamentais, não foi até ao momento descoberto em Portugal em espécies florestais, entendendo-se

ser fundamental e adequado proceder à implementação de medidas preventivas que minimizem o risco

da introdução e contaminação de povoamentos e, no caso da sua deteção precoce, permitam a

execução de ações de erradicação, atempadas e eficazes. Os carvalhos são as espécies florestais mais

importantes sob o ponto de vista económico-social, ambiental e paisagístico de Portugal. Com uma área

mais limitada, o mesmo se pode dizer para o castanheiro, também ela espécie potencialmente

hospedeira deste agente biótico. Enquanto a economia e a estrutura social do sul do país está muito

dependente do sobreiro e da azinheira, grande parte da região da terra fria transmontana está

dependente do castanheiro. Os prejuízos causados por P. ramorum podem ser extremamente graves

para o desenvolvimento regional, com impactos negativos ao nível da economia do país.

Assim, e tendo em consideração a informação disponível, surge o presente plano de contingência para

um período de 5 anos, que pretende atuar a diferentes níveis (figura 1), no sentido de evitar a

disseminação deste agente biótico nocivo no nosso território. Este plano será revisto sempre que se

justifique.

Figura 1 – Níveis de atuação para prevenção e controlo do agente biótico nocivo P. ramorum.

Níveis de atuação

Materiais florestais de reprodução

Povoamentos de espécies hospedeiras

Importação de espécies hospedeiras

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2. Objetivos

Este plano, após uma caraterização do agente biótico nocivo, determina as entidades e os

procedimentos a seguir de forma a garantir os seus principais objetivos:

Assegurar a deteção precoce desta praga;

Garantir uma rápida e efetiva resposta com vista à sua erradicação, em caso de deteção

precoce.

3. Caraterização do agente biótico Phytophthora ramorum e sintomas associados

3.1 Taxonomia e sinonímia

Espécie: Phytophthora ramorum Werres, de Cock & Man in't Vel

Posição sistemática: Domínio: Eukaryota; Reino: Chromista; Divisão: Oomycota; Classe: Oomycetes;

Ordem: Peronosporales; Família: Peronosporaceae; Género: Phytophthora.

Nome vulgar: Morte súbita dos carvalhos.

3.2 Hospedeiros

Este agente biótico nocivo tem um leque variado de espécies hospedeiras (130) que estão reunidas

em 75 géneros e 37 famílias. As espécies que têm demonstrado maior suscetibilidade a este

organismo e que mais preocupam a UE estão listadas na Decisão n.º 2007/201/CE, da Comissão, de

27 de Março que foi transposta pela portaria n.º 719/2007, de 11 de junho. Nas áreas florestais, as

espécies mais sensíveis são: Acer pseudoplatanus L., Aesculus hippocastanum L., Arbutus unedo L.,

Castanea sativa Mill., Fagus sylvatica L., Fraxinus excelsior L., Laurus nobilis L., Nothofagus obliqua

(Mirbel) Blume Pseudotsuga menziesii (Mirbel) Franco, Quercus spp. L. e Taxus spp. L. e as espécies

de sub-coberto Calluna vulgaris (L.) Hull, Lonicera hispidula (Lindl.), e Rhododendron spp. L.

3.3 Distribuição geográfica

Phytophthora ramorum aparece essencialmente em viveiros, no entanto, nos últimos anos tem

causado estragos avultados nas regiões costeiras do centro e norte da Califórnia e do sul do Oregon

na conhecida “faixa de nevoeiro de verão”, que tem condições climatéricas consideradas favoráveis

para o desenvolvimento deste agente biótico nocivo, nomeadamente, temperaturas amenas

rondando os 20 ° C e humidade prolongada. Nesta área, a pseudotsuga e os carvalhos autóctones

foram os mais suscetíveis ao agente biótico P. ramorum.

Este agente biótico nocivo foi detetado em viveiro em vários países europeus. Até ao momento em

áreas florestais apenas foi detetada no Reino Unido, na Irlanda e na Holanda. O Reino Unido em

2009 e a Irlanda em 2012 declararam focos de P. ramorum em 2 coníferas do mesmo género (Larix

kaempferi (Lam.) Carr. e Larix decidua P. Mill), apesar destas espécies não constarem das espécies

consideradas mais sensíveis a este agente biótico nocivo.

