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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Yaeko Uehara Política Científica e Tecnológica e Patentes: o Proálcool DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA SÃO PAULO 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Yaeko Uehara

Política Científica e Tecnológica e Patentes: o Proálcool

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

SÃO PAULO 2010

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ii

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Yaeko Uehara

Política Científica e Tecnológica e Patentes: o Proálcool

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em História da Ciência com concentração em História, Ciência e Cultura sob a orientação da Profª Doutora Márcia Helena Mendes Ferraz

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

SÃO PAULO 2010

iii

Banca Examinadora

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iv

À Nicolina, pelo carinho e companheirismo de todas as horas.

v

AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Maria Helena Mendes Ferraz que no papel de orientadora,

conduziu com firmeza e objetividade os caminhos trilhados por este trabalho.

Acima de tudo, pelas críticas, que permitiram reflexões e o encaminhamento

dos estudos e da pesquisa.

A Banca de Qualificação formada pelos Professores Dra. Ana Maria Alfonso-

Goldfarb e Dr. José Luiz Goldfarb, pelas suas valiosas observações e críticas.

A CAPES pelo fomento concedido para esta pesquisa.

Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da

Ciência que com seu conhecimento geraram novos desafios a ser enfrentados

e a ampliação do saber.

Ao grupo de trabalho que compõe o CESIMA.

Aos colegas do doutorado com os quais foram compartilhadas leituras,

discussões e cafés.

A Paulo Afonso Garcia pelas discussões, opiniões e sugestões. Agradeço,

principalmente, sua compreensão e seu incentivo que permitiram a realização

deste trabalho.

vi

RESUMO

O objetivo desta tese é analisar a articulação e a relação das políticas

públicas de incentivo, a produção científica no Brasil e o sistema de patentes,

no período que vai da criação do Programa Nacional do Álcool em 1980 até

2005.

A abordagem deste trabalho contempla dois períodos diferenciados: o

de intervenção do Estado, por meio do planejamento econômico centralizado, e

o período de desregulamentação, regulado pelas leis de mercado.

Neste sentido, estuda o papel do governo enquanto regulador e

posteriormente indutor de uma política de desenvolvimento autóctone na

geração de energia renovável e as mútuas relações entre os diversos

interesses dos grupos sociais envolvidos. Também aborda a história da ciência,

tecnologia e técnica no processo de produção do álcool combustível a partir da

cana de açúcar. E, finalmente faz um mapeamento das patentes de invenção

concedidas para cana-de-açúcar e etanol, bem como as proteções definitivas

de cultivares da cana, no período.

Partiu-se da hipótese de que o mapeamento da propriedade intelectual

concedida no período para a cana-de-açúcar e o etanol no Brasil permite

delinear a complexa rede de interfaces dos diversos grupos e instituições e sua

participação no processo de desenvolvimento e consolidação de uma ciência e

tecnologia nacional.

Para esta tese foram, inicialmente, analisados os principais documentos

governamentais produzidos no período, legislação e os mecanismos de

incentivos. Simultaneamente foi realizada a coleta de registros constantes do

banco de dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial referente a

patentes de invenções. A partir de bibliografia básica foram sendo delineados

novos desdobramentos sobre o vínculo de políticas científicas com patentes e

a proteção de cultivares.

Palavras-chave: História da Ciência, Brasil, Proálcool, política científica e tecnológica, patentes

vii

ABSTRACT

This thesis aims to analyze the articulation and the relationship of public

policies to encourage the scientific production in Brazil and the patent system in

the period from the creation of the National Alcohol Program in 1980 until 2005.

In this work there are two distinct periods: the intervention of the State,

by means of centralized economic planning, and the period of deregulation,

regulated by market laws.

In this sense, this thesis focuses on the role of government as regulator

and then enabling a policy of developing a local and exclusive renewable

energy generation and the mutual relations between the different interests of

social groups involved in this process. Also covers the history of science,

technology and technical process of producing ethanol from sugarcane. Finally

makes a mapping of patents granted to sugar cane and ethanol, as well as the

final protections of the cultiving of sugarcane in the related period.

The starting point was the assumption that the mapping of intellectual

property granted in the period to sugarcane and ethanol in Brazil allows

delineating the complex network interfaces of the various groups and

institutions and their participation in development and consolidation of national

science and technology.

For this work the main government documents produced during the

period, legislation and incentive mechanisms were analyzed. Simultaneously

the records relating to patents from the database of the National Institute of

Industrial Property were collected. From basic bibliography new developments

concerning the relationship of science policy with patents and plant variety

protection have been outlined.

Keywords: History of Science, Brazil, Proálcool, science and technology policy, patents.

viii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1

CAP 1. POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA E SISTEMA DE PATENTES E PROTEÇÃO DE CULTIVARES 11

1.1. Contexto e Articulação de Políticas Governamentais no

Período do Programa Nacional do Álcool ................................. 17

1.2. O Processo de Desregulamentação Governamental................. 34

CAP 2. HISTÓRIA DA CIÊNCIA, DA TECNOLOGIA E DA TÉCNICA 42

2.1. As Experiências do Álcool-motor Anteriores ao PNA ............... 42

2.2. Ciência e Tecnologia do Etanol e Cana-de-açúcar a partir do

PNA...................................................................................... 53

2.2.1. Ciência, Tecnologia e Técnica Agrícola............................ 56

2.2.1.1. Melhoramento Genético...................................... 57

2.2.1.2. Tecnologia Agrícola............................................ 60

2.2.2. Processamento Industrial ................................................. 61

2.2.3. Tecnologia dos Motores ................................................... 66

2.3. Discussões sobre Impactos da Produção do Etanol de Cana-

de-açúcar ................................................................................... 70

CAP 3. PATENTES DE INVENÇÃO E PROTEÇÃO DE CULTIVARES 79

3.1. Análise Geral das Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI 83

3.2. Propriedade Intelectual em Cultivares: Saccharum L. .............. 103

3.2.1. Centro de Tecnologia Canavieira - CTC .......................... 107

3.2.2. RIDESA ............................................................................ 108

3.2.3. Instituto Agronômico – IAC .............................................. 110

3.3. Patentes de Invenção das Indústrias de Bens de Capital –

Equipamentos para Produção Sucroalcooleira ......................... 112

3.4. Patentes de Invenção das Universidades e Institutos de

Pesquisa ..................................................................................... 117

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 124

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 129

ix

QUADRO DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAVE Associação Brasileira de Distribuidores de Veículos

AEAC Álcool Etílico Anidro Carburante

AEHC Álcool Etílico Hidratado Carburante

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

APAREM Associação Paulista de Retíficas de Motores

APP Área de Proteção Permanente

APTA Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIOEN Pesquisa em Bioenergia

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BNDE Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (atual BNDES –

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social)

C&T Ciência e Tecnologia

CAPES Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior, atualmente Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior

CEIMA Comissão Executiva da Indústria de Material Automobilístico

CENAL Comissão Executiva Nacional do Álcool

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (MCT)

CIMA Conselho Interministerial do Álcool

CIP Classificação Internacional de Patentes

CNAL Comissão Nacional do Álcool

CNP Conselho Nacional do Petróleo

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

x

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONAREM Comissão Nacional de Retíficas de Motores

COPERESTE Cooperativa dos Usineiros do Oeste do Estado de São Paulo

COPERFLU Cooperativa Fluminense dos Produtores de Açúcar e Álcool

COPERSUCAR Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de

São Paulo

CPDOC Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do

Brasil

CPFL Companhia Paulista de Força e Luz

CPI Código de Propriedade Industrial

CRP Campos - Ribeirão Preto, clones de sementes de cana-de-açúcar

CTA Centro Técnico da Aeronáutica

CTC Centro de Tecnologia Canaviera

CUP Convenção da União de Paris

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DHR Dedini Hidrólise Rápida

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos

DNA Deoxyribonucleic acid

DNPI Diretoria Nacional de Propriedade Industrial

EIA Estudos de Impacto Ambiental

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EST Expressed Sequence Tags

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FEAUSP Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da

Universidade de São Paulo

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

xi

FUNTEC Programa de Desenvolvimento Tecnológico (BNDE)

GATT Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio - General

Agreement on Tariffs and Trade

GEE Gases de Efeito Estufa

GIS Sistema de Informações Geográficas

GPS Sistema de Posicionamento Global

IAA Instituto do Açúcar e do Álcool

IAC Instituto Agronômico de Campinas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial

INT Instituto Nacional de Tecnologia

IPI Imposto Sobre Produtos Industrializados

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

LPI Lei de Propriedade Industrial

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MAPV Motor a Álcool Pré-Vaporizado

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MEG Monoetileno Glicol

MIC Ministério da Indústria e Comércio

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MME Ministério das Minas e Energia

MTBE Methyl Tertiary Butyl Ether

NEAT/FEAUSP Núcleo de Economia e Administração de Tecnologia da Faculdade de

Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São

Paulo

NIR Near InfraRed

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

xii

OEA Organização dos Estados Americanos

OMC Organização Mundial do Comércio

OMPI Organização Mundial da Propriedade Industrial

ONU Organização das Nações Unidas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

OSRD Office of Science Research and Development

OTI Observatório de Tecnologia e Inovação

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PBDCT Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

PCT Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes – Patent

Cooperation Treaty

PETROBRÁS Petróleo Brasileiro S. A.

PITE Parceria para Inovação Tecnológica da Fapesp

PLACTS Pensamento Latino-Americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade

PLANALSUCAR Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar

PMGCA Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar da UFSCar

PNA Programa Nacional do Álcool

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PND-NR Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República

PPA Plano Plurianual

PPPP Projeto de Pesquisa em Políticas Públicas

PRONEX Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência

RB República Federativa do Brasil (variedade de cana-de-açúcar)

RIDESA Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor

Sucroalcooleiro

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

SCMV Sugar Cane Mosaic Virus

SEMA Secretaria Especial de Meio Ambiente

xiii

SEPLAN Secretaria do Planejamento

SINDIPEÇAS Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos

Automotores

SNPC Serviço Nacional de Proteção de Cultivares

SOPRAL Sociedade de Produtores de Açúcar e Álcool

STI/MIC Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do

Comércio

SUCEST Sugar Cane Expressed Sequence Tags

TRANSPETRO Petrobrás Transporte S/A

TRIPS Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

Relacionados com o Comércio ou Trade Related Aspects of

Intellectual Property Rights

UDOP Usinas e Destilarias do Oeste Paulista

UFAL Universidade Federal de Alagoas

UFG Universidade Federal de Goiás

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco

UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UFS Universidade Federal de Sergipe

UFSCAR Universidade Federal de São Carlos

UFV Universidade Federal de Viçosa

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura

ÚNICA União da Indústria de Cana-de-Açúcar

UPOV União Internacional para Proteção das Cultivares

USGA Usina Serro Grande, em Alagoas, onde foi fabricado o álcool

combustível

USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A

xiv

LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

Gráfico 01 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI – Cana-de-açúcar e

Etanol: 1980-2005 ........................................................................... 84

Gráfico 02 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por País de Origem

do Depositante - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ................. 88

Gráfico 03 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Estado da

Federação Brasileira - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ........ 90

Gráfico 04 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Pessoas Física e

Jurídica - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ......................... 91

Gráfico 05 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação

Internacional de Patentes - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 94

Gráfico 06 Produção Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol com Patentes de

Invenção Concedidas pelo INPI: 1980-2005 .............................. 102

Gráfico 07 Cultivares de Cana-de-Açúcar Protegidas no SNPC: 1998 a 2005 106

Quadro 01 Patentes de Invenção com Montadoras como Depositante/Titular

- Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ...................................... 98

Quadro 02 Patentes de Invenção com Usinas como Depositante/Titular -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ........................................ 99

Quadro 03 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para o Grupo Dedini

- Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ....................................... 114

Quadro 04 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para a Zanini -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ........................................ 115

Quadro 05 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para a Copersucar -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ......................................... 116

Quadro 06 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para Parceria

Universidade/Empresa - Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005 ..... 123

Tabela 01 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI – Cana-de-açúcar e

Etanol: 1980-2005 ...........................................................................

86

Tabela 02 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por País de Origem

do Depositante - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ................. 87

xv

Tabela 03 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Estado da

Federação Brasileira- Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ........

89

Tabela 04 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Pessoas Físicas

e Jurídicas - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ...................... 91

Tabela 05 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação

Internacional de Patentes - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 93

Tabela 06 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação

Internacional de Patentes da Seção Necessidades Humanas -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ......................................... 94

Tabela 07 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por CIP da Seção

Operações de Processamento e Transportes – Cana-de-açúcar e

Etanol: 1980-2005 .................................................................... 95

Tabela 08 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por CIP da Seção

Química e Metalurgia: Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ........ 96

Tabela 09 Maiores detentores de patentes de invenção no INPI -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ......................................... 97

Tabela 10 Patentes de Invenção Extintas - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-

2005 ........................................................................................ 100

Tabela 11 Patentes de Invenção Extintas por Depositante/Titular -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 ......................................... 101

Tabela 12 Cultivares de Cana-de-Açúcar Protegidas no SNPC: 1998 a 2005 105

Tabela 13 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com

Universidades, Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq

- Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005 ...................................... 118

Tabela 14 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com

Universidades, Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq,

por Área de Pesquisa - Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005 ....... 120

Tabela 15 Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com

Universidades, Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq,

por Ano de Concessão - Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005 ....

122

1

INTRODUÇÃO

Para analisar a política científica e tecnológica e o sistema de patentes1

no Brasil do ponto de vista da história da ciência é necessário compreender o

“processo histórico e interativo da ciência com seu meio”2, conforme destacado

por A. M. Alfonso-Goldfarb.

Tratar, então, da interação da ciência com seu meio, implica em analisar

os documentos referentes ao nosso objeto de estudo e observar o contexto em

que se insere o Brasil, a ideologia dominante, as etapas de institucionalização

das ciências, o comportamento dos principais atores no processo – Estado,

empresas, grupos de poder e institutos de pesquisa científica - ou seja, uma

análise do movimento da ciência em seu contexto, de acordo com a

metodologia do Centro Simão Mathias/Programa de Estudos Pós-Graduados

em História da Ciência – CESIMA/PEPGHC, na qual não se pode prescindir da:

“especificidade de casos e documentos – suas fontes, suas

singularidades, seus vínculos e ecos locais – para só depois, traçar as

relações destes com um contexto mais amplo. Trata-se de uma análise

de mão dupla, que perpassa as diversas camadas de texto e contexto

[... que forma] um mapa temporal da ciência, extremamente complexo,

em que convivem rupturas e permanências”.3

O Brasil, por sua vez, é repleto de particularidades e de singularidades

em sua história econômica, política e social. De uma relação de dominação

metrópole-colônia até sua transformação para o modo de produção capitalista,

de suas tentativas de desenvolvimento e institucionalização das ciências, toda

e cada etapa foram repletas de dificuldades e obstáculos e não aconteceram

de forma linear e muito menos homogênea. 1 A palavra patente tem origem no termo em latim litterae patentes que usualmente é traduzida

por “cartas abertas”. O termo “abrir” significa que o documento pode ser usado mais de uma vez, conforme T. van Djik em Economic Theory of Patents, 2. Como documento legal, é normalmente concedido por um monarca ou governo para garantir um ofício, um direito, monopólio, título ou status a uma pessoa ou para alguma entidade corporativa.

2 A. M. Alfonso-Goldfarb, História da Ciência, 89. 3 A. M. Alfonso-Goldfarb, M. H. M. Ferraz & M. H. R. Beltran, “Historiografia Contemporânea,”

54-55.

2

Na transição de uma economia comercial para uma economia industrial,

cresce a importância da ciência e tecnologia, pois, conforme C. Furtado:

“as preocupações com os custos colocaram a técnica produtiva no

primeiro plano e o processo de desenvolvimento, em razão disso, tendeu

a transformar-se em um processo de avanço da tecnologia, [... que, por

sua vez] abriu oportunidades aos capitais, em permanente acumulação,

de reincorporar-se ao processo produtivo”.4

No entanto, a ciência, segundo V. M. Sant`Anna deve ser vista também

como:

“um bem cultural, enquanto parte integrante do acervo de

conhecimentos e instrumentos que possibilitam o homem dominar seu

mundo natural e social, [... e que,] se é verdade que no processo da

evolução histórica das sociedades há a contínua emergência de

diferentes formas de apropriação da riqueza, não é menos verdadeira a

ocorrência de diferenças quanto à apropriação, manipulação e

reprodução dos bens culturais, dentre eles o conjunto do conhecimento

científico”.5

Historicamente na dinâmica do desenvolvimento capitalista observou-se

que as desigualdades entre os países cresceram em função da divisão

internacional do trabalho: alguns foram consagrados como industrializados e

outros como fornecedores de matérias-primas e produtos agrícolas, e, em

consequência desse raciocínio, os industrializados detinham o conhecimento e

a infra-estrutura científica e tecnológica.

Assim, tratar dessas desigualdades significa que os países menos

favorecidos devem encarar e ter clareza do conceito de desenvolvimento que

almejam, ou seja, se é aquele relacionado ao desenvolvimento de uma

sociedade humana, em que convergem as vertentes biológica, econômica,

4 C. Furtado, Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, 153. 5 V. M. Sant’Anna, “Política da Ciência,” 63-80.

3

política e cultural, e que propicia o surgimento e a continuidade da pesquisa

científica, como o interpretado por M. Bunge.6

Para analisar a trajetória do Brasil devemos ter em mente suas

particularidades, uma vez que são elas que propiciaram um caminho diferente

e, assim sendo, levaram a resultados diferentes.

Neste sentido, M. H. M. Ferraz estabelece parâmetros importantes para

analisar as particularidades na história do Brasil e na história das ciências do

século XVIII, uma vez que a historiografia de autores ibéricos e ibero-

americanos tem buscado uma metodologia própria de pensar a ciência nessas

regiões. Assim sendo:

“A primeira dificuldade delineia-se já na Península, na impossibilidade de

tratá-la como um conjunto homogêneo de países que, dentro mesmo da

Europa ocidental, desenvolveram-se tão diferentemente, se os

compararmos com centros como a França, Inglaterra ou a região que

viria a ser a Alemanha. Centros que passaram a representar o modelo a

ser seguido nas tentativas de modernização – aí incluídos os estudos

das ciências modernas – verificadas na segunda metade do século

XVIII.

O segundo foco de preocupação dos historiadores é a América Latina.

Em se tratando da ciência moderna e seu estudo no continente

americano, passa-se a considerar fundamentais as relações existentes

entre as metrópoles e as colônias em termos do conhecimento

difundido. As maneiras como foram abordadas tais relações

determinaram metodologias diversas que vêm sendo discutidas nas

últimas décadas”.7

Embora a citação seja feita para o século XVIII, ela contempla a

necessidade de estar atento às condições que traspassam a relação de um

país em desenvolvimento e aqueles que têm uma influência preponderante nas

relações internacionais, tanto política quanto econômica.

6 M. Bunge, Ciência e Desenvolvimento, 19. 7 M. H. M. Ferraz, Ciências em Portugal, 19.

4

As dificuldades parecem acompanhar nossa história.

Ao fazer uma análise sobre as raízes históricas da institucionalização

das ciências no Brasil, Alfonso-Goldfarb e Ferraz mostram as dificuldades do

“binômio estudar/ensinar” antes da transferência da sede do governo português

para nossas terras e as negativas de criação de um curso superior de medicina

em Minas Gerais. A alegação, em 1768, era o de manutenção do vínculo de

dependência das colônias.8

A vinda da família real portuguesa para o Brasil não amenizou

completamente as dificuldades, poder-se-ia pensar que o fato de aqui se

instalar propiciasse condições para efetivar a ciência. No entanto, o Brasil

colônia esteve repleto de dificuldades para instalar cursos, encontrar

professores, os alunos tinham formação deficitária e, ainda, havia a falta de

instalações adequadas.

Nesta perspectiva, se o ensino e a investigação eram precários, a

divulgação do saber achava-se na mesma condição, pois pouco se pôde fazer

em função da proibição de instalação de prelos e do controle de Portugal sobre

o que poderia ser lido. Tratava-se do temor de que as idéias pudessem levar a

anseios de independência e, no fluxo inverso, que a divulgação das riquezas

do país atraísse o interesse alheio.9

O Brasil independente mostra outros aspectos de nossa longa trajetória

em direção ao nosso fazer científico. Nem o total apoio de D. Pedro II em

atividades e instituições científicas foi o suficiente para o estabelecimento

efetivo da Escola de Minas de Ouro Preto.10

A partir das tentativas iniciais do processo de industrialização brasileiro,

as dificuldades de aplicação do conhecimento científico também estiveram

presentes. Mas, paulatinamente, no começo do século XX, parecem ter sido

construídas algumas bases para que nossa ciência local se consolidasse.11

8 Alfonso-Goldfarb & Ferraz, “Raízes Históricas da Difícil Equação Institucional da Ciência no

Brasil,” 4. 9 Ibid., 7. 10 Para maiores detalhes ver Alfonso-Goldfarb & Ferraz, “Raízes Históricas da Difícil Equação

Institucional da Ciência no Brasil.” 11 A. M. Alfonso-Goldfarb, M. H. M. Ferraz & C.A. R. do Nascimento, em “Um Estudo sobre a

Implantação da Moderna Siderurgia no Brasil: o Caso da Usina Queiroz Júnior,” fazem uma análise dos difíceis caminhos percorridos pela indústria siderúrgica no Brasil em 1940.

5

Acompanhadas as dificuldades e particularidades que envolvem a

análise da história da ciência no Brasil, e a própria realidade tão multifacetada

do país, C. Prado Jr nos alerta sobre a importância do ir e vir da história, para

melhor compreendê-la:

“[...] Aquilo que a colonização realizara, aquele “organismo completo e

distinto” constituído do período anterior, começa a se transformar, seja

por força própria, seja pela intervenção de novos fatores estranhos. É

então o presente que se prepara, nosso presente dos dias que correm.

Mas este novo processo histórico se dilata, se arrasta até hoje. E ainda

não chegou a seu termo. É por isso que para compreender o Brasil

contemporâneo precisamos ir tão longe; e subindo até lá, o leitor não

estará se ocupando apenas com devaneios históricos, mas colhendo

dados, e dados indispensáveis para interpretar e compreender o meio

que o cerca na atualidade”.12

Estas breves referências históricas nos mostram a importância de se

analisar as particularidades da ciência local e principalmente o fato de os

países em processo de desenvolvimento sofrerem as influências daqueles que

estão em um patamar de maior desenvolvimento, tanto econômico, quanto

social, cultural, político e científico.

No caso do Brasil, o que se pode observar são movimentos de idas e

vindas, com tentativas de industrialização e tentativas esparsas de projetos de

ciência e tecnologia, formação de pessoal, difusão da ciência e amparo legal

de proteção à invenção.

No período contemporâneo, o Brasil, inserido em um contexto mundial

do sistema de produção capitalista, com a expansão, inicialmente do comércio,

depois da indústria e do capital financeiro, tem, regra geral, sido influenciado

e/ou pressionado pelas tendências dos blocos hegemônicos de poder.

Adicionalmente, há que se considerar os períodos com crises

institucionais e políticas que nortearam as ações governamentais, com atores

sociais e políticos que participaram ativamente dos processos decisórios, e, 12 C. Prado Jr, Formação do Brasil, 3.

6

que contribuíram ou retardaram os processos do fazer da ciência e sua

incorporação através da tecnologia, no processo de desenvolvimento

econômico e social do Brasil.

Permeado por estes aspectos, nosso principal objeto de estudo será

compreender a articulação entre a política científica e tecnológica e o sistema de

proteção intelectual, com ênfase em patentes de invenção e na proteção de

cultivares da cana-de-açúcar e do etanol, a partir do Programa Nacional do

Álcool - PNA, no período de 1980 a 2005.

Com este panorama, pretende-se analisar o papel do Governo enquanto

indutor de uma política de desenvolvimento autóctone na geração de energia

renovável e as mútuas relações entre os diversos interesses dos grupos sociais

e econômicos envolvidos; assim como o desenvolvimento científico,

tecnológico e técnico no processo de geração do álcool combustível a partir da

cana de açúcar; além da articulação com as patentes de invenção e a proteção

de cultivares para as variedades de cana-de-açúcar concedidas no período de

1980 a 2005.

Acreditamos que fazer o mapeamento da propriedade intelectual

concedida nestes 25 anos para o etanol da cana-de-açúcar como combustível

no Brasil, permitirá delinear a complexa rede de interfaces dos diversos grupos

e instituições e sua participação no processo de desenvolvimento e

consolidação de uma ciência e tecnologia nacional, formalizada pela

concessão de patentes e de proteção de cultivares.

Para esta tese foram, inicialmente, analisados os principais documentos

governamentais produzidos no período, legislação e os mecanismos de

incentivos. Simultaneamente foi realizada a coleta de registros constantes do

banco de dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI referente

a patentes de invenções. A partir de bibliografia básica foram sendo delineados

novos desdobramentos sobre o vínculo de políticas científicas com patentes e

a proteção de cultivares, que foi pesquisada no banco de dados do Serviço

Nacional de Proteção de Cultivares - SNPC.

A bibliografia levantada trata de cada um dos assuntos que abordaremos

a seguir de diversas maneiras: por período, por tipo de política adotada, por

modelos econômicos, etc. Em nosso estudo o corte temporal foi feito em

7

função do grau de intervenção do Governo na economia durante o período

analisado, que podem se mostrar adequado dependendo de seus contextos.

Além disso, gostaríamos de evidenciar que não há nenhum critério

implícito que signifique um pressuposto de comportamento homogêneo ou

monolítico dentro de cada divisão temporal, seja político, econômico, social ou

cultural.

Quanto ao uso de dados relativos às patentes ou, em nosso caso,

adicionalmente, da proteção de cultivares, há alguma controvérsia a respeito

de sua utilização como indicador em pesquisas científicas e tecnológicas.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -

OCDE defende que as patentes podem ser interpretadas como indicadores da

atividade de invenção e permitem a análise de informações.13

Outras vantagens da análise das informações de patentes apontadas

pela OCDE incluem: a inexistência de um indicador mais apropriado para medir

o output das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento das empresas e outras

atividades inventivas; a abrangência de virtualmente todos os campos da

tecnologia14 e a classificação detalhada nos documentos de patentes.

Embora estas vantagens sejam citadas, há sempre que se considerar,

conforme a Comissão sobre Direitos de Propriedade Intelectual, as diferenças

existentes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo que

mesmo dentro de cada uma dessas categorias há de se analisar as

particularidades quanto aos aspectos econômicos, sociais, políticos e de

ciência e tecnologia.

Para esta Comissão, embora o sistema de propriedade intelectual

proporcione incentivos a indivíduos e companhias para que inventem e

desenvolvam novas tecnologias com potencial para beneficiar a sociedade

como um todo, estes incentivos funcionam de acordo com a capacidade de

13 OCDE, The Measurement of Scientific and Technological Activities: O Manual de Patentes,

o Manual TBP (Technology Balance-of-Payments Data: sobre comércio internacional de tecnologia) e o Manual de Oslo (sobre pesquisas de inovação) pertencem à família Frascati da OCDE. O Manual de Patentes trata somente das patentes de invenção industrial; sendo que outras formas de propriedade intelectual como marcas, designs e direito autoral estão fora de seu escopo. [Tradução nossa].

14 Segundo o Manual de Patentes da OCDE (1994), 16, “a principal exceção é o software, que é geralmente protegido por direito autoral e pode ser patenteado apenas quando estiver integrado em um processo técnico ou de produto”. [Tradução nossa].

8

reação a eles, ou seja, direitos exclusivos concedidos são custos que

penalizam consumidores e usuários de tecnologias protegidas. E, neste caso,

via de regra, as normas de proteção de propriedade intelectual geram mais

custos do que benefícios para os países em desenvolvimento, uma vez que

estes dependem dos conhecimentos gerados em outros lugares.15

Vários autores apontam limitações na análise de patentes. Entre as

restrições podemos destacar a existência de um invento que não será

registrado; uma inovação realizada por um intercâmbio entre organizações ou

pela troca de conhecimento e, em algumas atividades, o segredo da produção

é mais estratégico do que o registro. 16

Há que se apontar que existe uma inter-relação entre a divulgação da

informação no pedido de patente e o segredo de negócio. No sistema de

patentes, o inventor deve revelar sua invenção ao público em troca do direito

temporário de excluir outros do uso desta. Mas como a divulgação é feita no

estágio inicial da trajetória da invenção, normalmente a informação técnica

disponível é limitada e preliminar, embora possa prover de subsídios

importantes para os que trabalham no mesmo campo de tecnologia. Por outro

lado, ao manter o segredo de negócio e não realizar o pedido de patente,

outros pesquisadores – que trabalham independentemente – podem chegar às

mesmas conclusões e patenteá-las, ou, determinada invenção pode estar

sujeita à engenharia reversa.17

Apesar destas restrições e das ressalvas apontadas ao se analisar o

registro de patentes, J. P. S. González defende que as patentes são somente

uma parte do sistema de inovação, e, embora existam dificuldades em se obter

todos os dados necessários para avaliar a inovação de um país, não fazer esse

esforço implica em desconhecer a potencialidade da informação:

15 A Comissão sobre Direitos de Propriedade Intelectual foi criada pela então Ministra de

Estado para o Desenvolvimento Internacional, Clare Short, em maio de 2001, e composta de membros de vários países, formações e perspectivas. No prefácio de “Integrando Direitos de Propriedade Intelectual e Política de Desenvolvimento,” 5, John Barton cita que “cada um contribuiu para a discussão com pontos de vista muito diferentes. Incorporamos vozes tanto dos países desenvolvidos quanto daqueles em desenvolvimento: de ciência, direito, ética e economia e de setores industriais, governos e instituições acadêmicas”.

16 A. T. Furtado et al, “Setores que Mais Patenteiam,” 26. 17 R. M. Sherwood, Propriedade Intelectual, 64-69.

9

“Temos duas possibilidades: utilizar os dados existentes nas patentes de

maneira cautelosa, e aprender todo o possível com eles, ou

simplesmente não utilizá-las e perder a informação que possam

transmitir”.18

Caracterizadas as ressalvas, nosso trabalho tem uma dimensão

qualitativa e a busca não é por um indicador de inovação, mas delinear

cientistas e pesquisadores, individuais ou institucionais, que participaram e/ou

contribuíram para o processo de produção do etanol de cana-de-açúcar.

Assim, tentaremos mostrar a atividade de patenteamento da cana-de-

açúcar e do etanol no país, considerando-se as condições favoráveis

propiciadas pelo Proálcool, cujo objetivo governamental foi o de combater a

crise internacional do petróleo, e que neste sentido, priorizou investimentos e

arranjos institucionais, políticos e de ciência e tecnologia, para sua

consecução.

Para apoiar nossa intenção, não podemos deixar de concordar com a

posição de E. M. Albuquerque para quem as estatísticas de patentes19 podem

fornecer pistas para o nível e a qualidade da atividade tecnológica de um

país.20

Adicionalmente, concordamos com as observações de C. H. Brito Cruz,

para quem os registros de patentes de invenção podem elencar os agentes que

compõem um sistema nacional de geração e apropriação de conhecimento,

quais sejam, empresas, universidades e o Governo – “agentes institucionais

geradores e aplicadores de conhecimento que possibilitam a uma nação gerar

conhecimento e converter o conhecimento em riqueza e desenvolvimento

18 J. P. S. González, Invención, 28. 19 Algumas obras com dados sobre o Brasil combinam estatísticas de patentes e variáveis

como gastos com P&D, educação, percentual de cientistas, etc: Macedo & Albuquerque, “P&D e Tamanho da Empresa: Evidência Empírica Sobre a Indústria Brasileira”; Quadros, Furtado, Bernardes & Franco, “Technological Innovation in Brazilian Industry: An Assessment Based On The São Paulo”; Andreassi, Sbragia, “Fatores Determinantes do Grau de Novatividade das Empresas: Um Estudo Utilizando a Técnica de Análise Discriminante.”

20 E. M. Albuquerque, “Sistema Nacional de Inovação,” 59.

10

social”21 e, portanto, componentes precípuos da política científica e tecnológica

de um país.

Para tanto, a tese foi dividida em três capítulos, no intuito de articular as

políticas públicas; a história da ciência, tecnologia e técnica que possibilitou o

desenvolvimento do etanol e da cana-de-açúcar, e, os grupos e instituições que

obtiveram concessão de patentes.

No primeiro capítulo abordaremos a repercussão de políticas

governamentais no desenvolvimento de ciência e tecnologia e a proteção

intelectual em um contexto sócio-econômico e político de um país

caracterizado como “em vias de desenvolvimento”. Neste sentido, parece-nos

pertinente buscar entender as raízes do vínculo brasileiro com os países

hegemônicos em cada momento da história, e como tal vínculo se refletiu na

sua caracterização como a de um país com vocação agrícola-exportadora, nos

esforços do seu processo de industrialização, no desenvolvimento de ciência e

tecnologia e de proteção de seu conhecimento.

No segundo capítulo buscaremos compreender os cenários das

experiências anteriores ao Proálcool e como ocorreu o entrelaçamento entre o

etanol e a cana-de-açúcar e como o contexto, a experiência anterior e os

diversos setores da economia contribuíram para a tomada de decisão de

implementar um programa da dimensão do PNA. Em seguida, será abordado o

estado da arte na ciência, tecnologia e técnica da cana-de-açúcar e do etanol,

no período proposta para nosso estudo. Para tanto, serão analisadas as

realizações da área, os caminhos percorridos, e a participação de institutos de

pesquisa públicos e privados.

