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Cresce greve dos professores nos EUA contra o corte na educação Dezenas de milhares de professores e funcioná- rios paralisaram as aulas nos estados americanos de Oklahoma e Kentucky, na maior manifestação reali- zada em décadas contra o desmonte do ensino público e arrocho de salários. As mobilizações iniciaram com concentrações em frente às escolas de Oklahoma, onde professores e funcionários de mais de 200 distritos segui- ram até o capitólio estadual. Inúmeros distritos escolares têm sido obrigados a reduzir a jornada para apenas quatro dias por carência de recursos, resultado de um corte de quase 30% no orçamento do setor nos últimos 10 anos. Em Oklahoma é comum encontrar educadores tra- balhando como garçons em restaurantes, em supermer- cados ou motoristas de Uber para completar o salário. P. 7 Por 6 a 5, Supremo nega recurso de Lula Preço da energia da CPFL aumenta 17%, e lucro sobe 41% Pág. 4 Paralisada, produção industrial de fevereiro oscila em 0,2%, diz IBGE STF decide que país não será paraíso de corruptos, assassinos nem de estupradores Tribunal entende que a lei deve ser para todos e crime merece punição STF recusou, em sessão iniciada na tarde de quar- ta-feira, a pretensão de Lula de ficar solto mesmo após duas condenações – em primeira e segunda instância – por corrupção pas- siva e lavagem. “Não é este o país que eu gostaria de deixar para os meus filhos: um paraíso para homicidas, estupradores e corruptos”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, no jul- gamento. Seis ministros vo- taram contra a impunidade e cinco votaram a favor. O maior defensor de Lula foi Gilmar Mendes, que veio de Portugal para advogar pelos corruptos – e depois voltou. Página 3 6 a 10 de Abril de 2018 ANO XXVIII - Nº 3.621 Venda da Embraer ameaça soberania e emprego, afirma sindicalista em reunião do Senado Após cair 2,2% em janeiro, a produção industrial brasilei- ra variou 0,2% em fevereiro, acentuando a estagnação da economia. O nível da pro- dução industrial está 15,1% abaixo do verificado em maio de 2011. “São cerca de 13 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. A gente Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou na terça-feira que a execução de uma pena após quatro instâncias é exagero que “aniquila o sistema de Jus- tiça” porque “uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha”. “Apenas no Brasil o Judiciário vinha entendendo que só se pode executar uma sentença após quatro instâncias”. P. 3 Raquel Dodge: “uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha” A PF responsabilizou o Conselho de Administração da Petrobrás, que em 2006 era presidido por Dilma Rou- sseff (PT), pelo prejuízo com a compra da refinaria Pasadena, nos EUA. De acordo com dois laudos periciais, a estatal com- Polícia Federal responsabiliza Dilma por prejuízo em Pasadena prou a refinaria da empresa belga Astra Oil, pagando um sobrepreço de US$ 741 mi- lhões. A PF sugere a quebra dos sigilos bancários de Dilma, Palocci, Cláudio Haddad, Fá- bio Colletti Barbosa, Gleuber Vieira e Gabrielli. Pág. 3 “Nos sete anos, de 2009 até 2016, onde o posicionamento prevalecente era a impossibi- lidade dessa prisão, o aumento do número de presos conti- nuou da mesma forma. Agora, Poder prender após a 2ª instância refletiu muito no efetivo combate à corrupção, diz Alexandre Moraes é inegável que de 2016 a 2018 o retorno desse posicionamen- to tradicional do supremo até 2009 refletiu muito no efetivo combate à corrupção”, afir- mou o ministro. Página 3 não pode dissociar um incre- mento maior da produção, um maior nível de utilização da capacidade instalada em nosso parque de produção se não tiver uma incorporação das pessoas no que se refere ao consumo”, declarou André Macedo do IBGE, ao divulgar a pesquisa. Página 2 “O que está em jogo é a soberania do país e o em- prego dos trabalhadores de toda cadeia aeronáutica”, afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Meta- lúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, condenando a venda da Embraer para a norte-ame- ricana Boeing. O assunto foi debatido em audiência pública na Comissão de Di- reitos Humanos (CDH) do Senado, na última segunda- feira. Página 5 AFP AP

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Cresce greve dos professores nos EUA contra o corte na educação

Dezenas de milhares de professores e funcioná-rios paralisaram as aulas nos estados americanos de Oklahoma e Kentucky, na maior manifestação reali-zada em décadas contra o

desmonte do ensino público e arrocho de salários. As mobilizações iniciaram com concentrações em frente às escolas de Oklahoma, onde professores e funcionários de mais de 200 distritos segui-

ram até o capitólio estadual. Inúmeros distritos escolares têm sido obrigados a reduzir a jornada para apenas quatro dias por carência de recursos, resultado de um corte de quase 30% no orçamento do

setor nos últimos 10 anos. Em Oklahoma é comum encontrar educadores tra-balhando como garçons em restaurantes, em supermer-cados ou motoristas de Uber para completar o salário. P. 7

Por 6 a 5, Supremo nega recurso de Lula

Preço da energia da CPFL aumenta 17%, e lucro sobe 41%Pág. 4

Paralisada, produção industrial de fevereiro oscila em 0,2%, diz IBGE

STF decide que país não será paraíso decorruptos, assassinos nem de estupradores

Tribunal entende que a lei deve ser para todos e crime merece punição

STF recusou, em sessão iniciada na tarde de quar-ta-feira, a pretensão de Lula de ficar solto mesmo após duas condenações – em primeira e segunda

instância – por corrupção pas-siva e lavagem. “Não é este o país que eu gostaria de deixar para os meus filhos: um paraíso

para homicidas, estupradores e corruptos”, disse o ministro Luís Roberto Barroso, no jul-gamento. Seis ministros vo-taram contra a impunidade e cinco votaram a favor. O maior defensor de Lula foi Gilmar Mendes, que veio de Portugal para advogar pelos corruptos – e depois voltou. Página 3

6 a 10 de Abril de 2018ANO XXVIII - Nº 3.621

Venda da Embraerameaça soberania e emprego, afirma sindicalista em

reunião do Senado

Após cair 2,2% em janeiro, a produção industrial brasilei-ra variou 0,2% em fevereiro, acentuando a estagnação da economia. O nível da pro-dução industrial está 15,1% abaixo do verificado em maio de 2011. “São cerca de 13 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. A gente

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou na terça-feira que a execução de uma pena após quatro instâncias é exagero que “aniquila o sistema de Jus-tiça” porque “uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha”. “Apenas no Brasil o Judiciário vinha entendendo que só se pode executar uma sentença após quatro instâncias”. P. 3

Raquel Dodge: “uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha”

A PF responsabilizou o Conselho de Administração da Petrobrás, que em 2006 era presidido por Dilma Rou-sseff (PT), pelo prejuízo com a compra da refinaria Pasadena, nos EUA. De acordo com dois laudos periciais, a estatal com-

Polícia Federal responsabiliza Dilma por prejuízo em Pasadena

prou a refinaria da empresa belga Astra Oil, pagando um sobrepreço de US$ 741 mi-lhões. A PF sugere a quebra dos sigilos bancários de Dilma, Palocci, Cláudio Haddad, Fá-bio Colletti Barbosa, Gleuber Vieira e Gabrielli. Pág. 3

“Nos sete anos, de 2009 até 2016, onde o posicionamento prevalecente era a impossibi-lidade dessa prisão, o aumento do número de presos conti-nuou da mesma forma. Agora,

Poder prender após a 2ª instância refletiu muito no efetivo combate à corrupção, diz Alexandre Moraes

é inegável que de 2016 a 2018 o retorno desse posicionamen-to tradicional do supremo até 2009 refletiu muito no efetivo combate à corrupção”, afir-mou o ministro. Página 3

não pode dissociar um incre-mento maior da produção, um maior nível de utilização da capacidade instalada em nosso parque de produção se não tiver uma incorporação das pessoas no que se refere ao consumo”, declarou André Macedo do IBGE, ao divulgar a pesquisa. Página 2

“O que está em jogo é a soberania do país e o em-prego dos trabalhadores de toda cadeia aeronáutica”, afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Meta-lúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, condenando a venda da Embraer para a norte-ame-ricana Boeing. O assunto foi debatido em audiência pública na Comissão de Di-reitos Humanos (CDH) do Senado, na última segunda-feira. Página 5

AFP

AP

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2 POLÍTICA/ECONOMIA 6 A 10 DE ABRIL DE 2018HP

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HORA DO POVOé uma publicação doInstituto Nacional de

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Produção industrial brasileira segue estagnada em fevereiro

Produção varia 0,2% e está 15,1% abaixo do pico histórico verificado em maio de 2011

Perdão de 100% das dívidas dos ruralistas com Funrural lesa Previdência em R$ 10 bi

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Em cinco anos, SP perde 17% das fábricas têxteis

Parente reinicia processo de privatização dos campos de Baúna e de Tartaruga Verde

CNC: aumenta o número de famílias endividadas em março

Montadoras querem ampliar calote na Previdência Social

Justiça barra entrega de satélite brasileiro por Michel Temer para empresa americana

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O presidente Michel Temer já havia presente-ado os produtores rurais com o parcelamento a perder de vista da dívida desse setor com o Fundo de Assistência ao Traba-lhador Rural (Funrural), responsável por recolher os recursos para as apo-sentadorias dos trabalha-dores rurais.

Mas os produtores ru-rais devedores da Pre-vidência não estavam satisfeitos e queriam mais. Queriam o perdão de 100% da multa e encar-gos do saldo das dívidas e a redução da contribuição previdenciária de 2,5% para 1,7% do faturamen-to. Essas medidas não constavam da sanção pre-sidencial porque Temer e Meirelles queriam fazer caixa com dinheiro des-viado da Previdência para pagar juros aos bancos.

Pois bem, na terça-fei-ra (3), o governo voltou atrás e atendeu aos ru-ralistas, como moeda de troca para barrar uma provável terceira denún-cia contra Temer, após prisão de seus amigos pela Operação Skala. Promoveu um acordão vergonhoso no Congresso para a derrubada do veto e o calote foi aprovado.

A contribuição ao Fun-rural incide sobre a recei-ta bruta da comercializa-ção da produção e é paga pelos empregadores para

custear a aposentadoria dos trabalhadores. Essa é a única contribuição do setor para a Previdência já que o agronegócio ex-portador é isento do paga-mento das contribuições previdenciárias.

A mamata é tão escan-dalosa que desmoraliza to-talmente o que o governo falava sobre a necessidade da reforma da Previdên-cia. O governo dizia que as aposentadorias tinham que ser cortadas porque o sistema tinha um rombo em suas contas. Com o acordão desta terça-fei-ra, o produtor rural que aderir ao programa terá de pagar 2,5% da dívida consolidada em até duas parcelas iguais, mensais e sucessivas. O restante poderá ser parcelada em até 176 prestações. A Receita Federal estima que essa farra provocará uma perda em cerca de R$ 10 bilhões para a Pre-vidência em 2018. Agora fica claro quem são os responsáveis pelo assalto aos cofres da Previdência.

E não é só isso. O go-verno já trabalhava com outro escandaloso assal-to aos recursos da Pre-vidência. Era o desvio da reoneração da folha. Cerca de R$ 8 bilhões que deveriam voltar para os cofres da Previdência, de onde foram tirados, serão usados para outras despesas como, por exem-

plo, a intervenção militar no Rio de Janeiro. Um outro auxiliar de Temer, presidente nacional de seu partido, Romero Jucá, chegou e defender que os recursos da reoneração fossem usados para abas-tecer o fundão eleitoral, instrumento criado para manter no poder os par-tidos que roubaram a Petrobrás.

A legislação prevê a quitação dos débitos ven-cidos até 30 de agosto de 2017. O prazo inicial para adesão ao programa era 28 de fevereiro de 2018, mas no mesmo dia foi aprovada uma medida provisória do governo que prorrogou esse prazo para o próximo dia 30 de abril. O acordão para perdoar os produtores caloteiros re-sultou numa votação com 360 votos a favor contra 2 na Câmara, e 50 votos a favor e 1 contra no Sena-do. Eram necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado para o veto cair.

Alguns parlamentares se rebelaram contra mais esse assalto à Previdência e protestaram contra o acordão que envolveu os principais partidos no Congresso, entre eles PT, PSDB e PMDB. “Nesse projeto, são bilhões de reais de anistia, de perdão de pagamento de multas. É brutal o que está sendo votado aqui”, protestou Miro Teixeira, da Rede.

A decisão do governo Temer de entregar o pri-meiro satélite brasileiro para defesa e comunica-ções estratégicas à uma empresa norte-americana, com sede na Califórnia, foi parar na Justiça.

O Satélite Geoesta-cionário de Defesa e Co-municações Estratégicas (SGDC), operado pela Te-lebrás, foi lançado ao espa-ço no dia 4 de maio do ano passado e, este ano, no dia 26 de fevereiro, o governo divulgou a assinatura do contrato com a america-na Viasat para uso, por longo prazo, de 100% da capacidade em banda Ka do satélite brasileiro, após tentativa fracassada de leiloar 57% da capacidade total do satélite.

A 14ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho de Manaus suspendeu, na sexta-feira (30/03), o contrato da Telebrás com a norte-americana Viasat e, após intervenção da Advocacia Geral da União, o processo foi transferido para a 1ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, que manteve a suspensão do contrato.

Para a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal, causa “perplexi-dade ao magistrado en-carregado de interpretar e aplicar a Constituição […] o fato de um equipa-mento de telecomunica-ção governamental, que envolveu gastos públicos estimados nos autos em 4 (quatro) bilhões de reais, e denominado de ‘Satélite de Defesa Estratégica’, ter sido entregue para uso e exploração exclusiva a uma empresa estrangeira – a Viasat”.

Ainda de acordo com a juíza Fraxe, o contrato do governo Temer com os norte-americanos “é cla-ramente incompatível com a independência nacional

a entrega do único saté-lite de defesa estratégica à empresa estrangeira”. “Alias, trata-se de tragédia jurídica anunciada, con-substanciada na revelação de que a nação brasileira será reduzida à condição de refém de empresa es-trangeira”.

A juíza fixou multa di-ária por descumprimen-to em R$ 100 mil para cada empresa (Telebras e Viasat) até o limite de 15 dias, lacração de todo equipamento importado pela Viasat e determinou a apresentação do contra-to firmado entre as duas empresas, que autoriza a Viasat a explorar 100% da capacidade em banda ka do SGDC, da Telebrás.

A atual crise econômica foi responsável por uma verdadeira devastação em uma das principais ativi-dades produtivas do esta-do de São Paulo. Segundo dados apresentados pelo Sindicato da Indústria Têx-til (Sinditêxtil-SP) e pelo Sindicato das Indústria de Vestuário (Sindivestuário), em uma reunião de “pedido de socorro” com governo do Estado, na terça-feira (3), São Paulo perdeu cerca de 17% das fábricas têxteis (de matéria prima) e 13,3% das empresas de confecção entre os anos de 2012 e 2016.

No país, o fechamento de unidades fabris têxteis e de confecção foi de 10,9% nos graves anos de governo Dilma e Temer.

DEMISSÕESO fechamento das fá-

bricas foi responsável pela demissão de ao menos 130 mil trabalhadores da indús-tria nesse período no estado de São Paulo. Apenas na região metropolitana – que é o maior polo confeccionista do país – 30 mil postos de

trabalhos foram eliminados de 2012 a 2016.

São Paulo concentrou, até 2016, 27,5% das empre-sas têxteis e confeccionista brasileiras e, em termos de emprego, concentrava 31,6% dos trabalhadores do setor. Essa liderança também é relativa ao volume de pro-dução e aos valores gerados.

Um dos apelos dos empre-sários é uma maior atenção do poder público para coibir as importações predatórias de tecidos e vestuário. Se-gundo os sindicatos, no ano passado comparativamente a 2016 houve um aumento de 16,9% na importação de têxteis e artigos de confecção e de 51,31% de vestuário. Enquanto isso, fábricas são fechadas e a produção da industria nacional só cai. A pesquisa de produção indus-trial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais recente aponta, por exemplo, uma queda de 7,5% na produção de con-fecções e vestuário no início de 2018 em relação ao ano passado.

