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t hi per exto Online: http://eusoufamecos.pucrs.br Fernanda Becker/Hiper Publicitário francês quer ver emoção nas cidades ENTREVISTA EXCLUSIVA Marc Gobé fala de espaços urbanos e pessoas apaixonadas Porto Alegre, maio 2011, Ano 13 – Nº 86 – Jornalismo 5 estrelas Samuel Maciel/ Hiper Inter conquista campeonato Marcelo Camelo mais colorido Página 8 Página 4 Carolina Witczak/Hiper Camila Cunha/Hiper O talento jovem na Pixel Show Estrutura na Independência cada vez mais deteriorada Torcida colorada comemora no estádio Olímpico após a defesa de penâltis de Renan e o clube vencer o Campeonato Gaúcho Antigo teatro Leopoldina abandonado Felipe Dalla Valle/Editorial J Página 3 Páginas 10 e 11 Páginas 6 e 7 Internet contra ditaduras Página 9 Prédio inacabado foi uti- lizado durante 44 anos. Ratos ocupam o palco onde estrelaram Paulo Autran, Bibi Ferreira, OSPA e espetáculos que enfrentaram os anos de chumbo da ditadura militar EDITORIAL J

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Online: http://eusoufamecos.pucrs.br

Fernanda Becker/Hiper

Publicitário francês querver emoção nas cidades

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Marc Gobé fala de espaços urbanos e pessoas apaixonadas

Porto Alegre, maio 2011, Ano 13 – Nº 86 – Jornalismo 5 estrelas

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Inter conquista campeonato

Marcelo Camelo mais colorido

Página 8Página 4

Carolina Witczak/Hiper Camila Cunha/Hiper

O talento jovemna Pixel Show

Estrutura na Independência cada vez mais deteriorada

Torcida colorada comemora no estádio Olímpico após a defesa de penâltis de Renan e o clube vencer o Campeonato Gaúcho

Antigo teatroLeopoldinaabandonado

Felipe Dalla Valle/Editorial J

Página 3 Páginas 10 e 11

Páginas 6 e 7

Internet contraditaduras

Página 9

Prédio inacabado foi uti-lizado durante 44 anos. Ratos ocupam o palco onde estrelaram Paulo Autran, Bibi Ferreira, OSPA e espetáculos que enfrentaram os anos de chumbo da ditadura militar

EDITORIAL J

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abertura

2 Porto Alegre, maio 2011hiperextot

hipersiderPor Camila Paier

Inscrição para mostra

Sabe aquele trabalho da faculdade que te exigiu um monte e ficou bem legal? Pois é, dá para fazer do limão uma gostosa limonada ao inscrever esse trabalho na Mostra Competitiva do 24º SET Universitário que será em setembro na Famecos. Veja em qual categoria pode se inserir e inscreva o material até 30 de julho no site: www.pucrs.br/famecos/set

Nossa Porto Alegre

A prefeitura de Porto Alegre lançou a campanha “Nossa Porto Alegre”, que mostra a cidade sob diversos ângulos e como cada um de nós ajuda na construção da história da Capital. A cada semana, um vídeo é lançado na internet para fortalecer o vínculo entre o cidadão e o local onde reside. Podem ser conferidos no site: www2.portoalegre.rs.gov.br/nossaportoalegre/

Destaque no cinema nacional

A produtora Colateral Filmes, que tem entre seus fundadores o ex-aluno famequiano Eduardo Christofoli, terá cinco filmes de sua produção exibidos no projeto Curta Cinemateca Especial, da Cinemateca Brasileira. A Mostra, que começou com exibições na PUCRS e no Santander Cultural, pode ser conferida no Canal Brasil e chega à Cinemateca, em São Paulo, um dos principais pólos cinematográficos do país. Os filmes que estão em cartaz são: “Longe de casa”, de Alexandre Guterres; “O Curinga”, dos Irmãos Christofoli; “O Assassino do Beija-flor”, de Rafael Camargo; “Aurora” e “Napo: acha que sou masoquista?”, ambos de Felipe Valer – e o curta “Para estar em mim”, de Marina Mello, que foi incorporado ao programa pela Cinemateca.

A Vida da Gente

Tudo indica que a próxima novela das 18h da Rede Globo de Televisão se passará em Porto Alegre. A ideia teria partido do diretor Jayme Monjardim, que buscou, na Secretaria de Turismo, imagens da Capital e da cidade de Gramado, onde devem se concentrar a trama. O folhetim substituirá Cordel Encantado, e tem previsão para estrear em outubro de 2011. O título provisório é “A Vida da Gente”. É esperar a confirmação, e torcer para que o sotaque gaúcho seja respeitado.

E o diploma?

Noticiou-se que a possível votação da PEC do diploma para jornalistas seria no início do mês. Nem mesmo com o mutirão realizado pela Fenaj alguma atitude foi tomada. Mesmo com a maioria esmagadora de senadores que se dizem favoráveis à PEC 33/9, nada de significativo tem mobilizado o eleitorado. Aliás, não é só a PEC do diploma que está nesse vai-não-vai, outras questões prioritárias passam pelo mesmo problema..

Casamentos marcadospor superproduções

Noivos buscam diferencial na cerimônia e tambémna produção antecipada de ensaios fotográficos

Matheus e Mariana foram modelos e viveram “um dia perfeito” na produção das fotos

Camila Cunha/Hiper

Por Juliane Guez

O amor não sai de moda, mas a forma de demonstrar esse senti-mento se renova a cada dia. Casar não é mais sinônimo de morar juntos. O namoro mudou e o casa-mento também. No mês das noivas, fica claro que os novos casais se adaptam ao mundo tecnológico atual, o encontro acontece via in-ternet, telefone e redes sociais. Hoje a cerimônia de casamento tem pre-parativos e ensaios que começam meses antes e uma superprodução de fotografias, o “trash the dress” (vestido sujo).

O“trash the dress” é uma nova tendência de fotografia para os apaixonados que chegou ao Brasil há cerca de seis anos. Essa nova forma de fotografar surgiu nos Estados Unidos. O objetivo é fazer fotos dos noivos em lugares que eles não imaginavam antes. Como o nome tenta descrever, a noiva pode sujar o vestido. A intenção é explorar a espontaneidade da vida a dois. Tentar deixar a foto com maior similaridade da realidade. Para manter a surpresa do vestido da noiva, os noivos usam roupas somente para as fotografias.

A cerimônia já ganhou ares de show para os convidados. Temáticas e entradas triunfais com coreogra-fias dos noivos, pais e padrinhos procuram sair do matrimônio tra-

dicional. Soma-se a isso, agora, a inovação na produção fotográfica, como indica o fotógrafo Leonardo Lenskij. Ele conta que cresce pro-cura por esse serviço porque é algo novo. Com oito anos de atuação no mercado, Lenskij acredita que “o mais importante é você ter uma identidade, criar algo diferente do que está se fazendo. Os clientes não procuram só um fotógrafo bom, eles querem um fotógrafo com perso-nalidade”.

Para fazer uma boa produção, o fotógrafo afirma que é importante conhecer a história do casal, saber como eles se conheceram e o traba-lho deles. Isso tudo ajuda na hora de fazer as fotos. Além disso, é inte-ressante fazer o roteiro juntamente com o casal, mas nada impede de mudá-lo durante o dia.

Juntos há oito anos, Mariana Bello, de 24 anos, e Matheus Tu-melero, 26, explicam por que esco-lheram o “trash the dress”, após a sessão com o fotógrafo. Para eles, é uma forma descontraída de ter um registro desse momento que não deve se resumir somente ao dia do casamento em si, mas também registrar o que estão vivendo agora já que a cerimônia será dia 12 de novembro.

O dia para registrarDurante as fotos, eles foram

abordados por muitas pessoas nas ruas de Porto Alegre. Enquanto estavam na Redenção, um grupo

de encontro de casais parou para registrar o momento juntamente com os noivos. Mariana e Ma-theus mostravam-se alegres por ganharem felicitações de pessoas desconhecidas.

Eles demonstravam o seu amor com abraços, sorrisos e beijos. Ha-via flores pelo parque que fizeram parte das cenas. Para completar o cenário romântico, choveu duran-te o trajeto e foi improvisado um guarda-chuva que participou das fotos. Mesmo a noiva preocupada com o vestido, ainda foi possível capturar essas imagens.

Após a ida ao parque, a Casa de Cultura Mário Quintana foi o segundo palco para a produção fo-tográfica. No local, a noiva utilizou a calda do vestido para rodar pela entrada da CCMQ e o seu buquê também foi usado. Foram até o úl-timo andar onde aproveitaram: as janelas, as arcadas e as sacadas. E, para fechar a manhã, passaram pela Praça da Matriz. Um champanhe foi aberto pelas escadarias para come-morar a união. Após a sessão de fotos na praça, ainda passaram por outros lugares: Catedral, DMAE do Moinhos de Vento, Museu do Iberê Camargo e em frente ao Guaíba.

Depois de um dia inteiro tirando fotos, Matheus disse que “amamos o trash the dress porque é muito bom poder curtir momentos como esse com quem a gente ama”. E Mariana completou: “Sempre achamos que seria ótimo, mas foi perfeito”.

