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Páo para quem tem fome O ano de 85 18 de fevereiro £ uma data histórica Para Adelino Cordeiro Fui fumante desde menino No vício gastei dinheiro Decidi não fumar mais Não quero sentir nem o cheiro Muitos irão perguntar Por que deixei de fumar A Campanha da Fraternidade Começou me questionar Pão para quem tem fome Devemos compartilhar Às vezes não repartimos Para no vício esbanjar Outro fator é a saúde Que aos poucos vai estragando A fumaça do cigarro A respiração vai trancando O viciado não percebe Os pulmões quase estourando Quanto mais o tempo passa Mais vamos nos cativando Sei que alguns dirão: Como conseguiu deixar? 35 anos de vício Não é fácil de parar Precisa tomar uma decisão E na prática executar Ter consciência que é um cativo E precisa se libertar Toda pessoa cativa Com a liberdade sonha Quem quiser libertar-se Da bebida, cigarro e maconha Deve seguir a receita Deixada pela tia Antonha Ir no mercado e comprar 200 réis de... sal de fruta. (Adelino Cordeiro)* Ceti de tatani faimi BÍBLIOTEO Poemas Eetrospectiva econômica CORREÇÃO MONETARIA-(janeiro de 84 a janeiro de 85):223,78 %.. INFLAÇÃO-(dezembro de 83 a de- dezembro 84):223,8 por cento. SALARIO-(maio de 83 a maio de84)t 142 por cento. E PRECISO DECIDIR! "Primeiro levaram os comunistas, mas não me importei porque eu não sou comunista. Em seguida, levaram alguns operários, mas não me importei porque eu tam- pouco era. Depois detiveram os Sindicalistas, mas nfo me importei porque eu não sou sindicalista. Logo aprisionaram alguns padres, mas como eu não sou religioso tam- pouco me importei. Agora levaram a mim, mas é tarde". (Bertold Brecht, poeta e pensador alemão) INPC-(dezembro de 84 a dezembro de 85):203,27 por cento. CADERNETA DE POUPANÇA-(ren- dimento/84)--243,70 por cento. DOLAR-(variação no ano)--223,58 0 /o. Charge do mês "Me chamarão subversivo Eu lhes direi: o sou Por meu povo em luta, vivo Com meu povo em marcha, vou" "Somos um povo de gente Somos um povo de Deus Quremos terra na terra temos terra no céu". (D. Pedro Casaldaliga) pt-edpitàíks. Csfou apenas teriUdc ver as íoteas k odto pühto à vista í P0^> ^^ PENSAMENTOS "Alguns homens públicos são iguais às mulheres públicas: tendem a se pros- tituir" (J.L.). "Segredo é algo que contamos indivi- dualmente a todos" (A. D.). "Deus nada tem a ver com a miséria da gente, isso é coisa dos homens". "E na simplicidade que se encontra o natural, e o divino está no natural" (João XXIII). 'Haverá pátria para todos ou não haverá pátria pra ninguém"(Artigas).

Poemas Eetrospectiva econômica - cpvsp.org.br filePor que deixei de fumar ... pouco era. Depois detiveram os Sindicalistas, ... A fome existe perto de nós, em nossa casa, em nosso

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Páo para quem tem fome O ano de 85 18 de fevereiro £ uma data histórica Para Adelino Cordeiro Fui fumante desde menino No vício gastei dinheiro Decidi não fumar mais Não quero sentir nem o cheiro

Muitos irão perguntar Por que deixei de fumar A Campanha da Fraternidade Começou me questionar Pão para quem tem fome Devemos compartilhar Às vezes não repartimos Para no vício esbanjar

Outro fator é a saúde Que aos poucos vai estragando A fumaça do cigarro A respiração vai trancando O viciado não percebe Os pulmões quase estourando Quanto mais o tempo passa Mais vamos nos cativando

Sei que alguns dirão: Como conseguiu deixar? 35 anos de vício Não é fácil de parar Precisa tomar uma decisão E na prática executar Ter consciência que é um cativo E precisa se libertar

Toda pessoa cativa Com a liberdade sonha Quem quiser libertar-se Da bebida, cigarro e maconha Deve seguir a receita Deixada pela tia Antonha Ir no mercado e comprar 200 réis de... sal de fruta.

