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PLANO REAL A inflação foi, por muito tempo, o principal problema econômico do Brasil. Devido às inúmeras tentativas de controle da inflação, começou se a questionar se a autoridades econômicas tinham capacidade para sanar este problema. De acordo com Fellner (1976 apud FONTES; ARBEX; SILVA Jr., 1998, p.76), as políticas de combate à inflação têm custos menores, se a sociedade realmente acredita na efetivação dessas políticas. Ou seja, quanto mais crível a política de desinflação, menor o custo em termos de produção e empregos sacrificados. Quando o público perde a confiança na habilidade da autoridade econômica de implementar o plano de estabilização anunciado, o processo de desinflação da economia torna-se mais difícil de ser atingido. Após várias tentativas em vão, em 1994, consegui-se a estabilização dos preços, com a implantação do Plano Real. Este plano foi um programa definitivo de combate a hiperinflação, implantado em três fases. A primeira é identificada pela criação do Fundo Social de Emergência em março de 1994. Numa segunda fase, a equipe econômica, decidiu indexar todos os preços da economia através da criação de uma Unidade Real de Valor (URV) para preservar o poder de compra da massa salarial. O resultado foi uma redução drástica do patamar inflacionário (Figura X). Figura X: Inflação mensal (IPC-FIPE- Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas)

Plano Real

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Economia

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PLANO REAL

A inflação foi, por muito tempo, o principal problema econômico do Brasil. Devido

às inúmeras tentativas de controle da inflação, começou se a questionar se a autoridades

econômicas tinham capacidade para sanar este problema.

De acordo com Fellner (1976 apud FONTES; ARBEX; SILVA Jr., 1998, p.76), as

políticas de combate à inflação têm custos menores, se a sociedade realmente acredita na

efetivação dessas políticas. Ou seja, quanto mais crível a política de desinflação, menor o

custo em termos de produção e empregos sacrificados. Quando o público perde a confiança na

habilidade da autoridade econômica de implementar o plano de estabilização anunciado, o

processo de desinflação da economia torna-se mais difícil de ser atingido.

Após várias tentativas em vão, em 1994, consegui-se a estabilização dos preços, com

a implantação do Plano Real.

Este plano foi um programa definitivo de combate a hiperinflação, implantado em

três fases. A primeira é identificada pela criação do Fundo Social de Emergência em março de

1994. Numa segunda fase, a equipe econômica, decidiu indexar todos os preços da economia

através da criação de uma Unidade Real de Valor (URV) para preservar o poder de compra da

massa salarial. O resultado foi uma redução drástica do patamar inflacionário (Figura X).

Figura X: Inflação mensal (IPC-FIPE- Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas)

Fonte: (CARDOSO, 2001, p. 17).

Com a implementação da terceira fase do plano, em junho de 1994, estabeleceu se a

transformação dos valores monetários da URV para reais.

A política monetária adotada implicou a prática de elevadas taxas de juros reais, além de outras medidas pontuais de contenção ao crédito e ao consumo. O Governo foi, nesse período, considerado forte pelo público, preocupando-se mais com a

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inflação relativamente ao desemprego. O fato de anunciar inflação baixa e obter esse resultado conferiu credibilidade às medidas e ao plano econômico do Governo. (FONTES; ARBEX; SILVA Jr., 1998, p.79).

O sucesso do plano levou seu formulador Fernando Henrique Cardozo à presidência

da república, na qual pode aprofundar as reformas estruturais nas áreas fiscais, tributarias,

patrimonial, financeiras e administrativas.

A inserção da economia brasileira no mercado mundial aumentou sua dependência

por capital externo. Segundo Holanda (2002 apud GRASEL, 2003, p.4-5), no Plano Real o

livre funcionamento dos mercados foi importante para assegurar a confiança do público e

reverter expectativas inflacionárias.

Durante o período de janeiro de 1994 e julho de 1998, as políticas governamentais

foram voltadas para a estabilização de preços e controle da inflação. Nesse sentido, o governo

utilizou de uma política monetária altamente restritiva, associada a uma regra de não

desvalorizações cambiais.

A partir de uma lógica liberal de “enxugamento” da máquina estatal, objetivando uma maior eficiência de funções a um menor custo econômico, o governo FHC leva em frente um programa de privatizações de empresas estatais, ensejando dessa maneira o aporte de capital estrangeiro na economia nacional. Essa inserção, por sua vez, ocorreu a partir de investimentos em empresas nacionais, mas também a partir da compra e da absorção de outras empresas nacionais por empresas estrangeiras, caracterizando dessa maneira os fenômenos de fusões e aquisições durante o período. (BARBOSA, 2012, p. 48).

