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LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE 02.08.12 1. LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (Lei 8.072/1990) Lei editada por previsão da CF. As infrações mais graves são denominadas “crimes hediondos”, as mais leves são denominadas “infrações de menor potencial ofensivo”. Por esse motivo a CF determinou a edição de duas normas. O Legislador, obedecendo à ordem Constitucional, editou a Lei 8.072/90. A fim de tratar dos crimes de menor potencial ofensivo, o Legislador editou a Lei 9.099. Para definir o que são crimes hediondos a Lei criou critérios extremamente rígidos, não permitindo ao magistrado o enquadramento em outras situações. Vale ressaltar que não importam as circunstâncias concretas, o crime sempre será considerado hediondo. A CF determinou, em seu art. 5º, inc. XLIII, a existência dos crimes hediondos: Art. 5º - XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Inicialmente a CF prevê quais são os crimes hediondos e permite que o Legislador escolha quais são os demais crimes que merecem uma punição mais severa. Tal previsão se consubstancia no art. 1º da Lei 8.072/90. Art. 1 o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2 o , I, II, III, IV e V); II - latrocínio (art. 157, § 3 o , in fine); III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2 o ); IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ l o , 2 o e 3 o ); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1 o e 2 o ); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1 o , 2 o , 3 o e 4 o ); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1 o ). VII-A – (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1 o , 2 o e 3 o da Lei n o 2.889, de 1 o de outubro de 1956, tentado ou consumado. Vale destacar que não há distinção de tratamento legal entre os crimes de tráfico, tortura e terrorismo (crimes equiparados aos hediondos) e os demais previstos no supracitado art. 1º. A única diferença entre os crimes equiparados aos hediondos e os hediondo reside no fato de que o rol dos crimes equiparados NÃO pode ser alterado pelo Legislação Penal Especial 1

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LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE02.08.12

1. LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (Lei 8.072/1990)

Lei editada por previsão da CF.

As infrações mais graves são denominadas “crimes hediondos”, as mais leves são denominadas “infrações de menor potencial ofensivo”. Por esse motivo a CF determinou a edição de duas normas. O Legislador, obedecendo à ordem Constitucional, editou a Lei 8.072/90. A fim de tratar dos crimes de menor potencial ofensivo, o Legislador editou a Lei 9.099.

Para definir o que são crimes hediondos a Lei criou critérios extremamente rígidos, não permitindo ao magistrado o enquadramento em outras situações. Vale ressaltar que não importam as circunstâncias concretas, o crime sempre será considerado hediondo.

A CF determinou, em seu art. 5º, inc. XLIII, a existência dos crimes hediondos:

Art. 5º - XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Inicialmente a CF prevê quais são os crimes hediondos e permite que o Legislador escolha quais são os demais crimes que merecem uma punição mais severa. Tal previsão se consubstancia no art. 1º da Lei 8.072/90.

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). VII-A – (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1 o , 2 o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.

Vale destacar que não há distinção de tratamento legal entre os crimes de tráfico, tortura e terrorismo (crimes equiparados aos hediondos) e os demais previstos no supracitado art. 1º.

A única diferença entre os crimes equiparados aos hediondos e os hediondo reside no fato de que o rol dos crimes equiparados NÃO pode ser alterado pelo legislador ordinário. Ex.: atualmente o roubo com emprego de arma não é hediondo, entretanto, caso o legislador queira poderá inseri-lo no rol de crimes hediondos. Entrementes o rol de crimes equiparados não poderá ser ampliado ou restringido, tendo em vista que estão previstos na CF.

a. Crimes de tortura : são aqueles previstos na Lei de Tortura (9.455/1997);

b. Tráfico de Drogas : são os crimes previstos nos artigos 33 à 37 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006)

c. Terrorismo : não há na legislação penal nenhum crime com a denominação “terrorismo”. Em virtude disso, há uma corrente doutrinária que sustenta a inaplicabilidade deste dispositivo em virtude de ausência de dispositivo legal que o defina. Por outro lado, outra corrente, majoritária, sustenta que o crime de terrorismo já existe, em que pese não possuir o mesmo nome. Trata-se o crime definido no art. 20 da Lei de Segurança Nacional (lei 7.170/1983).

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A Lei define como hediondos os seguintes crimes:

a. HOMICÍDIO SIMPLES praticado em ação típica de grupo de extermínio, ainda que praticado por um só agente; o homicídio não qualificado somente será hediondo nesta hipótese.

Vale destacar que a Lei não deixa claro o que vem a ser grupo de extermínio. Há corrente doutrinária que sustenta que grupo de extermínio é a quadrilha ou bando que se forma com a finalidade de praticar homicídios.

Vale destacar que o crime de homicídio poderá ser praticado por apenas um membro do grupo.

b. HOMICÍDIO QUALIFICADO o homicídio qualificado foi inserido no rol de crimes hediondos pela Lei 8.930/94, a qual ficou conhecida como Lei Daniela Perez.

OBS.: Homicídio é híbrido é o homicídio que, ao mesmo tempo, é privilegiado e qualificado. Neste caso, prevalece o entendimento de que o homicídio híbrido NÃO é crime hediondo.

c. GENOCÍDIO é o único crime que não está previsto no CP. Sua previsão consta nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56.

OBS.: Vale ressaltar que os crimes serão hediondos tanto na forma consumada quanto na forma tentada, ou seja, o fato de não ter sido consumado não retira do crime sua qualidade de hediondo.

Aula 09.08.12

CONSEQUÊNCIAS DA HEDIONDEZAlguma dessas consequências tem natureza penal outras são de natureza processual.

a) Proibição da anistia, graça ou indulto (art. 2°, inc. I, da lei 8.072/90). Note que a anistia, graça e o indulto são causa de extinção da punibilidade (art. 107, II, do CP).

Anistia é dada por ato do Congresso Nacional, ao passo que a graça e o indulto (por meio de decreto, concedendo a extinção da punibilidade) são conferidos pelo Presidente da República, por meio de decreto.

Observe que o indulto pode ser individual ou coletivo. O indulto individual também é chamado de graça. Já o indulto que o Presidente costuma dar no final do ano, que é chamado de indulto de natal, é o

indulto coletivo.

Constituição Federal Lei dos Crimes HediondosAduz que os crimes hediondos são insuscetíveis de graça e anistia, porém, não faz menção ao indulto.

Proíbe para os crimes hediondos a anistia, a graça e o indulto.

Em razão da mencionada disposição da CF e da Lei dos Crimes hediondos, temos as seguintes correntes em relação ao tema:

1. Uma corrente afirma que a proibição do indulto pela lei é inconstitucional, pois o legislador está criando uma condição que a Constituição não prevê. Essa é a corrente minoritária.2. Já a corrente majoritária sustenta que a proibição do indulto já está implícita na proibição da graça. Evidente, pois se é proibido dar indulto (graça) para um o que dirá dar indulto para muitos.

b) Proibição da liberdade provisória com fiança (art. 2°, inc. II): a lei determina que os crimes hediondos são inafiançáveis. Neste ponto, ela repete a CF. Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II – fiança;

A liberdade provisória poderá ser de duas espécies: o Na liberdade provisória com fiança, exige-se o recolhimento de uma determinada quantia como

garantia de que o liberado cumprirá suas obrigações. o Na liberdade provisória sem fiança, não se exige a garantia monetária. O individuo simplesmente

assina um compromisso de que cumprirá as suas obrigações. Legislação Penal Especial 2

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A lei 11.464/2007 promoveu alterações em vários dispositivos da lei de crimes hediondos, dentre as mudanças, alterou o art. 2°, passando a dispor que os crimes hediondos são somente inafiançáveis. Assim, se o agente for preso em flagrante por tráfico de entorpecentes, o crime é inafiançável, mas se o juiz desejar conceder a liberdade provisória sem fiança, não haverá problemas.

Até pouco tempo atrás, o STJ e o STF, vinham decidindo que essa alteração legislativa não trazia consequências, pois se o preso não pode obter liberdade nem mesmo recolhendo fiança, com mais razão, ela é proibida sem esse recolhimento.

A CF dispõe que os crimes são apenas inafiançáveis, assim, a lei não poderia proibir. Todavia, mais recentemente, o STJ e o STF, têm mudado a orientação, vez que têm concedido liberdade provisória sem fiança para crimes hediondos.

c) Excepcionalidade do direito de apelar em liberdade (art. 2°, § 3°)Art. 2º - § 3º: Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. A lei dispõe que o juiz deve apresentar sua fundamentação quando permitir que o condenado em 1° grau por crime hediondo apele em liberdade.

Assim, a regra é que se o criminoso for condenado em 1° grau e quiser apelar, ele deve ficar preso, a exceção é a liberdade Portanto, se o juiz quiser deixar o criminoso solto, deverá justificar sua decisão.

A regra é não dar efeito suspensivo à prisão. No entanto, a jurisprudência jamais aplicou isso, pois se o réu responde solto ao processo, a mera

sentença condenatória recorrível, por si mesma, não pode determinar a sua prisão, sob pena de violação da presunção de inocência.

Oportuno destacar que se o agente está respondendo solto e é condenado em sentença recorrível, o juiz não poderá determinar que ele seja preso pelo simples fato de ter sido condenado, visto que ainda cabe apelação, pois a sentença não transitou em julgado. O agente somente poderá ser preso se der causa à prisão.

d) Prazo maior para a prisão temporária da lei 7.960/89 - Art. 2°, § 4°: A prisão temporária (aquela que é decretada no curso do inquérito para propiciar o bom andamento deste), sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Para os crimes não hediondos a lei 7.960 prevê que o prazo da prisão temporária é de no máximo 5 dias, prorrogável por mais 5 dias. Portanto, na fase da investigação o sujeito pode ficar preso até 10 dias.

Para os crimes hediondos a lei estipula o prazo de 30 dias, prorrogável por mais 30 dias.

e) Pena em regime inicial fechado obrigatório e prazos maiores para a progressão (art. 2°, § 1°) Art. 2º, § 1°: A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.

Originalmente esse parágrafo previa que o regime de cumprimento de pena por crimes hediondos seria integralmente fechado. O único benefício que a lei previa era o livramento condicional.

LIVRAMENTO CONDICIONAL: benefício dado no final do cumprimento da pena, permitindo o cumprimento da pena em liberdade. PROGRESSÃO DE REGIME: é forma de cumprimento da pena, que poderá ser alterada no transcurso do cumprimento da pena.

A lei 11.464 determinou que o condenado por crime hediondo, qualquer que seja a pena, obrigatoriamente iniciará o cumprimento em regime fechado e só obterá a progressão quando cumpridos 2/5, se ele for primário e 3/5 se ele for reincidente.