Produção de televisores por conta da Copa do Mundo ficou aquém do esperado

Está programada para a próxima quin-ta-feira dia 12, uma reunião de Temer com os presidentes das montadoras de veículos para anun-ciar mais um assalto ao Tesouro Nacional, através da ampliação da isenção de impos-tos. O governo deve anunciar o chamado Rota 2030, que vai substituir o Inovar-Auto, que entrou em vigor em 2012 no go-verno Dilma Rousseff.

O Inovar-Auto ti-nha o objetivo de, entre outras ma-quiagens, “produzir veículos mais eco-nômicos e seguros, investir na cadeia de fornecedores, em en-genharia, tecnologia industrial básica, pes-quisa e desenvolvi-mento e capacitação de fornecedores”.

O programa foi en-cerrado em dezembro de 2017. No período, só se beneficiaram as montadoras, todas

Para acelerar o desmonte da Petrobrás, o atual presidente Pedro Parente divulgou na terça-feira (2) a venda total do Campo de Baúna, localizada em águas rasas da Bacia de Santos; a venda de 50 % do Campo de Tartaruga Verde, na bacia de Campos e do Módulo III do Campo de Estandarte - ambos em águas profundas.

Pedro Parente vem encontrando difi-culdades para por em prática o processo de privatização da Petrobrás, por conta da mobilização de diversas categorias de petroleiros e movimentos sociais que estão apelando à Justiça para barrar a venda de subsidiárias da estatal, campos de explo-ração e produção de petróleo e gás, entre outros ativos da estatal.

Esta é a segunda vez que governo tenta entregar os campos Baúna e Tartaruga Verde. No ano passado, Parente anunciou a venda para a empresa australiana Ka-roon Gás, mas foi barrado pela Justiça de Sergipe, por uma ação popular movida pelo Sindicato dos Petroleiros de Alagoas e Ser-gipe (Sindipetro-AL/SE), que questionou a venda sem licitação.

O Tribunal de Contas da União (TCU) cancelou o processo na época, mas manteve a permissão de continuidade da venda dos ativos, orientando Parente de como priva-tizar evitando as ações na Justiça.

O desemprego e o achata-mento dos salários foram res-ponsáveis por elevar o percen-tual de famílias endividadas (com contas em atraso ou não) para 61,2% em março - um aumento de 0,4% em relação ao mesmo mês do ano passa-do. Os dados, divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ainda revelam que destes, 25,2% chegaram em março com as contas em atraso - ou seja, realmente ina-dimplentes. Sobre fevereiro, mês imediatamente anterior, a inadimplência cresceu 0,6%.

Em um universo de mais de 24 milhões de pessoas em situação de desemprego e subemprego, conforme apu-rado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), a elevação do endivi-damento e da inadimplência são sintomas de uma popu-lação impedida de arcar com compromissos financeiros e dívidas, enquanto lutam para suprir as suas necessidades mais básicas.

Reféns de um sistema fi-nanceiro que pratica taxas de juros abusivas - as mais altas do mundo - as famílias estão principalmente endividas e inadimplentes com o cartão de crédito. Esse tipo de dívida corresponde a 76,4% do endi-vidamento das famílias, diz a pesquisa.

Os dados da CNC ainda indicam que a proporção de fa-mílias que se declaram “muito endividadas” cresceu bastan-te, passando de 13,6% em fe-vereiro para 14,1% em março.

A produção industrial brasileira segue es-tagnada em feverei-ro. Após cair 2,2%

em janeiro, a produção do setor registrou 0,2% em fevereiro, praticamente ZERO, já descontado os efeitos sazonais (o que é típico de determinado pe-ríodo, como Natal, Páscoa, Dia dos Pais), e está 15,1% abaixo do pico histórico ve-rificado em maio de 2011. O resultado de fevereiro ficou aquém do esperado pelos analistas de plantão, de 0,6%.

Os dados foram divulga-dos pelo Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), na terça-feira (03), que revisou de -2,4% para -2,2% a queda de janeiro. O resultado de fevereiro ficou aquém do esperado pelos analistas de plantão, de 0,6%.

Segundo o IBGE, a in-dústria ainda está longe de recuperar as perdas registradas nos três anos de recessão. “São cerca de 13 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. A gente não pode dissociar um incremento maior da produção, um maior nível de utilização da capaci-dade instalada em nosso parque de produção se não tiver uma incorporação das pessoas no que se refere ao consumo”, destacou André Macedo do IBGE, ao di-vulgar a pesquisa. Dos 26 setores pesquisados pelo IBGE, apenas 14 tiveram variação positiva.

“O quadro também não é favorável se conside-rarmos os macrossetores industriais”, registrou o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que conside-rou o resultado do mês

“fraco”, com a indústria “praticamente estagnada”: Bens intermediários (-0,7) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,6%) regis-traram perda de produção frente a janeiro, enquanto os Bens de Capital fica-ram praticamente em zero (+0,1%). O setor de Bens de Consumo Duráveis fi-cou em (1,7%), fruto de um aumento da produção de televisores em vista da Copa do Mundo.

Para Macedo, “esse cres-cimento já era esperado, porque, tradicionalmente, há uma produção expres-siva de TVs nos três me-ses anteriores à Copa do Mundo”.

Ao analisar a média mó-vel trimestral, o IEDI des-tacou que o grupo de Bens de Consumo Duráveis, ca-tegoria que engloba, além dos televisores, aparelhos de som, entre outros do chamado eletroeletrônicos da linha marrom, "registra uma perda na produção de 19%, livre de efeito sazonal, se compararmos o trimestre dez/17-fev/18 com o último trimestre de 2013, isto é, antes da crise industrial se revelar”. Assim como a produção de Bens de Capital, que tam-bém está 29% abaixo do quarto trimestre de 2013.

Por mais otimista que o governo queira parecer, com a “recuperação da economia", as variações verificadas na produção industrial em 2017 estão muito próximas de ZERO.

Sem investimentos pú-blicos, com os juros reais nas alturas, desemprego e sem proteção ao trabalho, a indústria vai continuar patinando, sem ter para quem vender seus produ-tos no mercado interno.

estrangeiras, que não investiram, aumen-taram os preços dos carros – entre os mais caros do mundo -, destruíram a cadeia de fornecedores, au-mentaram as impor-tações e obtiveram lucros astronômicos, enviados para suas matrizes.

Além do mais, as múltis foram ainda agraciadas por Dilma com o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que a pretexto de manter o emprego dos trabalhadores do setor, reduziram jor-nada e salários e não pararam de demitir.

Segundo divulgou o Valor, os benefícios às multinacionais serão da ordem R$ 1,5 bilhão por ano, através da dedução desse valor de qual-quer imposto federal, inclusive o IPI e o PIS/Cofins, que estão entre os impostos que financiam a Previ-dência Social.

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3POLÍTICA/ECONOMIA6 A 10 DE ABRIL DE 2018 HP

Por 6 a 5, STF mantém prisão após condenação em 2º grau

Votaram contra conceder habeas corpus a Lula os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia. A favor de dar o HC a Lula votaram Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello

João Goulart Filho: ‘Corruptos criaram fundo eleitoral de 1,7 bi para escaparem da prisão’

Ministros Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes

Raquel Dodge: “sistema recursal na Justiça brasileira aniquila o sistema de Justiça”

Fellipe Sampaio/SCO/STFEx-deputado federal, escritor e filósofo

Crescimento econômico é muito medíocre e deixa o país parado, afirma Ciro

Nota de juízes e procuradores passa de 6 mil assinaturas

Para o vice-governador de SP, servidores precisam de reajuste

Divulgação/Facebook

Pasadena: PF pede quebra de sigilos de Dilma e mais 5 para investigar prejuízo

A Polícia Federal (PF) responsabilizou o Conse-lho de Administração da Petrobrás, que em 2006 tinha como presidente Dilma Rousseff (PT), pelo prejuízo com a compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos. De acordo com dois laudos periciais, a estatal com-prou a refinaria da em-presa belga Astra Oil, em duas etapas, 2006 e 2012, pagando um sobrepreço de US$ 741 milhões.

A Petrobrás pagou US$ 359 milhões por 50% de Pasadena, em 2006. Em 2005, a Astra Oil havia pago US$ 42 milhões por 100% da refinaria. Após revelação do jornal “O Estado de S. Paulo”, em março de 2014, que Dilma votou a favor da compra, a já presidente da República disse que seu voto se baseou em um “resu-mo tecnicamente falho”, com omissão de cláusulas das quais, se tivesse co-nhecimento, não votaria

O ex-deputado João Goulart Filho, pré--candidato a presidente pelo Partido Pátria Livre (PPL), afirmou, em entrevista ao jornal “O Hoje”, de Goiás, que seu partido e sua candidatura “têm um profundo compromisso com o Brasil”. “Nós temos compromisso com a história”, disse João Goulart, lembrando que o projeto de construção de uma nação independente, próspera e solidária, que seu pai conduzia, foi interrompido em 1964.

O pré-candidato do PPL chamou a aten-ção para o peso que ainda continuará tendo o poder econômico na influência das próximas eleições. “Esse Congresso, que tem mais de 300 parlamentares investigados por cor-rupção, criou uma lei eleitoral para que eles possam permanecer em seus cargos. Além das propinas, eles criaram um fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão, com dinheiro público, para garantir sua reeleição. Tudo para escapar da prisão”, denunciou Goulart.

“Nós não temos nada a ver com essa gen-te. Não temos nada a ver com essa corrupção desenfreada que tomou conta do Brasil”, acrescentou João Goulart. Ele destacou que sua eleição à Presidência “é uma batalha de David contra Golias”, mas lembrou que “algumas vezes David vence”. “É necessá-ria uma mudança no processo de escolha do nosso parlamento. A representação está deformada. Não há um cientista, não há representantes de setores chaves do país na Câmara Federal. Isso tem que mudar. Nós temos que avançar no processo democrático em nosso país”, defendeu João Goulart.

O pré-candidato à presidência da Repú-blica pelo PDT, Ciro Gomes, avaliou que o crescimento da econo-mia do país é medíocre desde os anos 80. “Es-tamos parados”, disse.

A fala do ex-minis-tro aconteceu em en-trevista à imprensa, na terça-feira (3) em Santos, durante o 62º Congresso Estadual de Municípios.

Ao ser questionado sobre o diagnóstico do Brasil hoje, Ciro avaliou: “O Brasil, desde os anos 80, cresce 2% ao ano. Na medida que a população também cresce quase esse mesmo percentual (1,7%), estamos para-dos. Isso explica quase

34 milhões de pessoas na informalidade, cor-rendo do rapa, tentando levar algum para casa honestamente. Temos 13,1 milhões de pesso-as desempregadas. O desdobramento, quase inevitável disso, é que o Brasil anotou, nos últimos 12 meses, 64,7 mil homicídios. Uma selva que está matando jovens, negros e pobres nas periferias do país afora”.

Ciro afirmou que “as bombas têm que ser desarmadas para que as demandas nas área de saúde, edu-cação, segurança e combate à corrupção possam ser atendidas com seriedade”.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou na terça-feira (03) que a execução de uma pena após quatro instâncias é exagero que “aniquila o sistema de Justiça” porque “uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha”. Para ela, o princípio da presun-ção de inocência é garantia importante em todos os países e é importante tam-bém no sistema brasileiro.

“No entanto”, diz ela, “apenas no Brasil o Judi-ciário vinha entendendo que só se pode executar uma sentença após qua-tro instâncias judiciais confirmarem uma con-denação. Este exagero aniquila o sistema de Jus-tiça exatamente porque uma Justiça que tarda é uma Justiça que falha”, afirmou a procuradora. A afirmação da procuradora foi feita em sessão do Conselho Superior do Mi-nistério Público (CSMP).

A discussão se deu em

função do julgamento desta quarta-feira (4) no Supremo Tribunal Fede-ral (STF). A Corte julgou o habeas corpus preventi-vo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, con-denado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no caso do triplex em Guarujá, a 12 anos e um mês de prisão em regime fechado. A defesa de Lula argumenta que, segundo a Consti-tuição, o reú só pode ser preso após transitado em julgado, quando não cabe mais nenhum recurso.

“Amanhã o STF deve concluir um dos seus mais notórios, expressivos e importantes julgamentos. O que estará em debate naquela Corte superior a questão da observância do princípio da presunção de inocência no Brasil, a validade do duplo grau de jurisdição e a extensão em que uma decisão sujeita--se a execução provisória da pena”, disse Raquel

Dodge na abertura da reunião do CSMP.

A procuradora-geral da República também criticou o sistema re-cursal brasileiro que, segundo ela, só atende os “mais afortunados” que podem “pagar advogados caríssimos” para evitar o julgamento final e o cum-primento da pena.

“A Constituição bra-sileira também garante, não só a presunção de inocência e o duplo grau de jurisdição, mas tam-bém segurança jurídica e efetividade. Se não forem observados no sistema adequadamente o processo criminal não termina, ou só termina quando está prescrito, e é um sistema de amplos e sucessivas instâncias revisoras que só atendem os mais afor-tunados, que podem pagar advogados caríssimos para manter o sistema recursal aberto e evitando o trânsi-to em julgado da condena-ção”, disse a procuradora.

a favor da compra.Por causa das falhas,

os peritos da PF afirmam que os conselheiros que participaram da reunião em que a compra foi de-finida não agiram com “o zelo necessário à análise da operação colocada” e sugerem como caminho para prosseguir a investi-gação a quebra dos sigilos bancários de todos eles. Estavam presentes na reunião, além de Dilma, Antonio Palocci, Cláudio Haddad, Fábio Colletti Barbosa, Gleuber Vieira e José Sergio Gabrielli.

Em colaboração pre-miada, o senador cassado Delcídio Amaral (PT) e o ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, afirma-ram que Dilma aprovou a compra da refinaria sabendo que resultaria em prejuízo.

A empresa belga acio-nou uma das cláusulas da venda de Pasadena em 2012 e a estatal brasileira desembolsou US$ 820 milhões pelos outros 50%.

Com base em reportagem do Estadão em 2013– que mostrou a enorme dife-rença entre o que foi pago pela Astra Oil e o desem-bolsado pela Petrobrás -, o Ministério Público iniciou investigação no Tribunal de Contas da União (TCU).

Em outubro do ano passado, o TCU respon-sabilizou os conselheiros pelo prejuízo da Compa-nhia e solicitou o bloqueio de seus bens.

Os laudos periciais são considerados provas e poderão ser usados na abertura de inquérito contra os integrantes do Conselho, à época.

Os laudos da PF foram anexados ao inquérito de Pasadena, sob responsa-bilidade do juiz Sérgio Moro. A investigação deu origem à denúncia, aceita por Moro, em que Delcí-dio e outros nove são acu-sados de corrupção e lava-gem de US$ 17 milhões provenientes da compra de 50% da refinaria.

O documento, que foi entregue na segunda-feira (02) por juízes e procura-dores, em ato no Supremo Tribunal Federal, defen-dendo a manutenção da norma que autoriza a prisão após decisão em se-gunda instância, continua a receber apoios. Já são mais de seis mil juízes e promotores - para ser pre-ciso são 6.019 magistrados apoiadores até o fecha-mento desta edição - que subscrevem o manifesto

defendendo a tese.O STF avalia, nesta

quarta-feira (04), o habeas corpus pedido pela defe-sa do ex-presidente Lula contra o início imediato do cumprimento da pena pelo petista. Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Re-gional Federal da 4ª Região (TRF4) por corrupção pas-siva e lavagem de dinheiro.

Os defensores da prisão após decisão de segunda instância, que são maio-

ria no Supremo Tribunal Federal, consideram que a derrubada desta jurispru-dência, para beneficiar o ex-presidente Lula, sinali-zaria para a sociedade com o fortalecimento da impu-nidade dos criminosos do colarinho branco. Por 6 a 5, os ministros do STF votaram contra o hábeas corpus que impediria a prisão de Lula.

Ler a íntegra do ma-nifesto no site: www.ho-radopovo.org.br

O comandante do Exército, general Edu-ardo Villas Boas, pos-tou um texto nas redes sociais que teve grande repercussão e ainda re-percute. Por isso mes-mo reproduzimos aqui a sua fala:

“Asseguro à Nação que o Exército Brasilei-ro julga compartilhar o anseio de todos os cida-dãos de bem de repúdio à

impunidade e de respeito à Constituição, à paz so-cial e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institu-cionais.

Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das ge-rações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”.

O comentário do gene-ral Villas Boas aconteceu na véspera do julgamen-to do habeas corpus de Lula, no Supremo Tri-bunal Federal (STF), que visava evitar pre-ventivamente a prisão do ex-presidente condenado a 12 anos e 1 mês por cor-rupção passiva e lavagem de dinheiro, na segunda instância da Justiça, o TRF-4, Porto Alegre.

General Villas Boas: “Exército compartilha o anseio da Nação de repúdio à impunidade”

TCU quer anular contrato ilegal do grupo Libra em Santos

Um parecer da Se-cretaria de Infraes-trutura Portuária do Tribunal de Contas da União (TCU) re-comendou a anulação da decisão que reno-vou um contrato do grupo Libra no porto de Santos. O contrato do grupo, investigado na Operação Skala da Polícia Federal – que prendeu pessoas pró-ximas a Michel Temer, vale até 2035.

A prorrogação foi as-sinada pela Secretaria dos Portos em 2015, na época comandada por Edinho Araújo, indicado por Temer. O governo fez um acordo para co-brar uma dívida bilioná-ria do grupo e prorrogou antecipadamente o con-trato no mesmo dia.

Segundo técnicos do TCU, a renovação não

poderia ter ocorrido sem que o grupo Libra pagasse um valor pro-visório. “A exigência do pagamento ou depósito em juízo de um o valor provisório não é mera formalidade; a prorro-gação antecipada com uma empresa que pode vir a ser condenada em valor que supera os investimentos que ela realizará em 20 anos de contrato não pode ser feita sem o devido zelo”, dizem.

De acordo com o pa-recer, a renovação do contrato implica em “um risco de prejuízos irreparáveis” e a pror-rogação que a Libra conseguiu precisa ser anulada, porque des-cumpriu o decreto que trata do assunto.

Ler mais em www.horadopovo.org.br

O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que as-sume o comando do estado nesta sexta--feira (6), admitiu a possibilidade de conce-der um novo reajuste salarial aos servidores estaduais.

“Está na cara que a gente tem que fazer reajuste. Claro, com tempo, temos que re-ajustar e equilibrar o salário dos policiais e de todos os profissionais, incluindo os professo-res”, afirmou.

Todas as categorias do funcionalismo tive-ram um aumento sala-rial de 3,5% no início deste ano, à exceção dos 4% para as polícias e 7% aos professores. O reajuste concedi-do pelo governador Geraldo Alckmin foi recebido à época com críticas de represen-tantes dos servidores, para quem os índices pouco contemplaram uma defasagem sala-rial de mais de 40% que se arrasta, em al-guns casos, desde 2012.

O pedido de Lula para que fique solto, apesar de condenado duas vezes - pela 13ª Vara Crimi-

nal de Curitiba e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) - por corrupção passiva e lavagem, foi recusado por seis votos a cinco, pelo Supremo Tri-bunal Federal (STF).

A jurisprudência do STF é a de que o cumprimento da pena, in-clusive a prisão, é iniciada após o último julgamento sobre a culpa ou inocência do acusado - isto é, o julgamento pela segunda ins-tância (no caso de Lula, o TRF-4).

OS VOTOSNa quarta-feira, votaram con-

tra a concessão da impunidade os ministros Luís Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Ro-berto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Carmen Lúcia.

Votaram a favor da impunida-de os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewando-wsky, Marco Aurélio de Mello e Celso de Mello.

“Não é este o país que eu gostaria de deixar para os meus filhos: um paraíso para homici-das, estupradores e corruptos. Eu me recuso a participar, sem reagir, de um sistema de justiça que não funciona, salvo para prender menino pobre”, disse, no julgamento, o ministro Luís Roberto Barroso.

Barroso lembrou que, entre 2009 e 2016, quando o STF considerou que o cumprimento da pena “inclusive a prisão” só poderia ser iniciada depois de es-gotados todos os recursos, o país transformou-se numa terra as-solada por esquemas corruptos:

“[Se aprovado o retorno à decisão de 2009] voltaremos ao modelo antigo, cheio de incenti-vos à corrupção. Havia esquemas profissionais de arrecadação e distribuição de dinheiro desvia-do mediante superfaturamento e outros esquemas. Tornou-se o modo natural de se fazerem negócios e de se fazer política no país, fruto de um pacto oligárqui-co celebrado entre parte da classe política, parte do empresariado e parte da burocracia para saquear o Estado brasileiro. Não havia uma sensação de impunidade. Era impunidade mesmo.

“A nova ordem que se está pre-tendendo criar atingiu pessoas que sempre se imaginaram imu-nes e impunes. Para combatê-la, uma enorme Operação Abafa foi deflagrada em várias frentes. Entre os representantes da Velha Ordem, há duas categorias bem visíveis: (1) a dos que não querem ser punidos pelos malfeitos come-tidos ao longo de muitos anos; e (2) um lote pior, que é o dos que não querem ficar honestos nem daqui para frente.”

A volta ao procedimento de 2009 era, precisamente, o objeti-vo do pedido de Lula - como, aliás, deixou claro, logo no primeiro momento do julgamento de quar-ta-feira, Gilmar Mendes, apoiado pelos ministros Marco Aurélio de Mello e Ricardo Lewandowsky. Os três contestavam o voto do re-lator, ministro Fachin, para quem o julgamento do habeas corpus de Lula não poderia causar uma mudança na jurisprudência do STF sobre a execução da pena após a condenação em segunda instância.

Estava estabelecida, portanto, qual era a polêmica - se os ladrões do dinheiro público (e, por conse-quência, outros criminosos) deve-riam ficar impunes ou deveriam ir para a cadeia.

Não por acaso, o principal defensor de Lula no STF foi Gilmar Mendes, o mesmo que, quando seu círculo (Temer, Aécio, Moreira Franco, etc.) não estava a caminho da cadeia, defendia que a prisão deveria ser após a segunda instância. Rapidamente, Mendes mudou de opinião.

O que estava em jogo na quar-ta-feira era, precisamente, se a Operação Lava Jato, e demais atividades contra as quadrilhas que instalaram no país o reino da propina e do superfaturamento, vão continuar - ou se vão acabar, com a impunidade dos saqueado-res do dinheiro público.

Outras batalhas virão, mas a de quarta-feira foi ganha pelo povo, pelo país.

O voto do ministro Barroso

foi uma síntese bastante precisa do que significava essa tenta-tiva “materializada no pedido de Lula” da oligarquia política corrupta e suas organizações criminosas, especialmente o PT e o PMDB, de derrubar a juris-prudência do STF.

O maior sintoma foi o entu-siasmo lulista com Gilmar Men-des, que veio de Portugal apenas para votar a favor da impunidade do réu - e, logo em seguida, voltou para Lisboa.

O pedido de Lula era um ha-beas corpus contra uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que recusara, por cinco votos a zero, outro pedido de ha-beas corpus para ele não ir para a cadeia.

Para se conceder um habeas corpus, é necessário que haja ile-galidade ou abuso de autoridade.

No entanto, o que o STJ fez foi apenas seguir a decisão do STF de que a execução da pena - no caso, a prisão - começa depois da condenação em segunda instân-cia (no caso, o TRF-4). Como disse o relator do processo, Luís Edson Fachin: “Seria possível dizer que haveria ilegalidade ou abuso de poder num ato no qual é seguida a jurisprudência majoritariamen-te dominante no STF?”.

Gilmar Mendes eludiu essa questão - aliás, nem mesmo examinou o caso que estava sendo discutido. Além da ridícu-la canastrice habitual, em que propalou seu amor aos pobres (disse ele que libertou 22 mil pobres), defendeu a revisão da jurisprudência do STF sobre a prisão após a condenação em segunda instância, em suma, que o julgamento do habeas corpus de Lula servisse para conceder impunidade aos corruptos em geral - além de outros criminosos.

Segundo disse Mendes, votou antes a favor da posição atual do STF porque a prisão após a segunda instância era uma “pos-sibilidade”, mas os tribunais a trataram como uma “obrigatorie-dade”. Em suma, ele teria votado a favor da execução da pena após a segunda condenação porque não era para valer. Quando viu que era para valer, mudou de posição...

“Não estamos discutindo os pobres”, disse o ministro Luís Roberto Barroso. “Pelo contrá-rio, criamos um país de ricos delinquentes, com um sistema penal que só pune quem ganha menos de cinco salários mínimos. Tem gente que muda de calçada quando vê um pobre, mas depois fica: “Ó, os pobres...’”.

O ministro Alexandre de Mo-raes, que falou após Gilmar Men-des, reafirmou a constatação do ministro Fachin:

“Não se trata da questão de, eventualmente, se essa Corte alterar seu posicionamento, se o novo posicionamento será con-flitante com o posicionamento anterior do STJ. Se trata da questão de que, no momento em que o STJ negou o habeas corpus, não há nenhuma ilegalidade ou abuso de poder”.

RECURSOA ministra Rosa Weber, o voto

mais esperado do dia - já era conhecida a posição dos demais ministros - foi, também, contra a concessão do habeas corpus para Lula: “Não tenho como reputar ilegal, abusivo ou teratológico um acórdão [do STJ] que, forte nessa compreensão do STF, re-jeita a ordem de habeas corpus, independentemente da minha posição pessoal quanto ao tema de fundo”.

O ministro Luís Fux desta-cou que, a rigor, nunca existe, em matéria criminal, uma situação em que não possa existir algum recurso. Por isso, “levadas às últimas consequ-ências, essa regra [da execução da pena somente se iniciar depois de esgotados todos os recursos] só tem uma conse-quência: levar o judiciário a níveis absurdos de descrédito”.

Além disso, disse Fux, “o respeito à sua própria jurispru-dência é dever do Judiciário, porquanto uma instituição que não se respeita não pode usufruir do respeito dos desti-natários de suas decisões, que é a sociedade e o povo brasileiro”.

CARLOS LOPES

Page 4: Por 6 a 5, Supremo nega recurso de Lula STF decide que ...§ão-3... · E-mail: horadopovope@yahoo.com.br Belém (PA): ... viado da Previdência para ... seu partido, Romero Jucá,

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 6 A 10 DE ABRIL DE 2018

Construtora lucra bilhões para entregar prédios aos pedaçosA construtora Direcional

Engenharia lucrou bilhões de reais com a construção de 91 mil apartamentos

pelo programa do governo fe-deral Minha Casa Minha Vida (MCMV), de 2009 a 2017, mas entregou moradias populares sem condições de habitação.

O programa do governo fe-deral alavancou a Direcional do 27º lugar no ranking das maiores construtoras do país em área construída para o 2º lugar, com 5.261.453,74 metros quadrados entregues. A empresa afirma ter construído mais de 91 mil uni-dades no programa, o que pode gerar a ela R$ 5,8 bilhões com a venda de todas as unidades.

Mais de metade do faturamento de R$ 1,4 bilhão, em 2016, da Dire-cional, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, veio dos cofres públicos. Entre 2016 e 2013, o faturamento da construtora ultrapassou R$ 6,8 bilhões.

O alto faturamento da cons-trutora, com grande parte oriundo de programas como o Minha Casa Minha Vida, evi-dencia um outro problema: as condições inabitáveis em que se encontram moradias populares construídas por ela.

Em 2014, durante governo Dilma Rousseff (PT), no extre-mo norte de Manaus, capital do Amazonas, a Direcional construiu o residencial “Viver Melhor”, com 8.855 apartamentos, pelo MCMV, na 1ª faixa do programa, que atende as pessoas de menor renda, com financiamento da Caixa Econômica Federal.

Dilma inaugurou esse que é o maior conjunto do MCMV, em fevereiro de 2014. “Esse residen-cial tem um nome fantástico, se chama Viver Melhor”, comemo-rou Dilma, então presidente. Ela apontou como a mudança traria segurança e respeito aos que ali iriam viver, e encerrou seu discurso exaltando a qualidade dos apartamentos.

O Minha Casa Minha Vida, em sua faixa 1, paga às construtoras um valor fixo por cada unidade construída. Atualmente, o limite é de R$ 98 mil. Como a regula-mentação é quase inexistente, isso permite que uma empresa baixe os seus gastos em busca de alta lucratividade, incluindo, aí, a própria qualidade da construção. O governo apenas faz exigências mínimas que são estabelecidas pelo Ministério das Cidades, como a ligação com rede de água e esgoto e um tamanho mínimo, na época da Construção do Viver Melhor, 39 m².

A realidade demonstrou que a tal segurança, qualidade e respeito, apontadas por Dilma, ficaram só no discurso. Nas 8.855 unidades distribuídas entre casas e prédios de quatro andares os problemas começaram meses de-pois da visita da então presidente. Maria Cristina sente medo de que o teto do seu apartamento desabe sobre sua cabeça, ou de sua mãe ou de seu filho, que vivem com ela. “O teto do banheiro já foi ao chão e, agora, rachaduras atra-vessam a sala e a cozinha. Isso não é uma moradia”, desabafou a moradora em reportagem do jornal “The Intercept”. A Defesa Civil já recomendou que a família saia do apartamento porque a vida de todos está em risco, mas

ela disse ao jornal que eles não têm para onde ir.

O professor de inglês Benedak-son da Gama, de 49 anos perdeu televisão, cama, geladeira e com-putador por causa das infiltrações que aconteceram apenas quatro meses após a visita de Dilma.

O conjunto tem problemas que vão muito além das rachaduras. “Em fevereiro, um apartamento do Viver Melhor foi invadido, e seu morador, morto e espancado por sete homens. Na semana se-guinte, outra moradora foi presa, acusada de decapitar um trafican-te do Residencial, em dezembro de 2017”, contou o The Intercept.

Em fevereiro, moradores do Viver Melhor incendiaram pneus e bloquearam a saída do conjunto, pedindo o aumento das linhas de ônibus. Do Residencial até o centro da cidade, os moradores precisam percorrer 27km. Em anos anteriores, revoltados com a situação moradores atearam fogo nos próprios ônibus.

A Defensoria Pública do Esta-do do Amazonas (DPE-AM), por meio da Defensoria Especializada em Atendimentos de Interesses Coletivos (DEAIC) entrou com ação contra o Estado do Ama-zonas, a Secretaria Estadual de Habitação do Estado do Amazo-nas (SUAHB), a União e a Caixa Econômica Federal, porque “os moradores do Residencial Viver Melhor estão em situação de ex-trema vulnerabilidade e sofrem danos sociais, pelas péssimas condições do lugar e pela falta de serviços essenciais”. O titular da DEAIC, Carlos Almeida Filho entende que os réus citados de-vem pagar indenizações no valor de R$ 133.425.000,00 por danos sociais aos moradores. A ação foi protocolada na Justiça Federal.

As construções onde moram pelo menos quatro mil pessoas são “irrecuperáveis”, segundo laudo da DPE-AM. Infiltrações, rachaduras nos blocos de con-creto e problemas na drenagem e no esgoto foram constatadas em visitas técnicas realizadas pelos engenheiros.

Em 2015, técnicos da DPE e do Corpo de Bombeiros fizeram uma vistoria em aproximadamente mil apartamentos e constataram “anomalias e falhas de cons-trução” como fissuras nas lajes, vazamento de instalações sanitá-rias, infiltrações, rachaduras nas paredes e falta de manutenção no sistema de drenagem e esgoto.

Após tantos contratos com os governos do PT e do PMDB a Di-recional se definia como o “o mais relevante player no segmento de baixíssima renda no Brasil” e diz ter sido a maior construtora da faixa 1 do MCMV.

Porém diante dos cortes or-çamentários, desde o governo Dilma, a empresa tem se afas-tado dessa faixa. Em um ano, a empresa mostrou que quase triplicou a sua atuação nas faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida, destinada a famílias com renda de até 9 mil reais.

Hoje, a empresa nega os pro-blemas do conjunto Viver Melhor. Ela afirmou que “uma análise recente realizada no condomínio comprova que não há problemas estruturais que geram riscos aos moradores”. Segundo a Direcio-nal, o laudo da Defensoria Pública está defasado.

