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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social OS DIVERSOS OLHARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO: um estudo da identidade projetada da Cemig e os sentidos construídos pelos clientes cativos. Rodrigo César Severino Neiva Belo Horizonte 2011

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · Severino Neiva. Belo Horizonte, 2011. 109f.: il. Orientador: Ana Luísa de Castro Almeida Dissertação (Mestrado) – Pontifícia

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

OS DIVERSOS OLHARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO:

um estudo da identidade projetada da Cemig e os sen tidos construídos

pelos clientes cativos.

Rodrigo César Severino Neiva

Belo Horizonte

2011

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Rodrigo César Severino Neiva

OS DIVERSOS OLHARES SOBRE A ORGANIZAÇÃO:

um estudo da identidade projetada da Cemig e os sen tidos

construídos pelos clientes cativos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial ao título de Mestre em Comunicação Social Área de Concentração: Midiatização e Processos de Interação Orientadora: Professora Dra. Ana Luísa de Castro Almeida

Belo Horizonte

2011

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Neiva, Rodrigo César Severino N417d Os diversos olhares sobre a organização: um estudo da identidade projetada

da Cemig e os sentidos construídos pelos clientes cativos / Rodrigo César Severino Neiva. Belo Horizonte, 2011.

109f.: il.

Orientador: Ana Luísa de Castro Almeida Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.

1. Cultura organizacional. 2. Comunicação nas organizações. 3. Companhia Energética de Minas Gerais. I. Almeida, Ana Luísa de Castro. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III. Título.

CDU: 658.012.2

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Rodrigo César Severino Neiva

Os diversos olhares sobre a organização: um estudo da identidade projetada

da Cemig e os sentidos construídos pelos clientes c ativos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial ao título de Mestre em Comunicação Social

___________________________________________________________ Prof. Drª. Ana Luisa de Castro Almeida (orientadora) - PUC Minas

___________________________________________________________ Prof. Dr. Júlio César Machado Pinto - PUC Minas

___________________________________________________________ Prof. Drª. Glória Maria de Fátima Itabirano Gomide - UFMG

Belo Horizonte, 18 de março de 2011.

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À minha mãe, Maria Helena,

por fazer dos meus sonhos os seus.

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AGRADECIMENTOS

Em teses e dissertações, sempre pensei que esse espaço era apenas mais

uma formalidade. Entretanto, depois de passar por todo esse processo, agora

entendo o valor de cada palavra escolhida para compor este texto. Afinal de contas,

trata-se da força de contexto no processo de produção de sentido. Sendo assim,

este é o meu espaço para agradecer, sinceramente, as pessoas que me auxiliaram

nesta longa e trabalhosa trajetória.

Aos professores José Albino e Glória Gomide, por me introduzirem na carreira

acadêmica. Foi pela ajuda, confiança e generosidade de vocês que virei professor e

sou muito grato por isso. Vocês sempre serão meu exemplo de docência e na forma

de como lidar com a vida.

Na mesma época em que conheci a Glória, conheci também a professora Ana

Luisa. Desde a época em que eu era estudante e estagiário na Secretaria de

Comunicação da PUC Minas, a Ana fez parte da minha trajetória acadêmica. E por

estar sempre por perto tive a oportunidade de aprender muito com a profissional de

comunicação, e mais ainda com a professora. Nestes dois anos de Mestrado,

agradeço por acreditar em mim, pelo cuidado e pela dedicação. Obrigado também

pelas orientações nos períodos de férias, nos finais de semana e, sobretudo, pela

luz quando tudo parecia muito difícil, enfim, por tudo que você fez para que eu

conseguisse chegar até aqui.

A Fernanda Bastos e a Fábia Lima, pela ajuda e incentivo nos momentos

difíceis. A cada congresso que nos encontrávamos, ganhava uma injeção de ânimo

para seguir. Aprendi muito com vocês.

As minhas amigas de mestrado @ ErikaLacerda, @EricaAnita,

@IsabelaHatem, @luanacavalcanti, @ligiachagas e @patrisrocha, que fizeram do

microblog um lugar de boas energias e pensamentos positivos. Agradeço

especialmente à Luiza Oliveira pela parceria acadêmica em sala de aula, nos

congressos e também nos botecos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.

Precisamos fazer isso mais vezes.

Aos meus queridos amigos da Diretoria Acadêmica do Grupo Ănima

Educação. À Beth Ferraz e Daniel Braga, pelo incentivo e por suportarem me ouvir

falar de quase um único assunto durante todo o ano. À Inês Barreto, pelo importante

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apoio e por não me deixar desistir. Ao Cléber Pimentel, por ser um leitor nada

palimpséstico. À Helivane, por me ajudar a desvendar os mistérios do discurso.

A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Comunicação

Social pela orientação e pelas excelentes aulas. Especialmente, a Ivone Oliveira e

Julio Pinto, pelas importantes contribuições na banca de pré-qualificação. Aprendi

muito naquele dia. Vocês fazem parte deste trabalho.

Aos meus amigos Antônio Morelli, Cida, Cristiane Serpa, Gislane Tanaka,

Priscilla D’Agostini e Flávio Moura, por ouvirem meus pedidos de socorro e me

lembrarem que existe vida fora da academia. Agradeço a escuta, os jantares, os

botecos e a companhia.

A todos os entrevistados e aos responsáveis pela comunicação na

Companhia Energética de Minas Gerais, em especial ao Luiz Henrique Michalick e a

Jania de Fátima Cesar. Sem vocês esta pesquisa não seria possível. Agradeço

também a disponibilidade e a gentileza dos membros do Reputation Institute em

Belo Horizonte.

Agradeço ao meu irmão Leonardo, pela ajuda incondicional e por suportar

meus momentos de mau humor. Edvaldo, Luciana, Gabriela, Roberta, Fernando e

Regina, por estarem sempre por perto.

Ao Otávio Rezende e seus vários ethos: amigo, parceiro de pesquisa,

coordenador do curso de Comércio Exterior... Não cabem aqui minhas palavras para

agradecer o seu apoio desde a seleção, no momento de preparação do pré-projeto,

até a data de entrega da dissertação. Valeu! Boa sorte no doutorado.

Por fim, agradeço a professora Maria Helena, minha mãe, que me ensinou

desde cedo a importância do conhecimento. Nunca mediu esforços para que

continuássemos a estudar e sempre apoiou a escolha de cada um. Se cheguei até

aqui, a maior responsável é você. Muito obrigado por tudo!

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Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.

Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)... Sinto crenças que não tenho.

Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta

traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.

Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos

que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.

Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor, eu sinto-me vários seres.

Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens,

incompletamente de cada (?), por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa

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RESUMO

A motivação inicial deste estudo foi compreender o processo de comunicação da

Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, analisando a identidade projetada

pelos dispositivos midiáticos e as construções de sentido acerca da organização

feitas pelos clientes cativos. Considerando a identidade como uma construção

simbólica via discurso, o primeiro capítulo faz uma abordagem inicial sobre o

processo de projeção da identidade organizacional, que pode se dar tanto pelos

dispositivos midiáticos, como também pelo comportamento de seus membros ou

pelos símbolos. Como o foco deste trabalho está no processo comunicativo, o

segundo capítulo aborda o tema a partir de uma perspectiva relacional, que

pressupõe a circularidade dos discursos. Esta perspectiva também busca dar conta

da globalidade do processo, não restringindo a análise apenas na esfera da

produção ou da recepção. Por isso, o terceiro capítulo discorre sobre a imagem

organizacional, entendendo que identidade e imagem são conceitos intimamente

relacionados. Nesse sentido, este trabalho também procurou perceber quais são os

atributos da identidade projetados pela Cemig na esfera da produção e as lacunas

ou convergências com a imagem organizacional construída na esfera da recepção.

Posteriormente, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados neste

estudo de caso: (1) contextualização e apresentação do objeto empírico, (2)

identificação dos atributos da identidade projetados pela organização nos

dispositivos midiáticos, (3) análise da construção de sentido feita pelos clientes

cativos. Por fim, procuramos apresentar após a análise as lacunas e convergências

entre a identidade projetada e a imagem organizacional.

Palavras-chave: Identidade projetada. Imagem organizacional. Processo de

comunicação; Companhia Energética do Estado de Minas Gerais.

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ABSTRACT

The initial motivation of this study was to understand the communication process of

Companhia Energetica de Minas Gerais - Cemig, examining the identity projected by

the media devices and constructions of meaning about the organization made by

captive customers. Taking the symbolic construction of identity as a via for the

speech, the first chapter is an initial approach to the design process of organizational

identity, which can happen not only by media devices, but also by the behavior of its

members or by symbols. As the focus of this work is in the communication process,

the second chapter addresses the topic from a relational perspective, which assumes

the circularity of speech. This approach also seeks to account for the overall process,

not restricting the analysis only in the sphere of production or reception. Therefore,

the third chapter discusses the organizational image, identity and image

understanding that these are closely related concepts. Thus, this study also sought to

understand what are the attributes of identity projected by Cemig, to the extent of

production, and the gaps and convergences with the organizational image built in the

sphere of reception. Subsequently, we present the methodological procedures used

in this case study: (1) contextualization and presentation of the empirical object, (2)

identification of the attributes of the identity projected by the organization in media

devices, (3) analysis of the construction of meaning made by captive customers.

Finally, we present the analysis results by showing the organization’s itself

construction through discourse and, secondly, the meanings produced by captive

customers, identifying gaps and convergences between the projected identity and

organizational image.

Key-word: Projected identity. Organizational image. Communication Process.

Companhia Energética do Estado de Minas Gerais.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Identidade como ser relativo. ....................................................................20

Figura 2 – Tipos de Identidade: quatro abordagens para o estudo da identidade organizacional. ..........................................................................................................26

Figura 3: Tipos de imagem........................................................................................46

Figura 4 - O processo de projeção da identidade e formação da imagem organizacional por meio do discurso midiático. .........................................................51

Figura 5: Cemig – Edifício Sede................................................................................58

Figura 6: Empresas e Consórcios do Grupo Cemig ..................................................59

Figura 7: Presença da Cemig no continente americano............................................60

Figura 8: Missão, Visão e Valores da Cemig.............................................................61

Figura 9: Consumidores Cemig.................................................................................62

Figura 10: Portal Cemig – Clientes Corporativos ......................................................66

Figura 11: Portal Cemig – Relações com Investidores..............................................67

Figura 12: Portal Cemig ............................................................................................68

Figura 13: Anúncio veiculado na revista Veja em 13 de novembro de 2009.............73

Figura 14: Anúncio veiculado na revista Veja em 4 de junho de 2010. .....................80

Figura 15: Anúncio veiculado na revista Veja em 26 de março de 2010...................81

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11 2 IDENTIDADE E DISCURSO: A PROJEÇÃO DO SENTIDO DE Q UEM SOMOS............. 16 2.1 O Conceito de Identidade....................... ..................................................................... 16 2.2 A identidade como construção discursiva ........ ........................................................ 19 2.3 Da identidade individual à organizacional ...... ........................................................... 20 2.4 A identidade no contexto organizacional........ ........................................................... 22 2.5 A identidade projetada ......................... ....................................................................... 28 3 QUEM SOU EU E O QUE EU FALO DE MIM? O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO PARA A PROJEÇÃO DA IDENTIDADE ORGANIZACIONAL ....... ..................................... 31 3.1 A comunicação no contexto das organizações..... .................................................... 32 3.2 O Modelo Relacional da Comunicação............. .......................................................... 36 3.3 Dispositivos midiáticos de comunicação: a ident idade projetada via discurso ..... 39 4 AS VÁRIAS FACES DE UM ESPELHO: AS CONSTRUÇÕES DE SENTIDO QUE SE DÃO NO CAMPO DA RECEPÇÃO ........................... .......................................................... 42 4.1 A constituição da imagem organizacional ........ ......................................................... 44 5 METODOLOGIA...................................... ......................................................................... 48 5.1 Procedimentos metodológicos para a análise da i dentidade projetada pela Cemig e

da imagem construída pelos clientes comerciais ..... ................................................ 49 6 A IDENTIDADE PROJETADA DA CEMIG E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO PELOS CLIENTES COMERCIAIS ................................ ................................................................... 55 6.1 A Companhia Energética de Minas Gerais......... ........................................................ 55 Missão ............................................. ................................................................................... 61 Visão.............................................. ..................................................................................... 61 Valores............................................ .................................................................................... 61 6.2 Caracterização do contexto atual do setor de en ergia elétrica no Brasil ................ 63 6.3 A identidade projetada pela Cemig por meio dos dispositivos midiáticos ............. 64 6.3.1 Inovação ..................................... ............................................................................... 68 6.3.2 Sustentabilidade ............................. .......................................................................... 70 6.3.3 Qualidade do Serviço ......................... ...................................................................... 74 6.3.4 .................................................................................................................................... 74 Segurança e confiabilidade no fornecimento de energ ia ............................................... 74 6.3.4 Gestão de alto desempenho .................... ................................................................ 79 6.4 As imagens construídas: um estudo da percepção dos clientes cativos comerciais

...................................................................................................................................... 82 6.4.1 Inovação ..................................... ............................................................................... 84 6.4.2 Sustentabilidade ............................. .......................................................................... 86 6.4.3 Qualidade do serviço......................... ....................................................................... 87 6.4.4 Segurança e confiabilidade no fornecimento de energia....................................... 90 6.4.5 Gestão de alto desempenho .................... ................................................................ 93 7 CONCLUSÃO........................................ ........................................................................... 96 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 101 ANEXO A ............................................ .............................................................................. 107 ANEXO B ............................................ .............................................................................. 108

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1 INTRODUÇÃO

Os meios de comunicação, a partir do século 20, passaram a ocupar a vida

cotidiana num ritmo nunca antes observado. De acordo com Martino (2009), o

crescimento da mídia, neste período, não encontrou paralelos na história e acabou

por influenciar a dinâmica da sociedade, em seus diversos níveis. Na medida em

que a mídia alcançava maior importância na vida social ganhava também status

acadêmico.

Os primeiros estudos sobre essa questão surgiram nesta época, nos Estados

Unidos e foram denominados de Mass Communication Research (MARTINO, 2009).

Essa corrente de estudos deu origem a diversos modelos teóricos de análise da

comunicação, que deram origem ao paradigma clássico1, que, na opinião de

Curvello (2008), influenciou toda a reflexão posterior sobre a comunicação além de

orientar a prática profissional nas organizações.

Entretanto, nos últimos anos, as teorias da comunicação vêm sofrendo

avanços significativos, que vão além do paradigma clássico. Muito mais do que a

simples relação entre emissor e receptor, as teorias contemporâneas tratam a

comunicação no contexto das organizações como um processo contínuo que é

construído por meio de uma interação dialógica entre a empresa e os diversos

sujeitos. Esses sujeitos, em situações de interação, constroem sentidos que podem

influenciar vários aspectos da organização, como por exemplo, a construção de

sentido de quem somos enquanto organização (a identidade organizacional) e as

percepções externas sobre a empresa (a imagem organizacional), principais focos

de estudo desta pesquisa.

Considerando que a comunicação pressupõe a circularidade dos discursos e

que se trata de uma interação dialógica entre os sujeitos envolvidos no processo, o

objetivo deste estudo é avaliar o processo de comunicação da Companhia

Energética de Minas Gerais – Cemig, analisando o posicionamento presente no

discurso institucional e os sentidos construídos pelos clientes cativos acerca da

organização.

1 Já bastante discutido entre os autores do campo da comunicação, o paradigma clássico, também

chamado de informacional, entende a comunicação como um processo de transmissão linear de informações entre receptor e emissor, provocando determinados efeitos (FRANÇA, 2002).

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A Cemig hoje é um dos maiores grupos empresariais do setor energético

brasileiro e atua nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia

elétrica. Constituído por 49 empresas e 10 consórcios, o grupo está presente em 16

estados brasileiros e no Chile. Suas ações estão listadas nas bolsas de São Paulo,

Nova York e Madri.

Atualmente, o mercado de atuação da Cemig - geração, transmissão e

distribuição de energia elétrica - apresenta inúmeros desafios no Brasil. Dentre eles,

pode-se destacar: o aumento do consumo de energia elétrica no País, devido ao

crescimento da atividade industrial e da população; a dependência da geração

hidrelétrica da matriz energética brasileira; a falta de planejamento e a ausência de

investimento em infraestrutura refletindo na necessidade de racionamento de

energia e na eminência da falta de energia; a pressão da sociedade por ações que

levem em conta a sustentabilidade em seus três pilares – social, ambiental e

econômico. Esse último fator confere grande importância aos departamentos de

relacionamento com as comunidades e de governança corporativa, principalmente

quando estão envolvidos no processo de comunicação das ações que apresentam

maior impacto ambiental, inevitáveis neste setor.

Por atuar em um setor altamente regulado, é o governo quem define quais

serão os competidores e a área de atuação de cada empresa. Dessa forma, não há,

para o segmento de clientes cativos uma situação de livre concorrência. Por outro

lado, as tarifas também não são definidas pela empresa. A Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL) é quem determina o valor a ser cobrado pelo serviço. A

elevação de custos, como por exemplo, pela falta de chuva ou pela ocorrência de

adversidades climáticas, não poderá ser diretamente repassadas ao consumidor

final.

Outro fator que exerce pressão na organização é que a interrupção no

fornecimento do serviço também é penalizada pela ANEEL. Assim, as adversidades

climáticas colocam qualquer empresa do setor energético vulnerável em períodos de

chuvas escassas, momento em que se observa um baixo nível de água nos

reservatórios das usinas ou no período de fortes chuvas, quando ocorre aumento da

interrupção de energia por problemas na rede de distribuição.

Todas estas forças do ambiente de negócios da Cemig exercem forte

influência no planejamento e implementação da estratégia da empresa, que precisa

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desprender de recursos e desenvolver competências para o alcance de uma

vantagem competitiva no mercado.

Nesse sentido, alguns indicadores de reconhecimento podem ser observados

nos últimos: em 2008, a Cemig foi selecionada, pelo nono ano consecutivo, para

compor o Dow Jones Sustainability World Index – DJSI World2. A empresa faz parte

desse índice desde sua primeira edição, no ano 2000, e é a única em seu segmento

na América Latina que obteve esse reconhecimento. Além disso, a Cemig é uma das

três empresas brasileiras a compor o índice Global Dow3, recebeu o premio mineiro

de gestão ambiental pelo trabalho desenvolvido na usina hidrelétrica de Nova Ponte

e ainda compões Índice de Sustentabilidade da Bovespa – ISE, desde a sua criação

em 2005.

Neste contexto de constante turbulência, a questão da identidade

organizacional se coloca como um desafio para a Cemig. Para responder a pergunta

“quem somos enquanto organização?”, é necessário compreender o contexto no

qual a empresa está inserida, sua história, seus valores, as mudanças pelas quais

passou e continua passando.

Assim, este estudo propõe analisar como a empresa projeta sua identidade

por meio das ações de comunicação direcionadas aos seus consumidores cativos.

Por outro lado, visa também identificar e compreender os sentidos produzidos por

estes consumidores. Esta análise tem como paradigma o modelo relacional que para

Maia e França (2003) compreende um processo de produção e compartilhamento de

sentidos entre sujeitos cuja interação é marcada pelo contexto social e histórico.

Em termos teórico-metodológicos, os três primeiros capítulos desta

dissertação buscam articular e problematizar a questão da identidade nas

organizações, a sua projeção por meio dos dispositivos midiáticos e o processo de

formação da imagem organizacional que se dá no campo da recepção.

Em busca da compreensão do processo de projeção da identidade

organizacional, o primeiro capítulo percorre algumas perspectivas para os estudos

2 O Dow Jones Sustainability World Index (Índice Mundial de Desenvolvimento Sustentável Dow

Jones), foi criado em 1999 com o objetivo de acompanhar o desempenho das empresas lideres mundiais quanto à incorporação da sustentabilidade na gestão do negócio. Fonte: Disponível em: <http://www.sustainability-index.com>. Acesso em: 6 de jan. de 2011.

3 The Global Dow é uma carteira teórica da Bolsa de Nova York, composta por ações de 150 empresas de países desenvolvidos e emergentes. Essa lista é criada pelos editores da Dow Jones e as empresas são escolhidas baseadas nos critérios de tamanho, reputação e relevância para a economia mundial. O objetivo deste índice é acompanhar o desempenho das empresas líderes globais.

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do tema, já bastante discutido pelas diversas áreas do saber. Logo, apresentamos a

ideia de identidade organizacional como uma construção discursiva e assumimos as

lacunas existentes entre a construção simbólica da identidade e os fatos concretos

que definem a organização.

Considerando o importante papel dos dispositivos midiáticos na projeção da

identidade organizacional, o segundo capítulo explora as peculiaridades do processo

de comunicação a partir de uma perspectiva relacional, que pode ser entendido

como um processo de trocas simbólicas onde o contexto exerce grande influência.

Por meio do processo de comunicação busca-se compreender as práticas de

produção e recepção, bem como a articulação entre elas.

A produção de sentido não se dá exclusivamente pelo discurso

organizacional. As imagens de uma organização também sofrem influência do

contexto e das situações de interação da empresa com os diversos grupos. No

terceiro capítulo, busca-se instituir um olhar a partir do campo da recepção visando

compreender o processo de constituição da imagem de uma organização.

O quarto capítulo apresenta a metodologia utilizada para a realização desta

pesquisa. O estudo de caso da Cemig tem por objetivo analisar as estratégias de

projeção da identidade da organização, foram realizadas, primeiramente, entrevistas

com os gestores responsáveis pela área de comunicação da Cemig. Esta etapa

visou identificar qual é a identidade desejada pela empresa, utilizando como

metodologia a análise do discurso.

Em seguida, uma pesquisa documental foi desenvolvida a partir da coleta do

material de comunicação produzido pela Cemig. Com base nestes dados, realizou-

se um levantamento das formas de interações midiáticas da empresa com o público

em questão, além de uma análise inicial do conteúdo, com o objetivo de levantar as

primeiras impressões sobre a identidade projetada.

Após a realização deste levantamento e das entrevistas, foi estabelecido um

recorte temporal do material a ser analisado: relatório anual (2008, 2009), jornal

Cemig Notícias (12 edições), campanhas publicitárias (2), além das notícias

divulgadas no website da empresa no ano de 2010 (Anexo III). A partir destes

procedimentos, pretendeu-se verificar a identidade projetada por meio dos

dispositivos de comunicação. O tratamento e análise destas informações estão

presentes no quinto capítulo e foram realizados por meio da metodologia da Análise

Critica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2003).

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Nesse capítulo, também buscou-se perceber quais são os sentidos

construídos pelos clientes cativos, influenciados não apenas pelo discurso de

identidade presente nos dispositivos midiáticos, mas também pelo contexto e pelo

grau de interação com a organização. Para tanto, foi realizado um estudo de

recepção por meio de entrevistas com os consumidores cativos, proprietários de

pequenos negócios. Para a análise dos dados também adotou-se a metodologia de

análise do discurso.

Por fim, são apresentadas no sexto capítulo as principais conclusões obtidas

no desenvolvimento do trabalho, assim como as limitações da pesquisa e as

indicações para novos estudos.

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2 IDENTIDADE E DISCURSO: A PROJEÇÃO DO SENTIDO DE Q UEM SOMOS

Como ponto inicial desta pesquisa faremos uma exploração do conceito de

identidade projetada. Entretanto, antes de falarmos especificamente sobre este

tema, é necessária a abordagem de algumas questões contemporâneas

relacionadas ao conceito de identidade, como seu caráter processual, dialógico e

fluido (BAUMAN, 2008; HALL, 2003). Considerando a identidade como uma

construção discursiva, como propõe Novak (2006), faremos a transposição do

conceito, que originalmente diz respeito aos indivíduos, para o contexto

organizacional. Por fim, descreveremos as várias abordagens para a análise da

identidade nas organizações, enfatizando a identidade projetada.