(Adelino Cordeiro)*

Ceti de tatani faimi

BÍBLIOTEO

Poemas

Eetrospectiva econômica CORREÇÃO MONETARIA-(janeiro de 84 a janeiro de 85):223,78 %..

INFLAÇÃO-(dezembro de 83 a de- dezembro 84):223,8 por cento.

SALARIO-(maio de 83 a maio de84)t 142 por cento.

E PRECISO DECIDIR! "Primeiro levaram os comunistas, mas não me importei porque eu não sou comunista.

Em seguida, levaram alguns operários, mas não me importei porque eu tam- pouco era.

Depois detiveram os Sindicalistas, mas nfo me importei porque eu não sou sindicalista.

Logo aprisionaram alguns padres, mas como eu não sou religioso tam- pouco me importei.

Agora levaram a mim, mas já é tarde".

(Bertold Brecht, poeta e pensador alemão)

INPC-(dezembro de 84 a dezembro de 85):203,27 por cento.

CADERNETA DE POUPANÇA-(ren- dimento/84)--243,70 por cento.

DOLAR-(variação no ano)--223,580/o.

Charge do mês

"Me chamarão subversivo

Eu lhes direi: o sou

Por meu povo em luta, vivo

Com meu povo em marcha, vou"

"Somos um povo de gente

Somos um povo de Deus

Quremos terra na terra

Já temos terra no céu".

(D. Pedro Casaldaliga)

pt-edpitàíks. Csfou apenas teriUdc ver as íoteas k odto

pühto à vista í

P0^> ^^

PENSAMENTOS "Alguns homens públicos são iguais às mulheres públicas: tendem a se pros- tituir" (J.L.).

"Segredo é algo que contamos indivi- dualmente a todos" (A. D.).

"Deus nada tem a ver com a miséria da gente, isso é coisa dos homens".

"E na simplicidade que se encontra o natural, e o divino está no natural" (João XXIII).

'Haverá pátria para todos ou não haverá pátria pra ninguém"(Artigas).

CAMBOTA Abril/85 Pág. 2

EDITORIAL

"PÃO PARA QUEM TEM FOME" é o lema da Cam-

panha da Fraternidade deste ano. Passamos a Quaresma

e a Páscoa celebrando e refletindo a paixão, morte e

ressurreição de Cristo em relação com o ensinamento

deste lema. O que se espera é que todos nós cristãos

nos tenhamos convencidos, a partir destas celebrações e

reflexões, de que precisamos agir. Sem ação o pão não

será repartido, não chegará aos que têm fome.

A fome existe perto de nós, em nossa casa, em nosso

País. A fome é um dos mais graves problemas do Brasil.

Segundo D. Itamar Vian, bispo da Diocese de Barra na

Bahia, somos 86 milhões de brasileiros famintos. A fal-

ta de alimento atinge principalmente a família do traba-

lhador da cidade e mesmo da roça que tem um ganho

mensal que não lhe permite comprar o necessário. A

fome leva à morte. O enfraquecimento físico e mental

proporciona o alastramento das doenças. A criança fa-

minta não tem a perspectiva de muitos dias ou anos de

vida. E os jovens e adultos, debilitados, doentes vão

arrastando a vida até o dia em que a morte neles se ins-

tala definitivamente.

No Brasil, cada mil crianças que nascem vivas, cento e

duas morrem antes de completar um ano de vida. No

Nordeste, a percentagem de crianças que morrem é maior

do que em outras regiões do país. Segundo fontes do

Ministério da Saúde 16,9 por cento das crianças do Nor-

deste morrem antes do primeiro ano de vida.

Nos paises da América

Latina, a cada dia, a falta

de alimentos provoca a morte

de duas mil crianças, até qua-

tro anos de idade. A fome

mata mais que a guerra.

Todos sabemos que a

causa da fome é devida às

políticas que os governos

põem em prática em seus

paises. As políticas agríco-

las, salarial e outras que be-

neficiam os grandes grupos econômicos e estrangeiros e

não voltam para a produção de alimentos para o povo.

A política agrícola dos últimos anos, no Brasil, serviu

para favorecer os grandes projetos do álcool, da soja,

do café, da laranja. Estes produtos, que são vendidos

no estrangeiro, aumentaram a produção em 30 a 35

por cento nos últimos vinte anos. O milho aumentou em

10 por cento sua produção e é consumido mais para os

suínos e aves. Em razão do crescimento da população

brasileira, os produtos que vão para a mesa do trabalha-

dor diminuíram de produção: o arroz, o trigo, o feijão,

a batata, o amendoim.

