Poemas Que Viraram Canções

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  • 8/19/2019 Poemas Que Viraram Canções

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    POEMAS QUE VIRARAM CANÇÕES

    O PULSAR (1975)

    Augusto de Ca!osMus"#ado !o$ Caeta%o Ve&oso

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    CIRCULA' 'E UL *a$o&do de Ca!os (197+)

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    CIRCULA' 'E ULMus"#ado !o$ Caeta%o Ve&oso (o,se$-e.se o $e#o$te /e"to %o te0to de *a$o&do)

    Circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô defulô e ainda quem falta me dásoando como um shamisen e feito apenas com um arametenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela músicanão podia porque não podia popular aquela música se nãocanta não é popular se não afina não tintina não tarantina eno entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da maismegera miséria fsica e doendo doendo como um pregona palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão cora!ão exposto como um nervo

    tenso retenso um renegro prego cego durando na palma polpa da mão ao solcirculadô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deucirculadô de fulô e ainda quem falta me dáo povo é o inventalnguas na malcia da maestria no matreiroda maravilha no visgo do improviso tenteando a travessiaa"eitava o eixo do solcirculadô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deucirculadô de fulô e ainda quem falta me dáe não pe!a que eu te guie não pe!a despe!a que eu te guie

    desguie que eu te pe!a promessa que eu te fie me deixeme esque!a me largue me desamargue que no fim eu acerto queno fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim mereservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e severá que está feito que pelo torto fi" direito que quem fa"cesto fa" cento se não guio não lamento pois o mestre queme ensinou já não dá ensinamentocirculadô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deucirculadô de fulô e ainda quem falta me dá

    'e A&,e$to Ca"e$o (1919)Mus"#ado !o$ $ed Ma$t"%s

     #oite de $% &oão para além do muro do meu quintal%'o lado de cá( eu sem noite de $% &oão%)orque há $% &oão onde o festejam%)ara mim há uma sombra de lu" de fogueiras na noite(*m rudo de gargalhadas( os baques dos saltos%+ um grito casual do quem não sabe que eu existo%

    ,

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    *m caso especial -  'OCE MORRER NO MAR (19+1)'e 2o$ge Aado3 4dese%t$a%ado6 e dese%o-&-"do do $oa%#e Mar mortoMus"#ado !o$ 'o$"-a& Ca8"

    . doce morrer no mar  #as ondas verdes do mar 

    / noite que ele não veio foi0oi de triste"a pra mim$aveiro voltou so"inhoriste noite foi pra mim

    . doce morrer no mar  #as ondas verdes do mar 

    $aveiro partiu

    de noite foiadrugada não voltou3 marinheiro bonitosereia do mar levou

    . doce morrer no mar  #as ondas verdes do mar 

     #as ondas verdes do mar meu bem+le se foi afogar 0e" sua cama de noivo no colo de 4emanjá

    3utro caso especial O :REN;IN*O 'O CAIPIRA(/$age%to do Poea su

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    3ô%%%

    6ou depressa6ou correndo6ou na toda9ue s< levo)ouca gente)ouca gente)ouca gente%%%

    AU:OPSICO=RAIA (# 19F)e$%a%do PessoaMus"#ado !o$ :o 2o,"

    3 poeta é um fingidor%0inge tão completamente

    9ue chega a fingir que é dor / dor que deveras sente%

    + os que l=em o que escreve( #a dor lida sentem bem( #ão as duas que ele teveas s< a que eles não t=m%

    + assim nas calhas da roda>ira( a entreter a ra"ão(+sse comboio de corda9ue se chama o cora!ão%

    NA RI@EIRA 'ES:E RIO (19)e$%a%do PessoaMus"#ado !o$ 'o$" Ca8"

     #a ribeira desse rio3u na ribeira daquele)assam meus dias a fio #ada me impede( me impele(e dá calor ou dá frio%

    6ou vendo o que o rio fa"9uando o rio não fa" nada6ejo os rastros que ele tra" #uma seq?=ncia arrastada('o que ficou para trás%

    6ou vendo e vou meditando( #ão bem no rio que passaas s< no que estou pensando)orque o bem dele é que fa!a+u não ver que vai passando%

    6ou na ribeira do rio

    @

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    9ue está aqui ou ali+ do seu curso me fio)orque( se o vi ou não vi(+le passa e eu confio%

    POEMA EM LIN*A RE:A (/$age%to "%"#"a&)G&-a$o de Ca!osMus"#ado !o$ A$$"go @a$%a,H

     #unca conheci quem tivesse levado porrada%odos os meus conhecidos t=m sido campeAes de tudo%

    + eu( tantas ve"es reles( tantas ve"es porco( tantas ve"es vi(l+u tantas ve"es irrespondivelmente parasita(4ndesculpavelmente sujo(

    +u( que tantas ve"es não tenho tido paci=ncia para tomar banho(+u( que tantas ve"es tenho sido ridculo( absurdo(9ue tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas(9ue tenho sido grotesco( mesquinho( submisso e arrogante%

