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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 PLANTIO DIRETO NAS CULTURAS DE MILHO E SOJA NO MUNICÍPIO DO CHAPADÃO DO CÉU- GO E OS IMPACTOS PARA O MEIO AMBIENTE ANA ALICE VILAS BOAS; DEILIAMAR FERREIRA BORGES GARCIA. UFRRJ, SEROPEDICA, RJ, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Plantio Direto nas Culturas de Milho e Soja no Município do Chapadão do Céu- GO e os Impactos para o Meio Ambiente Grupo de Pesquisa: AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL Resumo Este estudo tem como objetivo analisar os benefícios da adoção do Sistema de Plantio Direto para o meio ambiente e os ganhos de produtividade para o produtor. Portanto, partiu-se da suposição que a adoção permanente do plantio direto traz benefícios para as lavouras e o meio ambiente, principalmente no que se refere ao controle da erosão e aumento da produtividade. Para verificar a veracidade destas suposições foram coletadas informações sobre as safras de milho e soja no período de 1996/1997 a 2001/2002, junto à Secretaria da Agricultura do Chapadão do Céu-GO e junto aos produtores da região. Os resultados mostraram que o plantio direto trouxe melhorias para o meio ambiente, sendo destacado pelos agricultores a eficácia do plantio direto no controle da erosão. A partir das entrevistas, percebeu-se que os produtores que estão utilizando esse sistema por um período superior a quatro anos estão satisfeitos e falam com entusiasmo sobre a experiência. Constatou-se que houve um aumento significativo de produtividade nas culturas estudadas. No entanto, não foi possível atribuir este ganho de produtividade ao plantio direto por falta de dados comprobatórios.

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Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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PLANTIO DIRETO NAS CULTURAS DE MILHO E SOJA NO MUNICÍPIO DO CHAPADÃO DO CÉU- GO E OS IMPACTOS PARA

O MEIO AMBIENTE

ANA ALICE VILAS BOAS; DEILIAMAR FERREIRA BORGES GARCIA.

UFRRJ, SEROPEDICA, RJ, BRASIL.

[email protected]

APRESENTAÇÃO ORAL

AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Plantio Direto nas Culturas de Milho e Soja no Município do Chapadão do Céu- GO e os Impactos para o Meio Ambiente

Grupo de Pesquisa: AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

Resumo Este estudo tem como objetivo analisar os benefícios da adoção do Sistema de Plantio Direto para o meio ambiente e os ganhos de produtividade para o produtor. Portanto, partiu-se da suposição que a adoção permanente do plantio direto traz benefícios para as lavouras e o meio ambiente, principalmente no que se refere ao controle da erosão e aumento da produtividade. Para verificar a veracidade destas suposições foram coletadas informações sobre as safras de milho e soja no período de 1996/1997 a 2001/2002, junto à Secretaria da Agricultura do Chapadão do Céu-GO e junto aos produtores da região. Os resultados mostraram que o plantio direto trouxe melhorias para o meio ambiente, sendo destacado pelos agricultores a eficácia do plantio direto no controle da erosão. A partir das entrevistas, percebeu-se que os produtores que estão utilizando esse sistema por um período superior a quatro anos estão satisfeitos e falam com entusiasmo sobre a experiência. Constatou-se que houve um aumento significativo de produtividade nas culturas estudadas. No entanto, não foi possível atribuir este ganho de produtividade ao plantio direto por falta de dados comprobatórios.

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Palavras-chaves: Produtividade, Sistema de rotação, Controle de erosão. Abstract This study aims to analyze environmental impact with the adoption of no-till planting system for the environment and yield increase for farmers. As a result, it was supposed that adoption of no-till planting system brings benefits for crop production and environment, emphasizing erosion control, with long-term positive effect on yield. In order to verify this hypothesis, data about maize and soybean crops from 1996/1997 to 2001/2002 were collected at Chapadão do Céu Agriculture Department and directly with farmers. The results confirmed the hypothesis for environmental improvement, and farmers stressed the efficacy of no-till system for erosion control. From the interviews, it was possible to state that farmers dealing with no-till planting system for more then four years are pleased with the system and they talk about their experience nicely. It was identified a yield increase on the crops studied. However, it could not be linked exclusively to the no-till planting system because of the lack of proper information. Key-Words: Production, rotation system, erosion control.

1. INTRODUCAO

Mudanças estão ocorrendo no mundo dos negócios, atingindo todo tipo de

segmento de mercado. Micros, pequenos, médios e grandes participantes deste mercado terão que necessariamente estarem atentos a estas mudanças, ou seja, a redução de custos, elevação da qualidade, aumento da produtividade e agilização de suas atividades para fazerem frente a esta competitividade acirrada, sob pena de verem seus lucros consumidos pela ineficácia de sua gerência.

Com relação ao aumento da produtividade, o produtor rural não dispõe de muitos caminhos. Só existem duas alternativas: ou aumenta a área plantada, ou procura obter maior produção e produtividade nas áreas que já são cultivadas.

Isto traz conseqüências perigosas, pois a questão do lucro sobrepõe a responsabilidade pelo meio ambiente, produzindo apenas os produtos mais rentáveis e desconsiderando as exigências agronômicas dos sistemas de produção, como a rotação de cultura e a integração agricultura-pecuária. A gestão do processo produtivo traz problemas de controle e organização do processo agrícola, causando a expansão da monocultura pela seleção das culturas mais rentáveis.

Muitos produtores que não possuem mais áreas em condições ideais de cultivo, por isso passam a utilizar terras adjacentes de solo pobre e de mais rápido esgotamento para expandir suas áreas de cultivo. Além disso, eles fazem uso intensivo de produtos químicos para conseguirem maior produção. O aumento da produtividade nas áreas já exploradas, ao longo dos anos, tem sido observado através do uso excessivo de produtos químicos e por causa de desenvolvimento de novas variedades.

As lavouras tradicionais, com uso intensivo de produtos químicos, também trouxeram benefícios na obtenção de maior produtividade. Mas, por outro lado, a falta de cuidados com a manutenção e proteção do solo fizeram com que este sistema entrasse num processo de degradação, tornando preocupante a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras.

Diante do exposto, percebe-se que o cenário de desenvolvimento da agricultura trouxe muitas preocupações no que se refere ao futuro do meio ambiente. As melhorias observadas quanto a fertilidade do solo e a redução da utilização de corretivos e

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fertilizantes têm sido muito importante para convencer o produtor rural a abandonar as técnicas convencionais que se não forem repensadas com muita responsabilidade poderão acarretar sérios problemas as gerações futuras. Por isso, a preservação ambiental se torna relevante e a adoção do plantio direto pode se tornar relevante para melhoria do ambiente.