No terceiro capítulo serão cotejadas as patentes de invenção concedidas

pelo Estado, cujos dados disponíveis abrangem o período de 1979 a 2005, e as

proteções definitivas de cultivar de cana-de-açúcar concedidas no período de

1998 a 2005, a partir da promulgação da correspondente legislação. O

levantamento de dados foi realizado no website do INPI e no website do SNPC.

Pretende-se, então, reconhecer como estes instrumentos legais de incentivo e

proteção à ciência e tecnologia delineiam os principais grupos e instituições

que participaram no processo e as respectivas áreas de conhecimento. 21 C. H. B. Cruz, “A Universidade, a Empresa e a Pesquisa,” 5.

11

CAP 1. POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA E SISTEMA DE PATENTES E PROTEÇÃO DE CULTIVARES

Ao tratar da política de ciência e tecnologia – como instrumento de

planejamento governamental com objetivos previamente definidos -, algumas

considerações devem ser tecidas, pois o final da Segunda Guerra Mundial

trouxe para os países industrializados a idéia de que o Estado deveria

desenvolver uma política governamental nacional, diretamente relacionada com

assuntos científicos e capaz de criar e manter as respectivas instituições

encarregadas do planejamento, implementação e acompanhamento e controle

de tais políticas, ou seja, a ciência era condição precípua para o

desenvolvimento econômico e social.

Além do papel do Estado, prevaleceu a visão, amplamente aceita, do

papel da ciência básica na inovação tecnológica, que partiu de uma previsão

feita por Vannevar Bush, diretor do Office of Science Research and

Development - OSRD, a pedido de Franklin D. Roosevelt, em 1944 – um ano

antes do término da Segunda Guerra - sobre o papel da ciência em tempo de

paz.22

Em seu relatório “Science, the Endless Frontier”, Bush afirmou que a

pesquisa básica é realizada sem se pensar em fins práticos e sua característica

principal é a contribuição ao conhecimento em geral e ao entendimento da

natureza e de suas leis. A imagem criada por esta definição levou a um modelo

linear em que “a pesquisa básica levaria à pesquisa aplicada e ao

desenvolvimento, e em seguida, à produção ou a operações, segundo a

inovação seja de produto ou de processo”.23

A difusão deste modelo linear pela comunidade internacional foi

facilitada pela liderança norte-americana na ciência do pós-guerra, uma vez

que suas premissas permitiram a elaboração de um plano capaz de promover

22 D. E. Stokes, O Quadrante de Pasteur, 16. 23 Stokes em O Quadrante de Pasteur, fez um interessante estudo demonstrando a incoerência

de um modelo linear com exemplos históricos da distinção entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia ao usar quadrantes para o grau de aplicabilidade e conhecimento básico.

12

os objetivos do país e simultaneamente permitir aos cientistas aprofundar a

pesquisa básica, mediante subsídios governamentais.

No Brasil a influência do relatório Bush do pós-guerra, também se fez

presente. Nos anos 1950 adotou-se o modelo linear e ofertista, com o Estado a

canalizar montantes crescentes de recursos para atividades científicas e a

formação de recursos humanos, mediante a criação da Campanha Nacional de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES24 e do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, ambos em

1951.

A adoção desse modelo linear e ofertista, no entanto, não foi isenta de

críticas pela comunidade de pesquisa dos países latino-americanos.

Na esteira de se pensar uma alternativa para os países em

desenvolvimento, surgiu o Pensamento Latino-Americano em Ciência,

Tecnologia e Sociedade - PLACTS. Esta concepção se fez no bojo dos

movimentos sociais que marcaram os anos 1960-1970 e no descontentamento

de parte da comunidade de pesquisa frente às recomendações de política

pregadas pelos organismos internacionais25, alinhados à visão linear da relação

entre ciência, tecnologia e desenvolvimento.

A proposta do PLACTS foi a de construir um projeto baseado na

constituição de uma demanda social por conhecimento, demanda esta que

possibilitaria o denominado “avanço da ciência e tecnologia”, e,

consequentemente, o desenvolvimento econômico e social dos países da

América Latina.26

Mas, apesar das discussões e propostas, vale a pena questionar a

possibilidade de existência de um modelo para a institucionalização da ciência

no Brasil, uma vez que mesmo um pensamento latino-americano deve

considerar as particularidades locais.

24 Atualmente Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 25 S. C. P. Escobar, em “Institucionalização da Política Científica,” 31, aponta a Organização

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco, o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e a Organização dos Estados Americanos – OEA.

26 R. Dias & R. Dagnino, “Política Científica e Tecnológica,” 375.

13

Seria assim possível afirmar que a “compreensão do modelo (ou da falta

de modelo) para a institucionalização da ciência no Brasil passa,

necessariamente, por uma análise histórica”. 27

Com a crescente participação do Estado, a conceituação que passou a

prevalecer sobre a política científica e tecnológica foi a de um conjunto de:

“políticas destinadas a orientar as decisões sobre o montante dos

investimentos em P&D [Pesquisa & Desenvolvimento], a estrutura

institucional, a criatividade e a utilização de pesquisa e desenvolvimento

[... como] uma decisão deliberada e coerente dos governos no sentido

de fazer da ciência e da inovação tecnológica um instrumento para o

desenvolvimento”.28

Ao Estado coube o papel da coordenação da política científica e

tecnológica brasileira, seja para alavancar o processo de pesquisa através da

institucionalização da ciência, seja para incentivar a iniciativa privada em

investimentos na área.29

Incorporem-se a este contexto, as proposições feitas por E. A. A.

Guimarães e E. M. Ford:

“[...] a necessidade de se identificar, ao lado de uma política explícita de

ciência e tecnologia, ou face à sua inexistência, elementos esparsos,

mas específicos, dos planos governamentais que podem ser articulados

a posteriore, de modo a delinear uma “política implícita e específica de

ciência e tecnologia”, bem como as implicações, do ponto de vista

tecnológico, das demais políticas setoriais que caracterizem uma

“política implícita e derivada de ciência e tecnologia”.

[Um outro aspecto a ser considerado é que] os planos de Governo nem

sempre são implementados em sua totalidade; de que, muitas vezes, as

medidas e iniciativas mais relevantes da política econômica são

27 Alfonso-Goldfarb & Ferraz, “Raízes Históricas da Difícil Equação Institucional da Ciência no

Brasil,”1. 28 L. Donadio, “Política Científica e Tecnológica,” 19. 29 F. S. Erber, “Política Científica e Tecnológica no Brasil,” 163-164.

14

adotadas às margens dos planos, quando não em oposição a estes; de

que, em alguns casos, os documentos de planejamento não exprimem

nem mesmo o consenso e as intenções da equipe de Governo no

momento em que é formulado”. 30

Assim sendo, nossa análise da política científica e tecnológica

formalizada no intervalo entre 1980 e 2005 pretende considerar seu inter-

relacionamento com as demais políticas setoriais, concebendo-a, então, no

âmbito de políticas públicas.

Outra ponta de nossa análise a ser articulada para atender aos objetivos

desta tese refere-se às patentes de invenção e à proteção de cultivares.

Associado ao modo de produção capitalista e à presença do Estado

como mediador das atividades de ciência e tecnologia, a propriedade

intelectual desenvolve um regime de direitos na questão da propriedade

industrial sobre a invenção, baseado na propriedade privada exclusiva e

temporal dos indivíduos sobre as novas técnicas - a patente,31 ou seja, um

mecanismo legal32 - não arbitrário - para proteger o direito de propriedade das

idéias, direito este de caráter privado, que, em função do bem estar público ou

do interesse geral, pode levar o Estado a contestá-lo.

No Brasil, a instituição de patentes data do século XIX, quando D. João

VI expediu o Alvará de 28 de janeiro de 1809, onde reconheceu e concedeu

privilégios aos inventores de novas máquinas.

30 E. A. A. Guimarães & E. M. Ford, “Ciência e Tecnologia,“ 386. 31 González, Invención, 33. 32 De acordo com C. B. Wandscheer, as teorias que justificam o direito à proteção do seu

invento e que continuam com o mesmo ideal do século XV (lei de Veneza) são: “a) Teoria do direito natural – o inventor desenvolveu algo novo, e por isso essa novidade deve lhe pertencer. b) Teoria da recompensa – em razão da atividade inventiva é necessário que seja conferido um tempo de usufruto exclusivo da invenção, por parte do inventor como forma de recompensar o seu trabalho, que beneficiou toda a sociedade, deixando de ser uso exclusivo a invenção depois de um período de tempo. c) Teoria do estímulo – a partir da idéia de garantir que o inventor ou investidor tenha assegurado o retorno de seus investimentos, daí a necessidade de assegurar a possibilidade de lucro através da exploração exclusiva por tempo determinado do inventor. d) Teoria do contrato – para estimular que o inventor leve a público a sua invenção sem medo de vir a ser privado de seus direitos pela apropriação indevida pelos concorrentes da sua invenção. O inventor dá a conhecer o que inventou, e, em contraprestação, o Estado lhe assegura o privilégio.” Wandscheer, Patentes & Conhecimento Tradicional, 58. [Negritos e itálicos do autor].

15

A legislação brasileira em todo o século XIX não sofreu alterações

profundas, mas o país foi signatário da Convenção da União de Paris – CUP,

que se reuniu pela primeira vez em 188333, para harmonizar os diferentes

sistemas jurídicos, já que o comércio internacional dos produtos manufaturados

aumentara em demasia e havia ocorrido uma multiplicação das legislações

nacionais sobre patentes.

A importância da CUP – que admite revisões e possibilidade de adesão

de novos membros – foi a instituição do tratamento nacional e o direito de

prioridade, o que permite que os estrangeiros e os nacionais tenham o mesmo

tratamento legal, e que o depósito de uma patente, em um país da União,

confira ao seu titular, o prazo de um ano para solicitar a proteção de invenção

nos outros países-membros.34

O acordo da CUP é administrado pela Organização Mundial da

Propriedade Intelectual – OMPI, que começou a dar sinais de enfraquecimento

quando os direitos de propriedade intelectual passaram a ser discutidos no

âmbito do comércio internacional, durante a Rodada Uruguai do Acordo Geral

sobre Tarifas e Comércio – GATT, ocorrida entre 1986 e 1994.

Na Rodada Uruguai as discussões sobre propriedade intelectual

estiveram relacionadas a pressões de setores industriais norte-americanos de

computadores, softwares, microeletrônicos, produtos químicos, produtos

farmacêuticos e biotecnologia. Estes setores consideravam que alguns países

mantinham restrições ao patenteamento destes produtos e, portanto, criavam

barreiras para sua comercialização.

Além disso, a proteção das cultivares já vinha sendo discutida a nível

mundial porque na ata final daquela rodada, não foi considerada matéria

patenteável “as plantas e animais, exceto microorganismos e processos

essencialmente biológicos para a produção de plantas e animais, excetuando-

se os processos não biológicos e microbiológicos”.35

33 A Convenção de Paris sofreu revisões periódicas, a saber: Bruxelas (1900), Washington

(1911), Haia (1925), Londres (1934), Lisboa (1958) e Estocolmo (1967). Conforme website do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, disponível em http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/patente/pasta_acordos/cup_html, Acessado em 22 de agosto de 2010.

34 J. Labrunie, Direito de Patentes, 17 e segs. 35 J. C. Araújo, Lei de Proteção de Cultivares, 37.

16

Finalizada a Rodada Uruguai, o GATT deixou de existir, e foi substituído

pela Organização Mundial do Comércio – OMC, que em conjunto com o Acordo

sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o

Comércio - Acordo TRIPS Trade-Related aspects of Intellectual Property

Rights, em 1994, acabou com a flexibilidade ampla que os países tinham sobre

seus sistemas de patentes.36

O acordo TRIPS garantiu que o fato de uma patente ter sido negada,

cancelada ou extinta em seu país de origem não implicaria que tivesse o

mesmo tratamento em outro país. Da mesma forma, as patentes obtidas em

um país são independentes das patentes sobre um mesmo invento em outros

países membros dos acordos internacionais.37

O principal reflexo no Brasil foi a volta da concessão de patentes para

alimentos, medicamentos e substâncias obtidas a partir de processos

químicos,38 uma vez que a discussão é feita em nível mundial e os países

signatários podem sofrer pressões nos campos econômico, diplomático e

político.

Em termos de legislação brasileira, o Código de Propriedade Industrial -

Lei Federal n° 5.772 de 21 de dezembro de 1971, foi substituído em 1996 pela

lei atual39 e foi criada a Lei de Proteção de Cultivares40.

Esta última lei, de acordo com a negociação realizada com a União

Internacional para Proteção das Cultivares - UPOV, estabeleceu:

“direitos de propriedade intelectual sobre sementes e mudas no Brasil -

permitindo à empresa proteger e obter exclusividade na reprodução e

comercialização de variedades, desde que sejam distintas, homogêneas

e estáveis. A Lei de Cultivares em vigor institui o chamado direito de

melhorista, que é a cobrança de royalties pelo uso de sementes de

variedade protegida. E apesar de fortalecer o emprego da propriedade

intelectual sobre recursos genéticos da agricultura, a lei garantiu o direito

36 C. M. Correa, “Tensões entre Patentes e o Interesse Público,” 307. 37 L. S. Sabino, “Proteção às Patentes,” 76. 38 Concessão suspensa desde 27 de agosto de 1945 e que voltou a ser concedida com a Lei n°

9.279 de 14 de maio de1996. 39 Lei Federal n° 9.279, de 14 de maio de 1996. 40 Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997.

17

de agricultor aos pequenos produtores. Trata-se de direito já consolidado

em âmbito internacional, que permite a guarda, a troca e o uso de

sementes na safra seguinte, o que assegurou uma autonomia mínima

aos pequenos produtores”.41

Com estas considerações em mente, na tentativa de mostrar

brevemente o contexto e suas influências no encaminhamento da visão

predominante sobre política científica e tecnológica, e os reflexos dos acordos

mundiais sobre propriedade intelectual, iremos, a seguir, tratar das políticas

públicas brasileiras e os principais atores institucionais do processo de

discussão e implementação do etanol de cana-de-açúcar.

1.1. Contexto e Articulação de Políticas Governamentais no Período do Programa Nacional do Álcool

O governo intervencionista foi caracterizado por uma ideologia nacional-

desenvolvimentista, privilegiando, em seus discursos governamentais, a ciência

e a tecnologia como fator preponderante para a expansão econômica –

industrial e agropecuária - seja ao adotar medidas de modernização e

centralização do aparato burocrático do Estado42, seja na importação de

tecnologia mais sofisticada dos países centrais43, seja na adoção de planos de

desenvolvimento com estudos setoriais embasados numa perspectiva de

planejamento.

41 Instituto Socioambiental. “Proposta de alteração da Lei de Cultivares ameaça reduzir direitos

de agricultores”, disponível em http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2699, acessado em 24 de julho de 2010.

42 De acordo com R. L. M. Morel, Política Científica no Brasil, 52-64, cabe destacar algumas das realizações: a Capes foi ampliada (Decreto n° 53932 de 26 de maio de 1964); o CNPq foi reestruturado ((Lei n° 4533 de 08 de dezembro de 1964); foi também criado o Programa de Desenvolvimento Tecnológico – FUNTEC pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, cujas atividades foram assumidas pela Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, após 1972. No governo Costa e Silva, foram tomadas as seguintes medidas para tornar mais eficientes a formação de recursos humanos e o desempenho do sistema de pesquisa científica: a Reforma Universitária de 1968 e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT.

43 Aqueles de maior poder econômico e político a nível mundial.

18

É deste período, baseado na doutrina de segurança nacional, que se

incorporam as teses de autonomia científica e tecnológica, mediante mudanças

no sistema universitário e nas condições da produção científica e tecnológica.

Simultaneamente à esta doutrina, a partir de 1964 foram usados

mecanismos que conferiram prerrogativas ao Presidente da República em

detrimento dos outros poderes – principalmente do Poder Executivo sobre o

Poder Legislativo, o que conferiu possibilidades extraordinárias à formulação e

execução dos planos de governo.

O caráter intervencionista que o Estado passou a assumir exigiu, por

outro lado, a contínua incorporação de pessoal técnico, que formou uma nova

estrutura burocrática, denominada por O. Ianni de “tecnoestrutura estatal”,

encabeçada pelo Presidente da República e os Ministros de Estado,

englobando tanto os técnicos como os órgãos e os próprios meios necessários

à elaboração, execução e controle da política governamental, seja ela

planificada ou não. É nesta esfera que “se realiza o balanço crítico do que é

desejável e possível, tanto em termos dos recursos disponíveis e potenciais

como em termos do encadeamento e conciliação entre as razões econômicas e

as razões políticas que se encontram em jogo”.44

É, então, dentro deste contexto que passaremos a analisar o PNA e seu

relacionamento com os diversos atores envolvidos no processo de decisão,

implementação e execução, e o contexto nacional e internacional que os cerca,

em termos de articulação de políticas governamentais.

Antecede ao PNA o período do “milagre econômico”, que tornou

exequível a manutenção do poder centralizado do governo militar e os reflexos

na condução da política econômica.

Senão, vejamos. As prioridades do então Ministro Delfim Neto -

responsável pelo crescimento econômico e cujo lema era “fazer crescer o bolo

para depois reparti-lo” – foram baseadas no setor agrícola e em sua

exportação, em detrimento dos programas sociais nas áreas de saúde,

educação e habitação. Esse descuido da qualidade de vida da população e a

crescente concentração de renda fez crescer o número de sindicatos dos

44 O. Ianni, Estado e Planejamento, 316.

19

trabalhadores – principalmente os urbanos, com reflexos também na

intensidade dos movimentos sociais.

No auge do “milagre econômico” no Brasil, em 1973, o aumento dos

preços do petróleo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo -

OPEP provocou recessão, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

Como o Brasil importava um volume considerável, o chamado “1º. Choque do

Petróleo” afetou, não só as contas externas, mas também as perspectivas

referentes à inflação e à continuidade do crescimento.45

Ernesto Geisel assumiu a Presidência da República em março de 1974

com duas grandes preocupações: não permitir que os reflexos da crise mundial

afetassem a manutenção da taxas de crescimento da economia brasileira e

com a perspectiva de redemocratização do país.

Do ponto de vista político, uma vez que não fora o nome de consenso

para ser o sucessor do General Médici, o Presidente Geisel combinou medidas

liberalizantes com medidas repressivas. A liberalização do regime que se daria

através de um processo de abertura “lenta, gradual e segura”, cuja estratégia

foi formulada pelo Presidente e pelo General Golbery do Couto e Silva, e, que

culminou com o restabelecimento do governo civil em 1985.

Do ponto de vista econômico, os objetivos em “reafirmar o país como

potência emergente”46, estão expressos no II Plano Nacional de

Desenvolvimento – II PND, mediante manutenção do crescimento acelerado

dos anos anteriores, realização de uma política de melhoria da distribuição de

renda e preservação da estabilidade social e política.

As alternativas das possíveis medidas a serem adotadas no

enfrentamento da crise mundial do petróleo constam de um documento

intitulado “Subsídios à Programação para 1977”, pertencente ao arquivo

pessoal de Geisel:

“Se reduzirmos a questão à idéia básica, qual a tarefa primordial do atual

Governo, na área econômica? Encontrar a saída para o abalo causado

45 B. Lamounier, “E No Entanto,” 60 46 A. Kon, “Experiência Brasileira,” 24.

20

ao desenvolvimento nacional pela crise do petróleo e suas

repercussões.

[...] Diante disso, procurou-se a seguinte alternativa: continuação da

expansão das exportações, associada à auto-suficiência nos Insumos

Básicos e à substituição de importações de Bens de Capital.

[...] Assim, achamos, desde o início, que o Governo deveria jogar todo o

peso de seu esforço nessa saída, dando ao País uma estrutura

econômica condizente com a nova situação mundial e permitindo

eliminar o déficit da balança de comércio, em caráter permanente. As

medidas restritivas às importações, de caráter transitório, servem para

ganhar tempo, até que os diferentes programas vão apresentando

resultados sobre a economia de importações.

[...] Poder-se-ia ter cogitado de outra alternativa, óbvia, como fizeram,

em geral, os países desenvolvidos: provocar uma recessão, tão forte

quanto necessário, para em um ou dois anos equilibrar a conta de

comércio.

[...] 1) Sabia-se (o PND foi redigido entre maio e julho de 74) que a crise

mundial afetaria o Brasil, mas não se sabia bem em que extensão e

profundidade, porque, inclusive, ainda não era possível ver bem a

natureza, extensão e profundidade da crise mundial”.47

Coadunada com estes objetivos, a política energética foi a de reduzir a

dependência do país de fontes externas de energia para não comprometer o

crescimento acelerado da economia e, dentro desse pressuposto associado ao

da segurança nacional, o II PND propôs intensificar as fontes nacionais de

energia (prospecção e produção de petróleo e máximo uso de energia

hidroelétrica); limitar o consumo de petróleo (sobretudo em transportes)48 e

intensificar as fontes alternativas de energia (xisto e carvão), além da produção

de álcool para adição à gasolina.

47 CPDOC, Arquivos Pessoais - Ernesto Geisel, ”Subsídios à Programação para 1977”.

Marcado como “Confidencial”, 1-2,6. Itálicos no texto são palavras ou frases glosadas no original.

48 A opção pela construção de rodovias ao invés de ferrovias, no intuito de obter a integração nacional, foi parte da estratégia de substituição de importações nos anos 1950.

21

O II PND ainda definiu os principais aspectos na política científica e

tecnológica, no sentido de preservar o equilíbrio entre pesquisa fundamental,

pesquisa aplicada e desenvolvimento, uma vez que distorções poderiam

ocorrer.

De acordo com o Plano, uma ênfase excessiva na formação de pessoal

e na pesquisa básica conduziria a uma evasão de cérebros e ao isolacionismo

do sistema científico; e, a fixação em tecnologia geraria o imediatismo e o

desbalanceamento das prioridades sociais.49

Para preservar este equilíbrio, o plano de desenvolvimento apontou as

prioridades no campo da tecnologia e na de pesquisa fundamental.

Assim sendo, foram enfatizados no campo da tecnologia, entre outros:

Desenvolvimento de novas tecnologias, como energia nuclear e

pesquisa de fontes não convencionais de energia.

Tecnologia Industrial voltada para o desenvolvimento de setores

industriais básicos e de alto conteúdo tecnológico, como indústria

eletrônica, em particular, a de computadores50; indústria de bens de

capital; indústria química e petroquímica; indústria siderúrgica e

metalúrgica; e indústria aeronáutica.

Tecnologia de Infra-Estrutura: setores de Energia, Transportes e

Comunicações.

Tecnologia Agropecuária com programa permanente de intensivo de

pesquisas para os produtos básicos das diferentes regiões, com

novas espécies rentáveis e com formas de combate às doenças;

programa de tecnologia de alimentos; pesquisa de cerrados.

Na pesquisa fundamental foram definidas as seguintes prioridades, entre

outras:

49 II PND (1975-1979). 50 R. Bogomolow em “A Reserva de Mercado na Área de Informática,” fez uma análise sobre os

aspectos da política científica brasileira para a reserva de informática e a complexa relação dos interesses de parte da sociedade brasileira no período.

22

Execução do II Plano Básico de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico - PBDCT, com recursos dos Ministérios, do Fundo

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT e do

Programa de Desenvolvimento Tecnológico - FUNTEC (do BNDE) e

aquele ligado ao CNPq.

As aplicações previstas são de Cr$ 12 bilhões, no período

1975/1977, alcançando Cr$ 22 bilhões a estimativa preliminar de

recursos para o setor, no qüinqüênio.

Engajamento da empresa, privada e governamental, no esforço de

modernização e inovação tecnológica, por intermédio de:

o aperfeiçoamento da política de transferência de tecnologia do

exterior baseada na seleção de tecnologia a importar e na

utilização flexível do sistema mundial de patentes;

o expansão e revigoramento das atividades de propriedade

industrial do INPI;

o criação de incentivos, financeiros e/ou fiscais para induzir toda

grande empresa, nacional ou estrangeira, a realizar orçamento

próprio de pesquisas, para adaptações ou inovação

tecnológica; e

o criação, pelos diferentes setores da indústria e de outras

áreas, de instituições de pesquisa financiadas pelos próprios

empresários, com apoio governamental.

Execução do Plano Nacional de Pós-Graduação.

Ampliação dos programas de Cooperação Técnica Internacional.

A articulação entre as políticas governamentais, a nosso ver, está

destacada na relação acima, pinçada do II PND, que trata da política científica

e tecnológica, do desenvolvimento de novas fontes de energia, na tecnologia

agropecuária e na tecnologia industrial. O II PBDCT complementa esta

articulação mediante atualização e expansão da pós-graduação, incentivos

para as empresas na criação de centros de pesquisa e expansão das

atividades de patenteamento.

23

Em setembro de 1975, o relatório “Etanol como Combustível”, elaborado

por uma equipe ligada à Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da

Indústria e do Comércio - STI/MIC, foi concluído e chegou às mãos do

Presidente da República, junto a quem encontrou imediata acolhida.

No entanto, vários órgãos públicos se interessaram em coordenar o

PNA, em função de recursos financeiros que seriam a ele alocados. Com

relação às acirradas disputas em torno do Programa, a proposta da Secretaria

de Planejamento da Presidência foi a de manter os recursos vinculados

especificamente ao Programa e gerenciado por um órgão colegiado.51

É no controle do poder político que M. H. C. Santos indicou os atores

públicos e privados52 envolvidos no processo de discussão sobre o álcool

combustível. Além disso, situou o conflito entre os produtores de álcool em São

Paulo e o Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA, que tradicionalmente defendia

os interesses do Nordeste, e, também indicar a acirrada competição

interburocrática para o controle do PNA, anteriormente citada.

Com a promulgação do Decreto n° 76.593 de 14 de novembro de 1975,

que criou o PNA, foi enfatizado o atendimento das necessidades do mercado e

da política de combustíveis automotivos, sem uma definição prévia da matéria-

prima para produzir o etanol:

“Art. 2º A produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca

ou de qualquer outro insumo será incentivada através da expansão da

oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da

produtividade agrícola, da modernização e ampliação das destilarias

51 A. W. F. Anciães, Avaliação do Álcool, 69. 52 M. H. C. Santos em Política e Políticas de uma Energia Alternativa, registrou como principais

atores dessa fase: “1. Atores “públicos”: o próprio Presidente da República, Ernesto Geisel; o Ministério da

Indústria e do Comércio – MIC, o Ministério das Minas e Energia – MME, a Secretaria do Planejamento – SEPLAN e o Ministério da Agricultura; o Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, a PETROBRÁS e o Conselho Nacional de Petróleo – CNP; o Centro Técnico da Aeronáutica – CTA e a Secretaria de Tecnologia Industrial – STI/MIC.

2. Atores “privados”: a Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo – COPERSUCAR – e o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de São Paulo; a Cooperativa Fluminense dos Produtores de Açúcar e Álcool – Coperflu e o Sindicato da Refinação de Açúcar dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo; associações de produtores e fornecedores de cana de outras regiões e a Associação Brasileira das Indústrias Químicas”.

24

existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a

usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras.”

Adicionalmente, o decreto definiu quais seriam as principais instituições

governamentais responsáveis pela implantação do programa e os órgãos

responsáveis pelo financiamento dos investimentos, bem como a política de

preços para garantir a demanda pelo álcool.53

A primeira fase do programa - adição de álcool anidro à gasolina - foi

caracterizada como de regulação54 com procedimentos e condições de

financiamento para projetos de expansão da matéria-prima e de ampliação ou

instalação de destilarias de álcool, as garantias exigidas pelos agentes

financeiros, a simplificação do processo de análise dos projetos de destilarias e

o reajuste do valor dos financiamentos concedidos.

No meio técnico-científico do país foi comum a queixa de dificuldades na

obtenção de recursos governamentais para as pesquisas sobre o etanol, no

período compreendido entre 1974 e 1978:

“O volume de recursos do Programa Tecnológico Industrial de

Alternativas de Origem Vegetal, o antigo PTE, de cerca de 508 milhões

de cruzeiros, aplicados em universidades, institutos e empresas no

quatriênio 1974/78, é quase insignificante se comparado com os 5,4

bilhões de dólares que o Brasil irá investir na pesquisa com o petróleo no

mesmo período, e muito pequeno em relação aos 19 bilhões de

cruzeiros que estão sendo financiados por agências governamentais

para a instalação de 228 destilarias aprovados pelo Proálcool. Em todo o

Programa já foi gasto 1 bilhão de dólares, o que é irrelevante se

comparado com o que o Brasil despende em um só ano com as

importações de petróleo. Todavia, há informações de que se pretende

despender 2 bilhões de dólares em pesquisa com o álcool nos próximos

quatro anos, o que, sem dúvida, será uma quantia apreciável se for

53 Para maiores detalhes ver art. 3º. ao 7º. 54 Decreto n° 80.762 de 18 de novembro de 1977.

25

distribuída com critério às instituições de pesquisa capacitadas a

executá-la”. 55

A conjuntura de relativa estabilidade no mercado internacional de

petróleo fez com que o PNA perdesse seu caráter de urgência, o que gerou

queixas generalizadas quanto ao tempo envolvido nas tramitações para

aprovação de projetos e liberação de verbas. No entanto, as metas de

produção tinham sido atingidas56, em função dos baixos preços do açúcar no

mercado internacional e o consequente o acúmulo de estoque.

Outras dificuldades surgidas neste período estavam relacionadas a

problemas de tancagem, devidos aos atrasos na retirada do álcool combustível

das destilarias e a poluição da vinhaça.57

A literatura estrangeira fez uma extensa análise sobre o Proálcool e

criticou que na 1ª. fase do Programa, o planejamento deveria ter sido feito

sobre bases mais realistas.

H. Rothman et al, por exemplo, apontaram que o governo brasileiro

deveria ter concentrado esforços na relação entre o investimento e capacidade

produtiva; nas melhorias técnicas e utilização econômica das matérias-primas;

nos equipamentos e materiais que proporcionassem a otimização dos

processos agrícolas e industriais e na melhor utilização da infra-estrutura

necessária para a produção e utilização do álcool.58

M. Barzelay, por sua vez, enfatizou que os grandes obstáculos do

Proálcool foram o aparato estatal financeiro e a Petróleo Brasileiro S. A. -

Petrobrás. Para o autor, o Banco Central, o Banco do Brasil e o Ministério da

Fazenda controlavam os desembolsos dos créditos subsidiados para os

produtores que queriam ampliar suas destilarias de álcool, e, como

consideravam o PNA ineficiente economicamente, a aprovação desses projetos

era retardada. E a Petrobrás, por sua vez, aproveitou-se de uma lacuna no

55 T. J. Menezes, Etanol, 217. 56 Foi estipulada como meta desta fase do Proálcool a obtenção de mistura álcool-gasolina a

20%, e, embora a meta de produção tenha sido atingida já em 1977 (três anos antes do estipulado), a proporção de 20% na mistura só foi alcançada uniformemente em todo o território nacional em 1983.

57 W. Aninicchino, “Resposta dos Empresários,” 542. 58 H. Rothman et al, The Alcohol Economy, 49.

26

decreto de criação do Proálcool e deixou claro seu interesse em manter o

controle do setor de combustíveis ao anunciar planos para produzir álcool de

mandioca, ou seja, pelo seu temor quanto à perda do monopólio sobre os

combustíveis, passou a ter a reputação de “inimigo número um da produção de

álcool no Brasil”. 59

Durante a primeira metade de 1979, quando do segundo choque do

petróleo, a conjuntura do mercado sucroalcooleiro refletia o aumento no volume

de produção do álcool, uma vez que os baixos preços internacionais do açúcar

levaram os produtores a preferir produzir álcool em vez de açúcar, e, também

devido à ampliação da capacidade das destilarias de São Paulo.

Nesta perspectiva, o governo brasileiro deu início à segunda fase do

PNA60, a de carros movidos exclusivamente a álcool.

O III Plano Nacional de Desenvolvimento – III PND, publicado em 1980,

e o Modelo Energético Brasileiro, de 1979 e 1981, priorizavam uma política de

aumento da produção de petróleo, ao intensificar as atividades de pesquisa e

prospecção e, também, ao ampliar as áreas de contrato de risco.

Assim, o Governo Figueiredo criou mecanismos para substituir os

derivados de petróleo em seu conjunto, racionalizar o consumo de energia,

aumentar a produção interna de petróleo e diminuir as importações deste

combustível.61

59 M. Barzelay, The Political Market Economy, 12-13. 60 Segundo Santos, Política e Políticas de uma Energia Alternativa, 111, destacaram-se os

seguintes atores na 2ª. fase: os fabricantes de automóveis, que atuavam, individual ou coletivamente, através de seu grupo de interesses, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - Anfavea; o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores- Sindipeças, representando os fornecedores de autopeças e componentes automotivos; a Associação Brasileira de Distribuidores de Veículos - Abrave, grupo de revendedores de automóveis; a Comissão Nacional de Retíficas de Motores - Conarem e sua correspondente em São Paulo, a Associação Paulista de Retíficas de Motores - Aparem, compondo a associação de retíficas; a Sociedade de Produtores de Açúcar e Álcool - Sopral – constituída de produtores dissidentes da Copersucar; a Petrobrás.