SET Universitário está de volta. Em 2010, foi um sucesso

Mariana Fontoura/ Hiper

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debate

3Porto Alegre, maio 2011 hiperextot

Ideias constroemo futuro da cidade

Eles pensam o desenvolvimento de Porto Alegre a partir de experiências sociais, tecnológicas, criativas e sustentáveis

ORIGEM DO TED

O francês Marc Gobé na capital

CONFERÊNCIA TEDX LAÇADOR

As emoções proporciona-das pelas marcas são mais relevantes do que a qualidade dos produtos?

Quanto mais qualidade, mais emoção. É como em um relaciona-mento, você não se apaixona pelo pessoa que você acha que é, mas sim por aquela que tem qualidades. Por exemplo, se você compra um vestido bonito, você aspira que a peça te transforme, te deixe mais bonita e assim você ficará mais feliz. O estilo e a qualidade do ves-tido fazem parte do processo de te deixar mais feliz. Qualidade é uma das razões pelas quais as pessoas se emocionam.

Você aplica a crença das ações movidas pelas emoções em outros setores da sua vida?

Claro, eu sou uma pessoa muito instintiva, pela minha profissão, por ser criativo. Eu dependo das minhas emoções para ter ideias. Por exemplo, quando conhecemos pessoas novas, nós sabemos de cara com quem vamos nos dar bem. São as nossas emoções que dizem isso. Também são elas que nos dizem o que é certo e o que é errado.

Como é possível inspirar e formular novas ideias?

As melhores ideias sempre surgem quando você realmente acredita em si. Às vezes são parte da sua imaginação, aquelas que aparecem no meio da noite, que você tem que pegar um pedaço de papel para escrevê-las. Outras vezes elas aparecem em uma conversa, você diz algo e outra pessoa com-plementa e vocês constroem juntos algo reformulado. Eu realmente acredito no poder de inspirar ao compartilhar ideias. É por isso que as mídias sociais são tão incríveis, pois possuem identidades plurais, as pessoas dividem conversas e debates que podem se transformar em grandes ideias.

Este é o primeiro TED ou TEDX que você participa?

Sim. Eu gosto do formato do TED, você tem que ser preciso, conciso, expressar a essência da mensagem. O melhor é que divul-

gar suas ideias para todo o mundo. Estou honrado, vim para o Brasil algumas vezes, mas nunca em Porto Alegre. Conhecia Ana [Goelzer] em uma conferência e mantemos con-tato por Facebook. O convite surgiu pelas mídias sociais, senão fosse assim, nós teríamos nos esqueci-do. Eu fazia o documentário sobre poluição visual, viajava ao redor do mundo, entrevistando pessoas, e isso chamou atenção dela.

O seu documentário come-çou por São Paulo, a partir da lei que baniu a colocação de outdoores na rua, certo?

Sim, poluição visual é sobre a imagem das cidades. A decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi um pequeno exemplo de um movimento global de pes-soas reivindicando seus espaços públicos. Se alguém bota um grande outdoor na frente da sua casa, você não tem o que fazer. As pessoas ao redor do mundo gostariam de de-cidir se aquele espaço poderia ser comercializado.

As marcas não se enfraque-cem com a perda dessa plata-forma de exposição?

Eu acredito que não. Existem as mídias sociais, jornais, outros veículos e, o mais importante, a repercussão de pessoa a pessoa sobre um produto.

A publicidade tende a cada vez mais se fundir nos mer-chandising em filmes e seria-dos?

A linha entre o que é publicida-de e o que não é está tênue. Mas as pessoas estão mais atentas para que as propagandas não tomem conta de seus espaços.

O que o Brasil pode fazer para reforçar sua imagem em termos globais aproveitando a Copa e as Olimpíadas no país?

O Brasil tem uma ótima imagem mundial. Como nação, todo mundo sabe, é amiga, divertida, bonita e bem-sucedida. A imagem do Brasil precisa ser expressa pelo seu povo e sua cultura. Não são campanhas publicitárias comerciais, tradicio-nais, que vão mudar a imagem.

TED (tecnologia, entreteni-mento e design) é uma organiza-ção sem fins lucrativos que tem como objetivo “disseminar ideias que valem a pena”. Desde 1984, quando foi lançada na Califórnia, as conferências reúnem pessoas com conhecimento em Tecno-logia, Entretenimento e Design (TED), além de outras áreas que integraram o projeto ao longo dos anos.

Os encontros TED Global e TEDConference tem frequência anual. Desde 2009, os TEDx são organizados por realizadores independente nos moldes da marca, somente no mês de mar-ço de 2011, mais de 120 eventos ocorreram em 37 países. Tam-bém contemplam a iniciativas encontros específicos de gênero, em comunidades, premiações e projetos de tradução de conteúdo.

Marc Gobé, um homemmovido por sentimentos

Entrevista

Marc Gobé nasceu em Mayenne, na França, e mora em Nova York. É designer, publicitário, cineasta e presidente do centro de pesquisa e consultoria (think-tank) sobre consumo Emotional Branding LLC. Lan-çou recentemente um documentário filmado em 14 países e com mais de 100 entrevistas sobre como as pessoas reagem à intervenção urbana das propagandas. Com o livro Emotional Branding (A emoção das marcas), traduzido para 17 línguas, disseminou a ideia do marketing moderno que o sentimento dos clientes pelas marcas é mais importante do que o conhecimento deles sobre a empresa. No evento de lançamento do TE-DxLaçador, o pensador concedeu entrevista sobre seus projetos, ideias e sugeriu como o Brasil pode melhorar a sua imagem para o mundo com o advento da Copa de 2014. Ele concedeu entrevista ao Hipertexto. Confira:

Samuel Maciel/ Hiper

Por Mariana de Ávila

Histórias pessoais, ideologias de vida, curiosidades. O importante é ter boas ideias e saber compartilhá-las. O evento Tedx Laçador, rea-lizado em Porto Alegre, em abril, demonstrou que uma das melhores formas de aprender é espalhar conhecimento. Com a meta de “preparar a cidade para o futuro”, 20 palestrantes participaram da maratona de trocas de ideias, tendo 18 minutos para sintetizar seus pen-samentos em um púlpito. Nomes como o do designer francês Marc Gobé, o pesquisador americano Eri-ck Baczuk, a comunicóloga carioca Ivana Bentes e o especialista gaúcho em gastronomia Diogo Carvalho colaboraram na reflexão coletiva.

Não foram expressas respostas para os problemas estruturais es-pecíficos da cidade de Porto Alegre, mas sim, modelos e experiências globais e locais universais. O pes-quisador Massachusetts Institute of Technology (MIT), especializado em design sustentável e desenvol-vimento econômico, Eric Baczuk, esteve pela primeira vez em uma conferência Tedx. Ele desenvolve há um ano e meio, em parceria com a General Eletric, um projeto de mapeamento e identificação da qua-lidade das águas no Rio de Janeiro. Em diferentes praias da cidade, serão colocados no mar pequenos robôs chamados “Lula Project”, além do trocadilho, os objetos têm formato de polvo, para medir a po-luição. O sistema será interligado aos órgãos públicos que fiscalizam os locais de banho e a população poderá enviar SMS e receber infor-mações sobre as condições do mar em tempo real. O trabalho estará pronto na Copa de 2014.

O sociólogo Omar Haddad, fundador da cooperativa de alimen-tos Semente da Paz, começou sua exposição com uma reivindicação. “Hoje vocês encheram meu saco, o saco que eu carrego cheio de sonhos.” O sociólogo defendeu a sustentabilidade: a necessidade de uma agricultura ecológica, feita por pequenos produtores, coordenados para produzir em grande escala e com transparência de custos

até o consumo. Além de alimento saudável, sem agrotóxicos, o Sementes trabalha na lacuna da figura do atravessador, integrando o transporte no processo para garan-tir a qualidade da pro-dução. O mais jovem dos palestrantes, Haddad, de 27 anos, trabalha há 12 anos na formação de cooperativas agrícolas.

Autoridades públicas também estiveram pre-sentes, como ouvintes e palestrantes. O prefeito da Capital, José Fortu-nati, abriu o encontro e agradeceu a mobilização para repensar a cidade. Ele sugeriu que o debate continue na plataforma digital e apresentou o pro-grama Porto Alegre C.C, site onde o cidadão pode publicar informações sobre sua região. O prefeito também reforçou a importância do acesso universal à web e a relevância das ideias disseminadas neste espaço. No encerramento das palestras, o designer e fundador da empresa de inovação Emotional Branding LCC, Marc Gobé, convidou a plateia a rei-vindicar os espaços públicos e não deixar que as empresas espalhem marcas involuntariamente.

Debate independenteEste foi o segundo TEDx re-

alizado em Porto Alegre, modelo de palestra criado nos Estados Unidos e organizado de maneira independente. O primeiro TEDx Porto Alegre ocorreu em 2010. A publicitária Ana Goelzer, idealiza-

dora do encontro, explicou o nome TEDx Laçador. “Em Porto Alegre, se botasse TEDxParcão, as pessoas que frequentam a Redenção não viriam. O contrário é verdadeiro também. Então, optamos por sím-bolos da cidade. TEDxPôr-do-Sol não ia dar, né?”, brinca.