Por outro lado, a política salarial e a política de pre-

ços mínimos aos pequenos produtores rurais, impediram

aos trabalhadores que ganham o necessário para fazer

frente às necessidades fundamentais da família. O baixo

salário e a alta de preços, espalham a fome nos lares

brasileiros.

O que fazer diante deste quadro? O Brasil vive no-

vos tempos, conforme as anuncia na imprensa. O Brasil

tem hoje um presidente civil e novos ministros. O novo

governo vai manter as políticas de achatamento salarial,

de expansão da agricultura de exportação, de concentra-

ção da terra, de desemprego? Vai sustentar as políticas

que concentram a renda nas mãos de poucos? O que

cabe a nós trabalhadores, através de nossas organizações,

para que o atual governo execute políticas que beneficie

a todos os brasileiros?

Af£U CHAW, HOJE. JA

FUi A**ALTAS>0. SÃ TRfí-

{A V/^Z ^O TOí/O - A/OV. arv )

CAMBOTA Abril/85 Pág. 3

Página Técnica

No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos fez a uma tribo indígena a proposta de comprar

grande parte de suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessão de outra "reserva". 0 texto que publicamos

agora, é a resposta do chefe desta tribo (Seatie) à proposta feita pelo governo americano.

Para nós que trabalhamos a terra e dela tiramos o nosso sustento, os ensinamentos da vida e da prática

desta tribo indígena vem a contribuir na discussão da necessidade de colocarmos em prática uma agricultura apro-

priada à nossa realidade, tanto social e econômica, quando que respeite o fundamental: a vida.

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o ca-

lor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não pos-

suímos o frescor do ar e o brilho da água, como é pos-

sível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo.

Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de

areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada cla-

reira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experi-

ência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das

árvores carrega consigo as lembranças do homem verme-

lho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de

origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos

mortos /amais esquecem esta bela terra, pois ela é a

mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela

faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs;

o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos.

Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o

calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem

à mesma família.

Portanto, quando o Grande Chefe em Washington

manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito

de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar

onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e

nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar

sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será

fácil, Esta terra é sagrada para nós.

Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não

é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.

Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que

ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é

sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos

fala de acontecimentos e lembrança da vida do meu

povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ances-

trais.

Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios

carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças.

Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e

ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus

também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bon-

dade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende

nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem

o mesmo significado que qualquer outra, pois é um

forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo que

necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e

quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Dei-

xa para trás os túmulos de seus antepassados e não se

incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos

e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos

de seus filhos são esquecidos. Trata sua irmã, a terra,

e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser com-

pradas, saquedas, vendidas como carneiros ou enfeites

coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando so-

mente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus.

A visão de suas cidades fere os olhos do homem verme-

lho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selva-

gem e não compreenda.

Continua no próximo número.

CAMBOTA Abril/85 Pág. 4

Juventude em Desafio

Existe apenas uma forma de educação ?

A METODOLOGIA DAS CASAS FAMILIARES RURAIS (C. F. Rs ) Quais seriam os principais materiais, mais necessá-

rios, para um agricultor construir uma boa casa, para mo- rar ele e sua família?

Certamente todos diriam que para alguém poder vi- ver dignamente dentro de uma casa, precisaria, antes de tudo, muitas coisas indispensáveis para a sua construção, como por exemplo: além de dinheiro, seria necessário os pregos, a madeira, tijolos, areia (cimento), ferros, te- lhas (palhas, galhos, etc), e uma série de outros mate- riais básicos, não é mesmo???

Porém, alguém poderia perguntar: para "que" essa casa vai servir? Ou "como" ela poderá servir melhor?

Ou ainda, de que "maneira" é que essa casa vai funcionar, vai ser útil???

É justamente aqui, amigo leitor, que gostaríamos de, juntos, poder analisar e avaliar, o valor, a vantagem ou desvantagem, o sentido positivo ou negativo do funcio- namento prático (interno) das CFRs.

