51
Anais do I Simpósio Direito e Inovação Faculdade de Direito da UFJF Maio de 2012 Bruno Amaro Lacerda Joana de Souza Machado Leonardo Alves Corrêa (Organizadores)

Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Faculdade de Direito da UFJF

Maio de 2012

Bruno Amaro Lacerda Joana de Souza Machado Leonardo Alves Corrêa (Organizadores)

Page 2: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 2

Simpósio Direito e Inovação, 1., 28 e 29 maio 2012, Juiz de Fora, MG. Anais do I Simpósio Direito e Inovação – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF – Faculdade de Direito / Organizadores Leonardo Alves Corrêa, Bruno Amaro Lacerda, Joana de Souza Machado – Juiz de Fora: Faculdade de Direito da UFJF, 2012. 51 p.; ISBN 978-85-66252-00-2 1. Direito. 2. Inovação. I. Corrêa, Leonardo Alves. II. Lacerda, Bruno Amaro. III. Machado, Joana de Souza. IV. Título.

CDU 34.04

Page 3: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 3

ÍNDICE

1- INOVAÇÕES SOCIAIS ILÍCITAS: O DIREITO A DELINQUIR COMO ELEMENTO

ESTRUTURANTE DA JUSTIÇA NO DIREITO NÃO MUTILADO ............................................................. 6

2- TÓPICOS EM DISCUSSÃO PARA A ELABORAÇÃO DO ANTEPROJETO DE REFORMA DA

PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL E DA LEGISLAÇÃO PENAL EXTRAVAGANTE .................... 7

3- TECNOLOGIA NO PROCESSO PENAL: INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA ............ 8

4- ANENCEFALIA E INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS .................................................................................. 9

5- TESTAMENTO VITAL: A GARANTIA DA AUTONOMIA DO PACIENTE TERMINAL ................ 10

6- DIAGNÓSTICO GÉNÉTICO PRÉ-IMPLANTACIONAL (DGPI) - UMA INOVAÇÃO

BIOTECNOLÓGICA QUE RECRUDESCE AS DISCUSSÕES SÓCIO-JURÍDICAS ACERCA DA

EUGENIA POSITIVA E NEGATIVA NO SÉC. XXI.................................................................................... .11

7- O CONCEITO DE PESSOA EM ENGELHARDT ..................................................................................... 12

8- SPAEMANN E A IDENTIDADE ENTRE “SER HUMANO” E “PESSOA” ........................................... 13

9- BIOTECNOLOGIA E SOCIEDADE ........................................................................................................... 14

10- REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: O CONFLITO ENTRE O DIREITO DE SIGILO DO

DOADOR E O DIREITO À IDENTIDADE GENÉTICA ............................................................................. 15

11- BIOTECNOLOGIA E SEUS REFLEXOS NO DIREITO......................................................................... 16

12- A PROBLEMÁTICA ACERCA DOS EMBRIÕES HUMANOS NO DIREITO SUCESSÓRIO ........... 17

13- HEIDEGGER E A QUESTÃO DA TÉCNICA ........................................................................................ 18

14- SOLDADOS DA BORRACHA: DIREITO À MEMÓRIA DOS GUERREIROS DO LÁTEX ............. 19

15- A EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA COMO NOVA FORMA DE

INTERVENÇÃO ECONÔMICA ESTATAL INCIDENTE SOBRE O FATOR DE PRODUÇÃO

“ORGANIZAÇÃO” .......................................................................................................................................... 20

Page 4: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 4

16- DIREITO ECONÔMICO DEMOCRÁTICO E INOVAÇÕES INSTITUCIONAIS: NOVOS ATORES

ECONÔMICOS E A MOEDA SOCIAL NO BRASIL .................................................................................... 21

17- DIREITO ECONÔMICO AMBIENTAL E AQUECIMENTO GLOBAL CRÍTICA SOBRE A

PRETENSÃO DE NEUTRALIDADE DAS NOVAS TECNOLOGIAS LIMPAS ........................................ 22

18- GOVERNANÇA CORPARATIVA NO NOVO CONTEXTO DO MERCADO ACIONÁRIO

BRASILEIRO .................................................................................................................................................... 24

19- CONTROLE DA PUBLICIDADE INFANTIL NA SOCIEDADE DE CONSUMIDORES ................... 25

20- INOVAÇÕES NAS TEORIAS SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO, NA FILOSOFIA

MORAL, E A REDEFINIÇÃO DOS PROBLEMAS DE PESQUISA NO CAMPO DO DIREITO ............. 26

21- O PROCEDIMENTO DISCURSIVO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOS INSTITUTOS

JURÍDICOS ...................................................................................................................................................... 28

22- A TEORIA DAS LACUNAS E UMA NOVA VISÃO DO ART. 769 DA CLT .................................. 29

23- POLÍTICAS PÚBLICAS, INOVAÇÕES ARGUMENTATIVAS E IGUALDADE DE GÊNERO ........ 30

24- OS DESAFIOS ATUAIS PARA QUE O ORÇAMENTO PÚBLICO SEJA INSTRUMENTO DE

PROMOÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................... 31

25- A ATUAL APLICAÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL ........................................................................ 32

26- INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS NO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL: IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS ....................................................................................... 33

27- INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS NO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL: IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS ....................................................................................... 34

28- O SERVIÇO PÚBLICO E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS ........................................................... 35

29- ADICIONAL DE INSALUBRIDADE POR EXPOSIÇÃO À FUMAÇA DE CIGARRO ..................... 36

30- LIBERDADE, AUTONOMIA E SUAS CONTRADIÇÕES NA SOCIEDADE ATUAL FACE

FUNDAMENTO DO PAPEL PROMOCIONAL DO ESTADO: ANÁLISE DO ESTÁGIO DA

REGULAMENTAÇÃO SOBRE O “NÃO-USO” DO TABACO ................................................................... 37

Page 5: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 5

31- A TUTELA DA DIGNIDADE NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA ..................................................... 38

32- PERSPECTIVAS SUCESSÓRIAS DO EMBRIÃO HUMANO: UMA RELEITURA

CIVILCONSTITUCIONAL ............................................................................................................................. 39

33- COMMON LAW DE ELITE – O PAPEL DO JUDICIÁRIO NO BRASIL............................................ 40

34- TRADIÇÕES JURÍDICAS E APLICAÇÕES SILOGÍSTICAS ............................................................... 41

35- ACESSO À SAÚDE ................................................................................................................................... 42

36- A PROBLEMÁTICA DO PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO EM UM CONTEXTO

DE CONSTANTE MODIFICAÇÃO DOS DIREITOS .................................................................................. 43

37- LUZ, CÂMERA, JURISDIÇÃO: TECNOLOGIA DE COMUNICAÇÃO E O MITO DA JUSTIÇA

TRANSPARENTE NO BRASIL ...................................................................................................................... 44

38- COMUNICAÇÃO GLOBALIZADA E A NOVA JURISDIÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ............ 45

39- SOFTWARE LIVRE, COPYLEFT: POSSIBILIDADES EXTRA-INSTITUCIONAIS DE

TRANSFORMAÇÃO DE REGIMES JURÍDICOS TRADICIONAIS .......................................................... 46

40- O RELACIONAMENTO UNIVERSIDADE-EMPRESA NO CONTEXTO DE FOMENTO À

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E AO DESENVOLVIMENTO SOCIAL: UMA RELAÇÃO FINALÍSTICA

E JURIDICAMENTE POSSÍVEL?................................................................................................................... 47

41- DEMANDAS SOCIAIS E CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM UM CONTEXTO PERIFÉRICO ... 48

42- DESENVOLVIMENTO TÉCNICO E IMPACTO IDEOLÓGICO DAS INOVAÇÕES E NOVAS

TECNOLOGIAS NO SISTEMA JURÍDICO .................................................................................................. 49

43- O DIREITO COMO INTEGRIDADE E A LEI DE PATENTES: UMA REINTERPRETAÇÃO DA

NOVIDADE A PARTIR DE ESTRUTURAS LÓGICAS .............................................................................. 50

44- CLÁUSULAS DE CONTROLE NOS CONTRATOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA:

POR UMA RECONSTRUÇÃO ATRAVÉS DA IDENTIDADE .................................................................. 51

Page 6: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 6

Inovações sociais ilícitas: o direito a delinquir como elemento estruturante da justiça no direito não mutilado

Brahwlio Soares de Moura Ribeiro Mendes

Este trabalho pretende desmistificar a vinculação harmônica entre a expressão estatal do direito e a justiça. Partindo da relação entre a justiça como auto-subversão do direito, proposta por Teubner, com o Direito como Identidade, proposto por Marcos Vinício Chein Feres e Brahwlio Soares de Moura Ribeiro Mendes, tentar-se-á demonstrar a intrínseca relação entre ilicitude e inovação social, cujo motor é a justiça. Deste modo, o Justo é abordado como elemento invocado para alterar o direito posto, situando-se nas fronteiras do sistema jurídico para Teubner e na consciência jurídica para o Direito como Identidade. Tal elemento constitui a antípoda à autoconservação do direito positivo. Pretendemos construir um conceito de direito que transcenda a expressão jurídica estatal, de modo que esta justiça essencialmente contrária ao direito positivo seja ainda considerada direito e não moral. Essa proposta de conceituação jurídica não pretende se aproximar das doutrinas de direito natural, pretende apenas constatar que a força exercida pela expressão estatal do direito estrutura-se sobre um poder simbólico a ela conferido pela crença popular. Com isso não estamos afirmando, como concluem alguns, que uma técnica estatal de controle social embasada apenas na força não seria direito. Afirmamos apenas que o direito de nosso tempo histórico não se estrutura desta maneira, extraindo sua força coercitiva diretamente da crença popular nos símbolos jurídicos, ou seja, o direito extrai sua força de ideias latentes no imaginário popular, constituintes da consciência jurídica no modelo proposto pelo Direito como Identidade. Deste modo, pretendemos não mutilar o direito, mantendo em seu conceito o que estrutura sua força, concluindo-se que a expressão estatal é apenas um momento da totalidade do ser jurídico. Disto buscaremos extrair o direito à delinquência, fundado na necessidade de não mutilação do direito em sua própria estrutura normativa, vez que a consciência jurídica só pode se manter livre se o direito estatal for entendido necessariamente como um conjunto de imperativos hipotéticos, e não categóricos, de modo que seja reconhecido ao sujeito o meta-direito de cometer ilicitudes, mesmo que sofra as sanções previstas. Ressaltando-se a relevância deste debate no contexto de inovações tecnológicas capazes de impor a não delinquência.

Page 7: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 7

Tópicos em Discussão para a Elaboração do Anteprojeto de Reforma da Parte Especial do Código Penal e da Legislação Penal Extravagante

Rafael Bezerra de Souza Moreira

Encontra-se em fase de realização de audiências públicas a Comissão do Senado Federal responsável pela elaboração do anteprojeto de reforma da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal de Justiça Gilson Dipp. Em recente entrevista (www.redetv.com.br/jornalismo/enoticia – em 06/05/2012), o magistrado trouxe à luz algumas discussões travadas pela Comissão, sinalizando possíveis mudanças. Dentre elas, pode-se dizer que parte vai ao encontro dos anseios da comunidade científica, como a abolitio criminis do delito de casa de prostituição (art. 229, CP), a eliminação do polêmico índice de alcoolemia no delito de embriaguez no trânsito (art. 306, CTB) – com a consequente admissão de outros meios de prova que não apenas o exame do etilômetro –, a criação de um tipo autônomo em face das condutas praticadas por organizações de milícias e a majoração da pena em homicídios decorrentes de rachas, onde se falaria em culpa gravíssima, instituto que justificaria a cominação de penas relativamente elevadas para crimes culposos. Contudo, parte das mudanças representa verdadeiro retrocesso, ou, pelo menos, representa pontos ainda imaturos para positivação. Dentre eles, podem-se citar a criminalização do jogo do bicho (atualmente contravenção penal, conforme art. 58 do Decreto-lei n.º 3.688/1941), a volta da pena privativa da liberdade para usuários de drogas (atualmente cingidas a penas restritivas de direito, conforme art. 28 da Lei n.º 11.343/2006) e alterações no crime de furto simples (art. 155, caput, do Código Penal). Quanto a este último, está em debate a alteração da natureza da titularidade da ação penal, que passaria de ação pública incondicionada para ação pública condicionada à representação. Mas não é precisamente este o problema, e sim a criação de uma causa especial de extinção da punibilidade: a reparação do dano ou a restituição da res furtiva, que a nosso ver atuaria mais como estímulo à prática de furtos do que como incentivo à reparação do prejuízo.

