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1 A Institucionalização do Português Língua Não Materna em Portugal Alexandre Dias Pinto Centro de Estudos de Comunicação e Cultura Universidade Católica Portuguesa Introdução Enquanto área de ensino e área de estudos, o Português Língua Não Materna (PLNM) é uma criação recente nos meios escolar e universitário portugueses. De forma mais sistemática, começou a estruturar-se, em Portugal, por volta dos anos oitenta, recebendo inicialmente ora a designação de Português Língua Estrangeira ora de Português Língua Segunda. Tal não significa que antes dessa década não se leccionasse o nosso idioma a alunos estrangeiros; nem significa que não houvesse estudos e ensaios de reflexão no âmbito desta área didáctica (cf. Quintela, 1963; Roche, 1967; Barreto, 1968; Fonseca, 1973) ou que não tivessem já aparecido materiais de ensino como manuais ou livros de exercícios (cf. Silva, 1976). No entanto, o PLNM não estava ainda estruturado e não tinha a robustez necessária para se constituir como área didáctica. Faltavam-lhe um lastro teórico e metodologias sistematizadas; faltavam os estudos de caso; faltavam instrumentos de ensino em quantidade e de qualidade necessárias. Ora, só quando a investigação e a prática lectiva começam a desenvolver-se de forma mais organizada e sistemática, o que acontece a partir da década de oitenta do século XX, podemos considerar que o caminho para a institucionalização do PLNM se inicia. É este o assunto que pretendo abordar no presente ensaio. Parto de uma questão com duas vertentes paralelas: por que razão é necessário institucionalizar o PLNM e como se tem desenrolado o processo de institucionalização desta área? Traduzo noutras palavras. Se a constituição oficial da disciplina (escolar e académica) de PLNM serve uma (ou mais) finalidade(s), que finalidade(s) é(são) essa(s)? Por outro lado, que mecanismos foram postos em marcha para edificar esta área de estudos? Serão estas as perguntas a que procuro em seguida dar resposta. Este texto pretende ser uma análise do desenvolvimento do PLNM em Portugal no último quarto de século e não uma história da disciplina. O meu propósito é reflectir sobre a institucionalização deste domínio didáctico e não cartografar o seu percurso nem os estudos e os projectos que contribuíram para esse processo. Daí que os exemplos que

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    A Institucionalizao do Portugus Lngua No Materna em Portugal

    Alexandre Dias Pinto

    Centro de Estudos de Comunicao e Cultura Universidade Catlica Portuguesa

    Introduo

    Enquanto rea de ensino e rea de estudos, o Portugus Lngua No Materna

    (PLNM) uma criao recente nos meios escolar e universitrio portugueses. De forma

    mais sistemtica, comeou a estruturar-se, em Portugal, por volta dos anos oitenta,

    recebendo inicialmente ora a designao de Portugus Lngua Estrangeira ora de

    Portugus Lngua Segunda. Tal no significa que antes dessa dcada no se leccionasse

    o nosso idioma a alunos estrangeiros; nem significa que no houvesse estudos e ensaios

    de reflexo no mbito desta rea didctica (cf. Quintela, 1963; Roche, 1967; Barreto,

    1968; Fonseca, 1973) ou que no tivessem j aparecido materiais de ensino como

    manuais ou livros de exerccios (cf. Silva, 1976). No entanto, o PLNM no estava ainda

    estruturado e no tinha a robustez necessria para se constituir como rea didctica.

    Faltavam-lhe um lastro terico e metodologias sistematizadas; faltavam os estudos de

    caso; faltavam instrumentos de ensino em quantidade e de qualidade necessrias. Ora,

    s quando a investigao e a prtica lectiva comeam a desenvolver-se de forma mais

    organizada e sistemtica, o que acontece a partir da dcada de oitenta do sculo XX,

    podemos considerar que o caminho para a institucionalizao do PLNM se inicia.

    este o assunto que pretendo abordar no presente ensaio. Parto de uma questo

    com duas vertentes paralelas: por que razo necessrio institucionalizar o PLNM e

    como se tem desenrolado o processo de institucionalizao desta rea? Traduzo noutras

    palavras. Se a constituio oficial da disciplina (escolar e acadmica) de PLNM serve

    uma (ou mais) finalidade(s), que finalidade(s) (so) essa(s)? Por outro lado, que

    mecanismos foram postos em marcha para edificar esta rea de estudos? Sero estas as

    perguntas a que procuro em seguida dar resposta.

    Este texto pretende ser uma anlise do desenvolvimento do PLNM em Portugal

    no ltimo quarto de sculo e no uma histria da disciplina. O meu propsito reflectir

    sobre a institucionalizao deste domnio didctico e no cartografar o seu percurso nem

    os estudos e os projectos que contriburam para esse processo. Da que os exemplos que

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    apresentarei e os casos que mencionarei no sero exaustivos; so exemplos que servem

    a demonstrao que fao.

    Mais uma palavra ainda na definio do objecto e dos objectivos deste ensaio.

    Tendo em conta que o PLNM se tem desenvolvido autonomamente em Portugal e no

    Brasil, o caso portugus que aqui analiso. De igual modo, o escopo deste ensaio no

    me permitir debruar-me sobre o ensino da lngua e cultura portuguesas em

    universidades e escolas estrangeiras, embora a ele se faa aluso.

    I. Para qu a institucionalizao do PLNM?

    O PLNM desenvolveu-se com base numa necessidade dupla, de cariz social,

    cultural e at poltico (ou, se preferirmos, geoestratgico). Por um lado, a chegada a

    Portugal de um nmero elevado de cidados estrangeiros cujo idioma materno no era o

    portugus exigiu que se multiplicasse a oferta de aulas de lngua portuguesa

    direccionadas a esse pblico. Essa exigncia levou, como veremos, ao desenvolvimento

    dos meios e dos instrumentos de ensino. Por outro lado, o PLNM tem tambm uma

    misso internacional: leccionar portugus nas universidades e escolas espalhadas pelo

    mundo a alunos cuja lngua materna no o portugus ou que tiveram uma aquisio

    frgil e deficitria do portugus como lngua materna o caso de alguns filhos de

    emigrantes lusfonos. Se a primeira vertente social e cultural, a segunda uma misso

    cultural e poltica (ou geoestratgica): trata-se de divulgar a lngua e a cultura

    portuguesas internacionalmente e de afirmar a posio de Portugal no mundo. Ficou

    dito na introduo que este ltimo caso no aqui o objecto da minha anlise.