Se para uma casa poder funcionar bem e servir a al- guém, ela deve ter uma porção de coisas (uma infra-estru- tura completa), o mesmo acontece com o projeto de Escola das CFRs. Ou seja, para a CFR poder funcionar de acordo com os interesses e exigências da realidade dos alunos-agricultores, ela precisa ter um "jeito" todo espe- cial, uma "forma", uma "maneira" de como fazer e conduzir na prática este projeto de escola. E é especial- mente a este "jeito", "forma" ou "maneira", que vai se dar o nome de METODOLOGIA-DIDÀTICA.

Igual ao projeto de construção de uma casa, a Escola (CFR), também possui'uma construção que é a sua meto- dologia, que se fundamenta nos vários instrumentos uti- lizados para rrielhor educar. Eis alguns instrumentos desta metodologia: - ALTERNÂNCIA (o Método mais importante); - Plano de Estudo (P.E); - Aulas Teóri-

cas e Práticas; Excurssões e estágios; Visitas às Famí- lias; Serões; Participação na Vida da Comunidade, etc, onde passaremos a analisar mais adiante, ponto por ponto.

Portanto, as CFRs têm uma metodologia própria, que é "o uso adequado de vários métodos e técnicas (instru- mentos ajeitados) de como ensinar e aprender melhor". Ou seja, para se construir uma casa pronta e acabada, é preciso saber a sua finalidade no seu perfeito funciona- mento e utilidade e é preciso que alguém a faça. Onde nesse caso, entra a ação dinâmica do pedreiro ou constru- tor.

ESCOLA ) TORKA J MEU ^AGOi-^

0 mesmo acontece com a escola, se os responsáveis (alunos, pais, comunidade e animadores) não souberem interpretar, arrumar, coordenar, conhecer e criar a vida da escola, ela pra nada serve. Ou seja, a escola tem que ser um organismo vivo, um veículo ativo e dinâmico, que realmente esteja ligado a vida dos alunos da roça, ligada à natureza e às experiências práticas, onde todos fazem a escola (educação), com a participação de todos, sem excluir ninguém. Além da participação ativa e direta dos alunos, dos pais, e da comunidade na vida da escola, ela deve saber utilizar muito bem os métodos e técnicas que, por sua vez, produziriam, conduziriam e animariam o processo de formação e educação dos jovens da roça (alunos)

Explicando melhor: faz com uma enxada? zá-la no seu trabalho?

um agricultor sabe ou não o que Por acaso ele tem medo de utili- Obviamente que não. 0 mesmo

acontece com quem utiliza os métodos e as técnicas em educação. Os próprios alunos, animadores e dinami- zadores (professores-monitores), devem saber utilizá- las perfeitamente, de modo que venha facilitar a auto- educação dos mesmos.

Mas falando em educação, nesse caso, quem seria responsável para educar? São apenas os professores autoritários, aqueles que "sabem tudo"? Ou existe uma outra maneira de viver a escola, de ensinar, de educar???

Por detrás destas perguntas se esconde a "Chave- principal", o motivo essencial e a razão do surgimento de uma "nova escola", com uma outra forma de educação, apresentando uma outra face, diferente e alternativa, com um jeito próprio (metodologia), de aprender, de viver aprendendo à vida toda, sempre partindo das ex- periências concretas, que envolvem a prática do dia-a- dia de cada aluno.

Somente com o eficiente emprego do MÉTODO DE ALTERNÂNCIA, é que os alunos serão capazes de analisar, pensar e transformar para melhor a sua vida, o seu ambiente. . .

(. . . Continuação no próximo n? - Sabino)

CAMBOJA Abril/85 Pág. 5

Movimento Sindical

Sindicalistas fazem passeata Os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, em atendi-

mento à problemática que os trabalhadores rurais enfren-

tam na área da saúde e previdência social, vêm mobilizan-

do e discutindo com eles a situação e os encaminhamen-

tos a serem dados. Assim, em 1984 realizaram-se debates

nas comunidades e assembléias municipais em vários

municípios da região, sobre esta realidade. Documentos

foram encaminhados às autoridades previdenciárias

reivindicando uma reestruturação da Previdência Social, a

alteração de leis para melhor atender os trabalhadores,

cumprimento da legislação por parte dos hospitais e dos

médicos.

A insensibilidade das autoridades em atender as

reivindicações dos trabalhadores levou os sindicatos a or-

ganizar a passeata do dia 6 de março em Pato Branco.

