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Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ISSN 1413-4969 ./ / 200 Publicação Trimestral Ano XVI - Nº 1 Jan Fev. Mar. 7 Revista de Exigências dos Estados Unidos na importação de carne _ Avaliação das inspeções Pág. 60 Mercado da China _ Oportunidades para o agronegócio brasileiro Pág. 31 Prof. G. Edward Schuh, um amigo do Brasil Ponto de Vista Pág. 113 Vegetable oils as substitutes for diesel oil Pág. 17

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Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ISSN 1413-4969

./ / 200

Publicação TrimestralAno XVI - Nº 1

Jan Fev. Mar. 7

Revista de

Exigências dosEstados Unidosna importaçãode carne _

Avaliação dasinspeções

Pág. 60

Mercado da China _

Oportunidades parao agronegóciobrasileiro

Pág. 31

Prof. G. Edward Schuh,um amigo do Brasil

Ponto de Vista

Pág. 113

Vegetable oils assubstitutes fordiesel oil

Pág. 17

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ISSN 1413-4969Publicação Trimestral

Ano XVI – Nº 1Jan./Fev./Mar. 2007

Brasília, DF

SumárioJosé Irineu Cabral (Nota de falecimento) ........................... 3Eliseu Alves

Carta da Agricultura

Prioridades para a agricultura brasileira ............................ 5Reinhold Stephanes

Estimativas de apoio à agricultura brasileira pela OCDE .... 7Antonio Luiz Machado de Moraes

Vegetable oils as substitutes for diesel oil ......................... 17José Israel Vargas

Mercado da China – Oportunidadespara o agronegócio brasileiro ......................................... 31Ali Aldersi Saab / Ricardo de Almeida Paula

Aspectos da política agrícola japonesa ........................... 43Sérgio Rodrigues dos Santos

Análise de viabilidade técnica de oleaginosaspara produção de biodiesel em Mato Grosso do Sul........... 48Renato Roscoe / Alceu Richetti / Euclides Maranho

Exigências dos Estados Unidos na importaçãode carne – Avaliação das inspeções ................................ 60Daniela Antoniolli / Vitor A. Ozaki / Silvia H. G. de Miranda

Cadeia produtiva da carne suína no Brasil ...................... 75Marcelo Miele / Paulo D. Waquil

A necessidade de reorganização e defortalecimento institucional do SNPA no Brasil ................ 88Marcos Paulo Fuck / Maria Beatriz Machado Bonacelli

Limites máximos de resíduos e suas implicaçõesno comércio internacional de frutas .............................. 102Maria Chantal Telteboim / Silvia Helena Galvão de Miranda /Louise Oliveira / Vitor A. Ozaki

Ponto de VistaProf. G. Edward Schuh, um amigo do Brasil .................. 113Eliseu Alves

Conselho editorialEliseu Alves (Presidente)

Edilson GuimarãesIvan WedekinElísio ContiniHélio Tollini

Antônio Jorge de OliveiraRegis N. C. Alimandro

Biramar Nunes LimaPaulo Magno Rabelo

Marlene de Araújo

Secretaria-geralRegina M. Vaz

Coordenadoria editorialMierson Martins Mota

Marlene de Araujo

Cadastro e distribuiçãoViléia Oliveira Reis

Revisão de texto etratamento editorialFrancisco C. Martins

Normalização bibliográficaCelina Tomaz de Carvalho

Projeto gráfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

Foto da capaLuís Carlos Vissoci

Thais Lorenzini (montagem)

Impressão e acabamentoEmbrapa Informação Tecnológica

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 2

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

Revista de política agrícola. – Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . – Brasília: Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacionalde Abastecimento, 1992-

v. ; 27 cm.

Trimestral. Bimestral: 1992-1993.Editores: Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, 2004- .Disponível também em World Wide Web: <www.agricultura.gov.br>

<www.embrapa.br>ISSN 1413-4969

1. Política agrícola. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Secretaria de Política Agrícola. II. Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

CDD 338.18 (21 ed.)

Interessados em receber esta revista, comunicar-se com:

Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoSecretaria de Política Agrícola

Esplanada dos Ministérios, Bloco D, 7º andarCEP 70043-900 Brasília, DF

Fone: (61) 3218-2505Fax: (61) 3224-8414

[email protected]

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSecretaria de Gestão e Estratégia

Parque Estação Biológica (PqEB), Av. W3 Norte (final)CEP 70770-901 Brasília, DF

Fone: (61) 3448-4336Fax: (61) 3347-4480

Mierson Martins [email protected]

Esta revista é uma publicação trimestral da Secretaria dePolítica Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, com a colaboração técnica da Secretariade Gestão e Estratégia da Embrapa e da Conab, dirigida atécnicos, empresários, pesquisadores que trabalham como complexo agroindustrial e a quem busca informaçõessobre política agrícola.

É permitida a citação de artigos e dados desta Revista, desdeque seja mencionada a fonte. As matérias assinadas nãorefletem, necessariamente, a opinião do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tiragem5.000 exemplares

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 20073

José Irineu Cabral(5/4/1925 – 31/7/2007)

Eliseu Alves1

No dia 31 de julho de 2007, o Dr. José IrineuCabral (Foto), nos deixou. Como Presidente daEmbrapa, teve um papel decisivo na escolha domodelo da Empresa, em sua implantação e emtodas as atividades dos 6 primeiros anos de vidada instituição, os quais prepararam as bases parao sucesso que tem desfrutado ao longo de suaexistência.

Administrador competente, sempre abertoao diálogo, paciente, hábil, competente no con-ciliar as demandas de curto e de longo prazos,firme ao seguir a rota traçada, sem fazer conces-sões que comprometessem os fundamentos daEmbrapa, sempre pronto ao diálogo com o mun-do do poder e político, mas dentro do paradigmado interesse maior da sociedade. Essas habilida-des foram importantes na proteção à Empresa,quando ainda era uma criança indefesa.

Pragmático, experiente e de visão de lon-go alcance, logo percebeu que pesquisa é recur-so humano bem treinado e pago; é cuidar quecada real aplicado renda o máximo; é prestarcontas à sociedade a cada instante; é ter visibili-dade – nos planos interno e externo – é buscar eproteger o talento; e é escolher prioridades peloscritérios da boa ciência, que sempre está casadacom os problemas da sociedade. Por isso, entreas prioridades de sua administração, estava o pla-nejamento, a formação de recursos humanos, adifusão de tecnologia, a avaliação dos resultados,o desenvolvimento de uma mídia especializadana pesquisa e no desenvolvimento de estratégiasde captação de recursos, no governo, na iniciati-va particular e no exterior.

O Dr. José Irineu Cabral soube liderar aDiretoria-Executiva num ambiente que primavapela cortesia, pelo diálogo, pela criatividade e pelodebate franco e sincero. Administrou a Embrapade portas abertas, mas num nível de respeito mui-to elevado e estimulante às idéias novas. Soubeformar equipe, estimular a inteligência e somarcompetência para o bem da Empresa.

Em sua longa vida, participou, ativamente,do nascedouro e do desenvolvimento da exten-são rural, teve papel ativo no Banco Interame-ricano de Desenvolvimento (BID) e no InstitutoInteramericano de Cooperação para a Agricultu-ra (IICA). O Brasil perdeu um grande líder.

1 Assessor do Diretor-Presidente e pesquisador da Embrapa

José Irineu (à direita) visitaas obras de construção da

Embrapa Recursos Genéticose Biotecnologia, em Brasília,ao lado do então ministro daagricultura, Alyson Paulinelli.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 20075

O agronegócio brasileiro atravessa um pe-ríodo animador, favorecido por boas condiçõesclimáticas e recuperação das cotações de algu-mas commodities, e se prevê safra recorde degrãos. São fatores que contribuem para que, após2 anos consecutivos de colheitas ruins, os produ-tores voltem a ter ganhos reais de renda. No en-tanto, mesmo em rota positiva, uma safra boa seráinsuficiente para recuperar a perda do setor. Con-tudo, sem dúvida, já é um bom começo.

É fundamental a compreensão de que oBrasil continuará a ser um dos grandes pólos glo-bais de produção primária, se tomarmos medidasadequadas para resolver situações que ainda nostornam vulneráveis, como os registrados nas áre-as de sanidade animal e vegetal, do meio ambi-ente e do comércio externo. Mesmo que sejamocorrências isoladas, dão margem aos nossoscompetidores de nos impor restrições, que vãodesde taxas, sobretaxas a barreiras sanitárias, comintuito claro de frear a expansão do agronegóciobrasileiro no mercado internacional.

Na área de defesa sanitária animal e vege-tal, as ações de fiscalização e controle se impõempela importância das carnes no mercado brasilei-ro e internacional. Em 2006, o Brasil exportou 2,1milhões de toneladas de carne bovina; 2,5 milhõesde toneladas de carne de aves; e 640 mil tonela-das de carne suína, orçados R$ 8,6 bilhões dedólares.

Há mais de 30 anos, participei do início daimplantação de programas de combate à febreaftosa, e tenho a convicção de que o setor preci-

Prioridades para aagricultura brasileira

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sa ser reforçado, aportando melhor estrutura emais recursos. Mas, também, são necessáriasações relacionadas à questão da segurança nasfronteiras, uma vez que há situações indefinidasem alguns países vizinhos. A saída é procurar atuarem parceria.

Conjunturalmente, novos desafios despon-tam na área da agroenergia. A promoção dometanol, etanol e dos biocombustíveis deve servista como uma necessidade para gerar cresci-mento de emprego e renda com sustentabilidadee a continuidade da produção de alimentos parao mercado interno e externo. Afinal, é inviávelcrescer causando danos ao meio ambiente e des-conhecendo o clamor da sociedade para rever-ter o aquecimento global. Nesse caso, note queos trade offs se tornam mais complexos.

É evidente que a produção de etanol pos-sui tecnologia que o Brasil desenvolveu e domi-na, fazendo com que o País se destaque nos fórunsinternacionais. Mesmo assim, aumentar a produ-ção requer muito cuidado. Nosso plano estratégi-co deve compatibilizar com clareza o cuidadocom o meio ambiente e isso significa a aberturade novas frentes, em áreas degradadas, ou seja,sem desmatamento. Esse tem de ser o compro-misso dos governos e dos produtores.

Hoje, uma das soluções que se apresentapara atenuar os impactos ao meio ambiente é amaior eficiência no plantio e nos tratos, culturaiscom mínimo uso de agrotóxicos. Nos últimos 16anos, a produtividade da agricultura brasileiraavançou significativamente. Na produção de

1 Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Reinhold Stephanes1

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 6

grãos, o aumento foi de 121 %, com o crescimen-to de área plantada de 21 %. Ainda é possívelmelhorar esses índices e parece ser o caminho aser seguido, pois, certamente, é o menos danoso.

Sem dúvida, o uso dos transgênicos é umdos pontos mais sensíveis na discussão sobre oaumento da produção em todo mundo. O Brasiltem uma lei de biossegurança e uma comissão, aComissão Técnica Nacional de Biossegurança(CTNBio), que trata dessas questões. É dentro des-ses limites que uma política de governo pode existire a participação do Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento é cumprir a determina-ção legal.

O crescimento da agricultura está atrela-do, ainda, a uma definição sobre a política de ju-ros para o crédito rural. O clamor dos produtorespela redução das taxas é justificado para viabilizara competitividade com a tecnologia no campo.O mercado sinaliza para a necessidade de se re-duzir em 3 % o índice que é praticado atualmen-te. Os juros que temos hoje, de 8,75 %, remontama uma época de alta inflação em que a taxa bási-ca - Selic - estava em mais de 20 % e a inflação

girava em torno de 6 % a 8 %, ao ano. Graças aosesforços do governo federal, a redução dessesíndices já foi repassada a outros setores da eco-nomia. Está mais do que na hora de se chegar aoagronegócio.

O endividamento do setor rural e a taxa dejuros agrícolas, frente à queda da inflação e dataxa Selic, fazem parte de uma agenda de priori-dades da minha gestão no Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento. Dessa, além dasquestões já apresentadas, consta, também, a agre-gação de valor aos produtos agrícolas; a consoli-dação da política de garantia dos preços mínimose seguro rural; a infra-estrutura e as negociaçõesinternacionais focadas na liberação do comércioagrícola mundial.

A agricultura sempre demonstrou grandeeficiência dentro das propriedades. Contudo, osproblemas, geralmente, começam da porteirapara fora. As instituições e seus técnicos que têmresponsabilidade com o desenvolvimento ruraldevem, a cada dia, se questionar sobre como po-dem contribuir para resolvê-los? Afinal, quem pro-duz são os agricultores e cabe a nós facilitar-lhesessa tarefa.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 20077

Estimativas deapoio à agriculturabrasileira pela OCDE

Resumo: Em 2005, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) realizou estudo so-bre a política agrícola brasileira e estimou o apoio ao produtor rural, denominado PSE, situando o Brasilentre os países que menos subsidiam a agricultura. A atualização da estimativa desse apoio, para2006, revelou elevação em seu nível. O presente estudo tem por objetivo identificar os principaisfatores determinantes desse aumento e examinar a composição das políticas de apoio consideradaspela OCDE e a metodologia de cálculo do PSE. Constata-se que o apoio concedido pelo Brasil àagricultura, expresso em termos de gastos do governo, não tem o mesmo significado que o PSE calcu-lado pela OCDE em função de sua metodologia, razão pela qual o valor desse indicador é acentuada-mente mais elevado do que aqueles gastos. Em 2005, o aumento do PSE do Brasil é explicado, princi-palmente, por mudanças na metodologia de cálculo da OCDE e pela maior utilização dos instrumen-tos de política agrícola em apoio aos agricultores, devido à queda de preços no mercado internacionale ocorrência de estiagem em importantes regiões produtoras do País. Essa elevação do apoio aosprodutores teve um caráter emergencial e transitório e não sinaliza uma tendência de crescimento ouretomada do protecionismo.

Palavras-chave: OCDE; Política agrícola; Subsídio; Apoio ao produtor; e PSE.

Abstract: In 2005, the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) published acountry study on brazilian agriculture in which it estimates rural producer's support, named PSE. Itclassifies Brazil among the countries for which agricultural subsidies are the lowest. Updated calculationsfor 2006 reveal an increase on Brazil PSE. The purpose of this paper is to identify the main explainingfactors for that increase and examine the contents of support policies considered by OECD and PSEmethodology. This analysis reveals that Brazil agricultural support, in terms of governmental expenditures,has not the same meaning as considered by OECD due to its methodology. For that reason, producerssupport thus calculated is much higher them the value of those expenditures. Brazil PSE increase in2005 results mainly from adjustments on OECD methodology, the use of new agricultural policy supportinstruments, world market price fall, and drought in important brazilian agricultural producing regions.The nature of that increase on Brazil agricultural support leads to the conclusion that it does not indicatea tendency of growth or the return of protectionism.

Key words: OCDC; Agricultural policy; Support to the producer; and PSE.

Antonio Luiz Machado de Moraes1

1 Assessor do sectretário de Política Agrícola SPA – Mapa. E-mail: [email protected]

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 8

IntroduçãoA Organização para Cooperação e Desenvolvi-mento Econômico (OCDE) tem por missão contri-buir para o fortalecimento das economias de seuspaíses membros, promover a economia de mer-cado, o livre comércio e o desenvolvimento eco-nômico mundial. Sua atuação não tem se restrin-gido àqueles países, ampliando continuamenteseu escopo com o objetivo de acumular experi-ência e conhecimento em relação a outras eco-nomias de mercado e abrangendo mais de 70países emergentes ou em desenvolvimento.

Desde então, a OCDE faculta aos países nãomembros a possibilidade de participarem de seusfóruns mundiais, comitês e grupos de trabalho, sejana condição de observadores ou membros ple-nos, tendo o Brasil se tornado um de seus parcei-ros, sobretudo a partir de 1998, quando ela lan-çou um programa de trabalho voltado para o País.Desde então, temos participado de reuniões mi-nisteriais e dos comitês de Agricultura, Investimen-to, Concorrência, Comércio e Gestão Pública,além de ser membro do Conselho de Administra-ção do Centro de Desenvolvimento da OCDE.

Uma das principais atividades daquela organiza-ção é a realização de análise econômica, inclu-sive de países não membros, dentre os quais Bra-sil, Rússia, China, Índia e África do Sul, inicial-mente selecionados para a realização de estudosaprofundados sobre suas economias, notadamenteem relação à agricultura. Esses estudos, juntamen-te com os da Romênia, Bulgária e Ucrânia foramrecentemente atualizados pela OCDE (OECD,2007), como parte de suas atividades demonitoramento dos países não-membros.

No caso do Brasil, sua política agrícola foi objetode estudo publicado pela OCDE (2005), no qualforam analisadas as transformações havidas naagricultura brasileira ao longo dos últimos 15 anos,em termos de sua estrutura produtiva e comerciale da modernização da política agrícola, comoparte de um esforço de ajustamento a uma novaordem econômica liberal ditada pelo esgotamen-to do modelo de substituição de importações, epelas condições do mercado internacional. Fo-ram destacados os avanços alcançados em rela-

ção à liberalização econômica e comercial, e aosseus efeitos positivos no desempenho interno eexterno do setor agropecuário.

Assim, o estudo reconhece que esses resultadosforam alcançados sem a intervenção do gover-no, cujo apoio concedido aos produtores se situaem nível acentuadamente baixo. Esse apoio, me-dido pela OCDE por meio do chamado PSEProducer Support Estimate, se situou em 3 % noperíodo 2002-204, o segundo nível de apoio maisbaixo entre todos os países membros e não mem-bros estudados por essa organização, sendo queem anos anteriores prevaleceram níveis aindamais baixos desde 1995, quando se passou a dis-por dessa informação.

O grande mérito do referido estudo foi não só ode atestar que a agricultura brasileira não é subsi-diada, mas também avalizar o acerto da políticaagrícola caracterizada por sua orientação volta-da para a acentuada liberalização dos mercadosinterno e externo de produtos agropecuários, bemcomo o satisfatório desempenho do setor em ter-mos de produção, produtividade e expansão dasexportações, em cumprimento às suas funçõestradicionais no processo de desenvolvimento daeconomia.

As estimativas do nível de apoio à agricultura peloBrasil, em 2005, foram divulgadas em dezembrode 2006, por ocasião da reunião do Fórum Mun-dial de Agricultura, que teve por objetivo analisara evolução da política agrícola nas economiasdos países não membros. Nesse ano de 2005, oPSE do Brasil foi de 6 %, o que representou umaumento de dois pontos percentuais em relaçãoa 2004. Esse resultado afigura-se surpreendedor,mesmo tendo em conta as medidas emergenciaisadotadas naquele ano, em decorrência da criseenfrentada pela agricultura nos últimos 2 anos, edesperta a atenção dos produtores e dosformuladores da política agrícola.

Assim, o presente estudo pretende identificar osprincipais fatores determinantes do referido au-mento do PSE em 2005, examinando seu signifi-cado, composição e estimativas, segundo ametodologia da OCDE.

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MetodologiaOs indicadores de apoio à agricultura são identi-ficados pelas siglas PSE2 (Estimativa de Apoio aoProdutor), CPE3 (Estimativa de Apoio ao Consumi-dor), GSSE4 (Estimativa de Apoio a Serviços Ge-rais) e TPE5 (Estimativa Total de Apoio), quecorresponde ao valor total das transferências mo-netárias, resultantes da política agrícola.

Dentre os diversos indicadores de apoio, o PSE,objeto deste estudo, é o que apresenta maior inte-resse do ponto de vista da política agrícola pelofato de se referir ao produtor.

O PSE é calculado pela OCDE desde 1987, e sig-nificava Producer Subsidy Equivalent, ou seja, oequivalente em subsídio ao produtor. Tratava-sede medir o subsídio necessário à substituição daspolíticas agrícolas vigentes sem alterar a rendado produtor, mas a partir de 1998, aquela siglapassou a significar “Estimativa de Apoio ao Pro-dutor”. Essa mudança decorreu do aumento nonúmero e complexidade das políticas adotadaspelos países da OCDE. Não se trata apenas deuma mudança de nome, mas especialmente deconteúdo, pois o conceito de apoio é maisabrangente que o de subsídio e teve por objetivotorná-lo mais consistente, transparente, útil parafins de política agrícola e de fácil compreensão ecálculo. Assim, é importante destacar que o apoioao produtor medido pelo PSE difere, em magnitu-de e significado, do apoio ou subsídio estimadosegundo outros critérios (WTO, 2006, p. 47), cujaabrangência e objetivos são diferentes, como é ocaso das Medidas Agregadas de Apoio da Orga-nização Mundial do Comércio (OMC).

A OCDE define o PSE6 como

“(...) indicador do valor monetário anual dastransferências brutas, implícitas e explícitas,dos consumidores e dos contribuintes paraos produtores agrícolas, medidas em nível depropriedade, decorrentes de medidas de po-lítica de apoio, qualquer que seja sua nature-

za, seu objetivo ou efeitos para a renda doprodutor. (OECD, 2006a, p. 6, tradução nos-sa)”.

Essas transferências são brutas, pelo fato de nãoserem deduzidos os custos incorridos pelos pro-dutores em decorrência dessa política de apoio,como, por exemplo, a exigência de produzir de-terminado produto ou utilizar determinado insumopara que o produtor possa receber recursos dogoverno.

As transferências ao produtor também podem serimplícitas ou explícitas, sendo estas consideradaspor Tangerman (2005, p. 12,13) como o resultadodireto das orientações de políticas fixadas pelogoverno, tais como o estabelecimento de preçosde apoio. E as transferências implícitas ocorremquando os instrumentos de política não se ajus-tam às mudanças nas condições de mercado, talcomo, por exemplo, quando ocorre uma quedade preço no mercado internacional. Essa situa-ção ocorreu no Brasil, nos períodos 2004-2005 e2005-2006.

As medidas de política de apoio, baseadas noschamados pagamentos orçamentários, abrangemrenúncia de receita orçamentária por meio dagarantia de menores níveis de preço aos insumos,e pagamentos baseados:

• Na produção.

• Na área plantada ou número de animais.

• No uso de insumos.

• Em restrições ao uso de insumos.

• Em historical entitlements.

• Na renda agrícola e noutros critérios.

Dentre essas medidas, somente as políticas desustentação de preços e os pagamentos basea-dos na produção7, e no uso de insumos, se apli-cam ao caso brasileiro, cujas medidas vigentesde 2000 a 2005 – e os correspondentes gastos do

2 Producer Support Estimate.3 Consumer Support Estimate.4 General Services Support Estimate. Exemplos desses serviços gerais são as atividades de inspeção e de pesquisa e desenvolvimento.5 Total Support Estimate.6 O PSE também pode ser expresso em termos relativos em relação à renda bruta da agricultura na porteira da fazenda.7 A equalização de taxas de juro no Programa EGF é considerada como pagamentos baseados na produção pelo fato de estarem relacionados a produtos específicos

e suas quantidades.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 10

governo – inclusive na sustentação de preços acargo do Tesouro Nacional, cujos valores estãoindicados na Tabela 1, têm a seguinte composi-ção:

• Transferências implícitas nas taxas de juro doscréditos de custeio e investimento, inclusive asdo Programa Nacional de Agricultura Familiar(Pronaf).

• Transferências implícitas em descontos conce-didos na amortização dos empréstimosreestruturados pela securitização (bons pagado-res).

• Pagamentos destinados à compensação parci-al dos juros dos empréstimos reestruturados no âm-bito do Programa Especial de Saneamento de Ati-vos (Pesa).

• Pagamentos destinados à compensação parci-al de juros e descontos nos empréstimos do Pronaf,do Programa Especial de Crédito para ReformaAgrária (Procera) e do Programa de Geração deEmprego e Renda (Proger).

• Pagamentos do Programa de Garantia da Ati-vidade Agropecuária (Proagro).

• Pagamentos do Programa de Garantia de Safra.

• Pagamentos do Programa de Seguro da Agri-cultura Familiar.

Os referidos gastos do governo em apoio ao pro-dutor agropecuário, por meio dos mencionadosinstrumentos de política, não constituem umamedida do PSE estimado pela OCDE, cujametodologia leva em consideração transferênci-as explícitas e implícitas de recursos aos produto-res, baseadas no diferencial entre as taxas de juropreferenciais e as de mercado, e entre os preçosinternos e externos.

A sustentação de preços, identificada pela siglaMPS8 (Medidas de Apoio a Preços) é definida pelaOCDE como sendo um

“(...) indicador do valor monetário das transfe-rências anuais dos consumidores e contribu-intes para os produtores, em decorrência demedidas de política que provocam uma defa-sagem entre os preços internos e externos(border price) de um produto agrícola especí-fico na porteira da fazenda”. (OECD, 2006a,p. 6, tradução do autor).

E a soma do apoio assim obtido para todos os pro-dutos corresponde ao MPS total, que com os refe-ridos pagamentos orçamentários correspondem àestimativa de apoio ao produtor ou PSE.

Tabela 1. Pagamentos e dispêndios do Tesouro Nacional com programas e políticas agropecuáriascontabilizadas nas OOC1 – 2000 a 2006 (em R$ milhões).

(1) Operações Oficiais de Crédito(2) Pagamentos de juros e principal da dívida agrícola securitizada sob responsabilidade da STNElaboração: Mapa/Deagri - atualizada em 25/01/2006.Fontes: MF/STN/Codiv/Geest; MF/STN/Cofis; MF/STN/Copec/Gecap

1) Dívidas Rurais 1.1) Pesa (equalização) 1.2) Securitização da dívida agrícola(2)

2) Equalização invest. Rural eAgroindústria3) Equalização de Custeio Agropecuário4) Política de Preços Agrícolas 4.1) Equalização emprést. gov. federal 4.2) Garantia e sustentação de preçose equalização (AGF)5) Cacau6) Pronaf (Equalização Custeio/Invest.)7) ProagroTotal

1.377,95 11,32 1.366,63

12,88123,33

157,00 3,20

153,80-

324,4627,94

2.023,56

2000

1.047,7922,13

1.025,66

88,10180,80260,91

2,41

258,50-

496,5660,00

2.134,16

2001

1.097,1848,73

1.048,45

147,60186,46250,35

13,45

236,90-

615,65160,78

2.458,02

2002

565,82137,41428,41

259,19356,22

48,9716,97

32,000,59

549,2830,00

1.810,07

2003

1.377,45135,68

1.241,77

347,13111,3788,51

5,41

83,101,13

609,2120,00

2.554,80

2004

1.163,09300,87862,22

267,54204,22297,51

6,71

290,801,18

762,29836,10

3.531,93

2005

663,45197,20466,25

381,61341,56988,70

3,29

985,411,10

1.049,71563,00

3.989,13

2006

8 Market Price Support.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200711

Por sua vez, o MPS tem a seguinte composição:

• Transferências9, dos consumidores e dos contri-buintes, aos produtores decorrentes de medidasde apoio destinadas a manter os preços agrícolasdomésticos acima dos preços de fronteira (borderprice). Esse apoio é medido pela diferença entreos preços internos e externos, multiplicada pelaquantidade consumida ou produzida.

• Transferências orçamentárias sob a forma depagamentos aos produtores e receitas públicasnão recebidas (foregone revenew) por meio deredução no custo dos insumos agrícolas.

• Tarifas, quotas e outras restrições às importa-ções, subsídios à exportação e intervenções go-vernamentais destinadas a elevar os preços inter-nos, criando assim uma diferença entre esses pre-ços medidos na fronteira e os preços externos.

• Transferências implícitas decorrentes do nãoajustamento das políticas às mudanças nas con-dições de mercado. Como exemplo, se o preçode apoio de um produto permanece constante e opreço internacional desse produto diminui, o pro-dutor será beneficiado, pois estará recebendomaior nível efetivo de apoio10.

A estimativa do MPS é baseada no diferencialentre os preços interno e externo e reflete todasas políticas de intervenção nos preços de merca-do, inclusive as que não provocam distorções, bemcomo as deficiências de infra-estrutura de mer-cado e a instabilidade macroeconômica. Seu cál-culo assume as hipóteses de mercados competiti-vos e de país pequeno, porque não exerce qual-quer influência sobre os preços no mercado inter-nacional. Isso para efeito de comparação entre opreço de um produto (Pd), em nível de produtor(na porteira da fazenda), com o chamado preçode referência (Pr) desse mesmo produto, confor-me a seguir indicado, caso se trate de bemimportável ou exportável.

Bem importável

Prm = Pm + Ct1 - Ct2, onde11:

Prm = Preço de referência do bem importável12

Pm = Preço do bem importável no porto do paísexportador

Ct1 = Custo de transporte do porto do país expor-tador para o mercado interno atacadista

Ct2 = Custo de transporte da fazenda para o mer-cado interno atacadista

Bem exportável

Prx = Px - Ct3 - Ct4 , onde:

Prx = Preço de referência do bem exportável13

Px = Preço do bem exportável no porto

Ct3 = Custo de transporte do mercado interno ata-cadista para o porto

Ct4 = Custo de transporte da fazenda para o mer-cado interno atacadista

A diferença entre o preço interno (Pd) e o preço dereferência do bem importável (Prm) é uma medidada transferência unitária ao produtor, resultantedas políticas de sustentação de preços, cujo valortotal depende da quantidade produzida. Assim, ovalor do MPS é igual a (Pd - Prm) multiplicado pelaquantidade produzida. Analogamente, tem-se queo valor do MPS de um bem exportável é igual a(Pd - Prx) multiplicado pela quantidade produzida.

ResultadosA Tabela 2 apresenta os cálculos do PSE feitospela OCDE a partir de 1995, os quais revelamque o Brasil praticamente não subsidia sua agri-

9 As transferências aos produtores podem ser negativas, como ocorreu em 2005, em relação às carnes bovina e suína, leite e aves, cujo preço interno foi menor do queo externo internalizado.

10 No Brasil, ao longo de 2004-2005 e de 2005-2006, os preços mínimos de diversos produtos foram mantidos constantes ao mesmo tempo em que houve declínio emseus preços de mercado, resultando em aumento no nível de apoio a esses produtos.

11 Aos custos internos de transporte são acrescidas as despesas referentes a manejo e comercialização, e são considerados também ajustes referentes à qualidade doproduto, quer se trate de bens importáveis ou exportáveis.

12 Preço de importação CIF, incluindo seguro e frete.13 Preço de exportação FOB.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 12

cultura. De 2002 a 2004, seu PSE foi de 3,%, situ-ando-o em segundo lugar entre os países para osquais esse indicador é divulgado. Embora essacifra tenha aumentado para 4 % em 2004, e 6 %em 2005, o Brasil permaneceu entre os países quemenos subsidiam a agricultura.

Os maiores níveis de subsídio são observados noJapão e entre os países integrantes da União Eu-ropéia e da OCDE, que em sua maior parte sãodesenvolvidos. A magnitude do PSE para cada umdesses países pouco tem se alterado ao longo doperíodo 2002-2005, se situando entre 30 % e 59%, o que contrasta fortemente com a maioria dospaíses em desenvolvimento. Merecem destaqueos baixos níveis de apoio concedido por Austráliae Nova Zelândia, cujos PSEs têm se mantido, res-pectivamente, em 5 % e em 2 %.

A disparidade entre o PSE do Brasil e os dos paí-ses que mais subsidiam, mostrada na Fig. 1, podemelhor ser avaliada considerando-se também amagnitude do apoio monetário por eles concedi-do à agricultura em 2005 (OECD, 2006b, p. 18-19). Enquanto o apoio ao produtor brasileiro nes-se ano foi de R$ 10,6 bilhões, ou seja, US$ 4,3bilhões ao câmbio de US$ 2,43, tem-se que essacifra foi de US$ 279,8 bilhões para a OCDE, US$133,7 bilhões para a União Européia, US$ 47,4bilhões para o Japão e US$ 42,6 para os EstadosUnidos. Isso equivale a dizer que os subsídios

concedidos por esses dois últimos países foramda ordem de dez vezes maiores que o subsídiobrasileiro.

Tabela 2. Estimativas de apoio ao produtor (PSE) por país (em %).

Fonte: OCDE.

BrasilChinaRússiaÁfrica do SulRomêniaBulgáriaNova ZelândiaAustráliaEstados UnidosMéxicoCanadáOCDEUnião Europeia (UE)Japão

385–––24

172122303458

2002–2004

59

178

27825

161522303458

2003–2005

51016

724

925

151925303659

2003

47

198

281125

161221293458

2004

69

159

29625

161421293356

2005País

Fig. 1. PSE por país, média da OCDE e da UniãoEuropéia.Fonte: OCDE (2006b)

Um dos argumentos que têm sido utilizados paraexplicar o elevado subsídio praticado pelos paí-ses desenvolvidos é a necessidade de assegurara melhoria do meio ambiente e a prosperidadedo meio rural, o que constitui um meio ineficazpara assegurar tais objetivos, porque os principaisbeneficiários dos subsídios são os grandes produ-tores e a políticas ambientais acabam tendo quecompensar as pressões que o aumento da produ-

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200713

ção estimulada pelo subsídio exerce sobre os re-cursos naturais. E o desenvolvimento rural seriaalcançado com maior eficácia por meio de in-vestimentos em infra-estrutura, educação e servi-ços sociais.

Com exceção do Brasil, os países em desenvolvi-mento constantes da Tabela 1 apresentam PSEelevado pelo fato de se tratar de economias ain-da controladas pelo governo e cujas forças demercado ainda não operam livremente, comoocorre nas economias tipicamente de mercado,exceção feita à África do Sul. O destaque confe-rido pela OCDE a esses países se deve à impor-tância de sua agricultura (China, Rússia e Áfricado Sul) ou ao fato de terem ingressado na UniãoEuropéia (Romênia e Bulgária).

Conforme revela a Fig. 2, até 2000, o apoio doBrasil ao produtor rural era concedido principal-mente por meio da sustentação de preços e, apartir de então, esse tipo de apoio perde impor-tância, cedendo espaço para as transferências

diretas e indiretas de recursos, implícitas nas ope-rações de crédito. Assim, é que em 2005, dois ter-ços do apoio total aos produtores foi concedidona forma de crédito subsidiado e um terço pormeio da sustentação de preços, o que constituiuma tendência predominante entre os paísespesquisados pela OCDE. Esse fenômeno no Bra-sil é explicado pelas reformas liberalizantesintroduzidas na política agrícola, especialmentena sustentação de preços, cujos instrumentos fo-ram amplamente revistos de modo a reduzir a in-tervenção do governo e fortalecer as forças demercado. Dentre esses instrumentos, o Programade Escoamento de Produto PEP14 é o que tem sidomais amplamente utilizado.

No caso da OCDE, tem-se que 59 % do apoioconcedido ao produtor rural ocorreram por meiode medidas destinadas a elevar os preços agríco-las, as quais incluem tarifas de importação e sub-sídios à exportação e à produção interna.

14 O pagamento de prêmio aos Processadores é considerado como transferência dos contribuintes aos consumidores e faz parte do cálculo do CPS – consumer pricesupport.

Fig. 2. Composição da Estimativa de Apoio ao Produtor, 1995 - 2005.Fonte: OCDE (2007)

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 14

A reforma da política de sustentação de preçosbuscou ampliar o uso de medidas que estimulamo setor privado a comprar produtos junto ao agri-cultor por preço mínimo, em substituição às Aqui-sições do Governo Federal (AGF), cujo uso ficourestrito a determinadas regiões e sujeito às dota-ções de recursos orçamentários fixadas para essefim.

O volume das aquisições realizadas em 2005, sobo amparo dos vários programas de sustentaçãode preços, foi de 10,9 milhões de toneladas, sen-do que o milho e a soja respondem pela quasetotalidade dessa cifra, com aquisições da ordemde 4,5 milhões de toneladas, equivalendo a 11 %e 8 % de sua respectiva produção.

No que se refere ao apoio ao produtor, represen-tado pela transferência de recursos, implícita naconcessão de crédito, cabe destacar que a políti-ca agrícola também experimentou avanços aominimizar a intervenção do governo. Assim, amaioria dos empréstimos ao setor rural provémde fontes privadas não bancárias, nos mercadosinterno e externo. Para isso, foram criados novosinstrumentos de financiamento do agronegócio,baseados no lançamento de diferentes títulos decrédito por meio dos quais são captados recursosprivados dentro e fora do setor.

O valor absoluto do PSE estimado pela OCDEpara o Brasil, em 2005, foi de R$ 10.018 milhões,

sendo R$ 3.081 milhões referentes ao MPS, equi-valente a 30,7,% do apoio total, R$ 6.757 milhõesem pagamentos baseados no uso de insumos eR$ 180 milhões em pagamentos baseados emoutras formas de transferência.

O apoio médio concedido pelo Brasil aos produ-tores sob a forma de sustentação de preços (MPS)de 2002 a 2004, medido por produto, apresentouníveis elevados para arroz (17,2 %) e algodão(12,3 %), seguidos de trigo (6,1 %) e milho (5,8 %),e níveis iguais ou inferiores a 3 % para os demaisprodutos. Em 2005, o apoio concedido por meioda sustentação de preços (MPS) foi elevado paraarroz (43,8 %) e milho (25,5 %), seguido de trigo(9,2 %) e cana-de-açúcar (0,9 %), o que em ter-mos absolutos equivale a dizer que o milho e oarroz respondem pela quase totalidade desseapoio, conforme indicado na Tabela 3.

A ocorrência de níveis negativos de apoio a pre-ços, tal como no caso das carnes bovina e suína,leite e aves, pode ser atribuída ao fato de que emseu cálculo foi deduzido o apoio contido no mi-lho, principal insumo utilizado na sua produção,para que este não seja contado em duplicidade.Esse apoio negativo revela que seus produtoresforam taxados, ou seja, que a transferência derecursos para os produtores de milho se deu emdetrimento de seus produtos.

Em 2005, o aumento nos níveis de apoio, divulga-dos pela OCDE, suscitou certa apreensão pelo fato

Tabela 3. Composição do commodity MPS1 (em R$ milhões).

(1) Os dados da Tabela 3 referente aos 12 produtos nela constantes correspondem a 70 % do total de apoio de preços conferido ao produtor rural. Os30 % restantes foram obtidos por extrapolação baseada no valor da produção.Fonte: OCDE (2005).

TrigoMilhoArrozSojaCana-de-açúcarAlgodãoCaféLeiteCarne bovinaCarne suínaAvesMPS total

00

5720

-5,35800

1,111000

-3,675

1995

0000

-3,78000

438000

-3,342

1996

048

00

-4,19640

427-13

-5-9

-3,744

1997

31754

00

-1,51500

427-201

-97-171-772

1998

0000

-3,697000000

-3,697

1999

11,369

23700

300

-121-295-249-350621

2000

00

3800000000

38

2001

00

37200000000

372

2002

0163

1,02400

2040

-22-33-21-36

1,280

2003

360

1,19300

19500000

1,424

2004

1302,4112,194

0113

00

-173-259-622

-1,3072,486

2005

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200715

de contrastar com a magnitude dos dispêndiosreferentes ao Pesa, à política de preços agrícolase à securitização da dívida agrícola, dando ense-jo à elaboração deste trabalho. Entretanto, essarelação entre gastos do governo e níveis de apoioé improcedente pelo fato da metodologia de cál-culo do PSE considerar, conforme mencionadoanteriormente, o valor das transferências aos pro-dutores com base nos diferenciais entre os preçosinternos e externos, e entre as taxas de juro demercado e as aplicadas nos financiamentos àagricultura. Assim, tem-se que apesar dos recur-sos do crédito rural oriundos das exigibilidades15

não implicarem em gastos para o governo, osbenefícios implícitos nesses créditos aos produto-res são devidamente incluídos no cálculo do apoioa eles concedido, o que reforça ainda mais a im-propriedade de se avaliar, ainda que de formaaproximada, o apoio ao produtor com base nosgastos do governo.

A explicação16 para o aumento do PSE de 4 % em2004, para 6 % em 2005, está baseada nos se-guintes elementos:

a) Na safra 2005-2006 ocorreu uma elevaçãosubstancial na utilização do PEP, beneficiando umaprodução de 10,9 milhões de toneladas, princi-palmente milho e soja, sendo esta a primeira vezque esse apoio foi concedido para a soja.

b) mudança nos critérios de cálculo do PSE:

• A taxa de juro de referência nos créditos de in-vestimento do BNDES (TJLP + 5%) foi substituídapela Selic17.

• A distribuição temporal dos créditos de comer-cia-lização e de capital de giro foi revista, pas-sando a levar em consideração dados mensaisao invés de anuais.

• Algumas medidas da política de reforma agrá-ria e do Pronaf passaram a ser incluídas no cálcu-lo do PSE.

• Os gastos em extensão rural (R$ 378 milhões)que faziam parte de outro indicador de apoio, oGeneral Services Support Estimate (GSSE), tam-bém passaram a ser incluídos no cálculo do PSE.

c) Valorização do Real, cujo efeito foi diminuir opreço externo em Real, aumentando assim suadiferença em relação ao preço interno e, conse-qüentemente, o valor das transferências ao pro-dutor. No cálculo do PSE de 2005, foi utilizada ataxa de câmbio de R$ 2,43, enquanto em 2004,essa taxa foi de R$ 2,93.

d) Redução de aproximadamente 6 % no valor dareceita bruta dos produtores em 2005 (R$ 181,7bilhões), relativamente a 2004 (R$ 170,9 bilhões),o que afeta negativamente a magnitude do PSErelativo.

ConclusãoAs estimativas de apoio ao produtor rural feitaspela OCDE têm significado mais amplo do que oatribuído ao subsídio, segundo diferentesconceituações, como é o caso da OMC, e obede-cem a critérios metodológicos identificados coma realidade de seus países membros. Esse fatosuscita questionamentos quando aplicados aospaíses em desenvolvimento devido às suasespecificidades em termos de política agrícola,deficiências de infra-estrutura e ambientemacroeconômico.

O apoio concedido pelo Brasil à agricultura, ex-presso em termos de gastos do governo, não temo mesmo significado que o PSE calculado pelaOCDE em função de sua metodologia, razão pelaqual o valor desse indicador é acentuadamentemais elevado do que aqueles gastos18, porque napolítica de subsídio ao crédito, os gastos do go-verno correspondem aos desembolsos naequalização de juros, enquanto a OCDE estima o

15 Referem-se à parcela dos depósitos à vista nos bancos comerciais destinados obrigatoriamente ao financiamento da agricultura, cujo montante corresponde a 8,4 %do crédito rural.

16 Para muitos países e produtos da OCDE as estimativas de MPS e PSE, segundo Tangerman (2005) flutuam acentuadamente ao longo do tempo como reflexo devariações de taxa de câmbio e de preço no mercado internacional.

17 Sistema Especial de Liquidação e Custódia.18 Em 2005, o PSE foi estimado em R$ 10 bilhões enquanto os pagamentos e dispêndios do Tesouro Nacional com programas e políticas agropecuárias foram de R$ 3,5

bilhões.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 16

apoio com base nas transferências ao produtorimplícitas no diferencial entre as taxas de merca-do e as efetivamente pagas pelos produtores.Analogamente, em relação à política de susten-tação de preços, os gastos do governocorrespondem aos desembolsos na equalizaçãode preços, sendo que a OCDE considera o valordas transferências ao produtor implícitas no dife-rencial entre os preços internos e externos.

A partir do início da década 1990, as reformasliberalizantes empreendidas pelo Brasil, em suapolítica agrícola, fizeram com que se situasse entreos países que menos subsidiam a agricultura, con-forme atestado pela OCDE em seu referido estu-do sobre a agricultura brasileira. De 2002 a 2004,o PSE do Brasil foi 3 %, o segundo mais baixoentre os países estudados pela OCDE, aumentan-do para 6 % em 2005. Contudo, sua posição rela-tiva entre esses países continua praticamenteinalterada. Essas cifras contrastam com as dospaíses desenvolvidos, como é o caso de EstadosUnidos (16 %), OCDE (29 %), União Européia (33%) e Japão (56 %).

Em 200, o apoio concedido pelo Brasil aos produ-tores, por meio da sustentação de preços (MPS),foi estimado em R$ 3,1 bilhões e ficou limitadopraticamente ao milho e ao arroz, cujos níveisrelativos de apoio foram 25,5 % e 43,8 %, respec-tivamente. Esse apoio foi negativo para as carnesbovina e suína, leite e aves, pois em seus cálcu-los foi subtraído o apoio contido no milho utiliza-do como insumo na sua produção.