2.1 O Conceito de Identidade

A questão da identidade seja ela aplicada a pessoas, grupos ou

organizações, vem sendo bastante discutida pelas ciências humanas e sociais.

Inúmeras são as contribuições e interpretações para tal conceito o que torna difícil a

missão de buscar uma definição teórica que permita delimitá-la com propriedade.

A palavra identidade tem sua origem nos vocábulos latinos idem e identitas –

que podem ser entendidos como o mesmo e do vocábulo entitas, que significa a

essência do ser. Por meio da combinação destas duas palavras, o termo identidade

pode ser compreendido como a mesma entidade (CALDAS; WOOD JÚNIOR, 1997).

Esta noção de identidade influenciada, pelo pensamento clássico e pela

lógica, deu origem a diversos estudos e, ao longo do tempo, permaneceu atrelada à

ideia de algo nato, único e imutável. Em contrapartida, Stuart Hall (1996), afirma que

nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que houve uma explosão discursiva em

torno da questão da identidade, percebe-se também uma desconstrução das

perspectivas identitárias que corroboram com a noção de uma identidade integral e

originária.

Hall (2003), ao traçar uma evolução histórica do conceito, distingue a

identidade a partir de três diferentes perspectivas: a do sujeito do iluminismo, a do

sujeito sociológico e a do sujeito pós-moderno. A primeira concepção de identidade,

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a do sujeito do iluminismo, está baseada na ideia de um indivíduo centrado e

unificado, dotado de razão, cujo centro consiste em um núcleo interior que emerge

na ocasião do nascimento e permanece o mesmo por toda a sua vida.

A segunda perspectiva, a do sujeito sociológico, pressupõe que a identidade é

constituída na relação do indivíduo com os outros, descartando a ideia anterior de

uma identidade central autônoma e imutável. Na concepção do autor, o sujeito ainda

possui um núcleo identitário como na concepção anterior. Entretanto, este núcleo

não permanece imutável. Ele é formado e se modifica por meio do diálogo contínuo

entre o “eu” e as identidades e culturas exteriores ao sujeito. Esta visão sociológica

da identidade, que tem suas bases no interacionismo simbólico, representa uma

interface entre a sociologia e a psicologia na interpretação do processo de

construção da identidade. A partir da desta perspectiva, Goular e Bregunci (1990),

afirmam que a identidade é construída e mantida socialmente por meio da interação

do sujeito com outros indivíduos, responsáveis por sustentar sua autointerpretação

de identidade. Esta dialogicidade entre o interno e o externo, entre o mundo pessoal

e o mundo público, permite, segundo Hall (2003), o alinhamento entre a

subjetividade do indivíduo com os lugares objetivos que ele ocupa no mundo social e

cultural.

As transformações estruturais pelas quais passam a sociedade

contemporânea acabam proporcionando para o indivíduo pós-moderno, a perda do

sentido de si (HALL, 2003). Tanto a noção de identidade do sujeito do iluminismo

quanto a do sujeito sociológico não são mais suficientes para explicar o indivíduo

pós-moderno. Este colapso da identidade, também chamado por alguns autores de

crise de identidade, é constituído, na opinião de Hall (2003), por um duplo

deslocamento: o deslocamento do indivíduo de seu lugar no mundo social, bem

como o deslocamento de si mesmo. O sujeito com uma identidade única e estável

está se tornando fragmentado na medida em que é levado a assumir identidades

diferentes em diferentes momentos de sua vida. A noção de identidade para o

sujeito pós-moderno é vista como uma construção permanente, múltipla, e muitas

vezes contraditória.

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As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada ‘crise de identidade’ é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social (HALL, 2003, p.7).

A identidade, como uma experiência coesa de si, dá lugar a uma identidade

que precisa ser constantemente adaptada. Bauman (2008) considera que o

indivíduo contemporâneo está permanentemente envolvido no processo de

construção de identidade uma vez que a determinação da posição social foi

substituída pela autodeterminação compulsiva e obrigatória. Por esta razão, alguns

autores consideram que é mais adequado falar em identificação que em identidade

tendo em vista que os sujeitos, a todo o momento, vivenciam identificações diversas

ao invés de assumirem identidades herdadas ou adquiridas (BAUMAN, 2008;

MAFESOLLI, 1996):

Em vez de construir nossa identidade de maneira gradual e paciente, como se constrói uma casa, lidamos com formas montadas instantaneamente, apesar de desmanteladas com facilidade, pintadas umas sobre as outras; é uma identidade palimpséstica. É o tipo de identidade que se adapta a um mundo em que a arte de esquecer é um bem mais importante do que a arte de memorizar; em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de adequação contínua, segundo a qual novas coisas e pessoas entram e saem do campo de visão da câmera estacionária da atenção e onde a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta para ser apagada para poder gravar novas imagens (BAUMAN, 2008, p.115).

Ainda que seja impossível esgotar os significados do conceito de identidade,

estas diferentes perspectivas, do nosso ponto de vista, fornecem as bases para a

compreensão da noção de identidade individual na contemporaneidade. É possível

considerar que se trata de um processo dialógico, na medida em que o indivíduo, em

interação com os outros sujeitos, conduz o alinhamento entre a sua subjetividade e

as expectativas as quais é submetido, tendo em vista as diferentes posições que

ocupa no mundo. Além do caráter processual e dialógico, a identidade é fluida. Em

contraposição ao pensamento clássico, a identidade não é nata nem sequer mantida

através do tempo. O indivíduo contemporâneo vivencia diversas identificações,

adaptando-se constantemente.

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2.2 A identidade como construção discursiva

Ao tratar da perda do sentido de identidade na pós-modernidade, Noack

(2006), recorre à semiótica para introduzir a ideia de identidade como signo. Pinto

(1995), referindo-se a Pierce, afirma que é possível entender signo como algo que

representa algo para alguém em algum aspecto ou capacidade. Ele é um mediador

entre a realidade do objeto e o sujeito que a percebe. Pinto (1995) considera que

uma das implicações do signo é gerar identificação. Para o autor, o sujeito interpreta

o signo à sua maneira e gera nesse processo seus próprios interpretantes.

Nesta perspectiva semiótica, Noack (2006), propõe substituir na definição de

signo, a palavra signo pela palavra identidade. Dessa forma, pode-se entender que

identidade (signo) é algo que representa algo para alguém, em algum aspecto ou

capacidade. Nesse sentido, a identidade dirige-se a alguém, um outro, que cria em

sua mente uma identidade equivalente. Entretanto, Pinto (2008) afirma que os

signos são entidades imprevisíveis. “Nenhum signo fala tudo sobre seu objeto. Ao

contrário, sempre há, em torno deles, grandes áreas de opacidade e condução do

erro” (PINTO, 2008, p.86). Nesta perspectiva, ao substituir a palavra signo por

identidade e destacar a sua incompletude, é possível considerar que a definição de

um EU nunca será uma unidade.

Além disso, o que organiza este EU múltiplo é a comunicação, ou a narrativa

da identidade. Noack (2006) acredita que a linguagem é o que liga o sujeito à

identidade. O que determina a escolha de uma identidade em um determinado

momento é a situação de comunicação, ou seja, o contexto. Para a autora a

identidade é, portanto, relativa.

Por fim, a autora acredita que ao considerar a identidade como relativa, é

necessário pensá-la sob dois pontos de vista, conforme destacado na figura 1:

transcendente, entendido como o processo de ajuste de um interior subjetivo com

um mundo externo; e ontológica, entendido como uma Id-entidade, uma entidade

que é um isso – incluindo-se o fato de que a relação ontológica, intersubjetiva,

baseia-se em uma relação transcendental, intrassubjetiva.

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Figura 1 - Identidade como ser relativo. Fonte: Noack, 2006, p. 111.

Considerando as múltiplas identidades do sujeito contemporâneo (BAUMAN,

2008; HALL, 2003) e avançando na perspectiva da função organizadora do EU

exercida pela linguagem, é possível sugerir que a identidade é uma narrativa que

construímos sobre nós mesmos, de forma a diminuir o sentimento de ansiedade e

alcançar uma sensação de segurança sobre as concepções do sujeito, ainda que

precise ser permanentemente renovada.

A noção de identidade sempre se apresentou como tema central para a

experiência humana (GIOIA, 1998). Com origem na filosofia e na lógica, atualmente

várias questões contemporâneas são analisadas sob o prisma da identidade. No

âmbito organizacional, os primeiros estudos desenvolvidos, de um modo geral,

começam a ser desenvolvidos na década de 80. Considerando que a discussão

acerca da identidade do indivíduo fornece as bases para os estudos da identidade

organizacional, é necessário compreender as articulações entre os dois planos e as

transposições possíveis.

2.3 Da identidade individual à organizacional

Gioia (1996) considera que a transposição da questão da identidade para as

organizações não representa uma lacuna conceitual, mas um salto para cima no

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nível de análise. Para o autor, a maioria dos paralelos entre estes níveis é direta.

Ainda sim, ao imputar uma identidade a uma organização, algumas mudanças

conceituais podem ser observadas. Desta maneira, acreditamos ser possível o

diálogo entre as concepções teóricas de uma identidade na contemporaneidade, tal

como é aplicada aos indivíduos, com a noção de identidade assumida pelos estudos

organizações.

Do nosso ponto de vista, ao tratarmos sobre a identidade no contexto das

organizações, consideraremos que se trata de uma construção simbólica, cujo

objetivo é invocar o sentido de coerência organizacional. Consideraremos também a

inevitável diferença entre a construção coletiva e simbólica de uma identidade

organizacional e as múltiplas percepções de identidade existentes na organização.

Estas duas concepções não são contraditórias e sim complementares, levando-se

em conta que é a narrativa da identidade que organiza estas múltiplas percepções,

conferindo uma noção, mesmo que ilusória, de inteireza.

Dessa forma, a identidade é, ao mesmo tempo, unitária e plural, permanente

e fluida. Segundo Driver (2009), a identidade organizacional refere-se a um discurso,

uma construção narrativa, que reforça aspectos centrais, distintivos e permanentes

em uma organização. É construída socialmente para dar sentido aos públicos de

relacionamento acerca de quem é a organização. Para a autora, a identidade seria

uma construção imaginária do EU organizacional. Desta maneira, o discurso da

identidade organizacional, apesar de ilusório, é extremamente importante, sendo

capaz de fornecer respostas sobre “quem somos enquanto organização” e promover

um sentimento de pertencimento entre seus membros. A organização torna-se um

EU, simbólico, fixado de uma forma determinada, visando tanto validar as

autopercepções de identidade, como também favorecer a identificação e

comprometimento entre os membros da organização, promovendo uma sensação de

segurança (DRIVER, 2009).

No entanto, a identidade organizacional, assim como a individual, é

fragmentada, múltipla e dinâmica. Para resolver esta contradição, é necessário

segundo Driver (2009), assumirmos a lacuna existente entre a identidade da

organização e a construção simbólica de identidade, a qual chamaremos de

imaginária. Segundo a autora, desta forma, abre-se um espaço para assumirmos

também a importância da luta contra essa falta. Considerando que a identidade

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imaginária nunca será um reflexo fiel da organização, é possível trabalhar o

desenvolvimento de ações que levem a diminuição da lacuna existente.

Como exemplo, podemos falar sobre a importância da noção de

sustentabilidade nos dias atuais. Para uma organização, tornar-se sustentável é,

atualmente, um fator chave para a manutenção da competitividade. Nesse sentido, o

discurso do desenvolvimento sustentável assume grande importância e passa

também a ser introduzido no discurso organizacional. No entanto, a simples adoção

do discurso não significa, necessariamente, que a organização de fato lida com as

questões relacionadas a sustentabilidade. A mudança do discurso deve ser

acompanhada por uma mudança de atitude. Ao fazerem isso, as organizações têm a

possibilidade de trabalharem ações efetivas que deem legitimidade a este novo

posicionamento.

Para Driver (2009), a identidade organizacional, encarada como uma

construção simbólica, somente irá prevalecer na medida em que a própria

organização pautar suas ações em direção ao ideal de identidade. De acordo com a

autora, ao encarar a identidade organizacional como uma construção simbólica,

dialógica, via linguagem, tanto a organização quanto seus membros estarão aptos a

trabalhar as lacunas existentes.

2.4 A identidade no contexto organizacional

Assim como acontece com o indivíduo, que segundo Bauman (2008) está

permanentemente envolvido no processo de construção de identidade, a fluidez e a

complexidade do mundo contemporâneo levam os membros da organização a se

questionarem constantemente sobre quem são. Por outro lado, buscando diminuir a

ansiedade dos funcionários e responder aos seus próprios anseios de segurança, as

organizações, projetam sua identidade visando subsidiar a construção e

reconstrução do sentido de quem somos (HATCH; SHULTZ, 2000; ALMEIDA, 2008;

VAN RIEL, 2007).

Nas últimas décadas, o conceito de identidade tem recebido atenção especial

no campo dos estudos organizacionais. Vários aspectos da vida das empresas vem

sendo analisados a luz do conceito de identidade. Diversos autores tem se dedicado

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ao tema para o desenvolvimento de suas pesquisas (ALBERT; WHETTEN, 1985;

VAN RIEL; FOMBRUM, 2007; CARRIERI, 2002; ALMEIDA, 2008; GIOIA,1998) que

apresentam como base linhas teóricas que vão desde a psicanálise, a psicologia

social, até estudos mais instrumentais, com interface no design e no marketing.

Van Riel e Fombrum (2007), sugerem três grandes correntes para os estudos

de identidade organização, cujas raízes estão no design, na cultura e na

comunicação. Os trabalhos baseados no design exercem grande influência nos

estudos de identidade. Argenti (2006), por exemplo, considera que a identidade é a

manifestação visual da organização, transmitida por meio do nome, logomarca,

slogan, produtos, serviços, instalações físicas, uniformes etc. Compreendendo a

origem latina do termo idem (o mesmo), sob esta perspectiva, tanto melhor será o

processo de construção da identidade quanto as imagens refletirem a realidade

organizacional. Em contrapartida, se as percepções estiverem muito distantes da

realidade, a empresa precisará modificar a forma como se percebe. Em outras

palavras, a percepção da identidade é o reflexo da organização.

Mais do que a simples representação visual da identidade, outra corrente leva

em conta a influência da cultura organizacional, manifestada pelas crenças e valores

compartilhados pelos membros, na questão da identidade. Nesse sentido, identidade

e cultura são conceitos intrinsecamente relacionados (HATCH; SHULTZ, 2000;

CARRIERI, 2002; ALMEIDA, 2008). Para estes autores, cultura e identidade se

complementam na medida em que uma necessita da outra como fonte de

significados. Hatch e Schultz (2000) afirmam que a identidade organizacional

fornece a base cognitiva e emocional por meio das quais os empregados constroem

sentido sobre a organização. Sob esse prisma, Carrieri (2002) considera que a

identidade sempre é definida em relação a um sistema de significações, valores,

ideologias, ou seja, em relação a uma ou várias culturas. A identidade é afetada

pelas significações culturais que perpassam as empresas e por este motivo nunca é

única. Assim como Gioia (1998) introduz o conceito de instabilidade adaptativa,

Carrieri (2002), ao relacionar identidade e cultura, afirma que a identidade

organizacional não é única, mudando de acordo com as situações e os atores

organizacionais. Almeida (2008) considera que a cultura fornece o contexto que

permite responder a questão da identidade nas organizações e contribui com

material simbólico para a construção do sentido de quem somos. Além disso, essa

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construção não é estável, mas social e historicamente construída, e está sujeita a

revisões e contradições.

Uma terceira aproximação para os estudos de identidade é composta por

aqueles que o fazem sob a perspectiva da comunicação. Em geral, examinam como

as organizações apresentam sua identidade por meio dos dispositivos midiáticos de

comunicação, em torno de atributos da identidade que representem a essência da

organização. Nesta perspectiva, além da importância da comunicação e dos

símbolos, os pesquisadores reconhecem que a identidade também se manifesta

pelo comportamento, consciente ou inconsciente, dos membros da organização

(VAN RIEL; FOMBRUM, 2007).

Grande parte dos estudos sobre a identidade organizacional foi elaborada a

partir das contribuições de Albert e Whetten (1985), que caracterizam a identidade

como uma questão autorreflexiva – quem somos enquanto organização? (GIOIA,

1998). Albert e Whetten (1985) afirmam que as características da identidade

organizacional podem ser resumidas em três dimensões: o que é considerado pelos

membros como central (centralidade), o que torna a organização diferente das

outras (distintividade) e o que é percebido pelos membros como sendo

características duradouras (permanência). Além disso, Gioia (1998) destaca que as

organizações mantêm sua identidade por meio da interação com as outras. Nesse

sentido, é possível estender para as organizações o caráter relacional e comparativo

da identidade. Também é possível perceber a multiplicidade das identidades, uma

vez que para audiências distintas a organização pode assumir diferentes

persoanlidades. Em resumo Gioia (1998), acredita que as organizações também

podem assumir várias identidades, dependendo do papel que desempenham e do

contexto o qual estão inseridas.

Assim, sob o ponto de vista de Van Riel e Fombrum (2007), a resposta para a

questão “quem somos enquanto organização?” não é simples. Os gestores, por

exemplo, são levados a fazer uma interface entre suas respectivas visões de

identidade e a percepção dos outros membros da organização, o que demanda

diálogo permanente entre as partes. De um lado estão as reivindicações e o desejo

dos gestores sobre a identidade, e de outro, observa-se a construção de sentido dos

diversos públicos sobre a organização. Corroborando com Driver (2009), deve haver

sempre uma lacuna entre o que é desejado como identidade pela alta administração

e que é efetivamente percebido pelos públicos com os quais interage. Esta lacuna

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pode ser encarada como o motor para o empreendimento de mudanças constantes

e efetivas na organização, em busca do ideal de identidade.

Considerando a rapidez das mudanças no ambiente organizacional, seja por

alterações da conjuntura econômica ou política, a introdução de novas tecnologias, a

substituição de produtos ou a hiperconcorrência, as organizações são chamadas a

se reconstruírem a todo o momento. Isto requer flexibilidade e capacidade de

adaptação. Segundo Gioia (1998), tudo isso tem um imediatismo de impacto que

levam as organizações a se equilibrarem entre a instabilidade e a fluidez. Esta

questão, chamada de instabilidade adaptativa, é fator chave para a noção de

identidade nas organizações. A identidade é ao mesmo tempo fluida e estável.

Fluida porque a mudança no contexto leva também as organizações a buscarem

novas identificações, a produzirem novos encaixes. Assim como Bauman (2008),

que acredita que o indivíduo pós-moderno está permanentemente envolvido no

processo de construção de identidade, as organizações são levadas a atualizarem o

sentido de quem somos de acordo com a nova ordem vigente, sob pena de tornar-se

obsoleta ou perder legitimidade.

Para manter o equilíbrio entre o que é fluido e o que é estável, entre o

temporário e o permanente, as organizações devem saber lidar com a mudança,

mantendo as características que determinam o núcleo da identidade (ALMEIDA,

2006). Se de alguma maneira a construção simbólica da identidade deve levar em

conta o contexto, o que lhe imprime certa fluidez, por outro lado também estará

atrelada a elementos de sua história, de sua cultura e sua escolha estratégia, seu

DNA.

Van Riel (2007), afirma que a identidade pode ser definida como um conjunto

de atributos vistos como específicos pelos membros de uma organização. Como

toda organização é composta por vários grupos de indivíduos, ressalta-se, mais uma

vez, o aspecto múltiplo da identidade organizacional. Cada um destes grupos

constroem suas representações de identidade, que não são, necessariamente

compartilhadas com todos os funcionários. Alguns autores destacam o atributo da

singularidade, referindo-se a uma organização única, o que não pode ser confundido

com coesa. Apesar de existir internamente uma multiplicidade de percepções de

identidade, é perfeitamente possível pensar o atributo de singularidade,

considerando que nenhuma organização é igual à outra.

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Tendo em vista a impossibilidade de uma única definição para o conceito de

identidade corporativa, existem várias perspectivas para se compreender a

identidade nas organizações. Van Riel e Fombrum (2007) identificam, conforme

mostrado na figura 2, quatro abordagens para os estudos de identidade, que variam

conforme a perspectiva de análise: desejada, projetada, percebida e aplicada.

Figura 2 – Tipos de Identidade: quatro abordagens p ara o estudo da identidade organizacional.

Fonte: Van Riel e Fombrum, 2007.

a) Identidade desejada: é um vir a ser. Refere-se às percepções e desejos

dos lideres da organização. Também chamada de identidade ideal, é a

crença do lugar em que a organização pode alcançar, sob o comando do

líder.

b) Identidade projetada: trata-se da apresentação dos atributos-chave da

organização aos diversos públicos por meio da comunicação e dos

símbolos organizacionais. É uma autorrepresentação da organização.

c) Identidade percebida: diz respeito aos atributos que são percebidos

como centrais, distintivos e permanentes pelos membros da organização.

Identidade Organizacional

Identidade Desejada

Identidade Projetada

Identidade Percebida

Identidade Aplicada

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d) Identidade aplicada: pode ser entendida como os sinais transmitidos,

consciente ou inconscientemente, pelos comportamentos e iniciativas dos

membros da organização, em todos os níveis.

Ao conceituar a identidade a partir destas quatro categorias de análise, é

possível verificar que sempre haverá uma lacuna entre as diferentes percepções de

identidade.

Entendendo a identidade como signo, ou aquilo que representa algo a

alguém, devemos admitir que esta representação nunca será completa, idêntica ao

significante. Ao contrário, essa representação é parcial, opaca. A identidade pode

ser entendida como o mediador entre o objeto (organização) e a percepção dos

vários sujeitos (atores organizacionais). O sujeito interpreta o signo à sua maneira e

gera nesse processo suas próprias imagens. Ainda que identidade possa ser

compreendida como “a mesma entidade”, cada grupo irá percebê-la de forma

diferente, construindo diferentes sentidos de quem somos. Podemos então afirmar

que estas quatro categorias de análise representam quatro diferentes percepções

sobre um mesmo objeto, a organização. A identidade desejada pela direção, por

exemplo, não será a mesma identidade percebida pelos membros da organização,

que ainda será diferente da identidade projetada pelo processo de comunicação.

Desta forma, entendemos que muito mais que um reflexo direto da identidade, a

construção de sentido acerca de quem somos enquanto organização se apresenta

refletida em um espelho de várias faces e por mais que estas imagens estejam

próximas, ou apresentem certa convergência como em uma situação ideal, jamais

serão idênticas.

De forma a delimitar o objeto de estudo e conferir consistência à pesquisa, o

foco deste trabalho será no processo de projeção da identidade organizacional,

analisando o discurso institucional presente nos dispositivos midiáticos de interação

entre a empresa e seus clientes.

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2.5 A identidade projetada

A noção de identidade pode ser compreendida como uma narrativa que a

organização constrói sobre si mesma, de forma a diminuir o sentimento de

ansiedade entre seus membros e proporcionar segurança tanto para os sujeitos

quanto para a própria organização. Além disso, é a narrativa da identidade que

organiza as múltiplas identidades organizacionais, conferindo uma ideia de inteireza,

ainda que precise ser permanentemente renovada.

De acordo com Van Riel (2007), a organização projeta para seus públicos

atributos relevantes de sua identidade por meio de três elementos: comportamento,

comunicação e símbolos. Cada um desses elementos possui seu papel no processo

de projeção da identidade, conforme descrito a seguir.

a) Comportamento : segundo o autor, este é o meio mais efetivo pelo qual a

identidade é projetada, uma vez que é por meio dele que os públicos podem

julgar as ações da empresa.

b) Comunicação: por meio do processo de comunicação a empresa escolhe os

atributos de sua identidade que melhor a define, formula e direciona a

mensagem a cada público. O autor lembra que a falta de coerência ou

consistência possibilita diferentes percepções dos públicos. Este problema se

deve à inconsistência das mensagens ou falta de lastro com os valores,

filosofia e ações da organização. Dentre os elementos que projetam a

identidade, este é o mais flexível.

c) Símbolos: consistem em imagens (fotografias, ilustrações, material gráfico,

marcas, logotipos) que apóiam e dão suporte ao processo de comunicação.

