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POR QUE ESTUDAR O CONCEITO DE HISTÓRIA E TEMPO PRESENTE EM KARL HEINRICH MARX?
¿POR QUÉ ESTUDIAR EL CONCEPTO DE LA HISTORIA EN ESTE MOMENTO Y HEINRICH KARL MARX?
POURQUOI ETUDIER LE CONCEPT DE L'HISTOIRE ET TEMPS PRÉSENT EN KARL HEINRICH MARX?
Menezes, Jean Paulo Pereira de.1
RESUMO: neste artigo procuro de forma introdutória apresentar algumas justificativas sobre o estudo acerca dos conceitos de História e tempo presente em Marx. Trata-se de uma observação sobre a importância de retomada do tema diante da sociedade de consumo e crise estrutural do capital nos dias atuais.
RESUMEN: en este artículo introductorio es presentar algún tipo de justificación en el estudio de los conceptos de tiempo y la historia presente en Marx. Esta es una observación acerca de la importancia de retomar el tema antes de que la sociedad de consumo y la crisis estructural del capital hoy en día.
RÉSUMÉ: dans cet article d'introduction est de présenter une certaine forme de justification de l'étude sur les concepts de temps et l'histoire présente chez Marx. Il s'agit d'une observation au sujet de l'importance de reprendre le sujet avant la société de consommation et la crise structurelle du capital de nos jours.
Por que estudar o conceito de História e tempo presente em Marx?
Responderei esta pergunta, inicialmente, com duas outras necessárias.
Qual é a concepção de História e tempo presente na sociedade? Como é
viver o tempo presente na sociedade de classes sem cogitar a História no
presente mais imediato dos fenômenos?
Inicialmente trabalharei com a hipótese de que na sociedade atual, de
caráter mercantil, encontra-se com amplo respaldo na ideologia de que o que
mais importa é o presente pelo próprio presente. Que, “há que se viver cada
1 Graduado em História, mestre em História e doutorando em Ciências Sociais pela UNESP de Marília – SP.
dia como se fosse o último”. Que as atitudes devem ser pautadas no “aqui e
agora”, pois o amanhã pode não existir a partir de algumas horas ou minutos,
“pode ser a última vez na vida que escrevo um texto”.
Encontramos aqui a falta de perspectiva futura, típica de sociedades
decadentes (só para lembrar a sociedade romana no ápice de sua crise na
ante - sala da sociedade feudal). Essa perspectiva encerra o devir no próprio
tempo presente, e em casos mais radicais, em última instância: anula a
perspectiva histórica da sociedade.
Levado e esse patamar decreta-se o fim da História, mesmo que em
padrões relativos ao momento em que existe, ignorando a totalidade histórica
que se assenta o presente. Nega-se desta forma o presente como a
apresentação fenomênica sintética de múltiplas determinações. O que propicia
plena desenvoltura de comportamentos imediatistas e incapazes de pré-idear
para além do fenômeno mais nu que se cosegue ver.
Os apologistas do “hoje como o único momento possível” não acreditam
que haja história como algo para além do consumo do tempo mais urgente do
relógio mecânico ou do organismo vivo em sua candência. Muitos intelectuais
se posicionam diante deste presentismo com se fosse a única coisa possível
de se fazer nestas últimas quadras da existência. Aproveitar o que se tem e
rapidamente descartar aquilo que já se fez uso. Temos assim uma ideologia
em plena sintonia com o momento histórico tão negado por esses mesmos
intelectuais que corroboram diretamente com a lógica consumista da economia
política do presente imediato (vale observar o nome do pagador se seus
contracheques).
A questão é que ao se negar a construção histórica para além do
presente, se está ao mesmo tempo escrevendo a história desse mesmo tempo
presente. Assim ao afirmarem que o futuro não existe e que a História deve se
restringir aos imediatismos dos desejos mais individualizados corrobora-se
para a descrença de que somos e fazemos a História.