    Afirmei num outro ensaio (cf. Pinto, 2006) que a lngua o passaporte que nos

    permite o ingresso e a integrao numa comunidade, quer sejamos cidados autctones

    quer sejamos oriundos de outro Estado. Se no dominarmos bem o idioma, essa

    integrao no ser plena. Concomitantemente, s atravs do bom uso da lngua

    conseguimos um exerccio satisfatrio da nossa cidadania. Para nos relacionarmos com

    os outros, para sabermos fazer valer os nossos direitos e os nossos interesses e para

    negociarmos as nossas posies necessitamos de usar com correco e destreza o cdigo

    lingustico. Tambm necessitamos dessa competncia para compreendermos e para

    desmontarmos criticamente os discursos que circulam na sociedade e que tantas vezes

    abrem armadilhas diante dos nossos ps: penso nos discursos dos media, da publicidade,

    da poltica, entre outros. Nos casos que apresentei se demonstra pois que lngua e

    cidadania esto umbilicalmente ligadas e so indissociveis.

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    No entanto, sendo um dos mais belos pilares da cultura de um povo, a lngua

    pode tambm ser, por outro lado, um elemento gerador de injustia e de privao de

    direitos cvicos. Esta uma ambivalncia que tem de sensibilizar aqueles que amam o

    seu idioma materno. O uso pouco proficiente (aos nveis pragmtico, lexical, sintctico,

    etc.) do idioma pode minar ou debilitar o exerccio satisfatrio da cidadania. A falta de

    destreza na manipulao do cdigo lingustico conduz, na vivncia quotidiana, a uma

    perda de direitos. A lngua pode tornar-se um factor de despromoo social e privar um

    cidado de um direito ou incapacit-lo para negociar ou reivindicar a sua posio e os

    seus interesses. Alm disso, a lngua tambm um factor de discriminao e de

    segregao do estrangeiro ou daquele que diferente. E pode mesmo constituir um

    factor ainda mais determinante que o da cor da pele ou da religio no acto

    discriminatrio, porque pode ferir, ofender e maltratar. A ambivalncia da linguagem

    superiormente enunciada no famoso poema As palavras, de Eugnio de Andrade

    (2000: 88), cuja primeira estrofe aqui transcrevo:

    So como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incndio. Outras, orvalho apenas. ()

    Sublinho aqui a imagtica da dimenso violenta das palavras, mas tambm a

    ambivalncia dada pelo cristal, cujas faces refractam e reflectem a luz, mostrando os

    vrios usos que as palavras podem ter. A culpa do uso discriminatrio e ofensivo da

    lngua no , certamente, da prpria lngua, bem entendido, mas da utilizao que dela

    feita. O idioma factor de discriminao por culpa daqueles que tm inteno de

    ostracizar e de segregar o outro, o estrangeiro, mesmo que (e sobretudo se) o suposto

    estrangeiro for um de ns que, por algum trao identitrio racial, religioso, cultural ou

    mesmo nacional1 , diferente.

    Est certamente o leitor a entrever como esta ideia se liga questo da

    institucionalizao do PLNM. Desde 1975, por altura da descolonizao dos territrios

    africanos, tm afludo a Portugal, em nmero considervel, cidados de outras naes,

    de outras raas, de outras culturas. O afluxo inicial foi constitudo por indivduos dos

    chamados Pases de Lngua Oficial Portuguesa, ou seja, cidados provenientes de pases

    em que o portugus lngua oficial. No entanto, nesses pases o idioma de Cames no

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    a nica lngua usada na comunicao oral e escrita; e em alguns desses Estados,

    aqueles para quem o portugus a lngua materna so uma minoria. Tal significa que a

    vivncia familiar, escolar e social de muitos daqueles que chegam a Portugal para aqui

    viverem no se processava antes predominantemente em portugus. Consequentemente,

    o seu domnio do idioma limitado e deficitrio e, ao imigrar para Portugal, as

    dificuldades de integrao far-se-o sentir. Penso em imigrantes moambicanos,

    angolanos, guineenses, cabo-verdianos e timorenses cuja lngua materna no o

    portugus.

    Por situao semelhante passam os cidados que, oriundos de pases que

    emergem da desintegrao da antiga Unio Sovitica, entraram em Portugal (e no

    sistema escolar pblico) sem dominar a lngua portuguesa. Esta vaga de imigrantes

    iniciou-se mais tarde que o afluxo de cidados africanos. Como aconteceu a alguns

    indivduos oriundos dos PALOP, tambm estes se debatem com acrescidos problemas

    de integrao e de exerccio da cidadania enquanto no alcanarem um domnio

    satisfatrio do portugus. (Digo acrescidos problemas porque infeliz e injustamente se

    debatero com outros problemas de discriminao provocados pelo egosmo e/ou pela

    estupidez dos homens.) Urge, pois, para o bem desses cidados que chegam ao nosso

    pas e em prol da estabilizao e da consolidao do tecido social, ensinar-lhes a lngua

    portuguesa e familiariz-los com a nossa cultura, sem lhes pedir que abdiquem da sua

    lngua e da sua cultura. Esta a justificao sociolgica para a necessidade de se

    disseminar o ensino/aprendizagem do PLNM no territrio nacional. A par dela, e

    intimamente ligadas a ela, existem as razes humanitrias e humanistas: o dever de

    um Estado proporcionar as condies necessrias que levem a uma integrao

    harmoniosa e satisfatria daqueles que nele vivem e trabalham.

