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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS IEC - PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PÚBLICO - TURMA 1/ OFERTA 23 DISCIPLINA DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROFESSOR ROBERTO DE CARVALHO Álvaro Vimieiro Cecília Zanella Iara Rolim Mariana de Aguiar Mohine Almeida Rafaella Barbosa Renata Santos APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO Belo Horizonte 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

IEC - PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PÚBLICO - TURMA 1/ OFERTA 23

DISCIPLINA DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PROFESSOR ROBERTO DE CARVALHO

Álvaro Vimieiro

Cecília Zanella

Iara Rolim

Mariana de Aguiar

Mohine Almeida

Rafaella Barbosa

Renata Santos

APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO

Belo Horizonte

2011

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1. OBJETIVOS

- Estudar a evolução jurídico-normativa da aposentadoria especial do servidor

público, diante das diversas redações do artigo 40 da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988;

- Investigar a natureza da aludida norma, à luz da jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal - se impositiva ou facultativa;

- Considerando tratar-se de norma obrigatória, pesquisar como é sanada, pela Corte

Constitucional, a omissão legislativa referente à regulação da aposentadoria especial do servidor

público;

Investigar se as exigências de prova do art. 57, §§ 3º e 4º da Lei nº 8.213/91

aplicam-se como requisitos à aposentadoria especial do servidor público, bem como as soluções

práticas trazidas pela Administração Federal para a aplicação das regras do regime geral aos

servidores públicos federais.

2. ESTUDOS SOBRE A NORMA DO ARTIGO 40, §4º, DA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA E A EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL

A aposentadoria consiste em direito social constitucionalmente garantido a todos os

trabalhadores indistintamente, conforme dispõe o art.7º, inc. XXIV da Constituição de 1988.

Uma vez que os servidores públicos, em sentido estrito, apresentam regime jurídico diferenciado,

da mesma forma os requisitos disciplinadores da aquisição e gozo da aposentadoria no serviço

público também vão se diferir das regras gerais de previdência social. Por esta razão que nossa

Constituição contempla dois regimes previdenciários.

Em relação aos servidores públicos, Maria Sylvia Zanella Di Pietro1 leciona que:

Aposentadoria é o direito à inatividade remunerada, assegurado ao servidor público em

caso de invalidez, idade ou requisitos conjugados de tempo de exercício no serviço

público e no cargo, idade mínima e tempo de contribuição. (DI PIETRO. 2007)

As regras sobre aposentadoria constantes do artigo 40 e seus parágrafos da

Constituição Federal de 1988 aplicam-se somente aos servidores públicos estatutários, ou seja,

1 DI PIETRO. Direito Administrativo. 20ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007. p. 512.

3

aos titulares de cargos efetivos. No que tange a aposentadoria dos servidores trabalhistas,

temporários, e ocupantes exclusivamente de cargos comissionados, aplica-se o regime geral da

previdência social, regulado pelos artigos 201 e 202 da Carta Federal (art.40, §13, CR/88).

Apesar da regra geral de aposentadoria dos servidores públicos, com critérios

constitucionalmente definidos, existem casos excepcionais, com requisitos diferenciados de

aposentação, aos quais denominamos aposentadoria especial.

Importante reiterar que estas situações constituem exceção à aposentadoria comum e,

como tal, conforme critérios de hermenêutica, devem ser interpretadas restritivamente, sob pena

de se violar princípios norteadores da Administração Pública, como impessoalidade e isonomia.

Sobre o tema ensina José dos Santos Carvalho Filho2:

Todavia, há algumas situações que, por sua natureza e por suas peculiaridades, devem

merecer tratamento diferenciado, ensejando que tais requisitos e critérios refujam aos

parâmetros estabelecidos na regra geral. Tais situações, como regra, dão origem à

redução do tempo de aposentadoria, mas não necessariamente. Pode haver atenuação

em outros aspectos, como, por exemplo, a redução de idade, o cumprimento do tempo

de serviço público ou do tempo de exercício em cargo público. Cuida-se, por

conseguinte, de aposentadoria especial. O que se deve considerar é que tais elementos

de exceção devam constar expressamente em mandamento legal. (CARVALHO FILHO. 2007)

A aposentadoria especial do servidor público está presente no texto constitucional

desde a sua redação original, no artigo 40, §1º, determinando que lei complementar poderia

estabelecer exceções ao regime de aposentadoria do servidor no caso de exercício de atividades

consideradas penosas, insalubres ou perigosas. Veja-se a redação original:

Art. 40 - O servidor será aposentado:

(...)

III – voluntariamente:

a) aos trinta e cinco anos de serviço, se homem, e, aos trinta, se mulher, com proventos

integrais;

(...)

c) aos trinta anos de serviço, se homem, e aos vinte e cinco, se mulher, com proventos

proporcionais a esse tempo;

(...)

§ 1º Lei complementar poderá estabelecer exceções ao disposto no inciso III, a e c,

no caso de exercício de atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas.3

2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 18ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen

Juris, 2007. p.614. 3 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DE 1988 (redação original). Disponível em:

http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_40_.shtm. Acesso em: 11/9/2011.

4

Ressalte-se novamente que o art. 7º da Constituição Federal, nos incisos XXIII e

XXIV, prevê, como direitos sociais dos trabalhadores, a aposentadoria e o adicional de

remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei. Tais direitos

inspiram a aposentadoria especial do servidor público.

Em relação às atividades supramencionadas - geradoras do benefício da aposentação

diferenciada-, apesar de todas se referirem ao exercício, pelo servidor, de suas atividades em

circunstâncias mais gravosas a sua saúde ou a sua integridade física, vale trazer à baila suas

conceituações.

Ainda que não haja absoluto consenso na doutrina e jurisprudência acerca da

definição precisa destes institutos, em regra, entende-se como sendo penosa toda e qualquer

atividade que exija do trabalhador um empenho físico e/ou psicológico que gere um desgaste

acima do normal; insalubre, para o ambiente de trabalho no qual existam agentes nocivos em

grau suficiente para prejudicar a saúde do trabalhador; e por fim, perigosa, a própria natureza da

atividade exercida pelo servidor, que o coloca em permanente condição de risco acentuado.

De início, é importante frisar que em 1994, o Supremo Tribunal Federal, no

julgamento da questão de ordem no Mandado de Injunção nº 444-7/MG4, de relatoria do

Ministro Sydney Sanches, entendeu que a norma inscrita no art. 40, § 1º, da CR:

(...) não conferiu originariamente a nenhum servidor público o direito à obtenção de

aposentadoria especial pelo exercício de atividades perigosas, insalubres ou penosas; o

mencionado preceito constitucional apenas faculta ao legislador, mediante lei

complementar, instituir outras hipóteses de aposentadoria especial, no caso do exercício

dessas atividades, faculdade ainda não exercitada.5

Nesse sentido, tal julgado entendeu que a norma do art. 40, § 1º, da CR/88 não seria

obrigatória, ou seja, não consubstanciava ordem de legislar. A norma seria apenas facultativa ou

4 BRASIL. STF. PLENO. Mandado de Injunção nº 444 QO/MG. EMENTA: - Direito Constitucional e Processual

Civil. Mandado de Injunção. Servidores autárquicos. Escola Superior de Agricultura de Lavras - ESAL (autarquia

federal sediada em Lavras, Minas Gerais). Aposentadoria especial. Atividades insalubres. Artigos 5., inc. LXXI, e

40, par. 1., da Constituição Federal. Relator: Ministro Sydney Sanches. Impetrantes: JOSE ABILIO PATO

GUIMARAES E OUTROS. Impetrado: PRESIDENTE DA REPUBLICA. Publicado em: 4/11/1994. Disponível

em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=81917. Acesso em: 11/9/2011, p. 12.

5 BRASIL. STF. A Constituição e o Supremo. art. 40, § 4º da Constituição da República. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp#ctx1. Acesso em: 9/9/2011.

5

permissiva6, ou seja, permitia a criação de lei complementar que estabelecesse exceções ao

regime geral de aposentação do servidor, através de uma atividade discricionária do legislador.

