Porcheddu, Alba. Zygmunt Bauman - entrevista sobre a educação. Desafios pedagógicos e modernidade líquida

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    Zygmunt Bauman

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    ZYGMUNT BAUMAN:ENTREVISTA SOBRE A EDUCAO.DESAFIOS PEDAGGICOS

    E MODERNIDADE LQUIDA1

    ALBA PORCHEDDUSegunda parte da entrevista:Os desafos da educao: aprender a caminhar sobre areias movedias

    Traduo: Neide Luzia de Rezende e Marcello Bulgarelli

    Zygmunt Bauman (Polnia, 1925). Socilogo, catedrtico emrito de Sociologia nas Universidadesde Leeds e Varsvia, autor de diversos ensaios, entre os quais se encontram: Globalizao: asconsequncias humanas (1999), Vida para consumo: a transormao das pessoas em mercadoria

    (2008), Em busca da poltica (2000), Modernidade lquida (2001), Vidas desperdiadas (2005).

    Seus trabalhos contriburam para a edifcao de um complexo e completo instrumental conceitual

    em torno da sociedade moderna. Embora seja requentemente mencionado como um pensador

    ps-moderno, seus livros no representam uma viso entusiasmada do ps-modernismo; alis,

    ele se distancia da separao dicotmica modernidade versus ps-modernidade, argumentando

    que ambas as confguraes coexistem como os lados de uma mesma moeda. Para dar conta

    desse enmeno, cunhou os conceitos de modernidade slida e modernidade lquida.

    Esta entrevista oi realizada por meios eletrnicos pela proessora Alba Porcheddu. O objetivo oiprocurar interpretar criticamente, por meio das refexes de Z. Bauman, o dilogo entre Pedagogiae Sociologia a m de contribuir para a refexo educativa. Alba Porcheddu proessora de DidticaGeral e de Didtica e Comunicao do Departamento de Cincias da Educao da Universit degliStudi Roma Tre. A entrevista oi publicada originalmente em 2005 pela editora romana Anicia, sob

    o ttuloZygmunt Bauman: intervista sulleducazione. Sfde pedagogiche e modernit liquida (www.anicia.it). A Faculdade Latino-Americana de Cincias Sociais/Argentina, a quem agradecemos osoriginais, publicou posteriormente este trecho em Propuesta Educativa, Buenos Aires, v. 16 n. 28,p.7-18, nov. 2007, traduzido por Mariana Nobile ([email protected]).

    ESPAO PLURAL

    Cadernos de Pesquisa, v.39, n.137, p.661-684, maio/ago. 2009

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    Pergunta (P): A educao oi concebida desde o iluminismo como umsistema ortemente estruturado; em tempos mais recentes, a Bildungtem sidointerpretada primeiro como um processo, depois at como um produto para

    transmitir e conservar o conhecimento.No mutvel mundo de hoje, onde correr melhor que caminhar, onde

    triunam entre os jovens a obviedade e as ideologias, o senhor considera aindaplausvel uma educao voltada para ixar em uma orma a personalidade dos

    jovens atravs de um percurso ormativo determinado?

    Resposta (R):A histria da pedagogia esteve repleta de perodos cruciais

    em que icou evidente que os pressupostos e as estratgias experimentadas eaparentemente coniveis estavam perdendo terreno em relao realidadee precisavam pois ser revistos ou reormados.Todavia, parece que a criseatual diversa daquelas do passado. Os desaios do nosso tempo inligem umduro golpe verdadeira essncia da ideia de pedagogia ormada nos alboresda longa histria da civilizao: problematizam-se as invariantes da ideia, ascaractersticas constitutivas da prpria pedagogia (que, inclumes, resistiram smudanas do passado); convices nunca antes criticadas so agora considera-

    das culpadas de ter seguido o seu curso e, portanto, precisam ser substitudas.No mundo lquido moderno, de ato, a solidez das coisas, tanto quanto

    a solidez das relaes humanas, vem sendo interpretada como uma ameaa:qualquer juramento de idelidade, compromissos a longo prazo, prenunciamum uturo sobrecarregado de vnculos que limitam a liberdade de movimentoe reduzem a capacidade de agarrar no vo as novas e ainda desconhecidasoportunidades. A perspectiva de assumir uma coisa pelo resto da vida ab-

    solutamente repugnante e assustadora. E dado que inclusive as coisas maisdesejadas envelhecem rapidamente, no de espantar se elas logo perdem obrilho e se transormam, em pouco tempo, de distintivo de honra em marcade vergonha.

    Os editores de revistas de amenidades percebem o impulso do tempo:inormam regularmente os leitores sobre coisas para azer e ter a todocusto, do-lhes conselhos sobre aquilo que out e, portanto, descartvel. O

    nosso mundo lembra cada vez mais a cidade invisvel de Lenia, descrita portalo Calvino (1990), onde mais do que as coisas que a cada dia so abricadas,vendidas e compradas, a opulncia de Lenia se mede pelas coisas que a cada

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    dia so jogadas ora para dar lugar s novas. A alegria de livrar-se das coisas,de descartar e eliminar a verdadeira paixo de nosso mundo.

    A capacidade de durar bastante no mais uma qualidade a avor das

    coisas. Presume-se que as coisas e as relaes so teis apenas por um tem-po ixo e so reduzidas a arrapos ou eliminadas uma vez que se tornaminteis. Portanto necessrio evitar ter bens, sobretudo aqueles durveis dosquais dicil se desprender. O consumismo de hoje no visa ao acmulo decoisas, mas sua mxima utilizao. Por qual motivo, ento, a bagagem deconhecimentos construda nos bancos da escola, na universidade, deveria serexcluda dessa lei universal? Este o primeiro desaio que a pedagogia deve

    enrentar, ou seja, um tipo de conhecimento pronto para utilizao imediatae, sucessivamente, para sua imediata eliminao, como aquele oerecido pelosprogramas de sotware (atualizados cada vez mais rapidamente e, portanto,substitudos), que se mostra muito mais atraente do que aquele proposto poruma educao slida e estruturada.

    Em consequncia, a ideia de que a pedagogia tambm possa ser umproduto destinado apropriao e conservao, uma ideia desagradvele contrria pedagogia institucionalizada. Para convencer as crianas da im-

    portncia do conhecimento e do uso da aprendizagem, os pais de antigamentelhes diziam que ningum nunca poder roubar a sua cultura; o que soavacomo uma promessa encorajadora para os i lhos de ento, seria uma horrendaperspectiva para os jovens de hoje. Os compromissos tendem a ser evitados, amenos que venham acompanhados de uma clusula de at nova ordem. [...]