    Foi j neste sculo que o Ministrio da Educao reconheceu oficialmente que a

    lngua portuguesa tinha de ser ensinada enquanto idioma no materno aos alunos

    estrangeiros que chegavam ao nosso pas; e que havia que recorrer a metodologias e

    instrumentos prprios da didctica das lnguas no maternas para esse fim. At ento,

    era deixada a cada escola a iniciativa de encontrar solues para estes alunos. Face a

    casos de aprendentes dos nveis inicial e intermdio (alunos do tipo A1, A2 e B1, de

    acordo com o Quadro Europeu Comum de Referncias para as Lnguas), para quem a

    comunicao em lngua portuguesa era muito difcil ou de todo impossvel, as escolas

    havia que apenas disponibilizavam a aula semanal de Apoio Pedaggico Acrescido

    (cinquenta minutos!) para dar resposta a necessidades educativas urgentes que aqueles

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    alunos tinham. Esse apoio revelava-se insuficiente. Outras escolas ofereciam uma

    formao de PLNM mais estruturada, de vrias horas semanais. Com os Despachos

    Normativos nmero 7 de 2006 (de 6 de Fevereiro) e nmero 30 de 2007 (de 10 de

    Agosto) do Ministrio da Educao (2006; 2007), oficializa-se a presena do PLNM no

    currculo dos Ensinos Bsico e Secundrio. Segundo esta legislao, os alunos dos

    nveis inicial e intermdio (B1) de PLNM do Ensino Bsico vero as aulas das reas

    no-curriculares (Estudo Acompanhado, rea Projecto e Formao Cvica) substitudas

    por aulas para trabalho especfico de desenvolvimento das competncias do Portugus

    no Ensino Bsico. No Ensino Secundrio, os alunos dos nveis inicial e intermdio (B1)

    frequentam aulas de PLNM equivalente[s] disciplina de Portugus, com trs

    unidades lectivas semanais de noventa minutos. A deciso de criar o espao lectivo de

    Portugus Lngua No Materna nos Ensinos Bsico e Secundrio uma medida justa e

    fundamental, que s peca por tardia. J h muito ela devia ter sido iniciada, tendo em

    conta que, ao longo de vrios anos, milhares de alunos chegaram ao sistema de ensino

    portugus sem falar uma nica palavra da nossa lngua e eram incorporados em turmas

    do ensino regular para seguir aulas das diversas disciplinas leccionadas numa lngua que

    lhes era de todo desconhecida. O nmero elevado de situaes como esta e as injustias

    que se geraram foraram o Ministrio da Educao a introduzir a disciplina de PLNM

    nas escolas.

    Alm de consagrar este novo espao lectivo, o Ministrio da Educao

    promoveu a elaborao de dois documentos onde se definem objectivos, contedos e

    metodologias a seguir no ensino/aprendizagem de PLNM. Esses documentos so:

    Portugus Lngua No Materna no Currculo Nacional: Documento Orientador

    (Perdigo, 2005) e Linhas Orientadoras para o Trabalho Inicial em Portugus Lngua

    No Materna Ensino Secundrio (2007). No incio do primeiro destes documentos,

    justifica-se a presena do PLNM no currculo nacional referindo que esta resulta da

    nova realidade social e representa o papel da Escola na integrao social dos alunos.

    Leiamos as palavras escritas em Portugus Lngua No Materna no Currculo Nacional:

    Documento Orientador. As mudanas ocorridas na sociedade portuguesa nas ltimas dcadas, resultado

    de movimentos migratrios, colocam s escolas constantes desafios que, num esforo suplementar, procuram fazer da diversidade um factor de coeso e de integrao. A heterogeneidade sociocultural e a diversidade lingustica dos alunos representam uma riqueza que necessita de condies pedaggicas e didcticas

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    inovadoras e adequadas para a aprendizagem da lngua portuguesa em todas as reas do saber e da convivncia.

    Numa sociedade multicultural como a nossa, o reconhecimento e o respeito pelas necessidades individuais de todos os alunos em contexto de diversidade e pelas necessidades especficas dos alunos recm-chegados ao sistema educativo nacional devem ser assumidos como princpio fundamental na construo de projectos curriculares adequados a contextos de diversidade cultural e que assegurem condies equitativas de acesso ao currculo e ao sucesso educativo. Os projectos curriculares devero conter orientaes especficas sobre a planificao do ensino e aprendizagem de Portugus lngua no materna [sic], bem como estratgias e materiais.

    A escola o espao privilegiado para desenvolvimento da integrao social, cultural e profissional das crianas e jovens recm-chegados. O seu sucesso escolar, intrinsecamente ligado ao domnio da lngua portuguesa, o factor essencial desta integrao. Assegurar uma integrao eficaz e de qualidade um dever do Estado e da Escola. (Perdigo, 2005: 3)

    Nesta primeira parte do ensaio procurei responder primeira questo colocada:

    por que necessria a institucionalizao do PLNM? Sintetizo a resposta que dei:

    porque existe uma necessidade (sobretudo de ordem social) de se ensinar a lngua

    portuguesa queles que, sendo oriundos de outros pases, vm residir para e trabalhar no

    nosso pas. Para que a integrao desses cidados seja bem sucedida, para que possam

    exercer satisfatoriamente a cidadania e para se garantir a estabilidade social,

    importante que se lhes proporcione um ensino eficaz da lngua portuguesa, com meios e

    metodologias prprias e de qualidade.

    Veremos agora como se tem processado a institucionalizao do PLNM.

    II. O caminho para a institucionalizao do PLNM

    Para uma rea de estudos se institucionalizar, tem de reunir um corpo slido de

    estudos tericos bem como um conjunto de estudos terico-prticos (como estudos de

    caso, mas no s) e de projectos de investigao que permitam uma evoluo dos

    conhecimentos sobre o seu campo de trabalho. Tratando-se de um domnio vocacionado

    para a formao, necessrio que o sistema de ensino esteja organizado e que se

    produzam materiais e instrumentos didcticos em quantidade e diversidade suficientes

    de forma a satisfazer as necessidades de professores e alunos.

