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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Curso de Comunicação Social
Habilitação em Jornalismo
Mariana Cruz e Silva da Costa
Política na Rolling Stone: objetividade do discurso político em uma revista
de cultura pop
João Pessoa
2014
MARIANA CRUZ E SILVA DA COSTA
POLÍTICA NA ROLLING STONE: OBJETIVIDADE DO DISCURSO POLÍTICO
EM UMA REVISTA DE CULTURA POP
Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, no período 2013/2, como requisito
básico para a obtenção do grau de Bacharel, na Universidade
Federal da Paraíba.
Orientadora: Suelly Maux
João Pessoa
2014
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, William e Liane, pelo amor e apoio que me foi dado durante toda minha
vida.
Ao meu irmão, Rafael.
À minha orientadora, Suelly Maux, pelo entusiasmo e confiança depositados em mim.
A Aristóteles pelo carinhos e palavras de apoio.
Aos meus amigos, em especial os meus colegas de curso.
À Letícia Passos, amiga e companheira, que foi fundamental para a escolha do objeto e
início desta pesquisa.
A Pablo Miyazawa, editor-chefe da revista Rolling Stone, que sempre foi solícito e
disposto a ajudar no que fosse preciso.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é analisar o conteúdo da editoria “Política Nacional”
da revista Rolling Stone, no Brasil, no ano de 2012. Fundada nos Estados Unidos em
1967, a Rolling Stone surgiu oficialmente no Brasil em 2006 – visto que uma edição
clandestina surgiu pela primeira vez em 1972. O veículo é caracterizado por ser uma
revista de música e cultura pop, que também tem a proposta de fazer grandes
reportagens sobre a realidade sociopolítica brasileira, nas editorias “Política Nacional” e
“Conexão Brasilis”. Foram analisadas onze edições, utilizando a análise de categoria,
em que foram retiradas as palavras mais recorrentes nas matérias, títulos e subtítulos, e
depois estudado o contexto no qual essas palavras foram inseridas e de que maneira a
Rolling Stone aborda tais assuntos.
Palavras-chave: revista; política; cultura pop; jornalismo de revista.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Revista Fon Fon! (1941).................................................................................11
Figura 2 - Capa da revista Placar....................................................................................14
Figura 3 - Capa da primeira edição oficial da Rolling Stone no Brasil (2006)................18
Figura 4 - ilustração da matéria “Pela Proteção do Brasil”.............................................30
Figura 5 - ilustração da matéria “Elas Querem o Poder”................................................36
Figura 6 - ilustração da matéria “O Ano da Política”......................................................37
Figura 7 - ilustração da matéria “Relações Perigosas”....................................................42
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................................7
1 Revista no Brasil.........................................................................................................10
1.1 Jornalismo de revista.................................................................................................12
2 A Rolling Stone no Brasil……...................................................................................16
2.1 Jornalismo na Rolling Stone no Brasil.......................................................................19
2.2 Jornalismo cultural....................................................................................................21
2.3 Jornalismo político....................................................................................................23
3 Análise de dados..........................................................................................................26
3.1 Brasil..........................................................................................................................27
3.1.1 Brasil na Rolling Stone...........................................................................................29
3.2 Mulher.......................................................................................................................32
3.2.1 Mulher na Rolling Stone.........................................................................................33
3.3 Política.......................................................................................................................37
3.3.1 Política na Rolling Stone.........................................................................................39
Considerações finais......................................................................................................43
Referências.....................................................................................................................45
7
INTRODUÇÃO
A chegada da revista no Brasil aconteceu ainda no século XIX, a partir das
publicações não oficiais de As Variedades ou Ensaios de Literatura (1812), que surgiu
na Bahia, sucedida pelas revistas O Patriota (1813), Anais Fluminenses de Ciências,
Artes e Literatura (1822), todas com um público restrito de burgueses e trabalhadores
liberais, que se informavam sobre política e literatura, com um formato tradicional,
parecidos com livros e jornais da época. As fotografias e ilustrações começaram a
aparecer na imprensa brasileira na década de 1860, quando revistas como a Semana
Ilustrada (1860), pioneira na fotorreportagem, quando noticiou a Guerra do Paraguai
(1864-1870), e se destacou também na charge padrão – corpo pequeno e cabeça grande
(MOURA, 2011). O jornalismo de revistas teve seu marco inicial com o surgimento de
O Cruzeiro (1928), com grandes reportagens e fotos inéditas, o que fez da revista um
grande sucesso no Brasil. O jornalismo e grandes reportagens jornalísticas tiveram
destaque durante a II Guerra Mundial (1939-1945), e esse modelo repercutiu em
publicações que ainda estão em circulação, como a Veja (1968), IstoÉ (1976) e Época
(1998).
Ainda no século XX, as revistas iniciaram um processo de segmentação e
adaptação a determinados públicos-alvo, o que proporcionou uma maior versatilidade
nos temas abordados. Mulheres, amantes da literatura e automóveis, por exemplo, foram
contemplados com publicações que atendiam a seus interesses específicos. Com o
objetivo de atender jovens interessados em rock’n’roll e nas novidades da época, a
revista Rolling Stone surgiu em 1967, nos Estados Unidos, no contexto de contracultura,
a fim de falar seriamente sobre música, política e comportamento. No Brasil, ela teve
sua primeira edição publicada oficialmente pela editora Spring Publicações Ltda., em 20
de outubro de 2006, com tiragem de mais de cem mil exemplares. Atualmente, a Rolling
Stone divide espaço com a Billboard Brasil no campo de revistas de natureza musical,
mas é a única do gênero que contém editorias de política, moda, comportamento, além
da seção Conexão Brasilis, que trata da realidade social brasileira.
Assim como as revistas Manchete, Senhor, O Cruzeiro – todas surgidas nas
décadas de 50 e 60 -, a Rolling Stone surgiu em uma época de efervescência cultural e
intelectual, com a proposta de unir os segmentos de cultura pop e realidade
socioeconômica em um único exemplar. Cultura pop pode ser definida como “formas de
8
produção e consumo de produtos orientados por uma lógica de mercado” (SOARES,
2013, p. 1), e é nesse contexto de juventude e cultura que se inserem extensas
reportagens de conteúdo político, com ilustrações coloridas e com fortes críticas aos
personagens e situações ilustradas.
A linguagem utilizada pelos jornalistas é predominantemente objetiva e
declaratória, baseado na declaração de várias fontes. O uso de recursos estilísticos,
características do jornalismo interpretativo, também está bastante presente, assim como
o jornalismo político. Segundo Barreto (2008, p.15), o jornalismo político é envolto de
circunstâncias de pressões de bastidores, o que requer do jornalista fidelidade da
informação e declaração dos atores políticos que correspondam com a realidade, pois
estes estão sempre em busca de “ganhar o pódio da notícia.” O jornalismo político na
Rolling Stone é caracterizado, portanto, pelo contraponto de diferentes opiniões e pelo
levantamento de informações que constatem a veracidade dos fatos declarados pelas
fontes, deixando a opinião do veículo em segundo plano.
Com mais tempo para extrapolações analíticas do fato, as revistas
podem produzir textos mais criativos, utilizando recursos estilísticos
geralmente incompatíveis com a velocidade do jornalismo diário. A
reportagem interpretativa é o forte. (VILLAS BOAS, 1996, p. 9)
Na editoria de Política Nacional, no ano de 2012, a Rolling Stone tratou de
temas como eleições, projetos de lei, participação das mulheres da política, além de
assuntos polêmicos como a Copa do Mundo de 2014, que acontecerá no Brasil, e a lei
de ficha limpa. A partir de uma análise de categoria feita nesta pesquisa, constatou-se
que as palavras “Brasil”, “Mulher/Mulheres” e “Política” foram as mais frequentes na
editoria, em 2012. Levando-se em consideração que a revista Rolling Stone é de
natureza musical, que se configura como um veículo de divulgação de cultura pop, nos
questionamos: de que forma o jornalismo político é feito Rolling Stone, e quais os
assuntos mais tratados na editoria “Política Nacional”, em 2012?
O trabalho foi divido em três partes: o primeiro capítulo – A Revista no Brasil -,
foi feito um levantamento histórico do surgimento da revista no Brasil e a evolução
deste veículo dentro do país, além de discorrer sobre o jornalismo de revista, e sua
diferenciação dos outros veículos. O segundo capítulo – A Rolling Stone no Brasil -,
aborda a chegada da revista Rolling Stone no Brasil e suas características, bem como o
9
jornalismo político e o jornalismo cultural, que são utilizados dentro do veículo. Por
fim, o terceiro capítulo – Análise de dados -, aponta os temas mais recorrentes na revista
e de que forma eles são tratados. Dessa forma, analisamos a editoria durante o ano de
2012, a partir dos assuntos abordados com mais recorrência durante esse período, além
de identificar o tipo de discurso, a linha editorial da revista, e os elementos utilizados na
construção dos textos; identificar as palavras e os temas mais recorrentes; e analisar de
que maneira essas palavras e temas foram abordados dentro do veículo.
10
1 A REVISTA NO BRASIL
As revistas apareceram ao Brasil no início do século XIX, com a chegada da
família real portuguesa, graças à autorização para a instalação da imprensa régia, em
1808, por D. João VI. As Variedades ou Ensaios de Literatura (1812) foi a primeira
revista não oficial de que se tem conhecimento e surgiu em Salvador, lançada pelo
jornal Idade d’Ouro no Brasil. A linha editorial era bastante conservadora e ia de
acordo com o absolutismo português, além de conter “discursos sobre costumes e
virtudes sociais, algumas novelas de escolhido gosto e moral, extratos de história antiga
e moderna, nacional ou estrangeira.” (SCALZO, 2003, p.27). Nos anos seguintes,
surgiram publicações de O Patriota (1813), com o objetivo de divulgar temas nacionais
e literatura, Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura (1822), que tinha um
público amplo de advogados, engenheiros, médicos e outros profissionais liberais
(ABREU; BAPTISTA, 2010).
