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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PUC-SP Acássia Araújo Barreto Mediação pedagógica transdisciplinar: possíveis interfaces no trabalho docente em ambiente virtual de aprendizagem MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO São Paulo 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PUC-SP

Acássia Araújo Barreto

Mediação pedagógica transdisciplinar: possíveis interfaces no

trabalho docente em ambiente virtual de aprendizagem

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

São Paulo

2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PUC-SP

Acássia Araújo Barreto

Mediação pedagógica transdisciplinar: possíveis interfaces no

trabalho docente em ambiente virtual de aprendizagem

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: Currículo, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cândida Moraes.

São Paulo

2008

3

Banca Examinadora:

_____________________________________________

_____________________________________________

_____________________________________________

4

Em memória de minha avó, Maria, e de minha amiga, Iara Vieira, seres queridos, que nos acompanham com seu amor e sua luz.

Quântica1

Encostado no canto

o vaso se oferece

Ali parado

nem parece que se expressa

É criatura

e coisa em ativa espera

1 VIEIRA, Iara. A íntima humanidade. Aracaju: Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe, 2003, p. 15.

Às mestras e amigas, Dra. Rosamaria de Medeiros Arnt e Dra. Maria Cândida Moraes - minha orientadora - fontes de inspiração deste trabalho.

5

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos especiais às pessoas que apoiaram na concretização

deste trabalho: Darcy, minha mãe; Rosa Angélica, Fábio, Hortência e Marco Antônio, meus

irmãos; Daniel, Felipe, Gabriel, Gustavo e Renata Lemos, sobrinhos; Ana Paula Dantas Coêlho, Odete Sidericoudes, Maria Beatriz de Moraes

Rocha, Martha Coutinho, Maruze Oliveira dos Reis, amigas queridas do dia-a-dia; Suely Souza Silva e Maria de Fátima Lemos, amigas do Sentipensar. Dr. José Armando Valente, meu muito grato professor da PUC/SP; Cleide Ginalva Santos, Gilvanda Dias e Simone Amado Reis, amigas do

cotidiano e da Divisão de Tecnologia de Ensino; Dra. Lilian Cristina Monteiro França e Dra. Solange Lacks, professoras da

Universidade Federal de Sergipe, que me acolheram na fase de transição e de mudança entre os estudos na PUC/SP e UFS;

Dra. Adriana Bruno Peçanha, Dra. Lucila Maria Pesce de Oliveira e Dra.

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, queridas mestras do curso de especialização da PUC/SP;

Sandra Bartholo, por interceder nos trâmites do processo de solicitação

da licença para o mestrado junto à Secretaria de Estado da Educação de Sergipe.

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e à CAPES por

tornarem possível a aprendizagem.

6

RESUMO

Esta pesquisa buscou analisar as possíveis interfaces do pensamento transdisciplinar na ação docente, num curso de formação de professor, desenvolvido em ambiente virtual de aprendizagem, a partir da seguinte questão de pesquisa: Quais as contribuições da transdisciplinaridade para um curso de formação de professores, em rede, que apresente como objetivo a criação de cenários de aprendizagem integrada? De natureza estritamente qualitativa, a investigação utilizou a técnica da observação participante e se fundamentou, sobretudo, nos princípios epistemológicos do pensamento transdisciplinar, complexidade e pensamento eco-sistêmico. A bibliografia se baseou, predominantemente, nos estudos de Basarab Nicolescu, Edgar Morin, Maria Cândida Moraes, Saturnino de la Torre, Rosamaria de Medeiros Arnt, Humberto Maturana e Francisco Varela, António Damásio, Maurice Tardif e Henry Giroux. Conceitos das fontes teóricas foram relacionados à prática pedagógica, para compreender suas contribuições com projetos educacionais emergentes, articulados a estratégias metodológicas centradas na multidimensionalidade humana. Foram apresentados também um breve histórico da Divisão de Tecnologia de Ensino do estado de Sergipe e suas principais ações realizadas pelos programas e projetos. Para situar o campo de pesquisa – curso de formação de professor “Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida” – delineou-se o cenário e reflexão da metodologia e da atuação docente. As categorias de análise dos dados levantados do campo de pesquisa resultaram dos pilares da transdisciplinaridade, na ótica de Basarab Nicolescu, e dos operadores cognitivos ou princípios da complexidade, de Edgar Morin. Este trabalho se apresenta social e cientificamente relevante pela proposta inovadora sobre formação e prática docente, tendo como meta uma “educação para a vida”, que restaure a inteireza humana, integrando as dimensões emocional, intelectual, física e espiritual. A revelação do processo complexo do conhecimento e da vida, na perspectiva transdisciplinar, forneceu a resposta do problema de pesquisa durante o desenvolvimento desta investigação, mostrando possibilidades de mudanças na educação formal, a partir da introdução de novos conceitos ou de um novo desenho teórico-metodológico dos cursos de formação docente.

Palavras-chave: Transdisciplinaridade; Complexidade; Pensamento eco-sistêmico; Mediação pedagógica; Formação de professor.

7

ABSTRACT

This research was aimed at assessing the possible interfaces of the transdisciplinary thinking on teaching action, in a teacher’s training course, developed in a virtual setting of learning, starting from the following research question: What are the contributions of transdisciplinarity to an online teacher’s formation course whose purpose is the development of integrated learning scenarios? Being strictly qualitative, the research used the technique of participant observation and was based specially on the epistemological principles of transdisciplinarity, complexity and eco-systemic thinking. The bibliography used was mainly based on the studies of Basarab Nicolescu, Edgar Morin, Maria Cândida Moraes, Saturnino de la Torre, Rosamaria de Medeiros Arnt, Humberto Maturana and Francisco Varela, António Damásio, Maurice Tardif and Henry Giroux. Theoretical concepts were correlated to the pedagogic practice in order to understand their contribution to emerging educational projects, which are articulated with methodological strategies centered on human multidimensionality. A brief history of the Division of Teaching Technology of the State of Sergipe and its main actions in its programs and projects were presented. In order to address the field of this research – a teacher’s formation course, entitled “Sentipensar (‘to feel-think’), technologies and digital media: educating since and for life”- it was delineated the scenario, reflection on the methodology and teaching action. The categories of analysis of the data gathered from the research field proceeded from the fundaments of transdisciplinarity, according to Basarab Nicolescu, and from the principles of complexity, from Edgar Morin. This study might not only be scientifically but also socially relevant due to its innovatory proposal on teacher’s training and practice, aiming at “education for life” in order to restore human entirety, integrating emotional, intellectual, physical and spiritual dimensions. The discovery of the complex process of knowledge and life, on the transdisciplinary perspective, provided an answer to the research problem during the development of this study, disclosing possibilities for changes in formal education by introducing new concepts or a new theoretical-methodological design of teacher’s formation courses. Key words: Transdisciplinarity; Complexity; Eco-systemic thinking; Pedagogic mediation; Teacher’s formation.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10

1. 1. Origem da pesquisa: reconstruindo o percurso...................................................... 10

2. O problema de pesquisa............................................................................................. 10

3. Delimitação do problema de pesquisa........................................................................ 17

4. Objetivos..................................................................................................................... 19

5. Apresentação dos capítulos........................................................................................ 19

6. Mapas conceituais...................................................................................................... 21

1° CAPÍTULO - MOVIMENTO METODOLÓGICO......................................................... 24

1.1 Abordagem................................................................................................................ 26 1.2 Procedimentos.......................................................................................................... 31

1.2.1 Ambientação do campo pesquisado............................................................. 31 1.2.2 Etapas e ações............................................................................................. 34

2° CAPÍTULO - COMPONENTES TEÓRICOS DE APOIO À PESQUISA.................... 37 2.1 Do determinismo racionalista à complexidade.......................................................... 39 2.2 Mediação pedagógica transdisciplinar...................................................................... 45 2.3 Pensamento eco-sistêmico....................................................................................... 52 2.4 Formação de professores em rede de aprendizagem.............................................. 55 2.4.1 Despertando as tensões................................................................................ 55 2.4.2 Cenários e redes de aprendizagem integrada............................................... 58

3° CAPÍTULO - PANORAMA DOS PROGRAMAS DESENVOLVIDOS NA DIVISÃO

DE TECNOLOGIA DE ENSINO.....................................................................................

65

3.1 Programa Nacional de Informática Educativa (ProInfo)............................................ 67

3.2 TV Escola.................................................................................................................. 71

3.3 Rádio Educação de Sergipe – Rádio-Educ/SE......................................................... 73

9

4° CAPÍTULO - SITUANDO O CURSO DE FORMAÇÃO SENTIPENSAR,

TECNOLOGIAS E MÍDIAS DIGITAIS: EDUCANDO DESDE E PARA A VIDA E

ANÁLISE........................................................................................................................

75

4.1 Construção do cenário.............................................................................................. 77

4.2 Estrutura do curso..................................................................................................... 79

4.3 Instrumentos para análise da ação docente............................................................. 83

5° CAPÍTULO - A PESQUISA PROPRIAMENTE DITA................................................. 86

5.1 Categorias identificadas............................................................................................ 88

5.2 A obtenção dos dados.............................................................................................. 96

5.3 Análise das categorias e dos dados obtidos............................................................. 99

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 113

ANEXOS......................................................................................................................... 117

Anexo 1 - Mapa geográfico do estado de Sergipe.......................................................... 118

Anexo 2 - Site e abordagem sistêmica: considerações iniciais...................................... 119

Anexo 3 - Sobre a biblioteca........................................................................................... 122

Anexo 4 - Carta da Transdisciplinaridade....................................................................... 123

Anexo 5 - Projeto Páscoa............................................................................................... 126

Anexo 6 - Projeto de Formação...................................................................................... 129

Anexo 7 - Planilhas de acompanhamento...................................................................... 136

Anexo 8 - Orientações para elaboração do artigo.......................................................... 137

Anexo 9 – Carta-convite.................................................................................................. 138

10

INTRODUÇÃO

Para situar este trabalho de pesquisa, procuro inaugurá-lo concebendo um

cenário com mostras recolhidas de fragmentos que constituíram minha trajetória de

vida a partir de meu universo familiar, para, em seguida, me reconhecer na escolha

profissional. Desnudo-me, de certa maneira, ao expor fatos de minha intimidade por

entender que deles se originou este projeto de investigação.

Nesta seção, trato, ainda, de delimitar e identificar o problema de pesquisa e

seus objetivos, como também procuro refletir sobre sua relevância científica e social,

por onde busco analisar as circunstâncias que me levaram a desenvolver o presente

documento. Ao final, exponho uma síntese de apresentação dos capítulos e breves

considerações sobre mapas conceituais.

1. Origem da pesquisa: reconstruindo o percurso

A esperança é um substantivo curioso que, por denotar uma emoção positiva

ou uma expectativa motivadora, podia por si só bastar, prescindir de complementos

e sinônimos, ser auto-suficiente. Mas não o é. A esperança é, na verdade, a própria

ação benéfica, porque designa o possível e a iniciativa, traduz-se como o processo

de um movimento com probabilidades de mudança.

É nesse tom que pretendo direcionar este trabalho. Tratar de algumas

particularidades da educação pública brasileira, destacando, sobretudo, as

possibilidades que colaboram na resolução de seus problemas. Duas circunstâncias

11

antagônicas aqui se cruzam, numa demonstração de que uma necessita da outra

mutuamente: o conflito que incomoda e a superação que pacifica. O ponto ‘vazio’

entre esses instantes revela a conciliação e esta, a alternativa. Essa convicção,

momentânea, deve ser conseqüência de minha caminhada pela vida que, entre

atalhos e trilhas sucessivas, me construí e, muitas vezes, me reconstituí.

Quando criança, o convívio com meus avós maternos era algo sagrado,

constante e prazeroso. Eles moravam em Nossa Senhora das Dores, onde também

nasci, cidadezinha considerada portão de entrada do sertão sergipano. Eu vivia em

Aracaju, capital de Sergipe2, mas, nos finais de semana e nas férias escolares,

compartilhava de seu colo e sabedoria.

Todas as manhãs, após o desjejum, minha avó, mulher de comportamento

sistemático e descontraído, sentava-se à mesa carregada com alguns apetrechos de

desenho e pintura e, com sua delicadeza, estendia um papel transparente,

denominado por ela de manteiga. Nele, traçava algumas linhas, resultando em

formas marinhas, florais ou elementos do cenário doméstico. Em seguida, decalcava

aquelas figuras em peças de tecido, toalhas de mesa, banho ou colchas. Em

suspense e curiosamente, eu acompanhava e aguardava o desenrolar daquele

processo, que culminava com a pintura. Além desse talento, minha avó, aquele ser

especial e adorável, era uma exímia bordadeira: rococó, richelieu, pontos de sombra

e cruz, matiz, cheio e caminho-sem-fim...

E meu avô? Meio quieto, deliciava-se nas leituras dos romances clássicos,

das publicações dos jornais diários e revistas. Adorava cinema. Escrevia crônicas.

Gostava de contar causos. Grande sujeito! Era considerado o intelectual da turma.

2 Localização do mapa do estado de Sergipe no AAnneexxoo 11.

12

Minha avó paterna era a poeta maior, com tendência romântica, deixava a

rima predominar em seus versos. Suas filhas ainda conservam alguns de seus

escritos. Ela, entretanto, não só demonstrava o gosto e habilidade pela poesia, mas

também por tecer colchas de retalhos coloridos e fuxicos. Quem da família não foi

presenteado com uma daquelas obras?

Nesse mesmo período, em Aracaju, na volta da praia aos domingos, por

iniciativa de meu pai, almoçávamos tendo como o pano de fundo a leveza do

compasso das músicas clássicas, quando conheci a obra de Chopin, Mozart,

Tchaikovsky e outros, e trilhas sonoras de filmes. Na seqüência, após a refeição, o

tom que prevalecia era dos compositores e intérpretes brasileiros.

Influenciada por esse universo lúdico, além de me entregar às brincadeiras de

criança, mergulhava horas a fio nas obras da literatura infantil, nos contos de

Andersen e Perrault, principalmente. E na adolescência, minha caminhada se

manteve nessa mesma linha, com a diferença de agora preferir a leitura dos

escritores e poetas brasileiros, russos, franceses, ingleses e filósofos de épocas

diferentes. Minha aproximação mais crítica com a literatura e filosofia se deu na

época em que estudava no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, instituição da

rede pública de Sergipe.

Nos idos de 1976, ingressei na Universidade Federal de Sergipe (UFS),

optando pelo curso de Licenciatura Plena em Letras Vernáculas. Pela oportunidade

de estudar obras de escritores brasileiros, pelos professores, pelo coeso Movimento

Estudantil, esse período foi também especial. Representou o despertar sobre as

ações políticas e o momento em que o brasileiro vivia, sob o temor e terror do

regime militar. Amadureci.

13

Em 1980, concluí a graduação, passando a lecionar Língua Portuguesa em

uma escola pública, onde trabalhei durante três anos. Insatisfeita com a pressão dos

gestores para a adoção de uma prática metodológica autoritária, com a forma de

avaliar e materiais didáticos utilizados, e sentindo-me impotente frente à realidade,

me afastei da instituição, passando a atuar como agente cultural na Fundação

Estadual de Cultura (FUNDESC)3, ali permanecendo por catorze anos.

Como acredito que cumprimos um ciclo em todas as situações vividas, meu

tempo na FUNDESC também fora fielmente obedecido e, para perseguir meus

ideais, retornei à Secretaria de Estado da Educação de Sergipe (SEED)4 como

professora da sala de leitura de um estabelecimento de ensino, localizado na

periferia da cidade de Aracaju.

A volta à escola representou o início de uma nova história de vida, quando

permiti a mim mesma enfrentar um dos maiores desafios profissionais, que era o de

desbravar o universo tecnológico e, ao mesmo tempo, compreender a aplicação

pedagógica de seus recursos, dessa vez exercendo as funções de educadora no

Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE)5, de Aracaju / SE.

Após vinte anos fora do circuito acadêmico, resgatei a esperança na crença

de uma educação pública de qualidade, quando de minha participação no curso de

especialização em Desenvolvimento de Projetos Pedagógicos com o Uso das Novas

Tecnologias, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP,

oferecido a distância, numa parceria com o Ministério da Educação, entre os anos

de 2000 e 2001.

3 Atualmente, Secretaria de Estado da Cultura, órgão da administração estadual direta, do Governo do estado de Sergipe. 4 Disponível em <http://www.seed.se.gov.br/>. 5 Criado em 29 de agosto de 2002, sob a Portaria n° 3700/2002, e implantado pelo Governo do estado de Sergipe, numa parceria com Secretaria de Educação a Distância (SEED), do Ministério da Educação (MEC), para atender à filosofia do Programa Nacional de Informática Educativa (ProInfo), do governo federal.

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Na disciplina Internet, fomos presenteados com o texto “Site e abordagem

sistêmica: considerações iniciais”6, da Profa. Lucila Maria Pesce de Oliveira7,

quando me encantei pela Teoria Autopoiética, de Maturana e Varela, e fui

naturalmente induzida a explorar seus conceitos, ainda cursando a especialização,

sem o auxílio de um profissional. Entretanto, para dar continuidade de modo

sistemático aos trabalhos de aprofundamento da Autopoiese, passei a integrar, em

2003, o Grupo de Estudos sobre as Teorias de Maturana e Varela, realizado a

distância por meio do ambiente virtual de aprendizagem do Teleduc e coordenado

pela Profa. Dra. Rosamaria de Medeiros Arnt8. Esse contexto resultou na busca por

outras abordagens que complementariam nossas pesquisas, como a Complexidade,

na concepção de Edgar Morin, a Transdisciplinaridade, na visão de Basarab

Nicolescu, e o Pensamento Eco-Sistêmico, de Maria Cândida Moraes.

No citado grupo de estudos, participaram educadores de diversas regiões do

Brasil que trabalhavam em Núcleos de Tecnologia Educacional e, portanto, tinham a

função de ministrar cursos de formação a professores do sistema público de ensino

brasileiro.

Os laços entre um estágio e outro de vida profissional e a compreensão de

fatos e sentimentos experimentados certamente levaram-me a cursar outra pós-

graduação, também a distância, em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas

– Arteduca – pela Universidade de Brasília (UnB), em 2004.

No ano seguinte, a convite da coordenação do curso, passei a trabalhar como

tutora da segunda edição do Arteduca, quando me detive nas reflexões, entre

outras, sobre o papel do educador não somente em cursos a distância, mas também

na educação presencial. Esclareço que o vocábulo tutor foi designado pela

6 Localização do texto no AAnneexxoo 22. 7 Doutora em Educação. 8 Doutora em Educação.

15

coordenação do curso, para o docente que atuou como mediador dos trabalhos

durante a formação.

Na ocasião, juntamente com outros professores/alunos, tive a feliz

oportunidade de vivenciar importantes momentos de reflexão acerca do ambiente

educacional, instituição responsável pela formação sistemática do indivíduo,

sobretudo na atuação do professor e de seu olhar sobre o educando, da

metodologia aplicada, ações realizadas, entre outros fatores. Tinha consciência de

que esses instantes proporcionariam subsídios que levariam a auxiliar a minha

prática enquanto educadora do NTE, de Aracaju/SE, durante acompanhamento às

escolas que possuíam laboratório de informática, do Programa Nacional de

Informática Educativa (ProInfo), como também nos cursos de formação destinados a

professores de instituições de ensino público.

Esse gesto de interrupção9 possibilitou educar a escuta e apurar a percepção,

para identificar os problemas relacionados à educação pública e a me interessar por

concepções que falassem mais de nossa humanidade, do ser em sua inteireza; que

discorressem sobre a vida como um fenômeno de propriedades complexas,

transcendendo a herança reducionista do processo do conhecimento, da

objetividade, do fatalismo e do materialismo imaculados, cultuados pelo homem

ocidental.

Como reflexo desse movimento e das pretensões de contribuir para a

qualidade da educação, surgiu a idéia de implantar o Projeto Sentipensar, no estado

9 A Profa. Rosamaria de Medeiros Arnt (2007, p. 121), citando Jorge Larrosa, explica que “o gesto de interrupção nos faz ser sujeitos da experiência, permitindo que a experiência nos aconteça e, conseqüentemente, que aprendamos com ela. Segundo o autor, o gesto de interrupção requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (Larrosa, 2002:24)”.

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de Sergipe, coordenado, também, pela Profa. Dra. Rosamaria de Medeiros Arnt,

vinculado ao Programa Educando desde e para a vida, de autoria da Profa. Dra.

Maria Cândida Moraes e Prof. Dr. Saturnino de la Torre10.

2. O problema de pesquisa

O curso de formação Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando

desde e para a vida, procurou contemplar em seu planejamento estratégias de

trabalho que utilizassem diferentes linguagens (mídias) e as tecnologias da

informação e comunicação, incluindo os recursos visuais, audiovisuais e materiais

impressos, com o propósito de possibilitar a criação de redes e cenários de

aprendizagem integrada. Nessa perspectiva, observando o delineamento da

proposta, apresento o questionamento a seguir como pprroobblleemmaa ddee ppeessqquuiissaa a ser

explorado neste Projeto:

Quais as contribuições da transdisciplinaridade para um curso de

formação de professores, em rede, que apresente como objetivo a criação de

cenários de aprendizagem integrada?

Convém ratificar que o campo desta investigação converge meu olhar,

durante os procedimentos da pesquisa, para o curso de formação continuada

Sentipensar,, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida, realizado

pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE – Aracaju/SE), em ambiente virtual de

aprendizagem, destinado a professores do ensino fundamental e médio, do sistema

10 Doutor em Educação.

17

público do estado de Sergipe, na modalidade reconhecida como híbrida, porque

envolvia o ensino a distância e presencial.

3. Delimitação do problema de pesquisa

O Projeto Sentipensar se materializou na forma de um curso de formação de

professor desenvolvido em rede virtual, intitulado Sentipensar, tecnologias e

mídias digitais: educando desde e para a vida, visando a atender de forma

diferenciada o ensino e aprendizagem da escola pública do estado de Sergipe.

O vocábulo Sentipensar, concebido pelo pesquisador Prof. Dr. Saturnino de la

Torre, vai além de um delicado neologismo: significa a combinação de duas

maneiras de interpretar a realidade, a partir das dimensões afetivas e cognitivas,

mesclando a ação de sentir e pensar num mesmo processo de conhecimento.

A proposta do curso de formação teve a finalidade de experienciar e analisar

situações didáticas fundamentadas no Sentipensar e AApprreennddiizzaaggeemm IInntteeggrraaddaa,

utilizando-se das mídias e das tecnologias da informação e comunicação (TIC). Para

a sua realização, foram previstos trabalhos que permitissem a incorporação da

dimensão emocional junto à cognitiva e à pragmática, com a intenção de propiciar o

comprometimento com a educação para a vida, através de recursos e estratégias

multissensoriais, oferecidos pelas mídias digitais e tecnologias da informação e

comunicação. A idéia consistiu na apropriação e manipulação de diferentes

linguagens, valendo-se de elementos imagéticos, musicais, expressões cênicas, de

modo a proporcionar interfaces mais adequadas de criação e comunicação.

18

Com carga horária de 120 horas, distribuídas por módulos, a mediação

pedagógica ficou sob a incumbência de quatro professoras do NTE – Aracaju / SE,

lotadas no ProInfo. Minha participação se deteve em coordenar as atividades,

flexibilizar as estratégias, promover encontros presenciais, publicar textos, criar

fóruns e agenda e, eventualmente, responder mensagens nos fóruns do aambiente

vvirtual de aaprendizagem (AVA)11. Por e-mail, mantinha contato com a coordenação

do Projeto, para definir algumas questões pedagógicas e outras relativas a

problemas técnicos detectados na plataforma do Moodle.

