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Posso Ter Alegria Em Minha Vida - R. C. Sproul

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  • Posso teralegria em

    Minha Vida?

  • R.C. Sproul

    No. 11

    Q U E S T E SC R U C I A I S

    Posso teralegria em

    Minha Vida?

  • Caixa Postal 1601CEP 12230-971

    So Jos dos Campos-SPPABX.: (12) 3919-9999

    www.editorafiel.com.br

    Posso ter alegria em minha vida? Traduzido do original em inglsCan I have joy in my life?, por R. C. SproulCopyright 2012 by R. C. Sproul

    Publicado por Reformation Trust Publishing a division of Ligonier Ministries 400 Technology Park, Lake Mary, FL 32746

    Copyright2013 Editora FIEL. 1 Edio em Portugus 20131 Reimpresso 2014

    Todos os direitos em lngua portuguesa reservados por Editora Fiel da Misso Evanglica LiterriaProibida a reproduo deste livro por quaisquer meios, sem a permisso escrita dos editores, salvo em breves citaes, com indicao da fonte.

    Diretor: James Richard Denham III.Editor: Tiago J. Santos FilhoTraduo: Francisco Wellington FerreiraReviso: Elaine Regina Oliveira dos SantosDiagramao: Rubner DuraisCapa: Gearbox StudiosISBN: 978-85-8132-154-7

  • Sumrio Palavra Introdutria ......................................7

    1 No se Preocupe, Seja Alegre .........................11

    2 Motivo de Toda Alegria .................................23

    3 Como Entender a Alegria? ..............................35

    4 A Maior Alegria .............................................47

    5 Plenitude de Alegria ......................................59

  • A busca pela felicidade

    Pa lav r a I n t r odu t r i a

    VOC FEL I Z?Aristteles, filsofo grego da antiguidade, afir-

    mou que Todos os homens aspiram vida feliz e felicidade, esta uma coisa manifesta. Blaise Pascal, filsofo e matemtico francs do sculo XVII, concor-dou com essa afirmao ao dizer: Todos os homens procuram ser felizes. Isso no tem exceo, por mais diferentes que sejam os meios empregados. o moti-vo de todas as aes, de todos os homens, at daqueles que vo se enforcar. Machado de Assis, jornalista e

  • 8 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    literata brasileiro do sculo XIX, fala do homem que busca a quimera da felicidade. O famoso documen-to de Declarao de Independncia dos Estados Uni-dos da Amrica (1776) fala da felicidade como direito fundamental: todos os homens so criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienveis, que entre estes esto a vida, a liberdade e a busca da felicidade. No Brasil, a emenda Constituio n 19, de 2010, proposta pelo senado, visa alterar o artigo 6 para incluir a busca da felicidade por cada indivduo e pela sociedade.

    Alguns falam da felicidade como um momen-to ou momentos. Outros diro que preciso cons-tru-la ou conquist-la. O fato que todo ser huma-no est envolvido na busca pela felicidade. Seja por um esforo consciente, direto e intencional ou de modo indireto e mais subjetivo, buscar um estado de felicidade e alegria uma finalidade intrnseca humanidade. A felicidade a grande aspirao do ser humano.

    A Bblia fala de felicidade. Fala de alegria ver-dadeira, plena, duradoura e de como alcan-la. Na verdade, a Bblia concorda com toda a noo de que

  • A Busca pela Felicidade | 9

    o homem foi feito para ser feliz e de que ele deve mesmo buscar a felicidade. O escritor cristo C. S. Lewis dir que o problema do homem no a busca pela felicidade, mas o fato dele busc-la nos lugares errados e de se contentar com pouco, muito pouco. A Bblia ensina que Deus criou o homem para ser feliz e que essa felicidade estava ligada ao relacionamento de Deus com a humanidade. Esse relacionamento foi rompido. O homem no quis saber de Deus e se afastou dele em rebeldia. Ele quis independncia de Deus e achou que seria feliz, mas perdeu a felicidade.

    No entanto, Deus, em bondade e amor, a ofe-rece de volta humanidade. Ele a oferece em seu Filho, Jesus. Cristo fez, em sua vida e morte, a re-conciliao entre Deus e os homens e devolveu a verdadeira felicidade a todo aquele que confia sua vida a ele. Isso envolve se arrepender de seus pe-cados e crer em Cristo. Se arrepender de pecados passar a v-los como eles realmente so: prticas e pensamentos que transgridem a lei de Deus e resul-tam em afastamento dele. Crer em Jesus confiar nele, confiar que ele quem diz ser o Deus encar-nado, Salvador e Senhor e que s ele capaz de

  • 10 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    fazer o que prometeu aproxim-lo de Deus e lhe dar vida abundante, plena de felicidade.

    Nesse livro, temos um pequeno manual da fe-licidade. O Dr. R. C. Sproul mostra que a Bblia sa-grada chama todos os homens e mulheres a serem felizes. Voc o recebeu num contexto festivo, que a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. certo que voc est em busca de uma experincia marcante de alegria, diverso e felicidade. Ento dedique um tempo para ler esse livro. Ele te ajudar a responder a pergunta que abre essa introduo: voc feliz?

    Ministrio Fiel e Ministrio Ligonier

  • No se PreocuPe,seja alegre

    Cap t u l o Um

    A palavra alegria aparece muitas vezes nas Escritu-ras. Por exemplo, os Salmos esto cheios de re-ferncias alegria. Os salmistas escreveram: Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela ma-nh (Sl 30.5b) e: Celebrai com jbilo ao Senhor, todos os confins da terra (Sl 98.4). De modo seme-lhante, no Novo Testamento lemos que a alegria um fruto do Esprito Santo, e isso significa que a alegria uma virtude crist. luz desta nfase bblica, precisa-mos entender o que a alegria e busc-la.

  • 12 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    s vezes, temos dificuldade para compreender o conceito bblico de alegria, por causa da maneira como ela definida e descrita na cultura ocidental contempo-rnea. Em especfico, confundimos alegria com felici-dade. Nas bem-aventuranas (Mt 5.3-11), de acordo com a verso tradicional, Jesus disse: Bem-aventurados os humildes de esprito... Bem-aventurados os que cho-ram... Bem-aventurados os mansos (Mt 5.3-5, nfase acrescentada), e assim por diante. s vezes, porm, os tradutores adotam a linguagem moderna e nos falam que Jesus disse feliz e no bem-aventurado. Sempre me acautelo um pouco quando vejo isso, no porque me oponho felicidade, mas porque, em nossa cultura, a palavra feliz tem sido sentimentalizada e trivializada. Como resultado, ela denota certa superficialidade. Por exemplo, h alguns anos, Charles M. Schulz, na tira de quadrinhos Minduim, cunhou o ditado Felicidade um cachorrinho peludo, que se tornou uma mxima que expressava uma ideia de felicidade como algo senti-mental, agradvel e reconfortante. E houve aquela cano intitulada No se Preocupe, Seja Feliz, lanada por Bob McFerrin nos anos 1980. Ela sugeria uma atitude de deleite irresponsvel e arrogante.

  • No se Preocupe, Seja Alegre | 13

    No entanto, a palavra grega usada nas bem-a-venturanas melhor traduzida por bendito, porque comunica no somente a ideia de felicidade, mas tambm de paz, conforto, estabilidade profunda e grande alegria. Por isso, precisamos ter cuidado quando vamos ao texto do Novo Testamento, para que no o leiamos com as lentes do entendimento popular sobre felicidade e, assim, percamos o concei-to bblico de alegria.

    Pense outra vez na cano de McFerrin. luz de uma perspectiva contempornea, a letra da can-o muito incomum. Quando ele cantava: No se preocupe, seja feliz, estava emitindo um impe-rativo, uma ordem: No fique ansioso. Em vez disso, seja feliz. Ele estava expressando um dever, no fazendo uma sugesto. Entretanto, nunca pen-samos na felicidade desta maneira. Quando estamos infelizes, pensamos que impossvel decidir, por um ato da vontade, mudar nossos sentimentos. Somos tendentes a pensar na felicidade como algo passivo, algo que nos acontece e sobre o qual no temos ne-nhum controle. involuntrio. Sim, desejamos ser felizes e queremos ter esta experincia, mas estamos

  • 14 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    convencidos de que no podemos cri-la por um ato da vontade.