Por mais de um ano, a orga-nização selecionou palestrantes e compôs o projeto, aprovado pela central TED. As inscrições gratuitas foram disputadas por mais de 300 pessoas, mas só havia 30 vagas des-tinadas ao público. A organização explica que o modelo de evento só comporta 100 pessoas, incluindo palestrantes e equipe técnica. Para não restringir a visibilidade, a con-ferência teve transmissão ao vivo por internet, inclusive com telões nas universidades.

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4 Porto Alegre, maio 2011hiperextot

Opinião

Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php

Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenador de Jornalismo: Vitor NecchiProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas

Ramos.Estagiários matriculados e voluntáriosEditoras: Morgana Laux (Texto e Diagramação), Lívia Stumpf e Mariana Fontoura (Fotografia)Repórteres: Amanda Schnor, Camila Paier, Daiane S. Pajares, Juliane Guez, Luna Pizzato, Mariana de Ávila, Morgana Laux e Sabrina Ribas.

Fotógrafos: Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Camila G. Cunha, Caroline Witczak da Silva, Felipe Dalla Valle, Fernanda Becker Ribeiro, Guilherme Santos, Jonathan Heckler, Júlia Merker, Lisiane Ledesma Dutra, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Mariana Fontoura, Mauricio Lopes Krahn, Nicole Pandolfo, Rodrigo Ourique Naumczyk, Samuel Maciel e Shariane Gaiatto Kozak .

hiper extot Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000Versão online: http://eusoufamecos.pucrs.br

Por Amanda Schnor

No começo do ano, assistimos ao desenrolar e a explosão da crise no Oriente Médio, onde populares foram às ruas para derrubar gover-nos ditatoriais. Mas antes de irem protestar, ligaram os seus computa-dores, e se conectaram à Internet. É de conhecimento público e só não vê quem não quer, que a Internet, essa que interliga as pessoas por via das redes sociais e compartilhamento de conteúdo, tem um poder imenso. A revolta popular que eclodiu no Oriente Médio só foi possível graças a essas conexões.

A partir disso, fica o questiona-mento, por que não acontece algo parecido no Brasil? Não que não houvesse tentativas, mas foram pífias, para não dizer vergonhosas. Somente para citar um exemplo, o movimento “#forasarney”, gerado

no Twitter, não deu em absoluta-mente nada. Onde mora a falha? Talvez no fato que seja fácil e cô-modo apenas tuitar sobre o tema, o difícil é sair do ar condicionado, desligar o iPad e seguir para as ruas.

Entretanto, no dia 14 de maio, tivemos um exemplo de que a mo-bilização também pode acontecer. No começo daquela semana, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que deixaria de construir uma estação da Linha Amarela do Metrô no bairro nobre de Hi-gienópolis. Segundo o governo, o problema era técnico, mas era sabido por todos que a associação de moradores do bairro havia feito um abaixo-assinado, pedindo a re-consideração da estação, pois esta traria “ocorrências indesejáveis” e “gente diferenciada” para a área.

Bastou para que uma mobiliza-ção nas redes sociais provocasse o

“churrascão de gente diferenciada”, uma manifestação divertida no bairro com a reunião de aproxima-damente 600 pessoas que tiveram direito a frango com farofa e pago-de. Eles pretendiam mostrar que nós, diferenciados, somos pobres, contudo limpinhos e que uma cida-de como São Paulo não pode se dar ao luxo de abrir mão de transporte público puramente por caprichos de uma minoria.

Propagar informações ao vivo, no famoso boca-a-boca, implica em limitações logísticas. Afinal o alcan-ce da interação real é menor, ou no mínimo mais lento, do que o alcance do mundo virtual. Divulgar ideias no twitter, por exemplo, possibilita chegar ao outro lado do mundo em apenas alguns instantes. Basta um reply de um amigo, que recebe de outro e outro e pronto, assim está feito o churrascão.O que define um campeão? Um chute a mais, a humildade ou a

confiança? No último mês, torcedores do Rio Grande do Sul con-viveram com a final do Campeonato Gaúcho, protagonizada por

Grêmio e Internacional. A equipe do jornal Hipertexto, determinada a se aproximar do leitor, esteve no estádio Olímpico, nas beiradas do campo e também na torcida do clube tricolor.

Uma mistura de sentimentos veio junto com a pauta discutida inten-samente uma semana antes, após o placar de 3 a 2 marcado no Beira-Rio pelo Grêmio. Alguns já pensavam na reportagem de capa e outros tentavam eliminar a sugestão, tudo ditado pela dicotomia de torcedores rivais. Mas, enfim, venceu o entendimento de que era um bom exercício de jornalismo. Com esse critério jornalístico, eu e a colega Juliane Guez, além da fotógrafa Fernanda Becker, marcamos presença no jogo e per-cebemos que tudo pode acontecer em um minuto da partida, exigindo adaptações a nosso planejamento de cobertura. Embora situadas longe uma da outra, coletávamos entrevistas e anotações da disputada em que o Internacional conquistou o título após a virada espetacular e, na sequ-ência, o goleiro Renan realizou defesas incríveis na cobrança de pênaltis.

O que pode ser encontrado aqui é um olhar jornalístico, a visão de uma torcida esperançosa que viu a vitória escorrer pelas mãos e também as posições de quem comandou os dois clubes em um jogo equilibrado e emocionante. E para quem não se contenta com o Campeonato Gaúcho e espera mais sobre esportes, a reportagem de Amanda Schnor relata que as mulheres avançam também nessa área e produzem o conteúdo sobre futebol. Não só isso, as meninas opinam e comentam as jogadas.

Nessa edição, mostramos também a deterioração de um espaço que já foi muito importante para Porto Alegre. Os porto-alegrenses com 20 anos não sabem o significado do antigo Teatro Leopoldina na Avenida Independência que depois passou a ser chamado de Teatro da Ospa e hoje é um prédio abandonado, de destino ainda não muito certo. Por enquanto, o certo mesmo é de que essa é uma boa leitura.

Por Morgana Laux, editora

Por Pedro Henrique Tavares

É simples abrir um espaço virtu-al para se expressar, principalmente quando se opta fazer igual aos inter-nautas que reproduzem o material da internet. Criar um blog, muitas vezes, não leva mais do que dez minutos, quando não menos tempo.

Dois tipos são peculiares, os produtores de conteúdo e os re-produtores. Ambos demonstram importância dentro de uma vertente chamada de “jornalismo participa-tivo”. No entanto, se diferenciam acerca das informações que trans-mitem ou retransmitem.

Aqueles que produzem conte-údo costumam elaborar o material – textos e imagens – com ideias pessoais, a partir de informações absorvidas de outros meios de comunicação. Na outra ponta, encontra-se a classe da reprodução

informativa, que apenas retransmi-te dados existentes. Em linguagem virtual, o famoso Ctrl+C, Ctrl+V – copiar e colar.

Quando cito os chamados repro-dutores, não estou desmerecendo a classe. Pelo contrário, eles têm a importância de organizar, de acordo com os temas que mais lhes convém, o material que cole-tam, tornando-o mais fácil de ser encontrado. Uma espécie de arqui-vamento da gritante quantidade de informação que circunda na esfera virtual.

Uma das coisas que desejo de-bater é a qualidade do que envolve a produção dos blogueiros. A maioria talvez não esteja atenta a temas de maior complexidade, principalmen-te os das esferas política, econômica e social.

Não estou tentando enaltecer a qualidade do que escrevo em meu

blog. Faço esforço para selecionar assuntos mais importantes ao de-bate, apesar de ser impossível estar atento a tudo.

Assim, acabo o manifesto res-saltando que todos convivemos com a ignorância. Ninguém tem a capacidade de saber tudo. Um tema sempre vai escapar, o conhecimento nunca será pleno. Mas, tenhamos a consciência de que necessitamos como produtores ou reprodutores, transmitir as informações mais relevantes, para tentar amenizar o vírus da ignorância, como o HIV, que não tem cura. Por enquanto.

Não existe sabedoria plena, mas há um modo de absorver a relevância de um tema. Einstein teve dificuldades, Newton provavel-mente não era nenhum especialista em ciências sociais. Até os gênios são ignorantes fora do assunto que dominam.

Bom exercício de jornalismo

Em tempo de ativismo 2.0

EDITORIAL ARTIGOS

Os gênios também ignoram

Hipertexto esteve presente na final do Campeonato Gaúcho

Fernanda Becker/ Hiper

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mundo

5Porto Alegre, maio 2011 hiperextot

Morte de Bin Laden faz crescer o alerta

Como a ação americana descobre e mata o terrorista

Por Sabrina Ribas

A ação que resultou na morte do líder Osama Bin Laden, do grupo fundamentalista islâmico Al Qaeda, em 2 de maio, no Paquistão, não significa a extinção do grupo. A ten-dência é de que as pequenas células se mantenham ativas, promovendo ações e alvos aleatórios, em conti-nuidade ao uso do terrorismo como ferramenta de ação política. É o que pensam os estudiosos do terroris-mo no mundo Jacques Wainberg, doutor em comunicação pela Uni-versidade de São Paulo e professor da Famecos, e o diplomado pela Escola Superior de Guerra, André Luís Woloszyn.

Quase dez anos depois do maior atentado terrorista da história mun-dial, com autoria assumida pelo grupo fundamentalista islâmico Al Qaeda, Bin Laden foi morto por ação de um comando militar ame-ricano. A operação foi realizada por um grupo de elite da Marinha dos Estados Unidos que teria localiza-do e matado o terrorista em uma casa usada como esconderijo no Paquistão. Após a euforia e as co-memorações dos norte-americanos e o apoio manifestado por grande parte das lideranças mundiais, ficou a pergunta: e agora? Qual será o comportamento da principal rede terrorista da atualidade?

