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POÉTICAS
DO SÉCULO XVI
1ª tradução portuguesa da obra de Aristóteles, 1779
Arte = mimese (Aristóteles)
Preceitos estéticos
Estudo, imitação e emulação
dos autores gregos e latinos
da Antiguidade
Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
Luís de Camões. Os Lusíadas.
Canto I, estrofe 3.
Preceitos estéticos
Equilíbrio
Harmonia
Senso de proporções
Rigor e perfeição formal
A Última Ceia (1498). Leonardo da Vinci. Convento de Santa Maria da Graça, Milão.
Preceitos estéticos
Naturalidade
Decoro
Clareza
Simplicidade
Concisão
A primeira lei minha é que de mimPrimeiro me guarde eu, e a mim não creia,Nem os que levemente se me riem.
Conheça-me a mim mesmo: siga a veiaNatural, não forçada: o juízo queroDe quem com juízo e sem paixão me leia.
Na boa imitação e uso, que o feroEngenho abranda, ao inculto dá arte.No conselho do amigo douto espero.
Muito, ó Poeta, o engenho pode dar-te,Mas muito mais que o engenho, o tempo e estudo.Não queiras de ti logo contentar-te.[...]Corta o sobejo, vai acrescentandoO que falta, o baixo ergue, o alto modera,Tudo a uma igual regra conformando.
Ao escuro dá luz, e ao que puderaFazer dúvida, aclara: do ornamentoOu tira ou põe: co’ o decoro o tempera.[...]
António Ferreira. Carta a Diogo Bernardes.
Preceitos estéticos
Ideal ético-estético
[...]
E faz que este natural
Amor, que tanto se preza,
Suba da sombra ao Real,
Da particular beleza
Para a Beleza geral.
[...]
Luís de Camões
Preceitos estéticos
Fusionismo (imaginário pagão e cristão)
Davi (c. 1501-1504). Michelangelo. Academia de Belas Artes. Florença
Apolo Sáurio. Cópia romana de original
atribuído a Praxíteles(c. 395-330 a.C.).
Museu do Louvre, Paris.
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Maneirismo
Crise do Renascimento
Misticismo cristão
Valorização da emoção
Valorização da fantasia
Sinuosidade
Antíteses
Penitência de Maria Madalena (1587-97)El Greco. Museu de Cau Ferrat, Barcelona
Transição para o Barroco
Texto maneirista
Tanto de meu estado me acho incerto,que em vivo ardor tremendo estou de frio;sem causa, juntamente choro e rio,o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;da alma um fogo me sai, da vista um rio;agora espero, agora desconfio,agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando,numa hora acho mil anos, e é de jeitoque em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando,respondo que não sei; porém suspeitoque só porque vos vi, minha Senhora.
Luís Vaz de Camões
POÉTICA
DO SÉCULO XVII
O Enterro do Conde de Orgaz (1586). El Greco. Igreja de São Tomé, Toledo
Características
ENGENHO: invenção, capacidade ou talento
de criar beleza por meio da linguagem aguda.
AGUDEZA: procedimento pelo qual o discurso
engenhoso se realiza. Caracteriza-se pela
aproximação ou pela fusão de imagens e de
conceitos distanciados.
Retrato de Baltasar Gracián (1601-1658), autor de Arte de Ingenio: Tratado de la Agudeza (1642)
Características
Dualismo: teocentrismo e antropocentrismo
Sinuosidade
Ornamentalismo (figuração abundante)
Temática
1. Angústia mística
2. Angústia existencial
3. Angústia erótica
Estilos
Gongora (1561-1627)
CULTISMO (gongorismo)
agudeza e engenho
jogo de imagens
sensorialismo
Se as sobrancelhas vejo,
Setas despedes contra o meu desejo;
Se do rosto os primores,
Em teu rosto se pintam várias cores;
Vejo, pois, para pena e para gosto
As sobrancelhas arco; íris o rosto.