O aumento do PSE do Brasil em 2005 é explicadoprincipalmente por mudanças em sua metodologiade cálculo por parte da OCDE e pela maior utili-zação dos instrumentos de política agrícola emapoio aos agricultores, devido à queda de preçosno mercado internacional e ocorrência de estia-gem em importantes regiões produtoras. Assim,essa elevação do apoio aos produtores teve um

caráter emergencial e transitório e não sinalizauma tendência de crescimento ou retomada doprotecionismo, havendo inclusive a expectativade que ocorresse uma diminuição no valor do PSEde 2006.

A divulgação dos níveis de apoio à agriculturabrasileira pela OCDE, assim como o faz para seuspaíses membros e outros países não membros, éextremamente importante para o Brasil, na medi-da em que constitui um aval ao seu baixo nívelde subsídio agrícola, e ao caráter liberalizante desua política agrícola, além de dar transparênciaquanto à composição das medidas adotadas poressa política. Assim, contribui também para con-solidar a imagem da agricultura brasileira e a po-sição vantajosa do País em relação aos seus prin-cipais parceiros comerciais no esforço deliberalização comercial empreendido no âmbitodas negociações multilaterais e regionais.

ReferênciasOCDE. Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico. Análise das Políticas Agrícolas do Brasil.[São Paulo], 2005.

OECD. Organisation for Economic Co-operation andDevelopment. Agricultural Policies in non-OECD Countries:monitoring and evaluation.[Paris], 2007.

OECD. Organisation for Economic Co-operation andDevelopment. Producer and consumer support estimates:user's guide.[Paris], 2006a.

OECD. Organisation for Economic Co-operation andDevelopment. Agricultural Policies in OECD Countries: at aglance: 2006 edition.Paris, 2006b.

TANGERMANN, S. Is the concept of the producer supportestimate in need of revision? Paris: OECD, 2005. 22 p.(OECD Food, Agriculture and Fisheries. Working Papers, 1).

WTO. World Trade Organization. WORLD Trade report2006: subsidies, trade and the WTO. World Trade Report,Geneva, 2006. Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/reser_e/world_trade_report_e.htm >. Acesso em: 9dez. 2006.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200717

Vegetable oils assubstitutes fordiesel oil1

1 Trabalho apresentado no 2º Simpósio de energia do Hemisfério Ocidental.2 Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio à época.

José Israel Vargas2

IntroductionThe establishment of the transportation structurein Brazil based on a road network led to adependence on liquid fuel. Despite the effort toalter this picture it is expected that for the next 20years there will be no significant change on thepattern of mass transportation. The present fleet ofmore tan 8 million vehicles is expected to reachabout 30 million by the end of this century.

Liquid fuel demand for ordinary spark-ignitioncarburetor type engines (OTTO cycle) can be metby the gasoline and alcohol production as alreadydiscussed during this SYMPOSIUM. Theforecasted alcohol production of 10.7 million cubicmeters will permit a mixture of at least 10 % in thegasoline and to feed a fleet of more than 2 millionalcohol powered cars. The total fuel demand forOTTO cycle vehicles will grow from 16.7 in 1981to 18.8 million cubic meters in 1985 (Table 1).

The popularity of diesel engines increasedbecause they are built in a simpler and morerugged design and utilize cheaper fuel, giving

higher thermal efficiency. This means moreeconomical consumption for a given load to acertain distance. These technical advantages inaddition to the low diesel oil price rapidlyincreased its demand in Brazil. It is expected thatsuch demand will grow from 19.4 in 1981 to 25.7million cubic meters in 1985.

Because of the Brazilian fleet characteristics andbecause of dependence of imported petroleumthere is a strong effort in promoting an equilibratedsubstitution of the diesel oil coupled with otheralternative energy program. Since diesel oil is thefraction to be replaced, attempts are being madeto use vegetable oils as fuel for diesel engines inaddition to modification of the cracking structureat the refineries.

Vegetable oils present comparable characteristicsto diesel oil concerning viscosity, setting point,carbon residue and cetane number (Figure 1). Thecalorific value varies according to the species butthey are close to the heating value of the diesel.On the volume basis very small differences canbe detected (Table 2). These characteristics made

Table 1. Liquid fuel demand in the period 1980–1985 (106 m3).

OTTO cycle (Gasoline Equiv.)Diesel cycle

Fuel oil

Liquid fuels

16.719.4

21.5

1981

18. 825.7

26.9

1985

18.323.9

24. 3

1984

17. 822.3

23.0

1983

17.220.8

22.6

1982

Years

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 18

Table 2. Calorific value of some vegetable oils.

Oil

DieselPeanutSoybeanCottonBabaçuCastor beansCoconutSunflowerRapeseedPalmJoannesia princepsJátropha pohliana

10,2008,8448,812

8,7598,4358,3428,6809,100

9,2369,1048,4398,449

Calorific value

Kcal/kg

Figure 1. Comparisonbetween vegetable oils anddiesel oil.

8,4008,0578,1258,0507,7698,0007,8698,2818,4058,3307,7377,130

Kcal/L

-86.786.485.982.782.785.189.290.589.282.784.9

-95.996.795.892.095.293.798.6

100.099.292.082.8

Differenceto diesel

vegetable oil as the best renewable energy sourceto substitute partially or totally for diesel oil.

Use of vegetable oil on diesel enginesThe first mention about the possibility of usingvegetable oil in diesel cycle engines was doneby R. Diesel himself in the introduction remarks of

the work “The Diesel Engines” written by A. P.Chalkley (1911). R. Diesel pointed out that in 1900,the OTTO Society exhibited during the UniversalExhibition, in Paris, a small Diesel engine whichran on vegetable oil without any modification. TheFrench Government requested such study in orderto use the peanut oil produced in large quantitiesin the French Colonies.

Despite the potentiality of vegetable oil as fuel inthe Diesel engine it was not used in large scale.Soon after the first World war the matter was raisedagain. Tests made using palm oil and cotton oil ina semi-Diesel engine confirmed the efficiency ofvegetable oils although some difficulties werepointed out (Mathot 1920). The amount of residuesafter combustion of pure vegetable oil was high,but it could be prevented with propermaintenance. About the same time tests werecarried out by the Congo General Co., to evaluatethe performance of a Drott engine (semi-Diesel)using palm oil. Results revealed that consumptionwas proportional to the heating value (cit Mensier1952). During some years Rouston engines wereset to run on 1ocally produced palm oil. No majorproblems were detected.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200719

Cautier (1931, 1933) undertook an extensiveevaluation of vegetable oils as alternative for Di-esel oil. Two engines of 300 HP and 600 HP weretested using palm oil, peanut oil and castor beansoil as fuel. The main conclusion was that thethermal efficiency was higher for vegetable oilsthan Diesel oil; consumption was proportional tothe calorific value; minor modifications werenecessary and no detectable effect on the engineswas found after a 80 hours test.

Schmidt (1932) tested oils from soybean, peanutand palm oil on a small Mercedes Benz Dieselengine. Although no major problems weredetected, difficulty was experienced at startingwhich could be overcome by starting on Dieseloil. Due to the higher viscosity of the vegetableoil proper atomization was not obtained causingimperfect combustion. The high viscosity couldbe reduced by mixture with 20 to 30 per cent ofDiesel (Tu and Ku 1936). Similar results wereobtained by Howes (1936) and Hubner and Egloff(1936) for peanut, coconut, soybean and palm oils.

Manzela (1935) tried peanut oil in a 2-cycleengine on a 12 HP engine running at 52O rpm.Among his main conclusions it should be stressedthat: operation with peanut oil offers no difficulty;fuel consumption was higher than that for Dieseloil at normal load and lower at reduced loads;thermal efficiency was always high for peanut oil;and ignition was somewhat retarded but the maximpressure was lowered.

Gaupp (1936, 1938) carried out similar tests usingoil of soybean, sesame, peanut , palm andsunflower in a 4 stroke, two cylinder MercedesBenz engine, compression rate of 14-5:1,speed750 rpm and an output of 25 HP. The consumptionwas 12 % to 15 % higher than when using dieseloil. Conclusions were similar as in previous workand engines should start on diesel oil; the vegetableoil should be filtered and heated. Tatti and Sertori(1937), likewise, found that at temperatures below10 oC the viscosity of the peanut oil was high,rendering a difficult atomization. Oxidation of theoil injected on the combustion chamber wouldform a carbon deposit on the cylinder wall. Walton(1937} reported the need of pre-heating severalvegetable oils. Fuel consumption was 10 per cent

higher than Diesel oil in a 3.000 miles road test.No particular damage was noticed in the engine,but pump elements suffered from poor filtration. Itwas reported a cleaner exhaustion and that Die-sel knock was practically eliminated. The amountof sludge produced by vegetable oils was inverselyproportional to the iodine value.

Judge (1941) based on these experimentsrecommended vegetable oils (peanut, cotton,soybean and palm) as substitute for diesel oil. Fieldtest using a 10 ton truck powered with a Gardnerengine indicated that pre-heating vas necessaryand Diesel oil should be used at starting.Consumption in a 3.000 miles road test was 10 %higher than diesel oil. Hamabe and Nagao (1941)reached similar conclusion using soybean oil in a10/11 B.H.P. single cylinder diesel engine.

Twelve vegetable oils from native or cultivatedspecies in India have also been tested (Aggarwalet al 1952). Peanut oil did not present any problemat starting while Karany, cotton seed, rape,coconut and sesame required a slight warming.Castor beans, kapok and mahua showed difficultyat starting, and motoring became necessary.Combustion was complete for all tested oils, withexception of castor beans. The maximum loss ofpower was 13 per cent for castor beans oil,whereas for cotton seed oil such loss waspractically nihil. In Brazil, the interest for vegetableoils as substitute for Diesel oil initiated in thetwenties (CARVALHO, 1936). A series of tests wascarried out with cotton seed, babaçu and castorbeans oils (SÁ FILHO et al., 1980). In 1943, aTechnical Commission prepared a report about theuse of vegetable oil as fuel. Evaluation tests wereconducted with a truck powered with a Herculesengine using cotton seed oil. After 1.200 km roadtest, a light carbon deposit was detected. Furthertests with a Perkins engine using pre-heated cottonseed oil for 3.000 km revealed no such deposit. Itwas concluded that pre-heating was necessaryto adjust oil viscosity and that injection pressureshould be equal or superior to that established forDiesel oil (SÁ FILHO et al., 1980).

During the period 1976-1977 a large number ofevaluations were carried out under request of the

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 20

Brazilian Government. Several vegetable oilswere tested pure or in mixture with diesel oil.These results will be discussed ahead.

Blends diesel-vegetable oilsAs already indicated, studies using pure vegetableoil as fuel for diesel engines have shown minordifficulties which could be eliminated by blendingvegetable oils and diesel oil. The literature onblends of vegetable oils and diesel oil is veryscarce. Although several studies have beencarried out in Brazil, they have not beenpublished. Tests carried out by the Instituto Nacio-nal de Tecnologia and Centro Técnico Aeronáuti-co indicated that a mixture of 20 % of soybeanresulted in a 1 % power loss and a 15 % increasein consumption. On the other hand using babaçuoil in the same mixture there was an powerincrease in also a higher consumption (Table 3).

Several tests were carried out by diesel vehiclesmakers in the period 1976-77. The “Detroit Allisondo Brazil” evaluated blendings of diesel with 10,20, 30 and 40 per cent of palm oil or soybean oilin the Detroit Diesel 4-53 engine. Cycles of 1.500,2.000, 2.500 and 3.000 rpm were used (Figures 2and 3). Blends up to 30 % of vegetable oil did notalter fuel characteristics (Table 4). The per-formance analysis indicated that power wasslightly higher for blends with 30 % of vegetableoil; torque was not affected whereas consumptionwas somewhat higher (Table 5). Similar resultswere obtained with a M.W.M. D-226-02 engine

Table 3. Performance of engine perkins D 4203 running on Diesel oil or blend with soybean oil and babaçu oil.

rpm

12001400160018002000220024002600

32.038.944.349.053.858.061.463.1

Power (CV)

0

30.738.343.248.053.557.161.264.1

Soybean

32.138.844.149.053.757.661.364.1

Babaçu

218.7209.2202.5199.7196.0201.1203.2209.9

Consumption (g/CV.h)

0

232.8215.5212.8201.2207.6208.7209.7207.5

Soybean

224.6214.2209.0208.0207.9211.6209.9207.3

Babaçu

6.46.46.05.65.15.04.34.3

Smoke (UV)

0

6.36.25.65.55.24.84.84.2

Soybean

6.05.65.44.74.44.53.83.6

Babaçu

Vegetable Oil Blended (20%)Speed

Figure 2. Performance of the engine using 70% diesel:30% soybean oil blend ( - ) and 100% diesel oil (----).

testing different mixtures of Diesel oil and babaçuoil (Table 6). As expected, consumption increasedwith the increase of the percentage of babaçu oil.Power maintained practically non altered inmixtures with 25 % of babaçu oil. Smoke wasreduced almost linearly with the increase ofbabaçu oil in the mixture. Oil performance ofcotton seed, soybean, castor beans, peanut andbabaçu oils blended with diesel oil were testedby the Mercedes Benz of Brazil. Castor beans oil,because of it viscosity proved not suitable to be

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used in diesel engines. Babaçu oil required pre-heating in order to be used at temperature closeto 20 oC.

Among studies with mixtures of Diesel oil andvegetable oils, tests carried out by the Centro Téc-nico Aeronáutico deserve some consideration.Soybean, Croton seed and babaçu oils wereevaluated in mixtures of 10,20 and 50 % at acompression rate of 16:1. The Croton oil, pure orin mixture, increased the engine power, whereasother oils revealed slight reduction in power andincrease in consumption. Thermal efficiency wassimilar to the Diesel oil. Blends with 20 % ofsoybean oil or 20 % of babaçu oil confirmedprevious experiences (Figure 4).

All carried out tests demonstrated the possibility ofusing mixture up to 30 % of vegetable oils with Die-sel oil. Mixtures required only minor adjustment ofthe injector and of the amount of fuel injected. Longrun tests were required in order to evaluate carbondeposits, durability and corrosion.

Figure 3. Performance of the engine using 70 % diesel: 30 % palm oil blend ( - ) and 100% diesel oil (----).

Table 4. Characteristics of blends with different proportion of palm oil and soybean oil

Performance

Consumption2.800 rpm (g/ CV. H)Torque2.200 rpm (hk/m)Power2.800 rpm (CV)Smoke1.400 rpm (BOSCH)

148.36

40.98

26.48

6.40

Palm Oil %

0

151.61

40.97

28.28

6.00

10

150.38

40.62

27.24

6.20

20

152.97

41.09

27.08

6.20

30

151.58

40.49

28.65

6.50

40

151.25

41.13

27.83

5.50

Soybean Oil %

0

146.92

41.43

26.13

6.50

10

150.22

41.44

28.55

6.30

20

152.35

41.54

29.21

5.80

30

153.13

41.46

29.11

6.10

40

Table 5. Performance of mixture of palm oil and soybean and diesel oil.

VegetableOil %

0102030405060

100

0.8300.8340.8420.8500.8600.868

-0.908

Palm Oil

Density (g/cm²)

35.838.742.447.454.162.7

-196.0

Viscosity (SSO)

626263646668

-260

Flash Point (°C)

0.8280.836

-0.8560.8660.8720.8840.920

Soybean

Density (g/cm²)

-

-45.551.556.165.6

163.7

Viscosity (SSO)

5759

-62656870

330

Flash Point (°C)

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 22

Table 6. Performance of different mixtures of diesel and babaçu oil.

Performace

Power(CV)

Consumption(g/CV.h)

Smoke(Boch)

10001400180022002800

10001400180022002800

10001400180022002800

rpm

15.623.029.733.936.4

182.4176.0171.1170. 8197.3

5.14.73.32.1

4.0

Percentage of Babaçu oil

0

15.522.829.533.937.0

185. 5181.2180.5177.7202.3

4.94.53.42.53.6

15

15.422.529.533.236.4

187.3182.9181.8179.2206.1

4.64.53.22.23.6

20

15.422.429.333.036.4

188.7185.1182.6181.8206.0

4.34.02.42.13.4

25

15.322.429.232.836.1

197.2191.0188.2189.5213.7

3.43.42.62.03.6

50

14.921.728.130.633.6

211.6209.7204.9212.8234.9

3.53.32.41.21.5

100

Figure 4. Blends of diesel oil : 20 % soybean (A) or 20 % babaçu (B).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200723

Requeriments for vegetable oilStudies of vegetable oils as a substitute for dieseloil reported in the literature have indicated a setof characteristics which need to be considered.Main points to be established are the flash point,density, viscosity, setting point, calorific value,chemical constitution and carbon residues. Resultsso far reported for more than 20 vegetable oilscould be grouped according to the engineperformance in order to give a better insight of theconsequences of using vegetable oil as substitutefor diesel.

Startability

All available reports point out to the importanceof the temperature when the tests were made. Thistemperature effect on startability is small in tropi-cal countries. It has been demonstrated thatvegetable oils differ greatly in the setting point.The difficulties found in startability of purevegetable oil can be overcome by usingmechanisms to ensure proper fluidity by pre-heating. Differences were found for the same oilaccording to local temperature due to differencesbetween engines and fuel in injectors. Startabilitypresented no major problem where diesel oil wasadded to vegetable oils.

Smoothness of Running

Most of the tested vegetable oil gave a smoothrunning; castor beans and coconut oils, however,presented defective operation. Probably thedifficulty was caused by the higher viscosity ofthe castor beans oil and by the high setting pointof the coconut oil. As already pointed out pre-heating with exhaustion fumes could eliminate theroughness of running.

Studies are need concerning the roughness ofrunning due to ignition problems. The lag phase islonger for vegetable oil than for diesel oil.However even in cases which the lag was longerthe operation was smooth, due probably, to theprogressive way in which the pressure takes place.

Nature of Exhaust

The combustion for all but the castor beans oil wascomplete. The completeness of combustion wasclearly indicated by the colorless exhaust (Figu-re 5).

Figure 5. Smoke for different vegetable oil.Source: CTA/STI

Power Output

Heating value differences of vegetable oils indicatethat they will develop less power than diesel oil.Reported differences lead to a 0 to 37 % reductionin power. A great portion of the power loss can berecovered by appropriate adjustment of operatingconditions such as injection timing, pre-heatingand suitable injector. Factors connected withengine design, such as the shape of thecombustion chamber, may also have considerableeffect and the problem needs full investigation.Likewise attention to preliminary data indicatesthat high H/C ratio favors fuel combustion.

Specific Fuel Consumption

As expected, all studies with vegetable oilsreported that consumption was higher than thatof Diesel oil. There was a good correlationbetween calorific value and consumption.However the consumption values are lowerthan expected because of the more efficientcombustion (Figure 6).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 24

The variation in consumption reported in theliterature should be explained in terms ofdifferences in the engine and in the fuel injector.In general, vegetable oil consumption was 10 %to 15 % higher than that of diesel oil.

Brake Thermal Efficiency

The brake thermal efficiency is a good indicatorof fuel performance since it expresses the netpower output in terms of the total energy input. Inno case the thermal efficiency of the vegetableoils was lower than that of diesel oil. A fewexamples like cotton (Aggarwall, 1952) or peanutoils (MANZELA, 1941) gave higher thermalefficiency. In brief, it can be stated that withoutany appreciable change in design it is possible toget similar or superior thermal efficiency to thatobtained by diesel oils.

Carbon Residues

Diesel oil may vary according to the possibility offorming carbon deposit. Carbon may start to beformed on the fuel injection nozzle leading toreduction of power output and smoky exhaust.Aggarwall (1952) indicated that more deposits areformed when the engine is running on vegetableoils than on Diesel oil. However the amount ofdeposit was not high enough in order to preventefficient operation. Additional data (MANZELA,

1935; GAUPP, 1937; WALTON, 1938) revealedsmall deposit in long test using larger engines, butit is not serious problem.

Corrosion

Corrosion has been reported in some works,whereas in other no meaningful difference wasnoted (AGGARWALL, 1952). Besides the attackto cooper (MANZELLA, 1966; TATTI; SERTORI,1937) no other serious corrosion effect was notedeven using oil with high acid value. More detailedstudies in the area are required.

Transfusion of vegetable oil into fuelThe studies carried out aiming at the improvementof the production of light fuel from petroleum ledto the development of great progress in crackingand the use of catalysers.

The expansion of such researches allowed thedevelopment of the industry to produce fuel fromshale or lignite. The progress obtained in thecracking of petroleum brought great interest inusing the vegetable oil as raw material in theproduction of light fuel. Thermal or catalyticcracking decomposes the fatty acids intohydrocarbons. Subsequent cracking of thesehydrocarbons is somewhat similar to petro1eumcracking. The cost of the process has limited itsuse (CHANGE; WAN, 1947; LOURY, 1945;MENSIER, 1945; 1947).

The vegetable oils may also be converted into esterwith improved performance in diesel engines. Thevegetable oils are composed mainly oftriglycerides. The reaction of these glycerides withmono alcohol in presence of sulphuric acid forman fatty acid ester. The alcohol used can be ethanolor methanol.

Such product can be used directly in the dieselengines without any modification. After a 20.000km test the consumption was 5.3 % higher onweight bases than diesel oil (MENSIER, 1952).

Preheating was not needed, neither corrosion norcarbon deposit was detected.

Figure 6. Specific consumption of vegetables oils.Source: CTA/STI

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200725

Selected oil cropsAmong the favorable features of the carburantvegetable oil it should be stressed the great numberof oil species adapted to diverse ecologicalconditions and the existence of annual or perennial,cultivated or native species. These characteristicswill give high flexibility in any alternative fuelprogram because it will permit the production ofraw material in different ecological and socio-economical conditions.

The selection of the species to be included in asuch a program will have to consider that:

1. vegetable oils will be used mainly in mixture;

2. any vegetable oil can be used alternatively;

3. the participation of each species will have tobe considered in terms of space and time;

4. the capacity of production of reproducing ma-terial will determine the number of species;

5. industrial transformation presents no majordifficulty.

A. Species for immediate use

Annual crops will prevail among the species tobe selected in a short run program. A sensibleincrease in oi1 production can be achieved usingthe known annual species, particularly, thosespecies for which agricultural technology andseeds are available. Other annual species shouldbe better evaluated before being included in alarge scale program.

1. Peanut (Arachis hipogeae)

Several wild species of the genus Arachis occurin Brazil and Bolivia. From the economicalstandpoint only the species hipogaea iscommercially grown. Three types are knownnamely, Virginia, Spanish and Valencia. TheVirginia type, not cultivated in large scale in Brazil,has a long cycle (140 - 160 days) conditioninghigh productivity. The Spanish and Valencia typesare commonly grown all over the country. Thevegetative period is shorter (120 days) and they

may be planted twice a year in most of the country.The so-called dry season planting usually presentslower yields than the October-November seasonplanting. More than one million hectares hasalready been planted in the past, but today only300.000 hectares are being cultivated, mainly inSão Paulo. The oil average yield is of 500 kg/ha,although the available data indicate the possibilityof obtaining more than 1000 kg /ha. More than 50million hectares in the Center-west and Northeastregions have adequate ecological condition forplanting peanut. Additional areas may becomeavailable, but due to high humidity during thevegetative growth efficient disease control will benecessary. Experiments in the cerrado area havegiven promising results.

Peanut is suitable to be grown by small farms. Theavailable technology and equipments offer goodpossibility of being produced not only in small farmbut also in extensive areas totally mechanized.Besides this high potential, in isolated area peanutcan be consorted with crops like cassava or someperennial crops. Due to its short vegetative cyclepeanut fits well as a second crop to be cultivatedin the renewal area of sugar-cane plantation(roughly 20% every year) . The alcohol distilleriescould be converted into energy farms by producingalcohol, vegetable oil and bagasse pellets for directburning.

2. Sunflower (Helianthus annuus)

This oil crop is mainly grown in the USSR, Argen-tina. USA, and Australia. Its yielding potential issimilar to the peanut although very littleexperience is available in the country. Manyattempts have been done in the past to introducethe sunflower in commercial plantation but theyfailed despite the interest of the oil industry. Oneof the limiting factors was the leaf rust that attackedthe susceptible varieties. At present new varietiesand hybrids are available which increase thepossibility of obtaining high yields.

The range of climatic conditions under which thesunflower can be cultivated is very large,Sunflower can be grown in area of peanut but it ismore adapted to area with higher humidity during

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 26

the growing season, 7 the area potentiallyfavorable to plant sunflower covers almost 150million hectares, The broad adaptation permitsunflower to be grown below latitude 20o Southreaching the north region of Rio Grande do Sul.Sunflower can also be cultivated during the rainingseason or in the so called dry season in regionswith adequate precipitation.

There is not reliable indication about the yieldingpotential in different areas. The small cultivatedarea has not yet allowed a proper demonstrationof productivity in different ecological conditions.Values reported vary from 500 to 1000 kg of oilper hectare. Sunflower also fits for associatedplanting with crops like cassava. Early varietiescould be planted in renewal areas of sugar-caneplantation.

3. Soybean (Glycine max)

The Brazilian experience with soybean givessupport to any program aiming at a massiveproduction of vegetable oil. The Brazilian averageyield is comparable to the best productivityobtained for this crop in the world. In the State ofSão Paulo where agricultural technology andappropriate equipments are available, the averageyield is more than 2 tons per hectare. Besides that,scientific development involved with knowledgeof this species and its interaction with differentecological conditions is well advanced in thecountry. It is possible to make safe estimate of futureprogress in yield.

Oil yield (kg/ha) is low considering a 18 % oilcontent in the present varieties. It is possible thatselection may improve the oil production per hec-tare. However the present yield of 360 kg of oilper hectare can be raised to 440 kg/ha in the nextyears.

Soybean potential is similar to that of sunflower.Since soybean demands low hand labor it isrecommended particularly in the expansion ofthe new agricultural frontier. The successfulintroduction of soybean in the cerrado areaconfirms such broad potential of adaptation.

Soybean has also been cultivated in renewal areaof sugar-cane plantation. Since sugar-cane isplanted on March, early varieties are required toharvest on time.

4. Rapeseed (Brassica campestris)

In the last few years there has been a growinginterest on this species to produce edible oil. Ex-perimental plantations have been done in thesouth of Brazil where ecological conditions favorrapeseed plants growth. Adapted to be plantedfrom February to March, it has been indicated ascrop to come after soybean or some other annualcrops.

The productivity so far reported is good althoughit can be raised by the use of new varieties. Somevarieties with high erucic acid content can not becultivated for edible oil, but may be used forcarburant oil. In Canada yield varies from 700 to1000 kg of oil per hectare. Productivity from 500to 800 kg/ha has been obtained in the south ofBrazil. Despite its great potential further studiesare required before its extensive use.

5. Other annual species

Several other species will have to be evaluatedto confirm their potential in different ecologicalconditions. Among these species it is worth tomention sunflower (Carthamus tintorius), sesame(Sesamum indicum), and linseed (Linum usitatissimum). Some wild species can be found, whichdeserve further investigation.

B. Perennial crops

Several perennial crops are available with highproduction of oil per hectare. However, thesespecies demands longer period of time tocontribute to an oil program. Besides the wellknown species some very promising native specieshave been reported.

1. Palm Oil (Elaies guineensis)

The growth of palm oil production in the tropics isplacing it among the most important oil crops in

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the international market. Its yielding capacity isthe main reason for the increased production insome Asiatic and African countries. Oilproductivity has been reported to reach 4 to 5 tonsper hectare. Despite the possibility of growingpalm oil in Brazil, although a few plantations havegiven high productivity.

More than 80 million hectares have optimumconditions for palm oil production. This area ismainly concentrated in the west Amazônia withsmaller areas in the North of Pará, South Amapáand Bahia. For this reason any program consideringthe palm oil as source of vegetable oil should takeinto account the distance to consumer centers.

The best yielding planting material is the hybridtenera obtained from the cross between psiferaand dura. Ivory Coast and Malasia are among themost important seed producers. Each hybrid seedcosts from 50 to 60 cents of US dollars. In a firststage of the program, seeds will have to beimported until locally developed hybrids can beproduced. Tissue culture maybe used for rapidmultiplication of the best genotypes.

These limitations make difficult a significantparticipation of palm oil in a program of carburantoil within a period of 5 to 10 years.

2. Coconut (Cocus nucifera)

Coconut may represent a dependable perennialoil crop in the Center-west, part of Amazonas andSoutheast region comprising Rio de Janeiro andEspírito Santo. Requirements for humidity andluminosity are also met at regions favorable forpalm oil. Despite its popular use, very little hasbeen done in terms of agricultural managementand variety development. Yield is usually high,reaching from 1.5 to 3.0 tons of oil per hectare.Restrictions presented for palm oil hold true forthe coconut.

3. Macauba (Acrocomia sclerocarpa)

Macauba probably originated either from Indiawhere is called gru-gru or from Brazil. Itsspontaneous distribution in the country has

suggested that Brazil may be its center of origin ordiversification. It is well adapted in the Center-west including Rio de Janeiro, North of São Pauloand South of Minas Gerais. A close related speciesA. totae is commercially exploited in Paraguai.

Like most of the palm trees, macauba requires from4 to 8 years to initiate fructification. An adult palmfructifies almost the whole year. Experimentalplantations have given productivity from 4 to 9tons of oil per hectare. The range of productivityestimated from the available data indicates thatmacauba may play a role as an important palmoil in a carburant oil production program.

4. Babaçu (Orbynia Martina)

The native populations of babaçu covering morethan million hectares represent a great potentialfor production of alcohol, coke and oil. Consideringthat 60 kg of oil maybe obtained as by-product ofthe transformation of the fruits collected in onehectare, almost one million tons of oil can beproduced. Difficulties related to the collection andprocessing of the fruits recommend further studiesbefore deciding about the participation of babaçuin an oil program.

5. Avocado (Persa americana)

The pulp of the avocado fruit gives a high qualityoil used mostly in cosmetics or for humanconsumption. Yield of more than 5 tons of oil perhectare have been reported. The range ofecological conditions where the species can begrown deserves further investigation. The need ofvarieties with different production cycles must bestressed due to the short harvesting season withineach variety.

6. Other perennial crops

There is a large member of species with potentialfor oil production. However it is difficult to forecastthe participation each species without detailedstudies of oil quality and productivity. Among thesespecies the following could be indicated: piqui

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(Caryocar brasiliense), pinhão (Jatropa ssp.),catieira (Joannesia princeps) , buriti (Mauritiavinifera) and many others.

Sugestion for carburantvegetable oil programThe launching of carburant vegetable oil programmust also take into account the availability of otheralternative energy sources to replace the mainfraction of the petroleum. The PROALCOOL inBrazil led to increase the offer of light fuelsrequired by the OTTO cycle. The price policy forliquid fuel conducted to a distortion of the fleetstructure with a marked increase in diesel enginevehicles. For this reason it became necessary toalter the petroleum cracking route toward higherdiesel production. Besides that, an adequate policymust be undertaken to prevent the growth of lighttrucks fleet using diesel engines.

Program of substitution

An balanced alternative program for liquid fuelcan be established taking into account thefollowing parameters:

1. growth of the diesel oil demand of 7.2 percentper year;

2. production of diesel will be altered from 29.3 to36.4 percent;

3. demand of gasoline is obtained from the OTTOcycle engines demand subtracted by the alcoholproduction forecasted, divided by 1.15;

4. 1 liter of diesel or vegetable oil corresponds to1.4 liters of gasoline; 1 liter gasoline correspondsto 1.15 L of alcohol.

Taking into account these factors it is possible tominimize the petroleum consumption usingproperly each one of the fractions. Thisoptimization would be expressed by the equation:

(αGP – G)/1.4 = D - αDP

where P, D and G are the demand of petroleum,diesel and gasoline; αG and αD are the dieseland gasoline fractions in the cracking. Results arepresented in Tables 7 and 8. Although the shortperiod of analysis, it is possible to verify theevidence of keeping low the petroleum demandwhen vegetable oil is considered. The proposedincrease in the production of vegetable oil is lowcompared to the experimental results. The valuecould be altered depending on the capacity toincrease the vegetable oil production. This growthcurve when extended to 1990 will represent27 % of mixture in the diesel.

Economics of the substitution

At present time it is difficult to make a detailed

Table 7. Demand of petroleum and the production of liquid fuel a carburant vegetable oil program (106 m3).

Gasoline

Alcohol

Diesel

Petroleum

Liquid fuels

13.314.2 0.9

4 .04.00.0

19.418.8-0.6

61.8

1981

10.213.6 3.4

9.99.90.0

25.723.2-2.4

63.8

1985

11.913.0 1.1

7.37.30.0

23.923.1-0. 8

63.5

1984

13.214 .0

0.8

5.25. 20.0

22 .321. 8-0.6

64.5

1983

13.213. 8

0.6

4 .64.60.0

20.820.4-0.4

63.5

1982

Years

DPS

DPS

DPS

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200729

Table 8. Demand of petroleum and production of liquid fuel including vegetable oil (106 m3).

Gasoline

Alcohol

Diesel

VegetableOil

Petroleum

Liquid fuels

13.114.1 0.8

4.04.00.0

19.218.7-0.6

0.20.20.0

61.4

1981

10.212.9 2.6

9.99.90.0

23.821.9-1.9

1.91.90.0

60.1

1985

11.912.5 0.6

7.37.30.0

22.522.1-0.4

1.41.40.0

60.8

1984

13.213.5 0.3

5.25.20.0

21.221.0-0.2

1.11.10.0

61.8

1983

13.213.5 0.3

4.64.60.0

20.019.8-0.2

0.80.80.0

61.8

1982

Years

DPS

DPS

DPS

DPS

D

studies of the economical return of the substitutionof diesel oil by vegetable oil. The price of thevegetable oil in the international market has beendeclining suggesting that in a long run this shouldbe the tendency to be observed. On the other handthe price of diesel shall raise due to the increaseof the petroleum price and because of the decisionof the Brazilian Government to eliminate itssubsidy. Considering that the diesel price in 1985will correspond to 65 % of the gasoline price, it isexpected that the existing price differencebetween diesel and vegetable oils will disappear

by 1982 (Table 9).

Vegetable oil cost is difficult to be estimated. Theinformation available indicates that for 1981 theoil cost shall vary from 50 to 10% US$ forsunflower, soybean and peanut . These figureswere established considering the current rawmaterial price productivity of different oil crops.Further studies are required to define the oil qualityneed and the real cost of vegetable oil producedfor carburant use.

Table 9. Estimative of the evolution of petroleum anddiesel price.

Petroleum(barril)

Gasoline(liter)

Diesel(liter)(1)

Diesel(liter)(2)

Price US$

38

0.81

0.33

0.37

1981

80

1.75

0.70

1.14

1985

66

1.46

0.58

0.87

1984

55

1.20

0.48

0.66

1983

46

1.01

0.40

0.51

1982

Years

(1) 1. Diesel price = 0.4 gasoline price.(2) Diesel price = increasing percentage of gasoline price (0.54 to 0.65) .

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 30

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200731

Mercado da China1

Oportunidades para oagronegócio brasileiro

Ali Aldersi Saab2

Ricardo de Almeida Paula3

IntroduçãoO tamanho e a velocidade de crescimento domercado chinês constituem marco a partir do qualo mundo, em especial o Brasil, devem incrementarsuas exportações de commodities agrícolas e deprodutos processados.

Esse fato por si só justifica a elaboração de traba-lhos e estudos que visem a conhecer melhor arealidade econômica e social chinesa e a identi-ficar oportunidades de mercado para o agrone-gócio brasileiro.

A partir dessas evidências é que o Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)houve por bem realizar este estudo objetivando:

• Subsídios para políticas públicas.

• Oferecer ao setor produtivo brasileiro subsídiosà tomada de decisão do empresariado para ori-entar, planejar e executar suas atividade que re-sultem em exportações para aquele país, anteci-pando-se estrategicamente para aproveitar essasoportunidades desde seu nascedouro.

O problema ou a linha-mestra que direcionou aformulação e a implementação desse trabalho foiprecisamente a necessidade de se construir ce-nários e tendências para balizar e orientar a or-ganização do processo produtivo, em razão daexistência de lacunas de tempo entre a decisão

de participar nesse mercado, o investimento ne-cessário, o fechamento de negócios e a efetivaconquista de market share no mercado chinês,pela agroindústria brasileira.

Portanto, os objetivos deste estudo são fornecerelementos gerais necessários à tomada de deci-são tempestiva e orientada pelo Setor Público epelo agronegócio nacional, buscando ser com-petitivo na disputa desse mercado, garantindo ageração de renda e emprego para as unidadeseconômicas que congregam o agronegócio bra-sileiro.

MetodologiaPara alcançar os objetivos propostos para este tra-balho, utilizaram-se métodos de pesquisaexploratória, buscando identificar fatores econô-micos e sociais que induzam à criação de deman-da por produtos agropecuários parcialmente aten-didos por sua produção nacional que podem abriroportunidades para o mercado internacional.

O referencial bibliográfico foi construído partin-do-se de pesquisas em relatórios e revistasespecializadas sobre crescimento econômico emercados agrícolas como aqueles produzidos,entre outras, por organizações como o FundoMonetário Internacional (FMI), além de pesquisa-dores circunscritos ao tema.

1 Artigo elaborado a partir de solicitação da Assessoria de Gestão Estratégica (AGE-MAPA).2 Engenheiro-agrônomo, M.Sc. em Agronegócios e pesquisador da Embrapa. E-mail: [email protected] Economista, M.Sc. em Agronegócios – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E-mail: [email protected]

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 32

Os dados secundários, conforme concebidos porMattar (1999)4, foram obtidos por meio de relató-rios especializados, banco de dados estatísticos,artigos, livros, e internet. Realizaram-se aindabuscas em periódicos científicos especializadosnacionais e internacionais e em relatórios de ins-tituições multilaterais, disponíveis em bibliotecase em sítios eletrônicos.

Assim, os diagnósticos das economias de ambosos países foram efetuados a partir de dados se-cundários disponíveis em instituições de pesqui-sa e em órgãos públicos e privados provedoresde informações estatísticas relativas ao tema.Igualmente utilizaram-se trabalhos científicos pro-duzidos por autores e pesquisadores independen-tes preocupados com questões econômicas dosdois países em análise.

As bases estatísticas que delinearam este traba-lho foram obtidas de organizações como IBGE eNacional Bureau of Statistics of China. Incluem-se ainda os dados extraídos de relatórios como oWorld Economic Outlook, produzido pelo FMI.

No que se refere às pesquisas já desenvolvidas,utilizaram-se pesquisas acadêmicas, universitá-rias, publicações e dados de institutos de pesqui-sas que trabalharam questões como os estudossobre a urbanização e suas conseqüências no quediz respeito às mudanças nos hábitos alimentarese na renda per capita.

Portanto, de uma perspectiva técnica, trata-se deum trabalho sustentado em materiais publicados,resultando num estudo bibliográfico e documen-tal. Entretanto, ressalta-se que os dados utilizadospara caracterizarem ambas as economias anali-sadas neste trabalho datam de 2005, em razão denão existir bases consolidadas para os anos pos-teriores. Embora existam dados preliminares para2006, preferiu-se não trabalhar com valores esti-mados em períodos passados.

Este estudo está organizado em dois capítulos,além dessa introdução:

• Descrição sobre a economia chinesa e brasi-leira, especificando informações como Produto In-terno Bruto, renda per capita, exportações e im-portações, população e sua distribuição espacial,e hábitos de consumo.

• As perspectivas para o agronegócio brasileiro,indicando os mercados agrícolas mais promisso-res para o empresariado nacional.

Brasil e China –Caracterização socioeconômica

Produto Interno Bruto

Nos últimos anos, o PIB da China apresentou cres-cimento vigoroso e aparentemente sustentado.Dados publicados pelo FMI mostram que de 1994a 2005, a taxa anual de crescimento (exponencial)do PIB desse país foi de 8,93 %, alcançando 7.898trilhões de yuan (preços de 2000). Nesse mesmoperíodo, o PIB brasileiro elevou-se de 826 bilhõesde reais para 1172 bilhões de reais (preços de2000), ou seja, cresceu à taxa de 2,27 % a.a.

A Fig. 1 mostra o comportamento do PIB dos doispaíses, inclusive o intenso processo de industria-lização pelo qual tem passado a China, fato com-provado pelos dados apresentados posteriormen-te sobre os movimentos migratórios e asetorialização do produto.

4 Este autor classificou os dados em três grandes grupos: dados primários e dados secundários. Definiu como dados secundários "aqueles que já foram coletados,tabulados, ordenados e, às vezes, até analisados com propósitos outros ao de atender as necessidades da pesquisa em andamento e que estão catalogados àdisposição dos interessados. As fontes básicas de dados secundários são: a própria empresa, publicações, governos, instituições não governamentais" (MATTAR, 1999,p. 134).

Fig. 1. Evolução do PIB da China e do Brasil (em bilhõesde yuan e reais a preços de 2000).Fonte: World Economic Outlook (INTERNATIONAL MONETARY FOUND, 2007).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200733

Em relação à composição setorial da renda chi-nesa, desde 1994, a indústria foi o principal gera-dor de riquezas do país, elevando sua participa-ção no intervalo de tempo analisado de 46,6 %do PIB em 1994, para 47,5 % em 2005.

Por sua vez, o setor secundário no Brasil, no mes-mo período, teve sua participação no PIB reduzi-da de 40 % para 30,3 %. Esses dados contribuempara explicar as possíveis diferenças de cresci-mento entre os dois países. Enquanto a China ex-pandiu seu PIB a uma taxa de 8,93 % a.a, o pro-duto brasileiro cresceu 2,27% a.a, de 1994 a 2005.

A participação do setor primário chinês, cuja com-posição se dá majoritariamente de commodities,reduziu praticamente na mesma proporção emque se elevou a participação do setor terciário: aagricultura que em 1994 era responsável pelageração de 19,6 % das riquezas da China, em2005 contribuiu com apenas 12,6 % do PIB. NoBrasil, observou-se o mesmo comportamento: nomesmo período, o setor primário reduziu-se de9,9 % para 5,6 % de participação no PIB. É inte-ressante notar que enquanto no Brasil a agricultu-ra participa com 5,6 % da renda, na China o setoragrícola participa com 12,6 % e com tendênciade queda nessa participação, abrindo espaço paraum aumento do consumo de produtos alimentíci-os processados em razão das possíveis mudan-ças ou alterações na migração da sua mão-de-obra entre os setores.

Quanto ao setor terciário ou de serviços, sua par-ticipação na China elevou-se de 33,8 % em 1994para 39,9 % do produto em 2005, tendo atingidoo valor de 41,7 % em 2001. No Brasil, o setorterciário variou sua participação de 50,1 % em1994 para 64 % em 2005, apresentando uma va-riação que chegou a 67,1 % em 2001, cuja res-ponsabilidade se deve às políticas monetáriasadotadas no período (IBGE, 2007).

Os dados elucidados trazem algumas pistas so-bre o modelo de sociedade na qual está se trans-formando a China: economia consumidora de pro-dutos industrializados. E essa constatação não seaplica apenas aos produtos tipicamente industri-ais como os bens de consumo duráveis esemiduráveis: aplica-se também ao consumo de

produtos alimentícios, os quais ao serem proces-sados são considerados produtos do setor se-cundário. As Fig. 2 e 3 ilustram as análises pre-cedentes.

Renda per capita

A renda per capita chinesa seguiu a mesma traje-tória de crescimento: cresceu de 2.488,36 yuanem 1994 para 6040,83 yuan em 2005, crescendoa uma taxa anual média de 8,08,%a.a. No mes-mo período, no Brasil, a renda per capita cresceude R$ 5.686,19 para R$ 6.365,11, com uma taxade crescimento de 0,76 % a.a. A Tabela 1 e a Fig.4 ilustram essas informações:

Fig. 2. China: composição setorial do PIB.Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

Fig. 3. Brasil: composição setorial do PIB.Fonte: IBGE (2007).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 34

outros países em desenvolvimento como Argenti-na, África do Sul, Brasil, México e Rússia.

Entretanto, comparada a outros países com ele-vada densidade populacional, como Índia eNigéria, sua renda per capita se apresenta eleva-da, considerado-se seu histórico no qual se obser-va que entre 1994 e 1995, ela se encontrava emníveis semelhantes aos apresentados atualmentepor esses dois países, chegando a quase quadru-plicar sua renda em 11 anos.

