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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU Nº Processo: 0000384-20.2014.8.14.0094 31/01/2014 Data da Distribuição: DADOS DO PROCESSO Vara: Instância: VARA UNICA DE SANTO ANTONIO DO TAUA 1º GRAU Gabinete: GABINETE DA VARA UNICA DE SANTO ANTONIO DO TAUA DADOS DO DOCUMENTO Nº do Documento: 2014.00639955-20 Comarca: SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ Ação Civil Pública Requerente: Ministério Público Estadual Requerido: Município de Santo Antônio do Tauá End.: Praça Alcides Paranhos, n. 17, B. Centro, Santo Antônio do Tauá. Requerido: Sérgio Hideki Hiura End.: Praça Alcides Paranhos, n. 17, B. Centro, Santo Antônio do Tauá. DECISÃO-MANDADO O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através de sua representante, intenta a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de antecipação da tutela de mérito, contra o MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ e, ainda, em desfavor de SÉRGIO HIDEKI HIURA, já qualificados, alegando, em síntese, que o segundo requerido, que se encontra no exercício do cargo de PREFEITO MUNICIPAL, vem reiteradamente e sem motivo justificado atrasando o pagamento da contraprestação mensal dos servidores públicos municipais, bem como que essa conduta contraria os princípios da Administração Pública configurando, assim, ato de improbidade administrativa, nos termos do disposto no art. 11, II, da Lei n. 8.429/1992. Diante dos fatos esposados, o pleiteante pretende que este Juízo determine liminarmente o AFASTAMENTO do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA do cargo de PREFEITO MUNICIPAL, bem como o BLOQUEIO, através do sistema BACENJUD, de sessenta por cento das receitas auferidas pela Municipalidade com vistas a garantir o pagamento regular dos salários vincendos dos servidores públicos municipais. Este Juízo, ao exarar o despacho inaugural, determinou que o postulante completasse a petição inicial para suprir as contradições e omissões nela divisadas, no prazo de dez dias. CONTEÚDO 1

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

Nº Processo: 0000384-20.2014.8.14.0094

31/01/2014Data da Distribuição:

DADOS DO PROCESSO

Vara:

Instância:

VARA UNICA DE SANTO ANTONIO DO TAUA

1º GRAU

Gabinete: GABINETE DA VARA UNICA DE SANTO ANTONIO DO TAUA

DADOS DO DOCUMENTONº do Documento: 2014.00639955-20

Comarca: SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ

Ação Civil PúblicaRequerente: Ministério Público EstadualRequerido: Município de Santo Antônio do TauáEnd.: Praça Alcides Paranhos, n. 17, B. Centro, Santo Antônio do Tauá.Requerido: Sérgio Hideki HiuraEnd.: Praça Alcides Paranhos, n. 17, B. Centro, Santo Antônio do Tauá.

DECISÃO-MANDADO

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, através de sua representante, intenta a presente AÇÃOCIVIL PÚBLICA, com pedido de antecipação da tutela de mérito, contra o MUNICÍPIO DE SANTOANTÔNIO DO TAUÁ e, ainda, em desfavor de SÉRGIO HIDEKI HIURA, já qualificados, alegando,em síntese, que o segundo requerido, que se encontra no exercício do cargo de PREFEITOMUNICIPAL, vem reiteradamente e sem motivo justificado atrasando o pagamento dacontraprestação mensal dos servidores públicos municipais, bem como que essa conduta contrariaos princípios da Administração Pública configurando, assim, ato de improbidade administrativa, nostermos do disposto no art. 11, II, da Lei n. 8.429/1992.

Diante dos fatos esposados, o pleiteante pretende que este Juízo determine liminarmente oAFASTAMENTO do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA do cargo de PREFEITO MUNICIPAL, bemcomo o BLOQUEIO, através do sistema BACENJUD, de sessenta por cento das receitas auferidaspela Municipalidade com vistas a garantir o pagamento regular dos salários vincendos dosservidores públicos municipais.

Este Juízo, ao exarar o despacho inaugural, determinou que o postulante completasse a petiçãoinicial para suprir as contradições e omissões nela divisadas, no prazo de dez dias.

CONTEÚDO

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Em atendimento ao despacho supracitado, o Ministério Público Estadual completou a petição inicialpara, dentre outras coisas, incluir o Senhor SÉRGIO HIDEKI HIURA no polo passivo da causa, bemcomo para promover o enquadramento legal da conduta que lhe é tributada e, ainda, para requerero seu chamamento para a causa.

Estando supridas as contradições e omissões divisadas na petição inicial, deve-se analisarinicialmente se este Juízo tem, ou não, competência para apreciar e julgar esta causa, comotambém se o pleiteante está legitimado para este processo e, ainda, se os agentes políticossujeitam-se às sanções por ato de improbidade administrativa.

A Lei n. 10.628, de 24 de dezembro de 2002, que deu nova redação ao art. 84 do Código deProcesso Penal, estabelece que a ação de improbidade administrativa deve ser aforada no Tribunalcompetente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou a autoridade que, emdecorrência da função pública por si exercida, goze de foro privilegiado.

A legislação em exame, que versa sobre distribuição de competência em matéria criminal, estendeuo foro privilegiado decorrente do exercício de função pública à ação de improbidade administrativa.

As condutas descritas na Lei n. 8.429, de 02 de junho de 1992, embora possam também configurar,pelo menos em tese, crimes contra a Administração Pública, constituem ilícitos administrativos.

As sanções previstas na Lei n. 8.429/1992, isto é, a reparação do dano, a suspensão de direitospolíticos e, ainda, a perda de função pública, têm natureza civil e administrativa, já que sãoaplicáveis sem prejuízo do ajuizamento da ação penal para a apuração da prática de eventual crimecontra Administração Pública, conforme se vê no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal de1988, que possui a seguinte dicção:

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‘Art. 37 – [...]

[...].

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão à suspensão dos direitos políticos, a perda dafunção pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas emlei, sem prejuízo da ação penal cabível’.

Depreende-se do disposto no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal de 1988, que a ação deimprobidade administrativa tem natureza civil.

O art. 84 do Código de Processo Penal, com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 10.628/02, aoestender o foro privilegiado às ações de improbidade administrativa, transformou, evidentemente,uma matéria constitucionalmente prevista como civil num tema de natureza criminal para fins dedistribuição de competência, tendo, desse modo, afrontado o princípio da igualdade, bem comocontrariado o disposto no art. 37, parágrafo 4º, da Magna Carta e, ainda, modificado a competênciado STF, do STJ, do TRF e do Tribunal de Justiça.

