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h ipertext o Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, janeiro orto Alegre, janeiro orto Alegre, janeiro orto Alegre, janeiro orto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – ANO 8 – Nº 45 ANO 8 – Nº 45 ANO 8 – Nº 45 ANO 8 – Nº 45 ANO 8 – Nº 45 A doença silenciosa anti-social PÁGINA 9 A r A r A r A r A rua que abriga ua que abriga ua que abriga ua que abriga ua que abriga e massacra e massacra e massacra e massacra e massacra Sar Sar Sar Sar Sartre, tre, tre, tre, tre, a filosofia como sujeito da ação política Mágda assume Mágda assume Mágda assume Mágda assume Mágda assume a direção a direção a direção a direção a direção da F da F da F da F da Famecos amecos amecos amecos amecos Primeira mulher jornalista no cargo ELSON SEMPÉ PEDROSO PÁGINAS 4 E 5 COMUNICAÇÃO PÁGINA 8 NATÁLIA LEDUR ALLES O Grupo Sabedoria de Rua Mor Mor Mor Mor Mor re re re re re escritor e crítico gaúcho Hecker Filho PÁGINA 11 CARLA RUAS NATÁLIA LEDUR ALLES PÁGINAS 6 E 7 EM TEMPO DE FÉRIAS Calor Calor Calor Calor Calor, viagens, lazer , viagens, lazer , viagens, lazer , viagens, lazer , viagens, lazer Conheça os sintomas da síndrome da modernidade SEM- SEM- SEM- SEM- SEM-TET TET TET TET TETO CUL CUL CUL CUL CULTURA TURA TURA TURA TURA

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hipertextoUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – -fevereiro de 2006 – ANO 8 – Nº 45ANO 8 – Nº 45ANO 8 – Nº 45ANO 8 – Nº 45ANO 8 – Nº 45

A doença silenciosa anti-socialPÁGINA 9

A rA rA rA rA rua que abrigaua que abrigaua que abrigaua que abrigaua que abrigae massacrae massacrae massacrae massacrae massacra

SarSarSarSarSartre, tre, tre, tre, tre, a filosofiacomo sujeitoda ação política

Mágda assumeMágda assumeMágda assumeMágda assumeMágda assumea direçãoa direçãoa direçãoa direçãoa direçãoda Fda Fda Fda Fda Famecosamecosamecosamecosamecos

Primeira mulher jornalista no cargo

ELSON SEMPÉ PEDROSO

PÁGINAS 4 E 5

COMUNICAÇÃO

PÁGINA 8

NATÁLIA LEDUR ALLES

O Grupo Sabedoria de Rua

MorMorMorMorMorre re re re re escritore crítico gaúchoHecker Filho

PÁGINA 11

CARLA RUAS

NATÁLIA LEDUR ALLES

PÁGINAS 6 E 7

EM TEMPODE FÉRIAS

CalorCalorCalorCalorCalor, viagens, lazer, viagens, lazer, viagens, lazer, viagens, lazer, viagens, lazer

Conheça os sintomas da síndrome da modernidade

S E M -S E M -S E M -S E M -S E M -T E TT E TT E TT E TT E TOOOOO

C U LC U LC U LC U LC U LT U R AT U R AT U R AT U R AT U R A

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PPPPPorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006hipertextoD

OIS

Jornal mensal da Faculdade de ComunicaçãoSocial (Famecos) da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http://www.pucrs.br/famecos/hipertexto/045/index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora/Jornalismo: Cristiane FingerProdução dos Laboratórios de JornalismoGráfico e de Fotografia.Supervisão: Laboratórios Integrados.

Professores responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol(redação e edição), Celso Schröder (arte eeditoração eletrônica) e Elson SempéPedroso (fotojornalismo).

ESTAGIÁRIOS

Editoras: Belisa Figueiró e Carla KunzeEditor de fotografia: Rafael Ocanha

Repórteres: Alessandra Brites, BelisaFigueiró, Camila Domingues, Carla Kunze,Fábio Flores Rausch, Fernanda Arechavaleta,Gabriela Semensato, Guilherme Brendler,Guilherme Zauith, Juarez Sant’Anna, JuliaTimm, Laion Espíndula, Letícia Silva,Mariana Baierle Soares, Matheus Bonez,Raphael Ferreira, Ricardo Lacerda, SandraDucato, Tatiana Feldens, Tatiana Lemos,Tercio Saccol, Thaís Almeida, Tiago Carvalhoe Vicente Medeiros.Fotógrafos: Álvaro Bitencourt, Carla Ruas,Natália Ledur Alles, Nuria Saldanha, SauloEscobar, Tatiana Feldens e Temis Cardoso.Diagramadores: Patricia Pacheco de Lima,Leila Boscato Garcia, Luana Lemke e TatianaLemos.

EXPEDIENTE

Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem: 5.000

Dois. Dois pontos: nº 2.Duas pessoas. Dois pontos: eu e você.Dois corações. Dois pontos: o meu e o

seu.Duas almas. Dois pontos: a minha e a

sua.Duas fases da vida. Dois pontos: antes e

depois de te conhecer.Dois lados da moeda. Dois pontos: cara

e coroa.Duas cargas elétricas. Dois pontos:

positiva e negativa.Dois pontos de vista. Dois pontos:

completamente diferentes.Duas decisões a tomar. Dois pontos:

correr ou ficar.Duas direções. Dois pontos: direita e

esquerda.Duas lágrimas. Dois pontos: as minhas.Dois sentimentos. Dois pontos: amor e

ódio.Duas tristezas. Dois pontos: chorar e

chorar.Dois amigos. Dois pontos: dois conso-

los.Duas realidades. Dois pontos: encontrar

e desencontrar.Dois conflitos. Dois pontos: interno e

externo.Duas forças. Dois pontos: acaso e

destino.Duas neuroses. Dois pontos: realidade e

fantasia.Duas vidas. Dois pontos: separadas.

Duas perguntas. Dois pontos: como epor quê?

Duas respostas. Dois pontos: não sei esei lá.

Duas confissões. Dois pontos: te amo ete quero.

Dois medos. Dois pontos: te ter e teperder.

Duas histórias. Dois pontos: o começo eo fim.

Dois sonhos. Dois pontos: sonhar erealizar.

Dois pesadelos. Dois pontos: acordar eenxergar.

Duas mensagens. Dois pontos: a da bocae a dos olhos.

Dois corpos. Dois pontos: que seafastam.

Dois olhares. Dois pontos: que seescondem.

Dois sinais. Dois pontos: não pode enão é.

Dois beijos. Dois pontos: não dados.Dois mundos. Dois pontos: o meu

acaba e o seu começa.Dois tempos. Dois pontos: passado e

presente.Dois movimentos. Dois pontos:

divergentes.Dois pensamentos. Dois pontos:

recordar e viver.Duas palavras. Dois pontos: ditas e

repetidas.Duas loucuras. Dois pontos: viver e

morrer.Duas chances. Dois pontos: a que perdi e

a que não tive.Dois finais. Dois pontos: feliz e infeliz.Duas descobertas. Dois pontos: o céu e

o inferno.Três pessoas. Dois pontos: você e ela.

Três pontos... eu.

DANIELA CENCIDANIELA CENCIDANIELA CENCIDANIELA CENCIDANIELA CENCIE E E E E TAMARA CARVALHOTAMARA CARVALHOTAMARA CARVALHOTAMARA CARVALHOTAMARA CARVALHO

C R Ô N I C AC R Ô N I C AC R Ô N I C AC R Ô N I C AC R Ô N I C A

Dois mais umDois mais umDois mais umDois mais umDois mais um

C R Í T I C AC R Í T I C AC R Í T I C AC R Í T I C AC R Í T I C A

ABERTURA

À primeira vista, parecem es-tranhas as combinações de al-guns jovens que cursam, aomesmo tempo, Direito e Fi-losofia, Jornalismo e Econo-mia, Letras e Psicologia, Jor-

nalismo e Ciências Sociais, Direito e História.O que passa pela cabeça destes universitários?Indefinição vocacional ou de mercado profis-sional? Complementação necessária ou per-seguição às novas oportunidades?

As razões para essa dupla formação pro-fissional são muitas e dependem do pontode vista dos envolvidos e de quem observa.O fato é que, há alguns anos, era raro encon-trar estudantes freqüentando mais de um cur-so superior. Hoje é bastante comum. Os uni-versitários alegam que exigências profissionaisfazem com que muitos, assim como estudamlínguas, buscam especializações, optem poroutros cursos, além da faculdade cuja profis-são pretendem seguir. Alguns querem a com-plementação dos conhecimentos, outros porque gostam de estudar, e a maioria com ointuito de se diferenciar no mercado de traba-lho. As indefinições na escolha da profissão edos cursos são tantas que a PUCRS promo-veu, em novembro de 2005, a Feira das Pro-fissões, no Centro de Eventos.

O advogado e filósofo Fábio Cáprio Lei-te, que concluiu os dois cursos na PUCRS em2004, ressalta gostar das áreas e pretende exer-cer as atividades concomitantemente. Para ele,escolher outro curso para complementação deconhecimentos é uma decisão dissimulada,

porque a idéia subjacente está na competiçãodo mercado. O sujeito, dessa forma, pensaapenas em agregar conhecimento, numa es-pécie de negociação mercantil com a universi-dade. O sujeito que escolhe uma complemen-tação ao seu curso, na verdade, quer galgarespaço no mercado de trabalho.

A universidade é um espaço sócio-cultu-ral onde indivíduos se formam não apenascomo profissionais, são sobretudo pesquisa-dores e produtores de conhecimento que de-veria retornar à sociedade, argumenta o advo-gado que recentemente coordenou um cursosobre os 100 anos do filósofo francês JeanPaul Sartre. No seu caso, a escolha de outrocurso não é complementar. A filosofia, sus-tenta, não tem o caráter acessório à profissãobase (de advogado), mas sempre o caráter prin-cipal, por estar vinculada à motivação peculiarde formação e produção científica em algumaárea, que converta em benefícios à sociedade.

O coordenador do curso de Ciências Soci-ais da PUCRS, Roque Dal’Ross, entende queé sempre válido aprimorar o conhecimentocom mais de uma faculdade e cita DomenicoDi Mase (sociólogo italiano da UniversidadeLa Sapienza e Roma), “por que hoje só sepensa em profissão? Se imaginarmos o traba-lho como um fardo, a situação realmente pa-rece impossível’’. Formado em filosofia e commestrado em sociologia, Dal’Ross explica queo curso de Ciências Sociais (bacharelado) ha-bilita para o exercício da profissão de sociólo-go, que pode atuar na assessoria de partidospolíticos e sindicatos, gabinetes de deputa-

dos e até em organizações não-governamen-tais (Ongs). Ele atribuiu à procura pelo cursoao campo muito vasto de conhecimentos queproporciona, por estar estruturado “no tripéda sociologia, antropologia e da política, atre-ladas à pesquisa para se formar o núcleo, poiso sociólogo deve conhecer pesquisa”.

Os projetos de orientação profissional fa-zem o levantamento de capacidades, habili-dades, expectativas e valores, com o objetivode auxiliar os jovens a esboçar um projeto devida. A psicóloga Maria Paulina Pölking for-mou-se primeiramente em letras e lecionoualemão durante alguns anos. Com o passardo tempo, sentiu-se madura para optar pelapsicologia, profissão que exerce há 15 anos.Paulina trabalha com o teste de orientaçãoprofissional e considera que hoje o fluxo deinformações exigidas para o jovem é muitogrande. Cabe a ele focar na sua necessidadeindividual, sem perder contato consigo mes-mo, o que pode ajudar na hora da escolha,tanto para a prática profissional quanto pordiletantismo. Há jovens que procuram o testevocacional porque não estão satisfeitos com aprofissão, outros pela imaturidade ou pelaquantidade maior de cursos oferecidos nasuniversidades. Cursos pré-vestibular e até es-colas de ensino fundamental o colocam o tes-te vocacional à disposição dos estudantes edos pais de alunos que querem auxiliá-los naescolha do curso superior a ser seguido, abrin-do o caminho profissional futuro, o que nãoé garantia de decisão acertada.

