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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS POLÍTICA EXTERNA E MEIO AMBIENTE: PROJETOS DE COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E ALEMANHA COM FOCO EM ENERGIAS RENOVÁVEIS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Leila Sabrina Bartz Santa Maria, RS, Brasil 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

POLÍTICA EXTERNA E MEIO AMBIENTE: PROJETOS DE COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E

ALEMANHA COM FOCO EM ENERGIAS RENOVÁVEIS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Leila Sabrina Bartz

Santa Maria, RS, Brasil 2015

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POLÍTICA EXTERNA E MEIO AMBIENTE: PROJETOS DE

COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E ALEMANHA COM FOCO

EM ENERGIAS RENOVÁVEIS

Leila Sabrina Bartz

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS) como

requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Günther Richter Mros

Santa Maria, RS, Brasil 2015

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Relações Internacionais

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho Final de Graduação

POLÍTICA EXTERNA E MEIO AMBIENTE: PROJETOS DE COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E ALEMANHA COM FOCO EM

ENERGIAS RENOVÁVEIS

elaborado por Leila Sabrina Bartz

como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Me. Günther Richter Mros (Presidente/Orientador)

Prof.ª Dr.ª Daniela Dias Kühn (UFSM)

Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira (UFSM)

Santa Maria, 04 de dezembro de 2015.

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AGRADECIMENTOS

Depois de passados cinco anos entre idas e vindas chega-se ao fim da graduação. Nesse

período contei com o apoio incondicional de meus pais, os quais sempre me entenderam e me

auxiliaram em todas as decisões, então meu primeiro agradecimento dirige-se a eles. Muito

obrigada por tudo pai e mãe, sem o apoio de vocês eu nunca teria conseguido. Essa conquista é

nossa!

Agradeço aos professores do Departamento de Economia e Relações Internacionais da

Universidade Federal de Santa Maria por todos os ensinamentos repassados durante a minha

formação acadêmica. Em especial ao Professor Coordenador José Renato da Silveira por toda

a ajuda e disponibilidade prestada na minha transferência para a UFSM e no decorrer do curso;

a Professora Daniela Dias Kühn que despertou em mim o gosto em pesquisar sobre a questão

ambiental; e ao Professor Günther Richter Mros que me mostrou a importância do estudo da

política externa e aceitou me orientar na elaboração deste trabalho de conclusão.

Agradeço às amizades de Dona Francisca e aos demais familiares que me

acompanharam nessa trajetória. E por fim, agradeço também aos amigos e colegas que me

acompanharam e me apoiaram de alguma forma durante esse período da faculdade, seja em

Santa Cruz do Sul, em Santana do Livramento ou em Santa Maria.

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

POLÍTICA EXTERNA E MEIO AMBIENTE: PROJETOS DE COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E ALEMANHA COM FOCO EM ENERGIAS RENOVÁVEIS

AUTORA: LEILA SABRINA BARTZ

ORIENTADOR: Prof. GÜNTHER RICHTER MROS Data e Local da Defesa: Santa Maria, 04 de dezembro de 2015.

A finalidade do trabalho consiste em identificar como ocorre a cooperação técnica entre Brasil e Alemanha na área de energias renováveis e quais seus benefícios para os objetivos da preservação do meio ambiente. Dessa forma, a análise apresenta um panorama das políticas externas pós-redemocratização, no caso do Brasil, e pós-reunificação no caso da Alemanha. O estudo tem como base teórica a teoria dos regimes internacionais, contexto no qual apresentamos a cooperação para o desenvolvimento. Para a realização da pesquisa foram estudados os acordos já existentes entre Brasil e Alemanha no campo das energias renováveis e, analisa-se, por fim, como os dois países tornaram-se parceiros estratégicos. Palavras-chave: Cooperação técnica. Política externa. Energias renováveis. Meio ambiente. Parceria estratégica.

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ABSTRACT

Senior Thesis International Relations Major

Universidade Federal de Santa Maria

FOREIGN POLICY AND ENVIRONMENT: COOPERATION PROJECTS BETWEEN BRAZIL AND GERMANY WITH FOCUS ON RENEWABLE ENERGY

AUTHOR: LEILA SABRINA BARTZ

ADVISOR: Prof. GÜNTHER RICHTER MROS Defense Date and Place: Santa Maria, December 4th, 2015.

The aim of this work is to identify how the technical cooperation between Brazil and Germany in renewable energies occurs and what are the benefits to the objectives of environment preservation. In this way, the analysis gives an overview of post-democracy foreign policies, in the case of Brazil, and post-reunification, in the case of Germany. The study has the theory of international regimes as its theoretical grounding context in which we present the cooperation for development. In order to do that, the agreements existing between Brazil and Germany in the renewable energy field, and analyzes, finally, as the two countries have become strategic partners. For the research, the existing agreements between Brazil and Germany on the renewable energy field were studied, and it is analyzed, finally, how the two countries became strategic partners. Keywords: Technical cooperation. Foreign policy. Renewable energy. Environment. Strategic partnership.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AND – Autoridade Nacional Designada BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros BVRJ – Bolsa de Valores do Rio de Janeiro CAR – Cadastro Ambiental Rural CERs – Certificados de Emissões Reduzidas CIMGC – Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima CMP-8 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2012 CONPET – Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural COMECON – Conselho de Ajuda Mútua Econômica COP/MOP – Conferência das Partes COP-21 – 21ª Conferência do Clima CSCE – Commission on Security and Cooperation in Europe CSNU – Conselho de Segurança das Nações Unidas DCP – Documento de Concepção de Projeto EUA – Estados Unidos da América EOD – Entidades Operacionais Designadas FDP – Freie Demokratische Partei (Partido Democrático Liberal) FHC – Fernando Henrique Cardoso FMI – Fundo Monetário Internacional IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IEA – Internationalen Energieagentur (Agência Internacional de Energia) ILAC – Iniciativa Latino-Americana e Caribenha para o Desenvolvimento Sustentável IRENA – Internationalen Agentur für erneuerbare Energien (Agência Internacional de Energia Renovável) KfW – Kreditanstalt für Wiederaufbau MBRE – Mercado Brasileiro de Redução de Emissões MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo OMC – Organização Mundial do Comércio ONU – Organização das Nações Unidas OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PROÁLCOOL – Programa Nacional do Álcool PROCEL – Programa de Conservação de Energia Elétrica PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica PRO-ÓLEO – Plano de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos PT – Partido dos Trabalhadores RCEs – Reduções Certificadas de Emissões RDA – República Democrática Alemã REN 21 – Netzwerk für erneuerbare Energien (Rede para Energias Renováveis) RFA – República Federativa Alemã SPD – Sozialdemokratische Partei Deutschlands (Partido Social-Democrata Alemão) TNP – Tratado de Não Proliferação Nuclear URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas I PND – I Plano Nacional de Desenvolvimento II PND – II Plano Nacional de Desenvolvimento

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I – Evolução do consumo final de energia no Brasil por fonte.....................................40

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Sumário 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 10

2. MUDANÇAS INTERNAS ALTERANDO OS RUMOS DA POLÍTICA EXTERNA ...................................................................................................... 13

2.1. Política externa brasileira pós-redemocratização .................................................. 13

2.2. Política externa alemã pós-reunificação ................................................................. 19

2.3. Cooperação internacional para o desenvolvimento e os regimes internacionais ... 24

2.4. Meio ambiente na agenda internacional ................................................................. 29

3. ORIGEM DA PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL ...................................... 31

3.1. Histórico das conferências mundiais ....................................................................... 31

3.1.1. Estocolmo 1972 .................................................................................................. 32

3.1.2. Rio-92 ................................................................................................................. 33

3.1.3. Joanesburgo 2002 ................................................................................................ 35

3.1.4. Rio+20 ................................................................................................................ 36

3.2. Matriz energética do Brasil ..................................................................................... 38

3.3. O Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ...................... 41

3.4. Posicionamento da Alemanha em relação às energias renováveis ......................... 45

3.5. O despertar para a realidade mundial .................................................................... 49

4. O CAMINHO PARA A ESTRUTURAÇÃO DA PARCERIA ESTRATÉGICA ............................................................................................. 51

4.1. Histórico da cooperação Brasil-Alemanha em energias renováveis ...................... 51

4.2. A Alemanha como um parceiro estratégico ............................................................ 58

4.3. Conceito de transbordamento (spillover) ............................................................... 65

4.4. Perspectivas para o futuro ....................................................................................... 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 72

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1. INTRODUÇÃO

A Alemanha é atualmente um dos países mais comprometidos com a causa ambiental e

domina inúmeras tecnologias dentre as quais se encontram a de energia solar, energia eólica e

pesquisas avançadas em relação ao biocombustível. Já o Brasil tem demonstrado um grande

engajamento da luta pela preservação do meio ambiente e em alternativas para frear o

aquecimento global como, por exemplo, a proposta brasileira de energia em 2002 que veremos

com mais detalhes no decorrer do trabalho. No entanto, no campo da tecnologia ainda temos

muito para avançar, mas o Brasil é o quinto maior país do mundo em extensão territorial, que

possui uma vasta área de produção agrícola e uma grande incidência de iluminação solar e de

ventos, então, nesse sentido, a cooperação técnica entre Brasil e Alemanha no campo das

energias renováveis seria bastante benéfica, pois visa o desenvolvimento e a implantação

conjunta de novas tecnologias na área.

Nessa perspectiva, o presente trabalho propõem-se a verificar como o Brasil e a

Alemanha têm cooperado no âmbito das políticas ambientais especificamente no que diz

respeito à energias renováveis no período de 1990 à 2015. A hipótese para a questão parte do

pressuposto de que o processo de redemocratização do Brasil e a reunificação da Alemanha,

ocorridos no final da década de 1980 e início dos anos 1990, contribuíram para as relações entre

os dois países se regerem pela questão ambiental. Essa hipótese relaciona-se com a teoria dos

regimes internacionais, a qual acredita que os Estados compartilham interesses e valores para

reunir esforços e realizar uma cooperação em conjunto. Sendo assim, a cooperação é desejável

para eles, e em específico na questão ambiental, visto que as mudanças climáticas são

transnacionais. Para a realização do estudo, o trabalho guiou-se pelos seguintes objetivos:

- Analisar o panorama da política externa do Brasil e da Alemanha do final da década

de 1980 e início da década de 1990;

- Analisar as Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente ocorridas neste

período;

- Analisar os projetos de cooperação técnica ambiental entre Brasil e Alemanha;

- Avaliar os resultados já obtidos da cooperação técnica no âmbito das energias

renováveis entre os dois países.

Neste contexto, diante do cenário de degradação ambiental em que o planeta se encontra

atualmente, o presente estudo se justifica pela necessidade de mudança e, como o

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desenvolvimento econômico de um país depende do uso da energia, ela acabou se tornando

uma fonte de poder estatal. E, é por meio da análise da política externa que percebemos como

um país reage diante do cenário internacional ao longo dos anos. Segundo Cervo (2008, p.74),

“a busca do desenvolvimento tornou-se vetor da política exterior”, tal desenvolvimento passa

pela industrialização e consequentemente é necessária energia para isso. A energia é vital tanto

para o processo de desenvolvimento do país quanto para o dia a dia da população em geral.

Nesse sentido, torna-se importante o desenvolvimento de fontes de energias renováveis, visto

que é necessário substituir as fontes de energias poluentes por outras consideradas limpas e com

baixo impacto ambiental.

Dessa forma, primeiramente o trabalho irá apresentar um panorama histórico da política

externa do Brasil tendo como base os paradigmas da política externa brasileira de Cervo (2008)

apresentados em seu livro “Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros”, a fim

de contextualizar cada período com suas características mais marcantes. Já a obra de Letícia

Pinheiro (2004), será usada para apresentar os aspectos econômicos mundiais e nacionais que

ocorriam na época, com o objetivo de se justificar a posição diplomática exercida no período.

Em seguida, será abordada a política externa da Alemanha no mesmo período e será possível

perceber que apesar das mudanças internas ocorridas, já se percebia uma preocupação maior

com a questão do meio ambiente. A justificativa teórica desse tema pode ser encontrada na base

teórica dos regimes internacionais e a cooperação internacional para o desenvolvimento, pois

os dois países propõem-se a cooperar tendo em vista um objetivo em comum, a preservação

ambiental.

O segundo capítulo apresentará um breve histórico das Conferências das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente, apresentando seus principais resultados, dessa forma, será possível

perceber o porquê da preocupação em unir forças contra os efeitos negativos do

desenvolvimento econômico o que acaba afetando o meio em que vivemos. Nesse sentido,

apresentamos a composição da matriz energética brasileira, a qual é considerada limpa

pincipalmente devido ao uso da hidroeletricidade. Cabe destacar nesse contexto, o Protocolo de

Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os quais foram responsáveis,

respectivamente, por determinar metas de redução das emissões de gases de efeito estufa e

implantar projetos de créditos de carbono para auxiliar os países a alcançar esta meta. E, por

fim, analisamos como a Alemanha se posiciona em relação as fontes de energias renováveis.

No terceiro capítulo, apresentaremos um histórico da cooperação técnica entre Brasil e

Alemanha e, principalmente, no que diz respeito à energia, o que remonta ao Acordo sobre

Cooperação no Campo dos Usos Pacíficos da Energia Nuclear de 1975. No entanto, após o

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acidente com a Usina Nuclear de Fukushima, ocorrido em 2011, no Japão, a Alemanha propôs-

se a eliminar essa fonte de energia do país. Porém, apesar de, em 2008, Brasil e Alemanha

firmarem um acordo sobre energias renováveis, isso não altera os termos do Acordo de 1975 e

ambos os países assumem o compromisso de respeitá-lo.

Neste contexto, cabe destacar o conceito de parceria estratégica, o que representa a

relação entre Brasil e Alemanha atualmente, devido à primeira edição das Consultas

Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha, ocorrida em agosto de 2015.

Trabalharemos ainda, o conceito de spillover, pois é através desse efeito que a cooperação

técnica na área de energias renováveis pode acabar transbordando para outras áreas,

beneficiando dessa forma o desenvolvimento do Brasil. Para a realização da pesquisa optou-se

pelo método hipotético dedutivo utilizando-se bibliografias já existentes sobre o tema,

principalmente livros, artigos científicos e documentos.

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2. MUDANÇAS INTERNAS ALTERANDO OS RUMOS DA POLÍTICA

EXTERNA

No panorama da política internacional dos anos 1980, Brasil e Alemanha passavam por

grandes processos de mudança. Nesse período, o Brasil foi redemocratizado e a Alemanha foi

reunificada, o que acabou afetando as políticas externas de ambos os países. Para entendermos

essas mudanças iremos apresentar um histórico, do final dos anos 1980, da política externa

brasileira e da política externa alemã, até os dias atuais.

Trabalha-se, ainda, com o arcabouço teórico referente aos regimes internacionais

explicando a sua aplicabilidade, por meio da perspectiva grociana, na questão do meio ambiente

e na cooperação internacional entre Estados.

2.1. Política externa brasileira pós-redemocratização

Para explicar o panorama histórico da política externa brasileira, ao longo dos últimos

25 anos, foi usado como base a noção de paradigmas da política externa brasileira apresentados

no livro de Amado Cervo (2008), a fim de se contextualizar cada período com suas

características mais marcantes. Já Letícia Pinheiro (2004), apresenta uma visão um pouco

distinta, contextualizando o leitor aos aspectos econômicos mundiais e nacionais que ocorriam

na época, a fim de se justificar a posição diplomática exercida no período.

Segundo Cervo, em seu livro Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros

(2008), apresentaram-se, no Brasil, quatro paradigmas distintos: o liberal-conservador (século

XIX até 1930); o desenvolvimentista (1930 e 1989); o normal ou neoliberal e o logístico (1990

a nossos dias). A noção de paradigma é definida pelo autor como “uma explanação

compreensiva do real” (CERVO, 2008, p.65), incluindo também a percepção que os dirigentes

têm dos interesses nacionais, o que muda conforme a troca de paradigma, envolvendo assim a

elaboração política, afim de se estabelecer uma estratégia para orientar a decisão (CERVO,

2008, p.66). Já Pinheiro (2004, p.66), acrescenta subdivisões às fases da política externa

brasileira, sendo elas: americanismo pragmático (1902-45, 1951-61 e 1967-74); americanismo

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ideológico (1946-51 e 1964-67); globalismo grotiano (1961-64); e, finalmente, globalismo

hobbesiano (1974-90).

No período em que o americanismo foi pragmático percebe-se que houve uma busca

para garantir espaços de autonomia, apesar de manter uma certa dependência aos Estados

Unidos. Já no americanismo ideológico foi mantida uma aproximação com os Estados Unidos

em relação aos valores ideológicos daquela nação, um exemplo desse período é o governo de

Eurico Gaspar Dutra (1946-51), o qual manteve uma política externa voltada aos interesses

norte-americanos. Em relação ao globalismo, em sua face grotiana, enfatizava-se uma

estratégia multilateral para diminuir os custos de transação na busca da maximização de ganhos

absolutos, exemplo disso é a Política Externa Independente (PEI), inaugurada sob a presidência

de Jânio Quadros e aprofundada pelo chanceler San Tiago Dantas. Quanto ao globalismo

hobbesiano, fica claro a adoção de uma distância pragmática no período da Guerra Fria,

justamente para garantir a autonomia do país.

Os anos 1950 até 1980 foram marcados pela ideologia desenvolvimentista, tanto no

Brasil como na América Latina. Foi neste período, segundo Cervo (2008, p.74), que “a busca

do desenvolvimento tornou-se vetor da política exterior”, o qual poderia ser obtido pela

industrialização e pelo crescimento econômico. Já década de 1980, ocorreu uma aproximação

com a Argentina, chegando-se a firmar doze protocolos de cooperação, em 1986, vinculando

seus projetos de desenvolvimento nos setores ligados ao sistema produtivo (CERVO, 2008).

Essa aproximação acabou evoluindo para a assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, entre

os governos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, criando-se assim o Mercado Comum do

Sul (Mercosul).

No período entre 1930 e 1989, o Brasil preservou sua autonomia decisória1, tanto na

esfera política como na esfera econômica, sendo assim, “o modelo de inserção internacional do

país resultou aberto às forças do capitalismo internacional, mas com autonomia de condução”

(CERVO, 2008, p.49).

Cervo (2008), afirma que a implantação do Estado neoliberal no Brasil, se deu nos

governos Collor de Melo (1990 e 1992) e de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), cujos

governos defendiam a supremacia do mercado e a não intervenção estatal. Já para Pinheiro

(2004, p.50), as mudanças na política externa brasileira após o regime militar não são difíceis

1 Houve fases de maior alinhamento com os Estados Unidos, como por exemplo, o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-51), o governo de Castello Branco (1964-67) e o governo de Fernando Collor de Mello (1990-92). No entanto, tentou-se manter uma autonomia na tomada de decisões.

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de entender, no entanto, a maior dificuldade é datar quando elas começaram a acontecer

realmente.

Segundo a autora, internacionalmente, os anos 1980, marcaram “o acirramento das

mudanças estruturais na economia mundial que havia começado ainda na década de 1970 com

a quebra do padrão-ouro e a adoção de políticas protecionistas pelos países mais desenvolvidos”

(PINHEIRO, 2004, p.50). Já no plano nacional, entre 1985 e 1988, a economia brasileira foi

marcada por uma taxa anual de inflação que quadruplicou, registrando-se três programas para

a estabilização econômica: Plano Cruzado em 1986, Plano Bresser em 1987 e o Plano Verão

em 1989 (PINHEIRO, 2004, p.51). Somente em 1994, com o Plano Real, foi alcançada a

estabilização macroeconômica e segundo Almeida (2014, p.63), esse Plano:

[...] teve uma importância fundamental também para a política externa, pois significou igualmente a recuperação da credibilidade do Brasil nos mercados internacionais, não apenas em termos de atração de investimentos e de contratos financeiros externos, mas sobretudo no que se refere à capacidade do Brasil de engajar-se em processos negociadores com parceiros internacionais em condições minimamente previsíveis quanto à preservação da legalidade jurídica e à capacidade do país de honrar seus compromissos externos num ambiente liberado das ameaças de mudança contínua de regras como tinha sido o caso até ali, e praticamente desde o início da crise do petróleo, ainda nos anos 1970 (ALMEIDA, 2014, p.63).

A política externa do governo Collor inaugurou o que se chamou de autonomia pela

participação2, buscando-se assim “aumentar a credibilidade internacional do país com vistas à

renegociação da sua dívida externa [...], por meio da adesão aos regimes internacionais de

comércio, controle de tecnologias sensíveis, proteção ao meio ambiente e aos direitos humanos”

(PINHEIRO, 2004, p.56). Tem-se também o retorno do globalismo em alguns aspectos, no qual

o melhor exemplo, “são as negociações preparatórias para a Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO-92” (PINHEIRO, 2004, p.57). A autora

destaca que, nesta época, o Brasil buscou obter mais voz nos foros de decisão internacional, no

plano da busca pela autonomia, já tendo em vista uma possível reforma do Conselho de

Segurança das Nações Unidas (CSNU) e a candidatura brasileira a um assento permanente

(PINHEIRO, 2004, p.58).