Diante do exposto, o objetivo principal deste artigo é analisar os benefícios do plantio direto para o meio ambiente e os ganhos de produtividade para o produtor, através do estudo das culturas de soja e milho que produzem sob o sistema de plantio direto.

II. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Histórico do Plantio Direto

O sistema de plantio direto surgiu como uma das possíveis soluções para os inconvenientes do sistema convencional, ou seja, a agressão ao solo pelo uso intensivo de produtos químicos, a não reposição dos nutrientes retirados na mesma proporção e a erosão devido ao manejo do solo através da prática de aração e gradagem da terra.

Segundo Landers (1997), o propósito do sistema do plantio direto é ainda mais abrangente, pois:

a) prioriza a rotação de cultura e adubação verde; b) menor intensidade de mobilização do solo; c) redução do tráfego de máquinas sobre o terreno (o que causa a compactação); d) eficácia no controle da erosão hídrica; e) redução dos custos variáveis das lavouras (combustíveis, mão-de-obra,

fertilizantes etc); f) possibilidade de aumento de receita com a safrinha, que é o cultivo de algumas

culturas tais como: milho, sorgo ou milheto, plantadas logo após a colheita da soja. O sistema do plantio direto na agricultura brasileira não é muito recente. Em 1971,

no estado do Paraná foram feitas as primeiras pesquisas com plantio direto de trigo e no Rio Grande do Sul, no mesmo ano, foi feito plantio direto em área experimental, efetuando estudos comparativos deste sistema em relação ao convencional.

O sistema de Plantio Direto nos cerrados só foi consolidado na década de 90. Os fatores que colaboraram para este fato foram: imigração de agricultores com experiência em plantio direto do sul do Brasil e a adaptação da soja aos cerrados.

2.2. O Meio Ambiente e o Plantio Direto

Segundo EMBRAPA (2003), o plantio direto “é uma técnica de cultivo conservacionista, cujo objetivo é manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais1”. Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto das gotas de chuvas, do escorrimento superficial e das erosões hídricas e eólicas. Este sistema de plantio é considerado como um cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita-se ao sulco da semeadura, procedendo-se tanto a semeadura em solo não revolvido, quanto a adubação e aplicação de herbicidas em uma única operação.

Esse processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidades suficientes para a adequada

1 Cobertura morta – resíduos oriundos da cultura colhida.

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cobertura e contato das sementes com a terra, é hoje entendido como um sistema com os seguintes fundamentos: (EMBRAPA, 2003)

- Eliminação/redução das operações de preparo do solo. Como resultado evita o selamento superficial, decorrente do impacto das gotas de chuva; conseqüentemente, reduz o escorrimento superficial e aumenta a infiltração, reduzindo drasticamente a erosão. Há maior manutenção da estabilidade de agregados, melhorando a estrutura do solo, evitando compactação subsuperficial. Reduz as perdas de água por evaporação, aumentando a disponibilidade de água para as plantas, a atividade biológica do solo e a manutenção da matéria orgânica do solo.

- Uso de herbicidas para o controle de plantas daninhas. O uso de herbicidas dessecantes significa substituir a energia mecânica do preparo do solo pela energia química (herbicida específica).

- Formação e manutenção da cobertura morta. Evita a erosão hídrica e eólica e lavagens dos nutrientes da camada superficial do solo. Atua ainda na proteção do solo contra os efeitos dos raios solares, reduzindo a evaporação e a temperatura. Com sua decomposição, incorpora matéria orgânica ao solo, permitindo maior reciclagem de nutrientes. Além disso, auxilia no controle de plantas daninhas2.

- Rotação de culturas. A combinação de espécies com diferentes exigências nutricionais, velocidade de decomposição, produção de fitomassa e sistema radicular torna o sistema mais eficiente, além de facilitar o controle integrado de pragas, doenças e plantas daninhas. Nas regiões onde soja e milho são plantados normalmente, o SPD se beneficia dessa rotação que é benéfica a ambas as culturas. Na semeadura do milho safrinha, após a soja precoce, é o milho que, então é mais beneficiado. Essa sucessão, entretanto, não caracteriza rotação de culturas nem se recomenda que seja repetida indefinidamente.

Diante do exposto, pode-se afirmar que o plantio direto protege o meio ambiente preservando o solo para uso no próprio plantio. A rotação de cultura, segundo Bertoni et al (1999, 47), “é o sistema de alternar num mesmo terreno, diferentes culturas em uma seqüência de acordo com um plano definido”. Assim, a rotação de cultura visa auxiliar o controle de ervas daninhas e insetos, manutenção de matéria orgânica e redução das perdas por erosão. A rotação de cultura também pode ser integrada com a pecuária.

2.3. Integração Agricultura-Pecuária A exploração isolada de lavoura ou da pecuária no cerrado tem apresentado sinais de insustentabilidade com reflexos sociais e ambientais (EMBRAPA, 2003). Neste contexto, tanto a competitividade como a sustentabilidade do setor estarão cada vez mais dependentes da redução dos custos de produção e da utilização intensiva das áreas agrícolas durante o ano todo. De acordo com EMBRAPA (2003), o “Sistema Santa Fé consiste no cultivo consorciado de culturas anuais com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, implantado em áreas agrícolas com solos parcial ou devidamente corrigidos”.

2 Plantas daninhas – São consideradas plantas que competem com a lavoura pelo mesmo espaço, água, luz e nutrientes.

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Este sistema como integração lavoura-pecuária reúne as principais premissas básicas da competitividade com sustentabilidade, tendo como principais vantagens a produção de grãos na safra e/ou safrinha e forragem na entressafra, resultando no uso intensivo da área; maior produção de silagem no período chuvoso; produção de forragem para pastejo direto, no período seco, capaz de suportar mais de duas unidades animais por hectare, incluindo-se a produção de novilho precoce a pasto ; produção de palhada de excelente qualidade para o plantio direto, com amplas possibilidades de redução de defensivos agrícolas; não altera o cronograma de atividades do agropecuarista; não exige equipamentos específicos; apresenta baixo custo de implantação e aumenta a eficiência produtiva de algumas culturas anuais no sistema de plantio direto (EMBRAPA, 2003). 2.4. Manutenção de Cobertura Morta

A manutenção da cobertura morta (palha) na superfície do solo representa a essência do sistema de PD, por proporcionar uma série de benefícios ao solo. Um dos principais benefícios é a manutenção e elevação do teor de matéria orgânica. No sistema de plantio convencional grandes quantidades de matéria orgânica são levadas pela erosão. (GLOBO RURAL, 1994).

O teor da matéria orgânica é um dos principais termômetros para medir a sustentabilidade das práticas agrícolas no solo, pois ela atua fundamentalmente sobre a composição química do solo, determinando a eficiência da utilização dos corretivos de solo e fertilizantes, afetando diretamente os rendimentos das culturas ao longo do tempo. (FANCELLI, 2003).