61 Para E. L. La Rovere, Tecnologia da Energia, 9-13, a partir das crises do petróleo de 1973/74 e 1979/80 o termo “planejamento energético” assumiu “o seu pleno significado, englobando, ao lado do petróleo, as fontes energéticas alternativas, sejam as tradicionais (lenha, carvão mineral), como as novas (álcool) ou as que eram utilizadas para atender mercados específicos (eletricidade, carvão vegetal para a siderurgia). E este processo poderá se estender ainda mais à medida em que as fontes não-convencionais de energia (solar, eólica, outras biomassas etc) se tornem competitivas e façam sua irrupção no cenário energético”. Tal manifestação adveio do tratamento a ser direcionado para “um único mercado energético, formado pela interpenetração das aplicações finais das diversas fontes

27

O III PBDCT, aprovado na 18ª reunião do Conselho Científico e

Tecnológico do CNPq e publicado em 3 de setembro de 1980, definia as linhas

gerais e o processo de seleção de programas e atividades prioritárias. A sua

implementação coube aos diversos setores envolvidos, através de “Ações

Programadas em Ciência e Tecnologia, com orçamento e revisão anuais”. 62

Este plano considerou que tinha havido um decréscimo, em termos

reais, dos recursos orçamentários das entidades executoras e financiadoras da

área científico-tecnológica e propôs um reforço nas dotações orçamentárias

para aumentar a capacitação científica e ampliar a autonomia tecnológica do

país.63

O III PBDCT destacou, especificamente em relação ao Proálcool, que o

programa:

“deverá receber o suporte tecnológico adequado, tanto para melhoria da

eficiência do processo de produção do etanol, como para o

aproveitamento do mesmo e de seus subprodutos”.64

Mas, somente com a segunda crise do petróleo, pela amplitude do

aumento de seus preços, o Proálcool ganhou novamente dinamismo.

Apesar dos desafios da primeira fase ainda não solucionados, como a

distribuição e tancagem do álcool produzido, havia, ainda, a necessidade de se

obter maiores recursos para a continuidade do programa, além do

comprometimento da indústria automobilística.

Para resolver o problema de distribuição e tancagem do álcool

produzido, uma grande rede foi rapidamente construída, em que “o antigo

sistema operado pelo IAA e pelo Conselho Nacional do Petróleo - CNP foi

substituído por um sistema mais eficiente, organizado pela Petrobrás e pelas

distribuidoras privadas (sob o controle, de fato, da primeira)”.65

de energia que passaram a competir entre si [...] não haveria, a partir daquele momento, energia abundante, barata e de preço decrescente”.

62 Salles Filho, “III PBDCT,” 407-408. 63 III PBDCT (1980-1985). 64 Ibid. 65 Santos, Política e Políticas de uma Energia Alternativa, 175.

28

A tecnologia de adaptação dos motores ciclo Otto, utilizados em veículos

de transporte individual, para seu funcionamento com álcool puro, foi

desenvolvida pelo Centro Técnico da Aeronáutica - CTA do Ministério da

Aeronáutica e pela indústria automobilística, sob a supervisão da STI/MIC, em

duas etapas66: (1) adaptação dos motores a gasolina para serem abastecidos

com álcool puro; e (2) fabricação de automóveis movidos a álcool puro.

A indústria automobilística que, até este momento tinha tido uma atitude

de cautela em relação ao Programa – fez um acordo com o governo para iniciar

a produção em série de veículos movidos a álcool. E em contrapartida o Estado

deveria fornecer condições para a criação de um mercado consumidor deste

tipo de veículo; assim:

“da parte do Estado, foi garantido o mercado para estes veículos

através da redução da alíquota do Imposto Sobre Produtos

Industrializados – IPI (compensando o maior custo do veículo a álcool), a

redução na Taxa Rodoviária Única (atual IPVA) e, principalmente, o

estabelecimento de um limite do preço ao consumidor de álcool

hidratado de 65% do preço da gasolina”. 67

Em outra linha de batalha, a indústria automobilística requereu

pagamento de royalties ao INPI sobre o desenvolvimento de motores movidos

a etanol hidratado.

“Esse requerimento esbarrou na ferrenha oposição do CTA (“A

tecnologia já foi desenvolvida no País”), da STI e do próprio INPI. O

governo pressionou a indústria automobilística para que não importasse

tecnologia. Chegou-se a um acordo mediante o qual a tecnologia dos

carros movidos a álcool seria inteiramente desenvolvida no Brasil, e

nenhum pagamento de royalties foi efetuado”.68

66 Ibid., 126. 67 E. F. P. Moreira, “Expansão, Concentração e Concorrência,” 60. 68 Santos, Política e Políticas de uma Energia Alternativa,127.

29

Quanto aos consumidores de carro a álcool, estes reagiram

favoravelmente às políticas governamentais de incentivo e elevaram a

demanda por veículos movidos a álcool.

Mas ao sinal de problemas de desabastecimento e com a conversão de

motores – de gasolina para álcool – o consumo se reduziu, em função dessas

repercussões negativas.

Institucionalmente foi criada a Comissão Executiva Nacional do Álcool –

CENAL69, responsável pela execução do PNA. Esta comissão teve por tarefa

aprovar os projetos de instalação e ampliação das destilarias e dos recursos

necessários – ou seja, sua responsabilidade estava na agilização dos trâmites

burocráticos. Já a definição das fontes de recursos e condições de

financiamento coube ao Conselho Monetário Nacional.

No entanto, em função da deterioração das condições econômico-

financeiras do governo, o Ministério da Indústria e Comércio propôs a entrada

de capital estrangeiro para alavancar o Programa, o que gerou, segundo M. A.

F. D. Moraes:

“forte pressão sobre o capital nacional, além de provocar reações

nacionalistas nos militares mais conservadores, alegando que a entrada

das multinacionais neste setor era uma ameaça à segurança nacional [e

em] outros grupos envolvidos (fornecedores de destilarias, a [Associação

Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] Anfavea, os

produtores de açúcar e álcool) [...] que no final asseguraram ao governo

que teriam condições de assumir a meta fixada”.70

Mas, o então Ministro do Planejamento, Delfim Neto, empenhou-se em

uma campanha em favor da captação de recursos externos para financiar o

Programa, e, em dezembro de 1980 foi firmado um acordo entre o Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD e o Banco Central, o

que representou 4% do volume total dos recursos necessários.

69 Decreto n° 83.700 de 05 de julho de 1979. 70 M. A. F. D. Moraes, Desregulamentação do Setor Sucroalcooleiro, 76.

30

Este financiamento com capital estrangeiro, em 1982, passou a ser a

única fonte de recursos, dado os cortes nos gastos públicos. E, assim, os

projetos em andamento aprovados pela CENAL foram, a partir desta data,

realizados com recursos próprios da iniciativa privada.71

Apesar da recessão econômica, há que se evidenciar que os

investimentos já realizados em ciência, pesquisa, desenvolvimento e difusão

tecnológica do PNA, tinham se convertido em resultados na produção do

etanol:

“as inter-relações dos setores sucroalcooleiro, dos produtos de

máquinas e equipamentos para este setor e o setor montador de

autoveículos ... [e] os investimentos realizados através do Proálcool

aumentaram de forma significativa a capacidade de produção de álcool,

mas de uma forma geral, foram realizados principalmente em

desenvolvimento de novas variedades e planejamento das lavouras na

etapa agrícola, e na etapa industrial, foram feitos investimentos no

desenvolvimento de moendas e nos processos de fermentação e

destilação que usa[vam] tecnologias tradicionais”.72

Após a transição do governo militar para o governo civil, em 1986, foram

aprovadas as diretrizes e prioridades definidas no Primeiro Plano Nacional de

Desenvolvimento da Nova República – I PND-NR.

Este plano defende as reformas, o crescimento econômico e o combate

à pobreza e redefine o papel do Estado, diferente daquele do governo militar:

“Este governo parte da tese de que cabe ao setor privado o papel de

destaque na retomada do crescimento. O Estado retorna, portanto, às

suas funções tradicionais, que são a prestação dos serviços públicos

essenciais e as atividades produtivas estratégicas para o

71 Ibid., 76. 72 A. R. Húngaro, Progresso Tecnológico, 203-204.

31

desenvolvimento nacional de longo prazo e complementares à iniciativa

privada”.73

Ao se referir às bases do desenvolvimento científico e tecnológico, o

primeiro ponto abordado no I PND-NR, é que na “raiz dos problemas

enfrentados pelo setor está o descaso a que foi relegada a participação da

comunidade científica e de outros segmentos da sociedade civil nos processos

de tomada de decisão”.74

Neste sentido, a proposição foi de redefinição do Sistema Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico, com a criação do Ministério da

Ciência e Tecnologia - MCT75 como órgão central do sistema; a reformulação

do Conselho Científico e Tecnológico – colegiado formado por representantes

das diversas áreas do governo e da comunidade – para participar mais

decisivamente na definição das políticas para o setor.

O plano de desenvolvimento do governo civil considerou, então, que “a

pesquisa básica é essencial ao desenvolvimento da pesquisa aplicada” e que

as prioridades “derivam do papel que os conhecimentos técnicos podem

desempenhar no aumento da eficiência produtiva e na resolução de problemas

sociais”.76

A prioridade se deu no reaparelhamento e na ampliação de institutos de

pesquisa, no aprimoramento de centros de pós-graduação e na definição de

uma política de bolsas de ensino e pesquisa. A ampliação da capacidade

tecnológica do país foi dada pela expansão desses centros de pesquisa e de

sua articulação com universidades e indústrias.77

Os parâmetros colocados pelo Governo Sarney já apresentavam as

coordenadas para uma transição do papel do Estado regulador para o de

Estado indutor, ao destacar que “diante da opção brasileira pela economia de

mercado, é necessário estimular os investimentos da iniciativa privada na

absorção e geração de tecnologias”.78

73 I PND da Nova República (1986 a 1989). 74 Ibid. 75 Decreto n° 91.146, de 15 de março de 1985. 76 I PND da Nova República (1986 a 1989). 77 M. Y. F. S. F. Gomes, “Política Nacional de Informação,” 114. 78 I PND da Nova República (1986 a 1989).

32

Do ponto de vista do PNA, o período que foi de 1986 a 1989 ficou

conhecido pela estagnação do Proálcool, em função dos baixos preços

internacionais do petróleo, das crises econômicas no Brasil e de

desabastecimento do álcool.

De fato, esta estagnação do Programa se deu, em grande parte, devido

ao cenário internacional do mercado do petróleo a partir de 1986, quando os

preços diminuíram vertiginosamente79. Os efeitos desta queda de preços

aliados à escassez de recursos públicos provocaram uma diminuição no

volume de investimentos nos projetos de produção interna de energia.

O corte dos financiamentos e subsídios para a instalação e ampliação de

novas destilarias foi caracterizado por críticas contundentes ao PNA por

diversos segmentos da sociedade. Apesar dessa restrição orçamentária, o

governo manteve as normas relativas à adição de álcool anidro à gasolina, na

proporção de 22%.80

Em 1989-1990 houve nova crise de desabastecimento do álcool, mas a

oferta e a demanda voltaram a se equilibrar por causa da retração do

consumidor do carro a álcool combinada a uma situação de recessão

econômica geral.

Neste período, embora o governo tenha recorrido às importações de

metanol e etanol81, os especialistas da área energética alertaram que, ao

mínimo sinal de recuperação da economia, o álcool voltaria a faltar.82

A indústria automobilística, por outro lado, com a acentuada queda do

preço do petróleo, optou pela fabricação de modelos e motores à gasolina,

padronizados mundialmente. Além disso, as importações de veículos

automotivos – produzidos exclusivamente na versão gasolina e diesel – foram

liberados nos anos 1990, em complemento a uma política de incentivos para a

aquisição dos “carros populares” à gasolina, de até 1000 cilindradas.

79 De acordo com o website Biodieselbr, “PróAlcool – Programa Brasileiro de Álcool,” disponível

em http://www.biodieselbr.com/proalcool/pro-alcool.htm, “os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20”.

80 Lei n° 8.723 de 28 de outubro de 1993. 81 Esta mistura foi convencionalmente chamada de mistura MEG (60% de etanol hidratado,

34% de metanol e 6% de gasolina), que substituía, com igual desempenho, o álcool hidratado.

82 Santos, Política e Políticas de uma Energia Alternativa, 249.

33

Neste momento parece interessante apresentar os dados referentes ao

volume de investimentos do Proálcool, de 1975 a 1990, constatados pela

auditoria operacional do Tribunal de Contas da União, “e que envolveu 24

órgãos públicos e privados, situados em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro”,

em relatório produzido em 1991:

“O montante de recursos aplicados nos setores agrícola e industrial do

PROÁLCOOL, desde a sua criação é da ordem de US$ 7 bilhões, dos

quais US$ 3,9 bilhões (56%) representam financiamentos com recursos

públicos e US$ 3,1 bilhões (44%) oriundo dos próprios empresários.

[...] A produtividade industrial do PROÁLCOOL tem crescido na faixa de

4% ao ano, tendo a produção saltado de 2,7 bilhões de litros anuais, no

início do programa, para cerca de 12 bilhões de litros anuais,

atualmente. Dessa produção, 92% são usados para fins carburantes,

destinando-se o restante para a indústria alcoolquímica, a exportação e

outros fins”.83

Há que se atentar para o fato de que os valores investidos pelo Estado

se referem aos valores desembolsados, o que significa que não estão inclusos

as subvenções dadas durante o PNA, as condições favoráveis para a criação

e/ou ampliação de destilarias autônomas ou anexas, o abatimento de preços

nos veículos movidos exclusivamente a álcool, a isenção de tributos e outros.

Do ponto de vista da legislação de patentes, convém apontar que a lei

vigente no período - Código da Propriedade Industrial - Lei n° 5.772, de 1971 -

proibia a patenteabilidade, em seu art. 9º., das substâncias e produtos

químicos obtidos por processos (não se excluem os processos); das

substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-

farmacêuticos e medicamentos, de qualquer espécie, inclusive seus processos

de obtenção ou modificação; e das substâncias, matérias, misturas, elementos

83 Revista do Tribunal de Contas da União, 109.

34

ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação, quando resultante

de transformação do núcleo atômico.84

Em princípio, essas exclusões tinham por finalidade estimular o

desenvolvimento autônomo do segmento da indústria de capital nacional85, o

que nos parece coerente com a ideologia nacional-desenvolvimentista e seu

propósito de desenvolvimento econômico consubstanciados no planejamento

governamental, uma vez que, “a legislação de patentes é um instrumento de

política econômica e industrial, e, neste sentido, pode ser usada como objetivos

políticos, econômicos, sociais e até de segurança nacional”. 86

1.2. O Processo de Desregulamentação Governamental

O processo de desregulamentação do setor sucroalcooleiro e o fim do

Proálcool, em 1990, foram caracterizados pelo corte de financiamentos

governamentais diretos ao PNA e pela liberdade de adoção de preços e

estoques pelos produtores.

Esta nova postura do governo foi assumida ante uma tendência

mundial de adoção de um modelo neoliberal de minimização do papel do

Estado, que passou a ter um papel mais normativo e regulador.

Com a promulgação da Constituição de 1988 o processo de

desregulamentação da economia foi intensificado para o setor privado, mas o

caráter regulador se manteve para o setor público:

“Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o

Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e

planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo

para o setor privado”.87

84 A. L. Barbosa, Propriedade e Quase-Propriedade, 60, considera que “reunindo todos esses

campos em que se exclui a patenteabilidade, o Brasil é o país que possui maior número de exclusão, mas está sozinho somente em um caso – o químico-farmacêutico”.

85 E. Assumpção, Patente de Química, 6. 86 Barbosa, Propriedade e Quase-Propriedade, 60. 87 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

35

No que se refere à ciência e tecnologia, a Constituição de 1988, em seu

capítulo V, art.218 prevê que: “O Estado promoverá e incentivará o

desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas”.

Com esta definição, o Estado participaria do processo – promovendo e

incentivando a área - através do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Este ato governamental foi saudado pela comunidade científica nacional

“como a consagração dos velhos ideais de que a ciência deveria se colocar nos

níveis decisórios mais altos do país”88, uma vez que este tinha sido um

compromisso do Presidente Tancredo Neves.

No entanto, da promulgação da Constituição de 1988 até o Governo

Itamar Franco, de 1992 a 1995, as “promessas” não foram cumpridas, em

função de uma falta de conexão entre a área de ciência e tecnologia e a área

econômica, além de um ambiente inflacionário e da escassez de recursos

governamentais para pesquisa científica e tecnológica. 89

A experiência de planejamento governamental integrado somente foi

retomada com o Governo Fernando Henrique Cardoso, através do projeto

“Brasil 2020”, elaborado em 1998, e que contou com a participação de

representantes de segmentos organizados da sociedade, acadêmicos, partidos

políticos, entre outros.

Definiu-se, então, o Programa Avança Brasil - com o Plano Plurianual -

PPA 2000-2003 e a aprovação dos Fundos Setoriais e da própria

reestruturação do MCT.

Os fundos setoriais foram uma forma de driblar a crise econômica de

1998, uma vez que ocorreram cortes drásticos na área de ciência e tecnologia,

mas, o impacto desses esforços não foi significativo, já que seus recursos

financeiros foram contingenciados pelo governo.90

Frente a este contexto histórico da relação planejamento governamental

e política científica e tecnológica, cabe voltarmos à questão da

desregulamentação propriamente dita do setor sucroalcooleiro e a extinção do

Proálcool, ambas ocorridas nos anos 1990.

88 S. Schwartzman, “Ciência e Tecnologia,”4. 89 Ibid. 90 A.T. Furtado, “Novos Arranjos Produtivos,” 44.

36

Com o intuito de realizar reformas quanto ao papel do Estado na

economia, o Governo Collor de Mello extinguiu várias entidades da

Administração Federal91, entre elas, o IAA.92

A reforma administrativa realizada nos anos 1990 tinha como

pressuposto o ajuste de caráter liberal, com corte de gastos públicos,

diminuição do Estado, desregulamentação da economia e abertura para o

capital estrangeiro, privatizações, entre outros. 93

Particularmente no setor sucroalcooleiro, a desregulamentação fez-se

sentir no ambiente institucional, na fixação de preços dos insumos e produtos

desta cadeia e nas suas formas de comercialização; nos controles de produção

e planejamento de safra definidos pelo governo. E, finalmente, nas políticas de

sustentação do álcool combustível e da cana-de-açúcar.94

A liberação de preços do setor sucroalcooleiro se deu em meio a uma

série de adiamentos, devido às dificuldades para equilibrar as questões

econômicas, ambientais e sociais envolvidas.

Do ponto de vista econômico, as pressões vieram dos diversos

segmentos envolvidos, seja daqueles que apoiaram a liberação econômica –

normalmente os produtores mais eficientes, dispostos a enfrentar as regras de

livre mercado -, seja daqueles que queriam a manutenção do sistema então

vigente.95

Estas pressões, no entanto, partiram daqueles que tinham sido

beneficiados durante muito tempo com as políticas governamentais. Talvez

seja interessante ter, também, uma visão mais crítica da situação. 91 Decreto n° 99.240, de 7 de maio de 1990. 92 O controle e planejamento da cadeia produtiva ficaram a cargo da Secretaria de

Desenvolvimento Regional da Presidência da República e, em seguida, com o Conselho Interministerial do Álcool (CIMA).

93 De acordo com G. Mantega, em “Modelo Econômico Brasileiro”, 6-9: “Esses princípios básicos do novo receituário [do ideário liberal] podem ser traduzidos nos “dez mandamentos” liberais para países emergentes, quais seja: 1) disciplina fiscal; 2) ajuste fiscal priorizando o corte de despesas; 3) reforma tributária; 4) liberalização financeira; 5) taxas de câmbio realistas mas admitindo o seu uso como âncora para combater a inflação; 6) abertura comercial; 7) eliminação de restrições ao investimento direto estrangeiro; 8) privatização; 9) desregulamentação; 10) o respeito aos direitos de propriedade intelectual”. No entanto, a despeito das pressões que o FMI e a comunidade financeira internacional faziam sobre o Brasil, havia a clara determinação da tecnoburocracia civil e militar brasileira de manter um Estado forte, com grande capacidade de interferência na esfera econômica e grande controle dos fluxos comerciais e financeiros do país.

94 Moraes, Desregulamentação do Setor Sucroalcooleiro, 85. 95 Ibid., 89.

37

Podemos apontar estudo realizado pelo Departamento Intersindical de

Estatística e Estudos Sócioeconômicos - DIEESE, que considerou que “mesmo

com o caráter liberal do governo eleito em 89, assim como os que o sucederam

ao longo da década de 90, várias foram as iniciativas que beneficiavam os

usineiros” 96. Seja por manutenção de subsídios do açúcar e do álcool, seja

pela liberação de linhas de crédito para o setor.

Ou uma visão de “dentro” do governo, de um relatório do Ministério da

Indústria e Comércio ao Presidente Geisel, em 1975, que revela, pelo menos

por parte dos integrantes do aparelho estatal, sugestão de extinguir o

monopólio estatal de exportação do açúcar, quando as condições do mercado

internacional do produto se tornassem mais favoráveis à adoção dessa medida,

bem como uma crítica ao excessivo paternalismo imprimido pelo governo

quanto ao setor:

“Numa primeira etapa, transferir-se-ia para os próprios empresários os

principais encargos da exportação do produto, inclusive a sua

movimentação física até os navios, ficando o Governo, obviamente, com

a responsabilidade pela cobertura da respectiva gravosidade, até que os

preços internacionais a façam desaparecer.

[...] A continuidade da execução das medidas aprovadas para o

programa de Saneamento Econômico-Financeiro dos Produtores de

Açúcar e Álcool de Alagoas, Pernambuco e Rio de Janeiro, é também de

fundamental importância, pela repercussão que certamente terá no

recondicionamento da atitude da maioria dos empresários do setor em

relação aos seus próprios problemas, habituados que estão a elevado

grau de paternalismo oficial, um dos males que produzem distorções no

setor, resultante de um longo período de intervenção estatal, que já está

a exigir ação corretiva”.97

Habituados ao tratamento concedido ao setor pelos diversos governos, a

desregulamentação do setor sucroalcooleiro criou a necessidade de 96 Dieese, “Estudo de Caso IV – Setor Sucroalcooleiro,” 21 97 CPDOC, Arquivos Pessoais - Ernesto Geisel, Documento “O Ministério da Indústria e do

Comércio – Brasília, dezembro de 1978,” 87-88.

38

fortalecimento de órgãos privados, tais como a União da Agroindústria

Canavieira de São Paulo - ÚNICA e a Usinas e Destilarias do Oeste Paulista -

UDOP, que viabilizassem “a unificação do trabalho institucional, fortalecendo e

permitindo esta nova forma de interlocução com o governo e a sociedade”.98

Com um mercado mais concorrencial no setor agroindustrial canavieiro,

a partir dos anos 1990, além de entidades de classe para representação de

interesses do setor, diferentes estratégias tiveram de ser adotadas pelas usinas

e destilarias, como a geração e transferência de tecnologia para a cana e seus

derivados e tecnologias relacionadas à conservação do meio ambiente,

principalmente pela exigência do mercado internacional.99

As pesquisas de novas variedades de cana e de novos equipamentos

agrícolas ficaram por conta da Cooperativa dos Produtores de Cana de Açúcar

e Álcool do Estado de São Paulo - Copersucar e de algumas universidades

associadas a usinas, conforme veremos pelas patentes de invenção

concedidas no período, em nosso Capítulo 3.100

Entre as tecnologias desenvolvidas a partir dos anos 1990 podem ser

citadas: mecanização e corte da cana crua, novas técnicas de irrigação,

adoção de inovações nos sistemas logísticos para a transferência da cana-de-

açúcar do campo para a usina, automação no controle de processos de

produção industrial de açúcar e álcool, e, diversificação produtiva da base

tecnológica industrial para o melhor aproveitamento de subprodutos da cana,

como o bagaço para co-geração de energia101, cujos detalhes constam de

nosso Capítulo 2.

De 1995 a 2000, na denominada Fase de Redefinição do Proálcool, os

mercados de álcool combustível – anidro e hidratado – foram liberados em

todas as suas fases de produção, distribuição e revenda, e seus preços

determinados pelas condições de demanda e oferta. O período foi

caracterizado pela normalização do abastecimento de etanol e seu preço ficou

estabilizado a um nível baixo, cerca de 50% do preço da gasolina.102

98 C. E. F. Vian & K. Corrente, “Meios de Difusão,” 99. 99 A. D. Santiago et al, “Produtividade e a Produção Agrícola,” 2. 100 A. A. Teixeira, “Reestruturação Produtiva,” 68. 101 Santiago et al, “Produtividade e a Produção Agrícola,” 3. 102 Joseph Jr, “Do Proálcool ao Flex Fuel,” 28.

39

Com a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1999, passou-se a valorizar

os combustíveis renováveis e as vantagens advindas da utilização do etanol,

uma vez que o desperdício de energia é considerado “o grande vilão na

questão do meio ambiente”.103

Em 2003, iniciou-se uma outra etapa da participação do álcool como

carburante, com a introdução dos modelos biocombustível flex-fuel. A

aprovação do consumidor a este tipo de veículo deu um novo impulso ao

etanol.

Já a questão da propriedade industrial foi motivo de grande celeuma

interna e externa. O projeto de lei encaminhado ao Poder Legislativo pelo então

Presidente Collor continha tópicos controversos como o reconhecimento das

patentes de processos e produtos farmacêuticos104, de química fina e de

alimentos processados, além de questões relativas à biotecnologia105.

Segundo M. H. Costa-Couto e A. C. Nascimento:

“em 1996, o Governo Federal utiliza sua maioria parlamentar e aprova

uma nova Lei de Patentes para o Brasil, sob protesto de parte da

comunidade científica e de dirigentes das instituições ligadas à ciência e

tecnologia. Esses segmentos exigiam mais tempo para o debate e maior

proteção aos interesses nacionais, a exemplo de outros países”.106

103 Instituto Ethos, “José Goldemberg Aposta no Etanol”. 104 Um exemplo fornecido por M. San Juan França em “Ciência em Tempos de Aids: uma

Análise da Resposta Pioneira de São Paulo à Epidemia,” 14-15, refere-se ao “domínio no mercado de medicamentos [que] foi reforçado pela incorporação do Acordo Trips (Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) no ordenamento jurídico dos países membros da OMC, que regulamenta a gestão dos direitos de propriedade intelectual de produtos e processos farmacêuticos como matérias patenteáveis. No caso do Brasil, ao tornar-se signatário do Acordo Trips, em 1994, o país teve de submeter-se a essas regras restritivas [por exemplo, a patente de empresas multinacionais sobre uma combinação de medicamentos capazes de bloquear a multiplicação do vírus, conhecidos pela sigla HAART (highly active anti-retroviral therapy)]. Ainda assim, o Far-Manguinhos, da Fiocruz, conseguiu fabricar sete remédios utilizados contra Aids, antes que fosse proibido pela lei de patentes que entrou em vigor em 1997”.

105 Na legislação atual, Lei Federal n° 9.279, de 14 de maio de 1996 em seu Art. 10 - Não se considera invenção nem modelo de utilidade: [...] IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

106 M. H. Costa-Couto & A. C. Nascimento, “Assimetria nas Relações Internacionais,” 1872.

40

A matéria controversa de reconhecimento de patentes de processo e

produtos farmacêuticos já datava de 1987, quando diversos laboratórios

refutaram as restrições da legislação patentária brasileira junto ao governo

norte-americano. Como as negociações foram consideradas insatisfatórias por

aquele governo, “em outubro de 1988, os Estados Unidos aplicaram uma tarifa

de cem por cento sobre alguns produtos da pauta de exportação brasileira”.107

Assim, a legislação aprovada e atualmente em vigor - Lei Federal

n° 9.279, de 14 de maio de 1996 – está subordinada ao artigo 5°, incisos XXVII

e XXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05

de outubro de 1988, que trata da forma de proteção conferida às criações

intelectuais relacionadas ao objeto da criação, podendo esta se inserir no

campo da propriedade industrial, científico, literário ou artístico.108

A propriedade intelectual do ponto de vista industrial tem como finalidade

principal, a proteção das invenções (patente de invenção e certificado de

adição), dos modelos de utilidade (patente de modelo de utilidade), dos

desenhos industriais (registro de desenho industrial), das marcas (registro de

marca), das indicações geográficas (repressão às falsas indicações

geográficas) e a repressão da concorrência desleal.

Considera-se, além disso, que a propriedade industrial é aplicada não só

à indústria propriamente dita, mas também às indústrias agrícolas e extrativas

e a todos os produtos manufaturados e naturais.109

107 M. A. Scudeler, “A Propriedade Industrial,” 11. 108 No direito de autor são protegidos os direitos sobre as obras literárias e artísticas. De acordo

com a “Convenção de Berna para a proteção das obras literárias e artísticas, de 9 de setembro de 1886, completada em Paris a 4 de maio de 1896, revista em Berlim a 13 de novembro de 1908, completada em Berna a 20 de Março de 1914, revista em Roma a 2 de Junho de 1928, em Bruxelas a 26 de Junho de 1948, em Estocolmo a 14 de Julho de 1967 e em Paris a 24 de Julho de 1971”, artigo 2, “1) Os termos «obras literárias e artísticas» abrangem todas as produções do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o modo ou a forma de expressão, tais como os livros, brochuras e outros escritos; as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; as obras dramáticas ou dramático-musicais; as obras coreográficas e as pantomimas; as composições musicais, com ou sem palavras, as obras cinematográficas e as expressas por processo análogo ou da cinematografia; as obras de desenho, de pintura, de arquitetura, de escultura, de gravura e de litografia; as obras fotográficas e as expressas por um processo análogo ao da fotografia; as obras de arte aplicada; as ilustrações e os mapas geográficos; os projetos, esboços e obras plásticas relativos à geografia, à topografia, à arquitetura ou às ciências”.

109 O termo indústria deve ser compreendido, pois, como incluindo qualquer atividade física de caráter técnico, isto é, uma atividade que pertença ao campo prático e útil, distinta do campo artístico. Conforme website do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

41

Pela lei atual as patentes devem seguir os requisitos de novidade,

atividade inventiva e aplicação industrial, e neste sentido, os processos de

obtenção de novas variedades vegetais podem ser protegidos por meio de uma

patente, desde que atenda a estes requisitos.

Mas, existem processos de melhoramento que não necessariamente

atendem estes critérios, e, para estes casos, foi criada a Lei de Cultivares, que

trata de mudas e sementes, assunto que será mais explorado em nosso

Capítulo 3.

Exterior, “Critérios de Patenteabilidade,” disponível em http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/patente/pasta_protecao/criterios_html, acessado em 22 de agosto de 2010.

42

CAP 2. HISTÓRIA DA CIÊNCIA, DA TECNOLOGIA E DA TÉCNICA

Considera-se que o etanol passa a ser produzido em larga escala com a

implementação do Proálcool, em 1975, embora a utilização do álcool-motor no

Brasil remonte ao começo do século XX, com a sua mistura à gasolina.

Na produção do etanol a qualidade da cana-de-açúcar tem sido

considerada fator fundamental para a produtividade, motivo pelo qual a

interligação entre cana-de-açúcar e álcool combustível se faz tão presente para

tratar a história da ciência, da tecnologia e da técnica.

Assim, na produção de cana ou fase agrícola são levados em

consideração as variedades selecionadas de cana-de-açúcar, o plantio, o

controle das plantas daninhas e sua colheita. Na produção de etanol – fase

industrial – consideram-se a extração do caldo, seu tratamento e fermentação,

destilação, retificação e desidratação.

2.1. As Experiências do Álcool-motor Anteriores ao PNA

A cana-de-açúcar110 foi transplantada no Brasil desde o século XVI, com

mudas originárias da Ilha da Madeira, a partir de 1532, nas capitanias de São

Vicente e Pernambuco.

O principal objetivo foi a valorização econômica das terras descobertas

por Portugal para lhe garantir a posse e em 1580 o Brasil já havia conquistado

o monopólio mundial de produção de açúcar e assegurado a Portugal elevados

rendimentos.111

A variedade de cana-de-açúcar, nos três primeiros séculos da

colonização brasileira, foi a Creola, Crioula ou Mirim, substituída

posteriormente pela Caiana, oriunda da Guiana Francesa, muito mais rica em

açúcar e que predominou até a segunda metade do século XIX.

110 Foi descrita cientificamente em 1753 por Linneu, que lhe atribuiu o nome genérico de

Saccharum e que a classificou em duas espécies, Saccharum officinarum e S. spicatum. In Linneu, Species plantarum, 54..

111 P. Figueiredo, “Breve História da Cana-de-açúcar,” 33.

43

Em 1863 ocorreu nos canaviais da Bahia o ataque da gomose112, e

posteriormente em Pernambuco e na região de Campos, no Rio de Janeiro, o

que provocou a substituição da Caiana por novas variedades para restaurar os

canaviais atingidos e impedir a ampliação da área infestada.