Segundo Pinheiro (2004), o país estava em um período de crise de paradigmas, e foi no

auge desta crise que ocorreu o impeachment de Collor de Mello. Dessa forma, Itamar Franco

assume a presidência da República, juntamente com Fernando Henrique Cardoso (1992-93) e,

em seguida, Celso Amorim (1993-94), como ministros das Relações Exteriores do Brasil,

2 O termo autonomia pela participação foi cunhado por Gelson Fonseca (1998) em seu livro “A Legitimidade e outras questões internacionais” e significa o desejo de uma participação mais ativa da política externa brasileira na agenda internacional por meio de perspectivas próprias e originais.

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“fizeram com que a diplomacia brasileira buscasse se adaptar às circunstâncias internacionais

sem que deixasse de lado sua histórica prioridade à promoção do desenvolvimento e à busca de

autonomia” (PINHEIRO, 2004, p.58). Já Cervo (2008, p.52), afirma que foi no Estado

neoliberal, inaugurado no governo Collor de Melo e seguido por Fernando Henrique Cardoso,

que “os dirigentes introduziram uma estratégia de destruição das forças nacionais, cedendo sua

apropriação e controle às forças do capitalismo transnacional”.

Cervo (2008), afirma que com a prática do neoliberalismo agravou-se o déficit das

contas nacionais. Nesse sentido, a era Cardoso que não possuía um projeto de desenvolvimento

concreto e nem recursos, acabou provocando “a estagnação da economia brasileira e

interrompeu um ciclo de sessenta anos de desenvolvimento caracterizado pelas mais elevadas

taxas de crescimento entre os países do mundo capitalista” (CERVO, 2008, p.81). Já Pinheiro

(2004), coloca em dúvida a questão da constituição de um novo paradigma diplomático durante

a gestão de FHC (1995-2002), a autora levanta a possibilidade de ter sido apenas “uma

alternância de prioridades, sem que se estabelecesse uma relação precisa entre autonomia e

desenvolvimento” (PINHEIRO, 2004, p.60). O governo de Fernando Henrique Cardoso, para

Cervo (2008), pode ser caracterizado como uma “dança dos paradigmas: o desenvolvimentista

que ele se compraz em ferir gravemente sem matar, o normal que emerge de forma prevalecente

e o logístico que se ensaia como outra via” (CERVO, 2008, p.82).

Almeida (2014, p.110), afirma que foi a campanha viciosa e maldosa do Partido dos

Trabalhadores (PT) contra o governo Cardoso que produziu a falsa impressão de que a política

externa da época “teria sido marcada por uma fantasmagórica adesão a regras neoliberais do

Consenso de Washington e por uma alegada submissão ao Fundo Monetário Internacional

(FMI), ao Tesouro americano e aos banqueiros de Wall Street”. Já para Moniz Bandeira (2005,

p.110), “a adoção de políticas econômicas neoliberais foram consequências da renegociação da

dívida externa e das condicionalidades estabelecidas pelo FMI e pelo Banco Mundial”, as quais

acarretaram na “redução do Estado por meio de privatização, desregulamentação e reforma

institucional, bem como a manutenção de um regime de taxas fixas ou semifixas de câmbio, em

geral sobrevalorizado, aumentaram enormemente a vulnerabilidade externa do Brasil,

sobretudo a partir de 1999” (MONIZ BANDEIRA, 2005, p.110).

Com relação ao meio ambiente, “a estratégia brasileira envolveu iniciativas na esfera

bilateral, multilateral regional e multilateral global” (BUENO, CERVO, 2014, p.497). Prova

disso é a realização da Eco-92 no Brasil:

A ECO-92, assistiu ao triunfo da tese brasileira do desenvolvimento sustentável acoplado ao meio ambiente. Dela resultaram a Agenda 21, um programa de

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cooperação multilateral, uma Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, que evoluiu para o Protocolo de Kyoto de 1997, e uma Convenção sobre Diversidade Biológica, que resguarda direitos brasileiros sobre a Amazônia (BUENO, CERVO, 2014, p.498).

Outros avanços também foram marcantes nessa área como, por exemplo, a aprovação

pelo Congresso da “Lei sobre Biossegurança em 1995; a Lei de Patentes em 1996; uma Lei de

Cultivares em 1997 e, finalmente, a lei que regula o acesso aos recursos genéticos brasileiros

(BUENO, CERVO, 2014, p.498). Para complementar esse ordenamento jurídico da época, foi

lançado o maior programa de cooperação ambiental do mundo, o Programa Piloto para Proteção

de Florestas Tropicais do Brasil, o qual envolvia o Brasil, o G-7, a União Europeia e o Banco

Mundial (BUENO, CERVO, 2014, p.498). Para Almeida (2014, p.112), a diplomacia

presidencial na gestão de Fernando Henrique se encaixava na agenda do Itamaraty e tinha como

principal objetivo a projeção do Brasil como uma economia mais madura “comprometido com

os direitos humanos e a preservação ambiental, plenamente integrado aos circuitos mais vastos

da globalização”. No entanto, em relação as perspectivas energéticas, segundo Ribeiro (2015),

conclui-se que houve uma contradição na posição brasileira nesse período:

Pode-se concluir, portanto que havia uma contradição presente no estado brasileiro no que cerne as perspectivas energéticas e a posição do Brasil no cenário internacional. Esta contradição emerge se analisarmos que, internamente, o plano neoliberal se consolidava, privatizando estatais estratégicas, ou seja, o país reproduzia internamente a sua posição de periférico em relação ao centro de poder capitalista, ao mesmo tempo em que, em contra partida, ensejava uma posição de mais destaque no cenário internacional (RIBEIRO, 2015, p.53-54).

Segundo Cervo (2008), a mudança na presidência da República, em 2003, marcou a

transição de partido e ideologia no poder, e pode ser considerada uma correção de rumos que

foi empreendida por Lula da Silva, comportando três linhas de frente:

a) tirar a política exterior das ilusões da harmonia kantiana e de divisas e orientá-la para a conquista da reciprocidade real nas relações internacionais, ou seja, a transição do multilateralismo utópico para o multilateralismo de reciprocidade entre países centrais e emergentes; b) o enfrentamento das dependências estruturais – financeira, empresarial e tecnológica – com o fim de atenuá-las; c) a ideia de reforçar a América do Sul como pólo de poder e plataforma política e econômica de realização de interesses brasileiros. Por meio dessa estratégia, que contempla, enfim, a expansão dos empreendimentos brasileiros no exterior, cogita o governo do PT aproximar-se da interdependência real da era da globalização (CERVO, 2008, p.56).

É por meio do paradigma logístico que a política externa do Brasil prioriza os interesses

da nação, como por exemplo: o interesse da classe agrícola, com o combate aos subsídios e ao

protecionismo, a fim de preservar a competitividade do agronegócio brasileiro no cenário

internacional; o interesse dos empresários, por meio do amparo a concentração empresarial e o

desenvolvimento tecnológico; o interesse dos operários, por meio da defesa do emprego e

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salário; e por fim, o interesse dos consumidores (CERVO, 2008, p.86). Já Vigevani e Cepaluni

(2007), consideram que a estratégia utilizada por Lula pode ser chamada de autonomia pela

diversificação3, a qual enfatiza a cooperação Sul-Sul em busca de obter um maior equilíbrio

com os países do Norte, “realizando ajustes, aumentando o protagonismo internacional do país

e consolidando mudanças de programa na política externa” (VIGEVANI, CEPALUNI, 2007,

p.283). Almeida (2014) aponta as diferenças entre as diplomacias de Cardoso e de Lula da

Silva:

Finalmente, no que se refere aos princípios gerais sob os quais atuaram as duas diplomacias, pode-se dizer que enquanto FHC estimulava a integração do Brasil ao mundo globalizado, Lula preferia que essa inserção se fizesse com plena preservação da soberania nacional, objetivo vagamente indefinido (contrastando, por um lado, com a posição de renúncia implícita de soberania no âmbito do Mercosul, em especial no caso da projetada moeda única). FHC mantinha a ilusão de uma “globalização com fase humana”, ao passo que Lula se preocupava com os efeitos perversos da globalização (ALMEIDA, 2014, p.141).

É perceptível a atenção dada nas mais diversas áreas de atuação internacional durante o

governo de Lula da Silva, no caso da América do Sul deu-se maior destaque para a integração

da infraestrutura, no setor da energia e dos investimentos brasileiros, já no âmbito mais global,

o Brasil buscou se concretizar como um ator global, forjando coalizões com países como: Índia,

Rússia, China e África do Sul (CERVO, 2008, p.88). Para Almeida (2014, p.142), essa maior

presença internacional do Brasil pode ter sido “a partir ou em decorrência de mudanças de estilo

e mesmo de conteúdo da política externa do Brasil” como ator regional e mundial, como nos

casos de negociações sobre o meio ambiente, e em temas de comércio internacional (nesse caso

já veio da administração anterior).

Quanto ao governo de Dilma Rousseff, segundo a análise feita por Cornetet (2014),

apesar de se enfatizar a continuidade com relação ao governo anterior, verifica-se, que por um

lado “iniciativas realizadas no governo de Lula da Silva, como reuniões de cúpula e

agrupamentos com fins específicos, não foram descontinuadas; por outro, o empreendedorismo

da política externa “altiva e ativa” de Lula e de Amorim perdeu espaço” (CORNETET, 2014,

p.120-121). Para Visentini (2013), houve uma continuidade de propósitos e estratégias na

política externa do governo Dilma Rousseff, mas houve também uma mudança de estilo e ritmo,

baseado em características pessoais.

3 A autonomia pela diversificação remonta ao universalismo da política externa brasileira, uma vez que trata da amplificação estrutural da pauta relativa a política entre Estados, seguindo a tendência de mundialização das relações internacionais do Brasil.

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A diferença entre os governos se torna ainda mais perceptível quando observamos a

redução das vagas no Ministério das Relações Exteriores, segundo Cornetet (2014):

Comparando com o primeiro mandato de Lula, as vagas ofertadas no atual mandato caíram pela metade; comparando com o segundo mandato de Lula, caíram para um quarto. Embora o governo tenha passado lei autorizando a criação de novas vagas, essas jamais foram materializadas, revelando entrava burocrático facilmente contornável se houvesse vontade política efetiva nesse investimento na inserção internacional do Brasil (CORNETET, 2014, p.127).

Embora o governo Dilma Rousseff tenha mantido a continuidade relação à busca dos

objetivos nacionais de autonomia e de desenvolvimento, Cornetet (2014, p.140) ressalta que a

política externa brasileira se tornou menos propositiva e menos ousada. Para testar essa

hipótese, o autor estudou alguns indicadores e descobriu que:

[...] comparando-o com o governo de Lula, durante o governo de Dilma, houve menos viagens presidenciais – cerca de 30% a menos se compararmos com o primeiro mandato de Lula, cerca de 50% a menos se compararmos com o segundo –, as iniciativas de política externa foram menos numerosas e mais tímidas, a formação de novos diplomatas caiu – para cerca da metade da do primeiro mandato de Lula e cerca de um quarto da do segundo –, e desacelerou-se o estabelecimento de novos postos diplomáticos. Esses indicadores revelaram, dessa forma, a contenção da política externa, ocorrendo a verificação da primeira hipótese (CORNETET, 2014, p.140).

2.2. Política externa alemã pós-reunificação

Partindo de meados dos anos 1970, segundo Moniz Bandeira (2000, p.146), período em

que a URSS começa a passar por dificuldades econômicas e financeiras, a República

Democrática Alemã (RDA) começa a voltar-se cada vez mais para o ocidente e em 1983

obrigou-se a comprar produtos de países fora da comunidade econômica do Conselho de Ajuda

Mútua Econômica (COMECON), a qual era formada por países pertencentes ao Bloco

Soviético. Com a crise na União Soviética permitiu-se uma alteração nos termos da equação

bipolar, pois ela levou “a ascensão de uma administração reformista

(Gorbachov/Schedvarnaze), cujas iniciativas de reestruturação (não de sua abolição) atingiram

dinâmica impensada, acabando por derrocar o próprio sistema” (CÂMARA, 2013, p.96).

Na década de 1980, ocorreram empréstimos de bancos da República Federativa Alemã

(RFA) para o governo da RDA, a fim de evitar a paralização de sua economia e estreitar seus

vínculos, no entanto, este fato decorreu em uma intervenção militar da União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas (URSS), a fim de defender seu sistema comunista (MONIZ BANDEIRA,

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2000, p.148). A URSS via com desconfiança a tentativa de aproximação entre os dois lados e

fazia o possível para evitar essa aproximação.

Segundo Câmara (2013, p.69), podemos considerar como condicionantes do sucesso da

reunificação, a ascensão à presidência da URSS de Gorbachov, em 1985, juntamente com sua

política de reformas baseada na Glasnost e na Perestroika. Entretanto, segundo Moniz Bandeira

(2000, p.154), Honecker, governante da RDA, não aceitou as políticas de liberalização

econômica e política que a Perestroika e a Glasnost inspiravam. Já no ano de 1989, Honecker

foi afastado, usando-se como artifício para isso a ameaça de revelar o processo que ele

respondera durante a ditadura de Hitler (MONIZ BANDEIRA, 2000, p.159). Porém, a

substituição não acalmou a população, que continuava querendo sair da RDA e clamava por

liberdade e direito de eleições (MONIZ BANDEIRA, 2000, p.160).

O governo substituto de Krenz, segundo Moniz Bandeira (2000, p.162), concluiu que

somente a liberdade de ir e vir acalmaria a população, portanto, foi divulgado à imprensa o

projeto de lei que a partir das 8 horas da manhã do dia 10 de novembro de 1989, qualquer

cidadão da RDA poderia obter passaporte e visto para ir e vir para a RFA, sem justificar às

autoridades. Após a divulgação da notícia, milhares de alemães saíram para a rua em direção

ao muro e os guardas já não tinham mais o controle sobre os passaportes.

Passado este episódio, a população da RDA já não pedia mais apenas por reformas, mas

sim pela reunificação da Alemanha, a qual o governo de Bohn tinha maiores condições de

executar. Dessa forma, “a própria população da RDA, que econômica, social e politicamente

se inviabilizara como Estado soberano, constituiu assim a força motriz da reunificação”

(MONIZ BANDEIRA, 2000, p.168). Nesse sentido, após a queda do muro, foi lançado por

Helmut Kohl o “Programa de Dez Pontos para a Superação da Divisão da Alemanha e da

Europa”:

Os principais pontos do Programa de Kohl diziam respeito, de forma sucinta, ao trânsito entre as duas repúblicas (ponto 1); à intensificação da cooperação em várias áreas (ponto 2); à necessidade de realização de eleições livres e multipartidárias na RDA (ponto 3); à possibilidade de criação de uma “comunidade” entre os dois Estados (ponto 4); à opção de, ademais de uma comunidade, criação de estruturas confederativas (ponto 5); à relação entre a arquitetura da futura Alemanha com a da Europa (ponto 6); à Comunidade Europeia como “elemento decisivo” para o continente (ponto 7); à manutenção da CSCE (ponto 8); à importância de avanços na área de desarmamento para a questão da divisão da Alemanha e da Europa (ponto 9); e à reiteração do objetivo político da RFA de perseguir o restabelecimento da unidade nacional “pela livre autodeterminação do povo alemão” (ponto 10) (CÂMARA, 2013, p.70-71).

A integração entre os dois lados implicaria no alinhamento com a Organização do

Tratado do Atlântico Norte (OTAN), dessa forma, em reunião de Kohl com Bush, ficou

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acordado que “visando acomodar os interesses de segurança da URSS, a estrutura militar da

OTAN não se estenderia ao território da RDA” (MONIZ BANDEIRA, 2000, p.174-175). No

entanto, futuramente, esse alinhamento com os Estados Unidos acabaria por proporcionar à

Alemanha o “desempenho de um papel mundial sobretudo no âmbito do trilateralismo

econômico e seria apoiada principalmente pelos membros da OTAN e pelos partidários da

globalização” (PFETSCH, 1997, p.184).

Em julho de 1990, Gorbachev, de acordo com Moniz Bandeira (2000, p.176), finalmente

concordou com o fim das responsabilidades e direitos de ocupação da URSS em troca de

garantias de segurança e outras compensações, ficando dessa forma, estabelecido um prazo para

a retirada dos soldados da antiga RDA. Em 1991, foi aprovada no Bundestag4 a moção pela

mudança da capital de Bonn para Berlim por apenas 17 votos de diferença (337 contra 320)

(CÂMARA, 2013, p.79-80).

Após o processo de reunificação, “a Alemanha começou a normalizar sua política

exterior, ou seja, a expressar sua soberania, sem os constrangimentos impostos pelas

responsabilidades e direitos de ocupação, que os Aliados ainda mantiveram até 1990” (MONIZ

BANDEIRA, 2000, p.179). No entanto, segundo Câmara (2013, p. 139), houve a renúncia ao

instrumento militar que foi “a maior medida de fomento da confiança do Governo em Bonn

voltada à comunidade internacional, em especial a seus vizinhos europeus”. Nesse sentido, após

a aprovação do Parlamento, o Tribunal Constitucional Federal afirmou, em 1994, que a

colocação de unidades do Exército Alemão a serviço de missões da Organização das Nações

Unidas (ONU) é compatível com a Constituição. Dessa forma, se dá a pretensão alemã por um

assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (CSNU) (PFETSCH, 1997, p.185). De

acordo com Moniz Bandeira (2000, p.182), a obtenção por um assento permanente no CSNU

era também o desejo do Japão, Brasil, África do Sul e Índia, cujos países adquiriram um peso

internacional, desde meados dos anos 1990. Dessa forma, em 2004, Alemanha, Brasil, Japão e

índia, estabeleceram o G-4 com o objetivo de sinalizar o interesse em obter um assento

permanente no CSNU (CÂMARA, 2013, p.194-195).

De acordo com Moniz Bandeira (2000, p.184), para o suporte de sua política exterior,

“a Alemanha começou a ensaiar o emprego da Bundeswehr5 [...], afim de demonstrar que estava

em condições de exercer o poder, como potência militar, assumindo responsabilidades pela

manutenção da ordem mundial”. Nesse sentido, em relação a América Latina, com o intuito de

ampliar as relações políticas e a aproximação em todos os níveis com os países da região, a

4 Parlamento da República Federal da Alemanha. 5 Forças Armadas Alemãs.

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Alemanha “continuou a enfatizar a proteção do meio ambiente, defesa dos direitos humanos, o

desenvolvimento do Terceiro Mundo e o diálogo Norte-Sul” (MONIZ BANDEIRA, 2000,

p.189). Na questão ecológica, a iniciativa de intermediar o diálogo entre o Norte e o Sul, foi da

RFA “mostrando o alto grau de interesse da opinião pública do país no tema e se

comprometendo com vários financiamentos por todo o mundo” (LOHBAUER, 2000, p.320).

Gerhard Schröder, candidato do Partido Social-Democrata Alemão (SPD) em 1998,

durante a campanha eleitoral, sempre enfatizou que manteria a política exterior de Kohl, a fim

de não provocar instabilidade, pois havia uma preocupação por parte do eleitorado e dos países

aliados em relação a uma possível mudança de rumos caso assumisse o poder (MONIZ

BANDEIRA, 2000, p.192). Devido à possibilidade de alcançar o poder, segundo Moniz

Bandeira (2000), os membros da Bündnis 90/Die Grünen (Aliança 90/ Os Verdes )6

abandonaram suas posições mais radicais, para assim realizarem um entendimento com o SPD,

concretizando assim, a coalizão SPD-Verdes ao Governo Federal, no qual Joschka Fischer, líder

dos Verdes, enfatizou o propósito das mudanças para a preservação ambiental:

Mas continuou a alimentar o propósito de estabelecer um imposto ecológico e dar início à gradual desativação das centrais nucleares, o que geraria enormes despesas para a mudança da matriz energética e poderia resultar na perda de competitividade das indústrias, além da consequente retração do mercado de trabalho (MONIZ BANDEIRA, 2000, p.195).

O marco da reestruturação do SPD foi a vitória de Schröder em 1998. A linha defendida

por Schröder foi chamada de modernizadora, pois “propugnava a inovação e modernização

tecnológica, a criação de empregos via desgravação fiscal das empresas e a flexibilização e/ou

desregulamentação de alguns setores da economia” (CÂMARA, 2013, p.151-152). No entanto,

segundo Moniz Bandeira (2000, p.201), a percepção de Schröder a respeito das relações Norte-

Sul mostraram-se defasadas, principalmente com relação à América Latina, que foi vista como

um todo, descartando-se a diversidade dos países, em termos de potenciais de cooperação com

a RFA. O maior interesse da Alemanha na época, segundo Lohbauer (2000, p.312), foi para o

Leste Europeu, pois era o maior investidor e parceiro comercial da Polônia, Hungria, República

Tcheca e Eslovênia.

De acordo com Câmara (2013), o primeiro mandato de Angela Merkel (2005-2009) deu

continuidade ao perfil de política externa iniciado por seu antecessor Gerhard Schröder, sendo

exercido sob uma coalizão com os sociais-democratas. Já o segundo mandato, iniciado em

6 Bündnis 90/Die Grünen é a fusão do partido político Die Grünen, fundado no ano de 1980, com o partido Bündnis 90, fundado no ano de 1991, cuja união ocorre no ano de 1993. Disponível em: < https://www.gruene.de/ueber-uns/wer-wir-sind.html>. Acessado em: 22 de set. de 2015).

