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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
SÃO PAULO PUC/SP
Cleusiane Vieira Silva
A prática docente e sua influência na construção de
conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a
aprendizagem da Simetria Ortogonal
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
São Paulo 2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP
CLEUSIANE VIEIRA SILVA
A prática docente e sua influência na construção de
conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a
aprendizagem da Simetria Ortogonal
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação Matemática sob a orientação do Professor Doutor Saddo Ag Almouloud.
São Paulo 2015
Banca Examinadora
Autorizo, exclusivamente para f ins acadêmicos e cient íf ico s, a
reprodução total ou parcial dessa Tese por processos de
fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: ___________________________Local e data: _________
DEDICATÓRIA
Ao meu marido João Arlindo, meus filhos João Felipe, Aline Vitória e uma pessoa que sempre confiou em mim e nunca me deixou desistir, minha mãe, Creusa (in memoriam).
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, que me permitiu ter saúde para concluir mais
essa etapa da minha vida, que em todos os momentos me ofereceu Sua mão
protetora.
Ao professor doutor Saddo Ag Almouloud, pelo trabalho de orientação
competente e cuidadoso, pela amizade e carinho que me proporcionou ao
longo da confecção desta tese.
Aos professores doutores, Gerson Pastre de Oliveira, Bárbara Lutaif
Bianchini, Gilson Bispo de Jesus e André Ricardo Magalhães, que fizeram
parte da banca de qualificação, cujas sugestões e reflexões foram valiosas
para a finalização deste trabalho.
À minha amiga de todas as horas, Ana Paula Perovano dos Santos
Silva pelo apoio e amizade nos momentos de dificuldades, pelas leituras e
contribuições realizadas durante a confecção deste trabalho.
Aos professores da escola-alvo da pesquisa que, gentilmente,
participaram deste trabalho doando seu precioso tempo, refletindo e
compartilhando experiências conosco.
À minha amiga Diana Maia pela amizade e pela forma como me acolheu
no programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática.
Às minhas irmãs Cleuzilene Vieira da Silva e Cleuzilaine Vieira da
Silva que me escutaram nos momentos de angústia e me apoiaram.
Ao meu marido João Arlindo Batista Pereira pela participação direta
neste trabalho, pelas leituras e preciosa ajuda na formatação.
À minha amiga Roberta D'Ângela Menduni Bortoloti sem a qual minha
trajetória na Educação Matemática não teria começado.
Obrigada à Eliana Gomes de Oliveira por ter dividido comigo
momentos especiais durante o tempo em que permanecemos juntas em São
Paulo.
Ao grupo de pesquisa PEA-Mat, cujas discussões e contribuições nas
reuniões me ajudaram no estudo de teorias da Educação Matemática e me
auxiliaram por meio da troca de experiências.
Agradeço a CAPES, pelo apoio com a bolsa de estudo do tipo taxa.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização
deste trabalho,
Obrigada.
Epígrafe
"Julgue seu sucesso pelas coisas que você teve que renunciar para conseguir" - Dalai Lama
SILVA, Cleusiane Vieira. A prática docente e sua influência na construção de conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal. 301 p. 2015. Tese (doutorado em Educação Matemática) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo, 2015.
RESUMO
Esta tese teve por objetivo investigar como um ambiente de ação e reflexão, que envolve a pré-análise, reflexões sobre a pré-análise, experimentação com alunos do Ensino Fundamental II, pós-análise e reflexões sobre a pós-análise relacionadas a uma sequência didática sobre a simetria ortogonal, interfere nos saberes docentes de professores de Matemática desse mesmo nível de ensino. Portanto, foi pretensão desta pesquisa responder à seguinte questão: como um ambiente de ação e reflexão constituído nos horários destinados às Atividades Complementares (A.C.) pode influenciar os saberes docentes de professores de Matemática do Ensino Fundamental II, sobre a simetria ortogonal? A metodologia utilizada para este estudo apoiou-se nos pressupostos da Engenharia Didática, segundo Artigue (1995) e nas contribuições de Schön (1995; 2000). O referencial teórico baseou-se na Teoria das Situações Didáticas de Brousseau (1997), para fazer um estudo sobre a influência das variáveis didáticas escolhidas nos procedimentos e respostas de professores de Matemática do Ensino Fundamental II e de seus alunos, e Margolinas (2002; 2004), para realizar a análise da atividade do professor no sentido de compreender como esse profissional desenvolve sua prática docente e como esta influência na aprendizagem dos alunos. O referencial teórico baseou-se ainda no quadro dos Paradigmas Geométricos de Parzysz (2001; 2006) na análise da natureza do trabalho geométrico desenvolvido por professores nos momentos de resolução e análise das situações-problema e por alunos nos momentos de interação com essas mesmas situações-problema. Foram utilizados, como trabalho de referência, os estudos de Grenier (1988) para observar as concepções de alunos do Ensino Fundamental II quanto à simetria ortogonal. A análise nos registros fornecidos pelos alunos propiciou a identificação de concepções relativas à simetria ortogonal, algumas corroboram os resultados obtidos nos estudos realizados por Grenier (1988), outras parecem específicas do grupo de alunos investigado. A análise nos registros de professores de Matemática também expôs algumas concepções acerca da simetria ortogonal, cujas concepções parecem estar relacionadas à forma como esse conceito é apresentado nos livros didáticos. Durante a investigação, os professores avaliaram a própria prática e ponderaram sobre os métodos de ensino adotados por eles, no sentido de observar se tais métodos estão ou não surtindo efeito na aprendizagem de seus alunos. Constatou-se que um ambiente de ação e reflexão, constituído na escola, influencia nos saberes docentes de professores de Matemática, embora sua influência seja limitada. Palavras-chave: Simetria Ortogonal. Saberes Docentes. Formação de Professores. Teoria das Situações Didáticas. Paradigmas Geométricos.
SILVA, Cleusiane Vieira. The teaching practice and its influence in the building of geometric concepts: a study on the teaching and learning of orthogonal symmetric. 301 p. 2015. Thesis (Doctorate in Mathematical Education) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo, 2015.
ABSTRACT
This thesis aimed to investigate how an environment of action and reflection that involves the pre-analysis , reflections on the pre-analysis , experimentation with students from Elementary School II , post-analysis and reflections on the post-analysis that is related to a didactic sequence on orthogonal symmetric , interferes in the Mathematics teachers’ knowledge , in the mentioned level. Nevertheless, this research aimed to answer the following question: how can an environment of action and reflection that is constituted in the times for the Complementary Activities, influence the Mathematics teachers’ (from Elementary School II) knowledge on orthogonal symmetric? The methodology that was used in this study was based on the presupposition of Didactical Engineering according to Artigue (1995) and on the contributions by Schön (1995; 2000). The theoretical referential had its basis on the Theory of Didactical Situations - Brousseau (1997) - to do a study on the influence of the didactical variables that were chosen in the Math teachers’ (Elementary School II) procedures and answers, as well as their students’, and Margolinas (2002; 2004) to hold an analysis on the teacher’s activity, in view of understanding how he/she develops the teaching practice and how it can influence students’ learning. Yet, the theoretical referential was based in Parzysz Picture of Geometric Paradigms (2001; 2006), in the analysis of the nature of the geometric work that is developed by teachers in the moments of construction and analysis of problem – situations, and by students in the moments of interaction with these problems. The studies by Grenier (1988) were used as a reference in order to observe the students’ conceptions of Elementary School II according to orthogonal symmetric. The analysis of the registers that had been provided by the students made it possible the identification of conceptions that are related to the orthogonal symmetric – some of them corroborate with the results from studies done by Grenier (1988); other ones seem to be specific in the group of investigated students. The analysis of registers of Math teachers also showed some concepts about orthogonal symmetric, and these conceptions seem to be related to the way this concept is presented in the course books. During the investigation, teachers had the opportunity to evaluate their own practice and reflected on the teaching methods they were using, to really know if they were working or not with their students. It was noted that an environment of action and reflection that is constituted at school, have influence on Math teachers’ knowledge, but this influence is limited. Key words: Orthogonal Symmetric. Teachers’ Knowledge. Teachers’ Education. Theory of Didactical Situations. Geometric Paradigms.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Questão 5 do teste 1 aplicado aos alunos na pesquisa “Análise dos
erros cometidos por discentes de cursos de Licenciatura em Matemática das
universidades estaduais baianas” ..................................................................... 34
Figura 2. Representação do Teorema de Desargues ...................................... 42
Figura 3. Representação do Teorema de Menelau .......................................... 43
Figura 4. Representações do Teorema de Menelau para os triângulos OQR,
ORP e OPQ, respectivamente. ......................................................................... 43
Figura 5. Involução de Desargues ................................................................... 44
Figura 6. Exemplo ilustrativo para métodos de transformação de figuras ........ 45
Figura 7. Ponto P’ simétrico do ponto P em relação à reta r. ........................... 51
Figura 8. Transformações Geométricas no plano ............................................ 52
Figura 9. Reflexão do ponto P com relação à reta t e do ponto P’ com
relação à reta r .................................................................................................. 53
Figura 10. Reflexão do ponto P com relação às retas r e s respectivamente .. 54
Figura 11. A simetria ortogonal em torno do eixo OX transforma P=(x, y) em
P’=(x, -y). .......................................................................................................... 55
Figura 12. A simetria com relação à r leva OX em OX1 e OY em OY1 ........... 56
Figura 13. A simetria com relação à reta baxy leva P em P1, com
etapas intermediárias de P’ a P’’. ...................................................................... 57
Figura 14. Mapa conceitual de algumas pesquisas francesas sobre simetria
ortogonal ........................................................................................................... 67
Figura 15. A importância do papel do professor............................................... 68
Figura 16. Algumas pesquisas brasileiras sobre transformações
geométricas no plano ........................................................................................ 74
Figura 17. Situações propostas por Grenier .................................................... 79
Figura 18. Integração entre os objetos envolvidos no desenvolvimento do
pensamento geométrico para o 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental. ........... 89
Figura 19. Mapa conceitual sobre a relação entre os conteúdos que
envolvem a simetria ortogonal no 3º ciclo do Ensino Fundamental. ................. 90
Figura 20. Rede de objetos matemáticos em torno da simetria ortogonal ....... 91
Figura 21. Definição de simetria ..................................................................... 100
Figura 22. Atividade lúdica sobre simetria ortogonal ..................................... 100
Figura 23. Os eixos de simetria do triângulo equilátero ................................. 101
Figura 24. Os eixos de simetria do losango e do quadrado ........................... 101
Figura 25. Exemplos de revestimentos utilizando mosaicos .......................... 102
Figura 26. Figura referente à situação 1, na análise de livros didáticos ........ 104
Figura 27. Figura referente à situação 2, na análise de livros didáticos ........ 106
Figura 28. Figura referente à situação 3, na análise de livros didáticos ........ 107
Figura 29. Figura referente à situação 4, na análise de livros didáticos ........ 109
Figura 30. Figura referente à situação 5, na análise de livros didáticos ........ 110
Figura 31. Exemplo ilustrativo da estruturação do milieu, segundo
Margolinas (2004). .......................................................................................... 124
Figura 32. Construção intuitiva do segmento simétrico ................................. 125
Figura 33. Desenho de pontos simétricos a A e B ......................................... 125
Figura 34. Construção do segmento '' BA .................................................... 126
Figura 35. Articulação entre os quadros teóricos ........................................... 138
Figura 36. Fluxograma de processos 1ª parte ............................................... 153
Figura 37. Fluxograma de processos 2ª parte ............................................... 154
Figura 38. Fluxograma de processos 3ª parte ............................................... 155
Figura 39. Continuação da 3ª parte do fluxograma de processos.................. 157
Figura 40. Fluxograma de processos 4ª parte ............................................... 158
Figura 41. Questão 2 referente à concepção de aprendizagem do
professor ......................................................................................................... 160
Figura 42. Ponto de partida para a construção dos mapas conceituais ......... 165
Figura 43. Rascunho de mapa conceitual confeccionado pelos professores
no ambiente papel e lápis. .............................................................................. 166
Figura 44. Mapa conceitual construído pelos professores ............................. 168
Figura 45. Situação-problema 1 do instrumento aplicado aos professores.... 172
Figura 46. Situação-problema 2 do instrumento aplicado aos professores.... 178
Figura 47. Situação-problema 3 do instrumento aplicado aos professores.... 183
Figura 48. Questão discursiva 1 para análise do professor sobre as
situações-problema ........................................................................................ 191
Figura 49. Questão discursiva 2 do instrumento aplicado aos professores .. 191
Figura 50. Questão discursiva 3 do instrumento aplicado aos professores ... 191
Figura 51. Questão discursiva 4 do instrumento aplicado aos professores ... 192
Figura 52. Resposta do professor Narciso à questão discursiva 3 do
instrumento aplicado aos professores ............................................................ 205
Figura 53. Observação dos professores quanto à posição da figura
simétrica em relação à posição do eixo de simetria, item (i). .......................... 213
Figura 54. Observação dos professores quanto à posição da figura
simétrica em relação à posição do eixo de simetria no item (d)...................... 215
Figura 55. Item sugerido pelos professores para ser adicionado à
sequência didática aplicada aos alunos. ......................................................... 217
Figura 56. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura
correspondente ao item (a) da situação-problema 1 pelas duplas B, E e M
respectivamente. ............................................................................................. 223
Figura 57. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura
correspondente ao item (b) da situação-problema 1 pelas duplas B, L e M
respectivamente. ............................................................................................. 224
Figura 58. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura
correspondente ao item (c) da situação-problema 1 pelas duplas K e Q
respectivamente. ............................................................................................. 225
Figura 59. Exemplos de falsos eixos de simetria desenhados na figura
correspondente ao item (d) da situação-problema 1 pelas duplas E, D e K
respectivamente. ............................................................................................. 226
Figura 60. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura
correspondente ao item (e) da situação-problema 1, pelas duplas C, E,
I e L, respectivamente. .................................................................................... 227
Figura 61. Desenhos das duplas B e N respectivamente .............................. 231
Figura 62. Desenhos das duplas A e D respectivamente. ............................. 231
Figura 63. Item (b) não respondido pela dupla H e item (n) respondido
erroneamente pela dupla H. ........................................................................... 255
Figura 64. Resposta da dupla H para os itens (c) e (f) da
situação-problema 3. ...................................................................................... 256
Figura 65. Resposta das duplas D e E para os itens (c) e (f),
respectivamente, da situação-problema 3. ..................................................... 257
Figura 66. Reprodução da figura construída pelo professor Narciso em
depoimento ..................................................................................................... 263
Figura 67. Atividade preparatória, em vista da Avaliação Complementar,
proposta pela professora Margarida ............................................................... 272
Figura 68. Questão 26 proposto na Avaliação Complementar da
Secretaria de Educação do Estado da Bahia para alunos do 7º ano.............. 273
Figura 69. Questão 31 proposta na Avaliação Complementar da
Secretaria de Educação do Estado da Bahia para alunos do 7º ano.............. 274
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Variáveis didáticas e concepções detectadas por Grenier (1988) .. 80
Quadro 2. Síntese dos resultados de uma investigação preliminar ................. 81
Quadro 3. Conteúdos de geometria listados por série (1ª a 4ª série) .............. 93
Quadro 4. Conteúdos de geometria listados por série (5ª a 8ª série) .............. 94
Quadro 5. Importância dada à simetria nos livros didáticos aprovados no
PNLD 2014 ....................................................................................................... 97
Quadro 6. Variáveis didáticas e valores levados em conta na elaboração e
escolha das tarefas ......................................................................................... 120
Quadro 7. Estruturação do milieu ................................................................... 123
Quadro 8. Estruturação do milieu ascendente para o exemplo ilustrativo ..... 127
Quadro 9. Diferentes aspectos dos Paradigmas Geométricos ...................... 131
Quadro 10. Síntese da classificação dos paradigmas apresentados por
Parzysz ........................................................................................................... 132
Quadro 11. Aplicação do quadro dos Paradigmas Geométricos ao
exemplo 1. ...................................................................................................... 133
Quadro 12. Articulação entre os estudos desenvolvidos por Parzysz, Van
Hiele, Houdement e Kuzniak........................................................................... 136
Quadro 13. Quatro primeiras questões do questionário 1 aplicado aos
professores ..................................................................................................... 148
Quadro 14. Formação dos docentes sujeitos da pesquisa. ........................... 148
Quadro 15. Respostas dos professores sobre cursos realizados .................. 150
Quadro 16. Respostas dos professores à questão: o que você entende por
geometria? ...................................................................................................... 151
Quadro 17. Questões 3 a 6 referentes ao ensino de Geometria .................... 161
Quadro 18. Respostas dos professores referentes à questão 3. ................... 162
Quadro 19. Questões 7, 8,9 ,10 e 11 ............................................................. 163
Quadro 20. Variáveis didáticas e valores identificados na
situação-problema 1 ....................................................................................... 173
Quadro 21. Análise da primeira situação-problema, de acordo com os
Paradigmas Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006) ........................................ 174
Quadro 22. Variáveis didáticas e valores identificadas para a situação-
problema 2 ...................................................................................................... 178
Quadro 23. Análise da segunda situação-problema, de acordo com os
Paradigmas Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006) ........................................ 179
Quadro 24. Estruturação do milieu das situações-problema sobre
reconhecimento de figuras simétricas e construção de eixos de simetria ...... 181
Quadro 25. Variáveis didáticas e valores levados em conta na elaboração
e escolha do conjunto de atividades ............................................................... 185
Quadro 26. Análise da terceira situação-problema, de acordo com os
Paradigmas Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006) ........................................ 185
Quadro 27. Estruturação do milieu da situação-problema 3 .......................... 189
Quadro 28. Indicação dos eixos de simetria para cada figura dos itens
propostos na situação-problema 1. ................................................................. 193
Quadro 29. Justificativa dada pelos professores às respostas fornecidas
por eles na situação-problema 1 ..................................................................... 194
Quadro 30. Estratégias dos professores, de acordo com as variáveis
didáticas e seus valores para a situação-problema 1. .................................... 195
Quadro 31. Respostas dos professores à situação-problema 2 .................... 197
Quadro 32. Identificação de estratégias escolhidas pelos professores para
a situação problema 2, de acordo com as variáveis didáticas e seus valores
outrora fixados. ............................................................................................... 198
Quadro 33. Repostas dos professores aos itens (a) e (m) ............................ 199
Quadro 34. Respostas dos professores aos itens (b), (h), (i) e (l) ................. 200
Quadro 35. Respostas dos professores aos itens (c), (e) e (f) ....................... 201
Quadro 36. Respostas dos professores aos itens (d), (g) e (j) ....................... 202
Quadro 37. Identificação de estratégias escolhidas pelos professores para
a situação-problema 3 de acordo com as variáveis didáticas e seus valores
outrora fixados. ............................................................................................... 203
Quadro 38. Respostas dos professores, com relação à questão
discursiva 2 ..................................................................................................... 206
Quadro 39. Respostas dos professores com relação à questão
discursiva 4 ..................................................................................................... 207
Quadro 40. Síntese das respostas dos professores sobre o instrumento 3
e no debate coletivo ........................................................................................ 218
Quadro 41. Procedimentos de resolução, identificados nos registros das
duplas de alunos para a situação problema 1. ............................................... 228
Quadro 42. Procedimentos de resolução, identificados nos registros das
duplas de alunos para a situação-problema 1. ............................................... 232
Quadro 43. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (a)
e (m) fornecidos por algumas duplas de alunos. ............................................ 234
Quadro 44. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (b),
(h), (i) e (l) apresentados por algumas duplas de alunos. ............................... 236
Quadro 45. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (c),
(e) e (f) nos registros de algumas duplas de alunos. ...................................... 237
Quadro 46. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (d),
(g), (j) e (n), apresentados por algumas duplas de alunos. ............................. 239
Quadro 47. Procedimentos de resolução identificados nos registros das
duplas de alunos para a situação problema 1. ............................................... 242
Quadro 48. Respostas fornecidas pelos docentes ao analisarem os
registros de algumas duplas de alunos ........................................................... 247
Quadro 49. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-
análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às
dificuldades que os alunos poderiam encontrar no item (a). ........................... 249
Quadro 50. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-
análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às
dificuldades que os alunos poderiam encontrar no item (b). ........................... 250
Quadro 51. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-
análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às
dificuldades que os alunos poderiam encontrar no item (c). ........................... 251
Quadro 52. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-
análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às
dificuldades que os alunos poderiam encontrar no item (d). ........................... 252
Quadro 53. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-
análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às
dificuldades que os alunos poderiam encontrar no item (e). ........................... 253
Quadro 54. Respostas dos professores ao analisarem os registros das
duplas de alunos quanto à utilização da malha quadriculada ......................... 254
Quadro 55. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos
alunos com relação à construção de figura simétrica ..................................... 256
Quadro 56. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos
alunos sobre a influência das variáveis didáticas. .......................................... 258
Quadro 57. Pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H
quanto à influência das variáveis didáticas. .................................................... 258
Quadro 58. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos
alunos sobre a utilização dos instrumentos de desenho geométrico .............. 259
Quadro 59. Pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H
quanto aos conhecimentos que mobilizaram para responder o conjunto de
atividades que compõem a sequência didática. ............................................. 261
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Quantidade de tarefas propostas nos livros didáticos analisados
sobre simetria ortogonal ................................................................................. 113
Tabela 2. Frequência da utilização de alguns materiais para planejamento
das aulas de matemática ................................................................................ 159
Tabela 3. Frequência das respostas dos alunos para o item (a) da
situação-problema 1 ....................................................................................... 222
Tabela 4. Frequência das respostas dos alunos para o item (b) da
situação-problema 1 ....................................................................................... 223
Tabela 5. Frequência das respostas dos alunos para o item (c) da
situação-problema 1 ....................................................................................... 225
Tabela 6. Respostas das duplas de alunos para o item (d) da
situação-problema 1 ....................................................................................... 226
Tabela 7. Respostas das duplas de alunos para o item (e) da
situação-problema 1 ....................................................................................... 227
Tabela 8.Frequência do número de respostas e justificativas das duplas
de alunos para a situação-problema 2 ............................................................ 230
Tabela 9. Frequência das respostas das duplas de alunos para a
situação-problema 3, quanto ao desenho de figura simétrica ......................... 233
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 33
CAPÍTULO 1..................................................................................................... 39
UM ESTUDO SOBRE O OBJETO MATEMÁTICO TRANSFORMAÇÕES
GEOMÉTRICAS NO PLANO ........................................................................... 39
1.1 Um breve histórico sobre as transformações geométricas .................. 39
1.1.1 A Geometria projetiva e seus precursores ........................................... 41
1.1.2 A gênese das primeiras transformações.............................................. 45
1.1.3 A importância da geometria de Descartes para a evolução das
transformações geométricas ............................................................................. 46
1.1.4 Os trabalhos de Felix Klein e de Sophus Lie ....................................... 47
1.2 O grupo das Transformações Geométricas ......................................... 48
1.3 A escolha da Simetria Ortogonal como objeto matemático a ser
estudado ........................................................................................................... 51
CAPÍTULO 2..................................................................................................... 61
A PROBLEMÁTICA ......................................................................................... 61
2.1 Algumas pesquisas relacionadas ao ensino e à aprendizagem de
transformações geométricas no plano .............................................................. 61
2.1.1 Pesquisas francesas relacionadas ao ensino e à aprendizagem de
simetria ortogonal ............................................................................................. 62
2.1.2 As pesquisas brasileiras relacionadas ao ensino e à aprendizagem
de transformações geométricas ........................................................................ 69
2.2 Caracterização do termo concepção ................................................... 75
2.3 Especificidade de nosso estudo .......................................................... 78
2.4 Justificativa e relevância de nosso estudo ........................................... 79
CAPÍTULO 3..................................................................................................... 83
UM ESTUDO SOBRE A SIMETRIA ORTOGONAL À LUZ DA ECOLOGIA
DO DIDÁTICO .................................................................................................. 83
3.1 A simetria ortogonal numa problemática ecológica ............................. 83
3.2 A noção de ecossistema aplicada à simetria ortogonal ....................... 84
3.3 Os documentos curriculares oficiais e o ensino da simetria
ortogonal no ensino fundamental ...................................................................... 87
3.3.1 As transformações geométricas segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais ...................................................................................... 87
3.3.2 A simetria ortogonal segundo as Diretrizes Curriculares de
Matemática para o Ensino Fundamental do Estado da Bahia .......................... 92
3.4 A Simetria Ortogonal e as condições de sua existência ...................... 95
3.4.1 A simetria ortogonal em alguns livros didáticos de matemática para
Ensino Fundamental II ...................................................................................... 97
3.4.2 Análise das quatro coleções de livros didáticos de Matemática .......... 99
3.4.2.1 A organização praxeológica .............................................................. 102
3.5 Algumas reflexões ............................................................................. 116
CAPÍTULO 4 .................................................................................................. 119
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 119
4.1 A Teoria das Situações Didáticas ...................................................... 119
4.2 O quadro dos Paradigmas Geométricos ............................................ 128
4.2.1 O modelo do desenvolvimento do pensamento geométrico de
Van Hiele ........................................................................................................ 128
4.2.2 O quadro dos Paradigmas Geométricos apresentados por
Houdement e Kuzniak..................................................................................... 130
4.2.3 O quadro teórico dos Paradigmas Geométricos apresentado
por Parzysz ..................................................................................................... 131
4.2.4 Uma articulação entre o quadro dos Paradigmas Geométricos
proposto por Parzysz e a Teoria das Situações Didáticas de Brousseau ....... 137
CAPÍTULO 5 .................................................................................................. 141
METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................ 141
5.1 A engenharia didática e a formação de professores .......................... 141
5.2 A produção e coleta de dados ........................................................... 145
5.3 O campo e os sujeitos da pesquisa ................................................... 146
5.3.1 A escola ............................................................................................. 146
5.3.2 Caracterização dos sujeitos ............................................................... 147
CAPÍTULO 6 .................................................................................................. 159
PROCEDIMENTOS INICIAIS DE EXPERIMENTAÇÃO ................................ 159
6.1 Análise do questionário relacionado à prática docente ...................... 159
6.2 Mapas Conceituais ............................................................................ 164
6.2.1. Análise dos mapas conceituais concebidos pelos professores ......... 165
CAPÍTULO 7................................................................................................... 171
O ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE AS CONCEPÇÕES DE
PROFESSORES E ALUNOS SOBRE A SIMETRIA ORTOGONAL .............. 171
7.1 Análise, a priori, das situações-problema apresentadas para a
pré-análise dos professores ............................................................................ 171
7.1.1 Problemas de reconhecimento de figuras simétricas e construção
de eixos de simetria ........................................................................................ 172
7.1.2 Problemas de construção de figura simétrica .................................... 183
7.1.3 Análise das questões discursivas propostas aos professores ........... 190
7.2 Experimentação 1: aplicação das situações-problema e do
questionário sobre estas situações aos professores sujeitos da pesquisa ..... 192
7.2.1 Etapa 1 da experimentação 1: análise, a posteriori, das respostas
apresentadas pelos professores às situações-problema ................................ 193
7.2.1.1 Análise, a posteriori, das respostas apresentadas pelos
professores à situação--problema 1 ................................................................ 193
7.2.1.2 Análise, a posteriori, das respostas apresentadas pelos
professores a situação--problema 2 ................................................................ 196
7.2.1.3 Análise, a posteriori, das respostas dos pelos professores a
situação-problema 3 ....................................................................................... 199
7.2.2 Etapa 2 da experimentação 1: as respostas dos professores ao
questionário discursivo e as discussões nas reuniões sobre a pré-análise
das situações-problema .................................................................................. 204
7.2.2.1 Análise dos dados provenientes das discussões no debate coletivo
sobre a pré-análise realizada pelos docentes sobre a situação-problema 1 .. 208
7.2.2.2 Análise dos dados oriundos das discussões no debate coletivo
sobre a pré-análise realizada pelos professores para a
situação-problema 2 ....................................................................................... 211
7.2.2.3 Análise dos dados provenientes das discussões no debate
coletivo sobre a pré-análise realizada pelos professores, para a
situação-problema 3 ....................................................................................... 211
7.2.2.4 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de professores
ao questionário discursivo e as discussões nas reuniões sobre a
pré-análise desses docentes às situações--problema .................................... 216
7.3 Experimentação 2: aplicação das situações-problema analisadas
pelos professores, sujeitos da pesquisa, a alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental ................................................................................................... 220
7.3.1 Análise, a posteriori, dos procedimentos e respostas
apresentadas pelas duplas de alunos à sequência didática ........................... 222
7.3.1.1 Análise, a posteriori, das respostas de alunos do 8º ano do
Ensino Fundamental a situação-problema 1 ................................................... 222
7.3.1.2 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do
8º ano do Ensino Fundamental a situação-problema 1 .................................. 228
7.3.1.3 Análise a posteriori das respostas de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental a situação-problema 2 .............................................................. 229
7.3.1.4 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do
8º ano do Ensino Fundamental à situação-problema 2 .................................. 232
7.3.1.5 Análise, a posteriori, das respostas de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental ao conjunto de atividades que compõem a
situação-problema 3 ....................................................................................... 233
7.3.1.6 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do
8º ano do Ensino Fundamental à situação-problema 3 .................................. 241
7.3.1.7 Algumas considerações sobre a experimentação 2 e a análise
dos registros das duplas de alunos, sujeitos da pesquisa .............................. 244
7.4 Experimentação 3: as respostas de algumas duplas de alunos
do 8º ano à sequência didática sob o olhar de docentes, sujeitos da
pesquisa ......................................................................................................... 246
CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS ........................................................ 279
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 291
APÊNDICE 1 ................................................................................................. 299
APÊNDICE 2 .................................................................................................. 301
APÊNDICE 3 .................................................................................................. 302
APÊNDICE 4 .................................................................................................. 303
APÊNDICE 5 .................................................................................................. 306
APÊNDICE 6 .................................................................................................. 309
APÊNDICE 7 .................................................................................................. 312
ANEXO 1 ........................................................................................................ 315
ANEXO 2 ........................................................................................................ 316
ANEXO 3 ........................................................................................................ 317
ANEXO 4 ........................................................................................................ 318
ANEXO 5 ........................................................................................................ 319
ANEXO 6 ........................................................................................................ 320
33
INTRODUÇÃO
A trajetória para a construção de nosso objeto de estudo iniciou-se em
2007, quando nós, professores do curso de Licenciatura em Matemática com
Enfoque em Informática da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(UESB), Campus Jequié, inquietados com as altas taxas de reprovação e
evasão das disciplinas desse curso, propusemos à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) o projeto de pesquisa intitulado
“Análise dos erros cometidos pelos discentes de cursos de Licenciatura em
Matemática das universidades estaduais baianas” (BORTOLOTI, et al. 2007)
que foi aprovado com recurso financeiro.
Como a equipe de investigadores tinha a pretensão de obter um
panorama das dificuldades em Matemática (referentes aos conteúdos da
Educação Básica) que incidiam sobre os alunos no Estado da Bahia,
delimitamos como campo de pesquisa as quatro Universidades Estaduais
baianas, das quais, duas são multicampi. Foram abrangidos dez campi que
possuem cursos de licenciatura em Matemática.
Os sujeitos investigados foram alunos ingressantes (1º semestre) e
alunos veteranos (6º semestre) dos cursos de licenciatura em Matemática das
Universidades Estaduais baianas. Ao aplicar o teste 1 a alunos ingressantes, o
objetivo da pesquisa era investigar como esses alunos estavam chegando à
universidade, isto é, qual o background deles em relação a conteúdos básicos
de Matemática. Quanto aos alunos do 6º semestre, tínhamos como meta
verificar se, após a metade do curso, eles haviam adquirido habilidades para
resolver questões matemáticas referentes a conteúdos da Educação Básica.
No total, foram 417 sujeitos alvos da pesquisa, dos quais 274 eram
alunos de 1º semestre e 143 de 6º semestre. Nossa motivação, neste trabalho
de tese, está fundamentada na análise das questões referentes ao eixo de
34
geometria plana, pelo fato de nosso interesse de investigação estar voltado
para esse eixo.
Para concretização da pesquisa, utilizamos como instrumentos de coleta
de dados dois testes diagnósticos e um questionário socioeconômico. O teste
1, constava de seis questões de conteúdos de matemática da Educação
Básica. Dessas, duas contemplavam o conteúdo de geometria plana. A
primeira questão tratava de um problema quotidiano e vem enunciado a seguir:
Um fazendeiro comprou um terreno de forma retangular com 30m de
perímetro, notando que o triplo da medida do menor lado é igual ao dobro da
medida do lado maior. Resolveu plantar grama em todo o terreno, exceto em
uma semicircunferência, cujo diâmetro coincide com lado menor.
Considerando--se que o valor aproximado de π=3,14 e que o m2 da grama
custa R$40,00, determine quanto o fazendeiro gastou.
A análise quantitativa dos dados evidenciou que, com relação à
resolução dessa questão, apenas 8,02% dos alunos do 1° semestre e 30,07%
dos alunos do 6° semestre a acertaram. Observamos, ainda, que 30,67% dos
sujeitos de 1º semestre e 20,98% dos sujeitos dos 6º semestre não
responderam a questão.
A segunda questão tinha como foco a semelhança de triângulos, e era
enunciada da seguinte forma. Na figura, AB= 8 u.c., BC= 1 u.c., e os triângulos
sombreados são equiláteros. Sobre os triângulos sombreados, calcule o
quociente entre o valor da área do triângulo maior e a área do triângulo menor.
Figura 1. Questão 5 do teste 1 aplicado aos alunos na pesquisa “Análise dos erros cometidos por discentes de cursos de Licenciatura em Matemática das universidades estaduais baianas”
Fonte: Adaptada do Vestibular UESC, 2008
Ressaltamos que nenhum aluno de 1° semestre acertou essa questão e
para os alunos de 6° semestre o índice foi de 7% de acerto. Observamos,
ainda, que 45,26% dos alunos de 1º semestre e 37,06% dos alunos de 6º
semestre não responderam a questão.
35
Esses dados nos fizeram refletir sobre algumas questões ligadas ao
ensino de geometria na Educação Básica e no Ensino Superior. No que diz
respeito à Educação Básica, algumas dúvidas nos inquietaram. Entre elas, as
dificuldades relacionadas com o conteúdo de geometria plana parecem ligadas
às práticas de ensino, adotadas por professores dos níveis Fundamental e
Médio. Segundo as observações de Almouloud et al. (2004, p. 99), “[...] a
maioria dos professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio não está
preparada para trabalhar segundo as recomendações e orientações didáticas
dos PCN1”.
Com relação ao Ensino Superior, apesar de o desempenho dos alunos
do 6º semestre ser melhor do que o desempenho dos alunos ingressantes,
essa diferença deveria ser maior, em função do avançado processo de
formação que apresentavam os alunos veteranos. Isso nos estimulou a refletir
sobre a formação de professores que ensinam Matemática, no que se refere ao
ensino e à aprendizagem da geometria. Essa inquietação é reforçada por
Almouloud et al. (2004), quando afirmam que a formação de professores:
[...] é muito precária quando se trata de geometria, pois os cursos de formação inicial não contribuem para que façam uma reflexão mais profunda a respeito do ensino e da aprendizagem dessa área da matemática. Por sua vez a formação continuada não atende ainda aos objetivos esperados em relação à geometria. (p. 99)
A análise das respostas dos estudantes assinalou que as dificuldades
apresentadas são relacionadas, principalmente, à interpretação de significados
e conceitos geométricos.
A análise dos dados evidenciou indícios de que as dificuldades
encontradas por alunos de cursos de Licenciatura em Matemática das
Universidades Estaduais do Estado da Bahia, possivelmente sejam
provenientes da Educação Básica. Supondo que uma das dificuldades nos
processos de ensino e de aprendizagem de conteúdos de geometria esteja
relacionada com as práticas docentes, surgiu nosso interesse de investigar
como um ambiente de ação e reflexão, que envolve a pré-análise, reflexões
sobre a pré-análise, experimentação, pós-análise e reflexões sobre a pós-
análise relacionadas a uma sequência didática sobre a simetria ortogonal,
1 Parâmetros Curriculares Nacionais
36
interfere nos saberes docentes de professores de Matemática do Ensino
Fundamental II.
Assim, abordaremos nesta pesquisa, a seguinte questão: como um
ambiente de ação e reflexão constituído nos horários destinados às Atividades
Complementares (A.C.) pode influenciar os saberes docentes de professores
de Matemática do Ensino Fundamental II sobre a simetria ortogonal? Para isso,
construímos uma sequência didática sobre a simetria ortogonal, com a intenção
de que, por meio da ação, esta pudesse provocar a reflexão de professores de
Matemática sobre o ensino e a aprendizagem deste objeto matemático com a
finalidade de ponderar como esse movimento pode interferir nos saberes
docentes.
Para o presente trabalho, escolhemos como metodologia de pesquisa a
Engenharia Didática de Artigue (1995) por acreditar que essa metodologia seja
adequada para um estudo que envolve os processos de ensino e de
aprendizagem, uma vez que ela permite, a partir do confronto das análises a
priori e a posteriori, confirmar ou refutar hipóteses. A escolha foi fortalecida
pelos argumentos de Chesnais (2009) sobre a necessidade de seus estudos
serem confrontados com outros contextos. Apoiamo-nos, ainda, em Schön
(1995; 2000) com o objetivo de criar um ambiente de ação e reflexão em que
os professores sejam capazes de refletir sobre sua própria prática. Durante a
experimentação, trabalhamos com professores de Matemática do Ensino
Fundamental II e seus alunos, em uma escola da rede estadual de ensino do
Estado da Bahia. Utilizamos como instrumentos de coleta de dados:
questionários, entrevistas, fichas de observação e gravações de áudio.
Para este estudo, utilizamos como referencial teórico o quadro dos
Paradigmas Geométricos no modelo apresentado por Parzysz (2001; 2006)
associado à Teoria das Situações Didáticas. Escolhemos o quadro dos
Paradigmas Geométricos por acreditar que ele permite um estudo sobre o
desenvolvimento do raciocínio geométrico dos sujeitos, para os docentes nos
momentos de análise da sequência didática e registros dos alunos, e para os
alunos nos momentos de interação com o conjunto de atividades que compõem
a referida sequência.
Por outro lado, utilizamos a Teoria das Situações Didáticas
(BROUSSEAU, 1997) para fazer um estudo sobre a influência das variáveis
37
didáticas escolhidas nos procedimentos e respostas de professores de
Matemática do Ensino Fundamental II e de seus alunos. Apoiamo-nos em
Margolinas (2002; 2004), seguindo o modelo de níveis de atividade do
professor, para compreender as várias fases do trabalho docente. Esse modelo
deve permitir fazer um estudo da atividade do professor nas diferentes
dialéticas que ele deve vivenciar no processo de aprendizagem, isto é, as
dialéticas de ação, formulação, validação e institucionalização.
A seguir, apresentamos a estrutura do trabalho, composto de sete
capítulos.
No primeiro capítulo, apresentamos um estudo sobre as transformações
geométricas no plano, o qual é iniciado com um breve histórico sobre esses
objetos geométricos, seguido por uma apresentação sobre o grupo das
transformações geométricas e os motivos que nos levaram a escolher a
simetria ortogonal como objeto matemático a ser estudado.
No segundo capítulo, tratamos da problemática que envolveu nossa
investigação, a partir do estudo de algumas pesquisas relacionadas ao ensino
e à aprendizagem das transformações geométricas no plano, em especial, a
simetria ortogonal. Apresentamos, ainda, a questão de pesquisa, os objetivos,
a especificidade do estudo e, por fim, sua justificativa e relevância.
No terceiro capítulo, realizamos um estudo ecológico sobre a simetria
ortogonal, cujo objetivo principal foi o estudo das condições de existência
desse objeto matemático em um sistema de ensino público. Para isso,
realizamos estudos nos documentos curriculares oficiais, tanto no contexto
nacional quanto no contexto estadual e análise de livros didáticos.
No quarto capítulo, apresentamos o quadro teórico utilizado na pesquisa,
em que optamos por utilizar a Teoria das Situações Didáticas no sentido de
Brousseau (1997) e de Margolinas (2002; 2004) associada ao quadro dos
Paradigmas Geométricos propostos por Parzysz (2001; 2006).
O quinto capítulo trata da metodologia e procedimentos metodológicos
adotados na pesquisa. Nele, foi realizada uma breve apresentação da maneira
como a Engenharia Didática e o modelo de reflexão sobre a prática de Schön
(1995; 2000) serão aplicados neste trabalho. Apresentamos, também, a
caracterização da escola pesquisada e o perfil dos professores, sujeitos da
pesquisa.
38
No sexto capítulo, trataremos dos procedimentos iniciais de
experimentação, cujo foco é a prática docente relacionada ao ensino de
geometria, por meio da análise de um questionário aplicado aos professores e
da análise dos mapas conceituais sobre simetria por eles construídos e
discutidos durante encontros na escola.
No último capítulo, apresentamos o estudo experimental, que está
dividido nas seguintes subseções: análise a priori do conjunto de atividades
que compõem a sequência didática; experimentação 1; experimentação 2;
experimentação 3; a visão dos professores, sujeitos da pesquisa, durante e
após a investigação sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal.
Na experimentação 1, apresentamos a aplicação da sequência didática
aos professores, a análise a posteriori e a análise do questionário discursivo
respondidos por esses docentes sobre as atividades que compõem a
sequência didática. Na experimentação 2, descrevemos a aplicação da
sequência didática, analisada e modificada pelos professores, a alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental e a análise a posteriori dos registros fornecidos
pelos discentes. Na experimentação 3, fazemos uma análise do olhar dos
docentes sobre as respostas de algumas duplas de alunos do 8º ano à
sequência didática. Por fim, apresentamos as considerações e perspectivas
futuras para o estudo.
O trabalho aqui apresentado está inserido no grupo de pesquisa
Processo de ensino e aprendizagem em Matemática (PEA-MAT) e desenvolve-
-se na linha de pesquisa “A matemática curricular e formação de professores”
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esta pesquisa está atrelada a
um projeto maior, que envolve uma parceria entre a PUC-SP e a PUC-Peru,
desenvolvida colaborativamente pelos grupos de pesquisa PEA-MAT e o
Didactica de las Matemáticas (DIMAT) que pertence ao Instituto de
Investigación para La Enseñanza de las Matemáticas (IREM) da PUC-Peru,
Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP).
39
CAPÍTULO 1
UM ESTUDO SOBRE O OBJETO MATEMÁTICO
TRANSFORMAÇÕES GEOMÉTRICAS NO PLANO
Nosso objetivo, neste capítulo, é fazer um estudo sobre o objeto
matemático transformações geométricas no plano, mais especificamente sobre
simetria ortogonal. Inicialmente, apresentamos alguns elementos do
desenvolvimento histórico e epistemológico das transformações geométricas,
seguido pela importância do grupo das transformações geométricas na
classificação das geometrias e, por fim, os motivos que nos levaram a escolher
a simetria ortogonal como objeto matemático para pesquisa.
1.1 Um breve histórico sobre as transformações geométricas
O desenvolvimento da geometria tem como um dos fundamentos a
necessidade de entender o mundo que nos cerca. Entre outras hipóteses,
Boyer (1996, p. 05) declara que, “o desenvolvimento da geometria pode
também ter sido estimulado por necessidades práticas de construção e
demarcação de terras, ou por sentimentos estéticos em relação à configuração
e ordem”. Esse autor, ainda exemplifica essa preocupação estética ao citar a
presença de padrões geométricos em potes, cestas e tecidos que expressavam
exemplos de congruência e simetria.
Ainda sobre esta busca de padrões Fedorov2, um cristalógrafo que
estudou grupos espaciais cristalográficos, afirma, segundo Galiulin (2003), que
o cérebro humano sempre busca por regularidade em tudo e que isso é
2 Evgraf Stepanovich Fedorov foi um russo matemático, cristalógrafo e mineralogista. Ele escreveu o clássico "A simetria de sistemas regulares de figuras", em 1891, que continha a primeira catalogação dos 230 grupos espaciais, também de forma independente classificada pelo matemático alemão Schönflies e o geólogo inglês William Barlow.
40
compreensível, porque um homem pode ser orientado em sua busca para um
trabalho adequado, considerando apenas materiais agrupados regularmente.
Contudo, a falta de documentos faz com que não seja possível, segundo Boyer
(1996), acompanhar a evolução da matemática desde um desenho até um
teorema que nos seja conhecido.
De acordo com esse mesmo autor, “os elementos de Euclides, não só
constituem a mais antiga obra matemática a chegar até nós, mas o texto mais
importante e influente de todos os tempos” (BOYER, 1996, p. 82). Segundo
Jahn (1998), a geometria euclidiana fez uma amálgama entre uma descrição
teórica da realidade e o desenvolvimento do raciocínio puramente dedutivo; ela
ainda afirma que isto vai dominar durante todo o período compreendido entre a
antiguidade e a aparição dos métodos axiomáticos modernos. A autora refere-
se, especificamente, à geometria de Hilbert no final do século XIX. Justificando
essa extensa espera, Boyer (1996, p.74) afirma que “durante esse longo
intervalo a maioria dos matemáticos considerou a exposição de Euclides como
logicamente satisfatória e pedagogicamente aceitável”.
Ao fazer uma descrição de como são tratados os objetos geométricos
nos Elementos de Euclides, Jahn (1998) declara que as primeiras definições
fornecidas por Euclides têm como referência uma percepção dos objetos da
realidade, e que, portanto, seu papel é fazer um suporte concreto, uma
referência ao senso comum para expor os fundamentos da geometria. A autora
ainda afirma que Euclides não investigou como conferir a essas definições um
status operatório no sentido de explicar sua axiomática.
Sobre a noção de figura, Vitrac3 citado por Jahn (1998) enfatiza que as
declarações de Euclides sugerem que uma figura é determinada sob três
critérios: sua posição, sua forma e sua grandeza. Segundo ela, esse autor
acrescenta que a figura não se reduz à sua fronteira (à superfície que a contém
e de que faz parte), mas que isto significa que uma figura é um objeto
constituído do espaço incluído entre as figuras. A autora afirma que “os objetos
da geometria de Euclides são as figuras, tratadas de maneira estática e
consideradas em sua globalidade como formas. Elas são constituídas de
3 Vitrac, B. (1990). Euclide d’Alexandrie, “Les Eléments” traduits du texte de Heiberg (vol. I). Introduction générale de M. Caveing, livre I-IV: Géométrie Plane. Paris: PUF.
41
elementos particulares tais como pontos e linhas.” (JAHN, 1998, p.27-28,
tradução nossa)
A visão das figuras geométricas, levando em conta seus elementos
particulares e a possibilidade de essas serem transformadas por meio da
manipulação de suas propriedades, foi estudada na geometria projetiva. Na
próxima seção apresentamos a motivação para tais estudos.
1.1.1 A Geometria projetiva e seus precursores
Sobre o aparecimento e a evolução da noção de transformações
geométricas propriamente ditas, Jahn (1998, p.32, tradução nossa) pontua que
“os problemas de representação dos objetos no espaço e os problemas de
sombra foram preocupações dos pintores e artistas do Quattrocento4 que os
conduziu ao método das transformações e à geometria projetiva”. Segundo
Eves (2002), famílias aristocráticas italianas patrocinavam artistas e poetas que
estudavam trabalhos dos mestres gregos e italianos antigos. Dentre os artistas
do renascimento podemos citar Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo
(1475-1564), Benvenuto Cellini (1500-1571), Filippo Brunelleschi (1377-1446),
Dürer (1471-1528) e Sandro Botticelli (1445-1510). As obras do Renascimento
têm, como características principais, a simetria, a preocupação com a harmonia
e com o equilíbrio, seja ela uma pintura ou uma escultura. Procurando dar mais
realismo e naturalidade para suas obras, os artistas introduziram conceitos
como ponto de fuga5 e perspectiva.
Em sua obra “Aperçu historique sur l’origine et le développement des
méthodes en géométrie”, Chasles (1793-1880) cita como os trabalhos de
Desargues (1591-1661), principalmente sua obra sobre seções cônicas,
influenciou com aspectos da geometria projetiva alguns artistas do
Renascimento. Este autor afirma que,
Desargues se ocupou das aplicações da Geometria para as artes, e tratou este assunto em relação ao homem superior, trazendo, com uma exatidão frequentemente desconhecida dos artistas, os princípios da universalidade que fazem reconhecer nele [em seu
4 Foram eventos culturais e artísticos do século XV na Itália que marcaram o início do renascimento. 5 O ponto de fuga é a convergência de todas as linhas que representam planos perpendiculares à tela para um ponto produzindo um efeito real de profundidade. Como exemplo, podemos citar a observação dos trilhos de um trem que dá a origem a um ponto na linha do horizonte.
42
trabalho] pesquisas de pura geometria (CHASLES, 1875, p.84, tradução nossa).
Um dos trabalhos mais conhecidos de Desargues, e que deu início aos
estudos que levaram à geometria projetiva é o teorema que traz o seu nome,
apresentado juntamente com sua demonstração por Coxeter e Greitzer (1967)
da seguinte forma:
Teorema de Desargues: Se dois triângulos estão em perspectiva6 em
relação a um ponto e se as retas suportes de seus pares de lados
correspondentes se cortam, então os três pontos de concorrência são
colineares.
Figura 2. Representação do Teorema de Desargues
Fonte: Figura elaborada pela autora, baseada em Coxeter e Greitzer (1967)
Demonstração: Dados dois triângulos PQR e P’Q’R’ em perspectiva em relação
a um ponto O, tal que as retas suportes de seus pares de lados
correspondentes se encontram nos pontos D, E, F (Figura 2), queremos
mostrar que esses pontos são colineares. A demonstração aqui apresentada
depende do Teorema de Menelau7 enunciado como “os pontos E, F, D
6 Segundo Coxeter e Greitzer (1967) duas figuras de um mesmo tipo estão em perspectiva por um ponto se essas figuras compostas por pontos e linhas puderem ser colocadas em correspondência de tal forma que pares de pontos correspondentes são unidos por retas concorrentes. 7 Menelau de Alexandria (70 d. C – 140 d. C) foi astrônomo e matemático grego que viveu, possivelmente, em Alexandria, Egito e Roma.
43
pertencentes às retas suportes dos lados YZ, XZ e XY, do triângulo XYZ, são
colineares, se somente se, 1YD
XD
XF
ZF
ZE
YE”.
Figura 3. Representação do Teorema de Menelau
Fonte: Figura elaborada pela autora, de acordo com Coxeter e Greitzer (1967)
Vamos aplicar o Teorema de Menelau, para as três tríades de pontos
colineares DR’Q’, EP’R’ e FQ’P’ nos lados dos triângulos OQR, ORP e OPQ
respectivamente.
Fazendo separadamente as representações do Teorema de Menelau
para os triângulos citados temos:
Figura 4. Representações do Teorema de Menelau para os triângulos OQR, ORP e OPQ, respectivamente.
Fonte: figura elaborada pela autora
Para cada uma das representações da figura 4, obtemos referentes aos
triângulos OQR, ORP e OPQ as relações apresentadas a seguir:
I) 1'
'
'
'
OQ
OR
RR
RQ
QD II) 1
'
'
'
'
RR
OR
OP
PP
PE
RE III) 1
'
'
'
'
PP
OP
OQ
QF
PF
44
Após multiplicar as três equações consecutivamente e efetuarmos um
número modesto de cancelamentos obtemos:
1QF
PF
PE
RE
RD
QD, portanto, D, E, e F são colineares como queríamos.
Outro teorema, que Chasles classifica como famoso é o teorema da
involução de Desargues, enunciado por Ayres (1967) como:
Teorema: Se um quadrângulo simples é inscrito numa cônica C e se
uma linha k, que não passa por nenhum dos seus vértices, é tal que intersecta
C em dois pontos, estes pontos são um par recíproco na involução8 sobre k
determinada pelo par de lados opostos do quadrângulo.
Figura 5. Involução de Desargues
Fonte: Elaboração da autora, segundo Ayres (1967)
A importância desses teoremas deve-se ao fato de servirem de
fundamentos da teoria das cônicas de Desargues e de serem a origem de
numerosas propriedades sobre as cônicas. Essas propriedades surgiram,
muitas vezes, por meio de transformações geométricas. Segundo Jahn (1998),
essas transformações eram utilizadas como ferramentas de demonstração, na
medida em que elas permitiram transferir as propriedades sobre os objetos
geométricos mais complexos que aqueles aos quais eram iguais. Ela ainda
afirma que o estudo das transformações pretendia fazer aparecerem as
propriedades geométricas invariantes no momento das transformações. Porém,
como vimos na apresentação do teorema de Desargues, as transformações
8 Pares de pontos de uma reta cujo produto das distâncias a um ponto fixo é constante.
(BOYER, 1996, p. 248)
45
utilizadas foram somente as projeções e elas permaneceram no contexto das
cônicas.
Jahn (1998) ainda declara que as transformações geométricas como um
objeto podem ser entendidas em vários níveis. De acordo com a autora, esse
objeto pode ser considerado como as relações entre duas configurações
geométricas ou entre duas partes de uma mesma configuração, o que pode ser
observado quando analisamos figuras decorrentes da simetria ortogonal. Os
conceitos aparecem, assim, ligados ao contexto das figuras e se trata em
determinado momento de uma transformação de figuras.
A seguir, discorreremos sobre alguns métodos de transformações de
figuras.
1.1.2 A gênese das primeiras transformações
Sobre a evolução dos métodos para a transformação de figuras, Chasles
(1875) cita, como ponto de partida, as numerosas maneiras de originar cônicas
sobre o plano, uma pela outra, além de dois processos que, segundo ele, se
tornaram muito frequentes nas artes. Esse autor argumenta que o primeiro
processo empregado por Stévin (1548-1667) e Mydorge (1585-1647) consistia
em fazer crescer, a uma proporção constante, a ordenada de uma curva, e o
segundo, em fazer girar essas ordenadas em torno de seus pés, a uma mesma
grandeza angular, de forma que permaneçam paralelas entre si.
A seguir, construímos um exemplo que ilustra o primeiro método, e outro
para ilustrar o segundo método de transformações de figuras descrito acima.
Figura 6. Exemplo ilustrativo para métodos de transformação de figuras
Fonte: Figura elaborada pela autora
46
Chasles (1875) ainda declara que esses processos foram utilizados
separadamente ou combinados de diversas maneiras, por Gregoire de St
Vicent (1584 -1667) para transformar o círculo em elipse.
Ainda sobre os métodos para transformações de figuras, de acordo com
Chasles (1875), o caso mais simples de um método de deformação de figuras
tomou extensão entre as mãos de La Hire (1640-1718) e Newton (1643-1727).
Esse autor ainda declara que Poncelet (1788-1867), no seu “tratado das
propriedades projetivas”, alargou as figuras para três dimensões, apresentando
na segunda parte daquela obra, um dos métodos mais poderosos da geometria
moderna intitulada “Deformação Homográfica”.
1.1.3 A importância da geometria de Descartes para a evolução das
transformações geométricas
No que tange à geometria de Descartes (1596 - 1650), ao falar sobre os
métodos criados por Cavalieri (1598 – 1647), Fermat (1601 - 1665), Roberval
(1602 – 1675) e Gregoire de St Vincent, Chasles (1875, p. 95, tradução nossa)
pondera que “a concepção de Descartes, somente procurou os meios de
aplicar estes métodos de uma maneira uniforme e geral, ela foi a introdução
necessária aos novos cálculos de Leibniz (1646 - 1716) e de Newton”.
Ainda sobre as contribuições da geometria analítica com seus processos
algébricos às transformações geométricas, Chasles (1875, p.196, tradução
nossa) questiona: “não seria natural, introduzir, paralelamente, na geometria
pura transformações análogas que atingissem diretamente as figuras propostas
e as suas propriedades?” O autor ainda observa que
a geometria de Descartes, além de seu caráter eminente de universalidade, distingue-se da geometria antiga por uma relação especial que merece ser notada: é que ela estabelece, por uma única fórmula, as propriedades gerais de famílias inteiras de curvas, de modo que, se não se podem descobrir, por meio dela, algumas propriedades de uma curva particular, pode-se prontamente saber propriedades iguais ou semelhantes para uma infinidade de outras. Até então, ninguém havia estudado propriedades particulares de algumas curvas, tomadas uma a uma, e de maneiras distintas, de modo a não estabelecer qualquer ligação entre as diferentes curvas (CHASLES, 1875, p. 95, tradução nossa).
47
Nesse sentido, a geometria de Descartes fornece uma nova visão aos
métodos de transformações de figuras desenvolvidos até então.
Piaget e Garcia (1987, p.108) argumentam que “o intervalo de tempo
desde Desargues e Pascal até Poncelet e Chasles é o período durante o qual
se consolida a geometria analítica, tendo como ponto de apoio as
transformações algébricas. As transformações realizam-se através de
equações”.
Segundo as observações acima, podemos notar que a geometria
analítica exerceu um importante papel na evolução dos conceitos relativos às
transformações geométricas. Foi com o trabalho de Felix Klein e Sophus Lie
que esses conceitos foram formalizados com o rigor matemático.
1.1.4 Os trabalhos de Felix Klein e de Sophus Lie
Apesar de os estudos sobre como tornar as propriedades das figuras
invariantes por métodos de transformações terem sido alvo de árduo trabalho
por mais de dois séculos, foi nas mãos de Felix Klein (1849-1925) e Sophus Lie
(1842-1899) que conceitos complexos como a aplicação da teoria de grupos à
geometria se desenvolveram. O resultado dos esforços desses dois
pesquisadores culminou com a proposição da teoria de grupos de
transformações, resultando na classificação das geometrias.
Felix Klein tornou-se conhecido por meio do Programa Erlanger,
considerado como um marco importante na Matemática do século XIX. Birkhoff
e Bennett (1988) avaliam que a estreita amizade entre Felix Klein e Sophus Lie,
no momento do Programa Erlanger, desempenhou um importante papel na
vida acadêmica de ambos. De acordo com Birkhoff e Bennett (1988), os
trabalhos de Klein e Lie eram complementares; exemplificam esse fato,
dizendo que “Klein chamou a atenção para aspectos globais básicos da
geometria, ao passo que os teoremas de Lie eram puramente locais.” (p. 146,
tradução nossa).
Segundo Eves (2002), Klein nasceu em Dusseldorf, estudou em Bonn,
Gottingen e Berlin e foi assistente de Julius Plücker (1801-1868), que teve forte
influência sobre o seu trabalho. De acordo com Boyer (1996, p.379) “a
generalidade do conceito de grupo é evidente, Klein numa célebre aula
inaugural em 1872, quando se tornou professor em Erlanger, mostrou como
48
podia ser aplicado, como um meio conveniente para caracterizar as várias
geometrias que tinham aparecido durante o século”.
Na visão de Coxeter e Greitzer (1967), Felix Klein propôs a classificação
das geometrias, de acordo com os grupos de transformações, isto sem alterar
conceitos, axiomas e teoremas da geometria euclidiana, considerada, nesse
caso, como uma das muitas geometrias.
Como este trabalho tem como foco principal a formação continuada de
professores, acreditamos ser de grande importância o conhecimento desses
sobre o contexto matemático em que a simetria ortogonal está inserida.
Faremos na próxima seção um breve estudo sobre o grupo das
transformações9.
1.2 O grupo das Transformações Geométricas
Inicialmente, definiremos transformação geométrica. Começando pela
palavra transformação, segundo o dicionário Aurélio, da Língua Portuguesa, do
ponto de vista matemático transformação é “qualquer operação em que se
modifica um ente matemático ou que se mapeia uma configuração em outra”
(FERREIRA, 2010, p. 2069). Já na Matemática definimos: uma transformação
T no plano é uma aplicação :T , isto é, uma correspondência que
associa, a cada ponto P do plano, outro ponto PTP 1 do plano, denotado
sua imagem por T. Seja um conjunto de transformações sobre o plano .
Uma transformação :T diz-se injetiva, quando pontos P e Q
distintos em têm sempre imagens distintas, isto é, QTPT . Ou, ainda, T
é injetiva, quando QTPT implicar em P=Q.
Uma transformação T diz-se sobrejetora quando todo ponto 1P em é
imagem de pelo menos um ponto P, ou seja, para todo 1P em existe P em
, tal que 1PPT . Sendo assim, uma transformação T que é,
simultaneamente, injetiva e sobrejetiva é dita bijetiva.
9 Utilizamos como referências para este estudo as obras “isometrias” de Lima (1996) e “Um
Estudo Geométrico das transformações Elementares” de Alves e Galvão (1996).
49
Uma transformação bijetiva :T possui uma inversa :1T ,
isto é, para todo ponto 1P em , sua imagem 1
1PT
pela imagem inversa
1T é o único ponto P de , tal que 1PPT . Se 1T , dizemos que
possui inversa.
Finalmente, definiremos uma transformação geométrica como uma
aplicação bijetiva do plano nele mesmo. Sendo assim, se F é uma figura (um
conjunto de pontos do plano) definiremos T(F)F como conjunto das
imagens dos pontos de F. Observemos que dessa última e das definições
anteriores deriva que toda transformação geométrica possui inversa.
A transformação geométrica :I , definida por I(P) = P para todo
ponto P, é chamada transformação identidade. Se I , dizemos que
possui identidade.
Dadas duas transformações geométricas :, 21 TT , a composta
:12 TT é a aplicação que associa a cada ponto P do plano o ponto
PTT 12 . Portanto, por definição, PTTPTT 1212 , ou seja, 12 TT
consiste em aplicar primeiro 1T e em seguida 2T .
Proposição: A composição de duas transformações geométricas é
também uma transformação geométrica.
De fato, vamos mostrar inicialmente que a composição de duas
transformações geométricas é sobrejetora. Sejam 1T e 2T duas
transformações geométricas sobrejetoras em . Temos que mostrar que dado
P , PPTT 12 . Observando que 2T é sobrejetora, dado P
existe P tal que PPT 2 . Notando que 1T também é sobrejetora,
temos que dado P existe P tal que .1 PPT Logo. PPTT 12
Portanto, 12 TT é sobrejetora.
Mostremos agora que 12 TT é injetora. Suponhamos
QTTPTT 1212 ,então, por definição QTTPTT 1212 , como 2T é
injetora, temos que QTPT 11 . Da mesma forma, como 1T é injetora P=Q.
Logo, 12 TT é injetora.
50
Como a composição 12 TT está em , ou seja, 12 TT é uma
transformação geométrica quando 1T e 2T também o são, dizemos que é um
conjunto fechado com relação à composição.