Os símbolos possuem significados específicos e apresentam indicações

sobre o que a empresa acredita. Eles ajudam a conferir distintitividade.

De acordo com Otubanju et al (2010), a identidade organizacional é uma

representação planejada da cultura, comportamentos, estratégia e estrutura para os

públicos de relacionamento da empresa. Esta autorrepresentação se dá pela

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transmissão de mensagens sobre “quem somos enquanto organização” por todos os

elementos que compõem a identidade projetada: símbolos, comportamento e

comunicação.

Otubanju et al (2010) ressaltam ainda que, neste processo de projeção a

identidade pode ser comunicada formal e informalmente. A identidade, comunicada

formalmente, é uma representação planejada e direcionada a cada público da

organização. Seus atributos estão presentes, por exemplo, nos discursos e peças

institucionais de comunicação utilizados para a interação com os públicos da

organização. Todas essas peças - relatório anual, website, folder, catálogos,

outdoor, anúncios em mídia impressa e eletrônica, dentre outros - são

cuidadosamente planejadas pelo setor de comunicação e pelas agências de

publicidade e propaganda, para a construção de sentido sobre a organização. Além

do processo de comunicação, destacam-se também na comunicação formal os

símbolos como logomarca, slogans, design de produtos etc.

Deve-se considerar, entretanto, que a identidade organizacional está

diretamente relacionada com a identificação dos seus membros. Sendo uma

construção simbólica, compartilhada internamente, o EU organizacional é

consequência da percepção dos funcionários sobre a organização (MAEL;

ASHFORTH, 1992). Por isso, apenas projetar os atributos que melhor definem a

empresa na opinião dos gestores e dos profissionais de comunicação não

proporcionará identificação, caso os públicos de relacionamento não os

considerarem legítimos.

Por outro lado, a comunicação informal da identidade corporativa é aquela

que está presente, principalmente, nas atitudes e sinais não intencionais,

inconscientes, presentes no comportamento dos empregados. Olins (1995), citado

por Otubanju et al (2010), argumenta que toda organização realiza diversas

atividades e transações todos os dias e que em todas estas atividades, a empresa é

apresentada para os vários interlocutores que integram seus respectivos públicos de

relacionamento. Esta apresentação emerge não somente da comunicação

institucional, mas também nos sinais conscientes e inconscientes que podem ser

observados no comportamento dos membros da organização.

Considerando as abordagens dos estudos de identidade que a consideram

como uma construção simbólica, via discurso, o foco de análise desta pesquisa será

a identidade projetada por meio do processo de comunicação formal. A construção

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de sentido de quem somos passa, necessariamente pela escolha e projeção dos

atributos que melhor definem a organização. Almeida (2008), defende que entender

o processo de construção de identidade é fundamental para que a organização

gerencie aspectos sob os quais tem certo controle. Para a autora, existe uma

intenção deliberada no discurso institucional que reflete o estilo da empresa e

transmite significados, representando o material simbólico que dá sentido ao

propósito da organização.

Assim, o objetivo deste trabalho, em um primeiro momento, é compreender

qual é a identidade formulada pela alta administração da empresa e quais são os

atributos-chave desta identidade presentes nos dispositivos midiáticos de interação

com os clientes, ou seja, na comunicação formal. Em seguida, pretende-se

identificar a construção de sentido dos clientes e as lacunas existentes entre a

identidade projetada e a imagem da organização. Para isso, nos capítulos seguintes,

buscaremos compreender a dinâmica da comunicação nas organizações e o

processo de formação da imagem corporativa.

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3 QUEM SOU EU E O QUE EU FALO DE MIM? O PROCESSO DE

COMUNICAÇÃO PARA A PROJEÇÃO DA IDENTIDADE ORGANIZAC IONAL

A comunicação tem um importante papel no processo de projeção da

identidade organizacional. Por meio dos dispositivos midiáticos, a organização irá

projetar seus atributos, objetivando a construção de um sentido de identidade que

seja capaz de defini-la e distingui-la das demais. Por outro lado, a projeção da

identidade visa fornecer aos diversos sujeitos com os quais interage, as bases

cognitivas para a percepção e interpretação da organização, diferenciando-a das

demais (ALMEIDA, 2009; HATCH; SHULTZ, 2000; VAN RIEL; 2007).

Entretanto, cabe ressaltar, conforme afirma Pinto (2008), que o discurso

organizacional é apenas um dos discursos possíveis e que a construção de sentidos

não se dá exclusivamente por ele. Da mesma forma, a projeção da identidade não

se dá apenas por meio do discurso presente nos dispositivos midiáticos, mas

também pelo comportamento dos membros da organização e pelos símbolos. O

processo de construção de sentidos tanto pelos membros internos, quantos pelos

sujeitos externos à organização, também sofre influência de outros discursos além

do discurso institucional e do contexto. Dessa forma, tomando como referência o

paradigma relacional, que trata a comunicação como um processo de produção e

compartilhamento de sentidos entre sujeitos interlocutores e não apenas como um

processo de transmissão de informações (FRANÇA, 2002), esta pesquisa terá como

foco de análise a identidade projetada por meio dos dispositivos midiáticos e a

construção de sentidos feita pelos clientes cativos da Cemig.

Assim, o objetivo deste capítulo é proporcionar uma visão do processo

comunicativo no contexto contemporâneo das organizações e seu papel na projeção

da identidade organizacional e na produção de sentidos que se dá na esfera da

recepção.

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3.1 A comunicação no contexto das organizações

Uma das questões que se coloca para os pesquisadores da área de

comunicação é sobre as particularidades do processo comunicativo que se dá no

contexto das organizações. Na opinião de Pinto (2008) é inconcebível compreender

a comunicação nas organizações de forma dissociada de uma ideia geral da

comunicação. De acordo com o autor, a organização pode ser entendida como um

contexto onde se dá o fenômeno comunicativo, que se manifesta também em outros

lugares tão legítimos ou específicos. Na opinião de Pinto (2008), a comunicação

organizacional, ao reivindicar uma epistemologia específica, acaba por assumir uma

dimensão operacional e tarefista do saber comunicativo. Da mesma forma, Kunsch

(2003) acredita que o termo comunicação organizacional, além de envolver todo o

conjunto das diferentes modalidades comunicacionais que ocorrem dentro das

organizações, pode ser entendido como algo mais amplo devido à possibilidade

também de aplicação a qualquer tipo de organização social.

Compartilhando com a visão do processo comunicativo de Pinto (2008) e

Kunsch (2003), partiremos da definição que o ato de comunicar se dá nos mais

variados contextos e que a organização se apresenta como uma empiria tão legitima

quanto qualquer outra. Em nossa análise, consideramos que a comunicação, tal

como é tratada nas organizações, não dever ser analisada de forma diferente da

noção geral de comunicação, apenas pelo fato do contexto em que se conformam os

sentidos ser a esfera corporativa. Assim, conforme proposto por Pinto (2008), cabe

abandonar a qualificação organizacional, sendo mais adequado referirmos à

comunicação no contexto das organizações.

Pinto (2008) ressalta ainda os tensionamentos existentes entre o pensamento

acadêmico e a prática empresarial. Para o autor, a comunicação tal como concebida

e praticada pelas empresas está, muitas vezes, comprometida com um modelo

funcionalista, pautado na transmissão de informações. Segundo ele:

Num ambiente como o das organizações, que vem sendo dominado cada vez mais pela ideia de gestão – e gestão talvez seja só outro nome maia açucarado para panótipo e vigilância –, existe a ilusão de que se possui a forma de bem conduzir as coisas, de maneira que as coisas atinjam seus objetivos. Essa gestão está preocupada com os significados: “A significa B e, se eu disse A, entenderão B. (PINTO, 2008, p.86)

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Esta ideia tem suas origens em um dos primeiros modelos comunicacionais,

cujas bases teóricas foram os estudos pioneiros desenvolvidos a partir da

perspectiva norte-americana, conhecida como Mass Comunication Research4. O

paradigma informacional surge, nesta perspectiva, com o objetivo de explicitar as

funções desenvolvidas pelo sistema de comunicação e parte do pressuposto que a

comunicação é um processo mecânico e linear de transmissão de informações

(WOLF, 2008). A finalidade operativa da teoria matemática é transmitir o maior

número de mensagens pelo canal com o menor grau de distorção possível.

De certo modo, foi este o modelo que passou a influenciar fortemente o dia a

dia das organizações. Pressupõe-se que a mensagem será entendida exatamente

da mesma forma como foi transmitida. Em uma perspectiva semiótica pode-se

entender que A = A, ou que a noção de sentido é substituída pela ideia de

significado, desconsiderando-se os processos interpretativos (NOACK, 2006).

Fazendo um paralelo entre o modelo informacional e processo de projeção da

identidade, a comunicação assume uma função de transmissora de significados que

serão perfeitamente decodificados pela instância da recepção. Sob esta ótica,

podemos imaginar, no processo de projeção da identidade, que a organização

(emissor) seleciona os principais atributos que a definem e constroe mensagens

(conteúdos) que são divulgados pelos dispositivos de comunicação (televisão,

jornais, anúncios, websites) e direcionadas aos receptores (sujeitos). Quanto melhor

a mensagem for elaborada, melhor a sua compreensão. Dessa forma, os objetivos

serão atingidos na medida em que os atributos da identidade forem entendidos da

mesma forma que foi projetados.

Entretanto, os processos que se passam tanto na instância da produção

quanto no campo da recepção, não devem ser vistos como um simples mecanismo

linear de transmissão de significados. Para Pinto (2008), o foco do processo de

comunicação deve estar nos sentidos produzidos, que incluem errâncias e tropeços.

Assim, para o autor, essa noção de mediação simplista e simplificadora atualmente

deu lugar a outras percepções. Nesse sentido, o autor propõe o conceito de

4 Corrente de estudos norte-americana surgida no início do século XX, destinada a analisar os efeitos

das mensagens transmitidas pela comunicação de massa. De forma a compreender as relações entre comunicação e sociedade, vários modelos teóricos foram formulados, como por exemplo, o modelo matemático formulado por Lasswell, o modelo de Osgood e Scharamm, que tem como premissa a circularidade do processo e o modelo de Merton e Lazarsfeld, cujo objetivo era identificar as principais funções da mídia (MARTINO, 2009).

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permediatividade5, derivado da teoria semiótica que, em sua opinião acaba sendo

muito parecido com as atuais noções de midiatização. Pinto (2008) afirma que a

permediatividade leva em conta a instabilidade dos processos comunicativos, uma

vez que está centrada nos sentidos e não nos significados.

Pinto (2008), lançando mão do conceito de permediatividade, afirma que

exercer a linguagem é exercer certo risco, pois.

Os signos são entidades imprevisíveis. Nenhum signo fala tudo sobre seu objeto. Ao contrário, sempre há, em torno deles, grandes áreas de opacidade e condução de erro. Por sinal, essa opacidade e intransparência já é algo constituinte da própria noção de signo. Significar significa não dizer tudo. Não existe transparência do ponto de vista da linguagem, e isso é algo que esquecemos o tempo todo por vivermos em um paradigma cultural que tende a pensar a vida através do desideratum de uma grande Erklärung (um grande clarão iluminador, um esclarecimento), só para lembrar os frankfurtianos e os iluministas... ( ) Ora, sabemos que os signos não só mediam, eles permediam. Sabemos que não se trata de mediação, mas de permediatividade, e nessa permediatividade temos a presença consolidada dos ruídos como fatores constituintes do processo comunicativo. Não existe nada sem ruído. Essa é uma questão imanente do signo, exatamente constituído de opacidade e instransparência e pontencial mal-entendimento. Não há garantias na produção da mensagem, não há garantias na mensagem, não há garantias na sua recepção (PINTO, 2008, p.85-86).

Na perspectiva proposta por Novak (2006), que considera identidade como

signo, é possível compreender que a identidade também é uma entidade

imprevisível. Na medida em que é construída, via linguagem, e que, assim como o

signo não fala tudo sobre o objeto ela também não fala tudo sobre a organização.

Nesse sentido, a identidade possui áreas de opacidade e intransparência.

Para compreender o processo de comunicação para a projeção da identidade,

é preciso ir além da perspectiva linear do modelo funcionalista, uma vez que é

necessário considerar o caráter interpretativo da esfera da recepção, o ruído como

parte constituinte do processo e a importância do contexto para a produção de

sentido (PINTO, 2008).

Por fim, cabe salientar que a comunicação no contexto das organizações, de

acordo com Baldissera (2008), pode ser entendida como processo de construção e

disputa de sentidos no âmbito das relações organizacionais, conforme se estabelece

a seguir:

5 Pinto (2008) introduz o conceito de permediatividade ressaltando a indeterminação do processo

comunicacional e a tendência para o erro. “O que a permediativiade do signo considera é que exercer a linguagem é sinônimo de exercer um certo risco. Toda linguagem é indeterminada, toda linguagem é intransparente “ (PINTO, 2008, p.85).

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A comunicação organizacional não obedece a simplificações, não se restringe ao planejado, ao legitimado pela organização, às ações de relações públicas, publicidade, propaganda e assessoria de imprensa; tampouco – e muito menos – limita-se ao desejo de poder da comunicação do marketing. Apesar de a comunicação organizacional também ser isso, diminuí-la a esses fazeres significa apenas atender aos desejos de planejar, gerir, organizar, controlar, prever, ou seja, abreviá-la ao visível, ao tangenciável, ao possível de captar. Essa perspectiva elimina a tensão, a desorganização, a resistência, o informal, o espontâneo e, portanto, a possibilidade de (re)organização, criação, inovação (BALDISSERA, 2008, p. 169).

Nessa direção, destaca-se que, além do conteúdo da mensagem projetada, é

igualmente importante a interpretação realizada pelos sujeitos em situação de

interação com a organização. Na opinião de Charaudeau (2009), apenas o receptor

está em posição de julgar o conteúdo de uma informação, restando ao emissor,

neste caso a organização, fazer uma aposta sobre sua validade. De acordo com

Baldissera (2008), entre a oferta de sentidos planejados pela organização e a sua

internalização feita pelos interlocutores, existe um lugar que é a arena da disputa de

sentidos.

Da mesma forma, Fausto Neto (1995) chama a atenção para o desafio dos

estudos de recepção, que está na junção, domínio e articulação de um conjunto de

procedimentos metodológicos que garantam ao mesmo tempo, a compreensão do

tipo de discurso no que diz respeito às regras de produção, endereçados, de acordo

com algumas operações e manobras enunciativas, por um determinado campo

emissor, assim como compreender como os grupos se apropriam deste discurso.

Para o autor:

O reconhemcimento simultâneo dessas articulações nos impõe, também, reconhecer que estamos no interior de redes e relações sistemáticas entre instâncias e contextos não discursivos e discursivos. Isto implicaria reconhecer que o estudo dos efeitos de mensagens não poderia ser desenvolvido a partir da crença de que o “objeto verdadeiro” estaria na mensagem em si mema, mas na articulação destes dois núcleos: produção e recepção (FAUSTO NETO, 1995, p. 61).

Nesse sentido, o modelo relacional da comunicação será utilizado como base

de análise da projeção da identidade organizacional, por considerar a circularidade

do processo comunicativo e a inter-relação entre os campos da produção e da

recepção.

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3.2 O Modelo Relacional da Comunicação

De acordo com França (2002), diversos autores contemporâneos destacam

que os modelos elaborados a partir das teorias funcionalistas são insuficientes para

a compreensão do processo comunicativo, bem como trazem novos elementos para

tratar a comunicação. Dessa forma,

Outra proposta paradigmática tem sido desenvolvida buscando compreender a comunicação como um processo de produção de sentidos entre sujeitos interlocutores, a partir de um determinado contexto e realizado através de trocas simbólicas, ou seja, pela produção de discursos. Esta perspectiva se encaixa no que se conhece como o modelo relacional da comunicação, que tenta abarcar a globalidade do processo comunicativo (FRANÇA, 2002).

Segundo França (2007), o modelo relacional da comunicação está

fundamentado, em grande parte, nos trabalhos da corrente de estudos da escola de

Chicago de interacionismo simbólico da Escola do Chicago. Criado em 1937 por

Hebert Blumer e inspirado na obra de G. H. Mead, o termo interacionismo simbólico

refere-se à corrente que considera a natureza simbólica dos fenômenos sociais e o

impacto recíproco entre as partes da interação (PRIMO, 2008).

França (2006), ao destacar a obra de G. H. Mead, considera que o que mais

interessa nas reflexões do autor é a relação de reciprocidade entre indivíduo e

sociedade, que se constituem mutuamente. De acordo com as reflexões do autor, as

interações estão baseadas em gestos significantes e na retroatividade entre

estímulos e reações. França (2006) explica que gestões significantes são elementos

da organização social que carregam significados para aqueles a quem são dirigidos

e para os que produzem. Provocam sentidos em que os recebe e encarnam um

certo centido para aqueles que o fazem. A autora afirma que, para Mead, a

linguagem é parte do processo social e que é por meio dela que nos afetamos uns

aos outros. Sendo assim, “a interação é reciprocamente referenciada entre sujeitos

dotados de linguguem e uma inteligência reflexiva” (FRANÇA, 2006, p.78). Dessa

forma, para França (2006), sujeitos em interação são sujeitos em comunicação.

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Estes sujeitos em interação são claramente sujeitos em comunicação – um sujeito que produz gestos significantes para afetar o outro. Trata-se de uma situação de co-presença e mútua afetação, vivida através da materialização de formas simbólicas (gestos significantes). Os sujeitos aqui ganham uma nova natureza: são constituídos na relação e pela presença do outro, a partir da capacidade de construção de gestos significantes e de projeção dos movimentos e expectativas recíprocas (FRANÇA, 2006, p.78).

No contexto do descentramento6 da identidade na contemporaneidade, de

acordo com Martín-Barbero (2006), qualquer ideia de unidade tem muito de uma

“unidade imaginada”. O autor considera que não há identidade que não seja

contada. Dessa forma, a unidade da identidade é constituída por meio do discurso,

da narrativa sobre a organização. A partir do paradigma relacional, podemos

considerar que a projeção da identidade organizacional pode ser realizada por meio

da narrativa inscrita nos dispositivos midiáticos que operam na relação entre a

organização e os diversos grupos com os quais interage.

Dessa forma, um dos papéis da comunicação é o de projetar a construção

simbólica de identidade, ordenando e agenciando a produção de sentido. Por outro

lado, é na relação entre a organização e os vários sujeitos que se dará a produção

de sentido: a construção de uma autopercepção de identidade, de um ponto de vista

interno, ou a formação da imagem organizacional, de uma perspectiva externa à

organização.

Tanto a organização, ao projetar sua identidade, quanto seus membros ao

construírem sentidos de quem somos, são influenciados pelo contexto e pelas

relações que se estabelecem entre eles. Além disso, conforme resgata Pinto (2008),

existe intenção nas instâncias produtoras, mas também há intenção nas instâncias

receptoras das mensagens. De maneira diferente do modelo informacional da

comunicação, na abordagem relacional não é possível considerar o controle quanto

ao sentido construído a partir da identidade projetada. Fausto Neto (2008), ressalta

que o sentido é produzido em decorrência de um “feixe de relações” e que os efeitos

das mensagens não é da competência de nenhum dos polos envolvidos no processo

(emissão/recepção).

De acordo com França (2002), esta abordagem contribui para o resgate da

circularidade e globalidade do processo comunicativo, além de considerar a

6 Hall (2003) afirma que se o sujeito cartesiano possuía uma identidade fixa e estável, nos tempos

atuais, a identidade do indivíduo contemporâneo passou a ser aberta, contraditória e fragmentada. Para o autor, trata-se de um processo de descentramento da identidade.

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interrelação entre os elementos que, por sua vez, se constituem. A projeção da

identidade corporativa por meio dos dispositivos de comunicação, entendida pela

perspectiva relacional, é um processo de construção conjunta entre os sujeitos

sociais (organização e públicos), a partir dos discursos (construções simbólicas

afetadas pelo contexto, pelos sujeitos envolvidos e pela organização), em

determinadas situações.

No modelo relacional, a comunicação, vista como um ato social, se inscreve

no domínio das interações, no qual os agentes envolvidos no processo estão

sempre implicados. De acordo com França (2007), esse processo se constitui por

uma sequência de fatos relacionados, o que torna insuficiente as análises realizadas

apenas sob a perspectivas de um dos sujeitos envolvidos. Segundo a autora, a

comunicação só existe no todo.

Ainda de acordo com a perspectiva relacional, considerando que os

processos midiáticos não estão restritos aos subsistemas de produção e recepção,

Braga (2006), propõe um terceiro sistema denominado sistema de resposta social.

Para ele, analisar o processo de comunicação a partir desses dois ângulos de

midiatização significa concentrar-se na dual relação entre mídia e sociedade, em que

a primeira assume um papel mais ativo na geração de mensagens e a segunda

apresenta uma postura passiva no papel de recebedora de informações. A

constatação do sistema de resposta social traz um novo olhar sobre o processo

comunicativo ao considerar a circulação dos sentidos midiaticamente produzidos na

sociedade, grupos ou organizações. Diferentemente do modelo informacional, ao

considerar a circulação desenvolvida pelo sistema de interação social sobre a mídia,

a comunicação assume um caráter processual, assim como na perspectiva

relacional.

Braga (2006), ressalta que é necessário distinguir a expressão circulação das

outras perspectivas nas quais se tem comumente colocado. Neste caso, não se trata

da circulação da perspectiva econômica, que pressupõe o movimento de fazer

chegar o fluxo material ao consumidor. Também não se pode confundir o subsistema

de interação social sobre a mídia com o sentido presente no senso comum de

“circulação midiática”, que diz respeito ao fato de determinados acontecimentos,

pessoas ou ideias alcançarem grande projeção na mídia. É mais que isso. De fato, o

que circula pela mídia, circula depois na sociedade. Na análise do autor, o tipo de

circulação que interessa é aquela que ocorre depois da veiculação, ou seja, o que a

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sociedade faz com a mídia. Desta forma, a circulação pode ser entendida como um

sistema de resposta.

Analisando o processo de comunicação para a projeção da identidade, de

acordo com as ideias de Braga (2006), podemos afirmar que a produção de sentido

acontece em algum lugar entre os produtos midiáticos da organização e os diversos

grupos representados por clientes, acionistas, funcionários, governo, sociedade,

dentre outros. Neste processo, podemos entender como sistema de produção este

conjunto de produtos midiáticos que integram os processos institucionalizados cujo

objetivo é a projeção deliberada dos atributos que definem a organização, buscando

construir um sentido de identidade. Já o sistema de recepção irá, em resposta aos

dispositivos midiáticos, produzir os mais diversos sentidos acerca da identidade

organizacional, que irão provocar relações de contiguidade e tensionamentos, que,

por sua vez, leva à organização a construir novos percursos discursivos.

3.3 Dispositivos midiáticos de comunicação: a ident idade projetada via

discurso

As organizações, no dia a dia, lançam mão de vários discursos, que se

materializam nos dispositivos midiáticos, com os mais variados objetivos

estratégicos que vão desde a divulgação de novos produtos até conferir legitimidade

às suas ações ou ser admirada pela sociedade.

Amossy (2008), considera que o ato de tomar a palavra implica em uma

construção de uma imagem de si, ainda que o sujeito não esteja necessariamente

falando sobre ele. “Seu estilo, suas competências linguísticas e enciclopédicas, suas

crenças implícitas são suficientes para construir uma representação de sua pessoa”

(AMOSSY, 2008, p.9). Em uma perspectiva interacional, a autora destaca que

influência reciproca entre as partes em interação faz com que os atores forneçam,

voluntária ou involuntariamente, certa impressão de si mesmos de forma a

influenciar o outro do modo desejado.