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2009, Merkel lidera coalizão com os liberais-democratas (FDP) (CÂMARA, 2013, p.258). Em

2007, Merkel “procurou institucionalizar diálogo com os principais países emergentes7 (o

outreachgroup: Brasil, Índia, China, África do Sul e México) em áreas típicas (finanças, meio

ambiente, energia, cooperação para o desenvolvimento)” (CÂMARA, 2013, p.263). Dessa

forma, “no campo da energia, a Alemanha teve papel preponderante para o estabelecimento,

em janeiro de 2009, da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA)” (CÂMARA,

2013, p.264).

A Alemanha adotou talvez a mais corajosa e saudável política energética dos últimos dez anos, com extraordinários efeitos para o futuro: decidiu interromper a geração de energia elétrica de origem nuclear, quando já gerava 30% de sua demanda com essa forma energética. Irá desativando seus reatores nucleares à medida que eles cumpram a sua previsão de utilidade, não substituindo-os por outros com a mesma forma energética. (VIDAL, 2003, p.384).

Em relação ao Brasil, a Chanceler Angela Merkel, veio ao país em maio de 2008, visita

na qual realizou uma atualização do Plano de Ação Cardoso-Schröder (2002), adotando o

Programa de Parceria, o qual “prevê a coordenação política e cooperação entre os dois países

em diversas vertentes, com destaque à mudança do clima, diversidade biológica, reforma das

Nações Unidas e diálogo das sociedades” (CÂMARA, 2013, p.266). Já em dezembro de 2009,

de acordo com Câmara (2013, p.266), o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou à

Alemanha, no qual os dois países concordaram em impulsionar a cooperação nas áreas de

infraestrutura, energia, segurança pública, tecnologia e inovação, mudança do clima e

diversidade biológica.

7 Segundo Peter Marber, chefe de investimento para mercados emergentes da consultoria Loomis, Sayles & Company, essa classificação é simplista demais e para tanto, criou uma nova avaliação, que divide países em 10 grupos diferentes após a análise de dados econômicos (tamanho da população, PIB per capita e competitividade) e dados sociais (Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice da Economia do Conhecimento (IEC) do Banco Mundial, e uma mistura de indicadores de liberdades civis e direitos políticos). Dessa forma, os países foram divididos em 10 grupos de acordo com os resultados estatísticos parecidos. O desempenho dos países foi comparado usando-se dados do final de 2003 e do final de 2013. O Brasil, por exemplo, avançou do grupo 4 para o grupo 6, junto com Indonésia, México e Rússia. Sendo considerado 0 como o pior cenário e 10 como o melhor. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150814_economia_paises_hb>. Acessado em: 22 de set. de 2015).

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2.3. Cooperação internacional para o desenvolvimento e os regimes internacionais

Como o objeto de estudo trata-se da cooperação entre Brasil e Alemanha, visando o

desenvolvimento e a implementação de fontes de energias renováveis, faz–se necessário

analisarmos a cooperação internacional para o desenvolvimento e os regimes internacionais.

Para Lima (2010), várias teorias tradicionais como, por exemplo, as da modernização, as

estruturalistas, as marxistas e as neoclássicas, “possuem em comum a ideia do desenvolvimento

como crescimento econômico, ao qual o enriquecimento (econômico) se torna palavra chave

quando se fala de desenvolvimento nessas teorias” (LIMA, 2010, p.82). Para o autor, tais teorias

são criticadas por deixar “em segundo plano outros critérios como cultura, etnia, liberdades

individuais etc” (LIMA, 2010, p.82).

Lima (2010) apresenta a teoria do desenvolvimento humano que supre a lacuna deixada

pelas teorias tradicionais, na qual Amartya Sen (2000) foi um grande contribuinte e “em suas

publicações dá importância à defesa das liberdades inerentes ao ser humano, com especial foco

às oportunidades econômicas, liberdades políticas, serviços sociais, garantias de transparência

e segurança protetora” (LIMA, 2010, p.84). Para Sen, em seu livro Desenvolvimento como

Liberdade (2010), “o desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação

de liberdade” (SEN, 2010, p.16). Dentro desta perspectiva a vulnerabilidade ambiental pode ser

considerada uma fonte de privação para o desenvolvimento.

Na linha de pensamento da proteção ambiental surge também o já conhecido e estendido conceito de Desenvolvimento Sustentável, o qual buscaria satisfazer as necessidades do presente sem afetar as capacidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Esse conceito surgiu com maior força no cenário internacional na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) (LIMA, 2010, p.86).

Maciel (2009, p.221), argumenta que a ONU substituiu o termo assistência técnica pelo

de cooperação técnica na Resolução 1.383, na Assembleia Geral da ONU de 1959, devido “às

reivindicações dos países do Sul, para que a cooperação ultrapassasse o sentido de uma ajuda

vinculada a interesses político-estratégicos e passasse a ser uma fonte de trocas e interesses

mútuos, enriquecendo e capacitando todos os entes envolvidos” (MACIEL, 2009, p.221).

Ayllón (2007, p.35) considera como sendo as dinâmicas explicativas das características do

sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento os seguintes aspectos: conflito

Leste – Oeste, conflito Norte – Sul e a globalização. Quanto a visão sobre o desenvolvimento

sustentável, para Ayllón (2007):

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A partir de 1992, gana fuerza la idea de un desarrollo sostenible que no comprometa el bienestar de generaciones venideras. Desde 1995, el enfoque del género en el desarrollo se convierte en otro componente omnipresente en la cooperación, en algunos casos de inclusión obligatoria para la aprobación de proyectos. Más recientemente, los Objetivos de Desarrollo del Milenio se transforman en la brújula que nortea todos los esfuerzos internacionales y pautan las políticas públicas nacionales de los países en desarrollo (AYLLÓN, 2007, p.39).

Apesar da mudança de pensamento da sociedade em relação a preservação ambiental e

a importância do desenvolvimento sustentável, ainda é possível perceber um comportamento

prejudicial, que segundo Langenberger e Andion (2004), pode ser explicado pelo

individualismo metodológico:

De acordo com o individualismo metodológico, concepção predominante na economia clássica e neoclássica, o homem racional deve se apropriar do ambiente natural, via ocupação e extração, e utilizá-lo como depósito para os seus resíduos e como estoque de recursos, provocando, assim, o desequilíbrio dos sistemas naturais (LANGENBERGER; ANDION, 2004, p.381).

Nesse contexto, o comportamento consumista dos indivíduos é um fator prejudicial, pois

a constante necessidade das pessoas por possuírem coisas mais modernas e atuais “é sempre

marcado pelo contexto social e pelos paradigmas comportamentais da sociedade em geral, os

quais ainda apresentam grande influência do modelo consumista” (LANGENBERGER;

ANDION, 2004, p.391). Nessa perspectiva, é necessário uma mudança no “padrão de consumo

que pode levar a sociedade a uma mudança do patamar dos valores sociais, fazendo o

consumidor considerar aspectos ambientais, éticos e sociais na escolha de produtos, formas de

inserção no mercado de trabalho e de investimento” (LANGENBERGER; ANDION, 2004,

p.392).

A teoria dos regimes internacionais aparece com alternativa para tratarmos da questão

ambiental, para Stephen Krasner, eles "são definidos como princípios, normas, regras e

procedimentos de tomada de decisão de determinada área das relações internacionais em torno

dos quais convergem as expectativas dos atores" (KRASNER, 2012, p.93). Justamente pelo

fato de os regimes internacionais englobarem princípios e normas, caracteriza-se por um acordo

de obrigação geral e não apenas interesses de curto prazo. Para Maciel (2009):

Se por um lado não houve a criação de um governo centralizado que regule os Estados, por outro surgiu um conjunto de regimes internacionais que auxiliam na almejada manutenção da ordem, por meio de uma série de fatores que criam diversas normas e regras que direcionam as ações dos Estados, possibilitando expectativas de uma convivência cooperativa. A natureza dos regimes é a intersubjetividade, já que há uma mútua constitutividade entre normas e atores. Além disso, o significado dos regimes só é entendido por aqueles que estão se relacionando (MACIEL, 2009, p.223-224).

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Já a governança global, de acordo com Barros-Platiau, Varella e Schleicher (2004,

p.105), é o objeto de estudo das organizações internacionais, na qual é necessário verificar como

a governança pode existir na ausência de governo. Ou seja, a governança global “reside no

processo de construção das instituições como a ONU, FMI, OMC e dos regimes internacionais

para a regulação dos desafios contemporâneos, portanto não deve ser confundida com um

governo global” (BARROS-PLATIAU, 2004, p.8).

Existem três visões distintas de regimes: a) visão estrutural convencional, a qual vê o

conceito de regime como inútil; b) visão estruturalista modificada, a qual diz que os regimes

até podem ter certa importância, mas sob condições restritas; e finalmente a, c) visão grociana,

que vê os regimes como um atributo inerente a qualquer padrão de comportamento humano

completo e persistente” (KRASNER, 2012, p.97).

Sob a perspectiva estrutural convencional, os regimes internacionais e seus impactos

nos resultados são completamente excluídos na análise do comportamento dos Estados no

sistema internacional. Segundo Krasner (2012, p.97), a obra de Susan Strange (2009)

“representa esta visão, pois ela tem fortes reservas em relação ao valor da noção de regimes”,

argumentando inclusive que o conceito ofusca as relações entre poder e interesses. Em sua obra

“Cave! Hic Dragones: uma crítica da análise dos regimes”, Strange (2009) apresenta sua visão

crítica:

Los cinco apartados (o “dragones” de los que cuidarse) son: primero, que el estudio de los regímenes es en gran parte una moda pasajera, uno de esos giros en las costumbres no muy difíciles de explicar como una reacción temporal ante acontecimientos del mundo real, pero que en sí mismo tiene poco que aportar a largo plazo al conocimiento. Segundo, es un concepto vago e impreciso. Tercero, es tendencioso y peligroso como unos dados trucados. Cuarto, distorsiona al enfatizar lo estático e infravalorar el elemento dinámico de cambio en la política mundial. Y quinto, es reduccionista, anclado en un paradigma estatocéntrico que limita la visión de una realidad más amplia (STRANGE, 2009, p.126).

Já sob a perspectiva estrutural modificada, acredita-se que os Estados buscam sempre

maximizar seus interesses e poderes perante os outros atores do sistema internacional. Para

Krasner (2012, p.97), os representantes dessa vertente de análise dos regimes internacionais são

Keohane e Stein. Ambos autores “postulam que os regimes podem ter impacto quando

resultados Pareto-ótimos não poderiam ser alcançados por meio de ações individuais não

coordenadas” (KRASNER, 2012, p.98). Ou seja, considerando o sistema internacional, por

meio desta visão, os regimes surgiriam apenas de acordos voluntários entre atores juridicamente

iguais, sendo dessa forma, a coordenação do comportamento destes a função básica dos

regimes, a fim de se obter os resultados desejados.

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Por fim, sob a perspectiva grociana, os regimes internacionais são fenômenos presentes

em todos os sistemas políticos, estando presente nas reflexões dos seguintes autores: Puchala,

Hopkins e Young. “Esses autores rejeitam o pressuposto segundo o qual sistema internacional

é composto por Estados soberanos limitados apenas pelo equilíbrio de poder” (KRASNER,

2012, p.99). Nesse sentido, “a perspectiva grociana aceita os regimes como uma parte

fundamental de toda interação humana padronizada, incluindo os comportamentos do sistema

internacional” (KRASNER, 2012, p.100).

O trabalho irá se guiar pela visão grociana de regimes internacionais, pois por meio

desta perspectiva os regimes são interpretados como fenômenos importantes no sistema

internacional. Dentre as explicações para o desenvolvimento dos regimes, Krasner (2012,

p.100) aponta cinco variáveis causais básicas. Primeiramente tem-se o autointeresse egoísta, no

qual o ator egoísta passa a preocupa-se com o comportamento dos outros apenas quando este o

afeta diretamente. Esse ponto é muito comum na área ambiental, pois os países preocupam-se

geralmente apenas com seu próprio desenvolvimento econômico sem considerar os danos

nocivos ao meio ambiente. No entanto, após o Protocolo de Quioto, este cenário tem mudado,

exigindo-se uma maior cooperação entre os países para atingirem juntos um desenvolvimento

mais limpo. De acordo com Barros-Platiau, Varella e Schleicher (2004), a ligação entre meio

ambiente e as relações internacionais:

[...] revela também uma perspectiva interessante relativa à necessidade de gestão coletiva da crise ambiental, uma vez que os problemas que constituem esta crise perpassam as tradicionais fronteiras territoriais dos Estados nacionais e demandam uma ação conjunta de todos os atores envolvidos (BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHLEICHER, 2004, p.102).

Em segundo lugar, Krasner (2012) apresenta o poder político, no qual encontram-se

duas visões distintas. A primeira parte da ideia de que o poder é utilizado para assegurar o bem

comum, relacionando-se com o objeto estudado podemos considerar esse ponto como políticas

públicas a favor do meio ambiente que irão favorecer a sociedade como um todo. Já a segunda

abordagem usa o poder a serviço de interesses particulares, ou seja, “os atores mais poderosos

criaram regimes que serviram aos seus propósitos particulares; os outros atores foram levados

a aceitá-los porque seus ganhos foram manipulados ou suas opções eram limitadas”

(KRASNER, 2012, p.104).

Como terceiro aspecto tem-se as normas e os princípios que são definidores de qualquer

regime por meio de características críticas e podem, também, “ser considerados como

explicações para a criação, a persistência e a dissipação de regimes” (KRASNER, 2012, p.104).

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São os princípios e as normas disseminados pelo regime como, por exemplo, o meio ambiente,

que condicionam o comportamento nas áreas temáticas.

Os usos e costumes são apontados como quarta variável, pois são responsáveis por

sustentar e reforçar “as pressões associadas ao auto-interesse egoísta, ao poder político e aos

valores disseminados” (KRASNER, 2012, p.106), não podendo gerar regimes por si mesmas.

Por fim, a quinta variável é o conhecimento. Quando não se tem consenso, em um

mundo de Estados soberanos, pode ser que o conhecimento tenha pouco impacto no

desenvolvimento de regimes, no entanto, quando apenas algumas partes compartilharem de

crenças específicas, a importância será mediada pelo poder dos seguidores (KRASNER, 2012,

p.107). Considerando-se a complexidade do mundo, o conhecimento consensual pode facilitar

os acordos para o desenvolvimento de regimes internacionais, como por exemplo na área

energias renováveis, na qual o conhecimento tecnológico de uma parte pode tornar o caminho

mais fácil para a outra parte envolvida na cooperação.

No presente estudo a variável das normas e princípios é a mais importante para a análise

do caso, pois, segundo Krasner (2012, p.104), “as características críticas são definidoras de

qualquer regime”.

Entretanto, as normas e os princípios que influenciam o regime de determinada área das relações internacionais, mas que não estão diretamente ligados a essa área, também podem ser considerados como explicações para a criação, a persistência e a dissipação de regimes (KRASNER, 2012, p.104).

De acordo com Inoue e Schleicher (2004), “a formação de um regime internacional

ambiental não depende somente da existência de um problema ambiental, mas principalmente

da convergência e coordenação das expectativas dos atores em relação a ele” (INOUE;

SCHLEICHER, 2004, p.19). Dessa forma, segundo Langenberger e Andion (2004), o debate

internacional percebe a necessidade de uma nova forma de desenvolvimento, dando prioridade

a gestão dos bens comuns globais. Assim, se “reestrutura a noção de desenvolvimento a partir

da década de 1980, trazendo à tona formas de regulação sócio-econômicas e ambientais

inovadoras, as quais ultrapassam as proposições tradicionais de gestão das políticas públicas”

(LANGENBERGER; ANDION, 2004, p.381).

A consciência ambiental no Brasil se deu muito tarde se comparado à Alemanha, onde,

segundo Langenberger e Andion (2004), já no final dos anos 1960 os movimentos alternativos

manifestavam uma ideologia preservacionista e nas décadas de 1970 e 1980, a população em

geral apresentava características do ambientalismo. Já no Brasil, a degradação ambiental deu-

se a partir da colonização, onde “desde a chegada dos primeiros colonizadores nas costas

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brasileiras, os recursos naturais abundantes somente foram vistos sob a ótica econômica, sem

considerar a importância dos ecossistemas ou da biodiversidade” (LANGENBERGER;

ANDION, 2004, p.392). Dessa forma, é importante ressaltar que ambos os países tem histórias

completamente diferentes e não se pode comparar seu grau de desenvolvimento. O presente

estudo propõem-se a analisar justamente a cooperação entre Brasil e Alemanha para promover

um desenvolvimento de forma mais sustentável.

Partimos do pressuposto de que foi a partir da década de 1990, que “trouxe várias

mudanças no contexto internacional, que vieram afetar a orientação da assistência para o

desenvolvimento, recuperando o papel da cooperação técnica” (MIRANDA, 2008, p.182).

Acontecimentos – como a queda nos fundamentos geopolíticos da ajuda externa provocada pelo fim do conflito Leste-Oeste, a entrada das crises populacionais e ambientais na agenda internacional, a participação popular na vida político-econômica e o clima psicológico de maior interdependência na condução dos problemas mundiais – contribuíram para o ressurgimento de preocupações com o desenvolvimento social e ambiental, além do econômico (MIRANDA, 2008, p.182).

Assim, de acordo com Miranda (2008), começou-se a discutir formas de melhorar a

eficiência da cooperação técnica e por meio dessa perspectiva, ela “passou a ser feita menos

como assistência e mais como parceria, o que significava a participação da população local na

identificação e solução de problemas de desenvolvimento” (MIRANDA, 2008, p.183).

2.4. Meio ambiente na agenda internacional

Por meio da análise da política externa brasileira e alemã do final da década de 1980 até

os dias atuais apresentada no decorrer do capítulo, percebe-se que houve mudanças

significativas no contexto interno de cada país, o que acabou afetando as prioridades da agenda

internacional desses países. No que diz respeito a questão ambiental, a Alemanha já mostrava

uma certa preocupação em relação aos efeitos negativos sobre o meio ambiente, já o Brasil,

como veremos no próximo capítulo, era considerado um vilão no assunto da degradação

ambiental e foi apenas no final da década de 1980 e início da década de 1990 que este cenário

apresentou algumas mudanças, principalmente com a realização da Rio-92 no país.

Nessa perspectiva, a base teórica dos regimes internacionais se aplica ao caso devido à

natureza cooperativa para a preservação de um bem comum utilizada pelos Estados, neste caso

é o interesse da preservação ambiental, visto que a degradação do meio ambiente não respeita

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fronteiras políticas. Já a visão grociana dos regimes internacionais os considera como

fenômenos importantes no sistema internacional, pois é por meio da formação deles que os

Estados cooperam entre si tendo um objetivo em comum. No presente caso, o objetivo é a

análise da cooperação ambiental entre Brasil e Alemanha, mais especificamente no que diz

respeito à utilização de energias renováveis, pois por meio desta parceria torna-se possível a

transferência de tecnologias e recursos financeiros para o Brasil, que possui um grande

potencial nessa área, devido a sua extensão territorial e posição geográfica. Dessa forma, o

presente estudo propõe-se a analisar a origem do interesse na cooperação, os avanços e

retrocessos e as suas perspectivas futuras em relação ao tema. Para isso, o próximo capítulo

abordará a origem da preocupação com o meio ambiente na agenda internacional, o que se

reflete por meio das Conferências Mundiais sobre o tema.

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3. ORIGEM DA PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL

Para auxiliar na compreensão do surgimento da preocupação mundial com o meio

ambiente, é importante, primeiramente, apresentar um breve histórico das conferências das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente ocorridas até os dias atuais, mais especificamente no

aspecto das energias renováveis. Para isso, então, serão consideradas para a análise a

Conferência de Estocolmo de 1972, a Rio 92, a Joanesburgo 2002 e a Rio+20. Apresentaremos

ainda, a matriz energética brasileira. Dentro desse contexto, destacamos o Protocolo de Quioto

e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, descrevendo seus objetivos e sua forma de

funcionamento. Com o objetivo de introduzir o próximo capítulo, analisamos por fim, o

posicionamento e a atuação da Alemanha na área de energias renováveis.

3.1. Histórico das conferências mundiais

O cenário de degradação ambiental do mundo, principalmente em decorrência da

queima de combustíveis fósseis e da corrida pelo maior desenvolvimento industrial, onde os

países em desenvolvimento buscam alcançar determinado padrão de industrialização e

tecnologia para conseguir competir igualmente com os países desenvolvidos, acabou gerando

uma luta pelas melhores tecnologias e formas de alcançar tal desenvolvimento, cenário este em

que as fontes de energia significam poder e dominação. Sendo assim, despertou-se a

necessidade de mudança e de um pensamento mais sustentável em relação à noção de

desenvolvimento que estava em vigor, foi assim que surgiram as conferências mundiais em prol

do desenvolvimento sustentável, para harmonizar a relação entre desenvolvimento industrial e

degradação ambiental antes que seja tarde demais, pois as consequências dessas práticas são

transnacionais.

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3.1.1. Estocolmo 1972

Em 1972, devido à preocupação com os efeitos negativos do processo de

industrialização, a Assembleia Geral da ONU decidiu convocar uma conferência sobre a

temática do meio ambiente, a fim de discutir o tema no âmbito político com os representados

dos Estados. Sendo assim, destaca-se a importância da Conferência de Estocolmo, pois foi a

primeira conferência mundial à discutir o assunto inserindo-o na agenda internacional dos

Estados. De acordo com Sequinel (2002), essa iniciativa uniu os países “em torno de um

objetivo comum e desencadeou uma série de Conferências Mundiais sobre temas como

alimentação, moradia, população, direitos humanos, biodiversidade planetária e participação da

mulher na sociedade, entre outros” (SEQUINEL, 2002, p.12).