Mais de dois mil agricultores, pertencentes à micro re-

gião 1-A, que conta com 17 sindicatos do Sudoeste do

Paraná, participaram da minifestação feita na praça da

Matriz de Pato Branco. À tarde, em passeata, se deslo-

caram para a frente da sede do INAMPS, onde a comis-

são manteve um encontro com o representante daquele

órgão. A comissão entregou ao representante do

INAMPS uma cópia do documento assinado pelos dois

mil trabalhadores.

Das 24 autoridades convidadas, compareceram apenas

o chefe do 8P Distrito Sanitário de Francisco Beltrão e

o representante da Central Única dos Trabalhadores de

Curitiba.

Em seu documento os trabalhadores, entre outras

coisas, exigem:

a) os trabalhadores, por intermédio de suas organiza-

ções de representação no município. Estado e País,

tenham participação na administração e fiscalização das

verbas da Previdência evitando assim o mar de corrupção

em que o sistema previdenciário está hoje submetido;

b) as corrupções estão comprovando que o mal

atendimento do INAMPS não é falta de dinheiro e sim

falta de honestidade. Portanto, somos contra o projeto

de criar novas taxas e aumentar a percentagem de arre-

cadação do Funrural e contra qualquer aumento nas

contribuições dos trabalhadores;

c) que as fraudes conta o INAMPS sejam apuradas e

que os corruptos devolvam o dinheiro que roubaram dos

trabalhadores e sejam punidos pelos seus atos;

d) que a Previdência dê atendimento ambulatória!

de especialistas (olhos, nariz, ouvidos e garganta) ao

trabalhador rural;

e) que as crianças, até dez anos, os idosos e, em caso

de urgência, os pacientes tenham direito ao acompa-

nhamento sem ter que pagar diárias e diferenças de aten-

dimentos prestados;

f) que o atendimento prestado aos pacientes de enfer-

maria seja dentro de padrões dignos de atendimentos às

pessoas;

g) que todos os trabalhadores sejam atendidos por

ordem de chegada, não importando a categoria ou classe

social a que pertence. Salvo quando o caso for de ur-

gência;

h) que seja obrigatório o fornecimento aos trabalha-

dores, de notas fiscais e/ou recibos especificados, de to-

das e quaisquer despesas pagas aos médicos e hospitais;

i) que o representante do INAMPS local em cada

município seja escolhido pelos trabalhadores;

j) que o trabalhador rural tenha atendimento gratuito

em qualquer hospital e em qualquer dia e horário (dia,

noite, sábado, domingo e feriado) sem limite de fichas, e

possa escolher o médico de sua preferência. Com rigoro-

sa fiscalização, os serviços sejam pagos ptela quantidade de

atendimentos e não por quotas.

MICRO-REGIAO 1-B AUSENTE

Os doze sindicatos dos trabalhadores rurais da micro

região 1-B não participaram da passeata em Pato Branco.

A respeito o sindicalista Zeno Minuzzo, de Pérola D'Oes-

te, afirmou que os sindicalista da 1-B estão com uma vi-

são equivocada, reivindicando apenas o aumento de

75 por cento nos subsídios da Previdência aos hospitais,

já concedido em fevereiro. Não adianta aumentar a verba

se o atendimento continua igual. "Queremos mudar a

estrurura do INAMPS. Queremos trabalhadores fiscali-

zando o atendimento da Previdência. Aumentar os

subsídios é dar mais dinheiro para ser levado pelos gastos

dos hospitais".

CAMBOTA Abril/85 Pág. 6

A Mulher na Sociedade

As mulheres no 1- Congresso Nacional dos Sem Terra As milhares de mulheres trabalhadoras rurais já reve-

lam força e coragem. A mulher do campo já não á sim- ples instrumento de trabalho, que serve apenas para gerar e "se virar" para alimentar seus filhos e ainda agüentar calada o marido cansado e mal humorado.

Hoje, a mulher está tentando acabar com os muitos preconceitos que existem ao seu redor. Ela fica ao lado de seu companheiro na luta pela conquista da terra.

Prova disto são as 360 mulheres que participaram do IP Congresso Nacional dos Trabalhadores Sem Terra.

Maria Oneide Costa Lima, Maria de Fátima Bandeira, Elizabeth Teixeira e Helena de Paula, contaram como perderam seus maridos assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários. Mas elas continuam na luta, com força e coragem.