As chamadas “galantes”, revistas direcionadas ao público masculino, trazendo
assuntos como política, sociedade, piadas, caricaturas, desenhos, contos e fotos eróticas
(ABREU; BAPTISTA, 2010), também foram destaque no final do século XIX. A
primeira publicação do gênero foi O Rio Nu (1898), mas foi em 1922, com o
lançamento de A Maçã, que essa categoria alcançou um maior sucesso entre os leitores.
Com o desenvolvimento da elite intelectual brasileira, várias revistas surgiram
com objetivos diversos – atingir público feminino, elites intelectuais, médicos,
profissionais liberais etc. -, mas todas elas tiveram um tempo de circulação muito curto,
devido à falta de recursos e de assinantes. Para se adequar melhor ao público e dominar
o mercado de revistas no Brasil, surgiu, em 1837, a Museu Universal, que mudou a
lógica de se fazer revista, trazendo uma linguagem mais próxima do público, oferecendo
cultura e entretenimento (ABREU; BAPTISTA, 2010). A partir de então, várias outras
revistas – a exemplo de Museu Pitoresco (1840-1843) e O Brasil Ilustrado (1855-1856)
– apareceram, seguindo a mesma linha. Na mesma época, a fotografia e as ilustrações
começaram a ganhar espaço, e as revistas ilustradas começaram a se multiplicar, a
exemplo de Ilustração Brasileira (1854), Semana Illustrada (1860), Revista da Semana
(1900), Kosmos (1904), Fon-Fon! (1907), Careta (1908) e Paratodos (1918) (MOURA,
2011).
11
Figura 1: Revista Fon Fon! (1941).
Fonte: www.carnaxe.com.br/axelook/revistas/revista_fonfon_1941_carmemmiranda.jg
As publicações ilustradas eram bastante atraentes para os consumidores, o que
impulsionou o surgimento de vários veículos que foram verdadeiros sucessos de
vendagem. Nesse contexto, surgiu uma das mais importantes revistas do Brasil, que foi
publicada em 1928: O Cruzeiro. Lançada pelo jornalista Assis Chateaubriand, O
Cruzeiro alcançou inéditos 700 mil exemplares por semana, na década de 1950, com
sua alta qualidade de impressão, ilustrações e grandes reportagens fotográficas. “Cada
lugar desconhecido e atraente, inviolável e sedutor do território, é revelado aos leitores
pelos repórteres de O Cruzeiro.” (BAHIA, 1990, p. 190).
Atualmente, existem 38 gêneros na classificação das principais revistas em
circulação: Administração/Economia/Negócios, Atualidades, TV/Celebridades,
Arquitetura/Construção, Informática, Moda, Beleza, Adolescente, Decoração, Feminina,
Finanças, Kids, Turismo, Masculina, Educação, Automobilismo/Motociclismo, Saúde,
Futebol, Culinária, Running, Informática, Ecologia, Agronegócios,
Astrologia/Horóscopo, Comportamento, Fotografia, Bebês, Música, Jardinagem e
12
Paisagismo, Games, Animais, Comunicação/Publicidade/Marketing, Outdoors Sports,
Artesanato, Fitness, Serviços, Buscadores e Agregadores, Outros.1 Dessa forma, tem-se
um mercado bastante segmentado, em que o papel da revista em ditar modas e
influenciar no comportamento da população é marcante, possibilitando a compreensão
de determinados contextos históricos, políticos e sociais específicos de cada época, que
também “podem nos levar a compreender o presente e a prevenir situações de riscos
futuras, a partir de correções de erros do passado.” (MOURA, 2011).
1.1 JORNALISMO DE REVISTA
O jornalismo de revistas foi marcado pelo surgimento de O Cruzeiro, que
circulou até 1975, com as matérias dos repórteres Jean Manzon e David Nasser, que
percorriam o país, em busca de histórias e fotografias extraordinárias, nos anos de 1940.
A revista Diretrizes (1938), criada por Samuel Wainer, também trazia textos
jornalísticos investigativos e críticos, circulando até 1944, devido às censuras do
governo do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas (NASCIMENTO, 2002). Já em
1952, a Manchete surgiu com uma linha editorial mais voltada para reportagens
fotográficas, ganhando grande popularidade entre os leitores. As revistas Realidade
(1966), Veja (1968), IstoÉ (1976) e Época (1998) também se destacaram por suas
abordagens jornalísticas investigativas e por dominarem o mercado de revistas de
informação.
Com a evolução da indústria e a ascensão da televisão no Brasil, o mercado
editorial cresceu e se diversificou, adaptando-se aos seus públicos-alvo, cada vez mais
segmentado. Um exemplo disso foi o surgimento de revistas como Quatro Rodas
(1960), originada no contexto político e econômico do governo JK e direcionada para os
amantes de carros e motociclismo, e Placar (1970), que abordava esportes em geral e
futebol, publicada pela primeira vez no ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo de
1970. Villas Boas (1996) descreve a revista como sendo um veículo que pode produzir
textos mais criativos, com recursos estilísticos diferentes dos jornais diários, tendo
como ponto forte a reportagem interpretativa, além de romper com a padronização
1 Instituto Verificador de Circulação. Disponível em: <http://www.ivcbrasil.org.br>. Acesso em: 5 nov.
2013.
13
comum do jornalismo impresso. A periodicidade é uma vantagem para esse tipo de
publicação, uma vez que os repórteres têm mais tempo para investigar e analisar dados e
entrevistas, realizando pesquisas de campo e aprofundando suas reportagens.
O estilo magazine, por sua vez, também guarda suas especificidades,
na medida em que pratica um jornalismo de maior profundidade. Mais
interpretativo e documental do que o jornal, o rádio e a TV; e não tão
avançado e histórico quanto o livro-reportagem. (VILLAS BOAS,
1996, p. 9).
As revistas reúnem linguagem, reportagem e arte, chegando perto, muitas vezes,
do estilo literário, pela espontaneidade de sua linguagem. O gênero jornalístico mais
utilizado nesse veículo é o jornalismo interpretativo, reproduzido através da reportagem,
que “pressupõe alguma interpretação, quanto mais não seja a que sustenta a linha
editorial, e permite certa margem de opinião, em temas duvidosos.” (LAGE, 2005, p.
140). A reportagem de revista exige mais criatividade do repórter, já que se contrapõe
ao imediatismo dos jornais diários, abrindo caminho para um texto mais fluido e com
informações aprofundadas. Villas Boas (1996) diferencia, em uma reportagem
jornalística em revista, os conceitos de ponto de vista e a angulação. Segundo o autor, o
ponto de vista possibilita interpretações, enquanto a angulação é a “escolha de uma – ou
mais – nuances do fato.” (VILLAS BOAS, 1996, p. 2).
A segmentação também é uma das grandes característica das revistas, que
surgiram com o objetivo de atingir um público específico, com gostos, anseios e
idiossincrasias próprias. De tal forma, o jornalismo exercido dentro desse veículo exige
uma forma de abordagem que gere identificação e aproximação com os leitores, de
maneira que a matéria seja polêmica, atual e relevante, e que se utilize de diversos
recursos estilísticos – metáforas, antíteses, comparações – e visuais – infográficos,
fotografias, ilustrações etc. O ritmo, a coloquialidade e a conotação de determinadas
palavras do texto dão aos textos jornalísticos de revista um estilo diferenciado, que
podem prender a atenção dos leitores, passando-lhes informação e entretenimento.
[sem os recursos estilísticos] significa que seu texto estará frio,
desfalecido, não haverá pulsação para sustentar a gula do leitor de
revista. Um leitor fiel e exigente, sempre na expectativa de uma boa
14
história. (...) A reportagem é a própria alma da revista e o seu texto
deve ser uma grande história, um grande documentário. Construa-o
com a mesma fome do leitor que o lerá. (VILLAS BOAS, 1996, p.
15).
Figura 2: Capa da revista Placar.
Fonte: http://img1.mlstatic.com/coleco-revista-placar-digital-edicoes-0-1340-1970-
2010_MLB-O-4521169692_062013.jpg
A segmentação e a capacidade de explorar os fatos com mais profundidade
permitiu que a revista cedesse um lugar ao jornalismo político. As reportagens políticas
têm espaço garantindo em páginas de destaque nas revistas de informação, trazendo
entrevistas, personagens e contrapontos. Barreto (2008, p. 12-13) enumera o processo
de elaboração de uma matéria política da seguinte maneira: 1) Apuração; 2) Declaração;
3) Constatação e 4) Publicação, sendo o último “o fato transporto ao texto e o texto por
sua vez transposto à condição de fato.” Por serem extensas e com conteúdo, muitas
vezes, de difícil compreensão, o repórter deve revelar sua capacidade de dar mais leveza
ao texto, usando recursos gráficos e estilísticos necessários ao conforto do leitor. “O
15
toque de leveza transforma frases explícitas em sutilezas que surpreendem e impelem o
leitor a continuar.” (VILLAS BOAS, 1996, p. 29).
(...) na revista semanal de informação, o teatro é menor, a plateia é
selecionada, você tem uma ideia melhor do grupo, ainda que não
consiga identificar um por um. É na revista segmentada, geralmente
mensal, que de fato se conhece cada leitor, sabe-se exatamente com
quem se está falando (SCALZO, p.20, 2003).
Assim, fica claro que o jornalismo de revista é mais interpretativo e analítico,
permitindo uma maior aproximação e fidelidade dos leitores, devido ao seu caráter
segmentado e direcionado a um grupo específico, trabalhando assuntos de maneira mais
aprofundada e, ao mesmo tempo, leve e criativa, utilizando recursos linguísticos e
visuais de maneira a entreter e informar.
16
2 A ROLLING STONE NO BRASIL
A revista Rolling Stone foi fundada em 1967, nos Estados Unidos, por Jann S.