Dizemos que o conjunto das transformações geométricas possui a
propriedade associativa se, para quaisquer elementos 1T , 2T e 2T em ,
satisfaz a lei associativa 321321 TTTTTT . Com efeito, para todo
P temos PTTTPTTTPTTT 321321321
PTTT 321 .
Observamos que os conjuntos importantes de transformações
geométricas são aqueles que apresentam identidade, inversa e satisfazem,
simultaneamente, as propriedades de fechamento e associatividade. Tais
conjuntos são chamados de grupos de transformações geométricas.
A importância de tais conjuntos, segundo Eves (2002), deve-se ao fato
de Felix Klein definir geometria como “o estudo das propriedades de um
conjunto S que permanecem invariantes quando se submetem os elementos de
S às transformações de algum grupo de transformações ” (p. 606).
Segundo Coxeter e Greitzer (1967, p. 80, tradução nossa), “a geometria
euclidiana é caracterizada particularmente pelo grupo das transformações
semelhantes. Um caso particular importante das transformações semelhantes
são as transformações isométricas”. Esse autor, ainda declara que as
isometrias10 nos fornecem a ideia familiar de congruência, já que duas figuras
são congruentes se, e somente se, uma pode ser transformada em outra por
meio de uma isometria.
O breve estudo histórico realizado ajudou-nos a compreender que a
simetria ortogonal, apresentada como uma transformação geométrica no plano,
que está inserida em um conjunto com propriedades específicas (o grupo das
transformações) reveste o professor de uma série de conhecimentos
necessários à sua formação profissional. Esses conhecimentos possibilitam ao
professor utilizar a simetria ortogonal como ferramenta para estabelecer
relações entre vários conceitos geométricos, além de auxiliá-lo na busca de
10 Uma isometria no plano é uma transformação no plano :f tal que
qfpfdqpd ,, , qp, .
51
estratégias de ensino, cujo objetivo seja tornar a aprendizagem, de fato, efetiva
e significativa para o aluno.
Além disso, o estudo sobre o surgimento e desenvolvimento das
transformações geométricas mostrou a necessidade de investigar a
importância das criações humanas (artísticas), principalmente, no ensino da
simetria ortogonal. O estudo expôs, ainda, a importância de se observar o
enfoque dado nos livros didáticos e as relações matemáticas propostas,
quando se leva em conta o ensino de transformações geométricas no plano, de
forma específica, sobre o ensino da simetria ortogonal. Expôs, também, a
relevância de se estudar, por meio de um ambiente de ação e reflexão, a
maneira como o professor faz tais relações.
1.3 A escolha da Simetria Ortogonal como objeto matemático a
ser estudado
Nesta seção, apresentamos nossa motivação para a escolha da simetria
ortogonal11 como objeto matemático para compor nossa pesquisa. Do ponto de
vista geométrico, definimos a simetria ortogonal (também designada como
simetria axial ou reflexão) da seguinte forma: Seja P um ponto do plano que
não pertence à reta r, a imagem de P por esta transformação é um ponto P’ tal
que r seja a mediatriz do segmento PP’. Por outro lado, se P pertence à reta r,
a imagem de P, P’ é o próprio ponto P.
Figura 7. Ponto P’ simétrico do ponto P em relação à reta r.
Fonte: Figura elaborada pela autora
11 Utilizamos como referência as obras “Um estudo geométrico das transformações elementares” de Alves e Galvão (1996), “El grupo de las isometrías del plano” de Pastor e Rodrígues (1995), além de “Coordenadas no plano com soluções dos exercícios” de Lima (2002).
52
Em resumo, a simetria ortogonal tem como característica as seguintes
propriedades:
Conservação do alinhamento (a imagem de uma reta é uma reta);
Conservação do paralelismo (quando duas retas r e t são paralelas,
suas imagens r’ e t’ também são paralelas);
Conservação de distâncias (A imagem de um segmento s é um
segmento s’ de mesmo comprimento);
Conservação da área (se uma figura F tem área de medida a sua
imagem F’ também tem área de medida a);
Conservação da medida dos ângulos e, portanto, da ortogonalidade.
Com o objetivo de situar a simetria ortogonal nas transformações
geométricas planas, construímos a Figura 8, um esquema que leva em
consideração algumas das suas propriedades.
Figura 8. Transformações Geométricas no plano
Fonte: Figura elaborada pela autora
Essas características fazem das isometrias transformações especiais,
uma vez que as relações dessas com outros conteúdos de geometria podem
atribuir mais significado ao seu ensino, como exemplo, no caso da simetria
ortogonal, em que citamos a classificação de polígonos regulares. Esse foi um
53
dos motivos para escolhermos uma das isometrias no plano, em particular, a
simetria ortogonal para o nosso estudo. A escolha desse conceito se dá, ainda,
pela sua importância histórica e cultural, como apresentado anteriormente.
Além disso, como aponta Grenier (1988), a simetria ortogonal ocupa um lugar
privilegiado entre as transformações geométricas no plano. Segundo a autora,
a simetria ortogonal é uma isometria indireta, a partir da qual é possível deduzir
todas as isometrias do plano.
A seguir, apresentamos dois exemplos de composição de duas simetrias
ortogonais, o primeiro resultando numa rotação e o segundo numa translação.
Teorema: Sejam r e t retas concorrentes distintas do plano se
interceptando num ponto A e seja a medida de um dos ângulos orientados
da reta t para r. Então 2,ARSS tr , onde R(A, ) é a rotação de centro
A e ângulo e Sr , St são simetrias em relação às retas r e t.
Figura 9. Reflexão do ponto P com relação à reta t e do ponto P’ com relação à reta r
Fonte: Elaboração da autora, segundo Pastor e Rodrigues (1995)
Demonstração: Considere a Figura 9, na qual P é o ponto refletido com
relação à reta t, a imagem de P é P . A seguir, P é refletido com relação à
reta r a imagem P é P . Seja A o ponto de interseção entre as retas r e t;
observamos que existem dois pares de triângulos congruentes – os triângulos
PAD e ADP são congruentes pelo critério LAL (lado, ângulo, lado), pois por
construção PDPD , o lado AD é comum aos dois triângulos e
º90)()(
ADPmedADPmed . Portanto, temos que PÂPÂD D .
54
Por um argumento parecido, temos PÂÂEP E . Combinando essas
duas igualdades, temos
)PEÂÂEP()PDÂ(PÂDPÂPPPÂPPÂ , isto é,
2DÂEÂEP2P2DÂPÂ P . Como chamamos de , o ângulo entre t e r
mostramos que 2PPÂ . Logo: 2,ARSS tr .
Teorema: A composição de duas simetrias ortogonais com relação a
eixos de simetria paralelos produz uma translação na direção perpendicular
aos eixos de simetria por intermédio de uma distância igual a duas vezes a
distância entre os eixos.
Figura 10. Reflexão do ponto P com relação às retas r e s respectivamente
Fonte: elaborada pela autora, segundo Pastor e Rodrigues (1995).
Demonstração: Considere a Figura 10, na qual as retas r e s são
paralelas. Observe que P é o ponto refletido com relação à r, cuja imagem é
P . Observe ainda que P é o ponto refletido com relação à s, com imagem
P . Então, por construção, temos que PAPA e PBBP .
Sendo assim, ABBPPAPBBPPAPAPP 22 .
Portanto, chamando de
v o vetor AB2 perpendicular aos eixos r e s e
cujo módulo é duas vezes a distância entre os mesmos, temos que a
composição de duas simetrias ortogonais cujos eixos são paralelos é uma
translação.
A possibilidade de produzir todas as isometrias do plano foi mais uma
razão do nosso interesse pela simetria ortogonal como o objeto matemático
para nosso estudo.
55
Já destacamos anteriormente a importância da geometria analítica no
estudo das transformações de figuras planas. Do ponto de vista algébrico, para
definir a simetria ortogonal por meio de equações, devemos observar três
casos, em que consideramos um sistema de eixos ortogonais do plano
denotado por OXY:
1º) Quando o eixo OX coincide com a reta r (eixo de simetria), observamos
para cada ponto yxP , tem-se que 11,' yxPPSr , em que xx 1 e
yy 1 .
Figura 11. A simetria ortogonal em torno do eixo OX transforma P=(x, y) em P’=(x, -y).
Fonte: Elaboração da autora
2º) Quando a reta r passa pela origem O e forma um ângulo de medida com
o eixo OX. A simetria ortogonal Sr transforma o eixo OX no eixo OX1, obtido de
OX pela rotação de ângulo 2 e transforma o eixo OY no eixo OY1 , tal que a
medida do ângulo de OY para OY1 é 180º + 2 .
56
Figura 12. A simetria com relação à r leva OX em OX1 e OY em OY1
Fonte: Lima (2002, p. 152)
Considerando )1,0(),0,1( 21 ee os respectivos vetores unitários dos
eixos OX, OY e 21, ff os vetores unitários de OX1 e OY1 tais que:
212
211
.2cos.2
.2.2cos
eesenf
esenef
Observamos que a simetria ortogonal Sr é uma isometria que transforma, por
meio de uma mudança de coordenadas, o ponto P= (x, y) no ponto P1= (x1, y1)
tal que 211 yfxfP . Portanto, com o objetivo de representar o simétrico de
P=(x,y) em OXY, utilizamos uma mudança de coordenadas para obter
fórmulas que exprimam as coordenada de (x1, y1) de P no sistema OX1Y1 , em
função das coordenadas (x,y) de P no sistema original OXY. Substituindo as
equações obtidas para 1f e 2f na equação anterior obtemos,
212111 .2cos.2..2.2cos., eesenyesenexyx Logo, para a
simetria com relação à reta r do tipo axy temos as equações:
2cos.2.
2.2cos.
1
1
ysenxy
senyxx
57
Observando que a inclinação da reta r é a tangente trigonométrica do ângulo
que essa reta forma com o eixo OX, ou seja, tga , podemos obter por
meio da tangente do arco metade, as fórmulas trigonométricas
2
2
1
12cos
a
a
e 21
22
a
asen
de tal forma que para a simetria com relação à r temos as equações
ya
ax
a
ay
ya
ax
a
ax
.1
1.
1
2
.1
2.
1
1
2
2
21
22
2
1
em que 1x e 1y são expressas em termos de x, y e a.
3º) Quando r é a reta de equação baxy que tem inclinação tga e
corta o eixo OY no ponto de ordenada b, a simetria ortogonal com relação à
reta baxy transforma P= (x, y) em P1= (x1, y1) com etapas
intermediárias P’= (x’, y’) e P”= (x”, y”).
Figura 13. A simetria com relação à reta baxy leva P em P1, com etapas
intermediárias de P’ a P’’.
Fonte: Lima (2002, p. 152)
Para a obtenção das equações para simetria ortogonal Sr onde r é a reta
de equação baxy e tga é utilizada uma translação vertical com
relação ao vetor –v= (0, -b), cujo objetivo é recair no caso anterior, isto é,
58
fazendo a simetria de P’=(x, y-b) para P”=(x”,y”) com relação a uma reta r’
do tipos axy e tga estabelecendo, assim, as equações
2cos.2."
2.2cos."
bysenxy
senbyxx
Uma segunda translação na direção do vetor v= (0, b), é utilizada para
obter o ponto P1=(x1,y1) e estabelecer as equações
bbysenxy
senbyxx
2cos.2.
2.2cos.
1
1
que são as coordenadas do ponto P1=(x1,y1), obtido do ponto P=(x,y), pela
simetria ortogonal com relação a reta r do tipo baxy com tga .
Exprimindo 1x e 1y em termos de x, y e a como fizemos no caso
anterior obteremos
bbya
ax
a
ay
bya
ax
a
ax
.1
1.
1
2
.1
2.
1
1
2
2
21
22
2
1
A apresentação da simetria ortogonal no quadro algébrico permitiu-nos
observar as conexões entre os aspectos geométricos e algébricos desse
conteúdo, além da possibilidade de estabelecer relações com outros conteúdos
de matemática.
Finalizamos este capítulo observando que estudos franceses descrevem
para as transformações geométricas três níveis de significação, isto é,
Nível 1 - A transformação é considerada como uma relação entre duas configurações geométricas ou uma relação entre duas partes de uma mesma configuração (a característica funcional é ausente). Nível 2 - A transformação é considerada como uma aplicação pontual do plano sobre ele mesmo (se trata do objeto funcional). Nível 3 - A transformação é considerada com uma ferramenta funcional, a fim de colocar em evidência os invariantes ou para fins de resolução problema. (LABORDE E GRENIER, apud JAHN 1998, p. 60; tradução nossa)
Além desses, um 4º nível evidenciado nos estudos de Jahn (1998)
também foi detectado por nós. Segundo essa autora “a transformação é
considerada como o elemento de um grupo (as transformações se compõem e
59
se comparam, elas formam o grupo das transformações).” (p.60, tradução
nossa)
Esse breve estudo sobre o objeto transformações geométricas no plano,
em particular sobre a simetria ortogonal, ajudou-nos a conhecer melhor o
objeto matemático escolhido para nossa investigação, o que auxiliou na
compreensão das escolhas que os professores fazem, quando levamos em
conta o ensino da simetria ortogonal e da dificuldade de que mudanças em
suas práticas docentes sejam implementadas.
Este estudo serviu de apoio, para analisar como os livros didáticos
introduzem e desenvolvem o conteúdo simetria ortogonal, o tratamento dado a
esse objeto, quando levamos em consideração sua definição e a aplicação de
suas propriedades.
No próximo capítulo, desenvolvemos a problemática deste trabalho,
iniciada por meio da revisão de literatura que nos forneceu elementos para
formular a questão de pesquisa e nos ajudaram a traçar os objetivos com vistas
a responder as possíveis causas.
60
61
CAPÍTULO 2
A PROBLEMÁTICA
Neste capítulo, discorremos sobre algumas pesquisas relacionadas com
nosso tema de investigação, tanto na França quanto no Brasil. Na França, por
que nesse país, há uma especial atenção para o ensino e a aprendizagem das
transformações geométricas, devido à importância dada a ele nos programas
curriculares e, no Brasil por ser o país em que nossa investigação ocorreu.
Com relação às pesquisas francesas, escolhemos especificamente as que
tratam sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal. Com relação às
pesquisas brasileiras, buscamos a seleção por meio do banco de dados da
CAPES12. Utilizamos como recurso, nessa revisão de literatura, a construção
de mapas conceituais13 com o objetivo de estabelecermos conexões entre as
informações. Apresentamos ainda, neste capítulo, a questão de pesquisa, os
objetivos de nossa investigação e, finalmente, a relevância e especificidade de
nosso estudo.
2.1 Algumas pesquisas relacionadas ao ensino e à aprendizagem
de transformações geométricas no plano
Muitas são as pesquisas relacionadas ao ensino e à aprendizagem das
transformações geométricas no plano, dentro e fora do Brasil. No Brasil, muitas
12 Para essa busca, foi utilizada inicialmente como palavra-chave simetria ortogonal, como
foram obtidos poucos trabalhos, ampliamos nossa busca para transformações geométricas. 13 Mapa conceitual é a representação de conceitos e suas relações através de ligações hierárquicas descritas por palavras que determinam sentenças ou proposições válidas, estabelecendo, assim, significado dentro de certo domínio de conhecimento. (NOVAK apud OKADA, 2008, p.44).
62
das investigações sobre o ensino e a aprendizagem das transformações
geométricas no plano provêm de dissertações de mestrado. Apesar de os
estudos serem direcionados para transformações geométricas no plano, em
particular as isometrias, há uma forte inclinação dos estudos focando
especificamente a simetria ortogonal. Tais pesquisas são compostas de
estudos diagnósticos, nos quais se busca entender como funcionam os
processos de ensino e de aprendizagem, além de propostas alternativas com
vistas à melhoria da qualidade do ensino desse conteúdo.
A atenção dada, na França, ao ensino e à aprendizagem da simetria
ortogonal, também reflete no número de investigações sobre esse objeto.
Discorreremos, neste trabalho, sobre algumas pesquisas francesas que
abordam o tema sob os pontos de vista do ensino e da aprendizagem, como os
estudos de Grenier (1988), Jahn (1998), Miyakawa (2005), Lima (2006), Bulf
(2008) e Chesnais (2009).
2.1.1 Pesquisas francesas relacionadas ao ensino e à aprendizagem de
simetria ortogonal
Grenier (1988) realizou a construção e o estudo do funcionamento de
um processo de ensino sobre a simetria ortogonal no sexto ano. O objetivo de
seu estudo era verificar a possibilidade de elaborar um conjunto de situações
susceptíveis de desafiar as concepções errôneas sobre simetria ortogonal que
persistiam entre os alunos após o ensino. Sua pesquisa foi fundamentada na
Teoria das Situações Didáticas de Brousseau e na Teoria dos Campos
Conceituais de Vergnaud. Ela utilizou como metodologia de pesquisa a
engenharia didática clássica. Inicialmente, a autora fez um estudo das
concepções dos alunos14 com relação a algumas variáveis didáticas, cujo
objetivo era conhecer melhor essas concepções, antes e após o ensino da
simetria ortogonal em sala de aula.
Sobre as condições de evolução dos conhecimentos dos alunos a partir
das situações-problema propostas, a autora afirma que seu estudo mostrou
que essa evolução é possível, mas em diversos níveis, segundo as
propriedades do conceito colocado em jogo na situação. Em particular,
14 Na seção justificativa e relevância da pesquisa serão relatados detalhes deste estudo.
63
verificou-se uma hierarquia na disponibilidade e aprendizagem dos alunos nas
quatro propriedades da transformação escolhidas para estudo (posição,
ortogonalidade, equidistância e incidência), precisamente nessa ordem. Por
fim, Grenier (1988) avalia que um processo somente é comunicável se ele
comporta, não apenas um estudo das concepções dos alunos, mas também
um estudo das representações do professor, de um lado seu conhecimento do
conteúdo em jogo e do outro, o de seus alunos, seus conhecimentos anteriores
e seu modo de construir conhecimento.
Jahn (1998) investigou a passagem das transformações de figuras às
transformações pontuais, por intermédio de uma sequência de ensino com o
software Cabri-géomètre, aplicada a uma classe do 1º ano do Ensino Médio.
No quadro teórico utilizado, a pesquisadora levou em consideração aspectos
da Teoria das Situações Didáticas, em particular o conceito de milieu, proposto
por Brousseau, a noção de quadros e de mudanças de quadros no sentido de
Douady.
A autora utilizou como metodologia de pesquisa a Engenharia Didática:
seus objetivos eram analisar alguns critérios ou condições para integrar às
situações didáticas que podem favorecer a instalação de um aspecto dual
(global/pontual) das transformações, mostrar ao longo do trabalho, que o
software Cabri-géomètre II pode contribuir para renovar a didática
global/pontual, além de permitir colocar em evidência a relação entre as
concepções estática e dinâmica nos problemas de construção de figuras.
Sobre os resultados de sua pesquisa, Jahn (1998) avalia que seu estudo
evidenciou as dificuldades na noção de transformação geométrica como
aplicação pontual. Segundo a autora, essas dificuldades residem no centro de
um conjunto complexo de conhecimentos em diferentes quadros, aspectos e
apreensões de um ponto de vista epistemológico. A autora declara que sua
pesquisa permitiu, ainda, mostrar as dificuldades dos estudantes em se
separarem do nível espaço-gráfico para poder teorizar sua compreensão do
conceito de transformação, na medida em que isto implicasse para eles
resolver numerosos problemas que permaneciam implícitos no ambiente papel
e lápis. Foi observado, ainda, que a presença do software minimiza algumas
das dificuldades enfrentadas nas situações em que utilizavam papel-lápis.
64
Miyakawa (2005), em sua pesquisa, realizou um estudo da relação entre
conhecimento e prova, que teve como objeto matemático a simetria ortogonal.
Nesse estudo a autora buscou responder a questões como: qual conhecimento
ou quais aspectos do conhecimento sobre um objeto matemático é / são
mobilizados pelos alunos no momento da construção de uma prova e qual
relação existe entre o conhecimento e a prova. Foi escolhido como ferramenta
metodológica e ferramenta de análise do conhecimento o modelo ck¢, proposto
por Balacheff; para a análise de prova, o modelo de Toulmin e os resultados
das investigações de Duval. Os resultados dessa pesquisa indicam, a partir da
análise do funcionamento do conhecimento na prova, a evidência de uma
distância entre geometria pragmática e geometria teórica a qual não é fácil de
preencher.
Segundo Miyakawa (2005), sua pesquisa centrou-se no comportamento
dos alunos do terceiro ano do colégio (9º ano do Ensino Fundamental) e
mostrou que a construção geométrica não é suficiente, mas que ela
desempenha um papel importante no processo de aquisição desse
conhecimento. Por fim, o autor afirma que se trata de uma reorganização do
conhecimento na qual a questão de aprendizagem que supera essa distância
surge de forma legítima.
A pesquisa de Lima (2006) teve como finalidade estudar a forma como
os professores tomam suas decisões didáticas com o objetivo de levar os
alunos a avançarem na aprendizagem de um determinado conhecimento e os
elementos que influenciam essas decisões. Para isso, a autora fez um estudo
das concepções dos alunos do 4º ano do colégio (8º ano do Ensino
Fundamental) referentes ao objeto matemático simetria ortogonal. Foi utilizado
na pesquisa o modelo ck¢ de Balacheff, associado à Teoria das Situações
Didáticas. Com esse estudo, a autora revela ter sido possível construir um
dispositivo experimental para estudar as decisões didáticas tomadas pelos
professores.
Com relação aos resultados obtidos em sua pesquisa, Lima (2006)
declara que as experimentações aplicadas aos alunos mostraram que eles
obtêm melhores êxitos em problemas de reconhecimento, do que em
problemas de construção. Seus estudos confirmaram os resultados obtidos,
anteriormente, sobre o papel de certas variáveis didáticas, como a orientação
65
vertical e horizontal dos segmentos sobre a folha. Já as investigações feitas
com professores permitiram, segundo a autora, identificar vários elementos
que fundamentam suas decisões didáticas. Entre esses elementos foram
identificados: o conhecimento do currículo, o desempenho dos alunos, os seus
conhecimentos de matemática e suas concepções de ensino e aprendizagem.
Ela ainda afirma que é à luz desses conhecimentos que os professores
realizam o diagnóstico das concepções iniciais (Ci) dos alunos e fixam as
concepções alvo (Cj) de seu projeto de ensino. Ela sugere para investigações
posteriores as seguintes questões: Como distinguir um caso de coabitação de
várias concepções diferentes, de um caso de evolução de uma concepção a
outra em cada sujeito? Ou ainda, quais são os tipos de problemas que
favorecem a passagem de uma concepção inicial Ci a uma concepção final Cj
(sendo Ci e Cj conhecidas) e como descrever estes problemas em termos de
variáveis didáticas?
O trabalho de pesquisa de Bulf (2008) foi um estudo dos efeitos da
simetria axial sobre a contextualização das isometrias planas e sobre a
natureza do trabalho geométrico no colégio (Ensino Fundamental). A
problemática central desse estudo é o papel desempenhado pela simetria axial
na aprendizagem de outras simetrias planas, tais como a simetria central e a
simetria de rotação. A autora fundamentou sua investigação na teoria dos
campos conceituais de Vergnaud e no quadro dos Paradigmas Geométricos e
dos espaços de trabalhos geométricos de Houdement e Kuzniak.
Segundo a autora, seu trabalho mostrou que a simetria axial poderia
desempenhar um papel de organizador na condução de um estudante ou de
um artesão. No caso do estabelecimento de ensino, a simetria axial pode ser
um controle da dialética GI - GII15, mas continua a demonstrar se tais
alternâncias de paradigmas são favoráveis ao desenvolvimento do pensamento
geométrico. A simetria axial também pode revelar-se como um obstáculo
cognitivo para alguns alunos por causa da proximidade de esquemas com a
simetria central. Sendo assim, a autora avalia que os resultados obtidos não
permitiram decidir entre dois polos: se a simetria axial desempenha um papel
de obstáculo ou de alavanca na aprendizagem de outras isometrias planas.
15 Mais adiante, faremos uma descrição do quadro dos paradigmas geométricos e, consequentemente, da dialética GI-GII.
66
Como proposta para estudos futuros, Bulf (2008) declara que seria
interessante estudar mais finamente o espaço de trabalho geométrico (ETG)16
pessoal dos professores, além considerar qual aspecto do conceito de simetria
parece ser o mais fundamental.
Chesnais (2009) fez um estudo sobre o ensino da simetria axial no 6º
ano; seu trabalho foi focado sobre as práticas de dois professores e as
atividades dos alunos. Segundo essa autora, são três os tipos de efeitos
diferentes relacionados à prática docente: os efeitos diferenciais de práticas
diferentes, a diferenciação das práticas dos professores, segundo os alunos, e
os efeitos diferenciais de uma mesma prática do professor, ainda segundo os
alunos. O quadro teórico utilizado foi uma abordagem dupla de didática e
ergonomia no sentido da teoria da atividade.
Com relação aos resultados, a autora afirma que seu trabalho colocou
em evidência as relações entre as práticas docentes e os resultados dos
controles dos alunos, ao percorrer as possíveis atividades. Foram observadas,
na prática dos dois professores, semelhanças e diferenças. As semelhanças
estão relacionadas às escolhas globais de conteúdos que surgem para a
maioria dos programas. Já com relação às diferenças, destaca-se a
variabilidade nos investimentos das margens de manobras deixadas aos
professores, às vezes, no que concerne aos cenários e às sequências.
A autora aponta algumas questões que ficaram para ser investigadas em
pesquisas futuras, no sentido de validar ou invalidar os resultados obtidos em
seus estudos. Seus argumentos para os estudos posteriores são: o número
restrito de professores participantes da pesquisa (apenas dois), a necessidade
de seu estudo ser confrontado com outros cenários como, por exemplo, de
uma engenharia didática e, por fim, a necessidade de investigar como uma
formação de professores influenciaria na prática de outros professores.
A seguir, apresentamos, na Figura 14, um mapa conceitual em que
buscamos fazer uma síntese das pesquisas apresentadas.
16 Segundo Houdement e Kuzniak (2006, p.184, tradução nossa) o termo espaço de trabalho geométrico é designado como ambiente organizado por e para o geômetra de maneira a articular de forma adequada três componentes: um conjunto de objetos, possivelmente materializados em um espaço real e local; um conjunto de artefatos que serão ferramentas e instrumentos na acepção do geômetra; um quadro teórico que pode ser organizado em um modelo teórico.
67
Figura 14. Mapa conceitual de algumas pesquisas francesas sobre simetria ortogonal
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools17
Na Figura 14, dividimos as pesquisas em dois blocos: no primeiro, os
sujeitos das pesquisas eram alunos, e o foco da investigação, a aprendizagem
desses mesmos alunos; no segundo, temos as pesquisas relacionadas às
práticas de professores.
Na maioria das pesquisas estudadas, mesmo quando os professores
não eram os sujeitos diretos de investigação, ficou clara a importância do papel
deles nos processos de ensino e de aprendizagem. Observamos ser esse o
principal elo de convergência entre tais estudos. O mapa conceitual
apresentado na Figura 15 mostra essa convergência.
17 De acordo com Okada (2008) Cmap Tools é um software gratuito, desenvolvido pelo IHMC – University of West Florida que permite construir, navegar, criar apresentações e compartilhar mapas conceituais de forma individual ou colaborativa. Disponível em http://cmap.ihmc.us/download.
68
Figura 15. A importância do papel do professor
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools.
Os estudos de Grenier (1988), Lima (2006), Chesnais (2009) e Bulf
(2008) chamam a atenção no sentido de sinalizarem para a necessidade de
investigações sobre o importante papel do professor em um processo de
ensino. Grenier (1988) defende um estudo sobre as representações do
professor, o que vai ao encontro de Lima (2006), ao apontar que, para tomar
decisões didáticas, o professor leva em conta elementos como seu
conhecimento matemático, o desempenho de seus alunos, seu conhecimento
do currículo e, por fim, suas concepções de ensino e aprendizagem.
Os estudos de Bulf (2008) apontam que as próprias representações do
professor influenciam no desenvolvimento de seu curso, alimentando seu
conteúdo, e podem, portanto, ter um impacto sobre a aprendizagem dos
alunos. Jahn (1998) concebe o papel do professor como orientador, isto é, as
intervenções são voltadas, principalmente, para promover o debate, para
capacitar os alunos para explicarem algum argumento escolhido sobre seus
resultados, e fazer perguntas. Suas intervenções correspondiam a informações
sobre o saber em jogo e são desprovidos de efeitos contratuais, tanto quanto
possível.
Por fim, Chesnais (2009) afirma que seu estudo sobre a prática de dois
professores levou a observar semelhanças (principalmente quanto à escolha
do conteúdo em vistas do currículo) e diferenças (é a maneira pessoal de o
69
professor conduzir os processos de ensino e de aprendizagem em sua aula, e
um exemplo é a escolha de recursos didáticos diferenciados).
Os estudos franceses sobre o ensino e a aprendizagem da simetria
ortogonal nos forneceram elementos para compreender, em parte, algumas
das dificuldades que cercam o ensino e a aprendizagem desse objeto
matemático, levando a conhecer algumas propostas de intervenção junto a
essas dificuldades, com vistas a minimizá-las, além de entender o papel do
professor nesses estudos.
As contribuições dessas pesquisas, neste trabalho, estão diretamente
relacionadas à experimentação, por exemplo, utilizamos como referência os
estudos de Grenier (1988) e Lima (2006) para investigar a influência das
variáveis didáticas nelas identificadas, no ensino e na aprendizagem da
simetria ortogonal.
Por outro lado, existe a necessidade de buscarmos, em estudos
brasileiros, indícios para compreender a realidade que cerca o ensino e a
aprendizagem das transformações geométricas planas, especificamente a
simetria ortogonal.
2.1.2 As pesquisas brasileiras relacionadas ao ensino e à aprendizagem
de transformações geométricas
A busca no banco de tese da CAPES, com a palavra-chave
transformações geométricas, resultou em um número expressivo de pesquisas.
Porém, interessou-nos principalmente as investigações que estavam
relacionadas ao ensino das transformações geométricas no plano, fosse por
meio de formação de professores, análise de livros didáticos ou propostas de
sequências de ensino. Dentre algumas pesquisas brasileiras, discorremos
sobre os estudos de Mabuchi (2000), Vaz (2004), Accioli (2005), Luz
(2007),SILVA (2010), Medeiros (2012) e Rodrigues (2012).
Mabuchi (2000), em sua pesquisa, fez um estudo sobre transformações
geométricas, no qual abordou a trajetória de um conteúdo ainda não
incorporado às práticas escolares, nem à formação de professores. Essa
pesquisa teve como foco um estudo de caso desenvolvido com professores
que tinham formação em ciências e complementavam sua formação para obter
a habilitação em Matemática. A autora afirma que, mesmo com experiência no
70
ensino de Matemática, esses professores apresentavam procedimentos
observados em pesquisas feitas com alunos do Ensino Fundamental. Ainda
segundo Mabuchi (2000, p.192),
foi observado que as escolhas de diferentes variáveis como posição do eixo de simetria, complexidade da figura, tipo de papel e percepção relativa do eixo-objeto favoreceram ou dificultaram a resolução dos problemas fazendo surgir concepções e erros semelhantes aos dos alunos de outras pesquisas.
Vaz (2004), em seu estudo, avaliou o uso das isometrias do software
Cabri-Géomètre como recurso no processo de prova e demonstração numa
investigação, cujos sujeitos foram alunos das 7ª e 8ª séries (8º e 9º anos) do
Ensino Fundamental. Ao fazer uma avaliação sobre a pesquisa, a autora afirma
que “o desenvolvimento de estratégia envolvendo um balanço apropriado entre
os campos pragmático e conceitual, pelos alunos é muito difícil” (VAZ, 2004,
p.148). Ela ainda observa que o Cabri-Géomètre auxiliou no movimento
empírico/conceitual, à medida que os alunos perceberam as generalidades de
suas construções. Com relação à sequência de atividades, a autora avalia que
seus resultados indicaram a importância da existência de um equilíbrio
apropriado entre construções guiadas e as construções a serem realizadas
pelos alunos.
Em sua pesquisa, Accioli (2005) realizou um estudo exploratório com
alunos da Educação Básica, cujo foco era a robótica e as transformações
geométricas. O objetivo dessa pesquisa era investigar se um ambiente de
robótica poderia funcionar como um micromundo de aprendizagem
matemática, no sentido de possibilitar a construção de novos significados para
a simetria. A primeira experimentação, chamada “sondagem”, mostrou que
alunos da 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental I relacionavam a simetria em
particular à reflexão, como imagens refletidas no espelho.
Já com alunos das 5ª e 7ª séries do Ensino Fundamental II, quando
submetidos a atividades mais complexas, foi detectado que suas respostas
destacavam a propriedade de congruência. Segundo a autora, os resultados
obtidos nos dois grupos de alunos estão compatíveis com a perspectiva de
71
Vergnaud18. A autora afirma que, ao desenvolver atividades no ambiente
informatizado, Robolab19, ficou provado que a situação proposta provocou a
construção de ideias matemáticas, a partir de conexões particulares
relacionadas àquela situação. Ela ainda aponta que “a notação particular do
ambiente robotizado organizou e expôs o pensamento e o entendimento do
aluno de maneira diferenciada e pertinente à mídia utilizada.” (ACCIOLI, 2005,
p.116).
Finalizando seu trabalho essa autora argumenta que um ambiente
robotizado pode funcionar como um micromundo de aprendizagem matemática
e favorecer a compreensão de propriedades do conceito de simetria.
Luz (2007) efetuou um estudo sobre o ensino de transformações
geométricas numa perspectiva histórica da reforma da Matemática Moderna
aos dias atuais. A pesquisa documental foi realizada com o objetivo de
examinar, com base em livros didáticos e em documentos de orientação
curriculares como guias, propostas e parâmetros curriculares, o ensino de
transformações geométricas no período do movimento da Matemática Moderna
e nos períodos posteriores. Com relação aos resultados, a autora destaca o
caráter excludente não só de conteúdos, cujo principal exemplo são as
transformações geométricas, mas também a exclusão do enfoque dado ao
ensino desse conteúdo, em determinados períodos.
A autora ressalta que, apesar de sua pesquisa restringir-se aos livros
didáticos publicados no Estado de São Paulo, com relação ao ensino de
transformações geométricas, levando em conta a análise desses livros
didáticos, observaram-se três períodos: O primeiro, em que o ensino do objeto
está vinculado à estrutura matemática da qual ele faz parte; o segundo, em que
a abordagem de isometrias e homotetia estão ausentes, e o terceiro que é o
estabelecimento de conexões entre a Matemática e mundo físico.
A investigação conduzida por Silva (2010) avaliou o uso reconstrutivo do
erro na aprendizagem de simetria axial numa abordagem a partir de estratégias
18 Crianças desenvolvem sua noção de reflexão baseadas nas experiências do seu cotidiano porque lidam com diversas formas e objetos simétricos [...] na medida em que as crianças são submetidas a exercícios mais complexos, diferentes níveis de entendimento são alcançados e propriedades são percebidas e destacadas. (ACCIOLI, 2005, p.114) 19 O Robolab é um sistema composto de diversos dispositivos mecânicos e eletrônicos e uma linguagem de programação, com os quais o aluno constrói modelos que podem ser programados para executar tarefas de maneira autônoma. (ACCIOLI, 2005, p.26)
72
pedagógicas com o uso de tecnologias. A pesquisa realizada com alunos do 5º
e 6º anos de Ensino Fundamental foi dividida em duas etapas; na primeira, as
atividades propostas foram realizadas no ambiente papel e lápis, na segunda, a
sequência de atividades foi reconstruída e aplicada, levando-se em conta os
erros observados na primeira etapa. Como resultado, o autor argumenta que
através de análise feita na literatura, foram observados alguns entraves na
incorporação dos conteúdos de geometria na escola e cita como principais
causas: “problemas na formação de professores, desconhecimento dos
conteúdos de geometria e o excesso de formalizações, dentre outros (SILVA,
2010, p. 132)”. Ele ainda declara que, nas atividades da primeira etapa, as
dificuldades na utilização dos instrumentos (régua, compasso) para realizar as
construções foram as limitações que proporcionaram apenas validações
empíricas. A utilização do ambiente informatizado na segunda etapa
proporcionou aos alunos avanços nas construções, uma vez que os recursos
oferecidos oportunizaram correção imediata, validações e provas.
Em seu trabalho, Rodrigues (2012) avaliou as potencialidades e
possibilidades do ensino das transformações geométricas numa pesquisa
realizada com professores dos anos iniciais e alunos do 6ºano do Ensino
Fundamental. A autora constatou, através de um estudo histórico, que os
Parâmetros Curriculares Nacionais foram um incentivo na introdução desse
conteúdo nos livros didáticos. Contudo, essa introdução, na maioria das vezes,
é feita de forma tímida e, às vezes, as transformações geométricas sequer são
exploradas, como aponta o resultado da análise feita pela autora em coleções
de livros didáticos, aprovados pelo PNLD20, no triênio 2011-2013.
Rodrigues (2012) utilizou como instrumento de coleta de dados uma
série de sequências didáticas elaboradas por ela, tanto para o estudo com
professores, quanto na investigação com alunos. A autora argumenta que,
apesar das dificuldades apresentadas pelas professoras com relação a termos
de nomenclatura, realização e exploração espacial, elas identificaram as
potencialidades do conteúdo, já que reconheceram as relações desse tema
com outros trabalhados na sala de aula. Com relação aos alunos, a autora
destaca que a aplicação de um conjunto de atividades, construído por ela,
permitiu observar outro modo de pensar matemático e que isto refletiu na 20 Programa Nacional do Livro Didático.
73
continuidade do trabalho em Matemática com outros conteúdos, no decorrer do
ano letivo.
Medeiros (2012) efetuou um estudo com Geometria Dinâmica no ensino
de transformações geométricas numa experiência com professores da
Educação Básica. A autora tinha por questão de pesquisa investigar de que
forma professores de Matemática se apropriam do software Geogebra para
trabalhar com mosaicos e transformações geométricas. Por meio de uma
sequência didática, realizou, então, sob a forma de oficinas, um processo de
formação de professores, no qual afirma terem sido proporcionadas às
professoras a familiarização com o software e a revisão de conceitos básicos
de geometria.
Nesse sentido, a utilização do software proporcionou ainda uma
reflexão, fazendo com que as participantes da pesquisa repensassem suas
práticas docentes, frente ao uso de tecnologia informática. Sobre a sequência
didática, Medeiros (2012) afirma que sua aplicação e validação tiveram como
principal objetivo a disponibilização de um produto didático que tratasse de
transformações no plano, utilizando como recurso a geometria dinâmica.
Finalizando, a autora argumenta que, através da geometria dinâmica, foi
oportunizada aos participantes da pesquisa a distinção entre desenho e figura,
por meio da construção e a mobilização de diferentes registros semióticos no
sentido de Duval (2011). 21
Apresentaremos, na Figura 16, uma síntese de nosso estudo sobre
algumas pesquisas realizadas no Brasil sobre as transformações geométricas
no plano. Os sentidos das setas na Figura 16 indicam os trabalhos que tinham
como foco o ensino e a aprendizagem das transformações geométricas no
plano, além de expor, ao mesmo tempo, as relações dessas investigações com
as linhas de pesquisa: tecnologia, formação de professores e análise do
currículo e de livros didáticos.
21 DUVAL, Raymond. Ver e ensinar a matemática de outra forma. São Paulo: Proem, 2011.
74
Figura 16. Algumas pesquisas brasileiras sobre transformações geométricas no plano
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools
Após o estudo e a análise das pesquisas citadas na Figura 16,
observamos a necessidade de identificar quais os seus pontos de
convergência. Destacamos que as pesquisas brasileiras, aqui apresentadas,
têm como foco a investigação histórica da introdução e evolução das
transformações geométricas no currículo brasileiro, a análise de livros
didáticos, a elaboração e análise de sequências didáticas aplicadas na classe,
ou, ainda, propostas de sequências de ensino, utilizando recursos tecnológicos
aliados a softwares educacionais como Geogebra, Cabri Géomètre, entre
outros. Dentre os pontos em comum dos trabalhos analisados, destacamos,
também, nas pesquisas brasileiras, uma preocupação especial com o papel do
professor no processo de ensino e de aprendizagem.
Essa revisão da literatura foi essencial no decorrer da pesquisa. As
análises de livros didáticos, apresentadas por alguns autores dessas
pesquisas, nos forneceram uma ideia de como as transformações geométricas
planas foram apresentadas por um espaço de tempo considerável. A maneira
de expor as transformações geométricas em livros didáticos teve forte
influência na forma como os professores concebem esse objeto matemático, o
que transparece por meio das respostas dadas por eles, nas diversas fases de
experimentação.
As pesquisas brasileiras e francesas, apresentadas nas Figuras 14 e 16,
sobre o ensino e a aprendizagem das transformações geométricas, e de forma
75
específica, sobre a simetria ortogonal, serviram de fundamento para
formularmos nossas questões de pesquisa e nossos objetivos.
Os vários usos destinados ao termo concepção, no campo científico, nos
levaram a ponderar, na próxima seção, o sentido que esse termo tomará neste
trabalho.
2.2 Caracterização do termo concepção
No decorrer de nossa revisão de literatura, percebemos a necessidade
de realizar um estudo sobre as concepções de professores e seus alunos
sobre a simetria ortogonal. Observamos que o termo concepção adquiriu, ao
longo do tempo, vários significados no campo da Educação Matemática, por
isso, definiremos em qual sentido o termo “concepção” será usado em nossa
pesquisa.
Grenier (1988) utiliza, em sua tese de doutorado, a palavra concepção
com relação ao conhecimento de um aluno, relativamente a um conceito
(matemático). Essa mesma autora afirma “que uma concepção é sempre um
domínio não vazio, isto é, existe um conjunto de situações-problema que ela
resolve. Além disso, se seu domínio de validade é grande, essas concepções
serão mais estáveis em alunos. Tornam-se um verdadeiro conhecimento.” (p.3,
tradução nossa)
Ponte (1992, p.185) argumenta que, de forma geral, “as concepções
formam-se num processo simultaneamente individual (como resultado da
elaboração sobre a nossa experiência) e social (como resultado do confronto
das nossas elaborações com as dos outros)”. Outra abordagem para a
definição do termo concepção é dada por Artigue citada por Almouloud (2007,
p.154), em que a autora
define uma concepção como um ponto de vista local sobre um dado objeto, objeto caracterizado por situações que lhe servem de ponto de partida (situações ligadas à aparição da concepção ou para as quais ela constitui um ponto de vista particularmente bem adequado); situações de representações mentais, icônicas, simbólicas; propriedades invariantes, técnicas de tratamento, métodos específicos (implícitos ou explícitos).
76
Já Brousseau (1997, p.17, tradução nossa) define concepção como
“cada forma organizada, mas particular de tratar um conceito matemático”.
Nesse sentido, o autor afirma que a passagem de um conhecimento a outro
dentro da mesma concepção não é difícil (assimilação). Porém, a transição de
uma concepção para outra é mais difícil, porque exige uma mudança de
repertório significativa. Seu aprendizado requer uma reorganização do
conhecimento antigo (acomodação).
Em nossa pesquisa, vamos utilizar o termo concepção, levando em
consideração sua definição segundo Brousseau (1997) e Artigue, já que
acreditamos que, ao propor a resolução e análise de situações-problema a
professores e a resolução dessas situações a alguns de seus alunos, indícios
de suas concepções individuais poderão ser identificados. Por outro lado,
discussões em grupo, tanto com relação aos professores, quanto com relação
aos alunos poderão interferir nessas concepções, como sinaliza Ponte (1992).
A questão de pesquisa
A motivação apresentada na introdução deste trabalho, o breve estudo
histórico sobre o surgimento e evolução das transformações geométricas, e
nossa investigação sobre outros estudos relacionados ao nosso tema, tanto na
França quanto no Brasil, nos levaram a formular a seguinte questão de
pesquisa:
− Como um ambiente de ação e reflexão constituído nos horários
destinado as Atividades complementares (AC) pode influenciar nos saberes
docentes de professores de Matemática do Ensino Fundamental II sobre a
simetria ortogonal?
Temos por objetivo geral investigar como um ambiente de ação e
reflexão – que envolve professores de Matemática do Ensino Fundamental II –
interfere nos saberes docentes desses profissionais quando realizam a pré-
análise e a pós-análise, reflexões sobre a pré-análise e a pós-análise de uma
sequência didática pré-elaborada, aplicada a alunos desses professores.
Nossos objetivos específicos são:
Identificar e analisar as concepções de professores, sujeitos da
pesquisa, sobre o ensino e aprendizagem da simetria ortogonal;
77
Identificar quais são as concepções de alunos desses professores
do Ensino Fundamental II, referentes à simetria ortogonal;
Estudar por meio de documentos curriculares e análise de livros
didáticos as organizações praxeológicas22, acerca da simetria
ortogonal, no intuito de compreender a realidade que cerca o
ensino da simetria ortogonal;
Propor aos professores a pré-análise e pós-análise de uma
sequência didática pré-elaborada, aplicada aos seus alunos,
sobre a simetria ortogonal, com a finalidade de compreender
como esse processo interfere na prática desses docentes;
Confrontar numa ação coletiva a pré-análise da sequência
didática realizada pelos professores e a pós-análise dos dados
obtidos no momento da experimentação com os alunos.
Para alcançar esses objetivos, propusemos aos professores, sujeitos da
pesquisa, criar um ambiente de ação e reflexão, no qual eles agissem, por
meio da resolução, análise e aplicação a alunos do Ensino Fundamental II,
sobre um conjunto de atividades que compunham uma sequência didática pré-
elaborada sobre a simetria ortogonal. Os docentes, por meio de debates,
refletiram coletivamente sobre essas ações. Ressaltamos que esse processo
reflexivo envolveu várias idas e voltas, em diferentes circunstâncias, sobre o
mesmo conjunto de atividades relacionadas à simetria ortogonal. Essa
sequência didática tinha, como característica principal, a proposta de atividades
que visavam estudar os conflitos relacionados à aplicação das propriedades da
simetria ortogonal, uma vez que os argumentos sobre os procedimentos de
resolução deveriam ser explicitados.
Levantamos, como hipótese, que por meio de um ambiente de ação e
reflexão que envolve a resolução, pré-análise, aplicação a alunos, pós-análise
e discussão de resultados, relacionados a um conjunto de atividades proposto
em uma sequência didática pré-elaborada, cujo objetivo é o ensino e a
22 Almouloud (2007, p. 123) citando Chevallard afirma que organizações praxeológicas associada a um saber matemático são de duas espécies: matemáticas e didáticas. As organizações matemáticas referem-se à realidade matemática que se pode construir para ser desenvolvida em uma sala de aula e as organizações didáticas referem-se à maneira como se faz essa construção.
78
aprendizagem da simetria ortogonal, permitiria aos professores, sujeitos da
pesquisa, avaliar, por meio de reflexões, sua prática docente. Essa avaliação,
leva em consideração saberes docentes como: conhecimentos sobre os
objetos matemáticos e suas relações com outros objetos (internos e externos à
matemática), conhecimentos sobre o currículo e o papel dos objetos
matemáticos nele contidos, conhecimentos sobre as potencialidades de seus
alunos, seus conhecimentos didáticos dos objetos. Temos, por hipótese, ainda,
que esse processo reflexivo pode influenciar nesses saberes docentes,
provocando alterações sobre a prática docente.
Nos itens 2.3 e 2.4, discutiremos a especificidade, justificativa e
relevância de nosso estudo.
2.3 Especificidade de nosso estudo
Ao realizarmos estudos sobre outras pesquisas que tratam das
transformações geométricas no plano e, em específico, a simetria ortogonal,
tanto em pesquisas brasileiras quanto francesas, identificamos a existência de
investigações, cujo foco é a formação de professores em exercício. Algumas
tratam de estudos sobre a prática dos professores Lima (2006), Chesnais
(2009); outras da formação continuada de professores Mabuchi (2000),
Rodrigues (2012) e Medeiros (2012). Observamos que essas últimas se
limitaram a observar qual foi a influência do processo de formação sobre os
conhecimentos tanto matemáticos quanto didáticos dos professores. Contudo,
deixam lacunas sobre a influência do processo de formação sobre a prática
docente e a sua consequência.
O estudo que propomos se diferencia desses, justamente pela pretensão
de investigar como um processo de intervenção, que envolve ações e reflexões
junto a professores do Ensino Fundamental II, pode influenciar na construção
de conceitos geométricos, mais especificamente, de conhecimentos/saberes
relacionados com a simetria ortogonal, por parte de seus alunos, cujo foco seja
um estudo sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal.
Identificamos, porém, nos trabalhos dos autores citados, alguns
elementos que contribuíram para a construção e o desenvolvimento de nossa
pesquisa. No estudo de Lima (2006) sobre a tomada de decisão de
79
professores, os elementos que esses levam em conta no momento de construir
seu curso; nas observações de Chesnais (2009), as semelhanças e diferenças
nas práticas de dois professores; no estudo efetuado por Mabuchi (2000), as
dificuldades de incorporar as transformações geométricas às praticas
escolares; na investigação de Rodrigues (2012) com professores e alunos do
6º ano, quanto às potencialidades e possibilidades do ensino de
transformações geométricas.
2.4 Justificativa e relevância de nosso estudo
Para dar direcionamento à pesquisa, decidimos realizar uma primeira
investigação com um grupo de professores de Matemática em formação, de
uma universidade estadual da Bahia, com a finalidade de fazer um estudo
preliminar acerca das concepções de docentes da Educação Básica sobre a
noção de simetria ortogonal. Para tanto, utilizamos como referência os estudos
de Grenier (1988) sobre as concepções de alunos franceses com relação à
simetria ortogonal. Para investigar tais concepções, Grenier (1988) propôs uma
série de situações, nas quais era solicitado aos alunos que traçassem à mão
livre figura simétrica com relação a uma reta, como pode ser visto na Figura 17:
Figura 17. Situações propostas por Grenier
Fonte: Grenier (1988, p.20)
No Quadro 1, apresentamos as variáveis didáticas estudadas e uma
síntese das concepções detectadas por Grenier (1988):
80
Quadro 1. Variáveis didáticas e concepções detectadas por Grenier (1988)
Variáveis didáticas Concepções detectadas
A interseção da figura com o
eixo de simetria;
A concepção da simetria como transformação de
um semiplano em outro semiplano (delimitado
pelo eixo) é revelada pelas dificuldades que
provoca a interseção da figura com o eixo. O que
parece mais intervir é o local da figura com
relação a esses dois semiplanos.
As direções do eixo de simetria e
dos elementos que compõem a
figura objeto;
A simetria axial transforma uma figura em outra
isométrica, do outro lado do eixo situado sobre
uma reta horizontal ou vertical.
A posição da figura objeto em
relação ao semiplano delimitado
pelo eixo de simetria na folha;
A imagem de um segmento vertical (horizontal) é
um segmento de mesma direção na folha.
O tipo de papel (branco ou
quadriculado) e sua influência
sobre os procedimentos e
respostas dos alunos.
Os itens sobre papel quadriculado não são mais
bem sucedidos que aqueles sobre o papel
branco, isto é, o papel quadriculado induz a levar
em conta os pontos particulares da figura.
Fonte: Elaborado pela autora de acordo com Grenier (1988)
A pesquisa de Mabuchi (2000), realizada no Brasil com professores, e os
estudos de Lima (2006), realizados na França com alunos, sobre o estudo de
tais variáveis, corroboram os resultados obtidos por Grenier (1988). Sobre sua
investigação Mabuchi (2000, p.192) argumenta que ela revelou que “muitos dos
docentes apresentaram procedimentos semelhantes aos assinalados em
pesquisas feitas com alunos do Ensino Fundamental”. Com essa motivação,
construímos e aplicamos um instrumento de coleta de dados, cujo objetivo de
algumas das questões era observar se as concepções detectadas por Grenier
(1988), em seu estudo com alunos, também seriam observadas por nós com
relação a professores de Matemática, em formação.
O grupo investigado constava de nove professores que cursavam a
licenciatura em Matemática do Plano de Nacional de Formação de Professores
da Educação Básica (PARFOR). Desses, apenas cinco responderam as
questões relacionadas com a simetria ortogonal, e a análise de duas dessas
questões está publicada nos anais do XI Encontro Nacional de Educação
81
Matemática. Apresentamos, a seguir, uma síntese de nossa análise dessas
duas questões relacionando-as às variáveis didáticas elencadas com as
concepções por nós observadas.
Quadro 2. Síntese dos resultados de uma investigação preliminar
Variáveis didáticas Síntese de nossa análise
A interseção da figura com o eixo
de simetria;
Acreditamos que o fato de o eixo de simetria ser
oblíquo, e a figura-objeto cortar esse eixo, tenha
adicionado um grau de dificuldade maior à
situação proposta e evidenciado outra concepção
detectada em estudos anteriores, realizados com
alunos, ou seja, a concepção da reflexão como
transformação de um semiplano em outro
semiplano (delimitados pelo eixo).
As direções do eixo de simetria e
dos elementos que compõem a
figura objeto;
Com relação à posição do eixo de simetria, não
houve dificuldade, quando ele tinha direção
vertical ou horizontal à folha.
Já quando o eixo de simetria era oblíquo e não
tinha a mesma direção da figura-objeto
(segmento), apenas um professor apresentou a
solução correta.
A posição da figura objeto em
relação ao semiplano delimitado
pelo eixo de simetria na folha;
Percebemos que, quando o eixo de simetria é
oblíquo em relação à folha e paralelo à figura
(segmento de reta), o êxito prevalece.
O tipo de papel (branco ou
quadriculado) e sua influência
sobre os procedimentos e
respostas dos alunos.
Observamos nas resoluções de quatro dos cinco
professores investigados procedimentos de
contagem sobre as linhas horizontais ou verticais,
cujos procedimentos são falsos quando o eixo de
simetria é oblíquo.
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Silva e Almouloud, (2013)
Os resultados dessa investigação preliminar reforçaram aqueles
apresentados por Grenier (1988) e fortalecidos por Silva e Almouloud, quando
afirmam que
observamos nas respostas dos professores uma tendência a conservar na figura imagem a mesma direção da figura-objeto, isto é,
82
a figura imagem será paralela à figura inicial. Outra propriedade levada em conta pelos professores é que a figura imagem estará do outro lado do eixo de simetria, a mesma distância ao eixo que a figura inicial. Não foi uma constante observável nas respostas dos professores a ortogonalidade. (SILVA; ALMOULOUD, 2013, p.12)
Os resultados desse estudo preliminar nos forneceram perspectivas no
que diz respeito às concepções de professores sobre o ensino de simetria
ortogonal, na busca de compreender como um processo de formação de
professores influencia na passagem de uma concepção inicial a uma
concepção final, relacionada à simetria ortogonal.
Realizaremos, no próximo capítulo, um estudo sobre a simetria ortogonal
à luz da ecologia do didático, com a intenção de estudar alguns elementos da
realidade que cercam os processos de ensino e de aprendizagem de simetria
ortogonal.
83
CAPÍTULO 3
UM ESTUDO SOBRE A SIMETRIA ORTOGONAL
À LUZ DA ECOLOGIA DO DIDÁTICO
Neste capítulo, utilizamos a noção de Ecologia do Didático para fazer um
estudo do ponto de vista didático sobre a simetria ortogonal com o objetivo de
entender como esse conteúdo se configura no sistema de ensino brasileiro.
Acreditamos que tal estudo passe pela análise dos referenciais curriculares,
sua efetiva presença em livros didáticos, numa discussão sobre a simetria
ortogonal e as condições de sua existência no sistema de ensino.
3.1 A simetria ortogonal numa problemática ecológica
A noção de transposição didática introduzida por Chevallard é definida
como sendo a transformação do saber científico para o saber a ensinar. Ao
fazer uma análise sobre os processos de transposição didática e sua
teorização Chevallard (1994) avalia que a inserção da problemática ecológica
trouxe consigo uma enxurrada de questões, impulsionando uma verdadeira
desconstrução da realidade. Segundo esse mesmo autor,
os ecologistas distinguiram, tratando-se de um organismo, seu habitat e nicho. Para dizer em uma linguagem deliberadamente antropomórfica, o habitat é de alguma sorte um endereço, lugar de residência do organismo. No nicho estão as funções que o organismo preenche, isto é, alguma forma de profissão que ele exerce. (CHEVALLARD, 1994, p.4, tradução nossa)
De acordo com Almouloud (2007), Chevallard fundamenta-se numa ideia
ecológica, buscando apoio em conceitos como nicho ecológico, habitat, cadeia
alimentar e ecossistema para explicar as relações entre os objetos e no estudo
84
do objeto em si mesmo (aqui, objeto toma diferentes sentidos como, por
exemplo: as instituições, os indivíduos e as posições que os indivíduos ocupam
nas instituições).
Segundo Artaud (1998, p.101, tradução nossa) “a problemática
ecológica apresenta-se como um meio de questionar o real”. Sendo assim, nós
nos propomos, neste capítulo, discutir as seguintes questões:
A simetria ortogonal faz parte das recomendações curriculares
para a Educação Básica?
Está presente nos livros didáticos? Como é apresentada e com
qual finalidade?
Esse conteúdo é efetivamente trabalhado na escola? Se sim, em
quais condições? Se não, quais são os motivos para ser deixado
de lado?
Essas questões nos aparecem como guia na perspectiva apontada por
Artaud (1988, p.101, tradução nossa) em que a problemática gira em torno de
procurar respostas para as seguintes perguntas: – O que existe, e por quê? –
O que não existe e por quê? – O que não existe poderia existir? Sobre quais
condições?
Ainda de acordo com Artaud (1998), a ecologia permite englobar o
domínio da realidade do didata de maneira adequada, munindo o pesquisador
de um meio de se desprender de certa ilusão de transparência e de ser atento
às dependências dos objetos que ele estuda.
3.2 A noção de ecossistema aplicada à simetria ortogonal
De acordo com Artaud (1998), a ecologia do didático foi inspirada na
ecologia biológica, desenvolvida pouco antes do fim do século XIX. Ela ainda
afirma que, no progresso dessa ciência, o conceito de ecossistema foi
particularmente importante. Paul Colinvaux, citado por Artaud (1998, p. 102,
tradução nossa) afirma que o
ecossistema descreve uma ideia, uma criação do homem na qual se define uma parcela de terra de tamanho conveniente e se estuda o
85
funcionamento da vida considerando o conjunto inerte e o vivo para ver como eles interagem. O conceito de ecossistema constitui uma maneira de observar a natureza. Artaud (1998, p. 102, tradução nossa)
Em outra perspectiva, Loreau (2010) pontua que um ecossistema
ecológico está preocupado, principalmente, com o funcionamento do sistema
como um todo, composto de organismos biológicos e seu ambiente abiótico;
seu ponto de partida é o fluxo de matéria ou energia entre os compartimentos
funcionais.
Artaud (1998) pontua que, seguindo o tipo de regime epistemológico ao
qual é submetido o saber matemático, os pesquisadores em Didática da
Matemática identificaram quatro tipos de ecossistemas:
Ecossistema do saber: no qual se produz a matemática;
Ecossistema didático escolar: no qual se estuda a matemática;
Ecossistema profissional: no qual se utiliza a matemática para
concretizar algumas tarefas;
Ecossistema noosferiano: no qual a matemática é manipulada para
fins de transposição.
Segundo essa mesma autora, os objetos matemáticos e os objetos
didáticos “vivem” em associação, desde que as organizações matemáticas
iniciaram suas “vidas”, por meio de pessoas ou instituições, por um processo
de estudo. Seguindo essa visão, um questionamento que surge é: – Como a
simetria ortogonal está presente em cada um desses ecossistemas?
No ecossistema do saber, observamos, por meio da breve investigação
histórica apresentada no início deste trabalho sobre as transformações
geométricas, a importância da simetria ortogonal na construção de
conhecimentos geométricos relacionados ao desenvolvimento dos métodos de
transformações de figuras, principalmente ao levar em conta a invariância de
propriedades geométricas.
Já no ecossistema didático escolar, percebemos, por intermédio de
nossos estudos sobre o ensino e a aprendizagem das transformações
geométricas, em especial a simetria ortogonal, que ainda existe grande
86
dificuldade para que esse conteúdo “sobreviva” no sistema de ensino brasileiro
como objeto matemático a ser estudado.
No ecossistema profissional, esse conhecimento pode ser utilizado,
principalmente na área técnica, uma vez que as transformações geométricas
podem ser incorporadas como linguagem básica nos programas de
computação gráfica. Por fim, no ecossistema noosferiano a simetria ortogonal
está presente com especial destaque nas recomendações e diretrizes
curriculares.
Por meio de nossos estudos, identificamos, comparando a coleção de
livros didáticos adotados na escola investigada (PNLD 2011-2013) e as
coleções analisadas (PNLD 2014-2016), que esse conteúdo vem ganhando
cada vez mais espaço nos livros didáticos, como podemos conferir nas seções
3.4.1 e 3.4.2. Acreditamos que, por esse motivo, seu ensino em sala de aula
vem sofrendo alterações diferentes daquelas apontadas em nossa revisão de
literatura, em que, na maioria dos estudos brasileiros, a simetria ortogonal
parecia ser ignorada pelos professores.
Na próxima seção, apresentaremos uma investigação acerca das
recomendações de conteúdos relacionados às transformações geométricas no
plano, em documentos curriculares oficiais. Tomamos como base o conceito de
“cadeia alimentar” que, segundo Loreau (2010, p.79, tradução nossa),
[...] descreve a rede de interações tróficas entre espécies, isto é, quem come quem, em um ecossistema. Uma vez que interações tróficas são ambas os veículos de transferência de energia e de materiais e uma das mais significativas maneiras pelas quais as espécies interagem, elas sempre têm ficado na confluência de comunidades e de ecossistemas ecológicos.
Observamos que, nesse estudo, espécies tomam o sentido de objetos
matemáticos. Sendo assim, procuramos os objetos que podem contribuir para
que a simetria ortogonal possa “viver” no sistema de ensino servindo-lhe como
fonte de energia. Nosso objetivo nesta seção é analisar, por meio de mapas
conceituais, como a simetria ortogonal se relaciona com outros conteúdos de
geometria nos documentos curriculares oficiais.
