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PLANO MUNICIPAL DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO Programa de Saúde Mental da Secretaria da Saúde Ribeirão Preto, julho de 2020

PLANO MUNICIPAL DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

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PLANO

MUNICIPAL DE

PREVENÇÃO DO

SUICÍDIO

Programa de Saúde Mental da Secretaria da Saúde

Ribeirão Preto, julho de 2020

Secretaria Municipal da Saúde - Programa de Saúde Mental. Rua Prudente de Morais n° 457 – Centro – Fone: (16) 3977-9529

Ribeirão Preto – SP/ CEP 14015-100 e-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................pg. 04

a. O suicídio no mundo..............................................................pg. 04

b. O suicídio no Brasil................................................................pg. 06

c. O suicídio no município de Ribeirão Preto..............................pg. 06

2. PREVENÇÃO DO SUICÍDIO.........................................................pg. 12

a. Fatores de risco e fatores de proteção......................................pg. 12

b. Orientações gerais sobre prevenção do suicídio.......................pg. 14

3. PLANO DE AÇÃO PARA A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

NO MUNICIPIO DE RIBEIRÃO PRETO....................................pg. 18

3.1. PREVENÇÃO UNIVERSAL........................................................pg. 18

a. Criação do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento

da Política Municipal para

a Prevenção do Suicídio...........................................................pg. 18

b. Incentivar o aumento das notificações de

tentativas de suicídio..............................................................pg. 19

c. Promover ações de prevenção do suicídio

e promoção de saúde mental na Atenção Básica......................pg. 20

d. Promover ações de prevenção do suicídio

e promoção de saúde mental nas escolas.................................pg. 21

e. Promover ações de capacitação em manejo da crise

suicida, prevenção do suicídio, identificação de sinais

de risco e promoção de saúde mental.......................................pg. 22

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f. Realizar permanentemente eventos de

conscientização da população sobre a importância

da prevenção do suicídio...........................................................pg. 22

g. Identificar os principais meios utilizados nas tentativas

de suicídio e estudar formas de dificultar o acesso

aos mesmos................................................................................pg. 23

3.2. PREVENÇÃO SELETIVA............................................................pg. 24

h. Mapear os locais de maior incidência de óbitos

e tentativas de suicídio e trabalhar ações de prevenção

nesses locais.............................................................................pg. 24

i. Facilitar o acesso aos serviços especializados de

saúde mental...........................................................................pg. 24

3.3. PREVENÇÃO INDICADA...........................................................pg. 25

j. Monitorar as notificações das tentativas de

suicídio e realizar a busca ativa das pessoas

que fizeram a tentativa.............................................................pg. 25

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................pg. 26

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1. INTRODUÇÃO:

a. O suicídio no mundo

O fenômeno do suicídio sempre existiu na história da humanidade, com registros desde

remotos tempos. Na sociedade ocidental contemporânea se tornou um tema recheado de

tabus e evitado pela maioria das pessoas, sendo que só a partir da década de 90 que ele

passou a ser visto como um problema de Saúde Pública. Desde essa época a

Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a divulgar estatísticas e alertar para a

necessidade de criação de Políticas Públicas sobre o tema e Programas de Prevenção.

Entre as estratégias propostas, destacamos a criação do Dia Mundial da Prevenção do

Suicídio, no dia 10 de setembro, que no Brasil, a partir de 2015, se tornou a Campanha

de Prevenção do Suicídio do “Setembro Amarelo”. Tal estratégia tem como principal

objetivo dar visibilidade ao tema e trabalhar junto à população em geral a importância

da prevenção.

O suicídio é considerado hoje, pela Organização Mundial de Saúde, como um dos mais

graves problemas de saúde pública no mundo, como demonstram os números a seguir,

com dados a respeito desse fenômeno ao redor do mundo (WHO, 2014):

● Estima-se que 800 mil pessoas morrem anualmente por suicídio no

mundo, uma a cada 40seg;

● É a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos;

● É responsável por 50% das mortes violentas entre os homens e 71%

entre mulheres;

● Ocorrem mais mortes por suicídios do que as causadas por guerras e

homicídios somados no mundo;

● Cerca de 75% dos casos de suicídio ocorrem em países de renda

média ou baixa;

● O Brasil é o oitavo país com maior número absoluto de óbitos por

suicídio;

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Vale lembra que, por ser um tema recheado de tabus e visto pela maioria das pessoas de

maneira muito negativa e estigmatizada, ainda ocorre uma grande subnotificação dos

óbitos e tentativas de suicídio, de modo que os números reais podem ser ainda maiores.

Buscando uma melhor compreensão desse fenômeno, para efeitos de comparação entre

as populações de diferentes regiões, a Organização Mundial de Saúde utiliza como

índice a média de mortes por ano por grupo de 100.000 hab., sendo esse número

chamado de taxa de suicídio. A taxa de suicídio global é de 11,4 mortes por 100.000

hab., sendo de 15 entre os homens e 8 entre as mulheres.

