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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática ORIENTAÇÕES PARA ESCOLHA DE LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA: Atividades Experimentais em foco Wendel Fajardo dos Reis Maria Inês Martins Belo Horizonte 2014

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS ......exercícios resolvidos e propostos, textos contextualizados, pesquisas (em livros ou internet), problemas e testes de processo seletivos

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

ORIENTAÇÕES PARA ESCOLHA DE LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA:

Atividades Experimentais em foco

Wendel Fajardo dos Reis

Maria Inês Martins

Belo Horizonte

2014

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SUMÁRIO

Apresentação ............................................................................................................................. 3

Contextualização ....................................................................................................................... 3

Análise dos Livros Didáticos .................................................................................................... 5

Considerações Finais................................................................................................................ 21

Livros Analisados ................................................................................................................... 22

Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 23

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APRESENTAÇÃO

Trata-se de um guia de orientação para os professores, visando auxiliá-los

na escolha do livro didático de Física dentre as coleções recomendadas pela edição

2012 do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio, PNLD 2012,

tendo como foco os experimentos propostos em suas atividades.

As análises experimentais tomaram como referência os Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) (Brasil, 1999) e suas

Orientações Complementares (PCN+) (Brasil, 2002), com os quais se sintonizou a

classificação sugerida por Barros (2009) ao focalizar os experimentos nas coleções

recomendadas pelo Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio, em

2007.

Consta deste produto educacional a relação percentual de experimentos por

coleção recomendada pelo PNLD 2012; a relação percentual dos experimentos por

temas da Física; o organograma das categorias de análise adotadas; a

exemplificação de experimentos por categoria de análise e a distribuição dos

experimentos nas coleções recomendadas pelo Programa por dimensão de análise,

a saber: Representação e Comunicação, Investigação e Compreensão e

Contextualização Sociocultural.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Os Parâmetros (PCN, PCN+) fomentam uma Educação renovadora

composta de competências e habilidades a serem desenvolvidas nos alunos,

objetivando uma formação educacional mais cidadã.

Os objetivos educacionais passam, portanto, a ter uma maior ambição

formativa, que possibilite ao estudante compreender a natureza das informações

transmitidas, os procedimentos e atitudes envolvidas e os valores para viver em

sociedade. Em outras palavras, essa proposta promove um ensino que lhe permita

prosseguir em seus estudos, bem como utilizar-se dos conhecimentos incorporados

em situações do seu cotidiano ou mesmo em sua vida profissional.

Diante da necessidade de uma Educação comprometida com um processo

de ensino aprendizagem mais crítico e abrangente nas instituições de ensino de

nosso país, percebe-se que atualmente não existe mais espaço para uma Educação

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pautada somente na transmissão de conteúdos, transformando o aluno em mero

receptor de informações em sala de aula.

Com a intenção de adequar o ensino da Física a essa proposta para o

Ensino Médio, os professores devem contextualizar os conteúdos físicos com a

realidade vivida e presenciada pelos estudantes. Entende-se que estabelecer um

espaço favorável para a descoberta e o envolvimento do aluno, implica em

abandonar o formalismo mecânico e automatizado, partindo para os desafios dessa

nova forma de ensinar.

Nessa perspectiva, as atividades experimentais constituem-se em

importante recurso didático que contribui no ensino aprendizagem da Física, uma

ciência de caráter experimental. Assim, considerando um planejamento adequado, a

experimentação favorece para uma aprendizagem das teorias físicas que tenha

significado para os alunos.

Nossa experiência mostra que o livro didático (LD) e sua proposta

experimental, não atendem completamente a todas as exigências para a pretendida

universalização do ensino. Entretanto, avaliando a qualidade e a acessibilidade dos

livros recomendados pelo PNLD nas escolas públicas, esse recurso apresenta-se

como suporte para os educadores em suas práticas de ensino e seus planejamentos

escolares.

Portanto, o LD como recurso didático-pedagógico assume papel relevante

ao professor e deve ser utilizado no ensino da disciplina de Física. Para o aluno, o

LD proporciona a sua relação direta com os conteúdos físicos e, sobretudo, com as

atividades experimentais.

