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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Educação Continuada A (des)proporcionalidade da representação política na Câmara dos Deputados à luz da Constituição Federal de 1988. Nivalda Batista de Melo Themis Ariadne Freire Starling Soares Ubiratan Campelo Reis Belo Horizonte

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · brasileira - distorções em sua representação e as possíveis causas e conseqüências da (des)proporcionalidade na Câmara

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS

GERAIS

Instituto de Educação Continuada

A (des)proporcionalidade da representação

política na Câmara dos Deputados à luz da

Constituição Federal de 1988.

Nivalda Batista de MeloThemis Ariadne Freire Starling SoaresUbiratan Campelo Reis

Belo Horizonte

2008

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Nivalda Batista de MeloThemis Ariadne Freire Starling Soares

Ubiratan Campelo Reis

A (des)proporcionalidade da representação

política na Câmara dos Deputados à luz da

Constituição Federal de 1988.

Trabalho de conclusão do Curso de

Especialização em Poder Legislativo -

Turma 10., da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais

Professora Orientadora:Natália de Miranda

Freire

Belo Horizonte2008

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Nivalda Batista de MeloThemis Ariadne Freire Starling Soares

Ubiratan Campelo Reis

A (des)proporcionalidade da representação política na Câmara dos Deputados à luz da Constituição Federal de 1988.

Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Poder Legislativo - turma 10, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

__________________________Natália de Miranda Freire

Professora Orientadora - PUC-Minas

Belo Horizonte, 31 de outubro de 2008.

4

SUMÁRIO

1 - APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................................

5

2 - INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................

5

3 - OBJETIVO.............................................................................................................................................

6

4 - DESENVOLVIMENTO.............................................................................................................................................

6

4.1 - Conceito de representação política.............................................................................................................................................

6

4.2 - Histórico das constituições republicanas, enfatizando a Constituição vigente.............................................................................................................................................

9

4.2.1 - Constituição Republicana de 24 de fevereiro de 1891.............................................................................................................................................

9

4.2.2 - Constituição Republicana de 16 de outubro de 1934.............................................................................................................................................

12

4.2.3 - Constituição Brasileira de 18 de setembro de 1946..............................................................................................................................................

13

4.2.4 - A Constituição Brasileira de 1967..............................................................................................................................................

16

4 2.5 - A Constituição de 05 de outubro de 1988.............................................................................................................................................

16

4.2.5.1 - A Representação à luz da Constituição de 05 de outubro de 1988

5

.............................................................................................................................................

18

4.2.5.2 - A sobre representação legislativa no Brasil .............................................................................................................................................

20

4.2.5.3 - Sobre-representação e desenvolvimento regional no Brasil .............................................................................................................................................

21

4.3 - Análise da relação entre democracia, federalismo e representação política.............................................................................................................................................

22

4.3.1 - Causas e conseqüências da (des)proporcionalidade.............................................................................................................................................

24

4.4. - Câmara dos Deputados Brasileira - distorções em sua representação..............................................................................................................................................

25

4.4.1 - Conseqüências face território continental X (des)proporcionalidade na

representação.............................................................................................................................................

26

4.4.2 - A dimensão partidária da alocação desproporcional.............................................................................................................................................

31

4.4.3 - As possíveis causas e conseqüências da (des)proporcionalidade na Câmara dos

Deputados, destacando o impacto da criação de novos estados;.............................................................................................................................................

33

4.4.3.1 - A criação de novos estados .............................................................................................................................................

34

5 - CONCLUSÃO.............................................................................................................................................

36

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................................................................

38

6

7 - ANEXOS.............................................................................................................................................

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1 - APRESENTAÇÃO

O trabalho apresentado visa discutir a proporcionalidade ou

desproporcionalidade na representação política (representatividade) na Câmara dos

Deputados brasileira, após a vigência da Constituição de 1988. Como será adiante

observado, vários autores atribuem a existência de um problema em nossa democracia à

desproporcionalidade da representatividade da população nos estados federados,

enquanto outros defendem a teoria de que essa desproporcionalidade seria proposital

visando evitar ainda maiores desigualdades regionais.

A proporcionalidade (desproporcionalidade) de um sistema político depende de

vários fatores. A partir de referenciais teóricos, legislação e dados estatísticos, analisar o

funcionamento da representação política, suas imprecisões e as conseqüências de ajustes

na representação atual seria necessário.

2 - INTRODUÇÃO

A representatividade é a proporcionalidade entre votos e cadeiras recebidas pelos

partidos, ou seja, é a forma de caracterizar a representação política.

Tendo em vista a comprovada existência de sub e sobre-representatividade em

alguns estados brasileiros, este tema tornou-se relevante nos meios políticos e

acadêmicos.

O debate se dá em torno da desigualdade do peso que tem o voto de um cidadão

brasileiro, já que varia de um estado para o outro no ato da escolha de um deputado

federal. Utiliza-se a comparação entre um eleitor do estado de São Paulo e um do estado

7

de Roraima.

O trabalho apresentado visa discutir os reflexos da (des)proporcinalidade na

representação política na Câmara dos Deputados brasileira, após a vigência da

Constituição de 1988, sob alguns pontos relevantes. Neste sentido, a discussão está

organizada em cinco partes: 1) conceito de representação política; 2) histórico das

constituições republicanas, enfatizando a Constituição vigente; 3) análise da relação

entre democracia, federalismo e representação política; 4) Câmara dos Deputados

brasileira - distorções em sua representação e as possíveis causas e conseqüências da

(des)proporcionalidade na Câmara dos Deputados, destacando o impacto da criação de

novos estados.

3 - OBJETIVO

Identificar os mecanismos de representação política. Discutir as propostas

apresentadas com vistas à análise da desproporcionalidade entre os estados federados.

Defender a existência de algum grau de desproporcionalidade em termos de população

dos estados e cadeiras parlamentares, inclusive como mecanismo para evitar a tirania da

maioria, bem como amenizar as desigualdades regionais.

É importante ressaltar que, apesar da defesa de algum grau de desproporção, isso

não significa que ajustes não possam ser feitos no nosso sistema de representação, tanto

na definição do piso e do teto na representação dos estados, como em fatores do sistema

eleitoral que geram desproporcionalidade na representação dos partidos políticos: o

quociente eleitoral, a fórmula D'Hont e as coligações eleitorais.

Outro importante tema refere-se à criação de novos estados, especialmente de

perfil pouco populoso. Apesar de assunto indireto, tem conseqüências sobre a

desproporcionalidade, já que com a criação de novos estados pouco populosos com

representação pelo piso surgirá mais um estado sobre-representado, ou seja, um

aumento na desproporcionalidade.

4 - DESENVOLVIMENTO

4.1 - Conceito de representação política

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A etimologia da representação é encontrada no latim, representatio,

representationis, que, segundo Laudelino Freire, significa a "ação ou efeito de

representar", "ser mandatário ou procurador", "fazer vezes de", "suprir falta de",

"apresentar-se no lugar de". Assim o termo representação, no âmbito contratual, associa-

se à figura da substituição na manifestação de vontade.

Segundo a representação definida como um vínculo entre os governados e os

governantes, estes agem em nome daqueles e devem trabalhar pelo bem dos

representados e não pelo próprio. A idéia clássica de representação política é ínsita à de

participação popular no governo, por intermédio de representantes eleitos, por meio do

sufrágio universal. Representação, assim, está atrelada à idéia de democracia, de

governo do povo.

Consoante indica José Antônio Giusti Tavares, em "Sistemas Eleitorais nas

Democracias Contemporâneas"

"a representação política é uma relação entre o conjunto dos cidadãos que

integram uma comunidade política nacional e os seus representantes, na qual

os primeiros, enquanto comitentes e constituintes, autorizam os últimos a

tomarem as decisões que obrigam em comum e universalmente a todos, nelas

consentindo por antecipação e assumindo, cada um, todas as conseqüências

normativas derivadas das decisões do corpo de representantes como se as

tivesse efetiva e pessoalmente adotado, e na qual, por outro lado, cada um

dos representantes se obriga a tornar efetivos, no corpo legislativo, ao mesmo

tempo os valores fundamentais e comuns da ordem política e as concepções

particulares acerca do interesse e do bem público daquele conjunto especial

de constituintes que, com sua confiança, concorreram para a consecução de

seu mandato”.

O conceito de representação, no sentido de algumas pessoas representando as

outras, é uma idéia moderna. Quando se descreve os processos de democratização

ocorridos ao longo do séc. XIX, basicamente está se tratando da ampliação do direito do

povo de eleger os representantes e membros dos órgãos do Estado. Representação

política é o modo de o povo, titular do poder, agir ou reagir relativamente aos

governantes e o voto, ato normalmente associado com a atual democracia, é não para

decidir, mas sim para eleger quem deverá decidir.

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A primeira concepção de representação que data do Século XVII, é o que Hanna

Pitkin chama de concepção robinsoniana, a representação entendida pura e

simplesmente como autorização formal para que haja governo. Tem de haver um

mecanismo explícito, legal, formal para que alguém esteja autorizado a falar em nome

da coletividade, assim a representação é entendida como um mecanismo para autorizar a

ação coletiva da sociedade.

Já a teoria da representação política teve como primeiro teorizador o grande

cérebro Rousseau, responsável pela grande revolução política dos nossos tempos. Ele

foi o primeiro a sistematizar a teoria da representação política.

Na sua concepção, os mandantes e mandatários deveriam guardar perfeita

articulação, de tal forma que um mandatário só agia legitimamente dentro das estritas

determinações do mandante. Quando o mandatário fugia às aspirações, aos desejos ou

aos interesses do mandante, tudo que ele praticava era nulo. É a teoria da representação

imperativa.

Em sua concepção, um tanto quanto ortodoxa, Montesquieu chegou realmente

ao extremo do voto imperativo, achando que toda vez que o mandatário não cumprisse

as determinações do mandante ele deveria ser substituído. Essa teoria prevaleceu até o

momento em que surgiu a resistência e a oposição poderosa de Edmund Burke, no seu

famoso discurso aos eleitores de Bristol, refutando-lhe a crítica de que ele estava

fugindo às suas diretrizes.

No seu famoso discurso aos eleitores de Bristol, afirmou;

“Vós me elegestes membro do parlamento, mas, uma vez

efetivada a eleição, eu deixei de ser representante dos eleitores

de Bristol para ser membro do Parlamento, quer dizer, membro

da nação inteira.”

Surgiu na teoria da representação política como relação fiduciária, isto é, o

mandatário político recebia implicitamente, quando eleito, um mandato de confiança

que o habilitava a decidir de forma autônoma sobre todas as questões, sobre todos os

problemas que fossem submetidos à sua decisão.

