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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Cibele Aparecida Santos Rosa Professores iniciantes no ensino superior: um estudo com professores que ensinam Matemática nos Cursos de Licenciatura e Pedagogia MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2015

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Cibele Aparecida Santos Rosa ... foi com esse desafio ... preparação do indivíduo para toda sua vida profissional. Siqueira

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cibele Aparecida Santos Rosa

Professores iniciantes no ensino superior: um estudo

com professores que ensinam Matemática nos Cursos de

Licenciatura e Pedagogia

MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO

2015

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Cibele Aparecida Santos Rosa

Professores iniciantes no ensino superior: um estudo

com professores que ensinam Matemática nos Cursos de

Licenciatura e Pedagogia

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título de

MESTRE EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO,

sob a orientação da Professora Doutora Laurizete

Ferragut Passos.

SÃO PAULO

2015

Banca Examinadora

________________________________________________

________________________________________________

________________________________________________

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, pela força e proteção em

tantos momentos difíceis e delicados desta jornada.

A meu amado pai José Roberto, a vida só tem sentido porque

o senhor existe.

A Professora Doutora Laurizete Ferragut Passos, pela

dedicação com que conduziu essa dissertação; pelo

acolhimento, respeito e sobretudo por lapidar cada parágrafo

desta dissertação, obrigada pelo cuidado ao longo desses 2

anos.

Aos Professores Doutores Nelson Gimenes e Leanette Tomas

Dotta, pelas importantes críticas e sugestões feitas ao

trabalho no exame de qualificação.

Ao Professor Doutor Armando Traldi Junior, por aceitar

fazer parte da banca e assim colaborar para a evolução

desta pesquisa.

Ao Professor Doutor Álvaro A. Schmidt Neto, por estar na

hora certa e no momento certo, obrigada por todas as dicas

importantíssimas.

Aos Professores sujeitos da pesquisa, que me receberam

muito bem, e que generosamente aceitaram participar dessa

pesquisa.

Aos Professores do PED, pelo carinho a atenção.

A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior), pelo financiamento dessa pesquisa.

Ao Cristiano Francisco, pela paciência ao longo deste estudo.

A Raquel Seriani, por compartilhar comigo cada um dos

momentos desta importante trajetória. Obrigada pelo seu

cuidado e preocupação e, por estar sempre presente

dividindo comigo as muitas alegrias e também as tristezas

existentes. Ao longo destes 2 anos, eu aprendi admirá-la e

respeitá-la imensamente.

A Lisandra Princepe, por ser essa pessoa iluminada,

obrigada por me ajudar em todos os momentos de socorro.

As amigas, Dilma Antunes, Rosemeire Oliveira, Ieda Brock

e Léa Assis, incríveis parceiras nesta jornada do mestrado.

Amigas de sempre e para sempre.

A Márcia Barletta, minha amiga de trabalho que sempre

torceu e incentivou-me Obrigada por entender esse momento.

Muito Obrigada!

A Autora

RESUMO

A decisão de dedicar um estudo específico sobre o professor com formação em

Matemática em início de carreira, justifica-se pela necessidade de salientar sua

importância e de reconhecer que ainda se trata de um campo de estudo pouco

explorado. A pesquisa apoiou-se em pesquisadores nacionais e internacionais que se

debruçam sobre a fase da inserção na docência, como Carlos Marcelo (2012). Cunha

(1998; 2002; 2004; 2010 e 2012), Ruiz (2008) e Valenzuela e Barnett (2013) e Isaia

(2006; 2008 e 2009) e orientaram o estudo em relação ao início da docência no ensino

superior. O objetivo do estudo foi investigar as dificuldades que os professores de

Matemática enfrentam no início de sua prática docente no ensino superior, e as

alternativas que encontram para superá-las. Para a coleta de dados, foram utilizados

questionário e entrevista com três professores formados em Matemática e com até 5

anos de experiência no ensino superior. No questionário, buscou-se identificar o perfil

dos sujeitos e, por meio das entrevistas, foram verificados os aspectos relacionados ao

início da carreira, à atuação docente e aos desafios e dificuldades vivenciadas nesse

período. Os resultados indicaram que uma dificuldade importante enfrentada pelos

iniciantes é ensinar para um aluno com ausência de conhecimentos básicos da

Matemática. Também a falta de experiência anterior dos professores no ensino superior

e o trabalho solitário mostraram-se desafiadores aos iniciantes. No estudo, ficou evidente

que o apoio dos colegas de profissão e da coordenação podem ser fatores importantes

para que o professor em início de carreira tenha um bom desempenho em seu trabalho.

Os desafios, dificuldades e problemas apontados pelos docentes traduzem, assim, a

necessidade de maior ênfase em seu preparo, no que se refere a aspectos didático-

pedagógicos. Dessa forma, no contexto da formação dos docentes em início de carreira

no ensino superior, é essencial que as instituições de ensino superior reflitam sobre a

formação pedagógica dos docentes e valorizem ações formativas, enfatizando os

processos que os docentes vivenciam para construir saberes para o ensino.

Palavras-chave: ensino superior; inicio de carreira; professor de Matemática.

ABSTRACT

The decision to devote a specific study on the teacher in mathematics with early-stage, it

has justified by the need to emphasize its importance and recognize that it is still a

relatively unexplored field of study. The research relied on national and international

researchers that focus on the phase of integration in teaching as Carlos Marcelo (2012).

Cunha (1998, 2002, 2004, 2010 and 2012), Ruiz (2008) and Valenzuela and Barnett

(2013) and Isaia (2006, 2008 and 2009) the study compared to the beginning of teaching

in higher education. The objective of the study was to investigate the difficulties that

mathematics teachers face at the beginning of their teaching practice in higher education

and the alternatives that are to overcome them. For data collection was used

questionnaire and interviews with three teachers trained in mathematics and up to five

years of experience in higher education. The questionnaire sought to identify the profile of

the subjects and through interviews found that the aspects related to the beginning of his

career, the educational performance and the challenges and difficulties experienced

during this period. The results indicated that a major difficulty faced by beginners is to

teach a student with lack of basic knowledge of mathematics. The lack of previous

experience of teachers in higher education and the solitary work proved challenging for

beginners. In the study it became clear that the support of the profession and the

coordination of colleagues may be important factors for the teacher to early-stage will

perform well in their work. The challenges, difficulties and problems posed by teachers

translate thus the need for greater emphasis on their preparation, as regards the didactic

and pedagogical aspects. Thus, in the context of teacher training early career in higher

education, it is essential for higher education institutions to reflect on the pedagogical

training of teachers and enhance training activities, emphasizing the processes whose

teachers experience to build knowledge for teaching.

Keywords: higher education; career start; math teacher.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11

1.1 Delimitação do objetivo de estudo .............................................................. 11

1.2 Justificativa ................................................................................................. 19

1.3 Questões de pesquisa ................................................................................ 22

1.4 Objetivo geral ............................................................................................. 23

1.5 Estudo correlatos ....................................................................................... 23

CAPÍTULO 2 ........................................................................................................... 29

DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR .......................................................... 29

2.1 Formas de entrada e vínculo empregatício do professor universitário ........ 34

2.2 Saberes docentes ...................................................................................... 36

2.3 Professores iniciantes no Ensino Superior ................................................. 41

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................... 49

METODOLOGIA ............................................................................................. 49

3.1 Instrumentos de coleta de dados e sua elaboração ................................... 50

3.1.1 Questionário ..................................................................................... 51

3.1.2 Entrevistas ........................................................................................ 52

3.2 Critérios de seleção dos sujeitos ................................................................ 53

3.3 Contato com os sujeitos ............................................................................. 53

3.4 Caracterização das instituições onde os sujeitos trabalham ....................... 54

3.5 Conhecendo os sujeitos ............................................................................. 55

3.5.1 Professor Wander ............................................................................ 56

3.5.2 Professora Regina ............................................................................ 56

3.5.3 Professor Daniel ............................................................................... 56

CAPÍTULO 4 ........................................................................................................... 59

ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................. 59

4.1 Escolha pela carreira docente .................................................................... 59

4.2 Ingresso na carreira docente: desafios e dificuldades ................................ 64

4.3 Dificuldade com conteúdo de Matemática .................................................. 69

4.4 Insatisfações e condições de trabalho no exercício da docência ................ 73

4.5 Socialização: apoio ao professor iniciante .................................................. 77

4.6 Papel dos alunos frente à dificuldade com a Matemática: uma dimensão

emergente ..................................................................................................

83

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 89

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 93

Anexos ................................................................................................................. 105

Anexo A ............................................................................................................ 105

Anexo B ............................................................................................................ 107

Anexo C ............................................................................................................ 109

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

GT Gupo de Trabalho

IES Instituição Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

SCIELO A Scientific Electronic Library Online

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Número de Instituição de Educação Superior por organização

acadêmica e categoria administrativa – Brasil – 2003-2013 ....................

15

Tabela 2: Número de funções docentes em exercício na Educação Superior por

categoria administrativa e por grau de formação – Brasil – 20032013 .....

17

Tabela 3: Evolução dos números de cursos de Matemática no Brasil ..................... 18

Quadro 1: Conhecendo os sujeitos ......................................................................... 55

11

INTRODUÇÃO

1.1 Delimitação do objeto de estudo

Nasci em São José dos Campos, uma cidade do interior do Estado de São

Paulo, onde atualmente resido.

A escolha pela graduação em Pedagogia foi uma grande novidade, pois

minha primeira opção era fazer Psicologia. Prestei vestibular, em 2005, e fui

aprovada, mas cursar Psicologia na época era inviável em razão do fator

financeiro. Entretanto, como a Pedagogia era minha segunda preferência e

possível de ser paga, optei por esta.

Ao fazer a escolha pela Pedagogia, não sabia ao certo se seguiria a

carreira ou outra profissão.

Logo no início do curso, gostei do que me foi apresentado referente às

disciplinas e toda dinâmica proposta pela universidade. No decorrer das aulas, as

pesquisas sobre a educação no Brasil trouxeram para minha vida acadêmica,

uma série de indagações que naquele momento não compreendia corretamente.

Tentava entender como poderia a educação sofrer ao mesmo tempo com tantos

progressos e retrocessos.

Minha relação com a Matemática deu início durante minha trajetória

acadêmica como estagiária em escolas municipais e estaduais de São José dos

Campos e comecei a perceber as dificuldades das crianças com o aprendizado

da Matemática.

12

A Matemática é uma ferramenta importante para as pessoas, pois está

presente na prática diária, pois inúmeros alunos apresentam dificuldades

relacionadas a essa disciplina.

Percebemos que as séries iniciais, além da importância imediata para a

vida do educando, formam uma base para as demais séries, sobretudo, quanto

aos conceitos e relações em Matemática. (EBERHARDTH; COUTINHO, 2011).

Assim que terminei a graduação, ingressei no curso de especialização em

Psicopedagogia. Optei por essa especialização para compreender o que ocorre

com as crianças com problemas de aprendizagem. Meu trabalho de conclusão do

curso foi relacionado à discalculia.

A discalculia afeta as condições de desenvolvimento da capacidade

cognitiva do indivíduo, impedindo que ele tenha melhor desempenho em

atividades relacionadas à Matemática. Ela ocorre em razão de uma falha na

formação dos circuitos neuronais, ou seja, na rede por onde passam os impulsos

nervosos.

Com base nessa experiência vivida mais intensamente com a

Psicopedagogia, resolvi pesquisar sobre esse assunto e, foi com esse desafio

que decidi cursar o mestrado.

Ao ingressar no mestrado, estabeleci os primeiros contatos com a

orientadora que vinha desenvolvendo um projeto sobre professores que atuam

nos cursos de licenciatura em Matemática e voltam-se para a formação desse

professor da escola básica.

Ao conhecer o projeto de pesquisa, fui me envolvendo com um novo

aspecto relacionado à Matemática e passei a dedicar-me com mais afinco a esse

objeto.

No decorrer das aulas, fui apropriando-me das leituras, debatíamos textos

de renomados autores da área, e isso gerava riquíssimas trocas de experiências.

Comecei a entender a importância do papel do formador na formação dos

professores que atuam na educação básica e como ele lida com as dificuldades e

desafios diários da profissão. Com isso, acabei por mudar meu foco de pesquisa.

13

Estudar o professor com formação em Matemática em início de carreira

que atua nos cursos de licenciaturas em Matemática e Pedagogia é relevante,

pois, durante muito tempo, a formação inicial foi considerada suficiente para a

preparação do indivíduo para toda sua vida profissional. Siqueira (2007) reafirma

a necessidade de continuidade dos estudos e de atualização e sua relação com a

atuação em razão dos avanços do conhecimento na área educacional:

Contudo, o avanço do conhecimento, nas últimas décadas e o seu

inter-relacionamento com a atuação profissional trouxeram à tona

a necessidade de atualização e de aprimoramento constante

principalmente dos que atuam na educação. (SIQUEIRA, 2007, p.

15)

Esta afirmação direciona a reflexão para a realidade dos cursos de

Pedagogia hoje. Há dados de pesquisa que mostram que o curso está

preparando o futuro professor de um modo muito inadequado, currículos com

poucas horas e sem tempo para explorar mais os conteúdos de Matemática. E,

esses professores, que irão trabalhar nas séries iniciais precisam ser profissionais

que saibam ensinar Matemática.

Por outro lado, a presente pesquisa também quis olhar o professor

iniciante que atua preparando o professor do segundo segmento. Será que esse

profissional enfrenta os mesmos desafios e dificuldades que o iniciante que atua

nos cursos de Pedagogia?

No estudo realizado por Gatti (2009), a análise focalizou os currículos e

ementas dos cursos presenciais de Pedagogia que respondem pela formação de

professores dos 1ºs ao 5ºs anos do ensino fundamental e da educação infantil.

Realizou-se um mapeamento de propostas curriculares de 71 cursos, tendo em

conta os diversos tipos de instituições de ensino superior que oferecem o curso

em todas as regiões do Brasil e sua dependência administrativa.

Conforme a autora, os conteúdos a serem ensinados na educação básica

(Alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e

Educação Física) aparecem apenas esporadicamente nos cursos de formação

genérica ou superficial no interior das disciplinas de Metodologia e Práticas de

14

Ensino, sugerindo frágil associação com as práticas docentes. (GATTI, 2009, p.

55)

De acordo com a autora supracitada (p. 55), a proporção de horas

dedicadas às disciplinas referentes à formação profissional específica é de 30%,

ficando 70% para outro tipo de matérias oferecidas nas instituições formadoras.

Nos cursos de Pedagogia, de acordo com o relatório de pesquisa são

aprendidas teorias pedagógicas, mas, faltando conteúdo matemático. Isso se

torna um agravante ao pedagogo quando chega à sala de aula, pois fica perdido

em relação ao ensino da Matemática.

Para que isso não aconteça, a formação de professores deve ser

considerada como importante condição de transformação das práticas

pedagógicas. Siqueira (2007, p. 15) destaca a preocupação com a formação e

sua presença nas reformas atuais que vêm questionando a qualidade da

educação e a competência dos professores e das instituições que os formam:

“essa é uma questão presente nas reformas educativas dos últimos anos, em que

se questiona a qualidade da educação, a competência dos professores e das

instituições formadoras”. (SIQUEIRA, 2007, p. 15)

Os questionamentos apontados por Siqueira (2007) estão atrelados

diretamente com a expansão do ensino superior no Brasil. Esta é uma realidade

preocupante, que implica mudanças e essa expansão demonstra não estar

acompanhada da qualidade necessária. Para Sguissardi,

[...] a qualidade é um fato tão presente no cotidiano das IES que

não mais pode ser ignorado, seja na sua acepção tradicional, de

excelência acadêmico-científica, seja nas suas novas e diversas

acepções que vão desde as que se conformam à estrita lógica do

mercado, da eficácia e da competitividade mercantil, até as que

obedecem aos critérios da garantia pública de qualidade”.

(SGUISSARDI, 2004, p. 84)

De acordo com INEP1 o total de alunos na educação superior brasileira

chegou a 7,3 milhões em 2013, quase 300 mil matrículas acima do registrado no

1 http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/

15

ano anterior. No período 2012-2013, as matrículas cresceram 3,8%, sendo 1,9%

na rede pública e 4,5% na rede privada.

Conhecer esses dados implica compreender as dificuldades geradas pelo

processo de expansão e pela variedade de instituições de formação no País no

que se refere à garantia de uma qualidade de ensino desejável.

De acordo com a LDBEN nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional), as IES dividem-se, conforme a organização acadêmica, em:

Universidades e Não Universidades – Centros Universitários, Faculdades

Integradas e Institutos ou Escolas Superiores.

Tabela 1: Número de Instituições de Educação Superior por Organização Acadêmica e

Categoria Administrativa – Brasil – 2003/2013.

Fonte: http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior

Nos dados desta tabela podemos notar que o número de faculdades

privadas é bem superior à soma das universidades e centros universitários

particulares; e o mesmo acontece em relação às públicas. Talvez isso aconteça,

porque as faculdades são instituições de ensino superior que atuam em um

número pequeno de áreas do saber. Muitas vezes, são especializadas e

oferecem apenas cursos na área de saúde ou na área da economia e

administração, por exemplo. E também quando uma faculdade pretende lançar

um curso, ela precisa pedir autorização do Ministério da Educação, ou seja, não

16

tem autonomia para criar programas de ensino. Contudo, uma vantagem é que o

corpo docente pode ter titulação com, no mínimo, pós-graduação lato sensu, bem

diferente dos centros universitários e das universidades que exigem maior

titulação.

As universidades precisam ter um terço do corpo docente com título de

mestrado ou doutorado. Desse modo, quanto maior a titulação dos professores,

mais tempo de pesquisa e mais experiência são relevantes na transmissão dos

estudantes.

Assim, observamos que um terço do professorado deve ter contrato em

regime de tempo integral. Estes são os profissionais que costumam oferecer

maior dedicação à instituição.

Quando um professor é contratado para poucas aulas, normalmente, tem

menos tempo para atender aos universitários e para desenvolver projetos de

pesquisa e extensão. As universidades precisam desenvolver, pelo menos, quatro

programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) com boa

qualidade – um deles deve ser de doutorado.

Já, os centros universitários assim como as universidades, têm graduações

em vários campos do saber e autonomia para criar cursos no ensino superior. Em

geral, são menores do que as universidades e têm menor exigência de

programas de pós-graduação. No entanto, devem ter, no mínimo, um terço do

corpo docente com mestrado ou doutorado e pelo menos, um quinto dos

professores contratados em regime de tempo integral (o percentual é menor do

que o exigido para as universidades).

A seguir, nos dados da tabela é possível identificar o total de docentes em

exercício no Brasil e constatar o crescimento que ocorre a cada ano.

17

Tabela 2: Número de Funções Docentes em Exercício na Educação Superior, por

Categoria Administrativa e por Grau de Formação – Brasil – 2003/2013.