A ordem de batalha em Montese

PGE-PA pede indenização de R$ 250 milhões por contaminação da Hydro

CPFL tem lucro de R$ 1,24 bilhão e garante aumento de 17% para as contas de luz

Entre 2013 e 2016, faturamento da construtora Direcional, impulsionado pelos repasses federais por conta do programa, foi de R$ 6,8 bilhões

Soldados brasileiros em Montese

Há 73 anos, em abril de 1945, a 10ª Divisão de Montanha Americana e um Corpo do Exército Francês ainda estavam bloqueados nos Apeninos italianos, na guerra contra o nazismo.

Seguindo ordens do Estado Maior Aliado, a Força Expedicionária Bra-sileira por determinação do 11º Regi-mento de Infantaria (coronel Jurandir Mamede), no dia 12 de abril, destacou três pelotões Especiais (de choque) para fazer reconhecimento inimigo na Cota fortificada 747 (metros).

O Primeiro Pelotão era comandado pelo Sargento (Paraná-Catarina de Rio Negro), Max Wolf, um líder nato e ídolo dos pracinhas. Entre outros poucos, ele destacou os catarinenses, Sergílio de Souza, Armindo Cetto, Raul C. Ferreira, Afonso Cruz Waldo-miro da Costa e Pedro Silva.

Às 13 horas do dia 12 de Abril, o Sgto. Max Wolff, corajoso, foi rasgado por uma rajada de metralhadoras alemãs ao tentar tomar uma casa-mata. Ainda tentou se arrastar, mas levou outra rajada. Alguns pracinhas tentaram remover seu corpo, mas foram feridos.

Outros pelotões (tenentes Ari Rauen e Iporan) prosseguiram no reconhecimento, sob intenso fogo. Graças a essas informações, na noite de 13 para 14, o Batalhão do Coronel Remagem ocupou a Cota 808 e tomou a direção de Montese e Monteforte. Às seis horas da manhã, a artilharia brasileira abriu foto sobre as linhas identificadas. Logo, o coronel Ma-mede desencadeou o grosso da tropa do 11º regimento sobre Montese, utilizando tanques e ocupando toda a área sob fogo.

O jornalista Egydio Sueff, então correspondente de “O Globo”, escre-veu: Montese já não existe. Nenhuma casa ficou intacta. É uma vila deserta, em ruínas. Manchas de sangue assi-nalam a violência da batalha. Mesmo após a ocupação, os alemães continu-am a bombardeá-la. Até o cemitério está resolvido por bombas. Foi um combate de casa em casa”.

No dia 19 de abril de 1945, na região de Fornovo, ao saber do fim de Hitler, a 148ª Divisão Alemã e re-manescentes dos Panzer Granadier, veteranos na Rússia, sob o comando do general Otto Freitter-Picco arrojou a frente ao pó e assinou um Termo de Rendição Incondicional ao Comando Brasileiro, entregando as armas e mais de 14 mil homens.

*Paulo Ramos Derengoski é jornalista e escritor

Imóveis do programa Minha Casa Minha Vida em Manaus, construídos pela Direcional Engenharia

foram condenados pela Defesa Civil do Amazonas PAULO RAMOS DERENGOSKI*

A CPFL Energia, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, registrou lucro de R$ 1,24 bilhão no ano passado. O número representa crescimento de 41,4% em relação a 2016. A empresa fornece energia para o interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Pa-raná e Minas Gerais. O grande responsável por este lucro da distribuidora de energia, isto é, o povo – obrigado a arcar com tarifas de energia absurdas, será o grande premiado com ao lucro da empresa: um novo aumento na conta de luz, de 19,3%.

“Em 2017, a CPFL Energia passou por mudanças societárias e organizacionais rele-vantes, com a chegada de um novo acionista controlador, agrupamento de empresas e desenvolvimento de novos negócios. Mes-mo diante deste cenário, o Grupo manteve o foco e a disciplina na execução dos seus planos estratégico e operacional, alcançando o maior Ebitda de sua história e melhora em seus indicadores operacionais”, afirma o presidente da CPFL Energia, Andre Dorf.

O aumento das contas de luz, que segun-do a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), tem o objetivo de sanar as contas das concessionárias distribuidoras de ener-gia, foi formalizado na última terça-feira. O reajuste médio, para cerca de quatro milhões de pessoas será de 16,9%.

Para consumidores conectados em alta tensão, o aumento será de 11,11% e, para a baixa tensão, de 20,17%. Além das uni-dades residenciais, a baixa tensão inclui as unidades consumidoras de baixa renda, imóveis rurais, comerciais, de serviços e outras atividades. Também inclui a tarifa de iluminação pública.

CEMIGA situação não é diferente em Minas Ge-

rais, onde os usuários atendidos pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), também receberam um “reajuste”, nas suas contas do mês que vem. Os mineiros terão de arcar com um aumento médio de 25% na tarifa.

A empresa obteve lucro líquido de R$ 1 bilhão, quase 200% superior ao registrado em 2016 (R$ 335 milhões).

A Procuradoria Geral do Es-tado do Pará (PGE) entrou com uma Ação Civil Pública Ambien-tal contra a multinacional Hydro Alunorte, cobrando uma inde-nização de R$ 250 milhões pelo despejo irregular de substâncias tóxicas em rios próximos à refi-naria da companhia, na cidade de Bacarena.

De acordo com a ação assinada pelo Procurador-geral do Estado, Ophir Cavalcante Junior, e pela procuradora Tátilla Passos Brito, do montante total, o valor de R$ 200 milhões será utilizado para o pagamento de indenização por danos morais coletivos e R$ 50 milhões por dano material oca-sionado pelo acidente.

“Esse valor individual serve apenas como referência, para que possamos chegar até um montan-te que possa auxiliar o Estado a, em diálogo com a comunidade e outras instituições, realizar ações compensatórias”, destaca Ophir. “Essa ação tem um objetivo muito claro: promover a reparação dos danos ambientais e dos danos causados à população carente de Barcarena na saúde pública.

“Considerando que a agressão ao meio ambiente não pode ser

Igor B

randão

Em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, bandidos realizaram uma carreata

Rio de Janeiro tem 15 homicídios dolosos por diaO último relatório do

Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), divulgado nesta segunda-feira (2), mostra que nos dois primeiros me-ses deste ano, ao menos 15 pessoas foram assassinadas por dia no estado. O estudo abrange os homicídios do-losos, ou seja, quando há intenção de matar.

No total, foram 906 ocor-rências nas delegacias da Polícia Civil em janeiro e fe-vereiro deste ano. No mesmo período do ano passado, o ISP tinha registrado 982 ocor-rências do mesmo indicador. Porém, apesar da leve queda de 7,7% em relação a 2017, o caos diário que os moradores do estado do Rio de Janeiro vêm passando mostra que a realidade continua grave, e só tende a piorar.

Na avaliação do doutor em Ciência Policial, João Trajano Sento-Sé, um dos coordenadores do Labora-

tório de Análise da Violência (LAV), da Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro (Uerj), tal redução avaliada pelo ISP não pode deixar ninguém aco-modado. “Se não ficou acima, também não está muito abaixo. A verdade é que voltamos a um patamar incômodo que aponta para uma tendência de cresci-mento”, disse.

Os dados do ISP mostram ainda que o indicador de mor-tes decorrentes de intervenção policial cresceu 17,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior. So-mente no mês passado foram cem vítimas, contra 85 em fevereiro do ano passado.

Já comparando o primeiro bimestre de 2017, esse au-mento é ainda maior. Foram registradas 245 mortes em janeiro e fevereiro de 2018, contra 184 no mesmo período do ano passado, um aumento de 38,8%.

Trajano ainda atribui o grande volume de mortes ao

que ele chama de “retoma-da da lógica da guerra às drogas”. De acordo com ele, com o fracasso do projeto das UPPs (Unidade de Polícia Pa-cificadora), o Estado voltou a utilizar a “lógica do confron-to”, o que, por fim, aumentou o número de vítimas, sendo elas inocentes, criminosos ou policiais.

“Com as UPPs, você tinha dois princípios orien-tadores que prometiam um horizonte interessante. Abdicar da lógica de guer-ra ao tráfico, como, por exemplo, as incursões que eram anunciadas justamen-te para evitar tiroteios, e o plano de metas, que premia-va as iniciativas de redução de homicídios na polícia. Ambos foram abandonados. O Estado retomou a lógica da guerra ao tráfico e, assim como o Comando Vermelho e as milícias, torna-se um vetor de produção de homi-cídios”, concluiu Trajano.

Mesmo após intervenção, violência assombra a população do estado

reparada, unicamente, com a recomposição in natura diante da magnitude, agressividade e pela própria extensão do dano, aliada ao fato, inconteste, de que a empresa vinha de há muito in-cidindo em parte dos ilícitos aqui narrados, obtendo lucro com essa postura, impõe-se a condenação aos danos materiais difusos, o que é perfeitamente acumulável”, destaca a ação.

FORÇA TAREFA Após as diversas denúncias da

população em fevereiro, e laudos e vistorias apontarem a contami-nação de rios e igarapés da região devido ao vazamento de despejos irregulares, a Procuradoria Geral da República (PGR) instaurou uma força-tarefa em parceria com o Ministério Público Estadual e Federal para apurar os danos ambientais causados pelas ati-vidades da refinaria norueguesa Hydro Alunorte, em Barcarena.

O objetivo central da equipe é fazer o levantamento dos proble-mas que afetaram a região após os rejeitos da refinaria contami-naram os rios da cidade, além de responsabilizar os agentes e pro-mover a indenização às famílias afetadas.

Imagem do rosto de Luzia reconstituída pela BBC

Há 20 anos, bioantropológo Walter Neves apresentou “Luzia” ao Mundo

Há 20 anos, o bioantro-pólogo Walter Neves da Uni-versidade de São Paulo (USP) apresentava, no Congresso da Associação Norte-Americana de Antropologia Física, os resultados de uma pesquisa craniométrica com os mais antigos ossos recuperados no continente, na região de La-goa Santa, em Minas Gerais, apontando que as Américas foram ocupadas em duas levas migratórias distintas. Entre o material estudado estava o crânio de uma mulher que batizou de Luzia. Com isso, a pré-história brasileira ganhava um ícone.

O modelo das duas ocupa-ções defende que o continente americano foi ocupado por duas ondas migratórias de homo sapiens vindas da Ásia. A pri-meira onda teria ocorrido antes de 14 mil anos atrás, composta por indivíduos com morfologia não mongolóide, semelhante à dos australianos e africanos. A segunda onda teria entrado no continente há 12 mil anos e seus membros apresentavam o tipo físico característico dos asiáticos, dos quais os índios modernos derivam. Essa pri-meira população pode ter sido substituída pela segunda ou se miscigenado com ela. Segundo a pesquisa de Walter Neves, os maiores candidatos a carrega-rem alguns genes e traços desta primeira migração são os índios botocudos.

A pesquisa de Walter Neves, que, até se aposentar há seis meses, coordenou o Labora-tório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Bio-ciências da Universidade de São Paulo (USP), começou na década de 1980, após analisar alguns crânios muito antigos

da região de Lagoa Santa e perceber que eles não seguiam o padrão mongol típico, que se-gundo a teoria norte-americana dominante na época, seria a primeira a ocupar a América. Hoje, ele faz parte do grupo “Cientistas Engajados”, que apresentou seu nome como can-didato a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano pelo Partido Pátria Livre (PPL).

Sua ideia ganhou impulso com o estudo do esqueleto de “Luzia”, um crânio humano com idade estimada em 11.500 anos, que pertenceu a um extin-to povo de caçadores-coletores da região de Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizon-te. O crânio foi descoberto numa expedição arqueólogica franco-brasileira, por Annette Laming-Emperaire, em Minas Gerais, nos anos 1970, e depo-sitado no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Mas, somente nos anos 80, o estudo dos ossos foi iniciado por Neves.

Em 1998, 10 anos depois do início da investigação, Neves publicou o estudo com sua nova teoria, que se tornou bastante

polêmica na época. Em 1999, um documentário da rede de televisão inglesa BBC, reconsti-tuiu a face de Luzia, o que com-provou a tese de Walter Neves.

A partir de então, aconteceu uma ampla divulgação do rosto da mulher com fortes carac-terísticas negróides e passou a figurar como um dos mais antigos registros da presença humana nas Américas, um ícone da pré-história brasileira.

Em 2005, uma nova pes-quisa apresentada por Neves, com o estudo de 81 crânios de Lagoa Santa, medíveis e bem datados, reforçou sua teoria. As idades dos crânios ficaram entre 9 e 7,5 mil anos, com exceção de Luzia, e to-dos mostraram semelhanças morfológicas com populações australo-melanésicas. As aná-lises morfológicas indicaram que a aparência craniofacial dos primeiros americanos, os que vieram na primeira migração pelo Estreito de Bering, era muito mais semelhante à dos atuais africanos e australianos do que à dos atuais asiáticos, que teriam se originado na segunda migração

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5GERAL6 A 10 DE ABRIL DE 2018 HP

A pedido dos Sindica-tos dos Metalúrgi-cos de São José dos Campos, Botucatu e

Araraquara, a Comissão de Direitos Humanos e Legis-lação Participativa (CDH) do Senado Federal realizou na última segunda-feira, 2, uma audiência pública para debater os impac-tos da possível venda da Embraer para a empresa norte-americana Boeing.

Segundo o vice-presi-dente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Cla-ros, “o que está em jogo é a soberania do país e o em-prego dos trabalhadores de toda cadeia aeronáutica do país”. Os sindicalistas pre-sentes na audiência apon-taram que, embora o fato de estar havendo negocia-ções tenha sido divulgado, elas estão sendo feitas sob sigilo, sem que a sociedade ou os trabalhadores pos-sam se manifestar.

O diretor do Sindica-to dos Metalúrgicos de Botucatu (SP), Fabiano Roque, também presente na audiência, reforçou que tanto os funcionários como a sociedade precisam saber mais sobre a possível compra da Embraer. “Os empregados estão insegu-ros porque não sabem nada sobre essa negociação”, salientou.

Há, no entanto, infor-mações extra-oficiais de que a empresa pode ser vendida por 6 bilhões de dólares. Para os traba-lhadores, a informação é revoltante por diversos motivos. A Embraer foi criada em 1969 pelo go-verno brasileiro, mas foi privatizada em 1994: ainda assim, o governo ficou com uma ação de classe especial chamada “golden share” (Ação de ouro, em inglês), fazendo com que qualquer decisão importante, como troca de controle e criação ou alteração de projetos militares, precise de apro-vação do governo.

Além disso, por meio de financiamentos do BN-DES, medidas de isenção de folha de pagamento e outros incentivos, o gover-no brasileiro contribuiu com cerca de US$ 24 bi-lhões com a Embraer ape-nas nos últimos oito anos, o que garantiu a continui-dade da produção de novas aeronaves, pesquisas, etc. “Não faz sentido querer vender por US$ 6 bilhões. Temos todos os motivos para dizer que essa empre-sa tem que ser brasileira”, declarou Herbert.

Os três sindicatos pu-blicaram um manifesto contra a venda da empresa, explicando que ela nasceu “em 1969 no interior do CTA (Centro Técnico Ae-roespacial), em São José dos Campos (SP), e hoje a Embraer detém tecnologia para desenvolvimento e produção de aviões comer-ciais, executivos, agrícolas e militares, além de peças aeroespaciais, satélites e monitoramento de frontei-

ra. É, portanto, estratégica para o Brasil. Sua entrega, total ou parcial, representa risco à soberania nacio-nal”.

Herbert também ressal-tou que não faz parte da prática das grandes empre-sas privadas, em especial as americanas, investir em tecnologia das empresas compradas, o que resul-taria no fechamento da Embraer em alguns anos: “Fabricar aviões não é sim-ples. A vida útil do avião é de muito tempo, mas o tempo de venda não é tão grande. A venda dessas aeronaves podem ser po-tencializadas com a Boeing num primeiro momento, mas daqui a 15 anos, o E2 [atual modelo da empresa] não venderá como hoje. A empresa só sobreviverá se houver um novo projeto e não acreditamos que os americanos, com uma em-presa protecionista como a Boeing, investirão em novos projetos para o Bra-sil. Especialistas afirmam, com o tempo, não haverá nem avião e nem empregos no setor no Brasil. No má-ximo, seremos fabricantes de peças”, disse.