    O segundo desaio para os pressupostos basilares da pedagogia deriva danatureza excntrica e essencialmente imprevisvel das mudanas contempor-

    neas, o que reora o primeiro desaio. O conhecimento sempre oi valorizadopor sua iel representao do mundo, mas o que aconteceria se o mundo mu-dasse, recusando continuamente a verdade do conhecimento ainda existentee pegando de surpresa inclusive as pessoas mais bem inormadas? Werner

    Jaeger1, autor de estudos clssicos sobre as antigas origens dos conceitos de

    1. Werner Jaeger, llogo e lsoo, morreu em 1961. Ensinou na universidade de Berlim,

    Chicago e Harvard. Com numerosas obras publicadas, oi um dos principais llogos de seutempo e sua obra principal, Paideia, constitui uma das mais substanciais publicaes sobre aGrcia que apareceram no sculo XX e exprime o grandioso maniesto do chamado terceirohumanismo.

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    pedagogia e aprendizagem2, acreditava que a ideia de pedagogia (Bildung, or-mao) tenha nascido de duas hipteses idnticas: aquela da ordem imutveldo mundo que est na base de toda a variedade da experincia humana e

    aquela da natureza igualmente eterna das leis que regem a natureza humana.A primeira hiptese justiicava a necessidade e as vantagens da transmisso doconhecimento dos proessores aos alunos. A segunda incutia no proessor aautossegurana necessria para esculpir a personalidade dos alunos e, comoo escultor com o mrmore, pressupunha que o modelo osse sempre justo,belo e bom, portanto virtuoso e nobre. Se as ideias de Jaeger ossem corretas(e no oram reutadas), signiicaria que a pedagogia, como a entendemos, se

    encontraria em diiculdades, porque hoje necessrio um esoro enormepara sustentar essas hipteses e outro ainda maior para reconhec-las comoincontestveis.[...]

    Segundo o que h muito observou Ralph Waldo3, quando se patinasobre gelo ino a salvao est na velocidade. Seria bom aconselhar quelesque buscam a salvao a se moverem bastante rpido de modo a no arriscarpr prova a resistncia do problema. No mundo mutvel da modernidadelquida, onde diicilmente as iguras conseguem manter a sua orma por tempo

    suiciente para dar coniana e solidiicar-se de modo a oerecer garantia a longoprazo (em cada caso, no possvel dizer quando e se se solidiicaro e comque pequena probabilidade, no caso de isso ocorrer), caminhar melhor doque icar sentado, correr melhor que caminhar e surar melhor que correr.

    As vantagens do sur esto na rapidez e vivacidade do surista; por outro lado,o surista no deve ser exigente ao escolher as mars e deve estar semprepronto a deixar de lado suas habituais preerncias.

    Tudo isto no corresponde quilo que a aprendizagem e a pedagogiasuperaram na maior parte do seu curso histrico. Ainal, oram criadas na me-dida de um mundo duradouro, na esperana de que este permanecesse assime osse ainda mais durvel do que havia sido at ento. Em um mundo desse

    tipo, a memria era um elemento precioso e seu valor aumentava quanto mais

    2. C. Jaeger ( 1958).

    3. Ralph Waldo. nasceu em Boston, em 1803, e morreu em 1882. Ensasta e poeta americano,autor de Natureza, obra publicada em 1836, da qual nasceu o transcendentalismo, a dou-trina idealista que se opunha ao materialismo e viso calvinista da vida e oerecia, ao mesmotempo, argumentos a avor da liberdade do indivduo. C. Beniamino Soressi, (2004).

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    conseguisse recuar e durar. Hoje esse tipo de memria irmemente consolidada,demonstra-se em muitos casos potencialmente incapacitante, em muitos outrosenganosa e quase sempre intil. surpreendente pensar at que ponto a rpida

    e espetacular carreira dos servidores e das redes eletrnicas tem a ver com osproblemas de memorizao, de eliminao e reciclagem dos descartes que osprprios servidores prometiam resolver; com uma memorizao que procu-rava mais descartes que produtos utilizveis e sem ter um modo conivel paradecidir de antemo quais, entre os produtos aparentemente teis, se tornariamlogo ora de moda e quais, entre aqueles aparentemente inteis, haveriam degozar de um sbito crescimento de demanda. A possibilidade de armazenar

    todas as inormaes dentro de recipientes mantidos a uma devida distnciados crebros (onde as inormaes armazenadas poderiam subrepticiamentecontrolar o comportamento), parecia uma proposta providencial e atraente.

    O problema que apenas a reorma das estratgias educativas, apesarde engenhosa e completa, pode azer pouco ou nada. O ritual agressivo erepetitivo da corte dospinarello4 ou o repentino chamado da estratgia de vidade Don Giovanni no podem ser atribudos aos educadores como culpas enegligncias. O tipo de mundo para o qual a escola preparava os jovens, como

    descrito por Myers5 ou Jaeger, era diverso daquele que os esperava ora daescola. No mundo de hoje, se espera que os seres humanos busquem soluesprivadas para os problemas derivados da sociedade e no solues derivadasda sociedade para problemas privados.

    Durante a ase slida da historia moderna, o cenrio das aes hu-manas era criado para emular, o quanto possvel, o modelo do labirinto doscomportamentistas6, no qual a dierena entre os caminhos certos e errados

    era clara e ixa, de modo que aqueles que erravam ou recusavam os caminhos

    4. Spinarello: trata-se de um pequeno peixe de gua doce agilssimo. O macho constri o ninhoe durante o cortejo assume uma esplndida cor vermelha com a qual sinaliza mea, mastambm a eventuais pretendentes, a sua inteno.

    5. Edward D Myers ocupa-se da histria da civilizao helnica. Zigmunt Bauman reere-se emparticular ao ensaio Education in the perspective o history (1960).

    6. O autor se reere aos experimentos dos behavioristas que usavam o labirinto, com seuspercuros cegos ou abertos, no estudo da aprendizagem dos ratos e, como se ver adiante,s leis skinnerianas da aquisio segundo as quais um comportamento operante se xa namemria atravs de um estmulo de reoro.