Fonte: http://portal.inep.gov.br/superior-censosuperior

Nesta tabela, também podemos observar que a Educação Superior

registrou melhoria constante no nível de qualificação de seus professores. O fato

pode ser atribuído à LDBEN nº 9.394/96 e à legislação posterior que aumentaram

as exigências de formação mesmo para aos estabelecimentos de ensino.

Um dado preocupante apresentado pelo Censo refere-se ao número dos

professores que estão atuando sem graduação no ensino superior, ou seja, estão

exercendo funções de ensino sem a devida preparação para o exercício docente.

Em suma, os dados mostram que, de uma forma geral, os professores vêm

preocupado-se com a continuidade de sua formação.

A expansão do ensino superior está atrelada também ao aumento dos

cursos de licenciaturas.

De acordo com Silva (2014) no período entre 1991 e 2012, os cursos que

formam professores de Matemática no Brasil têm aumentado no decorrer dos

anos, conforme os dados da Tabela 3.

18

Tabela 3: Evolução do número de cursos de Matemática2

Fonte: MEC/INEP

Em 1991, o País possuía 122 cursos, sendo nove bacharelados, 36 de

bacharelado e licenciatura e 77 de licenciaturas. Com o passar dos anos, os

cursos de bacharelado e licenciatura em Matemática foram diminuindo e, em

2010, “observa-se que esse tipo de curso não aparece nos dados do referido

órgão. Já os cursos de bacharelado e o de Licenciatura em Matemática vêm

crescendo de forma pouco expressiva” (SILVA, 2014, p. 42).

Com o crescimento dos cursos de licenciaturas mesmo que pouco

expressivo, um questionamento fica evidente em relação à qualidade dessa

formação e, portanto, devemos pensar também, nos professores que estão

atuando nesses cursos, ou seja, o professor formador e, que está em um

processo de início de suas atividades, como docente.

Sabemos que os professores formadores dos cursos de Licenciatura são

os responsáveis pela formação dos professores que atuam na educação básica.

Conhecer as dificuldades e desafios enfrentados pelo professor formador em seu

início de carreira, como docente, pode permitir uma análise que contribua para a

melhoria da qualificação desses professores.

2 Dados de 2013, não foram disponibilizados pelo MEC.

19

1.2 Justificativa

A decisão de dedicar um estudo específico sobre o professor com

formação em Matemática em início de carreira, justifica-se pela necessidade de

salientar sua importância e reconhecer que, ainda se trata de um campo de

estudo pouco explorado, se considerada a relevância do tema.

Para propósito deste estudo, foi necessário realizar alguns levantamentos3

com a finalidade de identificar os trabalhos acadêmicos que se aproximassem do

tema investigado.

Inicialmente, foi feita uma busca no Banco de Dados da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)4. Algumas palavras-

chave foram utilizadas para facilitar a busca: Professores de Matemática,

Formação de Professores, Professores iniciantes e Professores iniciantes de

Matemática no Ensino Superior. O período analisado do banco de dados refere-

se a 2011 e 2012.

Entre dissertações e teses, foram encontrados entre 1.210 trabalhos

relacionados a Professores de Matemática, 4.310 referente à Formação de

Professores, 32 relacionados aos Professores Iniciantes e nenhum relacionado

aos Professores Iniciantes de Matemática no Ensino Superior.

Também foi realizado levantamento no site Scielo (Scientific Electronic

Library Online)5, sendo encontrados 148 trabalhos relacionados a Professores de

Matemática, 1.288 referentes à Formação de Professores, cinco relacionados aos

Professores Iniciantes e nenhum relacionado aos Professores Iniciantes de

Matemática no Ensino Superior.

Em um terceiro momento, foi realizado um levantamento no site da ANPED

(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) nos últimos

10 anos das reuniões anuais (2004 a 2013). Foram considerados os artigos

publicados pelos GTS (Formação de professores e Educação Matemática) e

utilizadas as palavras-chave já mencionadas.

3 Levantamento realizado em Maio de 2014.

4 Toda a produção dos programas de pós-graduação em educação do país estar abrigados nesse site.

5 Biblioteca eletrônica que abrange a seletiva coleção de periódicos científicos brasileiros e latino americano.

20

Foram encontrados 28 trabalhos relacionados a Professores de

Matemática, 64 referente à Formação de Professores, 17 relacionados aos

Professores Iniciantes e nenhum voltado aos Professores Iniciantes de

Matemática no Ensino Superior.

Um levantamento importante desta pesquisa referiu-se aos trabalhos

apresentados no IV Congresso6 sobre Professorado Principiante e Inserção

Profissional à Docência, sendo identificados os trabalhos cujos títulos traziam a

palavra professor iniciante.

Dos 197 trabalhos apresentados, 45 abordavam aspectos relacionados ao

professor iniciante e um voltado ao professor iniciante de Matemática no ensino

superior.

A pesquisa de Mariano (2006) sobre professor iniciante no Brasil trouxe um

panorama dos estudos sobre o tema em seu levantamento. Ao analisar as

pesquisas sobre a aprendizagem profissional do professor iniciante de 1996 a

2004. O autor descreve quatro trabalhos encontrados no levantamento referente

ao iniciante no ensino superior, de forma geral.

O primeiro trabalho é de autoria de Ferenc e Mizukami (2004). Ambos

centram a análise em um professor universitário iniciante e destacam a

socialização do professor.

Scolari e Giordani (2004) são os autores indicados no segundo trabalho

que analisam 16 professores, e o foco do estudo está voltado para aos recursos

teóricos e práticos utilizados pelo professor.

O terceiro estudo é o de Araújo (2004), cujo foco está voltado à construção

dos saberes docentes.

Cunha (2004) refere-se ao quarto trabalho, analisa também a construção

dos saberes docentes.

6 O Primeiro Congresso sobre Professorado Principiante e Inserção Profissional à Docência, ocorreu em junho de 2008 na cidade de Sevilha. O segundo congresso teve lugar em Buenos Aires em fevereiro de 2010. O terceiro congresso foi realizado em Santiago de Chile em fevereiro de 2012 e quarto ocorrido na cidade de Curitiba em Fevereiro de 2014.

21

Outra pesquisa que realiza mapeamento sobre o tema do professor

iniciante é o de Papi (2010). A autora buscou analisar a produção dos

professores iniciantes com base em pesquisas realizadas no Brasil. Utilizou os

trabalhos apresentados na ANPED, nos anos de 2005, 2006 e 2007, e as

pesquisas disponíveis no banco de teses da CAPES, entre 2000 a 2007.

Os resultados, conforme a autora, demonstram que existe na realidade

brasileira uma preocupação, ainda insipiente, com os professores iniciantes na

profissão. De acordo com ela, vislumbra-se a necessidade e a importância de se

contribuir mais efetivamente para o desenvolvimento profissional docente por

meio de políticas voltadas ao professor iniciante. Destaca, ainda, que este é um

desafio que se faz necessário superar ao qual, acredita-se, vale a pena que se

dedique atenção especial. Esta atenção solicitada das políticas públicas é

fundamental quando se pensa no desenvolvimento profissional dos professores

iniciantes do Ensino Básico, também se torna urgente a atenção ao professor que

forma esses profissionais e que é um iniciante no ensino superior.

Pesquisar a inserção à docência universitária é importante, pois é um

período marcado por expectativas e desafios, um processo complexo, é a (trans)

formação da identidade profissional (FLORES, 2010). Se for considerada a

inserção do iniciante formador de outros professores, a complexidade desse

processo parece ser mais desafiadora ainda, já que acumula o papel de iniciante

e de formador de novos professores.

Em relação ao processo de modificação da identidade profissional, Flores

(2010) explicita que a transição de aluno a professor encontra-se marcada pelo

reconhecimento crescente de um novo papel institucional e pela interação

complexa entre perspectivas, crenças e práticas distintas e, por vezes,

conflitantes, com implicações em relação à constituição da identidade

profissional.

O mapeamento realizado contribuiu para reforçar nosso propósito inicial de

estudar o professor iniciante de Matemática no ensino superior. Considerando

todas as pesquisas apresentadas, pode-se concluir que há muito ainda a ser

discutido sobre o tema proposto.

22

Este mapeamento inicial estimulou o aprofundamento da temática dessa

pesquisa, pois pretendia-se encontrar um número maior de estudos sobre o

professor iniciante e, especialmente, os que atuam com na disciplina de

Matemática.

Os poucos estudos encontrados somados à expansão do ensino superior

e, especificamente, aos cursos de licenciaturas provocaram a escolha dessa

temática de pesquisa.

1.3 Questões de Pesquisa

O profissional que atua na educação precisa ter claro que sua formação é

um processo contínuo, e é necessário que tenha um mínimo de preparo para o

início da atuação docente no ensino superior.

Estar em constante formação para melhor qualificação profissional é uma

exigência do contexto atual, uma vez que o ensino superior vem expandindo-se

gradativamente.

Garcia (1999) argumenta que o início da docência é o período conturbado

com a aquisição de intensas aprendizagens em realidades adversas, quando os

professores ainda precisam adquirir o conhecimento da profissão e não se abalar

emocionalmente.

O período inicial da docência apresenta-se como parte importante da busca

do tornar-se professor e, por essa razão, elegemos duas questões que nortearão

o desenvolvimento da presente pesquisa:

Quais as dificuldades e desafios vivenciados pelos professores de

Matemática em início de carreira no ensino superior?

Quais estratégias os professores utilizam para enfrentar os desafios

encontrados?

23

1.4 Objetivo Geral

Analisar as especificidades e dificuldades do trabalho do professor de

Matemática em início de carreira no ensino superior e as estratégias utilizadas

para enfrentar os desafios da prática.

1.5 Estudos correlatos

Neste momento, serão retomados de forma mais detalhada, os estudos

mencionados na justificativa da presente pesquisa. Como já destacado, há um

número maior de trabalhos que se voltam ao professor iniciante do segmento do

Ensino Básico.

Inicialmente, pretendemos destacar as pesquisas voltadas aos professores

iniciantes de Matemática de uma forma geral e que foram identificados no

levantamento dos grupos de trabalhos da ANPED: GT8 – Formação de

professores e GT 19 – Educação Matemática. É importante salientar que, dos 17

trabalhos encontrados sobre professor iniciante entre 2004 a 2012, apenas dois

tratavam do iniciante de Matemática, descritos a seguir.

O artigo de Rocha e Fiorentini (2005) tem como objetivo compreender

como o professor de Matemática, na transição de aluno a professor constitui-se

profissionalmente e, em particular, compreender como acontece o processo de

mobilização de seus saberes adquiridos ao longo da vida, sobretudo, durante o

curso de licenciatura, no momento da iniciação à prática docente nas escolas.

Para a realização do estudo, os autores utilizaram entrevistas. Nesse

procedimento, conforme os investigadores, o objetivo foi obter informações

significativas sobre como eles se constituem professores na prática. Também foi

realizado um estudo de caso mais profundo com dois professores que, no ano de

desenvolvimento do estudo atuavam nas séries finais do ensino fundamental.

Conforme os autores citados, a constituição docente nos primeiros anos de

carreira, provém de múltiplas e complexas interações. Embora a formação inicial

24

seja apontada como importante nesse processo, é na realização do trabalho

docente que os saberes da profissão são compreendidos, mobilizados e (re)

significados.

Da mesma forma, Gama (2008) ao estudar o professor iniciante e seu e

desenvolvimento profissional descreveu e analisou as contribuições dos grupos

colaborativos para a constituição das identidades do professor de Matemática em

início de carreira.

Para a análise dos dados, a autora supracitada enviou questionários a 60

professores de Matemática iniciantes. Após a análise dos dados, foi identificada a

existência de três grupos colaborativos, sendo selecionado um participante de

cada grupo para um estudo mais profundo.

Os resultados do estudo mostraram que os professores, em início de

carreira, tendo a colaboração de parceiros críticos, assumem seu próprio

desenvolvimento, sobretudo, quando refletem sistematicamente sobre o que

pensam e fazem, quando conseguem visualizar suas próprias necessidades e

apoio em uma perspectiva mais ampla sobre o ensino, admitindo progressos e

retrocessos, reconhecendo as possibilidades e limites da prática e os vários

modos de ser e estar professor e professora na escola.

De acordo com a autora, os grupos colaborativos proporcionaram a

construção conjunta e compartilhada de aprendizagens que foram construídas

por meio do olhar “para si” como trajetória (passado, presente e futuro), do olhar

“para o outro” (modelos e experiências) e do olhar “do outro” (reflexões coletivas)

sobre seu trabalho como iniciante. Nos grupos, o professor iniciante ao mesmo

tempo em que ensina, aprende pesquisa e desenvolve-se profissionalmente de

forma contínua e compartilhada com os demais participantes.

Nessa perspectiva, a seguir, consta um breve resumo de quatro artigos

apresentados ao IV Congresso sobre Professorado Principiante e Inserção

Profissional à Docência ocorrido em fevereiro de 2014 na cidade de Curitiba.

O artigo de Dantas e Carneiro (2014) revelou as vivências de um professor

de Matemática em início de carreira. O estudo foi elaborado por meio do relato da

experiência vivida pelo autor no estágio não obrigatório desenvolvido em uma

25

escola particular. Os pesquisadores apontam em suas conclusões que a vivência

no estágio foi bastante significativa no sentido de identificar algumas

características do início da carreira docente e que a literatura já indicou, como

não saber lidar com a indisciplina, com ensino de conteúdos, ter de cumprir todo

o programa estabelecido para aquele ano ou série e reproduzir práticas de sala

de aula pautadas nos professores que teve durante a sua vida escolar.

O artigo de Ciriaco e Morelatti (2014) consiste em compreender as

potencialidades no processo de aprendizagem da docência, de interações

curriculares e conhecimentos da trajetória de formação de Pedagogos e

Matemáticos.

Os autores realizaram um mapeamento dos professores iniciantes em

exercício no município, a partir dos dados fornecidos pelas Secretarias Municipal

e Estadual de Educação. Os sujeitos da pesquisa foram 15 professores

iniciantes, dez licenciados em Pedagogia e cinco em Matemática.

Os dados analisados foram obtidos com base nas observações das

reuniões realizadas pelos pesquisadores com esses docentes e das entrevistas

coletadas junto a esse grupo, dos quais os pesquisadores abordaram os dilemas

enfrentados ao ensinar Matemática.

O estudo apontou que o número de professores da área específica é

relativamente pequeno e isso é uma realidade brasileira; e os dados não diferem

muito do que a literatura vem apontando, como por exemplo, problemas com

indisciplina na sala de aula; o fato de se sentirem, muitas vezes, sozinhos sem

apoio dos colegas mais experientes; falta de conhecimento pedagógico e

específico de conteúdos no caso da Matemática; e a dificuldade em se relacionar

com a família.

Considerando o segmento do ensino superior, o artigo de Roveda et al

(2014) tem por objetivo trazer à discussão as dificuldades dos professores

principiantes desse segmento de ensino que atuam nas diferentes áreas de

conhecimento específico.

Para identificar as dificuldades encontradas pelos professores principiantes

das diferentes áreas do conhecimento, os autores selecionaram 13 entrevistas de

26

docentes provenientes de sete áreas especificas do conhecimento, conforme

classificação do CNPq.

A análise dos achados das entrevistas narrativas dos professores

principiantes permitiu identificar as dificuldades da docência universitária nas

diferentes áreas de conhecimentos. As dificuldades mencionadas pelos

professores são de natureza estrutural, ou seja, relacionadas aos espaços físicos

e recurso material pertinentes ao desenvolvimento da docência e as de natureza

humana relacionada às questões de cunho pedagógico e relacional, em que se

sobressaem as problemáticas relacionadas ao acúmulo de funções.

Este é um estudo que contribui para reforçar que, em muitas situações, o

professor assume diversas disciplinas nem sempre atreladas à sua área de

conhecimento específico, o que impõe desafios que complexificam a entrada na

carreira docente do ensino superior.

O artigo de Silva e Passos (2014), o único trabalho encontrado nesse

congresso, destaca o trabalho do professor iniciante de Matemática nos cursos

de licenciatura, tem como objetivo central a análise dos problemas e desafios

enfrentados pelos professores formadores dos cursos de licenciatura em

Matemática em início de carreira e com foco no exercício da docência pautado

nas demandas apresentadas e nas respostas e estratégias para responder a

estas demandas.

Diante do propósito, as autoras procuraram responder às questões: Qual o

perfil dos professores formadores em início de carreira? Como vêm preparando-

se para esse trabalho? Quais os problemas encontrados pelos formadores no

início de carreira e como vêm respondendo aos desafios pedagógicos e

institucionais?

A abordagem qualitativa foi a perspectiva metodológica utilizada pelas

autoras, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 13 professores que

atuavam na licenciatura em Matemática em início de carreira.

A abordagem escolhida permitiu às autoras uma aproximação com o

pensamento e os sentimentos vivenciados pelos sujeitos no decorrer da carreira

27

docente, possibilitando conhecer os formadores e seus desafios por meio de seus

discursos.

De acordo com os dados coletados pelas pesquisadoras, os sujeitos

tornaram-se formadores, pois queriam realizar um sonho de poder contribuir com

a formação dos futuros professores da educação básica. A maior dificuldade

desses formadores iniciantes é saber lidar com os alunos que chegam à

licenciatura com defasagem de conhecimentos básicos de Matemática.

Na realidade brasileira, as discussões sobre o período de iniciação

profissional do professor ainda são tímidas, mas têm sido alvo de abordagens

diferenciadas. Quando se toma para análise, o professor iniciante do ensino

superior constata-se que o número de trabalhos é mais reduzido em relação aos

trabalhos que tratam dos iniciantes de outros segmentos do ensino,

especialmente, os do Ensino Fundamental I e II.

Optamos pelos trabalhos apresentados acima sobre os professores

iniciantes, no sentido de identificar aspectos que nos ajudarão a pensar a

trajetória e a atuação dos iniciantes de Matemática no ensino superior, uma vez

que foram encontrados somente dois estudos relacionados ao iniciante no ensino

superior, e dentre eles, um referente ao professor iniciante de Matemática no

ensino superior.

Os dados indicados pelo levantamento realizado pelos pesquisadores

mencionados revelaram a necessidade desta pesquisa, permitindo inferir que, os

estudos relacionados ao professor de Matemática iniciante no ensino superior

mostram-se escassos, abrindo perspectivas para o desenvolvimento de novos

trabalhos.

28

29

CAPÍTULO 2

DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Ao longo das últimas décadas, a docência no ensino superior vem

constituindo-se em um campo profícuo de interesse de investigadores do campo

educacional brasileiro. Dentre eles destacam-se as pesquisas de Morosini (2000);

Cunha (2001; 2006; 2008; 2010); Veiga (2006); Anastasiou e Pimenta (2010) e

Masetto (2013), entre outros.