87
3.3 Os documentos curriculares oficiais e o ensino da simetria
ortogonal no ensino fundamental
A portaria nº. 5.872 de 15 de julho de 2011, da Secretaria Estadual de
Educação da Bahia, aprova o Regimento Escolar das unidades escolares
integrantes do sistema público estadual de ensino da Bahia. Esse regimento,
em seu artigo 35, estabelece que a organização curricular de tal sistema seja
construída a partir das orientações postas pelas diretrizes, parâmetros e
referenciais curriculares nos contextos nacional e estadual. Consideraremos
como documentos curriculares oficiais os descritos no referido artigo. Por isso,
os documentos de que trataremos neste trabalho serão os Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1997, 1998) e as Diretrizes
Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental do Estado da Bahia –
DCMEF (BAHIA, 1994).
A simetria ortogonal tem como habitat mais propício para “viver” no
Ensino Fundamental as transformações geométricas no plano. Faremos, a
seguir, um estudo numa visão ampla, por acreditar que os objetos, os quais
subsidiam sua “sobrevivência” no sistema de ensino, interagem dentro de um
ecossistema maior.
3.3.1 As transformações geométricas segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais
As transformações geométricas aparecem na seleção de conteúdos de
Matemática no Ensino Fundamental, dentro do bloco espaço e forma dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, 1998). Esse bloco trata,
particularmente, dos conceitos geométricos a serem ensinados, a justificativa
para sua presença no currículo é a de que,
Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o
mundo em que vive. (BRASIL, 1997, p.39).
88
Esses conceitos, na maioria das vezes, são ensinados de forma tímida e
dissociados de outros conteúdos matemáticos na escola. Em particular, no
ensino de conteúdos geométricos, as transformações geométricas ainda são
pouco exploradas, apesar da importância que lhes é conferida. A necessidade
e importância do ensino dos conteúdos de geometria, especificamente, das
transformações geométricas, são explicitadas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, desde o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Dentre os objetivos
para o ensino de Matemática, enunciados para o primeiro ciclo, relacionados às
transformações geométricas, destacamos:
Estabelecer pontos de referência para situar-se, posicionar-se e deslocar-se no espaço, bem como para identificar relações de posição entre objetos no espaço; interpretar e fornecer instruções, usando terminologia adequada. Perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço, identificando formas tridimensionais ou bidimensionais, em situações que envolvam descrições orais, construções e representações. (BRASIL, 1997, p. 47)
Para o segundo ciclo do Ensino Fundamental, destacamos os seguintes
objetivos de Matemática relacionados às transformações geométricas:
• Estabelecer pontos de referência para interpretar e representar a localização e movimentação de pessoas ou objetos, utilizando terminologia adequada para descrever posições. • Identificar características das figuras geométricas, percebendo semelhanças e diferenças entre elas, por meio de composição e decomposição, simetrias, ampliações e reduções. (BRASIL, 1997, p. 56)
Visando responder ao questionamento: – Qual é o ecossistema, em
termos de cadeia alimentar, no qual o professor pode buscar estabelecer inter-
-relações entre os conteúdos geométricos trabalhados em sua prática e a
noção de simetria ortogonal visando à construção de conhecimento por parte
dos alunos? –, construímos a Figura 18, elaborada a partir das orientações
propostas nos conteúdos conceituais e procedimentais para o 1º e 2º ciclos do
Ensino Fundamental apresentados nos PCN.
89
Figura 18. Integração entre os objetos envolvidos no desenvolvimento do pensamento geométrico para o 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental.
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools.
A finalidade desse mapa conceitual é estabelecer conexões entre as
recomendações de noções geométricas para serem trabalhadas no 1º ciclo e
no 2º ciclo do Ensino Fundamental. Por meio da Figura 18, podemos visualizar
a possibilidade de integração entre os conteúdos relacionados à geometria nos
dois primeiros ciclos do Ensino Fundamental, além da proposta de
continuidade entre esses conteúdos. Observamos que as orientações
curriculares sugerem que as noções geométricas, detectadas com base nas
experiências dos alunos e trabalhadas no primeiro ciclo, sejam utilizadas como
referência para o trabalho no 2º ciclo relacionado às transformações
geométricas.
A política pública23 de ampliar o tempo de duração do Ensino
Fundamental de oito para nove anos, incluindo nesse nível de ensino crianças
com seis anos, aumentou a possibilidade de que, ao ingressarem no primeiro
ciclo do Ensino Fundamental, a maioria dessas crianças traga consigo noções
informais sobre espaço e forma. De acordo com os PCN
é importante estimular os alunos a progredirem na capacidade de estabelecer pontos de referência em seu entorno, a situar-se no espaço, deslocar-se nele, dando e recebendo instruções, compreendendo termos como esquerda, direita, distância, deslocamento, acima, abaixo [...] (BRASIL, 1997, p.49).
23 Lei nº. 11274/2006 que regulamenta o Ensino Fundamental com duração de 9 anos.
90
Nos dois primeiros ciclos, fica explícita a orientação de utilização de
atividades que tenham como base a visualização e o reconhecimento. Por
intermédio de diferentes atividades – trabalhos com dobraduras, recortes ou
espelhos e que incluam a observação de obras artísticas – a noção de simetria
ortogonal pode ser introduzida com o objetivo de estimular o aluno a discernir
características entre figuras e a utilizar propriedades com a finalidade de
classificar e conceituar formas geométricas.
Nos 3º e 4º ciclos, a recomendação dos PCN com relação às
transformações geométricas é ainda mais específica, pois esclarece que:
deve destacar-se também nesse trabalho a importância das transformações geométricas (isometrias, homotetias) de modo que permita o desenvolvimento de habilidades de percepção espacial e como recurso para induzir de forma experimental a descoberta, por exemplo, das condições para que duas figuras sejam congruentes ou semelhantes. (BRASIL, 1998, p.51).
Com a finalidade de entender as conexões que podem ser feitas entre
os conteúdos de geometria e as transformações geométricas, dentre elas a
simetria ortogonal, elaboramos um mapa conceitual (Figura 19), a partir das
orientações propostas nos conteúdos conceituais e procedimentais,
apresentados nos PCN para o 3º ciclo do Ensino Fundamental.
Figura 19. Mapa conceitual sobre a relação entre os conteúdos que envolvem a simetria
ortogonal no 3º ciclo do Ensino Fundamental.
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools.
91
O mapa conceitual ilustrado na Figura 19 apresenta as conexões que
podem ser estabelecidas entre as transformações geométricas e outros
conteúdos de geometria no bloco espaço e forma, ao mesmo tempo que expõe
as correlações que podem ser estabelecidas com alguns conteúdos de outros
blocos. Ainda é possível observar nessa figura uma cadeia de objetos que
servem de “alimento” uns para os outros, no sentido de formar uma rede de
conhecimentos inter-relacionados. A forma de relacionar esses objetos vai
depender dos conhecimentos prévios dos alunos e dos tipos de situações-
-problema que o professor apresentará aos estudantes.
Para o 4º ciclo, os PCN orientam que sejam desenvolvidas “atividades
que permitam ao aluno perceber que, pela composição de movimentos, é
possível transformar uma figura em outra”. (BRASIL, 1998, p.86). Na figura 20,
apresentamos um esquema baseado nessas orientações, com o intuito de
destacar a rede de objeto que pode ser formada em torno da simetria
ortogonal.
Figura 20. Rede de objetos matemáticos em torno da simetria ortogonal
Fonte: Figura elaborada pela autora com auxílio da ferramenta Cmap Tools
O esquema foi construído com a finalidade de mostrar para quais
conteúdos a simetria ortogonal pode servir de “alimento” e aqueles que servem
de “alimentos” para ela. Observamos que muitos desses conteúdos aparecem
em dois ou mais ciclos do Ensino Fundamental, isso porque a proposta dos
92
PCN é a de que os conteúdos introduzidos em um ciclo sejam consolidados
nos ciclos seguintes. Além disso,
os conteúdos organizados em função de uma conexão não precisam ser esgotados necessariamente de uma única vez, embora deva-se chegar a algum nível de sistematização para que possam ser aplicados em novas situações. Alguns desses conteúdos serão aprofundados, posteriormente em outras conexões, ampliando dessa forma a compreensão dos conceitos e procedimentos envolvidos. (BRASIL, 1998, p.53)
A importância de propiciar ao aluno condições que lhe permitam
estabelecer relações é explicitada nos PCN, não só entre os conteúdos de
Matemática, mas também com outras áreas de conhecimento. O documento
orienta que
é fundamental que os estudos do espaço e forma sejam explorados a partir de objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato, de modo que permita ao aluno estabelecer conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento. (BRASIL, 1998, p.51)
No item 3.3.2, analisamos as recomendações dadas quanto ao ensino
da simetria ortogonal nas Diretrizes Curriculares de Matemática para o Ensino
Fundamental no Estado da Bahia.
3.3.2 A simetria ortogonal segundo as Diretrizes Curriculares de
Matemática para o Ensino Fundamental do Estado da Bahia
Por não existir outro documento oficial a respeito do currículo na Bahia,
utilizamos as Diretrizes Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental
desse Estado, apesar de o documento datar de 1994. Uma preocupação,
expressada nesse documento em relação aos conteúdos, está direcionada aos
“eixos ou núcleos temáticos essenciais, considerando-se os aspectos intuitivos,
formais, a verticalidade e as interfaces com outras áreas” (BAHIA, 1994, p.17),
o que mostra uma consonância com as recomendações apresentadas nos
PCN.
Entre os objetivos gerais do Ensino de Matemática apresentados no
documento, destacamos um que trata especificamente da aprendizagem de
93
geometria. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Matemática para o
Ensino Fundamental do Estado da Bahia, o ensino de geometria deve
proporcionar condições para que os alunos “identifiquem corpos e figuras
geométricas na análise de objetos, formulando hipóteses sobre o seu
comportamento, a partir das propriedades e relações geométricas implicadas”
(BAHIA, 1994, p.31).
Os conteúdos são estruturados em três temas fundamentais: Números,
Geometria e Medidas. Apresentamos, no q
Quadro 3, os conteúdos de Matemática para o ensino de geometria, sugeridos
pelo referido documento. Pelo fato de levar em consideração a Lei 5.691/1971,
de Diretrizes e Base para o ensino de 1º e 2º graus, os conteúdos são
apresentados numa estrutura para oito anos de Ensino Fundamental, e na
forma de listas por série como podemos observar nos quadros a seguir.
Quadro 3. Conteúdos de geometria listados por série (1ª a 4ª série)
Conteúdos da 1ª série Conteúdos da 2ª série
Formação de conceitos referentes à:
-Posição (acima de/abaixo de, em cima de/em baixo de, à direita de/à esquerda de, etc...). -Direção e sentido (para frente/para trás, para o lado, pela frente/por detrás, através de, etc...). Comparação (maior que/menor que, igual a, mais fino que/mais grosso que, inferior a/superior a, etc,...). Curvas -Curvas, não curvas, curvas abertas, curvas fechadas, interior e exterior de ramos fechados de curvas, fronteira.
Sólidos geométricos:
-Corpos redondos (cone, cilindro e esfera) -Corpos retilíneos-poliedros (primas e pirâmides) -Identificação de faces, vértices e arestas de um poliedro. Planificação dos sólidos através do contorno de suas faces: figuras planas (triângulos, quadriláteros, círculos).
Simetria:
Simetria em figuras planas através de dobraduras, recortes, decalques, pinturas.
Conteúdos da 3ª série Conteúdos da 4ª série
Círculos/Disco Polígonos -Classificação dos polígonos quanto ao número de lados. Simetria nos polígonos: identificação de polígonos regulares.
Entes primitivos - Ponto, reta, plano (retas, segmentos de reta). Noção de paralelismo e perpendicularidade -Retas paralelas e retas perpendiculares. Polígonos -Classificação dos triângulos quanto à perpendicularidade entre os lados e quanto à medida de seus lados. -Classificação dos quadriláteros segundo: paralelismo dos seus lados, perpendicularidade entre seus lados e medidas dos lados. Ângulos -Classificação (ângulo reto, ângulo maior que o reto, ângulo menor que o reto). Ampliação e redução
94
-Ampliação e redução de desenho em papel quadriculado. -Redução de objetos para a construção de maquetes. Simetria
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base em DCMEF (BAHIA, 1994, p. 35-43).
O Quadro 3 mostra que a simetria ortogonal também consta nas
Diretrizes curriculares para o Ensino Fundamental do Estado da Bahia, já nas
primeiras séries. A proposta é que esse conteúdo esteja ligado à visualização
pelo intermédio de dobraduras, decalques, recortes e pinturas ou utilizada para
a identificação e reconhecimento de polígonos. Apesar de os conteúdos serem
apenas listados, sem indicação de como devem ser trabalhados, de forma que
auxilie o aluno a estabelecer conexões entre os conteúdos, percebe-se
convergência da seleção de conteúdos em comparação com as orientações
apontadas pelos PCN.
No Quadro 4 apresentamos os conteúdos de geometria, sugeridos nas
referidas Diretrizes para ensino da 5ª a 8ª série (atualmente 6º ao 9º ano) do
Ensino Fundamental.
Quadro 4. Conteúdos de geometria listados por série (5ª a 8ª série)
Conteúdos da 5ª série Conteúdos da 6ª série
Noções de reta, semirreta, segmento de reta -posições relativas de reta; -operações com segmentos de reta. Polígonos -conceito, elemento, nomenclatura; -triângulos (classificação quanto aos lados); -quadriláteros (classificação de paralelogramos e trapézios). Sólidos geométricos -classificação de sólidos geométricos; -identificação de faces, vértices e arestas de um poliedro.
Ângulos -conceito de ângulo; -classificação de ângulo quanto à medida; -ângulos formados por duas paralelas cortadas por uma transversal; -ângulos opostos pelo vértice; -ângulos congruentes -bissetriz de um ângulo -demonstração do teorema da soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo e de um quadrilátero; -classificação dos triângulos quanto à medida de seus ângulos internos.
Conteúdos da 7ª série Conteúdos da 8ª série
Círculos/Disco Polígonos -triângulos (construção de triângulo, congruência de triângulos, pontos notáveis de um triângulo: encontro das alturas, medianas, bissetrizes e mediatrizes);
Semelhança -semelhança de figuras planas – homotetia (teorema de Tales e suas aplicações); - semelhança de triângulos; Relações Métricas no triângulo retângulo
95
-quadriláteros (construção de quadriláteros - paralelogramos, trapézios); - diagonais de um polígono; Círculo e Disco -conceito; -elementos; -Posições relativas de uma reta e um círculo -posições relativas de dois ou mais círculos; -ângulos no círculo.
-demonstração geométrica e algébrica do Teorema de Pitágoras e suas aplicações; Razões trigonométricas no triângulo retângulo Círculo -relações métricas no círculo; -cálculo do lado e do apótema de um polígono inscrito num círculo de raio dado.
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base em DCMEF (BAHIA, 1994, p. 44-65).
Ao analisar os Quadros 3 e 4, observamos que, apesar de o documento
afirmar que “elaborar uma lista de conteúdos não se constitui, entretanto, em
condições suficientes para caracterizar uma postura curricular, nem tampouco
assegurar a dinamização da mesma” (BAHIA, 1994, p. 26), nele são
apresentados conteúdos de geometria listados por série e isolados de outros
conteúdos geométricos, como podemos notar na seleção apresentada para a
6ª série, que trata apenas do estudo dos ângulos.
Quanto à simetria, ela desaparece da lista de conteúdos do Quadro 4,
ficando a orientação apenas para o trabalho com semelhança de figuras
planas, em que se cita explicitamente a homotetia. Outras transformações
geométricas como rotação e translação não são citadas no documento.
3.4 A Simetria Ortogonal e as condições de sua existência
Vimos, por intermédio dos estudos realizados a partir de pesquisas
sobre transformações geométricas no Brasil, que existem muitas dificuldades
em incorporar esse conteúdo na Educação Básica. As dificuldades persistem,
mesmo que as orientações curriculares detalhem a importância desse
conteúdo para a formação matemática dos estudantes e ofereça sugestões de
como tais conteúdos podem ser trabalhados interligados a outros. As
dificuldades são identificadas por Artaud (1998) como barreira ecológica e
podem estar relacionadas a uma série de restrições, como a forma com que os
autores apresentam a simetria ortogonal nos livros didáticos. Segundo esta
autora,
toda introdução de um objeto do saber matemático em um ecossistema didático não é automaticamente viável, e a existência deste objeto na noosfera não garante que seja implementado no sistema de ensino. Existe, assim, uma verdadeira barreira ecológica
96
entre a noosfera e o sistema de ensino. (ARTAUD, 1998, p. 121, tradução nossa)
Em razão disso, deparamo-nos com o seguinte questionamento: − Quais
são as condições para que a simetria ortogonal, “viva” não apenas no Ensino
Fundamental, mas também no Ensino Médio de forma estável?
Parte da resposta para a questão está na “lei do todo estruturado” que,
segundo Artaud (1998), foi nomeada assim por Landy Rajoson. Segundo essa
lei “um objeto não pode viver de maneira isolada; é necessário que ele tome
seu lugar no seio de uma organização matemática (organização que pode ser
inegavelmente desenvolvida).” (ARTAUD, 1998, p. 111, tradução nossa). A
mesma autora afirma que a Teoria da Transposição Didática identificava três
grandes conjuntos de condições que permitiam aos objetos matemáticos
existirem no sistema de ensino:
A matemática ensinada deveria ser compatível com o seu meio social, em particular com a esfera de produção da Matemática, por um lado com a instituição dos pares e por outro lado, externa;
A matemática ensinada deveria poder ser apresentada sequencialmente. As noções matemáticas se sucedem sobre o eixo temporal linear do tempo didático (cronogênese).
A matemática ensinada deveria definir duas relações institucionais, uma em posição de professor e a outra em posição de aluno (topogênese). (ARTAUD, 1998, p. 104, tradução nossa)
Construímos, na seção anterior, para os diferentes ciclos do Ensino
Fundamental, esquemas de organizações matemáticas baseadas nos PCN.
Esses esquemas mostram como a simetria ortogonal pode ser relacionada aos
outros conteúdos de geometria. Contudo, percebemos pela análise de outras
pesquisas, que tais articulações são, muitas vezes, ignoradas no sistema de
ensino brasileiro. O episódio vem ao encontro de Artaud (1998), quando ela
chama a atenção para o fato de que não é suficiente que exista, ao redor de
um objeto, uma organização matemática compatível com as outras
organizações do corpus ensinado, mas que essa organização matemática
responda às condições didáticas determinadas, as quais têm como exigências
o funcionamento didático do meio cultural no qual o sistema de ensino está
imerso.
97
Os livros didáticos têm papel de destaque nessas condições didáticas,
razão pela qual os analisamos no item 3.4.1.
3.4.1 A simetria ortogonal em alguns livros didáticos de matemática
para Ensino Fundamental II
Recurso importante nos processos de ensino e de aprendizagem e,
muitas vezes, a principal fonte de consulta de professores, o livro didático pode
nos dar alguns indícios sobre o ensino de determinado conteúdo, sobretudo a
simetria ortogonal. A importância desse recurso tomou uma dimensão ainda
maior depois da implementação da política pública de distribuição de livros por
intermédio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
No guia de livros didáticos PNLD 201424 para o Ensino Fundamental II,
escolhemos as coleções de livros de Matemática aprovadas para alunos do 6º
ao 9º anos. Observamos, pela análise dos conteúdos abordados em cada uma
das coleções de livros didáticos, que a simetria (em particular a simetria
ortogonal) é contemplada em todas as 10 coleções aprovadas. A seguir,
apresentamos um quadro cujo objetivo é destacar a importância dada à
simetria nessas coleções:
Quadro 5. Importância dada à simetria nos livros didáticos aprovados no PNLD 2014
Coleções aprovadas no PNLD 2014
Livros da coleção em que aparece
Está associada aos conteúdos
Unidade, capítulo, ou uma seção de capítulo
Descobrindo e aplicando a Matemática
6º ano Figuras geométricas espaciais e planas; simetria de reflexão;
Seção
7º ano Figuras geométricas, medida de ângulos, ângulos: entre retas, em polígonos, na circunferência;
Seção
Matemática Bianchini
7º ano Simetria de reflexão; ângulos: complementares, suplementares, opostos pelo vértice;
Capítulo
8º ano Ângulos – medidas de ângulo – circunferência; simetria: axial, de rotação.
Seção
Matemática ideias e Desafios
6º ano Polígonos: ladrilhamento; simetria axial; Seção
7 º ano Simetria axial Capítulo
8º ano Simetria axial: eixo de simetria; distância de ponto a reta; simetria central; movimentos rígidos no plano: reflexão, translação e rotação de movimentos rígidos e congruência de figuras geométricas planas;
Unidade
24 Este guia apresenta as coleções de livros didáticos de Matemática aprovadas para o triênio 2014-2016, além de uma resenha sobre cada coleção aprovada e os critérios de avaliação adotados.
98
Padrões e ladrilhamentos;
Matemática Imenes & Lellis
6º ano Simetria de reflexão - números simétricos Capítulo
7º ano Ângulos – medidas de ângulo – circunferência; simetria: axial, de rotação;
Seção
8º ano Ângulos formados por retas paralelas e transversais; polígonos; quadriláteros; simetrias;
Seção
9º ano Desigualdade triangular; simetria; desenho em perspectiva;
Seção
Matemática: teoria e Contexto
6º ano Ângulos; polígonos; circunferência e círculo; paralelepípedos; prismas e pirâmides; simetria axial;
Seção
7º ano Ângulo - medida de ângulos - retas perpendiculares; triângulos; polígonos regulares; simetrias: axial, de rotação, central; localização no plano; representação em perspectiva;
Seção
Praticando Matemática Edição renovada
6ºano Triângulos, quadriláteros; polígonos regulares – perímetro – circunferências; simetria de reflexão;
Seção
Projeto Arariba Matemática
6ºano Sólidos geométricos: poliedros e corpos redondos; figuras geométricas planas; vistas – gráfico de coluna, simetria de reflexão;
Seção
Projeto Telaris Matemática
7º ano Poliedros e corpos redondos: elementos, classificação; polígonos convexos; vistas; simetria de reflexão, gráficos;
Seção
9º ano Figuras geométricas semelhantes; semelhança de polígonos; transformações geométricas: translação, reflexão, rotação, homotetia – gráficos de setores;
Projeto Velear Matemática
8° ano Simetrias de: reflexão, rotação e translação; mosaicos e ornamentos.
Seção
Vontade de saber Matemática
6° ano Polígonos: classificação; triângulos e quadriláteros; circunferência e círculo; simetria de reflexão;
Seção
7º ano Ampliação, redução e reprodução de figuras; simetria: reflexão, rotação;
Seção
9º ano Simetria de rotação; simetria de translação, simetria de reflexão;
Seção
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base no Guia do PNLD 2014.
Notamos, por meio do Quadro 5, que a simetria ortogonal aparece
sempre relacionada a outros conteúdos de geometria, por exemplo, na
classificação de polígonos e, na maioria das vezes, em mais de um livro da
coleção. Assim, entendemos ser importante fazer uma análise sobre o
tratamento dado à simetria ortogonal em alguns livros didáticos de matemática
para o Ensino Fundamental II, isto é, como esse conteúdo é introduzido, quais
são os tipos de problemas e de técnicas neles propostas. As coleções de livros
didáticos alvos de nossa análise foram escolhidos utilizando dois critérios:
99
A coleção escolhida e adotada pela escola-alvo da pesquisa
segundo o guia do PNLD para o triênio 2011-2013;
As coleções escolhidas por essa escola, segundo o guia do
PNLD para o triênio 2014-2016,
Como nossa intenção é analisar as condições de existência da simetria
ortogonal, escolhemos a coleção adotada pela escola, segundo PNLD 2011-
2013, por acreditar que os dados fornecidos por essa análise, junto a outros
referentes à pesquisa, poderão facilitar nossa compreensão da realidade que
cerca esse objeto matemático e seu ensino. O segundo critério de escolha
justifica-se por entender que tal análise nos fornecerá indícios de quais são as
perspectivas futuras para que esse conteúdo se mantenha “vivo” no sistema.
Assim analisaremos as obras:
Coleção 1 - adotada pela escola-alvo da pesquisa para o triênio
2011-2013;
Coleção 2 - primeira opção na escolha da escola para o triênio
2014-2016 e, por consequência, adotada por ela.
Coleção 3 e coleção 4 - escolhas de livro didático para segunda e
terceira opções na escola.
Supomos que a análise dessas coleções nos ajudará a responder
algumas questões referentes às condições de “sobrevivência” da simetria
ortogonal no sistema de ensino.
3.4.2 Análise das quatro coleções de livros didáticos de Matemática
As terminologias utilizadas para simetria ortogonal nas coleções
escolhidas para a análise são simetria de reflexão (Coleção 1), simetria em
relação a uma reta (Coleção 2), apenas reflexão e simetria axial (Coleção 3,
Coleção 4). Em todas as coleções, o assunto simetria é introduzido do ponto
de vista perceptivo, apoiado, principalmente, no aspecto visual por meio das
observações de elementos que remetem à arte (criações humanas) e
elementos da natureza, cujo exemplo clássico é a disposição das asas da
borboleta.
100
A noção de simetria ortogonal é introduzida nos livros didáticos, levando
em consideração a etimologia da palavra e a noção de espelhamento e
sobreposição como pode ser verificado na figura 21.
Figura 21. Definição de simetria
Fonte: Coleção 1, 2009, p. 304
Outra forma de introduzir a ideia de simetria ortogonal abordada nas
quatro coleções é por intermédio de uma atividade lúdica de cunho intuitivo,
como pode ser observado na atividade representada pela Figura 22. Ela tem
por objetivo principal definir eixo de simetria e figura simétrica.
Figura 22. Atividade lúdica sobre simetria ortogonal
Fonte: Coleção 2, 2011, p. 165
Os autores aproveitam as atividades desse tipo para definir
intuitivamente eixo de simetria como uma linha reta, que divide a figura em
duas partes, com mesma forma e mesma dimensão, como se uma fosse a
101
imagem da outra refletida em um espelho. A definição de figura simétrica e
assimétrica deriva da definição de eixo de simetria. A palavra forma, nessa
definição intuitiva, parece remeter à aparência da figura. Em alguns casos são
apresentados no corpo do texto ou na lista de exercícios alguns polígonos e
seus eixos de simetria, como podemos conferir a seguir:
Figura 23. Os eixos de simetria do triângulo equilátero
Fonte: Coleção 2, 2011, p. 166
Esse autor apresenta outros polígonos e propõe aos alunos uma
discussão sobre a diferença entre o número de eixos de simetria do quadrado e
do losango, como apresentado na Figura 24:
Figura 24. Os eixos de simetria do losango e do quadrado
Fonte: Coleção 2, 2011, p. 166
O autor utiliza essa reflexão para definir polígono regular, utilizando a
noção de eixo de simetria como: “todo polígono que tem o número de lados
igual ao número de eixos de simetria é denominado polígono regular”
(COLEÇÃO 2, 2011, p.166). Reconhecemos a habilidade do autor em fazer a
conexão entre a noção de polígono regular e eixo de simetria, mas avaliamos
102
que esse tipo de definição poderia ser estabelecido pelo próprio aluno por meio
de um conjunto de situações – tarefas – que o levassem a tal conclusão.
Na Coleção 1, tanto a simetria ortogonal quanto as outras isometrias
planas são desenvolvidas como projeto, focando o estudo de mosaicos,
apresentado no final do livro. Em nosso ponto vista, a efetiva aplicação desse
tipo de projeto em sala de aula dependerá, principalmente, da disponibilidade
de tempo didático e do interesse do professor. As outras coleções também
apresentam os mosaicos como forma de motivar os alunos a aprenderem
simetria e as outras transformações geométricas. Alguns exemplos de formas
geométricas utilizadas em mosaicos estão representados na Figura 25.
Figura 25. Exemplos de revestimentos utilizando mosaicos
Fonte: Ccoleção 1, 2009, p. 306, 307
Num apelo à beleza e à criatividade, são propostas aos alunos
atividades de criação de mosaicos, em que eles utilizem isometrias planas,
dentre elas, simetrias sucessivas com relação à reta.
Passaremos, a seguir, à análise de algumas das atividades das quatro
coleções de livros didáticos escolhidas, segundo a praxeologia didática. Tais
atividades foram escolhidas, levando em consideração seu tipo, isto é,
questões de reconhecimento de figuras simétricas e eixos de simetria com e
sem a malha quadriculada, de construção de figura simétrica (utilizando a
malha quadriculada, utilizando construções geométricas) e observação da
conservação de propriedades.
3.4.2.1 A organização praxeológica
Para a análise dos livros didáticos, utilizamos a noção de organização
praxeológica proposta por Chevallard (1998), segundo o qual o postulado
básico da Teoria Antropológica do Didático estabelece que toda atividade
103
humana é realizada segundo um modelo único resumido pela palavra
praxeologia. De forma simplificada, Almouloud define “um conjunto de técnicas,
de tecnologias e de teorias organizadas para um tipo de tarefa forma uma
organização praxeológica (ou praxeologia) pontual” (2007, p.117). Segundo
Artaud (1998), para que um tipo de tarefa didática T possa viver no sistema de
ensino, é necessário que exista um conjunto de técnicas que permitam realizar
T, tecnologias relativas a essas técnicas (um discurso que permita justificar as
técnicas) e, por fim, uma teoria que é a explicação da tecnologia.
Ao analisar as tarefas propostas nos livros didáticos, levamos em
consideração as técnicas desenvolvidas pelos seus autores. Sendo assim,
construímos nossa ferramenta de análise, de acordo com o conjunto de
critérios apresentados por Chevallard (1998). Para fim de melhor entendimento,
colocamo-los na forma de questões com relação.
Aos tipos de tarefa
Critério de identificação: – Os tipos de tarefas estão claramente
apresentados e identificados? As tarefas em torno da noção de simetria
ortogonal são interligadas ou independentes? As tarefas são compostas de
situações que permitem gerar, por meio de seu sistema de variáveis,
problemas culturalmente conhecidos, gerando assim conhecimentos? As
tarefas são representativas de um corpus de conhecimentos localizados em
torno da simetria ortogonal efetivamente disponível, suficientemente numeroso
e de adequado grau de dificuldade?
Critério das razões de ser: – Que interesses as tarefas relacionadas à
simetria ortogonal colocam em evidência? Ficam explícitas as razões de ser
dessas tarefas?
Critério de Pertinência: – As atividades propostas nas tarefas fazem
aparecer as propriedades matemáticas relacionadas à simetria ortogonal? A
tarefa faz surgir algum tipo de generalização, do ponto de vista matemático?
Aos tipos de técnicas
Segundo Chevallard (1998), quanto ao tipo de técnicas, elas seguem os
mesmos critérios que as tarefas, isto é, as técnicas que envolvem a noção de
104
simetria ortogonal (dobradura, espelhamento, sobreposição, utilização de
malhas quadriculadas, construções geométricas, demonstrações) propostas
nos livros didáticos são, realmente, desenvolvidas ou apenas esboçadas?
As técnicas são apresentadas com adequada evolução de acordo com o
grau de maturidade do alunado ou se mantêm estáveis? São suficientemente
inteligíveis? Seu escopo é satisfatório?
Quantos ao bloco teórico-tecnológico
Para cada técnica relacionada à simetria ortogonal apresentada foi,
realmente, oferecida uma justificativa ou essa é considerada como tacitamente
dada, natural, evidente ou popular? As formas de justificação dadas são
fechadas às formas canônicas em Matemática? São adaptadas às condições?
Os resultados tecnológicos são disponibilizados e, na verdade, otimamente
explorados?
A seguir, apresentamos a análise de algumas tarefas de reconhecimento
e construção de eixo de simetria em figuras planas sem e com malha
quadriculada (situações 1, 2 e 3) e construção de figura simétrica com e sem
malha quadriculada (situações 4 e 5), encontradas nas coleções de livros
didáticos analisados. Nessa análise, destacamos o tipo de tarefa, as técnicas
disponíveis pelos autores, o discurso teórico-tecnológico em torno de cada
situação.
Situação 1: Reproduza as figuras 3, 4 e 5 da página 305 e desenhe nelas todos
os eixos de simetria.
Tarefa: reproduzir os outros eixos de simetria em cada uma das figuras.
Figura 26. Figura referente à situação 1, na análise de livros didáticos
Fonte: Coleção 1, 2009, 7° ano, p. 305
105
Técnica: foram detectadas duas técnicas distintas:
1) espelhamento – para as Figuras 3 e 5, situação 1, como um eixo de
simetria já está determinado, basta determinar se ela possui outros eixos e
desenhá-los. Tomar um espelho plano nas mãos e colocá-lo na posição
perpendicular à folha sobre a figura, e perpendicular ao eixo desenhado, de
forma que o segmento por ele formado divida a figura ao meio. Observar que o
reflexo de uma parte da figura aparecerá sobre a outra parte; então, traçar o
eixo no local onde o espelho está apoiado. Fazer o mesmo processo para
outras posições na figura, até descartar a existência de outros eixos de
simetria.
Já para a Figura 4 da situação 1, o espelhamento também poderá ser
utilizado. Nesse caso, o espelho deverá ser colocado perpendicularmente à
folha sobre cada segmento que liga o vértice do pentágono regular ao ponto
médio do lado oposto e, a seguir, traçar o eixo de simetria. Esse procedimento
deve ser repetido cinco vezes.
2) Dobradura ou sobreposição – para as Figuras 3 e 5 da situação 1,
fazer uma dobra no papel onde a figura foi desenhada perpendicularmente à
linha tracejada na figura, de forma que divida a figura ao meio; verificar se os
dois lados da figura foram sobrepostos. Marcar o eixo de simetria na dobra
feita. Verificar se existem outras formas de dobrar o papel, de maneira que os
dois lados da figura sejam sobrepostos, para descartar outros eixos de
simetria.
Para a Figura 4, a dobradura deverá ocorrer sobre o segmento que liga
cada vértice do pentágono regular ao ponto médio do seu lado oposto. Verificar
se, após a dobra, os dois lados da figura foram sobrepostos e desenhar os
eixos de simetria. Esse procedimento deve ser repetido cinco vezes.
Situação 2: Entre as figuras geométricas representadas a seguir, quais
possuem eixo de simetria?
106
Figura 27. Figura referente à situação 2, na análise de livros didáticos
Fonte: Coleção 2, 2001, 7º ano, p. 167
Tarefa: identificar ou não eixos de simetria nas figuras dadas.
Técnica: as técnicas para solucionar cada uma das subtarefas podem
ser consideradas as mesmas; o que diferencia cada solução são os
procedimentos de aplicação. As técnicas desenvolvidas no livro incluem
dobradura, espelhamento e sobreposição. Identificaremos cada subtarefa como
T seguido da letra que identifica a figura.
T(a) e T(b) Dobra-se o papel ao meio, onde a figura se encontra
desenhada verticalmente e observa-se que as duas partes da figura irão
sobrepor-se. Encontra-se o eixo de simetria exatamente na dobra construída.
A outra técnica envolve a utilização de um espelho plano, colocado
perpendicularmente ao papel onde a figura se encontra desenhada na posição
vertical, no meio da figura; observa-se que a figura aparece completa
novamente e o eixo de simetria deve estar localizado sob o espelho.
T(c) A dobra do papel ou o espelho plano, nesse caso, deve ser
localizado entre as duas setas da figura no sentido oblíquo, de forma que a
figura possa ser dividida em duas partes sobrepostas e congruentes.
T(d) e T(f) Após algumas tentativas de dobrar o papel ou colocar o
espelho plano onde a figura está desenhada, de forma que se divida em duas
partes congruentes e opostas, perceber-se que a figura (d) não possui eixo de
simetria.
T(e) Nesse caso, como a figura tem dois eixos de simetria, é possível
encontrá-los dobrando o papel onde a figura está localizada verticalmente ou
horizontalmente, de forma que as duas partes da figura sejam congruentes e
sobrepostas. Por outro lado, também é possível utilizar o espelho como em T(a)
e T(b).
107
Situação 3: Em que caso a reta r representa um eixo de simetria da
figura? Responda a questão no seu caderno.
Figura 28. Figura referente à situação 3, na análise de livros didáticos
Fonte: Coleção 2, 2011, 7º ano, p. 167.
Tarefa: identificar figuras simétricas por meio de seus eixos de simetria.
Técnica: para cada item da situação 3, marcar em um dos semiplanos
da figura com relação à reta r alguns pontos referenciais. Utilizar a malha
quadriculada e a noção de reta perpendicular para buscar no semiplano oposto
à reta r os pontos “simétricos” aos pontos marcados. Verificar se a distância de
cada ponto e seu simétrico até a reta r é a mesma. Comparar a forma das
figuras nos dois semiplanos da reta r.
Discurso teórico-tecnológico: em todas as três tarefas, a justificativa
aplicada nas técnicas é a mesma, isto é, o conceito de simetria relacionado ao
significado da palavra correspondência, em grandeza, forma e posição relativa
de partes situadas em lados opostos de uma linha ou plano médio, ou, ainda,
que se achem distribuídas em volta de um centro ou eixo.
As situações 1, 2 e 3 são do tipo reconhecimento de figura simétrica por
intermédio da identificação de seus eixos de simetria, sem e com a utilização
de malha quadriculada.
Observamos para a situação 1, quanto ao tipo de tarefa, que o seu
objetivo está claramente apresentado, isto é, desenhar nas figuras todos os
eixos de simetria. Para as situações 2 e 3, o objetivo também é claro, identificar
ou não eixos de simetria nas figuras simétricas.
108
Ressaltamos que, apesar de os autores utilizarem figuras planas, com
características diferentes, eles não as exploram com o intuito de que o sujeito
tenha a possibilidade de estabelecer conexões dessas características com a
simetria ortogonal. O sujeito é estimulado apenas a fazer observações
superficiais para executar a tarefa. Além disso, as atividades não propõem que
o sujeito apresente argumentos sobre o porquê de identificar ou não os eixos
de simetria das figuras e, para a situação 2, no caso de esses existirem,
construí-los, o que restringe a possibilidade de construção de conhecimento
por parte dos discentes. O fato de a classificação das figuras em grupos de
figuras planas diferentes, segundo suas características, não ser explorado, não
explicita, de forma clara, a razão de ser de cada uma das subtarefas tanto na
situação 1 quanto nas situações 2 e 3.
Quanto ao critério de pertinência, as situações 1, 2 e 3 não oferecem
condições para que o sujeito faça conjecturas e tente validá-las, mesmo que
seja localmente. Nesse caso, a definição e as propriedades matemáticas
podem não ser percebidas.
Sobre as técnicas, a simetria ortogonal é introduzida nos livros didáticos
como reflexão; dessa forma o espelhamento e a dobradura são as principais
técnicas desenvolvidas pelos autores e disponibilizadas para o sujeito utilizar
na execução da tarefa. Para as tarefas apresentadas nas situações 1, 2 e 3 as
técnicas são adequadas e estão de acordo como o grau de maturidade do
alunado ao qual os livros se destinam.
O discurso teórico-tecnológico, por sua vez, permanece restrito ao senso
comum. A justificação é dada por meio de observações visuais, relacionadas
ao espelhamento e à manipulação por meio da dobradura. Esta explicação está
ligada, principalmente, ao significado da palavra simetria.
A diferença básica entre as tarefas apresentadas nas situações 1 e 2 é
que, na primeira, é dada a figura na qual é marcado um dos eixos de simetria.
O aluno precisa desenhar os outros eixos de simetria das figuras, utilizando as
técnicas propostas no livro, e na segunda, deve decidir quais figuras são
simétricas, mas para isso precisa identificar se elas possuem ou não eixos de
simetria.
109
As situações a seguir propõem tarefas de construção de figura simétrica
com e sem a malha quadriculada, com ou sem a utilização de instrumentos de
desenho como compasso, esquadro e régua.
Situação 4: Faça um desenho como este em uma folha de papel
quadriculado. A partir dele, obtenha outro, realizando um movimento de
reflexão em relação ao eixo e.
Figura 29. Figura referente à situação 4, na análise de livros didáticos
Fonte: Coleção 3, 2012, livro do 8º ano, p. 127.
Tarefa: obter sobre a malha quadriculada a figura simétrica com relação ao
eixo e.
Técnica1: marcar os pontos sobre os vértices da figura geométrica. Dobrar a
folha de papel sobre a reta e, encontrar os pontos simétricos aos pontos
marcados na figura inicial. Ligar os pontos simétricos encontrados por meio de
segmentos de reta. Verificar se a figura inicial e a simétrica obtida foram
sobrepostas.
Técnica 2: marcar sobre a malha quadriculada alguns pontos referenciais da
figura. Utilizar a malha quadriculada para encontrar as retas perpendiculares ao
eixo, passando pelos pontos marcados. Marcar sobre essa reta, do lado oposto
ao eixo, os pontos simétricos. Ligar os pontos simétricos por meio de
segmentos de reta e revelar a figura simétrica.
Técnica 3: destacar os principais pontos da figura dada. Em seguida, por esses
pontos traçar, utilizando régua e compasso, as retas perpendiculares ao eixo
110
de simetria e. Utilizando um compasso, marcar o ponto simétrico a cada um
dos pontos correspondentes, destacados na figura dada, nas retas
perpendiculares construídas, observando que a distância de cada um desses
pontos ao eixo de simetria é igual à distância de seus pontos correspondentes,
destacados na figura dada, ao eixo de simetria e.
Situação 5: Desenhe polígonos parecidos com estes. Trace as retas r, s e t em
posição semelhante às da figura.
Figura 30. Figura referente à situação 5, na análise de livros didáticos
Fonte: Coleção 3, 2012, livro do 8º ano, p. 119.
Tarefa: obter em cada caso, a figura simétrica sobre o papel branco.
Técnica 1: sobreposição ou decalque da figura por meio de papel de seda
dobrando a folha e copiando a figura do outro lado da dobra (eixo de simetria).
Técnica 2: primeiro, destacam-se os pontos sobre os vértices de cada uma das
figuras geométricas, com a utilização de um compasso (ou esquadro) e com a
régua graduada traçar as retas perpendiculares ao eixo de simetria, passando
por cada um desses pontos. Os pontos simétricos são marcados sobre as
retas perpendiculares, construídas à mesma distância que o ponto original até
o eixo de simetria, só que do lado oposto deste. A seguir, ligar os pontos e
revelar a figura simétrica.
Discurso teórico-tecnológico: para as justificativas das técnicas nas situações 4
e 5 tem-se a definição de simetria ortogonal, levando-se em consideração que
111
a imagem de um ponto B com relação a uma reta r é o ponto B' (simétrico de
B) não pertencente a r, tal que r é a mediatriz do segmento 'BB , logo 'BBr
e )B'd(r,B)d(r, .
Quanto ao tipo de tarefa, para as situações 4 e 5, observamos que seus
objetivos estão claramente apresentados, ou seja, obter com e sem a malha
quadriculada, a figura simétrica a cada uma das figuras dadas com relação aos
respectivos eixos de simetria. Implicitamente, as tarefas estão interligadas a
outros conteúdos, por exemplo, ângulos e construção de retas perpendiculares.
Essa ligação permite ao sujeito relacionar objetos e, por meio dessa relação,
construir conhecimentos. Observamos, ainda, que as tarefas são
representativas de um corpus de conhecimentos, localizados em torno da
simetria ortogonal, estão efetivamente disponíveis no livro didático e possuem
adequado grau de dificuldade. Quanto à razão de ser da tarefa e sua
pertinência, o autor da coleção 3 espera que o sujeito perceba as propriedades
e estabeleça a definição de simetria ortogonal, mas não propõe que, a cada
passo da construção da figura simétrica, o sujeito argumente sobre eles, o que
poderia explicitar as propriedades e os elementos necessários para construir a
definição.
Verificamos que as técnicas 1, 2 e 3 apresentadas para a construção da
figura simetria na situação 4 e as técnicas 1 e 2 no caso da situação 5, estão
totalmente desenvolvidas no livro do 8º ano da coleção 3. Observamos, ainda,
que são apresentadas com adequado nível de evolução e de acessível
compreensão dos sujeitos aos quais o livro didático se destina.
Quanto ao bloco teórico-tecnológico, para cada uma das técnicas
relacionadas acima o autor apresenta gradualmente uma justificativa que tem
início com a proposta de observações relacionadas ao significado da palavra
simetria; passa pela definição de distância entre ponto e reta e, por fim, chega
à construção da figura simétrica utilizando compasso e régua.
Observamos que as explicações e justificativas dadas são adaptadas às
condições, de forma que o alunado construa o conceito de simetria ortogonal,
inicialmente por meio de visualização e de manipulação de figuras simétricas e,
posteriormente, por meio da construção dessas figuras, em que são levadas
em consideração a definição e as propriedades da simetria ortogonal. Contudo,
112
o autor não propõe, nas situações 4 e 5, uma iniciação dedutiva para justificar
os procedimentos de construção da figura simétrica
Algumas considerações sobre nossa análise
Com relação ao conjunto de critérios que estabelecemos para analisar
os livros didáticos, percebemos, quanto ao tipo de tarefa, que em todas as
quatro coleções analisadas, elas estão interligadas de forma superficial a
outros conteúdos geométricos como ângulos, congruência de figuras
geométricas planas e as demais isometrias, mais que o corpus de
conhecimento envolvidos nas tarefas poderia ser ampliado. São utilizados
textos históricos e apelo a observações da utilização da simetria ortogonal na
arte e atividades cotidianas do homem, como é o caso de revestimentos e
azulejos por meio de mosaicos para justificar as tarefas propostas. As
generalizações matemáticas relacionadas à simetria ortogonal como a
conservação de propriedades são pouco exploradas nas tarefas propostas.
As técnicas (dobradura, espelhamento e sobreposição) necessárias para
a resolução de algumas das tarefas são totalmente desenvolvidas nos livros.
Somente em uma coleção de livros há a apresentação de outras técnicas como
a construção geométrica por intermédio de instrumentos de desenho
geométrico. Observarmos que nas coleções em que a simetria ortogonal é
tratada em mais de um livro, o conteúdo retorna nas coleções de matemática
de anos posteriores, com os mesmos tipos de situações-problema, sendo
apresentadas as mesmas técnicas para desenvolver as tarefas propostas nas
situações.
Quanto ao discurso teórico-tecnológico, na maioria das vezes fica
restrito a uma justificativa aceita pelo senso comum, por intermédio da
observação e reconhecimento, sem explicações que levem em conta definições
e propriedades matemáticas relacionadas à simetria ortogonal sejam
efetivamente desenvolvidas no livro do aluno. Podemos observar, nas
orientações didáticas do livro do 8º ano da coleção 3, os argumentos do autor
para apresentar os conceitos geométricos apenas de forma intuitiva.
O tratamento intuitivo dado aos conceitos de geometria como idealização geométrica dos objetos do mundo físico recebe continuidade neste volume, tendo como pressuposto que o
113
conhecimento é resultado da elaboração e reelaboração constantes dos conceitos. [...] A análise e o uso de padrões disponibilizam, aos alunos, recursos que favorecem o estudo das características e propriedades de um movimento em geometria (transformações geométricas) e possibilitam destacar as que são consideradas relevantes e observar as que coincidem. Com isso, os alunos poderão ensaiar possíveis organizações e tentar verificar se elas se conservam em todos os casos. (COLEÇÃO 3, MANUAL DO PROFESSOR, 2012, 8º ano, p. 38)
Em nenhuma das coleções, identificamos um tratamento no sentido de
transição da validação perceptiva para a dedutiva, por parte dos alunos, isto é,
não há nenhuma iniciação de justificativa por meio de demonstração.
Em sua pesquisa, Lima (2006), ao analisar manuais escolares adotados
na França, classificou os seguintes tipos de problemas (tarefas) propostos
nesses manuais:
reconhecimento de figuras simétricas com relação a uma reta d; reconhecimento dos eixos de simetria; construção de figuras simétricas (à mão livre, sobre o papel quadriculado, com os instrumentos de desenho); construção de eixos de simetria (à mão livre, sobre o papel quadriculado, com os instrumentos de desenho); (LIMA, 2006, p. 59, tradução nossa).
Além dos tipos de tarefa relacionados pela autora, acrescentamos, por
intermédio de nossa análise das quatro coleções analisadas: a identificação da
conservação de algumas propriedades geométricas, identificação de pontos
simétricos em uma figura plana e a criação padrões decorativos por meio de
simetria axial. Na tabela 1, apresentamos os tipos tarefas e a quantidade de
cada uma delas por livro25 em cada coleção analisada.
Tabela 1. Quantidade de tarefas propostas nos livros didáticos analisados sobre simetria
ortogonal (continua)
Tipos da Tarefa
Diversificação da tarefa
Coleção 1 Coleção 2 Coleção 3 Coleção 4
Total
L 7 L7 L8 L7 L8 L8
Reconhecer eixos de simetria
Com a utilização da malha quadriculada
6 6
Sem a utilização da malha quadriculada
1 4 3 1 15 24
Reconhecer figuras simétricas
Com a utilização da malha quadriculada
1 1
25 Para identificar os livros de cada coleção codificamos por L (livro) seguido por um número
que representa o ano de escolaridade, por exemplo, L7 significa livro do 7º ano.
114
Sem a utilização da malha quadriculada
11 1 2 2 5 21
Construir eixos de simetria
À mão livre 1 2 3 5 11
Com instrumentos de desenhos
1 0 1
Construir figuras simétricas
À mão livre 4 5 9
Sobre a malha quadriculada
20 2 1 5 1 29
Com instrumentos de desenhos
3 4 3 10
Identificação da conservação de algumas propriedades em figuras planas
Por meio de instrumentos de desenho
1 1
Por meio da malha quadriculada
5 2 7
Sem a utilização de malha quadriculada
7 4 11
Identificar pontos simétricos em uma figura plana
Por meio de instrumentos de desenho
2 2
Sobre a malha quadriculada
3 3
Sem a utilização de malha quadriculada
1 5 6
Criar padrões decorativos por meio de simetria axial
A mão livre ou com instrumentos de desenho geométrico
1
1 2 1 5
Total 3 59 10 9 30 36 147
Fonte: Elaborado pela autora
Analisando a Tabela 1, constatamos que entre os tipos de tarefas e
técnicas exploradas na maioria dos livros didáticos, os procedimentos
privilegiados para a construção de figura simétrica são aqueles que utilizam a
malha quadriculada. Os autores dessas coleções teriam, provavelmente,
considerado a malha quadriculada como facilitadora da aprendizagem do
aluno. Contudo, os estudos de Grenier (1988) apontam que as respostas nos
itens sobre o papel quadriculado não eram mais bem sucedidas que as
respostas sobre o papel branco, isto é, o papel quadriculado induz a levar em
conta os pontos particulares da figura. Além disso, como já apontado em
estudos anteriores, Grenier (1988), num estudo com alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental, e Silva; Almouloud (2013) numa investigação realizada
com professores em formação foram observados, nas respostas dos sujeitos,
115
procedimentos de contagem sobre as linhas horizontais ou verticais,
procedimentos que são falsos quando o eixo de simetria é oblíquo à folha.
A Tabela 1 ainda nos leva a ponderar que a utilização de instrumentos
de desenhos para construir figuras simétricas ou eixos de simetria é pouco
explorada nas situações apresentadas nos livros, o que pode ocasionar a não
construção por parte dos alunos de conceitos geométricos envolvidos nas
tarefas propostas.
O conjunto de critérios estabelecidos para analisar as tarefas propostas
nos livros didáticos permitiu evidenciar alguns aspectos em torno do ensino e
da aprendizagem da simetria ortogonal. Um exemplo é a forma intuitiva como a
simetria ortogonal é apresentada, pois observamos que o aluno não é instigado
a questionar ou discutir sobre os procedimentos adotados nas tarefas
propostas. Tal fato pode ocasionar uma restrição ao desenvolvimento do
pensamento geométrico, principalmente com relação à escolha das técnicas, o
que pode influenciar diretamente na forma como esses alunos justificam essas
técnicas.
Desse modo, análise de livros didáticos contribuiu para nossa
compreensão de certa realidade que cerca o ensino da simetria ortogonal, além
de apontar algumas variáveis a serem consideradas pelos professores no
momento da construção, análise e aplicação de uma sequência de ensino. Por
exemplo, que sejam propostas tarefas que explorem as definições e
propriedades matemáticas relacionadas à simetria ortogonal, seja por meio de
exercícios envolvendo técnicas como dobradura, espelhamento e decalque ou
por meio de construções geométricas, com a utilização de instrumentos de
desenho.
Acreditamos que, ao apresentar tarefas apenas de forma intuitiva e
voltada, na grande maioria das vezes, para contextos externos à Matemática,
sobretudo com alunos que estejam cursando os últimos anos do Ensino
Fundamental, é possível, posteriormente, desencadear o aparecimento de
dificuldades de validação dos procedimentos que envolvam pensamento lógico-
dedutivo.
116
3.5 Algumas reflexões
Respondendo às questões elencadas no início deste capítulo, afirmamos
que a simetria ortogonal está presente nas recomendações curriculares para a
Educação Básica, tanto em contexto nacional, quanto estadual. No contexto
nacional, constatamos, por meio de nossa análise, que esse documento sugere
que a simetria ortogonal seja trabalhada em todos os ciclos do Ensino
Fundamental, de forma que o aluno estabeleça conexões entre seu conteúdo e
outras áreas do conhecimento, tanto internas quanto externas à Matemática.
Já contexto estadual, o documento recomenda o ensino de simetria, mas
apenas no Ensino Fundamental I, em que as sugestões de trabalho se limitam
a dar ênfase, principalmente, ao ensino de simetria em figuras planas, sem a
preocupação com as propriedades específicas do objeto.
Observamos, ainda, que tanto os documentos oficiais, como os livros
didáticos analisados, focam mais o estudo da simetria no objeto, isto é, estão
mais interessados na determinação do eixo simetria de uma figura do que no
estudo do objeto “simetria ortogonal” (definição e suas propriedades). Isso
pode ter consequências irreparáveis no que tange à compreensão desse
objeto, suas propriedades e suas relações com outros objetos matemáticos.
Como já sinalizamos anteriormente, existe um movimento ocorrendo na
apresentação e no desenvolvimento das transformações geométricas nos livros
didáticos, cujo movimento atinge, é claro, a simetria ortogonal. No livro didático
utilizado pela escola no período de 2011 a 2013, observamos que as
transformações geométricas eram apresentadas de forma totalmente
superficial, levando em consideração apenas sua aplicação nas artes e sua
utilização cotidiana na produção de mosaicos para revestimentos de superfície.
Essa apresentação contava apenas com um projeto no final do livro do 7º ano,
e sua efetiva aplicação dependia da disponibilidade de tempo didático e
interesse do professor.
Por outro lado, nas 10 coleções de livros didáticos aprovadas no PNLD
2014-2016, observamos, por meio do conteúdo programático disponibilizado no
guia do PNLD, que as transformações geométricas são apresentadas
relacionadas a outros conteúdos de geometria, como capítulo, ou fazendo parte
de uma seção do livro, muitas vezes, em mais de um volume da coleção.
117
Um dos fatores que contribuem para essa alteração é a tentativa de
adequação dos livros didáticos de acordo com as orientações dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997; 1998), além da observação, por parte
dos autores de livros didáticos, de resultados provenientes de pesquisas na
área da Educação Matemática. Contudo, segundo nossa análise de alguns
livros didáticos, ainda é um desafio para os autores a apresentação da simetria
ortogonal como objeto matemático, isto é, de forma que outros objetos sirvam
de “alimento” para a simetria ortogonal e esta não apenas “sobreviva” no
sistema de ensino, mas possa “viver” de forma estável, para alimentar também
outros conceitos para que eles também possam sobreviver.
Identificamos como aspectos fundamentais dos resultados apresentados
nesta análise para as fases de experimentação neste trabalho, a observação
de como a maneira pela qual a simetria ortogonal é apresentada no livro
didático, utilizado na escola pesquisada, influencia no ensino desse conteúdo,
quando levamos em conta a prática docente, além da verificação de quais são
as consequências dessa influência.
Para responder a última questão colocada no início deste capítulo sobre
as condições de “sobrevivência” da simetria ortogonal na rede de ensino
pública, necessitamos aprofundar nossos estudos na busca de respostas para
nosso problema de pesquisa e deles conseguir novos indícios para responder
essa questão.
No capítulo a seguir, apresentamos a fundamentação teórica que
fornecerá subsídios para as respostas que procuramos.
118
119
CAPÍTULO 4
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, apresentamos nossa fundamentação teórica que
consiste na Teoria das Situações Didáticas e no quadro dos Paradigmas
Geométricos, apresentado por Parzysz (2001; 2006). A escolha da Teoria das
Situações Didáticas no estudo é justificada pela própria problemática deste
trabalho que permeia, principalmente, as interações estabelecidas entre o
professor, o aluno e o saber. Por outro lado, o quadro dos Paradigmas
Geométricos permite analisar a natureza do trabalho geométrico desenvolvido
por professores, nos momentos de resolução e análise das situações-problema
e por alunos nos momentos de interação com elas. No final deste capítulo,
apresentamos uma articulação entre esses dois quadros teóricos, cujo objetivo
está alinhado com a proposta do nosso trabalho.
4.1 A Teoria das Situações Didáticas
A Teoria das Situações Didáticas foi desenvolvida por Guy Brousseau,
com a finalidade de estudar as situações que são propícias à aquisição de
conhecimento e às relações estabelecidas entre aluno, professor e o saber
mobilizado em um ambiente de ensino. Segundo Brousseau (1997), situações
didáticas são situações usadas para ensinar; é, portanto, todo o ambiente que
cerca o aluno, incluindo o professor e o sistema educacional em si.
Destaque na Teoria das Situações Didáticas, o conceito de milieu 26 foi
concebido por Brousseau como um sistema que interage com o aluno de forma
26Em português milieu pode ser traduzido como “meio”, mas concordando com Almouloud
(2007), entendemos que este termo não alcança toda a amplitude da ideia proposta por Brousseau (1997), por isso, manteremos o termo milieu em nosso trabalho.
120
antagônica desafiando-o, por intermédio da reflexão sobre suas ações, a
encontrar respostas para as situações-problema propostas a ele.
Segundo Almouloud (2007), a Teoria das Situações Didáticas se apoia
em três hipóteses: (1) o aluno aprende adaptando-se a um milieu que gera
dificuldades, contradições e desequilíbrio. O conhecimento, resultado da
adaptação do aluno manifesta-se por novas respostas que fornecem
evidências de aprendizagem; (2) um milieu sem intenção didática não é
suficiente para promover a aprendizagem matemática do aluno, isto é, o
professor deve criar, organizar um meio no qual serão desenvolvidas as
situações (problemas) suscetíveis de provocar essa aprendizagem; (3) o milieu
e essas situações devem engajar fortemente os saberes matemáticos
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
Ainda de acordo com esse autor, “uma situação didática é caracterizada
pelo milieu e este é organizado a partir da escolha das variáveis didáticas, que
são aquelas para as quais a mudança de valores provoca modificações nas
estratégias ótimas” (ALMOULOUD, 2007, p.37). Por esse motivo, a
determinação de variáveis didáticas e seus valores é muito importante na
construção, escolha e análise de situações de ensino. Nos estudos de Grenier
(1988) e Lima (2006), são identificadas algumas variáveis didáticas e valores
relacionados à simetria ortogonal. Apoiados nesses estudos, distinguimos aqui
algumas variáveis e valores que levaremos em consideração neste trabalho a
respeito desse objeto matemático.
Quadro 6. Variáveis didáticas e valores levados em conta na elaboração e escolha das tarefas
Variáveis didáticas Valores
A interseção da figura-objeto com o eixo de
simetria
- toca o eixo
- corta o eixo em um ponto
- corta o eixo em mais de um ponto
As direções dos elementos que compõem a
figura objeto
- horizontais
- verticais
- oblíquas
A direção do eixo de simetria sobre a folha
- horizontais
- verticais
- oblíquos
O tipo de papel - branco
- quadriculado
O tipo de tarefa
- reconhecimento de figura simétrica
- reconhecimento de eixo de simetria
- construção de figura simétrica
121
- construção de eixo de simetria
- identificação de propriedades
A configuração da figura-objeto
- pontos
- segmentos
- polígonos
- outros tipos de figuras
Distância da figura objeto ao eixo de simetria - conservada
- não conservada
Fonte: Adaptado de Grenier (1988) e Lima (2006)
Segundo Brousseau (1997), as variações de uma situação para o
mesmo saber matemático podem apresentar grandes diferenças em termos de
complexidade e, portanto, levar a diferentes estratégias ótimas, além de
proporcionar formas diferentes de conhecer o mesmo saber27.
O desafio do professor é, justamente, construir situações cujas intenções
de ensinar não são inicialmente reveladas aos alunos –, mas que estes
aceitam – e conseguir que eles sejam capazes de refletir, agir e evoluir em
seus conhecimentos matemáticos por conta própria. De acordo com Brousseau
(1997, p. 30, tradução nossa), “cada item do conhecimento pode ser
caracterizado por uma (ou mais) situação (ões) adidática(s) as quais preservam
significados”, situações que ele chamou de situações fundamentais.
A Teoria das Situações Didáticas permite, no momento da aplicação
das situações ou problemas em classe, que os professores vivenciem as
quatro fases (fases de ação, formulação, validação e institucionalização) no
processo de aprendizagem, apresentadas por Brousseau (1997). De acordo
com esse autor, a fase de ação consiste em colocar o aprendiz numa situação
de ação, na qual se coloca um problema para o aluno, cuja melhor solução,
nas condições propostas, é o conhecimento a ensinar. Na fase de formulação,
o aluno troca informações com uma ou várias pessoas, que serão os emissores
e receptores trocando mensagens escritas e orais. Esse é um momento em
que os estudantes ou grupo de estudantes explicitam, por escrito ou oralmente,
as ferramentas que utilizaram e a solução encontrada.
27 Os termos conhecimento e saber são utilizados por Brousseau de forma diferenciada. “Os conhecimentos são meios transmissíveis (por imitação, iniciação, comunicação, etc) ainda que necessariamente demonstráveis, de controlar uma situação e obter dela um resultado determinado, de acordo com uma expectativa e exigência social. O saber é o produto cultural de uma instituição que tem como objetivo identificar, analisar e organizar os conhecimentos a fim de facilitar sua comunicação”. (BROUSSEAU, 2008, p. 31-32)
122
Na fase de validação, o estudante deve mostrar a validade de seus
argumentos, submetendo a mensagem matemática ao julgamento de um
interlocutor. Segundo Almouloud (2007), o emissor deve justificar a exatidão e
a pertinência de seu modelo e fornecer, se possível, uma validação semântica
e sintática. Finalmente, na fase de institucionalização, o professor fixa,
convencional e explicitamente, o estatuto cognitivo do saber. Uma vez
construído e validado, o novo conhecimento vai fazer parte do patrimônio da
classe. Depois da institucionalização feita pelo professor, o saber torna-se
disponível para sua utilização na resolução de problemas matemáticos.