Logo após o fato em 11 de se-tembro de 2001, quando os Es-tados Unidos, nação símbolo do modo de vida ocidental, foram atacados, o mundo ficou por certo tempo mergulhado em incertezas e perplexidade. Como o país mais poderoso e influente do planeta, com as agências de segurança mais competentes, pode ter permitido que fossem vitimadas mais de 2.800 pessoas em pleno centro financeiro de Nova Iorque?

A mesma sensação de incerteza surgiu após a morte de Bin Laden, devido à possibilidade de ação de vingança dos demais integrantes da Al Qaeda. Esse fato é reforçado pela ocorrência de grandes contra-dições nas declarações do governo americano. Informações surgem de todos os lados, e algumas decisões da Casa Branca causam certo temor pelo tipo de reação que podem cau-sar nos fundamentalistas islâmicos.

Uma delas é o fato de o presi-dente Barack Obama ter decidido não divulgar imagens do terro-rista morto. O professor Jacques Wainberg, que escreveu três obras relacionadas ao terrorismo, explica que a opção pela não publicação das imagens é compreensível, já que poderia causar um “efeito bumeran-gue, ao invés de acalmar os ânimos, talvez incitasse ainda mais o espírito de revanche dos grupos terroristas”.

Wainberg ressalta que o ideal islâmico, que mobiliza os grupos

fundamentalistas, não morreu com Bin Laden. “É muito pouco provável que atentados parem completa-mente de acontecer”, imagina. “As ações desse tipo têm sido utilizadas há muito tempo, e por diferentes grupos, pelo seu poder de causar um efeito cênico e dramático de alto impacto emocional na população”, completa.

Outro fator controverso da ação foi o destino dado ao corpo do terrorista que, segundo o governo americano, teria sido jogado no mar após os atos fúnebres previstos pela religião muçulmana. André Luís Woloszyn, que se especializou em terrorismo nos Estados Unidos, acredita que o sepultamento pode-ria criar um local de peregrinação e aumentar a motivação para no-vos atentados, efeito que não era desejável.

Sobre a possibilidade de aten-tados no Brasil, tendo em vista os grandes eventos que serão re-alizados, o especialista Woloszyn considera que “não é uma ideia absurda, pois nós não estamos fora da comunidade internacional, onde compartilhamos os valores contra os quais a jihad tanto se opõe”. Ape-sar disso, os fatores indicam que, com esse novo alerta pós Bin Laden, talvez fique mais difícil a articulação dos grupos que sempre consideram a segurança dos integrantes e o princípio da oportunidade ao de-sencadear uma ação.

Líder da Al Qaeda se manteve escondido durante nove anos

Energia nuclear: medo ressurge após vazamento no Japão

Outro fator que tem despertado o interesse mundial e é analisado com cautela pelos especialistas é o fenômeno conhecido como “pri-mavera árabe”, movimento dos países islâmicos que lutam pela democracia e já apresenta resulta-dos parcialmente positivos como na Tunísia e no Egito. As mobili-zações também demonstram que a intervenção americana na resolução dos conflitos nessas áreas é dispen-sável. Os povos estão resolvendo seus problemas sem a “ajuda” dos Estados Unidos. Um fato relevante é que o movimento está relacionado com a popularização da informação através dos meios de comunicação, especialmente a internet.

As promessas de vingança vin-das de vários grupos podem di-

ficultar as ações preventivas das forças policiais, que permanecerão em alerta por certo tempo, como já aconteceu em outras situações semelhantes.

O especialista em política inter-nacional André Luís Woloszyn diz que “esta é exatamente a tônica do terrorismo, não necessariamente operacionalizar grandes atentados com milhares de vítimas, mas causar medo pela sensação de inse-gurança permanente e natureza in-discriminada”. O professor Jacques Wainberg concorda que, mesmo com uma nova linha hierárquica estabelecida na Al Qaeda, as pe-quenas células seguirão ativas com ações e alvos aleatórios, fazendo uso do terrorismo como ferramenta de ação política.

Primavera árabe libertária

Por Amanda Schnor

O terremoto em março no Ja-pão, seguido de um tsunami de proporções gigantescas, reacendeu o debate sobre os programas nu-cleares desenvolvidos por vários países. Enquanto o mundo se pro-nunciava a favor de uma revisão em seus projetos com energia nuclear, o Brasil foi na contramão e garantiu que por aqui não há risco nenhum nas usinas. Com duas construções em Angra dos Reis, os planos são de aumentar para seis o número de usinas nucleares no País até 2030.

Com essa decisão, esquecem o que ocorreu recentemente. Depois do terremoto de magnitude 9 na costa do Japão, os reatores nucle-ares da usina de Fukushima auto-maticamente se desligaram, como era previsto acontecer. Entretanto, o sistema de resfriamento falhou re-petidamente, fazendo os núcleos de alguns dos reatores superaquecer. Isso, indiretamente, levou a explo-sões, causando danos tanto à parte externa das construções, quanto ao sistema de contenção para prevenir que o material radioativo escapasse. Por causa das fendas abertas nas explosões, uma parte do material chegou à atmosfera.

Impossível resistir

A professora de Física Nuclear da PUCRS, Maria Eulália Tarragó, explica que a Usina de Fukushi-ma I foi construída para resistir a terremotos, porém não com a intensidade que ocorreu no dia 11 de março deste ano e, muito menos, não seguido de um tsunami. “O que ocorreu em Fukushima foi em parte por falta de segurança. Os geradores a diesel que deveriam permanecer em operação após o terremoto falharam após o tsunami, mas que sistema de geração de energia não falharia após aquele tsunami?”, contesta ela.

Dias após o terremoto e o va-zamento de radiação na usina de Fukushima, países como a Ale-manha e Suíça já anunciavam a suspensão temporária dos seus projetos nucleares, enquanto a Índia prometia uma revisão sobre as questões de segurança. O Brasil, tendo como porta-voz o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, se disse preparado para enfrentar qualquer tipo de acidentes nuclea-res e não iria retroceder nos planos de aumentar o seu parque nuclear por causa do desastre no Japão. Contudo, a professora Maria Eu-lália se mostra contra essa decisão. “Que necessidade temos nós bra-

sileiros de investir em uma fonte de energia tão controversa quanto a nuclear, se temos reservas sufi-cientes de carvão e disponibilidade de obter energia elétrica a partir de recursos hídricos, eólico e solar?”, indaga ela.

Independentemente dos perigos expostos peloo acidente no Japão, o programa nuclear no mundo não deve desacelerar. “O que se espera é que os países invistam no aprimo-ramento do sistema de segurança das mais de 400 usinas nucleares em operação no mundo e revejam a real necessidade de implantar novas usinas nucleares”, finaliza a professora.

AFP PHOTO/FILES

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6 Porto Alegre, maio 2011hiperextot

Esporte

40 vezes Inter no Gauchão A festa estava pronta para comemorar o bicampeonato gaúcho do Grêmio, no Olímpico,

mas o Inter de Falcão venceu o campeonato no jogo e nas cobranças de pênaltis: 3 a 2 e 5 a 4

GRENAL DECISIVO

Por Juliane Guez e Morgana Laux

Após a vitória de 3 a 2 no Beira-Rio, no primeiro jogo da final, o Grêmio poderia perder com um gol de diferença ou empatar para o Internacional no jogo em casa para ser bicampeão. Se não bastasse essa vantagem, o Olímpico estava lotado de torcedores gremistas, mais de 38 mil, confiantes na vitória do tricolor. Faixas do bi tricolor já eram vendidas em volta do estádio. Estava tudo pronto para a festa que começou com todo o público cantando o Hino Rio-Grandense puxado pelo cantor nativista Luiz Marenco, mas no final, só a peque-na torcida do Inter, apenas dois mil, comemoraram o campeonato e o 40° título estadual dos colorados .

O técnico Renato Portaluppi es-calou sua equipe com Victor, Mário Fernandes, Vilson, Rodolfo e Gil-son; Rochemback, Adílson, Lúcio e Douglas; Leandro e Júnior Viçosa. Falcão surpreendeu deixando Oscar no banco e inovou com o seguinte grupo: Renan, Nei, Bolívar, Índio e Juan; Guiñazu, Bolatti, Andrezinho e D’Alessandro; Kléber e Damião.

O Grêmio começou o jogo com superioridade. Aos 15 minutos, Lúcio marca o primeiro gol, mas o Inter dá a volta por cima. Falcão tirou o Juan para a entrada de Zé Roberto ao perceber o equívoco de colocar um zagueiro para adiantar o lateral Kléber no meio do cam-po. Mais uma surpresa, por que não colocar Oscar? Zé Roberto provou e mudou o rumo do jogo. Aos 31 minutos, Leandro Damião empata o jogo. Aos 46 minutos, Andrezinho, com uma perna só, uma fissura foi diagnosticada no dia seguinte, provocada por uma falta de Adílson, marca mais um gol para o Inter com o passe de escanteio de Zé Roberto. E, terminou o primeiro tempo, com 2 a 1.