Essa experiência me conduziu com clareza na escolha do curso de formação

Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida, realizado

na modalidade híbrida – virtual e presencialmente – como campo de estudo deste

projeto de investigação, expresso sob o título Mediação pedagógica transdisciplinar:

possíveis interfaces no trabalho docente em ambiente virtual de aprendizagem.

Tenho a pretensão de analisar as possibilidades de intervenção do

pensamento transdisciplinar relacionadas a um dos objetivos previstos no curso de

formação Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida –

o desenvolvimento de cenários e de aprendizagem integrada.

Na aprendizagem integrada, segundo Saturnino de la Torre (2004, p. 81),

“ocorre a colaboração de todos os sentidos”, por meio da utilização de “recursos

com múltiplos estímulos; recursos abertos, imaginativos, sugestivos, criativos, que

ativam diferentes zonas do cérebro”. O autor nos traz apropriadamente como

exemplo a dinâmica do cinema, onde estão articuladas diversas linguagens, o som,

a fala, gestos, espaço, movimento, personagens, objetos, cores.

11 Disponível em <http://www.contato.pro.br/moodle>.

19

4. Objetivos

A pesquisa tem o objetivo de analisar as possíveis interfaces do pensamento

transdisciplinar na ação docente, no contexto da formação de professor

desenvolvido em ambiente virtual de aprendizagem.

E como específicos:

−−−− ampliar o entendimento das proposições que norteiam a

concepção transdisciplinar, a complexidade e o pensamento

eco-sistêmico, mediante relação entre docência e formação de

professor;

−−−− refletir sobre o papel docente, observando a necessidade de

construção de uma nova prática frente às emergências,

especialmente em atividades de formação de professor;

−−−− analisar as possibilidades de criação de cenários e redes de

aprendizagem integrada em cursos de formação acadêmica

para professor;

−−−− analisar o pensamento complexo em um curso de formação de

professor na perspectiva de seus princípios ou operadores

cognitivos.

5. Apresentação dos capítulos

A pesquisa apresenta-se com a seguinte estrutura:

1° capítulo – Movimento metodológico – caracterizada como uma pesquisa

qualitativa, fundamento a abordagem do método utilizado e descrevo os

procedimentos empreendidos no desenrolar da elaboração do trabalho.

20

2° capítulo – Componentes teóricos de apoio à pesquisa – procuro condensar

análises das concepções teóricas que apóiam a pesquisa, relacionando os conceitos

à prática docente em cursos de formação de professor, realizados em ambientes

virtuais de aprendizagem. A idéia visa a demonstrar como as abordagens complexas

e eco-sistêmicas podem contribuir com projetos educacionais emergentes,

articulados com estratégias metodológicas centradas na dimensionalidade humana.

3° capítulo – Panorama dos programas desenvolvidos na Divisão de

Tecnologia de Ensino (DITE) – relato um panorama do histórico da Divisão de

Tecnologia de Ensino (DITE) e de ações dos programas e projetos

operacionalizados na perspectiva de uso das tecnologias na educação pública do

estado de Sergipe. Trata-se de uma contextualização, legítima, que pretende dar

guarida ao campo de estudo do trabalho de pesquisa – curso de formação de

professor Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida.

4° capítulo – Situando o curso de formação Sentipensar, tecnologias e mídias

digitais: educando desde e para a vida e análise – reflito sobre o campo desta

pesquisa (curso de formação Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando

desde e para a vida), enfocando as possíveis interfaces da transdisciplinaridade no

trabalho docente, em rede virtual de aprendizagem.

5° capítulo – A pesquisa propriamente dita – apresento uma análise

hermenêutica da pesquisa, cuja interpretação se registra a partir do olhar

transdisciplinar que auxilia na identificação e reflexão das categorias originárias dos

pilares do pensamento transdisciplinar, na ótica de Nicolescu (1999), e dos

operadores cognitivos ou princípios da complexidade, forjados por Edgar Morin.

21

6. Mapas conceituais

Às seções desta pesquisa, concedo destaque ao uso de mapas conceituais

elaborados no software CmapTools (v. 4.09)12, os quais aparecerão reiteradas vezes

ao longo do trabalho. Alguns se apresentarão propositalmente mais lineares e outros

mais complexos, contendo estes uma maior predominância de ‘nós’ ou conectores,

em decorrência da expansão de significados interligados.

Pretendo, com eles, representar graficamente os conceitos extraídos das

concepções abordadas no corpo do texto dissertativo, com a finalidade de organizar,

orientar e reorientar o processo de construção da pesquisa. Têm-se, ainda, a

intenção de conduzir o interlocutor para uma compreensão mais objetiva das

análises, como também possibilitar a ampliação das relações entre os significados,

para, simultaneamente, reconstruí-los.

Os mapas conceituais, no presente contexto, correspondem a um mecanismo

que contempla o princípio sistêmico ou organizacional do pensamento complexo

segundo Edgar Morin, “que liga o conhecimento das partes ao conhecimento do

todo” (2000, p. 209). Há uma dinâmica circular/recursiva que concilia a síntese à

análise, o local ao global, a parte ao todo e vice-versa. Observados por esse veio, ao

contrário das noções de desagregação e reducionistas, vem a ser um movimento

recíproco de complementaridade e retroalimentação.

Ao trazer a linguagem imagética proporcionada pelos mapas conceituais para

este trabalho, compartilho das recomendações de Alfredo Bosi (2000, p. 65):

“Os psicólogos da percepção são unânimes em afirmar que a maioria absoluta das informações que o homem moderno recebe lhe vem por

12 Programa gratuito, desenvolvido pelo Institute for Human and Machine Cognition da UWF (Universidade de West Florida), para a criação de mapas conceituais. Disponível para download em <http://cmap.ihmc.us/download/free_client.php>.

22

imagens. O homem de hoje é um ser predominantemente visual. Alguns chegam à exatidão do número: oitenta por cento dos estímulos seriam visuais”.

Os conceitos contidos nas figuras poderão ser modificados e expandidos,

quando novas idéias emergirão a partir do olhar circunspecto de um possível

observador.

23

24

1° CAPÍTULO

MOVIMENTO METODOLÓGICO

25

26

Nessa embarcação arrastada pelo vento, no embalo do fluxo e refluxo

inconstante das marés, deixei-me seguir andarilho, consciente da responsabilidade

de esboçar a rota da aventura investigativa, caracterizando a metodologia e

descrevendo seus procedimentos. A quilha, no entanto, precisa ter consistência,

mostrar-se segura, para lançar-se, mas livre da convicção de alcançar a margem,

porque impreciso é o percurso.

1.1 Abordagem

Identificado o campo desta investigação, reconhecido pelo curso de formação

Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida, atribuo o

presente estudo como qualitativo e, considerando meu papel em relação ao universo

pesquisado, busquei utilizar os recursos metodológicos da observação participante

(OP). Dois pressupostos podem justificar a escolha pela observação participante: o

primeiro está relacionado ao grau de envolvimento da pesquisadora no campo

investigado; e o segundo concentra-se na base epistemológica da abordagem

transdisciplinar.

Ao adentrar no ambiente de rede integrando-me como membro da

comunidade do curso de formação, para analisar as contribuições do pensamento

transdisciplinar no trabalho docente, estarei a atender a uma das recomendações da

observação participante – estratégia de pesquisa elaborada por antropólogos,

segundo Laville & Dionne (1999, p. 153). Sobre o papel do pesquisador nessa

condição, as autoras indicam “que ele mistura-se ao quotidiano do grupo (...), e

27

realiza a experiência, compartilhando a vida, as atividades, os comportamentos, até

mesmo as atitudes e os sentimentos das pessoas que o compõem”.

A observação direta leva o pesquisador a aproximar-se do sujeito para colher

um maior número de informações, na tentativa de compreendê-lo em sua plenitude,

buscando evidências que denotem sua concepção de mundo e como suas relações

se corporificam junto ao contexto em que vive ou atua. Os dados coletados referem-

se às ações, opiniões, perspectivas, participações, à maneira como os sujeitos

pesquisados se comunicam, os quais um observador externo não teria acesso. Por

outro lado, essas estratégias adotadas, apesar de imprescindíveis, não garantem o

alcance dos objetivos, em função das circunstâncias que poderão surpreender

durante o curso de elaboração da pesquisa.

Para Roberto Sidnei Macedo (2004, p. 154), “(...) o envolvimento deliberado

do investigador na situação de pesquisa é não só desejável, mas essencial, por ser

esta a forma mais congruente com os pressupostos da OP”. Tereza Maria Frota

Haguette (2005, p.71), citando Cicourel, explica “(...) o observador é parte do

contexto sendo observado no qual ele ao mesmo tempo modifica e é modificado por

este contexto”.

Partindo dessa premissa, exponho-me, então, a representar dois papéis que

imperceptivelmente se confundem, ao tempo em que se mesclam: ora de

observador, ora de sujeito observado. E, considerando minha participação estreita

no curso de formação, com o status de coordenadora, sou também sujeito

observado. Assim, a técnica da observação participante deve ser adequada, pois

desejo compreender o que aconteceu na formação, a qual durante o percurso vou a

ela me integrando.

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Após a identificação dos recursos metodológicos que orientaram e

contribuíram com o processo da pesquisa, ocorre-me refletir mais adiante sobre os

caminhos construídos durante a trajetória de elaboração deste documento,

considerando que no centro da esfera (do projeto) há um marco teórico que se

insinua como meu guia: a transdisciplinaridade. Ser, então, transdisciplinar, eis meu

desafio!

Momento oportuno para reavaliar e reconstruir valores. Entre outros

propósitos, hei de remover os antolhos provenientes de uma formação tradicional

caracterizada por um sistema de ensino discriminativo, fechado e impositivo. Arnt

(2007, p. 88), revisitando os estudos de Morin, lembra da “importância da reforma de

pensamento para compreender a realidade complexa”. Certamente, minha intenção,

durante a pesquisa, é assumir uma postura amparada nos aportes

transdisciplinares, que nos apontam abertura para um pensar além do visível e nos

levam a transpor a convicção das certezas absolutas inerentes aos ideais

cientificistas que percebem a realidade em uma única dimensão.

A abordagem transdisciplinar foi projetada nos anos 70, a partir de estudos

envolvendo físicos (quânticos), filósofos, poetas, artistas plásticos, empenhados em

responder às advertências dos graves problemas do homem, omitidos pela ciência

moderna, porque, fragilizadas em seu casulo pelo determinismo, se eximiram de

direcionar e amplificar o seu foco para a qualidade e conservação da vida no

planeta. Desse vácuo consentido pelo pensamento lógico, surge um novo pacto

(CREMA, Roberto, 2002, p. 10): a transdisciplinaridade.

O pensamento transdisciplinar, para Basarab Nicolescu (1999, p. 53) tem

como finalidade “a compreensão do mundo presente, impossível de ser inscrita na

pesquisa disciplinar”, a ser definido como a

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“(...) transgressão da dualidade que opõe os pares binários: sujeito/objeto, subjetividade/objetividade, matéria/consciência, natureza/divino, simplicidade/complexidade, reducionismo/holismo, diversidade/unidade. Esta dualidade é transgredida pela unidade aberta que engloba tanto o Universo como o ser humano”.

Esse é um processo pelo qual me proponho a experienciar, tendo os

princípios metodológicos do pensamento transdisciplinar como alicerce da

investigação. Esclareço que a transdisciplinaridade apresenta-se aqui como uma

atitude, representada pelo rigor, abertura e tolerância, e como princípio

epistemológico, cuja grande tessitura é regida pela complexidade através de seus

operadores cognitivos.

Sobre a concepção de transdisciplinaridade, entendemos, entre outros

enfoques, que são duas idéias antagônicas que subsistem num movimento

integrador: uma aberta, que diz respeito ao prefixo trans, e outra fechada, racional

como sendo a disciplina. Para Michel Random (2000, p. 17), essa osmose tenciona

“considerar as qualidades próprias às disciplinas e abri-las” (...), fazendo com que

“se comuniquem entre si e nos mais altos níveis trans. (...) extraí-las do gueto das

especialidades para restituí-las à vida e mesmo às novas ciências”.

Embora seja um assunto mais detalhadamente enfocado no Capítulo 2 deste

trabalho, antecipo observar que a metodologia de pesquisa transdisciplinar está

firmada, de acordo com Nicolescu (1999, p. 52), em três pilares: - níveis de

realidade; - lógica do terceiro incluído ou estado T; - complexidade. Regidos por

lógicas próprias, os diferentes níveis de realidade são representados pelos mundos

macrofísico (visível, palpável, o que vivemos) e o microfísico (quântico, das

partículas, sutil, imperceptível), cuja relação de interdependência entre eles vai

constituir o ‘real’. Expressão introduzida pelo físico e filósofo romeno Stéphane

Lupasco, a lógica do terceiro incluído ou estado T corresponde a um meio,

30

fenômeno ou evento que vai unir os diferentes níveis de realidade. Em outras

palavras, percebo como um ‘espaço’ de conciliação, de encontro, ou um estado

emergencial com a função de interligar contrários níveis de realidade, para construir

a unidade, alcançando, por sua vez, um outro nível de realidade. Complexidade é

um pensamento que reúne diferenças e diferentes, organiza e reorganiza

contraditórios, articula sujeito e objeto de forma contextualizada, liga e religa

conceitos. Movimentos que, em função das circunstâncias, podem ocorrer

simultaneamente.

Na análise de demonstração das possíveis interfaces do pensamento

transdisciplinar no trabalho docente em ambiente virtual de aprendizagem, meu

olhar precisa ser diferenciado, deve ser construído no brilho da ética em combinação

com a delicadeza estética. Uma percepção impregnada de leveza e desobrigada de

precipitação. Essa perspectiva, naturalmente, implica ao que Nicolescu (1999, p. 93)

designa: atitude transdisciplinar13. Etimologicamente, atitude, recomenda o

estudioso, “é a capacidade individual ou social para manter uma orientação

constante, imutável, qualquer que seja a complexidade de uma situação e dos

acasos da vida”. Na atitude transdisciplinar, por sua vez, estão interligados três

elementos essenciais à ação: rigor, abertura e tolerância.

O rigor considera e valoriza todos os eventos, informações e a qualidade e o

conteúdo da formação do sujeito, manifestando-se na comunicação. A abertura vem

a ser a permissão do inesperado, do imprevisto, do desconhecido, da incerteza. E a

tolerância compreende o respeito às idéias do outro. Sobre este último aspecto,

trago uma preciosa e lúcida reflexão de Humberto Maturana (1999, p. 7): “O amor é

13 Segundo Basarab Nicolescu, a expressão atitude transdisciplinar fora introduzida pelo poeta argentino Roberto Juarroz, no ano de 1991.

31

a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da

aceitação do outro como legítimo outro na convivência (...)14”.

1.2 Procedimentos

Neste item, serão abordados aspectos relacionados aos procedimentos

metodológicos desenvolvidos no trajeto da investigação, tendo como base a técnica

da observação participante, revelada no bloco anterior. Os caminhos explorados

permitiram a obtenção de subsídios do campo pesquisado – curso de formação de

professor Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida –

culminando com uma reflexão acerca das contribuições do pensamento

transdisciplinar no contexto de uma formação a distância de professor, realizado em

ambiente virtual de aprendizagem.

1.2 .1 Ambientação do campo pesquisado

Renovo esclarecer que, como componente diretamente envolvida no campo

investigado, enquanto coordenadora do curso de formação “Sentipensar, tecnologias

e mídias digitais: educando desde e para a vida”, minha participação limitou-se a

dinamizar os trabalhos junto à equipe de ministrantes e à coordenadora do Projeto; a

articular ações, organizar e mediar os encontros presenciais, publicar textos, criar

fóruns e a agenda e, eventualmente, responder mensagens nos fóruns do aambiente

14 O grifo em itálico não consta no texto original.

32

vvirtual de aaprendizagem da plataforma do Moodle. Por e-mail e por telefone,

comunicava-me com a coordenação do Projeto para definir questões didáticas e

outras relativas a problemas detectados na plataforma do Moodle. Para fins de

organização, todos os materiais publicados, como textos e imagens da ‘agenda’,

encaminhamentos pedagógicos propostos, contribuições extracurso e trabalhos

desenvolvidos dos e pelos participantes, eram, sistematicamente, compilados no

acervo15 do ambiente a cada mudança de atividade, com o intuito de preservar as

informações e avaliar nossas ações.

Destinado a professores das escolas públicas do estado de Sergipe, com

patrocínio do governo estadual, o curso foi promovido pela Secretaria de Estado da

Educação (SEED), por meio da Divisão de Tecnologia de Ensino (DITE), setor

vinculado ao Departamento de Educação (DED). A emissão dos certificados aos

inscritos ficou sob a responsabilidade do Centro de Qualificação Profissional (CQP),

órgão da estrutura administrativa da SEED.

As ministrantes que participaram da formação eram, à época, professoras

(multiplicadoras) lotadas na DITE e integrantes do quadro do NTE - Aracaju/SE,

onde exerciam as ações do ProInfo estadual. A Profa. Dra. Rosamaria de Medeiros

Arnt, coordenadora do Projeto, além de acompanhar a distância todo o movimento

do ambiente, conduzira um dos módulos como formadora.

A população estudada proveio de escolas localizadas nos municípios

sergipanos de Campo do Brito, Propriá, São Cristóvão, Ribeirópolis, sendo que a

maioria exercia a docência em Aracaju.

De característica modular, a configuração metodológica proposta contemplou

estudos on-line e presenciais, priorizando estratégias de trabalhos realizados em

15 Denominado “biblioteca”. Verificar exemplo no AAnneexxoo 33.

33

colaboração e oportunizando o intercâmbio de idéias entre os professores/cursistas

de diferentes municípios e estabelecimentos de ensino. As dinâmicas sugeridas

enfatizaram a articulação dos conteúdos teóricos com as experiências profissionais

e pessoais, sempre pautadas em debates e análises. Para o desenvolvimento de

tais ações, foram utilizados os recursos tecnológicos do ambiente virtual de

aprendizagem hospedados na plataforma Moodle.

Do espaço de aprendizagem, pudemos destacar as seguintes ferramentas

utilizadas: programação, diários, materiais, wikis e fóruns. Em programação,

constaram as agendas das atividades propostas, algumas comunicações e o acervo

com todas as publicações guardadas numa subpasta nomeada ‘biblioteca’. DDiiáárriiooss

foi um recurso reservado para a auto-avaliação dos professores/cursistas, que se

eximiam de expor suas fragilidades publicamente, e onde apenas as formadoras

tinham livre circulação. Materiais armazenavam todos os arquivos publicados no

curso, inclusive o conteúdo das agendas (programação). A wiikkiiss, para a elaboração

de textos colaborativos, mas pouco expressiva, porque não efetivamente

dinamizada. E, fóruns, a mais significativa, em minha opinião, tinha a função de

construir parcerias e favorecer a produção de conhecimento.

A idealização do curso de formação desenvolvido na modalidade híbrida – on-

line e presencial – teve o propósito de atender à demanda de uma população

heterogeneamente distribuída pelo território sergipano, que, considerando as

distâncias geográficas em relação à cidade de Aracaju, onde está localizada a DITE,

dificultaria a participação dos professores se a formação fosse realizada apenas

presencialmente. Importante ressaltar esse dado, se lembrarmos que a freqüência

dos professores/cursistas nos encontros presenciais programados foi considerada

pelas formadoras como insatisfatória, motivo que as isentou de tomar como

34

parâmetro de avaliação. Contrariamente a essa experiência, conferimos, no espaço

virtual, o registro de intensas e pontuais interações e produções.

A carga horária totalizou, inicialmente, 100 horas, mas em função da

necessidade de ajustes operacionais quanto à comodidade dos

professores/cursistas na elaboração do trabalho de conclusão do curso (TCC),

ampliamos para 120 horas.

1.2.2 Etapas e ações

A primeira etapa caracterizou-se pela busca de pressupostos teóricos que

versassem sobre a temática da pesquisa, mais especificamente sobre a

transdisciplinaridade, complexidade, pensamento eco-sistêmico, como também da

literatura em torno de assuntos relacionados à mediação pedagógica, formação

docente em rede e o uso das tecnologias na educação.

Após o exame do material, o levantamento bibliográfico escolhido para

fundamentar a investigação ficou representado, predominantemente, pelos estudos

de Basarab Nicolescu, Edgar Morin, Maria Cândida Moraes, Saturnino de la Torre,

Rosamaria de Medeiros Arnt, Humberto Maturana e Francisco Varela, António

Damásio, Maurice Tardif e Henry Giroux. Esses autores proporcionaram um

aprofundamento dos estudos que vinham se realizando nos últimos anos e, por essa

razão, forneceram a base desejável no direcionamento quanto à consecução da

coleta de dados e análise.

Apesar da linearidade do relato a respeito do levantamento bibliográfico, o

processo de procura por subsídios científicos não foi tão simples assim. Na verdade

35

configurou-se entre muitas idas e vindas, pelo fato de existirem linhas de pesquisa

diferentes em torno de uma mesma concepção teórica. Aliás, testemunho um

esforço excessivo para organizar essas etapas, pela própria complexidade dos

caminhos de uma investigação, circunscritos com a repercussão simultânea de

momentos que se intercalam. Instantes modelados pela intuição, pela lógica,

racionalidade, emoção, objetividade, subjetividade. Paradoxalmente, esses e outros

condicionantes se encarregaram de impulsionar as fases subseqüentes.

A segunda fase se distinguiu pela observação do material publicado nas

ferramentas da rede virtual pelos participantes do curso, para, em seguida, definir

qual seria a fonte de informações a ser analisada. Além dos conteúdos das

intervenções dos professores/cursistas distribuídas na rede virtual, elaborei um

questionário aberto, na intenção de servir de instrumento de dados para análise. No

entanto, considerando o volume exacerbado de informações ordenadas no

ambiente, foram coletadas tão somente as reflexões publicadas nos fóruns,

compartilhadas entre docentes e professores/cursistas, afastando a possibilidade de

examinar as respostas fornecidas no citado questionário.

O processo de obtenção de dados observou a existência de dois tipos de

fóruns temáticos, denominados pelos títulos: Fóruns gerais e Fóruns para atividades

de aprendizagem. No primeiro, constaram matérias e conversas desprovidas de

formalidades, e, no segundo, as interações e diálogos convergiram para o estudo

dos conteúdos dos módulos, que se desenrolaram com atividades individuais e

colaborativas. Por razões que fogem a uma explicação racional, porque se

configuram muito mais como intuitivas, tive a preferência de analisar os fóruns que

trataram dos conceitos teóricos.

36

Em circunstância anterior à análise propriamente dita, foram selecionadas as

categorias de acordo com o modelo misto, proposto por Laville & Dionne (1999, p.

219), identificadas pelos pilares do pensamento transdisciplinar e dos sete princípios

ou operadores cognitivos da complexidade, na ótica de Edgar Morin. Na seqüência,

ao tomar como referência os objetivos a alcançar, a massa do conteúdo recolhido

passou pelo crivo do processo de seleção, gerando unidades que foram

enquadradas nas categorias.

A última etapa culminou com a análise genérica e final, fundada na

perspectiva teórica que conduz este trabalho de pesquisa, após a categorização das

unidades de conteúdo.

37

2° CAPÍTULO

COMPONENTES TEÓRICOS DE APOIO À PESQUISA

38

39

Procuro condensar análises das concepções teóricas que apóiam a pesquisa,

relacionando os conceitos à prática docente em cursos de formação de professor,

realizados em ambientes virtuais de aprendizagem. A idéia visa a demonstrar como

as abordagens complexas e eco-sistêmicas podem contribuir com projetos

educacionais emergentes, articulados com estratégias metodológicas centradas na

multidimensionalidade humana.