Ademais, entendeu-se que o Judiciário não poderia tomar decisão que substituísse o juízo

político de conveniência e oportunidade de outro poder, sob pena de ser invasão de poder da

República. Portanto, por não haver direito subjetivo do servidor à aposentadoria especial, a

ausência de lei complementar não configuraria omissão legislativa capaz de fundamentar

mandado de injunção7.

Posteriormente, as reformas previdenciárias ocorridas na Brasil - iniciada com a

emenda constitucional n.º 20/98, seguida das emendas n.º 41/2003 e 47/2005, e de normas

infraconstitucionais -, estabeleceram importantes mudanças no sistema previdenciário.

Em relação ao artigo 40, §1º, da CR/88, destacam-se as alterações trazidas pelas

emendas constitucionais nº 20/1998 e nº 47/2005:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime

de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo

ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios

que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

(...)

§ 4º - É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de

aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados os casos

de atividades exercidas exclusivamente sob condições especiais que prejudiquem a

saúde ou a integridade física, definidos em lei complementar. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de

aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos

termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

I - portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

II - que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47,

de 2005)

III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a

saúde ou a integridade física. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

(...)

6 Para José Afonso da Silva, norma constitucional permissiva ou facultativa é aquela que se limita a dar ao legislador

ordinário a possibilidade de instituir ou regular as situações nela delineadas. Nas palavras do autor: “O legislador tem apenas uma faculdade. Quanto à iniciativa da lei, tem discricionariedade completa, não podendo sequer ser

censurado moral ou politicamente se não a tomar, até porque, nesse caso, sequer cabe declaração de

inconstitucionalidade por omissão.” SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais, 7ª edição,

2ª tiragem, Malheiros Editores: 2007, p. 134.

7 Posicionamentos semelhantes estão presentes no julgamento dos Mandados de Injunção nº 425-1/DF e 463/MG.

6

§ 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores públicos

titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados para

o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)8

Observa-se, que nas referidas emendas, foi mantida a previsão do direito de

aposentadoria especial do servidor, dependente de lei complementar. Acrescentou-se, na última

redação conferida pela EC 47/2005, a possibilidade da aposentadoria especial na hipótese de

deficiência física e no exercício de atividades de risco.

Sobre o assunto, esclarece o doutrinador José dos Santos Carvalho Filho9:

A ampliação do círculo de abrangência da norma é justificável. De um lado, os

portadores de deficiência, como regra, desenvolvem esforço maior no desempenho de

suas funções, de modo que a eles podem ser conferidas condições especiais para a

aposentadoria. Trata-se, com efeito, de instrumento de inclusão social dotado de

expressiva densidade. De outra ótica, a norma, da mesma forma, afigurou-se justa e adequada aos servidores que desempenham trabalho de risco. A atividade pode não

provocar qualquer dano à saúde ou à integridade física do servidor, mas caracterizar-se

como de risco. E, como o risco é sempre fator de temores e de instabilidade, pareceu-

nos de bom propósito que tal situação fosse tutelada pelo mandamento constitucional.

(CARVALHO FILHO. 2007)

Apesar das alterações na Carta Magna, o STF, no Agravo Regimental no Recurso

Extraordinário nº 428-511, publicado em 17/3/2006, manteve a mesma posição sobre a natureza

facultativa da norma do art.40. Colaciona-se a ementa do aludido acórdão abaixo:

Servidor público do Distrito Federal: inexistência de direito à aposentadoria especial, no

caso de atividades perigosas, insalubres ou penosas. O Supremo Tribunal, no

julgamento do MI 444-QO, Sydney Sanches, RTJ 158/6, assentou que a norma inscrita no art. 40, § 1º (atual § 4º), da Constituição Federal, não conferiu originariamente a

nenhum servidor público o direito à obtenção de aposentadoria especial pelo

exercício de atividades perigosas, insalubres ou penosas; o mencionado preceito

constitucional apenas faculta ao legislador, mediante lei complementar, instituir

outras hipóteses de aposentadoria especial, no caso de exercício dessas atividades,

faculdade ainda não exercitada.10

8 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 9/9/2011. 9 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 18ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen

Juris, 2007. p.615. 10 BRASIL. STF. PLENO. AgRg no RE nº 428.511-8/DF. Servidor público do Distrito Federal: inexistência de

direito à aposentadoria especial, no caso de atividades perigosas, insalubres ou penosas. O Supremo Tribunal, no

julgamento do MI 444-QO, Sydney Sanches, RTJ 158/6, assentou que a norma inscrita no art. 40, § 1º (atual § 4º),

da Constituição Federal, não conferiu originariamente a nenhum servidor público o direito à obtenção de

aposentadoria especial pelo exercício de atividades perigosas, insalubres ou penosas; o mencionado preceito

constitucional apenas faculta ao legislador, mediante lei complementar, instituir outras hipóteses de aposentadoria

especial, no caso do exercício dessas atividades, faculdade ainda não exercitada. 1ª Turma, Relator: Ministro

Sepúlveda Pertence. Agravante: Sindicato dos Médicos do Distrito Federal. Agravado: Distrito Federal. Publicado

7

Contudo, a Egrégia Corte, a partir do MI nº 721-7/DF, julgado em novembro de

2007, muda de posição sobre o tema e conclui que há uma obrigatoriedade da norma

constitucional, o que gera direito material do servidor à aposentadoria especial.

O STF salienta que, segundo a classificação de José Afonso da Silva, trata-se de

norma de eficácia limitada e impositiva, ou seja, cuja aplicabilidade depende de outra lei

infraconstitucional de edição peremptória. A ausência dessa norma infraconstitucional

regulamentadora impede o exercício do direito de aposentadoria especial ao servidor. Nesse

sentido, observem-se as lições do doutrinador11

:

As normas constitucionais de princípio institutivo, como as programáticas (temos dito

sempre), são de eficácia jurídica limitada. (...) Com efeito, as normas constitucionais de

princípio institutivo podem ser impositivas ou facultativas. I-Impositivas são as que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação

integrativa (...). (SILVA. 2007)

Nesse passo, para a aposentadoria especial do servidor público, o STF assevera que a

iniciativa dessa lei complementar caberia ao Chefe do Executivo, no caso dos servidores

federais, ao Presidente da República, consoante o art. 61, § 1º, II, c, da CR:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou

Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao

Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao

Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta

Constituição.

(...) § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

(...)

II - disponham sobre:

(...)

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de

cargos, estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares para a

inatividade;

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de

cargos, estabilidade e aposentadoria;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18,

de 1998)12

Além disso, o STF defende que o período de lacuna normativa de vinte e três anos na

regulação da aposentadoria especial do servidor público provoca descrença na Constituição e nos

em: 17/3/2006. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=342600.

Acesso em: 12/9/2011.

11 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais, 7ª edição, 2ª tiragem, Malheiros Editores:

2007, p.126 12BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 9/9/2011.

8

Poderes Públicos. Portanto, ordena à aplicação, no que couber, da norma de aposentadoria

especial do Regime Geral de Previdência Social, aos servidores públicos, qual seja: a Lei nº

8.213/91.

Por ser pertinente, confira-se trecho do voto do Ministro Marco Aurélio no

julgamento do MI nº 721-7/DF:

Pois bem, na redação primitiva, a Carta de 1988, ao dispor sobre a aposentadoria dos

servidores públicos, previa, ao lado das balizas temporais alusivas à jubilação

espontânea, a possibilidade de lei complementar estabelecer exceções. Confira-se com o

preceito:

Art. 40 - O servidor será aposentado: (...)

III – voluntariamente:

a) aos trinta e cinco anos de serviço, se homem, e, aos trinta, se mulher, com proventos

integrais;

(...)

c) aos trinta anos de serviço, se homem, e aos vinte e cinco, se mulher, com proventos

proporcionais a esse tempo;

(...)

§ 1º Lei complementar poderá estabelecer exceções ao disposto no inciso III, a e c, no

caso de exercício de atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas.

(...) Com a Emenda Constitucional nº 20/98, afastou-se a óptica míope do sentido do verbo

“poder” - considerado o tempo, futuro do presente, “poderá” -, para prever-se, no § 4º

do artigo 40 da Carta, que:

§ 4º - É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de

aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados os casos

de atividades exercidas exclusivamente sob condições especiais que prejudiquem a

saúde ou a integridade física, definidos em lei complementar.