Sem embargo, a competência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, comosalientou com maestria o Ministro Marco Aurélio, no voto exarado no Ag.Reg. na Reclamação n.2.381-8, é definida de forma exaustiva pela Constituição Federal só podendo, portanto, sermodificada por meio de Emenda Constitucional (CF/88, art. 60).

A competência do Tribunal de Justiça, por sua vez, somente pode ser modificada pela ConstituiçãoEstadual, a teor do que estabelece o art. 125, parágrafo 1º, da Carta Magna, que dispõe:

‘Art. 125 [...]

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§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei deorganização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça’.

Ao modificar a competência do STF, do STJ, do TRF e do Tribunal de Justiça, a Lei n.10.628/02 arrostou o disposto nos artigos 102, I, 105, I, 108, I, e 125, parágrafo 1º, daConstituição Federal de 1988.

Ademais, o foro privilegiado, por subtrair o agente de seu Juízo natural, é medidaexcepcional, que, por quebrar o princípio da isonomia, somente pode ser instituído pelaprópria Constituição Federal.

Silenciou, entretanto, a Constituição Federal acerca de foro privilegiado para as ações civisde improbidade administrativa, donde se conclui que, por opção do poder constituinte,essas causas devem ser processadas perante o seu Juízo natural.

É induvidoso que o legislador ordinário, ao estender o foro privilegiado às ações civis deimprobidade administrativa, apesar da inexistência de previsão constitucional nessesentido, quebrou o princípio da isonomia afrontando, assim, o art. 5º da Magna Carta.

Descortina-se daí, que a Lei n. 10.628/02 viola princípios e preceitos albergados na CartaMagna, sendo, portanto, essa legislação inconstitucional, conforme prelecionam NelsonNery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery:

‘Referida lei é inconstitucional por duas principais razões: a) lei ordinária não pode atribuircompetência ao STF nem ao STJ; b) lei criminal não pode transformar matéria constitucionalmenteprevista como civil ou administrativa (CF 15 V c/c 37 § 4º in fine), em matéria criminal para efeitode distribuição de competência de juízos criminais’ (Código de processo civil comentado elegislação extravagante. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 1506).

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Em igual sentido é o ensinamento de Guilherme de Souza Nucci:

‘A mesma lei 10.628/02, que estendeu as graças do foro por prerrogativa de função às autoridades que játivessem deixado o cargo, desde que o delito tivesse sido cometido durante o exercício funcional, comoexpusemos na nota anterior, acrescentou, ainda, o § 2º, ampliando o privilégio às ações civis, que analisamcondutas de improbidade administrativa, visando à aplicação de medidas de reparação dos danos causadosà Administração, bem como possibilitando a perda do cargo ou o impedimento do exercício por determinadoperíodo, sem prejuízo das medidas penais. A norma, neste caso, é inconstitucional, pois cria-se um foroprivilegiado para ações civis através de mera lei ordinária. Somente a Constituição pode estabelecer normasque excepcionem o direito à igualdade perante a lei, aplicáveis a todos os brasileiros. Em matéria penalexistem dispositivos constitucionais cuidando do tema, o que não ocorre na área civil. Portanto, a previsãofeita neste artigo não pode ser acolhida’ (Código de processo penal comentado. São Paulo: Revista dosTribunais, p. 251).

A jurisprudência, por sua vez, pontifica:

‘Embargos Infringentes. Direito Público não especificado. Improbidade Administrativa. Ação Civil Pública.Julgamento. Competência. Juízo de primeiro grau. Inconstitucionalidade do foro privilegiado. Atribui-se aoJuízo de primeiro grau a competência originária para o julgamento da ação civil pública por improbidadeadministrativa movida contra ex-prefeito, diante da manifesta inconstitucionalidade do foro privilegiadoinstituído pelo § 2º do art. 84 do CPP, com a redação dada pela Lei n. 10.628/02, reconhecida pelo STF naADI 2797. Prefeito. Cabimento. Conforme decisão da Corte Suprema, o julgamento da Reclamação n.2.138/6 do STF não possui efeito vinculante e nem eficácia erga omnes, mas apenas interpartes. Assim, adecisão da referida reclamação não alcança os prefeitos municipais, os quais permanecem submetidos àsprevisões da Lei n. 8.429/92, sendo perfeitamente cabível a propositura de ação de improbidade quanto aosatos praticados na chefia do executivo municipal. Embargos acolhidos por unanimidade’ (EmbargosInfringentes n. 70038285714, Primeiro Grupo das Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator JorgeMarashi dos Santos, j. 08/04/2011).

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Ao estender o foro por prerrogativa de função àqueles que já deixaram o cargo, desde que o fatotenha ocorrido durante o seu exercício funcional, a Lei n. 10.628/02 consagrou privilégios pessoaisferindo, dessa forma, o princípio da isonomia, como também o disposto no art. 125, parágrafo 1º, daCarta Magna, sendo a citada legislação, também sob esse prisma, inconstitucional, conforme jádecidiu o Órgão Especial do TJSP, em 13.08.2003, na Ação Penal Pública 102.930.0/8-00, cujaementa é a seguinte:

‘Ação Penal. Deslocamento do feito para o Tribunal de Justiça, em razão de um dos réus ter ocupado, naépoca dos fatos, o cargo de Delegado Geral da Polícia Civil. Alteração dada pelo art. 84 do CPP pela Lei n.10.628/2002 que é inconstitucional. Lei infraconstitucional que não poderia criar competência para osTribunais – art. 125, § 1º, da CF, que determina que a competência dos Tribunais será definida nasConstituições Estaduais. Ofensa, ainda, ao art. 5º da CF. Preliminar da Procuradoria Geral de Justiça que éacolhida, declarando, incidenter tantum inconstitucional o § 1º do art. 1º da Lei n. 10.628/2002. Devoluçãodos autos ao Juízo de origem, competente para apuração e julgamento dos fatos’.

O entendimento acima sufragado atualmente está pacificado, tendo em vista que o SupremoTribunal Federal declarou que a Lei n. 10.628/02, que estendeu o foro privilegiado as autoridadesque já deixaram o cargo e, ainda, às ações civis de improbidade administrativa, fere princípios epreceitos albergados na Magna Carta, sendo, portanto, inconstitucional.

A decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da Ação Direta deInconstitucionalidade n. 2.797-2, diante do disposto no art. 102, parágrafo 2º, da ConstituiçãoFederal de 1988, tem eficácia erga omnes e efeito vinculante em relação a todos os demais órgãosdo Poder Judiciário e à Administração Pública direta ou indireta da União, dos Estados e dosMunicípios, conforme salienta José Afonso da Silva:

‘Qual a eficácia da sentença proferida no processo da ação direta de inconstitucionalidade genérica? Essaindagação foi respondida nas edições anteriores do seguinte modo: ‘essa ação como

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vimos, tem por objeto a própria questão de constitucionalidade. Portanto, qualquer decisão, que decrete ainconstitucionalidade deverá ter eficácia erga omnes (genérica) e obrigatória. Mas a Constituição não lhe deuesse efeito, explicitamente, como seria desejável’ – e o texto prosseguia na demonstração daquelaafirmação, apesar da indefinição da Constituição. Agora o novo enunciado do § 2º do art. 102 daConstituição, segundo a EC-45/2004, deu solução expressa à questão, acolhendo nossa tese ao estatuir queas decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas deinconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual, produzirão eficácia contra todos (ergaomnes) e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Públicadireta ou indireta, nas esferas federal, estadual e municipal’ (Curso de direito constitucional positivo. SãoPaulo: Malheiros Editores LTDA, p. 54).

E, acrescenta:

‘Em suma, a sentença, aí, faz coisa julgada material, que vincula as autoridades aplicadoras da lei, que nãopoderão mais dar-lhe execução, sob pena de arrostar a eficácia da coisa julgada, uma vez que a declaraçãode inconstitucionalidade em tese visa precisamente a atingir o efeito imediato de retirar a aplicabilidade da lei’(Ibidem, p. 54).

Tendo sido declarada a inconstitucionalidade da Lei n. 10.628/02, por meio de Ação Direta deInconstitucionalidade, é evidente que esse diploma legal deixou de ter aplicabilidade devendo,dessa forma, a ação civil por ato de improbidade administrativa ser processada e julgada noprimeiro grau de jurisdição, isto é, por seu Juízo natural, conforme se vê no aresto seguinte:

‘Recurso Extraordinário. Alegada impossibilidade de aplicação da Lei n. 8.429/1992, por magistrado deprimeira instância, a agentes políticos que dispõem de prerrogativa de foro em matéria penal. Ausência deprequestionamento explícito. Conhecimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de ofício, da questãoconstitucional. Matéria que, por ser estranha à presente causa, não foi examinada na decisão objeto dorecurso extraordinário. Invocação do princípio ‘JURA NOVIC CURIA’ em sede recursal extraordinária.Descabimento. Ação Civil por Improbidade

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Administrativa. Competência do magistrado de primeiro grau, quer se cuide de ocupante de cargo público,quer se trate de titular de mandato eletivo ainda no exercício das respectivas funções. Recurso de Agravoimprovido.

- Não se revela aplicável o princípio ‘JURA NOVIT CURIA’ ao julgamento do recurso extraordinário, sendovedado, ao Supremo Tribunal Federal, quanto ao exame do apelo extremo, apreciar questões que não foramanalisadas, de modo expresso, na decisão recorrida. Precedentes.

- Esta Suprema Corte tem advertido que, tratando-se de ação civil por improbidade administrativa (Lei n.8.429/92), mostra-se irrelevante, para efeito de definição da competência originária dos Tribunais, que secuide de ocupante de cargo público ou de titular de mandato eletivo ainda no exercício das respectivasfunções, pois a ação civil em questão deverá ser ajuizada perante o magistrado de primeiro grau.Precedentes’ (STF. Segunda Turma. Ag. Reg. no Agravo de Instrumento n. 506.323-1/PR. Relator: MinistroCelso de Mello, j. 02/06.2009).

Denota-se daí, que a competência originária para julgar a ação de improbidade administrativadirigida contra titular de mandato eletivo, inclusive em desfavor de Prefeito Municipal, mesmo queesse agente político ainda esteja no exercício de suas funções, é do Juízo de primeiro grau dejurisdição.

Os atos tidos como ímprobos teriam sido praticados no Município de Santo Antônio do Tauá, sendo,portanto, este Juízo, nos termos do disposto no art. 2º da Lei n. 7.347/85, o competente paraapreciar e julgar esta causa.

Ultrapassada a questão da competência, deve-se investigar se o Ministério Público Estadual estálegitimado para esta causa e, ainda, se o Prefeito Municipal, que é um agente político, se submeteou não às sanções por improbidade administrativa.

A questão debatida nestes autos, isto é, a existência, ou não, de violação do dever de moralidade eeficiência administrativa, enquadra-se na categoria de direitos ou interesses

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difusos ou coletivos, tendo, assim, o Ministério Público Estadual, nos termos do disposto no art. 129,III, da Constituição Federal, combinado com o art. 17, caput, da Lei 8.429/1992, legitimidade parafigurar no polo ativo desta demanda, conforme se vê nos arestos seguintes:

‘Administrativo. Recurso Especial. Ação Civil Pública sob a imputação de ato de improbidade administrativa.Alegação de violação ao art. 330 do CPC. Falta de prequestionamento. Súmula 211/STJ. O MinistérioPúblico possui legitimidade ativa para a propositura da Ação Civil Pública por ato de improbidade. RecursoEspecial desprovido.

1. A questão referente ao art. 330 do CPC não foi objeto de decisão e debate pelo Tribunal de origem e, noEspecial, não houve a indicação de ofensa ao art. 535 do CPC, o que levaria ao exame de possível omissão.Manifesta é, portanto, a ausência de prequestionamento, o que atrai a incidência da Súmula 211 do STJ.

2. O Ministério Público tem legitimidade ad causam para a propositura de Ação Civil Pública objetivando oressarcimento de danos ao erário, decorrentes de atos de improbidade (AgRg no ARESP. 76.985/MS, Rel.Min. CESAR ASFOR ROCHA, DJe 18.5.2012), desde que não prescrita a sancionabilidade do agentepraticante do próprio ato ímprobo, sem prejuízo da eventual ação de direito comum.

3. Recurso Especial desprovido’ (STJ. Primeira Turma. RESP. 1203232/SP. Relator: Ministro NapoleãoNunes Maia Filho, j. 03/09/2013).

‘Administrativo. Agravo Regimental no Agravo Regimental no Recurso Especial. Ação Civil Pública.Improbidade Administrativa. Possibilidade. Competência. Aplicação do art. 2º da Lei n. 7.347/85. Agravo nãoprovido.