Page 8: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 8

Tecnologia no Processo Penal: interrogatório por videoconferência

Clarissa Diniz Guedes

Ariele Augusta Godinho

Os avanços tecnológicos usufruídos pela sociedade podem e devem ser incorporados, de forma reflexa, pelo Poder Judiciário, sendo, contudo, necessário harmonizar os benefícios advindos da modernidade com os direitos e garantias fundamentais assegurados ao indivíduo pela Constituição Federal. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo apresentar o instituto do interrogatório por videoconferência, consolidado definitivamente pela Lei 11.900, que modifica a redação dos parágrafos 1º e 2º do artigo 185 do Código de Processo Penal, em janeiro de 2009. O Direito Penal, por cuidar dos bens jurídicos mais caros à sociedade, mostra-se sempre mais conservador, por isso a utilização da tecnologia para viabilizar a oitiva de depoimento dos réus presos gerou acaloradas discussões entre os juristas. Em uma grande ala, estão aqueles que defendem que não haverá restrição a direitos, pelo contrário, será a inovação uma forma de efetivá-los, além de assegurar celeridade processual. Ressaltam ainda a economia para os cofres públicos e a maior segurança pública. Do outro lado, por sua vez, há aqueles que, assustados, alegam que é a volta de um Estado Absolutista preocupado apenas com os interesses públicos, ao ferir a dignidade humana, o devido processo legal e a ampla defesa do réu. A partir da compreensão do interrogatório como meio de defesa – que possibilita ao réu a oportunidade de fornecer sua versão dos fatos, demonstrar sua inocência e até confessar – e, também, como meio de prova – útil ao interesse público por instrumentalizar a pretensão punitiva –, o estudo pretende apresentar as discussões que surgiram em relação à efetivação do inquérito por videoconferência; fazer uma breve evolução da legislação no país; avaliando a sua aplicabilidade em outros países e no Brasil. Por fim, conclui-se que a informatização do Judiciário se faz necessária, desde que observados os direitos e garantias constitucionais.

Page 9: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 9

Anencefalia e inovações tecnológicas

Luciana Gaspar Melquíades Duarte

Trata-se de resumo sobre as repercussões jurídicas das novas tecnologias médicas para a detecção intraútero da anencefalia, doença que impede o bebê de ter longa sobrevida após o parto. Considerando a iminência do óbito da criança após o nascimento, alguns pais de fetos portadores desta anomalia arguem o direito à realização do aborto, hipótese, porém, não contemplada por previsão legal, o que implicava, com frequência, no indeferimento de tal pleito. Entretanto, novel decisão do Supremo Tribunal Federal, datada de 12 de abril de 2012, em sede da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54, declarou a inconstitucionalidade do enquadramento da interrupção da gravidez de fetos nestas condições nos tipos penais constantes dos artigos 124, 126 e 128, I e II do Código Penal. Entre outros argumentos, sustentou a Suprema Corte que a ausência de exclusão da ilicitude desta prática pela lei penal deve-se tão somente ao fato de, na época de sua elaboração, não ser disponível a tecnologia que permite o diagnóstico precoce de tal doença, uma vez que a inviabilidade da vida extrauterina deixa de caracterizar o crime de aborto. Sustenta-se, entretanto, que a decisão em questão é equivocada, uma vez que a interrupção da gravidez em questão põe termo a um processo vital que, naquele momento, teria fluxo normal, ainda que o óbito do feto seja iminente. Assemelha-se, assim, à prática da eutanásia de doentes terminais, vedada pelo ordenamento jurídico e caracterizadora do crime de homicídio. Tal prática não encontra amparo no princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que ele exigiria, ao contrário, uma postura de maior austeridade dos pais da criança doente. Muitos argumentam, ainda, que a anencefalia equipara-se ao diagnóstico da morte cerebral, acolhida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Sua adoção como parâmetro de intervenção no cadáver, justifica-se, porém, pela doação de órgãos para pacientes com grande perspectiva de cura, enquanto o aborto do anencéfalo tem por escopo poupar o sofrimento emocional dos pais, bem jurídico de menor valor que a vida do feto anencéfalo, ainda que fadada à efemeridade.

Page 10: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 10

Testamento Vital: a garantia da autonomia do paciente terminal

Misyara Rabelo A evolução biotecnológica iniciada em meados do século XX proporcionou, por modernos recursos, o prolongamento artificial da vida, isto é, procedimentos distanásicos. Junto a essa evolução biotecnológica e praticamente na mesma proporção, também evoluiu a autonomia moral do homem e consequentemente os direitos de escolha do paciente. No entanto, essas evoluções dificultaram ainda mais as decisões médicas tomadas sobre pacientes em estado terminal, pois a incapacidade do doente de manifestar seu verdadeiro desejo deixa espaço para divergências de posicionamento entre médicos e familiares. Afim de solucionar esse conflito e garantir a vontade do enfermo, o testamento vital – Documento escrito e assinado ou declaração verbal perante testemunhas, na qual uma pessoa expressa seus desejos em relação à atenção médica que quer ou não receber se estiver inconsciente ou se não puder expressar sua vontade (Associação Médica Mundial, 2003) – é uma inovação no campo bioético e jurídico nos EUA e em alguns países da Europa. O objetivo das vontades antecipadas é limitar a distanásia que utiliza dos tratamentos fúteis – processos terapêuticos inúteis, pois a doença se encontra na fase a qual não responde aos tratamentos curativos –, permitindo assim a morte no seu tempo certo. Apesar do direito à vida não gerar um dever de sobrevida artificial a qualquer custo, o ordenamento jurídico brasileiro ainda não regulamentou especificamente o testamento vital. Dessa forma, o doente incapaz de se comunicar depende dos familiares ou responsáveis que, junto à equipe médica, decidirão sobre as condutas a serem tomadas. O testamento vital é um importante instrumento para a garantia da autonomia do paciente, assim como para a reflexão sobre as consequências de uma morte lenta e sofrida, tanto para o paciente terminal como para seus familiares.

Page 11: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 11

Diagnóstico genético pré-implantacional (DGPI): uma inovação biotecnológica que recrudesce as discussões sócio-jurídicas acerca da

eugenia positiva e negativa no século XXI Maria José Guedes Gondim Almeida

O diagnóstico genético pré-implantacional (DGPI) consiste no uso de técnicas moleculares ou citogenéticas durante a fertilização in vitro para selecionar embriões livres de uma condição genética específica. Sendo assim, é uma ferramenta valiosa aos casais de alto risco reprodutivo, por permitir a seleção de embriões saudáveis obtidos através de programas de fertilização in vitro antes de serem transferidos para o útero materno. A metodologia mais utilizada para a realização do DGPI é a técnica de hibridização in situ, utilizando-se sondas fluorescentes para a detecção de cromossomas específicos. Estas inovações biotecnológicas fazem aflorar as discussões acerca da Eugenia Negativa e Positiva. No século XX os eugenistas defendiam uma Eugenia positiva que implicava em ações que estimulavam uma “boa reprodução”, sendo também evocada uma eugenia negativa onde se buscava ações que limitassem uma “má reprodução”. Hoje, com os avanços biotecnológicos, podemos dizer que a eugenética negativa implicaria em ações que buscam a prevenção de doenças genéticas enquanto a eugenética positiva cria ou melhora as características físicas e mentais do futuro ser. Habermas, filósofo alemão contemporâneo, ao se posicionar em relação à eugenética positiva e negativa, admite uma justificativa para a segunda, pois julga ser sensato admitir que os progenitores, no exercício de sua autonomia da vontade, desejem evitar o nascimento de seres humanos com graves deficiências. Por outro lado, o filósofo não legitima a eugenética positiva em decorrência da ausência de um padrão universal de preferências eugênicas à disposição dos progenitores. No extremo oposto, Dworkin, filósofo do direito estadunidense, defende as técnicas eugênicas tanto negativas quanto positivas, em nome dos direitos fundamentais, postulando que não há nada em si mesmo errado com a ambição humana de buscar uma nova geração mais longeva e talentosa. Hodiernamente, cabem às academias de Direito promoverem reflexões que possibilitem analisar os reflexos das inovações no campo da genética, visando dirimir possíveis conflitos morais, sociais e jurídicos emergentes a partir da difusão destas tecnologias.

Page 12: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 12

O conceito de pessoa em Engelhardt

Bruno Amaro Lacerda Eduarda Cellis da Silva Campos

As inovações da modernidade causam profundas mudanças na sociedade, provocando questionamentos sobre conceitos e teorias, que passam a ser constantemente repensados. O conceito de pessoa, de extrema importância para a atribuição de direitos, tem sido discutido, especialmente nas últimas décadas, por filósofos que buscam defini-lo por meio de diferentes argumentos. De acordo com a concepção de Hugo T. Engelhardt Jr., um ente, para ser classificado como pessoa, precisa apresentar determinadas características: deve ser autoconsciente, podendo refletir sobre si mesmo; deve apresentar racionalidade; deve possuir uma preocupação com o merecimento de acusação ou elogio, isto é, um sentido moral mínimo; e precisa pensar a si mesmo como livre. Estas quatro características identificam as entidades capazes de dar permissão diante da pretensão de outros sujeitos. Logo, os fetos, os bebês, os deficientes mentais e os que se encontram em coma profundo são seres humanos, mas não são pessoas, não desfrutando de uma posição na comunidade moral secular. Os embriões, fetos e bebês seriam “pessoas em potencial”, não possuindo os mesmos direitos das pessoas “em ato”. Também os animais não podem ser enquadrados no conceito de pessoa, pois são meios a serem usados e encontram-se dentro dos limites de uma moralidade centralizada na pessoa e nos seus interesses. Contudo, há uma responsabilidade para com os animais ainda que negativa, de não-maleficência. Assim, embora estejam excluídos de uma moralidade do respeito mútuo, estão incluídos na moralidade do bem-estar e da solidariedade, como objetos de consideração beneficente. (PROGRAMA DE INSTALAÇÃO DE DOUTORES – PROPESQ UFJF)

Page 13: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 13

Spaemann e a identidade entre “ser humano” e “pessoa”

Bruno Amaro Lacerda Uma das tendências mais fortes da Bioética é a dissociação dos conceitos “pessoa” e “ser humano”, com muitos bioeticistas sustentando, contrariamente ao senso comum, que nem todos os seres humanos são pessoas. Só o seriam aqueles dotados de autoconsciência e racionalidade, o que excluiria do conceito de pessoa alguns seres biologicamente humanos, como os fetos, as crianças pequenas e os deficientes mentais. Essa distinção possui consequências práticas relevantes, pois considerar que somente as pessoas, por seu pertencimento à comunidade moral, mereçam respeito e proteção dos seus direitos, equivale a dizer que os seres biologicamente humanos não-pessoas ficam desprotegidos, pois não estão no mesmo patamar ético das pessoas. Contra essa tendência se volta Robert Spaemann, ao apresentar interessantes argumentos para rebatê-la, no intuito de reafirmar que o único critério possível para a definição de um ser como pessoa é a pertença biológica à espécie humana, estejam os indivíduos humanos conscientes desse fato ou não. Sua tese fundamental é a impossibilidade de alguém derivar de algo e, portanto, da qualificação de fetos e crianças como pessoas potenciais. A personalidade não é o resultado de um desenvolvimento que leva algo a se tornar alguém, mas “a estrutura de um único tipo de desenvolvimento”, que é a natureza de cada ser humano individualmente considerado. Ele lembra que as crianças não são percebidas por nós como coisas, ou seja, como algo que, somente após o advento de certas qualidades, se tornará alguém, mas como pessoas atuais cujas qualidades só podem se desenvolver porque elas já possuem a condição pessoal. Afinal, nós não dizemos “algo nasceu no dia x, que depois se tornou ‘eu’”, mas “eu nasci no dia x do ano y”, mesmo sabendo que nós, naquele momento, não tínhamos consciência disso. Também o deficiente mental não é percebido por nós como uma coisa, mas como uma pessoa doente que necessita de auxílio. Enfim, Spaemann afirma que os direitos humanos só fazem sentido como exigência incondicionada se o conceito de pessoa for encarado como descrevendo uma comunidade de parentesco dos seres humanos, que, por tal razão, tem de ser inclusiva, e não uma comunidade fechada.

Page 14: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 14

Biotecnologia e Sociedade

Letícia Alonso do Espírito Santo

O universo científico encontra-se em constante evolução, o que influencia na transformação da sociedade de uma maneira cada vez mais rápida. É impossível imaginar o direito como um sistema capaz de abarcar todas as relações sociais, devido à sua multiplicidade. Torna-se ainda mais complicado para o direito regular as relações quando essas tangem aos ramos da biotecnologia. A biotecnologia direcionada ao aprimoramento da reprodução humana é uma coisa inovadora e que gera polêmicas diversas. Há ainda muitas barreiras a serem vencidas para que esse procedimento científico se propague com ampla aceitação. As barreiras são de todos os tipos, incluindo os judiciais. Mas não se pode deixar de pensar nos pontos positivos dessa inovação, principalmente no que concerne a inclusão da mulher na sociedade. A mulher moderna, apesar de sofrer alguns preconceitos, conquistou seu espaço e tem oportunidade de estudar e obter uma carreira profissional. É claro que isso varia de um país para outro, mas é a tendência que vem sendo observada. A idade fértil e a idade de construir uma carreira se equiparam para a mulher, fazendo com que ela seja obrigada a escolher filhos ou estabilidade profissional. A fertilidade diminui com a idade, tornando difícil com que as mulheres mais velhas se tornem mães. As técnicas de congelamento de óvulos permitem que as mulheres preservem seus óvulos e os utilizem mais tarde, já que para que a técnica de fertilização dê certo não é preciso um útero novo e apenas o óvulo novo, no caso congelado. O congelamento de óvulos é uma maneira de auxiliar as famílias atuais que trabalham mais e não têm tempo para ter os filhos na idade fértil feminina. Não é cabível, em um Estado Democrático, uma postura intervencionista extremada, devendo algumas questões ficarem independentes, podendo o indivíduo asegurar a sua esfera de liberdade através da escolha. O que é necessário é uma regulação dessas questões biotecnológicas, haja vista que se imiscuir da função de regulá-las acarreta uma maior quantidade de conflitos na sociedade.