A formação universitária múltipla

POR GUILHERME ZAUITHPOR GUILHERME ZAUITHPOR GUILHERME ZAUITHPOR GUILHERME ZAUITHPOR GUILHERME ZAUITH

E D I TE D I TE D I TE D I TE D I TO R I A LO R I A LO R I A LO R I A LO R I A L

A crise política que assola o país, desdejunho de 2005, trouxe consigo uma série deepisódios e personagens que são inspiraçõesfáceis para chargistas e humoristas. No enre-do da crise já teve político escondendo dinhei-ro na cueca, as metáforas de Lula, ex-secretáriaquerendo virar capa da Playboy, o caricato Se-verino Cavalcanti – que ocupou a cadeira depresidente da Câmara dos Deputados algunsmeses – e talvez a maior piada: Roberto Je-fferson, o deputado que denunciou o men-salão e o primeiro a perder o mandato.

É fato, sempre que um governo enfrentasituações difíceis, o humor ganha espaço namídia, seja nos programas de tevê ou nasprimeiras páginas de jornal, além de se espa-lharem como praga na internet. Porém, esseelenco que protagoniza esta crise, digno denovela mexicana, fez com que o Brasil, comodiz o colunista da Folha de São Paulo JoséSimão, auto intitulado o esculhambador-ge-ral da República, se configura como o país dapiada pronta. Se antes tínhamos uma naçãode técnicos de futebol, agora temos uma na-ção de humoristas. O jornalista Tutty Vaz-ques, em crônica publicada no sitewww.nomínimo.com.br, faz um alerta aosprofissionais do riso “se a avalanche de pia-das prontas continuar assim, logo, os humo-ristas estarão desempregados”.

O chargista de Zero Hora, Marco Aurélio

Brasil, o país da piada prontaPOR RAFPOR RAFPOR RAFPOR RAFPOR RAFAEL TERRAAEL TERRAAEL TERRAAEL TERRAAEL TERRA – que na ocasião da entrevista ao Hipertexto

recebia dois cartões de créditos, pois os anti-gos haviam sido clonados e lhe causado umprejuízo de R$ 13 mil, já ressarcidos pela ope-radora – não concorda com Vazques. “É maisdifícil fazer humor hoje, pois todos os hu-moristas estão falando sobre o mesmo as-sunto. Além de milhares de piadas vinculadasna mídia, tu tens que fazer algo diferente. Osucesso do chargista está em apresentar umasurpresa que pode ser de humor, de crítica e,às vezes, até de tristeza. O chargista tem queser acima de tudo anarquista, apresentar umavisão crítica do fato. Porém, não gosto dacrítica gratuita como ocorre em programas doestilo Casseta e Planeta, que exploram as mi-norias”, enfatiza.

Para Marco Aurélio, em qualquer socieda-de se observa situações que são uma piadapor si só de acordo com a maneira da pessoaencarar aquele fato. “O que acontece no Brasilé que as instituições políticas estão desmorali-zadas e por isso qualquer coisa é motivo depiada. Não é o país que é da piada pronta, é obrasileiro que faz a piada pronta. Essa criseem outras países daria cadeia e até pena demorte. Nada iria para o humor, seria encaradacomo uma coisa séria. Aqui não acaba tudoem pizza, e sim tudo em humor”, ironiza. Ochargista de Zero Hora aponta nossas leiscomo a maior piada de todas. “Vejam só essebando de gente que rouba e continua rou-bando dos cofres públicos!”

Todas as edições de 2005 do Hipertexto estão disponíveis on-line:http://www.pucrs.br/famecos (Laboratório de Jornalismo Impresso-Hipertexto)

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hipertextoPPPPPorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006TRES

Mais uma coisa pertence ao passado. As-sim se pode enquadrar a despreocupação comos gastos domésticos em energia elétrica e te-lefone. Hoje, as contas de luz e telefone repre-sentam uma porcentagem considerável degastos no orçamento das famílias gaúchas,subindo o comprometimento com esses ser-viços de uma média percentual de 10 para 20%da renda familiar.

Antes da privatização da antiga Compa-nhia Riograndense de Telecomunicações (CRT)em 1998, adquirir uma linha telefônica era si-nônimo de fila de espera e de custo bem maiselevado. Com a privatização do serviço e aevolução das tecnologias, o processo se tor-nou mais simples. Em menos de dez dias,linhas telefônicas são instaladas nas residênci-as. Os aparelhos celulares, que eram privilégiode poucos, hoje fazem parte do cotidiano deparcela significativa da população.

Essas facilidades proporcionadas pelasempresas de telefonia representaram, entre-tanto, um significativo aumento nas tarifas.As ligações de telefone fixo para móvel têmpreços mais elevados. Além disso, as pessoasse tornaram dependentes de celulares, ligaçõessão feitas a toda hora e o consumo aumentoudrasticamente. Dentro deste contexto de avan-ço tecnológico e consumo excessivo, entramas companhias de energia elétrica, que tam-bém representam uma parcela grande de gas-tos para as famílias gaúchas.

Para o auxiliar administrativo da Compa-nhia de Energia Elétrica do Rio Grande doSul (CEEE), Luís César Sackis Netto, o au-mento das contas de luz, nos últimos cincoanos, acontece devido a vários fatores. O “apa-gão” ocorrido em 2001, segundo ele, fez com

Cresce o consumo e o custonas contas de luz e telefone

Vira uma página, avança uma casa. Recuauma casa, volta uma página. Assim se caracte-riza o fim de tarde de Antônio Câmara, Sér-gio Robasky, Davi Peçanha, Marco Camillo eseus amigos. Na Praça da Alfândega, próxi-mo à Feira do Livro, eles se reúnem em tornode uma mesa quadrada (o tabuleiro). Ajeitamsuas peças e está iniciada mais uma emocio-nante partida de damas.

Antônio Câmara, de 75 anos, colecionavários títulos nesse esporte. Dos que se lem-bra, está o tricampeonato (1957, 1958 e 1959)pelo Sesi (época em que torneios eram dispu-tados entre as empresas). Em 1962, consa-grou-se campeão individual de Porto Alegre eem 1992, conquista o estadual por equipe.Conhecido pelos amigos como “Toninho”,ele diz que, atualmente, tem jogado muitopouco. “Às vezes venho aqui, assisto meusamigos e aproveito paradar uma passadinhapela praça”, revela.

A organização é li-vre, ou melhor, espon-tânea. Quer jogar? En-tão traga suas doze pe-ças. Aos poucos, o pes-soal vai chegando e emum curto período amesa está cercada por vá-rios homens, alguns es-perando vez, outrosapenas assistindo. SérgioRobasky constitui o gru-po de espectadores.“Jogo apenas campeo-natos. Sou da FederaçãoGaúcha e já participei

Primeiro, as damas

que o governo percebesse a precariedade dosistema elétrico brasileiro. “A partir daí, priva-tizou companhias e investiu em hidroelétri-cas e linhas de transmissão. O nível tecnológi-co aumentou, porém as contas dos cidadãosficaram mais caras”, reconhece. Enfatiza que osurgimento de novos aparelhos eletrônicos eelétricos, adquiridos pelas famílias, contribuipara o acréscimo das contas.

A cabeleireira Hanna Betina Zacca diz queseus gastos mensais com contas de luz e tele-fone consomem, em média, 20% de seu orça-mento. O bancário Estevão Machado revelaque emprega em torno de 15% de seu saláriopara pagar essas contas, mas ressalta não terfilhos e morar somente com a esposa, “tal-vez, no futuro, essa porcentagem aumente”,prevê. A manicure Denise da Silva Fernandesdiz que é obrigada a aplicar 20% de seus pro-ventos para ter em dia suas contas de luz etelefone. Em média, os gastos mensais dosgaúchos com energia elétrica e telefonia estãona casa dos 20%, não havendo distinção declasse social. Os custos são proporcionais aossalários. Quem ganha mais, gasta mais.

POR CAMILA DILELIOPOR CAMILA DILELIOPOR CAMILA DILELIOPOR CAMILA DILELIOPOR CAMILA DILELIO

O peso das tarifas no bolso do cidadão

dos Jogos Abertos de São Paulo”, vangloria-se.

Com seis conquistas estaduais e um quar-to lugar no Brasileiro, Davi Peçanha diz estarafastado dos tabuleiros por falta de tempo.“Sou economista e administrador e não te-nho tempo para nada. Meu último campeo-nato conquistado foi em 96”, relembra. Tam-bém participante de um Campeonato Brasi-leiro (nono lugar), Marco Camillo levantoudois troféus estaduais e é campeão brasileiropostal. “Neste ano, o Paulo Sérgio Padilha foicampeão gaúcho e está nos representando noBrasileiro”, confirma Camillo.

Entre uma página e uma jogada, esteshomens vão se divertindo enquanto o soldesaparece atrás do Guaíba. No tabuleiro, nãohá tanto suspense nem drama. Mas nem porisso deixa de ser emocionante. A cada jogada,a cada capítulo, a cada avanço, a cada batalha, ocoração dispara em ritmo acelerado.

POR LAION ESPÍDULAPOR LAION ESPÍDULAPOR LAION ESPÍDULAPOR LAION ESPÍDULAPOR LAION ESPÍDULA

Tabuleiros na Praça da Alfândega para aficcionados

A evolução tecnológica da televisão estámuito próxima da realidade do brasileiro. Empoucos meses, será possível acessar a redemundial de computadores do mesmo apare-lho em que se assiste ao telejornal preferido.Entre as entidades que trabalham na platafor-ma de comunicação digital nacional, há umaempresa de pesquisa e tecnologia, alunos eprofessores de cursos de engenharia e umafaculdade de comunicação. O Centro de Pro-dução Multimídia (CPM) da Faculdade deComunicação Social da PUCRS, a Famecos,integra os estudos para o desenvolvimentodo modelo de referência brasileiro desde ou-tubro, quando foi convidada pela FundaçãoCPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimen-to em Telecomunicações.

Com a coordenação do professor Eduar-do Pellanda, fica sob a responsabilidade doCPM o desenvolvimento de projetos deinteração com o telespectador. O convite foilançado depois que representantes da CPqD,entidade que auxilia o grupo gestor do Siste-ma Brasileiro de Televisão Digital, visitaram aPUCRS. Segundo o diretor de TV Digital docentro, o doutor em ciências materiais Ricardo

Benetton Martins, a estrutura da Famecossurpreendeu pela parte tecnológica que utili-za. Também foram considerados os concei-tos elaborados pela faculdade a respeito deTV digital, que figuram muito próximo aoque se busca para o Brasil. ConformeBenneton, a Faculdade de Comunicação daPUCRS é vista como provocadora, capaz dedar sugestões sobre aspectos ainda não ex-plorados para implementar o sistema.

A nova forma de comunicação, baseadaem tecnologia digital promete se adequar àrealidade sócio-econômica brasileira, buscan-do não só inclusão digital, mas também soci-al. O Sistema de TV Digital foi instituído emnovembro de 2003 no país através de umdecreto (nº 4901), onde estão formalizadosdesde os objetivos a serem alcançados pelapesquisa até as competências atribuídas aoaparelho. O programa é subsidiado pelo Go-verno Federal, sob a coordenação do Ministé-rio das Comunicações, com a intenção de im-pulsionar os trabalhos para a criação de ummodelo nacional de soluções tecnológicas ade-quadas e flexíveis ao contexto brasileiro.

No mundo inteiro existem apenas trêssistemas vigentes, um norte americano, ou-tro europeu e um terceiro japonês. Segundo

o diretor de TV Digital do CPqD, a televisãobrasileira é muito próxima a dos EstadosUnidos, com programação aberta e forte atu-ação da publicidade. No entanto o modelo dereferência da TV Digital nacional deve utilizaro melhor de cada um dos três sistemas vigen-tes no mundo. Do norte americano será ex-traída a qualidade da imagem com alta defi-nição, do europeu a interatividade com otelespectador e do japonês a mobilidade. To-dos estes sistemas já foram testados pelasentidades que estão estudando e construindoa plataforma tecnológica por aqui.