Wenner e pelo crítico musical Ralpho J. Gleason, sendo uma das pioneiras em divulgar
notícias e novidades do mundo do pop e do rock’n’roll, além de se dedicar ao
comportamento jovem. A capa da primeira edição era muito semelhante à de um jornal,
trazendo um retrato de John Lennon, feito durante a filmagem do filme Como Ganhei a
Guerra, também de 1967 (CAVALCANTI, 2012). Em 46 anos de existência, a Rolling
Stone acompanhou os mais diversos acontecimentos da história mundial, liderando o
mercado de revistas de música e cultura pop, atualmente contanto com filiais em mais
de 15 países.
No contexto da contracultura das décadas de 1960 e 1970 surgem, no Brasil, as
primeiras revistas dedicadas ao rock, sendo Bondinho e Flor do Mal (1970) as
primeiras. Logo em seguida, vieram Verbo Encantado (1971), Presença (1972) e
Geração Pop (1972). A Rolling Stone apareceu no Brasil, pela primeira vez, em 1972,
como uma versão não oficial da conceituada revista, com matriz nos Estados Unidos.
As publicações faziam parte da chamada “imprensa de contracultura”, e traziam em
suas páginas os ídolos da música daquela época. Com apenas 36 edições publicadas em
14 meses, devido à falta de pagamento dos direitos autorais à edição americana, a
primeira versão da Rolling Stone brasileira encerrou sua publicação (XARÃO, 2009).
A revista Rolling Stone, com o mesmo título da similar americana, e
editada por Luis Carlos Maciel, foi uma revista de música, cujo
interesse era, principalmente, divulgar informações acerca dos grandes
astros da música pop internacional, os nomes famosos da música
nacional, além de textos sobre literatura, cinema ou filosofia. Era
também uma publicação voltada para a rebelião juvenil, mas sem as
características de misticismo, magia, cabala e apocalipse. (BUENO,
1978, p. 58).
A partir de 1998, a publicação circula em versões latinas na Argentina, Chile e
no México, além de uma edição que atendia ao mesmo tempo Colômbia, Venezuela e
Equador. A sua primeira edição publicada oficialmente no Brasil, pela editora Spring
17
Publicações Ltda., foi em 20 de outubro de 2006, com tiragem de mais de cem mil
exemplares, estampando a capa com a uma das maiores modelos brasileiras, Gisele
Bündchen. Atualmente, a Rolling Stone divide espaço com a Billboard Brasil (2009) no
campo de revistas de natureza musical, mas é a única do gênero que contém editorias de
política, moda, comportamento, além da seção Conexão Brasilis, que trata da realidade
social brasileira. Assim como as revistas Manchete (1952) e O Cruzeiro, a Rolling Stone
surgiu em uma época de efervescência cultural e intelectual, com a proposta de unir os
segmentos de cultura pop e realidade socioeconômica em um único exemplar.
De acordo com Soares (2013), o termo “pop” é frequentemente utilizado para
classificar fenômenos e processos midiáticos, de forma que a cultura pop
(...) estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo
senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de
afinidades que situam indivíduos dentro de um sentido transnacional e
globalizante. (SOARES, 2013, p. 2).
Dessa forma, a revista, como um produto de consumo, torna-se uma mercadoria
da indústria cultural, resultante da padronização e da produção em série (ADORNO;
HORKHEIMER, 1986), e é no contexto de juventude e cultura que se inserem na
Rolling Stone extensas reportagens de conteúdo político, com ilustrações coloridas e
com fortes críticas aos personagens e situações ilustradas.
A cultura do consumo e as culturas midiáticas participam dos
processos de sociabilização, na promoção de novas sensibilidades e
também compõem táticas astutas de tessitura de lugares,
espacialidades e temporalidades alternativas de expressão, inserção e
engajamento. (ROCHA; TANGERINO, 2010, p. 6).
A Rolling Stone se firmou no Brasil como um dos principais veículos impressos
do gênero Música, e aborda comportamento, entretenimento, moda, consumo,
tecnologia e crítica sociopolítica. Os conteúdos mantêm a mesma divisão desde sua
primeira publicação no Brasil (2006), 50% é produzido nas redações brasileiras, 50% é
traduzido da edição americana, como acontece com as edições da Inglaterra, França,
Austrália, China, Itália e outros países (XARÃO, 2009).
18
Figura 3: Capa da primeira edição oficial da Rolling Stone no Brasil (2006).
Fonte:
http://rollingstone.uol.com.br/media/images/medium/2011/09/01/img_1000007_1.jpg
As primeiras capas das publicações brasileiras traziam celebridades da música,
das passarelas e televisão brasileira e estrangeira, sendo que as dez primeiras trouxeram
na capa: 1) Gisele Bündchen; 2) Iggy Pop; 3) Ivete Sangalo; 4) Rodrigo Santoro; 5)
Chris Martin; 6) Kiefer Sutherland; 7) Marisa Monte; 8) o personagem do filme Star
Wars, Darth Vader; 9) Johnny Depp e Keith Richards; 10) o personagem do seriado
televisivo Os Simpsons, Homer Simpson.
No ano de sua inauguração no Brasil, a Rolling Stone atingiu uma média de
56.134 revistas em circulação, apenas na primeira edição. Do ano de 2006 ao ano de
2012, a segunda maior média de circulação foi de 59.014, e aconteceu no mês de
novembro de 2010, na edição 50, em que trazia como matéria de capa o ex-integrante da
banda The Beatles, Paul McCartney, e uma matéria de política falando sobre a então
recém-eleita presidente, Dilma Rousseff. Em 2012, a revista chegou a uma média de
47.304 publicações em circulação anual1, chegando a um aumento de 4%, em relação ao
ano de 2011, na edição 66 no mês de março, em que trazia na capa um dos maiores
1 Instituto Verificador de Circulação. Disponível em: <http://www.ivcbrasil.org.br>. Acesso em: 20 jun.
2013.
19
ídolos do rock internacional contemporâneo, Dave Grohl, com uma tiragem de 51.568
exemplares. Ao final de 2012, a Rolling Stone brasileira atingiu a marca de 2.967.709
edições em circulação por meio de assinaturas, venda avulsa ou distribuição
direcionada.
2.1 JORNALISMO NA ROLLING STONE NO BRASIL
Desde a sua primeira edição no Brasil, a Rolling Stone aborda temas da
atualidade, principalmente entre a população jovem, seja de teor político ou cultural. O
jornalismo cultural é o ponto forte da revista, uma vez que as edições abusam de
crônicas, perfis, notas e principalmente de reportagens, com discursos midiáticos
orientados pelas características do jornalismo. Dessa maneira, o jornalismo cultural se
torna em uma vitrine publicitária da indústria cultural, segundo Piza (2004), a
diversificação dos assuntos abordados nas editorias de cultura deixou o jornalismo
numa posição de servo de marketing e da indústria do entretenimento.
(...) O jornalismo cultural é, antes de mais nada, jornalismo. Com isso
prescinde de um vínculo com a atualidade. Um relançamento, evento
ou data comemorativa, neste sentido, pode ser usado como um gancho
para a elaboração de uma reportagem especial. (LOPEZ; FREIRE,
2007).
Além do jornalismo cultural, a revista Rolling Stone também tem duas editorias
que tratam de assuntos voltados à política e à realidade socioeconômica brasileira,
“Política Nacional” e “Conexão Brasilis”, que surgem com a proposta de discutir temas
que estão em alta, como o desmatamento da floresta amazônica, projetos de leis, e
outros temas de interesse do público. As matérias políticas da Rolling Stone têm um teor
crítico, mas tendem a manter um dos principais princípios jornalísticos – a objetividade
-, na medida em que contrapõem conceitos e opiniões de vários personagens - a
exemplo da matéria “Lição de casa para o futuro”, que contou com dez entrevistados -
20
envolvidos direta ou indiretamente no fato.2 A objetividade é uma característica comum
a todos os textos jornalísticos, embora nas revistas ela admita um certa abertura para a
subjetividade. Villas Boas (1996) afirma que o texto de revista deve ter um tom
adequado ao tema, que mostre ao leitor exatamente qual a angulação da matéria, ou
seja, “toda reportagem de revista tem no texto, implícito ou não, uma espécie de ponto
de vista, que não deve ser confundido com qualquer tipo de opinião.” (VILLAS BOAS,
1996, p. 21, grifo do autor).
No ano de 2012, a Rolling Stone trouxe as editorias de “Capa”, “R&R”,
“Arquivo RS”, “Política Nacional” 3 , “Especial” 4 , “Guia”, “Conexão Brasilis” 5 e
“Entrevista RS”6. A editoria “Capa” é a matéria central da revista, que trata do assunto
ou da pessoa que estampa a capa da edição. A editoria “R&R” tem um espaço de, em
média, dez páginas e traz entrevistas, perfis, notícias, notas, curiosidades e reportagens
sobre assuntos que circulam na mídia, sobre música, cinema e televisão, nacionais e
internacionais. A seção é escrita por diversos repórteres, que se revezam em assuntos
diversos do mundo da cultura pop, traduzidos por uma pluralidade de estilos e
preferências. “Arquivo RS” é um espaço dedicado à reprodução de matérias de edições
anteriores da versão americana da revista Rolling Stone. “Política Nacional” traz
reportagens sobre a realidade da política brasileira, abordando temas em vigência, de
acordo com o que está sendo transmitido pela mídia, com entrevistas, ilustrações e
críticas ao tema levantado. A editoria “Especial” abrange diversos assuntos, como
cinema, música, comportamento, esporte, automóveis, perfil, entre outros, de uma
maneira mais informativa e direcionada a um público específico para cada assunto
abordado. “Guia” é uma seção especial para divulgar o lançamento ou a crítica de
filmes, CDs, peças teatrais, livros e outros tipos de produtos culturais que sejam
novidade no mercado. “Conexão Brasilis” traz grandes reportagens sobre diversos
2 Na edição 65 (fevereiro de 2012), a matéria “Lição de casa para o futuro”, do jornalista Cristiano Bastos, tratou do
novo Plano Nacional de Educação (PNE), a partir das falas de Fernando Haddad, ex-ministro da educação;
Idevaldo Bodião, colaborador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação; deputado Angelo Vanhoni
(PT-PR); Luiz Araújo, mestre em políticas públicas em educação pela Universidade de Brasília (UnB);
senador Humberto Costa (PT-PE); deputada Fátima Bezerra (PT/RN); Mozart Neves Ramos, conselheiro
da ONG Todos pela Educação; Daniel Iliescu, presidente da UNE; Paolo Fantini, coordenador de
Educação da Unesco e da professora Amanda Gurgel. 3 Não está presente na edição 67, do mês de maio de 2012. 4 Não está presente nas edições 65, 68 e 73, dos meses de fevereiro, maio e outubro de 2012,
respectivamente. 5 Não está presente nas edições 64, 67, 68, 71, 72, 73 e 75, dos meses de janeiro, abril, maio, agosto,
setembro, outubro e dezembro de 2012, respectivamente. 6 Presente apenas na edição 71, de agosto de 2012.
