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ROSEANE BARCELLOS MARQUES ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) NO BRASIL: Uma avaliação de sua capacidade de retratar a realidade social PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO São Paulo 2006

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ROSEANE BARCELLOS MARQUES

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) NO BRASIL: Uma avaliação de sua capacidade de retratar a realidade social

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

São Paulo 2006

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ROSEANE BARCELLOS MARQUES

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) NO BRASIL: Uma avaliação de sua capacidade de retratar a realidade social

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA POLÍTICA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada a banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Economia Política, sob a orientação do Prof. Doutor João Batista Pamplona.

São Paulo

2006

FOLHA DE APROVAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA DE DEFESA

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura:_______________________________Local e Data: ________________

AGRADECIMENTOS

Expressar minha gratidão não será tarefa fácil, afinal foram muitos e

diferentes auxílios recebidos no desenvolvimento desta dissertação.

Agradeço à Universidade Anhembi Morumbi pela bolsa indispensável a

realização do curso de Mestrado. Desta instituição recebi não só fomento financeiro

como a possibilidade de aplicar meus conhecimentos na atividade docente. Lá,

também, passei minhas tardes pesquisando, lendo e escrevendo assuntos

realizados ao tema. Lembrarei, sempre do apóio que recebi dos professores,

funcionários e demais colaboradores nos momentos mais difíceis.

A Sônia, funcionária do Programa de Mestrado em Economia Política da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pela colaboração efetiva, sempre

procurando resolver os problemas que eu lhe levava. Se existissem mais pessoas

como ela nos lugares por onde eu passo a vida seria mais simples e agradável.

Aos professores Doutores Otília Maria Lucia Barbosa Seiffert, Carlos

Educardo Carvalho e João Batista Pamplona meus orientadores agradeço pela

paciência, atenção e dedicação destinadas a mim e à minha dissertação. Tudo

começou nas aulas da Profa. Otilia, minha primeira orientadora, em virtude do

direcionamento da pesquisa o Professor Carlos Eduardo Carvalho prosseguiu por

algum tempo com a difícil tarefa de me orientar. Eram tantas as tarefas destinadas à

ele que esta ficou para o Professor João Pamplona. À ele toda minha gratidão pela

realização e encerramento desta dissertação. A paciência e apoio incondicionais

foram cruciais para manter meu estado psíquico normal durante o período de

realização desta atividade.

Aos demais professores àqueles que foram meus professores nas disciplinas

que estudei e àqueles que me auxiliaram em momentos específicos do curso; meu

muitíssimo obrigada.

Agradeço à Professora Rosa Maria Marques pelas importantes sugestões

durante o exame de qualificação.

Aos professores coordenadores da Universidade Anhembi Morumbi entre eles

João Garção e Elaine Chovick, os quais me deram a primeira oportunidade na

carreira docente, Madalena Auricino, Karin Decker e Gracira Gabrera pela confiança

e credibilidade depositados no meu trabalho.

Ao Professor Sebastião Hermes Verniano por exatamente tudo, dele recebi

apoio, consideração, carinho, afeto e admiração. Existem pessoas que passam pela

nossa vida e nela deixam marcas. Minha história de vida tem alguns marcos

importantes entre eles o dia em que conheci este grande amigo, admirador,

companheiro, a quem eu considero como um segundo pai. Obrigada!

Aos amigos eternos Juliana Azeredo Carvalho, Rosana Aparecida Glasser,

Rosilene Rosário e Kelly Cristina. Amigos de momentos diferentes, mas de almas

iguais.

Aos professores Carlos Roberto Carneiro, Sergio Macedo e João de Souza pelas

constantes torcidas e palavras de apoio.

A minha madrinha e revisora ortográfica Mônica Nalbadian pela amizade e

presteza com que realizou a tarefa árdua de dilapidação desta dissertação.

A todos meus amigos e parentes aquela lista que mesmo que conseguisse lembrar

de todos os nomes ainda sim alguém ficaria de fora, pois não caberia nestas breves

páginas. Eu costumo dizer que sem amigos e sem nossos parentes somos como um

“arbusto no deserto”. Por isso, agradeço a eles por estarem sempre ao meu lado.

Agradeço à Deus pela minha família, razão da minha existência, por ter

colocado na minha vida pessoas insubstituíveis as quais representam meu início,

meio e fim. Àqueles que já não estão mais neste mundo, mas são inesquecíveis

como minha irmã Rosivane e meu pai Noecir. A permanência física ao meu lado foi

curta, mas as lembranças e a saudade serão eternas. Àqueles que, para minha

sorte, estão ao meu lado como minha mãe Joventina, irmã Roniele e sobrinhos

Luciano, Leornardo, Aline e Jéssica pessoas que iluminam a minha vida. Nesta vida

só há uma certeza: a certeza do amor recíproco entre minha mãe e eu. Obrigada!

Ao Vitor Miguel Sousa meu amigo, namorado, noivo e marido minha intensa

gratidão. Foram dias intermináveis, noites imperceptíveis com humor comprometido,

mas conseguimos pelo amor que temos pela confiança, credibilidade e pela

admiração mútua chegar até aqui juntos. Você é minha esperança de vida familiar.

Sem vocês, nada disto teria sido possível.

RESUMO

Este estudo avalia a capacidade do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em

retratar a realidade social brasileira. Evidencia os conceitos de desenvolvimento

econômico, social, humano e sustentável com o objetivo de identificar a base de

sustentação do índice. Esclarece a metodologia atual deste índice criado pelo

Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e publicado pelo Banco Mundial

nos Relatórios de Desenvolvimento Humano, assim como apresenta sua evolução

entre os anos de 1991 a 2005. Apresenta as avaliações críticas sobre a relação

entre o IDH e os conceitos relacionados ao desenvolvimento, sobre a amplitude

analítica das dimensões avaliadas e sobre as alterações metodológicas ao longo de

sua existência. Compara a aplicação e resultados do IDH com o Índice de Exclusão

Social evidenciando as potencialidades e fragilidades de ambos. Apresenta, ainda, a

divisão entre as variáveis analisadas na velha e na nova exclusão e/ou realidade

social brasileira.

ABSTRACT

This study evaluates the capacity the Human Development Index (HDI) has of showing the

Brazilian social reality. It demonstrates the economical, social, human and sustainable

development concepts with the purpose of identifying the sustainability base of the index. The

study clarifies nowadays methodology of the index as created by the United Nations

Development Program, and published by the World Bank in its Human Development Reports,

as well as presents its evolution from 1990 to 2005. The work shows the critical evaluations

about the relationship between the HDI and development related concepts, about the

analytical extent of the evaluated dimensions, and about the methodological alterations along

its existence. At the same time, compares the application and results of the HDI with the

Social Exclusion Index showing the potentiality and fragility of both. It also presents the

division among the analyzed variables in the old and new exclusions, and/or the Brazilian

social reality.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Curva de Lorenz

LISTA DE QUADROS

QUADRO Nº 1 - Índices sociais brasileiros

LISTA DE TABELAS

TABELA Nº 1 - Valores balizadores para o cálculo do IDH

TABELA Nº 2 - Resultado da dimensão saúde em 2004 – países

selecionados

TABELA Nº 3 - Resultado da dimensão educação em 2004 – países

selecionados

TABELA Nº 4 - Resultado da dimensão renda em 2004 – países

selecionados

TABELA Nº 5 - Resultado do IDH em 2004 – países selecionados

TABELA Nº 6 - Evolução, em números, do IDH no Brasil entre 1990-

2005.

SUMÁRIO

Introdução ...................................................................................................................7

1.1. Desenvolvimento Econômico..........................................................................11

1.2. Desenvolvimento Social..................................................................................16

1.2.1. Pobreza....................................................................................................18

1.2.2. Desigualdade na distribuição de renda ....................................................21

1.2.3. Diferenças sociais, econômicas e culturais..............................................23

1.3. Desenvolvimento Humano..............................................................................25

1.4. Desenvolvimento Sustentável.........................................................................27

1.5. Indicadores sócio-econômicos no Brasil.........................................................30

1.5.1. Indicadores de qualidade de vida (bem-estar) no Brasil ..........................30

1.5.2. Indicadores de distribuição de renda........................................................34

1.5.3. Indicadores de pobreza............................................................................36

Capítulo 2 - Metodologia do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ..................38

2.1. Dimensões básicas da existência Humana ....................................................38

2.2. Evolução nos procedimentos metodológicos do IDH......................................39

2.3. Avaliação das dimensões componentes do IDH.............................................50

Capítulo 3 - Uma avaliação geral do IDH ..................................................................58

3.1. Avaliação da Teoria que deu origem ao IDH ..................................................58

3.2. Avaliação das dimensões do IDH ...................................................................63

3.3. Avaliação metodológica do IDH......................................................................67

Capítulo 4 - O IDH no Brasil .........................................Erro! Indicador não definido. 4.1. Evolução, dos resultados, do IDH no Brasil.......Erro! Indicador não definido. a) Até o ano de 1994 o cálculo do segundo indicador da dimensão educação era

Média dos anos de escolaridade cuja unidade de medida estava em anos. Após

esta data o indicador anterior foi substituído pelo indicador Taxa bruta de matrícula

combinada e a unidade de medida passou a ser em porcentagem. Erro! Indicador não definido. 4.2. Avaliação da Capacidade do IDH de retratar a realidade social brasileira Erro! Indicador não definido.

4.2.1 - Índice de Exclusão Social e o IDH........Erro! Indicador não definido. 4.2.2 - Distribuição da Renda e IDH ................Erro! Indicador não definido.

5. Conclusão .............................................................................................................76

6

Referências Bibliográficas .......................................................................................106

7

Introdução

O tema desta dissertação surgiu do debate entre a idéia de desenvolvimento

e a idéia de crescimento econômico, no qual questões como qualidade de vida dos

indivíduos são colocadas em pauta sob enfoques diferenciados.

Na literatura econômica convencional predomina a idéia de que crescimento

econômico é sinônimo de desenvolvimento. Para os economistas mais ortodoxos, há

uma clara equivalência entre riqueza e desenvolvimento. A idéia é que bastaria

medir o grau de opulência econômica, através de indicadores como renda per capita,

para se saber se há desenvolvimento ou não. Em outras palavras, esses

economistas acreditam que a partir do crescimento quantitativo da renda,

indicadores de qualidade de vida como expectativa de vida, educação, saúde,

pobreza, entre outros, alcançariam automaticamente valores satisfatórios, como

numa relação de causa e efeito. Para eles, o crescimento da renda melhora, por si

só, os indicadores sociais, incluindo os indicadores de qualidade de vida, atingindo

assim o desenvolvimento.

A partir dos anos 60, a visão acima começa a sofrer fortes críticas. Nesse

período, foram surgindo evidências demonstrando que a relação entre crescimento e

melhorias nos indicadores sociais, incluindo qualidade de vida, não ocorriam de

forma direta. Essa afirmação em Veiga (2005) é exemplificada pelo caso dos países

em desenvolvimento que mesmo após atingirem crescimento elevado da renda não

avançaram nos indicadores sociais. No Brasil, o período da industrialização

proporcionou um rápido aumento de renda per capita, entretanto, a elevação da

renda não foi condição suficiente para ampliar os resultados dos indicadores sociais.

Essas evidências reforçam a idéia de que para alcançar o desenvolvimento é

necessária uma avaliação de um conjunto mais amplo de indicadores. Dentro dessa

idéia, o PNUD (Programa das Nações Unidas) desenvolveu o IDH (Índice de

Desenvolvimento Humano), um indicador que tem por objetivo substituir o indicador

de renda per capita como índice para o desenvolvimento por um indicador que

absorva uma quantidade maior de variáveis sócio-econômicas.

Nesse sentido a teoria econômica recebeu diversas contribuições e entre elas

a contribuição do economista Amartya Sen, pelo conjunto de obras literárias, e de

sua participação nos estudos realizados pelo Banco Mundial cujos trabalhos estão

8

concentrados em encontrar uma medida eficaz de mensurar o grau de

desenvolvimento entre os países. Muitos indicadores foram criados entre eles o IDH

que ganhou maior expressão em termos mundiais ao ser utilizado pelo Banco

Mundial.

A criação do IDH, entre outros fatores, ofereceu à teoria do desenvolvimento

uma possibilidade de absorver uma dimensão maior do aspecto humano em relação

ao indicador anterior que avaliava apenas o aspecto renda, PIB per capita.

É importante destacar na criação do IDH além da contribuição do economista

Amartya Sen, alguns questionamentos que surgiram no debate econômico e em

outras áreas do saber após a sua criação e aplicação. Entre eles, a capacidade em

espelhar o grau de desenvolvimento de um país. Afinal, como exposto

anteriormente, o desenvolvimento enquanto teoria requer um campo de estudo mais

abrangente e o IDH apura informações de apenas três dimensões do aspecto

humano, como: renda, educação e saúde. É possível que estas dimensões

absorvam toda a abrangência da teoria? É possível que elas consigam captar todos

os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais em cada país? Este e outros

pontos foram levantados e estudados por pesquisadores nacionais e internacionais

e o debate permanece em ascensão na atualidade.

E como fica o Brasil nesse debate? O Brasil é um dos países avaliados pelo

Banco Mundial e tem suas informações, sobre o IDH, comparadas com os demais

países avaliados. Nesse caso, além da discussão apresentada acima, outros pontos

se tornaram passíveis de questionamentos como, por exemplo, as diferenças

regionais em todas as dimensões sociais e econômicas investigadas pelo índice e

mesmo naquelas não absorvidas por ele. Após todos os aspectos apontados sobre o

tema o objetivo da pesquisa desta dissertação foi delineado a partir de uma

preocupação com a situação social brasileira. Assim, o problema central a ser

investigado é: Em que medida o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um bom índice para refletir o quadro social brasileiro?

Os procedimentos de pesquisa utilizados para o desenvolvimento deste

trabalho serão: a) pesquisa Bibliográfica: levantamento e revisão crítica da produção

científica disponibilizada e selecionada em periódicos científicos, livros, Bibliotecas

Virtuais (nacionais e internacionais) e documentos oficiais; b) pesquisa empírica:

consulta a bases de dados estatísticos sócio-econômicos junto ao Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

9

e Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD) e Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS).

As bases de dados pesquisadas serão: Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD), vários anos, e o Censo de 1991 e 2000. A partir dessas bases,

pretende-se estabelecer uma comparação do IDH com o índice de Gini da

distribuição de renda, a incidência de pobreza e o Índice de Exclusão Social (IES) –

extraído do Atlas da Exclusão Social no Brasil organizado por Campos et al (2004)

em 5 volumes. As unidades da federação (estados) serão utilizadas como unidades

geográficas de análise para essa comparação, utilizando-se o Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) calculado pelo Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) como forma de obter o IDH estadual.

Nesta dissertação pressupomos que o IES é um índice sintético que tem alta

capacidade para avaliar pormenorizadamente à realidade social brasileira.

Para atender tal objetivo, a dissertação foi dividida nos seguintes capítulos:

No primeiro capítulo são abordados os conceitos sobre o desenvolvimento e

suas ramificações ao longo do tempo; tais como: desenvolvimento econômico,

desenvolvimento social, desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentável.

Além do enfoque teórico/conceitual, o capítulo apresentará uma breve explicação

dos principais indicadores sócio-econômicos disponíveis no Brasil.

No segundo capítulo é apresentada a metodologia utilizada pelo Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na construção e cálculo do

IDH. Para isso, são investigados os cálculos de cada dimensão que o compõe, tais

como: saúde, educação e renda.

No terceiro capítulo é realizada uma avaliação geral do IDH. Esta avaliação

está fundamentada na pesquisa bibliográfica internacional que apresenta tal

discussão e aponta para alguns aspectos positivos e outros negativos.

No quarto capítulo o enfoque é na aplicação do IDH no Brasil. Os pontos

que compõem este capítulo são: a evolução do IDH (em números) e a avaliação

comparativa do IDH com o IDH-M, o IES, o Índice de Gini e o percentual da

população abaixo da linha de pobreza objetivando identificar a capacidade do IDH

de bem retratar a realidade social brasileira.

Na conclusão são evidenciados os resultados obtidos com a pesquisa seja

no âmbito teórico seja no empírico. Procura-se responder ao problema central e

10

apresentar dificuldades e alguns outros desdobramentos percebidos durante o

processo de pesquisa.

11

Capítulo 1 - Desenvolvimento: teorias e conceitos

1.1. Desenvolvimento Econômico

Os estudos sobre o conceito de desenvolvimento econômico em Todaro

(1981) esclarece que este conceito ganhou espaço na literatura econômica após a II

Grande Guerra Mundial em 1945. No período pós-guerra a preocupação mundial em

todas as áreas do conhecimento esteve voltada para recuperação dos países que

tiveram suas economias nacionais devastadas por ela.

As teorias sobre desenvolvimento foram sofrendo alterações ao longo dos

anos. De 1940 até meados da década de 60, grande parte dos economistas

considerava que desenvolvimento econômico e crescimento econômico eram

sinônimos. As teorias sobre desenvolvimento estavam pautadas, para eles, por um

desenvolvimento quantitativo, no qual os indicadores sobre a renda tinham maior

significado numa avaliação do grau de desenvolvimento dos países.

Conforme mesmo autor, a partir dos anos finais da década de 60, as teorias

sobre o tema demonstraram que a análise quantitativa fazia apenas uma

mensuração da capacidade de produção e conseqüentemente de renda dos países,

entretanto não demonstravam as condições de vida dos indivíduos destes países.

Após este momento, os estudos sobre o desenvolvimento avançaram no sentido de

agregar indicadores sociais, não só econômicos, à avaliação do grau de

desenvolvimento dos países. Estas alterações conceituais trouxeram à luz da

discussão econômica, questões como pobreza e desigualdade na distribuição de

renda, variáveis que apresentaram resultados perversos em termos mundiais,

enquanto muitos se preocupavam tão somente com o crescimento da renda para

alcançar o desenvolvimento.

Os economistas adeptos da primeira versão sobre o desenvolvimento

consideravam que desenvolvimento e crescimento eram sinônimos e, portanto, a

acumulação de capital seria o ponto de maior preocupação na economia de um país.

Quanto à sociedade, eles acrescentavam que quando o país cresce nesses termos

toda a sociedade recebe seu benefício. Esta primeira versão conceitual teve adeptos

tanto para alguns economistas neoclássicos quanto para os keynesianos.

12

[...] o desenvolvimento nos anos 50 e 60 era... um fenômeno econômico no qual rápidos ganhos no crescimento do PNB total e per capita ou iriam ‘vazar’ para a massa populacional na forma de empregos e outras oportunidades econômicas, ou iriam criar as condições necessárias para uma distribuição mais ampla dos benefícios econômicos e sócias do crescimento (TODARO, 1981, p. 164).

Este conceito ficou conhecido como “curva de Kuznets” ou “curva do ‘U’

invertido” e no Brasil como a “Teoria do Bolo”1, que surgiu das contribuições do

economista Simon Kuznets sobre a relação entre crescimento e distribuição. [...] Kuznets procurou mostrar que as evidências disponíveis faziam pensar que a desigualdade de renda tendia a aumentar na fase inicial da industrialização de um país, ocorrendo o inverso em fase posterior, quando esse país estivesse desenvolvido. Foi essa a base científica daquela famosa parábola que insistia na necessidade de que primeiro o bolo crescesse para que depois fosse repartido (VEIGA, 2005, p. 43).

Alguns economistas brasileiros adeptos da “Teoria do Bolo” acreditavam que

primeiro o bolo deveria crescer para depois ser distribuído. Desta forma estratégias

políticas foram adotadas para promover o crescimento econômico reforçando a tese

de que este seria “vazado” para a sociedade como um todo.

Voltando ao conceito quantitativo de desenvolvimento, para manter as taxas

de crescimento elevadas e com taxa de acumulação de capital ascendente era

necessária alteração na capacidade produtiva dos países, caso contrário, haveria

um limite para o crescimento. O progresso tecnológico surgiu para ampliar as

possibilidades de manutenção das taxas através da ampliação das curvas de

fronteiras de produção. Como observado por Lima (1999) que explica o

comportamento do progresso tecnológico endogeneizado na literatura pós-

keynesiana2.

[...] a trajetória do progresso tecnológico torna-se um determinante fundamental da acumulação de capital e do crescimento, seja diretamente por requerer a instalação de novos equipamentos de capital, seja indiretamente por afetar a distribuição funcional da renda (LIMA, 1999, p.191).

Para Kalecki3, citado por Sachs, a inserção do progresso tecnológico tem

duas vertentes, uma para ser utilizada com o objetivo de alterar as ferramentas do

processo produtivo, e outra com o objetivo de substituir a mão-de-obra por

1 Mais detalhes a respeito podem ser encontrados em Lessa (1998). 2 Mais detalhes a respeito podem ser encontrados em Lima (1999). 3 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados em Sachs apud Pomeranz, Miglioli e Lima (2001).

13

máquinas, o que alteraria todo o processo de produção propriamente dito. Neste

ponto o progresso tecnológico surge com alguns dilemas, como por exemplo, a

discussão entre em que condições os países deveriam investir em progresso

tecnológico, ou se países com elevado contingente populacional pobre deveriam

fazer tal investimento. Para ele, se estes países investirem, isto pode significar

desemprego em massa, se não investirem pode significar atraso tecnológico, perda

de competitividade e até mesmo condições subumanas de trabalho.

Um caso importante na escolha das técnicas é o das fileiras e dos processos de produção que comportam elos intensivos de mão-de-obra mas ao mesmo tempo demandam o uso de técnicas avançadas. Por isso a análise desagregada dos processos de produção se impõe, levando-se em conta a diferença entre o progresso técnico definido pela natureza e a qualidade do produto e o progresso técnico no nível do processo de produção propriamente dito. Os países subdesenvolvidos devem aprender a gerir melhor o pluralismo tecnológico (SACHS, 2001, p. 283).

A ampliação da acumulação de capital através do progresso tecnológico

ocorre, inclusive, pela apropriação do valor que antes era gasto com trabalhadores,

ou seja, a substituição do homem pela máquina propicia uma elevação dos ganhos

sobre a produção. Isso ocorre porque a prática da capacidade ociosa nas empresas

por um lado demonstra a subutilização do maquinário e por outro demonstra redução

na necessidade de demanda por trabalhadores. Como observa Lima (1999, p.197),

“... a existência de capacidade ociosa permite que as firmas concretizem seus

planos de acumulação, com o grau de utilização se ajustando para eliminar qualquer

excesso de demanda ou oferta na economia.”. O que o mesmo autor chama atenção

para uma causa danosa à economia como um todo, pois “ao reduzirem os custos

unitários de trabalho, inovações tecnológicas poupadoras de mão-de-obra afetam

diretamente a participação dos salários na renda” (LIMA, 1999, p. 206).

Parafraseando Lima (1999), para baixos níveis de participação salarial na

renda, os governos devem programar políticas redistributivas pró-salários, isso

produzirá uma elevação no grau de utilização da capacidade e aceleração no

crescimento econômico. O inverso deverá ocorrer em níveis elevados de

participação salarial.

As concepções teóricas de Kalecki, em Sachs (2001), adicionam à discussão

a necessidade do emprego no crescimento econômico.

14

A taxa de crescimento da economia é sensivelmente igual à soma da taxa de crescimento do emprego, e, com a taxa de aumento da produtividade do trabalho, p, resultante do progresso técnico: r= e+p, onde r (taxa de crescimento da economia) (SACHS, 2001, p. 277).

Sachs explica que para Kalecki o progresso técnico deve estar voltado para a

condição econômica de cada país, e defende que em países com população

numerosa, o progresso técnico eliminador de emprego é perverso, como também é

perverso o país que coloca grande parte da sua população para desempenhar

trabalhos manuais pesados. Assim, uma combinação entre a utilização do progresso

tecnológico e a utilização da mão-de-obra deve ser realizada para um adequado

crescimento econômico.

As contribuições expostas acima apontam para a necessidade da

manutenção da remuneração do trabalhador para a economia e conseqüentemente

para o crescimento econômico.

Para Kalecki, a busca do pleno emprego e a proteção das rendas do trabalho constituem um imperativo moral e a condição sine qua non do engajamento em favor da justiça social....A criação de emprego constitui, por motivo ainda mais forte, portanto, a base de sua teoria do desenvolvimento e do financiamento deste (SACHS, 2001, p. 277).

Enquanto os pós-keynesianos, discutidos por Lima (2001), oferecem uma

receita para os governos, Kalecki, explicado por Sachs (2001), oferece o que

poderíamos chamar de conselho ou advertência para a relação justiça social e

gastos governamentais, nos países do Terceiro Mundo4.

Devido ao atraso de seu aparato produtivo e à imensidão da dívida social a suprimir, esses países não têm o direito moral de desperdiçar os recursos em fins não prioritários ou de se dar o luxo de deixar inaproveitadas suas capacidades. Esses países devem aumentar consideravelmente seus investimentos para acelerar a expansão do aparato produtivo. Para isso, é preciso planejar não só o volume mas também a estrutura dos investimentos e sua repartição entre a produção de bens de consumo essenciais, bens de consumo não essenciais e bens de equipamento (SACHS, 2001, p. 275).

Tanto a preocupação dos pós-keynesianos com a participação do salário na

renda quanto a preocupação dos kaleckianos com a relação produção, emprego e

renda sinalizam para uma abordagem sobre, como a renda gerada na órbita

produtiva migra para os trabalhadores participantes deste processo. Se o interesse

4 Mais detalhes a respeito podem ser encontrados em Sachs (2001).

15

daqueles que igualam crescimento e desenvolvimento econômicos está apenas com

a questão da renda, então é possível perceber que as contribuições expostas aqui

levam a questionamentos, ainda que na órbita quantitativa, sobre o acesso da renda

gerada pelos trabalhadores. Ora, então não é só fazer o “bolo crescer”, mas de que

forma ele está crescendo.

Com o passar dos anos as experiências dos países que se preocupavam

apenas com o desenvolvimento quantitativo mostraram que o mesmo era

insuficiente perto da diversidade de problemas que eles enfrentavam, derivado

muitas vezes da busca incessante do crescimento econômico. Embora alcançassem

resultados elevadíssimos nos indicadores de renda, estes benefícios não foram

transferidos para os demais membros da população. Assim, estas economias

conseguiram um estágio de crescimento sacrificando sua autonomia econômico-

financeira e os aspectos sociais de sua população, o que provocou a construção de

um conceito de desenvolvimento diferente. Nesse âmbito questões como: pobreza

absoluta e relativa, desigualdade na distribuição de renda e o crescente desemprego

tornaram-se questões imprescindíveis para uma verificação mais apurada do grau

de desenvolvimento dos países. Todaro (1981), chama atenção para a redefinição

do conceito de desenvolvimento: O desenvolvimento econômico foi redefinido em termos da redução ou eliminação da pobreza, da desigualdade e do desemprego, dentro de um contexto de uma economia em crescimento. A `redistribuição` do crescimento tornou-se um lema comum...pelo menos três componentes básicos ou valores centrais deveriam servir como base conceitual e orientação prática para que se compreenda o significado interior do desenvolvimento. Estes valores são manutenção da vida, auto-respeito e liberdade... (TODARO, 1981, p.165).