Nessa oportunidade, de acordo com Duarte (2003, p.22), após muitos debates, deu-se a

criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cuja sede fica em

Nairóbi (Quênia), o qual tem o papel de coordenar, divulgar e discutir temas ambientais. Outro

resultado, de acordo com Neves e Dalaqua (2012), ficou definido no texto final da Conferência,

o qual afirmava que era necessário se considerar as diferenças econômicas entre os países

quando se faz a análise dos problemas ecológicos. Dessa forma, “a Declaração instava os países

pobres a dirigirem seus esforços para o desenvolvimento, ao mesmo tempo em que pedia aos

países desenvolvidos que se esforçassem para reduzir a distância que os separava das demais

nações através de insumos financeiros e tecnológicos” (NEVES; DALAQUA, 2012, p.15).

É importante, considerando-se o contexto brasileiro da época, o qual assistia ao milagre

econômico8 apresentando altas taxas de crescimento. No entanto, o cenário político interno era

o da ditadura militar e foi marcado pela repressão política. Já em relação à política externa, vale

destacar que:

[...] o Governo brasileiro interpretava a crescente atenção internacional ao meio ambiente como parte de um processo que não podia favorecer o Brasil, um processo que daria prioridade às chamadas “novas tarefas”, especialmente às questões de meio ambiente, dos direitos humanos, das leis marítimas, dos narcóticos, e de população, entre outras (LAGO, 2013, p.33).

O Brasil, conforme Lago (2013, p.18), possuidor de grandes reservas de recursos

naturais e de biodiversidade, passou a chamar a atenção internacional colocando-se em dúvida

8 Segundo Hermann (2011, p.69), o milagre econômico foi um período de grande crescimento da economia, alcançado por meio de uma combinação da redução das taxas de inflação juntamente com os superávits do balanço de pagamentos.

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sua capacidade de preservar tal patrimônio e devido à intensificação das queimadas na floresta

Amazônica esse debate agravou-se após Estocolmo. Porém, o grande destaque internacional

sempre foi a Amazônia, sendo que outras áreas de grande biodiversidade, como a Mata

Atlântica e o cerrado, eram deixados de lado. Dessa forma, o discurso dos países ricos foi

colocado em cheque, pois “anteriormente se falava em ganância na exploração de riquezas,

agora se especulava sobre a real intenção dos países ricos: promover o congelamento do

patrimônio genético da região e transformar a floresta em capital de reserva para futura

exploração da biodiversidade” (DUARTE, 2003, p.33).

3.1.2. Rio-92

Em 1992 foi realizada a Conferência do Rio e, segundo Lago (2013, p.80), o Relatório

da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi o fator decisivo para a

convocação de uma nova Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente. O Relatório

Nosso Futuro Comum9, produzido em 1987, tornou-se “referência para discussões sobre a

temática ecológica, consolidando a expressão desenvolvimento sustentável, síntese para a

consecução do crescimento com a conservação, e que leva em consideração os direitos de

gerações futuras” (DUARTE, 2003, p.39). As conclusões do relatório, para Lago (2013),

“oferecem alternativas e apontam caminhos viáveis que não excluem o desenvolvimento dos

pobres e o questionamento dos padrões dos países mais ricos” (LAGO, 2013, p.83).

O contexto interno do Brasil na época, passou pela transição do regime militar para o

democrático, trazendo grandes mudanças e novos questionamentos, por meio de uma maior

participação da sociedade civil brasileira, que passou a ter o poder de manifestar a sua

insatisfação. Dessa forma, nesse período, “percebeu-se um aumento da vontade política para

com os assuntos ambientais” (NEVES; DALAQUA, 2012, p.16). Em dezembro de 1988, de

acordo com Lago (2013), foi o governo do Presidente José Sarney que propôs o Brasil para

sede da Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente. Anteriormente, ele lançou o

Programa Nossa Natureza:

O presidente José Sarney lançou, em outubro de 1988, no mesmo mês em que foi adotada a nova Constituição, o Programa Nossa Natureza, que envolvia sete

9 Também conhecido como Relatório Brundtland, devido ao fato de a Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, ter chefiado a Comissão.

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Ministérios e que tinha como objetivos: a) conter a ação predatória do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis; b) fortalecer o sistema de proteção ambiental na região amazônica; c) desenvolver o processo de educação ambiental e de conscientização pública para a conservação do ambiente; d) disciplinar a ocupação e exploração racional da Amazônia Legal, fundamentadas no ordenamento territorial; e) regenerar o complexo de ecossistemas afetados pela ação antrópica; e f) proteger as comunidades indígenas e as populações envolvidas nos processos extrativistas. O Governo anunciou, também, a suspensão dos incentivos fiscais a projetos agropecuários nas áreas de floresta tropical densa (LAGO, 2013, p.91).

Era perceptível a maior atenção dada pelo governo e pela sociedade civil brasileira ao

meio ambiente no período anterior à conferência, pois foi criado o Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a fim de se unificar as atividades

relacionadas ao meio ambiente. Nesse cenário, já no final da década de 1980, iniciaram-se “as

negociações das duas Convenções que foram abertas para assinatura na Conferência do Rio: a

Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima e a Convenção sobre Diversidade Biológica”

(LAGO, 2013, p.79-80). Para Neves e Dalaqua (2012), o fato de o governo do Brasil ter

assumido a realização da Rio-92 “ia de encontro ao novo projeto político que era desenhado

para o Brasil; o qual almejava a abertura da economia ao mercado internacional, ao mesmo

tempo em que buscava uma maior aproximação com os países desenvolvidos e adotava uma

postura mais ativa nos principais fóruns multilaterais” (NEVES; DALAQUA, 2012, p.16).

De acordo com Gabeira (2012), a conferência representava uma grande mudança para

o Brasil, pois “o país ocupara o centro do debate ambiental, a partir da constatação do efeito

deletério das queimadas e do desmatamento no território nacional, recebendo inúmeras críticas”

(GABEIRA, 2012, p.419). O autor chega a afirmar que a Cúpula da Terra representou o início

de uma nova trajetória para o Brasil e para os Estados Unidos, pois enquanto “o Brasil,

lentamente, deixava o posto de vilão ambiental, os Estados Unidos, ainda sem se dar conta,

corriam o risco de ocupá-lo no futuro” (GABEIRA, 2012, p.420).

De acordo com Duarte (2003, p.43), a Conferência do Rio, foi para o Brasil “um marco

das relações multilaterais e um êxito diplomático que correspondeu às expectativas e objetivos”.

Já para o movimento ambientalista, ela “evidenciou que nem mesmo a participação maciça de

chefes de Estado consegue ofuscar o brilho dos grupos não-governamentais” (DUARTE, 2003,

p.43). No entanto, Lago (2013) apresenta também que:

A perspectiva de que o desenvolvimento sustentável seria a base de um novo paradigma da cooperação internacional, no entanto, revelou-se ilusória, uma vez que o processo de globalização se sobrepôs. O desenvolvimento sustentável não é necessariamente incompatível com a globalização: para muitos, ao contrário, a preocupação com o meio ambiente é uma das consequências da globalização. Entretanto, vários aspectos apontam para as dificuldades que a globalização representa para a tentativa de se impor o desenvolvimento sustentável como novo paradigma, como a incompatibilidade entre o crescimento das empresas

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transnacionais e a mudança dos padrões de produção e consumo (LAGO, 2013, p.113-114).

3.1.3. Joanesburgo 2002

A Cúpula de Joanesburgo, em 2002, foi convocada com o objetivo de “estabelecer um

plano de implementação que acelerasse e fortalecesse a aplicação dos princípios aprovados no

Rio de Janeiro” (LAGO, 2013, p.15). No entanto, o contexto mundial pós atentados de 11 de

setembro de 2001 não colaborou com os objetivos previstos e acabou influenciando nos

resultado da conferência:

A Rio-92 ocorreu em um clima que favorecia a cooperação internacional, apenas três anos depois da queda do Muro de Berlim e do fim da Guerra Fria, quando a ideia da cooperação predominava sobre a lógica do conflito. Já a Rio+10 transcorreu em um cenário oposto, com um mundo marcado cada vez mais pelo conflito e pela desigualdade social crescente, tanto nos países ricos quanto nos países em desenvolvimento, o que minou sobremaneira o resultado final do encontro entre as nações (SEQUINEL, 2002, p.13).

Em fevereiro de 2002, segundo Lago (2013), na reunião do PNUMA em Cartagena, na

Colômbia, o Governo brasileiro propôs o lançamento de uma Iniciativa Latino-Americana e

Caribenha para o Desenvolvimento Sustentável (ILAC), a qual foi levada, em maio de 2002, à

VII Reunião do Comitê Intersessional do Fórum de Ministros do Meio Ambiente da América

Latina e do Caribe realizada em São Paulo e aprovada por decisão unânime das delegações

presentes, essa iniciativa incorporava a Proposta Brasileira de Energia, elaborada pelo Professor

José Goldemberg, Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. No entanto, tal

iniciativa, segundo Guimarães e Fontoura (2012), frustrou as expectativas, pois não identificou

metas concretas e quantitativas, sendo que “muitos governos da região também expressaram

sérias reservas por serem compelidos a reagir a uma agenda pré-definida que não

necessariamente refletia os interesses ou as peculiaridades dos países” (GUIMARÃES,

FONTOURA, 2012, p.23).

Para Duarte (2003), “procurando aumentar o número e a qualidade das parcerias

internacionais e ao mesmo tempo ampliar o acesso a investimentos, tecnologias e mercados, a

política externa brasileira tornou-se mais ambiciosa e agressiva em seus métodos” (DUARTE,

2003, p.55). No entanto, a proposta da delegação brasileira de “que 10% da matriz energética

do mundo fossem, necessariamente, geradas por fontes renováveis até 2010, sofreu forte

oposição por parte dos países produtores de petróleo” (DUARTE, 2003, p.55). Na opinião do

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Diretor do PNUMA em Nova York, Adnan Amin, “a iniciativa de energias renováveis – não se

deu por motivo de princípio e, sim, pelo fato de o Brasil estar em posição confortável nessa

área, pela sua matriz energética excepcionalmente limpa, graças à energia hidrelétrica” (LAGO,

2013, p.149-150).

Por meio da análise da Declaração final da conferência percebe-se que os países

praticamente reafirmaram os compromissos assumidos na Rio-92, destacando-se o comum

acordo entre os participantes na busca do desenvolvimento de forma sustentável, por meio da

promoção do diálogo e da cooperação entre os povos. Para Lucon e Coelho (2002), muito se

evolui no que diz respeito a conscientização ambiental e nessa perspectiva a proposta brasileira

de energia foi um importante passo, pois:

“as energias renováveis estão na ordem do dia e são ponto de honra de governos nacionais, entidades ambientalistas e imprensa. O movimento pela energia positiva é irreversível, tanto pela opinião pública quanto pelas pressões sobre os recursos naturais” (LUCON; COELHO, 2002, p.11).

3.1.4. Rio+20

Realizada de 13 à 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) “reuniu, segundo dados das Nações

Unidas, 105 representantes em nível de Chefe de Estado e de Governo (57 Chefes de Estado,

31 Chefes de Governo, 8 Vice-Presidentes e 9 Vice-Primeiros-Ministros) e compareceram,

ainda, 487 Ministros de Estado” (LAGO, 2013, p.157). No entanto, teve-se ausências notórias,

como por exemplo, da Chanceler da Alemanha e do Presidente dos Estados Unidos:

[...] a presença de Chefes de Estado e de Governo não era requisito fundamental porque não se previa a adoção de decisões de Estado, o que explica o enorme esforço feito pela ONU e pela Presidente brasileira, Dilma Rousseff, para garantir a presença no Rio de Janeiro dos principais atores internacionais com capacidade de decisão. É frustrante recordar que com menos de um mês da conferência, pouco mais da metade confirmou a sua presença, com as ausências mais destacadas da Chanceler alemã, Angela Merkel, do Parlamento Europeu, e do Presidente Barack Obama, além da drástica redução da delegação enviada pela Comissão Europeia (GUIMARÃES, FONTOURA, 2012, p.26).

Segundo o Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20 (BRASIL,

2011, p.5), ela não seria apenas uma conferência sobre meio ambiente, mas principalmente uma

conferência sobre desenvolvimento sustentável, na qual “o desafio da sustentabilidade constitui

oportunidade excepcional para a mudança de um modelo de desenvolvimento econômico que

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ainda tem dificuldades de incluir plenamente preocupações com o desenvolvimento social e a

proteção ambiental” (BRASIL, 2011, p.5). Já no que se refere ao contexto mundial na época da

Rio+20, mais uma vez ele não era favorável, devido à crise financeira que se iniciou em 2008.

Na relação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, o Brasil prega que ela

deve ser de trabalho em parceria, no qual nenhuma das partes renunciaria “aos seus direitos

soberanos de fazer suas próprias escolhas baseados nas suas circunstâncias, capacidades e

necessidades particulares” (BRASIL, 2011, p.7). De acordo com o Documento de Contribuição

Brasileira à Conferência Rio+20 (2011, p.7), é necessário encontrar elementos para unir os

países a fim de se fortalecer o sistema multilateral e, dentre eles, se destaca o elemento de

inovação tecnológica para a sustentabilidade. Dessa forma, o Brasil identifica três questões

associadas à dimensão da inovação tecnológica:

i) segurança energética, com ênfase em fontes sustentáveis; ii) segurança alimentar e nutricional, incluída a questão de acesso à água e à inovação tecnológica para a produção agropecuária; e iii) papel dos recursos da biodiversidade para a inclusão social, como a produção de fármacos para a saúde, por meio da conservação e uso sustentável da diversidade biológica e do acesso justo e equitativo aos benefícios da biodiversidade (BRASIL, 2011, p.7).

Durante a conferência, foi criado o Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

(Centro Rio+), localizado na cidade do Rio de Janeiro, cujo projeto foi desenvolvido em

conjunto com o Governo Federal e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD). Por estar localizado no hemisfério sul, as atividades do centro, segundo o site da ONU

Brasil, consistem em estimular a cooperação Sul-Sul e estimular os esforços em prol do

desenvolvimento sustentável.

Outro importante resultado da conferência é o documento “O Futuro que Queremos”,

que foi adotado por consenso, tal “documento foi aprovado porque reflete resultado consistente

e equilibrado e constitui guia seguro e ambicioso para a agenda de integração das áreas

econômica, social e ambiental nos próximos anos” (LAGO, 2013, p.171-172). Além do

documento reafirmar todos os Princípios da Declaração do Rio, de 1992, afirma também que o

maior desafio global é “a erradicação da pobreza, e que sua superação, bem como a promoção

de padrões sustentáveis de produção e consumo e a melhoria da gestão dos recursos naturais,

constituem os objetivos primordiais e requisitos essenciais do desenvolvimento sustentável”

(LAGO, 2013, p.172). Já para Guimarães e Fontoura (2012), após a Rio+20, cabe aos

governantes “tomar decisões concretas nos níveis nacionais e internacionais, bem como nos

próximos fóruns que detalharão os aspectos que ficaram em aberto no documento final da

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cúpula, com a finalidade de evitar consequências ainda mais catastróficas” (GUIMARÃES;

FONTOURA, 2012, p.30).

O tema do desenvolvimento sustentável permitiu “delicado equilíbrio no debate Norte-

Sul, ao se centrarem no princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e por

associarem a ação dos países em desenvolvimento ao apoio financeiro, tecnológico e de

cooperação dos países desenvolvidos” (LAGO, 2013, p.168). Dessa forma, percebe-se que a

colaboração entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento é primordial para o

desenvolvimento de forma sustentável, pois todos eles almejam alcançar o crescimento

econômico e diante o debate ambiental é essencial que este desenvolvimento não seja por meio

da degradação do ambiente em que vivemos. No entanto, os objetivos de desenvolvimento

sustentável dependem da vontade política dos Estados-membros, e podem transformar-se “em

poderoso instrumento de estímulo, implementação efetiva e mensuração dos progressos da

integração dos pilares econômico, social e ambiental” (LAGO, 2013, p.179). Segundo

Guimarães e Fontoura (2012, p.32-33), “os governos presentes à Rio+20 não demonstraram

compromisso para evitar o relativo esvaziamento da agenda global de meio ambiente em favor

de interesses econômicos, estratégicos e de curto prazo”.

3.2. Matriz energética do Brasil

Todos sabem que a energia é o meio primordial para o desenvolvimento econômico de

um país, sendo essa forma, um meio de poder. No entanto, as fontes de energia mais comuns

usadas no mundo são consideradas sujas e não renováveis, pelo seu grau de poluição e

disponibilidade no meio ambiente. Dessa forma, segundo Belini (2010, p.37), é preciso definir

novas tecnologias para a geração de energia de uma forma não centralizada em uma só fonte,

para isso já há tecnologias disponíveis: as renováveis tradicionais (hidroelétricas, biomassa) e

as novas energias renováveis (eólica, solar, geotérmica, bioenergias).

Para Goldemberg e Moreira (2005), é uma chance para promover a geração de empregos

no setor, mas para que isso ocorra, “há necessidade de políticas energéticas que induzam

atividades que criem condições de trabalho mais próprias para o tipo de mão-de-obra disponível

e que induzam a usar tecnologias e equipamentos que existam ou possam ser aqui produzidos”

(GOLDEMBERG; MOREIRA, 2005, p.216).

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Tolmasquim, Guerreiro e Gorini (2007), destacaram que a longo prazo o Brasil deveria

diminuir as emissões de gás carbônico, principalmente devido ao uso eficiente da energia e ao

aumento de fontes de energias renováveis, pois contavam com o apoio de políticas definidas

pelo governo federal, como por exemplo: o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de

Energia Elétrica (PROINFA), o Programa de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), o

Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural

(CONPET), o Programa Brasileiro de Etiquetagem, a Lei de Eficiência Energética, no

Programa Nacional do Biodiesel e o Programa do Álcool (TOLMASQUIM, GUERREIRO e

GORINI, 2007, p.55). Para Belini (2010), no entanto, essa mudança não ocorre rapidamente:

A produção de energia a partir do petróleo e do carvão aumentou 2% e 3% ao ano, respectivamente, enquanto a energia eólica e solar cresceu cerca de 30%. A transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis está em curso, mas, infelizmente, não avança rápido o bastante para estabilizar o clima ou desacelerar o esgotamento das reservas de petróleo. Nesta reestruturação econômica, os maiores desafios serão mediados pela busca de uma maior eficiência energética, numa tentativa de reduzir as emissões de carbono e a dependência do petróleo. Entre as novas fontes de energia - eólica, células solares, térmica solar, geotérmica, hidrelétrica em pequena escala e biomassa - a eólica é a que se desenvolve mais rapidamente, indicando como será a nova economia energética mundial (BELINI, 2010, p.40).

Segundo o Plano Nacional de Energia 2030 (2007), primeiramente deve-se identificar

os determinantes mais significativos para a evolução do setor de energia, e somente após

buscar-se políticas apropriadas para a eficácia do planejamento energético. Por meio da análise

dos determinantes econômico-energéticos é possível perceber a evolução do contexto

energético e a forma de atuação dos agentes do setor, sendo assim, “a matriz energética de um

determinado período reflete a interação das decisões correntes e passadas, tomadas pelos

agentes setoriais dentro de um contexto energético específico” (BRASIL, 2007, p.47).

A “matriz energética do Brasil, é considerada limpa pelos padrões internacionais, o que

se deve ao uso de recursos hidráulicos (15% da oferta interna) e do aproveitamento energético

da cana (14%)” (BRASIL, 2007, p.51). De acordo com o relatório síntese do Balanço

Energético Nacional, publicado no ano de 2015, considerando os dados de 2014, o consumo

final de eletricidade no Brasil em 2014 contou com um aumento de 2,9%10, suprido por meio

da “expansão da geração térmica, especialmente das usinas movidas a carvão mineral (+24,7%),

gás natural (+17,5%), biomassa (+14,1%), cujas participações na matriz elétrica, na

comparação de 2014 contra 2013, cresceram de 2,6 para 3,2%, de 11,3%, para 13,0 e de 6,6

10 De acordo com o Relatório Síntese (2015, p.10), os setores residencial (+5,7%) e o comercial (+7,4%) foram os que mais contribuíram para o crescimento da demanda de eletricidade no país.

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para 7,4%, respectivamente” (BRASIL, 2015a, p.10). Já o total de emissões associadas à matriz

energética brasileira durante o ano, foi de “485,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono

equivalente (Mt CO2-eq), sendo a maior parte (221,9 Mt CO2-eq) gerada no setor de

transportes” (BRASIL, 2015a, p.11). Em relação às emissões por habitante, concluiu-se que

“cada brasileiro, produzindo e consumindo energia em 2014, emitiu em média 2,4 t CO2-eq,

ou seja, cerca de 7 vezes menos do que um americano e 3 vezes menos do que emite um europeu

ou um chinês” (BRASIL, 2015a, p.11).

De acordo com o Gráfico I11, que demonstra a evolução do consumo final de energia no

Brasil por fonte, desde a década 1970 até o ano de 2014, percebe-se que o maior percentual fica

com os derivados de petróleo, porém, tem-se o aumento de fontes de energia providas do bagaço

de cana e do álcool, os quais são fontes renováveis.