No segundo tempo, Andre-zinho, não aguentando mais as dores, foi substituído por Oscar. Ele entrou e causou mais movi-mentação e velocidade. Quando Zé Roberto sofreu pênalti de Victor, D’ Alessandro ampliou para 3 a 1. O jogo se tornou equilibrado. Agora

chegou a vez de Renato Gaúcho tentar acertar sua escalação, tirou Leandro, Junior Viçosa e Gilson para a entrada de Borges, Lins e Magrão. Poucos minutos depois de sua entrada, Borges aproveitou uma falha de Renan e deixou o placar 3 a 2, o mesmo do jogo do Beira-Rio.

Duas vitórias iguais na casa do adversário, só havia uma alternati-va para os dois: ganhar nos pênaltis. A luta ficou entre Renan e Victor e os escolhidos pelos técnicos para chutarem: Douglas, Rockembach, William Magrão, Lúcio, Adilson, Rodolfo e Lins; Damião, Oscar, Kléber, D’Alessandro, Bolatti, Nei e Zé Roberto. O goleiro da Seleção defendeu dois pênaltis (cobrados pelo goleador Damião e o batedor de faltas Kleber), mas Renan, que soltara a bola no segundo gol do Grêmio no tempo regulamentar, saiu como herói. No final, imitou o goleiro Kidiaba, do Mazembe, na frente da torcida do Grêmio, depois de defender três pênaltis, chutados por Adílson, William Magrão e Lúcio. Para completar a sua grande atuação, Zé Roberto marcou o gol da vitória por 5 a 4.

Não somente como treinador do Grêmio, mas também como tor-cedor, Renato Gaúcho afirmou que “o sentimento do torcedor é o meu sentimento”. Demonstrou tristeza ao admitir que preparou o time para ser campeão, mas não foi suficiente para o clássico. O presidente Paulo Odone sublinhou que “não foi falta de pegada”, mas admitiu: “O Inter foi superior nas chances que teve na partida”. Para o vice Antônio Vicente Martins, o Grêmio vinha como favorito e perdeu o jogo no segundo tempo. “Isso mostra como os dois times estão equilibrados”, enfatizou.

Ao ser questionado sobre o time rival, Falcão afirmou que “o Grêmio é apenas um adversário, não um inimigo”. Já pensando no Campe-onato Brasileiro, ele comentou que o Gauchão, vencido quarenta vezes, é um título importante, “mas temos que pensar daqui pra frente”. O In-ter venceu o Brasileiro pela última vez em 1979, 32 anos atrás, quando Falcão era a estrela do famoso tri-campeonato invicto.

A comemoração colorada em pleno estádio Olímpico depois de 29 anos

O sofrimento gremista

Falcão, o maestro colorado Renan: de vilão a herói em questão de minutos

Fotos Fernanda Becker/ Hiper

Campeonato gaúcho de 2011terminou com uma virada

inacreditável do Internacional

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hiperextotPorto Alegre, maio 2011 7

Menina também entende de futebol

Salto Alto FCBlog - www.saltoaltofc.com.br Programas em vídeo - www.videolog.tv/saltoaltofc

Clube do BolinhaBlog – www.clicrbs.com.br/clubedabolinha

CONFIRA:

Jéssica,Christiane,Débora e Tatiana participam do Clube doBolinha

Luíza, Roberta, Bárbara e Quetelin são do Salto Alto FC

Fotos Júlia Merker/ Hiper

Os gremistasnão acreditam

Fernanda Becker

Os torcedores gremistas es-tavam longe de acreditar que era possível perder em casa e com vantagens que pareciam imensas. A comemoração já tinha sido quase anunciada durante toda a semana que antecipava o Grenal. Depois de inúmeras tentativas do público para comprar pela internet e a fila na madrugada, os ingressos se esgotaram rapidamente. Todos os gremistas estavam confiantes. Por outro lado, Falcão estava sendo pressionado e alguns colorados já não acreditavam mais.

Em um domingo de tempo feio, às 14h as arquibancadas estavam tomadas por grupos de amigos, famílias, casais de namorados e velhos amantes do futebol. A chuva fazia os torcedores se reunirem na parte coberta para começar a en-saiar os cantos. O movimento era intenso. Para quem nunca tinha ido a um clássico, a emoção era ainda maior: “É o meu primeiro Grenal. Estou sentindo muita felicidade, mas também estou muito nervosa”, revelou Mayara Zinn, que viajou de Rio Grande a Porto Alegre.

E nervosismo não faltou mes-mo. Muitos lances espetaculares, muita rivalidade em campo. Há quem comentou que Grenal era um jogo normal. “É um jogo qualquer, não tem nada de diferente”, disse Ana Regina Mouro dos Santos, funcionária do Grêmio.

Os torcedores vindos de Caxias seguiam embalados pelo ritmo da torcida e estavam confiantes. “An-siedade é a palavra no momento. A emoção é muito grande. Vai ser 2 a 1 para o tricolor”, afirmou a torcedo-ra Mauren Soltile. Outro caxiense completou: “Com certeza vamos ser campeão gaúcho. Quando eu venho o Grêmio não perde”, falou Hortêncio José Lucca.

Depois das penalidades e a cobrança final de Zé Roberto, os torcedores gremistas se calaram. Não havia palavras para expressar o sentimento de decepção. Depois de toda a vantagem, o título escorreu das mãos, enquanto o Internacio-nal comemorava a vitória. A festa tomou conta das ruas, da pequena torcida colorada no Beira-Rio para a Goethe e bares da cidade.

Por Amanda Schnor

Elas estão com a bola toda. Garotas jornalistas formadas e es-tudantes de comunicação entraram de salto alto no clube do bolinha da cobertura esportiva em Porto Ale-gre, reduto que se mantinha quase exclusivamente masculino, com pequenas exceções para esconder o privilégio. Dois grupos fazem suces-so, um é o independente Salto Alto Futebol Clube e o outro é o Clube do Bolinha, da RBS.

O Salto Alto é um grupo de me-ninas que ama futebol e acompanha o mundo da bola em todas as mídias possíveis. As meninas se viram como podem. Fazem cobertura ao vivo dos jogos pelo Twitter, têm um quadro em um programa de TV e analisam, no blog, todos os jogos da dupla Grenal.

Tudo começou em mea-dos de 2008, quando a Que-telin Rodrigues teve ideia de produzir programas em vídeo junto com sua amiga Roberta Konzen sobre Grêmio e Inter. Era tudo caseiro. Sozinhas, as duas produziam, apresen-tavam, filmavam e editavam o programete. Aos poucos, a inciativa cresceu na internet e alcançou um alto índice de visualizações. Foi, então, que o nome Salto Alto FC avançou para outras mídias e, para isto, o time teve de ser reforçado.

Raquel Saliba, Bárbara Natália, Luiza Barbosa e Laura Toscani entraram em campo para vestir a camiseta rosa do Salto Alto. Em blog, Twitter, Facebook e Youtube, as meninas es-tão sempre ligadas no que acontece no universo do futebol, em especial com as equipes da dupla Grenal.

O blog é hobbie levado a sério por elas, que possuem escala de pos-tagem, assim mantendo-o sempre atualizado.

Parece incrível, mesmo com a configuração rosinha e os jeitinhos descontraídos e meigos de falar, o público delas é, em sua maioria, masculino. Elas fogem do estereó-tipo “maria-chuteira” e falam sério sobre o assunto. Roberta Konzen explica: “A ideia é atingir quem gosta de futebol. Tanto homens quanto mulheres. Mas temos em nossa filosofia a busca pelo interes-se das mulheres nesse esporte tão fascinante e apaixonante que é o fu-tebol. Acredito que pela forma como escrevemos e produzimos todas as mídias do Salto Alto, impondo uma forma bem feminina, estamos con-quistando cada vez mais mulheres.”

O blog está sempre atualizado com os últimos jogos da dupla, no-tícias importantes e curiosidades. No Twitter, elas interagem com seus seguidores e transmitem as partidas em tempo real. Apesar da recepti-vidade alcançada, as seis meninas precisam ralar em outra atividade. A maioria delas combina trabalho com a faculdade, mais o Salto Alto que nunca ficou de lado. Para nenhuma delas o projeto não é considerado um hobbie. Muito pelo contrário. O blog ainda não gera renda, mas o maior sonho de todas é crescer junto com o Salto Alto e, um dia, poder viver só dele.

Clube do Bolinha Não é só o Salto Alto FC que faz

sucesso na rede. O Clube da Bolinha, blog do ClicRBS, já ultrapassou em acessos os blogs de grandes profis-sionais do Grupo RBS como Wia-ney Carlet, Luiz Zini Pires e David Coimbra. Para se ter uma ideia, em um mês, foram 350 mil acessos no

domínio. Por ser um domínio pertencente

à RBS, desde sua criação, em 2006, já passaram por lá várias formações. Atualmente, ele é representado por Christiane Matos, Débora Pradella, Jéssica Mello e Tatiana Lopes. As meninas apostam na cobertura mais descontraída e estão sempre ino-vando. “Recentemente estreamos um novo quadro em vídeo do blog, o No Ângulo. Nele nós entrevista-mos jogadores de uma forma bem descontraída. A tendência é buscar conteúdos e ideias ainda mais inte-ressantes e ser uma referência”, diz Débora Pradella.

