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1 PONTUALIDADE TOTAL: UM MODELO CONCEITUAL PARA A GESTÃO DA PRODUÇÃO SOB ENCOMENDA Por Eduardo G. M. Jardim e Ricardo Sarmento Costa

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PONTUALIDADE TOTAL:

UM MODELO CONCEITUAL PARA A

GESTÃO DA PRODUÇÃO SOB ENCOMENDA

Por Eduardo G. M. Jardim e Ricardo Sarmento Costa

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O papel estratégico do sistema de planejamento e controle

Qual o ponto de partida para o projeto de um sistema de controle capaz de

propiciar as vantagens competitivas ?

Ora, a competitividade de uma empresa é conseguida pelo esforço articulado

de suas várias funções visando a melhoria da performance nos fatores que afetam

decisivamente a satisfação dos clientes. A função de planejamento e controle é,

nesse sentido, apenas um dos instrumentos que compõem uma estratégia

competitiva e sua contribuição varia de acordo com a natureza do objetivo que se

quer alcançar.

Por exemplo, a conformidade do produto às especificações ou, mais

especificamente, a meta de ter 100% dos produtos fabricados dentro dos padrões

combinados, embora fundamental no ambiente de produção por encomenda, foge

em princípio ao escopo estrito de atuação das atividades de planejamento e controle.

De fato, o momento para assegurar a conformidade do produto com as

especificações é antes e quando ele está sendo fabricado. Nesse sentido, a

tecnologia do processo e os próprios operadores são os principais agentes de

melhoria da qualidade, desempenhando o sistema de controle apenas um papel

secundário no alcance desse objetivo.

Em contrapartida, o potencial da atividade de planejamento e controle na

busca de uma boa performance de entrega é muito expressivo. Estudos indicam que

numa planta típica "job-shop" um item dispende, em média, mais de 80% do seu

tempo de produção em filas, aguardando processamento. Filas são a expressão de

uma situação de concorrência por recursos escassos e consequentemente a decisão

gerencial de prioridades, sequenciamento e programação tem um impacto muito

grande sobre o cumprimento de prazos.

3

Nesse sentido, o planejamento e controle é exatamente a função mais

adequada para tratar essa questão de uma forma integrada, fazendo com que a

decisão de sequenciamento tomada na fábrica seja feita em correspondência aos

requisitos de prazo vindos do mercado.

Em função disso, assume-se que a Pontualidade Total é o objetivo principal

a nortear a concepção do sistema de controle.

O termo é cunhado aqui para expressar a meta de entregar 100% dos

pedidos no prazo, dentro do orçamento e de acordo com as especificações técnicas

previamente combinadas. Ou ainda, de forma mais abrangente, para caracterizar o

desenvolvimento junto ao cliente de uma reputação de excelência em termos de

cumprimento de prazos, capaz de garantir uma vantagem competitiva estratégica e

duradoura (figura 1).

PONTUALIDADE TOTAL É

Programar e controlar a produção tendo como meta

Entregar 100% dos pedidos no prazo

de acordo com as especificações técnicas e o orçamento combinado

e assim

desenvolver junto ao cliente uma reputação de excelência

em termos de cumprimento de prazos

Figura 1: Pontualidade Total

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Muitas vezes, porém, esse objetivo pode ser muito dispendioso ou mesmo

impossível de ser alcançado. Nesses casos, será também papel do sistema de

controle permitir ao programador visualizar antecipadamente os custos e benefícios

de um leque de alternativas de processamento, cada qual considerando diferentes

hipóteses de priorização, ajuste do nível de capacidade, renegociação do plano de

materiais, dentre outras possíveis ações gerenciais.

Isso é relevante porque, se de um lado, na produção sob encomenda, o

preço é um aspecto qualificador tratado a priori numa negociação entre as partes

(transcendendo, nesse sentido, a órbita de influência da função de planejamento e

controle), de outro, a lucratividade é bastante influenciada pela atividade de

programação no curto prazo. Note-se que estando pré-fixado o preço no

orçamento, o lucro da empresa está diretamente relacionada a sua capacidade de

produzir com baixo custo.