Essa teoria foi realmente responsável pelo ponto mais elevado do Estado

Liberal, porque surgiu na sua égide, acompanhando-o até sua decadência. Manifestada

nas contingências da vida prática, a inoperância das teorias liberais e da representação

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política consoante o esquema liberal em decorrência da revolução cultural e da

revolução industrial do século XIX , a teoria da representação de mandato imperativo e

de mandato em relação fiduciária substituída pela teoria da representatividade

sociológica.

A Representatividade Sociológica só é concebível quando ela guarda perfeita

correlação com os grupos humanos que têm interesses sociais, econômicos e políticos,

por prevalência na luta, e luta que em regra se faz em termo de posições ideológicas. Ela

parte do princípio de que os eleitores não esgotam a representação, é preciso que

permaneça em sintonia com os grupos sociais que mantêm o organismo social em

permanente atuação e trepidação.

Essa teoria da representatividade sociológica cedeu lugar às modernas teorias da

participação democrática, a chamada representação participativa, que parte do princípio

de que a eleição não se esgota nos eleitores, é necessário que ela tenha mantenha vivo e

permanente contato com o povo.

A democracia participativa tem realmente a vantagem de promover

constantemente o auto-aperfeiçoamento individual, a constante renovação social,

através de conquistas culturais, econômicas e sociais.

A representação é a base, a alma da democracia. Só existe democracia onde

existe representação.

Todo e qualquer sistema de representação via eleitoral é imperfeito pela própria

natureza, porque todos eles são construções humanas e participam de todas as

precariedades e limitações da natureza humana. A partir de cada realidade tem-se a

opção de escolher o menos mau.

Após a apresentação do conceito de representação política, necessário se faz o

entendimento de que o presente trabalho discute sobre a representação política sob seu

aspecto quantitativo, ou seja, um cidadão vale um voto. Desta forma, a pretensão aqui

apresentada é de analisar a des(proporcionalidade) na representação política através do

ordenamento jurídico que estabelece o regramento que causa as distorções no sistema

vigente.

4.2 - Histórico das constituições republicanas, enfatizando a Constituição vigente

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Segue um breve histórico das Constituições Republicanas brasileiras. Inicia-se

com a primeira, em 1891, e finaliza com a de 1988. Em todas elas, o aspecto da

representatividade na Câmara dos Deputados foi destacado, visando uma melhor análise

no decorrer dos tempos, cujo objetivo principal é identificar os motivos que levaram à

existência da situação atual.

4.2.1 - Constituição Republicana de 24 de fevereiro de 1891

A crise econômica que provocou o ocaso do Império está refletida na revolução

republicana de 1889. A crise do açúcar, que era, antes da República, a alavanca

propulsora da economia nacional, aliada à emancipação da escravatura, em campanhas

onde se salientaram Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, somadas aos entrechoques da

monarquia contra o exército e o clero vieram esculpir nova forma de governo, vitoriosa

com o momento revolucionário.

Uma assembléia constituinte formada por teóricos, tendo Rui Barbosa à frente,

embebidos das idéias federalistas, proibiu qualquer tipo de associação ou partido

político que pretendesse se organizar nacionalmente. Assim, as oligarquias dos estados

concentraram o poder em suas mãos, permitindo que os grandes estados da Federação,

apoiados no seu poder econômico, se tornassem hegemônicos e conduzissem o país para

desastrosa experiência federativa.

Tendo Rui Barbosa como pai espiritual, a Constituição de 24 de fevereiro de

1891 foi esculturada segundo o estilo da constituição norte-americana, com as idéias

diretoras do presidencialismo, do federalismo, do liberalismo político e da democracia

burguesa.

A soberania nacional exercia-se mediante os três órgãos clássicos: o legislativo,

formado da Câmara dos Deputados, eleitos proporcionalmente à população de cada

estado e do Senado, com número igual de representantes das unidades federadas; o

executivo constava de um presidente, designado pelo povo e assistido por ministros

responsáveis politicamente perante ele; e o judiciário coroa o sistema, com seu Supremo

Tribunal Federal, encarregado de apreciar a constitucionalidade das leis. Apesar das

lideranças nacionais e do domínio das oligarquias locais, o país se modificava graças a

um incipiente processo de industrialização concentrado no eixo Rio de Janeiro - São

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Paulo; a juventude dos quartéis, das universidades e das vidas literárias iniciavam um

processo de protesto com os movimentos da “Semana de Arte Moderna” e do

“Tenentismo” no Brasil. A década de vinte marca o início de um processo de grandes

modificações, que, no plano político, provocam grande abalo na deformada estrutura de

governo e no corrompido processo eleitoral. A revolta conhecida como “Os Dezoito do

Forte” em 1922; a “Revolução de Isidoro Dias Lopes” em São Paulo, em 1924, a

“Coluna Prestes - Miguel Costa”, em 1924/1926 e, finalmente a revolução de 1930

colocaram por terra a utopia federalista instituída em 1891, através de uma constituição

que já em 1926 sofrera uma reforma constitucional.

Segundo Pedro Calmon, a reforma constitucional de 1926

“destinou-se a corrigir certos abusos, que a ambigüidade

do texto de 1981 favorecera em detrimento da honesta

realização do regime. Teve o mérito de indicar todos os

princípios constitucionais, que tinham de ser amparados

mediante a intervenção federal nos Estados; de restringir a

concessão de habeas corpus nos casos de liberdade individual; e

de dar ao governo da União competência para regular o

comércio em ocasiões graves, que reclamassem uma atitude de

defesa econômica ou de prevenção contra as anormalidades de

circulação”.

A democracia nacional instalada com a revolução de 1889 erigiu-se na forma

representativa.

Na formulação da Constituição da Primeira República (24/02/1891), os

legisladores não entravam no mérito da representatividade e nem da soberania da

Nação. Ao longo do texto constitucional, nos seus 91 artigos somados a mais 8, o país

aparece simplesmente como União dos Estados Unidos do Brasil. O termo “Nação

Brasileira” somente apareceu no artigo primeiro para definir a forma de governo sob o

regime representativo, a república federativa”. Quanto à representação, o termo somente

aparece no seu Preâmbulo, quando os deputados constituintes se definem como “ os

representantes do povo brasileiro”.

O abandono da “fórmula de compromisso” com a tradição do país e o apego à

formulação utópica do constitucionalismo liberal ficou bastante claro no texto da

13

primeira Constituição da República.

As idéias positivistas discutidas nas Academias Militares ainda não tinham

chegado às estantes dos teóricos da Constituição de 1891. Nas discussões posteriores

dos territórios, a entidade “Estado” assume o primeiro plano nas suas formulações.

Se considerarmos o fulcro do tema como foi colocado:“Representação do Estado

como totalidade da Nação” veremos que isso não se realizou na constituição política da

Primeira República, como também não havia se realizado no Império, da mesma forma

como também nas demais constituições republicanas até hoje.

Ao se proclamar a República, a população alfabetizada não ultrapassava 15% do

seu total. A tradição política local baseada no poder dos “coronéis” e numa elite

intelectual de formação liberal desvinculada da realidade brasileira não tinha condição

de vislumbrar a “Nação como totalidade”.

Desfigurando ainda mais o processo representativo, os teóricos da constituição

de 1891, tendo à frente Rui Barbosa, embebidos das idéias federalistas, proibiram

qualquer tipo de associação ou partido político que pretendesse se organizar

nacionalmente. Assim, as oligarquias dos estados concentravam o poder em suas mãos,

o que permitiu que os grandes Estados da Federação- apoiados no seu poder econômico

- se tornassem hegemônicos e conduzissem o país para a desastrosa experiência

federativa. A política do “café com leite” foi o contrário desse processo, que

desconhecia a Nação e tomava o Estado como objeto de defesa de seus interesses, quase

sempre desvinculados dos verdadeiros objetivos nacionais.

4.2.2- Constituição Republicana de 16 de outubro de 1934

A Revolução Nacional de Outubro de 1930, que foi possível graças à

confluência de fatores modificadores do plano político, destruiu o ordenamento

jurídico-liberal da primeira república burguesa e foi ainda o novo decalque ideológico

das contradições dialéticas da sociedade.

O açúcar, centro gravídico da economia nacional no Império e a hegemonia

política se concentravam nas províncias nordestinas, sobretudo Bahia e Pernambuco.

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Com a República, a alavanca econômica passou a ser o café, novo “produto rei” da

economia nacional, o que fez desviar o centro de gravitação política para os grandes

Estados- sulistas, tais como São Paulo e Minas Gerais.

A sua causa imediata, resultando como sempre em crises graves, profundas,

comum nas campanhas presidenciais no regime republicano.

Uma das idéias que os regimes totalitários transmitiram e que encontrou

receptividade em Constituições democráticas, inclusive na brasileira de 1934, foi a da

chamada “representação profissional”.

Em 1934, o presidente Getúlio Vargas fez inserir na constituição a chamada

“bancada classista”, mais numerosa que a de qualquer Estado, com vistas a consolidar o

seu poder pessoal sobre o das unidades federadas. Bancada essa que era produto

exclusivo das manipulações do Executivo, através de Ministério do Trabalho, como

expediente para limitar, circunscrever e até impedir a participação popular nas decisões

políticas, enfeitando-as todas na ação ditatorial do executivo.

O caudilhesco grupo político que tomou o poder em 1930 – de tradição

castilhista positivista na linha da “ditadura republicana” proposta para a constituição de

1891, aproveitou-se do ambiente internacional e da confusão institucional e política do

país para perpetuar-se no poder e frustrar toda a expectativa da Nação.

A Revolução Constitucionalista de São Paulo de 1932 acentuou dramaticamente

a convocação de uma constituinte, em 1933-34, desta resultando a constituição de julho

de 1934.

A constituição de 1934 expressou a passagem do mundo rural para o urbano e

industrial, estabelecendo direitos políticos, como o voto universal e trabalhista. o salário

mínimo e a jornada de oito horas. A carta centralizou poder na esfera federal e tinha um

forte viés estatizante.

A nova constituição sofreu decisiva influência da constituição de Weimar,

catalogando o nosso regime não como uma democracia liberal, e sim como uma

democracia social com poderosa ampliação do governo no campo econômico.

Essa democracia social era símbolo de um compromisso do constitucionalismo

com as novas tendências proletárias que faziam suas primeiras manifestações coletivas

no Brasil.

Travaram-se então choques inevitáveis entre o proletariado, organizado sob a

direção de Luís Carlos Prestes, e a burguesia conservadora, os quais se refletiram na

Revolução Comunista de 27 de novembro de 1935 e nas três novas emendas

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constitucionais constantes do decreto legislativo de 18 de dezembro do mesmo ano, com

o objetivo de salvaguardar as instituições das atividades subversivas e revolucionárias.

4. 2.3 - Constituição Brasileira de 18 de setembro de 1946.