Como exemplo, o sin-dicato fala da McDonnell Douglas Corporation, em-presa norte-americana que já foi a terceira maior fabricante de aviões co-merciais e militares do mundo, mas foi fechada após ser comprada pela Bo-eing, em 1996. O sindicato chegou a mandar, no dia 21 de dezembro, uma carta à presidência da Embraer pedindo explicações sobre as negociações com a Bo-eing, sem resposta.

“O interesse da Boeing pela Embraer mostra que a privatização da empresa brasileira foi um erro e que esse processo precisa ser revertido com urgência. A reestatização é essencial para preservar a soberania nacional e o emprego dos trabalhadores brasileiros e barrar o acelerado pro-cesso de desnacionalização da empresa”, reivindica o manifesto dos sindicatos.

Essa audiência fez parte das ações da campanha dos Sindicatos dos Me-talúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara em defesa dos empregos e da soberania do país.

Representações dos Mi-nistérios da Defesa, da Casa Civil e da Ciência e Tecnologia foram con-vidados a participar da Audiência, bem como re-presentantes da empresa, mas ninguém compareceu. “Este é um tema de grande aspecto social, mas que não tem a devida atenção do Executivo e Legislativo. É um crime o que está acon-tecendo. Quero fazer um desafio ao presidente da Embraer: que ele venha a público explicar e compro-var que a venda da Embra-er não ameaça os empregos e a soberania nacional”, afirmou Herbert, durante a audiência.

O presidente da Câmara dos Depu-tados, Rodrigo Maia (DEM), confessou nesta segunda-feira, 2, que não preten-de pôr em votação a Medida Provisória (MP 808) que altera pontos da reforma trabalhista. Caso não seja votada, a MP perderá a validade.

Dentre os pontos que a MP altera, o principal está na revogação da cláusula que permite que mulheres grávidas tra-balhem em locais insalubres mediante atestado emitido pelo médico contratado pelo patrão, e também altera a relação de trabalho intermitente, com a jornada de 12 por 36 horas, cuja aprovação apenas seria aceita mediante acordo de conven-ção coletiva, e não individual, como está na reforma atualmente.

Sobre a MP, Maia considera apenas que “se caducar, caducou”. O deputado diz que a reforma não prejudica os trabalhadores e aumentará os empregos. No entanto, o que ocorre é a queda acentuada do emprego com carteira assinada desde a implemen-tação da nova lei, enquanto o que sobe são os empregos informais e subempregos.

Para a presidente da Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), Gláucia Morelli, “a MP que retira o trabalho da mulher gestante em locais insalubres precisa ser votada pelo Congresso Nacio-nal até 23 de abril. Vamos mobilizar as mulheres para exigir que seja colocada em pauta e exigir que ao menos esse crime seja retirado imediatamente da reforma trabalhista escravagista”, disse.

Outro ponto que a MP altera é o da Indenização de dano extrapatrimonial. O texto aprovado pela reforma trabalhista prevê o pagamento de indenizações de acordo com o salário do trabalhador que recebe o direito, indicando claramente (e inconstitucionalmente) que quem ganha mais merece indenizações maiores. A MP oferece um parâmetro para as inde-nizações.

MP que altera reforma trabalhista pode não ir a voto, admite Maia

MG: professores em manifestação bloqueiam Fernão Dias exigindo reajuste nos salários

Segurança: Fenapef defende revisão de vagas para próximo concurso público

Senador Paulo Paim e Hebert Carlos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos

Os trabalhadores da Educação pública de Mi-nas Gerais bloquearam, durante a manhã desta quarta-feira (4), a rodovia Fernão Dias em protesto ao calote dado pelo gover-nador do Estado, Fernan-do Pimentel (PT).

A manifestação contou com centenas de profissio-nais da educação e fechou a rodovia com a finalida-de de “fazer um diálogo com a sociedade sobre as demandas da educação e dos motivos que levam os profissionais da educação a deflagrarem a greve”, de acordo com o Sindica-to dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG).

Os servidores estão em greve desde o dia 8 de março reivindicando que o acordo de reajuste salarial nos anos de 2016, 2017 e 2018, quando, finalmente,

os salários alcançariam o Piso Salarial Nacional, seria cumprido. Pimentel manteve sua palavra em 2016 e 2017, mas agora diz que o estado não tem o di-nheiro necessário para que o último reajuste aconteça.

No dia 28 de março, du-rante outra manifestação, os professores foram bru-

talmente reprimidos pela Polícia Militar, que agiu com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.

Ainda na quarta-feira, a categoria se reunirá em assembleia para avaliar as ações feitas e planejar os próximos passos do movimento.

Depois de três anos com apenas uma atualização, o go-verno Temer deverá publicar a atualização da “lista suja” do trabalho escravo e manter a sua divulgação a cada seis meses, conforme determina-ção da Justiça feita na última quinta-feira (29). A próxima publicação deve acontecer até 27 de abril.

O juiz da 11ª Vara do Tra-balho de Brasília, Rubens Curado Silveira, atendeu ao pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT), feito em dezembro de 2016, entenden-do que o governo deixar de divulgar a lista “esvazia a po-lítica de Estado de combate ao trabalho análogo ao de escravo no Brasil”.

Para Catarina von Zu-ben, coordenadora nacional da Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), “a im-portância agora desta decisão é que o juiz deixou claro que a obrigação não era só de uma publicação da lista, e sim de que periodicamente ela seja atualizada. Tendo em vista que foi em outubro a última publicação, foi determinado que agora até final de abril seja publicada nova lista”

Catarina complementa:

“Aguardamos que essa deci-são seja definitivamente cum-prida, em favor da segurança para a sociedade a respeito de tão importante tema”.

O Ministério do Trabalho suspendeu a publicação da lista em 2014, ante o ques-tionamento de sua legalidade por parte de um empregador. A publicação só foi autori-zada novamente em 2015, após a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, suspender a tentativa do governo de Temer de difi-cultar a fiscalização. Porém, o

Ministério do Trabalho conti-nuou sem atualizar a lista até 27 de outubro de 2017.

A lista conta com 131 empregadores de diversas áreas, mas com a predomi-nância da agropecuária. O número de trabalhadores envolvidos nos casos varia muito, também, indo de 1 até 348, como no caso da União Agropecuária Novo Horizonte S.A.. O estado de Minas Gerais, sede da em-presa citada, é o com o maior número de casos, com 41, seguido pelo Pará, com 17.

Libertadores: Verdão vence Alianza Lima com facilidade

Justiça determina que governo publique e atualize “lista suja” do trabalho escravo a cada seis meses

A Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF), assim como outras representações da categoria, enviou, na últi-ma quinta-feira (29), um ofício para o Ministério da Segurança Pública e para o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, pedindo uma revisão na distribuição de vagas do próximo concurso público.

A categoria pede que haja mais vagas previstas para o cargo de escrivão, uma vez que estão previs-tas somente 80 das 500 va-gas do concurso para o car-go. “Pedimos que seja feita uma melhor adequação das vagas, com destaque para os cargos de escrivães, vi-sando corrigir a distorção

“Se caducar, caducou”, diz o deputado

De olho no clássico com o Corinthians no domingo (8), o Palmeiras mandou a campo um time misto para enfrentar o Alianza Lima, do Peru, pela Taça Liber-tadores da América, e venceu por 2 a 0 com relativa facilidade. Thiago Martins e Miguel Borja anotaram os tentos do Palestra.

O técnico Roger Machado poupou Mar-cos Rocha, Victor Luis, Bruno Henrique e Willian e escalou Mayke, Diogo Barbosa, Moisés e Keno. O Palmeiras mostrou a força do seu elenco e manteve seu padrão de jogo, não dando a menor chance para a equipe peruana.

No campo, o time jogava sério, mas na arquibancada a torcida já pensava no jogo com o Timão: “Olêlê, olálá, se segu-ra gambazada que o bicho vai pegar” ou então, “Ôôôôôô é dia 8!”.

O jogo virou 1 a 0 e antes do primeiro minuto da segunda etapa Borja marcou o segundo. Aí foi só administrar, entrando Deyverson, Guerra e Tchê Tchê.

Luís Antônio Boudens

Protesto dos professores, em greve desde o dia 8

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Trabalhadores denunciaram em audiência plano de desmonte da empresa nacional

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Sindicato: ‘Venda da Embraer à Boeing atenta contra soberania’

Trabalho escravo na área rural preodomina

hoje existente”, comenta o presidente da FENAPEF, Luís Antônio Boudens.

Além das 80 vagas para escrivão, o concurso prevê 180 para agentes, 150 para delegados, 30 para papilos-copistas e 60 para peritos.

HP ESPORTESVALDO ALBUQUERQUE

Cantor e poeta populares comandam programa ‘Gente Brasileira’ na Rádio Independência Brasil

O secretário de Relações do Traba-lho, Carlos Caval-cante Lacerda, que emitiu nota técnica a favor da contribuição sindical foi exone-rado do cargo nesta segunda-feira (2).

A decisão foi anun-ciada pelo jornal Folha de S. Paulo, após re-portagem dessa sobre a posição do secretário.

Segundo a no -tícia, o secretário havia recebido rei-vindicação de mais de 80 sindicatos em favor do direito do imposto sindical, e em sua nota afirmou que o documento serviria para as en-tidades “embasarem o entendimento de que a assembleia é soberana”.

Secretário que defendeu o imposto sindical é demitido

No próximo domingo (8) es-tréia na Rádio Independência o programa “Gente Brasileira”, com o cantor e compositor Lan-do Suárez e o poeta e cronista Santiago Dias.

Os artistas trarão aos ouvin-tes o que há de melhor da Música Brasileira. Além de declamar poesias e contar boas histórias, Lando Suárez e Santiago recebe-rão artistas de grandes talentos da cena musical e literária.

O programa “Gente Brasi-leira” vai ao ar neste domingo a partir da 20hs, na sua Rádio Independência. Confira em www.independenciabrasil.com.br. Os artistas Santiago Dias e Lando Suárez

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INTERNACIONAL 6 A 10 DE ABRIL DE 2018HP

França: ferroviários param contra ataque de Macron a seus direitos

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“Não há nada mais barato em Israel que o sangue palestino” afirma Gideon Levy

Autores no lançamento do livro, na Mesquita Brasil

‘Palestina, um olhar além da Ocupação’, livro de Nilton Bobato é lançado em São Paulo

México: Obrador defende a recuperação da estatal do pétroleo e desponta na campanha

GIDEON LEVY

Obrador defende elevar produção de derivados do petróleo

Macron investe contra a estabilidade dos servidores e pela redução das aposentadorias. Centrais denunciam que tais medidas visam facilitar a privatização da estatal do setor, SNCF

Solidariedade entre usuários e ferroviários diz cartaz na manifestação em Paris

Guatemala: já no inferno o genocida Efraín Rios Montt

Massacre em Gaza“A matança de palestinos é aceita em Israel

de forma mais leve do que o extermínio de mosquitos”, enfatiza Gideon Levy, colunista do jornal israelense Haaretz, na matéria sobre o massacre perpetrado pelo exército israelense nesta Sexta-feira Santa

O contador da morte clicava selvagemente. Uma morte a cada 30 minutos. Uma vez. De novo. Novamente. Mais um. Israel estava ocupado em preparar a noite do Seder [festa familiar da Páscoa judaica]. As estações de TV divulgavam a festa da insensatez.

Não é difícil imaginar o que teria acontecido se um colono israelense fosse esfaqueado – as notícias do fato invadiriam os estúdios. Mas em Gaza as Forças de Defesa de Israel (FDI) conti-nuaram o massacre sem piedade, em um ritmo horrível, enquanto Israel celebrava a Páscoa.

Qualquer preocupação seria pelos soldados que não podiam estar na celebração do Seder. Ao cair da noite a contagem dos corpos já che-gara a 15 ao menos, todos por munição viva, com mais de 750 feridos [ao final a contagem do crime hediondo chegaria a 17 mortos e 1.500 feridos]. Resultado de tiros de atiradores de elite contra civis desarmados. Isso se chama massacre. Não há outra palavra para isso.

O alívio cômico foi providenciado pelo porta-voz do Exército, que anunciou ao anoitecer: “Um ataque armado foi contido. Dois terroris-tas aproximaram-se da cerca e atiraram contra nossos soldados.” Não importa que isto tenha acontecido depois da morte do 12º palestino e quem sabe quantos feridos.

Atiradores de elite alvejaram centenas de civis e, no entanto, dois palestinos que ousaram devolver o fogo sobre soldados que os massa-cravam são “terroristas” e suas ações denomi-nadas de “ataques terroristas” e sua sentença, não outra: morte. A falta de consciência nunca mergulhou a tal profundidade nas FDI.

Como de costume, a mídia emprestou seu assustador apoio. Depois da 15a morte, a ân-cora Or Heller, no jornal do Canal 10 declarou que o incidente mais sério do dia foi resultado dos tiros pelos dois palestinos. Já o comenta-rista Dan Margalit “saudou” o exército.

A população de Israel foi novamente submetida a uma lavagem cerebral e todos se sentaram à mesa da festa de Páscoa em um espírito de auto-satisfação. E então todos, em seus lares, recitaram: “Despeje Sua ira sobre as nações que não Te reco-nhecem”, referindo-se à disseminação das pragas e a execução do assassinato em mas-sa de bebês (a matança dos primogênitos egípcios, 10ª Praga Divina).

SEXTA SANGRENTA

Assim, a Sexta-Feira Santa cristã e a noite do Seder judaico tornou-se um dia de sangue para os palestinos em Gaza. E não se pode chamar isso de crime de guerra por que não havia aí nenhuma guerra.

O teste pelo qual as FDI e a patológica indiferença pública deveriam ser julgadas é o seguinte: O que aconteceria se manifes-tantes judeus israelenses; ultra-ortodoxos e outros ameaçassem invadir o Knesset? Seria, neste caso, aceita pelo público a insana abertura de fogo com munição viva a partir de tanques e atiradores? Será que o assassinato de 15 manifestantes judeus passaria em silêncio? E, ainda que uma dúzia de palestinos conseguissem adentrar Israel, isso justificar um massacre?

A matança de palestinos é aceita em Israel de forma mais leve do que o extermínio de mosquitos. Não há nada mais barato em Israel do que o sangue palestino. Se tivessem ocorrido cem ou até mil mortes, Israel ainda “saudaria” as FDI. Este é o exército cujo comandante, o bom e moderado Gadi Eisenkot, é recebido com tal orgulho pelos israelenses. Claro, nas entrevistas levadas ao ar no feriado, ninguém lhe perguntou sobre o massacre antecipado e ninguém vai perguntar depois.

Mas, um exército que se orgulha de atirar em um camponês em sua terra, que mostra o vídeo para intimidar os de Gaza; um exército que mira civis com seus tanques e posiciona cem atiradores à espera de manifestantes é um exército que perdeu todo tipo de contenção. Como se não houvessem outras medidas possí-veis. Como se as FDI tivessem a autoridade ou o direito de impedir manifestações em Gaza, ameaçar motoristas de ônibus que transpor-tassem manifestantes em um território que é alheio, como todos sabem.

Jovens desesperados tentando se es-gueirarem de Gaza, armados com armas ridículas, marchando dezenas de quilôme-tros sem ferir ninguém, apenas esperando serem presos para assim escaparem da miséria de Gaza em uma prisão israelense. Isso também não toca a consciência de nin-guém. A questão principal é que as FDI, orgulhosamente, apresente sua versão. O presidente Mahmud Abbas é responsável pela situação em Gaza. E o Hamas, claro. E o Egito. E o mundo árabe e o mundo inteiro. Só não Israel. Israel saiu de Gaza e os soldados israelenses nunca cometeram nenhum massacre.

Os nomes foram publicados ao anoitecer. Um deles se levantava após uma reza, outro foi morto, pelas costas, quando fugia. Os nomes não sensibilizariam ninguém. Mohammed al-Najar, Omar Abu Samur, Ahmed Odeh, Sari Odeh, Bader al-Sabag; a lista segue e se estende, para nosso horror.

Foi lançado na terça-feira, na Mesquita Bra-sil, em São Paulo, o livro “Palestina, um olhar além da Ocupação”, comovente relato da viagem de três autoridades brasileiras em missão oficial aos territó-rios ocupados por Israel.