    Estranhamente, o pensamento na msica de McFerrin parece muito com o ensino do Novo Tes-tamento, quando ordena que seus ouvintes sejam felizes. Repetidas vezes, nas pginas do Novo Tes-tamento, a ideia de alegria comunicada como um imperativo, como uma obrigao. Baseado no ensi-no bblico, eu chegaria a dizer que ser alegre o dever do cristo, a sua obrigao moral. Isso significa que o fracasso em ser alegre um pecado, que a infeli-cidade e a falta de alegria so, de alguma maneira, manifestao da carne.

    claro que h ocasies em que ficamos cheios de tristeza. O prprio Jesus foi chamado de homem de dores e que sabe o que padecer (Is 53.3). As Es-crituras nos dizem: Melhor ir casa onde h luto, do que ir casa onde h banquete (Ec 7.2). Mesmo no Sermo do Monte, Jesus disse: Bem-aventura-dos os que choram, porque sero consolados (Mt 5.4). Se a Bblia nos diz que perfeitamente legtimo experimentar choro, tristeza e pesar, estes sentimen-tos no so pecaminosos.

  • No se Preocupe, Seja Alegre | 15

    No entanto, desejo que voc saiba que as pa-lavras de Jesus poderiam ser traduzidas por Jubi-losos so aqueles que choram. Como uma pessoa pode estar chorando e, ao mesmo tempo, ser jubi-losa? Bem, penso que no podemos explicar facil-mente esta questo. A essncia do conceito do Novo Testamento esta: uma pessoa pode ter uma alegria bblica mesmo quando est lamentando, sofrendo e passando por circunstncias difceis. Isto verda-de porque o lamento da pessoa est direcionado a uma preocupao, mas, naquele mesmo momento, ela possui uma medida de alegria. Falarei mais sobre isto no captulo seguinte.

    COMO PODEMOS NOS ALEGRAR SEMPRE?

    Em sua Epstola aos Filipenses, o apstolo Paulo fala sobre alegria e sobre o dever cristo de alegrar-se constantemente. Por exemplo, ele escre-ve: Alegrai-vos sempre no Senhor (Fp 4.4a). Este um dos imperativos bblicos sobre a alegria e no deixa lugar para o no alegrar-se, porque Paulo diz que os cristos devem se alegrar sempre no s ve-

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    zes, no periodicamente, no ocasionalmente. Ele acrescenta: Outra vez digo: alegrai-vos (v. 4b). Paulo escreveu esta epstola quando estava na pri-so e nela tratou de vrios assuntos solenes, como a possibilidade de que fosse martirizado, oferecido como um sacrifcio (2.17). Contudo, ele disse aos crentes de Filipos que eles deveriam se alegrar, ape-sar das circunstncias.

    Isso nos traz de volta ao assunto de como pode-mos ser alegres, como uma questo de disciplina ou de vontade. Como possvel permanecermos alegres em todo o tempo? Paulo nos conta o segredo: Ale-grai-vos sempre no Senhor (nfase acrescentada). O segredo para a alegria do cristo a sua fonte, que o Senhor. Se Cristo est em mim, e eu estou nele, esse relacionamento no uma experincia ocasional. O cristo est sempre no Senhor, e o Senhor est sem-pre no cristo. E isso sempre a razo para alegria. Ainda que o crente no se alegre em suas circunstn-cias, quando est passando por aflio, tristeza ou dor, ele pode se alegrar no Senhor. Ns nos alegra-mos no Senhor; e, como ele nunca nos deixa nem nos abandona, podemos nos alegrar sempre.

  • No se Preocupe, Seja Alegre | 17

    Visto que a alegria um fruto do Esprito, nos-sa santificao mostrada no somente por meio de nosso amor, paz, pacincia, bondade e virtudes seme-lhantes, mas tambm por meio de nossa alegria (ver Gl 5.22-23). No devemos esquecer que o fruto do Es-prito Santo no o mesmo que os dons do Esprito Santo. O Novo Testamento nos revela que o Esprito Santo distribui dons variados aos crentes por razes diversas. Nem todos possuem o dom de ensino. Nem todos possuem o dom de contribuir. Nem todos possuem o dom de administrar. Mas, quando consi-deramos o fruto do Esprito, no podemos dizer que alguns crentes tm o fruto de fidelidade, enquanto outros tm amor, ou que alguns cristos tm o fruto de bondade e benignidade, enquanto outros tm paz e domnio prprio. Todo cristo tem de manifestar todo o fruto do Esprito. E, quanto mais crescemos na graa, quanto mais progredimos em nossa santifi-cao, tanto mais benignos devemos ser, tanto mais pacientes devemos ser, tanto mais fiis devemos ser e, obviamente, tanto mais alegres devemos ser.

    Em termos simples, isto significa que a vida crist no deve ser caracterizada por melancolia ou

  • 18 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    uma atitude de infelicidade. Todos experimentamos dias maus, mas a caracterstica bsica de uma pessoa crist a alegria. Os cristos devem ser as pessoas mais alegres no mundo, porque temos muitos moti-vos para sermos alegres. Essa a razo por que Paulo no hesita em ordenar que seus leitores se alegrem.

    COMO RECUPERAR A ALEGR IA

    A admoestao de Paulo aos crentes para que sejam alegres pressupe que eles podem fazer algo, se lhes falta a alegria. claro que Paulo est certo, e o Novo Testamento est cheio de ensino sobre como podemos ser alegres. O mtodo mais bsico focali-zar a nossa ateno no fundamento de nossa alegria, a fonte de nossa alegria.

    Em Filipenses, Paulo nos d um dos ensinos mais prticos sobre isto: Finalmente, irmos, tudo o que verdadeiro, tudo o que respeitvel, tudo o que justo, tudo o que puro, tudo o que amvel, tudo o que de boa fama, se alguma virtude h e se algum lou-vor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento (4.8). Isto uma chamada para meditarmos nas coisas

  • No se Preocupe, Seja Alegre | 19

    do Senhor, voltarmos nossa ateno para as coisas de Deus. Quando estamos deprimidos, desanimados, irritados, aborrecidos ou, de alguma outra maneira, tristes, precisamos retornar fonte de nossa alegria e, assim, veremos na perspectiva correta aquelas circuns-tncias que esto minando a nossa alegria. As circuns-tncias desta vida perdero sua importncia, quando comparadas com aquilo que recebemos de Deus.

    s vezes, a nossa alegria determinada pela in-tensidade das bnos mais recentes que experimen-tamos das mos de Deus. Estamos sempre buscando pela experincia mais extasiante, pelo enlevo espiri-tual que nos estimular e encher de alegria, mas es-tes sentimentos intensos desaparecem. Quando vejo as coisas na perspectiva correta, sei que, se eu nunca experimentasse, em toda a vida, qualquer outra bn-o alm das que j recebi das mos de Deus, eu teria motivo plausvel para ser transbordante de alegria at ao dia de minha morte. Deus j me deu tanto pelo que devo ser agradecido, tanto que leva a minha alma ao deleite, alegria e satisfao, que eu deve-ria ser capaz de viver com base nessa abundncia de bnos e permanecer alegre em todos os meus dias.

  • 20 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    De fato, as boas notcias so que Deus no ces-sar de manifestar seu cuidado e dar-nos suas ternas misericrdias e bnos. Ele continua a fazer isso. E isso significa que, a cada novo dia que vivemos como cristos, temos mais razes para nos alegrar do que tivemos no dia anterior. Passamos mais um dia re-cebendo o amor e os benefcios que Deus derrama sobre ns, todas as coisas que nos tornam alegres.

    Qual o grande inimigo da alegria? Conforme o Novo Testamento, parece que esse inimigo no tanto a tristeza ou a aflio, e sim a ansiedade. Imediatamente aps ordenar aos crentes de Filipos que se alegrassem sempre, Paulo continuou e disse: No andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porm, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas peties, pela orao e pela splica, com aes de graas. E a paz de Deus, que excede todo o entendi-mento, guardar o vosso corao e a vossa mente em Cristo Jesus (4.6-7). quase como se Paulo tivesse sido uma testemunha ocular do Sermo do Monte e ouvido Jesus dizer aos seus discpulos: No an-deis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto

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    ao que haveis de vestir. No a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? (Mt 6.25). a ansiedade que nos rouba a alegria. E o que ansiedade, seno medo? O medo o inimigo da nossa alegria. difcil ficarmos alegres, quando esta-mos com medo.