Nos momentos destinados a uma reflexão sobre a prática, as discussões
no grupo pesquisado voltaram-se a um aspecto essencial do contrato didático,
isto é, à devolução que, segundo Brousseau (1997, p.41, tradução nossa), “é o
ato pelo qual o professor faz o aluno aceitar a responsabilidade por uma
situação de aprendizagem ou de um problema e aceita, ele próprio, as
consequências dessa transferência”.
Nossa pesquisa visa, principalmente, ao estudo do processo de ensino
focado nas atividades do professor, por meio da criação de condições que
provoquem a aquisição de conhecimentos matemáticos pelos alunos. Para
alcançar esse propósito, apoiamo-nos em Margolinas (2002) que propôs um
modelo de níveis de atividade do professor, os quais apresentamos a seguir.
- O nível (+3) mais geral do modelo, chamado de nível noosferiano ou
nível ideológico, caracteriza a atividade do professor que reflete de forma muito
ampla sobre o ensino de Matemática. Nesse nível, ocorrem discussões sobre
os documentos curriculares e o papel dos conteúdos matemáticos no contexto
do ensino em geral.
- O nível (+2) é o da construção, a atividade do professor é concebida
em grandes linhas de ensino sobre um tema. O professor constrói ou escolhe
uma série de situações fundamentais, com o objetivo de analisar as variáveis
didáticas envolvidas e os valores dessas variáveis, e também, o repertório de
conhecimentos a serem mobilizados pelos alunos durante a experimentação.
- O nível (+1) é o do planejamento, caracterizado pela atividade do
professor, que é determinada pelo cenário de uma lição. Nível em que é
construída ou escolhida uma sequência de situações em que se levam em
conta as informações colhidas no nível anterior.
123
- O nível (0), também chamado de nível didático, caracterizado pela
ação do professor na classe. Esse é o nível em que professores e alunos
interagem, de fato.
- O nível (-1) de observação é caracterizado pela devolução ou pela
observação das atividades dos alunos.
Segundo Margolinas (2002), o professor toma decisões em todos os
níveis de sua atividade, mas também pode transformar seus pontos de vista
em uma atividade reflexiva, isto é, o professor aprende durante sua atividade
profissional. Um dos objetivos de nossa investigação é estudar como essa
transformação afeta os processos de ensino e de aprendizagem.
Baseada nas pesquisas de Brousseau, Margolinas propôs a
estruturação do milieu que possibilita duas análises: a descendente,
caracterizada pela atividade do professor (descrita anteriormente) e a
ascendente, caracterizada pela atividade do aluno.
Quadro 7. Estruturação do milieu
M+3: M- construção
P+3: P noosferiano
S+3: Situação noosferiana
Nív
eis
sobre
-did
átic
os M+2:
M- planejamento
P+2: P construtor
S+2: Situação de construção
M+1: M-didático E+1: Aluno reflexivo
P+1: P planejando
S+1: situação de planejamento
M0; M- aprendizagem
E0: Aluno P0: Professor S0: Situação Didática
M-1: M- referência
E-1: Aluno aprendendo
P-1: P- observador
S-1: Situação adidática de aprendizagem
Situ
ação
sub
- did
átic
a
M-2: M- Objetivo
E-2: Aluno em ação
S-2: Situação de referência
M-3: M- material
E-3: Aluno objetivo
S-3: Situação objetiva
Fonte: Margolinas (2004, p. 52)
Nessa estruturação do milieu, observamos as posições relativas do
milieu (M), do aluno (E) e do professor (P). Observamos, ainda, que a situação
didática S0 é composta pela interação entre M0, E0 e P0.
Com o objetivo de observar o papel do professor e as posições do aluno
numa situação de ensino e aprendizagem, analisamos, a seguir, a situação-
124
problema exposta no Exemplo 1, segundo a estruturação do milieu, de acordo
com Margolinas (2004).
Exemplo 1: Construa a figura simétrica ao segmento AB com relação à reta r.
Em seguida descreva a construção.
Figura 31. Exemplo ilustrativo da estruturação do milieu, segundo Margolinas (2004).
Fonte: Elaboração da autora
O objetivo da situação-problema é propor ao aluno a construção do
segmento simétrico, observando propriedades como ortogonalidade e
equidistância com relação ao eixo de simetria r.
A situação objetiva ou material S-3
É uma situação que, segundo Margolinas (2002), não está finalizada, na
qual o milieu material (M-3) é formado pelos seguintes objetos: simetria
ortogonal (reflexão), construções geométricas, mediatriz de um segmento,
distância entre ponto e reta que são os objetos mínimos disponíveis para que
E-3 possa iniciar a construção da figura simétrica com relação à reta r.
Por outro lado, os conhecimentos que permitirão a E-3 interagir com o
milieu M-3 são: a definição de transformação geométrica, a noção de simetria
ortogonal (reflexão), o domínio de instrumentos de desenho na construção de
retas perpendiculares dados um ponto e uma reta, construção de pontos
simétricos e as propriedades relativas à simetria ortogonal.
Na situação S-3, a figura simétrica ao segmento AB com relação à reta
r é construída de forma intuitiva pelo aluno E-3.
125
Figura 32. Construção intuitiva do segmento simétrico
Fonte: Elaboração da autora
A situação de referência S-2
Na situação S-2, uma finalidade do problema é introduzida; assim S-2 é
uma situação de referência em que o aluno E-2 está agindo. O milieu M-2
compreende a situação S-3 que, às vezes, de acordo com Margolinas (2004), é
o objeto da ação de E-2 e fonte da retroação. Sendo assim, o aluno E-2 utiliza-
-se das propriedades de simetria ortogonal (ortogonalidade e equidistância
entre pontos da figura e o eixo de simetria, etc.) como estratégia na construção
por meio de instrumentos de desenho dos pontos simétricos a A e B com
relação à reta r.
Figura 33. Desenho de pontos simétricos a A e B
Fonte: Elaboração da autora
O milieu M-1 é formado a partir da afirmação “a figura simétrica do
segmento AB é a figura formada pelos simétricos de seus pontos”.
126
A situação adidática de aprendizagem S-1
A situação S-1 é uma situação de aprendizagem que compreende os
componentes de antecipação, de formulação e validação. O milieu M-1 é
formado pelos pontos simétricos dos pontos A e B da figura objeto. O aluno,
por meio da construção de pontos, deve buscar justificar matematicamente a
construção do segmento 'BA' , por meio da definição de simetria ortogonal e de
suas propriedades.
Figura 34. Construção do segmento '' BA
Fonte: Eelaboração da autora
A simetria ortogonal transforma o segmento AB em um segmento
'BA' de mesmo comprimento.
A situação didática S0
Na situação S0, encontram-se as intenções de ensinar do professor P0 e
de aprender do aluno E0; num contrato didático, nas fases de
institucionalização e conclusão, são reunidos e atualizados os pontos de vista
de alunos e professor. Nesse nível, o aluno busca justificativas matemáticas
para a construção da figura simétrica, e o professor P0 intervém com o objetivo
de institucionalizar. A institucionalização poderá ser feita, dependendo do ano
escolar, por meio de uma demonstração (como a proposta na seção 4.2) ou da
verificação de propriedades por intermédio de instrumentos de medida. O aluno
E0 elabora numa conjectura o que aprendeu na situação S-1 e o professor P0
intervém para fazer a seguinte institucionalização: “A simetria ortogonal
127
transforma o segmento AB em um segmento 'BA' de mesmo comprimento,
porém com a orientação invertida”. Em resumo, apresentamos o quadro 8.
Quadro 8. Estruturação do milieu ascendente para o exemplo ilustrativo
Milieu Aluno Professor Situação Fases de
aprendizagem
M0;
M-aprendizagem E0: Aluno
P0:
Professor
agindo.
S0: Situação
didática. A visão de
alunos e professores
produzindo um saber
sobre o conceito de
simetria ortogonal
Institucionalização
M-1: M-referência
Busca nas
propriedades da
simetria ortogonal
de argumentos
justificativos
E-1: Aluno
justificando
e validando
conjecturas
a respeito
da figura
simétrica
P-1:
Professor
observando
as
estratégias
dos alunos
ou fazendo a
devolução do
problema.
S-1: Situação
adidática de
aprendizagem.
Construção da figura
simétrica.
Validação
M-2: M-Objetivo.
Formado pelo
milieu M-3 e a
situação S-3
E-2: Aluno
em ação -
propostas
de
conjecturas
S-2: Situação de
referência.
Construção de
pontos simétricos da
figura
Formulação
M-3: M-material
Formado pelos
conhecimentos
geométricos e a
experiência de
vida dos sujeitos.
E-3: Aluno
objetivo
S-3: Situação
objetiva.
Construção da figura
simétrica de forma
global
Antecipação/ação
Fonte: Elaborado pela autora, baseando-se em Margolinas (2004)
Na próxima seção, apresentaremos o quadro dos paradigmas
geométricos, segundo Parzysz (2001,2006), cuja referência são os trabalhos
de Van Hiele e Houdemont e Kuzniak.
128
4.2 O quadro dos Paradigmas Geométricos
O quadro dos Paradigmas Geométricos fornecerá uma referência para
analisar, por meio dos dados produzidos, a influência de um processo de
formação de professores nas concepções desses docentes, cujo foco particular
é a simetria ortogonal. Para compreender como os processos de ensino e de
aprendizagem da geometria se dão, foi necessário fazer um estudo sobre as
pesquisas desenvolvidas sobre esses processos. Para tanto, apresentamos, a
seguir, as pesquisas de Parzysz e sua equipe, as quais estão fundamentadas
no quadro dos Paradigmas Geométricos apresentados por Houdement e
Kuzniak e têm como primeira referência os estudos dos Van Hiele.
Apresentaremos, na sequência, uma síntese dos trabalhos de Van Hiele
(1986) e Houdement e Kuzniak (1999) com o objetivo de compreender melhor
a proposta de Parzysz (2001; 2006).
4.2.1 O modelo do desenvolvimento do pensamento geométrico de
Van Hiele
Entre os estudiosos que se propuseram fazer uma investigação sobre o
desenvolvimento do pensamento geométrico está o casal Dina Van Hiele-
Gedolf e Pierre Marie Van Hiele. Tal investigação foi estabelecida, segundo a
Teoria dos Níveis de Pensamento proposta por esses mesmos autores, cuja
ideia básica é a de que a aprendizagem se faz passando por níveis graduais de
pensamento. No caso da Matemática, Van Hiele (1986) afirma ser possível
discernir os cinco níveis seguintes: o nível visual; o nível descritivo (análise); o
nível teórico (com relações lógicas, por exemplo, a geometria gerada de acordo
com Euclides), a lógica formal (um estudo das leis da lógica); rigor (a natureza
das leis da lógica).
Especificamente quanto à geometria, observamos que os níveis acima
podem ser descritos como segue:
Nivel 0 (Visualização ou reconhecimento): é feito o primeiro contato com
as figuras geométricas de forma visual. As figuras são reconhecidas de acordo
com sua aparência, são vistas como um todo.
Nível 1 (Análise): os alunos são capazes de aplicar propriedades
operacionais para reconhecer e até mesmo caracterizar figuras.
129
Nível 2 (Dedução Informal ou Ordenação): os estudantes compreendem
definições abstratas, estabelecem inter-relações das propriedades nas figuras
(as diagonais de um losango são perpendiculares) e entre figuras (se um
quadrilátero é um quadrado ele é um losango, pois um quadrado é um losango
com algumas propriedades extras).
Nível 3 (Dedução Formal): os alunos são capazes de construir uma
sequência lógica de afirmações a partir de outras. Por exemplo, quando os
alunos estão familiarizados com os teoremas sobre congruência de triângulos,
eles, geralmente, são capazes de aplicar esse conhecimento ordenadamente
para provar a igualdade de elementos numa dada figura geométrica.
Nível 4 (Rigor): os estudantes avaliam vários sistemas dedutivos com
rigor matemático, comparam sistemas axiomáticos e estudam várias
geometrias, na ausência de modelos concretos.
Segundo Van Hiele esses níveis não estão associados à idade e
possuem as seguintes propriedades:
1. Sequencialidade: não se pode alcançar o nível n sem haver passado
pelo nível anterior n-1, isto é, o progresso dos alunos por meio dos
níveis é invariante.
2. Recursividade: em cada nível de pensamento, o que era implícito, volta
explícito no nível seguinte.
3. Especificidade da linguagem: cada nível tem sua própria linguagem
(símbolos linguísticos) e respectiva significância dos conteúdos
(conexão desses símbolos com algum significado).
4. Localidade: dois indivíduos em níveis de pensamento distintos não
podem se entender.
Alguns pesquisadores contestam que o progresso dos alunos seja
invariante por intermédio desses níveis. Sobre esse fato, Nasser e Sant’anna
(2010, p. 9) afirmam que “é comum encontrarmos alunos que mostram
estratégias de raciocínio de mais de um nível, dependendo da tarefa que está
resolvendo”.
Ao apontar a distinção entre os estudos dos Van Hiele, propostos em
níveis de pensamento e a proposta dos Paradigmas Geométricos, Houdement
130
e Kuzinak (2003) argumentam que enquanto o primeiro estudo apresenta uma
hierarquia de raciocínios, o segundo estudo proposto busca manter uma
coerência interna e baseia-se em teorias homogêneas.
A seguir, discorreremos sobre o quadro dos Paradigmas Geométricos
propostos por Houdement e Kuzniak.
4.2.2 O quadro dos Paradigmas Geométricos apresentados por
Houdement e Kuzniak
Houdement e Kuzniak (1999) afirmam que suas pesquisas se apoiam
nos trabalhos de Gonseth28 (1890-1974), cuja abordagem dialética visa
compreender melhor a construção da geometria na relação com o espaço e o
mundo sensível. Essa abordagem organiza-se em torno de três pilares: a
intuição, a experiência e a dedução.
Fundamentados nos trabalhos de Gonseth, os pesquisadores
Houdement e Kuzniak (1999) desenvolveram três Paradigmas Geométricos por
eles apresentados como: geometria natural (geometria I), geometria axiomática
natural (geometria II) e geometria axiomática formalista (geometria III).
Segundo Houdement e Kuzniak (1999):
A geometria natural (confusão entre geometria e realidade)
funciona como um recurso de validação da realidade e compreende três
aspectos: a intuição, a experiência e a dedução.
Já na geometria axiomática natural (geometria como esquema
da realidade) os recursos de validação se fundem nas leis hipotético-
-dedutivas de um sistema axiomático o mais preciso possível. A relação
com a realidade ainda subsiste no sentido de modelar os conhecimentos
geométricos, quando se leva em consideração a resolução de uma
situação (esquema ou modelo da realidade).
Por fim, na geometria axiomática formalista (independência entre
geometria e realidade) os axiomas não são mais fundamentados sobre a
sensibilidade e a primazia do raciocínio lógico se impõe.
28 Segundo Houdement e Kuzniak (1999), Ferdinand Gonseth (1890-1974) foi um matemático, professor da Escola Politécnica de Zurich, autor da obra Les fondements des mathematiques (1926).
131
Esses autores resumem as características de cada um dos Paradigmas
Geométricos no quadro a seguir:
Quadro 9. Diferentes aspectos dos Paradigmas Geométricos
Geometria Natural Geometria axiomática natural
Geometria axiomática formalista
Intuição Sensibilidade, ligação da percepção enriquecida pela experiência.
Relacionada com as figuras
Interna aos matemáticos
Experiência Relacionada ao espaço mensurável.
Esquema da realidade Do tipo lógico
Dedução Próximo do real e ligada à experiência pela visão
Demonstração fundamentada sobre os axiomas.
Demonstração fundamentada sobre os axiomas.
Tipo de Espaço Espaço intuitivo e físico Espaço físico-geométrico
Espaço abstrato euclidiano
Situação do desenho
Objeto de estudo e validação
Ferramenta para investigar e conjecturar
Ferramenta heurística
Aspecto privilegiado
Evidência e construção Propriedade e demonstração
Demonstração e relação entre os objetos
Fonte: Houdement e Kuzniak (1999, p. 19).
Segundo Houdement e Kuzniak (1999), a análise de uma figura do tipo
perceptiva está relacionada com a intuição em seu primeiro sentido (apreensão
de um objeto de acordo com a visão) e depende dos conhecimentos do sujeito
que analisa a figura. Parzysz (2006, p. 129, tradução nossa) afirma que “uma
das finalidades do ensino de geometria no curso obrigatório é fazer com que os
alunos passem de uma “geometria de observação” para uma “geometria de
demonstração””, argumentando, ainda, que Van Hiele distingue dois níveis de
apreensão das formas geométricas: o nível inferior (visual) e o nível superior
(descritivo). Nesse sentido, segundo Parzysz a noção de figura é um elemento
central e incontornável na prática nesses níveis.
4.2.3 O quadro teórico dos Paradigmas Geométricos apresentado
por Parzysz
Apoiado em estudos anteriores e em resultados das pesquisas de sua
equipe, Parzysy (2006) propõe um quadro teórico que comporta quatro
Paradigmas Geométricos divididos em dois grupos: geometrias não
axiomáticas e geometrias axiomáticas. O primeiro grupo compreende os
paradigmas G0 (geometria concreta), o qual não é uma geometria propriamente
132
dita e cujos objetos são realizações materiais e, G1 (geometria espaço-gráfica)
que se apoia em situações concretas. O segundo engloba os paradigmas G2
(geometrias proto-axiomáticas) sendo essa uma geometria axiomática que tem
como referência o “real” e, por fim, G3 (geometria axiomática) onde a
axiomatização é completamente explicitada. Sintetizando sua proposta, o autor
apresenta o seguinte esquema:
Quadro 10. Síntese da classificação dos paradigmas apresentados por Parzysz
Geometrias não axiomáticas Geometrias axiomáticas
Tipo de
geometria
Geometria
concreta (G0)
Geometria
espaço-gráfica
(G1)
Geometria
proto-axiomática
(G2)
Geometria
axiomática (G3)
Objetos Físicos Teóricos
Validações Perceptivas Dedutivas
Fonte: Parzysz (2001, p.101)
Segundo Parzysz (2006, p.102) “no nível do ensino obrigatório, G1 e G2
têm um papel crucial na construção pelo aluno de sua relação com os saberes
da geometria” (tradução nossa). Em consonância com esse autor, os PCN no
3º ciclo do Ensino Fundamental sugerem que “as atividades geométricas
centrem-se em procedimentos de observação, representações e construções
de figuras, bem como o manuseio de instrumentos de medidas que permitam
aos alunos fazer conjecturas sobre algumas propriedades dessas figuras”
(BRASIL, 1998, p. 68). Por outro lado, ainda de acordo com os PCN, no 4º
ciclo,
os problemas de geometria vão fazer com que o aluno tenha seus primeiros contatos com as necessidades e as exigências estabelecidas por um raciocínio dedutivo. Isso não significa fazer um estudo absolutamente formal e axiomático da Geometria. (BRASIL, 1998, p. 86).
Em termos de recomendações curriculares observamos que, no 3º ciclo,
é requerida do estudante a compreensão dos objetos geométricos de forma
perceptiva, isto é, uma geometria que se apoia em situações “concretas”, numa
transição de G0 para G1. No 4º ciclo, a sugestão dos PCN expõe uma fase de
transição de G1 para G2, esperando-se que, no final desse último, o aluno já
tenha condições de reconhecer a validação de forma dedutiva.
133
Como nossa proposta de estudo se restringe aos 3º e 4º ciclos do
Ensino Fundamental, manteremos nosso foco nas geometrias G0, G1 e G2
seguindo a proposta de geometria paradigmática de acordo com Parzysz
(2001; 2006). Outro motivo para nos atermos a essas geometrias está
relacionado com o objeto matemático por nós escolhido –, a simetria ortogonal
– que evoca naturalmente a referência ao real de uma forma perceptiva (G0) e
mesmo quando esse conteúdo é referenciado em um sistema lógico-dedutivo
(geometria euclidiana) a “figura” toma um sentido de raciocínio geométrico
heurístico (num movimento duplo 21 GG ), isto é, ela assume a função de
auxiliar na construção de conhecimentos lógico-dedutivos.
Utilizando esse quadro teórico, vejamos como podemos observar as
características da proposta de Parzysz (2001), aplicadas ao exemplo 1
analisado na seção anterior, isto é, o que podemos esperar de um indivíduo
que esteja transitando nas geometrias G0, G1 e G2.
Quadro 11. Aplicação do quadro dos Paradigmas Geométricos ao exemplo 1.
Tipo de geometria
Validação Caracterização da geometria
G0
A ligação com a realidade faz com que o estudante imagine uma folha de papel dobrada ao meio, o uso da régua graduada seria para comparar as
medidas da figura objeto AB ao eixo e do eixo à figura
imagem A´B´ construída por sobreposição. A posição do eixo de simetria contribui de forma perceptiva para o êxito na execução da tarefa. Aqui fica evidente a percepção global da figura. A validação é feita visualmente.
G1
O estudante poderá utilizar como instrumentos de desenho a régua graduada, esquadro e o compasso para construir a figura imagem, levando em consideração seus conhecimentos de propriedades como equidistância e ortogonalidade com relação ao eixo. A percepção pontual poderá ser notada no ato da construção. A validação tem como base as
134
técnicas de construção apoiada no uso instrumentos.
G2
Demonstração: Pela definição de simetria ortogonal, temos que a imagem do ponto B com relação à reta r é o ponto B' não pertencente a
r, tal que r é a mediatriz do segmento 'BB , logo
'BBr e )B'd(r,B)d(r, . Da mesma forma, a
imagem do ponto A com relação à reta r é
ponto A' não pertencente a r, tal que, r é a
mediatriz do segmento 'AA , logo 'AAr e
A´)d(r,A)d(r, , portanto
rdrd ,B'A',AB . Provemos, agora, que os
segmentos AB e 'BA' são congruentes. Sejam
C e D pontos sobre a reta r tal que C está
entre B e B' e B'BC C , D está entre A e A'
tal que DA'AD .
Observamos que os triângulos BCD e CDB'
são congruentes pelo critério LAL, pois o lado
CD é comum aos dois e os ângulos DCB
e
DCB'
são retos. Por outro lado, notemos que
os triângulos ABD e DBA '' também são congruentes pelo critério LAL, uma vez que,
''BD DB e os ângulos 'BDA
e BDA
'
também são congruentes, pois são opostos pelo vértice.
Portanto, os segmentos AB e 'BA' são congruentes.
A construção da figura é apenas uma forma de auxiliar na justificativa que vem da utilização na geometria euclidiana plana de definições, axiomas, teoremas e propriedades para demonstrar que a figura construída é simétrica à figura-objeto. Nesse caso, a invariância dessas propriedades é observada e a percepção da figura se dá pontualmente.
Fonte: Elaboração da autora
Segundo Parzysz (2006), essas geometrias, do ponto de vista didático,
diferenciam-se uma da outra na ruptura do contrato didático29. Assim, a
passagem de G0 para G1 coloca em evidência a materialidade dos objetos em
29 O contrato didático aqui é entendido no sentido de Brousseau, isto é, “como conjunto de comportamentos específicos do professor esperado pelos alunos, e o conjunto de comportamentos dos alunos esperado pelo professor”. (ALMOULOUD, 2007, p.89)
135
jogo (no exemplo acima o objeto traçado na folha de papel), a passagem de G1
para G2 deixa evidente a justificativa pela percepção (o uso do compasso e
régua graduada para aferir as distâncias), a passagem de G2 para G3 expõe a
necessidade dedutiva das propriedades julgadas “evidentes”. Este autor ainda
pontua que, G1 e G2 são susceptíveis de ações de controle uma sobre a outra
e exemplifica:
G2 controla G1: se uma contradição perceptiva é identificada na “figura” (G1), pode-se investigar em G2 o erro de demonstração que a produziu. G1 controla G2: se a conclusão de um raciocínio geométrico surpreende, o retorno à figura e as técnicas de G1 pode permitir confirmar ou enfraquecer esse resultado. (PARZYSZ, 2006, p.133, tradução nossa)
Portanto, para esse autor a resolução de um problema geométrico pode
consistir em uma sucessão de idas e voltas entre as geometrias G1 e G2, nas
quais a “figura” é um elemento central. Nesse processo, as figuras têm um
papel importante e antagônico, pois elas podem tanto constituir uma ajuda no
sentido de propiciar a construção de conjecturas, quanto um obstáculo à
demonstração no sentido perceptivo (visual). Observemos um exemplo
fornecido pelo autor sobre a alternância entre G1 e G2 na resolução de um
problema:
G1G2: modelagem de um problema “concreto”
G2G1: construção de um desenho com objetivo heurístico
G1G2: demonstração de uma conjetura resultante da observação
G2G1: “verificação”, sobre um desenho de uma conclusão teórica.
(PARZYSZ, 2006, p.137)
Segundo esse autor, coloca-se em funcionamento, nesse caso, o que
ele chamou de “dialética sabido/percebido”, a qual foi introduzida com o
propósito de representação do espaço em geometria. A dialética
sabido/percebido proposta por Parzysz pode ser sintetizada da seguinte forma:
“o sabido refere-se a uma leitura da representação gráfica do objeto geométrico
tendo em vista suas propriedades. [...] A percepção apenas dos elementos e de
suas relações visíveis na representação gráfica se relaciona com o visto.”
(DIAS, 2009, p. 27).
136
Ainda sobre a dialética sabido/percebido, de acordo com Parzysz (2001),
podemos imaginar que não existe dificuldade no caso de figuras planas, pois
podemos, em princípio, construí-las tais como elas são, isto é, o sabido
coincide com o visto. Levando em consideração a simetria ortogonal,
concordamos com Dias (2009), ao afirmar que essa dialética aparece
associada “às questões de representação de objetos segundo enunciados,
dados de problemas geométricos ou à leitura particular de desenhos que
acompanhem tais enunciados” (p. 27)
Apresentamos no Quadro 12, uma articulação entre os quadros teóricos
desenvolvidos Van Hiele, Parzysz, Houdement e Kuzniak.
Quadro 12. Articulação entre os estudos desenvolvidos por Parzysz, Van Hiele, Houdement e Kuzniak.
Geometrias não
axiomáticas Geometria axiomática
Parzysz Tipo de geometria
G 0 (concreto)
G 1 (espaço gráfico)
G 2 (Proto-axiomático)
G 3 (axiomático)
Objetos Físicos (empíricos) Teóricos
Van Hiele Níveis de
pensamento Nível 0 Nível I Nível II Nível III Nível IV
Houdement e Kuzniak
Paradigmas Geométricos
GI GI G II e GIII G II e G III G III
Fonte: Adaptado pela autora segundo as observações de Parzysz (2001, p.100)
Podemos observar, pelo Quadro 12, que os níveis 0 e I integram as
geometrias não axiomáticas (G0 e G1) no sentido de Parzysz (2001; 2006), ao
mesmo tempo que esses níveis compõem a geometria I (GI) dos Paradigmas
Geométricos propostos por Houdement e Kuzniak (1999), os quais afirmam
que nessa geometria os objetos são considerados apenas sob seu aspecto
físico (relacionados à realidade). O nível II é uma espécie de nível intermediário
entre as geometrias não axiomáticas e axiomáticas, isto é, nesse nível, o
estudante pode transitar entre objetos físicos e teóricos.
Já o nível III, segundo Houdement e Kuzniak (2003), continua a ser um
nível de transição em seu componente dedutivo e sistema axiomático; por isso,
nesse nível o aluno apresenta aspectos característicos dos paradigmas GII e
GIII propostos por esses autores.
O nível IV é associado à G3 (GIII) tanto nos estudos propostos por
Parzysz (2001; 2006), que o classifica como tipo de geometria, quanto nas
pesquisas de Houdement e Kuzniak (1999) que o classificam como paradigma
137
geométrico. Esses autores convergem com relação ao papel das
representações figurais, cuja importância remete à investigação dedutiva sobre
a validade de conjecturas.
O Quadro 11, apresentado anteriormente, nos fornece uma ideia do
desenvolvimento do quadro apresentado por Parzysz e o papel central que a
figura toma na construção de conhecimentos geométricos.
4.3 Uma articulação entre o quadro dos Paradigmas Geométricos
proposto por Parzysz e a Teoria das Situações Didáticas de
Brousseau
Apresentamos nas seções anteriores, de forma independente, o quadro
dos Paradigmas Geométricos e parte da Teoria das Situações Didáticas,
evidenciando como ambos os modelos teóricos podem ser relevantes para o
nosso estudo. O objetivo dessa seção é apresentar uma possível articulação
entre esses modelos teóricos, cuja finalidade é servir de suporte para nossa
análise de dados.
Um aspecto em que os dois quadros se encontram é a noção de
contrato didático estabelecido entre professores e alunos, já que a
diferenciação entre os tipos de geometrias é caracterizada por rupturas de
contrato, que são produzidas entre uma e outra geometria. Então, podemos
afirmar que o tipo de situações-problema e os procedimentos de sua resolução
vão depender do contrato didático estabelecido que dita regras ou estratégias
de resolução requeridas do aluno e aceitas pelo professor como meio de
validação.
Essa afirmação pode ser observada no exemplo 1 que propõe a
construção de figura simétrica apresentado nas seções anteriores, em que a
diferenciação dos tipos de geometria (G0, G1 e G2) está relacionada aos
objetos e ao tipo validação. Por outro lado, como as geometrias são suscetíveis
de controle uma sobre a outra, observamos que, durante uma mesma atividade
(ou uma sequência de atividades), a interação entre sujeitos e milieu pode
ocorrer na passagem de uma geometria para outra.
No caso de situações-problema envolvendo a simetria ortogonal,
podemos comparar a situação S-3 à geometria G0. Nessa situação, o milieu M-
138
3 é formado por objetos “concretos”: físicos (papel quadriculado, papel
decalque, espelho, uma figura desenhada no papel) ou não (transformação
geométrica, simetria ortogonal, construção geométrica, mediatriz, distância
entre ponto e reta, etc), objetos mínimos disponíveis para que o aluno E-3
possa começar a agir numa situação adidática. A validação local é feita de
forma perceptiva, por meio de medições, comparações e sobreposições.
Na situação S-2, o milieu M-3 e a situação S-3 constituem o milieu M-2,
sobre o qual o aluno E-2 age, comparando com G1, os objetos ainda são
concretos (forte ligação com o real) e a validação local perceptiva. As
conjecturas são formuladas baseadas nas figuras construídas e sua validação
local se dá por meio da verificação de propriedades utilizando instrumentos de
medida.
Tecendo um paralelo entre S-1 e G2 identificamos os objetos como
teóricos, mas com referência ao real, e à validação do tipo perceptivo-
-dedutiva. Nesse caso, o aluno E-1 age sobre o milieu M-1, formado pelo milieu
M-2 e a situação S-2, buscando justificativas matemáticas por meio de
definições, teoremas e propriedades. Ainda em G2, temos a institucionalização,
momento em que o professor P0 em interação com os alunos E0 age sobre o
milieu M0, no qual estão validadas localmente as conjecturas elaboradas pelos
alunos. Nessa institucionalização é feita uma validação global, o saber
construído fica disponível para a turma. O Esquema a seguir ilustra esta
articulação entre os quadros teóricos.
Figura 35. Articulação entre os quadros teóricos
139
Fonte: Elaboração da autora
O conflito sabido/percebido tende a aparecer entre as fases de
formulação e validação (no sentido de Brousseau), isto é, entre as situações S-
2 e S-1, quando os sujeitos colocam em julgamento seus argumentos, isto é,
as conjecturas formuladas, momento em que as dificuldades podem se tornar
aparentes e ser resolvidas na interação do grupo.
Neste trabalho, apesar de os quadros teóricos poderem ser articulados
em determinadas fases, eles foram utilizados de forma que um complemente o
outro, enquanto a Teoria das Situações Didáticas auxilia na compreensão dos
processos de ensino e de aprendizagem, por um lado no estudo e na análise
das várias etapas da atividade do professor e por outro, da atividade do aluno
caracterizada, principalmente, pela interação com o milieu. Esse processo é
finalizado com a interação entre alunos e professores que produzem
conhecimentos de diferentes aspectos pelas ambas as partes.
O quadro dos Paradigmas Geométricos orienta de forma específica o
estudo do desenvolvimento do pensamento geométrico dos sujeitos, em que se
busca compreender a influência da ação do professor por meio da proposta
adequada de situações-problema no estabelecimento da relação entre
percepção e dedução.
No próximo capítulo, apresentaremos a metodologia e os procedimentos
metodológicos utilizados na pesquisa.
140
141
CAPÍTULO 5
METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
Visando alcançar nossos objetivos e responder nossa questão de
pesquisa, escolhemos a Engenharia Didática (ARTIGUE, 1995) como
metodologia de pesquisa e buscamos apoio nas contribuições de Schön (2000)
para construir um ambiente de ação e reflexão, sobretudo nas
experimentações com os professores. Neste capítulo, apresentamos de modo
breve as fases de uma Engenharia Didática e a descrição dos procedimentos
de coleta de dados adotados para a execução da parte experimental da
pesquisa. Por fim, apresentamos, ainda, o campo e os sujeitos da pesquisa.
5.1 A Engenharia Didática e a formação de professores
Para entender o que ocorre durante o processo que envolve professores
num trabalho de ação e reflexão sobre a ação, acreditamos que nossos
objetivos e o problema proposto para este trabalho, nos aproximaram de uma
pesquisa do tipo qualitativo. Segundo D´Ambrósio (2002, p. 10), a pesquisa
qualitativa “[...] tem como foco entender e interpretar dados e discursos, mesmo
quando envolve grupos de participantes”.
O foco da pesquisa é estudar os processos de ensino e de
aprendizagem acerca do objeto matemático simetria ortogonal. Acreditamos
que a construção de um ambiente de ação e reflexão em cooperação com
professores de Matemática em uma escola da rede pública de ensino da
cidade de Jequié, na Bahia, permitirá estudar alguns elementos da prática dos
professores, sujeitos da pesquisa. Para tanto, identificamos como metodologia
142
de pesquisa para este estudo a Engenharia Didática. A escolha foi fortalecida
com os argumentos de Chesnais (2009) sobre a necessidade de seu estudo
ser confrontado com outros cenários como, por exemplo, os de uma
Engenharia Didática e pela necessidade de investigar como uma formação de
professores influenciaria na prática deles.
A Engenharia Didática é uma metodologia de pesquisa do tipo
qualitativa, de cunho experimental, que surgiu com a Teoria das Situações
Didáticas, cujo objetivo é produzir conhecimento na área de Educação
Matemática e verificar se os métodos criados são eficientes. Segundo Artigue
(1995), ela é processada a partir de quatro fases, descritas abaixo com
adequação ao nosso quadro de estudo.
Primeira fase: composta dos estudos preliminares que se apoiam num
quadro teórico e os conhecimentos adquiridos sobre o tema estudado. Nesse
sentido, realizamos o estudo do objeto matemático por meio de uma breve
investigação histórica sobre as transformações geométricas, mais
especificamente sobre a simetria ortogonal; efetuamos um estudo do objeto
simetria ortogonal do ponto de vista geométrico e algébrico; realizamos, ainda,
uma investigação sobre alguns trabalhos desenvolvidos no Brasil e na França
que envolviam o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal.
Apresentamos, também, nessa fase, o referencial teórico composto pelo
quadro dos Paradigmas Geométricos no sentido de Parzysz (2001; 2006) e a
Teoria das Situações Didáticas, proposta por Brousseau (1997) e Margolinas
(2002). Foi feito um estudo da simetria ortogonal à luz da Ecologia do Didático,
em que analisamos como esse objeto é tratado nos documentos curriculares e
em alguns livros didáticos. Finalmente, apresentamos o perfil dos professores,
sujeitos da pesquisa, levando em consideração formação docente,
desenvolvimento profissional e a prática docente (no que se refere ao ensino
de geometria);
Segunda fase: é a fase de concepção e análise a priori de situações
didáticas reguladas por variáveis de comando, as quais são divididas em dois
tipos: as variáveis macro-didáticas (globais) que consistem na organização
global da engenharia e as variáveis micro-didáticas (locais) que consistem na
organização de uma fase ou sessão da Engenharia Didática. Nessa fase,
construímos uma sequência didática sobre a simetria ortogonal, cujo objetivo
143
era a aplicação aos professores de Matemática e, posteriormente, a alguns de
seus alunos, sujeitos da pesquisa. Realizamos a análise, a priori, do conjunto
de atividades que compunha a referida sequência didática e, para tal,
utilizamos a Teoria das Situações Didáticas, associada, por meio de nossa
proposta de articulação, ao quadro dos Paradigmas Geométricos.
Terceira fase (Experimentação): é o momento da aplicação das
situações de ensino concebidas e analisadas na fase anterior. Essa fase foi
dividida em três momentos. No primeiro momento, a experimentação com os
professores, em que esses resolveram, analisaram e discutiram por meio de
um debate coletivo a sequência didática pré-elaborada. No segundo momento,
a aplicação da sequência didática, analisada e modificada pelos professores, a
alguns de seus alunos, que cursavam o 8º ano do Ensino Fundamental. Nesse
momento, espera-se que um componente essencial do contrato didático, a
devolução, venha à tona. No terceiro e último momento, a análise dos
professores nos registros fornecidos pelos alunos ao resolverem as atividades
propostas na sequência didática. Durante a experimentação, a coleta de dados
se deu por meio das produções escritas de alunos e professores, gravações de
áudio das reuniões com os docentes e questionários aplicados aos
professores.
Quarta fase (Análise a posteriori e validação): nessa fase, analisamos
os dados coletados em comparação com a análise a priori. Este é o momento
de validar ou refutar as hipóteses consideradas. A fase foi dividida em quatro
partes. Na primeira, fizemos a análise, a posteriori, das respostas dos
professores ao conjunto de atividades que compunha a sequência didática. Na
segunda parte, apresentamos a análise das respostas dos docentes ao
questionário discursivo que propunha uma análise das atividades da sequência
didática e dos dados produzidos, por meio do áudio gravado nos debates
coletivos. Na terceira, fizemos a análise, a posteriori, dos registros dos alunos
da mesma sequência didática, porém, analisada e modificada pelos
professores. A quarta e última parte consta de uma reflexão sobre a análise
dos professores a propósito dos registros dos alunos frente à sequência
didática aplicada.
Para o desenvolvimento da terceira fase, apoiamo-nos nas contribuições
de Schön (1995; 2000) com o objetivo de criar um ambiente em que, durante a
144
resolução e análise do conjunto de atividades que compõe a sequência didática
e dos registros dos alunos ao responderem as questões, os professores
fossem capazes de refletir sobre sua prática. Esse autor considera que o
conceito de reflexão sobre a prática envolve um movimento triplo apoiado no
conhecimento-na-ação, na reflexão-na-ação e na reflexão-sobre-a-ação.
Em relação ao conhecimento-na-ação, Schön (2000), refere-se aos
tipos de conhecimentos revelados nas ações inteligentes, caso em que o ato
de conhecer está na ação. Sendo assim, conhecer sugere a qualidade
dinâmica de conhecer-na-ação que, ao serem descritas, são convertidas em
conhecimento-na-ação. Na escola, o professor deve ajudar o aluno a articular o
seu conhecimento-na-ação com o saber escolar, o que pode ser feito no
planejamento de situações de ensino adequadas.
A Reflexão-na-ação é uma reflexão no meio da ação sem interrompê-la,
que serve para dar nova forma ao que se está fazendo. Num processo de
reflexão na ação, o professor permite-se ser surpreendido pelo que o aluno faz;
procura compreender a razão pela qual foi surpreendido; reformula o problema
suscitado pela situação de ensino; coloca uma nova questão ou estabelece
uma nova tarefa para testar a hipótese que formulou sobre o modo de pensar
do aluno.
A Reflexão-sobre-a-ação é um pensar retrospectivo sobre a ação. Após
o experimento, o professor pode pensar no que aconteceu e observou, no
significado dado aos acontecimentos e, por conta disso, adotar outros
procedimentos.
Segundo Schön (1995), o processo de reflexão na ação não exige
palavras; por outro lado, refletir sobre a reflexão-na-ação é uma ação, uma
observação e uma descrição que exige o uso de palavras.
De acordo com Perez, Costa e Viel (2002, p.54, grifo do autor) “a
reflexão é vista como um processo em que o professor analisa sua prática,
compila dados, descreve situações, elabora teorias, implementa e avalia
projetos e partilha suas ideias com colegas e alunos, estimulando discussões
em grupo”.
Almeida (2003) avalia que, durante um processo de formação, o
educador pode vivenciar vários papéis, como o de aprendiz, o de observador
da atuação de outro educador, o de gestor de atividades desenvolvidas no
145
grupo e o de mediador junto com os outros aprendizes. Nesse momento, cada
componente do grupo é levado a refletir sobre sua prática.
Na fase final da pesquisa, utilizamos o conceito proposto por Schön
(2000) a respeito da reflexão sobre a prática, e o modelo de níveis da atividade
do professor, proposto por Margolinas (2002), para analisar a visão dos
docentes, sujeitos da pesquisa, durante e após as investigações.
5.2 A produção e coleta de dados
A coleta de dados ao longo da pesquisa foi constituída pelas seguintes
etapas:
Questionários aplicados aos professores: são dois instrumentos: o primeiro é
constituído por questões, cujo objetivo é traçar o perfil dos docentes e questões
referentes ao desenvolvimento profissional. O segundo instrumento tem por
finalidade levantar informações sobre a prática docente, quando se levam em
consideração o ensino de geometria, as dificuldades nos processos de ensino
e de aprendizagem e as estratégias utilizadas para minimizar tais dificuldades.
Instrumento aplicado aos professores: é composto da sequência didática pré-
-elaborada, referente à simetria ortogonal e a questões em que se propõe a
análise didática (e/ou modificação) do conjunto de atividades que compõe a
sequência didática. Na primeira, o objetivo é identificar as concepções de
professores quanto ao ensino da simetria ortogonal. Já as questões discursivas
têm por finalidade principal instigar o professor a refletir sobre a própria prática
e preparar-se para as próximas fases da pesquisa.
Instrumento aplicado aos alunos: sequência didática composta pelo conjunto
de atividade sobre a simetria ortogonal, analisadas (e/ou modificada) pelos
professores. Nesse caso, o objetivo é identificar e analisar as concepções dos
alunos quanto à simetria ortogonal e relacioná-las às análises realizadas pelos
professores, fazer a análise sobre a atividade do professor no momento da
experimentação e, finalmente, propor aos professores a análise de alguns dos
registros oriundos da aplicação desse instrumento.
Entrevistas com alunos e professores: tiveram como objetivo tirar dúvidas com
relação a algum tipo de dificuldade, tanto dos alunos quanto dos professores e
poderá ocorrer durante a investigação.
146
Além dos instrumentos de coleta de dados apresentados, as reuniões
regulares com os professores de matemática em ambiente escolar, originaram
por meio das gravações de áudio e/ou observações anotadas pela autora, uma
gama de dados que foram produzidos na interação entre a pesquisadora e os
professores pesquisados. Um desses dados foi a produção coletiva, pelos
professores, de mapas conceituais sobre simetria, que foi solicitado após uma
discussão proposta pela pesquisadora sobre a utilização de mapas conceituais
no ensino de matemática.
5.3 O campo e os sujeitos da pesquisa
5.3.1 A escola
A unidade escolar escolhida está localizada na região central da cidade
de Jequié no sudoeste Baiano. A cidade possui 161.52830 habitantes e está
localizada a 365 km de Salvador, no sudoeste da Bahia, na zona limítrofe entre
a caatinga e a zona da mata. O primeiro critério para a escolha da escola,
cenário de nossa pesquisa, era o de que a unidade pertencesse à rede pública
de Educação Básica. Outro motivo determinante para a escolha da escola foi o
acolhimento que recebemos pela coordenação pedagógica, direção e pelos
professores de Matemática, ali lotados.
A escola foi fundada em maio de 1994 e passou por um período de
mudança em 2006. Pregando disciplina e compromisso com a educação, ela
vem conquistando um lugar de destaque no ensino público da cidade. Isso
pode ser percebido por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica - IDEB31 que, em 2005 fora observado como 1.8 e em 2013 passou
para 5.2. Com 1055 alunos distribuídos nos três turnos (manhã, tarde e noite),
a escola oferece o Ensino Fundamental II e Ensino Médio, utilizando nos três
períodos 13 salas de aula. Essa unidade educacional possui ainda, à
disposição dos alunos, uma biblioteca e um laboratório de informática que, no
momento, passa por reestruturação.
30 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE disponível em < http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=291800&idtema=130&search=bahia|jequie|estimativa-da-populacao-2015->, acesso 13 out. 2015. 31 Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP disponível em <http://ideb.inep.gov.br/resultado/>, acesso 09 set 2014.
147
As reuniões com os professores são realizadas no horário destinado às
Atividades Complementares (A.C.), quinzenalmente, nas dependências da
própria escola. Os encontros são realizados na sala dos professores, por um
tempo máximo de 01h 30 min.
5.3.2 Caracterização dos sujeitos
Nossa primeira abordagem com os professores foi realizada em 10 de
setembro de 2013, com uma visita, em que apresentamos, por meio de um
PowerPoint, nossa proposta de pesquisa e fizemos o convite de participação
dos docentes. Nesse primeiro contato, conversamos com os professores sobre
o ensino de geometria e eles declararam que na escola os conteúdos de
geometria foram trabalhados, até o ano de 2009, como uma disciplina
separada dos outros conteúdos de Matemática em todas as séries do Ensino
Fundamental II.
Atualmente, somente o 8º ano tem uma disciplina de geometria e outra
de Matemática. O motivo dessa escolha seria pelo fato de que esse ano
escolar é considerado pelos professores de Matemática como período de
transição para os alunos na passagem da aritmética para a álgebra. Foi, ainda,
nesse encontro, que deixamos claro o caráter acadêmico de nosso trabalho e a
participação em regime voluntário dos convidados. Observamos que os quatro
professores sujeitos da pesquisa são todos docentes efetivos do Estado da
Bahia e estão lotados na escola.
O segundo encontro com os professores, em 01 de outubro de 2013, foi
dividido em dois momentos. No primeiro, apresentamos o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)32 que foi lido, discutido e
prontamente assinado pelos docentes. No segundo momento, solicitamos aos
professores que respondessem um questionário, cujo objetivo era traçar o perfil
deles mesmos. Esse primeiro instrumento de coleta de dados constava de sete
questões, das quais as quatro primeiras eram:
32 O projeto que deu origem a esta tese foi aprovado pelo comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por meio do sistema Plataforma Brasil sob nº 13563713.2.0000.5482, cujo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido consta nos anexos deste trabalho.
148
Quadro 13. Quatro primeiras questões do questionário 1 aplicado aos professores
Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4
Atualmente sou professor do(s): ( ) Anos iniciais do Ensino Fundamental ( ) Anos finais do Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio.
Você tem ____anos de experiência como professor. E como professor de Matemática?_____
Qual a sua formação profissional? Graduação _______ Especialização ____ Outros___________
Você possui uma segunda formação a nível universitário? Qual_____________
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Nosso objetivo com a primeira questão era identificar os professores que
atuavam no Ensino Fundamental II, já que nossa pesquisa é direcionada para
docentes que atuam nesse nível de ensino. Nossa intenção ao questionar
quantos anos de experiência tinham os professores, era identificar se eles
vinham de uma formação recente ou não, uma vez que, “[...] trabalhar remete a
aprender a trabalhar, ou seja, a dominar progressivamente os saberes
necessários à realização do trabalho” (TARDIF, 2011, p.57). Como em
qualquer outra profissão, o tempo de professorado exerce forte influência sobre
a prática docente.
A necessidade de planejar as fases de experimentação foi o principal
motivo de indagarmos aos professores sobre sua formação profissional e se
eles possuíam outra formação de nível superior. No Quadro 14, apresentamos
uma síntese das respostas dos professores sobre a formação acadêmica e,
para garantir o anonimato dos participantes utilizamos nomes fictícios:
Quadro 14. Formação dos docentes sujeitos da pesquisa.
Nome Graduação Experiência
Docente (anos)
Nível de Atuação
Disciplinas relacionadas à geometria cursadas na graduação
Pós – Graduação
Lato Sensu
Stricto Sensu
Jacinto
Licenciatura em
Matemática e
Licenciatura em Química
13
Ensino Fundamental II e Ensino
Médio
Geometria plana, Geometria Espacial e Geometria Analítica.
Ensino de Ciências
Mestrando em
Matemática
Margarida Licenciatura
em Matemática
18 Ensino
Fundamental II
Geometria Plana e geometria analítica
Ensino de Matemática
----
149
Narciso Licenciatura
em Matemática
16
Ensino Fundamental II e Ensino
Médio
Fundamentos II, Geometria Analítica I e Geometria Analítica II, Desenho Geométrico.
Educação Matemática
Mestrado em
Matemática
Rosa Licenciatura
em Matemática
10
Ensino Fundamental II e Ensino
Médio
Álgebra Linear I e Álgebra Linear II, Cálculos, Geometria Analítica I e Geometria Analítica II.
Ensino de Matemática
---
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio do Quadro 14, é possível observar a preocupação dos
professores em relação à continuidade de sua formação, pois todos têm pós-
-graduação Lato Sensu na área de ensino; um deles terminou há pouco tempo,
o mestrado em Matemática e outro o está cursando. Ao inquirir sobre as
disciplinas relacionadas à geometria, cursadas na graduação, temos em
comum geometria plana e geometria analítica, e apenas um professor cita a
disciplina geometria espacial, o que mostra estar em consonância com as
Diretrizes Curriculares para a Licenciatura em Matemática, pois, segundo Gatti
e Barreto (2009, p.143), “os conteúdos considerados comuns a esses cursos
de Licenciatura são: Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear,
Fundamentos de Análise, Fundamentos de Álgebra, Fundamentos de
Geometria e Geometria Analítica”.
Complementado o Quadro 14, sobre a formação docente, perguntamos
aos professores, se durante sua vida profissional eles já haviam feito algum
curso de capacitação ou formação de professores, por conta própria ou por
intermédio da Secretaria Estadual de Educação, que cursos foram esses e o
que eles se lembravam das discussões provenientes desses cursos. No
Quadro 15, as respostas dos professores:
150
Quadro 15. Respostas dos professores sobre cursos realizados
Professores Cursos realizados pelos docentes
Jacinto Sim. Gestar33
Margarida Sim. Metodologia de Ensino de Matemática, Mídias, EJA, Gestar, etc.
Narciso Sim. Curso de Mídias digitais foi discutido as possíveis mídias que podem ser
usadas como ferramenta de ensino.
Rosa Sim. Gestar, EJA, etc. Recordo-me das abordagens sobre as metodologias
da Educação Matemática.
Fonte: dados da pesquisa.
O Quadro 15 mostra que os docentes participam de cursos de
capacitação ou formação continuada oferecidos pela Secretaria Estadual de
Educação, mas, ao responder o quanto se lembram desses cursos, deram
respostas superficiais ou não responderam, o que não é de se estranhar, pois
uma
razão comumente invocada nos estudos críticos sobre formação continuada é a limitada, senão ausente, participação dos professores na definição de políticas de formação docente, como categoria profissional, e na formulação de projetos que têm a escola e o seu fazer pedagógico como centro. Nestas condições, eles não se envolvem, não se apropriam dos princípios, não se sentem estimulados a alterar sua prática, mediante a construção de alternativas de ação, ao mesmo tempo em que se recusam a agir
como meros executores de propostas externas. (GATTI; BARRETTO,
2009, p. 201)
Gatti e Barreto (2009) ainda citam outras razões para as dificuldades
impostas à formação continuada, promovidas por meio de políticas públicas.
Dentre elas, estão: a dificuldade da formação em massa, a brevidade dos
cursos realizados nos limites dos recursos financeiros destinados e a
dificuldade de fornecer os instrumentos e o apoio necessários para a
realização das mudanças esperadas.
33 O Programa Gestão da Aprendizagem Escolar oferece formação continuada em Língua Portuguesa e Matemática aos professores dos anos finais (do sexto ao nono ano) do Ensino Fundamental, em exercício nas escolas públicas. A formação possui carga horária de 300 horas, sendo 120 horas presenciais e 180 horas a distância (estudos individuais) para cada área temática. O programa inclui discussões sobre questões prático-teóricas e busca contribuir para o aperfeiçoamento da autonomia do professor em sala de aula. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12380:gestar-ii&catid =315:gestar-ii&Itemid=642>, acesso 02 dez 2014.
151
As discussões na primeira reunião, sobre trabalhar os conteúdos de
matemática em duas disciplinas, geometria e matemática nos motivaram a
perguntar aos professores: o que você entende por geometria?
Quadro 16. Respostas dos professores à questão: o que você entende por geometria?
Professores Respostas dos professores
Jacinto Parte da matemática que estuda as figuras.
Margarida Parte da matemática que estuda medidas e suas relações.
Narciso A parte da matemática que estuda as propriedades dos objetos
geométricos na natureza.
Rosa É uma área do saber (parte da matemática) que estuda as formas e
dimensões das figuras.
Fonte: Dados da pesquisa
Percebemos, nos registros dos professores, que a geometria é definida
por todos eles como uma parte da Matemática que, de um modo geral, está
relacionada ao estudo das figuras (forma, dimensões) e suas propriedades.
Mesmo vendo a geometria como parte da matemática, os professores ainda
defendem a importância de manter como duas disciplinas a geometria e a
matemática em todos os anos do Ensino Fundamental II. O principal motivo
para essa separação, segundo eles, seria o aumento da carga horária total
destinada à Matemática. Atualmente, a separação permanece apenas no 8º
ano, a carga horária total para os conteúdos de matemática é de 7 horas
semanais, sendo 2 horas para a disciplina geometria e 5 horas para a disciplina
matemática, o que propicia aos professores mais tempo para trabalhar os
conteúdos dessa matéria.
Nossa terceira e última reunião de 2013, foi no dia 22 de outubro, isso
porque os professores precisavam encerrar o ano letivo, ou seja, finalizar as
avaliações discentes e dar sequência ao período de recuperação e provas
finais. Nesse encontro, ao fazer uma breve apresentação sobre mapas
conceituais, percebemos que dois professores já conheciam essa ferramenta.
Após algumas discussões sobre a aplicação dessa ferramenta no ensino
(como ferramenta de aprendizagem, de avaliação, de análise e planejamento
do currículo) e, em particular, no ensino de Matemática, solicitamos aos
professores que confeccionassem um mapa conceitual sobre simetria.
Indicamos aos docentes que utilizassem o software Cmap Tools, fornecemos o
152
site para download, e enviamos, já no final do ano de 2013, alguns artigos
sobre a elaboração de mapa conceitual e sua utilização no ensino.
A proposta inicial foi planejada para que os professores realizassem
individualmente a tarefa, no período do recesso e férias, mas, por motivos
pessoais, em nossa primeira reunião de 2014, dia 04 de março, os docentes
confirmaram que não tinha sido possível fazer o mapa conceitual. Então,
acertamos que na próxima reunião discutiríamos os mapas construídos por
eles. Nessa ocasião, aplicamos o segundo questionário aos professores,
instrumento que será analisado no capítulo 6.
Segundo relato dos professores, no dia 18 de março eles se reuniram no
horário destinado ao A.C. e preferiram organizar-se em um único grupo para
fazer uma construção coletiva do mapa conceitual sobre simetria.
Na reunião de 25 de março, os docentes apresentaram os mapas
conceituais construídos e fizeram uma descrição do processo de construção.
Os mapas conceituais e os procedimentos de sua confecção também são
analisados no capítulo 6.
No dia 15 de abril de 2014, retornamos à escola para apreciação do
texto produzido pela autora com as análises do material colhido/produzido nas
reuniões anteriores junto aos professores, sujeitos da pesquisa. Nesse
encontro, por causa da finalização da primeira unidade, havia na escola apenas
a professora Margarida, a quem apresentamos o texto, sendo por ela, avaliado
e aprovado; quanto aos outros professores, o texto foi enviado por e-mail para
avaliação, tendo sido aprovado com algumas sugestões, como, por exemplo, a
inserção no texto do primeiro rascunho do mapa conceitual por eles produzido.
Essa primeira etapa da pesquisa foi finalizada no dia 10 de junho de
2014, com a avaliação, pelos professores, de todo o processo de construção
do mapa conceitual, tanto em termos de evolução pessoal, quanto do ponto de
vista profissional.
Para facilitar a distinção entre os procedimentos de formação e os de
pesquisa, vamos seguir a proposta de Almeida e Bruno (2004), ou seja,
construir um fluxograma de processos, cuja primeira parte apresentamos na
Figura 36.
153
Figura 36. Fluxograma de processos 1ª parte
Fonte: Elaboração da autora
No período de 15 de abril a 27 de maio de 2014, estávamos envolvidos
na construção e análise a priori, da sequência didática aplicada aos
professores, o que condiz com a preparação do primeiro experimento a ser
aplicado a eles, ou seja, a 2ª fase da Engenharia Didática.
Apresentamos, a seguir, a continuação do fluxograma de processos com
a 2ª fase da engenharia didática que é caracterizada apenas por
procedimentos de pesquisa.
154
Figura 37. Fluxograma de processos 2ª parte
Fonte: Elaboração da autora
Na reunião do dia 27 de maio, aplicamos aos professores o 3º
instrumento de coleta de dados para ser respondido individualmente. Nossa
intenção era a de que o instrumento fosse respondido no horário de A.C., mas
na escola estava ocorrendo a aplicação das provas da OBMEP34 e a maioria
dos professores estava envolvida naquela atividade. Eles, então, se
dispuseram a responder o instrumento em casa e registrar os procedimentos
de resolução; a discussão e entrega do instrumento respondido seria na
reunião seguinte.
Retornamos à escola, para novo encontro em 10 de junho para
discussão sobre as questões respondidas pelos professores. Nessa ocasião
eles tinham respondido as situações-problema, mas tinham dúvidas quanto às
questões, principalmente aquelas que solicitavam uma análise didática das
situações-problema; não tinham, portanto, terminado de responder ao
instrumento. Esclarecemos as dúvidas e preferimos aguardar até o retorno das
aulas em julho para finalizar essa fase da pesquisa. Na Figura 38,
34 Olimpíadas Brasileiras de Matemática da Escola Pública.
155
apresentamos a terceira parte do fluxograma de processos que consta da 3ª
fase da Engenharia Didática, ou seja, a experimentação35.
Figura 38. Fluxograma de processos 3ª parte
Fonte: elaboração da autora
Na reunião do dia 22 de julho, estavam presentes três professores que
confirmaram a leitura do segundo texto com as análises do questionário 2
aplicado a eles e enviado por e-mail, cujo texto foi aprovado pelos docentes. A
reunião prosseguiu com a discussão sobre o conjunto de atividades que
compõem a sequência didática sobre simetria ortogonal e questões que
orientavam as análises delas pelos professores. No final da reunião, os
docentes propuseram algumas modificações no instrumento.
No encontro do dia 19 de agosto, foi apresentada aos professores a
sequência didática por eles analisada com as modificações propostas no
encontro anterior (essas modificações foram discutidas pelos presentes), o
termo de autorização de participação a ser enviado aos pais dos alunos
35 O projeto inicial previa refazer todo o processo de experimentação com a alteração de que todas as etapas seriam executadas pelos professores, sujeitos da pesquisa. Neste caso, a intervenção da pesquisadora seria mínima, por falta de tempo, deixamos este segunda estudo como perspectiva estudos futuros.
156
sujeitos da pesquisa. Finalizamos o encontro com a decisão da data e da turma
em que seria aplicada a sequência didática.
Foi necessário mais um encontro com os professores, no dia 02 de
setembro, antes da aplicação da sequência didática aos alunos, para tratar dos
procedimentos específicos da experimentação. Os professores foram
orientados a evitar, ao máximo, dar respostas aos alunos, pedir aos alunos que
interagissem entre si para incentivar as argumentações, deixar para o momento
final a institucionalização das situações-problema.
Em 09 de setembro, aplicamos aos alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental II a sequência didática analisada e modificada pelos professores
nas reuniões anteriores. No momento da experimentação, apenas um
professor participou da aplicação, já que os outros se encontravam em sala de
aula e por isso não puderam participar.
No dia 14 de outubro de 2014, entregamos aos professores, sujeitos da
pesquisa, o material para que efetuassem a pós-análise nos registros de
algumas duplas de alunos sobre a sequência didática a elas aplicada.
A devolução do material produzido pelos professores à pesquisadora
ficou agendada para o dia 11 de novembro de 2014, mas, na ocasião, os
professores não haviam terminado de preencher o quadro síntese, em que
faziam o confronto entre a pré-análise realizada por eles da sequência didática
e as observações efetuadas nos registros de algumas duplas de alunos. Dos
quatro, apenas dois36 professores entregaram no dia 25 de novembro o
material respondido, porém a reunião com os docentes nessa data não
ocorreu, porque eles estavam aplicando provas finais aos alunos da escola.
Com o encerramento do ano letivo, as discussões sobre essa etapa
experimental da pesquisa foram transferidas para o ano de 2015.
No dia 17 de março de 2015, realizamos a reunião que tratou da
discussão sobre a pós-análise efetuada pelos docentes, sobre os
procedimentos e respostas fornecidos por algumas duplas de alunos. Neste
encontro, participaram três professores: Narciso, Margarida e Jacinto.
Aproveitamos a oportunidade para solicitar que os docentes professores
elaborassem de forma independente, uma situação de ensino sobre a simetria
36 Uma professora deixou a pesquisa por entrar em licença maternidade. O material respondido e analisado pelo outro professor foi extraviado por um funcionário da escola.
157
ortogonal, levando em consideração as dificuldades detectadas por eles ao
analisarem os protocolos fornecidos pelas duplas de alunos.
Apesar de termos marcado uma última reunião para o dia 05 de maio,
esta não ocorreu, estando na escola apenas a professora Margarida. O
professor Narciso havia sofrido um acidente na mão e estava afastado de suas
atividades profissionais, porém, havia deixado com a professora Margarida a
atividade solicitada. Recebemos as situações de ensino construídas pelos dois
professores.
Para ilustrar a continuação da 3ª fase da Engenharia Didática
apresentamos, na Figura 39, a continuação da 3ª parte do fluxograma de
processos.