Com relação à distribuição da taxa de suicídio ao redor do mundo, seguem dados da

Organização Mundial de Saúde:

MAPA DA DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE SUICIDIO NO MUNDO EM 2012

(WHO, 2012)

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No mapa acima, podemos perceber nos matizes mais escuros os países com maior taxa

de suicídio no mundo, com destaque para o Leste Europeu, parte da Ásia e o Leste da

África, sendo a taxa de suicídios menor principalmente nos países islâmicos do Norte da

África e Oriente Médio (questiona-se se nessas regiões o número de óbitos realmente é

menor ou se, devido a tabus religiosos, ocorre uma maior subnotificação dos óbitos).

b. O suicídio no Brasil

A taxa de suicídios no Brasil em 2016 foi de 5,8 óbitos, consideravelmente abaixo da

média mundial (11,4). Contudo, conforme dados de 2016 da Organização Mundial de

Saúde, enquanto o índice global de suicídio teve queda de 9,8% nos últimos 06 anos, no

Brasil houve um aumento de 7%, registrando cerca de 11 mil casos por ano, segundo

dados do Ministério da Saúde. O único continente do mundo que demonstrou aumento

nas taxas de suicídio no mundo desde 2010 foi a América, com um aumento de 6%.

Esses dados demonstram que existem esforços mundiais de prevenção do suicídio que

vem sendo efetivos na redução de sua ocorrência na maior parte do mundo, apesar dos

números continuarem a serem preocupantes.

Contudo, no Brasil, apesar de campanhas e esforços de prevenção, como o já citado

Setembro Amarelo, os índices continuam a aumentar, contrariando a tendência mundial

acima referida. Preocupa ainda mais os dados de uma pesquisa da UNIFESP (estudo

publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria) onde a taxa de suicídio entre

adolescentes de 10 a 19 nas maiores cidades brasileiras aumentou 24% de 2006 a 2015,

ou seja, se antes o suicídio era um fenômeno mais prevalente nas idades mais

avançadas, cada vez mais ele tem acometido adolescente e jovens adultos, com uma

mudança significativa em sua curva demográfica. No Brasil o suicídio é a quarta maior

causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, sendo a terceira maior causa de morte entre

os homens e oitava entre as mulheres (65,6% dos óbitos nessa faixa etária são por

causas externas – causadas por violência ou acidentes).

c. O suicídio no município de Ribeirão Preto

Segundo dados da Fundação Seade, o número de suicídio no Estado de São

Paulo no período de 2001 a 2014 cresceu cerca de 30%, sendo que os maiores índices

de morte por suicídio no Estado de São Paulo se encontravam, em 2014, nas regiões da

capital (8,7 óbitos), região de Marília (8,6) e região de Ribeirão Preto (7,5), conforme

demonstra tabela abaixo, com a taxa de mortalidade no Estado de São Paulo, por grupo

de idade, em 2013-2014:

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Ribeirão Preto, segundo dados do Sistema de Informação de Mortalidade (Ministério da

Saúde, 2016), é o 17° município do Brasil em número absoluto de óbitos por suicídio.

Tais números mostram a gravidade do problema em nossa região.

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de óbitos por suicídio em Ribeirão Preto

no período de 2000 a 2019 (Ministério da Saúde, 2020):

21 20

2723 23

1520

28 30 28 2733 34 36

40 39

48 46 44 45

20

00

20

01

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02

20

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04

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05

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06

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Triplicou o número de óbitos

Número de óbitos por suicídio (2000 a 2019)

Informações obtidas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SVS/MS)

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Ao analisar esses dados podemos perceber que, no período de 2005 a 2016, o número de

óbitos por suicídio em Ribeirão Preto triplicou, chegando em 2016 a 48 óbitos e uma

taxa de suicídio de 7,12 óbitos por grupo de 100.000 hab., acima da média nacional.

Podemos supor que tal crescimento em parte se deva a melhoras no processo de

investigação das causas de óbitos e a campanhas para conscientizar os profissionais

sobre a importância de identificar com a maior exatidão possível os óbitos por suicídio.

Contudo, é inegável que houve um aumento bastante significativo na incidência desse

fenômeno no município. Nos anos de 2017 e 2018 houve uma redução de 8.3% no

número de óbitos, e em 2019 houve um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior. Se

levarmos em consideração o crescimento populacional, a taxa de suicídio no município

de Ribeirão hoje é de 6,4 óbitos, uma redução de cerca de 10% em comparação com

2016.

Com relação ao perfil demográfico desse fenômeno no município, segue gráfico abaixo

com a distribuição de óbitos por suicídio no município por faixa etária no período de

2000 a 2019:

0

20

40

60

80

100

120

140

160

05 a 14 15 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 75....

Distribuição de óbitos por suicídio por faixa etária (2000 a 2019)

(Informação obtida no SIM-SVS)

Distribuição de óbitos por suícidio por faixa etária (2000 a 2019)

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Conforme o gráfico a seguir, podemos observar o predomínio de óbitos na faixa etária

dos 25 aos 44 anos, adultos jovens que compõem a população economicamente ativa.