A constituição federal de 18 de setembro de 1946 representa ainda um

compromisso social entre a burguesia conservadora e o proletariado socialista,

pendendo mais para a direita que para a esquerda.

Na criação da nova lei fundamental três fontes interfluíram reciprocamente: da

1ª, o sistema ianque, derivou o princípio da descentralização, com o federalismo e o

municipalismo; a segunda, a Constituição Francesa de 1848, no tocante ao corte do

presidencialismo caudilhesco da tradição brasileira. Os ministros de estados, de simples

assistentes do presidente passavam a ser politicamente responsáveis, com o dever de

comparecimento ao congresso, garantindo ainda que o deputado ou senador, investido

na função de ministro, não venha a perder seu mandato, segundo o estilo constitucional

francês, de uma verdadeira infiltração parlamentarista , para o qual já caminhava a

constituição de 1934; a terceira fonte é a constituição alemã de Weimar, que instalou no

mundo a democracia social numa reação contra o liberalismo econômico.

Mas a constituição de 1946 insistiu em demasia na índole conservadora da

burguesia esclarecida, reproduzindo constantemente o teor democrático-social de 1934,

da qual é uma reprodução mais apurada.

A constituição de 1946 fixou o número de Deputados pela população, mas com

limite até 20, um para cada 150 mil habitantes, daí em diante, um para cada 250 mil

habitantes; começando aí um desequilíbrio na representação porque os Estados mais

populosos têm menor representatividade do que os menos populosos.

A Revolução Constitucionalista de São Paulo de 1932 acentuou dramaticamente

a convocação de uma constituinte, em 1933-34, desta resultando a constituição de julho

de 1934.

Outro problema que sempre existiu no Brasil republicano é que, vivendo em um

Estado Federal, cuja distribuição territorial é reminiscência colonial, os limites das

antigas capitanias foram mantidos, alguns se desenvolveram mais, outros menos, mas

não houve uma nova redistribuição.

16

Além do requisito da população, a constituição de 1946 repetindo a tradição

brasileira declarava ser sete o número mínimo de representantes para cada Estado

independente da população, o que torna uns Estados super-representados e outros sub-

representados, o que constitui um problema da representação chamada proporcional, já

que ela é proporcional até certo ponto, daí em diante é uma distribuição política.

Para suprir a fraqueza dos Estados pequenos, fracos diante das grandes

bancadas, foi criado o Senado, invenção americana inspirada na Câmara dos Lordes.Foi

criado então um novo órgão do Poder Legislativo, em que os Estados se representariam

igualmente, através de dois senadores.

O problema da representação começa a encontrar na história política brasileira

uma série de dificuldades, ela é proporcional até certo ponto, depois a desproporção

prossegue. A representação em relação ao voto, segundo trabalho do Dr. José Tomas

Nabuco Filho, mostrou que no Brasil o voto foi indireto, em todos os níveis de 1500 a

1881. De 1881 a 1964, o voto foi direto em todos os níveis.

O eleitorado brasileiro, durante todo o tempo em que havia eleições, se dividiu

de várias maneiras: três partidos em 1870, depois com a dispersão de partidos chegou a

13, até 1967. Depois voltou a dois partidos e caminhou para o pluripartidarismo.

Derrotado o fascismo, era preciso remover o entulho autoritário da legislação

brasileira. A constituição reinstituiu o estado de direito. Voltou a eleição direta para

presidente, e ressurgiram as garantias e os direitos individuais.

A constituição federal brasileira de 1946, seguindo as praxes constantes da

tradição republicana , adotou as linhas amplas do governo representativo, falando no

preâmbulo dos representantes do povo, indicando em seu artigo 1º a preferência pelo

“regime representativo, segundo a fórmula de que “todo poder emana do povo e em seu

nome será exercido” e afinal estatuindo no seu artigo 56 que a Câmara dos Deputados

compõe-se de representantes do povo eleitos segundo o sistema de representação

proporcional, pelos Estados e pelo Distrito Federal e pelos Territórios.

O artigo 54 da Constituição brasileira de 1946 e o 41 da Constituição de 1967

estão redigidos como se não existissem partidos nem coação de partidos, quando na

realidade, freqüentemente, é uma pura ilusão o princípio de que o deputado é o

representante de toda a Nação e não deve submeter-se a instruções de nenhuma classe.

Os deputados são os representantes da Nação, como numa sociedade

estratificada em camadas e classes diferentes reunidas em uma síntese total,

independendo formalmente de vinculações aos partidos simbolizadores de tais blocos

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parciais da coletividade, mas na prática relativamente subordinados aos mesmos, ou em

geral ao eleitorado por intermédio dos processos mediante a renovação das assembléias

referendou as medidas semelhantes.

O sistema representativo é, assim, o direito comum da Constituição federal de

1946, que assim formulou as bases da organização dos poderes públicos como resultado

do seu artigo 37: “o poder legislativo é exercido pelo Congresso Nacional que se

compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal”; e o artigo 78 da referida carta

básica indica que “o poder executivo é exercido pelo Presidente da República”.

Os constituintes de 1946, acompanhando a tradição republicana anterior, não

ousaram introduzir as novas medidas da votação popular, tão em moda no Estado

Contemporâneo.

O primeiro axioma da democracia política está definido pelo fato de ser a

democracia o governo Constitucional da maioria, o que, entretanto, se mostra

inoperante no Brasil, já que ainda em 1919 a eleição decidiu os destinos da Nação

através de só 1% da população, coeficiente este que se elevou a 10% nas eleições de

1945, o que demonstra que só uma maioria privilegiada pela instrução e pela riqueza

governa, ao invés do povo, a sociedade nacional.

A democracia nacional se colocou assim à beira do abismo, com possíveis lutas

de classes, mas, seja como for, melhor uma democracia política imperfeita, que eduque

lentamente o povo na prática do constitucionalismo, que uma ditadura sempre pronta a

corromper-se.

A democracia representativa brasileira sofreu uma transformação com o Ato

Adicional de 1961, quando o poder legislativo continuou a ser exercido pelo congresso,

mas processou-se um bipartismo quanto ao exercício do executivo: ao lado do

presidente. surgiu a figura do Presidente do Conselho de Ministros, introduzindo assim

a República parlamentarista, que substitui o presidencialismo, depois reintroduzido no

país pela Emenda Constitucional nº. 6, de 23 de janeiro de 1963.

4. 2.4– A Constituição Brasileira de 1967.

A Constituição Brasileira de 1967, assim como a sua Emenda nº 01, de 17 de

outubro de 1969, estabeleceram em tese a idéia de governo representativo, fugindo às

18

tendências articuladas pelas técnicas da democracia mista.

Admitia a eletividade do Presidente e do Vice-presidente, pelo prazo de 5 anos,

por um colégio eleitoral especial. Já os Senadores e Deputados Federais seriam eleitos

pelo voto direto, secreto e universal.

Quanto ao regime eleitoral dos Estados-membros da Federação, os

Governadores seriam eleitos pelo voto universal direto e secreto, tanto como os Vice-

governadores (artigo 13, nº. IX, § 2º). Contudo admitiu a exceção do voto indireto para

eleição do Governador, em 1970 (artigo 189), o que seria feito pelas próprias

assembléias Legislativas.

Os representantes do povo seriam eleitos segundo os princípios do mandato

nacional e não do mandato imperativo. A emenda constitucional nº 01, de 1969, inovou

no tocante ao principio de lealdade partidária (artigo 152, parágrafo único) admitindo a

perda do mandato de qualquer representante federal, estadual e municipal (Senadores,

Deputados Federais e estaduais, vereadores), que, por atitude ou pelo voto, viesse a se

opor às diretrizes legitimamente estabelecidas pelos órgãos de direção partidária ou que

viesse a deixar o partido sob cuja legenda foi eleito.

4. 2.5 - A Constituição de 5 de outubro de 1988

Em 1984, intensificou-se a luta pela democracia na medida em que o povo

tomou as ruas com o objetivo de concretizar o sonho da eleição direta para Presidente

da República. Este movimento, “Diretas Já”, converteu-se em unanimidade nacional e,

assim, foi proposta uma emenda que pretendia assegurar o voto.

Contudo, seus adeptos frustraram-se, pois o governo, de modo diverso, pretendia

promover uma mudança dotada de “prudência” e “moderação”, somando-se, ainda, o

fato de que, na votação desta emenda, faltaram na Câmara dos Deputados 22 votos,

impedindo sua aprovação.

Assim, da eleição indireta que ocorreu então, as forças democráticas

convergiram em torno do nome de Tancredo Neves à presidência da República, em

oposição à situação, à época. Portanto, em 15 de janeiro de 1985, declarava-se

vencedora a chapa Tancredo/Sarney. Mas, em 21 de abril de 1985, morre Tancredo,

assumindo, em seu lugar, o Vice-Presidente José Sarney.

19

Constituída a Assembléia Nacional Constituinte, composta de 24 subcomissões,

com a finalidade de elaborar a chamada Lei Maior, esta se reuniu no período de 1º de

fevereiro de 1987 a 05 de outubro de 1988.

Essa Assembléia Constituinte propôs-se, desde o princípio, a reduzir as

atribuições do executivo e a colocar o Congresso Nacional como eixo do sistema de

poderes do Estado.

A constituição de 1988 nasce no meio de pressões de diferentes grupos da

sociedade, incorrendo em uma Constituição Federal com uma abordagem mais

democrática em relação às demais constituições. Essa democracia é evidenciada, pois

teve a colaboração e participação do povo, por meio de abaixo-assinados, liderados

pelos sindicatos de classe, entidades religiosas e demais segmentos da sociedade.

A Carta Magna de 1988 apresenta as seguintes principais características:

- sistema presidencialista, com o Presidente eleito por quatro anos, por voto

popular direto e eleição em dois turnos;

− consolidação dos princípios democráticos e defesa dos direitos individuais e

coletivos dos cidadãos;

− assistencialismo social, ampliando os direitos dos trabalhadores;

− ampliação da autonomia administrativa e financeira dos Estados da Federação;

− amplo intervencionismo estatal.

A Constituição brasileira (art. 45, caput) determina que a representação dos

Estados na Câmara dos Deputados é proporcional à população. Entretanto, a seguir,

estabelece um piso e um teto dessa representação (oito e setenta deputados,

respectivamente) que implicam a negação dessa proporcionalidade.

20

4.2.5.1 – A Representação à luz da Constituição de 05 de outubro de 1988

Os dilemas da representatividade não dizem respeito à representação no mundo

privado. Nele, a representação se esgota na norma e no contrato que autorizam a

procuração de interesses em assuntos previamente delimitados; o representante é

mandatário sem autonomia decisória, possui um mandato imperativo. Isto é, há

coincidência entre a vontade do representado e as decisões do representante; graças ao

mandato imperativo, anula o sentido da questão da representatividade.