Ao se conquistar esse falseamento na sociedade de forma
predominante, os intelectuais conquistam também a incapacidade de operar a
transformação da própria vida, e, em última instância, de operar a própria
existência na sociedade de classes. Conquistando a ideia de que o ser não
possui História, ao fazer com que esse mesmo ser não possua a compreensão
de que o devir é construído por ele, se ganha um ser alienado de si mesmo e
incapaz, em primeira instância, de caminhar para além da linha que lhe fazem
no chão que vive.
Volto a questão inicial: “Por que estudar o conceito de História e
tempo presente em Marx”?
A partir do concreto pensado, abstraído como processo de construção
teórica sobre o real, imagine um ser que não consegue possuir a compreensão
de que a sociedade é constituída por algo que está para além dele e que assim
mesmo ele é parte fundamental do todo. Ao observar, utilizando seus sentidos,
os complexos sociais este não conseguirá conjeturar as possíveis relações que
se estabelecem para a manifestação de um determinado fenômeno: seja a luta
ente dois macacos ou a luta entre milhares de seres semelhantes a ele contra
a Tróika na Europa atual.
A concepção de organização (a sua) se limitará ao campo fenomênico
mais imediato notado pelos seus sentidos mais animais, distanciando-se de
qualquer entendimento histórico daquilo que se vê e sente como animal que é.
Não encontrará sentido em ações que pleiteiam uma perspectiva histórica e de
transformação, sobretudo a revolucionária. Mantendo-se a ideologia do fim da
História, faz-se ao mesmo passo a manutenção daquilo que determinada
classe não deseja: a transformação com o devir. A organização partidária
torna-se algo enigmático, sobretudo quando se sente de forma ainda animal,
que existem outros como eles que “sonham” com uma transformação radical da
economia capitalista e todas as formas de viver. Não consegue entender,
embora consiga enxergar, o motivo concreto por qual enigmaticamente
milhares de outros animais sociais se reúnem para reivindicar algo que mais
parece um delírio do que uma proposta.
A negação do devir histórico faz potencializar o fenômeno do consumo
em sua manifestação mais fetichizada e ideologizada: o consumismo.
O consumo imediato como manifestação dos desejos do ser social
bestializado, embrutecido e reduzido a sua animalidade, faz da busca à
satisfação a façanha mais perspicaz deste homo. Este tomará o presente como
o único espaço de consumo e portanto de realização de si. Visualiza-se o
empenhar de todas suas energias à busca da felicidade encontrada
momentaneamente no consumo imediato no presente vivo. Mas uma felicidade
passageira que muito rapidamente deve ser substituída para que a sensação
de realização de mantenha. As relações sociais acabam por ganharem a
mesma denotação, usando-as para a realização: seja no amor, no sexo, na
amizade e sobre tudo na forma de trabalho.
Assim, o presente desvairado, deslocado de qualquer perspectiva de
construção histórica, contraditoriamente fundamenta a centralidade do
consumo deste ser embrutecido em detrimento da produção. Realiza-se no
consumo, ou seja, todas as relações imediatistas são mediadas pelo consumo.
O consumo não só é o centro das relações, é mais, as relações são
desenvolvidas a partir da sua existência, orbitando a partir dele e para ele.
Decorrência disso é o repúdio pela esfera da produção da vida. Nega-se
a história e a construção, a produção e a conquista da objetivação pré-ideada.
Não se identifica com aquilo que produz, ao contrário, se nega, não se
identifica e se sente estrangeiro ao produto que por ventura faça. Marx
descreve essa situação como sendo típica do trabalho alienado. Nela o ser não
se identifica com e na produção, mas no consumo e com o consumo, pois está
alienado da esfera da produção e altamente inserido, mesmo que idealmente,
na esfera do consumo.
Eliminar-se da esfera da construção história é colocar-se sem sentido
em relação a própria História. Ser estrangeiro é não fazer parte, é não se sentir
pertencente, portanto, possivelmente não acreditar na capacidade de
construção de uma parede, cadeira, machado, menos ainda de outra forma de
produzir e reproduzir a vida socialmente. Excluir o conceito de História e
construção de uma totalidade historicamente determina viabiliza também a
construção de um presente imediato fetichizado, alienado e que busca a
realização apenas no consumo marcando a existência isolada do todo o qual é
parte. Situações concretas do que apresentei até aqui pode ser visualizada na
historiografia que ironicamente escreve a história para em troca, consumirem
títulos; em militantes partidários que buscam hipocritamente o brilho de suas
habilidades a luz do sucesso público; e, o mais grave: milhares de
trabalhadores estranhos a possibilidade de transformarem as estruturas que
nesta quadra histórica lhes oprimem diuturnamente.