Figura 39. Continuação da 3ª parte do fluxograma de processos
Fonte: Elaboração da autora
No dia 19 de maio de 2015, realizamos a última reunião com os
professores, sujeitos da pesquisa. Nesse encontro, foi efetuada uma discussão
sobre as situações de ensino propostas pelos próprios professores, provocada
pelos questionamentos por nós proferidos. Finalizando o encontro, pedimos
que os docentes avaliassem o processo investigativo.
158
A quarta e última fase da Engenharia Didática também foi concebida em
quatro etapas. Esta fase também é marcada apenas por procedimentos de
pesquisa. A Figura 40 expõe o desenvolvimento do processo na fase final da
investigação.
Figura 40. Fluxograma de processos 4ª parte
Fonte: Elaboração da autora
Ao todo, foram 18 encontros com os professores de Matemática, na
escola. Naqueles momentos, vivenciamos suas angústias e compartilhamos,
por meio de discussões e reflexões, nossos conhecimentos. No próximo
capítulo, apresentamos os procedimentos iniciais de experimentação.
159
CAPÍTULO 6
PROCEDIMENTOS INICIAIS DE
EXPERIMENTAÇÃO
Neste capítulo, apresentamos os procedimentos iniciais de
experimentação, isto é, a análise de um questionário aplicado aos professores,
sujeitos da pesquisa, em que buscamos elementos sobre a prática docente.
Apresentamos ainda análise de mapas conceituais sobre simetria
confeccionados pelos docentes.
6.1 Análise do questionário relacionado à prática docente
O segundo questionário utilizado para colher dados sobre professores
de Matemática tinha como foco a prática docente. O objetivo da primeira
questão era obter informações sobre onde os professores buscavam subsídios
para o planejamento de suas aulas e indícios da frequência com que isso
acontecia. Na Tabela 2, quantificamos o número de respostas dadas pelos
professores.
Tabela 2. Frequência da utilização de alguns materiais no planejamento das aulas de
matemática
Materiais que utiliza no planejamento das aulas
Frequência
Sempre Às vezes
O livro didático adotado 4
Outros livros 2 2
Obtém atividades via internet
4
Livros e apostilas de cursos realizados
4
Atividades elaboradas pelo próprio professor
2 2
Outros materiais Um dos professores citou softwares matemáticos
Fonte: dados da pesquisa
160
As respostas dos professores, observadas na Tabela 2, confirmam a
preferência unânime desses docentes em utilizar, principalmente, o livro
didático para planejar suas aulas. Acreditamos que o motivo para essa postura
se dê pelo fato de que,
o livro didático não é somente um guia, ou um organizador do currículo para o professor, mas também um recurso de complementação de conhecimentos, sejam eles relativos a conteúdos específicos da disciplina, sejam de propostas metodológicas de ensino. (SILVA, 2010, p.72)
Contudo, as respostas dos docentes ainda apontam que outras opções
como, consulta a outros livros, atividade elaborada pelo próprio professor e
atividades obtidas via internet, também são levadas em consideração com
alguma frequência.
Considerando que a concepção de aprendizagem que o professor
possui influencia diretamente em sua prática profissional (FIORENTINI, 1995),
conforme a Figura 41, questionamos:
Figura 41. Questão 2 referente à concepção de aprendizagem do professor
Fonte: Questionário 2 aplicado aos professores
Nessa questão os professores poderiam, se quisessem, marcar mais de
uma opção. Observamos que os quatro professores marcaram os itens (e) e (f),
cada um dos itens (b), (c) e (d) foi escolhido por dois professores, apenas um
docente marcou a opção (a). A partir desse questionamento, identificamos nas
respostas dos sujeitos, indícios de que o aluno aprende um conteúdo
matemático quando ele tem capacidade de resolver corretamente exercícios e
161
condições de argumentar sobre o procedimento de resolução adotado diante
de uma situação de aprendizagem.
Por outro lado, o fato de serem assinaladas simultaneamente outras
opções da questão 2, além do item (e) parece indicar que esses docentes
também levam em conta que “a reprodução correta pode ser apenas uma
simples indicação de que o aluno aprendeu a reproduzir alguns procedimentos
mecânicos, mas não apreendeu o conteúdo e não sabe utilizá-lo em outros
contextos”. (BRASIL, 1998, p.37)
As questões 3, 4, 5 e 6 referem-se, especificamente, ao ensino de
Geometria e têm por objetivo identificar o espaço dado pelos professores de
Matemática aos conteúdos relacionados à Geometria, aos recursos didáticos
por eles utilizados e obter indícios sobre como eles se relacionam com esse
conteúdo. Essas perguntas são apresentadas no Quadro 17.
Quadro 17. Questões 3 a 6 referentes ao ensino de Geometria
Questão 3 Questão 4 Questão 5 Questão 6
Quais são os conhecimentos que os alunos do ensino fundamental II precisam aprender em Geometria?
Quando seu aluno apresenta dificuldades nos conceitos geométricos como você trabalha com a dificuldade do aluno?
Qual é a carga horária semanal que você destina ao ensino de Geometria? a) ( ) Uma aula por semana. b) ( ) Mais de uma aula por semana. c) ( ) Os conteúdos são integrados por isso não sei precisar. d) ( ) Nenhuma aula.
Quais recursos didáticos você utiliza durante as aulas destinadas ao ensino de Geometria? a)( ) Apenas o livro didático b)( ) Utilização de softwares educacionais.Quais? _________ c) ( ) Quadro negro e giz, d)( ) Jogos. Quais?__________ e) ( ) Instrumentos para construções geométricas (compasso, régua graduada, esquadros).
Fonte: Questionário 2 aplicado aos professores
Ao responder a questão 3, dois professores fizeram afirmações gerais
como “operações fundamentais, noção de espaço e forma” (Professor Narciso)
ou “Geometria plana, Geometria espacial” (Professor Jacinto). Uma professora
oferece como resposta “ângulos, polígonos, sólidos geométricos,
proporcionalidade nos triângulos” (Professora Rosa). Nossas observações
mostram que apenas uma professora se baseou na sua experiência em sala
para expor conteúdos que acredita serem necessários para os alunos
aprenderem: “ângulos, polígonos e circunferência” (Professora Margarida).
162
Observamos, a partir das respostas, que os professores não parecem ter
clareza sobre quais conhecimentos os alunos do Ensino Fundamental II
precisam aprender em Geometria.
Apenas um professor não respondeu a quarta questão. Apresentamos
no Quadro18, os extratos das respostas fornecidas pelos outros docentes:
Quadro 18. Respostas dos professores referentes à questão 3.
Professores (as) Resposta dos professores
Narciso
Rosa
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
As orientações dos PCN (BRASIL, 1998) chamam a atenção para as
distorções referentes à ideia equivocada de contextualização, no sentido de
trabalhar apenas com o que se supõe fazer parte do cotidiano do aluno.
Contudo, não descartam a importância das situações cotidianas e sugerem que
os conteúdos de matemática sejam explorados em outros contextos internos à
matéria e contextos de aprendizagem de várias outras áreas do saber. Nesse
sentido, a visão dos professores está em conformidade com essas orientações.
Ao serem questionados sobre a carga horária semanal destinada aos
conteúdos de Geometria, três professores responderam não saber, pois os
conteúdos de matemática são integrados. Uma professora afirmou que destina
duas horas semanais37 para os conteúdos de Geometria, mesmo quando não
está trabalhando com a própria disciplina.
Indagados sobre os recursos didáticos utilizados durante as aulas,
quatro professores marcaram o item (c) quadro negro e giz; dois, o item (d)
jogos, e nesse caso foi citado o Tangram; dois, o item (e) referente a
instrumentos utilizados em construções geométricas como compasso, régua
graduada e esquadro; um professor assinalou o item (b) utilização de softwares
37Observamos que esta é a mesma carga horária da disciplina geometria no 8º ano do Ensino Fundamental II.
163
educacionais e citou Geogebra e Winplot. Nessa questão os professores
também poderiam optar por mais de um item.
Os objetivos das questões de 7 a 11 eram avaliar se os professores
possuíam conhecimentos sobre as recomendações curriculares em
documentos de âmbito nacional e estadual, além de identificar que
conhecimentos seriam esses.
Quadro 19. Questões 7, 8,9 ,10 e 11
Questão 7 Questão 8 Questão 9 Questão 10 Questão 11
Você conhece as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para os 3º e 4º ciclos do Ensino fundamental?
Você conhece as abordagens que os PCN trazem em relação ao ensino dos conteúdos de Geometria para o 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental? Se sim, cite algumas.
Você utiliza as recomendações dos PCN na preparação de suas aulas? a) sim, frequentemente; b) ( ) sim de vez em quando; c) ( ) sim mais esporadicamente; d) não Se sim, descreva um pouco como você os utiliza.
Os professores da escola em que você trabalha, discutem os PCN nas reuniões pedagógicas ou em outros momentos escolares? a) sim, frequentemente; b) ( ) sim de vez em quando; c) ( ) sim mais esporadicamente; d) não
Tem conhecimento sobre as diretrizes curriculares para o ensino de Matemática do Estado da Bahia? Se sim, como obteve tais conhecimentos?
Fonte: Questionário 2 aplicado aos professores
Três dos quatro professores investigados conhecem as propostas dos
Parâmetros Curriculares para o 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental e citam
como recomendações sugeridas naquele documento: a contextualização das
formas geométricas do cotidiano, as construções geométricas para facilitação
da visualização e a necessidade de ressaltar a importância da Geometria, além
de relacioná-la com outros conteúdos de Matemática. Apenas uma professora
diz conhecer mais ou menos as orientações, mas, não expõe nenhuma delas.
A maioria dos professores afirma que utiliza, de vez em quando essas
orientações durante o planejamento de suas aulas. Ao serem inquiridos sobre
como as utilizam, apenas um docente respondeu: ”fazendo contextualização
dos conteúdos de Geometria com o cotidiano, fazendo aplicação dos
conteúdos nas profissões”. Os professores ainda informaram que em reuniões
pedagógicas os PCN são discutidos, de vez em quando.
As diretrizes curriculares para o ensino de matemática Estado da Bahia
são conhecidas por dois professores por intermédio do site da Secretaria
164
Estadual de Educação e da graduação na licenciatura em Matemática, os
outros dois professores revelaram não conhecer as diretrizes.
A importância do conhecimento dos professores, sobre as
recomendações propostas nos documentos curriculares é um fator que pode
influenciar na prática docente. Lima (2006) afirma que o conhecimento do
currículo é um dos elementos que norteiam o trabalho do professor no
momento da tomada de decisões didáticas. Corroboramos essa afirmação e
acreditamos que o desconhecimento do conteúdo desses documentos ou de
parte deles traz prejuízos ao ensino de determinados conteúdos matemáticos,
principalmente àqueles relacionados à Geometria. Apesar de os professores
afirmarem conhecer e até citar algumas orientações desses documentos,
percebemos que eles mesmos não os utilizam com frequência, na preparação
de suas aulas. Essas propostas são discutidas “de vez em quando” pelos
professores da escola, e é possível que esse fato ocorra porque no Brasil não
se tem um currículo obrigatório mínimo a ser cumprido pelas escolas da
Educação Básica.
Quando aplicamos o instrumento analisado, tínhamos por objetivo
conhecer o cenário anteposto para a realização de nosso estudo. Continuando
nesse intuito e avançando rumo a alcançar os objetivos outrora propostos para
a pesquisa, realizamos mais uma etapa dos estudos preliminares que previam
a construção de mapas conceituais, como podemos conferir a seguir.
6.2 Mapas Conceituais
Segundo Novak e Canãs (2010, p.10), “mapas conceituais são
ferramentas gráficas para a organização e representação do conhecimento”.
Seguindo essa definição, solicitamos aos professores que construíssem
um mapa conceitual cuja palavra-chave fosse simetria, e que levariam em
consideração que
eles incluem conceitos, geralmente dentro de círculos ou quadros de alguma espécie, e relações entre conceitos, que são indicados por linhas que os interligam. As palavras sobre essas linhas, que são palavras ou frases de ligação, especificam os relacionamentos entre dois conceitos. (NOVAK E CANÃS, 2010, p.10)
165
Observamos, também, que “um processo de mapeamento exige:
percepção dos componentes-chave do assunto a ser mapeado, a identificação
das conexões entre estes elementos, a interpretação do próprio mapa, o
entendimento da rede de conhecimentos representada graficamente.” (OKADA,
2008, p.201)
Nosso objetivo, propondo a construção de mapas conceituais, era de
que, por meio deles, os professores estabelecessem e observassem as
possíveis relações entre a simetria e os vários outros conteúdos de Geometria
num processo que os levasse, de forma coletiva, a construir conhecimento.
6.2.1. Análise dos mapas conceituais concebidos pelos professores
Segundo os próprios professores, a construção do mapa conceitual teve
algumas etapas. As primeiras construções foram concebidas em ambiente
papel e lápis. O primeiro rascunho de mapa conceitual apresentado pelos
professores destaca qual foi o ponto de partida para os demais. Expomos, na
Figura 42, esse mapa conceitual.
Figura 42. Ponto de partida para a construção dos mapas conceituais
Fonte: Dados da pesquisa
Segundo os professores, inicialmente eles pensaram em fazer duas
subdivisões destacando em quais anos do Ensino Fundamental II a simetria
ortogonal é ensinada, e a outra ligada ao conceito de simetria (o que é, quais
166
são seus tipos). Ressaltamos que, nesse mapa conceitual, os conteúdos ainda
não estão relacionados e, para isso, os docentes precisaram pesquisar, tanto
em livros didáticos quanto em outras fontes.
Sobre o processo de construção dos mapas conceituais, os professores
ponderaram ter sido “foi realizado em conjunto, principalmente o esqueleto.
Eles foram lembrando, um ao outro as questões do conteúdo que estão no livro
didático com que a gente ia trabalhar e aí começamos a construção.” 38
Na etapa seguinte, ainda no ambiente papel e lápis, foram estabelecidos
os conteúdos que poderiam ser relacionados à simetria, e observadas quais
relações poderiam ser feitas entre eles, como podemos ver na Figura 43:
Figura 43. Rascunho de mapa conceitual confeccionado pelos professores no ambiente papel e lápis.
Fonte: Dados da pesquisa
Para a ramificação ligada ao conceito de simetria, os professores
esclarecem que
Essa parte aqui conceitual é uma parte que pode até ter um equivoco ou outro, mas é uma parte que foi pesquisada, ou seja, nós buscamos nos livros os conceitos, aqui não foi nos nossos livros (didáticos) a gente buscou em outros materiais, mas aqui foi mais uma produção individual da gente em relação aos conteúdos 39
38 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2014 39 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2014. Este professor foi escolhido pelos outros docentes para explicar como se deu o processo de construção do mapa conceitual.
167
Os docentes estabeleceram, segundo o livro didático utilizado, em quais
anos do Ensino Fundamental II a simetria é ensinada e quais conteúdos
estudados nesses anos podem ser relacionados a ela, como observaremos nas
declarações a seguir:
Na ramificação do lado direito a gente pensou em que série se ensina e quais são os conteúdos, então a gente identificou, aí foi baseado nas discussões da gente, a gente não viu simetria no 6º ano, mas vimos no 7º, 8º e 9º ano. Por exemplo, 7° ano, a gente botou aqui bissetriz, mediana, sólidos geométricos. A gente foi pensando o seguinte, talvez inicialmente sólido geométrico a gente não veja simetria no sólido, entenda o que eu vou falar, mas se tem uma propriedade dentro de sólidos geométricos que a gente usa simetria aí a gente colocou o conteúdo. 40
De volta à escola, para avaliação da atividade, retomamos a parte final
da última fala do professor e provocamos uma discussão que culminou com um
consenso sobre a diferenciação entre a simetria no objeto, exemplo dado pelo
professor na transcrição acima, e o objeto matemático simetria em que
destacamos sua definição, suas propriedades matemáticas e aplicações dentro
e fora de contextos matemáticos.
Observamos na Figura 43, a vasta quantidade de objetos matemáticos
utilizados na construção do mapa conceitual e as relações propostas para
esses objetos. O Professor Narciso explicou como eles raciocinaram, em
termos de relações matemáticas; nas palavras dele, “a gente pensou na
propriedade, por exemplo, dentro de bissetriz, como se usa no triângulo
equilátero, no triangulo isósceles. A bissetriz é a mediatriz. Então, a gente
pensou mais em propriedades.” 41
Na terceira etapa de construção do mapa, os professores, reunidos na
escola, baixaram o Cmap Tools, dominaram as funções do software e
utilizaram-no para refazer o mapa conceitual construído no ambiente papel e
lápis, como podemos conferir na Figura 44:
40 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2014. 41 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2014.
168
Figura 44. Mapa conceitual construído pelos professores
Fonte: Dados da pesquisa
A partir da Figura 44, identificamos a preocupação dos professores em
associar a noção de simetria à forma como aparece na natureza e nas criações
humanas, de acordo sua com experiência docente e o modo como essa
matéria é introduzida nos livros didáticos. Eles ainda colocaram no mapa
conceitual termos como transversalidade e citaram alguns softwares educativos
em que é possível trabalhar a simetria.
O que chama a atenção a partir dos mapas conceituais construídos
pelos docentes, em cada etapa, é a evolução com relação à rede de
conhecimentos envolvidos e a complexidade das conexões estabelecidas.
Sobre essa evolução, o professor Narciso afirmou que o primeiro rascunho do
mapa conceitual foi o mais difícil de construir, mas que, por meio dele, as ideias
foram articuladas, e nos outros mapas foram feitas complementações. A
professora Rosa complementou a ideia, definindo o primeiro mapa como um
“esqueleto” para os outros. Para a professora Margarida, a evolução da
atividade foi aparecendo nos próprios mapas; ela ainda exemplificou, dizendo
que, quando o mapa conceitual estava quase pronto e sendo transferido para o
Cmap Tools, lembrou-se das aplicações nas artes e na arquitetura.
169
Descrevemos, a seguir, a avaliação dos professores sobre o ponto de
vista profissional.
Professor Narciso: a construção dos mapas trouxe outra possibilidade de
trabalhar os conteúdos na sala de aula. Segundo ele, na maioria das vezes os
conteúdos são trabalhados de forma linear, isto é, são apresentadas
definições, propriedades, exemplos ou exercícios e aplicações. A construção
do mapa conceitual trouxe à tona o trabalho dos conteúdos matemáticos de
forma articulada e ainda a observação com relação à transversalidade entre a
simetria e outras disciplinas como artes e línguas.
Professores Jacinto e Margarida: avaliaram que a principal contribuição
dos mapas foi a percepção das possíveis articulações da simetria com outros
conteúdos matemáticos. Para a professora Rosa, a construção do mapa foi
muito produtiva, pois foi mais uma maneira de relacionar os conceitos
adquiridos na formação acadêmica e formação profissional.
Avaliamos que, nesse processo, nosso objetivo foi alcançado, isto é, os
professores observaram e estabeleceram conexões entre a simetria e outras
áreas do conhecimento, internas e externas à matemática. Observamos, ainda,
que essa atividade proporcionou, durante as reuniões, reflexões sobre o ensino
desse conteúdo, além de a atividade aumentar o nível de interação entre os
professores, o que influenciou positivamente nas fases seguintes da pesquisa.
No capitulo a seguir, apresentamos a segunda parte experimental de
nossa investigação.
170
171
CAPÍTULO 7
O ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE AS
CONCEPÇÕES DE PROFESSORES E ALUNOS
SOBRE A SIMETRIA ORTOGONAL
Neste capítulo, nosso principal objetivo é realizar um estudo sobre a
atividade do professor. Para isso, construímos e analisamos uma sequência
didática sobre a simetria ortogonal. Este estudo experimental está dividido em
três etapas. Na primeira, a experimentação com os professores, em que estes
resolveram, analisaram e discutiram por meio de um debate coletivo a
sequência didática pré-elaborada. Na segunda, a aplicação da sequência
didática analisada e modificada pelos professores a alguns de seus alunos, que
cursavam o 8º ano do Ensino Fundamental. Na terceira etapa, a análise dos
professores nos registros fornecidos por algumas duplas de alunos ao
resolverem o conjunto de atividades propostas na sequência didática.
7.1 Análise, a priori, das situações-problema apresentadas para a
pré-análise dos professores
A seguir, apresentamos a análise, a priori, das situações-problema
apoiados no quadro dos Paradigmas Geométricos, segundo Parzysz (2001;
2006) na Teoria das Situações Didáticas, no sentido de Brousseau (1997) e
Margolinas (2002). Acreditamos que, em nosso estudo, esses dois quadros se
completam. No primeiro, buscamos compreender quais são os conflitos
cognitivos entre os níveis de desenvolvimento geométrico de alunos do Ensino
Fundamental II e no segundo, iremos estudar por meio da estruturação do
milieu os papéis de professores e alunos com relação à sequência didática pré-
172
elaborada, efetuar um estudo sobre a influência das variáveis didáticas
escolhidas nas respostas dos sujeitos. Elaboramos uma sequência didática
composta por um conjunto de atividades sobre a simetria ortogonal, cuja
finalidade foi a resolução e a pré-análise da referida sequência pelos
professores além da aplicação a seus alunos, seguida da análise dos registros
desses mesmos alunos pelos professores.
7.1.1 Problemas de reconhecimento de figuras simétricas e construção
de eixos de simetria
A primeira situação-problema tem por objetivo o reconhecimento de
figuras que têm eixo de simetria e a construção dos eixos de simetria em
figuras geométricas planas, caso eles existam.
Figura 45. Situação-problema 1 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
No entanto, para iniciar nossa análise, em primeiro lugar, é necessário
evidenciar as variáveis didáticas levadas em conta durante a escolha e
construção das atividades propostas. As variáveis didáticas identificadas para
esta situação são apresentadas no Quadro 20:
173
Quadro 20. Variáveis didáticas e valores identificados na situação-problema 1
Variáveis didáticas Valores
As posições relativas dos elementos que compõem a figura objeto
- horizontais - verticais - oblíquas
As direções dos eixos de simetria sobre a folha
- horizontais - verticais - oblíquos
O tipo de papel - branco - quadriculado
O tipo de tarefa
- reconhecimento de figura simétrica - construção de eixo de simetria
Número de eixos de simetria da figura
- nenhum - um - mais de um eixo
A configuração da figura objeto
- circunferência - polígonos regulares - polígonos quaisquer
Ausência da evidência das medidas lados e dos ângulos
-quadriláteros - octógono - paralelogramo
Fonte: Elaboração da autora, de acordo com Grenier (1988) e Lima (2006)
Nos itens (b), (c), (d) e (e) existe a possibilidade de que as direções dos
elementos que compõem a figura-objeto influenciem favoravelmente ou não, na
identificação de figuras que têm eixo de simetria e de eixos de simetria em
cada uma delas, caso existam. Essa possibilidade pode tornar-se mais
evidente no item (d). Acreditamos que a direção do eixo de simetria também é
uma variável que intervém na resposta dos sujeitos, uma vez que, por meio de
outros estudos (GRENIER, 1988; LIMA, 2006; SILVA, ALMOULOUD, 2013),
observamos maior êxito nas situações em que os eixos são horizontais e
verticais. Supomos, ainda, que o papel branco e a ausência da evidência das
medidas dos ângulos internos em cada uma das figuras interfiram nos
procedimentos de resolução, uma vez que não são oferecidos indícios para o
sujeito decidir sobre a classificação dos polígonos (regulares ou irregulares) na
situação proposta.
Como consequência da escolha dessas variáveis didáticas, acreditamos
que as técnicas adotadas (dobradura, utilização de instrumentos de desenho
geométrico, isto é, compasso, régua graduada e esquadros) influenciem,
principalmente, no tipo de validação (perceptiva, lógico dedutivo) apresentada
pelo sujeito.
174
A seguir, utilizamos o quadro da geometria paradigmática, segundo
Parzysz (2001, 2006), para apresentar os tipos de solução que poderão ser
propostos, inicialmente pelos professores e posteriormente pelos alunos.
Quadro 21. Análise da primeira situação-problema, de acordo com os Paradigmas Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006)
Item da
situação
Tipo de
geometria Validação
Caracterização da
geometria
(a)
G0
Percepção de que ao dobrar
o papel em que a figura se
encontra desenhada42 sobre
um segmento de reta
qualquer, que toca a figura
em dois pontos e passa pelo
seu centro em diferentes
direções, têm-se infinitos
eixos de simetria.
G1
A utilização de instrumentos
de desenho geométrico como
régua graduada, esquadro e
compasso para construir43
algumas retas que passam
pelo centro da figura para
validar as propriedades de
ortogonalidade e
equidistância.
G2
A construção dos eixos de
simetria é apenas uma forma
de auxiliar na justificativa que
vem da definição de corda e
diâmetro de uma
circunferência.
42 Em nossas análises estamos utilizando o termo desenho no sentido da “representação de formas sobre uma superfície, por meio de linhas, pontos e manchas.” (FERREIRA, p. 681, 2010) 43 Utilizamos o termo construir como traçar, segundo os fundamentos geométricos.
175
(b), (c) e (e)
G0
A ligação com a realidade
provoca a percepção de que
as figuras representadas são
polígonos regulares isto é:
quadrado, triângulo
equilátero, e octógono
regular. Os instrumentos
geométricos (régua
graduada, compasso) são
utilizados para traçar os eixos
de simetria da figura e, em
seguida, validar sua
observação por meio de
medições.
G1
A validação é feita por meio da
definição de simetria ortogonal
e de propriedades
matemáticas.
Um exemplo seria o de que o
número de lados de um
polígono regular é igual ao
número de eixos de simetria
desse polígono.
Neste caso, o sujeito utiliza
propriedades matemáticas
para discutir a possibilidade
de a figura representar outros
tipos de polígonos além dos
polígonos regulares e assim
decidir, em cada caso, o
número de eixos de simetria
que a figura pode vir a
possuir.
G2
Demonstração da validade das
propriedades em cada caso.
As definições, propriedades
são utilizadas para
demonstrar que, para cada
caso, o número de eixos de
simetria será alterado.
(d) G0
A validação é feita de forma
perceptiva por meio da
visualização.
A percepção de que a figura
não possui eixos de simetria
pelas tentativas de se dobrar
o papel em que a figura se
encontra desenhada para
formar duas outras figuras
“idênticas” e estas não se
sobrepuserem.
176
G1
Por meio da definição de
simetria ortogonal destaca-se a
não possibilidade de existência
de eixos de simetria, pois
propriedades como
ortogonalidade e equidistância
não são válidas.
A utilização de instrumentos
de medida para mostrar a
não existência de eixos de
simetria.
G2
A demonstração deve ser feita
supondo que o paralelogramo
admita eixos de simetria então
teríamos duas possibilidades.
A primeira de que o eixo fosse
uma das diagonais do
paralelogramo, neste caso por
causa da ortogonalidade, os
pontos das extremidades da
outra diagonal seriam
simétricos e o paralelogramo
seria formado por quatro
triângulos retângulos e
recairíamos em um quadrado
ou um losango.
A segunda, de que o eixo de
simetria fosse paralelo a um
dos pares de lados e
equidistante aos vértices.
Neste caso, também pela
ortogonalidade, o
paralelogramo seria formado
por dois quadriláteros cujas
medidas dos ângulos internos
seriam todos de 90º e,
portanto, seria um retângulo ou
um quadrado.
Demonstração de que se a
propriedade de
ortogonalidade for válida
para o paralelogramo o
mesmo será um quadrado,
um retângulo ou um losango.
Portanto, um paralelogramo
que não seja um dos citados
anteriormente, não possui
eixos de simetria.
Fonte: Elaborado pela autora
Espera-se que, neste problema, os sujeitos observem que no item (a),
por se tratar de uma circunferência, qualquer reta que coincida com o seu
diâmetro (qualquer segmento de reta que liga dois pontos da circunferência e
177
que passa pelo seu centro) é um eixo de simetria, portanto a figura admite
infinitos eixos de simetria.
Para as figuras (b), (c) e (e), espera-se que o aluno discuta os tipos de
figuras, isto é, se essas figuras forem polígonos regulares, elas têm o mesmo
número de eixos de simetria que o número de lados; sendo assim, a figura (b)
tem 4 eixos de simetria, a figura (c) tem 3 eixos de simetria e a figura (e) tem 8
eixos de simetria. Mas se a figura (b) for um retângulo, por exemplo, teria 2
eixos de simetria, e se for um quadrilátero qualquer não teria nenhum eixo de
simetria. Para a figura (c), se o triângulo for isósceles ela terá 1 eixo de simetria
e se for escaleno não terá nenhum eixo de simetria.
A figura (d), sugestiva de um paralelogramo, foi colocada no
instrumento, porque estudos precedentes, voltados para alunos (GRENIER,
1988), apontam baixo índice de êxito em atividades de reconhecimento de
eixos de simetria, quando comparadas a outros tipos de figuras. A percepção
da divisão do paralelogramo em duas partes “idênticas” cria a ilusão de
existência de eixos de simetria. Nesse caso, as propriedades de congruência
entre as duas partes da figura (medida dos ângulos, comprimento dos lados
paralelos e a forma semelhante entre as figuras) provocam nos sujeitos a
impressão de existência de eixos de simetria. Segundo a pesquisadora acima
citada, essa dificuldade na identificação da não existência de eixos de simetria
ocorre devido ao fato de os sujeitos ignorarem a propriedade de ortogonalidade
numa primeira análise perceptiva. O objetivo desse item no instrumento é
observar se o mesmo resultado pode aparecer nos registros dos professores,
sujeitos da pesquisa, e em nos registros de seus alunos.
A segunda situação-problema, apresentada na Figura 46, tem por
objetivo a construção de eixos de simetria, a partir da utilização de
instrumentos de desenho geométrico e da identificação de propriedades como
equidistância do eixo aos pontos simétricos das figuras, alinhamento e
ortogonalidade.
178
Figura 46. Situação-problema 2 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
As variáveis didáticas identificadas para esta situação são apresentadas
no Quadro 22 a seguir:
Quadro 22. Variáveis didáticas e valores identificadas para a situação-problema 2
Variáveis didáticas Valores
As posições relativas dos elementos que
compõem a figura objeto (um exemplo é o
olho do peixe)
- horizontal
- vertical
- oblíqua
A direção do eixo de simetria sobre a folha
- horizontal
- vertical
- oblíquo
O tipo de papel - branco
-quadriculado
O tipo de tarefa - reconhecimento de figura simétrica
- construção de eixo de simetria
Posição das figuras na folha
-horizontal
- vertical
- oblíqua
A configuração da figura objeto - peixe construído por segmentos de reta
e ponto.
Distância das figuras (objeto e simétrica)
ao eixo de simetria
- conservada
- não conservada
Fonte: Elaboração da autora de acordo com Grenier (1988) e Lima (2006)
179
É possível que, para cada item da situação-problema 2, as direções dos
elementos que compõem a figura, sobretudo o olho do peixe, interfira na
decisão dos sujeitos quanto à existência ou não do eixo de simetria. No caso
da construção de eixos de simetria, as direções verticais e horizontais das
figuras também podem fornecer indícios de figura simétrica. A complexidade da
figura pode dificultar a percepção de não simetria, já que o número de
elementos que compõem a figura e que devem ser considerados sofre um
aumento. A distância entre as figuras (objeto e simétrica) também pode
influenciar nos procedimentos de resolução da situação (principalmente quanto
à construção do eixo de simetria).
No Quadro 23, os itens (1) e (5) e depois (2), (3) e (4) foram analisados
em conjunto, por apresentarem o mesmo tipo de argumentação nos
procedimentos de resolução.
Quadro 23. Análise da segunda situação-problema, de acordo com os Paradigmas
Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006) Item da situação
Tipo de geometria
Validação Caracterização da geometria
(1) e (5)
G0
Percepção de que, ao dobrar o papel em que as duas figuras se encontram desenhadas nas direções vertical (item 1) e horizontal (item 5), elas irão se sobrepor perfeitamente. A utilização da régua graduada seria para validar as medidas e traçar o eixo de simetria.
G1
A percepção de que, dependendo da posição do olho do peixe, a figura possui ou não eixo de simetria, a partir daí o aluno pode utilizar instrumentos de desenho geométrico como régua graduada, compasso ou esquadro para construir os eixos de simetria de cada figura e validar as propriedades da simetria ortogonal como equidistância, alinhamento e ortogonalidade.
G2
Utilização da definição de mediatriz para elaborar e provar a seguinte conjectura: O eixo entre dois pontos simétricos quaisquer de figuras simétricas é
A partir da construção dos eixos de simetria é possível formular uma conjectura. A prova dessa conjectura vem da utilização de definições, axiomas, teoremas e propriedades para demonstrar que cada figura admite um eixo
180
também o eixo de simetria dessas figuras. Reciprocamente, o eixo entre duas figuras simétricas é também o eixo de simetria entre dois pontos das figuras que se correspondem pela mesma simetria.
de simetria.
(2),(3) e (4)
G0 A validação é feita de forma perceptiva por meio da visualização.
A percepção de que cada figura não possui eixos de simetria pelas tentativas de se dobrar o papel onde as figuras se encontram desenhadas e observar que as duas partes da figura não se sobrepõem (itens 2 e 4) ou que existem elementos (por exemplo, olho do peixe) das duas partes que não se sobrepõem (item 3).
G1
A validação é feita por meio de análise pontual da figura, a partir da definição de simetria ortogonal e de suas propriedades matemáticas.
Neste caso, a identificação da posição do olho do peixe é fator que destaca a não validade das propriedades de equidistância e ortogonalidade.
G2
Utilização da contra-positiva da conjectura formulada para os itens (1) e (5), isto é, se quaisquer dois pontos de uma figura não são simétricos então a figura também não é simétrica, portanto não admite eixo de simetria.
As definições e propriedades da simetria ortogonal são utilizadas como forma de demonstrar que não é possível traçar os eixos de simetria para os itens 2, 3 e 4. Nesse caso, a identificação de definições e propriedades válidas para outros tipos de transformações geométricas, a saber, a translação e a rotação, também podem ser utilizadas como justificativa de não existência de eixos de simetria.
Fonte: Elaborado pela autora
Um procedimento de solução que poderá ser apresentado pelos sujeitos
é aquele que parte de abordagens globais em que são utilizadas técnicas como
dobradura e sobreposição. Neste caso, o aluno faz a marca do eixo de simetria
pela dobra do papel e o desenha com a régua. No caso da utilização de
instrumentos de desenho (esquadro, compasso e régua), um procedimento
esperado seria a partir de uma abordagem pontual, levando em consideração a
definição de simetria ortogonal, figuras ilustradas no quadro 23, para os itens
(1) e (5) em G1. Então, teríamos: Localização dos pontos O, o traço do
segmento 'OO , a construção da mediatriz do segmento 'OO denotada pela
181
reta r e, por fim, a observação de que r também é a mediatriz dos segmentos
'MM e 'PP destacados nas figuras.
Espera-se, ainda, que por meio das discussões, os sujeitos cheguem a
elaborar conjecturas a fim de justificar a existência ou não dos eixos de simetria
para cada item da situação-problema.
Por meio do Quadro 24, esquematizado a seguir, apresentamos a
estruturação do milieu para as duas primeiras situações-problema e as fases
no processo de aprendizagem conforme Brousseau (1997).
Quadro 24. Estruturação do milieu das situações-problema sobre reconhecimento de figuras
simétricas e construção de eixos de simetria
Professor P
Aluno E
Milieu M
Situação S
Fases de aprendizagem
P3: P-noosferiano. O professor refletindo sobre o ensino de geometria e o papel da simetria ortogonal dentro do currículo de matemática.
M3: M-construção. A existência e o número de eixos de simetria vão depender da natureza da figura geométrica.
S3: Situação noosferiana. Compreensão de que a noção de simetria ortogonal vai além de sua aparição em criações artísticas e em formas da natureza
P2: P - construtor professor resolvendo as situações--problema e estudando uma forma de intervenção didática.
M2: M- planejamento. Retomar a noção de figuras geométricas planas e a definição de polígonos regulares para discutir a simetria ortogonal de figuras geométricas apresentadas.
S2: Situação de construção. O que fazer para ajudar os alunos a compreender que a existência e o número de eixos de simetria da figura vão depender da natureza da figura geométrica?
P1: P-planejando Professor analisando as situações e as questões sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal
M1: M-didático
S1: situação de planejamento. Fazer os alunos discutirem e aceitarem as condições de existência de eixos de simetria para cada figura.
182
P0: Professor em ação
E0: Aluno M0: M-aprendizagem
S0: situação didática. Introdução do conceito e propriedades da simetria ortogonal
Institucionaliza-ção
P-1: Observador observar os alunos em atividade é caracterizado pela devolução.
E-1: Aprendiz Identifica-ção dos novos saberes
M-1: referência
S-1: aprendizagem. Identificação de figuras simétricas e a construção dos eixos de simetria de cada figura.
Validação
P-2: Observa as tentativas dos alunos, mas não interfere.
E-2: Aluno em ação Discussão de hipóteses e conjecturas
M-2: M-objetivo
S-2: situação de
referência.
Formulação
P-3: Adequação do milieu para ser utilizado pelo aluno.
E-3: aluno objetivo
M-3: M-material. Noção de espelhamento ou dobradura; classificação de polígonos regulares, noção de diâmetro de uma circunferência.
S-3: situação objetiva. Reconhecimento de figura simétrica e eixos de simetria.
Ação
Fonte: Elaborado pela autora de acordo com Margolinas (2002)
Nessa estruturação, foram apresentadas duas análises: a descendente
(S3 até S0), em que caracterizamos a atividade do professor e a análise
ascendente (S-3 até S0), em que caracterizamos a atividade do professor e do
aluno.
Observamos que a situação S2 compreende o milieu M3, isto é, a
situação de construção é fazer os alunos compreenderem que a existência e o
número de eixos de simetria estão relacionados à natureza da figura
geométrica. Isso quer dizer que o professor P2 deve estudar um modo de
intervenção didática correspondente.
O milieu M2 (de planejamento) compreende os conhecimentos dos
docentes sobre os moldes de apresentação da questão. Sendo assim, o milieu
M2 compreende, pelo menos, P2 (professor construtor) que conhece as
situações-problema no contexto das transformações geométricas. Logo, a
interação de P2 com M2 deve levar à seguinte situação de construção: retomar
183
a noção de figuras geométricas planas e a definição de polígonos regulares
para discutir a simetria ortogonal nas figuras geométricas apresentadas.
O milieu M1 contém S2, neste caso, a situação de planejamento S1 está
em pensar numa forma de "fazer os alunos discutirem e aceitarem as
condições de existência de eixos de simetria para cada figura".
O professor P-3, ao escolher e adequar as situações-problema para
serem aplicadas aos alunos, leva em conta os conhecimentos a serem
mobilizados pelos alunos (E-3 aluno objetivo) para iniciar a resolução das
situações e os meios materiais para que isso ocorra, isto é, o milieu material M-
3.
Em nossa fundamentação teórica propomos uma articulação entre o
quadro dos Paradigmas Geométricos (PARZYSZ, 2001; 2006) e a Teoria das
Situações Didáticas, o que nos permite, para as situações S-3, S-2, S-1 e S0
apresentadas no Quadro 24, associar a análise das duas situações-problema
propostas para os tipos de geometria G0, G1 e G2 nos quadros 21 e 23.
7.1.2 Problemas de construção de figura simétrica
A terceira e última situação-problema é uma adaptação das situações
propostas nos estudos de Grenier (1988) e Lima (2006), e tinha por finalidade a
construção de figuras simétricas.
Figura 47. Situação-problema 3 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
184
O motivo de solicitarmos aos sujeitos traçar nos itens (a) e (m) os
simétricos dos pontos dados com relação ao eixo de simetria foi, em ambos os
casos, para avaliar se eles levariam em conta propriedades como distância do
ponto ao eixo de simetria e ortogonalidade. No item (m), colocamos dois
pontos, um próximo ao eixo de simetria e o outro afastado dele; nossa intenção
era avaliar se esse fato dificulta ou auxilia na execução da tarefa.
Para os itens (c), (e) e (f), acreditamos na possibilidade de que os
resultados de estudos precedentes (GRENIER, 1988, por exemplo), que
revelaram as dificuldades provocadas pelas interseções da figura com o eixo
de simetria, voltem a surgir durante nossa investigação. Para o item (b), tanto
nos estudos de Grenier (1998) com alunos franceses do 6º ano, bem como em
nossa investigação preliminar com professores em formação, apontaram
conflitos nas resoluções, relacionadas ao paralelismo entre o objeto e seu
simétrico. Nosso objetivo é dar continuidade a esta investigação para,
eventualmente, confirmar esse tipo de dificuldade. Finalmente, para os itens
(d), (f) e (g), temos por hipótese que a complexidade da figura também seja
fator de dificuldade entre os sujeitos pesquisados.
Os estudos de Grenier (1988) e nossa investigação preliminar (SILVA,
ALMOULOUD, 2013) mostraram que, quando o eixo de simetria tinha direção
vertical ou horizontal à folha e, quando o eixo de simetria era oblíquo com
relação à folha e paralelo à figura-objeto, os sujeitos obtinham êxito na
resolução da tarefa. Nossa intenção em retornar com as atividades (h), (i) e (l)
é verificar se esse quadro se confirma.
Nossa hipótese, ao escolher esse conjunto de atividades, foi a de que a
análise desse conjunto pelos professores provocasse reflexões sobre o papel
das variáveis didáticas em cada situação e como seus valores intervêm na
aprendizagem dos alunos. No Quadro 25, relacionamos as variáveis didáticas e
seus respectivos valores.
185
Quadro 25. Variáveis didáticas e valores levados em conta na elaboração e escolha do conjunto de atividades
Variáveis didáticas Valores
A interseção da figura-objeto com o eixo de simetria
- toca o eixo - corta o eixo em um ponto - corta o eixo em mais de um ponto
As direções dos elementos que compõem a figura objeto
- horizontais - verticais - oblíquas
A direção do eixo de simetria sobre a folha - horizontal - vertical - oblíquo
O tipo de papel - branco - quadriculado
O tipo de tarefa - construção de figura simétrica
A complexidade da figura objeto - pontos - segmentos - polígonos
Distância da figura objeto ao eixo de simetria - próximo - longe
Fonte: Elaborado pela autora de acordo com Grenier (1988) e Lima (2006).
A partir da técnica disponível/escolhida para a resolução das situações-
-problema, acreditamos que seja possível inferir sobre o tipo de geometria (G0,
G1 ou G2) em que os procedimentos e respostas dos sujeitos estejam
transitando. No Quadro 26, apresentamos a análise do conjunto de atividades
que compõem a situação-problema 3, de acordo com os Paradigmas
Geométricos, no sentido de Parzysz (2001; 2006);
Quadro 26. Análise da terceira situação-problema, de acordo com os Paradigmas Geométricos
(PARZYSZ, 2001; 2006)
Item da Situação-problema
Tipo de geometria
Validação Caracterização da geometria
(a) e (m)
G0
Ao utilizar técnicas como dobradura ou espelhamento, o sujeito determina a localização dos pontos simétricos no semi-plano oposto ao eixo de simetria para em seguida desenhá-los.
G1
A construção geométrica dos pontos simétricos é feita a partir do conceito de reta mediatriz, por meio da utilização do compasso e da régua graduada ou de esquadros.
G2
Dado P um ponto do plano que não pertence à reta r (eixo de
A construção dos pontos-imagem, realizada com a utilização de instrumentos de desenho
186
simetria), demonstra-se, por meio da definição funcional de simetria ortogonal, a existência de um único ponto P’ simétrico a P com relação à reta r.
é justificada pela aplicação da definição de simetria, levando-se em conta a noção de mediatriz de um segmento e a verificação das propriedades equidistância e perpendicularidade, para demonstrar que os pontos são simétricos.
(b), (h), (i) e (l)
G0
A utilização de técnicas como dobradura, decalque ou espelhamento para determinar, em cada item, a localização dos segmentos simétricos e desenhá-los seguindo o rastro. A validação é feita por meio da visualização. A régua é utilizada para fazer o traço da figura simétrica e comparar medidas.
G1
Com a utilização de instrumentos como compasso, régua ou esquadro, determina-se para cada item os pontos simétricos a cada uma das extremidades das figuras-objeto (segmentos) para, em seguida, traçar a figura imagem. Nesse caso, é necessária a mobilização de conhecimentos sobre ortogonalidade e equidistância, com relação ao eixo de simetria.
G2
Demonstração utilizando a definição de simetria ortogonal.
A validação vem da utilização da figura como ponto de partida para se estudar a validade das propriedades de simetria ortogonal por meio de definições e teoremas como, por exemplo, os casos de congruência de triângulos e as propriedades do retângulo.
(c), (e) e (f)
G0
A utilização de técnicas como dobradura, decalque ou espelhamento
187
determinam a localização da figura-objeto e pode-se desenhá-los seguindo o rastro. A validação é perceptiva, os instrumentos são utilizados apenas para desenhar as figuras e fazer eventuais medições.
G1
Com a utilização de instrumentos como compasso, régua ou esquadro determina-se para cada item os pontos simétricos a cada uma das extremidades da figura-objeto (segmentos) para, em seguida, traçar a figura imagem. Os instrumentos são utilizados também para medições cujo objetivo é validar as construções. É importante o aluno mobilizar conhecimentos como retas concorrentes e ângulos.
G2
Demonstração a partir da definição de simetria ortogonal.
Validação dedutiva, tendo a construção da figura-imagem um papel heurístico.
(d), (g) e (j)
G0
Além da utilização de técnicas como dobradura, decalque ou espelhamento, o sujeito poderá utilizar a malha quadriculada nos itens (d) e (j) para determinar a localização dos pontos simétricos em relação aos da figura objeto, e desenhar as figuras-imagem, perceptivamente.Nesse caso, a validação poderá ser feita de forma perceptiva por meio de medições e da contagem dos quadrinhos.
G1
Com a utilização de instrumentos como compasso, régua ou esquadro determinam-se, para cada item, os pontos simétricos a cada uma das extremidades da figura-objeto (segmentos) para, em seguida, traçar a
188
figura imagem.
G2
Demonstração a partir da definição de simetria ortogonal.
Validação dedutiva em que a construção da figura-imagem tem um papel heurístico.
Fonte: Elaboração da autora
No Quadro 26, agrupamos os itens de acordo com algumas variáveis
didáticas, por exemplo, os itens (a) e (m) em que é solicitado traçar pontos
simétricos, pelo tipo de tarefa. Nos itens (c), (e) e (f) a figura-objeto toca ou
corta o eixo de simetria. A direção do eixo de simetria sobre a folha foi a
variável didática levada em conta para agruparmos os itens (b), (h), (i) e (l).
Por fim, nos itens (d), (g) e (j), a intenção era estudar, principalmente, a
influência do tipo de figura (complexa) e papel (quadriculado ou branco) nas
resoluções dos sujeitos.
Para cada item espera-se que, num primeiro momento, os sujeitos
visualizem a figura-objeto de forma global e utilizem técnicas como
espelhamento, dobradura e sobreposição para iniciar os procedimentos de
resolução. Como exemplo, observamos na geometria G0, os itens (a) e (m) em
que a percepção de que, ao dobrar o papel no qual o ponto-objeto se encontra
desenhado, exatamente sobre o eixo de simetria dado, torna possível encontrar
o rastro do ponto-imagem e traçá-lo.
Outra forma de procedimento esperada é a utilização de instrumentos de
desenhos geométricos como mostram as figuras apresentadas no Quadro 26
para a validação correspondente à geometria G1. Neste caso, o sujeito parte
de uma percepção pontual, em que leva em conta propriedades como
ortogonalidade e igualdade entre a distância de pontos da figura-objeto e seus
pontos simétricos com relação ao eixo simetria, para validar a figura construída
como simétrica, evidenciando uma transição da geometria G1 para a geometria
G2.
Por meio do Quadro 27, esquematizado a seguir, apresentamos a
estruturação do milieu para a terceira situação-problema e as fases no
processo de aprendizagem conforme Brousseau (1997).
189
Quadro 27. Estruturação do milieu da situação-problema 3
Professor P
Aluno E
Milieu M
Situação S
Fases de aprendizagem
P3: P-noosferiano professor refletindo sobre o ensino de geometria e o papel da simetria ortogonal dentro do currículo de matemática.
M3: M-construção. Os procedimentos de construção de figura simétrica dependem dos tipos de técnicas disponíveis e estão ligados a outros conteúdos geométricos.
S3: Situação noosferiana. Compreensão de que a noção de simetria ortogonal vai além de sua aparição em criações artísticas e em formas da natureza.
P2: construtor professor resolvendo as situações-problema e estudando uma forma de intervenção didática.
M2: M- planejamento Rever a noção de mediatriz de um segmento e reta perpendicular.
S2: Situação de construção O que fazer para ajudar os alunos a compreenderem que, na construção de figura simétrica, a propriedade de ortogonalidade também deve ser levada em conta.
P1: planejando O professor analisa as situações e as questões sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal.
M1: didático
S1: Situação de planejamento
P0: Professor em ação
E0: Aluno M0: aprendizagem
S0: situação didática Introdução do conceito e propriedades da simetria ortogonal.
Institucionaliza-ção
P-1: observador observar os alunos em atividade; é caracterizado pela devolução
E-1: aprendiz Identificação dos novos saberes.
M-1: referência
S-1: aprendizagem Construção da figura simétrica em cada item.
Validação
P-2: Observa as tentativas dos alunos sem interferir.
E-2: aluno em ação Discussão de hipóteses e conjecturas.
M-2: objetivo
S-2: situação de referência.
Formulação
190
P-3: Adequação do milieu para ser utilizado pelo aluno.
E-3: aluno objetivo.
M-3: material Noção de espelhamento ou dobradura; utilização de instrumentos de desenho geométrico.
S-3:situação objetiva Construção de figura simétrica.
Ação
Fonte: Elaborado pela autora de acordo com Margolinas (2002)
Observamos que a situação S2 compreende o milieu M3, isto é, a
situação de construção é fazer os alunos compreenderem que, na construção
de figura simétrica, a propriedade de ortogonalidade também deve ser levada
em conta. Nesse caso, o professor P2 deve estudar um modo de intervenção
didática correspondente. Para a terceira situação-problema, o professor P2 é
levado a considerar no milieu M2 a seguinte situação de construção: propor
que o aluno utilize a definição de simetria ortogonal e, para isso, é necessário
introduzir a noção de ponto simétrico por meio da mediatriz de um segmento.
Observando que o milieu M1 contém S2, a situação de planejamento
está nas “condições para que os alunos observem as propriedades de simetria
ortogonal na construção de figuras simétricas, em especial a ortogonalidade”.
Nesse caso, um conhecimento necessário e que deve ser mobilizado pelo
aluno P-3, é o manuseio de instrumento de desenho geométrico, conhecimento
que deve compor o mileu M-3, necessário para dar prosseguimento à
resolução do problema.
Como nas duas primeiras situações-problema, as situações S-3, S-2, S-
1 e S0 apresentadas no Quadro 27 serão associadas à análise proposta para
os tipos de geometria G0, G1 e G2 no Quadro 26, devido à nossa articulação
entre os quadros teóricos aqui considerados.
7.1.3 Análise das questões discursivas propostas aos professores
A segunda parte do instrumento aplicado aos professores é composta de
três situações-problema (analisadas na seção anterior) e quatro questões
discursivas que orientavam os docentes para uma análise matemática e
didática dessas situações. Na Figura 48, apresentamos a primeira questão cujo
objetivo era colocar o professor numa situação de reflexão.
191
Figura 48. Questão discursiva 1 para análise do professor sobre as situações-problema
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
Durante a resolução das situações-problema pelos professores, deve
ocorrer o primeiro movimento de reflexão, segundo Schön (2000), isto é,
conhecimento-na-ação, em que o professor, ao resolver as situações a ele
propostas, é levado a refletir por meio da ação sobre: as respostas corretas por
ele esperada e aceitas, as possíveis dificuldades apresentadas por seus
alunos, os conhecimentos que esses mobilizariam no momento da execução
de cada atividade, além da importância de cada uma delas para a formação de
seus alunos com relação à geometria, em especial, à simetria ortogonal.
A segunda questão apresentada na Figura 49 é mais específica, e há
uma proposta de retorno às situações-problema resolvidas pelos professores:
Figura 49. Questão discursiva 2 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores.
Nessa reflexão, o docente é instigado a pensar nos conhecimentos a
serem mobilizados pelos alunos, nas dificuldades e dúvidas que possam surgir
para eles durante a resolução de cada uma das atividades que compõem a
sequência didática, numa referência de reflexão-na-ação (SCHÖN, 1995).
Na terceira questão, está a proposta de uma ação sobre a reflexão-na-
ação, para que o professor pense sobre quais situações apresentaria aos
alunos, com o intuito de esses superarem possíveis dificuldades por meio da
reflexão sobre os procedimentos e resultados por eles obtidos.
Figura 50. Questão discursiva 3 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
192
Para a quarta e última questão discursiva, o objetivo é instigar o
professor a analisar as situações-problema, considerando as variáveis
didáticas44 e seus valores. Sendo assim, indagamos:
Figura 51. Questão discursiva 4 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Instrumento aplicado aos professores
A principal finalidade desse estudo é estudar como os professores,
sujeitos desta pesquisa, lidam com as variáveis didáticas escolhidas e seus
valores, e se percebem a importância dessas variáveis no processo de
construção de conhecimentos/saberes por parte de seus alunos. Os resultados
dessa questão foram utilizados na experimentação 3, quando, ao analisar os
registros de algumas duplas de alunos, os docentes discutiram a influência das
variáveis didáticas e seus valores nos procedimentos e respostas para elas.
Na próxima seção, analisaremos as resoluções dos professores sobre
as situações-problema propostas e as discussões geradas pela pré-análise
realizada pelos mesmos docentes sobre elas.
7.2 Experimentação 1: aplicação das situações-problema e do
questionário sobre estas situações aos professores sujeitos da
pesquisa
A experimentação 1 é composta de duas etapas: a resolução por parte
dos docentes do conjunto de atividades que compõem uma sequência didática
pré-elaborada e a pré-análise do ponto de vista didático destas atividades. Para
viabilizar nossa proposta, fizemos uma breve explicação sobre variáveis
didáticas e seus valores. Além disso, provocamos uma discussão sobre como a
escolha de tais variáveis didáticas e seus valores no momento da seleção e
construção de situações-problema podem influenciar nas decisões feitas pelo
professor, quanto aos objetivos a serem alcançados e com relação à
aprendizagem dos alunos. Na seção 7.2.1 apresentamos a análise, a posteriori
,das respostas e procedimentos fornecidos pelos professores com relação à
44 Antes da aplicação do instrumento de coleta de dados, fizemos uma discussão coletiva com os professores sobre o que são variáveis didáticas e seus valores. Os detalhes dessa discussão estão relacionados na subseção 7.2.2.
193
sequência didática aplicada a eles e cuja análise, a priori, foi concebida na
seção 7.1.
7.2.1 Etapa 1 da experimentação 1: análise, a posteriori, das respostas
apresentadas pelos professores às situações-problema
Nesta seção apresentaremos a análise, a posteriori, das respostas dos
professores às situações-problema propostas na sequência didática. As duas
primeiras situações-problemas eram compostas de atividades que envolviam
problemas de reconhecimento e construção de eixos de simetria e a terceira
construção de figura simétrica. O instrumento de coleta de dados foi entregue
aos quatro professores que participavam da pesquisa, mas, por motivos de
ordem pessoal, apenas dois devolveram o instrumento respondido. A análise
que apresentaremos, portanto, equivale à resposta desses dois professores.
7.2.1.1 Análise, a posteriori, das respostas apresentadas pelos
professores à situação-problema 1
O enunciado da situação-problema solicitava que o sujeito indicasse se
cada uma das figuras apresentadas admitia ou não eixos de simetria e
justificasse sua resposta. Observamos, por meio do Quadro 28, que para essa
indicação, os professores traçaram, em alguns casos, eixos de simetria em
cada figura.
Quadro 28. Indicação dos eixos de simetria para cada figura dos itens propostos na situação-
problema 1.
Docentes Resoluções
Profª. Margarida
Profº Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Para solucionar cada item da situação-problema proposta, os
professores poderiam utilizar ou não instrumentos para construção geométrica,
194
uma vez que uma das discussões que sucederia à resolução seria quanto ao
papel dos instrumentos nos procedimentos de resolução. Segundo os próprios
professores, os instrumentos por eles utilizados foram: régua graduada e
esquadro. Para as justificativas, os professores utilizaram os argumentos
apresentados no Quadro 29.
Quadro 29. Justificativa dada pelos professores às respostas fornecidas por eles na situação-
problema 1
Docentes Justificativas
Profª. Margarida
a) Infinitos eixos de simetria, visto que cada corda que passa pelo centro (diâmetro) é um eixo de simetria; b) Quanto aos eixos de simetria (2 diagonais e 2 medianas dos lados); c) Se equilátero (3 eixos de simetria: as medianas); se isósceles (1 eixo de simetria: a mediana da base), se escalenos (não possui eixos de simetria);
d) Não há eixos de simetria; e) Octógono: oito eixos de simetria se a figura for um octógono regular (4 retas que passam pelos vértices e centro, 4 retas que dividem os lados em partes iguais);
Profº Narciso
Circunferência: infinitos eixos de simetria (reta que contém o diâmetro); Quadrado: 4 eixos (duas diagonais e duas metades); Triângulo: se for equilátero – 3 eixos; se for isósceles – 1 eixo.
Octógono: 8 eixos de simetria; Paralelogramo: 4 eixos de simetria
Fonte: Dados da pesquisa
Como esperado, ambos os professores justificaram a existência de
infinitos eixos de simetria na figura de item (a), circunferência, com a
argumentação de que cada corda que passa pelo centro da circunferência
(diâmetro) é um eixo de simetria.
Como pode ser observado pelo Quadro 29, no item (b) inicialmente os
professores não discutiram a possibilidade de que o quadrilátero apresentado
não fosse um quadrado (essa discussão surge no debate coletivo), isto é, eles
levaram em conta a aparência da figura no momento de determinar quantos e
quais seriam os eixos de simetria.
Para o item (c) os argumentos dos dois docentes sobre os eixos de
simetria estão relacionados com a classificação dos triângulos em equilátero,
isósceles e escaleno como prevíamos em nossa análise, a priori.
A figura apresentada no item (d), paralelogramo, provocou, como
esperávamos em nossa análise, a priori, dificuldades na resolução dos
professores já que, inicialmente, ambos os docentes afirmaram que o
paralelogramo possuía eixos de simetria e apontaram as diagonais da figura e
195
as retas paralelas a cada um dos pares de lados e equidistante dos vértices
como os prováveis eixos. Contudo, a professora Margarida atentou para o
equívoco e como podemos verificar nos Quadros 28 e 29 retificou sua
resposta. Já o professor Narciso chegou a traçar os falsos eixos de simetria na
figura. Como discutimos anteriormente, acreditamos que o fato da divisão da
figura resultar em duas outras figuras de mesmas proporções provocou a ilusão
de existência dos falsos eixos de simetria.
No caso da figura (e), octógono, os professores foram unânimes na
resposta, 8 eixos de simetria. O professor Narciso admitiu a figura como sendo
um octógono regular e traçou os eixos, já a professora Margarida não traçou os
eixos na figura, mas justificou que, se a figura fosse um octógono regular, teria
8 eixos de simetria e descreveu a localização deles na figura. Nenhum dos
professores discutiu a possibilidade de existência ou não dos eixos de simetria,
para o caso de o octógono não ser regular.
Resumindo, no Quadro 30 apresentamos as variáveis didáticas
identificadas na pesquisa para esta situação-problema, seus valores e as
estratégias identificadas como utilizadas pelos professores levando-se em
conta essas variáveis e seus valores.
Quadro 30. Estratégias dos professores, de acordo com as variáveis didáticas e seus valores
para a situação-problema 1.
Variáveis didáticas Valores Estratégias escolhidas
pelos professores
As posições relativas dos elementos que compõem a
figura objeto
- horizontais - verticais - oblíquas
Observação da posição dos lados no caso dos polígonos.
As direções dos eixos de simetria sobre a folha
- horizontais - verticais - oblíquos
Localização perceptiva dos eixos de simetria de acordo
com a figura
O tipo de papel - branco
-quadriculado
Utilização da régua e esquadro como instrumento
de medição
O tipo de tarefa
- reconhecimento de figura simétrica
- construção de eixo de simetria
Emprego da percepção
Número de eixos de simetria da figura
- nenhum - um
- mais de um eixo
- Utilização de seus conhecimentos prévios para
fazer a indicação de existência ou não dos eixos de simetria e sua justificativa
-Traçar os eixos
196
A complexidade da figura objeto
- circunferência
Construção perceptiva dos eixos e emprego da definição de diâmetro como justificativa para a existência dos eixos
- polígonos Construção perceptiva dos
eixos sem justificativa matemática
Ausência da evidência das medidas dos lados e dos
ângulos
-quadriláteros - octógono
Suposição de que os polígonos eram regulares
Fonte: Elaboração da autora
Ao analisar as respostas dos professores, para cada item da situação-
problema 1, notamos indícios de que as estratégias escolhidas como
procedimentos de resolução foram influenciadas por mais de uma variável
didática e seus respectivos valores. Um exemplo tangível dessa possibilidade
está no item (d), paralelogramo, em que as direções dos elementos que
compõem a figura objeto (lados opostos paralelos dois a dois), o tipo de papel
(branco) e a ausência da evidência da medida dos ângulos podem ter
influenciado na escolha de estratégias de resolução (localização perceptiva dos
eixos de simetria, utilização da régua e esquadro como instrumento de
medição), que levaram à resposta errada.
Para os polígonos apresentados nos outros itens, observamos que as
estratégias escolhidas pelos docentes forneciam respostas corretas num
campo restrito de validade. No geral, as técnicas escolhidas nos procedimentos
de resolução têm como referência dobradura e espelhamento por meio da
percepção.
7.2.1.2 Análise, a posteriori, das respostas apresentadas pelos
professores a situação-problema 2
Na segunda situação-problema, a solicitação era dizer, em cada item, se
as figuras compostas pelos peixes A e B admitiam ou não eixos de simetria;
justificar a resposta e traçar os eixos identificados com a utilização de
instrumentos geométricos. No Quadro 31, mostramos as soluções
apresentadas pelos professores com as respectivas justificativas.
197
Quadro 31. Respostas dos professores à situação-problema 2
Professor Solução Justificativas
Profª. Margarida
Caso 1 e caso 5, pois em ambos os pontos correspondentes aos desenhos são simétricos.