2.1 Do determinismo racionalista à complexidade

Recordo que o educador da escola pública brasileira graduou-se em pleno

século XX, do qual herdou atitudes, absorveu e construiu valores pautados no

sistema disciplinar de ensino. Incorporou conceitos que refletem o pensamento

ocidental cartesiano16, não apenas como efeito do método racional de Descartes,

como também da concepção positivista17, de Auguste Comte, e da visão

mecanicista18 de mundo, a partir do conjunto de estudos de Isaac Newton.

16 Corrente filosófica, cujo precursor foi René Descartes, que ressalta a excelência da razão, da capacidade de pensar, de raciocinar, em relação ao sentimento e à vontade, e o conhecimento científico como absoluto. Para Capra (1997, p. 55), (...) o método cartesiano levou à fragmentação característica do nosso pensamento em geral e das disciplinas acadêmicas, e levou à atitude generalizada de reducionismo na ciência – a crença em que todos os aspectos dos fenômenos podem ser compreendidos se reduzidos às suas partes. 17 Corrente sociológica, que tem o francês Auguste Comte como precursor. Sustenta que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa, mas sim confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo#Teoria_de_Augusto_Comte>. Acessado em 11/05/2007. 18 As organizações eram vistas como um arranjo rígido, construídas a partir de um projeto e montadas como peças mecânicas. O lado humano, as emoções e os relacionamentos foram ignorados. Para Capra (1997, p. 61), A concepção mecanicista da natureza está, pois, intimamente relacionada com um rigoroso determinismo, em que a gigantesca máquina cósmica é completamente causal e determinada. Tudo o que aconteceu teria tido uma causa definida e dado origem a um efeito definido, e o futuro de qualquer parte do sistema podia – em princípio – ser previsto com absoluta certeza, desde que seu estado, em qualquer momento dado, fosse conhecido em todos os seus detalhes.

40

A concepção newtoniana revela que o universo é governado por leis

imutáveis19. Esse modelo reducionista foi tão relevante para as ciências, que vimos

sua repercussão também transitar pela Literatura Brasileira, no período do

Naturalismo, no final do século XIX, principalmente com Aluísio Azevedo, nas obras

O Mulato e O Cortiço.

A trama em O Cortiço propõe uma análise em torno das relações humanas,

com grande carga de questões sociais conflituosas e degradantes envolvidas,

destacando a problematização de tipos humanos que se confrontam: dos que vivem

à margem da sociedade e daquele que detém o poder econômico. Suas

personagens são constituídas de pessoas comuns, excluídas, reconhecidas como “o

lixo humano”, malandros, mendigos. “Defronte da porta de Rita tinham vindo postar-

se diversos moradores do cortiço, jornaleiros de baixo salário, pobre gente

miserável, que mal podia matar a fome com o que ganhava”20 (AZEVEDO, Aluísio. O

Cortiço. p. 43).

Problemas trágicos e todos os vícios inimagináveis, realidade de uma

comunidade decadente, vitimada pelas circunstâncias. “Lá no cortiço, de portas

adentro, podiam esfaquear-se à vontade, que nenhum deles, e muito menos a

vitima, seria capaz de apontar o criminoso (...)” (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. p.

87)21. Submetido às leis universais, o homem, enquanto integrante de um sistema

social específico, estava a cumprir o processo de vida dentro de padrões fechados,

19 CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 2001. 20 Idem. 21 Trecho extraído <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00021a.pdf>. Acessado em 11/05/2007.

41

rígidos, componente que vai confluir na lei de causa e efeito ou no princípio da

causalidade22, no previsível e absoluto, onde tudo está predeterminado.

O fluxo dessas idéias, apesar das contribuições relevantes para a vida

planetária, no que se refere ao planejamento e à organização do saber, vem limitar,

com toda sua arrogância, a compreensão da dinâmica da vida e das relações

humanas, em função da primazia racionalista, da natureza disciplinar e fragmentária

sobre o conhecimento. Limitação que não permite a expansão da criatividade.

A interpretação dessas correntes científico-filosóficas acarretou impactos em

vários aspectos da vida comum, inclusive na educação formal. Há, nesse sentido,

um vasto repertório de pesquisas que demonstram a problemática: as condições

técnico-pedagógicas e administrativas da escola não se percebem como extensão

umas das outras, como setores complementares; a avaliação da aprendizagem

mensurada, quantitativamente; a própria concepção de espacialidade das salas de

aula, cuja arquitetura é projetada na estrutura de quatro paredes, dando-nos a

impressão de que professor e aluno são sujeitos cativos, onde somente ali é

possível ensinar e aprender. Além disso, há conteúdos desarticulados, que escapam

do contexto. Ecleide Furlanetto (2000, p.92) nos lembra:

“(...) encontramos muitas vezes uma prática pedagógica que afasta o professor do aluno, distancia o aluno de seus colegas e ambos do conhecimento. Existe também uma distância entre teoria e prática muito presente nesse dinamismo que se mostra na escola encobrindo as relações entre o que está sendo estudado e a própria vida”.

Os efeitos dessa massa de valores na educação vão mais além do que está

aparente, eles reforçaram no homem sentimentos e ações excludentes e antiéticas, 22 Significa que todo efeito tem uma causa e que, nas mesmas circunstâncias, a mesma causa produz sempre os mesmos efeitos. Disponível em <http://ocanto.esenviseu.net/lexicon/dtermins.htm>. Acessado em 11/05/2007.

42

como a competitividade no universo do trabalho, o preconceito pelas culturas, a

hostilidade ao mundo natural. Essas emergências representam o álibi das mudanças

indispensáveis à educação, mudanças que devem começar naturalmente pela

formação do professor.

Uma formação adequada poderá refletir positivamente na atuação docente e

esta, no processo de aprendizagem. Que seja uma formação isenta de pudor,

quando necessário mobilizar as dimensões temporais e espirituais. Maria Cândida

Moraes (2003) propõe:

“(...) urgência de uma reforma paradigmática nos processos de construção e de reorganização do conhecimento, uma reforma do pensamento (Morin, 2000) e uma profunda transformação na educação (Moraes, 1997). Isto para que possamos enfrentar a complexidade de nossa realidade atual e dar conta dos problemas mais pertinentes relacionados às questões tecnológicas, ambientais, ecológicas, éticas e sociais”.

Para corrigir os problemas criados pela e para a humanidade, e evitar futuros

equívocos, o cenário dos cursos de formação de professor deve ser erguido sobre

propostas metodológicas flexíveis e abertas, onde seja possível perceber a natureza

complexa da existência. “O modo como nos tornamos propensos (pela educação e

pela cultura) a pensar é que vai determinar as práticas do dia-a-dia, tanto no plano

individual quanto no social”, segundo Humberto Mariotti23.

E para falar de complexidade, convidaria ao debate alguns pesquisadores

cujas obras contribuíram, de alguma forma, com seus pressupostos. Chamaria a

teoria autopoiética, de Humberto Maturana e Francisco Varela, por trazer conceitos

que nos auxiliarão no entendimento de concepções que serão mais tarde

resgatadas, quando das reflexões sobre o ambiente educacional.

23 Disponível em <http://www.geocities.com/pluriversu/introdut.html>. Acessado em 07/11/2007.

43

Para os biólogos chilenos, os sistemas vivos ou unidades dinâmicas

(indivíduo, a escola, a família, uma indústria de brinquedos, um grupo de estudos,

entre outros) constituem uma oorrggaanniizzaaççããoo aauuttooppooiiééttiiccaa, que se autoproduzem ou se

auto-organizam, e se apresentam de natureza invariável, imutável. Significa dizer

que uma escola, por exemplo, sempre será uma instituição de ensino. Mas cada

estabelecimento de ensino possui uma eessttrruuttuurraa peculiar, que o torna único e se

diferencia de outros, seja pela proposta pedagógica, pela localização geográfica ou

pela cultura dos indivíduos que dele participam. Há, enfim, uma série de fatores que

singularizam um sistema autopoiético. Essa eessttrruuttuurraa, no entanto, passa por

ininterruptas mudanças desencadeadas das interações mútuas entre seus

componentes e o ambiente. A cumplicidade entre os pares se estabelece para

preservar sua organização ou para que a escola não se desintegre, não deixe de

existir, ao que os cientistas denominam aaccooppllaammeennttoo eessttrruuttuurraall. Para Moraes (2003,

p. 86), “(...) As transformações estruturais ocorrem de acordo com as circunstâncias

presentes”. Em se tratando do ddeetteerrmmiinniissmmoo eessttrruuttuurraall, entendemos que, durante o

fluxo dialético das interações, o sujeito e o meio exercem influências recíprocas, no

entanto, o movimento de interação que ocorre entre eles “não determina quais serão

seus efeitos” (MATURANA e VARELA, 2001, p. 108) ou, ainda, não presume as

reações dos sujeitos que integram aquele sistema dinâmico. E a partir das inter-

relações, a unidade autopoiética elabora sua história, isto é, sua oonnttooggeenniiaa.

A auto-organização corresponde ao processo de mudanças estruturais que

ocorrem no interior de uma unidade dinâmica (ou sistema vivo, sob a ótica da

autopoiese24), ocasionadas pelas emergências que surgem das relações com o

meio. Essas mudanças não implicam na perda das especificidades e características

24 Para seus autores, Maturana e Varela, Autopoiese significa auto-organização ou, ainda, é toda organização (todos os sistemas vivos e/ou dinâmicos), que produz continuamente a si mesma, através de ininterrupta produção e renovação de seus componentes.

44

próprias do organismo (unidade dinâmica), ao contrário, vêm a ser um movimento

que, ao se reconstruir, nega o determinismo, abdica do imutável, legitima a

flexibilidade e a identidade de seus componentes.

Do ponto de vista social, a verificação do estado de impermanência da

estrutura de uma organização autopoiética conflui para o enfraquecimento das idéias

deterministas, defendidas no mundo científico ocidental. O pensamento complexo,

nesse sentido, vem reforçar o caráter transitório do contexto dos sistemas vivos.

Etimologicamente, segundo Edgar Morin (2003, p. 43),

“(...) a palavra “complexidade” é de origem latina, provém de complectere, cuja raiz plectere significa trançar, enlaçar. (...) A presença do prefixo “com” acrescenta o sentido da dualidade de dois elementos opostos que se enlaçam intimamente, mas sem anular sua dualidade”.

Complexidade, para Morin, lembra Moraes (2003, p. 200), “indica uma

tessitura comum, pois complexo significa aquilo que é tecido em conjunto”. Uma

ação de interdependência e de atribuições recíprocas entre sujeitos em torno de um

objeto ou de um projeto comum, em circunstâncias onde são resguardadas as

individualidades e reconhecida a transitoriedade dos processos. A complexidade

pode ser compreendida como um pensamento que reúne diferenças e diferentes,

organiza e reorganiza contraditórios, articula sujeito e objeto de forma

contextualizada, que liga e religa conceitos. Movimentos que, em função das

circunstâncias, podem ocorrer simultaneamente.

Para Morin (2003, p. 44), complexidade é uma rede constituída de

componentes heterogêneos, indissociáveis, “que apresentam a relação paradoxal

entre o uno e o múltiplo”. Uma teia composta de elementos de natureza diferente, de

aspectos antagônicos, como a ordem e a desordem, a síntese e a análise, a

45

eliminação e a construção, condições que devem ser pensadas juntas, porque

complementares. No pensamento complexo, o mundo é visto de forma sistêmica, um

todo interconectado com suas partes.

Moraes (2004, p. 189) não só amplia como aprofunda a explicação:

“Pensar o complexo é tentar compreender a dinâmica presente nas partes constitutivas do todo, descobrir como elas se relacionam. É perceber os fenômenos em suas relações e conexões. Pressupõe, portanto, ver o objeto relacionalmente, ou seja, de maneira ecológica e relacional, inserido num contexto histórico, afetivo e sociocultural”.

O desafio de vivenciar a complexidade em cursos de formação para a

docência se acentua pela necessidade de atenuar as forças da supremacia da

objetividade, porque, isoladamente, é evasiva. O desafio será, ainda, privilegiar

propostas e atitudes que confluam para a unidade e não mais para a fragmentação.

Uma formação que possibilite, porque fundamental, a reflexão do processo

complexo do conhecimento e dos vários aspectos interdependentes ou relacionados

durante sua construção. Uma formação docente nutrida de fontes teóricas

humanizantes apresenta maiores possibilidades de tornar a mediação pedagógica

mais consistente.

2.2 Mediação pedagógica transdisciplinar

Para analisar a “mediação pedagógica transdisciplinar” em cursos de

formação realizados por meio de redes de aprendizagem, situo-me, neste reinício de

viagem, como observadora de procedimentos e de ações que se desvelam no

contexto da escola pública brasileira.

46

Da observação, busco resgatar os sujeitos, em sua humanidade, que

pretendem garantir a aprendizagem como um fim a alcançar e tento compreender de

que maneira ocorre a passagem do estado de imanência à transcendência,

considerando esta como prerrogativa da mediação pedagógica transdisciplinar.

Para Houaiss25, o vocábulo mediação significa intercessão, interposição,

intervenção. Podemos entendê-lo, entre outras, como um ato a se realizar ou

realizado por alguém que pretende contribuir com opiniões ou estimular a

comunicação numa determinada situação ou, simplesmente, coordenar um debate.

Mediação implica em interação, em intercâmbio, anunciando, por sua vez, a

presença de interlocutores na ação, que dialogam para trocar idéias ou para criar em

colaboração. Para David Bohm (2005, p. 38), “O propósito do diálogo é percorrer

todo o processo do pensamento e mudar o modo como ele acontece coletivamente”.

O diálogo traz a carga emocional e heranças culturais dos sujeitos.

“(...) fluímos de acordo com as circunstâncias, criando campos vibracionais

com nosso pensar, sentir, agir, que se acoplam ao pensar, sentir e agir daqueles

que compartilham os espaços educacionais conosco” (ARNT, 2007, p. 23/24). A

pesquisadora nos chama a revisitar a autopoiese: influenciamos e somos

influenciados pelo ambiente. É oportuno, nesse instante, pensar no papel

desempenhado pelo educador na escola, sobretudo na responsabilidade que cabe a

um líder, quando mediador da aprendizagem, não como autoridade. A

responsabilidade consiste na atitude de compor parcerias, saudáveis, e cuidar pela

qualidade das relações, afinal estamos lidando com vidas humanas em formação.

Importa-nos saber que não existem figurantes nessa perspectiva, mas protagonistas

que desejam compartilhar um espaço com bem-estar e alegria. Dessa forma, sendo

25 Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa 1.0.

47

professor e aluno protagonistas, supõe-se que ambos são responsáveis pela

interação durante o processo de conhecimento.

Mas essas idéias não se encaixam no perfil da escola tradicional, por todos os

vícios cultuados. Pela condição de onisciência do professor, que transmite o saber,

um saber pleno e irrefutável, e o aluno, impassível na subserviência, a receber e a

reproduzir informação. Uma convivência com um não sei o quê de solidão.

Conteúdos fora de contexto, desconexos, sem chance de relacioná-los à prática ou

às histórias de vida.

Na construção de uma nova escola ou de redes virtuais de aprendizagem, a

mediação pedagógica deverá ter como base o pensamento complexo que “busca a

perspectiva inter e transdisciplinar do conhecimento, capaz de articular, integrar e

refletir os diferentes conhecimentos disciplinares” (MORAES, 2003, p. 205/206).

Trata-se de uma mediação pedagógica não-linear, constituída de vínculos tênues,

imperceptíveis, que se compõem das inter-relações entre os parceiros. Desses

laços, integram também as estratégias didáticas e os encaminhamentos

metodológicos imersos em rede. Isso em função da auto-organização da unidade

dinâmica.

As formações desenvolvidas em ambientes virtuais de aprendizagem

requerem um docente com perfil diferente da educação presencial, talvez mais

lapidado, porque conspira a mobilização de outros elementos antes silenciados.

Demanda uma visão espacial mais ampliada e atenta. Sugere um olhar sistêmico e

transdisciplinar. Propõe uma escuta inclusiva26 (CREMA, 2002, p. 23), não

discriminativa, ou escuta sensível (BARBIER, René. 1998), acolhedora.

26 Expressão de Roberto Crema, da obra - AAnnttiiggooss ee nnoovvooss tteerraappeeuuttaass: abordagem transdisciplinar em terapia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

48

Em situações concretas, particularizaria algumas propostas que podem

delinear as ‘feições’ do formador nos trabalhos desenvolvidos em AVA: - criar redes

de aprendizagem integrada, concebendo-as “como cenários de transformação

pessoal, profissional, institucional e social, superando a fragmentação disciplinar e a

divisão entre razão, emoção e corporeidade, sem deixar de fomentar valores

humanos, éticos, espirituais e de convivência” (MORAES e TORRE, 2007, p. 3); -

saber que o acoplamento estrutural conduz os seres vivos à evolução e, portanto, é

na relação de parceria e na interação que criamos e nos transformamos; - gerar e

manter laços amistosos ou de amizade entre os cursistas porque da cumplicidade e

da confiança emergem as melhores produções; - propor estratégias fundamentadas

na auto-aprendizagem, para o desenvolvimento da autonomia; - estimular a

socialização de idéias, permitindo a construção colaborativa, onde todos possam

compartilhar de um conhecimento comum; - ser receptivo às opiniões individuais e

coletivas, valendo-se de uma linguagem clara e transparente; - criar situações que

acolham o pluralismo de opiniões, porque a diversidade de elementos torna o

processo do conhecimento mais significativo; - utilizar-se da comunicação

multidirecional, isto é, possibilitar fluxos diferenciados de interação, facilitando a

circulação de saberes construídos por sujeitos na sua individualidade; - fundamentar

suas intenções e ações numa matriz humanizante27; - saber lidar com as

emergências e situações inesperadas.

Como entender, afinal a mediação pedagógica transdisciplinar em ambiente

virtual de aprendizagem? O que seria a transdisciplinaridade? Segundo Nicolescu

(1999, p.51), transdisciplinaridade significa “àquilo que está ao mesmo tempo entre

27 De autoria da pesquisadora Mónica Luque, no artigo “A mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem” (2005), para o Curso de Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas – ARTEDUCA – da UnB, que se baseia “em princípios semelhantes aos que Paulo Freire e Humberto Maturana defendem para os diálogos realizados em contextos educacionais: fundamentados no respeito, no carinho e amor aos interlocutores”.

49

as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina”, cujo

propósito é compreender, na unidade dos saberes, o mundo atual. Na

transdisciplinaridade, um objeto de estudo pode ser analisado sob múltiplas visões.

Uma obra de arte, por exemplo, pode ser observada não apenas do ponto de vista

da disciplina de arte, mas também da geografia, da química, da sociologia etc,

entretanto, em muitas ocasiões de aprendizagem, é necessário transpor os limites

das disciplinas, ir além delas.

A transdisciplinaridade solicita uma atitude rigorosa do indivíduo em relação a

tudo o que existe, mas que não está necessariamente ligado a nenhuma disciplina.

Da confrontação das disciplinas, emergem novas informações, que se mobilizam

reciprocamente, num movimento que se desliza em espiral, fazendo surgir novas

situações.

Os níveis de realidade, a lógica do terceiro incluído e a complexidade são

definidos por Nicolescu (1999) como os pilares da abordagem transdisciplinar. A

realidade envolve um conjunto de níveis diferentes e estes, por sua vez, são

reconhecidos a partir dos diferentes níveis de percepção, sendo, assim, ligados pela

lógica do terceiro incluído. Para o estudioso (1999, p. 62), “Ao fluxo de informação

que atravessa de maneira coerente os diferentes níveis de realidade corresponde

um fluxo de consciência atravessando de maneira coerente os diferentes níveis de

percepção”. O conceito da lógica do terceiro incluído pode ser percebido como uma

alternativa a uma dada situação, uma terceira opção na dinâmica das relações

mútuas que se expressam no meio.

Orientados por lógicas próprias, os diferentes níveis de realidade são

representados pelos mundos macrofísico (visível, palpável, o que vivemos) e o

microfísico (quântico, das partículas, sutil, imperceptível), cuja relação de

50

interdependência entre eles vai constituir o ‘real’. Podemos entender, dessa forma,

que a realidade compõe-se de dois mundos – o macro e o micro – e que, apesar de

terem individualmente características específicas e muito peculiares, coexistem,

interexistem e/ou existem simultaneamente, constituindo assim a unidade. O

pesquisador (Ibid., p. 29) explica que nível de realidade é “um conjunto de sistemas

invariantes sob a ação de um número de leis gerais: por exemplo, as entidades

quânticas submetidas às leis quânticas, as quais estão radicalmente separadas das

leis do mundo macrofísico”.

Realidade, para Nicolescu (Ibid., p. 28), tem um significado tanto pragmático

quanto ontológico. É “aquilo que resiste às nossas experiências, representações,

descrições, imagens ou formalizações matemáticas”. Nesse sentido, a abstração,

como uma operação cognitiva, é percebida como um componente integrante da

natureza e um processo intrínseco à realidade. Esta, no entanto, não somente é

intersubjetiva, produto da cumplicidade e criação do homem em sociedade, mas

também tem uma perspectiva trans-subjetiva. “É preciso dar uma dimensão

ontológica à Realidade, na medida em que a Natureza participa do ser no mundo”

(Ibid., p. 29). A passagem de um nível de realidade a outro ocorre quando há

rompimento das leis que regem os mundos macrofísico e o microfísico.

A lógica do terceiro incluído ou estado T corresponde a um meio, fenômeno

ou evento que vai unir os diferentes níveis de realidade; em outras palavras, um

‘espaço’ de conciliação, de encontro, ou um estado emergencial, com a função de

interligar contrários níveis de realidade, proporcionando o alcance de um outro nível

de realidade e assim sucessivamente. “O estado T produz a unificação dos

contraditórios A e não-A, mas esta unificação ocorre num nível diferente daquele

onde estão situados A e não-A”, diz Nicolescu (Ibid., p. 56). É a manifestação da

51

lógica do terceiro incluído, auxiliada pelos níveis de percepção e de consciência do

indivíduo, que mobiliza o processo de construção do conhecimento para o alcance

de outros níveis de realidade, onde está o objeto de pesquisa.

A dinâmica desenvolvida pelo estado T para transpor os níveis de realidade

necessita trafegar por uma área livre ou isenta de ‘pré-conceitos’, que dispensa

qualquer compreensão racional ou, como deseja Nicolescu (Ibid., p. 60), uma

unidade aberta que corresponde ao sagrado, denominada zona de não-resistência.

Para Arnt (2007), “É a zona da intuição, da compreensão pelo amor (...)”.

Desempenhando um papel similar ao da lógica do terceiro incluído, a zona de não-

resistência, sendo um componente conceitual da transdisciplinaridade, se diferencia

do estado T como uma área aberta, que propicia o acordo dos níveis de realidade e

de percepção, para o entendimento do real que transcende a qualquer explicação

racional. Talvez uma região onde habita nossa “íntima humanidade28”, os olhares

éticos e estéticos; a criação artística; os mistérios. Talvez de onde surjam os insights

na construção de mundo, da conexão entre sujeitos e os diversos elementos que

nos rodeiam.

