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  • Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2008 9

    Antigo sonho da ABFH, do CFF e dos

    farmacuticos, a incluso da homeopatia,

    no SUS, afora os benefcios que trar

    para os usurios e para o Sistema, vem

    acompanhada de uma pergunta: E

    agora?. Afinal, como atender enorme

    demanda? Esse um dos maiores desafios

    para o setor, em toda a sua histria. As

    respostas esto com a Presidente da ABFH,

    farmacutica homeopata Mrcia Gutierrez.

    Pelo jornalista Alosio Brando,Editor desta revista.

    DRA. MRCIA GUTIERREZEntrEvista com

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    Portaria nmero 3237, de dezembro de 2007, do Ministrio da Sade, est incluindo os medicamentos homeopticos que integram a Farmacopia

    Homeoptica Brasileira e dois fitoterpicos (espinheira santa e guaco), na rede SUS (Sistema nico de Sade), em conformidade com o que recomenda a PNPIC (Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares). Pode ser o incio de uma transformao significativa que atingir, desde o ponto de vista do gestor, dos profissionais da sade e da populao, at a terapu-tica; da sade em si aos cofres pblicos, e tocar em razes mais profundas, aquelas que vo dar na questo da cidadania. A incluso da homeopatia, no SUS, um sonho dos homeopatas e do Conselho Federal de Farmcia (CFF). A incluso chega acompanhada de uma pergunta: e agora?. Afinal, no h um nmero suficiente de profissionais homeopatas, no SUS. Quem responde pergunta e aponta os caminhos para o setor enfrentar este que um dos maiores desafios de sua histria, no Brasil, a Presidente da ABFH (Associao Brasileira de Farmacuticos Homeopatas), a Dra. Mrcia Apare-cida Gutierrez. Farmacutica formada pela USP (Universidade de So Paulo) - campus de So Paulo -, Mrcia Gutierrez especialista em Homeopatia, Diretora Tcnica de uma farmcia homeoptica, em So Paulo, e professora do curso de especializao do Instituto de Cultura Homeoptica, na capital paulista. VEJA A ENTREVISTA.

    Farmacutica Mrcia Gutierrez, Presidente da Associao Brasileira de Farmacuticos Homeopatas (ABFH)

    PHARMACIA BRASILEIRA Quantos me-dicamentos homeopticos sero disponibiliza-dos populao? E que doenas podero ser tratadas com eles? Dra. Mrcia Gutierrez - Aos poucos, feliz-mente, a PNPIC (Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares) vai se implan-tando, graas ao apoio de parceiros empenha-dos em v-la consolidada. Um desses parceiros o Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade o DAF. Por empenho do DAF, o Ministrio da Sa-de, no final de 2007, publicou a Portaria 3237, que define o elenco de referncia dos medica-mentos e insumos do componente bsico da Assistncia Farmacutica. Traduzindo, trata-se da lista de medicamentos prioritrios aten-o bsica sade e compe a Rename (Rela-o Nacional de Medicamentos). Nessa Portaria, como conquista do DAF, foram includos dois medicamento fitoterpi-cos (Maytenus ilicifolia espinheira santa, e Myka-nia glomerata guaco) e medicamentos homeo-pticos contidos na Farmacopia Homeoptica Brasileira 2. Edio. Estamos falando de cer-ca de 450 medicamentos homeopticos. Esse nmero se amplia, e muito, quando pensamos

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    em todas as escalas e potncias possveis para cada um deles. A Portaria registra a homeopatia, como ela acontece, no Brasil, ou seja, ela no est presa a poucos medicamentos ou formulaes que engessam as possibilidades de prescrio do mdico. Ao contrrio, ela garante que o ho-meopata brasileiro pode, tambm, no SUS, de-senvolver a homeopatia que se faz, no Brasil.