A cobertura morta também influencia na temperatura do solo. A temperatura afeta os processos físicos, químicos e biológicos que nele se desenvolvem, sendo um fator importante no crescimento, n multiplicação e nas atividades dos microorganismos no solo. Segundo Fancelli (2003), a grande maioria dos microorganismos se desenvolvem melhor entre 10 e 40°C. No sistema de PD, a palha diminui a temperatura na superfície do solo, favorecendo as atividades microbianas. Isto aumenta a capacidade de infiltração de água, diminuindo os problemas com erosão. Além destes benefícios, vários estudos demonstraram que o Plantio Direto é mais lucrativo que o Plantio Convencional, como por exemplo, os estudos da AGRIANUAL (2000) e Gentil et al (1993).

- Uso de semeadoras específicas. Para o Plantio Direto obter êxito é necessário que seja respeitado as vocações naturais de cada região. Ou seja, características de solo, relevo e clima. A medida que o agricultor vai se familiarizando com o sistema, novas vantagens são adicionadas e novas alternativas para resolver os problemas.

A manutenção da cobertura morta (palha) na superfície do solo representa a essência do sistema de PD, por proporcionar uma série de benefícios ao solo. Um dos principais benefícios é a manutenção e elevação do teor de matéria orgânica. No sistema de plantio convencional grandes quantidades de matéria orgânica são levadas pela erosão. (GLOBO RURAL, 1994).

O teor da matéria orgânica é um dos principais termômetros para medir a sustentabilidade das práticas agrícolas no solo, pois ela atua fundamentalmente sobre a composição química do solo, determinando a eficiência da utilização dos corretivos de solo e fertilizantes, afetando diretamente os rendimentos das culturas ao longo do tempo. (FANCELLI, 2003)

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A cobertura morta também influencia na temperatura do solo. A temperatura afeta os processos físicos, químicos e biológicos que nele se desenvolvem, sendo um fator importante no crescimento, n multiplicação e nas atividades dos microorganismos no solo. Segundo Fancelli (2003), a grande maioria dos microorganismos se desenvolvem melhor entre 10 e 40°C. No sistema de PD, a palha diminui a temperatura na superfície do solo, favorecendo as atividades microbianas. Isto aumenta a capacidade de infiltração de água, diminuindo os problemas com erosão. Apesar destes benefícios, existem algumas criticas ao sistema de conservação da cobertura morta ou plantio direto e quanto a forma de operacionalização do sistema. 2.5. Críticas à Utilização de Herbicidas no Plantio Direto

Apesar de suas inúmeras vantagens, o PD é um sistema bastante criticado pelos ambientalistas num aspecto: a sua dependência em relação ao uso de herbicidas. Os ambientalistas alegam que no PD há uma maior utilização de herbicidas, o que contribui para aumentar os riscos ambientais de contaminação das águas superficiais e subterrâneas. Esses não são de todo válidos porque, segundo EMBRAPA (2003), com o aprimoramento do manejo das plantas daninhas, através da utilização de cobertura morta e rotação de cultura, e o surgimento de herbicidas eficientes e menos tóxicos ao homem e ao meio ambiente, o PD se tornou mais seguro do que o plantio convencional.

A formação e o acúmulo da cobertura morta na superfície do solo exerce um importante controle de plantas daninhas, impedindo a sua emergência. Esta emergência também é prejudicada no sistema de PD, pois o acúmulo de suas sementes na superfície, em virtude da não movimentação do solo possibilita a redução do banco de sementes através da exposição às condições climáticas e ao ataque de pássaros, roedores e insetos, permitindo uma redução do consumo de herbicidas (SILVA, 1997).

Apesar dos efeitos benéficos da cobertura morta sobre a emergência das plantas daninhas, esse fator, isoladamente, não apresenta resultados satisfatórios no controle das invasoras, havendo necessidade de combinar tais efeitos benéficos com a utilização de herbicidas. Os herbicidas são utilizados no sistema de PD para dessecar a cultura de inverno para a obtenção de cobertura vegetal e também para controlar a emergência e as ervas daninhas que se desenvolveram após a implantação da cultura. (SCALEA, 2003).

A contaminação do meio ambiente pela utilização de herbicidas na agricultura, segundo Silva (1997), pode ocorrer por três processos principais: processos de adsorção, que regulamentam a disponibilidade do herbicida na solução do solo; processos de transferência, que deslocam o herbicida do ponto de aplicação para outra área; e processos de degradação, que minimizam os problemas com a persistência, a acumulação e os efeitos desses compostos.

A adsorção de herbicidas por partículas de solo determina o potencial de lixiviação desses compostos. Segundo Scaléa (2003), a maior parte dos herbicidas utilizados no PD perdem sua ação herbicida logo após entrar em contato com o solo.

A matéria orgânica também influencia na capacidade de adsorção dos herbicidas; quanto maior o seu conteúdo, maior será a capacidade de adsorção dos solos (SILVA, 1997). Como grande parte dos herbicidas utilizados no PD apresenta alta capacidade de adsorção e os solos apresentam um maior teor de matéria orgânica, as possibilidades de lixiviação decorrentes do uso desses herbicidas tornam-se mínimas. No sistema convencional, o menor teor de matéria orgânica presente no solo e a maior utilização de

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herbicidas pré-emergentes (herbicidas aplicadas no solo antes da germinação das sementes de plantas daninhas) aumentam os riscos de contaminação do meio ambiente. 2.6. A Cultura da Soja no Brasil

Conforme informações EMBRAPA (2003), a soja chegou ao Brasil via Estados Unidos, em 1882. Gustavo Dutra, então professor da Escola de Agronomia da Bahia, realizou os primeiros estudos de avaliação de cultivares introduzidos daquele país.

Assim como nos EUA, a soja no Brasil era estudada mais como cultura forrageira, eventualmente também produzindo grãos para consumo de animais da propriedade, porém não era cultivada como planta produtora de grãos para a indústria de farelos e óleos vegetais.

Em meados dos anos 50, com o estabelecimento do programa oficial de incentivo à cultura do trigo, a cultura da soja foi igualmente incentivada, por ser, desde o ponto de vista técnico (leguminosa sucedendo gramínia), quanto econômico (melhor aproveitamento da terra, das máquinas/implementos, da infra-estrutura e da mão-de-obra), a melhor alternativa de verão para suceder o trigo cultivado no inverno. 2.6.1 Produção de Soja no Brasil

O primeiro registro de cultivo de soja no Brasil EMBRAPA (2003), data de 1914 no município de Santa Rosa-RS. Porém, só adquiriu alguma importância econômica a partir dos anos 40, cujo primeiro registro estatístico nacional consta do ano de 1941, no Anuário Agrícola do RS: área cultivada de 640ha, produção de 450 t e rendimento de 700 kg/há. Nesse mesmo ano instalou-se a primeira indústria processadora de soja do País (Santa Rosa-RS) e, em 1949, com produção de 25.000t, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas internacionais.