Em conformidade com o paradigma relacional, Mangueneau (2008), afirma

que o ato de enunciação é fundamentalmente assimétrico. No processo de

circulação de sentidos, podemos considerar que os sujeitos envolvidos no processo

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comunicativo irão interpretar o discurso de identidade presente nos dispositivos

midiáticos e reconstruir o seu sentido a partir das indicações nele contidas. No

entanto, não há garantia de que o sentido reconstruído por esses sujeitos coincida

com as representações feitas pelo organização, configurando esta uma arena de

disputa de sentido (BALDISSERA, 2008). Assim, é de fundamental importância, nos

estudos da comunicação no contexto das organizações, considerar o contexto e a

reconstrução de sentidos que ocorre na esfera da recepção.

Neste mesma linha, Mangueneau (2008) afirma que, para a compreensão de

um enunciado, lançar mão de um dicionário ou de uma gramática não é o bastante.

É preciso mobilizar saberes diversos, formular hipóteses e construir um contexto que

não é preestabelecido. Para o autor, a própria ideia de um enunciado que possui um

sentido fixo, fora do contexto, portanto é insustentável.

Na visão de Charaudeau (2009), o discurso é resultado da combinação das

circunstâncias de fala com a forma pela qual se fala e nele estão contidas as

identidades daquele que fala e daquele a quem se dirige. Assim, é na relação entre

as condições extradiscursivas e das realizações intradiscursivas que se dá a

produção de sentido. Em convergência com o modelo relacional, sob a perspectiva

do discurso, o sentido nunca é dado a priori. “Ele é construído pela ação

linguagueira do homem em situação de troca social” (CHARAUDEAU, 2009, p. 41).

Nesta perspectiva, o autor considera que a construção de sentido se dá ao final de

um duplo processo de semiotização: de transformação e de transação.

Entende-se por processo de transformação o ato de converter o “mundo a

significar” em “mundo significado”, que é estruturado segundo algumas categorias

expressas por formas.

Abrange categorias que identificam os seres do mundo nomeando-os, que aplicam a esses seres propriedades qualificando-os, que descrevem as ações nas quais esses seres são engajados narrando, que fornecem o motivo dessas ações argumentando, que avaliam esses seres, essas propriedades, essas ações e esses motivos modalizando. O ato de informar inscreve-se nesse processo porque deve descrever [identificar-qualificar fatos], contar [reportar acontecimentos], explicar [fornecer as causas desses fatos e acontecimentos] (CHARAUDEAU, 2006, p. 41).

Já o processo de transação diz respeito, em se tratando do sujeito que produz

um ato de linguagem, a atribuir uma significação psicossocial a seu ato, ou seja,

conferir um objetivo em função de alguns parâmetros como: as hipóteses sobre a

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identidade do outro, o sujeito da recepção, quanto a seu saber, sua posição social,

seus interesses, etc., o efeito que se pretende produzir neste outro; o tipo de relação

que se pretende estabelecer com este sujeito e o tipo de regulação que prevê em

função dos parâmetros precedentes (CHARAUDEAU, 2006).

Até o momento, procuramos compreender as questões relacionadas à

projeção da identidade que se localizam no campo da produção. Entretanto, o

processo de comunicação analisado a partir do paradigma relacional pressupõe a

circularidade de sentidos e a situação de mútua afetação entre os sujeitos em

interação (FRANÇA, 2006). Por isso, no próximo capítulo lançaremos um olhar

sobre o campo da recepção, visando compreender as questões relativas ao

processo de formação da imagem organizacional.

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4 AS VÁRIAS FACES DE UM ESPELHO: AS CONSTRUÇÕES DE SENTIDO QUE

SE DÃO NO CAMPO DA RECEPÇÃO

De acordo com Wolf (2005), a imagem tem a propriedade de tornar presente

alguma coisa que é ausente. Nesse sentido, uma imagem pode ser entendida como

uma representação. Por apresentar alguns aspectos da aparência visível do objeto,

a imagem tem a capacidade de fazer-nos ver, pensar ou evocar esse objeto

ausente.

De acordo com o autor, o homem possui duas maneiras de tornar presente

aquilo que está ausente: a imaginação ou a criação de imagens. Por meio da

imaginação, um poder interno do homem, é possível recriar, em pensamento, as

coisas que não estão presentes. Por outro lado, de forma análoga a este poder

interno, existe um equivalente externo: a criação de imagens. Isso se refere à

capacidade humana de, por meio do trabalho autoral, tornar presente a aparência

visível do objeto ausente, não em pensamento, mas em uma realidade exterior.

Além da imaginação e da técnica de fazer imagens, de acordo com Wolff (2005), o

homem dispõe de mais um mecanismo para convocar aquilo que não está presente:

a linguagem.

Em se tratando da relação imagem-objeto, (representante-representado) Wolff

(2005), influenciado pelas ideias de Platão, destaca três características

fundamentais. A primeira delas é que a imagem, por representar, não possui todas

as características do objeto, apenas algumas. Por este motivo, ela nunca se

assemelhará completamente ao objeto representado. Sempre estará impregnada de

uma falta. A segunda questão é que a imagem é múltipla, ainda que o que ela

represente seja único. Nesse sentido, há uma infinidade de imagens possíveis para

uma só realidade. Por fim, a terceira questão assinalada pelo autor é que a imagem

possui uma inferioridade ontológica decisiva em relação ao objeto representado. A

imagem não é o verdadeiro ser, sempre será uma imitação, uma vez que não possui

a realidade do objeto no qual representa.

De acordo com Wolff (2005), a imagem é algo menor do que o objeto

representado, nunca se assemelhando completamente a ele. É também múltipla, no

lugar de una, além de ser um falso objeto, na medida em que se constitui como uma

simples imitação de sua aparência.

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Wolf (2005), interessado em analisar de onde vem o poder das imagens,

define três graus de representação de uma imagem. O primeiro é o que está

acidentalmente ausente, por uma questão circunstancial e temporária. Está longe,

mas poderia estar ou estará presente. O segundo grau é o que está

substancialmente ausente. Trata-se de uma ausência irreversível, como por

exemplo, acontecimentos que ficaram no passado ou até a fotografia de alguém que

já morreu. Sobre a diferença entre o primeiro e o segundo grau Wolff afirma que:

Na verdade, no primeiro caso, a imagem torna presente aquilo que não está, mas que ainda pode estar, ela me proporciona um substituto da presença real que aplaca a falta que sinto. No segundo caso, a imagem torna presente aquilo que não mais está, faz me tomar consciência daquilo que nunca mais estará, e é por isso que cria em mim a falta desse passado, desse ser que não está e que não pode estar novamente (WOLFF, 2005, p.30).

Já o terceiro grau do poder da imagem é percebido quando o objeto está

absolutamente ausente. Jamais esteve presente e não poderá estar porque é, por

definição, ausente deste mundo, como os deuses e os entes sobrenaturais.

Wolff (2005), afirma que há uma gradação de ausência entre os três níveis.

No primeiro, o mais baixo grau, o ausente pode estar presente a qualquer momento.

“A imagem é o representante visível de outra coisa visível, que apenas

ocasionalmente é invisível” (WOLFF, 2005, p.31). No segundo grau, a ausência é

irreversível, representando a ausência. No terceiro grau, o mais alto, a imagem torna

presente o que é invisível. Segundo o autor é neste caso que se encontra a

verdadeira ambição da imagem ou onde se manifesta a ilusão imaginária. A imagem

ilusória é uma emanação, uma vez que se confunde com o próprio objeto.

Essa ilusão pode ser gerada por qualquer imagem, mas torna-se mais e mais sensível à medida que cresce a ambição da representação da imagem: quanto mais a imagem se esforça em tornar presente o ausente, mais ela tenta representar o irrepresentável, tornar visível o invisível, mais ela gera a ilusão de não ser imagem. (WOLFF, 2005, p. 37)

Wolf (2005), também se utiliza das noções de “opacidade” e “transparência”

das imagens. Uma imagem é transparente quanto mais oferece a ilusão de

apresentar-se não enquanto imagem, mas como o próprio objeto. Nesse sentido,

“quanto mais a imagem se esforça em tornar presente o ausente, mais ela tenta

representar o irrepresentável, tornar visível o invisível, mais ela gera a ilusão de não

ser imagem” (WOLFF, 2005, p.37). Já a opacidade diz respeito a capacidade da

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imagem de mostrar-se como tal. Como uma criação humana que ao mesmo tempo

em que representa, é também uma visão particular e incompleta do objeto.

Villaça (2009) avalia que apesar de Wolff se referir às imagens visuais, suas

considerações oferecem subsídios para uma interpretação mais abrangente do

conceito. É possível considerar a noção de imagem do ponto de vista da semiótica,

que abrange todas as formas narrativas que são utilizadas pelo homem para a

representação dos objetos.

Considerando que uma organização pode ser representada por meio do seu

discurso de identidade, materializado nos dispositivos midiáticos, as imagens são as

construções de sentido que ocorrem na esfera da recepção. Essas imagens,

dependem do contexto e são frutos da imaginação humana, ou seja, da capacidade

de interpretá-las. Por esse motivo são múltiplas, mantendo semelhanças com o

objeto que representam, a organização, ainda que não deem conta de reproduzir o

próprio objeto em sua totalidade. Pensar que a imagem organizacional é a própria

organização, negando sua atribuição fundamental que é de representar, consiste no

que Wolff (2005), denomina de ilusão imaginária.

4.1 A constituição da imagem organizacional

Identidade e imagem organizacionais possuem uma relação de

interdependência. De acordo com Van Riel (1997), os sinais emitidos por meio dos

símbolos, comportamentos ou dos dispositivos de comunicação, são recebidos pelos

diversos grupos, em situação de interação com a organização em seus diversos

níveis. Na medida em que aumenta a participação e a interação das pessoas no

processo, é formado um retrato do objeto, a imagem da organização. Para o autor,

uma imagem é como um filme fotográfico que está a ponto de ser revelado na mente

das pessoas.

Outro ponto a considerar é que a imagem organizacional é também algo

bastante particular. Para Alvesson (1990), uma imagem é uma interpretação

subjetiva dos sinais de identidade. Na mesma opinião que Wolff (2005), Alvesson

(1990) afirma que a imagem possui um caráter de mediação: ela está em algum

lugar entre os atributos comunicados da identidade e a esfera da recepção.

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Entretanto, o autor afirma que a imagem é o resultado de uma projeção a partir de

duas direções: a primeira diz respeito à construção subjetiva feita pelo sujeito,

baseada em suas experiências. O auto sentido de imagem é então criado pelo

próprio sujeito da ação.

Alvesson (1990) também acredita que a imagem pode ser considerada a

partir do próprio objeto. Uma organização pode investir recursos na tentativa de

projetar certa impressão para grupos de sujeitos específicos, como por exemplo,

acionistas, clientes, parceiros, governo e sociedade. Essa projeção, a imagem

comunicada, carrega intencionalmente as marcas da identidade e representa os

interesses definidos pela direção.

Em resumo, de acordo com as ideias de Alvesson (1990), pode-se considerar

a imagem de uma organização como resultado de um processo comunicacional,

comportamental e simbólico, realizado por seus membros e de um processo de

construção de sentidos pelos sujeitos externos à organização cujo pano de fundo é

a situação de interação em que estes se encontram.

Nesse sentido, a imagem de uma organização pode ser analisada sob duas

perspectivas diferentes, que se complementam. De um lado, é possível perceber a

intenção da alta administração em constituir uma imagem positiva sobre a

organização, projetando a identidade por meio dos dispositivos comunicacionais. Por

outro lado, existe a percepção da organização, construída pelos sujeitos externos à

organização, em situação de interação. Nesse sentido o discurso institucional é um

dos elementos que influenciam na formação da imagem, mas não é o único. Neste

processo de produção de sentido é preciso considerar também outras fontes de

informação como a mídia e a opinião pública, a influência dos formadores de opinião

e o contexto.

Almeida (2005), afirma que a questão da representação simbólica é

recorrente nos estudos de imagem corporativa. De acordo coma autora, alguns

estudos consideram que a representação reflete apenas parte da organização ou

uma falsa-realidade. Nesta linha teórica, Alvesson (1990), destaca que as imagens

são inevitavelmente parte de uma realidade social e psicológica. Nesse sentido, a

imagem organizacional deve ser entendida não como uma “realidade objetiva”, mas

como uma representação. Para o autor, a relação que existe entre a imagem e o

objeto é, na melhor das hipóteses, ambígua. Ao tratar do gerenciamento ou

monitoramento da imagem, utilizando aqui os termos cunhados no mundo

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corporativo, as organizações, muitas vezes, acabam por mostrarem-se muito

diferente daquilo que são. Alvesson (1990), ressalta que o problema não é,

necessariamente, a questão de a imagem ser falsa, mesmo porque ela sempre será.

Entretanto, o processo de comunicação para a formação da imagem pode

apresentar problemas de adequação, seleção ou falta de senso crítico, o que acaba

contribuindo para o aumento da distância entre a percepção dos sujeitos e a

realidade organizacional, entre o verdadeiro e o falso.

Sobre a questão da verdade ou da falsidade da imagem, Baudrillard citado

por Almeida (2005), considera que a essência da organização não é

verdadeiramente uma realidade, mas a imagem que construímos dela, sendo que

esta imagem se configura como verdade para o sujeito.

Na figura 3, Almeida (2005) apresenta as diversas abordagens dos estudos

de imagem comumente discutidos nos estudos organizacionais.

Figura 3: Tipos de imagem

Fonte: Almeida (2005, p.70), adaptado de Gioia et al.(2000).

Considerando as várias definições de imagem é possível observar que, no

contexto corporativo, ela se apresenta como resultado de projeções em duas

direções, visto que trabalha tanto o autossentido de imagem quanto à imagem

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comunicada. Outra questão importante a ser considerada é o caráter efêmero da

imagem corporativa. Ocorre que ao ser entendida como um retrato da organização,

a imagem se constitui como uma impressão transitória, concebida no momento

presente.

Do nosso ponto de vista, consideraremos, de acordo com as contribuições de

Alvesson (1990), Almeida (2005) e Gioa et al (2000), que a imagem organizacional

diz respeito à interpretação subjetiva da identidade, projetada pelos dispositivos

midiáticos, pelo comportamento de seus membros e pelos símbolos. Tanto

identidade quanto imagem são construções simbólicas, múltiplas, que dependem de

uma realidade psíquica e social. Entretanto, apesar de não serem coincidentes, nem

refletirem o objeto real, elas devem ser coerentes. As diferenças entre o sentido de

organização construído por esses diversos grupos e pelos membros da organização

devem ser aceitáveis. E o que afirma Driver (2009) acerca da identidade

organizacional, que também pode ser aplicado à interrelação entre imagem e

identidade: a lacuna existente entre as percepções apresenta-se como uma

oportunidade para que a organização repense e caminhe na direção de movimentar

esforços para tornar-se aquilo que deseja ser.

Assim, nesta pesquisa, além do estudo da identidade projetada pela Cemig,

por meio da análise do discurso inscrito nos dispositivos midiáticos, também será

realizado um estudo de recepção de forma a identificar o sentido construído pelos

clientes cativos. Para tanto, como afirma Fausto Neto (1992), será necessário

articular procedimentos que visem a compreensão das estratégias utilizadas na

projeção do discurso de identidade quanto a forma a qual os sujeitos se apropriam

desse discurso.

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5 METODOLOGIA

Considerando a identidade como uma narrativa de “quem somos” enquanto

organização e a imagem como uma representação feita pelos sujeitos, o objetivo

central desta pesquisa é analisar o processo de comunicação da Cemig com os seus

consumidores cativos, analisando a identidade projetada por meio dos dispositivos

midiáticos e a construção sentidos que se dá na esfera da recepção.

O método de pesquisa adotado neste trabalho é o estudo de caso único (YIN,

2001), o que permite estudar em profundidade o processo comunicativo

desenvolvido pela Cemig, dentro do contexto em que está inserido. De acordo com

Yin (1989, p. 23) “o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um

fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real”. Para o autor, o

estudo de caso é adequado em situações nas quais os comportamentos não podem

ser manipulados, mas as observações podem ser feitas de forma direta e os dados

obtidos por meio de entrevistas sistemáticas. Assim, o estudo de caso se caracteriza

pela capacidade de lidar com as evidências de uma forma global, por meio de

documentos, artefatos, entrevistas e observações. De acordo com Yin (2001), este

método permite uma investigação em que se preservam as características holísticas

e significativas dos eventos da vida real.

A Cemig, objeto empírico deste estudo, é uma das maiores empresas

brasileiras que atua na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. O

processo de comunicação em uma empresa desse setor apresenta inúmeros

desafios. Dentre eles, podemos destacar o fato que, de acordo com a política

energética brasileira, não é permitido aos clientes residenciais, rurais e proprietários

de comércio e indústrias de pequeno porte, os chamados clientes cativos, escolher a

sua concessionária de energia. Todos os clientes estão ligados a uma distribuidora

de energia compulsoriamente, por sua localização geográfica. Esta é uma

determinação do governo, que regula o setor por meio da Agência Nacional de

Energia Elétrica – ANEEL7.

7 Atualmente esta é uma prerrogativa apenas dos grandes clientes industriais ou comerciais,

chamados de clientes livres Cliente livre é aquele que pode escolher, a seu critério, o fornecedor de energia elétrica, independente da localização geográfica de ambos. A Lei 10.848/2004, do Decreto nº 5.177/2004, que estabeleu a figura do cliente livre, define as condições de funcionamento do novo modelo do setor elétrico brasileiro.

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Além disso, a Cemig é uma empresa de capital misto. Apesar de ser uma

empresa controlada pelo Governo de Minas, possui ações negociadas nas bolsas de

valores de São Paulo, Madri e Nova York e mais de 117 mil acionistas localizados

em cerca de 40 países. Dessa forma, a empresa se configura como uma empresa

pública, contribuindo para o desenvolvimento do Estado e do País, e também por

apresentar resultados financeiros positivos e gerar valor para os acionistas.

Por fim, de um lado temos o cliente comercial que depende da energia para

exercer sua atividade e de outro temos a concessionária de energia definida

compulsoriamente pela ANEEL. Um desafio que se impõe é como trabalhar a

distintividade em uma empresa que não apresenta concorrentes diretos em sua área

de atuação e que o seu produto só se faz presente na falta, quer dizer, apenas

quando o fornecimento é interrompido é que nos damos conta de sua existência.

5.1 Procedimentos metodológicos para a análise da i dentidade projetada pela

Cemig e da imagem construída pelos clientes comerci ais

Para a realização desta pesquisa, foi desenvolvida, primeiramente, uma

revisão bibliográfica a respeito dos temas identidade projetada, o processo de

comunicação e a imagem organizacional, o que permitiu um aprofundamento dos

conceitos e a realização de escolhas teóricas. Nesse sentido, a identidade

organizacional será tratada como uma construção simbólica (DRIVER, 2009;

NOACK, 2006), realizada por meio das práticas discursivas, que visa projetar os

atributos da organização, ainda que esta projeção seja feita também por meio do

comportamento e dos símbolos organizacionais (VAN RIEL, 2007; ALMEIDA, 2005).

O processo comunicativo da Cemig com seus clientes será analisado a partir

do paradigma relacional (FRANÇA, 2002; BRAGA 2006), que permite uma visão

global das trocas simbólicas, a partir de determinado contexto.

Para analisar as estratégias de projeção da identidade da Cemig por meio do

processo comunicativo, optou-se pela metodologia da análise do discurso presente

nos dispositivos de comunicação.

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Segundo Fairclough (2003), a principal divisão entre as várias correntes da

análise do discurso está entre as que possuem foco em uma análise detallhada do

texto (Análise do Discurso Textualmente Orientada – ADTO) e outras que,

influenciadas fortemente por Foucalt, dão menos atenção aos aspectos linguisticos.

O autor propõe uma junção das duas abordagens, por meio da Análise Crítica do

Discurso (ADC), que se dedica à análise de textos e eventos discursivos no

contexto das transformações sociais do mundo contemporâneo. “Assim, a análise do

texto é uma parte essencial da análise do discurso, mas a análise do discurso não é

simplesmente uma análise linguística dos textos” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 144).

Por meio do entrecruzamento do discurso presente nos dispositivos midiáticos

e do contexto organizacional, é possível descobrir, não a identidade real da

organização, mesmo porque esta é múltipla e fragmentada, mas a construção

simbólica que se inscreve no discurso institucional. Este discurso, por sua vez, pode

ser entendido como a linguagem em uso, qua acaba por produzir sentidos que

contribuem para a formação da imagem organizacional e, levando-se em conta a

circulação presente no processo, geram reposicionamentos (PEREIRA; BRITO,

2009). Este processo pode ser visualizado na figura 4:

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A) Organização

B) Dispositivos midiáticos:

Discurso como Prática “enunciação”

E) Produção de Sentidos:

reposicionamentos e novos percursos

discursivos

D) Condições de produção, regras, ideologias

C) Posicionamentos

Figura 4 - O processo de projeção da identidade e f ormação da imagem organizacional por meio do discurso midiático.

Fonte: Adpatado de Pereira; Brito, 2009, p.71.

De acordo com o modelo apresentado por Pereira e Brito (2009), podemos

compreender o processo de projeção da identidade e formação da imagem

organizacional por meio do discurso midiático, conforme as etapas abaixo

especificadas:

a) A organização, neste processo, deve ser considerada enquanto sujeito

discursivo, uma vez que se constitui por meio do discurso, o que reforça a

ideia de subjetividade.

b) O discurso deve ser compreendido enquanto linguagem em uso. Os

sentidos são materializados por meio de atos de enunciação.

Representam uma relação na medida em que a organização elabora seu

discurso a partir de dados específicos da situação de troca.

c) A organização, enquanto produtora de discurso, se posiciona por meio das

estratégias de posicionamento. Por meio dessas estratégias, possibilita-se

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o aparecimento dos objetos do discurso. As estratégias de posicionamento

podem ser analisadas a partir da construção das personagens, das

marcas de subjetividade (temporais, narrativas ou expressões), dos

procedimentos argumentativos (ironias, silenciamentos e ilustrações) e da

heterogeneidade mostrada ou intradiscursiva (pressupostos).

d) A organização também é constituída pela linguagem por meio de regras,

ideologias e condições de produção. Esses elementos expressam as

condições para a produção de sentidos nos discursos e podem ser

analisados a partir da memória (história, conceitos, metáforas e

metonímias), do interdiscurso (heterogeneidade constitutiva, ou,

subentendidos) e contexto.

e) Em resposta aos produtos midiáticos, os grupos com os quais a

organização interage irão produzir os mais diversos sentidos acerca da

identidade organizacional, gerando relações de contiguidade e

tensionamentos, que por sua vez, leva à organização a construir novos

percursos discursivos. Cumpre ressaltar que o processo não se fecha,

uma vez que os sentidos produzidos acerca da identidade podem se

configurar também como interdiscurso para novos sentidos.

De forma a compreender a construção de sentido pelos clientes cativos da

Cemig por meio do processo de projeção da identidade, a proposta metodológica de

Pereira e Brito (2009) apresenta-se como uma possibilidade, na medida em que

considera a articulação entre as esferas de produção (organização) e de recepção

(clientes).

Pereira e Brito (2009) sugerem que o primeiro passo para a realização da

análise de discurso em estudos organizacionais seja o processo de coleta de

informações. Segundo os autores, esse processo dever ser realizado em duas

etapas. Na primeira, deve-se pesquisar acerca do contexto do estudo, seja por meio

de entrevistas ou de pesquisa documental. Deve-se buscar a compreensão não

apenas da caracterização estrutural e histórica da organização, como também de

sua trajetória sócio-histórica.

Assim, inicialmente, foi realizada uma pesquisa documental, com o objetivo

de compreender e caracterizar o ambiente em que a Cemig está inserida, sua

história, sua estrutura e seus valores. De forma complementar, foi realizada uma

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entrevista com o gestor da área de comunicação corporativa, de forma a construir as

primeiras impressões a respeito do sentido de quem somos que se materializa nos

dispositivos midiáticos.