Manuel Botelho de Oliveira
Texto cultista
Estilos
Quevedo (1580-1645)
CONCEPTISMO (quevedismo)
agudeza e engenho
jogo de ideias
intelectualismo
Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia: e como fosse
trazido à sua presença um pirata, que por ali andava, roubando os pescadores, repreendeu-o muito
Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim:
Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma
armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com
pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. [...] O ladrão que furta para comer, não
vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior
calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue
muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os
que se vão banhar para lhes colher a roupa, os ladrões que mais própria e dignamente merecem este
título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou
a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos. Os
outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu
risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Pe. Antônio Vieira
Texto conceptista
POÉTICA
DO SÉCULO XVIII
Preceitos neoclássicos
Estudo e imitação dos autores da Antiguidade e do Renascimento
Emulação aos mestres da tradição clássica antiga e moderna
Lede, que é tempo, os clássicos honrados;
Herdai seus bens, herdai essas conquistas,
Que em reinos dos romanos e dos gregos
Com indefeso estudo conseguiram.
Vereis então que garbo, que facúndia
Orna o verso gentil, quanto sem eles
É delambido e peco o pobre verso.
Oh! clássicos do nosso augusto século.
Que sempre fostes o patente molde
De elegante escritura genuína,
Oh! quanto deveis hoje, mais que nunca,
Ser o que são bandeiras nas batalhas!
Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio). Obras.
Texto neoclássico
A Morte de Sócrates (1787). Jacques-Louis David. The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
Neoclassicismo: características gerais
Ideal clássico: oposição ao Barroco
Convencionalismo
Aurea mediocritas: equilíbrio / harmonia / senso de proporções
Inutilia truncat: clareza / simplicidade / concisão
Fugere urbem: fugir da cidade
Locus amoenus: bucolismo
Carpe diem: gozar o momento
Pastoralismo: pseudônimos pastoris
Arcadismo
Os Pastores da Arcádia (c. 1640). Nicolas Poussin. Museu do Louvre, Paris.
Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-te! Olha não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores!
Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha para, Ora nos ares sussurrando gira:
Que alegre campo! que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, Mais tristeza que a morte me causara.
Bocage
Texto árcade
Concepções de imitação da natureza
Cópia (naturalismo)
Representação da realidade em geral (os princípios e a ordem da natureza)
Representação da natureza humana (o típico, o universal)
Padrão estético e ético – seleção e elevação da natureza: beleza ideal (identidadedo ideal do artista com o universal, a eterna essência das coisas)
Estrutura da obra de arte
Dicotomia de forma e conteúdo
Formalismo externo (regras rígidas para os gêneros; retórica ornamental de “bom
gosto”)
Seleção e ordenação de assuntos por critérios de valor moral, extrínsecos à arte
Efeito da obra de arte
Aut prodesse aut delectare
Prazer ou deleite: meio necessáriopara alcançar o fim
Instruir: utilidade moral
“A poesia é a arte pela qual o
poeta excita a paixão... Para
satisfazer e melhorar, deleitar
e reformar o espírito” (John
Dennis).
Critérios de valoração da obra de arte
Gosto Faculdade, ao mesmo tempo, espontâneae adquirida, inata e cultivada, sentimentale intelectual.
Historicismo Relativismo: de gustibus non estdisputandum.
Perspectivismo histórico Reconhecimento da individualidade doartista combinado com o sentido demudança e desenvolvimento na história.
Distinção entre o útil, o bom e o belo
O prazer estético é a “satisfaçãodesinteressada”, livre da interferência dodesejo e de fins imediatamente utilitários.
Autonomia da arte
“Ideia”: representação da imaginação que realiza aunião do particular e do universal.
A arte realiza a união do sensível e do abstrato, daimaginação e da razão.
KANT, Immanuel (1724-1804)
As produções do gênio devem ser exemplares: asobras de arte devem ser reconhecidas. O gênio éinato, inconsciente e irracional, mas suas produçõesdevem ter coerência prescritiva e normativa.