Os conceitos do pensamento transdisciplinar se ajustam à concepção de

mediação pedagógica, na visão de Moraes (2003), que a percebe, entre outros,

como um processo comunicacional, de co-construção de significados, que

oportuniza o diálogo entre professores e alunos e estimula a produção do

conhecimento contextualizado, gerado nas relações. Comunicação percebida como

um processo contínuo de interação, de uma ação onde todos os integrantes (do

processo) são, reciprocamente, agentes da aprendizagem. Segundo a pesquisadora

(Ibid. p. 212),

28 Título da obra poética de Iara Vieira (2003).

52

“O significado e o propósito da mediação pedagógica, (...) estaria na manutenção do fluxo das interações, nas conversações que se estabelecem, ou seja, no diálogo e na vivência do próprio processo, enquanto que no sistema tradicional, caracterizado pela transmissão vertical de informações, o significado estaria no conteúdo das mensagens individualmente veiculadas”.

Nessa perspectiva, se a aprendizagem ocorre ou é fruto das relações entre

seus membros, todos os integrantes desse processo são de igual importância.

2.3 Pensamento eco-sistêmico

Para estrear esta etapa da pesquisa, dirijo-me à própria fonte, trazendo as

explicações da autora – Maria Cândida Moraes – ao que vem a ser o pensamento

eco-sistêmico. Do ponto de vista semântico, Moraes (2004, p. 153) deixa explícito

que sua escolha pela expressão “eco-sistêmico” provém da

“(...) associação de dois macroconceitos, o ecológico e o sistêmico, para denominar o paradigma educacional que emerge a partir das teorias e dos temas selecionados. Eco-sistêmico, com um hífen separando as duas palavras, para que fique claro que estamos ligando dois conceitos importantes: o ecológico e o sistêmico”.

Percebo a concepção eco-sistêmica como um pensamento que conecta,

relaciona e inter-relaciona teorias, conceitos e processos, esclarecidos pelo olhar de

pressupostos transdisciplinares, do pensar complexo e da Biologia do Conhecer, de

Maturana e Varela, e outras abordagens de natureza sistêmica.

Moraes nos dá pistas consistentes sobre o conceito de sistema,

compreendido como

53

“(...) uma unidade complexa que articula, organizacionalmente, diferentes elementos que ocupam um determinado lugar no tempo e no espaço. (...) é, portanto, uma organização que, para constituir-se como tal, pressupõe a existência de relações de interdependência entre os elementos constituintes e a existência de propriedades comuns compartilhadas”.

O pensamento eco-sistêmico vem conceber a dinâmica de interdependência

dos componentes, diversos e adversos, que estão inseridos nos processos de uma

unidade complexa. Moraes (2004, p. 154) denomina-o sistema ecológico, que

significa “um pensamento relacional, dialógico, interligado, indicando que tudo o que

existe co-existe e que nada existe fora de suas conexões e relações”.

O pensamento eco-sistêmico constitui-se não apenas uma proposta ampliada

das dinâmicas complexas da natureza, mas um projeto sofisticado que anuncia a

comunhão de dimensões diferentes – sujeito/objeto, discurso/prática,

matéria/espírito, razão/emoção, arte/matemática – agindo em “contextos

ecologizados” ou em territórios estruturalmente acoplados. São elementos

diferentes, porque orientados por lógicas próprias, que se inter-relacionam

mutuamente por conectores sutis ou vínculos imperceptíveis, em nome dos estados

de consciência e em circunstâncias únicas. Seja qual for a situação, o instante será

sempre inédito, considerando as transformações resultantes da interação em que

sujeito/sujeito, sujeito/objeto/meio exercem influências recíprocas.

Dessa concepção, originou-se o paradigma educacional eco-sistêmico, que,

segundo Arnt (2007, p. 184), se opõe

“(...) ao modelo instrucionista ao considerar que a aprendizagem é um processo complexo, que envolve a auto-organização do ser que aprende, numa dinâmica única, toda sua, que depende de sua estrutura, de seu acoplamento com o meio, em co-deriva”.

54

O paradigma educacional eco-sistêmico não é imparcial, porque recomenda

ao professor uma mediação flexível, aberta e integradora, conduzida por princípios

que pensam a educação realizada em ambientes virtuais de aprendizagem como

uma teia concebida de elementos com características (estruturas) muito peculiares.

Cuidar do aluno na sua constelação individual não é uma obrigação, mas um ato

espontâneo. Significa dizer que a ação docente deve se desencadear, também, com

base nas experiências de vida e na memória cultural do aluno, porque são cenas de

suas vivências que povoam o pensamento e quando materializado faz emanar

novas situações de aprendizagem. Essa postura reflete na preservação da

identidade, na conquista da confiança e construção da autonomia em meio à

produção do conhecimento, que se operacionaliza colaborativamente.

Para Moraes (2004, p. 282), o paradigma educacional eco-sistêmico tem um

significado de

“(...) um paradigma que se apóia na ação do aprendiz sobre o mundo, na atuação sobre sua realidade, no reconhecimento de sua interação com o mundo e no desenvolvimento de diferentes diálogos que o indivíduo estabelece consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com o sagrado. Diálogos que o faz um ser histórico, datado, contextualizado, portanto, situado no tempo e no espaço, através dos quais ele busca sobreviver e transcender a partir de suas ações e reflexões sobre o mundo e conseqüente transformação de sua realidade”.

Essas reflexões trazem a síntese das dimensões do paradigma educacional

eco-sistêmico, que envolvem a construtivista, interacionista, sociocultural, afetiva e

transcendente.

55

2.4 Formação de professores em rede de aprendizagem

Como a direção deste trabalho incide em análises sobre a mediação

pedagógica, nada mais apropriado do que trazer algumas reflexões sobre formação

de professores, já que o saber docente está intimamente relacionado à dinâmica

operacionalizada no contexto educacional.

2.4.1 Despertando as tensões

Da perplexidade oriunda das crises sociais e ideológicas que a sociedade

contemporânea ou assiste ou vivencia – como as guerras, doenças, danos causados

ao meio ambiente – o homem, também indignado, vem buscando caminhos na

intenção de reconstituir esse panorama.

Em se tratando da educação no Brasil, há uma preocupação também de

organismos internacionais, como a UNESCO – representada no Brasil pela

Campanha Nacional pelo Direito à Educação – que vem auxiliando vários governos

a implementar políticas de formação de professores e práticas profissionais como

prioridades para o desenvolvimento nacional, a fim de tornar a educação para todos

uma realidade.

Pesquisas realizadas apontam a falta de estímulo do educando e o

descontentamento do professor como fatores resultantes de um sistema educacional

frágil, que peca duplamente ao privilegiar os conteúdos curriculares,

descontextualizados, e ao reincidir numa avaliação que ora premia, ora pune. Este

último leva-nos a entender o erro e o acerto como o ponto final da aprendizagem,

56

não como uma condição que pode se desdobrar em uma rica experiência de

construção do conhecimento. De acordo com Moraes (2004, p. 29),

“(...) o erro revela muito de nossa maneira de pensar, constituindo-se em um bom exemplo para caracterizar as dinâmicas linear e não-linear. Sabemos que o erro pode ser compreendido de diferentes maneiras. Se for vista a negação da verdade, como algo que merece punição, estaremos pensando de maneira linear, indicando que se o aprendiz errou é porque não sabia nada. Assim, o professor não tenta compreender quais as possíveis razões para que ele se expressasse daquela maneira diferente da esperada. Mas, se pensarmos no erro como uma etapa do próprio processo de construção do conhecimento, a partir de uma visão não-linear, complexa, então ele passa a ter uma outra dimensão do problema, a dar uma outra importância e um outro sentido ao ocorrido, revelando-se assim uma outra realidade anteriormente desapercebida”.

Os resultados dos instrumentos e programas de avaliação realizados pelas

instituições governamentais com alunos da escola pública brasileira, vemos uma

crise que se amplia de forma imprudente e perturbadora. Além disso, somos

conhecedores do alto índice de analfabetismo, de evasão e repetência escolar,

indicadores que necessitam de iniciativas que corrijam essas distorções ou de

políticas públicas mais consistentes. Há sinais de que esse cenário vem se

construindo como conseqüência, também, da crise da ação docente, entre outras

causas, o que, por sua vez, pode ser efeito da formação acadêmica do professor.

A ausência de trabalhadoras e trabalhadores da educação qualificados para

atuar em conformidade com a demanda da atual conjuntura e a natureza debilitada

do trabalho docente localizado no sistema público educacional sugerem políticas

sólidas e transformadoras, que tenham como metas a remoção do olhar simplificado,

isolado e superficial do indivíduo sobre o mundo e a instauração de uma postura que

o leve a reconhecer o homem em suas várias dimensões – emocional, intelectual,

física, espiritual – constituído das e pelas relações com outros seres e o meio.

57

Para Moraes (2005, p. 186), a Educação a Distância (EaD) poderá vir “a

colaborar para a ressignificação dos paradigmas educacionais vigentes, favorecendo

a transformação das atuais propostas pedagógicas, a partir de uma nova visão de

realidade”.

Pode-se observar que a EaD nesse novo contexto estimula o

desenvolvimento de projetos cooperativos e uma aprendizagem colaborativa,

desencadeados num espaço de convivência, do ponto de vista autopoiético, que

viabiliza condições propícias à qualidade das relações entre os participantes de um

curso de formação. A teoria autopoiética, de Humberto Maturana e Francisco Varela,

denota auto-organização ou ainda toda organização (sistemas vivos ou dinâmicos),

que produz continuamente a si mesma, através de contínua produção e renovação

de seus componentes.

Sabemos que a EaD está inserida hoje nos ambientes acadêmicos e em

outras instituições, proporcionando uma educação continuada, enfatizando a

responsabilidade e autonomia de cada aprendiz pelos seus avanços na ação de

explorar os caminhos que o levam ao conhecimento. Segundo Maria de Fátima

Guerra Sousa (2004, p.1)29,

“O sonho de todo professor em todas as modalidades de ensino é ter um aluno autônomo. Capaz de, por si só, se planejar e se organizar para melhor aprender. Mas esse aluno não se prepara de um dia para o outro. Ser autônomo, afetivo e intelectualmente é um projeto de vida que precisa de orientação. Nós, professores, podemos e devemos contribuir muito com esse projeto, principalmente se a motivação e a inspiração de nosso trabalho se fundam no desejo e no compromisso de formar o cidadão e desenvolver a cidadania. Na educação a distância esse sonho precisa ser, necessariamente, uma realidade compartilhada e desejada também pelo aluno”.

29 Extraído do artigo - AApprreennddeerr aa AApprreennddeerr eemm EEdduuccaaççããoo aa DDiissttâânncciiaa:: aa ccoonnssttrruuççããoo ddaa aauuttoonnoommiiaa ddoo aapprreennddiizz,, II módulo, disponibilizado pela autora, Profa. Maria de Fátima Guerra de Sousa, para análise na Formação de Tutores para o Curso Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas (ARTEDUCA), realizado pela Universidade de Brasília (UnB), em 2004.

58

Entendo como uma autonomia que preserva a identidade e vai se

configurando a partir das circunstâncias geradas nas interações, dos vínculos

estabelecidos entre os pares, no respeito às diferentes idéias e histórias que cada

um traz consigo. Uma autonomia construída das inter-relações, que pode emergir da

incerteza, do imprevisto, da contradição, das divergências, mas sempre com a

intervenção parceira docente.

2.4.2 Cenários e redes de aprendizagem integrada

Na introdução deste trabalho, ensaio uma breve reflexão sobre a ‘esperança’.

Sem qualquer constrangimento, o sentido da palavra aqui impresso pode ter uma

conotação romântica e tem, afinal me fiz assim. Entretanto, pelo peso ou força com

que ela me move, não é um mero acessório a compor as idéias ou um recurso

secundário do pensamento/sentimento que faz desenrolar a escrita. Em meio às

tensões envolvendo docência e formação de professor, a esperança constitui-se de

uma carga de energia não estranha à lógica do terceiro incluído ou à zona de não-

resistência da transdisciplinaridade: comporta a possibilidade, apazigua os

diferentes níveis de realidade, reconhece-se, enfim, como um fecundo estado de

transformação, que se manifesta ou pela amorosidade e/ou pelos processos

cognitivos.

Nesse sentido, ocorre-me ressaltar alguns estudos que se apresentam como

uma alternativa de análises em torno de aspectos da formação de professor

desenvolvida principalmente em redes virtuais de aprendizagem. Henry Giroux

(1997, p. 161) sustenta que a reformulação do trabalho docente deverá conceber os

59

professores como intelectuais transformadores. Para o autor, a “categoria

intelectual” inspira a existência de um fundamento teórico que conduz o profissional

em suas atividades pedagógicas, como também elucida sobre o seu papel

desempenhado por meio de posturas que tornam legítimos os interesses políticos,

econômicos e sociais. Essa categoria aponta ainda os contextos e ações de

natureza ideológica como fundamentais, para que os trabalhadores da educação se

percebam como intelectuais. A função do profissional como um intelectual

transformador visa a uma prática reflexiva e crítica e, ainda, sob esse enfoque, julgo

que a atividade do homem é justificada e permeada pela dimensão mental.

Os estudos de Maurice Tardif (2002) mostram que os saberes docentes não

se reduzem a processos cognitivos ou atividades mentais unicamente, eles

compõem-se de outros saberes construídos e mobilizados em operações complexas

de interação entre indivíduos. São saberes acolhidos e gerados ao longo de sua vida

pessoal/profissional, na relação com as culturas, no ambiente familiar e educacional,

nos cursos de formação, no contexto universitário, no pluralismo ou diversidade de

conhecimentos. O pesquisador procura “situar o saber do professor na interface

entre o individual e o social, entre o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza

social e individual como um todo. (...) baseia-se num certo número de fios

condutores” (Ibid. p. 16). A intenção, com isso, é entender que o saber do professor

tem o ser humano como campo de trabalho.

Por analogia à matéria anterior, de acordo com a psicologia budista que

avança numa outra perspectiva, nossa consciência tem a função de colher,

experimentar, guardar e preservar as sementes ou informações que surgem das

experiências. Esse processo denominado consciência armazenadora (HANH, Thich

Nhât, 2002) nos leva a supor que a qualidade de vida deve ser proporcional à

60

qualidade de informações acumuladas. Contudo, essas sementes armazenadas vão

se transformando, considerando as escolhas e necessidades do indivíduo; vão se

modificando nos estados emergentes que se cumprem na convivência, por meio dos

fluxos dos níveis de percepção. A Carta da Transdisciplinaridade30, sobretudo no

Artigo 13, reconhece como legítima a reflexão em torno da consciência

armazenadora, conforme o texto a seguir:

Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, qualquer que seja sua origem – de ordem ideológica, cientificista, religiosa, econômica, política, filosófica. O saber compartilhado deveria levar a uma compreensão compartilhada, baseada no respeito absoluto das alteridades unidas pela vida comum numa única e mesma Terra.

Desde o início desta pesquisa, há uma pretensa tentativa de mostrar

alternativas para as mudanças que desejamos na educação, a partir de um novo

projeto de perfil docente, com respaldo em sua formação. Nesse percurso, estamos

na companhia de pressupostos teóricos que se manifestam e se recolhem,

proposital, visível e alternadamente, entretanto, um deles mantém-se fiel e

constante: o pensamento complexo. Às vezes secreto, às vezes subitamente

revelador. Essa compreensão nos permite dar continuidade à analise acerca da

formação de professor e recuperar um dos pontos citados no objetivo deste trabalho:

a criação de cenários e redes de aprendizagem integrada. Para isso, no entanto,

busco inspiração nas investigações de Moraes & Torre (2007), a partir do texto

Proyecto Escenarios y Redes de Aprendizaje Integrado para una Educación de

Calidad (ERAIEC).

Dos problemas da humanidade já temos conhecimento, das fragilidades dos

sistemas educacionais também, o momento requer ações, urgentes. Ações lúcidas

30 Localizar a íntegra do documento no AAnneexxoo 44.

61

que tenham como sua melhor e única referência o homem, com seus valores e suas

dores, ontológico e antropológico; solicita atitudes ‘decentes’, que cuidem da vida

ambiental deste planeta. A meta agora é desfazer a sensação de imobilidade e

assumir compromissos na implementação das mudanças desejadas. As

possibilidades existem. O documento mencionado acima, elaborado por Moraes &

Torre (Ibid.), é um estudo consistente do ponto de vista científico, que apresenta

opções de caminhos que poderão nos levar a transpor a obsessiva fragmentação

dos saberes, a transgredir a dualidade cartesiana e a desmontar os postulados

deterministas ainda hegemônicos.

Considerando que “No podemos seguir educando con métodos del ayer a

jóvenes que ya viven en el mañana” (TORRE, ibid.), a educação e a formação

docente deverão reformular suas bases didático-pedagógicas, de modo a atender a

essa ‘nova’ feição de aluno, conectado com as inovações tecnológicas e muito bem

familiarizado com o ciberespaço por meio das redes virtuais de computadores. Para

isso, no entanto, o educador deverá experienciar um grande processo de

transformação pessoal, que irá reverberar nas esferas social e profissional. Moraes

& Torre (Ibid.) convidam o educador para colaborar com a concretização da reforma

do pensamento e da consciência e para uma maior abertura do coração. Essa

reconstrução implicará no desenvolvimento de um amplo projeto acadêmico

centrado em estratégias metodológicas apoiadas em pesquisas que visem à criação

de cenários e redes de aprendizagem integrada, estes compreendidos como

ambientes de interação social e vibracional.

Nesse instante, surge um novo e importante elemento de análise relativo ao

universo educacional: perceber esse espaço como um campo de vibração. Mesmo

não tendo propriedade para dissertar sobre o assunto, porque se trata de um

62

fenômeno explicado pela física quântica, ousaria conjecturar superficialmente que o

campo vibracional contém matéria, que é a própria energia condensada (MORAES &

TORRE, ibid.) – homem, objetos, animais, plantas, constituintes do reino mineral –

manifestando-se em vibrações ou freqüências energéticas indeterminadas que

ocorrem num fluídico movimento em rede. O nível (ou qualidade) de vibração está

intrinsecamente relacionado à freqüência da matéria emitida no espaço/campo. Em

outras palavras, a forma como a matéria interfere no ambiente é que vai determinar

a qualidade da freqüência vibracional. Há uma constante e ininterrupta interação

entre as energias a potencializar a ação nos espaços vibracionais, criando outros

estados energéticos e produzindo uma sucessão de campos diferentes. A

complexidade implicitamente se repete, levando-nos a compreender melhor a

dinâmica entre a relação da matéria e o campo vibracional.

Nessa linha de pensamento, Moraes & Torre (Ibid.) nos lembram da

existência de um grupo de cientistas envolvidos em pesquisas dessa natureza:

“Una comunidad virtual que apuesta por un nuevo paradigma en el que lo macro y lo micro están interconectados y que lo que observamos como materia no es sino energía concentrada, en la que a nivel subatómico estaría constituida por vacíos informados o Campo Punto Cero. Incluso nuestras mentes operan siguiendo procesos cuánticos, según Zohar y otros importantes científicos. En tal sentido pensar y sentir – todas las funciones cognitivas superiores - tienen que ver con la información cuántica pulsando simultáneamente a través de nuestros cuerpos y nuestros cerebros. La percepción se produce por interacciones entre partículas subatómicas del cerebro y el mar de energía cuántica que nos rodea” (McTaggart, o.c.,23).

Para levar à prática, a proposta de formação docente se fertiliza nos terrenos

da ecologia dos saberes na base epistemológica do pensamento eco-sistêmico, sob

o olhar da complexidade e da transdisciplinaridade. Entretanto, outros estudos

científicos e de diferentes áreas do conhecimento fornecem subsídios na

63

fecundação de todo o escopo teórico, como a física quântica, a biologia, a

neurociência, a química orgânica, a antropologia cultural, entre outras.

De acordo com as abordagens sistêmicas e eco-sistêmicas, as Instituições de

Ensino Superior (IES) são concebidas:

“(…) en términos de redes de información y energía, el espacio del aula como escenario de interacción de los agentes formadores, como circunstancias y campos energéticos y vibracionales, la institución como un campo organizacional en el que confluyen informaciones, materias, energías y lenguajes de diferentes procedencias, y el Programa como una guía o ruta que nos orienta en el camino, pero nunca un rail de única dirección” (MORAES & TORRE, ibid.).

A proposição pode ser justificada pela ecologia dos saberes, expressão

encontrada na obra de Boaventura de Sousa Santos, segundo Moraes & Torre

(Ibid.), cuja idéia diz respeito às universidades, no sentido de perceber “a existência

de conhecimentos plurais”, para proporcionar o encontro entre os saberes científicos

e os humanísticos. Tem o propósito de valorizar o saber procedente de diversas

culturas e tradições integrando-o ao acadêmico. Trata-se, dessa forma, de uma

mudança na estrutura conservadora da educação superior, quando a demanda

indica o caminho inverso do tradicional: levar outros conhecimentos e saberes do

povo para dentro da universidade e relacioná-los às ciências. Certamente, a

pretensão não é subestimar as ciências, mas, sim, agregar condicionantes dos

costumes e experiências do homem comum, antes ignorados, aos científicos.

O exercício da ecologia dos saberes pode ser a própria prática do

pensamento complexo. Vem a ser um pensamento ecologizado, como recomendam

Moraes & Torre (Ibid.):

“(...) que religa, relaciona, reintegra e nos ajuda a religar as diferentes dimensões humanas implicadas nos processos de construção do conhecimento, processos estes produtos de uma organização funcional e operacionalmente complexa e que, por sua

64

vez, exige um pensar mais complexo, articulado, capaz de reconhecer interdependências processuais, a multidimensionalidade da realidade humana, um pensamento capaz de afrontar antinomias e os paradoxos que se apresentam ao se pretender conhecer a realidade”.

Há, nessa perspectiva, uma dinâmica que se realiza no contexto dos

princípios ou operadores cognitivos da complexidade e dos pilares do pensamento

transdisciplinar, analisada no capítulo 5 desta pesquisa.

A materialização da ecologia dos saberes como uma proposta de mudança na

formação docente universitária implica na criação de cenários e redes de

aprendizagem integrada, com inspiração derivada das fontes teóricas da

transdisciplinaridade, da complexidade e do pensamento eco-sistêmico. Os cenários

e redes de aprendizagem integrada, de acordo com Moraes & Torre (Ibid.),

significam espaços diferenciados de aula – físico-temporais e virtuais – para o

desenvolvimento de estratégias diferenciadas que utilizem recursos pedagógicos

também diversificados, como materiais audiovisuais, impressos, tecnológicos etc. Os

autores avançam mais nas idéias, sugerindo a metodologia de projetos que

incorporem o estudo de várias disciplinas para proporcionar o desenvolvimento de

valores e habilidades. “A tolerância, a convivência, a colaboração, a atitude crítica,

criativa e a busca da auto-aprendizagem permanente são as ferramentas mais

eficazes para a transformação pessoal, profissional e social” (MORAES & TORRE,

ibid.).

65

3° CAPÍTULO

PANORAMA DOS PROGRAMAS DESENVOLVIDOS

NA DIVISÃO DE TECNOLOGIA DE ENSINO

66

67

A Divisão de Tecnologia de Ensino (DITE), órgão vinculado ao Departamento

de educação (DED), da Secretaria de Estado da Educação (SEED)31, foi criada em

1994 para desenvolver projetos didático-pedagógicos voltados para o uso das

tecnologias da informação e comunicação (TIC), nas escolas públicas do estado de

Sergipe. Em sua estrutura comportam dois Núcleos de Tecnologia Educacional

(NTE), localizados em Aracaju, para atender à demanda do ProInfo, e estão sendo

criados mais oito, em outros municípios do estado. Os NTE funcionarão nos Centros

de Tecnologia Educacional (CTE), distribuídos por região, perfazendo um total de

dez.