Para Todaro os valores como manutenção da vida (capacidade de prover as

necessidades básicas), auto-respeito (ser uma pessoa com dignidade, honra,

autenticidade, identidade, respeito ou reconhecimento) e liberdade (ter autonomia

para escolher) devem ser transformados em objetivos para o desenvolvimento.

Países que não contemplam estes valores/objetivos não podem ser considerados

desenvolvidos.

Nessa nova versão destacam-se economistas, como, Lewis, Hirschman,

Myrdal, Nurkse que embora com raízes ortodoxas, distinguiram os dois conceitos.

16

Para eles5 o crescimento econômico é definido como uma simples variação

quantitativa do produto, enquanto o desenvolvimento envolve mudanças qualitativas

no modo de vida das pessoas, das instituições e das estruturas produtivas. Outros

economistas inseridos neste novo conceito são àqueles considerados mais críticos,

como Raúl Prebish, Celso Furtado e demais autores da tradição cepalina e marxista,

bem como grande parte dos “economistas do desenvolvimento”. Desenvolvimento econômico define-se, portanto, pela existência de crescimento econômico contínuo(g), em ritmo superior ao crescimento demográfico(g*), envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de indicadores econômicos e sociais. Compreende um fenômeno de longo prazo, implicando o fortalecimento da economia nacional, a ampliação da economia de mercado e a elevação geral da produtividade. Cabendo, portanto, ao crescimento econômico(g) a função de ...superar o crescimento demográfico(g*), para expandir o nível de emprego e a arrecadação pública, a fim de permitir ao Governo realizar gastos sociais e entender prioritariamente às pessoas mais carentes (SOUZA, 1999, p. 22).

É importante ressaltar que embora haja uma distinção entre os dois conceitos,

nenhum deles deixou de existir nem como conceito nem como método de avaliação

entre os países. Os indicadores econômicos como, renda agregada e renda per

capita são utilizados e relevantes para uma análise econômica dos países no que

tange à capacidade de produção de bens e serviços, ou seja, capacidade de

geração de renda. Entretanto, além destes, os indicadores sociais como método de

avaliar grau de acesso de serviços sociais tais como: saúde, educação, moradia,

nutrição, saneamento, entre outros, também fazem parte do conceito de

desenvolvimento.

1.2. Desenvolvimento Social

A discussão sobre conceitos e teorias do item anterior demonstra que eles

são passíveis de sofrer alterações ao longo dos anos. Entretanto, as mazelas sociais

parecem resistentes na realidade mundial. As teorias, os conceitos, a tecnologia, a

biomedicina, enfim, quase todas as questões em termos de pesquisas, sofreram

alterações nas últimas décadas. Mesmo com esses avanços, a pobreza e

desigualdade se mantiveram em destaque em todos os âmbitos das economias

mundiais como situações sem soluções efetivas.

5 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados em Souza (1999, p. 21).

17

O conceito de desenvolvimento econômico, na década de 60, sofreu alteração

em virtude das conseqüências geradas pela busca indistinta do crescimento

puramente econômico experimentado pelos países até esta data. Kliksberg (2001)

avaliando o conceito do capital social no desenvolvimento se depara com tal

questão.

Kliksberg (2001) insere à teoria do desenvolvimento a discussão sobre o

desenvolvimento social passando pela análise do capital social, assim como, a

diferença entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico gerou um

debate longo e ainda não definitivamente resolvido. A inserção do capital social

assim como sua definição estão em debate no momento.

Para Bagnasco, citado por Kliksberg (2001), a discussão sobre o capital social

difere da discussão sobre capital físico6 e capital humano7 por ser “...uma trama de

relações construídas ao longo do tempo e baseadas numa cultura cooperativa, na

confiança mútua e em formas de organização social às quais novos rumos podem

ser dados.” Assim, o indivíduo deixa de ser um meio para se chegar a um fim, e

passa a ser o agente com ações interagindo num espaço coletivo (local, regional,

nacional ou internacional). Para alcançar o desenvolvimento estes agentes precisam

incorporar e ser incorporados no processo. Afinal, eles serão os responsáveis por

produzir o efeito multiplicador do desenvolvimento. Kliksberg (2001) citando Arizpe

destaca: A teoria e a política do desenvolvimento devem incorporar os conceitos de cooperação, confiança, etnicidade, identidade, comunidade e amizade, já que estes elementos constituem o tecido social em que se baseiam a política e a economia. Em muitos lugares, o enfoque limitado do mercado baseado na competência e na utilidade está alterando o delicado equilíbrio destes fatores e, portanto, agravando as tensões culturais e o sentimento de incerteza (KLIKSBERG, 2001, p. 113).

O enfoque anterior dado ao desenvolvimento como sinônimo de crescimento

econômico é interpretado por Kliksberg como uma forma míope de perceber o

desenvolvimento de uma sociedade. Ele propõe que: [...] junto aos esforços necessários para crescimento, devem ser praticadas ativas políticas de desenvolvimento social e deve melhorar-se a eqüidade. Farão parte dessas políticas investimentos, mantidos no tempo e consideráveis, em educação e saúde, extensão dos serviços de água

6 Capital físico significando a construção de bens de capital como: máquinas, equipamentos, infra-estrutura entre outros. 7 Capital humano significando a melhoria do perfil populacional de um país.

18

potável, instalações sanitárias e energia elétrica, proteção à família e outros. Para que o crescimento signifique bem-estar coletivo, deve haver simultaneamente desenvolvimento social. A análise das inter-relações entre ambos está indo, inclusive, mais longe. Ressalta-se que são interdependentes. James Wolfensohn (1996), presidente do Banco Mundial, defendeu o seguinte a respeito: ‘Sem desenvolvimento social paralelo, não haverá desenvolvimento econômico satisfatório’. Efetivamente, o desenvolvimento social fortalece o capital humano, potencializa o capital social e gera estabilidade política, bases essenciais para o crescimento sadio e sustentável (KLIKSBERG, 2001, p. 114).

É interessante observar a fragmentação imposta ao desenvolvimento por

aqueles que buscam entendê-lo ou conceituá-lo. Como pode o indivíduo ser

repartido em suas necessidades? Como pode o indivíduo ser simplesmente

repartido? O entendimento do indivíduo deve partir de uma visão holística sobre

suas necessidades. Em Kliksberg (2001) é possível atenuar esta discussão

segmentada e caminhar para um entendimento integrado.

As áreas econômica, política e social estão intrinsecamente ligadas. O que ocorrer em cada uma delas condicionará severamente as outras. A visão puramente economicista do desenvolvimento pode tropeçar, a qualquer momento, em bloqueios muito sérios que surgem das outras áreas, e assim tem acontecido na realidade (KLIKSBERG, 2001, p. 113).

Conceitos como pobreza, desigualdade na distribuição de renda e diferenças

sociais podem ser inseridos no debate sobre desenvolvimento econômico e social

uma vez que traz à luz da discussão formas específicas de privação humana. Parte

desta discussão será apresentada a seguir.

1.2.1. Pobreza

Pensar em pobreza é pensar na parcela da população que é considerada

pobre e separá-la do restante para identificar quais são suas causas e

conseqüências com o intuito de identificar quais medidas são necessárias para

atenuá-la, ou com um grau maior de otimismo, eliminá-la.

Não é pretensão, desta dissertação, investigar todas as causas e

conseqüências, e as respectivas medidas a serem tomadas no que tange à pobreza,

mas apresentar o debate ou pelo menos uma parcela dele.

No debate, há pelo menos dois tipos de pobreza aceitos por quase todos

aqueles que se colocam à disposição para discutir o assunto, são eles:

19

− Pobreza absoluta

− Pobreza relativa

Quanto à pobreza absoluta é um conceito endógeno à parcela da população

considerada pobre por um critério de mensuração. Para alguns autores estes

critérios podem ser: a quantidade de calorias necessárias para um mínimo vital; o

valor de salário mínimo necessário para suprir um mínimo vital, e o conjunto de

necessidades básicas vitais atendidas.

A pobreza relativa é um conceito exógeno à mesma parcela, uma vez que

compara os dois pólos da população, aquele que tem acesso aos critérios mínimos

necessários à sobrevivência humana e aquele que não os possue.

As contribuições de Sen, no seu conjunto de obras literárias, sobre a pobreza

adicionam novos conceitos pautados na questão do acesso às oportunidades que os

indivíduos possuem para auferir capacidades. Para o autor, a pobreza deve ser vista

como privação de capacidades básicas em vez de meramente como baixo nível de

renda, que é o critério tradicional de identificação da pobreza8. O autor demonstra,

conforme citação abaixo, os argumentos que o levaram a acreditar neste conceito.

Os argumentos em favor da abordagem da pobreza como privação de capacidades são, a meu ver, os seguintes: 1) A pobreza pode sensatamente ser identificada em termos de privação de capacidades; a abordagem concentra-se em privações que são intrinsecamente importantes (em contraste com as rendas baixas, que é importante apenas instrumentalmente). 2) Existem outras influências sobre a privação de capacidades – e, portanto, sobre a pobreza real – além do baixo nível de renda (a renda não é o único instrumento de geração de capacidades). 3) A relação instrumental entre baixa renda e baixa capacidade é variável entre comunidades e até mesmo entre famílias e indivíduos (o impacto da renda sobre as capacidades é contingente e condicional) (SEN, 2000, p. 109-110).

Sen (2000) procura ilustrar as diferenças entre trabalhar o conceito de

pobreza relacionado à obtenção insuficiente de renda e o conceito relacionado à

privação na realização de capacidades. Para ele na abordagem sobre pobreza

enquanto privação, a preocupação está no indivíduo e na ausência de recursos

(instrumentos) que ele não tem para satisfazer suas necessidades mais interiores,

ou seja, o indivíduo não tem os instrumentos necessários para adquirir as

capacidades. Na abordagem renda, a pobreza é percebida como uma insuficiência

8Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados em Sen (2000, p. 109).

20

de obter bens e serviços produzidos pela economia na qual ele está inserido.

Algumas situações como: idade, papéis sexuais (maternidade para as mulheres) e

sociais, localização, condições epidemiológicas (doenças) dificultam a transformação

da renda em capacidades e não são totalmente controláveis. Para o autor, essas

situações representam: [...] desvantagens entre (1) privação de renda (2) adversidade na conversão

de renda em funcionamentos. Desvantagens como a idade, incapacidade

ou doença reduzem o potencial do indivíduo para auferir renda. Mas

também tornam mais difícil converter renda em capacidade, já que uma

pessoa mais velha, mais incapacitada ou mais gravemente enferma pode

necessitar de mais renda (para assistência, prótese, tratamento) para obter

os mesmos funcionamentos (mesmo quando essa realização é de algum

modo possível) (SEN, 2000, p. 110).

Nessa mesma linha de entendimento o autor evidencia as condições para a

transformação da renda em capacidades nos países ricos, esclarecendo que a

pobreza nesses países pode ser percebida mesmo por aqueles que recebem uma

renda elevada em comparação com os dados de renda mundiais, entretanto baixa

para o padrão daquele país. Para ele “[...]a privação relativa de rendas pode resultar

em privação absoluta de capacidades” (SEN, 2000, p.110).

Outro aspecto relevante desta discussão sobre os conceitos de pobreza, está

na participação política. O autor esclarece que “[...] uma pessoa com renda elevada,

mas sem oportunidades de participação política não é ‘pobre’ no sentido usual,

porém claramente pobre no que diz respeito a uma liberdade importante.” (SEN,

2000, p. 116-117).

De acordo com Sen (2000), a pobreza pode ser dividida entre pobreza de

renda e de capacidade. As considerações sobre o assunto trazem à luz da

discussão um debate interessante sobre as políticas adotadas no combate à

pobreza.

Embora valha a pena ressaltar essas relações entre pobreza de renda e

pobreza de capacidades, também é importante não perder de visão o fato

fundamental de que a redução da pobreza de renda não pode, em si, ser a

motivação suprema de políticas de combate à pobreza. É perigoso ver a

pobreza segundo uma perspectiva limitada da privação de renda e a partir

daí justificar investimento em educação, serviços de saúde etc. com o

21

argumento de que são bons meios para atingir o fim da redução da pobreza

de renda. Isso seria confundir os fins com os meios. As questões básicas e

a privação da vida que as pessoas realmente podem levar e das liberdades

que elas realmente têm. A expansão das capacidades humanas enquadra-

se diretamente nessas considerações básicas. Acontece que o aumento

das capacidades humanas também tende a andar junto com a expansão

das produtividades e do poder de auferir renda (SEN, 2000, p. 114).

O autor inverte a colocação de que primeiro é preciso ter renda para depois

ter capacidades. Para ele as capacidades levam à possibilidade de ampliar tanto as

condições produtivas quanto a própria renda.

Alguns economistas, na tentativa de facilitar a análise dos critérios utilizados

para separar os pobres dos não-pobres e mensurá-los, estabeleceram o que ficou

conhecido como “linha de pobreza”9, ou seja, uma referência em termos

quantitativos para identificar na população as duas parcelas mencionadas.

Embora o conceito de pobreza seja suficientemente complexo, outro conceito

mantém a mesma relevância dentro da abordagem de privação das necessidades

humanas sob a ótica da renda; a desigualdade na distribuição de renda. Este tipo de

privação tem sua complexidade tanto como causa quanto como conseqüência. Difícil

é entender quem tem a primazia, se a pobreza que leva à desigualdade ou o

contrário.

1.2.2. Desigualdade na distribuição de renda

O conceito de pobreza e todos os conceitos próximos a ele possuem uma

extensa discussão, isso não poderia ser diferente para a questão da desigualdade.

A discussão sobre a desigualdade na distribuição de renda está no âmbito

econômico, de acordo com alguns economistas, e a principal variável a ser discutida

é a variável renda. A discussão, então, passa pela tentativa de melhorar a

distribuição de renda do país e em reduzir o seu grau de concentração. Para isso

são utilizadas formas de mensuração como a Curva de Lorenz e o Índice de Gini10.

Dentro desta questão há uma contribuição de Sen, buscando enfatizar a

percepção desse contexto, relacionando a desigualdade de renda à outras formas

9 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no item 1.5 desta dissertação. 10 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no item 1.5 desta dissertação.

22

de desigualdade. O autor busca esclarecer, com exemplos, que a desigualdade de

renda pode ser prejudicial, mas as demais formas de desigualdades podem ser

ainda mais perversas para uma dada população, conforme sua análise sobre as

taxas de mortalidade dos afro-americanos em relação às taxas de mortalidade dos

chineses ou dos indianos de Kerala.

Empiricamente, a relação entre desigualdade de renda e desigualdade em outros espaços relevantes pode ser muito distante e contingente devido às várias influências econômicas – além da renda – que afetam as desigualdades de vantagens individuais e liberdades substantivas. Por exemplo, nas taxas de mortalidade mais elevados dos afro-americanos em comparação com as dos chineses ou dos indianos de Kerala. Muito mais pobres, vemos a influência de fatores que atuam em direção oposta à desigualdade econômica e que envolvem questões de políticas públicas com fortes componentes econômicos: financiamento dos serviços de saúde e de seguro-saúde, fornecimento de educação pública, medidas visando à segurança local etc. (SEN, 2000, p. 132).

Esta face da desigualdade inserindo os aspectos sociais será trabalhada mais

adiante. Entretanto, é importante ressaltar que além delas há, ainda, uma outra

manifestação da desigualdade que é a chamada desigualdade política, na qual a

questão está focada em debates sobre a participação do total da população nas

decisões políticas, em questões como democracia, direito ao voto, atendimento às

reivindicações da população entre outros. Nessa questão o Banco Mundial vem

desempenhando estudos com o intuito de encontrar formas de mensurar o grau de

envolvimento da população dos países nas políticas adotadas pelos seus governos

e como são constituídos estes governos. Até o momento, o Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem publicado nos Relatórios de

Desenvolvimento Humano (RDHs) os seguintes dados sobre participação política:

Medida de Participação por Gênero (masculino e feminino) e Participação Política

das Mulheres. Entretanto, é importante observar que pelo fato dos indicadores

avaliados pelo Programa das Nações Unidas ter por objetivo identificar as condições

de vida de todos os indivíduos dos países avaliados e que por ter dentro deste grupo

países democráticos (com possibilidade de haver maior participação política, por

exemplo os Estados Unidos) e não democráticos (por exemplo a China) há um grau

de dificuldade maior no que se refere a participação política. Apesar das dificuldades

encontradas, o PNUD tem uma elevada consideração por sua análise, conforme

citado a seguir:

23

A liberdade política e a possibilidade de participar na vida da nossa comunidade são capacidades tão importantes para o desenvolvimento humano como saber ler e escrever e estar de boa saúde. As pessoas que não têm liberdade política – como a de poder aderir a associações e formar e exprimir opiniões – dispõem de muito menos opção de vida. E ter a possibilidade de participar na vida da nossa comunidade – exigindo o respeito dos outros e exprimindo uma opinião nas decisões comunitárias – é fundamental para a existência humana (RDH, 2002, p. 52).

1.2.3. Diferenças sociais, econômicas e culturais.

Além das desigualdades em relação a participação política há as diferenças

sócio-culturais. Estas, em contraponto com a desigualdade de renda, não tratam de

uma abordagem sobre aquele que está fora do processo de produção, mas sobre

quem uma vez dentro do processo sofre discriminação por questões culturais as

quais interferem nas relações sociais e econômicas. Estas questões, entre outras,

são: religião, língua, etnia, preferências sexuais ou convicções de qualquer ordem.

Para o PNUD, no Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2004,

todas as vezes que uma pessoa ou grupo não pode expressar, em sua plenitude,

seus traços culturais, como religião, língua, etnia, preferências sexuais ou

convicções de qualquer ordem, pode considerar que está sendo excluído daqueles

ou por aqueles grupos que podem se expressar livremente.

A forma clássica de opressão a liberdade cultural dos indivíduos é a não

igualdade de oportunidade em função de qualquer traço cultural que se manifeste. A

chamada “Exclusão da Participação” se aplica nas diferenças de oportunidades

sociais, tais como a disputa por uma vaga de emprego ou cargo eletivo de qualquer

ordem.

A outra forma de exclusão cultural, apontada no RDH de 2004, vem através

da Intolerância. Talvez seja esta a forma mais vil de exclusão, uma vez que aleija o

indivíduo ou grupo do convívio do restante da sociedade, mantendo castas claras e

discriminadas. O maior dos exemplos deste tipo de exclusão se dá na “exclusão

religiosa”.

Existem ainda outras formas de exclusão baseadas em hábitos e escolhas

pessoais. São as chamadas “Exclusão de Modo de Vida”. Como exemplo pode-se

citar a opção sexual. Este tipo de exclusão, ainda, dificulta o acesso as

oportunidades, principalmente as oportunidades profissionais. O que se observa são

indivíduos que pela opção sexual agrupam-se em profissões nas quais é “natural”

24

este modo de vida. Entretanto, em locais mais tradicionais ainda podem sofrer

discriminações, ou mesmo, perda de oportunidade em função da opção sexual.

O principal exemplo de “exclusão do modo de vida” são os imigrantes que

trazem seu próprio estilo de vida para as sociedades que se agregam. Em geral, o

choque cultural advindo do compartilhamento do mesmo ambiente, leva a forte

discriminação e exclusão de oportunidades por parte da sociedade dominante. É

comum a imposição dos hábitos e costumes locais a estes grupos, impondo sua

língua, roupas, música entre outros.

Fica evidente que a exclusão ou opressão ao estilo de vida ou cabedal

cultural do indivíduo é forte componente de perda da liberdade. A liberdade cultural é uma parte vital do desenvolvimento humano, por que a capacidade de uma pessoa escolher a sua identidade – quem ela é - sem perder o respeito pelos outros, ou ser excluída de outras opções, é importante para uma vida plena. As pessoas querem liberdade para praticar abertamente a sua religião, falar a sua língua, celebrar a sua herança étnica ou religiosa sem medo do ridículo, de punições ou da diminuição de oportunidades. As pessoas querem a liberdade de participar na sociedade sem ter de prescindir das amarrar culturais que escolheram. É uma idéia simples, mas profundamente perturbadora (RDH, 2004, p. 1).

Em função dos avanços da democracia, as pessoas exigem cada vez mais a

possibilidade de poder se expressar livremente, este se torna um grande desafio

para as nações.

No âmbito social, é possível considerar que para uma igualdade social todas

as formas de desigualdade deverão ser resolvidas. Não é possível separar

dimensões como educação, saúde, moradia, saneamento básico, aspectos

considerados tipicamente sociais, de variáveis como renda, participação política,

liberdade cultural entre outros. É estranho identificar que o debate atual sobre

desigualdade social está sempre vinculado à uma série de delimitações para explicá-

la. Kliksberg (2001) faz uma abordagem inserindo o capital social e a cultura na

discussão do desenvolvimento questionando esta análise fragmentada do

desenvolvimento.

O capital social e a cultura são componentes-chaves destas interações. As pessoas, as famílias, os grupos, são capital social e cultural por essência. São portadores de atitudes de cooperação, valores, tradições, visões da realidade, que são sua própria identidade. Se isso for ignorado, saltado, deteriorado, importantes capacidades aplicáveis ao desenvolvimento serão inutilizadas, e serão desatadas poderosas resistências. Se, pelo contrário, se reconhecer, explorar, valorizar e potencializar sua contribuição, pode ser

25

muito relevante e propiciar círculos virtuosos com as outras dimensões do desenvolvimento (KLIKSBERG, 2001, p. 113).

Para Kliksberg (2001) os aspectos sócio-culturais são relevantes para o

desenvolvimento uma vez que transformam a discussão fragmentada do mesmo em

uma discussão mais complexa, inserindo não só variáveis de renda e sociais, mas

acrescentando as variáveis culturais em busca da qualidade de vida. Entende-se por

qualidade de vida um conceito amplo no qual todas as necessidades dos indivíduos

sejam atendidas ou que, pelo menos, eles tenham a liberdade de fazer suas

escolhas e efetivá-las.

1.3. Desenvolvimento Humano

As reflexões de Sen11 mencionadas anteriormente culminaram no que nos

dias de hoje se convencionou chamar de desenvolvimento humano. Suas

contribuições para a economia do bem-estar estão na análise do comportamento

humano. Ele questiona em sua obra “Desenvolvimento como liberdade” se são

apenas com considerações econômicas que os indivíduos se preocupam. E neste

ponto, seu questionamento caminha até a economia do bem-estar, e questiona se o

bem-estar das pessoas está relacionado à renda que as mesmas recebem e a

quantidade de bens que esta renda lhes proporciona. Ora, para ele este é apenas

um aspecto das preocupações dos indivíduos porque eles também querem ter a

possibilidade de fazer escolhas e para fazer escolhas o indivíduo precisa ter

oportunidades as quais proporcionarão a possibilidade de usufruir liberdades. O que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, liberdades políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras como boa saúde, educação básica e incentivos e aperfeiçoamentos de iniciativas. As condições institucionais que proporcionam essas oportunidades são ainda influencias pelo exercício das liberdades das pessoas, mediante a liberdade para participar da escolha social e da tomada de decisões públicas que impelem o progresso dessas oportunidades.... e assim A privação de liberdade econômica pode gerar a

11 Em 1998 foi laureado com o Premio Nobel de Economia, o economista Amartya Kumar Sen, por suas contribuições para economia do bem-estar. Este economista junto com os estudos das Organizações das Nações Unidas aplicados pelo Banco Mundial para avaliar o grau de desenvolvimento entre os países trouxe, novamente, para a discussão o conceito de desenvolvimento. Porém, desta vez sob o prisma de um indivíduo que tem a possibilidade de tomar decisões e estas decisões serão ampliadas ou não de acordo com a participação dele no processo do desenvolvimento.

26

privação de liberdade social, assim como a privação de liberdade social ou política pode, da mesma forma, gerar a privação de liberdade econômica (SEN, 2000, p. 19 e 23).

Para este economista não só questões econômicas são relevantes para os

indivíduos, mas também, questões sociais e políticas. Usufruir liberdades é ter tais

condições, ou pelo menos que estas possam fazer parte das suas escolhas.

A tarefa a qual se destina Sen (2000) em suas contribuições à economia é

fazer com que as pessoas sejam analisadas por cinco tipos distintos de liberdade

vistos de uma perspectiva “instrumental”, são eles: (1) liberdades políticas, (2)

facilidades econômicas, (3) oportunidades sociais, (4) garantias de transparência e

(5) segurança protetora. O autor acrescenta ainda que: Cada um desses tipos distintos de direitos e oportunidades ajuda a promover a capacidade geral de uma pessoa. Eles podem ainda atuar complementando-se mutuamente. As políticas públicas visando ao aumento das capacidades humanas e das liberdades substantivas em geral podem funcionar por meio da promoção dessas liberdades distintas mais inter-relacionadas (SEN, 2000, p. 25).

Na economia, questões como estas que relacionam aspectos econômicos

com os aspectos sociais e políticos, estão inseridas no que se convencionou chamar

de desenvolvimento. O que para Sen (2000) não foi diferente, ele apresenta o

conceito de desenvolvimento como sendo um momento na sociedade em que haja

integração entre estes três aspectos interdependentes.

Tais contribuições sobre desenvolvimento realizadas por Amartya Sen foram

abordadas em sua colaboração na construção do Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH). Este índice criado pelo paquistanês Mahbud ul Haq com a

colaboração de Sen, tem por objetivo “... oferecer um contraponto a outro indicador

muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB)12 per capita, que considera apenas a

dimensão econômica do desenvolvimento” (RDH, 1999, prefácio) para isso, ele “...

pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano” (RDH, 1999,

prefácio).

O IDH, entre outras contribuições, é uma possibilidade de transformar a

complexa abordagem teórica sobre o desenvolvimento, de Sen, em números.

O IDH mede a situação de um país em três dimensões básicas do desenvolvimento humano— uma vida longa e saudável, conhecimento e um nível de vida digno. O IDH é um indicador composto, que contém três variáveis— esperança de vida ao nascer, nível educacional (alfabetização

12 Isto é, a renda sendo medida pelo PIB per capita.

27

de adultos e taxa de escolaridade bruta combinada do primário, secundário e superior) e PIB per capita (dólares PPC). A renda entra no IDH como uma representação do nível de vida digno e como um substituto de todas as escolhas humanas que não estão refletidas nas outras duas dimensões (PNUD, 2000, glossário).

O IDH é uma forma de medir o desenvolvimento humano, ou seja, ele coloca

os anseios do ser humano como peça central do desenvolvimento; conforme citado

abaixo:

O desenvolvimento humano é um processo mediante o qual se oferece às pessoas maiores oportunidades. Entre estas, as mais importantes são: uma vida prolongada e saudável, educação e acesso aos recursos necessários para se ter uma vida decente. Outras oportunidades incluem a liberdade política, a garantia dos direitos humanos o respeito a si mesmo (RDH, 1990, p 19).