“O que vocês lerão nes-te livro é o mais maca-bro dos experimentos de limpeza étnica”, afirmou Ualid Rabah, diretor da Federação Árabe-Palesti-na do Brasil (Fepal), sin-tetizando o teor da obra.

Conforme o vice-prefei-to de Foz do Iguaçu-PR, Nilton Bobato, um dos autores do livro, “é neces-sário que as pessoas em todo o mundo conheçam o sistema de apartheid de Israel, uma atrocidade que já dura 70 anos, para que lutem por boicote, desinvestimento e sanções da mesma forma como foi feito contra o apartheid da África do Sul”.

Nilton, acompanhado do presidente da Socieda-de Árabe Palestina de Foz do Iguaçu e diretor de As-suntos Internacionais do Município, Jihad Abu Ali, e do vereador de Cascavel, Paulo Porto, escreveram um relato contundente e cheio de vida sobre sua visita de seis dias em 2015. Informações e análises que ganham ainda mais relevância no momento em que o governo isra-elense manda metralhar

jovens palestinos indefesos, determinados a libertar o seu país da opressão es-trangeira.

Por ser filho de palesti-no, o brasileiro Jihad Ali pôde sentir na própria pele a dimensão da discrimina-ção, tendo ficado retido na alfândega, tanto na entra-da como na saída do país. Com nome e fisionomia tipicamente árabes, Jihad ficou quase 12 horas inco-municável nas mãos das autoridades israelenses.

Esses e outros episódios, como o do encontro com o presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, a tensão a cada checkpoint (barrei-ras formadas por soldados de Israel por toda Palesti-na) e a alegria e surpresa de encontrar, mesmo sob ocupação, uma sociedade que não se rende, são rela-tados de maneira direta na

obra belamente ilustrada com as fotos de Paulo Porto.

Entre as lideranças presentes ao ato esti-veram o deputado pelo PT, Alencar Santana, o ex-deputado Nivaldo Santana, pelo PCdoB e o pré-candidato a deputado federal, Fabiano Pavio.

No prólogo do livro, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al-zeben, afirma que quem quiser conhecer a ocu-pação “deve ler esta ex-periência tão detalhada-mente narrada”, de “uma resistência épica, que se traduz numa Palestina vibrante, alegre, apesar de um destino desuma-namente imposto”.

“Palestina, um olhar além da Ocupação” pode ser adquirido pelo portal www.editora limiar.com.br

Os ferroviários franceses pararam nos dias 3 e 4, para deter os ataques do governo Macron aos

direitos trabalhistas e benefí-cios sociais conquistados pelos trabalhadores. “Estamos defen-dendo o serviço público francês como um todo, não apenas os trabalhadores ferroviários”, destacou o diretor do sindicato Sud Rail, Emmanuel Grondein, ao comentar que o governo quer aplicar o arrocho como passo para a privatização do setor.

A greve destes dois dias in-tegra uma jornada de lutas que constará de 18 paralisasses de dois dias que devem acontecer, uma a cada 5 dias, estendendo-se o final de junho.

As manobras do presidente francês, Emmanuel Macron, para extinguir os direitos traba-lhistas e sociais foram aprovadas em agosto do ano passado. De-nominadas de “reforma” ou de “modernização” são integradas por cinco ordens executivas. Para os trabalhadores, as me-didas, longe de representarem alguma melhora, prevêem fa-cilitar as demissões em massa e abrem caminho para um processo de precarização das condições de trabalho. Se imple-mentadas, colocarão em cheque a estabilidade dos empregos no setor público, abrindo espaço para a terceirização e, ao mesmo tempo, permitirão a redução dos salários e pensões de for-ma generalizada. Outro ponto importante se dá no fato de so-brepor o acordado ao legislado. O que quer dizer que conquistas podem ser riscadas do papel por acordos fechados sob pressão patronal ou governamental.

"O ataque do governo se dá contra os hospitais, serviços públicos em geral e contra os aposentados”, afirmou Olivier Mateu, secretário de-partamental da Confederação Geral do Trabalho (CGT, nas siglas em francês), durante a manifestação de quarta. “Precisamos ampliar a uni-dade entre os trabalhadores, do setor público e do setor privado, porque essa é uma das condições para vencer”.

Nesse sentido, ao tratar do longo período de greve que se estenderá pelos próximos meses, um dos dirigentes do movimento organizado na empresa Socie-dade Nacional de Ferrovias (SNCF), Guillaume Pepy, pediu a compreensão e colaboração dos franceses ao tempo em que responsabilizava o governo pelos transtornos: “Quero ser muito claro, o movimento grevista, sem dúvida, terá ampla adesão e tornará a vida de muitas pessoas mais difícil”.

A greve dessa semana, com encerramento previsto para a manhã de quinta, teve ampla adesão dos ferroviários, e para-lisou 87% dos trens de alta ve-locidade que operam em longas distâncias, o que significa dizer que a cada 8 trens, apenas 1 está operando. No que diz respeito

ao serviço regional, para curtas distancias, 80% do serviço foi paralisado. Ao todo, 77% dos condutores aderiram à greve, conforme os dados da SNCF.

Para Philippe, que há 20 anos trabalha como condutor de trens, embora as medidas do governo tenham elevado a tensão, com a greve, os traba-lhadores estão mais animados. “Sinto que todo mundo está muito preocupado, mas, quan-do um movimento começa com essa força, nossa energia aumenta”. Embora a dificul-dade de transporte tenha se elevado para os usuários do sistema ferroviário como um todo, muitos disseram compre-ender o movimento grevista. “Eu entendo porque eles es-tão fazendo estes protestos”, explicou Marie Charles, uma usuária de Paris, ao desabafar que não conseguiria chegar no seu primeiro dia de trabalho em seu novo emprego.

Dada a impossibilidade de recorrer às ferrovias, muitas pessoas optaram por utilizar seus carros particulares, o que gerou até 400 quilômetros de engarrafamentos nos acessos de Paris, conforme anúncio do Centro Nacional de Informa-ções Rodoviárias.

Embora a greve tenha al-cançado grande repercussão, a posição do Governo diante da greve permanece irredutível, e repousa sobre as mesmas justificativas ao tergiversar sobre a necessidade de ajuste, contra os direitos trabalhistas, para diminuir o déficit fiscal, deixando intacta a farra dos bancos que se esbaldam na especulação.

Nesse sentido, a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne, afirmou que a privati-zação do setor está de acordo com a visão do governo para o sistema ferroviário. “Esta reforma é necessária para os viajantes, necessária para a SNCF e para os trabalhado-res ferroviários”. Já Gabriel Attal, que é o porta-voz do partido de Macron, o La Republique, não mediu suas palavras e atacou os sindica-tos e os trabalhadores: “pre-cisamos livrar o país dessa cultura de greves”.

A indignação contra os ata-ques do governo aos trabalha-dores está intensificando não só as manifestações no país, mas também o movimento de greve, a exemplo da última paralisação do dia 22 de março, que levou 500 mil pessoas às cerca de 180 manifestações em toda a França.

Ainda na terça, os trabalha-dores da Air France também se somaram ao movimento de greve e, em protesto paralelo, exigiram 6% de aumento sala-rial. Este foi o primeiro dia de greve de outros três que serão realizados durante os próximos 10 dias. Ao todo, 25% dos voos foram cancelados.

GABRIEL CRUZ

O general genocida gua-temalteco José Efraín Ríos Montt, que cometeu crimes contra a Humanidade, morreu no domingo, aos 91 anos, sem ir preso.

Montt governou a Guate-mala entre 1982 e 1983 após um golpe de estado e era jul-gado pelo assassinato de 1.171 indígenas no departamento de Quiché, no noroeste do país, que foi entre seus muitos crimes o mais execrado. Pondo em prática uma política de terra arrasada, tortura e repressão às popu-lações indígenas em favor das transnacionais, ficou também conhecido pela prática de "Fu-siles y Frijoles" (Feijões e Fuzis), por entregar feijões e armas para forçar as populações a combater grupos rebeldes.

O ditador tinha sido conde-nado em 10 de maio de 2013 a 80 anos de prisão por crime de genocídio por um Tribunal de Maior Risco. Entretanto, dez dias depois sua condenação foi anulada por 'falhas processuais' pela máxima instância penal do país, a Corte de Constituciona-lidade (CC).

Durante os 17 meses em que ficou no poder, o ditador reforçou as políticas de "caça aos comunistas" e estreitou ainda

mais as relações do país com os EUA, se tornando um dos principais aliados do ex-presi-dente norte-americano Ronald Reagan na região.

Durante o enterro, mem-bros da organização Hijos(-Filhos), formada por sobrevi-ventes do conflito militar que assolou a Guatemala entre 1960 e 1996, manifestaram-se na Praça da Constituição, no centro da Cidade da Guate-mala. Durante o protesto, foi pintada uma frase: "Os povos nem esquecem nem perdoam."

Os grupos paramilitares criados durante a época de Ríos Montt arrasaram mais de 400 aldeias guatemaltecas e mas-sacraram populações, que ele e seus comparsas consideravam "inimigas do Estado".

Os detalhes da matança de Quiché foram dados a conhecer por sobreviventes, durante o processo de 2013. Apesar da condenação, o antigo general nunca chegou a cumprir pena, já que deram um jeito de que os crimes de que fora acusado prescrevessem.

Seu governo foi considerado dos mais violentos, segundo um relatório da ONU de 1999, que afirma que foi cometido ato de genocídio na Guatemala.

Andrés Manuel López Obrador, candidato da coali-zão Juntos Faremos História – integrada pelo movimento Morena, Partido do Traba-lho e Encontro Social – é o favorito para vencer a disputa pela presidência do México. Ele começou a campanha presidencial reafirmando seu compromisso de acabar com a corrupção, a impunidade e defender a soberania do país.

"O México e seu povo não vão ser peteca de nenhum governo estrangeiro", asse-gurou, exigindo respeito ao presidente estadunidense Donald Trump, que ameaçou pôr o Exército na fronteira, eliminar um acordo comer-cial, reprimir os imigrantes e, para isso, levantar um muro entre ambos países. "Reitera-mos que os problemas sociais não se resolvem com muros nem com a militarização da fronteira, mas com desenvol-vimento e bem-estar", frisou.

O candidato presidencial nas eleições que serão reali-zadas em 1º de julho próximo, sublinhou sobre o tema ener-gético que seu compromisso é de suspender a entrega a multinacionais dos campos petrolíferos em terra e águas rasas, assim como toda ação que implique na privatização petroleira e elétrica.

Além disso, reiterou sua determinação de que “aos três anos de ter chegado ao governo, vamos deixar de comprar gasolina no es-trangeiro. Isso será assim porque vão ser reabilitadas as seis refinarias existentes,

paralisadas por uma política antinacional, e construídas mais duas”.

Disse que estas últimas serão edificadas, uma na lo-calidade de Atasta, município de Carmen, Campeche, e a segunda no porto Dos Bocas, em Paraíso, Tabasco.

"Não vamos mais vender petróleo cru ao estrangeiro. Vamos processar toda a maté-ria prima em nosso país para baixar o preço dos combustí-veis", enfatizou.

López Obrador destacou que não existe nenhuma jus-tificativa para que a gasolina no México esteja mais cara que nos Estados Unidos e, inclusive, do que em outros países, como Guatemala, que não tem petróleo.

“Tudo isso é gerado pela corrupção que impera no setor energético.

López Obrador disse que seu governo deixará de ser uma fábrica de novos ricos, porque não haverá oportuni-dade de fazer negociatas ao

amparo do poder.A média das pesquisas

realizadas coloca Andrés Manuel López Obrador na frente, com mais de 41% dos votos, seguido de Ricardo Anaya do Partido da Ação Nacional , PAN, com (28%) e José Antonio Meade do Partido Revolucionário Ins-titucional, PRI, com (22%). Faltam ainda três meses até a votação presidencial, mas o candidato do Morena conta com 14 pontos de vantagem e é hoje o favorito claro.

O México realizará uma eleição que está sendo qua-lificada pelos observadores como a maior da história. Se-rão eleitos o presidente, 128 senadores, 500 deputados, 9 governadores estaduais, incluído o prefeito da Cidade do México, 928 deputados estaduais em 27 Assembleias regionais, e milhares de car-gos locais. 90 milhões de mexicanos têm direito a se pronunciar em um 150.000 urnas eleitorais.

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INTERNACIONAL6 A 10 DE ABRIL DE 2018 HP

Rebelião de professores nos EUA contra cortes e baixos salários

LEONARDO SEVERO

Paralisação dos professores começou por Oklahoma e estendeu-se a Kentucky

Centro de guerra química inglês: ‘identificamos o veneno usado contra Skripal, mas não sua origem’

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Ministro da defesa chinês fala em Moscou sobre ‘laços militares estreitos com a Rússia’

Califórnia: Nasim Aghdam abre fogo na sede do YouTube, fere três pessoas e suicida-se

Comissão investigará propinas da Odebrecht de 2004-2005 na Bolívia

Governo chinês retalia em menos de 11 horas ataque comercial de Washington Dezenas de milha-

res de professores e funcionários pa-ralisaram as aulas

em Oklahoma e Kentucky, na maior manifestação rea-lizada em décadas contra o desmonte do ensino público em prol do cerco privatista. Pela organização, massi-vidade e contundência, os protestos, que ameaçam espalhar-se por outros es-tados como Wisconsin, Pen-silvânia e Nova Jersey, estão sendo chamados de “a rebe-lião dos mestres”, expondo as entranhas do abandono da educação “made in USA”. Nos Estados Unidos, a edu-cação pública é financiada e regulada pelo governo do estado.

A profundidade dos cor-tes em Oklahoma deixou as escolas sem livros didáticos nem materiais pedagógicos suficientes, com instalações caindo aos pedaços - e sobre as próprias cabeças, ofe-recendo perigo - e alunos, professores e funcionários congelando no inverno até mesmo por falta de calefa-ção nas salas de aula. Inú-meros distritos escolares têm sido obrigados a redu-zir a jornada para apenas quatro dias por completa carência de recursos, resul-tado de um corte de quase 30% no orçamento do setor nos últimos 10 anos.

As mobilizações inicia-ram com concentrações em frente às escolas de Oklaho-ma, onde professores e fun-cionários de mais de 200 distritos seguiram até o capi-tólio estadual. Ali, estudan-tes e familiares engrossaram a rebelião, respaldando a reivindicação por 20% de reajuste - o estado paga o penúltimo salário do país -; aumento dos investimentos públicos no setor - extre-mamente achatado; mais fundos para o plano de saúde dos servidores e a contrata-ção de mais professores.

TRAGÉDIADiante do aprofunda-

mento da tragédia e do caos, muitos professores ou pre-cisaram abandonar as salas de aula em busca de novos empregos ou tiveram que se socorrer em bicos comple-mentares para sobreviver. Em Oklahoma é comum encontrar educadores tra-balhando como garçons em restaurantes, atendentes em supermercados ou choferes de Uber para completar o salário. Conforme levanta-mento do jornal La Jornada, “alguns tiveram que recor-rer a programas de assistên-cia alimentar ou a caridades para atender necessidades básicas de suas famílias e chegaram inclusive a doar sangue por dinheiro”.

Foi esta revolta que em-balou os manifestantes a

tocarem e cantarem “We’re Not Gonna Take It” (Não Aceitaremos) nas ruas de Oklahoma City. Convertida em hino, ela serviu como fundo musical para as cara-vanas de ônibus lotados de professores vindos de todo o Estado que chegaram com faixas e cartazes para dar visibilidade ao “desrespeito e ao abandono”. “Como vocês podem colocar os alunos em primeiro lugar, se colocam os professores em último?”, condenavam. “Estou revol-tada com os cortes, pois são cortes cada vez mais profun-dos”, denunciou Betty Ger-ber, professora aposentada de Broken Arrow.

De acordo com lideran-ças do movimento, a grave escassez de professores in-tegra a política antieduca-cional do governo e tem sido responsável pela crescente evasão de estudantes para outros estados.

Ampliando a pressão, milhares de professores continuavam a paralisação iniciada na quinta-feira no estado de Virgínia Ociden-tal e exigiam uma reunião urgente com o governador Jim Justice a fim de debater - e solucionar - sua pauta salarial

Representados pela Fe-deração Estadunidense de Professores, pela Associação de Educação e pela Associa-ção de Pessoal de Serviço Escolar da Virgínia Ociden-tal, os educadores querem trazer para a mesa de nego-ciação tanto a Justiça como os líderes do Senado e da Câmara de Representantes do estado.