21
temas, como o meio ambiente, cultura e sociedade, que, assim como a editoria “Política
Nacional”, concernem à realidade do Brasil. Por fim, “Entrevista RS” é um espaço
dedicado a entrevistas com celebridades da mídia.
2.2 JORNALISMO CULTURAL
Considera-se o jornalismo cultural um gênero farto de riqueza de temas e
implicações, que mistura assuntos e atravessa linguagens que extrapolam a cobertura
noticiosa (PIZA, 2004). O jornalismo cultural surgiu diante da necessidade de atender
às especificidades de um público segmentado, a partir da cobertura e crítica de eventos e
produtos culturais de interesse público. Os primeiros veículos impressos que indicam a
cobertura das obras culturais surgiram em 1665 e 1684 e são representados pelos jornais
ingleses The Transactions of the Royal Society of London e News of Republic of Letters
(MELO, 2010). No entanto, o marco do jornalismo cultural ocorreu em 1711, com o
lançamento da revista diária The Spectator, fundada por Richard Steele e Joseph
Addison, também na Inglaterra. O periódico tratava, entre outros temas, de política,
música, teatro, livros e festivais, com uma linguagem culta, mas acessível.
A Spectator se dirigia ao homem da cidade, moderno, isto é,
preocupado com modas, de olho nas novidades para o corpo e a
mente, exaltado diante das mudanças de comportamento e na política.
Sua ideia era a de que o conhecimento era divertido, não mais a
atividade sisuda e estática, quase sacerdotal, que os doutos pregavam
(PIZA, 2004, p. 12).
No Brasil, o jornalismo cultural se consolidou no século XIX, representado por
Machado de Assis (1839-1908) e José Veríssimo (1857-1916). Nessa época, os veículos
impressos dão espaço a críticos, que analisam e refletem a cena literária cultural, e
“surge na efervescência modernista do início do século XX, na profusão de revistas e
jornais, é mais incisivo e informativo, menos moralista e mediativo.” (XARÃO, 2009,
p. 21). Seguindo essa tendência, as revistas desempenharam um papel fundamental no
jornalismo cultural, especializando-se em ensaios, resenha, críticas, reportagens, perfis,
entrevistas e publicações de contos e poemas (GUERRA, 2005). Os autores eram
22
críticos e grandes pensadores, que uniam clareza e perspicácia em suas argumentações.
A partir dos anos 1950, o caderno de cultura passa a ser obrigatório nas edições diárias
dos jornais impressos, inaugurado pelo Jornal do Brasil, em 1956.
Reunindo os mais significativos representantes da cultura nacional em
suas páginas como Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Bárbara
Heliodora e Décio Pignatari entre outros, o caderno torna-se uma
referência para a crítica cultural de sua época e até hoje é lembrado
como ponto alto da prática do bom Jornalismo Cultural. (MELO,
2010, p. 2).
A partir da segunda metade do século XX, o jornalismo cultural passou por
mudanças e crises de identidade, marcadas pela intensificação dos meios de
comunicação de massa e da indústria cultural. O jornalismo cultural passou então a ser
direcionado não apenas a um grupo elitizado e culto da sociedade, mas começou a tratar
de temas mais corriqueiros, como gastronomia e moda. Os jornalistas culturais,
portanto, acabam por noticiar tudo que é produzido, publicando agendas de eventos,
notas de divulgação, e “o resultado dessa opção é o enfoque dos cadernos de cultura
voltado, exageradamente, para os produtos culturais, menosprezando os processos
culturais.” (XARÃO, 2009, p. 23). Piza (2004) defende que o jornalismo faz parte da
história de ampliação do acesso a produtos culturais e precisa observar esse mercado
sem preconceitos ideológicos e parcialidades políticas. Ainda segundo o autor, a
imprensa cultural deve ter senso crítico para avaliar as obras culturais e as tendências
valorizadas pelos interesses do mercado, mas isso não tem acontecido com eficácia.
O jornalismo cultural pode sofrer crises de identidade frequentes, e é
bom que sofra – até porque, como na arte, a condição moderna é
‘crítica’, isto é, envolve sinais de crise, é instável, cíclica, plural -, mas
as dicotomias fáceis só lhe têm feito mal. Recuperar um pouco ao
menos de sua capacidade seletiva, de seu poder de influência, implica
antes de mais nada escapar as oposições (...), todas estritamente
ligadas entre si. (PIZA, 2004, p. 45)
A segmentação do mercado cultural tem-se dividido em gêneros e interferem
negativamente na elaboração dos cadernos culturais. Piza (2004) acredita que a
23
tribalização ou guetização distorce e empobrece a diversidade cultural, conceitos
caracterizados por tornar “o público cada vez mais divergente e com ideais culturais
próprios e diferenciados, sem interesse circunstancial por outros assuntos que não sejam
os de sua preferência.” (MAGALHÃES, 2010).
(...) o jornalismo cultural tem de estar bem informado sobre os mais
diversos assuntos. E, por isso mesmo, abrir-se para outros assuntos
não significa abandonar sua razão de ser, que é a avaliação dos
produtos e eventos culturais, de suas personalidades e tendências, nas
formas da crítica, da entrevista, da reportagem e da coluna, em suas
mais diversas camadas de tratamento, em seus mais diversos suportes
(...). Quando começar a olhar para si mesmo com mais complexidade
– com maior grandeza -, o jornalismo cultural brasileiro vai dar um
salto. (PIZA, 2004, p. 118-119).
Não obstante, face aos desafios enfrentados aos longos das últimas décadas, o
jornalismo cultural ainda mantém seu nível de qualidade, não se rendendo à
superficialidade do mercado industrial, a exemplo do “Caderno 2” do Estado de S.
Paulo e “Mais!” da Folha de São Paulo. Piza (2004) afirma que fazer jornalismo
cultural é uma das possibilidades mais fascinantes da profissão de jornalista, e requer
uma igual dedicação a qualquer outra editoria. Dessa forma, o jornalismo na área de
cultura tem o papel de orientar e incomodar, além de trazer novos ângulos para a
mentalidade do leitor cidadão (XARÃO, 2009).
2.3 JORNALISMO POLÍTICO
A história do jornalismo brasileiro está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento
político e social ocorrido ao longo do tempo. Os jornais são fontes de reconstrução do
passado e agentes ativos na concepção da história do país (MARTINS; LUCA, 2008), o
que permite concluir que os meios de comunicação podem ser considerados extensões
das instituições políticas, devido ao seu poder de influência e formação de opiniões. O
primeiro jornal brasileiro foi publicado em 1808, ano da chegada da família real
portuguesa no Brasil, idealizado por Hipólito da Costa, e tinha um caráter político e
24
oposicionista. Martins e Luca (2008) identificam nas principais publicações brasileiras
um viés político, posto que a imprensa era vista como um meio de divulgar ideias e
aspirações. A partir de 1910, o contexto da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) ampliou o
debate sobre nacionalidade e revistas que abordavam temas como literatura e cultura
abriram espaço para ideias e para o debate político (PINHEIRO, 2011).
Barreto (2008) afirma que todo processo noticioso acontece em meio a
implicações sócio-político-profissional-econômicas diversas e complexas. Segundo o
autor, as relações de política e jornalismo ocorrem quando jornalistas e governos e/ou
representantes de partidos se encontram, através de interesses das partes e preocupações
mercadológicas.
A convergência entre jornalista e político ocorre em função de que
tanto um lado quanto o outro acredita que a publicização de um
acontecimento é a melhor maneira para que se demonstre que cada um
cumpriu com o seu papel: o político em sua função de personagem da
notícia, o jornalista como agente que relata o que se passou no cenário
do poder. (BARRETO, 2008, p. 13).
O jornalismo político, de uma maneira geral, é visto como um estilo elitizado e
voltado para públicos específicos. Na segunda metade do século XX, o jornalismo
político era engajado e de linguagem robusta e bastante adjetivada, de caráter
majoritariamente partidário, já se podendo verificar uma mudança desse jornalismo na
atualidade, que procura separar informação de opinião.
De 1950 para os dias de hoje, os veículos de comunicação passaram
por intenso período de modernização, profissionalização e
concentração, que faz crescer os custos de apuração, produção e
disseminação da informação. Também aumentaram o número de
profissionais nos veículos (em redação comercial, ou industrial) e
exigiu-se maior investimento em equipamentos, máquinas e
tecnologias, que se tornam mais pesadas. Nem todos os jornais
conseguiram sobreviver a essa transformação. Só conseguiram escapar
os que ainda vendiam muitos exemplares por dia. (PINHEIRO, 2011,
p. 23).
25
Essa modernização gerou grande impacto no jornalismo político, pois o perfil do
leitor mudou ao longo do tempo. O público está mais amplo e exigente em relação à
contextualização e os desdobramentos de fatos políticos publicados pelo repórter.