1. É firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quanto ao cabimento de propositura de Ação CivilPública para apuração de improbidade administrativa, aplicando-se, para apuração da competência territorial,a regra prevista no art. 2º da Lei 7.347/85, que dispõe que a ação

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deverá ser proposta no foro do local onde ocorrer o dano.

2. Há legitimidade e interesse do Ministério Público para ajuizar ações civis públicas por ato de improbidadeadministrativa em qualquer de suas modalidades – enriquecimento ilícito, dano ao erário ou atentado aosprincípios da Administração Pública -, e não apenas quando tenha havido dano ao erário, bem como tambémé pacífico o entendimento pela possibilidade de ajuizamento de ação civil pública que vise aplicar as sançõesda Lei de Improbidade Administrativa, não havendo qualquer equívoco em face da existência de pedidoscumulados (RESP. 944.295/SP. Rel. Min. CASTRO MEIRA, Segunda Turma. DJ 18/09/07).

3. Agravo Regimental não provido’ (STJ. Primeira Turma. AgRg no AgRg no RESP 1334872/RJ. Relator:Ministro ARNALDO STEVES LIMA, j. 06/08/2013).

O requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA, por sua vez, apesar de ser um agente político no exercício desuas funções, se submete, diante da independência das esferas civil, administrativa e política, àssanções por ato de improbidade descritas no art. 37, parágrafo 4º, da Magna Carta como, aliás,destaca Wallace Paiva Martins Júnior:

‘Com o conceito amplo do art. 2º, a lei atinge todo aquele que se vincula à Administração Pública, com ousem remuneração, definitiva ou transitoriamente, abrangendo servidores e funcionários públicos, civis emilitares, agentes políticos, administrativos, honoríficos, delegados e credenciados, quer sejam pessoasfísicas, quer jurídicas, ou seja, todo aquele que exerce função pública (mandato, cargo, emprego ou funçãopública), independentemente do modo de investidura (nomeação, designação, eleição, contratação,requisição, parcerias e contrato de gestão, nos termos do art. 70, parágrafo único, da CF e das Leis Federaisn. 9.637/98 e 9.790/99, etc.)’ (Probidade Administrativa. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 279).

Nesta esteira verte, ainda, a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, de que sãoexemplos os arestos seguintes:

‘Administrativo. Recurso Especial. Violação ao art. 535 do CPC. Inocorrência. Imputação de ato de

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improbidade administrativa. Compras e contratações fraudulentas destinadas a beneficiar pessoasdeterminadas. Alegação de que os agentes políticos não estão submetidos à Lei 8.429/92. Precedentes daCorte Especial. RCL 2.790/SC, Min. Rel. TEORI ALBINO ZAVASCHI. Ressarcimento de dano ao erário.Imprescritibilidade. Ressalva do ponto de vista do Relator. Recurso Especial a que se nega provimento.

1. Não se reconhece da violação ao art. 535 do CPC, porquanto a lide foi resolvida com a devidafundamentação, não sendo obrigatório ao órgão julgador responder, um a um, os questionamentossuscitados pelas partes, mormente se notário o caráter de infringência do julgado.

2. A Corte Especial, no julgamento da RCL 2.790/SC, de Relatoria do Eminente Ministro TEORI ALBINOZAVASCHI, já orientou caber a submissão dos agentes políticos à Lei de Improbidade Administrativa e ajurisprudência desta Corte e STF vem se mantendo majoritária nesse sentido.

3. A prescrição das sanções pela prática de atos de improbidade não impede o ajuizamento de açãoobjetivando ressarcimento de dano, mas deverá cursar segundo o procedimento civil comum ordinário,previsto no CPC, porque a ação civil pública tem finalidade específica e inampliável, conforme liçõesprocessuais antigas e reverenciadas; o processo civil, há muito tempo, tornou-se capítulo importante daCiência Jurídica, munido de metodologia e autonomia didática próprias.

4. A jurisprudência desta Corte inclina-se em favor da imprescritibilidade da ação de ressarcimento de danoou prejuízo ao erário, embora o tema esteja submetido, no STF, a apreciação em sede de recurso emrepercussão geral (RE 669.069/MG), ainda pendente de solução.

5. Ministério Público Federal, em parecer da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República, MARIACAETANA CINTRA SANTOS, manifestou-se pelo não conhecimento do recurso.

6. Recurso Especial a que se nega provimento’ (RESP. 1232548/SP. Relator: Ministro Napoleão Nunes MaiaFilho, j. 17/09/2013).

‘Administrativo e Processual Civil. Ação Civil Pública. Improbidade administrativa. Violação do art.

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535 do CPC não caracterizada. Legitimidade do Ministério Público e propriedade da via eleita. Foro porprerrogativa de função. Inexistência. Aplicação da Lei 8.429/1992 aos agentes políticos. Contratação semconcurso público. Extinta empresa estadual. Art. 11 da Lei 8.429/1992. Configuração do dolo genérico.Prescindibilidade de dano ao erário. Cominação das sanções. Art. 12 da LIA. Redução da multa civil.

1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, asquestões essenciais ao julgamento da lide.

2. O Ministério Público possui legitimidade para ajuizar ação civil pública objetivando a defesa do patrimôniopúblico e da moralidade administrativa

3. Descabe falar em foro por prerrogativa de função, em ação de improbidade administrativa, ante ojulgamento da ADIN 2.797 pelo STF, que declarou a inconstitucionalidade da Lei 10.628/2002, que alterou aredação do art. 84, §§ 1º e 2º, do CPP.

4. Os sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa não são apenas os servidores públicos, mastodos aqueles que estejam abarcados no conceito de agente público, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei8.429/1992. Precedentes.

5. Aplica-se a Lei 8.429/1992 aos agentes políticos. Precedentes.

6. A caracterização do ato de improbidade administrativa por ofensa a princípios da administração públicaexige a demonstração do dolo lato sensu ou genérico. Precedentes.

7. O ilícito previsto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992 dispensa a prova de dano, segundo a jurisprudência destaCorte.

8. Multa civil reduzida para 25 (vinte e cinco) vezes o valor percebido pelo agente no cargo de governador deEstado à época dos fatos.

9. Recurso Especial parcialmente provido’ (RESP 1135158/SP. Relator: Ministra Eliana Calmon, j.

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20/06/2013).