Exportações e importações

Em relação às transações comerciais com o mer-cado internacional, fica evidenciada a aberturaque a China promoveu, nos últimos anos, princi-palmente a partir da segunda metade da décadade 1990. De 1994 a 2005, as exportações chine-sas cresceram a uma taxa média de 16,79 % a.a.,saindo de US$ 121 bilhões, atingindo o expressi-vo patamar de 761 bilhões de dólares.

Ao mesmo tempo, suas importações aumentaramem 17,2 % alcançando em 2005 o montante deUS$ 659 bilhões, enquanto suas compras inter-nacionais eram de US$ 116 bilhões em 1994.

Em pouco mais de 1 década, mais que quintuplicousuas exportações cuja base de produção está con-centrada nos produtos manufaturados, apoiadosem tecnologias de mão-de-obra intensiva, e aconseqüência é um saldo comercial de US$ 384bilhões só no período analisado.

No mesmo período, a balança comercial brasi-leira apresentou comportamento diferente. Asexportações que em 1994 eram de US$ 44 bi-lhões cresceram à taxa anual de 7,88 % e che-gando em 2005 a US$ 118 bilhões.

Tabela 1. China e Brasil: renda per capita em moedasnacionais (preços de 2000).

199419951996199719981999200020012002200320042005

Ano

Fonte: World Economic Outlook (INTERNATIONAL MONETARY FOUND,2007).

2.488,362.730,632.972,583.216,523.435,863.666,863.944,864.242,694.599,015.028,615.504,096.040,83

China

5.686,195.835,015.870,015.977,095.890,305.817,685.978,825.968,716.038,136.018,986.271,516.365,11

Brasil

Fig. 4. China e Brasil: evolução da renda per capita.Fonte: World Economic Outlook (INTERNATIONAL MONETARY FOUND, 2007).

Embora a renda per capita chinesa apresente ele-vadas taxas de crescimento quando comparadasàquelas verificadas em outros países, seu valorainda permanece baixo quando observadas emum contexto mundial.

Como se constata na Tabela 2, a renda per capitachinesa é menor do que aquelas encontradas em

Tabela 2. Países em desenvolvimento: renda per capita em dólares americano.

199420002005

Ano

Fonte: World Economic Outlook (INTERNATIONAL MONETARY FOUND, 2007).

3.382,242.986,455.159,79

África do Sul

7.493,957.726,324.704,30

Argentina

3.814,873.761,584.788,92

Brasil

466,61945,60

1.715,94

China

350,91454,51712,39

Índia

4.698,985.928,507.446,86

México

176,79167,22270,92

Nigéria

1859,911767,885323,19

Rússia

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200735

Embora a análise entre os dois valores extremosapresente um cenário evolutivo, cabe ressaltarque em 1998 e 1999 as exportações tiveram cres-cimento negativo, em virtude das políticas cam-biais adotadas na época. As importações, ao con-trário, em 1994 eram de US$ 33 bilhões, cresce-ram à taxa de 3,15 % a.a. e em 2005 representa-vam US$ 74 bilhões.

As políticas brasileiras de comércio exterioradotadas no período tiveram conseqüências di-retas no saldo comercial do balanço de pagamen-tos, que entre 1995 e 2000 foram negativas e apre-sentaram déficit comercial de US$ 25 bilhões. AFig. 6 resume o comportamento da Balança Co-mercial Brasileira de 1994 a 2005 que soma sal-do positivo de US$ 104 bilhões.

do globo, chama a atenção o movimento espaci-al (urbano versus rural) de sua composição.

A Fig. 7 ilustra esse movimento populacional, noqual é perceptível que a concentração nas gran-des cidades cresceu a taxas significativas, embora amaioria da população ainda continue no campo.

Em 2005, cerca de 43 % da população residianos centros urbanos enquanto em 1985 essa rela-ção era de 24 %. Por sua vez, o campo que abri-gava 76 % da população chinesa sofreu um con-siderável esvaziamento e em 2005 possuía 57 %da população.

Fig. 5. China: exportações e importações.Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

Fig. 6. Brasil: exportações e importações.Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BRASIL, 2007)

População e hábitos de consumo – Tendências

Em 2005, a população total da China atingiu1.307.560 mil habitantes. Embora a extensão ab-soluta da população chinesa seja a mais elevada

A tendência desse processo migratório éirreversível. Na Fig. 8, visualiza-se a tendênciapara o futuro comportamento da composição es-pacial na sociedade chinesa apontada pela ONU(2007). Esse cenário poderá trazer problemas so-ciais relativos aos processos de rápida urbaniza-ção como alterações nos hábitos alimentares,déficit habitacional e de transportes coletivos,desemprego e violência urbana.

Fig. 7. Composição populacional (em %).Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

Fig. 8. China: tendências populacionais: urbana e rural.Fonte: ONU (2007).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 36

A força-motriz desse processo de urbanização édecorrente da rápida industrialização pela qualpassa a China e do diferencial de renda entre oshabitantes desses distintos espaços que, emboratenha mantido sua relação ao longo dos anos,apresenta grande diferença de renda em termosabsolutos. A Tabela 3 ilustra essa situação.

Esse padrão de sociedade reflete mudanças nostipos de alimentos consumidos em que ganhamespaço produtos semipreparados e processadoscuja redução percentual dos gastos com alimen-tação em relação ao orçamento abre a possibili-dade de dispêndios com produtos com maior va-lor agregado.

Cabe ressaltar que o percentual do orçamentorural destinado à alimentação pode ter precisãolimitada em face dos valores referentes aoautoconsumo.

Ao observar o comportamento da rendadirecionada para o consumo de alimentos verifi-ca-se a tendência prevista na teoria econômicasobre a elasticidade/renda dos produtos agríco-las: em 1985, 46,65 % da renda líquida dos chi-neses era direcionada para o consumo de alimen-tos, enquanto em 2005 essa relação caiu paraaproximadamente 29,65 % (Fig. 9).

Fig. 9. China: despesas com alimentação.Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

Fig. 10. China: despesas com alimentação (urbano erural).Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

Quanto à distribuição do orçamento por gruposde alimentos percebe-se que, por meio da análi-se da Tabela 4, os grãos consomem 21,4 % dasdespesas alimentares, seguidos de carnes suínas(16,8 %), vegetais (16 %) e frutas (9,2 %).

Tabela 4. Orçamento alimentar: China (1993–1996).

GrãosSuinosVegetaisFrutasProdutos aquáticosAvesOvosÓleos vegetaisVinhoOutras carnesLeite e derivadosAçúcar

Grupos dealimentos

Fonte: Chern e Liu (2005).

0,2140,1680,1600,0920,0860,0620,0600,0580,0420,0310,0190,008

Participação nadespesa alimentar

Tabela 3. Renda disponível urbana e rural (yuan).

199419951996199719981999200020012002200320042005

Ano

Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

1.2211.577,71.926,12.090,12.1622.210,342.253,422.366,42.475,632.622,22.936,43.255

Rural

3.496,24.2834.838,95.160,35.425,15.8546.6286.859,587.7038.472,29.421

10.493

Urbano

Uma análise desses dados pode indicar uma al-teração do padrão de consumo dos chineses(Fig. 10), principalmente em virtude da composiçãoda sociedade, a qual vem se tornando cada vez maisurbana.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200737

Contudo, utilizando-se de dados de 2005, da ta-bela a seguir, essa distribuição tenderá a mudar,visto as variações causadas pela elevação da ren-da e pela urbanização pela qual vem passando aChina. A Tabela 5 ilustra as mudanças já ocorri-das, principalmente relativas ao consumo degrãos, óleos, carnes suínas e avícolas e vegetaisno perímetro urbano.

Partindo do caso dos grãos, a Tabela 4 mostra queesse grupo alimentar consumiu 21,4 % (1993-1996) do orçamento alimentar. Entretanto, obser-vando a Tabela 5, o consumo urbano de grãosque em 1985 era de 134,76 kg por pessoa, sofreuuma redução de 42,869 % até 2005, chegando a77 kg. Da mesma forma, o consumo de açúcarapresentou queda constante entre 1985 e 2000,chegando à redução de 32,5 % nesse período.

Por sua vez, carnes e óleos vegetais apresenta-ram variações positivas em seu padrão de consu-mo. O consumo de carne de frango que em 1985foi de 3,24 kg por habitante se elevou para 8,97kg em 2005, o que representa um incremento de176 %. No mesmo sentido se comportou o consu-mo de carne suína: 16,68 kg per capita em 1985elevando-se para 20,15 kg em 2005 - crescimen-to de 20,8 %.

Tabela 5. Consumo urbano per capita (kg).

Fonte: Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

2,522,141,68

1,7-

Açúcar

5,766,4

7,118,169,25

Óleos vegetaiscomestíveis

134,76130,72

9782,3177,00

Grãos

16,6818,4617,2416,7320,15

Suínos

3,243,423,975,448,97

Aves

19851990199520002005

Ano

-41,1144,9658,0556,69

Frutas emelões

144,36138,7

116,47114,74

118,6

Vegetais

Outro produto cujo consumo se elevou significa-tivamente foram os óleos vegetais comestíveis.Em 1985, sua demanda foi de 5,3 kg por pessoa,crescendo 74,5 % no período observado, alcan-çando 9,25 kg, em 2005.

Por fim, o consumo de vegetais apresentou com-portamento variado. De 1985 a 1995, sua tendên-cia foi de queda: reduziu-se de 144,36 kg para116,47 kg por habitante. Já de 1995 a 2005, seuconsumo manteve praticamente inalterado, sig-nificando um consumo de 118,6 kg per capita.

A Tabela 6 mostra a variação no consumo totaldas principais culturas alimentares nos centrosurbanos. O consumo de carnes, aves e suínosapresentaram expressivo crescimento. Em 1985,a demanda por carne de frango que era de 0,8milhão de toneladas, variou 530 % e em 2005atingiu 5,4 milhões de toneladas.

Seguindo o mesmo comportamento, embora umpouco menos expressivo, em 1985, o consumode carne suína representava cerca de 4,2 milhõesde toneladas; cresceu 169 % e em 2005 atingiu11,32 milhões de toneladas.

Quanto aos grãos, embora havendo queda noconsumo per capita (Tabela 5), o consumo urba-

Tabela 6. Consumo urbano total (milhões toneladas).

Fonte: Construído a partir de Nacional Bureau of Statistics of China, abril 2007.

0,630,640,590,78

-

Açúcar

1,41,92,53,7

5,20

Óleos vegetaiscomestíveis

33,839,534,137,7

43,28

Grãos

4,25,66,17,7

11,32

Suínos

0,81,01,52,5

5,04

Aves

19851990199520002005

Ano

-12,415,826,6

31,81

Frutas emelões

36,241,940,952,7

66,67

Vegetais

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 38

no total elevou-se em 28 % entre 1985 e 2005,indo de 33,8 para 43,28 milhões de toneladas.

Por sua vez, o consumo total de óleos comestí-veis vegetais teve um elevado crescimento percapita e total. Apresentando variação de 271 %entre 1985 e 2005, seu consumo cresceu de 1,4milhão de toneladas para 5,20 milhões toneladas.

O consumo de açúcar apresentou pequena ele-vação, considerando o período de análise de 15anos. Em 1985, seu consumo total saiu de 680 miltoneladas para 780 mil toneladas em 2000.

Por fim, no que se relaciona ao consumo total ur-bano, a demanda de frutas e vegetais apresentoucomportamento expressivo. Frutas que, em 1990,teve um consumo situado na ordem de 12,4 mi-lhões de toneladas em 1990, cresceu 156,5 % até2005, alcançando o montante de 31,81 milhõesde toneladas.

A mesma trajetória ascendente desempenhou oconsumo de vegetais. Em 1985, sua demanda foide 36,2 milhões de toneladas, ao passo que, apre-sentando crescimento de 84 %, atingiu um volu-me de consumo da ordem de 66,67 milhões detoneladas em 2005.

Paralelamente, ao analisar o consumo rural obser-va-se na Tabela 7 que o consumo de grãos redu-ziu-se em 18,91 % entre 1985 e 2005, sendo me-nor que aquela ocorrida no setor urbano (42,86 %).Nesse cenário, o meio rural se configura comoum mercado expressivo, visto que seu consumoper capita é relativamente elevado, aproximada-mente três vezes o consumo urbano. No que tan-ge ao consumo per capita de açúcar no meio ru-ral, sua tendência é a mesma apresentada pelosetor urbano: queda de 22,6 % entre 1985 e 2005.

Quanto às carnes, o consumo de frango elevou-se expressivamente durante o período analisado:de 1,03 kg para 3,67 kg per capita, ou seja, umcrescimento de 256 %. Na mesma direção se deuo consumo de outras carnes em geral (suínos,bovinos e ovinos): seu consumo em 1985, era de10,97 kg per capita e, em 2005, elevou-se para17,09 kg, apresentando um acréscimo de 55 %.

O consumo de óleos vegetais comestíveis tam-bém se mostrou com tendências de elevação. Seuconsumo cresceu 48,76 % no período observado,elevando-se de 4,04 kg por pessoa em 1985 para6,1 kg por pessoa em 2005.

Por fim, o consumo de frutas foi um dos que apre-sentou comportamento que mais chama a atenção.Em 1985, seu consumo foi da ordem de 3,4 kgpara cada habitante e em 2005 essa quantidadesaltou para 17,18 kg, indicando um mercadopromissor.

Os dados acima apresentados evidenciam o com-portamento individual do consumidor chinês nocampo. Contudo, considerando-se que a popula-ção total da China vem se elevando significativa-mente a cada ano, é necessário observar o con-sumo total desses alimentos (Tabela 8).

Cenários das importações chinesasDe acordo com Cheng (2005), as culturas dispos-tas nas Fig. 11 e 12 mostram os principais produ-tos alimentares que deverão apresentar déficitsde oferta no mercado chinês, sendo necessárioseu suprimento por meio de importações.

A Fig. 11 chama a atenção para o aumentodo déficit na auto-suficiência alimentar, em que

Tabela 7. Consumo rural per capita (kg).

Fonte: Construído a partir de Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

1,461,5

1,281,281,13

Açúcar

4,045,17

5,87,066,01

Óleos vegetaiscomestíveis

257,5262,1258,9250,2208,8

Grãos

10,9711,3411,2914,4117,09

Bovinos, ovinose suínos

1,031,261,832,813,67

Aves

19851990199520002005

Ano

3,45,89

13,0118,3117,18

Frutas

131,13134,99104,62111,98102,3

Vegetais

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200739

26 % do consumo de milho terá que ser supridovia importação, e 79,4 % do consumo de soja tam-bém terá que ser adquirido no mercado internaci-onal.

A soja apresenta comportamento um pouco dife-rente do milho, sendo historicamente deficitária:as importações que foram de 10,21 milhões detoneladas em 2000, deverão se elevar para 36,32milhões de toneladas em 2020. Carnes e leite eseus derivados seguem o mesmo comportamentoevidenciado pela soja: aprofundamento do défi-cit relativo à produção de excedentes.

As importações de carnes que, em 2000 foram de490 mil toneladas deverá ser elevada para 1,258milhões de toneladas. No mesmo sentido o grupoleite e derivados representará importações de 3,7milhões de toneladas, enquanto em 2000 signifi-cava 200 mil toneladas.

Perspectivas para oagronegócio brasileiroA partir dos dados macroeconômicos apresenta-dos, a crescente industrialização chinesa aliadaao seu crescimento populacional e urbano, des-vendam-se para a indústria agrícola brasileiragrandes oportunidades para as quais o setor devese antecipar na sua preparação para, de formacompetitiva, disputar esse mercado.

As perspectivas do agronegócio brasileiro paracom o mercado Chinês poderão estar direcionadaspara alguns produtos apresentados na Tabela 9.

Considerando o comportamento dos principais pro-dutos agrícolas consumidos nos centros urbanose no meio rural chinês, pode-se perceber que oconjunto alimentar formado pelos grãos, a des-peito de ter se reduzido no meio rural, se elevounos centros urbanos e se mostra um mercado atra-tivo para a produção brasileira.

Tabela 8. Consumo rural total (milhões em toneladas).

Fonte: Construído a partir de Nacional Bureau of Statistics of China (2007).

1,181,261,101,030,84

Açúcar

3,264,354,985,714,48

Óleos vegetaiscomestíveis

207,91220,52222,53202,28155,64

Grãos

8,869,549,70

11,6512,74

Bovinos, ovinose suínos

0,831,061,572,272,73

Aves

19851990199520002005

Ano

2,754,96

11,1814,8012,81

Frutas

105,90113,5889,9290,5276,25

Vegetais

A Fig. 12 mostra uma alteração do perfil da indús-tria agropecuária chinesa no que tange a expor-tações e importações. No que se refere ao milho,em 2000, a China possuía excedente de 10,48milhões de toneladas, ao passo que em 2020 de-verá importar algo entorno de 24,71 milhões detoneladas.

Fig. 11. Auto-suficiência em Produtos Agrícolas: 2000-2020 (em %).Fonte: Cheng (2005).

Fig. 12. Saldo comercial externo de Grãos e Rebanhos:2010-2020 (milhões de toneladas).Fonte: Cheng (2005).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 40

A Tabela 9 evidencia que soja e milho comporãoum mercado de cerca de 44 milhões de tonela-das em 2015, sendo que 75 % é composto porsoja, no qual o agronegócio brasileiro está prepa-rado para responder à essa demanda específica,tanto em grão quanto na forma de farelo e de óleo.Esse cenário é ilustrado na Fig. 13.

Tabela 9. Importações chinesas versus exportaçõesbrasileiras (em milhões de toneladas).

MilhoSojaCarne bovinaFrangoLeite e derivados(2)

Grupos dealimentos

(1) Previsão(2) Em milhões de litrosFonte: Cheng (2005) e Mapa (BRASIL, 2007).

010,20,01

0,30,2

2000

13,430,70,07

0,63,0

2015(1)

China

5,6315,70,821,27

8,9

2000

3,63462,7

3,35-

2015(1)

Brasil

Um segundo grupo de produtos que revela opor-tunidade para o agronegócio brasileiro é aquelecomposto pelas carnes. Como visualizado anteri-ormente, o consumo de carne suína, bovina e defrango se elevou e se constitui em oportunidadepara os produtores nacionais. Excetuando a car-ne suína, para a qual a China possui oferta sufici-ente (Fig. 15), a Tabela 9 mostra como se compor-tarão as importações de carne bovina e de frangoaté 2020.

Fig. 13. Projeções de produção, consumo e expor-tações líquidas de soja: 2010-2020 (em milhões detoneladas).Fonte: Cheng (2005).

No que diz respeito ao milho, apesar de o Brasilnão ter tradição exportadora nesse produto, tema infra-estrutura montada para produzir e atendera esse mercado, caso consiga se antecipar e es-tabelecer contratos de venda (Fig. 14). Aliam-sea essa demanda os crescentes preços internacio-nais desse produto devido ao redirecionamentode sua oferta para os programas de produção deetanol recentemente operacionalizados em paí-ses como os Estados Unidos.

Fig. 14. Projeções de produção, consumo e expor-tações líquidas de milho: 2010-2020 (em milhões detoneladas).Fonte: Cheng (2005).

Fig. 15. Projeções de produção, consumo e exporta-ções líquidas de suínos: 2010-2020 (em milhões detoneladas)Fonte: Cheng (2005).

O mercado chinês deverá setuplicar sua deman-da de carne bovina, elevando-a de 10 mil para70 mil toneladas ao ano. Conforme mostrado namesma Tabela 9, cerca de 2,7 milhões de tonela-das de carne bovina produzida no Brasil deverãoser direcionadas ao mercado internacional, e des-

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200741

se montante, o mercado chinês representará umfatia de 2,5 %. A Fig. 16 mostra a projeção deprodução, consumo e importações chinesas decarne até 2020.

200 mil toneladas e em 2020 a previsão das ex-portações desses produtos aponta para um volu-me de 3 milhões de toneladas (Fig. 18).

Fig. 16. Projeções de produção, consumo e exporta-ções líquidas de bovinos: 2010-2020 (em milhões detoneladas).Fonte: Cheng (2005).

Quanto à carne de frango, estima-se para a Chi-na importações na ordem de 1,1 milhão de tone-ladas em 2020, montante 266 % maior do queaquele importado em 2000, que foi de 300 miltoneladas (Fig. 17). O agronegócio nacional po-derá se aproveitar dessa oportunidade, visto quea demanda chinesa significará algo em torno de18 % das exportações brasileiras.

Fig. 17. Projeções de produção, consumo e exporta-ções líquidas de aves: 2010-2020 (em milhões detoneladas).Fonte: Cheng (2005).

Um terceiro grupo de produtos que se mostra opor-tuno à industria brasileira é aquele relativo ao lei-te e seus derivados. Em 2000, a China importou

Fig. 18. Projeções de produção, consumo e exporta-ções líquidas de leite e derivados: 2010-2020 (emmilhões de toneladas).Fonte: Cheng (2005).

Em 2000, o Brasil exportou 8,9 milhões de tonela-das de leite e derivados (Tabela 9), mostrando queé um importante player nesse mercado, cujasexportações poderão se elevar em razão das al-terações nos hábitos de consumo chineses e desuas limitações de produção.

ConclusãoDe acordo com os dados anteriormente apresen-tados, pode-se concluir que os produtos mais im-portantes para o agronegócio brasileiro, constitu-intes das previsões de importações por parte daeconomia chinesa até 2015, são aqueles dispos-tos na Tabela 10.

Portanto, milho, soja, carne bovina, frango, leite ederivados formam um expressivo e importanteconjunto de commodities que se mostrarão comooportunidades de mercado para o país.

Tabela 10. Importações chinesas em 2015 (milhõesde toneladas).

MilhoSojaCarne bovinaFrangoLeite e derivados

13,430,70,07

0,63,0

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 42

Em face da alteração de hábitos alimentares e docomportamento do consumo urbano e rural chi-nês, pode-se também apontar para o crescimentoda demanda de produtos tais como óleo vegetalcomestível, açúcar, algodão e suco de laranja.Contudo, em virtude da ausência de estimativasseguras, não se puderam sinalizar os montantesprováveis de demanda para essas commodities.

Cabe ressaltar que a maior parte dos produtosapontados possuem sistema de produção carac-terísticos dos setores que compõem oagronegócio, ou seja, oferta irregular e elevadoscustos de transação para negociação direta nomercado.

Essas características mostram a necessidade deos produtores organizarem sua produção por meiode contratos de venda antecipada, visto que acor-dos contratuais estimulam maior freqüência nasrelações entre demandante e produtores. A rela-ção de mercado via contratos inibe novos com-petidores, facilita a previsibilidade de oferta edemanda, e promove a estabilização dos preçosinternacionais, dando ao agronegócio brasileirocondições de planejar sua inserção de forma maiscompetitiva nesse mercado em expansão.

ReferênciasBRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-to. Projeções do agronegócio: mundial e Brasil: 2006/07 a

2016/17. 2007. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/MENU_LATERAL/AGRICULTURA_PECUARIA/PROJECOES_AGRONEGOCIO/CENARIOS%20DO%20AGRONEGOCIO%202006-2007%20A%202016-2017%20A.PDF> Acesso em: 14fev. 2007.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior. Evolução do comércio exterior. 2007.Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivo/secex/evoexpbrafaturamento/expagregado.xls>.

CHENG, Guoqiang. China's agriculture within the worldtrading system. Congress of European Farmers: Strasbourg,2005.

CHERN, Wen S.; LIU, Kang E. Food Demand in UrbanChina and its Implications for Agricultural Trade. Disponívelem: <http://www.china.wsu.edu/conference/pdf-2001/7_KLiu.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2007.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.ContasNacionais Trimestrais. 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaulttabelas.shtm>. Acesso em: 14 fev. 2007.

INTERNATIONAL MONETARY FOUND. World EconomicOutlook. april 2007. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2006/02/index.htm>. Acesso em:

MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: metodologia eplanejamento. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 2 v.

NACIONAL BUREAU OF STATISTICS OF CHINA. StatisticalData. 2006. Disponível em: <http://www.stats.gov.cn/english/statisticaldata/yearlydata/>. Acesso em: 14 fev. 2007.

ONU. Organização da Nações Unidas. World PopulationProspects: the 2006 Revision and World UrbanizationProspects: the 2005 Revision. 2007. Disponível em: <http://esa.un.org/unpp>. Acesso em: 14 fev. 2007.

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Aspectos da políticaagrícola japonesa Sérgio Rodrigues dos Santos1

IntroduçãoO presente artigo pretende examinar alguns dosprincipais aspectos da política agrícola japonesa,a partir da perspectiva dos interesses brasileirosem termos de acesso ao mercado domésticonipônico. Com vistas a contextualizar o tema, éoportuno mencionar alguns dados sobre a estru-tura do setor agrícola no Japão.

O Japão possui uma população de 127 milhõesde habitantes e território de 337.000 km², dos quaisapenas 13 são utilizáveis para a agricultura, in-dústria e habitação. A agricultura responde porcerca de 1,4 % do PIB. Se consideramos a defini-ção ampla do setor (abrangendo a agricultura debase e a indústria pesqueira, a indústria deprocessamento de alimentos, de insumos agríco-las e o segmento de produtos florestais), a cifraalcança 10,5 % do PIB, embora existam diferen-ças regionais importantes.

A força de trabalho engajada na produção agrí-cola corresponde a cerca de 4,5 % da populaçãoeconomicamente ativa (aproximadamente 2,8milhões de pessoas). O número de propriedadesrurais vem declinando gradualmente: de 6,06milhões de propriedades em 1960, para 3,03 mi-lhões em 2002. Atualmente, do total de proprie-dades agrícolas existentes, considera-se que 2,25milhões encontram-se dedicadas à agriculturacomercial (i.e., cultivo de mais de 30 acres, ren-da anual superior a 500 mil ienes / US$ 5 mil /resultante da comercialização de produtos agrí-colas).

Do total de propriedades agrícolas de naturezacomercial, apenas 19,5 % dos proprietários reti-ram seu sustento exclusivamente da atividadeprodutiva rural; 13,3 % dispõem de rendas deoutras proveniências e 67,1 % recebem renda deoutros setores da economia que são maiores doque sua renda agrícola. Em 2002, o número deagricultores dedicados à agricultura comercialsituou-se em 3,75 milhões de pessoas. Cerca de55 % desse total são cidadãos com mais de 65anos de idade. A área agrícola cultivada no Japãoalcançava 6,09 milhões de hectares em 1961. Em2002, havia declinado para 4,76 milhões de hec-tares. As principais razões apontadas para odeclínio da área cultivada são: i) o abandono daspropriedades agrícolas (51 %); e ii) a conversãoda terra agrícola para outros propósitos (27 %).Esse cenário de abandono das terras agrícolas ede envelhecimento da população dedicada a ati-vidades rurais se torna mais complexo quando seleva em conta que o tamanho médio das proprie-dades agrícolas no Japão é de 2 ha.

Tal circunstância, por si só, já dificulta obter aescala de produção necessária para avanços sig-nificativos no aumento da produtividade. Alémdisso, note-se que a legislação japonesa limita atitularidade de propriedades agrícolas apenas apessoas físicas e a cooperativas. A posse de terrasagrícolas por parte de empresas e corporaçõesprivadas – mesmo aquelas do segmento doagronegócio – geralmente é proibida pela lei. Pararevitalizar o setor, o governo japonês pretende

1 Sérgio Rodrigues dos Santos é diplomata. Foi responsável pelo acompanhamento dos temas agrícolas na Embaixada do Brasil em Tóquio, de 2003 a 2006. As idéiase opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não refletem as posições do Ministério das Relações Exteriores sobre o assunto.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 44

remover tais limitações, mirando-se sobretudo nomodelo da agroindústria européia2.

Como se sabe, apesar do baixo grau de participa-ção no PIB, o setor agrícola japonês tem enormepeso na política interna do país, tal como eviden-ciado pelo forte lobby de representantes do setorrural do país no Parlamento (a Dieta), na burocra-cia e na base de sustentação do partido governis-ta, o Partido Liberal Democrático (PLD). O pró-prio Ministro da Agricultura tradicionalmente exer-ce pouca influência na formulação da políticaagrícola no Japão.

O Comitê de Política Agrícola do PLD e osestamentos burocráticos do Ministério da Agricul-tura, Florestas e Pesca (Maff) desempenham umpapel mais determinante na definição de políti-cas e diretrizes do setor. As vozes mais favorá-veis ao livre comércio e contrárias à manutençãodas medidas de proteção ao setor agrícola (inclu-sive por seus efeitos negativos sobre a capacida-de ofensiva do Japão em negociações comerci-ais internacionais) vêm principalmente do setorindustrial exportador, de seus representantes naDieta e da burocracia do Ministério da Econo-mia, Comércio e Indústria (Meti).

A despeito do peso econômico do setormanufatureiro/exportador, sua influência políticaé bem menos importante do que a do setor agrí-cola. Isso se deve, fundamentalmente, ao fato deque no sistema político-eleitoral japonês a distri-buição de votos entre os distritos eleitorais privi-legia, com grande desproporção, as áreas ruraisdo país em detrimento dos segmentos urbanos (ovoto de um eleitor de distrito considerado ruralequivale a cinco votos das áreas urbanas). A con-sideração de possíveis reformas no setor agrícolana Dieta e na burocracia caminha com lentidãoe raras são as manifestações de flexibilidade dapostura japonesa em discussões sobre temas agrí-colas em foros internacionais.

A seguir, traça-se um panorama geral da políticaagrícola japonesa, com destaque para os seguin-tes elementos: segurança alimentar, acesso a

mercado (medidas tarifárias e não-tarifárias), esubsídios.

Segurança alimentarA garantia de fornecimento estável e - na medidado possível - auto-suficiente de produtos agríco-las e gêneros alimentícios constitui o objetivo cen-tral da política agrícola japonesa. A taxa de auto-suficiência alimentar do país (medida em termosde consumo de calorias pela população) decli-nou de 73 % em 1965, para os atuais 40 %, trans-formando o Japão, ao longo desse período, nomaior importador líquido de alimentos do mundo.Esse nível de auto-suficiência seria ainda menorna ausência das medidas de política comercialadotadas pelo governo japonês, com vistas à pro-teção de sua produção doméstica, com destaquepara restrições de acesso a mercado (tarifárias enão-tarifárias) e medidas de apoio ao produtor(subsídios).

Essa situação de declínio constante do índice deauto-suficiência alimentar gera preocupações napopulação japonesa. Pesam no imaginário po-pular - e entre a burocracia japonesa - as me-mórias da escassez de alimentos durante a Se-gunda Guerra Mundial e nos anos do pós-guerra,bem como as restrições impostas pelos EstadosUnidos às exportações de soja na década de 1970e que, em certa medida, foram responsáveis peloapoio japonês ao desenvolvimento do Programade Cooperação NipoBrasileiro para o Desenvol-vimento dos Cerrados (Prodecer) no Brasil.

Em março de 2000, as autoridades japonesas re-visaram a Lei Básica para Alimentação, a agri-cultura e as regiões rurais estabelecendo o objeti-vo de não apenas garantir a estabilidade da ofer-ta de alimentos como também aumentar a taxade auto-suficiência dos então 40 % para 45 %até 2015, sobretudo mediante o aumento da taxade produtividade doméstica3.

Esse aumento da produtividade seria obtido como aumento do grau de profissionalização dos pro-prietários rurais e, ao mesmo tempo, com a redu-ção daqueles que se dedicam parcialmente ao

2 Dados obtidos junto ao Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão (Maff).3 OCDE (2005).

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cultivo agrícola pelo fato de disporem de umasegunda fonte de emprego e renda. Por sua vez,as autoridades japonesas reconhecem que a es-tratégia que pretendem adotar enfrenta o dile-ma de como estimular a dedicação integral àagricultura em face da tendência de queda depreços.

O objetivo envolveria o duplo desafio de atenderos anseios dos consumidores de maior qualidadee sanidade dos alimentos a preços competitivose, ao mesmo tempo, atrair novos empreendedo-res para a agricultura, demonstrando que a pro-dução de alimentos pode ser uma atividade lu-crativa. Uma das medidas em consideração serefere ao levantamento da proibição à atuaçãode corporações privadas no setor agrícola, talcomo mencionado anteriormente4.

Existem muitas visões críticas em relação à pro-babilidade de êxito desses esforços. Não só a si-tuação demográfica do Japão e o tamanho dimi-nuto das propriedades agrícolas conspirariamcontra essa estratégia, mas também existiriamoutros fatores que impediriam um avanço real noaumento da produtividade e da maiorprofissionalização da agricultura japonesa.

Esses fatores incluiriam o alto preço da terra noJapão e a relutância existente em vender terrasagrícolas que são transmitidas de geração emgeração. Além disso, tendo em vista o peso des-proporcional dos distritos eleitorais rurais no atualsistema político japonês, existiria extrema relu-tância do Partido Liberal Democrático em efetu-ar reformas radicais na estrutura do setor agrícolado país, alienando um dos seus principais redutosde sustentação política.

Acesso a mercadoAs principais medidas tarifárias usadas pelo Ja-pão na proteção de seu setor agrícola são o re-curso à escalada tarifária (aumento progressivotão maior seja o índice de valor agregado do pro-

duto), tarifas variáveis e compostas (combinaçãode alíquotas específicas e ad valorem, além dealternância sazonal entre diferentes tipos dealíquota) e o recurso a grande número de tarifasespecíficas (ao invés de tarifas ad valorem).

Nesse último caso, os equivalentes ad valoremchegam a variar entre 42 e cerca de 400 % (ar-roz), chegando mesmo a 810 % (feijão). Em 2006,a tarifa média aplicada no setor agrícola foi de18,8 %, ou três vezes superior à média tarifáriageral. Cabe menção também ao uso freqüente dequotas tarifárias para produtos agrícolas, com des-taque para arroz, trigo e lácteos5.

Ainda no que se refere a barreiras tarifárias, cabemencionar que o Japão vem concedendo acessopreferencial, sob a forma de quotas tarifárias, parapaíses com quem tem negociado Acordos de Li-vre Comércio nos últimos anos (Cingapura, Mé-xico, Filipinas, Tailândia, Malásia, Coréia e Chi-le). No acordo de livre comercio concluído como México, por exemplo, o Japão concedeu quotatarifária para suco de laranja (o Brasil é o maiorfornecedor desse produto para o mercado japo-nês, com 75 % das importações totais em 2004).

Nas negociações com a Tailândia, o Japão fezoferta de uma quota para carne de frango, outroproduto de grande interesse para o Brasil no mer-cado nipônico6. Ainda não há estudos detalhadossobre os efeitos de tais acordos sobre o nível deacesso dos produtos agrícolas brasileiros ao mer-cado japonês. Contudo, não seria descabido su-por que, no caso do Acordo de Livre Comércio(ALC) com a Tailândia, tal impacto deverá ser im-portante em produtos como a carne de frango.

No que tange a barreiras não-tarifárias, cabe des-taque às medidas de natureza sanitária efitossanitária, cuja aplicação – deve-se mencio-nar – costuma orientar-se mais bem por questõesde precaução do que por avaliações de risco de-vidamente baseadas em critérios científicos.

4 Em setembro de 2005, o parlamento japonês aprovou uma emenda à Lei de Gerenciamento da Agricultura (Agricultural Management Reinforcement Law) permitindoa posse de terras agrícolas por parte de empresas privadas e organizações sem fins lucrativos.

5 OMC (2004, 2006).6 Em 2004, o produto brasileiro correspondeu a 85 % das importações japonesas, ocupando o espaço aberto pela proibição às importações da China e da Tailândia,

principais fornecedores tradicionais do Japão, por conta de ocorrência de gripe aviária naqueles países.

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Desde 2002, a política japonesa nessa área vemsofrendo modificações com adoção de práticasainda mais restritas. Nesse contexto, destaca-sea aprovação pelo parlamento japonês, em mea-dos de 2003, da New Food Safety Basic Law. Essalegislação estabeleceu novas diretrizes relativasà sanidade animal e inocuidade alimentar, aexemplo de rigorosos requisitos de rastreabilidade,e reformulou a estrutura de agências governamen-tais responsáveis pelo assunto, com a criação doFood Safety and Consumer Affairs Bureau. Esseórgão, ao qual estão vinculadas unidades tantodo Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca(Maff) como do Ministério da Saúde (MHLW), pas-sou a atuar como instância coordenadora do tra-tamento dos temas relativos a sanidade animal einocuidade alimentar de modo geral.

Em parte, tais mudanças se explicam como umareação do governo às pressões exercidas pelosconsumidores japoneses na esteira dos escânda-los associados à ocorrência de EncefalopatiaEspongiforme Bovina (BSE) no Japão desde finsde 2001 e a outros escândalos alimentares, so-bretudo no que concerne a fraudes praticadas narotulagem de determinados produtos.

Os padrões internacionais mais conhecidos emmatéria sanitária, a exemplo da OrganizaçãoMundial de Sanidade Animal (OIE), e fitossanitária,como os da International Plant ProtectionConvention (IPPC) na maioria dos casos são rejei-tados pelas autoridades japonesas com base naalegação de que seriam pouco rígidos. No quetange aos padrões internacionais de sanidadeanimal, o Japão se recusa a aceitar o princípio daregionalização em matéria de áreas livres de do-enças animais infecciosas (pest or disease-freeareas or regions), princípio este consagrado pelaOIE.

Em relação à febre aftosa, por exemplo, o gover-no japonês exige que a totalidade do território deum determinado país esteja livre da doença e quetal situação prevaleça sem vacinação. É por isso

que o Japão mantém proibição à importação decarne bovina in natura do Brasil. Os requisitos eexigências adotados por outros importantes paí-ses desenvolvidos, a exemplo dos Estados Uni-dos e da União Européia, tampouco são conside-rados suficientemente seguros pelas autoridadesjaponesas7.

SubsídiosCom relação a subsídios, cabe enfatizar que,embora o Japão não faça uso de subsídios à ex-portação, o montante gasto pelo país no apoio àprodução interna está entre os maiores do mun-do. O volume total dos recursos financeiros trans-feridos direta ou indiretamente pelo Estado ao pro-dutor, medido pelo Producer Support Estimate (PSE)da OCDE, equivale a cerca de 1,3 % do PIB (cer-ca de US$ 70 bilhões), sendo praticamente igualao próprio nível de participação do setor na eco-nomia japonesa (1,4 %).

Acredita-se que grande parte desse volume deapoio interno tenha efeito distorcivo, particular-mente no que se refere à ajuda oferecida sob aforma de políticas de preços administrados e depagamentos diretos vinculados a metas de pro-dução (production targets). Adicionalmente, taismodalidades de apoio, além de distorcer padrõesde comércio ao inflar artificialmente a produção,também acabam causando danos ao meio ambi-ente ao estimular o uso intensivo de insumos agrí-colas8.

Em termos de sua porcentagem da receita do se-tor agrícola, embora o volume de apoio ao produ-tor tenha sido reduzido de 61 % de 1986-1988para 58 % de 2002-2004, esse montante ainda équase duas vezes superior à média dos demaismembros da OCDE. Os principais produtos bene-ficiados pela política de subsídios agrícolas são oarroz, seguido, de longe, pelo trigo e outros tiposde grãos.

7 Outro exemplo ilustrativo da postura japonesa nessa matéria diz respeito às negociações em torno do acesso das mangas brasileiras ao mercado japonês, quese estenderam por quase 30 anos.

8 OCDE (2005); OMC (2004, 2006).

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No mesmo período, de 2002 a 2004, os preçosdos produtos agrícolas no mercado doméstico ja-ponês continuaram cerca de duas vezes e meiamais altos do que os preços internacionais, compouca alteração em relação ao período 1986-1988. Os preços de custo (ou custo de produção)de alguns produtos agrícolas são sete vezes maiscaros do que os preços internacionais (arroz), seisvezes mais caros (trigo) e mesmo oito vezes maiscaros (açúcar). Estima-se que o custo de produ-ção de 1 t de açúcar em Okinawa (principal re-gião produtora) fique em torno de US$ 1.000 dó-lares, ou cerca de oito vezes mais do que o custode produção no Brasil, por exemplo9.

Em 2003, a receita bruta do setor agrícola (o valorbruto da produção) foi duas vezes e meia superi-or ao que teria sido na ausência do apoio estatal.Portanto, é esse mix de medidas de apoio estatalque, em combinação com as medidas tarifárias e

não-tarifárias de proteção do mercado domésti-co, tem permitido ao Japão sustentar o funciona-mento de sua produção agrícola doméstica, man-tendo inalterado, em torno de 40 %, o índice deauto-suficiência alimentar do país.

ReferênciasOMC/WTO. Organização Mundial do Comércio. TradePolicy Review. Japan, 2004.

OMC/WTO. Organização Mundial do Comércio. TradePolicy Review. Japan, 2006.

OCDE. Organização para a Cooperação e o Desenvolvi-mento Econômico. Agricultural policies in OECD countries:monitoring and evaluation. [Paris], 2005.

OMC/WTO. Organização Mundial do Comércio. Comitêde Agricultura. [Genebra], 2004. (Documento. G/AG/N/JPN,98)

9 OCDE (2005).

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Análise de viabilidadetécnica de oleaginosaspara produção debiodiesel em MatoGrosso do Sul

Renato Roscoe1

Alceu Richetti2

Euclides Maranho3

Resumo: O biodiesel é uma importante alternativa energética para o Brasil e em particular para MatoGrosso do Sul, tendo suas bases legais já estabelecidas e uma cadeia produtiva em estruturação. Oobjetivo do presente estudo foi avaliar a viabilidade técnica de oleaginosas potenciais para MatoGrosso do Sul, analisando as informações disponíveis sobre suas características e sobre a base deconhecimento para sua recomendação. Em função de suas características e ocorrência no estado,foram selecionadas nove oleaginosas, sendo sete anuais: soja (Glycine max), algodão herbáceo(Gossypium hirsutum), girassol (Helianthus annuus), mamona (Ricinus communis), amendoim (Arachishypogeae), canola (Brassica campestris) e nabo (Raphanus sativus); e duas perenes: pinhão-manso(Jatropha curcas) e macaúba (Acrocomia totae e A. aculeata). Concluiu-se que as alternativas maisviáveis, em curto prazo, são a soja e o algodão, sendo a primeira a mais provável de atender à deman-da. O girassol apresenta posição intermediária e poderá ser viabilizado rapidamente, com um peque-no esforço em desenvolvimento tecnológico e organização da cadeia. A mamona, o amendoim, acanola e o nabo necessitam de um tempo maior de pesquisa e adaptação de materiais ao estado. Opinhão-manso e a macaúba levarão, ainda, um longo período para terem seu sistema de produçãodefinido, mas são fortes as indicações de que, em curto prazo, ambas farão parte da matriz de oleagi-nosas de Mato Gosso do Sul, mesmo sem as condicionantes técnicas exigidas para sua recomenda-ção.

Palavras Chave: Oleaginosas; Biodiesel; Agroenergia; Mato Grosso do Sul.

Abstract: Biodiesel represents an important alternative source of energy to Brasil and, in particular,Mato Grosso do Sul State, having its legal basis established and its production chain under construction.The present study aimed at evaluating the technical viability of potential oilseeds to Mato Grosso doSul, analyzing the available information on their characteristics and on the accumulated knowledge totheir recommendation. We selected, from their characteristics and occurrence in the State, nine oilseeds,being seven annual: Soybean (Glycine marx), herbaceous cotton (Gossypium hirsutum), sunflower

1 Engenheiro-agrônomo, PhD, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste. Caixa Postal 661, CEP 79804-970, Dourados, MS - [email protected] Administrador de empresas, M.Sc., Embrapa Agropecuária Oeste - Caixa Postal 661, CEP 79804-970, Dourados, MS - [email protected] Administrador rural da Embrapa Agropecuária Oeste - Caixa Postal 661, CEP 79804-970, Dourados, MS - [email protected]

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(Helianthus annuus), castor beans (Ricinus communis), peanuts (Arachis hypogeae), canola (Brassicacampestris) and raphanus (Raphanus sativus); and two perennials: physical nut (Jatropha curcas) and"macaúba" (Acrocomia totae and A. aculeata). We concluded that the most viable alternatives in ashort term would be soybean and herbaceous cotton, being the first the most likely to fulfill the demand.Sunflower is in an intermediate position and may be quickly suitable for recommendation, with smallefforts in technological development and chain organization. The castor beans, peanuts, canola andraphanus need more intensive research and adaptation of materials. The physical nuts and "macaúba"will take a long period to have their production system defined, but there are strong evidences that bothwill be part of the oilseeds matrix in a short term in Mato Grosso do Sul, even without the technicalconditions needed to their recommendation.