    O MAIS.QUE.PEREI:O (195D)V"%#"us de Mo$aesMus"#ado !o$ 2a$ds Ma#a&H

    /h( quem me dera irBme

    Contigo agora)ara um hori"onte firme

    comum( embora%%%D/h( quem me dera irBme:

    /h( quem me dera amarBte$em mais ciúmes

    'e alguém em algum lugar 9ue não presumes%%%

    /h( quem me dera amarBte:

    /h( quem me dera verBte

    $empre a meu lado$em precisar di"erBte

    &amais- cuidado%%%/h( quem me dera verBte:

    /h( quem me dera terBteComo um lugar 

    )lantado num chão verde)ara eu morarBte

    orarBte até morrerBte%%%

    E

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    O POE:A APREN'I; (195D)V"%#"us de Mo$aesMus"#ada !o$ :oJu"%o

    +le era um menino6alente e caprino*m pequeno infante$adio e grimpante%/nos tinha de"+ asinhas nos pésCom chumbo e bodoque+ra plic e ploc%3 olhar verdeBgaio)arecia um raio)ara tangerina

    )ião ou menina%$eu corpo moreno6ivia correndo)ulava no escuro

     #ão importa que muro+ caa exatoComo cai um gato%

     #o diabolô9ue bom jogador8ilboqu= então+ra plim e plão%

    $altava de anjoelhor que marmanjo+ dava o mergulho$em fa"er barulho%

     #o fundo do mar$abia encontrar+strelas( ouri!os+ até deixaBdissos%Fs ve"es nadava*m mundo de água+ não era menino)or nada mofino$endo que uma ve"+mbolou com tr=s%$ua cole!ão'e achados do chão/bundava em conchas8otAes( coisas tronchas$eixos( caramujosarulhantes( cujosColocava ao ouvido

    Com ar entendidoGolhas( espoletas

    H

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    + malacachetasCacos coloridos+ bolas de vidro+ de" pelo menos

    CamisasBdeBv=nus%+m gude de bilha+ra maravilha+ em bola de meia&ogando de meia B'ireita ou de ponta)assava da conta'e tanto driblar%/mava era amar%/mava sua ama

     #os jogos de cama

    /mava as criadas6arrendo as escadas/mava as gurias'a rua( vadias/mava suas primasIevadas e opimas/mava suas tias'e peles macias/mava as artistas'as cineBrevistas/mava a mulher/ mais não poder%)or isso fa"ia$eu grão de poesia+ achava bonita/ palavra escrita%)or isso sofria%'a melancolia'e sonhar o poeta9ue quem sabe um dia)oderia ser%

    A ROSA 'E *IROKIMA (195+)V"%#"us de Mo$aesMus"#ado !o$ =e$so% Co%$ad

    )ensem nas crian!asudas telepáticas)ensem nas meninasCegas inexatas)ensem nas mulheresGotas alteradas)ensem nas feridas

    J

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    Como rosas cálidasas oh não se esque!am'a rosa da rosa'a rosa de Kiroxima

    / rosa hereditária/ rosa radioativa+stúpida e inválida/ rosa com cirrose/ antirrosa atômica$em cor sem perfume$em rosa sem nada%

    S*IRLE SOM@RAAda!tado do Ru,a"8at de Oa$ a8a% (sH# K) 3 #/ t$aduB"do !a$a o "%g&s !o$

    Eda$d "tBge$a&d (sH# KIK)3 e da t$aduB"do !o$ Augusto de Ca!os3 /"%a&e%teada!tado !a$a a !e$so%age S"$&e8 So,$a do /"&e Cidade oculta (19D>)Mus"#ado !o$ A$$"go @a$%a,H

    L3nde anda $hirleM $ombra7N

    +m #aishpur ou 8abilônia( algumata!a( ou amarga ou doce( sermpre espuma(6erte o 6inho da 6ida( gota a gota6ãoBse as folhas da vida( uma a uma%

    /h: 6em( vivamos mais que a 6ida( vem/ntes que em )< nos deponham tambémOP)< sobre )

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    LORES *ORI;ON:AIS (# 195F)Osa&d de A%d$ade3 da !ea "%a#a, ada O santeiro do Mangue Mus"#ado !o$ ;H M"gue& "s%" 

    flores hori"ontais(flores da vidaflores brancas de papelda vida rubra de bordelflores da vidaafogadas nas janelas do luar carboni"adas de remédiostapas pontapés(escuras flores puras( putas suicidas sentimentais%flores hori"ontais%que re"ais

    com 'eus me deito%com 'eus me levanto%

    UNERAL 'E UM LAVRA'OR (1955)2oo Ca,$a& de Me&o Neto3 de Morte e vida severinaMus"#ado !o$ C"#o @ua$Jue

    . +sta cova em que estás( com palmos medida

    é a conta menorque tiraste em vida%

    B . de bom tamanho(nem largo nem fundo(é a parte que te cabedeste latifúndio%

    B #ão é cova grande(é cova medida(é a terra que queriasver dividida%

    B . uma cova grande pra teu pouco defunto(mas estarás mais anchoque estavas no mundo%