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A questão quando ao regime inicial também é polêmica. Recentemente, o STF, de forma incidental (numa ação determinada), não é erga omnes, julgou inconstitucional a obrigatoriedade do regime inicial fechado. f) Prazo maior para o livramento condicional (art. 5°): Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos, desde que:V - cumprido mais de 2/3 da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.o Para os crimes não hediondos, o CP prevê que o livramento condicional exige o cumprimento de 1/3 da

pena se o condenado é primário, e de metade da pena, se ele é reincidente. o Para os crimes hediondos, a lei 8.072, exige o cumprimento de 2/3 da pena, desde que o condenado

não seja “reincidente específico em crimes desta natureza”, pois neste caso, o livramento é proibido. Reincidente específico é aquele que já foi condenado por determinado crime, em decisão

transitada em julgado e depois comete o mesmo crime. O acréscimo da expressão “em crimes desta natureza”, ou seja, de natureza hedionda, suscitou

debates, surgindo duas posições:o O livramento só é proibido para aquele que comete o mesmo crime hediondo pelo qual foi condenado.

Ex.: Estupro e estupro.o O livramento é proibido para aquele que tendo sido condenado por um crime hediondo, depois comete

qualquer crime hediondo. Ex.: Tráfico e estupro. Prevalece a segunda corrente.

g) “Traição benéfica” (art. 8°, parágrafo único): é a redução de 1 a 2/3 da pena para o membro de quadrilha dedicado aos crimes hediondos que a delatar a autoridade, permitindo o seu desmantelamento.Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

SINOPSE - Consequências da hediondez:a) Proibição da anistia, graça ou indulto (art. 2°, inc. I, da lei 8.072/90)b) Proibição da liberdade provisória com fiança (art. 2°, inc. II)c) Excepcionalidade do direito de apelar em liberdade (art. 2°, § 3°)d) Prazo maior para a prisão temporária da lei 7.960/89 (art. 2°, § 4°)e) Pena em regime inicial fechado obrigatório e prazos maiores para a progressão (art. 2°, § 1°)f) Prazo maior para o livramento condicional (art. 5°)g) Traição benéfica (art. 8°, parágrafo único).

LEI DE DROGAS – n° 11.343/2006 Lei antiga n° 6.368/1976

O que se entende por drogas?Art. 1° da Lei de drogas: Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

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Parágrafo único. Para fins desta Lei, “ consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.

Portanto, necessariamente, as drogas são substancias capazes de tornar a pessoa dependente, ou seja, para continuar vivendo normalmente, a pessoa precisa dessa substância, vez que sem a droga, essa pessoa passa a ter reações físicas (tremedeiras) e psíquicas (alucinações).

Todavia, para os fins da lei, somente serão drogas as substâncias capazes de causar dependência e que estão relacionadas nas listas. Nem toda substância apta a causar dependência é considerada droga para fins dessa lei, somente aquelas que estejam relacionadas em lei ou lista exarada pelo Poder Executivo.

A lista detalhando as drogas será elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Compete a ela estabelecer quais são as substância que constituem drogas para os fins desta lei. Atualmente a relação das drogas que configuram os crimes desta lei – 11.343, está disposta na Portaria 344/2008.

Diante da necessidade de discriminação de quais são as drogas, conclui-se que esta é uma norma penal em branco, tendo em vista que necessita de regulamentação dada por outro ato normativo.

Assim, podemos concluir que as normas penais desta lei são normas penais em branco, ou seja, precisam de outra norma para complementá-la, visto que sem a outra norma, é inaplicável.

Todos os crimes relacionados às drogas tem como objeto jurídico (bem tutelado) a saúde pública, tendo como vítimas a coletividade.

A antiga Lei de Drogas (6.368/79) punia aquele que era mero usuário de drogas com pena de prisão. A lei atual aboliu a prisão, considerando que este necessita de tratamento, sendo a prisão reservada ao traficante.

Crime do art. 28 Posse de entorpecente para uso próprio.Esse crime não tem pena privativa de liberdade, não há prisão em flagrante ou pena preventiva.

Não se admite prisão processual (antes da condenação), tampouco flagrante. Por essa razão, uma corrente passou a afirmar que essa pena é meramente administrativa e não penal. O fundamento utilizado foi o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, o qual define crime como a “infração para o qual há pena de reclusão ou detenção”. Há que se observar que, segundo essa corrente, a condenação por esta conduta não geraria reincidência.

O art. 1° da lei de introdução ao código penal define crime como infração para o qual há pena de reclusão ou detenção. Assim sendo, como não há nenhuma destas penas para o crime do art. 28 da Lei de Drogas, não há crime. Portanto, a condenação para esta conduta não geraria reincidência.

O STF pacificou a segunda corrente, majoritária, entendendo que não são somente as penas de reclusão e detenção que caracterizariam conduta criminosa, podendo haver outras formas de se apenar o infrator, de sorte que essa conduta é criminosa, em que pese ser crime de menor potencial ofensivo. Trata-se de crime, pois pode haver crimes apenados de forma distinta da reclusão ou detenção. Destarte, gera reincidência. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:I - advertência sobre os efeitos das drogas;II - prestação de serviços à comunidade;III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

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§ 1°: Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.§ 2°: Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.§ 3°: As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 meses.§ 4°: Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 meses.§ 5°: A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas. § 6°: Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;II - multa.

§ 7°: O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Análise do crime do art. 28: 1) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Entende-se que o vício fomenta o tráfico e, muitas vezes, retira da sociedade indivíduo que poderia ser útil à sociedade, além ainda de dar causa à prática de diversos outros crimes.

2) Sujeito passivo: coletividade.

3) Tipo objetivo: o tipo possui vários núcleos. Núcleo do tipo é o verbo que descreve a conduta.I. Adquirir;

II. Guardar: significa guardar em casa ou tomar conta;III. Manter em depósito: guardar em outro lugar;IV. Transportar: fazer levar de um ugar para outro ou trazer consigo.

4) Objeto material: o objeto sobre o qual recaem essas condutas é a droga.

5) Dolo específico: a droga deve ser para uso próprio, para consumo pessoal. Note que se for para dar para alguém, constitui outro crime.

Importante observar que neste crime não existe a conduta consumir, utilizar, ou seja, o uso pretérito é atípico, não há crime. Ex.: Policia passa perto da boca de fumo, que está cheio de gente. Aborda usuários que consumiram drogas, mas não encontra nenhuma droga. Esta conduta não configura este crime, o que significa dizer que não haverá enquadramento neste crime se não houver apreensão de droga.

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6) Consumação: Na forma adquirir, o crime é instantâneo (consuma-se no momento em que o sujeito adquire). Em todas as outras formas, o crime é permanente (é aquele cuja consumação se prolonga no

tempo). Enquanto o sujeito estiver com as drogas está consumando o crime.

Atenção Dentre as condutas do tipo penal não está prevista a conduta “consumir, utilizar”, de sorte que o uso pretérito (a conduta praticada de ter usado droga) é conduta atípica, portanto não há crime. Somente há o crime com a apreensão de droga, ainda que em pequena quantidade. Ex.: polícia aborda indivíduos que confessam ter usado drogas, entretanto não apreende com eles qualquer quantidade, nesse caso não há que se falar em crime, a conduta é atípica. Ex.: polícia aborda indivíduos que confessam ter usado drogas, entretanto não apreende com eles qualquer quantidade, nesse caso não há que se falar em crime, a conduta é atípica.

7) Penas:I. Advertência sobre os efeitos das drogas .

II. Prestação de serviços à comunidade. Preferencialmente, prestará serviços em programas de combate às drogas e recuperação de viciados.

III. Comparecimento a programa ou curso educativo .

Quanto as penas II e III, são penas temporárias, que podem ser de 1 dia a 5 meses. Se for reincidente em crime específico, a pena aplicada poderá se estender por até 10 meses.

Em caso de descumprimento (art. 28, §6° e art. 29) da advertência, o juiz poderá substitui-la por outra pena. No descumprimento de qualquer outra das penas, o juiz inicialmente deve adverti-lo e se o condenado continuar descumprindo, o juiz substituirá as penas por multa de 40 a 100 dias-multa, sendo o valor de cada dia-multa de 1/30 avos do salário-mínimo até 3 salários-mínimos. O valor levantado com essas multas é destinado ao Fundo Nacional Antidrogas.

Portanto, em caso de não pagamento o valor torna-se divida ativa, sendo passível de execução fiscal. Caso o condenado descumpra a prestação de serviços à comunidade ou comparecimento em curso educativo, o juiz poderá, inicialmente, adverti-lo ou, caso continue descumprindo, poderá aplicar-lhe multa de 40 a 100 dias multa e o valor de cada dia multa poderá variar entre 1/30 a 3 vezes o salário mínimo.

As penas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente a critério do magistrado.

A prescrição (art. 30) desse crime tem o prazo único de 2 anos, seja a prescrição punitiva (prescrição anterior) ou a prescrição condenatória (prescrição posterior).Art. 30. Prescrevem em 2 anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

A lei fornece critérios para a apuração da finalidade de consumo pessoal no art. 28, § 2°: “Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente”.

Critérios - nenhum deles e objetivo e por vezes gera injustiças: Natureza e quantidade da droga são os critérios mais importantes. Em princípio, quem tem pouca

droga é para consumo pessoal. Já quem tem muita é para tráfico. 5 gramas de cocaína é para uso pessoal, já 100 gramas é para tráfico. Quanto à natureza: maconha, cocaína. Ex.: indivíduo que é

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pego com 10g de maconha é considerado usuário, outro é pego com 10g de cocaína, a qual é muito mais potente em relação a mesma quantidade de maconha.

Local em que o indivíduo se encontrava quando foi pego com drogas: é um critério muito complexo. Em geral, leva-se em consideração se o local onde o indivíduo foi pego era ou não ponto de tráfico.

Condições gerais: são várias, dentre elas, aqui se consideram a forma como a droga era acondicionada e transportada, os antecedentes do indivíduo, quantidade de dinheiro apreendida com o indivíduo. Ex.: Tijolo de drogas.

Antecedentes do sujeito

Com base nesses critérios o juiz é obrigado a fundamentar a sua decisão, ou seja, se a condenação foi por tráfico ou porte. Vale, contudo, destacar que nenhum desses critérios é suficientemente seguro.Aula 23.08.12

Condutas equiparadas Art. 28, § 1°: Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

SemearCultivar Plantas ou sementes para uso pessoalColher

Para que seja considerado crime leve deve existir dois requisitos: I. Pequena quantidade , todavia, a lei não define o que vem a ser pequena quantidade. Entretanto, leva-

se em consideração que deve ser uma quantidade razoável suficiente apenas para o uso.

II. Droga destinada exclusivamente para uso pessoal/do agente . Ainda que a quantidade seja pequena, não pode ser fornecida a droga a terceiro, deve ser exclusivamente para uso próprio.

TRÁFICO As condutas estão descritas no art. 33. O tipo penal tem 18 núcleos. Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa.

O que caracteriza as condutas é a finalidade. As condutas se referem a droga destinada a repasse a terceiros, ainda que gratuitamente. Não é

preciso que haja o intuito de lucro. O que caracteriza o tráfico é o repasse da droga a terceiros.