    Com vista sua consolidao como rea de estudos e rea de ensino, o PLNM

    tem-se desenvolvido gradualmente e de forma segura nos ltimos vinte e cinco anos. A

    investigao tem avanado e o nmero de estudos terico-prticos vai crescendo. Os

    professores e investigadores tm produzido instrumentos e materiais didcticos para

    aqueles que querem aprender o portugus como lngua estrangeira. A acompanhar este

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    processo est uma prtica docente que se tem expandido nas ltimas duas dcadas,

    muito por fora das necessidades: a procura fez com que a oferta aumentasse.

    No entanto, o PLNM debateu-se com uma dificuldade inicial, que entretanto

    ultrapassou. Para marcar a sua autonomia e a sua identidade, comeou por ter de se

    diferenciar da Didctica do Portugus Lngua Materna, sem desta se divorciar

    completamente. Embora no tenha existido uma luta sororicida entre as duas reas, h

    um processo de autonomizao em curso, na medida em que o PLNM tem procurado

    afirmar uma natureza e uma vocao prprias bem como reivindicar metodologias e um

    objecto de estudo especificamente seus. As duas reas partilham um vasto campo do

    grande territrio da didctica das lnguas, da lingustica e da psicolingustica. Partilham

    tambm domnios tericos comuns; mas as teorias aprofundam-se depois em objectos

    de estudo e em metodologias diferentes.

    o desenvolvimento da investigao, dos instrumentos didcticos e da prtica

    lectiva do PLNM no ltimo quartel que aqui procuro caracterizar breve e criticamente

    (mas no de uma modo exaustivo) de forma a analisar o processo de autonomizao e

    de institucionalizao que esta rea didctica em trilhado.

    Teoria e investigao

    Qualquer disciplina, por muito pragmtica que seja a sua vocao (como

    acontece com o PLNM, cujo propsito central orientado para o ensino), necessita de

    uma fundamentao terica, de uma base cientfica que a sustente. A teorizao e a

    investigao so vertentes fundamentais para a institucionalizao da rea. E o PLNM

    tem progredido consideravelmente nesse domnio, munindo-se de teorias, de reflexes

    crticas, de estudos de caso e de anlises do processo de ensino/aprendizagem. certo

    que grande parte da teoria que estrutura o PLNM provm de outras reas, tendo a

    lingustica, a psicolingustica e a didctica das lnguas um papel de destaque. A

    didctica das lnguas a grande esfera em que o PLNM se inscreve, e as propostas

    tericas em que este se inspira so fundamentalmente avanadas por autores

    estrangeiros. Tal facto no nos deve surpreender, tendo em conta que as didcticas das

    lnguas inglesa e francesa (como lnguas no maternas) tm uma tradio mais antiga do

    que a sua congnere portuguesa. No entanto, so os autores nacionais que tm elaborado

    os estudos de caso e os trabalhos de investigao/aco aplicados ao

    ensino/aprendizagem do portugus. Em Portugal, os estudos terico-prticos de PLNM

    tm sido desenvolvidos essencialmente em dois terrenos: na universidade e nas escolas

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    e sobretudo na colaborao entre ambos os terrenos. Como nota muito positiva

    destaque-se que a investigao se tem revelado importante para a construo de

    materiais. No entanto, muitos dos instrumentos didcticos so ainda elaborados com

    base na experincia emprica, ignorando o conhecimento terico, a investigao que se

    faz e as mais recentes propostas metodolgicas. E isso ainda uma prova da falta de

    maturidade da rea.

    Quanto ao enquadramento institucional, o facto de as Faculdades de Letras (ou

    de Cincias Sociais e Humanas) das mais prestigiadas universidades portuguesas terem

    desenvolvido investigao em PLNM significa que o meio acadmico reconheceu a

    importncia deste campo de estudo e lhe conferiu validade cientfica. Algumas Escolas

    Superiores de Educao, como as de Lisboa e de Setbal, tm tambm feito trabalho de

    qualidade. De instituies como a Faculdade de Letras de Lisboa, de Coimbra e do

    Porto tm sado teses de Mestrado e Doutoramento, que, mais directamente ou de forma

    mais lateral, se inscrevem no mbito do PLNM; mas o seu nmero ainda reduzido em

    comparao com o de outras reas da Didctica e da Lingustica.2 A par destes trabalhos

    acadmicos, desenvolvem-se, nos meios universitrios, projectos de diferentes tipos e

    com enquadramentos diversificados, alguns em estreita ligao com as escolas.3 Outros

    estudos so de iniciativa individual de docentes e de investigadores. Tendo em conta o

    interesse crescente que esta rea de estudos tem despertado no meio universitrio e entre

    os alunos de ps-graduao, temos que concluir que, no mbito da investigao, o

    PLNM uma rea em crescimento, mas que necessita de multiplicar os estudos e os

    projectos que desenvolve. Necessita tambm de cativar mais investigadores para

    trabalharem em projectos deste domnio didctico. A ligao entre trabalho de

    investigao e a prtica lectiva comprovada pelo facto de grande parte dos trabalhos

    acadmicos serem estudos de investigao/aco, estudos em que se analisam os meios

    usados, a articulao entre o ensino do PLNM e a lingustica ou que se debruam sobre

    metodologias de ensino.