Profº Narciso
Figura 1: eixo de simetria vertical, pois os “peixes” estão olhando um para o outro. Figura 3: eixo de simetria inclinado (pela posição da figura). Figura 5: eixo de simetria horizontal (pela posição da figura).
Fonte: dados da pesquisa
Analisando as soluções dos professores, observamos que, apesar de o
enunciado solicitar a utilização de instrumentos de desenho geométricos
(régua, compasso ou esquadro) para construir os eixos de simetria, no caso de
eles existirem, é possível que esses instrumentos tenham sido utilizados
apenas para desenhar os eixos de simetria de forma perceptiva e não por meio
de construções geométricas. Como prevíamos, as direções verticais e
horizontais das figuras forneceram indícios quanto à existência ou não dos
eixos de simetria. Podemos observar na solução do professor Narciso que a
direção de um elemento particular da figura, o olho do peixe, interferiu
desfavoravelmente na decisão por existência do eixo de simetria para a figura
apresentada no item (3). Nesse caso, observamos indícios da não utilização de
198
compasso ou esquadro nos procedimentos de resolução, o que ocasionou uma
resposta errada. Chamou-nos a atenção o fato de o professor Narciso também
não ter se atentado para a verificação da propriedade de ortogonalidade.
No Quadro 32, identificamos as estratégias escolhidas pelos
professores, na resolução da situação-problema 2 de acordo com as variáveis
didáticas e os valores fixados.
Quadro 32. Identificação de estratégias escolhidas pelos professores para a situação problema
2, de acordo com as variáveis didáticas e seus valores outrora fixados.
Variáveis didáticas Valores Estratégias escolhidas
pelos professores
As direções dos elementos que compõem a figura objeto
(exemplo, olho do peixe)
- horizontais - verticais - oblíquas
Utilização da percepção para a decisão de existência ou
não do eixo de simetria
A direção do eixo de simetria sobre a folha
- horizontal - vertical - oblíquo
Localização perceptiva dos eixos de simetria de acordo com a posição das figuras
O tipo de papel - branco
Utilização da régua e esquadro como instrumentos
de medição e para fazer o desenho dos eixos de
simetria
O tipo de tarefa
- reconhecimento de figura simétrica
- construção de eixo de simetria
Emprego da percepção
A complexidade da figura objeto
- peixe construído por segmentos de reta e ponto.
Construção perceptiva dos eixos de simetria sem
justificativa matemática
Fonte: Elaboração da autora
Por meio das justificativas apresentadas pelos professores, podemos
inferir que o conjunto de variáveis didáticas e valores fixados contribuíram para
a escolha de estratégias de resolução que levaram a soluções perceptivas
corretas para os itens (1) e (5). Contudo, do ponto de vista geométrico, a opção
por não utilizar os instrumentos desenho (régua, compasso e esquadro) para
construir os eixos de simetria foi, aparentemente, um fator decisivo para os
argumentos justificativos não estarem fundamentados por meio de definições e
propriedades matemáticas.
Fazendo uma comparação com nossa análise, a priori, (Quadro 23),
observamos sinais de que, na maioria das vezes, nas respostas apresentadas
pelos docentes, está referenciada a geometria G0 de acordo com a
classificação proposta por Parzysz (2001; 2006). Nesse caso, os argumentos
199
dos docentes apontam para validação do tipo perceptiva, por meio da
visualização, porém esses argumentos não estão fundamentados de forma
explícita em propriedades matemáticas como equidistância e ortogonalidade.
7.2.1.3 Análise, a posteriori, das respostas fornecidas pelos professores
a situação-problema 3
A terceira e última situação-problema proposta aos professores,
baseava-se nos estudos de Grenier (1988) e solicitava em seu enunciado que
o sujeito traçasse, para cada item, a figura simétrica com relação à reta dada.
Ao solicitarmos que os procedimentos utilizados para solucionar cada um dos
itens da situação-problema 3 fossem explicados, o professor Narciso
argumentou que “foram utilizados para a construção [de figuras simétricas]
régua e esquadro, cada ponto foi transferido para o outro do eixo de simetria
mantida a equidistância”. A professora Margarida justificou dizendo que, na
construção da figura simétrica “utiliza pontos simétricos a cada ponto do
desenho do outro lado do eixo de simetria”.
Como apresentado no Quadro 26 da seção 7.1, nessa seção os itens
também serão analisados de forma agrupada, de acordo com algumas
variáveis didáticas como detalhado anteriormente. No Quadro 33, mostramos
as construções dos professores para os itens (a) e (m).
Quadro 33. Repostas dos professores aos itens (a) e (m)
Itens Professor Construção
(a), (m)
Profª. Margarida
Profº Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos, na resposta da professora Margarida, indícios de que não
foram utilizados instrumentos como compasso ou esquadro (pela ausência de
prolongamentos e linhas de construção) para a construção dos pontos
200
simétricos. Aparentemente, a professora utilizou a percepção e seus
conhecimentos prévios para traçar os pontos simétricos. Em nossa análise, a
priori, um dos objetivos era avaliar se as propriedades como equidistância e
ortogonalidade seriam levadas em consideração na construção dos pontos
simétricos; nossas observações mostraram que a equidistância foi uma
preocupação da professora, validada por meio de medições com a régua.
Contudo, quanto à ortogonalidade notamos para cada item, que o ângulo
entre os eixos de simetria e o segmento que liga cada ponto dado ao seu ponto
“simétrico” não é de 90º, o que remete a uma falha na aplicação da definição
de simetria ortogonal. É possível perceber que o professor Narciso utilizou a
régua para medir distância, e o esquadro para o ângulo.
Nas respostas dos dois professores, foi possível observar que o fato de
no item (m) serem dois pontos, um próximo e o outro afastado do eixo de
simetria não influenciou nas soluções apresentadas, já que cada ponto foi
analisado de forma independente.
No Quadro 34, apresentamos as construções dos professores para os
itens (b), (h), (i) e (l).
Quadro 34. Respostas dos professores aos itens (b), (h), (i) e (l)
Itens Professor construção
(b), (h), (i) e (l)
Profª. Margarida
Profº Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
201
Para essa sequência de atividades, observamos que as resoluções tanto
da professora Margarida quanto do professor Narciso são perceptivas.
Observamos indícios de que os instrumentos de desenho geométrico foram
utilizados para medir ângulos e/ou distância, o que pode ter ocasionado falhas
na construção da figura simétrica. Chamou-nos a atenção o ponto de
interrogação na construção do item (l) expressado pela professora Margarida, o
que, provavelmente, sugere dúvida na resolução. Para o item (b) não foi
observado na resolução dos professores, o que Grenier (1988) chamou de
paralelismo entre o objeto e seu simétrico, para os outros itens ((h), (i) e (l))
confirmamos nossas hipóteses prévias de que a posição do eixo de simetria e
a posição da figura-objeto com relação ao eixo de simetria favoreceram a
resolução dos docentes.
No Quadro 35, apresentamos as construções dos professores para os
itens (c), (e) e (f). Nesses itens foram explorados os casos em que a figura-
-objeto toca ou corta (em um e dois pontos) o eixo de simetria.
Quadro 35. Respostas dos professores aos itens (c), (e) e (f) Itens Professor Construção
(c), (e), (f)
Profª. Margarida
Profº Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Como previsto em nossa análise, a priori, para cada item a interseção da
figura-objeto com o eixo de simetria provocou dificuldades nas construções das
figuras simétricas. Essas dificuldades tornam-se mais evidentes quando a
figura corta em um ou mais pontos o eixo de simetria. Identificamos como
procedimentos de construção em ambas as respostas dos professores, para os
itens (c), (e), (f), a transcrição das distâncias das extremidades dos segmentos
que compõem a figura-objeto no semiplano oposto ao eixo de simetria, o que
202
acarretou uma diferença no comprimento dos segmentos que a compõem e,
consequentemente, nas dimensões e no formato das figuras. Nesse caso, o
fato de a ortogonalidade não ter sido considerada, levou à construção de
figuras errôneas.
No Quadro 36, apresentamos as construções dos professores para os
itens (d), (g) e (j). A intenção nessa sequência de atividades era focar na
influência da malha quadriculada, direção do eixo de simetria sobre a folha,
posição do eixo de simetria e na complexidade da figura-objeto.
Quadro 36. Respostas dos professores aos itens (d), (g) e (j)
Itens Professor Construção
(d), (g) e (j)
Profª. Margarida
Profº Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Nas respostas de ambos os professores é possível observar, fazendo
uma comparação dos itens (d) e (j) com o item (g), que as variáveis didáticas (e
seus valores), tipo do papel (quadriculado) e direção do eixo de simetria sobre
a folha (vertical), foram elementos favoráveis na resolução dos itens (d) e (j).
No caso desses itens, a transcrição de pontos da figura-objeto para o
semiplano oposto ao eixo de simetria se dá numa direção “quase” ortogonal ao
eixo. Para o item (g), fazemos a mesma observação, apresentada para as
respostas dos docentes aos itens relacionados no Quadro 36, quanto aos
procedimentos de construção de figura simétrica.
Um resumo de nossa análise é apresentado no Quadro 37, em que
procuramos sintetizar a influência das variáveis didáticas escolhidas e seus
valores nas respostas apresentadas pelos professores.
203
Quadro 37. Identificação de estratégias escolhidas pelos professores para a situação-problema 3 de acordo com as variáveis didáticas e seus valores outrora fixados.
Variáveis didáticas Valores Estratégias escolhidas pelos
professores
A interseção da figura-objeto com o eixo de simetria
- toca o eixo - corta o eixo em um ponto - corta o eixo em mais de um ponto
Utilização da percepção para transcrição de pontos da figura-objeto para o semiplano oposto ao eixo de simetria.
As posições relativas dos elementos que compõem a figura-objeto
- horizontais - verticais - oblíquas
Localização dos pontos das extremidades dos segmentos que compõem a figura-objeto.
A direção do eixo de simetria sobre a folha
- horizontal - vertical - oblíquas
Escolha de direções perceptivamente ortogonais ao
eixo de simetria
O tipo de papel
- branco
Utilização da régua e esquadro como instrumento de medição.
- quadriculado Utilização da malha quadriculada para construção global da figura
simétrica.
O tipo de tarefa - construção de figura simétrica Emprego da percepção
A configuração da figura-objeto
- pontos - segmentos - polígonos
Construção da figura “simétrica” tendo como fundamento a conservação da distância.
Distância da figura-objeto ao eixo de simetria
- conservada - não conservada
Preocupação com a conservação da distância
Fonte: Elaboração da autora
Notamos nas respostas fornecidas pelos professores, em todos os itens
da situação-problema 3, procedimentos de construção de figura simétrica,
marcados pelo uso da percepção e dos conhecimentos prévios dos docentes,
no que diz respeito à referência à dobradura e espelhamento. Esses
procedimentos foram usados em detrimento da utilização de instrumentos de
desenho geométricos (régua, compasso e esquadro) na construção das figuras
simétricas. Como consequência dessas escolhas, observamos que a validação
dos procedimentos fica restrita à percepção visual, com a ausência de
justificativas matemáticas.
Observamos por meio dessa análise, que as respostas dos professores
transitam entre as geometrias G0 e G1, dependendo da atividade proposta.
Existe, porém uma forte tendência para a geometria G0, o que já era esperado
devido ao fato de os professores exercerem há mais de 10 anos a docência em
Matemática no Ensino Fundamental, como pode ser observado no Quadro 14.
204
Na seção 7.2.2 apresentaremos as respostas dos professores quanto ao
questionário discursivo que propunha uma pré-análise das três situações-
problema resolvidas pelos professores e discussões sobre tais situações nas
reuniões presenciais realizadas na escola com os docentes sujeitos da
pesquisa.
7.2.2 Etapa 2 da experimentação 1: as respostas dos professores ao
questionário discursivo e as discussões nas reuniões sobre a pré-
análise das situações-problema
Para direcionar as discussões, propusemos aos professores um
conjunto de quatro questões discursivas, com o objetivo de estimular a reflexão
sob o ponto de vista didático, as situações-problema analisadas na seção 7.1.
Nessa etapa da experimentação 1, a coleta de dados foi realizada de duas
formas interligadas, as respostas dos professores, sujeitos da pesquisa, ao
questionário acima citado e as gravações do áudio dos depoimentos dados
pelos docentes, durante uma reunião que ocorreu no formato de debate
coletivo. As respostas e os depoimentos apresentados pelos docentes são
analisados a seguir, nesta análise, na qual utilizamos como referência a
estruturação descendente do milieu, segundo Margolinas (2002; 2004).
Focaremos, portanto, segundo esse modelo, nos níveis de atividade que vão
de (+3) a (-1) com o objetivo de analisar apenas a atividade do professor.
Observamos que o nível (+3), noosferiano, foi vivenciado nos
procedimentos iniciais de experimentação em que discutimos, em conjunto com
os docentes, sobre o papel da simetria no currículo de Matemática e a sua
relação com outros conteúdos matemáticos, o que culminou numa ação
reflexiva por parte dos professores, isto é, a construção de mapas conceituais.
Contudo, na resposta do professor Narciso à questão discursiva 3 do
questionário, observamos reflexões voltadas a esse nível, conforme Figura 52.
205
Figura 52. Resposta do professor Narciso à questão discursiva 3 do instrumento aplicado aos professores
Fonte: Dados da pesquisa
Essa reflexão foi ampliada quando questionamos, presencialmente, os
professores, para saber se eles consideravam pouco o trabalho com as
construções geométricas na escola. Segundo o professor Narciso,
não é trabalhado nada de construções geométricas na escola, faz muitos anos, mas, muitos anos mesmo que a gente não vê a disciplina desenho geométrico: construção de mediatriz, reta perpendicular, construção de retas paralelas usando régua e compasso. 45
Os professores justificam esse fato, pela retirada da disciplina desenho
geométrico dos cursos de Licenciatura em Matemática nas universidades. Eles
ainda citam como motivo para essa retirada a inclinação para as propriedades
e a simbologia, isto é, à álgebra.
Segundo Margolinas (2002) no nível +2 (da construção), o professor
constrói ou escolhe uma série de situações fundamentais, com o objetivo de
analisar: as variáveis didáticas envolvidas e os valores dessas variáveis; as
dificuldades que os alunos poderiam apresentar durante a experimentação e as
ações para minimizar ou saná-las e o repertório de conhecimentos a serem
mobilizados pelos discentes.
Nossa proposta, na primeira questão discursiva, restringia-se a instigar o
docente a refletir sobre as respostas corretas esperadas por eles, as
dificuldades que os alunos poderiam encontrar na resolução das situações-
45 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
206
-problema, os conhecimentos mobilizados pelos alunos para resolver cada item
de cada uma das situações propostas e a importância didática de situações
desse tipo na formação dos alunos, em relação à simetria axial. Apesar disso,
os professores detiveram-se, principalmente, nas dificuldades esperadas por
eles com relação a uma possível solução a ser apresentada pelos alunos, o
que justifica terem passado a responder o questionário a partir da questão
discursiva 2. Essas respostas estão relacionadas no Quadro 38.
Quadro 38. Respostas dos professores, com relação à questão discursiva 2
Docentes
Profª. Margarida
Prof Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio das respostas apresentadas no Quadro 38, identificamos que
os professores acreditavam que a complexidade da figura-objeto (por exemplo,
octógono e circunferência), no caso de reconhecimento e construção de eixo
de simetria e o fato de a figura-objeto tocar ou cortar (em 1 ou mais pontos) o
207
eixo de simetria no caso de construção de figura simétrica, acarretariam
dificuldades aos alunos, para sua resolução. Aparentemente, para os
professores, a visão de simetria ortogonal como espelhamento é determinante
para que os discentes obtenham êxito no conjunto de atividades propostas na
sequência didática.
Na quarta questão discursiva, perguntamos aos professores, se eles
identificavam alguma variável didática que pudesse dificultar ou facilitar a
resolução das situações propostas. As respostas dos professores são
apresentadas no Quadro 39.
Quadro 39. Respostas dos professores com relação à questão discursiva 4
Docentes
Profª Margarida
Prof Narciso
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que as variáveis didáticas identificadas pelos professores
nas atividades que compõem a sequência didática proposta, vêm ao encontro
de algumas daquelas já relacionadas neste estudo, a saber: as direções do
eixo de simetria na folha, o tipo de papel (branco ou quadriculado), a
complexidade da figura-objeto, as direções dos elementos que compõem a
figura-objeto e a interseção da figura-objeto com o eixo de simetria.
Ressaltamos que uma consequência importante da escolha de variáveis
didáticas é o tipo de técnica disponível/escolhida nos procedimentos e nas
respostas dos sujeitos. Essa importância se deve ao fato de que, dependendo
do tipo de técnica escolhida para os procedimentos de resolução, existe a
necessidade da mobilização de conhecimentos diferentes.
Acreditamos que, no momento em que os professores responderam
esse questionário discursivo, ocorreu um movimento duplo, o que Schön (2000)
208
chamou de conhecimento-na-ação e reflexão-na-ação, isto é, uma primeira
reflexão acerca da sequência didática proposta.
Por considerarmos as respostas fornecidas nos Quadros 38 e 39
insuficientes para o processo de investigação, decidimos fazer uma segunda
discussão dessas mesmas questões, porém, presencialmente, por meio de um
debate coletivo. Essas discussões ampliaram os argumentos sobre as
dificuldades esperadas pelos professores com relação a cada item das
situações-problema, as variáveis didáticas (e seus valores) envolvidas na
sequência de atividades, além dos conhecimentos a serem mobilizados pelos
alunos durante a resolução delas. Consideramos que essas discussões nos
levaram a uma reflexão-sobre-a-ação, no sentido de Schön (2000). Para esse
debate coletivo, apesar de apenas dois dos quatro professores, engajados na
pesquisa, terem respondido e entregado os questionários, participaram três
professores: o professor Narciso, a professora Margarida e a professora Rosa.
Sendo assim, as argumentações dos docentes foram transcritas e são
analisadas a seguir.
7.2.2.1 Análise dos dados provenientes das discussões no debate
coletivo sobre a pré-análise realizada pelos docentes sobre a
situação-problema 1
Sobre a atividade do professor, Margolinas (2002, p.2) observa que,
de maneira geral, o professor está preso entre as considerações que faz, de alguma forma, sobre os alunos e de outras que provêm de sua condição de professor de Matemática, como tal está fortemente sujeito ao estabelecimento de ensino e da instituição matemática”.
(tradução nossa).
A seguir, podemos conferir que as argumentações dos professores sobre a análise de cada item da situação-problema 1 está de acordo com essa observação.
Com relação ao item (a), circunferência, para os alunos do 6ºano do
Ensino Fundamental, o professor Narciso avalia que:
o aluno não tem a noção do que venha a ser diâmetro (primeiro problema), por exemplo, ele pode até traçar aquele primeiro eixo de simetria, mas ele não vai entender que de qualquer jeito que ele
209
traçar uma corda passando pelo centro ele vai traçar um eixo de simetria, por que ele não tem noção de diâmetro 46.
Ainda sobre o reconhecimento e construção dos eixos de simetria da
circunferência, esse mesmo professor reforça que, para os alunos do 6º ano,
ele vai, com a experiência que a gente tem, a experiência de sala de aula, ele vai dobrar aqui e vai dizer que só existe um eixo de simetria, ai a gente vai perguntar, e se a gente dobrar aqui? Sabe o que ele vai responder? Mas professor é a mesma coisa. E se a gente dobrar assim? Não professor é a mesma coisa. Então ele não vai entender que quando a gente muda a posição da dobradura a gente muda o eixo de simetria, isto é, a gente tem outro eixo.47
Quanto a possíveis dificuldades na resolução desse item, a professora
Margarida acredita que “no nono ano, o aluno já entenderia isso, porque a
simetria é trabalhada no oitavo ano”. 48
De acordo com o professor Narciso, “na figura (b) eu acho que ele
[aluno] vai ter menos dificuldade, tanto é que eu não fiz questão, por exemplo,
de identificar a variável didática [...] talvez não entendesse [o aluno] a diagonal
como sendo um eixo de simetria, mas acho que não teria problema”. 49
Para o item (c) o professor Narciso pontua que, “uma variável didática é
exatamente a questão das propriedades do triângulo: se for um triângulo
equilátero possui 3 eixos de simetria, isósceles 1 eixo de simetria e se for
escaleno nenhum.” 50 Para o octógono, os professores reforçaram que a
complexidade da figura é a principal variável didática.
Voltando ao debate sobre o item (b), chamamos a atenção dos docentes
para a aparência da figura. Por exemplo, e se a figura fosse um losango e não
um quadrado? Na discussão, os professores concluíram que “ele vai ter dois
eixos de simetria, o losango só vai ter as diagonais como eixo de simetria por
porque [a medida] dos ângulos opostos são iguais, então quando a gente traça
as diagonais, a gente traça dois triângulos isósceles congruentes.” 51
Ao questionarmos os professores, se eles acreditavam que os alunos
fariam alguma discussão ou perguntariam sobre a natureza da figura dada, por
46 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 47 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014 48 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 49 Idem. 50 Idem. 51 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – julho de 2014.
210
exemplo, se discutiriam o número de eixos de simetria de acordo com a
classificação dos triângulos ou dos quadriláteros, a professora Margarida
explicou;
não, porque a questão de conceito eles não gostam muito que a gente diga o porquê, eles querem que a gente vá direto, então eles não perguntam se a gente vai trabalhar a dedução de uma fórmula, por exemplo, eles não querem não, dá logo professora e acabou. Eles não querem saber por que aquilo não veio do nada não. 52
Já o professor Narciso, ponderou que, “no 6º ano, é muito mais fácil
discutir os porquês, uma vez que o aluno ainda está naquela fase da
curiosidade, mas quando o aluno vai crescendo ele vai despertando para
alguns outros interesses”53. Segundo esse mesmo professor, essa questão é
mais complexa, isto é, a afinidade com outras áreas do conhecimento faz com
os alunos do 9º ano, por exemplo, não tenham tanto interesse pela dedução de
fórmulas ou pelas definições matemáticas e tantas mais.
Observamos que, nesse caso, as discussões dos professores ainda
estão pautadas no nível +3, noosferiano, em que os debates sobre as ações
que podem ser tomadas a respeito das respostas esperadas (corretas ou não)
tomam uma proporção mais ampla. Assim, a situação S+3 (noosferiana)
poderia ser descrita como: P+3 investiga uma forma de envolver os alunos em
uma discussão, de maneira que eles observem que as definições e
propriedades das figuras geométricas planas (Figura 45, p.172) estão
diretamente ligadas ao conceito de figuras simétricas e, por consequência, ao
número de eixos de simetria.
Em grandes linhas gerais, o debate ficou em volta de uma reflexão sobre
a volta da inserção da disciplina desenho geométrico no currículo e sobre a
forma/ordem de apresentação dos conteúdos nos livros didáticos. Nas
situações-problema 2 e 3, o foco principal do debate coletivo foi a influência
das variáveis didáticas e de seus valores nos procedimentos de resolução
esperados pelos docentes.
52 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 53 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
211
7.2.2.2 Análise dos dados oriundos das discussões no debate coletivo
sobre a pré-análise realizada pelos professores para a situação-
problema 2
Margolinas (2002) esclarece que o professor P0, ator em classe, está
sempre em tensão entre seu projeto de ensino (nível +1 na estruturação do
milieu) e a reação dos alunos. A afirmação do professor Narciso externa essa
tensão, pois, segundo esse docente, “a dificuldade de enxergar detalhes das
figuras, por exemplo, aqui no item 5 ele [aluno] tem que enxergar exatamente,
ou melhor dizendo, o que vai mostrar onde está o eixo de simetria é a posição
dos olhos do peixe, se tem ou não eixo de simetria e onde está.”54 (ver Figura
46, p.180)
Segundo os professores, existe um detalhe importante no caso da
Figura 5, “se o olho [do peixe B] estivesse em cima, a figura não teria eixo de
simetria” 55; “o olho [do peixe] muitos [alunos] não vão observar o olho” 56. Eles
concluem que a posição do olho do peixe é a principal variável didática nessa
atividade.
Essa identificação condiz com nossa análise, a priori. Contudo, outras
variáveis didáticas importantes não foram levadas em conta nessa
identificação, e um exemplo é a conservação ou não da distância das figuras
(objeto e simétrica) ao eixo de simetria. Ressaltamos que uma consequência
dessa variável didática é a escolha do tipo de técnica (dobradura, construção
com régua esquadro e compasso) a ser utilizada nos procedimentos de
resolução. Consideramos que o tipo de técnica escolhida é determinante no
momento de decidir pela existência ou não dos eixos de simetria e, no caso de
existência, na construção desse elemento.
7.2.2.3 Análise dos dados provenientes das discussões no debate
coletivo sobre a pré-análise realizada pelos professores, para a
situação-problema 3
Para essa última situação-problema foram debatidas amplamente as
variáveis didáticas, seus valores e a influência que elas podem ter sobre as
54 54 Em depoimento concedido na reunião - julho de 2014. 55 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 56 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
212
construções de figuras simétricas. Sobre a utilização dos instrumentos de
desenho, na resolução de cada item, apesar de os professores admitirem sua
importância, eles não detalharam como os instrumentos podem auxiliar os
alunos no processo de aprendizagem; um dos professores argumenta que eles
“auxiliam bastante na construção das figuras simétricas de acordo com o eixo
de simetria”. 57
Chamamos a atenção dos professores com relação à simetria ortogonal,
no caso de simetria de pontos e simetria de figuras complexas. Quando
detalhavam sua prática de ensino um dos professores afirmou que
a primeira simetria que a gente faz, no caso de simetria axial, é fazer a simetria de ponto. Então se eu tenho um ponto e o eixo de simetria aonde é que está o outro [ponto simétrico]? Quando esta bem firme na cabeça do aluno a questão da simetria de ponto com relação a um eixo de simetria, ai a gente parte para as figuras, mas a gente parte para as figuras pensando exatamente isso, identifique os pontos dessa figura e transfira os pontos [simétricos]. Eu fiz muito isso não em matemática, mas quando era professor de física do segundo ano, na parte de ótica geométrica, espelho plano, para a gente construir a imagem a gente falava isso aqui esta o espelho, mas a gente vai transferir ponto a ponto. Depois de transferir ponto a ponto a gente só
vai ligar os pontos. 58
Pelo depoimento do docente, inferimos que ele acredita que, se o aluno
sabe traçar o simétrico de um ponto, ele está apto a traçar o simétrico de uma
figura qualquer. Contudo, Grenier, em seu estudo, tinha como uma das
hipóteses, a de que “não é suficiente para o aluno saber o traçado simétrico de
um ponto para conhecer o traçado simétrico de qualquer figura” (1988, p. 22,
tradução nossa).
Sobre essa hipótese, a autora afirma que seus experimentos permitiram
verificar a não equivalência pelos alunos das tarefas de traçado simétrico de
uma figura, quando esta era composta unicamente de pontos separados ou
quando era composta de segmentos, o mesmo acontecendo com os alunos
que tiveram um ensino anterior sobre o conceito de simetria ortogonal. Ela
afirma ainda que, no ensino, a passagem da construção do simétrico de um
ponto para aquele simétrico de qualquer figura é frequentemente implícito e
deixado a cargo dos alunos.
57 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 58 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
213
Com relação à interseção do eixo de simetria com a figura-objeto, as
discussões dos professores voltaram-se, principalmente, para quando a figura-
-objeto corta o eixo de simetria em um ou mais pontos. Segundo o professor
Narciso, “uma das maiores dificuldades que o aluno teria, mesmo com papel
quadriculado ou sem papel quadriculado é quando uma parte da figura está
sobreposta do outro lado do eixo de simetria” 59. A interseção da figura-objeto
com o eixo de simetria voltou a ser citada quando questionamos sobre quais
itens da situação-problema 3, os docentes acreditavam que os alunos teriam
mais dificuldades. Eles foram unânimes ao dizer que: “para o aluno do sexto
ano, se a gente tiver feito uma releitura da simetria como espelhamento e por
aí vai, a dificuldade na minha concepção para ele, letra (c) e letra (f), porque,
em todas as duas eu tenho figuras cortando o eixo de simetria”60; “no sétimo
ano, com certeza, essas dificuldades continuariam” 61 para os itens (c) e (f); “as
letras (c) e (f) até no nono ano os alunos teriam dificuldades”62. As observações
dos docentes estão de acordo com os resultados obtidos por Grenier (1988).
Em seus estudos, essa autora pontua que a interseção da figura-objeto com o
eixo de simetria continuou a provocar erros nos registros dos alunos, mesmo
após o ensino do conceito.
Outra variável didática identificada pelos docentes e que, segundo eles,
provocaria um pouco de dúvida no aluno, é quando o eixo de simetria é
oblíquo, mas não é a diagonal da folha (itens (a), (b), (i), (m) e (n)). Por
exemplo, no item (i), os professores observaram que a figura-objeto toca a
borda retangular superior, mas que, ao construir a figura simétrica, essa não
toca a borda retangular inferior conforme observamos na Figura 53.
Figura 53. Observação dos professores quanto à posição da figura simétrica em relação à
posição do eixo de simetria, item (i).
Fonte: Elaborado pela autora
59 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 60 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 61 Professora Rosa em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 62 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
214
Segundo o argumento dos docentes “alguém pode pensar que aqui vai
encostar, mas por que não encosta? Porque o eixo de simetria não é a
diagonal do retângulo” 63.
Observamos que, nesse caso, os professores identificaram uma variável
didática que não estava prevista em nossa análise, a priori, isto é, a posição do
eixo de simetria na folha.
Ao serem questionados sobre o papel da malha quadriculada, os
professores ficaram divididos: ela favorece ou não a resolução? Nesse sentido,
Narciso afirma que
A malha quadriculada auxilia ao aluno visualizar a figura simétrica sem o auxílio de material [instrumento de desenho geométrico] por que, por exemplo, em todas essas [itens sobre o papel branco] aqui eu usei régua e esquadro (eu não usei compasso) para conseguir visualizar medindo direitinho, nessa daqui [item sobre a malha quadriculada] eu não precisei tanto de régua e esquadro por que eu consegui visualizar, então é aquela questão da visualização da figura. A malha quadriculada ela auxilia ao aluno e me auxiliou também a enxergar a figura a figura simétrica sem precisar de material de desenho [geométrico] para construir. 64
A concepção de que a malha quadriculada é um agente facilitador para a
construção de figura simétrica, pode ter sido reforçada pelo fato de que, entre
os tipos de tarefas propostas por alguns autores de livros didáticos, são
privilegiados aqueles que utilizam a malha quadriculada, como pode ser
observado na Tabela 1, apresentada no terceiro capítulo deste trabalho.
Porém, como já pontuamos anteriormente por meio dos resultados de
Grenier (1988) e pela investigação preliminar realizada por nós (SILVA;
ALMOULOUD, 2013), os procedimentos e respostas aos itens sobre papel
quadriculado não são mais bem sucedidos que aqueles sobre o papel branco.
Além disso, em nossa análise, a posteriori, observamos, nos registros
fornecidos pelos professores ao resolverem a sequência didática pré-
elaborada, que a malha quadriculada induziu os sujeitos a levarem em
consideração pontos particulares da figura-objeto e transcrever esses pontos
no semiplano oposto ao eixo de simetria, numa direção “quase” ortogonal a ele.
Esse fato acarretou a construção de figuras “simétricas” errôneas, isto porque
63 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014. 64 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
215
ocultou uma propriedade importante da simetria ortogonal, a ortogonalidade, a
qual não foi levada em conta nas construções de figuras simétricas.
A professora Margarida argumenta que “se o aluno não atentar, olhar a
malha [quadriculada] e não atentar à quantidade de quadrinhos de um lado e
do outro [do eixo de simetria], por exemplo, aqui tem três colunas de
quadrinhos, aqui têm quatro, eles [os alunos] podem se equivocar” 65. Fato que
está ilustrado na Figura 54, pelo item (d) da situação-problema 3.
Figura 54. Observação dos professores quanto à posição da figura simétrica em relação à posição do eixo de simetria no item (d).
Fonte: Questionário 3 aplicado aos professores
Nesse caso, ao analisar o item (d) da situação-problema 3, a professora
avalia que a composição de duas variáveis didáticas, tipo do papel
(quadriculado) e a posição do eixo de simetria na folha podem influenciar na
resolução dos alunos.
Como forma de minimizar as possíveis dificuldades, os docentes
discutiram propostas, como o trabalho com construções geométricas nas aulas
de geometria. Nesse caso, a situação S+2 poderia ser descrita como: P+2
refletindo sobre a construção de uma sequência de atividades a partir das
quais os discentes possam progredir da construção de mediatriz e reta
perpendicular para a definição e as propriedades da simetria ortogonal (ver
citação, p.164 e p.165).
Segundo Margolinas (2004), no nível +1(planejamento), o professor
constrói ou escolhe uma sequência de situações didáticas com a finalidade de
ensinar determinado conteúdo. Para direcionar a pesquisa, os professores
realizaram a pré-análise de uma sequência didática pré-elaborada, na qual eles
65 Em depoimento concedido em reunião - julho de 2014.
216
tinham a possibilidade de modificar as situações-problema e/ou adicionar
algum item em cada uma das sequência de atividades.
Na próxima seção, apresentamos uma síntese da pré-análise realizada
pelos docentes. Nela, exibimos algumas sugestões de modificações em alguns
dos itens que compõem as situações-problema apresentados na sequência
didática pré-elaborada e as decisões tomadas, no debate coletivo, sobre o
conjunto de atividades a ser aplicado numa turma do 8º ano do Ensino
Fundamental.
7.2.2.4 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de professores
ao questionário discursivo e as discussões nas reuniões sobre a
pré-análise desses docentes às situações-problema
Um ponto de discussão sobre a sequência didática pré-elaborada está
relacionado com os enunciados das situações-problema. Os professores
insistiam que a simetria ortogonal deveria ser tratada como espelhamento,
sobretudo para alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. Entretanto,
argumentamos que os alunos precisam ter contato com a linguagem
matemática e ficou acordado que, se no momento do experimento, os
discentes pedissem explicação sobre os enunciados, poderia ser utilizado o
termo espelhamento para esse fim.
Outro ponto de discussão, foi a retirada do item (f) da situação-problema
1; inicialmente, os professores argumentaram que o objetivo desse item já
estava contemplado nos itens anteriores. Depois de certo debate, foi decidido
que o item seria mantido na sequência, uma vez que poderia trazer mais
elementos acerca dos procedimentos adotados pelos alunos. Foi acertado,
ainda, que a sequência didática seria aplicada em uma das turmas do 8º ano
de Ensino Fundamental II, na escola em que a investigação estava sendo
realizada e no horário de aulas de um dos docentes, sujeito da pesquisa.
Os professores observaram que, quando o papel era do tipo malha
quadriculada, não havia sido proposto na sequência didática pré-elaborada um
item no qual o eixo de simetria tivesse direção oblíqua com relação à folha e a
figura-objeto não fosse paralela a essa folha. Eles sugeriram propor esse item
na sequência didática a ser aplicada aos alunos. Ilustramos na Figura 55 o item
sugerido pelos docentes para ser adicionado à sequência didática.
217
Figura 55. Item sugerido pelos professores para ser adicionado à sequência didática aplicada aos alunos.
Fonte: Questionário aplicado aos alunos
A situação S+1 pode ser descrita como: o professor P+1 avalia as
situações-problema propostas na sequência didática pré-elaborada e sugere
alterações com vistas à sua aplicação a alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental II.
Nessa investigação com docentes participantes da pesquisa, sobre o
ensino da simetria ortogonal, identificamos a concepção de que a utilização de
termos como espelhamento e reflexão pode facilitar a compreensão dos
discentes, ao resolverem atividades sobre a simetria ortogonal. Outra
concepção, identificada na análise dos registros e áudios fornecidos pelos
mesmos docentes é que se o aluno sabe traçar o simétrico de um ponto, ele
está apto a traçar o simétrico de uma figura qualquer. Por fim, foi possível
perceber o entendimento de que a malha quadriculada é um agente facilitador
para a construção de figura simétrica.
No Quadro 40, fazemos uma síntese das respostas fornecidas por dois
professores no questionário discursivo e pelas discussões de três professores
que participaram do debate coletivo realizado no horário destinado ao A.C.
(atividades complementares).
218
Quadro 40. Síntese das respostas dos professores sobre o instrumento 3 e no debate coletivo
Ativ
idad
es
Dificuldades que os
alunos podem encontrar
Os conhecimentos que os alunos mobilizariam
para responder os itens
A importância didática desse
tipo de situações para
a formação dos alunos
Variáveis didáticas
As propostas
1- a) O aluno pode traçar o primeiro eixo [de simetria], mas, ele não vai entender que de qualquer forma que ele traçar uma corda passando pelo centro [da circunferência] ele vai traçar o eixo de simetria, porque não tem a noção de diâmetro.
-Noção de diâmetro de uma circunferência. - Corda. - Ângulo central, que é igual ao comprimento de arco.
-Essas atividades dão condições ao aluno de perceber as propriedades e conceitos referentes à simetria tanto para a construção de figuras simétricas quanto na identificação do eixo de simetria. Noções de equidistância, perpendicularidade e paralelismo ficaram mais claras para os alunos após a aplicação dessas atividades. - O aluno participando deste laboratório tem a possibilidade de formular conjecturas, de forma a conseguir de forma autônoma compreender conceitos relativos à geometria. - São atividades práticas que proporcionarão aos educandos
A própria figura
-Situação prática envolvendo espelhamento. - Trabalharia o conceito de simetria e eixo de simetria. - Inserção novamente da disciplina desenho geométrico - A valorização da geometria no currículo da educação básica. - Propiciar ao aluno atividades que possibilitem que ele faça construções geométricas.
1- b) Talvez ele [o aluno] não entenda a diagonal como eixo de simetria.
As propriedades do quadrado.
Não identificou nenhuma
1- c) Quanto à classificação dos triângulos (equilátero isósceles e escaleno). Especificamente traçariam apenas um eixo como se fosse um triângulo isósceles.
As propriedades do triângulo.
A natureza da figura.
1- d) Identificariam dois eixos de simetria, pois não atentariam ao espelhamento.
-Ângulos opostos são iguais -Ângulos adjacentes. -Fazer as relações de ângulos opostos pelo vértice.
1- e) Não conseguiriam [os alunos] encontrar todos os eixos de simetria do octógono.
Propriedades dos polígonos
Complexi-dade da figura.
2 Dificuldade de enxergar detalhes das figuras.
Equidistância. Posição dos olhos dos peixes.
219
3 - Problema de interpretação, tem ajudar a entender o que se está pedindo [no enunciado]. - Para os itens (c) e (f) as dificuldades seriam maiores quando uma parte da figura está sobreposta do outro lado do eixo de simetria. - Para os itens (a), (i) e (m) uma dificuldade seria quando o eixo de simetria é oblíquo, mas não é diagonal na folha.
- Ângulo reto. - Construção de mediatriz. - Construção de reta perpendicular.
a reflexão, discussão, tomada de decisão e internalização do conceito de simetria.
Quando a figura corta o eixo de simetria em um ou mais pontos.
A posição do eixo de simetria com relação à folha.
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio do Quadro 40, constatamos a afirmação de Margolinas (2004)
de que os níveis da atividade do professor interagem entre si. Um exemplo
dessa interação aparece na coluna que trata das propostas dos professores,
cujo objetivo seria minimizar ou sanar as possíveis dificuldades a serem
encontradas pelos alunos. Traços das discussões proferidas no nível
noosferiano (que segundo Margolinas (2004) é um nível não finalizado),
voltaram a ser apresentados pelos professores, tanto nas respostas ao
questionário discursivo, quanto no debate coletivo ao serem inquiridos sobre a
proposta de situações didáticas envolvendo a simetria ortogonal.
A partir das considerações feitas pelos professores ao analisar a
sequência didática pré-elaborada, observamos que as avaliações partem de
suas próprias experiências, tanto como o sujeito que estudou e propôs
soluções para as situações-problema, quanto na condição de professor de
Matemática, isto é, aquele que propõe alterações e faz uma análise didática da
sequência, levando em consideração suas concepções de ensino e de
aprendizagem. De acordo com a estruturação do milieu do professor, proposta
por Margolinas, essas observações corroboram a afirmação de que
o professor está sempre em tensão entre os níveis superiores (isto é, dado um nível n, os níveis n+1, n+2, etc.) e os níveis inferiores (respect. n-1, n-2, etc.), ou seja, entre um nível de concepção mais ou menos geral de uma seção, de uma instrução, de um ensinamento, e um nível que o aproxima da classe a partir de sua posição de partida. (MARGOLINAS, 2004, p 75, tradução nossa)
220
O debate coletivo expôs, quando analisamos os argumentos dos
professores, que “existe uma complexidade temporal na atividade do professor,
em cada nível; a ação do professor pode ser considerada, também, como o
presente das ações em interações passadas ou futuras.” (MARGOLINAS,
2004, p.75, tradução nossa)
Na seção 7.3, apresentamos a análise experimentação 2, em que a
sequência didática analisada e modificada pelos professores foi aplicada aos
alunos do 8º ano do Ensino Fundamental.
7.3 Experimentação 2: aplicação das situações-problema
analisadas pelos professores, sujeitos da pesquisa, a alunos
do 8º ano do Ensino Fundamental
A seção de aplicação das situações-problema aos alunos contou com a
participação da pesquisadora e do professor regente da turma, o professor
Jacinto. Os outros professores de matemática investigados, não puderam
participar dessa experimentação por estar em sala de aula com outras turmas.
Escolhemos para a aplicação da sequência didática uma das turmas de 8 º ano
do Ensino Fundamental II da escola. Os alunos que tinham entre 13 e 14 anos
de idade, foram agrupados em 16 duplas. A seção foi realizada no horário
normal de aulas com 2 horas-aula de duração, e iniciada com a apresentação
da pesquisadora pelo professor regente e, em seguida, a entrega do material
da coleta de dados. Esse material constava de jogo de esquadros, uma régua
graduada e quatro folhas com as impressões das atividades a serem resolvidas
pelos discentes, que foram entregues às duplas de alunos, uma por vez.
No momento da experimentação, observamos que as duplas de alunos
apresentaram muitas dificuldades com relação ao conceito de figura simétrica e
eixo de simetria, sendo necessária, por várias vezes, a intervenção do
professor regente e da pesquisadora para que eles continuassem os
procedimentos de resolução. É importante ressaltar que, em nenhum momento,
essas intervenções foram no sentido de dizer aos alunos as respostas das
atividades, e sim oferecer uma forma de eles refletirem e continuarem a fazer
as tarefas. A atividade do professor, nesse caso, pode ser esboçada como: o
221
professor P(-3) leva o aluno E (-3) a compreender o objetivo das tarefas
propostas nas atividades que compõem a sequência didática.
Durante a experimentação, observamos que o professor Jacinto fazia
devoluções “locais” nas mesas, à medida que algumas duplas de alunos
terminavam as atividades. Observamos, ainda, que essas devoluções “locais”
tiveram como foco a reflexão dos alunos, por meio de questionamentos sobre
os procedimentos e respostas. As respostas dos alunos a esses
questionamentos levaram-nos, passo a passo, a rever sua resposta inicial e a
chegar perceptivamente à resposta correta, cuja validação é local. Nessa fase,
a atividade do professor pode ser descrita como: o professor P(-2), em
interação com as duplas de alunos, observa e faz a devolução, propondo
situações fundamentais que utilizaram as técnicas dobradura e espelhamento.
A institucionalização na classe foi realizada pela pesquisadora, uma vez
que o professor alegou estar com problemas na garganta e não estar em
condições de fazer esse trabalho. Sobre a institucionalização, observamos que
a maior parte dos alunos necessitava experienciar as situações para
argumentar sobre os eixos de simetria, sobretudo no conjunto de atividades da
primeira situação-problema.
Um exemplo, que ilustra esse fato foi quando questionamos os alunos se
o paralelogramo, item (g), apresentava eixos de simetria, e apenas uma dupla
de alunos respondeu corretamente. O restante da turma só observou a não
existência de eixos de simetria, quando solicitamos a eles que recortassem a
figura e fizessem as dobras na direção das diagonais do paralelogramo e nas
direções dos segmentos cujas retas suporte são paralelas a cada um dos pares
de lados e equidistantes aos vértices do paralelogramo. Nesse momento,
observamos que a maioria dos alunos compreendia a simetria ortogonal
apenas como espelhamento e tinha a necessidade de utilizar técnicas como
dobradura e, por vezes, o espelho plano físico para identificar ou não a
existência de eixos de simetria e, no caso de identificação, visualizar a imagem
da figura simétrica.
Principalmente pela restrição de tempo e dificuldades apresentadas
pelas duplas de alunos, quanto à mobilização de conhecimentos necessários
para validar, do ponto de vista científico, os procedimentos e respostas às duas
primeiras situações-problema da sequência didática, a validação ficou restrita
222
ao campo perceptivo. Ainda por falta de tempo, a institucionalização da
sequência didática ficou restrita apenas às duas primeiras situações-problema,
sendo a última deixada para nova oportunidade, a qual, por causa do
encerramento do ano letivo não teve como ser efetuada.
Na seção 7.3.1 é apresentada a análise a posteriori sobre os protocolos
fornecidos pelas duplas de alunos momentos antes da institucionalização.
7.3.1 Análise, a posteriori, dos procedimentos e respostas
apresentadas pelas duplas de alunos à sequência didática
Optamos por realizar, na próxima seção, a análise quantitativa dos
registros dos alunos e discutir a influência das variáveis didáticas escolhidas e
seus valores nos procedimentos e respostas das duplas de alunos. Essas
análises serão apresentadas por representação, levando-se em conta,
principalmente, a frequência das respostas. O objetivo de fazer uma análise
quantitativa dos dados é conhecer, de forma geral, os tipos de respostas e
procedimentos que os alunos adotaram em suas resoluções.
7.3.1.1 Análise, a posteriori, das respostas de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental a situação-problema 1
Apresentaremos para cada item da situação-problema 1, uma tabela em
que trazemos as respostas dos alunos e a frequência com que ela ocorre, e
cuja finalidade foi ter uma ideia global dos tipos de respostas que os alunos
forneceram.
Para o item (a), apresentamos na Tabela 3, a frequência das respostas
das duplas de alunos quanto ao número de eixos de simetria.
Tabela 3. Frequência das respostas dos alunos para o item (a) da situação-problema 1
Respostas Frequência
Admite vários eixos de simetria 1
Admite mais de um eixo de simetria 5
Admite mais de dois eixos de simetria 1
Possui 4 eixos de simetria 6
Possui 2 eixos de simetria 2
Possui 1 eixo de simetria 1 Fonte: Dados da pesquisa
223
Observamos que apenas uma dupla de alunos respondeu corretamente
o item (a). Porém, apesar de afirmar que a circunferência admite vários eixos
de simetria, no momento de justificar a resposta os discentes não utilizaram
justificativas matemáticas, argumentando que “ela pode [ser] cortada de vários
jeitos e ela [circunferência] fica da mesma forma” (dupla A).
Figura 56. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura correspondente ao item (a) da
situação-problema 1 pelas duplas B, E e M respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
Os alunos que responderam “mais de um eixo de simetria”, na maioria
das vezes, traçaram na figura dois ou quatro eixos de simetria. Quatro dessas
duplas apresentaram justificativas do tipo - “pois se reflete por múltiplos lados”
(dupla B), “devido ter os lados iguais irá dar para traçar mais de um eixo de
simetria e reproduzir a cena de forma correta (dupla H)”, “porque o círculo não
tem pontas” (dupla I), “porque tem partes iguais” (dupla O).
Nas justificativas das duplas de alunos, não ficam claros quais os
procedimentos de resolução utilizados; observamos que a validação é feita
apenas de forma perceptiva, por meio da visualização. Observamos, ainda, que
do total, 9 duplas não forneceram nenhum tipo de justificativa ou explicação
para as suas respostas, apenas desenharam alguns dos eixos de simetria na
figura.
Na Tabela 4, exibimos que para o item (b), a quantidade de eixos de
simetria desenhados pelas duplas de alunos e sua frequência. Observamos
que esta ficou dividida em três categorias.
Tabela 4. Frequência das respostas dos alunos para o item (b) da situação-problema 1
Número de eixos de simetria desenhados na figura
Frequência
2 eixos de simetria 4
4 eixos de simetria 11
1 eixo de simetria 1 Fonte: Dados da pesquisa
224
Como sinalizado em nossa analise, a priori, os alunos consideram a
figura dada como um quadrado. A maioria, 11 duplas de alunos desenharam 4
eixos de simetria na figura. Dessas duplas, 4 justificaram suas respostas da
seguinte forma: “possui 4 eixos de simetria, pois possui 4 lados” (dupla B),
“nesta figura há quatro eixos [de simetria] que formam 8 lados iguais porque é
uma figura que contém um número par de vértices” (dupla D), “nós fizemos de
várias formas e a que mais se encaixou foi esta” (dupla E). Apesar de a dupla B
fazer relação entre o número de eixos de simetria e o número de lados da
figura, a dupla não cita nenhuma propriedade matemática utilizada na sua
explicação.
Figura 57. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura correspondente ao item (b) da
situação-problema 1 pelas duplas B, L e M respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que duas duplas traçaram os quatro eixos de simetria na
figura dada e, em seguida, contaram cada parte da figura obtida como um eixo
de simetria totalizando em suas contagens 8 eixos de simetria. Da mesma
forma, outras duas duplas desenharam dois eixos de simetria na figura e
contaram quatro. Na justificativa, uma delas declarou: “possui 4 eixos de
simetria, por que as partes cortadas por cada ângulo calculando resulta em 4
eixos [de simetria]” (ver Figura 57, dupla M). Nesses casos, o que parece
ocorrer é que, as duplas de alunos D, F, I e M, recorrem a um conhecimento
anterior, mas inadequado para executar a tarefa.
No geral, os alunos não citam nenhum tipo de propriedade geométrica
para explicar suas respostas. Quanto às técnicas escolhidas (dobradura,
espelhamento ou decalque), não ficou evidente em nenhuma das justificativas
a utilização de qualquer uma delas; por outro lado, as direções (horizontal e
vertical) dos elementos que compõem a figura parecem ter favorecido no êxito
da maioria das duplas. A validação é feita apenas de forma perceptiva, os
225
instrumentos de desenho foram utilizados, algumas vezes, apenas para
desenhar os traços na figura, sem ter como finalidade a verificação de
propriedades por meio de medições ou para construir os traços na figura.
Apresentamos na Tabela 5, as respostas das duplas de alunos quanto
ao número de eixos de simetria, para o item (c).
Tabela 5. Frequência das respostas dos alunos para o item (c) da situação-problema 1
Número de eixos de simetria desenhados na figura
Frequência
Nenhum eixo de simetria 1
1 eixo de simetria 11
3 eixos de simetria 4 Fonte: Dados da pesquisa
Apesar de a maioria das duplas de alunos desenharem no triângulo
dado um eixo de simetria, poucas justificaram sua resposta; dois dos
argumentos utilizados foram “nesta figura só há um eixo que forma 2 lados por
que só tem 3 vértices” (dupla D), “porque não há outra ponta para ligar” (dupla
M). Conforme a Tabela 5, apenas 4 duplas de alunos consideraram que a
figura proposta era um triângulo equilátero e desenharam 3 eixos de simetria.
Dessas, uma dupla apresentou a seguinte justificativa “possui três eixos de
simetria por ser um triângulo que possui 3 lados iguais” (dupla B).
Na Figura 58, apresentamos dois exemplos de respostas fornecidos
pelas duplas K e Q para o item (c).
Figura 58. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura correspondente ao item (c) da
situação-problema 1 pelas duplas K e Q respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando os registros dos alunos, observamos que a associação de
duas variáveis didáticas, as direções dos elementos que compõem a figura
dada e a direção dos eixos de simetria na figura, foi fator de dificuldade na
resolução das duplas de alunos. Observamos, ainda, que nenhuma das duplas
226
de alunos discutiu o número de eixos de simetria, de acordo com a
classificação dos triângulos em equilátero, isósceles ou escaleno. Inferimos
que a não mobilização de conhecimentos prévios necessários na execução da
tarefa, como a classificação dos triângulos, de acordo com os lados e a posição
do desenho na folha limitaram as respostas dos discentes.
Na Tabela 6 apresentamos as respostas das duplas de alunos para o
item (d) da situação-problema 1.
Tabela 6. Respostas das duplas de alunos para o item (d) da situação-problema 1
Número de “falsos eixos de simetria” desenhados na figura
Frequência
Nenhum eixo de simetria 1
1 eixo de simetria 3
2 eixos de simetria 10
4 eixos de simetria 2 Fonte: Dados da pesquisa
Conforme previmos em nossa análise, a priori, o fato de os traços das
diagonais do paralelogramo resultarem, visivelmente, em duas outras figuras
congruentes, cria a ilusão de existência de eixos de simetria, o que pode ter
levado a maioria das duplas de alunos a desenharem na figura dada dois eixos
de simetria. Observamos, por meio da Tabela 6, que das 16 duplas de alunos,
10 desenham na figura dada dois falsos eixos de simetria, referentes às
diagonais do paralelogramo.
Figura 59. Exemplos de falsos eixos de simetria desenhados na figura correspondente ao item (d) da situação-problema 1 pelas duplas E, D e K respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
As justificativas dadas pelos estudantes para suas respostas resumem-
-se, na maioria das vezes, a indicar de forma escrita o número de falsos eixos
de simetria desenhados. A dupla K desenhou 3 falsos eixos de simetria (Figura
59) e concluiu “nenhum eixo de simetria” sem dar qualquer explicação ou
justificativa para sua conclusão. Como já observamos para os outros itens da
situação-problema 1, três duplas de alunos desenharam dois falsos eixos de
227
simetria e os contaram pelo número de partes da figura resultante. Apenas
uma dupla de alunos não desenhou nenhum eixo de simetria na figura, porém,
justificou sua resposta da seguinte forma “existe mais de um eixo, porque tem
partes iguais” (dupla O). Os tipos de justificativas apresentados nos levam a
inferir que algumas duplas de alunos apresentaram uma explicação qualquer
para o item (d).
A Tabela 7 exprime as respostas das duplas de estudantes para a figura
representada no item (e), quanto ao número de eixos de simetria desenhados
no octógono.
Tabela 7. Respostas das duplas de alunos para o item (e) da situação-problema 1
Respostas das duplas de alunos para o número de eixos desenhados na figura
Frequência
Nenhum eixo de simetria 1
2 eixos de simetria 1
4 eixos de simetria 12
6 eixos de simetria 1
8 eixos de simetria 1 Fonte: Dados da pesquisa
Acreditamos que a associação de duas variáveis didáticas, em especial,
a complexidade da figura-objeto e as direções dos elementos que a compõem,
foi determinante para que a maioria das duplas de alunos desenhasse na figura
proposta no item (e), 4 eixos de simetria.
Figura 60. Exemplos de eixos de simetria desenhados na figura correspondente ao item (e) da
situação-problema 1, pelas duplas C, E, I e L, respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que apenas a dupla C (Figura 60) representa na figura
dada 8 eixos de simetria, porém, ao justificar argumenta “4 lados, só possui
isso”(dupla C). Parece que para a maioria das duplas de alunos, existe uma
correspondência entre os vértices da figura e o número de eixos de simetria.
228
7.3.1.2 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental a situação-problema 1
Não identificamos, de forma explícita, a utilização de nenhuma das
técnicas previstas em nossa análise, a priori, nos procedimentos de resolução,
uma vez que não apareceram nas justificativas apresentadas pelas duplas.
Parece-nos que os alunos utilizaram como recurso para desenhar os eixos de
simetria a percepção e, para a validação, apenas a visualização.
No Quadro 41, apresentamos, levando em consideração os registros da
maioria das duplas de alunos, uma síntese geral de nossa análise sobre
respostas e procedimentos realizados para o conjunto de atividades que
compõem a situação-problema 1.
Quadro 41. Procedimentos de resolução, identificados nos registros das duplas de alunos para a situação-problema 1.
Item da situação
Validação
Os procedimentos de resolução identificados
nos registros das duplas de alunos
Algumas variáveis didáticas que influenciaram
diretamente nos procedimentos de
resolução
(a)
Perceptiva, por meio do desenho de alguns eixos de simetria na figura.
A utilização da intuição para desenhar alguns eixos de simetria na figura. Porém, a maioria das duplas de alunos não chega a concluir que a figura possui infinitos eixos.
- A complexidade da figura. - O número de eixos de simetria da figura (nesse caso infinitos eixos).
(b)
Perceptiva, por meio do desenho dos
eixos de simetria na figura dada.
A maioria das duplas de alunos considerou a figura
como quadrado e desenhou com o auxilio de
instrumentos (régua, esquadro) ou à mão livre os
eixos simetria.
- As direções (horizontais e verticais) dos elementos que compõem a figura objeto. - As direções (horizontal vertical e oblíqua) dos eixos de simetria sobre a folha. - Ausência da evidência das medidas dos lados e dos ângulos.
(c)
Perceptiva, por meio do desenho de um ou três eixos de
simetria na figura dada.
Não mobilização de conhecimentos prévios,
como a classificação dos triângulos de acordo com o comprimento dos lados ou medida dos ângulos para
traçar os eixos de simetria. Os alunos utilizaram a
intuição para desenhar na figura um ou três eixos de
simetria.
- As direções (horizontais e oblíquas) dos elementos que compõem a figura objeto. - As direções (horizontal, vertical e oblíqua) dos eixos de simetria sobre a folha. - O número de eixos de simetria da figura (nesse caso, exige a necessidade de classificação dos triângulos).
229
(d)
Intuitiva, por meio do
desenho de alguns falsos
eixos de simetria na figura dada.
A não utilização de nenhuma das técnicas disponíveis (dobradura ou espelhamento) e o fato de os traços das diagonais do paralelogramo resultarem visivelmente em duas outras figuras congruentes criaram a ilusão de existência de eixos de simetria.
-A complexidade da figura. - O número de eixos de simetria da figura (nesse caso, nenhum eixo) -As direções (horizontais e oblíquas) dos elementos que compõem a figura objeto. -Ausência da evidência das medidas dos lados e dos ângulos.
(e)
Intuitiva, por meio do
desenho de alguns dos eixos de
simetria na figura dada.
A utilização da intuição ao desenhar alguns eixos de simetria na figura. Porém, a maioria das duplas de alunos não chega a concluir que a figura possui oito eixos.
-A complexidade da figura. -As direções (horizontais e verticais) dos elementos que compõem a figura-objeto. - As direções (horizontal, vertical e oblíqua) dos eixos de simetria sobre a folha. - Ausência da evidência das medidas dos lados e dos ângulos.
Fonte: Elaboração da autora
Levando em conta nossa análise, a priori, (Quadro 21, p. 174-176), para
todos os itens das situações-problema 1, classificamos as respostas das
duplas de alunos em G0, isto é, na geometria concreta de acordo com o
modelo apresentado por Parzysz (2001; 2006). Contudo, identificamos na
maioria dos registros das duplas de alunos, falha na mobilização de
conhecimentos prévios necessários para responder corretamente às atividades
propostas. O não acesso a conhecimentos como diâmetro de uma
circunferência, classificação de polígonos, entre outros, e ainda uma possível
confusão no conceito de simetria ortogonal, impossibilitaram a obtenção de
êxito na maioria das atividades propostas. No geral, parece que, para as duplas
de alunos, no caso de polígonos, existe uma correspondência entre o número
de vértices das figuras e a existência de eixos de simetria.
7.3.1.3 Análise a posteriori das respostas de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental a situação-problema 2
Para a situação-problema 2, apresentaremos uma tabela com as
respostas das duplas de alunos em termos de número de duplas que
desenharam os eixos de simetria e número de justificativas. Observamos, na
tabela, que o número de justificativas dadas nas Figuras 1 e 5 ultrapassa o
número de duplas que desenharam os eixos de simetria.
230
Tabela 8. Frequência do número de respostas e justificativas das duplas de alunos para a situação-problema 2
Figuras N° de duplas que desenharam os
eixos de simetria
Número de justificativas
1 12 14
5 10 11 Fonte: Dados da pesquisa
No caso da Figura 1, das 14 duplas de alunos que justificaram suas
repostas, 11 fizeram suas explicações por meio de espelhamento e movimento
de reflexão. A dupla K argumentou que “para representar o movimento de
reflexão, o eixo de simetria deve funcionar como um espelho, por isso as
únicas figuras que apresentam este são as de número 1 e 5”. Esse tipo de
resposta já era esperado, uma vez que a professora Margarida afirmara, em
uma das reuniões que esse conteúdo já havia sido trabalhado na classe do 8º
ano. Três duplas justificaram suas respostas apenas por meio da visualização,
aplicando, implicitamente, a propriedade da equidistância; uma delas foi “de
acordo com a distância dessas figuras, dá para entender onde deve ficar o eixo
de simetria” (dupla G).Outras duas duplas não justificaram suas respostas.
Já na Figura 5, o índice de acerto foi menor, mas as justificativas
também foram a partir do conceito de reflexão. Observamos que 6 duplas não
traçaram o eixo de simetria, porém justificaram a existência do eixo de simetria
por meio da reflexão. O que parece ter interferido nas respostas das duplas de
alunos foi a direção (horizontal) dos eixos de simetria a ser traçado na figura.
Observamos, ainda, que outras 6 duplas de alunos além de identificarem
que as Figuras 2, 3, e 4 não possuem eixos de simetria, justificaram essa não
existência pelas outras transformações geométricas translação e rotação
representadas nas figuras.
231
Figura 61. Desenhos das duplas B e N respectivamente
Fonte: Dados da pesquisa
Observe que na Figura 61, a dupla N chega a indicar para o item 4, a
direção do vetor ao identificar a transformação geométrica como translação. Já
a dupla B mostra indícios de confusão ao identificar a transformação
geométrica rotação para esse mesmo item. Observamos, ainda, que mesmo
identificando o item 3 como rotação, as duplas não citam o ponto de referência,
nem o ângulo de rotação.
Uma variável didática que, em nossa análise, a priori, e na pré-análise
dos professores se acreditava ser fator de dificuldade para os alunos, a direção
de elementos da figura (em particular o olho do peixe), não foi constante nas
respostas, pois, de 16, apenas duas duplas de alunos desenharam os eixos de
simetria nos itens 2, 3 ou 4, como podemos conferir na Figura 62.