É um tipo penal misto alternativo, ou seja, prevê várias condutas, sendo que a prática de mais de uma delas pelo mesmo agente e no mesmo contexto, configura crime único. Ex.: O mesmo agente adquire, transporta, guarda, expõe à venda, oferece e vende a mesma droga. O agente estará praticando somente um crime (crime misto alternativo). Terminada toda a droga, se ele adquirir, etc., novamente estará praticando outro crime.

Consumação do crime de tráfico: em algumas condutas é crime instantâneo e em outras é crime permanente (a conduta se consuma em um período). Na forma adquirir, oferecer, vender (no momento da venda), ministrar (médico que receita a

droga) é crime instantâneo, se consuma no instante da prática da conduta.

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Na forma guardar, ter em depósito, transportar, expor à venda, são crimes permanentes. Enquanto o agente estiver praticando essas condutas o crime estará se consumando.

O art. 303, CPP, trata do flagrante no crime permanente. – “No crime permanente permite-se o flagrante no momento ou a qualquer tempo”, enquanto o crime estiver se consumando.

Na maior parte dos crimes de tráfico a consumação é permanente. Em que pese a CF defender a inviolabilidade de domicílio, a situação de flagrância autoriza a

invasão de domicílio a qualquer hora do dia ou da noite, independentemente de ordem judicial. Mas é preciso haver provas indicando que a pessoa tinha entorpecentes em sua casa. Ex.: Traficante fugindo de policiais adentra sua casa. Nessa situação, não é necessário respeitar a inviolabilidade de domicílio e nem a obtenção de mandado judicial. Se a suspeita não for concreta, é necessário mandado judicial.§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 a 3 anos, e multa de 100 a 300 dias-multa. § 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e pagamento de 700 a 1.500 dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Tentativa: o crime admite tentativa embora, raramente, se admita na prática. Normalmente só se descobre o crime após a sua consumação.

Condutas equiparadas ao crime de tráfico Art. 33, § 1o: Nas mesmas penas incorre quem:I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em

depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; prevê as mesmas condutas do caput, mas o objeto material do crime não é a droga pronta, é matéria prima, insumo ou produto químico destinado ao preparo de drogas, com finalidade de repasse.

o Matéria prima é a matéria da qual se extrai a própria droga. Ex.: Folha de coca.o Insumo é uma substância que é misturada à droga para consumo. Ex.: Bicarbonato. o Produto químico: é o produto acrescentado à matéria prima no preparo da própria droga. II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou

regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; Pune as condutas semear, cultivar ou colher plantas ou sementes.

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III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. Utilizar ou consentir que se utilize um local para o tráfico de drogas. Esse crime é o crime do proprietário, possuidor ou do responsável de modo geral, por um imóvel que ou ele mesmo utiliza para o tráfico ou permite que outros utilizem (nesse caso, o proprietário tem ciência da utilização). Ex.: O proprietário aluga sua casa, ciente de que o locatário irá utilizar o imóvel para vender drogas.

Tanto o caput como o § 1° do art. 33 configuram crimes equiparados ao hediondo. De modo geral, os crimes dos arts. 33 a 37 da lei são equiparados aos hediondos.

TRÁFICO PRIVILEGIADO § 4o : Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. É causa de diminuição de pena de 1/6 até 2/3 para os crimes do caput e do § 1°, desde que o réu apresente ao mesmo tempo quatro requisitos obrigatórios:

a) Deve ser primário: é aquele que não é reincidente. b) Deve ter bons antecedentes;c) O traficante não pode se dedicar a atividades criminosas;d) Não integrar organização criminosa. O legislador não explica essa situação, entretanto, a

jurisprudência entende que o traficante que não se dedica a atividades criminosas é aquele principiante, “de primeira viagem”, aquele que não faz do tráfico seu modo de subsistência.

Primário é aquele que não é reincidente. É aquele que comete crime antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória anterior.Reincidente é aquele que comete crime, após o trânsito em julgado da sentença condenatória do crime anterior. Mau antecedente: somente configura mau antecedente mediante o trânsito em julgado da condenação.Não se dedicar a atividades criminosas: o legislador assim tem considerado o traficante principiante (que entrou agora no negócio), aquele que não faz do tráfico seu modo de subsistência. Não integrar organização criminosa: a lei não define o que é organização criminosa.

Aplicada a redução de pena, a pena poderá variar de um ano a oito meses, será compatível com as penas de menor potencial ofensivo. Porém, mesmo assim, prevalece a jurisprudência de que este crime é hediondo, embora não seja pacifico o entendimento.

Ainda que aplicada a redução de pena o tráfico privilegiado será crime comparado aos hediondos. Ex.: caso a pena seja de 5 anos, aplicada a redução de 2/3, a pena seria de 1 ano e 8 meses, compatível com crime de menor potencial ofensivo, entretanto, prevalece na jurisprudência que, independentemente da pena em concreto, o crime de tráfico privilegiado continua sendo comparado aos hediondos.

A lei não diz qual critério deverá ser usado pelo magistrado para aplicar a redução de 1/6 ou 2/3, nesse sentido a jurisprudência entende que o critério a ser utilizado será a quantidade de droga apreendida. Quanto menor a quantidade de droga apreendida, maior a redução da pena. Se for pouca, será aplicada a redução de 2/3, se for maior, 1/3.

O CP permite a substituição da pena privativa de liberdade por pena alternativas ou restritiva de direito nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça e nos crimes dolosos apenados com até 4 anos. O trafico não é cometido sob violência ou grave ameaça.

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Quando aplicada a redução da pena, ficará abaixo de 4 anos. Por ser crime hediondo, não caberia substituição de pena, contudo, o STJ tem entendido que é cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, apesar de continuar sendo considerado crime hediondo, isso se faz em virtude da pena em concreto estar dentro do previsto para a substituição, segundo o CP.Aula 30.08.12

Quando o legislador previu no art. 33 da Lei 11.343/2006 a redução da pena acabou por vedar a conversão da pena em penas restritivas de direito.

No art. 33, § 4°, da Lei de Drogas, o legislador veda a conversão da pena em penas restritivas de direitos. Este dispositivo se aplica ao caput e ao § 1° do art. 33. Todavia, o art. 44, dentre outras coisas, proíbe a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. No entanto, este é mais amplo, pois se aplica ao caput e § 1° do art. 33 e nos artigos 34 a 37.Art. 33, § 4°: Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012). O STF, ao julgar um habeas corpus, de forma incidental (sem efeito erga omnes) julgou inconstitucional a proibição da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Após o julgado, o STF oficiou o Senado, que baixou a Resolução 5/2012, que suspende a vigência da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, contida no § 4° do art. 33. No entanto, o Senado esqueceu que o art. 44 da lei aborda a mesma matéria, portanto, continua em vigor. Ademais, a decisão do STF não tem efeito vinculante, portanto, não obriga e não produz efeito erga omnes. Diante desse quadro, uma parte da doutrina defende que não cabe a substituição da pena privativa de liberdade, com fundamento no art. 44 da Lei 11.343.Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.

Fornecimento eventual de entorpecentes Art. 33, § 3°: Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: é tráfico de pequena gravidade que não configura crime hediondo, mas infração de menor potencial ofensivo. Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e pagamento de 700 a 1.500 dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.Ex.: indivíduo que compra drogas em uma festa raive para consumi-la com os amigos, tendo em vista que nenhum deles tinha para dividir com os demais, ele vai até o traficante presente na própria festa e adquire quantidade suficiente para o consumo imediato seu e de seus amigos.

Condições para configuração desse tráfico:

Conduta Oferecer

drogas

1° ideia: De forma eventual. É conduta sem continuidade ou frequência.

2° ideia: Não basta que seja eventual, deve ser sem objetivo de lucro, pois se houver lucro, é tráfico.

3° ideia: Deve visar pessoa do relacionamento do agente, dos amigos, não deve ser dada a estranhos.

4° ideia: Deve ser destinada para consumo conjunto (deve ser consumida na roda de amigos).

Nessa situação não haverá flagrante, apenas será lavrado Termo de Ocorrência Circunstanciado.Legislação Penal Especial 11

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Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1°, e 34 desta Lei: É a associação para o tráfico. Note que este crime tem semelhança com o crime de quadrilha ou bando do art. 288, do CP.Pena - reclusão, de 3 a 10 anos, e pagamento de 700 a 1.200 dias-multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

O crime de quadrilha (art. 288, CP) é associarem-se mais de 3 pessoas para a prática de crime, ou seja, no mínimo 4 pessoas, ao passo que na associação para o tráfico bastam duas ou mais pessoas. Para a configuração do crime de quadrilha exige-se o ânimo de estabilidade entre os participantes. A quadrilha NÃO é mero concurso de agentes, tendo em vista que as tarefas são bem distribuídas e há uma associação estável entre os agentes, independentemente da prática de outros crimes, a mera associação estável para o fim de cometer crimes já configura o crime do art. 288. No concurso de agentes NÃO há ânimo de estabilidade.

Na quadrilha do CP é pacífico que se exige o ânimo de estabilidade entre os participantes, não é um mero concurso de agentes. No concurso de agentes não há ânimo de estabilidade. Discute-se se na associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/06), também, se exige esse ânimo de estabilidade, tendo em vista a expressão “reiteradamente ou não”.

I. A corrente minoritária afirma que o mero concurso de agentes, ainda que para a prática de um só crime de tráfico, basta para configurar a associação, consoante a interpretação literal. Para essa corrente, eles responderão por tráfico em concurso material com associação.

II. A corrente majoritária sustenta que a associação para o tráfico não se confunde com o mero concurso de agentes, pois exige ânimo de estabilidade.

Causas de aumento de pena para os artigos 33 a 37 O aumento é de 1/6 a 2/3.Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; Tráfico internacional: é aquele em que a droga teve origem (veio) do exterior ou se destina ao exterior; é crime de competência da Justiça Federal.II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; O agente pratica o crime prevalecendo-se de função pública. Entretanto, não basta que ele seja agente público, o tráfico deve ser facilitado pela função dele. É crime cometido pelo Agente que tem função de educador ou tem poder familiar, seja a guarda ou vigilância. Ex.: professor que oferece droga aos alunos ou o pai que oferece aos filhosIII - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; Aumento de pena em razão do local do tráfico. É o tráfico praticado nas dependências ou imediações de alguns locais. Ex.: Sujeito pratica tráfico nas imediações de uma escola infantil, mas não vende para crianças.

O aumento da pena dos crimes praticados nas imediações do local não exige que o traficante vise os frequentadores desse local. Trata-se de uma circunstância de perigo abstrato1 (o perigo maior do tráfico

1 O crime de perigo abstrato se configura mediante a simples ameaça, já o perigo concreto somente se configura se concretizado.Legislação Penal Especial 12

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à saúde pública nessas hipóteses é presumido pela lei). Ex.: Traficante que vende drogas próximo à escola, mas que os adquirentes não são alunos da mesma, ainda sim restará configurado o crime. IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; O trafico não é crime praticado necessariamente mediante ameaça, grave violência o emprego de arma. Ex.: toque de recolher, traficantes armados em favelas.V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; É o tráfico interestadual. A droga é proveniente ou se destina a outro Estado. VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; Nesta hipótese o tráfico visa ou envolve menor de 18 anos (criança ou adolescente) ou pessoa que tenha redução da capacidade de entendimento ou autodeterminação. Ex.: Doente mental. Pune-se tanto o tráfico no qual o menor participa como aquele que tem como objetivo o fornecimento a menores. Assim pune-se a hipótese do menor como cliente ou participante do crime VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. É o caso do traficante que dá meios financeiros para a prática do crime.