Tal afastamento foi mantido pela Emenda Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005,

que deu nova redação ao citado § 4º:

§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de

aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos

termos definidos em leis complementares, os casos de servidores:

I - portadores de deficiência;

II - que exerçam atividades de risco;

III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde

ou a integridade física.

Então, é dado concluir que a jurisprudência mencionada nas informações sobre a

existência de simples faculdade ficou, sob o ângulo normativo-constitucional,

suplantada. Refiro-me ao que decidido no Mandado de Injunção nº 484-6/RJ, citados os precedentes formalizados quando do julgamento dos Mandados de Injunção nºs 425-

1/DF e 444-7/MG. Em síntese, hoje não sugere dúvida a existência do direito

constitucional à adoção de requisitos e critérios diferenciados para alcançar a

aposentadoria daqueles que hajam trabalhado sob condições especiais, que prejudiquem

a saúde ou a integridade física. Permaneceu a cláusula da definição em lei

complementar.

Assento, por isso, a adequação, da medida intentada. Passados mais de quinze anos da

vigência da Carta, permanece-se com o direito latente, sem ter-se base para o exercício.

9

Cumpre, então, acolher o pedido formulado, pacífica a situação da impetrante. Cabe ao

Supremo, porque autorizado pela Carta da República a fazê-lo, estabelecer para o caso

concreto e de forma temporária, até a vinda da lei complementar prevista, as balizas do exercício do direito assegurado constitucionalmente.

Assim está autorizado pela norma do artigo 5º, inciso LXXI, da Constituição Federal:

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e

das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

O instrumental previsto na Lei Maior, em decorrência de reclamações, consideradas as

Constituições anteriores, nas quais direitos dependentes de regulamentação não eram

passíveis de ser acionados, tem natureza mandamental e não simplesmente declaratória,

no sentido da inércia legislativa. Revela-se próprio, ao processo subjetivo e não ao

objetivo, descabendo confundi-lo com ação direta de inconstitucionalidade por omissão, cujo rol de legitimados é estrito e está na Carta da República. Aliás, há de se conjugar o

inciso LXXI do artigo 5º da Constituição Federal com o § 1º do citado artigo, a dispor

que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais constantes da

Constituição têm aplicação imediata. Iniludivelmente, buscou-se, com a inserção do

mandado de injunção, no cenário jurídico-constitucional, tornar concreta, tornar viva a

Lei Maior, presentes direitos, liberdades e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à

soberania e à cidadania. Não se há de confundir a atuação no julgamento do

mandado de injunção com atividade do Legislativo. Em síntese, ao agir, o

Judiciário não lança na ordem jurídica, preceito abstrato. Não, o que se tem, em

termos de prestação jurisdicional, é a viabilização, no caso concreto, do exercício

do direito, do exercício da liberdade constitucional, das prerrogativas ligadas a nacionalidade, soberania e cidadania. O pronunciamento judicial faz lei entre as

partes, como qualquer pronunciamento em processo subjetivo, ficando até mesmo,

sujeito a uma condição resolutiva, ou seja, ao suprimento da lacuna regulamentadora

por quem de direito, Poder Legislativo.

É tempo de se refletir sobre a timidez inicial do Supremo quanto ao alcance do

mandado de injunção, ao excesso de zelo, tendo em vista a separação e harmonia

entre os Poderes. É tempo de se perceber a frustração gerada pela postura inicial,

transformando o mandado de injunção em ação simplesmente declaratória do ato

omissivo, resultando em algo que não interessa, em si, no tocante à prestação

jurisdicional, tal como consta no inciso LXXI do artigo 5º da Constituição Federal,

ao cidadão. Impetra-se este mandado de injunção não para lograr-se simples

certidão de omissão do Poder incumbido de regulamentar o direito a liberdades

constitucionais, a prerrogativas inerentes a nacionalidade, à soberania e à

cidadania. Busca-se o Judiciário na crença de lograr a supremacia da Lei

Fundamental, a prestação jurisdicional que afaste as nefastas conseqüências da

inércia do legislador. 13

Na mesma esteira, pode-se citar os julgados dos Mandados de Injunção nº 758-6/DF,

788-8/DF, 791/DF, 792/DF, 796/DF, 797/DF, 808/DF, 809/SP, 825/DF, 828/DF, 841/DF,

850/DF, 857/DF, 879/DF, 905/DF, 927/DF, 938/DF, 962/DF, 998/DF e 1477/DF, entre diversos

13 BRASIL. STF. PLENO. Mandado de Injunção nº 721-7/DF. MANDADO DE INJUNÇÃO – NATUREZA -

MANDADO DE INJUNÇÃO - DECISÃO – BALIZAS - APOSENTADORIA - TRABALHO EM CONDIÇÕES

ESPECIAIS - PREJUÍZO À SAÚDE DO SERVIDOR - INEXISTÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR - ARTIGO

40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Relator: Ministro Marco Aurélio. Impetrante: MARIA APARECIDA

MOREIRA. Impetrado: PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Publicado em: 30/11/2007. Disponível em:

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=497390. Acesso em: 12/9/2011.

10

outros, sendo este o entendimento mantido pelo Supremo Tribunal Federal até recentes decisões,

a exemplo do Mandado de Injunção nº. 3.89714

, com decisão em 20 de setembro de 2011:

MANDADO DE INJUNÇÃO – ATIVIDADES EXERCIDAS EM CONDIÇÕES DE

RISCO OU INSALUBRES – APOSENTADORIA ESPECIAL – SERVIDOR

PÚBLICO – ARTIGO 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – INEXISTÊNCIA

DE LEI COMPLEMENTAR – MORA LEGISLATIVA – PRECEDENTES DO

PLENÁRIO – PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. 1. O Plenário, na sessão

realizada em 30 de agosto de 2007, concedeu, à unanimidade, a ordem no Mandado de

Injunção nº 721-7/DF, da minha relatoria, reconhecendo a omissão legislativa em razão

da inexistência de lei viabilizadora de aposentadoria em atividade realizada sob

condições especiais. Assentou que, ante a mora legislativa, há de ser adotado o sistema revelado pelo Regime Geral de Previdência Social, previsto no artigo 57 da Lei nº

8.213, de 24 de julho de 1991. (...) Esclareça-se que não cabe mesclar os dois sistemas –

o da Lei nº 8.213/91 e o da Constituição Federal –, tomando-se de empréstimo o

primeiro quanto ao tempo de serviço e o segundo no tocante à idade. Assim ficou

decidido no julgamento dos Embargos Declaratórios no Mandado de Injunção nº

758/DF, da minha relatoria, cujo acórdão foi publicado no Diário da Justiça de 14 de

maio de 2010. Confiram com a ementa elaborada: EMBARGOS DECLARATÓRIOS

– PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. Os embargos declaratórios visam ao

aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, devendo, por isso mesmo, merecer

compreensão por parte do órgão julgador. APOSENTADORIA ESPECIAL -

SERVIDOR PÚBLICO – TRABALHO EM AMBIENTE INSALUBRE – PARÂMETROS. Os parâmetros alusivos à aposentadoria especial, enquanto não

editada a lei exigida pelo texto constitucional, são aqueles contidos na Lei nº 8.213/91,

não cabendo mesclar sistemas para, com isso, cogitar-se de idade mínima. 2. A

jurisprudência deste Tribunal tem limitado a eficácia das decisões proferidas em

mandado de injunção ao assentar que o exame dos requisitos exigidos para a concessão

da aposentadoria especial não se confunde com o fundamento da inexistência de norma

regulamentadora de tal direito. Cumpre, portanto, ao Supremo realizar a integração

normativa e averiguar, em cada situação, a possibilidade de aplicação da regra do artigo

57 da Lei nº 8.213/91. Incumbe à autoridade administrativa, presente a integração

legislativa, verificar se é ou não caso de aposentação. (...) 3. Ante o referido

pronunciamento, julgo parcialmente procedente o pedido formulado para, de forma

mandamental, assentar o direito dos substituídos à contagem diferenciada do tempo de serviço em decorrência de atividades exercidas em trabalho especial, aplicando-se o

regime da Lei nº 8.213/91, para fins da aposentadoria de que cogita o § 4º do artigo 40

da Constituição Federal, cabendo ao órgão a que integrados o exame do atendimento

dos requisitos de aposentação. 4. Publiquem. Brasília, 20 de setembro de 2011.