Este conceito pode ter uma nomenclatura nova, mas as questões como

expostas acima são antigas. Entretanto, deixa latente que o desenvolvimento passa

pela órbita das condições de vida do ser humano que habita um determinado país, e

não meramente pela quantidade ou qualidade de recursos que este país tem

condição de produzir.

O desenvolvimento humano, conceitualmente, engloba tanto o processo de alargamento das escolhas pessoais, quanto o nível de satisfação alcançado por elas, enfatizando os indivíduos como promotores e beneficiários do desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento econômico deve ter o objetivo de criar o ambiente propício para as pessoas desfrutarem de uma vida longa, saudável e criativa. Assim, os elementos da condição humana considerados críticos para proporcionar tal ambiente referem-se à condição de uma vida longa e saudável, acesso à educação e padrão de vida decente. Com base nessa noção elementar da vida e condição humana distingue-se a dicotomia: a capacitação humana, que inclui a saúde e a educação e; o uso que os indivíduos fazem das capacidades adquiridas, para o trabalho ou para o lazer (Castro, 2000, p.27).

Esta contribuição de Castro (1999) demonstra a síntese das contribuições do

IDH e da teoria do desenvolvimento humano, referenciados em Sen, à discussão

sobre o desenvolvimento.

1.4. Desenvolvimento Sustentável

A discussão sobre a teoria do desenvolvimento apresentada nesse estudo

demonstrou sua dimensão em três aspectos: o econômico, o social e o humano.

Entretanto, a evolução teórica e conceitual do desenvolvimento apresentou um

28

“novo” conceito, o conceito de desenvolvimento sustentável. Em um momento

anterior este conceito era denominado de ecodesenvolvimento, ele visa a inserção

da preocupação com o meio ambiente no processo de desenvolvimento. Veiga

(2005) cita as contribuições do economista Ignacy Sachs:

Sachs considera que a abordagem fundamentada na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos, primeiro chamada de ecodesenvolvimento, e depois de desenvolvimento sustentável, não se alterou substancialmente nos vinte anos que separam as conferëncias de Estocolmo e do Rio. E acredita que permanece válida, na recomendação de objetivos específicos para oito das suas dimensões: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica, política nacional e política internacional. No que se refere às dimensões ecológicas e ambientais, os objetivos de sustentabilidade formam um verdadeiro tripé: 1) preservação do potencial da natureza para a produção de recursos renováveis; 2) limitação do uso de recursos não renováveis; 3) respeito e realce para a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais (SACHS apud VEIGA, 2005, p. 171).

As contribuições de Sachs, em Veiga (2005) sintetizam as divergências do

debate que se divide em duas visões. Em May, Lustosa e Vinha (2003), a primeira

visão é oriunda do relatório “The Limits of Growth” preparado pelo Clube de Roma13

em 1972 , no qual especialistas das diversas áreas do conhecimento humano

defenderam que só com um crescimento zero não haveria esgotamento dos

recursos naturais no modelo de crescimento econômico vigente na época. A

segunda visão teve sua origem na economia do meio ambiente, a mesma possui

duas correntes: economia ambiental e economia ecológica nas quais há uma

convergência sobre a utilização do progresso tecnológico para solução dos

problemas ambientais divergindo fundamentalmente em relação à capacidade de

superação indefinida dos limites ambientais globais. Para Sachs, os aspectos

sociais, ambientais e econômicos cristalizados no desenvolvimento sustentável

continuam em vigor na questão do desenvolvimento.

Em uma abordagem sobre o desenvolvimento sustentável é necessária a

apresentação de alguns marcos históricos. Inicia-se em 1972 com a publicação do

Relatório do Clube de Roma, e alguns meses depois, ainda em 1972, com a

realização em Estocolmo, Suécia, da Conferência da ONU sobre o Ambiente

Humano, de onde saiu um documento chamado “Declaração sobre o Ambiente

Humano” com o objetivo de combater a crise ambiental no mundo. Após 20 a 30

13 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados em Meadows, Meadows, Randers e Behrens (1972)

29

anos desta conferência foram realizadas no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992 e em

Joanesburgo, África do Sul, em 2002, conferências da mesma instituição com o

objetivo de primeiro, na Rio-92, levantar uma lista de prioridades e passados 10

anos avaliar os resultados atingidos pelos países envolvidos.

Apesar da evolução do debate sobre o desenvolvimento sustentável tanto em

termos teóricos quanto em termos históricos não há, até o momento, um conceito

internacionalmente aceito sobre o assunto. As contribuições teóricas e conceituais

de maior ênfase, de acordo com May, Lustosa e Vinha (2003) e Veiga (2005), são as

do economista Ignacy Sachs:

A sustentabilidade ambiental é baseada no duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras. Ela compele a trabalhar com escalas múltiplas de tempo e espaço, o que desarruma a caixa de ferramentas do economista convencional. Ele impele ainda a buscar soluções triplamente vencedoras (Isto é, em termos sociais, econômicos e ecológicos), eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais. Outras estratégias, de curto prazo, levam ao crescimento ambientalmente destrutivo, mas socialmente benéfico, ou ao crescimento ambientalmente benéfico, mas socialmente destrutivo (SACHS, apud VEIGA, 2005, p. 171-172).

Para Sachs este debate trouxe à discussão questões como a sobrevivência

das futuras gerações após a utilização dos recursos naturais pela geração presente.

Enfatiza a necessidade de práticas políticas de longo prazo para o alcance do

desenvolvimento numa concepção sustentável, e esclarece que a solução para o

crescimento econômico não é simples, pelo contrário ela precisa respeitar as três

dimensões do desenvolvimento sustentável; o social, o ambiental e o econômico,

evitando, assim o crescimento econômico predatório alcançado com elevadas

externalidades negativas. Estas podem ser entendidas, de acordo com Pyndick e

Rubinfeld (1994), como influências sociais e ou ambientais ocasionadas por

atividades de alguns produtores e consumidores que podem influenciar

negativamente as atividades de outros; como por exemplo, a emissão de poluentes

por algumas empresas que venham a prejudicar a sobrevivência das futuras

gerações (demandantes ou ofertantes).

Os pesquisadores vêm apresentando uma série de indicadores com o objetivo

de mensurar as variáveis relacionadas aos aspectos sociais e de renda dos países.

Entretanto, existe uma dificuldade em associar nos indicadores a dimensão

30

ambiental do desenvolvimento. Nos principais indicadores sócio-econômicos criados

por instituições nacionais e internacionais não há a inserção da questão ambiental.

Existem alguns indicadores específicos para o assunto e outros que fazem esta

junção (social + econômico + ambiental), mas não possuem uma abrangência

temporal e geográfica suficientes para serem abordados, vis-à-vis às questões

sócio-econômicas, nesta dissertação. No próximo item serão apresentados alguns

indicadores sócio-econômicos, sem a dimensão ambiental, com o intuito de formar

um alicerce para a análise e avaliação posteriores do Índice de Desenvolvimento

Humano.

1.5. Indicadores sócio-econômicos no Brasil

1.5.1. Indicadores de qualidade de vida (bem-estar) no Brasil

Os indicadores de qualidade de vida apresentados no QUADRO Nº 1

cristalizam informações sobre dimensões como: educação, saúde, renda, habitação,

infância e aspectos como: padrão de vida digno, conhecimento e risco juvenil.

Variáveis estas que no caso dos indicadores possuem um único objetivo geral:

analisar o grau de desenvolvimento econômico, social e humano. Cada indicador

analisado compreende em seu cálculo valores de algumas das dimensões

apresentadas.

A maioria dos indicadores do QUADRO Nº 1 está relacionada ao IDH. Alguns

agregam mais variáveis com o objetivo de ampliar a análise, outros reduzem esta

quantidade objetivando uma interpretação mais focada dos dados. Outros

indicadores englobam as variáveis do IDH em outras dimensões; algumas mais

amplas outras mais focadas. O fato é que cada um, mesmo com suas

especificidades, tem o anseio de encontrar uma fórmula quantitativa que aponte o

grau de desenvolvimento do país em suas diversas instâncias.

QUADRO Nº 1 - Índices sócio-econômicos Índices Variáveis componentes Objetivos e Aplicações

1- Índice de

Desenvolvimento Humano

(IDH)

O IDH agrega em sua metodologia de cálculo três dimensões:

Renda; Saúde; Educação.

Fonte: PNUD 1990/2000

Avaliar a evolução da qualidade de vida nos países.

3- Índice de

Desenvolvimento Humano

Municipal (IDH-M)

O IDH-M consiste em uma versão adaptada do IDH,

necessárias para calcular um índice em nível municipal

utilizando as mesmas variáveis.

Fonte:

IPEA/PNUD/FJP/IBGE

(IPEA,1998)

Avaliar a evolução do desenvolvimento humano no país,

nas macrorregiões e microrregiões, nos estados e

municípios brasileiros.

4- Índice de Condições de

Vida (ICV)

Fonte:

IPEA/PNUD/FJP/IBGE

(IPEA,1998)

Resulta da combinação de dezoito indicadores classificados em

quatro grupos: renda (incluindo o índice L de Theil); educação;

habitação; saúde ; e infância .

Avaliar a evolução das condições de vida no país, nas

macrorregiões e microrregiões, nos estados e municípios.

11- Índice de

Desenvolvimento Infantil

(IDI-UNICEF)

O IDI considera as condições de vida de crianças com idade

entre zero e seis anos. Para sua construção são utilizadas

variáveis relativas à escolaridade dos pais, taxas de matrículas

em creches e pré-escolas, taxa de vacinação das crianças

(sarampo e tríplice), taxa de mortalidade infantil e porcentagem

de gestantes que realizaram pré-natal.

Autor: UNICEF (2000)

Verificar o desempenho das condições de vida das

crianças de zero a seis anos de idade no país e nos

municípios brasileiros.

9- Índice de Exclusão Social

(IES)

Autor: Atlas de Exclusão

Social (2004)

Utiliza a mesma metodologia de cálculo do IDH, classificando os

indicadores em três dimensões: padrão de vida digno,

conhecimento e risco juvenil.

Averiguar efetivamente em quais momentos e em que

grandes cidades e Estados brasileiros a exclusão social

ganhou novos contornos, tornando-se mais complexa e

profunda.

Fonte: Oliveira (2001).

Atlas de Exclusão Social (2004).

32

Segundo Oliveira (2001) o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi

utilizado como alicerce básico para todos os índices apresentados no QUADRO Nº

1. As dimensões estudadas no IDH como educação, saúde e renda foram

ampliadas ou reduzidas para se chegar aos índices que foram aplicados em âmbito

nacional.

A Fundação João Pinheiro do Governo de Minas Gerais e o Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (1996) criaram dois indicadores: Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e o Índice de Condições de Vida

(ICV). O IDH-M consiste numa versão semelhante ao IDH com especificações

inerentes a uma análise de municípios ao invés de países. O ICV amplia a análise

do IDH-M acrescentando 20 indicadores distribuídos em cinco grupos (renda,

educação, longevidade, habitação e infância). Estes indicadores foram utilizados

em todos os municípios do Brasil em anos censitários.

Em 2000, o Fundo das Nações Unidas para a infância (UNICEF) criou o

Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI) e tem por objetivo analisar as condições de

vida em que crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos se encontram. Para isso, em seu

cálculo são utilizadas duas dimensões do IDH, tais como: saúde e educação.

Em 2004, foi publicado o Atlas da Exclusão Social sobre os anos censitários:

1960, 1980 e 2000, por uma equipe de pesquisadores sobre o assunto, entre os

que estão os organizadores: Marcio Pochmann, André Campos, Ricardo Amorim e

Ronnie Silva. A elaboração do Atlas foi viabilizada pela criação e aplicação do

Índice de Exclusão Social (IES) em todos os municípios brasileiros. Para o seu

cálculo foi adotada a mesma metodologia criada por Amartya Sen e utilizada pelo

PNUD/ONU para mensurar o IDH14. É um índice síntese que busca identificar o

grau de exclusão social no Brasil.

Em virtude da utilização deste índice na realização da análise comparativa

entre as dimensões do IDH e os aspectos avaliados por ele na aplicação estadual,

um detalhamento maior sobre sua origem e metodologia de cálculo se fazem

necessários. Neste sentido é relevante explicar qual é o entendimento da exclusão

social no Brasil pelos autores/organizadores Campos et al. [...] o fenômeno da exclusão surge não apenas para aqueles segmentos sociais que já estiveram incluídos em algum momento do tempo, mas também para aqueles que jamais passaram pela condição de inclusão. Nesse sentido, a exclusão passa a reunir tanto segmentos sociais

14 Metodologia em evidência no capítulo 2 e neste capítulo.

33

deserdados de alguma condição de vida digna, que numa situação anterior tinham um emprego adequado e renda decente e agora convivem com o desemprego e a ausência de renda, como segmentos sociais despossuídos de situação prévia de inclusão, ou seja, que nunca tiveram acesso, por exemplo, a um emprego adequado (CAMPOS et al. 2004, p. 10).

Na questão metodologia do cálculo do IES, os aspectos avaliados e os

indicadores respectivos a cada aspecto são:

1) vida digna – esta dimensão tem por objetivo verificar o bem-estar

material da população e é composta pelos indicadores: a) indicador de

pobreza (porcentagem de chefes de família com insuficiência de

rendimentos em cada cidade); b) indicador de emprego (percentual da

população em idade ativa – 10 anos ou mais de idade- empregada com

carteira assinada) e c) indicador de desigualdade (proporção entre os

chefes de família com rendimentos acima de dez salários mínimos e

aqueles com rendimentos até este momento).

2) Conhecimento – esta dimensão tem por objetivo mensurar o acúmulo

simbólico e cultural da população e incorporou: a) um indicador de

alfabetização (porcentagem de cidadãos com 5 ou mais anos de idade

que sabem ler e escrever) e b) um indicador de estudo dos chefes de

família (número médio de anos de estudos).

3) Vulnerabilidade Juvenil – esta dimensão tem por objetivo avaliar a

exposição da população jovem a situações caracterizadas pela violência

e absorve os seguintes indicadores: a) indicador de presença juvenil

(percentual da população com até 19 anos de idade) e b) indicador de

mortes violentas (proporção de homicídio por 100.000 habitantes).

Os resultados de cada aspecto avaliado pelo IES são compostos pelos

índices e os respectivos pesos apresentados no QUADRO N°2. O cálculo final

consiste em uma média aritmética simples dos resultados alcançados em cada

aspecto.

Para interpretar o resultado do IES, após a aplicação da metodologia de

cálculo para cada estado é necessário observar duas considerações:

1. O índice varia de 0,000(zero) a 1,000(um).

2. As piores condições de vida equivalem a valores próximos ou iguais a zero,

enquanto as melhores situações sociais estão próximas ou iguais a um,

34

tanto para o índice síntese (IES) quanto para os indicadores que o

compõem.

QUADRO N°2 – Aspectos, índices e pesos do IES

ASPECTOS

ÍNDICES CRIADOS PESO

Um padrão de vida digno

• medido pela pobreza dos chefes de família no município; • medido pela taxa de emprego formal sobre a PIA; • medido por uma proxi da desigualdade de renda.

17,0% 17,0% 17,0%

Conhecimento • medido pela taxa de alfabetização de pessoas acima de 5 anos; • medido pelo número médio de anos de estudo do chefe de

domicílio.

5,7% 11,3%

Risco Juvenil • medido pela porcentagem de jovem na população; • medido pelo número de homicídios por 100 mil habitantes.

17,0% 15,0%

TOTAL 100%

Fonte: Atlas de Exclusão Social, 2004.

Todos os índices estudados oferecem uma alternativa de medir o grau de

desenvolvimento sócio-econômico do país utilizando, ou não, todas as dimensões

do IDH.

Os indicadores IDH-M e IES com as informações agrupadas por unidade da

federação serão retomados no capítulo 4 desta dissertação.

1.5.2. Indicadores de distribuição de renda

Dentre os indicadores há indicador que mede a renda e outros que medem a

sua distribuição.

Conforme mencionado anteriormente, a renda no IDH é medida pelo PIB per

capita. O Produto Nacional Bruto (PNB) ou PIB per capita, por pessoa, são

variações do PNB ou PIB. Para Sachs e Larrain (1995) ele é uma medida que

representa o nível de bem-estar econômico. O nível de PNB per capita (ou seja, por pessoa) de uma nação é o padrão mais usado para medir o desenvolvimento econômico. Pressupõe-se que as nações que têm grande PNB per capita – as nações ricas – têm maior nível de bem-estar econômico do que as de menor PNB per capita (SACHS; LARRAIN, 1995, p. 29).

Para calcular o PNB, segundo Sachs e Larrain (1995), é necessário somar

tanto a renda auferida pela população nacional que desempenhou atividades

35

relacionadas à produção no seu país quanto aquele que desempenhou atividades

em um país estrangeiro.

Os mesmos autores, apresentam a seguinte definição para o PIB: O Produto Interno Bruto (PIB) é o valor total da produção atual de produtos e serviços finais obtida dentro do território nacional, num determinado período de tempo, normalmente um trimestre ou um ano. [...] Uma economia produz milhões de bens diferentes [...] e serviços [...]. O PIB soma tudo isso numa única medida estatística da produção global de bens e serviços. Para somar todos esses itens, contudo, é preciso expressá-lo numa unidade comum de medida, que geralmente é uma unidade monetária (SACHS; LARRAIN, 1995, p. 22).

O cálculo do PIB, diferentemente do PNB, soma a renda auferida apenas

dentro do território nacional.

O Índice de Gini e a Curva de Lorenz são indicadores de distribuição de

renda e estão interligados em termos conceituais e práticos.

Todaro (1986) esclarece que o índice de Gini trata-se de um índice de

desigualdade proposto por Corrado Gini em 1914, freqüentemente utilizado para

expressar o grau de desigualdade de renda.

Conceitualmente, o índice de Gini pode ser associado à chamada curva de

Lorenz, que é definida pelo conjunto de pontos que, a partir das rendas ordenadas

de forma crescente relacionam a proporção acumulada de pessoas e a proporção

acumulada da renda.

A curva em negrito da figura Nº 1 representa a curva de Lorenz para uma

situação de desigualdade de renda hipotética, mas semelhante à que ocorre no

Brasil. Assim 40% de pessoas com rendas mais baixas correspondem à 10% da

renda total. O segmento OB representa a curva de Lorenz associada a uma

situação teórica de desigualdade nula, em que toda a população tivesse a mesma

renda, de modo que a qualquer proporção acumulada das pessoas corresponderia,

exatamente, a mesma proporção da renda total: 2% das pessoas corresponderia

2% da renda, a 10% das pessoas corresponderia 10% da renda, e assim por

diante. Alternativamente, a desigualdade máxima ocorreria quando uma pessoa se

apropriasse de toda a renda e as demais pessoas, numa população

suficientemente grande, tivessem renda nula. Nesse caso, a curva de Lorenz se

confundiria com a poligonal 0AB.

36

FIGURA Nº 1 - Curva de Lorenz

0

0 ,1

0 ,2

0 ,3

0 ,4

0 ,5

0 ,6

0 ,7

0 ,8

0 ,9

1

0 0 ,1 0 ,2 0 ,3 0 ,4 0 ,5 0 ,6 0 ,7 0 ,8 0 ,9 1

P ro p o rç ã o a c u m u la d a d a p o p u la ç ã o

Prop

orçã

o ac

umul

ada

da re

nda

B

α

A

Fonte: Curva de Lorenz, citada por Hoffmann (2001, p.51).

Assim, a curva de Lorenz delimita uma área de desigualdade α – que,

teoricamente, varia de 0(caso de perfeita igualdade) a 0,5 (caso de máxima

desigualdade) – a qual corresponde à área do triângulo 0AB.

O índice de Gini é definido como o quociente entre a área de desigualdade α

verificada e seu valor teórico máximo de 0,5:

Gini = α/0,5

Como já visto, α pode variar entre 0 e 0,5 (0 ≤ α ≥ 0,5). Sendo assim, o índice de Gini assume valores entre os limites teóricos, mínimo de 0 (nenhuma desigualdade) e máximo de 1 (desigualdade máxima). 1.5.3. Indicadores de pobreza

O Banco Mundial nos Relatórios do Desenvolvimento Humano trabalha com

a Paridade do Poder de Compra (PPC) ou Lei do Preço Único da moeda dólar para

definir uma linha de pobreza, a qual é chamada de linha de privação de rendimento

nos relatórios do mesmo órgão. Esta linha é definida pela quantidade diária, em

37

unidades do dólar americano, necessária para suprir as necessidades básicas dos

indivíduos nos países estudados por ele. Abaixo desta quantidade os indivíduos

são considerados pobres, ou melhor, desprovidos de rendimentos e acima providos

de rendimentos.

A PPC é um conceito derivado e ampliado da Lei do Preço Único sendo

utilizada pelo Banco Mundial por propiciar a comparabilidade entre os preços em

moeda nacional dos diversos países estudados e os preços em dólares americanos

utilizando a taxa cambial para realizar a conversão. A lei do preço único é definida

em Sachs e Larrain (1995) como: [...]qualquer mercadoria num mercado integrado tem um único preço. Se supusermos que um mercado interno e um mercado estrangeiro estão suficientemente integrados (ou seja, uma série de mercadorias pode ser facilmente comercializada entre os dois mercados), a lei do preço único diz que o preço destes produtos deve ser o mesmo nos dois países. [...] Pela lei do preço único, os dois preços devem ser iguais quando expressos numa moeda comum. Portanto, para aplicar esta lei precisamos de uma taxa de câmbio para converter a moeda estrangeira em moeda nacional, e vice-versa (SACHS; LARRAIN, 1995, p. 330).

Sachs e Larrain (1995) apresentam a ampliação da lei para o que eles

chamam de doutrina da PPC o qual vem a ser o conceito utilizado pelo Banco

Mundial. A doutrina da paridade do poder de compra amplia a lei do preço único, das mercadorias isoladas para uma cesta de mercadorias que define o nível médio dos preços da economia. Como a lei do preço único deve poder vigorar em todas as mercadorias no comércio internacional, também deve vigorar para o índice de preços internos (P), que é uma média ponderada dos preços das mercadorias isoladas. E este deve ser igual ao índice de preços mundial (P*) vezes a taxa cambial (E). Se assumirmos que P e P* são o preço da cesta de produtos, a relação expressa na equação (P=EP*) é a forma mais simples de paridade do poder de compra (SACHS; LARRAIN, 1995, p. 331).

No Brasil, a metodologia oficial que o governo federal utiliza como referência

para definir a linha de pobreza e indigência é o Salário Mínimo, isto é, 1/4 do

salário mínimo familiar per capita para a linha de indigência e 1/2 do salário mínimo

familiar per capita para a linha de pobreza. Limites abaixo dos quais se define uma

família extremamente pobre (indigente) e pobre, respectivamente. O Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão responsável por realizar a

pesquisa de orçamento familiar que subsidia os dados sobre a linha de pobreza e

indigência sob a qual o governo toma suas decisões em relação às políticas

sociais.

38

Capítulo 2 - Metodologia do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

O conceito de desenvolvimento humano expandido pelo economista indiano

Amartya Sen (2000) envolve o estudo das instâncias nas quais as liberdades,

entendidas como a possibilidade de efetivar escolhas dos indivíduos, devem ser

respeitadas quando existirem, ampliadas quando forem insuficientes e criadas

quando não existirem pelas práticas políticas envolvidas.

Na discussão teórica e conceitual sobre o desenvolvimento humano havia

uma quantidade grande de dimensões sócio-econômicas que deveriam ser

investigadas para uma apuração do seu resultado. Entretanto, na passagem, da

discussão teórica para a discussão prática, a quantidade de dimensões foi

reduzida. O IDH, índice que tem por objetivo mensurar o grau de desenvolvimento

humano dos países, engloba três dimensões: saúde, educação e renda.

A utilização de métodos quantitativos para auxiliar na tomada de decisão dos

países que objetivam ampliar as condições de vida de sua população em busca do

desenvolvimento humano se torna necessária uma vez que as necessidades dos

indivíduos não são passíveis de esperas longas e sem resultados efetivos.

2.1. Dimensões básicas da existência Humana

As três dimensões investigadas pelo IDH para analisar o grau de

desenvolvimento humano dos países (saúde, educação e renda) representam uma

noção elementar da existência humana e uma possibilidade de avaliar algumas das

variáveis sócio-econômicas nos diversos países. Estas dimensões agrupadas no

IDH representam, também, uma alternativa para avaliar o grau de desenvolvimento

dos países que antes eram avaliados apenas pelo PNB per capita. A Organização

das Nações Unidas (ONU) na tentativa de realizar uma comparação dos resultados

entre os países, promove a aplicação da metodologia do IDH. Os resultados, a

comparabilidade entre os países e a análise dos dados, são divulgados nos

Relatórios de Desenvolvimento Humano (RDH) e publicados pelo Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Os objetivos do IDH ao estudar

as dimensões que o compõem estão relacionados abaixo:

39

a. Saúde - A dimensão saúde é utilizada para analisar se os indivíduos dos

países avaliados têm uma vida longa e saudável. Para isso o indicador

analisado é a esperança de vida ao nascer. Este indicador tem peso 1/3 no

valor final do IDH.

b. Educação - A dimensão educação é utilizada para avaliar o acesso ao

conhecimento. Neste caso os indicadores analisados são: o índice de

alfabetização mais o índice de escolarização bruta, o primeiro equivalendo a

2/3 da avaliação total da educação e o segundo equivalendo a 1/3 deste

mesmo total. O valor final equivale a 1/3 do IDH.

c. Renda - A dimensão renda é utilizada para avaliar se os indivíduos têm um

padrão de vida digno. O indicador utilizado para esta avaliação é o Produto

Interno Bruto per capita ou PIB per capita ajustado (dólares PPC). O valor

deste indicador equivale a 1/3 do valor final do IDH.

Estas três dimensões componentes do IDH são calculadas de acordo com

valores balizadores, os quais representam uma referência na verificação do grau

de deficiência ou da carência de cada indicador cujos valores foram observados

nos países analisados. A cristalização destas dimensões no IDH proporciona uma

avaliação da noção elementar da existência humana e, como propõe o PNUD, a

identificação do grau de desenvolvimento entre os países membros da ONU. O

RDH foi publicado pela primeira vez em 1990 e em todos os anos após esta data.

Apesar da continuidade na publicação o mesmo não ocorreu com a metodologia de

cálculo aplicada para obter o valor do IDH de cada país. Esta vem sofrendo várias

alterações desde o ano de sua primeira publicação. O próximo item abordará com

detalhes estas alterações.

2.2. Evolução nos procedimentos metodológicos do IDH

Os valores balizadores e a metodologia de cálculo do IDH sofreram

alterações ao longo do seu tempo de existência entre os anos de 1990 e 2005.

Em 1990, primeiro ano de publicação do RDH, os valores do IDH atenderam

a seguinte metodologia:

40

Quantidade de países: Os valores foram estabelecidos de acordo com os

resultados apresentados por cerca de 130 países, segundo os critérios da ONU, no

ano de 1987.