Pereira e Brito (2009), afirmam que, em um segundo momento, deve-se

coletar informações acerca do fenômeno a ser pesquisado. Do ponto de vista desta

pesquisa, trata-se da identidade projetada e da imagem organizacional. Nesta etapa,

de acordo com os autores, as informações são obtidas juntamente com os sujeitos

de pesquisa, preferencialmente por meio de entrevistas não estruturadas.

Para a análise da identidade projetada, foi realizado um levanto inicial dos

dispositivos de comunicação utilizados pela Cemig no relacionamento com os seus

clientes. Após esta etapa, foi realizado um recorte temporal de dois anos no material,

constituindo-se assim o corpus de análise. Integra esse corpus os dois últimos

relatórios anuais (2008 e 2009), o jornal Cemig Notícias, destinado ao público

externo (12 edições), as campanhas publicitárias (2), além das notícias divulgadas

no website da empresa durante o ano de 2010.

A análise discursiva apresenta três dimensões: produção, distribuição e

consumo (FAIRCLOUGH, 2001). Na produção do texto, Fairclough destaca a

interdiscursividade e intertextualidade, que tratam da relação do discurso analisado

com outros textos. A distribuição do texto trata das cadeias intertextuais, que se

referem à distribuição de amostras discursivas em outros diferentes textos,

pertencentes a diferentes gêneros, como por exemplo o anúncio da fusão de uma

empresa feito pelo presidente sendo transformado em outros textos como matérias

jornalísticas, anúncio impresso, etc. Por fim, no consumo do texto, deve-se

considerar as posições interpretativas dos sujeitos, que ao mesmo tempo que

geram interpretações coerentes do texto, produzem uma diversidade de sentidos

que dependem das condições e contextos particulares de recepção.

O autor também salienta o efeito ideológico dos textos, sendo ideologias

entendidas como modalidade de poder: sistemas de conhecimento e crenças,

relações sociais, identidades sociais. As ideologias implícitas nas práticas

discursivas tornam-se mais efetivas quando atingem o status de senso comum, ou

seja, estão naturalizadas no discurso. Os efeitos ideológicos dos textos podem estar

associados aos discursos, gêneros e estilos.

A interpretação de um texto pode ser vista como um processo complexo. Um

dos motivos é que a atribuição de sentido não se dá apenas pelo texto, como

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também pelo que está implícito, os pressupostos. Cabe ao pesquisador identificar

esses pressupostos.

Considerando a utilização da análise crítica do discurso como metodologia de

pesquisa, é possível afirmar que:

Todo ato de enunciação é fundamentalmente assimétrico: o sujeito que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de indicações presentes no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói coincida com as representações do enunciador. (MAINGUENEAU, 2008, p. 32).

De forma a identificar os sentidos produzidos pelos clientes da Cemig, foram

entrevistados durante os meses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011, 10

consumidores. De acordo com Van Riel (1997) quanto maior o nível de interação do

sujeito com a organização, mais clara será a imagem do objeto. Dessa forma, esses

consumidores foram selecionados aleatoriamente, desde que cumprissem um

requisito básico: serem proprietários de estabelecimentos comerciais ou industriais

de pequeno porte, cujo funcionamento dependa do fornecimento de energia. Esses

clientes deveriam apresentar um consumo abaixo de 3MW/mês, não se

configurando como clientes livres, de acordo com a legislação brasileira.

As entrevistas foram analisadas, por meio da análise do discurso, visando

identificar as percepções desses clientes acerca da Cemig. Dessa forma, foi

realizado um estudo de recepção com os clientes da empresa, buscando a

visualização dos sentidos construídos, além de identificar o alinhamento com a

identidade projetada.

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6 A IDENTIDADE PROJETADA DA CEMIG E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO

PELOS CLIENTES COMERCIAIS

De acordo com o modelo apresentado por Pereira e Brito (2009), a primeira

etapa para a análise de discurso em estudos organizacionais é o processo de coleta

de informações. A seguir, caracterizaremos a história da Cemig e o contexto do setor

energético brasileiro. Esta caracterização foi baseada em pesquisa documental,

tendo com principais fontes de consulta os dois últimos relatórios anuais, 2008 e

2009, o website da empresa e também o da ANEEL. Esta pesquisa documental foi

complementada por uma entrevista com o gestor da área de comunicação

corporativa (Anexo I).

6.1 A Companhia Energética de Minas Gerais8

A Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, começou a ser planejada

entre os anos de 1945 a 1950, durante o governo de Milton Campos. Neste período,

foram realizados vários estudos sobre o potencial energético do estado e as

condições para a implantação de uma empresa que fosse capaz de sustentar a

criação de um parque industrial em Minas Gerais.

A empresa foi fundada em 1952 por Juscelino Kubitschek de Oliveira, então

Governador do Estado, com o objetivo de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica

no estado de Minas Gerais. A primeira usina operada pela Cemig foi a hidrelétrica de

Gafanhoto, situada próximo à cidade de Divinópolis, construída em 1946, antes

mesmo da fundação da Cemig, e transferida para o patrimônio da empresa no ano

de sua fundação. A energia gerada pela hidrelétrica de Gafanhoto, com capacidade

instalada de 12.880 KW, representou a primeira fonte de recursos da empresa o que

permitiu a implantação da Cidade Industrial de Contagem.

No início da década de 50, havia em Minas Gerais apenas a Companhia

Força e Luz Cataguases Leopoldina - CFLCL, além de pequenas empresas

regionais de energia elétrica: a Companhia de Eletrificação do Médio Rio Doce -

CEARD; Companhia de Eletrificação do Alto Rio Grande- CEARG; Central Elétrica

8 Fonte: Adaptado de Companhia Energética de Minas Gerais, 2010.

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de Piau S/A; além do Sistema Elétrico da Usina de Gafanhoto. Exceto a CFLCL,

todas as outras companhias foram incorporadas à Cemig.

Na primeira década de operação, um dos principais propósitos da Companhia

foi o de gerar energia para atender a demanda do parque industrial mineiro. Nessa

época, considerada a época de ouro da industrialização em Minas9, grandes

empresas como a Mannesmam se instalaram na região, sob a garantia do Governo

do Estado que a nova empresa teria capacidade para suprir a crescente demanda

de energia. Nesse período, foram construídas as usinas de Tronqueiras (Rio

Tronqueiras), Itutinga (Rio Grande), Piau (Rios Pinho e Piau) e Três Marias (Rio São

Francisco), na época uma das maiores barragens do País.

Na década de 60, a empresa já estava em plena operação, graças também à

incorporação de outras companhias estaduais e municipais. No período

compreendido entre 1963 e 1966, formou-se o consócio Canambra, composto por

técnicos canadenses, americanos e brasileiros, cujo objetivo era o de identificar e

avaliar o potencial hidráulico do estado. De acordo com informações da empresa,

esse projeto foi responsável por garantir a produção de energia de forma

sustentável.

Nos anos 70, enquanto o Brasil experimentava o Milagre Econônimco, a

Cemig constrói a sua maior usina, a hidrelétrica de São Simão. Além disso, assumiu

a distribuição na cidade de Belo Horizonte, incorporando a Companhia Força e Luz

de Minas Gerais.

A década de 80 é marcada pelas pesquisas na área de proteção ambiental,

com a Criação da Assessoria de Coordenação do Programa Ecológico. Também foi

criado o programa Minas-Luz, uma parceria da empresa com os governos federal e

estadual, para levar eletricidade à população de baixa renda.

A Cemig foi uma das primeiras empresas a implantar uma usina em parceria

com a iniciativa privada. A hidrelétrica de Igarapava foi construída em 1995, por um

consórcio de seis empresas. Além da Cemig, líder do projeto, participaram da

construção a Companhia Mineira de Metais, a Companhia Siderúrgica Nacional, a

Vale, a Mineração Morro Velho e a Eletrosilex.

9 Fonte: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, 2011.

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Em 1999, a empresa passa a fazer parte do Dow Jones Sustainability World

Index – DJSI World 10, indicador mundial de organizações comprometidas com a

sustentabilidade. Desde a sua criação, em 1999, a Cemig é a única empresa sul-

americana a integrar o DJSI. O ano 2000 foi marcado pelo início da construção

simultânea de três hidrelétricas: Funil, Queimados e Porto Estrela. No ano seguinte,

as ações da empresa passam a ser negociadas na Bolsa de Nova York.

Em 2001 o país convive com a constante ameaça de pane do setor

energético devido à falta de planejamento e a ausência de chuvas. Nesta mesma

época a empresa inicia a construção de 12 hidrelétricas e no ano seguinte começa a

construção da usina de Irapé, no Vale do Jequitinhonha, que para a formação do

reservatório foi necessário inundar áreas de sete municípios. Ainda em 2002 as

ações da empresa começam a ser negociadas na Bolsa de Madri.

Recentemente a Cemig adquiriu participação em parque eólicos no Ceará e

se tornou a primeira empresa a operar uma usina eólica conectada ao sistema

nacional de energia elétrica. A empresa ainda integra o consórcio responsável pela

construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira.

A Cemig atualmente é um dos maiores grupos na área de energia elétrica do

país. É uma empresa de capital aberto, controlada pelo Governo do Estado de

Minas Gerais e possui mais de 117 mil acionistas, localizados em 40 países. O

edifício-sede (figura 7), construído em 1982, está localizado em Belo Horizonte,

abriga também uma galeria de arte e é palco de uma das mais tradicionais

iluminações de natal da cidade mineira.

10 O Dow Jones Sustainability World Index (Índice Mundial de Desenvolvimento Sustentável Dow

Jones), foi criado em 1999 com o objetivo de acompanhar o desempenho das empresas lideres mundiais quanto à incorporação da sustentabilidade na gestão do negócio. Fonte: Dow Jones Sustainability World Index, 2011.

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Figura 5: Cemig – Edifício Sede

Fonte: Foto de Haroldo Kennedy, 2008

De acordo com as informações divulgados pelo site da empresa, o grupo

Cemig é composto por 62 empresas e 10 consórcios, com atuação nas áreas de

geração e transmissão (Cemig Geração e Transmissão S. A.), distribuição (Cemig

Distribuição S.A.) e comercialização de energia elétrica (figura 8). Além disso,

também distribui Gás Natural (Gasmig) e tem negócios no setor de

telecomunicações (Cemig Telecomunicações S.A.) e de uso eficiente de energia

(Efficientia S.A.). Além de Minas Gerais, está presente em outros 18 estados do

Brasil, no Distrito Federal e no Chile, conforme demonstrado na figura 9.

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Figura 6: Empresas e Consórcios do Grupo Cemig

Fonte: Cemig em Números (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MI NAS GERAIS, 2011a).

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Figura 7: Presença da Cemig no continente americano

Fonte: Cemig em Números (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MI NAS GERAIS, 2011a).

De acordo com Hitt et al (2008), a missão especifica o negócio de atuação de

uma organização e a visão representa um desejo futuro, um ideal para a

organização. Para Freitas (2007), os valores representam a filosofia da organização

para atingir o sucesso e se configuram como um guia para o comportamento

organizacional. Dessa forma, os propósitos empresariais do grupo Cemig podem ser

visualizados no quadro a seguir:

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Missão

Atuar no setor de energia com rentabilidade, qualid ade e responsabilidade social. Atuar Investir, gerar, transportar, distribuir, comercializar, desinvestir e fazer parcerias. Setor de energia Primariamente, eletricidade e gás; secundariamente, outras formas de energia. Rentabilidade Dividendos, juros sobre capital próprio, agregação de valor, capacidade de geração de caixa, retorno sobre investimento. Qualidade Adequação ao uso, satisfação do cliente, cumprimento das especificações, preservação dos recursos. Responsabilidade social Ampliação de acesso da sociedade à energia, respeito ao meio ambiente, respeito aos clientes, colaboradores, acionistas, fornecedores, governos e comunidades.

Visão

Estar, em 2020, entre os dois maiores grupos de ene rgia do Brasil em valor de mercado, com presença relevante nas Améric as e líder mundial em sustentabilidade do setor.

Valores

Integridade Honrar compromissos e agir com transparência e honestidade. Ética Praticar o bem. Respeitar a dignidade das pessoas. Riqueza Gerar bens e serviços para o bem-estar e para a prosperidade de clientes, acionistas, empregados, fornecedores e sociedade. Responsabilidade social Suprir energia segura, limpa, confiável e efetiva em termos de custo, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social. Entusiasmo no trabalho Agir com comprometimento, criatividade e dedicação. Espírito empreendedor Tomar iniciativas, ousar e decidir, observando as diretrizes da Empresa.

Figura 8: Missão, Visão e Valores da Cemig. Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, 2010c.

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A Cemig Distribuição S.A., objeto deste estudo de caso, é a maior

distribuidora de energia elétrica do Brasil. De acordo com a empresa, também é a

concessionária brasileira com o maior índice de atendimento a consumidores de

baixa renda, que corresponde a 2,4 milhões de clientes ou 42,9% do total de

consumidores residenciais. No total, a empresa possui cerca de 7 milhões de

consumidores, classificados em residenciais, comerciais, rurais e industriais (figura

11).

Figura 9: Consumidores Cemig

Fonte: Cemig em números, 2011a.

Os clientes comerciais, assim como as residências, os rurais e o pequeno

consumidor industrial são denominados clientes cativos. De acordo com a ANEEL

(2011), clientes cativos são aqueles com baixo consumo de energia e vinculados a

uma concessionária pela sua localização geográfica. Já os clientes livres são

representados pelos grandes consumidores como, por exemplo, centros comerciais

e indústrias, que podem escolher de quem comprar energia.

Para o estudo de recepção proposto neste trabalho, foram entrevistados 10

clientes proprietários de pequenos estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte

(Anexo II). São, portanto, clientes cativos da Cemig, estando sujeitos às mesmas

tarifas praticadas pela empresa para os clientes residenciais. Também são

influenciados pelas mesmas campanhas de comunicação, uma vez que não existe

um direcionamento específico neste segmento, como existe no caso de clientes

livres.

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6.2 Caracterização do contexto atual do setor de en ergia elétrica no Brasil

No Brasil, 68% de toda a energia elétrica consumida é gerada por usinas

hidrelétricas (RUIC, 2010). Se por um lado, a energia hidráulica é considerada uma

fonte de energia limpa e renovável, por outro lado, a implantação de grandes usinas

hidrelétricas, segundo Castro et al (2009), vem tem se tornado um operação

complexa devido às fortes restrições da legislação ambiental implantada a partir da

Constituição de 1988. Talvez, por este motivo, destacar aspectos de

sustentabilidade tenha se tornado, a partir daí, uma obrigação para as empresas de

energia.

Se anteriormente o parque hídrico brasileiro era implantado com grandes

reservatórios para estocar água no período de chuvas e produzir energia elétrica na

época de seca, atualmente as usinas vêm sendo licenciadas pelos órgãos

ambientais para operar a “fio d’água”, ou seja, sem reservatórios, como é o caso da

usina do Rio Madeira.

Nesse sentido, a geração de energia hidrelétrica vem, cada vez, mais

dependendo fortemente de aspectos sazonais. Castro et al (2009) afirmam que

atender a demanda de energia no período de seca exige uma diversificação da

matriz energética brasileira, complementando o parque hídrico com outras fontes de

energia capazes de operar durante o período de estiagem. Nesse sentido, investir

em pesquisa e inovação para o desenvolvimento de novas formas de produção de

energia torna-se um imperativo para as concessionárias que operam no País.

Além desse desafio imposto por aspectos sazonais, outra questão se

apresenta para as empresas do setor. O Brasil vem experimentando, nos últimos

anos, um crescimento de cerca de 5% ao ano. Isso significa um aumento no

consumo de energia e consequentemente, a necessidade de maior geração ou

importação do produto. Em 2010, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa

Energética11, o consumo de energia elétrica cresceu 7,8% em relação ao ano

anterior. Neste ano, o consumo industrial aumento 10,6%, consequência direta do

aumento de 11% na atividade industrial, segundo dados da Confederação Nacional

das Indústrias – CNI.

11 Fonte: Empresa de Pesquisa Energética, 2011.

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Nesse sentido, para suportar o crescimento da atividade industrial brasileira, a

expansão do consumo e o aumento da utilização de energia, faz-se necessário

planejamento e investimentos em infraestrutura, de forma a evitar o risco de

apagões. Em 2001, o país registrou o colapso do sistema energético, expondo a

falência do modelo concentrado no investimento em grandes usinas, o que, segundo

especialistas, tornou o país altamente dependente das chuvas. Resultado desta

dependência, em 2009, um problema na hidrelétrica de Itaipú, a maior do País,

resultou em um apagão que atingiu 18 estados: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio

de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa

Catarina, Minas Gerais, Goiás, Acre, Rondônia, Bahia, Sergipe, Paraíba, Alagoas,

Pernambuco e Rio Grande do Norte. De acordo com Furbino (2009), os

investimentos feitos pela Cemig proporcionaram que Minas fosse um dos primeiros

estados a contornar os problemas causados pelo apagão. Para a autora, a

existência de grandes usinas na área de atuação da empresa fez com que o estado

se tornasse menos dependente das linhas de transmissão de Itaipu.

6.3 A identidade projetada pela Cemig por meio dos dispositivos midiáticos

As marcas textuais presentes no discurso acabam por revelar a identidade

das organizações. Para o processo de projeção da identidade, por meio dos

dispositivos de comunicação, não é necessário que a organização fale

explicitamente de si, de seus atributos e qualidades. Para Amossy (2008), os estilos,

as competências linguísticas e as crenças implícitas são suficientes para construir

uma representação de uma pessoa, ou como em nosso caso, de uma organização.

Corroborando com esta visão, Maingueneau (2008), considera que todo texto

inserido em um ato de enunciação, oferece uma imagem do sujeito enunciador.

Dessa forma, ao utilizar a linguagem, quer seja por meio da propaganda, da

imprensa ou de um pronunciamento de um gestor, as organizações estão,

necessariamente, inseridas em um processo de projeção da identidade. Assim, ao

analisarmos os dispositivos utilizados na comunicação entre a Cemig e seus

clientes, é possível identificar os atributos da identidade projetada pela empresa.

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Ao se construir um discurso, o enunciador também leva em consideração o

tipo de competência linguística a qual dispõe o destinatário para decifrá-lo

(MAINGUENEAU, 2008). Para Eco (1988), “o texto é um produto cujo destino

interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo” (1988, p.39). Nesse

sentido, a organização, ao planejar uma campanha ou qualquer outro instrumento de

comunicação, deve obrigatoriamente, levar em conta as características desse leitor a

quem o texto se destina. De alguma forma o enunciador acaba por prever esse

leitor-modelo, por meio das escolhas linguísticas, do gênero e dos tipos discursivos.

Cabe ressaltar que o leitor-modelo é diferente do leitor-empírico, uma vez que o

leitor-modelo é um sujeito ideal previsto pelo enunciador no momento da concepção

do texto e o leitor-empírico é quem efetivamente lê um texto. Santos (2007) afirma

que não se trata de esperar que o leitor-modelo exista, mas de mover o texto no

sentido de construí-lo.

De acordo com Maingueneau (2008), a comunicação é um processo que

surge da necessidade de um enunciador se exprimir. Em seguida, é pensado em

uma concepção de sentido, em um suporte e um gênero para o discurso. Depois

disso o enunciador busca um modo de difusão e considera um hipotético encontro

com o destinatário. Esse processo, conforme descrito pelo autor encontra-se na

esfera da produção.

Para a análise do processo de projeção da identidade da Cemig foram

analisados discursos do gênero publicitário, uma vez que o foco de análise é a

comunicação no contexto das organizações. Dentro dos dispositivos que constituem

o gênero publicitário, podemos destacar diversos tipos, tais como o site, o jornal

escrito, o spot de rádio, anúncios para revista impressa, relatórios, que fazem parte,

segundo Mainguenau (2008b), do grande tipo de discurso “midiático”.

Um primeiro ponto a se destacar na comunicação da Cemig é que atualmente

não há dispositivos concebidos especificamente para os clientes comerciais. Apenas

os clientes livres, aqueles que podem escolher a concessionária de energia, contam

com website, informativos e relatórios exclusivos (Figura 11). Como normalmente

acontece nas empresas de capital aberto, existem também dispositivos de

comunicação específicos para o relacionamento com os investidores: website,

apresentações, relatórios, balanços, etc. (Figura 12).

O segmento “clientes cativos” abrange uma diversidade de tipo de

consumidores, que podem ser agrupados, conforme mostrado na figura 10:

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comerciais, residenciais, rurais e industriais. Ainda que separados por essa

classificação, os consumidores cativos da Cemig formam grupos bastante

heterogêneos, que podem possuir diferentes expectativas em relação à companhia.

Ainda assim, são todos contemplados com os mesmos dispositivos de comunicação

e os mesmos discursos. Na concepção desses dispositivos, ao visarem abranger a

totalidade dos clientes cativos, a empresa acaba por desconsiderar o leitor modelo,

se apresentando então para um leitor genérico, indefinido. Ou a empresa parece

falar para pesquisadores, ou para os clientes residenciais, ou para os agentes de

mercado.

Figura 10: Portal Cemig – Clientes Corporativos

Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, 2011b.

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Figura 11: Portal Cemig – Relações com Investidores Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, 2011b.

Para grande parte das empresas do setor de energia, sustentabilidade e

inovação, mais que simples modismos, são requisitos para a manutenção da

competitividade. Com as constantes ameaças de apagão, é preciso diversificar a

matriz energética brasileira e garantir formas de produção de energia que não

dependam do regime de chuvas. Nesse sentido a inovação exerce um papel

fundamental para o desenvolvimento de fontes alternativas de energia. E pela

pressão da sociedade, brasileira e mundial, qualquer atividade industrial deve levar

em conta os aspectos da sustentabilidade. As fontes de energia devem ser limpas e

não representar uma ameaça ao ecossistema, como poderia acontecer, por

exemplo, na construção de grandes reservatórios. Na página principal do site da

empresa, esses temas aparecem com relativa frequência. Tanto sustentabilidade e

inovação estão presentes no menu principal, do lado esquerdo da página e também

na área de destaques, como pode ser visto na figura 13.

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Figura 12: Portal Cemig

Fonte: Companhia Energética de Minas Gerais, 2010a.

Para fins didáticos iremos tratar de algumas categorias do discurso midiático

da Cemig isoladamente, ainda que em muitas vezes alguns dispositivos tratem de

mais de uma categoria ao mesmo tempo.

6.3.1 Inovação

Em relação ao tema inovação, consideraremos um trecho extraído do site da

empresa:

Trabalhar no presente garantindo o futuro. É pensando assim que a Cemig investe no desenvolvimento de tecnologias alternativas de geração e eficientização da energia.

A Cemig é a concessionária de energia elétrica do País com o maior número de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI. Atualmente a Empresa possui 8 patentes concedidas, 47 pedidos de patente em andamento, 29 marcas registradas e 24 programas de computador. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2010b)

A Cemig investe em projetos de utilização de fontes de energia renováveis, com destaque para biomassa, pequenas centrais hidrelétricas, energia solar

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e geração eólio-elétrica e também em projetos de uso racional da energia, cogeração e geração distribuída, utilizando diferentes combustíveis, como hidrogênio, gás natural, álcool e biodiesel.

Atuando na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Cemig não abre mão da pesquisa para ampliar o desenvolvimento de seu negócio em favor da sociedade. Ao optar por isso, a Empresa busca parceiros externos para apoiar essa vertente de sua atuação, o que tem proporcionado acordos operacionais e alianças estratégicas com vários institutos e centros de geração de conhecimento, além de universidades e indústrias. Tudo em nome da inovação tecnológica, conceituada de acordo com o princípio da inovação aberta. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2010h.)

De acordo com Barthes, ethos são traços de caráter que o enunciador deve

mostrar ao auditório. Nos trechos acima, a utilização do nome próprio Cemig indica

que o objeto possui relevância e adquiriu uma referência estável na sociedade.