DELAÇÃO PREMIADA: é causa de redução de pena de 1/3 a 2/3 para o indiciado ou réu que no curso de inquérito policial ou ação penal que, voluntariamente, delata seus comparsas.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Essa delação deve ser voluntária, mas não necessariamente espontânea. Assim, o agente não pode ter sido coagido, mas não é necessário que a iniciativa tenha sido dele. Ela deve produzir o resultado de recuperação total ou parcial do produto do crime (deve surtir algum resultado para a Justiça, seja a droga ou algo comprado com o lucro do tráfico). Ex.: o acusado poderá ser orientado a fazê-lo. A delação deve produzir o resultado de recuperação, total ou parcial, do produto do crime, ou seja, deve ter algum fruto, trazer algum resultado para a Justiça, seja a apreensão da droga ou de produtos adquiridos com os lucros da venda da droga.

INIMPUTABILIDADE OU SEMI IMPUTABILIDADE POR DEPENDENCIA TOXICOLÓGICA (art. 45 e 46 da Lei)

O art. 26 do CP trata da imputabilidade e no parágrafo único dispõe acerca da semi-imputabilidade.A lei de drogas prevê outra causa, além das estabelecidas pelo CP, de imputabilidade ou semi-

imputabilidade que é a dependência toxicológica. A dependência toxicológica é causa de inimputabilidade ou semi-imputabilidade a dependência

químicaO dependente não é doente mental, é aquele que não pode viver sem a droga. É aquele que

quando privado da droga, tem reações físicas ou psíquicas em razão da falta da droga.Todavia, nem todo dependente é imputável ou semi-imputável. Essa circunstância deve ser

constatada por perícia. Trata-se do mesmo fenômeno previsto no art. 26 do CP, entretanto, por motivo diferente. Essa causa de inimputabilidade aplica-se a qualquer crime, qualquer que seja a infração prevista em

nosso ordenamento jurídico, não apenas aos previstos na Lei de Drogas. Vale destacar que independe de conexão entre o crime praticado e o vício do agente, a exemplo do roubo para comprar droga.Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a

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infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

A lei de drogas aduz que a causa de inimputabilidade aplica-se a qualquer crime, ou seja, da lei de drogas ou de qualquer outra lei.

o Para o inimputável, a lei de drogas prevê apenas uma medida de segurança o tratamento médico adequado, cuja aplicação fica condicionada a critério médico. Ao passo que pelo CP são duas as medidas de segurança.

o Para o semi-imputável, a lei de drogas não prevê medida de segurança. A lei prevê apenas a redução de pena.

LEI DA TORTURA (Lei 9.455/97)A CF, no inciso XLIII, equipara os crimes de tortura aos crimes hediondos. Já no inciso III, aduz que

ninguém será submetido a tortura.Art. 5º - III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...]XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; [...]

Até 1997, havia menção a lei penal em apenas dois dispositivos, que continua em vigor: Art. 121, § 2°, inc. III, do CP: Homicídio qualificado pelo emprego de tortura; Art. 233, do ECA: dispõe sobre o crime de tortura contra a criança e o adolescente.Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura:Pena - reclusão de um a cinco anos.§ 1º Se resultar lesão corporal grave: Pena - reclusão de dois a oito anos.§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima: Pena - reclusão de quatro a doze anos.§ 3º Se resultar morte: Pena - reclusão de quinze a trinta anos. Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997

O objeto jurídico (bem jurídico tutelado) dos crimes de tortura é a dignidade humana. Apenas secundariamente se protege a integridade física, a saúde, a vida, a liberdade, etc. Esse será o primeiro critério que será utilizado para diferenciar a tortura de crimes semelhantes do

CP, como por exemplo, a lesão corporal (art. 129, CP). A tortura atenta contra a dignidade humana, já a lesão corporal atinge somente a integridade física

ou a saúde.Todavia, apenas este critério não é suficiente.A lei não define o que é tortura. A definição de tortura é doutrinária. Tortura é a dor ou sofrimento intensos, provocados por maus tratos físicos ou morais, para alguma

das finalidades previstas na lei de tortura. Na tortura, o agente impõe sofrimento intenso que pode ser físico ou moral, devendo ter algumas das finalidades previstas a lei.

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O dolo do agente é causar sofrimento. Aqui há mais uma diferença em relação aos crimes previstos no CP, tendo em vista que o dolo é muito maior, tendo o dolo a intenção de causar sofrimento à vítima.

Se “A” agride alguém pretendo apenas ferir essa pessoa, é crime de lesão corporal do CP. Se “A” agride alguém com a intenção de fazer alguém sofrer e com algumas das finalidades

previstas pela lei, caracteriza o crime de tortura.A lei de tortura prevê 6 crimes.

CRIMES DA LEI DE TORTURACrimes comissivos: são 5. Art. 1°, inc. I e II. Os crimes comissivos estão divididos em dois grupos.

1. Grupo que tem como núcleo/modalidade “constranger”: a) tortura confissão; b) tortura ao crime; c) tortura discriminatória.

2. Grupo que tem como núcleo/modalidade: “submeter”: a) tortura castigo;b) tortura de preso.

Crimes omissivos: apenas um. Art. 1°, § 2°. A modalidade é:a) omissão perante a tortura.

TORTURA NA FORMA CONSTRANGER (Art. 1°, inc. I):Constranger significa coagir alguma coisa. Todos os crimes na forma constranger são praticados mediante violência ou grave ameaça.

Sujeito ativo das deste crime: qualquer pessoa pode praticar. São crimes comuns.

Sujeito passivo: é a pessoa diretamente submetida a violência ou grave ameaça e também, eventual terceiro que sofra com a conduta. Ex.: Agente tortura o filho para constranger o pai. Assim, embora o pai não sofra diretamente a conduta, a situação lhe causa sofrimento.

Consumação: ocorre quando a vítima sofre, quando se impõe sofrimento à vítima, pois a tortura é um sofrimento intenso.

Tentativa: é possível quando, iniciada a execução, o agente é impedido de prosseguir antes que seja imposto sofrimento à vítima.

a) Tortura confissão ou tortura prova ou tortura persecutória: o agente pratica a tortura visando obter uma confissão, uma declaração ou uma informação do torturado ou de terceiro. Ex.: O delegado, tortura a esposa do suspeito para que este confesse o crime. A prova obtida mediante tortura será ilícita.

b) Tortura ao crime: a finalidade do agente é levar a vítima torturada ou terceira pessoa a praticar um crime. Ex.: Criminoso tortura a esposa do gerente de banco, para que este subtraia dinheiro do banco. O agente da tortura responderá pelo crime de tortura em concurso material com o crime que vier a ser praticado pela vítima. No caso do furto do gerente, ele responde pela tortura e pelo furto. A vítima que pratica o crime não responde por ele, pois incide a excludente de culpabilidade da coação moral irresistível.

A lei não prevê como crime de tortura aquela conduta que objetiva levar a vítima a praticar uma contravenção penal. Ex.: Agente obriga a vitima a jogar no bicho. Nesse caso, o agente responderá como

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partícipe da contravenção penal em concurso com o constrangimento ilegal e/ou lesão corporal, se ele ferir a vítima.

c) Tortura discriminatória: é aquela em que o agente objetiva a exprimir preconceito racial ou religioso.

TORTURA NA FORMA SUBMETER (art. 1°, inc. II):Submeter significa infligir, subjulgar, sujeitar alguém a algo.

a) Tortura castigo: o sujeito ativo necessariamente tem poder, guarda ou autoridade sobre a vítima. Portanto, não é um crime comum. É crime próprio, tendo em vista que requer o poder de direito ou de fato, guarda ou autoridade sobre a vítima. Ex.: Esse poder pode ser o do pai, mãe, autoridade policial, chefe do serviço, enfermeiro de hospital, professor.

A finalidade do agente é impor castigo por uma conduta pretérita ou para evitar uma conduta futura. Ex.: Pai quebra a perna do filho, porque ele chutou a bola e quebrou a vidraça ou para evitar que o filho venha a desobedecê-lo. Note que o agente não está agindo para corrigir o filho.

b) Tortura de preso ou pessoa submetida a medida de segurança: também é crime próprio, pois agente deve ser responsável pela custódia do preso ou pessoa submetida a medida de segurança. Ex.: Carcereiro, diretor de presídio, delegado, etc.

O agente impõe à vítima grave sofrimento, através de medida não prevista em lei. Ex.: Colocar o preso em isolamento, como aplicação de sanção não é tortura, desde que seja por ato motivado pela autoridade competente (diretor do estabelecimento), mas se ele for colocado no isolamento por capricho do fundionário e sem motivação que justifique o isolamento, é crime de tortura.

Formas qualificadas (art. 1°, § 3°)Forma simples.Formas qualificadas: é forma que torna o crime mais grave e tem pena própria.Causa de aumento de pena: é um aumento imposto à pena da forma simples.

São duas as qualificadoras para a tortura:a) Tortura com resultado lesão corporal grave ou gravíssima: a tortura absorve as lesões leves.

Lesões graves ou gravíssimas são aquelas previstas no art. 129, § 1° (lesões graves) e § 2° (lesões gravíssimas) do CP.

Na tortura qualificada pela lesão grave ou gravíssima, o resultado qualificador pode ocorrer, tanto por dolo, direto ou eventual, como por culpa (preterdoloso). Portanto, o crime pode ser doloso ou preterdoloso (dolo de torturar e culpa no resultado lesão grave ou gravíssima). É o juiz que ira distinguir essas situações na dosagem da pena. Ex.: O agente fura o olho da vítima para torturá-la (dolo). Ele responderá por tortura. Quando há dolo, o crime é mais grave, cabendo ao juiz dosar a pena. Ex.: O agente se excede na tortura e, sem querer, torna a vítima aleijada, por imprudência (culpa).

b) Tortura com resultado morte: nesta forma qualificada, o resultado é produzido exclusivamente a título de culpa, ou seja, o agente não quis, nem assumiu o risco de matar a vítima. O crime é necessariamente preterdoloso: dolo apenas de torturar e morte produzida por culpa.

Importante: se o agente quis ou assumiu o risco de matar a vítima, ele não responde pelo crime de tortura qualificada pelo resultado morte, mas sim por homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2°, inc. III, CP)

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Na tortura qualificada pela morte da vitima, o dolo era apenas de torturar. Ex.: O torturador se excede na tortura e sem querer, acaba matando a vítima.