Page 15: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 15

Reprodução humana assistida: o conflito entre o direito de sigilo do doador e o direito à identidade genética

Flavia Carolina Aparecida Carvalho

O problema da esterilidade fez com que inúmeras pesquisas e avanços científicos fossem desenvolvidos. Com o objetivo de corrigir essas anomalias, a engenharia genética desenvolveu as técnicas de reprodução assistida com o intuito de satisfazer o desejo do indivíduo de usufruir da paternidade ou maternidade, o que estaria prejudicado pela concepção natural, dada a condição de estéril ou infértil. Atualmente existem diversas técnicas disponíveis de reprodução assistida. Quanto ao meio de inseminação, as técnicas de dividem em dois grandes grupos: as técnicas in vivo e as in vitro. Na primeira a concepção sucede dentro do corpo da mulher, enquanto na segunda a fecundação ocorre fora do corpo feminino, ou seja, em laboratório. Em relação à origem do material genético utilizado na fecundação, esta poderá ser homóloga ou heteróloga. Homóloga é a fecundação em que se utiliza o material genético do próprio casal que pretende a paternidade ou maternidade. Na fecundação heteróloga é utilizado material genético de terceiro, um doador. Contudo, esse grande progresso da reprodução assistida trousse consigo grandes questionamentos e reflexões no Direito, sobretudo em relação ao indivíduo gerado por fecundação heteróloga. Questiona-se se haveria o direito desse indivíduo sobre sua identidade genética. No Brasil ainda não existe legislação específica a respeito do tema. Temos apenas a Resolução nº 1.957/2010 do Conselho Federal de Medicina, que adota normas éticas no que diz respeito à utilização das técnicas de reprodução humana assistida, garantindo aos doadores a manutenção do sigilo sobre a identidade dos mesmos, possibilitando que em situações especiais, as informações sobre doadores, por motivação médica, possam ser fornecidas exclusivamente para médicos. Noutra toada temos doutrinadores, e até um projeto de lei de autoria do Deputado José Carlos Araújo, que defendem a quebra do anonimato do doador, afirmando que, ao se negar a origem genética, estar-se-ia negando a dignidade ao filho concebido por técnica medicamente assistida, confrontando assim a nossa Carta Magna. Assim, é preciso verificar se o direito à identidade genética, como desdobramento do direito à personalidade, justificaria o impacto gerado na esfera privada do doador.

Page 16: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 16

Biotecnologia e seus reflexos no Direito

Laís Almeida de Souza Lopes As mudanças que cercam a vida humana são passíveis de modificar as disciplinas jurídicas. O Direito, a princípio, é dinâmico, pois não é capaz de lidar com situações completamente inovadoras, de tal modo que sofre uma constante readaptação a fim de que determinados problemas não fiquem sem solução. A partir disso, passíveis de discussão seriam as inovações tecnológicas na medicina e sua relação com o Direito. As novas práticas de manipulação da vida ensejaram o surgimento, na década de 1970, de um novo ramo do Direito: o biodireito, o qual buscou disciplinar essas práticas das ciências biológicas. Independentemente de acontecerem há anos, houve uma intensificação de tais estudos, a ponto da manipulação genética atingir não somente determinados posicionamentos religiosos, mas também o que para o Direito é chamado de dignidade da pessoa humana. Importante exemplo de tal polêmica se encontra na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3510-0, proposta pelo Procurador Geral da República, tendo como relator o Min. Carlos Britto. Essa ação tinha como alvo o Art. 5° da Lei 11.105/05 (Lei de Biossegurança). O autor da ação argumentou que os dispositivos impugnados contrariavam a inviolabilidade do direito à vida, porque o embrião humano é vida humana, logo, haveria uma deturpação do fundamento maior do Estado democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana. Não obstante tal evento, há também questionamentos a respeito da exploração comercial da biotecnologia, já que se tem colocado o biodireito como meio legal de obtenção de patentes em biotecnologia. Seria então esse o principal motivo da defesa da legalização dos experimentos com células-tronco? Ideal seria que o biodireito se apoiasse em determinados princípios, talvez os princípios do Direito Ambiental, com os quais um dia o biodireito se identificou, sob a ótica do direito civil-constitucional, já que não são incompatíveis com as experiências da biotecnologia. Assim, diante das angústias sociais e científicas que tal tema tem suscitado, percebe-se que não há como o Direito se esquivar de chegar a soluções que possam padronizar normativamente práticas das ciências biológicas, e o fará melhor se houver possibilidade de cruzamentos interdisciplinares com as demais ciências, sempre dando enfoque constitucional e considerando os valores supremos elencados pela CF/88: segurança, igualdade, justiça e dignidade humana.

Page 17: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 17

A problemática acerca dos embriões humanos no Direito Sucessório

Lucas Almeida Chaves Pereira

Este resumo visa trazer à tona a vasta problemática que existe quando se considera a figura do embrião humano dentro do Direito das Sucessões, especialmente no que tange à Sucessão Legítima. Os questionamentos se iniciam com a dúvida sobre a natureza jurídica do embrião humano, havendo embate doutrinário quanto à classificação deste como sujeito ou objeto (conforme entendimento do STF na ADI nº 3510). Seguindo o posicionamento de Maria Helena Barbosa, entende-se que se trata de um sujeito de direitos. No entanto, novo questionamento surge: seria o embrião humano equiparado ao nascituro, para efeitos legais? Esta autora posiciona-se negativamente, diferenciando-os pela qualidade de já estar o nascituro instalado no útero materno, o que lhe permitirá viabilidade de vida extrauterina, bem como a possibilidade de suceder. Porém, outros autores como Guilherme Calmon Nogueira da Gama entendem positivamente, afirmando que não se pode confundir a concepção com o início da gestão, conforme diferenciam os profissionais da medicina. Avançando nos questionamentos, destaca-se a problemática dos embriões congelados. Entendendo-se pelo posicionamento de que aquele embrião humano pode ser considerado herdeiro do de cujus, porque concebido durante a vida deste, ainda que não implantado, não resta dúvida que se deve reservar a sua quota parte ideal na sucessão legítima. Entretanto, qual seria o método correto para se determinar essa parcela, tendo em vista que diversos embriões são congelados conjuntamente. A viabilidade dos embriões nos traz a outro ponto fundamental: qual seria o lapso temporal ideal para se manter reservada a quota daquele “potencial” herdeiro? Diversos são os posicionamentos doutrinários. Há os que entendem pela aplicação do prazo de dois anos do art. 1800, §4º, CC/02, referente à prole eventual. Outros preferem utilizar o prazo da Ação de Petição de Herança, que seria de dez anos, também a partir da data da abertura do testamento. Por fim, há aqueles que se baseiam nos resultados das pesquisas médicas, em que se verificou a viabilidade de até 10 anos em certos casos. Conclui-se que esses questionamentos são de suma importância na compreensão e interpretação constitucional quanto à situação jurídica dos embriões no que tange ao seu “direito” de suceder.

Page 18: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 18

Heidegger e a questão da técnica

Bruno Amaro Lacerda Lucas Macedo Salgado Gomes de Carvalho

Este resumo tem como objetivo expor a posição de Martin Heidegger sobre a técnica. O filósofo busca ultrapassar a determinação instrumental da técnica, pela qual ela é vista apenas como um meio escolhido para se atingir um determinado fim, para retomar sua delimitação como τεχνη, atividade de produção por meio de um

conhecimento técnico ou artístico. Dito de outra maneira, um fazer que leva a aparecer e a preservar algo que por si só não poderia se manifestar. Assim, Heidegger retrata a técnica como um modo de desencobrimento (ἀλήθεια), diferenciando sua forma antiga da atual, cujo traço fundamental é o desencobrimento como disponibilidade: o mostrar-se no qual o real não é revelado como um objeto, mas como um não-objeto sempre pronto para ser explorado pelo homem. É essa característica da técnica moderna – cuja possibilidade fundamental reside no Gestell, apelo da natureza que chega até o homem e o põe a caminho de um desencobrimento – que Heidegger afirma precisar ser desvelada, pois nela reside o perigo maior, o do ser humano se ver trancado na disposição e impedido de entrar na mais alta dignidade de sua essência, a verificação da verdade. Somente ao se questionar a técnica em sua essência é que se torna possível ver esse perigo e se aproximar da salvação. (PIBIC/CNPQ)

Page 19: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 19

Soldados da borracha: Direito à memória dos guerreiros do látex

Mariana da Silva Cruz Historicamente, os períodos de guerra são reconhecidos como momentos em que surgem inovações que repercutem na vida da sociedade. Em 1943, o Brasil assinou um acordo de cooperação com os Estados Unidos, que foi positivado no Decreto-Lei nº 5.813, daquele mesmo ano. O acordo compreendia o envio de homens para o combate nas batalhas e remessa de borracha dos seringais amazônicos, com o escopo de fomentar a indústria bélica norte americana. Para cumprir o acordo, o Governo Brasileiro recrutou famílias nordestinas para exercerem o ofício dos seringueiros. Cerca de 60 mil pessoas foram para os seringais e 20 mil para a Guerra, e assim teve início o segundo ciclo de crescimento econômico da região dos seringais que ficou conhecido como “Batalha da Borracha”. Os heróis da borracha foram explorados, praticamente escravizados pelos contratos de aviamento e não receberam qualquer reconhecimento pela sociedade até 1988. Com a Carta Republicana de 1988, no art. 54 do ADCT o governo reconheceu a atividade dos seringueiros e os amparou com um benefício vitalício de dois salários mínimos, que foi regulamentado pela Lei nº 7986/89. Nada obstante, a aquisição do benefício é dotada de interpretação restritiva e equivocada por parte do Judiciário, que no exercício da função hermenêutica se esquece da função social que fundamenta o benefício. Um exemplo é a discussão sobre a sua natureza jurídica que não é nem previdenciária e nem assistencial, mas mesmo assim não se permite a sua cumulação com outro benefício. Por conseguinte, mesmo após a exploração que sofreram, os soldados da borracha devem optar pela “compensação pelo esforço de guerra” ou qualquer outro benefício da seguridade social. Atualmente, tramita no Congresso Nacional a PEC 556/2002 que tem por escopo igualar os soldados da borracha com os ex-combatentes, formalizando-os como heróis de guerra perante toda a sociedade. A medida é necessária, principalmente para tornar viva a memória desses heróis que abdicaram de suas vidas, identidade e até mesmo dignidade, em prol do desenvolvimento das tecnologias de guerra e ainda foram esquecidos por todos.

Page 20: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 20

A empresa individual de responsabilidade limitada como nova forma de intervenção econômica estatal incidente sobre o fator de produção

“organização”

Leonardo Alves Corrêa Douglas Maiolini

A dinâmica socioeconômica contemporânea impôs ao Poder Econômico Público a renúncia ao modelo liberalista de postura econômica estatal – marcada pelo caráter de abstenção e de autorregulação do mercado –, que cedeu espaço a uma forma de Estado-econômico mais interventiva, capaz de condicionar a Economia às especificações de ordem social emanadas da comunidade. A intervenção estatal sobre o processo produtivo é passível de incidir sobre quaisquer dos fatores de produção: capital, mão-de-obra (trabalho), insumos (meio-ambiente) e organização. A regulamentação estatal do fator de produção “organização” representa um relevante ponto de convergência de interesses entre o Direito Econômico e o Direito Empresarial, visto que, por intermédio da normatização, o Poder Público é capaz de institucionalizar formas de organização empresarial dentro das quais pode abrigar-se o agente econômico empresário para conduzir-se no mercado do melhor modo possível. A formalização, pelo Direito, de categorias de produção é sustentáculo do próprio sistema capitalista, na medida em que representa uma delimitação objetiva de institutos através dos quais podem os agentes econômicos se manifestar livremente no mercado, sabendo, de antemão, qual o tratamento e as consequências jurídicas dedicadas a sua atuação econômica, atenuando riscos e otimizando ganhos. Nesta esteira, em um cenário econômico-empresarial em que o Poder Econômico Privado, titularizado em grande parte pelas empresas, assume cabal relevância na Economia, cumpre analisar, acauteladamente, a empresa individual de responsabilidade limitada, trazida ao ordenamento jurídico pela Lei de nº 12.441/11 e que, em suma, traduz a criação normativa de uma forma de organização empresarial através da qual uma única pessoa (física) pode explorar a atividade econômica com limitação de sua responsabilidade à determinada parcela de seu patrimônio. O referido diploma legal, em vigor a partir de janeiro de 2012, positivou a possibilidade de que o empresário individual organize os fatores de produção e explore a atividade empresarial com atenuação de riscos, mediante limitação do patrimônio responsabilizado, o que, certamente, representa estímulo à livre iniciativa e à produção econômica. Por esta razão, o instituto criado merece atenção tanto do Direito Empresarial, quanto do Direito Econômico, na medida em que traduz, de um lado, nova forma de organização empresarial e, de outro lado, novo modo de intervenção estatal sobre o fator “organização”, componente do processo produtivo.