Quanto a rapidez e flexibilidade de entrega, aspectos que estão

estruturalmente relacionados ao objetivo básico de Pontualidade Total, o sistema de

programação e controle é também, possivelmente, a ferramenta chave para

implantar estratégias que favoreçam um bom desempenho nesses fatores.

É um instrumento de rapidez porque, como mencionado, a espera em filas

de máquina (um aspecto profundamente ligado à definição de prioridades e à função

de programação das atividades) é o fator que mais afeta a velocidade de

processamento dos itens através da planta.

É um instrumento básico para prover flexibilidade de entrega (isto é, a

capacidade de adequar-se a novas situações e prioridades) porque permite que o

programador (i) visualize antecipadamente os impactos dos fatos novos e

imprevistos que se colocam no dia-a-dia; (ii) desenvolva e avalie as alternativas que

permitam acomodar essas oportunidades sem prejuízo dos compromissos já

assumidos e (iii) reprograme-se a tempo e de forma eficiente.

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Quanto as flexibilidades de produto e mix também relevantes na produção

sob encomenda, cabe dizer que esses tipos de flexibilidade são providos

fundamentalmente pela disponibilidade de tecnologias de processo flexíveis

(máquinas e arranjo físico) e mão-de-obra polivalente multifuncional. O papel do

sistema de controle como provedor dessas vantagens fica, nesse sentido, restrito a

representação das flexibilidades existentes no processo de planejamento visando

sua exploração sistemática.

A figura 2 resume o conteúdo dessa seção apresentando os objetivos

fundamentais que devem nortear o projeto do sistema de programação e controle na

produção sob encomenda.

Objetivos fundamentais para o projeto do sistema de programação e controle

Principal: Pontualidade Total

Relacionados: Lucratividade e baixo custo

Rapidez de processamento

Flexibilidade de entrega

Figura 2: Objetivos fundamentais para o projeto do sistema de programação e controle

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Direcionando o sistema de controle para Pontualidade Total

Diretrizes relacionadas à pontualidade

Identificados os objetivos fundamentais para o projeto do sistema, o próximo

passo é a identificação das linhas de ação que podem conduzir à Pontualidade Total.

A figura 3 apresenta algumas práticas de planejamento, programação e

controle relacionadas à idéia de desenvolver uma "reputação" positiva junto ao

cliente, como cumpridor pontual de prazos.

1) Planejar antecipadamente

2) Programar realisticamente considerando os limites existentes de capacidade

3) Programar com folga

12) Prometer prazos e/ou decidir aceitar encomendas considerando os compromissos já assumidos

13) Acompanhar o andamento e a pontualidade dos processos internos

5) Explorar as possibilidades de sequenciamento existentes

7) Explorar as possibilidades de ajuste do nível de capacidade (e.g. horas-extras, subcontratações )

8) Explorar as possibilidades de apressamento (i.e expeditação) de pedidos urgentes

14) Replanejar rapidamente e sempre que fatos significativos aconteçam sem terem sido previstos

9) Explorar as possibilidades de antecipação do recebimento de materiais críticos

6) Explorar as possibilidades ligadas ao uso de máquinas e roteiros alternativos

10) Explorar as possibilidades ligadas ao uso de projetos, processos e materiais alternativos

11) Antecipar para os clientes possíveis problemas de entrega, quando inevitáveis

4) Programar detalhadamente o curto prazo

Figura 3: 14 práticas de planejamento e controle para privilegiar a pontualidade

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O quadro apresentado certamente não é exaustivo mas ilustra um conjunto

significativo de estratégias de planejamento e controle que podem ser adotadas

visando a Pontualidade Total, na produção sob encomenda.