Estando presentes na espécie, nos termos do esposado, as condições da ação e os pressupostosprocessuais, deve-se enfrentar a questão relativa ao cabimento, ou não, das tutelas de urgênciarequeridas, que consistem no BLOQUEIO, através do sistema BACENJUD, de sessenta por centodas receitas auferidas pela Municipalidade, com vistas a garantir o pagamento regular dos saláriosvincendos dos servidores públicos municipais, e, ainda, no AFASTAMENTO do segundo requerido,isto é, de SÉRGIO HIDEKI HIURA, do cargo eletivo de PREFEITO MUNICIPAL.

Diante da dicção do art. 2º da Lei 8.437/1992 há de se investigar se a providência acautelatóriapretendida contra a Municipalidade, que consiste no BLOQUEIO de suas contas bancárias, podeser alcançada em juízo de cognição sumária sem a prévia audiência do representante judicial dapessoa jurídica de direito público.

O rigor da regra consubstanciada no art. 2º da Lei 8.437/1992, sem dúvida, deve ser mitigado parapermitir-se a concessão da medida liminar pleiteada antes da prévia oitiva do representante judicialda pessoa jurídica de direito público, desde que reste provada a urgência da medida, isto é, que oato vergastado está ocasionando danos irreparáveis ou de difícil reparação a um grupodeterminado, ou determinável, de trabalhadores ou à própria sociedade.

Neste diapasão é o entendimento dos Tribunais Pátrios de que são exemplos os arestos abaixotranscritos:

‘Administrativo. Ação Civil Pública. Concessão de liminar sem oitiva do Poder Público. Art. 2° da Lei8.437/1992. Ausência de nulidade.

1. O STJ, em casos excepcionais, tem mitigado a regra esboçada no art. 2º da Lei 8437/1992, aceitando aconcessão da Antecipação de Tutela sem a oitiva do Poder Público quando presentes os

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requisitos legais para conceder medida liminar em Ação Civil Pública.

2. No caso dos autos, não ficou comprovado qualquer prejuízo ao agravante advindo do fato de não ter sidoouvido previamente quando da concessão da medida liminar.

3. Agravo Regimental não provido’ (STJ. 2ª Turma. AgRg no Agravo de Instrumento n. 1.314.453 - RS(2010/0098005-0). Relator: Ministro Herman Benjamin, j. 21/09/2010).

‘Administrativo. Ação Civil Pública. Obrigação de fazer. Reativação de estágio curricular emestabelecimentos de saúde municipais. Liminar concedida, excepcionalmente, sem oitiva prévia da pessoajurídica de direito público. Presença dos requisitos legais para a concessão e ausência de prejuízo aointeresse público. Inexistência de ofensa ao art. da Lei n. /1992. Descumprimento do comando da sentença.Multa cominatória diária. Afastamento. Pretensão de reexame de provas. Súmula 7/STJ. Fixação deastreintes em antecipação de tutela. Possibilidade. Desnecessidade, para execução da multa, de decisãotransitada em julgado. Alegação de afronta ao art. , , do . Ônus da prova. Deficiência argumentativa. Súmula284/STF. Decisão mantida.

1. Excepcionalmente, é possível conceder liminar sem prévia oitiva da pessoa jurídica de direito público,desde que não ocorra prejuízo a seus bens e interesses ou quando presentes os requisitos legais para aconcessão de medida liminar em Ação Civil Pública. Hipótese que não configura ofensa ao art. da Lei n./1992. Precedentes.

2. A Corte de origem decidiu manter a multa cominatória diária por descumprimento da obrigação de fazer,pois, com base nos elementos de convicção dos autos, entendeu que o Município não comprovou aobservância ao comando da sentença, qual seja, a reativação dos estágios curriculares no âmbito dosestabelecimentos de saúde municipais. Insuscetível de revisão o referido entendimento, por demandarincursão no conjunto fático-probatório dos autos, providência vedada em Recurso Especial, nos termos daSúmula 7/STJ.

3. ‘É desnecessário o trânsito em julgado da sentença para que seja executada a multa por descumprimentofixada em antecipação de tutela’ (AgRg no ARESP 50.816/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma,julgado em 7/8/2012, DJE 22/8/2012.)

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4. No tocante à alegada afronta ao art. , , do , há evidente deficiência argumentativa, porquanto o Tribunal deorigem não imputou ao recorrido o ônus de provar que o recorrido descumpriu sua obrigação de fazer.Aplicação, por analogia, da Súmula 284/STF.

Agravo regimental improvido’ (STJ. 2ª Turma. AgRg no RESP n. 1.372.950/PB (2013/0064961-4). Relator:Ministro Humberto Martins).

‘Agravo de Instrumento. Ação condenatória. Preliminar rejeitada. Possibilidade de concessão de tutela antesda oitiva do representante judicial da pessoa jurídica de direito público. Prova de urgência da medida.Atestado médico corroborando a necessidade de realização dos exames prescritos. Direito à saúde - Art.196, da Magna Carta. Inexistência de prova quanto à existência de tratamento similar. Ônus do recorrente.Inteligência do art. 333, II, do CPC. Tutela antecipada deferida. Presença dos requisitos constantes no art.273, do CPC. Insuficiência de recursos da agravada. Manutenção da decisão fustigada. Recurso conhecido eimprovido. Decisão unânime. A jurisprudência pátria vem acenando para possibilidade da concessão deliminar antes da prévia oitiva do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, desde que resteprovada a urgência da medida, pois do contrário, poderia inviabilizar a eficácia do acesso à jurisdição’ ( em14/05/2012).

No caso em tela atribui-se ao gestor municipal o atraso contínuo e injustificado no pagamento daremuneração dos servidores públicos.

O recebimento da remuneração, que é uma contrapartida decorrente da cessão da força detrabalho, é um direito social vinculado ao preceito fundamental da dignidade da pessoa humana,que está esculpido no art. 1º, II, da Constituição Federal de 1988.

A dignidade da pessoa humana, que é um estado ou condição que deve ser tutelada peloordenamento jurídico e assegurada pela ação efetiva do Estado, tem como um de seuscomponentes o direito ao trabalho e a percepção de seus frutos como, aliás, destaca HelderMartinez Dal Col:

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‘O trabalho, indiscutivelmente, figura como um dos componentes da condição de dignidade da pessoa.Quando se trata do trabalho, no entanto, a garantia de uma profissão ou atividade digna, para o sustentopróprio do trabalhador, da sua família, defronta-se com os interesses do capital, o qual, todavia, jamais podesobrepujar-se à importância do ser humano. É para o bem estar do ser humano, que o trabalho se direciona.É para garantir o seu estado de bem-viver, condignamente, com o respaldo moral de poder assegurar a si ea sua família o sustento, a saúde, o lazer e o progresso material contínuo e crescente, que deve voltar-se oemprego’ (O princípio da dignidade da pessoa humana, o direito ao trabalho e a prevenção da infortunística –Síntese Jornal – Junho/2004, ano 08 – n. 88 – pg. 15-17).