Page 21: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 21

Direito Econômico Democrático e Inovações institucionais: Novos atores econômicos e a moeda social no Brasil

Leonardo Alves Corrêa

Ao Direito Econômico cabe a valoração jurídica de um determinado fato econômico, através do processo de formulação de políticas econômicas pelo Estado. Tradicionalmente, o objeto de estudo do Direito Econômico é compreendido como a política econômica estatal. No paradigma do Estado Liberal, a política econômica estatal é caracterizada pela juridicização de um ambiente institucional (direito à propriedade, liberdade contratual, livre iniciativa) apto a viabilizar a acumulação do capital e a consolidação política da classe burguesa. No paradigma do Estado Social, a simbologia da mão invisível do mercado é substituída pelo crescente papel do Estado como normatizador, indutor, planejador e produtor de bens e serviços. Nesse cenário, o Direito Econômico consolidou uma visão, segundo a qual a “empresa” e o “Estado” são sujeitos econômicos convencionais da relação jurídica jus-econômica. No paradigma democrático, a lógica binária do discurso político-econômico (ação/omissão do particular/Estado) deve ser contemplada – e não simplesmente substituída – por política econômica decorrente de um processo argumentativo democrático, de modo a contemplar a diversidade de visões de mundo, bem como as inovações de novos atores econômicos. Nesse sentido, a moeda social constitui um importante exemplo de subversão do “Direito Econômico tradicional”, na medida em que se caracteriza: a) a moeda social é um instrumento não oficial e, portanto, alternativo de viabilização das trocas comerciais; b) é instituída e administrada pela esfera privada (comunidade e organizações); c) o vínculo entre os participantes é baseado na confiança recíproca. A moeda social, assim, não é concebida como instrumento de exploração de atividade econômica (tal como no modelo convencional das instituições financeiras privadas) ou como um meio de realização de uma política estatal (Bancos estatais em regime privado ou Bancos Públicos de Financiamento), mas como uma “tecnologia microfinança” que permite o financiamento de pequenas atividades produtivas e o desenvolvimento socioeconômico local.

Page 22: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 22

Direito Econômico Ambiental e aquecimento global: crítica sobre a pretensão de neutralidade das novas tecnologias limpas

Leonardo Alves Corrêa

A discussão sobre o aquecimento global não é algo novo. Em 1827, o cientista francês Jean-Baptiste Fourier apresentou a tese da correlação entre o funcionamento de uma estufa e o planeta terra no que se refere à contenção do calor e, consequentemente, a elevação da temperatura do ambiente. Ainda no século XIX, o químico Svante Arrhenius defendia a relação de causalidade entre a queima de combustíveis fósseis e a emissão de dióxido de carbono. A sociedade moderna, entretanto, consciente de seu “dever histórico” e messiânico de “salvar a terra”, reconheceu no “homem” a causa-raiz da crise ambiental. Tornou-se lugar-comum a identificação de um sujeito universal responsável pela destruição do planeta, tal como, a “humanidade”; o “ser humano”; a “ação antrópica”. Por outro lado, afirma-se que a solução na reversão do atual quadro de colapso climático seria o investimento e desenvolvimento em novas tecnologias limpas. A referida concepção – hegemônica nos discursos acadêmicos, políticos e sociais – é concebida a partir de duas premissas questionáveis: A primeira consiste em considerar o sujeito “homem” como causa principal da crise climática. Tal concepção é problemática, na medida em que elege um “homem” - universal e ahistórico - como único elemento causador das mudanças climáticas. Ao elegermos o “homem”, negamos a possibilidade de contestarmos o sistema. Neste sentido, a causa da crise não seria a lógica de funcionamento do Capital que, ao não reconhecer os limites na sua acumulação abstrata de riqueza, tende a conceber o crescimento como algo ilimitado e natural. A segunda premissa equivocada é conceber o desenvolvimento e aprimoramento da técnica como única solução neutra para a problemática ambiental. Ora, não negamos o papel central da evolução tecnológica na reformulação de um sistema de produção e consumo em padrões sustentáveis. A questão de fundo a ser analisada, entretanto, consiste em desnudar qualquer pretensão de neutralidade técnica. A escolha de determinada tecnologia é na verdade a escolha de uma das técnicas existentes – dentre várias possíveis - e representa a afirmação de interesses de grupos e classes sociais constituídas de poderes nos processos de decisão das políticas públicas, e em especial, as políticas econômicas. É o caso, por exemplo, do Plano Nacional de Agroenergia (PNA), documento oficial publicado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, e que tem por meta “estabelecer marco e rumo para as ações públicas e privadas de geração de conhecimento e de tecnologias que contribuam para a produção sustentável da agricultura de energia e para o uso racional dessa energia renovável.” O PNA optou claramente por um aprimoramento tecnológico capaz de promover a “conquista e manutenção da liderança do

Page 23: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 23

biomercado internacional de bioenergia”. O referido plano, entretanto, é omisso no desenvolvimento de políticas sobre a efetiva inclusão, no ciclo produtivo, de pequenas propriedades, bem como no incentivo tecnológico para a produção em escalas menores (ex. mini-destilarias) e na promoção de políticas de apoio das cooperativas de pequeno e médio porte, etc.

Page 24: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 24

Governança Corparativa no Novo Contexto do Mercado Acionário Brasileiro

Fabrício de Souza Oliveira

Keylla dos Anjos Mello

O presente resumo tem por objetivo questionar a compatibilidade da estrutura normativa contida na lei das S/A frente à expansão do mercado acionário brasileiro, em especial a dispersão provocada pelos mecanismos de Governança Corporativa previstos em relação às companhias listadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), tomando como marco teórico os fundamentos propostos por Berle e Means. Segundo os referidos autores, pode-se afirmar que o problema fundamental da estrutura da Sociedade Anônima consiste na dissociação entre propriedade e controle. Neste sentido, um dos mecanismos de poder de controle mais evidente desta separação consiste no controle gerencial ou administrativo, o qual ocorre principalmente nos casos em que a dispersão acionária da Sociedade é tão grande que o controle pelos proprietários torna-se praticamente impossível, tendo os administradores poder total de controle. Esta espécie de poder de controle torna-se cada vez mais significativa no Brasil tendo em vista os mecanismos de controle previstos em relação às companhias listadas no Novo Mercado da BOVESPA, e isto gera um problema quanto à normatização da Governança Corporativa no país uma vez que a lei 6404/76 regulamentadora da Sociedade Anônima parte de concepção de Contrato Instituição. De acordo com esta teoria, deve haver uma aproximação dos interesses da sociedade àqueles do controlador, preocupando-se em responsabilizá-lo nos casos de não atendimento aos objetivos da companhia. A problemática consiste justamente na identificação do controlador à figura do acionista majoritário ou a um grupo de acionistas, no caso acordo de acionistas. Sendo assim, pode-se afirmar que a lei das Sociedades Anônimas possui uma estrutura em que há prevalência do mecanismo de Governança Corporativa voltada principalmente para o tipo de poder de controle majoritário, revelando, desse modo, um real descompasso para com a realidade do mercado financeiro atual.

Page 25: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 25

Controle da publicidade infantil na sociedade de consumidores

Renata Oliveira Mapelli

A publicidade ganha novas conotações com as mudanças ocorridas a partir da expansão da Revolução Industrial. Antes seu papel era informar o cidadão a respeito de determinado produto, atualmente passou a desempenhar a função de estimuladora de desejo, definidora do consumo. Hoje não é a necessidade que define o consumo, e sim o consumo que cria necessidades. A transformação social teorizada por Zygmunt Bauman em “Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria”, onde desenvolve a ideia de sociedade de consumo, permite analisar como a publicidade interfere no comportamento do homem. Com o advento do consumismo deixamos de ser uma sociedade de produtores, na qual a satisfação residia na promessa de segurança, e nos transformamos em uma sociedade de consumidores, onde as relações humanas se constroem semelhantes às relações entre os consumidores e os objetos de consumo, e ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar uma mercadoria atraente. A sociedade de consumo estimula uma vida consumista e marginaliza os indivíduos cujas opções culturais são alternativas. Dentro desse novo contexto social e econômico a publicidade teve que se aperfeiçoar e buscar novas técnicas para se adequar a nova dinâmica da atividade mercantil. Uma estratégia encontrada é estimular o consumo infantil, já que as crianças têm grande importância na definição dos hábitos de consumo da família. Assim sendo, é preciso verificar qual o impacto que essas inovações, social, econômica e tecnológica causam na criança, tanto na formação da sua personalidade, quanto no desenvolvimento físico-emocional. A criança tem menor capacidade de resistência mental, já que está iniciando-se às regras e aos valores do mundo em que vive. Apresentam menor compreensão da realidade, pois possuem menor experiência de vida e menor acúmulo de conhecimento. Diante do exposto, constata-se que deve haver uma proteção especial a criança no que tange a publicidade, nesse sentido é o Projeto de Lei nº 5.921, de 2001, de autoria do Deputado Luiz Carlos Hauly, que propõe o acréscimo de novo dispositivo ao CDC, com objetivo de proibir a publicidade destinada a promover a venda de produtos infantis.

Page 26: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 26

Inovações nas teorias sobre o comportamento humano, na filosofia moral, e a redefinição dos problemas de pesquisa no campo do

direito.

Flávio Henrique Silva Ferreira Uma série de aprimoramentos – ocorridos durante o curso do século XX, nas ciências que lidam com o comportamento humano como o seu principal objeto de estudo, tais como a psicologia, ou que fornecem modelos de comportamento humano, de forma instrumental, para a análise dos mais variados problemas sociais, tais como a economia, a antropologia ou a sociologia – provocou uma reviravolta, com diferentes graus de intensidade e adesão, nos métodos de pesquisa, problemas e abordagens empregados em tais ciências. Os novos modelos de comportamento humano elaborados no século XX também tiveram, com variados graus de sucesso, um impacto nos métodos de análise de outras ciências, tais como a ciência política ou a história. Abordagens de caráter transdisciplinar tornaram-se prática corrente entre várias comunidades acadêmicas, a ponto de as próprias fronteiras entre disciplinas tradicionais serem questionadas e/ou redefinidas. Por outro lado, os acadêmicos da área do direito, especialmente nos países de tradição romanista, ignoraram tais inovações científicas. O que parece ser enigmático é o fato de os estudiosos do direito nunca terem levado a sério a questão de como as normas jurídicas afetam o comportamento humano e as implicações desta questão para a consecução dos objetivos sociais alegadamente endossados pelo direito. Elaboraremos o argumento de que a incorporação, pela ciência jurídica, dos novos modelos de comportamento humano elaborados durante o século XX tem o potencial de produzir uma reviravolta na referida ciência, como ocorreu com outras ciências sociais, abrindo novos campos e problemas de pesquisa. Durante o curso do século XX houve uma verdadeira proliferação de estudos no âmbito da filosofia moral. As inovações não consistiram em uma reviravolta completa nos métodos empregados e nos problemas analisados por filósofos morais ao longo de milênios, mas em um refinamento na forma de aborda-los e estrutura-los. Houve uma crescente consciência das diferenças e semelhanças entre diferentes teorias éticas e morais, da relevância de certos conceitos-chave como bem-estar, dano, consentimento e responsabilidade para diferentes teorias, da necessidade de elaborar tais conceitos, dos critérios distributivos como igualdade, esforço, utilidade, necessidade ou prioridade. Essas inovações na filosofia moral, assim como as inovações nos modelos de comportamento humano, não foram plenamente incorporadas aos métodos de trabalho e raciocínio dos juristas nos países de tradição romanista. Os juristas que se ocupam das disciplinas dogmáticas tradicionais raramente desenvolvem uma adequada fundamentação filosófica das normas jurídicas por eles expostas.

Page 27: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 27

Elaboraremos o argumento de que a incorporação, pela ciência jurídica, dos últimos insights da filosofia moral pode suscitar novas discussões sobre o conteúdo e objetivos da justiça e, consequentemente, abrir novos campos e problemas de pesquisa. Finalmente, a ciência jurídica pode não apenas se apropriar dos métodos e preocupações elaboradas em outras ciências, mas também pode discutir problemas que seriam peculiares ao direito como, por exemplo, o custo de elaboração e aplicação de normas jurídicas; a estrutura de incentivos e as ineficiências no processo de elaboração de normas jurídicas; as vantagens e desvantagens relativas de cada fonte do direito (legislação, jurisprudência, costume, doutrina); métodos mais realistas de interpretação do direito, que levam em conta as diversas limitações e deficiências das normas jurídicas que foram produzidas no passado e que provavelmente serão produzidas no futuro; entre outros. Tais problemas ainda não têm sido sistematicamente explorados pela ciência jurídica dos países de tradição romanista, e consistiriam em verdadeiras inovações no método da ciência jurídica, com a consequente abertura de novos campos e problemas de pesquisa.