O contraste com a representação política própria do governo representativo não

poderia ser maior. Ela leva consigo um caráter duplo constitutivo, graças à qual a mera

existência da representação, mesmo que legalmente instituída ou respaldada por

mecanismo obrigatório de autorização, não garante a representatividade ou

correspondência com a vontade ou interesse dos representados. A relação entre

representante e representado assume o caráter de uma conexão/desconexão a determinar

o quanto representativos são as instituições e os agentes da representação política. O

mandato imperativo da representação no direito privado corresponde a um mandato

delegatório ou representativo que garante a autonomia do representante para agir em

função do seu juízo e raciocínio, priorizando o todo sobre as partes, ou o interesse da

nação sobre o interesse particular dos eleitores – “uma nação com um interesse”

conforme expresso por Edmund Burke no Discurso canônico aos eleitores de Bristol

(1942: 312-313 [1774];).

Arlindo Fernandes, consultor legislativo do Senado Federal assim descreve:

“o problema da representação das unidades federativas na Câmara dos

Deputados deve ser objeto de toda atenção por parte de quem pretende

aperfeiçoar o regime democrático - a democracia representativa. Não existe

distorção significativa na representação dos Estados das regiões Sul e

Nordeste. Do mesmo modo, a representação da região Sudeste, exclusive o

Estado de São Paulo, não é problemática, quanto a esse ponto de vista. Na

região Centro-Oeste, dentro de alguns anos, a representação estará adequada

à população, que cresce mais do que a brasileira.

Portanto, esse não é um problema insolúvel, do ponto de vista

político. Ao contrário, o aumento da representação do Estado de São Paulo

em trinta deputados, acompanhada

de igual aumento do número total de deputados, ou 543, significaria

um progresso extraordinário.

21

A Lei Complementar no 78, de 30 de dezembro de 1993, assim

dispõe: Art. 1o Proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal, o

número de Deputados Federais não ultrapassará 513 (quinhentos e treze)

representantes, fornecida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, no ano anterior à eleição, a atualização demográfica das unidades

da Federação.

Parágrafo Único. Feitos os cálculos da representação dos Estados e

do Distrito Federal, o Tribunal Superior Eleitoral fornecerá aos Tribunais

Regionais Eleitorais e aos partidos políticos o número de vagas a serem

disputadas.”

Se a representação política é constituída por uma dualidade, que coloca no

centro a questão da representatividade, quer dizer, da maior ou menor legitimidade da

representação efetivamente exercida pelo representante, torna-se crucial verificar quão

efetivas são as instituições e os processos da representação política para evitar a total

desconexão entre eleitos e eleitores ou para promover modalidades de conexão.

O modelo dominante de representação política que organiza as democracias

contemporâneas, cristalizado nos séculos XVIII, XIX e XX, nomeou o legislativo como

ambiente da representação, políticos eleitos, eleições e eleitores, e, mais tardiamente,

partidos políticos de massas como instâncias de mediação e ordenação da relação entre

representantes e representados. Essa configuração da representação política,

consubstanciada na fórmula “governo representativo”, estabelece definições claras

quanto a quem representa (o político), mediante que mecanismos é autorizado a

representar e a que tipo de sanção ou controles estará submetido (as eleições), quem é

representado (o eleitor), e de alguma forma, ainda que muito vaga, qual o conteúdo ou

mandato a ser representado (programa, promessas de campanha).

Não obstante, o voto também é um mecanismo utilizado com função dupla, o

que impede a formulação de um mandato da expressão de alguma vontade clara a ser

representada. De um lado, o eleitor emprega o voto como um mecanismo de sanção

(accountability) sobre a administração em gestão, avaliando o seu desempenho; do

outro, o voto sinaliza preferências (mandato) sobre políticas e opta entre as propostas de

implementação futura apresentadas pela situação e pela oposição. Daí, as eleições

apresentam a tendência de induzir comportamentos responsivos dos representantes, pelo

menos em algum grau, e institucionalizem prestações de contas periódicas, a

ambigüidade inerente ao voto acusa seus limites intransponíveis como mecanismo de

22

expressão de preferências.

Assim, o representante agir em benefício do representado continua a ser um

problema incontornável da teoria democrática, inclusive para renomados defensores de

compreensões minimalistas da própria democracia.

Segundo Oliveira a simetria não se estende aos critérios de repartição de cadeiras na

Câmara dos Deputados entre os Estados. Esta divisão prejudica os Estados mais

populosos – pois nenhum pode eleger mais que 70 deputados – em benefício dos menos

populosos, que no mínimo escolhem 8 deputados. Ora, entre a população dos menos

habitados e a dos mais habitados há muito mais que 8,5 vezes. Isto representa uma

flagrante desigualdade. No fundo da questão, porém, está a opção por deixar a maioria

da Câmara dos Deputados nas mãos dos eleitos pela metade menos desenvolvida,

teoricamente mais controlável, do país.

4.2.5.2- A sobre-representação legislativa no Brasil

Procurando a unidade na diversidade, Montesquieu via a geografia (a extensão

territorial, em particular) como condicionante das instituições políticas e da organização

do governo.

No Brasil, na federação brasileira, por exemplo, há uma distribuição do poder da

União para os Estados e uma redistribuição dos Estados para os Municípios, tendo

como objetivo manter um sistema político forte e estável que faculte aos Estados

negociar seus principais interesses; o que não previne, vale dizer, contra instabilidades e

mesmo distorções.

Uma dessas distorções consiste na sobre-representação legislativa na Câmara

dos Deputados, caracterizada pela negligência do critério da proporcionalidade

populacional, na medida em que o cálculo da representação brasileira se dá a partir de

um teto mínimo (oito) e máximo (70) de deputados federais estabelecido pela

Constituição.

Nos termos da Constituição de 1988, há uma intensa preocupação com essas

formas da representação legislativa na Câmara Federal. A discussão tem como base a

representação populacional e a representação territorial: os Estados menos populosos

insistem na representação territorial e os Estados mais populosos preferem a

23

representação proporcional à população. A distribuição das cadeiras na Câmara dos

Deputados, que segue o critério vigente, beneficiaria – segundo o argumento da sobre-

representação – pelo teto mínimo, os Estados menos populosos. Contudo, se o cálculo

fosse realizado unicamente em relação à população, ter-se-ia apenas um representante

para esses Estados. Assim, os Estados mais populosos acabam “penalizados” pelo teto

máximo.

Trata-se, com efeito, de debate antigo:

“desde a Filadélfia de 1776 até a Reunião de Cúpula da

Comunidade Européia em Nice no ano 2000, está claro que, na

adoção de um acordo federal, as maiores preocupações relativas

à possibilidade de exploração provém provêm dos pequenos

territórios que seriam sistematicamente derrotados se os votos

fossem distribuídos de acordo com a população. Assim, estados

pequenos tendem a insistir em esquemas de representação

baseados no território, enquanto estados grandes defendem a

representação proporcional à população” (RODDEN, 2005).

A questão posta nesse debate apresenta duas concepções teóricas: de um lado, a

da igualdade, que seria alcançada pela proporcionalidade estrita de representação – um

homem, um voto (critério populacional); de outro, as objeções a essa concepção. Uma

delas, proposta por Arend Lijphart, distingue entre os modelos majoritário e

consociativo de democracia, apontando este como instrumento de estabilidade política

porquanto abarca a representação de interesses minoritários, contrapostos aos da

maioria. O arranjo federativo frearia o poder da maioria, expressando assim o princípio

consociativo ao definir a representação não apenas em termos individuais, mas também

em termos territoriais, assegurando certa autonomia aos governos subnacionais e

incorporando sua representação no poder central. “Com isso, temos uma dualidade de

representação política das federações e um dilema: tornar as regiões politicamente mais

iguais ou tornar todos os cidadãos (membros do corpo político nacional) mais

iguais” (SOARES e LOURENÇO, 2004: 56). Este dilema parece-nos particularmente

grave no caso da federação brasileira, atravessada por desigualdades regionais.

4.2.5.3- Sobre-representação e desenvolvimento regional no Brasil

24

ANASTASIA exemplifica que a distribuição desigual de representantes dos

estados no legislativo federal, em conseqüência do arranjo federativo brasileiro, é dada

pelos estados do Norte vis-a-vis dos do Sudeste. Assim, Roraima tem 0,18% do

eleitorado brasileiro e oito deputados federais (1,56% das cadeiras na Câmara), que

eram eleitos, cada um, por 26.066 residentes habilitados a votar enquanto que o estado

de São Paulo corresponde a 22,27% do eleitorado brasileiro, com 70 cadeiras na

Câmara Federal (13,65% dos deputados federais), cada uma delas determinadas por

366.508 eleitores. Essa é a dimensão numérica da sobre-representação.

A atual bancada paulista é constituída pelo teto máximo permitido. Entretanto,

uma representação estritamente populacional elevaria esse número de 70 para 111

cadeiras na Câmara. O argumento que justifica tal desproporcionalidade bebe na fonte

da economia política do processo orçamentário: os estados mais populosos, caso

houvesse uma distribuição de cadeiras baseada no critério populacional, acabariam por

centralizar os esforços alocativos, tendo como conseqüência uma força representativa

superior na partilha de recursos orçamentários federais.

Também a região Nordeste apresenta casos de sobre-representação na Câmara

dos Deputados (em Sergipe e Pernambuco). Entretanto, argumenta-se que essa sobre-

representação das bancadas nordestinas deve ser compreendida como um “mecanismo

compensatório” em virtude das desigualdades inter-regionais que persistem.

O Nordeste seria, portanto, sobre-representado por “hipossuficiente”; e as

assimetrias econômicas, geográficas e políticas que travam o desenvolvimento

econômico regional e potencializam as desigualdades regionais teriam na sobre-

representação uma ferramenta política para minorá-las. Recoloca-se, assim, a velha

“questão regional” na arena da partilha política por recursos públicos federais: não só se

delega ao livre mercado a promoção do desenvolvimento nas regiões mais débeis como

se introduz a competição nas instâncias de representação política. Difícil, contudo,

imaginar que ganhos nesta última arena se convertam em efetiva melhoria das

condições de vida dos nordestinos.

4.3 – Análise da relação entre democracia, federalismo e representação política

25

O presente tópico analisará a relação existente entre um regime democrático

federalista e sua representação política, especialmente sobre o aspecto da importância da

representação territorial, que visa à existência do princípio igualitário, ou seja, um

indivíduo vale um voto.“O federalismo é provavelmente a forma mais clássica e o exemplo por excelência de recurso ao princípio envolvido no modelo consociativo. Não faz sentido, portanto, pretender aplicar à organização federativa o igualitarismo majoritário ou plebiscitário que vem sendo apregoado com tanto furor, o qual desconhece as coletividades intermediárias e se refere ao nível dos indivíduos. Naturalmente, é possível observar que o Senado é o lugar previsto, em nossa aparelhagem institucional, para a aplicação do princípio consociativo, assegurando-se ali a representação dos estados como tal. Contudo, é discutível, em primeiro lugar, que disso decorra a possibilidade de se ignorar inteiramente aquele princípio no plano da Câmara dos Deputados (REIS, 1993, pp. 162-163).”