Apesar do significativo crescimento da produção no correr dos anos 60, foi na década seguinte que a soja se consolidou como a principal cultura do agronegócio brasileiro. Nesta década houve um grande crescimento de áreas cultivadas e de produtividade, graças às novas tecnologias disponibilizados para os produtores pela pesquisa brasileira. De toda produção, mais de 80% do volume produzido na época se concentrava nos três estados da Região Sul do Brasil.

De 1980 a 1990, aconteceu na região tropical do Brasil, o mesmo explosivo crescimento que ocorrera na Região Sul. Em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no Centro-Oeste. Em 1980, esse percentual passou para 20%, em 1990 já era superior a 40% e em 2003 estava próximo dos 60%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova safra. Esse impulso fez com que o Estado do Mato Grosso, de produtor marginal passasse a líder nacional de produção e produtividade de soja, com boas perspectivas de consolidar-se nessa posição.

O crescimento da cultura do trigo beneficiou o cultivo da soja, pois esta utiliza no verão a mesma área, mão-de-obra e maquinários da cultura do trigo no inverno. Este fator possibilitou, a partir da década de 1970, um grande avanço da cultura de soja no Sul do país que além dos benefícios oriundos da cultura do trigo também foi impulsionada pela utilização dos derivados da soja na ração animal e na alimentação humana.

Shiki (1995) afirma que a evolução do crescimento da soja na Região Central teve como principais fatores de crescimento a construção de Brasília e programas de desenvolvimento do governo federal, tais como: POLOCENTRO (Programa de

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Desenvolvimento dos Cerrados), que abrangeu parte dos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, PROÁLCOOL (Programa Nacional do Álcool), que direcionou recursos para os cerrados e o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados), sendo este último muito importante, pois visava transformar os cerrados em uma área estratégica de suprimento de commodities agrícolas, que se caracterizou principalmente com a cultura de soja. Em suma, pode-se afirmar que a houve um crescimento muito expressivo na área cultivada de soja no Brasil, ao longo das últimas três décadas.

2.7. A Importância Econômica do Milho

Segundo EMBRAPA (2003), o milho é uma das culturas mais antigas do mundo. Há indicações de que sua origem tenha sido no México, América Central ou Sudoeste dos Estados Unidos. A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. O uso desse cereal como alimentação animal representa a maior parte do consumo, ou seja, cerca de 70% no mundo. Nos Estados Unidos cerca de 50% é destinado a esse fim, enquanto que no Brasil varia de 60% a 80% (EMBRAPA 2003), dependendo da fonte da estimativa e de ano para ano.

Apesar de não ter uma participação muito grande no uso de milho em grão, a alimentação humana, com derivados de milho, constitui fator importante de uso desse cereal em regiões com baixa renda. No nordeste do Brasil, o milho constitui a “ração” diária de alimentação para muitas pessoas que vivem no semi-árido.

2.7.1. Produção de Milho no Brasil

A produção de milho no Brasil, juntamente com a soja, contribui com cerca de 80%

da produção de grãos do país. A diferença entre as duas culturas esta no fato de que a soja tem liquidez imediata devido à sua característica de comercialização no mercado internacional, enquanto que o milho tem sua produção voltada para o abastecimento interno. Apesar disto, o milho evoluiu como cultura comercial, apresentando nos últimos 28 anos taxas de crescimento da produção de 3% ao ano e da área cultivada de 0,4% ao ano (EMBRAPA 2003).

O estado do Paraná obteve uma média (de 1998 a 2001) de produção de 5 milhões de toneladas, sendo o maior produtor de milho do país. Os estados do centro-sul do Brasil, com exceção do Rio de Janeiro e Espírito Santo, apresentam uma produção de 1 a 5 milhões de toneladas. A Bahia, Piauí, Maranhão e Pará têm se constituído em nova fronteira para a produção de milho em escala comercial, principalmente nas áreas de cerrado. No Ceará a expansão do cultivo de milho se deve ao aumento da demanda deste produto que foi impulsionada pelo crescimento da produção de aves neste estado e no estado de Pernambuco.

O estado de Goiás, segundo EMBRAPA (2003), é o que apresenta melhores níveis de produtividade nos últimos 4 anos, sendo superior aos estados da região Sul. Esta alta produtividade deve-se ao fato de que os produtores têm utilizado tecnologias modernas e sementes de alta qualidade e potencialidade, além do plantio em áreas extensas. Assim a ampliação do parque industrial na região de cerrado, também favoreceu o crescimento da produção de milho na região centro-oeste, em especial no estado de Goiás que utiliza que utiliza o milho como insumo.

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Outro fator que tem contribuído para o crescimento da produção e produtividade do milho na região Centro-Oeste é o sistema de cultivo de plantio direto, que foi introduzido como mais uma opção de cultivo para o período de inverno. Este sistema além da vantagem de reduzir o tempo entre safras de verão, também proporciona cobertura morta para o solo e permite rotação de cultura com a soja.

Devido ao crescimento da importância da soja no mercado internacional, esta passou a disputar áreas com o milho para o cultivo de verão. Os produtores passaram a optar pelo cultivo da soja no verão e do milho na segunda safra.

III. METODOLOGIA

Este artigo analisa os impactos que a adoção do plantio direto proporciona ao meio ambiente e a sociedade. Os dados utilizados na pesquisa foram obtidos através de pesquisa de campo junto aos produtores da região e órgãos públicos ligados a agricultura.

Foram aplicados 41 questionários abertos num universo de 107 propriedades, com tamanhos variando de 300 a 3.000 há. A amostra foi selecionada com base em informações obtidas junto a Secretaria da Agricultura do Chapadão do Céu que é apoiada pelos técnicos da EMBRAPA. Isto se justifica pela dificuldade em conseguir produtores que tenham controle mínimo de suas lavouras e estejam dispostos a fornecer informações.

Para atingir o objetivo proposto foi utilizado a metodologia do Diagnóstico dos Sistemas Agrários (MAZOYER, 1985), que pressupõe a coleta de informações com alto grau de confiabilidade, através de questionários detalhados, com menores recursos humanos e financeiros quando comparados aos métodos amostrais tradicionais. Entre 30 e 50 questionários são considerados suficientes, desde que haja uma experiência do tema por parte dos pesquisadores.