Frente ao preconceito, elas não se intimidam e acreditam que a qua-lidade da cobertura de esportes não tem nada a ver com a sexo. “A co-bertura jornalística de futebol pode ter a mesma qualidade se for feita por um homem ou uma mulher, vai depender do profissionalismo”, enfatiza Débora. “A diferença é que nós mulheres temos a possibilidade de enxergar e falar sobre coisas extra-campo, como o penteado ou a roupa de algum jogador, por exemplo. Parece futilidade, mas dá um olhar diferente em cima de um assunto que poderia ser tratado de uma forma igual em todos os veícu-los ou nem seria abordado”, conclui a repórter.

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8 Porto Alegre, maio 2011hiperextot

Matanza divulga novo álbum no Sul O grupo se apresentou em Porto Alegre para mais de 1.800 fãs no bar Opinião

Foto Divulgação

Grupo carioca se apresentou no Opinião e deve voltar a Porto Alegre em dezembro

Marcelo Camelodeclama o amor

Por Luna Pizzato

A mudança faz parte do per-curso de qualquer artista, como resultado do amadurecimento. E para Marcelo Camelo, não haveria de ser diferente. Em seu segundo álbum solo, o ex-Los Hermanos se mostra mais colorido. Afinal, a ruptura e a busca da reinvenção não são mera iconoclastia, mas sim um grande elogio à liberdade criativa.

Classificar “Toque Dela” como um álbum repleto de amor, talvez possa soar redundante, mas esse é, sem dúvida, o trabalho mais pessoal do cantor. “Uma fase mais ensola-rada e pulsante”, como ele mesmo definiu. Sim, a nova realidade de

Camelo é um pouco mais colorida, mas sempre com um toque da me-lancolia que lhe é tão costumeira. Gravado ao longo de 2010 no estú-dio El Rocha, entre caminhadas no bairro de Pinheiros, em São Paulo, “Toque Dela” é um álbum tranquilo, como se produzido por ele próprio e gravado entre amigos e sem pressa.

Quatro das dez músicas falam sobre o sol. Outras três sobre São Paulo. E a palavra amor surge inúmeras vezes, entre sussurros e sambas. Antes Camelo cantava, jun-to da namorada Mallu Magalhães, a possibilidade da eternidade ser cruel. Na faixa “Vermelho”, ele se assume, sem medo, filho da eter-nidade. Triste é viver só de solidão, já diria o cantor e compositor na canção de abertura “A Noite”. Frase

que explicita, no entanto, uma te-mática inversa ao trabalho anterior, que exaltava a sua “Doce Solidão”.

Em sua estética do espontâneo, desenhando um universo poético simples, o músico finalizou um álbum de amor tocante como afir-mação artística. O “Toque Dela” revela o impacto que as mudanças

simples (ou não) que acontecem quando nos vemos deparados com o amor possuem. Em suma, é um disco de entrega emocional. E en-tre tons acústicos, costurados com assobios, cores, pores-do-sol, visões do mar, samambaias, solos e ruídos poéticos, um Opinião lotado se apai-xonou junto com Marcelo Camelo.

Ex-vocalista da banda Los Hermanos apresentou repertório mais colorido

O som intimista de Marcelo Camelo apaixonou o público

g No cinema

A música Faroeste Cabloco, da banda Legião Urbana, será adptada para as telas de cinema. A saga de João de Santo Cristo, contada em uma das maiores músicas do rock nacional, virou roteiro de cinema com Paulo Lins, conhecido pela autoria do livro “Cidade de Deus”. Os cenários para o filme serão os bairros de Brasília e o longa está com previsão para chegar aos cinemas brasileiros no segundo semestre de 2011.

g Máfia em livro

Os Corleones, protagonistas da obra “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo, ressurgem no cenário literário no próximo ano com o lançamento da prequencia “The Family Corleone”, da edito-ra Grand Central Publishing. O novo livro contará a história da família na cidade de Nova York dos anos 1930 e será baseado em um roteiro de Puzo nunca produzido.

BREVES

Cultura

Por Morgana Laux

A banda carioca Matanza fez seu show em Porto Alegre, no bar Opinião, na fria noite de 15 de maio. Mais de 1.800 fãs assistiram o grupo que fez um espetáculo mostrando muita energia em duas horas de hard core sem parar. A banda tocou músicas do novo álbum “Odiosa natureza humana”, sucessos an-tigos e fez homenagem ao cantor e compositor norte-americano Johnny Cash, conhecido pela forte influência sobre o grupo.

No show que divulga o primei-ro álbum de inéditas em quase cinco anos, o Matanza começou com “Remédios demais”. Apesar de nova, a letra dessa e de outras músicas produzidas recentemente foram acompanhadas por boa parte do público que repetia junto com o vocalista Jimmy London, conhecido por liderar o quarteto e pelo seu estilo mal humorado. Era o sinal de aprovação do público do novo repertório.

No embalo, os fãs puderam conferir “Meio Psicopata”, “Rio de Whisky”, “Bebe, Arrota e Peida”, além de “Home of the Blues” e “Straight as in Love”, ambas da lenda country Johnny Cash. A explosão aconteceu mesmo com “Bom é Quando Faz Mal”, sucesso popularmente conhecido por ter sido apresentado na MTV.

Durante o show, Jimmy fez uma espécie de vestibular para o público, a fim de manter um contato mais próximo e chamar as músicas que a banda tocaria. Uma das perguntas era relacionada ao que mantinha os dentes no lugar e outra aos elementos que formam a pólvora. Após as tentativas do público, fo-ram apresentadas “Em Respeito ao Vício” e “Carvão, Enxofre e Salitre”. Curiosamente, o quarteto também tocou músicas antigas, como “Ela roubou meu Caminhão” e “Eu Não Bebo Mais”. A clássica “Interceptor V6” fez o público delirar.

Mas, o impressionante da noite é que todas as canções foram can-tadas pelo público em massa. Para aqueles que não foram, Jimmy

afirmou que em dezembro a banda estará de volta em Porto Alegre, no bar Opinião. E da próxima vez,

acredito que a dica é escolher me-lhor os grupos de abertura, porque estiveram longe de agradar ao pú-

blico, que mostrava-se impaciente até o momento em que o quarteto subiu ao palco.

A irreverência da Matanza e o somromântico de Marcelo Cameloabrem as páginas de cultura

Caroline Witczak/ Hiper

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cultura

9Porto Alegre, maio 2011 hiperextot

Pixel Show,a diversãolevada a sério

A criatividade abre as portas domercado de trabalho aos jovens

“Quadrinhos não é faculdade nem

salário base, é puro empreendedorismo”

(Danilo Beyruth)

“Se você tá fazendo algo e a galera acha

que tá legal, tá na hora de mudar. Tem que se

superar” (Flávio Samelo)

Os participantes do Pixel Show foram desafiados a criar e mostrar suas habilidades

Obras do público foram empilhadas como tijolos coloridos

Fotos Camila Cunha/ Hiper

Por Mariana de Ávila

Três mil jovens ansiosos, os computadores e celulares a postos para reproduzir cada frase de im-pacto em um tweet com o #pixel-show, lotaram a Reitoria da UFRGS na esperança de transformar suas formas de expressão em emprego. Durante um final de semana, nos dias 7 e 8 de maio, 13 palestrantes especialistas em áreas como ilus-tração, games, concept art, design, moda, animação, cinema, inter-venção urbana, fotografia, novas mídias, charges, cartoons, arte e tecnologia contaram como são va-lorizados por apostar em uma iden-tidade própria em seus trabalhos.

Pelo segundo ano consecutivo em Porto Alegre, o Pixel Show, maior conferência de criatividade do país, abre espaço para o encontro de fãs das artes com um mercado de trabalho que leva a diversão a sério e gera lucros estratosféricos, além proporcionar ao profissional uma vida menos engravatada.

No estúdio de criação e motion graphics Studio Nitro, do publicitá-rio Rodrigo Angello, 32, os brancos criativos são tratados com partidas de vídeo-game na sala dos sócios. “A ideia vem quando ela tem que vir, é importante relaxar no proces-so”, reforça. Como consequência, a produção da abertura em 3D do filme Planeta Hulk, da Marvel Co-mics, vinhetas e identidade visual de programas da MTV, e a campa-

nha contra a poliomielite do Minis-tério da Saúde em 2010. Baseado no desenho da Disney Toy Story, o Zé Gotinha foi reformulado pelos artistas e, em 20 dias, todo o mate-rial publicitário estava pronto. “Nos fomos os primeiros a propor ao Governo uma campanha que fosse aprovada em etapas. Quando eles viram que havia apenas três dias para aprovação entre uma fase e outra, pra tro-car um desenho ou ideia, se apa-voraram!”, no final, poucas al-terações foram demandadas.

O estudante de ciências sociais Marcus Rocha, 26, recebeu durante o evento o tradicional autógrafo personalizado do quadrinista Dani-lo Beyruth, 38. Na primeira página do gibi Bando de Dois, Beyruth desenhou um crânio em uma caixa, símbolo da história. Fã de charges e tiras, o estudante diz que admira desenho por traduzir o que aconte-ce no mundo e, apesar de arriscar uns traços como hobby, gostaria de tornar este prazer em profissão. “A indústria brasileira está restrita ao Maurício de Souza”, reclama Beyruth. No exterior, desenhistas ganham por página conclusa en-tregue à editora. No Brasil, apenas 10% do valor do preço de capa do gibi retorna ao autor. Depois de alguns anos trabalhando com direção de arte em publicidade, foi com o gibi nacional independente Necronautas, projeto de vida, que Beyruth alcançou a popularidade. “Quadrinhos não é faculdade nem salário base, é puro empreendedo-rismo”, disse.