Estão integrados em sua agenda programas desenvolvidos pelo Ministério da

Educação (MEC), como o Programa Nacional de Informática Educativa (Proinfo), TV

Escola, Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento à Comunidade (Gesac), e, no

ano de 2007, foi incorporado o Tô no Mundo, em parceria com a Universidade de

São Paulo (USP). Em âmbito estadual, funcionou o projeto Alfabetização com o Uso

da Multimídia, extinto no ano de 2007, e em atividade o Rádio-Educ/SE.

3.1 Programa Nacional de Informática Educativa (ProInfo)

O ProInfo foi implantado pelo MEC, por meio da Secretaria de Educação a

Distância, no ano de 1997, para introduzir as tecnologias da informação e

comunicação nas escolas públicas, estaduais e municipais, como recurso

pedagógico ao processo de ensino e aprendizagem.

31 Disponível em <http://www.seed.se.gov.br>.

68

O período de implantação contou com estudos realizados por uma equipe,

para fornecer uma bagagem teórica aos professores dos estados, denominados

multiplicadores, que trabalhariam na área. O artigo “Subsídios para Fundamentação

do Programa Nacional de Informática na Educação”, de Maria Cândida Moraes,

(SEED/MEC - jan/1997), apresenta a justificativa do Programa, descrevendo um

quadro da problemática com indicadores estatísticos do contexto do ensino

brasileiro, ao tempo em que analisa as mudanças socioeconômicas e culturais do

cenário mundial, como também orienta para a utilização dos instrumentos

tecnológicos na educação.

A proposta de operacionalização implicou na preparação de professores dos

estados que aderiram ao Programa, os quais passaram por cursos de

especialização, com o propósito de subsidiá-los para a criação e vivência de uma

nova cultura na escola, apoiada nas tecnologias. De acordo com o documento,

Diretrizes do ProInfo (julho de 1997, p. 11), a capacitação de professores teve o

objetivo de

“(...) redimensionar o papel que o professor deverá desempenhar na formação do cidadão do século XXI. É, de fato, um desafio à pedagogia tradicional, porque significa introduzir mudanças no processo de ensino-aprendizagem e, ainda, nos modos de estruturação e funcionamento da escola e de suas relações com a comunidade”.

Para o funcionamento do Programa, foram criados Núcleos de Tecnologia

Educacional, equipados com computadores e impressoras, para que os

professores/multiplicadores capacitados realizassem ações com os professores das

escolas estruturadas com laboratório de informática.

O PPrrooIInnffoo (estadual), em Sergipe, comportava apenas dois Núcleos que

davam suporte às escolas, expandindo para dez no ano de 2007, os quais ficarão

69

vinculados a Centros de Tecnologia Educacional (CTE), dispostos em espaços

adequados, nas Diretorias Regionais de Educação (DRE) do estado. A ampliação

dos NTE, a meu ver, vem favorecer a descentralização, organização e a execução

dos trabalhos que lhes são atribuídos.

O quadro de pessoal para o desenvolvimento do Programa se compõe de

uma coordenação estadual e da coordenação de mídias, sendo que vinculadas a

esta estão a coordenação pedagógica, a equipe de professores/multiplicadores, os

professores articuladores dos laboratórios de tecnologia educacional das escolas e o

suporte técnico.

As atribuições se especificam conforme as coordenações, como seguem

abaixo:

Coordenação Estadual do ProInfo:

• Gerência Administrativa e Pedagógica do ProInfo no Estado;

• orientação do planejamento das ações dos CTE para o desenvolvimento da

telemática na educação através de Projetos Educacionais;

• atualização do cadastro das escolas do estado que integram o ProInfo, no

SIGETEC - Sistema de Gestão Tecnológica;

• seleção de professores para participarem de cursos de formação de

multiplicadores (especialização lato sensu);

• acompanhamento das ações desenvolvidas nos CTE;

• orientação para o desenvolvimento do trabalho integrado nos CTE com outros

programas de uso da tecnologia aplicada à educação;

• dar visibilidade às ações do ProInfo.

70

Coordenação Pedagógica dos CTE:

• sensibilizar e motivar as escolas para a incorporação da tecnologia de

informação e comunicação no Projeto Político Pedagógico;

• estruturar um sistema de formação continuada de professores no uso das

novas tecnologias da informação, visando o máximo de qualidade e

eficiência;

• desenvolver modelos de capacitação que privilegiem a aprendizagem

cooperativa e autônoma, possibilitando aos professores de diferentes regiões

geográficas do estado e do país a oportunidades de intercomunicação e

interação com especialistas, o que deverá gerar uma nova cultura de

educação a distância;

• preparar professores para saberem usar as novas tecnologias da informação

e comunicação de forma autônoma e independente, possibilitando a

incorporação das novas tecnologias à experiência pessoal e profissional de

cada um, visando à transformação de sua prática pedagógica.

Professor/multiplicador:

• deve ser um agente de mudança educacional;

• especialista que sensibiliza e motiva os professores articuladores das escolas,

para a necessidade da integração das novas tecnologias no processo de

ensino e aprendizagem, capacitando-os na utilização dos instrumentos da

Telemática;

• assessorar pedagogicamente os Professores Articuladores na elaboração de

projetos;

71

• acompanhar, orientar e avaliar as ações dos professores articuladores,

professores regentes e alunos, no desenvolvimento de atividades

pedagógicas, para o uso das mídias presentes na escola;

• ser parceiro dos professores articuladores em situações de estudo, como dos

cursos de especialização.

Professor articulador:

• fomentar o uso do laboratório de informática educacional, integrando as

diversas áreas do conhecimento numa perspectiva de construção de projetos;

• integrar-se à elaboração e ao desenvolvimento do projeto político pedagógico

da escola;

• orientar, fornecer subsídios e acompanhar os demais docentes na elaboração

e desenvolvimento de projetos que envolvam a utilização do laboratório de

informática educacional;

• desenvolver diretamente com os alunos projetos de aprendizagem, por meio

de atividades curriculares e extracurriculares, concedendo um caráter

interdisciplinar e transdisciplinar às ações;

• promover a incorporação da cultura digital ao cotidiano da escola.

3.2 TV Escola

Programa voltado especificamente para a formação de professores das

escolas públicas de ensino fundamental e médio de todo o Brasil, para a apropriação

de instrumentos de comunicação de massa que trabalham com a linguagem

audiovisual – imagem/som/movimento.

72

Desde sua implantação, no estado de Sergipe, no ano de l996, o TV Escola

desenvolve ações de capacitação e acompanhamento, com a intenção de contribuir

para a qualificação, o aperfeiçoamento e a valorização dos profissionais da

educação, apoiando no trabalho em sala de aula, visando à qualidade do ensino da

escola pública.

São propostas, também, ações com base na programação veiculada pelo

canal televisivo TV Escola, fundadas na metodologia de oficinas pedagógicas, para

aprofundamento teórico e prático no uso de equipamentos, análise, planejamento e

produção de audiovisual. Os trabalhos se realizam com a exibição de vídeos,

contendo informações relevantes para a atualização profissional e ampliação de

conhecimentos sobre os conteúdos disciplinares.

As oficinas, os cursos de extensão e de especialização se apropriam de

recursos audiovisuais impressos e digitalizados que constituem o acervo do

Programa, de acordo com a área do conhecimento e desenhos metodológicos:

• Ensino Fundamental:

- Arte, Ciências, Educação Especial, Educação Física, Escola / Educação, Ética,

Filosofia, Geografia, História, Língua Portuguesa, Literatura, Matemática, Meio

Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Saúde;

- série Vendo e Aprendendo

• Ensino Médio:

- Séries Acervo, Como Fazer?, A Escola, Ensino Legal e Ver Ciência.

• Formação de Professores:

- Programa um Salto para o Futuro

- Curso de Extensão “TV Escola e os Desafios de Hoje” – impresso, on line e em

CD-rom;

73

- Curso de especialização de Mídias na Educação - material on line e em CD-rom.

A equipe do TV Escola, juntamente com as dos demais programas, participa

de estudos internos promovidos pela DITE, denominados grupos de estudos, onde

são discutidas diversas temáticas e abordagens teóricas que fundamentam os

trabalhos.

3.3 Rádio Educação de Sergipe – Rádio-Educ/SE

Os meios de comunicação podem contribuir com as práticas realizadas na

escola pública, estimulando o protagonismo nos jovens, a partir de temas

educativos. Dessa forma, o Programa tem o objetivo de utilizar o rádio como recurso

pedagógico, para desenvolver entre os alunos o exercício da oralidade e o

desenvolvimento da linguagem textual e, com isso, melhorar a qualidade da

educação pública.

Implantado no ano de 2007, o Rádio-Educ/SE atende apenas a sete escolas

que possuem a infra-estrutura adequada para seu funcionamento. Para seu

funcionamento, a equipe do Programa ministrou cursos de formação aos docentes

que utilizarão os recursos em nos trabalhos diários, como também, em parceria com

o governo federal, providenciou o envio de kits tecnológicos, contendo microfone,

suporte para microfone, fone de ouvido, mesas para som, ar condicionado, pedestal,

200 metros de fio e um aparelho de DVD.

Como os Programas anteriores, a coordenação estadual do Rádio-Educ/SE

tem as seguintes atribuições:

• gerência administrativa e pedagógica do Rádio Educ/SE no Estado;

74

• orientação do planejamento das ações dos CTEs para o desenvolvimento da

telemática na educação através de projetos educacionais;

• assessoramento às escolas vinculadas ao Programa;

• capacitar professores para desenvolver projetos com a integração das mídias;

• planejamento das ações anuais do Programa.

75

4° CAPÍTULO

SITUANDO O CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR

SENTIPENSAR, TECNOLOGIAS E MÍDIAS DIGITAIS: EDUCANDO

DESDE E PARA A VIDA E ANÁLISE

76

77

Reflexão sobre o campo desta pesquisa (curso de formação de professor

Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida),

enfocando as possíveis interfaces da transdisciplinaridade no trabalho docente, em

rede virtual de aprendizagem.

4.1 Construção do cenário

O curso de formação Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando

desde e para a vida começou de fato a se esboçar, em meados do ano de 2003, a

partir de reuniões virtuais, sistemáticas, entre professores/formadores de Núcleos de

Tecnologia Educacional provenientes de diferentes regiões do Brasil e uma

educadora da Argentina, para investigar a abordagem autopoiética. Para tanto, foi

criado pela Profa. Dra. Rosamaria de Medeiros Arnt, quem também coordenou o

Grupo de Estudos sobre as Teorias de Humberto Maturana e Francisco Varela, um

espaço de debates e aprendizagem, na plataforma do Teleduc.

Entre outras, a intenção foi refletir o projeto de educação desenvolvido no

contexto da rede pública e, ao mesmo tempo, delinear a realidade de cada

profissional, expondo dúvidas e incertezas sobre as ações condicionantes que

despendemos no ambiente escolar. Por conseqüência, nos foi proporcionada a

oportunidade de fazer uma auto-análise, quando mergulhamos dentro de nós, para

saber um pouco mais da pessoa e profissional que somos, e nos transformar.

Os debates do grupo não se detiveram apenas a explorar o universo da

autopoiese, eles rumaram para outros campos, fecundos, porque intrínsecos à

essência humana: emoções e sentimentos, na visão de António Damásio, emoções

78

e linguagem, sob o olhar de Humberto Maturana, vinculando-os às histórias de vida

e à educação. Além disso, foram abordadas questões sobre as matrizes

pedagógicas a partir de um texto base de Ecleide Furlanetto. As discussões em

torno desses assuntos se evidenciaram sobre dinâmicas diferenciadas, propostas

pela mediadora, utilizando-se das linguagens musical, imagética e textual. O forte da

comunicação entre os participantes se concentrou nos fóruns, que primaram por

títulos descontraídos: ‘Minha história’, ‘botequim.com’, ‘passeando pelos conceitos’.

No ano de 2004, o grupo de estudos recebeu outra denominação:

Sentipensar – espaço de formação e criação – com a idéia de ampliar as pesquisas

para conceitos que, naturalmente, emergiam e se revelavam entre uma conversa e

outra.

Em plena celebração da Páscoa, no ano de 2005, três integrantes do grupo

de estudos se deslocaram até São Paulo para o primeiro encontro presencial, em

atendimento às emergências que vinham apontando. Enclausuramo-nos para

aprofundar outras concepções sistêmicas, que tiveram como fundamento a pesquisa

de Maria Cândida Moraes – Reconfigurando o cenário epistemológico (março de

2005). Na ocasião, a autora se fez presente, elucidando conceitos relativos ao

pensamento eco-sistêmico, à transdisciplinaridade, complexidade, estruturas

dissipativas e outras.

Do encontro presencial, enfim, nasceu o PPrroojjeettoo SSeennttiippeennssaarr, denominado

PPrroojjeettoo PPáássccooaa3322, do qual foram organizadas e planejadas algumas versões de

propostas de cursos de formação de professor, alicerçadas naquelas abordagens. E

no ano de 2006, colocamos nossas idéias em prática, implantando o curso de

32 Conferir no AAnneexxoo 55.

79

formação de professor SSeennttiippeennssaarr,, tteeccnnoollooggiiaass ee mmííddiiaass ddiiggiittaaiiss:: eedduuccaannddoo ddeessddee ee

ppaarraa aa vviiddaa3333, no estado de Sergipe.

4.2 Estrutura do curso

O curso Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a

vida, destinado a professores das escolas públicas do estado de Sergipe, sob o

patrocínio do governo do estado, foi promovido pela Secretaria de Estado da

Educação (SEED), por meio da Divisão de Tecnologia de Ensino (DITE), setor

vinculado ao Departamento de Educação (DED).

A emissão dos certificados aos participantes (coordenação, formadoras e

professores/cursistas) da formação ficou sob a responsabilidade do Centro de

Qualificação Profissional (CQP), órgão da estrutura administrativa da SEED.

De característica modular, a configuração metodológica contemplou estudos

on-line e presenciais, priorizando estratégias de trabalhos realizados em

colaboração e oportunizando o intercâmbio de idéias entre os professores/cursistas

de diferentes estabelecimentos de ensino. As dinâmicas enfatizaram a articulação

de conteúdos teóricos com as experiências profissionais e pessoais, sempre

pautadas em discussões e análises.

A carga horária totalizou, inicialmente, 100 horas, mas em função da

necessidade de ajustes operacionais quanto à comodidade dos

professores/cursistas na elaboração do trabalho de conclusão do curso (TCC),

ampliamos para 120.

33 Verificar no AAnneexxoo 66.

80

De acordo com o planejamento, a aula inaugural realizou-se no dia 07 de

março de 2006, no mini-auditório da DITE, contando com a participação da

coordenadora do Projeto Sentipensar, professores/cursistas, formadoras e

servidores da DITE. Treze meses passados, no seminário de encerramento

realizado nos dias 16 e 17 de abril de 2007, no Teatro Atheneu, a Profa. Dra.

Rosamaria de Medeiros Arnt mais uma vez nos presenteou com duas palestras

sobre a complexidade, transdisciplinaridade e concepções eco-sistêmicas, para um

público que superou o número de oitocentos professores. Na ocasião, os

professores/cursistas que participaram da formação, relataram a experiência do

desenvolvimento dos projetos, nas escolas.

As ministrantes e esta pesquisadora que participaram da formação eram, à

época, professoras (multiplicadoras) lotadas na DITE, integrantes do quadro do

NTE-Aracaju/SE, onde exerciam as ações do ProInfo estadual e do TV Escola. A

coordenadora do Projeto, além de acompanhar a distância todo o movimento do

ambiente, conduzira um dos módulos como formadora.

O número de inscritos no curso de formação contabilizou sessenta e um

professores/cursistas, sendo que na metade do curso computamos trinta e três e, ao

final, já contando com a perda de uma professora/cursista por óbito, concluímos com

dezenove. Essa distorção quantitativa entre a formação inicial e a final tem, na

minha avaliação, algumas justificativas. Primeiro, o número de formadores deve ser

proporcional ao de inscritos, para que todos sejam atendidos pontualmente.

Segundo, o formador deve necessariamente ter vivência prévia e conhecimento

consistente dos conteúdos a abordar. Terceiro, o professor/cursista precisa ter

acesso fácil à internet, caso contrário, perde o encanto e o interesse. Poderia

81

relacionar outros problemas, mas talvez sejam esses os motivos principais que

levaram alguns a não prosseguir viagem.

Para os encaminhamentos das estratégias, foram criadas no ambiente as

ferramentas: programação, diários, materiais, wikis e fóruns. Em programação,

constaram as agendas das atividades propostas e algumas comunicações. Diários,

recurso reservado para a auto-avaliação dos professores/cursistas que se eximiam

de expor suas fragilidades publicamente, onde apenas as formadoras tinham livre

circulação. Materiais, para armazenar todos os arquivos publicados no curso,

inclusive o conteúdo das agendas (programação). A wiikkiiss, para a elaboração de

textos coletivos, mas pouco expressiva, porque não efetivamente dinamizada. E,

fóruns, a mais significativa, em minha opinião, pela função de construir parcerias. A

ferramenta apresentou a seguinte configuração:

Fóruns gerais:

� Café – ponto de encontro, para assuntos, sobretudo informais;

� Tutoras/formadoras – espaço reservado para as formadoras;

� Informações gerais;

� Suporte técnico;

� TCC – Trabalho de conclusão do curso;

� Tira-dúvidas.

Fóruns para atividades de aprendizagem:

� Mapas conceituais – sobre o texto “O ser vivo”, de Rosamaria de Medeiros

Arnt

� Produção individual “O ser vivo” – sobre o texto de Rosamaria de Medeiros

Arnt

� Dúvidas “O ser vivo”.

82

� Questionando o Sentipensar – Texto “Diálogo sentir-pensar”, de Saturnino de

la Torre, extraído do livro: Moraes, Maria Cândida & Torre, Saturnino de la.

Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a educação.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2004;

� Fóruns das equipes – foram criados espaços para 10 equipes, para a

discussão e elaboração de um texto coletivo sobre o artigo “O que é um

grupo?, de Madalena Freire;

� O que é um grupo? – para as opiniões individuais;

� Avaliação e auto-avaliação – reflexão do andamento do curso e avaliação do

próprio cursista;

� Sobre o relato – debate sobre os textos “O festival dos sentidos” e “Mar de

Bahia”, de Saturnino de la Torre, extraído do livro: Moraes, Maria Cândida &

Torre, Saturnino de la. Sentipensar: fundamentos e estratégias para

reencantar a educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004;

� Pensando em estratégias – propostas de atividade, tomando como referência

os textos de Saturnino de la Torre, anteriormente discutidos;

� Elaboração do mini-projeto (para ser desenvolvido em equipe nas escolas);

� Dialogando sobre o filme “Quem somos nós?”;

� Fóruns das equipes – espaços para 06 grupos, discussão e elaboração do

mini-projeto;

� TCC concluídos.

83

4.3 Instrumentos para análise da ação docente

Há de se considerar que o Sentipensar, tecnologias e mídias digitais:

educando desde e para a vida foi a primeira experiência de trabalho das formadoras

da Divisão de Tecnologia de Ensino, em um curso para professor da escola pública

alicerçado em referências epistemológicas complexas e eco-sistêmicas. A ousadia

transcendeu o primeiro desafio.

O segundo desafio superado relacionou-se à proposta metodológica de

modalidade híbrida, com atividades a distância e presenciais, sendo que os

trabalhos on-line tiveram uma carga horária proporcionalmente maior do que os

presenciais: de 92 para 28 horas. Entretanto, a prática demonstrou que o período

dedicado à mediação no ambiente virtual de aprendizagem ultrapassou o tempo

previsto em mais ou menos 20 horas. Entendo essa entrega espontânea das

formadoras não apenas como uma atenção, mas também um compromisso com os

professores/cursistas que desejavam retorno relativo às dúvidas. Por outro lado,

imagino que as temáticas colocadas para discussão se encarregaram de propiciar

motivação às docentes nas atividades com os professores/cursistas. Transcrevo

abaixo mensagem de uma formadora, publicada no fórum ‘Dialogando sobre o filme

Quem somos nós?’, cujo comentário tratou do texto "A energia por trás do vento",

extraído do livro "O retorno das tribos-pássaro", escrito por Ken Carey:

“- (...) que bom que você gostou e vejo que sentiu o mesmo entusiasmo e identificação com o texto que eu, pois a primeira vez que o li estava sentada em um banco no Parque da Sementeira, em um domingo à tarde, como você diz foi "caleidoscópio". É bom a gente descobrir esta sensação de estar conectado(a)”.

A docente vale-se de uma linguagem impregnada de elementos simples para

compor um cenário com imagens do cotidiano, que dão movimento e plasticidade à

84

comunicação. Essa forma delicada e informal de se expressar vem possibilitar, mais

facilmente, uma aproximação com o interlocutor. É um gesto que proporciona a

conquista e fluência das dinâmicas, essencial em cursos desenvolvidos em rede.

O fórum representou o instrumento que permitiu ao formador dar o ritmo à

interação e onde, também, foram visualizados todos os processos complexos que

envolvem a aprendizagem. Dos afetivo-emocionais aos cognitivos. Deslizam por aí

as revelações do instante. Inexato, surpreendente. Não é o espaço do encontro, é

um espaço de encontro de energias que são acolhidas e, simultaneamente,

liberadas.

Medidas de acompanhamento ao professor/cursista foram planejadas pelas

formadoras com a elaboração e o uso de planilhas34, nas quais constaram os

campos criados no ambiente e sinalizados de acordo com a participação individual

ou em grupo. O dispositivo teve a função de permitir a visualização do itinerário dos

componentes e, com isso, orientar o docente para uma futura intervenção. Apesar

da praticidade foi pouco manuseada.

Os procedimentos de avaliação qualitativa se distinguiram pela auto-

avaliação, participação, produção e envolvimento dos professores/cursistas nos

trabalhos colocados para reflexão e debate realizados no ambiente virtual. Foram

inseridas nesse processo a apresentação de trabalhos de conclusão do curso (TCC)

e a criação de um artigo sobre a experiência na formação, ambos escritos

colaborativamente.

Após a elaboração e apresentação do trabalho de conclusão do curso (TCC)

no seminário de encerramento do curso, as formadoras encaminharam, aos

professores/cursistas, um documento de orientação35 referente à produção de um

34 Localizar modelo no AAnneexxoo 77.. 35 Conferir o texto no AAnneexxoo 88.

85

artigo, para ser publicado no endereço eletrônico36 Sentipensar – corazón pensante,

criado e mantido pelos professores Maria Cândida Moraes e Saturnino de la Torre.

36 Disponível <http://www.sentipensar.net/>.

86

5° CAPÍTULO

A PESQUISA PROPRIAMENTE DITA

87

88

O desenvolvimento desta investigação envolve um naipe de peças

interconectadas que se distinguem individualmente umas das outras na

funcionalidade, mas ao mesmo tempo se completam para dinamizar as ações que

conduzirão aos objetivos propostos.

Essa engrenagem se operacionaliza por instrumentos teóricos cedidos pela

transdisciplinaridade, pensamento eco-sistêmico e complexidade, utilizando-se de

mecanismos metodológicos estratégicos que confluem para o estudo do campo da

pesquisa.

Esta etapa discorre sobre a análise propriamente dita do trabalho, valendo-se

do recurso de categorização dos conceitos e conteúdos observados no campo de

investigação. Para isso, no entanto, as categorias devem conter elementos

impregnados de significado, para auxiliar na compreensão dos eventos e processos

complexos do ensino e aprendizagem.

Inicialmente, foram identificadas as categorias conceituais, de acordo com o

modelo misto proposto por Laville & Dionne (1999, p. 219), e na seqüência

selecionados os dados coletados dos fóruns do ambiente virtual e agrupados nas

categorias, culminando com a análise de seus conteúdos.