Figura 62. Desenhos das duplas A e D respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
Levando em conta esses três itens, a dupla A traça o eixo de simetria
apenas no item 3, o que revela, aparentemente, o tipo de influência da referida
variável didática na resposta dessa dupla de alunos. É possível notar a
232
indicação de não existência dos outros eixos de simetria nos itens 2 e 4. Por
outro lado, a dupla D desenha os eixos de simetria em todos os itens.
Inferimos que, no geral, as direções dos elementos que compõem as
figuras, em especial o olho do peixe, interferiram favoravelmente na decisão
por existência ou não de eixos de simetria.
7.3.1.4 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental à situação-problema 2
No Quadro 42 apresentamos, levando em consideração os registros da
maioria das duplas de alunos, uma síntese geral de nossa análise sobre as
respostas dadas na situação-problema 2.
Quadro 42. Procedimentos de resolução, identificados nos registros das duplas de alunos para
a situação-problema 1.
Itens da situação
Validação
Os procedimentos de resolução identificados
nos registros das duplas de alunos
Algumas variáveis didáticas que influenciaram
diretamente nos procedimentos de
resolução
Figuras 1 e 5
Perceptiva, por meio do
traço dos eixos de simetria
Noção de dobradura e espelhamento para identificar as figuras
simétricas. Utilização da régua para
desenhar os eixos de simetria.
- A direção (horizontal, vertical) dos eixos de simetria sobre a
folha. - A posição das figuras na folha. - As direções dos elementos que
compõem a figura objeto (um exemplo é o olho do peixe).
- O tipo de papel (branco)
Figuras 2, 3,4
Perceptiva
Identificação de outros tipos de transformações
geométricas (reflexão ou rotação) ou identificação de não existência de eixos de
simetria por meio das noções de dobradura ou
espelhamento.
- A posição das figuras na folha. - As direções dos elementos que
compõem a figura objeto (um exemplo é o olho do peixe).
Fonte: Dados da pesquisa
Aparentemente, os instrumentos de desenho oferecidos, em nenhum
momento foram utilizados com o objetivo de verificar propriedades ou construir
os eixos de simetria, duas duplas fizerem os desenhos dos eixos de simetria à
mão livre. Em geral, sobre os desenhos dos eixos de simetria nos itens 1 e 5,
notamos nos registros das duplas de alunos pouco ou nenhum cuidado quanto
às propriedades inerentes à simetria ortogonal, como se pode verificar por meio
das Figuras 60 e 61. As validações foram feitas de forma perceptiva sem que
233
nenhuma propriedade matemática inerente à simetria ortogonal fosse utilizada.
É importante observar que algumas duplas de alunos utilizam os termos como
reflexão e espelhamento para justificar a existência de eixos de simetria ou,
ainda, outras transformações geométricas (translação e rotação) para explicar
a não existência deles. Contudo, nessas explicações os objetos eram sempre
físicos, num apelo claro à realidade.
Fazendo um comparativo com nossa análise, a priori, (Quadro 23, p.179
e p. 180), situamos as respostas das duplas de alunos, na geometria G0 no
sentido de Parzysz (2001; 2006).
7.3.1.5 Análise, a posteriori, das respostas de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental ao conjunto de atividades que compõem a situação-
problema 3
Para a situação-problema 3, apresentamos a Tabela 9 em que, para
cada item, exibimos a frequência das respostas fornecidas pelas duplas de
alunos, classificadas quanto ao desenho da figura simétrica em: não desenhou
a figura simétrica, desenho intuitivo da figura simétrica, desenho incorreto da
figura simétrica. Por desenho intuitivo de figura simétrica, entendemos aquele
que o aluno pratica, baseado em alguma das técnicas disponíveis (dobradura,
espelhamento ou decalque) e aparenta estar correto. Contudo, não é justificado
pela definição ou propriedades da simetria ortogonal e que, por esse motivo,
não são levadas em consideração no desenho da figura “simétrica”. A
finalidade desse quadro foi ter uma ideia global dos tipos de respostas que as
duplas66 de alunos forneceram.
Tabela 9. Frequência das respostas das duplas de alunos para a situação-problema 3, quanto
ao desenho de figura simétrica
Itens Não desenhou a figura
simétrica
Desenho intuitivo de figura simétrica
Desenho Incorreto de
figura simétrica
(a) 2 13
(b) 1 3 11
(c) 3 12
(d) 1 14
(continua)
66 Nesta situação-problema, avaliaremos apenas os registros de 15 duplas de alunos, 1 dos registros foi perdido por um dos professores, sujeito da pesquisa, quando um funcionário da escola fez uma limpeza na sala dos professores.
234
(e) 3 12
(f) 3 3 9
(g) 1 14
(h) 1 14
(i) 1 14
(j) 7 8
(l) 2 13
(m) 1 4 10
(n) 1 14
Total 8 29 158 Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que, na sequência didática aplicada aos alunos, atendendo
à solicitação de modificação dos professores, sujeitos da pesquisa,
adicionamos o item (n) à situação-problema 3, conforme mencionamos na
seção 7.2.2.3. Apresentaremos a seguir uma análise das respostas
apresentadas pelas duplas de alunos, em que buscamos representar, por meio
de exemplos, os tipos de respostas fornecidos. Essa análise segue os mesmos
critérios de agrupamento de itens adotados no Quadro 26 da seção 7.1.2.
A Tabela 9 mostra que, para o item (a), obtemos 13 desenhos incorretos
da figura simétrica. Dentre esses, observamos que uma dupla de alunos (dupla
H, Quadro 43) desenhou como figura simétrica para a figura-objeto (ponto) um
segmento de reta. Mostrando indícios de não conhecerem o conceito de
simetria ortogonal, a dupla de alunos justificou sua reposta com a frase
“movimentos de complementares de retas” (dupla H).
Quadro 43. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (a) e (m) fornecidos por
algumas duplas de alunos.
Itens Duplas de
alunos Desenhos
(a) H, G e O
respectivamente.
(m) B, D, E e F
respectivamente.
Fonte: Dados da pesquisa
235
Observamos, ainda, que para os desenhos incorretos no item (a), 7
duplas de alunos pareceram ignorar a propriedade de equidistância entre
figura-objeto e eixo de simetria, e eixo de simetria e figura simétrica. Como
exemplos, apresentamos os registros das duplas G e O, Quadro 43.
Para o item (m), o Quadro 43 mostra uma diversificação do local onde as
figuras “simétricas” (pontos) são representadas na folha. Observamos que,
aparentemente, duas variáveis didáticas tiveram forte influência na taxa de
insucesso das duplas de alunos: uma é a direção do eixo de simetria na folha
(oblíqua) e a outra é a posição do eixo de simetria na folha (ele não é a
diagonal da folha). O fato de serem dois pontos, também pode ter interferido na
resolução das duplas de alunos, uma vez que observamos em alguns registros
paralelismo entre os pontos-objeto e os “pontos-imagem” (Quadro 43, duplas
D, E e F) .
Tanto para os 2 desenhos intuitivos de figura simétrica no item (a),
quanto para os quatro desenhos intuitivos de figura simétrica no item (m), as
duplas de alunos afirmaram ter dobrado o papel para seguir o rastro da figura-
-objeto e assim desenhar a figura “simétrica”. Essa foi a justificativa dada pela
dupla B (ver desenho no Quadro 43), que argumentou - “dobramos o papel e
fizemos de acordo com a figura”. Outras duas duplas justificaram seus
procedimentos pela utilização de espelho físico para visualizar a figura
simétrica e da régua para medir distâncias e obter os desenhos dos pontos-
imagem, porém não obtiveram êxito na tarefa.
Para o item (b), apenas 1 dupla de alunos não desenhou a figura
simétrica. Em 8 dos 11 desenhos incorretos de figura simétrica apresentados
para este item, e em 6 dos 13 desenhos no item (l), identificamos o que Grenier
(1988) chamou de paralelismo entre figura-objeto e a figura simétrica. Para
essas duplas de alunos a imagem de um segmento horizontal (oblíquo) é um
segmento de mesma direção na folha. Os exemplos são apresentados no
Quadro 44 a seguir.
236
Quadro 44. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (b), (h), (i) e (l) apresentados por algumas duplas de alunos.
Itens Duplas de
alunos Desenhos
(b) N, O e C
respectivamente.
(h) F, I, B
respectivamente
(i) D, E e K
Respectivamente
(l) E, F, L, O
respectivamente
Fonte: Dados da pesquisa
Uma diferença marcante nos registros das duplas de alunos foi quanto
às propriedades relativas à distância. Alguns exemplos desses registros foram
exibidos no Quadro 44. Observamos, no desenho da dupla N, no item (b), a
preocupação com a conservação da distância entre a “figura-imagem” e o eixo
de simetria; além disso, aparentemente, essa mesma dupla de alunos ainda
utilizou a régua para conservar o comprimento da “figura-imagem” obtida,
cuidados esses que não são percebidos nos registros das duplas O e C.
Por outro lado, observamos que das três duplas de alunos que
realizaram desenhos intuitivos de figura simétrica no item (b), uma justificou
seus procedimentos, afirmando que dobraram o papel e, para as outras duas
não foi possível identificar os procedimentos utilizados pelos alunos, já que
utilizam como justificativa os argumentos “tivemos que saber a distância (dupla
G)” e “replicar o traço de acordo com o eixo” (dupla K). Duas duplas de alunos
afirmaram que foi utilizado um espelho plano físico para visualizar a figura
237
imagem e fazer o traço, mas também como nos itens (a) e (m) não obtiveram
êxito na tarefa. Um exemplo é o desenho da dupla C exibido no Quadro 44.
Observamos que, em todos os 14 desenhos incorretos de figura
simétrica para o item (h), a direção do eixo de simetria (vertical) na folha levou
as duplas de alunos a desenharem perceptivamente a “figura-imagem”.
Inferimos que a alta taxa de insucesso nesse item se deve ao fato de as duplas
de alunos não observarem às propriedades inerentes à simetria ortogonal, o
que resultou na obtenção de desenhos de figuras “simétricas” de comprimentos
diferentes da figura-objeto, além de alterações nas direções delas.
No item (i), conforme observado pelos professores na pré-análise da
sequência didática, notamos que, em todos os 14 desenhos incorretos de
figura simétrica, as duplas de alunos assumem que a figura simétrica toca a
borda retangular na horizontal inferior (dupla D) ou na lateral direita (dupla E),
como exemplificado no Quadro 44.
Apenas a dupla K fez o desenho intuitivo correto da figura simétrica para
este item. Observamos que, apesar de a direção da figura-objeto (oblíqua) em
relação à direção do eixo de simetria (oblíqua) favorecer a resolução do item
(i), a posição do eixo de simetria na folha (já que esse não era a diagonal da
folha) não foi observada pelas duplas de alunos, e um dos motivos dessa não
observação deve-se ao fato de a ortogonalidade ter sido ignorada.
Como sinalizado em nossa análise, a priori, e observado na pré-análise
apresentada pelos professores, sujeitos da pesquisa, o fato de a figura-objeto
interceptar (em um ou mais pontos) ou tocar no eixo de simetria teve forte
influência na taxa de insucesso das duplas de alunos. Por meio do Quadro 45,
apresentamos para os itens (c), (e) e (f) alguns exemplos dos registros das
duplas de alunos.
Quadro 45. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (c), (e) e (f) nos registros
de algumas duplas de alunos.
Itens Duplas de
alunos Desenhos
(c)
C, E, G e I respectivamente.
238
(e) B, C, D, E
respectivamente
(f) B, J, K, N
respectivamente
Fonte: Dados da pesquisa
No caso do item (c), 3 duplas de alunos não desenharam a figura
simétrica e outras 12 duplas a desenharam incorretamente. Para o item (e),
também foram apresentados 12 desenhos incorretos de figura simétrica e 3
desenhos intuitivos de figuras simétricas. Tanto para o item (c), quanto para o
item (e) observamos que o ângulo formado entre a figura-objeto e o eixo de
simetria parece ter sido fator de dificuldade para as duplas de alunos, como
pode ser verificado no Quadro 45. Aparentemente, as duplas perceberam que
a medida do ângulo formado entre a figura-objeto e o eixo de simetria era igual
à medida do ângulo formado entre o eixo de simetria e a figura-imagem.
Acreditamos que pode ter ocorrido, nesse caso, dificuldade em manusear os
instrumentos de desenho geométrico.
Para o item (f), observamos que, além da interseção (em dois pontos) da
figura-objeto com o eixo de simetria, outros fatores como a complexidade da
figura-objeto e a direção do eixo de simetria (vertical) tiveram forte influência
nas respostas das duplas de alunos. Notamos que quase todos os desenhos
de figuras “simétricas” foram concebidos a partir de percepções globais, isto é,
as partes da figura não são vistas de forma separada.
Três duplas de alunos não desenharam a figura simétrica, outras três
duplas a desenharam intuitivamente. Para estas três últimas duplas,
observamos pelo registro da dupla B, indícios da utilização da técnica
decalque, a dupla N justificou sua resposta afirmando: “conseguimos fazer
dobrando o papel”. Já a dupla K, aparentemente, transferiu os pontos para o
semiplano oposto ao eixo de simetria numa direção quase ortogonal a este e,
em seguida, traçou os segmentos de reta.
239
Das 9 duplas de alunos que desenharam incorretamente a figura
simétrica, 4 justificaram seus desenhos argumentando que dobraram o papel
em que a figura-objeto se encontrava, na mesma direção do eixo de simetria;
uma dupla justificou seu desenho por meio do uso do espelho; o desenho de
uma dupla não ultrapassou o eixo de simetria e os desenhos de duas duplas de
alunos ultrapassaram o eixo de simetria, porém as figura-objeto e a “figura-
-simétrica” desenhadas não se sobrepunham.
No Quadro 46, mostramos alguns exemplos de desenhos de figura
simétrica apresentadas por algumas duplas de alunos para os itens (d), (g), (j)
e (n).
Quadro 46. Exemplos de desenhos de figura “simétrica” para os itens (d), (g), (j) e (n),
apresentados por algumas duplas de alunos.
Itens Duplas de
alunos Desenhos
(d)
F, E, L, M Respectivamente
(g) B, F, K, O
Respectivamente
(j) B, D, H, J
respectivamente
(n) D, E, F, K,
respectivamente
Fonte: Dados da pesquisa
Dos 14 desenhos incorretos de figuras simétricas identificados no item
(d), observamos que 2 apresentaram prolongamento entre elementos da figura-
-objeto e a “figura-imagem” obtida (exemplo dupla F, Quadro 46). Verificamos
que a posição do eixo de simetria na folha, que nesse caso é marcada pela
diferença entre a quantidade de quadrinhos nos semiplanos divididos pelo eixo
240
de simetria, influenciou nos procedimentos de resolução de outras 3 duplas de
alunos – um exemplo é o desenho de figura “simétrica” fornecido pela dupla M
(ver Quadro 46).
Ainda para esse item, o registro da dupla L (Quadro 46) apresenta
paralelismo entre figura-objeto e a representação de “figura simétrica” obtida.
Observamos que a malha quadriculada não interveio de forma a favorecer nos
procedimentos de resolução e respostas das duplas de alunos, o que parece
ter ocorrido foi que ela induziu 6 duplas a realizarem desenhos incorretos de
figuras simétricas, a partir da percepção global, por meio da visualização e
contagem dos quadrinhos.
Apenas uma dupla de alunos apresentou desenhos intuitivos de figura
simétrica, mas, infelizmente, não registrou com detalhes os procedimentos de
resolução, apenas argumentaram “reflexo, depois de medida da distância”
(Dupla K).
No item (g) observamos que a associação das variáveis didáticas,
distância da figura-objeto ao eixo de simetria (não conservada) e complexidade
da figura-objeto (triângulo), foram os principais motivos da alta taxa de
insucesso na execução da tarefa. Das 15 duplas de alunos, 14 desenharam de
forma incorreta a figura simétrica. Verificamos que 12 duplas adotaram como
método de resolução o desenho global da figura por meio apenas da
visualização; a régua foi utilizada apenas para executar os traços da figura, o
que resultou em desenhos de dimensões superior ou inferior às dimensões da
figura-objeto (ver Quadro 46, dupla B). Outras 2 duplas apresentaram
paralelismo entre a figura-objeto e a figura “simétrica” obtida e, como exemplo,
temos a dupla O, Quadro 46.
A dupla K apresentou como estratégia de resolução, a construção da
malha quadriculada para desenhar intuitivamente a figura simétrica (ver Quadro
46); além disso, a dupla ponderou que “foi utilizado o reflexo e a medida da
distância dos extremos opostos”. Aparentemente, foi feita a transferência dos
pontos “simétricos” aos pontos dos vértices da figura-objeto para o semiplano
oposto com relação ao eixo de simetria e, a seguir, foram traçados os
segmentos que compõem a “figura-imagem”.
Como apontamos em nossa análise, a priori, a associação das variáveis
didáticas, direção do eixo de simetria na folha e tipo do papel (quadriculado)
241
influenciaram no êxito das respostas apresentadas por 7 duplas de alunos para
o item (j). As outras 8 duplas desenharam de forma incorreta a figura simétrica,
sendo 4 registros marcados pelo paralelismo entre a figura-objeto e os
desenhos das “figuras-imagem” e 4 pela não conservação da distância entre
eixo de simetria e as “figuras-imagem” desenhadas.
Verificamos, para o item (n), que apenas 2 duplas de alunos
apresentaram o desenho da figura simétrica. Para esse item, observamos que
foram produzidos 14 desenhos incorretos de figura simétrica. Ressaltamos que,
dentre esses, tanto para os 10 desenhos nos quais as duplas de alunos
apresentaram paralelismos entre figura-objeto e a “figura-imagem” quanto nos
3 desenhos em que a “figura-imagem” obtida estava em direção vertical na
folha, os discentes não levaram em consideração o fato da posição do eixo de
simetria na folha, não ser a mesma direção da diagonal da folha. Essa variável
didática foi determinante para a alta taxa de insucesso das duplas de alunos na
atividade, como pode ser observado nos registros das duplas D, E e F no
Quadro 46.
Nesse caso, a malha quadriculada parece ter influenciado em menor
escala nas respostas das duplas de alunos. Para esse item, não observamos
nos registros das duplas, o que Grenier (1988) apontou em seu estudo, sobre o
fato de esse tipo de papel induzir os sujeitos a uma contagem sobre as linhas
verticais e horizontais com relação ao eixo de simetria.
7.3.1.6 Uma síntese de nossa análise sobre as respostas de alunos do 8º
ano do Ensino Fundamental à situação-problema 3
No geral, não foi observada a propriedade de conservação de
dimensões e da forma entre figura-objeto e os desenhos de figura “simétrica”,
apresentados pelas duplas de alunos, com é possível verificar nos exemplos
exibidos. Além disso, observamos que a malha quadriculada não favoreceu os
procedimentos de resolução das duplas de alunos; mas o que, possivelmente,
teve maior influência no insucesso dos alunos foi a posição do eixo de simetria
na folha, em especial, para o item (n). No Quadro 47, apresentamos uma
síntese de nossa análise, em que identificamos as principais variáveis didáticas
que influenciaram os procedimentos e respostas dos alunos em cada item da
situação-problema 3.
242
Quadro 47. Procedimentos de resolução identificados nos registros das duplas de alunos para a situação-problema 1.
Itens da situação-problema
Validação Os procedimentos de resolução identificados nos registros das duplas de alunos
Algumas variáveis didáticas que influenciaram diretamente nos procedimentos de resolução
(a) e (m)
Perceptiva, tendo como referencia o concreto, existe a necessidade de dobrar a folha ou utilizar o espelho para validar.
Utilização das técnicas, dobradura e espelhamento para visualizar e desenhar as figuras simétricas. .
- A direção (oblíqua) dos eixos de simetria sobre a folha. - O tipo de papel (branco) - Distância (não conservada) da figura-objeto (pontos) ao eixo de simetria. - A Posição do eixo de simetria na folha (não é a diagonal).
(b), (h), (i) e (l)
Perceptiva, tendo como referência o concreto, existe a necessidade de dobrar a folha ou utilizar o espelho para validar.
Utilização das técnicas, dobradura e espelhamento para visualizar a figura simétrica. Em alguns casos, a utilização da régua para efetuar medições e desenhar as figuras simétricas.
- A posição das figuras na folha. - Distância (não conservada) da figura-objeto (segmentos) ao eixo de simetria. - A Posição do eixo de simetria na folha (não é a diagonal), para os itens (b) e (i). - A direção (oblíqua, vertical, horizontal) dos eixos de simetria sobre a folha.
(c), (e) e (f)
Perceptiva, tendo como referência o concreto.
Noção de dobradura e espelhamento para visualizar a figura simétrica. Utilização da percepção global da desenhar a “figura-simétrica”.
- A interseção da figura-objeto com o eixo de simetria. - A complexidade da figura objeto. - A direção dos eixos de simetria.
(d), (g), (j) e (n)
Perceptiva, por meio da visualização.
Noção de dobradura e espelhamento para visualizar a figura simétrica. Utilização da percepção global da desenhar a “figura-simétrica”.
- A Posição do eixo de simetria na folha (não é a diagonal da folha, quando o número de quadrinhos em semiplanos opostos com relação ao eixo de simetria são diferentes). - Distância (não conservada) da figura-objeto ao eixo de simetria. - A complexidade da figura--objeto. - Tipo de papel.
Fonte: Dados da pesquisa
Verificamos nos casos em que as duplas de alunos utilizaram o espelho
físico e de algumas duplas que dobraram o papel, para visualizar a figura
imagem, grande parte dos desenhos de figura “simétrica” foi feita à mão livre.
Além disso, observamos que, posteriormente, não foi feita nenhuma referência
às propriedades geométricas da simetria ortogonal, nem essas foram utilizadas
para adequar os traços visualizados, como fica evidenciado no Quadro 44,
pelos desenhos da dupla B no item (h) e da dupla C no item (b). A dupla B
afirma ter dobrado o papel para visualizar e traçar a figura-imagem e a dupla C
243
justifica sua resposta argumentando ter utilizado um espelho físico. Mesmo
quando se têm indícios de que as dimensões das figuras “simétricas”
desenhadas foram verificadas por meio da régua, por causa de não se levar
em consideração a ortogonalidade, as figuras desenhadas, ainda assim,
apresentam alterações relacionadas à direção de seus elementos em relação
ao eixo de simetria, como é possível no desenho da dupla F para o item (g),
Quadro 46.
Em nossa análise, a priori, apresentamos investigações precedentes que
sinalizaram para o grande índice de sujeitos que obtinham êxito na tarefa de
construção de figura simétrica, quando a direção dos eixos de simetria era
vertical ou horizontal. Porém, em nossa investigação, observamos que para os
itens (h) e (l) os registros das duplas de alunos mostraram paralelismo entre
figura-objeto e o desenho da figura “simétrica”, não conservação da distância
entre eixo de simetria e o desenho da figura “simétrica”, além da não
conservação das dimensões dos segmentos-objeto no desenho da figura
“simétrica”.
Sobre os registros das duplas de alunos, avaliamos que, em geral, foram
produzidos desenhos de figuras simétricas, levando-se em conta apenas a
visualização. As figuras foram concebidas perceptivamente e de forma global.
As propriedades inerentes à simetria ortogonal foram parcialmente levadas em
consideração para desenhar figuras “simétricas” e, por esse motivo, a distância
apareceu poucas vezes para explicar procedimentos. Em todos os desenhos
produzidos, a ortogonalidade parece ter sido ignorada como propriedade
inerente da simetria ortogonal.
Nos procedimentos escolhidos pelas duplas de alunos, identificamos
para a construção de figuras simétricas que o objeto matemático simetria
ortogonal é concebido, geralmente, como dobradura e/ou espelhamento
resultado de uma ação física, isto é, o ato de dobrar o papel em que a figura-
-objeto se encontra desenhada na direção do eixo de simetria ou o ato de
colocar um espelho plano físico sobre o eixo de simetria.
Por meio do Quadro 47, observamos que as validações, de cunho
perceptivo, foram feitas por meio da visualização da figura-imagem. Por esse
motivo, classificamos as respostas das duplas de alunos, sujeitos da pesquisa,
244
na geometria concreta G0, cujos objetos são realizações materiais, segundo
Parzysz (2001; 2006).
7.3.1.7 Algumas considerações sobre a experimentação 2 e a análise dos
registros das duplas de alunos, sujeitos da pesquisa
Em nossa análise sobre os registros dos alunos, utilizamos como
referência os estudos de Grenier (1988), principalmente com relação à
influência das variáveis didáticas e seus valores, escolhidos para nossa
investigação. Em geral, observamos para uma elevada taxa de duplas de
alunos que, independente da direção do eixo de simetria (horizontal, vertical ou
oblíqua) e tipo de papel (branco ou quadriculado) eles apresentaram
paralelismo entre a figura-objeto e “figura-imagem”. Portanto, a concepção de
que a imagem de um segmento (horizontal, vertical ou oblíquo) é um segmento
de mesma direção na folha, parece ser ampliada para o grupo de alunos
investigados.
Em nossos estudos, a interseção da figura-objeto com o eixo de simetria
também adicionou um nível maior de dificuldade, principalmente quando a
figura-objeto apresenta maior grau de complexidade. Nesse caso, para
algumas duplas de alunos a figura simétrica não ultrapassava o eixo de
simetria ou as figuras-objeto e “figuras-imagem” não se sobrepunham, o que
aponta para a concepção de que a simetria ortogonal é uma transformação de
um semiplano em outro semiplano, delimitado pelo eixo de simetria.
Nos registros de um alto índice de duplas de alunos, verificamos que,
independente do tipo de papel, a posição do eixo de simetria na folha (no caso
de oblíquo, quando não é a diagonal da folha) provocou erros na produção de
figuras simétricas. Nesse caso, como as figuras são desenhadas globalmente,
o que parece intervir é o local no qual a figura-objeto é colocada. Observamos
que, além do eixo de simetria, outros pontos da folha são tomados como
referência, por exemplo, as bordas superior, inferior ou lateral (esquerda ou
direita). Sendo assim, para o grupo de alunos investigado, observamos a
concepção de que a distância da figura-objeto às bordas (inferior, superior ou
lateral) será conservada, no caso de construção da figura simétrica.
Também observamos que, durante a atividade, os alunos foram
evoluindo nas tarefas. Porém, já passava da metade da experimentação
245
quando eles começaram a procurar estratégias de resolução para as
atividades, estratégias essas que contaram, principalmente, com as técnicas
dobradura e utilização de espelhos por parte das meninas.
Notamos, ainda, que a utilização dos instrumentos67 (jogo de esquadros
e régua), quando feita, teve como objetivo desenhar os eixos de simetria nas
figuras geométricas, e não de construir geometricamente os eixos de simetria
ou verificação de propriedades da simetria ortogonal por meio de medições.
A impressão que tivemos foi a de que os alunos não sabiam utilizar os
instrumentos para construir eixos de simetria e figura simétrica, além de não
possuírem conhecimentos suficientes sobre retas ortogonais, mediatriz de um
segmento e distância entre ponto e reta, para efetuar as tarefas em cada uma
das atividades da sequência didática. Por esse motivo, não conseguiram
observar, matematicamente, as propriedades da simetria ortogonal, o que
acarretou na não formulação matemática de conjecturas, necessárias para que
fossem propostas provas e demonstração. Suas respostas são validadas em
um campo limitado de validade. Em geral, as respostas fornecidas a cada uma
das atividades da sequência didática, permaneceram, mesmo após a aplicação
do experimento na geometria concreta G0, no sentido de Parzysz (2001; 2006).
Possivelmente, a forma como os conteúdos geométricos são ensinados,
de modo especial, o conceito de simetria ortogonal, tenha forte influência nos
procedimentos adotados pelos discentes e na forma como esses validaram
suas respostas. Em nosso estudo, observamos que os livros didáticos abordam
a simetria ortogonal, principalmente, por meio de observações em outros
objetos, geométricos ou não. Além disso, a forma superficial como são tratadas
as propriedades inerentes à simetria ortogonal, sem que o aluno seja instigado
a argumentar e a construir o conceito matemático desse objeto, prejudica a
evolução do alunado, no diz respeito à aprendizagem da simetria ortogonal
como objeto matemático. A aprendizagem fica restrita, portanto, à simetria no
objeto. Acreditamos que existe uma relação direta desse fato com o tipo de
validação aceita e institucionalizada pelo professor. Na seção 7.4, essa relação
será discutida e aprofundada.
67 Os professores solicitaram não entregar compasso para os alunos por medida de segurança.
246
7.4 Experimentação 3: as respostas de algumas duplas de alunos
do 8º ano à sequência didática sob o olhar de docentes,
sujeitos da pesquisa
Nesta seção, analisaremos, levando em conta a estruturação do milieu
segundo Margolinas (2002; 2004), a pós-análise realizada por professores de
Matemática, participantes da pesquisa, sobre os registros de quatro das duplas
de alunos referentes à sequência didática aplicada em uma das classes do 8º
ano. Nessa fase da pesquisa, contamos com a participação de três docentes68,
o professor Narciso e a professora Margarida que entregaram o material escrito
e participaram das discussões sobre os registros das duplas de alunos e com a
participação do professor Jacinto nas discussões que ocorreram nos debates
coletivos.
De forma a obter objetividade na pós-análise realizada pelos professores
quanto às respostas de quatro duplas de alunos referentes ao conjunto de
atividades que compõem a sequência didática, organizamos os dados obtidos
na etapa 2 da experimentação 1 na forma de um quadro síntese e o utilizamos
nessa fase da pesquisa. O processo se deu do seguinte modo:
- escolhemos os registros de duas duplas de alunos para serem
analisados por cada professor. Utilizamos como critério para essa escolha
aqueles registros que apresentavam melhores condições para a análise, isto é,
aqueles em que as respostas apresentavam justificativas e explicações.
- entregamos uma cópia do quadro-síntese 40 a cada professor com o
objetivo de fazerem uma análise comparativa entre o que fora previsto por eles,
ao resolver e analisar a sequência didática e os dados fornecidos pelos
registros das duplas de alunos.
- disponibilizamos, ainda, uma cópia não preenchida do quadro-síntese
40 para os docentes preencherem com suas análises e uma síntese escrita do
áudio da reunião, em que se discutiu a análise da sequência didática pré-
-elaborada e suas modificações. Nessa síntese, lançamos questões aos
68 Uma professora entrou em licença maternidade deixando, portanto, de participar da pesquisa e o professor Jacinto que participou dessa fase, mas um funcionário da escola ao fazer a limpeza na sala dos professores descartou suas análises. Infelizmente, por causa do encerramento do ano letivo não conseguimos obter uma nova análise deste professor.
247
docentes, com a finalidade de obter mais informações. A síntese e as
questões, na íntegra, estão disponíveis no Anexo 7.
Nosso objetivo na entrega desse material era o de que os professores
verificassem se alguns dos elementos das discussões precedentes estavam ou
não presentes nos registros de algumas das duplas de alunos, e, também
observar as reações do professor ao lidar com erros e acertos dos alunos ao
confrontá-los com a pré-análise da sequência didática, levando em conta as
variáveis didáticas e seus valores; identificar como os professores validam as
repostas desses alunos. Corroboramos a posição de Margolinas (2002, p.5,
tradução nossa) quando pondera que, “o professor, como qualquer sujeito,
interage com um milieu, e ele aprende nesta interação, às vezes consumindo e
produzindo conhecimento.”
Analisaremos, a seguir, as respostas dos professores Narciso e
Margarida às questões lançadas na síntese e as declarações feitas pelos três
docentes no debate coletivo, após suas análises nos registros dos alunos das
duplas B, D, E e H.
Quanto ao reconhecimento e construção de eixo de simetria,
especificamente sobre o item (a) da situação–problema 1, perguntamos: As
observações feitas para os alunos do 6º e 9º anos do ensino Fundamental
aconteceram com alunos do 8º ano? Você consegue dar algum exemplo por
meio dos registros aqui analisados?
Quadro 48. Respostas fornecidas pelos docentes ao analisarem os registros de algumas duplas de alunos
Professores Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos sobre reconhecimento e construção de eixo de simetria
Narciso
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
248
No debate coletivo, os professores iniciaram uma discussão sobre os
procedimentos e as respostas previstos para o reconhecimento e construção
dos eixos de simetria para o item (a) e os procedimentos e respostas
fornecidos pelos registros das quatro duplas de alunos analisados por eles
sobre esse mesmo item. O professor Narciso confirmou e complementou sua
resposta no Quadro 48 “ocorreu, porque aqui eu falei sobre a questão de não
enxergar, por exemplo, todos os eixos de simetria na [circunferência]” 69. Nesse
momento a professora Margarida, lembrando-se da pré-análise da sequência
didática interveio: “pela sua resposta [anterior], eu entendi que eles [os alunos]
só iriam conseguir achar um [eixo de simetria] e considerar que todos eram um
só, que era tudo igual [...] e eles conseguiram encontrar mais de um, só não
todos” 70. Continuando, o outro professor rebateu: “sim, mas são infinitos eixos.
Na minha concepção, eles continuaram tendo uma visão limitada” 71 e concluiu
fazendo uma observação sobre o registro da dupla D: “na realidade eles não
conseguiram identificar que isto é eixo de simetria” 72. A professora Margarida
concluiu, ao referir–se aos registros das duplas H e B,
eu acho que esses dois aqui estavam meio que perdidos em todas as atividades, teve algumas que nem fizeram já esses aqui não conseguiram todos, mas, eles colocaram a reflexão de múltiplos lados (só errou lados), mas, ele percebeu que todo ponto que ele fosse, ia encontrar [os eixos de simetria].73
A discussão entre os dois professores no debate coletivo, sobre os
protocolos das duplas de alunos propõe uma reflexão sobre a forma como cada
um deles interpreta as respostas dos estudantes. A maneira como o professor
lida com as respostas dos alunos é importante para o processo de devolução e,
consequentemente, para a validação e institucionalização das respostas.
Margolinas (2004) pontua que a avaliação pode ocorrer sempre, porém a
validação existe somente no caso de existir um milieu que oferece condições
para que a mesma ocorra. Essa autora define como critérios de validade os
conhecimentos sobre os quais o professor se apoia para conduzir bem o
processo de devolução.
69 Em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 70 Em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 71 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 72 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 73 Em depoimento concedido em reunião - março de 2015.
249
No geral, os professores concordaram que as duplas de alunos não
conseguiram generalizar seus procedimentos, até traçavam na figura-objeto um
número fixo de eixos de simetria, mas não conseguiram identificar que são
infinitos os eixos de simetria da circunferência.
No Quadro 49 exibimos, para o item (a) da situação-problema 1, como
ficou a pós-análise dos professores nos registros das duplas B, D, E e H em
comparação com a pré-análise que fizeram da sequência didática.
Quadro 49. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às dificuldades que os alunos poderiam encontrar no
item (a).
Previsto na pré-análise dos docentes
Duplas Docentes
B
D
E
H
O aluno pode traçar o primeiro eixo [de simetria], mas, ele não vai entender que de qualquer forma que ele traçar uma corda passando pelo centro [do circulo] ele vai traçar o eixo de simetria, porque não tem a noção de diâmetro.
Narciso
Os alunos conseguiram achar mais eixos de simetria que o esperado.
Aconteceu o que era esperado em partes. Alguns alunos traçaram mais eixos de simetria.
Margarida
Perceberam a existência de infinitos eixos de simetria, porém não souberam justificar.
Como previsto
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio do Quadro 49, temos indícios de que os professores foram
parcialmente surpreendidos pelas respostas dos alunos. Além disso, no geral,
observamos em nossa análise, a posteriori, nos registros das duplas de alunos,
a percepção de que, cada vez que se dobra a folha em que a figura se
encontra desenhada, é obtido um eixo de simetria diferente. Porém, esse fato
não foi suficiente para que respondessem corretamente o item (a) da situação-
problema 1. O que parece ser um problema para as duplas de alunos, apesar
de o conceito já ter sido trabalhado na classe (como a professora Margarida
argumentou em depoimento, ver p. 262), é não terem compreendido, de fato, a
definição de simetria ortogonal.
Outras possíveis dificuldades, assinaladas pelos professores na pré-
análise da sequência didática, com relação aos alunos, estão relacionadas a
250
conhecimentos inerentes à circunferência (diâmetro, corda, raio); avaliamos
que, para esse item, os critérios de validade (MARGOLINAS, 2004) estariam
limitados. Nesse sentido, existe a necessidade de o professor propor situações
fundamentais que ampliem o milieu material do aluno, de forma que este tenha
condições de fazer conjecturas e validá-las.
No Quadro 50, apresentamos as observações dos professores quanto
ao item (b), em comparação com a previsão deles na pré-análise da sequência
didática pré-elaborada.
Quadro 50. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às dificuldades que os alunos poderiam encontrar no
item (b).
Previsto na pré-análise
dos docentes
Duplas
Docentes
B
D
E
H
Talvez ele [o aluno] não entenda a diagonal como eixo de simetria.
Narciso
Conseguiram visualizar a diagonal como eixo de simetria.
Eles conseguiram visualizar a diagonal como eixo de simetria.
Margarida
Foram além do esperado, pois atentaram ao ponto médio dos lados.
Como previsto
Fonte: Dados da pesquisa
Os apontamentos feitos pelos professores na pré-análise da sequência
didática, de que provavelmente os alunos não tivessem problemas para
responder esse item, podem ser observados no Quadro 50. Além disso, sobre
a dúvida da visualização das diagonais do quadrado como eixos de simetria,
observamos que as explicações das duplas de alunos não deixaram claros os
procedimentos para a obtenção das respostas (ver citação retirada dos
protocolos dos alunos, p. 224).
No Quadro 51, expomos a comparação entre o previsto pelos
professores na pré-análise e suas observações nos registros das duplas de
alunos B, D E e H pra o item (c).
251
Quadro 51. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às dificuldades que os alunos poderiam encontrar no
item (c). Previsto na pré-
análise dos docentes
Duplas
Docentes
B
D
E
H
Quanto à classificação dos triângulos (equilátero isósceles e escaleno). Especificamente traçariam apenas um eixo como se fosse um triângulo isósceles.
Narciso
Não se importaram com as propriedades dos triângulos.
Eles não se importaram com as propriedades dos triângulos
Margarida
Consideram o triângulo equilátero e encontraram 3 eixos [de simetria].
Como previsto
Fonte: Dados da pesquisa
Como previsto pelos professores na pré-análise para o item (c), Quadro
61, a maioria das duplas de alunos traçou na figura (triângulo) apenas um eixo
de simetria (ver Tabela 5, p. 225). Ainda sobre o item (c), o professor Narciso,
no debate coletivo, complementou suas observações (Quadro 51) ao avaliar
que, nos registros das duplas de alunos por ele analisados, “eles [as duplas de
alunos] não identificaram as propriedades [da simetria ortogonal]” 74.
Continuando, ele leu uma das respostas dadas pelas duplas: “nessa figura só
há um eixo de simetria, que forma dois lados porque como [o triângulo] só tem
três vértices” (dupla D), e argumentou: “eles não conseguiram identificar as
relações, nenhuma delas” 75. O professor Jacinto complementou que:
“adotaram como se fosse, no mínimo, um triângulo isósceles.”76
A professora Margarida, ao observar o registro da dupla B, pontuou que
essa “considera [o triângulo] equilátero, ou seja, que [a medida dos] três lados
são iguais” 77. No geral, nenhuma das duplas de alunos apresentou justificativa
ou explicações que levassem em conta a classificação dos triângulos, de
acordo com o comprimento dos lados ou a medida dos ângulos, como
observaram os professores (ver Quadro 51). Implicitamente, eles fazem uma
opção, consideram o triângulo ou equilátero ou isósceles.
74 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015 75 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015 76 Professor Jacinto em depoimento concedido em reunião – março de 2015 77 Em depoimento concedido em reunião – março de 2015.
252
Para o item (d), a pré-análise dos professores também previa que os
alunos desenhariam na figura (paralelogramo) falsos eixos de simetria, como
expomos no Quadro 52.
Quadro 52. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às dificuldades que os alunos poderiam encontrar no
item (d).
Previsto na pré-análise dos
docentes
Duplas
Docentes
B
D
E
H
Identificariam dois eixos de simetria, pois não atentariam ao espelhamento.
Narciso
Os alunos colocaram os eixos de simetria sem se preocupar com espelhamento.
Eles encontraram um eixo de simetria e não se preocuparam com o espelhamento.
Margarida Como previsto
Como previsto
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme observado pelos docentes (Quadro 52), a maioria das duplas
desenhou os falsos eixos de simetria nas direções das diagonais do
paralelogramo (ver Tabela 6). O professor Narciso ainda adicionou a
observação quanto a não utilização da técnica espelhamento pelos alunos. Ao
discutir presencialmente, no debate coletivo as respostas das duplas de alunos
D e E, respectivamente (ver Figura 59, p.226), os docentes argumentaram que:
“nesta figura só tem dois eixos de simetria (errado), só achou um eixo de
simetria (errado)” 78, em seguida os professores fizeram uma comparação com
as próprias respostas (Quadros 28 e 29, p. 193-194), apresentadas na etapa 2
da experimentação 1 “e que não era igual à gente” 79, “é, fez igual a gente” 80,
referindo-se ao fato de o paralelogramo não possuir eixos de simetria e eles
terem traçado os falsos eixos de simetria.
Avaliamos que, particularmente para este item, o conceito de reflexão
sobre a prática proposto por Schön (2000) pode ser observado de forma
explícita. Os docentes, no primeiro momento da experimentação, realizaram
um movimento de conhecimento-na-ação ao perceberem que o paralelogramo
não possui eixos de simetria. No segundo momento, quando analisaram
78 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 79 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião – março de 2015. 80 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião – março de 2015.
253
didaticamente a atividade proposta no item (d) da situação-problema 1, com
vistas na aplicação da sequência didática a alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental, estimamos que tenha ocorrido o segundo movimento, a reflexão-
na-ação. Pelas citações dos professores no parágrafo anterior, percebemos o
movimento de reflexão-sobre-a-ação, já que os professores refletem sobre as
respostas dos alunos e comparam com as suas próprias respostas.
No Quadro 53, exibimos as observações dos professores quanto ao item
(e) em comparação com a previsão na pré-análise da sequência didática pré-
-elaborada.
Quadro 53. Comparativo entre o que foi previsto pelos docentes e a pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, quanto às dificuldades que os alunos poderiam encontrar no
item (e). Previsto na pré-análise dos docentes
Duplas
Docentes
B
D
E
H
Não conseguiriam
[os alunos] encontrar todos
os eixos de simetria do octógono.
Narciso Não encontraram todos os eixos de
simetria
Realmente não encontraram
todos os eixos de simetria
Margarida Como
previsto
Como previsto
Fonte: Dados da pesquisa
No caso do item (e), observamos, por meio de nossa análise nos
registros das duplas de alunos, que apenas uma dupla traçou corretamente os
8 eixos de simetria da figura, contrariando a expectativa dos professores de
que, por já terem traçado os eixos de simetria nos itens anteriores, esse item
pudesse ser dispensável da sequência didática pré-elaborada. Porém, a
previsão dos docentes de que os alunos não encontrariam todos os eixos de
simetria do octógono concretizou-se. A complexidade da figura-objeto foi uma
das variáveis didáticas que influenciaram os procedimentos das duplas de
alunos, de modo que eles não obtiveram sucesso nas respostas desse item.
Durante a pós-análise dos professores, nas duas primeiras situações-
problema, observamos que eles detectaram erros e acertos nos procedimentos
e respostas das duplas de alunos e os compararam àqueles previstos por eles
na pré-análise. Porém, ressaltamos que, às vezes, a análise que os docentes
produziram sobre os registros dos alunos tem uma conotação avaliativa, de
acordo com Margolinas (2004).
254
as fases de avaliação não permitem, na maioria dos casos, tornar vivo um problema por um tempo suficiente para que os alunos mais fracos se apropriem dele. Porém, a fase de avaliação se define apenas como o julgamento do professor sobre as respostas dos alunos. É, por conseguinte possível, a priori, deixar o problema ainda em aberto, retornando-o para cada aluno individualmente para o seu trabalho. Esta forma de realização das fases de avaliação demora muito e raramente se observa. (p. 39, tradução nossa)
A nosso ver, abreviar as fases da aprendizagem (no sentido de
Brousseau), omitindo a devolução, impossibilita o aluno de formular
conjecturas, validar ou descartar procedimentos e respostas. O aluno fica
esperando a validação a ser proposta pelo professor, no momento da
institucionalização.
Com relação à utilização da malha quadriculada, perguntamos: Qual
papel desempenhou a malha quadriculada nos registros dos alunos? Ajudou os
alunos a identificarem propriedades da simetria ortogonal? Favoreceu as
percepções global e/ou pontual81 de figura simétrica?
Quadro 54. Respostas dos professores ao analisarem os registros das duplas de alunos
quanto à utilização da malha quadriculada
Professores Respostas dos professores ao analisarem os registros das duplas de alunos quanto à utilização da malha quadriculada
Narciso
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
Sobre a malha quadriculada, o professor Narciso (no debate coletivo)
acrescentou que ela “favoreceu, porém, se não tiver o domínio do conceito de
simetria, ele [o aluno] também não faz, é por isso que eu falei a questão da
motivação, a malha quadriculada ajudou” 82. Sobre a motivação, é uma
justificativa que o docente vê para o fato de a dupla H ter respondido
81Segundo Miyakawa (2005) a perspectiva global de figuras simétricas refere-se àquelas adquiridas a partir de várias experiências ou atividades sobre reconhecimento de objetos simétricos dentro e fora da classe. Segundo Jahn (1998), a noção de aplicação pontual é pressuposta pela hipótese implícita de que uma figura é um conjunto de pontos e, portanto, sua imagem é um conjunto de pontos. 82 Em depoimento, março de 2015.
255
erroneamente o item (n) da situação-problema 3 e não ter respondido o item (b)
da mesma situação-problema, como pode ser visto na Figura 63.
Figura 63. Item (b) não respondido pela dupla H e item (n) respondido erroneamente pela
dupla H.
Fonte: Dados da pesquisa
Apesar da argumentação do professor Narciso sobre a malha
quadriculada facilitar nos procedimentos de resolução das duplas de alunos,
em nossa análise nos registros delas (Tabela 9, p.233-234) observamos que,
no geral, a malha quadriculada não favoreceu positivamente as respostas das
duplas. O índice de insucesso para o item (n), cujo papel é do tipo
quadriculado, chega a ser maior que o do item (b), sobre o papel branco.
Ainda sobre papel do tipo quadriculado, as observações da professora
Margarida, quanto à posição do eixo de simetria na folha, o que implica uma
diferença na quantidade de quadrinhos nos semiplanos delimitados pelo eixo
de simetria, foram condizentes, em geral, por meio de nossa análise, a
posteriori, nos registros das duplas de alunos. Essa variável didática pareceu-
nos determinante na alta taxa de insucesso das respostas fornecidas pelas
duplas. Nossas análises apontaram, ainda, nos registros das duplas de alunos,
fortes indícios de dificuldades relacionadas ao conceito de simetria ortogonal e
as suas propriedades, principalmente quanto à ortogonalidade.
Com relação à construção de figura simétrica, inquirimos os docentes:
Com relação aos itens (c) e (f) nos quais as figuras cortam o eixo de simetria,
os professores acreditavam que, em todos os anos do Ensino Fundamental II,
os alunos teriam dificuldades. Essa observação se confirmou? O que você
observou nos registros dos alunos com relação às propriedades de simetria
ortogonal?
256
Quadro 55. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos com relação à construção de figura simétrica
Professores Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos com relação à construção de figura simétrica
Narciso
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
Para a professora Margarida, a dupla B conseguiu fazer a atividade e
mostrou entender o conceito de simetria. Complementando sua resposta, a
docente, no debate coletivo, fez a seguinte observação sobre os registros
dessa mesma dupla, “ela fez, fez torto, mas fez, só não usaram a régua para
fazer [a figura imagem], mas tiveram a ideia do que seria” (ver Quadro 45, p.
237-238) 83. Quanto aos registros da dupla H (Figura 64), a docente avaliou
que os alunos não demonstraram conhecer o conceito de simetria ortogonal e
argumentou que “eles não fizeram nada, então eu acho que ficaram meio que
perdidos ou estavam com preguiça” 84.
Figura 64. Resposta da dupla H para os itens (c) e (f) da situação-problema 3.
Fonte: Dados da pesquisa
Observamos que essa dupla de alunos ficou totalmente confusa por
causa da interseção (em um e dois pontos) das figuras-objeto com o eixo de
simetria. Ao contrário do que argumentou a professora, eles chegaram a
desenhar erroneamente as “figuras-imagem” (Figura 64), porém essas não
83 Em depoimento, março de 2015. 84 Em depoimento, março de 2015.
257
ultrapassam o eixo de simetria. Observamos, ainda, o cuidado da dupla para
que não houvesse sobreposição entre as figuras no caso do item (f).
O professor Narciso fez a seguinte observação nos registros (Figura 65)
das duplas D e E, para os itens (c) e (f): “aqui eles conseguiram identificar, mas
quando corta o eixo [de simetria] não, aqui eles não fizeram”.85
Figura 65. Resposta das duplas D e E para os itens (c) e (f), respectivamente, da situação-problema 3.
Fonte: Dados da pesquisa
Notamos que, ao observar os registros das duplas de alunos, o docente
comparou outro item, cuja figura-objeto não intercepta o eixo de simetria, com
os itens (c) e (f). Ele ainda chamou a atenção para o fato de os alunos da dupla
D não responderem o item (c).
Segundo esse mesmo professor, os alunos não conseguiram localizar e,
consequentemente, não construíram os pontos simétricos aos da figura-objeto
no semiplano oposto ao eixo de simetria, mesmo quando o eixo de simetria era
vertical (ver Quadro 55). Esse fato remete à concepção de que, ao localizar e
traçar os pontos simétricos aos da figura-objeto, o alunos conseguirão construir
a figura-imagem.
Quanto às variáveis didáticas, perguntamos aos professores: a partir dos
registros dos alunos quais daquelas variáveis didáticas identificadas no
momento da análise das situações realmente fizeram diferença quanto ao nível
de dificuldade das situações? Foi possível identificar outras variáveis didáticas?
85 Em depoimento, março de 2015.
258
Quadro 56. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos sobre a influência das variáveis didáticas.
Professores Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos sobre a influência das variáveis didáticas
Narciso
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
Notamos que, apesar de ambos os professores citarem a malha
quadriculada como uma variável de didática que influenciou nas respostas das
duplas de alunos, cujos registros foram por eles analisados, somente a
professora Margarida detalhou que influência foi essa.
O Quadro 57 versa sobre as observações dos docentes a respeito da
influência das variáveis didáticas nas respostas das duplas de alunos B, D, E e
H.
Quadro 57. Pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H quanto à influência das
variáveis didáticas.
Situações
Duplas
Docentes
B
D
E
H
1-(a)
Narciso
Própria figura As propriedades da figura.
1-(b) Nenhuma Nenhuma
1-(c) Propriedades das figuras
As propriedades do triângulo (falta de conhecimento)
1-(d) Natureza da figura
Natureza da figura.
1-(e) Complexidade da Figura
Complexidade da Figura.
2 A disposição das figuras
Nenhuma
3 Não identifiquei Não identifiquei
1-(a)
Margarida
Como previsto
Como previsto
1-(b) Como previsto
Como previsto
1-(c) Como previsto
Como previsto
1-(d) Como previsto
1-(e) Como previsto
Como previsto
2 Como previsto
Leitura
3 Como dobraram
Não realizaram
259
a variável prevista não foi problema.
a atividade toda
Fonte: Dados da pesquisa
Em geral, observamos, por meio do Quadro 57, que para a maioria dos
itens das situações-problema os professores não detalharam como as variáveis
didáticas identificadas e estudadas anteriormente, influenciaram nas respostas
dessas duplas de alunos. Contudo, algumas vezes, limitaram-se a utilizar
“como previsto”, referindo-se à pré-analise realizada (ver Quadro 40, p. 218).
Finalmente, sobre a utilização de instrumentos de desenho geométrico
perguntamos aos docentes: Durante a aplicação das situações-problema foram
disponibilizados aos alunos régua e esquadro, mas aparentemente eles não
utilizaram o esquadro. A que você atribui esta não utilização? Vocês acreditam
que, se os instrumentos de desenho tivessem sido utilizados corretamente,
durante a execução das tarefas, as propriedades inerentes à simetria ortogonal
seriam observadas? Por quê?
Quadro 58. Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos sobre a
utilização dos instrumentos de desenho geométrico
Professores Respostas dos professores ao analisarem os registros dos alunos sobre a utilização dos instrumentos de desenho geométrico
Narciso
Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
Por meio do Quadro 58, verificamos que ambos os professores
justificaram a não utilização dos instrumentos de desenho geométrico para a
construção de figuras simétricas, pelo fato de as duplas de alunos não saberem
utilizá-los.
Ainda sobre a não utilização dos instrumentos no desenvolvimento das
tarefas, o professor Jacinto ponderou que, “a gente trabalha mais com a parte
de geometria do que desenho geométrico, porque essa parte da utilização do
material se dá mais para quem trabalha com desenho geométrico, a
260
construção”86. Ilustrando essa observação o professor Narciso ofereceu o
seguinte exemplo,
Se a gente der um jogo de esquadros [aos alunos], traçarmos uma reta e pedimos para traçar um feixe de retas paralelas a ela, eu tenho certeza que eles [os alunos] vão pegar um esquadro só e “vai no” olho. Ele não vai fazer aquele jogo com os esquadros, um fixo e outro móvel para um deslizar um sob outro para traçar as retas paralelas. Ele não vai fazer isso, por que, ele não tem essa cultura. Ele não foi ensinado a isso.87
Esse mesmo professor pontuou “o que acontece no que diz respeito ao
[uso do] instrumento é isso, a falta da associação da construção dos objetos
com a questão das propriedades e definições88”. Questionamos,
presencialmente, os professores para saber por que não os alunos não eram
ensinados a utilizar instrumentos para a construção geométrica. Para o
professor Narciso, os motivos de não se ensinar a geometria por meio das
construções geométricas está na formação de professores, como havia já
citado anteriormente e no currículo para o Ensino Fundamental. Com relação
ao currículo ele pondera,
o mais imprescindível dessa história toda, eu acho é o currículo. Porque, por mais que o professor ali não saiba [o conteúdo], se ele foi delegado para ministrar uma disciplina de desenho geométrico, ele correria atrás, ele buscaria, aprenderia e ensinaria os alunos. Mas eu acho que é mais o currículo, aqui nós temos [a disciplina] geometria que no currículo, é o estudo da parte algébrica na geometria, isto é, aplicar conceitos e propriedades da geometria de forma algébrica. Inclusive a geometria hoje é aquela parte do livro de matemática. Na melhor das hipóteses é trabalhado o reconhecimento de figuras planas e não planas no 6º ano e só. Mas ele [o aluno] não sabe como é que se constrói um quadrado, uma figura plana. A parte de construção [geométrica] fica sem ser vista, fica sem saber. 89
Na resposta dada pela professora Margarida (Quadro 58), ela admite
que, se os alunos tivessem utilizado os instrumentos para construir as figuras
simétricas, possivelmente teriam tido maior facilidade em verificar as
propriedades da simetria ortogonal.
86 Em depoimento, março de 2015. 87 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 88 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 89 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015.
261
No Quadro 59, reunimos as observações dos docentes na pós-análise
nos registros das duplas de alunos B, D, E e H, sobre os conhecimentos que os
alunos mobilizaram para responder cada item proposto nas situações-problema
da sequência didática aplicada a eles.
Quadro 59. Pós-análise nos registros das duplas de alunos B, D, E e H quanto aos
conhecimentos que mobilizaram para responder o conjunto de atividades que compõem a sequência didática.
Situações
Duplas
Docentes
B
D
E
H
1-(a)
Narciso
Diâmetro, ângulo central
Diâmetro, ângulo central
1-(b) Mesmo Mesmo
1-(c) Nenhum Nenhum
1-(d) Nenhum Nenhum
1-(e) As propriedades do polígono
As propriedades do polígono
2 Nenhum Equidistância
3 Nenhum Construção da mediatriz (parcial)
1-(a)
Margarida
Noção de diâmetro
Não demonstraram possuir domínio sobre o conceito de diâmetro.
1-(b) Como previsto
Não demonstraram conhecer todas as propriedades do quadrado.
1-(c) Como previsto
Não demonstraram conhecer todas as propriedades do triângulo.
1-(d) Diagonais do paralelogramo
Diagonais de um paralelogramo
1-(e) Como previsto
2 Como previsto
3
Usaram apenas a questão do espelhamento dobrando [o papel onde se encontrava] a figura.
Não demonstraram os conceitos previstos.
Fonte: Dados da pesquisa
Complementando os dados fornecidos no Quadro 59, sobre os
conhecimentos mobilizados pelas duplas de alunos, os professores fizeram a
262
seguinte reflexão ao observar os registros da dupla B (ver Figura 61, p.231)
sobre a situação-problema 2, e sobre os termos translação e rotação utilizados:
aqui eles colocaram o eixo [de simetria], aqui eles colocaram que não tinha e disseram que era movimento de translação, aqui foi rotação, rotação e não se atentou para o uso90. Olha um detalhe interessante você utiliza no 8º ano, esses termos, rotação e translação?91Esse ano a gente trabalhou, por isso eu sei que essa dupla aqui estava totalmente perdida92.
O professor Narciso ponderou, ainda, que esses termos eram utilizados
por ele no Ensino Médio, quando estava trabalhando conteúdos referentes à
geometria analítica. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1998) é uma finalidade do ensino de Matemática levar o aluno a
“comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar
com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem
oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações
matemáticas”. (BRASIL, 1998, p.48)
Uma discussão sobre a utilização de termos matemáticos no ensino da
simetria ortogonal, também ocorreu na etapa 2 da experimentação 1, quando
os professores realizaram a pré-análise da sequência didática. Naquele
contexto, argumentamos sobre a necessidade de os discentes entrarem em
contato com a linguagem matemática.
As últimas reuniões realizadas com os professores, sujeitos da pesquisa,
tiveram como objetivo a avaliação desses docentes sobre o processo de
investigação. Durante esses encontros, os professores realizaram o último
movimento no modelo de reflexão sobre a prática proposto por Schön (1995;
2000). Essa avaliação é o tema tratado na seção 7.5.
90 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 91 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 92 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - março de 2015.
263
7.5 A visão dos professores, sujeitos da pesquisa, durante e após
a investigação sobre o ensino e aprendizagem da simetria
ortogonal
Com o intuito de obter mais informações sobre o ensino e a
aprendizagem da simetria ortogonal, durante o debate coletivo, questionamos
os professores: “Com relação às propriedades, por exemplo, distância do eixo
de simetria à figura simétrica e ortogonalidade, os alunos têm, ao que parece,
uma noção perceptiva, vocês perceberam isso? Os professores responderam
que sim e justificaram suas respostas.
Isso é uma coisa tão normal (mas, tão normal), eu vou dar só uma ideia, eles [os aluno] chegam no 3º ano e a gente vai trabalhar em Geometria Analítica, distância entre ponto e reta, que existe a necessidade dessa noção. Eles não conseguem compreender que a distância entre uma reta e um ponto, que a distância não é essa PA ,
que a distância não é essa PB , que a distância menor [entre o
ponto e a reta], aí tem que ser ortogonal. Aí a gente define que a
distância entre o ponto P à reta r é o comprimento de PQ , de modo
que o segmento PQ pertence à reta s é perpendicular à reta r. Isso
depois de a gente já ter visto perpendicularidade, mas mesmo assim eles não conseguem entender o porquê da distância entre ponto P e a reta r ser a menor, isso no 3º ano. 93
Reproduzimos a figura descrita na citação acima e construída pelo
professor para explicar as dificuldades dos alunos em mobilizar conhecimentos
referentes à perpendicularidade.
Figura 66. Reprodução da figura construída pelo professor Narciso em depoimento
Fonte: Dados da pesquisa
93 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015.
264
Os professores justificam a dificuldade que os alunos tiveram em
mobilizar os conhecimentos geométricos ao responder as situações-problema
propostas na sequência didática, complementando: “a maioria dos alunos do 8º
ano, nem a régua sabe usar, eles começam a medir do 1, eu descobri naquela
atividade que eu passei para casa para construir triângulos usando régua e
compasso. A maioria colocou 4 cm, onde não era 4, era 3” 94. E continuam a
explicar de onde vêm as dificuldades: “outro problema eles não discutem, só
aceitam como verdade quando a gente dá”. 95 Sobre esse fato, o professor
ainda acrescentou: “então é perceptível, mas para gente, para a experiência
docente isso é uma coisa normal.” 96
Continuando nossos questionamentos, perguntamos: “Será que se
começar a trabalhar mais cedo, com relação aos anos escolares, a simetria
ortogonal, a noção de ortogonalidade, os alunos vão acompanhando?” “Vão,
com certeza vão” 97. Voltamos a questionar: “Então, seria uma falha no
processo?” Os professores responderam,
sim, uma falha no processo98, tem que ser lá de baixo [anos iniciais]99. Não é querendo defender nosso peixe, e já defendendo, a gente tinha condições de fazer isso aqui [na escola] e a partir do momento que ficamos com geometria só no 8º ano, a gente queira ou não queira, quebrou uma sequência de construção do conhecimento geométrico na cabeça do aluno. Com exceção da professora Rosa, e posso falar ai tranquilamente, que destina no planejamento dela três aulas para aritmética e álgebra e duas aulas para geometria, todos nós, eu e Margarida no 6ºano, nós priorizamos a aritmética. Nós priorizamos porque, nós estamos pegando alunos analfabetos, então nós temos que alfabetizar matematicamente esses alunos, para depois [ensinar] as outras coisas. 100
Fazendo um comparativo entre os conhecimentos que os docentes
esperavam que os alunos mobilizassem na pré-análise (Quadro 40, p.218), e
as observações apontadas por eles na pós-análise nos registros de algumas
duplas de alunos (Quadro 59), observamos que, aparentemente, nem todos os
conteúdos foram disponibilizados pelos alunos ao responder as atividades da
sequência didática. Nesse caso, citamos como exemplos principais, os
94 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 95 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 96 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 97 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 98 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 99 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 100 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015.
265
conteúdos: noção de diâmetro de uma circunferência, ângulos e ângulo reto,
construção de mediatriz, construção de reta perpendicular, as propriedades dos
polígonos. Sobre esses conteúdos, os professores seguiam, justificando as
dificuldades apresentadas pelos alunos, quando necessitaram acioná-los no
momento de responder o conjunto de atividades que compunham a sequência
didática.