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    certos eram constante e imediatamente punidos, enquanto aqueles que osseguiam obediente e velozmente eram recompensados. Na poca modernaas grandes bricas ordistas e o recrutamento de massas para os exrcitos,

    os dois braos mais longos do poderpantico7, eram a personiicao completada tendncia rotina dos estmulos e da reao aos estmulos. O domnioconsistia no direito de estabelecer leis inringveis, vigiar o seu cumprimento,determinar obrigaes para se seguir sob vigilncia, realinhar os desviantes ouexclu-los, no caso do racasso do esoro de reorm-los. Esse modelo dedominao exigia um compromisso recproco e constante dos administradorese dos administrados. [...] A modernidade slida era verdadeiramente a era

    dos princpios duradouros e concernia, sobretudo, aos princpios durveis queeram conduzidos e vigiados com grande ateno.Na ase lquida da modernidade, a demanda por unes de gesto

    convencionais se exaure rapidamente. A dominao pode ser obtida e garantidacom um dispndio de energia, tempo e dinheiro muito menor: com a ameaado descompromisso, ou da recusa do compromisso, mais do que com umcontrole ou uma vigilncia inoportunos. A ameaa do descompromisso arrastao onus probandi para o outro lado dominado. Agora, cabe aos subordinados

    comportar-se de modo a obter consensos perante os chees e lev-los a ad-quirir seus servios e seus produtos criados individualmente (assim como osoutros produtores e comerciantes procuram persuadir os provveis clientesa desejar as mercadorias venda). Seguir a rotina no seria suiciente paraalcanar esse objetivo. Como descobriu Luc Boltanski e ve Chiapelo (1999)8,

    7. Durante o Iluminismo, Jeremy Bentham chamou de pantico um edicio que prev em seucentro uma torre de observao. O vigia que a ocupa pode, atravs de um engenhoso jogode luzes e sombras, controlar o espao circular circundante sem ser visto pelos habitantes. Ele o Um que tudo observa. A aplicao evidente desse projeto era a construo de prises,hospitais e tambm manicmios, mesmo Bertham no sendo totalmente consciente do alcancede sua inveno. A aliana entre o poder poltico e as tcnicas de controle e de manipulaosempre tentaram recriar as condies dopanopticon. A construo e diuso das mensagenspor parte de centros de poder (que ocupam a torre de controle dopanopticon) nos propemcotidianamente chaves interpretativas da realidade verossmeis, mas no verdadeiras.

    8. Luc Boltanski diretor da Ecole des Hautes tudes en Sciences Sociales de Paris; ve Chiapello

    proessora associada na cole de Hautes tudes Commerciales de Paris. A obra deles seocupa, como os prprios autores armam, das mudanas ideolgicas que acompanharam astransormaes recentes do capitalismo: O nosso objetivo seria aquele de responder a umacrescente pergunta do pensamente critico suscetvel de dar orma inquietao social diusa

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    Zygmunt Bauman

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    quem quiser obter sucesso na organizao que substituiu o modelo dos prin-cpios da ocupao que podemos deinir como labirinto para ratos, devedemonstrar jovialidade e capacidade comunicativa, abertura e curiosidade,

    pondo venda a prpria pessoa, no seu todo, como valor nico e insubstituvelpara aumentar a qualidade da equipe. Agora tarea dos empregados, atuais ou

    uturos, se autocontrolarem para garantir servios convincentes e provavel-mente aprovados, mesmo nos casos de mudana do gosto dos observadores;ao contrario, os chees no so obrigados a reprimir as idiossincrasias de seussubordinados, a homogeneizar os seus comportamentos nem encerrar suasaes no interior da rgida estrutura da rotina.

    No passado, a pedagogia assumiu diversas ormas e se mostrou capazde adaptar-se s mudanas, de ixar-se novos objetivos e criar novas estra-tgias. Todavia, deixe-me repetir que as mudanas de hoje so dierentesdaquelas ocorridas no passado. Nenhuma reviravolta da histria humana psos educadores diante de desaios comparveis a esses decisivos de nossosdias. Simplesmente no havamos estado at agora em situao semelhante.

    A arte de viver em um mundo ultrassaturado de inormaes ainda deve seraprendida, assim como a arte ainda mais dicil de educar o ser humano neste

    novo modo de viver.

    P: Segundo sua interpretao, o sintico, substituto do pr-modernopantico, o instrumento principal de conservao dos modelos tradicionais.Mas, sobretudo, o senhor airma que terminou a poca herica dos cheesespirituais: os missionrios que elaboravam o projeto de vida ao qual proes-sores, educadores, censores deveriam reerir-se. Qual ento o papel dos pro-

    issionais da educao de hoje diante dos novos desaios postos pela passagemda modernidade slida quela lquida? E quais exigncias pedaggicas resultamproeminentes? Qual portanto o papel da educao e de seus proissionais?

    R: Proponho a nica resposta imaginvel a esta pergunta, posta nos lbiosde Marco Polo pelo clebre Italo Calvino:

    e ornecer, pelo menos, instrumentos de inteligibilidade e, na melhor das hipteses, umaorientao para a ao, isto , neste caso, uma esperana.

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    O inerno dos vivos no algo que ser; se existe, aquele que j est aqui,

    o inerno no qual vivemos todos os dias, que ormamos estando juntos. Exis-

    tem duas maneiras de no sorer o inerno. A primeira cil para a maioria

    das pessoas: aceitar o inerno e tornar-se parte dele at o ponto de deixar deperceb-lo. A segunda arriscada e exige ateno e aprendizagem contnuas:

    tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inerno, no inerno, e

    preserv-lo, e abrir espao. (1990, p.150)

    Se viver em uma sociedade de caadores ou no como viver em uminerno obviamente uma questo controversa (a maior parte dos caadores

    airma que ser um caador entre os caadores tem tambm os seus bonsmomentos). Aquilo que, ao contrrio, raramente assunto de discusso o

    ato que muitos escolhero a estratgia cil para muitos e dela se tornaroparte integrante, sem j no se sentirem mais desconcertados pela sua lgicabizarra, nem enastiados por suas pretenses mutveis e constantes.

    incontestvel que a perspectiva que os educadores em busca de oque ou quem no o inerno acabem se derontando com uma tarea rduana tentativa de chamar a ateno e de promover o esprito crtico nos prpriosalunos. certo que esses educadores esto submetidos a ortes presses queos levam a aceitar aquilo que eles mesmos obstinadamente insistem em deinircomo inerno e induzem os alunos a aplicar, para torn-la ainda mais cil, aprpria estratgia de vida que se pode deinir como: cil para muitos.