Diretrizes relacionadas à lucratividade, rapidez e flexibilidade

Além das 14 diretrizes citadas relacionadas diretamente à meta de ser

pontual, o projeto do sistema de controle deve ainda considerar o objetivo de,

simultaneamente com o objetivo de pontualidade, prover rapidez, flexibilidade e baixo

custo de processamento.

A figura 4 abaixo lista seis outras práticas de planejamento e controle

relacionadas a esses objetivos secundários.

18) Programar para dispor dos equipamentos o mais cedo possível (e faturar o quanto antes)

19) Conhecer (representar) as alternativas de gestão de curto prazo para exploração sistemática

15) Evitar grandes antecipações na produção de componentes não-críticos

16) Apresentar os custos e benefícios de cada possível solução de programação

17) Identificar as operações e recursos críticos para concentrar neles os ajustes de capacidade

Baixo custo

Rapidez

Flexibilidade

20) Conhecer (representar) as alternativas de processamento existentes para exploração sistemática

Figura 4: 6 práticas de gestão visando lucratividade, rapidez e flexibilidade

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Diretrizes de implementação

Adicionalmente, não como uma diretriz conceitual, mas sim como uma diretriz

de implementação, sugere-se que o sistema seja de simples operação e baixo

custo, já que o conjunto de empresas de produção sob encomenda reúne em sua

maioria indústrias de pequeno porte.

Não obstante, para que esse requisito de baixo custo não comprometa a

eficiência da abordagem de “tentativas e erros” pretendida, a implementação do

sistema deverá privilegiar a velocidade de processamento.

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A visão estratégica e o ponto de vista operacional

O conceito de Pontualidade Total é decorrente de observações feitas sobre a

forma como as empresas onde sistemas de programação com capacidade finita estão

sendo implantados se relacionam com os seus clientes.

Correspondentemente, os 20 pontos citados revelam, nesse sentido, práticas

utilizadas por essas empresas e/ou práticas de planejamento desejáveis, conforme

expresso implicita ou explicitamente em depoimentos de diretores dessas empresas,

programadores de fábrica e pelos seus próprios clientes.

É interessante notar que esses 20 pontos foram desenvolvidos a partir de

uma análise do comportamento do mercado, leia-se a atitude dos clientes em relação

aos seus pedidos. Não obstante, todas as estratégias apontadas estão diretamente

relacionadas à pelo menos uma das seis preocupações operacionais selecionadas

como cruciais no chão-de-fábrica da produção sob encomenda, quais sejam: (i)

programação das atividades, (ii) gestão de curto prazo, (iii) promessa de prazos, (iv)

orçamento, (v) rastreabilidade e (vi) replanejamento.

A figura 5 faz esse cruzamento entre o ponto de vista estratégico e o

operacional agrupando os 20 pontos identificados em conjuntos que guardam

relação com aquelas questões selecionadas no chão-de-fábrica.

A conclusão é clara e confirma a premissa proposta: intuitivamente o chão-

de-fábrica da produção sob encomenda já se estrutura para a pontualidade. A

questão é que, sem um instrumento adequado, a gestão se torna extremamente

complexa.

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1) Planejar antecipadamente 2) Planejar realisticamente considerando os limites existentes de capacidade3) Programar com folga

12) Prometer prazos e/ou decidir aceitar encomendas considerando os compromissos já assumidos

13) Acompanhar o andamento e a pontualidade dos processos internos

5) Explorar as possibilidades de priorização existentes

7) Explorar as possibilidades de ajuste do nível de capacidade (e.g. horas-extras, subcontratações ) 8) Explorar as possibilidades de apressamento na fábrica (i.e expeditação) de pedidos urgentes

14) Replanejar rapidamente e sempre que fatos significativos aconteçam sem terem sido previstos

9) Explorar as possibilidades de antecipação do recebimento dos materiais

6) Explorar as possibilidades ligadas ao uso de máquinas e roteiros alternativos

10) Explorar as possibilidades ligadas a o uso de projetos, processos e materiais alternativos