    B . uma cova grande pra teu defunto parco( porém mais que no mundote sentirás largo%

    B . uma cova grande pra tua carne pouca(

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    mas a terra dada(não se abre a boca%

    CANÇTO AMI=A (# 195F)

    Ca$&os '$uo%d de A%d$adeMus"#ado !o$ M"&to% Nas#"e%to

    +u preparo uma can!ãoem que minha mãe se reconhe!a(todas as mães se reconhe!am(e que fale como dois olhos%

    Caminho por uma ruaque passa em muitos pases%$e não se v=em( eu vejoe saúdo velhos amigos%

    +u distribuo um segredocomo quem anda ou sorri% #o jeito mais naturaldois carinhos se procuram%

    inha vida( nossas vidasformam um s< diamante%/prendi novas palavrase tornei outras mais belas%

    +u preparo uma can!ão

    que fa!a acordar os homense adormecer as crian!as%

    ANOI:ECER (# 19+5)Ca$&os '$uo%d de A%d$adeMus"#ado !o$ ;H M"gue& "s%" 

    . a hora em que o sino toca(mas aqui não há sinosPhá somente bu"inas(sirenes roucas( apitosaflitos( pungentes( trágicos(uivando escuro segredoPdesta hora tenho medo

    . a hora em que o pássaro volta(mas de há muito não há pássarosPs< multidAes compactasescorrendo exaustascomo espesso

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    . a hora do descanso(mas o descanso vem tarde(o corpo não pede sono(depois de tanto rodarP pede pa" B morte B mergulhono po!o mais ermo e quedoPdesta hora tenho medo%

    Kora de delicade"a(gasalho( sombra( sil=ncio%Kaverá disso no mundo7. antes a hora dos corvos( bicando em mim( meu passado(meu futuro( meu degredoPdesta hora( sim( tenho medo%

    :O'O 'IA 'IA ' (# 197F):o$Juato NetoMus"#ado !o$ Ca$&os P"%to

    'esde que sa de casatrouxe a viagem de voltagravada na minha mãoenterrada no umbigodentro e fora assim comigominha pr

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    AN:NIO @IG (FFD)Ro,e$to @oBBett"Mus"#ado !o$ N"%o Na-a$$o

    9ue esperam voc=s de mim7que minta como se não7que ponha lérias em férias7que d= letra R maluquicesinventadas por voc=s7um jeito pra que dessa doideiraa vila de merda e poeiraganhe forma vitalcia7s< se morta fosse em mima minha chama interstciase a vida e sua folgan!anão fossem minha sustan!a

    contrária a toda medidae o piriri porandubaque me acomete em cometase jorros de jatos forrostal peidos a propulsãose aquietasse e eu deixassede viver a mesma febreque a todos nos fa" a delciae assinasse coletivonomes incompatveissobrenomes e pronomessujeitos cabriocários

     predicativos suplcios

    como esperar que eu diga(que eu diga( não S que eu escrevao que mal na folha fria perde a picada da abelha7a patagônica ci=ncia para sempre derretidae o boi de alpercatasquem o acreditaria7a saparia agônicatresvariando no mundéu

    o cortejo pelo céude poTemons e urutausas seriemas no rumodo fumo das jararacascomo negar a exist=ncia7s< deixar a evid=nciadesse povo anfbio e paudesimportante e caceteanalfabeto e sinistrosem pingo sem asteriscomovido a cana e curau7

     povo de deus largadotentando parar o tempo

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    em desno!ão desusadanarrar sério e esperan!osocontar em canto numerosoo desinfinito ingl

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    e devotados a insolúveisquestAes( espuma( areia( fúteise ardentes caminhadas ao léu%

    PRECPUO=&au#o MattosoMus"#ado !o$ ao e E$",e$to Leo

    )oetas não escrevem por dinheiro%/tri"es sempre t=m a mesma cara%odelo é meretri" mas não declara%GocTeiro sem chulé não é rocTeiro%

    &eitinho é profissão do brasileiro%&etom é gorjetinha em lngua clara%

    &ui" não di"BqueBdi"- profere( exara%8arata é voto nulo em galinheiro%

    /s coisas t=m que ser como elas são(e não como alguns querem que elas sejam(senão não tinha gra!a nem tesão%

    'os cegos s< se espera que não vejam%'o >lauco todos fa"em go"a!ão%+nquanto alguém padece( outros festejam%

    'EPRESSA A VI'A PASSA (FFD)Ma$#e&o '"%"BMus"#ado !o$ $ed Ma$t"%s

    'epressa a vida passa( mal se sentee tudo já parece diferente-o que doeu um dia hoje é dormente(o amanhã não se lembra do presenteP

    e mal tudo é passado( o mais recentecome!a a tecer o recorrente-a cada ruga tudo é mais ausente(

    o tempo foge e sempre leva a genteP

    fascina como a infUncia é inocente-eterno no vigor do adolescente(no idoso( ainda crepita o sol poenteP

    fascina como tudo é transparente-depressa a vida passa e( de repente(desfa"Bse( nOágua( a face que a ressente%

    1@