    Retomando Gregory Bateson (1976), relembremos que a aprendizagemterciria (que promove a ormao de competncias de modo a desmantelar osesquemas cognitivos aprendidos antes), reduz os alunos ao nvel do plncton,

    transportado por ondas casuais e sem encontrar um lugar onde permanecerou apoiar-se para resistir mar. Desse modo a aprendizagem terciria parecese situar no polo oposto em relao deuteroaprendizagem9, o aprender aaprender. Esta, de ato, segundo Bateson, poderia permitir aos discentes lanarbases slidas, integrando as noes adquiridas a novos conhecimentos, per-

    9. O autor arma que para Bateson a deuteroaprendizagem, o aprender a aprender, inevitvel

    mas cumpre com sua uno (adaptadora) em relao aos atributos do mundo no qual estodestinados a viver os estudantes mais do que conectados sua prpria diligncia. Depois,Bateson sente a necessidade de completar o conceito introduzindo a aprendizagem terciria.C. Z. Bauman (2002).

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    mitindo a eles prosseguir pela trajetria escolhida em todas as circunstncias,at nas mais volteis. Se a deuteroaprendizagem torna a conduta dos alunosautnoma, a aprendizagem terciria est destinada a conundir-lhes e a tornar

    seu comportamento heterogneo. A aprendizagem terciria no deixa umsedimento duradouro, uma base slida sobre a qual se pode construir, tam-pouco conhecimentos que podem sedimentar-se e crescer durante o cursodos estudos. O processo de aprendizagem terciria (presumindo-se que sepossa alar de processo em tal caso) uma sucesso ininita de novos incios,devida antes de tudo ao rpido cancelamento dos conhecimentos pregressos,mais que aquisio de novos conhecimentos; parece uma espcie de cruzada

    contra a manuteno e a memorizao dos conhecimentos. A aprendizagemterciria poderia, assim, ser deinida como um dispositivo antimemria. porisso que Gregory Bateson deiniu a aprendizagem terciria como uma patologia,uma ormao cancergena que cresce nutrindo-se no corpo da instruo e,se no extirpada, leva sua destruio.

    Contudo, o pressuposto sobre o qual se unda o veredicto de Batesonno reina mais; em uma modernidade lquida se tornou por assim dizer contra-

    actual. A aprendizagem terciria parece provavelmente patolgica, entre surto

    de loucura e potencialmente suicida, s porque combina com o argumento deque a vida de cada um, inconstante e relativamente breve, inscrita em ummundo estvel e imperecvel. Em uma modernidade lquida, contudo, a relaoentre a vida e o mundo soreu uma reviravolta; se parte agora do argumentocontrrio, no qual a vida do indivduo, relativamente longa, dedicada so-brevivncia em condies rgeis e volteis atravs de uma srie de novosincios sucessivos. [...]

    Os praticantes de uma vida atiada em episdios, cada um dos quais comum novo incio e um im brusco, no tm necessidade de uma educao quebusque lhes ornecer os instrumentos idneos para um mundo invarivel (oupara um mundo que se move a uma velocidade inerior em relao quela doconhecimento ao qual deveria estar ligada). Os caadores levam a prpria vida,

    ugindo, deslocando-se de uma loresta a outra; assim como todos ns vivemospassando de um projeto a outro, do projeto ainda por deinir ao projeto apenas

    terminado, como demonstraram de maneira convincente Luc Boltanski e EveChiapello. No nos preocupamos com a velocidade impressionante com queo conhecimento muda de ritmo, o conhecimento precedente envelhece e o

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    novo, recm-nascido, destinado a envelhecer do mesmo modo: a volatili-dade do mundo lquido, parcamente integrado e multicntrico, az com quecada um dos episdios sucessivos dos projetos conduzidos na vida requeiram

    uma srie de competncias e inormaes que tornam vs as competnciaspregressas e as inormaes memorizadas. Aprender quantidades excessivas deinormaes, procurando absorv-las e memoriz-las, aspirando tenazmente completude e coeso das inormaes adquiridas, visto com suspeita,como uma ilgica perda de tempo... [...]

    Tudo isso contradiz a verdadeira essncia da educao centrada na escola,que notoriamente preere um rgido programa de estudos e uma sucesso

    predeinida no processo de aprendizagem. Na modernidade lquida os centrosde ensino e aprendizagem esto submetidos presso desinstitucionalizantee so continuamente persuadidos a renunciar sua lealdade aos princpiosdo conhecimento (sua existncia, para no alar de sua utilidade, sempreposta em dvida), valorizando ao contrrio a lexibilidade da presumida lgicainterna das disciplinas escolares.

    As presses provm seja do alto (do governo que pretende acompanharos caprichosos e volteis movimentos no mundo econmico), seja de baixo

    (dos estudantes, expostos igualmente s caprichosas demandas do mercado detrabalho e desconcertados por sua natureza aparentemente casual e imprevi-svel). Outro ator, a perda do tradicional monoplio das instituies escolaresno papel de tutoras do conhecimento e da relativa partilha de (ou concorrnciapor) de tal papel com os ornecedores desotware para computador, revigora

    tais presses.Um eeito muito evidente dessas presses, veriicado pelos tericos

    e integrantes do sistema educacional, o evidente deslocamento de nasedo ensino aprendizagem. Imputar aos estudantes a responsabilidade dedeterminar a trajetria do ensino e da aprendizagem (e, portanto, de suasconsequncias pragmticas) relete a crescente alta de vontade dos alunos deassumir compromissos de longo prazo, reduzindo assim o leque de opes

    uturas e limitando o mbito de ao. Outro eeito evidente das presses de-sinstitucionalizantes a privatizao e a individualizao dos processos e das

    situaes de ensino e aprendizagem, alm da gradual e inexorvel substituioda relao ortodoxa proessor-aluno por aquela de ornecedor-cliente, ouaquela centro comercial-comprador.

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    Este o contexto social no qual esto obrigados a trabalhar atualmenteos educadores. As suas respostas e a eiccia das estratgias utilizadas parapromover tais respostas so destinadas a permanecer por longo tempo objeto

    crucial de estudo das cincias pedaggicas.

    P: Das suas relexes sobre educao parece emergir a tese de que aprtica educativa deve abandonar os modelos ortemente estruturados, em

    avor de um processo ormativo aberto. possvel projetar uma intervenoormativa sem poder determinar desde o incio objetivos didticos e educa-cionais precisos?

    R:Desde que os antigos sbios gregos inventaram a noo de Paideiaoi preciso mais de dois mil anos para transormar a ideia de educao perma-nente, de oxmoro (contradio dos termos) em pleonasmo (do tipo man-

    teiga amanteigada, erro metlico...). Entretanto, a atestao dessa notveltransormao ocorreu recentemente nos ltimos dez anos sob o impactoda mudana acelerada do ambiente social no qual os protagonistas principaisda educao (tanto proessores como educandos) deviam agir.