Foram, então, importadas e adotadas novas variedades, “como a

Solangor, ou Penang, muito resistente, procedente de Java; a roxa de Diard e

outras mais”113, e algumas variedades nacionais surgidas por mutação ou

hibridação espontânea.

Estas variedades foram adaptadas aos antigos processos de cultivo,

com três limpas anuais e ferramentas de uso tradicionais como a enxada e a

foice. O arado era usado somente para a abertura de sulcos para o plantio dos

canaviais, sendo estes sulcos posteriormente cobertos a enxada pelos

escravos.

Os processos tradicionais do plantio da cana não sofreram alterações

significativas até o século XIX, bem como a forma de trabalho, que era

bastante rudimentar, ao considerarmos o relato de um viajante do início do

século XIX:

“As máquinas para triturar a cana são formadas por três cilindros

verticais, feitos de sólida madeira, inteiramente ornados e revestidos de

ferro, sendo os arcos passados na madeira, quando está recém-cortada.

Dois homens e duas mulheres são empregados para fornecer cana ao

engenho. O feixe de cada um deles é posto entre os cilindros do meio e

um dos laterais, e é recebido por uma das mulheres que o passa ao

homem que está ao seu flanco, e este o faz repassar entre as moendas

112 De acordo com I. M. G. de Almeida em “Gomose da Cana-de-Açúcar no Brasil,” esta doença

é causada por Xanthomonas axonopodis pv. vasculorum (sin.: X campestris. pv. vasculorum), uma importante doença bacteriana da cultura. “Observada pela primeira vez no Brasil em 1863 no Estado da Bahia, ela foi descrita também no Estado de Pernambuco em 1880 causando grandes prejuízos. [...] Sua importância foi tão grande que, quando da sua primeira constatação, foi trazido para o Brasil um cientista alemão, F.M. Draenert, especialmente para estudar essa doença, sendo que os resultados de seus estudos foram publicados em 1869”. 18.

113 S. B. Holanda, coord. Brasil Monárquico, 122.

44

do outro lado e dos meeiros. Esta operação é repetida cinco ou seis

vezes, até o sumo ser todo retirado”.114

Embora quanto ao cultivo houvesse resistência na adoção de

instrumentos de arado, na manufatura do açúcar a concorrência internacional

das Antilhas e do açúcar da beterraba, não deixaram alternativas. Adotaram-

se, então, o uso do vapor para esmagar as canas e fazer o tratamento do

caldo.

Os motivos para a introdução da máquina a vapor se basearam na

insuficiência de cursos de água perenes e na pouca eficiência de um engenho

a força animal, descrita por R. Gama, quando da instalação em um engenho na

Ilha de Itaparica, em 1815:

“Não havendo recursos hídricos para a instalação de rodas d’água ou

para suportar um aumento da produção, não havendo disponibilidade de

terras para criação de animais que acionassem as moendas de

almanjarras, o motor a vapor seria uma solução. [...] Muito mais

importante do que o uso do vapor como força motriz nos engenhos foi o

uso do vapor como veículo de calor no processo de cozimento do caldo.

[...] necessário para a cristalização do açúcar”.115

O vapor foi introduzido em 1815 nos engenhos da Bahia, em 1817 nos

de Pernambuco e em 1827 no município de Campos – Rio de Janeiro, mas

como energia motriz dos engenhos de açúcar a expansão do vapor foi bastante

lenta, utilizada somente a partir da metade do século XIX, em função dos

custos de manutenção.

Para o tratamento do caldo de cana foram utilizadas centrífugas ou

turbinas para purgar o açúcar, ou seja, separar o cristal do mel através de

movimento mecânico, o que permitia obter o açúcar mais seco e, portanto, ser

embalado em sacos de tecidos ao invés de caixas e barris.116

114 H. Koster, Viagem ao Nordeste do Brasil, 430. 115 R. Gama, “História da Técnica no Brasil Colonial,” 60. 116 Holanda, coord. Brasil Monárquico, 127.

45

Com a centrifugação a vapor, o bagaço podia ser usado como

combustível. Para adequar a utilização do vapor, na Bahia, em Pernambuco e

em Campos, várias modificações foram feitas nas fornalhas para o uso racional

do bagaço, mas com resultados precários.

S. Buarque de Holanda considera que a introdução da técnica de

produção açucareira no Brasil monárquico mostra o caráter fragmentário e

descontínuo de sua difusão, uma vez que se tratava de iniciativas isoladas de

aspiração de uns poucos senhores de engenho mais empreendedores e de

maiores recursos financeiros:

“Vários elementos da moderna tecnologia se introduziram isoladamente;

desapareciam depois de algum tempo, perdiam-se na adversidade, pelo

desconhecimento exato de suas implicações, e reapareciam mais tarde,

em contexto técnico mais adequado. [...] a Província da Bahia registrava

1.010 engenhos, todos trabalhavam a fogo vivo, alimentado com lenha,

exceto dois ou três. O vapor indicado nas estatísticas servia em geral

apenas para acionar a moenda”.117

Nos anos 1870 o Governo e os senhores de engenho reconheceram a

obsolescência da estrutura tradicional dos engenhos, e, mediante ajuda

financeira pública, iniciaram o processo de implementação do engenho central,

que durou apenas 15 anos:

“O “engenho central” propriamente dito constituía-se da unidade de

transformação da matéria-prima, instalada como setor industrial da

produção, ou seja, com as novas máquinas e processos desenvolvidos

sob a Revolução Industrial. [...] O fornecimento de cana mantinha-se sob

a responsabilidade dos bangüês de fogo morto e dos lavradores.

Destruía-se, com a divisão do trabalho, a unidade fundamental, que

distinguirá até então a antiga estrutura de produção açucareira, que

117 Ibid., 128.

46

centralizava, sob o engenho, as lavouras próprias e dependentes, mais

as instalações destinadas ao preparo do açúcar”.118

Poucos engenhos centrais tiveram sucesso para competir com mercado

externo e a superação do problema de aumento da produtividade foi dada

somente pela criação de usinas, a partir de 1890, que refizeram a unidade do

sistema de produção, com estrutura industrial e aquisição de terras para

lavouras próprias, o que as tornou independentes dos fornecedores de cana.

O surgimento das usinas “acelerou o processo de eliminação dos velhos

bangüês”, e, na tentativa de sobreviver economicamente por algum tempo,

seus proprietários fabricaram aguardente, como o engenho Santa Cruz,

localizado no município de Escada, em Pernambuco, que no começo dos anos

1900-1910, chegou a obter uma receita de quase 50% da produção total, com

o açúcar e aguardente.119

Data deste período o início da participação dos Governos Estaduais na

modernização do setor, através de leis e decretos, o que permitiu aos antigos

senhores de engenhos ampliar a escala de produção de suas unidades de

processamento de cana.

Nesta fase de transição de engenhos centrais para usinas, em finais do

século XIX, a maioria foi adquirida pelos próprios fornecedores de

equipamentos ou por seus prepostos, como aconteceu com o Engenho Central

de Piracicaba, Porto Feliz, Rafard e Lorena.

O mecanismo da concentração de terras e capital ficou em mãos de um

pequeno grupo, que exercia sobre os trabalhadores o mesmo tipo de

exploração das relações de trabalho anteriores à formação das usinas, com

baixos níveis de remuneração, mas agora com vínculos empregatícios. Por

outro lado, os antigos senhores de engenho se transformaram em fornecedores

de cana, organizados em associação, para resguardar seus interesses frente

aos usineiros.120

118 Ibid., 130. 119 Z. V. Campos, Doce Amargo, 69-70. 120 T. B. Araújo, Engenhos Centrais no Recôncavo Baiano, 50.

47

O perfil do usineiro no final do século XIX apresentou muito das

características do antigo senhor de engenho que, usualmente, administrava a

usina de forma patriarcal e tradicional:

“Quase sempre dispensava técnicos de melhor formação acadêmica –

muitas usinas não tinham em seus quadros, até os anos 50, agrônomos

e químicos –, utilizando os chamados “práticos”, pessoas com

conhecimentos empíricos e capazes de dirigir os trabalhos de campo e

da indústria; cultivava variedades tradicionais de cana já degeneradas

ou, quando importadas, ainda não adaptadas às condições climáticas e

edáficas, apresentando uma baixa produtividade industrial e agrícola”.121

Mas o final dos anos 1920 e o início de 1930 mostraram a transição da

hegemonia da produção açucareira do Nordeste para o Centro-Sul122, em

função do mosaico123 ter devastado os canaviais do Estado de São Paulo. Esta

doença da cana-de-açúcar transformou o panorama da produção açucareira no

país, por ter produzido uma renovação total dos canaviais de São Paulo e Rio

de Janeiro e também pelo retardamento da substituição da semente de cana

nas lavouras do Nordeste.124

No combate às moléstias da cana, o Governo Paulista criou a Estação

Experimental em Piracicaba, em 1928, ao mesmo tempo em que promoveu

uma intensa campanha de modernização da cultura canavieira paulista.

121 M. C. Andrade, Modernização e Pobreza,160. 122 Para maiores detalhes, Andrade em Modernização e Pobreza faz uma análise histórica da

expansão da agroindústria canavieira paulista, paranaense, fluminense, mineiro, capixaba, baiano, do Nordeste oriental, cearense, do Meio-Norte, goiano e mato-grossense.

123 O website da Embrapa caracteriza o mosaico da cana-de-açúcar como “uma importante doença do sorgo, que causa, em cultivar susceptível, mosqueado ou necroses nas folhas, raquitismo e esterilidade parcial ou total da planta, resultando redução na produção de grãos e de forragem. A doença é causada pelo vírus do mosaico da cana-de-açúcar (SCMV - "Sugar cane mosaic virus"), o qual pertence ao grupo dos Potyvirus. Várias espécies são hospedeiras do SCMV, incluindo, além da cana-de-açúcar e do sorgo, outras gramíneas como milho, milheto, capim sudão, cevada, trigo, centeio, arroz. [A] utilização de cultivares resistentes ou tolerantes é a maneira mais eficiente de controlar a doença. O controle da doença por meio do controle de vetores não tem sido satisfatório tanto do ponto de vista econômico quanto da eficiência de controle.” Disponível em http://sistemasdeproducao .cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Sorgo/CultivodoSorgo_2ed/doencas_cana.htm. Acessado em 03 de maio de 2010.

124 S. C. Bray, E. R. Ferreira & D. G. G. Ruas, Políticas da Agroindústria Canavieira, 8.

48

A substituição das variedades existentes pelas javanesas e indianas foi

feita com a adoção de período de quarentena – restrição não utilizada

anteriormente a este período - e com “campos de experimentação e/ou

cooperação nas usinas”125 para avaliar o comportamento dessas variedades

em diferentes solos e adubações.

Com o sucesso dessas medidas, a produtividade em São Paulo

aumentou e como a variedade javanesa era mais fibrosa, as modificações nas

moendas foram introduzidas com o auxílio das Oficinas Dedini. 126

Em meio às crises advindas das moléstias da cana na manufatura

açucareira, em 1903, a Sociedade Nacional de Agricultura promoveu a 1ª

Exposição Nacional de Aparelhos a Álcool e o Congresso das Aplicações

Industriais do Álcool.

Nesta exposição foram “expostos ao público do Rio de Janeiro, os

primeiros automóveis movidos a motor de explosão com álcool como

combustível” e sua divulgação foi feita em congressos e exposições agrícolas

organizados pela entidade e através de matérias em seu periódico, “A

Lavoura”, criado em 1897.127

Dado a pequena quantidade de veículos automotivos no Brasil em 1903,

a exposição e o congresso da Sociedade Nacional de Agricultura não geraram

frutos adicionais no que se refere a pesquisas sobre a utilização do álcool

combustível.

De fato, o fim da Primeira Guerra Mundial trouxe para o mundo a

preocupação de encontrar um substituto para o petróleo como combustível.

A França, em 1918, iniciou estudos com este intuito, seguida da

Alemanha, Itália e Suécia. E, em 1919, os trabalhos de Harry Ricardo

referentes a motores de combustão interna, na Inglaterra, demonstraram

definitivamente que o uso do álcool como carburante era factível.

125 G. S. Oliver & T. Szmrecsányi, “Estação Experimental de Piracicaba,” 48.

126 W. Belik, em “Tecnologia em um Setor Controlado,” 105, afirma que “A primeira iniciativa no sentido de pesquisar e adaptar variedades de cana estrangeira no Brasil data de 1913, quando foi inaugurada a Estação Experimental de Campos – RJ. Mais tarde foram criadas novas Estações Experimentais em Barreiros – PE (1920), Piracicaba – SP (1928), Barbalha – CE, Quissamã e Curado – PE (1928) e finalmente a seção de cana-de-açúcar no Instituto Agronômico de Campinas (1935)”.

127 M. Del Priore & R. P. Venâncio, História da Vida Rural, 172.

49

No Brasil os estudos sobre a utilização do álcool como combustível em

motores de explosão como sucedâneo da gasolina foram realizados a partir de

1923, com a criação da Estação Experimental de Combustíveis e Minérios.

E. L. da Fonseca Costa, um dos integrantes da equipe de pesquisadores

da Estação Experimental, comentou que participou de diversas experiências

nos anos 1923 para elucidar, entre outros, os seguintes pontos ainda mal

conhecidos naquela época:

“causas provaveis das corrosões frequentemente observadas nas

diversas peças do motor alimentado com álcool; condições

indispensaveis à perfeita carburação dos carburantes alcoólicos;

consumo específico e fatores interferentes no rendimento térmico do

motor”.128

Este grupo de pesquisadores concluiu em seus estudos que a corrosão

do metal não provinha de uma combustão deficiente, mas sim, exclusivamente,

de impurezas existentes no álcool.

Já para os problemas da vaporização incompleta do álcool-motor nos

carburadores, a Estação Experimental realizou testes em:

“uma série de investigações afim de se determinar a temperatura ótima

do ar comburente”, [cujos resultados foram satisfatórios e para

demonstrá-los] “inscreveu-se o engenheiro Heraldo de Sousa Matos na

primeira prova automobilística realizada pelo Automovel Clube do Brasil,

no Circuito da Gavea, em agosto de 1923, e correu com um carro FORD

alimentado exclusivamente com aguardente”129.

Assim, no final dos anos 1920 várias misturas de álcool combustível

foram colocadas no mercado, principalmente em Pernambuco e Alagoas, “a

128 E. L. Fonseca Costa em Prefácio da 1ª edição do livro de E. S. Oliveira, Álcool Motor, 11. 129 Ibid., 12.

50

USGA (75% álcool e 25% éter) e posteriormente a Rosada, Motogás,

Nacionalina, Azulina e Motorina”.130

Com as condições técnicas do álcool-motor economicamente ajustadas,

a partir de 1930, o Governo Getúlio Vargas destinou parte da produção de cana

à fabricação de álcool em épocas de excesso de produção de açúcar e,

financiou a implantação de destilarias anexas às usinas, com recursos

advindos da cobrança de uma taxa sobre o saco de açúcar produzido no país e

de uma taxa sobre cada litro de gasolina importada.

Tal situação beneficiou os produtores do setor canavieiro ao estabelecer

a adição à gasolina de 5% de álcool de procedência nacional; o consumo

obrigatório do combustível com pelo menos 10% nos veículos de propriedade

pública e isenção de impostos e taxas de importação para montagem de usinas

para o fabrico e redestilação do álcool anidro.

Para E. F. P. Moreira a intervenção governamental no setor com a

obrigatoriedade da mistura álcool/gasolina trouxe impactos sobre o processo

produtivo, pois:

“até então a produção de álcool, feita com a utilização de melaço

residual, era destinada ao uso doméstico e da indústria alimentícia e

farmacêutica, que não exigiam o mesmo padrão do álcool para mistura

combustível. Foram necessários investimentos adicionais nas usinas ou

em unidades autônomas (desidratadoras de álcool), apoiados e

incentivados pelo Estado, o que contribuía para a melhoria geral das

condições técnicas do setor”.131

Em 1° de junho de 1933 foi criado o IAA132, da fusão da Comissão de

Defesa da Produção de Açúcar e da Comissão de Estudos sobre Álcool-Motor,

constituído preliminarmente por portaria do Ministério da Agricultura de agosto

de 1932, com o objetivo fundamental de determinar quotas de produção para

130 Anciães, coord., Avaliação Tecnológica, 61. 131 Moreira, “Comércio Internacional de Açúcar e Álcool,” 42. 132 Decreto n° 22.789 de 01 de junho de 1933.

51

as usinas, fixar preços para o açúcar e financiar a produção de açúcar e álcool

no Brasil.133

Por outro lado, o controle governamental para equalizar a produção do

açúcar também era pactuado por acordos internacionais, como o Acordo

Internacional do Açúcar de 1937 e a criação do Conselho Internacional do

Açúcar, cujo objetivo foi promover a expansão do consumo e criar um sistema

de quotas de exportação para os países integrantes do acordo. 134

O mercado norte-americano também criou uma regulamentação bilateral

(EUA/outros países) que especificou as participações de produtores e as

condições de abastecimento no mercado norte-americano, tendo em conta os

diferentes tipos de açúcar e interesses envolvidos na cadeia produtiva.

Em 1941 o Brasil se abastecia de gasolina e óleo bruto de procedência

norte-americana, uma vez que o transporte ferroviário e o aquaviário foram

paulatinamente substituídos pelo transporte rodoviário, tornando a dependência

brasileira enorme e imperativa com relação a utilização da gasolina.135

Quando do I Congresso Nacional de Carburantes, realizado no Rio de

Janeiro em 21 de novembro de 1942, pelo Touring Club do Brasil, para

estimular o debate técnico e econômico sobre a questão dos combustíveis no

país, a tônica recaiu sobre o álcool-motor:

“A exposição do pesquisador francês Frederico Schwers chamou a

atenção para pesquisas com motores realizadas na França, com o

patrocínio do Comité Scientifique du Carburant National; a delegação do

Estado de Minas Gerais apresentou um interessante estudo que visava

a comprovar a superioridade técnica da produção de etanol a partir da

mandioca, que seria mais econômica e energeticamente eficiente que a

cana-de-açúcar; o pesquisador Antenor Novaes, químico da Escola

Politécnica do Rio de Janeiro, discutiu os avanços no desenvolvimento e

adaptação de motores desenhados originalmente para o uso da

gasolina”.136

133 Campos, Doce Amargo, 75-76. 134 P. Ramos, “Mercados Mundiais de Açúcar,” 559-585, 563-564. 135 M. O. Pinassi, “I Convenção Nacional dos Produtores de Aguardente,” 149. 136 M. T. S. Brito, “Trilhos da Inovação,” 97.

52

A partir de 1938, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT foram

realizadas pesquisas sobre combustíveis renováveis para a substituição das

fontes de energia fósseis, sob a responsabilidade de Romeu Corsini, professor

da Universidade de São Paulo.137 Segundo S. Figueiredo, em 1973 o IPT

retomou o projeto de motor a álcool pré-vaporizado – conhecido como MAPV,

apresentado ao CNPq e à STI/MIC, mas os recursos já haviam sido

comprometidos ao projeto de pesquisa do CTA.138

Do lado da produção de cana-de-açúcar, com os reflexos da Segunda

Guerra Mundial, processaram-se as condições para a transferência definitiva

do eixo da produção canavieira e açucareira do Nordeste para os Estados do

Sudeste do Brasil.

Verificou-se, de fato, uma efervescência nos debates técnicos e

econômicos em torno do álcool-motor. Mas com o fim da guerra, os preços do

petróleo e de seus derivados caíram vertiginosamente e a indústria

automobilística no Brasil não teve interesse em produzir veículos com motores

próprios para o uso do álcool-motor. Além disso, ocorreu uma alta na demanda

mundial por açúcar... e os estudos técnicos sobre o álcool-motor e

experimentações rarearam, a cargo de pesquisadores isolados e sem incentivo

governamental.139

A ênfase governamental no período foi dada ao petróleo, e, em outubro

de 1953 a Petrobrás foi criada envolta em uma campanha nacionalista e

137 Três solicitações de patente de invenção foram realizadas em nome de Romeu Corsini,

conforme pesquisa realizada no website do INPI. A sigla PI do código do processo significa Privilégio de Invenção e MU é de Modelo de Utilidade: PI8402740-1, solicitada em 31/05/1984 para processo e equipamento para alimentação

de motores de combustão interna movidos à álcool, cuja carta patente foi concedida em 24/10/1989;

PI0701375-2, solicitada em 03/04/2007 para sistema e equipamento para alimentação de motores de combustão interna movidos a álcool ou outros combustíveis de composto único; cujo último despacho foi concedido pelo INPI em 22/01/2008 para publicação do pedido depositado, a requerimento do depositante;

MU8702198-6, modelo de utilidade solicitada em 19/09/2007 para disposição introduzida em motor a combustão interna, para uso aeronáutico, com alimentação pelo processo de pré-vaporização do combustível, movido a álcool ou outros combustíveis de composto único, cujo último despacho foi concedido pelo INPI em 23/09/2008 para publicação do pedido depositado, a requerimento do depositante.

138 Governo do Estado de São Paulo. Simpósio sobre Alternativas Energéticas para Transporte e Indústria. Anais vol 1, citado em Sérgio Figueiredo. “O Carro a Álcool,” 62.

139 Brito, “Trilhos da Inovação,” 97.

53

popular. Esta empresa se fortaleceu e o petróleo continuou barato enquanto os

preços do mercado internacional do açúcar eram ascendentes, situação que se

manteve até 1973, exceção a “breves hiatos quanto ao mercado açucareiro”.140

A alta dos preços do açúcar levou o Governo a tomar várias medidas

entre 1950 a 1970 para modernizar as lavouras de cana, implantar a indústria

de máquinas agrícolas e desenvolver novas variedades de cana-de-açúcar,

com o objetivo principal de aumentar a produtividade do setor e não somente o

volume de produção.

A exclusão de Cuba do mercado preferencial americano em 1960 e a

queda de produção da safra brasileira de 1962/63 fizeram com que o Governo

lançasse o “Plano de Expansão da Indústria Açucareira Nacional” para

aumentar os rendimentos agrícolas e industriais e reduzir os custos da

produção de açúcar.

Sem um dos grandes concorrentes no mercado, o Governo novamente

enfatizou a modernização das lavouras de cana, do aumento da escala de

produção das usinas – com fusão de unidades não-econômicas - e a

implantação de novas usinas.

Verificou-se, assim, no decorrer do século XX, uma grande mudança na

forma com que se via o álcool: de 1920 a 1940 uma intensidade nas pesquisas

do álcool-motor e o uso da mistura álcool/gasolina; a partir do final da Segunda

Guerra Mundial, com o baixo preço do petróleo, as pesquisas arrefeceram.

2.2. Ciência e Tecnologia do Etanol e Cana-de-açúcar a partir do PNA

Com as crises internacionais do petróleo, em 1973/74 e 1979/80, o

Brasil instituiu o PNA com o claro objetivo de diminuir a dependência externa –

mediante a obtenção de álcool para substituir a gasolina, bem como

incrementar seu uso no setor químico - e reduzir o dispêndio de divisas.141

140 Anciães, coord., Avaliação Tecnológica do Álcool Etílico, 62. 141 De acordo com dados do Ministério das Minas e Energia, em 1976 o Brasil consumia

combustíveis derivados do petróleo avaliados em aproximadamente 4 bilhões de dólares, sendo 3,2 bilhões de dólares (75% do total gasto) referentes à aquisição do óleo cru no exterior e 800 milhões de dólares correspondentes à produção interna.

54

O Balanço Energético Nacional para o período de 1965 a 1975,

publicado pelo Ministério das Minas e Energia – MME, em 1976, apresentou

valores decrescentes de consumo de energia primária para derivados de

petróleo: 45,4% em 1973; 45,1% em 1974 e 44,3% em 1975.142

Como a gasolina e o óleo diesel referiam-se a 50% do total do petróleo

consumido em 1976, a utilização do álcool como combustível possibilitaria, em

menor espaço de tempo, a minimização da taxa de crescimento do consumo

de derivados do petróleo.

O etanol ou álcool etílico utilizado como combustível em motores de

combustão interna com ignição por centelha – ciclo Otto – possui duas formas:

em misturas de gasolina e etanol anidro ou como etanol puro, geralmente

hidratado.143

O álcool anidro ou álcool etílico anidro carburante (AEAC) é

praticamente puro e seu índice de pureza fica entre 99,3% a 99,8% a 20º C,

sendo normalmente usado como aditivo, adicionado à proporção de 20 a 25%

na gasolina como substituto ao MTBE - Methyl Tertiary Butyl Ether, que, apesar

de poluente, ainda é utilizado em alguns países.

Já o álcool hidratado ou álcool etílico hidratado carburante (AEHC) tem

como grau de pureza a faixa entre 92,6% a 93,8% a 20°C e é usado

diretamente como combustível nos automóveis.144

Embora todos os vegetais tenham a propriedade de produzir energia, o

que ocorre em geral, “é a não viabilidade econômica da transformação de

álcool de determinados vegetais”145.

142 Ministério da Indústria e do Comércio/Secretaria de Tecnologia Industrial. “Semana de

Tecnologia Industrial – Etanol: Combustível e Matéria-Prima,” 15. Os demais dados referiram-se às demais fontes de energia: energia hidráulica; carvão mineral; lenha; bagaço de cana; carvão vegetal e gás natural.

143 BNDES e CGEE, orgs., Bioetanol de Cana-de-Açúcar, 41. “No caso brasileiro, as especificações, que devem ser atendidas pelos produtores e respeitadas por toda a cadeia de comercialização, são definidas pela Portaria ANP 309/2001, para a gasolina com etanol anidro, e pela Resolução ANP 36/2005, para o etanol anidro e hidratado, denominados, respectivamente, álcool etílico anidro combustível (AEAC) e álcool etílico hidratado combustível (AEHC), na legislação brasileira. Segundo essa legislação, considerando teores em massa, o álcool anidro deve conter menos 0,6% de água, enquanto que, para o etanol hidratado, esse teor deve estar entre 6,2% e 7,4%”.

144 C. A. M. Guedes & M. R. Teixeira, “Inovações e Internacionalização na Cadeia Produtiva do Etanol,” 6.

145 Anciães, coord., Avaliação Tecnológica, 241.

55

Em se tratando das folhas da cana-de-açúcar, estas possuem

metabolismo fotossintético C4, i.e., “produzem maior quantidade de biomassa

em menos tempo do que outras plantas”146 e realizam as funções de

respiração, transpiração e elaboração dos aminoácidos e açúcares da planta.

Os açúcares elaborados através da fotossíntese são aproveitados pela

cana para formação dos tecidos de sustentação – a celulose – durante a fase

de crescimento, e de reservas – sacarose – durante a fase de maturação.147

Com a criação do Proálcool, as usinas de açúcar receberam

financiamento para a instalação de equipamentos adequados à produção em

larga escala de álcool. De acordo com o IPT e o Núcleo de Economia e

Administração de Tecnologia da Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade da Universidade de São Paulo – NEAT/FEAUSP, o programa

levou à criação:

“em torno de 180 “destilarias autônomas” em vários estados brasileiros,

voltadas exclusivamente para a produção de álcool. As novas unidades

possuíam capacidade instalada de produção entre 120.000 litros/dia e

180.000 litros/dia, produzindo especialmente álcool hidratado (93% de

álcool e 7% de água), destinado a carros movidos a álcool. O processo

de produção brasileiro produz inicialmente o álcool hidratado, para que

em uma segunda coluna de destilação se retire o restante da água para

produzir o álcool anidro”.148

Dadas as condicionantes de ordem técnica e econômica, estudo do

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES e Centro de

Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE define as necessidades de infra-

estrutura e logística para a implementação do uso do etanol. Assim, quanto às

condições de transporte e armazenamento do etanol, puro ou misturado à

gasolina, devem ser considerados “a sazonalidade da produção do etanol, a

146 M. Buckeridge, “A Biologia Sintética e a Bioenergia,“ 51. 147 T. Szmrecsányi, Planejamento da Agroindústria Canavieira, 112. 148 IPT/NEAT, “Relatório Técnico IPT/NEAT N° 91.226 205 - Observatório de Tecnologia e

Inovação - OTI: Análise Prospectiva de Temas Estratégicos para o Estado de São Paulo,” 21-22.

56

dispersão espacial dessa produção e a compatibilidade dos materiais dos

tanques e tubulações que estarão em contato com o etanol e suas misturas”.149

Em 1975, quando da implementação do PNA, a cana-de-açúcar foi o

insumo preferido, ainda que pudessem ser usados outros, como a mandioca.150

2.2.1. Ciência, Tecnologia e Técnica Agrícola

Do ponto de vista do domínio da agricultura, estudo do Centro de Gestão

e Estudos Estratégicos do MCT - CGEE identificou três fases na Pesquisa &

Desenvolvimento do setor sucroalcooleiro:

“ênfase em produtividade, entre 1975 e 1985, para atender aos

aumentos de demanda (aumentos de capacidade nos sistemas de

moagem e destilação; grandes ganhos na produtividade das

fermentações; crescimento constante da produtividade agrícola). A partir

de 1980, busca de maior eficiência de conversão (os melhores exemplos

são os ganhos em rendimento fermentativo e extração). Por volta de

1985, o surgimento de ferramentas tecnológicas para o gerenciamento

da produção agroindustrial passou a ter importância crescente

(exemplos são os programas para otimização da reforma de canaviais;

para o acompanhamento da safra; para o controle operacional de

processos, controle mútuo e simulação dos balanços de massa e

energia, etc)”.151

Assim, os principais setores relacionados ao domínio agrícola se referem

ao melhoramento genético da cana; à produção de cana que abrange a

entomologia e a fitopatologia; as operações agrícolas e o gerenciamento

agrícola.

149 BNDES e CGEE, orgs., Bioetanol de Cana-de-Açúcar, 60. 150 No final dos anos 1970, a Petrobrás construiu e operou uma usina localizada em Curvelo,

MG, que tinha capacidade para produzir 60 mil litros de etanol por dia, utilizando mandioca como insumo.

151 CGEE, Estado da Arte, 48.

57

2.2.1.1. Melhoramento Genético

O principal objetivo dos programas de melhoramento genético de cana-

de-açúcar é “prover novas cultivares que ampliem a produtividade de energia

(açúcar, álcool e fibra)”,152 característica associada ao acúmulo de biomassa e

ao teor de sacarose, entre outros. Assim, a maioria dos programas de

melhoramento de plantas visa o aumento de produtividade mediante a

eliminação de defeitos da espécie cultivada, aumento do potencial de produção

per si e otimização das características morfofisiológicas das plantas, além da

resistência às doenças.

O Brasil tem um grande número de cultivares de cana-de-açúcar em

produção, o que permite que elas sejam adaptadas às condições específicas

de solo, clima, época de colheita e manejo agronômico.153

Uma contribuição de caráter fundamental para o melhoramento genético

foi o Projeto Genoma Cana ou SUCEST - Sugar Cane EST, lançado

oficialmente em 1999 pela FAPESP, em conjunto com a Copersucar. O

principal objetivo era o de seqüenciar partes escolhidas do Deoxyribonucleic

Acid - DNA da cana-de-açúcar e identificar genes com características de

interesse econômico, especialmente aqueles relacionados com o metabolismo

da sacarose e com a resistência da planta a pragas e doenças, através do

método das Expressed Sequence Tags - EST154.

Em termos numéricos, de acordo com os dados divulgados pela Revista

da Fundação que propicia os financiamentos, o projeto teve a participação de

“240 pesquisadores em 22 grupos de pesquisa e com investimento de US$ 4

milhões da FAPESP e outros US$ 400 mil da Cooperativa dos Produtores de

Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar)”. 155

A divulgação do resultado final do Projeto Genoma Cana foi realizada

através de um artigo publicado na revista científica Genome Research em

setembro de 2003, com uma descrição minuciosa da constituição genética da

152 M. G. A. Landell & J. A. Bressiani, “Melhoramento Genético, Caracterização e Manejo

Varietal,” 101. 153 Ibid., 106. 154 Trata-se de uma tecnologia de seqüenciamento mais rápida e baseada apenas nas porções

dos genes expressos, que codificam proteínas. 155 Revista FAPESP, “Farta Colheita.”

58

cana-de-açúcar: “o genoma da cana-de-açúcar é constituído por 33.620

possíveis genes, dos quais cerca de 2 mil parecem estar associados à

produção de açúcar”.156

As perspectivas resultantes do Projeto Genoma Cana impulsionaram

mais investimentos de capital privado, com a criação de três empresas nos

anos 2002 e 2003, a Allelyx, a Scylla e a Canavialis.157

A FAPESP está ainda envolvida em outras linhas de financiamento à

pesquisas acerca da cana-de-açúcar e biocombustíveis, como os projetos: (a)

Transcriptoma; (b) Desenvolvimento de Marcadores Moleculares a Partir de

Etiquetas de Seqüência Expressas- ESTs de Cana-de-Açúcar para Seleção de

Características Economicamente Importantes e (c) Pesquisa em Bioenergia –

BIOEN.