Key words: Oilseeds; Biodiesel; Agro-energy; Mato Grosso do Sul State, Brazil.

IntroduçãoEmbora tenha sido cogitado como fonte alternati-va de combustível no Brasil desde 1975, por oca-sião do Plano de Produção de Óleos Vegetais paraFins Energéticos (Pró-Óleo), só no final de 2004 einício de 2005, o biodiesel passou a constituir umaalternativa concreta de combustível líquido, apartir do lançamento do Programa Nacional deProdução e Uso de Biodiesel (PNPB) e do estabe-lecimento de seu marco regulatório, pelas Leisno 11.097/2005 (estabelecimento de mistura com-pulsória de biodiesel no diesel de petróleo) e no11.116/2005 (tributação federal sobre o biodiesel)e as Resoluções ANP no 41 e 42 (especificaçõestécnicas do biodiesel). Uma vez estabelecido oPNPB, vários empreendedores passaram a estu-dar as possibilidades de inserção nesse novo mer-cado, tendo como um dos fatores básicos de suasanálises a viabilidade das diversas fontes de ma-téria-prima.

Obtido a partir da transesterificação de óleos egorduras de origem animal ou vegetal, o biodieselé composto por alquil-ésteres de ácidos graxosde cadeia longa, sendo compatível com o dieselde petróleo, podendo substitui-lo em misturas va-riadas. A Lei no 11.097/2005 estabelece aobrigatoriedade da mistura de 2 % de biodieselao diesel de petróleo a partir de janeiro de 2008,passando a constituir, também em caráter com-pulsório, 5 % a partir de janeiro de 2013. Entre-tanto, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Na-tural e Biocombustíveis (ANP) permitiu, de forma

autorizativa, a utilização de até 2 % de biodieseljá a partir de janeiro de 2006, intermediando asnegociações por meio de leilões. Ao longo de 2005e 2006, a ANP realizou quatro leilões, onde fo-ram arrematados 840 mil toneladas de biodiesel,a serem entregues pelas indústrias até o final de2007.

Conforme mencionado, a partir de 2008, opercentual de 2 % passa de autorizativo para com-pulsório, não havendo a intermediação da ANPnas negociações, sendo as distribuidoras obriga-das a adquirir o produto diretamente no mercado.Esse limite compulsório sobe para 5 % em 2013,mas existem estudos da ANP para antecipar deforma autorizativa 3 % extras, já a partir de 2008.Assim, estima-se para 2008 um mercado potenci-al de 2,5 milhões de toneladas de biodiesel porano, sendo cerca de 1 milhão de toneladas porlimite compulsório e mais 1,5 milhão de tonela-das autorizativos (3 % adicionais, que seriamcomercializados em leilões da ANP).

Para atender a esse mercado emergente, váriosprojetos de usinas estão em andamento no Brasil.A capacidade instalada atual, autorizada pelaANP, soma cerca de 640 mil toneladas por anoem 19 plantas industriais espalhadas pelo País(AGENCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁSNATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2007). Até omomento, em Mato Grosso do Sul, nenhuma em-presa obteve a autorização da ANP.

Um fator importante para viabilizar os empreen-dimentos em biodiesel é a garantia do suprimento

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de matéria-prima para a indústria. A análise deviabilidade dos investimentos passa por um am-plo estudo das questões econômicas, sociais eambientais, envolvidas na produção dobiocombustível. Nesse processo, um dos fatoresmais importantes é a viabilidade das diversas fon-tes de óleos e gorduras. Apesar da gordura ani-mal, principalmente o sebo bovino, e as gordurasresiduais apresentarem cotações mais baixas nomercado, as quantidades disponíveis desses ma-teriais são marginais para os volumes de produ-ção necessários. Por isso, a viabilização dos em-preendimentos passa pela utilização dos óleos deorigem vegetal.

A análise de viabilidade de diferentes óleos ve-getais para produção de biodiesel compreendediversas etapas, iniciando pela avaliação de suascaracterísticas potenciais e de sua viabilidadetécnica como cultura agrícola. Somente após es-sas etapas é que se podem proceder as demaisanálises de viabilidade econômica e ambiental,incluindo-se questões de logística, comerciali-zação e impactos ambientais.

O objetivo do presente estudo foi avaliar a viabi-lidade técnica de oleaginosas para produção debiodiesel em Mato Grosso do Sul, analisando-seas informações disponíveis sobre suas caracterís-ticas potenciais e sobre a base de conhecimentopara sua recomendação.

Metodologia de análiseA análise da viabilidade das oleaginosas para aprodução de biodiesel foi feita avaliando-se suascaracterísticas potenciais (produtividade média,teor de óleo, produtividade de óleo por área, qua-lidade do óleo para biodiesel e utilidade dossubprodutos); de sua viabilidade técnica comocultura agrícola (informações agronômicas dispo-níveis para a tomada de decisão); e de uma aná-lise histórica de sua produção, potencialidades elimitações. Foi feita também uma avaliação dascaracterísticas potenciais de dois grupos de olea-ginosas: culturas tradicionais e espécies perenes,nativas ou não, com ocorrência registrada emMato Grosso do Sul.

As informações técnicas disponíveis sobre as ole-aginosas foram levantadas por meio de análisedocumental e consultas a especialistas, onde fo-ram avaliados os quatro parâmetros básicos parasua recomendação:

Zoneamento Agrícola de Risco Climático – Tra-ta-se de um instrumento de política agrícola e ges-tão de risco agrícola, sob responsabilidade doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento (Mapa), o qual estabelece o risco de per-das de lavouras em função da ocorrência de even-tos climáticos adversos, principalmente a seca(BRASIL, 2006). O zoneamento agrícola é pré-requisito para a recomendação de culturas numadeterminada região, sendo utilizado como um doscritérios básicos para concessão de crédito decusteio agrícola oficial e de seguro rural privadoe público.

Sistema de Produção – Publicação técnica ela-borada por técnicos e pesquisadores de institui-ções de pesquisa estaduais ou federais, contendoinformações básicas sobre as culturas e seu ma-nejo, envolvendo conhecimentos sobre as carac-terísticas da planta, técnicas de plantio, aduba-ção, doenças, pragas, processamento, armazena-mento e comercialização.

Materiais Selecionados Indicados – Material ge-nético conhecido e desenvolvido por instituiçõesde pesquisa ou empresas, sendo devidamente pro-tegido pela legislação em vigor, Lei de Proteçãode Cultivares, Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997,tendo sua indicação devidamente reconhecidapelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Mapa).

Infra-estrutura de Produção de Sementes e Mu-das Certificadas – Condições legais e de infra-estrutura para produção suficiente de sementes emudas certificadas, respeitando as devidasespecificações e garantias de qualidade,estabelecidas pela Lei nº 10.711, de 5 de agostode 2003, que estabelece o Sistema Nacional deSementes e Mudas.

Para a análise histórica de sua produção, potencia-lidades e limitações de cada oleaginosa, foramutilizados dados estatísticos dos últimos 10 anos(quando existentes), informações obtidas nos ban-

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cos de dados estatísticos da Companhia Brasilei-ra de Abastecimento (Conab).

Oleaginosas tradicionaisDentre as culturas agrícolas tradicionais, em fun-ção de sua ocorrência no estado e da disponibili-dade das informações requeridas, foramselecionadas soja (Glycine marx), algodão her-báceo (Gossypium hirsutum), girassol (Helianthusannuus), mamona (Ricinus communis), amendo-im (Arachis hypogeae), canola (Brassicacampestris) e nabo (Raphanus sativus) (Tabela 1).

Dentre essas culturas, observam-se dois gruposquanto aos teores de óleo. O primeiro grupo - for-mado pela soja e o algodão - apresenta teores deóleo inferiores a 20 %. O segundo grupo é forma-do por oleaginosas com teores de óleo próximosou acima de 40 %. Uma característica importan-te do girassol, do amendoim, da canola e do naboé seu cultivo em segunda safra em Mato Grossodo Sul, não competindo com a soja e o algodão.Por sua vez, a mamona concorre com essas duasculturas, podendo inclusive ser cultivada em ci-clos bianuais (MELHORANÇA; STAUT, 2005).

Quanto à produtividade de óleo por área, obser-va-se que a grande maioria das culturas agríco-

las tradicionais produz menos de 1 t ha(-1) ano(-1),com exceção de girassol e amendoim, que po-dem alcançar valores maiores, quando em con-dições de elevado nível tecnológico. A utilizaçãodos resíduos na ração animal é comum paratodas as culturas com exceção da mamona,cuja torta apresenta elevada toxidade(MELHORANÇA; STAUT, 2005). Quanto à quali-dade do óleo, somente a mamona apresenta res-trições à produção de biodiesel, em função de suaelevada viscosidade, que pode atingir valores 100vezes superiores aos do diesel de petróleo (FUN-DAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINASGERAIS, 1983b).

A avaliação sobre a disponibilidade de informa-ções técnicas relativas às oleaginosas tradicionaispré-selecionadas revelou que somente para asculturas da soja e do algodão estão disponíveistodas as informações necessárias para sua reco-mendação (Tabela 2). Para o girassol, estão dis-poníveis o zoneamento agrícola e a estrutura paraprodução de sementes certificadas. Para amamona, estão disponíveis o sistema de produ-ção e a estrutura para produção de semente. Paraas demais culturas, nenhuma das informações téc-nicas exigidas para sua recomendação encontra-se disponível.

4 Comunicado pessoal, feito pelo pesquisador Dr. Gessi Ceccon da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS, em 08 jan. 2007.5 Comunicado pessoal, feito pelo pesquisador Dr. Gilberto Omar Tomm da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, em 08 jan. 2007.

Tabela 1. Características das oleaginosas potenciais para produção de biodiesel, no Mato Grosso do Sul.

(1) Fonte: Agrianual (2007); Conab (2007); PNA - Plano Nacional de Agroenergia... (BRASIL, 2005).(2) Fonte: Ceccon (2007) informação verbal4; Tomm (2007) informação verbal5(3) Fonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (1984a,b) e estimativas realizadas a partir de plantas adultas isoladas e extrapoladas,

considerando espaçamentos aparentemente viáveis (ROSCOE et al., 2007) .(4) Produtividade de óleo por área foi calculada considerando a produção média de algodão herbáceo em caroço (CONAB, 2007), sendo 38 % de fibra

e 62 % de caroço, e teor de óleo médio extraível do caroço de 15 % (ALGODÃO..., 2001).

2,7 – 3,31,8 – 3,31,2 – 2,01,0 – 1,52,5 – 2,91,0 – 1,50,3 – 1,02,0 – 5,010 – 15

ProdutividadeMédia (t ha-1)

Algodão herbáceo(1,4)

Soja(1)

Girassol(1)

Mamona(1)

Amendoim(1)

Canola(2)

Nabo(2)

Pinhão-manso(3)

Macaúba(3)

Oleaginosa

1518

38 – 4845 – 4840 – 43

3835 – 4035 – 4020 – 30

Teor de óleo(%)

0,2 – 0,30,3 – 0,60,5 – 1,90,5 – 0,71,0 – 1,20,4 – 0,60,1 – 0,40,7 – 2,02,0 – 4,5

Produtividade deóleo por área (t ha-1)

BoaBoa

Muito BoaRegular

BoaMuito BoaMuito boaMuito boa

Regular/Boa

Qualidadedo óleo

Ração animalRação animalRação animal

AduboRação animalRação animalRação animal

AduboRação animal e carvão

Subprodutos(t ha-1)

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A soja é a espécie com o maior volume de infor-mação disponível, tendo seu zoneamento agríco-la definido e atualizado pelas Portarias do Mapanº 81, de 9 de junho de 2006, e nº 168, de 6 deoutubro de 2006, com cerca de 120 cultivaresindicadas oficialmente para o estado. O sistemade produção de soja para Mato Grosso do Sul(TECNOLOGIAS..., 2006) é definido e revisadoanualmente, nas reuniões de pesquisa de soja daRegião Central do Brasil, atualmente em sua vi-gésima-nona edição.

O sistema de produção de sementes certificadasencontra-se bem estabelecido, embora parte dassementes seja ainda importada de outras Unida-des da Federação. As estruturas de armazena-mento, transporte, processamento e comerciali-zação encontram-se atualizadas e suprem ade-quadamente a demanda atual (ESTUDO..., 2003).

Menos de 5 % da soja do estado é exportada naforma de grão (MATO GROSSO DO SUL, 2007).A capacidade instalada para o esmagamento éde aproximadamente 3 milhões de toneladas porano (Tabela 3), sendo o restante processado forado estado.

Em Mato Grosso do Sul, a área plantada e a pro-dução de soja aumentaram significativamente nosúltimos 10 anos, atingindo um ápice na safra 2004/2005, com pouco mais de 2 milhões de hectaresplantados (Fig. 1). Entretanto, houve uma tendên-cia de redução de área nas safras 2005/2006 e2006/2007. Na área plantada, tal recuo se deveàs condições adversas para o agronegócio da sojanos últimos 3 anos, com uma combinação de câm-bio pouco favorável (real muito valorizado), pre-ços internacionais pressionados pelos elevadosestoques de passagem e problemas climáticos

Tabela 2. Informações sobre oleaginosas potenciais para produção de biodiesel, em Mato Grosso do Sul.

Fonte: Brasil (2006); Tecnologias... (2006); Melhorança; Staut (2005); Melo Filho; Richetti (2003); Algodão... (2001).

XXX------

ZoneamentoAgrícola

Algodão herbáceoSojaGirassolMamonaAmendoimCanolaNaboPinhão-mansoMacaúba

Oleaginosa

XX-X-----

Sistema deProdução

XX-------

Materiais CertificadosIndicados p/ MS

XXXX-----

Infra-estrutura deProdução Materiais

Certificados

Tabela 3. Capacidade de recebimento (t dia-1) e esmagamento (t dia-1), nas indústrias de Mato Grosso do Sule sua localização.

Fonte: informação verbal, consulta telefônica - Fevereiro de 2007.

4.000 t dia-1

1.081 t dia-1

2.200 t dia-1

2.000 t dia-1

2.000 t dia-1

1.200 t dia-1

1.200 t dia-1

Capacidade deRecebimento

(t/dia)

ADMBunge Alimentos S/ACargill AgrícolaSperaficoBunge Alimentos S/ASperaficoDiplomata S/A Industrial e ComercialTotal

Indústria

1.100 t dia-1

Desativada2.000 t dia-1

1.800 t dia-1

1.700 t dia-1

1.000 t dia-1

1.000 t dia-1

8.600 t dia-1

Capacidadede Esmag.

(t/dia)

Campo GrandeCampo Grande

Três LagoasBataguassuDouradosPonta PorãFátima Sul

Localidade

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causando frustrações de safras (2003/2004 e 2004/2005). Tais fatores levaram a uma perda delucratividade para o produtor e a um elevado graude endividamento do setor (MORAES FILHO,2007). Foi observada uma quebra significativa dassafras 2003/2004 e 2004/2005 (Fig. 1), refletindoa quebra de produtividade das lavouras, ocasio-nada por sérios problemas climáticos. As produti-vidades médias do Estado, que entre as safras1997/1998 e 2002/2003 foram superiores a 2,5t ha(-1), caíram para pouco mais de 1,8 t ha(-1), nassafras 2003/2004 e 2004/2005.

Em 2005/2006, embora tenha sido registrada atendência de queda da área plantada, as condi-ções foram mais favoráveis, retomando as produ-tividades médias do Estado, sendo prevista para2006/2007 uma produtividade superior a 2,6t ha(-1). Com isso, houve uma retomada das produ-ções globais de Mato Grosso do Sul que, na safraatual, devem registrar recordes históricos (Fig. 1).

definirão sua disponibilidade ou não para a rotade produção de biodiesel. Essa questão se agravaquando se leva em consideração que a soja é tidacomo uma cultura fornecedora de proteínas paraas diversas cadeias produtivas de carnes e de-mais produtos de alimentação animal.

O óleo sempre foi considerado um subproduto nacadeia da soja, sendo o mercado governado pelademanda de farelo. Os estoques mundiais de sojaencontram-se em níveis recordes (acima de 23 %da produção mundial), principalmente em funçãoda redução na demanda por farelo, ocasionadapelos impactos da gripe aviária na produção deaves na Ásia (MORAES FILHO, 2006). A viabili-dade da soja como matéria-prima para o biodiesel,portanto, sofrerá interferências da capacidade deabsorção de farelo pelo mercado interno e exter-no, além, evidentemente, da competição com omercado de óleos para a indústria alimentícia.

O algodão herbáceo também apresenta todos osrequisitos para a sua recomendação, tendo seuzoneamento agrícola atualizado pela PortariaMapa no 110, de 4 de julho de 2006, contandocom 27 cultivares indicadas oficialmente e siste-ma de produção publicado pela Embrapa (ALGO-DÃO..., 2001). O sistema de produção de semen-tes certificadas não se encontra estabelecido noestado. Entretanto, o suprimento é feito pelos Es-tados de Goiás, Paraná e Mato Grosso.

O óleo de algodão apresenta boa qualidade paraa produção de biodiesel (FUNDAÇÃO CENTROTECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS, 1983b), mastambém é muito apreciado no mercado alimen-tício (ALGODÃO..., 2001; MELO-FILHO;RICHETTI, 2003). O farelo representa um rico ali-mento protéico para rações animais, sendo maisconsumido na suplementação de bovinos(ALGODÃO..., 2001), disputando mercado como farelo de soja.

A área plantada de algodão em Mato Grosso doSul girou em torno de 50 mil hectares, entre assafras de 1997/1998 e 2004/2005 (Fig. 2). Em 2005/2006, houve uma drástica redução na área plan-tada, acarretada por problemas climáticos e câm-bio desfavorável. As produções foram crescentesde 1996/1997 a 2000/2001 (Fig. 2), refletindo um

Fig. 1. Série histórica da área plantada e produçãode soja em Mato Grosso do Sul.Fonte: Conab (2007) .

A partir da análise dos dados levantados, obser-va-se que a soja tem todas as condições técnicaspara suprir a demanda imediata de óleo para aindústria de biodiesel, constituindo uma oleagi-nosa viável tecnicamente. Entretanto, deve-seatentar para o fato da soja ser uma commodityagrícola e, como tal, estar sujeita a oscilações depreço e demanda do mercado externo (FRAGA;MEDEIROS, 2005). Tais variações certamente

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aumento de área plantada já na safra 1997/1998e, sobretudo, uma elevação na de produtivida-de média, que saltou de 2 t ha-1 para 3,5 t ha-1,nesse período. Após essa ascensão, houve umaestabilização da produção em cerca de 170.000t/ano-1.

Nas últimas duas safras, acompanhando a mes-ma tendência da área plantada, houve significa-tiva redução na produção de algodão no estado.Segundo dados levantados por Melo-Filho eRichetti (2003), a produção de algodão em MatoGrosso do Sul concentra-se no norte do estado,nas Microregiões de Cassilândia (71 %) e AltoTaquari (10 %).

Segundo os autores, a produção é caracterizadapor elevado nível tecnológico. Não existem em-presas de esmagamento de caroço de algodãono estado, sendo que no Brasil essa indústria en-contra-se concentrada em apenas três empresas.Sabe-se que parte do caroço de algodão écomercializado para o consumo direto na alimen-tação de bovinos. Embora não tenham sido en-contradas estatísticas específicas sobre tal consu-mo, estima-se que o consumo direto de caroçode algodão não tenha atingido 15 % da produçãototal brasileira em 2004. Tal estimativa deriva-seda comparação entre a produção total de caroçode algodão (Conab, 2007) e a quantidade de óleode algodão produzida em 2004, segundo a Asso-ciação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais(Abiove).

Como existem indústrias em São Paulo, próximasàs regiões produtoras, não se espera que existamgrandes excedentes de caroço de algodão emMato Grosso do Sul, para um possível aproveita-mento na indústria de biodiesel. Portanto, enten-de-se que a disponibilidade de óleo de algodãopara biodiesel terá a acirrada competição com omercado de alimentos e dependerá, ainda, dacolocação dos excedentes de farelo no mercado.Entretanto, o grande impulsionador da produçãode algodão é o mercado de fibras, sendo que obiodiesel poderá, no máximo, representar melhoralternativa para a utilização de um de seus pro-dutos complementares (óleo), contribuindo paraa redução do custo final do algodão nacional epara o aumento de competitividade da cadeia.

A cultura do girassol atende a somente dois dosrequisitos técnicos necessários para sua recomen-dação em Mato Grosso do Sul (Tabela 2). A pri-meira versão do zoneamento agrícola foi recen-temente publicada na Portaria Mapa no 245, de14 de dezembro de 2006. O sistema de produçãode sementes certificadas, embora não exista efe-tivamente no estado, tem uma boa integração comos estados vizinhos, havendo disponibilidade desementes no mercado, para atender a demandaatual. A cultura do girassol tem um bom nível deentendimento técnico, sendo conhecidas as prin-cipais técnicas de cultivo e havendo uma boa dis-ponibilidade de materiais genéticos melhorados(LEITE et al., 2005). Entretanto, seu sistema de pro-dução para Mato Grosso do Sul não foi ainda de-finido e nem existem materiais oficialmente reco-mendados para o estado. A estrutura de crédito eseguro agrícola encontra-se em processo deformatação, assim como as discussões para a ela-boração de recomendações técnicas oficiais parao estado.

A área plantada e a produção de girassol em MatoGrosso do Sul é ainda muito pequena, mesmoconsiderando o recente estímulo à cultura (Fig.3). Desde a safra de 1997/1998, tirando a abruptaelevação de produção observada em 1999/2000,a produção vem crescendo consideravelmente.Essa grande elevação em área e produção na safra1999/2000 foi ocasionada, segundo técnicos eespecialistas consultados, pela expectativa de

Fig. 2. Série histórica da área plantada e produçãode algodão herbáceo em caroço em Mato Grosso doSul.Fonte: Conab (2007).

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implantação de uma grande indústria de esma-gamento, a qual não se concretizou.

O girassol é recomendado para plantio de segun-da safra (outono/inverno), em sucessão às cultu-ras de verão como soja e algodão. Atualmente,seu maior concorrente por área é o milho safrinha,que também é recomendado para as mesmasépocas e tem ocupado cerca de 600 mil hectaresanualmente no estado. Com a crescente deman-da por milho no mercado externo para produçãode etanol nos Estados Unidos, essa commodity temseguido tendência de alta no mercado(AGRIANUAL, 2007). Isso vem contribuindo parao aumento da competitividade do milho frente aoutras culturas de segunda safra, o que certamenteterá impacto importante na decisão dos produto-res em investir em girassol.

menor quantidade que as oleaginosas citadas, acolocação do farelo de girassol no mercado cons-titui fator importante na viabilidade econômica desua cadeia.

Embora existam registros de plantios de mamonae amendoim, em Mato Grosso do Sul, na décadade 1980, até meados da década de 1990, atual-mente essas culturas ainda são inexpressivas.A Conab estima que na última safra foram planta-das cerca de 2 mil hectares de amendoim e nãopossui registros de plantios comerciais demamona. São culturas bastante conhecidas emoutras regiões do País, o que facilita sua adapta-ção para Mato Grosso do Sul, mas até o momentonão possuem bases técnicas bem definidas paraa região (Tabela 2).

Encontra-se disponível o primeiro sistema deprodução de mamona para o estado(MELHORANÇA; STAUT, 2005), mas não exis-tem zoneamento agrícola e materiais indicadosoficialmente. A estrutura de fornecimento de se-mentes é precária, dependendo de importação desementes de outras partes do País. O óleo é muitovalorizado no mercado, com diversas aplicaçõesna indústria química (MELHORANÇA; STAUT,2005), o que faz com que suas cotações sejamaté duas vezes superiores às do óleo de soja.

A baixa densidade das bagas implica na existên-cia de uma estrutura de logística específica, nãosendo viável o transporte a longas distâncias. Osequipamentos para extração de óleo são diferen-tes das demais oleaginosas, inviabilizando suautilização em plantas industriais adaptadas paragrãos de soja ou girassol. Sua viabilidade comoalternativa para produção de biodiesel vai depen-der não somente do equacionamento dascondicionantes técnicas para sua produção, mastambém do estabelecimento de estruturas decomercialização, logística e processamento.

Os plantios de amendoim ocorrem no norte doestado, sendo feitos com elevado níveltecnológico, o que vem garantindo produtivida-des por volta de 2,5 t ha(-1). Não existem materiaisselecionados, zoneamento agrícola, sistema deprodução e estrutura para produção e fornecimen-to de sementes (Tabela 2). O óleo alcança valoressuperiores aos da soja e mesmo aos do girassol

Fig. 3. Série histórica da área plantada e produçãode girassol em Mato Grosso do Sul.Fonte: Conab (2007).

O óleo de girassol apresenta excelente qualida-de para produção de biodiesel, mas é muito apre-ciado na alimentação humana. Historicamente,seus preços no mercado internacional estão sem-pre acima das cotações do óleo de soja(AGRIANUAL, 2007). Em função disso, sua dis-ponibilidade para a indústria de biodiesel serácondicionada a arranjos específicos, onde não setenha a oportunidade de comercialização para aindústria alimentícia. Os principais resíduos se-guem para a indústria de rações animais, concor-rendo com fontes tradicionais de proteínas comoo farelo de soja e algodão. Embora produzido em

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no mercado, sendo destinado à indústria alimen-tícia. A torta também é aproveitada na indústriade rações, sofrendo as mesmas interferências ci-tadas para farelo de soja, algodão e girassol. Em-bora tenha um potencial importante nas áreas derenovação de canaviais, principalmente diante daexpansão do setor sucroalcooleiro no estado, di-ficilmente terá seu óleo destinado à produção debiodiesel, a não ser em arranjos específicos e lo-calizados.

A canola e o nabo constituem espécies ainda pou-co trabalhadas em Mato Grosso do Sul. Assimcomo para o amendoim, não há nenhuma dascondicionantes técnicas estabelecidas para suarecomendação (Tabela 2). Na década de 1980,foram realizados estudos com a canola no esta-do, demonstrando bom potencial. Atualmente,novos estudos vêm sendo conduzidos pelaEmbrapa Trigo, confirmando essa potencialidade.O zoneamento agrícola está sendo elaborado edeverá estar pronto em 2008 (TOMM, informa-ção verbal)6. Não há área e nem produção ex-pressiva até o momento. Seu óleo, apesar de ex-celente para a fabricação de biodiesel, tem usopreferencial na alimentação humana, concorren-do com o de girassol em segmentos nobres domercado.

O nabo vem sendo cultivado em Mato Grosso doSul como planta de cobertura (SALTON et al.,1995), mas sem um trabalho sistemático de sele-ção e melhoramento para produção de grãos eóleo. Não existem informações sobre o estabele-cimento de um mercado para seu óleo. Sua prin-cipal vantagem reside no fato de constituir partedo sistema de rotação de culturas da região, sen-do atribuídos aumentos de até 20 % na produçãode milho em sucessão a essa espécie (SALTONet al., 1995).

Das oleaginosas tradicionais estudadas, somentesoja, algodão e girassol apresentam produçõessignificativas no estado. Caso toda a produçãodessa oleaginosas fosse convertida em óleo, seri-am produzidos cerca de 850 mil toneladas deóleo, sendo que a soja representaria 97 % dessetotal, o algodão 2 % e o girassol 1 %.

Oleaginosas não tradicionaisVárias plantas nativas do Bioma Cerrado, comocorrência registrada em Mato Grosso do Sul, sãoclassificadas como oleaginosas úteis (ALMEIDAet al., 1998). Dentre essas, foram consideradasna análise inicial, por seu elevado teor de óleo erelatos de uso tradicional, a macaúba ou bocaiúva(Acrocomia aculeata e A. totae.), o buriti (Muritiaflexuosa), o baru (Dipteryx alata), o pequi(Caryocar brasiliense) e a copaíba (Copaiferalangsdorffi). Embora tenham potencial oleagino-so, o baru, a copaíba e o pequi, não foram seleci-onados, pois ocorrem em populações esparsas eseus óleos - atualmente produzidos de formaartesanal em pequenas quantidades - têm seu usopreferencial em fármacos e cosméticos. O buritiocorre em grandes populações em áreas especí-ficas da paisagem, nas chamadas veredas, e apre-senta teores elevados de óleo. Entretanto, as ve-redas são áreas extremamente frágeis, sendo clas-sificadas como de preservação permanente, emdecorrência de suas importantes funções ecoló-gicas. Por isso, num primeiro momento, descar-tou-se o buriti como alternativa viável.

Portanto, a macaúba ou bocaiúva foi a única ole-aginosa nativa selecionada, apresentando,além de elevado teor de óleo (Tabela 1), ocorrên-cia natural em elevadas densidades em áreas desequeiro. Existem ainda vários relatos de utiliza-ção tradicional da macaúba como fonte de óleopara fins alimentícios, fabricação de sabões e pro-dução de energia (FUNDAÇÃO CENTROTECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS, 1983a,b;ALMEIDA et al., 1998).

Dentre as oleaginosas selecionadas, a macaúbaapresenta o maior potencial de produção, devidoao seu elevado teor de óleo e capacidade deadaptação a densas populações (Tabela 1). Asprodutividades potenciais por área assemelham-se às do dendê. Entretanto, são baseadas emextrapolações a partir de medições em plantasisoladas (FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICODE MINAS GERAIS, 1983a; ROSCOE et al.(2007)7). Assim como o dendê, são extraídos dois

6 Comunicado pessoal, feito pelo pesquisador Dr. Gilberto Omar Tomm da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, em 08 jan. 2007.7 Roscoe et al. (2007), dados não publicados.

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tipos de óleo da macaúba. Da amêndoa, é retira-do um óleo fino, que representa cerca de 10 % dototal de óleo da planta, rico em ácidos graxosinsaturados, tendo potencial para utilizações no-bre, na indústria alimentícia, farmacêutica e decosméticos.

Com maior potencial para fabricação de biodiesel,o óleo de polpa tem boas características paraprocessamento industrial, mas apresenta sériosproblemas de perda de qualidade com oarmazenamento. Assim como ocorre com odendê, os frutos devem ser processados imedia-tamente após a colheita, pois se degradam rapi-damente, aumentando sua acidez e prejudican-do o processamento industrial (FUNDAÇÃO CEN-TRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS,1983b). As tortas produzidas a partir doprocessamento da polpa e da amêndoa sãoaproveitáveis em ração animal, com ótimas ca-racterísticas nutricionais e palatabilidade(ALMEIDA et al. 1998). Tem-se, ainda, como im-portante subproduto, o carvão produzido a partirdo endocarpo (casca rígida que envolve a amên-doa), que apresenta elevado poder calorífico(ALMEIDA et al. 1998).

No entanto, a macaúba é uma espécie nativapotencial, não havendo nenhuma das informaçõesnecessárias para a segura recomendação de seucultivo (Tabela 2). O potencial para sua utiliza-ção em curto prazo estará associado à explora-ção extrativista de maciços naturais, registradosem abundância em várias partes do estado. Inici-almente, pesquisas devem ser direcionadas, paraavaliar sua viabilidade em tal sistema extrativista,visto que não existem trabalhos realizados até omomento. Paralelamente, devem-se avançar li-nhas de pesquisa para sua domesticação, comseleção de materiais agronomicamente mais in-teressantes e com definição de seu sistema deprodução. Entretanto, tais estudos somente trarãoresultados consistentes em longo prazo (de 10 a20 anos).

O pinhão-manso (Jatropha curcas), espécie pere-ne de ocorrência esparsa em quintais e cercasvivas em quase todas as regiões de Mato Grossodo Sul, foi selecionado como potencial, devido a

características importantes de seu óleo e alto po-tencial produtivo (Tabela 1). Essa espécie temcomo provável centro de origem a América Cen-tral (HELLER, 1996) e vem sendo considerada deelevado potencial para produção de biodiesel emvárias partes do mundo. Sua domesticação foi ini-ciada no Brasil nas décadas de 1970 e 1980, comtrabalhos relacionados com o Projeto Pró-Óleo,sendo interrompidos logo em seguida, com a que-da do preço do petróleo no mercado internacio-nal (FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DEMINAS GERAIS, 1983a).

Retomados os trabalhos em 2004, os estudos seencontram em fase inicial. O potencial de produ-ção de óleo tem sido considerado elevado, che-gando a 2 t ha(-1) ano(-1). Infelizmente, tal potencialainda não foi confirmado em lavouras comerci-ais, sendo as informações baseadas emextrapolações da produção de plantas isoladas(HELLER, 1996). Seu óleo apresenta excelentescaracterísticas para produção de biodiesel (FUN-DAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINASGERAIS, 1983b). A torta do pinhão-manso é tóxi-ca, apresentando elevados teores de curcina efenóis, sendo destinada basicamente para a pro-dução de adubo.

Embora existam métodos de desintoxicação datorta em estudo, não são economicamente viá-veis até o momento (HELLER, 1996). Portanto, parao pinhão-manso, não há disponível nenhuma dasinformações necessárias para sua indicação (Ta-bela 2). Não há materiais selecionados, sistemade produção e zoneamento agrícola. Vem sendofeito um grande esforço por diversas instituiçõesde pesquisa - e pela iniciativa privada - paraviabilizar o cultivo dessa oleaginosa. Segundo osespecialistas consultados, entende-se que as in-formações necessárias para sua recomendaçãoestarão disponíveis em médio prazo (5 a 10 anos).No entanto, a avaliação de sua viabilidade ficaprejudicada pela ausência de tais informações.

Além disso, nos próximos 2 ou 3 anos, não haveráum mercado definido para essa oleaginosa, sen-do todos os grãos produzidos utilizados comomaterial de propagação. Devido à sua grandedemanda por mão-de-obra - principalmente em

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função da colheita manual - o que se pode preveré que os sistemas de produção serão mais adap-tados à agricultura familiar. Vale ressaltar queempresas já vêm estudando a adaptação dederriçadoras de café para mecanizar parte dacolheita.

ConclusãoA avaliação das possíveis oleaginosas para pro-dução de biodiesel em Mato Grosso do Sul reve-lou que, em curto prazo, as mais viáveis tecnica-mente e aptas para serem incorporadas na ca-deia produtiva do biodiesel são a soja e o algo-dão. Além disso, a soja revelou-se a única opçãocom uma cadeia produtiva bem estabelecida epronta para fornecer, em tempo e quantidade, oóleo necessário para atender a demanda de pos-síveis indústrias de biodiesel. O aproveitamentodo óleo de algodão dependerá do estabelecimentode estruturas de esmagamento, não disponíveisno estado.

O girassol ocupa uma posição intermediária, sendoque rapidamente poderá atender a todas ascondicionantes técnicas para sua recomendação.A estrutura de esmagamento não seria problema,uma vez que as indústrias de soja seriam facil-mente adaptáveis.

A mamona, o amendoim e a canola serão viáveistecnicamente em médio prazo, com o avanço doconhecimento e a adaptação dessas culturas àscondições de Mato Grosso do Sul. Será necessá-rio o estabelecimento de uma estrutura de produ-ção de sementes, assim como de comercializaçãoe de processamento.

Embora ainda dependa de longo trabalho para oestabelecimento de suas condicionantes técnicas,o nabo poderá ser aproveitado em curto prazo,quando utilizado como planta de cobertura. Nes-sas condições, os custos de produção podem serbastante reduzidos, compensando seu aproveita-mento.

As culturas não tradicionais - pinhão-manso emacaúba - necessitarão de um longo período depesquisa para que se tornem viáveis tecnicamen-

te. Como são culturas que estabilizam a produ-ção somente após 5 a 10 anos, a seleção de ma-teriais promissores ocorrerá em décadas. Entre-tanto, o pinhão-manso está se difundindo rapida-mente e, provavelmente em 2 ou 3 anos, estaráentrando na pauta de óleos disponíveis no mer-cado do estado. Sua produção está sendo difundi-da em sistemas integrados com as indústrias, emfunção da necessidade dessas indústrias em ob-ter parte do óleo vindo da agricultura familiar, paraobter incentivos fiscais. Sem o apoio de recomen-dações técnicas cientificamente estabelecidas,tais empreendimentos são de elevado risco.

Sistemas extrativistas de macaúba podem se tor-nar viáveis em médio prazo, assim que foremestabelecidas as limitações ecológicas e desenha-dos arranjos eficientes. O elevado potencial pro-dutivo e a grande disponibilidade espontâneadessa palmeira em Mato Grosso do Sul, a colocaem posição de destaque para investimentos emciência e tecnologia.

A viabilidade técnica das culturas mencionadasnão indica que elas sejam viáveis economicamen-te. Vale ressaltar que a única espécie viável tec-nicamente e com uma cadeia estabelecida, a soja,tem seu mercado governado pela demanda mun-dial por proteínas e não por óleo. O mesmo ocor-re com o algodão, que é fornecedor de fibras.Oleaginosas alternativas, que têm o óleo comoprincipal produto, como girassol, canola e amen-doim têm no mercado de óleos comestíveis omaior concorrente. Por sua vez, a mamona temum óleo extremamente valorizado para a indús-tria química. Nesses dois últimos casos, os óleossomente serão viáveis para o biodiesel, quandoos mercados alimentar e da indústria química es-tiverem saturados.

Portanto, para que a indústria de biodiesel ob-tenha êxito em Mato Grosso do Sul, além deum investimento em P&D&I direcionado parao desenvolvimento tecnológico das oleagino-sas potenciais e de investimentos em organiza-ção das cadeias produtivas, há a necessidadede se buscar alternativas viáveis de utilizaçãodos subprodutos. O grande desafio será obterespécies que, de forma competitiva, forneçamóleo para produção de biodiesel como seu prin-cipal produto.

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Exigências dos EstadosUnidos na importaçãode carneAvaliação das inspeções1

Daniela Antoniolli2

Vitor A. Ozaki3

Silvia H. G. de Miranda4

Resumo: Na atualidade, o uso das medidas sanitárias como política de restrição comercial e sualegitimidade é um tema que tem gerado grande discussão no âmbito internacional. A proibição deexportações de carne bovina in natura brasileira para os Estados Unidos, mesmo de regiões livres deaftosa com vacinação, é discutida há anos. A análise dos problemas encontrados nos frigoríficos brasi-leiros, durante as inspeções norte-americanas, pode ser um indicativo dos desafios para as empresas.Neste trabalho, a metodologia de análise foi exatamente a de comparar a evolução dos resultadosdesses relatórios das inspeções que foram feitas entre 2000 e 2005. Os resultados sugerem não haveruma tendência nítida quanto à evolução e solução dos problemas que vêm sendo apontados pelasauditorias nas unidades industriais exportadoras de carne bovina para os Estados Unidos. Atualmente,o maior problema encontrado pelos estabelecimentos - para se adequar às exigências norte-america-nas - está relacionado às instalações básicas e suas condições.

Palavras-chave: Exportação; Carne bovina; Inspeção sanitária; Estados Unidos.

Abstract: Nowadays, the adoption of sanitary measures as a trade barrier policy and its legitimacybecame a very important topic under the international scope debate. The prohibition of fresh andfrozen beef exports from Brazil to the United States, evem from regions recognized as Free from theFoot and Mouth Desease with Vaccination, has been discussed for years. The analysis of the problemfound out during the North-American audits carried out in the Brazilian slaughterhouses, might be anindicator of the challenges being faced by these firms. This studies addresses the methodology used tocompare the results of the inspection reports in the period of 2000 through 2005. Results suggest thatthere is not a clear trend on the evolution and solution of the non-compliance problems pointed out bythe audits in the slaughterhouses that export beef to the United States. Currently, the major problemidentified to accomplish the North-American requirements is related to the basic establishmentes andtheir conditions.

Key words: Exporting; Bovine meat; Sanitary inspection; and United States.

1 Este trabalho é parte do relatório de estágio profissionalizante da primeira autora, sob orientação da terceira autora, na Esalq/USP.2 Engenheira-agrônoma - Esalq/USP. Av. Pádua Dias, n. 11. Piracicaba, SP. 13418-900. [email protected] Engenheiro-agrônomo; Doutor em Economia Aplicada - Universidade de São Paulo (USP); Av. Pádua Dias, 11 Agronomia, Piracicaba, SP, 13418-900;

[email protected] Engenheira-agrônoma. Profa. do Departamento Economia - Esalq/USP. Av. Pádua Dias, nº 11. Piracicaba, SP. 13418-900. [email protected]

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200761

IntroduçãoNa atualidade, o uso das medidas sanitárias comopolítica de restrição comercial é um tema que temgerado grande discussão. O fato é que tem sidodifícil discriminar o uso legítimo das medidas sa-nitárias de proteção à saúde pública e dos ani-mais, daqueles que guardam algum interesse po-lítico ou econômico, caracterizadas pelo trata-mento discriminatório entre fornecedores, exigên-cias sanitárias sem respaldo científico ou aquelasmais severas do que o necessário para atingir onível de segurança desejado.

Desde 1998, o Brasil tenta exportar carne bovinain natura para os Estados Unidos quando o Cir-cuito Pecuário Sul foi declarado livre de febreaftosa com vacinação pela Organização de Saú-de Animal (OIE), mas até o momento não houvesucesso nessa negociação. Contrariamente, oUruguai e a Argentina já haviam conseguido suascotas de exportação para os Estados Unidos – res-pectivamente, em 1996 e 1997 – antes mesmo deserem reconhecidos como livres de febre aftosasem vacinação pela OIE.

Possivelmente, nesse caso, a questão sanitáriavinha sendo usada como instrumento comercial,é questionável esse tratamento diferenciado edesfavorável dado pelos Estados Unidos ao Brasilconsiderando o status sanitário de algumas regi-ões nacionais no final da década de 1990(MIRANDA, 2001).

Em 2004, apesar das exportações brasileiras decarne bovina in natura terem atingido US$ 2 bi-lhões (primeiro exportador mundial), o País dei-xou de vender carnes in natura para mercadosque compraram aproximadamente US$ 7,5 bi-lhões desse produto devido a restrições causadaspela febre aftosa (LIMA et al., 2005). Em 2006, oBrasil permaneceu como o maior exportador mun-dial de carne bovina em volume e em valoresmonetários, no total de US$ 3,9 bilhões.

Neste trabalho, o tema abordado desperta inte-resse não só pela importância dos Estados Unidoscomo importador de carne bovina mundial, mastambém pelo fato do Brasil não ter sido aceitonesse mercado como um fornecedor de carne innatura, em função de questões sanitárias. Um ar-gumento favorável a este estudo é que o conhe-cimento gerado poderá colaborar para a orienta-ção de empresas exportadoras quanto às dificul-dades e exigências para vender aos Estados Uni-dos. Além disso, busca-se identificar se tem havi-do um aprendizado entre as empresas, de modoa que os problemas inicialmente identificados nocumprimento das exigências norte-americanastenham sua incidência reduzida nas inspeçõessubsequentes (Sistema de Análise das Informaçõesde Comércio Exterior via Internet - AliceWeb,2007).

Este trabalho tem como objetivos analisar as exi-gências impostas pelos Estados Unidos para aimportação de carne bovina brasileira – com basetanto nas normas e regulamentos vigentes comonas vistorias realizadas periodicamente pelos ór-gãos norte-americanos – e ressaltar as princi-pais dificuldades encontradas pelos frigoríficosexportadores brasileiros no atendimento a taisexigências.

Aspectos Regulatórios do MercadoNorte-Americano e de OrganismosInternacionais5

As carnes brasileiras sofrem inúmeras restriçõesno mercado norte-americano. O Brasil não podeexportar carne bovina in natura sob alegação decontaminação pela doença da febre aftosa. Ape-nas as carnes processadas termicamente são per-mitidas. No entanto, os contínuos progressosregistrados na sua prevenção e erradicação peloBrasil e o princípio da regionalização6 são sufi-

5 Todos os aspectos regulatórios norte-americanos, para importação de carne bovina, foram retirados dos sites dos seguintes serviços regulatórios dos EstadosUnidos: Animal and Plant Health Service (Aphis),Food Safety and Inspection Service (Fsis), e do Código de Regulamentações Federais de 2004, elaborado peloNational Archives and Records Administration.

6 Princípio da Regionalização está previsto no Acordo para Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) da Organização Mundial do Comércio (OMC)em seu artigo 6o.. Estabelece que os países devem reconhecer áreas livres ou de baixa prevalência de doenças no território de seus parceiros comerciais (LIMA,MIRANDA e GALLI, 2005).