11) Antecipar para os clientes possíveis problemas de entrega, quando inevitáveis

18) Programar para dispor dos equipamentos o mais cedo possível

19) Conhecer (representar) as alternativas de gestão de curto prazo para exploração sistemática

15) Evitar grandes antecipações na produção de componentes não-críticos

16) Apresentar os custos e benefícios de cada possível solução de programação

17) Identificar as operações e recursos críticos para concentrar neles os ajustes de capacidade

20) Conhecer (representar) as alternativas de processamento existentes para exploração sistemática

Programação das atividades

Gestão de curto prazo

Promessa de prazos

Orçamento

Rastreabilidade

Reprogramação

4) Programar detalhadamente o curto przao

Figura 5: As 20 diretrizes de Pontualidade Total agrupadas em torno das principais questões

de planejamento e controle da produção sob encomenda

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Estruturando conceitualmente o sistema de controle

Definidas as linhas de ação que devem parametrizar o projeto lógico de um

sistema de planejamento e controle da produção sob encomenda, é tempo agora de

investigar como podem ser combinados os elementos das várias tecnologias de

gestão disponíveis para compor um modelo integrado e coerente capaz de prover as

vantagens competitivas identificadas como relevantes. Nesse sentido os dez pontos

abaixo apresentam as características construtivas que definem o modelo de gestão

concebido:

(a) Para programar antecipada e detalhadamente (diretrizes 1 e 4) o curto prazo,

testando hipóteses de processamento no futuro que permitam identificar eventuais

problemas e possíveis soluções, a utilização de um modelo determinístico e

computacional de simulação discreta parece ser apropriada. Essa técnica permite

antecipar situações cujo teste na vida real poderia ser inviável ou mesmo desastroso.

Além disso, os objetivos (que muitas vezes são conflitantes entre si) e as alternativas

de gestão de curto prazo podem ser tratados no modelo sem perda de foco e com o

grau de detalhe desejado para uma exploração sistemática (diretriz 19).

(b) Além disso, para que os resultados obtidos pela simulação tragam de fato

uma contribuição efetiva para a gestão de chão-de-fábrica, é preciso que o modelo

esteja integrado a uma base de conhecimento que retrate a ampla gama de

alternativas de processamento existentes. É o modelamento, no computador, da

informação sobre essas inúmeras flexibilidades de processamento (diretriz 20) que

possibilita o funcionamento consistente do algoritmo de simulação, produzindo

resultados úteis, vistos como projeções reais do futuro pelos próprios operadores.

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Registre-se que o modelamento da flexibilidade de processamento é um

processo bastante delicado, especialmente porque na produção sob encomenda, a

variedade de itens e serviços é a marca registrada. Uma mesma operação pode,

em geral, ser feita de muitas formas, utilizando-se diferentes recursos, com

eficiências distintas. Trata-se de um conhecimento que está em geral disperso com

os encarregados de fábrica ou com a Engenharia de Processos, quando essa existe

formalmente. Entretanto, fazendo uso de abordagens de Tecnologia de Grupo,

pode-se grupar os serviços segundo o tipo de operação realizado, as dimensões da

peça, a precisão requerida, dentre outros aspectos, construindo-se assim,

dinamicamente, a base de conhecimento mencionada.

(c) Para planejar realisticamente considerando os limites de capacidade do

sistema (diretriz 2) é preciso que o modelo incorpore elementos da lógica de

planejamento com "capacidade finita”. Cada programa gerado precisa ser factível e

passível de imediata implantação no chão-de-fábrica sem maiores ônus para a

gerência. De outro modo, caso por exemplo uma abordagem de "capacidade

infinita" seja utilizada, então a conjugação dessa técnica com a variabilidade do

problema induzirá demasiado "nervosismo" ao sistema. Uma carga excessiva de

decisões de carregamento e ajustes de capacidade tenderá a ser deixada para o dia-

a-dia do chão-de-fábrica com perda da visão de conjunto.