Page 28: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 28

O procedimento discursivo na construção da identidade dos institutos jurídicos

Douglas Rafael Oliveira Resende

Os institutos sobre os quais se encarrega a Ciência do Direito (propriedade, liberdade, entre outros) são constituídos por estruturas que lhes imprimem significado e identidade normativa. Partindo da premissa de que o campus em que transitam os fenômenos jurídicos possui natureza dinâmica, comunicacional e aberta, o presente trabalho pretende afirmar que o procedimento discursivo é o único capaz de promover a coerente construção da identidade dos institutos jurídicos. No que tange aos métodos utilizados, a documentação indireta, pelo emprego das técnicas de pesquisa bibliográfica, revelou-se a mais adequada aos objetivos deste trabalho. A natureza estrutural dos institutos jurídicos está condicionada às interpretações (e conformações) fornecidas por aqueles que integram determinada comunidade política (comunidade de princípios), sendo o procedimento discursivo travado em nível institucional o grande responsável pela construção, modificação ou destruição do conteúdo normativo atribuído a um instituto jurídico. Nesse sentido, a validade de determinado argumento depende de condições de procedimentalidade formal (coerência e veracidade, e. g.) e de procedimentalidade material (possibilidade objetiva de todos influírem do discurso em equivalentes e substanciais condições). Acaso não se vejam cumpridas as condições acima mencionadas, a identidade de determinado instituto jurídico carecerá de legitimidade, visto que as proposições normativas devem ser validadas institucionalmente por aqueles que compõem a cadeia de vivências e experiências da comunidade política. Desse modo, quando do esforço interpretativo desempenhado sobre algum instituto jurídico, é indispensável o manejo de argumentos que possam, de acordo com o crivo da validade, atribuir considerações normativas na estrutura visceral do instituto. Em havendo êxito em tal atividade, por certo estará materializada uma correta compreensão acerca da identidade do instituto jurídico analisado.

Page 29: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 29

A Teoria das Lacunas e uma nova visão do art. 769 da CLT

Filipe Luis Avelino

O artigo 769 da CLT prevê que em casos omissos o processo comum deverá ser utilizado como fonte integradora do processo laboral. Com as recentes reformas legislativas no processo civil iniciou-se discussão acerca da possibilidade da utilização dos novos institutos ao procedimento insculpido na CLT, haja vista que as modificações visaram de sobremaneira a celeridade e a efetividade. Como tais princípios se demonstram inequivocamente de particular relevância da esfera trabalhista, pois os litígios em sua grande maioria versam sobre direitos de natureza alimentar, esta discussão se afigura relevante. Maria Helena Diniz propõe uma classificação mais abrangente, nela as lacunas podem ser classificadas em normativas, ontológicas e axiológicas. As lacunas normativas verificam-se quando ausente norma sobre determinado fato, são as omissões nas quais falta legislação específica para determinados casos; as ontológicas são observadas quando há normas, mas estas não correspondem mais aos fatos sociais, pois ocorreu o ancilosamento - envelhecimento da norma positivada; já as axiológicas ocorrem quando há preceito normativo, todavia sua aplicação seria insatisfatória ou injusta ao caso concreto. Dessa forma, para Diniz, há outras hipóteses de omissões além da pura falta de normas. Possibilita-se, então a verificação de lacunas quando mesmo presente determinada regulamentação esta se demonstra envelhecida, sem força normativa que corresponda uma resposta eficaz e justa para determinado caso. Dentro de um novo conceito de acesso à justiça que corresponde a uma prestação jurisdicional célere e eficaz, grandes doutrinadores como Luciano Athayde Chaves, defendem uma visão mais abrangente da norma contida no art. 769 do diploma laboral, utilizando o conceito de lacunas axiológicas e ontológicas e buscando integra-las com as modificações do processo comum, sempre que estas se afigurem mais eficazes que as prescritas na Consolidação das Leis do Trabalho.

Page 30: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 30

Políticas Públicas e Inovações Argumentativas e Igualdade de Gênero

Rocheyla Santos Leonardo Alves Corrêa

A política de gênero, inobstante ser um tema de grande relevância social, ainda hoje é um assunto que se revela pouco estudado no âmbito jurídico. Trata-se não apenas de refletir sobre a questão da necessidade de uma política estatal sobre o tema, mas debater os argumentos e as justificativas racionais aptas a fundamentar a política pública de igualdade de gênero. A origem desta diferença encontra-se radicada na própria essência de nossa sociedade. Desde a era mais remota, concebeu-se como referência o padrão masculino, de maneira que os valores, as atitudes e as concepções desenvolvidas socialmente reputaram um padrão cultural institucionalizado que privilegia traços associados à masculinidade, em detrimento de tudo aquilo que se refere ao feminino. O resultado da reprodução deste tipo de pensamento é a privação da participação das mulheres na esfera pública em um sistema de igualdade de oportunidades. No intuito de superar as mazelas enfrentadas pelas mulheres, dentre os autores dedicados à temática, encontra-se a da pensadora feminista Nancy Fraser, a qual apresenta uma releitura de justiça, baseada em uma abordagem que integra redistribuição e reconhecimento. Segundo Fraser, existem coletividades bivalentes, tal como o gênero, que sofrem injustiças tanto sob um aspecto econômico quanto sob um aspecto cultural. Estas coletividades carecem de soluções que combinem políticas públicas atentas para um esforço que, reúna a um só tempo, o caráter distributivo e o de reconhecimento. Sendo assim, a efetivação dos direitos da mulher, consubstanciada no alcance da tão sonhada igualdade material só se verificará mediante as políticas públicas que incorporem um compromisso de promoção da imagem da mulher enquanto um ser merecedor não apenas de consideração e respeito, mas também dotado do direito de desenvolver suas potencialidades de forma autônoma. Por serem injustiças intimamente ligadas, aliado a este trabalho de desconstrução, do paradigma fundado no androcentrismo, são necessárias intervenções estatais que também viabilizem uma distribuição econômica. Portanto, o planejamento de políticas públicas que visam combater as injustiças entre gênero deve compreender de forma conjunta as noções distribuição e reconhecimento, haja vista que analisá-las sob um enfoque disjuntivo implicaria ignorar uma realidade histórica, principal responsável pela existência desta assimetria.

Page 31: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 31

Os desafios atuais para que o Orçamento Público seja instrumento de promoção dos Direitos Sociais

Frederico Augusto D’ Ávila Riani

Ana Beatriz Reis

A arrecadação das receitas e a alocação das despesas têm correspondência direta com o modelo de Estado vigente. No Ordenamento Jurídico Brasileiro é evidente, através da análise da Constituição Federal de 1988, a opção pelo Estado Social ainda que a mesma Carta Magna tenha consagrado princípios historicamente liberais. Apesar da mutilação neo-liberalista da década de 90, principalmente através da Emenda Constitucional nº 19, podemos dizer que nossa Constituição possui uma perspectiva social sendo dever do Estado promover os direitos sociais. Nesse contexto, o Orçamento Público é um importante instrumento de planejamento e concretização das políticas públicas que irão garantir as pessoas o acesso aos direitos prestacionais. Para que o Orçamento Público desempenhe sua função constitucional é necessária a sua vinculação ao poder executivo no aspecto formal e material. Em 2000, foi promulgada a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101). Embora polêmica por se tratar de uma exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI) para restringir as despesas públicas, essa lei exige o equilíbrio entre receitas e despesas. Criou-se um impedimento legal aos políticos que desrespeitam as Leis Orçamentárias gastando mais do que o previsto. Contudo, essa lei não avança na promoção dos Direitos Sociais uma vez que não exige que o poder executivo concretize um patamar mínimo daquilo que foi previsto no Orçamento Público em relação às políticas públicas sociais. Ela apenas limita as despesas naquilo que foi previsto sem vincular as receitas às previsões orçamentárias. O atual desafio é de que o orçamento público deixe de ser apenas uma mera formalidade legislativa tornando-se efetivo instrumento de planejamento e concretização das políticas públicas do Estado. Para isso, além da vinculação formal do orçamento através da imposição das previsões orçamentárias ao executivo no que tange as receitas, é necessária a vinculação material do planejamento através da obrigatoriedade do Orçamento Participativo, mecanismo de democracia participativa pelo qual a sociedade elege as políticas públicas prioritárias que o ente político deve contemplar no Orçamento Público. Com a participação efetiva da sociedade na elaboração do planejamento financeiro, o grau de implementação das políticas públicas previstas seria muito maior bem como a promoção dos direitos sociais.

Page 32: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 32

A atual aplicação do Mínimo Existencial

Gustavo Weiss de Resende

O presente resumo trata de uma análise jurisprudencial das decisões do Supremo Tribunal Federal acerca das questões relativas ao Mínimo Existencial, além de sua aplicação perante a cláusula da Reserva do Possível. Primeiramente, é importante delinearmos estes conceitos, relativamente recentes na doutrina nacional, devendo ressaltar que a ideia de mínimo existencial teve seu primeiro desenvolvimento na doutrina alemã, através de discussões acerca do mínimo indispensável para uma existência digna do ser humano. Para Ricardo Torres, expoente dos estudos do tema no Brasil, esse representaria um conjunto necessário de condições para o exercício pleno da liberdade, através dos direitos à saúde, alimentação, educação e moradia. Considerando-se que os Direitos Sociais, ao serem prestados, podem gerar gastos para o Estado, estão eles entregues à conformação do legislador ordinário para concretizá-los de acordo com as possibilidades econômicas e financeiras do Estado em cada momento histórico: é a chamada Reserva do Possível. Mas como conciliar a aplicação destes dois institutos? A análise jurisprudencial realizada busca justamente evidenciar a postura do STF em relação a esta questão. Com o avanço das tecnologias, surgem maneiras mais eficazes de tratar patologias, e o Direito à Saúde, especialmente, ganha novas formas de ser concretizado. São recorrentes os pedidos de medicamentos e/ou tratamentos pela via judicial, de certa forma, uma judicialização dos serviços públicos, em que o Poder Judiciário realiza funções precípuas do legislador. Através do estudo de 3 acórdãos, 69 decisões monocráticas e 18 decisões da presidência, a partir de 2004, quando o Supremo passa a utilizar expressamente o termo "Mínimo Existencial", vemos um crescimento em progressão geométrica do número de pedidos deste gênero que chegaram ao STF, em que o tímido emprego deste instituto no início do século XXI começa a ser revertido a partir de 2008. A postura do órgão de cúpula tem sido pela mitigação da cláusula da Reserva do Possível em nome do Mínimo Existencial, em que se defende a intangibilidade do núcleo consubstanciador deste instituto. Por um processo indutivo, com a presença marcante de Robert Alexy e a sua Teoria dos Direitos Fundamentais, trago o supracitado estudo.

Page 33: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 33

Interpretação e aplicação dos direitos sociais no Supremo Tribunal Federal: identificação de tendências

Guilherme Jacob de Oliveira

Lucas Aguiar da Silva Waleska Marcy Rosa

O projeto de pesquisa cujo recorte se concentra nos direitos à educação, à saúde, à moradia, à alimentação e ao lazer e que ora se apresenta visa identificar tendências decisórias do Supremo Tribunal Federal (STF) no que se refere aos direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal. Ao longo da fase de levantamento e catalogação das decisões, observou-se que muitas das ações a que se referiam os acórdãos eram oriundas de Regiões de maior riqueza e desenvolvimento do Brasil, onde, em tese, o Estado estaria mais presente na implementação dos direitos sociais. Tal fato, no entanto, não significa que nessas áreas não há problemas relacionados a tais direitos. Entretanto, Regiões que passaram por um contexto histórico de pobreza, miséria e pouco desenvolvimento social, sendo que algumas delas ainda passam por situações que colocam em xeque a dignidade do ser humano, tiveram poucas ações que originaram a atuação do Supremo Tribunal Federal, sendo que algumas não chegaram constar da relação de decisões que estão utilizadas na pesquisa por não haver, ainda, manifestação definitiva da Corte. Assim, esta constatação deu origem a uma nova vertente do projeto de pesquisa. Passou-se, então, a questionar por que isto ocorre. Estaria havendo uma concentração de legitimados em determinadas Regiões, o que poderia estar deixando outras Regiões com uma sub-representação? O que levaria Regiões da Federação, historicamente mais pobres, a buscarem menos o Poder Judiciário para efetivação de direitos sociais? É possível identificar, a partir da análise das decisões, respostas para tais indagações? A partir disso, passou-se a trabalhar com dados numéricos a fim de identificar, quantitativamente, como ocorre a distribuição de tais ações pelas Regiões do país, para, em seguida, interpretar tais dados. Foram elaborados gráficos que representam a situação em termos quantitativos para, em seguida, buscar respostas a tais questionamentos na análise das referidas decisões. (PROGRAMA DE PESQUISA PROBIC JR. – FAPEMIG/UFJF)

Page 34: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 34

Interpretação e aplicação dos direitos sociais no Supremo Tribunal Federal: identificação de tendências