Esperava-se obter dados históricos evolutivos de cada propriedade e então proceder a análise. No entanto, foi constatada a inexistência deste controle, por parte dos produtores, ao longo do período em que estão utilizando plantio direto. Por isso, o procedimento metodológico utilizado foi a aplicação de questionários junto aos produtores para obtenção de dados referentes ao conhecimento e prática do plantio direto.

O instrumento de coleta de dados contemplava as seguintes informações: - a área total de milho e soja - se recebe orientação técnica

- o ano em que começou a utilizar o PD; - a área atual com PD; - o motivo que o levou a adotar o PD; - as principais vantagens do PD; - as principais dificuldades surgidas com a adoção do PD; - se já retornou alguma vez ao plantio convencional; - se havia problemas de erosão antes da utilização do PD; - se há atualmente problema com erosão - se faz rotação de cultura; - se faz rotação agricultura pecuária; - se utiliza cultura de cobertura para formação de palhada; - se verifica alguma dificuldade para formação de palha no solo; - se houve aumento no consumo de herbicidas; - se tem observado evolução no quadro de plantas daninhas; - se houve aumento na incidência de doenças;

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- se houve aumento na incidência de pragas: e - se o maquinário utilizado é adequado.

De posse destes dados foi possível gerar informações que foram descritas em

tópicos tais como: histórico do plantio direto na propriedade; principais motivos da adoção do plantio direto; aspectos técnicos e ambientais, englobando produtividade, erosão, rotação de cultura, cobertura de inverno e manutenção de cobertura morta; aspectos fitossanitários e semeadoras. Alem disso foi possível descrever o comportamento do meio ambiente frente ao sistema de plantio direto.

Os dados referentes a área plantada, produção e produtividade foram fornecidos pela Secretaria da Agricultura da Prefeitura do Chapadão do Céu. O Sistema de Plantio Direto foi introduzido na região Centro-Oeste na década de 1980. Sendo que na região Sul já havia sido implantado no início de 1970. A evolução do sistema na região dos cerrados foi muito lenta, porque a transposição do sistema da região Sul para região Centro-Oeste apresentou uma série de dificuldades em decorrência das diferenças climáticas. O inverno seco e relativamente quente não permitiu o cultivo das culturas de inverno, normalmente utilizadas no Sul do país. Com isso a tecnologia teve que ser adaptada para os cerrados. Na região em estudo (Chapadão do Céu) o plantio direto só iniciou em 1993. Portanto, constitui uma limitação a falta de dados históricos para embasar a pesquisa.

IV – RESULTADOS E DISCUSSAO 4.1. Região de Estudo Este estudo foi realizado no município de Chapadão do Céu – Goiás, que está localizado próximo ao Parque Nacional das Emas. Este município dista 611 km de Cuiabá - MS, 483 Km de Goiania - GO, 586 Km de Uberlândia - MG, 512 Km de São José do Rio Preto- SP e 374 Km de Campo Grande – MS, conforme Figura 1.

O Município está localizado no extremo sudoeste do estado de Goiás, na latitude de S18° 23´34” e na longitude W52º 39´57”, altitude de 840m, com uma área de 2.190.7 km². Limita-se ao norte com Serranópolis/Mineiros (GO), a oeste com Mineiros e Costa Rica (MS), ao sul com Chapadão do Sul (MS), e ao leste com Aporé (GO).

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Figura 1: Localização de Chapadão do Céu

4.2. Sistema Agrário da Região

Define-se por sistema agrário o modo de produção, historicamente constituído e durável, um conjunto de forças de produção adaptado às condições climáticas de um espaço definido, e respondendo às condições e necessidades de um certo momento (GRAS, et al, 1989). A vegetação é predominantemente de cerrados e o clima é tropical mesotérmico, com duas estações bem definidas pelo regime sazonal de chuvas que ocorrem de outubro a abril. As principais unidades pedológicas de uso agrícola são latossolo vermelho, textura argilosa e textura média com areias quartzozas.

A estrutura econômica do Município é centrada 80% na agricultura, 12% no comércio e 8% serviços. Até a década de 1980, o sistema agrário da região era caracterizado por grandes propriedades, concentradas apenas na pecuária extensiva. Posteriormente, com a introdução da soja e outras culturas a estrutura do município foi se modificando. No inicio desta década, o sistema agrário do município abrangia grandes propriedades agrícolas produzindo com alta tecnologia.

Segundo dados da prefeitura local do Chapadão do Céu, o tamanho das propriedades fica, em média, em 2.000 ha e as menores lavouras não são inferiores a 300 ha. Os proprietários de áreas menores arrendam suas terras para os grandes produtores. Este crescimento propiciou a montagem de uma infra-estrutura voltada para a produção e comercialização dos principais produtos tais como: soja, milho, algodão e girassol. Ao todo, o município conta com 27 armazéns graneleiros e 4 beneficiadoras de algodão.

4.3. Sistema de Produção

Por sistema de produção caracteriza-se a combinação de sistemas de cultivo e/ou

sistemas de criação dentro dos limites autorizados pelos fatores de produção que uma

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propriedade agrícola dispõe. Este sistema integra igualmente as atividades de transformação de produtos animais, vegetais e florestais, realizados dentro dos limites das propriedades agrícolas (GRAS et al, 1989).

O sistema de produção identificado na região de estudo conjuga produção agrícola com gado de corte (Sistema Santa Fé), sendo que somente cerca de 8% da amostra utilizam este sistema e a produção agrícola utiliza mais de 80% da área total da propriedade.

Todos os produtores pesquisados possuem máquinas próprias para o cultivo de suas lavouras, sendo a maioria em excelentes condições de uso e com tecnologia moderna. O número de produtores que contratam máquinas para execução de serviços é pouco expressivo, com exceção da pulverização aérea que é utilizada por grande parte dos produtores, e em alguns casos, são contratados maquinários para colheita, em época de pico, quando a lavoura chega ao ponto de colheita de uma só vez, decorrente de algum fator climático.

A mão-de-obra utilizada é predominantemente contratada, tanto que na região, segundo informações da prefeitura local, o índice de desemprego é praticamente zero.

4.4. Sistema de Cultivo

A definição de cultivo adotada neste trabalho é fundamentalmente baseada na

abordagem sistêmica. Essa abordagem permite a visualização da propriedade agrícola de uma maneira global.

Entende-se como sendo um sistema de cultivo o conjunto de operações técnicas utilizadas de maneira idêntica na condução de uma cultura. Um sistema de cultivo pode ser definido pelo tipo de cultura; pela ordem de sucessão das culturas em nível de parcela (MAZOYER, 1985 e GRAS et al, 1989).

A observação do sistema de plantio direto foi realizada a partir do estudo de seu modo de funcionamento e de seus resultados produtivos e ambientais na região, em confronto com as técnicas e práticas adotadas pela literatura sobre o assunto.