Opinião e interpretação também são fatores importantes a serem abordados em matérias
políticas, tendo o repórter que ter cuidado no tratamento da reportagem, analisando os
fatos de maneira crítica, porém objetiva. O jornalismo político, portanto, exerce uma
grande influência entre os leitores, que legitimam o fato e o consideram verdadeiro e
relevante, ao passo que este é divulgado na mídia – seja impressa, radiofônica ou
televisiva, pois “os meios de comunicação, além de serem espaço de representação
social, podem ser manuseados como instrumentos de poder político, seja para legitimar
ou derrubar figura pública.” (BEZERRIL, 2011, p. 10). A cobertura de assuntos
políticos em publicações diárias são relativas a matérias factuais, editorialmente
descontextualizadas, desconsiderando a profundidade dos fatos, de forma que o
noticiário
fica preso aos fatos políticos acontecidos, ao dito, ao declarado,
quando poderia buscar, pela ação investigativa, um aprofundamento
crítico e desvelador (sic) de quadro, uma vez que, em política, é larga
a teia de interacontecimentos. (BARRETO, 2008, p. 15).
Diante dessa problemática, os veículos de mídia impressa e televisiva de grande
circulação estão se adaptando, cada vez mais, à internet, de maneira a contextualizar os
fatos políticos, através de ferramentas de multimídia e hipertexto, além de garantir uma
maior interatividade dos leitores, que comentam e/ou compartilham as matérias. A
produção de jornalismo na internet também acaba por fidelizar os leitores, por meio das
redes de relacionamento sociais, direcionando-se a um público específico, com colunas
e matérias especiais de opinião.
No cenário político, a imprensa é um canal de suma importância para a
sociedade, pois mantém uma ligação direta com poderes representativos, registrando e
traduzindo acontecimentos e mudanças (BEZERRIL, 2011), sendo imprescindível o
compromisso do jornalismo com a verdade e objetividade. Esses critérios são violados
cotidianamente na mídia, mas, segundo Barreto (2008, p.20), o ator político pode ser
flagrado em sua encenação, pois o jornalismo pode desmascarar a realidade e a
irrealidade.
26
3 ANÁLISE DE DADOS
Esta pesquisa se fundamenta basicamente em pesquisa bibliográfica e análise de
conteúdo, e foi desenvolvida a partir da identificação de material bibliográfico
relevante, leitura, fichamento e análise do conteúdo do material levantado, para
elaboração das conclusões de pesquisa, e tem como objeto uma revista de música,
segmentada, direcionada para um público jovem. A análise feita é sobre a editoria
“Política Nacional”, que traz grandes reportagens sobre o cenário político brasileiro, no
ano de 2012. A análise categorial é a técnica utilizada nesta pesquisa, pois consiste em
“uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por
diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios
definidos.” (FRANCO, 2008, p. 59).
A análise de conteúdo pode ser classificada como um conjunto de técnicas, que
consistem em organizar o material que será analisado e definir o objeto de estudo,
aplicar o que foi definido e realizar uma análise quantitativa (GOMES, 2001), o que
possibilita um estudo do contexto em que se inserem as unidades de registro, não apenas
seu sentido restritamente semântico. A semântica aqui entendida segundo Franco
(2005), como uma busca do sentido que um indivíduo atribui a mensagens verbais ou
simbólicas, descritiva, analítica e interpretativamente.
O significado de um objeto pode ser absorvido, compreendido e
generalizado a partir de suas características definidoras e pelo seu
corpus e significação. Já o sentido implica a atribuição de um
significado pessoal e objetivado, que se concretiza na prática social e
que se manifesta a partir das representações sociais, cognitivas,
valorativas e emocionais, necessariamente contextualizadas.
(FRANCO, 2005, p. 15).
Neste trabalho, a análise de conteúdo foi feita através de categorias, que são
estabelecidas para designar classificações. Foram definidas unidades de registro, ou
seja, “elementos obtidos através da decomposição do conjunto da mensagem”
(GOMES, 2001, p. 75), que serão as palavras mais recorrentes nas reportagens da
editoria “Política Nacional” da Rolling Stone. A partir da definição dessas unidades,
27
serão formuladas conceitos e sentidos que têm como propósito responder à problemática
desta pesquisa.
As categorias são empregadas para se estabelecer classificações.
Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias
ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso.
(GOMES, 2001, p. 70).
Dessa forma, a pesquisa apresentará três finalidades para a análise, a partir de
GOMES (2001): estabelecer uma compreensão dos dados coletados, responder às
questões formuladas, e articular o contexto do assunto pesquisado ao contexto cultural
da qual faz parte.
A coleta de dados foi feita em onze edições1, do anos de 2012, através do editor
de texto Word, com a ferramenta de pesquisa de palavras, em que foi constatado a
predominância das palavras “Brasil”, “Mulher/Mulheres” e “Política” nos títulos,
subtítulos e textos das matérias. A palavra “Brasil” apareceu 117 vezes nas onze
edições; “Mulher/Mulheres”, 92; e “Política”, 82 vezes. A palavra “Brasil” apareceu
com maior frequência na edição 70, no mês de julho, onde foi escrita 30 vezes na
matéria “No olho do furacão”, que tratava da Copa do Mundo de 2014. “Mulher” foi
mais frequente na edição 66, em março, onde apareceu 86 vezes na matéria “Elas
querem mais poder”, que falou sobre a representação das mulheres na política nacional.
“Política” apareceu 19 vezes na edição 66, no mês de março, também na matéria “Elas
querem mais poder”.
3.1 BRASIL
A palavra “Brasil” surgiu antes do descobrimento do país, sendo sua etimologia
ainda bastante duvidosa. Os significados da palavra geralmente remontam a um corante,
a uma árvore ou a uma ilha. A origem mais antiga do vocábulo é encontrada na língua
dos antigos fenícios e hebreus, que deram o nome a um corante de cor avermelhada
extraído de um mineral, o cinábrio, pelos celtas, utilizado para pinturas corporais
(GLASMAN, 2011).
1 A editoria “Política Nacional” não consta na edição 67 (abril de 2012).
28
A ilha Brasil é uma ilha mitológica da Irlanda, que apareceu em mapas do Oceano
Atlântico entre 1325 e 1865. O nome deriva de Hy-Breasail (“ilha de Breasal” em
irlandês), sendo Bresal ou Breasal druida e mago.
Etimologicamente, Breasal vem do celta brestelo ou brusio, luta,
batalha (Proto-Indoeuropeu bhreiH, “quebrar) + ual-os, “chefe”, de
onde se derivaria Brisso-ualos, Bressual (arcairo) e Breasal, “chefe
dos guerreiros”. (GLASMAN 2011, p. 942).
Outra origem da palavra “Brasil” deriva do pau-brasil, madeira utilizada na
tinturaria de tecidos, também de cor avermelhada. De acordo com estudiosos, a
existência de uma mesma palavra de origem celta para designar uma tinta avermelhada
é coincidência.
A palavra brasil estava associada ao corante vermelho muito antes da
descoberta e antes mesmo que a ilha Brasil aparecesse no mapa; é
documentada desde 1805; em 1194, em italiano e desde 1377 em
português. (GLASMAN, 2011, p. 944)
O território brasileiro foi “descoberto” em 22 de abril de 1500, pela frota do
português Pedro Álvares Cabral. O contato dos europeus com os índios foi bastante
violento, chegando a quase dizimar a população nativa, que no ano de 2011
representava apenas 0,4% da população. 2 Escravos vindos da África também
compuseram a história do país em meados do século XVI, quando o tráfico negreiro fez
parte de um lucrativo comércio que envolvia a Europa, a África e a América (BUENO,
2010). Portugal governou o Brasil até o ano de 1822, quando o príncipe D. Pedro
assumiu o trono como rei do país. No ano de 1889, a monarquia portuguesa foi abolida,
quando emergiu a república brasileira, regime que defendia a “descentralização, maior
autonomia provincial e uma nova política de empréstimos bancários.” (BUENO, 2010,
p. 246).
Atualmente o Brasil tem uma extensão territorial de 8.515.767,046 km², e uma
população de 199.242.462 habitantes. É considerado um país emergente, cuja economia
2 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=PD336&t=populacao-residente-cor-raca>.
Acesso em: 21 nov. 2013.
29
passou de um estado de estagnação para um de pleno desenvolvimento econômico, com
um total do PIB de 2.476.651 milhões de dólares.3
3.1.1 BRASIL NA ROLLING STONE
Na editoria “Política Nacional”, os temas abordados em todas as matérias são
relativos ao Brasil, portanto a palavra “Brasil” apareceu 117 vezes nas onze edições da
Rolling Stone, no ano de 2012. Os assuntos levantados nas reportagens foram:
acontecimentos políticos do ano de 2011, Plano Nacional de Educação,
representatividade da mulher na política, Lei da Ficha Limpa, novo Código Florestal,
Copa do Mundo de 2014, infidelidade partidária, movimento dos “caras-pintadas”,
posse de Marta Suplicy como ministra da Cultura, julgamento do mensalão, atuação da
ministra Eliana Calmon e lançamento do Livro Branco de Defesa Nacional.
Na edição 70, do mês de julho, a palavra “Brasil” teve a maior recorrência,
aparecendo 30 vezes ao longo do texto, intitulado “No Olho do Furacão”. A reportagem
foi escrita a partir de uma entrevista de perguntas e respostas com o ministro do
Esporte, Aldo Rebelo, sobre a Copa do Mundo de 2014, em resposta à declaração do
deputado federal Romário, que afirmou que a Copa seria uma farsa, em entrevista
publicada na edição anterior. O ministro é sabatinado pelo jornalista Cristiano Bastos
sobre as condições de o país realizar a Copa do Mundo, questionando-o se o Brasil seria
capaz de concluir as obras realizadas nos estádios de futebol, de acomodar os turistas e
atletas e se teria segurança suficiente para um evento desse porte. O discurso é bastante
objetivo, pois a entrevista é transcrita na forma direta, apresentando apenas a opinião do
entrevistado.