REPRESSÃONos EUA as ações sindi-

cais são consideradas mui-tas vezes “ilegais” segundo as legislações arquirreacio-nárias dos estados - e ainda mais absurdo, chegam a ser desautorizadas pela própria liderança sindical atrelada ao governo de plantão. Assim, as greves acabam sendo quase que exclusivamente resultado da organização e da coor-denação entre as próprias bases, que se comunicam por meio das redes sociais.

Conforme analistas, se o movimento seguir crescen-do tende a se converter na maior onda de greves não autorizadas desde os tempos da Grande Depressão.

Como anunciou o sena-dor Bernie Sanders: “ini-ciou na Virgínia Ocidental. Continuou em Oklahoma e agora está alcançando o Arizona. Os professores estão exigindo respeito pela educação e pelos edu-cadores. Estão se levantan-do, lutando e conquistam avanços reais. Que venha a mudança”.

Os cortes na educação deixaram escolas públicas sem livros didáticos e com instalações caindo aos pedaços, além de alunos e professores a congelar no inverno por falta de calefação nas salas de aula

Pode vir quente que eu estou fervendo: menos de 11 horas após o governo Trump ter anunciado imposição de tarifa adicional de 25% sobre produtos chineses importados no valor de US$ 50 bilhões, a China respon-deu com medida equivalente, que atingirá de soja a aviões, incluindo ainda carros, produtos químicos, carne e até uísque. A data efetiva da aplicação da taxa retaliatória depende de quando a sobretaxa de Trump entrar mesmo em vigor.

Ao incluir produtos vitais para a pauta de exportação dos EUA, como soja, automóveis e aviões, Pequim reitera sua declaração an-terior de que “não quer” a guerra comercial, mas “não a teme”. Como advertiu o porta-voz da chancelaria chinesa, Geng Shuan, “qualquer tentativa de colocar a China de joelhos com ameaças e intimidações nunca terá êxito, tampouco desta vez”.

O embaixador chinês nos EUA, Cui Tiankai, já havia antecipado que haveria re-taliações “na mesma escala e intensidade”. Um terço da produção de soja americana é vendido para a China (US$ 14 bilhões em 2017) e a GM já vende 1 milhão de carros a mais na China do que nos EUA. Análise da Reuters coloca “carros elétricos da Tesla, jatos executivos Gulfstream, limousines Lincoln da Ford e o uísque Jack Daniel” entre os alvos – sem esquecer a Boeing.

1300 ÍTENS COM SOBRETAXASA lista de Trump de 1300 itens abrange

antibióticos, robôs industriais, veículos e outros produtos. Como a publicação por Washington da lista de sobretaxas abre um período de consultas públicas de dois meses, muita água ainda vai rolar debaixo da ponte. Em março, o governo Trump tam-bém proibiu por decreto a compra da fabri-cante de chips para celulares, Qualcomm, por uma empresa de Singapura, alegando razões de segurança nacional e que a China estaria por trás da negociação.

Por trás da guerra de tarifas e de pala-vras, o que está em jogo é se Pequim vai se submeter às pressões de Washington para abrir seu setor financeiro a Wall Street, às normas leoninas de patentes dos EUA, e à abertura das compras governamentais às corporações norte-americanas.

Na segunda-feira, a China oficializou à Organização Mundial do Trabalho (OMC) sua retaliação às sobretaxas de Trump sobre o aço e alumínio do mês passado. A medida atinge carne de porco, nozes e etanol, com tarifas entre 10% e 25% sobre importações que somam o mesmo valor afetado por Trump, US$2,75 bilhões.

Na semana passada, o embaixador Cui deu a entender que a China poderia se livrar dos títulos do Tesouro norte-americano que detém, em defesa de seus interesses nesse confronto: “Estamos analisando todas as opções”. A China é o maior detentor de títulos do Tesouro dos EUA (US$ 1,168 trilhão) – o que corresponde a 18,7% da dívida, seguido de perto pelo Japão. Essa possibilidade de derrame de “treasuries” é comummente referida na mídia dos EUA como a “opção nuclear”.

REDUÇÃO DE US$ 100 BILHÕESA “exigência” de Trump de que a China

“reduza em US$ 100 bilhões” seu superávit comercial com Washington é contestada por Pequim, que denuncia que esses números são inflados. Como no caso dos iphones, cuja importação é registrada nos EUA como em torno de US$ 1600 por aparelho, mas na qual o valor agregado na China é de apenas US$ 65, com o resto cabendo ao que é levado para a China pelas “cadeias de produção globais” sob controle da Apple, com apenas a montagem ocorrendo ali.

Nesse confronto, há controvérsias sobre quem vai piscar primeiro. Segundo o New York Times, “gigantes como a General Elec-tric e Goldman Sachs, bem como companhias agrícolas, têm levantado objeções com a Casa Branca, dizendo que as tarifas dos dois lados do Pacífico e as limitações sobre investimen-tos cortarão as empresas americanas do mer-cado mais lucrativo e que mais rapidamente cresce no mundo”. O jornal também assinalou a derrubada nas bolsas.

Como registrou o NYT, “qualquer empre-sa americana que quiser ser um ator global não se pode dar ao luxo de perder acesso ao crescente mercado chinês”. As empresas de tecnologia – acrescenta – argumentam que as medidas de Trump “poderiam acabar pe-nalizando a indústria americana, elevando custos e fazendo suas companhias menos competitivas globalmente”. “Os fazendei-ros americanos parecem ser as primeiras baixas na escalada de uma guerra comer-cial”, alertou o dirigente de uma entidade de exportadores agrícolas. Quanto a essas preocupações, o conselheiro de comércio exterior da Casa Branca, Peter Navarro, afirmou: “relaxem, a economia está forte como um touro”. A.P.

O executivo-chefe do labo-ratório de guerra química de Porton Down, Gary Aitken-dhead, deixou o chanceler in-glês Boris Johnson na situação do mentiroso pego em flagran-te no caso do veneno usado contra os Skripal, ao afirmar que “não é nossa função dizer onde foi manufaturado” e que o que havia sido estabelecido “é que é desta família parti-cular [Novichok] e de grau militar”. Então, não existe prova de que foi a Rússia e fica capenga toda a campanha his-térica encabeçada por Londres a soldo dos EUA, que já levou a dezenas de expulsões mútuas de diplomatas.

Em entrevista à rádio es-tatal alemã Deutsche Welle, indagado sobre como con-seguiu descobrir “tão rapi-damente” que a fonte desse agente nervoso Novichok era “a Rússia”, o chanceler Boris Johnson asseverou que a confirmação havia sido feita pessoalmente a ele pelo pessoal de Porton Down “de forma absolutamente categó-rica” e “sem dúvida”.

O que levou o líder da oposição Jeremy Corbyn a dizer que ele devia explica-ções ao povo inglês e indagar onde iria esconder a cara. A ‘chanceler-sombra’ dos trabalhistas, deputada Diane Abbot, condenou Boris John-son por “enganar o público” e acrescentou que as ações dele “mais uma vez mostram que é incapaz de representar responsavelmente a Grã-Bre-tanha no cenário mundial”.

Nas redes sociais, multipli-caram-se as chacotas sobre o bizarro ministro e os pedidos

para que “renuncie”. A chancelaria inglesa às pres-sas deletou tweet com selo oficial reiterando que “foi a Rússia”.

O jornal Guardian – que tem sido o porta-voz oficioso da russofobia em Londres -, descreveu cinicamente a situação em que o governo May se meteu: “uma Rússia encorajada tentará na quinta-feira desacreditar a reputação internacional da Grã-Bre-tanha na ONU depois que uma série de erros de Boris Johnson e do Ministério das Relações Exteriores levou a acusações de que o Reino Unido havia exagerado o argumento de que a Rússia era responsável pelo ataque do ex-espião Sergei Skripal”.

Aliás, desde Tony Blair e sua mentira dos “45 minutos para ataque químico de Sa-dam” (usada para ‘justificar’ a guerra ao Iraque sob W. Bush), a reputação britânica é conhecidíssima. A reputa-ção do laboratório inglês de guerra também: foi quem patenteou o gás VX e usou comprovadamente 360 seres humanos como cobaias em experimentos com gás sarin.

Na cúpula com a Tur-quia e o Irã em Istambul, o presidente Vladimir Putin cobrou uma investigação completa e isenta sobre o envenenamento dos Skri-pal, e declarou que “a velo-cidade com que a campanha antirrussa foi lançada causa perplexidade”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, após o flagra na mentira de Johnson e o lava-mãos de Porton Down, disse que

“a idiotice havia ido longe demais” e que os ingleses deviam pedir desculpas pe-las “acusações sem base e retaliações”.

Por sua vez o chanceler rus-so Sergei Lavrov havia adver-tido na véspera que a situação internacional atual era pior do que durante a Guerra Fria, “porque então havia algumas regras”. “Eu creio que nossos parceiros ocidentais, primaria-mente o Reino Unido, os EUA e alguns países que os seguem cegamente, jogaram fora toda a decência, estão apelando para mentiras escancaradas, desinformação grosseira”.

Na reunião extraordiná-ria da Opaq em Haia, por 15 votos contra 6, e 17 absten-ções, não passou o pedido russo de acesso à investiga-ção. O representante russo, Alexander Shulgin, afirmou que a proposta russa parte do “senso comum” e lem-brou as “mentiras de Tony Blair” sobre o Iraque como motivo para desconfiança de uma “investigação” à qual só Londres tem acesso. “Eles [os técnicos da Opaq] nos dizem que podem nos informar dos resultados dessa investigação ... ape-nas com a boa vontade da Grã-Bretanha. Mas, saben-do como nossos chamados parceiros se comportaram, não vamos contar com a boa vontade deles.” A Rússia já advertiu que não irá aceitar resultados que não sejam transparentes e imparciais e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

A comissão especial con-junta deverá “investigar com precisão” os “subornos pagos” pela Odebrecht “a alguns funcionários do go-verno boliviano”, assegurou o presidente da Assembleia Legislativa, Alvaro Garcia Linera, citando as infor-mações provenientes das investigações brasileiras.

Conforme o anúncio de Linera, os pagamentos ilí-citos foram feitos durante os anos de 2004 e 2005, durante a construção da rodovia Roboré-El Carmen, período no qual o país era presidido por Carlos Diego Mesa Gisbert (2003-2005) e Eduardo Rodríguez Veltzé (2005-2006). “Vocês viram que nas investigações fei-tas pela justiça brasileira, várias iniciais aparecem, como C.G. e um C. Morales ou C.M. em 2004. Estes subornos devem ser inves-tigados e imediatamente enviados para o Ministério Público”, afirmou em cole-tiva de imprensa.

De acordo com o depu-

tado, os membros da co-missão precisarão realizar um trabalho conjunto com as chancelarias boliviana e brasileira, o que deve in-cluir viagens ao país vizinho para coleta de dados. Após seis meses, a comissão apre-sentará seu relatório sobre as investigações, que serão dirigidas pela comissão, com o apoio e colaboração das demais instituições, de forma a “penalizar” os responsáveis “de acordo com a lei”.

Sobre a investigação, o presidente do Senado, José Alberto Gonzales, disse que a comissão especial conjunta de inquérito é integrada pelos senadores Milton Baron e Adriana Salvatierra, os deputados Susana Rivero e Betty Yañíquez, os quatro do partido Movimento ao Socialismo. Pela oposição, estão o senador Víctor Hugo Zamora, do Partido Democrata Cristão, e o de-putado Norman Lazarte, da Unidade Democrática.

Três pessoas foram baleadas após o ataque da youtuber, Nasim Najafi Aghdam (39), que abriu fogo contra diversas pes-soas dentro da sede do YouTube na Califórnia, na tarde de terça-feira (3), para depois se suicidar.

Em uma de suas últimas pos-tagens, publicada em um de seus quatro canais, com vídeos em inglês, persa e turco, ela acusa o YouTube de “filtrar meus vídeos para reduzir as visualizações para impedir e me desencorajar de fazer mais vídeos”.

Aghdam era uma califor-niana de origem persa, que nas descrições de seus canais se dizia “uma atleta vegana e a mais conhecida e famosa ativista dos direitos dos ani-

mais na Pérsia, promovendo o veganismo e o estilo de vida saudável e humano”.

Sobre o ataque, o chefe de polícia de San Bruno, Ed Barberini, afirmou que ela parecia “chateada com as políticas e práticas do You-Tube”, durante uma coletiva de imprensa dada na quarta-feira, o que para ele “parece ser o motivo do incidente”.

“Não há oportunidades iguais de crescimento no You-Tube ou em qualquer outro site de compartilhamento de vídeos. Seu canal só crescerá se eles quiserem que cresça!”, diz ela em um de seus vídeos. Em seu site, ela levanta outras reclamações um pouco mais

curiosas. Segundo ela, uma força anônima nos EUA “ma-nipula a ciência” e promove “a degeneração sexual em nome da liberdade, transformando as pessoas em robôs programados”.

Embora todos os seus canais e perfis nas redes sociais tenham sido suspensos, isso não impediu que seus vídeos fossem compar-tilhados à exaustão nas redes sociais.

Em 2017, o número de ata-ques com armas de fogo nos EUA chegou a 273 ainda em outubro, com mais de 300 vítimas fatais e 1.400 feridos. Neste ano, jo penúltimo, ocorido ocorrido na escola secundária Marjory Stone-man Douglas, deixou 17 vítimas fatais e mais de 20 feridos.

Em sua primeira viagem ao exterior desde que foi no-meado, o ministro da Defesa chinês, general Wei Fenghe, afirmou na 7ª Conferência sobre Segurança Internacio-nal, em Moscou, “que o lado chinês veio para deixar os americanos saberem sobre os laços estreitos entre as forças armadas russa e chinesa”.

A declaração foi feita du-rante encontro com o minis-tro da Defesa russo, Sergei Shoigu, que assinalou que a escolha dessa primeira viagem não fora uma coincidência, mas sublinhava o “caráter especial” da parceria bilateral.

Já o jornal “Global Ti-mes”, ligado ao PC chinês, e

que é visto como um porta-voz oficioso das posições mais contundentes de Pequim, condenou em editorial a vio-lação pelos países ocidentais das normas internacionais e do devido processo legal no chamado caso Skripal, assim como a “frivolidade e impru-dência” que manifestaram contra a Rússia.

O jornal lembrou ainda que os países ocidentais não são mais o que costumavam ser. Também apontou que a histeria contra a Rússia e a guerra comercial contra a China só vão reforçar os laços sino-russos.

Ainda sobre o caso Skri-pal, o jornal destacou que “o

público em geral não conhece a verdade, e o governo britâ-nico ainda não forneceu um fragmento de evidência que justificasse suas alegações contra a Rússia”.

Em mais uma expressão do aprofundamento de laços, a China propôs à Rússia que os sistemas de posicio-namento por satélite russo (Glonass) e chinês (BeiDou) sejam unificados na área da Organização do Tratado de Xangai. Conforme o Izvestia, a questão será negociada no próximo mês em Harbin, na China, durante a Conferência Internacional sobre Tecnolo-gias Avançadas.

Conteineres em porto de Xangaibandonar seu próprio

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“Política de Maduro é ajuste neoliberal e desmonte da Revolução Bolivariana”

ENTREVISTA COM GONZALO GÓMES

Manifestações quase diárias na Venezuela reclamam da falta de

alimentos, de trabalho, de remédios e salários entre

3 a 4 euros mensais

ESPECIAL

Esta entrevista de Gonzalo Gómez, por ta-voz do par tido “Marea Socialista”, da Vene-zuela, realizada pelo jornalista português Luís Leiria, apareceu no último dia 30 no “Correio da Cidadania”. Em um momento no qual as informações – ou aquilo que se quer passar por “informações” - sobre a Ve-nezuela parecem de uma con-fusão sem limite, acreditamos que é importante divulgá-la em nossas páginas. Por exemplo, fala-se muito da imigração de venezuelanos em Roraima, po-rém pouco sobre suas causas. Diz Gonzalo Gómez:

“A situação econômica é

terrível porque o que vem aplicando o governo de Nico-lás Maduro é um profundo e cru plano de ajuste. Medidas de ajuste econômico contra a classe trabalhadora. Dizem que estão contra o neoliberalismo e todas essas coisas. Mas se tens uma situação na qual levam o salário de um traba-lhador a um nível de entre 3 a 4 euros mensais, qualquer um pode imaginar o significado. O salário foi esmagado”.