(d) Para programar com folga (diretriz 3) e liberar os recursos o mais cedo

possível para fazer frente a novas encomendas (diretriz 18), a lógica de

planejamento para frente (isto é, programação pela data mais cedo) revela-se

oportuna e apropriada. Empresas que trabalham por encomenda são de algum

modo "vendedoras" da sua capacidade de produção sendo razoável, portanto, que

os gerentes tentem melhorar a utilização dos seus recursos produtivos, não apenas

como forma de aumentar a produtividade, mas também para garantir capacidade de

atender novas ordens que surjam no futuro.

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(e) Para que seja simples ao usuário combinar e avaliar os impactos das várias

possíveis ações gerenciais - quais sejam, priorização e sequenciamento (diretriz 5),

máquinas alternativas (diretriz 6), ajustes do nível de capacidade (diretriz 7),

expeditação (diretriz 8), ajustes do plano de materiais (diretriz 9) e renegociação de

prazos com clientes (diretriz 11) - o modelo deve reter em sua lógica parte da

complexidade do problema liberando o usuário para se concentrar na análise dos

custos e benefícios de cada alternativa simulada, tarefa onde a participação do

elemento humano é realmente fundamental e decisiva.

Para tanto o modelo deve incorporar características “inteligentes”, para ser

capaz de:

i. identificar a falta/excesso de capacidade ao longo do horizonte de planejamento;

ii. analisar os vários ajustes propostos pelo usuário tomando as decisões

pertinentes para a sua simulação e

iii. prover relatórios sobre os custos e benefícios desses ajustes.

(f) Essa característica “inteligente” do sistema não deve funcionar, entretanto,

como uma “caixa preta” que congele a tomada de decisão numa lógica permanente e

imutável, fora do controle do programador. A formulação do problema é dinâmica

(isto é a carteira de pedidos varia, os objetivos e prioridades também) e, em

consequência, dinâmica deve ser também a estratégia de solução (diretriz 14).

Nesse sentido, a utilização de um modelo aberto e flexível é indicada para permitir

que o programador informe (e possa alterar a qualquer tempo) as lógicas de decisão

adotadas.

(g) A utilização conjunta das técnicas de "planejamento com capacidade finita" e

"programação pela data mais cedo" sugerida aqui nos itens c e d respectivamente

traz, por certo, dificuldades ligadas à sincronização de componentes para

montagem (diretriz 16). Isto é, componentes não-críticos têm a sua fabricação

programada para antes de seu aproveitamento efetivo no processo, como ilustrado

na figura 6.

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Produto A

Montagem

Fabricaçao de B Fabricação de C

Item B Item C

Material de B Material de C

Recurso 1

Recurso 2

Recurso 3

Fabricação de C

Fabricaçao de B

Montagem

Antecipação

Árvore de fabricação do Produto A Programação de fabricação de A no tempo

Figura 6: Antecipação gerada pela lógica de programação pela data mais cedo

Essa questão, porém, pode ser contornada utilizando-se uma programação

de compras como dado de entrada para o problema de sequenciamento. De acordo

com essa solução, um plano de compras é feito antecipadamente com base numa

lógica de "data mais tarde" e "capacidade infinita", como a utilizada pelo MRP-II.

Isto é, partindo-se da data de entrega do produto, são deduzidos os tempos

de produção (inclusive tempos de transporte e estimativas “superdimensionadas” de

fila que funcionam como pulmões estabelecidos pelo programador) das várias

operações até obter-se o instante indicado para a disponibilidade dos materiais.

Essa datas são utilizadas para a compra dos materiais e, por conseguinte, definem

um limite para a antecipação dos caminhos não-críticos (já que mesmo na lógica de

"programação pela data mais cedo" as operações só são programadas quando os

materiais estão disponíveis). A situação resultante é ilustrada pela figura 7.