    Em todos os seus ensinos, a proibio que Je-sus nos deu, mais do que qualquer outra, foi: No temais. Isto tambm um imperativo; e, de novo, a nica soluo voltarmos ao nosso Pai. Precisamos busc-lo em orao, ter comunho com ele. Desta maneira, permanecemos junto fonte de nossa ale-gria. Derramamos nossas ansiedades, e o fruto do Esprito amadurece em ns outra vez. Se entende-mos quem Cristo e o que ele fez por ns, temos uma nova dimenso da alegria.

    Em ltima anlise, a cano de McFerrin qua-se correta. No devemos nos preocupar, devemos ser alegres.

  • Motivo deToda Alegria

    Cap t u l o Do i s

    Uma das lies mais difceis que temos de apren-der como cristos como sermos alegres, em meio tristeza e ao sofrimento. Entretanto, nestas circunstncias, alegria no opcional. Tiago nos diz: Meus irmos, tende por motivo de toda alegria o passardes por vrias provaes (1.2). O que Tiago pretende dizer com estas palavras? E como podemos fazer o que ele nos ordena neste versculo?

    Uma coisa permanecermos num estado de alegria; outra coisa considerarmos as nossas cir-

  • 24 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    cunstncias como motivo de alegria. Quando Tiago nos diz: Tende por motivo de toda alegria, ele usa uma palavra que contm a ideia de reconhecer, consi-derar ou julgar. Ele est dizendo que, mesmo quan-do no nos sentimos alegres, no que diz respeito a uma tribulao pela qual estamos passando, temos de julg-la ou seja, consider-la um assunto de alegria. Temos de fazer isso no porque aquilo que estamos vivenciando prazeroso, e sim porque, como Tiago diz, sabemos que a provao da... f, uma vez confirmada, produz perseverana (v. 3). Em outras palavras, tribulao, aflio e sofrimento produzem pacincia dentro de ns. Portanto, algo bom nos acontece, mesmo em meio s provaes. Por lembrarmos essa verdade, quando passarmos por tribulaes, por mais insuportveis que sejam, entenderemos que no so um exerccio intil e que Deus tem propsitos nelas; e seus propsitos so sempre bons.

    O meu mentor, o Dr. John Gerstner, fez uma distino interessante entre diferentes tipos de mal e diferentes tipos de bem. No que diz respeito s coi-sas que so boas, ele disse que h um mau mal e

  • Motivo de Toda Alegria | 25

    um bom mal. Coisas que so bons males so, consideradas em e de si mesmas, destrutivas e dolo-rosas, mas, apesar disso, podem produzir o bem. Se isso no fosse verdade, como Deus poderia ter dito por meio do apstolo Paulo: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito (Rm 8.28).

    Portanto, Tiago est nos exortando a conside-rar a provao como um motivo de alegria, embora no haja nenhuma alegria, no porque estar envolvi-do em sofrimento e aflio nos traz regozijo, e sim porque Deus pode produzir o bem por meio dessa aflio e sofrimento. Ele age at nas situaes dif-ceis, para a nossa santificao.

    OLHANDO PARA O FUTURO GLOR ISO

    Em um sentido, para sermos capazes de consi-derar as tristezas e as aflies terrenas como motivo de alegria, temos de cultivar a habilidade de pensar em relao ao futuro. s vezes, a esperana crist do cu ridicularizada como a iluso do cu. No

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    entanto, ela uma realidade que nos d consolo real, como exemplos da histria comprovam.

    Nos dias da escravido nos Estados Unidos, havia poucos motivos para os escravos negros se sentirem felizes. Sua vida era cheia de dificuldades e sofrimentos. O labor de suas mos era, dia aps dia, trabalho cansativo e incessante. Estavam sempre em necessidade. s vezes, as famlias eram separadas, quando indivduos eram vendidos. Eles tinham uma existncia miservel, mas, apesar disso, a msica do gnero Black Soul daquele tempo est cheia de ale-gria. Acho que no mera coincidncia o fato de que o cu um dos principais temas que se repetem nestas canes. Por exemplo, na cano intitulada Swing Low, Sweet Chariot (Balance Devagar, Doce Carrua-gem), uma das estrofes diz: Olhei para o Jordo, e o que vinha ao meu encontro, para levar-me ao lar? Um grupo de anjos a procurar-me, para levar-me ao lar. O poderoso testemunho de muitas destas canes o de uma alegria baseada em olhar para Deus e para a bem-aventurana futura.

    Esta maneira de olhar para as coisas est em harmonia com o Novo Testamento. Por exemplo,

  • Motivo de Toda Alegria | 27

    Paulo reconheceu a realidade e a intensidade do sofrimento que somos chamados a suportar neste mundo. Ele disse: O prprio Esprito testifica com o nosso esprito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos tambm herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, tambm com ele seremos glorificados (Rm 8.16-17, nfase acrescentada). Mas depois ele fez uma com-parao entre as aflies que experimentamos aqui e a alegria que est guardada para ns no cu: Por-que para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente no podem ser comparados com a glria a ser revelada em ns (v. 18). Os momen-tos temporais de angstia e sofrimento pelos quais passamos so nada, se comparados com a alegria que est reservada para ns no cu.

    No entanto, o cu ainda futuro, e o presente , com muita frequncia, rduo. Anos atrs, tivemos uma amiga, uma senhora de idade, que se caracteriza-va por um esprito alegre e uma personalidade entu-siasta. Ela manteve essas qualidades mesmo quando foi diagnosticada com cncer. Mas um dia, quando a visitei no hospital, numa ocasio em que ela passava

  • 28 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    por uma sesso de quimioterapia, eu a encontrei um pouco abatida. Ela no estava em sua personalida-de alegre e animada, que lhe era peculiar. Eu disse: Dora, como voc est? Ela olhou para mim, com lgrimas nos olhos, e respondeu: R. C., difcil ser um cristo quando voc est preso ao vaso sani-trio. Depois, ela sorriu e a alegria retornou sua face. Eu ri, tambm, porque pude entender o que ela havia dito. difcil sentir alegria quando h doena e sofrimento em nossa vida.

    Quando passamos por estes perodos, o conse-lho de Paulo lembrarmos que Deus fixou um li-mite de tempo ao nosso sofrimento e que, depois desse tempo, entraremos numa condio em que no haver mais sofrimento. No haver mais lgrimas, nem dores, nem ansiedade, nem tristeza, nem adver-sidade. Isso parece uma iluso, mas no podemos nos esquivar do fato de que o mago da f crist a verdade de que este mundo no o nosso lar. Nosso destino final ainda est frente.

    Portanto, o cu a grande esperana do cris-to, e o Novo Testamento diz que a esperana a ncora da alma (Hb 6.19). Infelizmente, aqueles que

  • Motivo de Toda Alegria | 29

    no tm a Cristo no possuem esta esperana. Em face das muitas lutas que, como cristo, tenho com a vida, s vezes me pergunto como que as pessoas no crists conseguem viver. Como elas conseguem suportar sem a esperana da alegria que est guarda-da para ns no cu? Deveramos ser muito mais agra-decidos por esta bno do que realmente somos. Deveramos fixar nossos olhos no futuro, em meio ao sofrimento e aflio.

    CONF IANDO EM DEUS N AS C AL AM IDADES

    Um personagem bblico que revela isto de ma-neira vvida e pungente o profeta Habacuque. Ele no se sentiu pessoalmente alegre, quando viu sua nao ser saqueada por um poder estrangeiro. Esta situao gerou todos os tipos de dificuldades teol-gicas para ele. Num sentido real, Habacuque sofreu uma crise de f. Ele perguntou a Deus: Como podes permitir que estas coisas aconteam? Como podes deixar que o mal e o sofrimento prossigam neste mundo? Tu no s to santo, que no podes nem contemplar a iniquidade? Ele disse: Por-me-ei na

  • 30 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dir e que resposta eu terei minha queixa (Hc 2.1).

    Deus respondeu ao seu profeta queixoso por se apresentar a Habacuque de uma maneira que foi bem semelhante maneira como se manifestou a J. Depois, Habacuque disse: Ouvi-o, e o meu ntimo se comoveu, sua voz, tremeram os meus lbios; entrou a podrido nos meus ossos, e os joe-lhos me vacilaram, pois, em silncio, devo esperar o dia da angstia, que vir contra o povo que nos acomete (Hc 3.16). Habacuque foi tomado pela mensagem de Deus ao ponto de seu prprio corpo tremer.