O Transcriptoma da Cana-de-Açúcar é um desdobramento do Genoma

Cana e tem por finalidade identificar genes, com a ajuda das lâminas,

denominadas microarrays ou chips de DNA, que favoreçam a cana-de-açúcar a

acumular altos teores de sacarose durante seu processo de maturação. O -

website do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação

Tecnológica - PITE da FAPESP informa que o valor financiado foi de R$

493.543,00, e do Centro de Tecnologia Canavieira - CTC e da usina

Centralcool, da cidade de Lucélia, no noroeste paulista, no valor de R$

823.563,00. Os pesquisadores envolvidos são da USP, da Unicamp e da

UNESP e em 2006 foram realizados duzentos depósitos de patente nos

Estados Unidos de genes identificados.158

A pesquisa Desenvolvimento de Marcadores Moleculares a Partir de

ESTs de Cana-de-Açúcar para Seleção de Características Economicamente

Importantes, de 2002, foi outro desdobramento do projeto Genoma da Cana e é

realizada por uma equipe de pesquisadores da Unicamp, em conjunto com 156 Ibid. 157 A Allelyx foi criada por um grupo de pesquisadores da USP, Unicamp e Unesp e em 2008 foi

adquirida pelo Grupo Monsanto. A Scylla foi criada por pesquisadores de bioinformática que participaram dos projetos Xylella fastidiosa e EST de Cana-de-açúcar, com o apoio financeiro da Votorantim Novos Negócios. A CanaVialis foi criada por um grupo de pesquisadores do PMGCA da UFSCar, com financiamento também da Votorantim Novos Negócios e também adquirida pela Monsanto em 2008.

158 Revista FAPESP, “Revolução no Canavial,” os dados mencionados foram fornecidos em entrevista concedida por Glaucia Mendes Souza, pesquisadora do Instituto de Química da USP e coordenadora do projeto.

59

pesquisadores do departamento de genética da Esalq e do Centro de Energia

Nuclear na Agricultura, ambos da USP. Sua finalidade é a identificação da

planta mais produtiva a partir de sua constituição molecular. O website do PITE

da FAPESP informa que o valor financiado foi R$ 172.403,00 e do CTC, de R$

103.675,30.

Em julho de 2008 foi lançado o Programa FAPESP de Pesquisa em

Bioenergia – BIOEN para estimular e articular as atividades de pesquisa em

instituições paulistas no aumento de produtividade do etanol brasileiro e

avançar tanto em ciência básica quanto em desenvolvimento tecnológico de

geração de energia a partir de biomassa. Para tanto foram considerados cinco

vertentes: (1) o de pesquisa sobre biomassa, com foco no melhoramento da

cana-de-açúcar; (2) o processo de fabricação de biocombustíveis; (3)

aplicações do etanol para motores automotivos; (4) estudos sobre biorrefinarias

e alcoolquímica e (5) impactos sociais e ambientais do uso de biocombustíveis.

A chamada de projetos do BIOEN, realizada em 2010, previu

investimentos de aproximadamente R$ 38 milhões. Deste total caberão às

agências financiadoras, os seguintes valores: FAPESP com R$ 19 milhões;

CNPq com R$ 10,2 milhões em bolsas; e Programa de Apoio aos Núcleos de

Excelência (Pronex), com R$ 8,8 milhões.

No intuito de articular a pesquisa com empresas, o BIOEN fez também

uma chamada de propostas em 2010, para o convênio FAPESP/Dedini, com

investimento inicial de R$ 20 milhões em projetos cooperativos envolvendo

especialistas da empresa e de universidades e instituições de pesquisa

paulistas, em um total de R$100 milhões para cinco anos de duração.

Apesar dos esforços, comparada a outras culturas, o melhoramento

genético da cana-de-açúcar não tem proporcionado o desejado aumento na

produtividade, seja pela complexidade genômica da espécie159, seja por

questões relacionadas à adoção de transgênicos, como a biossegurança e o

alto custo de licenciamento de patentes160.

Finalmente, uma outra tecnologia que foi bastante divulgada no cultivo

da cana-de-açúcar é a biofábrica, ou seja, a produção em larga escala de

159 A. V. O. Figueira, “Biotecnologia no Melhoramento.” 160 S. Creste et al., “A Biotecnologia como Ferramenta para o Melhoramento Genético,” 160.

60

mudas sadias em laboratório com técnicas de propagação in vitro e posterior

aclimatação das mudas, associada à qualidade genética e fitossanitária.

2.2.1.2. Tecnologia Agrícola

O planejamento do cultivo de cana-de-açúcar permitiu um avanço no

controle dos fatores que influenciam o rendimento em açúcares. Assim,

atividades como a análise do clima, propriedades físicas e químicas dos solos,

características das variedades utilizadas e declividade do terreno passaram a

ser mais bem empregadas a partir do PNA.

Os dados oficiais mostram uma redução da demanda por adubos

artificiais e uma valorização do vinhoto como adubo orgânico, rico em fósforo e

potássio, através da fertirrigação, e não simplesmente seu descarte nos rios.161

Quanto aos tratos culturais, nos anos 1980, o controle de ervas daninhas

na cana-de-açúcar foi feito “predominantemente através do uso de herbicidas,

quer pela sua maior eficiência, quer pelo menor custo”.162

A colheita da cana queimada era comum nos anos 1970 e realizada com

corte manual163. Com o surgimento de variedades melhoradas e a expansão do

plantio, adotou-se a colheita mecanizada da cana queimada.

Denominada de colheita da cana sem queima, ou cana crua, novas

pesquisas foram necessárias para definir práticas agronômicas como

adubação, herbicidas a ser utilizadas, modos de cultivo e outros.

O CTC conduziu vários estudos em usinas cooperadas, a partir de 1992,

e os resultados da adoção da colheita mecanizada foram:

“maior controle de ervas daninhas, menor erosão, maior atividade

microbiana depois de 2 a 3 anos do sistema implantado, maior retenção

161 Para o MIC em Previsão e Análise Tecnológica do Proálcool, 234, quanto aos adubos, “a

quantidade a ser utilizada por unidade de área dependerá do sistema de aplicação [irrigação ou veículos-tanque], da fertilidade do solo e da composição da vinhaça [que é variável, principalmente em função do tipo de mosto que lhe deu origem – melaço, caldo ou misto]”.

162 Ministério da Indústria e do Comércio, Previsão e Análise Tecnológica do Proálcool, 236. 163 A. L. Fischer, “Impactos Sociais,” 69, nos alerta que algumas tarefas não são substituídas

pela máquina. “É o caso da colheita, cuja alternativa tecnológica de mecanização não é viável para todos os solos, relevos e variedades de cana e sua utilização, além disso, implica num alto investimento em capital fixo”.

61

de umidade no solo, menor amplitude térmica, aumento na

disponibilidade de nutrientes no perfil do solo, menor ataque da lagarta

elasmo, etc”. 164

A produtividade da cultura de cana-de-açúcar no período de 1975 a

1996, aumentou também em função do manejo de resíduos agrícolas, como o

aproveitamento do vinhoto e limpeza da cana a seco sem a necessidade de

lavagem, pois “há perdas de 1 a 2% do açúcar, levado pela água quando da

lavagem da cana, sendo que quando se adota a limpeza da cana a seco deixa-

se de incorrer nessa perda”.165

A introdução da informática no gerenciamento e simulação das

atividades desta cultura permitiu “a redução da frota de caminhões, tratores,

colhedoras e implementos, maximização da quantidade de açúcar por hectare,

otimização da operação das frentes de corte, avaliação do desempenho on-line

e controle de todas as operações agrícolas”.166

Deve-se ainda observar a implementação da técnica de agricultura de

precisão que preconiza que a adição de insumos deve ser realizada de acordo

com as particularidades físico-químicas de cada área. Algumas das

ferramentas utilizadas para esse fim têm sido o Sistema de Posicionamento

Global (GPS), o Sistema de Informações Geográficas (GIS) e as máquinas de

aplicação localizada de insumos a taxas variáveis.

2.2.2. Processamento Industrial

No processo de transformação da matéria-prima em etanol, ou seja,

processamento industrial, são consideradas as tecnologias voltadas para

extração, fermentação e destilação; a produção e uso de energia e o controle

ambiental.

O álcool, no Brasil, pode ser obtido após a fermentação do caldo de

cana-de-açúcar ou de uma mistura de melaço e caldo.

164 M. S. Benedini & J. L. Donzelli, “Desmistificando a Colheita Mecanizada,” 26-27. 165 ProÁlcool - Aspectos Econômicos. 166 CGEE, Bioetanol Combustível, 52.

62

Desta forma, o emprego do caldo da cana-de-açúcar como substrato

para a fermentação alcoólica ocorre nas destilarias autônomas, a maioria delas

criadas pelo PNA. Já o emprego do melaço de cana para a produção do etanol

é realizada nas destilarias anexas às usinas.167

A área de recepção da cana inclui as atividades de pesagem, o

laboratório de sacarose, a recepção propriamente dita e a preparação da cana

para extração de caldo.

A pesagem da cana permite ao setor agrícola controlar sua produção e

produtividade e à área industrial controlar seu processamento e medir a

produtividade industrial. Item importante no processo, o controle de pagamento

da cana de fornecedores e do transporte terceirizado, a pesagem foi sendo

substituída por balanças eletrônicas automatizadas.168

No laboratório de sacarose, que determina a quantidade do açúcar

presente na matéria-prima, utiliza-se uma amostra do caldo da cana para

determinar parâmetros técnicos como brix e pol169 com “espectrofotômetro NIR

(Near InfraRed), que permite a determinação mais rápida, sem a utilização de

clarificantes químicos, o que facilita a exportação dos dados, diretamente para

o sistema gerencial do pagamento de cana”170, conforme M. T. Wanderley.

Até 2005, a recepção e lavagem da cana eram realizadas através de

sistema de circuito fechado de água, com piscinas de concreto para

decantação da impureza mineral. A partir desta data, várias usinas e destilarias

passaram a usar o método de limpeza da cana a seco, que consiste na

utilização de um jato de ar em contra corrente ao fluxo da cana.

Na preparação do caldo o objetivo é o de desintegrar os colmos e

romper as células para facilitar a extração do caldo. Para tal, são utilizados

niveladores, picadores e desfibradores, normalmente acionados por turbinas a

vapor.

167 Menezes, Etanol, 50. 168 M. T. Wanderley, “A Tecnologia da Recepção e Preparação da Cana.” 169 O. A. Valsechi, “Glossário de Termos Técnicos Sucroalcooleiro.” Brix é a “porcentagem em

massa de sólidos solúveis contida em uma solução de sacarose quimicamente pura” e Pol é a “porcentagem em massa de sacarose aparente, contida em uma solução açucarada de peso normal, determinada pelo desvio provocado pela solução no plano de vibração da luz polarizada”.

170 Wanderley, “A Tecnologia da Recepção e Preparação da Cana.”

63

Em escala industrial existem dois processos de extração: a moagem e a

difusão. Nas moendas a cana é prensada entre grandes cilindros, separando-

se o caldo do bagaço e na difusão a cana é colocada sobre um leito onde é

levemente prensada na entrada e, depois, separado o caldo do bagaço de

cana, através de adição de água de embebição e vapor.

De acordo com o website da Embrapa, a eficiência de um terno de

moenda é medida pela capacidade e eficiência de extração e os fatores que

afetam a capacidade de moagem são o preparo da cana, a eficiência de

alimentação da moenda, o tamanho e tipo dos cilindros da moenda e a

regulagem da bagaceira. No Brasil, usa-se o difusor horizontal, que possui

como vantagens: o baixo custo de manutenção; a obtenção de caldos mais

puros; a alta extração de sacarose e menor desgaste. No entanto, a

desvantagem do uso de difusores é que estes carregam mais impurezas com o

bagaço para as caldeiras, exigindo maior limpeza das mesmas devido à pior

qualidade do bagaço.

O bagaço da cana-de-açúcar é o maior resíduo da agroindústria

brasileira e tem sido usado como fonte energética ao substituir o óleo

combustível no processo de aquecimento das caldeiras e para a geração de

energia elétrica. Apesar de também ter uso não energético – como por

exemplo, matéria-prima na indústria de papel e papelão, fabricação de

aglomerados, indústria química, material alternativo na construção civil, ração

animal e produção de biomassa microbiana – seu excedente não utilizado

causa problemas de estocagem e poluição ambiental.171

Para o processo de fermentação, o caldo de cana recebe um tratamento

de purificação que consiste no tratamento do caldo para destilaria e preparo do

mosto. No tratamento do caldo ocorre adição de cal, aquecimento e posterior

decantação, para eliminar impurezas. Segundo o website da Embrapa, para “o

preparo dos mostos devem ser tomados alguns cuidados no tocante à

concentração de açúcares totais e sua relação com sólidos solúveis, acidez

total e pH e em alguns casos pode ser necessária a suplementação de

nutrientes, adição de anti-sépticos e aumento da temperatura para se obter

rendimentos satisfatórios”.

171 Revista FAPESP, “Propriedades do Bagaço da Cana-de-açúcar.”

64

Já na fase de fermentação, a maior parte do etanol produzido no Brasil é

pelo processo Melle-Boinot, cuja característica principal é a recuperação da

levedura através da centrifugação do vinho172. Segundo a Copersucar, esta

levedura recuperada, antes de retornar ao processo fermentativo, “recebe um

tratamento severo, que consiste em diluição com água e adição de ácido

sulfúrico até, normalmente, pH= 2,5, ou mais baixo (pH = 2) no caso de haver

infecção bacteriana”.173

No processo de fermentação propriamente dito os açúcares são

transformados em álcool em tanques denominados dornas de fermentação,

processo durante o qual ocorre intensa liberação de gás carbônico e a

formação de alguns produtos secundários como: alcoóis superiores, glicerol,

aldeídos, etc.

Existem vários processos de fermentação – forma descontínua ou

contínua, em dornas abertas ou fechadas. Nos anos 1990, houve uma

tendência em passar do sistema batelada para a fermentação contínua e várias

unidades fizeram adaptações ou mudaram completamente seus processos,

mas essa tendência foi revertida há alguns anos atrás, ou seja, não há uma

única solução envolvida.174

Quanto à destilação, desde os anos 1960 o processo utilizado foi o de

hidrosseleção, desenvolvido nas Usines de Melle, na França, pelo engenheiro

M. Mainçon.175 O etanol hidratado pode ser estocado como produto final ou

pode ser enviado para a desidratação pela adição de cicloexano, ou pode ser

feita por adsorção com peneiras moleculares ou pela destilação com

monoetilenoglicol – MEG.176

172 J. N. Vasconcelos, C. E. Lopes & F. P. França, “Continuous Ethanol Production,” 357. 173 Copersucar - Álcool. 174 Para maiores detalhes podem ser consultados, entre outros: Willibaldo Schmidell, et al. em

Biotecnologia Industrial e Carlos Eduardo Vaz Rossell em “Qualidade da Matéria-Prima. Além disso, o CTC tem um grupo de pesquisa sobre fermentação alcoólica; o Instituto de Biologia da Unicamp criou uma levedura geneticamente modificada capaz de simplificar o processo de fermentação e Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp estuda uma técnica que faz a extração a vácuo do etanol ainda nas dornas de fermentação, o que possibilita elevar o teor de açúcar e aumentar a produtividade do sistema, bem como reduzir a produção de vinhaça.

175 J. L. de Almeida. “A evolução da qualidade do álcool no Brasil.” 176 BNDES/CGEE, Bioetanol de cana-de-açúcar: energia para o desenvolvimento sustentável,

79-80.

65

Relativamente à totalidade da energia consumida na produção do etanol

de cana-de-açúcar, esta tem sido provida por um sistema de produção

combinada de calor e potência – sistema de co-geração177– instalado na

própria usina.

Até os anos 1980 toda geração de energia elétrica nas usinas era para o

auto-consumo em função de carência tecnológica e disponibilidade de

equipamentos para co-geração. Além disso, os baixos custos e a elevada

disponibilidade de energia no sistema nacional, levou a uma falta de interesse

das usinas em gerar energia excedente e comercializá-la.178

No entanto, durante o Governo Collor várias reestruturações foram

realizadas no setor elétrico, tais como: privatização; separação dos setores de

geração, transmissão e distribuição de energia elétrica; processos licitatórios

para obras de hidroelétricas que somente foram concretizadas em 1995, no

início do Governo Fernando Henrique Cardoso, quando ocorreram as

regulamentações de licitação para concessões e a criação do Produtor

Independente de Energia Elétrica179.

Neste momento passou a haver o interesse pela geração de excedentes

de energia elétrica de usinas, notadamente as empresas de Sertãozinho (SP)

que fabricaram caldeiras e turbinas de alta pressão, posteriormente

comercializadas com a Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL.180

Outro aspecto fundamental na indústria sucroalcooleira é o dos

equipamentos por ela utilizados.

Durante o período 1970-1975 na indústria de bens de capital produtora

de equipamentos para este setor existiam dois grandes grupos de vendas de

equipamentos, o grupo Dedini e um consórcio formado pelo grupo Zanini, que

177 No website da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL encontra-se a definição de

cogeração como a produção de dois ou mais energéticos a partir de um único processo para geração de energia.

178 J. M. Balbo, “25 anos de cogeração,” em entrevista concedida à Revista Opiniões comenta que a Usina Central Paraná e a Rafard operavam com caldeiras para geração de vapor e geravam excedentes que eram direcionados para outras atividades, como fábrica de compensado e papel e em 1986 realizou uma venda de energia elétrica para uma concessionária de energia.

179 Lei nº 8.967 e Lei nº 9.074, respectivamente. 180 Balbo. “25 anos de cogeração,”

66

fornecia equipamentos de moagem e utilidades e a Conger que fornecia

equipamentos para a destilação.181

A empresa nacional, em 1975, já produzia seus equipamentos com

tecnologia própria para o setor sucroalcooleiro devido a fatores como novos

competidores no mercado, restrição à importação de tecnologia182 e aumento

do mercado por equipamentos para usinas e destilarias a partir do Proálcool.

2.2.3. Tecnologia dos Motores

Na primeira fase do Proálcool – 1975 a 1979 - o esforço foi dirigido à

produção de álcool anidro para a mistura com gasolina. Embora o decreto de

criação do Programa não tenha definido nenhum percentual de mistura, o CTA

realizou testes com a mistura de 20% de álcool que poderia ser acrescido à

gasolina sem qualquer modificação nos motores usados na época.183

No entanto, vários problemas resultaram desta mistura como:

dificuldades na partida a frio, aumento de consumo e perda de desempenho,

além da corrosão nos componentes dos primeiros veículos movidos somente a

álcool em 1980. 184

As discussões em torno do etanol combustível nesta primeira fase

giraram em torno do rendimento global e térmico do motor a álcool, uma vez

que as características do etanol são a alta octanagem185 e o alto calor latente

de vaporização.

Em 1976, o CTA com seu motor Ford fase de transformação para

funcionar exclusivamente a álcool. A questão colocada então pelo Prof. Stumpf,

coordenador do projeto e favorável ao uso do álcool como combustível, era a

sua viabilização de uso com um mínimo de consumo: 181 Anciães, Avaliação do Álcool, 264. 182 A partir de 1950 a tendência da indústria de bens de capital do setor sucroalcooleiro foi a de

busca por tecnologia estrangeira, através de licenciamento. Por volta de 1970, esta tendência foi revertida quando o governo federal optou pela não renovação automática dos contratos de importação e tecnologia.

183 E. U. Stumpf, “Painel Equipamentos e Motores na Promoção e Uso do Etanol,” 388. 184 C. Carsughi, Revista 4 Rodas: “Teste: um Fusca com Álcool na Gasolina”, ano XVI, n° 185,

122-126 e “A Belina com 20% de Álcool”, ano XVI, n° 186, 44-47, citado em Sérgio Figueiredo. “O Carro a Álcool: uma Experiência de Política Pública para a Inovação no Brasil”, 63.

185 Octanagem é o índice de resistência à detonação de combustíveis usados em motores no ciclo Otto, motores de combustão interna de ignição por centelha.

67

“a operação básica da transformação, consiste evidentemente na

carburação, na taxa de compressão, na curva de avanço da centelha e o

aquecimento da mistura. Estas 4 variáveis, têm que ser casadas ponto

por ponto, rotação por rotação. Depois de achado o nível do consumo,

porque este é o único objetivo, o objetivo não é a maior potência e, sim,

o mínimo consumo.

[...] Este conjunto leva cerca de 4 meses de trabalho. Esse conjunto de

trabalho nós temos feito em cerca de 6 a 8 motores, e o Brasil tem cerca

de 120 motores diferentes. Então temos ainda bastante a fazer. A

receita, o que tem que ser feito, existe. Pode ser feito na própria

indústria, e pode ser feito em laboratório. Certamente que a indústria

terá o mesmo trabalho. Não faz diferença. Estes motores que eu citei,

estão incluídos também em motores diesel, que também podem

funcionar a álcool”.186

Além do motor Ford construído pelo CTA , em 1975, o Dodge, um Fusca

e um Gurgel Xavante rodaram 8000 km por nove estados, no Circuito de

Integração Nacional, para demonstrar a viabilidade técnica do carro à álcool.

Para tanto, contribuíram o Instituto Nacional de Tecnologia – INT no Rio de

Janeiro, que desenvolveu materiais que suportavam a corrosividade do álcool,

e engenheiros do CTA que adaptaram o motor à gasolina às propriedades

físico-químicas do combustível.

Nos anos 1980 o CTA depositou patentes, com Urbano Ernesto Stumpf

como inventor: a de um carburador específico, projetado para operar com

álcool combustível; a de turbo-alimentação de motor à centelha para uso de

álcool; a de um sistema que confere ao motor a característica de

multicombustível; a de um dispositivo para carburação combinada de

combustíveis, preferencialmente a gasolina e o álcool, de modo a propiciar um

186 Stumpf, “Painel Equipamentos e Motores na Promoção e Uso do Etanol,” 381.

68

rendimento global superior ao obtido individualmente ou com a mistura

daqueles combustíveis.187

Na 2ª fase do Proálcool, o de veículos movidos exclusivamente a álcool,

os primeiros automóveis com estas características foram produzidos pelas

principais montadoras – Volkswagen, Ford, General Motors e Fiat, ainda em

1978 e boa parte do que foi produzido em 1979 foi vendido para empresas

públicas e agências governamentais para servir de teste.188

Para controlar o desempenho dos motores, a STI criou um sistema de

suporte a oficinas e retíficas, coordenado pelo CTA, para determinar as

modificações necessárias no motor para os vários modelos de automóveis;

fornecer tecnologia às retíficas que faziam o trabalho de conversão de motores

e habilitá-las a serem credenciadas pela STI; aprovar protótipos de conversão

que tivessem incorporado as alterações requeridas; e prestar às oficinas

autorizadas assistência técnica permanente.189

É importante observar que nesta 2ª. fase do PNA todos os motores a

álcool fabricados foram desenvolvidos nas montadoras brasileiras, inclusive

com alta taxa de compressão para permitir um aumento na eficiência do motor,

além do desenvolvimento de materiais metálicos, elastômeros resistentes ao

187 O. Silva & D. Fischetti, Etanol, 53-54: As patentes que os autores forneceram em seu livro

são: PI8106855, PI8307191, PI7905726 e PI8305171, respectivamente. Segundo nossa pesquisa realizada no website do INPI, a posição definida para as patentes solicitadas foram: PI8106855, depositante: Centro Técnico Aeroespacial CTA; inventor: Stumpf U.;

despacho: pedido arquivado em 06/0/1987; PI8307191, depositante: Urbano Ernesto Stumpf; inventor: Stumpf Urbano Ernesto;

despacho: art 18 parág. 2° do CPI; “O pedido de privilégio será considerado definitivamente retirado se não for requerido o exame no prazo previsto”, Lei n° 5772 de 21/12/1971;

PI7905726, titular: Stumpf U.; inventor: Stumpf U.; despacho em 25/10/1983: carta patente expedida; despacho em 14/06/1988: notificação de extinção da patente e seus certificados, se for o caso, pela homologação da renúncia apresentada pelo seu titular – Stumpf U. Homologada a renúncia, a patente será considerada extinta na data da apresentação da renúncia, e,

PI8305171, depositante: Pentra Pesquisa em En. e Transp.; Inventor: Stumpf Urbano Ernesto; despacho em 12/04/1988: exigência de publicação do pedido de exame não cumprida; despacho em 03/05/1988: petição não conhecida.

188 Santos, Política e Políticas de uma Energia Alternativa, 127. 189 Ibid., 128.

69

etanol e dispositivos para facilitar a partida a frio e eliminar os incômodos

problemas advindos da utilização do etanol.190

Em 2003, houve o lançamento dos carros flex-fuel no Brasil, tecnologia

baseada em um sensor do teor de oxigênio nos gases de escapamento, cujo

motor é controlado por computador de bordo, que tem sensores que

reconhecem os teores da mistura e se ajustam automaticamente, o que permite

a utilização eficiente de gasolina e álcool.191

Um dos pontos fundamentais para o mercado consumidor,

proporcionado pelos modelos flex-fuel, é apontado por Moraes: a possibilidade

do consumidor escolher o combustível que quer utilizar, uma vez que ele

poderá basear sua opção em “questões de eficiência (potência, consumo) e de

preços relativos entre álcool hidratado e gasolina”.192

Outra discussão que permeou o período estava relacionada aos efeitos

do etanol nos materiais, i.e., álcoois têm efeitos adversos em alguns materiais

tradicionais do sistema de combustíveis, tanto nos próprios carros quanto na

rede de distribuição do combustível da refinaria para os postos de

abastecimento.

Com relação ao transporte do etanol carburante, nos anos 1980, foi

realizado o transporte através de dutos, em São Paulo e posteriormente no Rio

de Janeiro, e que, de acordo com M. G. F. M. Gomes, Diretor de Terminais e

Oleodutos da Petrobrás Transporte S/A - Transpetro, permitiu a consolidação

da experiência uma vez que foram tratados “problemas relacionados à

corrosão, à presença de água livre nos dutos, à incompatibilidade com relação

a pinturas convencionais, sistemas de combate a incêndio, controle de

interfaces, sistemas de medição, materiais de vedação/selagem, etc”.193

190 E. M. Murgel, Veículos Automotores, 46-47: “em 1980, o Corcel foi o primeiro veículo de

linha fabricada com taxa de compressão de 12:1, contrariamente aos tabus da engenharia automotiva internacional que limitavam esta taxa em 10:1.”

191 Leite, Energia do Brasil, 359. 192 M. A. F. D. Moraes, “Considerações sobre a Indústria do Etanol no Brasil,” 143. 193 M. G. F. M. Gomes em “Experiência Petrobras no Transporte de Etanol Carburante,”

comenta sobre o transporte do álcool: “Todo este conhecimento e cuidado com o transporte de etanol estão consolidados nos procedimentos e normas do sistema Petrobras. Entre os anos de 1986 e 2007, foram publicados mais de 210 trabalhos técnicos sobre o tema e emitidos mais de 40 procedimentos operacionais, sobre como movimentar e armazenar etanol carburante”.

70

2.3. Discussões sobre Impactos da Produção do Etanol de Cana-de-açúcar

Fizeram e fazem parte das discussões afloradas durante a

implementação do PNA e atualmente com a possibilidade do Brasil se

transformar no grande fornecedor mundial de etanol194, os impactos ambientais

da produção intensiva de etanol de cana-de-açúcar e as consequências sobre

a alimentação.

Embora a questão da poluição não fosse amplamente discutida nos

anos de implementação do Proálcool - apesar da Conferência de Estocolmo ter

sido realizada em 1972 -, em uma palestra em 1976 já se sinalizava a questão:

“Um outro objetivo é a luta contra a poluição. Este assunto pode parecer

um pouco à margem da produção do álcool mas, cada vez mais, deve

ser levado em consideração. Em muitos países, aliás, não dão mais

autorização para a construção de fábricas ou usinas, se a questão da

poluição não foi definitivamente resolvida. Nestes países, inclusive, é

exigido um dossiê, provando que não haverá problemas de poluição. [...]

Entretanto, gostaríamos de sublinhar que o problema de poluição para

ser resolvido consiste primeiramente em evitar criar a poluição”.195

Mas falar sobre impactos implica usar um pressuposto adotado na

Agenda 21196, o do desenvolvimento sustentável. A definição adotada em

documento conjunto do BNDES, CGEE, FAO e CEPAL coloca que a base

deste tipo de desenvolvimento se faz pela:

194 Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no relatório “Balanço

Nacional da Cana-de-Açúcar e Agroenergia – 2007,” em 2005 o primeiro grande produtor de etanol era os Estados Unidos, com 16,14 bilhões de litros, seguido do Brasil com 16,00 bilhões de litros.

195 P. R. Gaussent, “Tecnologia de Fabricação do Álcool,” 320. 196 F. Feldman, em Apresentação para Agenda 21: Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, 9-10: considera que as discussões em nível mundial foram fruto de inúmeros esforços entabulados em escala local, regional, nacional e internacional, em uma tentativa de reverter o quadro de deterioração ambiental. Por sua abrangência, a Agenda 21 mostrou a interdependência entre os países e a relação entre economia e meio ambiente premente de um desenvolvimento sustentável.

71

"condição em que a produção pode ser mantida indefinidamente sem

degradar os estoques de capital, incluindo-se os estoques de capital

natural, considerados os seus três pilares – ambiental, social e

econômico”.197

A Agenda 21 foi formalizada em 1992, mas as discussões em nível

mundial iniciaram-se em 1972, na Conferência de Estocolmo, face ao

surgimento de casos críticos de degradação ambiental. 198

Em 1973, o Governo Brasileiro criou a Secretaria Especial de Meio

Ambiente – SEMA199, vinculada ao Ministério do Interior.

No entanto, as ações mais decisivas em termos de impactos ambientais

partiram da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, em

1986, que instituiu a obrigatoriedade de Estudos de Impacto Ambiental – EIA e

pelo respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA.

Assim, a resolução obriga que todo o complexo e unidades

agroindustriais, entre estes as destilarias de álcool, tenham o licenciamento de

atividades modificadoras do meio ambiente aprovadas pelo órgão estadual

competente e da SEMA, em caráter supletivo.200

Outro aspecto relacionado ao meio ambiente trata da poluição

atmosférica e está relacionada aos setores de transporte, geração de energia e

de processos industriais que usam intensivamente combustíveis fósseis.

Neste sentido, a agroindústria canavieira relaciona-se com os impactos

na qualidade do ar de duas formas: por um lado, o uso do etanol em veículos

automotores tem contribuído para a melhor qualidade do ar nos centros

urbanos e, por outro lado, as queimadas de palha de cana no campo – usadas

para facilitar a colheita - têm causado problemas com a dispersão de

particulados, riscos com a fumaça201 e problemas com a fauna202.

197 BNDES, CGEE, FAO & CEPAL, Bioetanol de Cana-de-Açúcar, 19. 198 F.Feldman, apresentação para Agenda 21: Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, 9. 199 Decreto nº 73.030, de 30 de outubro de 1973. 200 Resolução 01/86 de 23 de janeiro de 1986, art 2º., XII. 201 No Estado de São Paulo a lei n° 11.241, de 19 de setembro de 2002 dispõe sobre a

eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar. 202 C. E. F. Vian; M. A. F. D. Moraes & D. B. Gonçalves,“Progresso Técnico,” 17 comentam que

“a Polícia Ambiental estima que a prática das queimadas mate anualmente centenas de

72

Para I. C. Macedo, as vantagens advindas do etanol de cana-de-açúcar

são relevantes para a preservação do meio ambiente, uma vez que:

“Os produtos energéticos da cana, etanol e bagaço têm contribuído

largamente para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE)

no Brasil, através da substituição de combustíveis fósseis, ou seja,

gasolina e óleo combustível. O uso do bagaço, além de fornecer energia

(térmica e elétrica) para a produção de etanol, ocorre também na

produção de açúcar (substituindo o combustível fóssil que seria usado

na produção alternativa de açúcar de beterraba, ou de amido) e em

outros setores industriais (como o processamento de laranja).

[...] A relação entre a energia renovável produzida (com o etanol) e a

energia fóssil usada é de 8,9. A conseqüência é um extraordinário

desempenho do setor, evitando emissões de GEE equivalentes a 13%

das emissões de todo o setor de energia no Brasil (base 1994)”.203

Do ponto de vista do uso da água, fator essencial para a agricultura, os

impactos da cultura de cana-de-açúcar no suprimento de água são pequenos,

uma vez que, na maior parte do país se pratica a agricultura de sequeiro,

aquelas em que as culturas são desenvolvidas dependendo exclusivamente da

precipitação natural, sendo pequeno o uso de irrigação.

Esta prática é mais disseminada no Nordeste do Brasil e não se usa a

irrigação no Estado de São Paulo.

Adicionalmente, há que se considerar uma redução “na captação de

água para uso industrial, com re-utilização interna nos processos, e a prática

de devolver a água para a lavoura, nos sistemas de fertirrigação”.204

aves e pequenos roedores. Por essa razão, um levantamento nas áreas de cana queimada vem sendo realizado pela Polícia Ambiental desde 2002, e além de identificar muitos animais mortos, tem encontrado muitos outros animais com queimaduras, moribundos ou abalados com o calor e com a fumaça, mesmo nas áreas de proteção ambiental, localizadas próximas aos canaviais”.

203 I. C. Macedo, org., A Energia da Cana-de-Açúcar, 30 e 101: Estudo quantitativo completo encontra-se em Macedo, Leal & Silva, Balanço das emissões de gases do efeito estufa na produção e no uso do etanol no Brasil.