    PHARMACIA BRASILEIRA E as doenas, quais podero ser tratadas com esses medica-mentos? Dra. Mrcia Gutierrez - Para responder sobre as doenas que os medicamentos pode-ro tratar, precisamos explicar que a homeo-patia no trata a doena e, sim, o doente. Na homeopatia, no existe um medicamento, por exemplo, antiinflamatrio. O mdico homeopa-ta, diante de um processo inflamatrio, dentre outras orientaes possveis, poder prescrever um medicamento que atenda s caractersticas deste paciente, nesse processo. Por exemplo, h dois pacientes com um processo inflamatrio no ouvido em uma quei-xa comum: a dor. Contudo, na anamnese, o m-dico vai encontrar sintomas que os diferencia. Um pode ter dor latejante, pulsante, enquan-to o outro relata uma dor cortante. Um mani-festa que a dor sazonal e, sempre, acontece no mesmo ouvido. O outro fala que ela pode ocorrer, em momentos diversos e alterando os lados. Sintomas mentais relacionados ao pro-cesso inflamatrio, tambm, podem ajudar a diferenciar os pacientes, como depresso e tristeza, durante a dor, e irritao ou agitao no outro. Assim, a prescrio do medicamento atender a totalidade sintomtica do paciente e no s sua queixa principal. Dois pacientes com inflamao de ouvido podem, na homeo-patia, receber medicamentos diferentes. Isto tudo para dizer que no possvel listar as doenas tratadas por homeopatia, pois todas as pessoas podem ser tratadas. Existem limites, como existem limites em todas as tera-puticas.

    PHARMACIA BRASILEIRA - Que benef-cios a homeopatia trar, tanto para a rede p-blica, quanto para a populao? Dra. Mrcia Gutierrez - Os nmeros do

    SUS so, sempre, de grandes dimenses. Ao pensarmos que 150 milhes de pessoas so clientes do SUS, todo o custo que puder ser re-duzido significativo e pode trazer mudanas no fluxo de atendimento. Comparado a muitos medicamentos alo-pticos, hoje, adquiridos pelo SUS, medica-mentos homeopticos tm custo reduzido, mas esta no a maior economia. A experincia na clnica homeoptica mostra que o sucesso tera-putico na homeopatia est na restaurao de um estado de equilbrio do paciente, que evita-r o seu retorno, por diferentes queixas relacio-nadas, ao mesmo mal. Menos retorno, menos custo, menor demanda, maior possibilidade de melhoria na qualidade do atendimento. Todo sistema de sade tem, sempre, uma equao difcil de ser resolvida: oferecer um bom servio a baixo custo. J para o paciente, e isto o que de fato deveria ser o mais impor-tante, os benefcios so muitos. Gostaria de ressaltar a mudana cultural que um tratamento homeoptico pode causar na vida de um paciente. Diferente da medicina convencional, a homeopatia no est funda-mentada, centralizada no medicamento. O foco, e centro da ateno do mdico homeopata, so o paciente e sua condio de adoecimento. Diferente ainda da medicina convencio-nal, que se prende ao medicamento, na home-opatia, o medicamento uma das possibilida-des dentro do tratamento. A homeopatia uma medicina holstica. Ento, medicamento home-

    O farmacutico homeopata brasileiro tem

    uma oportunidade de desenvolvimento de trabalho que invejada no restante do mundo. Aqui, manipulamos, mediante prescrio e com a individualizao necessria

    para o atendimento das necessidades do paciente

    (Dra. Mrcia Gutierrez, Presidente da ABFH)

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    optico ou no, no ser efetivo, se outros fato-res que favorecem os estados de desequilbrio no forem corrigidos ou reorientados. Esta ateno com o paciente, quando ab-sorvida por ele, ser til para uma vida inteira. A auto-observao, fundamental no tratamento homeoptico, permite que o paciente saiba que caminhos o levam a um estado de doena, ou os mantm em estado de sade, de equilbrio.