O termo docência tem origem na palavra latina docere, que significa

ensinar e, sua ação complementa-se, necessariamente, como discere, que

denota aprender. Assim, docência é entendida como o exercício do magistério

voltado à aprendizagem; é a atividade que caracteriza o docente, em geral

(SOARES; CUNHA, 2010, p. 23). Zabalza (2004) atribui três funções aos

professores universitários: o ensino (docência), a pesquisa e a administração em

diversos setores da instituição. Esta afirmação corrobora a declaração de Cunha

e Soares (2010, p. 23) “na educação superior, docência e pesquisa são as

principais atividades do professor universitário”.

O componente da docência alimenta-se, fundamentalmente dos saberes

oriundos da história de vida dos professores, da formação profissional para o

magistério (quando os docentes são provenientes das licenciaturas) e, tal como

mostram as pesquisas da prática que realizam como professores, incorporando o

trabalho como espaço e território de aprendizagem (CUNHA, 2002).

30

Conforme Veiga (2006), no sentido formal, a docência é o trabalho dos

professores; na realidade, estes desempenham um conjunto de funções que

ultrapassam as tarefas de ministrar aulas. As funções formativas convencionais

como ter um bom conhecimento sobre a disciplina, sobre como explicá-la foram

tornando-se mais complexas com o tempo e com o surgimento de novas

condições de trabalho.

Do ponto de vista da LDBEN 9.394/961, o artigo 13 estabelece as

seguintes incumbências para os professores: participar da elaboração do projeto

pedagógico; elaborar e cumprir o plano de trabalho; zelar pela aprendizagem dos

alunos; estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor

rendimento; ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos; participar

integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao

desenvolvimento profissional".

Ao se considerar o processo de expansão do ensino superior no Brasil e

ao refletir sobre o trabalho do professor que atua nesse nível de ensino, torna-se

relevante conhecer como vem sendo o início desse processo de trabalho.

Ao ingressar no ensino superior, o docente depara-se com a missão

objetivada por esse nível de ensino que, para a UNESCO, “a primeira missão da

instituição de ensino superior é educar, formar e realizar pesquisas e, sobretudo,

contribuir para o desenvolvimento sustentável” (UNESCO apud LUCCHESI, 2002,

p. 44).

A missão, apontada pela UNESCO de promover, gerar e difundir

conhecimentos por meio da pesquisa é a do ensino superior. No entanto, sabe-se

que no Brasil, talvez pela rapidez com que “as instituições de ensino superior

surgiram e cresceram, muitas ainda não se deram conta da importância que

possuem e do papel que lhes cabe desempenhar em suas comunidades na

sociedade brasileira como um todo” (LUCCHESI, 2002, p. 45).

É Importante destacar que a expansão crescente das universidades

brasileiras nos últimos anos, especialmente, as da rede federal de ensino, tem

exigido uma renovação do corpo docente (PASSOS; SILVA; MARQUES, 2014).

31

Só esse fato já demandaria uma preocupação com os professores que iniciam a

carreira nesse segmento.

O alerta trazido por Cunha (2012) que reforça a necessidade de um olhar

mais apurado para o trabalho desses iniciantes, é justificado pela presença de um

novo aluno nas salas de aula, pois a expansão acompanha uma política de

interiorização e vem atendendo ao aluno proveniente de uma população menos

favorecida. Essa condição, que é nova para os professores experientes e mais

nova ainda para o iniciante, requer, conformr a autora, “mobilização de saberes

docentes muito especializados para favorecer o sucesso da aprendizagem dos

estudantes” (CUNHA, 2010, p. 8).

A propósito dessa renovação, Pimenta e Anastasiou (2010, p. 25)

comentam que “há uma inquietação com o crescente número de profissionais não

qualificados atuando na docência universitária, o que estaria apontando para uma

preocupação com o resultado do ensino de graduação”.

Independente da área de conhecimento, os docentes atuantes no ensino

superior possuem, em geral, pouca ou nenhuma formação para atuação como

professores nesse nível de ensino (CUNHA, 2010).

Normalmente, esses docentes desconhecem e/ou não têm afinidade com

os pressupostos da área de Educação e acabam por utilizar concepções de

senso comum.

Atualmente existem várias discussões sobre o papel do docente e a

qualidade do ensino superior, pois há a consciência de que “[...] como o exercício

de qualquer profissão, exige capacitação própria e específica que não se

restringe a ter um diploma de bacharel, mestre ou doutor” (MASETTO, 2003, p.

13).

Nesse sentido, Gaeta e Masetto (2013, apud Zabalza, 2006, p. 183)

destacam dez dimensões de uma docência com qualidade: planejar sua docência

voltada a um projeto formativo de seus alunos; organizar o ambiente de trabalho;

selecionar os conteúdos interessantes e sua forma de apresentação; usar

material de apoio, metodologia que incentive a aprendizagem do aluno, incorporar

novas tecnologias e recursos diversos; dar atenção pessoal aos estudantes e aos

32

sistemas de apoio; desenvolver estratégias de integração com os outros

docentes; desenvolver sistemas de avaliação do processo de aprendizagem e

mecanismos de revisão do processo como um todo.

Os professores do ensino superior, não raro, são advindos de outras

profissões, como por exemplo, médicos, engenheiros, advogados e assim por

diante. Sua identificação profissional como professor, geralmente, fica em

segundo plano. O termo “professor universitário” só é usado quando vem

acompanhado do adjetivo “universitário”. É evidente, então, que o título de

professor, isoladamente, sugere uma identidade menor, transmitindo um conceito

social primário e secundário (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010, p. 35).

Para as autoras, esta questão revela toda a problemática profissional do

ensino superior, tanto na questão do que significa ser professor como em relação

às condições concretas do exercício profissional da docência.

Outro aspecto observado por Masetto (2003 p. 24) é que, atualmente, o

docente passa de um especialista que ensina para um profissional da

aprendizagem que incentiva e motiva o aprendiz, que se apresenta com a

disposição de ser um elo entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte

estática, mas uma ponte “rolante”, que ativamente colabora para que o aprendiz

chegue a seus objetivos.

Como se aprende a ser professor, especialmente, o universitário? Para

Benedito (1995), no tocante ao aspecto de sua formação, percebe-mos que

existe um processo autodidata no exercício da profissão que pode se dar com

base na socialização com os colegas ou de sua experiência, como aluno:

[...] O professor universitário aprende a sê-lo mediante um

processo de socialização em parte intuitiva, autodidata ou (...)

seguindo a rotina dos “outros”. Isso se explica sem dúvida, devido

à inexistência de uma formação específica como professor

universitário. Nesse processo, joga um papel mais ou menos

importante sua própria experiência como aluno, o modelo de

ensino que predomina no sistema universitário e as reações de

seus alunos, embora não há que se descartar a capacidade

autodidata do professor. Mas ela é insuficiente. (BENEDITO, 1995

apud PIMENTA; ANASTASIOU, 2010, p. 36)

33

A afirmação de Benedito (1995) nos leva a refletir sobre a importância da

formação do professor universitário e sua relação com os saberes adquiridos para

atuar em sala de aula. Será que ele realmente está preparado para lidar com as

mudanças que sobrevêm ao ensino superior?

É interessante notar que, atualmente, nas avaliações da qualidade dos

cursos Superiores, a formação pedagógica dos professores vem sendo apontada,

como uma das causas da baixa qualidade de ensino tanto pelos alunos como

pelos professores.

Considerando essa situação podemos perceber que existe uma deficiência

e esta encontra-se na casualidade do exercício da docência. Assim, Nóvoa (2002

p. 23) afirma que: “o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois

pilares: a própria pessoa, como agente e a escola, como lugar de crescimento

profissional permanente”.

Entretanto, para que isso aconteça, é preciso que as IES incentivem a

formação continuada dos professores, caso contrário, provavelmente, a “causa”

ou “culpa” do sucesso ou insucesso no aprendizado não será problema do

professor, mas, dos alunos. Ademais o professor, por vezes, trata sua docência

como um favor, um bico ou uma forma de complementar sua renda (PIMENTA;

ANASTASIOU, 2010, p. 37).

Atualmente, na maioria das instituições de ensino superior, os professores

possuem boa formação em suas respectivas áreas de atuação. Contudo, ainda

perdura um conhecimento superficial do que seja o processo de ensino e

aprendizagem.

Na opinião de Pimenta; Anastasiou:

geralmente os professores ingressam em departamentos que

atuam em cursos aprovados, em que já estão estabelecidas as

disciplinas que ministrarão. Aí recebem ementas prontas,

planejam individual e solitariamente, e é nesta condição –

individual e solitariamente – que devem se responsabilizar pela

docência exercida. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2010, p. 37)

34

Ainda de acordo com as referidas autoras a configuração da identidade do

professor ocorre à medida que se procede à análise crítica dos saberes das

experiências construídas nas práticas, confrontando-as com base no campo

teórico da educação, pedagogia e ensino. É uma identidade que comporta os

aspectos epistemológicos dos saberes científicos e do ensinar, mas também

compreendendo a docência como um meio de intervenção profissional na prática

social.

Cunha (1998) relata que o perfil do professor universitário não é

homogêneo, alguns dedicam-se a produzir ciência; outros, à erudição, outros

ainda interpretam na sala de aula os conhecimentos já produzidos. A autora

conclui que nem uma nem outra atividade bastam, mas há necessidade da

associação desses aspectos, além do acréscimo de outros conhecimentos,

saberes e habilidades para o exercício da docência.

Ao investigar a docência no ensino superior, podemos perceber que a

profissão passa por uma série de desafios. Pimenta e Anastasiou (2010),

estudando as exigências atuais da profissão de docência no ensino superior,

consideram que ser professor universitário supõe certo privilégio social. Nesse

nível de ensino, é característico que a docência seja exercida por profissionais

que possuam outra formação e atuação profissional. Morosini (2000), enfatiza

que a pedagogia universitária no Brasil é exercida por professores sem uma única

identidade, e suas características são extremamente complexas, o que reafirma a

necessidade de estudarmos as características desses professores que estão

ingressando no ensino superior.

2.1 Formas de entrada e vínculo empregatício do professor

universitário

Outro aspecto a ser considerado em relação à docência, refere-se às

formas de seleção dos professores que ingressam no ensino superior.

Nas instituições públicas, o recrutamento acontece por meio de seleção e

aprovação em concursos públicos. Nesse caso, a titulação e o domínio do

35

conhecimento na área onde o professor atuará são fatores definidores da

contratação (DOTTA, 2010). Já nas instituições privadas, o concurso é facultativo.

Devemos considerar que os professores são, em sua maioria, horistas e

trabalham em mais de uma instituição. Nesse contexto, as instituições privadas

apropriam-se do item da legislação que exige um índice mínimo de titulação,

contratando, muitas vezes, profissionais com baixa titulação. Isso não significa

que essas instituições não tenham mestres ou doutores, porém restringem ao

máximo a contratação desses profissionais.

De forma geral, em algumas faculdades, os professores horistas recebem

por aula dada e não possuem estabilidade no emprego. Algumas instituições

privadas trabalham com contrato de tempo parcial ou em regime de hora/aula. Às

vezes, esses professores também lecionam em outras instituições ou em outra

profissão paralela que muitas vezes, não tem nada a ver com a disciplina que

ensinam. Esta atitude ampara em uma visão não profissional da docência, que se

acredita que “ensinar se aprende ensinando”, ou seja, não é preciso preparar-se

para ser docente, pois esta é uma atividade prática para a qual não são

necessários conhecimentos específicos, mas experiência e vocação.

Ainda considerando a forma de entrada na carreira por meio de concursos,

a pesquisa de Silva (2013) mostrou que os professores ingressantes por

concurso valorizam essa forma de ingresso, que é considerada como um

momento de valorização e formação para a inserção no novo grupo profissional e

que pode deixar marcas no início da trajetória. A autora apoia-se em Belhoste

(2011, apud Silva, 2013) para quem o concurso produz no examinado uma

mudança de estado em relação à qualificação que o veredicto impõe. Ou seja, o

concurso da oportunidade de o candidato mostrar seus conhecimentos,

competências e habilidades, daí ser considerada uma forma diferenciada de

ingresso.

No tocante às condições de trabalho do docente que atua no ensino

superior, constatamos que são muito diferentes nas diversas instituições de

ensino, e isso pode interferir na construção da identidade como docente desse

nível de ensino.

36

Dessa forma, tanto a forma de ingresso como as condições de trabalho

apresentam relações com a constituição identitária do professor. A análise destes

aspectos impõe uma reflexão crítica sobre as tensões e contradições que

ocorrem na atividade dos professores e que também estão relacionadas com sua

identidade profissional. Dessa forma, é imprescindível entender qual a identidade

ou identidades do professor universitário. Quais seriam, então, os fundamentos

da constituição da identidade do docente universitário? A formação continuada e

a melhoria das práticas ocupam um papel decisivo nesses fundamentos?

A constituição da identidade do professor é, assim, cada vez mais

complexa. A busca por aperfeiçoamento, que é uma prática na maioria das

profissões, não pode ser diferente entre os educadores. Nessa perspectiva, os

docentes se veem-se às voltas com a busca da formação continuada para a

melhoria de suas práticas e, nesse movimento, o destaque vai para os saberes

pedagógicos que podem contribuir para a evolução do docente.

Dessa forma, um aspecto do ensino refere-se aos saberes acumulados

pelos docentes e, nesse caso, os docentes do ensino superior e o objetivo com o

tópico seguinte é pontuar como a literatura sobre conhecimentos e saberes tem

dado uma contribuição para essa análise.

2.2 Saberes docentes

O professor universitário é considerado sujeito do conhecimento e tem

direito de repensar sua formação em relação aos saberes essenciais à sua

atuação em sala de aula e diante dos desafios que surgem no cotidiano.

Gonçalves e Gonçalves questionam a formação dos professores

universitários dos cursos de licenciatura, pois:

Os cursos de mestrado e doutorado procuram formar

pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento, mas, via de

regra, não estão voltados à formação do professor universitário,

em seu sentido amplo, uma vez que o concebemos atento não só

aos conteúdos de sua disciplina, como à formação do cidadão, do

profissional que está a formar, numa visão ampla dos aspectos

sociais, éticos, políticos do meio em que está inserido

(GONÇALVES; GONÇALVES, 1998, p. 107).

37

Considerando que a pós-graduação nem sempre oferece ao futuro

professor subsídios para atuar em sala de aula, então, quais seriam os

conhecimentos e/ou saberes necessários para exercer a docência?

Os pesquisadores Fiorentini, Souza Júnior e Melo afirmam que os termos

“conhecimento” e “saber” não possuem uma distinção específica:

Os textos em educação normalmente usam os termos

“conhecimento” e “saber” sem distinção de significados.

Reconhecendo que nem os filósofos possuem uma posição clara

sobre a diferenciação de significado destes termos, (...) usaremos

ambas as denominações sem uma diferenciação rígida, embora

tendamos a diferenciá-las da seguinte forma: “conhecimento”

aproximar-se-ia mais com a produção científica sistematizada e

acumulada historicamente com regras mais rigorosas de

validação tradicionalmente aceitas pela academia; o “saber” por

outro lado, representaria um modo de conhecer/saber mais

dinâmico, menos sistematizado ou rigoroso e mais articulado a

outras formas de saber e fazer relativos à prática não possuindo

normas rígidas formais de validação (FIORENTINI; SOUZA

JÚNIOR; MELO, 1998, p. 312).

No Brasil, a introdução da temática dos saberes da docência deu-se,

inicialmente, pelas obras de Shulman (1987); Tardif;Lessard e Lahaye (1991) de

Gauthier et al. (1998). Posteriormente, pelos trabalhos divulgados de autores

brasileiros PIMENTA (1998) e CUNHA (2004) que analisam os saberes docentes

em relação ao ensino superior.

Os saberes, conhecimentos e competências necessários à profissão

docente vêm sendo um dos temas mais discutidos pela literatura científica.

Shulman (2005, p. 5) é o autor que em um primeiro momento trabalhou a questão

da base de conhecimentos que o professor necessita para ensinar. Para o autor,o

“conhecimento sobre a docência é aquilo que os professores deveriam saber,

fazer, compreender”. O autor considera o conhecimento pedagógico do conteúdo,

o principal para o trabalho docente, pois integra os demais conhecimentos

visando a tornar os conhecimentos do conteúdo compreensíveis e ensináveis,

proporcionando a aprendizagem dos alunos.

38

Gauthier et at.(1998, p. 34), também abordam a natureza dos saberes

subjacentes ao ato de ensinar. A contribuição mais importante dos autores está

precisamente no alongamento do campo teórico sobre o saber da ação

pedagógica. “[...] não poderá haver profissionalização do ensino enquanto esse

tipo de saber não for mais explicitado, visto que os saberes da ação pedagógica

constituem um dos fundamentos da identidade do professor”.

Outro autor considerado importante no Brasil é Tardif e no texto produzido

em parceria com Lessard e Lahaye (1991), propõe uma solução para a questão

dos diferentes saberes do professor, e apresenta uma nova classificação e

concepção integrada por quatro saberes diferentes.

Para os autores supracitados, “a relação dos docentes com os saberes não

se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos já constituídos, pois

sua prática integra diferente saberes, com os quais o corpo docente mantém

diferentes relações” (1991, p. 218).

Assim, afirmam que, para dar conta dos objetivos traçados, os professores

comumente utilizam alguns saberes. Dentre eles, os saberes das disciplinas que

são reconhecidos e identificados, como pertencentes aos diferentes campos do

conhecimento (linguagem, ciências exatas, ciências humanas e ciências

biológicas, etc.).

Concretamente os saberes curriculares apresentam-se sob a forma de

programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos) que os professores devem

aprender e aplicar.

Já saberes da formação profissional constituem o conjunto dos saberes da

formação profissional os conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e

métodos de ensino (saber-fazer), legitimados cientificamente e igualmente

transmitidos aos professores ao longo do seu processo de formação.

E, por fim, os saberes da experiência que resultam do próprio exercício da

atividade profissional dos professores. Ou seja, “esses saberes brotam da

experiência individual e coletiva sob forma de habitus e de habilidades, se saber-

fazer e de saber-ser.” (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991, p. 39)

39

Pimenta e Anastasiou (2010) também abordam a questão dos saberes que

se articulam em torno da experiência do professor; fazem uma divisão do que

denominam área do conhecimento pedagógico e didático.

Esses saberes diferenciam o docente de qualquer outra profissão, pois ele

é estimulado pela necessidade de uma formação própria para o desempenho da

função e reconhecimento socialmente profissional.