Elas vão à luta Maria Oneide Costa Lima tem 33 anos, é mãe de seis

filhos e é trabalhadora em Conceição do Araguaia, no Pará. Seu companheiro, o "Gringo", foi assassinado por pistoleiros em 1980, em virtude de sua luta em defesa de posseiros. Depois da morte de seu marido, passou a participar do sindicato. Trabalhava na conscientização das mulheres. Hoje, ela supervisiona escolas rurais.

Maria de Fátima Bandeira, também 33 anos, sete fi- lhos menores, seu marido "Benezinho", foi assassinado em julho do ano passado, no norte do Pará. Assim começou sua luta política, no meio de uma verdadeira guerra oculta e ocultada neste País.

Elizabeth Teixeira é paraibana de 60 anos, 11 filhos. Conseguiu reunir um grande número de associados na Liga Camponesa de Sapé, interior da Paraíba. Depois precisou fugir da repressão de 1964. Abandonou os 10 filhos para viver na clandestinidade (escondida), por 17 anos. Elizabeth continuou o trabalho de seu marido, assassinado em 1962.

Helena de Paula, mostra que a repressão também veio até nossa região. Esposa de João de Paula, posseiro da Fazenda Annoni, em Marmeleiro, assassinado em julho de 1983. Helena conta: "Perdi meu marido e fiquei com 9 filhos, com eles tive que enfrentar a situação. Não de- sanimei na luta e continuo na terra, onde meu esposo foi assassinado por jagunços".

Quando essas mulheres falam, mostram como foi difícil tomar consciência de que mesmo sós, era preciso continuar na luta.

As mulheres agricultoras, unida-s, avançam na sua orgamjaçSo

'Quero que você me prometa, dizia o marido antes de ser assassinado, que vai continuar no meu lugar. Não quero deixar nenhum bem aos nossos filhos. Só o orgu- lho de terem tido pais como nós, que lutam pela justiça".

Destinos de tão diferentes lugares do Brasil cruzando- se e juntando-se na luta, através da solidariedade nascida da dor. E dessa dor-união nasce a coragem de recomeçar. De mudar o rumo da história do nosso país. Assim, surgiram resoluções para o trabalho com as mulheres trabalhadoras rurais.

QUANTO À PARTICIPAÇÃO

- Formar grupos por município;

- Fazer reuniões de base, tendo uma responsável de cada núcleo;

- Participar ativamente dos movimentos reivindicató- rios. Não ter medo da luta;

- Participar mais do sindicato e lutar pela Reforma Agrária;

- Tomar iniciativa própria. Acreditar na nossa força e capacidade;

- Conquistar espaço pol ítico na sociedade;

- Assumir a luta de igual para igual com os compa- nheiros;

- Despertar em nossas companheiras a consciência crítica, principalmente sobre a situação sócio-econò- mica e política do País;

- Organizar as mulheres nas ocupações, greves e movi- mentos populares;

- Liberar mulheres para fazer trabalhos de base na as- sessoria e no movimento;

- Os homens têm que tomar mais consciência e contri- buir mais para que possamos participar ativamente da luta.

QUANTO À ARTICULAÇÃO

- Manter correspondência com as companheiras Sem Terra;

- Fazer maior divulgação da luta da mulher Sem Terra em todos os espaços que estão lutando pela Reforma Agrária;

- Formar uma coordenação de mulheres estadual, re- gional e nacional, depois das mulheres estarem orga- nizadas na base;

- Maior participação na Coordenação Nacional do Movimento.

Talvez nós consigamos modificar a mentalidade sobre

a mulher do campo. Ela não é ignorante, como falam.

Ela é participativa, atuante e capacitada. O Brasil mudou

mesmo. Deixando de lado a propaganda do governo so-

bre mudança, vemos que a verdade é que a opressão é

grande. E é por isso que a conscientização e a mobiliza-

ção estão crescendo. E chegou à mulher. Agora podemos

afirmar que o País tem que ter esperança.

CAMBOTA Abril/85 Pág. 7

MCÁEÍGUÁ: as vantagens de uma revolução REFORMA AGRÁRIA ONTEM

1978: O latifúndio detinha mais de 50 por cento da terra do país.

1978: 120.000 camponeses tinham 3 por cento das terras.

1978: O crédito rural era de 178.629.00 córdobas.