    Contemporaneamente, tambm em outros setores, mas com a mesmamodalidade acelerada, surgiram outras mudanas.

    Para os msseis balsticos, no momento em que comeam a se mover, adireo e a distncia de sua viagem j so decididas pela orma e pela posio docanho; pela quantidade de plvora no projtil, possvel calcular, com margemmnima ou inexistente de erro, o ponto de aterrissagem, ou at mesmo alter-lo, modiicando a posio do canho ou a quantidade de plvora do disparo.

    Essa propriedade dos msseis balsticos os torna armas ideais para se utilizarem caso de uma guerra de posio, ou quando os alvos se encontram entrin-cheirados ou nos bunkers e os msseis so os nicos corpos em movimento.

    As mesmas qualidades os tornam entretanto tambm inteis uma vezque os alvos comeam a se mover, tornando-se invisveis s armas, sobretudoquando esses alvos se movem mais rapidamente do que os msseis podemvoar e, ainda mais, se se movem de um modo irregular ou imprevisvel, que

    desnorteiam todos os clculos preliminares da trajetria requerida. entonecessrio um mssil inteligente, que possa modiicar a sua direo em vocom base na evoluo dos eventos, que possa individualizar imediatamente os

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    movimentos dos alvos, aprender tudo o que or necessrio sobre a direo ea velocidade real do alvo e identiicar, a partir das inormaes recolhidas, oponto para o qual direcionar a sua trajetria. Durante a viagem, esses msseis

    inteligentes no podem interromper, muito menos inalizar, a coleta e a ela-borao das inormaes, j que os alvos continuam a se mover e a modiicarsuas direes e velocidades, e o ponto de encontro observado deve serconstantemente atualizado e retiicado.

    Podemos dizer que os msseis inteligentes seguem a estratgia da ra-cionalidade instrumental, entendida na sua verso lquida, luida; isto signiicaque se abandona o pressuposto de que o objetivo seja estabelecido, ixo e

    irremovvel durante toda a durao do lanamento e que portanto devem sercalculados e manipulados somente os instrumentos de vo. Tambm a utilizaode msseis ainda mais inteligentes no ser limitada a alvos preestabelecidos, masa alvos escolhidos no ar. Tais msseis sero sobretudo guiados considerando-seo mximo que podem atingir dadas suas capacidades tcnicas e o nmero dealvos que potencialmente podem acertar de acordo com seu equipamento. Emsuma, podemos dizer que este seria justamente o caso contrrio racionali-dade instrumental: os alvos so selecionados com os msseis no ar e so os

    meios disponveis que decidiro qual ser, ao inal, a meta a se escolher. [...]Os msseis inteligentes, portanto, dierentemente dos velhos arteatos

    balsticos, aprendem no ar. Assim, devem ser inicialmente dotados da capacida-de de aprender e de aprender de modo rpido. Isso bvio. O que menosevidente, se bem que no menos importante dentro de uma rpida capacidadede aprendizagem, todavia a capacidade de esquecer instantaneamente oque se aprendeu antes. Os msseis inteligentes no seriam inteligentes se no

    ossem capazes de mudar de ideia, ou de revogar as decises preceden-tes, sem pensar duas vezes e sem remorsos... No deveriam se preocuparcom as inormaes adquiridas e por nenhuma razo deveriam desenvolverum hbito comportamental sugerido pelas inormaes. Todas as inormaesobtidas envelhecem rapidamente e ao invs de ornecerem um guia conivelpodem desviar do caminho se no orem prontamente ignoradas. Aquilo queos crebros dos msseis inteligentes no devem nunca esquecer que o

    conhecimento adquirido eminentemente eliminvel, somente eicaz at umanova ordem e til apenas temporariamente, e que a demonstrao do sucessoest em no deixar escapar o momento em que o conhecimento adquiridono mais til e deve ser eliminado, esquecido e substitudo.

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    Deixe-me extrair desse exemplo muito articulado a seguinte conside-rao: os ilsoos da educao da era slido-moderna consideravam os pro-

    essores como lanadores dos msseis balsticos e os instruam sobre como se

    assegurar que seus produtos seguissem rigorosamente na rota preestabelecida,determinada desde o incio pela quantidade de movimentos do lanamento.E no de se surpreender, visto que os msseis balsticos eram, durante aprimeira ase da era moderna, a inveno tecnolgica humana mais avanada.Estes serviram impecavelmente a quem quisesse conquistar e governar omundo, como declarou Hilaire Belloc10 reerindo-se aos nativos aricanos.Qualquer coisa que ocorra temos a Metralhadora Maxim e eles no a tm

    (a metralhadora Maxim era uma arma capaz de lanar um grande nmero deprojteis balsticos em pouco tempo e era muito eicaz, mas somente se sepossua um grande nmero de projteis).

    Em realidade, essa viso da tarea do proessor e do destino do aluno muito anterior ideia de mssil balstico e da era moderna que a inventou como diz um antigo provrbio chins de mais de dois mil anos antes doadvento da modernidade mas ainda citado pela Comisso Europeia em apoioao programa Lielong Learning, no limiar do sculo XXI: Quando planejas por

    um ano, semeias o gro. Quando planejas por uma dcada, plantas rvores.Quando planejas por uma vida inteira, ormas e educas as pessoas.

    Somente com o advento dos tempos lquido-modernos a antiga sa-bedoria perdeu seu valor pragmtico e as pessoas envolvidas no mbito daaprendizagem e da promoo da aprendizagem, mbito conhecido com onome de educao, tm deslocado sua ateno dos msseis balsticos paraaqueles inteligentes.

    A educao e a aprendizagem no ambiente lquido-moderno, paraser teis, devem ser contnuas e durar toda a vida. Nenhum outro tipo de

    10. Joseph-Pierre Hilaire Belloc denido como um escritor catlico entre dois mundos; nasceem 1870, em Paris, e alece em 1953 na Inglaterra, com pai rancs, advogado, e me in-glesa, pertencente alta burguesia e convertida do protestantismo ao catolicismo. Teve umtemperamento combativo, declarando abertamente ao nal de sua juventude a sua adesoao catolicismo. Polemista muito ativo no debate poltico (em 1906 e em 1910 eleito para a

    Cmara dos Comuns na Inglaterra); escritor prolco em vrios gneros, da narrativa poesia,da tcnica militar aos romances policiais. Uma citao amosa de Hilaire Belloc sustenta queRoma abateu a potncia de Cartago, assim perecendo por alguns sculos a danosa iluso deque o mercador podia dominar o soldado!