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3.4 Sintomas

Os sintomas deste agente biótico nocivo são muitos e variados, podendo ser encontrados tanto em

árvores adultas como em plantas de viveiro. Ao contrário de outras Phytophthora, não ataca as

raízes mas o sim tronco e as partes aéreas do hospedeiro como rebentos e folhas. Ainda que os

sintomas não possam ser especificamente associados a este agente biótico nocivo, cuja deteção

apenas pode ser confirmada através de análise laboratorial, apresentam-se alguns sintomas que,

potencialmente, poderão indiciar a sua presença (figuras 2 e 3).

O agente biótico P. ramorum pode exibir 4 tipos de sintomas em função das partes afetadas e das

espécies hospedeiras:

Folhas e ramos novos infetados com várias formas de descoloração;

Escorrimentos escuros no tronco, provenientes de uma zona descolorada (cancro do

tronco);

Murchidão dos gomos e rebentos;

Morte súbita dos carvalhos;

Os períodos mais adequados para a observação dos sintomas são a primavera e o outono.

Figura 2 – Sintomas de infeção associados à presença de P. ramorum em folhas.

Infeção em folhas de Quercus ilex L.

Infeção em folhas de Taxus baccata L.

Infeção em folhas de Rhododendron spp.

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Figura 3 –Sintomas de infeção associados à presença de Phytophthora ramorum em rebentos e tronco.

Fotografias retiradas de: Joseph O'Brien, USDA Forest Service, Bugwood.org e

http://www.invasive.org/browse/detail.cfm?imgnum=5038043 http://www.forestry.gov.uk/forestry/INFD-672LGH http://www.forestry.gov.uk/pramorum http://photos.eppo.org/index.php/image/2531-phytra-06/hits/7-pests http://www.fera.defra.gov.uk/plants/plantHealth/treeHealth/chelsea2013/images/Horse%20Chestnut%20Leaf%20Miner%20-%20Crown%20Copyright%20Fera.jpg

3.5 Biologia e disseminação

As condições necessárias para o crescimento da praga P. ramorum são humidade associada a uma

temperatura que ronda os 20 ° C, com um mínimo de 2° C e um máximo de 30 ° C. É um organismo

bem adequado para um clima frio-temperado.

Ainda que o agente biótico nocivo P. ramorum seja uma espécie heterotálica, a formação de

oósporos (esporos sexuados) não foi detetada na natureza. A multiplicação é feita através de dois

tipos de esporos assexuados, zoósporos (libertados dos esporângios) e clamidósporos, que sob

condições moderadas de humidade e temperatura são produzidos nas folhas ou gomos infetados.

Os zoósporos, transportados por água ou vento, após pousarem nas folhas e gomos de espécies

sensíveis, em zonas onde a água se acumula, germinam e penetram nos tecidos dos hospedeiros

através de aberturas naturais e feridas, sendo responsáveis por novas infeções. Os clamidósporos

são os esporos de sobrevivência, têm uma parede celular espessa e podem sobreviver no solo

durante meses. Em condições adequadas germinam, produzem novas hifas e logo que o ambiente

seja favorável, desenvolve-se rapidamente novo ciclo assexuado do agente biótico nocivo.

Infeção em rebentos de Rhododendron

spp.

Infeção em rebento de Abies sp.

Infeção em rebento de Pseudotsuga menziesii

(Mirb) Franco

Exsudação em tronco de Quercus spp.

Cancro em tronco de Quercus agrifolia

Nee

Infeção em tronco de Quercus rubra L.

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Este agente biótico nocivo pode ser encontrado no solo, até uma profundidade de 15 centímetros,

na matéria orgânica em decomposição.

Até ao momento, os habitats afetados com P.ramorum, numa escala relativamente grande, são os

das florestas perenifólias do litoral da Califórnia e as de Larix spp. da Grã-Bretanha, Gales e

República da Irlanda. No Reino Unido (Grã-Bretanha e Gales) foi demonstrado que a incidência do

agente biótico nocivo P. ramorum em ambientes seminaturais foi aumentando à medida que a

precipitação aumentava e a latitude diminuía. A utilização de modelos com base nas condições

climatéricas considera que na Europa as zonas litorais ocidentais são as mais vulneráveis ao agente

biótico nocivo P. ramorum.