5.1 Categorias identificadas

As “categorias conceituais” (MORAES & TORRE, 2007) que vão auxiliar a

análise do campo da pesquisa – Curso de Formação de Professor Sentipensar,

tecnologias e mídias digitais: educando desde e para a vida, enfocando as possíveis

interfaces da transdisciplinaridade no trabalho docente, em rede virtual de

aprendizagem – constituem-se dos pilares do pensamento transdisciplinar, na ótica

89

de Nicolescu (1999), e dos sete princípios ou operadores cognitivos da

complexidade, na visão de Edgar Morin (2000; 2003).

Essas categorias deverão revelar a otimização de alguns fundamentos

transdisciplinares evidenciados pela “transgressão da dualidade que opõe os pares

binários: sujeito/objeto, subjetividade/objetividade, matéria/consciência,

natureza/divino, simplicidade/complexidade, reducionismo/holismo,

diversidade/unidade” (NICOLESCU, p. 62). Adverso à prática (cultural) disciplinar

que promove a ‘diáspora’ do processo de ensino e aprendizagem e situa a

construção do saber num mesmo e único nível de realidade, o exercício

transdisciplinar propõe, ao mesmo tempo, as relações entre as partes e o todo ou

entre o universo e o homem, como também reconhece a existência de vários níveis

de realidade.

Os princípios ou operadores cognitivos da complexidade estão assim

representados:

1. Sistêmico ou organizacional

Segundo Morin ((2000, p. 209), é o que liga o conhecimento das partes ao

conhecimento do todo e, mais adiante, citando Pascal, lembra que “é impossível

conhecer o todo sem conhecer as partes e conhecer as partes sem conhecer o

todo”. Na organização do ‘todo’ onde as ‘partes’ se lançam, há uma dinâmica

relacional-circular-recursiva que concilia a síntese à análise, o local ao global, a

parte ao todo e vice-versa. São ações que geram propriedades, eventos, fenômenos

novos, reconhecidas como ‘emergências’. Em essência, ao contrário das idéias de

dispersão e reducionistas em torno do processo do conhecimento, vem a ser um

90

movimento que estabelece vínculos recíprocos entre as partes, caracterizando-se,

nesse sentido, pela noção de complementaridade e retroalimentação na organização

do todo. É um princípio que desfaz o olhar excludente do pensamento binário ainda

presente nos espaços educacionais ou acadêmicos, onde as coisas, a vida, tudo é

percebido isoladamente. Não queremos dizer com isso que as partes não existem

na sua individualidade, sim, elas possuem uma organização autopoiética e

características próprias, mas não significa que estejam indissociadas umas das

outras. Aliás, é a relação de interdependência, de solidariedade entre os pares, que

vai facultar a formação do todo.

2. Hologramático

O operador revela o suposto paradoxo em que um elemento visual ou uma

imagem projetada tridimensionalmente de um holograma contém registros do todo

ou praticamente a “totalidad de la información del objeto representado” (MORAES &

TORRE, 2007), assim como a informação do todo (objeto) está contida em cada

parte (imagem). A complexidade e os fenômenos emergentes do holograma

demonstram que “o todo é tanto mais quanto menos que a soma das partes”. Trata-

se de uma operação integradora e uma via de mão-dupla, em que o todo retém

informações das partes e estas do todo. Tomemos como exemplo a escola que se

organiza em função de componentes considerados relevantes para seu

funcionamento, que vão desde os indivíduos até os materiais didáticos e

administrativos. Tanto aqueles indivíduos incorporam informações do ambiente

como o ambiente absorve as do indivíduo.

91

3. Retroatividade

Para Morin (2000, p. 210), o operador permite o conhecimento dos processos

auto-reguladores. Recomenda a diluição da idéia de causalidade linear, isto é, da

relação pura e objetiva de causa e efeito, em substituição pela noção de

circularidade. Podemos compreender que, para fins de organização e preservação

da autonomia e identidade dos sistemas vivos, a causa produz efeitos e estes

reagem sobre a causa, fornecendo retorno com outros dados, tal qual a ação de um

feedback. O princípio da retroatividade, de acordo com o autor, quando negativa,

propicia equilíbrio à ação, corrigindo desvios dos processos circulares –

causa/efeito/causa – no sentido de manter os sistemas vivos em funcionamento e/ou

de auxiliá-los em sua organização. Como observar, dessa forma, o princípio

retroativo na prática? Num curso de formação, por exemplo, as intervenções

parceiras, atentas e pontuais, envolvendo docentes e discentes em torno de um

determinado objeto de estudo, são circunstâncias motivadoras do processo de

conhecimento, porque possibilitam desencadear novas elaborações conceituais. No

sentido inverso, ou seja, a falta de um feedback certamente irá imprimir um estado

de paralisa no grupo, o que poderá provocar evasão, desistência ou outras situações

indesejáveis.

4. Recursividade

A recursividade vem resgatar um dos conceitos básicos da teoria

autopoiética, de Maturana e Varela, que trata dos sistemas vivos como uma unidade

92

dinâmica que se autoproduz e se auto-organiza continuamente, com a finalidade de

preservar sua autonomia e, ao mesmo tempo, sua identidade. Segundo Morin (2003,

p. 35), “(...) os efeitos ou produtos são, simultaneamente, causadores e produtores

do próprio processo, no qual os estados finais são necessários para a geração de

estados iniciais. Entendemos, portanto, que os sistemas vivos em suas conexões e

relações de intercâmbio com o meio em que se situam, apresentam a dupla função

de produzir e reproduzir-se, ininterruptamente. Em situações de aprendizagem, esse

movimento que se cumpre em forma de uma espiral nutre-se não só das

informações que o indivíduo traz consigo, mas também das contribuições publicadas

no ambiente pelos demais participantes. Essas circunstâncias de interações mútuas

que ocasionam novas experiências no processo do conhecimento podem

corresponder a um momento de organização essencial dos sistemas, visando aos

interesses do grupo.

5. Autonomia/dependência

“Todo processo biológico necessita da energia e da informação do meio. Não

há possibilidade de autonomia sem múltiplas dependências”, diz Morin (2003, p. 36),

no entanto, os sistemas vivos sentem necessidade de despender energias, isto é, os

sistemas tanto precisam gastar suas próprias energias quanto absorvê-las de outras

fontes. Nessa dinâmica de renovação e transformação que se realiza no convívio

das relações de dependência entre os componentes inseridos num ambiente, as

unidades sistêmicas, sem perder a identidade e características constitutivas, erguem

93

e fortalecem sua autonomia, processo denominado pelo autor de auto-eco-

organizacional.

6. Dialógico

Peço licença ao autor para denominá-lo princípio do encontro. Sim, porque

propõe a conciliação de processos, noções, eventos, conceitos aparentemente

antagônicos ou contraditórios, que poderiam sofrer repulsão, entretanto, como

elementos essenciais para o entendimento e aceitação de um determinado contexto,

precisam necessariamente ser pensados juntos. Um exemplo similar ao apresentado

por Morin (2003, p. 36-37) seria envolver, em uma mesma reflexão, a escola, o

corpo docente, educandos, funcionários da área administrativa, materiais didáticos,

entre outros, para uma melhor compreensão do universo educacional. A interação

entre as supostas diferenças darão sentido à análise.

7. Reintrodução do sujeito cognoscente em todo conhecimento

Esse princípio concebe a presença do sujeito não somente como um

componente integrante do meio e que pretende conhecer a realidade, mas,

sobretudo, como seu agente construtor. No pensamento complexo, o indivíduo

reincorpora seu papel de autor que manipula o conhecimento e que, como também

atua como observador, não está isolado do campo observado. A construção de

mundo, nessa perspectiva, se dá na interação entre indivíduos e o meio. Para

94

Moraes & Torres (2007), “El sujeto no refleja la realidad, sino que la construye a

través de los principios mencionados. Él es parte de una totalidad que intenta

explicar, pues la complejidad nos habla de que no existe dicotomía entre el todo y su

realidad”. Com esse entendimento, o educador como mediador da aprendizagem

deve estar aberto e atento em estabelecer parcerias consistentes, para que delas

possam emergir descobertas e produções coerentes.

Para Nicolescu (1999), os três pilares do pensamento transdisciplinar estão

assim designados: níveis de realidade, a lógica do terceiro incluído ou estado T e a

complexidade, este, já analisado pelos princípios ou operadores cognitivos.

Orientados por lógicas próprias, os diferentes níveis de realidade são

representados pelos mundos macrofísico (visível, palpável, o que vivemos) e o

microfísico (quântico, das partículas, sutil, imperceptível), cuja relação de

interdependência entre eles vai constituir o ‘real’. Podemos entender, dessa forma,

que a realidade compõe-se de dois mundos – o macro e o micro – e que, apesar de

terem individualmente características específicas e muito peculiares, coexistem,

interexistem e/ou existem simultaneamente, constituindo assim a unidade. O

pesquisador (Ibid., p. 29) explica que nível de realidade é “um conjunto de sistemas

invariantes sob a ação de um número de leis gerais: por exemplo, as entidades

quânticas submetidas às leis quânticas, as quais estão radicalmente separadas das

leis do mundo macrofísico”.

Realidade, para Nicolescu (Ibid., p. 28), tem um significado tanto pragmático

quanto ontológico, é “aquilo que resiste às nossas experiências, representações,

descrições, imagens ou formalizações matemáticas”. Nesse sentido, a abstração,

como uma operação cognitiva, é percebida como um componente integrante da

natureza e um processo intrínseco à realidade. Esta, no entanto, não somente é

95

intersubjetiva, produto da cumplicidade e criação do homem em sociedade, mas

também tem uma perspectiva trans-subjetiva. “É preciso dar uma dimensão

ontológica à Realidade, na medida em que a Natureza participa do ser no mundo”

(Ibid., p. 29). A passagem de um nível de realidade a outro ocorre quando há

rompimento das leis que regem os mundos macrofísico e o microfísico.

A lógica do terceiro incluído ou estado T, expressão introduzida pelo físico e

filósofo romeno Stéphane Lupasco, corresponde a um meio, fenômeno ou evento

que vai unir os diferentes níveis de realidade; em outras palavras, um ‘espaço’ de

conciliação, de encontro, ou um estado emergencial, com a função de interligar

contrários níveis de realidade, proporcionando o alcance de um outro nível de

realidade e assim sucessivamente. “O estado T produz a unificação dos

contraditórios A e não-A, mas esta unificação ocorre num nível diferente daquele

onde estão situados A e não-A”, diz Nicolescu (Ibid., p. 56). É a manifestação da

lógica do terceiro incluído, auxiliada pelos níveis de percepção e de consciência do

indivíduo, que mobiliza o processo de construção do conhecimento para o alcance

de outros níveis de realidade, onde está o objeto de pesquisa.

A propósito, a dinâmica desenvolvida pelo estado T para transpor os níveis de

realidade necessita trafegar por uma área livre ou isenta de ‘pré-conceitos’, que

dispensa qualquer compreensão racional ou, como deseja Nicolescu (Ibid., p. 60),

uma unidade aberta que corresponde ao sagrado, denominada zona de não-

resistência. Para Arnt (2007, p. 107), “É a zona da intuição, da compreensão pelo

amor (...)”.

96

5.2 A obtenção dos dados

O desenvolvimento das etapas do trabalho de investigação teve como

parâmetro tentar responder ao problema de pesquisa assim expresso: Quais as

contribuições da transdisciplinaridade para um curso de formação de professor, em

rede, que apresente como objetivo a criação de cenários de aprendizagem

integrada?. Esse questionamento foi levantado a partir da observação do campo de

estudo, focado no curso de formação de professor Sentipensar, tecnologias e mídias

digitais: educando desde e para a vida, disposto em ambiente virtual de

aprendizagem.

A arquitetura metodológica da formação fora intencionalmente projetada para

atender às configurações de um curso alicerçado na singularidade do pensamento

transdisciplinar, complexo e eco-sistêmico, realizado na modalidade a distância.

Entrecruzaram-se, aos enfoques teóricos e ao espaço virtual da plataforma do

Moodle, ferramentas distintas que forneceram suporte aos trabalhos pedagógicos e

promoveram a comunicação e interação entre os professores/cursistas e as

formadoras. Esse dado leva-nos a inferir que sua estrutura apresenta um desenho

em forma de rede ou teia, onde todas as peças que dinamizam a formação

estiveram vinculadas, inclusive os recursos tecnológicos do ambiente, para

intercâmbio de atividades, conversas formais e informais e produções individuais e

coletivas.

No espaço de aprendizagem, a ferramenta fórum foi a mais significativa, em

minha opinião, pela função de construir parcerias, para a produção de

conhecimentos. O recurso apresentou o formato, conforme tabela a seguir:

97

FFóórruunnss ggeerraaiiss FFóórruunnss ppaarraa aattiivviiddaaddeess ddee aapprreennddiizzaaggeemm

Café – ponto de encontro, para assuntos informais, local de ‘recreio’.

Mapas conceituais – sobre o texto “O ser vivo”, de Rosamaria de Medeiros Arnt.

Formadoras – espaço reservado para as formadoras.

Produção individual “O ser vivo” – sobre o texto de Rosamaria de Medeiros Arnt.

Informações gerais Dúvidas “O ser vivo” Suporte técnico Questionando o Sentipensar – Texto “Diálogo

sentir-pensar”, de Saturnino de la Torre, extraído do livro: MORAES, Maria Cândida & TORRE, Saturnino de la. Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

TCC – Trabalho de conclusão do curso Fóruns das equipes – foram criados espaços para 10 equipes, para a discussão e elaboração de um texto coletivo sobre o artigo “O que é um grupo?, de Madalena Freire.

Tira-dúvidas O que é um grupo? – para as opiniões individuais.

Avaliação e auto-avaliação – reflexão sobre o andamento do curso e avaliação do próprio cursista.

Sobre o relato – debate sobre os textos “O festival dos sentidos” e “Mar de Bahia”, de Saturnino de la Torre, extraído do livro: MORAES, Maria Cândida & TORRE, Saturnino de la Torre Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

Pensando em estratégias – propostas de atividade, tomando como referência os textos de Saturnino de la Torre, anteriormente discutidos.

Elaboração do mini-projeto (para ser desenvolvido em equipe nas escolas).

Dialogando sobre o filme “Quem somos nós?”.

Fóruns das equipes – espaços para 06 grupos, discussão e elaboração do mini-projeto.

TCC concluídos

Considerando o volume de informações distribuídas pelo ambiente, como

também pelos significativos registros textuais, a obtenção dos dados da pesquisa

concentrou-se nos ffóórruunnss ddee ddiissccuussssããoo. Deles, tentei direcionar o olhar para

observar as inter-relações geradas da comunicação entre as ministrantes e os

professores/cursistas, para depois agrupá-las nas categorias já selecionadas e, por

fim, analisá-las.

98

Tendo como referência os pilares do pensamento transdisciplinar e os

princípios ou operadores cognitivos do pensamento complexo, na presente

pesquisa, procurei reunir as intervenções dos participantes, entre as ministrantes e

os professores/cursistas – do curso de formação Sentipensar, tecnologias e mídias

digitais: educando desde e para a vida – em concordância com as características

dos fóruns de discussão, que comportaram dois blocos temáticos e respectivos

subtítulos.

Em ‘Fóruns gerais’, são localizadas mensagens mais informais,

descontraídas, sobretudo no ‘Café’. Nos demais, foram tratadas questões diversas,

como: dúvidas relacionadas ao manuseio das ferramentas, inserção de arquivos;

dificuldade de acesso ao ambiente ou ao uso dos próprios fóruns; dúvidas sobre os

trabalhos solicitados. O das ‘FFoorrmmaaddoorraass’ era visualizado apenas pelas ministrantes,

onde foram discutidos assuntos diversos: problemas técnicos na plataforma do

Moodle, didático-metodológico, estratégias utilizadas, conteúdos e atividades

propostas, encontros presenciais, entre outros. Em ‘Informações gerais’, podem ser

vistos assuntos diversos, mas, principalmente, comunicados detalhados sobre os

módulos a estudar e publicação dos relatórios elaborados pelas ministrantes.

No outro bloco – Fóruns para atividades de aprendizagem – as interações

convergiram para os conteúdos dos módulos, com a apresentação de trabalhos

individuais e colaborativos.

A partir dos discursos e idéias publicadas, a análise procurou compreender

como os conceitos dos pensamentos transdisciplinar e complexo atuaram ou se

apresentaram nas dimensões mentais, afetivas e emocionais dos participantes.

Aliado a esses fatores, interessou examinar se a forma de manifestação dos pontos

de vista dos sujeitos envolvidos no processo de conhecimento, tanto em relação aos

99

conceitos estudados quanto aos assuntos considerados informais, fecundou laços

de aprendizagem.

Os fóruns de discussão também forneceram subsídios para entender como as

estratégias impressas contribuíram para a criação de cenários e redes de

aprendizagem integrada, de acordo com um dos objetivos da própria formação, e

favoreceram o estabelecimento de parcerias ao menos amistosas. Sim, para esta

pesquisa é importante entender que os elos afetivos podem ser aspectos

determinantes na qualidade do nível da freqüência de energia emitida no ambiente

de aprendizagem ou campo vibracional.

5.3 Análise das categorias e dos dados obtidos

Como um espaço de interação, criação e aprendizagem, os fóruns

comportaram soberanamente estados emergentes. A cadência de novas “qualidades

e propriedades” (MORIN, 2005, p. 137) ou eventos que apareceram na ferramenta

encontra-se impressa nas linguagens textuais, intertextuais e imagéticas publicadas

pelos participantes.

Do cenário construído da combinação de diversos elementos, incluindo as

atividades formais, materiais informais, intercâmbio de pontos de vista, desdobrou-

se situações mobilizadoras de mudanças ou avanços conceituais. Foram as

emergências, num contínuo movimento, desempenhando o papel de agente na

organização do todo, revelando aqui a supremacia exercida pelo operador cognitivo

sistêmico ou organizacional. Do mesmo modo que as emergências atuaram para

organizar os processos de experiência do grupo, elas se manifestaram também

como produto da mesma organização.

100

Essa análise introdutória tenta mostrar que boa parte das categorias

selecionadas se fez presente, manifestando-se ora reunidas em blocos simultâneos,

ora privilegiando outras de forma diferenciada, numa alternância de freqüência e

inconstância. Para chegar a essa observação, invoquei o olhar da complexidade, no

sentido de entender as circunstâncias do indivíduo aprendiz no contexto das inter-

relações e das relações com o objeto de estudo. A investigação não podia mover-se

de outra maneira se não fosse permitido mergulhar na amplidão conceitual

(complexa) do pensamento complexo, transdisciplinar e eco-sistêmico. Por essas

abordagens, algumas situações permanecerão ocultas, porque indizíveis.

Das diferentes e possíveis leituras dos fóruns, destaco alguns fragmentos das

intervenções realizadas no módulo 1 entre três professores/cursistas e uma das

formadoras, cujos debates versaram em torno da Autopoiese, de Humberto

Maturana e Francisco Varela, a partir do texto “O ser vivo”. Antes, porém, esclareço

que os nomes dos depoentes inscritos nos parênteses são fictícios.

“- (...) de acordo com Maturana e Varela, devido a essas alterações, o meu pensamento mudou: não quero mais me lançar como empresária, e sim ficar somente na área da educação, lugar em que sou muito feliz! Analisando tudo, apesar de tantas mudanças, minha vida profissional sempre girou em torno da educação. A minha organização continua a mesma” (ESTRELA). “- Observo a importância, no teu caso, de ser 'prática e otimista'. Quantas 'organizações' reagiriam com otimismo às mudanças constantes de lugar? Nossas mudanças formam esta trajetória... que existe, mesmo que não pensemos nela, não é? Bom te conhecer um pouco mais...” (FLOR). “- Tentando compreender Maturana e Varela, concordo quando nos diz que as nossas realizações estão ligadas a um conjunto ou organização que nos é inerente e que de forma direta ou indireta estamos contribuindo para a existência de algo do qual também fazemos parte. As mudanças peles quais passei permitiram mudar o meu meio e contribuíram para mudar o meio no qual venho interagindo” (SOL).

101

“- Que interessante teu relato. Chama-me em especial a atenção quando destacas alguns 'detalhes', como o anúncio no rádio. Quantas pessoas devem ter escutado o mesmo que tu. No entanto, tal 'intervenção' teve em ti uma repercussão diferente de outras tantas pessoas. Maturana e Varela destacam este 'poder' limitado do meio. E eu penso em como esta convicção me faz rever minha postura em sala de aula... tenho um poder limitado de atuação como professora. Dependo da relação que estabeleço com meu aluno para que a aprendizagem aconteça... e isto, (...), me abre um mundo de reflexões, de inquietações, de reviravoltas em minha ação docente...” (FLOR). “- Também como um ser vivo estou me apresentando como (...), estudante de Letras e professora de Ballet Clássico há 24 anos. Sou natural do Rio de Janeiro, vindo morar no Nordeste, precisamente em Maceió aos 21 anos, quando me casei. Aos 25, me separei e vim morar em Aracaju. Minha estrutura já sofreu algumas modificações por esses e outros fatos acontecidos na minha vida, mas a minha organização continua preservada” (LUA). “- É bom saber sobre tua organização ("a minha organização continua preservada"). Segundo esses autores que auxiliam a fundamentar as idéias do Sentipensar, continuamos vivos enquanto nossa organização se mantém. E eles dizem também que estar vivo é estar em processo de contínuo conhecer. Legal, né?” (FLOR).

Os recortes das intervenções acima indicam a presença de categorias que se

mesclam e se revezam ao mesmo tempo, das quais especularia que houve

inicialmente mudança de nível de realidade, observada pela mudança do nível de

percepção. Em contextos específicos e muito pessoais, as reflexões assinalam a

compreensão de alguns conceitos estudados. O diálogo estimulado pela mediadora

que conduziu os trabalhos vem respaldado com o feedback pontual e necessário,

que não só ratificou as análises, como também contribuiu com subsídios

desencadeadores de novas idéias. São identificadas aqui mais duas categorias: os

operadores cognitivos dialógico e retroativo.

Da mesma conversação, evidenciam-se ainda os princípios da

autonomia/dependência e da reintrodução do sujeito cognoscente. Como um estado

inerente ao sistema vivo – Estrela, Sol, Lua, Flor – a autonomia está relacionada à

sua organização interna, que para ser atuante e continuar atuando permite-se

102

interagir com o meio, ‘esvaziando-se’ e ‘abastecendo-se’ ininterruptamente de

informações ou energias. Nenhum sistema se transforma ou sobrevive

isoladamente. O processo de ensino e aprendizagem ou de auto-eco-organização

de Estrela, Sol, Lua e Flor se efetivou na convivência, influenciando e recebendo

influências mútuas provenientes das leituras e dos diálogos mantidos no ambiente.

O princípio da reintrodução do sujeito cognoscente é visivelmente observado.

Os participantes da formação se inter-relacionaram com as circunstâncias que

acompanharam o objeto de estudo, envolvidos pelo ambiente, texto, recursos

tecnológicos, parcerias, estratégias, para elaborar e reconstruir histórias de vida com

base nos conceitos da teoria autopoiética.

O fórum ‘Questionando o Sentipensar’, do módulo 2, salta como uma

autêntica fonte reveladora de inspiração para a análise. As reflexões formuladas se

concentraram em quatro textos que auxiliaram nos debates: Carta-convite37; Diálogo

sentir-pensar; Sentir, pensar e educar; e Notas sobre a experiência e o saber de

experiência, de Jorge Larrosa Bondía. Em coerência com os conteúdos estudados,

observei que a atividade docente se desenvolveu sobre três eixos: na ‘espera

vigiada’ (expressamente revelada pela mediadora38) – que considera o tempo de

manifestação dos professores/cursistas – no rigor científico recomendado pela

transdisciplinaridade e na amorosidade, como um sentimento e uma atitude

imprescindível em qualquer trabalho docente.