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cientes para viabilizar o processo de certificaçãoda carne in natura, procedentes de algumas regi-ões do País, e sua exportação por exemplo para aUnião Européia, Oriente Médio, Chile, entre ou-tros.

Alguns mercados, como os Estados Unidos, Japãoe União Européia possuem, em média, baixasalíquotas de importação, mas protegem acirrada-mente seus mercados. A proteção ocorre não ape-nas com altas barreiras tarifárias, mas também pormeio de legislações internas defensivas e barrei-ras não-tarifárias7 bastante complexas, que vêmganhando importância como nova forma de pro-teção dos mercados nacionais. Se por um lado,essas medidas podem proporcionar exigênciaslegítimas de segurança e de proteção à saúde,por outro, podem representar novas formas deprotecionismo (KUME; PIANI, 1999).

Do ponto de vista dos organismos internacionais,os esforços têm se concentrado na regulação dasmedidas tarifárias e não-tarifárias. No âmbito daOMC, durante a Rodada Uruguai, em 1994, fo-ram assinados o Acordo de Medidas Sanitárias eFitossanitárias (SPS) e o Acordo sobre BarreirasTécnicas (TBT). Ambos entraram em vigor em ja-neiro de 1995, sendo que o primeiro dispõe sobretodas as medidas sanitárias e fitossanitárias. Já oacordo TBT regula a aplicação de barreiras téc-nicas ao comércio (MIRANDA et. al, 2004).

A Organização para a Alimentação e Agricultura(FAO), em conjunto com a Organização Mundial

da Saúde (OMS), por meio de uma comissão mis-ta chamada Codex Alimentarius8, desenvolveu osprincípios do Sistema de Análise de Perigo e Pon-tos Críticos de Controle9 (HACCP)10. Esses princí-pios exigem que se estabeleçam sistemas de se-gurança alimentar efetivos mediante a aplicaçãode um enfoque sistemático de análises de perigose riscos garantindo que, ao final da produção, osalimentos estejam isentos de perigos à saúde doconsumidor.

O HACCP, juntamente com as Boas Práticas deFabricação (BPF)11 e os Procedimentos Padrõesde Higiene Operacional (PPHO)12, constituem aferramenta para o controle de todos os possíveisperigos que possam ocorrer, desde a produção dasmatérias-primas até o momento do consumo (FAO,2004).

Nos Estados Unidos, o Código de Regulamenta-ções Federais (CRF - National Archives andRecords Administration, 2004)13 é a codificaçãodas regras gerais e permanentes publicadas noRegistro Federal pelos departamentos e agênciasdo governo norte-americano. O CFR é compostopor volumes, de tal forma que o nono volume tra-ta de animais e de seus produtos. Esse volume édividido em três capítulos, dos quais se destacamo Capítulo I e o Capítulo III, em particular, para oBrasil (ANTONIOLLI, 2005).

Nos Estados, a regulamentação e a inspeção parao comércio de carne bovina é feita pelo Serviçode Inspeção e Saúde das Plantas e Animais(Aphis)14 e o Serviço de Inspeção e Segurança

7 Para efeito deste estudo, consideram-se como barreiras não-tarifárias aquelas representadas por leis, regulamentos, políticas ou práticas que visam restringiro acesso de produtos importados em seu mercado doméstico.

8 Representa um fórum intergovernamental com o objetivo de desenvolver normas internacionais para alimentos. O conjunto de normas aprovadas constitui oCodex Alimentarius, que abrange desde assuntos gerais (resíduos de pesticidas, aditivos, rotulagem inspeção, certificação) até normas para produtos, incluindoos processados e os in natura (MARTINELLI, 2004).

9 Ponto Crítico de Controle é um ponto, passo ou procedimento no processo dos alimentos, no qual um controle pode ser aplicado. Como resultado, o risco dasegurança dos alimentos pode ser prevenido, eliminado ou reduzido a níveis adequados. Cada estabelecimento aprovado a exportar carnes para os EstadosUnidos deve desenvolver e implementar o sistema HACCP. Do termo em inglês Hazard Analysis Critical Control Points (HACCP).

10 Esses princípios são: identificação do perigo, determinação dos pontos críticos de controle, estabelecimento do limite crítico, monitoramento, ações corretivas,verificação e registro.

11 Da expressão Good Manifacturing Practices (GMP), representa um conjunto de normas criadas para garantir a segurança e a qualidade do alimento eaumentar a produtividade. Toda indústria de alimentos deve seguir tais normas durante todas as etapas do processamento, para alcançar a qualidade finaladequada do produto.

12 Da expressão em inglês Sanitation Standard Operating Procedures (SSOP). O SSOP representa um programa a ser desenvolvido, implantado e monitoradopelos estabelecimentos que exportam produtos de origem animal para os Estados Unidos e envolvem procedimentos pré-operacionais e operacionaisexecutados diariamente. Todos os estabelecimentos devem desenvolver e implementar esse programa. No Brasil, segundo a Circular 272/97/Departamentode Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), todas as indústrias de produtos de origem animal habilitadas ao comércio internacional devem implementare desenvolver o programa SSOP.

13 Da expressão em inglês Code of Federal Regulations (CFR).14 Da expressão em inglês Animal and Plant Health and Inspection Service (Aphis).

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Alimentar (Fsis)15, ambos ligados ao Departamentode Agricultura dos Estados Unidos (Usda).

O Aphis é responsável por proteger e promover asanidade das plantas e animais dos Estados Uni-dos, administrando a entrada de plantas, animaise seus produtos no país, para evitar a dissemina-ção de doenças exóticas. O processo interno nor-te-americano de certificação da carne brasileiraé conduzido pelo Aphis e comporta seis etapasprincipais (KUME; PIANI, 1999):

• Preparação do documento técnico de análisede risco pela equipe do Aphis em cooperação comautoridades do país demandante.

• Decisão do Aphis de introduzir nova regra epreparação do plano de trabalho regulatório(Regulatory Work Plan – RWP).

• Revisão do RWP pelo Aphis.

• Preparação e publicação, no Registro Federal,do projeto de legislação de abertura de mercado,com prazo de 60 dias, para comentários públicosnos Estados Unidos.

• Audiências públicas, eventuais mudanças ne-cessárias nos Estados Unidos.

• Envio da proposta de legislação final para revi-são do Congresso Norte-americano.

A carne bovina importada pelos Estados Unidosdeve seguir todos os padrões de segurança quesão aplicados a produtos similares produzidos nosEstados Unidos. Para que isso ocorra, os sistemasreguladores da carne bovina do país estrangeirodevem aplicar medidas sanitárias equivalentespara eliminar os riscos da segurança dos alimen-tos16 e garantir o mesmo nível de proteção à saú-de pública que é alcançado pelas medidas norte-americanas.

O conceito que diferentes medidas sanitárias po-dem alcançar o mesmo nível de proteção é cha-mado de equivalência e consiste num dos princí-pios do Acordo sobre Medidas Sanitárias eFitossanitárias (SPS) da Organização Mundial doComércio (MIRANDA et al, 2004).

Já o Fsis é a agência reguladora de saúde públicado Usda que visa proteger os consumidores, ga-rantindo que as carnes bovinas, de aves esubprodutos de ovos sejam seguros, saudáveis ecorretamente identificados e rotulados. O Fsisadota um rigoroso programa para garantir a se-gurança e a salubridade dos alimentos importa-dos. Esse programa consiste em três partes: i) aná-lise de documentos; ii) auditoria on-site; e iii) re-inspeção do produto nos portos de entrada.

Em dezembro de 2006, 38 países eram qualifica-dos a exportar carne bovina para os Estados Uni-dos. Qualquer país pode solicitar elegibilidade paraexportação de carnes para aquele país. Normal-mente, o processo começa com uma carta do paísrequerente enviada para o Fsis, solicitando a apro-vação da exportação de seus produtos.

Em resposta, informações sobre o sistemaregulatório norte-americano de carne bovina eexpectativas sobre medidas sanitárias que o Fsisespera dos países fornecedores são enviadas aopaís requerente. Quando o requerimento completoé recebido pelo Fsis, é iniciada uma análise destepara comparar as medidas adotadas domestica-mente àquelas adotadas pelo Fsis. Em muitos ca-sos, são necessárias informações adicionais.

Após uma completa análise dos documentos, oFsis planeja uma auditoria on-site em todo o siste-ma regulatório de carne bovina do país estran-geiro. Essa auditoria é feita por uma equipe deespecialistas no território do país candidato a ex-portador. Quando a análise dos documentos e aauditoria on-site estiverem terminadas, o Fsis pu-blica uma regra no Registro Federal, anunciandoos resultados desses dois primeiros passos e pro-põe adicionar o país à lista dos países qualifica-dos a exportar carne bovina para os Estados Uni-dos. Há um período para comentários públicos edepois é feita a decisão final.

Nenhum produto de origem bovina de países es-trangeiros será aceito nos Estados Unidos até quetodo o processo de equivalência tenha sido feitopor meio da análise dos documentos, auditoria on-

15 Da expressão em inglês Food Safety and Inspection Service (Fsis).16 Risco de segurança dos alimentos são agentes biológicos, físicos ou químicos presentes nos alimentos que apresentem potencial de causar efeitos adversos

à saúde humana.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 64

site e publicação da regra final. Normalmente,esse processo de equivalência inicial necessitade 3 a 5 anos de intensivo trabalho bilateral paraque se complete (ANTONIOLLI, 2005).

MetodologiaOs Estados Unidos mantêm rigoroso sistema defiscalização da qualidade sanitária da carne pro-cessada importada, implementado pelo Fsis, pormeio de missões periódicas de inspeção em fri-goríficos e processadores brasileiros que expor-tam para os Estados Unidos, em estreita coopera-ção com o Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa), bem como re-inspeçãoaleatória dos produtos importados nos portos deentrada daquele país. Essas missões têm o objeti-vo de vistoriar os estabelecimentos brasileiros,para verificar seu enquadramento de acordo comos requerimentos norte-americanos para impor-tação de carne bovina brasileira.

Análise dos relatórios das auditoriasA seguir, serão analisadas as dez últimas auditori-as feitas por missões do Fsis em estabelecimentosbrasileiros, com base em documentos oficiais dis-poníveis na página do Fsis, e acessados entre 2004e 2006. São elas: i) auditoria feita entre 30 de maioe 16 de junho de 2000, em 9 estabelecimentos (5abatedouros, 3 de processamento e 1 entrepostofrigorífico) e num laboratório do governo federal;ii) auditoria feita entre 11 de julho e 3 de agostode 2001, em 9 estabelecimentos (6 abatedouros,2 de processamento e 1 entreposto frigorífico) eem 2 laboratórios, um privado e outro do governofederal; iii) auditoria feita 9 de janeiro e 6 de feve-reiro de 2002, em 13 estabelecimentos (8abatedouros e 5 processamento) e em 2 laborató-rios do governo federal; iv) auditoria feita entre16 de outubro e 18 de novembro de 2002, em 20estabelecimentos (10 abatedouros, 17 deprocessamento e 3 entrepostos frigoríficos) e em2 laboratórios do governo federal; v) auditoria fei-ta entre 29 de agosto e 24 de setembro de 2003,em 11 estabelecimentos (4 abatedouros, 5 de

processamento e 2 entrepostos frigoríficos), em 3laboratórios do governo e em 2 privados; vi) audi-toria feita entre 26 de agosto e 28 de setembro de2004, em 13 estabelecimentos (6 de abate, 2 es-tabelecimentos de processamento e 5 entrepostos);e 4 laboratórios; vii) auditoria feita entre 10 demarço e 14 de abril de 2005, em 17 laboratórios e15 estabelecimentos (8 plantas de abate eprocessamento, 6 estabelecimentos deprocessamento, 1 entreposto, além de visita a es-critórios do Departamento de Inspeção de Produ-tos de Origem Animal (Dipoa) e Serviço de Inspe-ção de Produtos de Origem Animal (Sipas); viii)auditoria feita entre 2 de junho e 23 de junho de2005, em 6 estabelecimentos frigoríficos e em 3laboratórios; ix) auditoria feita entre 7 de julho e27 de julho de 2005, em 8 estabelecimentos fri-goríficos e 11 laboratórios (5 de microbiologia e 6de resíduos); x) auditoria feita entre 19 de outubroe 7 de novembro de 2005, em 8 estabelecimen-tos frigoríficos e em 6 laboratórios (4 demicrobiologia e 2 de resíduos).

A seleção dos estabelecimentos para as inspeçõespode ser feita aleatoriamente e ser baseada nosregistros de rejeição de produtos nos portos deentrada norte-americanos. Segundo o Fsis, emdezembro de 2006, 22 estabelecimentos brasilei-ros podiam abater, processar ou armazenar pro-dutos para exportação para os Estados Unidos.

Historicamente, as auditorias de 2000, 2001 e dejaneiro de 2002 eram divididas em 8 itens de ve-rificação para SSOP e em 12 para HACCP. Entre-tanto, as auditorias a partir de novembro de 2002foram modificadas em 7 itens para SSOP e em 9para HACCP. A estrutura de itens avaliados nasauditorias e suas mudanças podem ser vistas nas(Tabelas 1 e 2).

Classificação dosproblemas via checklistAs auditorias de 2001 em diante disponibilizaramum checklist que foi usado neste trabalho paraclassificar os problemas encontrados em catego-rias mais funcionais. Para melhor visualização ediscussão dos problemas encontrados durante as

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200765

Tabela 1. Estrutura das auditorias e modificação dos itens verificados PPHO.

Fonte: Usda/Fsis (2006).

1. Plano PPHO por escrito2. O procedimento descreve medidas sanitárias pré-

operacionais3. O procedimento descreve medidas sanitárias

operacionais4. Os procedimentos pré-operacionais descrevem

(no mínimo) a limpeza da superfície dasinstalações, equipamentos e utensílios de contatocom alimentos

5. O procedimento indica a freqüência de realizaçãodas tarefas

6. O procedimento identifica os indivíduosresponsáveis pela implementação e manutençãodas atividades

7. O registro desses procedimentos e das açõescorretivas tomadas é feito diariamente

8. O procedimento é assinado e datado por umapessoa de autoridade local ou geral

Auditorias de 2000, 2001 e de janeiro de 2002

1. Plano PPHO por escrito2. Registros que documentam a implementação do

PPHO3. PPHO assinado e datado por uma autoridade local

ou geral4. Implementação do PPHO, incluindo monitoramento

da implementação5. Manutenção e avaliação da efetividade do PPHO6. Ações corretivas7. Documentação diária dos registros dos itens 4, 5 e 6

Auditorias de novembro de 2002 a outubro de 2005

PPHO

Tabela 2. Estrutura das auditorias e modificação dos itens verificados (HACCP).

1. O estabelecimento possui um fluxograma quedescreve todos os passos do processo deescoamento de produto

2. O estabelecimento conduziu uma análise de risco3. Essa análise inclui os riscos de segurança dos

alimentos que possam ocorrer4. A análise inclui a intenção de uso do produto

finalizado5. Existe um plano HACCP por escrito para cada

produto para o qual a análise de risco revelou umou mais riscos de segurança dos alimentosprováveis de ocorrer

6. Todos os riscos identificados na análise estãoincluídos no plano HACCP, o plano lista os pontoscríticos de controle (PCC) para cada riscoidentificado

7. O plano HACCP especifica limites críticos,procedimentos de monitoramento e a freqüênciade monitoramento para cada PCC

8. O plano descreve as ações corretivas tomadasquando um limite crítico é excedido

9. O plano HACCP é validado usando resultados demonitoramento múltiplos

10. O plano HACCP lista os procedimentos doestabelecimento para verificar a freqüência dosprocedimentos, se o plano está sendoimplementado e funcionando.

Auditorias de 2000, 2001 e de janeiro de 2002

1.Desenvolvimento e implementação do planoHACCP por escrito

2. Conteúdo do HACCP deve possuir: riscos dasegurança dos alimentos, pontos críticos decontrole, limites críticos, procedimentos e açõescorretivas

3. Registros que documentam a implementação emonitoramento do plano HACCP

4. O plano HACCP é assinado e datado peloresponsável pelo estabelecimento

5. Monitoramento do plano HACCP6. Verificação e validação do plano HACCP7. Ações corretivas escritas no plano HACCP8. Reavaliação da adequação do plano HACCP9. Registro de documentação: HACCP por escrito,

monitoramento dos pontos críticos de controle,data e horário de ocorrências específicas

Auditorias de novembro de 2002 a outubro de 2005

HACCP

Continua...

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 66

auditorias, este trabalho propõe uma classifica-ção dos entraves identificados nos checklists. Essaclassificação tem o intuito de orientar os frigorífi-cos quanto aos procedimentos que devem seradotados, bem como detectar os gargalos das plan-tas industriais exportadoras brasileiras, com basenos seguintes critérios:

Instalações básicas e suas condições - Todos osproblemas relacionados às instalações e equipa-mentos do estabelecimento, assim como suas con-dições, foram agregados nessa categoria.

Higiene - Problemas relacionados com a falta delimpeza e sanitização dos ambientes.

Manipulação de produtos e mão-de-obra - Con-taminação de produtos por manipulação inade-quada destes e falta de qualificação e de boaspráticas de fabricação por parte dos funcionários.

Proteção contra contaminação - Proteção inade-quada dos produtos contra contaminação por meiode materiais, utensílios, equipamentos e métodospara evitar essa contaminação.

HACCP - Não-conformidade com os regulamen-tos do Sistema HACCP, segundo as exigências doFsis.

Metodologia - Categoria que agrega os proble-mas que tenham sido relacionados a testes e cri-térios para a detecção de microrganismos econtaminantes que estejam em desacordo comos critérios exigidos pelo Fsis; e os problemas deequivalência de processos.

Documentação e inspeção - Problemas relacio-nados com registro e documentação dos procedi-mentos realizados nos estabelecimentos e defici-ências no serviço de inspeção.

Bem-estar animal.

Resultados e Discussão

Análise dos procedimentos SSOP

Na Tabela 3, percebe-se que não há relação en-tre os problemas encontrados na auditoria de no-vembro de 2002, com os encontrados em setem-bro do ano seguinte. Embora na primeira audito-ria os problemas tenham sido mais relacionadosao plano de trabalho e aos registros de ações,enquanto na auditoria de 2003, os maiores pro-blemas foram encontrados na implementação eno monitoramento do plano propriamente. Em2005, nota-se a percentagem significativa de fri-goríficos com inconformidades na documentaçãodevida.

Na auditoria de fevereiro de 2002, a maior inci-dência de problemas ocorreu no registro diáriodos procedimentos e das ações corretivas toma-das. Já na auditoria de junho de 2000, os proble-mas se concentraram no procedimento que iden-tifica os indivíduos responsáveis pela imple-mentação e manutenção das atividades. A Tabe-la 4 mostra a parcela dos frigoríficos nos quaisforam apontados os problemas, classificados con-forme a numeração da Tabela 1.

Nas auditorias feitas entre novembro de 2002 a2005, as irregularidades se concentraram na ve-rificação e na validação do plano HACCP e noregistro de documentação. A Tabela 5 ilustra asirregularidades encontradas nessas auditorias.

Já nas auditorias feitas entre 2000 e em fevereirode 2002, foram constatados problemas quanto aosriscos incluídos no plano HACCP, a especificaçãodos limites críticos, procedimentos de monitora-

Tabela 2. Continuação.

11. O sistema de registro do plano HACCPdocumenta o monitoramento dos PCC e incluiregistros com valores atuais e observações

12. O plano HACCP é assinado e datado peloresponsável oficial do estabelecimento

Auditorias de 2000, 2001 e de janeiro de 2002 Auditorias de novembro de 2002 a outubro de 2005

HACCP

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200767

Tabela 3. Percentual de estabelecimentos com problemas nos critérios observados na Tabela1.

Fonte: Elaborado a partir de informações das auditorias.

Novembro de 2002Setembro de 2003Setembro de 2004Abril de 2005Junho de 2005Julho de 2005Novembro de 2005

Auditorias

50------

1

% de frigoríficos com problemas conforme os itens (da Tabela 1)

25------

2

10------

3

52738

----

4

---

33---

5

-9-

73--

13

6

-18

-87

-25

-

7

Tabela 4. Percentual de estabelecimentos com problemas nos critérios observados na Tabela1.

Fonte: Elaborado a partir de informações das auditorias.

Junho de 2000Agosto de 2001Fevereiro de 2002

Auditorias

---

1

% de frigoríficos com problemas conforme os itens (da Tabela 1)

--

15

2

11-8

3

--8

4

56-8

5

11-

23

6

-1138

7

1111

-

8

Tabela 5. Percentual de estabelecimentos com problemas nos critérios observados na Tabela 2.

Fonte: Elaborado a partir de informações das auditorias.

Novembro de 2002Setembro de 2003Setembro de 2004Abril de 2005Junho de 2005Julho de 2005Novembro de 2005

Auditorias

-------

1

% de frigoríficos com problemas conforme os itens (da Tabela 2)

15--7---

2

50------

3

-------

4

-9-

13---

5

518

-33

---

6

---

33---

7

---

53---

8

-9-

47-

1325

9

mento, os procedimentos para verificar se o pla-no está sendo implementado e funcionando e seo plano HACCP é assinado e datado pelo respon-sável oficial pelo estabelecimento (Tabela 6).

Tabela 6. Percentual de estabelecimentos com problemas de conformidade com os critérios apresentadosna Tabela 2.

Fonte: Elaborado a partir de informações das auditorias.

Junho de 2000Agosto de 2001Fevereiro de 2002

Auditorias% de frigoríficos com problemas conforme os itens (da Tabela 2)

Nota-se que em 2002, uma proporção muito gran-de dos estabelecimentos inspecionados apresen-tava inconformidades quando comparados aosresultados daqueles inspecionados em 2000.

-6723

12

22--

11

11-

62

10

--

85

9

--

92

8

331169

7

-4485

6

---

5

---

4

---

3

--

77

2

--

69

1

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 68

A Fig. 1 mostra que 27 % dos estabelecimentosvisitados em 2003 não estavam em conformida-de com as exigências do Fsis para HACCP, 36 %para PPHO e 18 % apresentavam alguma defici-ência para controle de E. coli. O controle deSalmonella estava sendo feito de acordo com asnormas do Fsis em todos os estabelecimentos vi-sitados. A figura evidencia, também, que em 2005e em 2006, caiu bastante a não-conformidade paratodos os critérios analisados.

Fig. 1. Distribuição das inconformidades de PPHO eHACCP nas auditorias feitas.Fonte: elaborado a partir de informações das auditorias.

Resultados dos checklistsO resultado pode sugerir que nessa auditoria, pas-sados os anos iniciais (2000 e 2002), os estabele-cimentos apresentaram-se mais enquadrados àsexigências norte-americanas. Até 2002, o HACCPe o PPHO, predominavam como fonte da maiorparte das inconformidades.

Nas auditorias de 2001 e de 2003 (Fig. 2), o itemque apresentou a maior quantidade de problemasfoi o relacionado a instalações básicas do estabe-lecimento e suas condições, seguido de proble-mas com documentação e inspeção, e problemasde não-conformidade com o Programa HACCP.

Na Tabela 7, apresentam-se os resultados doschecklists para as auditorias mais recentes dasautoridades norte-americanas sobre os frigoríficosexportadores de carne bovina brasileiros. Obser-

va-se que nas auditorias recentes, alguns proble-mas de não atendimento dos laboratórios no Bra-sil foram registrados, tanto em termos de defici-ências para atender às exigências do Fsis quan-to, mais especificamente, limitações relaciona-das à qualificação de pessoal. Ainda persisti-

Fig. 2. Distribuição dos problemas encontrados nasquatro auditorias analisadas (2001–2003).Fonte: elaborado a partir de informações das auditorias.

ram algumas não-conformidades também nositens referentes ao HACCP, com freqüência atésignificativa.

A existência de técnicos pagos pelo setor privadoe não pelo governo foi um dos temas mais impor-tantes dentro do item enforcement, sendo que osajustes necessários têm sido implementados se-gundo consta nos relatórios abaixo apresentados.Em 2005, foram feitas quatro auditorias. A primei-ra, em abril e as posteriores em junho, julho eoutubro, complementarmente à de abril, para ve-rificar se as ações corretivas haviam sido im-plementadas, principalmente em relação ao pa-gamento dos inspetores e questões referentesaos conflitos de interesse. O pagamento aos ins-petores foi um item criticado durante as inspeçõese refere-se ao fato de que os próprios frigoríficosencarregavam-se de remunerar esses inspetores.

É oportuno observar que em 2004 e em 2005, nãofoi encontrada qualquer deficiência no item Con-trole de doenças de animais.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200769

Tabela 7. Resultados das auditorias norte-americanas nos frigoríficos brasileiros, feitas em 2004 e em 2005.

1. Controle sanitário

2. Controle dedoenças de animais

3. Controle de abatee processamento

4. Controle deresíduos

5. Enforcement

Um estabelecimento recebeu a notícia de ter sido retirado da lista (Noid) devido àssignificantes deficiências nos requerimentos PPHO e Sanitation PerformanceStandards (SPS)

Nenhuma deficiência foi observada

Nenhum estabelecimento apresentou problemas relacionados aos procedimentosde abate. Todos conduziam adequadamente os testes de E. coli e de L.monocytogenes.

HACCP: 2 estabelecimentos apresentaram problemas com HACCP

Laboratórios de resíduos: nenhuma deficiência significativa foi observada.Laboratórios de microbiologia: 2 laboratórios não atendiam os requerimentos doFsis. O LANAGRO - Laboratorio Nacional Agropecuário (Lanagro /Campinas) foiimediatamente suspenso para testes microbiológicos

Inspeções diárias e mensais nos estabelecimentos: nenhuma deficiência foiobservada

Salmonella: o Brasil adota os requerimentos do Fsis para Salmonella, com exceçãodas seguintes medidas equivalentes: a) funcionários do estabelecimento quecoletam as amostras para Salmonella; b) amostras são analisadas em laboratóriosprivados

A autoridade competente ainda tem inspetores pagos por outras fontes, sem serpelo governo federal

A estratégia de supervisão mensal dos estabelecimentos pode não ser eficiente epode haver conflito de interesses, já que o médico veterinário oficial (MVO) de umestabelecimento irá avaliar outro MVO de outro estabelecimento (ou seja, seucolega)

Nenhum laboratório de microbiologia foi auditado pela autoridade competentedesde a última auditoria do Fsis (em julho)

Nessa auditoria, todos médicos veterinários oficiais (dos Sipas) entrevistadostinham claro conhecimento e habilidades para implementar os novos programas deinspeção para atender as exigências do Fsis

Auditoria de 19 de outubro a 7 de novembro de 2005

1. Controle sanitário

2. Controle dedoenças de animais

3. Controle de abatee processamento

Em 2 estabelecimentos, PPHO não estava efetivamente implementado 4 dos 8estabelecimentos não atendiam as exigências Sanitation Performance Standards(SPS) e 1 deles recebeu a notícia de ter sido retirado da lista (Noid) devido àssignificantes deficiências nos requerimentos Sanitation Performance Standards(SPS)

Todas as deficiências observadas em março/abril foram corrigidas para essaauditoria

Procedimentos de abate, teste para E. coli e para Salmonella: Nenhuma deficiênciafoi observada

HACCP: 1 estabelecimento apresentou problemas com os registros do HACCP

Auditoria de 7 a 27 de Julho de 2005

Continua...

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 70

4. Controle deresíduos

5. Enforcement

Laboratórios de resíduos: nenhuma deficiência significativa foi observada.

Laboratórios de microbiologia: 3 laboratórios não atendiam os requerimentos

das boas práticas laboratoriais e algumas deficiências foram observadas

Inspeções diárias: nenhuma deficiência foi observada

Inspeções mensais: algumas deficiências na realização das inspeções feitas porinspetores oficiais foram observadas. A autoridade competente (AC) também nãoimplementou completamente os novos procedimentos para essas inspeções

Salmonella: o Brasil adota os requerimentos do Fsis para Salmonella, com exceçãodessas medidas equivalentes: a) funcionários do estabelecimento coletam asamostras para Salmonella; b) amostras são analisadas em laboratórios privados;c) Brasil suspende o estabelecimento na primeira vez que Salmonella é encontrada

A autoridade competente planeja em 3-4 meses implementar soluções para quetodos os inspetores sejam pagos pelo governo federal e implementou açõescorretivas para resolver os conflitos de interesses notificados em março/abril.Durante essa auditoria, foi verificado que o Brasil não teve uma estratégiaefetiva para implementar os novos programas de inspeção e os métodos eprocedimentos do Fsis. Os inspetores oficiais não demonstram compreender e aaplicação prática da Diretiva Fsis 5000.1, competência e habilidades para executaro novo programa de inspeção para os Estados Unidos

A autoridade competente planeja implementar alguns métodos analíticos do Fsis,no entanto o pessoal dos laboratórios ainda não teve treinamento e nãocompreende claramente os métodos e procedimentos do Fsis que seriaimplementado nos laboratórios.

Auditoria de 7 a 27 de Julho de 2005

Tabela 7. Continuação.

Continua...

1. Controle sanitário

2. Controle dedoenças de animais

3. Controle de abatee processamento

4. Controle deresíduos

Nenhuma deficiência foi observada

Os estabelecimentos que apresentaram problemas de implementação derequerimentos de Encefalopatia Espongiforme Transmissível (BSE) tomaram asdevidas ações corretivas. Foram implementados procedimentos para garantir quetodos os Materiais de Risco Específicos (MRE) fossem removidos, segregados,identificado e devidamente eliminado para evitar contaminação cruzada comprodutos comestíveis

Todas as deficiências observadas foram corrigidas para essa auditoria

Em dois laboratórios de microbiologia, métodos para detecção de Salmonella e L.monocytogenes ainda não estavam aprovados

Brasil informou que iria implementar os métodos e procedimentos do Fsis paraanálises de amostras em todos os laboratórios e que três Lanagros iriam conduziranálises microbiológicas e de resíduos para produtos destinados aos EstadosUnidos

Coordenação-Geral de Apoio Laboratorial (CGAL) implementou o método do Fsispara análise de DES (Dietilestilbestrol)

Auditoria de 2 a 23 de Junho de 2005

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200771

Continua...

5. Enforcement Inspeções diárias: Nenhuma deficiência foi observada

Inspeções mensais: o Brasil desenvolveu novas políticas e procedimentos deinspeção para assim atender às exigências do Fsis. No entanto, o Brasil ainda nãotinha implementado esses procedimentos durante essa auditoria e o Fsis não foicapaz de avaliar a implementação desses procedimentos durante a auditoria

Salmonella: o Brasil adota os requerimentos do Fsis para Salmonella, com exceçãodas seguintes medidas equivalentes: a) funcionários do estabelecimento quecoletam as amostras para Salmonella; b) amostras são analisadas em laboratóriosprivados. Não foram observadas outras deficiências

A autoridade competente planeja em 3 a 4 meses implementar soluçõespermanentes para que todos os inspetores sejam pagos pelo governo federal ecomeçou a realizar um processo seletivo para contratação de 100 médicos-veterinários e 210 inspetores designados a trabalhar nas plantas habilitadas aexportar para os Estados Unidos

Dipoa não tem responsabilidade pelos laboratórios. O coordenador do PlanoNacional de Controle de Resíduos (PNCR) e a CGAL não se reportam ao Dipoa

A autoridade competente demonstrou a existência de programas de treinamentopara os inspetores e colocou em prática políticas nacionais de treinamento de curtoe longo prazo para todos os inspetores oficiais (Fsis não foi capaz de avaliar aimplementação dos treinamentos de longo prazo)

Auditoria de 2 a 23 de Junho de 2005

Tabela 7. Continuação.

1. Controle sanitário

2. Controle dedoenças de animais

3. Controle de abatee processamento

4. Controle deresíduos

5. Enforcement

Em todos os estabelecimentos visitados, o PPHO não estava efetivamenteimplementado (ex: estabelecimentos não mantinham os registros diários do PPHOe das medidas preventivas e corretivas tomadas, condensação, carcaças emcontatos com superfícies sujas)

Nenhuma deficiência foi observada

Procedimentos de abate: inspetores oficiais não seguiam os requerimentos do Fsispara inspeção post-mortem (inspeção de cabeça e pulmões, temperatura desanitizadores, ineficácia de sanitizadores)

HACCP: todos os estabelecimentos não tinham o HACCP bem implementado

Teste para E. coli: nenhuma deficiência foi observada

Teste para L. monocytogenes: deficiências observadas em algumas plantas

Laboratórios de resíduos: múltiplas deficiências para atender as exigências doFsis, deficiências nos procedimentos de garantia da qualidade, métodos de análisede Dietilestilbestrol (DES) e antibióticos inapropriados

Laboratórios de microbiologia: todos os laboratórios possuíam deficiências paraatender as exigências do Fsis e não possuía pessoal adequado suficientemente

Inspeções diárias e mensais nos estabelecimentos: deficiências foram observadasem alguns estabelecimentos

Auditoria de 10 de Março a 14 de Abril de 2005

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 72

5. Enforcement Salmonella: as mesmas observações da última auditoria foram encontradas, e em8 estabelecimentos, o Dipoa não seguia o método de análise de Salmonellaaprovado pelo Fsis.

Sistema de inspeção: inspetores oficiais não cumpriam os requerimentos para BSE(não separavam e davam destino correto aos MRE...), não havia método uniformede pagamento dos inspetores oficiais, e muitos deles recebiam benefícios dosestabelecimentos (alimentação, saúde).

Dipoa não tem responsabilidade pelos laboratórios. O coordenador do PNCR e aCGAL não se reportam ao Dipoa

Não há programas nacionais para treinamento de inspetores e não há suportetécnico para os programas de inspeção

Auditoria de 10 de Março a 14 de Abril de 2005

Tabela 7. Continuação.

1. Controle sanitário

2. Controle dedoenças de animais

3. Controle de abatee processamento

4. Controle deresíduos

5. Enforcement

Em seis estabelecimentos, o PPHO não estava efetivamente implementado (ex:poeira do trilho nas carcaças, produtos contaminados dentro de caixas furadas,produtos em contato com o chão, condensação, utensílios que entram em contatocom o produto no chão, funcionários sem lavar as mãos...)

Em sete estabelecimentos, requerimentos SPS (operações sanitárias, manutençãode equipamentos e instalações e controle de pestes) não estavam efetivamenteimplementados (ex: frestas em portas e janelas, falta de sanitizadores em algunssetores)

Nenhuma deficiência foi observada

Nenhum estabelecimento apresentou problemas relacionados aos procedimentosde abate.Todos tinham os requerimentos do HACCP adequados, conduziam adequadamenteos testes de E. coli e de L. monocytogenes.

Nos laboratórios do governo, não havia calibração dos equipamentos

O método de análise de DES utilizado não é o aceito pelo Fsis

Inspeções diárias e mensais nos estabelecimentos: nenhuma deficiênciaobservada.

Salmonella: o Brasil adota os requerimentos do Fsis para Salmonella, com exceçãodas seguintes medidas equivalentes: a) Identificação de funcionários doestabelecimento que coletam as amostras para Salmonella; b) amostras sãoanalisadas em laboratórios privados; c) Brasil suspende o estabelecimento naprimeira vez que Salmonella é encontrada.

Sistema de inspeção: o auditor foi informado que o pagamento dos inspetoresoficiais é feito pelas secretarias de Agricultura estaduais.

Auditoria de 26 de Agosto a 28 de Setembro de 2004

Fonte: elaborado a partir de informações das auditorias.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200773

ConclusãoAs auditorias feitas por missões do Fsis, para veri-ficar se as exigências regulatórias estipuladas poresse serviço, para empresas que exportam car-nes aos Estados Unidos, estão sendo cumpridasnos estabelecimentos brasileiros, mas encontra-ram muitas inconformidades ao longo dos últimosanos.

Embora esses problemas venham diminuindo des-de janeiro de 2002, quando foi verificado o nívelmáximo de não-conformidades em relação aosrequisitos exigidos pelo Fsis, a situação constata-da poderia evidenciar que o conhecimento quevem sendo adquirido, ao longo dos últimos anos,com essas inspeções não tem sido totalmente ab-sorvido pelo setor como um todo e incorporadopara evitar problemas nas inspeções subseqüen-tes. Essa é uma inferência válida mesmo se con-siderado que a amostra de estabelecimentos sealtera nas diversas auditorias.

Apesar disso, percebe-se uma mudança na ênfa-se das não-conformidades, o que pode até se darpelo fato dos critérios analíticos e classificatóriosutilizados não serem totalmente os mesmos paratodo o período estudado. Essa mudança indicariaque das não-conformidades relacionadas a pro-blemas de higiene (PPHO) e controle de pontoscríticos (HACCP), muitas delas devido a proble-mas com registros de procedimentos de forma ina-dequada, vêm se evoluindo para a identificaçãode não-conformidades relacionadas a problemascom laboratórios para análise de resíduos e difi-culdades com o enforcement.

Na auditoria feita em 2001, observa-se que osproblemas encontrados relacionavam-se princi-palmente a questões de higiene e de proteção deprodutos contra contaminação. Nas duas audito-rias feitas em 2002, os problemas concentraram-se em não-conformidades relacionadas ao pro-grama HACCP, a documentação e inspeção e ainstalações básicas e suas condições. Já na audi-toria de setembro de 2003, verifica-se que 39 %das inconformidadees encontradas relacionavam-se às instalações básicas e suas condições e17 %, à higiene.

Atualmente, o maior problema encontrado pelosestabelecimentos para se adequar às exigênciasnorte-americanas está relacionado a exigênciasquanto às instalações básicas e suas condições.Essas constatações podem decorrer da idade dasinstalações, já que algumas foram construídas hámais de 50 anos, quando as exigências não eramas mesmas atuais.

Os resultados sugerem não haver uma tendêncianítida quanto à evolução e à solução dos proble-mas que vêm sendo apontados pelas auditoriasnas plantas industriais exportadoras de carne bo-vina para os Estados Unidos. Por exemplo, espe-rava-se que questões básicas como as de higienefossem, paulatinamente, diminuindo nos resulta-dos detectados negativamente nas auditorias.Além disso, todos os estabelecimentosinspecionados em novembro de 2003 não esta-vam de acordo com as exigências de inspeçãorequeridas pelo Fsis em relação a funcionáriosoficiais do governo, cobertura e ações de refor-ços das inspeções diárias. Alguns desses proble-mas persistiam ainda em 2005.

Para se adequar às exigências norte-americanas,os estabelecimentos brasileiros têm implementadoprogramas de qualidade como o programa Pro-cedimentos Padrão de Higiene Operacional(PPHO) e o Good Manufacturing Practice (GMP),ambos bases para o HAPPC. No entanto, seránecessário que os estabelecimentos já habilita-dos a exportar carne industrializada para os Esta-dos Unidos - e que no futuro desejem exportarcarne in natura - se adaptem a alguns requisitosadicionais para exportação desse tipo de carne,como o monitoramento de Listeria monocytogenese de Clostridium (que deteriora a carne embala-da a vácuo).

Enfim, é importante avaliar o quanto dasinconformidades ainda encontradas são de fatoum requisito essencial para garantir a segurançae a inocuidade dos produtos, e o quanto poderi-am estar relacionadas ao uso das exigências sa-nitárias e técnicas como forma de dificultar o co-mércio. O conhecimento técnico e a análise eco-nômica dos fatos poderão colaborar para elucidaressa questão e contribuir com argumentos para

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acelerar o processo de liberação das exportaçõesbrasileiras, também, para a carne bovina in natura.

ReferênciasANTONIOLLI, D. B. Diagnóstico das Exigências para aExportação de Carne Bovina para os Estados Unidos: ainspeção dos frigoríficos brasileiros. Piracicaba: ESALQ/USP, 2005. 74p. Relatório de estágio profissionalizante.

FAO. Animal Production and Health. Good Practices for theMeat Industry. Roma, 2004.

KUME, H.; PIANI, G. Barreiras às exportações brasileirasnos EUA, Japão e União Européia: Estimativas do impactosobre as exportações brasileiras. Rio de Janeiro: FUNCEX.1999. 3p.

LIMA, R. C. A.; MIRANDA, S. H. G.; GALLI, F. Febre Aftosa:Impacto Sobre as Exportações Brasileiras de Carnes e oContexto Mundial das Barreiras Sanitárias. 2005. 31 p.Estudo do CEPEA/ICONE. Disponivel em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/CEPEA-ICONE_Aftosa%20(final).pdf> Acesso em: 12 jun. 2006

MARTINELLI, M. A. Os requisitos do Codex Alimentarius eo Comércio Internacional de Alimentos. ConferênciaInternacional sobre Rastreabilidade de Alimentos. SãoPaulo, 2004.

MIRANDA, S. H. G. Quantificação dos efeitos das barreirasnão-tarifárias sobre as exportações brasileiras de carnebovina. 2001. 254 f. Tese (Doutorado em EconomiaAplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, 2001.

MIRANDA, S.H.G.; CUNHA FILHO, J.H.; BURNQUIST, H.L.;BARROS, G.S.A.C. Normas sanitárias e fitossanitárias:proteção ou protecionismo. Informações Econômicas, SãoPaulo, v.34, n.2, p.25-35. Fev. 2004.

NATIONAL ARCHIVES AND RECORDS ADMINISTRATION.Code of Federal Regulations. Disponível em: http://www.access.gpo.gov/cgi-bin/cfrassemble.cgi?title=200409Acesso 05 nov. 2004.

USDA. Food Safety and Inspection Service. Process forevaluating the equivalence of foreign meat and poultry foodregulatory systems. Disponível em: www.fsis.usda.gov/oppde/ips/EQ/EQProcess.pdf. Acesso em 12. Jun. 2006.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200775

Cadeia produtiva dacarne suína no Brasil

Marcelo Miele1

Paulo D. Waquil2

Resumo: A carne suína é a principal fonte de proteína animal no mundo, mas com um volume decomércio internacional modesto quando comparado às demais carnes. Mesmo assim, e apesar doacirramento da concorrência internacional, o Brasil apresentou um desempenho excepcional no perí-odo entre 1995 e 2005, puxado sobretudo pelo seu desempenho no mercado externo, tendo em vista obaixo dinamismo do mercado interno para esse tipo de carne. Esse desempenho tem suas bases natrajetória de incremento tecnológico, no aumento de escala, na especialização e coordenação entreos elos da cadeia produtiva. O presente estudo tem caráter descritivo e teve por objetivo compilarinformações disponíveis, a partir de uma ótica de cadeia produtiva, a fim de apresentar as principaisdimensões econômicas e organizacionais da cadeia produtiva da carne suína no Brasil, com ênfasenas estratégias das agroindústrias líderes e dos suinocultores.

Palavras-chave: Escala, especialização, estratégias, integração vertical, suinocultura.

Abstract: The pork meat is the world main source of animal protein, but it represents a modest share inthe meat international market. Despite the higher international competition and considering the lowgrowth of the domestic market, Brazilian pork meat producers reached an exceptional performance inthe period between 1995 and 2005, above all with its foreign customers. Technological improvements,higher production scales and specialization and also the better vertical coordination are the bases ofthis performance. The goal of this descriptive study was to collect available informations, organize it ina commodity system approach to present the main economic and organizational dimensions of theBrazilian pork meat supply chain, emphasizing both industries and producers strategies.

Key-words: Scale, Specialization, Strategy, Swine growing, Vertical Integration

IntroduçãoA carne suína é a fonte de proteína animal maisimportante no mundo, representando quase me-tade do consumo e da produção de carnes, commais de 94 milhões de toneladas (FOREIGN,2006), das quais aproximadamente 53 % ocorremna China, e outro terço na União Européia (UE) e

nos Estados Unidos (EUA). O Brasil é o quartomaior produtor (2,9 % do total) e o sexto consumi-dor em termos absolutos (2,2 % do total). Os mai-ores consumidores per capita também são paíseseuropeus, norte-americanos e a China, nos quaisa população tem tradição de consumo. Entre es-ses três principais produtores e consumidores háum elevado grau de auto-suficiência, ou relação

1 Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, BR 153, Km 110, Caixa Postal 21, Vila Tamanduá, 89700-000, Concórdia, SC, [email protected] Professor-adjunto do Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bolsista do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Av. João Pessoa, n.º 31, Centro, Porto Alegre, RS, [email protected].