No segundo semestre de 1997 com a crise asiática, os principais países afetados

foram os emergentes. Essa crise tomou proporções gigantescas evidenciando a

susceptibilidade da economia brasileira a acontecimentos externos. Onde muitos investidores

deixaram de investir no país, esse fenômeno foi caracterizado pela fuga de capitais, acrescida

de uma redução das reservas internacionais.

Em 1998 iniciou-se a crise financeira na Rússia, que afetou as bolsas de valores de

todo o mundo, incorrendo em prejuízos aos investidores internacionais, que reduziram as

aplicações em papéis brasileiros. No período de julho a setembro de 1998, o país perdeu US$

20 bilhões em reservas internacionais.

A falta de confiança dos investidores estrangeiros na capacidade do Governo de se proteger contra possíveis ataques especulativos, bem como uma associação, talvez errônea, entre a situação da economia brasileira e a dos demais países, fez com que os mesmos buscassem aplicações mais seguras que os títulos dos países emergentes. A perda de credibilidade gerada por esse cenário levou o Governo a, novamente, utilizar a política monetária restritiva como forma de convencer o público, interno e externo, do seu compromisso com a estabilização macroeconômica. (FONTES; ARBEX; SILVA Jr., 1998, p.81).

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Essa rápida fuga dos capitais externos do país fez o governo recorrer ao FMI e

sujeitar-se a adotar um novo modelo de estabilização, o objetivo era evitar um default, ou

seja, uma quebra generalizada que empurrasse o país a uma moratória externa, ou seja,

a dilação do prazo de quitação de sua dívida.

Em março de 1999, foi implementado o sistema de metas de inflação no Brasil com

a utilização do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como meta e a substituição da

Taxa Básica do Banco Central (TBAN) e Taxa de Assistência do Banco Central (TBC) por

uma única taxa chamada de SELIC. Naquele momento, a taxa básica foi fixada em 44,95%

a.a. (ao ano), mas foi caindo rapidamente terminando o ano a 19,0%, para uma inflação,

estimada pelo IPCA, de apenas 8,94%, em 1999. (BACEN, 2015).

[...] após as instabilidades geradas no processo eleitoral, a postura conservadora do governo atual no trato das questões relacionadas com a economia internacional, a melhora no desempenho da balança comercial, os resultados da política econômica adotada, especialmente a austeridade fiscal e a continuidade da política de metas de inflação, conseguiram reduzir de forma significativa o risco Brasil, mostrando que, com uma conjuntura internacional mais favorável, o governo atual tem tido melhor êxito na sua estratégia de estabilização econômica. (GRASEL, 2002).

A partir desce momento governo apoiou-se em 3 políticas: adoção de câmbio flutuante;

regime de metas de inflação; lei de responsabilidade fiscal, com a geração de superávits

primários.

GOVERNO LULA

Ao assumir o governo em 2003 Lula se deparou com uma inflação no patamar de

14,74%, esse valor se deve ao fato da desconfiança dos agentes econômicos com as mudanças

econômicas que o governo viria a realizar e a crise asiática.

[...] o primeiro ano do Governo Lula foi marcado por uma alta expectativa inflacionária em seu principio, forçando a partir disso a equipe econômica e também o próprio presidente a adotar medidas de contenção ortodoxa, como o aumento substancial da taxa de juros, que atingiu os 23% ao ano em taxa Selic, bem como um aperto fiscal severo visando à contenção dos altos preços. (BARBOSA, 2012, p. 47).

Durante o governo Lula foi dada continuidade a trajetória política econômica

implantada por FHC, dando solidez e aprimoramento necessários para manutenção das

políticas econômicas do Real. Isso fez com que a população brasileira aspirasse à vitória sobre

a inflação existente desde os anos 80. (BELLEIRO, 2014, p.97).

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Após as desconfianças sobre as políticas econômicas terem sido desfeitas o governo

Lula navegou sobre águas tranqüilas, contando com um cenário externo favorável e o apoio

do mercado e das instituições financeiras internacionais. Através desse cenário consegui-se

melhorar consideravelmente os indicadores financeiros, fiscais e de risco do país, acenando

para um ciclo de crescimento permanente.