    O livro de Habacuque contm uma frase curta que citada trs vezes no Novo Testamento, e serve como uma afirmao temtica na maior obra teolgica do apstolo Paulo, a Epstola aos Romanos (Rm 1.17). Essa frase : O justo viver pela... f (Hc 2.4). Pode-ria ser traduzida desta maneira: O justo viver por con-fiana. O que significa viver pela f, seno confiar em Deus? A vida de f no apenas crer que Deus existe; crer em Deus ou confiar em Deus.

  • Motivo de Toda Alegria | 31

    Tenho este dilogo comigo mesmo cada vez que sinto medo: Sproul, voc confia realmente em Deus? Voc cr nele, quando lhe promete que isto para o seu bem e, em ltima anlise, para a sua alegria? So-mente se cremos em Deus, podemos manter alegria em meio s dificuldades.

    Como o profeta Habacuque respondeu ao Se-nhor? Ele disse: Ainda que a figueira no floresa, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos no produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais no haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvao (3.17-18).

    Estas palavras parecem estranhas para ns porque Habacuque viveu h muito tempo, em uma cultura que era bem diferente da nossa. Nunca perdemos o sono noite, nos preocupando com o florescimento dos figos. No nos inquietamos pen-sando se a oliveira dar frutos. Mas, Habacuque era um judeu, e a economia de Israel era agrcola. Figo era um recurso econ mico importante, assim como o era o fruto da videira, as uvas das quais o vinho era feito. Voc precisa ir apenas ao Napa Valley, na

  • 32 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    Califrnia, para ver quo importante os vinhedos podem ser para a economia de uma regio. Se aque-les vinhedos fossem envenenados ou destrudos por algum tipo de calamidade natural, toda a regio so-freria economicamente. De modo semelhante, nos dias de Habacuque, as oliveiras produziam leo, que era muito importante em Israel. Se as pessoas no estavam engajadas nos vinhedos, estavam cuidando de rebanhos. A pecuria era, tambm, crucial.

    Deixe-me tentar traduzir as palavras de Habacu-que em linguagem moderna: Ainda que a economia agropecuria fracasse, ainda que o mercado de aes quebre, ainda que a indstria automotiva se acabe, ainda que a indstria tecnolgica exploda, ainda que todas estas coisas aconteam, eu me regozijarei no Deus da minha salvao. Eu me alegrarei nele. Isso o que ele teria dito, se vivesse no sculo XXI.

    Habacuque continuou, e disse por que se sentia assim: O Senhor Deus a minha fortaleza, e faz os meus ps como os da cora, e me faz andar altanei-ramente (v. 19). A cora tem os ps muito firmes e pode se locomover como uma cabra monts, nas alturas e em lugares perigosos, atravessando espi-

  • Motivo de Toda Alegria | 33

    nhaos estreitos sem cair na destruio. Habacuque disse que Deus tornaria seus ps como os da cora e o faria andar em lugares altos. Ele estava dizendo que, embora sobreviessem calamidades ao seu povo, embora a nao fosse saqueada, embora Israel fosse derrotado na guerra, embora a pestilncia, a enfermi-dade e a violncia afetassem tudo, ele no seria lan-ado no vale, mas Deus faria os seus ps como os da cora, bem firmes, capazes de subir s alturas e aos lugares santos. Deus d esse tipo de estabilidade, at em meio s calamidades, para aqueles que lhe do sua ateno e colocam nele sua confiana. Isso o que Habacuque pretendia dizer, quando falou: O justo viver pela sua f. Isso a base da alegria que temos como cristos.

  • Como Entendera Alegria?

    Cap t u l o Tr s

    Todos ns podemos lembrar momentos ou oca-sies em que experimentamos alegria extraor-dinria, no apenas de maneira individual, mas tambm dentro de nossa comunidade ou mesmo de nossa nao. Acho que posso pensar em duas dessas ocasies.

    Um dia, quando eu tinha seis anos de idade, es-tava jogando beisebol de rua, em Chicago. A base prin-cipal era a tampa de um esgoto bem no meio da rua e, no centro dessa tampa de esgoto, havia um pequeno

  • 36 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    buraco de uma polegada e meia de dimetro. Lembro--me desse detalhe insignificante, porque meu pai ha-via comprado para mim um pequeno taco, que eu cos-tumava usar para jogar beisebol de rua; e, no dia em que tive a vez de bater, deixei cair o taco, que passou por aquele buraco, e o perdi para sempre. Como voc pode imaginar, essa no foi uma ocasio de alegria, mas, noutro dia, quando eu estava rebatendo, bem no meio da partida, todo o cu pareceu abrir-se ao redor de mim. As pessoas comearam a correr para fora dos apartamentos ao longo da rua, gritando, batendo em panelas, com colheres, e agindo, em geral, de uma maneira descontrolada. Por fim, comecei a entender o que elas gritavam: Acabou! Acabou! Era o Dia da Vitria. A Alemanha nazista havia se rendido aos alia-dos, e a Segunda Guerra Mundial acabara na Europa. Depois de uma luta rdua e demorada, aquele conflito titnico acabara. E toda a ansiedade e sofrimento das pessoas deram lugar alegria indizvel, e elas comea-ram a celebrar. Eu tinha pouco entendimento do que significava toda aquela azfama, mas, certamente, po-dia dizer que muitas pessoas estavam felizes. Apenas queria que no tivessem interrompido meu jogo.

  • Como Entender a Alegria? | 37

    Um episdio semelhante, mas no dramtico, aconteceu em 1960, quando eu tinha 21 anos de ida-de. Eu cresci na cidade de Pittsburgh, que tinha duas equipes de esporte profissional: os Pittsburgh Pira-tes, no baseball e os Pittsburgh Pittsburgh Steelers, no futebol americano. Os Steelers competiram por 40 anos, antes de ganharem seu primeiro campeona-to nacional. Eles eram os perdedores eternos da Liga de Futebol Nacional. Entretanto, o recorde deles no era to desanimador quanto o dos Pirates. Eu acompanhei todos os jogos de beisebol dos Pirates nos anos 1940 e 1950. Eu quase vivia no Estdio Forbes, e, quando no estava no jogo, eu o ouvia no rdio. Eu vivia e morria com os Pittsburgh Pirates; porm, frequentemente, eu mais morria do que vi-via. Costumvamos dizer que os Pittsburgh Pirates estavam em primeiro lugar, se voc virasse o jornal de cabea para baixo. E, assim, passamos muitos anos de frustrao at 1960.

    Nesse ano, os Pittsburgh Pirates ganharam, real-mente, o campeonato nacional, e o Estado ficou louco. Mas, depois, claro que eles tiveram de seguir para as finais do campeonato mundial, e enfrentar o poderoso

  • 38 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    New York Yankees. Ningum pensava que os Pirates tinham alguma chance. De fato, naquele ano, os Yan-kees estabeleceram o recorde de runs para uma srie de partidas do campeonato mundial. Mas as pessoas no lembram disso. O que elas lembram que os Ya-nkees perderam, realmente, o campeonato mundial de 1960 para os Pirates, em um dos momentos mais dra-mticos na histria do beisebol. No stimo jogo das finais do campeonato mundial, a partida estava empa-tada na ltima rodada. Os Pirates estavam batendo, e eu estava no Estdio Forbes, assentado ao longo da linha da terceira base. Bill Mazeroski, o homem da se-gunda base do Pirates, no era um grande rebatedor. Mas, naquele dia, ele acertou um home run para a es-querda do centro do campo, por cima da cabea de um desanimado Yogi Berra. Quando isso aconteceu, um pandem nio irrompeu em Pittsburgh. Quando a bola ultrapassou a cerca, eu pulei e derrubei uma senhora de 70 anos de idade. Eu lhe falei: oh! querida senhora, desculpe-me, eu no pretendia machuc-la! Ela olhou para mim, do cho, com um sorriso em toda a sua face e disse: Eu no me importo, filho, voc poderia me jogar em qualquer lugar. Os Pirates venceram o cam-

  • Como Entender a Alegria? | 39

    peonato mundial. Enquanto voltava para casa, vindo do Estdio Forbes, naquele dia, ouvia o barulho inces-sante de buzinas de carros em toda a cidade. Houve grande, grande alegria naquele dia, em Pittsburgh, por causa de um jogo de beisebol.