Defender uma representação estritamente proporcional em termos de população

e cadeiras parlamentares seria o seu caráter mais democrático. A alocação

desproporcional de cadeiras, segundo a população, infringiria a tradução mais precisa

do princípio igualitário da democracia expressa na equação: 1 indivíduo = 1 voto.

No cenário brasileiro, a (des)proporcionalidade decorre, principalmente, da

legislação eleitoral que define os estados como distritos e estabelece um patamar

mínimo e máximo para a representação destes na câmara baixa: respectivamente oito e

setenta deputados federais. O resultado, segundo os críticos, é a violação do princípio

igualitário da democracia, com os votos de alguns cidadãos tendo maior valor: o eleitor

de Roraima ou do Acre em comparação com o de São Paulo, para citar os casos mais

extremos. A conclusão é que o aperfeiçoamento da democracia exigiria a representação

igualitária dos cidadãos, ou seja, a correspondência entre o percentual de população e o

de deputados federais em cada estado de nossa federação.

A principal objeção a esse argumento é seu entendimento de democracia, que

considera tão-somente a dimensão individual da representação e o princípio majoritário.

Podemos defender uma outra concepção, na qual a regra da maioria é apenas um

expediente a serviço da democracia, e não um fim em si mesmo, e que privilegie a

inclusão e o consenso, dando expressão a interesses relevantes presentes na sociedade,

mesmo que minoritários.

Segundo SOARES, essas concepções expressam o que Lijphart (1999), a partir

da observação do funcionamento da democracia em 36 países, distinguiu como modelo

majoritário e modelo consociativo de democracia.

26

“O autor defende que em sociedades plurais o poder da maioria não somente é menos democrático, porque exclui minorias relevantes do poder, relegando-as ao papel de oposição, como também, ao fazer isso, pode ser fator de instabilidade política.

A federação é apontada por Lijphart como um dos freios ao poder da maioria, expressando o princípio consociativo ao definir a representação não apenas em termos individuais, mas também em termos territoriais. O sistema federal enfatiza a representação territorial ao garantir certa autonomia política às subunidades nacionais e ao incorporar a representação dessas subunidades no poder central. Com isso, temos uma dualidade na representação política das federações e um dilema: tornar as regiões politicamente mais iguais ou tornar todos os cidadãos (membros do corpo político nacional) mais iguais. As federações, e mesmo alguns estados unitários, convivem com esse dilema e buscam um equilíbrio. Assim, a razão para diminuir o grau de igualdade na representação dos indivíduos é incrementar a igualdade de representação das regiões (dos estados).

Dado isto, falar em proporcionalidade em federações requer distinguir entre a proporcionalidade do princípio territorial de representação e a proporcionalidade do princípio de representação dos cidadãos.”

A questão de igualdade na representação de regiões com características

populacionais diferentes equivale ao grau de (des)proporcionalidade dos cidadãos entre

essas regiões. Assim, as regiões menores e mais vulneráveis são incorporadas a um

preço proporcionalmente maior para os membros de outras regiões, e isso é aceito em

nome dos benefícios advindos da união em uma coletividade mais ampla. Resumindo, a

federação destaca interesses de natureza territorial na representação política e, com isso,

envolve sempre algum grau de (des)proporcionalidade na representação dos cidadãos na

esfera nacional.

Ainda, de acordo com SOARES, a citada problemática esteve na origem do

sistema federal nos Estados Unidos, no final do século XVIII, e a solução encontrada

foi o bicameralismo: uma casa legislativa representaria os interesses estaduais e outra os

interesses dos indivíduos, considerados nacionalmente.

No caso brasileiro, dada a forma como estão estruturadas e atuam as duas casas

legislativas, com ampla sobreposição de competências, inclusive daquelas mais

diretamente relacionadas aos interesses federativos, não temos por que ignorar, o

princípio de representação territorial na câmara baixa.

Portanto, se o federalismo é algo importante e deve ser valorizado na estrutura

de Estado no Brasil, e se os estados são unidades territoriais que têm relevância, então

não há por que pretender uma representação estritamente proporcional, no sentido

populacional, desconsiderando os interesses territoriais na constituição da câmara baixa.

27

4.3.1 - Causas e conseqüências da (des)proporcionalidade

Como deve estar claro, a (des)proporcionalidade consiste na distorção entre a

população dos distritos eleitorais (estados) e as cadeiras destinadas a esses distritos na

câmara baixa. Passaremos a nos referir a essa desproporcionalidade como distrital,

enfatizando o aspecto da representação territorial. Para calcular a

(des)proporcionalidade distrital, seguindo outros autores (Samuels e Snyder, 2001;

Nicolau, 2003), utilizaremos uma adaptação da fórmula de Loosemore e Hamby para o

cálculo do Índice D, que aqui passa a ser denominado índice Dd (desproporcionalidade

distrital): Dd =1/2S |ci-pi| onde c é o percentual de cadeira de um distrito i, e p é o

percentual da população dessa mesma unidade i, em determinado ano eleitoral.

O trabalho de Samuels e Snyder (2001) (Anexo 1) possibilita visualizar o Brasil,

em termos de (des)proporcionalidade distrital, no contexto internacional. Na tabela.

observa-se que, à exceção de Holanda, Israel e Peru, que realizam as eleições

legislativas em um único distrito nacional, e por conseguinte apresentam perfeita

proporcionalidade, algum grau de (des)proporcionalidade é sempre observado em países

que subdividem o território nacional em distritos eleitorais. Portanto, a questão

relevante não é quem é (des)proporcional, mas qual o grau dessa

(des)proporcionalidade, suas causas e conseqüências.

Segundo SOARES, em termos de intensidade, observa-se que os países

federativos e unitários apresentam médias semelhantes em (des)proporcionalidade

distrital e que nos dois grupos há uma variação muito grande entre os países. Isso

dificulta a formulação de uma explicação geral para as diferenças observadas.

“O Brasil está acima da média, situando-se entre os de maior desproporcionalidade distrital (9%). Mas o que dizer desse número? Não temos como responder a essa questão tendo como referência o pouco que a literatura nos apresenta sobre outros países. Assim, o caminho mais plausível parece ser nos concentrar no caso brasileiro, analisando as possíveis causas e conseqüências da desproporcionalidade observada, o que pode contribuir para um debate mais consistente, afastando diagnósticos apressados e apontando alguns caminhos para o aperfeiçoamento do nosso sistema de representação.

4.4. - Câmara dos Deputados Brasileira - distorções em sua representação.

28

No cenário brasileiro, observa-se um problema existente na

(des)proporcionalidade população/eleitorado em determinada circunscrição eleitoral e

seu número de representantes na Câmara dos Deputados. O principal efeito dessa não-

proporcionalidade é dar pesos distintos aos votos dos eleitores de diferentes

circunscrições eleitorais, o que viola o princípio democrático de que todos os cidadãos

tenham votos com valores iguais, evidenciado na máxima " um homem, um voto".

Existem duas formas mais comuns de violação da proporcionalidade entre

população e representantes. A primeira delas é fruto da não revisão periódica do número

de representantes de cada circunscrição eleitoral na Câmara dos Deputados. Nos casos

em que há mudanças decorrentes do deslocamento da população no interior de um país,

ou decorrente de diferentes padrões regionais de crescimento da população, algumas

unidades territoriais ficam sobre-representadas em detrimento de outras.

Uma segunda maneira de violar a proporcionalidade entre população e

representantes dos distritos eleitorais na Câmara dos Deputados deriva das regras

estabelecidas (muitas vezes na Constituição) para alocação das cadeiras.

Quando a distribuição de cadeiras da Câmara é desproporcional, ela produz

distorções representativas que podem ser dimensionadas na federação ou partidos

políticos.

4.4.1 - Conseqüências face território continental X (des)proporcionalidade na

representação

Partindo da análise de regras estabelecidas para a alocação das cadeiras da

Câmara dos Deputados entre os estados ao longo da história parlamentar do país. A

Constituição de 1824, que vigorou ao longo de todo o Império, não criou normas para a

representação das bancadas das províncias na Câmara; assim, elas foram instituídas por

intermédio de legislação ordinária (leis, decretos e resoluções). Durante todo o Império

o número de representantes da Câmara variou entre 100 e 125, com modificações

implementadas em três situações: a) após a introdução de um novo sistema eleitoral; b)

devido a alterações nas estruturas das províncias (criação das Províncias do Amazonas e

29

Paraná e independência da Província Cisplatina); c) simplesmente derivadas do

aumento arbitrário do número de representantes de algumas províncias.

Enquanto as Constituições do período republicano determinaram normas para a

alocação das cadeiras da Câmara dos Deputados entre as unidades da Federação. Cinco

critérios são enumerados nos dispositivos dos textos constitucionais: a) o número

mínimo de representantes dos estados; b) número de representantes dos territórios; c)

número máximo de representantes dos estados; d) número máximo de representantes na

Câmara; e) estabelecimento de um número de habitantes (ou eleitores) em milhares para

que os estados obtenham uma cadeira na Câmara.

Observa-se que as regras definidas pela Constituição de 1891 foram utilizadas

para o cálculo do número de representantes de cada unidade da Federação na Câmara

dos Deputados de todas as legislaturas eleitas na República Velha e da Constituinte

eleita em 1933. As regras da Constituição de 1934 serviram para definir as cadeiras da

legislatura eleita em 1934 e da Constituinte eleita em 1945. Durante o período

autoritário houve uma grande vulnerabilidade nas regras de alocação das cadeiras da

Câmara dos Deputados, todas elas advindas de emendas à Constituição de 1967:

Emenda Constitucional nº 1, de 1969 (legislaturas eleitas em 1970 e 1974); Emenda

Constitucional nº 8, de 1977 (legislatura eleita em 1978); Emenda Constitucional nº 22,

de 1982 (legislatura eleita em 1982). No período democrático duas normas diferentes

vigoraram: as bancadas das legislaturas eleitas em 1986 e 1990 foram distribuídas pelas

normas da Emenda Constitucional nº 25, de 1985, enquanto a da legislatura eleita em

1994 foi alocada segundo regras definidas pela Constituição de 1988.

O anexo II apresenta um resumo das onze diferentes regras constitucionais

utilizadas para estabelecer o número de representantes de cada unidade da Federação na

Câmara dos Deputados. Três delas as das Constituições de 1937 e 1967 e da Emenda

Constitucional nº 11 não chegaram a ser empregadas. Observa-se que as normas

adotadas no período democrático, pós-1985, praticamente repetem os critérios

estabelecidos pelas regras de 1982, as últimas do período autoritário.