A redução da restrição externa e a expansão do PIB no período estiveram associadas

às mudanças internacionais favoráveis que geraram um extraordinário boom nos

preços das commodities que o Brasil exporta e à redução dos preços das manufaturas

e dos bens de capital importadas pelo país. O setor externo assumiu papel relevante

para o nível de atividade no primeiro governo Lula [...] e ao longo do segundo

mandato de Lula, irá somar-se aos fatores externos a importante expansão do

mercado interno, decorrente de certa flexibilização da orientação contracionista da

política econômica. (PINTO; TEIXEIRA, 2012, p. 926).

Durante o primeiro mandato de Lula o crescimento médio do PIB, alcançou 2,6% ao

ano, e se adicionado os dados de crescimento do segundo mandato essa expansão chega à

ordem de 4,2% a.a.. No segundo mandato de Lula o crescimento do PIB ficou em patamares

superiores a 5% ao ano, excetuando-se o ano de 2009 que devido à crise financeira global o

PIB apresentou uma variação negativa de 0,6% a.a.

[...] a estratégia do governo Lula em fomentar as exportações [...] fez do Presidente da República um verdadeiro caixeiro viajante dos produtos nacionais, cuja principal política foi relativizar o peso da Europa e dos Estados Unidos nas transações comerciais brasileiras. Lula buscou incansavelmente novos parceiros comerciais ao Brasil, estabelecendo novos contatos no Oriente Médio e na África, na mesma medida em que fortaleceu e aprofundou relações comerciais e políticas com os países da América Latina. Nesse aspecto da questão, a política externa e a mudança do eixo geográfico produzida por essa nova orientação política acabou aprofundando a tendência já verificada no governo anterior de tornar o Brasil um jogador ativo do complexo jogo político e econômico do mundo globalizado. (BELLEIRO, 2014, p.99).

Um aspecto distintivo deste período de recuperação do crescimento é que ele se dá

num contexto de melhora nos indicadores de distribuição da renda e de redução da pobreza,

taxa de extrema pobreza foi reduzida de 11,49% em 2005 para 7,28% em 2009, e a taxa de

pobreza que era de 30,82% em 2005 foi reduzida para 21,42% em 2009 de acordo com

cálculos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

Essa redução foi baseada em uma idéia bastante simples do Estado, transferir

diretamente às famílias uma renda fixa com o objetivo de prover essas famílias de uma renda

básica voltada à satisfação de necessidades essenciais básicas, como alimentação e vestuário,

o Bolsa Família teve sua eficácia comprovada na redução progressiva das desigualdades

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sociais, como política de incremento da renda familiar, mas, sobretudo, uma política também

de alavancagem do capitalismo no Brasil.

O projeto político do governo petista de incorporação social através do mercado de consumo popular, ao lado da valorização de políticas de correção das desigualdades, proporcionou uma rápida mobilidade social que alterou a posição social de milhões de cidadãos brasileiros nos anos recentes. (BELLEIRO, 2014, p.100).

A melhoria na distribuição renda ampliou de forma significativa o mercado

consumidor brasileiro, possibilitando que as classes C e D aumentassem o consumo, este

movimento foi muito importante, pois evitou a retração profunda da economia, durante o

inicio da crise econômica global em 2008.

Com o intuito de aumentar ainda mais o consumo o governo, anunciou a desoneração

de diversos impostos como o IPI e da folha de pagamento.

A ampliação do mercado consumidor associada, em alguma medida, a melhoria na distribuição da renda foi peça importante no processo de crescimento econômico do período. Ao que tudo indica, a economia brasileira atravessou, neste momento, o trecho kaleckiano da relação distribuição da renda crescimento, já que há desconcentração da renda e ampliação do consumo dela derivada estiveram positivamente relacionadas com a expansão do produto. (CURADO, 2011, p. 94).

Essas medidas possibilitaram ao país, responder bem a escassez de recursos externos

e devido ao bom nível de reservas que o Banco Central havia sob sua tutela, não permitindo

assim que o dólar disparasse como ocorrera em outras crises internacionais.

Contudo, a retirada dos estímulos foi tardia, e o governo passou a combinar política

monetária e fiscal expansiva, que viria a refletir mais tarde na inflação.

Governo Dilma

Em 2011 Dilma assume a presidência da Republica e a sociedade brasileira supôs

que a novo governo seria uma continuação da Era Lula. Analistas econômicos projetavam um

crescimento do PIB para 2011 e 2012 na casa dos 4,5% a.a. e que a inflação para o ano de

2011 permaneceria próxima de 5,7%. Esse otimismo baseava-se nos valores alcançados pela

economia brasileira em 2010, apresentando um crescimento de 7,5%, maior taxa alcançada

desde 1986.