No serviço digital, a imagem tem resolu-ção pelo menos duas vezes superior a dosaparelhos tradicionais. Em um jogo de fute-bol, por exemplo, será possível enxergar do

sofá os detalhes de expressão do rosto dosjogadores como se estivesse no estádio. Tam-bém haverá como escolher por qual câmeraassistir a partida. O espaço para publicidadeserá ampliado. Através do controle remoto,pode-se ficar sabendo sobre roupas e acessó-rios do cenário de uma cena de novela.

O professor Pellanda salienta que aFamecos é a única faculdade de comunicaçãoenvolvida no processo de desenvolvimentodo modelo de referência de TV digital do Bra-sil. “O CPM conta com uma estrutura muitoboa e tem equipe composta por três profes-sores, 10 estagiários remunerados e 10 técni-cos”. explica. Segundo ele, o maior benefíciopara os alunos é inaugurar uma pesquisa apli-cada com um produto que volta à sociedade.

Jeitinho brasileiro natecnologia digital

GERAL

POR NÚRIA SALDANHAPOR NÚRIA SALDANHAPOR NÚRIA SALDANHAPOR NÚRIA SALDANHAPOR NÚRIA SALDANHA

Centro de Multimídia da Famecos é referência na discussão da TV Digital

ARQUIVO FAMECOS

NATÁLIA LEDUR ALLES

CARLA RUAS

Modelo proposto adapta sistemas americano, europeu e japonês

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GERAL

Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006hipertextoQ

UATRO O saguão da Famecos é sempre cheio de

surpresas. Um dia têm sucatas, recolhidas doarroio Dilúvio, para chamar a atenção do des-caso de significativa parcela dos porto-alegrenses com o meio ambiente. Em outranoite, é possível comer acarajé, servido poruma baiana estilizada, como se você estivesse

em Salvador ou Porto Seguro. Tem ocasiõesem que os alunos correm para as janelas paraver o que está ocorrendo. São outros estudan-tes que fazem protestos, empunhando asmais diferentes bandeiras. Mas sempre hápossibilidade de novas surpresas. Centenasde colegas e curiosos de outros cursos se es-

premeram em torno de uma passarela mon-tada no local, com jogos de luzes e som, paraassistirem a um desfile da Griffe PUCRS. Atéaí, nada de extraordinário. Mas entre os mo-delos, além de alunos da Famecos, havia fun-cionários da secretaria, profissionais da lim-peza e inclusive professores. As performances

de Laury Job, Neka Machado e José FernandoSilveira levaram o público ao delírio. Toda aapresentação foi organizada pela disciplina deEstudos dos Meios Aproximativos em Rela-ções Públicas, sob a supervisão da professoraMarisa Soares.

DA REDAÇÃODA REDAÇÃODA REDAÇÃODA REDAÇÃODA REDAÇÃO

“Novos talentos” roubam o desfile da Griffe PUCRS

Público foi ao delírio com as performances de Laury Job, José Fernando Silveira e Neka Machado

FOTOS ELSON SEMPÉ PEDROSO

Os alunos que começam, agora em 2006,o sétimo ou o oitavo semestres passam a en-frentar o desafio da monografia. Após anosde estudo, chega a hora decisiva para quemestá prestes a concluir o seu curso na Univer-sidade: realizar os trabalhos de conclusão. Atensão, a falta de tempo e de conhecimentopara delimitar um tema são as principais difi-culdades, de acordo com o jornalista recémformado e autor da pesquisa sobre a revistaComunicação, Rafael Valles. No entanto, paraa professora da disciplina de Monografia I ecoordenadora do Núcleo de Pesquisa em Ci-ência da Comunicação da Famecos, MariaHelena Steffens de Castro, os reais problemassão a falta de interesse e o comprometimentodos alunos.

Segundo ela, os estudantes realizam o le-vantamento de bibliografias, mas falta a sus-tentação teórica necessária e ainda há poucaprocura por jornais e revistas que podem au-xiliar na formatação dos temas. “O que se vênos alunos é a pura compilação de dados. Amaioria não consegue argumentar e escrever.Quando se trata da metodologia, então, ficamais complicado”. A professora Maria Hele-na diz que é preciso mostrar para os estudan-tes que pesquisar é essencial para se ampliar osconhecimentos e relacionar prática com teoria.E acrescenta: “No Brasil, o único local pararealizar essa prática ainda é na Universidade.Por isso, os acadêmicos já deveriam ter maisconsciência e aproveitar o momento propício,pois o mercado não possibilita tempo paraestudos mais aprofundados”.

Para Valles, que realizou três pesquisas deiniciação científica durante quase todo o seuperíodo de faculdade, esse é um tipo de exer-cício que requer dedicação exclusiva. “É preci-so delimitar o assunto, revisá-lo no decorrer

2006 começa com troca de comando na Comunicação

do seu desenvolvimento”. Ele foi autor damonografia “História da comunicação sobrea perspectiva da revista Comunicação: umaanálise da seção História da Comunicação noBrasil” que recebeu nota 10 da banca examina-dora. De acordo com a sua experiência, algu-mas perguntas ajudam nesse processo: Quala área que gostaria de abordar? Qual o objeti-vo da escolha? O que, dentro do campo esco-lhido, gostaria de pesquisar? Quais os livrosnecessários? Qual o método apropriado?

A formanda em Jornalismo Silviane Lo-pes Puccinelly realizou um levantamento so-bre os temas de monografia do Jornalismona PUCRS. Os números da sua análise mos-tram a repetição de temas e a indefinição dametodologia. “Separei as monografias entre21 orientadores. Desses, 137 alunos foramorientados entre 2001 e 2002. Dos trabalhosfinalizados, 28 não estão com os métodosobjetivamente definidos e 12 não deixaramclara a metodologia”. Conforme os estudosde Silviane, as áreas mais abordadas são tele-visão e jornalismo impresso: das 136 catego-rias escolhidas entre os anos 2001 e 2002, 33são sobre telejornalismo e televisão, e 29 jor-nalismo impresso. As áreas com menos abor-dagem são literatura no jornalismo, imprensaalternativa, comunicação e ideologia com duasmonografias realizadas nos dois anos.

POR ALESSANDRA BRITESPOR ALESSANDRA BRITESPOR ALESSANDRA BRITESPOR ALESSANDRA BRITESPOR ALESSANDRA BRITES

Monografia,o últimodesafio

Rafael Valles realizou três pesquisas

ALESSANDRA BRITES

FACULDADE

Mágda Cunhaassume a Famecos

Metáfora: Jerônimo Braga entregou uma chave estilizada a sua sucessora

ELSON SEMPÉ PEDROSO

POR CARLA KUNZEPOR CARLA KUNZEPOR CARLA KUNZEPOR CARLA KUNZEPOR CARLA KUNZE

Dia 9 de dezembro de 2005, em solenida-de realizada no Salão Nobre da Reitoria, a pro-fessora Mágda Cunha recebia, das mãos doreitor da PUCRS, irmão Joaquim Clotet, aportaria da sua nomeação como diretora daFaculdade de Comunicação. Na semana se-guinte ao término do semestre letivo, na oca-sião de transmissão do cargo, Mágda foi ho-menageada com uma festa de boas-vindas,organizada numa sala do prédio 7 com a pre-sença dos professores e funcionários da uni-dade.

O ex-diretor Jerônimo Braga agradeceu oapoio de todos os colaboradores que o ajuda-ram durante os nove anos em que esteve nocargo: “Se a trajetória desta faculdade é desucesso, é devido ao trabalho de todos nós,de uma equipe que aqui está”. Elogiou o tra-

balho da futura diretora nas diversas posiçõesque ocupou desde que ingressou no corpodocente da universidade em 1986 e, encerran-do o discurso de despedida, entregou à pro-fessora Magda uma “chave” decorada com ogalo, símbolo da Famecos.

A nova diretora agradeceu o aprendizadoque o convívio com o professor Jerônimo lheproporcionou e entregou a ele um DVD so-bre vinhos. A escolha do presente, segundoela, foi por representar um “investimento emmomentos prazerosos e proporcionar o co-nhecimento e o aprendizado da vida atravésdo conhecimento sobre o vinho”.

A professora, primeira mulher a assumira direção da faculdade, ressaltou que “nós te-mos que pensar exatamente na unidade, sem-pre, independente de quem esteja à frente, dequal nome vai ocupar a função que hoje estouassumindo, e vamos procurar realizar o traba-lho com esse objetivo”.

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INC

O

– Como foi a experiência de deixar aprática jornalística para assumir a Coor-denação do Curso de Jornalismo?

– Transformar-se em administrador é bemdiferente de lecionar e atuar nos veículos. Euentendia muito do objeto jornalismo, masnão sabia se entendia de administração. Temgente que diz que um administrador gerenciaqualquer coisa. Porém, é imprescindível en-tender o objeto. A minha experiência era deadministrar programas de rádio, nos quais tutens um espaço no ar, precisas te responsabi-lizar pelo texto, pela pauta, pelas perguntas,organizar, tomar decisões ao vivo e muito rá-pido. Eu sou da mídia eletrônica. Acho quefui trabalhar em rádio por causa das minhascaracterísticas e o meio influenciou o aprendi-zado. Mas nunca me imaginei na coordena-ção, nunca almejei cargos e funções adminis-trativas. Sempre fui jornalista e apaixonadapela profissão. Contu-do, aos poucos, ou-tras possibilidades vãosurgindo e tu percebesque há outros proje-tos e ciclos que se ini-ciam. Na coordenação,aprendi mais sobre osimpressos, por exem-plo, porque é preciso que haja um diálogoentre as áreas. Hoje ninguém dá ordens e ad-ministra sozinho. O Hipertexto nasceu nesseperíodo, junto com o laboratório de fotogra-fia.

– Como surgiram os demais laborató-rios e em qual administração?

– O Gilberto Leal inaugurou o projeto daTV Foca e da Cyberfam. Em 1995, na gestãodo João Brito, já havia uma comissão para sediscutir a Internet. Na época, eu mesma acha-va que era uma “invenção” dele, mas, com otempo, vi o acerto da previsão. Depois, naminha administração, vieram as atividades la-boratoriais do Hipertexto, da fotografia e apossibilidade do estágio voluntário. A revistaeletrônica era ainda uma incógnita e ninguémsabia direito como seria. Então, se abriu espa-ço para os alunos não matriculados participa-rem. Foi aí que se percebeu que existiam vagastambém nos outros veículos da Famecos.Antes, o modelo do currículo era o mesmoque eu estudei em 1980: muito teórico noinício, e os alunos demoravam para chegar àprática jornalística. Quando a gente entra nafaculdade, quer enxergar a profissão. Hoje, emalguns semestres, temos 120, 150 acadêmicoscirculando dentro dos laboratórios.

– A coordenação foi uma reaproxima-ção tua com os meios?

– Sim, com todas as áreas do jornalismo.Na coordenação, eu aprendi bastante e não foifácil. A idéia sempre foi pensar no futuro, nodiferencial da Famecos. Para isso, é necessárioestar envolvido no processo, pesquisando,estudando, orientando, conversando. A ad-ministração é uma tarefa integrada e o digitalestá sacudindo as certezas que a gente tinha.Para vencer isso, tem que saber conviver com ahistória e sempre olhar pra frente. Entenderque mudança não é morte e a tecnologia nãomuda a importância da informação e do co-nhecimento. Como vamos fazer isso, é outrahistória. A Universidade é lugar para se testar,discutir e errar.

– Nesta perspectiva de mudança, a mi-gração de currículo, em julho de 2004,mexeu bastante na estrutura da Famecos.Qual a avaliação deste processo?

– Foi um processo muito complicado.Obviamente, nós não mexeríamos no currí-culo para piorar a situação, mas eu fiquei mui-

to surpresa, na épo-ca, com a reação dosalunos e foi um ou-tro aprendizado.Eles mesmos nos co-bravam uma mudan-ça e foram os primei-ros a criticar. Eu acre-dito nesse currículo e

tenho certeza de que devemos mexer mais,em curtos espaços de tempo, para poder seadaptar à realidade de determinado momen-to. Antes os currículos ficavam 15, 20 anosirretocáveis. Rádio era rádio. Televisão semprefoi televisão. Hoje se diz que é rádio, mas temtambém um mecanismo que se põe imagem.Posso ver televisão por um outro canal detransmissão que não é o tradicional. Fiqueiespantada com os alunos sendo tão jovens enão querendo mudar, nem tentar. Embora ocurrículo não tenha mudado tanto assim, foiuma adaptação. Eu teria feito mudanças maisradicais e ousadas. Mas, na administração, tuprecisas fazer a leitura do horizonte e ver oque é possível executar.