Ministro MARCO AURÉLIO Relator.

Nesses mandados de injunção, o STF afasta-se da linha tradicional de julgamento -

que apenas declarava a mora do Presidente e do Legislativo (corrente não concretista) -, e adota a

corrente concretista individual, passando a indicar a norma de regulação provisória do caso

concreto.

14 BRASIL. STF. Mandado de Injunção nº 3.897/DF. Impetrante: Sindicato dos Odontologistas de Minas Gerais.

Impetrados: Presidente da República, Presidente do Senado Federal, Presidente da Câmara dos Deputados, Prefeito

de Mariana, Estado de Minas Gerais. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/verDiario

Processo.asp?numDj=184&dataPublicacaoDj=26/09/2011&incidente=4077950&codCapitulo=6&numMateria=142

&codMateria=2. Acesso em: 20/10/2011.

11

Decide-se, agora, asseverando que o mandado de injunção tem natureza integrativa e

mandamental, e não meramente declaratória de inconstitucionalidade por omissão. 15

Frise-se que o STF não edita norma para o caso, mas enuncia a norma

regulamentadora aplicável ao caso. Esse Tribunal considera que a função normativa exercida

pelo Judiciário nesses casos não corresponde à função legislativa. A função legislativa seria

abrangida pela normativa, já que esta engloba as leis em sentido estrito, os regimentos dos

Tribunais e os regulamentos expedidos pelo Executivo.

Segundo o STF, o Judiciário está vinculado pelo dever-poder de, no mandado de

injunção, indicar supletivamente a norma regulamentadora faltante. A omissão legislativa só se

desenha, segundo os Ministros, quando há a falta de lei por um período posterior ao fixado pela

norma constitucional ou legalmente estabelecida ou, então, pelo tribunal. Fora dessas hipóteses,

há uma ingerência do Judiciário em outros poderes, o que é vedado pelo art. 2º da CR.

Ademais, em questão de ordem suscitada no MI nº 795/DF, decidiu-se que, em casos

totalmente semelhantes de mandados de injunção que pleitearem a aplicação da Lei nº 8.213/91

para a aposentadoria especial dos servidores públicos, poderão decidir monocraticamente, os

relatores, em consonância com o novo entendimento do STF.16

15 Insta mencionar que, a partir dos Mandados de Injunção sobre o direito de greve nº 670/ES, 708/DF, 712/PA, o

STF mudou o seu posicionamento sobre o papel do Judiciário nos mandados de injunção. A Corte se afastou de sua

primeira noção de que a função do Judiciário era apenas a de declarar a mora legislativa, comunicando-a ao

Legislativo (corrente não concretista). Atualmente, entende-se que há possibilidade de uma regulação provisória da

lacuna pelo Judiciário, para viabilizar o exercício do direito (corrente concretista). No caso do direito de greve, o

STF seguiu a corrente concretista geral, pela qual o Judiciário supriu a omissão legislativa para os impetrantes e para

todos os que estejam na mesma situação (efeitos erga omnes), com a aplicação da lei de greve do setor privado aos

servidores (nº 7.783/99). O Ministro Eros Grau, nos MI nº 721-7 e 781, defendeu o uso dessa corrente concretista

geral para a resolução dos casos de aposentadoria especial do servidor público. Todavia, prevaleceu, no julgamento

dos Mandados de Injunção sobre a aposentadoria especial do servidor público, a corrente concretista individual,

segundo a qual cabe ao juiz competente indicar a norma para o caso concreto específico (efeito inter partes). Nessa

matéria, utiliza-se a Lei nº 8.213/91 (do RGPS). 16 BRASIL. STF. PLENO. Mandado de Injunção nº 795-1/DF. EMENTA: MANDADO DE INJUNÇÃO.

APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR PÚBLICO. ARTIGO 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA. AUSÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR A DISCIPLINAR A MATÉRIA. NECESSIDADE DE

INTEGRAÇÃO LEGISLATIVA. 1. Servidor público. Investigador da polícia civil do Estado de São Paulo.

Alegado exercício de atividade sob condições de periculosidade e insalubridade. 2. Reconhecida a omissão

legislativa em razão da ausência de lei complementar a definir as condições para o implemento da aposentadoria

especial. 3. Mandado de injunção conhecido e concedido para comunicar a mora à autoridade competente e

determinar a aplicação, no que couber, do art. 57 da Lei n. 8.213/91. Relator: Ministra Cármen Lúcia. Impetrante:

CREUSO SCAPIN. Impetrado: PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Publicado em: 21/05/2009. Disponível em:

http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=593668. Acesso em: 20/09/2011.

12

Em relação à questão de ordem suscitada, o Ministro Joaquim Barbosa sugeriu que

cada ministro tivesse a possibilidade de julgar monocraticamente, uma vez que possuem dezenas

de processos da mesma natureza. O Ministro Marco Aurélio se pronunciou contrariamente,

argumentando que não há autorização regimental para se proceder no campo monocrático nesta

questão. Para o Ministro Carlos Brito, a sugestão do Ministro Joaquim Barbosa é apenas uma

faculdade para o relator, que poderá sim levar o feito ao plenário. Concluiu-se pela autorização

para que os Ministros decidam monocrática e definitivamente os casos idênticos. Ou seja, apesar

de adotarem uma posição concretista individual, sem conferir repercussão geral a estas decisões

dos Mandados de Injunção, a Corte viabilizou a celeridade do procedimento.

Há de se ressaltar, todavia, que essa mudança de entendimento do STF, para não mais

simplesmente declarar a omissão do legislador, e sim enunciar a norma regulamentadora

provisória aplicável ao caso, não significa no concreto direito do impetrante, uma vez que cabe à

Administração averiguar se aquele servidor atendeu aos requisitos dispostos na Lei n.º 8.213/91

para a obtenção da aposentadoria especial.

De acordo com o STF, a verificação do preenchimento dos requisitos legais para a

aposentação no caso concreto deve ser feita pela Administração Pública responsável pelo exame

do pedido de aposentadoria. À Corte incumbe, apenas, a análise da omissão normativa na

regulação do direito de aposentadoria especial.

Nesse sentido, argumentou a Ministra Carmem Lúcia no julgamento dos Embargos

de Declaração no Mandado de Injunção nº 1.286/DF17

:

(...) A possibilidade de se ter a aplicação da regra do art.57 da Lei n. 8.213/91 no caso

concreto, após exame e conclusão sobre o cumprimento, pela impetrante, das condições de fato de direito autorizadoras da incidência da norma, são da exclusiva competência

da autoridade administrativa competente, a quem incumbirá aferir o preenchimento de

todos os requisitos para a aposentação previstos no ordenamento jurídico vigente. O

objeto do mandado de injunção é a ausência de norma regulamentadora que inviabiliza

17

BRASIL. STF. PLENO. MI 1286 ED/DF. EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO MANDADO DE

INJUNÇÃO. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. APOSENTADORIA ESPECIAL DO SERVIDOR

PÚBLICO. ARTIGO 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. APLICAÇÃO DO ART. 57 DA LEI N.

8.213/1991. COMPETÊNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. 1. A autoridade administrativa

responsável pelo exame do pedido de aposentadoria é competente para aferir, no caso concreto, o preenchimento de

todos os requisitos para a aposentação previstos no ordenamento jurídico vigente. 2. Agravo regimental ao qual se

nega provimento. Embte.: Eneida Brum Da Silveira. Embdo.(A/S): Presidente Da República, Senado Federal E Câmara Dos Deputados. Julgado em 18/12/2009. Relatora: Ministra Carmem Lucia. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%281286%2ENUME%2E+OU+1286%2EA

CMS%2E%29&base=baseAcordaos. Acesso em: 20/10/2011.