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consumo/produto, levando a uma baixa partici-pação (cerca de 27 %) da carne suína nas expor-tações mundiais de proteína animal (FOREIGN,2006). Os maiores importadores são Japão, Fede-ração Russa e México, com aproximadamente60 % das importações mundiais. A UE lidera asexportações, seguida por EUA, Canadá e Brasil.

O desempenho brasileiro (competitividade reve-lada) na última década é significativo, com umcrescimento de 84 % na produção e de 1.615 %nos volumes exportados, atingindo a marca re-corde de US$ 1,2 bilhão exportados em 2005 (AS-SOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA PRO-DUTORA E EXPORTADORA DE CARNE SUÍNA,2006). A trajetória de incremento tecnológico,aumento de escala, especialização e coordena-ção entre os elos da cadeia produtiva foram fato-res fundamentais para o desempenho brasileironesse segmento do mercado mundial de carnes.Entretanto, a participação crescente de novospaíses no cenário internacional, assim como asincertezas sanitárias e a prática de protecionis-mo resultam em um processo de acirramento daconcorrência internacional que podem afetar ne-gativamente esses resultados (LIDDELL; BAILEY,2001; RABOBANK, 2001; SANTINI et al., 2004;SANTINI; SOUZA FILHO, 2004a, 2004b;WEYDMANN; FOSTER, 2003; WEYDMANN,2004).

O presente estudo tem caráter descritivo e tevepor objetivo compilar informações disponíveis eminúmeras fontes estatísticas oficiais e setoriais, apartir de uma ótica de cadeia produtiva(ZYLBERSZTAJN; FARINA, 1998), a fim dedisponibilizar à Câmara Setorial da Cadeia Pro-dutiva de Milho e Sorgo, Aves e Suínos, coorde-nada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa), bem como ao público emgeral, um documento conciso e de consulta rápi-da que sintetize as dimensões econômicas eorganizacionais da cadeia produtiva da carnesuína no Brasil, com ênfase nas estratégias dasagroindústrias líderes e dos suinocultores. Comisso, espera-se atender uma demanda do ComitêAssessor Externo (CAE) da Embrapa Suínos e Aves,e uma linha prioritária do Plano Diretor da Uni-dade (PDU) 2004-2007.

O Brasil e a concorrênciainternacionalOs países que apresentaram maior crescimentona produção ou nas exportações (Tabela 1) sãoaqueles que viabilizaram o fornecimento baratode grãos com menores custos de produção, estãopróximos a regiões onde a demanda cresce sig-nificativamente e obtiveram o reconhecimentointernacional da saúde dos seus rebanhos(RABOBANK, 2001). Dessas três condições, oBrasil atende plenamente apenas à primeira. Aocontrário do perfil mundial, o consumo de carnesuína no Brasil é bem inferior ao das carnes bovi-nas e de frango, com um consumo per capita os-cilando entre 11 kg/hab./ano a 13 kg/hab./ano(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIAPRODUTORA E EXPORTADORA DE CARNESUÍNA, 2006), que é inferior à média mundial,quase cinco vezes inferior à média da UE e cer-ca de um terço do verificado na China e nos EUA(FOREIGN, 2006). Apesar do aumento absolutono consumo e na aquisição domiciliar per capitana última década no Brasil (ASSOCIAÇÃO BRA-SILEIRA DA INDÚSTRIA PRODUTORA E EXPOR-TADORA DE CARNE SUÍNA, 2006; IBGE, 2004),o mercado interno não apresenta o dinamismonecessário para o crescimento do segmento, ca-bendo ao mercado externo absorver parcela cres-cente da produção (Tabela 2).

As exportações brasileiras cresceram acima damédia dos demais competidores (Tabela 1), ape-sar do acirramento da concorrência e da elevadaincerteza (sanitária e relacionada ao protecionis-mo). Os principais mercados importadores (Japão,México, EUA e Coréia do Sul) estão fechados paraa carne suína in natura brasileira em função derestrições sanitárias. Além disso, a sua participa-ção nos mercados abertos, que não impõem res-trições sanitárias ou acatam o princípio daregionalização (Federação Russa, Hong Kong, UEe outros,)3, chega a apenas 39 % das suas impor-tações (LIMA et al., 2004). Essa situação coloca oPaís em crescente vulnerabilidade diante das os-cilações externas relacionadas não apenas à de-

3 As barreiras não-tarifárias estão voltadas para questões sanitárias, mas tendem a evoluir para questões ambientais e de bem-estar animal (LIDDELL; BAILEY,2001).

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 200777

Tabela 1. Principais países exportadores de carne suína em 1995, 2000 e 2005, em mil t.

(p) Dados preliminares.(1) Em 1995, considera apenas a UE-15.Fonte: Abipecs para Brasil, USDA para mundo e demais países.

772357366

36105724

2.360

Volume

UE-25(1)

EUACanadáBrasilChinaOutrosTotal

País

331516

24

31100

Partic. (%)

1995

1.522584660128

73199

3.166

Volume

481821

426

100

Partic. (%)

2000

1.3801.2071.083

625331387

5.013

Volume

28242212

78

100

Partic. (%)

2005(p)

79238196

1.615215-47112

1995-2005

331516

24

31100

2000-2005

Crescimento

manda e ao protecionismo nos principais merca-dos, mas também à real situação sanitária brasi-leira, como nas ocorrências recentes de febreaftosa. As redução no ritmo de expansão das ex-portações brasileiras para os seus principais com-pradores em meados de 2002 e a queda nos volu-mes exportados em 2006 deram início a ciclosrecessivos, com redução na rentabilidade dossuinocultores e das agroindústrias. Essa situaçãose evidencia na relação de troca entre os preçosdos grãos e do suíno vivo (Fig. 1).

Os custos de produção são uma vantagem abso-luta do País, que apresenta os menores custos entreos principais países produtores e exportadores (Ta-bela 3). Além da disponibilidade de grãos, essedesempenho reflete a incorporação de tecnologiasde abate e processamento, de produção pecuá-ria com avanços em genética, nutrição e medi-

Tabela 2. Alojamento de matrizes, tamanho do rebanho, abate de suínos, produção e exportação de carnesuína no Brasil entre 2000 e 2005.

(p) Dados preliminares.Fonte: Abipecs, ABCS, Embrapa e IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal.

n.d.n.d.

1.5961.4351.3741.406

Tecnificadas

200020012002200320042005(p)

Ano

2.4612.6632.8602.4662.3492.343

Total

Alojamento de matrizes(mil cabeças)

31,632,631,932,333,1n.d.

Rebanho(milhões decabeças)

1.2291.3761.6441.6421.6511.789

SIF

2.5562.7302.8722.6972.6202.708

Total

Produção(mil t)

128265476495508625

Total

51017181923

% da produção

Exportações(mil t)

Fig. 1. Relação de troca entre o preço do suíno vivoe o preço dos grãos na Região Sul.Fontes: Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Associação deCriadores de Suínos do Rio Grande do Sul, Companhia Nacional deAbastecimento, Departamento de Economia Rural do Paraná e Embrapa Suínose Aves.

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camentos (apesar de haver ainda significativaparcela de matrizes não tecnificadas) e de orga-nização e coordenação da cadeia produtiva(GIROTTO; SANTOS FILHO, 2000; MIELE; MA-CHADO, 2006; MIELE, 2006; ROPPA, 2005;SANTINI; SOUZA FILHO, 2004b).

Extensões geográfica, horizontal evertical das estratégias dominantesentre as empresas e cooperativasagroindustriais brasileirasHá dois grupos distintos de empresas e cooperati-vas que abatem suínos e processam e distribuemcarne suína no Brasil (INSTITUTO PARANAENSEDE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SO-CIAL, 2002), quais sejam, o subsistema sob SIF eo subsistema sob inspeção estadual (SIE) e muni-cipal (SIM)4. As empresas e cooperativas que atu-am sob SIF, com dois terços dos abates e a totali-dade das exportações (Tabela 4), operam sob re-gras sanitárias que lhes permitem a venda inte-restadual e internacional de produtos, enquantoas vendas das empresas sob SIE/SIM estão limita-das às fronteiras estaduais ou municipais. Entreesses grupos de empresas, há diferenças acercada forma e extensão das suas estratégias. Assim,em termos de extensão geográfica, as estratégiasno Brasil englobam as micro e pequenas empre-

sas, cooperativas e outras experiênciasassociativas com vendas locais sob SIE/SIM, aspequenas e médias empresas e cooperativas comvendas regionais sob SIF, e as grandes empresase cooperativas, geralmente com mais de umaunidade industrial (multiplantas), cujas vendasabrangem os mercados nacional e estrangeiro, pormeio de exportações ou investimentos diretos.Neste último grupo, o mercado externo represen-ta em média um terço do volume produzido, masem algumas empresas chega a mais de 80 % (Ta-bela 4).

A questão internacional não pode ser vista ape-nas como comercial, mas também a partir dosdeslocamentos da produção e dos investimentosdiretos. No caso da suinocultura, as grandes or-ganizações exportadoras possuem estruturas pro-dutivas localizadas predominantemente nos seuspaíses de origem, não havendo uma elevadainternacionalização da produção como em ou-tros setores, com ausência do comércio intrafirma.A presença internacional das empresas européi-as (Campofrio, Danish Crown e Dumeco) e nor-te-americanas (Hormel Foods, IBP e Maple LeafFoods) se dá por intermédio de investimentos naárea comercial e de processamento, mas raramen-te na produção ou no abate. Entretanto, destacam-se uma cooperativa e uma empresa com origemnos EUA ditas globais (Farmland e Smithfield), cominvestimentos diretos em diversos países e em pra-

4 Havendo várias denominações para esses sistemas, optou-se por aquela utilizada pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina(Cidasc).

Tabela 3. Custo de produção, conversão alimentar e intensidade tecnológica na suinocultura industrial dosprincipais países produtores em 2005.

(1) Para a UE-25 considerou-se a média de Alemanha, Dinamarca, Espanha, França, Holanda e Polônia.(2) Não inclui suínos em fase de creche e terminação.Fonte: PIC Worldwide Pig Production Cost Survey e Abipecs, ABCS e Embrapa para a participação das matrizes tecnificadas no total.

BrasilEUAChinaCanadáUE-25(1)

Federação RussaJapão

País

0,730,770,891,141,251,612,17

Custo deprodução(US$/kg)

2,72,92,83,02,95,03,2

Conversão alimentar(kg de ração/kg

de ganho de peso)

60340

30300164

2590

Matrizes portrabalhador(cabeças(2))

6095

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Participação dasmatrizes tecnificadas

no alojamento total

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ticamente todos os elos da cadeia pro-dutiva, dos insumos à distribuição(RABOBANK, 2001).

No Brasil, o processo de internacionali-zação ocorre sobretudo pelas exporta-ções, mas também por meio da aquisi-ção de empresas nacionais por capitaisestrangeiros e por investimentos nacio-nais no exterior, essencialmente na áreacomercial (RABOBANK, 2001;SANTINI; SOUZA FILHO, 2004b) e,mais recentemente, na aquisição de uni-dades de processamento na FederaçãoRussa e no Leste Asiático. Entre as 16maiores empresas no segmento de car-ne suína no mundo (levando em consi-deração o alojamento de matrizes), qua-tro são brasileiras (Tabela 4), sendo umade capital aberto com controle familiar(Sadia), outra de capital aberto contro-lada por fundos de pensão nacionais(Perdigão), outra subsidiária de umamultinacional agroalimentar (Seara) euma cooperativa (Aurora).

Entre as empresas e cooperativas líde-res, também há grande variação em ter-mos da extensão vertical e horizontaldas suas estratégias. Esse grupo podeser caracterizado como um oligopóliocompetitivo, em que predomina a bus-ca por ganhos de escala, a promoçãoda marca, a coordenação da cadeiaprodutiva, a inovação em produtos eprocessos e crescentes controles dequalidade (RABOBANK, 2001; SANTINIet al., 2004; SANTINI; SOUZA FILHO,2004b; WEYDMANN, 2004). Do pontode vista da gama de produtos (extensãohorizontal da estratégia), as líderes noBrasil e na UE também atuam no seg-mento de carne de frango e, mais re-centemente, de alimentos em geral. Há,no entanto, aquelas especializadas emcarne suína ou aquelas que também atu-am no segmento bovino (Tabela 4).Nota-se que apesar de as líderes no Bra-sil atuarem no segmento de carne bovi- Ta

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 80

na, isso ocorre de forma marginal quando com-parado ao abate de aves e suínos, enquanto nosEUA a atuação no segmento bovino é mais signi-ficativa, levando a uma maior diversificação emprodutos (RABOBANK, 2001; SANTINI; SOUZAFILHO, 2004b; TALAMINI; KINPARA, 1994;WEYDMANN, 2004). A extensão da gama de pro-dutos é definida em grande parte pelas caracte-rísticas do mercado consumidor predominante emcada país (hábitos e gostos, poder aquisitivo e es-trutura de distribuição). Na China, na Polônia enos EUA há maior presença da carne fresca ou innatura, enquanto na UE, no Japão, na Rússia e noBrasil predomina o consumo de produtos proces-sados (RABOBANK, 2001).

Do ponto de vista da extensão vertical das estra-tégias, predomina um padrão de investimentosque se estende da distribuição à produção deinsumos (em granjas-núcleo para produção dagenética ou em fábricas de ração para a nutriçãodos animais), com os estabelecimentos suinícolasinseridos geralmente por programas de fomentopecuário e de contratos (MIELE, 2006). Essa for-ma de inserção da atividade pecuária é denomi-nada no Brasil de integração. Nesse sistema, asagroindústrias fornecem a seus integrados a ra-ção, a genética, os medicamentos, a assistênciatécnica e outras especificações técnicas, caben-do ao suinocultor os investimentos e manutençãoem instalações, a mão-de-obra e as despesas comenergia, água e manejo dos dejetos. Enquantoentre as empresas integradoras há uma relaçãodireta com os suinocultores integrados, entre ascooperativas centrais que abatem suínos e pro-cessam carne suína essa relação se dá, geralmen-te, por intermédio de cooperativas singulares deprodução pecuária. Além da integração, há ochamado mercado spot, no qual as agroindústriascompram animais de estabelecimentos suinícolasdenominados independentes, ou seja, que têm li-berdade de decisão quanto aos insumos a seremadquiridos ou volume e destino das vendas daprodução suinícola. Nesse sistema, verifica-se aexistência de comerciantes que adquirem os ani-mais para posterior venda às agroindústrias, comou sem engorda. Nota-se que em alguns estados,como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, muitosdesses comerciantes passaram a fornecer insumose assistência técnica a outros suinocultores emtroca de garantias tácitas de fornecimento, consti-

tuindo-se em um fenômeno denominado no setorcomo miniintegradores.

Não há estatísticas sobre esse tema, mas estima-se que 88 % dos estabelecimentos suinícolastecnificados no Brasil sejam integrados por meiode contratos ou de programas de fomento pecuá-rio das empresas e cooperativas agroindustriais(Tabela 5). A integração predomina na Região Suldo País, mas está crescendo nas regiões Sudestee Centro-Oeste (GUIVANT; MIRANDA, 1999;MIELE, 2006; SANTINI; SOUZA FILHO, 2004b;WEDEKIN; MELLO, 1995). Esse padrão deintegração também é o mais representativo nosEUA e na UE (BARKEMA; COOK, 1993;LAWRENCE et al., 1997; MARTINEZ, 1999;RABOBANK, 2001; RICHARD et al., 2003), en-quanto na China a produção industrial integradase estabeleceu apenas nas proximidades dos gran-des centros urbanos, fruto de investimentos estran-geiros norte-americanos e europeus em aliançacom estatais (RABOBANK, 2002).

As organizações voltadas aos mercados locais ouregionais não são objeto desse estudo, mas sali-enta-se haver uma grande diversidade, com es-tratégias especializadas em suínos e derivados dacarne suína, bem como casos em que hácomplementaridade com bovinos e aves, e umamaior gama de produtos e diversificação. Do pontode vista da verticalização também há grande di-versidade. São suinocultores com investimentosem estruturas de abate e processamento (integra-dos a jusante), pequenas cooperativas e iniciati-vas associativas para viabilizar a compra conjuntade insumos ou a venda dos animais (integrados amontante), bem como empresas processadoras edistribuidoras sem presença nos elos a jusante e amontante da cadeia produtiva, com pouca açãoem termos de coordenação.

Sistemas de produção,especialização e escalaentre os estabelecimentos suinícolasA suinocultura é praticada em milhares de esta-belecimentos rurais no Brasil, mas interessa aopresente estudo aqueles estabelecimentos onde

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essa se caracteriza como a principal atividadeou, quando consorciada com outras atividadesagropecuárias, é desenvolvida de formatecnificada e inserida nos principais canais dedistribuição ou integração (Tabela 5). Portanto, nãose consideram as pequenas criações inseridas deforma marginal na cadeia produtiva da carnesuína ou voltadas para o autoconsumo, as quaiscaracterizam a chamada suinocultura de subsis-tência. A produção denominada industrial, que étecnificada e explora ganhos de escala e, na suamaior parte, adota uma estratégia de especiali-zação crescente, representava, em 2005, 60 %no alojamento de matrizes e mais de 80 % dosabates e da produção de carne suína, chegandoa mais de 90 % nos estados da Região Sul (MIELE;MACHADO, 2006). Da mesma forma que paraas empresas e cooperativas, existem pelo menosquatro dimensões pertinentes à análise dos esta-belecimentos suinícolas, quais sejam: a especia-lização, o sistema de produção, a escala e o tipode vínculo com a agroindústria de abate eprocessamento.

Em termos de especialização ou diversificaçãodo estabelecimento agropecuário, há no mínimoquatro configurações típicas. Na primeira delas,o estabelecimento é diversificado com a produ-ção de suínos, grãos (predominantemente milhopara o auto-abastecimento) e bovinos de leite.Explora, portanto, economias de escopo com basena agricultura familiar e se caracteriza pela pe-quena escala de produção. A presença desse gru-po é cada vez mais reduzida no circuito daintegração, inclusive entre as cooperativas. Umaoutra configuração se caracteriza por estabeleci-

mentos especializados na suinocultura sem pro-dução de milho ou outros grãos, explorando gan-hos de especialização e de escala. São suinocul-tores típicos do processo de integração na RegiãoSul, mas em expansão no Centro-Oeste. Tambémrepresentativos do processo de integração naRegião Sul e em expansão para as demais sãoaqueles estabelecimentos diversificados por inter-médio do binômio suínos-aves. Por fim, uma quartaconfiguração é composta por estabelecimentosdiversificados com suínos e grãos (ou outras cul-turas como café e silvicultura), mas que conse-guem explorar ganhos de escala em todas as ati-vidades. Esse grupo está presente, sobretudo, nasregiões Sudeste e Centro-Oeste (GOMES et al.,1992; GUIVANT; MIRANDA, 1999; SANTINI;SOUZA FILHO, 2004b; TESTA, 2004; WEDEKIN;MELLO, 1995; WEYDMANN, 2004). De formasucinta, as quatro configurações básicas se apre-sentam como a seguir:

a) Diversificado com grãos-suínos-leite, com gan-hos de escopo e pequena escala.

b) Diversificado com suínos-aves, com ganhos deescopo e escala.

c) Especializado suínos, com ganhos de especia-lização e escala.

d) Diversificado grãos-suínos, com ganhos de es-copo e escala.

Além da produção de reprodutores (fêmeas, ma-chos e sêmen) em granjas-núcleo e multiplica-doras, com significativa presença de investimen-tos das próprias agroindústrias e empresas degenética, existem três tipos de sistemas de produ-

Tabela 5. Estabelecimentos suinícolas e tipo de vínculo no Brasil em 2005.

(1) Suinocultores integrados a empresas ou cooperativas, atuando por meio de contratos ou programas de fomento pecuário.Fonte: estimativa com base em consulta a especialistas nos principais estados produtores e às empresas e cooperativas, a partir de Miele eMachado (2006) e Miele (2006).

SulNordeste e NorteSudesteCentro-OesteBrasil

Região

24.7492.5002.050

78030.079

Número

82873

100

Participação(%)

9270755388

Integrados(1)

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ção suinícola. O primeiro deles é a produção emciclo completo (CC), onde o mesmo estabeleci-mento desenvolve todas as etapas de produçãodo animal, quais sejam: cruza ou inseminação,maternidade, desmama, creche e terminação. Odesmembramento dessas atividades em mais deum estabelecimento levou ao surgimento das uni-dades de produção de leitões (UPLs) e das unida-des de terminação (UTs). As primeiras desenvol-vem as etapas de inseminação, maternidade, des-mame e creche, produzindo leitões com até 22kg a 28 kg, enquanto as últimas se dedicam ape-nas à terminação, engordando animais dos 22 kgaos 28 kg até o peso de abate, entre 100 kg e 130kg aproximadamente. Atualmente, estabeleci-mentos em UPL produzem leitões com até 10 kgou 12 kg, desativando o estágio de creche, quepassa a ser desenvolvido por um quarto tipo desistema de produção, os crecheiros. Em contrasteà especialização descrita anteriormente, que serefere à redução do número de atividades desen-volvidas em um mesmo estabelecimentoagropecuário, trata-se aqui da especializaçãodentro da atividade suinícola, que se refere à re-dução do número de etapas do ciclo de produçãodo animal.

Até meados dos anos 1990, predominava no Bra-sil a produção em CC. Após esse período, houveum processo de mudança, com a transformaçãode parte desses estabelecimentos suinícolas emUPL e UT. Essa tendência à especialização nasetapas do processo produtivo dos suínos ocorreuem todo o País, mas se dá de forma mais intensana Região Sul (Tabela 6). Essa substituição ocorre

nas cinco principais empresas, mas com padrõesdiferentes. Enquanto Sadia e Seara praticamentenão trabalham mais com estabelecimentos em CC,nas demais agroindústrias esse sistema ainda re-presenta parcela significativa dos abates e do alo-jamento de matrizes, apesar de seguir uma ten-dência de queda nessa participação.

Concomitante ao processo de especialização,ocorreu o aumento de escala em todo o País (Ta-bela 7), com o aumento da produção e a reduçãono número de estabelecimentos suinícolas. Comoapontam Heiden et al. (2006), entre 1996 e 2003,76 mil estabelecimentos deixaram de produzirsuínos em Santa Catarina (Tabela 8), enquanto orebanho se elevou em 25 % e os abates quaseduplicaram. Apenas entre os estabelecimentoscom mais de 200 animais verifica-se crescimen-to no número de estabelecimentos e no rebanho.Além disso, todos os estratos apresentaram cres-cimento da escala, exceto aquele com menos dedez animais (suinocultura de subsistência). Quandoconsiderado apenas o rebanho industrial integra-do às cinco principais empresas e cooperativasagroindustriais de Santa Catarina, também se cons-tata o aumento da escala em todo os sistemas deprodução em um período mais recente (Tabela9), com maiores acréscimos nos estabelecimen-tos em CC, que não se especializaram dentro dociclo de produção do suíno. Esse aumento de es-cala também ocorreu entre os integrados das cin-co principais agroindústrias, mas com padrõesdiferentes.

O aumento de escala verificado na produção pri-mária está associado à maior eficiência dos fato-

Tabela 6. Estabelecimentos, abates e alojamento de matrizes por sistema de produção em Santa Catarina.

(1) Não inclui granjas de reprodutores e terceiros.(2) Não inclui descarte de matrizes em UPL e em granjas de reprodutores.Fonte: Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina.

4.9522.2524.406

-11.610

Jul.2001

CCUPLUTTerceirosTotal

Sistema

1.7012.2565.151

-9.108

Out.2005

Estabelecimentos(1)

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Variação(%)

171.198-

310.87647.681

529.755

Jul.2001

105.637-

440.34554.804

600.786

Out.2005

Abates mensais(2)

-38-

421513

Variação(%)

117.235173.127

--

290.362

Jul.2001

60.503250.025

--

310.528

Out.2005

Alojamento de matrizes(1)

-4844

--7

Variação(%)

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res de produção (RICHARD et al., 2003), mas tam-bém a uma maior uniformidade no tamanho, naforma e na qualidade dos animais entregues parao abate, ao contrário do que ocorre com a produ-ção atomizada (MARTINEZ, 1999). Os avançostecnológicos incorporados no aumento da escalaocorreram em genética, nutrição, instalações,equipamentos, medicina veterinária e gestão(SANTINI; SOUZA FILHO, 2004b) e se materiali-zam em alguns indicadores técnicos. Nos últimos

Tabela 7. Escala dos estabelecimentos suinícolas no Brasil em 1995 e 2005.

(1) Apenas os estabelecimentos que têm a suinocultura como atividade principal.Fonte: IBGE - Censo Agropecuário de 1995-96, Abipecs e consulta a especialistas.

Estabelecimentos(1)

Produção de carne suína SIF (mil t)Produção/estabelecimento (kg)Tamanho médio dos lotes (cabeças)

Ano

66.9521.060

15.82866

1995

30.0791.789

59.463248

2005

-5569

276276

Variação (%)

20 anos em Santa Catarina, enquanto a conver-são alimentar foi reduzida em 30 %, estando atu-almente em 2,7 kg de ração para cada quilo desuíno vivo, a produtividade das matrizes se ele-vou em 30 %, atualmente em 20 terminados/por-ca/ano5, o rendimento de carne magra de carca-ça se elevou de 45 % para 56 % e a quantidadede gordura que vai ao mercado se reduziu de 20para apenas 2 kg6 (GOMES et al., 1992; MIELE;MACHADO, 2006 e consulta a especialistas).

Tabela 9. Média de abates mensais e de alojamento de matrizes por estabelecimento em Santa Catarinaem 2001 e 2005, em cabeças.

(1) Não inclui descarte de matrizes em UPL e granjas de reprodutores.(2) Não inclui granjas de reprodutores e terceiros.Fonte: Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina.

35-

7153

Julho2001

CCUPLUTMédia total

Sistema

62-

8574

Outubro2005

Abates mensais por estabelecimento(1)

80-

2140

Variação(%)

2477

-50

Julho2001

36111

-73

Outubro2005

Alojamento de matrizes por estabelecimento(2)

5044

-46

Variação(%)

Tabela 8. Estabelecimentos produtores de suínos e efetivo do rebanho segundo o estrato de animais emSanta Catarina em 1996 e 2003.

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário de 1995-96 e Levantamento Agropecuário de Santa Catarina 2003, a partir de Heiden et al. (2006).

87.07430.301

8.6174.827

130.819

1996

Menos de 10De 10 a menos de 50De 50 a menos de 200De 200 e maisTotal

Estrato por númerode animais

34.70510.0523.0006.954

54.711

2003

Estabelecimentos

-60-67-6544

-58

Variação(%)

311566836

2.8234.536

1996

121209378

4.9575.665

2003

Rebanho (mil cabeças)

-61-63-557625

Variação(%)

41997

58535

1996

321

126713104

2003

Escala (cabeças/estab.)

-2113022

199

Variação(%)

5 Índices médios para o rebanho de Santa Catarina, podendo atingir conversão alimentar inferior a 2,5 e produtividade das matrizes superior a 27 terminados/porca/ano.

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Essas inovações, base da conquista de mercadosexternos pelas agroindústrias brasileiras, estãoassociadas a aumentos de escala, e têm criadovantagens para os maiores suinocultores, com umconseqüente aumento no tamanho das instalaçõese redução no seu número (MARTINEZ, 1999).Deve-se destacar que os ganhos de escala sãomuito mais expressivos nos EUA do que na UE ouno Brasil, e naquele país, apenas oito empresasagrícolas detêm 31 % das matrizes (ROPPA, 2005).

Representação sintética dacadeia produtiva no BrasilA partir das considerações e dos dados apresen-tados e dos trabalhos do Instituto Paranaense deDesenvolvimento Econômico e Social (2002),Gomes et al. (1992), Rabobank (2001), Santini eSouza Filho (2004a, 2004b) e Talamini e Kimpara(1994), apresenta-se na Fig. 2 uma representaçãosintética da cadeia produtiva da carne suína noBrasil, com as seguintes informações:

a) Principais agentes que atuam da produção aoconsumo de carne suína e seus derivados, subdi-vididos em cinco segmentos (insumos, pecuário,de intermediação, de abate e processamento ede distribuição e consumo) e, em váriossubsistemas (conforme o tipo de suinocultor, o tipode inspeção na agroindústria e a abrangência domercado).

b) Número de estabelecimentos suinícolas e deempresas e cooperativas de abate e processa-mento.

c) Principais transações entre esses agentes, sub-divididas em três categorias (integração comempresas, integração com cooperativas e outrastransações como o mercado spot e outros tipos deacordos e contratos).

d) Produção (em milhões de cabeças) e VBP (emR$ bilhões) dos suinocultores, produção (em mil t)e VBP (em R$ bilhões) das agroindústrias, consu-mo de grãos e vendas de outros insumos (em mi-lhões de t e bilhões de R$) e consumo interno eexterno (em kg/habitante/ano).

Considerações finaisNo processo em curso no qual as organizaçõeslíderes buscaram a consolidação nos seus mer-cados domésticos e de disputa no mercado inter-nacional, destacam-se dois traços que marcarama evolução da suinocultura nos principais paísesprodutores, inclusive no Brasil. O primeiro deles,associado à intensificação tecnológica das últi-mas 2 décadas, é o processo de concentração eespecialização na produção de animais (ativida-de pecuária), e de concentração no abate eprocessamento (agroindústria). O outro traçomarcante, que ocorreu de forma concomitante aoanterior, foi o aumento da participação dos con-tratos, dos programas de fomento pecuário e daintegração na coordenação dos agentes. Buscou-se dessa forma a redução de custos por meio dosganhos de escala na suinocultura e na agroin-dústria, bem como redução dos riscos e aumentoda qualidade pela maior coordenação no supri-mento de matéria-prima.

Conclui-se que as estratégias das líderes no Brasilse assemelha às suas princiapis concorrentes in-ternacionais, com exceção às empresas ditas glo-bais em função da extensão dos seus investimen-tos em países estrangeiros. Entretanto, está emcurso um processo de concentração no País queanuncia para os próximos anos novas fusões eaquisições entre as agroindústrias líderes nessesegmento, com desdobramentos na relação depoder e repartição de margens entre os principaiselos da cadeia produtiva, bem como no potencialde expansão internacional dessas organizações.Além disso, deve permanecer a tendência demaior dependência do mercado externo e relati-va estagnação do interno, tanto em virtude doperfil de consumo e da renda da população, quan-to da manutenção das estratégias das agroin-dústrias líderes, que apostam nos produtos pro-cessados em detrimento da carne in natura. Dequalquer forma, há uma evidente diversidade deestratégias e atores nesse segmento do mercadode proteína animal, sobretudo entre os suinocul-tores e as agroindústrias de menor porte eabrangência geográfica.

6 Parte da redução da quantidade de gordura que vai ao mercado se deve à diminuição da gordura na carcaça (mudança tecnológica na genética), outra partese deve à incorporação da gordura em outros produtos, como os embutidos (mudança tecnológica nos processos e produtos industriais).

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Por fim, deve-se ressaltar que existe uma ofertaabundante de dados e informações no mundo eno País, permitindo uma melhor caracterizaçãoda cadeia produtiva. Entretanto, e apesar das ini-ciativas em andamento por parte das principaisassociações de representação setorial em conjun-

to com a Embrapa Suínos e Aves, ainda não sãosuficientes para um adequado acompanhamentoconjuntural e para o desenvolvimento de estudosmais aprofundados, o que requer maior aberturapor parte dos diversos atores e associações derepresentação da cadeia produtiva da carne suína.

Fig. 2. Representação sintética da cadeia produtiva da carne suína e seus derivados no Brasil, em 2005.Fontes: elaborado pelo autor, a partir de modelo em Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (2002), com dados de Abipecs, ABCS, Embrapa,IBGE, Confederação Nacional da Agricultura, Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina, Sindicato Nacional da Industria da AlimentaçãoAnimal e Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 86

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A necessidade dereorganização e defortalecimentoinstitucional do SNPAno Brasil

Marcos Paulo Fuck1

Maria Beatriz Machado Bonacelli2

Resumo: O padrão de organização institucional das instituições de pesquisa agrícola, que se seguiu àRevolução Verde, mostra, há alguns anos, sinais de enfraquecimento. As diversas mudanças em cursoapontam para a necessidade de reestruturação dessas instituições, tanto internamente como no relaci-onamento com os demais atores. No caso do Brasil, que apresenta um Sistema Nacional de PesquisaAgropecuária (SNPA) complexo, essa necessidade é ainda mais evidente. O SNPA é composto pordiversas instituições, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as Organiza-ções Estaduais de Pesquisa Agrícola (Oepas), as universidades e institutos de pesquisa, as empresas dosetor de sementes e agroquímicos, entre outras. O objetivo central do artigo é apresentar um diagnós-tico da atuação das principais instituições envolvidas no SNPA do País, notadamente a Embrapa e asOepas, procurando discutir os diferentes papéis, interesses e motivações de tais organizações ante osistema de pesquisa e desenvolvimento na área agrícola e agroindustrial. Dentre os aspectos críticosque compõem o contexto gerencial destas são discutidos dois elementos cruciais colocados pela dinâ-mica de inovação e organização da pesquisa e que vêm sendo internalizados por tais instituições: aparticipação em redes de pesquisa e a constituição de estruturas de suporte para a gestão do conheci-mento.

Palavras-chave: arranjos institucionais, gestão estratégica, instituições públicas de pesquisa, redes depesquisa, gestão do conhecimento

Abstracts: The standard of institutional organization of the Agricultural Research Institutions whichfollowed the Green Revolution, has, over the years, shown signs of weakening. The various changesunderway indicate a need for the restructuring of these institutions, not only internally but also theirrelationships with others. In the case of Brazil, which has a National System of Agricultural Research(Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, SNPA) complex, this is even more evident. The SNPA is

1 Economista, doutorando em Política Científica e Tecnológica (DPCT/IG/Unicamp). E-mail: [email protected]. Caixa Postal 6152. CEP 13083-970, Campinas, SP.2 Economista, Professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/IG/Unicamp) e coordenadora do Grupo de Estudos sobre Organização da

Pesquisa e da Inovação (GEOPI/DPCT). E-mail: [email protected]. Caixa Postal 6152. CEP 13083-970, Campinas, SP.

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made up of several Institutions, such as Embrapa, the State Organizations for Agricultural Research(Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária - OEPAs), the universities and research institutes,the seed and agrochemical enterprises, and others. The main objective of this article is to present adiagnosis of the performance of the principal institutions involved in the SNPA of the country, especiallyEmbrapa and the OEPAs, trying to discuss the different roles, interests and motivations these organizationshave within the research and development system in the agricultural and agroindustrial areas. Withinthe critical aspects that make up their management context, two crucial elements are discussed withrelation to their ability to innovate and organize research and what is being internalized by theseinstitutions: a participation in research networks and an elaboration of support structures for the gestationof knowledge.

Key-words: institutional arrangements (ou networks), management strategy, public research institutions,research networks, management of knowledge.

IntroduçãoA pesquisa agropecuária teve (e tem) um papelimportante para o fortalecimento das atividadesagroindustriais no Brasil. A produção nacional degrãos, por exemplo, vem crescendo apoiada noincremento da produtividade, justamente por contade novas tecnologias empregadas. Entre os paí-ses da América Latina, o Brasil se destaca peloextenso número de Organizações Estaduais dePesquisa Agrícolas (OEPAs), numerosas faculda-des, escolas superiores de agricultura, além defundações de produtores de sementes e empre-sas privadas em número crescente que fazempesquisa agropecuária. Além disso, a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),que é uma das maiores instituições de pesquisado mundo tropical, ocupa lugar de destaque napesquisa agropecuária brasileira, tanto individu-almente como pelo papel que desempenha nacoordenação, programação e no financiamentodas pesquisas no âmbito do Sistema Nacional dePesquisa Agropecuária (SNPA). Entretanto, ape-sar desse quadro de excelência da Embrapa e deoutras instituições do SNPA, tal sistema apresentadebilidades tanto no que diz respeito à relaçãoentre seus componentes como no que respeita anecessidade de se adequar às diversas mudan-ças em curso, decorrentes, entre outros, da supe-ração do paradigma produtivista.

Apesar de as Oepas terem missões semelhantes(proporcionar o desenvolvimento da pesquisaagropecuária nos seus estados), trata-se de insti-tuições extremamente heterogêneas, sob vários

pontos de vista, como porte, organização e exce-lência da pesquisa, relações com o setor produti-vo, captação e geração de recursos financeiros,entre outros. Ademais, essas instituições passampor processos mais ou menos radicais dereestruturação organizacional e tomam rumosbastante diversos umas das outras (ALBUQUER-QUE; SALLES FILHO, 1998). Ressalta-se, também,a constituição, nos últimos anos, de fundações deprodutores de sementes, que se apresentam comoatores cada vez mais importantes, mas com outralógica e missão, nesse Sistema.

O presente artigo apresenta discussões referen-tes à organização da pesquisa agrícola - em âm-bito mundial (especialmente na América Latina)e no Brasil, em especial, notadamente, nesse últi-mo caso, relativo à estruturação e às debilidadesque têm se apresentado no interior do SNPA. En-tende-se que as instituições que compõem o Sis-tema devam trabalhar de forma articulada e com-plementar, de modo a facilitar a obtenção de eco-nomias de escala e de escopo na execução dosprojetos, dentre outros aspectos colocados peladinâmica do processo de inovação.

Organização da pesquisa agrícolaNas décadas de 1950 e 1960, implementou-se,em diversos países, a Revolução Verde. Esse fe-nômeno compreendeu o emprego de novastecnologias, tais como o uso de herbicidas, fertili-zantes e variedades de plantas com maior res-posta à aplicação de fertilizantes (em um primei-

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ro momento, arroz, trigo e milho, e, posteriormente,soja), assim como de modernas máquinas e equi-pamentos. O estímulo à organização institucionalcentralizada e concentradora de recursos foi umelemento indissociável desse movimento de difu-são do padrão tecnológico produtivista (BONNY;DAUCÉ, 1989), que definia como problema rele-vante central o controle das variáveis técnicaspara a obtenção da maior produção possível porunidade de área (ou de trabalho).

Segundo Salles Filho (1993), três grandes carac-terísticas desse padrão tecnológico produtivistasão: 1) as heterogeneidades e complementarida-des existentes entre os diversos insumos e técni-cas; 2) a redefinição da inserção da agriculturana economia, promovendo a integração com seg-mentos industriais (a montante e a jusante) e co-merciais (interno e externo); 3) a busca incessan-te de aumentos de produtividade da terra e dotrabalho. Essas três grandes características podemser identificadas como o paradigma social domi-nante, que orientou a lógica de ação dos agentesintervenientes no processo de inovação daagropecuária.

Durante os anos 1960, diversos institutos interna-cionais de pesquisa agrícola foram instalados emtodo o mundo, visando à ampliação da produçãode alimentos via sementes melhoradas. Em 1959,foi criado o Instituto Internacional de Pesquisa deArroz (Irri), nas Filipinas, por meio de acordo en-tre as Fundações Ford e Rockefeller. Em 1963, foiestabelecido, no México, o Centro Internacionalde Melhoramento de Milho e Trigo (Cimmyt). Nes-se período, essas duas instituições colaboraramna criação do Instituto Internacional de Agricultu-ra Tropical (Iita), na Nigéria, e do Centro Interna-cional para Agricultura Tropical (Ciat), na Colôm-bia. Em 1971, foi criado o Grupo Consultivo emPesquisa Agropecuária Internacional (Cgiar), queincluía membros do Banco Mundial, da Organi-zação das Nações Unidas para Agricultura e Ali-mentação (FAO)3 e Programa das Nações Uni-das para o Desenvolvimento (PNUD), como pa-trocinadores, e nove representantes de governos

nacionais, dois bancos regionais e três fundações(HAYAMI; RUTTAN, 1988; MELLO, 1995).

No caso latino-americano, a adoção do modeloinstitucional centralizado, em substituição ao cha-mado modelo difuso, levou à criação, em boaparte dos países da região, de Sistemas Nacio-nais de Pesquisa para a Agricultura (Inias) quedeveriam ser capazes de coordenar e concentraros recursos então considerados "escassos"(RUTTAN, 1983; TRIGO et al., 1985): INTA argen-tino (1957), INIAP do Equador (1959), complexoCONIA-FONIAP da Venezuela (entre 1959 e1961), INIA do México (1960), SIPA do Peru (1963),ICA da Colômbia (1963) e INIA do Chile (1964). Oobjetivo era criar uma infra-estrutura em condi-ções de adaptação das tecnologias disponíveis noâmbito internacional, objetivando a transposiçãopara esses países.

O Brasil não se enquadra nesse processo, centra-lizando sua pesquisa só a partir de 1973, com acriação da Embrapa. Para Piñeiro e Trigo (1985),a situação do Brasil é distinta. Diferente dos paí-ses citados acima, quando da criação da Embrapa,não houve a incorporação da pesquisa e da ex-tensão numa mesma instituição. Além disso, aEmbrapa também coordenava os esforços de pes-quisa no plano nacional e estadual e havia previ-são de participação do setor privado. Essasespecificidades fazem com que os autores ques-tionem se a Embrapa é uma extensão do modeloinstitucional dos anos 1960 ou se marca o iníciode um novo modelo que modifica o papel do Es-tado e as relações entre os setores público e pri-vado no processo de geração e transferência detecnologia.

Conforme Salles-Filho et al. (1997), no decorrerdos anos 1970 e 1980, muitas análises envolven-do o comportamento e o papel dessas instituiçõesforam desenvolvidas. Esquematicamente, essa li-teratura justificava o comportamento das institui-ções com base em dois enfoques gerais. O pri-meiro apoiava seus argumentos sobre os precei-tos econômicos de “bens públicos” e de “falhasde mercado”. Já o segundo apoiava-se em análi-

3 A FAO foi criada no final da Segunda Guerra Mundial, com sede em Roma, com as funções de um ministério de alimentação e agricultura para todo o globo.A FAO – através de suas atividades de assistência técnica, educacional e comunicação regional e de organização – fez contribuições significativas para odesenvolvimento da capacidade nacional de pesquisa na agricultura (Hayami; Ruttan, 1988).

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ses funcionalistas de instrumentalização do setorpúblico para viabilização de interesses privados.Um terceiro tipo de abordagem procurava agre-gar à lógica econômica convencional argumen-tos de ordem sociopolítica. “Tais enfoques ilumi-naram vários aspectos da lógica de funcionamen-to e da organização interna das instituições públi-cas de pesquisa agrícola, considerando-as sem-pre dentro de um marco mais ou menos definido,representado pelo padrão tecnológico produtivis-ta.” (p. 190).

No decorrer dos anos 1980, questões relativas àpolítica ambiental, à constituição de novas are-nas do comércio internacional, às transformaçõesnas políticas agrícolas, ao surgimento de novasáreas do conhecimento com relação direta coma tecnologia agrícola (a biologia molecular, porexemplo), ao deslocamento de certas funções doEstado, entre outras, colocaram elementos que nãoencontraram solução no paradigma vigente. Ob-servou-se um processo de esgotamento do padrãotecnológico produtivista, o que também teve im-pacto no paradigma institucional da pesquisa agrí-cola, levando a um reposicionamento das insti-tuições públicas de pesquisa agrícolas (IPPAs) nocenário inovativo (CARVALHO, 1996). Trata-se deum esgotamento de alcance global e deabrangência integral (SALLES FILHO, 1995).

Para Salles-Filho et al. (1997), observa-se umareconfiguração da relação público-privado, hojemuito mais complexa do que aquela que predo-minou nos últimos 35 anos, porque não mais ba-seada em definições ad hoc do tipo: às institui-ções públicas cabe desenvolver bens públicos eàs instituições privadas, bens privados.

Tal disjuntiva, outrora central para a definição doinvestimento público em pesquisa agrícola, hojedesfaz-se frente a uma realidade muito mais com-plexa e dinâmica, na qual há uma demanda cres-cente e extremamente diversificada por habilida-des específicas para o desenvolvimento científi-co e tecnológico (SALLES FILHO, 1995, p. 192).

Esse novo contexto evidencia a necessidade darealização de práticas de monitoramento dosmercados por parte das IPPAs. Identificando suascompetências e buscando aquelas que não pos-

suem, as instituições podem se beneficiar com aformação de redes de pesquisa, hoje o meio maiseficaz para lidar com projetos tecnológicos com-plexos em ambientes de rápida mudança, comono caso da biotecnologia (FUCK, 2005).