    EXULTAO E DESN IMO

    Tenho me admirado, frequentemente, de como um jogo pode tornar as pessoas felizes ou tristes. E, como mencionei, eu vivia e morria com os Pirates, quando era menino. E o mesmo aconteceu comigo mais tarde, quando os Steelers se tornaram poderosos e comearam a vencer Super Bowls, nos anos 1970. Se os Steelers perdessem um jogo, eu ficava abatido por uma semana e tinha de lembrar a mim mesmo era apenas um jogo. O poder dos eventos esporti-vos de deixar-nos desapontados e abatidos expresso, com clareza, na histria clssica Casey no taco, es-crita por Ernest Thayer. Quando Casey, a estrela do Mudville, um time de beisebol, tem miraculosamente a chance de rebater na ltima rodada do jogo, os espec-tadores supem que ele far um home run e vencer

  • 40 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    a partida. O que acontece? O poderoso Casey fracassa. Thayer termina a histria com esta estrofe:

    Oh! Em algum lugar desta terra bendita

    O sol est brilhando intensamente;

    A banda est tocando em algum lugar,

    Em algum lugar, coraes esto alegres;

    Em algum lugar, as pessoas sorriem,

    Em algum lugar, as crianas gritam;

    Mas no h alegria em Mudville

    O poderoso Casey no conseguiu rebater.1

    No ensino mdio, joguei beisebol, e disputa-mos o campeonato da cidade por dois anos seguidos. No primeiro ano, vencemos na ltima rodada, e nun-ca esquecerei isso. Fiquei to emocionado. Senti-me como se estivesse andando no ar. No ano seguinte, perdemos a final do campeonato, e isso causou um sentimento terrvel. Isso sempre acontece, na dispu-ta de um campeonato. Quando a partida decidida em favor de um dos times, h alegria e celebrao eu-frica, no lado vencedor. Os jogadores pulam de ale-gria, abraam uns aos outros e, s vezes, correm para

    1 Extrado de Casey at the Bat, por Ernest Lawrence Thayer, 1888.

  • Como Entender a Alegria? | 41

    as arquibancadas, para se alegrar com seus queridos. Depois, a cmera muda para o lado dos perdedores, e ali vemos lgrimas, tristeza e desapontamento.

    claro que um jogo no realmente apenas um jogo. As equipes de esportes pelas quais torcemos e com as quais nos identificamos vicariamente repre-sentam no somente a nossa cidade ou nosso pas, mas tambm cada um de ns. Elas nos representam em conflito, em competio, em lutarmos por reali-zao. Muitas das aspiraes e esperanas dos seres humanos so expressos em coisas como eventos es-portivos, que so realmente representaes da luta humana. Voc j percebeu que, quando nosso time vence, dizemos: ns vencemos; mas, quando nosso time perde, ns dizemos: eles perderam? Amamos identificar-nos com um vencedor, mas no ficamos felizes em identificar-nos com um perdedor.

    ALEGRANDO-SE INCLUS I VE N AS PERDAS

    Depois de muitos anos, comecei a descobrir que possvel eu me alegrar, mesmo quando meu time perde. Como pode ser isso? Eu costumava ficar

  • 42 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    muito triste quando via o outro time realizar suas celebraes, depois de ter vencido o meu time. Por fim, comecei a entender que aqueles jogadores esta-vam emocionados porque tinham conseguido algo pelo que haviam trabalhado bastante. Estavam ex-perimentando o que era, para eles, uma ocasio de grande alegria. No era como se tivesse acontecido uma catstrofe nacional, em que todos sofreram perdas. Havia algumas pessoas felizes, e comecei a descobrir que poderia ter prazer na felicidade delas.

    Afinal de contas, a Bblia nos diz: Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (Rm 12.15). Esse um dos princpios fundamentais da alegria. Ela nos ensina que nossa alegria no deve ser restringida a nossas circunstncias ou a nossas prprias realizaes, mas devemos ser capazes de sen-tir alegria pelas outras pessoas, por suas realizaes, por seu sucesso e por sua generosidade.

    J foi dito que toda tacada no jogo de golfe tor-na algum feliz. Se fao uma boa tacada, eu fico feliz, mas o meu adversrio fica triste. Se meu adversrio faz uma tacada ruim, isso o deixa triste e, por outro lado, me alegra. Mas o que isso diz a meu respeito?

  • Como Entender a Alegria? | 43

    Diz que minha alegria to egocntrica, to restrita s minhas prprias circunstncias que, se as coisas no saem da maneira como desejo que saiam, a maneira pela qual me beneficio diretamente, no posso ficar feliz. Para seguir a tica do Novo Testamento, preciso ser capaz de me alegrar com aqueles que se alegram e isso inclui aquelas ocasies em que eles se alegram porque me venceram. O ensino que no devemos ser invejosos ou cobiosos, mas devemos ser capazes de identificar-nos com a alegria de outras pessoas.

    Pela mesma razo, somos chamados a identi-ficar-nos com a tristeza de outras pessoas. Isto o que chamamos de empatia e envolve sentir o que os outros sentem. O prprio Senhor Jesus exemplifi-cou esta virtude. De que outra maneira podemos ex-plicar o menor versculo da Bblia: Jesus chorou (Jo 11.35)? Jesus, que proclamou ser ele mesmo a ressurreio e a vida (v. 25), foi ao sepulcro de Lza-ro sabendo de tudo, que faria ressuscitar seu amigo dentre os mortos. Mas todos estavam chorando, in-clusive as duas irms de Lzaro, Maria e Marta. Elas eram amigas de Jesus, que, por essa razo, se identi-ficou com a tristeza delas, enquanto choravam.

  • 44 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    Certamente, precisamos de graa para sermos capazes de achar alegria em nosso corao, quando experimentamos alegria por causa de um ganho que , de algum modo, uma perda de nossa parte. Isto envolve mais do que apenas jogos de beisebol. Envol-ve muitas coisas que tocam nossa vida diria. Mas, como cristos, Deus nos capacita a olhar para as coi-sas no luz de nossas perspectivas egostas, mas luz das perspectivas dos outros.

    A MELHOR MANE IRA DE ENTENDER A ALEGR IA

    No meu primeiro ano como uma nova criatura em Cristo, aprendi um conceito simples a respeito da palavra alegria. Aprendi que a palavra alegria envolve, essencialmente, trs pessoas: Jesus, os outros e voc mesmo. E a principal lio que o segredo da alegria colocar Jesus em primeiro lugar, os outros, em se-gundo, e voc mesmo, em terceiro. Obviamente, esta uma ideia simples, to simples que uma criancinha pode aprend-la e entend-la, porm muito mais difcil internaliz-la. Mas esta ideia contm uma ver-dade profunda. A alegria frequentemente enganosa,

  • Como Entender a Alegria? | 45

    porque colocamos a ns mesmos em primeiro lugar e Jesus em ltimo. Quando isso acontece, estamos pro-curando entender a alegria na ordem inversa e precisa-mos reordenar nossas prioridades.

    No somente precisamos colocar Jesus em pri-meiro lugar, tambm precisamos colocar os outros nossa frente. Tive, certa vez, uma conversa demo-rada com uma mulher que passava por um severo tratamento de cncer. Durante todo o tratamento, ela mostrou um contentamento admirvel. Toda vez que eu a encontrava, ela parecia alegre. Comecei a conversa perguntando-lhe: como voc est? Em cerca de quinze segundos ela me deu um resumo de como estava e, depois, me perguntou: E voc, Sproul, como est? Respondi a pergunta, mas foi somen-te depois que a conversa terminou que me ocorreu a verdade. Eu tinha ido ao hospital para confort-la e manifestar meu interesse no seu bem-estar, mas, enquanto conversamos por quase meia hora, talvez apenas quinze segundos foram dedicados sua con-dio. No restante do tempo, falamos sobre meus problemas e preocupaes, e ela me confortou. Eu no pude acreditar. No admirvel que ela fosse to

  • 46 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    alegre, pois, em ltima anlise, no estava envolvida em si mesma.