Também podemos observar, no gráfico abaixo, uma prevalência significativamente

maior no sexo masculino, o que vai de encontro com os dados encontrados ao redor do

mundo:

A prevalência também é maior entre os solteiros (conforme gráfico a seguir), o que

também vai de encontro aos dados no restante do mundo:

78%

22%

Óbtios por suicídio em Ribeirão Preto Distribuição por sexo (2000-2019)

(Informação obtida no SIM-SVS)

Masculino

Feminino

solteiro37%

casado20%

viúvo2%

separado7%

União consensual2%

Ignorado32%

Óbitos por suicídio segundo estadocivil (2000-2019)

(Informação obtida no SIM) )

solteiro casado viúvo separado União consensual Ignorado

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Quanto ao local de ocorrência do óbito, o suicídio é um fenômeno que ocorre

predominantemente em ambiente privado (conforme gráfico a seguir):

Importante salientar, com relação a faixa etária, o significativo crescimento dos óbitos

por suicídio no município nos jovens entre 0 e 19 anos, o que tem causado grande

impacto na população. Em 2019 dobrou o número de óbitos nessa faixa etária com

relação ao ano anterior (conforme gráfico a seguir):

20%

69%

9% 2%0%

Local de ocorrência dos óbitos por suicídio (2000-2019)

(Informação obtida no SIM)

Hospital Domicilio

Via pública Outro estabelecimento de saúde

0

1

2

3

4

5

6

7

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Óbitos por suicidio em Ribeirão Preto de 2000 a 2019 na faixa etária de 0 a 19

anos

Óbitos por suicidio emRibeirão Preto de 2000 a2019 na faixa etária de 0 a19 anos

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Mais preocupante ainda é se levarmos em consideração que no ano de 2020, em dados

levantados no primeiro trimestre, ocorreram 13 óbitos por suicídio no município de

Ribeirão Preto. Em 2019, no mesmo período, foram 14 óbitos, de modo que o número

total de óbitos por suicídio no primeiro trimestre de 2020 foi menor do que em 2019.

Contudo, o dado extremamente preocupante é que, dos 13 óbitos ocorridos em 2020, 05

foram de jovens menores de 19 anos, sendo que no decorrer de todo o ano de 2019

foram 06 óbitos de jovens menores de 19 anos, de modo que fica claro uma forte

tendência de aumento dos óbitos nesta faixa etária.

Também é importante destacar alguns dados que falam sobre o percurso de busca de

ajuda das pessoas que vem a cometer o suicídio, lembrando que o suicídio não é um fato

que ocorre repentinamente, mas é um percurso que varia de dias a anos do primeiro

sinal até o fato consumado. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde),

dois terços dos que cometem suicídio comunicaram claramente essa intenção a parentes

próximos ou amigos, na semana anterior. Esses dados indicam que a maioria dos

suicídios podem ser evitados através da sensibilização da população para a identificação

precoce dos sinais de risco suicida e a informação correta de onde procurar ajuda.

Segundo dados da literatura internacional (Luoma, Martin & Pearson, 2002), 45% das

pessoas que vem a óbito por suicídio foram atendidos por profissionais da Atenção

Primária no mês anterior a sua morte, e 19% se consultaram com algum profissional de

Saúde Mental. No ano anterior ao suicídio, 77% das pessoas foram atendidas em

serviços de Atenção Primária, enquanto 32% delas foram atendidas em serviços de

Saúde Mental. Esses dados mostram a importância da prevenção na Atenção Primária e

a dificuldade de acesso aos serviços de saúde mental.

Dados semelhantes foram encontrados no município de Ribeirão Preto. Numa amostra

de 28 óbitos por suicídio ocorridos em 2018 no município, nos 12 meses anteriores ao

óbito, 50% das pessoas não passaram em nenhum atendimento nos serviços públicos de

saúde, 46% passaram por algum atendimento no Pronto Atendimento (não

necessariamente por condições de saúde mental), 14% passaram na Atenção Básica e

apenas 7% foram atendidos em algum serviço especializado de saúde mental. Se

levarmos em consideração os 30 dias anteriores ao óbito, 86% não passaram por

nenhum atendimento no SUS, 7% passaram no Pronto Atendimento e 7% em serviços

especializados de saúde mental. Apesar de ser uma amostra pequena e com pouca

relevância cientifica, tais dados nos levam a refletir sobre a procura por ajuda e como

parece que a maioria das pessoas que cometem óbito por suicídio no município de

Ribeirão Preto não passa por atendimento em nenhum serviço da rede pública de saúde

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(não obtivemos acesso aos atendimentos na rede suplementar). Daqueles, nessa amostra,

que passaram pela rede pública, foram atendidos principalmente pelos Prontos

Atendimentos, e apenas uma parcela muito pequena chegou a ser atendida em algum

serviço especializado de saúde mental. Sabemos que em Ribeirão Preto a maioria das

consultas realizadas ocorre nos Prontos Atendimentos, de modo que entendemos que

essas unidades acabam por se tornar focos primordiais em ações de prevenção do

suicídio. Chama a atenção o número bastante reduzido de pessoas que foram a óbito por

suicídio e passaram por atendimento em serviços especializados de saúde mental, o que

nos leva a refletir sobre a necessidade de facilitar o acesso a esses serviços. Parte da

dificuldade de acesso aos serviços de saúde mental provavelmente decorre de questões

relacionadas ao estigma e preconceito com relação aos transtornos mentais, de modo

que muitas vezes as pessoas evitam buscar ajudar para seus sofrimentos psíquicos

devido ao receio de serem reconhecidas e identificadas como pessoas portadoras de

transtornos mentais.