– A Famecos, então, se surpreendeucom a reação dos alunos?

– Tenho 20 anos de contato com o aluno.Aprendi que, muitas vezes, a briga entre nósnão é pessoal, mas do momento, técnica. Àsvezes, os alunos te botam a boca num semes-tre porque ele rodou na tua cadeira e no outrote convidam para ser o orientador da mono-grafia. E na migração não foi diferente. A res-ponsabilidade era minha e eu tentava explicarque se tudo desse errado meu emprego estavaem jogo, e só se eu fosse muito burra paracolocar todo mundo num barco furado. Noprimeiro momento, achei que nós teríamos a

metade, 50% de adesão. Estava me preparan-do para ter duas salas com 20 alunos e umcurrículo correndo paralelo ao outro. Seriamuito complicado administrar isso, mas es-távamos preparados. E o que aconteceu? Nóstivemos a maioria aderindo. Mas aí alguns medisseram: “Sim, tu fizeste uma pressão emtodo mundo”, “Fomos coagidos”. E, no fi-nal, apenas quatro não migraram. Queimeitantos neurônios naquela época que só agoraestou recuperando. Cada um cumpriu o seupapel. O processo partiu da análise da situa-ção de cada um, depois a matrícula e a terceirasemana foi a entrada na sala de aula. A cadasemana que iniciava, pensava: “Agora o desa-fio é este. Se nós vencermos esta etapa, nósteremos a outra”.

– Qual era o maior medo?– As pessoas tinham medo de ficar mais

tempo no curso do que o planejamento inici-al. Por mais que eu me atirasse ao chão, garan-tindo que isso não ia acontecer, não adianta-va. Eles estavam no seu papel, nem discutoisso. E muitos pensavam: “Quem me garan-te? Essa mulher pode ser uma doida”. Existemuito a idéia de que “eu estou comprandouma coisa e, às vezes, quando me entregamestá torta, quem troca isso?” A legislação pre-vê que se faça um planejamento para o alunopadrão, mas o termo ‘padrão’ já não existe. Amigração mexeu mais com o acadêmico quenão era padrão. A nossa preocupação era comtodos. À medida que a gente conversava, ascoisas iam se acertando. Não era só rebeldia.

– Como os professores reagiram?– Na terceira semana, quando as aulas co-

meçaram, eles levaram muito bem. A faculda-de toda levou muito bem esse processo. Mascomo eu estava mais próxima dos professo-res do jornalismo, tive essa impressão. Nóstemos um grupo fantástico, que fez debatesacalorados. Hoje a transição está mais tran-qüila.

– O que significa para a Famecos avolta do Jornalismo à direção e a primeiramulher nessa função?

– A área de Jornalismo, claro, fica superfe-liz. Porque isso corresponde a uma tradição.

Fora o professor JerônimoBraga, todos os outros dire-tores foram jornalistas e comuma atuação muito forte. Oprimeiro curso da Famecos foio Jornalismo, que começouainda no Colégio Rosário.Depois vieram os demais cur-sos. Nesses últimos sete anos,aprendi muito com o profes-sor Jerônimo e o meu novodesafio é conhecer melhor asoutras profissões aqui dentro.

– A senhora acreditaque houve uma preparaçãopor parte da direção geralpara esse processo sucessó-rio na Famecos?

– Não sei, não contavacom isso, não estava nosmeus planos. Eu tinha umapromessa para mim que nun-ca ocuparia cargo algum. Nun-ca concordei muito com as re-lações de poder. A minhairmã, que é psicóloga, me dis-se que talvez fosse uma opor-tunidade para provar que agente pode se relacionar como poder de uma maneira dife-

rente. Acho que a gente nasce para se modifi-car e não ficar baseado em certezas, e sim ques-tioná-las. Eu, particularmente, não me prepa-rei para isso. Alguns podem pensar que poreu ser vice-diretora já estava esperando, masnão. Têm vários colegas aqui tão ou mais qua-lificados. Agora, vou encarar, é claro. Não soude fugir da raia também. Mas não pretendome eternizar no cargo, até porque, quanta coi-sa vai mudar? Parece-me que a tendência sãoos processos horizontais, a descentralização, eorganizações de gestão diferentes.

– Alguns projetos já estão em vista?– O ideal seria que nós pudéssemos ditar

para o mercado algumas coisas. A Famecostem tradição de formar para o mercado e omelhor seria se nós conseguíssemos interferirmais. A Universidade agora está se voltandopara a pesquisa aplicada, que interfere na reali-dade e apresenta soluções. E isso é funda-mental. Eu visitei algumas universidades nosEstados Unidos e lá as empresas dão equipa-mentos para serem testados na academia. Omercado, às vezes, toma decisões baseado naintuição, e a pesquisa geralmente é quantitati-va e não conhece a audiência por inteiro. Oideal é começar a fazer experimentos em labo-ratórios com alunos da graduação, que elespossam testar e, ao mesmo tempo, refletirsobre isso. A proposta não é mais trabalharcom disciplinas-gavetas, mas fazer links e co-nexões entre elas, integrando as áreas. A Uni-versidade não pode estar separada da socieda-de e, muitas vezes, a única interferência que agente tem é na geração de mão-de-obra. Ouseja, é uma cultura que precisa mudar.

– Quais os primeiros passos?– Olhar dentro dos armários, conhecer o

objeto, observar e aprender. Nós temos umafaculdade muito boa, com professores exce-lentes. Precisamos conversar com as pesso-as. Ainda não tenho uma metodologia, atéporque isso se constrói quando se conhece oobjeto. A vice-direção é um outro lugar com-pletamente diferente. Eu acredito muito nocorpo-a-corpo e preciso ouvir as inquietaçõespara dar respostas. O diálogo é o início detudo.

Mágda Cunha vem do radiojornalismo, fez mestrado e doutorado

Uma mulher jornalista na direção

POR BELISA FIGUEIRÓPOR BELISA FIGUEIRÓPOR BELISA FIGUEIRÓPOR BELISA FIGUEIRÓPOR BELISA FIGUEIRÓ

Pela primeira vez na história da Famecos, uma mulher assume a direção geral. Dos53 anos do Curso de Jornalismo, apenas os últimos nove não foram comandados porjornalistas, pois Jerônimo Braga é formado em Relações Públicas. A nova diretora querimplantar uma linha horizontal, de diálogo com todos os setores. Mágda Cunha (43) seformou na Famecos em 1983. Depois, foi trabalhar da extinta Folha da Tarde, emseguida na rádio Pampa, onde começou a atuar em redação e edição de noticiários.Chegou à Radio Gaúcha em 1987, e durante oito anos esteve à frente da produção dosprogramas da emissora. Na PUCRS, começou a lecionar a cadeira de Radiojornalismoem 1986 e trabalhou ao longo de dez anos na Assessoria de Comunicação. Fez mestradoem Comunicação e doutorado em Letras, coordenou o Curso de Especialização da Famecosdurante um ano e meio. Em 1999, assumiu a coordenação de Jornalismo e, no final de2004, a vice-direção da faculdade. No último dia 9 de dezembro, recebeu outro desafio:a direção da faculdade. O segredo dessa longa trajetória é simplesmente o diálogo e oaprendizado diário. Confira:

ENTREVISTA

“Na administração,tu precisas fazer a leitura

do horizonte e ver o que épossível executar”

Nova diretora da Famecos privilegia o diálogo

ELSON SEMPÉ PEDROSO

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SETE

Horizontina. Santo Antônio da Patrulha.Pelotas. Cruz Alta. Uruguaiana. Quem traba-lha na Estação Rodoviária de Porto Alegre pre-sencia todos os dias o vaivém de pessoas que,dessas cidades ou de qualquer outro dos 497municípios do Rio Grande do Sul, estão depassagem pela Capital. Transeuntes, de todasas classes sociais, circulam nessa área que englo-ba não apenas serviços rodoviários, oferece tam-bém bancos, lanchonetes, tabacarias e diversaslojas, como as da dupla Gre-Nal.

Circulam diariamente pelos caminhos des-ta “pequena cidade” cerca de 30 mil pessoas,segundo informações da empresa administra-dora Veppo. Uma parcela embarca nos 600 ve-ículos equipados para ir e vir pelo Estado, trans-portando mais de dez milhões de habitantesde todas as regiões. Só a frota de táxis da esta-ção rodoviária é composta por 384 veículos e800 motoristas.

O taxista Valter Jacob Chimini trabalha há20 anos no local e ressalta que o movimento“sempre foi uma loucura” e aumentou de for-ma considerável nos últimos cinco anos. “Nãoconsigo entender o porquê”, pergunta-se. Paraa vendedora Santa Beatriz Dutra, há 16 anostrabalhando numa das dezenas de loja de con-veniências da rodoviária, o movimento dimi-nui um pouco no inverno e aumenta, agora,no verão. Vendendo, principalmente, garrafasd’água e refrigerantes para os viajantes, ela con-ta que, nas sextas-feiras, o número de pessoasque circula pela área é alto. “Há dias que temosde repor várias vezes o estoque”. Apesar dosdias de correria, a vendedora e o taxista gostam

da rotina de movimento e novidades. “É mui-to legal estar aqui”, diz Chimini.

Mesmo quem começou trabalhar há poucotempo gosta da “cidade”. Jairo de Lima é fiscalde ônibus há três meses e acredita serenriquecedor o contato com vários tipos depersonagens. “Apesar de, às vezes, ouvir algunsdesaforos”, ressalta. A bilheteira Noeci Bassanié funcionária da Veppo há nove anos e tam-bém pontua o convívio com os passageiros.“Muitas vezes, se faz amizade, criando víncu-los até com os apressadinhos”, brinca. Para ela,o trabalho diário no local não é rotineiro, pois“sempre acontece algo diferente”.

Causos da estaçãoQuem diariamente atende passageiros de

Porto Alegre ou do interior do Estado temsempre histórias a contar, engraçadas ou trági-cas. O taxista Valter Jacob Chimini constata que50% dos residentes do interior chegam à Capi-tal com um papel na mão dizendo o endereçoaonde querem ir. “As pessoas sabem que de-vem ir para um supermercado ou hotel, masnão sabem como chegar lá”, relata.

Um caso inusitado aconteceu com o taxista.Há mais de dez anos, um jovem e um senhorde idade embarcaram no seu táxi, com destinoao bairro Menino Deus. “O senhor, que era deHorizontina, sentou ao meu lado e conversavabastante, contando histórias, enquanto o garo-to estava quieto no banco de trás”, conta. Quan-do chegaram ao destino, o jovem não queriadescer, enquanto o outro já havia saído. Chiminilembra que “na verdade, os dois nem se conhe-ciam e o garoto falou, contrariado, ‘aquele ve-lho se meteu na minha frente e entrei de qual-

quer jeito’. O guri queria ir para a Zona Norte,então desliguei o taxímetro até chegar na meta-de do caminho para que ele não pagasse toda aviagem”.

Outra situação engraçada foi vivida pela bi-lheteira Noeci Bassani. Um vestibulando deSanto Antônio da Patrulha viajou à Capital paraprestar concurso e, quando foi pagar a viagemde volta, se deu conta de que havia esquecido acarteira com todos os documentos em casa. Paraconseguir o bilhete de partida, deixou comNoeci uma “imensa rapadura” como garantiade que voltaria para pagar a passagem. Sim, eleretornou à rodoviária, pagou a passagem e Noecidevolveu a rapadura intacta.

Algumas brigas também acontecem nos tra-jetos dos veículos. Em uma das viagens docobrador William de Castro, duas mulheres quehaviam visitado seus maridos na prisão come-çaram a se estapear dentro do ônibus. O funci-onário diz que situações como esta acontecemmesmo em viagens, “sabe-se lá o motivo”.