Pode-se verificar que na Tabela 1 a área deixada em pousio equivale a quase 2/3 da área total, pelo fato de que a cultura da safrinha é mais sujeita ao risco climático, tendo em vista o curto espaço de tempo entre a colheita da safra de verão e o tempo necessário para o plantio da safrinha. O milho, sorgo, girassol e milheto constituem as culturas da safra de inverno de maior preferência dos agricultores.

A área com plantio de safrinha aumentou bastante nos últimos anos, principalmente as culturas de sorgo, girassol e o milho, conforme pode ser observado na Tabela 1 referente a safra de inverno. Pode-se notar que a cultura do milho diminuiu nas últimas safras, mas ainda continua sendo atraente em termos de lucratividade. Estas culturas permitem a comercialização (grãos) e é utilizada também para alimentação do gado na época da entressafra ou simplesmente na produção de cobertura vegetal para proteção do solo.

Tabela 1: Safra de inverno Área Plantada (Safra de inverno)

1997 1998 1999 2000 2001 2002

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Milho Sorgo Girassol Feijão Milheto Aveia Nabo Feijão Guandú Canola Trigo Painço Mamona Soja Pousio Total

5.000

770

9.361 4.880 2.080

50 30.919 7.600 7.047 1.000

63.072 126.009

4.596 12.624 5.897 2.471 8.026 1.720 2.930

170 900 10 2

86.020 125.366

4.256 8.185 7.131

422

90 1.340

10

104.880 126.314

1.913 5.370

11.475 1.410

820 700

300

106.864 128.852

3.070 11.659 19.373

900

790

95.763,7 131.555,7

Fonte: Prefeitura Municipal do Chapadão do Céu -GO, 2003 adaptado pela autora.

A Tabela 2 mostra somente a produção da safra de inverno a partir de 2002, pois a prefeitura local só começou a compilar estes dados a partir da safra 2001/2002. Também não foi possível levantar a produtividade e produção com a rotação e/ou sucessão de diferentes culturas, pois os produtores não possuem dados anteriores e nem a especificação com cada sistema de cultivo. Muitos já estão fazendo este tipo de histórico, porém são dados recentes e o número de produtores ainda é pouco expressivo para a amostra.

Nas propriedades estudadas foram identificadas diferentes tipos de cultura. Sendo as mais comuns: cultura de verão soja, milho e algodão e conforme Tabela 2, a cultura de inverno é caracterizada pelo cultivo do milho, sorgo, girassol e milheto.

Tabela 2: Produção da safra de inverno a partir de 2002

Produção (Safra de inverno) SC

1997 1998 1999 2000 2001 2002

Milho Sorgo Girassol Feijão Trigo

145.660 430.890

304.296,4 12.100 1.946

Fonte: Prefeitura Municipal do Chapadão do Céu-GO, 2003. Adaptado pela autora. Os dados referentes a Tabela 3, relativos a área plantada, produção e produtividade

da safra de verão foram fornecidos pela prefeitura do Chapadão do Céu-GO. Pode-se observar nesta tabela que a área destinada ao plantio da soja sempre foi superior a área destinada ao plantio do milho. Isto se justifica, tendo em vista o sistema de comercialização deste produto permitir maior garantia de preço. Tabela 3: Área plantada com soja e milho no município de Chapadão do Céu

Área plantada (ha) ANO 96/97 97/98 98/99 99/2000 2000/01 2001/200

2 2002/200

3 Soja 56.241 80.448 60.612 67.425 62.696 92.733 76.517

Milho 51.384 32.008 44.301 44.082 53.350 29.412 45.548

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Fonte: Prefeitura Municipal do Chapadão do Céu-GO, 2003. Adaptado pela autora.

A Tabela 4 mostra uma tendência de aumento da produção de soja e milho, evidenciado crescimento ano a ano. Isto se deu pela abertura de novas áreas inexploradas e pela substituição de pastagens por lavouras.

Tabela 4: Tendência de crescimento da produção de soja e milho em Chapadão do Céu

Produção ANO 96/97 97/98 98/99 99/2000 2000/01 2001/2002 Soja (sc) 2.122.000 3.217.920 2.666.928 3.115.035 3.260.187 4.273.232

Milho (sc) 4.960.000 3.200.800 5.006.013 4.941.592 6.028.527 3.666.750 Fonte: Prefeitura Municipal do Chapadão do Céu-GO, 2003. Adaptado pela autora.

A Tabela 5 mostra que a produtividade da soja no período de estudo cresceu de 37

scs/ha na safra 96/97 para 52 scs/ha na safra 2000/2001. Porém, na safra 2001/2002, a produtividade caiu para 46,08 scs/ha. Sendo que isso ocorreu devido ao aparecimento da ferrugem nas lavouras da região. Os tratos culturais utilizados para a cultura de soja são predominantemente a dessecação, semeadura, aplicação de herbicida pré e pós-emergente, aplicação de inseticida (quando ocorre a incidência de pragas) e colheita. As máquinas e equipamentos utilizados são na grande maioria de potência média e alta e estão em bom estado de conservação. Tabela 5: Produtividade de soja e milho em Chapadão do Céu

Produtividade ANO 96/97 97/98 98/99 99/2000 2000/01 2001/2002

Soja (sc/ha)

37 40 44 46,2 52 46,08

Milho (sc/há)

100 100 113 112,1 113 124,6

Fonte: Prefeitura Municipal do Chapadão do Céu-GO, 2003. Adaptado pela autora.

Foi verificado que a cultura de soja é o principal objeto de exploração dos produtores da região, tanto que a rotação de cultura é mais utilizada para controle de doenças da soja.

4.5. Histórico do Plantio Direto na Região

O Sistema de Plantio Direto demorou a ser internalizado pelos produtores da região

do Chapadão do Céu-GO. De acordo com as informações dos agricultores e da Prefeitura Municipal, este sistema passou a ser adotado a partir de 1996 e evoluiu rapidamente graças a experiência de um grupo de agricultores familiarizados com o sistema de PD no Sul do país, e divulgação do sistema através de órgãos tais como: CAT (Clube dos Amigos da Terra), APDC (Associação de Plantio Direto no Cerrado), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Produtos Agropecuários).

A evolução do PD na região foi surpreendente, correspondendo no momento com cerca de 90% da área plantada, de acordo com os dados fornecidos pela prefeitura local.

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O município que foi criado em 1982 e emancipado em 1991 é, atualmente, um dos maiores produtores de grãos do estado de Goiás e tem forte vocação para o crescimento e desenvolvimento. Muitos agricultores já sabiam da existência do PD, pois imigraram da Região Sul para o Chapadão do Céu e esta prática é antiga na sua região de origem. Entretanto, eles creditavam que não fosse possível o PD na região por causa da diferença das condições climáticas.