Obviamente, a maioria dos mineiros sabe do que se trata “Cemig”. Trata-se de uma

descrição definida, que tem por objetivo isolar o referente e atribuir características

que lhe são únicas. Nesse sentido, o texto contribui ao explicitar que a Cemig é a

concessionária brasileira que mais apresentou patentes no Instituto Nacional de

Propriedade Industrial - INPI. Apresentar o texto na terceira pessoa também

proporciona um distanciamento entre o locutor e o objeto, o que acaba por conferir

uma maior sensação de objetividade.

Além disso, as palavras foram escolhidas de forma a se apresentar como uma

organização inovadora para um público selecionado, tendo em vista as

competências exigidas. O leitor-modelo, neste caso, deve possuir conhecimentos

específicos do setor de energia, uma vez que a empresa utiliza nestes textos termos

técnicos como “inovação aberta”, “acordos operacionais”, “alianças estratégicas”,

“biomassa”, “cogeração e geração distribuída”.

Inovação também foi tema de um spot de rádio veiculado em 2009:

Energia é uma das principais questões para o futuro. A Cemig sabe disso e trabalho hoje para alcançar respostas para o amanhã. A Cemig investe em inovação, pesquisa novas fontes alternativas e renováveis de energia como a eólica, a solar, a biomassa. Pesquisa a cogeração de energia elétrica usando hidrogênio, gás natural, álcool e biodiesel. A Cemig inova também com ações concretas. Foi a primeira a instalar uma usina eólica elétrica experimental integrada ao sistema elétrico. Com investimento de 213 milhões, adquiriu três parques eólicos no Ceará, com potência de 100 MW. Faz parte do grupo de empresas que desenvolve o veículo elétrico no Brasil. Por essas e outras a Cemig é reconhecida por seu compromisso com a inovação tecnológica. Por essas e outras, a Cemig vai continuar sendo a melhor energia do Brasil. Cemig. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c).

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A empresa novamente se caracteriza como inovadora. Apesar de salientar

que a energia se coloca como uma das principais questões para o futuro, a empresa

afirma, ao final, que vai continuar sendo a melhor energia do Brasil. Ao relacionar o

nome da marca (Cemig) com o nome da categoria do produto que comercializa

(energia) a empresa pretende imprimir uma marca de qualidade ao inserir o adjetivo

“melhor”. A empresa afirma que hoje possui a melhor energia de todo o país e que

em um futuro, apesar da incerteza, graças aos investimentos em inovação,

permanecerá imprimindo a mesma qualidade em seu produto.

Novamente, alguns termos são utilizados visando um leitor que tenha o

conhecimentos técnicos sobre o setor de energia, a exemplo de “biomassa”,

“cogeração de energia” e “usina eólica experimental integrada ao sistema elétrico”.

Além disso, o texto também acaba por conferir um aspecto abstrato à inovação. Ao

dizer, na metade do spot, que a empresa também investe em ações concretas, de

forma implícita é possível inferir que pesquisa em fontes alternativas e renováveis é

uma ação abstrata.

6.3.2 Sustentabilidade

De acordo com Borja (2002), o conceito de sustentabilidade surge em

contraposição ao da noção de desenvolvimento pautado na exploração ilimitada de

recursos naturais. Ainda que nos dias de hoje a noção de sustentabilidade seja

atrelada ao aspecto ambiental, Elkington (1994) destacou três aspectos da

sustentabilidade: ambiental, social e econômico. Isso significa que, sob o aspecto

econômico, uma organização deve ser saudável, gerar valor para os acionistas. Do

ponto de vista social, deve se inserir e relacionar na comunidade em que atua,

respeitando as identidades e valorizando as diferenças culturais. No aspecto

ambiental, deve preservar o meio ambiente e a manutenção do ecossistema e do

clima.

No site da Cemig, o tema sustentabilidade também ocupa lugar de destaque.

É o terceiro link do menu principal e também é destaque na página inicial.

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A sustentabilidade tem assumido, cada vez mais, um papel fundamental nas empresas que querem, de forma responsável, prosperar em seu mercado. E o grande desafio delas está relacionado ao princípio fundamental da sustentabilidade: o equilíbrio entre as dimensões social, econômica e ambiental. As estatísticas demonstram que empresas reconhecidas como sustentáveis têm as ações valorizadas no mercado de capitais e melhoram a imagem perante seus públicos de interesse. Referência no Brasil, a Cemig é a única Empresa do setor elétrico presente há onze anos no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, do qual faz parte desde sua criação, em 1999, sendo já eleita líder mundial em sustentabilidade do supersetor de utilities. Para a Cemig, desenvolvimento sustentável é a busca de melhores condições de vida para a geração atual e para as gerações futuras. É a condução ética, transparente e rentável de seus negócios, respeitando o meio ambiente e atuando com responsabilidade social. Agindo dessa forma, a Cemig gera valor para os seus acionistas, consumidores e para toda a sociedade. Confirmando esse posicionamento, a Cemig teve seu risco socioambiental corporativo classificado como Prime, pela agência alemã Oekom Research, e foi selecionada para compor o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE/Bovespa pelo sexto ano consecutivo, do qual faz parte desde sua criação, em 2005. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2010g).

O trecho acima demonstra que a sustentabilidade é um requisito para que as

empresas, de um modo geral, possam prosperar no mercado, configurando-se assim

como um pressuposto. A sustentabilidade, ainda que contemple os três aspectos:

econômico, social e ambiental, se apresenta como uma estratégia de gestão.

Recorrendo a uma linguagem de negócios, o texto faz referência à valorização de

ações no mercado de capitais, risco socioambiental corporativo, geração de valor

para os acionistas e posicionamento, buscando talvez uma adesão de leitores

provenientes do mercado financeiro.

Ética e responsabilidade social, valores declarados pela empresa, também

estão presentes nesse texto. Além disso, o trecho faz referências a outros atores

sociais, Bovespa, Down Jones e Oekom Research, de forma a dar legitimidade à

posição discursiva e ao ethos de sustentabilidade e de responsabilidade social. Essa

estratégia é utilizada em várias outros dispositivos como, por exemplo, a anúncio da

figura 14. Este anúncio leva a assinatura tanto da Cemig quanto do Dow Jones

Sustainability Indexes – DJSI. Por meio da utilização de metáforas, é possível

reconhecer as boas ideias são como estrelas, possuem brilho próprio. Quanto

melhor a ideia, maior o brilho. Além disso, os prédios de uma grande cidade refletem

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as torres de energia eólica tais como as da própria empresa. No texto do anúncio, a

empresa reafirma seu ethos de empresa de capital misto

Ainda sobre a responsabilidade social, outro aspecto da sustentabilidade,

extraímos o trecho abaixo de uma reportagem do jornal externo Cemig Notícias, com

circulação de 22.000 exemplares, intitulada “Hortas comunitárias beneficiam

famílias”:

O Projeto Hortas Comunitárias Urbanas, que teve como pioneira a cidade de Sete Lagoas, conta com a parceira da Cemig na cessão da faixa de servidão da linha de transmissão para implantação. De 1995 até o final do ano passado, a Empresa investiu cerca de R$ 1,45 milhão em obras de reforço mecânico, elétrico e civil nas estruturas e nos cabos condutores de energia. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2010i)

O tema aparece aqui mais uma vez. Entretanto, pela linguagem utilizada,

podemos dizer que o texto exige que o leitor detenha competências específicas não

muito comuns entre a gama de clientes cativos na medida em que, por exemplo, ao

especificar a contribuição da Cemig para o projeto, menciona a “cessão da faixa de

servidão da linha de transmissão”.

Dentro do campo da responsabilidade social, podemos destacar vários spots

de rádio que tem o objetivo de conscientizar a população quanto ao uso racional da

energia.

Mulher: hummm.... Deixa eu ver... Vou fazer carne, pode ser? Homem: Carne? Pode. Não pode é ficar quase um real com a geladeira aberta. Locutor: Você paga a energia que usa e a que joga fora. Não abra a porta da geladeira sem necessidade. Compre somente produtos com consumo eficiente. Consumindo até 90 KW/hora por mês, o governo de Minas isenta você do imposto estadual, reduzindo ainda mais a sua conta. Energia: economize hoje, pague menos no fim do mês e garanta a de amanhã. Cemig. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c) Menino: Cuidado Nina, achei mais um furo na camada de ozônio. Coloque a capa. Menina: Ah não Rafa. Ta calor aqui. Menino: Eu sei, é o defeito estufa. Menina: É efeito estufa, e esse seu planeta ta quente demais. Não quero mais brincar. Menino: Volta aqui Nina. Eu te levo para outra galáxia onde não tem aquecimento global. Locutor: O planeta é a sua casa. Em 2009 use a sua energia para criar um mundo melhor. Cemig, a melhor energia do Brasil. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c)

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Figura 13: Anúncio veiculado na revista Veja em 13 de novembro de 2009.

Fonte: Arquivo Cemig

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6.3.3 Qualidade do Serviço

Para Maingueneau (2008), o slogan publicitário é semelhante ao provérbio na

medida em que se constitui como uma frase curta destinada a ser repetida por um

número ilimitado de locutores. O slogan, para o autor, é uma espécie de citação na

qual não é necessário identificar o autor. O sujeito, no caso a Cemig, ao utilizar o

slogan “a melhor energia do Brasil” se isenta da responsabilidade pelo enunciado e

também se exime de citar qualquer fonte, uma vez que se pressupõe que o slogan

seja também do conhecimento do co-enunciador, aquele para o qual o discurso se

destina.

Dentro das estratégias de persuasão, Faria e Linhares (1993) afirmam que as

relações entre conteúdos implícitos e explícitos permitem a criação de um efeito

ideológico de sentido. Na opinião dos autores, o pressuposto permite que o

enunciador diga implicitamente algo para o interlocutor, que depende também da

interpretação do destinatário.

Da afirmação do slogan “A melhor energia do Brasil”, podemos extrair o

implícito pressuposto de que existem vários outros tipos ou qualidades de energia no

País. A empresa não apenas defende essa hipótese como também vê o seu produto

como o melhor, dentre todos. No discurso institucional percebe-se a tentativa de

diferenciar o produto e por consequência a empresa, diante das outras que atuam

no Brasil.

6.3.4 Segurança e confiabilidade no fornecimento de energia

Na declaração de valores da empresa, a responsabilidade social é expressa

como a capacidade de fornecer energia segura e limpa. Fornecer energia sem

interrupções, em um setor que convive sob a constante ameaça de pane, mais que

uma obrigação, é fator distintivo para a empresa. Nesse sentido, a confiabilidade faz

parte da identidade projetada pela Cemig, tanto de forma implícita, como no texto do

slogan “a melhor energia do Brasil”, quanto de forma explícita, como nos mostra os

textos abaixo, extraídos do Jornal Cemig Notícias:

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Com o início do período chuvoso, aumentam as ocorrências no sistema elétrico provocadas, principalmente, por descargas atmosféricas (raios), objetos estranhos e a interferência de árvores. Para minimizar o número de interrupções e restabelecer o fornecimento de energia no menor tempo possível, a Cemig elaborou o Plano de atendimento para o Período Chuvoso na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009a)

No texto apresentado, a empresa condiciona as interrupções de

energia ao início do período chuvoso. Podemos deduzir então, que elas são

inevitáveis, causadas pelas descargas atmosféricas (raios), objetos estranhos em,

contato com a rede elétrica e a interferência das árvores. Ainda neste texto a

empresa reafirma o seu compromisso com a confiabilidade, expresso na declaração

de valores, quando afirma possuir um Plano de atendimento para o Período

Chuvoso cujo objetivo é minimizar o número de interrupções e restabelecer o

fornecimento de energia no menor prazo possível.

A campanha “Eletricista”, composta de anúncios veiculados no rádio e na

televisão, foi ao ar no ano de 2009, também trata do problema da interrupção de

energia. Vejamos o exemplo abaixo de um VT, cujos personagens principais eram

dois vaga-lumes:

Vaga lume 1: Yup! Faz tempo que eu esperava um raio cair na rede para eu brilhar sozinho na night. Vaga lume 2: É luminoso, mas vamos aproveitar que a nossa alegria vai durar pouco. Olha a Cemig chegando aí. Então vamos lá. Olha o passinho. Locutor: Durante uma tempestade os ventos e os raios podem danificar a rede. Aí pode até faltar energia. Mas a agilidade e a dedicação da Cemig nunca faltam. Cemig. Governo de Minas. Legenda: Os profissionais que participam desse comercial são eletricistas da Cemig. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c)

A cena de enunciação é a conversa de dois vaga-lumes no escuro. Logo em

seguida percebe-se que o voo dos insetos ocorre em torno de fios de eletricidade.

Conforme afirma Mangueneau (2008) a cenografia pode ser entendida como um

processo de enlaçamento paradoxal. A fala é validada progressivamente por meio

da própria enunciação. No anúncio acima, a cenografia legitima a enunciação, que

por sua vez, é legitimado por ela. A conversa e a consequente alegria dos vaga-

lumes fazem sentido quando a ausência da energia é percebida pelo espectador.

Logo na primeira frase, o vaga-lume afirma que estava esperando, há tempos, um

raio cair na rede.

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Como no exemplo citado, a falta de energia é uma consequência de fatores

naturais como raios, ventos e tempestades. Por meio do texto, o enunciador afirma

que, nestes casos, é possível que falte energia. De acordo com Fariclough (2009) a

modalização é uma forma do sujeito se comprometer com suas afirmações, sendo

um importante recurso para a construção do ethos. Ele afirma ainda que o discurso

pode ser modalizado visando as mais diversas estratégias. No texto acima o trecho

“pode até faltar energia” constitui um comentário da empresa que apresenta o

aspecto imprevisível da ocorrência de problemas na rede sob estas condições.

Por fim, ao apresentar os próprios funcionários da empresa exercendo suas

funções no comercial, a Cemig faz uma referência ao cotidiano dos consumidores. É

uma cena relativamente comum a figura de um funcionário trabalhando em um poste

ou na poda de árvores. Dessa forma, a empresa busca atrelar esta imagem à ideia

de agilidade e a dedicação.

Vejamos abaixo o texto de mais um VT desta campanha:

Mico 1: [Risos] A Cemig ta subindo. Mico 2: Oba! A casa tava precisando mesmo de uma limpeza, heim. Mico 1: Foi você que ligou? Mico 2: Eu não. Mico 1: Eles chegaram sozinhos. Mico 2: Ah, que bacana! Oba. Locutor: Mesmo que você não veja, a Cemig está nas ruas o ano inteiro fazendo reparos, poda de galhos, e a instalação de redes isoladas em locais críticos. Durante uma tempestade pode até faltar energia. Mas a agilidade e a dedicação da Cemig nunca faltam. Cemig. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c)

Apesar de alterar a cena de enunciação, que neste caso são dois micos em

cima de uma árvore, a estrutura do texto permanece a mesma, conferindo unidade

ao discurso. Observa-se, tanto neste VT, como nos outros que integram esta

campanha, o uso de uma linguagem mais popular, repleta de gírias e interjeições,

mais próximas de um cidadão comum. Novamente, diante de uma situação adversa,

causada por fatores naturais, ressalta-se o compromisso da Cemig quanto à

confiabilidade no fornecimento de energia. O trabalho de manutenção da rede

elétrica, que é, de certo modo, invisível para o cliente, é descrito por meio do texto e

pelas imagens dos funcionários em serviço. Dessa forma, ao partir do pressuposto

de que o cidadão não observa este trabalho preventivo, a empresa empreende

esforços para tangibilizá-lo.

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Outros dispositivos de comunicação são elaborados com o objetivo de alertar

o cidadão quanto aos riscos de interrupção de energia causados pela ação do

homem como, por exemplo, as queimadas e o ato de soltar papagaios. Este discurso

é bastante coerente com a declaração de valores da Cemig, que vincula a

responsabilidade social com a confiabilidade e segurança no fornecimento de

energia. Estes textos adquirem um tom explicativo, como no spot transcrito abaixo:

O menor sinal de fogo em contato com a vegetação seca pode sair do controle e queimar plantações, pastagens, montanhas e florestas. Perto da torre de energia, o fogo pode deixar cidades inteiras no escuro. Fogo só espalha destruição. Evite queimadas. Em caso de incêndio, ligue para o IEF: 0800 283 2323. Cemig. A melhor energia do Brasil. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009b)

A matéria abaixo, “Papagaios longe da rede elétrica”, extraída do Jornal

Cemig Notícias, menciona os riscos da prática de soltar papagaio próximo da rede

elétrica no que se refere às interrupções de energia. Números são apresentados de

forma a validar a tese: “De janeiro a junho de 2009, foram contabilizadas mais de

1.600 ocorrências e, como consequência, cerca de 400 mil consumidores ficaram

sem energia e foram registrados 887 desligamentos”. Os riscos para a vida de

adultos e crianças são apresentados apenas ao final do texto. Neste caso, a ênfase

maior não está prevenção de acidentes, mas o texto, de caráter explicativo, visa a

diminuição das interrupções do serviço prestado pela Cemig. O caráter imperativo do

título não dá margens à negociação, ao diálogo. Neste sentido, a mensagem está

posta:

Papagaios longe da rede elétrica

Nesta época do ano, a prática de soltar papagaios se intensifica devido ao tempo favorável do inverno – céu limpo, ventos mais intensos e constantes, escassez de chuva e raios. No entanto, essa brincadeira pode trazer graves consequências, se praticada próximo à rede elétrica. Segundo dados da Cemig, mais de um milhão de consumidores em todo o Estado foram prejudicados, em 2008, por papagaios presos nas linhas de distribuição. Registraram-se 4.185 interrupções no fornecimento de energia provocadas por papagaios, representando 1,4% do total. Mais da metade dos desligamentos (2.624) ocorreram exatamente durante o inverno, entre os meses de junho e setembro, atingindo mais de 700 mil consumidores. As principais causas dos desligamentos são o rompimento de cabos devido ao uso do cerol - mistura cortante feita com cola, vidro e restos de materiais condutores de eletricidade - e curtos-circuitos provocados pela tentativa de retirar o papagaio da rede. De janeiro a junho de 2009, foram contabilizadas mais de 1.600 ocorrências e, como consequência, cerca de 400 mil consumidores ficaram sem energia e foram registrados 887 desligamentos. Em 2008, o maior número de interrupções causadas por papagaios na rede elétrica aconteceu na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH): 2.230 ocorrências.

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Acidentes De acordo com o engenheiro de segurança do trabalho Demétrio Venício Aguiar, da Gerência de Segurança do Trabalho, Saúde e Bem-estar (RH/ST), os acidentes acontecem quando o papagaio fica preso na rede elétrica e as crianças tentam retirá-lo utilizando materiais condutores, como pedaços de madeira e barras metálicas. Ele ressalta que o contato com a rede elétrica pode ser fatal, além do perigo de queda devido ao impacto causado pelo choque elétrico. "As crianças também se arriscam subindo em muros, postes, linhas de transmissão e construções, e muitas soltam pipas com arames e fios, o que é muito perigoso", afirma o engenheiro. Os acidentes mais comuns são queda de altura e choque elétrico com queimaduras graves (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c)

Da mesma forma, a chamada no jornal Cemig notícias sobre a campanha

Eletricistas é: “Cemig alerta para os riscos de queimadas em Minas”. Nestes textos,

o risco do qual a empresa se refere é o risco de interrupção de energia em grandes

proporções e não necessariamente ao risco que as queimadas reapresentam para

as pessoas.

Ainda dentro do tema da responsabilidade social, além do segurança no

fornecimento de energia, faz parte do ethos da Cemig a sua preocupação com a

cultura e com o seu relacionamento com o povo mineiro. O trecho abaixo ressalta os

investimentos em um programa cultural, em parceria com o Governo do Estado,

denominado “Filme em Minas”.

O programa Filme em Minas é uma parceria da Cemig e da Secretaria de Estado da Cultura. Em sua sexta edição, biênio 2009–2010, foram selecionados 33 projetos. Os recursos são da ordem de R$ 4,26 milhões, com base na Lei do Audiovisual e na Lei Federal de Incentivo à Cultura. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009d)

Na mesma edição do jornal, é possível ler outra matéria que trata do

patrocínio de um centro de arte Popular no Circuito Cultural Praça da Liberdade.

Percebe-se aqui um paradoxo. Ao ressaltar a parceria da empresa com órgãos do

Governo, de certa forma, a empresa esteja assumindo o seu personagem Governo.

Por outro lado, a Praça da Liberdade e seu entorno é mantida por grandes empresas

privadas. Ao também assumir esta ação, a empresa se caracteriza como uma

parceira do governo e não como Governo.

Participando do investimento em arte e cultura para a implantação do Circuito Cultural Praça da Liberdade, a Cemig patrocina o novo Centro de Arte Popular, localizado na Rua Gonçalves Dias. O centro será implantado no imóvel que sediava o antigo Hospital São Tarcísio, cedido pelo Instituto

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da Previdência do Estado de Minas Gerais (Ipsemg), por meio de convênio (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009e)

6.3.4 Gestão de alto desempenho

Em toda a comunicação, uma tensão se apresenta quanto à finalidade da

empresa. Nesse sentido, a Cemig reafirma seu ethos de empresa de capital misto,

procurando conciliar o que se espera de uma empresa pública com a característica

de uma empresa privada de alto desempenho. Em alguns momentos se mostra

como governo, tendo a preocupação do desenvolvimento regional do estado onde

atua. Em outros momentos, assume o ethos de uma empresa privada, de capital

aberto, utilizando um vocabulário oriundo do mundo dos negócios. No anúncio da

figura 14, ao dizer que conjuga o interesse dos investidores e da sociedade, a

empresa nos lembra de que não é apenas governo, assim como não é

exclusivamente uma empresa privada. A frase conduz o leitor a acreditar que apesar

destes interesses serem aparentemente divergentes, a empresa consegue satisfazer

tanto as necessidades dos cidadãos, quanto a dos acionistas. Dessa forma, busca

conciliar os dois papéis.

Esta dualidade se mostra presente em diversos anúncios de mídia impressa,

televisiva e radiofônica. O anúncio da figura 14 trata sobre os 10 anos de

reconhecimento do DJSI World, e justificam para o leitor, por meio de dez motivos,

as razões para que a empresa integre esse índice há tanto tempo. De uma forma

genérica, as diretrizes contemplam os três aspectos da sustentabilidade, como por

exemplo, solidez financeira, compromisso com o meio ambiente e responsabilidade

com a sociedade. Neste anúncio, a logomarca do Governo de Minas é deixada de

lado, reforçando, talvez, a imagem de uma empresa de mercado.

Em outros anúncios, como no spot de rádio a seguir, o texto leva a assinatura

da empresa e do Governo de Minas.

Por essas e outras a Cemig é reconhecida por seu compromisso com a inovação tecnológica. Por essas e outras, a Cemig vai continuar sendo a melhor energia do Brasil. Cemig. Governo de Minas. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009c)

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Existem ainda anúncios que apresentam três assinaturas: a do agente

externo que concedeu o reconhecimento à Cemig - DJSI, a da própria empresa e a

do Governo de Minas, conforme mostrado nas figuras 15 e 16. Nesses exemplos, o

texto também busca resolver o paradoxo de empresa pública e privada. No primeiro,

isso pode ser percebido ao ressaltar que “sustentabilidade é sim, um bom negócio

para as pessoas, para as empresas e para o planeta”, desconstruindo o pressuposto

que sustentabilidade e lucratividade são ideias opostas. No segundo anúncio, a

tentativa de conciliação pode ser observada quando a Cemig diz: “entre o mundo

dos negócios e o mundo das pessoas, ficamos com os dois”.

A dicotomia público-privada também pode ser percebida no trecho da matéria

“Cemig apresenta lucro de 1,9 bilhão no ano passado”, veiculada no Jornal Cemig

Notícias. Nela são apresentados os resultados financeiros da empresa e a posição

relativa no cenário nacional, informações importantes para seus acionistas.