A editora Zupi, organizadora do evento em âmbito nacional, disponibilizou um diretório para que o público, sedento por contatos e visibilidade, compartilhasse seu

portfólio online com uma rede de inscritos http://fama.zupi.com.br/fama. “Isso é legal no Pixel Show, aqui é o momento de cada um sair de suas bolhas”, afirmou a cura-dora do projeto em Porto Alegre, Camila Farina, da casa de criação e comunicação Maria Cultura. O artista Flavio Samelo, 34, reforçou

ironicamente: “Não tem nada de ta lento, é tudo esquema”.

E x p o e n t e da fotografia no cenário urbano, Samelo come-çou a fotografar skate por não se dar tão bem

em cima do shape. Foi ganhando fama, participando de produções em diversas revistas de skate e, entre um contato e outro, já fez de ilustração de garrafa de uísque ao primeiro tênis da Nike totalmente customizado no Brasil, além de muitas exposições que misturam colagem, pintura e fotografia em di-versas partes do mundo. O segredo para permanecer com visibilidade no mercado é a renovação: “Se você tá fazendo algo e a galera acha que tá le-gal, tá na hora de mudar. Tem que se superar”, reitera Samelo.

Pregando a mesma filosofia de mudança, o diretor-executivo da empresa de gestão de marca GAD’, Valpiro Monteiro, 57, faz de si mesmo um exemplo de metamorfose. Nos anos 60, foi músico e ativista político. Como antropólogo e técnico indige-nista da FUNAI, residiu em tribos do Alto Amazonas e Maranhão. Estudou arquitetura, atuou com publicidade e, aos 28 anos, foi tra-

balhar em uma gráfica, os primeiros passos para mergulhar na carreira de design mantida até os dias de hoje. “Tudo que aconteceu não foi por acidente, foi por persistência”, enfatiza. Com 25 anos de atuação no mercado, a GAD’ reformula a marca e identidade visual de gran-des empresas, e Monteiro busca profissionais multidisciplinares para integrar seu time, com reno-vação constante da equipe. “Nós dependemos de novas ideias para evoluir”, conclui.

Seja na lataria da kombi esta-cionada no pátio do evento, em cubos de papel, em espaços para pintura ou por meio de grafite e estêncil, o público pode interagir e deixar sua marca. A estudante de design de produto Priscila Peres, 26, foi pela segunda vez ao Pixel Show e, no lounge do local, dese-nhou em um cubo de papel. Quando finalizado, a obra se misturou a outras, empilhadas como tijolos coloridos, formando um mosaico de desenhos. Os organizadores da área foram Marco Escada, 32, e Ri-cardo Fonseca, 32, estúdio de arte,

design e arquite-tura Canhoto-rium. “O cubo é a origem da ima-gem, e ótimo ver quantas ideias diferentes se re-únem ali”. Até mesmo na festa em comemora-ção ao sucesso da conferência,

na boate Madrigal, os criativos não abandonaram seus olhares atentos. Proposto como desafio pelo Pixel Show, todos deveriam levar ske-tchbooks, bloquinhos de anotação, para desenhar as cenas que viam durante a noite. Os melhores dese-nhos foram premiados com brindes e, as melhores experiências, fizeram parte da série de aprendizados em busca da afirmação individual.

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10 Porto Alegre, maio 2011hiperextot

cultura/ reportagem

Em uma das regiões mais esti-madas de Porto Alegre definha uma construção que marcou a história da Capital. O prédio do antigo Teatro Leopoldina – posteriormente Tea-tro da OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) –, na esquina da Avenida Independência com a Rua General João Telles, está com os dias contados. Desativado desde 2008 e com a estrutura comprome-tida, o local aos poucos perdeu seu encanto. As paredes que abrigaram desde os acordes de Ástor Piazolla ao reger intenso do maestro paulista Isaac Karabtchevsky, passando por outros diversos espetáculos musicais e teatrais, se desgastam lentamente. Hoje, ratos correm pelo piso que refletiu um tempo dourado da cultura porto-alegrense.

O prédio, propriedade da famí-lia Satt – tradicional investidora no mercado imobiliário de Porto Alegre –, teria sido recentemente negociado com uma construtora da Capital especializada em grandes empreendimentos residenciais. Após a sala de espetáculos ter per-manecido fechada por três anos, uma reforma deverá transformar

o antológico teatro em um edifício de 14 andares. Os proprietários do imóvel não querem se pronunciar sobre a transação. Apesar disso, a informação é confirmada por três pessoas ligadas ao local de formas diferentes e que preferem não se identificar. O teatro está abando-nado desde julho de 2008, quando Karabtchevsky regeu a última apresentação da OSPA na Inde-pendência e a direção da orquestra resolveu encerrar o ciclo nesse en-dereço em decorrência dos riscos e da insalubridade.

A construção que abrigou o Leopoldina e a OSPA sempre foi curiosa: no térreo, o imponente teatro. Acima dele, o esqueleto de um prédio nunca finalizado. A ar-quiteta Juliana Pasquetti Conelli, que durante a faculdade pesquisou sobre o edifício, aponta que pro-blemas com o Plano Diretor da cidade motivaram a não conclusão

das obras. Quando começou a ser erguido, em 1958, o imóvel atendia a todos os requisitos da prefeitura. Em 1963, a construção parou por alguns meses. Os proprietários resolveram retomá-la ainda no mesmo ano, mas uma mudança na legislação, que dizia respeito ao número de garagens necessárias no edifício, tornava o projeto ilegal. Se-ria necessário adaptar a concepção original, o que acabou não aconte-cendo. O que a princípio seria uma torre de 15 andares acabou virando uma carcaça de sete pavimentos. Depois desses entraves, Porto Ale-gre perdeu a chance de ganhar um ambiente que abrigaria mais do que espetáculos. “Existia a possibilidade de tornar o imóvel um apart-hotel que hospedaria, alguns lances de escada acima do palco, artistas e técnicos que fossem trabalhar no teatro, além de espectadores”, conta Juliana.

Apesar dos percalços durante a construção, o Leopoldina preva-leceu. Inaugurado oficialmente em outubro de 1963, foi apenas em abril do ano seguinte, mês marcado pelo início da ditadura militar brasileira, que a casa teve seus 1.230 lugares ocupados pela primeira vez. A peça era My fair lady, texto do norte-americano de George Bernard Shaw e montagem de Moss Hart, que encantou o público porto-alegrense desacostumado com a extravagân-cia musical importada da Broadway.

Em cima do tablado da Avenida In-dependência, Bibi Ferreira e Paulo Autran, falecido em 2007, deram vida aos personagens principais.

Em 1968, foi encenado Roda Viva, texto adaptado da música de Chico Buarque. Na primeira noite da temporada, no dia 3 de outubro, militares à paisana distribuíram panfletos com o alerta: “Hoje pre-servaremos as instalações do teatro e a integridade física da plateia e dos atores. Amanhã, não!”. No dia seguinte à peça, as paredes do Leopoldina amanheceram pichadas com ameaças. Intimidado, o elenco decidiu sair de Porto Alegre. Na rodoviária, foi surpreendido por oficiais. Cerca de 30 homens espan-caram os 28 artistas e sequestraram os atores Elizabeth Gasper e Zelão, liberados em uma clareira fora da cidade depois de horas de tortura psicológica.

“Era um local e uma época de grande efervescência cultural”, garante Diônio Kotz, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Independência (Amabi). Diônio, dono da Academia Mudan-

ça, mora e trabalha no bairro há mais de 30 anos. Vindo de Cerro Largo, na região norte do Estado, aprendeu a compreender e viver Porto Alegre através da agitada vida que a Independência proporcionava nos idos de 1970. Após uma década recebendo nomes expressivos da música, como a norte-americana Ella Fitzgerald e os brasileiros Elis Regina e Gilberto Gil, além de diversos espetáculos teatrais, nos anos 1980 o Leopoldina entrou em declínio. A família Satt teria perdido o interesse em explorar o local. “É preciso considerar a questão his-tórica e as mudanças culturais da época”, analisa Juliana. “A prolife-ração dos cinemas e dos shopping-centers fez com que vários teatros entrassem em decadência naquela década.”

Em 1981, as portas foram fe-chadas para reabrirem apenas em 1984, dessa vez com um novo nome: Teatro da OSPA. A esquina da Independência voltou a ser re-ferência para os porto-alegrenses e assim permaneceu pelos 24 anos seguintes.