13

o exercício do direito. Se o direito está perfeitamente configurado para ser exercido no

caso em exame, somente a análise e a conclusão da Impetrante, a serem feitas em sede

administrativa, podem conduzir. O que cumpre ao Poder Judiciário é verificar a omissão da norma regulamentadora e a possibilidade de a Impetrante poder se valer de regra

jurídica aplicável à situação por ele descrita, afastando-se o impedimento que lhe advém

da ausência da regulamentação constitucionalmente prevista, o que, no caso, é aqui

prestado. (...).

3. A APLICAÇÃO DA LEI Nº 8.213/91 À APOSENTADORIA ESPECIAL DO

SERVIDOR PÚBLICO: PROVA DO TEMPO DE SERVIÇO EM CONDIÇÕES

ESPECIAIS E DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS OU ASSOCIAÇÃO DE

AGENTES PREJUDICIAIS, PELO PERÍODO EXIGIDO PARA O BENEFÍCIO

Como visto anteriormente, o STF apresenta novo entendimento, pelo qual a norma do

art. 40, § 4º, da Constituição Federal é impositiva, criando direito ao servidor público para a

aposentadoria especial. O mesmo Tribunal também entende atualmente que, nos casos da

omissão legislativa na regulamentação do art. 40, § 4º, da CR, a decisão jurisdicional para os

mandados de injunções deve indicar norma para resolver a omissão no caso concreto ou inter

partes (corrente concretista individual).

A Constituição da República, no§12, do art. 40, dispõe que:

§ 12 - Além do disposto neste artigo, o regime de previdência dos servidores públicos

titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados

para o regime geral de previdência social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº

20, de 15/12/98)18

Nessa esteira, nos casos de aposentadoria especial do servidor público, o STF

determina a aplicação do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 – Lei do Regime Geral de Previdência

Social -, que dispõe o seguinte:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida

nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte

e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, consistirá

numa renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.

(Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 2º A data de início do benefício será fixada da mesma forma que a da aposentadoria

por idade, conforme o disposto no art. 49.

§ 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo

segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social–INSS, do tempo de

18 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 9/9/2011.

14

trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado.

(Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos

agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à

saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão

do benefício. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser

consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva

conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios

estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de

concessão de qualquer benefício. (Incluído pela Lei nº 9.032, de 1995)

§ 6º O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes da

contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991,

cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão de

aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição,

respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98) (Vide Lei nº 9.732, de

11.12.98)

§ 7º O acréscimo de que trata o parágrafo anterior incide exclusivamente sobre a

remuneração do segurado sujeito às condições especiais referidas no caput. (Incluído

pela Lei nº 9.732, de 11.12.98)

§ 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que

continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos

constantes da relação referida no art. 58 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.732, de

11.12.98)19

Na aplicação da citada norma, o SFT não permite a mistura do sistema da Lei nº

8.213 com nenhuma outra norma. Observe-se o acórdão abaixo nesse sentido:

Aposentadoria Especial- Servidor público – Trabalho em ambiente insalubre –

parâmetros. Os parâmetros alusivos à aposentadoria especial, enquanto não editada a lei

exigida pelo texto constitucional, são aqueles contidos na Lei nº 8.213/91, não cabendo

mesclar sistemas para, com isso, cogitar-se de idade mínima.20

Um grande ponto polêmico na jurisprudência do aludido Tribunal, no que concerne

à aplicação da Lei nº 8.213/91 à aposentadoria especial do servidor público, diz respeito aos

elementos de prova das condições especiais ou da exposição aos agentes nocivos.

Com efeito, o art. 57, §§ 3º e 4º da Lei nº 8.213/91 determina a prova do tempo de

serviço em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e da exposição

aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde

ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.

19 BRASIL. Lei nº 8.213, de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras

providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm. Acesso em: 9/9/2011. 20 BRASIL. STF. PLENO. Embargos de Declaração no Mandado de Injunção nº 758/DF. APOSENTADORIA

ESPECIAL - SERVIDOR PÚBLICO - TRABALHO EM AMBIENTE INSALUBRE - PARÂMETROS. Relator:

Ministro Marco Aurélio. Embargante: Carlos Humberto Marques. Embargado: Presidente da República. Publicado:

14/5/2010. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?doc TP=AC&docID=610996. Acesso

em: 12/9/2011.

15

Diante disso, pergunta-se: como provar a insalubridade ou periculosidade para a

concessão da aposentadoria especial?

No caso do trabalhador sujeito ao RGPS, a prova desses elementos necessários à

aposentadoria especial é feita pelas anotações no Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP.

Conforme consta no site do Ministério da Previdência21

, o Perfil Profissiográfico Previdenciário

é um formulário a ser preenchido pelo empregador com informações relativas ao empregado e a

atividade que exerce e a que agentes está exposto, bem como a concentração e intensidade da

exposição. Exige-se o preenchimento do PPP para a comprovação da efetiva exposição dos

empregados a agentes nocivos, para o conhecimento de todos os ambientes e para o controle da

saúde ocupacional de todos os trabalhadores.

A avaliação das condiçôes de trabalho levam em consideração a legislação da época da

prestação laboral – princípio tempus regit actum -, conforme entendimeto prevalecente dos

Tribunais (v.g., TJMG, Apelação Cível/Reexame Necessário n. 1.0024.07.596826-3/001, rel.

Des. Alberto Vilas Boas, j. 5-8-2008, DJ 12-9-2008).

1. O entendimento assente nos Tribunais pátrios tem sido o de que o tempo de

serviço é regido pela legislação em vigor na ocasião em que efetivamente

exercido. Essa compreensão jurisprudencial foi incluída no texto do próprio

Regulamento da Previdência, em razão da modificação trazida pelo Decreto n.

4.827/2003 ao artigo 70. § 1º, Decreto n. 3.048/1999. 2. Pelo mesmo Decreto n.

4.827/2003 incluiu-se, também, o parágrafo 2º, o qual estendeu ao trabalho

desempenhado em qualquer período as regras de conversão do artigo 70 do

Decreto n. 3.048/1999 3. Importa notar que a legislação em vigor na ocasião da prestação do serviço regula a caracterização e a comprovação do tempo de

atividade sob condições especiais. No entanto, diversa é a aplicação do fator de

conversão, o qual nada mais é do que um critério matemático para a concessão

do benefício. 4. A partir de 3/9/2003, com a alteração dada pelo Decreto n. 4.827

ao Decreto n. 3.048, a Previdência Social, na via administrativa, passou a

converter os períodos de tempo especial desenvolvidos em qualquer época pelas

novas regras da tabela definida no artigo 70, que, para o tempo de serviço

especial correspondente a 25 anos, utiliza como fator de conversão, para homens,

o multiplicador 1, 40 (art. 173 da Instrução Normativa n. 20/2007) (STJ, Resp. n.

1096450/MG, rel. Min. Jorge Mussi, j. 18-8-2009, DJ 14-9-2009).

A Lei nº. 9.528, de 10-12-1997 alterou a redação do artigo 58, § 1º da Lei nº. 8.213,

de 24-7-1991, para, a partir de então, passar a exigir comprovação da efetiva exposição a

agentes nocivos, por intermédio de formulário emitido com base em laudo técnico proveniente

de médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.

21Ministério da Previdência. Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP. Disponível em:

www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/paginas_perfis/perfil_Empregador_10_07.asp. Acesso em: 25.10.2011.

16

A regulamentação está a cargo dos Decretos nº. 53.831, de 25-3-1964 e nº. 2.172, de

5-3-1997, que se aplicam conjugadamente.

STJ. PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE

OMISSÃO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. CONTAGEM

DE TEMPO DE SERVIÇO. EXERCÍCIO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS.

ATIVIDADES INSALUBRES. PRESUNÇÃO DE EXPOSIÇÃO A AGENTES

NOCIVOS ATÉ A EDIÇÃO DA LEI 9.032/95. MP 1.523/96. EXIGÊNCIA DE

LAUDO TÉCNICO PERICIAL. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...)