204 Macedo, org., A Energia da Cana-de-Açúcar, 105.

73

Os resíduos da cultura de cana-de-açúcar e das destilarias de álcool,

principalmente o vinhoto, eram lançados indiscriminadamente no meio

ambiente.205

A poluição com o vinhoto foi amplamente discutida no período de

implementação do Proálcool, e, considerando-se a perspectiva de aumento de

produção da cana-de-açúcar e do etanol, o Ministério do Interior proibiu o

lançamento deste resíduo nos rios, bem como regulou as situações de

exceção, a partir da safra 1979-80, mediante instrumentos legais de 1978 e

1980.206

Pesquisas realizadas posteriormente comprovaram que o efeito poluidor

da vinhaça pode ser atenuado mediante sua aplicação, “na concentração por

evaporação, na remoção de 50% da DBO207 por floculação, digestão

anaeróbica e fermentação anaeróbica, considerados inviáveis em 1984”.208

Outra preocupação a nível ambiental se refere à legislação florestal e

sua aplicação sobre as áreas de proteção ambiental, como instrumentos para a

promoção da reposição da biodiversidade vegetal. Na cultura da cana-de-

açúcar, em 2005, “na maioria dos casos, foi adotado o abandono do cultivo em

áreas consideradas de preservação permanente para recuperação espontânea

e natural”.209

Considera-se, no entanto, que a preocupação com Áreas de Proteção

Permanente – APPs tem sido uma constante, uma vez que:

“O processo de recomposição da vegetação nas APPs tem ocorrido de

forma heterogênea. De um lado temos algumas usinas e produtores que

205 Figueiredo, “O Carro a Álcool,” 35, descreveu em seu estudo que em 1934, através do

Decreto n° 23777, de 23 de janeiro de 1934, o Governo regulamentou as medidas a serem tomadas para reduzir os impactos negativos do vinhoto, decreto este que pelo seu Artigo 1°, estabelece “a obrigatoriedade do lançamento dos resíduos industriais das usinas açucareiras nos rios principais, longe das margens, em lugar fundo e correntoso”.

206 Criado pelo Ministério do Interior, pelo acolhimento de proposta do Secretário do Meio Ambiente, as Portarias n° 323 de 29 de novembro de 1978 e n° 158 de 02 de novembro de 1980, respectivamente.

207 De acordo o website da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - Cetesb, DBO equivale a Demanda Bioquímica de Oxigênio e se refere à água. “É a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável”.

208 Figueiredo, “O Carro a Álcool,” 36. 209 Macedo, org., A Energia da Cana-de-Açúcar, 118.

74

já se mobilizaram para a criação de viveiros de espécies florestais, de

forma autônoma ou em parcerias com órgãos públicos, e estão

realizando o repovoamento de suas APPs. De outro lado temos usinas e

produtores “adeptos” da tese da “regeneração natural”, que consiste, na

grande maioria dos casos, no simples abandono da área para que esta

se regenere naturalmente, o que também é permitido segundo algumas

interpretações da Lei.”210

Quanto ao impacto da cultura de cana-de-açúcar na fauna, estudo da

Embrapa211 avaliou as questões relativas a alimento, abrigo e reprodução, para

mamíferos, aves, répteis, anfíbios e invertebrados. Por uma classificação de 1

(nenhum impacto) a 5 (altíssimo impacto), observa-se impacto médio para

répteis e os demais elementos da fauna foram classificados como nenhum ou

baixo impacto.

Entre outros princípios da Declaração do Rio, consubstanciada na

Agenda 21, foram recomendados cuidados no uso de produtos químicos, entre

eles, os defensivos agrícolas. E, no cultivo da cana-de-açúcar, dados

estatísticos têm demonstrado, que, comparativamente a outros cultivos de

importância econômica, houve menor demanda de agroquímicos, “seja pela

maior reciclagem dos nutrientes, seja pela ampla adoção de métodos

biológicos de controle de pragas”.212

Segundo a ÚNICA,

“o uso de inseticidas na cana-de-açúcar no Brasil é baixo e o de

fungicidas é praticamente nulo. As principais pragas da cana são

combatidas através do controle biológico de pragas e com a seleção de

variedades resistentes, em grandes programas de melhoramento

genético”.213

210 Vian; Moraes & Gonçalves,“Progresso Técnico,” 11. 211 Embrapa, Agroecologia da Cana-de-Açúcar. 212 BNDES, CGEE, FAO & CEPAL. Bioetanol de Cana-de-Açúcar, 20. 213 Única, Sustentabilidade - Meio Ambiente.

75

O consumo de fertilizantes é baixo - aproximadamente 0,425 tonelada

por hectare, de acordo com a Única - em função da utilização de resíduos

industriais da produção do etanol e açúcar, como a vinhaça e a torta de filtro,

como fertilizantes orgânicos. Outro fator que contribui para o baixo consumo de

fertilizantes é o uso da palha da cana deixada sobre o solo após a colheita,

principalmente nas áreas mecanizadas, o que otimiza a reciclagem de

nutrientes e protegem o solo.214

Com relação à geração de emprego, estudo do BNDES/CGEE sobre

dados de 2005 aponta que a agroindústria canavieira tem sido grande geradora

de postos de trabalho, que “se distribuem de forma ampla em boa parte do

território brasileiro e cobrem uma gama de competências e formações, mas,

em sua maior parte, são empregos de baixa qualificação”.215

A maior parte dos trabalhadores tem contrato temporário, com níveis

diferenciados para os períodos de safra e entressafra, e normalmente

trabalham no plantio da cana, no trato cultural e na colheita. Estes ainda

enfrentam situações adversas, principalmente pelo sistema de pagamento por

volume de cana cortado216, além do emprego informal na agricultura – sem

carteira assinada – “o que os deixa à margem do sistema previdenciário,

sindical, de saúde e sem direito aos pagamentos legais por rescisão de

contrato”.217

Para os cortadores de cana-de-açúcar as condições de trabalho ainda

são bastante precárias. Muitas usinas e destilarias não possuem equipamentos

214 Ibid.. 215 BNDES & CGEE, orgs. Bioetanol de Cana-de-Açúcar, 209: Os dados de geração de

emprego fornecidos estão em conformidade “com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, e na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada periodicamente pelo [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] IBGE, estima-se que em 2005 havia 982 mil trabalhadores diretamente e formalmente envolvidos com a produção sucroalcooleira [Moraes (2005)]. De acordo com um estudo baseado na Matriz Insumo-Produto da economia brasileira, em 1997, para cada emprego direto nesse setor, existem 1,43 emprego indireto e 2,75 empregos induzidos [Guilhoto (2001)], o que permite estimar para 2005 um total de 4,1 milhões de pessoas trabalhando de algum modo dependentes da atividade da agroindústria da cana, caso tenham se mantido essas relações.”

216 J. Graziano da Silva no artigo “Entre a Mão Visível do Estado e a Lógica Cega dos Mercados”, 73, afirma: “Pode-se pensar um pedaço do futuro brasileiro em torno disso [agroenergia]. Mas não dá para ter esperanças nele se um bóia fria continuar recebendo um salário equivalente ao de 1969, com produtividade quatro vezes maior e, ao final, o prêmio da exclusão para o resto da vista.”

217 Vian; Moraes & Gonçalves,“Progresso Técnico,” 8.

76

de proteção individual, que são improvisados pelos próprios trabalhadores; em

geral, os cortadores de cana são transportados em caminhões de propriedade

de agenciadores de mão-de-obra, conduzidos por motoristas inexperientes ou

não habilitados;218 em usinas que queimam a cana antes de seu corte, o calor

é duplo – pela queimada e pelo sol, e, o trabalhador estará exposto à poeira e

à fuligem da cana queimada; inexistem locais para guardar marmitas, fazer

refeições e instalações sanitárias.

N. P. Alessi e V. L. Navarro, em estudo realizado sobre as condições de

trabalho de cortadores de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto – SP em

1997, descreveram em cores impressionantes os movimentos que o cortador

de cana tem de fazer:

“Durante toda a jornada o trabalhador repetirá exaustivamente os

mesmos gestos. Abraçar o feixe de cana, curvar-se, golpear com o

podão a base dos colmos, levantar o feixe, girar e empilhar a cana nos

montes. [...] Tais movimentos, conjugados com a exposição às

inclemências meteorológicas e às inerentes a própria atividade, levam o

trabalhador a diminuir seu limiar de atenção, aumentando a possibilidade

de ocorrência de acidentes, seja com o próprio podão assim como por

picadas de animais peçonhentos. E não são só os acidentes que

determinam processos de morbidade e/ou mortalidade dos trabalhos

rurais. Seu corpo, utilizado como parte das engrenagens da indústria

sucroalcooleira, rapidamente se desgasta e sofre. São comuns as

queixas de dores na coluna vertebral, principalmente lombar e torácica,

assim como dores de cabeça”.219

Outra questão preocupante se relaciona com o trabalho infantil, cujos

dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2001 e 2004,

mostraram a “participação de apenas 0,8% em 2004, em comparação com

218 A Constituição do Estado de São Paulo, em seu art. 190, por exemplo, prevê que o

transporte de "bóias-frias" deva ser feito em ônibus apropriados. 219 N. P. Alessi & V. L. Navarro, “Saúde e Trabalho Rural,“ 116-117.

77

1993, em Pernambuco, quando 25% dos cortadores de cana tinham entre 7 e

17 anos de idade”.220

Do ponto de vista de mão-de-obra especializada, tem havido uma

elevação dos requisitos de formação de pessoal pelas usinas brasileiras, em

todas as suas áreas e nos diversos níveis de responsabilidade e consequente

demanda por cursos de nível médio e superior voltados especificamente para a

produção de cana e bioetanol.221

A concentração fundiária é alta na cultura agrocanavieira, embora

existam milhares de fornecedores de cana e arrendatários. De fato, a produção

de etanol se mostra mais competitiva em escalas industriais, o que marginaliza

as pequenas destilarias e a agricultura familiar.

A heterogeneidade entre as regiões produtoras não foi amenizada pela

modernização agrícola nem pelas políticas públicas no Brasil. Ela continuou se

processando de forma desigual, em dois sentidos: “regionalmente,

beneficiando os estados do centro-sul, particularmente São Paulo; e dentro de

cada estado, atingindo preferencialmente os médios e grandes produtores e os

produtos exportáveis e demandados pelas agroindústrias”.222

Há que se considerar o fato de que as diferenças, sejam elas regionais,

sejam elas relativas à renda e ao emprego, seja na intensidade da introdução

de novas técnicas ou tecnologias, se manifestaram desde o início da cultura no

século XVI e continuam existindo, quer por motivos econômicos, sócio-

culturais, políticos, de difusão das tecnologias e técnicas ou de contexto.

O apoio histórico estatal à cultura de cana-de-açúcar, mesmo durante o

PNA, gerou a possibilidade de manutenção das dimensões de grande parte

das propriedades rurais - em São Paulo e Pernambuco, especialmente - ao

“reforçar e mesmo ampliar essa estrutura e essa concentração. [...] Em outros

termos, predomina a propriedade industrial sob o controle do proprietário

fundiário”.223

220 BNDES & CGEE, orgs. Bioetanol de cana-de-açúcar, 212. 221 Ibid., 213. 222 A. Kageyama. “Alguns Efeitos Sociais da Modernização em São Paulo,” 101. 223 Ramos, Agroindústria Canavieira, 181: O autor esclarece “Evidentemente, não se está

afirmando que a característica mais marcante da estrutura fundiária no Brasil – sua extrema concentração – se deva exclusivamente ao complexo canavieiro. Mas, não pode haver

78

Outro fator que contribuiu para essa heterogeneidade foi o crédito estatal

subsidiado distribuído de forma desigual para a agropecuária brasileira, “seja

em termos de regiões atingidas, de culturas beneficiadas, ou ainda de

produtores que tiveram acesso a ele”.224

O período de desregulamentação do setor sucroalcooleiro não alterou as

diferenças, dividindo o setor pelas “características geográficas de suas

empresas, as ligações políticas da sua base e segundo a força dos seus

capitais”.225 Houve uma crescente participação do Centro-Sul na produção, em

detrimento do Nordeste, e mesmo entre os municípios paulistas, há uma

diferenciação na produtividade.

Apesar do processo de desconcentração/descentralização técnica desde

o início dos anos 1990, e também uma centralização/concentração de capitais,

algumas unidades pequenas chegaram a obter um rendimento superior às

unidades maiores, mesmo sem a adoção tão intensa de tecnologias

poupadoras de mão-de-obra, como a mecanização da colheita e a automação

industrial.226

Se por um lado, temos a compreensão de como se desenvolveu a

produção do álcool no Brasil e sua utilização como combustível em veículos

automotivos, temos a possibilidade de nos aproximarmos daquelas inovações

que podem ter sido objeto ou não de patentes ou proteção de cultivares.

Por outro lado, a tentativa de reconhecimento das políticas públicas que

apontavam para o setor de ciência e tecnologia – na ausência de políticas

científicas e tecnológicas explícitas e efetivas – e dos diversos atores que

participaram do processo de implementação e consolidação do PNA,

possibilitam uma investigação adicional nas patentes e na proteção de

cultivares.

dúvida quanto à sua acentuada contribuição no processo (histórico) que permitiu a sustentação e a ampliação dessa característica”.

224 Ibid., 188. Itálico do autor. 225 C. E. F. Vian & W. Belik, “Desafios para a Reestruturação,” 158. 226 Ibid., 166-179.

79

CAP 3. PATENTES DE INVENÇÃO E PROTEÇÃO DE CULTIVARES

No Brasil uma invenção ou modelo de utilidade227 para ser patenteável

precisa se constituir em uma novidade, em uma atividade inventiva e ter

aplicabilidade industrial.

Somente se trata de uma novidade quando não estiver compreendida no

estado da técnica, ou seja, quando não tiver se tornado acessível ao público

antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral,

por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior. 228

Para ser patenteável deve ser dotada de uma atividade inventiva que

não decorra de maneira evidente ou óbvia da prática existente.

E o último requisito é de ser suscetível de aplicação industrial para ser

utilizado ou produzido em qualquer tipo de indústria.229 O termo “aplicação

industrial” pode ser referir à indústria propriamente dita, às indústrias agrícolas

e extrativas e a todos os produtos manufaturados e naturais, ou seja, qualquer

atividade que pertença ao campo prático e útil - e não a um princípio abstrato.

De forma a não prevalecer nenhuma dúvida na matéria a ser

patenteada, a legislação definiu o que não é considerado invenção ou modelo

de utilidade, tais como: (i) descobertas, teorias científicas e métodos

matemáticos; (ii) concepções puramente abstratas; (iii) esquemas, planos,

princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos,

publicitários, de sorteio e de fiscalização; (iv) as obras literárias, arquitetônicas,

artísticas e científicas ou qualquer criação estética; (v) programas de

computador em si; (vi) apresentação de informações; (vii) regras de jogos; (viii)

técnicas e métodos operatórios, bem como métodos terapêuticos ou de

diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e (ix) o todo ou parte

de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou

ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser

vivo natural e os processos biológicos naturais.230 Além disso, se inclui nos

227 Conforme a Lei n° 9.279 de 1996, art. 9, um modelo de utilidade é um objeto de uso prático

que apresente nova forma ou disposição que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.

228 Lei n° 9.279 de 1996, art. 11, Parágrafo 1º.- “[...] ressalvado o disposto nos arts. 12,16 e 17”. 229 Lei n° 9.279 de 1996, arts. 8, 11, 13 e 15. 230 Lei n° 9.279 de 1996, art. 10.

80

itens não patenteáveis (a) as substâncias, matérias, misturas, elementos ou

produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades

físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação,

quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e (b) o todo ou parte

dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos

requisitos de patenteabilidade e que não seja mera descoberta.231

A patente de invenção vigora pelo prazo de 20 anos e a de modelo de

utilidade pelo prazo de 15 anos a contar da data do depósito do pedido de

patente.232

Uma vez concedida a patente, seu titular poderá realizar contrato de

licença para exploração da invenção ou do modelo de utilidade.233

É interessante observar que, em caso do inventor se utilizar dos direitos

de patente de forma abusiva ou praticar atos de abuso de poder econômico; se

não a fabricar e se a comercialização não satisfizer as necessidades do

mercado, a legislação prevê uma licença compulsória acionado pelo Governo e

que autoriza um terceiro a explorar o objeto da patente sem o consentimento

prévio do detentor da mesma.234

Como a legislação de patentes não protege os investimentos no

desenvolvimento de novas variedades vegetais e impede a comercialização de

variedades protegidas, por parte de terceiros não autorizados, foi criada a Lei

de Cultivares, para estimular as pesquisas, uma vez que ela abrange o material

de reprodução ou multiplicação comercial da cultivar em questão, em todo o

território brasileiro, pelo prazo de 15 anos para a cana-de-açúcar, contados a

partir da data de concessão do Certificado Provisório.235

Para fins de nosso estudo, a questão da propriedade intelectual na

forma de patentes de invenção e proteção de cultivares, cujos dados de análise

contemplam o período de 1980 a 2005, deve ser analisada tendo em vista o

231 Lei n° 9.279 de 1996, art. 18. 232 Lei n° 9.279 de 1996, art. 40. 233 Lei n° 9.279 de 1996, art. 61. 234 Lei n° 9.279 de 1996, art. 68. 235 Há uma exceção no prazo para videiras, árvores frutíferas, florestais e ornamentais, cuja

duração é de 18 anos, também contados a partir da data de concessão do Certificado Provisório.

81

Código de Propriedade Industrial, Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de 1971236,

a Lei nº 9.279 de 14 de maio de 1996 e a Lei de Proteção de Cultivares, Lei

nº 9.456, de 25 de abril de 1997.

Além disso, o Brasil como signatário do Acordo TRIPS, que relaciona o

comércio internacional com os direitos de propriedade intelectual, tem todo seu

corpo jurídico regulamentado por este acordo no âmbito da OMC, desde 1994.

Para esta tese, a pesquisa documental foi realizada nas duas

instituições responsáveis pela questão da propriedade intelectual para nosso

objeto de pesquisa: o INPI vinculado ao Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior – MDIC e o SNPC do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento - MAPA.

Relativamente à propriedade industrial serão tratadas exclusivamente as

patentes de invenção. Com esta delimitação de nosso objeto de pesquisa,

foram coletados registros constantes do banco de dados do Instituto Nacional

de Propriedade Industrial, mediante os seguintes critérios:

Estudo de patentes concedidas pelo Governo entre 1980-2005 (25

anos) para a cana-de-açúcar e etanol combustível (álcool anidro e

hidratado). As patentes de cana-de-açúcar foram selecionadas em

função de considerá-las matéria-prima para a produção do etanol e

em função de sua qualidade interferir nos custos e na produção do

combustível.

Foram pesquisados 1.204 processos no INPI, durante o período de

julho de 2009, com palavras chave: cana-de-açúcar, etanol, álcool

hidratado, álcool combustível, etanol combustível, etanol cana-de-

açúcar, álcool anidro e vinhoto no campo Resumo do Processo de

Patente. Adicionalmente, foi realizada uma pesquisa pelo nome de

empresas e institutos de pesquisa, no campo Nome do Depositante

ou Nome do Inventor, constante na bibliografia consultada.

Com a coleta destes dados no INPI, a patente mais antiga está

registrada com a data de 20/08/1979 e a mais recente em

236 Lei que restringe o patenteamento de produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e

medicamentos, conforme explicitado em nosso Capítulo 2.

82

01/12/2008. No refinamento de dados, as patentes de invenção

concedidas para cana-de-açúcar e etanol combustível são atinentes

ao período 1979-2002, e, portanto, este será o nosso período de

análise dos dados.

Foram excluídos da relação de patentes de invenção aqueles

processos relacionados à cana-de-açúcar, cujos produtos podem ser

para finalidade alimentícia e farmacêutica, por não se tratarem de

objeto deste estudo.

Deste banco de dados inicial constavam modelos de utilidade e

certificados de adição que não estão contemplados em nossa

análise. O modelo de utilidade trata de objeto de uso prático com

aplicação industrial que apresente nova forma ou disposição e, o

certificado de adição do aperfeiçoamento ou desenvolvimento

introduzido no objeto de invenção. Com este recorte, nossa análise

centrou-se nas patentes de invenção, que tratam de produtos ou

processos realmente novos e passíveis de aplicação industrial.

Também foram excluídos de nossa análise aqueles pedidos de

patente que estavam em andamento durante o período de coleta e

que não possuíam um julgamento final a respeito da concessão de

patentes. O processo de concessão no Brasil tem levado em torno de

cinco anos.237

Ou seja, os dados referem-se a patentes concedidas de 1979 a 2002

- cujo processo de concessão já se concretizou e cujas datas de

depósito são consideradas como o início da concessão da patente,

uma vez que existindo o fato administrativo, a patente tem concessão

a partir da data de seu depósito. Além disso, no período em que os

dados foram levantados, os processos de patentes de nosso recorte

– ou seja, 2003 a 2005, ainda estavam em análise.

Uma restrição importante que adveio da análise dos dados é a

existência de patentes sem o nome do depositante/titular, mas que

237 A . T. Furtado, E. V. Camillo & S. A. Domingues. ”Os Setores que Mais Patenteiam no Brasil

por Divisão da CNAE.”

83

foram mantidos em nossa análise pelo seu resumo conter as

palavras-chave da pesquisa.

Processos com patentes de invenção concedidas: 141.

No website do Ministério da Agricultura, o SNPC tem cadastradas 57

proteções definitivas, que foram selecionadas para análise, conforme sua

concessão tenha sido realizada até dezembro de 2005. 3.1. Análise Geral das Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI

De acordo com nosso critério inicial apresentado nos capítulos

anteriores desta tese, nosso corte temporal para a análise das patentes de

invenção concedidas pelo INPI contempla o período do PNA (de 1975 a 1989)

e o da desregulamentação da economia, a partir de 1990, que serão

destacadas em nossa análise:

a) Do período que vai de 1975 a 1989 – Proálcool:

1ª fase: 1975-1978: adição de álcool anidro à gasolina;

2ª fase: 1979-1985: a de carros movidos exclusivamente a álcool;

3ª fase: 1986-1989: fase de estagnação e reestruturação do PNA.

b) A partir de 1990 quando o Governo passa a ter um papel mais

indutor do que regulador.

Assim, as quantidades de patentes de invenção concedidas pelo INPI,

de 1979 a 2002, apresentam o seguinte comportamento, ilustrado no Gráfico-

01:

84

Gráfico 01- Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI –

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

Fonte: INPI (elaboração própria)

Podemos observar que os anos 1982 a 1984 - durante a 2ª fase do

Proálcool - houve um maior volume de patentes concedidas, o que pode indicar

condições favoráveis para o desenvolvimento de novos inventos, embora esta

fase tenha contemplado o auge e a crise do Proálcool.

Destaque-se um aumento representativo de patentes de invenção de

1981 a 1982, quando muitas novas destilarias autônomas foram constituídas

por incentivo governamental, levando a um aquecimento do mercado,

principalmente aquele relacionado às indústrias de bens de capital de

equipamentos sucroalcooleiros.

Se por um lado há um novo mercado comprador, por outro lado, novas

demandas pressionam os fabricantes de equipamentos para a introdução de

melhorias em seus produtos.

O mercado de consumo foi constituído, de fato, com a adesão das

montadoras na construção de motores do ciclo Otto totalmente a álcool e com

atrativos governamentais como “fixação do preço do álcool em patamar nunca

superior a 59% do preço da gasolina e a redução do IPI dos veículos movidos

exclusivamente a álcool hidratado; além de uma menor taxa de

85

licenciamento”238 que seduziram os consumidores finais, pelas condições

ofertadas.

Mas o período de crise do Proálcool, a partir de 1985, pode ter

contribuído para a diminuição de solicitação de patentes de invenção de cana-

de-açúcar e etanol durante os anos de 1985 a 1987. Este foi um período

caracterizado por cortes nos financiamentos subsidiados, tanto para os antigos

quanto para os novos empresários do setor, e também pela crise de

abastecimento do álcool em 1989 que afetou os consumidores de veículos a

álcool, em intermináveis filas nos postos de abastecimento.

Além destes fatores há de se considerar que no mercado de petróleo, a

diminuição dos preços internacionais e o aumento de produção nacional239

levaram o Governo a reduzir o apoio ao Proálcool.

No período de desregulamentação da economia observa-se que o

volume de patentes de invenção concedidas tem um aumento significativo de

1992 a 1993, seguida de uma queda até 1995 e posterior recuperação no

número de patentes.

Estes dados permitem inferir o reflexo de novas regras no mercado

sucroalcooleiro, uma vez que a nova fase da economia passa a ser regida

pelas leis de mercado, ou seja, sem a presença reguladora do Governo nos

preços, mas também sem a proteção governamental de escoamento dos

estoques240. Portanto, houve a necessidade de uma reorganização no setor

para manter seus níveis de competitividade.

No entanto, devem ser levadas em consideração as restrições

apresentadas nos capítulos anteriores desta tese, uma vez que os dados

numéricos da Tabela-01 não refletem a valoração de cada uma das patentes.

Em termos de volume, 52,5% das patentes de invenção de cana-de-açúcar

238 E. R. Pelin, Avaliação Econômica, 1. 239 Em 1977 deu-se o início da exploração comercial da Bacia de Campos. 240 J. G. Baccarin, “A Desregulamentação,” 1-2, observa que os empresários e seus

representantes políticos atuaram no sentido de haver uma certa “regulamentação” no setor que garantisse a produção de etanol, posteriormente transformada em legislação. Assim, aumentou-se a mistura álcool/gasolina de 20% a 24% e foi criada a Lei do Álcool para taxar o consumo da gasolina em benefício do álcool e criar uma fonte específica de recursos públicos para financiamento da produção e da estocagem do álcool combustível e da cana-de-açúcar.

86

foram concedidas no período da desregulamentação, comparativamente aos

47,5% do período de vigência do Proálcool.

Tabela 01 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI –

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

1.979 1 0,7%

1.980 4 2,8%

1.981 4 2,8%

1.982 16 11,3%

1.983 11 7,8%

1.984 9 6,4%

1.985 5 3,5%

1.986 5 3,5%

1.987 3 2,1%

1.988 7 5,0%

1.989 2 1,4%

Subtotal Proálcool 67 47,5%

1.990 7 5,0%

1.991 3 2,1%

1.992 5 3,5%

1.993 13 9,2%

1.994 8 5,7%

1.995 4 2,8%

1.996 8 5,7%

1.997 8 5,7%

1.998 7 5,0%

1.999 5 3,5%

2.000 2 1,4%

2.001 3 2,1%

2.002 1 0,7%

Subtotal Desregulamentação 74 52,5%

Total 141 100,0%

Patentes de Cana e Etanol

Fonte: INPI

87

É de nosso interesse ainda, conhecer de onde provêm os

depositantes/titulares de patentes, uma vez que esses dados podem apontar

onde está sendo realizada a pesquisa que produziu a patente. O banco de

dados elaborado a partir dos dados do INPI permitiu a agregação por

nacionalidade brasileira e de estrangeiros, conforme apresentado na tabela a

seguir:

Tabela 02 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por País de Origem do Depositante -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Brasil 49 63,6% 47 69,1% 96 66,2%Brasil e Alemanha 1 1,3% 0 0,0% 1 0,7%Estrangeiros 19 24,7% 21 30,9% 40 27,6%Sem Identif. 8 10,4% 0 0,0% 8 5,5%Total 77 100,0% 68 100,0% 145 100,0%

TotalProálcool Desregulamentação

Fonte: INPI

Obs.: Sem Identif. significa que a origem do depositante não foi informada

Ao considerar o país de origem do depositante ou titular da patente de

invenção de cana-de-açúcar e etanol, observa-se um predomínio de

depositantes/titulares de patentes de nacionalidade brasileira, tanto no período

de vigência do Proálcool, 63,6% das patentes concedidas de cana-de-açúcar e

Etanol, quanto durante o período de desregulamentação, 69,1%.

Outro dado interessante mostra uma patente concedida na fase do

Proálcool de uma parceria entre Brasil e Alemanha. Esta patente refere-se à

uma associação entre a Copersucar e Gesellschaft Fur Biotechnologische

Forschung MBH, para “processo de fermentação de melaço utilizando-se

bactérias formadoras de acetona e butanol como produtos de fermentação”.241

Ao representar estes dados graficamente temos uma visualização

melhor da posição do número de patentes de invenção de

depositantes/titulares brasileiros e estrangeiros em ambos os períodos de

análise:

241 Patente de invenção PI9000894-4.

88

Gráfico 02- Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por País de Origem do Depositante -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Brasil Brasil e Alemanha

Estrangeiros Sem Identif.

Proálcool

Desregulamentação

Fonte: INPI

Entre os estrangeiros, destacam-se as patentes de invenção de cana-

de-açúcar e etanol concedidas a depositantes dos Estados Unidos e da

Alemanha. Juntos, detêm 9 patentes no período do Proálcool, 64,3% do total

de patentes concedidas para estrangeiros - e 11 patentes no período da

desregulamentação, 42,3% do total de patentes concedidas para estrangeiros.

Ao trazer o foco para os depositantes/titulares brasileiros, interessou-

nos, também, saber se existe uma unidade da federação em que se

concentram as pesquisas ou se elas ocorrem de maneira generalizada no país.

Para tanto, foi elaborada a seguinte tabela dos dados advindos de nossa

pesquisa no INPI:

89

Tabela 03 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Estado da Federação

Brasileira- Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

AL 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%BA 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%ES 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%MG 0 0,0% 2 2,7% 2 1,4%PB 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%PR 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%RJ 7 10,4% 0 0,0% 7 5,0%SP 34 50,7% 42 56,8% 76 53,9%SP E DF 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%SP E RJ 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%Total Brasil 45 67,2% 47 63,5% 92 65,2%Estrangeiros 14 20,9% 26 35,1% 40 28,4%Sem Identif. 8 11,9% 0 0,0% 8 5,7%Parc Brasil Alemanha 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%Total 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Proálcool Desregulamentação Total

Fonte: INPI

Obs.: Sem Identif. Significa que origem do depositante não foi informada

Assim, há uma concentração de depositantes/titulares sediados no

Estado de São Paulo, tanto na fase do Proálcool, 50,7%, quanto na de

desregulamentação, 56,8%.

Estes dados corroboram as análises realizadas nos capítulos anteriores

sobre a preponderância do Estado de São Paulo na produção sucroalcooleira,

principalmente em função da Copersucar e da Dedini.242

A seguir, nosso gráfico mostra a participação de cada Estado da

federação ao considerarmos somente os depositantes/titulares brasileiros:

242 Os dados sobre os maiores patenteadores por Estado da Federação Brasileira encontram-

se apresentados na Tabela 08.

90

Gráfico 03 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Estado da Federação Brasileira -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

ES2,2%

PB2,2%

PR2,2% RJ

15,6%

SP75,6%

SP E RJ2,2%

Proálcool

AL2,1%

BA2,1%

MG4,3%

SP89,4%

SP E DF2,1%

Desregulamentação

Fonte: INPI

Ao se considerar somente as patentes concedidas a

depositantes/titulares brasileiros, no período do PNA, São Paulo aparece com

75,6% seguida do Rio de Janeiro com 15,6%, e na fase de desregulamentação

São Paulo, com 89,4% aparece seguida de Minas Gerais, com 4,3%, conforme

nosso Gráfico-03.

Outra variável que nos interessa analisar é a referente a personalidade

jurídica do depositante/titular da patente de invenção. Assim, os dados foram

agregados na Tabela-04 e representados em forma gráfica, a seguir:

91

Tabela 04 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Pessoas Físicas e Jurídicas -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Pessoa Física 5 7,5% 11 14,9% 16 11,3%Pessoa Jurídica 55 82,1% 63 85,1% 118 83,7%Sem Identif. 7 10,4% 0 0,0% 7 5,0%Total 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Proálcool Desregulamentação Total

Fonte: INPI

Obs.: Sem Identif. Significa que Depositante/Titular está em branco

Gráfico 04 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Pessoas Física e Jurídica -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Pessoa Física7,5%

Pessoa Jurídica82,1%

Sem Identif.10,4%

Proálcool

Pessoa Física14,9%

Pessoa Jurídica85,1%

Desregulamentação

Fonte: INPI

92

Dentre as patentes de invenção concedidas para cana-de-açúcar e

etanol, observa-se que a grande maioria dos depositantes/titulares é composta

por pessoas jurídicas, seja na fase do Proálcool, seja na fase de

desregulamentação, com 82,1% e 85,1%, respectivamente.

É de nosso interesse, ainda, conhecer as áreas de ciência e tecnologia

em que foram concedidas patentes de invenção para a cana-de-açúcar e

etanol, de forma a evidenciar quais as áreas de maior interesse de pesquisa no

setor sucroalcooleiro.

A Classificação Internacional de Patentes (CIP) é utilizada

internacionalmente para indexação de documentos de patentes de invenção e

modelo de utilidade e foi instituída em 1971 pelo Acordo de Estrasburgo. A

administração desse conjunto de áreas é de responsabilidade da OMPI, que

gerencia as indicações de atualização pelos subsídios fornecidos pelos

escritórios de patentes dos Estados-Membros que aderiram ao Acordo, de

forma a proporcionar uma uniformidade nos dados e incentivar que todos usem

os mesmos critérios.