    PHARMACIA BRASILEIRA O medica-mento homeoptico menos vulnervel a re-aes adversas e a interaes, suscita menos a prtica do uso irracional, e a adeso do seu usurio ao tratamento maior. A senhora pode falar desses benefcios? Dra. Mrcia Gutierrez - Existem duas grandes qualidades do medicamento homeo-ptico que precisam ser ressaltadas, que so a sua segurana e a sua eficcia. A segurana se d, porque so utilizadas ultra-diluies das substncias que deram ori-gem ao medicamento. Ou seja, no existem riscos de intoxicao, superdosagem etc. Con-tudo, o uso inadequado pode, sim, mascarar sintomas, ou levar a interpretaes erradas quanto evoluo do paciente, diante do tra-tamento. Assim, medicamentos homeopticos no ficam dispensados de uma prescrio feita por profissional habilitado e de uma ateno far-macutica que poder guiar o paciente para a melhor conduta a ser tomada, durante o trata-mento. Sua eficcia depende, tambm, obviamen-te, da correta indicao. O mdico homeopata, se receber as informaes necessrias por par-te do paciente e dispor do arsenal teraputico adequado, conseguir sucesso em sua clnica e isto o que temos presenciado, ao longo dos anos, e do contato direto com paciente de ho-meopatia.

    PHARMACIA BRASILEIRA - Os medica-mentos dispensados nas farmcias da rede SUS precisam ser prescritos pelos mdicos. H mdicos homeopatas em nmero suficiente para atender a toda a populao? Dra. Mrcia Gutierrez - A homeopatia uma especialidade reconhecida pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) e pelo CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinria).

    Assim, apenas estes profissionais e, tambm, os odontlogos podem prescrever medicamen-tos homeopticos. Tambm, os farmacuticos tm a especialidade em homeopatia reconheci-da pelo CFF. Uma farmcia que manipula medi-camentos homeopticos necessariamente deve ter inscrito no CRF um profissional especialista em homeopatia, de acordo com a Resoluo 440/CFF. Sobre mdicos, no SUS, temos alguns dados recentes que nos ajudam a perceber o bom desafio que temos pela frente. Estima-se que, no Brasil, existam, hoje, 15.000 mdicos homeopatas, mas apenas cerca de 500 deles esto, no SUS, exercendo homeopatia. Isto muito pouco, j que o SUS anualmente realiza 1bilho e 300 milhes de atendimento e destes 250.000 so em homeopatia. O Brasil tem cerca de 5500 Municpios e apenas 157 deles oferecem homeopatia, nos centros de sade. Concluindo, existe um gran-de passo a ser dado em nmero de atendimen-to em homeopatia que necessitar de um maior nmero de mdicos homeopatas atuando no SUS. Embora no apaream nesse senso apre-sentado, eles existem e podem ser deslocados para atendimento no SUS. Este um dos deta-lhamentos a serem feitos na poltica. O nmero de farmcias homeopticas, no SUS, tambm, no adequado necessidade que se aproxima. Ser necessrio encontrar for-mas de viabilizar o acesso ao medicamento ho-meoptico, seja na forma de parceria com a far-mcia privada, seja na construo da farmcia

    A PNPIC conseqncia do estado democrtico em que vivemos. No

    possvel que teraputicas que contribuam para

    a qualidade de vida da populao fiquem restritas a consultrios particulares

    e conseqentemente ao alcance apenas da minoria

    (Dra. Mrcia Gutierrez, Presidente da ABFH)

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    homeoptica pblica, do laboratrio industrial homeoptico para o atendimento, no Estado, ou todas estas alternativas juntas. O importan-te que, para todas elas, o farmacutico home-opata fundamental. Uma boa notcia que, no NASF (Ncleo de Ateno Sade da Famlia), farmacuticos e mdicos homeopatas esto includos e j h uma demanda do Ministrio da Sade / DAF para um programa de formao e profissionais homeopatas para o SUS. H um reflexo deste processo que, a m-dio ou longo prazos, dever ocorrer. Hoje, 70% dos mdicos que se formam na Universidade so direcionados para trabalho no SUS. As fa-culdades de Medicina no formam homeopatas e nem mdicos fitoterapeutas. Reitores devem estar atentos para o fato de que para formar um profissional mdico preparado para o SUS, de-ver form-lo, tambm, nestas especialidades. Havendo esta formao, na academia, grupos de pesquisa se formam e uma nova cadeia de conhecimento ser gerada.