Quando o agente quer matar e tortura a vitima até a morte, é homicídio qualificado pela tortura.Pode haver concurso entre tortura simples ou qualificada pela lesão grave ou gravíssima e homicídio, quando os desígnios são autônomos. Ex.: O agente tortura a vítima para obter uma informação e depois que a obtém, dá um tiro na vítima, matando-a. Este é caso de concurso material.

Observação: As qualificadoras são todas comissivas, ou seja, só se aplicam nas formas comissivas. Não há qualificadora na forma omissiva.

Causas de aumento de pena (art. 1°, § 4°)Aplicam-se apenas às torturas comissivas, tanto nas formas simples, como nas formas qualificadas.

O aumento de pena será de 1/3 a 1/6. São três hipóteses de aumento de pena:

a) Crime praticado por agente público . O autor da tortura é agente público. A lei de tortura não define o que é agente público, Assim, adota-se a definição do CP.

Entende-se por agente público o funcionário público definido no art. 327 do Código Penal. É definição muito mais ampla do que a do direito administrativo.

Esse aumento não se aplica quando a condição de funcionário público já é elementar do crime de tortura. Ex.: Carcereiro que tortura o preso.

b) Crime contra criança, adolescente, gestante, pessoa portadora de deficiência ou maior de 60 anos. Leva em conta as condições pessoais da vítima. Foi esse dispositivo que revogou o art. 223, do ECA.

Note que para que incida o aumento de causa é preciso que o agente conheça a condição da pessoa.

c) Tortura mediante sequestro. O sequestro não é mero meio para a prática da tortura, mas se prolonga além dela.

CRIME POR OMISSÃO – omissão perante a tortura Art. 1°, § 2º, Lei de Tortura: Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

São duas as condutas: I. Omitir-se de apurar uma conduta já ocorrida. II. Evitar que tortura venha a ocorrer. É crime próprio, só pode ser praticado por que tem o dever de

apurar ou evitar a tortura e se omite. Esse crime apenas se configura se o agente não é participe da tortura, caso contrário, ele responde somente pela tortura. “A” manda torturar “B”, mas não participa da tortura. Nesse caso ele é partícipe da tortura. “A” sabe que podem ocorrer torturas na área de sua atuação e não faz nada para evitar que isso ocorra.

O crime se consuma com a omissão por tempo relevante (quando o tempo seria suficiente para que alguma providencia fosse tomada).Não admite tentativa, pois os crimes omissivos próprios jamais admitem tentativa.

No crime omissivo próprio, o tipo penal descreve a omissão.

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CR

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“Constranger” (art. 1º, I) Significa coagir, forçar a alguma coisa.Todos esses crimes são praticados mediante violência ou grave ameaça. Crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa. O sujeito passivo é a pessoa diretamente submetida à violência ou grave ameaça e também o eventual terceiro que sofra com a conduta. Ex.: o agente tortura o filho para constranger o pai.- A consumação ocorre quando a vítima sofre.- A tentativa é cabível quando, iniciada a execução, o agente é impedido de prosseguir antes que seja imposto sofrimento à vítima. Ex.: após um primeiro tapa o agente é impedido de prosseguir, mas queria torturar a vítima.

Tortura Confissão, Tortura Prova ou Tortura persecutória O agente tortura visando obter uma confissão, uma declaração ou uma informação do torturado ou de terceiro. Ex.: o delegado tortura a esposa do suspeito para que este confesse o crime. A prova obtida mediante tortura é ilícita

Tortura ao crime A finalidade do agente é levar a vítima torturada ou terceira pessoa a praticar um crime. Ex.: o criminoso tortura a esposa de um gerente de banco para que o gerente subtraia dinheiro do banco. O agente da tortura responderá pelo crime de tortura em concurso material com o crime que vier a ser praticado pela vítima. A vítima que pratica o crime não responde por ele, pois incide a excludente de culpabilidade da coação moral irresistível. (Inexigibilidade de conduta diversa). A lei não prevê como crime de tortura a conduta que objetiva levar a vítima a praticar uma contravenção penal, nesse caso, o agente responderá como partícipe da contravenção penal em concurso com constrangimento ilegal e/ou lesão corporal, caso fira a vítima.

Tortura discriminatória É aquela em que o agente objetiva exprimir um preconceito racial ou religioso.

“Submeter” (art. 1º, II)

Infligir ou subjugar alguém. Sujeitar

alguém a algo.

Tortura castigo Sujeito ativo, necessariamente, tem poder, guarda ou autoridade sobre a vítima. Trata-se de crime próprio, pois exige uma condição especial do sujeito ativo. O poder pode ser de fato ou de direito. Ex.: pode ser sujeito ativo o pai, mãe, autoridade policial, chefe do serviço, professor, enfermeiro. A finalidade do agente é impor castigo por uma conduta pretérita ou para evitar uma conduta futura. Ex.: pai quebra a perna do filho porque ele chutou a bola e quebrou a vidraça ou ainda para evitar que o filho desobedeça.

Tortura do preso Crime próprio pois o agente deve ser responsável pela custódia do preso ou submetido à medida de segurança. Ex.: Carcereiro, diretor de presídio, delegado, etc. O agente impõe à vítima grave sofrimento através de medida não prevista em lei.

Formas qualificadas dos crimes comissivos (Art. 1º, § 3º) (circunstância que torna o crime mais grave e tem forma própria)

a. Tortura com resultado lesão corporal grave ou gravíssima a tortura absorve as lesões leves. Lesões graves ou gravíssimas são aquelas previstas no art. 129, §§ 1º e 2º do CP. Nesse caso, o resultado qualificador pode ocorrer tanto por dolo, direto ou eventual, como por culpa. Portanto, o crime pode ser doloso ou praeter doloso (dolo de torturar e culpa no resultado lesão grave ou gravíssima). O magistrado distinguirá essas situações na dosagem da pena. Ex.: o agente fura o olho da vítima para tortura-la (dolo). O agente se excede na tortura e, sem querer, torna a vítima aleijada, por imprudência (culpa).

b. Tortura com resultado morte nesta forma qualificada o resultado é produzido exclusivamente a título de culpa, ou seja, o agente não quis, nem assumiu o risco de matar a vítima. O crime é, necessariamente, praeter doloso: dolo apenas de torturar e morte produzida por culpa.

- Se o agente quis ou assumiu o risco de matar a vítima, ele NÃO responde pelo crime de tortura qualificada pelo resultado morte, mas sim por homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2º, III do CP). - Pode haver concurso entre tortura simples ou tortura qualificada pela lesão grave ou gravíssima e homicídio quando os desígnios são autônomos. Ex.: o agente tortura a vítima para obter uma informação e depois que a obtém dá um tiro na vítima, matando-a. Nesse caso a morte não depende da tortura, ou torturou até a morte. São duas condutas autônomas que geram dois crimes. OBS.: as qualificadoras são todas comissivas, ou seja, só se aplicam às formas comissivas do crime de tortura.

Causas de aumento de pena (art. 1º, § 4º)Aplicam-se apenas às torturas comissivas, tanto na forma simples quanto na forma qualificada.

a. Crime praticado por agente público o autor da tortura é agente público. Entende-se por agente público o funcionário público definido no art. 327 do CP. Esse aumento NÃO se aplica quando a condição de funcionário público já elementar do crime de tortura. Ex.: carcereiro que tortura o preso.

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b. Crime contra criança, adolescente, gestante, pessoa portadora de deficiência ou maior de 60 anos esse dispositivo revogou o art. 233 do ECA. É necessário que o agente tenha conhecimento dessa circunstância da vítima.

c. Tortura mediante sequestro o sequestro não é mero meio para a prática da tortura, mas se prolonga além dela. O sequestro dura além do que seria necessário para torturar, nesse caso aplica-se a causa de aumento de pena.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO – Lei n° 10.826/2003Esta lei tem como finalidade dar ao Estado o controle pleno sobre o armamento existente em

território nacional, punindo a posse, o porte e o uso ilegal de armas.A lei trata de crimes relativos a armas de fogo, munições e acessórios. Pra que haja o controle por parte do Estado, a lei cria um órgão chamado SINARM - Sistema

Nacional de Armas. É órgão da policia federal. Objeto jurídico desses crimes: são crimes contra a incolumidade pública. Os crimes atentam

contra a segurança das pessoas. Todos esses crimes são crimes de perigo abstrato (a lei presume o perigo, ainda que não haja o

perigo real). Objeto material (é a coisa sobre a qual recai a conduta do agente): são as armas de fogo,

munições ou acessórios.

Arma: em sentido amplo, arma é qualquer instrumento vulnerante, ou seja, capaz de ferir. Ex.: Faca, caneta, arma de fogo, chave de fenda.

As armas podem ser próprias ou impróprias:o Arma própria : é o objeto fabricado para ser arma. E aquele cuja finalidade própria é ferir. Ex.:

Revólver, canhão, metralhadora, granada, espada, punhal.o Arma imprópria : é objeto fabricado com outra finalidade, mas que pode ser usado como arma. Ex.:

Faca de cozinha, serrote, martelo, pé de cabra. Note que a arma imprópria também é causa de aumento de pena (art. 19, da LCP). O crime de roubo terá sua pena aumentada mesmo quando a arma utilizada for imprópria.

Arma de fogo é aquela que funciona através da deflagração de uma carga explosiva. O Estatuto do desarmamento trata somente das armas de fogo , ou seja, aquelas que funcionam

com a deflagração de uma carga explosiva, como causa de aumento de pena. Todavia, até mesmo a arma sem munição configura o crime. O fato de a arma estar

descarregada não afasta a tipicidade da conduta. Uma vez que a posse de munição sem arma é crime, naturalmente que a posse de arma sem

munição também é enquadrada como crime.

A arma inapta (quebrada, que não funciona), segundo entendimento majoritário não configura crime, vez que não havia a possibilidade de risco a incolumidade pública.

A arma desmontada, dependendo do caso, configura crime. Segundo a jurisprudência, se no momento da apreensão a arma desmontada estava ao alcance do agente, que poderia montá-la, o crime se configura. Do contrário, não configura crime.

A arma de brinquedo não é arma própria e nem imprópria. Não configura crime previsto pelo Estatuto do desarmamento.

Há grande discussão na doutrina quanto a aplicação da causa de aumento, em razão do emprego de arma de brinquedo. O Estatuto do Desarmamento não prevê aumento de pena nos casos em que há uso de arma de brinquedo.

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O art. 26 do Estatuto proíbe a fabricação e a comercialização de armas de brinquedo, mas não tipifica essa conduta. Portanto, não há crime.Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir.Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército.

Munição é o artefato explosivo utilizado pela arma. São as balas, os projéteis.

Acessório é qualquer apetrecho que funciona acoplado a arma, como as miras, lunetas, silenciador, pente.

Classificação das armas de fogo, acessório ou munições - o Estatuto as classifica de três formas:a) Uso proibido : são aquelas que ninguém, nem as forças armadas ou instituições de segurança

podem utilizar.

b) Uso restrito : são aquelas que somente podem ser usadas pelas forças armadas, pelas instituições de segurança (policia) e por pessoas especialmente autorizadas.

c) Uso permitido : são aquelas que podem se utilizadas pelo cidadãos em geral.