Estudar o conceito de História e tempo presente em Marx me parece
vital para a saída da pré-história e continuarmos construindo os portais da
verdadeira história da humanidade. Principalmente quando nos último 20 anos
a produção sobre Marx, a partir da universidade que escrevo, se encontra
estagnada em apenas duas dissertações produzidas no campus de Marília no
interior paulista. Observe o gráfico:
100%
0%
Produções detidamente acerca de Karl Marx
Resultado total de pesquisas dicentes produzidas em uma exibição máxima de 1000 registros no banco de teses e dissertação da UnespRegistros de pesquisas sobre Marx
Figura 1
Evidentemente o gráfico não é capaz de ilustrar todas as contribuições
da Universidade Estadual Paulista que se ocuparam de Marx e de toda grande
tradição marxista. Entretanto é significativamente ilustrativo da efêmera
atenção das pesquisas dadas ao próprio Marx e sua produção teórica
responsável pela existência da tradição que se convencionou chamar de
marxista.
Para que tenhamos uma leitura mais ampla do quadro dramático de
estudos sobre Karl Heirich Marx (o que não significa que os intelectuais, nas
demais produções, não estejam ou estiveram detidos com afinco ao estudo do
próprio Marx) é necessário um breve esboço mais amplo para visualizarmos
um quadro mais geral sobre esta questão, principalmente a partir dos espaços
sociais que minhas preocupações de pesquisa pretende dialogar: a Ciências
Sociais e História. Para isso elenco o seguinte quadro problematizador da
baixíssima produção do conhecimento acerca de Karl Marx nos Programas de
Pós- Graduação da Universidade que me encontro:
Figura 2
O figura 2 se ocupa de apresentar apenas as produções de alunos
pesquisadores regularmente matriculados nos Programas. Não consta aqui a
produção docente dos Programas em seus projetos trienais. Embora, a título
de hipótese, acredito ser um reflexo possível da baixa preocupação específica
com Marx de seus professores-pesquisadores junto aos seus alunos-
pesquisadores.
Agora, de forma um pouco mais geral, observem o concreto em relação
aos campos onde se encontram os Programas de Pós-graduação Stricto Senso
de Ciências Sociais e História da UNESP:
Números de estudos sobre Marx
(dissertação/tese)
Programa de Pós-Graduação
Campûs
Marília
Ciências da Informação Zero
Ciências
Sociais2 dissertações
Educação Zero
Filosofia Zero
Fonoaudiolo-gia Zero
Relações Internacionais Zero
Como é apresentado, constata-se que o tecido social no qual
institucionalizo minha pesquisa de doutorado, ou seja, a UNESP (respeitando a
propositura da tese de estudar o conceito de História e tempo presente em
Marx e também ao mesmo passo promover interlocuções entre Ciências
Sociais e História) apresenta entre os quatro campi selecionados (por motivos
já explicitados) um todo de quinze (15) programas, sendo doze (12) deles,
especificamente pertencentes a grande área de humanas como propõe o
CAPES.
No que tange a produção do conhecimento a partir da academia, temos
um universo bastante significativo se tratando de uma universidade. Isso
reforça a preocupação em desenvolver o questionamento inicial deste breve
artigo, pois apenas dois (2) trabalhos de pesquisa encontram-se catalogados,
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP
Pós-Graduação Strictu Senso
Câmpus de Araraquara
Programas:
- Ciências Sociais, MD;- Educação, MD;
Câmpus de Assis
Programas:
- História, MD;- Letras, MD;- Psicologia, MD;- Biociências, M.