Esse conjunto de fatores fez germinar intervenções praxiológicas bastante

significativas, das quais podem ser observadas algumas categorias não claramente

notadas na análise anterior, a exemplo da recursividade. Da postura colaborativa

37 Localizar o texto no Anexo 9. 38 “- Atuar em ambientes virtuais nos faz exercitar a "espera vigiada", como nos recomenda a Profa. Ivani Fazenda. Sabemos que não podemos atropelar o tempo do outro e por isso é necessário esperar. Mas não é uma espera qualquer. É uma espera 'atenciosa'. É assim que me coloco neste fórum. Aguardo o encontro com vocês para conversarmos sobre o que é o tema deste curso”.

103

que se estabeleceu no grupo, foram geradas ações sucessivas que se

caracterizaram como auto-produtoras e auto-organizadoras do processo de

aprendizagem. Seus resultados se expuseram como causadores e efeitos de novos

conceitos, modificando continuamente os estados iniciais e finais do conhecimento,

graças à mudança do nível de percepção dos sujeitos que ‘se encarregou’, por sua

vez, de mudar o nível de realidade.

Transcrevo, abaixo, alguns diálogos entre os professores/cursistas e a

mediadora, que podem refletir as categorias comentadas:

“- O processo educacional precisa tomar um novo rumo: valorizar as emoções dos envolvidos (...). Seria uma mudança de valores, do sistema, de como direcioná-la, dos objetivos traçados. A proposta do texto é maravilhosa! Educar para sentipensar é proporcionar a todos um novo caminho, novas perspectivas. É educar no sentido macro, levando em consideração e valorizando o “eu” de cada um. Essa mudança é possível! Acredito que, cada um de nós, educadores, de alguma forma, pode contribuir para que isso aconteça, de fato” (FOLHA). “- (...) temos perspectivas a partir de teorias que nos ajudam a pensar na multidimensionalidade humana. Introduzindo aqui uma idéia de complexidade, diria é que educar no sentido macro, sim, mas também no micro. Vamos integrando, observando a complementaridade existente na própria natureza” (FLOR). “- As teorias podem sim muito nos ajudar, pois o que seria do empírico sem a teorização do conhecimento? Mas as teorias têm que se adaptar à realidade de cada lugar, de cada pessoa, para se tornarem aplicáveis e necessárias” (TERRA). “- Sim, se não contextualizarmos, reduzimos as teorias, reduzimos a realidade, caímos no equívoco da simplificação da realidade” (FLOR). “- Ontem choveu o dia inteiro. Eu estava triste, angustiada e pensamentos negativos povoavam a minha mente, por fim tive insônia. Hoje continua chovendo, mas não sei bem porque esses sentimentos deram lugar a uma sensação de aconchego e tranqüilidade. Daí, fiquei a me perguntar: como uma mesma situação pode produzir sentimentos tão diferentes? Será que determinadas situações mexem com o nosso emocional ou será que o emocional cria as situações?” (MAR).

104

“- De acordo com Maturana, o 'emocionar' cria um 'domínio operacional'. E aí, podemos pensar que se estamos contentes, uma chuva nos faz ter sensações que reforçam este sentimento. O inverso também pode ser assim interpretado. (...) não somos só emoções. E por isso, não estamos à mercê das emoções. Nossa razão interfere nos estados interiores, pois faz parte de nossa 'estrutura'. Somos seres complexos, e isto pode nos dizer que não nos explicamos com poucas palavras. Acredito que uma única teoria não dá conta de nos 'mostrar' tudo de nós mesmos” (FLOR). “- (...) resolvi parar, respirar um pouco! Na verdade esse convite (...) torna-se para mim uma provocação, para que valorize mais meus sentimentos. Acho que a experiencia que tenho tido na vida comunitária me ajuda a entender isso. A experiência é fundamental na nossa vida. Seja ela qual for. Na educação também é assim. Vejo que meus alunos aprendem mais quando o conteúdo da disciplina tem uma boa dose de afeto, do vivido” (RIO). “- Será que isto também vale para nós? Que experiência educacional mais nos marcou? Por que?” (FLOR). “- Gostaria que você esclarecesse como os indivíduos têm idéias diferentes e chegam ao consenso? De que forma? Não há conflitos?” (BRISA). “- As pessoas podem se reunir com idéias comuns, com objetivos semelhantes. Como somos humanos diferenciados e vivemos em sociedade, temos pensamentos divergentes e sempre haverá conflitos, porém isso não impede (e não deverá ser um empecilho) de chegarmos a um acordo e alcançarmos a meta desejada. Isto é trabalho em grupo: opiniões diferentes, objetivos comuns” (CHUVA).

As tensões, dúvidas e dificuldades de compreensão do objeto pesquisado

pelo professor/cursista foram desfeitas pela ação da lógica do terceiro incluído,

empreendida por meio da ingerência das mediadoras, que contribuíram para a

passagem de um nível de realidade a outro ou auxiliaram na interconexão dos

mesmos. Sem essa dinâmica, o processo de conhecimento não teria se

concretizado.

105

Um dos exemplos mais claros da

atuação da lógica do terceiro incluído

na emergência caracterizada pelo

silêncio do grupo pôde ser notado a

partir de um convite feito por uma das

ministrantes aos professores/cursistas,

por meio de uma imagem (acima), que teve a função de persuadir a participação,

com reflexões cruzadas entre os elementos contidos na figura e as mensagens da

Carta-convite e do texto O que é um grupo?. A seguir, algumas intervenções que se

insinuam como uma ação do estado T:

“- (...) acho que eu estou me sentindo o próprio gato. A próxima reflexão é... o que faz o gato avançar assim? Ops... não sei! Será que se junta ao sentimento de temeridade um raciocínio que sustenta outra ação que não a fuga? Sentir? Pensar?” (FLOR). “- Olhando a imagem dos cachorros e do gato, (...), eu me perguntei: - que atitude estaria cada um deles armando para o gato? Divaguei sobre algumas respostas. Acho que nenhum atacou o gato, pois se assim o fizesse todos os outros cairiam sobre ele (...). Ou, então, não houve ataque porque cada um temia que existisse no grupo outro que fosse mais forte e pudesse reclamar sua autoridade” (MAR). “- Observando a imagem (...) comecei a me interrogar? O que faria cada cachorro para atacar o pobre do gatinho? Refleti e acho que nenhum cão o atacou. Porque se é um grupo de várias cabeças pensantes é claro que alguém mais forte (...) irá impedir que algo de ruim aconteça” (BRISA). “- Esta ousadia do gatinho mostra como ele está vendo a realidade, neste momento. Sim, depende de como ele os vê. Logo, sua ação está imbricada com seu sentir e seu pensar. Um não se separa do outro. E aí pergunto... para continuarmos a conversa... Qual o peso de nossos sentimentos em nossas ações?” (FLOR). “- É um prazer discutir sobre sentimentos. Diante do seu questionamento digo que também já me senti como os cães da figura, prestes a atacar, muitas vezes consegui resistir e procurei reagir de forma madura, sensata (...), porém confesso que algumas vezes não resisti e parti para o ataque, ação da qual não me orgulho nem um pouco (...)” (TERRA).

106

“- Este curso está ficando cada vez melhor, estou impressionada como você captou o sentimento (...) e "jogou" esta imagem que mexeu com tanta gente, você conseguiu nos instigar e nos levar a intensificar os diálogos, adorei” (TERRA).

Desloco a leitura para os demais fóruns, na intenção de identificar se ou como

transitou o fluxo de informação pela zona de não-resistência do nível de percepção

do sujeito transdisciplinar em relação ao nível de realidade do objeto observado.

Desempenhando um papel similar ao da lógica do terceiro incluído, a zona de não-

resistência, sendo um componente conceitual da transdisciplinaridade, se diferencia

do estado T como uma área aberta, livre de pré-conceitos, que propicia o acordo dos

níveis de realidade e de percepção, para o entendimento do real que transcende a

qualquer explicação racional. Retomo as palavras de Arnt (2007, p. 107) sobre a

zona de não-resistência: “É a zona da intuição, da compreensão pelo amor (...)”.

Talvez uma região onde habita nossa “íntima humanidade39”, os olhares éticos e

estéticos; a criação artística; os mistérios. Talvez de onde surjam os insights na

construção de mundo, da conexão entre sujeitos e os diversos elementos que nos

rodeiam.

Para apreciação, apresento, em seguida, alguns enunciados aleatórios

extraídos dos fóruns, publicados pelos participantes da formação, que possivelmente

desfilaram pela zona de não-resistência:

"- Lembrem-se de que a educação é coisa do coração (São João Bosco)”. “- Trabalhar para o Senhor não paga muito. Mas o plano de aposentadoria é o paraíso”. “- Entre nossas intenções está a proposta de estratégias que criem circunstâncias que potencializem nossa capacidade de conhecer, refletir, construir, re-construir, criar, re-criar, através de passos enriquecidos pela solidariedade e compromisso, alegria e

39 Título da obra poética de Iara Vieira (2003).

107

entusiasmo. E sorrio, encantada com a perspectiva de acompanhar esses passos (...)”. “- (...) podemos cantar a vida, a paz, a alegria, as dores do povo, as lutas". “- Meus alunos são Deficientes Mentais, de uma pureza invejável. Aliás, trabalhar com eles, só me engrandece cada vez mais. Passei a enxergar a vida com outros olhos".

“- (...) que a humanidade siga sempre o caminho da paz, realizando uma educação consciente e co-responsável”. “- (...) desejo que os cientistas descubram a cura para as epidemias que assolam os povos, como também desejo que aqueles que praticam o mal sejam regenerados e procurem o caminho do bem”.

O operador cognitivo hologramático emergiu na maioria das dinâmicas

realizadas, de modo que os enunciados submetidos a estudo e os conceitos

debatidos foram decodificados e compreendidos por todos os professores/cursistas.

A exceção observada foi conferida na atividade referente à consecução de mapas

conceituais, quando algumas ‘poeiras’ dificultaram o entendimento, embora, ao final,

após esclarecimentos, todos tenham apresentado um produto.

O destaque das categorias citadas nos lembra o realce de alguns

instrumentos musicais na execução de uma sinfonia por uma numerosa orquestra,

que combina acordes de sons variados para gerar melodia, harmonia e ritmo à obra.

Da massa composta de diversas informações dos fóruns pelas docentes e

discentes, as emergências, como um conceito embutido nas categorias, se

sobressaíram para dar o compasso e fluência na dissertação subjetiva da análise.

Os pilares da transdisciplinaridade e os operadores cognitivos da

complexidade como categorias forneceram múltiplas leituras e permitiram algumas

descobertas. Minha experiência foi uma circunstância muito pessoal, quando

procurei me amparar em dois eixos fundados nos mencionados princípios

epistemológicos: tentar aprofundar as reflexões em torno de um conceito localizado

108

e óbvio e ampliar espacialmente o olhar para relacionar aquelas categorias às

diversas intervenções dos fóruns. Como resultado dessa dinâmica, percebo que

houve, por um lado, uma certa linearidade e hierarquia em seu decurso, mas, por

outro, tornou possível visualizar e apontar as categorias cruzando-as com os

diálogos proporcionados pelas linguagens textual e imagética.

Finalizo esta análise investigativa consciente de que alguns conceitos

permaneceram sutilmente secretos e, por isso, reflete-se como um trabalho

inacabado. Dele, serão vistas ambigüidades, próprias de quem tentou submergir no

universo do pensamento transdisciplinar, explorando os seus pilares e os

operadores cognitivos da complexidade. Como uma pesquisa inconclusa, deixo aqui

um convite à sua reconstrução e/ou expansão de conceitos, com pontos de vistas

que não precisam e nem devem ser consensuais, mas que falem de possibilidades.

109

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início desta pesquisa, expressei meu desejo de ter a ‘esperança’ como o

estado regente de todo o desenrolar das reflexões, mesmo sabendo da

imprevisibilidade das circunstâncias que seriam vivenciadas durante o percurso. Mas

a esperança, nesse contexto, compreendida como uma emergência conceitual do

pensamento complexo e talvez como uma condição ou evento da zona de não-

resistência da transdisciplinaridade, significa possibilidade. Como o possível que nos

mobiliza e nos transforma. Assim sendo, imagino que minha trajetória na

investigação foi movida por esse sentimento, em meio aos passeios pelas leituras e

descobertas.

Revelado o problema de pesquisa - Quais as contribuições da

transdisciplinaridade para um curso de formação, em rede, que apresente como

objetivo a criação de cenários de aprendizagem integrada? - a análise não podia se

desenvolver pelos hábitos dos parâmetros da objetividade e linearidade. Em alguns

momentos, inevitavelmente, se mostraram presentes, mas não exerceram soberania

sobre as variáveis subjetivas, inter/transubjetivas e complexas recomendadas pela

abordagem transdisciplinar. A partir dessas e outras orientações, foram delineados

alguns objetivos que me conduzissem a encontrar a resposta do problema de

pesquisa.

Consciente e intencionalmente, a investigação se deslanchou na análise

sobre o pensamento ocidental determinista e racionalista, lembrando que o

educador brasileiro do século XX herdou conceitos e construiu valores de caráter

disciplinar e fragmentário. Modelo que reflete nos processos de mediação dos

110

trabalhos escolares, a exemplo dos conteúdos desarticulados do contexto e da

forma de avaliar onde o conhecimento produzido pelo aluno é mensurado

quantitativamente e sem direito a feedback. Existem outros problemas, que me

isento de descrevê-los mais uma vez. A idéia agora é tentar resolvê-los, sim. Existe

solução? Não tenho dúvida. De que forma e por onde começar? Implementando

mudanças a partir da formação docente.

Os cursos de formação docente devem erguer sua metodologia com base em

estudos que percebam a natureza impermanente de uma estrutura autopoiética ou

reconheçam o estado transitório dos sistemas vivos, tal qual sustenta a concepção

complexa. A complexidade sugere o pensar como um esboço de uma teia

constituída de elementos diferentes, não-linear, flexível e aberta, recheada de fios

(tênues) que ligam e interconectam as partes ao todo e vice-versa, numa dinâmica

de auto-organização e autoprodução. Nessa abordagem, nada é observado

isoladamente, como o falso purismo do olhar cartesiano, ao contrário, tanto o

indivíduo retém informações do meio, quanto o meio contém registros do indivíduo.

Há profunda relação entre os opostos, entre sujeito e objeto, ordem e desordem,

objetividade e subjetividade, que convergem para a unidade, não mais para a

fragmentação.

Os cursos para professor devem se pautar nas propostas do pensamento

eco-sistêmico, integrador, que concilia teorias, conceitos e processos, que propicia a

conjunção de diferentes dimensões – discurso/prática, matéria/espírito,

razão/emoção, arte/química – atuando em espaços estruturalmente acoplados. São

diferentes, porque possuem lógicas próprias, que se inter-relacionam

reciprocamente por laços imperceptíveis, em nome dos estados de consciência e em

circunstâncias únicas. São elos que mobilizam um novo perfil de educador, um

111

profissional que cuide do aluno em sua individualidade e sistemicamente,

observando-o como um sujeito conectado com as redes digitais da informação e

comunicação. Para o homem do século XXI, o ciberespaço é um canal tecnológico,

que viabiliza também encontros entre pessoas para aprendizagem e criação, como o

Sistema de Universidade Aberta do Brasil (UAB40), o Programa de Formação Inicial

para Professores do Ensino Fundamental e Médio (Pró-licenciatura41), ambos do

Ministério da Educação, e tantas outras Instituições de Ensino Superior (IES)

brasileiras que lidam com educação a distância.

A mudança que se pretende nos cursos de formação docente implica em um

grande processo de transformação pessoal do educador, o que naturalmente irá

incidir nos âmbitos social e profissional. Trata-se de uma reconstrução de

consciência e pensamento. Essa reconstrução envolverá o desenvolvimento de um

projeto centrado em estratégias metodológicas apoiadas em pesquisas que visem à

criação de cenários e redes de aprendizagem integrada, compreendidos como

ambientes de interação social e vibracional. Como entender um ambiente

vibracional? Um campo que contém matéria ou energia condensada – homem,

objetos, animais, plantas, componentes do reino mineral – que se manifesta em

freqüências energéticas, num movimento em rede. Convém esclarecer que a

qualidade de vibração relaciona-se, intimamente, à freqüência da energia que circula

no ambiente. O modo como a energia intercede no campo é que vai indicar o nível

da freqüência vibracional. Há uma constante e ininterrupta interação entre as

40 “Seu objetivo é de estimular a articulação e integração de um sistema nacional de educação superior. Esse sistema é formado por instituições públicas de ensino superior, as quais se comprometem a levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros”. Disponível em <http://uab.mec.gov.br/conteudo.php?co_pagina=20&tipo_pagina=1>. Acessado em 27/02/2008. 41 “O Pró-Licenciatura é um programa de formação inicial que será desenvolvido em parceria com Instituições de Ensino Superior (IES), públicas, comunitárias ou confessionais, objetivando atender professores dos anos/séries finais do Ensino Fundamental e/ou do Ensino Médio de sistemas públicos de ensino que não tenham a habilitação legalmente exigida para a função”. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/proli_an3.pdf>. Acessado em 27/02/2008.

112

energias a potencializar a ação nos espaços vibracionais, criando outros estados

energéticos e produzindo uma sucessão de campos diferentes.

Cientes dessas informações e inspirada na obra de Maria Cândida Moraes e

de Saturnino de la Torre, a formação docente que repercuta positivamente na

mediação pedagógica deverá se realizar em cenários e redes de aprendizagem

integrada, tendo como referência uma metodologia focada na ecologia dos saberes.

O pensamento ecologizado atua para confluir os conhecimentos científicos e

humanísticos; conhecimentos procedentes de culturas diferentes que se unem aos

acadêmicos, para a expansão da consciência humana, para o exercício da

cidadania, da ética, da amorosidade, dos sentimentos e emoções.

Verifiquei que este trabalho se apresenta social e cientificamente relevante

pela proposta inovadora sobre a formação e a prática docente, tendo como meta

uma “educação para a vida” e para a paz, que restaure a inteireza humana,

integrando as dimensões emocional, intelectual, física, espiritual. Os princípios

transdisciplinares, a complexidade e o pensamento eco-sistêmico representam, no

momento, a fonte teórica de reforma da educação que desejamos para o povo

brasileiro.

113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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115

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116

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117

Anexos

118

ANEXO 1

MAPA GEOGRÁFICO DO ESTADO DE SERGIPE

119

ANEXO 2 SITE E ABORDAGEM SISTÊMICA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Profa. Lucila Maria Pesce de Oliveira Novembro de 2000.

Muitos autores têm se dedicado ao estudo da natureza dos sistemas dinâmicos.

Contudo, nestas breves linhas, pautar-nos-emos na teoria autopoiética de Maturana e

Varela.

Segundo a abordagem autopoiética, se considerarmos a evolução de um organismo,

na perspectiva dos sistemas dinâmicos, perceberemos como um organismo - em sua

crescente auto-organização, frente ao seu acoplamento estrutural ao meio - altera

constantemente suas estruturas, para manter sua organização intrínseca42. Essa dinâmica

requer do organismo constantes reorganizações.

Pensemos num hotel em baixa temporada. Se ele não alterar suas estruturas não

conseguirá manter sua organização (continuar aberto). Desta forma, um hotel em baixa

temporada aproveita para fazer suas reformas, realocando os próprios funcionários em tais

atividades. Além disso, propõe também pacotes econômicos para excursões, famílias e

empresas, oferecendo os mesmos serviços a preços bem menores. Desta forma, alterando

suas estruturas (em relação à alta temporada), o hotel consegue manter sua estrutura.

Assim também ocorre com cada um de nós. Ao longo da vida vamos alterando nossas

estruturas (físicas, intelectuais, psicológicas, etc.) para mantermos nossa organização

intrínseca. É assim que as pessoas nos reconhecem, mesmo após vinte anos; porque

mantemos nossa organização intrínseca, nossa identidade, apesar das contínuas alterações

que sofremos vida afora.

Sob o enfoque autopoiético, o organismo em si é percebido como um micro-sistema

dinâmico, que por sua vez interage com o meio ao qual pertence, mediante constantes e

crescentes reorganizações de cada uma das suas partes. Essa dinâmica relacional entre o

organismo e o meio, ocorrente entre as partes e entre as partes e o todo, garante o

processo de adaptação evolutiva deste ser e deste sistema.

42 Pense no quanto as estruturas corporais e metabólicas de um urso se alteram no período de hibernação, para que seja garantida a sua sobrevivência (organização intrínseca).

120

Dito de outra forma, a abordagem sistêmica, além de enfocar o relacionamento do

organismo (parte) com o meio ao qual pertence (todo), percebe o organismo em si como um

micro-sistema dinâmico, que se auto-organiza constantemente, frente às novas condições

do meio ao qual ele pertence. Essa auto-organização interfere no meio, que, por sua vez,

interfere no organismo. Tudo isso ocorre de maneira recursiva.

Pensemos num aluno que traz para o seu dia-a-dia escolar toda a problemática de

ser um viciado em drogas. O contexto escolar como um todo (comunidade, professores,

direção, colegas, etc.) deverá se mobilizar para solucionar a problemática trazida pelo aluno.

Poderá haver grandes alterações, em nível de relacionamentos pessoais, conscientização,

acompanhamento e ‘força moral’ para o aluno conseguir libertar-se do seu vício. Se houver

todas estas alterações de estrutura no contexto social do aluno, ele próprio (percebido como

um micro-sistema) poderá reagir positivamente, auto-organizando-se frente às novas

condições oferecidas pelo seu meio (mais diálogo, mais carinho, mais apoio...). Com sua

reação positiva, o contexto escolar como um todo sairá desse processo modificado

(inclusive sabendo lidar melhor com situações como esta).

Se pensarmos na Internet como um sistema dinâmico e em cada site como micro-

sistemas dinâmicos, verificaremos que o site está baseado na estrutura hipertextual, a qual,

como vimos no outro texto, dispõe suas informações de maneira não linear. Ao clicar sobre

uma palavra ou frase, o usuário deste hipertexto obterá informações mais complexas e

detalhadas sobre a palavra ou frase clicada. Essa dinâmica relacional permite a cada um

dos usuários trilhar um percurso informacional segundo seus interesses e esquemas

mentais. Além disso, a estrutura hipertextual permite um grande aprofundamento sobre um

determinado conceito. Isso não seria possível numa estrutura textual linear, sob o risco do

referido texto perder sua coesão e sua coerência.

Na construção de um site é importante que você esteja atento para o quanto a

alteração de um arquivo ligado hipertextualmente requererá uma nova reorganização do

hipertexto como um todo. Por isso é tão importante que você construa um fluxograma do

site, percebendo seus links de ida e volta, para que tenha condições de reorganizá-los,

sempre que necessário.

Considerando que o seu site seja de natureza dinâmica, por refletir as várias etapas

do seu processo (e de seus alunos) ao longo deste curso de pós-graduação, é fundamental

que você esteja atento para os elos nodais de significado, que interligam um arquivo ao

outro, na estrutura totalizante do seu hipertexto.