Quem define se a arma é de uso proibido, restrito ou permitido, ou seja, sobre a classificação das armas, munições e acessórios é o Poder Executivo, por meio de decreto.

O decreto atualmente em vigor é o n° 3.665/2005. O decreto hoje, não proíbe nenhum tipo de arma, define apenas o uso restrito de armas.

Os crimes em que o tipo penal menciona armas de uso proibido, restrito ou permitido são normas penais em branco, vez que carecem de regulamentação especifica acerca destas.Aula 27.09.12

Para que se possa possuir uma arma é necessário o registro, que permite a posse da arma de fogo Art. 3° É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei.

Posse da arma é ter a arma em sua residência ou nas dependência dela ou em local de trabalho de sua propriedade.Art. 5° O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.§ 1° O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.§ 2° Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 anos, na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo. § 3° O proprietário de arma de fogo com certificados de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do DF até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31/12/2008, ante a

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apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) (Prorrogação de prazo)§ 4° Para fins do cumprimento do disposto no § 3° deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na rede mundial de computadores - internet, na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a seguir: (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)I - emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade inicial de 90 dias; e II - revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva do certificado de registro de propriedade. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008).

As armas de uso restrito são registradas pelo comando do exército. As armas de uso permitido são registradas pela Polícia Federal, após autorização do SINARM

(Art. 5°, § 3°).Qualquer arma para ser legal precisa ser registrada. Para que se tenha a posse, basta o mero

registro da arma. Arma legal é a arma registrada.Toda arma, necessariamente, deve ter um número de identificação. É com esse número que ela

será registrada. O órgão responsável emite um certificado de registro. O registro permite a posse ao proprietário da arma em sua casa. Não autoriza que o proprietário

ande com a arma.A regra é que o porte de arma é proibido. Já a exceção é a autorização de porte de arma.

Porte de arma é manter a arma em qualquer lugar que não seja a própria residência ou suas dependências ou local de trabalho de sua propriedade. Em suma, é manter a arma em qualquer lugar que não seja a própria casa, dependências ou local de trabalho de sua propriedade.

Exceção: integrantes das forças armadas, policiais militares e civis, magistrados, membros do MP. Todavia, mesmo para essas pessoas somente é autorizado o porte de armas permitidas.Art. 6° É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para:I – os integrantes das Forças Armadas;II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal;III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei;IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 e menos de 500.000 habitantes, quando em serviço; V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei;IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.

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X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)§ 1° As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) § 1° - A (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)§ 2° - A autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. 4° desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. § 3° - A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Comando do Exército. (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004)§ 4° - Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito descrito no art. 4°, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.§ 5° - Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 anos que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 ou 2 canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16, desde que o interessado comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: I - documento de identificação pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) II - comprovante de residência em área rural; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) III - atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)§ 6° - O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo, independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)§ 7° - Aos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)

Para os que não têm autorização legal de porte, essa autorização é concedida pela Polícia Federal, após a autorização do SINARM. Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm.§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. § 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.

DOS CRIMES REALACIONADOS:

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1) Posse ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitidoArt. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 a 3 anos, e multa. Trata-se da posse de arma sem o devido registro.

Tipo penal: possui ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, no interior de sua residência ou dependência desta ou local de trabalho de sua propriedade, em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Em suma: é a posse da arma sem o devido registro.

Há dúvida quanto ao abolitio criminis dessa conduta. Inicialmente a lei deu prazo até 31/12/2008 para a entrega da arma de fogo sem que se

configura-se crime, entretanto, em junho de 2008 a dei 11.706/2008 aboliu qualquer prazo para entrega de arma de fogo sem registro, de sorte que qualquer pessoa que entregar espontaneamente arma de fogo, ficando extinta a punibilidade de eventual conduta. Não há prazo para a entrega da arma de fogo.

O atual art. 32 da do Estatuto prevê que a entrega da arma ilegal extingue a punibilidade da posse ilegal de arma de fogo. Vale dizer que essa extinção não se aplica ao porte de arma, mas apenas à posse.Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 11.706, de 2008)

O art. 32 sofreu várias modificações. A penúltima modificação estabeleceu como prazo para entrega de armas o dia 31/12/2008. No entanto, em junho/2008, a lei n° 11.706/2008 alterou mais uma vez o art. 32 e a última modificação aboliu qualquer prazo, extinguindo. O atual art. 32 prevê que a entrega da arma ilegal extingue a punibilidade da posse ilegal de arma de fogo.

Note que essa extinção não se aplica ao porte, somente extingue a punibilidade da posse.A jurisprudência tem dois entendimentos:

I. As condutas anteriores a 31/12/2008 são atípicas, houve abolitio criminis, mas nas condutas posteriores há crime. Assim, somente é extinta a punibilidade se o agente entregar a arma espontaneamente. Essa é a posição do STF, portanto, se houver apreensão restará configurado o crime.

II. A abolição do prazo aboliu o crime, porque quando se permite a entrega a qualquer tempo não há crime.

2) Porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitidoArt. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)

Tipo penal: várias são as condutas previstas, exceto manter a arma fora de sua casa, dependências ou local de sua propriedade.

Esse crime é absorvido por crime mais grave quando ele é apenas meio para prática de crime mais grave. Ex.: O agente porta ilegalmente uma arma, com a finalidade de praticar um homicídio ou um roubo. Portanto, o agente somente responde pelo crime mais grave.

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Ex.: “A” anda habitualmente e ilegalmente armado. Num determinado dia, dá um tiro em “B” e comete homicídio. “A” responderá pelos dois crimes: porte ilegal de arma e homicídio, posto que o crime de porte ilegal já está consumado há muito tempo. 3) Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:Pena – reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. (Vide Adin 3.112-1)

Tipo legal: disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou suas adjacências (locais próximos) ou na via pública ou em direção a ela. Note que para configurar o crime não é preciso que haja alguém nas proximidades, pois o crime é de perigo abstrato (perigo presumido pela lei).

O disparo de arma de fogo é crime expressamente subsidiário, ou seja, aquele e que a própria lei dispõe que ele só se configura se a conduta não configurar outro crime.

Elemento subjetivo: é o dolo. Portanto, o disparo culposo não configura o crime. Ex.: “A” não tem porte de arma, dispara com a finalidade de matar alguém. O crime mais grave absorverá o menos grave, assim, o agente responderá somente pelo homicídio.

4) Posse ou porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito ou proibidoNa arma de uso permitido o legislador distinguiu o crime de posse (art. 12) e o crime de porte

(art. 14) a fim de punir mais levemente a posse e mais severamente o porte. Na arma de uso restrito ou proibido, o legislador equiparou as condutas, colocando-as num só

tipo. Cabe ao juiz distingui-las na aplicação da pena. Na dosagem entre o mínimo e o máximo é que o juiz irá fazer a distinção.

As condutas são as mesmas dos artigos 12 e 14 a única diferença é que a arma é de uso restrito ou proibido. Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: Prevê condutas equiparadas a posse ou porte de armas de uso restrito. São condutas que receberão a mesma pena do caput.I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; Nesta conduta o agente suprime o sinal identificador, ou seja, o n° da arma. Suprimido o n° não é possível identificar a origem da arma.II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; Nesta conduta, o agente tem uma arma de uso permitido e muda suas características, tornando-a arma de uso restrito para fins penais.III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Ex.: Coquetel molotov.IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; São condutas de transportar (...) arma de uso permitido, mas por ter ela a identificação/numeração suprimida ou adulterada, o agente recebe a pena da posse ou porte de arma de uso restrito ou proibido.

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Para os que defendem que houve abolitio criminis da posse de arma de fogo, esta também, se aplica à arma de uso restrito ou proibido e à arma permitida com numeração suprimida ou alterada, pois o art. 32 não distingue, extinguindo a punibilidade mediante entrega a qualquer tempo de qualquer arma. V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e – é o crime de vender armas, munições e acessórios à criança e ao adolescente. O ECA traz um crime similar em seu art. 242. Aparentemente são dois tipos penais que tratam da mesma conduta.

O ECA foi revogado pelo Estatuto do Desarmamento no que se refere a armas de fogo, acessórios e munições, pois deles trata o Estatuto.

O art. 242 do ECA continua em vigor em relação à armas brancas ou de arremesso (catapulta, punhal). Assim quando se trata de arma de fogo este dispositivo está revogado, posto que será aplicado o Estatuto, vez que a lei posterior revoga a anterior. Art. 242.- ECA: Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:Pena - reclusão, de 3 a 6 anos. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)Aula 04.10.12

5) Comércio ilegal de arma de fogo (art. 17)É o tráfico interno de armas. São condutas semelhantes à aquelas do tráfico de drogas tendo por

objeto arma de fogo, acessório ou munição.

Observações:a. O tráfico é interno, portanto, dentro do Brasil. As armas não veem do exterior e nem se destinam

ao exterior. b. O agente atua no exercício de atividade comercial ou industrial. Não se trata de venda ou compra

esporádica de uma ou algumas armas. Trata-se de atividade habitual em larga escala. A conduta esporádica, sem habitualidade, configura os crimes do art. 14 ou 16. Suponhamos que “A” vendeu uma arma. Neste caso é o crime do art. 14.

c. A atividade pode ser clandestina, até mesmo em residência (o comércio de fundo do quintal)Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

6) Tráfico internacional de arma de fogoArt. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:Pena – reclusão de 4 a 8 anos, e multa.

Este é o crime de contrabando de armas, é mais grave.A competência deste crime é da Justiça Federal, pois é crime transnacional.

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO – Lei 9.503/1997

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A parte geral está no art. 291 a 301. O art. 291 prevê a aplicabilidade subsidiária aos crimes de trânsito do CPP, do Código Penal e da Lei 9.999/1995

Nos crimes de transito que são infrações de menor potencia ofensivo (com pena máxima de até 2 anos), a regra é a aplicação da lei 9.099/1995.

Portanto, a competência é do JECRIM. Não há inquérito, em regra não cabe flagrante. Cabe transação penal, composição dos danos e

suspensão condicional do processo. O procedimento é o sumaríssimo. No entanto, a lei prevê exceções à aplicabilidade da lei 9.099/1995, em algumas hipóteses no

crime de lesão corporal culposa de trânsito.Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.§ 1º Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver. (Redação dada pela Lei nº 11.705)I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; III – transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via, em 50 Km/h.§ 2º Nas hipóteses previstas no § 1º deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração penal.(Redação dada pela Lei nº 11.705, de 19.06.2008)

Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades. Essa é a pena de suspensão ou proibição de obter habitação para conduzir veículo automotor.

Suspensão é para aquee que já é habilitado. Proibição é para aquele que ainda não é habilitado.

Nesse sentido, temos três situações:a. O crime praticado prevê a cumulação com a pena do art. 292;b. O crime praticado não prevê a cumulação, mas, a critério do juiz, poderá haver cumulação;c. Quando reincidente em crime de trânsito, o juiz é obrigado a cumular.