RÉQUIEM PARA UM TEATRO

No centro emocional de Porto Alegre, o antigo prédio que abrigou a OSPA está abandonado e deve

dar lugar a um edifício residencial de 14 andares

Os 20 anos do Leopoldina

Por André Pasquali, Marcelo Sarkis e Natália Otto

Prédio inacabado do antigo Teatro Leopoldina na sofisticada avenida Independência

Última destinação: palco da orquestra sinfônica da cidade

Fotos Felipe Dalla Valle/ Editorial J

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cultura/ reportagem

11Porto Alegre, maio 2010 hiperextot

Falhas na rede elétrica, no encanamento e no sistema de ar condicionado não são exclusividade do prédio abandonado que é visto hoje na Independência. Presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o cardiologista Ivo Nesralla avalia que o teatro já apresentava falhas na estrutura desde que a orquestra se mudou para lá. “O sistema hidráulico e de energia já deixavam muito a dese-jar”, lembra. A refrigeração da sala sinfônica, que funcionava à base de gás amônia, era uma situação especialmente perigosa: a Brigada Militar chegou a alertar Nesralla a respeito de um possível vazamento do gás, que é altamente tóxico e poderia ser fatal aos espectadores presentes. “Entre ser o responsável pela morte de outras pessoas ou sair dali, a equipe da OSPA resolveu deixar o local”, esclarece.

Antes de se retirar definitiva-mente da Independência, a OSPA fez algumas tentativas de desapro-priar o prédio. Nesralla conta que chegou a acertar com o dono do imóvel a quantia necessária para a desapropriação. “Infelizmente, o dinheiro que vinha do Ministério da Cultura precisou passar pela Secre-taria de Educação e nesse imbróglio governamental se perdeu a verba”, lamenta. Sem possibilidade de apropriar-se do edifício e tendo que lidar diariamente com os inúmeros defeitos da construção, no dia 1º de junho de 2008 a orquestra realizou seu derradeiro concerto no local, emocionando o público que lotou a casa ao som de Uma vida de herói, de Richard Strauss.

A separação deixou ambos sem norte: a orquestra desabrigada e o teatro vazio. O abandono do prédio,

somado ao movimento das casas noturnas da Avenida Independên-cia, fez com que lojas que ocupavam o andar térreo também saíssem à procura de novas locações. Os fre-quentadores dos estabelecimentos próximos depredavam a fachada das lojas, que tinham que ser cons-tantemente limpadas e renovadas. Enquanto a poeira se acumulava sobre a antiga bilheteria, em apenas dois anos o edifício passou nova-mente a ser apenas uma carcaça, despertando um misto de revolta e nostalgia nos moradores da região. “É muito triste ver o prédio assim. Esses dias, chegou a entrar na minha casa um rato que saiu dali”, indigna-se Léa Quites, moradora do condomínio vizinho. “Tenho certeza que a maioria das pessoas do bairro gostaria que a OSPA tivesse permanecido aqui, mas a situação está crítica. Pelo menos vão fazer alguma coisa”, conclui, referindo-se à construção do novo empreendimento.

Enquanto sua antiga casa defi-nhava, a orquestra seguiu tocando em palcos emprestados, sem loca-ção fixa. “Seguramente a relação da cidade com a OSPA se enfraqueceu pela falta de um espaço físico”, lastima Nesralla. “É muito simples: não existe time de futebol sem estádio, não existe orquestra sem sala sinfônica.” A OSPA aguarda recursos para a construção de seu novo teatro, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, orçado em R$ 32 milhões e sem previsão de início das obras.

Se a OSPA luta pra reafirmar sua posição como ícone cultural de Porto Alegre, provavelmente o antigo teatro não terá a mesma sorte. A memória sucumbiu ao mer-cado imobiliário: palco, bilheteria e poltronas, assim como o esqueleto incompleto acima deles, deverão dar lugar a galerias de lojas e apar-tamentos residenciais.

Depois, a decadência

A Avenida Independência é uma das mais importantes vias de Porto Alegre. Foi construída na segunda metade do século 18 com o objetivo de ligar a Capital e a Aldeia dos Anjos, hoje Gravataí. A elite porto-alegrense ocupou a avenida especialmente por ela estar localizada em um dos pontos mais altos da cidade. Ao longo dos anos, o local acabou perdendo sua condição estritamente residencial para se tornar mais comercial.

Devido à sua antiga origem, a Independência mantém em sua extensão diversos prédios histó-ricos. Vários abrigaram cinemas, teatros e casas de espetáculo. Essa tendência era um dos motivos que atraía as elites para a região. A professora de História da Arqui-

tetura da PUCRS, Raquel Lima, evidencia essa especulação imobi-liária das classes mais favorecidas. “Morar em um apartamento já era super moderno, ainda mais com um cinema embaixo”, conta.

A região ostentava uma vida noturna movimentada. Clubes de jazz e bares eram a preferência do público que transitava pelas calçadas da avenida. “As pessoas iam à Independência para verem e serem vistos. Era um ponto de paquera. Ali, as mulheres lança-vam moda”, afirma Raquel.

Hoje, os casarões históricos, em sua maioria, deram lugar a prédios comerciais e residenciais. “Em toda a cidade, as áreas nobres estão sendo ocupadas por prédios. A verticalização pode servir quan-do a infra-estrutura é planejada, mas também pode causar im-pactos negativos. Por isso, esses espaços têm que ser muito bem pensados”, avalia a professora.

A mudança da Av. Indepen-dência de pólo cultural para cen-tro residencial e comercial é impulsionada também por outra tendência: “A lógica é que os es-tabelecimentos de lazer saiam da calçada e vão para os shoppings, que atraem o novo público ligado à cultura”, explica a arquiteta. Portanto, o movimento urbano que transformaria o Teatro da OSPA em um condomínio não é novidade.

Mesmo com ações para re-vitalizar locais que costumavam servir como pontos de referência, é muito difícil que não se im-ponha a tendência de migração para ambientes fechados. “É um movimento muito complexo que envolve o desinteresse da socie-dade pelo espaço urbano, por falta de segurança e por modismos. Há também uma influência norte-americana muito forte”, conclui Raquel.

Da culturaao comércio

Fotos Felipe Dalla Valle/ Editorial J

“Entrou rato na minha casa vindo dali”, denuncia Léa Quites, apontando para o Leopoldina

Fechado há três anos por apresentar falhas na estru-

tura, sistema elétrico e ar condicionado, o antigo Teatro da Ospa está cada vez mais

deteriorado. A vizinhança reclama da sujeira

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Porto Alegre, maio 201112 ponto final hipertexto

Ensaio

À palavra liberdade, o dicio-nário concede o significado de grau de independência

legítimo que alguém conquista. Mas, o conceito é constantemente discutido na sociedade. Atualmente, as dúvidas que permanecem dizem respeito à ideia de que “será que somos realmente homens livres e nossas ações se dirigem à conquista dessa independência?” A resposta é não. O homem é inimigo do ho-mem, já dizia uma letra de música. No seu comportamento ainda se percebe rastros de individualismo, de ambição, além de um sentimento de covardia.

Recentemente, em 9 de maio, a notícia de que ocorriam expedições de caça a animais no Pantanal foi divulgada na web. Um vídeo mostra uma onça perseguida e morta, sem a mínima consciência. A responsável pelo safári ilegal, onde a onça foi caçada, era ligada ao setor de prote-ção ambiental do Estado e também presidiu a Sociedade para a Defesa do Pantanal, uma organização não governamental. Triste, não? Ela se rendeu às quantias de R$ 49 mil a R$ 64,8 mil, pagas cada vez que um turista brasileiro ou estrangeiro fosse “se entreter” na área. Ela sim-plesmente vendeu sua liberdade e a dos animais.

A realidade, cometida há 15 anos, abre precedentes para outras questões como o homem só con-segue apreciar a beleza dos bichos quando eles estão enjaulados? Se

não for dessa forma, ele vende e mata? Por isso, chega-se à conclu-são de que o homem não é livre, enquanto não aprender que é pre-ciso se desprender do dinheiro para conquistar independência.

Em certo momento, os espetá-culos circenses que ridicularizavam elefantes, macacos e outros animais atraíam público que achava graça do desempenho dos bichos. Para as crianças podia até ser diverti-do, mas aconteciam maus tratos que, na verdade, em alguns circos eram feitos para que os animais pudessem aprender os atos. E tudo não passava de hipocrisia, porque, enquanto os meninos e meninas riam, sem dúvida, havia momentos de tensão. Está no extinto do animal ser livre. Nenhum nasceu para se vestir de palhaço e empinar o corpo para trás ao escutar um comando ou fazer graças.

Após a era dos circos, agora as pessoas frequentam os novos zoológicos, baseados em uma ten-tativa de criar um ambiente para se aproximar dos animais. Os pássaros ficam soltos em um viveiro grande, em torno do qual os espectadores observam e tiram várias fotos, como se tucanos e araras fossem seres estranhos a esse mundo. Apesar de poder observá-los sem os ferros por perto, as grades continuam lá, no fundo do terreno. Mas, talvez elas precisem estar, porque o sistema é complexo. Lugares, como o Grama-do Zoo e o Parque das Aves, em Foz

do Iguaçu, já apresentam esse tipo de estrutura.

Se o homem não prende os bichos, ele não consegue entender o sentido de liberdade fora do seu mundo e das suas projeções. Ele não respeita o outro. O homem só sabe admirar a beleza natural quando ela está presa. Mesmo que isso seja con-traditório, é uma oportunidade para mostrar às crianças a importância da liberdade e o quanto os animais são importantes. Sua preservação depende da raça humana. E, se não for da forma feita pelos zoológicos, talvez nunca mais possamos apre-ciar a beleza de algumas espécies, a exemplo da arara azul, ameaçada de extinção pela destruição do ambiente.

O homem e as contradições da liberdade

Morgana LauxMaria HelenaSponchiadoCrônica