    Jesus foi chamado homem de dores e que sabe o que padecer (Is 53.3); ele era familiarizado com as nossas tristezas e dores. Jesus a nica pessoa na Histria que praticou o conceito de alegria sem colocar a si mesmo em primeiro lugar. Ele colocou a si mesmo em ltimo lugar, para tornar possvel o desfrutarmos de alegria. Embora Jesus tenha sido um homem de dores, creio que ele foi o ser humano mais alegre que j viveu, porque conhecia o Pai me-lhor do que qualquer outro ser humano. Alm disso, Jesus era mais consonante com a vontade de Deus do que qualquer outro ser humano, sendo obedien-te a essa vontade; e a obedincia traz alegria para a alma. Nem mesmo a dor e o tormento que ele teve de suportar foram capazes de roubar-lhe a alegria.

    Portanto, se queremos ser alegres, precisamos aprender a alegrar-nos com os que se alegram e cho-rar com os que choram. Mas no podemos fazer isso se, de algum modo, no somos capazes de fugir de uma vida em que nos preocupamos apenas com ns mesmos.

  • A Maior alegria

    Cap t u l o Qua t r o

    Em determinado momento de seu ministrio ter-reno, Jesus enviou um grupo de seus discpulos em sua prpria misso de pregar o evangelho, e curar os enfermos e aqueles que estivessem sob pos-sesso demonaca. Lucas escreveu:

    Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e

    os enviou de dois em dois, para que o precedessem

    em cada cidade e lugar onde ele estava para ir. E lhes

    fez a seguinte advertncia: A seara grande, mas os

  • 48 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    trabalhadores so poucos. Rogai, pois, ao Senhor

    da seara, que mande trabalhadores para a sua sea-

    ra. Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o

    meio de lobos. No leveis bolsa, nem alforje, nem

    sandlias; e a ningum saudeis pelo caminho. Ao

    entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja

    nesta casa! Se houver ali um filho da paz, repousa-

    r sobre ele a vossa paz; se no houver, ela voltar

    sobre vs. Permanecei na mesma casa, comendo e

    bebendo do que eles tiverem; porque digno o tra-

    balhador do seu salrio. No andeis a mudar de casa

    em casa. Quando entrardes numa cidade e ali vos

    receberem, comei do que vos for oferecido. Curai

    os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: A vs

    outros est prximo o reino de Deus. Quando, po-

    rm, entrardes numa cidade e no vos receberem,

    sa pelas ruas e clamai: At o p da vossa cidade,

    que se nos pegou aos ps, sacudimos contra vs ou-

    tros. No obstante, sabei que est prximo o reino

    de Deus. Digo-vos que, naquele dia, haver menos

    rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de

    ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e

    em Sidom, se tivessem operado os milagres que em

  • A Maior Alegria | 49

    vs se fizeram, h muito que elas se teriam arrepen-

    dido, assentadas em pano de saco e cinza. Contudo,

    no Juzo, haver menos rigor para Tiro e Sidom do

    que para vs outros (Lc 10.1-14).

    Jesus designou 70 de seus seguidores para irem por toda a terra da Palestina, a cada povoado e vila aos quais ele mesmo estava prestes a ir, para procla-marem a vinda do reino de Deus. Ele os advertiu de que em muitos lugares no seriam bem recebidos. Como Jesus disse, eles seriam cordeiros no meio de lobos. claro que a comisso de irem com a men-sagem a respeito de Cristo pertence, agora, a toda a igreja; por isso, esta advertncia se aplica a cada um de ns. O mundo nem sempre mostra alegria em receber nossa mensagem, e, s vezes, nos sentimos como ovelhas que so levadas para o matadouro.

    Estas palavras devem ter sido desanimadoras para os 70 discpulos. Lucas no nos diz isso expli-citamente, porm imagino que eles saram com algu-ma medida de temor. No entanto, Lucas explcito quanto atitude dos 70 discpulos, quando voltaram. Ele escreveu: Regressaram os setenta, possudos de

  • 50 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    alegria, dizendo: Senhor, os prprios dem nios se nos submetem pelo teu nome! (v. 17). Com toda a probabilidade, eles saram temerosos e apreensivos, mas voltaram com alegria sobremodo grande. Por que estavam felizes? Porque haviam sido bem sucedidos. Deus os usara, e eles tinham visto a manifestao do poder de Cristo em seu ministrio. Alm disso, os discpulos afirmaram que estavam felizes porque os dem nios lhes eram submissos, em nome de Jesus. Portanto, eles ficaram cheios de exultao por duas razes: sucesso e poder. Estes so os tipos de coisas que tambm apreciamos.

    Mas, Jesus no se identificou imediatamente com a alegria deles. Jesus lhes disse: Eu via Satans caindo do cu como um relmpago. Eis a vos dei au-toridade para pisardes serpentes e escorpies e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causar dano. No obstante, alegrai-vos, no porque os espritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome est arrolado nos cus (vv. 18-20).

    Precisamos considerar estas palavras de Jesus. bvio que ele entendia a exultao de seus discpu-los, que haviam desfrutado de sucesso no minist-

  • A Maior Alegria | 51

    rio, mas os advertiu a respeito de terem um funda-mento errado para a sua alegria. Jesus disse que eles no deviam se regozijar no fato de que os dem nios lhe eram submissos; em vez disso, deviam se rego-zijar no fato de que seus nomes estavam escritos no cu. Neste ponto, nosso Senhor identificou o funda-mento supremo da alegria crist. Nossa alegria deve vir da certeza de que temos a redeno em Cristo. A maior alegria que uma pessoa pode ter saber que seu nome est escrito no Livro da Vida do Cordeiro, que ela salva e estar para sempre com Cristo.

    CULPA E ALEGR IA

    Nos anos 1960, conheci um homem que viera da Inglaterra para os Estados Unidos, havia menos do que uma semana. Seu nome era John Guest, que se tornou um ministro da Igreja Episcopal e um evangelista nacional. Quando nos encontramos pela primeira vez na Filadlfia, ele tinha um cabelo cres-cido at aos ombros e um violo pendurado em suas costas. Ele parecia muito com um membro dos Bea-tles e, de fato, era de Liverpool, na Inglaterra, como

  • 52 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    os Beatles o eram. John estava trabalhando como um evangelista que ministrava, primariamente, em campus de faculdades. Ele ia s faculdades com sua banda de rock, cantava para atrair grande nmero de pessoas e, depois disso, pregava e ensinava.

    A converso de John tinha sido algo dram-tico. Ele foi a uma reunio em que ouviu o evan-gelho, e ali sua vida foi totalmente mudada. John conheceu a Cristo e experimentou o perdo de seus pecados. Ele compartilhou comigo que, ao voltar para casa naquela noite, no andava pelas ruas, mas, em vez disso, pulava como criana, saltando ocasionalmente por sobre os hidrantes. John esta-va totalmente cheio de alegria em seu novo relacio-namento com Cristo.

    Entendo isso muito bem. Saber que nossos pe-cados foram perdoados nos d um alvio tremendo. Todo o fardo de culpa removido. A culpa fun-damentalmente algo que deprime. Sufoca qualquer sentimento de bem-estar e nos rouba a paz. Ela ator-menta a nossa alma. talvez o obstculo mais im-portante nossa alegria. Portanto, quando a culpa removida, a alegria inunda a nossa alma.

  • A Maior Alegria | 53

    H uma diferena entre culpa e sentimentos de culpa. A culpa objetiva. Incorremos em culpa real toda vez que transgredimos a lei de Deus. No entanto, os nossos sentimentos nem sempre esto em consonncia com a realidade. H pessoas que so descritas, no sistema de justia criminal, como so-ciopatas ou psicopatas, porque so capazes de come-ter crimes hediondos sem sentir qualquer remorso. Todavia, a sua falta de sentimento no altera a reali-dade de sua culpa. A culpa determinada no pelo modo como nos sentimos, e sim pelo que fazemos. Apesar disso, h frequentemente uma relao ntima entre as dimenses objetiva e subjetiva da culpa en-tre a realidade da transgresso e os nossos sentimen-tos subjetivos de remorso e paralisia.