Há 2 correntes que aduzem sobre a aplicação da pena pelo magistrado:I. A fixação do período de suspensão e proibição não guarda relação com a pena privativa de

liberdade aplicada.II. O cálculo da pena de suspensão ou proibição deve seguir o mesmo critério do cálculo da pena

privativa de liberdade. Assim sendo, se a pena privativa de liberdade é mínima, a pena do art. 292 também deverá ser mínima. Esse é o entendimento que prevalece.

Se o réu for preso, essa pena somente começará a ser executada quando ele for posto em liberdade.Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. Note que em alguns crimes essa pena é cumulativa com a pena privativa de liberdade. Mesmo quando ela não é prevista, o juiz pode impor esta cumulativamente, por força do art. 292.

Se o agente é reincidente em crime de trânsito esta cumulação é obrigatória.

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§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhidoa estabelecimento prisional.

O art. 294 prevê a mesma medida do art. 292 como cautelar, ou seja, em qualquer momento do inquérito ou do processo o juiz pode, s houver risco para a ordem pública, suspender a habilitação ou proibir de obtê-la. Trata-se de medida cautelar para impedir que novos crimes sejam cometidos.

No caso de condenação, assim como em relação à prisão, aplica-se a detração penal.Da decisão do juiz que confere ou denega a cautelar cabe Recurso em Sentido Estrito (RESE) sem

efeito suspensivo.A multa prevista no art. 294, diferentemente das demais previstas no CP, tem caráter

indenizatório, pois se destina à vítima ou seus descendentes, podendo ser imposta cumulativamente às outras penas em qualquer crime de trânsito que provoque dano.

O valor da multa é calculado dentro dos limites e na forma do art. 49 e seguintes do CP. O valor da multa não pode ser maior que o valor do dano causado.O valor pago a título de multa é deduzido do valor de eventual indenização fixada pelo juízo

cível.Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ouainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.

Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 19.06.2008).

Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime.§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo.§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.

Agravantes genéricas (art. 298) – aplicam-se a qualquer dos crimes da lei. Note que é o juiz que fixa o critério para a aplicação das agravantes e atenuantes que são computadas na 2° fase da fixação da pena. São aplicáveis tanto para crimes dolosos como culposos.

Art. 298: São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:Legislação Penal Especial 27

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I - com dano potencial (não é preciso que haja dano real) para duas ou mais pessoas (Ex.: “A” dirigiu em excesso de velocidade em uma rua movimentada, ainda que não tenha atropelado ninguém.) ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; Ex.: “A” dirigiu em excesso de velocidade em uma rua movimentada, ainda que não tenha atropelado ninguém. II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; Ex.: O agente vai fazer um racha e coloca uma placa fria. III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação (motorista não habilitado); Esta agravante não se aplica ao crime de falta de habilitação. IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; Ex.: Motorista de ônibus escolar com passageiros que dirige a 300 km/h.VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante – veículos com características adulteradas, ou seja, o carro cujo motor foi turbinado, visando tornar o carro mais potente, veloz;VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres – crime praticado sobre a faixa de pedestres.

Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. Trata-se do flagrante proibido, quanto ao motorista que prestar pronto e integral socorro à vítima. Com esse tipo, o legislador visa evitar que o agente fuja sem prestar socorro à vítima, visando evitar a prisão em flagrante.

CRIMES CULPOSOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

Homicídio culposo de trânsito Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros;V - (Revogado pela Lei nº 11.705, de 19.06.2008)

No entanto, o CTB não define o que vem a ser homicídio culposo de trânsito.Quando o legislador se refere a homicídio culposo (art. 121, § 3°, CP) ou lesão culposa (art. 129,

§ 6°, CP), ele está remetendo o intérprete ao CP, que define homicídio e lesão corporal. Esses crimes, cujo tipo refere outro tipo, são chamados de crimes remetidos.

Lesão culposa de trânsito Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

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A lesão corporal culposa em si é infração de menor potencial ofensivo da competência do JECrim, aplicando-se o procedimento e as medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95.

No entanto, em 3 circunstâncias previstas no § 1º, do art. 291 do CTB, a Lei afasta a incidência da Lei 9.099/95.

Portanto, nessas hipóteses instaura-se inquérito policial, a competência é do juízo comum, não cabe transação penal e o procedimento é o sumário, previsto no CPP.

São eles:

a) Condutor sob a influência de álcool ou substância de efeito análogo;b) Condutor participando de competição em via pública;c) Excesso de velocidade em 50 km/h ou mais além do permitido para a via.

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.

§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei n o

9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver:

I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;

II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;

III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por hora). [...]

Omissão de socorro (art. 304 do CTB)Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:Penas - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

Trata-se de um crime omissivo próprio em que o agente omite duas condutas: a) Deixa de prestar socorro diretamente a vitima;b) Deixa de solicitar auxílio à autoridade;

A recusa da vítima em ser socorrida dispensa o socorro direto, mas não dispensa a solicitação de auxílio à autoridade.

A lei deixa claro que algumas circunstâncias não excluem o crime. Estas estão elencadas no parágrafo único do artigo 304.

“Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.”

a) Se o tempo que a vítima levou para ser socorrida por terceiro for suficiente para caracterizar a omissão do condutor, ainda assim o crime restará configurado.

b) Vítima com morte instantânea. Vale dizer que se a morte era evidente, a jurisprudência tem entendido que fica dispensado o socorro.

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Page 30: Legislação Penal Extravagante

c) Não dispensa o socorro o fato de a vítima sofrer lesão leve.

o O autor de homicídio culposo ou lesão culposa - a omissão de socorro é causa de aumento de pena.

o O condutor envolvido no acidente que não praticou conduta culposa responde pelo crime do art. 304, se não socorrer a vítima.

o Um terceiro não envolvido no acidente que deixa de prestar socorro pratica o crime do art. 135 do CP.

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

É causa de aumento de pena nos crimes de homicídio culposo e lesão culposa de trânsito. (art. 302, parágrafo único, III e art. 303, parágrafo único, III do CTB).

Tem-se ainda o crime de omissão de socorro no art. 135 do CP.

Embriaguez ao volante Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Infração - gravíssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses; Medida Administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. Parágrafo único. A embriaguez também poderá ser apurada na forma do art. 277.

A infração administrativa se configura qualquer que seja a quantidade de álcool ou substância de efeito análogo no organismo. Não se exige perigo de dano na infração administrativa. Para que se prove a infração administrativa, admite-se qualquer prova idônea. (Ex. odor etílico, olhos avermelhados, marcha titubeante, etc.).

A expressão “sob influência”, leva os intérpretes à conclusão de que o álcool ou substância influenciem a conduta do motorista.

O art. 306 do CTB trata do crime de embriaguez ao volante:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

Anteriormente, na redação original, para que se configurasse o crime era necessário que houvesse perigo de dano. Na redação atual, entretanto, o crime é caracterizado pela direção de veículo em via pública estando com concentração de álcool no sangue igual ou superior a 0,6g de álcool por litro de sangue.

A modificação demonstra que o legislador quis ser mais rigoroso, tendo em vista que estabeleceu um limite baixo de concentração no sangue, bem como aboliu a necessidade de configuração de perigo de

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Page 31: Legislação Penal Extravagante

dano. Nessa situação, o perigo é abstrato e não se exige que o álcool exerça influência sobre a forma como o motorista conduz o veículo.

Em relação à prova da concentração de álcool, o parágrafo único do art. 306 prevê duas formas de obtenção da prova:

a) Exame de sangue;b) Etilômetro;

O CONTRAN definiu a correspondência: 0,3mg de álcool/ litro de ar expelido = 0,6g de álcool/ litro de sangue.

Se a concentração constatada for inferior a descrita acima, o que se configura é a infração administrativa.

Na hipótese de recusa em realizar os testes acima citados:

O motorista não é obrigado a produzir prova contra si. Vale destacar que a recusa não permite deduzir a concentração de 0,6g de álcool por litro de sangue, do contrário, haveria violação ao seu direito.

Caso haja recusa de submissão ao exame, há duas correntes acerca da possibilidade de prova:

a) Sustenta que a prova pode ser feita por exame clínico e que o perito, observando os sinais exteriores de embriaguez, poderá afirmar que se a concentração de álcool é igual ou superior a 0.6g de álcool.

b) A segunda corrente sustenta que não se admite nenhum outro meio de prova que não o exame de sangue ou o etilômetro. Portanto, em caso de recusa, não há como provar o crime, respondendo o agente apenas pela infração administrativa. O STJ uniformizou a jurisprudência adotando a segunda corrente (b).

Participação de competição, disputa ou corrida em via pública Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

O crime consiste em participar de corrida, disputa ou competição sem autorização na via pública. Esse é um crime de concurso necessário ou crime plurissubjetivo, ou seja, aquele que exige a participação de diversos agentes.

Os participantes da competição são coautores, os que organizam a competição são partícipes, os que assistem e torcem NÃO praticam crime.

Nesse crime, exige-se perigo concreto de dano, assim sendo, é necessário que os competidores violem regras de trânsito e gerem perigo.

Falta de habilitação Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

O crime consiste em conduzir veículo automotor na via pública sem autorização, gerando perigo de dano. Semelhante esse crime, a Lei de Contravenções Penais traz em seu artigo 32 a seguinte conduta:“Conduzir veículo automotor em via pública ou embarcação em águas públicas sem habilitação”. Legislação Penal Especial 31

Page 32: Legislação Penal Extravagante

Na conduta da LCP não é necessário que haja perigo de dano. Com a vigência do art. 309 do CTB, uma corrente sustentou que ele derrogou o art. 32 da LCP na

parte relativa a veículo automotor.Uma segunda corrente afirmou que não houve derrogação, pois se a conduta gerar perigo de dano

haverá o crime do art. 309 do CTB, entretanto, se não gerar perigo de dano, haverá a contravenção penal no art. 32 da LCP.

O STF, na Súmula 720, adotou a primeira posição, afirmando que o art. 32 da LCP foi derrogado na parte relativa a veículo automotor. Portanto, dirigir sem habilitação e sem gerar perigo de dano não configura crime nem contravenção penal, mas mera infração administrativa. Súmula 720, STF: O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.

A falta de habilitação não se confunde com a habilitação vencida ou com a falta de porte da CNH pelo motorista, que são meras infrações administrativas.

Excesso de velocidade Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

A configuração desse crime exige:a) Velocidade incompatível* com a segurança; b) Proximidade de locais mencionados no tipo; c) Perigo concreto de dano.

* Tem-se considerado que velocidade incompatível é aquela superior ao limite estabelecido para a via. Todavia, circunstâncias concretas podem impor velocidade ainda menor. Portanto, não há limite preciso quanto a essa velocidade.

Esse crime, que é de perigo, é absorvido pelo de dano. Assim, se além do excesso de velocidade, houver a prática de lesão culposa, o motorista responderá pela lesão culposa, não responderá pelo excesso de velocidade, pois a excesso foi a imprudência que deu origem a lesão culposa.