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    educao e/ou aprendizagem concebvel; a ormao do prprio eu, ouda personalidade, impensvel de qualquer outro modo que no seja aquelecontnuo e perpetuamente incompleto.

    P: Da estreita relao que emerge entre a ormao e o mercado resultaque a educao necessria, mas tambm que o indivduo deve tornar-se ca-paz de escolher entre as inumerveis oertas ormativas para ser competitivo.Por que o senhor sustenta que a educao permanente a nica atualmentepossvel, quais so as reais possibilidades de desenvolvimento dessa perspectivaeducativa?

    R:Jacek Wojciechowski11 (editor de revista polonesa sobre a proissoacadmica) observa que

    ...antes a diplomao universitria oerecia regras seguras para praticar a prois-

    so at a aposentadoria, mas hoje isso passado. Atualmente o conhecimento

    necessita ser constantemente renovado e tambm as proisses necessitam de

    mudanas, seno todos os esoros para sobreviver seriam vos. (2004)

    Em outras palavras, o crescimento impetuoso do novo conhecimento eo envelhecimento igualmente rpido do velho se combinam para produzir, emlarga escala, ignorncia humana que continuamente reabastece (e at mesmoalimenta) as suas provises.

    Wojciechowski adverte: onde existe um problema e as pessoas lutampara resolv-lo, o mercado vir prontamente em seu socorro. Por um preoalto, obviamente. Nesse caso, o problema a ignorncia das pessoas: um golpede sorte para os vendedores e azar dos compradores. Para os hbeis diretoresde escolas, isso constitui ocasio oportuna para recolher undos, promovendocursos para o desenvolvimento das capacidades atualmente demandadas, aindaque os proessores com a capacidade necessria para transmiti-las brilhem porno t-las. Este o mercado dos ornecedores, dos clientes em potencial que,

    11. Jacek Wojciechowski oriundo da ctedra de Gesto e Comunicao Social da UniversidadeJagellonika de Cracvia; tambm responsvel pela Inormao Cientca da universidade eainda Diretor da Biblioteca Wojewodzka de Cracvia.

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    por deinio, no esto em condies de julgar a qualidade dos produtos emoerta ou se tornam pedantes se se arriscam a az-lo. Inerior ou intil, s

    vezes antiquado ou enganoso, o conhecimento acilmente vendido e quanto

    mais adquirido, menos provvel que os enganados descubram o jogo. Woj-ciechowski deixa entender que o nico tipo de curso de educao contnuaque deveria ser oerecido, experimentalmente, pelas instituies sem as devidascredenciais, seria aquele de odontologia, desde que os proessores ossem ospacientes nos ambulatrios.

    Expoliar a ignorncia humana e a credulidade garante retornos imedia- tos e seguros e sempre haver um caador de ortuna incapaz de resistir a

    tal promessa. Todavia, mesmo deixando de lado o perigo genuno, diuso esempre maior do comrcio desonesto, a velocidade com a qual as capacidadesadquiridas e as demandas do mercado da mo-de-obra/trabalho se desvalori-zam, permite inclusive s pessoas irrepreensivelmente honestas de contribuir(ainda que, neste caso, mais por lassido que por propsito) com as desagra-dveis repercusses sociais da nova e grande dependncia do conhecimento.Como recentemente percebido por Liz Thomas (2004), a comercializao daeducao indispensvel de meio de carreira aumenta as dierenas sociais e

    econmicas existentes entre uma elite de trabalhadores altamente instrudae qualiicada e o resto da ora de trabalho e tambm entre a mo de obraespecializada e aquela no especializada, criando novas e insuperveis barrei-ras mobilidade social e aumentando o desemprego e a pobreza; uma vezestabelecidas, as dierenas tendem a se perpetuar e se retroalimentarem. [...]

    Isso oi pressuposto pela Comisso Europeia e conrmado na comu-nicao j citada Making a European area o lielong learning a reality [Fazer da

    educao permanente na Europa uma realidade], publicada em 21 de Novembrode 2001, se bem que no seja totalmente certo que as consequncias sociaisda comercializao da educao em curso ossem a preocupao principal ainspirar a iniciativa. O tema dominante de todo o documento a suspeita de quea educao permanente administrada pelo mercado no orneceria aquilo querealmente serve economia e pode, portanto, incidir desavoravelmente sobrea ecincia e a competitividade da Unio Europeia e de seus pases-membros.

    Os autores do documento esto preocupados pelo ato de que o adventoda sociedade do conhecimento seja pressgio de enormes riscos para seuspotenciais utilizadores; essa ameaa de ser a causa de dierenas e exclusessociais ainda maiores, visto que s 60,3% da populao da Unio Europeia,

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    de idade compreendida entre 25 e 64 anos, completou ao menos a educaode nvel mdio, enquanto 150 milhes de pessoas na Unio Europeia nopossuem esse nvel bsico de educao e esto expostos a um risco maior

    de marginalizao. Mas a necessidade de expandir a educao/aprendizagempermanente discutida, desde o incio do documento, em termos de van-

    tagem competitiva que depende cada vez mais de investimento em capitalhumano e do conhecimento e das competncias, tornando-se um potentemotor para o crescimento econmico. Segundo a comisso, a importnciae a necessidade de uma aprendizagem permanente consiste em seu papelde promoo de uma ora de trabalho qualiicada, ormada e adaptvel.

    A tarea de chegar a uma sociedade mais global, tolerante e democrticamarcada por maior participao cvica, um bem-estar maiormente declaradoe uma criminalidade menor se insere nesse raciocnio sobretudo como umalembrana, como um eeito colateral: expressa-se a esperana que aconteacomo uma consequncia natural o ato de que mais gente ormada, no lugardaquela ormada inadequadamente, aa o seu ingresso no mercado de tra-balho graas a uma ormao apereioada.

    [...] Uma mudana educacional est cada vez mais ligada ao discurso da

    eicincia, da competitividade, do custo/eiccia e da responsabilidade, sendosua meta declarada comunicar ora de trabalho as virtudes da lexibilidade,da mobilidade e as competncias de base associadas ao emprego.