4. In casu, a parte recorrida exerceu a função de ajudante de laborista, de

laborista e de encarregado de usina de asfalto, nos períodos de 1º/8/1972 a

1º/11/1973, de 2/1/1974 a 31/3/10980, de 2/6/1980 a 28/3/1983 e de 1º/9/1983 a 23/10/1995, respectivamente, estando exposto a agentes insalubres como o piche

e o betume, que constam dos anexos do Decretos 53.831/64 e 83.030/79. Existia

a presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos relacionadas nos

mencionados anexos. 5. Posteriormente, passou a exercer a função de

encarregado geral, no período de 16/10/1995 a 27/5/1998, ficando em exposição,

de modo habitual e permanente, a agentes agressivos, tais como calor, frio,

poeira e vento. 6. Todavia, a presunção de insalubridade só perduraria até a

edição da Lei 9.032/95, que passou a exigir a comprovação do exercício da

atividade por meio dos formulários de informações sobre atividades com

exposição a agentes nocivos ou outros meios de prova até a data da publicação

do Decreto 2.172/97, o que foi feito por meio dos Formulários SB-40 e DSS/8030. 7. Destarte, merece parcial reforma o acórdão recorrido, na parte em

que entendeu estar comprovado o exercício de atividade especial em período

posterior à MP 1.523/96, convalidada pela Lei 9.528/97, visto que a partir de

então, como dito acima, passou-se a exigir laudo técnico pericial para

comprovação da exposição a agentes insalubres, o que não se verificou nos

presentes autos. 8. Recurso especial a que se dá parcial provimento (STJ, Resp.

735.174/SP, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª.T., j. 6-6-2006, DJ 26-6-2006.)

Existe questionamento se essa exigência de prova se aplica aos entes públicos. No

âmbito federal, a Orientação Normativa MPOG/SRH n. 10, de 5-11-2011 (DOU 8-11-2010),

regulamenta as concessões de aposentadorias especiais aos servidores federais que figuraram no

pólo ativo de mandado de injunção provido pelo Supremo Tribunal Federal, sendo necessário

apresentar cópia da decisão. Os artigos 9º e 10º da Orientação Normativa22

estabelecem o

seguinte:

Art. 9º. O tempo de serviço exercido em condições especiais será convertido em

tempo comum, utilizando-se os fatores de conversão de 1,2 para a mulher e de

1,4 para o homem.

Parágrafo único. O tempo convertido na forma do caput poderá ser utilizado para

a aposentadoria prevista no art. 40 da Constituição Federal, na Emenda

Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e na Emenda Constitucional nº

47, de 5 de junho de 2005, exceto nos casos da aposentadoria especial de

professor de que trata o § 5º do art. 40 da Constituição Federal.

22 Orientação Normativa MPOG/SRH Nº 10, DE 05 DE NOVEMBRO DE 2010 - Estabelece orientação aos órgãos

e entidades integrantes do SIPEC quanto à concessão de aposentadoria especial de que trata o artigo 57 da Lei nº

8.213, de 24 de julho de 1991 (Regime Geral de Previdência Social), aos servidores públicos federais amparados por

Mandados de Injunção. Disponível em: http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/56/MPOG-RH/2010/10.htm.

Acesso em: 18.10.2011.

17

Art. 10. O tempo de serviço especial convertido em tempo comum poderá ser

utilizado para revisão de abono de permanência e de aposentadoria, quando for o caso.

Nos termos da Instrução Normativa INSS/PRES nº 45, de 6-8-201023

, publicado no

DOU 11-8-2010:

Art. 243. A exposição ocupacional a agentes químicos e a poeiras minerais

constantes do Anexo IV do RPS, dará ensejo à aposentadoria especial quando:

I - até 5 de março de 1997, véspera da publicação do Decreto nº 2.172, de 1997, analisar qualitativamente em conformidade com o código 1.0.0 do Anexo do

Decreto nº 53.831, de 1964 ou Código 1.0.0 do Anexo do Decreto nº 83.080, de

1979, por presunção de exposição;

II - a partir de 6 de março de 1997, analisar em conformidade com o Anexo IV

do RBPS, aprovado pelo Decreto nº 2.172, de 1997, ou do RPS, aprovado pelo

Decreto nº 3.048, de 1999, dependendo do período, devendo ser avaliados

conformes os Anexos 11, 12, 13 e 13-a da NR-15 do MTE; e

III - A partir de 19 de novembro de 2003, data da publicação do Decreto nº

4.882, de 2003, deverá ser avaliada segundo as metodologias e procedimentos adotados pelas NHO-02, NHO-03, NHO-04 e NHO-07 da FUNDACENTRO.

Art. 244. A exposição ocupacional a agentes nocivos de natureza biológica

infectocontagiosa dará ensejo à aposentadoria especial:

I - até 5de março de 1997, véspera da publicação do Decreto nº 2.172, de 1997, o

enquadramento poderá ser caracterizado, para trabalhadores expostos ao contato

com doentes ou materiais infecto-contagiantes, de assistência médica,

odontológica, hospitalar ou outras atividades afins, independentemente da

atividade ter sido exercida em estabelecimentos de saúde e de acordo com o

código 1.0.0 dos anexos dos Decreto nº 53.831, de 1964 e Decreto nº 3.048, de

1999, considerando as atividades profissionais exemplificadas; e

II - a partir de 6 de março de 1997, data da publicação do Decreto nº 2.172, de 1997, tratando-se de estabelecimentos de saúde, somente serão enquadradas as

atividades exercidas em contato com pacientes portadores de doenças infecto-

contagiosas ou com manuseio de materiais contaminados, considerando

unicamente as atividades relacionadas no Anexo IV do RPBS e RPS, aprovados

pelos Decreto nº 2.172, de 1997 e Decreto nº 3.048, de 1999, respectivamente.

Prossegue a Instrução Normativa, nos artigos 257 e 258:

Art. 257. A comprovação da atividade enquadrada como especial do segurado

contribuinte individual para período até 28 de abril de 1995, data da publicação

da Lei nº 9.032, de 1995, será feita mediante a apresentação de documentos que

comprovem, ano a ano, a habitualidade e permanência na atividade exercida

arrolada no Anexo II do Decreto nº 83.080, de 1979 e a partir do código 2.0.0 do

23 Instrução Normativa INSS/PRES nº 45, de 6 de agosto de 2010.Dispõe sobre a administração de informações dos

segurados, o reconhecimento, a manutenção e a revisão de direitos dos beneficiários da Previdência Social e

disciplina o processo administrativo previdenciário no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Disponível em: http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/inss-pres/2010/45.htm. Acesso em 4-10-2011.

18

Anexo III do Decreto nº 53.831, de 1964. Parágrafo único. Não será exigido do

segurado contribuinte individual para enquadramento da atividade considerada

especial a apresentação do PPP.

Art. 258. Consideram-se formulários legalmente previstos para reconhecimento

de períodos alegados como especiais para fins de aposentadoria, os antigos

formulários em suas diversas denominações, segundo seus períodos de vigência,

observando-se, para tanto, a data de emissão do documento, sendo que, a partir

de 1º de janeiro de 2004, o formulário a que se refere o § 1º do art. 58 da Lei

nº 8.213, de 1991 passou a ser o PPP.

A comprovação aos agentes nocivos se efetiva, então, mediante o preenchimento dos

formulários expedidos pelo INSS. A empresa tomadora dos serviços em condições de nocividade

necessitará contratar empresa de engenharia de segurança do trabalho ou de medicina do trabalho

para esta finalidade. O período até 28-4-1995 (Lei n. 9.032) dispensa, igualmente, a produção de

prova pericial e a exposição habitual, permanente, não ocasional e intermitente.

STJ. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO.

AGENTE NOCIVO ELETRICIDADE. LEI Nº 9.528/97. LAUDO TÉCNICO

PERICIAL. FORMULÁRIO. PREENCHIMENTO. EXPOSIÇÃO ATÉ

28/05/1998. COMPROVAÇÃO. I - A necessidade de comprovação do exercício

de atividade insalubre, através de laudo pericial elaborado por médico ou

engenheiro de segurança do trabalho, foi exigência criada apenas a partir do

advento da Lei 9.528, de 10/12/97, que alterou o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91. II- In casu, o agravado exercia a função de engenheiro e encontrava-se, por

presunção, exposto a agentes nocivos, conforme os termos do Decreto 53.831/64

- Anexo, ainda vigente no período de labor em que pleiteia o reconhecimento do

tempo especial (28/04/1995 a 13/10/1996). (STJ, AgRg no Resp.1176916/RS,

rel. Min. Félix Fischer, 5ª. T., j. 11-5-2010, DJe 31-5-2010).