Gráfico I: Evolução do consumo final de energia no Brasil por fonte.

(Fonte: Balanço Energético Nacional, BRASIL, 2015b, p.26).

Na opinião de Belini (2010, p.41), no setor energético, “as políticas governamentais

mais severas vão necessitar de apoios do setor privado e da cooperação internacional”, pois os

setores públicos terão que criar um ambiente de investimentos adequados enquanto que a maior

parcela de investimento da área tiver origem no setor privado. Sendo assim, os países mais

11 O autor não especificou o que significa a palavra outros presente no gráfico apresentado.

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“industrializados deverão apoiar os países em desenvolvimento no seu salto para tecnologias

mais avançadas e na adoção de equipamentos e práticas eficientes, o que acarretará acesso às

fontes modernas de energia aos países mais pobres” (BELINI, 2010, p.41-42). O que está de

acordo com a proposta do trabalho, pois parte-se do pressuposto de que a cooperação

tecnológica entre o Brasil e a Alemanha trazem benefícios para a matriz energética nacional.

3.3. O Protocolo de Quioto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Diante da necessidade de alcançar uma forma de desenvolvimento mais sustentável, a

fim de se diminuir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre, os quais

influenciam diretamente no aquecimento global surgiu a discussão entre “os países na

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 1992, para a assinatura da

Convenção Quadro das Mudanças Climáticas Globais” (KLABIN, 2000, p.39). Segundo

Klabin (2000), “esta Convenção foi ratificada pela maioria dos países e são realizadas reuniões

das partes anualmente, a fim de que possam ser definidas as regras, normas e políticas para a

sua implementação” (KLABIN, 2000, p.39).

No ano de 1997, essa reunião anual deu-se na cidade de Quioto no Japão, oportunidade

na qual ocorreu a discussão do Protocolo de Quioto, cujo objetivo é a redução da concentração

dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera em 5% tendo como ano base 1990 e para

isso estabelece um novo mecanismo de flexibilização, ou seja o Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL). No entanto, o Protocolo não visa comprometer a economia

dos países e para isso “estabeleceu que, caso seja impossível atingir as metas estabelecidas por

meio da redução das emissões dos gases, os países poderão comprar créditos de outras nações

que possuam projetos de MDL” (VIDIGAL, 2007, p.239).

É por meio do MDL que os países desenvolvidos podem financiar projetos sustentáveis

em outros países “e, com a redução de emissões produzidas por esses projetos, possam

descontar na sua própria cota, definida pelo Protocolo” (GABEIRA, 2012, p.431). De acordo

com Gabeira (2012, p.431), o grande problema para os países desenvolvidos é reduzir as

emissões de gases poluentes em seu território, sendo dessa forma, mais interessante do ponto

de vista econômico, desenvolver e financiar projetos de MDL em economias ainda em

desenvolvimento, pois se torna mais barato.

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Para o Brasil, em relação ao Protocolo de Quioto, havia aspectos positivos e negativos,

conforme apresenta Viola (2004):

As três grandes vantagens são: ser um país de renda média (estando, assim, fora dos compromissos obrigatórios para a redução de emissões de gás carbônico correspondentes aos países desenvolvidos e ex-comunistas industrializados); ter uma matriz energética com grande peso do setor hidroelétrico (mais de 90% da eletricidade gerada no país deriva de fontes hidroelétricas), o que reduz as emissões de gases do efeito estufa; e ter, em seu território, 16% das florestas do mundo, com grande importância no ciclo mundial do carbono. A grande desvantagem é ter altas taxas de emissão de gás carbônico, causadas pelo uso de queimadas na agricultura tradicional e pelo desmatamento na Amazônia (VIOLA, 2004, p.95).

No entanto, de acordo com Gabeira (2012), para o Protocolo de Quioto entrar em vigor

fazia-se necessário que ele fosse ratificado pelos países que em conjunto produzissem 55% das

emissões. Esse fato somente foi alcançado em novembro de 2004, após a ratificação da Rússia.

Dessa forma, “em fevereiro de 2005, ratificado por 141 países, o Protocolo de Quioto entrou

em vigor” (GABEIRA, 2012, p.427).

A origem do termo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), segundo seu guia

de orientação, ocorre devido a uma proposta brasileira para a criação de um Fundo de

Desenvolvimento Limpo, no qual os países desenvolvidos que não cumprissem suas obrigações

de redução ou limitação de emissões de gases de efeito estufa deveriam arcar com os recursos

financeiros, para desenvolver projetos em países em desenvolvimento. No entanto, segundo

Frondizi (2009), o conceito não foi aceito por todos os países, então ele passou a se chamar

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Conforme foi definido no Artigo 12 do Protocolo de

Quioto12, o principal objetivo do MDL é:

3. Sob o mecanismo de desenvolvimento limpo: (a) As Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões; e (b) As Partes incluídas no Anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3, como determinado pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo (BRASIL, 1998, p.14-15).

É importante ressaltar que, apesar do Anexo I do Protocolo de Quioto citar os países que

teriam obrigações de reduzir suas emissões, isso não quer dizer que os países não listados no

12 De acordo com o Anexo I do Protocolo de Quioto (BRASIL, 1998), também conhecido como Anexo B, os países que devem reduzir suas emissões são: Alemanha; Austrália; Áustria; Bélgica; Bulgária (*); Canadá; Comunidade Europeia; Croácia (*); Dinamarca; Eslováquia (*); Eslovênia (*); Espanha; Estados Unidos da América; Estônia (*); Federação Russa (*); Finlândia; França; Grécia; Hungria (*); Irlanda; Islândia; Itália; Japão; Letônia (*); Liechtenstein; Lituânia (*); Luxemburgo; Mônaco; Noruega; Nova Zelândia; Países Baixos; Polônia (*); Portugal; Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte; República Tcheca (*); Romênia (*); Suécia; Suíça; Ucrânia (*). (*) Países em processo de transição para uma economia de mercado.

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Anexo I estão isentos de responsabilidades. De acordo com Carvalho, Azeredo e Lucero (2015),

são responsabilidades comuns, no entanto diferenciadas:

Ao firmar a Convenção, contudo, países desenvolvidos assumiram de fato e de direito um conjunto de obrigações específicas de limitação de emissões, de provisão de apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento e compromissos mais estritos de transparência de suas ações nacionais. No entanto, também os países em desenvolvimento estão legalmente obrigados a contribuir para os esforços de enfrentar o aquecimento global de modo compatível com os imperativos do crescimento econômico e do desenvolvimento social, cuja prioridade é reconhecida pela letra da Convenção (CARVALHO; AZEREDO; LUCERO, 2015, p.27).

Segundo Vidigal (2007), por meio do MDL os países ricos investem e financiam

projetos de MDL que ocorrem nos países em desenvolvimento “e, após, eles utilizam os créditos

(Certificados de Emissões Reduzidas– CERs) para reduzir suas obrigações; ou seja, os países

ricos podem se manter dentro dos limites das metas estabelecidas no Protocolo de Quioto”

(VIDIGAL, 2007, p.241). É perceptível que diante desse cenário favorável cria-se em um

mercado de Créditos de Carbono, cujos certificados podem ser comercializados inclusive nas

Bolsas de Valores e de Mercadorias, pois as agências de proteção ambiental responsáveis pela

regulamentação emitem certificados autorizando emissões de gases poluentes para as indústrias

mais poluentes no país e definem para ela metas para a redução de suas emissões, dessa forma,

as empresas recebem bônus negociáveis de acordo com suas responsabilidades13 e aquela que

não cumpriu as metas de redução progressiva, as quais são estabelecidas por lei, precisa

comprar certificados das empresas que conseguiram (VIDIGAL, 2007, p.241).

No caso do Brasil, em convênio com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (MDIC), é o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) que

“corresponde ao conjunto de instituições, regulamentações, sistemas de registro de projetos e

centro de negociação em processo de implementação no Brasil, pela Bolsa de Mercadorias e

Futuros (BM&F) e Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ)” (VIDIGAL, 2007, p.248), e

tem por objetivo “estimular o desenvolvimento de projetos de MDL e viabilizar negócios no

mercado ambiental de forma organizada e transparente” (VIDIGAL, 2007, p.249). Já “o Banco

de Projetos BM&F é um sistema desenvolvido pela Bolsa para o registro de projetos e intenções

de projetos de MDL, que deverão gerar créditos de carbono no futuro” (VIDIGAL, 2007,

p.249). Sendo assim, segundo Vidigal (2007), é uma forma bastante eficaz de divulgação e

comunicação entre os projetos e intenções de projetos com investidores interessados em

comprar ou financiar créditos de carbono, ou seja, é possível, que por meio desta plataforma de

demonstração de interesses, acarrete em uma negociação real posteriormente.

13 Um bônus é igual a uma tonelada de poluentes.

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Segundo Frondizi (2009), é a Conferência das Partes (COP/MOP), na qualidade de

reunião das Partes do Protocolo de Quioto, que “tem como objetivo regulamentar e fiscalizar a

implementação do Protocolo de Quioto”, tendo inclusive autoridade sobre o MDL e suas

diretrizes (FRONDIZI, 2009, p.28). De acordo com Marchezi e Amaral (2008, p.110), as

atividades de supervisão do funcionamento do MDL, de credenciamento das Entidades

Operacionais Designadas (EOD), do registro das atividades de projeto do MDL, da emissão das

Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), do desenvolvimento e operação do Registro do

MDL e o estabelecimento e aperfeiçoamento das metodologias para definição da linha de base,

monitoramento e fugas ficam a cargo do Conselho Executivo do MDL.

A certificadora credenciada pelo Conselho Executivo do MDL e designada pela

COP/MOP, é a EOD, a qual “garante que as atividades de projeto estão aplicando corretamente

as normas e os procedimentos estabelecidos pelo Protocolo de Quioto e pelo Conselho

Executivo do MDL”14 (FRONDIZI, 2009, p.30-31). Dentro de suas atividades, as EODs

atestam “que a participação dos países é voluntária e que as atividades de projeto contribuem

para o desenvolvimento sustentável do país e aprova as atividades de projeto do MDL”

(MARCHEZI; AMARAL, 2008, p.110). É também obrigação do EOD “manter uma lista

pública de atividades de projetos do MDL; enviar um relatório anual ao Conselho Executivo; e

manter disponíveis para o público as informações sobre as atividades de projeto do MDL que

não sejam consideradas confidenciais pelos participantes do projeto” (FRONDIZI, 2009, p.31).

Para que um projeto seja aprovado como MDL e resulte em RCEs, deve passar pelas

seguintes etapas: 1) elaboração do Documento de Concepção de Projeto (DCP); 2) validação

pela EOD (afim de se verificar se o projeto está de acordo com a regulamentação do Protocolo

de Kyoto); 3) aprovação pela Autoridade Nacional Designada (AND)15 para verificar a

contribuição do projeto para o desenvolvimento sustentável; 4) submissão ao Conselho

Executivo do MDL para registro; 5) monitoramento para verificar se os resultados previstos

estão sendo alcançados; 6) verificação/certificação para identificar se as reduções ocorreram;

7) emissão de unidades segundo o acordo de projeto (JURAS, 2007, p.5).

No Brasil, segundo o Governo brasileiro, os projetos que podem contribuir para frear a

mudança do clima são considerados as áreas prioritárias de implantação de projetos de MDL,

sendo estes “projetos de fontes renováveis de energia, eficiência/conservação de energia,

reflorestamento ou estabelecimento de novas florestas e outros projetos de redução de emissão,

14 De acordo com Frondizi (2009, p.31), no caso do Brasil é exigido por lei que a EOD esteja estabelecida no país. 15 O órgão responsável no Brasil, segundo Juras (2007, p.5), é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC).

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tais como projetos de aterros sanitários e projetos agropecuários” (MARCHEZI; AMARAL,

2008, p.107). Segundo Klabin (2000, p.48), “as três fontes de energia limpa que representam

um gigantesco potencial para o Brasil são: eólica, solar e biomassa, aliadas à energia

hidráulica”. A autora destaca também o papel da Eletrobrás neste cenário:

Com a abertura do Setor Elétrico, a ELETROBRÁS passou a desempenhar o papel de fomento aos meios necessários para atrair investimentos da iniciativa privada. Os empreendimentos de pequeno porte, em particular os de Fontes Alternativas de Energia, são, no momento, os mais palatáveis para ações com o MDL (KLABIN, 2000, p.48).

Como já foi mencionado anteriormente, o objetivo do Protocolo de Quioto consistia em

reduzir em torno de 5% as emissões de gases de efeito estufa tendo como base o ano de 1990.

Segundo Carvalho, Azeredo e Lucero (2015), apesar da ausência de grandes países emissores,

o objetivo foi atingido sendo que, “o primeiro período de compromissos do Protocolo começou

em 2008 e se encerrou em 31 de dezembro de 2012” (CARVALHO; AZEREDO; LUCERO,

2015, p.28). Já em 2012 foi formalizado o segundo período, “em Doha (CMP-8), pela

aprovação de emenda ao Protocolo que prevê novas metas quantificadas de mitigação (18% em

relação a 1990) para o período de 2013 a 2020. Para entrar em vigor, a Emenda de Doha

depende de ratificação por três quartos das Partes no Protocolo de Quioto” (CARVALHO;

AZEREDO; LUCERO, 2015, p.28).

Nessa perspectiva, considerando-se o que foi analisado sobre o MDL e o Protocolo de

Quioto, responsável pela sua assinatura, esse mecanismo “além de permitir reduções de

emissões de forma mais barata para os países no Anexo I, fomenta o fluxo de recursos e a

transferência de tecnologias dos países industrializados para países em desenvolvimento, sem

comprometer o crescimento econômico e bem-estar social destes últimos” (FRONDIZI, 2009,

p.31-32).

3.4. Posicionamento da Alemanha em relação às energias renováveis

A Alemanha é um dos países mais comprometidos com o desenvolvimento de fontes de

energia renováveis. “A partir dos anos 2000, o país tem dissociado as emissões de gases de

efeito de estufa do crescimento econômico e suas emissões diminuíram mais do que o

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necessário para atingir o objetivo do Protocolo de Quioto” (IEA, 2013, p.33, tradução nossa)16.

Cabe destacar que dentre os principais fatores para essa mudança “estão a melhoria da eficiência

energética e o rápido desenvolvimento das fontes de energia renováveis” (IEA, 2013, p.33,

tradução nossa) 17.

Dentre as principais políticas do governo alemão cabe mencionar o Programa de Clima

e Energia Integrada, de agosto de 2007, o qual “destacou os objetivos de reduzir as emissões de

gases de efeito estufa alemãs em 40% em relação a 1990, contribuindo para a redução global

de emissões ou aumentar a proporção de energias renováveis na produção de eletricidade, em

pelo menos, 30% até 2020” (IEA, 2013, p.28, tradução nossa) 18. Já em 2010, no conceito de

energia, “a Alemanha tomou a decisão fundamental de que, a longo prazo vai cobrir a maior

parte do seu abastecimento energético a partir de fontes de energia renováveis” (IEA, 2013,

p.28, tradução nossa)19. Assim, o conceito de energia se torna o plano piloto da Alemanha “para

a implementação de uma estratégia de longo prazo para criar um sistema energético sustentável,

confiável e acessível até 2050” (IEA, 2013, p.28, tradução nossa) 20.

“Após o acidente nuclear de Fukushima, ocorrido em março de 2011, o governo federal

reviu o risco da energia nuclear e em uma emenda à Lei de Energia Atômica ficou definido um

plano claro e vinculativo para o abandono total da energia nuclear, sendo assim, a última usina

nuclear deve ser desligada até final de 2022” (IEA, 2013, p.33, tradução nossa) 21. Dessa forma,

“há uma necessidade permanente em substituir gradativamente as fontes de energia nuclear

16 Tradução do alemão: “Das Land hat die Treibhausgasemissionen in den 2000er Jahren vom Wirtschaftswachstum entkoppelt, und die inländischen Treibhausgasemissionen sind starker zurückgegangen, als es zur Erreichung der Kyoto-Zielvorgabe notwendig war” (IEA, 2013, p.33). 17 Tradução do alemão: “Energieeffizienzsteigerungen und die rasche Entwicklung erneuerbarer Energieträger zählten zu den wichtigsten Faktoren für diesen Rückgang” (IEA, 2013, p.33). 18 Tradução do alemão: “Das Programm unterstrich die Ziele der damaligen Bundesregierung auf dem Gebiet der Energie- und Klimapolitik, z.B. die Reduzierung der deutschen Treibhausgasemissionen um 40% gegenüber 1990 als Beitrag zur globalen Emissionsminderung oder die Erhöhung des Anteils der erneuerbaren Energien an der Stromerzeugung auf mindestens 30% bis 2020” (IEA, 2013, p.28). 19 Tradução do alemão: "Deutschland hat die grundlegende Entscheidung getroffen, dass es langfristig den Großteil seiner Energieversorgung aus erneuerbaren Energieträgern decken will. Dementsprechend verabschiedete die Bundesregierung im September 2010 ein umfassendes neues Energiekonzept, in dem ihr Kurs für den Weg ins Zeitalter der erneuerbaren Energien festgelegt wurde” (IEA, 2013, p.28). 20 Tradução do alemão: “Damit erließ die Bundesregierung Leitlinien für die Sicherung einer umweltverträglichen, verlässlichen und erschwinglichen Energieversorgung, und ihr Ziel ist die Umsetzung einer langfristigen, integrierten Strategie bis zum Jahr 2050” (IEA, 2013, p.28). 21 Tradução do alemão: “Nach dem Reaktorunfall von Fukushima Daiichi im März 2011 bewertete die Bundesregierung das Restrisiko der Kernkraft neu und traf den Entschluss [...]. In einer Novelle des Atomgesetzes wurde ein klarer und verbindlicher Stufenplan für den Atomausstieg festgelegt, und das letzte Kernkraftwerk soll spätestens Ende 2022 stillgelegt warden” (IEA, 2013, p.33).

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pelas renováveis, juntamente com o melhoramento das capacidades políticas, a fim de se

conseguir esse objetivo” (IEA/MTRMR, 2013, p.81, tradução nossa) 22.

Na Alemanha, “em 2012, as fontes renováveis e o carvão foram responsáveis pela maior

parte do aumento na geração de energia, já a geração de combustível fóssil aumentou

ligeiramente, representando 60% da produção total de eletricidade” (IEA/MTRMR, 2013, p.81,

tradução nossa) 23. “Em geral, as fontes renováveis responderam por 23% da geração total de

energia, sendo que em 2012 a capacidade de energia solar fotovoltaica acumulada ultrapassou

capacidade eólica total instalada” (IEA/MTRMR, 2013, p.81, tradução nossa) 24.

Segundo o Relatório da Situação Global (REN21, 2012, p.9), no que diz respeito as

energias renováveis de 2012, a Alemanha ocupou, em 2011, o lugar de maior mercado na

Europa em energia eólica. No mesmo ano, o país também foi destaque na energia solar, no qual

liderou o mercado mundial juntamente com a Itália e “pela primeira vez, a energia solar

fotovoltaica na Europa teve maior número de instalações do que qualquer outra tecnologia”

(REN21, 2012, p.9). Cabe destacar-se que, “apesar de sua parcela de mercado ainda ser

pequena, o setor da energia eólica no mar continua em expansão, com o uso de turbinas maiores

e o deslocamento para águas mais profundas, longe da costa” (REN21, 2012, p.9).

“No conceito de energia fica clara a intenção de promover o crescimento e a

competitividade da economia alemã, sendo o objetivo tornar a Alemanha um líder mundial na

eficiência energética e da proteção ambiental, assegurando preços de energia competitivos”

(IEA, 2013, p.28, tradução nossa) 25. “Para isso, o governo federal se comprometeu, a partir de

2013, a realizar um monitoramento a cada três anos, para verificar o estado de implementação

do conceito de energia, estabelecendo o Fundo de Energia e Clima para o sólido financiamento

de longo prazo das medidas necessárias” (IEA, 2013, p.29, tradução nossa)26.

22 Tradução do inglês: “Going forward, a continued need to replace retiring nuclear and conventional capacity along with a strong policy framework should drive increases in renewable generation” (IEA/MTRMR, 2013, p.81). 23 Tradução do inglês: “In 2012, renewable sources and coal accounted for most of the increase in power generation. Fossilfuel generation increased slightly, accounting for 60% of the total electricity output” (IEA/MTRMR, 2013, p.81). 24 Tradução do Inglês: “Overall, renewable sources accounted for 23% of total power generation. In 2012, cumulative solar PV capacity surpassed total installed wind capacity” (IEA/MTRMR, 2013, p.81). 25 Tradução do alemão: “In dem Energiekonzept sind mehrere energiepolitische Ziele zusammengefasst: Versorgungssicherheit und Klimaschutz einerseits, aber zugleich auch die Förderung des Wachstums und der Wettbewerbsfähigkeit der deutschen Wirtschaft. Ziel ist es, Deutschland im Bereich der Energieeffizienz und des Umweltschutzes weltweit führend zu machen und gleichzeitig konkurrenzfähige Energiepreise und einen hohen Wohlstand zu sichern” (IEA, 2013, p.28). 26 Tradução do alemão: “Die Bundesregierung hat sich verpflichtet, ab 2013 alle drei Jahre ein Monitoring durchzuführen, um den Stand der Umsetzung des Energiekonzepts zu prüfen. Darüber hinaus umfasst das Energiekonzept einen soliden Plan für die langfristige Finanzierung der notwendigen Maßnahmen. Zu diesem Zweck errichtete die Bundesregierung ein Sondervermögen “Energie- und Klimafonds”” (IEA, 2013, p.29).