1977: Camponeses eram sucessivamente espoliados devi- do ao endividamento.

1979:22 cooperativas agropecuárias com 1.240 coope- rativados.

1979: 175 cooperativas não agropecuárias que beneficia- vam a 5.354 cooperativados.

1978: Não existiam projetos agro-industriais.

POSSE DA TERRA NA NICARÁGUA

Estado: 23 por cento Setor Cooperativo: 7 por cento

Setor Privado: 11 por cento

Setor Médio: 30 por cento

Pequenos Camponeses: 7 por cento

REFORMA AGRÁRIA HOJE

Se reduz o latifúndio para 13 por cento

Os camponeses possuem 44 por cento das terras

O crédito rural é de 1.600.395.000 córdobas

Indenização da dívida camponesa com 328 milhões de córdobas

3 mil cooperativas agropecuárias com 70.000 cooperati- vados

423 cooperativas não agropecuárias que beneficiam a 50.953 cooperativados

Projetos Agro-Industriais:

— Projeto Açucareiro Ti MAL ao custo de 2.545.379 milhões de córdobas

— Projeto de Hortaliças, Vale de Sébaco: ao custo de 303.505 milhões de córdobas

— Projeto de Tabaco Burley: 1.406.900 milhões de córdobas

— Projetos de Conservas de Frutas e Verduras: INFRU- GALASA: 147 milhões de córdobas

— Projeto de Palma Africana: 627.629 milhões de Córd. — Consolidação de 81 empresas de Reforma Agrária — Desenvolvimento do Projeto de Segurança Social

no Campo. ^~~<^7&

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^ Siglas e seu significado IGP — índice Geral de Preços — É usado como medida da inflação. Baseia-se em 3 outros índices, o IPA—Dl, o IPC e o ICC, com pesos 6,3el respectivamente.

IPA—Dl — Indica de Preços por Atacado/Disponibilida- de Interna — Trata-se da média levantada a partir de 442 itens pesquisados em Rio de Janeiro, onde entram: ali- mentação, vestuário, habitação, artigos de residência, assistência à saúde e higiene, serviços pessoais e públicos.

ICC — índice de Construção Civil — Elaborado na cidade de Rio de Janeiro, mede a variação dos preços dos mate- / riais de construção e da mão-de-obra aplicada à constru- ção civil

INPC — índice Nacional de Preços ao Consumidor — Co- mo o IPC, é uma média ponderada dos preços de diversos bens consumidos nas áreas metropolitanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizon- te, Fortaleza, Recife, Salvador, Belém e Brasília.

ORTN — Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional — Título da Dívida Pública, cuja variação fornece o valor da correção monetária. As normas para a fixação do va- lor das ORTN's variam ao longo dos anos. Ultimamente tem acompanhamento a inflação mensal.

(Crefinews, nP 22, p.8).

ABRA: Associação Brasileira Pele Reforma Agrária.

CIMI: Conselho indiginista Missionário.

CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

EM MÃOS DE ESTRANGEIROS 100 por cento da produção de chumbo, níquel, amianto, nóbio; 80 por cento da Produção de Ouro; 65 por cento da produção de alumínio; 77 por cento da indústria farmacêutica.

CAMBOTA Abril/85 Pág. 8

Bíblia PLANTAS MEDICINAIS

A MORTE VENCENDO ÁVIDA BlòLlAi

sMmk

Acolhida ao Grupo: Pode-se fazer um canto que é do conhecimento do grupo — ou uma oração.

LEITOR 1 — Hoje nós vamos refletir um pouco a nossa vida e a nossa

realidade e ver quais são as forças da morte que estão presentes em nossa região e, ao mesmo tempo, olhar as forças de vida que estão presentes em nossas comunidades e famílias. Para isso, vamos contar com ajuda do Pla- no de Deus que está na Bíblia.

LEITOR 2 - No Gênisis (cap.4,1-9) nos é contado a história de Caim

e Abel. A Bíblia conta que Adão e Eva tiveram muitos filhos, mas fala somente de Caim e Abei. Quem eram estes dois irmãos? A Bíblia fala que Caim era lavrador que trabalhava a terra, e Abel era pastor. 0 pastor tinha a função de cuidar as ovelhas, para o lobo não devorar. Naquele tempo, existiam certos costumes dife- refentes de hoje, por exemplo: para fazer uma oração ou celebração, se ofertavam sacrifícios de um animal ou de produtos, dependendo da profissão que cada um tinha. E o que fizeram Caime Abel?