A Cemig apresentou lucro líquido consolidado em 2008 de R$ 1,9 bilhão – um crescimento de 8% sobre o lucro líquido do ano passado. O presidente da Empresa, Djalma Bastos de Morais, ressaltou que os excepcionais resultados apresentados pela Companhia, no ano passado, refletem o sucesso do Plano Diretor e da estratégia a ele ligada, reafirmando a liderança da Cemig no cenário nacional. (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2009f)

Figura 14: Anúncio veiculado na revista Veja em 4 d e junho de 2010.

Fonte: Arquivo Cemig

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Figura 15: Anúncio veiculado na revista Veja em 26 de março de 2010.

Fonte: Arquivo Cemig

A análise dos dispositivos midiáticos de comunicação utilizados pela Cemig

teve por objetivo identificar os principais aspectos da identidade projetada pela

organização, ou de acordo com as teorias do discurso, a construção do ethos. De

uma forma geral, identificamos cinco atributos principais da identidade

organizacional que, de acordo com a metodologia dessa pesquisa, são também

cinco categorias do discurso: inovação, sustentabilidade, qualidade do produto,

segurança no fornecimento de energia e o alto desempenho da gestão, sendo

reconhecida como uma empresa que possui valor para os acionistas e para os

cidadãos.

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Após a análise da identidade projetada pela organização, o estudo de

recepção visa identificar, também por meio da análise de discurso, a imagem

construída pelos clientes comerciais. O objetivo é avaliar o processo de

comunicação da empresa com este segmento, identificando as possíveis lacunas

existentes entre a identidade projetada e a imagem.

6.4 As imagens construídas: um estudo da percepção dos clientes cativos

comerciais

Como apresentado no capítulo 3, a imagem formada pelos clientes de uma

organização não é consequência apenas dos dispositivos midiáticos. Maingueneau

(2008) afirma que, da mesma forma que a identidade se constrói no e pelo discurso,

a construção de sentido que se dá no campo da recepção, também está ligada ao

contexto e às representações pré-existentes.

Antes mesmo de ter contato com o discurso do enunciador, os sujeitos

constroem representações sobre a organização, o que pode ser entendido como

imagem. Essa representação é formada mediante a interação da empresa com a

organização, quer seja pelos dispositivos midiáticos ou não. Outros aspectos

também contribuem para a formação da imagem organizacional como o contexto no

qual se dá a interação, a opinião e influência de terceiros, as iniciativas

organizacionais, além das experiências de vida, valores e conceitos pré-

estabelecidos.

Conforme dito anteriormente, quanto maior o grau de interação do sujeito com

a organização, mais cristalizada é a imagem. Nesse sentido, os clientes comerciais

foram escolhidos para este estudo de recepção, uma vez que dependem da energia,

em maior ou menor grau, para exercerem a atividade comercial. As entrevistas

foram realizadas com proprietários dos seguintes estabelecimentos comerciais: um

centro geriátrico, um pet shop, uma papelaria, uma padaria, um salão de beleza,

uma loja especializada em chás, uma lanchonete, um bar, uma construtora e uma

empresa de produção cultural. Todas elas, por apresentarem um baixo consumo de

energia, estão categorizados como clientes cativos.

Uma relação de extrema dependência da energia, e por consequência, da

Cemig, para a manutenção da atividade comercial foi destacada por todos os

enunciadores, os clientes, aqui denominados de CL1 a CL10:

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Então o que é que acontece para nós a energia é essencial. Por que? Como é que nós vamos dar banho nos idosos sem energia elétrica. Como é que nós vamos acondicionar bem os alimentos destes idosos sem energia elétrica. E ai eu vou um pouquinho mais profundo no nosso caso, se nós precisamos de fazer uma micro nebulização por exemplo, como é que nós vamos fazer isto sem energia elétrica. Então para nós ela é essencial e imprescindível. Então neste momento que você já me colocou isto eu já pensei assim imagina se nós não tivéssemos aqui a energia elétrica, aqui hoje. Então por exemplo, os meus telefones não estariam funcionando, porque o PABX é ligado na energia elétrica e quando a luz acaba, acaba. Os idosos não teriam televisão para assistir. As dietas, as medicações que é guardada nos frascos especiais dentro da geladeira a gente teria que acondicionar de outra forma. Então rapidamente eu já cheguei a esta conclusão, é essencial, é imprescindível para nós. (CL1) O meu negócio primeiramente por ser um produto a granel, balança, as vezes se a luz acaba, se não funcionar, se não tiver bateria a gente não tem como fazer. É cortador hoje em dia que é essencial para qualquer negocio e funcionamento de sistema, ar condicionado porque a loja é muito pequena e se fica muito quente fica meio ruim de ficar dentro da loja, para o cliente não é bom. E a luz mesmo no geral, até pelo meu projeto de arquitetura, pela estética e tudo o mais. (CL2) Sem luz não tem jeito de trabalhar não, são os frízeres, a estufa, a luz, sem ela não tem como não, se não tiver a luz tem que fechar aqui porque não tem jeito. (CL3) A Cemig para mim é igual a água que a gente bebe, comida, você não vive mais hoje sem energia não, não tem como (CL3). Sem energia a gente nem precisava de abrir a porta, o nosso forte é o xérox. (CL4) A luz para iluminação, a luz para a balança, a força para a balança, a força para o secador, soprador, chuveiro, sem isto... Para pesar ração, sem isto para mim não tem jeito não. A semana passada mesmo aqui deu um pique de luz aqui que eu fiquei sem trabalhar o dia inteiro. Ficou numa fase só e acabou ligando. Para mim é essencial.(CL5) A gente precisa de freezer, de vender bebidas geladas, armazenar carnes congeladas, é essencial.(CL6) Quando você vai montar o canteiro de obras você já precisa logo de pedir a ligação da Cemig para iniciar os trabalhos [...].E a gente precisa muito da Cemig também, e até há pouco tempo eu precisei de uma intervenção numa rua, você precisa de mudar um poste de lugar, você precisa de mudar uma rede de transmissão de lugar, e então você também aciona a Cemig neste setor de mudança de rede de local e de altura para entrar com equipamento e não passa sobre a rede de alta tensão e você tem que solicitar a Cemig que desligue provisoriamente e então tem este tipo de contato também. (CL7) Só no forneamento que não preciso de energia, porque eu não uso forno elétrico mais. O forno é a gás e então não interfere em nada, assar, é tranquilo. (CL 8) A energia é fundamental, em tudo a gente precisa dela, para ter água quente para o cliente por o pé ou a mão, são as luzes que a gente usa, é o secador que fica ligado praticamente direto, porque eu e a minha filha usamos o secador, é o lavatório, é sala de depilação, é geladeira, televisão, tudo em geral. (CL9).

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Os trechos destacados trazem explicitamente os mais diversos exemplos de

utilização da energia elétrica, que variam de acordo com o ramo de atividade.

Independe do contexto ou da atividade comercial exercida, nenhum entrevistado

considera que a energia elétrica é pouco importante para o negócio. Ao falar desta

relação de dependência, alguns entrevistados usam os termos “imprescindível”,

“essencial”. Assim, o serviço prestado pela Cemig adquire grande importância para

o segmento para os clientes comerciais cativos.

Engraçado, você está me perguntando sobre a Cemig e eu tenho pouquinho conhecimento sobre o trabalho dela. Apesar de ser essencial na vida da gente, estar presente o dia todo, eu realmente eu tenho pouco conhecimento sobre a Cemig (CL2).

6.4.1 Inovação

Nos instrumentos de comunicação da Cemig, a inovação foca, antes de

qualquer coisa, a pesquisa de outras fontes de energias alternativas e limpas. Como

vimos anteriormente, mesmo na comunicação institucional este conceito pode

parecer abstrato, quando a empresa, após falar sobre pesquisas nessa área, afirma

que investe também em ações concretas, deixa implícito que pesquisas são da

ordem do abstrato.

Da mesma forma, é difícil para o cliente comum perceber algum traço de

inovação. Para alguns deles, a inovação, para que seja percebida, precisa ser

melhor demonstrada. CL1 deixa isto bastante claro, ao comparar a energia fornecida

atualmente com a energia fornecida quando era criança, conforme se lê a seguir.

Para mim a mesma energia elétrica que ela apresentava quando eu era criança de 2 anos, foi a mesma com 10 anos, a mesma hoje que eu estou com trinta e poucos, não vi mudança nenhuma. Então se existe inovação ninguém nunca me mostrou. E eu acho que a melhor maneira de mostrar isto é através da mídia, porque eu não vou acordar de manha e querer saber até porque a Cemig é muito comum na minha vida, eu já convivo com ela desde quando eu nasci. (CL1).

Como a inovação não pode ser percebida diretamente pelo produto, em se

tratando de energia elétrica, muitos entrevistados, ao discorrerem sobre este tema,

afirmam não possuírem informação. Entretanto, como já possuem a ideia (ethos pré-

discursivo) de empresa grande, com recursos, conseguem fazer suposições a

respeito da existência ou não de pesquisas nesta área. Pelo uso de diversos

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indicadores de modalização, é possível perceber o baixo grau de comprometimento

do enunciador com aquilo que está falando. A entrevistada CL5, ainda que diga por

diversas vezes a palavra “com certeza”, faz uso destes marcadores de modalização.

Já outro entrevistado, CL4, atribui a certeza na existência de pesquisas com o porte

da empresa.

[...] as pessoas estão falando que os rios estão acabando, então eu creio que eles devem estar fazendo a pesquisa sim, com certeza. Alias tem esta coisa da energia com o gás, que é utilizado com o gás que vem do lixo, então com certeza, então eles devem estar pesquisando sim. (CL5) Nunca ouvi falar em pesquisas desse tipo, mas com certeza tem. Não é só hidrelétrica não, com certeza ela pesquisa, é muito grande a Cemig. (CL4).

O entrevistado CL7 possui um nível maior de interação com a empresa, uma

vez que é proprietário de uma construtora e o início das obras depende do trabalho

dos técnicos da Cemig. Nesse sentido, ele possui uma imagem mais clara a respeito

das ações de inovação da empresa e chega a citar algumas dessas inciativas.

A Cemig tem tipo uma laboratório que fica em busca de novos tipos de energia, não posso precisar porque eu não me aprofundei na leitura disto não. Mas eu já vi que a Cemig tem alguma coisa neste sentido de buscar. Inclusive tem e eu não sei onde é, aquela energia por vento que toca aqueles geradores e tal, parece que tem um campo que é a Cemig que está fazendo este estudo. Eu não sei se é no nordeste, o lugar eu não sei precisar, mas eu sei que existe este estudo (CL7).

Por outro lado, CL2, proprietária de um restaurante no centro de Belo

Horizonte, afirma que, em sua percepção, a empresa não é inovadora.

Eu não vejo a Cemig como uma empresa inovadora. (CL2).

É fato que o atributo inovação é um dos mais projetados pelos dispositivos de

comunicação da empresa. Entretanto, este é um conceito difícil de ser percebido em

uma organização cujo principal produto é a energia elétrica. Além disso, vimos em

alguns casos que a linguagem utilizada nestes instrumentos visam um público de

especialistas e não de clientes comuns. Dessa forma, a construção de sentido a

respeito da inovação depende, para alguns, da mídia, mas de fato, para outros, ela

se dá por meio da experimentação e da interação com a empresa. Talvez por isso

muitas organizações estejam buscando a construção de espaços interativos, onde

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os consumidores possam experimentar a marca e os produtos, o que pode contribuir

para a produção de sentido por parte dos clientes.

6.4.2 Sustentabilidade

O discurso da sustentabilidade vem ganhando espaço nos últimos anos de

uma forma geral e também no ambiente empresarial. Praticamente, qualquer grande

empresa presente no mercado nacional ou global adotou em seu discurso de

identidade o atributo “sustentável”. Entretanto, durante as entrevistas realizadas este

foi um assunto pouco lembrado. De certa forma, parece que para o cliente comercial

da Cemig, o “ser sustentável” não necessariamente represente uma questão.

A linguagem utilizada nos dispositivos, direcionadas aos homens de negócios,

demostra que, ao falar sobre este assunto a empresa, na maioria das vezes, está se

dirigindo a outros segmentos, como por exemplo, analistas de mercado. No

segmento pesquisado, não há nenhuma menção sequer às instituições

internacionais que reconheceram mundialmente a Cemig como líder em

sustentabilidade.

Ainda que este conceito não esteja restrito às questões ecológicas,

normalmente, para o cliente comercial, este tema aparece apenas sob a ótica do

meio ambiente:

Não posso te falar, não conheço nada que a Cemig faz. eu não conheço nenhum trabalho que ela está fazendo pelo meio ambiente. (CL6).

Um outro aspecto a ressaltar é que, na percepção do cliente comercial, a

sustentabilidade é um tema que deve ser trabalhado pela mídia, não significando,

necessariamente, ações concretas realizadas pela empresa. Provavelmente esta é

uma consequência da grande utilização do discurso da sustentabilidade inserido no

discurso empresarial. Dessa forma, ao falarem sobre as ações ambientais ou de

sustentabilidade da Cemig, os clientes fazem comparações com outras empresas e

a existência ou não de ações sustentáveis está relacionada à existência de

propaganda:

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O que a gente vê muito disto (sustentabilidade) vem muito da mídia. Igual por exemplo, a Vale do Rio Doce tem uma propaganda enorme nobre que joga isto em você o tempo inteiro. A Petrobrás também faz isto, agora realmente da Cemig eu nunca vi nada. (CL1) Assim até que a Cemig eu não vejo ela fazendo alguma propaganda, alguma coisa com relação ao meio ambiente não. Nunca reparei. Já vi muita propaganda de empresas como a Petrobras, mas a Cemig, sinceramente nunca prestei atenção nisto não, se ela preocupa ou não com o meio ambiente. Talvez pelo vamos dizer o serviço dela, a não ser para construir uma usina, uma hidrelétrica, ai o impacto é grande. mas na cidade a gente não percebe este impacto com o meio ambiente, porque os postes já estão ai e as arvores já estão crescendo aí, mas não sei dizer se preocupam ou não. Nunca reparei isto, se ela tem esta propaganda. (CL7).

A falta de percepção dos clientes sobre o atributo da sustentabilidade pode

ser consequência do fato do conceito de sustentabilidade estar relacionado à ideia

de meio ambiente. Na fala do entrevistado CL7 podemos perceber que para o setor

de distribuição de energia elétrica, não há percepção de danos ambientais,

principalmente nas áreas urbanas. O impacto está restrito às atividades de geração.

Como estas atividades acontecem longe das grandes cidades, para o público

pesquisado não há percepção de grandes impactos ambientais causados pela

empresa.

6.4.3 Qualidade do serviço

Em seu slogan “A melhor energia do Brasil” a empresa utiliza de implícitos

como estratégia de persuasão com o objetivo de diferenciar o seu produto. Pelo fato

da Cemig ser a única distribuidora de energia e destes entrevistados serem clientes

cativos, a comparação com outras empresas torna-se bastante difícil. Para estes

clientes, o conceito “a melhor energia do Brasil” parece soar abstrato pela falta de

referência para comparação. A entrevistada CL1, ao fazer uso da comparação com

outros setores onde existe a concorrência, mesmo que regulados pelas agências,

explica sua dificuldade em assumir o mesmo posicionamento expresso no slogan.

é muito difícil a gente falar de alguém que detém todo poder sobre aquela atividade. [...]se fosse de telefonia eu ia falar para você assim que a Oi é muito melhor do que a Claro. [...]Eu falaria isto, mas no caso da Cemig eu não tenho como comparar. É este o atendimento que nós tivemos até hoje dela. Então como é que a gente vai poder comparar. Poderia ser melhor? (CL1).

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Para o cliente cativo, uma empresa de distribuição de energia não possui

concorrentes. De fato, existem empresas semelhantes, mas com diferentes limites

geográficos de atuação. Nesse mercado não há sobreposições. Cada localidade é

atendida apenas por uma única empresa. A entrevistada CL10 revela explicitamente

a sua dificuldade em construir sentidos sobre a qualidade da energia justamente

pela falta de referência. O adjetivo “melhor” presente no slogan, conduz o cliente a

fazer uma comparação com produtos de empresas semelhantes, os quais ele não

tem muita referência ou informação:

Quando você coloca alguém como referencia é porque você compara com uma outra coisa, pelo menos se eu acho fulano de tal uma referencia na área tal, é porque ele fala é muito bacana, inovador e não tem ninguém que chegue aos pés dele. Por exemplo, isto é uma referencia. A Cemig é uma referencia em cima de que? É a única que tem aqui. (CL10) Acho que a Cemig na verdade é necessária para todo mundo. E ai o pensamento é necessária e então vamos trabalhar usando esta mesma tecla que é a melhor energia do Brasil, não falta energia para ninguém e pronto. Não tem uma concorrência então fica muito tranquilo. (CL10).

Para o cliente CL4, Cemig é sinônimo de distribuidora de energia. Ao invés de

dizer Light, a Companhia de Energia Elétrica do Estado do Rio de Janeiro, o

entrevistado se refere a Cemig do Rio, o que revela sua dificuldade em reconhecer

as outras empresas do mercado. Novamente, a Cemig se estabelece como a única

referência. Por consequência, nota-se a mesma dificuldade apresentada pelos

entrevistados CL1 e CL10 ao estabelecer comparações. Ao utilizar uma dupla

negação “eu não vejo a Cemig como uma má energia não”, ele acaba por não fazer

uma afirmação direta, o que pode representar fragilidade em suas convicções. Ao

negar uma negação, não há discernimento:

Eu não vejo a Cemig com uma má energia não. Você vê a Cemig do Rio de Janeiro, lá já é outra empresa, estão pelejando para voltar a energia na reportagem (CL4).

Neste caso, novamente, a Cemig se estabelece como a única referência. Por

consequência, nota-se a mesma dificuldade apresentada pelos entrevistados CL1 e

CL10 ao estabelecer comparações. Ao utilizar uma dupla negação “eu não vejo a

Cemig como uma má energia não”, ele acaba por não fazer uma afirmação direta, o

que pode representar fragilidade em suas convicções.

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O entrevistado CL7 é proprietário de uma construtora que possui obras de

pequeno porte em várias cidades de vários estados. Nesse caso, especificamente,

há uma comparação direta com as empresas do Rio de Janeiro e de Santa Catarina,

locais onde o entrevistado já trabalhou ou fixou residência. Ainda sim, o uso de

modalizadores do discurso também destacam uma indefinição de opinião.

[...] eu já trabalhei no Rio, já trabalhei, já morei em Santa Catarina e então eu acho que o padrão de serviço da Cemig um pouco melhor, pelo menos comparando a Rio e Santa Catarina. Lá sempre tinha queda de energia, tinha alguns problemas, que demoravam a sanar e aqui a gente não vê muito isto. Então eu acho que comparando em termos de Brasil é uma empresa melhor sim, com certeza (CL7).

Uma questão presente em quase todos os depoimentos foi o preço cobrado

pelo serviço. De uma forma geral, a qualidade do serviço prestado é percebida pelos

clientes. Mas o atributo “qualidade” é, muitas vezes, relacionado à percepção de

preço elevado cobrado pela energia elétrica, como nos depoimentos de CL3 e CL5,

o preço elevado está relacionado à qualidade do serviço. No trecho abaixo, o uso da

preposição “mas” indica a oposição entre preço e qualidade:

sobre o preço das tarifas] Acho caro, mas satisfatório. É um serviço caro, mas satisfatório (CL3).

A oposição entre qualidade e preço é como pode ser visto também no

depoimento de CL4, a oposição entre a satisfação pela qualidade do serviço

prestado e o valor elevado cobrado pela empresa.

Ao abordar o mesmo tema, o cliente CL5 utiliza-se da conjunção explicativa

“porque” para justificar os altos preços cobrados pela Cemig, haja vista, em sua

opinião, a qualidade da energia. A mesma opinião é compartilhada por CL4:

Olha sinceramente eu não tenho muito que reclamar não. Não tenho muito que reclamar não. É o preço que a gente tem que pagar porque [o serviço] é mais evoluído. Se você for olhar bem não tem jeito. Sinceramente não tem o que reclamar não. (CL5) É uma empresa boa. O único problema da Cemig é o valor da conta de energia que é muito cara. Só isto (CL4).

A seguir, apresentamos alguns depoimentos de entrevistados que também

destacaram a questão dos preços elevados.

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No meu modo de entender a energia poderia ser um pouquinho mais barata. Para a indústria poderia ser muito caro e para nós também é muito caro. Eu não sei o valor da nossa conta não, mas eu vivo da energia elétrica. Sem a menor dúvida, e eu acho que poderia ser um pouquinho mais barato a taxa dela, as tarifas. (CL4) Eu acho que eles tinham que ter algumas vantagens a mais para a gente que trabalha no comércio e que paga caro. É alto o custo de energia, a gente paga mais do que paga o [nosso] funcionário para a Cemig. (CL6) Pesada. A tarifa mais cara do Brasil (CL8).

Em síntese, assim como projetado pelos dispositivos de comunicação, o

atributo qualidade está fortemente associado à imagem da Cemig na visão dos

clientes comerciais. Ainda que não tenham clara referência de valor justo a ser

cobrado pela energia, quase todos os entrevistados argumentam que o preço é

elevado. No entanto, para muitos, a percepção de qualidade acaba se tornando uma

justificativa para o preço.

Quando são levados a fazerem comparações, como por exemplo, ao

refletirem sob o slogan “a melhor energia do Brasil”, os entrevistados não se sentem

seguros em suas afirmações ou não possuem referência para fazer tal julgamento.

Há uma grande dificuldade ao estabelecer comparações, quer seja pelo

desconhecimento de outras empresas de distribuição de energia, quer seja pela falta

de vivência de outras realidades. Por estar na categoria de clientes cativos, a Cemig

se configura como a única fornecedora de energia.

6.4.4 Segurança e confiabilidade no fornecimento de energia

A avaliação positiva do serviço prestado pela empresa também se reflete no

tema da segurança e qualidade no fornecimento de energia. Ao falar sobre

possíveis quedas de energia, CL3 utiliza o marcador de oposição “mas”,

argumentando que “é por pouco tempo” ou “é na rua toda”, configurando a questão

da falta de energia como um problema coletivo e de rápida solução:

Já acabou a energia aqui, mas é por pouco tempo. Acaba, mas é na rua toda, é errado, mas às vezes acontece. (...) nunca tive grandes problemas porque volta rápido. Nunca deu para perder cerveja, perder nada não. (...) quando acaba a energia ela vem rapidinho (CL3).

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No discurso institucional da Cemig, vimos que a falta de energia está sempre

relacionada à ocorrência de fenômenos naturais. Essa percepção é partilhada pelos

entrevistados, que, via discurso, isenta a empresa da responsabilidade por possíveis

falhas no fornecimento de energia. As causas estão sempre atreladas às condições

climáticas ou a fatores externos.

O foco da Cemig é garantir energia e não falta energia. Falta energia quando chove muito e ai eles, deste ponto de vista, garantem o serviço (CL10). (...) sempre que começa a chover fica sem luz. Por que isto? Eu não entendo nada deste negocio de energia e tal, igual eu moro num prédio e ele é o ultimo da rua, e então começou a chover demais a energia cai toda. Por que disto? (CL8) (...) porque o número de interrupções é relativamente pequeno durante um ano, você tem uma ou duas, dependendo se é um vento ou alguma coisa que não estava esperando e tal. Então eu acho que eles tem uma prevenção boa nesta área sim. Eles tem cortado as arvores para não ter uma interferência com a rede que é um trabalho difícil de ser feito (CL7).

Em nenhum dos dez depoimentos, a empresa foi responsabilizada pela queda

de energia. No trecho abaixo, extraído da fala de CL7, a justificativa para a falta de

são os atos de vandalismo. Já CL4 avalia que a solução dos problemas de queda de

energia, normalmente é rápida, e constrói toda uma narrativa para justificar possíveis

discursos contrários:

Muitas vezes, quando acabou a energia, não foi culpa , vamos dizer da Cemig, não, foi vandalismo e roubo de cabos. A gente ficou sem internet e sem energia numa obra em Santa Luzia porque o pessoal roubou o cabeamento (CL7).