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A Alemanha é destaque também quando se trata da exportação de tecnologias para

energias renováveis, pois oferece oportunidades de exportação e crescimento para empresas

alemãs do setor, “como por exemplo: com know-how alemão em 2014 um dos primeiros

sistemas de refrigeração solar térmica da África do Sul foi colocado em operação, utilizando a

energia solar para o resfriamento do espaço” (BMWi, 2015, p.8, tradução nossa) 27.

“O quadro político na Alemanha é previsível em relação à implantação de energia

renovável, pois possui metas claras e tem um regime de apoio financeiro robusto, que oferece

incentivos para uma carteira de energias renováveis” (IEA/MTRMR, 2013, p.84, tradução

nossa) 28. Sendo assim, “a capacidade de eletricidade renovável deverá expandir-se de 83 GW

em 2012 para 117 GW em 2018” (IEA/MTRMR, 2013, p.84, tradução nossa) 29.

A Alemanha parte do princípio de que “o uso eficientemente da eletricidade, do calor e

do combustível acarreta na economia dinheiro, no aumento da segurança do aprovisionamento

e na proteção do clima” (BMWi, 2015, p.9, tradução nossa) 30.

Cidadãs e cidadãos podem economizar dinheiro mudando para eletrodomésticos eficientes, desligando os equipamentos que mais consumem energia, comprando carros econômicos ou investindo na melhoria da eficiência energética dos edifícios residenciais. Mas também para o setor empresarial da Alemanha a eficiência energética é essencial. Porque as empresas que utilizam menos recursos e emitem menos emissões conseguem obter vantagens de custo importantes na competição internacional (BMWi, 2015, p.9, tradução nossa)31.

O país, “juntamente com seus parceiros europeus precisa estabelecer os caminhos

corretos para prosseguir no caminho de maiores avanços no abastecimento de energia

renovável” (BMWi, 2015, p.24, tradução nossa) 32. Sendo assim, percebe-se um engajamento

especial da Alemanha quando se trata da questão energética:

27 Tradução do alemão: “Dieses Projekt in Johannesburg wurde durch die “Exportinitiative Erneuerbare Energien” des Bundesministeriums für Wirtschaft und Energie gefördert und durch die Deutsche Energieagentur (dena) unterstützt. Es ist zugleich ein Beitrag zur DeutschSüdafrikanischen Energiepartnerschaft” (BMWi, 2015, p.8). 28 Tradução do inglês: “Germany’s predictable policy framework with clear targets and its robust financial support scheme, which offers incentives for a portfolio of renewables, should continue to support deployment” (IEA/MTRMR, 2013, p.84). 29 Tradução do inglês: “Renewable electricity capacity is expected to expand from 83 GW in 2012 to 117 GW in 2018” (IEA/MTRMR, 2013, p.84). 30 Tradução do alemão: “Effizient mit Strom, Wärme und Kraftstoff umzugehen spart Geld, erhöht die Versorgungssicherheit und schützt das Klima” (BMWi, 2015, p.9). 31 Tradução do alemão: “Bürgerinnen und Bürger sparen bares Geld, indem sie auf effiziente Haushaltsgeräte umsteigen, Stromfresser ausschalten, sparsamere Autos kaufen oder in die energetische Sanierung von Wohngebäuden investieren. Doch auch für den Wirtschaftsstandort Deutschland ist Energieeffizienz entscheidend. Denn: Unternehmen, die weniger Ressourcen verbrauchen und weniger Emissionen ausstoßen, verschaffen sich wichtige Kostenvorteile im internationalen Wettbewerb” (BMWi, 2015, p.9). 32 Tradução do alemão: “Gemeinsam mit unseren europäischen Partnern müssen wir die richtigen Weichen stellen, um auf dem eingeschlagenen Weg hin zu einer nachhaltigen Energieversorgung weiter voranzukommen” (BMWi, 2015, p.24).

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Neste contexto, o Governo Federal mantem uma série de diálogos internacionais sobre energia e parcerias estabelecidas com sucesso - como com a Tunísia, Marrocos, Argélia, Rússia, Noruega e Turquia, bem como com os principais países consumidores, como Índia, China, Brasil e África do Sul. Da mesma forma, o Governo Federal está presente em organizações de energia multilaterais e fóruns de diálogo como G7, G20, a Agência Internacional de Energia (IEA), a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) e da rede de energias renováveis (REN 21) para estrutura competitiva, mercados abertos e transparentes bem como para uma política energética e climática sustentável. Durante a presidência alemã do G7 em 2015, a Alemanha apoiou especialmente a melhoria global da segurança energética sustentável. (BMWi, 2015 p.25, tradução nossa)33.

Dessa forma, “o objetivo da política energética internacional na Alemanha é, portanto,

apoiar os fabricantes e prestadores de serviços do país em suas atividades de exportação e, ao

mesmo tempo, promover uma fonte de energia sustentável, segura e acessível para seus

vizinhos” (BMWi, 2015, p.25, tradução nossa) 34. Nessa perspectiva, este “é um elemento

essencial para o crescimento sustentável e prosperidade na Alemanha, dessa forma, o Governo

Federal busca uma abordagem baseada no mercado com base em competitividade e relação

custo-eficácia” (IEA, 2013, p.22, tradução nossa) 35.

3.5. O despertar para a realidade mundial

Conforme apresentado no início do capítulo, as conferências mundiais sobre o meio

ambiente comprovam o destaque que o tema alcançou na agenda internacional nos últimos anos.

Isso se deve, em grande parte, devido a mudança de pensamento na sociedade como um todo,

que passou a sofrer com os efeitos nocivos da degradação do ambiente em que viviam,

ocasionado principalmente em razão da busca pelo desenvolvimento econômico desenfreado

das nações mundiais.

33 Tradução do alemão: “Vor diesem Hintergrund hat die Bundesregierung zahlreiche erfolgreiche internationale Energiedialoge und -partnerschaften aufgebaut – so etwa mit Tunesien, Marokko, Algerien, Russland, Norwegen und der Türkei wie auch mit großen Verbraucherländern, wie Indien, China, Brasilien und Südafrika. Ebenso setzt sich die Bundesregierung in multilateralen Energieorganisationen und -dialogforen wie G7, G20, der Internationalen Energieagentur (IEA), der Internationalen Agentur für erneuerbare Energien (IRENA) und dem Netzwerk für erneuerbare Energien (REN 21) für wettbewerblich strukturierte, offene und transparente Märkte sowie für eine nachhaltige Energie- und Klimapolitik ein. Während der deutschen G7-Präsidentschaft 2015 setzt sich Deutschland insbesondere für die weltweite Verbesserung nachhaltiger Energiesicherheit ein” (BMWi, 2015, p.25). 34 Tradução do alemão: “Ziel der internationalen Energiepolitik Deutschlands ist es daher auch, deutsche Hersteller und Dienstleister bei ihren Exportaktivitäten zu unterstützen und so gleichzeitig eine nachhaltige, sichere und bezahlbare Energieversorgung in den Partnerländern zu fördern” (BMWi, 2015, p.25). 35 Tradução do alemão: “Eine erschwingliche und sichere Energieversorgung ist ein Kernelement nachhaltigen Wachstums und Wohlstands in Deutschland. Zu diesem Zweck verfolgt die Bundesregierung einen marktorientierten Ansatz auf der Grundlage von Wettbewerb und Kosteneffizienz” (IEA, 2013, p.22).

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Efeitos nocivos do desenvolvimento econômico como, por exemplo, poluição ambiental

e o aquecimento global, incentivaram diversas pesquisas científicas na área, a fim de se

encontrar alternativas para melhorar a situação mundial. Nesse cenário preocupante, passou-se

a discutir, entre Estados, formas de frear o aquecimento global, visto que a longo prazo ele

ameaça toda a população do planeta. Como esperado, as discussões em torno do tema tentavam

apontar países culpados pela situação e os países em desenvolvimento passaram a reivindicar

que as medidas tomadas não poderiam comprometer seu desenvolvimento econômico.

Nessa perspectiva, foi ressaltado a necessidade de cooperação entre as nações mais

desenvolvidas com as menos desenvolvidas, a fim de se obter uma troca de tecnologia e

conhecimento visando um desenvolvimento econômico mais sustentável. A Alemanha tem

desempenhado o papel de destaque nesse quesito, o que veremos com mais detalhes no capítulo

seguinte.

Em 1997, foi proposto o Protocolo de Quioto, e com ele o MDL que prevê projetos em

diversos setores visando diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Por mais que o Brasil

não tenha obrigatoriedade na redução de emissões de gases poluentes, a implantação de projetos

de MDL tende a beneficiar o país, visto que traz um retorno que auxilia o país no

desenvolvimento econômico de forma mais sustentável por meio de transferência de

tecnologias, as quais são desenvolvidas nos mais variados setores possibilitando assim uma

grande variedade de oportunidades de atuação.

Observando-se a matriz energética brasileira é possível perceber que possuímos uma

grande parcela de participação de fontes de energia consideradas limpas, no entanto, isso deve-

se principalmente devido ao uso da hidroeletricidade. Cabe ressaltar a importância de uma

matriz energética diversificada, visto que em um cenário de escassez de alguma fonte tem-se

outra para supri-la, ou seja, isso garante a segurança energética ao país. O atual foco dos setores

públicos e privados, tanto nacionais como internacionais, é desenvolver o uso das fontes de

energia alternativas, principalmente, a energia eólica, solar e os biocombustíveis.

Para este fim, analisamos como a Alemanha se comporta em relação as energias

renováveis, visto que o país é um dos mais comprometidos com a causa da preservação

ambiental e possui uma vasta tecnologia em relação ao tema. Com esta base, a cooperação entre

Alemanha e Brasil torna-se uma parceria estratégica com um imenso potencial a ser explorado

por ambos os países como veremos no capítulo a seguir.

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4. O CAMINHO PARA A ESTRUTURAÇÃO DA PARCERIA

ESTRATÉGICA

O histórico da cooperação entre Brasil e Alemanha, apresentado no presente capítulo,

permite visualizar o momento em que se tornou importante desenvolver fontes alternativas de

energia e por que isso contribui para a segurança energética de um país. Em seguida apresenta-

se como foi estruturada a parceria estratégica com a Alemanha e qual a importância dela para

as relações com o Brasil. Por fim, destacamos o conceito de spillover que se encontra inserido

na base teórica do neofuncionalismo e nós ajuda a entender como a parceria entre Brasil e

Alemanha no campo da energias renováveis pode transbordar para outras áreas e favorecer o

desenvolvimento do país.

4.1. Histórico da cooperação Brasil-Alemanha em energias renováveis

A cooperação entre o Brasil e a Alemanha no que diz respeito ao tema energia, remonta

à década de 1970, quando se deu o Acordo sobre Cooperação no Campo dos Usos Pacíficos da

Energia Nuclear em 1975. Para entendermos melhor a opção brasileira pela energia nuclear é

necessário compreendermos o histórico dela no país. Foi em 1969, que ficou definido a

construção de Angra I36 que seria a primeira usina nuclear do Brasil. No entanto, o reator veio

dos Estados Unidos o que acabou paralisando “as pesquisas nacionais sobre um reator

abastecido a tório e firmou a dependência com os Estados Unidos, líder comercial, na época,

da tecnologia de enriquecimento de urânio” (CABRAL, 2011, p.61). O mesmo aconteceu com

o acordo com a Alemanha e as justificativas dos governos Médici e Geisel, para adquirir

reatores nucleares importados foi “em função de suas metas energéticas evidenciadas no I PND

(1970-74) e II PND (1974-78)” (MEDEIROS, 2005, p.77).

36 Conforme Cabral (2011, p.61), foi de apenas 10% o grau de nacionalização de Angra I, cuja construção foi iniciada em 1972 e concluída em 1982.

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Entretanto, a grande diferença entre o acordo com os EUA e o acordo com a Alemanha,

foi o cenário mundial da época “composta pela a crise do petróleo, o início da corrida

armamentista entre os países do Terceiro Mundo e a instabilidade no fornecimento de urânio

enriquecido por parte dos EUA” (MEDEIROS, 2005, p.78). Esse fato “levou o Governo Geisel

a almejar o domínio não só da tecnologia de reatores, mas a do ciclo do combustível nuclear,

incluindo aí a de enriquecimento e reprocessamento” (MEDEIROS, 2005, p.78). Nesse sentido,

Só a Alemanha se dispôs a negociar um acordo profundo e integrado, visando à implantação, no Brasil, de todo o ciclo de geração da energia nuclear, desde a pesquisa e lavra do urânio até o enriquecimento, produção do elemento combustível e reprocessamento, além da fabricação de reatores de potência (MEDEIROS, 2005, p.71).

A negociação do Acordo de Cooperação para Usos Pacíficos da Energia Nuclear se deu

de forma secreta e foi concluído em Bonn, no dia 27 de junho de 1975, entrando em vigor no

dia 18 de novembro de 1975. O acordo, segundo Medeiros (2005), previa a construção de oito

centrais termonucleares no Brasil37, uma usina de enriquecimento de urânio e uma fábrica de

reatores para possibilitar a completa nacionalização dos equipamentos. No entanto, apesar do

choque do petróleo de 1973 ter incentivado a expansão nucleoelétrica, os acidentes que

ocorreram nos anos seguintes38 “juntamente com as novas perspectivas de produção

hidrelétrica, petróleo e gás, levaram o país a abandonar o plano de construção de novas usinas,

até mesmo a construção de Angra III, cujos equipamentos haviam sido em parte adquiridos, foi

interrompida” (CABRAL, 2011, p.65). Medeiros (2005) afirma que “o Acordo Nuclear ruiu em

virtude de sua própria grandeza, arquitetada pela euforia do Milagre Econômico, pelo projeto

de Nação-Potência. Ruiu em virtude da própria crise do desenvolvimento brasileiro”

(MEDEIROS, 2005, p.75).

As obras de Angra II e Angra III, previstas no acordo, “foram iniciadas em 1976, mas

apenas Angra II chegou a ser construída (entrando em operação comercial em 2000)”

(CABRAL, 2011, p.65). As obras de Angra III somente foram retomadas em 2010, em virtude

do PNB (Programa Nuclear Brasileiro), cujo “Plano ensejava a participação da iniciativa

privada na construção e operação de usinas nucleares” (CABRAL, 2011, p.66). Entretanto, o

acidente nuclear ocorrido em Fukushima no ano de 2011, colocou em debate o uso da energia

nuclear e acabou por paralisar o plano de construção de novas usinas e “para compensar o aporte

de energia previsto com a entrada em operação das usinas nucleares foi incentivada a construção

37 Sendo que cada central teria capacidade de 1.200 MW. 38 Cabral (2011, p.65), apresenta como exemplos o caso de Three Mile Island ocorrido nos Estados Unidos, em 1979, o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 e o de Goiânia, no Brasil, em 1987.

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de novas hidrelétricas, parques de energia eólica e programados incentivos para energia solar

em 2012” (CABRAL, 2011, p.68).

Já o Ajuste Complementar de Cooperação em Pesquisa e Desenvolvimento no Campo

de Pesquisa e Tecnologia Ambiental, firmado entre Brasil e Alemanha, demonstra a grande

preocupação com o meio ambiente que emergia na época. O ajuste foi assinado no ano de 1987

e entrou em vigor em março de 1988 e remonta ao Acordo de Cooperação no campo da Pesquisa

Científica e do Desenvolvimento Tecnológico firmado em 196939, mas agora com uma

perspectiva ambiental. Dessa forma, é possível perceber a mudança de pensamento em relação

a preocupação com a proteção do meio ambiente na área de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico. O acordo tem vigência ilimitada e, segundo o Artigo III, prevê a cooperação

técnica nos seguintes campos:

- adaptação, construção e testes de uma instalação de demonstração para zincagem eletrolítica de baixo teor de emissão; problemas específicos na Indústria de papel e celulose; proteção de monumentos históricos contra o impacto ambiental; pesquisas sobre poluição atmosférica e seu impacto na vegetação; tratamento de resíduos perigosos; abastecimento de água potável operado corretamente pelo usuário através do sistema de osmose reversa; tratamento anaeróbico de resíduos (BRASIL, 1987, art.3).

Outro importante passo no âmbito da cooperação bilateral entre Brasil e Alemanha foi

dado em junho de 1993, ocasião em que se assinou o ajuste no Campo da Cooperação e

Tecnologia para o Desenvolvimento do Setor Energético, que também é complementar ao

Acordo Geral de 1969. De acordo com o Artigo I do ajuste, as partes cooperarão em pesquisa

e desenvolvimento de tecnologia para o aproveitamento de fontes renováveis de energia,

desenvolvendo projetos nas áreas de:

a) demonstração de sistemas fotovoltáicos de bombeamento; b) estudos de viabilidade técnico-econômica para implantação de usinas elétricas termo solares de grande escala; c) geração de eletricidade com turbinas eólicas e sua interligação à rede; d) geração de eletricidade com painéis fotovoltáicos e sua interligação à rede; e) dessalinização com emprego de energia solar; f) novos materiais para isolamento térmico em equipamentos solares, e g) outras tecnologias para utilização de fontes novas e renováveis de energia (BRASIL, 1993, art.1).

Por meio desses dois ajustes no Acordo Geral de 1969, reforça-se a hipótese apresentada

no trabalho, pois perceber-se que ocorreu uma maior preocupação com a questão dos problemas

ambientais, no fim da década de 1980 e início da década de 1990, reforçando-se a cooperação

bilateral entre os países que passam a se guiar nesse sentido.

39 Tal acordo firmado em 1969, previa em seu Artigo 1 a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico nas seguintes áreas: energia nuclear e desenvolvimento da tecnologia nuclear, pesquisa espacial, pesquisa aeronáutica, oceanografia, documentação científica e processamento eletrônico de dados (BRASIL, 1969).

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Destaca-se também o Acordo entre o governo da República Federativa do Brasil e o

governo da República Federal da Alemanha sobre Cooperação Financeira para a Execução de

Projetos na Área de Preservação das Florestas Tropicais, assinado no ano de 2003. Tal acordo

prevê, no Artigo I, a facilitação de obtenção de contribuições financeiras não reembolsáveis do

Brasil junto ao Kreditanstalt für Wiederaufbau (Instituto de Crédito para a Reconstrução) para

a realização dos projetos citados no respectivo Acordo.

Foi em 2008, que ocorreu uma mudança significativa nos rumos da cooperação bilateral

entre Brasil e Alemanha no tema das energias renováveis. Nesse ano foi firmado entre os dois

países o Acordo sobre Cooperação no Setor de Energia com foco em Energias Renováveis e

Eficiência Energética, considerando-se os seguintes aspectos do contexto mundial:

Conscientes da demanda crescente por energia e dos seus preços ascendentes, bem como do indiscutível aquecimento do sistema climático, [...] que requer ação intensificada para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa. [...] Considerando a necessidade de assegurar oferta e uso seguros e sustentáveis de energia; Conscientes da necessidade de cooperação em processos de geração de energia e em eficiência energética que reduzam a emissão de poluentes e gases de efeito estufa na atmosfera e assegurem desenvolvimento sustentável; Com o objetivo comum de cooperação para aperfeiçoar e desenvolver uma infra- estrutura de energia sustentável por meio de eficiência energética e medidas de economia de energia, assim como uma utilização maior de energias renováveis; Avaliando o interesse comum na cooperação bilateral com vistas ao desenvolvimento de tecnologias, particularmente no campo da eficiência energética e das energias renováveis e na sua disseminação; Cientes dos mútuos benefícios econômicos e ambientais oriundos do intercâmbio científico, tecnológico, industrial e comercial no setor de eficiência energética e em energias renováveis (BRASIL, 2008b).

Dessa forma, podemos perceber que o forte engajamento ocorrido em 2008, relaciona-

se com o primeiro período de compromissos do Protocolo de Quioto, o qual se iniciou em 2008

e se encerrou em 31 de dezembro de 2012, e conforme foi mencionado no capítulo anterior,

conseguiu alcançar as metas de reduções previstas para o período. Já o objetivo principal do

Acordo, segundo o Artigo I, é o seguinte:

[...] melhorar e desenvolver uma infraestrutura de energia sustentável para assegurar a oferta e o uso seguros e sustentáveis de energia, sobretudo por meio de medidas de eficiência energética e economia de energia e pela ampliação do uso de energias renováveis. Para alcançar esse objetivo, bem como para contribuir para o desenvolvimento sustentável, as Partes envidarão esforços para promover e estimular o diálogo de políticas, o intercâmbio científico e tecnológico e a participação do setor privado nas iniciativas desenvolvidas no âmbito deste Acordo (BRASIL, 2008b, art.1).