Podem-se apontar três fatores como as principais causas para a alocação

desproporcional no Brasil. Dois deles deve-se a normas estabelecidas nas Constituições.

O primeiro é a determinação de um número mínimo de representantes por unidade da

Federação, independente da sua população. A citada medida sobre-representa as

unidades que por um critério de distribuição rigorosamente proporcional deveriam ter

um número inferior a esse mínimo. O segundo fator decorre de regras que sub-

30

representam unidades com populações maiores, por intermédio de dois processos: pela

definição de um número máximo de representantes por estado, ou pela distribuição de

cadeiras segundo intervalos crescentes. Neste último caso, a partir de um determinado

patamar, é maior o número de habitantes necessários (ou eleitores) para que um estado

aumente a sua representação na Câmara. Por exemplo, no período 1946-64 para cada

150 mil habitantes um estado garantia uma cadeira na Câmara até que ele atingisse vinte

cadeiras. A partir deste número, o estado garantia um novo representante a cada 250 mil

habitantes.

E o terceiro fator responsável pela alocação desproporcional deve-se à não

revisão periódica do número de representantes de cada estado comparativamente às

alterações ocorridas na população (migração interestadual e diferentes padrões de

crescimento populacional). Por exemplo, o último cálculo para a definição do número

de representantes de cada unidade da Federação na Câmara foi feito por intermédio da

Resolução nº 12.855, de 1986 (Rabat e Cassiano, 1997). Isso produz algumas

aberrações, como o fato de o Pará, com uma população superior à do Maranhão, ter um

deputado a menos, e de Santa Catarina, com uma população superior à de Goiás,

também ter menos um representante na Câmara.

O próximo passo é analisar o impacto desses fatores sobre as diferentes

composições da Câmara dos Deputados brasileira ao longo da história. Para possibilitar

a comparação escolhe-se a mensuração das possíveis distorções, utilizando um índice

que capta as dissimilaridades de duas unidades comparadas. O percentual de cadeiras de

cada unidade da Federação em um determinado ano eleitoral foi cotejado com o

percentual da população dessas mesmas unidades no mesmo ano para os casos de não

coincidência entre ano censitário e ano eleitoral, a população foi projetada. As

diferenças entre os dois percentuais foi mensurada utilizando-se o índice D.

No Gráfico 1 (Anexo III) apresenta-se a distorção agregada de 26 legislaturas

(tomando o ano da eleição como referência). Entre 1872 e 1930 foram selecionadas dez

legislaturas que cobrem todos os diferentes critérios utilizados no período para alocação

de cadeiras da Câmara entre os estados. Entre 1930 e 1994 as composições de todas as

legislaturas foram analisadas. Os valores que aparecem no gráfico podem ser lidos de

duas maneiras: como o percentual de cadeiras perdidas por todas as unidades da

Federação sub-representadas, ou como o total percentual das cadeiras ganhas pelas

unidades sobre-representadas. Por exemplo, o valor para 1990, indica que 10,2% das

31

cadeiras da Câmara foram alocadas fora do lugar; ou seja, a soma do percentual de

estados que perderam representação (ou se quisermos, dos que ganharam) é de 10,2%.

Como pode ser observado no gráfico 1 as bancadas estaduais na Câmara dos

Deputados nunca foram rigorosamente proporcionais à população dos estados. Apesar

das constantes mudanças das regras constitucionais, a desproporção entre o número de

cadeiras dos estados e territórios e a população oscilou em torno de 10,0%, sem muitas

discrepâncias neste valor a legislatura mais proporcional foi a eleita em 1966 (7,7%) e a

menos proporcional a eleita em 1886 (12,4%).

Os gráficos 2 a 6 (Anexo IV) apresentam os valores das distorções entre as

bancadas e as populações das regiões brasileiras. A região Sudeste (gráfico 2) foi sub-

representada em todas as legislaturas com exceção da eleita em 1890. Durante o

Império, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram as principais unidades sub-representadas.

Já na República Velha, São Paulo e Minas Gerais, por deterem as maiores populações,

foram os estados mais prejudicados. A partir de 1945, São Paulo passou a responder

quase que sozinho pela sub-representação da região Sudeste.

As regiões Nordeste (Gráfico 03) e Sul (gráfico 04) apresentam uma evolução

errática, sendo ora sub-representadas, ora sobre-representadas. O contraste entre as duas

regiões pode ser observado a partir da comparação visual, que apresenta um resultado

curioso: quase sempre há uma coincidência entre a sub-representação de uma região e a

sobre-representação da outra. Os dados apresentados nos gráfico 03 e 04 permitem

rejeitar uma versão corrente sobre a alocação de cadeiras da Câmara dos Deputados.

Atribui-se, freqüentemente, ao governo militar um agravamento das distorções

representativas, por intermédio da sobre-representação da região Nordeste (reduto

eleitoral da Aliança Renovadora Nacional X rena) e sub-representação das regiões Sul e

Sudeste (redutos eleitorais do Movimento Democrático Brasileiro MDB). Esta hipótese

se confirma para o caso do Sudeste, que foi crescentemente sub-representado ao longo

do regime autoritário, mas não para as regiões Sul e Nordeste. A região Sul, pelo

contrário, foi sobre-representada nas legislaturas eleitas em 1970, 1974, 1978 e 1982. A

região Nordeste, embora tenha sido sobre-representada em 1978 e 1982, chegou a ser

sub-representada em 1970 e 1974.

As regiões Norte e Centro-Oeste sempre tiveram maior representação na Câmara

do que deveriam, no caso da utilização de um critério estritamente proporcional. No

Centro-Oeste a taxa de sobre-representação foi pouco expressiva, chegando a um

máximo de 2,1% em 1986. A região Norte, por ser área com baixa densidade

32

demográfica, foi ao longo do tempo a principal beneficiária das regras constitucionais

que estabeleceram um patamar mínimo de representação para estados e territórios. A

elevação desse patamar, em 1982, para oito nos estados e quatro nos territórios

caracterizou-se como a principal responsável pelo intenso crescimento da sobre-

representação da bancada dessa região (gráfico 6). A Constituição de 1988, ao criar o

Estado de Tocantins e transformar os territórios de Roraima e Amapá em estados

concedendo mais quatro cadeiras a cada um acabou aprofundando essa tendência.

Os gráficos 07 e 08 (Anexo V) apresentam as taxas de desproporção da

representação de São Paulo e Minas Gerais, os dois estados mais populosos. Minas

Gerais foi mais intensamente sub-representado no Império e na República Velha. No

período pós-1945, é decrescente a tendência da taxa de sub-representação de Minas

Gerais, chegando até a ser sobre-representada na legislatura eleita em 1982.

O Estado de São Paulo, com exceção da legislatura eleita em 1890, foi sempre

sub-representado. Observa-se um crescente aumento da sub-representação ao longo do

regime autoritário, tendência que continuou no período democrático e atingiu seu ápice

em 1990. Na legislatura eleita em 1994 houve uma pequena diminuição na sub-

representação de São Paulo, devido à entrada em vigor das regras estabelecidas pela

Constituição de 1988, que ampliou o número máximo de representantes por estado para

70.

A literatura que analisa a questão da alocação desproporcional de cadeiras da

Câmara entre as unidades da Federação no Brasil concentra-se na dimensão federalista.

O trabalho pioneiro dessa perspectiva é o de Miguel Reale (1959), que chamou a

atenção para os efeitos produzidos pelas Constituições de 1934 e 1946, no sentido de

sub-representar os estados mais populosos. Luiz Navarro de Britto, em argumento que

se tornaria clássico, enfatiza o viés sociológico da alocação desproporcional:

"[...] as circunscrições eleitorais sub-representadas correspondem, em geral,

aos estados mais desenvolvidos e industrializados do país. Ao contrário

sensu, as zonas mais atrasadas, e por igual, politicamente mais sujeitas ao

jugo do coronelismo, acham-se super-representadas em relação às

primeiras" (1965:242-243).

33

Gláucio D. Soares radicaliza a hipótese de Navarro de Britto ao defender que a

alocação desproporcional das cadeiras da Câmara entre os estados dificulta a

implementação de reformas sociais no país:

"Efetivamente, ao aumentar artificialmente a representação política de uma

cultura política tradicional, atrasada, dominada por líderes locais,

freqüentemente latifundistas, proprietários rurais, coronéis de todos os tipos,

ou pessoas de sua escolha ou confiança, o sistema eleitoral terminou por

prejudicar a maioria da população destas áreas. Ao aumentar o poder político

da elite dirigente desta cultura política rural, tradicional e pré-ideológica, ao

super-representar na Câmara e no Senado as áreas desenvolvidas social e

politicamente, a legislação diminuiu a possibilidade de aprovação, pelas duas

Câmaras, de reformas que viriam a beneficiar a maioria da população rural

que habita principalmente estas áreas subdesenvolvidas. Este foi o caso da

reforma agrária." (1973:27-28)

Autores que posteriormente trataram do tema (Souza, 1976; Kinzo, 1978;

Lamounier, 1983), praticamente repetem os argumentos desenvolvidos anteriormente

por Reale (1959), Britto (1965) e Soares (1973). Um ponto comum em todos esses

trabalhos é o reconhecimento de que a alocação de cadeiras da Câmara entre as

unidades da Federação, por critérios não-proporcionais, produz resultados deletérios

para o sistema representativo brasileiro.

De acordo com Wanderley Guilherme dos Santos (1987), o primeiro autor a

enfatizar os possíveis aspectos não-patológicos da alocação desproporcional:

“dois critérios devem ser utilizados para se avaliar o

desempenho de um sistema representativo: inexistência de

tirania da maioria e inexistência de veto da minoria.”

A partir de tais pressupostos, SANTOS analisa a representação dos estados na

Câmara dos Deputados brasileira. Sua conclusão é a de que a sub-representação dos

maiores estados e a sobre-representação dos menores, além de não violar os princípios

da boa representação, ainda compensa os menores estados das desvantagens geradas

pelo alto custo para obtenção de representação nessas circunscrições:

Os críticos do sistema parlamentar brasileiro sustentam como evidência da

injustiça distributiva o fato de que os estados de populações minoritárias no conjunto

34

nacional, e que são coincidentemente os mais atrasados do ponto de vista econômico,

possuem uma representação desproporcional comparativamente aos estados mais

populosos. Quanto à justiça federativa da representação não há nada de criticável neste

fenômeno, na medida em que é este mecanismo que garante o essencial em um regime

representativo, a saber, a não tirania da maioria e a impossibilidade de veto da minoria..