O juízo estético é subjetivo, mas reclama umavalidade universal: senso comum da humanidadecomo norma.
KANT, Immanuel (1724-1804)
Crítica do Juízo. 1ª ed. 1790
Neoclassicismo
Romantismo
Padrão aristotélico e horaciano
Novos padrões
POÉTICAS
DO SÉCULO XIX
Digamo-lo, pois, ousadamente. Chegou o tempo disso, e seria estranho que
nesta época, a liberdade, como a luz, penetrasse por toda a parte, exceto no que há
de mais nativamente livre no mundo, nas coisas do pensamento. Destruamos as
teorias, as poéticas e os sistemas. Derrubemos este velho gesso que mascara a
fachada da arte! Não há regras nem modelos; ou antes, não há outras regras senão as
leis gerais da natureza que plainam sobre toda a arte, e as leis especiais que, para
cada composição, resultam das condições de existência próprias para cada assunto.
[...]
O poeta, insistamos neste ponto, não deve, pois, pedir conselho senão à
natureza, à verdade, e à inspiração, que é também uma verdade e uma natureza.
HUGO, Victor. Do Grotesco e do Sublime: Tradução do Prefácio de Cromwell. São
Paulo: Perspectiva, s.d., p. 56-57.
[Barítono]Oh amigos, mudemos de tom! Entoemos algo mais agradável E cheio de alegria! [Barítonos, quarteto e coro] Alegria, mais belo fulgor divino,Filha do Elísio, Ébrios de fogo entramos Em teu santuário celeste! Tua magia volta a unirO que o costume rigoroso dividiu. Todos os homens se irmanam Onde paira teu voo suave. A quem a boa sorte tenha favorecidoDe ser o amigo de um amigo, Quem já conquistou uma doce companheiraRejubile-se conosco! Sim, também aquele que apenas uma almaPossa chamar de sua sobre a Terra. Mas quem nunca o tenha podido Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres No seio da Natureza: Todos os bons, todos os maus, Seguem seu rastro de rosas. Ela nos dá beijos, e vinho, E um amigo leal até a morte; Deu força para a vida ao vermeE ao querubim diante de Deus! [Tenor solo e coro] Alegres, como voam seus sóis Através da esplêndida abóboda celeste, Sigam, irmãos, seus caminhos, Alegremente como o herói perante a vitória.[Coro] Abracem-se milhões de seres! Enviem este beijo para todo o mundo!Irmãos! Além do céu estrelado Deve morar um Pai amado. Milhões se prosternam diante Dele? Mundo, pressentes o Criador? Buscai além do céu estrelado! Acima das estrelas Ele deve morar.
ODE À ALEGRIA: SCHILLER
– Isso é outro caso – retrucou Albert –, porque um indivíduo arrebatado pela paixão perdetoda capacidade de refletir, e nele só se vê o homem bêbado, insensato.
– Oh! Essa gente sensata! – exclamei, sorrindo. – Paixão! Embriaguez! Loucura! Vocês, osrazoáveis, permanecem tão calmos, tão indiferentes, condenando os bêbados, repelindo ostresloucados, e seguem o seu caminho como um sacerdote e agradecem a Deus, como um fariseu, porEle não os ter feito igual aos outros. Mais de uma vez embriaguei-me, vivi paixões que me levaram àbeira da loucura, e de nada me arrependo, pois dessa forma compreendi por que homens notáveis, detodos os tempos, que fizeram alguma coisa expressiva, alguma coisa grande, foram chamados debêbados ou loucos. Entretanto, mesmo na vida mais comum, quando alguém realiza algo inesperado,diferente, é insuportável ouvirmos a acusação: “Esse homem está bêbado, está fora de si!” Os homenssensatos são uma vergonha! [...]
– A natureza humana – continuei – é limitada: podemos suportar a alegria, o sofrimento, ador, mas só até certo ponto; quando ele é ultrapassado, sucumbimos. Portanto, aqui não se trata desaber se um homem é forte ou fraco, mas se é capaz de suportar a medida de seu sofrimento, sejamoral ou físico. Considero tão absurdo dizer que um homem é fraco porque se mata quanto chamar decovarde aquele que morre de uma febre maligna.