Valores balizadores: Para o no de 1990 os valores eram:

TABELA Nº 1 Valores balizadores para o cálculo do IDH-1990 Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 78 42

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 12

PIB per capita (dólares PPC) 4.861 220

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 1990.

Para a esperança de vida ao nascer foi utilizado o valor máximo de 78 anos,

observado nos países analisados (Japão) e o valor mínimo observado de 42 anos

(Afeganistão, Etiópia e Serra Leoa).

Para os dados da taxa de alfabetização de adultos, seguindo a mesma

metodologia dos valores mínimos e máximos, foram respectivamente 12% e 100%.

O valor mínimo para o PIB per capita (dólares PPC), de acordo com o valor

apresentado pelo Zaire foi de US$ 220,00 e o valor máximo, de acordo com

Austrália, Canadá, República Federal da Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia,

Reino Unido e Estados Unidos (países industrializados) foi de US$ 4.861,00. O

valor da renda é o logaritmo da renda média da linha de pobreza nos países mais

ricos, expresso em dólares PPC e o logaritmo do valor máximo observado no país

para o PIB per capita real, conforme fórmula abaixo:

yyW log)( = para *0 yy <<

*log)( yyW = para *yy >

Onde: W(y) utilidade do bem-estar derivado da renda

y* renda média da linha de pobreza mundial

y o valor máximo observado no país para o PIB per capita

real.

Em 1991, as alterações metodológicas ocorreram nos indicadores renda e

educação. Entretanto, o enfoque das alterações não foi apenas no valor dos

balizadores, mas no cálculo que os determinam.

41

Quantidade de países: Os valores foram estabelecidos de acordo com os

resultados apresentados por cerca de 160 países, segundo os critérios da ONU,

utilizando uma média dos valores apresentados nos anos 1985-1988.

Valores balizadores: O único indicador que sofreu alteração no valor

balizador, em 1991, foi o valor máximo para renda que antes era de US$ 4.861

para US$ 5.070. As demais alterações ocorreram na metodologia de cálculo;

conforme informações abaixo:

TABELA Nº 2 Valores balizadores para o cálculo do IDH-1991 Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 78 42

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 12

Média de anos de escolaridade (anos) 15 0

PIB per capita (dólares PPC) 5.070 220

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 1991.

Não houve alterações para o cálculo desta dimensão. Os valores utilizados

para o cálculo da expectativa de vida foram do ano 1990.

Por outro lado, os valores utilizados para o cálculo da taxa de alfabetização

foram do ano de 1985 e da escolaridade média de 1980. Além destas alterações

esta dimensão que antes analisava apenas a taxa de alfabetização passou a

avaliar também o número médio de anos de escolaridade da população adulta,

sendo que a ponderação para os valores ficou respectivamente: 2/3 e 1/3.

Os valores utilizados para o cálculo do PIB per capita foram obtidos através

da média dos anos de 1985-88. As alterações para a dimensão renda buscavam

resolver a questão dos rendimentos decrescentes para valores do PIB per capita.

No IDH, a renda até a linha de pobreza (y*) tem um valor relativo total, e a renda

que está acima de linha de pobreza tem um valor relativo de zero. Nas variações

mencionadas anteriormente, todo tipo de renda tem o mesmo valor relativo. Afim

de explorar alternativas entre estes dois extremos, tratamos de utilizar um valor

relativo total para a renda até a linha de pobreza e um valor relativo fracionário para

valores acima dela. Assim:

yW = para *yy ≤

42

21

*)(2 yyyw −+= para *yy >

O valor relativo fracionário assinado a renda para acima da linha de pobreza

se obtém de uma fórmula geral:

ε−=

11)(yW x ε−1y

Nesta fórmula ε=0 faz com que toda renda tenha um valor relativo total sem

rendimento decrescente. Quando ε se aproximar de 1(um), W(y) se converterá em

logaritmo de y. Em (1a) e (1b) a premissa é que 0=ε para e *yy < 21=ε para

. *yy >

Conforme o RDH de 1991 a maioria dos países estão entre 0 e y*, alguns

entre y* e 2y*, alguns outros entre 2y* e 3y* e assim sucessivamente. Assim, para

os países onde y<y*, ε = zero, não havendo rendimentos decrescentes; para a

renda y* e 2y*, ε = ½ e para renda entre 2y* e 3y*, ε = 2/3. Em geral se

( ) *1* yyy +≤≤ αα , então 1+

=ααε . Isto nos dá:

W(y) = y* para ∗≤< yy0

= 21

)(2 ∗−+∗ yyy para ∗≤≤∗ yyy 2

= 31

21

)2(3)(2 ∗−+∗+∗ yyyy para ∗≤≤∗ yyy 32

Onde: W(y) utilidade do bem-estar derivado da renda

y* linha de pobreza mundial

y o valor máximo observado no país para o PIB per capita

real.

Em 1994, as alterações ocorreram na metodologia de cálculo final do IDH,

nos valores balizadores e na fonte de dados do PIB real per capita em PPC. A

fonte de dados utilizada, anteriormente, para os dados do PIB real per capita em

43

PPC era da Penn World Tables15, no RDH de 1994 a fonte de dados passou a ser

a do Banco Mundial. As alterações foram:

Quantidade de países: Os valores foram estabelecidos de acordo com os

resultados apresentados por cerca de 173 países, segundo os critérios da ONU. Os

valores de referência para as informações estatísticas são de 1992, exceto o PIB

per capita que tem como referência os dados de 1991, cujos valores tinham como

parâmetro a renda per capita média mundial igual a US$ 5.120.

Valores balizadores: Nesse ano a alteração ficou nos valores limite e não

na metodologia do cálculo. Para o cálculo dos balizadores foram utilizados os

valores observados ou esperados durante um longo período de tempo (60 anos).

Os mínimos são valores historicamente observados retroagindo 30 nos, enquanto

os máximos são estatísticas esperadas avançando 30 anos no tempo; conforme

tabela e explicação abaixo:

TABELA Nº 3 Valores balizadores para o cálculo do IDH-1994 Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 85 25

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 0

Média de anos de escolaridade (anos) 15 0

PIB per capita (dólares PPC) 40.000 200

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 1994.

Para a esperança de vida ao nascer foi utilizado o valor máximo de 85 anos,

de acordo com a metodologia do Banco Mundial.

Para os dados da taxa de alfabetização de adultos, seguindo a mesma

metodologia dos valores mínimos e máximos foram respectivamente 0% e 100%.

Para a média de anos de escolaridade os valores ficaram entre 0 e 15 anos.

O valor mínimo para o PIB per capita (dólares PPC), passou para US$

200,00 e o valor máximo para de US$ 40.000,00. No RDH de 1995 a fórmula para

calcular o valor ajustado desta renda máxima foi demonstrada conforme a fórmula

abaixo:

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−+++++++= 8

171

61

51

41

31

21

*)7000.40(8)*(7)*(6)*(5)*(4)*(3)*(2*)( yyyyyyyyyW

Isto se deve ao fato do valor US$ 40.000,00 se encontrar entre 7y* e 8y*.

15 Informações para comparações de dados entre países da Pennsylvania (Center for International Comparisons

44

Onde: W(y) utilidade do bem-estar derivado da renda; y* linha de

pobreza mundial e y o valor máximo observado para o PIB per capita

real.

Além das alterações apresentadas acima, houve alteração no cálculo final

do valor do IDH; conforme os quadros a seguir:

at the University of Pennsylvania)

45

QUADRO N° 3 - Procedimentos metodológicos para o cálculo do IDH (até 1993).

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano/1990-1993.

Indicadores Fórmulas Legenda

Geral eriorijiteeriorijite

observadovalorieriorijiteÍndiceijinflimsup(lim

).sup(lim−−

=

Valor observado ij corresponde ao valor observado do indicador i no país, região, estado ou município j; Valor i.mínimo representa o pior valor para o indicador i entre o país, região, estado, município j, num dado período de tempo; Valor i.máximo o melhor valor para o indicador i entre o país, região, estado, município j, num dado período de tempo.

Educação )inflimsup(lim).....sup(lim

31

inflimsup(lim).....sup(lim

32

eriorijiteeriorijiteobservadoivalorjieeriorite

eriorijiteeriorijiteobservadoivalorjiaerioriteEi

−−

+−−

×=

E é o valor da dimensão educação calculada através dos indicadores: alfabetização de adultos (a) e escolarização bruta combinada do primário, secundário e superior (e).

Saúde jierioritejieriorite

observadoivalorjiIerioriteiS..inflim..sup(lim

).....sup(lim.−−

=

S é o valor da dimensão saúde calculado através do indicador longevidade no qual é aplicado o valor observado da expectativa de vida ao nascer (I).

Renda jierioritejieriorite

observdoivalorjiYerioriteRi..inflim.log..suplim.(log

)...log...suplim.(log−−

= R é o valor da dimensão renda calculada através do indicador PIB per capita (Y) em dólares PPC.

Índice de Privação Média (Ij) 3

)( RjSjEjIj ++=

S corresponde ao índice de Longevidade; E representa o índice de Educação; R corresponde ao índice de renda.

IDH IjIDHj −= 1 Ij corresponde o Índice de Privação Média dos países analisados.

46

QUADRO N° 4 - Procedimentos metodológicos para o cálculo do IDH -1994.

Indicadores Fórmulas Legenda

Geral mínimovalorimáximovalorimínimovalorivadoijvalorobserÍndiceij

..().(

−−

=

Valor observado ij corresponde ao valor observado do indicador i no país, região, estado ou município j; Valor i.mínimo representa o pior valor para o indicador i entre o país, região, estado, município j, num dado período de tempo; Valor i.máximo o melhor valor para o indicador i entre o país, região, estado, município j, num dado período de tempo.

Educação )....()......(

31

....().....(

32

mínimoivalormáximoivalormínimoivalorjieobservadovalor

mínimoivalormáximoivalormínimoivalorjiavadovalorobserEi

−−

+−−

×=

E é o valor da dimensão educação calculada através dos indicadores: alfabetização de adultos (a) e escolarização bruta combinada do primário, secundário e superior (e).

Saúde mínimoivalormáximoivalor

mínimoivalorjiIvadovalorobseriS....(

).....(.−−

=

S é o valor da dimensão saúde calculado através do indicador longevidade no qual é aplicado o valor observado da expectativa de vida ao nascer (I).

Renda mínimoivalormáximoivalor

mínimoivalorjiYvadovalorobserRi...log...(log

)...log....(log−−

=

R é o valor da dimensão renda calculada através do indicador PIB per capita (Y) em dólares PPC. Respeitando a fórmula do PPC ajustado.

IDH 3)( RjEjLjIDHj ++

=

L corresponde ao índice de Longevidade; E representa o índice de Educação; R corresponde ao índice de renda.

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano – 1994.

47

Conforme fórmulas apresentadas nos QUADROS N° 3 e N°4 as mudanças

metodológicas facilitaram e simplificaram o cálculo final do IDH.

Em 1995, as alterações metodológicas ocorreram nos indicadores renda e

educação; como apresentados abaixo:

Quantidade de países: Os valores foram estabelecidos de acordo com os

resultados apresentados para 174 países, segundo os critérios da ONU, utilizando

valores de 1992.

Valores balizadores: O único indicador que sofreu alteração no valor

balizador, em 1991, foi o valor mínimo para renda que antes era de US$ 220,00 para

US$ 100,00. As demais alterações ocorreram na metodologia de cálculo e na

análise dos indicadores com a inserção da divisão por gêneros; conforme

informações abaixo: TABELA Nº 4 Valores balizadores para o cálculo do IDH - 1995

Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 85 25

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 0

Taxa bruta de matricula combinada (%) 100 0

PIB per capita (dólares PPC) 40.000 100

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 1995.

Não houve alterações para o cálculo da dimensão saúde.

Para a dimensão educação a alteração consistiu na substituição do número

médio de anos de escolaridade da população adulta para a taxa combinada de

matrícula bruta do primeiro, segundo e terceiro graus, mantendo a ponderação

anterior.

Para a dimensão renda a alteração foi na redução do valor mínimo balizado

que antes era de US$ 220,00 e passou para US$ 100,00. Esta modificação buscava

ampliar o grau de comparabilidade entre os valores do IDH e do IDG pesquisados

nos países em virtude da diferença de dados por gênero. Esta diferença foi

verificada através da observação dos valores encontrados nos países sobre o PIB

per capita ajustado ao gênero, no qual o valor mínimo encontrado para as mulheres

foi de US$ 100,00.

48

Entre os anos de 1995 e 1998 a metodologia nos RDHs permaneceu

constante. As alterações ficaram por conta dos valores do PIB per capita médio

mundial.

Quantidade de países: Os valores foram estabelecidos de acordo com os

resultados apresentados para 174 países, segundo os critérios da ONU, utilizando

valores de 1997.

Valores balizadores: Não houve alterações para os valores balizadores. As

alterações foram na metodologia de cálculo do PIB per capita ajustado em dólares

PPC; conforme informações abaixo: TABELA Nº 5 Valores balizadores para o cálculo do IDH – 1999.

Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 85 25

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 0

Taxa bruta de matricula combinada (%) 100 0

PIB per capita (dólares PPC) 40.000 100

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 1999.

Não houve alterações para o cálculo da dimensão saúde. A alteração que

ocorreu foi sobre a fonte de coleta dos dados nos países envolvidos. Para esta

dimensão os dados passaram a ser coletados na Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Não houve alterações, também, para o cálculo da dimensão educação. A

alteração que ocorreu foi sobre a fonte de coleta dos dados nos países envolvidos.

Para esta dimensão os dados passaram a ser coletados na UNESCO. As alterações que ocorreram na dimensão Renda foram na mudança da fonte

de coleta dos dados nos países envolvidos e na metodologia do cálculo. Quanto aos

dados a paridade do poder de compra (PPC) passou a ser atualizada pelo Banco

Mundial. A alteração na metodologia de cálculo passou a obedecer a seguinte

fórmula:

49

)log(log)log(log)(

ymínimoYmáximoYmínimoYyW

−−

=

Onde:

W(y) utilidade do bem-estar derivado do PIB per

capita

Y valor do PIB per capita em dólares PPC

observado

Y mínimo e Y máximo limites inferior e superior do PIB per capita

em dólares PPC

Entre os anos de 2000 a 2005 as metodologias dos cálculos relacionados ao

IDH permaneceram constantes.

As três dimensões que compõe o IDH são calculadas de acordo com os

valores balizadores, segundo a tabela abaixo e incorporadas no seu cálculo.

TABELA Nº 6 - Valores balizadores para o cálculo do IDH - 2005

Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida à nascença (anos) 85 25

Taxa de alfabetização de adultos(%) 100 0

Taxa de escolarização bruta combinada (%) 100 0

PIB per capita (dólares PPC) 40.000 100

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2005.

De acordo com a TABELA N°6, para a esperança de vida ao nascer são

considerados como valor máximo 85 anos e valor mínimo 25 anos. Quanto mais

próximo do valor máximo melhor o IDH.

Em relação aos indicadores utilizados para avaliar a dimensão educação, os

valores máximos são 100% e o valor mínimo é 0%; quanto mais próximo de 100%

melhor o IDH.

Por último, os valores para a dimensão renda estão entre U$ 40.000,00 e U$

100,00. Em relação à renda sua contribuição ao IDH não tem as mesmas

características das demais dimensões. Nesta dimensão os valores adicionais podem

oferecer bem-estar decrescente uma vez que o acréscimo de U$ 1,00 para quem

ganhava U$ 100,00 (valor mínimo) tem maior peso do que para quem ganhava U$

20.000,00 (metade do valor máximo). Para o cálculo desta dimensão deve ser

acrescentada, também, a questão da diferença do valor da moeda dólar nos

50

diferentes países. Com o intuito de eliminá-la os valores dos PIB per capita devem

ser convertidos em dólares pela taxa de câmbio que iguala o poder de compra do

dólar entre os países o que é denominado, no Brasil, Paridade do Poder de Compra

(PPC).

O QUADRO N° 4 resume a metodologia utilizada pelo PNUD para o cálculo

do IDH. Este cálculo utiliza como base os valores observados por indicador e os

seus limites estabelecidos conforme TABELA N° 6. Os resultados encontrados por

indicador são inseridos no cálculo do IDH que conforme observado no QUADRO N°

4, consiste numa média ponderada simples dos três índices parciais. Os resultados

obtidos após a aplicação das fórmulas respectivas a cada caso são publicados nos

RDHs pelo PNUD. Estes resultados são classificados entre: desenvolvimento

humano baixo, para valores de IDH entre 0 e 0,499; desenvolvimento humano

médio, para valores de IDH entre 0,500 e 0,799 e desenvolvimento humano elevado

para valores de IDH entre 0,800 e 1,000. As dimensões componentes do IDH serão

apresentadas a seguir com o intuito de esclarecer a metodologia de cálculo e os

resultados dos cálculos para 15 países membros da ONU, em 2004, e avaliados por

este índice.

2.3. Avaliação das dimensões componentes do IDH

Com o intuito de realizar uma avaliação dos resultados alcançados pelas

dimensões componentes do IDH, foram utilizados os dados publicados no RDH de

2004 o qual divulgou as informações sobre o IDH de 177 países membros da ONU.

Para esta avaliação foram selecionados apenas 15 países constantes no ranking do

IDH para o ano em referência; são eles: os primeiros 5 países com desenvolvimento

humano elevado, os primeiros 5 países com desenvolvimento humano médio e os

primeiros 5 países com desenvolvimento humano baixo.

2.3.1 Saúde

A dimensão saúde é avaliada pelo índice da esperança de vida que mede a

realização relativa de um país na possibilidade de sua população vir a ter uma vida

longa e saudável. É calculada a relação entre o total da população mais a diferença

51

entre o total de nascimentos e total de mortes. No que tange a mortalidade é

realizado um estudo sobre sua evolução e causas. A TABELA Nº 7 apresenta os

valores observados e o resultado deste indicador.

Com os números apresentados na tabela em referência é possível identificar

a distância existente entre os valores observados da esperança de vida à nascença,

e os valores balizadores para a dimensão saúde nos países de elevado, médio e

baixo desenvolvimento humano. Além dos resultados dos índices para os 15 países

analisados serem tão díspares, outro fato assustador é a quantidade em anos de

vida que a população dos países classificados com baixo desenvolvimento humano

pode alcançar.

TABELA Nº 7 – Resultado da dimensão saúde em países selecionados (2004).

Países Valor observado da esperança de vida à nascença (anos)

Índice de Esperança de Vida

Desenvolvimento Humano Elevado

Noruega 78,9 0,90

Suécia 80,0 0,92

Austrália 79,1 0,90

Canadá 79,3 0,90

Holanda 78,3 0,89

Desenvolvimento Humano Médio

Bulgária 70,9 0,77

Federação Russa 66,7 0,69

Líbia 72,6 0,79

Malásia 73,0 0,80

Macedônia 73,5 0,81

Desenvolvimento Humano Baixo

Paquistão 60,8 0,60

Togo 49,9 0,41

Congo 48,3 0,39

Lesoto 36,3 0,19

Uganda 45,7 0,34

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2004 (informações de 2002).

2.3.2 Educação O índice da educação mede a realização relativa de um país tanto na

alfabetização de adultos como na escolarização bruta combinada dos níveis

52

primário, secundário e superior. Primeiro, são calculados os índices da alfabetização

de adultos e da escolarização bruta combinada. Depois, estes dois índices são

combinados para criar o índice da educação, atribuindo uma ponderação de dois

terços à alfabetização de adultos e de um terço à escolarização combinada. Cada

taxa componente do índice educação apresenta as seguintes características e

metodologia de cálculo:

Taxa de Alfabetização de Adultos

É considerado analfabeto o adulto com 15 anos ou mais de idade que declara

não conseguir entender, ler e escrever um bilhete simples no idioma que conhece.

Aquele que aprendeu a ler e escrever, mas esqueceu, e o que apenas assina o

próprio nome é, também, considerado analfabeto. Para o cálculo da taxa de

alfabetismo é necessário subtrair do total de 100% o percentual respectivo a taxa de

analfabetismo de adultos.

Taxa de Escolarização Bruta Combinada

A taxa de escolarização bruta possibilita comparar o total de matrículas de

determinado nível de ensino com a população na faixa etária adequada à esse nível

de ensino.

Os valores dos indicadores relacionados à dimensão educação para os 15

países analisados, no indicador anterior, podem ser verificados na TABELA Nº 8. É

interessante observar que o indicador taxa de alfabetização para os países

classificados com desenvolvimento humano baixo não apresentaram percentuais

com grande queda em relação aos países classificados com desenvolvimento

humano elevado. Aliás, alguns países do baixo desenvolvimento humano

apresentaram percentuais próximos aos averiguados nos países de médio e

elevado desenvolvimento humano, como por exemplo: Congo (82,6%) e Lesoto

(81,4%). Os demais países sob esta classificação não apresentaram os mesmos

resultados.

Em relação a taxa de escolarização bruta combinada, os resultados não

foram tão diferentes. Desta vez ao invés de Congo e Lesoto foi Uganda (71%) que

apresentou um percentual próximo daqueles alcançados pelos países de

53

desenvolvimento humano médio, como por exemplo, Malásia e Macedônia (70%

cada). Apesar destas observações e dos valores alcançados em cada indicador o

índice de educação apresentou valores próximos a 100% para países com

desenvolvimento humano elevado e próximos a 50% para os países de

desenvolvimento humano baixo, demonstrando uma lacuna de 50% neste índice de

uma classificação para outra.

TABELA Nº 8 – Resultado da dimensão educação em países selecionados (2004). Educação

Países

Valor observado da Taxa de Alfabetização de Adultos (%)

Valor Observado da Taxa de escolarização bruta

combinada do primário, secundário e superior (%)

Índice da Educação

Desenvolvimento Humano Elevado

Noruega 99,0 98 0,99 Suécia 99,0 114 ¹ 0,99

Austrália 99,0 113¹ 0,99

Canadá 99,0 95 0,98 Holanda 99,0 99 0,99

Desenvolvimento Humano Médio

Bulgária 98,6 76 0,91 Federação Russa 99,6 88 0,95

Líbia 81,7 97 0,87

Malásia 88,7 70 0,83 Macedônia 96,0 70 0,87

Desenvolvimento Humano Baixo

Paquistão 41,5 37 0,49 Togo 59,6 67 0,45

Congo 82,6 48 0,38

Lesoto 81,4 65 0,53

Uganda 68,9 71 0,44

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2004 (informações de 2002). Nota:

¹ Os dados referem-se a um ano diferente do indicado. Com o fim de calcular o IDH, foi utilizado um

valor de 100,0%. Estimativas provisórias do Instituto de Estatística da UNESCO, sujeitas à revisão

futura.

54

2.3.3 Renda

A dimensão renda é analisada através do PIB per capita ajustado em dólares

PPC, sendo o PIB uma medida do produto gerado na economia de um país durante

um determinado período de tempo, o PIB per capita relaciona esta medida com o

total da população, é uma forma de identificar se, na média, a população está

participando das alterações sofridas pela produção ou não.

No IDH, o rendimento entra como um substituto para todas as dimensões do

desenvolvimento humano, não refletidas numa vida longa e saudável e no

conhecimento. Cada país tem uma realidade econômica diferenciada envolvendo

valores de variáveis como inflação, juros, câmbio, entre outras desiguais. Para tornar

os preços dos produtos quantificados para o cálculo do PIB e do PIB per capita

equivalentes foi adotada a Lei do Preço Único16 ou Paridade no Poder de Compra17.

Outra questão que merece observação é o intervalo de valores máximo e

mínimo (U$ 40.000,00 e U$ 100,00 respectivamente) como balizadores do mesmo,

considerando que o bem-estar auferido pelo acréscimo de U$ 1,00 para aquele

indivíduo que recebe U$ 30.000,00 é menor do que aquele que recebe U$ 100,00.

Com isso, o valor do PIB per capita é ajustado utilizando o seu logaritmo,

independente do nível de renda. Afinal para alcançar um nível elevado de

desenvolvimento humano, não é necessário um rendimento ilimitado. Observando a

TABELA Nº 9 com os mesmos países analisados pelas outras duas dimensões

componentes do IDH, é possível admirar as diferenças no valor da renda per capita.

A metodologia de cálculo desta dimensão proporciona analisar números muito

discrepantes em um mesmo índice. Os 5 primeiros países no ranking do IDH

apresentam valores de PIB per capita médio em torno de 29.898 (dólares PPC), a

média dos 5 primeiros países classificados como de desenvolvimento humano

médio está em torno de 7.704 (dólares PPC) e aqueles classificados com

desenvolvimento humano baixo em torno de 1.642 (dólares PPC). Ficaria

incomparável se não fosse adotada a metodologia utilizada pelo PNUD para diluir as

diferenças e proporcionar a equivalência dos valores. Outro fato interessante a ser

16 Em inglês "law of one price". 17 Em inglês “purchasing power parity (PPP)”. 17 Mais detalhes sobre a Lei do Preço Único e a Paridade do Poder de Compra podem ser encontrados no item 1.5.2.3 “Indicadores de Pobreza”, desta dissertação, e em Sachs e Larrain (1995, p. 330-336).

55

observado é a necessidade de um índice que avalie o grau de desenvolvimento

utilizando outras dimensões que não unicamente a renda. As informações

constantes na tabela abaixo deixam evidente a concentração de renda até mesmo

quando a renda é comparada entre países. (Países com tanto e países com tão

pouco).

TABELA Nº 9 – Resultado do PIB per capita em países selecionados (2004).

Países Valor observado do PIB per capita (Dólares PPC)

Índice do PIB

Desenvolvimento Humano Elevado Noruega 36.600 0,99 Suécia 26.050 0,93

Austrália 28.260 0,94 Canadá 29.480 0,95 Holanda 29.100 0,95

Desenvolvimento Humano Médio Bulgária 7.130 0,86

Federação Russa 8.230 0,66

Líbia 7.570 0,75 Malásia 9.120 0,76

Macedônia 6.470 0,78

Desenvolvimento Humano Baixo Paquistão 1.940 0,49

Togo 1.480 0,45

Congo 980 0,38

Lesoto 2.420 0,53

Uganda 1.390 0,44

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2004 (informações de 2002).

2.3.4 O IDH

Após as avaliações das dimensões em separado, a junção dos dados para o

cálculo final do IDH é realizada através de uma média ponderada simples a qual

apresenta o seguinte formato:

IDH = 31 (índice da esperança de vida) +

31 (índice da educação) +

31 (índice da

renda)

56

É interessante ressaltar que o IDH em termos conceituais e práticos tem uma

aparência simplista, ou seja, não apresenta dificuldades matemáticas nem

estatísticas sendo passível de ser utilizado em qualquer país. Entretanto, as

dimensões utilizadas para calculá-lo e o embasamento teórico para construí-lo é rico

em detalhes. A TABELA Nº 10 apresenta um comparativo entre os resultados

alcançados nas dimensões saúde, educação e renda nos países analisados nas

TABELAS N° 7, 8 e 9 e os respectivos resultados do IDH.