Por meio do Artigo I, torna-se evidente a dimensão desse acordo de cooperação bilateral,

pois demonstra o grau de comprometimento entre as duas partes para melhorar e desenvolver a

infraestrutura das fontes renováveis de energia, além de promover o intercâmbio tecnológico e

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a participação do setor privado, desenvolvendo-se assim uma base sólida para a implantação

das energias renováveis no Brasil. Já o Artigo III elenca as áreas para a cooperação bilateral do

Acordo e se comprova que ele vai realmente ao encontro dos objetivos do Protocolo de Quioto,

pois além das iniciativas citadas auxiliarem na redução das emissões de gases poluentes

previstas pelo Protocolo, ele cita diretamente o MDL:

1) Energias renováveis: a produção e o uso de fontes renováveis, como a hidroeletricidade; eólica; solar; biomassa; resíduos sólidos; geotérmica; oceânica; e biocombustíveis. 2) Eficiência energética: todas as formas de conservação e uso racional de energia, como o desenvolvimento em geração, transmissão e distribuição de eletricidade; confiabilidade e segurança do sistema elétrico; produção combinada de calor e eletricidade; procedimentos e medidas voltados para edifícios, sistemas de transporte, dispositivos e outros equipamentos, e processos industriais; mensuração de energia, procedimentos de auditoria e verificação; melhores práticas de avaliação da eficácia das políticas e medidas de eficiência energética. 3) Tecnologias inovadoras de propulsão e geração. 4) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: estimular o desenvolvimento e a implementação de atividades de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto com a participação de representantes do setor de energia de ambos os países. 5) As melhores tecnologias disponíveis empregadas na exploração, na explotação e no uso sustentáveis de petróleo, carvão e gás (BRASIL, 2008b, art.3).

O Artigo 9 determina que o Acordo terá validade de quinze anos e será automaticamente

renovado por períodos de cinco anos. No entanto, vale ressaltar que o presente Acordo não

altera a vigência do Acordo sobre Cooperação no Campo dos Usos Pacíficos da

Energia Nuclear, firmado em 1975, pois segundo a troca de notas40 entre as duas partes, ambos

assumem o compromisso de respeitar o Acordo de 1975.

Ainda no ano de 2008, foi firmado o Acordo sobre Cooperação Financeira para o Projeto

“Programa de crédito Energias Renováveis”, o qual consiste basicamente no apoio financeiro

para a execução do projeto. Dessa forma, pode-se obter um empréstimo do Kreditanstalt für

Wiederaufbau a taxas de juros reduzidas de até 52.000.000 EUR, concedido no âmbito da

cooperação oficial para o desenvolvimento.

No Ajuste Complementar, por troca de Notas, ao Acordo Básico de Cooperação Técnica

entre o Brasil e a Alemanha sobre a Continuidade de Projetos de Cooperação Técnica, de 2008,

cujo “objetivo dos projetos é contribuir para o desenvolvimento social e econômico na

República Federativa do Brasil nas áreas de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Regional

Integrado” (BRASIL, 2008a, art. 2). Assim sendo, é possível perceber que ambos os países

40 Disponível em: <http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2008/b_76/>. Acessado em: 22 out. 2015.

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tentavam colocar a questão ambiental em evidência e a intenção do ajuste era dar continuidade

ao suporte em projetos de áreas específicas:

1. O Governo da República Federal da Alemanha e o Governo da República Federativa do Brasil darão continuidade ao suporte dos seguintes projetos, desde que, após análise, preencham os requisitos necessários para sua implementação: a) "Projetos Demonstrativos A", b) "Manejo dos Recursos Naturais da Várzea da Amazônia Brasileira", c) "Uso Eficiente dos Recursos Energéticos pelas Micro, Pequenas e Medias Empresas", d) "Cooperação com Órgãos Estaduais de Meio Ambiente", e) "Ações para Disseminação de Fontes Renováveis de Energia no Norte e Nordeste do Brasil", f) "Gestão Ambiental Urbana", g) "Apoio ao Desenvolvimento Local Sustentável no Estado da Bahia", h) "Fortalecimento do Programa Nacional de DST/AIDS do Brasil", i) "Desenvolvimento de Economias Locais e Regionais no Nordeste do Brasil", j) "Apoio a Modernização das Ações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Campo da Educação e Informação Tecnológica e da Assistência Técnica e Tecnológica das Pequenas e Médias Empresas" (BRASIL, 2008a, art. 1).

Conforme analisamos acima, os acordos bilaterais específicos de incentivo para as

energias renováveis entre Brasil e Alemanha se deram no ano de 2008. No entanto, é importante

destacar que esta preocupação já vem desde os anos 1970, cujo contexto mundial incentivou

essa maior preocupação com a diversificação das fontes de energia e o impacto da dependência

energética, pois foi na década de 1970, que aconteceram os choques do petróleo e internamente

o Brasil passou pelo fim do Milagre Econômico – governo Geisel (1974-1979). Este cenário

“fez com que fosse necessária uma aproximação do Brasil aos países produtores do Oriente

Médio” (RIBEIRO, 2015, p.50). Dessa forma:

O governo se viu obrigado a criar estratégias energéticas de longo prazo para tentar diminuir a dependência do petróleo. Houve a expansão da exploração da Petrobrás e início dos investimentos em pesquisa de fontes alternativas de energia, como a reformulação da política nuclear e os biocombustíveis com a implementação do Proálcool e, posteriormente, o Pró-óleo (RIBEIRO, 2015, p.51).

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) “se justificava em vista da necessidade de

encontrar sucedâneo à gasolina, para aliviar as fortes pressões sobre a balança de pagamentos

resultantes do primeiro choque do petróleo, em 1973” (FERES, 2010, p.81). Já em 1979,

ocorreu uma nova crise do petróleo, assim, “iniciou-se no Brasil a segunda fase do programa

que consistia em hidratar o álcool para ser um substituto da gasolina” (BELINI, 2010, p.138).

Entretanto, era necessário a produção de motores movidos à álcool e “para atingir esse objetivo,

um novo mercado precisava ser criado, o que se fez em acordo com a indústria automobilística”

(FERES, 2010, p.83). Contudo, com a recuperação dos preços do petróleo o programa perdeu

importância:

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[...] entre 1979 e 1989, os preços internacionais do petróleo se estabilizaram e começaram a diminuir. Somava-se a isso o aumento da produção interna de petróleo, propiciando reduzir as importações a menos de 40% do uso então corrente. Esses dois fatores tornavam o Proálcool cada vez mais caro e desnecessário ao País. Assim, a estrutura de preços resultante das políticas em curso começaram a ruir no início da década dos 80, à medida que o álcool hidratado foi se apropriando de crescentes parcelas do mercado da gasolina, gerando excedentes desse produto que seriam exportados pela Petrobrás a preços inferiores aos do mercado interno. Essas exportações, somadas a crescentes prejuízos na comercialização de álcool hidratado, enfraqueceram financeiramente a estatal e afetaram as finanças do próprio Governo federal. Este não só deixou de receber tributos incidentes sobre automóveis e sobre combustíveis líquidos, como se viu obrigado a transferir recursos do Tesouro aos fundos destinados à manutenção dos diferenciais de preços pagos e recebidos pelo Proálcool (FERES, 2010, p.83).

A partir dos anos 2000, o uso álcool voltou a se tornar interessante para o setor

automobilístico, o que levou “a indústria automotiva a investir num novo padrão tecnológico:

o carro bicombustível (álcool/gasolina), também denominado pela expressão norte-americana

flex fuel” (BELINI, 2010, p.141). Desse forma, era possível uma nova alternativa de

abastecimento dos automóveis:

Essa flexibilidade de abastecimento, que praticamente eliminava os riscos de desabastecimento, combinada com os preços atrativos do álcool, redirecionou o mercado brasileiro: lançados em março de 2003, já circulavam, em fins de 2005, no território nacional, 850 mil desses veículos, distribuídos em 52 modelos fabricados por seis das indústrias automobilísticas instaladas no país. Esses números indicavam a predominância quase absoluta de veículos bicombustíveis. Atualmente, cerca de 30% a 40% de todo o combustível automotivo usado no Brasil é proveniente do etanol produzido a partir da cana de açúcar (BELINI, 2010, p.141).

Foi em 2004, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o Brasil implantou

o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel41 (PNPB), o qual se firmou no “potencial

do País de tornar-se também fornecedor mundial desse combustível, em condições de

economicidade, sustentabilidade e segurança de fornecimento, em período de transição global

de motores convencionais para veículos de nova geração tecnológica” (FERES, 2010, p.88-89).

Por meio desse programa, considerado estratégico para o país, “o governo federal organizou a

cadeia produtiva, definiu as linhas de financiamento, estruturou a base tecnológica e editou o

marco regulatório do novo combustível” (CASTRO, 2011, p.9). Contudo, “o uso energético de

óleos vegetais foi proposto em 1975, dando origem ao Plano de Produção de Óleos Vegetais

para Fins Energéticos (Pró-Óleo), cujo objetivo era gerar excedente de óleo vegetal capaz de

tornar seus custos de produção competitivos com os do petróleo” (FERES, 2010, p.90).

Assim, passou a se perceber a importância da segurança energética para garantir o

crescimento econômico do país e evitar a dependência externa no setor. No entanto,

41 De acordo com Feres (2010, p.89), o Biodiesel é obtido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais.

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inicialmente, é necessário apresentarmos a diferença entre os conceitos de segurança e defesa:

segurança “é a condição que permite ao País preservar sua soberania e integridade territorial,

promover seus interesses nacionais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o

exercício de seus direitos e deveres constitucionais” (BRASIL, 2012, p.15); e “Defesa Nacional

é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no campo militar, para a defesa do

território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas,

potenciais ou manifestas” (BRASIL, 2012, p.15). Dito isso, apresentamos o conceito de

segurança energética, cuja definição consiste em:

A definição geralmente aprovada deste conceito é que corresponde a adequação do fornecimento de energia a um preço razoável. Esta definição sugere que a energia deve estar fisicamente disponível e que seu preço deve ser razoável (de acordo com os preços em vigor no mercado) (DHENIN, 2011, p.3).

Nessa perspectiva, destaca-se também o Programa de Incentivos às Fontes Alternativas

de Energia (PROINFA)42, criado em 2002, que “é um dos mais importantes programas para o

desenvolvimento de fontes alternativas de energia no Brasil” (DUTRA, 2007, p.183). Dessa

forma, de acordo com Dutra (2007), o Programa foi dividido em uma etapa de curto prazo para

implementação de projetos e a outra etapa de médio prazo. O autor destaca também que, além

de investidores nacionais, o Programa também chamou a atenção de investidores estrangeiros.

Por fim, conforme destaca Ribeiro (2015), “a política externa configura uma ferramenta que

contribui para a conexão entre essas duas esferas essenciais ao desenvolvimento nacional: a

segurança energética e a consolidação do Brasil como ator de importância no cenário

geopolítico mundial” (RIBEIRO, 2015, p.56).

4.2. A Alemanha como um parceiro estratégico

Como podemos perceber, com base nos acordos bilaterais analisados, a disseminação

do uso de fontes renováveis de energia encontram-se em evidência no mundo e isso deve-se a

maior preocupação com o meio ambiente e devido à busca pela segurança energética. Nesse

contexto, a Alemanha é, atualmente, um parceiro estratégico do Brasil e a partir dessa série de

42 Segundo Dutra (2007, p.183), o PROINFA tem por objetivo a contratação de projetos de energias alternativas que sejam implementados por Produtores Independentes de Energia.

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acordos e ajustes analisados torna-se necessário entender como se deu a origem dessa parceria

e a importância dela para o desenvolvimento do país.

De acordo com Lessa (1995), a vertente europeia de cooperação pode ser entendida “por

se constituir na alternativa mais factível para proporcionar respostas imediatas à deterioração

das relações com os norte-americanos, abrindo um imenso rol de possibilidades na busca da

diversificação de parcerias e de relativização da dependência a fatores externos” (LESSA, 1995,

p.37). São caracterizadas pelas relações mais igualitárias exercidas por meio da cooperação

econômica e técnico-científica, no qual a Alemanha tem papel de destaque pois, “em suas

relações com o Brasil no período, estabeleceu o paradigma da cooperação entre sociedades

desiguais” (LESSA, 1995, p.37).

Segundo o site do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o primeiro surto

industrial do Brasil teve ajuda dos capitais da Alemanha, já nas décadas de 60 e 70, se dava o

começo do processo de internacionalização de empresas alemãs e este fato coincidiu com a

criação do moderno parque industrial do Brasil. Dessa forma, muitas empresas alemãs

investiram no Brasil. Como já visto anteriormente, vários acordos bilaterais foram firmados

entre os dois países nos anos que se seguiram, fortalecendo-se a cooperação bilateral. Contudo,

nos anos 1990, “o custo da unificação alemã e o aprofundamento no processo de integração

europeia após o Tratado de Maastricht, em 1992, foram muito altos para a sociedade germânica”

(LOHBAUER, 2013, p.32). Sendo assim, a Alemanha não foi muito presente “no processo de

privatização das comunicações e do sistema financeiro do Brasil, áreas nas quais não tem

tradição, mas permaneceu ainda nas primeiras posições entre os investidores e abriu a nova

frente de interesse no país: a defesa do meio ambiente e a indústria ambiental” (LOHBAUER,

2013, p.32).

O fim da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a ECO-92, no Rio de Janeiro, e alguns meses depois a queda do Presidente Collor de Mello, acusado de corrupção por meio de um processo de impeachment, trouxeram instabilidade para a economia e para a implementação de projetos de defesa da Amazônia, demarcação de terras e financiamentos de projetos de defesa do meio ambiente. O tema do desenvolvimento sustentável passou a ser prioridade nas relações bilaterais, considerando que o Brasil ganhara importância no tema pelas suas dimensões e pela grande quantidade de projetos com financiamento alemão. Nos anos 90, além das tradicionais pautas de comércio e investimento, incluía-se na agenda bilateral o tema do desenvolvimento sustentável e da ecologia (LOHBAUER, 2013, p.32).

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O contexto mundial da época, marcado pela desintegração da URSS e pela reunificação

alemã, foi propício para o surgimento de novos temas43 na agenda internacional a partir dos

anos 1990, na opinião de Lessa (1998), eles não representam uma ruptura, mas sim:

[...] de um lado, a necessidade de construção de alianças operacionais pautadas pela concertação política em foros multilaterais para a negociação de regimes internacionais regulatórios, e, de outro, a própria cooperação científica e tecnológica com a intenção de ultrapassar as limitações ao acesso dos insumos para o desenvolvimento (LESSA, 1998, p.37).

Nesse cenário em que o novos temas ganhavam destaque internacional, a política

exterior do Brasil, de acordo com Lessa (1998), buscou firmar acordos internacionais bilaterais

para a realização do interesse nacional com base em características políticas, econômicas e

culturais em comum. Dessa forma, tendo em vista esses objetivos, o Brasil mostrou-se bastante

ativo nos fóruns multilaterais como, por exemplo, na proposta que deu origem ao MDL e a

proposta brasileira de energia. Já o principais destaques em acordos específicos com a

Alemanha estão situados na área da conservação ambiental e energias renováveis. De acordo

com o site do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a Alemanha, é atualmente, “o

principal parceiro comercial do Brasil na Europa e o quarto parceiro comercial brasileiro no

mundo” (MRE, 2015b):

As exportações brasileiras para a Alemanha em 2014 foram de US$ 6,6 bilhões. A pauta das exportações está concentrada em produtos primários: minérios; café; farelo de soja; ferro fundido e aço; máquinas e aparelhos mecânicos. As importações brasileiras da Alemanha atingiram, em 2014, US$ 13,8 bilhões. A pauta de importações brasileiras da Alemanha concentra-se em produtos manufaturados, que respondem por 95% do total: reatores nucleares, caldeiras e máquinas; veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos; produtos químicos orgânicos; produtos farmacêuticos; equipamentos elétricos. (MRE, 2015b).

Os dois países, apesar de manterem uma longa trajetória de cooperação bilateral, são

considerados parceiros estratégicos apenas desde 200244. Um fato que fortaleceu as relações

entre Brasil e Alemanha foi a busca conjunta de um assento permanente no Conselho de

Segurança da Organizações das Nações Unidas, formando-se, em 2004, o “G4, entre Brasil,

Alemanha, Índia e Japão, que se apoiavam mutuamente para garantirem um assento permanente

no Conselho” (LESSA; COUTO; FARIAS, 2009, p.101). O objetivo da política externa

brasileira, nesse contexto, é a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tornando-

43 Lessa (1998, p.37) elenca os direitos humanos, meio-ambiente, demografia e fluxos migratórios e, segurança, como sendo alguns dos novos temas. 44 Ver em: <http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4801&Itemid=478&cod_pais=DEU&tipo=ficha_pais&lang=pt-BR>. Acessado em: 22 de out. de 2015.

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o mais democrático. Contudo, ainda não se obteve resultados concretos da reinvindicação na

prática.

O pragmatismo e o universalismo podem ser considerados a base da construção de

relações bilaterais e de parcerias estratégicas. Segundo Lessa (1998), “o pragmatismo permitiu

a compatibilização da universalidade em construção com a capacidade de articulação concreta,

de modo a tornar operacional o impressionante acervo de relações bilaterais em vias de

acumulação” (LESSA, 1998, p.31). O universalismo da política externa brasileira segue a

tendência de mundialização das relações internacionais, pois trata da diversificação de parceiros

comerciais, já o pragmatismo se baseia no pensamento estratégico e realista de acordo com os

interesses da nação. Dessa forma, de acordo com Lessa (1998), acrescenta-se no universalismo

a variável de seletividade, na qual se pode selecionar com que país e região se quer manter

relações prioritárias, isso ocorre muitas vezes por meio da prática da barganha, visando ganhos

para ambos os envolvidos.

Este movimento, recorrente na história da política exterior do Brasil, pode ser conceituado como construção de Parcerias Estratégicas, que são relações políticas e econômicas prioritárias reciprocamente remuneradoras, constituídas a partir de um patrimônio de relações bilaterais universalmente configurado. A construção de parcerias estratégicas é fruto da compatibilização da vocação histórica do Brasil para a universalidade com a necessidade de aproximações seletivas, o que abre a possibilidade para movimentos de adaptação aos nichos de oportunidade e aos constrangimentos internacionais que se apresentam conjunturalmente (LESSA, 1998, p.31).

Em diferentes contextos, a construção de parcerias estratégicas pelo Brasil, assume “um

caráter instrumental para a promoção do desenvolvimento do país, constituindo-se a partir de

interesses e oportunidades definidas em cada caso, sem caráter excludente e, portanto, dentro

da perspectiva universalista que caracteriza a política externa brasileira” (VAZ, 1999, p.76).

Outro ponto que o autor destaca é que essas alianças “respondem mais às mudanças no contexto

interno e externo e ao modelo de desenvolvimento a que servem, e menos a considerações de

ordem ideológica e cultural” (VAZ, 1999, p.76).

Trata-se, portanto, de uma estratégia versátil e orientada por um sentido de oportunidade, de caráter realista e pragmático. Por essa razão, é possível identificar, ao longo da evolução histórica da política externa brasileira, diferentes formas de parcerias definidas segundo a natureza dos interesses em jogo, dos sócios mesmos e das circunstâncias internacionais: aquelas indutoras do desenvolvimento, como as que envolvem os países do Primeiro Mundo; aquelas voltadas para a sustentação do desenvolvimento, como as estabelecidas, sobretudo, com países em desenvolvimento; e formas mistas (VAZ, 1999, p.76).

Já Farias (2013), destaca a diferença entre o conceito de aliança e parceria estratégica.

Para o autor, a aliança refere-se a um cenário de esforço político e militar, objetivando a

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sobrevivência estatal. Já a parceria estratégica, refere-se a cooperação tendo em vista os

interesses comuns dos Estados.

Riscos e oportunidades são presenças constantes em uma situação em que a sobrevivência depende de relações de cooperação com atores estratégicos. Mas essa cooperação é distinta de simples alianças, pois se estas são formadas principalmente sob a percepção de ameaças, parcerias estratégicas, mesmo se criadas em um ambiente de insegurança, são articuladas com base na percepção de oportunidades (FARIAS, 2013, p.24).

Sendo assim, o Brasil mantêm a sua estratégia de inserção internacional tendo como

base os interesses da sua política exterior. Nessa perspectiva, nos dias 19 e 20 de agosto de

2015, deu-se a inauguração do mecanismo de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível

entre Brasil e Alemanha45, o qual foi estabelecido em janeiro de 2013:

Em agosto de 2015, em Brasília, Brasil e Alemanha elevaram o patamar da parceria bilateral, por meio da inauguração, pela Presidenta Dilma Rousseff e pela Chanceler Federal Angela Merkel, de mecanismo de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível. O estabelecimento de mecanismo de consultas com a Alemanha deverá dinamizar o diálogo político bilateral e permitir o reforço da cooperação econômica, tecnológica e comercial nas áreas consideradas prioritárias para o Brasil (MRE, 2015b).

Esse encontro, representa um novo rumo nas relações bilaterais entre os dois países e é

também uma forma de harmonizar-se em relação aos temas multilaterais, pois “às vésperas da

COP-21, a conferência internacional que buscará fechar em dezembro um novo acordo para

enfrentar as mudanças climáticas, Dilma e Merkel querem marcar posição em torno de

compromissos ousados no combate ao aquecimento global” (RITTNER, 2015). Participaram

do encontro, em Brasília, 19 Ministros brasileiros e 7 Ministros e 5 Vice-Ministros alemães,

além das Chefes de Estado de ambos os países. O mecanismo irá fortalecer as relações entre os

dois países e procura:

[...] fortalecer e diversificar a Parceria Estratégica bilateral, por meio do aprofundamento do compromisso de dialogar sobre temas globais, em particular mudança do clima, da ampliação e da consolidação dos fluxos de comércio e investimentos, do aumento da cooperação em ciência, tecnologia, inovação, cultura, mídia e educação e do estabelecimento de parcerias em novas áreas, como desenvolvimento urbano e saúde (MRE, 2015a).