    Vejo os sentimentos de culpa como semelhantes dor fsica. A dor um sintoma de que algo est obje-tivamente errado em nosso corpo. No aspecto mdi-co, a dor um benefcio enorme para ns, porque d o sinal de que h um problema que precisa ser tratado. Assim como h pessoas que no sentem nenhuma cul-pa por seus crimes, tambm h pessoas que perderam a capacidade de sentir coisas fsicas; e elas esto em

  • 54 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    um perigo muito grave a cada momento, porque no sabem quando uma doena sria afligiu seu corpo. A dor o sinal de alerta. Assim tambm a culpa e os sentimentos de culpa. Quando tenho uma dor de den-te, isso me diz que h algo errado em meu dente. A dor me faz ir ao dentista para reparar o dente, para que a dor desaparea. Sentimentos de culpa devem fazer a mesma coisa; devem nos dizer que algo est errado e nos impelir a procurar ajuda. Quando nossa culpa objetiva tratada e sentimentos de culpa subjetivos desaparecem, sentimos grande alegria.

    CONFUND INDO PRAZER COM ALEGR IA

    Quando eu era menino, meus pais me faziam ir igreja todo domingo de manh. Eu no tinha nenhum desejo de ir. Achava o culto de adorao enfadonho e mal podia esperar que acabasse, para eu ir jogar. Mas a classe semanal de catecismo, realizada aos sbados pela manh, era pior do que os cultos dominicais. Este foi o ponto mais crtico de minha experincia de infn-cia na igreja. Eu tive de passar pela classe de comun-gante e, depois, para a classe de catecismo, na qual eu

  • A Maior Alegria | 55

    e outros meninos e meninas tivemos de memorizar o Breve Catecismo de Westminster. Suportei tudo isso apenas para me tornar membro da igreja e terminar o curso, para que meus pais ficassem satisfeitos. S me converti vrios anos mais tarde.

    Quando me tornei realmente um cristo, senti--me desejoso de ter prestado mais ateno classe de catecismo. A nica coisa que lembrava do Breve Catecismo era a primeira pergunta e sua resposta, e a nica razo por que eu lembrava essa pergunta era que eu no conseguia entend-la. A pergunta era esta: Qual o fim principal do homem? A resposta que devamos aprender e recitar era esta: O fim prin-cipal do homem glorificar a Deus e goz-lo para sempre. Eu no conseguia harmonizar essas duas coisas. Eu entendia, mesmo como criana, que a ideia de glorificar a Deus tinha algo a ver com obe-decer-lhe, algo a ver com a busca de justia. Mas isso no era o que me interessava mais particularmente. Meu fim principal no era ser um filho obediente a Deus, de maneira alguma. E, porque meu fim prin-cipal no era ser um filho obediente a Deus, eu no podia entender como havia uma relao entre glorifi-

  • 56 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    car a Deus e goz-lo para sempre. Para mim, as duas coisas pareciam antag nicas, incompatveis.

    Meu problema era que eu estava confuso quan-to s duas ideias fundamentais. No sabia a diferen-a entre prazer e alegria. Queria prazer, porque pen-sava que a nica maneira como eu poderia ter alegria era por meio da aquisio de prazer. Mas, depois, descobri que, quanto mais prazer eu adquiria, menos alegria possua, porque estava buscando prazer em coisas que exigiam desobedincia a Deus. Esta a atrao do pecado. Pecamos porque prazeroso. A seduo do pecado pensarmos que ele nos tornar felizes. Pensamos que o pecado nos dar alegria e sa-tisfao pessoal. Mas o pecado nos d apenas culpa, que arruna e destri a alegria genuna.

    Minha converso foi essencialmente uma expe-rincia do perdo de Deus. Se houvesse um hidrante onde eu estava quando me converti, teria pulado so-bre ele, porque experimentei a diferena entre prazer e alegria. Descobri, em minha prpria converso, a mesma coisa que John Guest descobriu.

    O Salmo 51 o maior exemplo de arrependi-mento que encontramos nas Escrituras. Neste sal-

  • A Maior Alegria | 57

    mo, Davi, sob a convico do Esprito Santo, foi trazido ao arrependimento por seu pecado com e contra Bate-Seba. Ele estava abatido e contrito em seu corao, buscou a Deus e clamou por perdo. Davi disse: Restitui-me a alegria da tua salvao (Sl 51.12). Aqueles que experimentaram o perdo de Deus e a alegria inicial desse perdo precisam sempre ter essa alegria restaurada, ter a culpa de seu pecado removida, para que a alegria retorne. Quando busca-mos diariamente o perdo de Deus, retornamos ao comeo de nossa alegria o dia em que descobrimos que nosso nome est escrito no cu.

    Bilhes de pessoas nunca experimentaram a alegria da salvao. Se voc uma delas, digo-lhe que no h no mundo nada como essa alegria. Apenas imagine: ter todos os pecados que voc j cometeu apagados por Deus, e ter removidos toda a culpa que voc acumulou e todos os sentimentos de culpa de-correntes. Isso foi o que Cristo veio fazer. Ele quer nos dar alegria e no apenas poder ou sucesso. Seu dom a alegria, que resulta de sabermos que nossos nomes esto escritos no cu.

  • Plenitude de Alegria

    Cap t u l o C i nco

    Uma das caractersticas singulares do Evangelho de Joo, que tem sido um deleite para os cris-tos, atravs dos sculos, so as famosas afir-maes Eu sou proferidas por Jesus. Por exemplo, Jesus disse: Eu sou o po da vida (6.48); Eu sou a luz do mundo (8.12); Eu sou a porta (10.7); Eu sou o bom pastor (10.14); Eu sou a ressurreio e a vida (11.25). Todas estas afirmaes nos ajudam a entender melhor quem Jesus e o que ele fez por seu povo, durante sua estadia terrena.

  • 60 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    Em todos os relatos bblicos das afirmaes Eu sou, feitas por Jesus, o grego tem uma forma estra-nha. Comumente, Eu sou a traduo da palavra grega eimi. Mas, nestas ocasies em que Jesus disse: Eu sou, o grego uma forma intensiva: ego eimi. quase como se Jesus estivesse gaguejando, como se es-tivesse dizendo: Eu, eu sou.

    Para mim, fascinante que esta frase grega espe-cfica ego eimi seja usada na Septuaginta, a traduo grega do Antigo Testamento, para traduzir o Tetragra-ma, o grande nome de Deus: eu Sou o Que Sou (x 3.14), que frequentemente expresso como Yahweh no hebraico. Quando Yahweh foi traduzido para o grego, os tradutores usaram a frase ego eimi. Portanto, pare-ce que Jesus estava se identificando conscientemente como Deus, por meio de suas afirmaes Eu sou.

    A ltima das afirmaes Eu sou ocorre no ca-ptulo 15 do Evangelho de Joo, onde o evangelista nos diz que Jesus falou: Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai o agricultor (Jo 15.1). Observe que Je-sus no disse, simplesmente, que ele a videira, mas especificou que tipo de videira ele a videira verda-deira. Isso significa que Jesus a videira genuna ou a

  • Plenitude de Alegria | 61

    videira autntica. Por que ele fez esta distino? Jesus no disse, mas h uma explicao aceita pela maioria dos estudiosos bblicos. Eles comentam que, no An-tigo Testamento, Deus entrou num relacionamento especfico e especial com seu povo, a nao de Israel. E, por essa razo, os israelitas so frequentemente re-tratados como a vinha de Deus ou a videira de Deus (Is 5.7; Os 10.1). Israel a videira que Deus plantou, cultivou, podou e usou com o propsito de produzir fruto que alimentaria e enriqueceria todo o mundo.

    No Novo Testamento, descobrimos que Jesus no veio apenas para redimir seu povo, mas tambm para incorporar a prpria nao de Israel. Num sentido ltimo, Jesus o Israel de Deus. Por exemplo, Deus fa-lou por intermdio do profeta Oseias: Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho (Os 11.1). Israel, a nao que Deus redimiu da escravi-do no Egito, foi chamada filho de Deus. Logo depois que Jesus nasceu, um anjo avisou a Jos que fugisse para o Egito, a fim de escapar da inveja do rei Herodes. Depois, quando a famlia retornou a Israel, Mateus cita este versculo de Oseias, em referncia a Jesus: Para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por in-

  • 62 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    termdio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho (Mt 2.15). Portanto, vemos esta identidade ou conexo metafrica entre Jesus e a nao de Israel. Jesus teve um tipo de solidariedade com o povo de Deus histrico.