2. PREVENÇÃO DO SUICIDIO

a. Fatores de risco e fatores de proteção

Quando falamos em prevenção do suicídio, é fundamental pensarmos em fatores de

risco e fatores de proteção. Entendemos fatores de risco como qualquer condição, seja

ela sociocultural, psicossocial, histórica ou ambiental, que aumenta a probabilidade de

que ocorra um comportamento suicida (aqui utilizaremos como definição de

comportamento suicida o conjunto de ações composta pela ideação, pelas tentativas e

pelos óbitos). Os fatores de proteção, por outro lado, são as condições que diminuem a

probabilidade de ocorrência de um comportamento suicida. Tanto os fatores de risco

quanto os de proteção são complexos, com múltiplas determinações, não se

configurando como um cálculo exato da possibilidade ou não de que uma determinada

pessoa possa cometer um ato suicida, mas se baseiam em estudos epidemiológicos que

orientam as ações de manejo das crises e a prevenção. Vale lembrar que o suicídio pode

ser prevenido na maioria dos casos através de intervenções oportunas embasadas em

dados confiáveis. Nesse sentido, após identificar os fatores de risco e fatores de

proteção associados a cada situação especifica, devemos investir nos fatores de proteção

e reduzir os fatores de risco, visando à prevenção do comportamento suicida.

Segundo dados de pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (2012), o risco de

suicídio é maior na população da zona rural e população indígena, e como principal

fator de proteção temos a presença de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial – serviço

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especializado de saúde mental de base comunitária) no município, que reduz em média

em 14% o número ocorrências de óbitos por suicídio (conforme gráfico abaixo):

Nesse sentido, ressaltamos que em Ribeirão Preto possuímos 4 CAPSs para

atendimento da população maior de 18 anos com transtornos mentais, 1 CAPS para

atendimento de menores de 18 anos com transtornos mentais e problemas decorrentes

do uso abusivo de substâncias e um CAPS para atender a população maior de 18 anos

com problemas relacionados ao uso abusivo de substâncias psicoativas.

A literatura internacional sobre o tema apresenta, como principais fatores de risco:

história prévia de tentativas de suicídio;

presença de algum transtorno mental;

uso abusivo de alguma substância psicoativa;

presença de traços de impulsividade;

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A identificação dos fatores de risco e de proteção é fundamental na avaliação do risco

suicida, auxiliando na orientação do manejo mais adequado para cada caso e indicando

os grupos de maior risco que serão os alvos preferenciais das estratégias de prevenção.

b. Orientações gerais sobre prevenção

Como dissemos anteriormente, desde a década de 90 do século passado a Organização

Mundial de Saúde (OMS) vem empreendendo grandes esforços na prevenção do

suicídio ao redor do mundo, a partir da identificação do suicídio como um dos

principais problemas de saúde pública na atualidade. Entre esses esforços, a OMS vem

criando um vasto material orientando os países sobre quais são as melhores estratégias

de prevenção. No Plano de Ação em Saúde Mental da OMS para 2013-2020, vários

países, inclusive o Brasil, se comprometeram com a meta de redução de 10% da taxa de

suicídio até 2020. No gráfico abaixo vemos a evolução da taxa de suicídio em Ribeirão

Preto de 2013 a 2019:

Como observamos no gráfico acima, a taxa de suicídios no município de Ribeirão Preto

em 2013 era de 5,5 óbitos por grupo de 100.000 hab. Essa taxa teve um crescimento

bastante significativo até 2016, onde a taxa foi de 7,1 – um crescimento de 28%. No

período de 2016 a 2019 houve uma redução de 10% na taxa de suicídio, com os índices

de 7,1 e 6,4 respectivamente. Se compararmos 2013 com 2019 houve um aumento de

15%, distante da meta estabelecida no Plano de Ação em Saúde Mental da OMS de

0

1

2

3

4

5

6

7

8

2013 2016 2019

Taxa de suicidio no municipio de Ribeirão Preto (2013-2019)

Taxa desuicidio nomunicipio deRibeirão Preto

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redução de 10% da taxa de suicídio entre os anos de 2013 a 2020. Tais números

demonstram a necessidade premente de um plano integrado de ações no município de

prevenção do suicídio, visando uma redução significativa nessa taxa.

Para organizar as ações de prevenção, baseados na literatura especializada sobre o tema

(Botega, 2015) e nas orientações da OMS (WHO, 2014), a prevenção é estruturada em

três níveis, cada nível voltado a uma população-alvo diferente, como exemplificado na

tabela a seguir, com exemplos de ações possíveis em cada um desses níveis:

NIVEIS DE

PREVENÇÃO

População-alvo Exemplo de ações

UNIVERSAL

Público em geral

Conscientização da população em geral;

Divulgação responsável por parte da mídia;

Restrição de acesso a meios letais;

Qualificação dos dados levantados com a

conscientização da importância das

notificações;

SELETIVA

Grupo com risco

moderado

Detectar os grupos mais vulneráveis ao

comportamento suicida (pessoas com

diagnóstico de transtornos mentais, pessoas

com histórico de abuso e uso abusivo de

substâncias, entre outros) e oferecer

tratamento em saúde mental;

INDICADA

Grupo com alto

risco

Acompanhamento contínuo e próximo das

pessoas que tentaram suicídio;