Um caso mais sério é relatado pelavendedora Santa Beatriz Dutra na loja em quetrabalha. Certa vez, um rapaz – de mais oumenos 25 anos –, foi trocar uma bolsa de via-gem que havia comprado, querendo a de valorbem superior ao preço pago. “Como ele disseque não pagaria a diferença, falei que não podiafazer troca”, explicou a vendedora. Quando elase virou para atender um outro freguês, o ra-paz chutou a perna de Santa. “Não deixei pormenos e bati nele também”, diverte-se lem-brando o ocorrido.

Décadas de viagensAté o final da década de 30, quando uma

pessoa desejava viajar, o transportador a reco-lhia em sua residência ou em outro lugar ondese encontrasse, o que representava perda dehoras para iniciar a viagem. Para melhor admi-nistração de tempo de viagem, Vespasiano Jú-lio Veppo e Júlio Castilhos de Azevedo resol-veram centralizar o serviço de saída e chegadade passageiros, transporte de encomendas e deemissão de passagens. O projeto resultou naprimeira estação rodoviária do Brasil, fundadaem 19 de abril de 1939, na cidade de Vacaria,interior do Rio Grande do Sul, pela tambémrecém criada empresa Veppo & Cia Ltda.

A oficialização da Estação Rodoviária de Va-caria foi aceita junto ao Departamento Autô-nomo de Estradas de Rodagem (DAER), oque possibilitou um quase imediato estabeleci-mento da Estação Rodoviária de Caxias do Sule, dois anos depois, da Estação Rodoviária dePorto Alegre. A primeira rodoviária de PortoAlegre foi instalada na antiga Praça do Coliseu,que depois passou para a Praça dos Bombeiros– atuais Praça Oswaldo Cruz e Praça Rui Bar-bosa, respectivamente. Ocorreram mais trêsmudanças de endereços até o dia 28 de junhode 1970, quando foi inaugurada a atual EstaçãoRodoviária de Porto Alegre, um projeto do De-partamento Autônomo de Estradas de Roda-gem (Daer). Na época, o prédio foi considera-do o maior e mais moderno da América doSul, sob aspectos arquitetônicos e funcionais.Hoje, enfrenta a deteriorização provocada pelogrande movimento e a polêmica por estar loca-lizada no ponto em que se cruzam as vias deescoamento, de saída e entrada de Porto Ale-gre, acessando às rodovias BR-290, BR-101, BR-386, com áreas de estacionamento deficiente.

BEM-VINDO AO VERÃO

POR MAPOR MAPOR MAPOR MAPOR MATHEUS BONEZTHEUS BONEZTHEUS BONEZTHEUS BONEZTHEUS BONEZ

Milhares seguem o caminho da rodoviáriaOs 800 taxistas garantem o vaivém diário da rodoviária de Porto Alegre e o movimento de 30 mil passageiros é constante desde 1970

O volume de chuvas será normal e ligeira-mente abaixo da média histórica, prevê o Insti-tuto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe)para o verão na região Sul do Brasil. As tempe-raturas deverão variar de normal a acima damédia, o que indica forte calor para os meses deférias e de veraneio. Os riscos de estiagem noEstado não estão afastados, especialmente emalgumas áreas como a Fronteira Oeste. Mas, amaioria dos serviços meteorológicos não pre-vê a repetição do período de seca como ocorreuno início de 2005.

As previsões do Inpe, feitas em dezembro,apontavam chuvas com índices menores doque média histórica do período, o que tambémfoi confirmado, de certa forma, pela Central deMeteorologia da Somar Meteorologia, queapontou “chuvas irregulares” nos primeirosmeses de 2006. Enquanto a população do Li-toral planeja aproveitar o período de sol e calorfreqüentando a praia, os produtores rurais dasregiões Nordeste, Centro, Fronteira Oeste e daCampanha estão preocupados com a possíveldiminuição das chuvas que pode atrapalhar aprodução, trazendo nova frustração às safrasagrícolas, principalmente, às lavouras de soja emilho.

Com muita ou pouca chuva, o certo é queverão chegou trazendo dias mais longos que asnoites e temperaturas acima dos 30 graus, con-vidativos para passeios e os contatos com a

natureza. Entretanto, o Inpe alerta que no ve-rão ocorrem mudanças rápidas nas condiçõesdiárias do tempo, levando à ocorrência de chu-vas de curta duração e forte intensidade, princi-palmente no período da tarde. “Considerandoo aumento da temperatura do ar sobre o conti-nente, estas chuvas são acompanhadas por tro-voadas e rajadas de vento, em particular nasRegiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País”.(Fonte: www.inpe.br).

Previsão de calor e pouca chuva

O lazer do porto-alegrense na beira do Guaíba, no Gasômetro

Tempo bom para o lazer

FOTOS CARLA RUAS

FOTOS NATÁLIA LEDUR ALLES

ESPECIAL Temporada de férias e calor aumentam o tradicional movimento da rodoviária neste início de 2006

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ITO

Rua Pedro Ivo, sem número, entre a SilvaJardim e a Artur Rocha, bairro Bela Vista. Nafrente, um fino restaurante italiano, Locandadi Mario. O local é úmido e escuro, mas segu-ro, aparentemente. Cobertores, bonés, pane-las e roupas estão estendidos nos galhos daárvore, estruturas da habitação. O proprietá-rio ocupa-se com atividades em outros locaisda cidade durante o dia. Ao anoitecer, nãotente abordá-lo, ele esconde sua identidade. Achuva de 65 milímetros inunda a avenidaGoethe e também encharca sua moradia. Namanhã seguinte, não sobram nada além derestos de comida. Não se tem notícias do pa-radeiro do ex-residente.

“Morar na rua é a mesma coisa que morarem qualquer lugar”, conclui J.P, 20 anos. Mis-turar o espaço da rua com o da casa cria umaforma de confusão e conflito, segundo o inte-lectual Roberto DaMatta, autor do livro Acasa e a rua. No entanto, empoleirados portodos os cantos e bairros da cidade, morado-res da rua sujam espaços, públicos e se tor-nam um incômodo para donos de estabeleci-mentos comerciais e residências. “Eles atrapa-lham, a gente já chamou a Brigada, mas elesnão vêm. Já fui agredido e ameaçado de mor-te”, reclama Ênio Capucci, porteiro na aveni-da Getúlio Vargas, esquina com a Ipiranga.

“Não podemos esquecer que a rua é olar deles, quem de nós não faz barulho den-tro de sua própria casa, não tem desaven-ças? A diferença é que eles vivenciam issono espaço público”, compara Jane CruzPrates, doutora em Serviço Social pelaPUCRS e pesquisadora do Núcleo de Estu-dos sobre População de Rua de Porto Ale-gre (NEPRPA). Ela confirma a contradiçãoda fusão desses dois espaços como DaMattae justifica a moléstia causada. “Eles sãoagressivos, furtam, brigam entre eles, e sãouma ameaça para as pessoas que vêm aquino prédio”, comprova o porteiro. As recla-mações são contínuas e nãose concentram em umazona da cidade.

Na rua Felizardo, pertoda Faculdade de EducaçãoFísica da UFRGS, bairroJardim Botânico, os novosmoradores de um prédiorecém construído convi-vem com um homem quemontou sua casa embaixo da marquise. Ta-petes no chão e flores decoram sua “casa”de um quarto e sem paredes. No mesmolugar, dorme, urina e excreta. “A falta dehigiene dele é ruim porque o cheiro forteinfesta a loja”, reclama Eneval Pereira. Ele eseu irmão, Alex, alugaram uma sala no tér-

reo onde pretendem abrir a Felizardo Sor-veteria e Revistaria, a duas portas da mora-dia improvisada.

Atravessando a rua, Adriano Citron,proprietário do minimercado Céu Azul, acre-

dita que seu vizinho tenhaproblemas mentais. Elesafirma que salvo quandotem “chiliques” é umapessoa que não faz mal al-gum. “Ele às vezes com-pra umas coisinhas aqui”,recorda.

Apesar de não alteraras vendas da sucursal da

Companhia das Pizzas na Avenida GetúlioVargas, pois a maioria dos pedidos é entre-gue em casa, Luciano dos Santos, entregadorhá seis meses da empresa, observa que ossem-tetos sempre deixam o ambiente comaspecto sujo. “Não tenho medo, mas issoaqui vira um barraco”, afirma se referindo à

desequilíbro mental: abuso de drogas oudistúrbios psicológicos”, acrescenta.

Essa característica do grupo ajuda a di-minuir a possibilidade de recuperação dosindivíduos. “A vida na rua é fumá uma pe-dra e cherá um loló”, revela uma moradoranão identificada de uma marquise na ruaPestana. Numa comunidade em que 75%faz uso diário de 1,5 litros de bebida desti-lada por dia e 60% é viciado em outra dro-ga, a realidade não poderia se diferente.

“Tô na rua porque tenho que tomá remé-dio. Usava muita maconha e cherava muitololó”, admite A.C, 24 anos. Nesses casos, aprefeitura de Porto Alegre dá auxílio paraaqueles que querem deixar as drogas. Mascom o número crescente de pedidos de aten-dimentos, não há lugar para todos nos cen-tros de reabilitação. “Tamo esperando umlugar lá no centro da Vila Cruzeiro pra parácom as drogas”, conta L.A, de 24 anos.

Homens do bemO uso contínuo e visível de narcóticos

proibidos é um “escapismo” do cenário frus-trante em que moradores de rua estão inseri-dos. Mas também é motivo para muitas “pes-soas de bem” se sentirem constrangidas e re-voltadas com a situação. “Eu tenho proble-ma de hérnia, pedi pro brigadiano me levá prohospital e ele me disse que se fosse pra eumorrê era porque tinha chegado minha hora”,reclamou J.S, 21 anos. “Não pode tratá a gen-te assim, semo cidadão. Não pode olhá pra nóssó porque somo negrãozinho e achá que somoladrão”, contesta J.S. A assistente social JaneCruz Prates acredita que na medida em queeles são expulsos dos espaços onde moram,se percebem como um incômodo para os de-mais em relação a situação em que vivem.

Com o olho roxo e balbuciando seus 13anos de idade, um garotinho mostra a atroci-dade que um policial havia feito. “Olha sócomo ele tá, isso é a lei”, diz um amigo maisvelho que recita parte de um rap de seu grupoSabedoria de Rua, “... Mas muitos com essavida começam a se revoltar, param de pedir,começam a roubar. Caem no vício do loló eda maconha...”

Futuro sem passadoApesar de 75,7% dos entrevistados na

pesquisa do Núcleo quererem sair da rua, aperspectiva de que consigam é quase nula. “Édifícil recuperar essa parcela porque as situa-ções são complexas e são resultados de pro-cessos históricos de exclusão e precarização dascondições de vida”, lembra a doutora Jane.Ela acrescenta que as políticas assistências mu-nicipais e estaduais são fragmentadas, razãopela qual perdem o alcance social e não atin-gem seu objetivo: a recolocação das pessoasna sociedade.

O município tem uma rede de albergues ecasas de tratamento de drogas, mas há insufici-ências de vagas para atender a esses 75,7%. Sobreo assunto, a Fundação de Assistência Social eComunitária (FASC) da prefeitura não se mani-festou. Silêncio provocado por questões buro-cráticas e, talvez, falta de informações.

A literatura indica que desde o século 16 oEstado vem reprimindo essa população emcasas de confinamento. No século 17, o go-verno inglês abriu as workhouses, onde os mar-ginalizados eram escravizados e tratadoscomo bichos. No terceiro milênio, a situaçãonão é muito diferente. Seguem apenas pro-gramas paliativos de assistência em albergues.Os sem-tetos continuam nas ruas das cidadesesperando por vida melhor, ou pelo menosmais digna. “Quero ser advogado. Podiaestar na faculdade, faz três anos que pareide estudar”, sonha J.P, 20 anos.

Sem-teto:o infernonos limitesda rua

movimentação provocada pelas sopas ser-vidas no prédio vizinho, na Casa EspíritaRamiro D´Avila.