STJ. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.

EXERCÍCIO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. MOTORISTA DE CAMINHÃO

DE CARGAS. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM

COMUM. EXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. POSSIBILIDADE.

PRESUNÇÃO DE EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS ATÉ A EDIÇÃO

DA LEI 9.032/95. COMPROVAÇÃO POR FORMULÁRIOS ATÉ A

VIGÊNCIA DO DECRETO 2.172/97. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. (...) Desse modo, antes da lei restritiva, era inexigível a comprovação da efetiva

exposição a agentes nocivos, porque o reconhecimento do tempo de serviço

especial era possível apenas em face do enquadramento na categoria profissional

do trabalhador, à exceção do trabalho exposto a ruído e calor, que sempre exigiu

medição técnica (Resp 436.661/SC, rel. Min. Jorge Scartezzini, Quinta Turma,

DJ de 2/8/2004; Resp 440.955, Rel. Min. Paulo Gallotti, Sexta Turma, DJ de

1º/2/2005) (STJ, Resp 415.298/SC, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 16-6-

2006, DJ 19-6-2006).

Portanto, os decretos referidos estão em vigor no que se referem ao enquadramento

das atividades consideradas, à época da prestação laboral, como nocivas à integridade física ou à

saúde e possibilitam a contagem majorada em até 1,40 relativamente ao tempo de serviço

19

comum, se homem, ou 1,2, se mulher, conforme jurisprudência do Tribunal Regional Federal da

1ª Região24

:

TRF1. (...) No cerne, consoante entendimento sedimentado no colendo STJ, o

servidor público que laborava em condições insalubres quando ainda celetista

tem o direito de averbar o tempo de serviço com aposentadoria especial, na

forma da legislação anterior, posto que já foi incorporado ao seu patrimônio

jurídico (RESP 259.495/PB, 5ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, unânime, DJ

26.08.2002). É considerada insalubre, para fins de contagem de tempo especial, a

atividade desenvolvida por médico, tendo em vista o disposto no item 2.1.3 do

Quadro Anexo do Decreto 53.831/64 e item 2.1.3 do Quadro Anexo do Decreto

83.080/79, aplicando-se o critério da presunção legal por grupo profissional. A exigência da comprovação técnica da efetiva exposição do trabalhador aos

agentes nocivos, para fins de contagem diferenciada do tempo de serviço, só teve

lugar a partir da vigência da Lei nº 9.032/95. O impetrante demonstrou, com sua

CTPS e declaração funcional expedida pelo Governo do Distrito Federal, ter

laborado desde 19.03.79 na qualidade de médico, atividade que, por estar

enquadrada no Decreto nº 83.080/79 (item 2.1.3 - "medicina, odontologia e

farmácia"), deve ser reconhecida como tempo de serviço especial. [...] o STF já

esposou entendimento no sentido de que o segurado pode agregar tempo de

serviço posterior à EC 20/98 (RE 575089). Ou seja, a Corte máxima do país já

entendeu que a EC 20/98 não é inconstitucional [...] Nesse sentido, o impetrante

tem direito à conversão do tempo de atividade especial em tempo de atividade comum até se tornar estatuário (Apelação em MS n. 2004.34.00.042853-0/DF,

rel. Juiz Federal Miguel Ângelo de Alvarenga Lopes, j. 18-5-2011).

A Lei nº. 10.254, de 20-8-1990, do Estado de Minas Gerais introduziu o regime

jurídico único, cuja vigência iniciou em 1º-8-1990, de modo que entre o ingresso no serviço

público estadual e a referida mudança de regime, a jurisprudência inclina-se pelo

reconhecimento do direito adquirido à conversão do tempo especial (majorado conforme a tabela

do Decreto n. 3.048/1999, artigo 70) em tempo comum:

TJMG. (...) A mencionada Lei nº 8.213/91, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, prevê em seu artigo 57: A aposentadoria

especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado

que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a

integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. No caso dos autos, busca o impetrante, tão somente, a

averbação do tempo de trabalho em local insalubre, desde a época em que passou

a integrar o quadro de servidores efetivos desta instituição (1993), como já dito,

para, futuramente, implementadas as condições legais, pleitear junto à autoridade

administrativa, sua aposentadoria especial. Sendo assim, considerando que o

Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição da República, vem

determinando a aplicação do artigo 57 da Lei Federal nº 8.213/91, a casos

semelhantes ao dos autos, conclui-se que, a ausência de regulamentação do

artigo 40, §4º, da CR/88, não pode ser usada para afastar o direito ora pretendido

(TJMG, Mandado de Segurança n. 1.0000.10.067659-2/000, rel. Des. Dárcio

24 TRF1. PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.

PERÍODO CELETISTA. CONDIÇÕES INSALUBRES. AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. MÉDICO.

CABIMENTO. LEI 9.032/95. EC 20/98. LEI 6.887/80. Apelante: INSS. Apelado: Herculano Araújo Oliveira Costa

Júnior. Disponível em: http://arquivo.trf1.jus.br/default.php?p1=200434000428530. Acesso em 10-10-2011.

20

Lopardi Mendes, j. 8-6-2011, DJ 1º-7-2011). TJMG. Mandado de Segurança –

Servidor Público Estadual - Exercício de Atividade Insalubre Reconhecido - Lei

Estadual nº 10.856/92 - Resolução nº 360/96 do TJMG - Averbação do Tempo de Serviço – aposentadoria especial - Artigo 40 § 4º da CR/88 - Possibilidade -

Ausência de Regulamentação - Aplicação do Artigo 57 da Lei 8.213/91 -

Precedentes do Supremo Tribunal Federal. - O Mandado de Segurança, seja ele

na forma repressiva ou preventiva, é cabível para a proteção de direito líquido e

certo, não protegido por 'habeas corpus' nem por 'habeas data', em sendo o

responsável pelo abuso de poder ou ilegalidade autoridade pública, ou agente de

pessoa jurídica, no exercício de atribuições do poder público, nos termos do art.

5º, LXIX da CF/88. - O Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição da

República, vem determinando a aplicação do artigo 57 da Lei Federal nº

8.213/91, nos casos em que se pleiteia, por meio de Mandado de Injunção, a

regulamentação do artigo 40, §4º, da Constituição da República de 1988. - Há

direito líquido e certo do impetrante que busca a averbação do serviço exercido em local ou condições insalubres, para fins da aposentadoria especial de que fala

o citado artigo, se já reconhecido por este Tribunal o seu direito à percepção do

adicional de insalubridade, e por analogia ao disposto no artigo 57 da Lei nº

8.213/91. Impetrante: Ricardo Viegas Cançado. Aut. Coatora: Sr. Presidente do

TJMG.

TJMG. (...) O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE

209.899, firmou entendimento de que o direito à contagem do tempo de serviço

público prestado por celetista, antes da transformação em estatutário, incorpora-

se ao seu patrimônio jurídico para todos os efeitos, ou seja, comprovado o

exercício de atividade considerada insalubre, perigosa ou penosa, pela legislação

à época aplicável, adquire o servidor o direito à contagem especial desse tempo

de serviço (TJMG, Apelação Cível/Reexame Necessário n. 1.0145.04.165053-

5/001, rel. Des. Bittencourt Marcondes, j. 4-3-2010, DJ 21-5-2010).

MANDADO DE SEGURANÇA. REEXAME NECESSÁRIO. MÉDICO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONTAGEM DE TEMPO. REGIME

CELETISTA. ATIVIDADE INSALUBRE. DECRETOS Nº. 53.831/64 E Nº.

83.080/79. FATOR DE CONVERSÃO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.

MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. - O SERVIDOR PÚBLICO municipal que

exerceu atividade de médico, sob o regime celetista, nos termos do quadro do Anexo do Decreto nº 53.831/64, tem direito à APOSENTADORIA ESPECIAL

com aplicação do fator de multiplicação 1.4, no período anterior ao advento da

Lei 9.032, de 29 de abril de 1995, conforme legislação vigente (TJMG, Reexame

Necessário Cível n. 1.0024.08.039410-9/001 – Comarca de Belo Horizonte/5ª

Vara Faz. Mn. Autores: Levy Coelho da Rocha Neto. Réu: Município de Belo

Horizonte. Rel. Des. Armando Freire, j.17-3-2009, DJ 19-4-2009.)