    PHARMACIA BRASILEIRA Outro proble-ma - e com a mesma dimenso - o seguinte: o modelo de farmcia homeoptica, no Brasil, individualizado e no em srie. Ou seja, cada medicamento produzido para um determina-do paciente. O que os farmacuticos, que so responsveis pela produo e dispensao dos medicamentos, iro fazer para atender a uma demanda to grande, no SUS? Dra. Mrcia Gutierrez - O gestor pode-r adquirir medicamentos homeopticos in-dustrializados e esta uma prtica comum na aquisio de medicamentos alopticos. No Brasil, existem laboratrios produtores de medicamentos homeopticos. Contudo, a ma-nipulao homeoptica dever ser muito so-licitada pelo SUS, at pelas caractersticas da prescrio e da teraputica. Houve algumas experincias de suces-so em que o gestor optou pela implantao de uma farmcia pblica homeoptica (Juiz de Fora, So Paulo e Porto Alegre so alguns exemplos). Imaginamos que os pequenos cen-tros devero optar pela parceria com a farm-cia privada. A Resoluo 67, que trata das Boas Prticas de Manipulao, exigida, tambm, com a farmcia pblica, que poder encontrar uma barreira econmica para se adequar.

    A farmcia privada j tem um sistema de BPMFH (boas prticas), por exigncia legal, ou seja, j se encontra em condio de produzir, com menor custo, ao Estado. Na ausncia de fornecedores de medica-mentos industrializados, o Municpio poder adquirir medicamentos homeopticos e/ou fi-toterpicos manipulados, de acordo com o item 5.10 da RDC nmero 67/2007 (anexo1): em car-ter excepcional, considerando o interesse pblico, desde que comprovada a inexistncia do produto no mercado e justificada tecnicamente a necessidade da manipulao, a farmcia poder ser contratada, conforme legislao em vigor, para o atendimento de preparaes magistrais e oficinais, requeridas por estabelecimentos hospitalares e congneres. O farmacutico homeopata deve estar bem atento a tudo isto e manter a sua farm-cia, os seus colaboradores e toda equipe bem ajustados para um perodo de muita atividade no setor de manipulao homeoptica. bom lembrar que a preparao de medicamentos homeopticos envolve uma tcnica simples, o que um fator muito positivo e facilitador na sua elaborao. Contudo, a qualificao de fornecedores, a padronizao de tcnicas e o controle de pro-cesso magistral homeoptico (no se espante, pois isto existe e aplicvel homeopatia) so as garantias da qualidade do medicamento.

    PHARMACIA BRASILEIRA O aumento repentino da demanda e a possibilidade de um no atendimento integral por parte dos farma-cuticos facilitariam a explorao da produo de homeopticos e mesmo de servios por aproveitadores ou por charlates? A ABFH est atenta a esse risco iminente? Dra. Mrcia Gutierrez - Muita coisa foi construda, nos ltimos anos, nesse sentido, pela ABFH (Associao Brasileira de Farmacu-ticos Homeopatas), pelas Associaes Regio-nais, por grupos de pesquisa em Homeopatia e pela FHB (Farmacopia Homeoptica Brasi-leira). Todos que estiverem interessados neste caminho precisam estar atualizados. A farmcia e o farmacutico podem acelerar este processo, envolvendo-se nas aes de divul-gao da PNPIC, ou apenas contando aos cida-dos sobre o seu direito garantido pela poltica. A ABFH prima pela defesa da Homeopatia e do farmacutico homeopata. Ao longo destas

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    quase duas dcadas de existncia, vem acom-panhado a evoluo do segmento de farmcia magistral e sabe que a farmacotcnica home-optica e os processos magistrais homeopti-cos devem acompanhar este momento em que a qualidade deve estar presente em todas as etapas do processo, seja da escolha dos insu-mos utilizados, qualificao dos fornecedores, aprimoramento e padronizao da tcnica, at a ateno farmacutica em homeopatia, em que os reais conhecimentos em Homeopatia por parte do farmacutico so testados e so fundamentais na adeso do paciente ao trata-mento. A ABFH est envolvida em projetos que facilitem a incluso do farmacutico homeopa-ta nesse processo.