    No entanto, se a investigao, em articulao mais ou menos prxima com a

    prtica lectiva, gera estudos, resultados e produtos, o nmero de fruns cientficos e de

    encontros acadmicos onde a comunidade de investigadores e de professores de PLNM

    possa debater e divulgar os seus estudos e a sua experincia lectiva reduzido. Numa

    base regular, existe apenas um congresso bienal dedicado ao PLNM, que organizado

    pela Associao de Professores de Portugus. Ainda assim, como o PLNM se cruza com

    a lingustica e a didctica, outros encontros cientficos integram painis e comunicaes

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    de Didctica do Portugus para alunos estrangeiros o mais importante o encontro

    anual da Associao Portuguesa de Lingustica. Em 1983, organizou-se em Lisboa o

    importante Congresso sobre a Situao Actual da Lngua Portuguesa no Mundo, onde a

    questo do ensino do portugus foi discutida. J em Maio de 1991, decorreu em Macau

    um encontro de trs dias intitulado Portugus como Lngua Estrangeira, para seis anos

    depois se realizar, no mesmo territrio, o Seminrio Internacional de Portugus como

    Lngua Estrangeira.4

    Existem tambm peridicos acadmicos que, de forma mais ou menos especfica,

    se debruam sobre o PLNM; mas tambm aqui o nmero escasso. De periodicidade

    irregular, O Idiomtico5 (com o subttulo de Revista Digital de Didctica do PLNM)

    publicado on-line pelo Instituto Cames, encontrando-se disponvel no stio do Centro

    Virtual Cames. Outras revistas cientficas vo tambm divulgando estudos no mbito

    do PLNM sem ter uma vocao exclusiva para esta rea. Penso no Boletim de Filologia,

    no peridico Palavras (da Associao de Professores de Portugus), na revista Noesis,

    do Ministrio da Educao, e na Revista Internacional da Lngua Portuguesa. A ltima

    dedicou um dossi ao PLNM no seu terceiro nmero, de 1990, enquanto no nmero 51

    da Noesis (de 1999) saiu uma seco com um conjunto de textos sobre esta rea de

    ensino. Em outras publicaes peridicas de universidades e dos institutos politcnicos

    portugueses vo aparecendo artigos de investigao realizados no mbito do portugus

    ensinado como lngua estrangeira.

    Nesta escassez de pontos de encontro, de fruns de divulgao de

    conhecimentos e experincias e de bancos de materiais, a Internet tem sido o grande

    plo aglutinador do trabalho e da ateno dos investigadores e docentes. medida que

    tem crescido, o PLNM tem sabido tirar partido deste poderoso instrumento de

    comunicao. Assim, em Portugal, o Centro Virtual Cames (do Instituto Cames) e o

    stio da Direco-Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular do Ministrio da

    Educao disponibilizam para alunos e professores informao, instrumentos didcticos

    e at formao de PLNM. Por outro lado, no stio do Yahoo, existe um grupo de

    discusso de PLNM, embora funcione mais como um painel de pedidos de ajuda e de

    anncios (de cursos, livros de didctica, etc.) do que como um real frum de troca de

    ideias e de experincia.

    Ensino do PLNM e formao de Professores

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    O PLNM nasceu com uma funo eminentemente prtica: ensinar o portugus a

    alunos para quem este no o idioma materno. esta a sua principal vocao. A

    reflexo terica e a produo de instrumentos didcticos (de que falarei em seguida) so

    actividades complementares cujo papel servir o ensino/aprendizagem da lngua,

    explicando como se processa a aprendizagem, propondo metodologias e criando

    ferramentas de ensino.

    O processo de institucionalizao avana com o aumento progressivo do nmero

    de cursos de PLNM. Em diferentes pontos do pas, vrias instituies de ensino e

    instituies de interveno social esto a leccionar portugus a estrangeiros. Ao nvel do

    ensino superior, as Faculdades de Letras de universidades pblicas, como as de Lisboa,

    Coimbra e Porto, oferecem cursos de PLNM. O pblico-alvo dos cursos das

    universidades pblicas constitudo pelos alunos estrangeiros que estudam lngua e

    cultura portuguesas ao nvel do ensino superior, da mesma forma que o so as aulas de

    lngua e cultura portuguesa em universidades estrangeiras.6 J os cursos das

    universidades privadas (por exemplo, das Universidades Autnoma e Independente) se

    destinam a um pblico mais generalizado. Para este existem tambm cursos que vo ao

    encontro das necessidades dos falantes e cobrem diferentes nveis de domnio

    lingustico. Alguns desses cursos so leccionados em escolas bsicas e secundrias,

    outros em instituies de interveno social, como o Alto Comissariado para a

    Imigrao e o Dilogo Intercultural (ACIDI), a Associao Guineense e Povos Amigos

    (AGUIPA), o Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) ou a AMI. Estes cursos

    partilham uma caracterstica: so movidos pelo esprito solidrio de contribuir, atravs

    do ensino da lngua portuguesa, para a integrao social do cidado de origem

    estrangeira que reside em Portugal. Por isso, as aulas so tendencialmente gratuitas (ou

    exigem o pagamento de um valor simblico) e so ministradas em horrio ps-laboral

    e/ou aos fins-de-semana. Com fins lucrativos (legtimos), tambm as escolas de lnguas

    leccionam PLNM; e o nmero de escolas de lnguas que oferece estes cursos

    significativo. O pblico a que se destina tendencialmente diferente do pblico das

    restantes instituies de ensino. As escolas de lnguas encontram no meio empresarial e

    nos indivduos economicamente mais favorecidos os alunos para os seus cursos.

    A variedade e a expanso do ensino do PLNM , pois, outra manifestao do

    fortalecimento e da importncia crescentes desta rea, sobretudo quando a esta se

    associa a importante misso de contribuir para a integrao de cidados imigrantes, para

    a coeso do tecido social e para uma vivncia mais justa e harmoniosa da cidadania.

  • 11

    Se o ensino/aprendizagem de PLNM exige saberes, metodologias e abordagens

    especficos, o professor mais competente para o leccionar ser um docente formado de

    raiz para o efeito. Tradicionalmente, os professores de Portugus Lngua Materna,

    licenciados em Lnguas e Literaturas Modernas ou Clssicas, asseguravam o ensino

    destas aulas. Sem preparao especfica para leccionar PLNM, e com poucos materiais

    dirigidos para o fazer, apoiavam-se sobretudo nos seus conhecimentos e na sua

    experincia de professores de Lngua Materna para esta nova tarefa. No entanto, as

    metodologias de Didctica da Lngua Materna no so as mesmas usadas para ensinar

    essa lngua a estrangeiros. Ou seja, o professor de PLNM deve ter uma formao

    especfica para estar preparado para exercer a sua funo. Para alm dos slidos

    conhecimentos lingusticos e culturais, deve ter conhecimentos de metodologias e

    estratgias de didctica das lnguas estrangeiras.