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Produto A

Montagem

Fabricaçao de B Fabricação de C

Item B Item C

Material de B Material de C

Recurso 1

Recurso 2

Recurso 3

Fabricação de C

Fabricaçao de B

Montagem

Árvore de fabricação do Produto A Programação de fabricação de A no tempo

Folga

Disponibilidade

do material de B

Disponibilidade

do material de C

Figura 7: Programação pela data mais cedo feita a partir de um plano de compras elaborado com base num planejamento de data mais tarde

Como se vê, utilizando-se o plano de compras como dado de entrada para a

programação, obtem-se uma solução intermediária entre a "programação feita pela

data mais cedo" e a "programação de data mais tarde" (vide figura 8) onde o

problema de sincronização tem sua dimensão expressivamente reduzida. Tudo

se passa como se pulmões de tempo (como preconizados pelo OPT) fossem

introduzidos na programação. As eventuais antecipações que se verificam na

fabricação de componentes não críticos são de pequena monta e funcionam como

folgas "salutares" (diretrizes 3 e 18) que garantem uma certa flexibilidade à

programação exata, gerada pela lógica de capacidade finita.

Produto A

Montagem

Fabricaçao de B Fabricação de C

Item B Item C

Material de B Material de C

Recurso 1

Recurso 2

Recurso 3

Fabricação de C

Fabricaçao de B

Montagem

Árvore de fabricação do Produto A Programação de fabricação de A no tempo

Folga nula

Figura 8: Folga nula decorrente da lógica de programação pela data mais tarde

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(h) Visando a redução dos custos de processamento, o sistema precisa ser

capaz de identificar as operações e recursos críticos para concentrar neles os ajustes

de capacidade que eventualmente venham a ser adotados (diretriz 17). Em outras

palavras, é preciso que o sistema seja capaz de identificar caminhos críticos e

"gargalos" de produção, em tempo de simulação.

Esse requisito pode ser atendido integrando técnicas de avaliação de redes

(do tipo das utilizadas pelo PERT/CPM) dentro da lógica básica de simulação. Isto

é, pode-se estimar, para cada uma das operações que vai ser sequenciada, a data

mais tarde em que essa operação precisa começar para que o pedido a ela

associado não atrase. Dispondo-se dessas datas sempre que um item for ser

colocado numa fila, durante a simulação, para processamento posterior, sua

criticidade será avaliada comparando-se o relógio da simulação com essas datas-

mais-tarde previamente calculadas e, dependendo do caso, seu processamento será

agilizado.

(i) Visando planejar e prometer prazos realistas que considerem os

compromissos já assumidos (diretriz 12), a atividade de (re)programação das

tarefas precisa ter o suporte de um sistema de informações capaz de detectar a

qualquer momento, o estado da planta (i.e em termos do que já foi processado e do

que ainda está pendente). Com efeito, a consistência da projeção futura feita pelo

simulador depende também do conhecimento preciso da situação corrente real.

Esse acoplamento é também essencial para que seja possível replanejar

rapidamente sempre que fatos aconteçam sem terem sido previstos (diretriz 14).

Registre-se ainda que, independente desses benefícios ligados à promessa de

prazos e reprogramação, o ônus de criar e manter essa base de dados atualizada

é certamente justificado de per si, pela necessidade gerencial de acompanhar o

andamento e a pontualidade dos processos internos (diretriz 13), a partir de

informações confiáveis sobre compras, produção, carteira de pedidos, produtos,

processos e capacidade da fábrica.

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(j) Por fim, no espírito da moderna visão de gestão que assinala a necessidade

do sistema funcionar integrado num ciclo de “planejamento, ação, controle e

reprogramação”, é preciso que não apenas os programas sejam gerados

coerentemente com os objetivos estratégicos da empresa, mas é necessário que os

resultados sejam aferidos e o sistema reorientado, se este for o caso (diretriz 14).