Caim ofereceu produtos da terra, e Abel ofereceu uma ovelha. Diz a Bí- blia que Abel ofereceu a melhor ove- lha (primogênito). Caim não fez o mesmo: ofereceu produtos que esta- vam sobrando, ou melhor dizendo, aquilo que não serve mais para ele. E Deus não olhou com muito agrado a oferenda de Caim, mas olhou com bons olhos o sacrifício de Abel, que ofertara com fé e não para aliviar a consciência. Deus não gosta de por- carias. Deus quer coisas boas. Abel ofereceu o que tinha de melhor.

LEITOR 1 — Isto criou uma revolta grande em Caim. E Deus pergun-

tou a Caim porque estava tão revolta- do. Um dia Caim, convidou Abel para dar uma passeada no campo e, chegan- do lá, Caim mata seu irmão Abel. E o Senhor disse: "Onde está o teu irmão Abel?" Caim respondeu: "Por acaso sou guarda de meu irmão?"

Deus disse: "Eis que a voz do sangue de teu irmão chama por mim desde a terra".

COORD. - Olhando para este fato, contado na Bíblia, que lições podemos tirar para a nossa vida? — Quem são os Cains de hoje? — De que jeito os Cains matam hoje? — 0 que os Cains de hoje oferecem aos pobres e a Deus? — Existem atitudes de Cains presentes em nossa comunidade e em nossas famílias? — Vocês já viram algum Caim ir no rádio, na Televisão fazer campanhas para Reforma Agrária, e pedir um salário mais justo? — Existe algum Abel aqui em nossa comunidade? 0 que eles fazem? — Quais são as organizações que es- tão do nosso lado, ajudando fazer aquilo que agrada a Deus? — Quem são os Abel de hoje, que estão empenhados para que todos tenham terra e uma vida digna? — As nossas orações e celebrações aju- dam criar mais ânimo para vencer as forças da maldade dos Cains de hoje? Explique.

COORD. — Pucha as preces e o pedi- do de perdão ou desculpas. Em se- guida finaliza.

"Se infundimos medo ou venera- ção, significa que estamos enquadra- dos no poder." (Arturo Paoli)

"A paz só é válida na verdade e na justiça. Toda outra paz é mentira, hipócrita exploração". (P. Casaldáliga)

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BATATA-INGLESA - A infusão das folhas é diurética, contra afecções do fígado, rins e tosse comprida. Ralada, sua massa tem aplicações sobre abces- sos, picadas de insetos, reumatismo local, nas queimaduras e com azeite sobre o ventre para promover e resta- belecer nas regras. Seu suco natural, tomado, ajuda curar úlceras do estô- mago e, colocado sobre a vista dolo- rida, alivia. Serve para lavar a cabeça das crianças com cascão. Batatinha verde pode dar eólicas intestinais, dor de cabeça e mal estar.

CABRIÚVA - Estimulante do sistema nervoso, afrodisíaca, combate bron- quite, cistites, blenorragias. Da serra- gem, fazem tintura para tomar e apli- car em feridas.

CALÊNDULA - Margarida dourada, rnal-me-quer, é excitante, expectoran- te, anti-espasmódica, anti-abortiva, fortalece o útero, ótimo remédio na idade crítica, nas anemias nervosas, o suco das folhas se aplicam sobre ca- los, verrugas, pólipos e internamente, como chá. Externamente, é um pode- roso antisséptico, contra inflamações das vistas, feridas e chagas cancerosas, dor de garganta, icterícía, combate qualquer alergia. São muito usados os sabonetes e pomadas de calêndula.

CANA-DE-AÇÜCAR - 0 açúcar mascavo é o mais medicinal, contém muito ferro, cálcio e fósforo que aju- dam no crescimento do esqueleto, contra anemia, fraqueza do coração e mantém a força muscular, recons- tituinte. A garapa, melado e rapadura, constituem bom alimento. Três folhas fervidas em um litro de água ajuda baixar a pressão. A cana é boa contra tosse, eólicas renais, disgestões difí- ceis, aftas e rachaduras dos seios. O bagaço da cana é poderoso de- sinfetante.

SI " Ir. Cirilo.

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