A fila que se forma entre 10h e 11h30minde segunda a sábado para receber as doa-ções da Casa Espírita atrapalha o trânsitode pedestres e afugenta idosos e crianças.“Não tenho nada contra eles, mas já vi mui-tos pequenos furtos, principalmente a es-tudantes e mulheres”, atesta Alexandre Nas-cimento, há três meses companheiro deLuciano. Além disso, maltrapilhos e droga-dos ficam nas redondezas cheirando cola,loló e, muitas vezes, dizem palavrões e atébrigam entre eles.

Segundo o doutor em Psiquiatria Paulode Abreu, a única característica dessas pes-soas é a falta de vínculos familiares. A com-posição da massa excluída é bastantediversificada. Não existe um tipo, somentecasos isolados. “As pesquisas avaliaram quetodos os entrevistados tinham algum

POR FERNANDPOR FERNANDPOR FERNANDPOR FERNANDPOR FERNANDA ARECHAA ARECHAA ARECHAA ARECHAA ARECHAVVVVVALETALETALETALETALETAAAAA

Os marginalizados ainda são tratados como no século 16SOCIEDADE

“Não pode tratáa gente assim,

semo cidadão”.

NATÁLIA LEDUR ALLES

Não existe um “padrão de excluídos”, mas “casos isolados”

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hipertextoPorto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006Porto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006

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Quando o desconforto e a irritação cres-cem, a vontade de se isolar aumenta, o pensa-mento corre rápido impedindo se concentrarno que faz, a taquicardia é freqüente, as mãostremem e o suor escorre com ondas de calor efrio, preste atenção e procure ajuda médica.Esses sintomas, quando associados à náusea,diarréia, palidez e medo sem motivo podemindicar algum tipo de fobia social, como ansi-edade, depressão e síndrome do pânico, cha-mados males da modernidade.

Apesar da falta de pesquisas, os psiquia-tras constatam – pelo movimento em seusconsultórios – o crescimento no número depessoas que apresentam sintomas de proble-mas de origem psicológica como depressãoou transtornos de ansiedade. “O que maischama a atenção é o preconceito e a falta deinformação sobre o assunto. Por causa disto,a grande maioria dos portadores nem sabeque está doente”, o alerta é da psicoterapeutaSandra Adams que atribui o desconhecimen-to do problema à “mentalidade atrasada” noque diz respeito a doenças psíquicas. Algunsindivíduos acham que é “besteira” ou “fres-cura”, outros confundem com timidez ou atémesmo loucura. O portador acaba, por vezes,sendo motivo de piada por aqueles que nãoentendem a situação e isso costuma agravarmais o quadro. A médica ressalta que “é umproblema real e bastante grave, podendo terconseqüências desastrosas na vida de um in-dividuo que não busca ajuda adequada”.

Especialistas entendem que o pior pre-conceito é aquele que provém da própria pes-soa que, na melhor das hipóteses, acha desne-cessário o tratamento. “A maioria não se cons-cientiza de que possui uma doença, pensa queestá apenas trabalhando demais e rejeita qual-quer possibilidade de procurar o auxílio deum especialista”, explica a psicoterapeuta.Como não recebe atendimento médico ade-quado, o doente segue piorando dia após dia,podendo se tornar um refém dentro da pró-pria casa, preso pela moléstia que atrapalhasua vida. “Para evitar que este agravo aconteçaé preciso identificar claramente o problema e,então, buscar a cura”, enfatiza Sandra Adams.

Uma das doenças psíquicas mais comunsé a ansiedade, que pode dar origem a muitasoutras como, a fobia social e a síndrome dopânico. “O nervosismo é considerado nor-

Ansiedade, depressão e pânico socialmal quando confrontado com uma situaçãonova, mas para o ansioso isso é quase umpesadelo”, esclarece Sandra. O medo do con-tato social pode ser um obstáculo para a vidaprofissional ou afetiva da pessoa e ficar insu-portável em momentos específicos como, naexposição de um trabalho em público. Mui-tos chegam a abandonar os amigos, os estu-dos ou até mesmo o trabalho para esconder-se do conflito social e, indiretamente, da do-ença.

Como conseqüência, o paciente tende a

SAÚDE

POR RAPHAEL FERREIRAPOR RAPHAEL FERREIRAPOR RAPHAEL FERREIRAPOR RAPHAEL FERREIRAPOR RAPHAEL FERREIRA

Problemas da vida moderna agravados por falta de tratamento

Taquicardia (aceleração dosbatimentos cardíacos), palidez,tremores, vertigem, náuseas, falta dear, sudorese (transpiração em exces-so), ondas de calor ou frio e diarréia.

A depressão é mais um distúrbio psiquí-co que afeta a interação social, mas de umaforma diferente. Neste caso, os sintomas queafetam o paciente são caracterizados pela ane-donia, falta de prazer nas coisas. O depressivose culpa por todos os problemas que ocorrema sua volta, não tem interesse por nada, perdea motivação, o apetite e o desejo sexual. Desâ-nimo, baixa estima e falta de energia tomamconta de sua vida. Pode ser confundida facil-mente com tristeza, principalmente pelo fatode haver períodos de depressão intercaladoscom outros normais.

Assim como a ansiedade, a crise depressi-va geralmente ocorre sem motivo, indepen-dente de fatores externos. Muitas vezes, é pro-vocada por repetidas experiências de fracasso,gerando uma espécie de trauma. A falta deuma figura paterna, assim a insuficiente pre-sença da mãe durante a infância também po-

desenvolver os “transtornos de ansiedade”,doenças mais específicas que consistem emuma espécie de evolução de uma determina-da característica do mal. O mais comum é asíndrome do pânico, quando a pessoa temcrises de pânico e é atingida pelos sintomasda ansiedade. A psicoterapeuta acrescenta quealguns não conseguem comer, andar de carroou mesmo ter relações sexuais. “Vale lembrarque isso é, na verdade, um padrão de defesado organismo. Portanto, qualquer pessoapode ter uma crise em uma situação especial-

mente traumática”, admite. No entanto passaa ser considerada patológica quando ocorre semqualquer motivo aparente. Nestes casos, o sis-tema orgânico de proteção é disparado poruma falha na produção de serotonina.

Outro transtorno encontrado é a fobia so-cial, que consiste em um medo quase incon-trolável de exposição ao fracasso, combinadoà sensação de absoluta rejeição ao convívio so-cial. De modo semelhante à síndrome do pâ-nico, o confronto com esses medos faz de-sencadear os mesmos sintomas fisiológicosque caracterizam a ansiedade. O que a diferen-cia das outras variações são os momentos emque se manifesta, situações em que a pessoa éobservada como em reuniões, discussões, ouaté assinatura de algum documento ou che-que. O portador teme enrubescer, gaguejar oufalar besteira diante de todos e, por isso, mui-tas vezes prefere evitar esse tipo de ocasião. Deacordo com o depoimento de uma jovem ví-tima da fobia, as apresentações em públicosão especialmente traumáticas e para evitá-lasalguns chegam a abandonar seus compromis-sos. “Tive que entregar um trabalho na facul-dade há alguns anos e pensei até em tirar zeroe deixar pra lá”, revela.

Todos estes problemas costumam ter suasorigens nos genes ou nas primeiras experiên-cias de vida. Algumas pessoas nascem compredisposição genética para a doença, em geralna forma de uma falha entre as ligações neu-rais e, como conseqüência, têm tendência a so-frer desta síndrome, independente dos acon-tecimentos vivenciados por elas, explica San-dra Adams. Outras sofreram algum tipo detrauma na primeira infância que ocasionouexcesso de defesa por parte do subconscienteque busca proteger-se de situações semelhan-tes. Ou tiveram simplesmente pais insegurosque não sabiam lidar com o filho e acabaramtransmitindo o medo de errar. “Então, a cri-ança cresce e desenvolve a personalidade ten-do por base esse temor que a acompanha des-de o nascimento”, observa a terapeuta.

dem provocar futuras crises. “Como se vê, otratamento recebido dos pais nos primeirosanos de vida tem uma significativa influênciano quadro psicológico da criança e reflexos nasua vida adulta”, sublinha psicoterapeuta San-dra Adams.

Embora não seja fácil, todas essas doen-ças têm tratamento para, ao menos, seremsuperadas. Segundo a psicoterapeuta, atual-mente existem dois caminhos de tratamentopara as doenças: o primeiro é o medicamen-toso, o segundo é o psicoterapêutico. Os re-médios mais usados são os antidepressivos,que variam de tipo de acordo com o caso dopaciente. Devido ao fato de impedirem o pro-cesso entrópico da serotonina no organismo,os antidepressivos possuem funcionamentoespecial com relação à síndrome do pânico.Porém, alguns dos ansiolíticos clássicos comoos benzodiazepínicos podem causar depen-

dência química. Para os outros problemas, émais efetiva a opção psiquiátrica, que por suavez se divide em dois tipos: a terapia analíticae a terapia comportamental cognitiva (TCC).A via analítica consiste em buscar as causas doproblema, para então tentar desenvolver osnúcleos de personalidades “atrofiados”. Deforma diversa, a TCC visa um confronto en-tre o portador e os seus medos, para que as-sim estes últimos possam ser enfraquecidosou, se for possível, totalmente superados.

Sandra explica a natureza das doençascomparando-as a um espectro, uma escalaonde de um lado estão a tristeza e o nervosis-mo naturais e do outro, respectivamente, adepressão e a ansiedade patológicos. Por meiode tratamento adequado, seja por medicamen-tos ou terapia, o doente pode atravessar esteespectro e chegar ao seu principal objetivo:uma vida “normal”.

A sociedade virtual mais famosa do mun-do nos últimos anos está servindo de apoiopara muitos portadores de problemas psíqui-cos. No Orkut já foram criadas diversas co-munidades relacionadas à síndrome do pâni-co, fobia social etc. Nelas os portadores falamde seus medos, trocam experiências entre si,recomendam remédios uns aos outros e con-sultas aos especialistas que fazem parte de al-gumas comunidades virtuais. “A verdade éque, por não terem contato direto entre si, aspessoas conseguem falar com maior facilida-de dos problemas psicológicos e se sentem àvontade para interagir. Além de trocar infor-mações com indivíduos solidários nos pro-blemas e temores, eles têm a possibilidade deensaiar um contato social com o mundo queos cerca, o que pode facilitar as futuras intera-ções reais diante de pessoas fisicamente próxi-mas”, conclui Sandra Adams.

Síndrome provoca perda de motivação e falta de prazer

SINTOMAS FÍSICOS

NATÁLIA LEDUR ALLES

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PPPPPorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiroorto Alegre, janeiro-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006-fevereiro de 2006hipertextoD

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Freqüentar o Clube de Cinema de Porto Ale-gre para assistir e debater os filmes lá projetadosera uma condição essencial para quem pretendiase especializar nessa área. Por algumas décadas(dos anos 50 aos 90), os cinéfitos porto-alegrenses se encontram nesse ponto cult dePorto Alegre. “A função social, cultural e educa-dora do cineclubismo não existe mais”, diz ajornalista, crítica e pesquisadora FatimarleiLunardelli. Hoje, o Clube de Cinema é umacomunidade que reúne apreciadores de filmes.

Fundado em 1948, o Clube do Cinema dePorto Alegre ainda mantêm suas atividades. Oatual presidente e funcionário da Caixa Federal,Paulo Daisson Gregório Casa Nova, 40 anos,afirma que qualquer ato cineclubista é funda-mental para a formação, educação e maturaçãodo ser humano. Para professora da UFRGS,pesquisadora, ex-cineclubista e autora do livroQuando éramos Jovens – História do Clube de Cinemade Porto Alegre, Fatimarlei Lunardelli, esse “ato”hoje tem espírito agregador. “A função social ecultural do cineclubismo não existe mais. Hoje,o Clube do Cinema é uma comunidade de pes-soas que se identificam por gostarem de verfilmes”.