GOETHE, J. W. Os Sofrimentos do Jovem Werther. São Paulo: Nova Alexandria, 1999, p. 52-53.
Texto romântico
Padrões românticos
O Gênio Individual (visionário ou vate)
Individualismo
Naturalidade
Espontaneidade
Autenticidade
Sinceridade
Sentimentalismo
Subjetividade
Imaginação
O Gênio Nacional (Volksgeist)
Busca das origens nacionais
Valorização do folclore
Valorização da natureza (cor local)
Caráter ou identidade do povo ou “raça”
O Gênio da Época (Zeitgeist)
Weltgeist
Weltliteratur (cosmopolitismo)
Weltanschauung
Peregrino Sobre o Mar de Nuvem(c. 1818)
Caspar David Friedrich Kunsthalle, Hamburgo
Poesia ingênua (clássica): imitação danatureza, arte objetiva, impessoal, plásticae, fundamentalmente, realista.
SCHILLER, Friedrich von (1759-1805)
Poesia sentimental (romântica): artereflexiva, pessoal, consciente e musical. Opoeta sentimental, dividido dentro de simesmo (inteligência e sentimento), vive emconflito com a sociedade.
A arte é imitação da natureza: síntese do universal e doparticular, do real e do racional, do espírito e da natureza.
Poesia: atividade criadora.
A literatura é atividade simbólica: busca o geral noparticular (≠ de alegoria: busca o particular no geral).
Autonomia da obra de arte: “Nós lutamos pela perfeição daobra de arte em si mesma; os outros pensam no efeitoexterior... A arte nova corrompe porque quer agradar.”
Arte clássica: objetividade, realismo, saúde.
Arte romântica: subjetividade, idealismo, morbidez. GOETHE, Johann Wolfgang von(1749-1832)
Beleza: universal concreto; representação sensível daverdade.
Arte: aparência sensível da Ideia (noção histórica);totalidade organizada, que cria um mundo encerrado emsi mesmo, sem objetivo externo.
Ideal: concreto, individual e, ao mesmo tempo, universale geral.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich (1770-1831)
Três fases da história da arte:
1. “Simbólica”: vaga relação entre forma e conteúdo.2. “Clássica”: união de forma e conteúdo.3. “Romântica”: divisão entre interior e exterior (a
subjetividade torna a forma exterior fortuita earbitrária).
Conteudismo: a superfície estética da literatura não é alinguagem. O elemento linguístico é apenasexterioridade acidental, um meio, indiferente aoelemento poético – a Ideia.
Arte: mediadora e reconciliadora da natureza com o homem(Schelling).
Essência da beleza: harmonia do uno no múltipo; poder decausar “prazer imediato” (Kant); união de vida e forma(Schiller).
Gosto: faculdade intermediária entre o intelecto e os sentidos;eleva as imagens dos sentidos e torna sensíveis as ideias dointelecto (Kant).
Ideia: essência dos objetos (união de particular e universal).
Símbolo: expressão do universal no particular (artifício pormeio do qual a ideia é apresentada).
COLERIDGE, Samuel Taylor (1772-1834)
Imaginação primária: constitui a percepção e é inconsciente.
Imaginação secundária: artística, contígua à imaginaçãoprimária, mas dela difere por coexistir com a vontadeconsciente.
COLERIDGE, Samuel Taylor (1772-1834)
Crítica: “ciência do raciocínio e do julgamento concernente à produção de literatura”, fundamentadano “método” (unidade e poder unificador da imaginação criadora).
Teoria da poesia: esquema que tenta unificar uma descrição do poeta, de seu aparelhamento e desuas faculdades com uma descrição da obra de arte e de seus efeitos sobre o leitor.