Priscila Carvalho de Andrade

Waleska Marcy Rosa

A Constituição Brasileira de 1988 inovou ao reconhecer amplamente direitos sociais, destacando-se os direitos à educação, à saúde, ao lazer, dentre outros enumerados no art. 6º. Posteriormente, foram acrescentados por emenda os direitos à moradia e à alimentação. Tais direitos, exigindo prestação positiva, enfrentam obstáculos para sua aplicação, como a baixa densidade normativa e a escassez imposta pelos orçamentos públicos e teorizada pela reserva do possível. A teoria do mínimo existencial procura contribuir para superar tais obstáculos. O presente projeto se propõe a investigar, através da análise de decisões, como o STF vem lidando com a efetividade dos direitos sociais, com especial atenção para seu entendimento acerca da densidade normativa de tais direitos, escassez material e teoria do mínimo existencial, no período de 2000 a 2011. Até o momento, foram analisados os julgados prolatados no período de 2000 a 2004 referentes ao direito à saúde. Após revisão de literatura e levantamento de decisões do Supremo, obteve-se setenta e dois julgados, reduzidos a vinte e dois após exclusão daqueles que não guardavam pertinência com o fim almejado. Dentre estes, apenas sete se identificaram suficientemente com o objeto de pesquisa. Analisando-os, percebeu-se que, nos argumentos utilizados pelos ministros, não há explícita menção à baixa densidade normativa, reserva do possível ou mínimo existencial, havendo, contudo, apelo implícito a tais conceitos. Pode-se, até agora, dentre estas decisões, identificar na Corte a existência de tendência a não admitir o direito à saúde como portador de baixa normatividade. É possível perceber, ainda, recorrentemente, o entendimento de que a reserva do possível não pode ser tomada como argumento para inércia do Poder Público no que concerne à efetividade do direito à saúde, dada a sua essencialidade. Em quatro votos, reconheceu-se que o caráter programático do art.196 da Constituição não pode converter-se em mera promessa, fraudando as legítimas expectativas da coletividade. Mesmo não havendo menção direta ao mínimo existencial, conclui-se que os ministros consideram o direito à saúde como peça integrante do núcleo de direitos sociais exigíveis. (PROGRAMA DE INSTALAÇÃO DE DOUTORES – PROPESQ UFJF)

Page 35: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 35

O serviço público e as inovações tecnológicas

Luciana Gaspar Melquíades Duarte Felipe Alves Duarte

Gustavo Weiss de Resende Janaína Paiva de Souza

Laís Almeida de Souza Lopes Renata Maurente Rodrigues

O presente resumo trata da forma como as inovações tecnológicas impactam os serviços públicos, buscando demonstrar que sempre devem ser absorvidas por ele quando representarem possibilidade de incremento na eficiência administrativa, observada a reserva do possível e a proporcionalidade entre o custo da tecnologia e os benefícios trazidos por ela. Sob a perspectiva teórica pós-positivista, sustenta-se que as novas tecnologias sempre foram absorvidas para a prestação dos serviços públicos na medida em que se incorporavam na prática social, como exemplifica o caso histórico de substituição da energia a gás pela elétrica. Na pós-modernidade, com o surgimento rápido e contínuo de novidades tecnológicas, o Poder Público deve efetuar uma constante avaliação acerca das possibilidades e vantagens de sua absorção para a prestação dos serviços públicos. Tal fenômeno ganha bastante visibilidade na seara da saúde, em que os novos equipamentos, medicamentos e técnicas disponibilizados para o tratamento e prevenção de doenças são cada vez mais demandados pela população, impondo-se o exame da relevância do aspecto do direito a saúde que ele é capaz de promover em contraste com o porte de outros direitos também de incumbência do Poder Público. O resultado deste processo de ponderação implicará a decisão acerca da disponibilização ou não do novo recurso tecnológico pelo Estado aos usuários do serviço público.

Page 36: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 36

Adicional de Insalubridade por exposição à fumaça de cigarro

Hugo Arantes de Oliveira A saúde é um direito de todos e a integridade física é um bem que cada indivíduo pode facultativamente dispor ao utilizar um cigarro. Mas o consumo de um cigarro atinge não exclusivamente o fumante, podendo muitas vezes sua fumaça ser inalada por pessoas próximas. E estes fumantes passivos não devem necessariamente acatar as lesões sofridas involuntariamente. É o caso de trabalhadores que se expõem a fumaças de cigarro cotidianamente para obter o sustento próprio. Convivendo em ambientes “carregados”, inalam tanta fumaça equiparando-se a fumantes ativos. Não são raras as perícias judiciais que constatam a exposição por estes trabalhadores a Benzopireno – substância prevista na NR 15. Entretanto, a maioria da jurisprudência entende não se fazer jus a percepção do adicional por não se “operar” a referida substância. O método de interpretação literal não está previsto legalmente, conforme se pode aferir do artigo 189 da CLT. Com mais sentido justifica-se uma interpretação integrativa considerando-se o direito à saúde e ao meio ambiente saudável, pois, tendo em vista que as disposições legais logram ressarcir o trabalhador pelos malefícios inerentes a atividade prestada, também faz jus ao adicional o trabalhador que esteve efetivamente exposto ao agente previsto como nocivo em lei. As leis estaduais que se têm multiplicado pelo país com inspirações internacionais corroboram o entendimento de que consumidores de certos estabelecimentos comerciais submetem-se a condição de fumantes passivos, e assim se expõem a diversos malefícios. Diante do exposto, não se faz apologia contra o uso do cigarro, mas propomos interpretação integrativa do ordenamento de modo a viabilizar a aplicação da lei no sentido em que ela almeja-se, o de proteger o trabalhador tendo em vista sua vulnerabilidade enquanto parte hipossuficiente da relação jurídica.

Page 37: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 37

Liberdade, autonomia e suas contradições na sociedade atual face fundamento do papel promocional do Estado: análise do estágio da

regulamentação sobre o “não-uso” do tabaco. Kelly Cristine Baião Sampaio

Laura Mostaro Pimentel A liberdade insculpida no Estado liberal, a que os liberais burgueses exaltavam, afirmava a restrição da participação ou ingerência do Estado nas relações interpessoais, e elevava a liberdade como potencial de manifestação das relações individuais, sem que houvesse oposição do Estado, mesmo porque agia-se conforme enunciados legais. A liberdade que se tutela no chamado Estado de Bem-Estar Social, que se manifesta notadamente na segunda metade do século XX, reduz-se em quantidade, mas reforça-se em sua substância, e tem na solidariedade social princípio a ser ponderado, em prol da igual dignidade social. É que, com a ampliação do papel do Estado, que passou a se ocupar se espaços até então exclusivos dos privados, isto por necessidade de se reestruturar a sociedade deteriorada pelas crises sucessivas, novos direitos passam a ser tutelados, ditos coletivos, sociais, em uma valorização da liberdade e igualdade substanciais, o que vem a elevar o valor existencial do ser humano. A atualidade vem marcada por ambiguidades, o papel do Estado se manifesta sem critérios adequados, por vezes regulador, ora paternalista, ora reducionista de direitos fundamentais, a gerar um conflito quanto à tutela de direitos de liberdade individual, e respeito à autonomia privada, e quanto à solidariedade social, essencial na designação de critérios de justiça social. Toma-se como situação em concreto o uso do tabaco, tanto no aspecto individual, quanto em relação ao outro, ambiente fechado. Isto porque há uma crescente regulamentação a estabelecer densas restrições ao fumo, antes com a exigência de fumígenos, e mais recente com a proibição em qualquer ambiente fechado, em ambiente público ainda que aberto, e proibição de fumódromos em locais públicos ou fechados de uso coletivo. A justificativa para essas densas limitações se deve ao fato dos possíveis danos causados pelo tabaco tanto em relação ao fumante ativo e ao fumante passivo. Dados científicos buscam demonstram os danos, mas permeados de afirmações pressupostas. Fato é que uma limitação a um direito individual, direito de autonomia nas escolhas individuais justifica-se na medida em que fere direitos da coletividade. As limitações justificadas cientificamente não justificam igualmente um tratamento de exclusão social, incompatível com uma sociedade democrática, plural.

Page 38: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 38

A tutela da dignidade na sociedade tecnológica

Kelly Cristine Baião Sampaio Kalline Carvalho Gonçalves

No centro do sistema constitucional está o valor da dignidade da pessoa cujo agir autonomamente é manifestação deste princípio, de uma sociedade livre. Enquanto parte essencial da pessoa humana, a dignidade é autorreferente e condição intrínseca da liberdade. A tutela constitucional da dignidade da pessoa humana se manifesta não somente como conteúdo negativo de abstenção, de não interferência nas esferas individuais pelo Estado e pela sociedade. Prima-se para que exista condições positivas que permitam a cada pessoa viver em condições de dignidade. Não se espera, contudo, uma tutela paternalista no sentido de proteção do indivíduo de si próprio. A construção da individualidade se contrapõe a qualquer poder externo que se destine a fabricar o modelo ideal de homem necessário ao funcionamento “normal” da sociedade. A tutela das escolhas existenciais não deve ser objeto de controle público. Não é possível construir uma identidade sendo constantemente vigiado, pois o “olhar invisível” introjeta, progressivamente, naquele que é vigiado, um modo de ser alheio ao seu próprio eu. O poder disciplinar, na visão foucaultiana, não destrói o indivíduo, ao contrário, ele o fabrica. A vigilância, ao se transferir do excepcional para o cotidiano, resulta na produção de “perfis” individuais. Todos são iguais na medida em que são controlados e fichados. Esse nível de igualdade nega a dignidade, a liberdade e destrói a democracia. Nesse movimento, a sociedade vai sendo anestesiada pelos dispositivos de segurança no que tange às percepções ligadas à perda da privacidade e do controle exclusivo do próprio corpo. Nas sociedades de vigilância, não há possibilidade de desenvolver, autonomamente, a personalidade e a consciência de si mesmo. A autonomia só se verifica nas sociedades nas quais as escolhas da vida não são condicionadas por fonte de manipulação externa do individuo. A disponibilidade de uma tecnologia não legitima todas as suas utilizações, que devem ser avaliadas à luz de valores ético-normativos. Busca-se, então, analisar em perspectiva jurídica, psicológica e sociológica, as consequências da tecnologia de controle e seleção no comportamento da pessoa na sociedade, e, portanto, na sua identidade pessoal e social, tomando-se por paradigma a tutela da pessoa em uma sociedade democrática.

Page 39: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 39

Perspectivas sucessórias do embrião humano: uma releitura civilconstitucional

Kelly Cristine Baião Sampaio

Fellipe Guerra David Reis

As inovações tecnológicas ocorridas no campo da engenharia genética e das técnicas de reprodução assistida, notadamente na segunda metade do século XX, impõe um repensar da estrutura jurídica existente de modo a conformar as novas demandas sociais. O anteprojeto que originou o Código Civil atualmente em vigor data de 1975 e, portanto, tem problemas em regular situações jurídicas subjetivas mais sensíveis àquelas mudanças tecnológicas, como é o caso dos direitos sucessórios do embrião humano. Ao estabelecer, em seu artigo 1.798, que se legitimam a suceder indivíduos concebidos, mas não nascidos, o diploma civil garante a embriões humanos ainda não implantados direitos sucessórios, a conformar uma análise da atual situação jurídica subjetiva em que se inserem. Entretanto, o próprio ordenamento jurídico, na Lei 11.105/05, tutela embriões humanos congelados a mais de três anos sob uma ótica proprietária incompatível, a priori, com a tutela civil. Desta feita, mister se faz que se reinterprete os diplomas à luz dos princípios constitucionais de modo a conferir-lhes uma unidade sistemática condizente com os valores pátrios juridicamente tutelados. Para tanto, buscar-se-á uma redefinição da natureza jurídica do embrião humano e, consequentemente, de nascituro, não sob uma ótica binária de res ou persona, mas segundo um critério de potencialidade de ser, ou de vir a ser merecedor de um ou outro tipo de tutela. Ademais, sendo os embriões humanos merecedores desta tutela diferenciada a depender da situação jurídica em que se encontrarem, cabe estabelecer uma forma efetiva de exercício de direitos existenciais, o reconhecimento do status de filho, e sua identidade, com repercussões patrimoniais, especialmente no que toca seus direitos sucessórios, através de institutos já existentes no ordenamento pátrio. O direito subjetivo atinente a situações patrimoniais contém em si limitações intrínsecas, dada a funcionalidade das relações patrimoniais, nesse sentido, o tratamento do direito sucessório do embrião apresenta especificidades face às situações existenciais. Assim, constatado o problema, busca-se em uma hermenêutica sistemática e constitucional uma solução jurídica e axiologicamente adequada.