O Ministério da Saúde, em sua Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e

Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil para o período de 2017 a 2020

(Ministério da Saúde, 2017), descreve três eixos principais de ações estratégicas na

prevenção do suicídio no país:

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EIXOS DE ATUAÇÃO E AÇÕES ESTRATÉGICAS

MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017 a 2020)

EIXO I:

Vigilância e

Qualificação

da

Informação

Qualificação

da notificação

da tentativa de

suicídio

Qualificação do

diagnóstico e

registro da causa

óbito

Qualificação

das

informações

Pesquisas e

disseminação

de

informações

EIXO II:

Prevenção do

Suicídio e

Promoção de

Saúde

Articulação inter e

Intrasetorial

Comunicação e conscientização

da população

EIXO III:

Gestão e

Cuidado

Pactuação de Estratégias

e fluxos de atenção à

saúde local

Educação Permanente

É importante ressaltar que, segundo a OMS (2014), existem ações comprovadamente

eficazes que vêm sendo implementadas em diferentes lugares do mundo na prevenção

do suicídio, de tal modo que segundo essa organização, a maioria dos suicídio pode ser

evitado com a implementação dessas ações. O fato da média mundial suicídios ao redor

do mundo ter diminuído nos últimos seis anos corrobora essa hipótese. Baseado nos

estudos da literatura especializada sobre o tema, elencamos abaixo as principais

estratégias de prevenção do suicídio com eficácia comprovada (Botega, 2015):

● Educação e conscientização do público em geral;

● Restrição de acesso a métodos de suicídio;

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● Cobertura responsável pela imprensa dos casos de suicídio;

● Programas escolares baseados em promoção de habilidades sociais e centrados

no sentido da vida;

● Treinamento de médicos generalistas e profissionais da atenção básica;

● Centros de aconselhamento em crise;

● Apoio e acompanhamento após uma tentativa;

● Apoio para familiares e amigos enlutados (posvenção);

● Serviços comunitários de saúde mental e de apoio social;

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3. PLANO DE AÇÃO PARA PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NO MUNICIPIO DE

RIBEIRÃO PRETO

Construímos um plano com 10 (dez) propostas para a Prevenção do Suicídio no

município nos três níveis de prevenção (universal, seletiva e indicada). Temos como

meta, de acordo com Plano de Ação em Saúde Mental da OMS (WHO, 2013), reduzir

em pelo menos 10% a taxa de suicídio no município nos próximos anos.

3.1. PREVENÇÃO UNIVERSAL – Voltada ao público em geral.

a. Criação do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e

Monitoramento da Política Municipal para a Prevenção do Suicídio:

Ao pensarmos na necessidade premente de ações integradas e intersetoriais que possam

dar conta da complexidade do fenômeno do suicídio e serem efetivas na redução da

magnitude do mesmo, é fundamental que tais ações possam ser planejadas de maneira

colaborativa entre diversos setores do poder público e da sociedade civil, de modo que

as responsabilidades sejam compartilhadas e que esses entes possam planejar estratégias

e efetivar as ações de prevenção. A Lei Municipal n° 14.408, promulgada em 15 de

outubro de 2019, que “Institui Diretrizes Municipais e o Plano Municipal de Prevenção

ao Suicídio em Ribeirão Preto”, prevê a implementação, via nomeação pelo Chefe do

Executivo no Diário Oficial, de um Comitê Intersetorial de Acompanhamento e

Monitoramento da Politica Municipal para a Prevenção ao Suicídio, composto

paritariamente por representantes do poder público e da sociedade civil que trabalhem

diretamente com a questão do suicídio. Baseados na Lei supracitada e na necessidade de

construção de um plano integrado de prevenção sugere-se a criação do Comitê acima

referido, com a seguinte composição (um representante titular e um suplente de cada

segmento):

Poder público

● Programa de Saúde Mental (Secretaria Municipal de Saúde);

● Atenção Básica (Secretaria Municipal de Saúde);

● Vigilância Epidemiológica (Secretaria Municipal de Saúde);

● Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU);

● Unidades de Pronto Atendimento (UPAs);

● Unidade de Emergência Psiquiátrica do Hospital das Clínicas-FMRP;

● Secretaria Municipal da Educação;

● Secretaria Municipal da Cultura;

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● Secretaria Municipal de Assistência Social;

● Forças de Segurança (Bombeiros, Polícia Militar, Guarda Civil Municipal, entre

outros);

Sociedade Civil

● Rede Particular de Educação Básica e Ensino Médio;

● Saúde Suplementar;

● Universidades Privadas (cursos da área de saúde);

● Universidades Públicas (cursos da área de saúde);

● Conselhos Profissionais de Classe (profissões relacionadas à área de saúde);

● Centro de Valorização da Vida (CVV);

● ONG(s) que trabalhem com prevenção e promoção de saúde mental;

● Instituição religiosa que trabalhe com prevenção e promoção de saúde mental;

● Usuários e/ou familiar de pessoas que realizam tratamento em Saúde Mental;

● Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (ACIRP);