TABELA Nº 10 – Resultado do IDH em países selecionados (2004) Países Índice da

Esperança de Vida

Índice da Educação

Índice do PIB

Índice de Desenvolvimento

Humano(IDH) Desenvolvimento Humano Elevado

Noruega 0,90 0,99 0,99 0,956 Suécia 0,92 0,99 0,93 0,946

Austrália 0,90 0,99 0,94 0,946

Canadá 0,90 0,98 0,95 0,943 Holanda 0,89 0,99 0,95 0,942

Desenvolvimento Humano Médio

Bulgária 0,77 0,91 0,71 0,796 Federação

Russa 0,69 0,95 0,74 0,795

Líbia 0,79 0,87 0,72 0,794

Malásia 0,80 0,83 0,75 0,793 Macedônia 0,81 0,87 0,70 0,793

Desenvolvimento Humano Baixo

Paquistão 0,60 0,40 0,49 0,497

Togo 0,41 0,62 0,45 0,495

Congo 0,39 0,71 0,38 0,494 Lesoto 0,19 0,76 0,53 0,493

Uganda 0,34 0,70 0,44 0,493

Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano, 2004 (informações de 2002).

Após todas as análises realizadas por estes países nos resultados

alcançados por dimensão, os valores do IDH espelham as mesmas características.

No resultado final do IDH, mesmo aqueles países que se destacaram em um dos

indicadores verificados da dimensão educação, como: Congo, Lesoto e Uganda

57

(países de baixo desenvolvimento humano) ficaram na média dos outros países que

não haviam apresentado tais resultados.

Embora o cálculo do IDH não apresente dificuldades na sua aplicação, a

avaliação realizada por alguns autores evidencia suas potencialidades e fragilidades.

Esta avaliação é discutida no próximo capítulo.

58

Capítulo 3 - Uma avaliação geral do IDH

3.1. Avaliação da Teoria que deu origem ao IDH

A explicação sobre o conceito de desenvolvimento humano no capítulo 1

representa a base de sustentação teórica do IDH, cujas principais contribuições

surgiram com os trabalhos do economista indiano, Amartya Kumar Sen. Este item

utiliza a discussão teórica daquele capítulo objetivando realizar uma avaliação do

IDH. Com isso, a retomada de alguns aspectos teóricos é necessária para

estabelecer um elo entre o discurso e a avaliação. Os autores utilizados para o

retorno ao discurso são Conte, Torre e Vasta (2001) por sintetizarem,

principalmente, as contribuições teóricas de Sen e demonstrarem os aspectos

relacionados a ampliação da idéia de “capacidades”. Estas são analisadas, pelos

autores de acordo com Sen, como relacionadas às condições de vida dos

indivíduos.

Para Conte, Torre e Vasta (2001), a quebra de paradigma das proposições de

Sen está em desvincular a questão da renda, ou aumento dela, com o bem-estar

pessoal, ou mesmo, padrões de vida superiores. A possibilidade de uma

alimentação adequada e a ampliação ao acesso a educação aliadas a percepção

das próprias condições de vida, são as variáveis que devem determinar o padrão

superior ou não de vida dos indivíduos. Desta forma, aspectos como às condições

psicológicas, sociais e culturais, evidentemente muito diferentes para cada

população, país ou região, juntamente com as capacidades, são as variáveis chaves

para a percepção dos indivíduos em relação ao seu padrão de vida.

Segundo os autores, as populações apenas valorizam bens materiais em

situação de perigo a vida, fome ou de extrema pobreza, no mais as prioridades são

para as capacidades.

Nesse sentido, de acordo com Sen (2000), as políticas públicas deveriam

privilegiar a ampliação das capacidades com o intuito de melhorar o capital humano

da sua população, e como conseqüência, melhorar o padrão de vida delas. Esta

concepção teórica de Sen é conflitante com a teoria da utilidade. Os economistas

59

neoclássicos, através da Teoria da Utilidade, defendiam que o bem estar é medido

exclusivamente através da capacidade de ampliação do poder de compra da renda,

ou seja, da possibilidade dos indivíduos de conquistarem uma quantidade cada vez

maior de bens serviços os quais podem ser oferecidos pela economia. A concepção

de que quanto maior a quantidade de renda maior o bem estar dos indivíduos se

mostrou insuficiente, pois com o crescimento econômico alcançado pelos países em

desenvolvimento o resultado no nível de bem estar não foi elevado. Este resultado

fez com que muitos economistas começassem a questionar a potencialidade de

renda para o alcance do bem estar.

Sen, um economista neoclássico, faz uma avaliação crítica da teoria da

utilidade avançando na interpretação dos indicadores que devem ser utilizados para

uma análise do nível de bem estar dos indivíduos. Apesar da endogeneidade da

discussão de Sen sobre a Teoria da Utilidade, ele promove avanços consideráveis

nas suas contribuições teóricas. A partir dessas contribuições e com a colaboração

de Sen, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas desenvolveu um índice

que pudesse captar as condições sociais (Educação e Saúde) além dos da renda na

avaliação do nível de bem estar, desta vez não apenas baseados em aumento de

renda ou gastos dos indivíduos, mais também nas suas possibilidades de participar

das escolhas18 que possam levar à melhores condições de vida. Este índice é o IDH

que passou ser o principal parâmetro para medir as variações de condições de vida

entre os países.

Entretanto, quando a teoria defendida por Sen sobre bem estar é confrontada

com a amplitude do IDH fica perceptível que o avanço é limitado. Não há um

rompimento com a idéia de que a renda produz o bem estar, mas que ela não é

suficiente para fazer tal avaliação. Assim, o IDH utiliza em uma das suas dimensões

avaliadas a variável renda e em todas as discussões sobre o IDH fica clara a idéia

de que a renda entre as demais dimensões produz uma condição de causa e efeito.

Essa condição ocorre pela idéia de que a ampliação da renda causa uma ampliação

no nível de educação que promove uma ampliação no nível de saúde, por outro

lado, o avanço na saúde produz efeitos positivos no acesso a renda, e assim

sucessivamente como um ciclo.

18 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no Capítulo 1.

60

Após a discussão no parágrafo anterior, a renda no IDH deixou de ser a única

variável analisada para mensurar o grau de bem estar dos países para ser a variável

de maior relevância nessa análise, o que demonstra a parcialidade da crítica

realizada por Sen à Teoria da Utilidade.

A citação abaixo demonstra esta linha de pensamento. According to Sen, the standard of living is mainly linked to the idea of capacity, rather than to that of utility. That is, a good standard of living is realised in elementary terms, through a capacity to live for a long time, be well-fed and healthy, as well as to get an education. The possibility of having material goods [property] at one’s disposal may derive from the above-mentioned capacities, but its relevance is extremely variable since it is linked to the individual’s different psychological, social and cultural conditions. Populations tend to give priority to goods with respect to capacity only when they find themselves in conditions of extreme poverty and have to avoid hunger or death. The contrast between the approach proposed by Sen and the mainstream approach, which is based on the centrality of income, also influences policy interventions. In fact, the second approach privileges a view of investments in human capital as an end in itself, while Sen’s view sets them in perspective as means for expanding the individual’s capacities (CONTE, TORRE E VASTA, 2001, p. 2).

Outro conceito que também sofreu alteração é o conceito da pobreza. Até as

contribuições de Sen este conceito era mensurado, exclusivamente, pela dimensão

renda. Após Sen, passou a ser mensurada pela capacidade de acesso dos

indivíduos em usufruir liberdades. Assim como a discussão anterior, o avanço ocorre

de forma parcial pois a renda deixa, mais uma vez, de ser a única variável para ser

um instrumento que permite conquistar, ampliar e desenvolver estas capacidades,

ou seja, deixa de ser um princípio/fim para ser um meio determinante na aquisição

das capacidades. Os autores afirmam: Much as it is extremely important to draw a conceptual distinction of the notion of poverty as a lack of capacities, rather than a scarcity of income, the two concepts are closely correlated, since income definitely constitutes an important means of capacity (CONTE, TORRE E VASTA, 2001, p. 1).

Montenegro (2004), analisando a alteração na posição da renda na

mensuração do grau de desenvolvimento dos países, e identificando a entrada de

variáveis sociais nesta questão, afirma que o índice de desenvolvimento deixou de

ser econômico para ser humano e social. “Implicitly, the HDI defines development in

terms of these three components; it is, however, designed to be more an indicator for

human development rather than an index for economic development”

(MONTENEGRO, 2004, p. 5-6). Esta avaliação do IDH pode não ser a mais

61

adequada. Afinal, a teoria do desenvolvimento pressupõe, atualmente, uma junção

de três dimensões; são eles o econômico, o social e o sustentável. Este tripé dá

sustentação ao desenvolvimento como um todo. As considerações, abaixo, de

Todaro e Smith (2004) esclarecem estas questões sobre o desenvolvimento. Development must therefore be conceived of as a multidimensional process involving major changes in social structures, popular attitudes, and national institutions, as well as the acceleration of economic growth, the reduction of inequality, and the eradication of poverty. Development, in its essence, must represent the whole gamut of change by which an entire social system, tuned to the diverse basic needs and desires of individual and social groups within that system, moves away from a condition of life widely perceived as unsatisfactory toward a situation or condition of life regarded as materially and spiritually better. No one has identified the human goals of economic development as well as Amartya Sen, perhaps the leading thinker on the meaning of development. (TODARO e SMITH, 2004, p. 17).

Os autores trazem à luz desta questão a teoria de Sen sobre o

“desenvolvimento como liberdade”. A teoria do desenvolvimento após Sen ganhou

mais abrangência e mais qualidade no que tange o ser humano. É uma mudança

considerável ao conceito inicial, pois busca identificar a qualidade de vida dentro de

uma abrangência multidimensional. Para os autores não há possibilidade de se

pensar no desenvolvimento dissociado de questões como aceleração do

crescimento econômico, redução de desigualdade e erradicação da pobreza. Para

eles a essência do desenvolvimento está na percepção das diversas necessidades

básicas desejadas pelos indivíduos e grupos sociais as quais estão relacionadas a

uma condição de vida melhor tanto material quanto espiritualmente. Neste ponto, os

autores citam o conceito de desenvolvimento de Sen, esclarecendo que para ele o

crescimento econômico não pode ser um fim em si mesmo e que a busca pelo

desenvolvimento tem que estar atrelada à possibilidade dos indivíduos poderem

conduzir melhor suas vidas e desfrutar de liberdades. Todaro e Smith esclarecem,

ainda, que para Sen há pelo menos 5 disparidades passíveis de reduzir o grau de

desenvolvimento entre os países em virtude de suas diferenças sociais, econômicas,

ambientais e políticas. Sen identifies five sources of disparity between (measured) real income and actual advantages: first, personal heterogeneities, such as those connected with disability, illness, age, or gender; second, environmental diversities, such as heating and clothing requirements in the cold, infectious diseases in the tropics, or the impact of pollution; third, variations in social climate, such as the prevalence of crime and violence, and “social capital”[…] (TODARO e SMITH, 2004, p. 18).

62

Após todas as considerações a respeito do conceito de desenvolvimento

humano e as considerações de Sen sobre este conceito seja em suas obras seja

nas citações em Todaro e Smith (2004), é possível argumentar que o

desenvolvimento humano é uma condição de vida em um grau muito elevado.

Portanto, para mesurá-lo é necessário ter como premissa esta complexidade.

Sendo assim, a abrangência do conceito sobre o desenvolvimento, como um

todo, aumenta enquanto o IDH continua mensurando apenas três aspectos da vida

dos indivíduos. Afinal este arcabouço conceitual deixa evidente que o IDH tem

fragilidades implícitas à sua construção por absorver um conjunto pequeno de

dimensões humanas uma vez que tem por objetivo medir o grau de desenvolvimento

humano dos países.

Ranis, Stewart e Samman (2005) contribuem com o argumento de que o IDH

é menor, em grau de abrangência, que o conceito de desenvolvimento humano. Os

autores fazem suas contribuições sobre esta discussão evidenciando que o

desenvolvimento humano é um processo que busca ampliar a possibilidade dos

indivíduos em realizar escolhas. Esta possibilidade ampliada tem a capacidade de

melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Eles argumentam, ainda, que o IDH não

é totalmente capaz de atingir tal objetivo. Human Development (HD) goes well beyond the Human Development Index (HDI), with which it is often equated. Human Development has been defined as ‘a process of enlarging people’s choices. The most critical ones are to lead a long and healthy life, to be educated, and to enjoy a decent standard of living. Additional choices include political freedom, guaranteed human rights and self-respect’ (HDR 1990, p. 10). The HDI itself is thus a reductionist measure, incorporating just a subset of possible human choices. In fact, the measure, which includes life expectancy, literacy, years of education, and a modified measure of income, is directed at the choices referred to as ‘most critical’ in the first report. It has long been recognized that the HDI is, therefore, a very incomplete measure of HD, leaving out many aspects of life which are of fundamental importance. (RANNIS, STEWART e SAMMAN, 2005, p. 1)

As críticas teóricas ao IDH permanecem com a noção de que ele absorve

uma quantidade pequena de dimensões em seu cálculo. Outra contribuição

relevante nessa discussão está em Blanchflower e Oswald (2005) os quais avaliam

que esta discussão sobre o IDH está entre os aspectos psicológicos do bem-estar

(liberdade política, amor próprio entre outros) e os aspectos “mecânicos” do mesmo.

Para Blanchflower e Oswald (2005), o IDH faz uma mensuração mecânica do

desenvolvimento e que os aspectos psicológicos tão relevantes na avaliação do grau

de desenvolvimento humano de um indivíduo não estão incorporado nele: The

63

HDI,..., is a mechanical criterion. It does not capture the contentment or

psychological state of individuals. To do that, some measure of subjective well-being

or ‘happiness’ is required. (BLANCHFLOWER e OSWALD, 2005, p. 3)

A análise de literatura estrangeira sobre a avaliação teórica do IDH foi

realizada com o intuito de identificar a capacidade do IDH em espelhar o conceito de

desenvolvimento. O próximo item busca fazer uma investigação semelhante com o

objetivo de fazer uma avaliação conceitual das dimensões do índice.

3.2. Avaliação das dimensões do IDH

Além da avaliação teórica, uma avaliação das dimensões que compõem o

IDH se faz necessária na busca pela identificação da sua capacidade em mensurar

o grau de desenvolvimento dos países.

Todaro e Smith (2004) apresentam algumas contribuições teóricas de Sen

com relação às dimensões componentes no cálculo do IDH. Real income is essential, but to convert the characteristics of commodities into functionings, in most important cases, surely requires health and educations as well as income. The role of health and education ranges from something so basic as the nutritional advantages and greater personal energy that are possible when one lives free of certain parasites to the expanded ability to appreciate the richness of human life that comes with a broad and deep education.[...] it is clear that income or consumption, or purely subjective pleasure or desire fulfillment, cannot define well-being in any adequate sense. Almost any deeper appraisal of well-being leads to a consideration of health and education as well as income. Sen’s analysis is part of what has given that Unites Nation’s Human Development Index, which accounts for health and education as well as income, its wide respect and following…(TODARO e SMITH, 2004, p. 20).

Para os autores a dimensão renda é essencial, entretanto para converter a

possibilidade de ter bens em possibilidade de realizar funcionamentos, na maioria

dos casos, há necessidade de saúde e educação juntamente com a renda. Afinal, o

papel de saúde e educação varia de algo tão básico, como as vantagens nutricionais

e maior energia pessoal que são possíveis quando a pessoa vive livre de certos

parasitas, à habilidade expandida da vida humana para apreciar a riqueza que vem

com uma educação elevada. Neste aspecto renda, saúde e educação são

importantes para os indivíduos não só para suprir as necessidades básicas como

para apreciar as necessidades superiores às básicas como, por exemplo, a riqueza

64

oriunda de investimento em educação. Eles acrescentam ainda que de acordo com

o bom senso, está claro que renda e consumo (mensurados pelo PIB per capita), ou

aspectos subjetivos como prazer e desejo, não podem por si só definir bem-estar.

Qualquer avaliação mais profunda do bem-estar requer considerações, em conjunto,

sobre educação, saúde e renda. O IDH sendo um índice composto por estas

dimensões se aproxima do que os autores consideram ser uma adequada avaliação

do bem-estar.

Entretanto, a questão não está apenas em quais dimensões devem ser

analisadas para uma adequada verificação do grau de bem-estar de um país, mas

também, se para avaliá-las foram utilizados indicadores, metodologia de cálculo e

balizadores que correspondam a tal avaliação. As contribuições de Todaro e Smith

(2004) esclarecem a necessidade de avaliar a renda, a saúde e a educação, porém

como elas são avaliadas faz parte de uma outra discussão.

Para Conte, Torre e Vasta (2001) o fato do IDH trabalhar com valores fixos

dos balizadores dificulta uma análise com perspectiva de longo prazo. Ao analisarem

os países desenvolvidos, apontam para a condição destes em atingir num breve

período de tempo os valores máximos dos balizadores. Neste caso, mais avanços

nessas áreas não terão reflexos de melhorias significativas nos níveis de

desenvolvimento humano, como é o caso do índice de analfabetismo. Este índice

que em países desenvolvidos já está próximo do máximo ou no máximo não carece

de novos investimentos. Isto foi possível porque os valores balizadores do IDH são

fixos e o indicador da alfabetização tem por valor máximo 100%. Os autores

sugerem que por este motivo a condição de longo prazo existente no conceito de

desenvolvimento não foi incorporada no cálculo do IDH. Tal análise interfere,

também, na capacidade de comparabilidade entre os países proposta pelo índice

uma vez que, na prática, em todos os países desenvolvidos os valores estão se

aproximando do “valor unitário” impossibilitando comparações efetivas com os

demais países. The problems of the choice of variables are accentuated by adopting a long-term perspective (Engerman, 1997). For example, including the illiteracy level or the rate of enrolment, as far as primary school in the knowledge index is concerned, is absolutely not very discriminating today for the more developed countries. For these values, in fact, values close to the maximum level were already reached many years ago, thus making its not very expressive of the level of human development attained. […] Nor is the choice of threshold values free of problems. The diachronic comparability of the Index is limited by assuming minimum and maximum values that are always equal in time, for both variable longevity and resources, above all for

65

the more developed countries. In fact, for recent years in all countries, the index tends to approach unity, thus limiting the possibility of making significant comparisons (CONTE, TORRE E VASTA, 2001, p. 5-6).

Os autores avaliam, negativamente, a condição fixa dos balizadores, mas na

análise dos valores atuais apresentados pelos países nas dimensões verificadas

pelo IDH, apenas a dimensão educação apresenta tal condição de saturação. As

demais dimensões como saúde e renda ainda têm condições de serem alteradas

para valores maiores dos atuais. Entretanto, é possível que os países desenvolvidos

estejam próximos dos limites máximos, mas os países em desenvolvimento estão

longe desta mesma condição. Como avaliado no Capítulo 2, os países classificados

com médio desenvolvimento humano e, principalmente, aqueles classificados com

baixo desenvolvimento humano apresentaram resultados elevados para a educação,

em especial para a taxa de alfabetismo, mas apresentaram valores não tão

expressivos para a avaliação da dimensão renda e saúde. No mesmo capítulo foram

evidenciadas as alterações metodológicas no cálculo do IDH o que demonstra a

flexibilidade, da instituição que o publica, em melhorá-lo.

Montenegro (2004) contribui com a avaliação das variáveis através de

considerações sobre duas das dimensões dos componentes do IDH: saúde e

educação. O autor aponta a fragilidade das variáveis escolhidas uma vez que

nenhuma delas busca qualificar o nível de desenvolvimento alcançado. Para ele as

dimensões podem ser utilizadas, porém seria desejável acrescentar outras variáveis

que poderiam auxiliar na qualificação das informações. Sobre saúde, por exemplo,

ele questiona a variável longevidade. Para o autor, esta variável demonstra apenas

quantos anos uma pessoa viveu, e não a “qualidade ou produtividade” desta vida.

Além disso, ele demonstra preocupação com outras variáveis que poderiam melhor

definir os níveis de desenvolvimento de uma nação e utilizadas como metas

desejáveis, tais como: trabalho adequado, casas adequadas, estabilidade de preços. The inclusion of GDP per capita is not questioned but, from the economic point of view, it is possible to debate whether the other dimensions, longevity and the combination of literacy and enrollment rates, are the most adequate variables. Longevity simply represents the number of years lived but not their quality or productivity. Education and literacy are of course important, as many other variables, but why not then include, for example, an adequate job, an adequate house, or price stability, as desirable goals? (MONTENEGRO, 2004, p. 6).

66

Outra consideração do autor sobre as dimensões do IDH está relacionada à

utilização do coeficiente de Gini para ajustar a distribuição dos valores observados

nos países, não apenas para a dimensão renda, mais também para as dimensões

de educação e longevidade. As diferenças regionais enfrentadas pelos países

deveriam, segundo o autor, ser ajustadas antes de finalizar o cálculo do IDH.

Entretanto, o autor esclarece que problemas em relação a metodologia, regularidade

e confiabilidade na elaboração dos cálculos do índice pelos países, diferem,

ocasionando distorções e impossibilitando as comparações. Alguns países nem

mesmo calculam o índice de Gini para a renda, mas para consumo. A suggestion to complement the HDI with distributional aspects was put forth by Hicks (1997), involving the Gini coefficients in the calculation of the HDI, not only for income per capita, but also for the other two dimensions, educational attainment and longevity (MONTENEGRO, 2004, p. 6).

Os questionamentos levantados por Montenegro conduzem o debate para

uma avaliação da potencialidade do IDH e das dimensões avaliadas por ele. A

crítica apontando para a utilização do coeficiente de gini em todas as dimensões

absorvidas pelo IDH parece ser a mais efetiva. Os países sejam eles desenvolvidos

ou em desenvolvimento possuem realidades não tão uniformes quanto tenta

demonstrar o resultado do IDH.

O PNUD trabalha a questão do Índice de Gini em uma das tabelas publicada

nos RDHs, mas não o utiliza no cálculo do IDH. Este ponto pode ser utilizado como

uma sugestão para futuras alterações no cálculo do índice pelo PNUD.

Relembrando a discussão do item anterior, apesar das fragilidades que estas

dimensões possam demonstrar o fato é que houve um avanço. A parcialidade deste

avanço é passível de questionamentos, mas há relevância nas dimensões avaliadas,

uma vez que é natural crer que há uma preferência por viver mais à viver menos. A

qualidade desta vida pode ser questionada, mas a análise pela quantidade não está,

por completo, errada. É necessário, neste instante, uma reflexão sobre o sentido

prático de um índice. Um índice é utilizado para expressar a realidade, mas ele não

pode ser interpretado como sendo a própria realidade.

67

3.3. Avaliação metodológica do IDH

A avaliação da metodologia sobre o IDH tem vários aspectos. Muitos autores

demonstram as dificuldades de comparação do Índice em função dos problemas das

variáveis utilizadas, principalmente relacionadas à quantidade de variáveis, suas

vulnerabilidades e abrangência. Outros demonstram os problemas de comparação

do índice no seu aspecto temporal em função das variações da metodologia

aplicada, no decorrer dos anos, pelas Nações Unidas. Outros, ainda, demonstram as

dificuldades da variável renda espelhar o nível de desenvolvimento de um país em

função dos ajustes realizados pelo PNUD e a falta de evidência empírica para o

mesmo. Ainda no aspecto renda, alguns autores entendem que renda vai definir o

acesso à saúde e educação e por isto não poderia ser utilizado como mais um

indicador, distorcendo seus resultados. Por último, há autores que questionam a

metodologia de cálculo do IDH pelo fato de não absorver aspectos subjetivos do

bem-estar.

Emes e Hahn (2001) apresentaram argumentos sobre a ampliação na

quantidade de variáveis analisadas na obtenção do índice, com o intuito de resolver

problemas como vulnerabilidade e abrangência. Eles afirmaram que aumentando o

número de variáveis a comparação entre os países seria ampliada e eliminaria

possíveis distorções causadas pela quantidade limitada das variáveis no índice

original. Além disso, ao utilizar um maior número de variáveis a vulnerabilidade do

índice seria reduzida em função de dados com baixa qualidade. Desta forma, se

diluiriam os possíveis problemas com a qualidade dos dados. Entretanto, fazem uma

abordagem, também, sobre o custo elevado em se trabalhar com muitas variáveis

em um índice, principalmente, quando se trata de uma avaliação entre países onde

há uma grande dificuldade em obter as informações necessárias. As long as the data are reliable, a greater number of indicators permits clearer distinctions among countries. In addition, using more indicators makes the index less vulnerable to any unreliability in the data as the impact of a biased indicator on the overall score is reduced when more indicators are used (EMES e HAHN, 2001, p. 14).

Emes e Hahn (2001) continuam suas considerações avaliando as condições

de comparabilidade do IDH entre os países. Para eles, a comparação entre os

países investigando somente os resultados obtidos em apenas 4 variáveis

68

agrupadas em 3 dimensões (renda, saúde e educação) é limitada. Em 1990, as

Nações Unidas justificaram que foram definidas apenas estas variáveis com o intuito

de simplificar a apuração e que com uma quantidade maior de variáveis, os países

poderiam encontrar dificuldades em trabalhar as políticas inerentes à obtenção dos

dados. Os autores apresentam a justificativa do PNUD em relação à simplicidade

alegando que ela foi preferida à obscuridade que poderia ocorrer no índice caso

fosse inserida uma quantidade maior de variáveis e dimensões. Os autores

continuam seus esclarecimentos sobre este ponto relatando que em 1998, a própria

Nações Unidas evidenciou a dificuldade na elaboração do índice, quando afirmou

que existem “problemas” para levantar as variáveis básicas e que estes problemas

poderiam ser ainda maiores se fosse adicionada uma quantidade maior de variáveis

na composição do índice.

The United Nation’s Human Development Index contains only four indicators grouped into the three sub-indices—life expectancy, education (consisting of literacy and school enrolment), and adjusted GDP per capita. The reason cited for this in the inaugural Human Development Report 1990 was simplicity: too many indicators would obscure the overall comparison that the Index is intended to provide for policymakers. In the Human Development Report 1998, however, the United Nations justifies the restriction of indicators in the Human Development Index by asserting that, if the basic requirements of life expectancy, knowledge, and access to resources are not met, then many other areas of development are impossible to achieve. […]Since the Human Development Index makes use of only four variables, it is limited in the degree to which it can make distinctions among countries. That GDP per capita is arbitrarily adjusted when forming the Human Development Index and that literacy levels do not have much variability for high-income countries exacerbate this problem (EMES e HAHN, 2001, p. 14).

Há um grau de confusão nos pontos discutidos pelos autores em virtude de

apresentarem críticas e ao mesmo tempo evidenciar os motivos pelos quais suas

críticas são inviáveis. Assim, o resultado desta contribuição é relevante para

demonstrar a quantidade de adeptos à crítica sobre a quantidade de variáveis

averiguadas pelo IDH nos países, mas pelos próprios motivos vislumbrados pelos

autores não são passíveis, pelo menos não no curto/médio prazo de serem

implantadas.