Para tanto, medidas de performance ligadas aos objetivos estratégicos

precisam ser definidas para mensurar os custos operacionais e os benefícios das

várias soluções de programação simuladas (diretriz 16). Também, para orientar o

usuário na análise desses dados o sistema deve prover dicas e orientações que

guiem o programador no processo de tomada de decisão.

(k) Quanto às diretrizes de implementação relacionadas a baixo custo, facilidade

de operação e velocidade de processamento (diretriz 21), sugere-se que o

desenvolvimento seja feito para uso em microcomputadores e que o algoritmo de

simulação seja todo implementado em memória, evitando-se acesso a disco durante

o processamento do algoritmo, para privilegiar a velocidade de resposta.

18

Um modelo híbrido de gestão para a produção sob encomenda

A figura 9 resume o conteúdo da seção anterior descrevendo, numa única

tabela, as características e objetivos considerados como desejáveis no modelo e a

sua forma de implementação conceitual. Ressalte-se a natureza híbrida do modelo

resultante onde aspectos das várias tecnologias de gestão da produção estão

combinados em torno do objetivo da Pontualidade Total.

19

Num Diretrizes para o projeto do sistema de controle Técnica relacionada

1 Planejar antecipadamente Simulação discreta 4 Planejar detalhadamente o curto prazo Modelo determinístico

19 Representar as possibilidades de gestão de curto prazo

Modelo computacional

20 Representar a flexibilidade do processo p/ exploração sistemática

Base de conhecimento

Tecnologia de grupo

2 Planejar realisticamente Planejamento capacidade finita

3 Programar com folga Pulmões de tempo 18 Dispor dos equipamentos o mais cedo possível Programação para frente

5 Explorar as possibilidades de priorização e sequenciamento

6 Explorar as alternativas de processamento 7 Explorar as possibilidades de ajuste do nível de

capacidade Procedimentos “inteligentes”

8 Explorar as possibilidades de apressamento no chão-de-fábrica

9 Explorar as possibilidades de alteração do plano de compras

Modelo aberto

10 Explorar as possibilidades de projeto e materiais alternativos

11 Antecipar para os clientes possíveis problemas de entrega

15 Evitar antecipação dos itens não-críticos Planejamento hierárquico

17 Identificar os recursos e operações críticas para a pontualidade

Técnicas de avaliação de redes

12 Programar e dar prazos considerando compromissos assumidos

Sistema de informações

13 Acompanhar o andamento e pontualidade dos processos internos

Modelo dinâmico

16 Apresentar os custos e benefícios das várias soluções Medidas de performance 14 Reprogramar sempre que fatos não previstos

aconteçam Guias para tomada de decisão

21 Baixo custo Microcomputador Facilidade de operação Interface simples Velocidade de resposta Processamento em

memória

Figura 9: Modelo conceitual para o planejamento e controle da produção sob encomenda

20

Programação com capacidade finita dinamicamente ajustável

Observando o conjunto de técnicas alinhadas na coluna mais a direita da

figura 9 pode-se perceber que a dicotomia capacidade finita versus capacidade

infinita é superada no modelo proposto. Em lugar dessas abordagens, coloca-se a

idéia de programação com capacidade finita dinamicamente ajustável.

A figura 10 ilustra esse conceito, de forma estilizada, tendo como referência

as duas abordagens tradicionais.

Observe que no planejamento com capacidade infinita tudo se passa como

se os programadores “espremessem” a carga de trabalho com uma “barra de aço”

correspondente aos prazos prometidos aos clientes. Como decorrência evidenciam-

se as faltas e excessos de capacidade.

Já na programação com capacidade finita a situação é inversa. Isto é, os

programadores “achatam” a carga de trabalho com uma “barra de aço”

correspondente ao limite de capacidade da planta. A consequência é que alguns

prazos prometidos aos clientes deixam de ser cumpridos.