Conforme FAO (2004), diferente das pesquisas queimpulsionaram a Revolução Verde, parte signifi-cativa das pesquisas sobre biotecnologia agríco-la e quase todas as atividades de comercializaçãoestão sendo realizadas por empresas privadas,com sede em países industrializados. Isso repre-senta uma mudança radical em relação à Revo-lução Verde, na qual o setor público desempe-nhou um importante papel na pesquisa e na difu-são de tecnologias. Essa mudança tem importan-tes conseqüências em relação à forma como serealiza a pesquisa, aos tipos de tecnologias quesão elaboradas e ao modo como se difundem es-sas tecnologias. O predomínio do setor privadonas pesquisas com biotecnologia agrícola podefazer com que os produtores dos países em de-senvolvimento, sobretudo os agricultores pobres,não tenham acesso aos seus benefícios.

Ainda conforme FAO (2004), não estão claras aspossibilidades dos sistemas públicos de pesquisase beneficiarem do trabalho desenvolvido pelasempresas transnacionais. Além disso, os progra-mas de pesquisa do setor público, na maior partedas vezes, ficam restritos às fronteiras nacionais,o que reduz os benefícios das inovaçõestecnológicas entre zonas agroclimáticas simila-res (de diferentes países). O sistema de intercâm-bio de germoplasma do Cgiar tem atenuado o pro-blema no caso de vários cultivos importantes, masnão está claro se funcionará também para os produ-tos obtidos por meios biotecnológicos e os culti-vos transgênicos, tendo em conta os direitos depropriedade a que estão sujeitas as tecnologias.

Para FAO (2004) e Traxler (2003), a capacidaderequerida para utilizar a tecnologia difere da ca-pacidade necessária para gerar tecnologia. Empaíses como Argentina, África do Sul e México,os organismos geneticamente modificados(OGMs) que estão sendo utilizados foram desen-volvidos pela Monsanto para o mercado dos Es-tados Unidos. Apenas foram desenvolvidas pes-

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quisas de modo a adaptar as variedades locaisaos genes transgênicos. Porém, existem numero-sos países em desenvolvimento que não estão emcondições de realizar nem sequer esse tipo depesquisa adaptativa.

Em relação ao Cgiar, Traxler (2003) considera que,dado o baixo nível de investimentos que vem sen-do realizado em biotecnologia, é improvável quea instituição se torne uma expressiva fornecedo-ra de pesquisas em biotecnologia para os paísesem desenvolvimento. Outra possibilidadeinstitucional pode ocorrer via países como China,Índia e Brasil, que possuem grandes SistemasNacionais de Pesquisa Agrícola. Esses países po-dem tornar-se fornecedores de tecnologias parapaíses menores. Segundo o autor, não há nenhumindício de que o setor público de nenhum outropaís em desenvolvimento passe a ser um partici-pante importante na oferta de pesquisas embiotecnologia. Porém, a difusão de tecnologiaentre os países em desenvolvimento é pouco ex-pressiva, uma vez que nenhum outro país se be-neficiou das descobertas biotecnológicas realiza-das na China e a aprovação para uso comercialde OGMs no Brasil e na Índia é recente.

Ainda de acordo com os mesmos trabalhos, a fal-ta de arranjos institucionais para compartilhar apropriedade intelectual é um grande obstáculo aser superado para a transferência de tecnologiasde uma instituição nacional do setor público aoutra. Atualmente, à exceção do germoplasmaque está sendo compartilhado nas redes do Cgiar,é muito escasso o intercâmbio internacional detecnologia entre instituições do setor público. Emrelação aos investimentos em biotecnologia porparte do setor privado nos países em desenvolvi-mento, Traxler (2003) destaca a existência de trêsgrandes obstáculos: os elevados custos de transa-ção para a entrada em cada mercado; as dificul-dades em relação à proteção da propriedade in-telectual; o limitado mercado de sementes damaioria desses países.

Conforme enfatiza a própria FAO (2004), os paí-ses que melhor aproveitaram as oportunidadesoferecidas pela Revolução Verde foram aquelesque tinham, ou criaram rapidamente, uma ampla

capacidade nacional de pesquisa agrícola. Na-quele momento, havia interesse na rápida difu-são das tecnologias. Por exemplo, diversos insti-tutos internacionais de pesquisa agrícola foraminstalados em várias regiões do mundo, com oapoio das Fundações Ford e Rockefeller. Ocor-reu também intercâmbio entre universidades nor-te-americanas e brasileiras. Hoje, o contexto édiferente, com o predomínio de empresasmultinacionais na oferta das novas tecnologias eos institutos de pesquisa agrícola dos países me-nos desenvolvidos perdendo a importância ocu-pada no passado.

Entende-se que, sem o fortalecimento das institui-ções de pesquisa locais, os países em desenvol-vimento, dada a grande heterogeneidade que oscaracteriza, podem vir a ser meros receptorespassivos de tecnologias desenvolvidas pelas em-presas transnacionais. Os países em desenvolvi-mento poderiam ter um melhor benefício dabiotecnologia com o fortalecimento das estrutu-ras de pesquisa locais, explorando ascomplementaridades entre o setor público e pri-vado (nacional ou não), e com isso ter um espaçode criação mais amplo em relação às alternati-vas tecnológicas.

É relevante também a ampliação da cooperaçãotécnico-científica internacional. Conforme apon-tam Vieira e Pereira (2005), um exemplo disso podeser dado pelo projeto Laboratório Virtual daEmbrapa no Exterior (Labex). Trata-se de um pro-jeto que conta com dois laboratórios, um locali-zado no Agricultural Research Center (ARS), per-tencente ao Departamento de Agricultura dosEstados Unidos (Usda), e outro localizado emMontpellier, no sul da França. "A esses núcleosavançados estão vinculados pesquisadoresseniores que realizam um trabalho de interação,antenagem tecnológica e monitoramento do mer-cado de inovação, procurando suprir as equipesda Embrapa e seus parceiros de informações es-tratégicas" (EMBRAPA, 2002, p. 3).

Acredita-se que existe um papel estratégico re-servado à função pública da pesquisa, sobretudoem se tratando das possibilidades a serem explo-radas no campo da biotecnologia. Dada a gran-

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de extensão geográfica do Brasil e os diversosatores engajados no processo de pesquisa, enten-de-se que o fortalecimento das instituições quecompõem o SNPA (e das relações entre elas) éfundamental para a ampliação dos benefíciosdecorrentes das novas tecnologias.

Principais componentesdo SNPA no BrasilA criação da Embrapa foi inspirada por quatroprincípios básicos: difusão de tecnologia mo-derna; planejamento das atividades; articula-ção com o ambiente externo para identifica-ção de demandas; enfoque multidiscisplinar nodesenvolvimento da pesquisa (RODRIGUES,1987). Ela atua por intermédio de 37 Centrosde Pesquisa, 3 Unidades de Serviços e 11 Uni-dades Centrais, estando presente em quase to-dos os estados da Federação.

Durante os anos 1970 e 1980, a Embrapa esti-mulou a criação de empresas estaduais de pes-quisa agropecuária. Com isso, havia uma insti-tuição de pesquisa em praticamente cada esta-do (exceto pelos estados do Norte e o Piauí,onde a Embrapa permaneceu como a únicaorganização responsável pela pesquisaagropecuária). Somente São Paulo e Rio Gran-de do Sul mantiveram o modelo tradicional cominstitutos tendo um tema ou produto específi-cos. Durante esse período, a Embrapa propor-cionou apoio técnico e financeiro significativoa todas as organizações estaduais (BEINTEMAet al., 2001).

Ao longo dos anos 1990, em virtude do forteendividamento dos governos estaduais e da idéiade que caberia à Embrapa o desenvolvimento dapesquisa agropecuária, muitos governos estadu-ais reduziram substancialmente o apoio à pesqui-sa agropecuária. Por exemplo, as Oepas nos es-tados do Ceará e do Maranhão foram extintas em1998/1999. As Organizações de pesquisa em vá-rios outros estados e especificamente na Bahia,Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul4, Santa Catarina e Sergipe foram fundidascom as agências estaduais de extensão(BEINTEMA et al., 2001).

Em 1992, foi constituído o Sistema Nacional dePesquisa Agropecuária (SNPA). Ele é coordena-do pela Embrapa e formado pela própria Embrapae suas Unidades, pelas Oepas, por universidadese institutos de pesquisa de âmbito federal ou esta-dual, bem como por outras organizações, públi-cas e privadas, direta ou indiretamente vincula-das à atividade de pesquisa agropecuária, queexecutam pesquisas nas diferentes áreas geográ-ficas e campos do conhecimento científico. Osobjetivos do SNPA vão desde assegurar constan-te organização e coordenação das instituições quecompõem o sistema, favorecer o desenvolvimen-to de um sistema nacional de planejamento parapesquisa, proporcionar a execução conjunta deprojetos de pesquisa de interesse comum, até co-ordenar o esforço de pesquisa para atendimentoàs demandas de regiões, estados e municípios(EMBRAPA, 2006a).

Observam-se significativas disparidades decapacitação técnica e gerencial entre as Oepas.As entidades de pesquisa das regiões Sul e Su-deste têm demonstrado ao longo do tempo bomnível de competência. Mesmo nessas regiões, noentanto, existem diferenças entre as Oepas, apre-sentando algumas delas problemas estruturais e/ou organizacionais. Na Região Centro-Oeste, asOepas têm menor tradição em pesquisa, execu-tando programações menos abrangentes. Já na

Região Nordeste, as Oepas estão, em sua maio-ria, em situação mais precária, com maior nívelde dependência de apoio da Embrapa. Mas, mes-mo nessa região, algumas entidades mais antigase com maior tradição em pesquisa apresentamprogramação abrangente, de bom nível e/ou comnichos de competência específicos, bastante vol-tados para demandas locais. Na Região Norte, apresença da pesquisa estadual é quase nula, e apouca ação de pesquisa agropecuária existentedeve-se à Embrapa ou, mais raramente, a univer-sidades ou institutos federais (ALBUQUERQUE;SALLES FILHO, 1998; PRODETAB, 1996).

4 Quando da criação do estado, nos anos de 1970, foi estabelecida uma estrutura integrada entre pesquisa e extensão rural.

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São Paulo é um dos estados brasileiros com maiortradição na pesquisa agropecuária. O InstitutoAgronômico de Campinas (IAC) foi o primeiro ins-tituto estadual de pesquisa agropecuária no Bra-sil, fundado em 1887. Em 1901, foi criada a Esco-la Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”(Esalq), que por muitos anos foi a única escolacom programa de pesquisa significativo. Em 1927,o governo paulista também criou o Instituto Bioló-gico (IB) e, em 1932, a Universidade de São Pau-lo (USP). Na década de 1960, foram estabeleci-dos o Instituto de Pesca (IP), o Instituto de Econo-mia Agrícola (IEA), o Instituto de Tecnologia deAlimentos (Ital) e o Instituto de Zootecnia (IZ)(BEINTEMA et al., 2001).

Em 2001, pela Lei Complementar nº 895/2001, ogoverno paulista modificou a inserção institucionalde todos os institutos de pesquisa agrícola eagropecuária com a criação da Agência Paulistade Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Se-cretaria de Agricultura e Abastecimento do Esta-do de São Paulo, que tem por objetivo incentivarações conjuntas dos institutos de pesquisa liga-dos à Secretaria, por meio da criação de pólostecnológicos para os agronegócios. Mesmo comuma melhor estrutura de pesquisa, comparada aosdemais estados, as instituições paulistas tambémtiveram redução, a partir dos anos 1980, nos in-vestimentos na pesquisa pública para osagronegócios (GONÇALVES et al., 2004).

Entre as Oepas em atividade nos demais estados,destacam-se o Instituto Agronômico do Paraná(Iapar), a Empresa de Pesquisa Agropecuária deMinas Gerais (Epamig), a Empresa Pernambucanade Pesquisa Agropecuária (IPA), a Agência Goianade Desenvolvimento Rural e Fundiário (AgênciaRural), a Fundação Estadual de PesquisaAgropecuária (Fepagro), no Rio Grande do Sul,entre outras.

Beintema et al. (2001) identificam outras cincoinstituições relevantes, sem fins lucrativos,engajadas em pesquisa agropecuária no Brasil. ACopersucar, desde 1979, conta com um centrotécnico que até 2004 chamava-se Centro de

Tecnologia Copersucar e agora Centro deTecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba, SPque conduz pesquisa em melhoramento de cana-de-açúcar e pós-colheita (com destaque para aspesquisas relativas à produção de açúcar e álco-ol), em variedades de cana geneticamente modi-ficadas, entre outras. O Fundo de Defesa daCitricultura (Fundecitrus) foi criado em 1977, emAraraquara (SP), para monitorar a saúde de la-vouras cítricas e para financiar pesquisas sobremétodos de controle de pragas e doenças em cí-tricos. O Fundecitrus é financiado por meio deuma taxa sobre a produção de cítricos. O InstitutoRio-Grandense do Arroz (Irga) tem o arroz comoo foco principal de sua pesquisa, embora tambémfaça pesquisa com milho, sorgo e soja. O institutoé vinculado à Secretaria de Agricultura do Estadodo Rio Grande do Sul, mas opera com uma auto-nomia considerável e sua receita provém em gran-de parte de uma taxa sobre a produção estadualde arroz. A Fundação Centro de Experimentaçãoe Pesquisa em Trigo (Fundacep) é vinculada e fi-nanciada por organizações de produtores do RioGrande do Sul e realiza pesquisas em trigo, milhoe soja. A Cooperativa Central Agropecuária deDesenvolvimento Tecnológico e Econômico(Coodetec) é ligada à Organização das Coopera-tivas do Paraná (Ocepar) e conduz pesquisas emtrigo, milho, soja e algodão (BEINTEMA et al., 2001;MASSOLA, 2002).

O SNPA conta também com um setor privado ati-vo e crescente que fornece tecnologias e assis-tência técnica, principalmente na área de insumosagrícolas e processamento de alimentos. Desdemeados dos anos 1990, um número considerávelde empresas nacionais de sementes (e especial-mente as que comercializavam milho e soja) fo-ram compradas por empresas multinacionais. Porsua vez, a configuração produtiva da indústria desementes no Brasil apresenta uma certaespecificidade organizacional, que é a presençadas fundações produtoras/geradoras de sementes.Mantidas com recursos próprios de seus associa-dos, essas fundações possuem um papel relevan-te no comércio e no processo de geração e difu-são de inovação de novas sementes5.

5 Apesar deste artigo estar focado nas mudanças decorrentes das novas tecnologias de base biotecnológica, considera-se que outras estratégias de pesquisatambém devem ser incentivadas, como a agroecológica, por exemplo. Sobre isso, ver Fuck e Bonacelli (2006).

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Percebe-se então que o SNPA brasileiro é bastan-te complexo. Além das instituições citadas, asuniversidades e diversas outras instituições (liga-das ou não ao governo) realizam pesquisaagropecuária. São diversos os atores que com-põem o sistema, muitos deles com forte tradiçãona pesquisa agropecuária. Porém, observa-se quenos últimos anos algumas Oepas têm apresenta-do certa fragilidade institucional, o que limita opotencial das pesquisas locais e, conseqüentemen-te, compromete a própria dinâmica do SNPA.Além disso, verificam-se algumas debilidades naorganização e na coordenação do SNPA, que fa-zem com que ele não funcione verdadeiramentecomo um sistema. Soma-se a essas variáveis asuperação do chamado paradigma produtivista,que traz consigo diversas mudanças, sendo ne-cessário ao SNPA se adequar a elas.

Esse tema tem sido bastante debatido. No iníciode junho de 2006, por exemplo, diretores daEmbrapa, do Centro de Gestão e Estudos Estraté-gicos - (CGEE) e da Fundação Nabuco de Pesqui-sas Sociais estiveram reunidos para debater otema. O impacto das transformações advindas daaceleração do progresso tecnológico e as suasimplicações sobre o funcionamento dos sistemaseconômico e institucional foi apontado como sen-do uma das principais justificativas para arediscussão do funcionamento dos sistemas esta-duais de pesquisa. Foi destacada também a im-portância da estrutura das organizações tornarem-se mais flexíveis, visando a maior interatividade,cooperação, aprendizagem e incorporação denovos atores (EMBRAPA, 2006b).

Crestana e Silva (2005) também destacam a ne-cessidade de reestruturação da Embrapa e doSNPA. Para os autores, a Embrapa, as universida-des e as Oepas precisam de uma melhor susten-tação financeira para atrair e renovar os talentoscientíficos e ampliar as pesquisas e também termaior flexibilidade institucional e jurídica paraorquestrar novos arranjos operacionais com o se-tor produtivo. O próximo item deste artigo tem porobjetivo justamente apontar as principais institui-ções de pesquisa agrícola engajadas no desen-volvimento da biotecnologia e a forma como elasestão realizando arranjos institucionais.

Principais instituições envolvidascom o desenvolvimento dabiotecnologia vegetal no SNPAe seus arranjos institucionaisA Embrapa é a principal IPPA brasileira e uma re-ferência internacional nas pesquisas agrícolasvoltadas aos cultivos na faixa tropical esemitemperada. Com a incorporação segura deconstruções gênicas voltadas para resistência apragas e doenças, adaptação das variedades àscondições ambientais adversas, bem como agre-gação de valor nutricional e farmacêutico, a ins-tituição pode contribuir para consolidar a posiçãode liderança do País na produção de grãos, fibrase oleaginosas em âmbito mundial (FONSECA etal., 2004). Em parceria com instituições de pes-quisa e empresas do Brasil e do exterior, a Empre-sa está desenvolvendo projetos de produção deplantas transgênicas com as culturas de soja, ar-roz, batata, milho, mamão, eucalipto e feijão.

As Unidades da Embrapa que trabalham comgrãos desenvolvem projetos de pesquisa etecnologias que permitem produzir novas varie-dades de cultivares geneticamente modificadas.A Embrapa Milho e Sorgo, por exemplo, estáinserida nas redes de pesquisa e já desenvolveuuma cultivar de milho geneticamente modificadacom melhoria da qualidade nutricional. A EmbrapaSoja, em parcerias com as Fundações de Produ-tores de Sementes e com empresas sementeiras(como a Monsanto), desenvolve pesquisas comsoja transgênica (FUCK, 2005). A Embrapa Trigorealiza pesquisa colaborativa com a Universida-de de Passo Fundo e está inserida na Red BioBrasil,uma rede de cooperação técnica embiotecnologia gerenciada pela FAO. Vale desta-car que essas três Unidades da Embrapa reali-zam pesquisa colaborativa para o desenvolvimen-to de novas cultivares.

Fonseca et al. (2004) também destaca outras Uni-dades da Embrapa que estão desenvolvendo pes-quisas em biotecnologia, como a Embrapa Pecu-ária Sul, a Embrapa Hortaliças e a Embrapa Re-cursos Genéticos e Biotecnologia. Segundo osautores, a Embrapa é a instituição brasileira de

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C&T e P&D que mais realiza esforços deformalização e implementação de instrumentosde transferência de tecnologias, decontratualização de acordos cooperativos, de le-galização de licenciamento de tecnologias e dequestões de propriedade intelectual.

O IAC também se destaca nesse novo cenário dapesquisa agropecuária. Ele desenvolve a maiorparte de seus projetos utilizando técnicas de me-lhoramento convencionais, mas em alguns deles,como nos Projetos Citrus e Cana, as pesquisas embiologia molecular e genômica começam a mu-dar o cenário. O Centro de Genética e BiologiaMolecular e Fitoquímica pode projetar o cenáriode transição do Instituto da base da P&D de tradi-cional para intensiva em ciência. Vale destacarque dois grupos do IAC participaram do projetoXylella e um deles também participa do GenomaCana (Fapesp).

O Instituto realiza parcerias para o desenvolvi-mento de pesquisas em biotecnologia. Por exem-plo, com a Embrapa Recursos Genéticos eBiotecnologia em projeto de seleção genômicade madeira de baixa lignificação para produçãode papel; com a Embrapa Meio Ambiente realizaprojetos de biorremediação de solos e rizosfera;com o Centro de Biologia Molecular e Genéticada Unicamp (CBMEG) desenvolve projetos dereconhecimento genético de cana; com oCopersucar, o desenvolvimento de novas varie-dades. Mesmo com a articulação com outros ato-res, "o IAC é um especial representante da ausên-cia de esforços organizacionais que garantamretornos financeiros das atividades de P&D à ins-tituição. Não são utilizados instrumentos de ga-rantia de propriedade intelectual - fora a Lei deProteção de Cultivares - ou gestão de P&D coo-perativa." (FONSECA et al., 2004, p.186).

A Copersucar é considerado por Fonseca et al.(2004) um exemplo de organização privada quebusca uma melhor inserção na forma de organi-zação da agroindústria: mantém um programa demelhoramento genético vegetal, competindo como setor público, apóia pesquisas em biotecnologiae dá amparo, notadamente na fase de testes, apesquisas com objetivos de mais longo prazo,

como o Genoma Cana. Realiza parceria com aFapesp no projeto Genoma Sucest (Sugar CaneEST), que envolve 200 pesquisadores da rede deuniversidades paulistas e de Universidades Fe-derais de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande doNorte, do Norte Fluminense e Pontifícia Univer-sidade Católica do Paraná (DAL POZ et al., 2004).A Cooperativa também desenvolve parcerias coma Universidade do Texas (mapas de DNA e estu-dos moleculares de vírus parasitas de cana) e coma Universidade South Carolina (genes de resis-tência à ferrugem e biblioteca de DNA de cana).

Fonseca et al. (2004) também identificam outrasorganizações-chave relacionadas ao desenvol-vimento da biotecnologia vegetal no Brasil: oCentro de Biotecnologia do Rio Grande do Sul,que atua em diversas áreas, como genética e bi-ologia molecular de microorganismos, controle bi-ológico etc.; o Instituto de Biotecnologia da Uni-versidade de Caxias do Sul, que tem sua linha deatuação ligada à biotecnologia tradicional, basi-camente o desenvolvimento de leveduras de usoenológico; e o Instituto de Biologia da Unicamp,que desenvolve pesquisas sobre floculação deleveduras para a melhoria do desempenho de pro-cessos de fermentação contínua para a produçãode álcool e cana-de-açúcar.

A partir dos apontamentos de Fonseca et al.(2004), percebe-se que um número restrito deinstituições possuem capacitação para desen-volver pesquisas com biotecnologia vegetal noBrasil. Entende-se que, além da ampliação dascompetências locais (o que diz respeito às pró-prias instituições), um novo redesenho do SNPApode favorecer a ampliação da capacidadenacional em realizar pesquisas em biotecno-logia vegetal. No próximo item serão apresen-tadas algumas debilidades do sistema, com es-pecial atenção para a relação entre a Embrapa,as Oepas e as empresas privadas.

Limitações do SNPA no BrasilConforme sugere um documento do Projeto deApoio ao Desenvolvimento de TecnologiaAgropecuária para o Brasil (Prodetab) (1996), a

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necessidade de reorientação institucional doSNPA (e da Embrapa, seu principal componente)impõe questões amplas e de diversas óticas, que,grosso modo, concentram-se em três aspectos: adescentralização dos procedimentos internos daEmbrapa (ou delegação de poderes às Unidadesdescentralizadas); a transferência de responsabi-lidades aos sistemas estaduais de pesquisa; e acontratação de pesquisas na Embrapa pelo setorprivado.

Em relação ao primeiro ponto, deve-se conside-rar que o processo de descentralização já estáem andamento e que o grau de competência daEmbrapa em relação a aspectos administrativos/gerenciais é alto. Dessa forma, o processo dedescentralização deverá vir acompanhado de sis-temas adequados de informação, de forma que aadministração superior (na Sede) não venha a sedistanciar da realidade da Instituição como umtodo (PRODETAB, 1996).

Sobre a transferência de responsabilidades aossistemas estaduais de pesquisa, destaca-se a ne-cessidade em se estabelecer parcerias. A premis-sa fundamental para a viabilidade esustentabilidade do SNPA é o tratamento mútuode forma igualitária, respeitando-se as caracterís-ticas de cada parceiro. Historicamente, as Oepastêm encarado a Embrapa como dominante den-tro do SNPA e, muitas vezes, a postura da Embrapatem feito jus a essa percepção. O fato de a Embrapaser coordenadora e competidora no uso dos re-cursos coloca problemas graves para a políticade coordenação do SNPA. A saída pode passarpela organização da divisão de tarefas na pes-quisa agropecuária (ALBUQUERQUE; SALLES-FILHO, 1998).

Sobre a participação do setor privado nas pesqui-sas da Embrapa, o documento do Prodetab (1996)destaca a dificuldade na identificação econcretização de interesses do setor privado emrelação a parcerias com a Embrapa e o SNPA.Uma das formas de se resolver o problema passapela ampliação dos esforços da Embrapa e doSNPA para um melhor conhecimento emonitoramento do ambiente empresarial doagronegócio. Na verdade, conforme destacam

Fuck e Bonacelli (2004), a Embrapa (e o SNPA)deve ter a capacidade de conhecer asespecificidades dos mercados em que atua paraantecipar suas ações no cenário inovativo e paradirecionar adequadamente suas próprias ativida-des de pesquisa científica e tecnológica. Isso per-mitiria uma melhor execução de suas atividadese um melhor relacionamento com os demais ato-res do cenário inovativo. No caso do desenvolvi-mento da soja RR (caso estudado pelos autores), acooperação entre a Embrapa e a Monsanto per-mitiu o desenvolvimento das pesquisas referentesa essa nova variedade. Portugal (1998) tambémdestaca a importância dessas práticas demonitoramento para as instituições de P&D quecompõem o SNPA.

O relacionamento entre as Oepas e as universi-dades também tem sido limitado, o que compro-mete o funcionamento do SNPA. ConformeAlbuquerque e Salles-Filho (1998), na maioria dasvezes, os projetos de pesquisa não são desenvol-vidos em conjunto entre os pesquisadores das duasinstituições.

Esse quadro se agrava em virtude do fato de mui-tas Oepas apresentarem dificuldades de diversasordens, o que limita a capacidade de pesquisa,sobretudo em novas áreas (e mesmo as de domí-nio público). Conforme Albuquerque e Salles Fi-lho (1998), grande parte das Oepas ressente-seda falta de atividades e de capacitação em áreasde pesquisa já de domínio público e sobre as quaisjá deveria haver algum conhecimento sendo apli-cado, enquanto também existem Oepas que nãose sentem em condições de desenvolver traba-lhos que envolvam maior sofisticação tecnológica,como por exemplo, a biotecnologia. "Assim sen-do, é imprescindível a busca de capacitação nes-sas áreas, pois são elas que darão base àcompetitividade das instituições no futuro próxi-mo." (p. 38).

A atuação das instituições de pesquisa agrícola,em geral, e das Oepas, em particular, tem sidodificultada em razão das grandes deficiênciasdessas instituições para enfrentar o contexto dedesenvolvimento científico e tecnológico e/ou aprópria dinâmica da inovação, notadamente se

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forem considerados aspectos altamente sensíveisàs instituições voltadas para o desenvolvimentode atividades de pesquisa, como destacado porBonacelli e Salles Filho (2004):

a) Financiamento e alavancagem de recursos paraatividades de pesquisa e inovação - O forte cortenos recursos orçamentários e a maior ocorrênciade recursos competitivos, por exemplo, impõemnovos desafios às instituições de pesquisa, comoum monitoramento das diferentes fontes para acaptação de recursos (editais públicos, por exem-plo), uma atitude pró-ativa em direção às novasfontes (públicas e privadas de financiamento) e aelaboração de estratégias para a geração de re-cursos, via, por exemplo, a venda de produtos,processos, serviços e o oferecimento de cursosde treinamento, entre outros.

b) Trabalho compartilhado, formação e participa-ção em redes técnico-científicas e de inovação -Aspecto cada vez mais necessário para o desen-volvimento de atividades de instituições de pes-quisa, o qual exige, por sua vez, o(re)conhecimento das próprias competências es-senciais existentes e/ou a serem fortalecidas paraque seja possível a busca de competências com-plementares e uma participação efetiva em re-des de inovação.

c) Capacitação e atração de recursos humanos -Para monitorar o ambiente externo e alimentar oambiente interno com as demandas ou oportuni-dades captadas, para realizar contratos e convê-nios, negociar licenças e requisitar patentes, tra-balhar em redes e parcerias, elaborar projetos ecursos de treinamento, entre outros; esses aspec-tos se confirmam cada vez mais como um impe-rativo às instituições de pesquisa e requerem umapercepção específica do processo e do contextode inovação.

d) Planejamento, gestão e avaliação das ativida-des de pesquisa - Dado que hoje os recursos fi-nanceiros são cada vez mais competitivos e sãoexigidas estratégias para captação e geração derecursos em diferentes fontes de financiamento,é imperativo que o processo de desenvolvimentodas atividades de pesquisa se dê de forma plane-jada e que haja acompanhamento, gestão e(re)avaliação dessas atividades.

e) Apropriação do conhecimento, transferência detecnologia e monitoramento dos mercados - Terconhecimento das próprias competências, daquiloa ser mantido em segredo e daquilo a ser negoci-ável e/ou transferido não é trivial para instituiçõesvoltadas ao desenvolvimento da pesquisa. Issoporque a realização e a formalização de contra-tos e a negociação de compra, venda elicenciamento de tecnologias, entre outros, sãoatividades ainda pouco rotinizadas em organiza-ções voltadas à C,T&I, assim como o estabeleci-mento de estruturas voltadas à proteção intelec-tual e à transferência de tecnologia.

Na verdade, o próprio futuro das Oepas é incerto.Atualmente, poucas instituições têm recursos su-ficientes para realizar pesquisa efetiva. Muitasinstituições de pesquisa foram fundidas com suasrespectivas agências estaduais de extensão rurale, aparentemente, estão concentrando suas ativi-dades mais na área de extensão do que na depesquisa. Além disso, os governos estaduais es-tão cada vez menos dispostos a financiar os insti-tutos estaduais. A Embrapa, por sua vez, já nãodispõe da mesma flexibilidade orçamentária e fi-nanceira de antes da Constituição de 1988, épo-ca em que repassava recursos do governo fede-ral para as Oepas, mudando, portanto, sua postu-ra ante essas instituições, apesar de existirem ins-tâncias de suporte técnico às Oepas, como a Se-cretaria de Apoio aos Sistemas Estaduais (SSE),que auxilia as agências estaduais no treinamentode pessoal e na criação de projetos .

Além dessas questões, Carvalho (1996) destacaque qualquer que seja a matriz institucional queemergirá dando suporte ao paradigma em cons-trução (que vem sucedendo o "padrão produtivistada agricultura"), o papel do Estado será fundamen-tal na conformação das instituições que darãosustentação à nova onda de desenvolvimento. Eas instituições, para participarem ativamente des-se processo, terão que reestruturar e reavaliarsuas organizações e articulações. Diante dessequadro, a divisão do trabalho que norteou aestruturação e articulação do SNPA, no contextodo modelo produtivista, deve ser revista no pro-cesso de transição para um novo paradigma.

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O mesmo autor ressalta que, do ponto de vista daC&T agropecuária, os sistemas estaduais de pes-quisa contam com vários dos elementos necessá-rios, ainda que insuficientes, que lhes dão condi-ções de sustentabilidade institucional no novomodelo: capilaridade; conhecimento das condi-ções edafoclimáticas locais; conhecimento, pelomenos em parte, do patrimônio genético local;conhecimento da realidade socioeconômica, po-lítica e cultural local; legitimidade dos produtoresrurais; e proximidade da rede de assistência téc-nica e extensão rural, com a qual partilha, muitasvezes, conhecimentos tácitos e/ou codificados,que, em alguns casos, são inacessíveis a outrasinstâncias governamentais e instituições públicase privadas. O mesmo autor aponta diversos ele-mentos que devem nortear o processo dereestruturação institucional dos sistemas estadu-ais e do SNPA. O ponto de partida é a capacida-de que as instituições devem ter para incorporara lógica e os elementos considerados relevantesno novo paradigma, ainda que este esteja em for-mação.

ConclusãoCom o avanço das novas tecnologias, observa-seuma nova forma de organização da pesquisa agrí-cola. A multidisciplinaridade, a complexidade ea dispersão da biotecnologia por diversos setoresexigem capacitação em diversos ramos do co-nhecimento. Firmas ou instituições isoladas nãopossuem as capacitações necessárias para o de-senvolvimento de projetos dessa natureza. Odesenvolvimento das pesquisas em biotecnologiaimplica o estabelecimento de redes de ligaçãoentre firmas e instituições diferentes que individu-almente acumulam apenas fragmentos do conhe-cimento relevante. Para os países em desenvolvi-mento e mesmo para as organizações de caráterpúblico de países centrais, a cooperação comempresas líderes é fundamental. De outro forma,as IPPAs podem ficar à margem do processo, per-dendo o espaço ocupado na época da RevoluçãoVerde e deixando de explorar as possibilidadesdas novas tecnologias (da biotecnologia, em es-pecial).

Para a inserção nesse processo, vários aspectosmostram-se relevantes. Dentre eles, as regrasquando à propriedade intelectual "criam as con-dições necessárias para a construção das redesde cooperação, uma vez que são fundamentaispara o estabelecimento das regras de divisão jus-ta dos resultados das inovações entre os diversosagentes envolvidos no processo." (SILVEIRA;BORGES, 2004, p. 27). A identificação das com-petências é outro fator importante. Para a realiza-ção dos arranjos, uma instituição deve identificarsuas próprias competências e aquelas que estãobuscando entre as demais instituições. Na verda-de, mais do que identificar competências, as ins-tituições necessitam desenvolver uma ampla ca-pacidade de monitoramento de seu entorno parao desenvolvimento de suas diversas atividades,como as de transferência de tecnologias, porexemplo. Como dito, a Embrapa possui estruturaorganizacional que lhe possibilita realizar as ati-vidades de gestão do conhecimento, que incluiatividades de transferência de tecnologias,contratualização de acordos cooperativos, lega-lização de licenciamento de tecnologias e ques-tões de propriedade intelectual. Dado que a Insti-tuição coordena o SNPA, espera-se que essa ex-periência seja aproveitada pelas Oepas.

Além disso, a divisão de trabalho entre as institui-ções que compõem o Sistema precisa ser remo-delada de modo a favorecer a cooperação entreseus componentes. Nesse sentido, conforme des-tacam Salles Filho et al. (2004), a contratualizaçãopode ser útil para orientar ações que visem apro-veitar economias de escala em P&D, dividir ris-cos e explorar a complementaridade de ativos,visando à obtenção de economias de escopo, oque representa uma forma de atuação que desta-ca cada vez mais a necessidade de abandonarestratégias individualistas e enfatiza as múltiplasformas de cooperação.

A reorganização do SNPA brasileiro não é tarefasimples. A diversidade de instituições que o com-põem, a limitada articulação entre elas e as pro-fundas mudanças decorrentes das novastecnologias são algumas das várias variáveis aserem consideradas neste processo. Porém, asgrandes conquistas alcançadas pela pesquisa

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agropecuária nacional e estrutura de gestão doconhecimento montada pela Embrapa são fato-res que podem auxiliar nesse processo de ade-quação do Sistema à nova forma de se organizare desenvolver P&D.

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Limites máximosde resíduos e suasimplicações nocomérciointernacional de frutas

Maria Chantal Telteboim1

Silvia Helena Galvão de Miranda2

Louise Oliveira3

Vitor A. Ozaki4

Resumo: Embora, o Codex Alimentarius estabeleça padrões para os limites máximos de resíduos (LMR),outros países adotam suas próprias referências, podendo gerar dificuldades na comercialização inter-nacional de alimentos e tornar-se barreiras sanitárias. Este trabalho tem como objetivo comparar osLMR estabelecidos pelo Codex, pelo Brasil e por países importadores (Estados Unidos União Européiae Canadá) para algumas frutas produzidas no Brasil, e verificar a possibilidade de seu uso como restri-ção ao comércio. Os dados utilizados na análise compreendem a ingestão diária aceitável (IDA) eLMR do Codex Alimentarius (FAO), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), daAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as notificações desses países junto ao Comitê doAcordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS). Os resultados mostram que o Codex nãodivulga limites para a maioria dos pesticidas utilizados nas culturas analisadas. Adicionalmente, épreocupante que produtos toxicológicas de alto risco aplicados na produção dessas frutas, ainda nãotêm definidos os LMR no Codex.

Palavras-chave: Comércio internacional; Frutas; e Limites máximos de resíduos.

IntroduçãoO estabelecimento de limites máximos para resí-duos de defensivos agrícolas em frutas pela co-missão do Codex Alimentarius, em programa con-junto com a Organização das Nações Unidas paraa Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organi-zação Mundial da Saúde (OMS), visa proteger asaúde da população, assegurando práticas segu-ras no comércio regional e internacional de ali-

mentos, e a possibilidade de equivalência dasnormalizações entre países.

Mais além, a ação dessas organizações interna-cionais, fomentando e coordenando os trabalhosde normalização nessa área, visam garantir a cri-ação de mecanismos internacionais que impeçamo uso de medidas sanitárias como barreiras não-

1 Aluna de Graduação em Ciências dos Alimentos (Esalq/USP). E-mail: [email protected] Profa. Doutora (LES/Esalq/USP) - Pesquisadora Cepea/Esalq. Av. Pádua Dias, n. 11 - Caixa Postal 132 - CEP: 13.400-970 - Piracicaba, SP. E-mail: [email protected] Profa. do curso de Administração da UniFOA - Volta Redonda. E-mail: [email protected] Doutor em Economia Aplicada, USP. Av. Pádua Dias, n. 11 - Caixa Postal 132 - CEP: 13.400-970 - Piracicaba, SP. [email protected]

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tarifárias, ou seja, como impedimentos não justi-ficados ao comércio.

A questão dos limites máximos de resíduos (LMR),no escopo internacional, é referenciada particu-larmente pelo Acordo para Aplicação de Medi-das Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) da Organi-zação Mundial do Comércio (OMC). Esse acordotem como objetivo maior garantir a adoção dasmedidas necessárias para preservar a saúde hu-mana, vegetal e animal e para impedir a entradade doenças e pragas nos territórios dos países, combase científica, sem discriminação, sempre quenecessário para atingir aos objetivos supracitadose preconizando a adoção de medidas com grausde restritividade apenas suficiente para garantir onível de segurança necessário.

Sua absorção pelos setores produtivos acaba sen-do promovida por meio de dois mecanismos bási-cos. No caso do SPS, o principal deles refere-seàs legislações sanitárias e fitossanitárias dos paí-ses, ou seja, às regulamentações governamentaissobre o tema sanitário. Em segunda instância, noescopo mercadológico, o outro mecanismo con-siste nos processos de certificação de produtosde origem vegetal e animal. Esses processos aca-bam requerendo que as legislações sanitárias se-jam respeitadas, mas também, em alguns casos,exigem requerimentos sanitários adicionais.

Do ponto de vista de quem produz, uma das prin-cipais preocupações dos países exportadores defrutas, por exemplo o Brasil, refere-se ao uso deprodutos fitossanitários nos pomares e aos níveisde resíduos tóxicos prejudiciais à saúde. Lotes defrutas contaminadas podem ser rejeitados pelo paísimportador, restando todo o prejuízo ao exporta-dor. Assim, é preciso que este tenha conhecimen-to e orientação para se certificar dos limites acei-táveis pelo país importador, e que tal conhecimentoseja repassado na cadeia, aos segmentos antesdo seu, para que alcance desde a fase de plane-jamento dos pomares.

Oliveira (2005) procurou identificar as tendênci-as dos requisitos de segurança dos alimentos nosEstados Unidos e na União Européia. Para tanto,fez um levantamento e uma análise das notifica-ções apresentadas à OMC por esses países, re-

ferentes a frutas, no âmbito do Acordo SPS/OMC,de 1995 até 2004. Os resultados indicaram quegrande parte das notificações para frutas relacio-nadas a LMR contemplava medidas que não cons-tavam no Codex. Isso sugere que tais países vêmse empenhando no desenvolvimento de novosregulamentos fitossanitários.

Nesse contexto, para a expansão das exportaçõesbrasileiras de frutas para os principais mercadosimportadores, as empresas brasileiras devem focarna análise de risco e na adequação e no desen-volvimento de mecanismos para a certificação dosprodutos aos requisitos estabelecidos pelos mer-cados internacionais.

Este trabalho tem como objetivo conduzir umaanálise comparativa acerca dos limites máximosde resíduos (LMR), estabelecidos por países im-portadores para frutas atualmente comercializadasou potencialmente passíveis de exportação peloBrasil. Os países analisados compreendem os Es-tados Unidos, o Canadá e a União Européia.

Máximos de resíduos entre esses países, e delescom as referências do Codex Alimentarius, demodo a identificar as contribuições ou entravesao desenvolvimento e harmonização do comér-cio internacional de frutas. Este estudo tem comometa desenvolver um processo analítico e siste-mático que permita avaliar se as exigênciasfitossanitárias sobre LMR podem estar sendo utili-zadas como barreiras comerciais, como sugere aliteratura e as queixas dos agentes envolvidos noseu comércio, e estar afetando os volumes de fru-tas comercializados.

Limites máximos de resíduos (LMR)Segundo dados oficiais, o Brasil encontra-se comoo terceiro maior consumidor de agrotóxicos domundo. Essa política agrícola visa produtividadeà qualidade, contribuindo para que determinadosprodutos nacionais encontrem obstáculos à ex-portação por não se enquadrarem nos dispositi-vos regulamentares (excesso de resíduos tóxicos)do mercado internacional (RIBEIRO, 2001).

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Agência deProteção Ambiental (EPA), junto com o Departa-

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mento de Agricultura (Usda) e com a Administra-ção de Alimentos e Drogas (FDA), publica e dis-tribui gratuitamente à população, em todos os su-permercados, um folheto anualmente revisado eintitulado Pesticidas nos Alimentos, instruindo eesclarecendo os consumidores sobre esses riscos.

Mais do que a questão de produtividade ou a téc-nica de produção, os produtores de frutas e osexportadores do Brasil, com potencial para maiorinserção e ampliação de sua presença no merca-do internacional, estão sujeitos às preocupaçõesfitossanitárias. Estas tomam a dianteira das priori-dades políticas e gerenciais, o que se evidenciapelas regulamentações legais impostas, pelos pro-cessos de certificação crescentemente presentese exigidos pelos mercados consumidores, pelasinspeções e fiscalizações a que estão submetidosos produtos no país de origem e também no dedestino.

A Lei de Bioterrorismo norte-americana, o Selode Certificação de Qualidade (Eurep-GAP), reque-rido pelo grande varejo europeu - e a ProduçãoIntegrada de Frutas (PIF) do Brasil se inserem nes-se contexto, cujo objetivo maior é buscar quali-dade e segurança do alimento.

Nesse contexto, o tema de limites máximos deresíduos (LMR) se destaca como um dos mais re-levantes para a segurança dos alimentos, no âm-bito das negociações comerciais entre países as-sim como entre empresas.

A Tabela 1 indica as principais razões para reten-ção de cargas de frutas, hortaliças e pescados nosEstados Unidos, entre 2001 e 2002, e evidencia aimportância da contaminação química por resí-duos dos produtos no contexto de gerar prejuízosao comércio internacional.

Os níveis de resíduos contidos nos alimentos de-vem ser inferiores aos LMR estabelecidos comoreferências após a realização de estudostoxicológicos necessários. O LMR é definido comoa quantidade máxima de resíduo de agrotóxicooficialmente aceita no alimento, em decorrênciada aplicação adequada numa fase específica,desde sua produção até o consumo, expressa empartes (em peso) do agrotóxico, ou seus resíduospor milhão de partes de alimento (em peso) (ppmou mg/kg) (FAO, 2005).

Todo alimento importado ou exportado pode seranalisado para avaliar se os níveis de resíduosestão abaixo do LMR. Essa avaliação pode ocor-rer tendo como parâmetro para comparação osLMR estabelecidos internacionalmente pela Co-missão do Codex Alimentarius, cuja adoção comoreferência é respaldada no próprio Acordo SPS.O Comitê do Codex Alimentarius é um ProgramaConjunto da Organização das Nações Unidaspara a Agricultura e a Alimentação (FAO) e daOrganização Mundial da Saúde (OMS). Trata-sede um fórum internacional de normalização so-bre alimentos e suas normas, tendo como finali-

Tabela 1. Percentual das importações retidas pelo United States Food and Drug Administration (USFDA),entre maio de 2001 e abril de 2002.