    Tm pouco mais de uma dcada de existncia as licenciaturas que habilitam os

    seus formandos para a docncia do PLNM. As Faculdades de Letras de Lisboa, Porto e

    Coimbra leccionam licenciaturas em Lngua e Cultura Portuguesas ou em Estudos

    Portugueses com variante ou especializao em Ensino de PLNM. Por outro lado, numa

    tentativa de preparar um maior nmero de professores de Lngua Materna para o ensino

    do PLNM, estas e outras faculdades criaram cursos de especializao e de ps-

    graduao nesta rea. j hoje possvel fazer um Mestrado ou um Doutoramento em

    PLNM em algumas universidades do pas. Os cursos de especializao e de ps-

    graduao so uma forma de capitalizar os conhecimentos dos licenciados em Lnguas e

    Literaturas Modernas para os pr ao servio do ensino de portugus para estrangeiros.

    Com o intuito de oferecer uma preparao menos exaustiva nesta rea, algumas

    universidades, a Associao de Professores de Portugus e o Instituto Cames

    organizam aces de formao de ensino/aprendizagem de PLNM. Outras instituies

    oferecem cursos de formao de curta durao (i.e., que no ultrapassam as 300 horas).

    A preparao menos exaustiva procura transmitir a quem ensina nesta rea os

    conhecimentos e as metodologias fundamentais para o ensino de PLNM. Espera-se que

    o formando complemente por sua iniciativa essa formao.

    Como j referi, as aulas de PLNM exigem metodologias, estratgias e

    instrumentos didcticos especficos, muitos dos quais so distintos dos usados no

    ensino/aprendizagem do Portugus Lngua Materna. O conhecimento que tenho (parcial

    certamente) da prtica lectiva leva-me a concluir que a esmagadora maioria dos

    professores que hoje lecciona PLNM est ciente desse facto. Assim, os docentes estaro,

  • 12

    na sua esmagadora maioria, a seguir uma abordagem comunicativa no

    ensino/aprendizagem da lngua (cf. Legukte e Thomas, 1991), neste caso do portugus,

    abordagem essa que coloca a nfase no desenvolvimento das competncias lingusticas

    do aprendente e que se centra no trabalho do aluno. Esta metodologia advogada nos

    principais manuais de PLNM, embora surja em alguns casos combinada com outras

    perspectivas didcticas. Assim, apesar de os manuais abraarem o mtodo comunicativo

    demarcam-se das posies extremas que este teve numa fase inicial, em que recusava a

    reflexo formal sobre a lngua. Ao invs, o estudo do funcionamento da lngua nunca

    descartado nesses manuais, embora funcione em articulao com e ao servio do

    desenvolvimento das competncias lingusticas e nunca como finalidade em si mesma.

    Se este o mtodo dominante, outras abordagens metodolgicas mais recentes da

    didctica das lnguas que se revelam influentes e frteis no ensino/aprendizagem de

    outras lnguas no saem, em Portugal, do espao da universidade e no parecem ganhar

    muitos adeptos entre os professores de PLNM. Outras so propostas por autores

    estrangeiros e, por falta de informao e falta de investimento cientfico, no so do

    conhecimento dos professores. Penso aqui em metodologias como as abordagens

    lexicais da lngua (lexical views of language, cf. Carter e McCarthy, 1988; Leiria, 2001

    e 2005) ou a planificao por tarefas (task-based learning, cf. Nunan, 1989), a qual se

    tem revelado muito influente no ensino das lnguas inglesa e espanhola. O

    desconhecimento maioritrio das novas propostas didcticas um sintoma de uma

    fragilidade ainda existente no seio do PLNM. Existe ainda uma dificuldade de

    comunicao entre o meio universitrio que investiga e teoriza e os agentes da

    prtica lectiva. Em parte, a responsabilidade ser tambm da falta de fruns de

    discusso a que aludi na seco anterior.

    Creio que o PLNM se desenvolveria mais se fosse permevel s propostas

    metodolgicas de reas congneres Didctica do Ingls, do Francs e do Espanhol

    (como lnguas no maternas) , as quais tm mais experincia e levam mais anos de

    trabalho. que, ao contrrio do que acontece em reas puramente cientficas, em que a

    imitao uma prtica condenvel, no ensino as boas ideias devem ser seguidas,

    reproduzidas e melhoradas.

    Ferramentas e materiais didcticos

    Como resultado do recente investimento em estudos de pendor terico-prtico e

    em projectos de investigao/aco ou como produto da prtica docente, tem surgido

  • 13

    uma considervel variedade de ferramentas e materiais de apoio ao

    ensino/aprendizagem do PLNM. Neste conjunto de instrumentos didcticos, destacam-

    se os manuais, que so obras fundamentais por apresentarem percursos de aprendizagem

    estruturados. Os principais manuais que foram publicados em Portugal esto

    maioritariamente vocacionados para alunos adultos, em alguns casos para alunos

    universitrios que aprendem portugus em Portugal ou no estrangeiro. O nmero de

    manuais que existe no mercado seria aceitvel, no houvesse um seno. que uma

    percentagem considervel desses livros, por ter sido elaborada h mais de dez anos, no

    acompanha as novas propostas metodolgicas do PLNM. Destaco os ttulos dos

    manuais mais divulgados, sem emitir juzos de valor sobre eles: Lusofonia (Avelar et

    alia, 1989, 1995), Portugus sem Fronteiras (Leite e Coimbra, 1991), Nvel Limiar

    (Casteleiro et alia, 1998), Ver, ouvir e falar portugus (Cascalho et alia, 1995), Bem-

    vindo (Cunha et alia, 1998) e Portuguesssimo (Matos, 2000).7 De imediato se

    diagnostica uma lacuna editorial no mercado para manuais de PLNM destinados aos

    aprendentes dos Ensinos Bsico e Secundrio (crianas e adolescentes, portanto).