De acordo os PCN+ (Brasil, 2002), o uso dos experimentos deve ir além da

execução de uma lista de procedimentos previamente fixados, em que o sentido do

aprendizado nem sempre fica claro para o discente. Na experimentação, com uso de

materiais simples ou kits sofisticados, importa estabelecer as competências que

serão promovidas com o desenvolvimento das práticas.

Nesse aspecto, o professor deve evitar um experimentalismo puro, atrelado

ao simples manuseio de objetos e equipamentos com a intenção de quebrar a apatia

dos alunos em sala de aula. A experimentação deve apresentar objetivos mais

amplos para a aprendizagem da Física, manipulando interpretações e ideias sobre

observações e fenômenos, com o intento de produzir conhecimentos significativos

para os estudantes.

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Os PCN+ (Brasil, 2002) ainda confirmam esse propósito ao afirmar que

experimentar significa observar situações e fenômenos ao seu alcance, em casa, na

rua ou na escola, desmontar objetos tecnológicos, tais como chuveiros,

liquidificadores, construir aparelhos e outros objetos simples, como projetores ou

dispositivos que fazem parte da vida do aluno. Pode também envolver desafios,

estimando, quantificando ou buscando soluções para problemas presentes na

realidade dos estudantes.

Considera-se que na elaboração de uma atividade motivada nos

experimentos, o professor tem influência direta em seu planejamento e no conceito

de Ciência a ser discutido. Para isso, torna-se fundamental que ao planejar uma aula

prática, o docente estabeleça estratégias que estimulem a participação discente,

afim de que evoluam em suas concepções, progredindo de conceitos mais simples

para os mais complexos. A seguir apresenta-se a investigação e a análise de uma

pesquisa, que abordou a parte experimental dos livros de Física. Essa

apresentação tem a intenção de orientar os professores no processo de escolha do

livro didático que melhor atenda as suas necessidades pedagógicas, quando

considerado um ensino pautado na experimentação.

ANÁLISE DOS LIVROS

Os livros de Física analisados são os recomendados pelo Programa

Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio em 2012 (PNLD 2012), totalizando

10 (dez) coleções aprovadas de acordo com os critérios estabelecidos pelo

Ministério da Educação (MEC).

As coleções estão em formato de três volumes, que comparados ao volume

único caracterizam-se por apresentar conteúdos mais aprofundados e com uma

proposta maior de atividades para os alunos. Como atividades apresentam-se:

exercícios resolvidos e propostos, textos contextualizados, pesquisas (em livros ou

internet), problemas e testes de processo seletivos e as práticas experimentais, foco

desta pesquisa.

Em geral, as obras incluem no livro do professor um manual com a finalidade

de orientar o desenvolvimento das atividades, sobretudo as que envolvem os

experimentos. Especificamente para as práticas empíricas, os autores depositam

suas ideias e a forma como devem ser conduzidas pelo professor, seja em sala de

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aula ou fora dela, visando promover uma aprendizagem que promova um

conhecimento significativo das teorias físicas pelos alunos.

A caracterização das coleções do PNLD 2012 mostrou que a maior parte

ainda obedece à distribuição clássica dos conteúdos físicos. Porém, ressalta-se que

algumas coleções começam a atender aos Temas Estruturadores, enfatizando um

avanço em relação a essa proposta dos PCN+ para a organização dos temas da

Física.

Em relação ao número de experimentos encontrados nas coleções,

destacam-se duas obras que juntas apresentaram um percentual superior a 50%

(242 em 469 arranjos) de todas as práticas identificadas nessa pesquisa, enquanto

que uma obra praticamente não considerou as experiências em suas atividades.

Esse resultado indica prioridades distintas em relação aos experimentos entre as

coleções para o ensino da Física. Pelo fato de ser uma ciência pautada na

experimentação, entende-se que o professor deve considerar a proposta

experimental dos autores na escolha de uma coleção recomendada pelo PNLD.

O Gráfico a seguir mostra esse comportamento não uniforme da distribuição

das atividades experimentais nas coleções de Física recomendadas pelo PNLD

2012.