LAVAGEM DE DINHEIRO (Lei n° 9.613/98, alterada pela lei 12.683 de 12/07/2012)A lavagem de dinheiro não se confunde com a mera utilização do produto de uma infração anterior,

que constitui mero exaurimento dela.Lavagem de dinheiro é o processo pelo qual o agente dá uma aparência de licitude a bens, valores

ou dinheiro, produtos de infração penal anterior, objetivando reintroduzi-los na economia com esta aparência e tirar proveito deles. Ex.: Negócios de fachada (estabelecimentos comerciais, igrejas, etc.), declaração de lucros inexistentes, compras ou depósitos em nome de “laranjas”, ações, entre outros.

As leis de lavagem dinheiro são divididas em três gerações:As leis de 1° geração que puniam a lavagem, puniam apenas se o crime anterior fosse tráfico de

drogas.Num segundo momento, temos as denominadas leis de 2° geração, em que o crime antecedente é

um dos previstos pela lei em rol taxativo.

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Page 33: Legislação Penal Extravagante

Hoje a nossa lei é de 3° geração. Assim, qualquer infração penal cometida configurará crime de

lavagem de dinheiro.

GERAÇÕES1° geração: o crime antecedente é só o tráfico de entorpecentes.2° geração: o crime antecedente é um dos previstos pela lei em rol taxativo3° geração: o crime antecedente é qualquer infração penal (crimes e contravenções).

Três gerações de pensamentos influenciaram a estrutura das legislações contra a lavagem de dinheiro: 1) A primeira geração elabora o conceito de que o crime antecedente ao delito supramencionado necessariamente teria de ser o narcotráfico;2) A segunda geração amplia a gama de possibilidades de ilícitos antecedentes e conexos;3) A terceira, por sua vez, conecta a lavagem de dinheiro a qualquer crime precedente. Essa geração tem como seguidores os sistemas da Bélgica, França, Itália, Suíça, México e Estados Unidos.

A legislação pátria perfilava a segunda geração, admitida também pela Espanha, Alemanha e Portugal. Note que a lei espanhola acerca da lavagem de dinheiro é bastante similar à nossa Lei 9.613/98.

Objeto material dos crimes de lavagem de dinheiro (objeto sobre o qual recai a conduta do

agente): dinheiro, bens (móveis ou imóveis) ou valores (ações, títulos da dívida pública, etc.).

Objeto jurídico desses crimes (bem tutelado pela norma penal): temos duas correntes. Corrente minoritária: sustenta que o objeto jurídico desses crimes é o mesmo da infração antecedente.

Ex.: A lavagem do dinheiro do tráfico viola a saúde pública.

Corrente majoritária: a maioria entende que o objeto jurídico do crime de lavagem, qualquer que seja a infração antecedente é sempre a ordem econômico-financeira, que é protegida contra a inserção nela de dinheiro, bens ou valores ilícitos.

Sujeito ativo: qualquer pessoa quer ela seja ou não, autor ou partícipe da infração antecedente. Se o mesmo agente for autor ou partícipe da infração antecedente e lavar o produto da infração, ele responderá por ambos, em concurso material (somam-se as penas).

A diversidade dos objetos jurídicos demonstra a autonomia do crime de lavagem. Por exemplo: quando alguém pratica tráfico. Ele ofende a saúde pública praticando um crime. Quando ele lava o produto do tráfico, ele ofende a ordem econômico-financeira e, portanto, pratica outro crime.

Sujeito passivo: a vítima desses crimes sempre será o Estado, mas também a eventual vítima da infração antecedente. Quanto a esta, a lavagem distancia ainda mais dela o produto do crime, dificultando a sua recuperação.

A vítima do trafico de entorpecentes é a sociedade, assim, o crime é vago.A lavagem de dinheiro distancia ainda mais a coisa do verdadeiro dono, torna ainda mais difícil a

recuperação do crime antecedente.

Tipo subjetivo da lavagem de dinheiro: é o dolo, que inclui a ciência da origem ilícita da coisa e a vontade de dar a ela uma aparência lícita, reintroduzindo-a na economia.

Não existe esse crime na forma culposa.

Consumação: os crimes de lavagem são formais, consumando-se tão logo haja ocultação ou dissimulação da origem ilícita da coisa, ainda que o agente não tenha obtido o resultado de reintroduzir a coisa na economia, tirado proveito dela. Legislação Penal Especial 33

Page 34: Legislação Penal Extravagante

Crime formal: é aquele de consumação antecipada.

Admite-se a tentativa quando realizados os ato executórios, o agente não consegue ocultar ou dissimular a origem da coisa. Ex.: O agente monta uma empresa de fachada, mas é descoberto antes de declarar qualquer lucro fictício.

Tipo objetivo: todos os crimes são crimes acessórios (são aqueles cuja configuração exige uma infração penal anterior, ou seja, não existem se não houver um crime anterior). Ex.: Receptação, o uso de documento falso. Só há lavagem se houver um crime anterior cujo proveito é lavado.

Art. 2º: O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos com reclusão, da competência do juiz singular;II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento; (Redação dada pela Lei nº 12.683/2012)III - são da competência da Justiça Federal:a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas;b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal. Redação-Lei nº 12.683/2012

§ 1°: A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)§ 2°: No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo. (Lei nº 12.683, de 2012).

Nos termos do art. 2°, inc. II e § 1° da Lei de Lavagem, para o processo por crime de lavagem, basta que haja indícios da ocorrência da infração anterior. A existência desta será demonstrada cabalmente no próprio processo por lavagem. A punibilidade do autor da lavagem não depende da punibilidade do autor da infração antecedente. Portanto, poderá haver condenação por lavagem, ainda que seja inimputável ou desconhecido, ou que tenha sido extinta a punibilidade o autor da infração antecedente.

Se a infração antecedente foi objeto de outro processo, somente na hipótese de o réu daquele processo ser absolvido por inexistência do fato ou atipicidade do fato, estará impedida a ação penal por crime de lavagem. A sentença que declarou que a infração anterior não existiu ou que o fato foi atípico faz coisa julgada e implica necessariamente na atipicidade da lavagem.

Se eventual condenação por lavagem de dinheiro transita em julgado e, depois disso, em outro processo há uma sentença absolutória afirmando estar provado que a infração antecedente não existiu ou que a conduta foi atípica, só restará ao condenado pela lavagem, promover revisão criminal.Aula 08.11.12

CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIROArt. 1°, caput: Ocultar ou dissimular. O agente, oculta ou dissimula várias coisas como, por exemplo, a natureza, a origem, etc. dos bens ou dinheiro, produtos de infração. Ocultar é esconder é retirar do alcance de terceiros. Dissimular é disfarçar. A coisa continua ao alcance de terceiros, mas sob uma aparência enganosa.

A ocultação e a dissimulação correspondem à fase inicial do processo de lavagem.

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A lavagem é um processo que começa com algo ilícito, ao qual se dá uma aparência licita, para posteriormente tirar proveito.

O legislador pune como crime consumado de lavagem, condutas que correspondem apenas ao início de sua execução, antes mesmo de que o agente consiga dar aparência lícita ao dinheiro ou bem ou reintroduzi-los na economia, ou tirar proveito deles.

Este crime do caput tem caráter permanente, pois a consumação se prolonga enquanto perdura a ocultação ou dissimulação. São crimes permanentes, ou seja, aqueles que se prolongam no tempo. Portanto, o agente pode ser preso em flagrante a qualquer tempo, enquanto durar a permanência (art. 303, CPP).

Art. 1°, § 1°: Dolo de atribuir aparência de licitude. Note que nesses crimes, o dolo é sempre do agente.I. Converter os bens, valores e dinheiro de origem ilícita em ativos lícitos. Trata-se da fase seguinte da lavagem, em que o agente troca o bem ou dinheiro ilícito em bem ou dinheiro lícito. “Diretamente lícito, embora indiretamente ilícito”. Ex.: O agente comete um crime e obtém R$ 10 milhões. Ele compra uma casa nesse valor e o paga, mas lavra uma escritura de compra e venda como se houvesse pago R$ 1 milhão. Em seguida, ele vende a casa por R$ 10 milhões.

II. Adquirir, receber, trocar, negociar, etc., os bens ou dinheiro de origem ilícita . O dolo é uma espécie de receptação que se distingue daquela do art. 180, do CP, pelo dolo do agente. A receptação é crime contra o patrimônio, em que o agente visa apenas vantagem patrimonial. Neste caso, o dolo é de dar aparência lícita a bens ou dinheiro de origem ilícita. Exemplo da casa. Se o vendedor sabia que a finalidade do comprador era lavar dinheiro e que a origem desse dinheiro era ilícita, ele praticou esse crime. Necessário observar que se o comprador não sabia, não há dolo. Neste crime, o dolo pode ser direto ou eventual.

No dolo direto, o agente tem certeza da origem ilícita; no dolo eventual, o agente desconfia dela, mas faz o negócio assumindo o seu risco.

III. Importar ou exportar bens com valores falsos. Ex.: O agente importa bens no valor de R$ 1 milhão, paga R$ 1 milhão, todavia, declara ter pago R$ 100 mil. Ou ainda, o agente exporta bens que valem R$ 100 mil, recebe R$ 100 mil, porém declara que recebeu R$ 1 milhão.

§ 2° I. Utilizar na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de infração penal. Este crime corresponde à fase final da lavagem em que os bens ou dinheiro são reintroduzidos na economia. Trata-se do crime de terceira pessoa que apenas participa dessa fase final, a qual, ciente da origem ilícita da coisa a reintroduz na economia. Ex.: O agente lava dinheiro através de negociação imobiliária e pede ao corretor que aplique esse dinheiro na bolsa, narrando a ele a origem ilícita do dinheiro.

Se o mesmo agente realiza as condutas anteriores da lavagem e depois introduz na economia o produto desta, ele somente responde pelos crimes anteriores, pois esta última conduta é mero exaurimento (esgotamento, ele somente tira proveito das outras condutas) daquelas.

Este crime apenas se configura se houver dolo direto, ou seja, quando o agente sabe com certeza da origem ilícita da coisa. Na hipótese de dolo eventual “o agente apenas desconfia, assumindo o risco”. A conduta é atípica, portanto, o agente não responderá por nenhum crime.

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II. É crime participar de grupo, associação ou escritório, tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é a lavagem.

Neste crime, o agente não é autor nem partícipe da lavagem, pois do contrário, ele responderia pelos outros crimes. Ele apenas participa de atividades lícitas do grupo, associação ou escritório em que a lavagem é realizada por terceiros, tendo conhecimento desse fato. Também nesta hipótese, o dolo somente pode ser direto.

§ 5° - Delação premiada: a lei prevê benefícios para o coautor ou participe que delatar o fato à autoridade de forma espontânea “sem coação” e eficaz, ou seja, que produza resultado prático de identificar outros autores ou recuperar produtos da lavagem.

A delação pode ocorrer em qualquer fase do inquérito ou da ação até a sentença de 1° grau.

Legislação Penal Especial 36