121

Para que você se sinta mais confortável, escolha como links palavras ou frases que

realmente expressem o significado do conteúdo trabalhado no arquivo a ser acessado por

esse link. Outra dica é você salvar estes arquivos com nomes significativos ao conteúdo

neles tratado. Isso poderá facilitar muito a construção do fluxograma do seu site. E não se

esqueça: quando fizer uma alteração em um determinado arquivo, não basta dar um

upload43 somente deste arquivo; é necessário que você também verifique se este arquivo

continua ‘dando liga’ com o arquivo de link de origem e/ou de destino.

Pensando no usuário que navegará pelo seu site, é importante que você tente

‘garantir’ que ele não se perca na navegação. Nesse contexto, é bom estar atento a alguns

detalhes que facilitam a navegação do usuário do seu site:

• esteja atento aos links de ida e volta,

• dê acesso, em todos os arquivos, à primeira página do site e à página anterior,

• disponibilize na primeira página um menu de opções de navegação, um contato

com você (via e-mail) e uma mensagem sucinta e clara do conteúdo do seu site (Do que

se trata? Qual o seu público alvo? Quais seus objetivos? Etc.)

A percepção do site numa abordagem sistêmica atenta para a necessidade de se

pensar nas inter-relações internas e externas44 deste site. Bom trabalho!

Referências bibliográficas:

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 4ª

ed., Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.

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MATURANA, H. (1997). El sentido de lo humano. 9ª ed. Chile: Dolmen ediciones.

MATURANA, H. e VARELA, F. (1995). A árvore do conhecimento. Campinas: Editorial

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Porto Alegre: Artes Médicas.

OLIVEIRA, L. M. P. Rede de papéis: contribuições telemáticas à formação do leitor crítico.

São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Dissertação, Mestrado, 1999.

43 Upload é inserção de determinado arquivo ou programa em rede. Já download é a baixa de um arquivo que está em rede no seu computador. 44 Internas: arquivos do hipertexto criados por você. Externas: links com outros sites.

122

ANEXO 3

SOBRE A BIBLIOTECA

Conteúdos da ‘biblioteca’

Mensagem da ‘agenda’ armazenada na ‘biblioteca’

123

ANEXO 4

CARTA DA TRANSDISCIPLINARIDADE45

Preâmbulo

Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;

Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;

Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;

Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano individual e social são incalculáveis;

Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta;

Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;

Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de 1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.

Artigo 1: Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estrutura formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.

Artigo 2: O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.

Artigo 3: A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio

45 Disponível em <http://www.cfh.ufsc.br/~let/carta.htm>. Acessado em 11 de fevereiro de 2008.

124

sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

Artigo 4: O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade definição e das noções de ‘definição’ e ‘objetividade. O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento.

Artigo 5: A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas, mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.

Artigo 6: Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte trans-histórico.

Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.

Artigo 8: A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.

Artigo 9: A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.

Artigo 10: Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.

Artigo 11: Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.

Artigo 12: A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.

Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, qualquer que seja sua origem – de ordem ideológica, cientificista, religiosa, econômica, econômica, política, filosófica. O saber compartilhado deveria levar a uma compreensão compartilhada, baseada no respeito absoluto das alteridades unidas pela vida comum numa única e mesma Terra.

Artigo 14: Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.

125

Artigo final: A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.

Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.

Comitê de Redação: Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu.

(Adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Convento de

Arrábida, Portugal, 2 - 6 novembro 1994)

126

ANEXO 5

PROJETO PÁSCOA

Sentipensar na formação de professores para o uso das TICs

Sentipensar na formação de professores para o uso das TICs é um projeto vinculado

ao Programa Educando desde e para a Vida, sob coordenação de Maria Cândida Moraes

(PUC/SP) e Saturnino de la Torre (Univ. Barcelona), visando unir uma série de ações que

nos permitam “colaborar para a consolidação de uma escola-cidadã e a emergência da

civilização da re-ligação, da civilização-cidadã. Uma civilização sintonizada na sinergia da

complementaridade, da solidariedade, da revalorização da vida e preocupada com a

interdependência dos processos vitais”.

1. Objetivos

• Trabalhar as questões da tecnologia apontadas pelos professores, numa perspectiva

que envolva:

a) A valorização e defesa incondicional da vida;

b) O resgate da cidadania e a valorização da diversidade cultural;

c) O reconhecimento e a preservação da multiculturalidade;

d) O desenvolvimento de uma cultura de paz e não-violência, bem como de

uma cultura de sustentabilidade social e ambiental;

e) Maior conscientização ambiental e reflexão sobre os hábitos de consumo;

f) O incentivo ao aprendizado cooperativo;

g) A descoberta do potencial criativo da comunidade;

h) O resgate da ética integral.

• Propiciar interação entre atividades de escolas do mesmo estado, envolvidas no

projeto bem como entre escolas de diferentes estados, através de ambientes digitais

de aprendizagem.

• Propiciar interação entre alunos de diferentes estados, caso seja do interesse dos

professores.

• Criar com os professores uma memória do projeto, visando publicação no site do

Sentipensar (http://www.sentipensar.net).

127

2. Metodologia

O projeto será desenvolvido com atividades semi-presenciais, configuradas da

seguinte forma:

• As atividades de formação serão realizadas na própria escola;

• As atividades serão planejadas a partir da configuração de um cenário, formado

através do levantamento dos interesses e necessidades dos professores;

• A partir do cenário criado, os pontos levantados serão trabalhados com base na

fundamentação teórica do Programa Educando desde e para a Vida, visando a

posterior discussão da teoria a partir da prática vivenciada conjuntamente;

• Planejamento conjunto de ações para vivência com os alunos, com discussão e

reflexão através de ambiente digital;

• Interação com professores das demais escolas envolvidas no projeto, propiciando a

troca de experiências e diálogo sobre processos e resultados obtidos;

• Estará em qualquer momento aberta a possibilidade de interação também entre

alunos das diferentes escolas participantes, dependendo da vontade dos

professores;

• Para as interações, realização de atividades e acompanhamento, será utilizado o

ambiente virtual de aprendizagem Teleduc.

3. Justificativa

Esta formação parte do princípio que é preciso ir ao encontro das dificuldades dos

professores, estabelecendo parcerias. Desta maneira, considera-se a importância do

contato com o ambiente de trabalho do professor, que pode propiciar ao formador maior

compreensão do contexto escolar.

Visando também a parceria, o planejamento específico das atividades de formação

será criado em conjunto, a partir do levantamento de necessidades, interesses, dificuldades

dos professores.

Tendo em vista a dificuldade de trabalharmos todos juntos por um longo período de

tempo, e pela característica teórico-prática do projeto, foi escolhida a modalidade de

formação semi-presencial. Desta forma, viabiliza-se também a interação entre professores

das diversas escolas participantes, ampliando as discussões sobre as práticas vivenciadas.

A metodologia do projeto encontra-se fundamentada nas teorias do pensamento eco-

sistêmico e da complexidade, que consideram as incertezas da própria experiência humana

também fazendo parte de um ambiente de aprendizagem. Da mesma forma, ao nos

organizarmos como grupo, abrimos espaço para o inesperado, para as emergências, que

surgem através das interações baseadas no respeito, na escuta ao outro, no

128

estabelecimento de relações que nos permitam a construção do trabalho e aprendizagem

colaborativos. Compreendemos que desta forma atendemos também aos princípios

delineados por Paulo Freire, quando fala que os grupos de formação devem ter uma

liderança democrática, alerta, curiosa, humilde e cientificamente competente.

4. Cronograma

As atividades de formação serão organizadas em módulos de 40 horas. O

cronograma de ações será estabelecido em conjunto, multiplicadores e professores,

inclusive com especificação de carga horária presencial e a distância.

Os cronogramas poderão ser divulgados entre as escolas participantes, visando

facilitar as interações entre os grupos.

5. Avaliação

Os procedimentos de avaliação privilegiarão a auto-avaliação e a produção dos

professores a partir das atividades desenvolvidas em sala de aula. Serão consideradas

também as participações no ambiente digital e o os resultados advindos das discussões

interescolares, entre professores e alunos.

Espera-se obter, no encerramento do projeto, relatos dos professores sobre as

práticas em sala de aula, com o objetivo de publicação no site do Programa Educando

desde e para a Vida.

6. Parceria Este projeto prevê o estabelecimento de parceria entre NTE e PUC/SP, através do

programa de Pós-graduação em Educação: Currículo, através da coordenação geral do

programa sob responsabilidade de Maria Cândida Moraes e coordenação operacional do

Sentipensar na formação de professores para o uso das tecnologias, de Rosamaria de

Medeiros Arnt.

7. Anexos Em anexo a este Projeto, a íntegra do Programa Educando desde e para a Vida;

carta da UNESCO, com a chancela às publicações que fundamentam o Programa, de

autoria dos coordenadores do mesmo; carta de apresentação do Programa de Pós-

graduação em Educação: Currículo, da PUC/SP.

129

ANEXO 6

PROJETO DE FORMAÇÃO

GOVERNO DE SERGIPE

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

DIVISÃO DE TECNOLOGIA DE ENSINO

PROPOSTA DE FORMAÇÃO

SENTIPENSAR, TECNOLOGIAS E MÍDIAS DIGITAIS: EDUCANDO DESDE E PARA VIDA

Coordenação do Projeto e orientação: Profa. Dra. Rosamaria de Medeiros Arnt

Coordenação do curso: Profa. Acássia Araújo Barreto Ministrantes: Profa. Cleide Ginalva dos Santos Profa. Gilvanda Dias Profa. Margareth Cristóvão Ramos

1. Identificação da instituição executora: Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE)/Divisão de Tecnologia de Ensino (DITE) – Aracaju / SE 2. Título do Projeto: Sentipensar, tecnologias e mídias digitais: educando desde e para vida 3. Objetivos:

• Discutir e refletir sobre o paradigma eco-sistêmico e a complexidade, que

fundamentam o Projeto Sentipensar;

• desenvolver, com professores-alunos, situações didáticas fundamentadas no

Sentipensar e Aprendizagem Integrada (Torre, 2004), utilizando as diferentes

linguagens (mídias) e as tecnologias da informação e comunicação;

130

• planejar situações de aprendizagem para ser vivenciadas com os alunos e discuti-

las, por meio de ambiente digital, entre os professores-alunos das escolas dos

diferentes estados do Brasil;

• relatar as experiências das atividades desenvolvidas em sala de aula, visando à

escrita de artigos coletivos de maneira colaborativa como produto do curso,

utilizando como meio de interação e construção coletiva a ferramenta Wiki, do

ambiente digital Moodle.

4. Justificativa

A presente proposta visa experienciar e discutir situações didáticas fundamentadas

no Sentipensar e Aprendizagem Integrada utilizando-se das mídias e das tecnologias da

informação e comunicação (TIC), compreendendo o sentir e o pensar como duas formas

complementares de se perceber a realidade46.

No dizer dos autores do Projeto Sentipensar, Maria Cândida Moraes e Saturnino de

la Torre, esta proposta tem por finalidade colaborar para a transformação da educação à luz

de um novo paradigma eco-sistêmico levando em consideração os princípios da UNESCO:

aprender a ser, aprender a fazer, aprender a aprender, aprender a conviver, aos quais

acrescentamos o aprender a decidir e superar a adversidade e aprender a amar.

Este trabalho vincula-se ao Programa Educando desde e para a Vida, de autoria de

Maria Cândida Moraes e Saturnino de la Torre, e ao Projeto Sentipensar, na formação de

professores, sob a coordenação de Rosamaria de Medeiros Arnt.

5. Problema de pesquisa Apesar das várias iniciativas do governo federal brasileiro, em parceria com estados

e municípios, com a implementação de programas voltados para o uso das mídias e TICs,

numa tentativa de reencantar a educação no país, pelas possibilidades de construir

atividades lúdicas, encontramos um grande número de professores desmotivados com seu

papel, quando entendemos que o educar e o aprender se consolidam a partir de atividades

prazerosas. Nessa perspectiva, que projeto de formação poderemos propor, de modo que

professores e alunos se sintam felizes no ambiente escolar e que o ensino e aprendizagem

façam sentido?

46 Torre, Saturnino de la & Moraes, Maria Cândida, Projeto Sentipensar: estratégias para reencantar a educação, 2004. Disponível em <http://www.sentipensar.net/pdf/sentipensar.pdf>.

131

6. Público Alvo Este trabalho destina-se a professores de escolas públicas, do Ensino Fundamental

e Médio, localizadas no estado de Sergipe, a realizar-se na modalidade semi-presencial.

7. Metodologia

Na metodologia do curso, tanto em atividades presenciais como a distância, estão

previstos trabalhos que permitam a incorporação da dimensão emocional junto à cognitiva e

à pragmática, objetivando propiciar o comprometimento com a educação para a vida,

através de recursos e estratégias multissensoriais, oferecidos pelas mídias e tecnologias da

informação e comunicação, de modo que a palavra seja enriquecida com imagens, músicas

e expressões corporais, bem como processos mais adequados e desafiantes de

aprendizagem.

Pretende-se elaborar o planejamento conjunto de ações, para vivência com os

alunos, discussão e análises, através do ambiente digital, proporcionando a troca de

experiências entre professores-alunos, das escolas dos diferentes estados do Brasil.

Cada grupo de professores-alunos terá módulos de formação presencial nas

dependências da Divisão de Tecnologia de Ensino, com as professoras formadoras, e as

interações a distância ocorrerão através do ambiente digital:

http://www.contato.pro.br/moodle/, gentilmente, cedido pela mestra Rosamaria de Medeiros

Arnt, que estará coordenando e orientando os trabalhos a distância.

O diário de bordo ou outra ferramenta similar deverá ser utilizada para registro de

informações e reflexão do processo vivido, com vistas a subsidiar posterior elaboração de

artigos coletivos e colaborativos, com o propósito de desenvolver a criatividade e autoria dos

professores participantes na formação.

A carga horária será de 120 horas, sendo um encontro quinzenal de quatro horas

cada, totalizando assim 28 horas presenciais e 92 a distância, com atendimento on-line, via

messenger ou outro canal virtual que possibilite a comunicação sincrônica.

132

8. Dinâmica da atividade e proposta preliminar dos módulos (detalhamento das

ações).O curso apresenta-se dividido em seis módulos, com atividades presenciais e a

distância.

MÓDULOS / CARGA HORÁRIA

CONTEÚDO ATIVIDADES RECURSOS

1º Módulo – 8 horas

Texto: “O que é um grupo?, de Madalena Freire.

Presencial (aula inaugural): - abertura com a apresentação do Projeto Sentipensar, pela Profa. Rosamaria de Medeiros Arnt; - apresentação dos participantes e da proposta do curso; - formação do grupo – vínculos para a parceria; - criação de e-mails. A distância: - utilização do ambiente colaborativo de aprendizagem Moodle, para registro da apresentação dos participantes; - leitura, análise, discussão e elaboração de um artigo, com base no texto “O que é um grupo?”, de Madalena Freire.

Material impresso; computador - CD-Rom, internet e editor de textos.

2º Módulo – 8 horas

Moodle - ferramentas do ambiente digital de aprendizagem.

Presencial: - oficina básica do Windows (criação de pastas etc); - oficina de internet – reconhecendo as ferramentas do Moodle; - canais de busca. A distância: - nos fóruns do Moodle: conversa sobre as expectativas e discussão sobre o texto “O que é um grupo?”; - registro, no diário de bordo, dos avanços e dificuldades encontradas durante o presente módulo.

Computador - Windows, internet.

3º Módulo – 30 horas

Conceitos e Fundamentos do Sentipensar - Pensamento Eco-sistêmico e Complexidade.

Presencial: - apresentação do filme/documentário em DVD “Quem somos nós?”; - conversa sobre mapas conceituais e fundamentos do Sentipensar; - oficina sobre o uso do CMap; - exercício prévio para elaboração de mapas conceituais. A distância: - discussão no fórum acerca dos conceitos e fundamentos do Sentipensar - o Sentipensar em sala de aula; - elaboração (em grupo) de mapas conceituais; representação de conceitos através da imagem visual; - análise sobre o documentário “Quem somos nós?”; - registro, no diário de bordo, dos avanços e dificuldades encontradas durante o presente módulo.

Computador - internet; CMap; PaintBrush e outros editores de imagens. DVD

4º Módulo – 12 horas

Cenários do Sentipensar e

A distância: - discussão no fórum sobre “aprendizagem integrada”; - levantamento de atividades desenvolvidas pelos professores, que contemplem a aprendizagem integrada, por meio de documento; - planejamento de atividades ou mini-

Computador - internet.

133

Aprendizagem Integrada.

projeto, juntamente com os alunos, tomando como base o Sentipensar (criação de cenários), contemplando as mídias e TICs; - intercâmbio entre os professores de Sergipe e Mato Grosso, utilizando o ambiente digital de aprendizagem Moodle; - registro, no diário de bordo, dos avanços e dificuldades encontradas durante o presente módulo. Presencial: - apresentação do vídeo “O Ponto de Mutação”; - relato e reflexão em torno das atividades que serão desenvolvidas em sala de aula.

5º Módulo – 30 horas

Prática projetada - vivenciando e refletindo os cenários elaborados.

A distância: - análise sobre o vídeo “O Ponto de Mutação”; - intercâmbio entre as escolas envolvidas na capacitação (professores e alunos), para discutir sobre os trabalhos realizados; - relato das ações desenvolvidas nas escolas, utilizando o portfólio do Moodle; - debate no fórum sobre as atividades realizadas; - registro, no diário de bordo, dos avanços e dificuldades encontradas durante o presente módulo. Presencial: - conversa sobre os trabalhos desenvolvidos com os alunos, pontuando avanços e dificuldades.

Computador – internet e outros recursos

6º Módulo – 12 horas

Resultado dos trabalhos produzidos durante o curso.

A distância: - polinização escrita e publicação dos artigos individuais e coletivos no Moodle, com reflexão sobre a prática, fundamentada no pensamento Eco-sistêmico e Complexidade e no Sentipensar; - registro, no diário de bordo, dos avanços e dificuldades encontradas durante o presente módulo, correspondendo à auto-avaliação e avaliação do curso. Presencial: - apresentação final dos trabalhos, nas instituições envolvidas no curso.

Computador - internet

7° módulo – 20 horas

* Elaboração do Trabalho de conclusão do curso (TCC); * elaboração do artigo.

A distância: acompanhamento às equipes durante a escrita do TCC e do artigo. Presencial: seminário de apresentação dos TCC.

Computador – PowerPoint e internet

134

9. Cronograma de execução – 2006 / 2007

Período: 2006 – 2007 Módulos Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Nov/Dez Mar/Abr

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º

Datas previstas dos encontros presenciais: 07/03/2006 – Aula inaugural 28/03/2006 – 2º encontro 11/04/2006 – 3º encontro 25/04/2006 – 4º encontro 09/05/2006 – 5º encontro 23/05/2006 – 6º encontro 13/06/2006 – 7º encontro 27/06/2006 – 8º encontro 08/08/2006 – 9º encontro 22/08/2006 – 10º encontro 12/09/2006 – 11º encontro 15/04/2007 – Seminário de encerramento do curso.

10. Avaliação A avaliação será processual, através do acompanhamento tanto das atividades

presenciais como a distância, culminando com os trabalhos de conclusão do curso (TCC) e

um artigo coletivo-colaborativo, que serão escritos ao final do curso.

135

Referências bibliográficas: ARNT, Rosamaria Arnt. O olhar da experiência ótima na formação de professores em tecnologia da informação e comunicação. São Paulo: Programa de Pós-graduação em Educação: currículo, PUC/SP. Dissertação de mestrado, 2001. BOHM, David. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena, 2005. CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 2001. ________. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix. 2003. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2000. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 1998. ________. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: 34, 2000. MATURANA, Humberto & VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001. ________. De máquinas e seres vivos: autopoiese – a organização do vivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. MORAES. Maria Cândida & TORRE, Saturnino de la. Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencantar a educação. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004. MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. ________. Pensamento eco-sistêmico e educação, aprendizagem e cidadania no Século XXI. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004. MORIN, Edgar & MOIGNE, Jean-Louis le. A inteligência da complexidade. São Paulo: Peirópolis, 2000. MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001. ________. Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2003. NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: TRIOM, 1999.

136

ANEXO 7

PLANILHAS DE ACOMPANHAMENTO

Turma A

Turma B

137

ANEXO 8

ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO ARTIGO

CURSO DE FORMAÇÃO SENTIPENSAR, TECNOLOGIAS E MÍDIAS DIGITAIS: EDUCANDO DESDE E

PARA A VIDA

Orientações para a elaboração do artigo 1. Introdução

Descrever como se originou a experiência e o interesse na proposta do projeto desenvolvido na escola, entre outros aspectos pertinentes.

2. Relato da experiência

Descrição das situações vivenciadas, procurando se revelar e desvelar.

3. Metodologia - caminhos percorridos para colocar o projeto em ação (passo a passo).

4. Análise da experiência, baseada em fundamentação teórica do curso e outras abordagens reconhecidas como significativas em sua prática; reflexão sobre a aprendizagem proporcionada pelo projeto, destacando as contribuições para a docência e para a vida.

5. Considerações finais

Observações: 1. capa – título do artigo; constar os nomes dos autores do artigo; período da escrita do

artigo; localização (cidade/estado); 2. Formatação do texto: * Tamanho do papel: A4 * Margens:

superior - 3 cm inferior - 2 cm esquerda - 3 cm direita - 2 cm

* Tipo e tamanho da fonte - Times New Roman ou Arial - 12 * Espaçamento entre linhas - 1.5 * Número de páginas – entre 6 e 10 páginas Salvar o arquivo na extensão “doc.”. O artigo será publicado no ambiente na extensão “pdf”.

138

ANEXO 9

CARTA-CONVITE...

O propósito do Módulo 2 é iniciarmos a discussão dos fundamentos do sentipensar, para que possamos, posteriormente, planejar ações educacionais envolvendo tais fundamentos.

Mas antes de discutirmos, gostaria que este módulo não se restringisse a uma discussão teórica, mas que pudéssemos vinculá-lo a uma prática que nos permitisse pensar em inteireza humana.

Para tanto, faço uma sugestão, ou melhor, um convite:

Durante este módulo, antes mesmo de ler o texto proposto para iniciarmos nossa conversa, e a cada vez que entrar no ambiente para ler e/ou comentar algo, pare um pouco...

Feche os olhos e respire...

Simplesmente respire conscientemente um certo número de vezes (3, 5, 10 – você escolherá quantas vezes).

Para auxiliar na concentração, pode ir dizendo mentalmente, acompanhando o movimento da respiração:

• inspiro – expiro (um); • inspiro – expiro (dois)... • ... Agora, preparado(a), pense na comunidade que se formou neste curso e lance-se à

atividade/leitura/escrita. Afinal, ao chegarmos a este ambiente, temos um encontro! ☺

Qual o efeito? Qual o significado de unir o pensamento a uma ação mecânica de nosso corpo, tornando-a consciente? Vamos, depois de estudarmos um pouco, conversar sobre isto?

Por enquanto, fica o convite à respiração consciente. Será fácil? Será difícil? Será possível? Será confortável? Será um absurdo? Respostas que só obteremos se tentarmos... vamos lá? ☺

Com esta proposta, introduzimos no curso uma parte prática... propondo um gesto de interrupção47 na corrida diária para nos aprofundarmos em idéias, conceitos, refletindo também sobre nossa própria forma de ser, sentir, pensar.

Eis a carta... Eis o convite... Aguardo vocês...

Com carinho Rosinha

47 Segundo Jorge Larrosa, o gesto de interrupção nos faz ser sujeitos da experiência, permitindo que a experiência nos aconteça e, consequentemente, que aprendamos com ela. Segundo este autor, para o gesto de interrupção precisamos parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (Obs: a íntegra deste texto está na Biblioteca, em Textos complementares)

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