Câmpus de Franca
Programas:
- História, MD;- Serviço Social, MD;- Direito, MD
Câmpus de Marília
Programas:
- Ciências da Informação - MD;- Ciências Sociais - MD;- Educação - MD;- Filosofia - MD;- Fonoaudiologia - MD;-Relações Internacionais-MD.
sendo estes concluídos em 2003 e outro mais recentemente em 2010. Ambos
os trabalhos foram produzidos no Programa de Pós-Graduação Stricto Senso
de Ciências Sociais do campus de Marília. Trata-se de duas importantes
dissertações de mestrado. A primeira, de autoria de Tatiana Fonseca Oliveira,
com o título: “Hegel, Marx e Gramsci: confluências e divergências do
conceito de sociedade civil”, apresentada em 2003, sob orientação do Dr.
Marcos Tadeu Del Roio. A segunda, em 2010, de autoria de Kleber Garcia
Teixeira, intitulada: “A máquina e o tempo: dialética das forças produtivas e
do tempo de trabalho em Marx”, sob orientação do Dr. Giovanni Antônio Pinto
Alves. Há uma terceira pesquisa catalogada, entretanto fora desenvolvida em
outro Programa da Unicamp.
Confirmando o levantamento acima, de acordo com a Seção Técnica de
Referência e Atendimento ao Usuário e Documentação (STRAUD), a própria
supervisoria técnica de seção apresenta que com a palavra Karl Marx
aparecem 3 (três) cadastros de pesquisas.
Como se constata, não há registro de nenhuma tese de doutorado sobre
o tema “Marx” o que reforça a necessidade da produção do conhecimento
sobre este autor em nível de doutorado. É importante frisar que uma (1)
dissertação de mestrado pode possuir uma substância muito mais poderosa do
que dez (10) mil teses de doutoramento juntas, fato este que só faz multiplicar
minha responsabilidade diante das já existentes contribuições de alunos do
mesmo Programa que me encontro.
Para isso procuro me deter a uma obra que privilegiei diante de toda
produção marxiana: “Para a Crítica da Economia Política”, publicada em 1859
em Berlim.
Qual o motivo desse privilégio? Certamente não se trata de um
privilegiar aristocratizante e sim pelo fato de os anos 50 do século XIX terem
marcado a trajetória de Marx de forma formidável, onde o autor pode fazer
público o amadurecimento de muitas das categorias que vinha construindo no
decorrer de décadas de estudos sobre a Economia Política Clássica.
Como se trata de uma construção, uma produção histórica se torna
evidente diante da necessidade de percorrer essa trajetória (mesmo que em
partes) do autor para que seja possível qualquer tipo de inferência sobre a obra
privilegiada de 1859. Importante observar que o texto publicado na Berlim de
meados do século XIX é a primeira versão pública de sua obra magna: “Das
Kapital”, publicada em 1867.
Se não fossem suficientes os apontamentos anteriores, se faz
necessário o constante retorno a Marx uma vez que identificamos que parte da
esquerda se encontra perdida diante da vulgarização impetrada por uma
parcela majoritária da grande tradição marxista que se consolidou pós-Marx e
Engels.
A importância deste estudo atenua-se uma vez mais diante da crise
estrutural do capital e da propagação de suas ideologias para manter-se de pé
e constantemente se oxigenando, mesmo que para isso esse modo de
produção da vida tenha que poluir todos os ares do planeta, desde que faça os
seres deste mesmo planeta acreditarem que tudo está sob controle e que o
importante é odiarem a produção e amarem o consumo: carpe diem.
Referências:
OLIVEIRA, TATIANA FONSECA. Hegel, Marx e Gramsci: confluências e divergências do conceito de sociedade civil. 2003. Dissertação – Ciências Sociais, Unesp, Marília.
AMORIM, HENRIQUE JOSÉ DOMICIANO. A máquina e o tempo: dialética das forças produtivas e do tempo de trabalho em Marx. 2010. Dissertação – Ciências Sociaos, Unesp, Marília.
STRAUD / Seção Técnica de Referência e Atendimento ao Usuário e Documentação. Ajuda para pesquisa de doutoramento [menssagem pessoal]. Mensagem recebida< por [email protected]> em 10 de dez. 2012.