Dessa forma, Roldão (2006) afirma que os saberes relacionados ao ato de

ensinar podem ser de vários tipos e passiveis de diversas formalizações teóricas,

tais como científicas, científico didáticas, pedagógicas (o que ensinar, como

ensinar, a quem e de acordo com que finalidades, condições e recursos), que,

contudo, se apoiam em um único saber integrador, situado e contextual – como

ensinar aqui e agora –, que se configura como “prático”.

Partindo da exploração dos aspectos que o próprio Tardif trouxe em sua

análise dos saberes Cunha (2004), propõe uma classificação dos saberes dos

professores que se relacionam, especificamente, com o campo da didática. De

acordo com a autora, o exercício da docência exige múltiplos saberes que

precisam ser apropriados e compreendidos em suas relações.

Aprofundando a reflexão sobre saberes dos professores, Soares e Cunha

(2010) apresentam a organização dos saberes docentes necessários à docência,

relacionados ao campo didático.

As pesquisadoras explicitam que os saberes relacionados ao contexto da

prática pedagógica implicam a compreensão do papel da universidade na

construção do Estado democrático, bem como das políticas que envolvem essas

instituições.

Os saberes relacionados à ambiência da aprendizagem envolvem o

conhecimento das condições da aprendizagem das pessoas adultas e das

múltiplas possibilidades que articulam conhecimento e prática social e os

caminhos da integração no processo de aprendizagem do desenvolvimento

cognitivo, afetivo-emocional, de habilidades e atitudes.

40

No que se refere ao contexto sócio histórico dos alunos, estes saberes

traduzem-se em habilidades de compreensão da condição cultural e social dos

estudantes, de estímulo às suas capacidades discursivas e da recomposição de

suas memórias educativas, favorecendo uma produção do conhecimento

articulada, de forma autobiográfica, e a afirmação de sua identidade, social,

cultural e pessoal.

Em relação aos saberes do planejamento das atividades de ensino, estes

envolvem as habilidades de delinear objetivos de aprendizagem, métodos e

propostas de desenvolvimento de uma prática pedagógica efetiva, à capacidade

de dimensionar o tempo disponível, em função da condição dos estudantes e das

metas de aprendizagem e do domínio conhecimento específico de forma a situá-

lo histórica e conjunturalmente e a estabelecer relações com outros

conhecimentos.

Os saberes relacionados com a condução da aula em suas múltiplas

possibilidades pressupõem a condição do professor de ser o artífice com os

estudantes das estratégias e procedimentos de ensino que favoreçam uma

aprendizagem significativa, ancorada nas estruturas culturais, afetivas e

cognitivas dos estudantes.

Agora, os saberes relacionados com a avaliação da aprendizagem exigem

conhecimento técnico e uma sensibilidade pedagógica que permita ao professor

a identificação das estratégias avaliativas que melhor informem sobre a

aprendizagem dos estudantes, com base na retomada dos objetivos previstos e

da trajetória percorrida. Os saberes relacionados com a avaliação pressupõem,

ainda, um posicionamento valorativo sobre os objetivos em questão e a

capacidade de comunicar a avaliação aos estudantes.

Diante do exposto, fica evidente a importância dos saberes docentes para

o trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores.

Consideramos que as contribuições apresentadas pelos autores são de

fundamental importância para orientar o trabalho docente no que concerne a

mobilização/construção dos saberes necessários ao ensino.

41

Em suma,

O professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua

disciplina e seu programa,além de possuir certos conhecimentos

relativos as ciências da educação e à pedagogia e desenvolver

um saber prático baseado em sua experência cotidiana com os

alunos. (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991, p. 39).

2.3 Professores iniciantes no ensino superior

As recentes discussões sobre os desafios do trabalho do professor

iniciante nos vários níveis de ensino revelam não só o crescimento das pesquisas

sobre a temática, como a necessidade de políticas de inserção desses iniciantes

com vistas à melhoria da qualidade do ensino nos cursos de formação de

professores. (PASSOS; SILVA; MARQUES, 2014).

É consensual o pensamento de que o início da carreira é um período

marcante em qualquer profissão e com a docência não é diferente.

O professor iniciante, conforme Bozu “é uma pessoa, geralmente jovem,

que se encontra em um momento de transição entre os conhecimentos,

habilidades, destrezas” (2010, p. 58).

Nesse período de iniciação à docência no ensino superior, conforme Silva

(2014, p. 84) “há um processo de superação do dia a dia, de reconhecer as

conquistas e superar as frustações da vida cotidiana”.

Ao estudar os professores iniciantes, Garcia (1999) enfatiza que a

docência universitária, embora tenha pouca visibilidade, haja vista que os critérios

de avaliação e progressão na carreira docente são essencialmente relacionados

à pesquisa, é uma atividade altamente complexa, que não se restringe à sala de

aula. Ou seja, o professor precisa realizar um conjunto de atividades para garantir

a aprendizagem do aluno.

A complexidade da atividade docente é evidenciada desde século XVII por

Comenius (1997, p. 15). O filósofo afirmava que “ensinar é a arte das artes é,

portanto, tarefa árdua que requer o juízo atento não de um só homem, mas de

42

muitos, porque ninguém pode ser tão atilado que não lhe escapem muitas

coisas”. Esta reflexão ainda é atual em pleno século XXI, o que nos faz pensar

que, talvez, essa questão não tenha sido levada a sério em relação à prática

educativa.

A problemática relativa ao professor iniciante vem se constituindo, como

um foco de interesse em pesquisas e intervenções. Alguns países já

reconheceram que as consequências do não atendimento dos problemas

específicos dos docentes iniciantes trazem sérios prejuízos e impacto ao sistema

educativo.

O tema professores iniciantes ainda é pouco cuidado no Brasil.

Não há políticas específicas, para tratar esses professores

quando começam a lecionar. Com isso, eles enfrentam uma série

de dificuldades e desafios. O iniciante aprende na medida em que

vai atuando, na medida em que vai exercendo o seu magistério

(ANDRÉ, 2014)7.

No Brasil, ainda não existe uma efetiva preocupação por parte da maioria

das universidades em pensar ações e estratégias para atender aos anseios dos

docentes iniciantes na carreira. No entanto, vislumbra-se que essa temática tem

chamado a atenção e vem ganhando espaço em estudos de pesquisadores da

área. Zanchet; Fagundes e Facin (2012) mencionam que o início de uma

profissão inclui o reconhecimento de sua cultura, de seu estatuto e das

peculiaridades sociopolíticas que a caracterizam.

Nesse sentido, o período de iniciação à profissão docente representa o

tempo em que deve acontecer a transmissão da cultura docente, dos

conhecimentos, dos valores e dos símbolos da profissão, assim como deve

ocorrer a adaptação do professor iniciante ao entorno social onde desenvolve sua

atividade docente.

As experiências vividas nos primeiros anos da carreira são as que mais

impactam a vida profissional do professor. É um período em que o docente

procura aceitar a si mesmo, aos colegas e tentar alcançar certo nível de

segurança, no modo como lida com os problemas e desafios do dia a dia.

7 Trecho da entrevista realizada no congresso II Congresso Nacional de Formação de professores.

43

Nesse sentido, Marcelo Garcia (1999) reforça que a iniciação à docência é

um período de tensões, e os professores iniciantes devem adquirir conhecimento

profissional além de conseguirem manter certo equilíbrio pessoal.

Os primeiros anos de exercício profissional são, especialmente,

importantes porque os professores devem fazer a transição de estudantes para

professores e, por isso, surgem dúvidas, tensões, sendo necessário adquirir um

conhecimento e uma competência profissional adequados em um curto espaço

de tempo. (CONTRERAS, 2002 apud GARCIA, 1999, p. 113).

A transição que o professor sofre, ao iniciar sua vida profissional como

docente acontece, conforme Garcia (1999), por meio de uma série de fatores. O

que leva à mudança são, fundamentalmente, fatores de amadurecimento do

indivíduo e os fatores interativos entre as características pessoais e as

estimulações que recebe do meio.

Valli (1992 apud Garcia, 1999) explicita que os problemas que mais

ameaçam os professores iniciantes são a imitação acrítica de condutas

observadas em outros professores; o isolamento de seus colegas; a dificuldade

em transferir o conhecimento adquirido em sua etapa de formação e o

desenvolvimento de uma concepção técnica do ensino.

Ruiz (2008) destaca que o professor universitário em início de carreira

apresenta características semelhantes às dos professores iniciantes de outros

níveis educativos e também possui algumas semelhanças com os professores

universitários mais experientes.

Em relação às necessidades profissionais do professor universitário

iniciante, Howey (1998 apud Ruiz 2008) traz importantes contribuições e, de

acordo com a autora, a tarefa fundamental do professor iniciante, durante seus

primeiros anos de docência, deve ser a aprendizagem dirigida a focar seu

pensamento e seus comportamentos frente às demandas de ensinamentos, ou

seja, aprender a linguagem da prática.

De La Cruz (2001) elabora um perfil do professor universitário,

considerando o que classificou como as características do que vem a ser um bom

professor universitário:

44

Ter conhecimentos com profundidade do campo de sua especialidade;

Estar formado pedagogicamente de maneira sistemática;

Estar motivado para a docência;

Ser paciente, tolerante, flexível e com senso de humor;

Ter facilidade para as relações interpessoais;

Saber organizar, planejar, integrar e avaliar os conteúdos educativos.

Entretanto, analisando estas características apontadas, algumas

indagações ainda permanecem: como os professores iniciantes podem tornar-se

bons professores? Qual o caminho a ser trilhado, para que os primeiros anos de

docência não sejam frustrantes?

Uma autora bastante prolífera nos estudos sobre as inquietudes dos

professores iniciantes universitário, é Sorcinelli (1992), conforme cita Ruiz (2008).

Em seu estudo a autora revela quatro pontos destacados como origem dos

problemas dos iniciantes:

Não dispor de tempo suficiente – os professores reconhecem a

dificuldade de lidar com a tarefa do ensino e a pressão para publicar;

Inadequado feedback, reconhecimento e recompensa – este item

provoca uma tensão nos iniciantes pela falta de critérios claros em

relação à avaliação do ensino; à valorização econômica e ao

reconhecimento que a universidade oferece;

Expectativas irreais – os iniciantes têm expectativas bastante elevadas

e, o desconhecimento das reais funções de um professor universitário

repercute na imagem que têm sobre a profissão e o modo como

inicialmente a enfrenta; e

Falta de colegialidade – a insatisfação com os colegas também é um

motivo de tensão profissional, destacando a falta de respeito, de

simpatia entre os pares e a divisão política existente na cultura

universitária.

45

Ruiz (2008) apoiada em Donoso (1992) os professores iniciantes do ensino

superior deveriam durante o primeiro ano desempenhar funções de ajudantes e

dedicar-se à sua formação futura. Para a autora supracitada esse processo de

formação deve ocorrer, no mínimo, em 2 anos, uma formação inicial pedagógica

na qual o professor aprenda a ensinar. O objetivo da formação inicial pedagógica

do professor universitário é facilitar o desenvolvimento de atitudes próprias de um

profissional reflexivo e crítico.

Ao tratar dos professores iniciantes que nunca exerceram atividade de

ensino, a autora supracitada sinaliza que, em razão dessa inexperiência,

enfrentam dificuldades em seus primeiros anos de docência. Partindo desse

pressuposto, pode-se questionar: Que tipo de conhecimento tem o docente do

ensino superior em relação ao ensino?

Ruiz (2008) completa citando que a eficiência de qualquer processo de

ensino e aprendizado depende do que sabe o professor sobre o tema ministrado.

Contudo, há uma diferença em conhecer o tema e saber seu ensinamento. No

caso dos professores iniciantes, essa questão pesa mais no sentido de que não

foram adequadamente preparados para esse exercício.

Sob esse ponto de vista, Valenzuela e Barnett (2013) corroboram a autora

afirmando que ensinar em uma universidade implica um conjunto de tarefas

complexas, ambíguas e, para cada professor, um tanto pessoal. Talvez seja

razoavelmente fácil identificar o que ensinar, mas o mais problemático é como

promover a aprendizagem profunda entre os alunos com diferentes

conhecimentos.

Na pesquisa realizada por Valenzuela e Barnett (2013) com professores

iniciantes no ensino superior enfatizam os desafios do ensino, ou seja, buscam

compreender, como os novos docentes entendem suas práticas de ensino e as

dificuldades que enfrentam. Estes autores direcionaram a análise para os

aspectos pedagógicos.

A respeito disso, questionam: Como dar conta de uma aula? Como

preparar um tutorial? Como escolher os principais objetivos de uma aula? Como

planejar e organizar os conteúdos? Como escolher os melhores recursos

46

pedagógicos para ensinar determinados temas? Como motivar os alunos e

avaliar suas aprendizagens? (VALENZUELA; BARNETT, 2013).

A pesquisa dos autores supracitados revelou um dos principais desafios

que os novos professores universitários enfrentam e que diz respeito às suas

práticas de ensino: como escolher os principais objetivos da aula; como planejar e

organizar o conteúdo; como escolher os melhores recursos pedagógicos.

Nesse sentido, os docentes iniciantes mostraram-se mais focados em seus

próprios roteiros de ensino do que na aprendizagem do aluno.

Talvez isso aconteça por insegurança ou falta de experiência profissional,

característica muito comum do professor em início de carreira.

Geralmente, o roteiro de ensino é uma atitude frequente do iniciante

porque, de alguma forma, proporciona certa segurança em relação ao material a

ser ministrado. Em um primeiro momento, ele garante que o conteúdo será

apresentado, mas não dá a dimensão se o conteúdo foi entendido pelos alunos.

A formação de bons profissionais iniciantes tem a ver, acima de tudo, com

a formação de pessoas capazes de evoluir, aprender de acordo com a

experiência, refletindo sobre o que gostariam de fazer, sobre o que realmente

fizeram a respeito dos resultados de tudo isso (PERRENOUD, 2002).

Nos estudos de Cunha (2010, p. 2) sobre a iniciação à docência no ensino

superior, a autora sinaliza que os jovens nos cursos de mestrado e doutorado

aprendem a trajetória da pesquisa e aprofundam-se em um tema. Quando iniciam

suas atividades, como docentes no ensino superior deparam-se com um nível de

ensino que exige uma série de saberes até então desconhecidos. A autora ainda

ressalta que esses jovens, “precisarão ler o contexto de seus estudantes, muitos

deles com lacunas na preparação científica desejada. Terão de construir sua

profissionalidade, isto é definir estilos de docência em ação, revelando valores

posições políticas e éticas”.

Nesse sentido, a iniciação à docência dos jovens formadores é marcada

por dificuldades, quando descobrem que a preparação inicial não dá respostas

aos desafios cotidianos.

47

No ensino superior, o início da carreira também é marcado pelo sentimento

de solidão e despreparo, conforme cita Isaia (2006, p. 67-68) “aliado aos

sentimentos de solidão e despreparo, os professores sentem-se, ainda,

pressionados por exigências de seu ambiente de trabalho, principalmente pela

cobrança institucional, seja em relação à titulação e à produção, seja em relação

à competência pedagógica”.

A autora ressalta que, muitos docentes querem transformar suas práticas,

percebem a urgência de continuidade da formação, mas não sabem como

percorrer esse caminho para transformar sua atuação docente. Destaca também

que se sentem pressionados pelas exigências e cobranças institucionais no que

se refere à produção, à titulação ou à competência pedagógica da qual se dizem

sentir despreparados.

Refletir a respeito destas dificuldades dos professores iniciantes é

importante para reforçar que o apoio recebido nessa fase, e os desafios

encontrados e compartilhados podem levar a superação e a um maior

crescimento profissional.

Bozu (2010) reitera que os professores que iniciam sua carreira docente na

faculdade, precisam de orientação e apoio por parte dos docentes experientes e,

como tal, expressa muito interesse no trabalho em equipe ou trabalho

colaborativo.

Os primeiros anos da docência constituem um desafio a ser enfrentado

pelos professores, e como irão lidar com os problemas será determinante para

assegurar sua permanência nesse nível de ensino.

Neste sentido, Bouzada; Kilimnik e Oliveira (2012) relatam que os primeiros

anos de docência em uma faculdade podem ser um período de desilusão e

ajustes e, diante das dificuldades, os docentes frequentemente fraquejam ao

perceberem que existem inúmeros obstáculos a serem superados.

Para Feiman (2001 apud Marcelo; Vaillant, 2012, p. 50), os professores

iniciantes têm duas tarefas a cumprir, “devem ensinar e devem aprender a

ensinar. Independente da qualidade do programa de formação inicial que tenham

cursado, há algumas coisas que só se aprende na prática”. Embora o autor refira-

48

se aos iniciantes da escola básica, o argumento pode se dirigir também ao

professor do ensino superior.

Transformar-se em docente é um longo processo. Os docentes iniciantes

necessitam ter um conjunto de ideias e habilidades críticas, assim como a

capacidade de refletir, avaliar e aprender sobre seu ensino, de tal forma que

melhorem continuamente como docentes. (MARCELO; VAILLANT, 2012).

49

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA

Neste capítulo, a metodologia empregada na pesquisa e os procedimentos

metodológicos abordados foram usados na coleta de dados que permitiram

conhecer os professores formadores e como eles desenvolveram seus trabalhos.

Com o objetivo de investigar quais as dificuldades e desafios vivenciados

pelos professores de Matemática em início de carreira no ensino superior e nos

cursos de Matemática e Pedagogia, neste trabalho, procuramos desenvolver uma

pesquisa que permitiu a aproximação com as práticas e sentimentos vivenciados

pelos professores no início da carreira docente.

Para a compreensão dos objetivos propostos, decidimos pela pesquisa

qualitativa, que conforme Ludke e André (1998), apresenta cinco características

básicas:

“Os dados coletados são predominantemente descritivos.” Os dados

coletados traduziram os pensamentos dos participantes da pesquisa;

“A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto.” A

pesquisa qualitativa almeja compreensão e não, simplesmente os

resultados, portanto, substituímos as correlações estatísticas pelas

descrições individuais e interpretações subjetivas, oriundas dos

depoimentos dos sujeitos;

50

“O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida, é o foco

central da pesquisa.” O significado nem sempre se revela facilmente,

sendo necessária muita acuidade nas interpretações;

“O método de análise de dados tende a ser indutivo.” Não tínhamos

evidências ou hipóteses definidas que queríamos confirmar. As

informações foram encaixando-se com a compreensão dos fenômenos

observados;e

Portanto, a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados por meio

do contato direto do pesquisador com os sujeitos da pesquisa, prioriza o

processo e não o produto e preocupa-se em retratar o ponto de vista

dos participantes.

Creswell (2010, p. 209) “complementa que a pesquisa qualitativa é uma

forma de investigação interpretativa na qual os pesquisadores fazem uma

interpretação do que enxergam, ouvem e entendem”. Ainda, conforme o referido

autor, a ideia fundamental que está por trás da pesquisa qualitativa é aprender

sobre o problema ou questão com os participantes e lidar com a pesquisa de

modo a obter estas informações.