Em “No Olho do Furacão”, o Brasil é tratado como um país em ascensão, que
tem a capacidade de vencer desafios e atingir objetivos, no caso específico, a realização
da Copa do Mundo de 2014. Já na edição 75, do mês de dezembro, na matéria
“Preserva-me ou te Devoro”, em que a palavra “Brasil” aparece 16 vezes, o tema central
é a aprovação do novo Código Florestal, o país é visto a partir de concepções várias
3 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/paisesat/main_frameset.php>. Acesso em: 21 nov. 2013.
30
acerca do assunto. A reportagem traz declarações de doze entrevistados4, que divergem
sobre as consequências do novo Código, embora o caráter opinativo do autor esteja
explícito, ao apresentar posicionamentos que favorecem a preservação natural do país.
Figura 4: ilustração da matéria “Pela Proteção do Brasil”
Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/galeria/pela-protecao-do-brasil/#imagem0
É inegável: em controvertidos tempos de Código Florestal, a mitologia
do Boitatá e do Curupira é metaforicamente perfeita. E retrata, antes
de tudo, o sagrado respeito guardado por nossos ancestrais indígenas
aos recursos naturais. Algo a ser aprendido. Para entender melhor a
contenda em torno do Código Florestal nos anos 2000, é preciso,
antes, retroceder a tempos imemoriais e recapitular como se sucedeu o
processo de ocupação do solo no Brasil. Desde a chegada dos
4 A matéria traz as declarações do ministro da Agricultura Mendes Ribeiro; Izabella Teixeira; da ministra
do Meio Ambiente; do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams; do especialista em Políticas
Públicas da ONG WWF-Brasil, Kenzo Jucá Ferreira; do deputado Sarney Filho (PV-MA); do deputado
federal Nelson Marquezelli (PTB-SP); do deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE); do deputado
Luiz Carlos Heinze (PP/RS); do coordenador do grupo de trabalho da Sociedade Brasileira para o
Pogresso da Ciência (SBPC), José Antonio Aleixo da Silva; do coordenador da Campanha da Amazônia
do Greenpeace, Márcio Astrini; do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT/RS); e do subprocurador-
geral da República Mario José Gisi.
31
colonizadores, a natureza era vista meramente como uma fonte sem
fim de recursos; as florestas não passavam de ‘obstáculos’ que
‘impediam o avanço do desenvolvimento’. (BASTOS, 2012c, p. 57)
De uma maneira geral, existe um questionamento sobre as habilidades e
capacidade administrativas e políticas do Brasil nas reportagens da editoria “Política
Nacional”. Os temas escolhidos são polêmicos e causam contrapontos nas opiniões
veiculadas, que surgem como uma resposta aos questionamentos citados geralmente no
início da matéria. O subtítulo da reportagem “Pela Proteção do Brasil”, escrita por
Bruno Huberman, que trata do Livro Branco da Defesa Nacional, contém duas
indagações: como o país se defenderia em caso de invasão? Quais ameaças
enfrentaríamos? Ao longo do texto são mencionados fatos históricos e dados
importantes para responder às indagações. Esse padrão de pergunta-resposta é utilizado
em todas as matérias da editoria, embora as questões não estejam sempre explícitas,
sendo usados recursos, como o uso constante de conjunções condicionais – se, quando,
caso, desde que etc.
Neste momento histórico, a grande expectativa é saber se a Lei da
Ficha Limpa cumprirá a missão de barrar das eleições de 2012 (e
também das esferas da administração pública) todos os políticos
encrencados. (BASTOS, 2012b, p. 61)
Das matérias da editoria “Política Nacional”, em 2012, infere-se que o Brasil é
um país de economia e política pujantes, embora ainda tenha um futuro duvidoso. As
reportagens têm sempre um caráter crítico ou declarativo, trazendo contraposições e
indagações que, ainda que sejam bastante informativas, não apresentam ao leitor uma
proposta de intervenção concreta ou uma resposta clara e direta às indagações feitas
pelo autor, o que caracteriza a editoria como informativa e, ao mesmo tempo,
interpretativa.
32
3.2 MULHER
Consideramos “mulher” o termo utilizado para fazer a distinção sexual biológica e
nos papéis socioculturais. A mulher na história da humanidade remete a um gênero
frágil e submisso ao patriarcalismo vigente durante séculos. Historicamente, o papel
feminino se resumia a cuidar do lar e da família, sem participação política e militar,
embora a questão do gênero tem sido bastante debatida nos últimos anos, especialmente
a partir dos anos 1960, com o surgimento do movimento feminista.
A imagem da mulher se modificou, ao passo que ela começou a ocupar lugares –
no mercado de trabalho e, posteriormente, no poder público – tipicamente masculinos.
Conclui-se, portanto, que a história da mulher na sociedade é resultado de uma mudança
de perspectiva de valores, elaborados a partir da ótica masculina.
Restrita ao âmbito privado por muito tempo, as mulheres só
recentemente conquistaram o espaço público. Essa conquista não se
fez fácil e em torno dela muitas imagens se construíram, moldando, na
maioria das vezes, com estereótipos as mulheres que adentraram no
mundo, quase que exclusivamente masculino, da política. (RABAY,
2007)
Embora a participação da mulher na sociedade tenha aumentado
significativamente, a representatividade feminina em cargos de chefia e na política no
Brasil ainda é incipiente, visto que menos de 10% das mulheres estão na política.5 Essa
pouca representatividade é destacada pela imagem da mulher brasileira divulgada na
mídia nacional e internacional, que exalta a beleza e os corpos dessas mulheres.
Essa imagem, nascida de forma plural e mosaicada, foi sendo
selecionada ao longo dos anos, ativando consequentemente a
reprodutibilidade. As representações encontradas na mídia
contemporânea são apenas a ponta de um iceberg e, para observá-las é
preciso considerar os mosaicos relacionados. (SOUZA, 2010, p. 22).
5 Senado Federal. Disponível em:
<http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2013/05/21/participacao-da-mulher-na-politica-brasileira-
cresce-de-forma-lenta>. Acesso em: 24 nov. 2013.
33
A mulher brasileira contemporânea é resultado da mudança de paradigmas e
dogmas que imperavam na sociedade durante séculos, que consideravam a mulher um
objeto do homem e serva da família e do lar. Atualmente, vê-se que a mulher pode ser
independente e ocupar cargos considerados masculinos, mas a presença feminina em
funções de poder e na política ainda é ínfima, em parte devido ao fato de que a
credibilidade de mulheres em cargos de chefia é bastante questionada, posto que ainda
são vistas como sexo frágil. Assim, fica claro que as mulheres têm um papel importante
na sociedade, garantindo, cada vez mais, a igualdade dos gêneros, embora ainda há um
longo caminho a ser seguido para que a representatividade feminina atinja resultados
significativos na sociedade atual.
3.2.1 MULHER NA ROLLING STONE
Como explicitado no tópico anterior, a imagem da mulher evoluiu na sociedade,
ao passo que ela conquista cargos de poder e, cada vez mais, espaço na política. A
mulher foi tratada, portanto, no ano de 2012, na editoria “Política Nacional” da revista
Rolling Stone brasileira, como sendo resultado dessa evolução, uma vez que a palavra
“Mulher/Mulheres” esteve sempre ligada a um contexto de luta por um lugar na política.
Na matéria da edição 66, a palavra “Mulher/Mulheres” foi encontrada 86 vezes
na reportagem intitulada “Elas Querem o Poder”, do jornalista Cristiano Bastos. Ela foi
publicada no mês de março de 2012 – considerado o mês da mulher - e abordou o tema
da mulher na política, trazendo a opinião, no discurso direto em primeira pessoa, de seis
mulheres que ocupavam cargos políticos no Brasil: três deputadas, uma senadora, uma
prefeita e uma ministra.6 O discurso das entrevistadas é unânime, ao destacar a recente
presença feminina em espaços habitualmente ocupado por homens, além de frisar no
crescimento constante, porém lento, da quantidade de mulheres na política brasileira.
6 Foram entrevistadas para a matéria a Ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman, as deputadas federais Mara
Gabrilli (PSDB/SP), Luiza Erundina (PSB/SP) e Manuela d’Ávila (PcdoB/RS), a senadora Marta Suplicy
(PT/SP) e a então prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT/CE).
34
Do ponto de vista da representatividade da mulher, ainda estamos
muito atrás. Somos mais da metade da população, mais da metade do
eleitorado e temos sub-representação política. É por isso que
buscamos, na reforma política, cota mínima de participação. Uma
tentativa de acelerar a equidade de gênero. (HOFFMANN, 2012, p.
68)
A concepção da atual chegada da mulher no espaço público, pelas entrevistadas
na matéria, é justificada, já que a participação feminina na política partidária foi
conquistada efetivamente na década de 1930, no Brasil. Atualmente, o país ocupa o
110º lugar, em um ranking que avalia a entrada na política por gêneros, organizado pela
União Interparlamentar, em 2012. As mulheres representam hoje mais da metade dos
eleitores brasileiros, embora tenham uma participação de 9% na Câmara dos Deputados,
e 10% no Senado Federal.7 Na reportagem “Elas Querem o Poder”, os esforços do
Poder Legislativo para incorporar as mulheres na política também foram abordados, em
especial pelos 80 anos da conquista do direito do voto, celebrado em 24 de fevereiro de
2012. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reformou a Lei Eleitoral 9.100,
segundo a qual 20% dos cargos eleitorais deveriam ser ocupados por mulheres,
aprovando a obrigatoriedade de 30% de participação feminina, como proporção mínima.
Além da abordagem de temas como a pouca representatividade feminina na
política, a matéria “Elas Querem o Poder” enfatiza as dificuldades de conciliar a vida
política e profissional e o cuidado com a família, além da necessidade de dividir o poder
com os homens, devido à capacidade de lidar com disputas e problemas com mais
sensibilidade. Essa dicotomia entre a esfera pública e a privada é uma luta constante no
universo feminino, que, historicamente, esteve restringida ao lar. O rompimento de
barreiras que permitiram a entrada da mulher no espaço público ainda é tímido na
contemporaneidade.