Os 20 membros desse Comitê se reunirão mensalmente para delinear o Plano Municipal

de Prevenção ao Suicídio, acompanhando e monitorando a sua execução, promovendo

as ações e articulações necessárias para que o mesmo seja posto em prática de forma

resolutiva. Esse Comitê será coordenado pelo Programa de Saúde Mental da Secretaria

da Saúde e terá apoio do Poder Executivo para questões relativas à oficialização e

publicização das ações. Para as reuniões do Comitê também deverão ser convidados a

participar representantes dos poderes judiciários e legislativos, que mesmo não sendo

integrantes permanentes do Comitê, tem um papel fundamental na implementação de

suas ações.

b. Incentivar o aumento das notificações de tentativas de suicídio:

Para que possamos planejar ações resolutivas de prevenção ao suicídio, precisamos de

dados confiáveis e de qualidade que subsidiem esse planejamento. A notificação da

tentativa de suicídio é considerada de caráter compulsório, contudo observamos que,

apesar do incremento significativo do número de notificações em 2019 com relação ao

ano anterior, as notificações se concentram nos Prontos Atendimentos Públicos, de

modo que verificamos um número muito reduzido de notificações nos serviços

suplementares de saúde, nos serviços especializados de saúde mental e na atenção

básica. Vale lembrar que a notificação realizada é de lesão autoprovocada, ou seja, pela

notificação não conseguimos aprofundar sobre a questão da intencionalidade suicida.

Mesmo com esse porém, a notificação é fundamental para podermos mapear diversos

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dados, como faixa etária, gênero, principais meios utilizados, principais locais onde

esses casos vão procurar ajuda e, principalmente, identificar os principais grupos de

risco para novas tentativas (vamos aprofundar esse tema na prevenção indicada). Para

trabalhar essa questão propomos três ações:

1) Campanha coordenada pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde,

com o apoio do Programa de Saúde Mental e do Departamento de Atenção a

Saúde das Pessoas, orientando e conscientizando os profissionais de saúde da

importância da notificação das tentativas de suicídio, principalmente nos

serviços de saúde suplementar, nos serviços especializados de saúde mental e na

atenção básica;

2) Tornar a notificação online (hoje a notificação é preenchida em papel) de modo

a facilitar que a mesma seja feita;

3) Divulgar periodicamente, de preferência trimestralmente, em canal oficial, o

levantamento dos dados a respeito das notificações, de modo a permitir o

monitoramento do comportamento suicida no município;

c. Promover ações de prevenção do suicídio e promoção de saúde

mental na Atenção Básica:

A Atenção Básica, como porta de entrada para a assistência em saúde, tem um papel

fundamental na Prevenção e Promoção de Saúde, inclusive a Saúde Mental. Além disso,

conforme dados previamente apresentados, um número significativo das pessoas que

vem a óbito por suicídio é atendida em serviços de Atenção Básica nos meses anteriores

ao óbito, e uma parcela menor destas chega aos serviços especializados de Saúde

Mental. Dito isso, consideramos a Atenção Básica como tendo um papel primordial na

prevenção do suicídio e promoção de saúde mental. Tais ações vão se concentrar em

quatro pontos:

● Ações de Matriciamento, realizadas pelos serviços especializados de

Saúde Mental junto às equipes de Atenção Básica com o intuito de

ampliar e qualificar a capacidade das Unidades Básicas de Saúde de

ofertar cuidado em Saúde Mental;

● Ações coletivas que visem principalmente a Educação em Saúde

Mental e a Promoção de Saúde Mental. Como exemplo dessas ações

temos a implantação, desde 2018, dos Grupos Comunitários de Saúde

Mental na Atenção Básica (hoje eles ocorrem em três unidades de

saúde, com projetos para ampliar para outras unidades). Tais grupos,

além de ações de promoção de saúde e fortalecimento da rede

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comunitária, acabam por desempenhar um importante papel na

prevenção do suicídio;

● Fundamental conscientizar os profissionais da Atenção Básica para a

necessidade de superação da dicotomia corpo/mente pela noção de

integralidade, de modo que esses profissionais possam incorporar ao

escopo de suas ações o olhar e a atenção para as questões da saúde

mental;

● A realização de campanhas na Atenção Básica como, por exemplo, o

Setembro Amarelo ou o Janeiro Branco, podem ser utilizados como

formas de conscientização e educação em saúde para profissionais e

para a população em geral, Contudo, pretendemos priorizar ações

continuadas e permanentes ao invés de ações sazonais e focais,

entendendo as primeiras como mais efetivas em promover mudanças

de mentalidade mais profundas e, consequentemente, mais

permanentes;

d. Promover ações de prevenção do suicídio e promoção de saúde

mental nas escolas:

Tendo em vista, conforme demonstrado acima, que o fenômeno do suicídio vem

crescendo de maneira bastante significativa entre os jovens abaixo de 19 anos,

entendemos a escola como um espaço de fundamental importância nas ações de

prevenção do suicídio e promoção de saúde mental. Tais ações não devem ter como

foco apenas os jovens alunos, mas também seus pais ou responsáveis e professores,

buscando criar uma rede de apoio e construir espaços de escuta para que os jovens

possam falar livremente a respeito de suas angústias, conflitos e anseios, livres de

julgamentos em espaços acolhedores. Tais ações devem focar o desenvolvimento nos

jovens de habilidades sociais, afetivas e cognitivas que auxiliem no enfrentamento

saudável das dificuldades típicas, e não por isso menos importantes, da adolescência.