Gráfico 1 A – Relação percentual dos experimentos por coleção

Fonte: Dados da pesquisa

25,4%

26,2%

1,2%

6,4% 3,8%

5,7%

5,3%

7,2%

11,3%

7,5% A - Gaspar (2011)

B - Máximo e Alvarenga (2011)

C - Sant'Anna et al. (2010)

D - Torrres et al. (2010)

E - Menezes et al. (2010)

F - Fuke e Yamamoto (2010)

G - Silva e Barreto Filho (2010)

H - Gonçalves Filho e Toscano (2011)

I - Oliveira et al. (2010)

J - Biscuola et al. (2010)

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Conforme a caracterização das obras justificou-se a escolha pela

classificação tradicional dos conteúdos físicos, uma vez que a maioria das obras

segue essa estruturação e, portanto, não concordam com a proposta dos Temas

Estruturadores proposta nos PCN+ (Brasil, 2002).

A investigação dos experimentos nos temas da Física mostra a

predominância dos conteúdos de Mecânica e Eletromagnetismo, que unidos

representam 57% de todas as práticas encontradas nas coleções. Na sequência

aparecem os conteúdos de Ondas e Óptica e, bem próximo, a Termodinâmica. Os

temas que tratam a Gravitação e a Física Moderna pouco apresentam atividades

relacionadas com a experimentação.

Esse resultado pode ser compreendido no Gráfico 2A, que representa

nitidamente a análise da distribuição experimental nos temas físicos.

Gráfico 2A – Relação percentual dos experimentos por temas da Física

Fonte: Dados da pesquisa

Os PCNEM (Brasil, 1999) definem os objetivos educacionais por meio de

competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos, que estão

divididas em três dimensões de análise, conforme as seguintes áreas de domínio:

representação e comunicação, que aborda os tipos de expressões e linguagens

representadas nos experimentos; investigação e compreensão, que avalia as

29,8%

13,5%

24,5%

27,2%

2,0% 3,0%

Mecânica

Termodinâmica

Ondas e Óptica

Eletromagnetismo

Física Moderna

Gravitação Universal

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práticas que proporcionam a capacidade discente de investigar, analisar e

questionar a proposta do experimento; contextualização histórico-social, que permite

ao aluno reconhecer a Física dentro de um contexto histórico, social, tecnológico e

cultural.

A presente investigação e análise, apoiada em Barros (2009), procurou

verificar se as práticas dos LD possibilitam ao aluno conseguir interpretar fatos,

fenômenos e processos naturais ou tecnológicos, situando o ser humano como parte

integrante da natureza e da sociedade, evidenciando um conhecimento acumulado e

transformado ao longo da história com diversas formas de expressão e produção

presentes na humanidade.

Nessa perspectiva, devido às peculiaridades e às características dos

experimentos propostos nos LD, as três dimensões foram subdivididas pelo autor

em categorias de análise, apresentadas no organograma (FIG. 1A), a seguir.

Figura 1A – Organograma de categorias e subcategorias de análise

Fonte: Barros (2009, p. 73)

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Ressalta-se que uma experiência, devido às características apresentadas,

pode-se enquadrar em mais de uma categoria de análise, pois fazem parte da

dimensão em questão e, portanto, independentes entre si.

Em seguida, para compreendermos melhor essas categorias que definem as

dimensões listadas anteriormente, mencionam-se seus conceitos seguidos por um

exemplo, com o intuito de evidenciar os elementos que as caracterizam. Os

exemplos pertencem a diferentes coleções do PNLD 2012, sendo suas

características sublinhadas nos comentários.

1) Representação e Comunicação

A transposição da atividade experimental em si para a linguagem escrita,

sua expressão por meio de representações e símbolos, o direcionamento para

elaboração de outras comunicações são características dessa dimensão de análise.

1.1 Elaboração e comunicação (EC): contempla os experimentos relacionados à

elaboração de comunicações, sínteses ou esquemas estruturados, para expressar

em uma linguagem científica, correta e adequada, os temas da Física estudados no

ambiente escolar ou fora dele.