Para Montenegro (2004) o problema metodológico apresentado pelo IDH está

nas constantes mudanças, nesta área, que o índice sofreu ao longo do tempo de

existência. O autor evidenciou a impossibilidade de utilização do índice para analisar

tendência (análises temporais) em virtude dessas alterações. Segundo Montenegro

69

(2004), Qizilbash considera que tais oscilações medológicas podem levantar

suspeitas sobre a credibilidade do índice. O autor relaciona pelo menos 4 mudanças

que ocorreram produzindo dificuldades nas análises, tais como: a) sobre a educação

– em 1990 a taxa de alfabetização era usada no cálculo do componente de acesso

educacional do IDH; em 1991 foram somados os anos de educação e calcularam a

média com a taxa de alfabetização; finalmente em 1995 a taxa de matrícula foi

substituída por anos de educação; b) sobre a renda per capita - em 1990 a linha de

pobreza tinha um peso zero no IDH, isto foi mudado no ano seguinte quando o peso

passou a diminuir de acordo com a elevação do nível de renda; c) sobre os

balizadores – utilização de uma padronização que fizesse com que os indicadores

apresentassem resultados entre zero e um; d) ainda sobre a renda – a utilização do

ajuste dos valores em PPC (em dólares).

Through the years, the HDI has undergone various modifications and methodological changes [see United Nations (2001)]. Some analysts believe that this can make its credibility suspect [see Qizilbash (2002)] and diminish its usefulness for intertemporal comparisons. For example, at the beginning, in 1990, the literacy rate was used in the calculation of the educational attainment component of the HDI; in 1991 the variable years of education was added and averaged with the literacy rate; finally in 1995 the enrollment rate was substituted for years of education. Also, in 1990 income per capita above the poverty line had a weight of zero in the HDI; this was changed in the following year making the weight decrease with the level of income. The values used in the normalization of the variables so as to make them fall between zero and one, i.e., the maximum and minimum values (as will be explained below), were altered in 1994. Another modification made was in the methodology of the purchasing power parity used in measuring income (MONTENEGRO, 2004, p. 7).

Com relação a variável renda, o autor aponta, ainda, como fraqueza

fundamental do IDH, a falta de evidência empírica, que demonstre a contribuição

mínima da renda para o alcance do desenvolvimento no qual afirma que acréscimos

de renda para países de baixa-renda têm resultados mais expressivos no grau de

desenvolvimento do que em países de alta-renda. O autor considera uma

arbitrariedade, pela falta de evidência empírica, a utilização de função logarítmica

para ajustes do indicador renda no cálculo do IDH.

As críticas de Montenegro, mais uma vez, apontam para uma análise

negativista do índice. Entretanto, se faz necessário indagar se as alterações

metodológicas sofridas pelo IDH ao longo dos seus 16 anos de existência (1990-

2005) foram ou não foram objetivadas para sua melhoria? A questão é: melhorou ou

não melhorou? É fato que as alterações prejudicaram a capacidade comparativa dos

70

resultados do IDH ao longo dos anos para os diversos países avaliados, mas foram

necessárias. Afinal, a substituição da renda per capita pelo IDH para avaliação do

grau de desenvolvimento entre os países demonstrou um avanço tanto em termos

teóricos quanto em termos quantitativos e se uma idéia tão enraizada foi passível de

sofrer alterações por que o IDH não poderia sofrê-las? Essa discussão faz parte de

uma evolução teórica e de sua aplicação. Assim, como a primeira foi passível de

mudanças a segunda, também, deveria ser.

Emes e Hahn (2001) contribuem criticamente com a avaliação do IDH

inserindo uma discussão sobre a relação entre a variável renda nos países de baixa-

renda e nos países de renda mais elevada.

The fundamental weakness of the Human Development Index is the arbitrary adjustment of GDP per capita. The United Nations assumes that GDP per capita should be discounted on the grounds that per-capita income contributes minimally to development when it rises past a certain modest amount. They do not, however, offer any empirical evidence to support their claim though[…] The Human Development Index arbitrarily uses the logarithmic (log) function. This adjustment has the effect of giving much higher scores to low-income countries and giving countries whose income increases above the level of $5,000 to $7,000 per-capita very little credit for the improvement (EMES e HAHN, 2001, p. 6).

Este ajuste tem o efeito de valorizar os resultados do indicador renda para os

países de baixa-renda e dar pequenos pesos para as melhorias alcançadas nos

resultados dos países de renda mais elevada (elevação acima de $5,000 a $7,000

per capita).

A discussão sobre o IDH e suas dimensões nesses autores indica para a

correlação entre a renda e o Estado. Nos países onde o Estado está ausente a

avaliação do nível de bem-estar mensurado pela renda é verdadeira. Entretanto,

com a presença do Estado, esta avaliação deixa de expressar a realidade. Afinal, o

Estado, presente na sociedade, tem a possibilidade de promover a prestação de

serviços sociais os quais podem ser usufruídos por todos independente da

quantidade de renda que possuem.

Os autores acrescentam, ainda, a relação causal entre a dimensão renda e o

seu reflexo nas demais dimensões (saúde e educação) do IDH. Conforme já

discutido anteriormente, eles, também, acreditam que a renda é um instrumento

para obter mais saúde e mais educação. Dentro desta premissa apontam para a

divergência no IDH em que a renda representa mais um indicador e que no final sua

mensuração objetiva avaliar as dimensões do desenvolvimento humano e não seu

71

reflexo em saúde e educação. Para eles o IDH avalia a possibilidade de acesso à

educação e à saúde e não o nível de desenvolvimento humano dos países. As noted above, the United Nations describes income as a proxy for the dimensions of human development not reflected in a long life and adequate knowledge. They sharply discount high GDP per capita on the assumption that increases in income beyond a certain GDP per capita provide limited benefits to citizens of countries that are relatively well off. The adjustment that the United Nations makes to GDP per capita might be reasonable if they were using it as a proxy for health and education. […]However, the United Nations describes GDP per capita as a proxy for the dimensions of human development not reflected in health and knowledge indicators (EMES e HAHN, 2001, p. 11).

Os autores apontam para um distanciamento entre a possibilidade de acesso

à educação e à saúde e a mensuração do desenvolvimento humano. Entretanto,

a teoria econômica na análise que faz sobre os indicadores sociais evidencia a

necessidade de ampliação dos aspectos como saúde e educação para a melhoria

na condição de vida dos indivíduos o que provocaria uma ampliação no

desenvolvimento humano dos mesmos. Mais uma vez, essa discussão está mais

próxima da necessidade de avançar no grau de abrangência do IDH do que de

questionar ou refutar a utilização das dimensões avaliadas por ele.

Nesta questão, Oswald e Blanchflowers (2005), já citados neste capítulo da

dissertação, avaliam os aspectos de bem-estar mensurados pelo IDH através de

suas dimensões. O que estes autores incluem na discussão são os aspectos

subjetivos que deveriam ser captados por um índice que busca mensurar o grau de

desenvolvimento de um país. Eles esclarecem que o IDH é um índice que utiliza

critérios “mecânicos” (quantificáveis) e como conseqüência não captam os aspectos

subjetivos do bem-estar. Os autores Oswald e Blanchflowers (2004) chegaram a

esta conclusão após fazerem uma avaliação do resultado alcançado pela Austrália

no IDH do ano de 2004.

Em 2004, a Austrália ocupou o 3° lugar no ranking dos países. Tal resultado

deixou os autores surpresos e eles resolveram verificar o resultado do IDH

comparando-o com a pesquisa realizada pelo International Social Survey

Programme (ISSP)19. Este programa fez uma avaliação, com dados do ano de 2002,

do grau de felicidade das populações de 35 nações, incluindo a Austrália. Para esta

avaliação o programa fez uma pesquisa tabulando cinco questões as quais são

transformadas em indicadores de bem-estar; são eles: felicidade (grau de felicidade

72

do indivíduo no momento), satisfação familiar (grau de satisfação com a vida

familiar), satisfação no trabalho (grau de satisfação com seu trabalho principal),

estresse no trabalho (intensidade de estresse no trabalho) e não cansaço (grau de

disposição para atividades após o trabalho). Os resultados desta pesquisa

demonstram o grau de felicidade alcançado pelas populações dos 35 países

avaliados.

A análise dos resultados, realizada pelos autores, desta pesquisa mostra que

apesar da Austrália figurar na 3° posição no ranking do IDH ela aparece nas piores

posições nos indicadores de felicidade avaliados. Ao analisarem o grau de bem-

estar alcançado pela Austrália utilizando o IDH (aspectos “mecânicos”) o valor

encontrado a classifica como um país de elevado desenvolvimento humano

enquanto que utilizando os indicadores de felicidade o resultado não é tão positivo. Methodologically, happiness data, if carefully constructed, are intrinsically more appropriate as an indicator of a nation’s mental well-being than any mechanical indicator such as an HDI-style index. Emotion surely ought to play a role in a measure of human well-being. Yet currently not enough is known to be sure how well-being data can supplement or supplant the Human Development Index. A key difficulty with HDI-style indicators is that the weights among the different subgoals (education, longevity, GDP) have to be chosen arbitrarily. In principle, happiness equations can provide crucial help here: such regression equations solve out, in effect, for people’s utility weights on the different factors that mould the quality of life, many of which do not come with price tags attached. Happiness equations thus offer a variety of opportunities. They can tell politicians and others how citizens value the different effects upon well-being of diverse influences such as unemployment, the divorce rate, real income, friendship, traffic jams, crime, health, and much else. If we can learn to exploit the power of statistical happiness equations, it should be possible to make public policy choices in a more coherent way than before. (OSWALD e BLANCHFLOWERS, 2005, p. 10-11)

Apesar de questões metodológicas relevantes, fica evidente que não há

convergência entre os aspectos subjetivos de bem-estar e o IDH. Para os autores o

ideal seria a utilização de uma metodologia de cálculo para o IDH que incorporasse

os indicadores de felicidade. Com isso, o IDH melhoraria a precisão nos resultados

dos níveis de bem-estar entre os países e poderia analisar, ainda, dimensões do

bem-estar não captadas por ele, como violência, taxa de divórcio, desemprego e

entre outras. Eles afirmam que fatores emocionais são determinantes para se definir

bem-estar e que a utilização dos indicadores de felicidade poderia colaborar com a

19 É um grupo de pesquisa dedicado ao estudo da pobreza, desigualdade e qualidade de vida, que estuda os seguintes países: Etiópia, Bangladesh, Peru e Tailândia.

73

determinação dos pesos de cada dimensão componente do IDH resolvendo sua

condição, estritamente, mecânica. Em resumo estes autores evidenciam a

fragilidade do IDH ao ser comparado com indicadores que mensuram os aspectos

subjetivos do bem-estar como o grau de felicidade de um país.

Ranis, Stewart e Samman (2005) fazem uma avaliação na mesma linha que

Oswald e Blanchflowers (2004), eles argumentam que a quantidade de dimensões

avaliada pelo IDH é insuficiente para avaliar o grau de desenvolvimento humano de

uma país. Esta argumentação converge para as críticas aos IDH sobre a relação

teoria e aplicação empírica. Ranis, Stewart e Samman (2005) buscam utilizar dados

de órgãos internacionais que possam oferecer informações sobre uma quantidade

maior de dimensões do bem-estar objetivando fazer um contraponto entre o IDH e

resultado da avaliação de um outro conjunto maior de dimensões humanas. Para

isso, fizeram uma pesquisa sobre a teoria do desenvolvimento humano cujos

autores possuem aproximação filosófica, tais como: Rawls, Finnis, Doyal e Gough,

Nussbaum, Narayan-Parker para identificar as dimensões do bem-estar identificadas

por eles e uma pesquisa sobre as dimensões mensuradas pelo ESRC (Research

Group of Wellbeing in Developing Countries). Com base nestas pesquisas os

autores definiram um grupo de 11 categorias, mais o IDH, que acreditam ser

necessárias para uma verificação mais profunda do bem-estar dos indivíduos. Estas

categorias com seus respectivos indicadores são:

• IDH : saúde, educação e renda;

• Bem-estar mental (taxa de suicídio masculino, taxa de suicídio feminina,

satisfação com a vida, prisioneiros por população);

• “Empoderamento” (Empowerment) - (taxa de pobreza, medida de participação

por gênero, relação de acesso a educação secundária masculino/feminino, taxa

de uso de anticoncepcional, meninas entre 15 e 19 anos casadas, participação

das mulheres na vida pública, densidade de união matrimonial);

• A liberdade política (liberdade política de civis, liberdade religiosa, índice de terror

político, liberdade política, liberdade de imprensa, independência jurídica),

• As relações sociais (taxas de divórcio, importância de família e amigos, tolerância

entre vizinhos),

• O bem-estar da comunidade (taxa de crime, uso de álcool, corrupção, taxa de

órfão, mortes por AIDS, % da população em associações cívicas, confiança em

74

outros indivíduos, legislação, instituições públicas, população afetada por

desastres naturais, tolerância entre vizinhos),

• As desigualdades (índice de gini para renda, desigualdades nas demais

categorias, desigualdade urbano-rural, desigualdade de gênero, desigualdade de

felicidade, desigualdade de saúde),

• As condições de trabalho (desemprego, condições de emprego, emprego

informal, mão-de-obra infantil, política de salário mínimo),

• As condições dos desocupados (disponibilidade de telefone, utilização da

internet, uso de rádio, freqüência em cinema, circulação de jornal, proprietário de

TV),

• As dimensões da segurança política (estabilidade política, fluxos de refugiado

político, violência coletiva, violência política)

• As dimensões da segurança econômica (instabilidade de renda, flutuações de

renda no ciclo empresarial, exportações industriais, investimento no mercado de

capitais mundial, flutuações nas condições de comércio, cobertura de previdência

social) e

• As condições ambientais (índice de sustentabilidade ambiental).

Os autores trabalharam com estas categorias e selecionaram através da

análise de correlação quais seriam os indicadores mais significativos para explicar

cada categoria. Após este estudo eles fizeram uma análise de correlação entre eles

e as dimensões do IDH. Como resultado encontrou-se que dentre os indicadores

correlacionados 31 não apresentaram coeficiente significativo de correlação com o

IDH. Os indicadores representados pelo IDH estão classificados nas seguintes

categorias: Bem-Estar Mental, “Empoderamento”, Bem-Estar da Comunidade,

Condições de Trabalho, Condições de Desocupados e Segurança Econômica e

aqueles que não estão representados pelo IDH estão dentro das categorias:

Liberdade Política, Relações Sociais, Desigualdades, Segurança Política e

Condições Ambientais. Assim, ainda, há dimensões do desenvolvimento humano

não avaliadas por ele. Os autores consideraram, então, que para expressar

adequadamente o grau de desenvolvimento humano, o IDH deveria absorver um

grupo maior de indicadores de bem-estar em sua metodologia de cálculo. Por outro

lado, o IDH mesmo com as fragilidades apresentadas, ainda sim, é um indicador

melhor para identificar o grau de bem-estar dos indivíduos do que o PIB per capita.

75

This exercise shows that HDI alone does not encompass many other important dimensions of HD, even on our rather modest requirements of a 0.6 correlation. For each of the eleven categories, at least one other variable needs to be included in order to assess the overall state of Human Development, and altogether we add 31 indicators. Thus HDI is a somewhat more encompassing general indicator of HD than per capita income. Income per capita is, of course, also a less good measure of the basic elements of HD than HDI, which is designed for this very purpose. (RANIS, STEWART, SAMMAN, 2005, p. 27)

Todos os autores analisados neste capítulo trouxeram uma avaliação do IDH

seja sobre as questões teóricas que o sustenta, seja sobre as dimensões que o

compõem seja sobre a dimensão de sua metodologia de cálculo. Entretanto, o fato

de ser difícil a obtenção de dados confiáveis e precisos para todos os países

avaliados pelo IDH, que permitisse uma avaliação mais ampla do grau de

desenvolvimento entre eles, ainda é o principal argumento a favor do índice e contra

as críticas recebidas.

76

Capítulo 4 - O IDH no Brasil

4.1. Evolução, dos resultados, do IDH no Brasil

Desde 1990, início da publicação do Relatório de Desenvolvimento Humano

pelo PNUD, o Brasil integra a lista dos países avaliados para o cálculo do IDH. Entre

1990 e 2005 diversas alterações foram realizadas no cálculo do IDH20, o que

provocou alterações nos resultados do IDH para o Brasil e na posição ocupada pelo

Brasil no ranking dos países.

No Brasil os números do IDH, conforme TABELA Nº XX, oscilaram no geral

entre 0,730 e 0,809 propiciando mudanças no ranking do país entre 58º e 79º. Estas

oscilações podem ser confrontadas com a explicação da evolução dos

procedimentos metodológicos do IDH detalhados anteriormente nesta dissertação.

Entretanto, como o próprio PNUD clarificou em seus relatórios, os valores não são

passíveis de ser analisados comparativamente, como numa análise de série

histórica. Isto porque as alterações metodológicas produziram números de natureza

diferente a cada ano. Assim, para uma avaliação do IDH no Brasil será realizada

uma avaliação por grupos de anos que mantiveram os mesmos procedimentos

metodológicos para o cálculo final.

O TABELA Nº XX tem por objetivo sintetizar todas as informações da

aplicação do IDH no Brasil. Em 1990, primeiro ano de publicação do RDH, o Brasil

ocupava o 80° lugar no ranking contendo 130 países membros da ONU. O Brasil

apresentou os seguintes resultados:

a) Na dimensão saúde o limite máximo era de 78 anos e o mínimo de 42

anos, o Brasil apresentou um valor observado de 65 anos. Com este

resultado o Brasil ficou com um índice de 0,650 para esta dimensão.

b) Na dimensão educação os valores máximos e mínimos eram

respectivamente 100% e 12% para os dados da taxa de alfabetização de

adultos, o Brasil atingiu 78%, finalizando com um índice de 0,740.

c) Na dimensão renda, com o procedimento metodológico adotado pelo

PNUD, o valor mínimo para o PIB per capita (dólares PPC), foi de US$

77

220,00 e o valor máximo de US$ 4.861,00. O Brasil apresentou um valor

observado de US$ 4.307,00 (dólares PPC) o que resultou no índice de

renda de 0,963.

Esses resultados, por dimensão, foram finalizados com um IDH de 0,784 para

o Brasil classificado como desenvolvimento humano médio.

Em 1991 com as alterações metodológicas nos indicadores das dimensões

renda e educação o Brasil ocupou o 60° lugar no ranking contendo 160 países. Os

valores para o Brasil foram:

a) Na dimensão saúde não houve alteração nos procedimentos do

cálculo. O Brasil apresentou um valor observado de 65,6 anos para

esperança de vida ao nascer o que resultou em um valor de 0,645

para o índice de saúde.

b) Na dimensão educação, com o acréscimo do número médio de anos

de escolaridade da população adulta, o Brasil apresentou uma taxa

de alfabetização de adultos de 78,5% e um número médio de anos

de escolaridade da população adulta de 3,3 anos. Estes resultados

proporcionaram um valor para o índice de educação de 0,726.

c) Na dimensão renda, com as alterações metodológicas que

ocorreram, o Brasil apresentou um PIB per capita de 4.620 dólares

PPC o que produziu um índice de renda de 0,905. As alterações no

cálculo foram tão expressivas que o valor observado no Brasil em

1990 não pode ser comparado com o observado deste ano.

Na finalização do IDH os valores observados, por dimensão, proporcionaram

um valor para o IDH de 0,759 no Brasil, o qual manteve sua classificação como

desenvolvimento humano médio.

Até a publicação no ano de 1994 os procedimentos metodológicos para o

cálculo do IDH permaneceram constantes e o Brasil do ano de 1991 para 1992 subiu

uma posição no ranking (para 160 países). Este resultado foi alcançado não por

razões inerentes ao Brasil, mas por resultados ruins de outros países avaliados pelo

PNUD porque se fosse em relação aos resultados auferidos pelo Brasil a posição

20 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no Capítulo 2 desta dissertação.

78

deveria cair e não aumentar em virtude dos valores do IDH destes anos que ficaram

em 0,759 em 1991 e 0,739 em 1992.

Em 1993 o Brasil caiu para 70° posição, com uma avaliação para 173 países.

Nesse ano não houve alterações metodológicas, os resultados apresentados pelo

Brasil podem ser comparados aos resultados de 1991 e 1992. A única dimensão que

sofreu alteração de resultado foi a renda. Ela saiu de um valor observado de 4.851

para 4.718 dólares PPC, uma queda em torno de 200 dólares PCC que culminou em

um valor para o IDH de 0,730, um valor menor que o ano anterior que foi de 0,739. A

alteração no resultado da dimensão renda não foi tão significativa para justificar uma

queda de 11 posições. Entretanto, não se pode esquecer que houve um aumento na

quantidade de países avaliados e que os resultados são classificados de acordo

com os resultados dos demais países.

Em 1994 ocorreram diversas alterações metodológicas: na metodologia de

cálculo final do IDH, nos valores balizadores e na fonte de dados do PIB real per

capita em PPC. Para o Brasil estas mudanças implicaram alterações, com a

elevação de 7 posições no ranking (com 173 países). O Brasil deixou de ocupar o

70° lugar para ocupar o 63° lugar no ranking.

a) Na dimensão saúde a alteração foi na elevação do valor máximo

balizado que passou de 78 anos para 85. O Brasil obteve um valor

observado de 65,8 resultando no valor do índice de saúde de 0,680.

b) Na dimensão educação a alteração ficou apenas no valor mínimo da

taxa de alfabetização que antes era de 12% e passou para 0%. O

Brasil apresentou 82,1% para a taxa de alfabetização de adultos e 4

anos para o número médio de anos de escolaridade da população

adulta. Estes resultados produziram um valor de 0,756 de IDH.

c) Na dimensão renda além de alterações nos balizadores houve,

também, alteração na metodologia de cálculo. O Brasil apresentou

um PIB per capita de 5.142 em dólares PPC o qual resultou em um

índice de renda de 0,953.

Na finalização do IDH os valores observados, por dimensão, proporcionaram

um valor para o IDH de 0,756 no Brasil, o qual manteve sua classificação com

desenvolvimento humano médio.

79

Em 1995 os indicadores da dimensão renda e da dimensão educação

sofreram alterações metodológicas. O Brasil ocupou o 63°lugar, o qual é o mesmo

lugar que em 1994 para 174 países. Os valores observados foram:

a) Na dimensão saúde não houve alterações para o cálculo. O Brasil

apresentou um valor de esperança de vida de 66,3 anos e um índice

de saúde de 0,688.

b) Na dimensão educação a alteração consistiu na substituição do

número médio de anos de escolaridade da população adulta para

taxa combinada de matrícula bruta do primeiro, segundo e terceiro

graus. O Brasil apresentou as seguintes taxas 81,9% e 70%

respectivamente para a taxa de alfabetização de adultos e para a

taxa combinada de matrículas dos níveis de ensino. Tais resultados

produziram um índice de 0,779 para a educação.

c) Na dimensão renda a alteração foi na redução do valor mínimo

balizado que antes era de 220,00 e passou para 100,00 dólares

PPC. O Brasil apresentou um valor observado de 5.142 dólares PPC

que resultou em um índice de 0,943 para a renda.

Na finalização do IDH no ano de 1995 os valores observados, por dimensão,

proporcionaram um valor para o IDH de 0,804 no Brasil, o qual alterou sua

classificação. O Brasil saiu do grupo de países com médio desenvolvimento humano

para o grupo de países com elevado desenvolvimento humano. A dimensão

educação foi a que apresentou elevação mais significativa podendo justificar a

elevação no valor do IDH. Esta elevação significativa ocorreu em virtude da

substituição de um dos seus indicadores.

Entre os anos de 1995 e 1998 a metodologia do IDH permaneceu constante.

A alteração ficou por conta dos valores do PIB per capita médio mundial para o

período. No Brasil os resultados não foram tão positivos apesar da manutenção da

metodologia.

Em 1996, o Brasil melhorou de posição no ranking e foi para o 58° (com 174

países), mas o resultado do IDH ficou em 0,796 classificando-o como país de

desenvolvimento humano médio. Melhorou na posição do ranking, mas piorou na

posição da classificação em virtude do valor do IDH. A dimensão renda foi a que

mais oscilou saindo de 0,943 para 0,909. Esta alteração, associada às alterações

80

sofridas pelos demais países avaliados pelo PNUD, culminaram na queda do valor

final do IDH e na sua respectiva alteração na classificação.

Em 1997, os resultados para o Brasil não foram tão promissores. Em 1996 o

ele ocupava o 58° lugar e em 1997 caiu para 68°. O valor do IDH, para este ano, foi

de 0,783, considerado como médio desenvolvimento humano. Para este resultado a

dimensão renda foi a que mais contribuiu.

Em 1998, os valores observados para o Brasil apresentaram resultados

consideráveis. Houve uma significativa melhora na sua posição no ranking, foi para

o 62° (com 174 países), uma elevação no índice da renda, 0,938, e um valor final de

IDH em 0,809, voltando para o grupo dos países de elevado desenvolvimento

humano. Foi um ano realmente bom para o Brasil nesses termos.

Em 1999, com a colaboração de Amartya Sen e Sudhir Anand21 o IDH sofreu

uma revisão metodológica mais complexa na dimensão renda. As demais

dimensões não sofreram alterações. O Brasil ocupou neste ano o 79° lugar no

ranking (com 174 países) o que significou um resultado muito ruim em comparação

com o resultado de 1998. Os valores observados para o Brasil foram:

a) Na dimensão saúde os valores observados para a esperança de

vida ao nascer e para o índice de saúde foram respectivamente 66,8

e 0,700. b) Na dimensão educação os valores observados para a taxa de

alfabetização de adultos, a taxa combinada de matrículas dos níveis

de ensino e do índice de educação foram respectivamente 84%,

80% e 0,830.

c) Na dimensão renda as alterações ocorreram na metodologia do

cálculo. Estas mudanças implicaram em resultados menores para o

Brasil no índice de renda. O Brasil que desde o ano de criação do

IDH apresentou índices de renda acima dos 0,900, em média, em

1999 seu resultado ficou em 0,700. Na análise em dólares PPC,

houve uma significativa melhora no valor do PIB per capita

brasileiro, saindo de 5.982, em 1998 para 6.480 em 1999, mas esta

melhora foi atenuada pela alteração metodológica.

21 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no RDH de 1999.

81

A euforia com a publicação do RDH de 1998 deixou espaço para o espanto

com o RDH de 1999. Neste ano, os resultados fizeram com que o Brasil retornasse

ao status de país com médio desenvolvimento humano, deixando para trás a

condição de elevado desenvolvimento humano alcançado em 1998.

Entre os anos de 2000 a 2005 a metodologia de cálculo do IDH permaneceu

constante. Neste período o Brasil apresentou algumas alterações em posição no

ranking, mas nenhuma destas posições produziu um retorno ao grupo dos países de

elevado desenvolvimento humano. No mesmo período a dimensão que mais se

destacou foi à dimensão educação. Esta apresentou resultados entre 0,830 e 0,900,

valores classificados como de elevado desenvolvimento humano. Os valores das

dimensões saúde e renda apresentaram elevações, mas eles não foram tão

significativos quanto os da educação. Em 2005, apesar do Brasil não retomar a

posição de 1998, o valor do IDH ficou em 0,792 mais próximo dos 0,800 necessário.