    Aprender Portugus (Oliveira et alia, 2006) parece ser uma das excepes. A lacuna

    editorial facilmente explicvel: s recentemente o Ministrio da Educao consagrou

    oficialmente o PLNM como uma disciplina do currculo dos alunos.

    Para alm dos manuais, outros tipos de instrumentos didcticos vocacionados

    para o ensino/aprendizagem do PLNM tm vindo a lume nas ltimas duas dcadas. Por

    um lado, encontramos os livros didcticos em papel: livros de exerccios, livros de

    leitura, dicionrios conceptuais, dicionrios de verbos, vocabulrios multilingues e

    gramticas. Tradicionalmente (i.e., antes de o PLNM encontrar o seu espao prprio),

    utilizavam-se as obras de referncias e os livros de Didctica da Lngua Materna no

    ensino/aprendizagem da lngua portuguesa a alunos estrangeiros. Era uma soluo de

    recurso face quase inexistncia de instrumentos didcticos especficos. No entanto,

    presentemente j se editam ferramentas didcticas concebidas na perspectiva do PLNM.

    Assinalo, como exemplo, duas gramticas da lngua portuguesa concebidas nessa

    perspectiva: a Gramtica de Portugus para Estrangeiros (Arruda, 2004) e a

    Gramtica Aplicada : Portugus Lngua Estrangeira (Oliveira, 2007). ainda

    significativo que os dois mais importantes dicionrios que foram publicados nas ltimas

    dcadas, o Dicionrio de Lngua Portuguesa Contempornea da Academia das

    Cincias e o Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, incluam a transcrio fontica

    das palavras, uma informao que no costumava figurar nos dicionrios de lngua

  • 14

    portuguesa e que sobretudo til (se no mesmo primordialmente pensada) para

    aprendentes cuja lngua materna no o portugus. H que constatar que os

    instrumentos e materiais didcticos de PLNM existentes no mercado so de ndole

    variada, embora no sejam em quantidade suficiente. Nos ltimos vinte anos surgiram

    dicionrios de verbos, livros de leitura, livros de exerccios, livros para ditados, mas

    tambm obras de cariz terico destinadas a professores. Mas o nmero de ttulos em

    cada uma destas tipologias ainda escasso.

    Mencionei na seco anterior que o PLNM tem sabido aproveitar a tecnologia

    para divulgar conhecimentos e materiais; referia-me ento Internet. Ora, quando se

    trata de conceber as ferramentas de ensino mais eficazes, motivantes e diversificadas, os

    investigadores e professores de PLNM tm de produzir instrumentos didcticos em

    formatos tecnologicamente avanados. O livro em papel continua a ser usado; e parece-

    me ser ainda um material insubstituvel para certas funes. A par dele, e muitas vezes

    como complemento, apareceram os vdeos, os DVDs, os CDs didcticos e os exerccios

    on-line. Trata-se de materiais didcticos multimdia, informticos, interactivos, que

    combinam linguagem com imagem, som e msica e articulam o ldico com o

    didctico.8

    No plano da edio (de materiais em papel ou em suporte digital), a editora

    LIDEL tem encontrado na publicao de instrumentos para o ensino/aprendizagem de

    PLNM uma das suas especializaes; e tem prestado um bom servio a esta rea.

    Devemos tambm reconhecer o papel do Ministrio da Educao (sobretudo atravs do

    Instituto de Inovao Educacional e, mais recentemente, da DGIDC) na publicao de

    obras para o ensino/aprendizagem de PLNM, destinadas quer a professores quer a

    alunos. No que diz respeito aos materiais disponibilizados on-line, destaca-se o stio na

    Internet do Centro Virtual Cames mantido pelo Instituto Cames , que alberga um

    acervo considervel de ferramentas e materiais didcticos e que estabelece um conjunto

    de ligaes com outros recursos importantes para o ensino/aprendizagem de PLNM que

    se encontram na Internet. Devo mencionar ainda a existncia de plataformas de

    aprendizagem virtual (e-learning), como a plataforma Moodle, que tm sido usadas para

    este fim e esto recentemente a ganhar bastante popularidade.

    Como balano deste elenco de materiais e ferramentas de PLNM, chegamos

    concluso de que o conjunto de instrumentos didcticos est a aumentar e a diversificar-

    se. No entanto, o nmero de produtos existentes ainda no suficiente. Est muito longe

    da quantidade e da variedade de recursos didcticos existentes para o

  • 15

    ensino/aprendizagem da Lngua Materna. E h sectores, como o dos instrumentos

    didcticos destinados ao Ensino Bsico, em que a oferta bastante deficitria. Para dar

    resposta a pblicos diversificados desde os alunos do primeiro ano do Ensino Bsico e

    mesmo do pr-escolar at a alunos universitrios e ao demais pblico adulto

    necessrio disponibilizar no mercado um conjunto mais elevado e mais diversificado de

    materiais e de ferramentas didcticas. deste modo que se conquista a

    institucionalizao de um domnio didctico e cientfico.

    Concluso

    Procurei neste ensaio demonstrar que o PLNM uma rea didctica que d

    resposta a uma necessidade da sociedade portuguesa: ensinar a lngua portuguesa

    queles que vm viver e trabalhar em Portugal e contribuir para a sua integrao na

    comunidade nacional e local. Enquanto rea de estudos, a sua validade j foi

    reconhecida, graas, em parte, credibilidade e importncia que as suas congneres

    granjearam, mas tambm ao facto de se ter munido nas teorias e nos progressos de reas

    com uma solidez cientfica reconhecida no meio acadmico; refiro-me, sobretudo,

    lingustica e psicolingustica.