Os salários ou vencimentos dos servidores públicos municipais, como os dos trabalhadores emgeral, é fonte necessária para o provimento de suas necessidades básicas e de sua família, comotambém o patamar para o estabelecimento de seu planejamento orçamentário, isto é, para aaquisição de bens e serviços.

O atraso contínuo e injustiçado no pagamento dos vencimentos mensais dos servidores públicosmunicipais não apenas compromete irremediavelmente o atendimento das necessidades básicas decada um deles e de seus familiares, como também lhes acarreta danos graves de difícil reparação,já que desestabiliza os seus orçamentos domésticos impossibilitando-os de honrar nas épocaspróprias os compromissos assumidos, o que implicará na incidência de encargos sobre as dívidas jácontraídas.

Tendo a conduta vergastada o condão de provocar danos graves e de difícil reparação aosservidores públicos municipais, como restou acima demonstrado, é evidente que a medida liminarpretendida deve ser concedida, se cabível, independentemente da prévia oitiva do representantejudicial da pessoa jurídica de direito público com vistas a garantir-se a eficácia do acesso àjurisdição.

Ademais, a medida liminar pretendida, se deferida, não trará quaisquer prejuízos aos

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interesses e bens do Poder Público, já que os recursos necessários ao pagamento pretendido jáestão incluídos no planejamento orçamentário da Municipalidade.

Tratando-se de recursos já incluídos no planejamento orçamentário da Municipalidade, é evidenteque a medida liminar pretendida não atrai a incidência da regra proibitiva descrita no art. 2° da Lei8.437/92, conforme se vê no aresto seguinte:

‘Agravo de Instrumento. Processual Civil e Administrativo. Professor da Secretaria de Educação do DF.Servidor aposentado. TIDEM – Gratificação em Atividade de Dedicação Exclusiva em Tempo Integral.Redução. Lei n. 9.494/97. Inaplicabilidade. Antecipação de Tutela negada no Juízo a quo. Reforma dadecisão recorrida.

1. A Lei n. 9.494/97, em seu art. 1º, caput, veda a aplicação de antecipação de tutela em desfavor daFazenda Pública para assegurar pagamentos de vencimentos e vantagens pecuniárias. Ademais, o art. 2º-B,do mencionado Diploma Legal, estabelece que ‘a sentença que tenha por objeto a liberação de recurso,inclusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação, concessão de aumento ou extensão devantagens a servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive de suasAutarquias e Fundações, somente poderá ser executada após o seu trânsito em julgado’.

2. Em se tratando do restabelecimento do pagamento integral do TIDEM, ou seja, de gratificaçãoanteriormente percebida e reduzida sem o devido contraditório e a ampla defesa, situação não prevista nosreferidos dispositivos, não se aplica a restrição constante da Lei n. 9.494/97.3. Agravo provido’ (TJDFT. 4ª Turma Cível. AGI 2012002007447-8. Relato: Desembargador ArnaldoCamanho de Assis, j. 29/08/2012).

A análise do cabimento, ou não, do BLOQUEIO pretendido, diante dos danos graves e de difícilreparação que estão sendo impingidos aos servidores públicos municipais, pode ser realizadaindependentemente da audiência da parte contrária.

A providência a que se refere o art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/1992, por seu

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turno, é uma medida acautelatória que se impõe quando o contexto probatório autorizar a conclusãode que a permanência do agente público no cargo perturbará a coleta das provas necessárias aodeslinde da causa e, ainda, implicará na renovação ou repetição dos alegados atos de improbidadeadministrativa com o surgimento de novos danos ao erário público, à sociedade e a um grupodeterminado, ou determinável, de trabalhadores como, aliás, destaca Wallace Paiva Martins Júnior:

‘O parágrafo único do art. 20 possibilita ao juiz ou à autoridade administrativa o afastamento cautelar doagente público do exercício do cargo, emprego ou função pública. Trata-se de medida cautelar cujo requisitoimprescindível é a necessidade da instrução processual, e assim deve ser expressamente motivada a suaconcessão. Não raro, para a captação dos elementos probatórios, é da conveniência da instrução afastar-seo servidor de suas funções para evitar perecimento de provas, influência sobre testemunhas, notadamentese ele é dotado de poder de mando. [...] a doutrina admite que a liminar se impõe, quando o agente públicose porta de uma maneira tal, que induz à presunção de que, ficando em seu cargo, acarretará novos danosao Erário Público e à sociedade’ (Ibidem, p. 387-388).

Em igual sentido é o entendimento dos Tribunais Pátrios, conforme se vê no aresto transcrito aseguir:

‘Agravo de Instrumento. Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa. Agentes Públicos doMunicípio de Ninheira. Quebra dos sigilos bancário e fiscal. Inocorrência. Decretação da Indisponibilidade debens. Periculum in mora presumido. Demonstração do fumus boni iuris. Fortes indícios de lesão ao erário.Limitação ao valor do dano ao erário e da multa civil a ser aplicada. Medida cautelar de afastamento doscargos. Lei n. 8.429/92, art. 20, parágrafo único – risco a instrução processual. Recurso provido em parte.

‘[...] Manutenção do afastamento liminar dos agravantes do exercício dos cargos públicos, a fim de garantir aadequada instrução da ação civil pública, até ulterior deliberação do juízo de primeiro grau’ (TJMG. Agravode Instrumento n. 1.0627.12.000834-7/002. Relatora: Aurea Brasil, j. 26/09/2013).

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Na espécie, o pleiteante atribui ao requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA, ocupante do cargo eletivo dePREFEITO MUNICIPAL, a prática de ato de improbidade administrativa, nos termos do disposto noart. 11, II, da Lei n. 8.429/1992, já que este vem atrasando reiteradamente e sem motivo justificadoo pagamento dos vencimentos dos servidores públicos municipais.

A Administração Pública, nos termos do disposto no art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988,deve pautar-se pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiênciaadministrativa.

A eficiência administrativa, que é uma faceta do princípio da boa administração e um predicado dalegalidade, já que compõe uma de suas dimensões materiais, exige que o administrador públicoexerça a sua atividade de forma racional e instrumental para o atendimento das necessidadescoletivas.