    PHARMACIA BRASILEIRA A entrada da Homeopatia, no SUS, resultado da Poltica Na-cional de Prticas Integrativas e Complementa-res (PNPIC), criada pela Portaria 971/2006, do Mi-nistrio da Sade. O que significa esta poltica? Dra. Mrcia Gutierrez - A homeopatia est, oficialmente, no SUS, graas PNPIC. A Poltica uma recomendao feita aos gestores de sade, em todas as esferas, ou seja, munici-pal, estadual e federal, para que disponibilizem atendimento em sade populao por prti-

    cas antes no previstas, como a fitoterapia, a homeopatia, a acupuntura e outras. Contudo, esta Portaria deve gerar conse-qncias e estas conseqncias que esto para acontecer. Muitas iniciativas devem ser to-madas, a partir da Poltica para a implantao deste novo servio, mas a Poltica no as prev. Os gestores no sabem como implantar, que re-cursos estaro disponveis e at mesmo quais sero necessrios. A Poltica descreve diretrizes, mas no de-fine o quanto ser investido para o seu desen-volvimento. Entende-se que este segundo mo-mento da Poltica acontecer, quando houver demanda. Ento, agora, a populao, o cidado e usurio do SUS deve saber que ele tem direi-to a escolher por uma teraputica diferente da convencional (aloptica) e o Estado o dever de prover-lhe.

    PHARMACIA BRASILEIRA A ABFH criou um programa de qualificao para farmcias e farmacuticos homeopatas. O programa foi produzido, levando-se em conta este momento de expanso da produo? Dra. Mrcia Gutierrez - O aumento na demanda por homeopatia deve ocorrer, num tempo muito curto, e insistimos que ser bom que todos os interessados estejam preparados. O setor magistral qualificou-se muito, nos l-timos anos, e a homeopatia acompanhou esse movimento de qualidade. Contudo, existem peculiaridades na ho-meopatia que nos diferenciam da manipulao aloptica, mas que tambm exigem solues diferenciadas. Por exemplo, o controle de qualidade de matrias-primas utilizadas na alopatia em geral pode ser encontrado em farmacopias e com-pndios especializados. Como realizar controle de qualidade de matrizes homeopticas? Como assegurar a qualidade de matrizes homeopticas em estoque, por anos, em nossas farmcias? A ABFH estabeleceu um protocolo de anlise de matrizes, que concentrar dados, em nvel nacional, permitindo que, a partir deles, pos-samos definir as condies ideais de arma-zenamento e conseqentemente o prazo de validade. Este um dos componentes do Qualihfar-ma, que dever, ainda, contemplar a educao

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    continuada distncia e a qualificao de for-necedores. A primeira parte deste programa que trata do controle de qualidade j est em andamento e os interessados podem procurar a ABFH para maiores informaes.