Formado em administração de empresas,ex-ator de teatro e diretor social do Clube doCinema, João Pedro dos Santos Fleck, 23 anos,faz valer a constatação da autora: “É uma ativi-dade importante na minha vida, pois não con-seguiria viver sem cinema. Foi no Clube queencontrei pessoas com a mesma paixão, e issopara mim não tem um valor estimado”. Fleckacredita que o papel do cineclubismo é aproxi-mar e também educar as pessoas para o cinema.“Serve para uma melhor apreciação cinemato-gráfica. É importante no resgate de algumasobras e do ineditismo. São filmes que o públicoacaba não vendo por preconceito. Procuramosincentivar as pessoas para que assistam aos fil-mes e repassem sua opinião adiante. Uma denossas funções é a de colaborar com a formaçãode opinião.”

O funcionário público do DepartamentoMunicipal de Água e Esgoto (Dmae) e vice-presidente do Clube, André Luis NunesKleinert, 32 anos, enfatiza a função educadora.“A importância é de promover uma discussão,um debate. Estabelecer uma relação do filmecom o movimento, com o diretor, e não sópassar o filme. Se fosse esse o objetivo seria umClube de desconto”. Ele também comprova aquestão integradora ao relembrar o momentoem que recebeu convite para integrar o Clube.“Sabia que o pessoal reunia-se para ver filmes.Então, pensei comigo: se tem gente que gostade cinema, vou conversar com elas”. Para o pro-fessor aposentado, artista plástico e veterano noClube, Sílvio Jantzen, 76 anos, a “instituição”está se renovando. “Pessoas com novas idéiasestão entrando, estimulando o gosto pelo cine-ma. O lamentável ainda são as reações das dis-tribuidoras que não vêem o Clube como aliadopara seu lucro”, queixa-se.

A relação das distribuidoras com o Clubede Cinema já teve laços mais estreitos, segundoFatimarlei. “Antes fornecer filmes para o Clubeera rentável, pois sempre eram publicados nosjornais aqueles que tinham contribuído para aexibição. Hoje, como a cultura de acesso aosfilmes está instalada e garantida por vários seg-

História do impulsionador de cultura dos anos 50 aos 90

Clube de Cinema há 57 anosreúne apaixonados por filme

mentos da sociedade, ao contrário da época queo Clube era o único meio que se tinha para veralguns filmes, as distribuidoras têm um merca-do mais amplo e lucrativo. Portanto, se elas con-tinuam a fornecer filmes para o Clube é por umvínculo puramente histórico”. Soma-se a isso, agrande facilidade para conseguir filmes atravésdo DVD, o que possibilitou o ressurgimentodo cineclubismo. “Nos anos 80 e 90, oscineclubes praticamente acabaram com a chega-da do vídeocassete no mercado. Ficou difícil fi-nanceiramente para muitos grupos sustentar aantiga tradição de exibição de filmes em película,em salas de cinema. Com o DVD e até com apirataria, é fácil conseguir diversas obras por umpreço mais razoável”, argumenta Fatimarlei.

O inovador GastalAo relembrar os anos 70, a jornalista resgata a

época do cineclubismo militante, de resistênciacultural, que fazia sessões em sindicatos e associa-ções para promover o debate do cinema, com umviés mais político. Nesse período, certas obras, quenão entravam no circuito comercial, eramconseguidas por meio de redes culturais e repre-sentações diplomáticas. A proposta do Clube deCinema foi inovadora na opinião de Silvio Jantzen.Quando ele começou, conheceu o jornalista e crí-tico de cinema Paulo Fontoura Gastal que era ogrande articulador do Clube.

Gastal, jornalista do antigo Correio do Povoe da Folha da Tarde, queria que o Clube estimulas-se o conhecimento de cinema e melhorasse a pro-dução desta arte no Brasil. Isso impulsionou ocrescimento cultural do estado. As principais figu-

ras culturais de Porto Alegre participavam. Des-ta forma, “o Clube tinha uma função social, e oGastal sempre esteve à frente disso tudo”, des-taca Jantzen.

A pesquisadora Fatimarlei assinala que P. F.Gastal (como assinava suas críticas culturais noCorreio) pretendia disseminar a valorização docinema como arte, além de ser um grande de-fensor do cinema nacional. “Gastal incentivouvários a trabalhar com cinema. E auxiliou naformação cinematográfica na maioria dos quepassaram pelo Clube, como eu”. Outro queteve a oportunidade de conviver com Gastal foio jornalista, crítico de cinema e há anos progra-mador do Clube de Cinema, Hiron Goidanich:“Todo mundo que o conheceu, ou fez parte dacomissão organizadora do festival de Grama-do, ou ainda esteve comprometido com festi-vais. Muitos grandes escritores e profissionaisdo cinema tiveram a contribuição do Gastal,pois ele era um agregador de cultura”. Goidacita ainda as opiniões fortes e, às vezes, umtanto autoritárias do antigo “patrão”, comogosta de se referir, quanto aos filmes norte-ame-ricanos. “Na visão de Gastal, produções diver-tidas como musicais não eram filmes para oClube do Cinema. Mesmo recebendo o Oscar,sendo dos EUA, jamais passaria no Clube”.Goida enfatiza que o cineclube deve ser aberto aqualquer tipo de filme. “As pessoas só podemtirar alguma conclusão”, pondera, “se assisti-rem aos filmes. E a nossa intenção é abrir men-tes para a apreciação e o gostar de ver filmes”.

Anos de repressãoO período de censura política (década de

70), dificultou as atividades do Clube comoconta Goida: “Alguns colegas eram encarrega-dos de aprovar os filmes na censura”. Docu-mentos tinham de ser preenchidos para a libe-ração prévia das sessões, conforme a antiga leida Superintendência Regional da Divisão deCensura de Diversões Públicas, do Departamen-to de Polícia Federal do Ministério da Justiça.No caso de filmes comerciais, a burocracia erafacilitada pelo certificado que vinha dentro dalata, acompanhando a cópia em circulação, for-necido pela Divisão de Censura de DiversõesPúblicas de Brasília. De acordo com Jantzen,os militares achavam que era uma instituiçãosubversiva. “Na verdade, era democrático e afavor do pensamento livre”.

Ao recordar a infância, Hiron Goidanich,o Goida, lembra da diversão de ir ao cinema.“Gostávamos de quadrinhos, de música, e ocinema reunia tudo isso”. Lembra que nãoera o único na família a apreciar essa arte.“Quarta-feira íamos todos à sessão. Minhamãe chegou a me dar um caderno, desses deconta de supermercado, para eu anotar os fil-mes que assistia”.

O diretor social do Clube de Cinema dePorto Alegre, João Pedro Fleck, revela que viuo primeiro filme, Mestres do Universo, em 1987,aos quatro anos. Nessa época, ia mensalmen-te ao cinema com os irmãos. Ao completarsete anos, a família comprou o primeirovideocassete. “Comecei a assistir um filme pordia”, enfatiza, “todos os dias”. Em 1993, já iasozinho ao cinema. Com 11 anos, passou a irsemanalmente e hoje vai, pelo menos, trêsou quatro vezes por semana. “Como vocêpode ver, eu e o cinema nos tornamosinseparáveis. Diversas vezes, fiz maratonas decinco ou mais filmes em um dia”.

O artista plástico Silvio Jantzen queria atodo custo ingressar no Clube nos anos 60.“Eu insisti com o Gastal e ele aceitou, estou

Culto à arte ganha novas tecnologiasaté hoje”. O ingresso de André Kleinert no Clu-be começou em janeiro de 2004. “Eu estava naInternet procurando informações de um dosmeus filmes favoritos, O Pagamento Final, deBrian de Palma. Um rapaz ficou impressiona-do pelo meu gosto e começamos a conversar.No final, ele disse que era da diretoria e meconvidou para entrar no Clube. Eu aceitei. Hojesou o vice-presidente e tenho a função dementor, de promover atividades, debates e daruma visão futura da entidade.”

Situação atualApós anos de história, os organizadores do

Clube acreditam que ainda existam avanços aserem concretizados. Paulo Casa Nova anunciao reposicionamento no mercado distribuidor,o que irá mudar radicalmente a produção e exi-bição de filmes. “A própria palavra filme serátornada obsoleta pela tecnologia digital.Estamos no primeiro quarto de uma gestãoque pretende ter um sítio na Internet bem comouma sede real para o acervo dos associados”.Na visão do diretor social Fleck, as sessões emDVD proporcionaram bons resultados, pois aqualidade permitiu recuperar muita coisa. “Um

ponto positivo é a diversificação de filmesque temos apresentado. A realização do IFestival de Cinema Fantástico era vista comoimpossível, tanto pela dificuldade de acessoaos filmes, quanto pelo desprezo do públi-co. Ao atingirmos um público considerável(de 1.100 pessoas), na primeira edição, comum capital pequeno, faz com que tenha sidoum sucesso grande.”

Ele ainda acrescenta a participação dossócios do clube nos festivais de Gramado eMontevidéu, que se intensifica a cada ano. Assessões extras realizadas mensalmente naSociedade Germânia, na Livraria Cultura e aparticipação do Clube em mostras e festivaisde Porto Alegre. Entre os objetivos a seremalcançados, Fleck acredita que há um proble-ma de “gestão de marca” com o nome Clubede Cinema de Porto Alegre. “A maioria daspessoas o desconhece. Quem conhece o vêcomo clube de pessoas acima de 60 anos, quese reunem para ver filmes há mais de 40, e sóisso não é verdadeiro”. A equipe ainda querconstruir uma Cinemateca do Clube de Ci-nema, a fim de disponibilizar filmes e mate-rial de leitura.

CULTURA

ALESSANDRA BRITESALESSANDRA BRITESALESSANDRA BRITESALESSANDRA BRITESALESSANDRA BRITES

Cinéfilos ainda buscam sede própria e melhor reconhecimento do grande público

CARLA RUAS

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Um dos maiores filósofos do século 20,exemplo de intelectual engajado e inspiradorda rebeldia juvenil que marcou a década de 60.As características não deixam dúvidas de quese trata de Jean-Paul Sartre, o “guru” doexistencialismo, corrente filosófica que surgiuna Europa, após a 2ª Guerra Mundial, influ-enciando o comportamento de uma geraçãoque se perguntava sobre o sentido da vida e aimportância da liberdade. “A existência prece-de a essência” é uma das frases célebres deSartre, que participou da fundação de dois jor-nais de esquerda: L´Humanité, hoje só comedição on line, vinculado ao Partido Comu-nista francês, e Liberation, cooperativa de jor-nalistas e intelectuais, surgido durante o le-vante dos jovens em Paris, em 1968.

Nascido em 21 de junho de 1905, Jean-Paul Sartre, um dos filósofos de maior noto-riedade de todos os tempos, se tornou céle-bre a partir da segunda metade da década de40 até o início dos anos 70. Ele escreveu ro-mances, peças de teatro, roteiros para cinema,textos de intervenção política, entre outros.No século 20, foi o exemplo de intelectualengajado, utilizando sua autoridade intelec-tual como instrumento para agir sobre seutempo. Além de ter contribuído para as mu-danças de comportamento ocorridas na se-gunda metade desse século, tornou-se o mai-or expoente da corrente filosófica conhecidacomo existencialismo, argumenta o doutor eprofessor de Filosofia do Departamento deEstudos Básicos na Faculdade de Educaçãoda Universidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS), Luiz Carlos Bombassaro.

Ao final da 2ª Guerra Mundial, em 1945,surgiu a chamada moda existencialista naEuropa. Dizer-se “existencialista” era sinôni-mo de adotar uma “atitude”. Implicava algode provocador e escandaloso, como se a pes-soa fosse rebelde e indisciplinada. Portanto,essa atitude foi adotada principalmente porjovens, como se fosse uma marca daquela ge-

Sartre se utilizou da mídia para divulgar o Existencialismo

“A existência precede a essência”

ração. Na mídia, em geral, costuma-se associaro existencialismo aos movimentos de mu-dança de comportamento que se seguiram,como o beat nos anos 50, o hippie nos anos60, entre outros. Quando acabava de comple-tar 40 anos, em setembro de 1945, Sartre tor-nou-se o “guru” do existencialismo.