3.1 Instrumentos de coleta de dados e sua elaboração

Para a realização desta pesquisa, os instrumentos de coleta de dados

foram questionário e entrevista.

O processo de elaboração dos instrumentos de coleta ocorreu nas aulas

da disciplina projeto Profissionalidade Docente de Professores Formadores dos

Cursos de Licenciatura em Início de Carreira.

As atividades desenvolvidas na disciplina apoiam-se na investigação sobre

os processos de constituição da profissionalidade docente de professores dos

cursos de Licenciatura, que estão iniciando sua trajetória docente no ensino

superior.

51

É uma disciplina cuja investigação está centrada na perspectiva de que a

presença de um corpo docente renovado vem atuando nos cursos de formação

de professores. Conhecer a formação e a experiência profissional desses

docentes iniciantes constitui-se no ponto de partida da pesquisa

Os instrumentos foram preparados coletivamente, sendo avaliados pelos

participantes do curso, já que outros alunos estavam fazendo entrevistas com

professores iniciantes no ensino superior.

A seleção das perguntas é decorrente das muitas leituras realizadas das

discussões ocorridas na disciplina e de uma análise piloto realizada de uma

entrevista no decorrer do curso.

3.1.1 Questionário

O questionário é um dos instrumentos mais tradicionais de coleta de dados

e pode servir como fonte complementar de informações, sobretudo, nas fases:

iniciais e exploratória da pesquisa (FIORENTINI e LORENZATO, 2007).

“A aplicação de um questionário permite recolher uma amostra dos

conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos”. (BAPTISTA; SOUZA, 2011,

p. 91)

O questionário possibilitou caracterizar os formadores que estavam no

perfil selecionado, e as questões foram divididas em dois grupos. No primeiro

grupo, constam os dados pessoais que destacavam as variáveis, como por

exemplo, gênero, idade, estado civil e formação profissional. No segundo grupo,

foi abordada a atuação profissional.

O questionário e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram

enviados aos sujeitos da pesquisa, via correio eletrônico e devolvidos assinados

pela mesma via.

52

3.1.2 Entrevistas

“A entrevista é um método de recolher informações que consistem em

conversas orais, individuais ou de grupos” (BAPTISTA; SOUZA, 2011, p. 79). Ela

está entre os instrumentos mais utilizados na pesquisa qualitativa, conforme

Lucke e André (1998). Entre outras vantagens, a entrevista admite um acesso

imediato às informações desejadas, além de permitir correções, esclarecimentos

e adaptações, quando necessário.

A entrevista desenvolveu-se por meio de um roteiro com tópicos principais,

porém este roteiro8 não foi fechado, o que proporcionou ao entrevistador

liberdade para fazer adaptações.

As entrevistas dos professores formadores iniciantes possibilitou conhecê-

los por meio das situações vivenciadas sobre o início da carreira no ensino

superior, conforme relatado em seus depoimentos.

Optamos pela entrevista semiestruturada, pois possibilita ao entrevistador

liberdade de falar dos assuntos, sem fugir do tema proposto.

As entrevistas foram realizadas individualmente em momentos distintos,

nos locais determinados pelos sujeitos, no mês de maio de 2014, cuja duração

média foi de 40 minutos.

Nesta pesquisa, a elaboração do roteiro que norteou as entrevistas

contemplou as questões pautadas nos eixos:

1. Início da atuação profissional e seus desafios; e

2. Trajetória profissional;

Com estes eixos, buscamos responder às questões anteriormente

apresentadas:

Quais as dificuldades e desafios vivenciados pelos professores de

Matemática em início de carreira no ensino superior?

Que estratégias os professores utilizam para os desafios enfrentados?

8 Roteiro encontra-se disponível nos anexos.

53

As entrevistas foram transcritas integralmente, todos os professores

demonstraram interesse na pesquisa e colocaram-se à disposição para maiores

esclarecimentos.

Posteriormente, foram feitas várias leituras, com a finalidade de a

pesquisadora apropriar-se dos dados que poderiam contribuir para a análise das

respostas aos questionamentos propostos no estudo.

O processo de análise dos dados levou em consideração as indicações de

André (1983, p. 70), quando afirma que, “desde o início do estudo, nós já

fazemos uso de procedimentos quando procuramos verificar a pertinência das

questões e problemas selecionados frente ao contexto do objeto estudado”.

Creswell (2010, p. 217) “também ressalta que esse processo começa

concomitantemente com a coleta de dados”.

3.2 Critérios de seleção dos sujeitos

Os seguintes critérios para a escolha dos sujeitos foram definidos:

Ser formado em curso de licenciatura ou bacharelado em Matemática;

Atuar nos cursos de licenciaturas de Matemática e/ou Pedagogia, pois

os dois cursos selecionados estão formando professores que irão

ensinar Matemática; e

Ter até 5 anos de atuação no ensino superior, independente da

experiência anterior Este critério segue as orientações de Bozu (2010)

que considera iniciante o profissional com menos de 5 anos de

experiência docente em uma instituição universitária.

3.3 Contato com os sujeitos

Todos os professores contatados para participação foram selecionados por

meio de indicações, dada a dificuldade de se encontrar facilmente esse iniciante

54

que ensina nos cursos que prepara o professor para ensinar Matemática, seja no

curso de Licenciatura em Matemática ou Pedagogia.

Um e-mail foi enviado aos professores participantes da pesquisa,

apresentando a pesquisadora, os objetivos do trabalho e a importância da

contribuição deles para a investigação.

No mês de abril/2014, foram enviados dez emails aos professores das

instituições privadas indicadas anteriormente.

Uma semana depois recebemos a confirmação de três professores que se

dispuseram a participar do estudo. A caracterização dos sujeitos será exposta

mais adiante neste capítulo.

Os sujeitos eram todos professores de Faculdades isoladas, uma situada

na zona leste de São Paulo e outra na cidade de Guarulhos.

3.4 Caracterização das Instituições onde os sujeitos trabalham

Instituição A9

A instituição A foi inaugurada em 2000. A unidade oferece 73 cursos a 20

mil alunos de graduação distribuídos nas áreas de Gestão, Tecnologia da

Informação e Educação, tem 370 professores e 500 técnicos administrativos.

A Extensão Universitária conta com projetos e cursos e a pós-graduação

concentra a pesquisa acadêmica e cursos nas três áreas do conhecimento.

Ainda, no escopo da responsabilidade e compromisso social, a instituição oferece

cursos técnicos, resultado da parceria entre Governo Federal e as instituições

privadas.

Localização: zona leste de São Paulo

9 Instituição Prof. Daniel.

55

Instituição B10

A instituição B está há mais de 4 décadas desenvolvendo suas atividades

educacionais. A unidade conta com boa infraestrutura, como laboratórios de

ponta em diferentes áreas, biblioteca com acervo atualizado, salas de estudo em

grupo, salas de leitura e de vídeo, como também clínicas para atendimento à

comunidade.

Localização: Centro Guarulhos Cursos disponíveis: Bacharelado,

Licenciatura, Pós Graduação e Extensão.

3.5 Conhecendo os sujeitos

Após a realização das entrevistas, foi elaborado um quadro com os dados

dos professores para melhor visualização de suas características:

Quadro 1: Características dos professores

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Os professores participantes da pesquisa, como podemos ver nos dados

do Quadro 1, apresentam em comum o fato de terem feito, todos eles, o

mestrado no programa de Educação Matemática da PUC-SP, o que revela que

eles não tiveram uma formação diferente na pós-graduação.

10

Instituição Profs.Wander e Regina.

56

Sua faixa etária varia entre 30 e 51 anos; e o tempo de atuação no ensino

superior também entre 5 meses e 5 anos. Todos lecionavam disciplinas

pedagógicas.

Além do quadro de caracterização, considera-se importante apresentar

outros aspectos dos sujeitos referentes à formação e aspectos da escolha e

trajetória profissional.

3.5.1 Professor Wander

40 anos de idade, é casado, concluiu o curso de bacharelado e

Licenciatura em Matemática, em 1992, na Universidade Mackenzie. É mestre em

Educação Matemática pela PUC-SP, desde 2009; e é, atualmente doutorando em

Educação Matemática pela PUC-SP. Em uma experiência como professor do

ensino médio, percebeu que o que realmente gostava era lecionar. Ingressou na

IES, em 2012.

3.5.2 Professora Regina

30 anos de idade, é casada, concluiu o curso de bacharelado e

Licenciatura em Matemática, em 2004, na Universidade São Judas Tadeu, é

mestre em Educação Matemática pela PUC-SP, desde 2013. Quando estava na

oitava série começou a gostar de Física e quando aprendeu equação de segundo

grau descobriu que, realmente, seu sonho era ser professora de Matemática. Em

2003, iniciou sua atividade docente como professora na EJA. Ingressou na IES

no curso de Pedagogia e Matemática em 2009.

3.5.3 Professor Daniel

51 anos de idade, é casado, concluiu o curso de bacharelado e

Licenciatura em Matemática, em 1992, na Fundação Santo André, é mestre em

57

Educação Matemática pela PUC-SP, desde 2012. Ingressou no curso de Física,

mas trancou a matrícula. Posteriormente, entrou no curso de Ciências com

habilitação em Química e percebeu que também não era isso que queria. Com a

indicação de um amigo, foi cursar Matemática e, no terceiro ano do curso, optou

por licenciatura. Iniciou sua carreira docente no ensino fundamental e médio

atuando por 10 anos. Em 1991, entrou no SESI e começou a dar aulas como

instrutor de oficina de formação profissional. Ingressou na IES no curso de

Pedagogia em 2014.

58

59

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, serão apresentados os resultados das análises das

entrevistas. Os eixos utilizados para analisar as falas dos professores foram

definidos, após a leitura exaustiva dos dados e também em consonância com as

questões da pesquisa.

4.1 Escolha pela carreira docente

Na tentativa de desvelar os desafios e dificuldades do docente iniciante no

ensino superior, visualizamos a importância atribuída à motivação para a escolha

da profissão. Os sujeitos entrevistados escolheram a docência ou foram levados

a ela por outros caminhos?

Muitos estudos constatam que a escolha de uma profissão é o resultado

de uma combinação entre a representação que o indivíduo tem de si e a

experiência vivida. (VALLE, 2006).

A opção pela docência vem sendo uma decisão acompanhada por motivos

pessoais relativos à vida de cada um, suas experiências e expectativas (DIAS;

ENGERS, 2005), além de carregar consigo componentes normativos, afetivos e

cognitivos (VIEIRA, 1997).

60

Em relação a dimensão afetiva, o desejo de tornar-se professora para

Regina vem desde muito jovem. Aos 14 anos, já tinha certo a escolha de sua

profissão.

Bom, eu decidi ser professora desde os 14 anos. Aliás, quando eu

era pequena, eu já pensava em ser professora, aí passei por

aquelas profissões em que toda criança pensa, jornalista,

pediatra, mas, eu sempre pensei e sempre quis ser professora.

Com 14 anos, quando eu estava na oitava série eu falei não; eu já

sei o que eu quero ser. Eu quero ser professora! (Regina).

O depoimento de Regina parece indicar a ideia de vocação reforçada na

expressão que desde pequena essa escolha já se anunciava. O uso recorrente

de expressões: “mas, eu sempre pensei e sempre quis ser professora”, reitera um

sentimento de determinismo pela escolha profissional, desde muito cedo.

As razões que levam professores a escolherem a profissão em que atuam,

tendem a ser variadas e podem envolver desde a questão da vocação até a

necessidade de trabalho para garantir o próprio sustento (THURLER;

PERRENOUD, 2006).

Com muita frequência os professores atribuem a escolha pela carreira

docente justificada pela questão de dom e vocação e, habitualmente, eles

interpretam por uma escolha “divina” ou “natural” (VALLE, 2006). Ao utilizarem os

termos “divina” ou “ natural”, os professores parecem querer colocar as atividades

que eles desempenham como relacionadas a uma destinação.

Ninguém nasce para uma profissão ou para um determinado estilo de vida.

As escolhas que o sujeito faz é o que determinam o modo como conduzirá sua

vida.

Yong (1995) destaca que a maioria das pessoas faz a opção pela docência

por razões altruístas e/ou intrínsecas e poucas a escolhem por razões

extrínsecas.

Razões altruístas e /ou intrínsecas estão ligadas ao gosto pela profissão, o

desejo de ser professor e a influência de outros professores. Já as motivações

61

extrínsecas, referem-se à ordem econômica; aos horários flexíveis e influências

de familiares e/ou amigos.

A razão altruísta parece estar bastante revelada no depoimento de Regina.

As falas dos professores Wander e Daniel, entretanto, revelam que o

ingresso na carreira docente surge por razões diferenciadas, mas as formas de

ingresso são semelhantes, ambos por convite.

A escolha do professor Wander pela docência surgiu por meio de um

convite de uma prima:

Bom, é primeiramente lá trás, em 1995,eu fazia um curso de

engenharia, e aí recebi um convite de uma prima minha, que era

diretora de uma escola estadual para lecionar à noite. Era regular,

não era nem EJA, regular mesmo!. Comecei a lecionar e fazia,

concomitantemente, o curso de engenharia, aí fui fazendo e, ao

mesmo tempo, vendo o que eu gostava (Wander).

Um dado que chama atenção é que, enquanto o professor Wander

cursava a faculdade, já trabalhava como docente na EJA. Assim, pode-se inferir

que esta opção o tenha ajudado no início de sua atividade, como docente no

ensino superior.

O professor Daniel relata que tinha o desejo de ser físico e que a docência

surgiu em sua vida por acaso. Ele, assim, descreve: “Olha, foi um pouco assim,

meio que, não foi por querer, eu não queria ser professor, na realidade, eu queria

ser físico”.

O professor Daniel relata que não pensava em ser professor, atuava em

outro segmento, e o interesse pela docência surgiu por convite de um dos

profissionais da instituição onde estudava, foi quando começou a trabalhar em

um curso técnico.

62

Comecei a cursar licenciatura sem ter a intenção de lecionar

porque até então eu trabalhava em uma fábrica, tinha um salário

bom até [...] A ideia de ser professor surgiu porque como eu tinha

feito SENAI, uma pessoa que trabalhou na escola me chamou pra

ver se eu tinha o interesse em lecionar em um curso técnico em

mecânica. Aí na hora eu fiquei animado e aceitei o convite

(Daniel).

Embora a docência não tenha sido a primeira opção dos dois professores,

eles revelaram-se felizes na profissão, mas ainda não realizados. É possível

inferir que a identidade com a profissão docente, desses professores, vem sendo

construída ainda nesse início de carreira.

A experiência no ensino superior para o professor Daniel vem se revelando

um desafio, embora, ele indique não estar completamente satisfeito com a forma

de seu trabalho.

Eu estou gostando, mas ainda não está legal do jeito que eu

gostaria. Eu cobro muito. Estou gostando sim do ensino superior,

está sendo uma experiência nova pra mim, um desafio, mas ainda

não está bom, do jeito que eu gostaria (Daniel).

O professor Wander também revela gostar muito do que faz, mas aponta

outro aspecto a consciência da complexidade da profissão e indica a necessidade

constante de atualização e que também é preciso acreditar no aluno.

Eu gosto muito do que faço. Não sei, acho que nós, professores

temos de estar sempre nos atualizando, gostar logicamente

daquilo que a gente faz, acreditar no aluno e sempre estar em

constante aprimoramento (Wander).

Pimenta e Ghedin (2002, p. 120) argumentam que “a identidade

profissional se constrói a partir da revisão das tradições, mas também da

reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem

significativas”.

Quanto à especificidade da docência em Matemática, esta parece estar

intimamente relacionada à experiência que os dois participantes da pesquisa

tiveram com essa ciência no ensino médio e, sobretudo, pela facilidade de

63

aprendizado e por gostarem da disciplina. Conforme relato do professor Wander,

“Eu sempre gostei da área de exatas”.

Para a professora Regina, as disciplinas de exatas não eram um problema.

Ela gostava muito e descobriu-se professora de Matemática a partir desse

momento.

Na oitava série, eu tinha Química e Física. E eu ia bem, gostava

muito. Quando aprendi equação do segundo grau, parece que

abriu minha mente. Aqui eu já sabia que queria ser professora de

Matemática. (Regina)

Já para o professor Daniel, a escolha pela docência em Matemática foi

construída por meio de uma trajetória de erros e acertos. Sua primeira escolha na

graduação foi Física, conforme relata: “Física foi minha primeira escolha, mas foi

uma situação péssima, porque com 6 meses eu desisti e tranquei a matrícula”.

A decisão de trancar ocorreu em razão da rotina desgastante de seu

trabalho:

Eu entrava muito cedo no trabalho, não dava tempo de ir para

casa, fazia tudo na empresa, tomava banho, jantava e depois

pegava o ônibus para a faculdade isso foi me desgastando

(Daniel).

A segunda opção do professor Daniel foi cursar Ciências, mas também

desistiu, “eu não estava contente porque era Ciências com habilitação em

Química”.

A licenciatura em Matemática surgiu na vida do professor Daniel por

acaso. Um amigo que iria participar do processo seletivo, o incentivo para

também prestar o vestibular. Ele aceitou o convite e, assim, começou a cursar

Matemática.

Quando cancelei o curso de Ciências, um amigo me convidou

para prestar vestibular em Matemática, fui e passei. [...] Aí quando

foi o terceiro ano, a gente podia escolher entre bacharelado e

licenciatura, eu acabei optando por licenciatura (Dimas).

64

Com esse exemplo, é possível inferir que o professor Daniel, em lugar de

se sentir amargurado pelo contexto onde estava inserido, até mesmo, por

apresentar dificuldades, percebeu as possibilidades da profissão. Dessa forma, a

escolha pela docência mostrou-se acertada, mas ainda não consolidada naquele

momento.

Em geral, as teorias que tratam da escolha profissional podem ser

agrupadas em duas categorias: teorias não psicológicas e teorias psicológicas. A

primeira, representa a escolha por “acidente”, as pessoas chegam às profissões

de modo meramente casual. A segunda interessa-se mais pela atuação concreta

das pessoas (LIMA; GALVÃO, 2012).

4.2 Ingresso na carreira docente: desafios e dificuldades

A fase de iniciação profissional docente é um momento de grande

importância na constituição da carreira do professor. Esse momento vem sendo

reconhecido por suas características próprias e configurado pela ocorrência das

principais marcas da identidade que engendram a profissionalidade docente.

Visto que no início da carreira são enfrentadas algumas dificuldades,e esta

fase vem sendo referida por alguns autores – como evidenciado no estudo de

Flores (2009) – como “nade ou afunde”, “ensaio e erro”. Estas denominações

revelam que a iniciação à docência requer dedicação do docente iniciante, porque

é um período de avaliação do professor quanto à sua capacidade de exercer ou

não a profissão, período caracterizado por muitas dúvidas e, no qual, o

profissional está se fazendo professor.