Exemplo 1: FÍSICA - aula por aula (vol. 2)

Figura 2A – EXPERIMENTE a Física do dia a dia

Fonte: Silva e Barreto Filho, 2010, p. 144

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O experimento propõe um modelo que permite descrever o comportamento

do fio quando aquecido e, na sequência resfriado. Assim torna-se possível descrever

o tema da Física relacionado com a dilatação: “Anote os valores e descreva o que

aconteceu” e “Tente explicar a diferença obtida nas medidas realizadas”.

1.2 Articular símbolos e códigos (ASC): identifica as práticas que empregam

fórmulas, equações, códigos e nomenclaturas, permitindo ao aluno compreender os

conceitos e manusear os símbolos e códigos da ciência e tecnologia;

Exemplo: Compreendendo a Física (vol. 1)

Figura 3A – Atividade: Práticas

Fonte: Gaspar, 2011,V. 1, p. 179

A atividade propõe o cálculo da componente tangencial da força peso por

meio de fórmulas que necessitam da identificação de ângulos e deformações:

“Para cada um dos ângulos”, “P = m.g.sen (α)”, “Meça o alongamento da mola” e “F

= k.x”.

1.3 Leitura e compreensão: utiliza as práticas para análise e interpretação de textos,

podendo ser uma Leitura textual (LT) ou uma Leitura textual com imagens (LTI).

Exemplo: Curso de Física (vol. 3)

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Figura 4A – Alguma Experiências Simples para serem feitas

Fonte: Máximo e Alvarenga, 2011, p. 38

A ilustração representa nitidamente a experimentação apresentada somente

em textos (à esquerda) ou em textos acompanhados de figuras (à direita) para a

compreensão dessa atividade.

2) Investigação e Compreensão

Nesta dimensão, estão as práticas com elementos que permite ao aluno

desenvolver as seguintes competências: relacionar os fenômenos observados e os

conceitos estudados, explicar situações e resolver problemas utilizando conceitos

físicos e fazer hipóteses acerca desses fenômenos. Assim, aperfeiçoa-se a

observação, a descrição e as explicações, para uma construção mais significativa

dos conceitos. Quatro categorias delimitaram esta dimensão:

2.1 Relações, invariantes, transformações e conservações (RITC): incorpora os

arranjos experimentais que estabelecem a relação entre as grandezas físicas, a

existência de constantes que condicionam um fenômeno natural e os processos de

transformações e conservações que permitam fazer previsões em outras situações;

Exemplo: FÍSICA - Ciência e Tecnologia (vol. 1)

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Figura 5A – Proposta experimental

Fonte: Torres et al., 2010, p. 223

Neste experimento fica clara a conservação da energia: “Este experimento

mostrará a conservação da energia” ou “De acordo com o princípio da conservação

da energia”.2.2 Medidas e quantificações (MQ): reúne as atividades práticas que

favorecem a utilização dos instrumentos de medição, desenvolvendo habilidades de

manuseio e capacidade de quantificar grandezas;

Exemplo: FÍSICA - aula por aula (vol.1)

Figura 6A – EXPEPERIMENTE a Física do dia a dia

Fonte: Silva e Barreto Filho, 2010, p. 76

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Essa prática possibilita que o aluno realize medidas utilizando um

cronômetro e a escala de uma seringa, quantificando os dados em uma tabela:

“Registre o tempo até atingir as marcas de 8 ml, 6 ml, 2 ml e 0 ml em uma tabela”.

2.3 Modelos explicativos e representativos (MER): inclui os experimentos por meio

dos quais possa distinguir, utilizar, interpretar e propor modelos explicativos para os

fenômenos, os sistemas naturais e os tecnológicos; Exemplo: FÍSICA - Ciência e

Tecnologia (vol. 1)

Figura 7A – Proposta Experimental

Fonte: Torres et al., 2010, p. 132

Nesse experimento cria-se um modelo para reconhecer e explicar a força

que atua verticalmente para cima sobre os corpos imersos em líquidos:

“o empuxo do líquido agir de baixo para cima sobre um corpo nele mergulhado” ou

“Observe o que acontece à medida que o ar entra no balão e explique por que isso

acontece”.

2.4 Relações interdisciplinares e interarias (RII): expressa de forma clara os arranjos

que permitem identificar as relações multidisciplinares dos fenômenos, evidenciando

a interdisciplinaridade das disciplinas.