A maioria dos agricultores pesquisados respondeu que não aplicaram antes este sistema por que até cerca de seis anos atrás estavam abrindo novas áreas. Para eles, estas novas áreas precisam passar antes pelo plantio convencional. Outro motivo mencionado pelos agricultores que ocasionou o atraso da adoção do PD foi a topografia da região, considerada muito plana. O que não trazia problemas imediatos com erosão.

A pesquisa também permitiu observar que o crescimento do cultivo da safrinha teve influência na adoção do plantio direto, uma vez que esta é plantada a medida que vai colhendo a safra de verão, sem o revolvimento da terra.

4.6. Principais Motivos da Adoção do Plantio Direto

A pesquisa mostrou que os principais motivos da adoção do PD na região do

Chapadão do Céu foram a redução da erosão e do custo de produção (36,8%), a redução da erosão, do custo de produção e a viabilização da safrinha (31,8%), a conservação de máquinas, a redução da erosão e do custo de produção (15,8%), e outros motivos (15,6%). O gráfico abaixo revela que as principais dificuldades encontradas no início do PD foram a obtenção de cobertura morta e o alto custo de herbicidas (47,4%), a obtenção de cobertura morta, o controle de plantas daninhas e as semeadoras (31,6%), a obtenção de cobertura morta e semeadora (15,7%) e outras dificuldades (5,3%).

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Gráfico 1: Principais dificuldades com adoção do PD

P R INC IP A IS D IF IC U LD AD E S C O M AD O Ç Ã O DO PD

47,7%

31,6%

15,7%

5,3%

O B T E N Ç Ã O D E C O B E R T U R A M O R T A E O A LT O C U S T O D E H E R B IC ID AS

O B T E N Ç Ã O D E C O B E R T U R A M O R T A , O C O N T R O L E D E P LA N T A S D A N IN H A S E A S S E M E A D O R A S

O B T E N Ç Ã O D E C O B E R T U R A M O R T A E S E M E A D O R A

O U T R A S D IF IC U LD A D E S Também foi constatado, através da pesquisa, que a principal cultura de verão é a

soja, respondendo em média por 55,8% da área plantada. Em segundo lugar o milho com 35% da área plantada, sendo que 37,3% dos agricultores responderam que utilizam esta cultura para controle de doenças (nematóide), conforme ilustra o Gráfico 2. Em terceiro lugar está o algodão ocupando em média 8,2% da área plantada, com uma tendência de aumento devido a melhoria do preço e alta produtividade obtida na região e 1,0% da área plantada com outras culturas.

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Gráfico 2: Principais culturas de Verão

PRINCIPAIS CULTURAS DE VERÃO

55.8%35.0%

8.2%1.0%

SOJA MILHO ALGODÃO OUTRAS CULTURAS

4.7. Aspectos Técnicos e Ambientais

Os principais aspectos técnicos e ambientais do PD que foram caracterizados na

pesquisa são: - Produtividade: 55,6% dos produtores rurais responderam que a produtividade permaneceu estável ao longo do período de adoção do PD, 44,4% respondeu que houve aumento da produtividade. Esta grande porcentagem de produtores com a produtividade estável justifica-se em função de terem adotado o PD recentemente, e o aumento da produtividade com este sistema ocorre ao longo dos anos. - Erosão: 78,2% dos agricultores enfrentaram problemas com erosão antes da adoção do sistema e 21,8% dos entrevistados não tiveram este problema. A parcela que respondeu não terem problema com erosão se justifica, tendo em vista que a região é muito plana, havendo pouca área com declividade ocupada com agricultura. Após a adoção do PD, o número de produtores que não possuem problemas com erosão subiu para 88,3%, persistindo apenas 11,7% com problemas de erosão.

Apesar do resultado do questionário ter apresentado dados expressivos em relação ao controle da erosão, através da observação durante o período da pesquisa foi possível constatar que o uso de gradagem e niveladora no cultivo de algodão, descompactação de solo, plantio de milheto e controle de várias espécies de capins é bastante comum. Este revolvimento do solo, com a ocorrência das chuvas, causa a chamada “erosão laminar”, lavando a camada superficial do solo. Isto não é percebido pelo agricultor, pois neste caso não aparecem sulcos na terra. Os efeitos aparecem no decorrer do tempo com a perda de fertilidade do solo e conseqüentemente maiores gastos para reposição de nutrientes. - Rotação de Cultura: apesar dos agricultores terem demonstrado interesse em fazer rotação de cultura, foi observado que a rotação de cultura é utilizada quando ocorre o aparecimento de doenças na soja, conforme discutido anteriormente, e esta rotação tem

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sido utilizada com soja, milho e algodão. Isto torna-se preocupante, pois a prática da monocultura possibilita um aumento da incidência de pragas e doenças e maior degradação do solo. Quanto à rotação agricultura-pecuária (Sistema Santa Fé), observou-se que somente 8% adotam, mas 92% dos entrevistados disseram que desejam adotar em breve. - Cobertura de inverno e manutenção da cobertura morta: a pesquisa permitiu observar, que nos últimos anos, em média 30% dos agricultores utilizam a safra de inverno visando a safrinha e a formação de cobertura morta. O restante (70%) deixa a área em pousio. As culturas mais utilizadas como cultura de inverno são o milho, sorgo, girassol e milheto. A opção de escolha de plantio dentre estas culturas vai depender das tendências de mercado. A principal dificuldade levantada foi o término das chuvas, tanto que a maioria prefere não arriscar. - Formação de palhada com plantas daninhas: Não foi possível identificar nenhum caso de agricultores que utiliza a formação de palhada com plantas daninhas. As pessoas entrevistadas mostraram-se bastante “arredias” em relação a esta prática. Quanto ao manejo destas plantas, no caso das gramíneas, a prática mais utilizada é a gradagem. - Aspectos fitossanitários: Com relação ao aumento de ervas daninhas e outras pragas de solo 72,2% dos agricultores queixaram-se do aumento destas pragas e, conseqüentemente o aumento do consumo de herbicidas. Conforme informação de vários agrônomos da região, o aumento de plantas daninhas ocorre em parte pela utilização dos mesmos herbicidas todos os anos, fazendo com que estas plantas se tornem resistentes ao produto, reproduzindo-se e infestando toda a área. Outra causa desta evolução é a pratica da monocultura, ocasionando seleção de pragas e doenças. As plantas daninhas mais elencadas pelos produtores foram: os vários tipos de capins, o leiteiro, o picão e a corda de viola. Outras pragas de solo que constituíram as principais queixas foram com relação ao coro, também conhecido como bicho-bolo ou pão de galinha, cujas larvas danificam as sementes após o plantio, e ao percevejo castanho que pode atacar várias culturas, mas na região esta queixa se refere a cultura de soja. Outra grande preocupação dos produtores de soja é a ferrugem. Tanto que na safra 2001/2002 houve uma queda de produtividade na região em relação a safra 2000/2001 de 6 (seis) sacas por hectare, quando o histórico da produtividade vinha aumentando em média de 3 (três) a 4 (quatro) sacas por hectare de um safra para outra. Para a safra 2002/2003 espera-se uma queda ainda maior devido ao aparecimento deste fungo. - Uso de Semeadoras: com relação ao uso de semeadoras, 71,2% dos agricultores disseram estar contentes com o desempenho das máquinas utilizadas e 28,8% responderam não estar satisfeitos com o desempenho.