De acordo com Garcia (1999, p. 113), “os primeiros anos de ensino são

especialmente importantes e de muitas tensões […]”. Se por um lado, o início da

carreira docente é importante; por outro, é um período difícil, onde o professor

experiencia novos papéis e se depara com inúmeros desafios.

Feixas (2002, p. 1) define o professor universitário iniciante como “[...] um

professor jovem, recém-graduado, com alguma experiência profissional e com

65

menos de três anos de experiência docente em uma instituição universitária, o

qual acende a um posto docente”.

O inicio da carreira docente é caracterizado por algumas particularidades,

mas muitos professores ingressam na docência sem ter claro, o que é esperado

deles. Esse período possui sérios agravantes, como uma falta de preparação

prévia para o exercício do magistério superior e, por vezes, essa escolha é

acidental, e também não há uma acolhida a esses professores, que seria

essencial para a superação desses enfrentamentos no ambiente universitário

(ISAIA; BOLZAN; MACIEL, 2009).

Os primeiros anos de carreira é que formam e consolidam os hábitos e os

conhecimentos para o exercício da docência, sendo a entrada na carreira

docente, um período que, para autores como Garcia (1999) e Tardif (2002),

revela determinante para a vida profissional do docente.

Também para Silva (2014, p. 86) o início da carreira é uma fase de

fundamental importância aos docentes, pois pode assegurar motivação e

compromisso com a profissão, ”aspectos esses que se fortalecem nos primeiros 5

anos de carreira”.

É, nesse período que os iniciantes convivem com muitas dificuldades, e

elas apresentam-se de diferentes formas e são identificadas por eles baseadas

em várias razões. Percebemos assim a complexidade do trabalho docente.

Uma das dificuldades está relacionada às deficiências da formação inicial

de professores; que são destacadas após os primeiros anos de trabalho docente,

quando, ao entrar em contato com a sala de aula e com os alunos, eles

descobrem-se em um mundo ao qual não estão preparados, conforme atestam

os depoimentos.

Para o professor Wander, os desafios e dificuldades são muitos e ele

demonstra ter clareza dos desafios que envolvem a profissão docente. O

professor procura sempre buscar informações que precisa junto aos amigos.

66

Tem muitos desafios, muitas dificuldades. A gente não entra

preparado para a docência, tem que correr atrás, tenho muitos

amigos que eu corro atrás, pergunto coisas. Eu acho que, pra

nós, mesmo começando agora ou para quem já está na carreira,

a gente encontra muitas dificuldades (Wander).

Em relação a fala do professor Wander sobre não estar preparado para a

docência, corrobora o depoimento da professora Regina, quando também expõe

o mesmo sentimento e, assim, revela: “acho que o professor nunca se sente

preparado para lecionar no ensino superior, eu não me sinto preparada, é uma

busca constante” (Regina).

Nesse sentido, Isaia e Bolzan (2008) referem sobre uma inadequação à

docência que decorre da falta de preparo específico para o magistério superior.

É necessário, então, que se compreenda a formação docente como um

“processo que precisa de construção de estratégias sistematizadas que envolva

esforços pessoais e institucionais para a construção efetiva do desenvolvimento

profissional docente” (FAVARIN, 2014, p. 3).

Outra dificuldade destacada pelo professor Daniel tem relação com o saber

fazer em sua disciplina. Isso porque a metodologia do ensino de Matemática está

vinculada à educação básica, experiência esta que ele não possui.

Olha as dificuldades que eu encontro, são justamente por não ter

experiência em formação de professores de primeiro ao quinto

ano. Então, Metodologia do Ensino de Matemática o problema é

ensinar professores que vão ensinar Matemática para séries

iniciais (Daniel).

Nos depoimentos, são evidenciadas as dificuldades em relação ao “saber

fazer”, ou seja, à falta de experiência como professor das séries iniciais. As

especificidades relacionadas ao ensino de Matemática para esse segmento do

ensino colocam em evidência o papel da experiência nesse nível de ensino.

Nesse aspecto, Pimenta e Anastasiou (2010, p. 79) “explicitam que muitas vezes,

os professores aprendem por experiência como professor”. É preciso ter um olhar

cuidadoso para esse aspecto, já que essa fase de ensino mostra-se exigente em

termos de se conhecer mais sobre a criança dessas séries e seu

desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor. Nesse sentido, somente a

67

experiência como aluno desse segmento parece reduzir muito os desafios do

ensino de Matemática para professores que atuarão junto as séries iniciais.

Constata-se, assim, que é na dinâmica do cotidiano que o saber fazer

desses professores vai se constituindo, e é na experiência que vão se

conscientizando de suas próprias fragilidades em relação a seu papel de

formador de outros docentes.

Referindo-se ao “saber fazer”, Tardif (2002) destaca a existência de quatro

tipos diferentes de saberes implicados na atividade docente. Como mencionados

anteriormente, os saberes da formação profissional; disciplinares; curriculares e,

por fim, os experienciais.

Os depoimentos acima confirmam a importância dos saberes da

experiência nessa fase inicial da carreira no ensino superior.

Ainda de acordo com Tardif (2002, p. 49) “incorporam-se à experiência

individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer e de

saber ser”.

A falta de experiência é reforçada na fala do professor Daniel sobretudo

por se tornar um trabalho a princípio, solitário.

Bom, hoje estou como professor na faculdade há quase 6 meses,

e não tenho contato com outros professores, eu tenho de ir atrás

das coisas sozinho (Daniel).

Referindo-se ao trabalho solitário do professor, Cunha (2012) destaca que

os professores iniciantes, ao ingressarem na carreira, são “jogados ao léo”, sem

que haja uma preocupação com a construção de sua profissionalidade ou, até

mesmo, um acompanhamento de seu cotidiano no universo da sala de aula.

Marcelo Garcia (2009) destaca ainda que a inserção profissional na

docência, muitas vezes, é feita pelo modelo “aterrissa como pode”. Essa

expressão, de certa forma, traz a ideia de que na iniciação à docência o professor

iniciante terá de trabalhar de modo individual, solitário, da maneira “vire-se como

e se puder, sem ter um apoio organizado por parte de colegas professores ou da

instituição.

68

Muito se discute no âmbito acadêmico sobre a falta de preparo em relação

às práticas do professor universitário. A trajetória profissional do professor

iniciante está alicerçada nos modelos de professores que tiveram, são

experiências construídas como alunos.

Para Behrens (2002, p. 68) alguns pedagogos, professores universitários,

nunca exerceram as funções que apresentam a seus alunos. Falam em teoria

sobre uma prática que nunca experienciaram. “Esse fato pode trazer alguns

riscos para a formação dos alunos, pois a proposta metodológica que o docente

apresenta é fundamentada na teoria e, muitas vezes, desvinculada da realidade”.

Para a maioria dos futuros docentes, a inexistência de um bom trabalho

didático não é notada até o momento em que se deparam com o mundo real. É

só a partir desse momento que os agora professores notam as deficiências

didáticas de seus cursos de graduação. “No entanto, no que se refere a essa

formação inicial, o problema é visualizado com certo atraso, pois os docentes já

estão formados e em serviço sentindo as dificuldades” (ZANELLA, 2011, p. 2).

No depoimento do professor Daniel, a prática é um ponto fundamental para

o bom desenvolvimento de seu trabalho. Ele parece ter clareza, como já

mencionado anteriormente, de que há muito a melhorar: “Eu me cobro muito

ainda em relação a minha prática e sei que algumas coisas precisam melhorar”.

O professor universitário quando assume uma sala de aula passa por

muitos desafios. Garcia (1999, p. 28) conceitua como “o período de confrontação

inicial do professor com as complexidades da situação profissional”.

No caso da professora Regina, a dificuldade encontra-se em trabalhar com

um público muito diferente e, ao mesmo tempo, com o “pânico” que a disciplina

causa ao aluno, conforme evidenciada em sua fala.

Eu acho talvez que a dificuldade é encontrar o equilíbrio na turma,

sendo que a gente tem esse público tão diferente [...] Desafio

mesmo é fazer com que os alunos entendam a Matemática e

consigam levar depois isso lá na frente. Recebo alunos na

Pedagogia que só de ouvir que sou professora de Matemática já

ficam com pânico (Regina).

69

Vencer o “pânico” trazido pelos alunos é o desafio da professora Regina,

pois isto bloqueia o aprendizado do aluno. E a professora demonstra estar

preocupada com esses futuros formadores que vão ensinar Matemática.

Isaia; Maciel e Bolzan (2010) explicitam que esse processo de inserção na

docência superior envolve o enfrentamento constante de desafios que se

complexificam à medida que os profissionais tomam consciência de que a

docência tem especificidades que necessitam ser aprendidas.

Esta transição da condição de profissionais para professores em formação

delimita uma nova fase na construção pessoa/profissional, desafia a

aprendizagem docente e a interatividade humana, uma das marcas mais

significativas da profissão.

Ainda, conforme os autores, a “característica mais marcante da entrada na

docência é a falta de preparação específica para atuar no ensino superior”. E tal

preparação prévia para a docência superior pode suprir em parte essa carência

(ISAIAS; MACIEL; BOLZAN, 2010, p. 435).

4.3 Dificuldades com conteúdos de Matemática

Os problemas referentes ao processo de ensino da Matemática em todos

os níveis não são novos. Tal como não é novo o mal estar que eles provocam em

alguns professores e alunos. Mas, mesmo com tal importância, a disciplina

Matemática tem, às vezes, uma conotação negativa que influencia os alunos.

Cabe ao professor tentar mudar essa conotação negativa. Mas e quando o

próprio professor tem dificuldades com o ensino do conteúdo?

Ao considerar a fase de entrada na carreira e a inserção na docência no

ensino superior, os dados analisados trouxeram à tona a dificuldade que os

sujeitos encontram em relação aos conteúdos desenvolvidos nas aulas.

Para os sujeitos da presente pesquisa, o conteúdo vem mostrando-se

desafiador, sobretudo os atrelados aos cursos de Pedagogia.

70

No depoimento do professor Daniel, é nitida a preocupação em relação

aos conteúdos e sua transmissão de forma didática, para que os alunos

entendam a matéria. Nesse depoimento, mais uma vez, podemos inferir a relação

com o “saber fazer”.

Olha primeiramente o conteúdo, você tem que saber o conteúdo,

mas não só o conteúdo. Acho que é importante você saber o

conteúdo e onde você vai usar esse conteúdo, como que você vai

ensinar? Como vai fazer esse conteúdo ter significado para o

aluno? [...] Conteúdo a gente sabe, mas como a criança aprende,

como conhecer didática e metodologia, isso é uma coisa que eu

tenho que estudar muito pra pode fazer com que elas aprendam a

ensinar todo conteúdo (Daniel).

O professor parece revelar uma preocupação não só em ensinar o

conteúdo, mas, em assegurar que o aluno aprenda, ou seja, ensinar a ensinar o

conteúdo.

Nessa perspectiva, face ao exercício dessa função matricial do

professorado, a função de ensinar que assumimos em sua versão de ação

especializada de fazer com que alguém aprenda alguma coisa, ou seja, “ensinar

como fazer com que o outro seja conduzido a aprender/aprender o saber que

alguém disponibiliza” (ROLDÃO, 2006, p. 115).

Para Perrenoud (2002), os professores devem dominar os saberes que

serão ensinados, serem capazes de dar aulas, de administrar uma turma e

avaliar. Além disso, o ofício do professor consiste também em administrar a

progressão das aprendizagens e envolver seus alunos em suas aprendizagens e

em seu trabalho. Neste caso, o docente terá de criar e dirigir situações-problema

ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos, estabelecendo laços com

teorias subjacentes às atividades de aprendizagem.

Como já destacado, os professores desta pesquisa estão trabalhando

conteúdos matemáticos e preparando os futuros professores para ensinar

Matemática, seja nos anos iniciais ou finais do ensino fundamental.

Nesse sentido, a contribuição de D’Ambrósio (1993) revela-se importante,

quando ele destaca que o professor de Matemática deve possuir quatro

71

características importantes para desenvolver seu trabalho. Dentre elas, a visão do

que vem a ser a Matemática; visão do que constitui a atividade matemática; visão

do que constitui a aprendizagem matemática e visão do que constitui um

ambiente propício à atividade matemática.

Para o professor Daniel, seu maior desafio é fazer com que as alunas

entendam o conteúdo.

Está difícil. Um grande desafio para eu ensinar é convencê-las a

aprender. Para elas, também está difícil compreender o que eu

estou dizendo (Daniel).

Nesse sentido, é importante salientar que cada aluno tem seu jeito e

tempo para aprender. Hoje, os estudos mostram a necessidade de se observar o

modo peculiar e singular com que cada sujeito aprende. O conhecimento da

disciplina que o professor deve ter “é diferente na medida em que é um

conhecimento para ser ensinado, o que obriga a que se organizem não apenas

em função da própria estrutura disciplinar, mas pensando nos alunos a quem se

dirigem.” (GARCIA, 1999, p. 88).

No discurso do professor Daniel, fica evidente que, até para ele, os

conteúdos são complicados, “eu tenho que estudar alguns conteúdos e, muitas

vezes, a gente acaba ficando meio em dúvida com algumas questões”.

Para Shulman (1987, apud Araújo 2005, p. 04), “é preciso que os

professores construam pontes entre o significado do conteúdo curricular e aquele

compreendido pelos alunos”. Para realizar esta tarefa, é necessário que os

professores tenham uma compreensão profunda, flexível e aberta do conteúdo,

que estejam atentos às dificuldades mais prováveis dos alunos perante os

conteúdos; que compreendam as variações dos métodos de ensino que possam

ajudar seus alunos na construção do conhecimento e que estejam abertos para

rever seus objetivos, planejamento e procedimentos, à medida que desenvolvem

a interação com os estudantes.

O professor do ensino superior desempenha um conjunto de funções que,

conforme Zabalza:

72

ultrapassa o exercício da docência. Para o autor, a função de ter

um bom conhecimento sobre sua matéria e saber explicá-la foi se

tornando mais complexa com o passar do tempo, especialmente,

se forem consideradas as novas condições de trabalho, que

incluem a massificação dos estudantes, divisão dos conteúdos e

incorporação de novas tecnologias (Zabalza, 2004 apud Silva,

2014, p. 131).

Na visão dos professores Wander e Regina, a atualização constante em

relação aos conteúdos é fundamental, conforme evidenciado em seus

depoimentos.

Eu não sei, acho que nós, professores, temos que estar sempre

nos atualizando em relação aos conteúdos, sempre, gostar

logicamente daquilo que a gente faz, acreditar no aluno e sempre

estar se aprimorando (Wander).

A questão do gostar do que faz e a atualização mostram-se importantes no

depoimento de Regina que corrobora com a fala do professor Wander. “Eu acho

que você tem que gostar do que você faz, precisa saber do conteúdo a ser

ministrado, atualizar-se é o caminho”.

Nessa perspectiva, sabemos que a condição do professor iniciante não é

as mesma daquele que já possui uma vasta experiência docente, pois, os

problemas e necessidades são diferentes é, nesse sentido, que a formação

continuada não deveria ser padronizada, mas, sim, reconhecer e atender às

diferentes etapas da carreira.

A formação continuada deve contemplar também a interação entre teoria e

prática. Zabalza (2003 apud Favarin, 2014, p. 166) defende que as novas

modalidades de formação giram em torno da ideia de reflexão sobre a prática e a

vinculação real entre a teoria e a prática profissional. “Essa interação não deve

limitar-se à sala de aula, deve envolver também, atividades externas a

universidade, com parcerias que agreguem valores tanto às IES, como para os

docentes e alunos”.

73

Antes do compromisso com a disciplina, o compromisso do docente é com

seus alunos, motivo pelo qual ele deve servir como facilitador, fazendo o que

estiver a seu alcance, para que os alunos tenham acesso aos conteúdos e às

práticas da disciplina.

Por isso, fala-se tanto atualmente sobre a “dupla competência”

dos bons professores, ou seja, “a competência científica, como

conhecedores fidedignos do âmbito científico ensinado, e a

competência pedagógica, como pessoas comprometidas com a

formação e com a aprendizagem de seus estudantes” (ZABALZA,

2003 apud FAVARIN, 2014, p. 169).

Os programas de formação continuada devem ter como foco não só a

atualização de conhecimentos específicos em cada área de conhecimento, mas

também a busca de técnicas de ensino-aprendizagem que tenham como

referencial a aquisição de conhecimentos por parte do aluno.

4.4 Insatisfações e condições de trabalho no exercício da

docência

A preocupação com a satisfação no trabalho vem ocupando um lugar de

destaque nas pesquisas sobre a motivação humana. Compreende um dos temas

centrais em Psicologia Organizacional, considerando-se que a satisfação no

trabalho afeta diretamente a produtividade e a eficiência da Instituição (SCHEIN,

1982).

A motivação tem caráter cognitivo, e é identificada com a mobilização de

forças ativas e esforços do sujeito, com vistas à realização de certos objetivos. A

motivação tende a levar o sujeito a superar obstáculos e ir adiante (ALVES,

2010).

No caso específico da profissão docente, satisfação e motivação figuram

como condições imprescindíveis, não apenas para o bem estar docente, mas

sobretudo para a qualidade do trabalho que ele realiza. No entanto, sabemos que

74

a motivação tem forte relação com as condições de trabalho, o que provoca,

muitas vezes, uma sensação de insatisfação.

Nos relatos dos professores nesse início de carreira, algumas insatisfações

foram destacadas;e uma delas está relacionada com o excesso de trabalho,

como é citado pela professora Regina em relação ao acúmulo de provas, para ela

mostra-se desgastante. “Acúmulo de muita prova pra gente corrigir, fechar nota,

final de semestre é uma loucura pra gente e, todo semestre é isso!”.

Como afirma Lock, citado por Moreira (1996, p. 7), "a satisfação do

trabalho está associada a uma série de consequências organizacionais e esta

série de possíveis consequências e reações são muito variadas e complexas,

pois, a satisfação no trabalho é simplesmente, antes de tudo, uma resposta

emocional".

Para o professor Daniel, as insatisfações estão relacionadas com os

imprevistos, tanto por parte dele como pela faculdade. Mas, a falta de

planejamento, conforme ele, torna-se um agravante.

Eu estou com um problema na faculdade. Primeiro, por uma falta

de planejamento meu, por conta de imprevistos e também os

imprevistos da faculdade (Daniel).

Sabemos que os fatores de satisfação ou de insatisfação com a profissão

docente influenciam e, muitas vezes, alteram a ação dos professores, mudando,

consequentemente a qualidade do ensino (MOREIRA, 1996).