    A ideia foi comunicada, parcialmente, quan-do ele disse: Eu sou a videira verdadeira. En-tretanto, Jesus tambm estava dizendo que Israel falhara em enriquecer o mundo como a videira de Deus. Por causa disso, Jesus apareceu como a vi-deira verdadeira, que tinha a seu Pai como o agri-cultor, aquele que planta, cultiva e poda a videira.

    V IDA POR ME IO DA V I DE IRA

    Jesus continuou e disse: Todo ramo que, estan-do em mim, no der fruto, ele o corta; e todo o que d fruto limpa, para que produza mais fruto ainda (v. 2). Eu no tenho habilidade com plantas, e meu conhecimento de agricultura muito rudimentar. No entanto, tenho experincia com o crescimento de rosas e aprendi que, depois que as flores comeam a morrer, precisam ser cortadas de um ponto do cau-le. Se eu removo diligentemente os aspectos mortos

  • Plenitude de Alegria | 63

    da planta, as flores se tornam ainda mais bonitas, no devido tempo. Este processo me parece contrrio in-tuio; eu suporia que, por cortar uma parte de uma planta, estaria prejudicando-a ou mesmo destruindo--a. Mas o processo de poda se focaliza nos nutrientes da planta, levando-a a produzir fruto mais consistente-mente. Este processo muito importante no cuidado de vinhas, que so a videira da metfora de Jesus.

    Prosseguindo, Jesus disse: Vs j estais limpos pela palavra que vos tenho falado (v. 3). Nestas pa-lavras, Jesus est se dirigindo aos seus discpulos, os crentes, aqueles que j desfrutam de comunho com ele e tm um relacionamento salvador com ele. Jesus disse que seus discpulos j esto limpos. Depois, acrescentou: Permanecei em mim, e eu permanecerei em vs. Como no pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se no permanecer na videira, assim, nem vs o podeis dar, se no permanecerdes em mim (v. 4).

    O que acontece com os ramos que so poda-dos de uma videira ou de um galho? Depois de serem cortados, murcham e morrem. So cortados de sua fonte de vida. bvio que tais ramos no produziro qualquer fruto. So incapazes disso.

  • 64 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    Um dia, durante um churrasco na casa de um dos membros de sua igreja, um ministro caminhou at churrasqueira para falar com o dono da casa, que havia parado de frequentar os cultos de adorao semanais. O ministro esperava encoraj-lo a comear a frequentar a igreja novamente. Quando perguntou ao homem por que havia parado de ir igreja, ele lhe respondeu: Eu sou um cristo, mas no acho que preciso da igreja. Posso me sair muito bem sozinho. Sou um tipo de pessoa independente. No sinto ne-cessidade da comunho com outras pessoas, para me estimularem em meu andar com o Senhor.

    Enquanto o ministro ouvia a explicao do ho-mem, observou que o carvo na churrasqueira estava fi-cando incandescente. Sem dizer nada, o ministro pegou uma pina e separou um dos carves incandescentes dos outros. E prosseguiu em sua conversa com o homem. Entretanto, depois de alguns minutos, o ministro foi churrasqueira e pegou aquele carvo com sua mo despro-tegida. Em seguida, olhou para o homem e disse: Voc viu o que aconteceu aqui? Somente alguns minutos atrs, eu no ousaria tocar neste carvo porque estava muito quente. Mas, visto que o separei do resto dos carves, ele

  • Plenitude de Alegria | 65

    parou de queimar e se tornou frio. No podia mais assar a carne que estava na churrasqueira. Isso o que lhe acon-tecer. Voc precisa do corpo de Cristo. Precisa da igreja de Cristo. Precisa da comunho dos santos e da congrega-o do povo de Deus. No somos individualistas rgidos, que so chamados a viver em isolamento dos outros.

    Esse ministro estava certo. A companhia de outros crentes mantm a nossa f viva e ativa. Ora, se esfriamos quando somos removidos da conexo com outros cren-tes, no haveremos de murchar se nos separarmos da verdadeira fonte de poder, que o prprio Cristo?

    Isto era o que Jesus estava argumentando nes-ta passagem. Seremos infrutferos e murcharemos espiritualmente, se no permanecermos em Cristo, a videira verdadeira. A palavra grega traduzida por permanecer, nesta passagem, meno. Tambm po-deria ser traduzida por estar ou ficar. Se quiser-mos ser frutferos, no podemos apenas visitar Je-sus, de vez em quando. Precisamos permanecer nele.

    Deixe-me enfatizar que nesta passagem Jesus no estava falando sobre perda de salvao. Isto outro assunto. Estava nos lembrando que somos inclinados a vaguear, a parar de beber da fonte de nosso poder e

  • 66 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    de nossa vitalidade espiritual, que o prprio Cristo. Ento, a lio de Jesus para ns ficarmos perto dele: Permanecei em mim, e eu permanecerei em vs. Como no pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se no permanecer na videira, assim, nem vs o podeis dar, se no permanecerdes em mim. Em palavras simples, to-dos os esforos que fazemos para sermos alegres e pro-dutivos, ou para realizar alguma coisa digna do reino de Deus, so exerccios de futilidade, se tentamos faz-los em nosso prprio poder. Os cristos precisam entender que sem uma firme conexo com Cristo, que a fonte de poder, seremos totalmente infrutferos.

    PLEN I TUDE DE ALEGR IA

    Jesus continuou e disse:

    Eu sou a videira, vs, os ramos. Quem permanece

    em mim, e eu, nele, esse d muito fruto; porque sem

    mim nada podeis fazer. Se algum no permanecer

    em mim, ser lanado fora, semelhana do ramo, e

    secar; e o apanham, lanam no fogo e o queimam.

    Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras

    permanecerem em vs, pedireis o que quiserdes, e

  • Plenitude de Alegria | 67

    vos ser feito. Nisto glorificado meu Pai, em que

    deis muito fruto; e assim vos tornareis meus disc-

    pulos. Como o Pai me amou, tambm eu vos amei;

    permanecei no meu amor. Se guardardes os meus

    mandamentos, permanecereis no meu amor; assim

    como tambm eu tenho guardado os mandamentos

    de meu Pai, e no seu amor permaneo. Tenho-vos

    dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vs,

    e o vosso gozo seja completo (vv. 5-11).

    Foi somente nas palavras finais desta passagem que Jesus explicou por que havia ensinado aos disc-pulos estas coisas: Para que o meu gozo esteja em vs, e o vosso gozo seja completo. Observe trs coi-sas neste importante ensino.

    Primeira, a alegria que Jesus quer ver em ns a sua alegria. Anteriormente, Jesus havia falado so-bre paz aos seus discpulos, dizendo: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; no vo-la dou como a d o mundo (Jo 14.27). De onde vem a paz do cristo? Vem de Jesus; na verdade, a paz de Jesus. De ma-neira semelhante, a sua prpria alegria est dispon-vel a ns; e ele quer v-la habitando em ns.

    Segunda, Jesus quer que a sua alegria permanea

  • 68 | Posso ter alegria em Minha Vida?

    em ns. Ele deseja que tenhamos uma alegria per-manente e no uma montanha-russa de disposies, que se alternam entre alegria e infelicidade. Se qui-sermos ser continuamente alegres, precisamos per-manecer em Cristo.

    Terceira, Jesus distingue entre a sua alegria e a nossa alegria, e expressa seu desejo de que nossa alegria seja completa: Para que... o vosso gozo seja completo. No isso que ns queremos? No que-remos uma medida parcial do fruto do Esprito. No queremos apenas um pouquinho de alegria. Quere-mos toda a alegria que o Pai entesourou para seu povo. Essa plenitude de alegria vem de Cristo. Ini-cialmente, a sua alegria que ele nos d, e, medida que estamos conectados nele, esta alegria que vem dele cresce, aumenta e se torna plena.

    Ningum que est lendo este livro jamais ex-perimentou o mais elevado nvel de alegria que est disponvel para o povo de Deus. Embora desfrute-mos de muita alegria neste momento, h ainda mais alegria a ser desfrutada. H uma plenitude que nos aguarda, medida que o fruto do Esprito nutrido pela videira verdadeira.

  • Projeto

    Este livro faz parte do projeto Vidas em Jogo, elaborado pelo Ministrio Fiel

    para a Copa do Mundo Brasil 2014, em parceria com igrejas brasileiras e com o apoio do ministrio

    americano Ligonier.Preparamos para voc um site com diversos contedos

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