Esta fase é marcada por mudanças, transições e, consequentemente, angústias diversas e

intensas.

Como modelo de tais ações temos o Projeto +Contigo, baseado num modelo

desenvolvido em Portugal e implementado em território nacional como projeto piloto

numa parceria entre a Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto e a Escola de Enfermagem

da USP-Ribeirão Preto em uma escola pública municipal. Também podemos destacar

ações que vem sendo realizadas em várias escolas do município com a equipe voluntária

do Instituto de Educação e Cultura Viktor Frankl (IECVF), abrangendo os três níveis de

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prevenção, inclusive a posvenção (atenção aos sobreviventes do suicídio, ou seja, as

pessoas enlutadas devido a um óbito por suicídio, que se configuram como um

importante grupo de risco). Sugere-se que tais ações possam ser incorporadas em

parcerias entre a Secretaria da Saúde e Secretaria da Educação e transformadas em

Políticas Públicas, de modo a garantir sua perenidade.

e. Promover ações de capacitação em manejo da crise suicida,

prevenção do suicídio, identificação de sinais de risco e promoção de

saúde mental:

As ações de capacitação seriam voltadas fundamentalmente para três setores envolvidos

diretamente com o fenômeno do suicídio, e em cada setor o conteúdo trabalhado teria

enfoques específicos:

1) Educação – professores, educadores, diretores, coordenadores pedagógicos –

foco em questões do desenvolvimento infanto juvenil, identificação precoce de

sinais de risco, como abordar a criança ou adolescente e ações de promoção de

saúde mental;

2) Profissionais da saúde, principalmente da Atenção Básica e Prontos

Atendimentos – foco na identificação de sinais e riscos, fluxo de atendimento e

manejo das crises, além de promoção de saúde mental;

3) Profissionais de segurança e socorristas – foco na abordagem da crise suicida

e do tentante em situações de risco iminente;

Vale ressaltar, como dito em tópico anterior, que mais do que ações

pontuais de capacitação, devem-se priorizar ações de educação permanente e construção

de espaços continuados de discussão, conscientização e reflexão sobre o tema.

f. Realizar permanentemente eventos de conscientização da

população sobre a importância da prevenção do suicídio:

Sabemos que uma das formas mais efetivas de prevenção ao suicídio é a

conscientização da população sobre a importância das questões relacionadas à saúde

mental. Nesse sentido, é fundamental reduzir o estigma relacionado ao sofrimento

mental, estigma esse que muitas vezes dificulta a procura de ajuda. Também é muito

importante, tento em vista que segundo a OMS (WHO, 2014), 90% das pessoas que

vem a óbito por suicídio demonstram sinais dessa intenção nas semanas anteriores ao

óbito, orientar a população sobre os sinais de risco e estimular que as pessoas em

sofrimento procurem por ajuda e que as pessoas possam aumentar a sua capacidade de

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escuta. Não podemos esquecer de orientações sobre promoção de saúde mental e

qualidade de vida, fundamentais para melhorar a saúde mental da população em geral e

reduzir o crescimento exponencial que vem ocorrendo na prevalência de transtornos

mentais, principalmente os quadros depressivos e ansiosos. Nessa linha, de

conscientização da população, temos tido como evento principal o dia 10 de setembro,

dia mundial da prevenção do suicídio, que no Brasil se transformou no Setembro

Amarelo. Sem questionar a importância desse evento, entendemos que pode ser mais

profícuo iniciativas permanentes que estimulem o diálogo e a reflexão sobre as questões

acima elencadas, se possível utilizando de disparadores culturais e artísticos, num

sentido que seja prioritariamente de promoção de saúde mental e qualidade de vida.

g. Identificar os principais meios utilizados nas tentativas de suicídio e

estudar formas de dificultar o acesso aos mesmos:

Os principais meios utilizados em Ribeirão Preto nos óbitos por suicídio, no período de

1997 a 2016, foram:

1) Enforcamento: 54%;

2) Armas de fogo: 14%;

3) Precipitação: 9%;

Esses dados vão de encontro com os dados apontados pela literatura no Brasil e no

mundo, guardada algumas especificidades regionais. No caso das tentativas de suicídio,

prevalecem às tentativas por intoxicação exógena, dado corroborado pela literatura

sobre o tema. Sabemos que um dos meios mais eficazes para a prevenção do suicídio é

dificultar o acesso aos principais meios utilizados. No caso do enforcamento, torna-se

difícil a restrição aos meios, visto a facilidade com que esse meio pode ser obtido, mas

talvez possamos pensar em alguma campanha de conscientização nas principais lojas

que comercializam cordas. Já no caso das armas de fogo, seria necessária uma atuação

conjunta com o poder judiciário e as forças de segurança para pensar em formas de um

controle mais rígido do acesso às mesmas. Sobre as precipitações, vamos falar sobre

esse assunto com mais detalhes no tópico seguinte. Acredito que seria fundamental,

nesse tópico, podermos fazer um levantamento mais aprofundado sobre as principais

substâncias utilizadas no caso das intoxicações exógenas. A atuação da Vigilância

Epidemiológica seria fundamental no levantamento desses dados. Com esses dados em

mãos, seria possível pensar em estratégias para limitar o acesso das pessoas as

principais substâncias utilizadas.