Como resultados do encontro, conforme a Declaração Oficial Conjunta, foram

elencadas áreas importantes para realização de cooperação. Sendo assim, primeiramente, a área

de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação, Cultura e Mídia, em que as partes “assinaram

45Essas consultas de alto nível são um mecanismo de diálogo que além de contar com a presença dos chefes de governo, ministros de pastas correspondentes também discutem bilateralmente, sendo os resultados apresentados na forma de declaração oficial conjunta. Disponível em: <http://www.kas.de/brasilien/pt/publications/42313/>. Acessado em: 10 nov. 2015.

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acordos e declarações de intenção nas áreas de bioeconomia, matérias-primas estratégicas

(terras raras), pesquisa marítima e cooperação relativa ao Observatório da Torre Alta da

Amazônia” (MRE, 2015a). Destaca-se nesse sentido, a doação realizada no dia 18 de agosto

durante a Conferência sobre Florestas, Clima e Biodiversidade, ocorrida em Brasília, no valor de €

23 milhões ao governo brasileiro para apoio no Cadastro Ambiental Rural (CAR), realizado por

meio da Caixa Econômica Federal com o banco alemão KfW46.

Em segundo lugar, seguem as áreas de Comércio, Investimentos, Finanças e Energia, para

as quais foi concordado que é necessário “intensificar a cooperação e elevar ao nível de Vice-

Ministros o atual Diálogo Bilateral, no âmbito do Acordo sobre Cooperação no Setor de Energia

com Foco em Energias Renováveis e Eficiência Energética” (MRE, 2015a). Nesse sentido, foi

destacado “o potencial de expansão da cooperação em pesquisa, desenvolvimento e inovação

em áreas como biocombustíveis, energia solar, eficiência energética e MDL, entre outros”

(MRE, 2015a). Sendo assim, esta área reforça o que já foi acordado no Acordo sobre

Cooperação no Setor de Energia com foco em Energias Renováveis e Eficiência Energética e

no Acordo sobre Cooperação Financeira para o Projeto “Programa de crédito Energias

Renováveis”, entretanto, a grande diferença é que agora os diálogos serão elevados ao nível de

Vice-Ministros.

Como terceira área tem-se a cooperação em temas globais, na qual foi ressaltado a

interdependência dos esforços de luta em prol do desenvolvimento sustentável e a erradicação

da pobreza. Os dois países aprovam “a adoção da Agenda de Desenvolvimento Sustentável para

2030 e de seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na próxima Cúpula das Nações

Unidas e reafirmam seu compromisso em levar a cabo todos os esforços possíveis para a

implementação dessas metas” (MRE, 2015a).

O quarto aspecto citado diz respeito à cooperação bilateral para desenvolvimento

sustentável, onde foi destacada a importância dos resultados obtidos da reunião de Negociações

Intergovernamentais, ocorrida em Brasília nos dias 17 e 18 de agosto, “e o anúncio da

aprovação, pelo Governo federal alemão, de 551,5 milhões de euros para novos projetos de

cooperação em complementação aos programas prioritários em curso, com ênfase nos temas de

conservação de florestas tropicais, energias renováveis e eficiência energética” (MRE, 2015a).

Em quinto lugar, o documento refere-se à prática da Governança Global, que em relação

à 9ª Conferência dos Estados-partes do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – finalizada

em 22 de maio na cidade de Nova Iorque – tanto o Brasil como a Alemanha demonstraram seu

46 Leia mais em: <http://www20.caixa.gov.br/Paginas/Releases/Noticia.aspx?releID=785>. Acessado em: 12 nov. de 2015.

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descontentamento, pois ambos os países “reiteraram sua determinação de trabalhar para a

promoção dos objetivos de desarmamento nuclear, não proliferação e uso pacífico da energia

nuclear” (MRE, 2015a). A reforma das Nações Unidas também foi ressaltada como um

compromisso entre as partes.

Por fim, fala-se de temas bilaterais, no qual destaca-se a busca conjunta dos dois países

pela “sustentabilidade de grandes eventos esportivos, no contexto de seus projetos de

cooperação bilateral” (MRE, 2015a). Outro setor destacado, foi o de defesa, devido ao seu

potencial para a cooperação bilateral, firmando-se inclusive um Acordo sobre Cooperação em

Matéria de Defesa, o qual prevê, de acordo com seu Artigo 1, os seguintes assuntos na

cooperação entre as Partes: assuntos relacionados à política de defesa, bem como a

treinamento e operações militares; pesquisa e desenvolvimento, aquisição de produtos e

serviços de defesa, bem como apoio logístico; assessoramento em equipamentos de

defesa; compartilhamento de conhecimentos e experiências nas áreas da ciência e

tecnologia; intercâmbio de informações relacionadas a assuntos de segurança

internacional; compartilhamento de experiências sobre questões relacionadas à prevenção de

conflitos internacionais e a operações de gerenciamento de crises; e outras áreas

correspondentes no domínio da defesa que possam ser de interesse mútuo para as Partes.

Para Carvalho, Azeredo e Lucero (2015), por meio dessa visita da Chanceler Angela

Merkel reforçou-se “a cooperação bilateral entre Brasil e Alemanha em temas de mudança do

clima e enfatizou visão compartilhada sobre a necessidade de transição para sistemas de energia

baseados em fontes renováveis e de descarbonização da economia mundial no decorrer deste

século” (Carvalho; Azeredo; Lucero, 2015, p.36).

Nessa perspectiva, cabe destacar a opinião de Prange (2015) de que a iniciativa da

primeira edição das Consultas Intergovernamentais de Alto Nível entre os dois países é

importante, entretanto, somente 24 horas não são suficientes. A jornalista afirma que “em

Berlim ainda falta reconhecimento e compreensão da importância do Brasil como um global

player nas áreas de política de paz, proteção climática, agronegócio e comércio mundial”

(PRANGE, 2015). Dessa forma, de acordo com sua opinião, seria necessária mais atenção e

cuidado nas relações da Alemanha com o Brasil, sendo um erro grave levar essa relação de

forma natural, pois segundo ela a Alemanha precisa do Brasil.

Portanto, por meio dessa análise, percebemos a evolução das relações entre Brasil e

Alemanha e a sua importância estratégica, e conforme opina Prange (2015), o Brasil é um ator

essencial para Alemanha, sendo necessário inclusive uma atenção especial nessa parceria

estratégica. Nessa perspectiva, fica visível o destaque que é dado à área do meio ambiente e aos

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acordos relacionados, os quais recebem um grande montante de recursos financeiros para sua

implantação. Essa, como vimos, foi a primeira edição das Consultas Intergovernamentais de

Alto Nível Brasil-Alemanha, e a tendência para os próximos anos é o estreitamento deste

diálogo, um exemplo disso, como vimos acima, é a elevação do diálogo bilateral ao nível de

Vice-Ministros, no Acordo sobre Cooperação no Setor de Energia com Foco em Energias

Renováveis e Eficiência Energética. A seguir, apresentaremos como é possível o

transbordamento desta parceria estratégica de cooperação bilateral para outras áreas e as

possíveis tendências de cooperação para os próximos anos.

4.3. Conceito de transbordamento (spillover)

No presente estudo, podemos considerar que a cooperação no setor de energias

renováveis pode transbordar para outras áreas onde pode ocorrer cooperação. Esse efeito é

conhecido como spillover, desenvolvido por Haas, que se encontra inserido na base teórica do

neofuncionalismo. Antes de partirmos para o foco, é necessário, primeiramente, entender a

origem do neofuncionalismo:

The story of neo-functionalism began in 1958 with the publication by Ernst B. Hass (1924-2003) of The Uniting of Europe: Political, Social, and Economic Forces 1950-1957 (Haas, 1958). In the seminal book, Haas explained how six Western European countries came to initiate a new form of supranational cooperation after the Second World War (JENSEN, 2013, p.60).

Nesse contexto, o spillover significa uma intensificação da integração, pois a integração

de determinada área acarreta na integração de outras áreas não previstas anteriormente, mas que

acaba por intensificar a integração. “Ou seja, se no princípio se integraram na Europa o carvão

e o aço, isso levou à integração de outros bens e, por conseguinte, a integração desses outros

bens criou a necessidade de integração legal, e assim por diante” (SARFATI, 2005, p.187). De

acordo com Farias (2013, p.29), “muitas vezes parcerias estratégicas iniciadas em um domínio

específico, como comércio internacional, têm um efeito spillover sobre outras matérias”,

segundo o autor, apesar dos benefícios da especialização, quando se tem apenas o foco em uma

área, isto pode acabar afetando de forma negativa “as relações bilaterais globais caso haja

conflitos pontuais não administrados de forma adequada e é por isso que comumente há a

tendência de uma parceria estratégica se expandir para vários assuntos e vias de cooperação

(FARIAS, 2013, p.29).

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Dessa forma, “o conceito de spillover refere-se a um processo em que a cooperação

política conduzida com um objetivo específico em mente leva à formulação de novas metas, a

fim de assegurar a realização do objetivo original” (JENSEN, 2013, p.62-63, tradução nossa)47.

A lógica do spillover consiste em:

A lógica do spillover é que cada passo de integração funcional dispara um processo político que gera demandas por novos passos no processo de integração, portanto, os governos nacionais, a cada passo, são forçados a escolher entre ceder sua autonomia em mais uma função ou, em caso de recusa, colocar em risco os esforços de integração setorial consolidados. (SARFATI, 2005, p.187).

Portanto, dentro do contexto do presente estudo, considera-se que o spillover consiste

no transbordamento da cooperação para outras áreas. Assim sendo, a cooperação principal em

energias renováveis pode atingir outras áreas. Conforme visto anteriormente no histórico de

cooperação entre Brasil e Alemanha, podemos dizer que este fenômeno já vem ocorrendo ao

longo dos anos, pois vários acordos subsequentes remontam ao Acordo de Cooperação no

campo da Pesquisa Científica e do Desenvolvimento Tecnológico firmado em 1969. Com a

eclosão mundial da preocupação ambiental e com a segurança energética tornou-se necessário

reunir esforços de cooperação nesse sentido.

A tendência é de que a cooperação entre os dois países se estreite cada vez mais com o

passar dos anos, principalmente com a contribuição das Consultas Intergovernamentais de Alto

Nível Brasil-Alemanha, o que elevou o patamar das relações entre os dois países à parceiros

estratégicos. E conforme o resultado apresentado na primeira Consulta entre as partes, já se

percebe as novas áreas de cooperação, como por exemplo, o setor de defesa que foi destacado

devido ao seu potencial para a cooperação bilateral. Lohbauer (2013), apresenta alguns

perspectivas de cooperação, como o interesse alemão no agronegócio do Brasil, o qual pode ser

focado para a produção de matéria-prima para o biodiesel:

Se existe um setor em que as relações bilaterais podem ser aprofundadas e em que oportunidades de interesse mútuo estão disponíveis, este setor é o do agronegócio, especialmente em sua vertente voltada ao fornecimento de alimentos e sua vertente energética. [...] Mas Alemanha e Brasil têm interesses comuns que podem ajudar a viabilizar e flexibilizar o acesso de produtos do agronegócio. Está-se referindo aqui à importância que os governos dos dois países têm dado à produção e ao uso de energias renováveis. Os dois países têm programas federais que visam promover combustíveis alternativos como o etanol e o biodiesel. Políticas públicas foram criadas para atender demandas ambientais na esfera local e global, promover o desenvolvimento rural, descentralizar a criação de empregos e garantir a segurança energética tornando as economias menos dependentes de combustíveis fósseis (LOHBAUER, 2013, p.38).

47 Tradução do inglês: “The concept of ‘spillover’ refers to a process in which political cooperation conducted with a specific goal in mind leads to the formulation of new goals in order to assure the achievement of the original goal” (JENSEN, 2013, p.62-63).

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Nessa perspectiva, espera-se que outras áreas sejam beneficiadas em decorrência do

aprofundamento da cooperação Brasil-Alemanha e até mesmo que novas parcerias estratégicas

sejam formadas com outros países. Dessa forma, podemos considerar que pode haver benefícios

nos aspectos socais, pois a tendência é que se instalem no Brasil indústrias voltadas à produção

e instalação de tecnologias renováveis gerando assim emprego e renda para a população local;

destacam-se também os aspectos técnicos devido a transferência de tecnologia e o próprio

incentivo à pesquisa em universidades brasileiras; aspectos financeiros, devido ao grande

montante de recursos provenientes da parceira, tanto na área de energias renováveis quanto na

área de preservação das florestas; aspectos estratégicos, que como já vimos anteriormente são

de extrema importância para o país, evitando que ele fique dependente de uma única fonte de

energia; aspectos de política externa, pois é em seu âmbito que se dá o aprofundamento do

diálogo com outras nações e torna-se possível reunir reforços e criar novas parcerias em prol

de um interesse em comum; e, por fim e mais importante para o estudo do presente trabalho, os

aspectos ambientais, que foram o principal foco no decorrer do estudo, pois partimos do

pressuposto que é necessário um desenvolvimento econômico de forma sustentável,

preservando-se os recursos naturais e desenvolvendo-se fontes renováveis de energia, a fim de

se frear o aquecimento global e proporcionar um futuro para as próximas gerações.

4.4. Perspectivas para o futuro

Dito isso, vale ressaltar que o Brasil vem assumindo um papel importante no cenário

internacional, atuando de forma ativa no âmbito da política externa e lutando por causas

importantes como a do meio ambiente e pela reforma do Conselho de Segurança das Nações

Unidas. Assim sendo, não é por acaso que a Alemanha elevou o patamar das relações bilaterais

para o nível de parceria estratégica, a qual ela mantêm com poucos países e o Brasil é o único

país sul-americano na lista.

O que move essas relações são interesses em comum e, conforme apresentado no

decorrer do capítulo, atualmente esse interesse está pautado principalmente nas áreas de

preservação ambiental, desenvolvimento e implantação de energias renováveis e pesquisas

tecnológicas. No entanto, não foi por acaso que esta primeira Consulta Intergovernamental de

Alto Nível se deu em agosto de 2015. Estamos às vésperas da COP-21, que ocorrerá em

dezembro de 2015 em Paris, cuja conferência tentará fechar um novo acordo para enfrentar as

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mudanças climáticas, e tanto o Brasil como a Alemanha estão de olho nos resultados desta

conferência, para isto precisam reunir esforços para alcançar objetivos em comum. Dessa

forma, o diálogo entre os dois países poderá contribuir significativamente para os resultados do

novo acordo climático mundial, visto que ambos os países são ativos na luta pela preservação

ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto mundial, considerando-se o surgimento da preocupação com o efeitos

negativos do crescimento econômico, foi realizada a primeira conferência mundial a fim de

discutir o tema, a Conferência de Estocolmo em 1972. A partir de então a discussão entrou na

pauta da agenda internacional dos Estados, sendo seguida de novas Conferências Mundiais para

discutir o meio ambiente dando origem também a uma variedade de conferências de distintos

temas como, por exemplo, moradia, direitos humanos e participação da mulher na sociedade.

Dessa forma, fazia-se necessário reunir esforços com países que tinham os mesmos interesses

em comum, a fim de se cooperar de maneira mais eficiente para alcançar determinado objetivo.

Conforme proposto pelo presente trabalho, o objetivo era verificar como o Brasil e a

Alemanha têm cooperado no âmbito das políticas ambientais especificamente no que diz

respeito à energias renováveis, no período de 1990 à 2015. Cuja hipótese partia do pressuposto

de que o processo de redemocratização do Brasil e a reunificação da Alemanha, ocorridos no

final da década de 1980 e início dos anos 1990, contribuíram para as relações entre os dois

países se regerem pela questão ambiental.

Sendo assim, por meio da pesquisa verificou-se que na Alemanha, apesar da

preocupação ambiental já estar presente antes da reunificação, houve uma intensificação.

Podemos perceber isto pela formação do partido político Bündnis 90/Die Grünen (Aliança 90/

Os Verdes) em 1993, que resultou da fusão do partido Die Grünen, fundado no ano de 1980,

com o partido Bündnis 90, fundado no ano de 1991. Com a vitória de Schröder em 1998, tornou-

se possível uma coligação do Bündnis 90/Die Grünen com o governo federal, onde Joschka

Fischer, líder dos Verdes foi o Vice-Chanceler. Apesar do período pós-reunificação ter sido

uma fase de reestruturação interna na Alemanha, exigindo-se esforços para alcançar-se a

igualdade entre os dois lados, o país demonstrou-se bastante ativo nos fóruns internacionais,

tanto que se engajou, no ano de 1990, juntamente com outras nações pela preservação das

florestas por meio do Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais do Brasil e no

âmbito do Protocolo de Quioto, se mostrou otimista e engajada quanto às reduções de emissões

de gases causadores do efeito estufa.

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Já o Brasil por possuir um longo histórico de exploração de recursos naturais, tal

preocupação com os efeitos negativos sobre o meio ambiente só surgiram com mais intensidade

na década de 1980, o que coincide com o período da transição de regime político. Em grande

parte isso só se deu nessa época devido à maior liberdade de expressão, dessa forma a própria

população pôde manifestar sua insatisfação em relação ao tema. Pode-se citar ações concretas

na mudança desse cenário como, por exemplo, a fundação do IBAMA, em 1989, e o forte

engajamento para a realização da Rio-92 no Brasil. Dessa forma, o Brasil que antes era visto

como vilão internacional da degradação ambiental, pondo-se em dúvida até mesmo a sua

capacidade interna em gerir a preservação da Floresta Amazônica, passou a ser visto depois

como um ator engajado na mitigação das mudanças climáticas.

A abordagem teórica foi baseada na teoria dos regimes internacionais, os quais partem

do pressuposto de que os Estados que compartilham interesses, valores e objetivos devem, dessa

forma, reunir esforços e realizar a cooperação em conjunto. Essa base teórica serviu para

justificar o tema da pesquisa, pois a cooperação na área da preservação ambiental e do

desenvolvimento e implantação de energias renováveis é desejável para o Brasil e para a

Alemanha, visto que as mudanças climáticas não respeitam fronteiras estatais e acabam

afetando de forma negativa toda a população mundial.

Como foi destacado no decorrer do trabalho, os acordos firmados entre Brasil e

Alemanha passaram a guiar-se pela preocupação com o meio ambiente e é possível perceber

por meio do conteúdo deles que, a partir do fim da década de 1980 e início da de 1990, se

intensificou a discussão do tema. Destaca-se, nesse sentido em 1987, o Ajuste Complementar

de Cooperação em Pesquisa e Desenvolvimento no Campo de Pesquisa e Tecnologia

Ambiental, que remonta ao Acordo de 1969, mas agora com uma preocupação com a proteção

do meio ambiente na área de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Em 1993, deu-se o

Ajuste no Campo da Cooperação e Tecnologia para o Desenvolvimento do Setor Energético, o

qual já previa a cooperarão entre as partes na área de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia

para o aproveitamento de fontes renováveis de energia. Já em 2003, o destaque foi o Acordo

sobre Cooperação Financeira para a Execução de Projetos na Área de Preservação das Florestas

Tropicais, o qual prevê a facilitação de obtenção de contribuições financeiras não reembolsáveis

para a realização dos projetos citados no Acordo.

Em relação ao foco das energias renováveis, em 2008, foi firmado entre os dois países

o Acordo sobre Cooperação no Setor de Energia com foco em Energias Renováveis e Eficiência

Energética, o qual pretende melhorar e desenvolver a infraestrutura de energia renovável. Em

relação a ajuda financeira para execução desses objetivos tem-se ainda no ano de 2008, o

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Acordo sobre Cooperação Financeira para o Projeto “Programa de crédito Energias

Renováveis”. No entanto, o Acordo de 2008, infelizmente, não substitui o de 1975 sobre os

usos pacíficos da energia nuclear.

O grande destaque para as relações entre os dois países foi, no entanto, a concretização

da parceria estratégica em 2013, o que eleva os diálogos bilaterais entre as partes ao nível de

Vice-Ministros. Dessa forma, foi realizado, em agosto de 2015, a primeira edição das Consultas

Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha e sua Declaração Final Conjunta elenca as

áreas prioritárias para a realização da cooperação, dando destaque ao campo das energias

renováveis. Como vimos essa cooperação pode transbordar para outras áreas, por meio do

chamado efeito spillover, beneficiando assim diversos setores da economia e da sociedade

brasileira.

A partir desta argumentação, com base no conteúdo dos acordos firmados nesse período

de tempo, verificamos que realmente houve um aprofundamento da cooperação bilateral na

temática da preservação do meio ambiente entre Brasil e Alemanha. No entanto, o período de

tempo analisado no presente estudo, final da década de 1980 até os dias atuais, foi bastante

restrito para uma afirmativa mais concreta sendo, dessa forma, insuficiente para se afirmar com

toda a certeza que as relações entre as duas partes passaram a pautar-se na área de cooperação

técnica em prol do meio ambiente. Portanto, seria necessário um estudo mais aprofundado sobre

a relação histórica entre os dois países, abrangendo para isso um período maior de tempo e uma

análise mais detalhada incluindo todos os acordos bilaterais firmados entre as partes.

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