Desta forma, o Brasil como signatário do Acordo de Estrasburgo, utiliza

a CIP, cujas seções previstas no Manual da OMPI são:

A. Necessidades Humanas

B. Operações de Processamento; Transportes

C. Química; Metalurgia

D. Têxteis; Papel

E. Construções Fixas

F. Engenharia Mecânica; Iluminação; Aquecimento; Armas; Explosões

G. Física

H. Eletricidade

Sendo que cada Seção está subdividida em: Classe, Subclasse, Grupo

Principal e Subgrupo.243

243 Para nosso estudo foi utilizado o CIP7, em vigor de 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro

de 2005.

93

De acordo com a classificação feita pelo INPI, uma patente de invenção

pode estar classificada em vários códigos. Para fins deste estudo estaremos

usando somente o primeiro código adotado na patente, quando da ocorrência

de várias classificações.

Nosso conjunto de dados mostra que 73,0% das patentes concedidas

para cana-de-açúcar e etanol foram classificadas pelo INPI. E dentro destas,

agrupamos os dados referentes a patentes de invenção conhecidas pelas

seções do CIP, exibidos na Tabela-05 a seguir:

Tabela 05 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação Internacional de

Patentes - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Classificação Internacional de Patentes Proálcool Desregulamentação

A - Necessidades Humanas 4 6,0% 17 23,0% 21 14,9%

B - Operações de Processamento; Transportes 12 17,9% 19 25,7% 31 22,0%

C - Química; Metalurgia 11 16,4% 19 25,7% 30 21,3%

D - Têxteis; Papel 0 0,0% 2 2,7% 2 1,4%

E - Construções Fixas 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

F - Engenharia Mecânica; Iluminação; Aquecimento; Armas; Explosões 6 9,0% 6 8,1% 12 8,5%

G - Física 1 1,5% 3 4,1% 4 2,8%

H - Eletricidade 0 0,0% 2 2,7% 2 1,4%

Subtotal Patentes com CIP 34 50,7% 69 93,2% 103 73,0%

Patentes sem CIP 33 49,3% 5 6,8% 38 27,0%

Total 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Total

Fonte: INPI

Ao considerar o agrupamento mais geral, o de seção, observa-se que no

período do Proálcool há uma concentração na Seção B – Operações de

Processamento, Transportes e na Seção C – Química e Metalurgia, com 17,9%

e 16,4%, respectivamente.

Na fase de desregulamentação estas duas seções são as mais

concentradas e representam, cada uma, 25,7%, mas são seguidas de perto

pela Seção A – Necessidades Humanas, sendo uma das desagregações a

Agricultura, com 23,0% do total de patentes de invenção concedidas.

O Gráfico-05 propicia uma melhor visualização destes dados.

94

Gráfico 05 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação Internacional de

Patentes - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

02468

101214161820

Proálcool

Desregulamentação

Fonte: INPI

Ao observar que as seções A, B e C continham o maior volume de

patentes concedidas, detalhamos cada uma delas para conhecer de forma

mais aproximada, suas finalidades.

A Seção A - Necessidades Humanas possui 13,5% do total relacionado

a agricultura, conforme se pode observar na Tabela-06.

Tabela 06 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por Classificação Internacional de

Patentes da Seção Necessidades Humanas - Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Classificação Internacional de Patentes - Classes Desregulamentação

A01Agricultura; silvicultura; pecuária; caça; captura em armadilhas; pesca 3 4,5% 16 21,6% 19 13,5%

A23

Alimentos ou produtos alimentícios; seu beneficiamento, não abrangido por outras classes 1 1,5% 1 1,4% 2 1,4%

Total Seção Necessidades Humanas 4 6,0% 17 23,0% 21 14,9%

Totalde Patentes de Invenção com CIP 34 50,7% 69 93,2% 103 73,0%

Total de Patentes Concedidas 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Proálcool Total

Fonte: INPI Obs: A classificação A23 representa os seguintes títulos de patente: Em 1985: unidade de produção de ração animal a partir de bagaço de cana-de-açúcar Em 1998: aparelho e processo para extrair caldo de Cana-de-açúcar e moinho

95

E pode também ser observado que a maior variação entre o período do

Proálcool e o da desregulamentação foi na agricultura, que salta de 3 para 16

patentes, entre os dois períodos.

A Seção B- Operações de Processamento e Transportes possui o maior

volume de patentes concedidas no período na classificação B60 – Veículos em

Geral, totalizando 2,8%, seguido de B01 – Processos ou aparelhos físicos ou

químicos em geral, conforme se pode observar na Tabela-07.

Tabela 07 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por CIP da Seção Operações de

Processamento e Transportes – Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Classificação Internacional de Patentes - Classes Desregulamentação

B01Processos ou aparelhos físicos ou químicos em geral 0 0,0% 3 4,1% 3 2,1%

B02

Trituração, pulverização ou desintegração; beneficiamento preliminar do grão antes da moagem 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

B04Aparelhos ou máquinas centrífugas para efetuar processos físicos ou químicos 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

B21Trabalho mecânico de metais sem remoção essencial do material; funcionamento de metais 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

B22 Fundição; metalurgia de pós metálicos 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

B30 Prensas 0 0,0% 2 2,7% 2 1,4%

B60 Veículos em geral 0 0,0% 4 5,4% 4 2,8%

Total Seção Operações de Proc. e Transportes 1 1,5% 12 16,2% 13 9,2%

Totalde Patentes de Invenção com CIP 34 50,7% 69 93,2% 128 90,8%

Total de Patentes Concedidas 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Proálcool Total

Fonte: INPI

Os dados apresentados nesta tabela mostram 1 patente concedida no

período do Proálcool e 12 patentes no de desregulamentação, o que

representa um crescimento bastante significativo de um período para outro. Há

que se observar aquelas invenções relacionadas a processos ou aparelhos

físicos ou químicos em geral (B01), as prensas (B30) e os veículos em geral

(B60).

Na seção Química e Metalurgia também detalhamos as patentes de

invenção pelas suas respectivas classes, conforme a Tabela-08 a seguir:

96

Tabela 08 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI por CIP da Seção Química e

Metalurgia: Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Classificação Internacional de Patentes - Classes

C01 Química inorgânica 1 1,5% 1 1,4% 2 1,4%

C02Tratamento de água, de águas residuais, de esgotos, ou de lamas e lodos 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

C04Cimentos; concreto; pedra artificial; cerâmica; refratários 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

C05 Fertilizantes; sua fabricação 1 1,5% 1 1,4% 2 1,4%

C07 Química orgânica 1 1,5% 15 20,3% 16 11,3%

C08

Compostos macromoleculares orgânicos; sua preparação ou seu processamento químico; composições baseadas nos mesmos 0 0,0% 3 4,1% 3 2,1%

C10

Indústrias do petróleo; do gás ou do coque; gases técnicos contendo monóxido de carbono; combustíveis; lubrificantes; turfa 3 4,5% 6 8,1% 9 6,4%

C12

Bioquímica; cerveja; álcool; vinho; vinagre; microbiologia; enzimologia engenharia genética ou de mutação 4 6,0% 5 6,8% 9 6,4%

C13 Indústria do açúcar 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Total Seção Química e Metalurgia 11 16,4% 33 44,6% 44 31,2%

Total de Patentes de Invenção com CIP 34 50,7% 69 93,2% 103 73,0%

Total de Patentes Concedidas 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Proálcool Desregulamentação Total

Fonte: INPI

Assim pode-se observar que na fase do PNA, as patentes se

concentraram nas classes C12 e C10, enquanto no período de

desregulamentação há uma concentração na classe relacionada à Química

Orgânica (classe C07) seguida pela classe C10.

Esta variação entre as classes da Seção C permite inferir uma nova

tendência de pesquisa científica e tecnológica, ao considerarmos que há um

aumento significativo no número de patentes classificadas como de Química

Orgânica, de um período para outro.

Uma vez mapeadas estas características sobre volume de patentes

comparativamente ao período do Proálcool e ao de desregulamentação e

algumas características dos depositantes/titulares, bem como a área de

pesquisa, iremos a seguir destacar os maiores detentores de patentes no

período, na Tabela-09 a seguir:

97

Tabela 09 – Maiores detentores de patentes de invenção no INPI -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Depositantes/Titulares

Copersucar (BR/SP) 21 23 16,3%

Copersucar (BR/SP) / Gesellschaft Fur Biotechnologische Forschung MBH (DE) 1

Copersucar (BR/SP) / IPT (BR/SP) (1) 1

Grupo Dedini (BR/SP) 19 19 13,5%

Unicamp (BR/SP) 4 5 3,5%

Unicamp e Petrobras (BR/SP) (2) 1

USP (BR/SP) 3 5 3,5%

USP/ESALQ/ Fund.Estudos Agrários "Luiz de Queiroz" / Usina da Barra S/A (BR/SP) 1

CNPq (BR/DF) / USP (BR/SP) 1

Petrobras (BR/SP) 3 4 2,8%

Petrobras e Unicamp (BR/SP) (2) 1

IPT (BR/SP) 1 3 2,1%

IPT e PHB Industrial S/A (BR/SP) 1

IPT e Copersucar (BR/SP) (1) 1

Bundaberg Foundry Engineers Ltd. (AU) 2 2 1,4%

Centro de Investigacion Y Asistencia Tecnica Del Estado de Queretaro, A.C. (MX) 2 2 1,4%

Zanini S/A Equipamentos Pesados (BR/SP) 2 2 1,4%

Subtotal 63 44,7%

Outros 78 55,3%

Total de Patentes Concedidas 141 100,0%

N. Patentes

Fonte: INPI

Entre os maiores depositantes/titulares com patentes de invenção para

cana-de-açúcar e etanol, as duas primeiras são empresas privadas

(Copersucar e Grupo Dedini), que juntas detêm 29,8% do total de patentes

concedidas no período.

Seguem duas universidades estaduais, a Unicamp e a USP com 3,5%

de participação cada, e depois a Petrobrás com 2,8% e o IPT com 2,1% do

total de patentes de invenção de cana-de-açúcar e etanol.

Seguem a Bundaberg Foundry Engineers Ltd. (AU), depositante/titular

australiano, o Centro de Investigacion Y Asistencia Tecnica Del Estado de

Queretaro, A.C. (MX) do México e a Zanini S/A Equipamentos Pesados

(BR/SP), todos com 1,4% do total.

A tabela ainda apresenta as parcerias realizadas em seu processo de

pesquisa e patenteamento, entre universidades e empresa pública, entre

instituto de pesquisa público e empresa privada, entre universidade e empresa

privada.

98

Um dos atores que contribuiu decisivamente para a implementação do

Proálcool foram as montadoras, conforme Quadro-01:

Quadro 01- Patentes de Invenção com Montadoras como Depositante/Titular -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Processo Ano Depositante TítuloPI8201301-2 1982 Volkswagen do Brasil S/A (BR/SP) Reservatório para combustível e processo para a

proteção do mesmo PI8205511-4 1982 Volkswagenwerk Aktiengesellschaft. (DE) Dispositivo de partida a frio para motores de

combustão interna acionados com álcool puro PI8504863-1 1985 Autolatina Brasil S.A (BR/SP) Processo e dispositivo para a partida a frio de

motores de combustão interna, do ciclo otto, movidos a álcool combustível

PI9002861-9 1990 General Motors Corporation (US) Controle de combustível para um motor de um veículo motorizado

PI9905212-1 1999 Fiat Automóveis S.A. (BR/MG) Sistema de partida a frio para motores a álcool

PI8807885-0 1990 Robert Bosch GmbH (DE)

Motor de combustão interna e método para detectar a quantidade de um combustível numa mistura num motor de combustão interna

Fonte: INPI

Entre as indústrias automobilísticas, são detentoras de patentes a

Autolatina Brasil S.A.(BR); Fiat Automóveis S.A.(BR); General Motors

Corporation (US); Volkswagen do Brasil (BR) e Volkswagenwerk

Aktiengesellschaft (DE). Em sua maioria as patentes cobrem “processo e

dispositivo para a partida a frio de motores de combustão interna, do Ciclo Otto,

movidos a álcool combustível”, como se pode ver no Quadro-01.

Embora tenham fabricados veículos automotores de passeio movido

exclusivamente a álcool, estas patentes – se foram solicitadas no Brasil – não

aparecem nos dados do INPI.

A patente de invenção concedida pelo INPI para “motor de combustão

interna e método para detectar a quantidade de um combustível numa mistura

num motor de combustão interna”, o flex-fuel, data de 1990 para o titular Robert

Bosch GmbH.

Fizeram parte ativa do processo de implementação do PNA as usinas,

associadas ou não a cooperativas244, e nos interessa saber se estas são

detentoras de patentes de invenção. Assim, conforme Quadro-02:

244 Como é o caso de várias usinas associadas à Copersucar, por exemplo.

99

Quadro 02 – Patentes de Invenção com Usinas como Depositante/Titular -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005 Processo Ano Depositante CIP DescriçãoPI8006630-5 1980 Usina Central do Parana S/A Agricultura Ind.e Com.(BR/PR)

PI8804840-3 1988 Usina Açucareira Santa Luiza Ltda (BR/SP)

PI8903744-8 1989 USP /ESALQ) / Fundação de Estudos Agrários "Luiz de Queiroz"/ Usina da Barra S/A- Açucar e Álcool (BR/SP)

C12N 1/16 ; C12P 7/06

Microorganismos ou enzimas, Suas composições; Propagação, preservação, ou manutenção de microorganismos ou tecido. Engenharia genética ou de mutações, Meios de cultura

PI9403693-4 1994 Usina São Martinho S.A. (BR/SP) C02F 11/04 Tratamento de água, águas residuais, esgotos, ou de lamas e lodos

Fonte: INPI

Os dados do INPI mostraram a participação destas usinas como

depositantes/titulares das patentes de invenção, representando 2,8% sobre o

total de patentes concedidas no período:

Usina Açucareira Santa Luiza, embora associada da Copersucar, possui

uma patente em seu nome;

Usina Central do Paraná pertencente ao Grupo Atalla;

Usina São Martinho, pertencente ao grupo São Martinho, e,

Usina da Barra, atualmente do grupo Cosan, associou-se à

Universidade de São Paulo – USP, Escola Superior de Agricultura "Luiz

de Queiroz" e Fundação de Estudos Agrários "Luiz de Queiroz" como

depositante/titular de uma patente de invenção

Um estudo mais detalhado dos dados de patentes concedidas mostra

que nem todas estão em vigor, uma vez que a legislação regulamenta seu

prazo de validade.

A extinção destas patentes segue as regras estipuladas no Código de

Propriedade Industrial - Lei n° 5.772, de 21 de dezembro de 1971 - e na Lei de

100

Propriedade Industrial - Lei nº 9.279 de 14 de maio de 1996, além das regras

do período de transição entre uma legislação e outra.245

Assim, uma patente pode ser extinta nas seguintes situações: expiração

do prazo de vigência246; pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de

terceiros; por caducidade247 ou por falta de pagamento da retribuição anual.

Em qualquer destas situações, ao ser extinto o privilégio, o objeto de

patente passa a ser de domínio público.

Assim, o banco de dados permitiu visualizar estas patentes, conforme

tabela a seguir:

Tabela 10 – Patentes de Invenção Extintas -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Tipo de Extinção

Caducidade 35 24,8%

Patente Extinta 25 17,7%

Renúncia 1 0,7%

Subtotal Patentes Extintas 61 43,3%

Patente "Sub Judice" 2 1,4%

Patentes em Vigor 80 56,7%

Total de Patentes Concedidas 141 100,0%

N. Patentes

Fonte: INPI

Do total de patentes de invenção concedidas para a cana-de-açúcar e

etanol, no período de 1980 a 2005, 43,3% estão extintas.

245 De acordo com o website do INPI, disponível em http://www.inpi.gov.br. Acessado em 01 de

agosto de 2010. 246 A Patente de Invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de Modelo de Utilidade

pelo prazo de 15 (quinze) anos contados da data de depósito (Art. 40 da Lei de Propriedade Industrial - LPI).

247 Segundo o INPI, a definição de caducidade é: “os Arts. 80 a 83 da LPI referem-se à extinção da patente pela caducidade, decorrente da falta de exploração efetiva de seu objeto. Depois da adesão do Brasil à Revisão de Estocolmo da CUP, a caducidade da patente no Brasil ficou condicionada aos casos em que a concessão de licenças compulsórias não sejam suficientes para prevenir os abusos ou desuso do titular. Antes de ser solicitada a licença compulsória não poderá ser interposta ação de caducidade de uma patente. Esta ação só poderá ser interposta depois de expirado o prazo de dois anos, contados a partir da data de concessão, da primeira licença compulsória”.

101

Como um dos usos da informação de patentes se relaciona com a

invenção que pode ser comercializada mediante extinção, interessou-nos saber

quais eram essas patentes. Assim, a Tabela-11 foi elaborada de acordo com os

dados do INPI:

Tabela 11 – Patentes de Invenção Extintas por Depositante/Titular -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Depositante/Titular

SEM DEPOSITANTE 6 4,3%

Cooperativa de Produtores de Cana de Açúcar e Álcool do Est.S.Paulo Ltda - COPERSUCAR (BR/SP) 5 3,5%

M. Dedini S/A Metalúrgica (BR/SP) 5 3,5%

Dedini S/A Adm. e Part. (BR/SP) 3 2,1%

Codistil S.A - Denini (BR/SP) / Construtora de Distilarias Dedini S/A(BR/SP) 2 1,4%

Petrobrás (BR/RJ) 2 1,4%

Zanini S/A Equipamentos Pesados (BR/SP) 2 1,4%

Subtotal de Patentes Extintas 25 17,7%

Outras Patentes Extintas 38 27,0%

Patentes em Vigor 78 55,3%

Total de Patentes Concedidas 141 100,0%

N. Patentes

Fonte: INPI

Obs.: Foram mantidos os nomes das pessoas jurídicas no caso do Grupo Dedini

Assim, o banco de dados permitiu visualizar os depositantes/titulares

que possuem o maior número de patentes de invenção extintas, sendo que em

“Outras Patentes Extintas” encontram-se todos os depositantes/titulares que

possuíam uma única patente.

Finalmente, em uma análise com dados agregados da economia e

considerando-se que os investimentos em ciência e tecnologia têm como um

dos pressupostos básicos a diminuição de custos e o aumento de

produtividade, comparamos a produção da cana-de-açúcar, do açúcar e do

álcool com as patentes de invenção no período de 1980 a 2005, conforme

Gráfico-06 a seguir:

102

Gráfico 06 – Produção Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol com Patentes de Invenção

Concedidas pelo INPI: 1980-2005

0

5

10

15

20

25

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

açuc

ar (t

on) e

álc

ool(m

3 ) / 1

06

cana

(ton

) / 1

06

patentes cana álcool açúcar

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e INPI

Obs.: As quantidades de patentes estão dimensionadas sem a proporcionalidade dos

dados da produção da cana-de-açúcar, açúcar e álcool.

Embora não seja objeto deste estudo analisar especificamente o

comportamento econômico da produção sucroalcooleira, parece não haver

uma relação direta entre a produção e a quantidade de patentes. Pode-se, no

entanto, levantar algumas hipóteses para estudos futuros.

Uma delas se refere ao fato de que o aumento no número de patentes

entre não seja um produto absorvido imediatamente pela agroindústria

sucroalcooleira. Por outro lado, há que se considerar que os dados de

produção são agregados nacionalmente, o que pode incorrer na independência

dessas variáveis, dada a heterogeneidade de produção da cana-de-açúcar no

país.

Em resumo, de nossa análise geral, pode-se caracterizar os

depositantes/titulares de patentes de invenção concedidas pelo INPI para cana-

de-açúcar e etanol como a maioria composta de pessoas jurídicas de

nacionalidade brasileira.

103

Entre as patentes de invenção concedidas pelo INPI para cana-de-

açúcar e etanol, no período de 1980 a 2005, observou-se que as três áreas de

pesquisa se concentraram em torno de: Operações de Processamento e

Transportes, Química e Metalurgia e Necessidades Humanas.

Tem destaque nas patentes de invenção as empresas privadas de bens

de capital, centros de pesquisa privados e indústria automotiva, além de

universidades e institutos públicos de pesquisa.

Dos nossos capítulos anteriores, a Copersucar com seu centro de

pesquisa e a Dedini que atua na indústria de bens de capital tiveram papel

significativo no período do PNA e também na fase de desregulamentação da

economia.

Outro setor da economia que teve um papel preponderante durante o

Proálcool foi a indústria automotiva, que contribuiu para a criação de um

mercado de consumo para o etanol combustível, tanto na produção de veículos

movidos exclusivamente a álcool quanto na produção de veículos flex-fuel.

Embora a maioria delas tenha suas matrizes fora do Brasil, 50% das patentes

de invenção concedidas pelo INPI foram para titulares brasileiros.

3.2. Propriedade Intelectual em Cultivares: Saccharum L.

A proteção jurídica de cultivares foi criada para estimular os

investimentos no desenvolvimento de novas variedades de sementes e mudas,

como é o caso da cana-de-açúcar.

A legislação brasileira define a cultivar como:

“variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja

claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem

mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja

homogênea e estável quanto aos descritores através de gerações

sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo

104

agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e

acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos”. 248

Em assim sendo, a cultivar é desenvolvida através de pesquisa, distinta

de outras variedades – seja por sua cor ou pela resistência a pragas, e deve

ser de interesse comercial.249

Neste sentido, os requisitos para a proteção da cultivar são diferentes

daqueles adotados para a patente de invenção. Para tanto, dois critérios são

adotados para as cultivares, o de homogeneidade – uma mesma variedade

vegetal tem que ter similaridades suficientes entre si, e o de estabilidade – suas

características tem de ser preservadas após várias reproduções ou

propagações.250

A proteção é conferida pelo registro da cultivar junto ao SNPC do

Ministério da Agricultura. O registro de cultivar assegura, assim, direito sobre

variedades vegetais novas obtidas a partir de processo de seleção e melhoria,

sendo que os royalties são cobrados “sobre as sementes ou mudas”251.

Através de pesquisa realizada no SNPC para a espécie Saccharum L.,

os dados levantados permitiram, para o período 1998 a 2005, elaborar Tabela-

12 a seguir:

248 Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, art. 3º, IV. 249 Araújo, Lei de Proteção de Cultivares, 23. 250 T. Fonseca, “Legislação de Patentes não Protege Vegetais.” 251 L. C. Federizzi, Revista Conselho em Revista.

105

Tabela 12 - Cultivares de Cana-de-Açúcar Protegidas no SNPC: 1998 a 2005

Titular

Agropav Agropecuária Ltda. 1 1,8%

Copersucar 34 59,6%

Variedades SP 29 50,9%

Variedades CTC 5 8,8%

Instituto Agronômico - IAC 2 3,5%

Ridesa 19 33,3%

Universidade Federal De Alagoas - Ufal 7 12,3%

Universidade Federal De São Carlos-Ufscar 10 17,5%

Universidade Federal De Viçosa-Ufv 2 3,5%

Usina da Barra S/A Açúcar e Álcool 1 1,8%

Total 57 100,0%

N. de Proteções

Fonte: SNPC

Como se pode observar, no período analisado, já na fase de

desregulamentação da economia, a maior detentora em termos de número de

proteções de cultivar de cana-de-açúcar é o Centro de Tecnologia Canavieira,

com 59,6% das proteções concedidas; seguida da Rede Interuniversitária para

o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro – Ridesa, com 33,3% das

proteções – cujos titulares da proteção são as próprias Universidades Federais

nas quais o projeto foi desenvolvido, seguida do Instituto Agronômico, com

3,5%. E, finalmente, aparecem a Agropav252 e a Usina da Barra253, com 1,8%

cada.

Como os dados se referem ao período compreendido entre 1998 e 2005,

não constam desta lista a Canavialis S/A, que possui cinco proteções

definitivas de cultivares a partir de 2008, e a Universidade Federal do Paraná,

252 A Agropav é uma empresa do grupo Equipav S.A Açúcar e Álcool, localizada na cidade de

Promissão, interior de São Paulo. Foi constituída em 1980 pela Usina Equipav que iniciou suas atividades como uma destilaria autônoma, ofertando ao mercado o álcool combustível. Disponível em http://www.grupoequipav.com.br/alcool.html. Acessado em 23 de julho de 2010.

253 Segundo o website da Única, “A Usina da Barra foi fundada em 1945 e está instalada no município de Barra Bonita, há 280 quilômetros de São Paulo” e pertence ao Grupo Cosan. Disponível em http://english.unica.com.br/associadas/show.asp?mmbCode=%7B5F60E612-F283-4BF7-8C54-AD7892E0394F%7D. Acessado em 24 de Julho de 2010.

106

do convênio com a Ridesa, que tem três pedidos de proteção de cultivares em

andamento.254

Este foi então o arranjo institucional estruturado para pesquisas em

melhoramento genético da cana-de-açúcar que permitiu suprir variedades mais

produtivas e resistentes no período, cuja participação das entidades pode ser

vista no Gráfico-07 a seguir:

Gráfico 07 - Cultivares de Cana-de-Açúcar Protegidas no SNPC: 1998 a 2005

Fonte: INPI

Considerando o papel desempenhado pela CTC, Ridesa e IAC,

conforme descritos em nosso capítulo anterior, optamos por descrever,

brevemente, alguns dos aspectos que consideramos relevantes para esta tese.

254 De acordo com o website do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, acessado em 01

de julho de 2010.

107

3.2.1. Centro de Tecnologia Canavieira - CTC

O programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar da

Copersucar teve início em 1963:

“pela coligada Cooperativa dos Usineiros do Oeste do Estado de São

Paulo – Copereste -, com sementes obtidos na Estação Experimental de

Campos, do Ministério da Agricultura, situada no Município de Campos,

RJ, e germinadas na Estação Experimental da Copereste, no Município

de Dumont, SP, cuja fundação se deu em 1956. Os clones receberam a

sigla CRP, ou seja, Campos - Ribeirão Preto”.255

O Centro de Tecnologia Copersucar foi criado em 1969, com sigla SP

para as cultivares, assessorado pelo pesquisador Albert Mangelsdorf, e em

agosto de 2004 passou a ser denominado Centro de Tecnologia Canavieira –

CTC, quando incorporou empresas e grupos produtores de cana-de-açúcar e

etanol em todo o país.

Segundo o website institucional, “sem fins lucrativos, o CTC é mantido

pelas principais usinas e associações de fornecedores do setor de cana-de-

açúcar”256, e seu orçamento para pesquisa, em 2005, era da ordem de R$ 30

milhões, cuja origem é da venda da cana produzida nas fazendas e da

contribuição dos associados.

De acordo com artigo publicado pelo Boletim Inovação Unicamp, em 5

de dezembro de 2005:

"Os associados financiam a parte de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Como pagam a contribuição associativa, não pagam por royalties.

Quando uma usina quer adquirir uma tecnologia já pronta, paga o custo

das horas de trabalho do pesquisador que vai assessorá-la na

implantação da tecnologia.

255 R. Cesnik & J. Miocque, Melhoramento da Cana-de-Açúcar, 242. 256 Website institucional da CTC, disponível em http://www.ctcanavieira.com.br, acessado em

01 de julho de 2010.

108

No período em que o CTC era da Copersucar, a empresa cobrava

royalties de quem não era associado. A política mudou com a nova

configuração do centro. "Não distribuímos variedades para quem não é

associado"”.257

As variedades do CTC que estão protegidas são denominadas SP –

indicação para Copersucar – e CTC para o Centro de Tecnologia Canavieira.

As variedades CTC protegidas são: CTC1, CTC2, CTC3, CTC4 e

CTC5.258

As variedades SP protegidas são: SP80-1816, SP80-185, SP80-3280,

SP80-3480, SP83-2847, SP83-5073, SP84-1201, SP84-1431, SP84-2025,

SP84-5560, SP85-3877, SP85-5077, SP86-155, SP86-42, SP87-344, SP87-

365, SP87-396, SP89-1115, SP90-1107, SP90-1161, SP90-1638, SP90-3414,

SP90-3723, SP91-1049, SP91-1285, SP91-1397, SP91-1597, SP91-3011 e

SP91-3440.259

3.2.2. RIDESA

A Ridesa foi formada em 1991, por um convênio firmado entre

Universidades Federais260 para incorporar as atividades do extinto Programa

Nacional de Melhoramento de Cana-de-açúcar – Planalsucar. Através da

criação do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar - PMGCA,

conduzido pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São

Carlos – UFSCar foi dada continuidade ao desenvolvimento de pesquisas com

o objetivo de melhorar a produtividade do setor.

257 J. Simões, “Orçamento do Centro de Tecnologia Canavieira.” 258 A descrição destas e outras variedades CTC em termos de características, maturação,

produtividade, morfologia, fotos e recomendação podem ser encontradas no website institucional do Centro de Tecnologia Canavieira.

259 O website institucional da Copersucar apresenta uma descrição de algumas das variedades SP listadas, como a SP89-1115, SP90-3414, SP91-1049, entre outras, além de disponibilizar, somente para seus clientes, publicações técnicas.

260 Universidade Federal do Paraná - UFPR, Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, Universidade Federal de Viçosa - UFV, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Universidade Federal de Sergipe - UFS, Universidade Federal de Alagoas - UFAL e Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. Em 2004 foi incorporada a Universidade Federal de Goiás-UFG e em 2007, a Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT em 2007.

109

A sigla utilizada pela Ridesa foi a RB (República Federativa do Brasil),

anteriormente usada pelo Planalsucar e por ela registrada no Germ Plasm

Committee of International Society of Sugar Cane Technologists.261

De acordo com o website institucional da Ridesa:

“o ponto de partida do Programa de Melhoramento Genético da Cana-

de-Açúcar da RIDESA é o banco de germoplasma localizado na Estação

de Floração e Cruzamento da Serra do Ouro (UFAL), no município de

Murici, Estado de Alagoas. Naquele banco estão reunidos mais de 2000

genótipos, entre cultivares utilizados no país, clones, outras espécies

relacionadas ao gênero Saccharum e cultivares importadas das

diferentes regiões canavieiras do mundo”.262

Com recursos limitados que provêm basicamente da iniciativa privada, o

convênio formado pelas Universidades Federais, tem sido responsável por

quase 60% da produção total do país.

A Ridesa tem diversas publicações sobre suas pesquisas com as

cultivares, entre elas, uma disponível em seu website, em conjunto com o

Ministério da Ciência e Tecnologia, FINEP e CNPq, denominada Liberação

Nacional de Novas Variedades “RB” de Cana-de-Açúcar, de 2010, cujas

descrições foram realizadas pelas cultivares por Universidades Federais

associadas.

Assim, as seguintes variedades levantadas no banco de dados da

SNPC, durante o período de análise desta tese, têm como titulares:

Universidade Federal de Alagoas - UFAL: RB842021, RB8495,

RB855463, RB855511, RB92579, RB931530 e RB93509;

Universidade Federal de São Carlos - UFSCar: RB835054,

RB845197, RB845210, RB845257, RB855035, RB855036,

RB855113, RB855536, RB855546 e RB865230;

261 Cesnik & Miocque, Melhoramento da Cana-de-Açúcar, 255. 262 Website intitucional da Ridesa, disponível em http://www.ridesa.com.br/index.htm. Acessado

em 24 de julho de 2010.

110

Universidade Federal de Viçosa - UFV: RB867515 e

RB928064.263

3.2.3. Instituto Agronômico – IAC

O Instituto Agronômico de Campinas - IAC é órgão de pesquisa da

Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – APTA264, da Secretaria de

Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com sede em Campinas.

Foi fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, quando foi denominada

Estação Agronômica de Campinas e, em 1892, passou para o Governo do

Estado de São Paulo.265

Em seu website oficial, o programa IAC nos anos 1970 e 1980,

reconhece que não foi redimensionado para atender as novas demandas da

canavicultura, consolidadas com o Proálcool, “sucumbindo diante da grande

expressão e realizações efetivadas pelo Planalsucar (programa federal) e

Copersucar (programa privado)”, embora tenha sido o principal responsável

pela introdução e estudo de germoplasma de cana-de-açúcar no País, durante

os anos 1933 a 1970.266

A partir de 1995 criou “novas estratégias de estudo para o seu projeto de

melhoramento, focando principalmente nas características peculiares das

regiões identificadas como importantes ou de potencial importância no Brasil”

com a introdução de ensaios nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás,

Paraná, Maranhão, Tocantins, Bahia, Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do

Sul, os quais contam com o apoio de quase uma centena de empresas

agroindustriais e associações de canavicultores.267 O Programa Cana:

“interage com várias outras áreas como Biotecnologia, Ciências do solo

– caracterização e qualificação de ambiente, fertilidade do solo e

263 Tem proteção provisória a Universidade Federal do Paraná, com as variedades: RB946903,

RB956911 e RB966928. 264 Criado em 2005. 265 Website do IAC, disponível em http://www.iac.sp.gov.br, acessado em 24 de julho de 2010. 266 Ibid. 267 Ibid.