Page 40: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 40

Common law de elite – o papel do Judiciário no Brasil

Priscilla de Oliveira Calegari O presente trabalho pretende mostrar como a tradição jurídica brasileira está se transformando e, via de consequência, o papel do Poder Judiciário no cenário atual. Para alcançar tal objetivo é preciso oferecer um panorama geral das duas principais tradições jurídicas, a Common Law e a Civil Law. A característica marcante da Civil Law é a importância da codificação. Nessa tradição, o texto da lei é a principal fonte do Direito (o papel do juiz é essencialmente aplicar a norma presente no texto). A Common Law, por outro lado, dá maior relevância às decisões judiciais. Nessa tradição jurídica a solução de um caso deve ser buscada nos precedentes judiciais, o que dá ao juiz o papel de criar o Direito. Após a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, os Estados Unidos se tornaram um grande exemplo para o restante do mundo. Um exemplo não só no campo econômico, mas também no campo político e jurídico. O Brasil, tradicionalmente, sempre adotou a Civil Law e valorizou a codificação, entretanto, nos últimos anos, importou dos norte-americanos a valorização dos precedentes judiciais. Tal mudança é fruto de uma “judicialização” da política, ou seja, vários temas da vida social são conduzidos à apreciação do Poder Judiciário. Atualmente, entre os que fazem política no Brasil, inserem-se os juízes e, com destaque, os juízes do Supremo Tribunal Federal (apesar de não reconhecerem isso). A análise dessa fase de decisões elitistas passa pelo estudo da súmula vinculante, um enunciado do STF que engessa o entendimento de todos os Tribunais. Quando esse “engessamento” ocorre, o enunciado (extração da interpretação da norma) torna-se texto, e o Judiciário assume o espaço que deveria ser dos Poderes Legislativo e Executivo. Ao mesmo tempo em que se abandona o apego excessivo à lei, característico da Civil Law, limita-se o princípio do livre convencimento do juiz por meio das súmulas vinculantes, pois ainda existe a necessidade de que alguém diga a última palavra e esse papel cabe ao Supremo.

Page 41: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 41

Tradições jurídicas e aplicações silogísticas

Wander Vynycyus José Maria Na argumentação jurídica aplicada de forma silogística, temos na premissa maior o conteúdo normativo e, na menor, a realidade fática, originando uma conclusão. Esta aplicação pode sofrer variações oriundas da tradição jurídica predominante. A common law e a civil law são as mais influentes. As diferenças referentes ao silogismo e à argumentação nestas tradições ocorrem devido ao conteúdo considerado na premissa maior. A primeira privilegia a aplicação dos argumentos de autoridade jurisprudencial, enquanto na outra temos argumentos formulados acerca da base legal. A civil law é a tradição jurídica brasileira, que também vem sofrendo influências da common law. Todavia, não podemos desconsiderar o fato de que a recepção de alguns elementos de uma tradição não faz desaparecer a outra. A argumentação fica então embasada tanto na jurisprudência, quanto no amparo legal. Assim, surge no Brasil uma tradição híbrida contendo elementos característicos das duas tradições. Esse hibridismo poderia ser uma solução, tendo em vista que proporciona maior adaptabilidade na aplicação da norma, bem como poderia ser estimado como um risco, uma vez que não podemos calcular as consequências de sua aplicação. É cedo para dizer se a formação de uma nova tradição será benéfica ou maléfica, mas já podemos perceber algumas implicações atuais. Quanto à jurisprudência, existe hoje uma centralização por parte do STF, enquanto que nos países da common law ela é formada pelo Judiciário como um todo. Os juízes brasileiros das instâncias inferiores não têm a oportunidade de participar efetivamente de sua formação, remetendo grande parte desta responsabilidade ao Supremo. Outra crítica seria o fato de o Judiciário tomar decisões que deveriam ser apreciadas pela própria sociedade ou por seus representantes, uma vez que o conhecimento técnico dos juristas não é suficiente para a elaboração da melhor decisão político-social. Ademais, a simples implantação de um modelo estrangeiro também não seria recomendável, pois poderia acontecer de os efeitos obtidos noutros países não se repetirem no Brasil, devido às diferenças culturais. Portanto, a elaboração de uma nova tradição adaptada às peculiaridades brasileiras será satisfatória somente se realizada de forma racional e considerando os princípios que norteiam o Estado democrático de direito.

Page 42: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 42

Acesso à saúde

Janaína Paiva de Souza

A Constituição Federal de 1988 prevê uma série de direitos fundamentais a serem efetivados pelo Estado. Um deles é o direito á saúde, ramo que conta com inúmeras inovações tecnológicas todos os dias. Estas inovações, na maioria das vezes, não integram a lista de medicamentos, tratamentos e procedimentos oferecidos pelo SUS, o que tem levado a ações judiciais com o intuito de obtê-las. Exemplo são as ações movidas para obter o medicamento “Soliris”, que é usado para tratar uma forma raríssima de anemia e que custa ao SUS mais de R$800.000,00 por ano com cada paciente. A argumentação nas demandas, na maioria das vezes, desenvolve-se em torno do art. 196 da Constituição, que prevê a saúde como direito fundamental. O Estado, em contrapartida, sob o argumento da reserva do possível, muitas vezes não concede os tratamentos, argumentando também no sentido de que a decisão judicial de conceder tais inovações constituiria ingerência do Poder Judiciário nos outros poderes. No entanto, ambos os argumentos são falhos. Não se pode alegar a reserva do possível em casos de restrições ao núcleo essencial de um direito fundamental e, se após uma análise da relação custo-benefício do tratamento se verificar que essa é a única forma do indivíduo obter o direito à saúde, não se pode negá-lo. Vale ressaltar que o ônus da prova cabe ao Estado, ou seja, ele é que deve provar que não dispõe de orçamento suficiente para cobrir as despesas. Não constituem ingerência do poder judiciário as questões referentes à chamada “judicialização da saúde”, visto que o judiciário, quando atua, está buscando a efetivação de um direito que já deveria ter sido concedido de antemão. Uma possível solução para a problemática das inovações na área da saúde seria, a exemplo do que foi feito no Reino Unido, a instituição de um órgão, que lá é denominado NICE, para avaliar a relação custo-benefício dos tratamentos e aferir a possível viabilização desses pelo Estado.

Page 43: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 43

A problemática do Princípio da proibição do retrocesso em um contexto de constante modificação dos direitos

Marina Giovanetti Lili Lucena

Os direitos fundamentais são direitos humanos constitucionalizados. Tais direitos não são imutáveis, mas, ao contrário, sofrem diversas transformações ao longo do tempo, sendo criados, modificados ou mesmo extintos. Um exemplo é o Poder Moderador, instituído na Constituição Brasileira de 1824, que possibilitava ao Imperador interferir nos outros poderes, e que findou-se com a Monarquia e a Constituição de 1891. Também se comprova a evolução dos direitos fundamentais através de suas dimensões, nas palavras de Ingo Sarlet. Nessa perspectiva percebe-se que os direitos vão evoluindo continuamente, de acordo com as transformações que ocorrem no contexto fático da sociedade. Com isso, questiona-se se o Princípio da Proibição do Retrocesso (que determina que uma vez atingido determinado patamar de reconhecimento de determinado direito não se pode desconsiderar sua existência futuramente) é compatível com essa constante modificação de direitos. A existência de tal princípio é comumente justificada pela necessidade de segurança jurídica que existe em um Estado. O que se olvida, porém, é que a modificação de um direito não causará insegurança ou abuso estatal, posto que não há retroação no que se refere a relações jurídicas já findas, como o ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito adquirido. Um exemplo são as regras para concessão de aposentadoria, que quando se modificam afetam direitos futuros. Tal princípio é ainda questionável quando confrontado com a possibilidade legislativa, via Emenda Constitucional, de excluir conteúdos constitucionais. Desse modo percebe-se que o Princípio da Proibição do Retrocesso acaba engessando o Estado e impossibilitando decisões judiciárias futuras. Não se pode julgar que as sociedades futuras priorizarão os mesmos bens da vida que nós, pois não há óbice a que um direito que seja considerado fundamental hoje perca sua relevância e seja excluído no futuro. Como afirma Norberto Bobbio, “os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”.

Page 44: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 44

Luz, câmera, jurisdição: tecnologia de comunicação e o mito da justiça transparente no Brasil

Joana de Souza Machado

Este trabalho tem por objetivo problematizar o uso de tecnologias de comunicação como meio de produção de uma justiça transparente no Brasil, notadamente na divulgação das atividades desempenhadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Neste ano de 2012, completa-se exatamente uma década de existência da TV Justiça, um canal público e não-lucrativo de televisão, administrado pelo próprio STF. Este canal, criado com o propósito de proporcionar transparência e aproximação da justiça constitucional com a sociedade, transmite, ao vivo, sessões de julgamento e audiências públicas do tribunal, entre outras investidas. Ao longo dessa década, também foram criados, com a mesma finalidade, a Rádio Justiça (2004) e os canais institucionais "STF no YouTube" e " STF no Twitter". Com a expansão do poder judicial, movimento diagnosticado pela literatura especializada como de escala global, é natural que tenha se incrementado o acompanhamento das decisões judiciais pela sociedade, o interesse pelo posicionamento dos magistrados. Quando, porém, esse poder, ampliado por um conjunto de fatores, passa a ser exercido diante das câmeras, é criada a ilusão de um acesso livre à verdade produzida pelos juízes, promovidos a celebridades, quase onipresentes pela via tecnológica. O olhar público sobre a justiça, mediado por essas tecnologias, pode ser a um só tempo garantia e ameaça. A transmissão ao vivo dos julgamentos vende a sensação aos espectadores de constituírem testemunhas oculares da produção da justiça, ofuscando-lhes a mediação realizada, a diferença entre o olhar despido e o olhar aparelhado, como alerta Garapon. Impõe-se uma lógica de espetáculo aos juízes e demais atores, que, sabidamente observados, podem desencadear ações performáticas, administrando suas imagens e interesses diversos, sem necessariamente fazer prevalecer razão pública sobre razões privadas. A aproximação prometida pode ser em última análise falaciosa, na medida em que o objeto tende a se alterar diante do observador.

Page 45: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 45

Comunicação globalizada e a nova jurisdição de Direitos Humanos

Yago Condé Ubaldo de Carvalho Nathalie Barbosa de la Cadena

Assistimos nas últimas décadas a um processo de globalização que tem como causa e característica a modernização dos meios de comunicação em escala global. Consequência disso é a rapidez com que as informações e o conhecimento são divulgados e a extensão territorial que atingem. Faz-se relevante analisar as consequências dessa nova realidade para a doutrina dos Direitos Humanos. De início, é possível perceber que a demanda pela proteção de Direitos Humanos cresce e o debate em torno desse tema é enriquecido, abrangendo uma gama cada vez maior de situações. Nesse panorama, é possível ir mais além e propor que as inovações tecnológicas de comunicação, ao agregarem publicidade e transparência, consistem em ferramenta de enorme potencial para que se tenha uma jurisdição internacional mais abrangente e que intervenha de maneira mais eficiente. Trata-se, portanto, de verificar em que medida a atuação desses meios de comunicação, sejam institucionais a serviço da jurisdição internacional ou da imprensa internacional, amparados pelas inovações tecnológicas, agrega amplitude à jurisdição internacional e efetividade às suas ações, o que auxilia na legitimação dessa jurisdição. Isso se baseia nos entendimentos de que essas inovações permitem a divulgação das fundamentações para as ações que se relacionam aos Direitos Humanos, sejam fundamentações de caráter jusfilosófico ou, como se observa comumente, baseadas em documentos que estipulam competências e conferem legitimidade. Há também considerável aumento das possibilidades processuais, agora facilitadas (a Corte Interamericana de Direitos Humanos, por exemplo, aceita até demanda por internet). Além disso, a divulgação de informações resulta na possibilidade de se conhecerem realidades culturais, sociais e políticas das mais diversas. Ressalta-se que intervenções que busquem mudanças estruturais em sociedades atingirão de fato seus objetivos se contarem com o consentimento e conhecimento real da população acerca dos objetivos buscados. Os meios de comunicação modernos também vêm permitindo a manifestação e o debate sobre essas opções mesmo em sociedades das mais conservadoras e totalitárias. Sempre há de se ter em mente que tais processos não podem se caracterizar por imposições culturais ou políticas, e a exigência de publicidade é importante para evitar que isso aconteça e se relaciona com a legitimação desses processos.

Page 46: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 46

Software livre, copyleft: possibilidades extra-institucionais de transformação de regimes jurídicos tradicionais

Murilo Ramalho Procópio

A propriedade intelectual, tal como instituída no século XIX, possui dois fundamentos básicos: estimular a inovação, por meio do desenvolvimento de “produtos” decorrentes da atividade criativa; e recompensar financeiramente o agente inovador (autor, inventor), atribuindo-lhe direitos relacionados à exploração e à distribuição da obra. Estes fundamentos aplicam-se tanto em relação à propriedade industrial (patentes e modelos de utilidade) quanto em relação aos direitos autorais (músicas, obras de arte, etc.). Todavia, conforme tratado por Ronaldo Lemos, os regimes jurídicos tradicionais de proteção à propriedade intelectual têm gerado consequências não desejáveis do ponto de vista socioeconômico, como a concentração de mercado, a limitação do acesso à informação e o próprio desestímulo à inovação. Os softwares, protegidos através da atribuição de direitos autorais ao seu desenvolvedor, não fogem à regra. Segundo o autor, as proteções jurídica e arquitetônica (código-fonte) limitam as possibilidades de uso ou melhoria do produto, privilegiando interesses relacionados à segurança e ao lucro em detrimento de interesses coletivos, relativos à universalização do acesso a novas tecnologias. Em contrapartida, o Direito, ainda apegado a uma visão normativa de justiça, permanece falhando na tentativa de regular as relações sociais de forma eficiente, mantendo-se preso a legislações que reforçam uma estrutura social de dominação por poucos agentes. Nesse contexto, iniciativas como o software livre subvertem a lógica tradicional de exploração de bens, demonstrando que inovação e rentabilidade financeira podem existir em harmonia com a ampliação do acesso e da liberdade relacionada à informação. O autor de um software considerado livre permite que outros usuários acessem e modifiquem o código-fonte, criando, inclusive, trabalhos derivados a partir deste. Por outro lado, a violação do direito ocorre sempre que um dos usuários posteriores tenta se apropriar deste código-fonte, limitando o seu acesso. Trata-se do regime chamado de copyleft, em contraposição ao tradicional copyright. Assim, cria-se uma espécie de licença de utilização, regulada através de normas criadas por agentes não institucionais (programadores), cuja vigência coloca em pauta o próprio regime de proteção à propriedade intelectual (além de outros regimes jurídicos tradicionais), através da rediscussão dos interesses juridicamente relevantes, proposta pelos próprios destinatários das normas.