Este ano, o que foi que a gente deu de geometria? Aquela questão de noção de figura plana e figura espacial. Na figura espacial, a identificação de vértices, arestas e faces. Na figura plana, a gente chegou a ver paralelismo e retas concorrentes e foi só isso. A gente não trabalhou, por exemplo, retas perpendiculares. Por que?, Por que não deu tempo de dar a noção de ângulo. Então, que sentido tem a gente falar que duas retas são perpendiculares, quando são concorrentes, quando forma um ângulo de 90º, se ele [o aluno] não sabe o que é ângulo? Então está muito complicado. 101
Vale lembrar, conforme apresentado nos mapas conceituais (Figura 19,
p. 90 e Figura 20, p.91) que esses conteúdos estão intimamente relacionados à
simetria ortogonal e que, portanto, servem de suporte para a sua
aprendizagem. Observamos que os professores ponderaram sobre os
conteúdos de geometria, que necessitavam ser mobilizados para que os alunos
avançassem em conhecimentos sobre a simetria ortogonal. Nesse momento,
os professores investigados avaliaram seu curso, por meio de uma análise
sobre a prática. A atividade do professor pode ser descrita como: o professor
P(+2) avalia quais são os conhecimentos necessários para os alunos
apreenderem o conceito de simetria ortogonal e quais são os entraves no
ensino de geometria que são empecilhos à aprendizagem desse conceito.
Perguntamos, ainda, aos professores, a que eles atribuíam as
dificuldades de argumentação que os discentes apresentaram no momento da
aplicação da sequência didática. Sobre essa dificuldade, para sermos claros,
explicamos que, mesmo de forma coloquial, sem utilizar termos matemáticos,
os alunos não conseguiam justificar como e por que estavam escolhendo os
procedimentos para responder às atividades. Ao responder este
questionamento, o professor Narciso explicou utilizando a regra de soma de
frações como exemplo.
101 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015.
266
Mas, entre aspas, eu julgo que a maior culpa desta história toda, é do professor. Porque, hoje em dia o ensino da matemática está voltado mais para as coisas [regras] e não pelo o porquê das coisas [regras]. Eu só sei que para somar duas frações, eu tiro o MMC, divido pelo de baixo e multiplico pelo de cima, depois somo os numeradores e repete o denominador. Isso ai, muitos alunos sabem fazer. Agora saber que aquilo ali significa, igualar as frações aos mesmos denominadores, encontrar frações equivalentes e nós falamos isso sequencialmente, mas automaticamente a gente quando vai falar de soma de frações, por exemplo, (quando eu falo a gente estou me referindo a gente professor, no geral) “vai tão no” automático. [...] agora o porquê isso, fazer a pergunta dos porquês para os alunos, a gente não faz, como a gente não faz, ele [o aluno] não pergunta e ficam bitolados em aprender somente a regra e não o porquê da regra. 102
Finalizando sua fala e referindo-se à sequência didática aplicada aos
alunos, resolvida e analisada por eles, o docente complementou: “quando
chegam trabalhos desse tipo, que precisa puxar deles um poder de
argumentação eles não têm, porque eles não foram treinados para isso”103.
Ainda sobre a argumentação os professores avançam um pouquinho mais
longe, citando que “quando eles [alunos] chegam ao Ensino Médio, a coisa é
pior ainda, porque existe o pensamento de que a Matemática que ele aprende
na escola é uma matemática irrelevante para a vida dele, já que ele vai ser
advogado, médico, etc.”104
Questionamos os docentes: “Quais ações eles acreditavam que
poderiam ser tomadas para que esse quadro melhorasse, isto é, para que a
aprendizagem dos alunos nos conteúdos relacionados à geometria, em
especial à simetria ortogonal, fosse realmente efetiva?” Os docentes
responderam
primeiramente a gente teria que mudar a cabeça do aluno, que entra na Ensino Fundamental I, Educação Infantil, amando matemática, por que lá ele trabalha o tempo todo com o concreto e chega aqui no Ensino Fundamental II, quando a gente começa a abstrair, generalizar ele tem aversão à Matemática. Então quais seriam as ações? Trabalhar o concreto o cotidiano. Fazer uma transição mais suave. 105
102 Em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 103 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 104 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião-maio de 2015. 105 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião-maio de 2015.
267
O professor Jacinto complementou essa resposta ponderando, “uma
ação que demandaria tempo é que toda escola tivesse um laboratório de
Matemática. Com o laboratório a gente poderia tentar colocar um pouco de
prática em nossas aulas. A gente tem o quê? A gente tem um quadro, um piloto
e quiçá uma régua de madeira. A gente fica limitado.”106
Pelos depoimentos dos docentes, avaliamos que são várias as variáveis
que interferem no ensino e na aprendizagem dos alunos com relação aos
conteúdos relacionados à geometria e, de forma especial, à simetria ortogonal.
Entre elas identificamos: a formação deficiente de professores, a falta de
estrutura adequada para a realização do trabalho docente (entre elas falta de
laboratórios), a ausência de uma transição suave do pensamento concreto para
dedutivo.
7.5.1 O papel do currículo e a influência do livro didático no ensino da
simetria ortogonal sob o olhar dos docentes investigados
Durante as reuniões, em vários momentos os professores fizeram
observações sobre o papel do currículo e consequentemente do livro didático
no ensino de geometria. Em uma delas citaram:
Eu não sei do [ensino] fundamental I, mas no [ensino] fundamental II, o currículo (pode ser culpa até do próprio currículo), isso eu estou falando até pelos livros didáticos, a geometria no sexto ano está mais para reconhecimento de figuras planas e espaciais. Esse ano a gente vai trabalhar ângulo, não é isso? No livro do 6º ano, mas nos anos anteriores, ângulo só vinha no livro do 7º ano. Então, ele (o aluno) só ia ter noção de ângulo no 7ºano107.
Ainda sobre os conteúdos a serem trabalhados, em função do livro
didático, os professores pontuaram: “a gente vai trabalhar a parte de figuras
planas, não planas (vértice, arestas)” 108, para o sétimo ano; outro professor
citou: “agora a gente está iniciando polígonos na 3ª unidade por que antes eu
trabalhei com figuras espaciais” 109. Os docentes observaram que a coleção
dos livros didáticos utilizado pela escola no triênio 2011-2013 (Coleção 1, ver
seção 3.4.1, p.97) não abordava o conteúdo simetria ortogonal. Eles ainda 106 Em depoimento concedido em reunião - março de 2015. 107 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião-maio de 2015. 108 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião-julho de 2014. 109 Professora Rosa em depoimento concedido em reunião-julho de 2014.
268
avaliam que, por outro lado, a coleção de livros didáticos adotada atualmente
PNLD - triênio 2014-2016 (Coleção 2, ver seção 3.4.1, p.97) apresenta o
referido conteúdo relacionado a outros conteúdos de geometria, e um dos
professores ponderou que “essa foi uma boa escolha, a mudança [na seleção
do livro didático]” 110.
Como pontuamos anteriormente, os professores não levaram em conta
que a simetria ortogonal fora apresentada em um projeto sobre mosaicos nas
últimas páginas do livro didático do 7º ano na Coleção 1, já que citam que essa
não apresentava o conteúdo simetria ortogonal. As afirmações dos
professores vêm ao encontro das declarações de Silva (2010) de que o livro
didático não é só um guia que organiza o currículo, mas também é a principal
fonte de conhecimento que subsidia o professor, no momento de preparar o
seu curso.
Segundo o professor Narciso, o fato de existir uma desconexão entre as
construções geométricas e o estudo das definições e propriedades também
estão relacionadas ao livro didático. O professor esclarece que:
a gente segue uma didática imposta por uma bibliografia, em que nós temos livros [didáticos], por exemplo que, pegam um triângulo em que nesse triângulo não nenhum ângulo reto visível por construção mas, em compensação ele [o autor] bota aquele quadradinho com um pontinho, então a gente ensina para o aluno que independente de visivelmente ele não ter um ângulo reto mesmo assim o triângulo é retângulo.111
Sobre o currículo, os professores ponderam “a nossa grade [curricular] é
muito densa, muitos conteúdos. Isso acaba muitas vezes não dando a
possibilidade de a gente fazer intervenções112” A professora Margarida
concorda “A relação quantidade de aulas por conteúdos não dá. 113”
Ressaltamos que, após a análise nos registros das duplas de alunos, os
docentes voltaram ao nível noosferiano, em que a situação do ponto de vista
do professor é a seguinte: o professor P(+3) avalia como o currículo e o livro
didático, afetam as escolhas feitas no planejamento do seu curso.
110 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião-novembro de 2014. 111 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 112 Professor Jacinto em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 113 Professora Margarida em depoimento concedido em reunião - maio de 2015.
269
7.5.2 As atividades propostas pelos docentes e a dificuldade de
implementar mudanças
Continuando a avaliar o experimento realizado com os alunos,
argumentamos que, num primeiro momento os alunos apresentaram
dificuldades com o conceito de eixo de simetria, sobretudo na primeira
situação-problema. Entretanto, com a evolução do experimento, foi possível
notar que os alunos procuravam estratégias para responder as atividades.
Essa busca por estratégias para desenvolver as atividades também foi
observada pelo professor Jacinto, que estava presente, aplicando a
experimentação. Esse docente comentou que, “no final [do experimento]
começaram a fazer espelhamento, começaram a botar o espelho [sobre a
figura], a partir da segunda situação-problema eles começaram a dobrar”114.
Sobre esse argumento o professor Narciso avaliou que
a minha preocupação nesse caso aí, eles não tinham a definição de eixo de simetria, depois eles encontraram a figura simétrica, isso leva a duas coisas: primeiro será que realmente foi uma construção intuitiva; segundo, eles entenderam que os espelhos dariam a oportunidade de encontrar a figura simétrica, mas eles continuaram não sabendo o que é eixo de simetria.115
Sobre essa citação, a professora Margarida informou que ela já havia
trabalhado na turma do 8° ano, o conteúdo simetria. A informação levou o
professor Narciso a concluir que uma parte dos alunos apenas se lembrou do
que já havia visto. Observamos que as propostas de atividades (ver Anexos 12
e 13) lançadas pelos professores, referiam-se, principalmente, à motivação
para entrar no conteúdo. Sobre esse processo, pontuamos que a motivação é
imensamente importante, pois existe a necessidade de o sujeito ter uma noção
inicial do objeto a ser estudado. Nesse momento, perguntamos sobre o que os
professores quiseram dizer com sistematização na proposta de atividade
fornecida por eles (ver Anexos 5 e 6).
Depois que a gente trabalhou toda essa parte lúdica, motivacional, agora é trabalhar definição, propriedades, exercícios, isso que a
114 Professor Jacinto em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 115 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015.
270
gente chama de sistematização. Por exemplo, simetria é isso, propriedades da simetria, exercícios sobre simetria. 116
Ponderamos que, quando solicitamos aos docentes que propusessem
atividades para trabalhar com a simetria ortogonal estávamos interessados
justamente nessa parte que eles chamaram de sistematização. Por isso,
indagamos: “Que tipo de atividades/exercícios vocês proporiam para as turmas
de vocês, levando em conta todas essas dificuldades que foram percebidas na
análise dos registros das duplas de alunos?”
Geralmente ocorre assim, quando a gente trabalha com uma atividade dentro de um conteúdo, a gente tem uma história dessa atividade. Como eu coloquei aqui primeiro passo visitar alguns lugares observar a simetria. Suponha que visitamos uma igreja e aí a gente volta lá na atividade considerando que e a igreja tem uma torre e esta torre tem um desenho. Imagine uma linha vertical que divide o desenho ao meio cuja distância entre o ponto tal para tal, como seria para calcular a outra distância. Pensaria em utilizar os dados provenientes da motivação como fonte para construção dos problemas. 117
Sobre os problemas a serem construídos, perguntamos se seriam
levadas em consideração as construções geométricas, como é que eles fariam
–, já que foi uma discussão que apareceu durante o processo de investigação –
a importância das construções geométricas.
Não, nesse ponto aí, a gente não trabalharia com as construções, por exemplo, a imagem já estaria pronta, os dados já estariam prontos. É por isso que a gente fala da sistematização, o aluno trabalha mais com a propriedade e não com a construção. Não sei se está certo, não sei se esse é o caminho correto, mas a gente geralmente trabalha assim. O aluno entende pela propriedade e não pela semelhança da figura com o real. Falando por exemplo de triângulo retângulo, eu faço este desenho aqui e digo que este triângulo é retângulo, mas a gente sabe que este ângulo não é de 90º, mas está o símbolo que indica que este ângulo é reto, logo pronto, isto aqui é hipotenusa e isto é cateto, e aqui cateto e daí ele [o aluno] vai calcular [o comprimento de um dos lados] pelo teorema de Pitágoras. Outro exemplo, sabendo que tal reta é a mediatriz do segmento calcule tais coisas. Não interessa se aqui está inclinadinho se eu digo que é mediatriz então é mediatriz. A gente não trabalha essa parte de construção [geométrica]. 118
116 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 117 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015. 118 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015.
271
O professor ainda reafirma que esse fato remete ao problema já citado
anteriormente, isto é, o aluno não tem a cultura de construir, segundo os
princípios geométricos. Ambos os professores citam que a falta da disciplina
desenho geométrico nos cursos de licenciatura é um entrave para o ensino de
geometria, ou seja, “a maioria dos professores de matemática hoje saem [das
instituições de ensino superior] sem a noção de construções geométricas” 119.
Os docentes concluíram que esse é, também, um problema no ensino da
geometria na formação dos professores de matemática.
Outro motivo citado pelos professores para esta falha no ensino de
geometria foi o fator tempo. Eles explicaram que, “quando tínhamos a disciplina
desenho geométrico, a geometria como é ensinada hoje (na verdade uma
aplicação da álgebra na geometria) era vista junto com os outros conteúdos de
matemática. E o desenho geométrico tinha carga horária separada”.
Finalizando, observamos que, na maioria das vezes, os alunos
validavam seus procedimentos e respostas por meio da percepção e
visualização. Ainda chamamos a atenção dos docentes para o fato de que,
apesar de a professora Margarida afirmar que já havia trabalhado com esses
alunos, o conceito de simetria ortogonal, os discentes não conseguiram
apreender do ponto de vista matemático. Os professores afirmaram acreditar
que isto aconteceu pela falta de estudar a simetria ortogonal como objeto
matemático.
Ao discutirem as situações de ensino que proporiam aos seus discentes
sobre a simetria ortogonal, a atividade do professor pode ser descrita por: o
professor P(+1) apesar de reconhecer a importância das construções
geométricas no ensino dessa noção, essas não são incluídas em seu
planejamento. São propostas situações com apelo ao real, cuja validação é de
cunho perceptivo.
Na subseção 7.5.3, apresentamos exemplos de atividades que são
utilizadas em uma avaliação de larga escala. Acreditamos que, possivelmente,
este tipo de atividades muitas vezes é usada como referência pelos
professores na preparação e avaliação de seus cursos.
119 Professor Narciso em depoimento concedido em reunião - maio de 2015.
272
7.5.3 Dois exemplos de atividades sobre a simetria ortogonal
apresentados numa avaliação de larga escala no contexto estadual
Na reunião do dia 11 de novembro de 2014, os professores sujeitos da
pesquisa, citaram uma das avaliações externas aplicadas aos alunos da
escola. Ao ser solicitada a cópia de tal avaliação, a professora Margarida
forneceu um conjunto de atividades propostas por ela e uma cópia da avaliação
complementar aplicada pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. As
atividades propostas pela docente tinham como finalidade a preparação dos
discentes do 7º ano do Ensino Fundamental II para a avaliação complementar.
Apresentamos, na Figura 67, a única atividade sobre a simetria ortogonal que a
referida professora propõe dentre um conjunto de 15 atividades, cujo objetivo
era revisar conteúdos para a avaliação complementar, que, segundo os
professores, para a simetria ortogonal, tem como proposta apenas identificação
e reconhecimento.
Figura 67. Atividade preparatória, em vista da Avaliação Complementar, proposta pela professora Margarida
Fonte: Dados da pesquisa
A atividade apresentada pela professora, na Figura 67, também é de
reconhecimento de figura simétrica e eixo de simetria, mobilizando,
principalmente, conhecimentos que levam em conta a percepção (por meio de
apelo à realidade) e a visualização de figuras geométricas planas.
O Caderno da Avaliação Complementar do Estado da Bahia para alunos
do 7º ano do Ensino Fundamental II cedido pelos professores é composto de
20 questões de Língua Portuguesa e 20 questões de Matemática. Os alunos
273
dispunham de 90 minutos para responder cada conjunto de questões e
transcrever as repostas para um gabarito. Na Figura 68, apresentada a seguir,
exibimos uma das questões sobre a simetria ortogonal aplicadas na avaliação
complementar.
Figura 68. Questão 26 proposto na Avaliação Complementar da Secretaria de Educação do Estado da Bahia para alunos do 7º ano.
Fonte: Avaliação Complementar 3º bimestre de 2014.
Observa-se, na Figura 68, que a atividade (do tipo objetiva) proposta na
avaliação complementar, cuja finalidade é a identificação do movimento
reflexão, não leva o aluno a refletir sobre a definição e as propriedades da
simetria ortogonal. Numa tentativa tornar perceptíveis propriedades como
equidistância entre o eixo de simetria e as figuras (objeto e imagem),
ortogonalidade e conservação de dimensões dos elementos que compõem as
figuras, são feitas de linhas de construção entre as figuras e colocados rótulos
nos pontos representativos dos vértices e em seus respectivos pontos
simétricos.
A Figura 69 expõe outro exemplo, proveniente da avaliação
complementar, este de reconhecimento de figura simétrica.
274
Figura 69. Questão 31 proposta na Avaliação Complementar da Secretaria de Educação do Estado da Bahia para alunos do 7º ano.
Fonte: Avaliação Complementar 3º bimestre de 2014.
Observa-se que essa atividade também exige do aluno conhecimentos
superficiais sobre a simetria ortogonal, ligados diretamente à visualização.
As questões sobre a simetria ortogonal presentes na avaliação
complementar deixam transparecer a ideia de que atividades, cuja tarefa se
resume em reconhecimento e identificação de figuras simétricas e eixos de
simetria, são suficientes para avaliar se alunos do 7º ano de Ensino
Fundamental têm conhecimentos sobre o conceito de simetria ortogonal. Ao
longo dessa investigação observamos que, na prática, o que está se avaliando
são conhecimentos superficiais desconectados de outros conteúdos, e que
pouco sentido fazem para os alunos.
7.5.4 Algumas considerações sobre a experimentação 3
Consideramos que a experimentação 3 cumpriu apenas alguns dos
nossos objetivos, o de estimular os professores a refletirem sobre a
aprendizagem de alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II, a respeito da
simetria ortogonal e os conteúdos a ela relacionados, a refletirem sobre a
própria prática no ensino desses conteúdos,e também refletirem sobre os
papéis do currículo e do livro didático.
Ao planejarmos a experimentação 3, tínhamos por hipótese que, ao
conhecer as dificuldades apresentadas pelos alunos quanto à mobilização de
conhecimentos na resolução do conjunto de atividades que compõem a
sequência didática, os professores, levando em conta essas dificuldades,
retornariam à situação S+2. Na fase de construção, o professor P+2, levando
em consideração a influência das variáveis didáticas e seus valores sobre os
275
procedimentos e respostas das duplas de alunos, teria condições de construir
ou escolher um sequência de situações fundamentais, com o intuito de auxiliar
os alunos na evolução sobre o conceito de simetria ortogonal.
Esperávamos, ainda, que os docentes construíssem uma sequência de
situações, cuja intenção seria minimizar as dificuldades encontradas nos
registros das quatro duplas de alunos analisados por eles, momento que
poderíamos descrever como situação S+1, de planejamento.
Contudo, apesar de constar no quadro síntese, preenchido pelos
docentes com a pós-análise sobre os registros das quatro duplas de alunos,
uma coluna onde eles deveriam sugerir propostas de situações que pudessem
minimizar as dificuldades observadas nos registros daquelas duplas, um
professor não sugeriu nenhum tipo de situação e o outro apenas escreveu
“como previsto”, sem fornecer maiores detalhes (ver Anexos 1, 2, 3 e 4).
Uma das finalidades dessa última experimentação era instigar o
professor a pensar em situações adidáticas, nas quais a devolução tivesse a
possibilidade de ocorrer, estimulando o aluno a retroagir, refletindo sobre as
respostas fornecidas no experimento 2, descartando-as ou validando-as.
Sobre essas situações, solicitamos presencialmente, que os professores
construíssem um conjunto de atividades para que fossem analisadas também
presencialmente. As atividades apresentadas pelos docentes estão disponíveis
nos anexos 5 e 6 e foram discutidas na seção 7.5.2. Porém, observamos que
as atividades foram criadas com o objetivo de explorar a percepção dos
discentes por meio da visualização. Ambas as atividades apresentadas não
tinham como objetivo um processo de aprendizagem de forma construtiva da
definição de simetria ortogonal e suas propriedades. Segundo os professores,
sujeitos da pesquisa, o próximo passo seria o que eles chamaram de
sistematização, que, pelos depoimentos fornecidos, é realizado de forma
tradicional, isto é, a exposição da definição de simetria e suas propriedades,
seguida da proposta de exercícios de fixação.
7.6 Algumas considerações acerca das experimentações
Margolinas (2002; 2004) faz um estudo da atividade do professor (níveis
+3 até +1), da atividade do aluno e professor (nível 0, de interação) e da
276
atividade do aluno (nível -3 até -1). Seguindo seu modelo, realizamos a
experimentação que foi processada em etapas; nos procedimentos iniciais de
experimentação e primeira etapa, foram feitos o estudo da atividade do
professor por meio de tarefas a partir das quais buscamos incentivar
discussões que permearam os três primeiros níveis. Observamos, como
pondera a autora, que eles interagem entre si. Para o nível 0, que dispõe sobre
a atividade do professor e aluno, observamos durante a experimentação,
imensa dificuldade dos alunos em expor ideias e argumentar sobre as
atividades, mesmo quando o professor regente da turma os colocava numa
situação em que eles necessitavam retroagir. Já para a atividade do aluno,
observamos por meio dos registros desses mesmos alunos, que a maioria se
apoia em experiências concretas, visualizando a figura de forma global,
fazendo validações perceptivas. Por esse motivo, classificamos seus
procedimentos e respostas na geometria concreta (G0), segundo Parzysz.
Além disso, por não conseguirem mobilizar os conhecimentos que lhes
permitiriam formular conjecturas e argumentar sobre elas, acreditamos não ter
sido possível [aos alunos] que seus procedimentos e respostas avançassem
para o nível seguinte espaço-gráfica (G1). Entre os conhecimentos não
mobilizados pelos discentes, porém, necessários para a construção de figuras
simétricas, identificamos: o domínio de instrumentos de desenho geométrico na
construção de retas perpendiculares dados um ponto e uma reta, construção
de pontos simétricos, as propriedades relativas à simetria ortogonal e à
construção da mediatriz de um segmento.
Para os conhecimentos necessários no reconhecimento e construção de
eixos de simetria em figuras geométricas planas e não mobilizados pela
maioria dos estudantes apontamos: a noção de diâmetro, a classificação de
triângulo de acordo com o comprimento dos lados e ângulos, a definição de
polígonos regulares e suas propriedades.
Margolinas (2002) afirma que, em todos os níveis de sua atividade, o
professor reflete e aprende durante sua atividade profissional. Na
experimentação 3, os docentes voltaram a refletir sobre todos os níveis da
atividade do professor, segundo Margolinas (2002), porém, essa reflexão
recaiu sobre a própria prática. Nesse sentido, o fato de os alunos não utilizarem
instrumentos para construir as figuras simétricas, as dificuldades de
277
argumentação que os discentes apresentaram, as dificuldades em alguns
conteúdos que serviriam como recursos nos procedimentos, tudo isso foi
analisado pelos docentes. Em nosso estudo, confirmamos que esses níveis
são cíclicos.
Durante esta investigação, avaliamos que, ao analisar uma sequência
didática, aplicar e em seguida analisar os registros de seus alunos, os
professores sujeitos da investigação, por meio da reflexão-sobre-a-ação (no
sentido de Schön), tiveram a possibilidade de avaliar seus cursos. Acreditamos
que, após essa avaliação poderá ocorrer ou não uma reestruturação desses
cursos.
Essa reestruturação depende de fatores como sua formação inicial, sua
avaliação sobre a viabilidade de mudanças no curso, e do quão apegado esse
docente está aos preceitos curriculares vigentes na instituição de ensino. Em
nossa pesquisa, corroboramos a ideia de Tardif (2011, p. 48) ao afirmar em
seus estudos que
para os professores, os saberes adquiridos através de sua experiência profissional constituem os fundamentos de sua competência. É a partir deles que os professores julgam sua formação anterior ou sua formação ao longo de sua carreira. É igualmente a partir deles que julgam a pertinência ou o realismo das reformas introduzidas nos programas ou nos métodos.
Em nossa análise, observamos que, apesar de muitas vezes os
professores engajados na pesquisa acreditarem que, a partir de situações
didáticas com experiências concretas, baseadas em visualização e
manipulação, o aluno construirá o conceito de simetria ortogonal e poderá
acessá-lo de acordo com suas necessidades, essa construção não ocorre. O
que parece ocorrer, é que, por vezes, os discentes, quando colocados em uma
situação de ação perante o conteúdo simetria ortogonal, procuram explicar
seus procedimentos por meio de algum outro conceito matemático conhecido,
ou utilizam de forma distorcida o conceito de simetria ortogonal.
278
279
CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS
A percepção das dificuldades apresentadas por alunos de Licenciatura
em Matemática (tanto para alunos ingressantes quanto em professores de
Matemática em formação), em conteúdos referentes à geometria, somada ao
fato de que as transformações geométricas no plano, especificamente a
simetria ortogonal, ainda é um conteúdo pouco ensinado nas escolas,
motivaram a realização dessa investigação.
Nesta pesquisa, utilizamos como referência as pesquisas de Grenier
(1988) e Lima (2006). As principais contribuições de ambos os trabalhos estão
relacionadas, principalmente, ao estudo da influência das variáveis didáticas e
seus valores, nos procedimentos e respostas de alunos e professores de
Matemática do Ensino Fundamental II, a uma sequência didática a eles
aplicada.
Portanto, este trabalho teve como objetivo investigar como um ambiente
de ação e reflexão, que envolve professores de Matemática do Ensino
Fundamental II, interfere nos saberes docentes desses profissionais quando
realizam a pré-análise e a pós-análise, reflexões sobre a pré-análise e a pós-
-análise de uma sequência didática pré-elaborada, aplicada a alunos desses
professores.
Nestas considerações e perspectivas, discorremos sobre os aspectos
que foram importantes para a pesquisa tais como: a metodologia de pesquisa
utilizada, os procedimentos metodológicos utilizados, o estudo ecológico sobre
a simetria ortogonal, o quadro teórico, as dificuldades incontornáveis pelas
quais a pesquisa passou, os principais resultados e as perspectivas futuras de
nosso estudo.
280
A metodologia de pesquisa utilizada
A escolha da Engenharia Didática como metodologia de pesquisa para
nosso estudo auxiliou na formatação geral da pesquisa. Os estudos
preliminares, realizados na primeira fase, possibilitaram-nos conhecer melhor o
objeto matemático simetria ortogonal. À luz da ecologia do didático pudemos
ter noção da realidade que cerca o ensino desse objeto. Além disso, o estudo
de outras pesquisas nos disponibilizou o acesso às investigações já realizadas
sobre os processos de ensino e de aprendizagem da simetria ortogonal.
Na segunda fase da Engenharia Didática, a construção e a análise, a
priori, da sequência didática sobre a simetria ortogonal nos auxiliaram, por
meio do quadro teórico escolhido, na previsão de possíveis procedimentos de
resolução e respostas a serem apresentadas por professores e alunos, sujeitos
da pesquisa, e as dificuldades que poderiam surgir nesses procedimentos.
As quatro etapas de experimentação foram pautadas na terceira fase da
Engenharia Didática. Na primeira, a aplicação de uma sequência didática aos
professores sujeitos da pesquisa, na segunda etapa a análise e propostas de
alteração feitas por estes à sequência didática pré-elaborada já citada e, na
terceira, a aplicação dessa sequência analisada e com algumas alterações
propostas pelos docentes para uma classe de alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental II. Na última etapa, a análise dos professores sobre os registros
dos alunos. Nessa fase, apoiamo-nos, também, no conceito de reflexão sobre a
prática, proposto por Schön (2000).
Na quarta fase da Engenharia Didática, a análise, a posteriori, também
foi processada em quatro etapas. Na primeira, a análise, a posteriori das
respostas procedentes das resoluções dos docentes à sequência didática pré-
elaborada; na segunda etapa a análise, a posteriori, das respostas dos
professores ao questionário discursivo e aos depoimentos fornecidos nos
debates coletivos realizados na escola no horário de atividades
complementares (A.C.). A análise, a posteriori, dos registros dos alunos foi
realizada na terceira etapa e na quarta e última etapa foi feita a análise, a
posteriori, da pós-análise dos professores sobre os registros dos alunos.
281
A utilização da Engenharia didática como metodologia de pesquisa
influenciou diretamente nos procedimentos metodológicos adotados.
Os procedimentos metodológicos utilizados
Sobre os procedimentos metodológicos, adotamos, desde o início, a
coleta de dados por meio da aplicação de questionários, seguida de reuniões
quinzenais na forma de debates coletivos, nos quais, parte dos dados era
coletada por meio da gravação de áudio. O áudio gravado nessas reuniões era
transcrito, analisado e, posteriormente, utilizado sob forma de questionários
nos próximos instrumentos de coleta de dados nos encontros seguintes, num
processo de conhecimento-na-ação, reflexão-sobre-a-ação e ação-sobre-a-
reflexão (SCHÖN, 2000).
A importância de as reuniões serem quinzenais foi a possibilidade dada
aos professores de um retorno imediato sobre o andamento da pesquisa, o que
tornou o processo de investigação dinâmico e contínuo. Além disso, o curto
espaço de tempo entre as reuniões nos possibilitou obter respostas a algumas
questões que, num primeiro momento, não haviam sido respondidas pelos
professores nos questionários aplicados. A realização das reuniões sob a
forma de debate coletivo foi essencial para a investigação, pelo fato de os
docentes terem a oportunidade de expor, cada um, seu ponto de vista nas
discussões.
A percepção da construção do processo de investigação passo a passo,
dos avanços alcançados com o trabalho e a transparência que adotamos com
relação aos textos produzidos/escritos, em especial com nossas transcrições e
análises dos áudios produzidos nas reuniões e das respostas aos questionários
aplicados, foram de suma importância para motivar os docentes a continuarem
participando da pesquisa.
A escolha de propor aos docentes a construção de mapas conceituais foi
um procedimento importante para a pesquisa, uma vez que possibilitou ao
grupo de professores conhecerem-se melhor, o que facilitou a interação entre
eles nos encontros seguintes. Além disso, a ação de construir – de forma
coletiva – os mapas conceituais, instigou os docentes a refletirem sobre a rede
282
de objetos que cercam a simetria e as relações que podem ser estabelecidas
entre eles.
Ainda com relação aos procedimentos metodológicos adotados,
acreditamos que nossa pesquisa foi realizada como um processo de
investigação que aconteceu em conjunto com os professores e não apenas um
estudo sobre as práticas docentes adotadas por eles. Nesse sentido, avaliamos
ter alcançado, em parte, nossos objetivos, um dos quais era estimular os
professores a refletirem sobre a própria prática, com o intuito de que lançassem
mão de ações que os possibilitassem a enxergar novas formas de criar
ambientes propícios à aprendizagem por meio de situações de ensino
adequadas.
A escolha desses procedimentos metodológicos, também trouxe uma
série de dificuldades e incertezas sobre a pesquisa, pois uma fase só podia ser
planejada completamente quando finalizada a fase anterior, por causa da
dependência e da forma como estavam relacionadas. Porém, o compromisso
com que os docentes se dedicaram à investigação foi essencial para que tais
procedimentos transcorressem sem maiores problemas.
O estudo ecológico sobre a simetria ortogonal
O estudo da simetria ortogonal à luz da Ecologia do Didático e a análise
em documentos curriculares oficiais (Parâmetros Curriculares Nacionais,
Diretrizes Curriculares de Matemática para o Ensino Fundamental do Estado
da Bahia) e em algumas coleções de livros didáticos de Matemática para o
Ensino Fundamental II, serviram para fomentar nossa pesquisa. Em nossa
análise nos Parâmetros curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental,
refletimos sobre as sugestões de progressão proposta de um ciclo para o outro
em termo de ensino para o conteúdo de transformações geométricas.
Em especial, para a simetria ortogonal, observamos que várias relações
podem ser propostas entre esse e outros objetos geométricos. Dependendo da
forma como eles se relacionam a simetria ortogonal será vista como um objeto
matemático que deve ser estudado a partir de sua definição e suas
propriedades. Por outro lado, essas propriedades possuem relações
intrínsecas com outros objetos geométricos, caso em que a simetria ortogonal
283
serve para alimentar de seu estudo. Neste estudo, percebemos que a maneira
como o professor lida com cada relação é determinante para a aprendizagem
dos alunos, no sentido de a simetria ortogonal não servir apenas de ilustração
para determinadas situações de ensino, sem que seu conceito seja realmente
ensinado.
Conhecer, em parte, a realidade que cerca o ensino e a aprendizagem
da simetria ortogonal foi fundamental para planejarmos as fases de
experimentação da pesquisa.
O quadro teórico
Adotamos como quadro teórico, a Teoria das Situações Didáticas
Brousseau (1997; 2008) e Margolinas (2002; 2004) associado ao quadro dos
Paradigmas Geométricos segundo Parzysz (2001; 2006). Esse quadro foi
desenvolvido do ponto de vista teórico e por meio de simulações sobre os
processos de ensino e de aprendizagem do objeto matemático simetria
ortogonal. Essas simulações nos levaram a propor uma articulação entre o
quadro dos Paradigmas Geométricos e a Teoria das Situações Didáticas.
A Teoria das Situações Didáticas orientou-nos, em nossa análise, a
priori, na construção da estruturação do milieu para cada uma das situações-
-problema propostas na sequência didática. Além disso, foi essencialmente
importante no estudo da atividade do professor, por meio da estruturação
descendente do milieu. Por outro, lado os Paradigmas Geométricos propostos
por Parzysz (2001; 2006) permitiram realizar um estudo, do ponto de vista
geométrico, sobre os procedimentos e respostas de professores e alunos,
sujeitos da pesquisa, à sequência didática a eles aplicada.
Nossa articulação entre os dois quadros teóricos tornou mais simples
nossa análise, pois, por um lado, a Teoria das Situações Didáticas nos
permitia fazer relações entre os papéis do professor e do aluno, em cada uma
das situações nas fases de aprendizagem, segundo Brousseau (1997) e, por
outro lado os Paradigmas Geométricos nos proporcionavam um estudo sobre
os registros dos sujeitos sob uma visão geométrica.
284
As variáveis de difícil contorno
Quando decidimos realizar a pesquisa na modalidade de campo,
tínhamos consciência de que algumas dificuldades seriam de difícil contorno;
citaremos, aqui, algumas delas. O fato de escolhemos uma escola da rede
estadual de educação da Bahia, trouxe entraves que podem ter interferido no
processo de pesquisa. Esses entraves foram desde problemas de pessoal a
problemas estruturais. Há nas escolas um reduzido número de professores
efetivos de Matemática, e os professores em regime de REDA (Regime
Especial de Direito Administrativo) ou PST (Prestação de Serviço Temporário)
muitas vezes não têm interesse em participar de pesquisas, ou permanecem
na escola por um curto período de tempo, fato que diminuiu o número de
sujeitos participantes da pesquisa. Por outro lado, a falta de um espaço
adequado para que as reuniões com os professores ocorressem, também
trouxe dificuldades ao processo de investigação, pois as reuniões ocorriam na
sala de professores e, por vezes, eram interrompidas por outros docentes que
não faziam parte da pesquisa.
Os professores tinham atividades em outras escolas públicas ou
particulares, o que impossibilitava que dedicassem um tempo maior para a
nossa pesquisa. Outra dificuldade foi manter o mesmo grupo de docentes ativo
até o final da investigação, pois uma professora entrou em licença-
maternidade e foi preciso que ela deixasse a pesquisa; outro professor, por
estar cursando o mestrado em Matemática, também teve que diminuir sua
participação nos trabalhos de pesquisa.
Atividades corriqueiras da escola, como aplicações de provas da
OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas), período de
provas trimestrais e finais, semana de ciências e outros projetos promovidos
pela escola, também foram um fator de dificuldade. Nessas ocasiões, os
professores se desdobram nessas atividades e não podiam participar da
investigação.
Acreditamos que essas dificuldades interferiram no processo de
investigação. Contudo, a maioria dessas interferências ocorreu em menor
285
escala, quando levamos em consideração o longo tempo de realização da
pesquisa.
Principais resultados
Por meio desta investigação, confirmamos alguns dos resultados obtidos
por Grenier (1988), referentes às concepções de alunos do Ensino
Fundamental II, quanto à simetria ortogonal, e identificamos outras que
parecem ser especificas do grupo de alunos investigados. Para esse grupo de
alunos, observamos as seguintes concepções:
– a imagem de um segmento (horizontal, vertical ou oblíquo) é um
segmento de mesma direção na folha, independente da direção do eixo de
simetria;
– a simetria ortogonal é uma transformação de um semiplano em outro
semiplano, delimitado pelo eixo de simetria, causada pela associação de duas
variáveis didáticas, a interseção da figura-objeto com o eixo de simetria e pela
complexidade da figura-objeto.
– a distância da figura-objeto às bordas da folha (inferior, superior ou
lateral) será conservada para o traço da figura simétrica, independente da
direção do eixo de simetria na folha, motivada pela posição do eixo de simetria
na folha (quando o mesmo não divide o plano em dois semiplanos de mesmas
dimensões).
Ressaltamos que o fato de os alunos ignorarem a ortogonalidade e, às
vezes, a conservação da distância como propriedades da simetria ortogonal,
levou-os a fortalecer as concepções relacionadas, uma vez que o domínio de
validade desses sujeitos se restringe à percepção por meio da visualização.
Quanto aos professores, estes acionaram seus conhecimentos prévios
para resolver as situações-problemas propostas. Porém, isso não os eximiu de
também utilizar a percepção nos procedimentos e respostas ao conjunto de
atividades propostas na sequência didática, o que acarretou a construção de
eixos de simetria e figuras simétricas errôneas, possivelmente por ignorar a
ortogonalidade, uma vez que os registros dos professores apontam indícios da
286
não utilização de instrumentos geométricos no momento da construção de
eixos de simetria e figura simétrica.
A nossa investigação, relacionada ao ensino da simetria ortogonal,
parece apontar também para a identificação de três concepções nos registros e
áudios fornecidos pelos professores, sujeitos da pesquisa:
– a utilização de termos como espelhamento, reflexão podem facilitar a
compreensão dos discentes ao resolverem atividades sobre a simetria
ortogonal.
– se o aluno sabe traçar o simétrico de um ponto, ele está apto a traçar o
simétrico de uma figura qualquer.
– o papel quadriculado é um agente facilitador para a construção de
figura simétrica.
Sobre as relações estabelecidas no estudo das concepções de alunos e
professores, observamos que, ao analisar a sequência didática, os docentes
identificaram algumas das variáveis didáticas que poderiam influenciar nos
procedimentos e respostas dos alunos e, ao analisar os registros das duplas de
alunos, esses docentes confirmaram algumas de suas hipóteses. Neste estudo,
ressaltamos que o confronto entre a pré-análise da sequência didática e a pós-
análise nos registros de algumas duplas realizadas pelos docentes
proporcionou a eles reflexões sobre a importância de levar em conta as
variáveis didáticas e seus valores na construção de situações de ensino e de
avaliar a influência delas nos procedimentos e nas respostas de seus alunos.
Observamos que pelo número reduzido de sujeitos que participaram da
pesquisa e pelo próprio tempo de duração dela, seriam necessários outros
estudos para confrontar com os resultados obtidos nesta investigação,
principalmente com relação aos professores. O estudo das concepções de
alunos e professores, sujeitos da pesquisa, foi fundamental para entendermos
em parte, as dificuldades desses professores de Matemática no processo de
ensino e de alguns dos seus alunos do 8º ano do Ensino Fundamental no
processo de aprendizagem da simetria ortogonal.
Quanto à nossa questão de pesquisa:
287
Como um ambiente de ação e reflexão constituído nos horários
destinado as Atividades complementares (AC) pode influenciar nos saberes
docentes de professores de Matemática do Ensino Fundamental II sobre a
simetria ortogonal, podemos inferir que nosso estudo forneceu condições de
responder a esta questão, parcialmente. É possível sim, por meio de um
ambiente de reflexão e ação influenciar nos saberes docente de professores de
matemática do Ensino Fundamental II.
Acreditamos que em nossa investigação essa influência ocorreu em
etapas: é necessário instigar o professor a refletir sobre seus conhecimentos
matemáticos, sua prática de ensino, o modo como ele valida as próprias
respostas e as respostas de seus alunos levando em consideração situações-
problema específicas. Numa avaliação mais ampla, estimular o docente a
ponderar se seus métodos de ensino estão realmente surtindo efeito sobre a
aprendizagem de seus alunos. Porém, para que essa influência possa refletir
na prática dos docentes são necessárias outras ações que estão fora do
alcance deste estudo.
Para a primeira etapa, acreditamos que o fato de proporcionar aos
docentes a construção de mapas conceituais, em que eles mesmos
observaram a rede de conteúdos relacionados à simetria ortogonal, e de esses
docentes solucionarem o conjunto de atividades proposto em uma sequência
didática pré-elaborada tornou possível a reflexão sobre a diferença entre o
objeto matemático simetria ortogonal e a simetria ortogonal no objeto.
Observamos que esta diferença pode influenciar no modo como o professor vai
ensinar a simetria ortogonal, uma vez que o objeto matemático simetria
ortogonal é visto por meio de sua definição e propriedades específicas. No
caso da simetria no objeto, o objeto de estudo não é a simetria ortogonal;
sendo assim, ela aparece como “alimento” para outros conteúdos, algumas de
suas propriedades podem, às vezes, nem ser percebidas pelos alunos.
Na segunda etapa, ocorreu a reflexão dos professores sobre as
situações-problema propostas, do ponto de vista didático. Eles avaliaram como
a escolha das variáveis didáticas (e de seus valores) pode influenciar nos
procedimentos e repostas de alunos do 8º ano Ensino Fundamental, o que
esperar nesses procedimentos e respostas e, talvez, o mais importante dessa
288
análise, fosse a reflexão sobre o porquê dessas respostas. Nesse momento, os
docentes avaliaram a sua própria prática, ponderando sobre o livro didático
utilizado e sobre a forma como a geometria é ensinada, levando em
consideração apenas aspectos algébricos.
A terceira etapa foi o momento em que os professores, ao analisarem as
respostas dos alunos, tiveram a oportunidade de refletir também sobre as suas
próprias respostas. No momento em que a validação sobre as respostas
aparece nas reflexões, as discussões sobre como fazer para alterar o quadro
existente surgem com maior força.
Acreditamos que nossa investigação validou a primeira hipótese
levantada para este trabalho, isto é, que por meio de um processo que
envolveu professores de Matemática na resolução, pré-análise, aplicação e
discussão de resultados da aplicação de um conjunto de situações, cujo
objetivo é o ensino e a aprendizagem de simetria ortogonal, permitiu, àqueles
docentes refletir e avaliar sua prática em sala de aula. Essa avaliação levou em
consideração saberes docentes como: conhecimentos sobre os objetos
matemáticos e suas relações com outros objetos (internos e externos à
matemática), conhecimentos sobre o currículo e o papel dos objetos
matemáticos contidos nele, conhecimentos sobre as potencialidades de seus
alunos, seus conhecimentos didáticos dos objetos.
Refletir, expor os problemas e as dificuldades é apenas uma parte do
processo que pode levar à mudança. Para ir além, ponderamos, levando em
consideração as falas dos próprios professores na avaliação da pesquisa, ser
preciso levar em conta o currículo para eles representado, principalmente, por
meio do livro didático; a formação de professores, o tempo didático (carga
horária equivalente à quantidade de conteúdos a serem ensinados), espaços
adequados para o ensino de geometria (laboratórios de matemática e
informática equipados) e, por último, mas não menos importante, a vontade do
professor em mudar.
Não foi possível confirmar nossa segunda hipótese, isto é, que esse
processo reflexivo sobre a prática pode, além de influenciar nos saberes
docentes de professores de Matemática do Ensino Fundamental II, ser capaz,
também, de provocar alterações sobre a sua prática docente. Acreditamos que
289
essa hipótese depende dos itens citados pelos professores durante a pesquisa
e descritos no parágrafo anterior, sobre os quais não temos domínio. Além
disso, a falta de acompanhamento da prática docente desses profissionais por
certo período de tempo no impede de validar ou não esta hipótese.
Sobre a pesquisa em si, avaliamos que programas de formação
continuada de professores são, de fato, muito importantes para um processo
educativo de qualidade, mas se esses programas formativos não forem
acompanhados de outras medidas de igual importância, perdem-se no
comodismo do sistema educacional como um todo. Entre essas medidas
podemos citar:
– uma formação inicial de professores de qualidade. Acreditamos que
existe maior possibilidade de novas propostas/mudanças serem aceitas e
compartilhadas com maior facilidade por um corpo docente com uma formação
inicial sólida.
– um currículo mínimo obrigatório. A subjetividade provoca escolhas que
nem sempre oferecem aos discentes a possibilidade de aprendizagem de
vários conteúdos, em especial, os geométricos.
– um material didático (livros, cartilhas, etc) que realmente seja capaz de
refletir esse currículo, já que ele é a principal fonte de pesquisa utilizada pelo
professor, quando este planeja seu curso.
Concluímos que a criação de um ambiente de ação e reflexão, nos
momentos destinados ao A. C., proporcionou aos docentes, a reflexão sobre a
diferença entre ensinar a simetria ortogonal como objeto matemático e a
simetria ortogonal no objeto. Contribuiu, ainda, para tornar perceptível aos
docentes, a importância de se construírem situações de ensino, observando as
variáveis didáticas e seus valores, para os processos de ensino e de
aprendizagem. Enfim, estimulou os docentes, sujeitos de nossa investigação a
avaliar sua prática docente e refletir sobre a aprendizagem de seus alunos.
Contudo, isso não foi suficiente para levá-los a propor alterações em sua
prática. Ao solicitarmos aos docentes que sugerissem situações para ensinar o
objeto matemático simetria ortogonal, estes voltaram às suas antigas práticas e
propuseram atividades que enfatizavam o ensino da simetria no objeto.
290
As perspectivas futuras de nosso estudo
Uma questão que não foi investigada por não ser alvo do foco escolhido
para esta pesquisa é: “Até que ponto o trabalho com construções geométricas
através de instrumentos de desenho e/ou softwares geométricos como Cabri II,
GeoGebra podem auxiliar de forma a minimizar as dificuldades encontradas
por professores e alunos, quando levamos em consideração a construção de
figuras simétricas?”
Uma proposta inicial de nosso estudo era a de que os professores, numa
segunda investigação construíssem, analisassem e aplicassem uma sequência
didática sobre a simetria ortogonal aos seus alunos. Nesse caso, todo o
processo seria deixado a cargo dos professores, com o mínimo de interferência
da pesquisadora. Infelizmente, por falta de tempo, essa investigação foi
deixada para futuros estudos.
Outra questão deixada para ser pesquisada futuramente é: “Por que,
mesmo sabendo que algumas das práticas de ensino adotadas não são
eficientes, quando levamos em conta a aprendizagem de alunos sobre a
simetria ortogonal, alguns professores voltam a insistir nessas mesmas
práticas? Em que medida o sistema de ensino (Instituição, currículo, condições
de trabalho) influencia na decisão por mudança na prática docente?”.
291
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298
299
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSOR
Resolução Nº. 196/96 do CNS
O presente termo em atendimento à Resolução 196/96, destina-se a esclarecer
ao participante da pesquisa intitulada A prática docente e sua influência na
construção de conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a
aprendizagem da simetria ortogonal sob responsabilidade da Pós-graduanda
Cleusiane Vieira Silva, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação
Matemática da PUC/SP, os seguintes aspectos:
Objetivos: fazer um estudo das concepções dos professores sobre o conteúdo
transformações geométricas no plano e criar um ambiente de reflexão e ação,
na qual possíveis mudanças nestas concepções possam ocorrer e por fim
observar como essas mudanças influenciam na prática de ensino de
professores da Educação Básica..
Participação: ao concordar com a participação na pesquisa, deverei estar à
disposição para responder um questionário com questões referentes à minha
vida profissional.
Riscos: este estudo não trará riscos para a sua integridade física, mental ou
moral. Todos os dados que obtivermos serão utilizados somente para fins
científicos com garantia de anonimato.
Confidencialidade do Estudo: os registros da sua participação nesse estudo
serão mantidos em sigilo. Serão guardados esses registros e somente os
pesquisadores responsáveis terão acesso a essas informações. Se alguma
publicação resultar deste trabalho, a identificação do participante não será
revelada e os resultados serão relatados de forma sumariada preservando o
anonimato da pessoa.
Benefícios: a importância desta pesquisa reside na perspectiva de melhorar a
aprendizagem de matemática principalmente oferecer subsídios para que
tornar o processo ensino e aprendizagem de transformação geométrica mais
eficaz.
Participação voluntária: toda participação é voluntária, não há penalidades
para aqueles que decidam não participar desse estudo. Ninguém será
penalizado se decidir desistir de participar do estudo em qualquer época.
Podendo retirar-se da participação da pesquisa, sem correr riscos e sem
prejuízo pessoal.
Depois de conhecer e entender os objetivos, bem como estar ciente da necessidade
do uso de minha imagem e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros,
300
artigos, slides e transparências), AUTORIZO, através do presente termo a
pesquisadora Cleusiane Vieira Silva a realizar as fotos que se façam necessárias
e/ou colher meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma da partes.
Ao mesmo tempo libero a utilização destas fotos e/ou depoimentos para fins científicos
e de estudos (livros, artigos, slides e transparências) em favor dos pesquisadores da
pesquisa, acima especificados, obedecendo ao que está previsto nas leis que
resguardam os direitos das crianças e dos adolescentes (Estatuto da criança e do
adolescente – ECA, lei Nº. 8.069/1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, lei Nº.
10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº. 3298/1999, alterado pelo
decreto Nº. 5.296/2004).
Jequié, _______de _______ de ____.
_____________________________________
Assinatura
301
APÊNDICE 2
Jequié, 25 de agosto de 2014.
Prezado pai ou responsável, Sou aluna do doutorado em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No momento estou realizando uma pesquisa na escola em que seu filho (a) estuda. Por isso, preciso de sua autorização para que ele(a) participe da investigação. As intervenções junto aos alunos prevêem a aplicação de atividades que envolvem conteúdos de geometria em que a finalidade é a aprendizagem do aluno. É importante salientar que os dados coletados a partir dessas atividades serão utilizados unicamente para fins de pesquisa sendo garantida a confidencialidade da identidade dos participantes. Abaixo segue o termo de autorização com algumas informações sobre a pesquisa.
Autorização de participação
Eu,_________________________________________________________, autorizo meu filho, ___________________________________________________estudante do 8º ano do Ensino Fundamental II a participar da pesquisa A PRÁTICA DOCENTE E SUA INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS GEOMÉTRICOS: UM ESTUDO SOBRE O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA SIMETRIA ORTOGONAL, sob a responsabilidade de Cleusiane Vieira Silva, aluna do doutorado em Educação Matemática, em que as intervenções com os alunos prevêem seções com resolução de situações-problemas as quais serão gravadas em áudio e acontecerão nos horários de aula.
Jequié, ____de setembro de 2014.
_________________________________________________________ Assinatura do pai ou responsável pelo estudante
302
APÊNDICE 3
Questionário 1 - Professor
Nome: ______________________________________________ sexo: _________
1- Atualmente sou professor do(s): ( ) Anos iniciais do Ensino Fundamental ( ) Anos finais do Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio 2- Você tem ____anos de experiência como professor. E como professor
de Matemática?
3- Qual a sua formação profissional? Graduação _______________________________________________ Especialização ___________________________________________ Outros______________________________________________________________ 4- Você possui uma segunda formação a nível universitário?
Qual_________________________________________________
5- Quais são as disciplinas relacionadas à geometria que você cursou na graduação? ___________________________________________________
6- Durante sua vida profissional você já fez algum curso de capacitação para formação de professores, por conta própria ou por intermédio da secretaria de Educação? Quais? O que você lembra dessas discussões?
7- O que você entende por geometria?
303
APÊNDICE 4
Questionário 2 - Professor
Pesquisa: A prática docente e sua influência na construção de conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal Doutoranda: Cleusiane Vieira Silva Orientador: Saddo Ag Almouloud
Nome:_________________________________________________________________
1- Para cada item a seguir marque com um x a alternativa que melhor representa sua prática na elaboração de suas aulas. Para planejar as aulas você utiliza:
a) O livro didático adotado; ( ) sempre ( ) as vezes ( ) esporadicamente b) Outros livros que consegui por minha conta; ( ) sempre ( ) as vezes ( ) esporadicamente c) Consulta a atividades por meio da internet; ( ) sempre ( ) as vezes ( ) esporadicamente d) Livros e apostilhas de cursos que participei; ( ) sempre ( ) as vezes ( ) esporadicamente e) Atividades elaboradas por mim; ( ) sempre ( ) as vezes ( ) esporadicamente f) Outros materiais ______________________________.
2- Você considera que um aluno aprendeu um determinado conteúdo matemático, quando ele:
a) ( ) Sabe escrever a definição do conteúdo; b) ( ) Sabe aplicar as fórmulas corretamente; c) ( ) Sabe aplicar o conteúdo matemático em situações não matemáticas; d) ( ) Utiliza a linguagem e simbologia matemática de forma correta; e) ( ) Sabe resolver corretamente os exercícios relacionados ao assunto estudado; f) ( ) Tem condições de argumentar sobre o procedimento de resolução adotado por ele diante de uma situação de aprendizagem;
3- Quais são os conhecimentos que os alunos do ensino fundamental II
precisam aprender em geometria?
304
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4- Quando seu aluno apresenta dificuldades nos conceitos geométricos
como você trabalha com a dificuldade do aluno? ________________________________________________________________________________________________________________________________________
5- Qual é a carga horária semanal que você destina ao ensino de
geometria?
a) ( ) Uma aula por semana b) ( ) Mais de uma aula por semana c) ( ) Os conteúdos são integrados por isso não sei precisar. d) ( ) Nenhuma aula
6- Quais recursos didáticos você utiliza durante as aulas destinadas ao ensino de geometria?
a) ( ) Apenas o livro didático b) ( ) Utilização de softwares educacionais. Quais? _________________________ c) ( ) Quadro negro e giz c) ( ) Jogos. Quais?___________________________________________. d)( ) Instrumentos para construções geométricas (compasso, régua graduada, esquadros)
7- Você conhece as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para os 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental?
_______________________________________ 8- Você conhece as abordagens que os PCN trazem em relação ao ensino
dos conteúdos de geometria para o 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental? Se sim, cite algumas. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9- Você utiliza as recomendações dos PCN na preparação de suas aulas?
a) ( ) sim, frequentemente; b) ( ) sim de vez em quando; c) ( ) sim mais esporadicamente; d) ( ) não Se sim, descreva um pouco como você os utiliza. ____________________________________________________________________________________________________________________
305
_______________________________________________________________________________
10- Os professores da escola que você trabalha, discutem os PCN nas reuniões pedagógicas ou em outros momentos escolares?
a) ( ) sim, frequentemente; b) ( ) sim, de vez em quando; c) ( ) sim, mas esporadicamente; d) ( ) não.
11- Tem conhecimento sobre as diretrizes curriculares para o ensino de Matemática do estado da Bahia? Se sim como obteve tais conhecimentos?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
306
APÊNDICE 5
QUESTIONÁRIO 3 – PROFESSOR TEMA DA PESQUISA: A prática docente e sua influência na construção de conceitos geométricos: um estudo sobre o ensino e a aprendizagem da simetria ortogonal Doutoranda: Cleusiane Vieira Silva Orientador: Saddo Ag Almouloud Caros Professores, O seguinte questionário tem por objetivo analisar algumas variáveis didáticas relacionadas à simetria ortogonal, já estudada em outros contextos com alunos. Porém essa etapa da pesquisa é necessária para dar prosseguimento à próxima. Contando com sua participação agradecemos.
Nome (facultativo):
Turmas que leciona:
Data:
SUA TAREFA
As situações apresentadas nas páginas 4 a 6 foram propostas a alunos de oitava série. Solicitamos que as analise e responda as seguintes questões. É extremamente importante para nossa pesquisa que você responda, pois de sua análise depende nossa pesquisa.
1) Faça uma análise matemática e didática de cada situação proposta aos alunos, destacando os seguintes aspectos: a) A resposta correta, esperada pelo professor; b) As dificuldades, que os alunos podem encontrar, na resolução do problema; c) Quais conhecimentos mobilizariam para resolver cada item de cada uma das situações proposta? d) A importância didática de situações desse tipo, na formação dos alunos em relação à simetria axial.
307
2) Especifique quais dificuldades você acredita que os alunos
apresentariam na compreensão e resolução das diferentes situações? Responda analisando cada item de cada situação proposta.
3) Quais situações proporia que permitissem aos alunos superar as dificuldades e obtivessem êxito na solução?
4) Você identifica alguma variável didática que pode dificultar ou facilitar a resolução dos problemas propostos? Quais? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
308
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
309
APÊNDICE 6
TAREFAS PROPOSTAS AOS PROFESSORES PARA SEREM APLICADAS
AOS ALUNOS DO OITAVO ANO
1) Em cada caso indique se a figura admite um ou mais eixos de simetria. Justifique sua resposta.
a) b) c)
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ d) e)
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2) (Adaptada do NPMATEB120) Diga em quais casos a figura formada pelos peixes A e B admite um eixo de simetria, justifique sua resposta. Trace os eixos com instrumentos de geometria.
120 Novo Programa de Matemática do Ensino Básico
310
3) Trace em cada situação a figura simétrica com relação à reta dada.
a) b)
c) d)
e) f)
g) h)
i) j)
311
l) m)
n)
Explique os procedimentos utilizados para solucionar as situações. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
312
APÊNDICE 7
AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES QUANTO AOS ITENS REFERENTES ÀS
SITUAÇÕES-PROBLEMA
Dupla de alunos: ___________
Quanto ao reconhecimento e construção de eixo de simetria - Professor Narciso: com relação ao item (a) para os alunos do 6º ano, segundo o professor “com a experiência que agente tem, a experiência de sala, ele [o aluno] vai dobrar aqui e vai dizer que só existe um eixo de simetria, ai a gente perguntar e se a gente dobrar aqui? Sabe o que ele vai responder? Mas professor é a mesma coisa. E se a gente dobrar assim? Não professor, é a mesma coisa. Então ele [o aluno] não vai entender que quando a gente muda à posição da dobradura a gente muda o eixo de simetria, isto é, a gente tem outro eixo de simetria”. - Professora Margarida: com relação aos alunos 9º ano, a professora acredita que eles já entenderiam que, cada vez que dobra, essa dobra representa um eixo de simetria diferente, isso por que a simetria ortogonal é trabalhada no 8º ano. As observações feitas para o os alunos do 6º e 9º anos aconteceram com alunos do 8º ano? Você consegue dar algum exemplo por meio dos registros aqui analisados? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Com relação à utilização da malha quadriculada Professor Narciso: “A malha quadriculada auxilia ao aluno visualizar a figura simétrica sem o auxilio de material [instrumento de desenho geométrico] por que, por exemplo, em todas essas aqui eu usei régua e esquadro [...] para conseguir visualizar medindo direitinho, nessa daqui eu não precisei tanto de régua e esquadro por que eu consegui visualizar, então é aquela questão da
313
visualização da figura. Quando eu tenho a malha quadriculada ela auxilia ao aluno e me auxiliou também a enxergar a figura a figura simétrica sem precisar de material de desenho”. Professora Margarida: “Mas se o aluno não se atentar, olhar a malha e não se atentar, à quantidade de quadrinhos de um lado e do outro [do eixo de simetria]. Exemplo: Aqui tem três colunas de quadrinhos, aqui têm quatro, eles podem se equivocar”. Qual papel desempenhou a malha quadriculada nos registros dos alunos? Ajudou aos alunos a identificarem propriedades da simetria ortogonal? Favoreceu as percepções global e pontual de figura simétrica? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Com relação à construção de figura simétrica Com relação aos itens (c) e (f) nos quais as figuras cortam o eixo de simetria os professores acreditam que em todos os anos do Ensino Fundamental II, os alunos teriam dificuldades. Essa observação se confirmou? O que você observou nos registros dos alunos com relação às propriedades de simetria ortogonal? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
314
Quanto as variáveis didáticas A partir dos registros dos alunos, quais variáveis didáticas, aquelas identificadas no momento da análise das situações, realmente fizeram diferença quanto ao nível de dificuldade das situações? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Quanto a utilização de instrumentos de desenho Durante a aplicação das situações – problema, foram disponibilizados aos alunos régua e esquadro, mas aparentemente eles não utilizaram o esquadro, a que você atribui esta não utilização? Vocês acreditam que se os instrumentos de desenho tivessem sido utilizados corretamente durante a execução das tarefas, as propriedades inerentes à simetria ortogonal seriam observadas? Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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ANEXO 1
Quadro síntese da análise do professor Narciso para os alunos da dupla D
Fonte: dados da pesquisa
316
ANEXO 2
Quadro síntese da análise do professor Narciso para os alunos da dupla E
Fonte: dados da pesquisa
317
ANEXO 3
Quadro síntese da análise da professora Margarida para a resolução dos alunos da dupla B
Fonte: dados da pesquisa
318
ANEXO 4
Quadro síntese da análise da professora Margarida para a resolução dos alunos da dupla H
Fonte: dados da pesquisa
319
ANEXO 5
Atividade proposta pelo professor narciso para o ensino da simetria ortogonal
Fonte: dados da pesquisa
320
ANEXO 6
Atividade proposta pelos professores Jacinto e Margarida para o ensino da simetria ortogonal
Fonte: dados da pesquisa