82

TABELA N° 5 – Evolução dos números do IDH no Brasil (1990-2005) Anos Classificação

no ranking mundial

Número de

Países

Esperança de vida ao

nascer

Índice de

Saúde

Taxa de alfabetização de Adultos

Taxa combinada

de matrículas dos níveis de ensino

Índice de Educação

PIB real per

capita (Dólares PPC)

PIB real per capita ajustado (Dólares

PPC)

Índice de

Renda

IDH Nível de Desenvolvimen

to Humano

1990 80 130 65,0 0,650 78,0 - 0,740 4.307 - 0,963 0,784 médio

1991 60 160 65,6 0,645 78,5 3,3 0,726 4.620 4.620 0,905 0,759 médio

1992 59 160 65,6 0,645 81,1 3,9 0,623 4.951 4.851 0,952 0,739 médio

1993 70 173 65,6 0,645 81,1 3,9 0,623 4.718 4.718 0,924 0,730 médio 1994 63 173 65,8 0,680 82,1 4,0 0,637 5.240 5.142 0,953 0,756 médio 1995 63 174 66,3 0,688 81,9 70 0,779 5.240 5.142 0,943 0,804 alto

1996 58 174 66,5 0,692 82,4 72 0,789 5.500 5.500 0,909 0,796 médio 1997 68 175 66,4 0,690 82,7 72 0,791 5.362 5.362 0,872 0,783 médio 1998 62 174 66,6 0,693 83,3 72 0,795 5.982 5.982 0,938 0,809 alto

1999 79 174 66,8 0,700 84,0 80 0,830 6.480 - 0,700 0,739 médio 2000 74 174 67,0 0,700 84,5 84 0,840 6.625 - 0,700 0,747 médio 2001 69 162 67,5 0,710 84,9 80 0,830 7.037 - 0,710 0,750 médio 2002 73 173 67,7 0,710 85,2 80 0,830 7.625 - 0,720 0,757 médio 2003 65 175 67,8 0,710 87,3 95 0,900 7.360 - 0,720 0,777 médio 2004 72 177 68,0 0,72 86,4 92 0,880 7.770 - 0,730 0,775 médio 2005 63 177 70,5 0,760 88,4 91 0,890 7.790 - 0,730 0,792 médio

Fonte: Relatórios de Desenvolvimento Humano (1990-2005). - Até o ano de 1994 o cálculo do segundo indicador da dimensão educação era “Média dos anos de escolaridade” cuja unidade de medida estava em anos. Após esta data o indicador anterior foi substituído pelo indicador “Taxa bruta de matrícula combinada” e a unidade de medida passou a ser em porcentagem. - Entre os anos 1991 e 1998 a dimensão renda era ajustada por uma linha de pobreza mundial. Após este ano com as alterações metodológicas no cálculo desta dimensão este ajuste deixou de ser realizado. - A classificação do nível de desenvolvimento humano considera os seguintes intervalos: 1) 0 a 0,499 - baixo desenvolvimento humano; 2) 0,500 a 0,799 – médio desenvolvimento humano e 3) 0,800 a 1,000 - elevado desenvolvimento humano.

83

4.2. Avaliação da Capacidade do IDH de retratar a realidade social brasileira

Para avaliar a capacidade do IDH em retratar a realidade social brasileira é

necessário entender a composição desta realidade. A pesquisa realizada pelos

autores Campos et al. (2004) com o intuito de estudar a exclusão social brasileira

será utilizada como base para o entendimento desta composição. Estes autores

pesquisando um conjunto de variáveis sócio-econômicas encontraram os seguintes

resultados: [...] ao longo da segunda metade do século XX, de maneira sempre reiterada, quase metade das 27 unidades federativas brasileiras apresentou índices aflitivos de pobreza, sendo que a mesma quantidade exibiu índices sofríveis de assalariamento formal. Mais de um terço mostrou índices inaceitáveis de desigualdade de rendimentos, enquanto dois terços revelaram índices precários de alfabetização e escolaridade. Finalmente, cerca de metade apresentou índices preocupantes de violência e, como síntese, igual número revelou índices críticos de exclusão (CAMPOS, POCHMANN, AMORIM E SILVA, 2004, p. 12).

Estes resultados demonstram uma face típica da realidade social brasileira

que é seu nível de heterogeneidade dentro do território nacional, espelhando, assim,

as diferentes realidades existentes no Brasil.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realiza a aplicação da

metodologia de cálculo do IDH nos municípios brasileiros o que proporciona uma

avaliação sobre o desenvolvimento humano nas unidades da federação. Esta

aplicação resulta no índice denominado de Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal (IDH-M).

Utilizando os valores do IDH-M do ano de 2000 é possível identificar o grau

de desenvolvimento humano alcançado pelas unidades da federação brasileira,

neste ano, e evidenciar as diferenças existentes entre elas. Estas diferenças ficam

visíveis nos valores demonstrados através da TABELA N° 11. A referida tabela

apresenta valores elevados de IDH para as Unidades da Federação como: Rio de

Janeiro (0,807), Rio Grande do Sul (0,814), São Paulo (0,820), Santa Catarina

(0,822) e Distrito Federal (0,844). Estes valores são classificados pelo PNUD como

de elevado desenvolvimento humano pois estão no intervalo entre 0,800 e 1,000.

As demais unidades da federação estão classificadas dentro do intervalo de

médio desenvolvimento humano que varia de 0,500 à 0,799. Entretanto, algumas

84

unidades estão mais próximas do limite superior e outras mais afastadas. As

unidades mais próximas do limite superior são: Ceará (0,700), Pernambuco (0,705),

Rio Grande do Norte (0,705), Tocantins (0,710), Amazonas (0,713), Pará (0,723),

Rondônia (0,735), Roraima (0,746), Amapá (0,753), Espírito Santo (0,765), Mato

Grosso (0,773), Minas Gerais (0,773), Goiás (0,776), Mato Grosso do Sul (0,778) e

Paraná (0,787). As unidades da federação com valores mais próximos do limite

inferior são: Maranhão (0,636), Alagoas (0,649), Piauí (0,656), Paraíba (0,661),

Sergipe (0,682), Bahia (0,688) e Acre (0,697). Este panorama dos resultados do

IDH-M no ano de 2000 para as unidades da federação brasileira mostra as

discrepâncias já mencionadas anteriormente. Apesar destas diferenças, o Brasil

atingiu um resultado de 0,747, classificado como grau médio de desenvolvimento

humano.

Apesar das discussões sobre as diferenças sociais visualizadas no Brasil e a

capacidade do IDH-M em espelhar estas diferenças, existem outros aspectos que

não são observados no cálculo do IDH, mas que foram mencionados nesta

dissertação, tais como: os indicadores de exclusão social e os indicadores de

distribuição de renda. Para a análise da exclusão social será utilizado o Índice de

Exclusão Social (IES), extraído de Campos et al (2004), e para a avaliação da

distribuição de renda serão utilizados: o Índice de Gini e o Percentual de Pobreza.

Estes aspectos sociais e econômicos serão analisados em comparação com o IDH-

M a fim de encontrar se eles estão ou não associados.

4.2.1 - Índice de Exclusão Social e o IDH

As semelhanças entre estes índices estão nos aspectos sócio-econômicos

avaliados por eles. O IDH absorve as dimensões educação, renda e saúde. Estas

dimensões, também, são absorvidas pelo IES. Entretanto, há diferenças nos dados

coletados sobre o aspecto renda, pois o IDH coleta os dados sobre PIB per capita

(em dólares PPC) e o IES tem esta avaliação utilizando os indicadores de pobreza

(medido pela pobreza dos chefes de família no município) e desigualdade (medido

por uma proxi da desigualdade de renda). Outra situação que os diferencia é o

conjunto de indicadores utilizados para o resultado final. Neste ponto o IES adiciona

nos aspectos sócio-econômicos (padrão de vida digno, conhecimento e risco juvenil)

questões como: emprego formal, concentração de jovens e violência.

85

A TABELA N° 11 demonstra os resultados dos indicadores que compõem o

IES e o resultado do IDH. As UFs, nesta tabela, estão classificadas de acordo com

os resultados do IDH-M. Quando classifica-se essas mesmas UFs por meio dos

outros indicadores presentes na tabela, praticamente não há alteração das posições;

exceto para o índice de violência. A classificação das unidades da federação em

cada indicador apresenta os seguintes resultados:

a) Índice de Pobreza – neste índice a melhor posição ficou com a UF Distrito

Federal e a pior com a UF Maranhão;

b) Índice de Emprego – a melhor posição ficou para a unidade da federação

Distrito Federal e a pior para Maranhão;

c) Índice de Desigualdade – a melhor posição para a unidade Distrito Federal e

pior para Maranhão;

d) Índice de Alfabetização – a melhor posição para Distrito Federal e pior para

Alagoas

e) Índice de Escolarização – a melhor posição para a unidade Distrito Federal e

pior para o Piauí;

f) Índice de Violência – a melhor posição para a unidade Maranhão e pior para

Pernambuco

g) Índice de Juventude – a melhor posição para a unidade Rio de Janeiro e pior

para Amapá;

h) Índice de Exclusão Social – a melhor posição para Distrito Federal e pior para

Maranhão.

i) Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal – a melhor posição para a

unidade Distrito Federal e pior para Maranhão.

Os resultados expostos identificam as aproximações de resultados entre os

indicadores: pobreza, emprego, desigualdade, alfabetização, escolarização e

os índices compostos IES e IDH-M. Entretanto, os resultados dos indicadores

de violência e juventude não apresentam as mesmas características.

86

TABELA N° 11- Aspectos e indicadores do Índice de Exclusão Social e o IDH-M para as unidades da federação em 2000.

Padrão de Vida Digno Conhecimento Risco Juvenil

Unidade Federação Índice

Pobreza Índice

EmpregoÍndice

DesigualdadeÍndice

AlfabetizaçãoÍndice

EscolarizaçãoÍndice

Violência Índice

Juventude

Índice Exclusão

Social Índice Desenvolvimento

Humano - Municipal Maranhão 0,001 0,001 0,003 0,172 0,142 0,996 0,121 0,197 0,636 Alagoas 0,082 0,211 0,047 0,016 0,166 0,620 0,294 0,220 0,649

Piauí 0,045 0,067 0,019 0,135 0,124 0,960 0,349 0,247 0,656Paraíba 0,129 0,216 0,049 0,209 0,186 0,832 0,514 0,312 0,661Sergipe 0,187 0,296 0,074 0,312 0,244 0,675 0,398 0,309 0,682Bahia 0,119 0,218 0,057 0,384 0,222 0,933 0,439 0,328 0,688Acre 0,475 0,342 0,077 0,275 0,267 0,750 0,066 0,321 0,697

Ceará 0,117 0,181 0,064 0,265 0,201 0,797 0,411 0,289 0,700Pernambuco 0,234 0,258 0,094 0,343 0,301 0,077 0,543 0,257 0,705

Rio Grande do Norte 0,229 0,309 0,097 0,316 0,277 0,937 0,516 0,386 0,705Tocantins 0,306 0,257 0,068 0,503 0,269 0,828 0,287 0,339 0,710Amazonas 0,414 0,244 0,120 0,512 0,424 0,737 0,068 0,332 0,713

Pará 0,415 0,137 0,084 0,479 0,302 0,865 0,168 0,328 0,723Rondônia 0,676 0,321 0,153 0,718 0,347 0,466 0,342 0,404 0,735Roraima 0,671 0,466 0,161 0,670 0,464 0,345 0,106 0,381 0,746Amapá 0,623 0,393 0,183 0,653 0,505 0,486 0,033 0,377 0,753

Espírito Santo 0,712 0,547 0,228 0,790 0,482 0,226 0,700 0,505 0,765Média Brasil* 0,606 0,525 0,242 0,696 0,455 0,602 0,657 0,527 0,766Mato Grosso 0,748 0,468 0,194 0,760 0,423 0,355 0,519 0,472 0,773Minas Gerais 0,609 0,596 0,188 0,790 0,423 0,889 0,733 0,588 0,773

Goiás 0,683 0,519 0,175 0,801 0,428 0,700 0,682 0,549 0,776Mato Grosso do Sul 0,731 0,582 0,201 0,806 0,463 0,514 0,604 0,535 0,778

Paraná 0,796 0,656 0,254 0,877 0,522 0,758 0,741 0,639 0,787Rio de Janeiro 0,842 0,690 0,403 0,956 0,692 0,136 0,983 0,649 0,807

Rio Grande do Sul 0,855 0,717 0,277 0,952 0,574 0,801 0,914 0,709 0,814São Paulo 0,958 0,811 0,451 0,946 0,642 0,306 0,881 0,700 0,820

Santa Catarina 0,951 0,805 0,264 0,967 0,578 0,963 0,768 0,739 0,822Distrito Federal 0,998 0,999 0,994 0,972 0,854 0,471 0,699 0,850 0,844

Fonte: Campos et al. (2004).

Nota: Para todos os indicadores aqui expressos, as piores condições estão próximas a zero e as melhores próximas a um.

87

Para melhor demonstrar as relações entre os componentes do IES e o IDH,

uma análise de correlação entre eles torna-se necessária.

TABELA N° 12 - Análise de correlação entre indicadores

Indicadores

Coeficiente de

Correlação Índice de Pobreza x IDH 0,96 Índice de Emprego x IDH 0,94 Índice de Desigualdade x IDH 0,78 Índice de Violência x IDH -0,39 Índice de Juventude x IDH 0,68 Índice de Alfabetização x IDH 0,97 Índice de Escolaridade x IDH 0,95 Índice de Exclusão Social x IDH 0,95

A TABELA N° 12 mostra os resultados da Correlação Linear de Pearson entre

os valores do IDH-M e do IES, incluindo os valores dos seus componentes. É

possível analisar que os valores encontrados para o Índice de Pobreza, Índice de

Emprego, Índice de Alfabetização, Índice de Escolaridade e o próprio Índice de

Exclusão Social mantêm uma forte correlação positiva com o IDH. De acordo com a

análise de correlação os valores apresentados para estes indicadores demonstram

uma relação direta, ou seja, quando o valor de uma aumenta o valor da outra

também aumenta. Todavia, para os indicadores: Índice de Desigualdade e Índice de

Juventude os valores da análise de correlação apresentaram valores menos

significativos, em relação ao primeiro bloco de indicadores, mas ainda sim pode-se

dizer que são diretamente relacionáveis. Neste caso, a probabilidade de um valor

acompanhar o outro não está tão confirmada, mas há uma possibilidade forte de

ocorrer.

O indicador do Índice de Violência apresentou um coeficiente de correlação

demasiadamente diferente dos demais. Apresentou um valor baixo e negativo. No

caso negativo, significaria dizer que enquanto o IDH-M aumenta o indicador de

Violência do IES evidenciando um aumento dos níveis de violência cai. Porém,

como o valor da correlação este valor é muito baixo, não há associação entre as

duas variáveis. Portanto, não se pode afirmar com segurança que há uma relação

inversa entre as duas. Por outro lado, pode-se afirmar que o fato de não haver

associação, sugere que o IDH-M não reflete as condições sociais adversas, como a

redução do grau de desenvolvimento humano criada pela violência.

88

Ao observar os valores do Índice de Violência em relação aos valores do IDH-

M, TABELA N° 13, é perceptível as diferenças em seus valores, tais resultados

confirmados pelo coeficiente de correlação ficam evidentes na alteração do ranking

entre as UFs na comparação entre os dois índices. O resultado no ranking da

unidade de federação Maranhão apresenta uma diferença especial. No índice de

violência ele apresenta o melhor valor e no IDH-M a mesma unidade da federação

apresenta o pior valor. Para uma avaliação mais apurada do porquê dessas

diferenças seria necessária uma investigação mais detalhada desse índice.

Entretanto, esta investigação não é objeto de estudo desta dissertação. O

importante neste momento é evidenciar que um indicador de resultados relevantes

para a análise da realidade social brasileira, a violência, não é refletido pelo IDH.

A TABELA N° 13, ainda, evidencia diferenças substanciais na análise por

quartis. No indicador violência as UFs de melhor resultado são, respectivamente,

Maranhão, Santa Catarina, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia, Minas Gerais e Pará

todos no primeiro quartil(melhor resultado). Destas apenas a UF Santa Catarina

permanece no primeiro quartil do ranking do IDH-M. Entretanto, quando há a

incorporação do indicador de violência no índice do IDH-M permanecem no primeiro

quartil todas as unidades da federação que figuravam o primeiro quartil do indicador

de violência exceto a UF Pará. Por outro lado, do primeiro quartil do IDH-M

permanecem apenas as UFs Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É interessante

observar as alterações entre as unidades da federação por quartis. Este fato

demonstra a instabilidade do IDH-M quando comparado ao indicador da violência.

Uma UF pode figurar o primeiro quartil do indicador violência e não figurar a mesma

posição no IDH-M assim como na junção dos dois. A baixa correlação entre estes

dois indicadores já foi verificada pelo coeficiente de correlação entre eles, na tabela

em referência, esta baixa associação foi evidenciada.

Ao analisar a mesma tabela, mas ressaltando o quarto quartil (piores

resultados), as posições das unidades da federação apontam para mudanças

relevantes. Para o indicador de violência os piores resultados foram apresentados,

respectivamente, pelas UFs: Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São

Paulo, Roraima, Mato Grosso do Sul e Rondônia. As mesmas UFs que figuram o

quarto quartil, do indicador de violência, mantém a mesma posição e classificação

no resultado da junção entre Violência e IDH-M. Entretanto, nenhuma das UFs com

89

piores resultados no indicador de violência figuram o quarto quartil do IDH-M. Assim,

fica visível mais uma vez a não correlação entre as variáveis.

Para demonstrar as diferenças sociais evidenciadas pela TABELA N° 13,

entre as unidades da federação, as UFs que estão no primeiro quartil e no quarto

quartil no ranking do IDH-M serão analisadas em separado:

a) Distrito Federal – ocupa o primeiro lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,844). No indicador violência ela cai para o 21° lugar, ou seja, sai

do primeiro quartil e cai para o terceiro quartil. Na junção entre as

variáveis ele sofre um inexpressiva melhora a qual o mantém na

mesma posição.

b) Santa Catarina – ocupa o segundo lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,822). No indicador de violência ela permanece na mesma posição

do ranking (segundo lugar), o que a permite ocupar o primeiro lugar

no ranking da junção entre variáveis. Esta unidade da federação

permanece no primeiro quartil independente da variável analisada.

c) São Paulo - ocupa o terceiro lugar no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,820). No indicador violência ela cai para o 25° lugar, ou seja, sai

do primeiro quartil e cai para o quarto quartil. Na junção entre as

variáveis ela permanece na mesma posição e classificação

apresentada no ranking do indicador violência.

d) Rio Grande do Sul - ocupa o quarto lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,814). No indicador violência há uma queda, sensível, para o 10°

lugar, o que propicia sua saída do primeiro quartil e entrada no

segundo quartil. Por outro lado, na junção entre as duas variáveis a

UF Rio Grande do Sul retorna ao primeiro quartil, inclusive à mesma

posição ocupada no IDH-M, ou seja, o quarto lugar.

e) Rio de Janeiro - ocupa o quinto lugar no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,807). No indicador violência ela cai para o 27° (penúltimo) lugar,

ou seja, sai do primeiro quartil e cai para o quarto quartil. Na junção

90

entre as variáveis ela permanece na mesma posição e classificação

apresentada no ranking do indicador violência.

f) Paraná - ocupa o sexto lugar no ranking do IDH-M, com um valor

classificado como de médio desenvolvimento humano (0,787). No

indicador violência há uma queda, sensível, para o 12° lugar, o que

propicia sua saída do primeiro quartil e entrada no segundo quartil.

Por outro lado, na junção entre as duas variáveis a UF Paraná

permanece no segundo quartil apesar de apresentar uma pequena

melhora no ranking (10° lugar) .

g) Mato Grosso do Sul - ocupa o sétimo lugar no ranking do IDH-M,

com um valor classificado como de médio desenvolvimento humano

(0,778). No indicador violência ela cai para o 23° lugar, ou seja, sai

do primeiro quartil e cai para o quarto quartil. Na junção entre as

variáveis ela permanece na mesma posição e classificação

apresentada no ranking do indicador violência.

Na avaliação das unidades da federação que figuram o quarto quartil

no IDH-M é interessante destacar as alterações sofridas pelas seguintes

unidades da federação:

a) Bahia - ocupa o vigésimo terceiro lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de baixo desenvolvimento humano

(0,688). No indicador violência ela sobe para o 5° lugar, ou seja, sai

do quarto quartil e sobe para o primeiro quartil. Na junção entre as

variáveis ela permanece na mesma posição e classificação

apresentada no ranking do indicador violência.

b) Piauí - ocupa o vigésimo sexto lugar no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de baixo desenvolvimento humano (0,656).

No indicador violência ela sobe para o 3° lugar, ou seja, sai do

quarto quartil e sobe para o primeiro quartil. Na junção entre as

variáveis ela sofre uma sensível queda em relação ao indicador

violência, mas permanece no primeiro quartil em 7° lugar.

c) Maranhão - ocupa o último lugar (28°) no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de baixo desenvolvimento humano (0,636).

No indicador violência há considerável elevação para o primeiro

lugar, tal elevação propicia sua saída do último lugar no quarto

91

quartil para o primeiro lugar no primeiro quartil. Na junção entre as

duas variáveis a UF Maranhão tem uma pequena queda e fica em 6°

lugar permanecendo no primeiro quartil.

As demais unidades da federação que figuram o quarto quartil no IDH-

M sofreram não tão positivas quanto Bahia, Piauí e Maranhão, mas ainda sim

positivas, são elas:

a) Paraíba - ocupa o vigésimo quinto lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de baixo desenvolvimento humano

(0,661). No indicador violência ela sobe para o 8° lugar, ou seja, sai

do quarto quartil e sobe para o segundo quartil. Na junção entre as

variáveis ela permanece no mesmo quartil do indicador violência.

b) Acre, Sergipe e Alagoas – ocupam, respectivamente, o vigésimo

segundo, vigésimo quarto e vigésimo sétimo no ranking do IDH-M,

com valores classificados como de baixo desenvolvimento humano

(0,697; 0,682 e 0,649). No indicador violência elas sobem para,

respectivamente, o 13°, 16°, 17° lugares. Esta alteração propicia a

saída das três unidades da federação do quarto quartil e entrada no

terceiro quartil na junção entre as variáveis.

É salutar a mudança que ocorreu com as unidades da federação na

junção das variáveis analisadas na Tabela N° 13, destacando as UFs

Maranhão e Bahia, para alterações positivas em relação ao IDH-M e as UFs

Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso para alterações negativas.

92

TABELA N° 13 – Índice de Violência e o IDH-M no Brasil (2000) VIOLÊNCIA INDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL (IDH-M) VIOLÊNCIA x IDH-M Quartis

Ranking Unidade da Federação Índice Ranking Unidade da Federação Índice Ranking Unidade da Federação Índice (25%) 1° Maranhão 0,996 1° Distrito Federal 0,844 1° Santa Catarina 0,792 2° Santa Catarina 0,963 2° Santa Catarina 0,822 2° Minas Gerais 0,687 3° Piauí 0,960 3° São Paulo 0,820 3° Rio Grande do Norte 0,661 4° Rio Grande do Norte 0,937 4° Rio Grande do Sul 0,814 4° Rio Grande do Sul 0,652 5° Bahia 0,933 5° Rio de Janeiro 0,807 5° Bahia 0,642 6° Minas Gerais 0,889 6° Paraná 0,787 6° Maranhão 0,633 7° Pará 0,865 7° Mato Grosso do Sul 0,778 7° Piauí 0,630

8° Paraíba 0,832 8° Goiás 0,776 8° Pará 0,625 9° Tocantins 0,828 9° Mato Grosso 0,773 9° Paraná 0,597

10° Rio Grande do Sul 0,801 10° Minas Gerais 0,773 10° Tocantins 0,588 11° Ceará 0,797 11° Média Brasil* 0,766 11° Ceará 0,558 12° Paraná 0,758 12° Espírito Santo 0,765 12° Paraíba 0,550 13° Acre 0,750 13° Amapá 0,753 13° Goiás 0,543 14° Amazonas 0,737 14° Roraima 0,746 14° Amazonas 0,525

II°

15° Goiás 0,700 15° Rondônia 0,735 15° Acre 0,523 16° Sergipe 0,675 16° Pará 0,723 16° Média Brasil* 0,461 17° Alagoas 0,620 17° Amazonas 0,713 17° Sergipe 0,460 18° Média Brasil* 0,602 18° Tocantins 0,710 18° Alagoas 0,402 19° Mato Grosso do Sul 0,514 19° Pernambuco 0,705 19° Distrito Federal 0,398 20° Amapá 0,486 20° Rio Grande do Norte 0,705 20° Mato Grosso 0,397 21° Distrito Federal 0,471 21° Ceará 0,700 21° Amapá 0,366

III°

22° Rondônia 0,466 22° Acre 0,697 22° Rondônia 0,343 23° Mato Grosso 0,355 23° Bahia 0,688 23° Mato Grosso do Sul 0,276 24° Roraima 0,345 24° Sergipe 0,682 24° Roraima 0,257 25° São Paulo 0,306 25° Paraíba 0,661 25° São Paulo 0,251 26° Espírito Santo 0,226 26° Piauí 0,656 26° Espírito Santo 0,173 27° Rio de Janeiro 0,136 27° Alagoas 0,649 27° Rio de Janeiro 0,110 28° Pernambuco 0,077 28° Maranhão 0,636 28° Pernambuco 0,054

IV°

Fonte: Índice de Violência – Campos et al. (2004, v.2); Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – PNUD (2000). Nota: * Média Aritmética Ponderada pela População OBS: As unidades da federação foram divididas por quartis, os melhores resultados estão no primeiro quartil e os piores no quarto quartil.

93

É importante, ainda, destacar como Campos et al. (2004) separa a nova

exclusão social da velha exclusão. Para esses autores, a “velha” exclusão

corresponde à preocupação social brasileira que durou até a década de 1980 com

assuntos como educação e renda. Estes podem ser evidenciados pelos indicadores

de: insuficiência da renda (evidenciada pelo índice de pobreza), instrução (índice de

escolaridade) e alfabetização (índice de alfabetização) componentes do IES. A

“nova” exclusão social é representada não apenas pelos assuntos preocupantes até

a década de 1980, mas também pelos novos assuntos sociais que começaram a

preocupar a sociedade brasileira a partir desta data. São assuntos como:

desemprego e a precarização das formas de inserção do cidadão no mercado de

trabalho, violência urbana e a vulnerabilidade juvenil; os quais foram absorvidos

pelos IES através dos indicadores: Índice de Emprego, Índice de Desigualdade,

Índice de Violência e Índice de Juventude. Entende-se por nova exclusão um fenômeno de ampliação de parcelas significativas da população em situação de vulnerabilidade social, e também as diferentes formas de manifestação da exclusão social, abarcando as esferas cultural, econômica e política. Esta nova exclusão atinge segmentos sociais antes relativamente preservados do processo de exclusão social, tais como jovens com elevada escolaridade, pessoas com mais de 40 anos, homens não negros e famílias mono parentais. A nova exclusão, ao revelar-se nas diversas esferas da sociedade, produz resultados diferentes ao se sobrepor às velhas formas de manifestação desse fenômeno, deixando-o mais complexo e mais amplo, aumentando ainda mais o desafio do poder público para elimina-la. O desemprego e a precarização das formas de inserção do cidadão no mercado de trabalho são as fontes “modernas” de geração da exclusão, tendo como subproduto a explosão da violência urbana e a vulnerabilidade juvenil, acentuadas pela maior flexibilidade ocupacional e dos níveis de renda (CAMPOS et al., 2004, p. 49).