Nos depoimentos dos professores Wander e Daniel, um dado importante

foi trazido à tona, ou seja, a questão do conhecimento pedagógico para os

profissionais de exatas. Podemos dizer que, ainda nos dias atuais, uma das

questões que se apresenta sobre a formação de professores diz respeito à falta

de articulação entre formação específica em Matemática e a formação

pedagógica.

A questão é que a gente de exatas sabe o quanto sofre na

questão pedagógica. E, isso, acaba acarretando mais dificuldades

em lidar com as questões trazidas pelos alunos (Wander).

75

O professor Daniel considera sua formação acadêmica regular, o que

reforça o depoimento do professor Wander referente à formação pedagógica nos

cursos de licenciatura em Matemática.

A avaliação que faço do curso de licenciatura em Matemática é

regular, pois o foco foi o conteúdo matemático, as questões

didáticas e metodológicas deixaram muito a desejar (Daniel).

Nesse sentido, Pires (2000, p. 10) enfatiza que “o modelo convencional de

formação inicial de professores de Matemática vem sendo bastante questionado

nos últimos anos pela sua ineficácia”. Os próprios professores egressos

defendem uma formação adequada e de qualidade, cujos cursos de licenciatura

possuam identidade própria e não sejam tratados como um anexo dos cursos de

bacharelado (PIRES, 2000).

Um dos principais fatores de questionamento em relação à formação de

professores é a desarticulação entre o ensino das disciplinas que compõem os

currículos.

No caso dos cursos de Matemática, a estrutura curricular:

é composta por dois grupos de disciplinas, geralmente,

desenvolvidos sem qualquer tipo de articulação. Num grupo,

estão as disciplinas de formação específica em Matemática e,

noutro, as disciplinas de formação geral e pedagógica.

Geralmente, esses dois grupos de disciplinas são desenvolvidos

de forma desarticulada e, até mesmo, contraditória (PIRES, 2000,

p. 11).

Shulman (1986) enfatiza que para ser professor de Matemática não basta

ter apenas o domínio conceitual e procedimental da disciplina.

O docente precisa conhecer os seus fundamentos

epistemológicos, sua evolução histórica, a relação da Matemática

com a atualidade, seus usos sociais e as diferentes linguagens

com as quais se podem representar ou expressar um conceito

matemático (1986, apud Fiorentini, 2005, p. 110).

76

Para Cresce (1991), muitas dificuldades apresentadas no processo de

ensino e aprendizagem da Matemática nos cursos superiores devem-se à falta de

discussão sobre a formação pedagógica de seus professores.

Ao abordar a mesma questão, o Parecer CNE/CP nº 9 de 2001, a SBEM

argumenta que:

O domínio dos conteúdos matemáticos é fundamental para o

desenvolvimento de competências profissionais para a docência

na Educação Básica. Dominar conteúdos matemáticos é

necessário, entretanto, não suficiente para a formação do

professor, tendo em vista os desafios inerentes à sua atuação

profissional. O licenciado em Matemática, além de conhecimento

matemático, deve ter sólida formação pedagógica que o permita

realizar a transposição didática dos conteúdos, levando em

consideração as necessidades, motivações e nível de

desenvolvimento dos aprendizes dos ensinos fundamental e

médio. Considerar que o conhecimento dos conteúdos

matemáticos é suficiente ou prioritário na formação é, no mínimo,

uma posição ingênua daqueles que não têm conhecimento da

realidade da escola básica (SBEM, 2010, p. 2).

A SBEM (Sociedade Brasileira de Educação Matemática) reitera a

importância de o professor ter domínio do conteúdo que irá ministrar. Mas, isto

não o qualifica, como único ou prioritário nessa formação, destacando outras

formas de conhecimento inerentes à formação docente e da mesma forma

imprescindíveis à sua atuação e desenvolvimento profissional.

Nesse sentido, Fiorentini (2005) seguindo esse contexto de inter-relacionar

conteúdos matemáticos durante as disciplinas pedagógicas, acrescenta:

Outra forma de contribuir para a formação matemática nas

disciplinas didático-pedagógicas – e que venho utilizando com

frequência – é analisar episódios reais de sala de aula. Seja

através de vídeos de aulas seja através de episódios de narrativas

de aulas, que podem ser extraídas de relatos sobre a própria

prática docente, durante a fase de regência de classe

(FIORENTINI, 2005, p. 112).

O autor supracitado trabalha com seus alunos em sua própria prática

oferecendo situações reais do cotidiano escolar. Afirma ser essencial vivenciar

77

essas situações ainda no curso de formação, porque poderão contribuir para o

futuro professor no sentido de que esse consiga melhores estratégias didáticas e

metodológicas.

Nesse sentido, Bertoni (1995, apud Gomes, 2002, p. 368) reforça essa

questão dizendo que “há necessidade de envolver esses futuros professores em

experiências reais, com alunos reais, numa situação de investigação, para dar

significado, interpretar e buscar soluções”

A autora (p. 368) nos alerta para o fato de que “não é suficiente, para o

licenciado, aprender sobre ensino de uma forma passiva”. Ou seja, o

conhecimento sobre o ensino aprendizagem é um constante saber-fazer que

precisa ser trabalhado e aperfeiçoado para ampliar a prática educativa.

4.5 Socialização: apoio ao professor iniciante

A entrada na sala de aula constitui uma etapa marcante na vida dos

docentes. Trata-se de um período vivido com muito entusiasmo, mas também

com alguma apreensão. Nesse período, a socialização nesse período, seja por

parte da instituição e/ou dos colegas mais experientes, torna-se fundamental ao

iniciante.

A socialização docente tem sido, geralmente, definida como um processo

por meio do qual o indivíduo torna-se parte de um coletivo docente.

Para Freitas (2002), o processo de socialização não ocorre de forma linear,

por meio de uma incorporação progressiva dos valores do grupo de

pertencimento, nem o agente socializado é objeto passivo dos agentes e

condições socializadoras. Para a compreensão do processo de socialização

profissional é necessário levar em conta, tanto a história do professor iniciante,

suas expectativas e projetos quanto às características do grupo profissional a que

irá pertencer.

As dificuldades vivenciadas por muitos professores no início da carreira

docente podem ser agravadas pelo modo como ocorre o processo de

78

socialização, relacionado, tanto por parte da instituição e/ou colegas de trabalho.

A socialização “[...] é o processo mediante o qual um indivíduo adquire o

conhecimento e as destrezas sociais necessários para assumir um papel na

organização”. (VAN MAANEN; SCHEIN (1979, apud MARCELO GARCIA, 2010 p.

211).

Para os referidos autores, os professores iniciantes precisam de ideias e

habilidades críticas, bem como de disposição para refletir, avaliar e aprender

sobre o ensino, para, assim, poderem sempre melhorar como docentes. A

organização da instituição também exerce uma grande função na socialização do

professor, pois é a responsável pelo acolhimento do iniciante e, ainda, por

oferecer o apoio necessário para que ele possa sentir-se seguro dentro da

organização.

Lortie (1975 apud Flores, 1999), considera três etapas fundamentais na

socialização dos professores.

A primeira, decorre da experiência dos longos anos de escolaridade antes

da entrada na universidade, na qual o iniciante viu atuar diferentes professores.

A segunda, circunscreve-se ao período de formação propriamente dito, na

universidade, que permite a formação teórica e prática sobre o currículo, o ensino

e a aprendizagem.

E, por fim, a etapa de indução, durante a qual o professor assume a

atividade docente e as funções a ela inerentes e que ocorre ao longo dos

primeiros anos de profissão.

É muito comum o fato de os professores, ao iniciarem a carreira no ensino

superior, sentirem-se isolados e começarem a exercer a docência muito

baseados em “vocações naturais” advindas das práticas que vivenciaram como

estudantes, o que pode remetê-los à “solidão pedagógica” que, conforme Isaia

(2006, p. 373) é compreendida como “sentimento de desamparo dos professores

frente à ausência de interlocução e de conhecimentos pedagógicos

compartilhados para o enfrentamento do ato educativo.”

79

Em relação aos sujeitos da pesquisa, o professor Wander sempre que

precisa tem apoio dos colegas, e isso, possibilita-lhe segurança na realização de

suas atividades.

Foi uma acolhida normal, tranquila. Não tive muita preocupação,

porque dois professores eu já conhecia de outros encontros e

congressos e me ajudaram muito [...] Sempre que preciso recorro

a algum deles (Wander).

A colaboração é sempre positiva para o docente iniciante, mas também ao

professor experiente que se vê provocado a discutir suas práticas como apontam

Stivanin et al (2012).

É importante considerar que a colaboração entre os colegas

dentro dos departamentos se caracteriza por ser um caminho de

duas vias, pois ao mesmo tempo auxilia os professores iniciantes

e os professores mais antigos. Para os iniciantes, o acolhimento

inicial lhes dá mais segurança e anemiza as angústias

decorrentes do período de inserção neste novo espaço; para os

professores mais experientes, pode ser uma possibilidade de

discutir o ensino e as práticas desenvolvidas, possibilitando a

renovação e o seu desenvolvimento profissional (STIVANIN et al

2012, p. 13)

A tarefa de assumir o papel de professor não é fácil e, para o iniciante, o

acolhimento inicial torna-se um diferencial em relação à sua prática. Para o

professor experiente, como bem citado por Stivanin et al (2012) é a oportunidade

desse professor reavaliar e renovar suas práticas desenvolvidas.

Nos depoimentos dos professores Regina e Daniel podemos identificar a

necessidade de um apoio pessoal, que seria desejável no inicio do exercício

docente, no sentido de vencer as dificuldades iniciais de integração. Regina relata

que teve apoio de antigos colegas da instituição onde trabalhava anteriormente.

Olha, eu tive o apoio dos colegas que trabalhavam comigo lá na

outra faculdade, e isso foi fundamental. A coordenadora também

na época foi muito boa comigo, e eu nunca tive vergonha de

perguntar, pois se eu não sei, eu pergunto mesmo (Regina).

80

Flores (1999) ressalta que, de uma dia para outro, o professor iniciante

assume as mesmas responsabilidades de um professor com experiência,

encontrando-se, por vezes, isolado e com pouco apoio. Esta situação causa no

professor iniciante um sentimento de insegurança e incerteza, e o modo que ele

encontra para desenvolver seu trabalho é procurar apoio de outros colegas.

O professor Daniel teve apoio da coordenação, relata que não tem contato

com os outros colegas por falta de tempo nos intervalos.

Bom, o acolhimento que eu tive foi da coordenadora. Estou

lecionando há quase 6 meses, mas não tenho assim muito

contato com os professores, porque o intervalo só tem 10

minutos. Então, eu acabo não tendo muito contato com os

colegas (Daniel).

No caso do professor Daniel, o que mais o incomoda é a falta de trabalho

colaborativo, pelo fato de não haver encontros, trocas ou qualquer forma de

compartilhamento das necessidades e dificuldades, causando certa tensão

profissional nos professores iniciantes (RUIZ, 2008).

Isso é o que Sorcinelli (apud RUIZ, 2008, p. 184) chama de “inadequado

feedback e reconhecimento ao trabalho dos professores iniciantes, que

necessitam desse apoio para diminuir sua inquietude profissional”

Para Hargreaves (1996), as relações com colegas constituem um elemento

crítico na socialização e no desenvolvimento profissional dos professores.

Já Nunes (2002, p. 7) menciona que o papel dos colegas é essencial na

socialização, “enquanto possível fonte de conhecimentos de natureza prática e,

quando uma interação significativa se estabelece, isto serve de modelo de

trabalho colaborativo”.

Aqui cabe uma reflexão no sentido de entender, porque para alguns

professores, é difícil receber “bem” um colega iniciante, visto que esse experiente

já passou por essa fase e sabe como enfrentar esse desafio inicial.

Ao falar de socialização, é importante também ressaltar o papel da equipe

gestora, pois é parte fundamental no acolhimento dos professores em início de

81

carreira. É por meio desse acolhimento que o professor iniciante sentir-se-à mais

seguro para o exercício da função.

No caso do professor Daniel, em seu depoimento fica evidente o trabalho

solitário que vem desenvolvendo, e ele vai adaptando-se da melhor forma

possível.

Quando chego à sala dos professores, sempre tem alguém

tomando café, conversando, mas ninguém da minha área. São

diversas áreas lá. Então, eu não consigo trocar experiências

sobre minha disciplina com os outros. É uma pena!. Porque é um

momento muito rico e ajuda principalmente quem é iniciante. Acho

que ajuda muito, então, vou me adaptando a essa situação

(Daniel).

Para Cunha (2004, p. 113) “a docência é uma jornada solitária, pois cada

um tem de se haver com seus estudos, incluindo o aprender a ensinar”. Nesse

sentido, é possível compreender a responsabilização individual que se imputa aos

professores, e como eles assumem essa condição que, muitas vezes, mascara a

compreensão de autonomia, tão acarinhada historicamente.

Nos depoimento dos entrevistados, não pudemos constatar que as

instituições apresentam projeto de integração ou de socialização do professor

iniciante.

Pimenta e Anastasiou (2010, p. 143), já haviam chamado a atenção para

essa condição, dizendo que “a universidade reforça o trabalho solitário,

extremamente individual e individualizado; o professor é deixado à sua própria

sorte e, se for bastante prudente, evitará situações extremas nas quais fiquem

patentes às falhas de seu desempenho”.

Nessa perspectiva, Cunha (2004, p. 113) explícita que o trabalho solitário

do professor também protege sua autoridade científica que, no imaginário social e

do próprio docente, já lhe é atribuída pelo simples fato de ser reconhecido como

professor.

Já a professora Regina, embora não tenha apoio dos outros colegas de

trabalho, sente-se acolhida pelos profissionais do mesmo curso em que leciona.

O depoimento da professora não revela que recebeu apoio mais específico.

82

Entre os professores do curso de Pedagogia nos damos muito

bem. Um sempre ajuda o outro. Porém, os professores dos outros

cursos não se misturam, são bem diferentes (Regina)

É essencial salientar que a postura por parte dos professores em se

ajudar, é muito importante aos colegas iniciantes, porque contribui para minimizar

as dificuldades iniciais da inserção na carreira. Essa relação mais próxima com os

professores do curso de Pedagogia parece indicar uma característica desse curso

que forma professores das séries iniciais. Os professores desse segmento

vivenciam uma cultura colaborativa mais forte em relação àqueles professores de

outros segmentos.

Para Marcelo Garcia (2009, p. 13) as possibilidades de melhorar o ensino e

aprendizagem ampliam-se quando os professores questionam de forma coletiva

as rotinas de ensino que não obtêm sucesso e “examinam novas concepções de

ensino e aprendizagem, encontram formas de responder as diferenças e os

conflitos e se implicam ativamente em seu desenvolvimento profissional”.

Diante da falta de acolhimento ou programa de inserção dos novos

docentes, as dificuldades encontradas vão tornando-se ainda mais complexas,

conforme a percepção das especificidades da docência (MACIEL, 2010).

Os professores da pesquisa demostraram por meio de seus depoimentos,

que o processo de adaptação foi solitário, e, para alguns contínua ainda sendo

difícil, e a maneira que conseguiram encontrar para enfrentar esse desafio foi

apoiando-se em outros colegas.

É fato a importância do acolhimento institucional diante a esses desafios,

“a entrada no mundo do trabalho é uma etapa marcante na vida de qualquer

pessoa. Trata-se de um período vivido com emoção e entusiasmo, mas também

com alguma apreensão e ansiedade face às novas responsabilidades que se

assumem” (FLORES, 1999, p. 171).

Nesse sentido, a socialização quando ocorre de modo natural e eficaz se

reflete muito positiva no início da carreira do professor, ou seja, apoio de colegas

e da direção nesse primeiro momento fazem toda a diferença.

83

4.6 Papel dos alunos frente à dificuldade com a Matemática:

Uma dimensão emergente

No processo de análise das entrevistas, uma dimensão emergente veio à

tona nos relatos dos professores: o papel do aluno frente à dificuldade com o

aprendizado da Matemática e à defasagem com os conteúdos básicos da

disciplina.

Consideramos importante trazer os achados relacionados a essa

problemática, pois, esta questão, acaba tornando-se um desafio para o professor

iniciante. Considerando a esta problemática, podemos colocar uma questão:

Como formar professores que atuarão na educação básica e que não apresentam

os conhecimentos fundamentais da Matemática?

Diante desta questão, percebemos que a aprendizagem Matemática ainda

se constitui um desafio, tanto para crianças, jovens e, até mesmo, para

professores que estão sendo formados nos cursos de Licenciatura em

Matemática e Pedagogia.

Em seus estudos, Gomes (2002, p. 965) relata que muitas mudanças,

atualmente vêm ocorrendo e exigem de todos os professores constantes

adaptações que, por sua vez, consistem em grandes desafios. Para a autora, “a

formação de professores tornou-se alvo de inúmeras discussões. Muitas

propostas têm emergido, embora com poucos resultados concretos, sobretudo no

que diz respeito à formação Matemática dos futuros professores”.

Em relação aos conteúdos de Matemática, a professora Regina revela uma

preocupação pedagógica e destaca que os alunos trazem um bloqueio em

relação à disciplina. Esse bloqueio pode dificultar a forma como os futuros

professores vão ensinar Matemática.

Então eu acho que a maior dificuldade é como os alunos devem

levar essa Matemática lá para frente [...] Acho dificuldade é tirar

esse bloqueio que eles têm da Matemática, que realmente é

impressionante. Alguns, mesmo depois de estudar 20 ou 30 anos

ainda trazem esse bloqueio (Regina).

84

É importante ressaltar que os alunos chegam à faculdade com esse

bloqueio matemático que, provavelmente, está relacionado com toda uma

construção social que se faz sobre a Matemática. Historicamente, esta disciplina

é demarcada como difícil e por isso eles já chegam com esse medo.

Na maioria dos cursos de formação de professores, sobretudo, os de

Pedagogia, são evidentes a resistência e a fobia em relação à Matemática.

(GOMES, 2002). Para a autora, os alunos apresentam lacunas no domínio dos

conceitos matemáticos fundamentais para o dia a dia.

O professor Daniel ao ser questionado sobre o trabalho no curso de

Pedagogia referente aos conhecimentos matemáticos relata trabalhar em três

eixos: conteúdo, didática e currículos. Para o docente, os alunos não conhecem

os conteúdos básicos de Matemática, e isso dificulta o aprendizado, pois

considera que esses discentes os já deveriam saber esses conteúdos.

Para ensinar os conteúdos de Matemática aos alunos de

Licenciatura em Pedagogia, não levo em consideração apenas os

conteúdos conceituais, mas estruturo o ensino em três eixos, que

são trabalhados conjuntamente. São os conteúdos, a didática da

Matemática e o currículo [...] Não ensino o conteúdo propriamente

dito, até porque é baseado nas quatro operações fundamentais,

conhecimento que eles já deveriam dominar. Apesar disso, os

alunos apresentam muitas dificuldades com o conteúdo

matemático das quatro operações fundamentais, o que dificulta

bastante a compreensão da didática (Daniel).