A dispersão do agente biótico nocivo P. ramorum pode ocorrer a curtas e médias distâncias de

forma natural ou a longas distâncias de forma artificial (tabela 1).

Figura 3 – Ciclo de vida em povoamento: 1 – Esporângios produzidos nas folhas infetadas são dispersos para novos hospedeiros através da chuva e do vento; 2 – Os esporângios ou zoósporos da copa são transportados para as partes inferiores da árvore e vão causar cancros nos troncos e ramos; 3 – Os esporângios ou zoósporos da copa podem também ir infetar os arbustos e outra vegetação existente por baixo da árvore; 4 – As folhas que caiem no chão também são fonte de inóculo; 5 – Os esporângios produzidos nas folhas caídas vão infetar a vegetação; 6 – Os propágulos do agente biótico entram no solo por decomposição da folhada e/ou arrastados pela água.

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Tabela 1 – Formas de disseminação do agente biótico nocivo.

4. Ações a desenvolver

As ações a desenvolver no âmbito deste Plano de Contingência enquadram estrategicamente 3 grandes

áreas (figura 4), cuja implementação está sob responsabilidade das autoridades nacionais em matéria de

fitossanidade florestal, no caso o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF, I.P.) com a

colaboração da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e do Instituto Nacional de

Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.), podendo, caso seja considerado necessário, serem

envolvidas outras entidades, designadamente, entidades representantes do setor, laboratórios e outras

com responsabilidades na fiscalização e controlo.

Natural

•Através do vento húmido, correntes de ar, chuva, cursos de água e água de rega, que espalha os esporos.

•A dispersão dos esporos libertados através do vento húmido, pode ser muito rápida, indo depositar-se e infetar os hospedeiros.

•A deslocação de folhas infetadas através do vento é também uma forma de dispersão a nível local.

Artificial

•Através da circulação de plantas de viveiro, principalmente ornamentais, normalmente associada à dispersão a grandes distâncias.

•O transporte de solo/substrato pelos pneus de carros ou solas de sapatos de caminhantes a partir de locais onde a praga já existe, associado ou não a espécies hospedeiras, onde possa existir folhada ou outro material infetado, pode ser também uma via de dispersão do agente biótico nocivo , uma vez que pode conter as estruturas que produzem os esporos.

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Figura 4 – Áreas de atuação consideradas no plano de contingência.

4.1. Ações de prevenção

As ações incluídas nesta área (figura 5) incidem sobretudo na prospeção, no sentido de avaliar a

situação de Portugal quanto à presença deste agente biótico nocivo, através da observação de

sintomas em materiais florestais de reprodução, árvores, no subcoberto (arbustos e herbáceas) e

ainda sobre a atividade de inspeção fitossanitária dirigida às importações, a conduzir

fundamentalmente pelas entidades da administração pública, designadamente ICNF, I.P., e DGAV.

Definem-se ainda um conjunto de ações, tanto gerais como especificas, a serem aplicadas por todas as entidades com atividade relacionada com a produção, circulação e comercialização das espécies suscetíveis a P. ramorum.

As épocas do ano mais favoráveis para se reconhecerem os sintomas de P. ramorum são a primavera

e o outono, pelo que a prospeção nos povoamentos deve ser feita nestas alturas. Tendo em

consideração o ambiente criado pelos viveiros, a época de prospeção é mais flexível, podendo

estender-se ao longo do ano.

Prevenção

Controlo

Sensibilização e Formação

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Figura 5 – Ações de prevenção.

4.1.1. Ações de prospeção em Materiais Florestais de Reprodução (MFR)

A prospeção em MFR, da responsabilidade do ICNF, I.P., deverá incidir nos operadores

económicos que, no território continental, produzam ou comercializem plantas das espécies

hospedeiras, devendo ser implementados os procedimentos indicados na figura 6.

No que se refere à prospeção regular dos MFR das espécies hospedeiras, a efetuar em todos os

fornecedores identificados, sejam os MFR produzidos em território nacional ou os adquiridos

em outros Estados-Membros, o número mínimo de plantas a inspecionar, através de observação

visual dos sintomas, será determinado em função da dimensão do lote (tabela 2).

Figura 6 – Procedimentos para prospeção de Materiais Florestais de Reprodução (MFR).