Os atos ilegais, comissivos ou omissivos, que resultem em extrema desorganização administrativa efinanceira, com graves e intoleráveis consequências para os servidores públicos e para osadministrados, além de revelarem deslealdade institucional por quebra da confiança, espelham aineficiência funcional do agente público, consoante destaca Paulo Modesto:

‘Nunca houve autorização constitucional para uma administração pública ineficiente. A boa gestão da coisapública é obrigação inerente a qualquer exercício da função administrativa e deve ser buscada nos limitesestabelecidos pela lei. A função administrativa é sempre atividade finalista, exercida em nome e em favor deterceiros, razão pela qual exige legalidade, impessoalidade, moralidade, responsabilidade, publicidade eeficiência dos seus exercentes. O exercício regular da função administrativa, numa democraciarepresentativa, repele não apenas o capricho e o arbítrio, mas também a negligência e a ineficiência, poisambos violam os interesses tutelados na lei’ (Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. JusNavegandi, Teresina, ano 5, n. 48, dez. 2000.

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Disponível em: ).

A Lei n. 8.429, de 02 de junho de 1992, descreve três tipos de atos caracterizadores de improbidadeadministrativa, a saber: a) os que importam em enriquecimento ilícito; b) os que causam prejuízosao erário público, e; c) os que atentam contra os princípios da Administração Pública, conformepontifica Hely Lopes Meirelles:

‘O prefeito pode também incorrer nas sanções previstas na Lei 8.429, de 2.6.1992, que define os atos deimprobidade administrativa e os classifica em três espécies: a) os que importam enriquecimento ilícito (art.9º); b) os que causam prejuízo ao erário (art. 10); e c) os que atentam contra os princípios da administraçãopública (art. 11)’ (Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores LTDA, p. 773).

Os atos de improbidade administrativa que estão descritos no art. 11 da Lei n. 8.429/02, emborapossam também acarretar danos à Administração Pública, não exigem para a sua caracterizaçãoque o agente tenha enriquecido ilicitamente ou causado prejuízo ao erário público, já queevidenciam, por si só, o desvio ético de conduta e a inabilitação moral do agente para o exercício defunção como, aliás, destaca Wallace Paiva Martins Junior:

‘Desse modo, se o agente público não enriqueceu ilicitamente nem causou prejuízos ao erário, ações ouomissões que atentem contra os princípios da Administração Pública (não somente os do art. 37 da CF, masos inerentes ao sistema, exemplificativamente arrolados no art. 11, caput, da Lei Federal n. 8.429/92) sãocensuradas, porquanto revelam o desvio ético de conduta, a inabilitação moral do agente público para oexercício de função pública’ (Ibidem, p. 260).

E, continua:

‘Entretanto, essa tutela específica não permite resumir que o art. 11 da Lei Federal n. 8.429/92 protegeexclusivamente os valores morais da Administração Pública. Havendo lesão patrimonial, também nessahipótese dar-se-á, além das outras cominações previstas no art. 12, III, o ressarcimento integral do dano,mostrando que os valores patrimoniais estão protegidos nessa

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espécie, se bem sejam dispensáveis para a caracterização dessa modalidade de improbidade administrativa’(Ibidem, p. 261).

Denota-se daí, que o conceito de improbidade administrativa também alcança os atos, comissivosou omissivos, reveladores da displicência, da tendenciosidade, da negligência, da deslealdadeinstitucional, do despreparo ou ineficiência funcional de seu agente, que provoquem danos materiaisou morais ao patrimônio coletivo como, aliás, enfatiza George Sarmento:

‘ [...] a preocupação com a boa qualidade dos serviços públicos ampliou o conceito de improbidadeadministrativa para alcançar os funcionários relapsos, despreparados, tendenciosos, parciais e negligentes.Além dos casos de enriquecimento ilícito, a Lei n. 8.429/92 também pune os agentes públicos que causaremdanos materiais ou morais ao erário. De forma que a punição recairá sobre os gestores responsáveis tantopela má qualidade do atendimento à população quanto pela prática de atos administrativos, comissivos ouomissivos, que provocarem prejuízos ao patrimônio coletivo’ (Improbidade administrativa. Porto Alegre:Editora Síntese, 2002, p. 100).

Fábio Medina Osório, por sua vez, preleciona:

‘O desonesto é um desleal, mas também o é o ineficiente, caso haja medidas específicas de reprovaçãosobre suas condutas (...). Veja-se que o legislador não quis somente os deveres de imparcialidade ouhonestidade. Esses deveres se encontram entrelaçados, mas é certo que a lealdade institucional, além deabranger tais deveres públicos, também traduz a perspectiva de punição à intolerável ineficiência funcional,no marco do qual o improbus se revela desleal em face ao setor público’ (Teoria da ImprobidadeAdministrativa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 137-138).

O atraso reiterado no pagamento da remuneração dos servidores públicos ou a retenção indevidadessa verba, apesar da pontualidade dos repasses federais e estaduais e da arrecadação dasreceitas próprias, não apenas demonstra a deslealdade institucional e a ineficiência funcional doagente público para gerir a comuna, como também viola

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frontalmente os princípios que regem a atividade administrativa.

A conduta consistente em atrasar ou reter de forma reiterada e injustificada a remuneração dosservidores públicos se subsumi ao disposto no art. 11, caput, e inciso II, da Lei 8.429/92 comodestaca, com proficiência, Fábio Medina Osório:

‘ [...] Na concretização do tipo legal em exame, basta que, sem qualquer justificação razoável, o agenteretarde ou omita a prática de atos de ofício, segundo a lei, vulnerando dispositivos que incidem na espécie.Os deveres públicos relacionados com as funções não podem ser desprezados sem justificação, dondesurge a razão de ser da norma repressora. A ausência de justificação, em realidade, é encarada comoodioso capricho do administrador público, de tal forma, que incide a respectiva censura ao seucomportamento, observadas as cautelas pertinentes no tocante ao ônus probatório e os direitos defensivos.

[...]

Toda e qualquer omissão, em realidade, sem justificativa razoável, pode ensejar responsabilidades,mormente quando seus efeitos são deletérios no setor público e suas causas injustificáveis’ (Ibidem, p. 409-411).

A respeito do assunto em pauta assim já se posicionou o Superior Tribunal de Justiça:

‘Administrativo. Ação Civil Pública. Ato de Improbidade. Ex-prefeito. Contratação de servidores municipaissob o regime excepcional temporário. Inexistência de atos tendentes à realização de concurso públicodurante todo o seu mandato. Ofensa aos princípios da legalidade e moralidade.

[...].