    P: O senhor alou de comercializao da educao em curso e dodilogo j quase exclusivo do mundo da ormao com o mundo do trabalhoe com as dinmicas econmicas. As inquietaes dos pedagogos quanto a

    esse cenrio emergem em todos os mbitos da pesquisa acadmica. Essasinquietaes se reerem questo da necessidade de mudana da aborda-gem educativa diante da liqueao dos modelos de reerncia, e tambm aoproblema da individualizao da questo pedaggica, enmeno que ganhasempre maior terreno. Em que sentido e como possvel que a educao sereduza a ser quase exclusivamente ormao para o trabalho inclusive nonvel das diretivas europeias?

    R:As inquietaes tm undamento. simples traar as extraordinriasainidades entre a abordagem utilizada pela Comisso Europeia e as intenes

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    e demandas declaradas abertamente por autores que escreveram explicita-mente em nome e em prol dos executivos de empresas. Estes seguem comalgumas modiicaes o modelo de raciocnio exempliicado por um compn-

    dio muito popular e inluente no pensamento empresarial (Fombrun, Tichy,Devana, 1984) segundo o qual o objetivo da educao o de desenvolver

    trabalhadores, ou seja, aumentar sua cota atual de trabalho e prepar-los paraas tareas que podero desenvolver no uturo. Esse desenvolvimento devesempre ser determinado pela individualizao das competncias necessrias epela gesto ativa do aprendizado do trabalhador para um uturo a longo prazo,em relao com estratgias empresariais explcitas. Raili Moilanen (2004),

    depois de ter analisado os contedos dos documentos submetidos TerceiraConerncia Internacional de Pesquisa sobre o Trabalho e a Aprendizagem querepresentavam o ponto de vista dos trabalhadores, conclui que o aprendizadoe o desenvolvimento parecem ser importantes para as organizaes sobretudopor razes de eiccia e competitividade enquanto o ponto de vista do serhumano como tal parece no ser importante.[...]

    Os apelos ao papel central do desenvolvimento dos recursos humanos(Human Resources Development) baseados na individualizao das competn-

    cias necessrias para o mercado de trabalho oram eitos inmeras vezes antescom exemplar coerncia; com regularidade igualmente montona os gerentesdos recursos humanos no conseguiam antecipar quais seriam as exignciasdo mercado de trabalho no momento em que a ora de trabalho tivessecompletado a ormao e estivesse presumivelmente pronta para o emprego.Os desenvolvimentos imprevistos da demanda do mercado no so acilmenteprognosticveis, tanto que os especialistas de previses no so ingnuos e

    os seus prognsticos so metodologicamente previstos. Os erros de previsoda demanda do mercado causam terror e provavelmente representam o malincurvel de todas as previses cienticas das progresses sociais; mas nessecaso, em que as perspectivas de vida humana esto em risco, juzos errados soextraordinariamente nocivos. Coniar os esoros pessoais em prol da imposioe do desenvolvimento de si mesmo a vises essencialmente imprevisveis eassim declaradamente pouco coniveis das exigncias uturas do mercado

    mutvel e catico, az pressagiar um grande sorimento humano associado a rustrao, esperanas vs e vida desperdiada. Os clculos preventivos dopoder humano requerem uma autoridade que no possuem, azem promes-

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    sas que no podem manter e consequentemente assumem responsabilidadesque no podem sustentar.

    Provavelmente, tudo isso ocorre tambm porque os programas de

    educao permanente tendem a ser remanejados, imperceptivelmente esem explicaes explcitas, exaltando-se a aprendizagem permanente. Issose torna portanto um auxlio s responsabilidades associadas seleo e aquisio das competncias e, em particular, associadas s consequnciasdas escolhas erradas por aqueles que so parte receptora dos mercados de

    trabalho, notoriamente luidos e mutveis. Borg e Mayo esto no caminhocerto quando concluem que

    ...nestes tempos rigorosamente neoliberais, a noo de aprendizagem auto-

    gestionada se presta a um discurso que consente ao Estado a renncia de sua

    responsabilidade de ornecer a educao de qualidade que cada cidado de

    uma sociedade democrtica tem o direito de possuir.

    Deixe-me ainda evidenciar que essa no a primeira nem a ltima

    uno que o Estado gostaria de eliminar de bom grado do reino da poltica e,consequentemente, das suas responsabilidades. Deixe-me acrescentar aindaque a nase mutvel, que se desloca da categoria da educao para a deaprendizagem, est em harmonia com uma outra tendncia, comum entreos empresrios contemporneos: a inclinao a descarregar sobre as costasdos trabalhadores todas as suas responsabilidades, mas sobretudo os eeitosnegativos e, mais geralmente, a responsabilidade do racassado crescimentoda mudana.

    Dada a contnua convergncia desses dois caminhos tempestuosos quedirigem, na era lquido-moderna, as relaes de poder e a estratgia de do-mnio, as perspectivas de retomada do percurso controvertido e errtico dodesenvolvimento do mercado, bem como aquelas de clculos mais realistaspara os recursos humanos so escassas na melhor das hipteses e, mais pro-

    vavelmente, nulas. No ambiente lquido-moderno, a incerteza produzida o instrumento de domnio mais importante quando a poltica de precarizao,

    usando o termo de Pierre Bourdieu (um conceito que se reere s manobrasresultantes da situao em que os sujeitos se tornam mais inseguros e vulne-rveis e por isso ainda menos previsveis e controlveis), se torna rapidamente

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    o ncleo da estratgia de domnio12. O mercado e a planiicao da vida soantitticos e uma vez que a poltica se deixa guiar pela economia, entendidacomo jogo livre das oras de mercado, o equilbrio do poder entre os dois se

    desloca decididamente em direo ao primeiro.Tudo isso no de bom augrio para a concesso dos poderes aos cida-

    dos, deinido pela Comisso Europeia como o objetivo principal da educaopermamente. Segundo o consenso geral, a outorga dos poderes (expressoutilizada nas atuais bases de dados e intercambivel porautorizao) se obtmquando as pessoas adquirem a capacidade de controlar, ou ao menos de inluirsobre as oras individuais, polticas, econmicas e sociais que poderiam incidir

    no curso de suas vidas. Para dizer rancamente, uma autorizao autnticarequer no apenas a aquisio das capacidades que consentiriam em azerparte do jogo criado por outros, mas tambm a aquisio de poderes tais quepermitam inluenciar os objetivos, os lugares e as regras do jogo. Obviamente,

    alamos de capacidades no apenas individuais mas tambm sociais.

    P: Somos pois uma sociedade do conhecimento e da aprendizagemcontnuos, mas tambm das inquietaes relativas exigncia de conviver

    cotidianamente com a incerteza, a ausncia de autoridade, a solido e a pre-cariedade. Somos, porm, constantemente tambm obrigados a azer escolhase agir. Com tais pressupostos, possvel considerar a cultura democrtica(do respeito pluralidade dos pontos de vista at o direito dos outros a serdierentes) como o pilar da instruo de amanh?