Prospeção Materiais

Florestais de Reprodução

Povoamentos Arbustos e

herbáceas do subcoberto

Outras Medidas Preventivas

Gerais Específicas

Inspeção Fitossanitária

Importação

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Tabela 2 – Número mínimo de plantas a serem observadas visualmente.

Sempre que se observem os sintomas anteriormente descritos, devem recolher-se amostras de

material vegetal, água ou solo/substrato para realização de análises de forma a confirmar a

presença do agente biótico nocivo. A recolha de amostras deve cumprir com os requisitos

divulgados pelo ICNF,I.P.

O material vegetal sintomático deve ser recolhido em cada lote, sendo representativo da

quantidade de material sintomático observado.

Para a colheita de amostras de água e de solo/substrato, devem seguir-se os procedimentos

estabelecidos pelo ICNF, I.P. ou pelo(s) laboratório(s) (figura 7).

O processo de análise das amostras em laboratório deve iniciar-se o mais rapidamente possível.

No momento da recolha das amostras, deve ser preenchida uma ficha de amostragem, sendo as

amostras entregues no laboratório pelo ICNF, I.P.

Número mínimo de plantas a serem inspecionadas visualmente para assegurar a deteção do do agente biótico nocivo

(Adaptado de OEPP, 2006)

Número de plantas (lote)

Número de plantas (observadas)

<1.000 Todas

1.001-2.000 1.500

2.001-5.000 2.000

5.001-10.000 3.000

10.001-20.000 3.500

20.001-50.000 4.000

50.001-100.000 4.100

>100.000 4.200

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Entregar no laboratório no prazo de 48 h

Acondicionamento das amostras

Plantas e substratos: em sacos de plástico fechados, guardados no frio (2- 8° C ) se necessário, e identificados com numeração própria

Água:em garrafas de plástico, normalmente entregues pelo laboratório

Dimensão da amostra

Lotes com mais de 1000 plantas: 60 plantas por amostra Lotes com menos de 1000 plantas: 25 plantas por amostra

Recolha de amostras em material sintomático, abrangendo as zonas de interseção entre os tecidos vivos e os necrosados

Folhas Gomos Ramos necrosados Cancros do tronco

Observação visual dos sintomas

Figura 7 – Procedimentos para recolha de amostras em Materiais Florestais de Reprodução (MFR).

4.1.2. Ações de prospeção em povoamentos

As ações de prospeção são conduzidas pelo ICNF, I.P., nas áreas e situações em que as espécies

hospedeiras se encontram inseridas em contexto florestal, sem prejuízo de poderem ser

igualmente desenvolvidas por outras entidades, designadamente Municípios e Direções

Regionais de Agricultura e Pescas, em situações de contexto ornamental, nomeadamente

arruamentos, parques e jardins públicos.

Nos povoamentos em contexto florestal é importante prospetar também as espécies

hospedeiras do estrato arbustivo.

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Figura 8 – Procedimentos de prospeção em Povoamentos.

4.1.3. Outras medidas de caráter preventivo

Outras medidas preventivas, tanto de caráter geral como específicas, que visam evitar a entrada

e dispersão em Portugal do agente biótico nocivo Phytophthora ramorum, podem ser aplicadas

tanto à circulação de MFR como à de material lenhoso e de pessoas. Estas medidas aplicam-se

ao material vegetal, às instalações, ao pessoal e ao manuseamento de materiais, equipamentos

e maquinaria que estejam em contato com plantas ou material lenhoso das espécies

hospedeiras, devendo ser aplicadas pelas entidades que tenham intervenção na produção e

comercialização de espécies hospedeiras. Alguns destes procedimentos devem ser seguidos por

caminhantes e condutores de veículos ao saírem de áreas florestais que possam estar

contaminadas.

Procedimentos gerais

Como procedimentos de caráter geral (figura 9), consideram-se mais relevantes os relacionados

com a prospeção regular do material vegetal suscetível e consequente comunicação aos serviços

oficiais com competência na área da fitossanidade florestal, das situações em que se detetem

sintomas indiciadores da presença do agente biótico nocivo, no sentido da realização de análises

e obtenção de diagnóstico preciso quanto à presença do agente biótico nocivo.