Exemplo: Curso de Física (vol. 1)

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Figura 8A – Algumas Experiências para serem feitas

Fonte: Máximo e Alvarenga, 2011, p. 266

Este exemplo evidencia claramente a interdisciplinaridade entre os

conhecimentos químicos e físicos:

“A reação química entre as substâncias provoca o desprendimento de CO2” e “o

empuxo da água sobre o conjunto”.

3) Contextualização Sociocultural

Nesta dimensão, os experimentos propiciam aos alunos: reconhecer a Física

dentro de um contexto histórico e social, compreendendo-a em uma cultura

contemporânea, relacionando-a com as tecnologias cada vez mais presentes em

nosso cotidiano. Listam-se as três categorias que definem essa dimensão.

3.1 Contexto histórico/social (CHS): inclui as práticas que contextualizam a Física

em uma abordagem histórico-social, possibilitando reconhecer os aspectos

históricos da evolução da Ciência.

Exemplo: Física em contextos - pessoal - social - histórico (vol. 3)

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Figura 9A – Atividades Práticas

Fonte: Oliveira et al., 2010, p. 2010

Esse arranjo experimental considera um pouco da história do eletroímã:

“Cerca de 20 anos depois que Volta inventou a pilha voltaica” e “O primeiro

eletroímã para fins comerciais podia levantar 4 kg e foi inventado na Inglaterra em

1824”.

3.2 Relação com a cultura tecnológica (RCT): enquadra os experimentos que

relacionam os conteúdos físicos com equipamentos do cotidiano, propiciando um

aprendizado útil e significativo à vida do aluno.

Exemplo: Quanta física (vol. 1)

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Figura 10A – FAÇA PARTE: Como fazer um termômetro

Fonte: Menezes et al., 2010, p. 74

Esta atividade experimental mostra a relação com um dispositivo que faz parte do

cotidiano do estudante, o termômetro:

“monte o seu próprio termômetro”, “Você pode calibrar seu termômetro” ou “Seu

termômetro está pronto!”.

3.3 Relação com outras formas de cultura (RFC): incorpora as experiências que

relacionam as teorias físicas com aspectos da cultura atual, como a arte, a música,

os museus, etc.

Exemplo: Compreendendo a Física (vol. 1)

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Figura 11A – EXPERIMENTE a Física do dia a dia

Fonte: Silva e Barreto Filho, 2010, V. 1, p. 76

A prática empírica envolve o conhecimento com uma cultura vivenciada na

arte: “O pintor italiano Michelangelo Merise da Caravaggio” ou “A Física, a Arte, a

Psicologia são exemplos de áreas do conhecimento humano”.

As categorias definidas pelo autor para investigação dos experimentos,

apresentadas na metodologia dessa pesquisa, seguem assim representadas:

EC – Elaboração de Comunicação

ASC – Articular Símbolos e Códigos

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LT – Leitura Textual

LTI – Leitura Textual com Imagens

RITC – Relações, Invariantes, Transformações e Conservações

MQ – Medidas e Quantificações

MER – Modelos Explicativos e Representativos

RII – Relações Interdisciplinares e Interarias

CHS – Contextualização Histórico/Social

RCT – Relação com a Cultura Tecnológica

RFC – Relação com outras Formas de Culturas

Portanto, baseado nas categorias de análise para a investigação das obras

do PNLD 2012, apresentam-se os resultados a seguir.

Gráfico 3A – Experimentos por competências e habilidades

Fonte: Dados da pesquisa

Na dimensão de análise Representação e Comunicação predominam os

experimentos que priorizam a utilização de textos e imagens para sua compreensão,

com uma elevada vantagem sobre àqueles que requerem somente textos. Apenas

uma (obra H) das dez coleções priorizou para a compreensão da experimentação a

subcategoria Leitura Textual.

Para as outras categorias dessa dimensão, prevaleceram as práticas

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

EC ASC LT LTI

Representação e Comunicação A - Gaspar (2011)

B - Máximo eAlvarenga (2011)

C - Sant' Anna al.(2010)

D - Torres et al (2010)

E - Menezes et al.(2010)

F - Fuke e Yamamoto(2010)

G - Silva e BarretoFilho (2010)

H - Gonçalves Filho eTorres (2011)

I - Oliveira et al.(2010)

J - Biscola et al.(2010)

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relacionadas com a elaboração de sínteses ou esquemas estruturados que

expressam os conteúdos físicos e, em menor número, às que requerem manusear e

entender símbolos e códigos da ciência e tecnologia.