Page 47: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 47

O relacionamento Universidade-Empresa no contexto de fomento à inovação tecnológica e ao desenvolvimento social: uma relação

finalística e juridicamente possível?

Marcos Vinício Chein Feres Henrique Silva Moraes

O desenvolvimento tecnológico e o progresso científico constituem finalidades imprescindíveis no Estado Democrático de Direito, de modo que devem ser encarados como elementos capazes de impulsionar a resolução de problemas socioeconômicos e a geração de conhecimento. Partindo dessa premissa, este trabalho se propõe a analisar a relação ainda recente entre Universidade e Empresa, observando-se mecanismos políticos e jurídicos para fazer cessar ou mesmo atenuar as tensões existentes entre as duas instituições. Constatou-se primeiramente o alto potencial das Universidades como núcleo gerador de conhecimento e de inovação, caso seja acrescida à sua estrutura funcional clássica a atividade de alta interação social e econômica desempenhada pelas empresas. Entretanto, tal constatação encontra obstáculo no atrito existente entre as aspirações empresariais de comercialização, competitividade e exclusividade e o ideal acadêmico de produção economicamente desinteressada, direcionada à divulgação em benefício da sociedade e do aperfeiçoamento científico. Lidar com este conflito a partir da visão do direito como integridade e como identidade se coloca como o objeto central deste trabalho. Com efeito, as concepções de Dworkin e Taylor sobre a Ética e o Direito como atividades imersas em constante necessidade de interpretação, reflexão e sobretudo criação se estabelecem como bases para que se evite o tratamento do problema exposto sobre viés reducionista e autoritário, eliminando-se a pressuposição segundo a qual só é válida a atividade jurídico-interpretativa de quem é legalmente competente para tal. Ampliando-se a abordagem kelseniana de interpretação no Direito, pode-se dizer que a decisão de índole jurídica é papel de todos os agentes envolvidos no processo que gera a inovação e o conhecimento como aqui observados: a Universidade, a Empresa e o Estado, relação cunhada por Etzkowitz de tripla-hélice. A presente investigação qualitativa se desenvolve por meio da compreensão e interpretação de resultados concretos de experiências de transferência de tecnologia no Brasil e no mundo, combinadas com a reflexão sobre os institutos e instrumentos jurídicos afetos ao problema – notadamente a patente, o contrato de transferência de tecnologia e a Lei de Inovação. Conclui-se que o sistema de patentes e as Instituições de Ciência e Tecnologia criam o espaço de comunicação viável entre Universidade e Empresa, tornando possível que as inovações sejam reveladas ao meio social e ao crivo da comunidade científica sem que isso acarrete o desinteresse em sua exploração econômica. (ESTE RESUMO TEM O SUPORTE FINANCEIRO DA FUNDAÇÃO DE AMPARO DA PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - FAPEMIG - E DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - CNPQ).

Page 48: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 48

Demandas sociais e conhecimento científico em um contexto periférico

Marcos Vinício Chein Feres

Luciana Tasse Num contexto periférico, em que inúmeros problemas sociais emergem como demandas por conhecimento científico, faz-se necessário refletir sobre as causas da escassez de produção de conhecimentos úteis orientados para a solução de tais problemas. Conforme Kreimer, uma das principais explicações para essa dificuldade de aplicação efetiva dos conhecimentos gerados nos institutos de pesquisa latino americanos tem sido a existência de uma “divisão internacional do trabalho científico”. Na medida em que esse movimento faz com que os grupos de pesquisa locais elaborem suas agendas em forte alinhamento com a comunidade científica internacional no intuito de angariar maior reconhecimento e legitimação, prescinde-se de temas que representariam importante utilidade local, tendo em vista o espaço no qual as pesquisas são desenvolvidas. Assim, a proposta do Direito como Integridade permite repensar o marco de produção de ciência para reavaliar o papel dos diferentes atores sociais – inclusive do Estado enquanto elaborador de políticas públicas - e da comunidade científica local frente à relação que se estabelece entre os problemas sociais e as questões que se tornam objeto de problematização científica. Isso porque a Integridade viabiliza canais institucionais e legais que permitem um ajuste entre a inovação no setor tecnológico e o dever moral do Estado de promoção e proteção do indivíduo e de seus direitos, construídos com base nos princípios morais da comunidade personificada na qual se desenvolve. Foi adotada como estratégia metodológica a pesquisa qualitativa e quantitativa. Utiliza-se do método predominantemente dedutivo de análise de conteúdo, a partir de traços de significação. Caso típico de demanda por conhecimento científico não atendida no Brasil é o das doenças negligenciadas, que seguem órfãs de produtos para seu tratamento, não obstante a produção acadêmica no país acerca do tema seja numericamente considerável. Por exemplo, no que tange à Doença de Chagas e à Malária, foram registrados desde 1986 na base de dados internacional PubMed, respectivamente, 1780 e 619 papers de pesquisadores brasileiros ou radicados no Brasil. Tais números denotam que além da dificuldade de alinhamento das pesquisas com as demandas locais por conhecimento, também existem barreiras impedindo a efetiva utilização e aplicação do conhecimento que é produzido nos institutos de pesquisa nacionais. (ESTE RESUMO TEM O SUPORTE FINANCEIRO DA FUNDAÇÃO DE AMPARO DA PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS – FAPEMIG - E DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - CNPQ).

Page 49: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 49

Desenvolvimento técnico e impacto ideológico das inovações e novas tecnologias no sistema jurídico

Tadeu Henriques Júnior

As inovações tecnológicas no contexto capitalista são a “criatividade destrutiva” capaz de arrastar por meio do desenvolvimento técnico-científico o crescimento econômico e as transformações sociais. Entretanto, estas inovações correspondem a uma ideologia oculta e subjacente, baseada num consenso socialmente construído, que, travestida de “técnica”, escapa do crivo político e do debate público. Com base nas elaborações de Beck acerca das transformações legais e políticas na Sociedade de Risco, juntamente com a análise intersistêmica de esferas funcionais proposta por Luhmann, o presente estudo, através de método análitico e hipotético-dedutivo, tem como objetivo apresentar o impacto que o desenvolvimento de novas tecnologias têm efetuado no sistema jurídico. Defende-se que em face das configurações contemporâneas que as relações sociais adquirem, muitas vezes a incorporação ideológica destas inovações trazem prejuízos em questões como legitimidade e acordo político, devendo ser estimulado o debate, institucionalizado e marginal, acerca destas questões. Dois casos concernentes à realidade brasileira são apresentados: a divulgação destas novas tecnologias e as informações decorrentes delas acabam não somente integrando a fundamentação de decisões jurídicas, consistindo num padrão não-legal de fundamentação, como também aderem ao processo como meio de prova. O consenso tácito e irrefletido sobre estas tecnologias adquirem grandes dimensões, vinculando os juízes no sistema de avaliação e valoração de provas de tal maneira que é possível observar um movimento retrógrado, no qual o “livre convencimento motivado” retorna ao sistema tarifado, dado o peso que a tecnologia reveste os dados trazidos ao processo. Por fim, analisa-se a Lei de Inovação brasileira e sua potencialidade em promover ganhos significativos no contexto político e econômico nacional, dado que dentre seus objetivos inclui-se a relação dialógica entre universidades, centros de inovação e empresas. Ainda assim, embora seja crescente o número destas ações, elas ainda encontram dificuldades sobretudo financeiras, devendo estas falhas serem melhor estudadas e corrigidas, com ênfase no ponto de vista legal.

Page 50: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 50

O direito como integridade e a lei de patentes: uma reinterpretação da novidade a partir de estruturas lógicas

Marcos Vinício Chein Feres

Thagore Muniz Este trabalho tem por objetivo compreender a novidade enquanto requisito da patente de invenção partindo-se das relações que a lei e a doutrina estabelecem entre esse requisito, o estado da técnica e o próprio conceito de invenção, bem como propor um critério interpretativo da novidade tendo em vista o caráter decisivo do instituto nos processos de concessão de patente e, consequentemente, no incentivo à produção de novas tecnologias para os setores que mais carecem de inovação, como a pesquisa de medicamentos para doenças negligenciadas. Para isso, utiliza-se a teoria de Ronald Dworkin, o direito como Integridade. O ideal da integridade política, com sua proposta de coerência das ações estatais, permite que os princípios do ordenamento jurídico inerentes à concessão de patentes sejam respeitados e reiterados, fazendo com que as decisões das autoridades nesta seara reflitam, de fato, os valores políticos eleitos pela comunidade personificada. Dessa forma, as decisões em matéria de patente se tornam verdadeiras obrigações associativas, legítimas, em que os cidadãos reconhecem um dever geral de obedecer, não figurando, portanto, como simples atos imperativos. Entretanto, para adequar as práticas interpretativas do atual sistema patentário às exigências da integridade, é preciso utilizar um instrumento de inferência e análise que permita estabelecer, de maneira consistente, uma base coerente sobre a qual essas ações possam ser desenvolvidas. Por essa razão, lança-se mão da Lógica Formal. A partir de pesquisa qualitativa, realizada por meio de investigação bibliográfica, procura-se, em primeiro lugar, apresentar os conceitos jurídicos pertinentes ao exame de patenteabilidade, seguindo-se à análise dos mesmos, através de método dedutivo, a fim de tornar explícitas suas estruturas lógicas. Posteriormente, faz-se uma interseção dos argumentos lógicos desenvolvidos, chegando-se a uma concepção da novidade que leva em conta sua relação com o estado da técnica e que também considera a estrutura lógica própria do conceito de invenção. Por fim, procura-se demonstrar, de maneira breve e exemplificativa, a adaptabilidade da nova concepção à nossa realidade institucional recorrendo-se a um tema polêmico em matéria de concessão de patentes: a patenteabilidade de medicamentos de segundo uso. (ESTE RESUMO TEVE O SUPORTE FINANCEIRO DA FUNDAÇÃO DE AMPARO DA PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - FAPEMIG - E DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - CNPQ).

Page 51: Anais do I Simpósio Direito e Inovação · da parte especial do Código Penal e de alterações na legislação penal extravagante, sob a presidência do Ministro do Superior Tribunal

Anais do I Simpósio Direito e Inovação Página 51

Cláusulas de controle nos contratos de transferência de tecnologia: por uma reconstrução através da identidade

Marcos Vinício Chein Feres Victor Freitas Lopes Nunes

Este trabalho se propõe a compreender a relação entre integridade no direito e identidade na teoria moral e construir uma proposta discursiva acerca da viabilidade da inserção de cláusulas de controle em contratos de transferência de tecnologia firmados entre a administração pública, representada por uma Instituição Científica e Tecnológica (ICT), e uma empresa privada. Além de um trabalho discursivo de construção interpretativa, a inscrição de cláusulas de controle nesse tipo de contratos pode garantir que sejam implementados os objetivos legais e constitucionais que servem de balizas para a aquisição, a utilização e a transação de direitos de patente. A construção de um sistema analítico de conceitos por meio de uma pesquisa qualitativa a partir de traços de significação se baseia na práxis interpretativa do Direito, expressa na comunidade personificada, enquanto rede de interlocução. A comunidade é, também, ente moralmente autônomo, cujos valores são construídos com a participação dos sujeitos no ambiente social, em que os indivíduos, por sua vez, constroem sua moral absorvendo-a e reformulando-a a partir de valores que advêm da comunidade, e ao atuarem na esfera pública remodelam o próprio sentido dela, numa articulação axiológica intersubjetiva. É em nome da tensão entre o movimento de produção, transferência e absorção de tecnologia e a replicação da articulação dialética e construtiva operada na comunidade que, mediante a fixação de cláusulas de controle, podem se concretizar os objetivos fundamentais expressos na Constituição Federal, notadamente, o desenvolvimento nacional. Não são, estas cláusulas, no entanto, suficientes para completar amplamente o ciclo, de modo a garantir a absorção da tecnologia nos mais variados setores da economia, uma vez que lhes falta uma avaliação forte, restando apenas latente no ordenamento o desejo de ver introjetada na cadeia produtiva das empresas contratentes a vocação para o desenvolvimento de novas tecnologias. (ESTE RESUMO TEVE O SUPORTE FINANCEIRO DA FUNDAÇÃO DE AMPARO DA PESQUISA DO ESTADO DE MINAS GERAIS - FAPEMIG - E DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - CNPQ).