2. Para a configuração do ato de improbidade não se exige que tenha havido dano ou prejuízo material,restando alcançados os danos imateriais.

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[...].

4. Diante das Leis de Improbidade e de Responsabilidade Fiscal, inexiste espaço para o administrador‘desorganizado’ e ‘despreparado’, não se podendo conceber que um Prefeito assuma a administração de umMunicípio sem observância das mais comezinhas regras de direito público [...]’ (RESP 708170/MG. SegundaTurma. Relatora: Ministra Eliana Calmon, j. 06/12/2005).

No caso vertente há nos autos testemunhos com registros de que o pagamento dos vencimentosdos servidores públicos municipais está sendo realizado recorrentemente e injustificadamente comatraso como, aliás, de depreende das declarações firmadas no âmbito da Promotoria de Justiçalocal pelas servidoras HALETÉIA DO SOCORRO BARRETO DOS SANTOS e CRISTIANE DEJESUS PEREIRA (fls. 105-106 e 113-114).

Os extratos bancários apresentados pelas denunciantes, por sua vez, confirmam os relatos de queo pagamento da remuneração dos servidores municipais vem sendo realizado com atraso e emdatas indeterminadas (fls. 107-111 e 115-117).

Em expediente encaminhado a Promotoria de Justiça local, datado de 20 de novembro de 2013, aprópria Municipalidade, por intermédio de seu procurador, admitiu que os vencimentos dosservidores públicos vinculados à Administração em Geral, referentes ao mês de outubro do anopretérito, estavam em atraso e seriam quitados apenas no dia 02 de dezembro de 2013, comotambém confirmou que os funcionários da rede de ensino municipal não estavam recebendo acontraprestação que lhes é devida pela cessão de sua força de trabalho há dois meses, mas alegouque esses eventos eram decorrentes do retardamento dos repasses dos recursos provenientes doGoverno Federal (fls. 36-37).

Forçoso é concluir-se, diante do ajuizamento desta ação, que a Municipalidade não apresentou como expediente supracitado qualquer prova da alegada impontualidade dos repasses federais eestaduais, nem tampouco do retardamento da arrecadação de suas receitas próprias.

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Deve-se admitir, diante da inércia acima mencionada e, ainda, do federalismo cooperativo adotadopela Constituição Federal de 1988 como sendo a forma do Estado brasileiro, pelo menos para esteensejo, a pontualidade dos repasses federais e estaduais ao ente municipal, tendo em vista queessas receitas estão previstas na própria Magna Carta.

O conjunto probatório traz indícios consistentes de que o requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA,ocupante do cargo eletivo de PREFEITO MUNICIPAL, apesar da pontualidade dos repassesfederais e estaduais, vem atrasando o pagamento dos vencimentos dos servidores públicosmunicipais, conduta essa que, como demonstrado alhures, caracteriza, pelo menos em tese, ato deimprobidade administrativa, nos termos do disposto no art. 11, caput, e inciso II, da Lei n. 8.429/92.

Os elementos probatórios necessários à apuração do ato de improbidade administrativa noticiadonestes autos, evidentemente, estão custodiados na Municipalidade.

Os servidores públicos municipais, que são as potenciais testemunhas dos alegados atos deimprobidade aqui revelados, por sua vez, estão sob o comando do administrador apontado comofaltoso.

As situações acima esposadas dão indicativos concretos de que a permanência do requeridoSÉRGIO HIDEKI HIURA no cargo eletivo por si ocupado colocará em risco a instrução processualdiante da possibilidade deste promover o perecimento de provas, a sonegação de documentos e,ainda, exercer influência sobre as testemunhas.

Além disso, a conduta vergastada, segundo as declarações testemunhais, vem sendo assumidapelo requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA desde o início de sua administração, donde se conclui serplausível o prognóstico de que a permanência deste no cargo dará ensejo à repetição dos alegadosatos de improbidade causando, assim, novos danos aos

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servidores públicos municipais e ao patrimônio coletivo.

Conjugando-se a presença de riscos para a captação dos elementos probatórios com aplausibilidade de renovação dos alegados atos de improbidade, forçoso é concluir-se pelanecessidade de afastamento provisório do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA do cargo eletivo por siocupado, nos termos do disposto no art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/1992.

Com o afastamento provisório do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA do cargo eletivo por siocupado, não se divisa a necessidade do bloqueio pretendido, já que cessado estará o risco derenovação do alegado ato de improbidade.

Ante ao exposto, concedo parcialmente a MEDIDA ACAUTELATÓRIA pretendida para determinar oAFASTAMENTO PROVISÓRIO do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA do cargo de PREFEITOMUNICIPAL, por cento e vinte dias, com fulcro no art. 20, parágrafo único, da Lei n. 8.429/1992, nostermos da fundamentação.

Em face do AFASTAMENTO PROVISÓRIO do requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA, determino, comoum corolário lógico desta decisão, que o presidente da Câmara Municipal de Santo Antônio doTauá, seja INTIMADO para, no intervalo de vinte e quatro horas, dar posse ao seu substituto legal,isto é, ao Vice-Prefeito Municipal.

Determino, além disso, que o Município de Santo Antônio do Tauá seja CITADO do inteiro teor dapetição inicial, bem como para contestar os termos desta ação, no prazo de quinze dias, que serácomputado em quádruplo, através de petição firmada por advogado, que deve ser protocolizada naSecretaria Judicial desta unidade judiciária, situada na Trav. Mestre Rocha, n. 1231, Bairro Centro,na Cidade de Santa Izabel do Pará, sendo que em caso de inércia ser-lhe-á aplicada a pena derevelia sem incidência, no entanto, dos efeitos dela decorrentes (CPC, artigos 188, 285, 319 e 320,II).

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

Ordeno, ainda, que o requerido SÉRGIO HIDEKI HIURA seja CITADO/NOTIFICADO dos termosdesta ação, bem como para apresentar defesa preliminar, que poderá ser instruída comdocumentos e justificações, no prazo de quinze dias, mediante petição firmada por advogado, a serprotocolizada na Secretaria Judicial desta unidade judiciária, que fica localizada no endereço acimacitado (Lei n. 8.429/92, art. 17, parágrafo 7º).

Esta decisão, por meio de cópia digitalizada, servirá como mandado de citação, de notificação e,ainda, de intimação.

Int.

Santo Antônio do Tauá, 26/02/2014.

IACY SALGADO VIEIRA DOS SANTOSJuíza de Direito da Comarca de Santo Antônio do Tauá.

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