Dentro desta divisão entre “nova” e “velha” exclusão social, realizada por

Campos et al. (2004), o IDH-M, sendo uma derivação do IDH, absorve as dimensões

(renda e educação) que preocupavam o Brasil até a década de 1980 as quais estão

classificadas como aspectos da “velha” exclusão social. Os coeficientes de

correlação entre o IDH-M e os indicadores da velha exclusão social foram elevados

e significativos, tais como: pobreza (0,96), escolaridade (0,95), alfabetização (0,97) e

Desigualdade (0,78). Estes resultados evidenciam a proximidade entre o IDH-M e os

aspectos sócio-econômicos considerados como da velha exclusão social. Por outro

lado, após a década de 1980 novos aspectos sociais passaram a figurar o quadro

social brasileiro. Estes aspectos, conforme Campos et al. (2004), são: emprego

(0,94), violência (-0,39) e juventude (0,68) cujos coeficientes de correlação não

94

mantêm, no conjunto, o mesmo grau de correlação com o IDH-M. No bloco de

variáveis mensuradas na “nova” exclusão social apenas o índice de emprego

apresentou percentual próximo aos coeficientes das variáveis componentes do bloco

da velha exclusão social, as demais ou apresentaram coeficientes menos

significativos e até negativos como foi o caso do índice de violência. Estes

resultados aproximam o IDH-M da “velha” exclusão social e o distanciam da “nova

exclusão social.

4.2.2 - Distribuição da Renda e IDH

A comparação entre os resultados do IDH e da distribuição de renda no Brasil

pode ser realizada através das comparações do IDH-M, do Índice de Gini da

distribuição de renda e do Percentual de Pobreza. Os dados para a comparação

entre as variáveis foram pesquisados no IPEA que utiliza dados do IBGE, para o ano

2000, com base no Censo. A Tabela N°14, a seguir, demonstra os resultados desta

pesquisa.

Conforme a tabela, o índice de Gini da distribuição de renda e o percentual de

pobreza, apresentaram resultados curiosos quando comparados aos resultados do

IDH-M. Ao observar a tabela N° 14 e a divisão por quartis verificam-se algumas

alterações de posição entre as unidades da federação. Para a análise comparativa

entre as variáveis serão utilizados os resultados alcançados pelas unidades da

federação classificadas no primeiro e no quarto quartis; assim temos:

a) Distrito Federal - ocupa o primeiro lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,844). Em percentual de pobreza ela permanece no primeiro

quartil, apresentando uma leve queda. Entretanto, no índice de Gini

da distribuição de renda ela perde várias posições caindo para o 14°

lugar, ou seja, sai do primeiro quartil e cai para o segundo quartil.

b) Santa Catarina – ocupa o segundo lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,822). Em percentual de pobreza e no índice de Gini da

distribuição de renda ela permanece no primeiro quartil entre as três

melhores no ranking.

c) São Paulo - ocupa o terceiro lugar no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

95

(0,820). Em percentual de pobreza e no índice de Gini da

distribuição de renda ela permanece no primeiro quartil entre as três

melhores no ranking.

d) Rio Grande do Sul - ocupa o quarto lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,814). Em percentual de pobreza e no índice de Gini ela

permanece no primeiro quartil, apresentando uma leve queda no

ranking da pobreza (5° lugar) e ganhando algumas posições no

índice de Gini da distribuição de renda, subindo para o 2° lugar.

e) Rio de Janeiro - ocupa o quinto lugar no ranking do IDH-M, com um

valor classificado como de elevado desenvolvimento humano

(0,807). Em percentual de pobreza e no índice de Gini ela

permanece no primeiro quartil, apresentando um leve aumento no

ranking da pobreza (4° lugar) e perdendo algumas posições no

índice de Gini da distribuição de renda (7° lugar).

f) Paraná - ocupa o sexto lugar no ranking do IDH-M, com um valor

classificado como de médio desenvolvimento humano (0,787). Em

percentual de pobreza ela permanece no primeiro quartil, ocupando

a mesma posição do ranking do IDH-M (6° lugar) e apresentando

uma leve melhoria no ranking do índice de Gini da distribuição de

renda (4° lugar).

g) Mato Grosso do Sul - ocupa o sétimo lugar no ranking do IDH-M,

com um valor classificado como de médio desenvolvimento humano

(0,778). Em percentual de pobreza e no índice de Gini da

distribuição de renda ela cai para o segundo quartil, ocupando o 10°

e 11° lugares, respectivamente.

Na avaliação das unidades da federação que figuram no quarto quartil

da distribuição de renda no IDH-M é interessante destacar as alterações

sofridas pelas seguintes unidades da federação:

d) Bahia e Alagoas – ocupam, respectivamente, o vigésimo segundo e

o vigésimo sexto lugares no ranking do IDH-M, com valores

classificados como de baixo desenvolvimento humano (0,688 e

0,649). Em percentual de pobreza e no índice de Gini da distribuição

de renda elas permanecem no quarto quartil.

96

e) Paraíba, Piauí e Maranhão - ocupam, respectivamente, o vigésimo

quarto, vigésimo quinto e vigésimo sétimo (último) no ranking do

IDH-M, com valores classificados como de baixo desenvolvimento

humano (0,661; 0,656 e 0,636). Em percentual de pobreza elas

permanecem no quarto quartil e no índice de Gini da distribuição de

renda elas sobem para o terceiro quartil.

c) Sergipe – ocupa o vigésimo quarto lugar no ranking do IDH-M, com

um valor classificado como de baixo desenvolvimento humano

(0,682). Em percentual de pobreza e no índice de Gini da

distribuição de renda ela sobe para o terceiro quartil.

Após as interpretações da Tabela 14 é possível identificar que há alterações

entre os resultados alcançados pelas unidades da federação para os três

indicadores, porém estas alterações não são significativas. O posicionamento na

classificação pode sofrer uma pequena alteração, mas o fato é que estes

indicadores sócio-econômicos apresentam resultados muito próximos.

O índice de Gini foi o que apresentou um ranking diferente das demais

variáveis para as unidades da federação. Entretanto, estas diferenças não foram

substanciais como foram as diferenças observadas na análise comparativa anterior

a qual incluía o indicador violência.

97

TABELA N° 14 - Índice de Gini, Pobreza e IDH-M no Brasil (2000) ÍNDICE DE GINI DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA POBREZA ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL

Ranking Unidade da Federação Índice Ranking Unidade da Federação % Ranking Unidade da Federação Índice QUARTIS 1° Santa Catarina 0,560 1° São Paulo 14 1° Distrito Federal 0,844 2° Rio Grande do Sul 0,586 2° Distrito Federal 16 2° Santa Catarina 0,822 3° São Paulo 0,592 3° Santa Catarina 16 3° São Paulo 0,820 4° Paraná 0,607 4° Rio de Janeiro 19 4° Rio Grande do Sul 0,814 5° Espírito Santo 0,608 5° Rio Grande do Sul 20 5° Rio de Janeiro 0,807 6° Goiás 0,611 6° Paraná 24 6° Paraná 0,787 7° Rio de Janeiro 0,614 7° Goiás 27 7° Mato Grosso do Sul 0,778

8° Rondônia 0,614 8° Mato Grosso 28 8° Goiás 0,776 9° Minas Gerais 0,615 9° Espírito Santo 28 9° Mato Grosso 0,773

10° Roraima 0,622 10° Mato Grosso do Sul 29 10° Minas Gerais 0,773 11° Mato Grosso do Sul 0,627 11° Minas Gerais 30 11° Espírito Santo 0,765 12° Mato Grosso 0,630 12° Rondônia 35 12° Amapá 0,753 13° Amapá 0,637 13° Roraima 36 13° Roraima 0,746 14° Distrito Federal 0,640 14° Amapá 43 14° Rondônia 0,735

II°

15° Paraíba 0,646 15° Acre 48 15° Pará 0,723 16° Acre 0,648 16° Rio Grande do Norte 51 16° Amazonas 0,713 17° Pará 0,655 17° Tocantins 51 17° Tocantins 0,710 18° Rio Grande do Norte 0,657 18° Pernambuco 51 18° Pernambuco 0,705 19° Sergipe 0,658 19° Pará 52 19° Rio Grande do Norte 0,705 20° Maranhão 0,659 20° Amazonas 53 20° Ceará 0,700 21° Piauí 0,661 21° Sergipe 54 21° Acre 0,697

III°

22° Tocantins 0,662 22° Paraíba 55 22° Bahia 0,688 23° Bahia 0,669 23° Bahia 55 23° Sergipe 0,682 24° Pernambuco 0,673 24° Ceará 57 24° Paraíba 0,661 25° Ceará 0,675 25° Piauí 62 25° Piauí 0,656 26° Amazonas 0,683 26° Alagoas 62 26° Alagoas 0,649 27° Alagoas 0,691 27° Maranhão 67 27° Maranhão 0,636

IV°

Fonte: IBGE/Censo/IPEA (2000); Notas: Pobreza - pessoas pobres (PO); As unidades da federação foram divididas por quartis, os melhores resultados estão no primeiro quartil e os piores no quarto quartil.

5. Conclusão

Os conceitos sobre desenvolvimento econômico, social, humano e

sustentável demonstraram após o estudo da abrangência do IDH, que o índice não

espelha uma condição de desenvolvimento na mesma magnitude do conceito que o

sustenta. Ao tentar avaliar e verificar o grau de desenvolvimento dos países

buscando conhecer as condições de vida dos indivíduos residentes, o IDH absorve

uma quantidade muito reduzida de dimensões do desenvolvimento. Para cada

dimensão do IDH há um aspecto de desenvolvimento relacionável, por exemplo:

com relação ao aspecto econômico do desenvolvimento, o IDH trabalha com o PIB

per capita; com relação ao desenvolvimento social o IDH trabalha com a esperança

de vida, com a taxa de alfabetização e com a taxa de matrículas combinadas entre

os níveis educacionais. No entanto, ele não contempla dimensões do

desenvolvimento sócio-econômico que propiciam a realização de escolhas, ele não

absorve questões como participação política, desigualdades sociais entre outros, ou

seja, ele mensura parcialmente a teoria de desenvolvimento humano de Sen

(realizar escolhas e usufruir liberdades). Com relação ao desenvolvimento

sustentável, não há dimensão verificada pelo IDH. Assim, esse indicador, que tem

por objetivo permitir uma verificação do grau de desenvolvimento entre os países a

fim de comparar os resultados obtidos entre eles, demonstra ter fragilidades em seu

resultado. Apesar do avanço em relação ao indicador PIB per capita que era

utilizado anteriormente, o IDH ainda não representa uma avaliação que possa

absorver todos os aspectos da teoria do desenvolvimento. O tripé do

desenvolvimento, econômico, social e ambiental não está totalmente representado

pelo IDH.

Para os autores estudados, em relação à abrangência, como já mencionado,

o IDH não representa adequadamente a teoria que o sustenta. Ao se estudar a

teoria do desenvolvimento humano, principalmente aquela definida por Sen na qual

a ampliação das capacidades deveria propiciar a realização das escolhas pelos

indivíduos, observa-se que o resultado do IDH não representa suficientemente o

grau de desenvolvimento humano. Isto ocorre pelo fato de aspectos como às

condições psicológicas, sociais e culturais, evidentemente muito diferentes para

cada população, país ou região, juntamente com as capacidades não são captados

99

pelo IDH. Alguns autores sugerem, ainda, que para uma avaliação complexa do

bem-estar dos indivíduos o IDH deveria captar, também, seus aspectos subjetivos

tais como: felicidade, satisfação familiar, satisfação no trabalho, estresse no trabalho

e o grau de cansaço. Assim é possível argumentar que o conceito de

desenvolvimento humano está atrelado a uma condição de vida em um grau muito

elevado. Portanto, para mesurá-lo é necessário ter como premissa esta

complexidade. Entretanto, o fato de ser difícil a obtenção de dados confiáveis e

precisos para todos os países avaliados pelo IDH, que permita uma avaliação mais

ampla do grau de desenvolvimento entre eles, ainda é o principal argumento a favor

do índice e contra as críticas recebidas.

A metodologia de cálculo utilizada pelo IDH verifica os resultados de três

dimensões básicas: saúde, educação e renda. Através de média aritmética

ponderada simples entre os indicadores de cada uma das dimensões e, em seguida,

entre as dimensões em estudo chega-se ao resultado do IDH. A facilidade do cálculo

contribui para sua utilização nos diversos países avaliados pelo PNUD a cada ano

desde sua criação em 1990. Algumas alterações ocorreram no decorrer do período

(até 2005), mas a essência da metodologia permaneceu a mesma. Estas alterações

foram alvos de críticas por parte de alguns autores.

Em relação à metodologia de cálculo, alguns autores questionam a utilização

dos resultados no tempo, afinal como comparar os dados entre os anos se a cada

ano há uma nova metodologia para seu cálculo. Neste caso, os autores do RDH são

enfáticos ao argumentar que embora esta avaliação não seja possível a cada ano, o

PNUD não só publica o resultado do IDH daquele ano como, também, dos valores

em alguns anos anteriores (anos selecionados) com base no procedimento

metodológico em vigor. As alterações no cálculo foram pertinentes em virtude da

necessidade de se ajustar o cálculo do índice ao longo do tempo. As críticas

recebidas pelo PNUD, nessa questão, foram avaliadas e na medida em que se

mostravam pertinentes eram utilizadas nas futuras alterações. Assim, o ponto crucial

não são as mudanças sofridas, mas a percepção da necessidade de ajustamento ao

longo do tempo. Ainda, sobre esta questão é relevante ressaltar que o indicador PIB

per capita foi utilizado por muitos anos sem alteração mesmo com todos os

questionamentos realizados sobre a sua eficácia na avaliação do grau de

desenvolvimento entre os países; o IDH se propõe ser diferente.

100

Com relação à quantidade de indicadores estudados, os autores22 apontam

para uma discussão sobre a quantidade de indicadores dimensionados pelo IDH e a

possibilidade de avaliar não só o aspecto quantitativo, mas o aspecto qualitativo da

situação sócio-econômica dos países. Neste ponto eles citam algumas categorias

que buscam ampliar a avaliação das condições de vida dos indivíduos, são elas:

bem-estar mental, “empoderamento”, liberdade política, relações sociais, bem-estar

da comunidade, desigualdades, condições de trabalho, condições de vidas dos

desocupados, segurança política, segurança econômica e condições ambientais. Na

categoria desigualdade busca-se avaliar a questão das diferenças econômico-

sociais existentes entre indivíduos e não captadas pelo IDH. A alternativa

apresentada para dirimir tais diferenças foi a utilização coeficiente de Gini na

dimensão renda.

O PNUD, ainda, não inseriu este fator de desigualdade da renda apesar de

todas as alterações que esta dimensão já sofreu, mas publica os resultados da linha

de pobreza e demais indicadores, que buscam verificar tais condições econômicas

entre os países, em relatórios específicos. Este fato demonstra que o PNUD e sua

equipe têm noção da relevância do fato, mas até o RDH de 2005 optaram por

trabalhar tais questões em relatórios individuais segregados do IDH. Estes relatórios

trazem categorias que possibilitam uma avaliação mais abrangente das condições

de vida dos países membros das Nações Unidas as quais se aproximam da

avaliação realizada pelas categorias relacionadas anteriormente. Essas categorias

presentes nos relatórios do PNUD são: viver uma vida longa e saudável, adquirir

conhecimento, ter acesso aos recursos necessários para um nível de vida digno,

preservar as gerações futuras, proteger a segurança pessoal, alcançar o igualdade

para todas as mulheres e homens e a existência de instrumentos para garantir os

direitos humanos e do trabalho. Estas categorias são avaliadas pelo PNUD, em

relatórios específicos e estão associadas ao desenvolvimento humano, mas não

foram incorporadas pelo IDH. O PNUD argumenta que boa parte dos indicadores

que medem essas categorias encontram-se defasadas no tempo. A pergunta é: não

seria mais conveniente defasar no tempo para que fosse possível absorver mais

indicadores, ou seja, ganhar mais informação e perder atualização? Esta é uma

questão que não tem solução fácil. No entanto deve-se refletir sobre isso.

22 Mais detalhes, a respeito, podem ser encontrados no Capítulo 3 desta dissertação.

101

A comparabilidade do grau de desenvolvimento humano entre países é um

dos objetivos do PNUD na aplicação do IDH. Neste caso, é importante evidenciar as

dificuldades estatísticas para a obtenção de uma quantidade e uma qualidade maior

de informações pelos países, principalmente aqueles de menor desempenho no

resultado do IDH. Esta é uma evidência que oferece uma justificativa importante

para o PNUD.

No Brasil os números do IDH de 1990 a 2005, oscilaram entre 0,730 e 0,809

propiciando mudanças no ranking do país ora como um país de médio

desenvolvimento humano ora como país de elevado desenvolvimento humano.

Estas oscilações podem ser explicadas, em parte, pela evolução dos procedimentos

metodológicos sofridos pelo IDH. Esta evolução ocorreu através das alterações no

método de cálculo fazendo com que os valores não sejam passíveis de ser

analisados comparativamente, como numa análise de série histórica. Entretanto, é

possível afirmar que o IDH posiciona o Brasil entre os países de médio

desenvolvimento humano, na maioria dos anos avaliados, mesmo com alterações no

ranking entre países, ou seja, independentemente do Brasil ocupar a 58°(1996) ou a

79° (1999) posição no ranking entre os países sua classificação está como de médio

desenvolvimento humano. Os números apresentados pelo Brasil entre os anos de

2000 a 2005, período em que a metodologia de cálculo do IDH permaneceu

constante, demonstram uma tendência de crescimento. Em 2005 o resultado do IDH

para o Brasil foi de 0,792 mais próximo dos 0,800 necessário para elevar o grau de

desenvolvimento humano do país na avaliação do IDH.

Os resultados do IDH para o Brasil sofreram a influência dos resultados

apresentados pelas dimensões avaliadas. A dimensão renda entre 1990 a 1998

apresentou valores superiores a 0,900, após 1999 com as alterações metodológicas

propostas por Sen e Anand este indicador sofreu uma considerável queda a qual

está refletida nos valores entre 0,700 e 0,730 para os anos posteriores. A dimensão

saúde não teve alterações metodológicas significativas, seus resultados evidenciam

um crescimento gradativo ao longo dos anos analisados. Por último, a dimensão

educação, mesmo sofrendo alteração em um dos seus indicadores, taxa combinada

de matrículas dos níveis de ensino, é a dimensão que apresentou maior crescimento

no período.

As análises sobre os resultados do IDH no Brasil e dos valores apresentados

pelos seus componentes são influenciadas pelo desempenho individual de cada

102

estado brasileiro. Assim, uma avaliação geográfica, mais detalhada, da realidade

social brasileira foi utilizada a metodologia de cálculo do IDH nos municípios

brasileiros o que proporcionou uma avaliação sobre o desenvolvimento humano nas

unidades da federação. Esta metodologia de cálculo deu origem ao Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M). Analisando os resultados do IDH-M

por unidades da federação do Brasil temos que há um repasse das fragilidades do

IDH-M apresentadas para os países avaliados, incluindo o Brasil. Estas fragilidades

foram clarificadas pela exposição de algumas disparidades ora na questão das

desigualdades sócio-econômicas pertinentes a cada unidade ora nas diferenças de

resultados entre as dimensões verificadas pelos IDH-M e outras não verificadas.

Com o objetivo de demonstrar tais pontos foi utilizado como parâmetro de

comparação ao IDH-M o Índice de Exclusão Social (IES). O IES, índice sócio-

econômico brasileiro, é um índice sintético, pressuposto nesta dissertação, que mais

se aproximou de uma avaliação mais ampla dos aspectos sociais e econômicos e

que possibilita uma avaliação mais pormenorizada da realidade social brasileira.

A avaliação comparativa entre o IDH e o IES permite identificar os resultados

que o país poderia apresentar caso fossem utilizados para a avaliação do grau de

desenvolvimento uma quantidade maior de indicadores e de dimensões. As

dimensões entre os dois índices sintéticos buscam chegar a um mesmo objetivo:

avaliar a qualidade de vida no país. Entretanto, o IDH interpreta esta condição com

resultados positivos obtidos nas dimensões renda, saúde e educação e o IES faz

sua interpretação desta condição através da avaliação dos componentes e seus

indicadores como: padrão de vida digna (indicadores: pobreza, emprego formal e

desigualdade), conhecimento (anos de estudo e alfabetização) e risco juvenil

(concentração de jovens e violência). É possível perceber que os mesmos

indicadores, salvo algumas diferenças básicas, avaliados pelo IDH-M são, também,

avaliados pelo IES. Entretanto, o segundo absorve uma quantidade de variáveis

sócio-econômicas maior do que o primeiro.

A comparabilidade entre os resultados dos dois índices apresentou as

seguintes situações para as unidades da federação: a) para os indicadores iguais

entre ambos, o comportamento dos números se manteve apesar de haver pequenas

alterações seja nos valores seja no ranking; b) os indicadores avaliados apenas pelo

IES quando comparados ao resultado do IDH demonstram que os resultados em

valores e no ranking ficam comprometidos. Em destaque para o indicador de

103

violência que na análise de correlação apresentou um coeficiente baixo e negativo

expondo a não captação dos resultados deste indicador pelo IDH. O fato do IDH não

absorver os resultados da dimensão violência o fragiliza enquanto índice que busca

avaliar o grau de desenvolvimento de um país. Afinal, esta é uma condição social

inerente à realidade social brasileira que interfere no grau de desenvolvimento do

país seja não permitindo o acesso de seus habitantes a realização de escolhas seja

impedindo-os de usufruir de liberdades.

A análise de correlação realizada entre o Índice de Violência e o IDH

apresentou um valor baixo e negativo o que demonstra a não associação entre os

dois índices. Por outro lado, pode-se afirmar que o fato de não haver associação,

sugere que o IDH-M não reflete as condições sociais adversas como à redução do

grau de desenvolvimento humano criadas pela violência. Assim, a análise da

realidade social brasileira por um índice que não absorve esta dimensão fica

comprometida.

Em parte, a não absorção do índice de violência pelo IDH pode ser explicada

pela análise de Campos et al o qual esclarece que até a década de 1980 a realidade

social brasileira era caracterizada por demandas sócio-econômicas envolvendo

renda, educação e saúde. Porém, após esta data a realidade social do Brasil passou

a ter outra característica a qual envolve as demandas sócio-econômicas da

população por questões como desemprego, violência e melhores condições para a

juventude. Assim, o IDH seria um bom índice para avaliar a realidade social

brasileira anterior à década de 1980 e não a posterior. Os autores consideram,

então, que há uma divisão temporal entre os indicadores. Esta divisão foi definida

como “nova” e “velha” exclusão social.

Para avaliar a velha exclusão social os indicadores devem ser saúde, renda e

educação enquanto que para a nova exclusão social os indicadores utilizados são

aqueles que representam as novas preocupações sociais, tais como: desemprego,

violência e melhores condições para a juventude. Assim, os indicadores comuns ao

IDH e IES fazem parte da chamada “velha” exclusão social enquanto que os

indicadores avaliados apenas pelo IES fazem parte da “nova” exclusão social o que

propicia as diferenças levantadas.

O fato é que um índice com a proposta de avaliar o grau de desenvolvimento

humano, atual, de um país não deveria estar atrasado no tempo.

104

Na análise comparativa entre o IDH e os indicadores de distribuição de renda

foram utilizados os resultados para as unidades da federação brasileira do Índice de

Gini e do Percentual de Pobreza pesquisados no IPEA que utiliza dados do IBGE,

para o ano 2000, com base no Censo. A comparação entre as unidades da

federação do Brasil utilizando o IDH-M, o Índice de Gini e o Percentual de Pobreza

apresenta resultados não conflitantes quanto a comparação com o indicador de

violência. O primeiro quartil do ranking destes indicadores apresenta as seguintes

situações: a) as UFs Espírito Santo e Mato Grosso do Sul figuram nesta

classificação em apenas um dos indicadores analisados; b) as UFs Goiás e Distrito

Federal estão classificadas neste quartil em, pelo menos, dois dos indicadores

avaliados e c) as UFs Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro

e Paraná estão no primeiro quartil nos três indicadores avaliados. Esta situação

demonstra a relação próxima entre os três indicadores uma vez que não há grandes

alterações no posicionamento das unidades da federação entre eles. Assim, a

análise dos resultados destes indicadores demonstra que o IDH-M, por unidades da

federação brasileira, capta os resultados dos indicadores Gini e Pobreza do Brasil.

É importante ressaltar nesta análise que a crítica ao IDH sobre a não

utilização de indicadores que possam avaliar a distribuição de renda dos países fica

comprometida com os resultados apresentados na comparação entre o IDH-M e o

Índice de Gini no Brasil.

Como conclusão das análises comparativas temos que o IDH capta de forma

adequada e quase suficiente os valores do índice de Gini e da Pobreza, mas não

capta a influência da violência no desenvolvimento humano.

A resposta ao problema central desta dissertação: “O IDH retrata a realidade

social brasileira?” é:

O IDH tem condições de retratar a realidade social brasileira quando as

preocupações sócio-econômicas estão voltadas para saúde, educação e renda e

demais indicadores compostos por informações destas dimensões. Entretanto,

quando a abrangência destas preocupações aumenta inserindo questões como:

desemprego, violência e degradação ambiental o IDH não apresenta a mesma

condição.

Após o estudo realizado para a realização desta dissertação alguns temas

foram levantados. Estas sugestões objetivam melhorar a abrangência do IDH e

solucionar as discrepâncias regionais não absorvidas por ele, são elas:

105

• Criação de um índice composto por dimensões subjetivas e objetivas do bem-

estar, incluindo verificação das diferenças geográficas dos mesmos dentro dos

países avaliados.

• Avaliação do grau de confiabilidade e veracidade das instituições envolvidas com

a função de repassar os dados dos países para o Banco Mundial.

• Identificação do grau de influência no bem-estar dos indivíduos pelas formas de

organização política países desenvolvidos, em desenvolvimento, democráticos e

não democráticos.

Entre outras questões estas foram as que suscitaram interesse em novas pesquisas.

106

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