São ainda consideradas medidas preventivas de caráter geral, as relacionadas com a desinfeção

dos equipamentos e materiais que tenham estado em contato com material vegetal sintomático

e ainda com a possível utilização de material vegetal menos suscetível ao agente biótico nocivo.

Malha 2 km x 2 km coincidente com a malha do IFN

Circunferência com raio de 10 km à volta dos fornecedores de MFR

Nos primeiros 5 km tem que se fazer, pelo menos, 20 pontos, sempre que possível

Os povoamentos, das espécies hospedeiras, inscritos no RNMB têm de ser prospetados

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Observação Visual de Sintomas

Regular e Periódica

Ao Material Vegetal suscetível

Comunicação ao ICNF, I.P.

Deteção de Sintomas

Receção de Material vegetal proveniente de outros Países

Utilização de Materiais Florestais

de Reprodução

Provenientes de locais não infetados

Menos suscetíveis ao fungo

Outras Medidas

Desinfeção de equipamentos

Luta cultural

Figura 9 – Procedimentos gerais de prospeção. Procedimentos específicos

Os procedimentos específicos (figura 10) são dirigidos essencialmente para os MFR, por serem

potencialmente a principal via de entrada do agente biótico nocivo em Portugal.

Figura 10 – Procedimentos específicos de prevenção para minimizar o risco de entrada de P. ramorum.

Plantas

•Observar atentamente todas as plantas que sejam adquiridas a outros países da UE, em particular dos que já estão identificados como tendo a Praga.

•Verificar todos os documentos que acompanham as plantas e verificar a sua origem.

Materiais e equipamentos

•Desinfetar com álcool ou outros desinfetantes à base de amónio quaternário, todos os materiais e ferramentas de pequena dimensão, sempre que mude de lote de semente ou de plantas;

•Desinfetar o material e as ferramentas com lixívia ao 10% (imersão por um período mínimo de 2 min. enxaguando de seguida com água para eliminar restos de lixívia);

•Desinfetar as instalações e os equipamentos de sementeira após cada nova sementeira.

Contentores

•Usar contentores preferencialmente não reutilizáveis;

•No caso de utilizar contentores reutilizáveis:

•Proceder à sua lavagem minuciosa, antes de novas utilizações, para eliminar todos os restos orgânicos;

•Mergulhar os contentores 5 minutos em lixívia a 20% ou produto a base de amónio quaternário, enxaguando de seguida com água para eliminar restos de lixívia; ou

•Mergulhar em água quente a 85° C durante 30 segundos.

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4.1.4. Inspeção à importação

Seguir os procedimentos legais estabelecidos para a importação de material vegetal,

nomeadamente no que se refere ao material destinado à plantação, partes de vegetais e

madeira proveniente de qualquer país terceiro.

Se forem observados sintomas do agente biótico nocivo no material importado, devem recolher-

se amostras para análise laboratorial, seguindo os procedimentos estabelecidos pelo ICNF,I.P.

4.2. Medidas de controlo e fiscalização

Se for confirmada a ocorrência de um foco do agente biótico, devem ser tomadas as seguintes

medidas:

O material vegetal infetado, o substrato e os resíduos vegetais devem ser retirados e queimados o mais próximo possível do local onde o agente foi detetado, para evitar a sua disseminação; quando não for possível queimar o material no local e seja necessário proceder ao seu transporte para outro local, aquele deve ser colocado em sacos de plástico bem fechados ou em camião fechado e queimados ou enterrados sempre que possível no próprio dia;

As instalações onde for confirmada a presença do agente biótico nocivo devem ser desinfetadas periodicamente, até se conseguir erradicar o agente biótico nocivo;

As ferramentas devem ser desinfetadas sempre que forem utilizadas;

No caso dos viveiros, evitar ao máximo a movimentação de pessoal e maquinaria dentro do viveiro, junto dos lotes com espécies hospedeiras. Sempre que entrem em contato com lotes infetados a maquinaria e os veículos devem ser desinfetados.

4.3. Informação, sensibilização e formação

A disponibilização de informação sobre o agente biótico nocivo e respetivos procedimentos de

prevenção e controlo, bem como a realização de ações de sensibilização dirigidas a operadores

económicos e a proprietários florestais e a formação de técnicos e inspetores fitossanitários, são

essenciais para minimizar os riscos de entrada e dispersão deste agente biótico nocivo em Portugal.