Poeta: gênio (consciente e inconsciente) objetivo e impessoal, que busca apreender a totalidade douniverso por meio da imaginação (equilíbrio ou conciliação de opostos, com função unificadora) –“homem completo”.
Poesia: imitação e simbolização que configuram um organismo, um todo unificado pela tensão ouconciliação dos opostos. “A essência da poesia é a universalidade”.
Efeito da poesia: prazer imediato e desinteressado (Kant).
VICTOR HUGO (1802-1885)
Arte: deve moralizar, civilizar e edificar, mas tem seupróprio objetivo: “recriação dos mais profundos padrõesde humanidade”.
Literatura: ordem interna; identidade de forma econteúdo; união dos opostos; síntese do sublime e dogrotesco.
“Uma coisa bem feita, uma coisa mal feita, eis o belo e ofeio em arte.”
Autonomia da arte: “Não está no poder da ficçãoinculcar qualquer verdade.”
Beleza: objetivo e centro da arte.
Imaginação: não é criadora, mas poder intelectualde escolha e combinação (calculada elaboração) – “Amais alta ordem do poder imaginativo é semprepreeminentemente matemática”.
Função da arte: comover “a alma sensível até àslágrimas”.
Obra de arte: totalidade construída para obtençãode um único efeito – “sublime excitação”.
“Na composição inteira, não deve haver uma sópalavra escrita cuja tendência, direta ou indireta, nãoseja para o desígnio preestabelecido.”
EDGAR ALLAN POE (1809-1849)
O Ateliê do Pintor, 1855. Gustave Courbet. Museu d’Orsay, Paris.
Impessoalidade
Objetividade
Impassibilidade
Desprendimento
Indiferença
Observação
Análise
Perspectiva crítica
Cientificismo
Padrões realistas e naturalistas
Obra de arte: “bela mentira”.
Literatura: “arte de dar ao povo obras que,no estado atual de seus costumes e crenças,sejam capazes de causar-lhe o maior prazer[intelectual] possível”.
Sobre o romance: deve ser contemporâneo,psicológico e social, sem deixar de seruniversal e de ser capaz de penetrar anatureza humana.
STENDHAL(Henri-Marie Beyle, 1783-1842)
Literatura: produto redutível a causas (leis).
Arte: concreto universal; união de particular e geral;forma de conhecimento sensível, que atinge aessência e a natureza das coisas.
Meio: ambiente físico e condições sociais e políticas.
Raça: relação entre traços físicos (fisiologia) e hábitosmentais específicos.
Momento (Zeitgeist): movimento do processohistórico (soma de raça e meio).
Determinismo: “assimilação da pesquisa histórica epsicológica às pesquisas fisiológicas e químicas”.
TAINE, Hippolyte (1828-1893)
[...]. Às três horas lancharam. Foi delicioso; tinham estendido um guardanapo sobre a cama; a
louça tinha a marca do Hotel Central; aquilo parecia a Luísa muito estroina, adorável – e ria de
sensualidade, fazendo tilintar os pedacinhos de gelo contra o vidro do copo, cheio de champanhe.
Sentia uma felicidade que transbordava em gritinhos, em beijos, em toda a sorte de gestos buliçosos.
Comia com gula; e eram adoráveis os seus braços nus movendo-se por cima dos pratos.
Nunca achara Basílio tão bonito; o quarto mesmo parecia-lhe muito conchegado para aquelas
intimidades da paixão; quase julgava possível viver ali, naquele cacifo, anos, feliz com ele, num amor
permanente, e lanches às três horas... Tinham as pieguices clássicas; metiam-se bocadinhos na boca;
ela ria com os seus dentinhos brancos; bebiam pelo mesmo copo, devoravam-se de beijos – e ele quis-
lhe ensinar então a verdadeira maneira de beber champanhe. Talvez ela não soubesse!
Como é? perguntou Luísa erguendo o copo.
Não é com o copo! Horror! Ninguém que se preza bebe champanhe por um copo. O copo é
bom para o Colares...