    PHARMACIA BRASILEIRA - Como a se-nhora avalia a qualificao dos farmacuticos homeopatas brasileiros? Dra. Mrcia Gutierrez - O farmacutico homeopata brasileiro tem uma oportunidade de desenvolvimento de trabalho que invejada por boa parte dos farmacuticos homeopatas do restante do mundo. Aqui, manipulamos, mediante prescrio e com toda a individuali-zao necessria para o atendimento das ne-cessidades do paciente. Mesmo havendo espao para o medica-mento homeoptico industrializado, temos uma escola de Homeopatia que ensinou ao mdico uma prescrio muito precisa. Mais que isso, com essa liberdade prescritiva e a disposio das farmcias no aviamento dessas prescries, permitiu que muitas inovaes, na clnica homeoptica, pudessem ocorrer. Temos uma experincia em homeopatia que deveria ser melhor divulgada para o mun-do. Uma colega costuma dizer que s no nos conhecem mais, por causa da lngua. Embora exista uma produo cientfica em Homeopa-tia, seus resultados chegam pouco, em outros pases, e, assim, no h muito troca. Sim, o farmacutico homeopata encarou, ao longo dos ltimos 20 anos, uma srie de de-safios e vem passando por eles, de forma elo-givel, com o objetivo de manter a homeopatia em alto nvel de qualidade e de eficcia. O far-macutico homeopata sabe que a qualidade do medicamento homeoptico no pode ser um vis dentro do tratamento.

    PHARMACIA BRASILEIRA - Quando, en-fim, teremos um pas homeopatizado? Dra. Mrcia Gutierrez - Acho que, a par-tir da aprovao da Poltica, podemos dizer que temos a possibilidade de homeopatizao. Inte-ressante esse processo, pois, agora, a vez de o cidado manifestar-se em favor de um direi-to garantido pela Poltica: o direito de acesso homeopatia, fitoterapia, acupuntura e a outras terapias. Este exerccio de cidadania certamente

    eleva o nvel de conscincia da populao so-bre o seu papel na sociedade e nas mudanas possveis. Na homeopatia, esta uma das expectati-vas que aceleram um processo de cura. O auto-conhecimento que se adquire, a partir da auto-observao, permite que o indivduo, ao longo do tempo, descubra que possibilidades ele tem de adoecer, de evitar que isto ocorra e at de se curar. , quase sempre, uma questo de esco-lha. Neste momento de homeopatizao do Pas, estamos diante das possibilidades. Precisamos conquist-la, demonstrando o interesse.

    PHARMACIA BRASILEIRA - Que papel ter o farmacutico homeopata nesse contexto de transformaes que sacodem o SUS? Dra. Mrcia Gutierrez - O farmacutico, como profissional de sade, homeopata ou no, no pode omitir-se, diante da no implantao da Poltica. Justificada a sua presena, no SUS, passa a ser um direito da populao e devemos facilitar o acesso a ela, assim como as demais teraputicas que devero ser disponibilizadas. Os homeopatas em especial devem envol-ver-se, pois existem benefcios indiretos impor-tantssimos garantidos pela Poltica. Acredita-se que 70% dos mdicos formados pelas facul-dades de Medicina, hoje, so direcionados ao trabalho no SUS. A partir do momento em que o SUS necessita de mdicos homeopatas, estes profissionais passam a exigir que as faculdades os formem, tambm, para esta especialidade. Uma vez implantada a cadeira de Homeo-patia, nas faculdades de Medicina, como parte integrante da formao do mdico, ncleos de pesquisa se formam e verbas pesquisa em Homeopatia (garantidas pela Poltica) devem, tambm, ocorrer. O farmacutico homeopata deve estar atento, garantindo a sua participa-o em todo este processo, gerado, a partir deste novo momento. Eu gostaria de completar esta oportuni-dade, dizendo que a PNPIC conseqncia do estado democrtico em que vivemos. No possvel que teraputicas que contribuam para a qualidade de vida da populao cuja eficcia e segurana so pontos fortes, cujos conhecimen-tos fazem parte da histria do Pas e do conhe-cimento popular, no caso da fitoterapia, fiquem restritas a consultrios particulares e conse-qentemente ao alcance apenas da minoria.

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    No momento, temos a oportunidade de exercitar nosso direito dentro desse modelo democrtico, exigindo que ela saia do papel, da teoria e se efetive, para que possa ser esco-lhida por aquele que pretende ser tratado por ela. Acho que a manifestao dessa vontade , tambm, um exerccio democrtico prprio de um estado de direito. Uma forma de manifestao a assinatu-ra do abaixo-assinado coordenado pela ONG Ao pelo Semelhante, intitulado Homeopatia Direito de Todos, que pode ser feito em farm-cias homeopticas (muitas j disponibilizaram para populao) ou mesmo por meio eletrni-co, atravs do site www.semelhante.org.br.