Fonte: extraído de Athukorala e Jayasuriya (2003). Compilado usando dados do Usda, website do Oasis (www.fda.gov/oasis).(1) Resíduos de pesticidas.(2) Contaminação microbiológica.(3) Contaminação por insetos e excrementos de ratos

Aditivos não-segurosVenenos e materiais nocivos(1)

Contaminação(2)

Sem higiene(3)

AcidificaçãoSubprocessadoInformação inadequadaDeficiência na rotulagemOutros

Sistema

1,812,217,3

2511,21,8

12,211,76,9

Todos ospaíses

0,68,51,4

13,622,2

0,535,513,3

4,4

Paísesdesenvolvidos

2,012,820,1

279,32,08,1

11,47,3

Países emdesenvolvimento

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dade proteger a saúde da população, asseguran-do práticas eqüitativas no comércio regional einternacional de alimentos, criando mecanismosinternacionais dirigidos à remoção de barreirastarifárias, fomentando e coordenando todos os tra-balhos que se realizam em normalização(INMETRO, 2005).

O Codex tem particular relevância no comércioalimentar internacional e sendo suas recomenda-ções referências para avaliar as medidas e regu-lamentações alimentares nacionais no âmbito daOMC, e como os LMR do Codex não são os maisconservadores, existe uma pressão crescente naUnião Européia, para fixar seus próprios LMRs.

Se não houver provas que justifiquem os LMR daUnião Européia, essa atitude pode ser entendidapelos países em desenvolvimento como uma bar-reira protecionista ao comércio, uma vez que es-ses países não dispõem dos meios técnicos ne-cessários para provar que seus produtos cumpremos requisitos comunitários. Os LMR da União Eu-ropéia relativos aos pesticidas não autorizados sãonormalmente fixados no limite mais baixo de de-terminação analítica, o que poderá constituir umproblema para os países em desenvolvimentoonde esses pesticidas ainda sejam usados, devi-do à falta de alternativas viáveis.

Além das medidas fitossanitárias referentes a pra-gas e doenças necessárias para proteção dos ter-ritórios da entrada destas, se a exigência impostafor rigorosa demais, poderá bloquear as exporta-ções agrícolas brasileiras para esses mercados.Além disso, há dificuldades para se obter infor-mações que, nem sempre, estão prontas e ade-quadamente disponíveis aos usuários. Ou seja,falta de transparência, o que fere os princípios dopróprio Acordo SPS e da OMC.

Para algumas frutas, a base de informações dis-ponibilizadas pelo Codex não se encontra atuali-zada, no que se refere à inclusão dos produtosfitossanitários aplicados pelos países. Para se teruma idéia dessas dificuldades, no caso da maçã,a mais recente edição do Codex Alimentariusapresenta LMR de 2 mg/kg para o Malathion.

Esse limite é idêntico ao adotado pelo Brasil equatro vezes mais restrito que o limite dos Esta-dos Unidos (8 mg/kg). Ao se considerar o mesmopesticida, o LMR da União Européia (0,5 mg/kg)é quatro vezes inferior ao do Codex, ou seja qua-tro vezes mais rígido. Este, por sua vez, tambémé 8 vezes mais rígido do que o norte-americano.

Essa diversidade de referências acarreta custospara os produtores. Em última instância, se umprodutor resolve exportar para a União Européia,terá que adotar o padrão mais rígido, o que exigi-rá equipamentos mais sofisticados, nem sempredisponíveis no país, ou, mesmo quando o são, nemsempre acessíveis em termos financeiros.

O limite do resíduo reflete a prática registrada eaprovada de pesticidas de acordo com as boaspráticas de agricultura (BPA) ou (GAP), em inglês)5.Essas práticas podem variar consideravelmentede região para região, devido às diferenças decontrole requerido no local da praga ou doençapor uma série de razões (estação do ano ou climada região). Conseqüentemente, resíduos em ali-mentos, particularmente no ponto de colheita,podem variar também.

Nos LMR estabelecidos pelo Codex, essas varia-ções nos limites adequados para a presença deresíduos devem ser levadas em consideração, eassim que possível devem estar disponíveis nabase de dados. Como os LMR do Codex cobremum amplo espectro de uso-padrão e o Código deBPA reflete níveis de resíduo no ponto de colhei-ta, estes podem ser ocasionalmente maiores queos níveis de resíduos, que diminuem ao longo dacadeia de distribuição.

Os limites do Codex são estabelecidos unicamentequando houver alguma evidência relativa à se-gurança do ser humano. Tais resultados são de-terminados pela Junta FAO/OMS Comissão deResíduos em Pesticidas. Portanto, isso significa queo Codex LMR representa os níveis de resíduostoxicologicamente aceitáveis, com base científi-ca comprovada, numa determinada data.

5 Denota os usos nacionalmente seguros autorizados de pesticidas sob condições necessárias para controle efetivo e seguro de pestes. Uma gama de níveis de pesticidaaplicada do nível máximo autorizado, até a menor quantidade praticável. Uso mais seguro autorizado determinado em nível nacional incluindo registro nacional ouusos indicados que levam em conta saúde e segurança humana e ambiental. Tais limites são condição para qualquer fase, seja ela produção, armazenamento,transporte, distribuição e processamento de alimentos ou ração animal (USDA, 2005).

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Outro tipo de limite máximo é o limite máximopara resíduos estranhos (LMRE), que se refere aresíduos de compostos que são utilizados comopesticidas, mas não são registrados como tal, ouque são usados em outras práticas agrícolas. Taisresíduos são tratados como contaminantes. EssesLMRE são principalmente obtidos de atividadesnacionais de monitoramento e controle de alimen-tos. Para LMRE, o Codex necessita cobrir umaampla variedade de níveis de resíduos tanto paraalimentos como para sua persistência no ambi-ente.

Por isso, o Codex para LMRE não pode refletir sóe estritamente o limite vigente no local, e sim seadaptar às diferentes regiões e países. O Codexrepresenta os níveis aceitáveis de resíduos cujadefinição, além de facilitar o comércio internaci-onal de alimentos, protege a saúde do consumi-dor. Eles são estabelecidos pela Comissão doCodex somente quando existirem evidências deque determinado resíduo pode ser prejudicial àsaúde humana.

O Codex para LMR e LMRE ajuda a assegurarque a mínima quantidade de pesticida aplicadaem alimentos consista na sua real necessidadepara o controle da praga ou doença. Os limitesbaseiam-se em dados aprovados e não diretamen-te derivados da ingestão diária aceitável (IDA).

A aceitabilidade dos limites do Codex é julgadacom base na comparação da IDA com a estimati-va da ingestão diária, determinada com base emestudos apropriados sobre a ingestão. Dados deingestão, obtidos nesses estudos, comparados coma IDA, ajudam a determinar limites de segurançapara pesticidas nos alimentos. A junta da UnitedNations Environment Programme (Unep), a FAOe a OMS publicaram, em 1989, o Guidelines forPredicting Dietary Intake of Pesticide Residues.Esse guia vem sendo revisado com o objetivo deobter estimativas mais realistas do que as conti-das nessas normas. Atualmente, o Codex apre-senta IDA para 213 pesticidas, mas alguns estu-dos são muito antigos e sem atualizações. Umexemplo é o do Captan, utilizado para as cincoculturas estudadas, que teve sua IDA estabelecidaem 1984 e atualizado em 1990 e 1995.

O problema encontrado nesse dado de IDA, é queo país que realiza o estudo calcula a IDA combase na estimativa da ingestão diária de um pro-duto para seu país. Sendo assim, tal resultado nãopode ser pressuposto como a realidade para to-dos os países, pois cada país possui hábitos dife-rentes de consumo.

Geralmente, os limites são estabelecidos paracommodities no estado in natura. Entretanto, con-siderando-se a necessidade de proteger o consu-midor e facilitar o comércio, limites são tambémestabelecidos para certos alimentos processados,caso-a-caso, levando-se em consideração infor-mações e influências desses pesticidas durante oprocessamento.

Segurança alimentar esegurança do alimentoDe acordo com a Organização Internacional paraa Luta Biológica (Oilb)6 a produção econômicade frutas de alta qualidade deve priorizar

“o uso de métodos ecologicamente mais se-guros, minimizando o uso de agroquímicos eseus efeitos colaterais indesejados, pondoênfase na proteção do ambiente e na saúdehumana”.

Para Jank (2003), segurança alimentar tem duasdimensões distintas. Na primeira dimensão, namesma linha da FAO, segurança alimentar é a

“situação na qual toda a população tem ple-no acesso físico e econômico a alimentos se-guros e nutritivos que satisfaçam suas neces-sidades e preferências nutricionais para levaruma vida ativa e saudável”.

A segunda dimensão está relacionada aos subsí-dios e proteções governamentais, que visam esti-mular a produção doméstica de bens agrícolasestratégicos, visando o auto-provisionamento.

Países ineficientes na produção de alimentos têmusado esse segundo conceito para isolar seus pro-dutores agrícolas da competitividade do merca-do mundial, segundo Jank (2003). Além das bar-reiras e subsídios, nas últimas décadas, os países

6 http://www.iobc-global.org/

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ricos passaram a impor um segundo grupo de res-trições ao comércio, dentro daquilo que seconvencionou chamar de food safety, que consis-te na idéia de uma segurança alimentar qualitati-va.

Nessa linha, os países vêm ampliando considera-velmente suas restrições não-tarifárias, como asnormas sanitárias e técnicas de produção, cadavez mais utilizadas para defender interesses dosagricultores, e não dos consumidores. Segundo oIcone (2004), as barreiras sanitárias efitossanitárias, representarão ainda uma grandebatalha do Brasil nas negociações internacionais.Dentre os produtos mais sensíveis à aplicaçãodessas medidas estão as carnes e as frutas.

Até a década de 1990, a preocupação maior comresíduos de agrotóxicos em produtos hortifrutigran-jeiros, se concentrava na presença de resíduosde fungicidas em hortaliças. A presença de resí-duos do grupo ditiocarbamatos era a mais freqüen-te, tendo sido apontado nesse trabalho que, em1991, no Rio de Janeiro, 24 % das análises feitasem produtos prontos para comercialização apre-sentaram resíduos de mancozeb, maneb,propineb, tiram e zineb, 50 % acima do nível detolerância, oferecendo riscos à saúde, uma vezque esses compostos apresentam, como resíduo,a etilenotiureia – composto carcinogênico muitoestável.

A questão está em saber se existe um empenhoefetivo das nações em estabelecer esses limitespara proteger a saúde humana ou, em muitas si-tuações, se eles consistem numa forma alternati-va de barreira comercial.

MetodologiaA análise da regulamentação sobre LMR compre-ende uma avaliação da compatibilidade e ade-quação dos limites adotados pelos países com asreferências internacionais aceitas, ou seja, comos limites necessários para garantir a segurançano seu consumo, dado pela FAO (CodexAlimentarius). Um grupo de cinco frutas foram

selecionadas: abacaxi, laranja, maçã, manga euva. Essas frutas foram escolhidas pela importân-cia de sua produção no Brasil e por sua significa-tiva demanda no mercado internacional, sinali-zando um potencial de mercado a ser explorado.

Os limites exigidos pelos Estados Unidos, Cana-dá e União Européia para defensivos utilizadosnessas frutas foram coletados no banco de dadosdo Foreign Agricultural Service (FAS)7 – UnitedStates Department of Agriculture (Usda), disponí-vel na internet. Nessa mesma base também cons-tam informações sobre os LMR adotados pelo Bra-sil. A busca nessa base de dados, se resume a es-pecificar a commodity, o pesticida e os países doqual se deseja saber os LMR estipulados.

A base de dados do Usda, disponível na Internet,faz parte da Divisão de Horticultura e ProdutosTropicais e reflete exclusivamente os LMR esta-belecidos pela legislação doméstica dos EstadosUnidos, de acordo com o Código de RegulaçãoFederal Americano (CFR). Limites temporários ouprovisórios não constam na base de dados.

A MRL Database, como é chamada em inglês, éatualizada regularmente, usando distintas fontesconforme o país, como ilustra a lista abaixo:

Estados Unidos – Environmental ProtectionAgency (EPA) – Federal Register notices.União Européia – Official Journal.Canadá – Pest Management Regulatory Agency(PMRA).Austrália – Food Standards Australia New Zealand(FSANZ).Nova Zelândia – New Zealand Food SafetyAuthority (NZFSA).

No entanto, nenhuma mudança apresentada nes-sas fontes é inserida imediatamente na MRL data-base. Com base semanal, as seguintes fontes sãoconsultadas:

• World Trade Organization (WTO) Sanitary andPhytosanitary (SPS) e Technical Barriers to Trade(TBT) notifications.• Usda and Foreign Agricultural Service (FAS)Attaché Reports.

7 www.fas.usda.gov, 2005.

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• European Food Safety Authority (EFSA).• Japanese MRL Standard.

Toda commodity e/ou produto da base de dadostem sua lista submetida a uma revisão periódicacompleta para assegurar a exatidão desses da-dos. Os encarregados da base trabalham junto àembaixada dos Estados Unidos no mercado es-trangeiro em questão. Um terço dos mercados sãorevisados a cada 6 meses. A revisão cíclica é com-pletada a cada 18 meses. Recentemente, foramintroduzidas novas revisões para Austrália,Bahrein, União Européia, Índia, Malásia (Maio de2005), Nova Zelândia, Omã, Qatar, ArábiaSaudita, Emirados Árabes Unidos, Estados Uni-dos (maio de 2005) e Canadá (junho de 2005).

Para as referências legais sobre LMR vigentes noBrasil, a base de dados da Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa)8 foi consultada e ado-tada como fonte. Esses dados são monografias doresultado da avaliação e reavaliação toxicológicados ingredientes ativos destinados ao uso agríco-la, domissanitário9, não agrícola e preservante demadeira. Entre outras informações, compreendemos nomes comum e químico, a classe de uso, aclassificação toxicológica, a IDA, as culturas paraas quais os ingredientes ativos encontram-se au-torizados, com os respectivos limites máximos deresíduo permitidos.

As monografias de produtos agrotóxicos estão dis-poníveis na página da Anvisa, cuja última atuali-zação é de 20 de junho de 2005, e ainda nãoconsta da base do Usda. O conjunto demonografias faz parte do Anexo II da resoluçãoda Anvisa, RE nº 165, de 29 de agosto de 2003. Asinformações do registro de agrotóxicos e afinsestão constantes no Sistema de AgrotóxicosFitossanitários (Agrofit)10 e estão de acordo comas bulas aprovadas pelo Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Os limites do Codex foram extraídos da basemantida pela Food and Agricultural Organization(FAO)11 para pesticidas, a Food and AgriculturalOrganization Statistical Database (Faostat). Essebanco de dados contém os limites máximos deresíduos para pesticidas e limites máximos de re-síduos estranhos adotados pela CommissionCodex Alimentarius, incluindo a 22a Sessão (ju-nho de 1997). Estão também disponíveis na basenotas explicativas em tabelas, definições de ter-mos usados, e informação sobre as bases para oestabelecimento dos limites, e sua última atuali-zação foi em 12 de abril de 2005.

Os dados de ingestão diária aceitável (IDA) fo-ram descritos em mg.kg-1de massa corpórea parapossibilitar a avaliação das efetivas exigências aose estabelecer limites para tais resíduos12, ou seja,buscando identificar quais os limites efetivos quepodem ser aceitos e acima dos quais pode haverprejuízo à saúde do consumidor. Tais informaçõesforam coletadas no banco disponibilizado pelaAnvisa, e fornecidas pela Joint FAO/WHO ExpertCommittee on Food Additives (Jefca).

Adicionalmente, para assegurar-se que o acom-panhamento da regulamentação sobre LMR pe-los países estaria sendo analisado com os dadosmais recentes, foram também avaliadas as notifi-cações dos países estudados ao Acordo SPS daOrganização Mundial do Comércio, para as fru-tas selecionadas, usando-se como base as notifi-cações disponibilizadas pela OMC13.

Resultados e DiscussãoAo contrário do que seria necessário e esperadopara um comércio agroindustrial organizado porregras transparentes e almejando a harmonizaçãodos parâmetros de qualidade e sanidade, verifi-cou-se que o Codex não estabelece limites para

8 www.anvisa.gov.br , 2005.9 Saneantes utilizados no domicílio.10 Agrofit: Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários, disponínvel em http://www.agricultura.gov.br.11 http://faostat.fao.org/faostat/pestdes, 2005.12 De acordo com os padrões definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para calcular a IDA por pessoa, o consumidor padrão deve ser um indivíduo adulto

com 60 kg de peso.13 www.wto.org , 2005.14 Diretor da Divisão de Alimentos da ANVISA, em entrevista via mail, 2005.

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a maioria dos pesticidas utilizados nas cinco cul-turas estudadas. Ou, mais além, mesmo que es-ses limites máximos de resíduos estejam sendodebatidos no seu âmbito, ainda não estão dispo-níveis para o público.

Tal constatação é um complicador para identifi-car quais devem ser os efetivos LMR, necessáriospara garantir que não haja prejuízos à saúde doconsumidor. Mais além, pode ser evidência de quehá ainda bastante trabalho a ser realizado e issopode se tornar uma oportunidade para que o Bra-sil participe mais ativamente dessas definições,uma vez considerado seu grande potencial ex-portador de frutas.

Em tese, se produtos nos quais o Brasil tem signi-ficativa participação no comércio, com possibili-dade de expansão, e para os quais não se têmregras bem definidas em termos sanitários, o Paíspoderia ter papel mais pró-ativo na proposiçãode estudos e desses limites, de forma que as refe-rências internacionais fossem criadas tendo comobase tecnologias acessíveis ao Brasil.

Seria importante para o Brasil, dimensionar no-vos mercados como o Japão e a China para asfrutas. A entrada no mercado asiático é uma ex-celente oportunidade, e para melhor aproveita-mento dessas oportunidades, os exportadores bra-sileiros devem buscar informações sobre as pre-ferências e exigências fitossanitárias desses mer-cados.

Considerando a regulamentação sanitária brasi-leira, estabelecida pela Anvisa, para produtos efrutas analisados, geralmente o Brasil possui limi-tes mais rígidos do que os dos Estados Unidos.Isso poderia levar à conclusão de que as exigên-cias sanitárias em LMR para tais produtos nos Es-tados Unidos não oferecem entraves para o co-mércio das frutas brasileiras.

Geralmente, pode-se observar que os limites es-tabelecidos pelos Estados Unidos permanecemmais altos (menos rígidos) que os demais paísesanalisados. Observa-se, também, que são maisflexíveis do que os do Codex Alimentarius, consi-derados uma referência básica.

Os limites adotados pela legislação da União Eu-ropéia mostraram-se mais restritos para as frutas

analisadas, tanto em comparação com os limitesaplicados pelo Brasil, quanto com aqueles apli-cados pelos Estados Unidos. No entanto, é inte-ressante observar que a Anvisa apresentava mai-or número de referências de LMR estabelecidaspara os produtos.

É importante ressaltar que o Brasil estabelece li-mites para muitos pesticidas que os demais paí-ses nem citam em sua base de dados. Uma análi-se mais pormenorizada, caso a caso, poderia evi-denciar que o País tem adotado uma postura exi-gente quanto ao tema. No entanto, suas condi-ções climáticas exigem a utilização deagrotóxicos que em países de clima temperado,como no caso da União Européia e dos EstadosUnidos, não são tão requeridos pelas culturas. Umclima úmido e quente é propício para odesenvolvimeto de fungos, o que não ocorre tãofacilmente num clima frio. Outra possível expli-cação para a inexistência de limites de uso devários produtos pode dever-se à sua proibição le-gal nesses países.

Limites mais baixos (LMR mais baixos) indicamum grau mais alto de exigência e controle sobreos resíduos nas frutas. Assim, quando se diz queum país tem um LMR mais baixo do que o outro -para um mesmo produto e defensivo - pode-seinferir que tal país está sendo mais exigente erestritivo nas frutas que consome.

No que diz respeito às classes toxicológicas, es-tas foram consultadas no site da Anvisa, no Siste-ma de Informação em Agrotóxicos (SIA). Notou-se que um mesmo agrotóxico pode ter várias clas-sificações, dependendo do fabricante, da cultura,da concentração utilizada e da combinação comoutro produto. Uma análise para cada fruta estu-dada é apresentada a seguir, especificamente paraos agrotóxicos disponíveis nas bases de dados.

Abacaxi

1 Dos 47 pesticidas identificados considerando abase do FAS e da Anvisa, utilizados na cultura doabacaxi, o Codex estabelece limites para apenas13.

2 Dentre os pesticidas para os quais o Brasil ofe-rece limites mais rígidos do que os demais países

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analisados: para os Estados Unidos, são encon-trados seis, com limites até 12,5 vezes mais rígi-dos (é o caso do Ametryn) e 30 vezes (Triadimefon);três mais rígidos que a União Européia(Triadimefon, Ethephon e Carbaryl); e um mais rí-gido que o Canadá, o Diuron.

3 A União Européia oferece limites mais rígidosdo que os dos Estados Unidos para sete pesticidas.

4 O Brasil oferece limites para 16 pesticidas quenão aparecem na base de dados do Usda, nemna listagem para Estados Unidos, União Européiaou Canadá.

Laranja

1 Dos 129 itens para pesticidas encontrados tantona listagem da FAZ on-line quanto da Anvisa uti-lizados na cultura do citros, o Codex estabelecelimites para apenas 11 deles, dentre os quais oBrasil é mais rígido em dois (Bifenthrin eBuprofezin).

2 Dentre os pesticidas para os quais o Brasil temmaior exigência em relação aos demais paísesestudados, 18 % são mais rígidos do que os limi-tes dos Estados Unidos (até 80 vezes mais seve-ros, como é o exemplo do FormetanateHydrochloride); para a União Européia, são trêspesticidas. No caso do Canadá, há limites esta-belecidos apenas para três defensivos e em ne-nhum deles o Brasil é mais rígido.

3 Os Estados Unidos oferecem limites mais restri-tivos do que o Brasil para três produtos usados nacultura da laranja (Chlorpyrifos, Imidacloprid ePyriproxyfen); a União Européia, para sete e oCanadá, para nenhum.

4 Quando se comparam os LMR estabelecidospelos Estados Unidos e União Européia, em 16casos há maior rigidez nos Estados Unidos doque na União Européia . Quando se compara opadrão de regulamentação de LMR nos EstadosUnidos para abacaxis e para laranjas, nota-seque há maior preocupação desse país no segun-do caso. Isso pode estar associado ao fato de osEstados Unidos serem grandes produtores eprocessadores de laranja.

5 O Brasil oferece limites para 46 pesticidas quenão aparecem na base de dados do Usda, naslistas de produtos usadas nos Estados Unidos,União Européia e Canadá.

Maçã

1 Dos 140 itens para agrotóxicos utilizados nacultura de maçã, o Codex estabelece limites paraapenas 28 deles. Desse total de produtos para osquais foram estabelecidos LMR, o Brasil tem exi-gências mais restritivas em seis (Abamectin,Carbaryl, Cyhexatin, Deltamethrin, Methidathione Phosmet).

2 Comparando os limites adotados para defensi-vos usados na maçã, entre os países, o Brasil ado-ta limites mais rígidos em 23 deles em relaçãoaos Estados Unidos, 7 mais rígidos do que os limi-tes adotados na União Européia; e 11 mais rígidosdo que o Canadá.

3 A União Européia é mais rígida que os EstadosUnidos nos LMR para 16 tipos de pesticidas.

4 O Brasil oferece limites para 29 pesticidas quenão aparecem na base de dados da Usda, nemna lista dos Estados Unidos, e tão pouco na daUnião Européia e Canadá. Os Estados Unidos sãomais rígidos do que o Brasil na exigência de LMRpara dois produtos utilizadas na cultura(Pyraclostrobin e Cyprodinil). A União Européiaimpõe limites mais rígidos para 11 pesticidas, dosquais 3 não têm referências no Codex.

Manga

1 Dos 47 itens para pesticidas utilizados na cultu-ra de manga, o Codex estabelece limites apenaspara sete deles, sendo que o Brasil não apresentalimites mais rígidos para nenhum dos produtosquímicos analisados em relação ao LMR de refe-rência do Codex.

2 Na comparação com os LMR adotados pelosEstados Unidos e União Européia, verificou-seque o Brasil oferece limites mais rígidos para oAzoxystrobin e o Thiabendazole.

3 A União Européia é mais restritiva do que osEstados Unidos para oito dos pesticidas listados

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pelo Usda. Em nenhum caso o Codex é mais res-trito que a União Européia. O Brasil oferece limi-tes para 18 pesticidas que não aparecem na basede dados do Usda, para Estados Unidos, UniãoEuropéia e Canadá. Destes, dois têm limites es-tabelecidos pelo Codex. Os Estados Unidos e oCanadá não apresentaram LMR mais rígidos doque o Brasil, mas no caso do Azoxystrobin, o LMRadotado pela legislação da União Européia é dezvezes superior ao do Brasil.

Uva

1 Dos 139 itens para a cultura de uva, o Codexdetermina LMR para 58, sendo o produto para oqual há o maior número de limites estabelecidospelo Codex. O Brasil se apresenta mais restritivonos limites máximos de resíduos para três defen-sivos, quando comparado às referências do Codex.

2 O Brasil define LMR para 25 pesticidas utiliza-dos na cultura da uva, os quais não aparecem nabase de dados da Usda nas listas dos EstadosUnidos, União Européia e Canadá. A União Eu-ropéia é mais rígida do que os Estados Unidos para24 produtos defensivos usados na produção des-sa fruta, dos quais o Codex tem limites para 12deles e destes, 11 são menos restritivos do que osLMR propostos pelo Codex.

3 A União Européia faz maior restrição do que oBrasil para três pesticidas (Ethephon, Glyphosatee Mancozeb); os Estados Unidos apenas para oTriadimefon e o Canadá não oferece limites maisrígidos do que o Brasil.

ConclusãoHá um número grande de defensivos utilizadosna fruticultura que não têm seus LMR definidosno Codex Alimentarius, que é considerado o ór-gão científico de criação das referências interna-cionais para resíduos em alimentos.

Com freqüência, observou-se que os LMRadotados pelos Estados Unidos são mais permis-sivos do que os adotados pelo Codex, pela UniãoEuropéia e pelo Brasil. A União Européia parece

ter uma política de regulamentação sobre LMRmais rígida do que os Estados Unidos.

A falta de referências estabelecidas pelo Codexpode gerar oportunidades para se criarem dificul-dades comerciais entre os países e conforme foimencionado na literatura, os processos de análi-se de risco e de reconhecimento de acordos deequivalência são complexos e demorados. Adi-cionalmente, é preocupante que produtos queestão sendo aplicados na produção dessas frutase que estão compreendidos em classestoxicológicas de alto risco para saúde humana,ainda não têm definidos os LMR no Codex.

Algumas questões pertinentes devem serpriorizadas sobre a IDA, já que esta é utilizadapara o cálculo de LMR, ou seja, se a IDA deve serestipulada por componente (p.a.) ou deve consi-derar o somatório deles e possíveis combinaçõese sinergísmos.

Também, as referência aos registros deagrotóxicos - para as inúmeras culturas -, não sãoobedecidas no Brasil como um todo, por não seadequarem à necessidade de todas as regiõesbrasileiras, necessitando de experimentação re-gional. Assim, parâmetros estrangeiros (Codex)também não servem para a agricultura nacional,sendo apenas referências. Não tem havido trans-parência dos responsáveis pelos experimentos nofornecimento dos dados experimentais e quantoà localização de onde são divulgados os resulta-dos das pesquisas, com os respectivos laudoslaboratoriais. Tampouco, transparência quanto àmetodologia selecionada para esses testes. Ques-tões cruciais como essas deveriam ser debatidasassídua e abertamente, com total transparência emáxima representatividade.

Uma questão que deve ser também analisada commuito cuidado é o quanto as diferenças de níveistecnológicos disponíveis nos países pode acarre-tar o estabelecimento de padrões distintos e, con-seqüentemente, desajustes que afetam as transa-ções comerciais. Observa-se que, ao falharem ossistemas de regulamentação sanitária sobre os li-mites aceitáveis de resíduos nas culturas, abre-seum espaço cada vez mais ocupado pelas normas,dentro do escopo de processos de certificação doproduto e do processo de produção.

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No entanto, conforme abordado neste trabalho, oBrasil apresenta excelentes condições para setornar um dos maiores pólos produtivos de frutastropicais para o mercado mundial. Seu clima per-mite a produção de todos os tipos de frutas tropi-cais e algumas delas proporcionam mais de umasafra por ano.

Contudo, para a conquista desse mercado estra-tégico, é preciso acelerar a implementação demedidas que aumentem cada vez mais acompetitividade das frutas brasileiras no merca-do internacional. Entre as mais importantes, estãoo crédito especial para o setor, programas de de-senvolvimento do setor produtivo e de adequa-ção às normas internacionais de comércio no quediz respeito ao acordo SPS, apoio de investimen-to em tecnologia para todos os elos da cadeia pro-dutiva, maior presença nos fóruns internacionaisque trabalham com as questões de segurança doalimento e de qualidade, de uma forma mais am-pla, definição de estratégias comerciais e maiorintegração entre os diversos elos da cadeia.

Diante da maior exigência quanto a LMRestabelecida pela União Européia, agricultoresbrasileiros decididos a exportar frutas para a Eu-ropa, terão de enfrentar maiores custos e adaptar-se às demandas específicas desse mercado, o qualimpõe maiores exigências em termos de seguran-ça do alimento, rastreabilidade dos produtos, bem-estar animal e padrões ambientais e socias.

O mercado europeu não deseja que os baixospadrões sociais, ambientais e de segurança ali-mentar – que ainda acontecem no Brasil – sejamtransferidos para a Europa. Sendo assim, se o Bra-sil quiser fazer ou continuar fazendo negócios comos europeus, inevitavelmente terá que levar es-ses itens em consideração. Segundo Latore (2005,

informação pessoal), é preciso saber realizar ne-gócios, entender de marketing internacional eadotar uma política voltada às necessidades docliente, atendendo as exigências do mercado, sequisermos ter uma imagem de excelência e por-tas abertas aos importadores.

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JANK, M. S. Dilemas e desafios da segurança alimentar. OEstado de S. Paulo, São Paulo, 15 de abr. 2003, p. A2.

OLIVEIRA, L. A. A Importância das normas internacionaispara o comércio da fruticultura brasileira. 2005. 169 f.Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade de SãoPaulo, Piracicaba, 2005.

RIBEIRO, R. L. D. O Problema dos resíduos de agrotóxicosnos alimentos: um enfoque agronômico, político eestratégico. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/trablucen.htm>. 09 fev. 2001.Acesso em: 27 set. 2005.

USDA. United States Department of Agriculture. ForeignAgriculture Service. Horticultural & Tropical ProductsDivision. Internacional MRL Database. Disponível em:<http://mrldatabase.com/query.cfm>. Acesso em: 12 jul.2005.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007113

Prof. G. Edward Schuh,um amigo do Brasil

Completou-se o ciclo de desenvolvimento de nos-sa agricultura: um número expressivo de agricul-tores pratica a agricultura moderna, dentro deconceitos de preservação do meio ambiente; aindústria que processa alimentos e produz insumosestá bem estabelecida; e a agricultura se integrouao mercado internacional, fortemente o influen-cia e é também por ele influenciada.

Os benefícios da integração ao mercado interna-cional são incontáveis. Vendemos num mercadomuito ampliado, que se soma ao poderoso mer-cado interno. Assim, podemos dispor, a preços maiscompensadores, do enorme excedente que nos-sa agricultura, hoje baseada na ciência e natecnologia, gera em alimentos, fibras e bioe-nergéticos; participamos ativamente do fantásti-co mercado de capital e de informação global, oqual inclui a ciência e a tecnologia, e, por isso, asdecisões de nossos agricultores e empreendedo-res são mais bem fundamentadas, numa visão quecasa o curto com o longo prazo e os interessesbrasileiros com os da comunidade internacional;aprendemos a competir nos quatro cantos da ter-ra: a negociar, a escrever contratos, a honrá-los ea acionar a justiça internacional; o mercado in-ternacional permitiu a expansão da produção,atenuando a queda de preços em evolução nascommodities agrícolas, com amplos benefíciospara os trabalhadores do campo e das cidades;ainda, o excedente agrícola permite honrar nos-sa dívida externa e reduzila para níveis folga-damente compatíveis com o volume exportado

Eliseu Alves1

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e, com isso, criou-se enorme espaço de manobraque viabiliza o ajuste macroeconômico, commenos sofrimentos para os brasileiros. Em sínte-se, evoluímos de uma visão míope, que somenteenxergava o mercado doméstico, para aquelauniversal, na qual somos importantes players nomundo dos negócios e nas relações internacio-nais, que abrangem a política e o comércio.

A integração tem muito a caminhar no plano in-terno: o Nordeste se atrasou na modernização daagricultura e nas exportações, mas se recuperarapidamente nas áreas irrigadas e em importan-tes pólos produtores de grãos. Milhões de agricul-tores familiares só recentemente se beneficiamde políticas que os integram aos mercados inter-no e externo e à moderna agricultura. Os investi-mentos em ciências, em fase de recuperação,estão defasados em relação às necessidades queos mercados externos e internos impõem à agri-cultura para que ela se mantenha como impor-tante player. O próprio sucesso das exportações,num regime de câmbio livre e de taxas de juroselevadas, aliado à queda expressiva do dólar, temapreciado o valor do real, em relação ao dólar, oque tende a limitar o crescimento das exporta-ções para os Estados Unidos, principalmente. Mas,o caminho não é optar por outro regime cambial,mas continuar aumentando a produtividade e, nosforos apropriados, endurecer na luta contra os sub-sídios que os países ricos dão à sua agricultura.

1 Eliseu Alves é assessor do Diretor-Presidente e pesquisador da Embrapa.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007 114

No plano internacional, reconhece-se que o co-mércio ainda padece de muitas iniqüidades, em-bora tenha contribuído para reduzir asdisparidades entre países, veja os casos da Índiae da China, muito ainda tem a caminhar nessadireção. Não existem instituições, apoiadas pe-los países, para dirimir conflitos e mesmo para fi-nanciar as transações dos países pobres.

De 1º a 3 de maio de 2007, realizou-se na Uni-versidade de Minnesota (Estados Unidos), um se-minário que homenageou o professor G. EdwardSchuh, na ocasião de sua aposentadoria. Seis bra-sileiros, seus ex-alunos, apresentaram trabalhos,especialmente escritos para a reunião, abordan-do temas ligados ao comércio internacional, cré-dito rural, relação de troca e financiamento depesquisa. Além dos brasileiros, professores famo-sos e alunos do professor G. Edward Schuh, deoutros países, também prestaram-lhe tributo coma apresentação de trabalhos, ressaltando sua lutapelo crescimento do comércio internacional, commais justiça, e contra as políticas macroeconô-micas dos países ricos que distorcem o comércioe impedem que o mundo tenha taxas de cresci-mento econômico mais elevadas.

O professor G. Edward Schuh é casado com bra-sileira, vem trabalhando com brasileiros e no Bra-sil, teve um papel importante no desenvolvimen-to da Embrapa, dos cursos de pós-graduação daUniversidade Federal de Viçosa (UFV) e EscolaSuperior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e

no treinamento de vários brasileiros. A economiarural e a Sociedade Brasileira de Economia Rural(Sober), da qual é membro legendário, muito lhedevem. Recebeu do governo brasileiro a Meda-lha do Mérito Científico, no grau Grã-Cruz, é pro-fessor-regente da Universidade de Minnesota, nosEstados Unidos, uma honraria para toda a vida eque poucos alcançaram. Como pesquisador, de-dicou-se ao estudo do mercado de trabalho, doimpacto da pesquisa e dos investimentos em edu-cação no desenvolvimento econômico. Nos últi-mos 20 anos, focaliza o mercado internacional,com uma visão que alia a economia institucionale neoclássica, e procura entender seu papel noprogresso das nações, como tem influenciado oaperfeiçoamento das políticas macroeconômicase porque ele é bem-sucedido, e também porquetem falhado em reduzir as disparidades entre ri-cos e pobres.

Persistentemente, em videoconferências, confe-rências, aulas, artigos para revistas especializadase jornais, na comunidade acadêmica e entre ospolíticos, na América Latina, Ásia e Afríca, empaíses desenvolvidos e pobres, o professor G.Edward Schuh tem demonstrado as virtudes docomércio internacional e mostrado o Brasil comoum caso de sucesso, reafirmando o acerto dosinvestimentos em pesquisa agrícola e da políticamacroeconômica. Poucos sabem, como ele, ali-ar na exposição de idéias, o rigor com um grandepoder de comunicação.

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Ano XVI – Nº 1 – Jan./Fev./Mar. 2007115

1. Tipo de colaboração

São aceitos, por esta Revista, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas de política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudosde casos resultantes da aplicação de métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas de produção, uso de recursosnaturais e desenvolvimento rural sustentável que ainda não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,dentro das seguintes categorias: a) artigos de opinião; b) artigoscientíficos; d) textos para debates.

Artigo de opinião

É o texto livre, mas bem fundamento sobre algum tema atual e derelevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre determinado tema, introduzirfatos novos, defender idéias, apresentar argumentos e dados,fazer proposições e concluir de forma coerente com as idéiasapresentadas.

Artigo científico

O conteúdo de cada trabalho deve primar pela originalidade, istoé, ser elaborado a partir de resultados inéditos de pesquisa queofereçam contribuições teórica, metodológica e substantiva parao progresso do agronegócio brasileiro.

Texto para debates

É um texto livre, na forma de apresentação, destinado à exposiçãode idéias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes atuais e controversos. A sua principal carac-terística é possibilitar o estabelecimento do contraditório. O textopara debate será publicado no espaço fixo desta Revista,denominado Ponto de Vista.

2. Encaminhamento

Aceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais devemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o endereç[email protected].

A carta de encaminhamento deve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); declaração explícita de que o artigo não foi enviadoa nenhum outro periódico para publicação.

3. Procedimentos editoriais

a) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não-aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:

• adequação à linha editorial da revista;

• valor da contribuição do ponto de vista teórico, metodológico esubstantivo;

• argumentação lógica, consistente, e que ainda assim permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);

• correta interpretação de informações conceituais e de resultados(ausência de ilações falaciosas);

• relevância, pertinência e atualidade das referências.

b) São de exclusiva responsabilidade dos autores, as opiniões eos conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito de sugerir ousolicitar modificações aconselhadas ou necessárias.

c) Eventuais modificações de estrutura ou de conteúdo, sugeridasaos autores, devem ser processadas e devolvidas ao Editor, noprazo de 15 dias.

d) A seqüência da publicação dos trabalhos é dada pela conclusãode sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando entãonão serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.

e) À Editoria e ao Conselho Editorial é facultada a encomenda detextos e artigos para publicação.

4. Forma de apresentação

a) Tamanho – Os trabalhos devem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo de 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens de 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numeradas. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas de rodapé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agradecimentos eexcesso de notas de rodapé.

b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (key-words) – Os títulos em Português devem ser grafados em caixabaixa, exceto a primeira palavra ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressar oconteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores por extenso,com letras iniciais maiúsculas. O resumo e o abstract não devemultrapassar 200 palavras. Devem conter uma síntese dos objetivos,desenvolvimento e principal conclusão do trabalho. É exigida,também, a indicação de no mínimo três e no máximo cinco pala-vras-chave e key-words. Essas expressões devem ser grafadasem letras minúsculas, exceto a letra inicial, e seguidas de doispontos. As Palavras-chave e Key-words devem ser separadaspor vírgulas e iniciadas com letras minúsculas, não devendo conterpalavras que já apareçam no título.

c) No rodapé da primeira página, devem constar a qualificaçãoprofissional principal e o endereço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o endereço eletrônico.

d) Introdução – A palavra Introdução deve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, importância econtextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.

e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, onde que seencontram os procedimentos metodológicos, os resultados dapesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvol-vimento jamais servirá de título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções de título, ele deve seralinhado à esquerda, grafado em caixa baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.

Em todo o artigo, a redação deve priorizar a criação de parágrafosconstruídos com orações em ordem direta, prezando pelaclareza e concisão de idéias. Deve-se evitar parágrafos longosque não estejam relacionados entre si, que não explicam, quenão se complementam ou não concluam a idéia anterior.

f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalentedeve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda dapágina. São elaboradas com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não podem consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; devem apresentar as novas descobertas da pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas na Introdução, sefor o caso.

g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomes dosautores devem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com a dataentre parênteses. Se não incluídos, devem estar também dentro

Instrução aos autores

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do parêntesis, grafados em caixa alta, separados das datas porvírgula.

• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto-e-vírgula quandoentre parêntesis.

• Citação com mais de dois autores: sobrenome do primeiroautor seguido da expressão et al. em fonte normal.

• Citação de diversas obras de autores diferentes: obedecerà ordem alfabética dos nomes dos autores, separadas porponto-e-vírgula.

• Citação de mais de um documento dos mesmos autores:não há repetição dos nomes dos autores; as datas das obras,em ordem cronológica, são separadas por vírgula.

• Citação de citação: sobrenome do autor do documentooriginal seguido da expressão “citado por” e da citação daobra consultada.

• Citações literais que contenham três linhas ou menos devemaparecer aspeadas, integrando o parágrafo normal. Após oano da publicação acrescentar a(s) página(s) do trecho citado(entre parênteses e separados por vírgula).

• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão desta-cadas do texto em parágrafo especial e com recuo de quatroespaços à direita da margem esquerda, em espaço simples,corpo 10.

h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas devem ser citadas notexto em ordem seqüencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, seguidas do número correspondente. As citaçõespodem vir entre parênteses ou integrar o texto. As Tabelas eFiguras devem ser apresentadas no texto, em local próximo aode sua citação. O título de Tabela deve ser escrito sem negrito eposicionado acima desta. O título de Figura também deve serescrito sem negrito, mas posicionado abaixo desta. Só são aceitastabelas e figuras citadas efetivamente no texto.

i) Notas de rodapé – As notas de rodapé devem ser de naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzidas ao mínimo necessário.

j) Referências – A palavra Referências deve ser grafada comletras em caixa-alta-e-baixa, alinhada à esquerda da página. Asreferências devem conter fontes atuais, principalmente de artigosde periódicos. Podem conter trabalhos clássicos mais antigos,diretamente relacionados com o tema do estudo. Devem sernormalizadas de acordo com a NBR 6023 de Agosto 2002, daABNT (ou a vigente).

Devem-se referenciar somente as fontes utilizadas e citadas naelaboração do artigo e apresentadas em ordem alfabética.

Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo modelos:

Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).

WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. de LeônidasHegenberg e Octany Silveira da Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).

ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Science underscarcity: principles and practice for agricultural research

evaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.

Parte de monografia

OFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in moderncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.

Artigo de revista

TRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsiderações estratégicas e organizacionais. Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.

Dissertação ou Tese

Não publicada:

AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime dedesbastes e da idade de rotação, para povoamentos depínus taeda L. através de um modelo de programaçãodinâmica. 1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federaldo Paraná, Curitiba.

Publicada: da mesma forma que monografia no todo.

Trabalhos apresentados em Congresso

MUELLER, C. C. Uma abordagem para o estudo da formulação depolíticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.

Documento de acesso em meio eletrônico

CAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/ater/Docs/Bases%20NOVA%20ATER.doc>.Acesso em: 06 mar. 2005.

MIRANDA, E. E. de (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Federal. Campinas, SP: Embrapa Monitoramento por Satélite;Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 1 CD-ROM.(Coleção Brasil Visto do Espaço).

Legislação

BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de1997. Estabelece multa em operações de importação, e dá outrasprovidências. Diário Oficial [da] República Federativa doBrasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.29514.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro de1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

5. Outras informações

a) O autor ou os autores receberão cinco exemplares do númeroda Revista no qual o seu trabalho tenha sido publicado.

b) Para outros pormenores sobre a elaboração de trabalhos aserem enviados à Revista de Política Agrícola, contatar diretamenteo coordenador editorial, Mierson Martins Mota, ou a secretária-geral, Regina Mergulhão Vaz, em:

[email protected]; telefone: (61) 3448-4336

[email protected]; telefone: (61) 3218-2209

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

CG

PE6253

Colaboração