Luiz Carlos Bombassaro, autor de livroscomo As fronteiras da epistemologia (Vozes),Ciência e mudança conceitual (Edipucrs), entreoutros, considera Sartre um dos maiores filó-sofos do século 20. Isso se deve a três moti-vos: primeiro, por causa da sua atitude diantedo mundo e da vida; segundo, pelos temasque transformou em questões filosóficas; ter-ceiro, pelo estilo e pela força reflexiva de seustextos literários e filosóficos. “Ao perguntarradicalmente pelo sentido da existência e dafinitude humanas, Sartre mostrou que a filo-sofia está vinculada à vida. Ou, então, ela nãotem nenhuma razão de ser. Pensar a vida e

MEMÓRIA

POR LETÍCIA BERNARDINOPOR LETÍCIA BERNARDINOPOR LETÍCIA BERNARDINOPOR LETÍCIA BERNARDINOPOR LETÍCIA BERNARDINO

viver o pensamento, isso é o que faz de Sartreum autor universal”, diz.

Sartre transformou o ato de filosofar numautêntico ato político, sendo a liberdade otema central de seus livros, comenta o profes-sor e doutor em Filosofia. “Não há como aspessoas se sentirem desobrigadas de assumiruma atitude diante do mundo, pois escolhe-mos, mesmo quando nossa decisão é a denão escolher, agimos mesmo quando decidi-mos por não agir, e assim por diante”.

O existencialismo esteve muito distantede uma filosofia acadêmica, que, na maioriadas vezes, não tem relação com os problemasconcretos do homem, como medos, angústi-as, entre outros. “Em tempos fortementemarcados pela guerra e seus nefastos efeitos,o existencialismo mostrou-se como uma ver-dadeira trincheira intelectual, inconformada eresistente à colonização do mundo e da vidapelo sistema”, comenta Bombassaro. O de-

senvolvimento do existencialismo foi favore-cido pela expansão dos meios de comunica-ção de massa. Sartre talvez tenha sido um dosprimeiros filósofos a usar intensivamente amídia o que, é provavel, facilitou a adesão demuitas pessoas, inclusive intelectuais. Sua pro-ximidade com o movimento feminista tam-bém foi de grande importância, pois, junta-mente com sua companheira, a escritora fe-minista Simone de Beauvoir, permitiu a pro-pagação de suas idéias.

A partir da célebre frase “A existência pre-cede a essência”, Sartre propõe que o homemé, antes de tudo, livre, pois não há destino. Amoral tradicional, baseada nos preceitos cris-tãos, não tem fundamento para essa correntefilosófica. “Enquanto Marx buscava compre-ender as estruturas econômicas da vida social,Freud as estruturas profundas da personali-dade e Heidegger preocupava-se com umaontologia fundamental, as reflexões mais de-cisivas de Sartre, no entanto, estão estreita-mente vinculadas à filosofia do sujeito, ondea ação e o engajamento desempenham umpapel relevante”, destaca o professor daUFRGS.

No Brasil, o existencialismo também es-teve presente nas obras de vários escritores,artistas e intelectuais. Para Bombassaro, asprincipais alterações comportamentais na so-ciedade brasileira, a partir dessa corrente, fo-ram a mudança de atitude em relação à autori-dade, o questionamento radical sobre o siste-ma totalitário, temas sempre presentes na obrade Sartre, mas que, de certo modo, ultrapassa-ram os limites do próprio pensamentoexistencialista.

A importância de Sartre está vinculada àproximidade de sua filosofia ao mundo coti-diano, retratando os problemas das pessoasde uma forma concreta, distanciando-se deuma visão acadêmica. Ele será sempre lem-brado por ter sido um intelectual preocupadocom as questões sociais, posicionando-se di-ante de problemas como o preconceito, a in-tolerância e totalitarismo.

Jean-Paul Sartre fez da reflexão filosófica um ato político

A DESPEDIDA DO CRÍTICO OFICIAL DA LITERATURA GAÚCHA

Os escritores do Rio Grande do Sulficaram órfãos do crítico verdadeiro eem alguns momentos desconcertantePaulo Hecker Filho. “Era sincero, vaifazer falta”, avalia o escritor e jornalistaJuremir Machado da Silva ao tomar co-nhecimento da sua morte. Nascido emPorto Alegre, a 12 de junho de1926,iniciou sua carreira literária em 1949,publicando Diário. Crítico contumaz ecombatível, rastreava tudo e dava suaopinião sobre qualquer obra publicada.Morreu aos 78 anos, em sua casa, nodia 12 de dezembro de 2005, em decor-rência de um acidente vascular.

“Ler foi a atividade fundamental nasua vida”, analisa Juremir. “Recebi mui-tas cartas do Paulo Hecker, elogiando ecriticando meus livros”, conta. Exem-plar no ofício, representava a velha es-cola de nomes como Otto Maria Car-

peaux e Álvaro Lins, críticos impiedosose eruditos que escreviam de forma acessí-vel e jornalística.

“Era o Mário de Andrade dos Pam-pas”, compara o escritor e amigo PauloBentancur, radicado no Rio de Janeiro,em entrevista por telefone ao Hipertexto.Ele tinha o hábito de enviar uma cartadatilografada e assinada para todo autorque lançasse um livro.

Isso era visto por muitos como ana-crônico, assim como sua forma tradicio-nal de avaliar as obras era questionadaprincipalmente por autores que recebiamcríticas negativas através das famosas car-tinhas.

Segundo Juremir, Hecker Filho escre-via sem medo contra tudo e contra to-dos, fazendo a linha de maldito. “Tinhaopiniões frontais e isso pode ter causadocerta segregação”, diz. Morreu em ativi-dade plena. Sua derradeira crítica literáriaestá publicada na revista Aplauso nº 70,

na qual analisa o recente livro Quatro Ne-gros, do escritor Luis Augusto Fischer .“Ele morreu como era, combatendo. Co-brou do Fischer seu talento de ensaísta ede mim cobrava a função de jornalista.Foi bom poeta e um crítico no bom sen-tido da palavra”, avalia Juremir.

O discípuloPaulo Bentancur herdou a biblioteca

de Hecker Filho por conta de uma amiza-de que durou 31 anos. Recebeu mais deduas mil cartas do crítico. Para muitosescritores, representou a crítica mais ofi-cial, pelo diálogo direto que estabeleciacom os autores através das cartas.

PHF publicou 30 livros de poesia, 10livros de crítica e teve um fascículo dedi-cado a sua obra na série Autores Gaú-chos. Sua fase de maior produção abran-ge as décadas de 50, 60 e 70. Seu vastoconhecimento e cultura davam legitimi-dade ao seu trabalho.

ARQUIVO EDITORA ALCANCE

Hecker Filho morreu em dezembro

POR FABIANA KLEINPOR FABIANA KLEINPOR FABIANA KLEINPOR FABIANA KLEINPOR FABIANA KLEIN

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Paulo Hecker Filho (1926-2005)

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OZE

PONTO FINAL

Situada no coração da Europa, Hannovertem muito a oferecer principalmente aos tu-ristas. A cidade das grandes feiras e eventospromete momentos inesquecíveis e surpre-ende com os jardins reais de Herrenhausen.Em estilos barrocos, constituem, junto à grutadecorada pela artista americana de sangue no-bre francês, Niki de Saint Phalle, uma atraçãode renome mundial, que chega a receber anu-almente cerca de 400 mil visitantes. Aquelesque gostam de comprar encontrarão, numadas maiores zonas de pedestres da Alema-nha, ótimas ofertas e momentos de lazer. Acapital da Baixa Saxônia tem curtas distânciase uma natureza incrível. Pode-se optar entreum concerto ao ar livre ou na renomada óperada cidade – construída entre 1845 e 1852 – ou,talvez, por um passeio agradável e tranqüilopela parte velha da cidade.

Hannover deve sua jóia mais preciosa aSophie von der Pfalz, Princesa de Hannover.Ela construiu, desde 1662 até 1714, ano desua morte, os famosos jardins barrocos emHerrenhausen. Em encontro com o rei Lu-dwig XVI, em Versailes (França), relatam re-vistas da cidade, ela se impressionou tantocom os jardins do palácio que, ao regressar àsua terra natal, mandou construir um seme-lhante de 50 hectares de extensão, seguindo oestilo do jardim francês. “O jardim de Herre-nhausen é minha vida”, escreveu Sophie a umasobrinha. Para turistas, um colírio refrescanteaos olhos. As ornamentações, o colorido e oaroma das flores encantam, assim como asdezenas de estátuas e o espetáculo das águasda fonte, que com mais de 70 metros de altu-ra, é uma das mais altas da Europa.

Nesse local, está situada também, desdemaio de 2003, a famosa gruta de Niki de SaintPhalle. Ela transformou em obra única e in-confundível a velha gruta, de 325 anos, locali-zada no jardim barroco. Mosaicos compos-tos de espelhos, vidros coloridos e cascalhosse unem dando aos visitantes uma sensaçãofascinante: mais de cem figuras de poliésterdemonstram a maneira de Niki encarar a vida,a morte e a espiritualidade. A constante mu-dança de luzes e cores gera uma sensação es-pecial, produzindo efeito místico que impres-siona crianças e adultos. Além da gruta, a ar-tista deixou nas ruas de Hannover as figurasdas três “Nanas” – esculturas grandes em for-ma de mulheres gordas e coloridas instaladasnas margens do rio Leine –, as quais são, hoje,símbolos da cidade.

A linha vermelhaA rua comercial Niki-de-Saint-Phalle – em

homenagem à artista, denominada cidadã dehonra da cidade – e a passagem do Kröpcke,área localizada nos arredores da Ópera, ofere-cem uma grande variação de moda exclusiva,joalherias, pratarias e porcelanas. Restauran-tes renomados convidam para uma visita.Também é um prazer andar pelas lojas situa-das ao redor da Marktkirche (igreja da matriz).Na parte antiga, turistas são rapidamente cati-vados pela atmosfera especial causada pelosprédios pitorescos, fielmente reconstruídosapós a Segunda Guerra. Cafés e bares, buti-

ques elegantes, galerias e pequenas lojas espe-cializadas dão às ruas um charme especial.

Soma-se a isso a beleza das construçõesda Welfenschloss (antigo castelo da família realtransformado agora em universidade) e daRathaus (prefeitura da cidade, construída de1901 a 1913), ambas cercadas por gramadosenormes, repletos de plantas e de ar puro. Aalguns poucos metros da prefeitura está loca-lizado também o Maschesee, lago gigantesco,cercado de muitas árvores, que Adolf Hitlermandou construir na época em que coman-

dava a Alemanha. Por todos esses locais épossível encontrar uma linha vermelha (rotefaden) pintada sobre as calçadas. Embora emalgumas partes ao longo do trajeto essa linhaesteja quase apagada, ela tem o objetivo situaros visitantes e ajudá-los a não perder a orien-tação, acompanhando, por cerca de quatroquilômetros, os principais pontos turísticos.

A cidade, de rendimento bruto de 60 bi-lhões de euros, um dos mais expressivos daAlemanha, é sede da Volkswagen. Com cercade 15 mil funcionários, tornou-se a maior

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CONEXÃOALEMANHA

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Passados três séculos, Sophie continuaviva nos jardins reais de Herrenhausen

empregadora da região. Em março, é palco damaior feira internacional de tecnologia da in-formação, telecomunicações, software e servi-ços – a conhecida Cebit . “A cidade do verde”– em decorrência dos jardins, parques e dafloresta Eilenride, que atravessa toda sua área– era apenas ruínas no término da 2° GuerraMundial. Embora nem todos os prédios his-tóricos tenham sido reconstruídos, o gover-no pretende fazê-lo. Junto ao resgate do pas-sado surgem construções modernas, com ar-quitetura radical.

POR TAPOR TAPOR TAPOR TAPOR TATIANA FELDENSTIANA FELDENSTIANA FELDENSTIANA FELDENSTIANA FELDENSCORRESPONDENTECORRESPONDENTECORRESPONDENTECORRESPONDENTECORRESPONDENTE

Sophie von der Pfalz, Princesa de Hannover, mandou cultivar os jardins de 1662 a 1714, mantidos até hoje

A face bucólica de Hannover, a cidade da Volkswagen

TATIANA FELDENS