Num sentido ou no outro, até recentemente a mulher foi restringida a
esfera privada, doméstica, e sua atuação rompendo o âmbito privado
na modernidade ainda não conquistou plenamente a visibilidade
necessária ao exercício do poder na contemporaneidade. (RABAY,
2007).
7 Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2012/02/mulheres-na-
politica/>. Acesso em: 6 dez. 2013.
35
A senadora Marta Suplicy, declarou na matéria analisada (p. 70) que as mulheres
estão “influenciando o jeito masculino de funcionar.” Fica claro, portanto, que além da
equidade de gêneros, a personalidade feminina também é levantado na revista. São
apontados dados da Organização das Nações Unidas (ONU), do Banco Mundial e do
Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef), que mostram a importância da
presença da mulher na diminuição de problemas sociais e corrupção, além do fato de
que mães que são alfabetizadas têm menos chances de ter filhos analfabetos. No tocante
à habilidade feminina de lidar com questões importantes, no âmbito político e
profissional, a Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirma que as mulheres não
brigam, mas estabelecem consensos, ouvem e partilham.
Em “Elas Querem o Poder”, o discurso direto das entrevistadas ocupa a maior
parte da matéria, trazendo pouco da opinião do autor acerca da mulher na política. Não
obstante, na introdução da reportagem, é explícito a posição do veículo em relação ao
tema, uma vez que ele discorre sobre o processo histórico que levou a mulher a
conquistar o espaço público e cargos de poder, dados estatísticos sobre a
representatividade feminina na política brasileira e o pioneirismo da atual presidente,
Dilma Rousseff, como primeira mulher a ocupar o Poder Executivo no Brasil.
O cenário mudou radicalmente, em 2010, quando Dilma Rousseff
tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil. Mas nosso universo
político continua a dever para o gênero feminino. É recente, na
verdade, a “maioridade” da mulher nos meandros da política nacional.
(BASTOS, 2012a, p. 67).
O fato de o Brasil ter eleito uma mulher para a presidência é um acontecimento
marcante na história do país. Dessa forma, esse assunto teve espaço constante nas
abordagens sobre mulher e política, na editoria “Política Nacional”. Na edição 64,
publicada em janeiro de 2012, a palavra “Mulher/Mulheres” foi citada cinco vezes, e
quatro delas relacionadas ao primeiro ano de governo de Dilma Rousseff. A matéria “O
Ano da Política”, também escrita por Cristiano Bastos, fez um balanço dos
acontecimentos políticos e sociais do Brasil no ano de 2011, destacando o primeiro ano
de mandato da presidente, a realização da primeira “Marcha das Vadias” – mobilização
de mulheres contra o machismo, após um policial canadense sugerir que mulheres
36
deveriam se vestir adequadamente para evitarem ser estupradas -, e o mandato da
primeira mulher a ocupar o cargo de Ministra da Cultura.
Figura 5: ilustração da matéria “Elas Querem o Poder”
Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/galeria/elas-querem-mais-poder/#imagem0
Em “O Ano da Política”, o primeiro ano de mandato da primeira presidente
mulher do Brasil é avaliado, em geral, de maneira positiva, uma vez que transparece que
o governo de Dilma Rousseff superou a expectativas da maioria da população. As
dificuldades das mulheres de adentrarem em um universo majoritariamente masculino –
o da política – é conhecido, mas a reportagem ainda traz o fato de que Dilma não só
provou que é capaz de governar o país, mas também superou o empecilho de suceder
um dos presidentes mais carismáticos e benquistos do Brasil – Luiz Inácio “Lula” da
Silva. Os obstáculos econômicos e sociais enfrentados pela presidente também foram
expostos pelo veículo, mas a grande dificuldade de se firmar como primeira mulher a
governar o país se dá ao passo que se procura desvencilhar a imagem da mulher como
mãe e esposa e “sexo frágil”, o que se ratifica com a afirmação do autor de que Dilma
37
Rousseff conseguiu superar as dúvidas sobre a capacidade de uma mulher governar um
país como o Brasil.
Figura 6: ilustração da matéria “O Ano da Política”
Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/galeria/o-ano-da-politica/#imagem0
A palavra “Mulher/Mulheres” foi citada em um total de 92 vezes, ao longo das
matérias “O Ano da Política” e “Elas Querem o Poder”, na editoria “Política Nacional”,
sempre exaltando as dificuldades de se ocupar cargos públicos de poder, a
personalidade firme e sensível feminina e o pioneirismo da presidente Dilma Rousseff
em assumir o cargo de presidente do Brasil. Dessa forma, fica evidente a posição do
veículo em mostrar as mulheres como seres humanos fortes e capazes de superar
obstáculos, ainda que elas sejam pouco representadas no cenário político brasileiro. De
acordo com a revista Rolling Stone, as mulheres conquistam esse espaço não apenas
com o auxílio de leis que exigem a participação feminina nas eleições, mas também
com a sensibilidade e habilidade de lidar com problemas de forma diplomática.
3.3 POLÍTICA
A palavra “política” é originada do grego pólis, politeia, política, politikè, ê Pólis,
que significa “a vida política, a luta em torno do poder; o fenômeno em si mesmo.”
38
(CREMONESE, 2008, p. 61). O termo polis, etimologicamente, designa “cidade”, que
contrasta com o campo, ou “cidade-Estado”, que seria um pequena cidade política,
autogovernada.8
O termo “política” é muito amplo e designa vários significados e situações,
sintetizadas comumente em relações de poder e governo. Dessa maneira, consideramos
“política” como alguma forma de poder e suas consequências. Em contrapartida,
Ribeiro (1998) afirma que definir “política” como sendo apenas poder, carisma e
exercício de poder não é satisfatório, caracterizando a política como “o estudo e a
prática da canalização de interesses, com a finalidade de conseguir decisões.” A partir
desse conceito, conclui-se que a política moderna diz respeito a um governo e a um
Estado constituído para elaborar leis e garantir a organização social. Ribeiro (1998)
enumera três atividades exercidas pelo Estado, sendo elas: 1) atividade legislativa; 2)
atividade administrativa e executiva; 3) atividade judicial. A separação dos três poderes
foi concebido inicialmente para coibir a tirania, descentralizando o poder do Estado em
três instâncias: Executiva, Legislativa e Judiciária, mas essas atividades são exercidas
de acordo com as normas e a princípios constitucionais vigentes de cada Estado.
A política também pode ser chamada de arte – pois requer talento e sensibilidade
para quem a pratica -, de ciência – pode ser cientificamente sistematizada de forma a
observar os atores políticos e as relações de poder -, e de profissão – já que é por meio
dela que organizamos e governamos a vida em coletividade (RIBEIRO, 1998). Assim, a
política está em toda parte, na conduta humana, uma vez que ela está presente em
processos cotidianos, como assinar papéis de casamento ou divórcio, ou em discussões
onde acontecem situações de inferioridade e subordinação imposta. Ribeiro (1998) diz
que a política se ocupa de processos que afetam, de alguma forma, o conjunto de
cidadãos, e não todos os processos de formulação e tomada de decisões, tornando-se
bastante complexo delinear o papel da política na sociedade.
A Política não é, pois, apenas uma coisa que envolve discursos,
promessas, eleições e, como se diz frequentemente, “muita sujeira”.
Não é uma coisa distinta de nós. É a condução da nossa própria
existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência
8 Dicionário de Filosofia Moral e Política. Disponível em:
<http://www.ifl.pt/private/admin/ficheiros/uploads/78d83056de83e08051478bac01f79675.pdf>. Acesso
em 4 nov. 2013.
39
individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de
educação, nossa felicidade ou infelicidade. (RIBEIRO, 1998).
Dessa forma, todas as sociedades são politicamente organizadas, pois há
mecanismos estabelecidos e decisões públicas formuladas e executadas. Sendo o
conceito de “política” apenas restrito a relações de poder, subordinação ou tomada de
decisões, o agir político permeia toda e qualquer sociedade moderna ou primitiva, desde
as primeiras organizações humanas. Ribeiro (1998) considera que “somente através da
consciência política podemos aspirar à dignidade humana e à integral condição de
cidadão”, posto que agir politicamente remete não somente a deter poder ou submeter-
se a ele, mas colaborar para a organização da sociedade em que se vive, agindo de
acordo com as normas e decisões vigentes de cada Estado ou comunidade.
3.3.1 POLÍTICA NA ROLLING STONE
Política é o tema central da editoria “Política Nacional”, da revista Rolling
Stone, no Brasil. A palavra “Política” é exposta de duas formas nas reportagens: no
plural – políticas -, significando um “conjunto de objetivos que enformam determinado
programa de ação governamental e condicionam a sua execução” (FERREIRA, 1999, p.
1599); e no singular – política -, como a “atividade exercida na disputa dos cargos e
governos ou no proselitismo partidário.” Para fins desta pesquisa, foram utilizados
mecanismos de análise apenas para a palavra no singular.
A palavra “Política” foi escrita com uma média de nove vezes em cada matéria9,
encontrada em maior frequência na edição 66 (março de 2012), na matéria “Elas
Querem o Poder”, sobre a representatividade feminina na política brasileira, em que o
vocábulo foi escrito 19 vezes. Nessa reportagem, “Política” está inserida em um
contexto de partidarismo ou de exercício de alguma forma de poder, uma vez que
expressões tais como “vida política”, “mulher na política” e “entrar na política” são
recorrentes na maioria dos textos. Já na edição 71, em agosto de 2012, a matéria
“Relações Perigosas” expôs o tema das coligações entre legendas com ideologias
9 A palavra “Política” não foi encontrada nas reportagens das edições 65 e 69, nos meses de fevereiro e
junho de 2012, respectivamente.
40
opostas, nos meses que antecediam as eleições municipais daquele ano, trazendo a
palavra “Política” 16 vezes, todas no contexto de disputas entre partido políticos, com o
objetivo de alcançar o poder.