4.4.2 - A dimensão partidária da alocação desproporcional

Todas as evidências quantitativas e os argumentos analisados até aqui se

ancoram em pressupostos federalistas: algumas unidades da Federação, e

conseqüentemente seus habitantes e eleitores, foram sobre-representadas, enquanto

outras foram sub-representadas. O problema do tratamento quase que exclusivamente

federalista é que ele deixa de lado um aspecto fundamental: a representação partidária.

Não são somente os estados e seus habitantes os beneficiados ou desfavorecidos pelas

regras de alocação de cadeiras utilizadas no país, mas também os partidos que

concentram suas votações em determinadas circunscrições. Daí a necessidade de

explorar com mais cuidado os efeitos da alocação desproporcional sobre a composição

das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados.

Para dimensionar os efeitos da alocação desproporcional sobre a representação

partidária, analisarei os resultados das eleições de 1994 para a Câmara dos Deputados. A

comparação entre a votação nacional e a representação dos partidos é apresentada na

tabela 2 ( Anexo VI) Os dados que chamam mais a atenção referem-se à sobre-

representação do PFL e à sub-representação do PT e do PSDB. O desafio é saber se

essas distorções derivam da alocação desproporcional das cadeiras da Câmara entre os

estados, ou são decorrentes de outros fatores.

O passo seguinte foi simular a distribuição de cadeiras de cada partido, caso os

estados tivessem bancadas na Câmara dos Deputados rigorosamente proporcionais à

população (coluna C). A comparação entre as colunas B e C revela o efeito da alocação

desproporcional, já desconsiderados os efeitos dos votos em branco e das coligações. Os

principais beneficiados pela alocação desproporcional são o PFL, PP e PPR, enquanto

os principais prejudicados são o PT e o PSDB. Por esse critério, 22 cadeiras (4,3% da

Câmara) estariam alocadas "fora do lugar".

A comparação entre a composição da Câmara derivada das eleições de 1994

(coluna A) e a simulação, isolando, simultaneamente, os efeitos dos votos em branco,

35

das coligações e da alocação desproporcional (coluna C), revela uma distorção mais

intensa: 56 cadeiras (10,9% do total).

A alocação desproporcional, o efeito das coligações parlamentares e a inclusão

dos votos em branco no cálculo do quociente eleitoral explicam a sub-representação do

PT e do PSDB. Os dados apresentados revelam que, em uma situação na quais esses três

atributos do sistema representativo não estivessem presentes, esses partidos ficariam

com representação parlamentar bem próxima à sua votação: PT (12,8% dos votos e

12,7% das cadeiras), PSDB (13,9% dos votos e 14,2% das cadeiras). Porém, nesse novo

cenário, o PFL continuaria sobre-representado, e o PMDB ficaria intensamente sobre-

representado. O que explicaria a sobre-representação desses dois partidos?

Com o isolamento dos efeitos das três variáveis que contribuem para a

desproporcionalidade na relação votos-cadeiras, as distorções que permanecem são

derivadas exclusivamente do sistema eleitoral, ou seja, derivam da combinação da

fórmula matemática com o número de cadeiras da Câmara em cada circunscrição

eleitoral (magnitude). Como a fórmula DHondt de maiores médias utilizada no Brasil

favorece os maiores partidos e o fim das coligações faz com que o quociente eleitoral

opere como cláusula de exclusão, nas simulações analisadas os partidos mais votados

nos estados acabam sendo mais intensamente sobre-representados. Dessa maneira, a

sobre-representação do PMDB e do PFL seria explicada devido à desempenho desses

partidos no âmbito estadual: o primeiro foi o mais votado em quatorze estados, e o

segundo em seis.

Os dados analisados até aqui permitem avaliar os principais fatores que

influíram na sub/sobre-representação dos principais partidos nas eleições para a Câmara

dos Deputados em 1994. O PMDB perdeu cadeiras, sobretudo em decorrência das

coligações com outros partidos, sendo pouco prejudicado pela alocação

desproporcional. O PFL beneficiou-se das coligações com outras legendas e do

resultado da alocação desproporcional. O PSDB e o PT foram sub-representados devido

às mesmas razões: coligações eleitorais e alocação desproporcional; estes dois partidos

foram particularmente prejudicados por conta da boa votação obtida em São Paulo.

4.4.3 - As possíveis causas e conseqüências da (des)proporcionalidade na Câmara dos

Deputados, destacando o impacto da criação de novos estados;

36

Para analisar as causas e conseqüências da (des)proporcionalidade na Câmara

Federal imperativo se faz o estudo das regras eleitorais(piso e teto na representação dos

estados), o que se verá abaixo, retornando ao período que antecede a Constituição

Federal de 1988, ou seja, o regime militar.

Em 1977, sob o governo autoritário-militar iniciado em 1964, a Emenda

Constitucional nº 8 estabeleceu um número mínimo (6) e máximo (55) de

representantes, por estado, na Câmara dos Deputados. Esta Emenda garantiu ainda dois

representantes para cada um dos territórios federais. A Emenda Constitucional nº 22, de

1982, alterou esses números: os estados passaram a ter como piso oito e como teto

sessenta representantes, sendo que os territórios aumentaram seu piso para quatro

deputados. No processo de redemocratização, a Constituição de 1988 somente alterou o

limite máximo de representantes por estado, que passou a ser setenta.

O estabelecimento desses patamares de representação para os estados serviu

como argumento para aqueles que caracterizaram o "problema" da nossa

desproporcionalidade como um fenômeno derivado da ação dos militares, no final da

década de 1970, com propósitos eleitorais. As emendas constitucionais acima citadas

teriam levado à sobre-representação dos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-

Oeste, onde o partido de apoio aos militares era mais forte (Arena), e à sub-

representação do Sudeste e do Sul, onde estava a principal base eleitoral do partido de

oposição ao governo (MDB).

Contrariando esse argumento, Nicolau (1997) mostrou que a

desproporcionalidade foi uma constante em nossa história política, não sendo maior no

período da ditadura militar. Também é fato, que os dados de desproporcionalidade,

agregados por região, não confirmam essas conclusões. As regiões Nordeste e Centro-

Oeste não apresentaram alterações significativas no grau de sobre-representação durante

o período militar; e somente a região Norte aumentou significativamente sua sobre-

representação a partir de 1978 – o que é explicado pela combinação entre as regras de

piso e teto e a criação de novos estados na região, algo que teve vigor não somente no

período autoritário, mas também no período democrático mais recente. Voltaremos a

este ponto mais adiante. A região Sul foi continuamente sobre-representada no período

pós-1970. Por fim, a região Sudeste sempre foi sub-representada, algo que se tornou

mais pronunciado a partir de 1978, o que pode ser interpretado como a contrapartida da

criação dos novos estados na região Norte.

37

4.4. 3.1 - A criação de novos estados

A sub-representação de São Paulo, com um déficit de 42 cadeiras nas últimas

eleições parlamentares, é o fator que mais contribuiu para nossa desproporcionalidade.

A desproporcionalidade distrital (Dd) calculada para 2002 permaneceu em 9% e,

analisando os dados desagregados, verificamos que a sub-representação de São Paulo

respondeu por 4% desse índice, ou seja, mais de 40% da desproporcionalidade

observada.

Mas há outro fator relevante e pouco considerado entre as causas da

desproporcionalidade na nossa representação política: os novos estados, criados

principalmente a partir da década de 1980. Em 1962, o Acre deixou a condição de

território para se tornar estado; em 1979 foi criado o estado de Mato Grosso do Sul, a

partir do desmembramento do estado do Mato Grosso. Na década de 1980, surgiram

quatro novos estados: o território de Rondônia elevou-se à categoria de estado em 1981;

o mesmo ocorreu com Roraima e Amapá na Constituição de 1988, quando também se

criou o estado de Tocantins com a divisão do estado de Goiás.

Todos os novos estados são pobres e pouco populosos, o que combinado com a

garantia de um piso mínimo de oito representantes, depara-se com o resultado de 3:

cinco desses seis novos estados configurarem no topo dos que detém maior sobre-

representação política na Câmara dos Deputados, somando uma sobre-representação de

28 cadeiras. Juntos, os seis estados respondem por 3% dos 9% da desproporcionalidade

distrital, ou seja, mais de 30% do total.

O estabelecimento de piso e teto na representação dos estados, combinado com a

criação de novos estados, alterou significativamente a desproporcionalidade entre as

regiões. A região norte tem aumento expressivo na sua representação parlamentar a

partir de 1978, atingido o ápice de sobre-representação em 1990 (+6,1), primeira eleição

legislativa após a Constituição de 1988, quando a região ganhou três novos estados. A

contrapartida parece ser a perda relativa de representação da região Sudeste no mesmo

período, com o ápice de sub-representação situado na mesma eleição de 1990 (-9,1).

Cabe ressaltar que os novos estados têm impactos ainda mais profundos na

representação do Senado, que é paritária entre os estados. Seis novos estados

significaram dezoito cadeiras adicionais no Senado, o que subverteu a representação

política dos outros estados.

38

A criação de novos estados é motivada pelas vantagens políticas e econômicas

proporcionadas a qualquer localidade que se torna um estado, sobretudo as menos

populosas e mais pobres. A principal vantagem política é o aumento da representação

política no governo federal: três senadores e oito deputados federais. Entre as vantagens

econômicas destacam-se: a assunção de competências tributárias exclusivas – Imposto

sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto sobre a Circulação de

Mercadoria e Serviços (ICMS) e Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis Causa

Mortis (ITCD); a garantia de uma cota-parte do Fundo de Participação dos Estados

(FPE); uma maior força política para barganhar recursos junto ao governo Federal. Em

suma, a lógica dessas vantagens é extremamente perversa, quanto menos populosa e

mais pobre a região, maiores os incentivos em se tornar estado, sem contar que uma

região com essas características parece encontrar menos empecilhos para atingir tal

objetivo.

A Constituição de 1988 condiciona à criação de novos estados a aspectos

estritamente políticos, não estabelecendo nenhuma exigência demográfica ou

econômica:

Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para

se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante

aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso

Nacional, por lei complementar da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988).

39

5- CONCLUSÃO

A (des)proporcionalidade na representação política na Câmara Federal é uma

marca da história institucional brasileira, estando presente em todas as legislaturas

eleitas no Império e na República.

A defesa de uma representação estritamente proporcional, no sentido

populacional, dos estados brasileiros na Câmara Federal encontra respaldo no modelo

de democracia majoritária. Se nos desviamos desse modelo e nos aproximamos do

modelo de democracia consociativa, podemos pensar a federação como expressão de

interesses territoriais relevantes que merecem representação especial, o que justifica

abrir mão de total igualdade na representação política dos indivíduos em nome de uma

maior igualdade na representação dos estados.