    PHARMACIA BRASILEIRA Dra. Mrcia, a Poltica recomenda, mas no obriga, que os Municpios incluam a homeopatia na sade pblica. Qual a sua expectativas sobre a adeso dos Municpios homeopatia? Dra. Mrcia Gutierrez - Como homeo-pata, a minha vontade de ver efetivado o aten-dimento em homeopatia aos usurios do SUS muito grande. Contudo, vale repetir quantas vezes forem necessrias, que a Portaria uma recomendao que permite e d liberdade ao gestor para a incluso da homeopatia e demais teraputicas previstas pela poltica no rol de atendimentos. Da at a sua implantao, algu-mas aes devem acontecer. Imaginemos cada um de ns como admi-nistrador de um negcio, seja ele do ramo de atividade que for. Um administrador de viso normalmente se antecipa diante das tendn-cias, sempre que possvel. Sai frente do neg-cio e se destaca aquele que se antecipa, aquele que pr- ativo. Outros aguardaro a tendncia se concreti-zar, em moda ou atualidade, para, ento, a incor-porarem ao negcio. Nesta comparao, temos exemplos de gestores que j oferecem a homeo-patia e que vm se ajustando quanto ao acesso ao medicamento, alm de outras medidas. Muitos, e talvez a maioria dos gestores, aguardaro que um movimento popular os co-bre por isto. No uma crtica, um fato. A de-manda do SUS algo assustador em nmeros. Ento, claro, o gestor acaba priorizando. Um colega farmacutico que j foi gestor e, hoje, ocupa cargo no Ministrio da Sade j revelou publicamente que o maior trabalho do

    gestor, atualmente, est em acelerar processo de aquisio de medicamentos por ordem ju-dicial. Esta uma grande demanda atual e que ocorre por um movimento popular. A popula-o sabe que, a partir de uma determinao da Justia, o Estado deve atender sua necessi-dade de medicamento. Ento, ela exercita esse seu direito. Com a homeopatia acontecer o mes-mo. Se a populao souber os benefcios que podem ocorrer em sua sade, a partir de um atendimento em homeopatia e que este aten-dimento pode ser disponibilizado, nos centros de sade, poder mover o gestor a buscar por esta teraputica.

    PHARMACIA BRASILEIRA E quem ser o maior interessado em divulgar os benefcios da homeopatia e em cobrar a sua incluso, no servio pblico, pelos gestores municipais? Dra. Mrcia Gutierrez - Bem, acredito que todo profissional de sade que conhece os benefcios da homeopatia e sua aplicabilidade sero defensores da sua disponibilizao, no SUS. Mas aposto mesmo em um movimento dos homeopatas. Afinal, depois da populao, devido qualidade de sade que ter, estes se-ro os beneficiados diretamente com esta am-pliao da homeopatia. Os farmacuticos, pelo campo de trabalho expandido, j que certamente as parcerias com o Estado, em pequenos centros, sero funda-mentais para a sua efetivao e a garantia de acesso ao medicamento. O clnico homeopata, por sua vez, poder desenvolver a sua clnica na atividade pblica que, normalmente, j faz parte de sua atividade profissional. Isto amplia a sua experincia e cria maior movimentao na clnica particular. As entidades devem escla-recer os seus profissionais sobre este assunto, mas os profissionais devem tambm estar in-formados. A ABFH tem disponibilizado para os seus associados um kit para que eles o divulguem. Os interessados em divulg-lo, em suas farm-cias, podem fazer contato com a nossa secreta-ria, em So Paulo, pelo telefone (11) 5574-5278 ou pelo e-mail [email protected]

    Nota da redao: o e-mail da Dra. Mrcia Gutierrez, Pre-sidente da ABFH, [email protected]

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