Gráfico 4A – Experimentos por competências e habilidades

Fonte: Dados da pesquisa

Em relação as atividades experimentais que apontam para a dimensão de

análise Investigação e Compreensão de fenômenos, destaca-se as experiências que

propõem modelos para explicar sistemas naturais ou tecnológicos. Essa categoria

compõe 53,2% (164 em 308 arranjos) dos experimentos presentes nessa dimensão

de análise.

Considerando as demais categorias, encontram-se uma média de 48

experimentos, que complementam os 46,8% (144 em 308 arranjos) remanescentes

do total dessa habilidade e competência.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

RITC MQ MER RII

Investigação e Compressão A - Gaspar (2011)

B - Máximo eAlvarenga (2011)

C - Sant' Anna al.(2010)

D - Torres et al (2010)

E - Menezes et al.(2010)

F - Fuke e Yamamoto(2010)

G - Silva e BarretoFilho (2010)

H - Gonçalves Filho eTorres (2011)

I - Oliveira et al. (2010)

J - Biscola et al. (2010)

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Gráfico 5A – Experimentos por competências e habilidades

Fonte: Dados da pesquisa

Para a última dimensão de análise, constata-se que os aspectos históricos,

tecnológicos ou relações com outras culturas foi pouco abordada pelos autores nas

atividade experimentais. Dessa forma, dos 99 arranjos que estão nessa dimensão

de análise, evidencia-se a categoria relacionada com as práticas que abordam a

cultura tecnológica.

Esse resultado torna-se preocupante para o ensino da Física, pois não

favorece para uma aprendizagem que desenvolva nos estudantes a capacidade de

reconhecê-la como parte integrante de nossa cultura. Entretanto, os professores

devem novamente intervir para correção dessa lacuna observada nas atividades dos

livros e, para isso, podem fazer a sua contextualização no campo de conhecimento

presenciado pelo aluno.

Em geral, as coleções analisadas propõem atividades experimentais que

evidenciam as competências e habilidades dos PCNEM, mesmo que de maneira

fragmentada. Por exemplo, na dimensão de análise Contextualização Sócio-Cultural,

todas as coleções apresentam experimentos relacionados com a cultura tecnológica.

Porém, para as categorias que referem-se aos aspectos históricos/sociais ou de

outras formas de cultura, algumas obras deixam de oferecê-las com a

experimentação.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

CHS RCT RFC

Contextualização Sócio-Cultural A - Gaspar (2011)

B - Máximo eAlvarenga (2011)

C - Sant' Anna al.(2010)

D - Torres et al (2010)

E - Menezes et al.(2010)

F - Fuke e Yamamoto(2010)

G - Silva e BarretoFilho (2010)

H - Gonçalves Filho eTorres (2011)

I - Oliveira et al.(2010)

J - Biscola et al.(2010)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que os professores avaliam a utilização das atividades

experimentais como importante para o ensino da Física, pois promovem uma

aprendizagem mais dinâmica e atrativa que contriui para a compreensão de

seus conteúdos pelos alunos. Assim, torna-se importante considerar na

elaboração do planejamento dessas atividades a participação do discente,

possibilitando estimular sua curiosidade e interesse na contrução do

conhecimento a ser adquirido no estudo de um determinado conteúdo.

Em relação aos experimentos propostos nos livros didáticos de Física

do PNLD EM 2012, verifica-se que sua maioria são constituídos de materiais

simples e acessíveis por professores e alunos, podendo ser trabalhados em

uma concepção de laboratórios demonstrativos ou convencionais. Nesse

contexto, entende-se que seria relevante o docente conhecer as outras

concepções de laboratórios, aumentando o seu nível de conhecimento a

respeito da experimentação para o ensino de Física.