Texto realista-naturalista
Tomou um gole de champanhe e num beijo passou-o para a boca dela. Luísa riu muito, achou
“divino”; quis beber mais assim. Ia-se fazendo vermelha, o olhar luzia-lhe.
Tinham tirado os pratos da cama; e sentada à beira do leito, os seus pezinhos calçados numa meia
cor-de-rosa pendiam, agitavam-se, enquanto um pouco dobrada sobre si, os cotovelos sobre o regaço,
a cabecinha de lado, tinha em toda a sua pessoa a graça lânguida de uma pomba fatigada.
Basílio achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique, tanta queda?
Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas
“tão feias, com fechos de metal”, beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um
pedido. Ela corou, sorriu, dizia: “não! não!” E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos,
toda escarlate; murmurou repreensivamente:
Oh, Basílio!
Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!
[...]
Eça de Queirós. O Primo Basílio. Capítulo VII.
Arte: sugestão
Palavra: símbolo das coisas
Coisas: mistério
Poesia: expressão do mistério (dizer o indizível)
Senso de efemeridade: ser é não ser
Noções fundamentais
Anseio de absoluto: espiritualismo
Escapismo: sonho, loucura e morte
Ilogismo
Expressões vagas e insólitas
Versos nominais
Características
Ó Formas alvas, brancas, Formas clarasde luares, de neves, de neblinas!...Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,de Virgens e de Santas vaporosas...Brilhos errantes, mádidas1 frescurase dolências2 de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,harmonias da Cor e do Perfume...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,Réquiem3 do Sol que a Dor da Luz resume...[...]
ANTÍFONA
1. úmidas; orvalhadas
2. aflições; sofrimentos
3. prece ou composição musical para missa aos mortos
Cruz e Sousa(1861-1898)
Texto simbolista
Beleza: mistério sobrenatural e humano; algo vago e triste,que pode até ser mau, satânico, grotesco.
Arte: totalidade autônoma; beleza (arte pura: arte pela arte).
Ideal de poesia: cálculo e sonho, que eleva em direção àbeleza pura e desinteressada (“A inspiração, em suma, não ésenão a recompensa do exercício cotidiano”).
Imaginação: instrumento da alma que capta ascorrespondências e analogias de todas as coisas (símbolos),“para lançar uma luz mágica e sobrenatural sobre aescuridão natural das coisas”.
BAUDELAIRE, Charles (1821-1867)
A obra de arte elimina o abismo entre o sujeito e o objeto,o homem e a natureza: “Criar é uma magia sugestivacontendo ao mesmo tempo o objeto e o sujeito, o mundoexterior ao artista e o próprio artista”.
Poesia: cálculo de efeitos; signo puro.
Objetivo da arte: afastar a realidade, excluir asociedade, a natureza e a pessoa do artista,para alcançar a beleza pura.
Linguagem da poesia ≠ linguagem dacomunicação: “linguagem real, linguagemcomo mágica, palavras como coisas” (“Dar umsentido mais puro às palavras da tribo”).
Arte: sugestão, evocação vaga da Ideiapuramente abstrata e obscura por meio dosímbolo: “instituir uma exata relação entre asimagens; e então um terceiro aspecto [osimbólico], claro e fusível, delas se desprende ese apresenta à adivinhação”.
MALLARMÉ, Stéphane (1842-1898)
Nada, esta espuma, virgem versoA não designar mais que a copa;Ao longe se afoga uma tropaDe sereias vária ao inverso.
Navegamos, ó meus fraternosAmigos, eu já sobre a popa,Vós à proa em pompa que topaA onda de raios e de invernos;
Uma embriaguez me faz arauto,Sem medo ao jogo do mar alto,Para erguer, de pé, este brinde.
Solitude, recife, estrelaA não importa o que há no fim deum branco afã de nossa vela.
[Stéphane Mallarmé. Tradução: Augusto de Campos]
B R I N D ETexto simbolista
Ulisses e as Sereias. John William Waterhouse. National Gallery of Victoria - Melbourne