    R: Como j disse, a outorga dos poderes aos cidados requer a capa-

    cidade de azer escolhas e de agir eicazmente com base nas escolhas eitas,mas requer tambm a construo e a reconstruo de vnculos interpessoais,a vontade e a capacidade de empenhar-se continuamente junto com os outros

    12. Pierre Bourdieu, alecido em 2002, arma que A precarizao e a fexibilizao provocam aperda das pequenas vantagens (requentemente descritas como privilgios de endinheirados)que poderiam compensar os baixos salrios, como o emprego durvel, as garantias de sade e

    de aposentadoria (C. Bordieu, 1988. Tambm em http://www.pages-bourdieu.r.st/). Titularpor cerca de trinta anos da ctedra de Sociologia no Collge de France e sempre muito crticoem relao a cada establishment, Bourdieu az parte dos estudiosos que se esoraram emdemonstrar os limites da globalizao.

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    mente Henry A. Giroux13 e Susan Searls Giroux (2003), a democracia estem perigo porque os indivduos so incapazes de transormar a sua misria,sorida privadamente, em atos de amplo domnio pblico e de ao coletiva.

    medida que as companhias multinacionais deinem o contedo da maior partedas mdias tradicionais, a privatizao do espao pblico e o compromisso cvicoaparecem mais impotentes e os valores pblicos icam cada vez mais invisveis.Hoje, para muitas pessoas, as aes da cidadania se limitam aquisio e

    venda de bens (inclusive para os candidatos prpria vida pblica), em vez deaumentar o alcance de sua liberdade e dos seus direitos a im de ampliar osatos de uma verdadeira democracia.

    O consumidor um inimigo do cidado... Em todas as regies desen-volvidas e ricas do planeta h numerosos exemplos de pessoas que voltamas costas para a poltica, numa apatia poltica e numa perda de interesseem relao aos processos polticos cada vez mais maiores. Mas os polticosdemocrticos no podem sobreviver por muito tempo passividade doscidados, originada na ignorncia e na indierena poltica. As liberdades doscidados no so propriedades que se adquirem uma vez por todas; elas noesto seguras, encerradas nas suas caixas-ortes. So plantadas e enraizadas

    no terreno sociopoltico, que precisa ser cotidianamente ertilizado e que se torna rido at icar gretado, se no or cuidado dia aps dia com as aesinormadas de um pblico preparado e comprometido. No preciso atualizars as capacidades tcnicas, no s a educao voltada para o trabalho queprecisa ser permanente. O mesmo vale, com uma urgncia ainda maior, paraa educao para a cidadania.

    Muitas pessoas hoje concordariam, sem muita insistncia, com o ato

    de que os seus conhecimentos proissionais necessitam de atualizao e queprecisam assimilar novas inormaes tcnicas para no ser deixadas para

    trs e ora do progresso tecnolgico em contnua evoluo. Esse sensode urgncia alta justamente no momento em que preciso se atualizar emrelao aos desenvolvimentos polticos e rpida mudana das regras do jogo

    13. Giroux Waterbury Chair o Secondary Education na Pennsylvania State University. De 1977

    a 1983 oi docente na Boston University e em seguida na Miami University, onde dirige oCenter For Education and Cultural Studies da universidade. Junto com Peter McLaren, JoeKincheloe e Shirely Steinberg se ocupa da integrao entre os Estudos Culturais e os estudossobre a Educao.

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    da poltica. Os autores antes citados coletaram resultados de alguns estudosque testemunham o rpido aumento do hiato que separa a opinio pblica dosacontecimentos centrais da vida poltica. Logo aps a invaso do Iraque, o New

    York Times publicou os resultados de uma sondagem em que 42% dos leitoresamericanos acreditavam que Saddam Hussein osse diretamente responsvelpelos ataques do Onze de Setembro ao World Trade Center e ao Pentgono.

    A CBS publicou resultados de outra enquete em que 55% dos americanosacreditavam que Saddam Hussein apoiava a organizao terrorista Al Qaeda.[...] Na verdade, nenhuma dessas crenas tinha base, j que no existia ne-nhuma prova que conirmasse, mesmo que vagamente, essas airmaes. Uma

    enquete conduzida pelo Washington Post pouco antes do segundo aniversrio datragdia do 11 de Setembro, indicava que 70% dos americanos continuavam acrer que o Iraque estivesse diretamente envolvido na organizao dos ataques.

    Nesse cenrio de ignorncia, cil sentir-se perdido e sem esperana,e ainda mais cil sentir-se perdido e privado de esperana quando no se

    tem capacidade de compreender aquilo que acontece. Como sublinhava PierreBourdieu, quem no tem uma viso mais acabada do presente no poderiasonhar controlar o uturo, e a maior parte dos americanos deve ter uma viso

    conusa do presente [...].A ignorncia leva paralisia da vontade. Quem no sabe o que guarda

    no depsito, no tem como calcular os riscos.Para a autoridade, intolerante em relao s proibies impostas pelos

    detentores do poder atravs de uma democracia elstica e lutuante, essaimpotncia, induzida pela ignorncia do eleitorado, bem como a desconianageral na eiccia do dissenso e a oposio ao envolvimento poltico, so ontes

    necessrias e bem-vindas de capital poltico: a dominao atravs da ignornciae da incerteza deliberadamente cultivadas mais aceitvel e menos cansativa doque o princpio baseado na discusso atenta dos acontecimentos e no esorodemorado de estabelecer a verdade dos atos e os modos menos arriscados deproceder. A ignorncia poltica entranada com a inatividade ica ao alcance damo cada vez que suocada a voz da democracia ou as suas mos icam atadas.

    preciso uma educao permanente para dar a ns mesmos a possibi-

    lidade de escolher. Mas temos ainda mais necessidade de salvar as condiesque tornam as escolhas possveis e ao nosso alcance.

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  • 8/6/2019 Porcheddu, Alba. Zygmunt Bauman - entrevista sobre a educao. Desafios pedaggicos e modernidade lquida.

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    Alba Porcheddu

    WOJCIECHOWSKI, J. Studia podyplomowe. Forum Akademickie, n.5, 2004. Disponvel em:www.orumakad.pl/archiwum/2004/05/10-agora-studia_podyplomowe.htm 2004. Acessoem: abr.2009.

    Recebido em: maio 2008

    Aprovado para publicao em: junho 2008