As análises mostraram que os experimentos estão distribuídos de

forma não uniforme entre os temas da Física, destacando os conteúdos de

Mecânica e Eletmagnetismo. Portanto, compete ao docente procurar atender

os demais conteúdos físicos desfavorecidos em práticas experimentais, sejam

através de outros arranjos ou mesmo recursos alternativos que auxiliem a

aprendizagem do aluno.

Para as categorias de análise fundamentadas nas Competências e

Habilidades dos PCNEM, procura-se identificar as aptidões a serem

desenvolvidas pelos estudantes com a experimentação. Observa-se a

preocupação dos autores em trabalhar as práticas apresentadas em forma de

textos acompanhados de figuras, gráficos ou esquemas, propostas como

modelos explicativos e representativos para sistemas naturais e tecnológicos.

Apesar de cumprirem um importante papel com relação às análises dos

livros didáticos realizadas nesse trabalho, considera-se importante propor

algumas considerações sobre suas atividades experimentais:

Situações de interdisciplinaridade, em que os arranjos envolvam

conceitos de outras disciplinas com os conteúdos físicos, esta é uma

competência ainda pouco explorada nas coleções.

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Atualização dos experimentos, pois se observa a necessidade de

novos arranjos que atendam a essa educação pautada em uma

formação mais abrangente para o aluno.

Maior riqueza de detalhes, em algumas obras, como figuras,

esquema ou gráficos que possam ilustrar a atividade experimental.

Portanto, ao avaliar a parte experimental, considera-se que os livros

didáticos aprimoram-se ao incorporá-la em seu conteúdo, sobretudo ao

apresentá-la em uma linguagem simples e com equipamentos acessíveis. A

disseminação da experimentação no ensino pode ser feita nos manuais que

compõem o livro do professor, em que os autores também apresentam as

orientações para a realização das atividades experimentais.

Por fim, procurou-se apresentar nesse trabalho informações que

possam auxiliar o professor de Física em sua prática de ensino, tomando como

suporte as atividades experimentais dos livros recomendados pelo PNLD 2012.

Ainda que a subjetividade esteja presente em qualquer tipo de análise, o

docente deve posicionar-se criticamente sobre os resultados e discussões ora

apresentados.

LIVROS ANALISADOS

BICUOLA, Gualter José; DOCA, Ricardo Helou; VILLAS BÔAS, Newton. Tópicos de Física. São Paulo: Saraiva, 2010. FUKE, Luis Felipe; YAMAMOTO, Kazuhito. Física para o Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2010. GASPAR, Albeto. Compreendendo a Física. São Paulo: Ática, 2011. GONÇALVES FILHO, Aurélio; TOSCANO, Carlos. Física e Realidade. 2 ed. São Paulo: Scipione, 2011. LUZ, Antônio Máximo Ribeiro da; ÁLVARES, Beatriz Alvarenga. Curso de Física. São Paulo: Scipione, 2011. MENEZES, Luis C.; CANATO JÚNIOR, Osvaldo; KANTOR, Carlos A.; PAOLIELLO JÚNIOR, Lílio A.; BONETTI, Marcelo C.; ALVES, Viviane M. Quanta física. São Paulo: PD, 2010.

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OLIVEIRA, Maurício Pietrecola Pinto de; POGIBIN, Alexander; OLIVEIRA, Renata Cristina de Andrade; ROMERO, Talita Raquel Luz; Física em contextos pessoal-social-histórico. São Paulo: FTD, 2010. SANT’ ANNA, Balidi; MARTINI, Gloria; REIS, Hugo C.; SPINELLI, Walter. Conexões com a FÍSICA. São Paulo: Moderna, 2010. SILVA, Cláudio Xavier da; BARRETO FILHO, Benígno. Física aula por aula. São Paulo: FTD, 2010. TORRES, Carlos Magno A.; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo Antônio de Toledo. Física – Ciência e Tecnologia. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2010.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, Pedro Renato Pereira. Atividades experimentais dos livros didáticos de física: um olhar através dos Parâmetros Curriculares Nacionais. 2009. 128 f. Dissertação (Mestrado em Ensino) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Belo Horizonte. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio - PCNEM. BRASÍLIA: 1999. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias: orientações educacionais complementares aos parâmetros curriculares nacionais - PCNs+. Brasília: 2002.