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3.2. PREVENÇÃO SELETIVA – Grupo com risco moderado.

h. Mapear os locais de maior incidência de óbitos e tentativas de

suicídio e trabalhar ações de prevenção nesses locais:

Sabemos que o suicídio é um fenômeno predominantemente privado, que acontece na

grande maioria das vezes no ambiente domiciliar. Contudo, também é notório que

alguns locais, pelo seu valor simbólico, acabam se tornado cenário de repetidas

tentativas e óbitos por suicídio. No caso do município de Ribeirão Preto, conseguimos

identificar como único local de repetição de óbitos e tentativas de suicídio o Shopping

Santa Úrsula, onde ocorreram seis óbitos por suicídio desde sua inauguração, além de

inúmeras tentativas. Nesses locais de repetição, algumas estratégias, como a introdução

de barreiras arquitetônicas, treinamento dos profissionais para identificar sinais e a

maneira mais adequada de abordar e campanhas de prevenção e promoção, costumam

surtir um bom resultado. Já iniciamos conversas com a Superintendência do shopping

no sentido de auxiliar na construção de um plano de prevenção do suicídio no local.

i. Facilitar o acesso aos serviços especializados de saúde mental:

Torna-se fundamental, nas ações de prevenção do suicídio, identificar os principais

grupos de risco. Entre esses grupos, se destacam as pessoas que possuem algum

transtorno mental, as quais precisam ser identificadas precocemente para que possa ser

ofertado o tratamento especializado. Contudo, conforme dados apresentados

anteriormente, um número muito pequeno das pessoas que vem a óbito por suicídio

passa por atendimento especializado de saúde mental. Podemos conjecturar que um dos

motivos para essa dificuldade se relaciona ao estigma ainda muito presente em nossa

sociedade com relação às questões de saúde mental, algo que foi trabalhado em tópicos

anteriores desse plano. Outra questão se relaciona muitas vezes a entraves no fluxo e na

estrutura dos serviços especializados de saúde mental que acabam por dificultar o

acesso aos mesmos. Para atenuar essas dificuldades, desde 2018 implementamos nos

serviços especializados de saúde mental a lógica da porta aberta e do acolhimento de

todas as demandas no momento da procura. Sabemos que ainda temos algumas

dificuldades nesse sentido, e a criação de um protocolo de acolhimento para os serviços

especializados de saúde mental e a capacitação e sensibilização dos profissionais para a

importância da escuta qualificada no acolhimento são necessidades prementes. Maiores

investimentos em recursos humanos também podem potencializar a capacidade de

atendimento desses serviços e atuar na facilitação do acesso.

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3.3. PREVENÇÃO INDICADA – Grupo com alto risco.

j. Monitorar as notificações das tentativas de suicídio e realizar a

busca ativa das pessoas que fizeram à tentativa:

Levando-se em consideração dado anteriormente apresentado de que, numa amostra de

28 óbitos ocorridos por suicídio em 2018, nos 12 meses anteriores ao óbito, 46% das

pessoas passaram por algum atendimento em um Pronto Atendimento da rede pública

municipal, mas apenas 7% chegaram a ser atendidos em um serviço especializado de

saúde mental, percebemos uma grande lacuna entre o atendimento de urgência após

uma tentativa e o seguimento desse paciente na saúde mental. Vale ressaltar que a cada

tentativa, a probabilidade de que novas tentativas ocorram aumenta significativamente,

sendo que tentativas prévias de suicídio se configuram como um dos principais fatores

de risco. Diante disso, desde o início deste ano o Programa de Saúde Mental,

conjuntamente com a Vigilância Epidemiológica, iniciou um trabalho de

monitoramento e busca ativa das notificações de tentativas de suicídio. Todas as

notificações são encaminhadas pela Vigilância Epidemiológica ao Programa de Saúde

Mental que encaminha a notificação ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de

referência desse paciente. O CAPS, ao receber a notificação realiza a busca ativa desse

paciente, inicialmente através de ligações em que é ofertado ao paciente o atendimento

em saúde mental e, caso não se obtenha sucesso no contato telefônico, a realização da

visita domiciliar.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Botega, NJ. (2015) Crise Suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed.

Luoma, J.B.; Martin, C.E.; Pearson, J.L. (2002). Contact with mental health and

primary care providers before suicide: a review of the evidence. American

Journal of Psychiatry, 159: 909-916.

Ministério da Saúde, (2017). Secretaria de Vigilância em Saúde. Suicídio. Saber, agir e

prevenir. Bol Epidemiológico [Internet]. Disponível em: Disponível em:

http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-

Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-

de-atencao-a-saude.pdf

Ministério da Saúde, (2017). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações

Programáticas Estratégicas. Agenda de ações estratégicas para vigilância e

prevenção do suicídio e promoção da saúde no Brasil: 2017 a 2020 [Internet].

Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.neca.org.br/wp-

content/uploads/cartilha_agenda-estrategica-publicada.pdf

World Health Organization-WHO. (2013). Mental health action plan 2013-2020

[Internet]. 2013. Available from:

http://www.who.int/mental_health/publications/action_plan/en/.

World Health Organization-WHO. (2014). Preventing Suicide – A Global Imperative.

Disponível em: http://www.who.int/mental_health/suicide-

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