A íntegra desta entrevista pode ser lida em Venezuela: “Maduro está a desmontar o processo revolucionário”.

C.L.

uando se realiza-ram as eleições para a Constituinte de Maduro, a Marea Socialista denun-ciou-as como um golpe antidemocrá-tico, que tinha a intenção de evitar

a convocatória de eleições gerais nesse momento. Que papel teve a Consti-tuinte desde então?

GONZALO GÓMEZ: Em primeiro lugar, é preciso di-zer que essa Constituinte foi convocada à margem do esta-belecido pela Constituição da República Bolivariana da Ve-nezuela, que estabelece a ne-cessidade de se realizar uma consulta prévia, em referendo, para que possa ser convocada. E que é preciso submeter tam-bém à consideração popular, nessa consulta, as condições da convocatória. Apesar disso, convocaram tal Constituinte e estabeleceram regras que asseguraram ao aparelho de Estado e ao PSUV a capacida-de de dar a forma à Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Portanto, independentemente de que tenha sido submetida a eleições, acaba por ser uma Constituinte do poder consti-tuído, não do poder popular soberano. Quer dizer: não está refletido o movimento popular e as expressões de poder popu-lar. E aproveito para dizer que, na Venezuela, essas expressões têm vindo a ser cooptadas, clientelizadas e instrumenta-lizadas. Assim, a Constituinte, insisto, não é do poder popular e soberano, mas do poder cons-tituído que usurpa a soberania popular com uma aparência de legitimidade.

Criou-se uma situação em que havia a Consti-tuinte e a Assembleia Nacional.

GONZALO GÓMEZ: Na realidade o que há é um pro-cesso de concentração de todos os poderes com meca-nismos autoritários, pseudo-institucionais.

Neste momento, o Tribu-nal Supremo de Justiça está completamente subordinado ao governo; a Assembleia Nacional foi considerada “em desacato” pelo fato de haver quatro deputados acusados de terem sido eleitos frau-dulentamente. Em vez de suspenderem esses quatro votos, o que fizeram foi in-validar todas as decisões da Assembleia Nacional, sem que jamais fossem convocadas novas eleições para substituir esses deputados.

Diante de uma assembleia que foi conquistada pela di-reita e pelos setores políticos vinculados à burguesia tradi-cional, a forma que se utilizou para anular a perda dessa Assembleia foi um subterfú-gio antidemocrático, porque a obrigação do governo de Maduro era resgatar o voto popular, ganhar o apoio po-pular para manter o controle da assembleia, mas com uma política correta.

A Procuradora-geral foi afastada...

GONZALO GÓMEZ: Sim, de fato. A Procuradora-Geral da República foi destituída e substituída por ter ques-

tionado o Tribunal Supremo de Justiça e ter questionado também a convocatória da Assembleia Nacional Cons-tituinte nestes termos. Mas é preciso desde logo dizer também que a Assembleia Nacional Constituinte e sua forma de operar tampouco são algo que possamos considerar progressivo, ou em sintonia com a Revolução Bolivariana.

Primeiro, porque nela qua-se não se vê discussão, debate, elaboração de propostas que surjam de baixo. Para além de fazerem alguns comícios, com muitos aplausos, não existem os mecanismos para acolher a vontade do povo venezuelano.

E o que a Assembleia tem aprovado é regressivo. A sua orientação é desmontar o processo revolucionário. Co-loca-se esta ANC como ple-nipotenciária, como supra-constitucional, deixando-nos numa situação praticamente de suspense e incerteza quan-to à vigência da Constituição de 1999, de Chávez. Entre as coisas que posso mencionar, ultimamente aprovadas pela ANC, está um decreto-lei constituinte de proteção de investimentos estrangeiros. Que recoloca a maneira como participam as transna-cionais e os investimentos de outros países em condições lesivas à soberania.

E isso foi dito por alguns intelectuais destacados, como Luís Brito García, um escritor importante que em geral tem tido posições de apoio ao go-verno de Nicolás Maduro. Ele assinalou que, com decisões como esta, o resultado que se obtém é minar as bases do que se ganhou em termos de soberania nacional no período de Chávez.

Por exemplo, a ANC não fez nada para corrigir – muito pelo contrário – a situação criada com o decreto de exploração do Arco Mineiro de Orinoco, que significa que um território equivalente ao tamanho de Portugal, ao sul do Orinoco e no Norte da Amazônia venezue-lana, onde estão os principais rios, onde existe uma biodiver-sidade que é preciso cuidar por ser muito vulnerável, e onde se situam povos indígenas, é aberto à exploração da mega-mineração (v. Arco Mineiro na Venezuela viola soberania, democracia e direitos).

As transnacionais estão voltando depois de terem sido expulsas pelo presidente Chá-vez, descumprindo a Consti-tuição, porque esta exige que sejam apresentados estudos de impacto ambiental e so-ciocultural, e exige também que os povos indígenas que vivem nesses territórios sejam consultados.

Mas nada disto foi feito. Assim, ninguém é consul-tado, e inventam-se coisas, como uma “atividade mineira ecossocialista”. Ministério de Mineração Ecossocialista. Chamam “socialistas” coisas que nada têm a ver, que são a antítese do socialismo.

É um paradoxo total…GONZALO GÓMEZ: Há

uma história que mostra bem o caráter desta Assembleia Nacional Constituinte e por-que não é uma Constituinte do poder popular.

Nas eleições para presi-dente da câmara de Simón Planas, no estado de Lara, apresentou-se como candidato um constituinte cuja desig-nação foi feita por eleição na comuna de El Maizal, uma comuna camponesa, produti-va e bastante bem organizada. Este candidato, Angel Prado, apresentou-se e o Partido Comunista e o PPT, membros do Pólo Patriótico que apoia Maduro, decidiram substituir uma candidatura anterior, em que iam com o PSUV, e apre-sentar este candidato.

O Conselho Nacional Elei-toral não alterou o nome do candidato na lista eleitoral e a ANC disse que não autori-zava que este constituinte se apresentasse às eleições. Tinha de obter a autorização da ANC. Mas muitos diri-gentes do PSUV que eram constituintes foram, sim, autorizados a ser candidatos.

O povo dessa comuna saiu às ruas para protestar, fechou vias, fez assembleias popula-res, foi ao Conselho Nacional Eleitoral, foi ao Tribunal Supremo de Justiça, exigindo que fosse reconhecida a vitória de Prado. Onde ganhou um comuneiro, o regime político desta Assembleia Constituin-te nega-se a reconhecê-lo. Não se quer que o poder popular tenha espaço real de poder nas instituições.

Depois das eleições da Constituinte, já houve eleições municipais e re-gionais, convocadas de surpresa, que resultaram numa vitória de Maduro.

GONZALO GÓMEZ: O que acontece é que as eleições que estão a ser convocadas na Venezuela o são sob condições antidemocráticas, desvantajo-sas, irregulares, convocadas de surpresa, comprimem os calendários eleitorais, mudam as regras da noite à manhã, há candidatos inscritos que não são aceitos...

Quando não podem ter outro recurso, chegam a re-tirar candidatos no meio do processo e até a prendê-los. Nós denunciamos o caso do ex-presidente da câmara de Cumaná, no estado de Sucre, que tinha sido candidato a governador e, logo em seguida, não se lançou às eleições para presidente da câmara, mas estava à cabeça da promoção de 15 candidatos daquele esta-do. Então, foi preso, acusado de peculato, supostamente ocorrido quatro anos antes, quando estava na câmara.

Soube que a acusação foi que não tinha devolvido uma arma que é dada aos pre-sidentes de câmara para a sua defesa, mas ele mostrou as atas de devolução. Ainda assim mantiveram-no preso e o julgamento foi adiado. E assim foi mantido preso até há pouco. É nestas condições que participamos nas eleições.

A Marea Socialista foi im-pedida de iniciar o seu pro-cesso de legalização. Não autorizaram que recolhêsse-mos assinaturas com o nosso nome. E apresentamos nomes

alternativos. Um deles foi “Somos”. Que agora foi usado pelo Presidente da República para nomear dessa maneira essa espécie de movimen-to-partido que criou Nicolás Maduro para ter um jogo de duas fórmulas nas eleições, e quem sabe para que outros fins. É um partido montado com o aparelho do Estado e com os recursos do Estado.

Mas nós da Marea fomos impedidos de iniciar o pro-cesso de legalização. Foi-nos negado pelo Conselho Nacio-nal Eleitoral e recorremos ao Supremo Tribunal de Justiça, que convocou uma audiência, naquilo que se converteu pra-ticamente num julgamento político, questionando que pudéssemos utilizar o nome de socialistas porque atacáva-mos o governo; e depois nunca mais voltaram a convocar a audiência do julgamento. O Supremo nunca se pronun-ciou, de forma que nunca pudemos iniciar o processo de legalização.

Mas fomos [nas eleições] em aliança com a Unidade Política Popular 89 (UPP 89) e devo dizer que dos 385 muni-cípios conseguimos apresentar candidaturas em 181 e que em vários estados e municípios obtivemos resultados muito importantes. Alguns casos de candidatos que obtiveram 30% e 40%, 20% ou 15%, per-centagens consideráveis. Em alguns lugares, como o estado de Portuguesa, essa força elei-toral foi a segunda, imediata-mente depois do PSUV.

Pensamos que há localida-des onde os que ficaram em 2º ou em 3º lugares poderiam ter ficado em 1º. Mas tens de enfrentar a utilização da hegemonia midiática, comu-nicacional do aparelho de Es-tado, tens de enfrentar o uso dos recursos do Estado, tens de enfrentar o uso dos corpos de segurança usados para intimidar… Uma quantidade de condições que desmentem o que pudéssemos entender como uma democracia socia-lista ou democracia partici-pativa que estava inscrita na Constituição.

O socialismo não se faz com armadilhas. O socialismo não se pode fazer com discrimina-ção. O socialismo tem de ter amplitude, participação, de-bates, discussão. Com oportu-nidades de intervir e que isso possa ser usado para a tomada de decisões. Não é que Nicolás Maduro venha pedir: “façam-me chegar dez propostas” e de todas as sub-sedes do partido e das organizações sociais chegam-lhe milhares de pa-peizinhos com dez propostas. Mas depois não sabemos o que acontece, quem as seleciona, quais são as majoritárias. Isso é teatro, simulação.

E que pensas das elei-ções presidenciais convo-cadas para abril (depois desta entrevista, essas elei-ções foram adiadas para 20 de maio)?

GONZALO GÓMES : Convocaram-nas para abril, apesar de que constitucional-mente deveriam ser realiza-

das em dezembro. Mas como o governo foi conseguindo assentar este novo modelo eleitoral manipulador, sente-se suficientemente seguro para poder convocar e ganhar as eleições, mesmo que sejam minoria. E esta é a situação que existe agora. A maior parte da oposição não vai can-didatar-se. Uns porque foram sendo ilegalizados, ou porque já não tinham a possibilida-de de participar porque não cumpriam requisitos, outros porque a Justiça retirou de seus candidatos o direito de se apresentarem.

Não houve acordos nas ne-gociações que fizeram a MUD e o governo – e devo dizer que estamos contra de que se pretenda resolver os assuntos do país entre a oposição de direita e o governo de Nicolás Maduro. E os demais que papel têm? O que somos nós, os demais? Que são o resto da oposição política e o resto das organizações sociais?

A Marea Socialista vai apresentar candidato?

GONZALO GÓMES : Participamos de uma plata-forma onde estão vários dos ex-ministros e ex-ministras de Chávez que tiveram uma participação muito importan-te. Temos vindo a trabalhar junto com eles, que foram afastados do governo, mas não por serem corruptos ou por falta de vergonha. Foram afastados porque defendiam o “golpe de timão” de que Chá-vez falou antes da sua morte, uma viragem de radicalização democrática da Revolução Bo-livariana para poder cumprir os seus objetivos.

Os prazos que determinou o governo, as condições em que as eleições foram convo-cadas não permitem, porém, o tempo necessário para as discussões, os acordos, os consensos, a construção de programas comuns... É algo feito a correr. Os aparelhos já têm tudo resolvido. Já têm candidato, já têm propostas, tem tudo pronto e montado. Só nessa altura é que anun-ciam as eleições e convocam os outros. E não dão tempo, prazos razoáveis, para poder resolver a situação.

Ainda não temos uma de-cisão do que vamos fazer. Em princípio inclinamo-nos a participar nos processos eleitorais. Decidir uma figura presidencial nestas condições não é o mesmo que participar nas eleições de presidentes de câmara para poder obter con-quistas locais para impulsio-nar o trabalho revolucionário. A situação é outra.

Com o tempo, aprofundou-se e cristalizou-se uma elite de poder surgida da burocracia que foi acumulando capital através da corrupção, através do desfalque da Nação, que se veio a converter numa espécie de lumpen-burguesia. Por isso acontece na Venezuela o que acontece. Porque há uma mu-dança na condição de classe do que foi a direção da Revolução Bolivariana. São setores bur-gueses que estão ligados ao governo e foram favorecidos

para os seus negócios, que financiaram os dirigentes, ou os altos funcionários...

E, ao mesmo tempo, a situação econômica con-tinua catastrófica.

GONZALO GÓMES: A situação econômica é terrível porque o que vem aplicando o governo de Nicolás Maduro é um profundo e cru plano de ajuste. Medidas de ajuste econômico contra a classe trabalhadora. Dizem que es-tão contra o neoliberalismo e todas essas coisas. Mas se tens uma situação na qual levam o salário de um trabalhador a um nível de entre 3 a 4 euros mensais, qualquer um pode imaginar o significado. O sa-lário foi esmagado.

O governo diz: é a guer-ra econômica. Começou um bloqueio selvagem. Existem algumas dessas coisas; mas, mais que a guerra econômica o que impera é a lógica do ca-pital, a busca do lucro. E nisso também intervém a burocra-cia que desfalcou o país, levou recursos para fora do país, tem dinheiro em Paraísos Fiscais, porque fez transações com as transnacionais e retirou proveito disso, porque está abrindo o caminho à entrada das transnacionais e dos impe-rialismos emergentes no país, por exemplo no Arco Mineiro.

A burocracia estatal está envolvida no contrabando de extração, para retirar produtos do país, para utilizar as impor-tações, mesmo de alimentos, para beneficiar-se do diferen-cial cambial com importações fraudulentas, fictícias.

Ao mesmo tempo, pagam a dívida e sacrificam o povo para pagá-la. Um governo revolu-cionário teria pelo menos de começar por auditá-la, e uma vez feito isso, dizer: “bom, esta parte da dívida é ilegítima e não a reconhecemos”. Mas não podem fazer isso porque estão envolvidos na compra e na negociação de bônus da dí-vida adquiridos em bolívares, mas que se podem negociar em dólares. Paga-se e rece-be-se o troco, como se diz na Venezuela. Quer dizer: há in-teresses da própria burocracia na dívida. Interessa-lhes ser “bons pagadores” da dívida, mas não porque isso seja uma qualidade moral.

Frente a isto, é evidente que não podemos apoiar o governo de Nicolás Maduro. Temos de construir uma alter-nativa política, revolucionária e popular que recupere as cha-ves da Revolução Bolivariana.

Obviamente também esta-mos contra qualquer forma de ingerência ou de intervenção estrangeira.

Falou-se muito dessa possibilidade. Há o perigo de uma intervenção dos Estados Unidos?

GONZALO GÓMES: Não se deve descartar nunca esse perigo. E cremos que a política da burocracia nos torna mais vulneráveis diante da possi-bilidade de uma intervenção, porque vão quebrando a aliança com o povo, vão permitindo que entrem os interesses imperia-listas em concreto, na vida eco-nômica, através da corrupção...

Mas também penso que o imperialismo joga com o pau e a cenoura. Usa mecanismos duros, ameaças, mas tam-bém tenta obter na negocia-ção as possíveis concessões que o governo de Nicolás Maduro, num determinado momento, possa dar.