(...) No meu modo de pensar [o reestabelecimento de energia] é rápido, você tem que ter o deslocamento , eu mexo com manutenção, a Cemig também tem que dar manutenção, a pessoa vem e não é um qualquer que vem aqui para por a energia para funcionar não. Ela tem que saber o que é que aconteceu com a energia elétrica, se arrebentou um cabo ou se só desarmou o transformador, se for só aquilo tudo bem. O pessoal não quer compreender o deslocamento da Cemig, ela não está disponível não, de onde é que ela sai para poder atender? Você não sabe também não? (...) Então o carro sai, eu não sei de onde é que sai o carro da Cemig também, e ai tem que ver o deslocamento do carro e o transito e aquele trem todo e a Cemig chega rápido no tempo de chuva, pensa para você ver. Deu um problema no tempo de chuva, e ai vai deslocar qualquer viatura com o tempo de chuva é mais complicado (CL4).

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A campanha “Eletricista” utiliza-se de uma linguagem popular, muito próxima

da utilizada pelo cidadão comum. O discurso presente nesta campanha, seja oral ou

visual, destaca principalmente as ações preventivas realizadas pelos funcionários da

Cemig, dentre eles a poda de árvores, os problemas relacionados ao período

chuvoso e a rapidez ao solucionar estas questões. Como apontado nos

depoimentos, estas ações são percebidas pelos entrevistados. Ao longo da

narrativa, quase todos os entrevistados afirmam que os problemas de interrupção de

energia apresentam como causa, questões que estão fora do controle da empresa.

Nesse embate entre a Cemig e as forças naturais, a empresa sai ganhando pela

competência na prevenção e a rapidez na solução dos problemas.

Não por acaso, na campanha “eletricista” percebe-se um leitor-modelo muito

próximo do segmento pesquisado, o que pode colaborar para a convergência de

sentidos, obviamente, sem menosprezar as outras fontes de significados e o ethos

pré-discursivo. Exemplo disso pode ser visto nos depoimentos abaixo. CL5 relata a

sua interação com a empresa por meio do setor de atendimento e depois com os

funcionários quando precisou da religação da energia. Neste caso o discurso

institucional é legitimado pelas iniciativas da Cemig. CL1 menciona dois dispositivos

de projeção de identidade que contribuem para a formação de sentido: a conta de

luz, que traz a informação do tempo de interrupção do serviço, o que para a

entrevistada traz implícita a noção de transparência, e a propaganda veiculada pela

mídia:

Todas as vezes aqui que acabou a força, está acontecendo isto aqui na rua, e eles, já tem reclamação e daqui há tantos minutos a gente está ai para resolver. E realmente veio mesmo, aqui, pelo menos aqui onde eu trabalho não teve falha não. Então não tenho o que reclamar mesmo não. (CL5) E eles fazem até questão de nos informar quando na conta de luz vem especificando quanto tempo faltou luz, durante qual período e tal. Então eu acredito que existe este empenho em fazer uma boa prestação de serviços. E até pelas propagandas que a gente vê na televisão também falando sobre a empresa. (CL1).

Na missão da empresa, responsabilidade social é sinônimo de segurança no

fornecimento de energia. Entretanto, conforme veiculado no site, nas propagandas,

nos relatórios anuais e no jornal Cemig Notícias, várias são as ações desenvolvidas

nesta área. Contudo, apenas o entrevistado CL7, o que possui maior grau de

interação com a empresa, reconhece o papel desempenhado junto com a

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comunidade. Nesse sentido, a comunicação não se mostrou muito efetiva, quer seja

pela falta de adequação da linguagem, quer seja pelo baixo grau de interação à

empresa. Percebe-se que a construção de sentidos não se dá apenas em razão da

identidade projetada pelos dispositivos midiáticos.

Eu já vi propaganda e o pessoal fazendo campanha nas comunidades, coisa para evitar que a criança tome choque, se o fio cai lá no chão, não tocar neste fio. Coisa de soltar pipa para poder não tomar choque nos postes e tal, isso eu já vi algumas campanhas da Cemig sendo feitas. E tentando orientar o pessoal. E uma coisa que eu vejo e que eu faço muito é urbanização de favelas também e já fiz obras em favelas, a Cemig atende bem o pessoal de uma classe mais baixa, tem muitas ligações clandestinas e eles fazem até vista grossa, não vão lá e desligam. Eles tem um tratamento bom com a comunidade, eu acho (CL7).

6.4.5 Gestão de alto desempenho

Em seu discurso institucional, a personagem Cemig ora assume o papel de

empresa privada de alto desempenho, que gera valor para os acionistas, ora

assume papel de Governo que tem por missão contribuir com a sociedade em que

opera. São papéis diferentes e que por vezes podem parecer contraditórios. Essa

contradição também se reflete na percepção dos clientes. A entrevistada CL1 afirma,

sem dúvida, que é uma empresa pública. Ao mesmo tempo, faz menção aos

resultados financeiros da empresa.

É uma empresa pública e sem discriminação nenhuma, todo mundo sabe que o funcionalismo público tem muito mais regalias do que o funcionalismo privado(CL1).

Ao se referir a Cemig, CL7, em sua narrativa, utiliza um vocabulário mais

próximo do mundo corporativo e relaciona exemplos de boas práticas de gestão

relativos à estrutura, aos processos, recursos humanos e materiais.

(...) eu tive que entrar algumas vezes naquele prédio central da Cemig para buscar alguma coisa, algum estudo que a gente ia fazer para viabilizar alguma coisa, eu senti uma organização bem grande lá dentro e até este contato que eu tive com este pessoal que fez este trabalho para a gente em Betim, eu conversei com alguns encarregados da Cemig, o inspetor que foi olhar o serviço e eu senti que eles são bem treinados e usam EPIS muito bem preparados, tem preocupação com o funcionário e parece que tem um plano de carreira, ou qualquer coisa e trabalham satisfeitos. Os caminhões bons, novos, então eu acho que é uma empresa bem organizada sim. É bem administrada (CL7)

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A entrevistada CL10 possui uma empresa na área de produção cultural. O

ethos pré-discursivo é fortemente influenciado por sua experiência com as políticas

culturais implantadas pelo Governo e pelas empresas privadas. Nesse sentido, ela

define a Cemig como Governo. Ao falar sobre isso também deixa implícito o sentido

de falta de eficiência, personalismo e burocracia.

Acho que a Cemig é governo mesmo! Não acho nada inovador. Eu acho, não sei, mas as vezes não chega até mim nada que a Cemig anda fazendo em prol do meio ambiente. Cultura, apoia? Apóia, tem uma verba lá, mas tem tudo a ver com o governo, eu acho, com os interesses do governo. Não vejo inovação nenhuma tanto nos serviços, não vejo nada. Só vejo as mesmas propagandas institucionais de sempre. Uma música, os figurantes, a energia, o locutor e acabou(CL10).

Pelo fato de ser classificada como governo, seria aceitável imaginar que

exatamente por isso a Cemig se preocupasse com as questões sociais e cultuais.

Entretanto, a entrevistada ironicamente, acaba afirmando o contrário. É uma

empresa do governo e não há percepção de ações relativas ao meio ambiente ou à

cultura. E quando existem, representam interesses outros que não o

desenvolvimento social. Apesar disso, muitas ações são realizadas pela empresa

nesse sentido, desde o alerta à população quanto aos perigos da eletricidade, até os

projetos culturais ou sociais, como o exemplo da horta comunitária. No entanto,

estas ações divulgadas pela comunicação, acabam não tendo o reconhecimento do

cidadão comum. Várias razões podem explicar a falta da percepção do

comprometimento da empresa com a responsabilidade social. Uma delas e que,

como o comerciante, que vive em um grande centro urbano como Belo Horizonte,

não é impactado por este tipo de ação. Outra provável causa é que ainda que os

dispositivos apresentem esta informação, muitas vezes o discurso parece estar

direcionado aos agentes do mercado financeiro e a outros segmentos que não o

cidadão comum.

Ainda que estes clientes reconheçam a importância da energia para o

desenvolvimento de sua atividade comercial e que a interação entre eles e a

distribuidora seja, em geral, maior que a de um cliente residencial, inúmeros são os

desafios que se colocam para o processo de comunicação. O primeiro deles diz

respeito à heterogeneidade do grupo, tanto no que se refere às características

pessoais, quanto no que tange ao grau de relacionamento. Se por um lado CL7,

proprietário de uma construtora, possui maior nível de interação com a empresa e

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consequentemente, possui uma imagem bastante consolidada, outros clientes, com

raros momentos de interação, passam a percebê-la apenas nos momentos de queda

de energia. Logo, um outro grande desafio é que, para clientes com baixo grau de

interação, a empresa se faz mais presente quando há problemas no fornecimento.

Mesmo diante desses desafios, alguns sentidos parecem estar alinhados ao

discurso institucional, apresentado certo grau de convergência entre a identidade da

empresa e a imagem formada pelos clientes cativos. A maior convergência está

associada à segurança no fornecimento da energia. Se por um lado a empresa

projeta o sentido de eficiência e agilidade, por outro, nenhum dos clientes considera

demorado o prazo para normalização do serviço. Pelo contrário, alguns clientes

destacaram o baixo número de interrupções, a eficiência da manutenção e a rapidez

no religamento. Além disso, as causas das interrupções estão sempre ligadas a

fatores naturais, assim como no discurso projetado pela empresa.

As grandes lacunas dizem respeito à inovação e sustentabilidade. De acordo

com a análise dos dispositivos de comunicação, estes temas são bastante

recorrentes. Aparecem em todas as peças analisadas. Entretanto, a percepção

destes atributos é quase inexistente para os clientes comerciais pesquisados. É fato

que a formação da imagem não se dá apenas pela comunicação. Entretanto, dada a

intangibilidade do produto ou serviço, a comunicação acaba alcançando grande

importância para a percepção, por parte dos clientes cativos, das iniciativas

organizacionais que caminham em direção à inovação. O mesmo acontece com a

sustentabilidade. O cliente comercial urbano, que reside e trabalha em Belo

Horizonte, dificilmente terá acesso aos projetos desenvolvidos pela Cemig em todo o

País. Nestes casos, o cliente comercial terá melhor conhecimento dessas iniciativas

se a comunicação, o discurso ou as possibilidades de experimentação forem mais

bem trabalhados.

Por fim, os consumidores comerciais possuem uma imagem da Cemig de

uma boa fornecedora de energia, que trabalha efetivamente para garantir a

qualidade do serviço. Consideram o preço elevado, que, muitas vezes, é justificado

pela qualidade do produto. Em alguns momentos associam a companhia com a

imagem do Governo, identificando aspectos como burocracia e paternalismo, e em

outros momentos ressaltam características típicas de empresas privadas como a

eficiência da gestão e a qualidade técnica dos funcionários.

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7 CONCLUSÃO

Essa pesquisa teve como objetivo compreender e avaliar o processo de

comunicação da Cemig com os seus clientes comerciais, buscando analisar, na

esfera da produção, a identidade projetada pela empresa e no campo da recepção,

a construção de sentido feita por este segmento.

Considerando a comunicação pela perspectiva relacional, “como um processo

de produção de sentidos entre sujeitos interlocutores, a partir de um determinado

contexto e realizado através de trocas simbólicas, ou seja, pela produção de

discursos” (FRANÇA, 2002), buscou-se compreender a construção simbólica de

identidade presente no discurso midiático da empresa, assim como a imagem

construída no discurso dos clientes comerciais, levando-se em consideração o

contexto da interação. Ao final do processo, buscou-se também identificar as

possíveis lacunas existentes entre identidade e imagem.

Levando-se em consideração o objetivo dessa dissertação de compreender o

processo de comunicação da Cemig com os clientes cativos, buscou-se, nesta

pesquisa, introduzir as contribuições das teorias da análise crítica do discurso como

opção metodológica, promovendo um diálogo com as teorias da comunicação, a

partir de uma perspectiva relacional. Espera-se dessa forma contribuir para uma

aproximação entre as duas áreas. A escolha por um estudo de caso permite também

outra aproximação: a da academia com o ambiente profissional. Pensar a

comunicação por uma perspectiva relacional não significa ficar restrito ao ambiente

acadêmico, mas sim, pensar em novas formas de se fazer comunicação.

Nesse sentido, a Cemig foi escolhida como objeto de pesquisa, dada a

complexidade das interações que se estabelecem entre os diversos clientes e a

empresa. Um dos motivos dessa complexidade é a heterogeneidade dos clientes

que compõem o seguimento de clientes cativos. Podemos destacar os clientes

residenciais, das mais variadas classes econômicas, os clientes comerciais e

industriais com baixo consumo, além dos clientes rurais. Todos os consumidores

possuem em comum o fato de não terem escolhido a distribuidora de energia, como

ocorre, por exemplo, em outros setores como o de telefonia e TV por assinatura.

Van Riel (2009) afirma que quanto maior o grau de interação da empresa,

mais forte será a imagem organizacional. Nesse sentido, foi selecionado para o

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estudo de recepção os clientes cativos da categoria comercial, uma vez que a

energia é extremamente necessária para o andamento de suas atividades, como

pôde ser visto nos depoimentos.

No processo de análise da identidade da Cemig a partir dos dispositivos

midiáticos, percebe-se que os principais atributos projetados pela empresa é a

qualidade da energia e dos serviços prestados, a sustentabilidade, a inovação, a

eficiência da gestão e a segurança no fornecimento de energia. A escolha desses

atributos para a projeção da identidade é fortemente influenciada pela história da

empresa e pelo contexto brasileiro. A Cemig foi criada com o objetivo de suportar a

criação de uma cidade industrial na região da grande Belo Horizonte. Nesse período,

houve um compromisso assumido pelo Governo de Minas com grandes empresas

que se instalaram na região quanto à regularidade e a capacidade de fornecimento

de energia. Sendo assim, o objetivo de fornecer energia de forma segura e confiável

foi perseguido pela empresa desde a sua fundação. Da mesma forma, a Cemig

apresenta sinais de ser uma empresa inovadora ao, por exemplo, integrar, de forma

pioneira, a produção de uma usina eólica ao sistema nacional de energia.

Por outro lado, em tempos de modernidade líquida (BAUMAN, 2008), as

organizações buscam permanentemente construir sua identidade, pelo discurso,

assumindo também diferentes atributos devido ao contexto. Nos dias de hoje, para

qualquer empresa, assumir a qualificação sustentável tornou-se condição. A

inovação também se tornou um pré-requisito em um mundo impregnado pelo

discurso ecológico, que preconiza a busca por novas fontes alternativas e limpas de

energia. Dessa forma, é importante não apenas aderir ao discurso vigente como

também compreender a legitimidade dos discursos e a construção de sentidos por

parte dos sujeitos com os quais a organização se relaciona.

No discurso organizacional, a Cemig assume vários papéis, como por

exemplo, a empresa de alto valor de mercado, a organização pública que contribui

para o desenvolvimento do estado, uma organização reconhecida mundialmente

pelos seus projetos de sustentabilidade, dentre outros. No entanto, no

relacionamento com os seus clientes cativos, não há mecanismos de interação e

relacionamento específicos para os pequenos comerciantes e proprietários de

indústria. A comunicação, vista sob uma perspectiva dialógica, pressupõe sempre a

figura do outro. Isso pode se traduzir em diferentes dispositivos e diferentes

linguagens, adequadas ao leitor modelo que deve ser considerado no momento da

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produção das mensagens. As demandas de um cliente comercial são diferentes das

demandas de um cliente residencial. Ao apresentar um mesmo discurso para todos

os clientes, dispersos em segmentos tão heterogêneos, a empresa acaba por

desonsiderá-los. Isso pode ser percebido quando a empresa projeta questões

relacionadas à sustentabilidade e aos prêmios recebidos. A linguagem utilizada nos

dispositivos é bastante técnica e apresenta termos característicos do mercado

financeiro. As instituições citadas, responsáveis por conferir os prêmios, apesar de

cotarem com a legitimidade do mercado, também não são reconhecidas pelos

clientes comuns. Nesse sentido, a sustentabilidade foi um dos aspectos menos

lembrados na imagem da empresa.

Albert e Whetten (1985) consideram que a identidade possui três dimensões,

dentre elas a distintividade, ou seja, o que torna a organização diferente das outras.

A busca por esse lugar de destaque pode ser percebida principalmente no slogan da

empresa, a melhor energia do Brasil. Ao se dizer “melhor”, pressupõe-se a

existência de outras e a vantagem na comparação. Como a Cemig não possui

concorrentes ou empresas semelhantes atuando no mesmo território, a busca pela

distintividade é um grande desafio.

Superando o paradigma informacional, do ponto de vista da recepção, é

impossível controlar os sentidos construídos a partir da identidade projetada. Além

disso, a construção de sentidos é uma decorrência de um “feixe de relações” entre

os sujeitos envolvidos no processo comunicativo e não apenas consequência dos

discursos institucionais, como nos lembra Fausto Neto (2008).

De acordo com os dados da pesquisa é possível afirmar que os atributos

relacionados com a qualidade do serviço e com a segurança e confiabilidade no

fornecimento de energia, são percebidos pelos consumidores e possuem

alinhamento com o discurso institucional.

Mesmo que a construção de sentido não se deva apenas à comunicação, um

aspecto que pode ter contribuído para essa percepção foi o fato de que, nas

campanhas que tratam deste tema, foi possível perceber maior adequação de

linguagem ao cliente comum. Obviamente, neste caso destaca-se também a

importância do ethos pré-discursivo vindo de interações anteriores com a

organização.

Por outro lado, aspectos relacionados à sustentabilidade dificilmente são

percebidos pelos entrevistados e representa uma grande lacuna entre a identidade e

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a imagem organizacional para este segmento. Além da sustentabilidade, outra

grande lacuna refere-se à inovação. De um lado a empresa destaca seus feitos em

pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de energia, a aquisição de campos de

energia eólica no Ceará, o investimento no desenvolvimento do carro elétrico e na

produção de energia por meio da Biomassa. De outro lado, o cliente raramente

percebe todo esse investimento em inovação. Para os entrevistados, a energia não

sofre alterações. É a mesma desde sempre. Ademais, ela se faz mais presente na

falta do que quando é fornecida regularmente. Assim, é possível dizer que a

comunicação para a projeção deste atributo não tem sido efetiva.

Ainda sobre os atributos inovação e sustentabilidade, alguns entrevistados

espontaneamente compararam a Cemig com outras empresas, como a Vale e a

Petrobrás. A falta de conhecimento sobre as ações da Cemig nestes dois aspectos

era normalmente relacionada à falta de informação veiculada pela mídia. Segundo

eles, sobre as outras empresas havia mais informações. Isso nos leva a considerar

que o não reconhecimento dos atributos inovação e sustentabilidade pode ter como

causa, além da inadequação da linguagem, outras questões como, por exemplo o

menor investimento ou o baixo nível de inserções, se comparado com as outras

empresas. Esta questão se apresenta como um ponto a ser investigado em futuras

pesquisas sobre o tema.

Um aspecto não projetado pela organização, mas que aparece em todas as

entrevistas é a importância da empresa no dia a dia dos clientes. Todos os

entrevistados destacaram a interligação e até mesmo a dependência entre a Cemig

e a sua empresa. Nesse sentido, o serviço prestado pela distribuidora é essencial

para o desenvolvimento de todas as atividades comerciais exercidas pelos

entrevistados.

Ao concluir este estudo, foi possível verificar, conforme aponta a teoria, que o

discurso organizacional é apenas um dos discursos possíveis e que a construção de

sentidos se dá também pelas outras interações e pelo contexto. Assim, o paradigma

relacional se configura como uma alternativa para análise do processo de

comunicação nas organizações. Além disso, deve-se considerar o ruído como parte

integrante do processo (PINTO, 2008), ou seja, sempre haverá lacunas entre a

identidade e a imagem organizacional. Para os gestores, essa lacuna deve ser

primeiramente reconhecida e se configurar como um interessante campo de ação

para os membros da organização (DRIVER, 2009).

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Como limitações da pesquisa, pode-se destacar que, ao mesmo tempo que o

método de análise do discurso apresenta diversas potencialidades, também possui

certa complexidade e exige do pesquisador conhecimentos dos operadores

linguísticos e das marcas textuais para apreensão dos sentidos construídos pelos

sujeitos. Além disso, pelo objetivo da pesquisa e pela metodologia adotada, não foi

possível verificar a influência dos sentidos construídos no campo da recepção na

própria (re)construção do discurso organizacional.

Assim, este trabalho deixa espaço para novas investigações, no sentido de

aprofundar o diálogo entre a comunicação e a linguística, de forma a promover

aprimoramentos quanto à proposta teórico-metodológica para os estudos de

identidade e imagem nas organizações.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O GESTOR DA ÁREA DE COMUN ICAÇÃO

Referência: Estudo 1 – Estudo Qualitativo. Modelo de referência : As Sete Dimensões da Reputação – Modelo Reptrak Objetivo: Identificar a percepção dos clientes sobre a Cemig

QUESTÕES

1. Na sua visão, que é empresa é a Cemig? 2. Quais são os dispositivos de comunicação utilizados para o relacionamento da

Cemig com os seus clientes. 3. Quais são os principais atributos da Cemig projetados nestes instrumentos? Que

empresa é essa? 4. A Cemig tem como slogan “A melhor energia do Brasil”. O que diferencia, na sua

opinião, o serviço prestado pela Cemig? 5. Como você avalia a percepção da relação custo-benefício?

6. A Cemig é uma empresa inovadora? O que tem feito, efetivamente, para

desenvolver a inovação? 7. Qual a importância da sustentabilidade na gestão e nas ações da empresa? 8. Onde a empresa quer chegar? Há uma visão clara de futuro? 9. Como a empresa quer ser percebida?

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ANEXO B

ROTEIRO DE ENTREVISTA – CLIENTES CATIVOS

Referência: Estudo de Recepção Objetivo: Identificar a construção de sentido realizada pelos clientes cativos da Cemig. Público-alvo: Proprietários de estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte.

QUESTÕES

Estamos realizando uma pesquisa sobre a percepção dos clientes comerciais sobre a Cemig. Este estudo é parte da dissertação da Rodrigo Neiva, aluno do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da PUC Minas. Gostaríamos de contar com a sua colaboração respondendo a algumas questões. Nome do proprietário: Nome do estabelecimento comercial: Identificação

1. Quais são as atividades desenvolvidas pela sua empresa?

2. Qual a importância da Cemig para o desenvolvimento dessas atividades?

3. De uma forma geral, gostaria de ouvir a sua opinião sobre a Cemig.

Produtos e Serviços

4. Como você avalia o serviço oferecido pela empresa?

5. As tarifas são compatíveis com o serviço oferecido?

6. Na sua opinião, a empresa tem se esforçado para garantir o fornecimento de

energia sem interrupções?

7. Como você avalia a relação da Cemig com os seus clientes? As suas necessidades são satisfatoriamente atendidas?

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Sustentabilidade

8. Você considera que a Cemig está comprometida com as causas da sociedade mineira?

9. Você tem conhecimento dos trabalhos com a comunidade realizados pela Cemig?

10. Na sua opinião, como é a relação da Cemig com a comunidade?

11. A empresa respeita o meio ambiente?

12. Você tem conhecimento sobre os projetos desenvolvidos pela Cemig ligados à sustentabilidade?

Inovação

13. Você conhece projetos desenvolvidos pela Cemig ligados à inovação?

14. Você acha que a Cemig está comprometida com a busca de outras tecnologias para a geração de energia? Explique.

15. Na sua opinião, a Cemig é uma empresa inovadora? Por que?

Gestão

16. Na sua opinião, como é a gestão da Cemig? É uma empresa bem administrada? Comente.

17. Você tem conhecimento dos resultados alcançados pela Cemig nos últimos anos? Quais?

18. Como você avalia a Cemig em relação às outras empresas do setor?

19. Na sua opinião, quais são as perceptivas para a Cemig nos próximos anos?