4.3.1.Informação

A informação a disponibilizar deverá atingir o maior número possível de interessados,

podendo ser disponibilizada em formato digital, designadamente através das seguintes vias:

Portal institucional do ICNF, I.P. e de outras entidades públicas (DGAV, INIAV, I.P.) e privadas

(OPF, ANEFA) que pretendam associar-se a esta divulgação;

Correio eletrónico, com envio de informação relevante aos fornecedores de MFR e a outros

operadores económicos;

Em suporte de papel, através do envio de informação relevante aos fornecedores de MFR.

4.3.2.Sensibilização

Devem realizar-se ações de sensibilização sobre a biologia do agente biótico nocivo, respetiva

sintomatologia e medidas preventivas, direcionadas para técnicos, operadores económicos e

proprietários florestais das regiões com maior ocupação com as espécies hospedeiras, onde

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Ações de prospeção

ICNF, I.P.

DGAV

DRAP

Municipios

Outras medidas de carater preventivo

ICNF, I.P.

DRAP

Agentes do setor

DGAV

Ações de Controlo

Agentes do setor

Ações de Inspeção e fiscalização

ICNF, I.P.

DGAV

ASAE

GNR - SEPNA

Informação, sensibilização e

formação

ICNF, I.P.

DGAV

INIAV, I.P.

DGAV ICNF, I.P.

Coordenação

será distribuído material informativo, nomeadamente folhetos com informação sobre o agente

biótico nocivo.

4.3.3.Formação

As ações de formação devem ser dirigidas a técnicos e a inspetores fitossanitários, no sentido

de melhorar o seu conhecimento sobre o comportamento e ação deste agente biótico nocivo.

5. Entidades envolvidas

A operacionalização das ações previstas pode ser efetuada por diversas entidades (figura 11), públicas e privadas, sendo a sua coordenação da responsabilidade do ICNF, I.P. e da DGAV.

Figura 11 – Entidades envolvidas na implementação do plano de contingência.

Toda a informação recolhida no âmbito da aplicação do presente plano de contingência será registada

no Sistema de Gestão de Informação de Fitossanidade Florestal (FITO), gerido e coordenado pelo ICNF,

I.P.

A operacionalização das ações previstas no presente plano deve ser acompanhada e avaliada pelo

“Grupo de acompanhamento de sanidade florestal” (GASF) previsto no âmbito do POSF, o qual deve

reunir semestralmente, no sentido de avaliar a eficácia das ações desenvolvidas e apresentar, no final

de cada ano, um relatório referente à execução do plano.

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6. Controlo Interno

No sentido de avaliar e acompanhar as ações de prospeção estabelecidas, 10% dos locais inspecionados

(fornecedores, áreas produtoras de semente, etc.) serão objeto de controlo interno desenvolvido pelos

serviços centrais do ICNF, I.P.

7. Vigência do plano

O presente plano de contingência tem um período de vigência de cinco anos, 2015-2020, podendo ser

revisto sempre que se justifique.

8. Bibliografia

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Chairs, Gray Haun, National Plant Board, Prakash Hebbar, USDA-APHIS-PPQ, January, 2011.

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5-- DEFRA - A threat to our woodlands, heathlands and historic gardens, Phytophthora ramorum. Plant Disease

Fact Sheet. Forestry Comission. www.defra.gov.uk

6 - European and Mediterranean Plant Protection Organization - Sampling of consignments for visual phytosanitary

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7- J. M. Davidson, et al ,- Sudden Oak Death and Associated Diseases Caused by Phytophthora ramorum, Plant

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http://www.plantmanagementnetwork.org/pub/php/diagnosticguide/2003/sod/

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California Agriculture 57(1):18-23. DOI: 10.3733/ca.v057n01p18. January-March 2003.

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http://www.mundovestibular.com.br/articles/3473/1/FUNGOS---REINO-FUNGI/Paacutegina1.html

10-Poimala, A. & Lilja, A. NOBANIS – Invasive Alien Species Fact Sheet – Phytophthora ramorum. –Online Database

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11- Sansford ,C. , Inman,A. PEST RISK ANALYSIS for Phytophthora ramorum (Summary) (2009):

http://rapra.fera.defra.gov.uk/SUMMARY_pra_26feb09.pdf