A questão trazida pelo professor Daniel é muito importante, pois se trata da

formação inicial do aluno, ou seja, ele não aprendeu Matemática como deveria na

educação básica. Será que a “falta” de aprendizado está relacionada ao “pânico”

apontado anteriormente pela professora Regina? Ou está relacionada à formação

do professor formador?

A parte dos problemas referentes ao ensino de Matemática está

relacionada ao processo de formação do magistério, tanto em relação à formação

inicial como à formação continuada. Decorrentes dos problemas da formação de

professores, as práticas na sala de aula tomam por base os livros didáticos, que,

infelizmente, são muitas vezes de qualidade insatisfatória. Por sua vez, a

85

implantação de propostas inovadoras esbarra na falta de uma formação

profissional qualificada, na existência de concepções pedagógicas inadequadas

e, ainda, nas restrições ligadas às condições de trabalho (BRASIL, 1997).

O relato da professora Regina corrobora o professor Daniel no sentido de

que os alunos não sabem os conteúdos básicos de Matemática e, isso, torna-se

um agravante para a compreensão do conteúdo matemático.

A professora Regina aponta mais uma vez para a problemática do ensino

da Matemática nas séries iniciais. Isso nos leva a uma questão: Como os futuros

professores que não sabem conteúdos básicos, ensinarão Matemática nas séries

iniciais e/ou afins?

Bom, quando eu penso em trabalhar os conteúdos de Matemática

na Pedagogia, penso em ensinar o que os futuros professores

vão ensinar aos alunos nos anos iniciais [...] Tenho percebido

que, muitas vezes, os alunos não sabem conteúdos básicos de

Matemática, e que eles certamente irão ensinar às crianças

(Regina).

Um fator importante a ser destacado é que, para os professores que atuam

nos dois cursos de licenciaturas em Matemática e Pedagogia, muitas diferenças,

em relação aos conteúdos básicos de Matemática são identificadas nos alunos.

A professora Regina enfatiza que, na Pedagogia, existe mais angústia em

relação ao conteúdo matemático:

Em relação à diferença dos alunos, eu não percebo muitas

diferenças, pois os dois formam professores. Só em relação aos

alunos da Pedagogia, eles têm mais angústias em relação à

aprendizagem dos conteúdos de Matemática (não é dificuldade, e

sim receio por não terem aprendido na escola e acharem que não

vão mais aprender) [...] É preciso conhecer seu público, entender

as necessidades dele e saber escutar os alunos (Regina).

De acordo com o comentário de Regina, vale lembrar que a educação é

um processo de aprendizagem que envolve professor-aluno, como parceiros de

uma caminhada que leva em conta a formação pessoal e profissional, visando a

86

uma educação que, de fato, seja inclusiva, que respeite a diversidade dos alunos

e tenha como princípio que o acesso à educação é direito de todos.

Vale ressaltar que a presente pesquisa analisa o professor de instituições

privadas, e é importante lembrar as características desse público. Dados do

INEP/MEC apresentam que o aluno das instituições privadas pertence ao grupo

beneficiado por uma política de maior acesso da classe C aos bens materiais e

sociais, dentre eles, o acesso ao ensino superior, a chamada nova classe

média. Nos últimos 10 anos, o número de universitários no País cresceu

77,1% e, hoje, 67,7% desses estudantes são oriundos das classe C e E.

Muitas vezes, esse aluno chega à universidade com déficit de aprendizagem

específico no que se refere aos conteúdos de Matemática.

Na visão do professor Daniel, o que existe é a diferença de conteúdo. No

caso do curso de licenciatura em Matemática, existem alguns conteúdos

específicos que não são desenvolvidos nos cursos de licenciatura em Pedagogia.

Nesse curso, há o oferecimento da disciplina de metodologia para o ensino

da Matemática; no curso de Licenciatura em Matemática, existem conteúdos

específicos, como Álgebra e Geometria.

O professor também tem clareza que independente dos conteúdos, ambos

os cursos formam professores que irão lecionar Matemática.

Tanto na Licenciatura em Pedagogia como na Licenciatura em

Matemática têm a disciplina de Metodologia para o Ensino de

Matemática, que acredito que a diferença se refere apenas aos

conteúdos pertinentes a cada modalidade de ensino (Educação

Infantil, Ensino Fundamental e EJA, no caso da Licenciatura em

Pedagogia e Ensino Fundamental II e Ensino Médio no caso da

Licenciatura em Matemática [...] Fora isso, não vejo diferenças,

pois ambos os cursos formarão professores que ensinarão

Matemática [...] Enquanto no curso de Licenciatura em

Matemática existem disciplinas que vão ensinar conteúdos, como

Álgebra, Geometria e outros; no curso de Licenciatura em

Pedagogia não existem disciplinas para ensinar conteúdos

Matemáticos. Talvez aí resida a diferença, mas na minha

concepção de educação e no processo de ensino e

aprendizagem, não existem diferenças (Daniel).

87

Ao considerarmos o aluno que se recebe nos cursos de Licenciatura e

Pedagogia devemos levar em conta a preocupação com a atuação didática. O

professor Wander relata não ter muitos problemas, pois mantém-se sempre

atualizado.

Eu não sei se é muito conteúdo, porque a gente procura sempre

estar se atualizando. Como estou fazendo o doutorado estou em

constante atualização em relação ao conteúdo. Até mesmo o

conteúdo matemático, a gente acaba indo atrás dessas questões

(Wander).

A docência é uma atividade complexa que exige uma preparação para sua

atuação. No depoimento do professor Wander, o papel da atualização e da

continuidade dos estudos que, nessa profissão, marcada pela complexidade de

situações e de sujeitos presentes na sala de aula necessita ser cada vez mais

constante.

O professor Wander considera que as diferentes características dos alunos

são fatores importantes a serem avaliados e trabalhados em sala de aula. O

professor demonstra ter clareza sobre os novos alunos que têm adentrado às

salas de aula do ensino superior e a importância de sanar as dificuldades trazidas

por esse grupo.

Porque a cada ano os alunos chegam diferentes. É lógico, isso é

obvio, eles vão chegar diferentes, e a gente espera que eles

cheguem diferentes. É até bom e as dificuldades estão aí. Aqui

nós temos alunos que têm bastante dificuldade no conteúdo

matemático. Então, a gente tenta sanar as dificuldades do

conteúdo, porque eles não poderão tê-las, quando forem atuar em

sala de aula (Wander).

Esta questão trazida pelo professor Wander, sobre os novos alunos e a

relação com os conteúdos, mostra-se importante, uma vez que “saber o conteúdo

não implica ser bom professor, pois, se não houver conhecimentos sobre como o

aluno aprende, de que maneira agir para facilitar tal aprendizagem, o domínio do

conteúdo torna-se insuficiente”. (GOMES, 2002, p. 371)

88

Este apontamento da autora supracitada é muito pertinente, pois, o mais

“problemático é o como ensinar para promover aprendizagem profunda entre os

alunos com diferentes backgrounds” (VALENZUELA; BARNETT, 2013, p. 893).

É importante constatar que a trajetória escolar dos alunos que cursam a

licenciatura nas duas instituições foi feita em escolas públicas e apresentam

também diferenças culturais e ausência de conhecimentos científicos. Referente

ao aluno que ingressa na licenciatura, Gonçalves relata:

São alunos de rede pública, quando não pagaram seus estudos

ao terminar o ensino médio, acabam de modo geral, por concorrer

aos cursos de menor procura e considerados de menor “status”.

Entre estes, estão, na sua grande maioria, os cursos de

licenciaturas [...] a grande maioria dos estudantes da licenciatura

é oriunda das escolas públicas, com formação científica e cultural

deficitária. (GONÇALVES, 2000, p. 19)

O perfil desse aluno que chega à licenciatura, acaba por se tornar um

grande desafio para o professor iniciante no desenvolvimento de sua atividade

docente, pois precisará lidar com essas dificuldades e encontrar formas para que

o aprendizado ocorra de modo significativo para o aluno.

Podemos inferir que, enquanto a formação básica não for de qualidade,

futuramente as dificuldades ficarão ainda mais evidentes na vida do estudante.

E, na graduação, seja na Licenciatura em Matemática ou em Pedagogia,

fica mais difícil realizar uma revisão do que o aluno não aprendeu.

Os depoimentos dos sujeitos da pesquisa mostraram a consciência que os

professores iniciantes têm de seus saberes e limitações para atuarem, como

bons profissionais para um ensino que considere essa realidade.

É importante salientar que é responsabilidade das instituições de ensino

modificar seus cursos, pois a formação vem mostrando-se distante da realidade

específica do contexto escolar, ficando assim reduzida a discussão das questões

teóricas, sem ter como alicerce a relação teoria/prática.

89

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao tecer as considerações finais deste estudo, não posso deixar de

expressar que não tenho a pretensão de esgotar aqui as reflexões sobre o tema.

Dessa forma, considero esta pesquisa com a perspectiva de que é imprescindível

mudanças no cenário atual da formação de professores.

O estudo desenvolvido põe em discussão os desafios e as dificuldades

expressos pelos professores ao se verem diante da iniciação docente no Ensino

Superior.

Considero importante retomar as questões iniciais do projeto, que

direcionaram o trajeto percorrido: Quais as dificuldades e desafios vivenciados

pelos professores de Matemática em início de carreira no ensino superior? Que

estratégias os docentes utilizam para os desafios enfrentados?

Os sujeitos que participaram deste estudo foram três professores

formadores que atuam nos cursos de Licenciatura em Matemática e Pedagogia.

Eles estão em início de carreira e possuem até 5 anos de exercício nesse nível

de ensino, independentede possuírem ou não experiência em outros níveis.

Diante das informações obtidas, posso argumentar que os desafios e as

dificuldades dos professores entrevistados foram semelhantes nos primeiros anos

da docência, mesmo com a diferença no tempo de atuação de cada profissional.

Após várias leituras dos dados, foram elaborados seis eixos de análise

com a finalidade de identificar as principais dificuldades e desafios que o

professor de matemática em início de carreira enfrenta no ensino superior. Dentre

eles, estão: Escolha pela carreira docente; Ingresso na Carreira: Desafios e

90

Dificuldades, Dificuldade com conteúdos matemáticos, Insatisfação no exercício

da docência, Socialização: apoio ao professor iniciante e Papel dos alunos frente

à dificuldade com a Matemática: uma dimensão emergente.

Durante as entrevistas, os docentes comentaram que a forma de ingresso

no ensino superior ocorreu por meio de convite. Entretanto, a atuação inicial

desses formadores foi marcada por muitas tensões, demonstradas pela angústia

e insegurança na atividade docente, mesmo quando possuíam conhecimento do

campo específico de sua formação.

No início da carreira, conforme evidenciaram os dados da pesquisa, o

professor vai se constituindo de forma isolada ao se deparar com os desafios que

se apresentam nessa fase da docência.

Com base na análise dos depoimentos dos professores entrevistados,

posso mencionar que as principais dificuldades enfrentadas no início da carreira

docente referem-se à ausência dos conhecimentos básicos da Matemática

demostrada pelos alunos, seguida pela falta de experiência dos professores no

ensino superior e pelo trabalho solitário desenvolvido.

Os professores declararam que sua maior dificuldade é lidar com os alunos

que chegam à licenciatura com defasagem dos conhecimentos básicos da

Matemática. Ressaltam que estão buscando alternativas para sanar as

defasagens dos discentes, como por exemplo, fazendo a revisão dos conceitos

do ensino básico e atendimento individual para tirar dúvida. Assim, com estas

alternativas, os professores tentam investir em uma melhor compreensão dos

conteúdos abordados.

Discutir esta problemática da defasagem de conteúdos dos alunos, é muito

importante, pois, estes futuros professores, atuarão na educação básica, com o

agravante de não dominarem os conteúdos básicos de Matemática. Sabendo que

o ensino básico é um alicerce da educação, as falhas nessa fase da vida,

provavelmente, resultarão cada vez mais em jovens com defasagem de

conteúdos matemáticos.

Na busca por alternativas para sanar os problemas de defasagem do

aluno, os professores mostraram também a consciência que têm de sua condição

91

de formadores de professores, de seus saberes e limitações para atuar como

bons profissionais. Entretanto, diariamente, deparam-se com o desafio de

repensar sua prática em sala de aula, e suas iniciativas individuais, como por

exemplo, sanar as dificuldades dos futuros professores não é um projeto proposto

pela instituição.

Neste estudo, podemos constatar que a necessidade formativa foi

revelando os docentes que demonstraram preocupação com seu

desenvolvimento profissional e revelaram a necessidade de atualização

constante.

A dificuldade com o processo de adaptação revelado como difícil e

solitário, e as alternativas encontradas para enfrentar alguns desafios

evidenciaram o pouco envolvimento das instituições com a questão. Os iniciantes

mostraram-se ficar mais à vontade com os amigos experientes, a quem recorrere

nos momentos de dúvidas e de esclarecimentos.

Um dado preocupante trazido pelos dados analisados refere-se às próprias

dificuldades desses iniciantes em relação ao conteúdo que ministram.

Reconhecem que sentem dificuldades e evidenciam a distância entre a formação

e a prática. Diante disso, pode-se alertar para o processo de formação que é

necessário para o professor que atua no ensino superior, e, especialmente, para

aos professores que são formadores dos professores da escola básica.

Programas ou políticas de formação voltadas a esses formadores e que estejam

fortemente alicerçadas na teoria e na prática mostram-se urgentes nesse

momento.

Outro indicativo trazido pela pesquisa refere-se ao regime de contrato

trabalhista nas instituições analisadas. Podemos constatar o fato de serem

horistas e receberem os vencimentos somente pelas aulas dadas, sem apoio

financeiro para reuniões de pesquisa ou de formação continuada, também trazem

impactos à atuação desses docentes.

Outro aspecto importante a ser aprofundado referiu-se ao papel das

instituições de formação de professores, no sentido de que programas de

inserção do docente iniciante sejam voltados à valorização dos professores com o

92

oferecimento de formação continuada e que lhes permita o desenvolvimento

profissional.

Os desafios, dificuldades e problemas apontados pelos docentes

traduzem, assim, a necessidade de maior ênfase no preparo, no que se refere a

aspectos didático-pedagógicos. Dessa forma, no contexto da formação dos

docentes em início de carreira no ensino superior, é essencial que as instituições

de ensino superior reflitam sobre a formação pedagógica dos docentes, sempre

enfatizando compreender os processos que os docentes vivenciam para construir

saberes para o ensino.

Esperamos que este estudo conduza a novas pesquisas que envolvam os

professores formadores dos cursos de Licenciatura em Matemática e Pedagogia,

e que este tenha sido uma contribuição para a área.

93

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104

105

ANEXOS

ANEXO A

Roteiro de Entrevista

Como e porque você se tornou professor?

Você se sente preparado para lecionar?

Há quanto tempo você leciona?

Como é a preparação de suas aulas?

Quais os desafios e dificuldades que tem enfrentado nesse início de carreira?

Como você tem feito para enfrentá-los?

Você recebeu algum apoio quando iniciou seu trabalho nos cursos de

licenciaturas? E, referente às condições de trabalho?

Há quantos anos você iniciou sua experiência no magistério? Em que redes e

níveis de ensino atuou como professor?

Você considera que ser professor do curso de licenciatura é diferente de ser

professor em outros níveis de ensino? Por quê?

Você tem oportunidade de participar de congressos, seminários, fóruns de sua

área de atuação que possam contribuir com sua prática docente?

Você participa de cursos de formação continuada? Em que áreas O que você

pensa sobre isso?

Como você trabalha os conteúdos de matemática para uma turma que não é

de licenciatura matemática e sim de pedagogia?

106

Existe diferença em lecionar para pessoas que vão se formar em matemática

das que vão se formar para dar aula nas séries iniciais (Pedagogia)? Quais são

as diferenças?

O que você considera que é preciso saber para ensinar bem?

Conhece a grade curricular e o projeto político pedagógico dos cursos em que

atua?

Fale um pouco do aluno da licenciatura. Como você se relaciona com eles?

Como você lida com dificuldades de aprendizagem?

Como se defronta com situações complexas e/ou imprevistas em sala de aula?

107

ANEXO B

Questionário Perfil

QUESTIONÁRIO DE PERFIL ACADÊMICO PROFISSIONAL

Dados pessoais

Nome

Idade

Naturalidade

Est. Civil

Cidade em que reside

Formação Profissional

Graduação

Conclusão

Instituição?

Porque optou por esse curso?

O que o motivou?

Fez licenciatura?

Conclusão

Instituição?

Porque optou por esse curso?

O que o motivou?

Fez cursos de pós-

graduação?

Conclusão

Qual (is)

Instituição?

Porque optou por esse curso de pós-graduação? O que o motivou?

O que destaca nos cursos ou disciplina como aprendizagem importante para a sua

atuação como professor?

108

Durante o curso de pós-graduação você fez alguma disciplina voltada para o

exercício do magistério ou que lhe deu base para o exercício profissional?

Como avalia esses cursos de licenciatura e Pós para sua atuação como professor?

Durante o curso de pós-graduação você fez alguma disciplina voltada para o

exercício do magistério ou que lhe deu base no exercício profissional?

O que destaca nesse curso ou disciplina como aprendizagem importante para a sua

atuação como professor?

ATUAÇÃO PROFISSIONAL COM IDENTIFICAÇÃO

Situação atual

Educação Básica

Intituição(s) em que atua/há quanto tempo

Ensino Superior

Intituição(s) em que atua/há quanto tempo

Curso(s) em que atua

Carga horária

Vínculo empregatício na (s) Intituição(ões)

109

ANEXO C

Termo de Livre e esclarecido

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Pós-Graduação em Psicologia da Educação – Educação

Caro (a) Professor (a) Sou aluna de Mestrado do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia

da Educação – Educação, da PUC-SP e estou em processo de elaboração de

minha dissertação, com o objetivo de conhecer o professor de matemática em

início de carreira que lecionam no Ensino Superior Privado. Para tanto, estamos

utilizando como procedimento de coleta de dados entrevistas semiestruturadas

que focalizam o processo de iniciação à docência no ensino superior; os desafios

e dificuldades enfrentadas no início da carreira.

Estou entrando em contato com professores que lecionam no ensino superior em

diferentes instituições. Gostaria de contar com sua colaboração, que será de

grande importância na construção de conhecimentos e contribuirá para o

desenvolvimento dos estudos sobre a formação de professores.

Esclarecemos que os dados coletados nesse trabalho serão utilizados

respeitando a identidade do sujeito da pesquisa.

Para facilitar nossa conversa e garantir um registro fiel da mesma, farei uso do

gravador.

Agradeço, desde já, sua colaboração.

Cibele Aparecida Santos Rosa

PUC-SP