111

nutrição de plantas, Climatologia, Fisiologia, Fitopatologia, Entomologia,

Economia, Geoestatística e Mecanização e Automação, Estatística e

Sociologia com o intuito de promover avaliações criteriosas e seguras

nas fases de seleções de seus clones, podendo desta maneira lançar no

mercado variedades mais produtivas e conseqüentemente mais

competitivas”.268

O IAC atualmente engloba sete Estações Experimentais, empresas

conveniadas, cooperativas de fornecedores de cana, Copersucar, CTC,

Universidades (UNESP, Unicamp, USP), institutos de pesquisa do Estado de

São Paulo e Embrapa, em diversas linhas de atividade, mas trabalhando

conjuntamente.269 As variedades do IAC protegidas são: IAC86 2210 e IAC87

3396.270

A divulgação científica e tecnológica sobre o melhoramento genético das

variedades de cana-de-açúcar tem sido realizada mediante publicações de

estudos de caso e projetos de pesquisa das diversas universidades brasileiras,

muitas vezes em conjunto com centros de pesquisa privados, como é o caso

do CTC.

Pesquisas geradas a partir do banco de dados do SUCEST também tem

sido objeto de pesquisa, sendo que várias dessas publicações podem ser

encontradas na Scielo, como por exemplo, artigo sobre o raquitismo de

soqueira, escrito por pesquisadores da UNESP, Instituto Biológico e CTC271.

A FAPESP, por financiar diversos projetos de pesquisa, tem procurado

divulgar, através de sua revista institucional, aqueles de maior projeção

nacional ou internacional, como o estudo do Genoma Cana.

268 Ibid. 269 Website disponível em http://iac.weblevel.com.br, acessado em 24 de julho de 2010. 270 Várias referências sobre estas variedades podem ser encontradas no website institucional

do IAC, disponível em http://www.iac.sp.gov.br, e em sua Revista O Agronômico. 271 M. I. T. Ferro et al. “Análise do Perfil de Expressão dos Genes da Cana-de-Açúcar.”

112

3.3. Patentes de Invenção das Indústrias de Bens de Capital – Equipamentos para Produção Sucroalcooleira

Os atores representativos das empresas privadas que viabilizaram o

processamento da cana-de-açúcar e do etanol foram as empresas de bens de

capital, produtoras de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, que estão

presentes na economia brasileira desde os anos 1920.

Originalmente estas empresas eram pequenas oficinas de mecânica e

caldeiraria, e utilizaram tecnologias de uso difundido. De acordo com B. Negri:

“A única empresa de grande porte cuja posição foi garantida e reforçada

até o final dos anos 60 foi, sem dúvida, a M. Dedini, que em conjunto

com a Mausa e Codistil, dominou o setor ao longo desse período”.272

Até os anos 1950 a Dedini detinha mais de 95% da produção nacional e

no final dos anos 1960, diversas empresas de menor porte entraram no

mercado, a maior parte fundadas por ex-funcionários e técnicos da M. Dedini,

que “após longos anos de atividades nessa empresa, puderam assimilar os

processos de produção de diversos equipamentos para o setor”.273

Essas novas empresas se instalaram em Piracicaba – SP, Sertãozinho –

SP, Campos – RJ e algumas cidades nordestinas. Exceto a Fives-Lille do

Nordeste, empresa internacional francesa produtora de equipamentos para o

setor açucareiro, as demais usaram tecnologia de domínio público.274

Até 1975 duas empresas eram especializadas na produção de

destilarias de álcool: a Codistil e a Conger. A Codistil é uma empresa do Grupo

Dedini e a Conger275 iniciou, em 1970, a produção de destilarias de álcool,e

para atender o Proálcool fez um consórcio de produção com a Zanini.

272 B. Negri, “A Indústria Brasileira de Equipamentos para o Setor Produtor de Açúcar e Álcool,”

93. 273 Ibid., 95, Nota 23. 274 Ibid., 95. 275 A Conger S/A Equipamentos e Processos tem uma única patente de invenção PI8000814-3,

referente a “processo e dispositivo aperfeiçoados para aquecimento indireto e pré concentração de vinhaça e destilarias de álcool”, depositada em 1980.

113

Nos anos 1980 a Dedini deu início aos estudos da tecnologia Dedini

Hidrólise Rápida - DHR que utiliza o bagaço da cana para produzir etanol por

meio da hidrólise ácida, cujo fundamento é a quebra das moléculas de celulose

pela adição de ácido sulfúrico aos resíduos.

Em uma parceria entre a Dedini Indústrias de Base, DediniAgro, CTC e a

FAPESP, por meio do PITE, o processo foi patenteado no Brasil276, Estados

Unidos, União Européia, Canadá, México, Rússia e Japão.277

No Brasil o patenteamento tem como titular a Dedini S/A Administração

e Participações (BR/SP), conforme dados do INPI. No entanto, C. E. V. Rossell,

engenheiro químico responsável pelo projeto DHR junto à FAPESP, afirma que

foi feito um acordo em que:

“todos entraram com uma parte e contabilizamos as ações para

estabelecer a base da propriedade intelectual da tecnologia. A FAPESP

tem 12% fixos do valor obtido com eventuais lucros, vendas e

licenciamentos, pelo apoio financeiro realizado por meio do Pite. A

agência participa na propriedade intelectual porque almeja reverter seus

ganhos no financiamento de novas pesquisas".278

As patentes de invenção concedidas para as empresas do grupo Dedini,

no período de 1980 a 2005279, se referem a equipamentos e dispositivos para

recepção, preparo e processamento da cana, extração e tratamento do caldo,

conforme quadro a seguir:

276 Patente de invenção PI9600672-2, datada de 1996. 277 M. Perozzi, “O Dobro de Álcool na Mesma Área Plantada,” 46. 278 Ibid,, 46-47. 279 Segundo a denominação constante do banco de dados do INPI, constam como

depositantes, as seguintes pessoas jurídicas: Dedini Máquinas e Sistemas Ltda; Dedini S/A Administração e Participações; Dedini S/A Administração e Participações; Dedini S/A Indústrias de Base; Dedini S/A Metalúrgica, M. Dedini S/A Metalúrgica.

O pedido de patente PI8900165-6 foi concedido, mas houve um despacho com os termos “Anulado o privilégio. Requerentes: Nordon Indústria Metalúrgica”, razão pela qual não está sendo considerada.

114

Quadro 03 - Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para o Grupo Dedini -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Processo Ano Título CIPPI8007749-8 1980 Alimentação das colunas de destilação, retificação e

desidratação.

PI8203200-9 1982 Aparelho para produção de alcoois a partir de produtos fermenticiveis ou não, empregando o processo de destilação por recompressão dos vapores hidroalcoolicos.

PI8202149-0 1982 Compressor volumétrico alternativo com acionamento hidráulico

PI8207114-4 1982 Processo e equipamento para fabricação de camisas centrifugadas para rolos de moendas de usinas açucareiras.

B22C 5/02

PI8007748-0 1984 Peneira vibratória para caldo. PI8406061-1 1984 Aperfeiçoamento em caixa colhedeira para cana. PI8405875-7 1984 Aperfeiçoamento em moenda para extração de sucos de

qualquer produto mineral ou vegetal

PI8502664-6 1985 Rolos de extração de caldo de cana. PI8504067-3 1985 Sistema de vedação para mancais de moendas PI8603984-9 1986 Processo simplificado para a produção de álcool etílico e/ou

celulose bruta não branqueada.

PI8703055-1 1987 Dispositivo para teste de tração de âncoras sem cepo. PI8804116-6 1988 Dispositivo de alimentação PI8804117-4 1988 Dispositivo de armazenamento e alimentação controlada PI8806521-9 1988 Dispositivo de transporte PI9400354-8 1994 Aperfeiçoamentos em filtro estático para vinho B01D 29/10

C13D 3/16

PI9400355-6 1994 Conjunto filtrante com tela de filtragem vibratória B01D 29/28C13D 3/16

PI9503505-2 1995 Dispositivo de alimentação para digestores de alta pressão D21C 7/06

PI9600672-2 1996 Processo de hidrólise ácida rápida de material lignocelulósico e reator de hidrólise

D21C 1/04D21C 7/00

PI0006417-3 2000 Caldeira. Fonte: INPI

O Quadro-03 apresenta um total de 19 patentes no período, sendo

73,7% concedidas durante o período do Proálcool e 26,3% no período de

desregulamentação.

115

A Zanini S/A Equipamentos Pesados dividiu o mercado de bens de

capital durante muito tempo com a Dedini, em meados do século XX. Mas

comparativamente, as seguintes patentes de invenção foram obtidas do INPI:

Quadro 04 - Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para a Zanini -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Processo TítuloPI8206833-0 Processo para produção de etanol hidratado a partir de vinhos

provenientes da fermentação de materiais açucarados ouamiláceos e instalação respectiva

PI8206832-1 Processo para tratamento de vinhos provenientes dafermentação de materiais açucarados e amiláceos, destinadosà produção de etanol e instalação respectiva.

Fonte: INPI

As duas patentes de invenção concedidas referem-se a processos de

fermentação, ambas em 1982 e que estão atualmente extintas.

Outra empresa que consta do banco de dados é a Copersucar, com

patentes de invenção, categorizada como bens de capital, no período de 1980

a 2005.280 A maioria das patentes de invenção se refere a equipamentos e

dispositivos de segurança, equipamentos de pesagem, carrocerias, carretas e

outros, além de processo de fermentação e aparelhagem de medição do teor

alcoólico, conforme podemos observar no Quadro-05.

Além disso, duas das patentes, a do processo de fermentação de

melaço – PI9000894-4, de 1990, e a do processo para produção de

polihidroxialcanoatos a partir de açúcares extraídos da cana – PI9103116-8, de

1991, referem-se a pesquisas na área de Química.

280 Com uma nova estruturação a partir de 2004, a Copersucar transformou sua área de

pesquisa no Centro de Tecnologia Canavieira, cujos registros de pedidos de constam a partir de 2006 no banco de dados do INPI.

116

Quadro 05- Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para a Copersucar -

Cana-de-açúcar e Etanol: 1980-2005

Processo ANO Título Classificação

PI0006749-0 2000 Dispositivo de segurança para subsoladores agrícolas. A01B 13/08

PI9302448-7 1993Equipamento revolvedor misturador de resíduos orgânicos e produtos minerais com fins agrícolas A01B 25/00

PI9800699-1 1998 Sistema de regulagem de discos para implementos agrícolas. A01B 71/02

PI9402286-0 1994 Dispositivo de corte basal flutuante para colhedoras de cana A01D 45/10

PI9302462-2 1993 Carregadora transportadora para cana de açúcar A01D 89/00

PI9805095-8 1998 Dispositivo de pesagem de carga para máquina carregadora A01D 90/00

PI9604473-0 1996 Tela metálica para transporte de granel sólido B21F 27/02

PI9300957-7 1993Conjunto de drenagem do caldo de cana de açúcar extraído no rolo superior de moendas B30B 9/20

PI9604474-8 1996 Carroceria para transporte de granel sólido B60P 1/00

PI9504736-0 1995 Carroceria transportadora de granel sólido B60P 9/00

PI9000894-4 1990

Processo de fermentação de melaço utilizando-se bactérias formadoras de acetona e butanol como produtos de fermentação (1) C12P 7/28

PI9103116-8 1991Processo para produzir polihidroxialcanoatos a partir de açúcares extraídas da cana de açúcar (2) C12P 7/62

PI9201885-8 1992Dispositivo para medição da carga de cana-de-açúcar sobre esteiras transportadoras G01G 11/04

PI9301017-6 1993Aparelhagem e circuito eletrônico para medição do grau alcoólico de solução de etanol e água

G01N 27/10 ; G01N 27/14 ; G01N 9/18

PI8805207-9 1988Aperfeiçoamento em rastelo rotativo com garfo flutuante para o recolhimento d e cana cortada, disposta em leiras sobre o solo

PI8103940-9 1981 Carreta adubadeira própria para distribuição de torta de filtro.

PI0101578-8 2001 Plantadora de cana-de-açúcar em toletes.

PI8801595-5 1988Aperfeiçoamento em dispositivos limitadores de torque para implementos agrícolas.

PI0106043-0 2001Dispositivo de corte basal para máquinas colhedoras de cana-de-açúcar.

Obs.:( 1 ) Em conjunto com Gesellschaft Fur Biotechnologische Forschung MBH (DE) ( 2 ) Em conjunto com Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A - IPT (BR/SP) Fonte: INPI

117

3.4. Patentes de Invenção das Universidades e Institutos de Pesquisa

As universidades brasileiras tiveram um papel significativo na pesquisa

e proteção de cultivar da cana-de-açúcar, mesmo com o desmantelamento do

Planalsucar, em 1990, o que pode ser corroborado pelo volume de proteções

solicitadas e obtidas junto ao SNPC, anteriormente apontado.

Assim, consideramos que seria importante mapear as patentes de

invenção das universidades e institutos públicos ou privados, bem como a a

articulação entre o meio acadêmico e de pesquisa através dessas patentes.281

Do ponto de vista do arranjo institucional, a organização do setor de

ciência e tecnologia tornou-se complexa, principalmente a partir dos anos 1990,

com a descentralização de sistemas setoriais na administração pública federal

para os âmbitos estaduais e municipais, seus centros e institutos de pesquisa e

fundos de financiamentos específicos.

Através dos documentos de patentes de invenção esperamos poder

traçar uma aproximação do que foi a participação da comunidade acadêmica e

de pesquisa. Os critérios utilizados para selecionar as patentes de invenção

foram:

Depositante/titular com nacionalidade brasileira;

Depositante/titular ser uma universidade ou instituto público de pesquisa

ou centro de pesquisa de empresa privada;

Depositante/titular pode ser uma empresa privada ou pessoa física

desde que conste no banco de dados do INPI a indicação da

participação de um ou mais pesquisadores CNPq.

Com estes critérios definidos, 25 patentes de invenção concedidas no

período de 1980 a 2005 tiveram a participação de universidades, institutos

públicos de pesquisa, centros de pesquisas de empresas privadas e/ou a

participação de pesquisadores cadastrados no CNPq, o que perfaz 17,7% do

total de patentes de invenção concedidas.

281 A proteção a cultivar já foi abordada em item anterior e então iremos tratar, neste momento,

somente das patentes de invenção.

118

Destas 25 patentes de invenção, convém destacar, a maioria (15) foi

concedida no período de desregulamentação e 10 o foram no período do

Proálcool.

Tabela 13 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com Universidades,

Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq - Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005

Depositantes/Titulares Desregulamentação

CNPq (DF) / USP (SP) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

Copersucar (SP) 1 1,5% 2 2,7% 3 2,1%

Copersucar / IPT (SP) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

EM BRANCO 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Engenho Novo Tecnologia Agroindustrial Ltda (RJ) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Instituto de Pesq e Aperfeiçoamento Industrial / Romeu Corsini (SP) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

IPT (SP) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

IPT/ PHB Industrial S/A (SP) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

João Nunes de Vasconcelos (AL) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

Magneti Marelli do Brasil Ind. e Com.ércio Ltda. (SP) 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%

Petrobrás (RJ) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Petrobrás (RJ) / Unicamp (SP) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Stumpf U (SP) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Unicamp (SP) 0 0,0% 4 5,4% 4 2,8%

Universidade Federal da Paraíba (PB) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Usiminas (MG) / IAA (BR) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

USP (SP) 0 0,0% 3 4,1% 3 2,1%USP / ESALQ / Fundação de Estudos Agrários "Luiz de Queiroz" / Usina da Barra S/A (SP) 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

Total Univ/Inst.Pesq/Pesq. CNPq 10 14,9% 15 20,3% 25 17,7%

Outros 57 85,1% 59 79,7% 116 82,3%

Total de Patentes Concedidas 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

TotalProálcool

Fonte: INPI

Se compararmos os dados apresentados no nosso Capítulo 3, sobre a

proteção de cultivares, temos no período analisado: 37,5% de proteções

concedidas a universidades e institutos públicos de pesquisa; e 64,3% nos

centros de pesquisa de empresas privadas.

Do ponto de vista das universidades, o Instituto de Pesquisas e

Aperfeiçoamento Industrial (BR/SP) / Romeu Corsini (BR/SP) tem uma patente

relacionada a “processo e equipamento para alimentação de motores de

combustão interna movidos à álcool” (PI8402740-1).282

282 Do website do INPI: “Patente extinta em 31/05/99”

119

Esse Instituto pertence à Escola de Engenharia de São Carlos e Romeu

Corsini283, citado em nosso Capítulo 2 em função da tecnologia do álcool

motor, e coordenou as pesquisas no IPT sobre combustíveis renováveis para a

substituição das fontes de energia fósseis, desde 1938. De três patentes

solicitadas, a PI8402740-1 foi concedida a partir de 1984, e outros dois pedidos

estavam em andamento quando de nosso acesso ao banco de dados do INPI.

Uma das discussões importantes durante a implementação do Proálcool

esteve relacionada ao poder corrosivo do álcool, e uma patente de invenção do

IAA, em conjunto com as Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A – Usiminas

para “processo e equipamento para obtenção de álcool etílico hidratado

combustível não corrosivo”, a patente PI 8302812-9 de 1984, permitiu

solucionar esses problemas.

Entre as patentes concedidas durante os 25 anos de análise podemos

verificar que há uma concentração de interesses na classe C12, onde são

classificados os pedidos relacionados à área de bioquímica, álcool, vinho,

microbiologia, enzimologia, engenharia genética ou de mutação, conforme os

dados apresentados na Tabela-14.

PI8402740-1: processo e equipamento para alimentação de motores de combustão interna movidos à álcool. Também sem resumo.

283 Foi professor da Universidade de São Paulo e um dos fundadores da Escola de Engenharia de São Carlos.

120

Tabela 14 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com Universidades,

Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq, por Área de Pesquisa -

Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005

Sem código CIP 4 6,0% 1 1,4% 5 3,5%A01 Agricultura; silvicultura; pecuária; caça;

captura em armadilhas; pesca 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%C01 Química inorgânica 1 1,5% 1 1,4% 2 1,4%C04 Cimentos; concreto; pedra artificial;

cerâmica; refratários 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%C05 Fertilizantes; sua fabricação 0 0,0% 1 1,4% 1 0,7%C10 Indústrias do petróleo; do gás ou do

coque; gases técnicos contendo monóxido de carbono; combustíveis; lubrificantes; turfa 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%

C12 Bioquímica; cerveja; álcool; vinho; vinagre; microbiologia; enzimologia engenharia genética ou de mutação 5 7,5% 2 2,7% 7 5,0%

C13 Indústria do açúcar 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%F02 Motores de combustão; instalações de

motores a gás quente ou de produtos de combustão 1 1,5% 2 2,7% 3 2,1%

G01 Medição; aferição 1 1,5% 0 0,0% 1 0,7%H01 Elementos elétricos básicos 2 3,0% 0 0,0% 2 1,4%

Total Univ/Inst.Pesq/Pesq. CNPq 18 26,9% 7 9,5% 25 17,7%

Outros 49 73,1% 67 90,5% 116 82,3%

Total de Patentes Concedidas 67 100,0% 74 100,0% 141 100,0%

Classif. Internacional de Patentes - Classe

Com Pesquisador

CNPq

Sem Pesquisador

CNPq Total

Fonte: INPI

Vale observar que este interesse já havia sido detectado em nosso

Capítulo 3, quando tratamos do conjunto total das patentes concedidas no

período, ou seja, uma tendência mais geral do interesse por determinadas

áreas, que pode também advir de maior volume de verbas ou da estruturação

de um planejamento governamental mais autoritário ou com caráter indicativo.

De qualquer forma, as regras do mercado têm também uma grande influência,

não somente o mercado interno como o externo, do que tratamos ao longo

deste trabalho.

J. Goldemberg, F. E. B. Nigro e S. T. Coelho apontam que em São Paulo a

FAPESP investiu cerca de US$ 6 milhões em programas relacionados ao

etanol de 1992 a 2005, sendo que:

121

“Deste total, 26% foi usado em bolsas de estudo (formação de pessoal),

11% em programas regulares (pequenos projetos de pesquisa) e 63%

em projetos especiais (entre os quais o mapeamento genético da cana,

com o CTC e o processo de hidrólise rápida, com a Dedini)”. 284

Além disso,

“Conforme o CNPq, em 2004 havia no Brasil pelo menos 42 grupos de

pesquisa trabalhando na agricultura de cana-de-açúcar (com cerca de

255 doutores (FAPESP,2007), sendo os principais no IAC e na ESALQ.

Também o nível da tecnologia brasileira para produção de etanol

combustível é considerado o melhor do mundo (como atestam os custos

de produção e as eficiências de conversão). Por tudo isso, na área de

pesquisa em cana-de-açúcar, o Brasil mostra o maior número de

publicações técnicas no mundo entre 2001 e 2005 e, em pesquisa de

etanol combustível aparece em terceiro lugar (etanol de milho

incluído)”.285

284 J. Goldemberg, F. E. B. Nigro & S. T. Coelho, Bioenergia no Estado de São Paulo, 62. 285 Ibid.

122

Tabela 15 – Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI em Projetos com Universidades,

Institutos de Pesquisa e/ou Pesquisadores CNPq, por Ano de Concessão -

Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005

1979

1981

1983

1984

1986

1988

1989

1990

1991

1993

1994

1997

2002 Total

CNPq (DF) / USP (SP) 1 1 4,0%Copersucar (SP) 1 1 1 3 12,0%Copersucar / IPT (SP) 1 1 4,0%EM BRANCO 1 1 4,0%Engenho Novo Tecnologia Agroind. Ltda (RJ) 1 1 4,0%Instituto de Pesq. e Aperfeiçoamento Industrial / Romeu Corsini (SP) 1 1 4,0%IPT / PHB Industrial S/A (SP) 1 1 4,0%IPT (SP) 1 1 4,0%João Nunes de Vasconcelos (AL) 1 1 4,0%Magneti Marelli do Brasil Ind.e Com. Ltda. (SP) 1 1 4,0%Petrobrás (RJ) 1 1 4,0%Petrobrás (RJ) / Unicamp (SP) 1 1 4,0%Stumpf U (SP) 1 1 4,0%Unicamp (SP) 1 3 4 16,0%Universidade Federal da Paraíba (BR/PB) 1 1 4,0%Usiminas (MG) / IAA (RJ) 1 1 4,0%USP / ESALQ / Fundação de Estudos Agrários "Luiz de Queiroz" (BR/SP) / Usina da Barra S/A- Açucar e Álcool (SP) 1 1 4,0%USP (SP) 1 1 1 3 12,0%

Total por Ano - Patentes Concedidas 1 1 2 2 1 2 1 1 3 6 1 3 1 25 100,0%

AnoDepositante/Titular

Fonte: INPI

Finalmente, gostaríamos de apontar o fato da política científica e

tecnológica no Brasil, a partir dos anos 1990, passar a enfatizar a interação

universidade e empresa. Embora pequena, nossos dados mostram algum nível

de interação, principalmente com instituições privadas, como pode ser

observado no Quadro-06:

123

Quadro 06- Patentes de Invenção Concedidas pelo INPI para Parceria Universidade/Empresa -

Cana de açúcar e Etanol: 1980-2005

Depositante Título da Patente

Engenho Novo Tecnologia Agroind. Ltda (RJ)

Processo de destilação de álcool e concentração de vinhoto e instalação para execução do processo

Magneti Marelli do Brasil Ind.e Com. Ltda. (SP) Controle eletrônico adicional de combustível para motores á álcool

USP/ ESALQ / Fundação de Estudos Agrários "Luiz de Queiroz" (BR/SP) e Usina da Barra S/A- Açúcar e Álcool (SP)

Processo de produção de etanol com o controle de leveduras contaminantes

Fonte: INPI

Assim, os dados confirmam uma presença, ainda que tímida, de uma

parceria entre a universidade e a empresa, se o olhar for para as patentes de

invenção.

E na proteção de cultivar o papel das universidades brasileiras na

pesquisa e proteção de cultivar da cana-de-açúcar tem sido expressivo, uma

vez que se leve em consideração que os investimentos públicos não tem tido

uma regularidade ao longo do período analisado.

De qualquer forma, a institucionalização da ciência e da tecnologia para

a cana-de-açúcar e o etanol no Brasil percorreu o caminho do ensino, da

pesquisa, da divulgação e da aplicação do conhecimento.

124

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer uma reflexão sobre a história do Brasil com suas

particularidades sócio-econômicas e políticas, suas tentativas de

industrialização e de desenvolvimento de ciência e tecnologia, não podemos

deixar de observar o quão árdua foi a história dos nossos fazeres científicos e

tecnológicos e das possibilidades de proteção do conhecimento gerado no

país.

Com essa perspectiva em mente, vários questionamentos se fizeram

presentes, e, a busca pelas respostas nos levou a percorrer o caminho

histórico, não somente dos contextos e políticas, mas da própria

institucionalização das ciências e dos caminhos percorridos pela ciência e

técnica da cana-de-açúcar e do etanol.

Como no estudo de Alfonso-Goldfarb e Ferraz286, mais uma vez, na

história da ciência no Brasil, apontamos os percalços e a difícil equação da

institucionalização da ciência que fazem parte da nossa história. Fizeram e o

fazem.

Consideramos que contribuem para estes percalços: a inserção do país

nos mecanismos internacionais e a forma como lhe é atribuído o papel de país

dependente; a descontinuidade das políticas científicas e tecnológicas e seus

respectivos financiamentos em pesquisa básica e aplicada; os fatores políticos,

econômicos e sociais presentes na história do país.

O estudo da cana-de-açúcar e do etanol combustível no período de 1980

a 2005 mostrou a participação de vários atores no processo decisório, de

implementação do PNA e na fase de desregulamentação do setor.

Os documentos e a bibliografia secundária nos mostraram a participação

de vários segmentos da sociedade, sejam usineiros, indústria automobilística,

consumidores, institutos de pesquisa e universidades, além da burocracia

governamental.

O que pôde ser observado neste estudo foi que a expressão dos

diversos atores com força política – considerados como classes, frações de

286 Alfonso-Goldfarb & Ferraz, “Raízes Históricas da Difícil Equação Institucional da Ciência no

Brasil”.

125

classes e grupos sociais – determinaram “os interesses prevalecentes na

condução do processo científico e tecnológico”, como afirma M. Baumgarten,

sobre as diferentes forças em jogo em cada sociedade, a cada momento.287

Na implementação de um programa governamental de dimensões como

a do Proálcool consideramos que a articulação de três fatores permitiu a

consecução dos objetivos propostos pelo programa para enfrentar as crises

mundiais do petróleo.

Caracterizamos esse tripé com os seguintes componentes: a política

governamental articulada, o papel da ciência e tecnologia e a criação de um

mercado consumidor de álcool combustível.

Do ponto de vista da política governamental, no período de

implementação do Proálcool, o planejamento integrado foi um instrumento de

gestão pública fundamental para o processo, na medida em que permite

ordenar as ações do governo e as instituições encarregadas de sua execução.

Neste sentido foram articuladas a política científica e tecnológica, os

mecanismos de proteção da propriedade intelectual, a política de recursos

energéticos e a política agrícola.

Para dar suporte a esta integração, foram criados mecanismos que

facilitassem os financiamentos e subsídios, a obrigatoriedade da mistura do

álcool à gasolina e os investimentos em setores de ciência e tecnologia.

Os financiamentos e subsídios beneficiaram a produção da cana-de-

açúcar e do etanol, ao expandir o conjunto de usinas e destilarias, que foram

atendidas em suas necessidades de equipamentos sucroalcooleiros pela

indústria de bens de capital.

Do lado do consumidor foram criados incentivos para a aquisição de

veículos movidos exclusivamente a álcool.

A indústria automobilística, embora reticente no começo do PNA, uma

vez criado o mercado consumidor, participou com a produção de veículos

movidos exclusivamente a álcool. E, apesar da necessidade de investimentos

em pesquisas dos motores, há que se considerar que o petróleo já era um

287 M. Baumgarte, “Políticas de Ciência e Tecnologia e Reestruturação Produtiva: o Caso

Brasileiro,” 77.

126

recurso finito e as alternativas de combustíveis possivelmente estivessem

sendo cogitadas em seus planos empresariais de longo prazo.

Do lado da matéria-prima, a cana-de-açúcar, as oscilações do mercado

internacional do açúcar e a crescente competitividade do setor se faziam

presentes há longa data. E a alternativa do álcool anidro e posteriormente do

álcool hidratado se mostraram, para os usineiros, potenciais possibilidades no

enfrentamento às fases de baixos preços do açúcar.

A articulação das políticas públicas, a criação de destilarias e o papel

desempenhado pela indústria de bens de capital no fornecimento de

equipamentos sucroalcooleiros e da indústria automobilística não seriam

condições suficientes para alavancar o Proálcool. Ou seja, há necessidade de

participação de institutos de pesquisa públicos e privados, associada aos

mecanismos de incentivo para o desenvolvimento científico e tecnológico.

Em 1976, o II PBDCT, mais do que privilegiar a pesquisa científica,

enfatizou a pesquisa tecnológica em estreita vinculação com as universidades

e com as necessidades do sistema produtivo nacional. Isso não significa que o

plano ignorasse o desenvolvimento científico e a ligação entre ciência,

tecnologia e inovação, dado o destaque conferido à necessidade de ligação

entre universidades e empresas e entre setores público e privado na geração e

absorção de conhecimento.

O que pôde ser constatado, então, foi a participação de institutos de

pesquisa públicos no desenvolvimento do motor a álcool; das universidades

federais e estaduais no melhoramento genético, na tecnologia agrícola e

processo de transformação da matéria-prima em etanol.

De fato, os centros de pesquisa de empresas/organizações privadas

também atuaram na melhoria das fases agrícola e industrial da produção do

álcool combustível e em projetos de pesquisa com motores.

Embora possa se considerar que em 1985 o Proálcool tenha atingido

seus objetivos em termos de capacidade de produção de etanol e que este

objetivo não foi alcançado somente pelo aumento de número de destilarias.

Mas, pelo esforço da pesquisa científica e tecnológica em novas variedades de

cana-de-açúcar e no desenvolvimento de processos em fermentação e

destilação, entre outros, em 1986 iniciou-se a fase de estagnação do PNA.

127

Este ponto de inflexão em nossa história foi marcado pelos baixos

preços internacionais do petróleo, pelas crises econômicas no Brasil e pelo

desabastecimento do álcool.

Com os baixos preços do petróleo a indústria automobilística partiu para

o desenvolvimento de carros populares; o Estado, em função das crises

econômicas, descontinuou os investimentos, e, algumas destilarias e indústrias

de bens de capital passaram a sentir o reflexo deste contexto, além, é claro,

dos recursos minguados – quando existiam – para a pesquisa científica e

tecnológica.

Mas, a transição do papel do Estado regulador para o de Estado indutor,

regida pela economia de mercado e a nova Lei de Propriedade Industrial e de

Proteção de Cultivares passaram a estimular os investimentos da iniciativa

privada na absorção e geração de tecnologias.

No caso do etanol brasileiro, um fator adicional a permear a fase de

desregulamentação do setor sucroalcooleiro, foi a preocupação mundial com a

degradação do meio ambiente e a consequente valorização dos combustíveis

renováveis, o que permite retomar/ampliar os recursos para nossos centros de

pesquisa.

Assim sendo, para articular a dinâmica da história contemporânea

brasileira e sua política científica e tecnológica, conjecturamos que o

mapeamento das patentes concedidas entre 1980 e 2005 para o etanol de

cana-de-açúcar no Brasil permitiriam delinear a complexa rede de interfaces

dos diversos grupos e instituições e sua participação no processo de

desenvolvimento e consolidação de uma ciência e tecnologia nacional.

De fato, as patentes permitem conhecer os pesquisadores, os grupos e

as instituições públicas e privadas; seus interesses nas diversas áreas de

pesquisa; as parcerias universidade-empresa nos diversos projetos e mesmo

as relações entre pesquisadores de institutos públicos e universidades.

Embora a participação de universidades, institutos públicos de pesquisa,

centros de pesquisa de empresas privadas e/ou a participação de

pesquisadores cadastrados no CNPq seja tímida nas patentes de invenção, o

mesmo não ocorre com a proteção da cultivar de cana-de-açúcar, quando a

presença das universidades federais é bastante significativa.

128

Mas delinear a rede de interfaces dos grupos e das instituições que

participaram do processo somente é possível mediante a análise dos

documentos.

Ou seja, na busca das vias de derivação dos documentos, suas

equivalências, sobreposições e fontes documentais288, de forma a que

proporcionem o contexto adequado à abordagem em ciência e sociedade,

mostrando, assim as articulações das diversas variáveis que influíram o fazer

da pesquisa científica do etanol da cana-de-açúcar.

Finalmente, gostaríamos de concluir que a consolidação da ciência e

tecnologia do etanol de cana-de-açúcar percorreu caminhos difíceis. De

debates sobre a viabilidade de implementação do resultado de uma pesquisa, à

falta de verbas e às vezes de condições de pesquisa, e, por que não dizer de

fatores contextuais nacionais e internacionais.

Apesar das dificuldades, em 2009, a Agência de Proteção Ambiental dos

Estados Unidos concluiu que o etanol brasileiro permite a redução de 61% dos

gases de efeito estufa.

Considere-se, também, outra questão a ser objeto de reflexão que é o

interesse das multinacionais na aquisição das companhias do setor, tanto na

área produtiva quanto na de pesquisa.

288 Alfonso-Goldfarb. A parte e o todo, 63.

129

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