À palavra “Política” são atribuídos conceitos sinônimos nas duas reportagens, de
autoria do jornalista Cristiano Bastos, porém os contextos se divergem. Em “Elas
Querem o Poder”, “Política” é tratado como o espaço de disputas e tomadas de decisões
à frente de cargos como prefeito(a), governador(a), deputado(a), senador(a) e Presidente
da República, onde a representatividade feminina é baixa e as políticas de inserção da
mulher nesse ambiente ainda é incipiente. Depreende-se, portanto, que a política
brasileira ainda não chegou ao patamar ideal de democracia e inclusão, posto que a
palavra “Política” também é associada constantemente a problemáticas, como reforma
política e cotas para mulheres nos partidos políticos.
Toda essa “falta” reflete-se exatamente em uma ausência de resposta
aos direitos individuais, aos direitos humanos, aos direitos sociais das
mulheres. Direito se conquista com poder. Se a mulher exerce uma
participação pequena, ela não decide questões estratégicas do país, a
não ser em uma escala muito reduzida. Ainda temos muito a construir
para dizer que, de fato, temos uma democracia plena em uma
sociedade cuja maioria dos seus habitantes é constituída de mulheres.
Uma presença tão pequena que põe em questão a própria democracia
do Brasil. (ERUNDINA, 2012, p. 70)
Na matéria “Relações Perigosas”, o assunto abordado trata das alianças
partidárias realizadas entre partidos que não compartilham da mesma ideologia, de
forma que se faz um levantamento histórico e são trazidos depoimentos de autoridades e
políticos, que confirmam a tese de que a política brasileira é inconstante, devido à falta
de enraizamento ideológico. Mais uma vez, a Rolling Stone alia a palavra “Política” a
problemas enfrentados pelo Brasil no cenário político, relativos à criação de legendas,
eleições e critérios que regem a formação de alianças partidárias, de maneira que a
política nacional é tida como precária e contraditória.
Um dos motivos que explicam essa “precariedade partidária”, que se
reflete na falta de enraizamento ideológico, é a inconstância do
cenário político brasileiro. Violentada por súbitos e, muitas vezes,
41
abruptos acontecimentos, como mudanças de regime e revoluções, a
história contribuiu para golpear a duração dessas agremiações – as
quais se viram forçadas a iniciar novas trajetórias a cada interrupção
sofrida. (BASTOS, 2012d, p. 53)
A migração partidária é debatida em “Relações Perigosas” de maneira irônica,
quando o autor da reportagem discorre sobre as ligações entre partidos divergentes,
qualificando esse cenário como “vale-tudo eleitoral” (p. 54), dando o exemplo da
coligação entre o fervoroso católico Gabriel Chalita - filiado ao Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB) - e evangélicos do Partido Social Cristão (PSC). A
fidelidade partidária sempre foi tema de discussão na sociedade, visto que esse princípio
não é seguido pelos políticos no Brasil. Segundo Cremonese (2008), essa infidelidade é
uma prática comum no país, que objetiva a acomodação dos políticos em partidos de
que possam tomar proveito pessoal, ainda que a fidelidade à legenda em que foi eleito
não seja mantida.
A infidelidade partidária tem sido uma marca da política brasileira
desde o período da democratização. Essa “naturalidade” do “troca-
troca”, no entanto, tem causado prejuízos às instituições políticas,
revelando-se a principal causa do descrédito dos políticos diante da
opinião pública. (CREMONESE, 2008, p. 192).
A reportagem tem um caráter crítico em relação à infidelidade partidária no
Brasil, entretanto apresenta os argumentos de forma declarativa, expondo a opinião de
nove entrevistados ao longo da matéria10, o que garante a imparcialidade da informação.
A objetividade é uma marca importante nos textos “Elas Querem o Poder” e “Relações
Perigosas”, pois ambas trazem depoimentos fiéis - em discurso direto na primeira
pessoa - dos entrevistados, deixando a opinião do jornalista e do veículo em segundo
plano, devido à rigidez do discurso objetivo que, de acordo com Barros Filho (2008, p.
40), “despersonalizam o jornalista e dão à realidade uma visão superficial e parcial.”
Embora essa objetividade seja o forte dos textos, o caráter informativo ainda se mantém
10 A reportagem “Relações Perigosas” traz depoimentos de Leonardo Barreto, cientista político da
Universidade de Brasília (UnB); Fernando Haddad, atual prefeito da cidade de São Paulo; Luiza
Erundina, deputada federal; Marco Feliciano, deputado federal; Zé Maria, presidente nacional do PSTU;
Randolfe Rodrigues, senador; Marina Silva, ex-candidata à Presidência da República; e Antônio Carlos
Segatto, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
42
intacto, uma vez que entrevistados que não fazem parte do cenário político nacional
apresentam dados importantes e são mostrados infográficos e dados relevantes a
respeito da história da política brasileira.
Figura 7: ilustração da matéria “Relações Perigosas”
Fonte: http://rollingstone.uol.com.br/galeria/relacoes-perigosas/#imagem1
A palavra “Política” aparece 82 vezes em nove matérias da editoria
“Política Nacional” da Rolling Stone brasileira, no ano de 2012, sempre sendo atribuída
às características dos partidos e dos políticos do Brasil, a exemplo das matérias
apresentadas nesse capítulo, que apontam dois aspectos negativos da política no país:
pouca representatividade feminina e infidelidade partidária. Assim, é possível concluir
que, de acordo com o veículo, a política brasileira necessita de reformas e de uma
legislação que controle e imponha limites no comportamento dos políticos durante o
período eleitoral e quando estão em exercício de seu respectivo mandato.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revista Rolling Stone, originalmente fundada nos Estados Unidos, em 1967,
por Jann S. Wenner e pelo crítico musical Ralpho J. Gleason, é uma revista sobre
música, comportamento e cultura pop. O veículo tem filiais em todo o país, inclusive no
Brasil, desde 2006, pela editora Spring Ldta, embora alguns jovens tenham publicado
edições não oficiais no país, em 1972. A Rolling Stone, no Brasil, surgiu com a proposta
de falar sobre a cultura pop mundial e a realidade sociopolítica brasileiras, a partir de
uma linguagem irreverente e direcionada para jovens e adultos.
A partir dos dados coletados e das análises realizadas nesta pesquisa, esse
trabalho pôde responder à seguinte pergunta: de que forma o jornalismo político é feito
na Rolling Stone, e quais os assuntos mais tratados na editoria “Política Nacional”, em
2012? Através do levantamento de dados das onze edições da revista, publicadas em
2012, e da pesquisa bibliográfica, afirmamos que o jornalismo político da Rolling Stone
é bastante declarativo, utilizando vários argumentos de diversas fontes, dando ao leitor
elementos que o permita formar sua própria opinião.
Na editoria “Política Nacional”, as palavras mais recorrentes foram “Brasil”,
“Mulher/Mulheres” e “Política”, aparecendo, respectivamente, 117, 92 e 82 vezes nas
onze edições analisadas de 2012. “Brasil” apareceu aproximadamente 9% a mais que a
palavra “Mulher/Mulheres”, e cerca de 12% a mais que “Política”. Nas matérias em que
“Brasil” foi mais recorrentes – “No olho do furacão” (edição 70, julho de 2012) e
“Preserva-me ou te devoro” (edição 75, dezembro de 2012) – o Brasil é tido como um
país em ascensão, que ainda luta na conquista de objetivos político-administrativos, com
anum futuro incerto. Os temas relacionados ao país tem sempre um caráter polêmico
que põem a postura de gestores e políticos brasileiros em questão, e, embora apresente
argumentos e informações ao leitor, não estabelece a posição do autor e do veículo de
maneira clara.
Um dos assuntos mais abordados na revista foi o papel da mulher na política
brasileira, trazendo a palavra “Mulher/Mulheres” cerca de 31,6% na editoria, em relação
aos demais vocábulos analisados nessa pesquisa. Na matéria “Elas querem o poder”
(edição 66, março de 2012), a mulher é tratada como uma classe em ascensão na
política brasileira, e que ainda não possui aparatos suficientes para favorecer o aumento
44
da participação de mulheres na política. O posicionamento da Rolling Stone dessa vez
fica evidente, uma vez que o discurso sobre as dificuldades de se ocupar cargos públicos
de poder, a personalidade feminina e o pioneirismo da presidente Dilma Rousseff na
presidência do Brasil foram unânimes entre as entrevistadas, e foi corroborado pelo
autor da matéria, Cristiano Bastos, em sua introdução, o que mostra ao leitor o
favoritismo do veículo pela participação das mulheres na política.
“Política” foi escrita aproximadamente 28,2% em relação às demais palavras
estudadas, relacionada ao conceito de “atividade exercida na disputa dos cargos e
governos ou no proselitismo partidário” (FERREIRA, 1999, p. 1599), e apareceram
mais nas reportagens “Elas querem o poder” e “Relações perigosas” (edição 71, agosto
de 2012). Nas duas matérias, a política brasileira é tida como falha e carente de
reformas, também deixando clara a opinião do veículo de que há uma necessidade de
mudança na legislação e na forma de governo dos políticos, antes e durante o exercício
de seu respectivo mandato.
Embora o jornalismo político seja a marca da editoria “Política Nacional”, o
veículo utiliza recursos estilísticos que, normalmente, são próprios do jornalismo
cultural e interpretativo, como metáforas, introduções detalhadas e com dados
históricos, desconsiderando o tradicional lead jornalístico, em que a informação
principal do texto aparece no primeiro parágrafo. O jornalismo cultural atende às
especificidades de um público segmentado, a partir da cobertura e crítica de eventos e
produtos culturais de interesse público, e as revistas que desempenharam um papel
importante na divulgação do gênero, devido à sua linguagem e flexibilidade para se
adaptar aos mais diversos espaços na sociedade. Essas qualidades permitem à Rolling
Stone abordar temas políticos com humor e ironia, para agradar ao público-alvo do
veículo – jovens de todas as idades, antenados e amantes da cultura pop, como afirmado
no site da editora Spring Ldta. -, visando ao apartidarismo e à objetividade da
informação.
45
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