Ao comparar o Brasil com outros países, verificamos que a

desproporcionalidade distrital não é um privilégio nosso, está presente na maioria dos

países – todos os que subdividem o território nacional para realizar eleições legislativas,

entretanto, o grau de (des)proporcionalidade, no Brasil se encontra acima da média, mas

nada nos permite concluir que o índice de (des)proporcionalidade brasileiro em si seja

totalmente negativo, apesar de merecer algumas correções.

Analisando a (des)proporcionalidade na representação política, observa-se que

ela envolve sobretudo a sub-representação do estado de São Paulo e a sobre-

representação de estados na região Norte.

Quanto as causas, conclui-se que as principais são: o estabelecimento de piso e teto na representação dos estados só responde em parte pelos efeitos observados: é certo que o teto responde pela sub-representação de São Paulo, mas o piso privilegia sobretudo os mais novos estados da federação, ou seja a criação de estados pouco populosos e pobres nas últimas décadas é um fator importante para se entender a (des)proporcionalidade da representação política na Câmara Federal.

Importante ressaltar que um impacto negativo na representação política é a

criação de estados pobres e pouco populosos, já que aumentará o grau de

(des)proporcionalidade na , ou seja, novos estados sobre-representados, além de outros

fatores negativos que não são objeto da discussão .

Quanto as conseqüências da (des)proporcionalidade na representação política na

Câmara Federal, não existe qualquer tipo de comprovação de que se estaria

beneficiando as regiões mais retrógradas do país (Norte, Nordeste e Centro-Oeste), em

detrimento dos centros mais modernos localizados no Sul e no Sudeste, não existindo

qualquer evidência empírica que possibilite imputar um padrão "retrógrado" ou

40

"moderno", comportamento dos legisladores das diferentes regiões brasileiras.

A relação entre a (des)proporcionalidade distrital e a (des)proporcionalidade

partidária precisa ser melhor estudada, especialmente por três aspectos: a cláusula de

exclusão (quociente eleitoral); a fórmula D'Hont e as coligações eleitorais. Estudos

indicam que, corrigidas as (des)proporcionalidades geradas por esses fatores, pouco se

ganharia, em termos de proporcionalidade partidária, com mudanças na representação

dos estados.

Por fim, a representação estritamente proporcional dos estados, em termos de

população, levaria a uma maior concentração de poder econômico e político em uma

única unidade da Federação – o estado de São Paulo –, o que contribuiria para o

aumento de nossos desequilíbrios federativos, com a conseqüente ameaça de o país ficar

submetido no plano político-eleitoral ao que se denomina "tirania da maioria", como

também impossibilidade de veto da minoria. Desta forma, a (des)proporcionalidade

na representação política na Câmara Federal é perfeitamente tolerável e até mesmo

necessária, já que ameniza as enormes desigualdades regionais.

41

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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44

7 - ANEXOSANEXO I

Tabela 1 -Índice de (des)proporcionalidade distrital (Dd) na Câmara Baixa em 40 democracias -

UnitáriasDd (%) Ano

Holanda 0 1996Israel 0 1999Peru 0 1993Finlândia 1 1991Itália 1 1996Suécia 1 1998Ucrânia 1 1998Nova Zelândia 2 1997Polônia 2 1997Portugal 2 1995Hungria 3 1998Uruguai 3 1992Romênia 4 1996Grécia 4 1997Dinamarca 5 1997Grã-Bretanha 5 1997Japão 5 1995Tailândia 5 1996França 7 1998Noruega 7 1993Turquia 9 1995Bolívia 17 1997Islândia 17 1995Equador 20 1998Coréia 21 1996Média 6,0Desvio Padrão 6,5FederativasEstados Unidos 1 1992Austrália 2 1996Suíça 2 1995África do Sul 3 1995Alamanha 3 1994Rússia 4 1995Austria 6 1994Ìndia 6 1991México 6 1997Venezuela 7 1996Canadá 8 1997Brasil 9 1998Espanha 10 1996Argentina 14 1995Média 5,8Desvio Padrão 3,6

45

Anexo II

Normas Constitucionais para Distribuição das Cadeiras da Câmara dos Deputados entre os Estados

ConstituiçãoNúmero Mínimo por Estado

Número Máximo porEstado

Número de Representantes dos Territórios

Número de Representantes da Câmara

População para Obtenção de uma Cadeira

1891 4 70 mil1934 2 150 mil, até 20;

250 mil, acima de 201937 3 10 1946 7 1 150 mil, até 20;

250 mil, acima de 20Emenda nº 17 (1965) 7 300 mil, até 25;

500 mil, acima de 251967 7 1 300 mil, até 25;

1 milhão, acima de 25

Emenda nº 1 (1969) 1 *Emenda nº 8 (1977) 6 55 2 até 420 Emenda nº 22 (1982) 8 60 4 até 479 Emenda nº 25 (1985) 8 60 4 até 487 1988 8 70 4

Até 100 mil eleitores: três deputados; acima de 100 mil até 3 milhões: um deputado para

cada 100 mil eleitores ou fração superior a 50 mil; acima de 3 milhões até 6 milhões:

um deputado para cada 300 mil ou fração superior a 150 mil; acima de seis milhões: um

deputado para cada 500 mil ou fração superior a 250 mil.

46

ANEXO III

Gráfico 1 Distorção Representativa por Anos Selecionados – Brasil

(1872-1994)

Anexo IV

Gráfico 2 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Região Sudeste(1872- 1994)

47

Gráfico 3 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Região

Nordeste (1872-1994)

Gráfico 4 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Região Sul (1872-1994)

48

Gráfico 5 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Região Centro Oeste (1872-1994)

Gráfico 6 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Região Norte (1872-1994)

49

ANEXO V

Gráfico 7 Distorção Representativa por Anos Selecionados - São Paulo (1872-1994)

Gráfico 8 Distorção Representativa por Anos Selecionados - Minas Gerais (1872-1994)

50

ANEXO VITabela 2 - Percentual de Votos e Cadeiras por Partido Eleições para a Câmara dos Deputados, 1994

Partido [A]% de votos

[B]% de cadeiras B - A

PMDB 20,3 20,9 + 0,6PSDB 13,9 12,1 - 1,8PFL 12,9 17,3 + 4,4PT 12,8 9,6 - 3,2PPR 9,4 10,1 + 0,7PDT 7,2 6,6 - 0,6PP 6,9 7,0 + 0,1PTB 5,2 6,0 + 0,8PL 3,5 2,5 - 1,0PSB 2,2 2,9 + 0,7PCdoB 1,2 1,9 + 0,7PSD 0,9 0,6 - 0,3PPS 0,6 0,4 - 0,2PMN 0,6 0,8 + 0,2PRP 0,5 0,2 - 0,3PSC 0,5 0,6 + 0,1PRN 0,4 0,2 - 0,2PV 0,2 0,2 0,0Outros 0,8 0,0 - 0,8Total 100,0 100,0

Anexo VIITabela 3 - Percentual da Representação Partidária na Câmara em Três Situações: (a) eleições de 1994; (b) com proibição de coligações parlamentares; (c) com alocação rigorosamente proporcional à população dos estados

Partido[A]

Bancada Eleita em 1994

[B]Com Proibição de

Coligação e Sem Votos em Branco

[C]Com Alocação Proporcional

PMDB 20,9 25,0 25,3PFL 17,3 16,6 15,2PSDB 12,1 13,1 14,2PPR 10,1 10,1 9,2PT 9,6 11,1 12,7PP 7,2 7,8 6,4

PDT 6,6 5,8 6,2PTB 6,0 5,3 4,7PSB 2,7 1,8 1,8PL 2,5 2,7 3,1PCdoB 1,9 0,4 0,4PMN 0,8 0,0 0,0PSD 0,6 0,2 0,4PSC 0,6 0,0 0,0PPS 0,4 0,0 0,0PRN 0,2 0,0 0,0PV 0,2 0,0 0,0PRP 0,2 0,0 0,2Prona 0,0 0,2 0,2

Tabela 4 - Percentual da População dos Estados, Número de Cadeiras dos Estados na Câmara (Absoluto e Percentual) e

51

Número de Cadeiras dos Estados na Câmara Proporcional à População (Absoluto e Percentual) 1994

Estado % População

Número de Cadeiras

(1994)[A]

%

Número de Cadeiras Proporcional à População dos

Estados[B]

% A - B

SP 21,6 70 13,6 111 21,6 - 41MG 10,6 53 10,3 54 10,5 - 1RJ 8,5 46 9,0 44 8,6 + 2BA 8,1 39 7,6 42 8,2 - 3RS 6,1 31 6,0 32 6,2 - 1PR 5,6 30 5,8 29 5,7 + 1PE 4,8 25 4,9 25 4,9 0CE 4,3 22 4,3 22 4,3 0PA 3,5 17 3,3 18 3,5 - 1MA 3,4 18 3,5 17 3,3 + 1SC 3,1 16 3,1 16 3,1 0GO 2,8 17 3,3 14 2,7 + 3PB 2,1 12 2,3 11 2,1 + 1ES 1,8 10 1,9 9 1,8 + 1PI 1,7 10 1,9 9 1,8 + 1AL 1,7 9 1,8 9 1,8 0RN 1,7 8 1,6 8 1,6 0AM 1,5 8 1,6 8 1,6 0MT 1,5 8 1,6 8 1,6 0MS 1,2 8 1,6 6 1,2 + 2DF 1,1 8 1,6 6 1,2 + 2SE 1,0 8 1,6 5 1,0 + 3RO 0,9 8 1,6 4 0,8 + 4TO 0,6 8 1,6 3 0,6 + 5AC 0,3 8 1,6 1 0,2 + 7AP 0,2 8 1,6 1 0,2 + 7RR 0,2 8 1,6 1 0,2 + 7Total 100,0 513 100,0 513 100,0

ANEXO VII

LEI COMPLEMENTAR Nº 78, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

DO PODER LEGISLATIVO

SEÇÃO IDO CONGRESSO NACIONAL

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Parágrafo único - Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Art. 45 - A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.

§ 1º - O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.

LEI COMPLEMENTAR Nº 78, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1993

Disciplina a fixação do número de Deputados, nos termos do art. 45, § 1º, da Constituição Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal, o número de deputados federais não ultrapassará quinhentos e treze representantes, fornecida, pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano anterior às eleições, a atualização estatística demográfica das unidades da Federação.

Parágrafo único. Feitos os cálculos da representação dos Estados e do Distrito Federal, o Tribunal Superior Eleitoral fornecerá aos Tribunais Regionais Eleitorais e aos partidos políticos o número de vagas a serem disputadas.

Art. 2º Nenhum dos Estados membros da Federação terá menos de oito deputados federais.

Parágrafo único. Cada Território Federal será representado por quatro deputados federais.

53

Art. 3º O Estado mais populoso será representado por setenta deputados federais.

Art. 4º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 30 de dezembro de 1993; 172º da Independência e 105º da República.

ITAMAR FRANCOMaurício Corrêa

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