Por fim, no conceito de programação finita dinamicamente ajustável os

programadores vendo a capacidade da planta como algo que pode ser pontualmente

ajustável substituem a “barra de aço” por uma “corda elástica” que molda uma

relação “negociada” entre capacidade disponível e prazos prometidos.

21

PROGRAMAÇÃO COM CAPACIDADE FINITA

PLANEJAMENTO COM CAPACIDADE INFINITA

PROGRAMAÇÃO COM CAPACIDADE FINITA DINAMICAMENTE AJUSTÁVEL

Atrasos

Sobrecargas

Prazos

Limite de capacidade

Prazos

Prazos

Limite de capacidade

Limite de capacidade

Car

gaC

arga

Car

ga

Tempo

Tempo

Tempo

Figura 10: O conceito de programação finita dinamicamente ajustável

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Síntese e conclusões

Nesse texto foi discutido, no nível conceitual, como deve ser estruturado um

sistema de planejamento e controle para a produção sob encomenda quando se

pretende que esse sistema seja, de fato, um instrumento gerador de vantagens

competitivas no mercado.

O ponto de partida foi a análise feita no capítulo anterior sobre quais fatores

de competitividade são os mais relevantes no caso. A partir daí desenvolveu-se o

conceito de Pontualidade Total enumerando-se em seguida 20 práticas de

planejamento e controle capazes de conduzir a esse objetivo.

A partir dessa discussão preliminar, formulou-se o modelo conceitual do

sistema de controle para a indústria com produção sob encomenda onde conceitos

e/ou técnicas retiradas das várias tecnologias de gestão conhecidas são combinados

de uma forma particular.

O modelo obtido é claramente orientado para a pontualidade, embora

considere também estratégias de flexibilidade, redução de custos e rapidez.

Conceitos e técnicas extraídas das várias tecnologias de gestão funcionam

integradas para a obtenção desse resultado.

O eixo central do modelo é a técnica de simulação discreta computacional,

usada de forma determinística e “aberta”, para projetar o processamento futuro de

uma dada carteira de pedidos. Uma modelagem avançada incluindo procedimentos

de decisão “inteligentes”, guias para o processo de tomada de decisão e medidas

de performance relacionadas aos fatores de competitividade da produção sob

encomenda possibilita avaliar, por tentativas e erros, o impacto combinado de

diferentes esquemas de prioridades e ações gerenciais de curto prazo.

23

Complementarmente, o MRP-II é tomado como referência básica para o

sistema de informações que captura dinamicamente a informação do chão-de-fábrica.

É também assumida como adequada a sua perspectiva hierárquica onde o

planejamento agregado de materiais (feito pela data mais tarde, com capacidade

infinita) se localiza no nível tático e a programação de fábrica no nível operacional.

Por seu turno, as técnicas de avaliação de redes do PERT/CPM são

utilizadas para a identificação da criticidade das operações enquanto a lógica de

planejamento com "capacidade finita", “pulmões de tempo” e as idéias de "gargalo"

de produção são aproveitadas do OPT e da Teoria das Restrições, respectivamente.

Conceitos de Tecnologia de grupo são utilizados para a construção da base

de conhecimento sobre flexibilidade de processamento. As contribuições do Just-

in-time, por seu turno, situam-se mais a nível dos recursos de produção do que na

concepção do sistema de planejamento, acionamento e controle.

Esse conjunto integrado de técnicas, configura um modelo de gestão híbrido

voltado para a Pontualidade Total na produção sob encomenda. O princípio

fundamental desse modelo é o conceito de programação finita dinamicamente

ajustável segundo o qual as restrições de prazo e de capacidade existentes devem

ser consideradas simultaneamente no ato da programação, ajustando-se pontual e

seletivamente o nível de capacidade e o plano de materiais para alcançar a

performance de pontualidade desejada.