Porque Funk e não rap

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O funk tornou-se vivel por acompanhar o comportamento de inmeros jovens brasileiros e tambm por no possuir, em maioria, textos passveis de censura, como os do rapThfani Postali, doCruzeiro do SulPara se pensar as prticas musicais rap e funk e suas relaes com os veculos de comunicao de massa, no podemos fugir lgica mercadolgica que compreende a indstria do entretenimento. Visando atingir ao maior nmero de pessoas possvel, a indstria cultural admite ou adapta os produtos que melhor atendam ao sistema capitalista. Como acrescenta Nstor Canclini, os formatos e as mudanas permitidas so feitas de acordo com a dinmica do mercado do sistema em que se encontra. Assim, o que passvel de veiculao so os produtos culturais rentveis indstria, que deixa de lado as escolhas pessoais dos produtores, no caso, dos compositores de rap e funk.De acordo com Edgar Morin, as produes da indstria cultural so dirigidas a todos, ou seja, s diferentes idades, s diversas classes e grupos sociais, que formam a massa de consumo para as indstrias nacionais ou mundiais.Considerando as colocaes de Canclini e Morin, a frmula para se inserir nos meios de comunicao de massa implica produzir contedos que dialoguem com o maior nmero de pessoas. Assim, alguns temas, como amor, sexo e poder, so lderes nas produes massivas, j que envolvem textos facilmente identificveis por uma maioria.Surgidas a partir da segunda metade do sculo XX, as prticas culturais urbanas rap e funk so oriundas de um mesmo grupo social, formado por jovens que se encontram s margens da vida social urbana, ou melhor, daquilo que se coloca como ideal da vida social urbana, j que so desfavorecidos economicamente.O rap, por exemplo, tem sua raiz na Jamaica e surgiu em 1960, quando a populao carente do pas passou a utilizar a msica como meio de expresso contra o sistema local. Da Jamaica para os Estados Unidos e depois para o mundo graas s novas tecnologias, o rap tornou-se a msica do movimento Hip Hop, que tem como finalidade disseminar Paz, Amor, Unio e Diverso por meio de manifestaes artsticas chamadas de elementos, tais como o rap, a dana, o grafitti, os MCs e os DJs. claro que as invenes humanas podem ser utilizadas para diversos fins. A princpio, o Hip Hop foi criado por frica Bambaataa para diminuir a violncia e disciplinar as gangues dos guetos de Nova Iorque. Entretanto, cientes da capacidade que a msica rap tem em disseminar informaes, outras gangues comearam a utiliz-la para fazer apologia ao crime e ao uso de drogas ilegais. A partir dessa situao, Bambaataa criou o quinto elemento do movimento, chamando-o de conhecimento. A inteno era legitimar o movimento dizendo que o verdadeiro Hip Hop tem que passar mensagens positivas ao grupo, alm de despertar o senso crtico dos jovens.Por esse motivo, existem dois tipos de rap: aquele que possui contedo crtico-social abrangendo discursos polticos e filosficos e o gangsta rap, que relata o cotidiano violento dos indivduos que vivem esse contexto. No coincidentemente, a maioria das pessoas que desconhecem essa musicalidade a assimila delinquncia, o que fruto dos textos miditicos que sempre trataram o rap de forma taxativa, dando nfase apenas s produes gangstas.Emergido no mesmo perodo e grupo social, o funk que relata o cotidiano dos jovens das favelas no teve a mesma trajetria do rap. Com algumas excees, a maioria das letras abordavam o comportamento e o entretenimento dos jovens moradores dos morros do Rio de Janeiro, tendo como foco os cenrios dos bailes funk e o sexo. Recentemente, os compositores de funk alteraram os temas trocando os relatos da diverso dos jovens desfavorecidos economicamente para a diverso dos jovens de famlias abastadas. Com esse novo formato, nomeado funk de ostentao, o produto cultural ganhou visibilidade e ingresso na mdia.O interessante perceber como a indstria cultural continua praticando as mesmas imposies de sempre. Talvez o rap no obtenha tanta notoriedade pelo fato de produzir textos reflexivos e resistentes ao sistema social vigente. Do mesmo modo, existem funks com contedos crticos, como os de MC Garden que refletem sobre a poltica e opresso de seu grupo, mas esses no chegam a ser difundidos pela indstria cultural. J alguns rappers como Emicida tentam, alm de suas letras crticas, produzir outras mais neutras, aparecendo apenas em canais e programas de menor audincia. Por outro lado, recentemente, a maior emissora de televiso brasileira passou a divulgar o funk, inserindo-o nos programas lderes de audincia. certo que no podemos depositar o sucesso do funk apenas a sua divulgao propiciada pelos grandes meios. Devemos levar em considerao tambm o consumo da populao brasileira que, de certa forma, aponta os produtos de melhor aceitao. Logo, o funk vivel por oferecer uma linguagem mais rentvel atual prtica social que permite textos mais explcitos sobre assuntos como sexo, consumo de bebidas alcolicas, entre outros comportamentos considerados imorais por diversas instituies sociais. Assim, talvez possamos pensar que o funk tornou-se vivel por acompanhar o comportamento de inmeros jovens brasileiros e tambm por no possuir, em maioria, textos passveis de censura, como os do rap.

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