    Creio ter demonstrado que a institucionalizao do PLNM se encontra em curso

    mas ainda no est concluda. Apontei, ao longo da minha reflexo, as principais

    fragilidades que subsistem e as lacunas que se mantm. Comecei por afirmar que antes

    dos anos oitenta do sculo XX a institucionalizao do PLNM ainda no se iniciara. A

    entrada da disciplina nas principais universidades portuguesas atravs dos cursos de

    licenciatura e de ps-graduao que se leccionam, da investigao realizada e das teses

    que se elaboram corresponde ao reconhecimento cientfico da rea. No entanto, o

    nmero de cursos de licenciatura, de projectos de investigao e dissertaes

    acadmicas ter de ser maior para o PLNM se impor decisivamente como uma

    importante rea de ensino e de estudos.

    Quanto ao ensino, o sistema tem vindo a estruturar-se. Mas a prtica lectiva

    ainda est, em vrios casos, a cargo de professores sem formao especfica na rea. Tal

    facto se explica por este ser um domnio novo, mas tambm porque a formao que se

    oferece insuficiente: o nmero de cursos de licenciatura, ps-graduaes e

    especializao em PLNM reduzido e as aces de formao so escassas. Ainda assim,

    quem tem de ensinar portugus a alunos estrangeiros est hoje ciente de que as

    metodologias, os materiais e as estratgias devem ser especficos do PLNM e, quase

  • 16

    sempre, distintos dos usados no ensino/aprendizagem da lngua materna. Estou em crer

    que a maioria dos professores de PLNM seguir uma abordagem comunicativa, centrada

    no aluno, que aposta no desenvolvimento das competncias lingusticas dos alunos.

    Falta, no entanto, que, tanto na prtica didctica como na produo de instrumentos

    didcticos beneficiem mais da investigao que se realiza nas universidades e das

    recentes propostas de autores nacionais e estrangeiros.

    No que diz respeito aos instrumentos didcticos, a grande evoluo que se deu

    centrou-se na produo de materiais e ferramentas especficas para o

    ensino/aprendizagem do portugus na sua vertente de lngua no materna. Esses

    instrumentos didcticos tm surgido em diferentes formatos e com uma variedade

    aprecivel; no entanto, so ainda em nmero reduzido e no abarcam ainda todos os

    grupos etrios: as lacunas ao nvel do pr-escolar e do ensino bsico fazem sentir-se de

    forma gritante.

    Quando a articulao entre os trs grandes plos que aqui analisei teoria e

    investigao, ensino e formao e produo de instrumentos didcticos for mais

    estreita e mais bem conseguida e quando se contar com mais recursos humanos

    (professores e investigadores) a trabalhar na rea, ento a institucionalizao do PLNM

    consumar-se- plenamente.

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    LIDEL. 1 Penso, neste ltimo caso, nos cidados que nasceram noutros pases e que adquiriram nacionalidade portuguesa, mas tambm naqueles que no nosso pas residem e trabalham e que, por isso, tm direitos de cidadania. 2 Para alm das importantes teses de doutoramento de Maria Jos Grosso (2000) e Isabel Leira (2001), vejam-se, a ttulo de exemplo, as seguintes dissertaes de mestrado: Bernardo, 1997; Sousa, 2005; Casanova, 2006; Tavares, 2006; Oliveira, 2007; Ribeiro, 2007. 3 A ttulo de exemplo, menciono aqui o nome de alguns projectos do foro do PLNM que foram ou continuam a ser desenvolvidos em universidades, institutos politcnicos portugueses ou escolas dos ensinos bsico e secundrio (aponto a instituio que os promoveu e o nome dos coordenadores): Diversidade Lingustica na Escola Portuguesa, (Instituto de Lingustica Terica e Computacional, FLUL, coordenado por Maria Helena Mira Mateus); Transversalidade da Lngua Segunda (ESE de Lisboa e APP; coordenado por Paulo Feytor Pinto); Educao Intercultural e Apetrechamento Lingustico (Universidade de Aveiro, coordenado por Ana Isabel Oliveira); e Lnguas, Arte, Cidadania (Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa, coordenado por Alexandre Dias Pinto cf. Pinto, 2005). 4 Publicaram-se as actas de cada um destes encontros: Actas do congresso sobre a situao actual da lngua portuguesa no mundo (1985) e Portugus como Lngua Estrangeira: Actas do Seminrio Internacional 9 a 12 de Maio de 1991 (1991) e Silva, 1997. 5 O endereo electrnica da revista digital O Idiomtico (melhor dizendo, do seu primeiro nmero) http://www.instituto-camoes.pt/cvc/idiomatico/01/index.html. 6 J sobre o ensino do PLNM em universidades estrangeiras, cumpre-me deixar uma nota. Esta prtica lectiva muito anterior ao incio da institucionalizao do PLNM, na dcada de oitenta do sculo XX. No entanto, porque os professores que levavam a lngua e a cultura portuguesas aos quatro cantos do mundo estavam geograficamente separados e no partilhavam experincia, estudos e materiais, essa prtica docente (e de investigao/aco) dispersa no teceu entre si as ligaes que permitissem a sistematizao e a conjugao de saberes que originasse a institucionalizao de uma rea de estudos. No ignoremos, porm, o valioso contributo dos docentes de Portugus no estrangeiro. Se verdade que a consolidao do PLNM se deu em plos em que se centralizavam e conjugavam esforos em Portugal e no Brasil , a experincia dos leitores de lngua portuguesa bem como os estudos e materiais que produziram na sua prtica docente foram seiva que alimentou o crescimento do PLNM. At porque alguns dos investigadores e estudiosos que hoje trabalham em Portugal desenvolveram tambm o seu trabalho enquanto leitores de Portugus em universidades estrangeiras. Dessa prtica nasceram alguns dos materiais existentes para o ensino do PLNM: manuais, dicionrios de verbos ou livros de exerccios. 7 Para uma anlise crtica dos manuais de PLNM, ver Ribeiro, 2007. 8 Vejam-se alguns desses instrumentos informticos e multimdia: Didacthque de Bayonne, 1991 e 1998; Cascalho, 1995 e 2006; Universidade Aberta, 1999; Fischer e Faria, 2006; Oliveira et alia, 2006.