Frise-se ainda que o INSS possui o entendimento de que o rol dos agentes nocivos

dos decretos é numerus clausus, mas o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento

contrário.

STJ. (...) 3. A jurisprudência se pacificou no sentido de que as atividades

insalubres previstas em lei são meramente explicativas, o que permite afirmar

que, na análise das atividades especiais, deverá prevalecer o intuito protetivo ao

trabalhador. Sendo assim, não se parece razoável afirmar que o agente insalubre

da atividade do pedreiro seria apenas uma característica do seu local de trabalho,

já que ele está em constante contato com o cimento, em diversas etapas de uma obra, às vezes direta, outras indiretamente, não se podendo afirmar, com total

segurança, que em algum momento ele deixará de interferir na saúde do

trabalhador. 4.Não constitui ofensa ao enunciado sumular de nº 7 desta Corte a

21

valoração da documentação apresentada que comprova a efetiva exposição do

trabalhador a agentes prejudiciais à saúde. 5. Recurso especial ao qual se dá

provimento (REsp n. 354.737/RS, Sexta Turma, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 09/12/2008).

Destarte, há que finalizar a questão aduzindo que o Supremo Tribunal Federal

garante a aposentadoria especial do servidor público, quando comprovadas as situações especiais

de trabalho em que o mesmo laborou enquanto na ativa. Sendo que, como visto, em face da

ausência de regulamentação do art. 40, § 4º da CF, deverá o servidor público que busca efetivar

sua aposentadoria especial, quando lhe negada tal oportunidade pela via administrativa, fazer o

uso do mandado de injunção como ação constitucional garantidora do seu direito fundamental,

para compelir a aplicação do art. 57 da Lei 8.213/91.

O MI 1083 – DF, que teve por relator o Ministro Marco Aurélio, bem demonstra a

situação, de modo que se torna imperiosa a transcrição da ementa do acórdão. Litteris:

MANDADO DE INJUNÇÃO - NATUREZA. Conforme disposto no inciso LXXI do artigo 5º da Constituição Federal, conceder-se-á mandado de injunção

quando necessário ao exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das

prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Há ação

mandamental e não simplesmente declaratória de omissão. A carga de declaração

não é objeto da impetração, mas premissa da ordem a ser formalizada.

MANDADO DE INJUNÇÃO - DECISÃO - BALIZAS. Tratando-se de processo

subjetivo, a decisão possui eficácia considerada a relação jurídica nele revelada.

APOSENTADORIA - TRABALHO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS -

PREJUÍZO À SAÚDE DO SERVIDOR - INEXISTÊNCIA DE LEI

COMPLEMENTAR - ARTIGO 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Inexistente a disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-

se a adoção, via pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral - artigo 57, § 1º, da Lei nº 8.213/91. APOSENTADORIA ESPECIAL -

SERVIDOR PÚBLICO - TRABALHO EM AMBIENTE INSALUBRE -

PARÂMETROS. Os parâmetros alusivos à aposentadoria especial, enquanto não

editada a lei exigida pelo texto constitucional, são aqueles contidos na Lei nº

8.213/91, não cabendo mesclar sistemas para, com isso, cogitar-se de idade

mínima. (STF. MI 1083 – DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Julgamento:

02/08/2010, DJe-164: 03/09/2010)

Por fim, como a mora legislativa em regulamentar o dispositivo constitucional que

garante aos servidores públicos a aposentadoria especial é do Presidente da República, a ele

sempre caberá a legitimidade para figurar no pólo passivo de mandado injunção que discuta a

modalidade de aposentadoria a qual ponderamos. Segue abaixo o MI 1463 AgR, de relatoria da

Ministra Cármen Lúcia, que melhor explicita a questão. Litteris:

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE INJUNÇÃO.

APOSENTADORIA ESPECIAL DE SERVIDOR PÚBLICO. ART. 40, § 4º,

INC. III, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. APLICAÇÃO DO ART. 57

DA LEI N. 8.213/1991. LEGITIMIDADE PASSIVA. 1. Enquanto não for

regulamentado o art. 40, § 4º, da Constituição da República, o Presidente da

22

República é parte legítima para figurar no polo passivo de mandado de injunção

em que se discute a aposentadoria especial de servidor público. Precedentes. 2.

Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF. MI 1463 AgR, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Julgaento: 02/03/2011, DJe-089: 13-05-2011)

Verifica-se que também na esfera pública é imprescindível a demonstração de

exposição ao risco e agentes nocivos na atividade desempenhada, conforme requisitos

determinados na Lei n.º 8.213/91, aliado ao tempo de serviço na atividade e a idade para se

aposentar. Salienta-se, ainda, que é possível a conversão do tempo de serviço na atividade

penosa, insalubre ou prejudicial para fins de diminuição do tempo para se aposentar.

4. CONCLUSÃO

A aposentadoria especial do servidor na hipótese de exposição a agentes nocivos

sejam químicos, físicos ou biológicos, bem como para servidores que exerçam atividades de

risco ou ainda, que sejam portadores de deficiência, conforme determinação da EC 47/2005 é

direito assegurado constitucionalmente. Entretanto, observa-se que a atual Constituição ao tratar

do tema no seu art. 40, condicionou tal direito à regulamentação por lei complementar. Em razão

dessa dependência, durante algum tempo o STF considerou que só caberia aposentadoria

especial ao servidor se regulado por lei complementar e ainda, que seria faculdade do Poder

Legislativo editar a referida lei.

Contudo, depois do julgado do MI nº 721-7/DF, o STF tem adotado uma postura

diferente. O seu entendimento é no sentido de que a ausência de lei complementar

regulamentadora do direito à aposentadoria especial do servidor, disposição essa que já vem

expressa desde a Constituição original, só mostra que essa lacuna existe há muitos anos e que é

imperativo ao Poder Judiciário fazer valer o direito desse servidor de se aposentar nos moldes da

aposentadoria especial. Para tanto, o STF utiliza como parâmetro os requisitos previstos na no

art. 57 da Lei 8213/91. Esse posicionamento do STF é embasado ainda na disposição contida no

§ 12 do art. 40 da Constituição, a qual prevê a utilização, no que couber, dos critérios e requisitos

contidos no regime geral de previdência social para os servidores públicos titulares de cargo

efetivo. Salienta-se aqui que a verificação dos pressupostos para o alcance da aposentadoria deve

ser feita pela Administração responsável. Desse modo, nesses casos, o STF tem mostrado que

através de Mandando de Injunção não se faz simplesmente a declaração de ausência de lei

23

evidenciando a omissão legislativa, mas sim, no caso concreto, assegura o direito do cidadão.

Desta feita, entende-se que o Poder Judiciário ao assegurar o direito à aposentadoria especial do

servidor que impetrou mandado de injunção, não está invadindo a competência do Poder

Legislativo, já que sua determinação é para o caso concreto e não uma norma em abstrato.

Verifica-se que se presente os requisitos essenciais para a aposentadoria, tal como idade para

aposentadoria (exigência constitucional) e tempo de serviço (previsão nos moldes da Lei

8213/91) é direito do servidor a aposentadoria especial.

Importante destacar, ainda, que o STF permitiu que os relatores em casos

semelhantes possam decidir monocraticamente seguindo essa linha de raciocínio. Nesse sentido,

observa-se que há um avanço, pois, embora não haja conferido repercussão geral para esses

casos, a possibilidade de decisão monocrática traz celeridade ao procedimento.

Pelas elucidações ora expostas, consideramos como positiva a posição que o STF

adotou em relação à aposentadoria especial do servidor. Entendemos que sua atuação traz a

confiança no Judiciário, principalmente porque a aposentadoria é um direito constitucional e a

própria Constituição prevê a aposentadoria especial do servidor. Aguardar que haja edição de lei

complementar que regule esse direito - já há tanto tempo assegurado na Constituição – e, em

razão disso, considerar como faculdade a sua edição, é não permitir o exercício do direito.

24

5. BIBLIOGRAFIA

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