Diante destas considerações, pode-se afirmar que os principais fatores indutores do PD, no Chapadão do Céu, foi a redução da erosão e a redução dos custos de produção, graças a conscientização implementada pelos órgãos já mencionados. Atualmente o produtor rural está mais consciente do seu papel na preservação do meio ambiente, e ele sabe que o SPD é economicamente mais rentável que o plantio convencional.

As principais dificuldades relatadas pelos agricultores foram o controle de pragas e doenças, alto custo dos herbicidas e obtenção de cobertura morta. Quanto a obtenção da cobertura morta, conforme contato por telefone em 09/09/2003 com técnico da EMBRAPA, o fator climático (inverno seco e relativamente quente) na região de cerrados, restringe a formação de palhada. Porém, foi observado no decorrer da pesquisa que muitos agricultores utilizam a gradagem para controle de plantas daninhas, para descompactação do solo (de 2 em 2 anos ou de 3 em 3 anos), para plantio de algodão e usam a niveladora

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para semear milheto. Estas práticas eliminam por completo a cobertura morta antes existentes e põe fora todo o esforço para obtenção de matéria orgânica.

V. CONCLUSÃO

Este trabalho permitiu, através da pesquisa de campo e dos dados fornecidos pela

prefeitura, analisar o sistema de plantio direto utilizado por 41 produtores do município do Chapadão do Céu-GO e discutir os pros e contras para o meio ambiente e para o próprio produtor. A partir das entrevistas, percebeu-se que os produtores que estão utilizando esse sistema por um período superior a quatro anos estão satisfeitos e falam com entusiasmo sobre a experiência. Os produtores que estão iniciando o cultivo com o sistema demonstram estar esperançosos, mas ainda reticentes e com dúvidas.

Quando questionados sobre as vantagens do plantio direto em relação ao convencional, todos acreditam que elas existem, mas destacaram apenas aspectos de cunho agronômico, afirmando que não fazem controle para saber se houve alterações nos custos de produção e na rentabilidade da lavoura.

Quanto ao aspecto ambiental, todos os entrevistados foram unânimes em dizer que conhecem e entendem as vantagens para o meio ambiente, mas justificam o uso da gradagem e/ou nivelamento como uma prática ainda necessária na região. Quando os produtores foram indagados sobre as experiências de agricultores de outras regiões precursoras do plantio direto, como o sul do país e na região de Rio Verde que adotam o sistema conforme recomendado, eles demonstraram não acreditar que isto seja verdade.

Isto de certa forma torna-se preocupante, pois segundo informações da APDP (Associação de Plantio Direto na Palha), no ano de 2003 cerca de 1,5 milhão de hectares de soja no Brasil foram plantados sobre capim brachiária. Os produtores se mostraram céticos em relação a esta prática, demonstrando desta forma uma necessidade de maior conscientização e difusão do sistema de PD na região.

Outra prática de PD pouco conhecida na região é a integração agricultura/pecuária que é muito utilizado para recuperação de solos degradados. Os preços da comercialização da pecuária, pouco atraentes por vários anos, fizeram com que os proprietários rurais da região se voltassem totalmente para lavoura, desacreditando da possibilidade de ganho com a pecuária. A medida que este sistema for difundindo, com certeza haverá maior adesão dos agricultores.

No que se refere a produtividade, foi possível observar que houve ganhos de produtividade ao longo dos anos. Porém, não foi possível creditar esta informação ao sistema de plantio direto por falta de dados comprobatórios. Os agricultores afirmaram na entrevista que o aumento teve como causa em parte às inovações tecnológicas e a seleção de sementes e em outra parte à adoção do plantio direto.

A soja apresentou resultados mais significativos em termos de disponibilidade de informações sobre a cultura e constitui a maior preocupação dos agricultores em relação ao aparecimento de pragas e doenças, pois esta predomina na ocupação da área. Isto se justifica pelo fato de ser cultivada em todas as propriedades e pela expectativa de ganho, possibilidade de garantia de preços e ainda por que esta cultura constitui uma moeda paralela que é utilizada para compra de insumos e vários outros negócios relativos a bens imóveis na região.

5.1. Recomendações para Futuras Pesquisas

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As limitações e o desconhecimento do agricultor em relação aa práticas de cultivo também servem de alerta para as instituições que incentivam o plantio direto e priorizam o campo técnico-agronômico, ainda muito carente de mais informações, e não dando importância a viabilidade econômica das técnicas desenvolvidas. É de fundamental importância que novas tecnologias, novas espécies, enfim, que os avanços sejam justificados pela viabilidade econômica e que o produtor tenha um controle histórico de sua evolução. É estéril apresentar ao produtor insumos e outros avanços tecnológicos que irão propiciar uma alta produtividade se não garantir ao produtor um retorno mínimo que irá permitir estabelecer sua margem de lucratividade. Portanto, mais atenção deve ser colocada no sentido de criar uma cultura de controle mais eficaz para o produtor.

O que se pode verificar ao longo da pesquisa é que houve aumento de produtividade e maior controle de erosão nas culturas de soja e milho na maioria das propriedades estudadas. Mesmo assim, não se verificou em todas. Pelas características da pesquisa (dados secundários, questionário/entrevista, tempo disponível etc) não se pode afirmar que os avanços verificados se devem exclusivamente a adoção do plantio direto. Tão pouco é possível fazer generalizações sobre os resultados encontrados, e tomá-los como verdadeiros para qualquer lavoura.

O que se pode afirmar é que os indicativos existem, e para estes produtores pesquisados o retorno econômico aumentou, houve uma expressiva melhoria no controle de erosão, o produtor está sensibilizado quanto as questões ambientais e o otimismo com a adoção da técnica do SPD está contagiando cada vez mais as pessoas. No entanto, se faz necessário a realização de novas pesquisas com vistas a um acompanhamento histórico evolutivo, para que seja possível fazer comparações e análises mais detalhadas. Também é de igual importância o acompanhamento e estudo do sistema agrário, sistema de produção e sistema de cultivo de forma integrada e abrangente para não se incorrer em conclusões viesadas e parciais.

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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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