Na contramão do esperado pelos analistas o PIB cresceu 2,7% em 2011 e 1% em

2012. Esses valores tinham relação com a herança vinda do governo Lula, uma taxa de juros

elevada, uma taxa de cambio altamente sobre apreciada, unida a grave crise que ocorre na

zona do euro, alem da recuperação insatisfatória da economia americana a crise de 2008.

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[...] os limites ao modelo de crescimento baseado no mercado interno e na redistribuição da renda, combinado com a manutenção de juros elevados e apreciação cambial, se mostraram claros. Observa-se um tipo de crescimento com elevação do consumo das famílias, mas com baixo dinamismo industrial, caracterizado externamente por uma acoplagem passiva às cadeias produtivas asiáticas que tem nos puxado para a reprimarização da pauta exportadora e para a especialização regressiva da estrutura produtiva. (PINTO; TEIXEIRA, 2012, p. 934).

A partir de agosto de 2011, o governo Dilma, com uma abrupta reversão de curso da política monetária, que passou a ser relaxada, com o amparo inicial de uma política fiscal ainda restritiva. A inflexão da política monetária foi uma das decisões mais controversas tomadas pelo Copom desde sua criação, tanto pelo caráter inédito, quanto pelas condições iniciais (inflação corrente e esperada bem distantes do centro da meta). (MESQUITA, 2014, p.2).

Essa medida e o aperto financeiro realizado pelo governo reduziram a inflação em 2011, mas em 2012 ela voltou a subir chegando a 5,84%.

Para especialista o governo brasileiro não mais poderá focar no assistencialismo, no incentivo ao consumo doméstico, na desoneração segmentada de atividades setoriais da economia, na desoneração do fator trabalho no mercado de emprego formal e, nem na corrida desenfreada de gastos públicos, que desaguaram na estagnação econômica, na desindustrialização da economia brasileira, (levando segmentos industriais ao quase colapso, como o calçadista e têxtil, devido às importações desses produtos ficarem bem mais baixo dos preços brasileiros), no déficit histórico do balanço de pagamentos e do déficit do balanço comercial.

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REFERÊNCIAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL - BACEN. Histórico das taxas de juros: histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom e evolução da taxa Selic. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pec/Copom/Port/taxaSelic.asp#notas>. Acesso em: 05 novembro 2015.

BARBOSA, Luis Guilherme Camfield. O governo Lula e a política econômica brasileira: continuidade ou ruptura? In: Revista Todavia, UFRGS, Porto Alegre, ano 3, n. 4, jul. 2012, p. 34-51.

BELLEIRO Jr, José Carlos Martines. Um novo capitalismo no Brasil? Estado, empresariado e fusões & aquisições na era Lula. Pelotas, Pensamento plural, 2014, p. 93-112.

CARDOSO, F. H. Crescimento e desenvolvimento social. Coleção Documentos da Presidência da República. Brasília, 2001, 103 p.

CURADO, Marcelo. Uma avaliação da economia brasileira no governo Lula. In: Economia & Tecnologia. Vol. Especial, ano 07, 2011, p. 91-103.

FELLNER, W. Towards a reconstruction of macroeconomics. 1976. In: FONTES, Rosa; ARBEX, Marcelo A.; SILVA Jr., Geraldo E. Estabilização econômica no Brasil: reflexões sobre o Plano Real. Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 3, 1998, p. 73-86.

FONTES, Rosa; ARBEX, Marcelo A.; SILVA Jr., Geraldo E. Estabilização econômica no Brasil: reflexões sobre o Plano Real. Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 26, n.3, 1998, p. 73-86.

GRASEL, Dirceu. Alternativas para a fragilização externa da economia brasileira. In: Revista de estudos sociais da FAECC. Cuiabá, Ed UFMT, ano 3, n. 5, 2002.

HOLANDA,N. Introdução a economia: da teoria a prática e da visão micro a macroperspectiva. In: GRASEL, Dirceu. Brasil: plano real e a estabilização econômica inacabada. 2003, 11 p.

MESQUITA, Mário. A política econômica do governo Dilma: a volta do experimentalismo. In: Coletânea de capítulos “Sob a luz do sol, uma agenda para o Brasil. CDPP, 2014, 12 p.

PINTO, Eduardo Costa; TEIXEIRA, Rodrigo Alves. A economia política dos governos FHC, Lula e Dilma: dominância financeira, bloco no poder e desenvolvimento econômico. In: Economia e sociedade. Campinas, v. 21, Num. Especial, 2012, p. 909-941.